monografia de michelle santana novaes de assis na ufop em 2010

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG Ouro Preto 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS

HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS:

ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG

Ouro Preto

2010

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MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS

HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS:

ESTUDO DE CASO DAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO - MG

Ouro Preto

2010

Monografia apresentada ao Curso de

Turismo da Universidade Federal de

Ouro Preto como requisito à obtenção

do título de Bacharel em Turismo.

Orientador: Profº. Dr. Aluísio Finazzi Porto Co-orientador: Ricardo Eustáquio Fonseca Filho

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MICHELLE SANTANA NOVAES DE ASSIS

HOSPITALIDADE EM MORADIAS ESTUDANTIS: ESTUDO DE CASO DAS

REPÚBLICAS DE OURO PRETO – MG

Monografia apresentada ao

Curso de Turismo da

Universidade Federal de Ouro

Preto, como requisito à obtenção

do título de Bacharel em Turismo

COMISSÃO EXAMINADORA:

Professor Doutor Aluísio Finazzi Porto Universidade Federal de Ouro Preto

Turismólogo Ricardo Eustáquio Fonseca Filho Universidade Federal de Ouro Preto

Professor Mestre Bruno Pereira Bedim Universidade Federal de Ouro Preto

Ouro Preto, 02 de dezembro de 2010

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Dedico este trabalho aos meus

pais, que sempre me apoiaram

e acreditaram em mim. Esta

conquista também é de vocês!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, que sempre abdicaram de seus sonhos em função dos meus, pela confiança depositada e o total apoio ao longo dos anos da graduação que foram essenciais para a conclusão deste trabalho. À minha irmã, Ana Laura, que amo como se fosse minha filha, por tornar meus dias mais felizes desde o seu nascimento. À Universidade Federal de Ouro Preto pelo ensino gratuito e de qualidade. Ao professor Aluisio Finazzi pela orientação. Ao Ricardo, por me auxiliar não somente durante a elaboração deste trabalho, como co-orientador, mas também ao longo do curso. À República Volkana, minha eterna casa, e às minhas irmãs flores pelo, companheirismo, amizade e aprendizado. Sentirei saudades! Aos amigos que fiz em Ouro Preto. Jamais esquecerei! Ao Henrique pelo carinho e incentivo, principalmente nesta reta final. Às repúblicas amigas por marcarem de forma mágica e intensa minha vivência em Ouro Preto. Em especial às Repúblicas Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres, Consulado, Maternidade, Sinagoga e Volkana, que com suas histórias enriqueceram este TCC. À tradição do sistema de repúblicas de Ouro Preto que, desde um primeiro momento, despertou em mim uma intensa vontade de viver a “experiência republicana” e foi além das minhas expectativas, me motivando a realizar este trabalho. Ao Sérgio e aos colegas da Assessoria de Programas e Projetos da PROEX pelo apoio e compreensão durante o desenvolvimento deste trabalho. À Ouro Preto, cenário dos melhores anos da minha vida.

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"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

Fernando Pessoa

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RESUMO

Estudos recentes apontam para novas vertentes da hospitalidade, esta que deixa de estar vinculada somente à hotelaria e aos alimentos & bebidas para abranger diversos outros campos. As peculiares repúblicas estudantis de Ouro Preto despertam reflexivos olhares em relação a muitos aspectos. Inúmeras são as especulações sobre os prós e contras de morar em uma república, de hospedar-se nelas, de freqüentá-las. A tradição das repúblicas em Ouro Preto existe há mais de setenta anos, e a discussão acerca disto é sempre muito polêmica, a começar pelo seu sistema operacional que para uns é falho e reflete o autoritarismo, humilhação, preconceitos e perda da liberdade, já para outros reflete a união, aprendizado, companheirismo, disciplina, empreendedorismo e vínculos eternos de amizade. Estas moradias estudantis já atingiram visibilidade em nível nacional, e muitas vezes são marginalizadas por pessoas que não conhecem sua ideologia e funcionamento por completo. Algo tão grandioso e diferente necessita um estudo aprofundado, que possibilite às pessoas que nunca viveram essa experiência analisar dados concretos e verídicos para, somente então, criarem suas opiniões e expectativas a este respeito. Com base nessas informações, este estudo visa, dentre outras coisas, relacionar os novos conceitos de hospitalidade com o sistema de repúblicas de Ouro Preto, destacando a ocorrência e a importância dessa vertente do turismo neste contexto. Palavras Chave: repúblicas, hospitalidade, polêmica, peculiares, Ouro Preto.

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ABSTRACT

Recent studies point to new aspects of hospitality, which is no longer only linked with hotel management and food & drinks, but also encompassing several other fields. The peculiar fraternities and sororities ("Repúblicas") in Ouro Preto arouse reflexive sights in many respects. There are countless speculations about the pros and cons of living, staying or even attending a fraternity. The tradition of these “Repúblicas” lasts for over seventy years, and discussions about it are always very polemic, starting with its operating system considered faulty by some regarding it reflects authoritarianism, humiliation, prejudice and loss of freedom, while for others reflects the union, learning, fellowship, discipline, entrepreneurship and eternal bonds of friendship. These student houses have already achieved visibility at the national level, and are often marginalized by people who do not know their ideology and system altogether. Something so great and different requires a thorough study, which enables people who have never lived this experience to analyze concrete and truthful data, and only then, build their opinions and expectations in this regard. Based on this information, this study aims at, among other things, relating the new concepts of hospitality to the system of the fraternities and sororities in Ouro Preto, highlighting the occurrence and importance of this tourism aspect in this context.

Keywords: fraternities, hospitality, polemic, quirky, Ouro Preto.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos

Nobres ....................................................................................................................... 23

Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias ..................... 26

Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle

Novaes ...................................................................................................................... 27

Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi

restaurado no cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle

Novaes ...................................................................................................................... 28

Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010 ..................... 28

Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô ............................... 29

Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle

Novaes ...................................................................................................................... 31

Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis ..................................... 32

Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova . 34

Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius .......................... 35

Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca .............................. 37

Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle

Novaes ...................................................................................................................... 38

Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República

Maternidade .............................................................................................................. 41

Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República

Maternidade .............................................................................................................. 42

Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte:

Acervo República Maternidade ................................................................................. 43

Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http://

http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em

14 nov. 2010 .............................................................................................................. 47

Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República

Volkana ..................................................................................................................... 48

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Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo

República Volkana .................................................................................................... 49

Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga.

Fonte: Acervo Michelle Novaes ................................................................................. 58

Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle

Novaes ...................................................................................................................... 59

Figura 21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga

ouvindo a sua história. Fonte: Acervo Michelle Novaes ............................................ 60

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 12

2. METODOLOGIA............................................................................................. 18

3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO................................................................. 22

3.1. República Castelo dos Nobres........................................................... 22

3.2. República Consulado......................................................................... 25

3.3. República Bangalô............................................................................ 29

3.4. República Casanova.......................................................................... 32

3.5. República Aquarius............................................................................ 35

3.6. República Sinagoga........................................................................... 37

3.7. República Maternidade....................................................................... 39

3.8. República Volkana.............................................................................. 43

4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS.......................................................... 50

4.1. Hospitalidade dos republicanos para com os calouros recém

chegados............................................................................................ 50

4.2. Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos.................... 52

4.3. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes

amigos................................................................................................ 54

4.4. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes

turistas................................................................................................ 57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 63

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 67

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Dicionário Aurélio, define-se hospitalidade como a “Ação de

acolher em casa por caridade ou cortesia: dar hospitalidade. / Qualidade do que é

hospitaleiro.”

Hospitalidade é um conjunto de leis não escritas que regulam o ritual social e cuja

observância não se limita aos usos e costumes das sociedades (CAMARGO, 2003).

Pode-se definir a hospitalidade, entre outras coisas, de acordo com os seguintes

tópicos:

Receber hóspedes de uma maneira calorosa e cordial;

Criar um ambiente agradável ou confortável;

Satisfazer a necessidade dos hóspedes;

Criar uma atmosfera amigável e segura.

Segundo CHON (2003), cada uma das afirmações contidas nos tópicos acima tem

uma expectativa intuitiva (e correta) quanto ao que é e o que não é hospitalidade.

A idéia de hospitalidade, data, é claro, de épocas muito

anteriores, desde as evidências históricas encontradas

nos primeiros centros da civilização, como a Mezopotâmia

(atual Iraque), às referências bíblicas à tradição de lavar

os pés dos hóspedes, até os posteriores registros dos

donos de hospedaria ingleses que, com uma caneca de

cerveja, recebiam viajantes cansados. O conceito de

hospitalidade, no entanto, permaneceu o mesmo ao longo

da história: satisfazer e servir os hóspedes. (CHON, 2003,

p.1)

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A função básica da hospitalidade é estabelecer um relacionamento ou promover um

relacionamento já estabelecido. Os atos relacionados com a hospitalidade obtêm

esse resultado no processo de troca de produtos e serviços, tanto materiais quanto

simbólicos, entre aqueles que dão hospitalidade e aqueles que recebem. Uma vez

que os relacionamentos necessariamente se desenvolvem dentro de estruturas

morais, uma das principais funções de qualquer ato de hospitalidade, no caso de um

relacionamento já existente, é consolidar o reconhecimento de que os anfitriões e os

hóspedes já partilham do mesmo universo moral ou, no caso de um novo

relacionamento, permitir a construção de um universo moral em que tanto o anfitrião

quanto o hóspede concordam em fazer parte.

Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), estudos atuais têm destacado que

o conceito de hospitalidade não se limita às empresas que oferecem serviços de

hospedagem (hotéis, hospitais, albergues, etc.) e de alimentos e bebidas

(restaurantes, bares, lanchonetes). Eles afirmam também que esse conceito está

fortemente ligado ao turismo, mas não se prende a ele, sendo a hospitalidade,

inclusive, muito maior que este.

