monografia do curso de direito. autor: eduardo rocha fritzen

65
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA EDUARDO ROCHA FRITZEN ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03): DEZ ANOS DE VIGÊNCIA

Upload: eduardo-rocha-fritzen

Post on 23-Jul-2016

215 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Trabalho de Conclusão de curso. Direito Estatuto do Desarmamento(lei 10.826/03) Dez anos de Vigência. Graduando: Eduardo Rocha Fritzen

TRANSCRIPT

Page 1: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINAEDUARDO ROCHA FRITZEN

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03):DEZ ANOS DE VIGÊNCIA

Florianópolis

2013

Page 2: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINAEDUARDO ROCHA FRITZEN

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03):DEZ ANOS DE VIGÊNCIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Jeferson Puel, Esp.

Florianópolis

2013

Page 3: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

EDUARDO ROCHA FRITZEN

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03):DEZ ANOS DE VIGÊNCIA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 06 novembro de 2013.

___________________________________________

Prof. Jeferson Puel, Esp

___________________________________________

Membro da Banca Examinadora

___________________________________________

Membro da Banca Examinadora

Page 4: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03):DEZ ANOS DE VIGÊNCIA

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca deste

Trabalho de Conclusão de Curso.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e

criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis, 06 de novembro de 2013.

____________________________________

EDUARDO ROCHA FRITZEN

Page 5: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

Dedico este trabalho a minha mãe, Iara Mª

Fritzen, minha esposa, Vanessa dos Santos

Grando e filha, Sarah Amábile sempre

apoiando e motivando.

Page 7: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

RESUMO

O presente trabalho de Conclusão de Curso versa sobre o Estatuto do

Desarmamento - Lei 10.826/03 - com foco nos resultados alcançados durante uma

década de vigência. O estudo foi dividido em três capítulos onde traz um breve

relato histórico da legislação anterior ao Estatuto do desarmamento. Também

abordará o contexto histórico ao qual a lei 10.826/03 estava inserida no momento de

sua redação e ainda a mobilização nacional e o resultado do primeiro referendo

popular no país.Discorre ainda sobre as competências entre órgão da Polícia

Federal e do Comando do Exército; a diferença entre posse e porte de arma de fogo;

bem como os crimes previstos no Estatuto do Desarmamento. Buscar-se-á trazer a

realidade armamentista no país dez anos após a vigência do Estatuto do

Desarmamento, os aspectos estatísticos e a relação entre desarmamento e a

violência, assim como os aspectos positivos do Estatuto do desarmamento uma

década após sua implementação.

Page 8: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

Palavras-chave: Estatuto do Desarmamento. Lei de Armas no Brasil.

Segurança pública e privada. Desarme-se.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SINARM – Sistema Nacional de Armas

SIGMA – Sistema de Gerenciamento Militar de Armas

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil

TJSC – Tribunal De Justiça de Santa Catarina

Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina

Page 9: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................92 DESLOCAMENTOS HISTÓRICOS DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.................102.1 A LEGISLAÇÃO ARMAMENTISTA ANTES DA LEI 10.826/03...........................10

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA APROVAÇÃO DO ESTATUTO............................12

2.3 REFERENDO: RESULTADO E MOBILIZAÇÃO.................................................14

3 LEI 10.826/03 - ESTATUTO DO DESARMAMENTO...........................................163.1 SISTEMA NACIONAL DE ARMAS – SINARM....................................................16

3.2 SISTEMA DE GERENCIAMENTO MILITAR DE ARMAS – SIGMA....................21

3.3 REGISTRO E PORTE DE ARMAS DE FOGO....................................................23

3.4 CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO.........................27

3.4.1 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido....................................273.4.2 Omissão de cautela.......................................................................................283.4.3 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido...........................................293.4.4 Disparo de arma de fogo..............................................................................303.4.5 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito..............................313.4.6 Comércio ilegal de arma de fogo.................................................................333.4.7 Tráfico internacional de arma de fogo........................................................354 REALIDADE ARMAMENTISTA NO BRASIL DEZ ANOS APÓS A

VIGÊNCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO............................................364.1 ASPECTOS ESTATÍSTICOS..............................................................................36

4.2 O DESARMAMENTO E A VIOLÊNCIA...............................................................38

4.3 ASPECTOS POSITIVOS DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO, DEZ

ANOS APÓS SUA PROMULGAÇÃO..................................................................40

5 CONCLUSÃO........................................................................................................42REFERÊNCIAS.........................................................................................................44

Page 10: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

9

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de Conclusão de Curso versa sobre o Estatuto do

Desarmamento - Lei 10.826/03 - com foco nos resultados alcançados durante uma

década de vigência.

A pesquisa deste trabalho monográfico foi realizada partindo-se do

método dedutivo, com enfoque bibliográfico, por meio de consulta a legislação

brasileira, doutrina e artigos periódicos especializados em meios físicos e

eletrônicos.

O estudo foi dividido em cinco capítulos, incluindo esta introdução no

conteúdo do primeiro capítulo, procurando explanar os métodos usados e a

esquematização lógica da pesquisa.

O segundo capítulo traz um breve relato histórico da legislação anterior ao

Estatuto do desarmamento. Também abordará o contexto histórico ao qual a lei

10.826/03estava inserida e ainda mobilização nacional e resultado do primeiro

referendo popular no país.

O terceiro capítulo tratar-se-á da lei 10.826/03, denominada Estatuto do

Desarmamento, as competências entre órgão da Polícia Federal e do Comando do

Exército, a diferença entre posse e porte de arma de fogo bem como os crimes

previstos no Estatuto do Desarmamento.

O quarto capítulo buscar-se-á trazer a realidade armamentista no país

dez anos após a vigência do Estatuto do Desarmamento, os aspectos estatísticos e

a relação entre desarmamento e a violência assim como os aspectos positivos e

negativos do Estatuto do desarmamento uma década após sua implementação.

O quinto e último capítulo se reserva a conclusão do estudo, com o

objetivo de trazer uma síntese e opinar acerca dos conhecimentos ora perquiridos.

Page 11: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

10

2 DESLOCAMENTOS HISTÓRICOS DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O presente capítulo trata dos deslocamentos históricos da legislação

brasileira sobre o controle do uso de armas de fogo, considerando a legislação

armamentista antes da atual Lei 10.826/03 e o contexto histórico da aprovação do

Estatuto do desarmamento, bem como a mobilização e resultado do primeiro

referendo popular que possibilitaria, ou não, o comércio de armas de fogo no país.

Para realizar essa tarefa, tomaremos como principal referência a lei

10.826/03, bem como as contribuições teóricas e doutrinarias de Fernando Capez,

Damásio de Jesus, Renato Marcão, dentre outros.

2.1 A LEGISLAÇÃO ARMAMENTISTA ANTES DA LEI 10.826/03

Há séculos os governos tentam regular o uso de armas entre os civis. A

sociedade necessita de um Estado seguro e ativo, não havendo espaço para o uso

fora de controle de armas de fogo pela sociedade. Diante do poder de destruição

das armas, tendente a erradicar os efeitos nocivos delas para a segurança social e

buscando assegurar aos indivíduos o direito de viver em paz, sem recorrer à

autotutela, o Estado passa a impor normas para a redução de uso de armas pelos

cidadãos. O próprio Estado passa a ser responsável pela segurança pública, dando

origem à preocupação de se limitar o fabrico, o uso, o porte de armas.1

Antes da entrada em vigor da lei 10.826/03, o estatuto do desarmamento,

a lei vigente era a confusa lei 9.437/97. Com recomendação das Nações Unidas e

também com o intuito de frear a crescente onda de violência armada no país,

através da lei 9.437/97 foi criado o SINARM, Sistema Nacional de Armas de Fogo,

instituindo a Policia Federal o controle de armas de fogo de calibre permitido, que

são armas com menor grau de poder destrutivo, tecnicamente menos letais,

diferentes das usadas pelas forças policias, essas gerenciadas por outro órgão, do

comando do exército, o SIGMA.

1SILVA, Liliana Buff de Souza et al. Estatuto do desarmamento: comentários e reflexões, São Paulo, QuartierLatin, 2004. p. 40.

Page 12: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

11

Com o objetivo de instaurar uma política de segurança publica mais eficaz, a

aprovação da lei 9.437/97 foi considerada um passo a frente em relação a

legislações anteriores, de um lado criando um órgão para a fiscalização e obtenção

de dados relativos às armas de fogo e de outro criminalizando o porte de armas que

ainda era tipificado como uma contravenção penal. Um dos pontos confusos da lei

9.437/97 era sobre o quesito relativo ao porte de armas, dividindo o porte em dois:

porte estadual, pedido juntamente a policia civil de cada estado e o porte federal,

pedido juntamente a policia federal.

Artigo 7º - A autorização para portar arma de fogo terá eficácia temporal

limitada, nos termos de atos regulamentares e dependerá de o requerente

comprovar idoneidade, comportamento social produtivo, efetiva

necessidade, capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de

arma de fogo.

§ 1° O porte estadual de arma de fogo registrada restringir-se-á aos limites

da unidade da federação na qual esteja domiciliado o requerente, exceto se

houver convênio entre Estados limítrofes para recíproca validade nos

respectivos territórios.

Art. 8° A autorização federal para o porte de arma de fogo, com validade em

todo o território nacional, somente será expedida em condições especiais, a

serem estabelecidas em regulamento.2

Importante lembrar que o comando do exército, responsável pelo órgão que

gerencia as armas de calibre restrito, bem como de colecionadores, caçadores e

armeiros, propôs ao Presidente da Republica que fosse efetivado o artigo 11 da lei

9.437/97, sendo expedida uma norma para definir quais armas, artefatos e

acessórios de uso proibido e/ou restrito deveriam ser consideradas como tal,

oportunidade onde foi promulgado o decreto lei 3.665/00, chamado como

Regulamento de Produtos Controlados – R105.

2BRASIL. Lei 9.437 de 20 de fevereiro de 1997. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9437.htm>. Acesso em: 29 Out 2013.

Page 13: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

12

Art. 11. A definição de armas, acessórios e artefatos de uso proibido ou

restrito será disciplinada em ato do Chefe do Poder Executivo federal,

mediante proposta do Ministério do Exército.3

Como se observa, o decreto lei que regula os produtos controlados,

somente listou as armas de uso restrito e afins em um lapso temporal de 3 anos em

face a promulgação da lei 9.437/97, gerando muitas dúvidas e consequentemente

insegurança jurídica.

2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA APROVAÇÃO DO ESTATUTO

As diretrizes para a aquisição de arma de fogo no país sempre foram

deficientes, os mecanismos de controle eram demasiadamente ineficazes criando

um campo fértil para o mercado paralelo clandestino, trilhando caminho para o

tráfico de armas e consequentemente alimentando o poder bélico de organizações

criminosas, dando força e incentivo as atividades ilegais naturalmente violentas.

Com a enorme onda de violência que afligia e ainda paira em nossa

sociedade, o fácil e desenfreado acesso às armas de fogo veio trazendo

consequências trágicas em todas as esferas da sociedade, pois como fatos que

vemos todos os dias nos meios de comunicação, meros desentendimentos,

alimentados com o poder da arma de fogo não raramente se transformam em um

homicídio qualificado.

Assim, o cônjuge humilhado pela traição, o exaltado com a briga por questões de transito, o briguento do campo de futebol e o alcoolizado que discute por questões sem relevância no interior de um bar, quando desarmados, no máximo provocam lesões corporais leves.4

3 BRASIL. Lei 9.437 de 20 de fevereiro de 1997. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9437.htm>. Acesso em: 29 Out 2013.4 VIEIRA, Vinícius (Ed.). Estatuto do desarmamento: comentários e reflexões - Lei 10.826/2003. São Paulo: QuartierLatin do Brasil, 2004. p.173.

Page 14: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

13

Nesse sentido, o fato de um cidadão estar portando arma de fogo já é um

risco tanto para si, quanto para terceiros, fazendo do covarde armado, um corajoso

insano e potencialmente perigoso, executando através do seu instrumento mortífero

seu passaporte para o mundo dos crimes hediondos. Diante destas e infinitas outras

circunstancias, antecipando a elaboração da lei 9.347/97, começaram a brotar os

movimentos contra o armamento e um efetivo modo de controlar a circulação de

armas começou a ser colocado como prioridade no país. Por recomendação das

Nações Unidas, os países membros, incluindo o Brasil, deveriam aprimorar suas

legislações, tornando um controle mais eficaz na aquisição, posse e porte de armas

de fogo.

A partir dessa diretriz, o governo brasileiro começa a dispor atenção

especial ao controle armamentista e uma nova lei, com intuito de baixar os índices

de violência armada entra em vigor, a lei 9.347/97.

Realmente o governo Federal, em 1997, no sentido de reduzir a

delinqüência urbana, a chamada “criminalidade de massa”, fez entrar em

vigor a Lei 9.473, de 20 de fevereiro de 1997, hoje revogada, criando o

Sistema Nacional de Armas de Fogo(SINARM), transformando a

contravenção de porte ilegal de arma de fogo em crime, regulando sua

aquisição e posse e introduzindo outras providencias, medidas que

reclamávamos desde 1995.5

Desde então, iniciou-se campanhas desarmamentistas, vinculadas ao

governo federal e a Ongs, estas campanhas ainda eram pouco eficientes, com o

intuito de informar e conscientizar a sociedade de como se adquiri legalmente armas

de fogo e os riscos dessa escolha. Ter uma arma em casa legalmente ou

ilegalmente resultaria em responsabilidades penalizáveis tanto por uso

indiscriminado como pelo simples fato da posse irregular.

Motivado pelo medo da violência descontrolada e crescente, noticiada

diariamente pelo circo midiático, o cidadão levava a crer que estar armado poderia

inibir ou coibir um possível confronto com um cidadão mal intencionado, ledo

5JESUS, Damásio E. de. Direito penal do desarmamento: anotações à parte criminal da lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. xii, p. 3.

Page 15: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

14

engano, pois estatísticas posteriores mostrariam que possuir uma arma seria mais

arriscado do que não possui-lá.

Ainda que com boa intenção, a lei 9.473/97 continha muitos erros, com

dispositivos pouco claros, geravam dúvidas e consequentemente insegurança

jurídica. Foi então editada uma nova legislação, mais moderna e voltada para a

guarda do bem social, foi promulgada a atual lei 10.826/03, denominada Estatuto do

Desarmamento, mais uma vez dispor sobre o registro, porte e comercialização de

armas de fogo, tipificando crimes e organizando o Sistema Nacional de Armas de

Fogo, o SINARM.