DENCKER (2004) citando TELFER (2000), ressalta que as pessoas têm o dever da

hospitalidade para com aqueles que fazem parte do seu círculo. Desse ponto de

vista, estabelecimentos como hotéis, restaurantes, bares, shoppings, assim como

praças e outros espaços públicos, bem como lugares de visitação e meios de

transporte podem ser vistos como hospitaleiros por freqüentadores e usuários que

fazem parte do seu círculo, ou seja, se identificam com eles, reconhecem sua

hospitalidade, são fiéis a eles ou fazem parte do público-alvo que os freqüenta e

para o qual foram dirigidos e planejados pública ou mercadologicamente, até mesmo

por meio da comunicação e propaganda.

Ouro Preto, cidade mineira conhecida mundialmente como Patrimônio Mundial da

Humanidade, torna-se um importante local para eventos e festividades. Alguns

desses eventos são tradicionais no calendário de festas da cidade, como o Carnaval

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e a Semana Santa. Ser um atraente destino turístico faz com que, constantemente,

Ouro Preto seja palco da realização de importantes eventos científicos e culturais.

Ouro Preto ainda é cenário da vida acadêmica de milhares de estudantes da

Universidade Federal de Ouro Preto. Muitos destes, provenientes de outras cidades

e estados, são acolhidos por tradicionais moradias estudantis, denominadas

“repúblicas”, que já fazem parte da identidade da cidade. (JAQUES, 2006).

A palavra “república”, originada do latim, em seu sentido original, refere-se a coisas

que não são de propriedade particular, mas sim pertencem ao povo. Segundo Ari

Riboldi1, devido ao significado das palavras latinas que o compõe, "res" (coisa) e

"publica" (pública), o termo passou a assumir outras aplicações como, por exemplo,

“república de estudantes”, que são habitações divididas por grupos de estudantes,

geralmente provenientes de outras cidades para cursar o ensino superior, sem

recursos para alugar uma residência individualmente. (Redação Terra / Educação /

Você Sabia? / Notícias <

http://noticias.terra.com.br/educacao/vocesabia/noticias/0,,OI3793812-EI8399,00-

De+onde+vem+o+termo+republica+de+estudantes.html>, Acesso em 28 out. 2010).

As repúblicas estudantis de Ouro Preto são mais conhecidas e reconhecidas em

relação à cidade do que a própria Universidade e fazem parte da tradição de Ouro

Preto, pois ao longo de quase um século2 desenvolveram uma cultura própria e

mantiveram laços com seus ex-alunos e ex-residentes. Muitas delas foram

instaladas em prédios pertencentes à UFOP e absorveram parcela significativa dos

alunos em Ouro Preto e Mariana (JAQUES, 2006).

Para muitos de nós, viver é morar. O ser humano está sempre à procura de um

ninho. Quer se trate de uma caverna ou de um castelo, ele pode aí esconder-se,

abrigar-se, organizar-se. A moradia é um quarto, um apartamento, uma casa, um

pequeno jardim, um pequeno pátio, um bairro, uma aldeia, uma cidade. A moradia é

1 Autor do livros “O bode expiatório” e “A CPI das Palavras”

2 A primeira república estudantil da UFOP é de 1919.

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dormir, comer, é a família, os contatos sociais, os lazeres, os trabalhos domésticos

algumas vezes, o trabalho profissional. A habitação reveste-se de importância social.

É ali, ou nos arredores, que o indivíduo passa de 60% a 70% do seu tempo livre.

(KRIMPPENDORF, 2001)

Segundo Machado (2001), Ouro Preto é a cidade brasileira com o maior conjunto de

repúblicas estudantis universitárias, com práticas culturais centenárias, e uma

importante inserção na cidade. Desta forma, suas práticas culturais são

influenciadas pelo ambiente cultural da cidade, e da mesma forma, influencia a vida

social e cultural de Ouro Preto. Um primeiro aspecto a ser considerado é o esforço

na conservação das casas de “repúblicas” para se enquadrar aos padrões gerais do

patrimônio histórico e artístico da cidade, que é reforçado pelo significado simbólico

de Ouro Preto. Por outro ponto, as repúblicas criaram uma imagem em Ouro Preto

quanto à boemia e à grandes festas.

O que diferencia essas repúblicas de Ouro Preto das existentes nas diferentes

regiões do Brasil, como também em outros lugares do mundo, tanto nas cidades

portuguesas de Coimbra e Lisboa, quanto em outras cidades da Europa e dos

Estados Unidos – que embora estejam de alguma forma assemelhadas não

possuem uma organicidade e um conjunto de tradições articuladas no conjunto

universitário – são: a) o caráter permanente, o que significa que não há a sua

dissolução quando os estudantes se formam; b) as repúblicas já possuem muitas

tradições levando-se em conta que muitas delas já existem há mais de cinqüenta

anos; c) o contato entre os seus alunos e ex- alunos o ano inteiro, que se intensifica,

sobretudo, nas comemorações do aniversário da Escola de Minas de Ouro Preto na

chamada Festa do 12 de outubro (MACHADO, 2001).

Quando se planeja uma viagem, um dos custos mais altos com a mesma geralmente

são os gastos com a hospedagem. As repúblicas de Ouro Preto, além de moradias

estudantis, são uma econômica opção de meio de hospedagem informal, onde os

moradores das mesmas cobram valores simbólicos de diárias, para cobrir despesas

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da casa, como gastos com luz, possibilitando assim que os estudantes, classe que

normalmente não possui renda econômica significativa, possam visitar Ouro Preto,

e além de conhecer seus atrativos turísticos tenham oportunidade de conhecer e

vivenciar um pouco da rotina do sistema de repúblicas existente na cidade. Esta

ação proporciona um intercâmbio cultural e social para ambas as partes.

Segundo LOHMANN & PANOSSO NETO (2008), o turista, visto como aquele que se

desloca para fora de sua residência habitual, por motivos variados, necessita da

hospitalidade, esta que seria um bom acolhimento, boa comida, atendimento às

suas necessidades básicas e especiais, compreensão e oferecimento de um leito

para dormir. Por sua vez, a hospitalidade não é encontrada somente no turismo. Ela

pode estar numa loja de roupas, que sabe receber bem o seu cliente; em um salão

de beleza, que deixa o visitante à vontade; ou em uma universidade, que oferece a

seus alunos e professores espaços de estudo com cadeiras estofadas, boa

iluminação e circulação de ar eficaz, que deixam o ambiente agradável. Os autores

afirmam que pode-se dizer que onde está o turismo deve estar a hospitalidade, mas

onde está a hospitalidade nem sempre está o turismo. Partindo dessa lógica,

podemos dizer que a hospitalidade está presente em uma república estudantil que

recebe seus novos moradores em uma casa já estruturada e dando o apoio

necessário para que ele se adapte o quanto antes em sua nova moradia, e também

quando os ex-alunos e amigos desta mesma república são recebidos pelos atuais

moradores com toda atenção e receptividade suficientes para que todos se sintam à

vontade em sua sede.

Quem recebe uma visita no conceito doméstico fica em “vantagem” em relação ao

visitante, pois este tem a obrigação de receber bem o anfitrião no momento em que

ele for hóspede. Percebe-se, assim, que a hospitalidade representa um fenômeno

social que engloba alimentos e bebidas e os meios de hospedagem oferecidos ao

hóspede, mas não é só isso. Ela é também a base de um ato humano que percorre

séculos de história, e que está enraizado na própria questão de sobrevivência da

espécie humana. (LOHMANN & PANOSSO NETO, 2008).

Page 17: Monografia de michelle santana novaes de assis na ufop em 2010

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É comum observarmos em Ouro Preto estudantes, moradores de repúblicas,

organizando-se para realizar viagens para a cidade de onde provinham seus

hóspedes, com objetivo de hospedarem-se na residência dos mesmos. A interação

entre ambos é tão significativa que gera vínculos de amizade que permitem esse

tipo de ação.

LOHMANN & PANOSSO NETO, (2008) apud Lashley, et al. (2006) ao afirmar que

os estudos da hospitalidade estão saindo do domínio do gerenciamento de hotéis e

restaurantes, se diversificando e ganhando uma visão mais abrangente por obra de

teólogos, sociólogos, historiadores, antropólogos e filósofos. Devido a essa

diversificação das abordagens sobre a hospitalidade, o que se torna evidente é que

o estudo da hospitalidade está ganhando força, profundidade, massa crítica e

maturidade, indicando significância como um substancial domínio de pesquisa.

O fato de a hospitalidade estar ganhando espaço nos campos de pesquisa de forma

abrangente unido à pequena ocorrência de trabalhos históricos de importância e

relevância sobre as repúblicas estudantis de Ouro Preto justificam a realização de

um trabalho com esta temática.

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2. METODOLOGIA

“A pesquisa é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que

requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a

realidade ou para descobrir verdades parciais”. (MARCONI & LAKATOS, 1991).

Durante o processo de viabilização de uma investigação científica, independente do

tema a ser explorado, é importante unir a consulta de material bibliográfico,

publicado ou não, à coleta de dados em campo ou laboratório, a fim de dispor de

dados precisos para a realização da pesquisa.

Segundo SANTOS (2004), a pesquisa científica pode ser caracterizada como

atividade intelectual intencional que tem como objetivo responder às necessidades

humanas. Para ele, pesquisar é o exercício intencional da pura atividade intelectual,

visando melhorar as condições práticas de existência.

A pesquisa científica produz, em um primeiro momento, conhecimentos para o

pesquisador e, depois, um texto escrito para o leitor, o que exige duas competências

distintas: a habilidade de produzir conhecimentos e a habilidade apresentá-los por

escrito.

De acordo com o objeto de estudo é possível a escolha por um tipo de pesquisa.

Existem diversas classificações. “Os critérios para a classificação dos tipos de

pesquisa variam de acordo com o enfoque dado pelo autor”. (MARCONI &

LAKATOS, 1991, p. 19).