2.3 REFERENDO: RESULTADO E MOBILIZAÇÃO

A Lei 10.826/03, denominada Estatuto do Desarmamento, precisamente

no seu artigo 35 dizia que seria proibida a comercialização de armas de fogo e

munição em todo território nacional, excetuando os privilegiados listados no artigo 6º

do mesmo diploma. Contudo, esse dispositivo estaria suspenso e só entraria em

vigor, se aprovado, após consulta a toda sociedade brasileira, através de um

referendo popular.

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei.§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.6

Como se observa, o legislador deixou a escolha sobre a proibição ou não

da comercialização de armas de fogo no país para a população, que exerceria seu

direito de cidadania e soberania popular, através do voto direto, como assegura a

Constituição Federal, optando ou não pela proibição.

6BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm>. Acesso em: 29 Out 2013.

Page 16: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

15

Fernando Capez, explica que o legislador na ânsia de conter a crescente

onda de criminalidade, na pressa de arrefecer o ânimo da população, a qual se

encontrava num estado de histeria coletiva, previu a possibilidade de vir a ser

proibida a comercialização de armas de fogo e munição.7

Muitos debates foram promovidos, tema bastante polêmico, gerou muita

discussão, onde logicamente se dividiam os que eram a favor da proibição total da

comercialização de armas de fogo e os que eram contra a proibição.

O Referendo popular foi realizado e o artigo 35 do Estatuto do

desarmamento acabou por não ser aprovado, implicando na permanência do

comércio de armas de fogo no país.8

A Diferença entre os que queriam a proibição do comercio de armas de

fogo e os que não queriam a proibição foi de 27 pontos. A pergunta que o eleitorado

tinha que responder era a seguinte: O comércio de armas de fogo e munição deve

ser proibido no Brasil? Sim ou Não.

O resultado foi que 36,06% dos votos validos disseram sim a proibição de

armas de fogo e munição enquanto a maioria, num total de 63,94%, votou pela não

proibição de venda de armas de fogo e munição.9

7CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 195.8 Idem9Diferença entre "não" e "sim" supera 27 pontos. Folha de São Paulo, 25 deOut. de 2005. Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/referendododesarmamento. Acessoem 1 de nov. de 2013.

Page 17: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

16

3 LEI 10.826/03 - ESTATUTO DO DESARMAMENTO

O presente capítulo tratará da lei 10.826/03, denominada Estatuto do

Desarmamento, bem como as diferenças entre armamento de uso permitido e de

uso restrito. O de uso permitido administrado pela Policia Federal e o de uso restrito

gerenciado pelo Comando do Exército.

Também abordará o registro de armas de fogo e as diferenças entre

posse e porte bem como os crimes previstos no estatuto do desarmamento levando

em consideração a lei 10.826/03, e os decretos 3.665/00 – que define conceitos

sobre armas permitidas e restritas - e 5.123/04 que regulamenta o estatuto do

desarmamento.

3.1 SISTEMA NACIONAL DE ARMAS – SINARM

O controle do comércio armamentista no país requer uma legislação

atualizada e focada a realidade, nos tempos atuais, com nossa sociedade

extremamente violenta, o efetivo controle deste arsenal se vincula com a prevenção

de segurança coletiva.

O Sistema Nacional de Armas, ou SINARM, já estruturado e colocado em

prática na legislação de armas anterior foi mantido, com o intuito de manter um

cadastro unificado das armas de fogo em todo território nacional como explica

Fernando Capez.

Trata-se de órgão federal instituído pela nova lei, com circunscrição em todo território nacional, encarregado de manter um imenso cadastro geral, integrado e permanente de armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no país, de sua competência bem como o controle do seu registro (art. 1º do Regulamento – Decreto lei n. 5.123, de 1º-7-2004).10

O SINARM está estabelecido no âmbito da Policia Federal, sob

gerenciamento do Ministério da Justiça e com circunscrição em todo país, com as

funções de cadastrar a produção, importação e comercialização de armamentos e

10 CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 4.

Page 18: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

17

acessórios e também o registro de seus proprietários, excetuando se dessa

competência os armamentos vinculados as forças militares e as que tiverem

registros próprios.

Como bem ensina Luiz Flávio Gomes, o legislador começou a relacionar

as armas de fogo como importantes produtos a serem controlados com o qual o

Estado deve manter o máximo controle e para isso tornou-se necessário a

implementação de uma estrutura especial, robusta e instrumentalizada.11

Com o objetivo de um eficaz controle, foi estipulada no artigo 2º da lei

10.826/03 a competência do Sistema Nacional de Armas.

Art. 2o Ao Sinarm compete:I – identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro;II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País;III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as renovações expedidas pela Polícia Federal;IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto, roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais, inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança privada e de transporte de valores;V – identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo;VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como conceder licença para exercer a atividade;IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas, varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de fogo, acessórios e munições;X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados pelo fabricante;XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro atualizado para consulta.Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios.12

Identificando as características de cada arma de fogo, como sua marca,

seu calibre, numeração, dentre outras características e também o nome e endereço

11 GOMES, Luiz Flávio e OLIVEIRA, Willian Terra de. Lei das Armas de Fogo. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 20.12BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 29 agosto 2013.

Page 19: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

18

de seus proprietários este cadastro possibilitaria um controle mais efetivo e de

grande importância para o real controle do arsenal armamentista do país.

Conforme relata Denise Cristina Lima Baptista, o cadastro será

permanentemente atualizado e também deverá constar qualquer alteração como a

mudança de endereço, transferência, extravio, furto ou roubo ou qualquer ocorrência

que altere os dados cadastrais.13

Ainda o decreto 5.123/04, que regula o estatuto do desarmamento,

estipula a finalidade do Sinarm em manter um cadastro geral, integralizado e

permanente das armas de fogo importadas, fabricadas e comercializadas no país e

ainda o controle dos registros destes armamentos.

Art. 1o O Sistema Nacional de Armas - SINARM, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circunscrição em todo o território nacional e competência estabelecida pelo caput e incisos do art. 2o da Lei no

10.826, de 22 de dezembro de 2003, tem por finalidade manter cadastro geral, integrado e permanente das armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no país, de competência do SINARM, e o controle dos registros dessas armas.§ 1o Serão cadastradas no SINARM:I - as armas de fogo institucionais, constantes de registros próprios:a) da Polícia Federal;b) da Polícia Rodoviária Federal;c) das Polícias Civis;d) dos órgãos policiais da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, referidos nos arts. 51, inciso IV, e 52, inciso XIII da Constituição;e) dos integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, dos integrantes das escoltas de presos e das Guardas Portuárias; f) das Guardas Municipais; eg) dos órgãos públicos não mencionados nas alíneas anteriores, cujos servidores tenham autorização legal para portar arma de fogo em serviço, em razão das atividades que desempenhem, nos termos do caput do art. 6o

da Lei no 10.826, de 2003.II - as armas de fogo apreendidas, que não constem dos cadastros do SINARM ou Sistema de Gerenciamento Militar de Armas - SIGMA, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais, mediante comunicação das autoridades competentes à Polícia Federal;III - as armas de fogo de uso restrito dos integrantes dos órgãos, instituições e corporações mencionados no inciso II do art. 6o da Lei no 10.826, de 2003; eIV - as armas de fogo de uso restrito, salvo aquelas mencionadas no inciso II, do §1o, do art. 2o deste Decreto.§ 2o Serão registradas na Polícia Federal e cadastradas no SINARM:I - as armas de fogo adquiridas pelo cidadão com atendimento aos requisitos do art. 4o da Lei no 10.826, de 2003;II - as armas de fogo das empresas de segurança privada e de transporte de valores; eIII - as armas de fogo de uso permitido dos integrantes dos órgãos, instituições e corporações mencionados no inciso II do art. 6o da Lei no

10.826, de 2003.