A pesquisa realizada é do tipo exploratória, pois busca uma familiaridade pela

prospecção de materiais que possam informar ao pesquisador a real importância do

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vigente estudo, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis sobre

o assunto e até mesmo revelar ao pesquisador novas fontes de informação Essa

pesquisa exploratória foi feita na forma de levantamento bibliográfico, pesquisa

documental e entrevista não estruturada com moradores das repúblicas, calouros,

ex-alunos, visitantes e turistas.

A pesquisa exploratória é tida como o primeiro passo de todo o trabalho científico.

Ela possibilita a delimitação de uma temática de estudo; pode-se dizer que a

pesquisa exploratória tem como principal objetivo o aprimoramento de idéias ou a

descoberta de intuições, análise de exemplos que estimulem a compreensão.

Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas ou estudos de caso.

(SANTOS, 2004).

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências

teóricas publicadas em livros e documentos, buscando conhecer e analisar as

contribuições culturais ou científicas existentes sobre um determinado assunto, tema

ou problema (LAKATOS & MARCONI, 1989).

A pesquisa pode também ser classificada como descritiva, pois seu conteúdo

envolve a descrição das características de determinada comunidade. Segundo Gil:

Pesquisa desse tipo tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. (GIL, 1999, p.44)

Page 20: Monografia de michelle santana novaes de assis na ufop em 2010

20

A metodologia de investigação baseia-se, então, em levantamentos bibliográficos e

documentais. Entre o material bibliográfico estão livros, documentos informais e

artigos de cunho teórico.

As 58 repúblicas federais da UFOP, localizadas em Ouro Preto, são sediadas em

imóveis pertencentes à União, onde os alunos da UFOP, que nelas residem, não

necessitam pagar taxas referentes à locação. As demais despesas da casa são

divididas igualmente por todos os moradores. Estas repúblicas se dividem em

masculinas e femininas, com exceção da República Arte & Manha, que é mista, e

são administradas por um sistema de auto-gestão, onde os moradores tem o direito

de selecionar novos ingressantes por critério de afinidade. Além destas repúblicas,

existem outras 10 que são sediadas em imóveis públicos, ou possuem residência

própria em nome de associações de ex-alunos, mas que não seguem o regimento

da Resolução CUNI-1.150, sendo estas as repúblicas Arca de Noé, Arcádia, FG,

Formigueiro, Hospício, Pureza, Reino de Baco, Sparta, Taranóia e Vaticano.

As repúblicas particulares da UFOP são sediadas em imóveis privados. Os alunos

que nelas residem dividem igualmente, entre eles, as despesas da casa, incluindo

taxas de locação. Não se tem um número exato referente a quantas são as

repúblicas particulares da UFOP em Ouro Preto, mas estima-se que existam mais

200. Destas, 29 repúblicas tem mais de 15 anos de fundação (171 masculina,

Alforria, Aruanda, Avalon, Belladona, Bicho do Mato, Bico Doce, Birinaite,

Caixotinho, Cirandinha, Cruz Vermelha, Doce Veneno, Favinho de Mel, Feitiço,

Gandaia, Harém, Indignação, Lua Azul, Manicômio, Maternidade, Minas das Minas,

Nascente, Paraíso, Quase Normal, Snoopy, Tôa-Tôa, Volkana, Xamego e Xeque

Mate). As repúblicas citadas acima são também administradas por sistema de auto-

gestão onde existe processo de seleção de novos ingressantes semelhante ao das

repúblicas federais, em que o critério de afinidade é priorizado.

A Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (REFOP) possui documentos

sobre a história de todas as repúblicas ligadas a associação. Fazem parte desta

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amostra as repúblicas federais Aquarius, Bangalô, Casanova, Castelo dos Nobres,

Consulado e Sinagoga, e a república particular Maternidade. Todas masculinas e

fundadas há mais de 30 anos. A amostra contém também a república particular

feminina Volkana, fundada em maio de 1993. As repúblicas femininas têm história

mais recente em Ouro Preto, a mais antiga3 existe há 41 anos. Além de documentos

provenientes da REFOP e do acervo das próprias repúblicas, foram realizadas

visitas à inúmeras repúblicas de Ouro Preto em dias de rotina do dia-a-dia

acadêmico, durante o carnaval, festa do 12, festa do 21 de abril, festas de

formaturas, festa da família, durante a permanência de estudantes excursionistas,

em dias de matrícula referente ao vestibular da Universidade e em festas rotineiras

ao longo do período. Foram utilizados também depoimentos de ex-alunos, turistas e

amigos das repúblicas.

3 República Convento – Fundada em 1969.

Page 22: Monografia de michelle santana novaes de assis na ufop em 2010

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3. REPÚBLICAS DE OURO PRETO

Para que seja possível identificar a hospitalidade ocorrente em repúblicas, faz-se

necessário um breve conhecimento da história das mesmas. O modelo de gestão

atual é oriundo da organização das repúblicas desde sua fundação, passando

apenas por um processo de adaptação aos novos tempos.

No acervo da REFOP constam documentos que falam sobre a fundação, gestão,

ingresso e cotidiano da vida estudantil dentro das repúblicas. Constam também

depoimentos de ex-alunos, que são pessoas que se formaram na Escola de

Farmácia de Ouro Preto, na Escola de Minas de Ouro Preto ou na Universidade

Federal de Ouro Preto, e relatam sobre sua experiência enquanto moradores de

repúblicas estudantis em Ouro Preto e as influências que este período teve em sua

vida profissional e pessoal.

De acordo com a Resolução CUNI 1.150 – Estatuto das Repúblicas Federais,

capítulo II, Art.9º, § 1º: Com a finalidade de obter recursos para execução dos

objetivos da Moradia Estudantil, bem como para manutenção das edificações,

poderão os moradores organizar festas e albergar convidados, desde que

devidamente amparados por um Projeto de Desenvolvimento Institucional

previamente aprovado pela Pró-reitoria de Administração, ouvida a REFOP.

3.1. República Castelo dos Nobres

A República Castelo dos Nobres tem sua data de fundação ainda encoberta.

Considerada a república mais antiga de Ouro Preto, estipula-se que ano de sua

fundação seja o de 1919. Tomaram conhecimento desta data através do depoimento

de um ex-aluno, hoje falecido, o professor Walter José Von Krüger, que viveu muitos

anos e consigo guardou a memória dos anos em que morou na Castelo. Atualmente,

sua sede situa-se à Rua Bernardo Vasconcelos, 91, Antonio Dias (Figura 1).

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Figura 1 República Castelo dos Nobres. Fonte: Acervo República Castelo dos Nobres

Quem passa pelo processo de seleção para se tornar morador da Castelo almeja ser

um “nobre”, título dado a todos que passam, com sucesso, pelo processo de batalha

de vagas nesta república.

A Castelo, assim como as demais repúblicas federais de Ouro Preto, é um tipo, um

tanto quanto peculiar, de moradia estudantil, que tem como ideal o compartilhar

entre todos, que nela convivem, toda a infra-estrutura que a moradia possui, e

também, a partilha de coisas pessoais para suprir a necessidade de algum morador

menos favorecido, além da manutenção da casa, que é um espaço público e comum

a todos que nela moram.

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No que tange a convivência, a Castelo se caracteriza por unir em seu interior, ao

longo dos anos, diversas personalidades, gostos, ideais, pontos de vista e condições

econômicas respeitando sempre o morador no coletivo, mas ensinando-o também a

respeitar a coletividade que se dá através da união das diferenças que cada um

possui, sendo este aprendizado por parte dos moradores, imperativo bom para o

funcionamento da Castelo, boa convivência para todos que nela moram e sucesso

na graduação.

Outra característica é a amizade que se desenvolve entre os moradores, tanto entre

os contemporâneos, ou seja, os que ali residem na mesma época, quanto entre

estes e os de gerações passadas. Amizade essa que liga a todos, mesmo estando a

quilômetros de distância ou há anos sem contato. Essa amizade é reforçada

também pelo respeito mútuo entre as gerações, sendo dos “nobres” mais novos para

com os mais antigos, já que estes últimos, de algum modo, passaram por situações

semelhantes às atuais e carregam consigo a memória da república, e dos mais

velhos para com os mais novos por que, com o ânimo novo que deles precede,

surgem grande parte das novas boas idéias e soluções que tendem a melhorar a

Castelo.

A Castelo se caracteriza, também como outras repúblicas, por manter viva a

memória dos que um dia viveram nela e se formaram, os chamados ex-alunos. Essa

memória tem como signo o “quadrinho” do “nobre”, que é uma foto emoldurada do

formando, geralmente vestindo beca, que simboliza o testemunho do período que

ele ali viveu.

Apesar da conclusão do curso universitário, e partida da casa, o ex-aluno não deixa

de ser um nobre, e tampouco é esquecido. Ficam os vínculos que foram construídos

ao longo dos anos de convivência, as estórias, benfeitorias e o “quadrinho”, o último

como signo principal dessa história. A partir desses vínculos nasce uma rede de

contatos onde, dentre outras coisas, acarreta facilidades como boas oportunidades

profissionais para novos ingressantes no mercado de trabalho.

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Enquanto moradores da Castelo, os “nobres” que ali residem, têm o dever de

administrá-la em seu cotidiano da melhor forma possível. Existe uma hierarquia

entre os moradores, o que facilita a divisão de tarefas. O calouro chega à república

como “bixo” para batalhar vaga na mesma. Durante o período de batalha de vagas

ele é constantemente observado pelos moradores já intitulados “nobres” que ali

residem. Estes moradores têm a obrigação de ensinar ao “bixo” os deveres da casa,

como deve ser feita sua organização, as regras de convivência, sua história, seus

ideais e como cuidar da sua infra-estrutura. Após passar pelo processo de seleção e

receber o título de “nobre”, o então morador, passa a ter mais responsabilidades

dentro da administração da república.

Em seu calendário de festas, a Castelo destaca o Aniversário da Escola de Minas -

12 de outubro, Torneio de Futebol Castelão, Aniversário da República Castelo dos

Nobres, Formatura de moradores e o Carnaval, sendo o último evento umas das

ocasiões onde acontece a hospedagem de turistas.