13 BAPTISTA, Denise Cristina Lima (Ed.). Estatuto do desarmamento: comentários e reflexões - Lei 10.826/2003. São Paulo: QuartierLatin do Brasil, 2004.p. 211.

Page 20: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

19

§ 3o A apreensão das armas de fogo a que se refere o inciso II do §1o deste artigo deverá ser imediatamente comunicada à Policia Federal, pela autoridade competente, podendo ser recolhidas aos depósitos do Comando do Exército, para guarda, a critério da mesma autoridade.§ 4o O cadastramento das armas de fogo de que trata o inciso I do § 1o

observará as especificações e os procedimentos estabelecidos pelo Departamento de Polícia Federal.14

Cabe salientar que ao Sinarm cabe o gerenciamento das armas de calibre

permitido cuja utilização é permitida a pessoas civis bem como a empresas privadas.

O decreto nº 3.665/00, conhecido como R-105, regulamenta a fiscalização sobre

produtos controlados e em seu Anexo, parágrafo 3º, incisos XVII e LXXIX define o

que é arma de uso permitido:

XVII - arma de uso permitido: arma cuja utilização é permitida a pessoas físicas em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a legislação normativa do Exército;

LXXIX - uso permitido: a designação "de uso permitido" é dada aos produtos controlados pelo Exército, cuja utilização é permitida a pessoas físicas em geral, bem como a pessoas jurídicas, de acordo com a legislação normativa do Exército.15

Ainda no artigo 17 do referido regulamento estão listados os produtos

considerados de uso permitido, que são:

Art. 17. São de uso permitido:I - armas de fogo curtas, de repetição ou semi-automáticas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia de até trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32 Auto, .32 S&W, .38 SPL e .380 Auto;II - armas de fogo longas raiadas, de repetição ou semi-automáticas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia de até mil libras-pé ou mil trezentos e cinqüenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .32-20, .38-40 e .44-40;III - armas de fogo de alma lisa, de repetição ou semi-automáticas, calibre doze ou inferior, com comprimento de cano igual ou maior do que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros; as de menor calibre, com qualquer comprimento de cano, e suas munições de uso permitido;

14 BRASIL. Lei 5.123 de 1 de julho de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5123.htm>. Acesso em 10 setembro 2013.15BRASIL. Lei 3.665 de 20 de novembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm>. Acesso em: 03 set 2013.

Page 21: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

20

IV - armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, com calibre igual ou inferior a seis milímetros e suas munições de uso permitido;V - armas que tenham por finalidade dar partida em competições desportivas, que utilizem cartuchos contendo exclusivamente pólvora;VI - armas para uso industrial ou que utilizem projéteis anestésicos para uso veterinário;VII - dispositivos óticos de pontaria com aumento menor que seis vezes e diâmetro da objetiva menor que trinta e seis milímetros;VIII - cartuchos vazios, semi-carregados ou carregados a chumbo granulado, conhecidos como "cartuchos de caça", destinados a armas de fogo de alma lisa de calibre permitido;IX - blindagens balísticas para munições de uso permitido;X - equipamentos de proteção balística contra armas de fogo de porte de uso permitido, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; eXI - veículo de passeio blindado.16

Como bem ensina Paulo Alves Franco, uma arma de calibre permitido

somente poderá ser adquirida com prévia autorização do Sinarm, competência esta

exclusiva da Policia Federal. Para adquirir uma arma o interessado deverá

primeiramente ir a uma loja especializada em venda de munições e armas e fazer

sua escolha, após decidir qual arma gostaria de comprar o vendedor encaminhará

uma solicitação a Policia Federal que averiguará os antecedentes do comprador, se

for certificado a negativa de antecedentes criminais o pedido de compra será

protocolado no Sinarm. Uma vez autorizado pelo Sinarm, a Policia Federal dará o

aval para a concretização da venda pela loja especializada, logo após poderá ser

emitida a nota fiscal e o registro será expedido conforme o art. 5, § 1, da lei

10.826/03.17

Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. § 1o O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.18

A competência para expedir o certificado de registro é da Polícia Federal

e tem validade em todo território nacional, o certificado somente autoriza o porte no 16BRASIL. Lei 3.665 de 20 de novembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3665.htm>. Acesso em: 03 setembro 2013.17 FRANCO, Paulo Alves. Porte de arma: estatuto do desarmamento. Leme: LED, 2004. p. 46.18BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 5 setembro 2013.

Page 22: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

21

interior de sua residência ou local de trabalho e nunca o direito de portar a arma fora

desses ambientes sob pena de infringir uma norma penal.

3.2 SISTEMA DE GERENCIAMENTO MILITAR DE ARMAS – SIGMA

O SIGMA é um órgão federal, criado no Ministério da Defesa, com

competência do Comando do Exército e validade para todo o território nacional e

tem como objetivo o gerenciamento de um banco de dados permanente e integrado

das armas de fogo importadas, produzidas e comercializadas no país que forem de

sua competência. O decreto 5.123/04 define em no primeiro parágrafo de seu artigo

2º quais as armas serão cadastradas no banco de dados militar:

Art. 2o O SIGMA, instituído no Ministério da Defesa, no âmbito do Comando do Exército, com circunscrição em todo o território nacional, tem por finalidade manter cadastro geral, permanente e integrado das armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no país, de competência do SIGMA, e das armas de fogo que constem dos registros próprios.§ 1o Serão cadastradas no SIGMA:I - as armas de fogo institucionais, de porte e portáteis, constantes de registros próprios:a) das Forças Armadas;b) das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares;c) da Agência Brasileira de Inteligência; ed) do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;II - as armas de fogo dos integrantes das Forças Armadas, da Agência Brasileira de Inteligência e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, constantes de registros próprios;III - as informações relativas às exportações de armas de fogo, munições e demais produtos controlados, devendo o Comando do Exército manter sua atualização;IV - as armas de fogo importadas ou adquiridas no país para fins de testes e avaliação técnica; eV - as armas de fogo obsoletas.§ 2o Serão registradas no Comando do Exército e cadastradas no SIGMA:I - as armas de fogo de colecionadores, atiradores e caçadores; eII - as armas de fogo das representações diplomáticas.19

Foi na norma regulatória do Estatuto do desarmamento, o Decreto

5.123/04, onde foram inseridas novas atribuições ao Sistema de Gerenciamento

19 BRASIL. Lei 5.123 de 1 de julho de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5123.htm>. Acesso em 1 nov. 2013.

Page 23: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

22

Militar de Armas, inserindo no rol de atribuições até mesmo o cadastro das armas de

colecionadores, atiradores, caçadores e de representantes diplomáticos.

Fernando Capez leciona sobre o tema e expõe seu entendimento da

seguinte maneira:

Trata-se de um novo sistema de controle de armas de fogo definido no art. 2º do Regulamento da Lei nº 10.826/03. O Sistema de Gerenciamento Militar de Armas – Sigma é um órgão federal, instituído pelo Ministério da Defesa, no âmbito do Comando do Exército, com circunscrição em todo território nacional e tem por finalidade manter cadastro geral permanente e integrado das armas de fogo importadas, produzidas e vendidas no País, de competência do Sigma, e das armas de fogo que constem de registro próprio.20

O Sigma é responsável pelas armas das Forças Armadas, das polícias e

bombeiros militares, dos órgãos da Presidência e de colecionadores, atiradores e

caçadores.

20CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 6.

Page 24: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

23

3.3 REGISTRO E PORTE DE ARMAS DE FOGO

Toda arma de calibre permitido deverá ser registrada no banco de dados

do Sinarm. O interessado em adquirir uma arma de fogo deverá requisitar ao órgão

da Policia Federal uma autorização para efetuar sua compra.

A autorização será deferida ou indeferida com a respectiva

fundamentação num prazo razoável de 30 dias. Se forem preenchidos os requisitos

legais para aquisição da arma de fogo será expedida a autorização de compra de

arma de fogo, requisição esta, pessoal e intransferível, conforme estipulado no artigo

4º da lei 10.826/03.

Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa;III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei.§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei.§ 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo.§ 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem vendidas.§ 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm.§ 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do interessado.§ 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo.§ 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida.21

21BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 29 agosto 2013.

Page 25: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

24

É de fácil compreensão que são inúmeros os procedimentos a fim de

comprovar ao órgão fiscalizador a real necessidade de adquirir uma arma, todos os

requisitos devem ser cumpridos rigorosamente e fica a cargo do respectivo órgão o

poder discricionário de autorizar ou não a aquisição e registro.

Se a autorização para a compra for deferida, o certificado autorizará o

proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente dentro de sua

residência/domicilio e também no seu local de trabalho se for proprietário ou

responsável legal do estabelecimento, assim diz o artigo 5° do Estatuto do

Desarmamento.

Art. 5o O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.22

Fica claro que o certificado de registro somente autoriza o proprietário da

arma de fogo a mantê-la no interior de sua propriedade ou trabalho e se distingue

totalmente ao ato de portar a arma livremente pelas ruas, conduta que neste caso

seria considerada criminosa e passível de aplicação de pena.

Não se deve confundir o registro de arma de fogo com o porte de arma de

fogo, o primeiro como já explicado, autoriza o proprietário a manter no interior de sua

residência ou estabelecimento uma arma devidamente registrada enquanto que o

porte de armas é muito mais amplo, permitindo ao proprietário portar, transportar,

levar junto uma arma de fogo fora das dependências particulares.

De acordo com Antonio Houaiss, portar significa:

Ter consigo (algo) enquanto se movimenta; levar, carregar.23

Com o objetivo de restringir o acesso ao porte de armas aos civis, o Estatuto

do desarmamento proibiu o porte de arma em todo território nacional,

salvaguardando algumas exceções, como segue o texto da lei.

22BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 29 agosto 2013.

23HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua portuguesa, Rio de Janeiro, Objetiva, 2010. p. 2266.

Page 26: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

25

Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para:I – os integrantes das Forças Armadas;II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal;III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei;IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinqüenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço; (Redação dada pela Lei nº 10.867, de 2004)V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal;VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias;VIII – as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei;IX – para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observando-se, no que couber, a legislação ambiental.X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92 da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP. § 1o As pessoas previstas nos incisos I, II, III, V e VI do caputdeste artigo terão direito de portar arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva corporação ou instituição, mesmo fora de serviço, nos termos do regulamento desta Lei, com validade em âmbito nacional para aquelas constantes dos incisos I, II, V e VI. § 2o A autorização para o porte de arma de fogo aos integrantes das instituições descritas nos incisos V, VI, VII e X do caput deste artigo está condicionada à comprovação do requisito a que se refere o inciso III do caputdo art. 4o desta Lei nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. § 3o A autorização para o porte de arma de fogo das guardas municipais está condicionada à formação funcional de seus integrantes em estabelecimentos de ensino de atividade policial, à existência de mecanismos de fiscalização e de controle interno, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei, observada a supervisão do Ministério da Justiça. § 4o Os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais e estaduais e do Distrito Federal, bem como os militares dos Estados e do Distrito Federal, ao exercerem o direito descrito no art. 4o, ficam dispensados do cumprimento do disposto nos incisos I, II e III do mesmo artigo, na forma do regulamento desta Lei.§ 5o Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que comprovem depender do emprego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1 (um) ou 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis), desde que o interessado

Page 27: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

26

comprove a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: I - documento de identificação pessoal; II - comprovante de residência em área rural; eIII - atestado de bons antecedentes. § 6o O caçador para subsistência que der outro uso à sua arma de fogo, independentemente de outras tipificações penais, responderá, conforme o caso, por porte ilegal ou por disparo de arma de fogo de uso permitido. § 7o Aos integrantes das guardas municipais dos Municípios que integram regiões metropolitanas será autorizado porte de arma de fogo, quando em serviço.

Evidente que o artigo 6º da norma vigente de armas estipula quem pode e

quem não pode portar armas, proibindo ao cidadão “comum” a autorização de portar

armas e especificando detalhadamente quem pode(rá) portar. Assim é o

entendimento do professorDamásio de Jesus:

O porte de arma de fogo é proibido(art 6º, caput), salvo raras exceções, atendendo-se a exigência de certas funções publicas e atividades privadas(inciso do art. 6º).A burocracia vai tornar a obtenção do registro tão trabalhosa que afastará a pretensão do cidadão comum de possuir arma de fogo, o que certamente está na mira do legislador.24

Restringir e controlar o acesso a armas com uma legislação moderna e

clara foi o objetivo principal do estatuto do desarmamento, muito além de somente

tipificar crimes e regulamentar pontos específicos, a lei de armas tem um caráter

infra pedagógico, onde inúmeros debates foram - e ainda são - promovidos em

vários setores da sociedade, pois é um assunto que a todos atinge de forma direta

ou indireta.

24JESUS, Damásio E. de. Direito penal do desarmamento: anotações à parte criminal da lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.p. 4.

Page 28: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

27

3.4 CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

Com o objetivo de proteger a sociedade dela mesmo, o estatuto do

desarmamento tem como meta a proteção ao direito à vida, visando àgarantia ao

cidadão de que não será qualquer um que poderá possuir e/ou portar arma de fogo

de forma legal e facilitada, e sim muito ao contrário, será difícil conseguir o registro e

o direito ao porte. Nesta linha de raciocínio, o legislador tipificou diversas condutas

criminosas, com pesadas penas para quem descumprir a norma vigente de armas.

Os crimes previstos estão enumerados nos artigos 12 ao 21 da lei 10.826/03 –

Estatuto do desarmamento.

3.4.1 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido

O artigo 12 do Estatuto do desarmamento tipifica o crime de possuir ou

manter arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido sem o devido registro:

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.25

Distintas são as ações típicas, a primeira cita o verbo possuir, onde

alguém tem em seu poder a posse de arma, munição ou acessório de uso não

restrito. O segundo verbo é o manter, que significa que alguém mantém uma arma,

munição ou acessório que não é seu. Este é o entendimento de Fernando Capez:

Duas são as ações nucleares típicas: (a) possuir: significa ter em seu poder, fruir a posse de algo, no caso, da arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, (b) manter sob sua guarda: significa ter sob seu cuidado, preservar, no caso, o artefato, em nome de terceiro. Difere de depósito, pois este consiste na guarda da arma para só próprio.26

25BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 14 outubro 2013.

26CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 70.

Page 29: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

28

Dando continuidade a análise textual do referido artigo, o legislador

quando fala em desacordo com determinação legal ou regulamentar quer dizer que

sempre que a norma for desrespeitada haverá a conduta típica criminosa. No

mesmo sentido disserta Fernando Capez:

É o elemento normativo jurídico do tipo. Assim, haverá a configuração típica sempre que as ações de possuir ou manter sob guarda arma de fogo, acessórios ou munições, forem praticadas com desrespeito aos requisitos constantes da Lei n. 10.826/2003 ou de ser Regulamento, por exemplo, posse de arma de fogo sem o registro concedido pela autoridade competente (art. 5º, §1º, da Lei) ou com prazo de validade expirado(art. 5º, § 2º, da Lei).27

Sendo assim, o agente que possuir ou manter arma, munição ou

acessório, no interior de sua residência ou estabelecimento comercial onde for

proprietário ou preposto estando sem o devido registro, ou ainda, com o registro

vencido, comete o crime tipificado no artigo 12 do Estatuto do desarmamento,

estando sujeito a sanção imposta.

3.4.2 Omissão de cautela

O artigo 13 tipifica a falta de cuidado quanto ao acesso a arma de fogo a

menor de idade e a pessoa portadora de deficiência cognitiva, abaixo segue o

referido artigo da lei 10.826/03.

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.28

27CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 70.

28BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 14 outubro 2013.

Page 30: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

29

O fato do possuidor legal da arma, seja pessoa física ou jurídica, deixar

de tomar os cuidados necessários ao acesso a armamento por menor de idade ou

pessoa com deficiência física já configura tipicidade de conduta, tratando-se

claramente de negligência e perigo iminente. Neste sentido são as palavras de

Renato Marcão:

Para conformação típica é necessário que o agente tenha deixado de observar as cautelas necessárias visando impedir que menor de 18 anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere da arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade.29

E mais ainda:

O possuidor ou proprietário de arma de fogo, sabendo da potencialidade lesiva do instrumento e também da ausência de inibidores de certas condutas a que se lançam facilmente as crianças e is adolescentes, bem como os portadores de deficiência mental, deve adotar todas as cautelas possíveis e imagináveis visando evitar o acesso e mesmo a proximidade destes a qualquer tipo de armamento.30

Em seu parágrafo único, o artigo 13 da lei 10.826/03 ainda inclui como

crime quando a figura do proprietário e/ou diretor de uma empresa de segurança e

transporte de valores deixa de comunicar em 24 horas a policia Federal o roubo,

perda ou extravio de qualquer material bélico que esteja sob sua responsabilidade.31

3.4.3 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

O legislador incluiu treze condutas típicas no artigo 14 do Estatuto do

desarmamento, que fala sobre o porte ilegal de arma de fogo de uso permitido,

segue o texto do referido dispositivo:

29 MARCÃO, Renato Flávio. Estatuto do desarmamento: (anotações e interpretação jurisprudencial da parte criminal da lei n. 10.826, de 22-12-2003). 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 40.30 Idem31CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 80.

Page 31: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

30

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.32

Segundo Damásio de Jesus, figura um crime comum, pois pode ser

cometido por qualquer pessoa onde o sujeito passivo é a coletividade, o porte

confere o direito de o sujeito trazer a arma de fogo consigo dentro ou fora de sua

residência ou ainda local de trabalho e depende de autorização da autoridade

competente.33

Cabe lembrar que no inicio deste capitulo foi definido quais são as armas

consideradas de uso permitido e as de uso restrito, sendo assim, se alguém for

flagrado portando, detendo, adquirindo ou qualquer outra das figuras incorporadas

no corpo do artigo 14 da lei 10.826/03 estará cometendo um crime e por ele

responderá nos termos da lei.

3.4.4 Disparo de arma de fogo

O legislador foi perspicaz em tipificar o disparo de arma de fogo como

crime, ampliando a proteção a incolumidade pública. O artigo 15 da lei 10.826/03 diz

o seguinte:

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.34

32 BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 14 outubro 2013.

33JESUS, Damásio E. de. Direito penal do desarmamento: anotações à parte criminal da lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 46.34 BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 14 outubro 2013.

Page 32: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

31

Evidente que disparos de armas de fogo em vias públicas ou local

habitado podem ocasionar lesões a terceiros inocentes, fato este mostrado

exaustivamente pelos meios de comunicação onde pessoas morrem alvejadas por

“balas perdidas” todos os dias no Brasil.

Damásio de Jesus explica que as causas que excluema ilicitude do

disparo de armas de fogo ou o acionamento de munição estão elencadas no artigo

23 do Código Penal, que são a legítima defesa, o estado de necessidade, estrito

cumprimento de dever legal e o exercício regular do direito.35

Segue o texto do artigo 23 do código penal:

Exclusão de ilicitudeArt. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade;II - em legítima defesa;III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.36

Vale lembrar que o crime para disparo de arma de fogo é inafiançável

conforme o parágrafo único do artigo 15 do Estatuto do desarmamento, porém, em

tese é admissível a liberdade provisória sem fiança.

3.4.5 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito

Neste artigo o legislador uniu a tipificação de possuir e portar no

mesmo dispositivo, além disso, aplicou pena mais pesada pelo fato do armamento

ser de uso restrito, como já foi explicado anteriormente, é um armamento que tem

um poder destrutivo muito superior em comparação às armas de uso permitido.

35JESUS, Damásio E. de. Direito penal do desarmamento: anotações à parte criminal da lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.p. 94.

36BRASIL. Decreto-lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em: 14 out. 2013.

Page 33: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

32

Segue o respectivo dispositivo da lei 10.826/03:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; eVI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.37

Neste sentido, são as mesmas condutas tipificadas no artigo 14 da norma

de armas, exceto pela inclusão do verbo possuir. Nota-se que as condutas são

alternativas, pois a realização de mais de um ato será indiferente, e o agente

responderá somente por uma conduta.

Na mesma linha de raciocínio disserta Fernando Capez, que afirma:

Neste caso, não se pode dizer que há um conflito aparente entre normas, mas um conflito travado dentro da própria norma, no qual somente terá incidência um dos fatos realizados pelo agente. Deste modo, aquele que transportar, mantiver sob guarda e fornecer artefato de uso proibido ou restrito responderá apenas por um crime.38

37BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 15 outubro 2013.

38CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 118.

Page 34: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

33

Com certeza é um dispositivo extenso que enumera uma grande

quantidade de condutas criminosas, com pena bastante elevada,demonstrando

claramente a intenção do legislador em coibir a pratica de qualquer tipo penal ali

descrita.

3.4.6 Comércio ilegal de arma de fogo

Dispositivo específico para o agente que comercializar ilegalmente

material bélico.Com pena base elevadíssima, este artigo demonstra o índice de

reprovabilidade que o legislador estipulou a estas condutas. O artigo 17 do Estatuto

do desarmamento define claramente as condutas:

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.39

Buscando evitar outros crimes relacionados com armas de fogo, tem

como meta a proteção da segurança coletiva. É um tipo penal que só pode ser

praticado por industrial ou comerciante que atue habitualmente no ramo de material

bélico, portanto um crime próprio.

No mesmo sentido ensina Renato Marcão:

39BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 15 outubro 2013.

Page 35: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

34

Crime próprio, só pode ser praticado por comerciante ou industrial que atue no ramo de arma de fogo, acessório ou munição. Por força do disposto no parágrafo único do art. 17, equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito de incidência típica, qualquer forma de prestação de serviço, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.40

Hábil foi o legislador em incluir o termo: inclusive o exercido em

residência, diminuindo assim maiores interpretações quanto ao lugar onde a conduta

criminosa for executada, pouco importando se num fundo de quintal ou em uma

empresa/indústria.

40MARCÃO, Renato Flávio. Estatuto do desarmamento: (anotações e interpretação jurisprudencial da parte criminal da lei n. 10.826, de 22-12-2003). 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 177.

Page 36: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

35

3.4.7 Tráfico internacional de arma de fogo

A Lei 10.826/03 prevê um dispositivo penal específico para o tráfico

internacional de armas de fogo, acessórios e munição, o Estatuto do desarmamento

estipula pena rigorosa para quem importar, exportar ou mesmo facilitar a entrada e

saída de armas, acessórios e munição no país.

Segue o respectivo dispositivo:

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.41

Ainda pela gravidade do crime, a pena é aumentada pela metade se o

armamento, acessório ou munição for de uso restrito ou proibido.

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.42

Bem analisa Fernando Capez, que tal como sucede para os crimes

hediondos, a conduta do artigo 18 da lei 10.826/03 é insuscetível de liberdade

provisória e esta estipulada no artigo 21 do Estatuto do desarmamento.43

Art. 21. Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.44

São medidas de extrema relevância no ordenamento jurídico

armamentista que demonstram a reprovabilidade da conduta de tais crimes, onde o

Estatuto do desarmamento sistematicamente impõe com rigor o efetivo controle e ao

mesmo tempo estipula penas rigorosas com o intuito de punir e de prevenir que tais

condutas ocorram.

41BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 15 outubro 2013.42 Idem43CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 163.44BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826.htm>. Acesso em: 15 outubro 2013.

Page 37: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

36

4 REALIDADE ARMAMENTISTA NO BRASIL DEZ ANOS APÓS A VIGÊNCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

O presente capítulo abordará a realidade armamentista do país uma

década após a promulgação do Estatuto do Desarmamento, analisará os resultados

obtidos após a campanha desarmamentista, também avaliará os aspectos

estatísticos, abordando a relação entre o desarmamento e a violência comparando

os aspectos positivos e negativos do Estatuto do Desarmamento.

4.1 ASPECTOS ESTATÍSTICOS

O Brasil carrega a fama de país do futebol, porém, também é intitulado

como o lugar onde mais morrem vitimas de armas de fogo. Segundo mapeamento

da violência dos municípios, uma população equivalente a capital de Santa Catarina,

ou seja, quase meio milhão de pessoas morreram entre 1996 e 2006.45

Diante de estatística alarmante e crescente com infrutíferas tentativas de

coibir a violência armada através de políticas públicas educacionais foi implantado o

Estatuto do desarmamento, que metodologicamente estipula inúmeros requisitos,

que visam dificultar a aquisição dos cidadãos a qualquer espécie de arma de fogo e

munição.

Dez anos após a vigência do Estatuto do desarmamento, O Instituto de

Pesquisa Aplicada – Ipea, publicou um estudo que analisou o impacto do Estatuto

sobre a distribuição e comercialização de armas no País. De acordo com o Ipea, a

compra de armas por pessoa caiu 40,6% após o Estatuto do Desarmamento.

Outro dado interessante da pesquisa é que jovens com idade entre 20 a

29 anos superavam em quase 200% a demanda de armas comparado com pessoas

20 anos mais velhas e segundo dados do Instituto de Pesquisa Aplicada, a queda da

demanda entre os estes jovens foi em torno de 50% após a implementação do

Estatuto do desarmamento.

45 WAISELFISZ, JulioJacobo. Mapa da violência dos municípios brasileiros. Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI, 2008, p. 94.

Page 38: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

37

Neste mesmo sentido, a maior demanda por armas de fogo estava entre

os analfabetos funcionais, dado este que também ouve drástica queda após a lei

10.826/03.46

Os dados foram obtidos através do IBGE, com a pesquisa de orçamento

familiar. Os resultados de acordo com a pesquisa foram que entre 2003 e 2010 as

famílias brasileiras deixaram de adquirir 20 mil armas por ano.47

Número bastante expressivo que demonstra a eficácia do estatuto do

desarmamento diante do menor número de aquisições de armas de fogo

comprovados estatisticamente.

46NERI, Marcelo. Impactos do Estatuto do Desarmamento sobre a Demanda Pessoal por Armas de Fogo. <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/presi/130401_estudocompraarmas.pdf >. Acesso em: 04 nov. 2013.47

MOTA, Renato. Jornal do Commercio. <http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17588&catid=159&Itemid=75>. Acesso em 10 out. 2013.

Page 39: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

38

4.2 O DESARMAMENTO E A VIOLÊNCIA

As constantes campanhas a favor do desarmamento têm como principal

meta a conscientização da sociedade de que possuir uma arma de fogo aumenta

drasticamente a probabilidade de violência, o número de vítimas e também o acesso

dos criminosos as armas legais que se encontram em posse de proprietários nas

suas residências. A presença de uma arma em casa pode, por exemplo, aumentar o

registro de violência contra a mulher.

Neste sentido Alexandre Jean Daoun diz que:

Tendo num cenário de violência, pessoas não afeitas a práticas criminosas e possuidoras de arma de fogo, podem tombar diante de fatalidades reservadas pelo destino. São aqueles que não têm índole violenta, mas que no ímpeto de uma discussão acalorada no transito, em casa, com esposa, marido, filho ou vizinho, acabam por vitimar seus pares pela utilização da arma de fogo, tornando-se em última análise, vítimas da própria conduta, vitimas da mesma fatalidade.48

É sábio pensar que não é a arma que mata e sim a pessoa que vier a lhe

fazeruso, mas convém admitir logicamente que,diante de um momento caloroso de

uma discussão se as partes em atrito não possuírem uma arma em mãos o real

perigo de morte súbita e/ou instantânea estará muito menos provável.

É da natureza humana sentir impulsos violentos, no mesmo sentido Rui

Barbosa disse que:

Só as raças degeneradas, os frutos pecos(definhados) da espécie humana, não enrubescem e sentem ferver o sangue nas veias, quando as mesmas barreiras da honra doméstica se fendem até os alicerces, deixando-a escancarada às empresas da força nos seus ínfimos instrumentos.49

48Daoun, Alexandre Jean. Estatuto do Desarmamento: Comentários e Reflexões – Lei 10.826/2003. São Paulo: QuartierLatin, 2004, p. 58.49 Rui Barbosa, in A obra de Rui Barbosa em Criminologia e Direito Criminal. Atualizado por Orlando Derezen. Campinas. Ed. Romana, 2003. p. 253.

Page 40: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

39

Em um mesmo dia podemos ter estes sentimentos impulsivos, contudo se

inexistente a presença de uma arma de fogo as chances de uma tragédia seriam

logicamente bastante reduzidas.

Page 41: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

40

4.3 ASPECTOS POSITIVOS DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO, DEZ ANOS

APÓS SUA PROMULGAÇÃO

Se ao menos uma morte fosse evitada diante da violência armada, o

Estatuto do desarmamento já teria valido a pena. Muitos foram os benefícios

alcançados pelo Estatuto do desarmamento nestes dez anos de vigência. Um eficaz

controle de armas de fogo diante de uma sociedade violenta e com baixa instrução

se tornou imprescindível.