3.2. República Consulado

Fundada em 1936 por quatro paraibanos: Silvio Vilar Guedes, Paulo Ayres

Cavalcante, Edson Vinagre de Azevedo e Nabor Wanderley Nóbrega. Inicialmente

chamada de Consulado da Paraíba, logo perdeu seu segundo nome, pois passou a

abrigar estudantes de diversos estados brasileiros, e até mesmo estudantes naturais

de Ouro Preto.

Situada à Rua das Mercês, nº 89, no centro de Ouro Preto (Figura 2), a República

Consulado, com 74 anos de existência, possui atualmente 96 ex-alunos (Figura 3),

os quais são os pilares da história da República. Mesmo após concluírem a vida

acadêmica em Ouro Preto, os “cônsules”, título dado aos que passam com sucesso

pelo processo de seleção que possibilita ao aluno da UFOP residir na Consulado

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durante seu período de graduação, ainda possuem forte vínculo com a república,

mantendo contato extenso com os atuais moradores da casa.

Anualmente, diversas confraternizações são realizadas pelos moradores, visando

reforçar a integração entre todos os “cônsules”. A mais importante é a tradicional

festa do 12 de Outubro, data em que a Consulado comemora seu aniversário. Nesta

ocasião os ex-alunos retornam a república para conhecer os novos moradores e

reencontrar os “cônsules” que por ali já passaram, relembrando as histórias e os

momentos marcantes de suas vidas em Ouro Preto.

Figura 2 República Consulado. Fonte: Acervo Paulo Henrique Matias

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Figura 3 Quadrinhos dos Ex-alunos da República Consulado. Fonte: Acervo Michelle Novaes

A república funciona de forma institucionalizada. Cada morador possui tarefas

determinadas em reuniões periódicas. A legitimidade das mesmas está

condicionada à presença de todos os moradores, visto que as discussões e

determinações são firmadas em ata no livro da república intitulado “Alcorão” (Figuras

4 e 5). Neste livro está registrada toda a história, as contas, as atas de reuniões e

diversos eventos relacionados à república. Atualmente existem onze volumes, sendo

o primeiro datado de 1941. Desde esta data, a tradição do “Alcorão” manteve-se

viva, deixando registrado para as gerações vindouras as experiências vividas por

todos os “cônsules”.

Desde década de 40, a sede da república é um casarão histórico do século XVIII,

pertencente à UFOP. A partir de então, o imóvel passou por algumas reformas

estruturais necessárias a sua manutenção e conservação, as quais em suas

totalidades foram custeadas com o dinheiro arrecadado através de doações dos Ex-

alunos e eventos promovidos pelos moradores, por exemplo, o carnaval e a festa do

12 de outubro.

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Figura 4 Alcorão nº 0. As informações contidas são da década de 40, mas ele foi restaurado no

cinqüentenário da Consulado, em 1986. Fonte: Acervo Michelle Novaes

Figura 5 Alcorão nº 10. Fonte: Acervo Michelle Novaes. 28 Out. 2010

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3.3. República Bangalô

A República Bangalô foi fundada em 26 de abril de 1976 e sua sede situa-se à Rua

das Mercês, nº 247, no centro de Ouro Preto (Figura 6).

Figura 6 República Bangalô. Fonte: Acervo República Bangalô

A república abriga, preferencialmente, graduandos dos cursos de Engenharia da

Escola de Minas.

Mês de outubro de 1970

Registro

Nêste (sic) Onze de Outubro festivo de 1970 a Consulado teve o

prazer e a honra de receber grande número de ex- Cônsules e

visitantes ilustres para um churrasco de confraternização,

reeditando comemorações do passado.

Como não podia deixar de ser, aproveitamos a oportunidade para

angariar fundos para a reforma do telhado, que é goteira só, e

pintura da Vetusta Consulado.(“Alcorão” nº.IV, p.70. out. 1970.)

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A Bangalô, assim como as duas repúblicas citadas anteriormente, faz parte da

REFOP e segue, além do seu próprio regimento interno, o estatuto de tal

associação.

Em meados do primeiro semestre de 1976, em 26 de abril, uma segunda-feira, jovens estudantes da Escola de Minas de Ouro Preto, vindos da cidade de São Sebastião do Paraíso - MG, tiveram a honra de fundar uma nova república em Ouro Preto, situada à Rua das Mercês, 247. Vieram eles em grupo de nove pessoas, pois já moravam juntos, nos fundos de uma casa, em quartos alugados, no então “Beco dos Bois”. Era uma época em que faltavam casas e sobravam estudantes. Ao saberem da intenção da Reitoria em adquirir algumas casas, começaram a “batalhar”, de todas as formas, a obtenção de uma delas, conseguindo após algum tempo, realizar aquele grande sonho de morar em uma república da Escola de Minas, vindo a residir nesta casa que a princípio era destinada à professores.

Pessoas que chegaram aqui de uma forma e foram embora, anos depois, de outra, levando consigo um tipo de aprendizado que vai muito além daquele que se adquiri nos livros: o de tomar as rédeas da própria vida para reinventá-la a cada novo dia. Os pés fincados no chão da esperança e o olhar, alegre, determinado, em direção ao horizonte. Tudo isso possível pela convivência diária de uns com os outros. Um aprendizado recíproco. Coisas que só Ouro Preto pode ensinar: a solidariedade, o companheirismo até nas farras, o respeito à opinião do outro, o acolhimento, a compreensão, e muitas vezes, o abraço fraterno e silencioso. A alegria e a fé na vida, características marcantes do “espírito bangaloense”, vividas e facilmente identificadas desde os primeiros até os moradores atuais. Características lembradas, ainda, a momentos mágicos, onde se partilham sonhos, dores e encantos, em diversas ocasiões, principalmente na festa do 12. (LENZI, Aldo Estevan “ Gogó”, ex-aluno da República Bangalô. Acervo REFOP. 2008).

Nascia, assim, a nossa querida República Bangalô, dando início a uma grande família. Começou, a partir desta data, toda uma história de convivência, de alegrias e tristezas, de festas e estudos, que se desenrola até hoje. Gerações posteriores de estudantes percorreram esta mesma trilha e souberam manter viva esta chama, não a deixando apagar através dos anos, conservando e melhorando não só as instalações físicas (e como melhoraram) mas, principalmente, preservando vivo o “espírito bangaloense”, depois de mais de duas décadas, sempre fiel àquelas raízes.

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A República Bangalô está inserida no tradicional contexto das repúblicas de Ouro

Preto utilizando-se de formas de administração e seleção de novos moradores

semelhantes as já citadas anteriormente. O calouro de engenharia que chega à

república passa por um processo de seleção onde ele aprende a manter o

funcionamento da casa e tem que se mostrar sociável, tanto para com os colegas de

moradia quanto para outras pessoas que fazem parte da rede de convívio social da

república.

Ao terminarem a graduação, os agora ex-alunos da Bangalô “inauguram seu

quadrinho” (Figura 7), símbolo da sua contribuição para a história da república e do

vínculo ali formado.

Figura 7 Quadrinhos dos ex-alunos da República Bangalô. Fonte: Acervo Michelle Novaes

Apesar de aniversariar no mês de abril, a Bangalô comemora seu aniversário junto

ao da Escola de Minas, na festa do 12 de outubro, onde atuais moradores, ex-alunos

e amigos se encontram na sede da república para comemorar estas duas datas.

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A Bangalô, assim como outras repúblicas, costuma receber e abrigar turistas que,

por algum motivo, venham para Ouro Preto. Vindas de outras cidades, estados e até

mesmo de outros países, muitas pessoas já se hospedaram nesta república. Em

geral o público é jovem, estudantes de várias partes do país que buscam uma

hospedagem mais barata, além de um intercâmbio cultural e cultivar novas

amizades.

3.4. República Casanova

A República Casanova foi fundada no dia 21 de abril de 1973 e situa-se à Praça

Barão do Rio Branco, 46, Pilar. (Figura 8).

Figura 8 República Casanova. Fonte: Acervo Allyson Assis

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O sistema de auto-gestão foi fundamental para a manutenção e conservação da

república. O mesmo deu legitimidade aos atos dos moradores de cada época para

que, da melhor maneira possível, administrasse-se o imóvel. Pintura, obras diversas

e melhoramentos úteis são apenas alguns dos esforços que os moradores fizeram

ao longo dos anos e valorizaram ainda mais o casarão onde está a sede da

república Casanova. O comprometimento de todos, em razão do melhor

aproveitamento do imóvel, torna a república um lugar agradável para viver. Os

alunos da UFOP que ali residem durante a graduação, vindos de diversos lugares do

país, puderam e podem estudar com tranqüilidade e determinação tornando-se

profissionais qualificados e de sucesso reconhecido pelo trabalho realizado.

O funcionamento da república é baseado na hierarquia, onde o morador que mais

tempo reside na casa (decano) direciona as ações que devem ser realizadas pelos

outros, a fim de ensinar os direitos e deveres de cada um dentro da república. Essa

organização hierárquica acontece sem desrespeitar o direito e a dignidade do

próximo. Reuniões semanais com a presença de todos os moradores são feitas para

discutir e determinar os rumos que a república tomará, como por exemplo, a possível

“escolha” de um novo morador. Ao ser “escolhido”, o até então “bixo”, recebe o título

de “mais novo Casanova”. A partir daí, ele vai acarretando mais responsabilidades

com o funcionamento da casa até que conclua sua graduação. O grau máximo de

hierarquia da casa, enquanto aluno da graduação, chama-se decanato. Após a

formatura, ocasião onde acontece a inauguração de quadrinho, cerimônia que

ocorre em todas as tradicionais repúblicas de Ouro Preto, o até então “morador”

passa a ser ex-aluno.

Durante todo o ano, a república hospeda estudantes e turistas que visitam a cidade.

Esta ação gera fundos para manter a casa. Além disso, a Casanova é uma das

repúblicas organizadoras do Bloco da Praia (Figura 9), um dos principais atrativos do

carnaval de Ouro Preto, que é outra fonte de renda para a república. Segundo os

“Casanovas”, diante do fato que a UFOP não repassa nenhum tipo de verba para

auxiliar na conservação da casa, que é um prédio tombado e por isso o custo da

manutenção do mesmo é bastante elevado, é essencial que as repúblicas busquem

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recursos de formas variadas para que seja possível manter o imóvel conservado e

em condições adequadas para funcionar como moradia estudantil.

Desde sua fundação, a sede da república passou por várias reformas, todas com o

mesmo intuito: conservação do imóvel, melhoria da infra-estrutura e conforto para os

atuais e futuros moradores. Essas benfeitorias ficam na república, passando de

geração para geração, mantendo o “espírito republicano” e o bom ambiente para

que sejam desfrutados pelos novos moradores fazendo com que a tradição seja

mantida.

Figura 9 Bloco da Praia no carnaval de 2008. Fonte: Acervo República Casanova

Depoimentos de ex-alunos da república Casanova deixam explícito que o sistema

organizacional adotado foi de extrema importância para sua formação profissional e

pessoal. Nestes depoimentos, eles também alegam que sem ajuda financeira

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proveniente de doações de ex-alunos e a arrecadação de fundos através de festas

como o carnaval seria impossível levar a república adiante.

3.5. República Aquarius

Uma data aproximada de fundação propriamente dita da Aquarius é 20 de agosto de

1969, quando vários estudantes passaram a morar na casa ainda em reformas pela

Universidade.

A Aquarius localiza-se à Rua Paraná, nº 26, Centro (Figura 10).

Figura 10 República Aquarius. Fonte: Acervo República Aquarius

Segundo moradores da república Aquarius, as diversas gerações de aquarianos

construíram e reconstruíram suas ações e identidades ao longo do tempo. Isso foi

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possibilitado pela interação dos moradores com seus colegas, ex-alunos e demais

participantes no propício espaço da República, pois é ali que cotidianamente se

extrai lições e exemplos a partir do aprendizado de superação individual e coletiva.

A estrutura da administração da república surgiu como reflexos dos princípios que

levaram ao seu surgimento. Assim como as já citadas, esta república possui um

sistema de hierarquia entre seus moradores.

A república é regida por um estatuto constituído e aprovado em reunião por todos os

moradores tendo como base o estatuto das repúblicas federais estabelecido pela

Universidade Federal de Ouro Preto. Este estatuto é tomado como paradigma para

as ações dos moradores de república em relação a diversos casos, tais como: a

admissão de um novo morador, expulsão de um morador e resolução de conflitos de

relacionamento.

A caixinha e a presidência são uns dos cargos instituídos na república. Enquanto

cabe à segunda tratar dos recursos destinados aos gastos comuns à todos os

moradores da república, a primeira é responsável por gerenciar os recursos

destinados a manutenção da estrutura física da república. Por estrutura física

entende-se tanto o prédio da república em si, como também os móveis,

computadores e eletrodomésticos. Os recursos da caixinha são obtidos, sobretudo,

através de eventos promovidos pela república e também por excursões de

estudantes de todo o país que se alojam na mesma.

A importância da caixinha está em possibilitar, primeiramente, a manutenção de um

prédio federal cujo custo de manutenção é demasiado elevado, especialmente por

se tratar de um prédio histórico que deve ser adequado às diretrizes do IPHAN.

Secundariamente, ostenta a função de possibilitar um ambiente saudável e em

condições de atender as necessidades dos jovens provenientes de todo o país que

estudam na Universidade Federal de Ouro Preto.

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3.6. República Sinagoga

A República Sinagoga inicialmente era localizada em uma casa no bairro Antonio

Dias. Em 1949 os moradores da Sinagoga inscreveram-se em um sorteio pelo qual

vieram a ganhar a casa na Rua das Mercês, 150, Centro (Figura 11), onde

atualmente se encontra.

Figura 11 República Sinagoga. Fonte: Acervo Ricardo Fonseca

Por se tratar de uma casa dotada de grande espaço e infra-estrutura, os moradores

da Sinagoga atenderam ao pedido dos moradores da então existente república

Favela para que os mesmos viessem a morar também na Sinagoga, unindo-se

então as duas repúblicas. Nesta data, a casa foi comprada por uma instituição

filantrópica de ajuda e amparo aos estudantes, assim como várias outras repúblicas

tradicionais de Ouro Preto, garantindo moradia gratuita aos estudantes.

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Até 1995, a Sinagoga destinava-se exclusivamente aos estudantes de Engenharia,

mas com a criação de novos cursos da UFOP e a necessidade de moradia desta

parcela de estudantes de outros cursos, a república passou a aceitar também alunos

que não estudavam na Escola de Minas, mas com a condição de se manter a

maioria de moradores estudantes de engenharia, para não se perder uma tradição

de vários anos.

Desde sua fundação, existe uma tradição em que os moradores quando terminam a

graduação, inauguram no dia da formatura o seu quadrinho na parede da Sinagoga

(Figura 12), entrando para a galeria dos ilustres ex-alunos, onde já somam

atualmente mais de 100 quadrinhos, tradição esta que incentiva o ex-aluno a estar

sempre em contato com a república. A manutenção da casa é feita pelos próprios

moradores através de arrecadações mediante doações de amigos e ex-alunos.

Figura 12 Quadrinhos dos ex alunos da República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes

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A república possui infra-estrutura de estudo e diversão: trata-se de um casarão

histórico de dois andares dotado de nove quartos, uma ampla sala onde se realiza

as tradicionais “curriolas” (evento de confraternização entre moradores, ex-alunos e

amigos) de inauguração de quadrinho e “comissões de rango” onde todos os

domingos, 2 moradores, com o auxilio dos “bixos” se encarregam de preparar um

jantar para todos os moradores, bixos e convidados. Conta ainda com uma sala

com computadores com aceso a internet e impressora, uma ampla área externa com

churrasqueira e local para se jogar basquete, garagem e uma boate para festas de

fins de semana. Para tornar-se morador da Sinagoga e ganhar o título de

“Sinagogano”, o “bixo” passa por um período de batalha de vaga. Este que ocorre

tradicionalmente desde a fundação da república, e trata-se de um processo de

adaptação do “bixo”, que no fim, se adaptado, é escolhido por unanimidade dos

moradores para se tornar um morador “Sinagogano”.

3.7. República Maternidade

A república particular Maternidade, foi fundada em 04 de maio de 1975, com

localização na Rua dos Paulistas, 136 - Bairro Antônio Dias, Ouro Preto - MG, tendo

como fundadores: Adão Vieira de Faria, Flávio Stort, José Antônio Diniz Faria, Mário

Ricardo Soares, Luís Humberto F. Matos. Estes ilustres fundadores foram todos

alunos dos cursos de engenharia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

No entanto devido ao crescimento da Universidade, alunos de outras áreas também

se ingressaram na República Maternidade, que procurou buscar um equilíbrio entre

os vários cursos da UFOP, valorizando-se assim o indivíduo independente do curso.

No seu início, a República Maternidade ficou, por mais de dez anos, localizada no

mesmo endereço de sua fundação, tendo fixado seu número máximo de moradores

em onze alunos durante esse período. Naquela época, muitas dificuldades foram

encontradas diante dos problemas econômicos e estruturais enfrentados pelos

estudantes republicanos, principalmente os particulares, problemas tais, como:

escassez de moradias, alto preço dos aluguéis, renovação de contratos de aluguel,

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ameaça de venda de casa, evasão estudantil e principalmente, porque no final da

década de 70 e início da década de 80 o país atravessava grande crise econômica.

O “Projeto Inovador” foi elaborado pelos Bebês (título dado aos moradores da

Maternidade) em 1985, com a finalidade de angariar fundos para aquisição de uma

casa que seria doada à Universidade Federal de Ouro Preto. Este projeto foi

apresentado ao então Reitor, Fernando Antônio Borges Campos, na data de 05 de

setembro de 1985, apesar da viabilidade oferecida pela Lei Sarney, o projeto não

teve prosseguimento na política que dirigia a Universidade.

Diante do descaso da administração universitária, outras formas de aquisição foram

tentadas e diante dos problemas acima arrolados, a República abriu suas portas

para moradia feminina, deixando desta forma de ser apenas masculina para ser

mista. No entanto, os problemas se agravaram, o número de mulheres passou a ser

superior ao número de homens, e os conflitos internos aumentaram.

No início dos anos 90, a Comissão de Moradia da UFOP ofereceu uma casa para

moradia feminina no lugar onde hoje é conhecido como "repúblicas do brejo". Com

isso, a maioria da ala feminina da República articulou um movimento com a intenção

de torná-la exclusivamente feminina. Neste momento, os moradores homens e a

moradora Ludmila, não aceitaram essa situação e resolveram fechar a República até

que a Comissão oferecesse uma moradia mista, sendo seu bens guardados no

almoxarifado da UFOP. A Maternidade continuou liderando as várias listas de

espera por casas cedidas pela UFOP, mas a política sempre atrapalhava os planos

dos “Bebês”.

Novamente na década de 90, a Maternidade estava para receber uma casa, no

mesmo local, mas o presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da época,

alterou a lista de preferência e colocou morando na casa pessoas do seu interesse.

A república permaneceu fechada durante um (1) ano (93/94), quando então a, hoje

ex-aluna, Ludmila, juntamente com o também ex-aluno Pedro Henrique Neto (Gato-

Félix), resolveram reabrir a república e resgatar novamente os bens que estavam no

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almoxarifado. Muitos dos móveis foram roubados e vários quadrinhos de ex-alunos

foram danificados, mas a República Maternidade ressurgiu mais forte, naquela

ocasião decidiu-se que a República nunca mais voltaria a ser mista, sendo Ludmila a

última ex-aluna a se formar pela casa. A partir de então, diferentemente do que

ocorrera no início, várias foram as localizações da República: Água Limpa, Antônio

Dias (Figura 13), novamente Água Limpa, Rua Direita (Figura 14) e atualmente na

Xavier da Veiga, nº 501 AB, Centro (Figura 15).