Com o objetivo de educar e também prevenir tragédias, intensas

campanhas de desarmamento estão sendo feitas nestes dez anos, levando todos os

níveis da sociedade a discutir o real perigo que é possuir uma arma de fogo.

O Ministério da justiça mantém campanha permanente sobre a

importância do desarmamento no âmbito da sociedade civil. Vídeos com

depoimentos de familiares de vitimas de armas de fogo relatam suas trágicas

experiências que comovem e demonstram como vidas foram ceifadas pelo uso

indiscriminado de uma arma de fogo.50

Com a intenção de educar o cidadão sobre o real perigo que possuir uma

arma de fogo representa, a Campanha Nacional do Desarmamento do governo

Federal, mantém constantemente o debate em sites e veículos televisivos o foco

sobre o perigo eminente que é possuir uma arma de fogo em casa, com

depoimentos baseados em fatos verídicos descrevendo os acidentes envolvendo

armas de fogo.

Campanha Nacional do desarmamento usa uma abordagem emocional

para conquistar a atenção da população sobre a desvantagem de possuir uma arma

de fogo, frases de impacto como “Meu filho achou minha arma. Ele só tinha 8 anos.”,

“Se não estivesse armado, meu filho não teria perdido a vida naquela briga.” são

usadas na campanha e ainda mostrando o semblante do rosto triste nos

depoimentos.51

Segundo dados do Ministério da Justiça, incrivelmente nesses dez anos

de Estatuto do desarmamento foram entregues seiscentas mil armas de fogo.

Somente entre 2011 e 2012 foram entregues sessenta e três mil (63.000) armas de

50http://www.entreguesuaarma.gov.br/desarmamento/51 Idem

Page 42: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

41

fogo para a destruição em todo país, numero bastante expressivo que demonstra

claramente que os cidadãos estão se conscientizando sobre a real dimensão do

perigo que é possuir uma arma de fogo. As armas entregues são inutilizadas no ato

da entrega e mediante indenização paga pelo governo federal são enviadas para

destruição em locais apropriados. Existem 2.105 postos de entrega de armas em

todo país, e até o inicio de 2013, seiscentas e dezesseis mil, quatrocentas e

quarenta e seis (616.446) armas de fogo saíram de circulação.52

52http://www.entreguesuaarma.gov.br/desarmamento/

Page 43: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

42

5 CONCLUSÃO

Ao longo de todo o trabalho monográfico foi demonstrado a tentativa do

governo de restringir o acesso a armas de fogo à população civil brasileira, incluindo

extrema restrição ao comércio de armas. O Estado mostrou-se preocupado diante

da violência armada que assola nosso país. O resultado catastrófico de todo arsenal

bélico nas mãos da população civil evidencia-se através de estatísticas com o

número crescente de homicídios por armas de fogo.

O Estado acertou em promover políticas públicas de segurança com a

intenção de reduzir a criminalidade e a violência armada, mostrando que não se

encontra omisso e tampouco indiferente a manutenção da ordem pública.

O ser humano é violento por natureza e por impulso pode até mesmo

cometer um homicídio por inúmeros motivos, fúteis ou até mesmo aceitáveis. O fato

é que com uma arma em punho esta natureza violenta pode ser amplificada e uma

tragédia pré anunciada pode se tornar realidade.

Cabe ao governo através de políticas públicas realmente educativas

prevenir que tais fatos venham facilmente a acontecer, seja através de leis

reguladoras e/ou campanhas a favor da vida e da paz social.

A intensa campanha que o Estatuto do desarmamento promoveu foi de

grande valia e efetividade, a estrita relação entre mortes e arma de fogo foram

colocados em pauta em todos os níveis da sociedade. Escolas, palestras, televisão

e demais veículos de comunicação difundem e destacam a verdadeira função de

uma arma de fogo, que tem uma única utilidade: matar.

A campanha do desarmamento deverá ser permanente e também possui

um verdadeiro caráter educativo como forma eficaz de aceitação social, levando à

informação do real perigo de possuir armas de fogo as novas gerações e também

aos cidadãos com opinião formada. Rediscutir e quebrar paradigmas é uma das

metas da campanha desarmamentista em vigor.

O Estatuto do desarmamento é uma legislação considerada moderna e

adequada e que atende os anseios da sociedade como forma de coibir a violência

armada banalizada, porém é evidente que sozinha uma lei caminha a passos curtos

e que a melhor forma de elevar o nível intelectual e sócio cultural de uma sociedade

Page 44: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

43

é o investimento em educação sustentável e continuo com ênfase em distribuição de

igualdade e condições em todas as esferas sociais.

Este trabalho não tem como objetivo finalizar o tema e sim demonstrar

que a atual lei de armas do Brasil tem se mostrado eficaz no ponto de vista prático e

educativo durante estes dez anos de vigência e que os objetivos estão sendo

alcançados mediante a valorização da vida.

Page 45: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

44

REFERÊNCIAS

SILVA, Liliana Buff de Souzaet al. Estatuto do desarmamento: comentários e reflexões, São Paulo, QuartierLatin, 2004.

JESUS, Damásio E. de. Direito penal do desarmamento: anotações à parte criminal da lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento). 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

GOMES, Luiz Flávio, OLIVEIRA, Willian Terra. Lei das Armas de Fogo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998.

FRANCO, Paulo Alves. Porte de arma: estatuto do desarmamento. Leme: LED, 2004.

GARCIA, Roberto Soares. Estatuto do Desarmamento: Comentários e Reflexões – Lei 10.826/2003. São Paulo: QuartierLatin, 2004.

CAPEZ, Fernando. Estatuto do desarmamento: comentários à Lei n. 10.826, de 22-12-2003. 4. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 3. ed. rev. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

BRASIL. Lei 3.688 de 3 de outubro de 1941. Lei das contravenções penais. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3688.htm>. Acesso em: 11jul. 2013.

BRASIL. Lei 9.437 de 20 de fevereiro de 1997. Institui o Sistema Nacional de Armas - SINARM, estabelece condições para o registro e para o porte de arma de fogo, define crimes e dá outras providências.Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9437.htm>. Acesso em: 16 jul. 2013.

BRASIL. Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003. Estatuto do Desarmamento. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.826.htm>. Acesso em: 18jul. 2013.

BRASIL. Decreto-lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em: 14out. 2013.

WAISELFISZ, JulioJacobo. Mapa da violência dos municípios brasileiros. Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI, 2008.

DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL. Sistema Nacional de Armas – SINARM. Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/servicos/armas/>. Acesso em: 19 out. 2013.

Page 46: Monografia do Curso de Direito. Autor: Eduardo Rocha Fritzen

45

SANTOS, Alberto Marques dos. Criminalidade: causas e soluções. 1° ed., 4° tir. Curitiba: Juruá,2006.

Diferença entre "não" e "sim" supera 27 pontos. Folha de São Paulo, 25 de out. de 2005. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/referendododesarmamento. Acessoem 1 de nov. de 2013.

MOTA, Renato. Jornal do Commercio. Disponível em:<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=17588&catid=159&Itemid=75>. Acesso em 04nov. 2013.

NERI, Marcelo. Impactos do Estatuto do Desarmamento sobre a Demanda Pessoal por Armas de Fogo. Disponível em:<http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/presi/130401_estudocompraarmas.pdf >. Acesso em: 04 nov. 2013.