Figura 13 República Maternidade, na Rua dos Paulistas. Fonte: Acervo República Maternidade

Da mesma forma que vários foram os endereços, várias amizades foram

conquistadas ao longo destes anos e esta tem sido a característica principal desta

nova geração de bebês. Valoriza-se nesta casa os amigos, o indivíduo como

estudante universitário, independente do curso ou do grupo de república que

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pertence, os amigos turistas que freqüentam esta casa todos os anos, os amigos

“nativos”. Valoriza-se as festas, as "lamas", sendo os principais “rock in Roll's”

realizados nas seguintes ocasiões: carnaval, 21 de abril, 04 de maio (aniversário),

Festival de Inverno, Festa do 12 e Ceia de Natal.

Figura 14 República Maternidade na Rua Direita. Fonte: Acervo República Maternidade

A república, estruturalmente, sempre foi organizada de forma hierárquica, sendo que

os “bixos” devem passar por um processo de "escolha". As despesas do mês são

chamadas de "presidência" e controladas pelo presidente, sempre morador. O

dinheiro da república é controlado pelo "tesoureiro" e recebe o nome de "caixinha",

as decisões são tomadas pelos moradores em "reuniões" e os ex-alunos são

estudantes da UFOP que concluíram a graduação enquanto moravam na república.

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Figura 15 República Maternidade no atual endereço, Rua Xavier da Veiga. Fonte: Acervo República

Maternidade

Com seu passado de luta sempre recompensado pelos muitos momentos de alegria

que ela proporcionou aos que por lá passaram, a Maternidade é motivo orgulho para

todos os “Bebês”. É por isso que a República Maternidade está cada vez mais

fortalecida pela união entre os atuais moradores e os ex-alunos o que a torna, de

forma definitiva, eterna em suas vidas.

3.8. República Volkana

A República Volkana, particular, única de cunho feminino desta amostra, abriga

somente alunas da UFOP e surgiu em meados de outubro de 1992 quando algumas

moradoras da república Doce Veneno, por conta de um desentendimento, decidiram

sair da antiga república e montar uma nova casa no bairro Antonio Dias.

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A data oficial de fundação da Volkana é 01 de maio de 1993, data em que a

república mudou sua sede para um novo endereço, desta vez no bairro Água Limpa,

onde permaneceu durante 10 anos. Foi também nesta ocasião que surgiu o nome

Volkana. Este é o nome de uma flor que nasce em detritos, e para as fundadoras,

que são: Lilian P. Soares Galdino, Lilia Maria de Oliveira, Luciane Bresciani, Mônica

Ribeiro Serra e Fernanda Gama, representava a esperança diante das dificuldades.

O sistema de admissão de novas moradoras que funciona atualmente não difere

muito do que era utilizado nos tempos de sua fundação, mas na época,

considerando o fato de existirem poucas repúblicas femininas, existia um processo

de seleção para escolher as calouras que começariam a batalha de vagas. Os

critérios utilizados nessa ocasião eram principalmente a cidade de onde a caloura

estava vindo e o curso que ela fazia, uma vez que, a maioria das moradoras, até

aquele momento, eram capixabas e estudantes de nutrição, as Volkanas tentavam

diversificar estas duas condições para que existisse uma maior diversidade cultural

entre as moradoras. Mas isto não era regra. Muitas foram as alunas naturais do

estado do Espírito Santo e nutricionistas que vieram a inaugurar seus quadrinhos.

Hoje, para estar apta a batalhar vaga na Volkana a estudante tem que estar

matriculada na UFOP e cursando até o 4º período de algum curso de graduação

desta Universidade.

Depois de feita esta seleção começava a batalha de vagas, existente até hoje. A

“bixo”4 deveria ser atenta às necessidades da casa, ter uma boa relação com as

moradoras e receber bem os convidados para que pudesse ser “escolhida” ao fim do

período letivo da universidade. Havia uma cerimônia para oficializar a escolha da

“bixo”, e esta passava a utilizar uma placa que continha o seu nome e o nome da

República, para que a nova moradora pudesse ser identificada por todos.

O sistema de hierarquia da casa existe desde a fundação. Temos a decana

(moradora mais antiga da casa), que é o elo entre moradoras e ex-alunas. (vice-

4 Como é chamada a aluna que está passando pelo processo de seleção.

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decana, quem tem o segundo maior tempo de casa, assume o decanato quando a

decana está ausente, e é sempre seu braço direito), moradoras no meio da

hierarquia (com funções definidas em reuniões mensais), semi-bixo (útima escolhida,

principal encarregada de ensinar às “bixos” as tarefas e a ideologia da casa) e a

“bixo”, como dito anteriormente, aluna que está passando pelo processo de seleção.

A hierarquia também está presente na escolha dos quartos, móveis, ordem para

colocar os nomes em convites de festas da Volkana e etc.

As reuniões mensais são indispensáveis. É nelas que todas fazem um aparato geral

dos acontecimentos da casa, corrigem os erros e planejam o futuro. A reunião

começa somente com as moradoras e no final as “bixos” participam recebendo uma

avaliação e podendo dar opiniões.A república tem um estatuto que é lido para as

“bixos” já na primeira reunião e deve ser seguido por todas, sempre.

No carnaval de 93, a então moradora, Luciane Bresciani se disponibilizou a receber,

sozinha, um grupo de turistas durante este período de festividades. Com os fundos

arrecadados durante o evento, a república comprou seu primeiro fogão. De lá pra cá,

as hospedagens em eventos como o carnaval, Festa do 12, eventos científicos e etc.

foram de muita valia para que a república conquistasse o patrimônio existente hoje.

Uma caloura que chega a Volkana nos dias atuais não precisa comprar

absolutamente nada para morar na casa, que já está totalmente mobiliada e dispõe

de aparelhos como máquina de lavar, computadores, equipamentos de som, TV,

DVD, além de camas, guarda-roupas, cozinha, copa e sala completas, e etc.

Somente após a “escolha” é que a moradora deve pagar uma “jóia”5. Esse dinheiro

vai para a conta da república e é utilizado para manutenção da casa e compra de

móveis e utensílios.

No ano fim dos anos 90, a Volkana fazia parte de uma associação de repúblicas

particulares que estavam lutando pra conseguir uma casa pertencente à

5 Quantia referente a 1 salário mínimo que deve ser paga em até seis meses, a partir da data da

escolha.

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46

Universidade. O critério para definir a ordem na fila para ocupar uma casa era

assiduidade nas reuniões. O DCE e um representante da reitoria acompanhavam as

reuniões desta associação. Quando finalmente chegou a vez da República Volkana,

cogitou-se a hipótese da republica ocupar a casa 87E da Rua Diogo de

Vasconcelos, onde atualmente funciona a Pró Reitoria de Extensão da UFOP, mas a

casa não foi cedida. A Volkana recebeu o direito de ocupar uma casa no bairro

Antonio Dias, ao lado da República Poleiro dos Anjos, mas como a casa estava em

ruínas, e por isso não tinha condições de ser habitada, as moradoras decidiram

esperar um pouco mais. Com uma nova eleição para a Reitoria e também para o

DCE o processo de ocupação das casas acabou e a Associação teve fim. Algumas

repúblicas que faziam parte da associação, e ficaram amigas durante esta trajetória,

decidiram começar a organizar uma festa para continuar estreitando os laços entre

elas.

Assim nascia o Beer Fest Ouro Preto (Figura 16), que teve sua primeira edição no

ano de 2000 e foi organizado pelas repúblicas: Alforria, Belladona (que só participou

da primeira edição), Calamidade Pública, Chaparral, Kome Keto, Masmorra,

Partenon, Santuário, Tôa-Tôa e Volkana. A festa cresceu muito de lá pra cá, e já

teve 11 edições. O Beer Fest é uma cervejada que acontece anualmente e atinge

um público de 1500 pessoas, em geral, estudantes de Ouro Preto, Mariana e região.

A Volkana participou ativamente como responsável pela tesouraria desta festa até

sua 10ª edição, quando deixou de fazer parte da organização.

No ano de 2003 a Volkana mudou de endereço novamente. Problema

constantemente vivido pelas repúblicas que pagam aluguel e ficam a mercê das

necessidades dos proprietários da casa onde se situa sua sede. Desta vez o bairro

escolhido foi a Barra, na Rua Argemiro Sana (Conhecida rua do Funil), onde

permaneceu 2 anos. A casa foi solicitada pelo dono em janeiro de 2005 e a

mudança para a Travessa Odorico Neves, no Rosário, foi feita as pressas após o

carnaval do corrente ano.

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47

Foi nesta época que a casa começou a “batizar” suas moradoras com os apelidos,

hábito que já fazia parte do contexto de inúmeras repúblicas de Ouro Preto.

A casa do Rosário não atendia as necessidades da república, tendo por isso sido

sede da Volkana por apenas pouco mais de um ano. Em maio de 2006 a Volkana

partiu para seu novo endereço. Desta vez na Avenida Vitorino Dias, 113 (Figura 17),

em frente à República Adega.

Figura 16 X Beer Fest Ouro Preto. Fonte:<http://

http://www.orkut.com.br/Main#AlbumList?uid=14062933367733565158> Acesso em 14 nov. 2010

Lá permaneceu por 3 anos. Ao fim deste período a casa, mais uma vez, foi solicitada

pela proprietária, o que resultou na mudança da sede para o endereço atual à Rua

das Mercês, 122 A (Figura 18), na conhecida Vila dos Tigres, localização que abriga

um total de 15 repúblicas, sendo 10 federais e 5 particulares.

Hoje, a Volkana tem 17 anos e está estabilizada, com 9 moradoras e 21 ex-alunas.

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48

Acontecem encontros com as ex-alunas todos os semestres. No aniversário da

república em maio, normalmente comemorado em algum feriado prolongado do mês

de maio ou junho, e durante a Festa do 12. O aniversário é comemorado entre as

moradoras, ex-alunas, repúblicas amigas e demais convidados, já o 12 é

comemorado somente entre moradoras, ex-alunas e amigos homenageados.

Figura 17 República Volkana, na Avenida Vitorino Dias. Fonte: Acervo República Volkana

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Figura 18 República Volkana no atual endereço, Rua das Mercês. Fonte: Acervo República Volkana

A especulação imobiliária significativa existente em Ouro Preto aumenta os valores

dos aluguéis. Isso fez com que a República Volkana, que começou abrigando 6

moradoras, atualmente abrigue 13. Esta é a única forma das despesas serem

acessíveis a todas.

Assim como as demais repúblicas da amostra, a Volkana recebe turistas ao longo do

ano, monta uma estrutura específica para receber calouras e ex-alunas, e tem

criado fortes laços de amizades com pessoas vindas de diferentes lugares.

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50

4. HOSPITALIDADE NAS REPÚBLICAS

4.1. Hospitalidade dos republicanos para com os calouros

recém chegados

Para manter a tradição das repúblicas existente em Ouro Preto há mais de 70 anos,

fez-se necessário aos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto montar um

esquema organizacional de recepção ao calouro não só na Universidade, mas

também nas repúblicas.

A UFOP oferece processos de seleção duas vezes ao ano por meio de vestibular, e

os alunos ingressantes nesta universidade começam a receber a hospitalidade dos

republicanos de Ouro Preto muito antes de comparecerem à Universidade para o ato

da matrícula no curso de graduação no qual foram aprovados.

Sites de relacionamentos, como o Orkut®, mostram-se importantes como um dos

primeiros contatos dos calouros com os veteranos no início do processo não só de

vida acadêmica, como também de vida republicana. Moradores das mais de 300

repúblicas existentes em Ouro Preto, tanto federais quanto particulares, fazem

contato com os novatos através de perfis pessoais e das repúblicas inseridos na

rede e através também de comunidades on line como a da UFOP. Através destes

meios é possível para o calouro sentir a receptividade dos republicanos que

respondem questões referentes ao curso, a cidade e as repúblicas e oferecem

soluções referentes à moradia àqueles que necessitam mudar seu endereço para

Ouro Preto, local onde cursarão sua graduação.

Anúncios de vagas em repúblicas são muito comuns. Os veteranos oferecem ao

calouro a oportunidade de hospedar-se com sua família, em suas respectivas

repúblicas, sem compromisso, para que o novato possa conhecer as dependências

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da casa e um pouco da rotina republicana, ações colaboradoras ao ato de escolher

sua nova moradia.

No ato da matrícula, realizada na Pró Reitoria de Graduação (PROGRAD) / UFOP,

os moradores das diversas repúblicas de Ouro Preto montam stands que contém as

informações sobre a casa, fotos do local de moradia, folhetos explicativos,

moradores à disposição para responder questões sobre as contas referentes a

manutenção da casa e demais informações necessárias para o ingresso na

república, e também para acompanhar o calouro e sua família até a república a fim

de fazer as devidas apresentações.

Segundo LASHLEY & MORISSON (2004), os alimentos e bebidas, em particular,

desempenham um papel importante na definição da identidade de grupos,

comunidades e sociedades, bem como na definição do relacionamento entre os

indivíduos e o contexto social mais amplo.

Nos dias em que acontece a matrícula, os republicanos oferecem elaborados

almoços e cafés para melhor recepcionar os calouros e quem os estejam

acompanhando. É neste clima familiar que o novato conhece aquela que pode vir a

ser sua nova casa. As repúblicas tradicionais de Ouro Preto, como já citado

anteriormente, já possuem toda uma infra-estrutura suficiente para receber o calouro

com conforto e atender grande parte de suas necessidades acadêmicas.

Ouro Preto torna-se então um local onde começar uma nova vida, longe dos

familiares e antigos amigos, não é tão difícil, devido ao apoio e receptividade dos

veteranos. O cuidado, o acolhimento por parte dos veteranos e a partilha de

materiais e sonhos já existentes nas casas e em sua tradição, são atitudes

hospitaleiras que facilitam ingressar essa nova fase.

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52

4.2. Hospitalidade dos republicanos para com os ex-alunos

Pode-se chamar de ex-alunos de uma determinada república de Ouro Preto todos

aqueles que residiram na mesma durante sua graduação na Universidade Federal

de Ouro Preto e que, ao concluírem o curso, inauguraram um “quadrinho”, este que

passa a ser sua representação na casa a partir daquele momento.

Nunca como em Ouro Preto me senti tão bem vindo e cercado por

pessoas tão maravilhosas, pena eu ser tão jovem e ter aproveitado

menos do que eu devia, como é natural aos mais jovens, das coisas

mais importantes. Uma coisa posso dizer, só sou o que sou porque

cresci em Ouro Preto, mais do que isso, na Castelo dos Nobres.

(RODRIGUES, Thiago de Souza Bittencourt. “Pangéia”, ex-aluno da

República Castelo dos Nobres. 2008. Entrevista concedida a

REFOP).

Eu não tinha noção de como seria morar em Ouro Preto. Em

Suzano, minha cidade natal, poucas pessoas conheciam a UFOP.

Quem me deu a notícia de que eu havia passado no vestibular para

Engenharia Ambiental na UFOP foi a Tsé, ela viu meu nome na lista

dos aprovados e me localizou no Orkut® para dar a notícia e me

oferecer um local para morar. Combinamos de nos encontrar no dia

da minha matrícula. Ela me buscou no campus, deu umas voltas

comigo na cidade, me mostrou sua república, me contou em

detalhes de como a casa funcionava e etc. Isso me tranqüilizou pois

senti que Ouro Preto seria um lugar fácil de chegar, conhecer

pessoas e etc. Não quis ficar na república naquela época, pois não

gostei da casa. Mas a atenção que ela me deu naquele primeiro

momento foram cruciais para eu procurar esta mesma república

mais tarde, assim que elas mudaram de endereço. Hoje sou ex-

aluna da Volkana e penso que essa recepção na época da matrícula

fez diferença na minha história atual. Se inaugurei meu quadrinho

nesta república foi porque a princípio aquela atitude despertou meu

interesse, o que me motivou a ir pra lá e fez com que eu vivesse

uma série de outras coisas até a formatura. (NISHIYAMAMOTO,

Evelize Lago – “Izzy” , ex-aluna da República Volkana. Ouro Preto,

10 nov. 2010 Entrevista concedida a Michelle Novaes.)

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Embora não residam mais em Ouro Preto e não mais compartilhem das despesas da

casa e quitação das mesmas, os ex-alunos das tradicionais repúblicas de Ouro

Preto, quando retornam as suas antigas moradias, ainda se sentem em casa.

Segundo DENCKER (2004), o comportamento genuinamente hospitaleiro requer um

motivo adequado. Mas para alguém ser considerado uma pessoa hospitaleira, isso

depende não só do seu motivo, mas também de quão freqüentemente ocorre o

comportamento hospitaleiro. Uma pessoa hospitaleira é alguém que proporciona

hospitalidade com freqüência, atenciosamente e com motivos apropriados relativos à

hospitalidade. Há um grupo de motivos que envolvem as seguintes condições: a

consideração pelo outro, incluindo o desejo de agradar terceiros, proveniente da

Eu tenho mais de dez anos de formado, mas toda vez que me refiro a Maternidade eu digo: minha casa! Minha mãe fica chateada comigo quando me escuta dizer isso, eu procuro até evitar falar da república com ela por isso, porque ela diz que a minha casa é a casa dela, a casa dos meus pais.

As pessoas que estão nesta sala, mas não passaram pela experiência de morar em uma república de Ouro Preto podem não estar entendendo o que quero dizer, ou achar que estou exagerando, mas umas das coisas que mais me orgulho em minha vida é de ter meu quadrinho nesta parede. A emoção de estar vivendo este momento hoje é muito forte! Ouro Preto... República... é assim: só quem viveu sabe. Espero estar aqui para fazer as homenagens de 15, 20, 30, 50 anos do DJEI-DJEI e de comemorar ainda muitos aniversários da fundação da nossa eterna Maternidade. És mãe de todos nós e teus filhos são como irmãos eternos. Quando o sol brilhar em outro lugar estaremos bem por ter nos ensinado a viver. O vento trará o silêncio, a noite fria a saudade. O coração apertado estará agradecendo a ti, inesquecível Maternidade. (Discurso do ex-aluno da República Maternidade Warley de Araújo Mol – Xullé, durante as homenagens realizadas na festa do 12 de outubro de 2010).

Mas não, o lugar onde me sinto em casa é aqui, em Ouro Preto, na Maternidade. Não importa que mude o endereço, que seja outra construção, mas a ideologia é a mesma. É aqui que reencontro meus irmãos, é aqui que conheço meus novos irmãos, e faço questão de conhecê-los. Fico muito feliz de estar aqui hoje, fazendo esta homenagem ao DJEI-DJEI pelos seus dez anos de formado, de reencontrar os antigos amigos e de sentir que a essência da casa onde eu morei é a mesma, de sentir o carinho com que os atuais moradores e “bixos” me recebem.

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amizade e da benevolência por todos ou afeição por certas pessoas; a preocupação

ou compaixão; isto é, o desejo de satisfazer a necessidade dos outros.

O cuidado que o republicano tem ao preparar a casa para receber os ex-alunos e

mantê-lo satisfeito durante o tempo que ele permanecerá na república é

extremamente significativo. As reformas, por exemplo, são realizadas por razão de

necessidade, mas as datas escolhidas para fazê-las são sempre às vésperas de

ocasiões de recepção de ex-alunos, como a Festa do 12 ou aniversário da república,

salvo as que são realizadas em caráter de emergência.

Percebe-se, com clareza, no trecho da entrevista citado acima que Robertson julga

os moradores da República Casanova hospitaleiros, e este é um dos fortes motivos

que o faz retornar a Ouro Preto e fazer questão de ficar hospedado lá, assim como

Warley Mol ao dizer que se sente em casa, e que a emoção ao receber o carinho

dos moradores e “bixos” é muito forte, deixa evidente a hospitalidade dos moradores

para com os ex-alunos de suas respectivas repúblicas.

4.3. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes

amigos

A República e Ouro Preto foram as coisas mais marcantes da

minha vida, é conceito só nosso único e exclusivo, só pode

viver isto quem participou, ela extrapola o conceito de vida

estudantil, as Repúblicas de Ouro Preto foram determinantes

na abertura de repúblicas neste Brasil afora, mas as repúblicas

de Ouro Preto são e devem continuar sendo perpétuas, pois é

através de minha República que eu continuo voltando à Ouro

Preto para rever novos republicanos, novos familiares, e faço

questão de ficar nela, pois nela eu tenho tratamento melhor

que muitos hotéis poderiam fazer.

Nela eu sou um rei e sou um súdito, sou um pai e sou um filho,

em minhas veias corre um pouco dela, se ela extinguir, com

certeza morrerei com ela. (ABDALA, Robertson de Souza

“Gordo”, ex-aluno da República Casanova. Ouro Preto. 2008.

Entrevista concedida a REFOP).

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55

A realização de festas nas repúblicas de Ouro Preto é algo freqüente. Em todas as

semanas do semestre letivo é possível prestigiar algum “rock” (como são conhecidas

as festas de estudantes de Ouro Preto). Nestes “rocks”, é comum ver os anfitriões,

preocupados em dar atenção aos convidados, encher copos vazios, colocar músicas

que agradem a maioria e etc. Receber convidados e tratá-los bem é uma

característica marcante das repúblicas tradicionais de Ouro Preto.

Segundo DENCKER (2004), pode-se dizer que o bom hospedeiro é aquele que

cumpre com todas as tarefas: enche novamente copos vazios, certifica-se de que

está sendo oferecida uma segunda ajuda aos hóspedes e etc. Mas tal lista não é

capaz de descrever a essência do bom hospedeiro, já que aplica somente às

convenções de uma determinada época e lugar. Se proporcionar hospitalidade aos

hóspedes for tornar-se responsável por sua felicidade enquanto eles estiverem

debaixo do seu teto, um bom hospedeiro será aquele que deixa seus hóspedes

felizes enquanto estiverem sob sua atenção.

Além dos convidados que também residem em Ouro Preto, as repúblicas recebem,

freqüentemente, parentes e amigos de moradores “republicanos”, que mediante a

boa recepção passam a ser amigos da república como um todo, em curto espaço de

tempo.

Eu sempre quis estudar na UFOP. Fiz vestibular seriado para Nutrição na UFOP a partir do ano 2000. Em janeiro de 2002 fui para Ouro Preto fazer a última prova do vestibular seriado com mais duas amigas. Uns amigos de Carangola, cidade onde eu morava naquela época, que já estudavam em Ouro Preto nos chamaram para ficar hospedadas na casa deles, a República Chaparral. Era pra termos ficado lá apenas os dois dias de prova, mas a recepção, inclusive dos moradores que não conhecíamos anteriormente, foi tão boa que acabamos ficando mais tempo. Eles nos mostraram a cidade, nos levaram ao local de prova e nos davam atenção em tempo integral. Não pagamos nada pela hospedagem, apenas contribuímos com algum dinheiro para comprar comida e bebida enquanto estávamos lá, quantia que era dividida igualmente por eles e por nós, visitantes.

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A recepção calorosa e a atenção dada aos visitantes os incentivam a voltar e criam

um vínculo com Ouro Preto que é fortalecido a cada retorno. Este tratamento dado

ao visitante identifica a hospitalidade para com eles.

Observa-se então que a hospitalidade é freqüente nas repúblicas. Os anfitriões se

preocupam em agradar os convidados, mesmo tendo outros afazeres. Não importa

Fiquei encantada! A organização existente naquela casa onde moravam 15 homens era impressionante! Eles nos explicaram como a república funcionava e explicaram como era a tradição das repúblicas de Ouro Preto. A partir dali a minha vontade não era somente passar no vestibular, mas também estar inserida naquele contexto. No ano seguinte, uma das minhas amigas passou no vestibular para Artes Cênicas e foi morar na república Volkana. Continuei tentando o vestibular todos os semestres de 2003 a 2006. Nesta época eu ficava hospedada na república dela. Mais uma vez pagando taxas simbólicas e me encantando cada vez mais com as repúblicas de Ouro Preto.

No segundo semestre de 2004 resolvi mudar para Ouro Preto e fazer cursinho. Morei na Volkana durante este semestre e foi um dos melhores períodos da minha vida. Fiz inúmeras amizades. Tive oportunidade de receber alguns turistas nessa época, e agora era a minha vez de tratá-los como me tratavam quando eu era a hóspede, e esta experiência foi muito válida. Ao fim deste semestre prestei o vestibular em outra universidade, passei e comecei a fazer o curso de Nutrição na UNIG, em Itaperuna – RJ, onde me formei, mas até a metade do curso

Apesar das festas em grandes proporções, nunca me senti deslocada ou sozinha na Aquarius ou na Sinagoga: o copo sempre cheio, a comida oferecida a todo o momento, o papo agradável e atenção digna de uma rainha. Mesmo na Festa do 12 ou carnaval, com pendências à resolver, ex-alunos e turistas para receber, sempre tem algum morador por perto disposto a fazer sala. (GONÇALVES, Júlia Maria Ferreira. “Debby”, moradora da república Volkana. Ouro Preto. 29 nov. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes)

ainda tentava o vestibular na UFOP, tamanho era o meu vínculo com a cidade, tamanha era a minha vontade de inaugurar meu quadrinho. Infelizmente isso não aconteceu, mas continuo freqüentando Ouro Preto. A princípio o vínculo era a minha amiga, mas agora me sinto a vontade de ir para a Volkana mesmo ela não estando mais lá. (PRADO, Melina Biajoli do, Ouro Preto. 13 out. 2010. Entrevista concedida a Michelle Novaes).

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57

se é durante o carnaval ou aniversário da república, numa festa no fim de semana

ou numa segunda feira qualquer, o tratamento é sempre o mesmo.

4.4. Hospitalidade dos republicanos para com os visitantes

turistas

Como já citado anteriormente, um dos meios que as repúblicas utilizam para

angariar fundos para manter a infra-estrutura e a conservação do imóvel usado

como sede da república é a hospedagem.

Receber estudantes excursionistas ou visitantes é uma prática comum nas

repúblicas de Ouro Preto, principalmente em feriados prolongados e em datas

festivas como o Carnaval e o Festival de Inverno.

Como foi dito por DENKER (2004), ser um anfitrião envolve habilidades, assim como

empenho. Algumas dessas habilidades, como as tarefas de um anfitrião, são clichês:

por exemplo, um bom hospedeiro pode impedir que um argumento polêmico vire

uma briga. Caso deseje uma fórmula geral para essas habilidades, pode ser essa:

os bons hospedeiros são bons pelo fato de deixarem seus hóspedes felizes, pois

eles sabem o que agradará seus hóspedes e são capazes de fazer isso.

O Carnaval é o período em que se reúne um maior número de turistas na casa.

Normalmente, as repúblicas masculinas hospedam e promovem festas, já as

femininas, funcionam como casas de apoio para hospedagem, em parceria com as

masculinas. Durante os cinco dias de folia são oferecidos acessórios como canecas

e camisas com a logo da república, alimentos e bebidas, abadás de blocos

carnavalescos, shows com bandas locais e etc. Os republicanos, em geral, já se

mostraram capazes de organizar dezenas de pessoas em suas repúblicas, entre

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58

turistas e convidados, mantendo a ordem e a disciplina, garantindo uma festa de

qualidade aos seus hóspedes.

Nos dias 17 e 18 de novembro do corrente ano, a República Sinagoga recebeu uma

excursão pedagógica do Colégio Oliveira, proveniente da cidade de Oliveira-MG,

com 27 alunos do 3º, 4º e 5º ano com idades entre 8 e 10 anos e 4 professoras

responsáveis (Figura 19). Os alunos pernoitaram na república e tiveram a

oportunidade de conhecer a vida dos estudantes, a história da república, e o

aprendizado que a mesma proporciona aos seus moradores na arte de dividir, de

compartilhar, na troca de saberes e vivências, na idéia de social e no compromisso

com o grupo. As professoras responsáveis contaram com o apoio dos “sinagoganos”

para organizar os alunos no período em que estes permaneceram nas dependências

da casa e também para atingir o objetivo da excursão no que dizia respeito a

conhecer um pouco da vida republicana. Os moradores contaram aos alunos a

história da república, curiosidades e responderam a inúmeras perguntas.

Figura 19 Alunos excursionistas do Colégio Oliveira em frente a República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle

Novaes

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59

Ao visitar a Sinagoga no dia 17 de novembro, enquanto os excursionistas estavam

lá, pude observar que os alunos foram divididos em 5 quartos, separados por sexo,

sendo que em todos os quartos tinha pelo menos um adulto, em quartos femininos

as professoras, em quartos masculinos algum morador da república. Enquanto as

crianças organizavam a fila para o banho, os moradores propuseram atividades

recreativas (Figura 20), para ocupar o tempo livre dos alunos. À noite, os moradores

reuniram os excursionistas na sala e contaram a história da Sinagoga (Figura 21),

explicaram a vivência em república e enfatizaram o trabalho em equipe e a união.

Figura 20 Atividade Recreativa na República Sinagoga. Fonte: Acervo Michelle Novaes

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Figura

21 Alunos do Colégio Oliveira reunidos na sala da República Sinagoga ouvindo a sua história. Fonte: Acervo

Michelle Novaes

Outro tipo comum de hospedagem é a referente a estudantes, que para viajar

precisam de uma opção barata de hospedagem, e esta é proporcionada pelos

republicanos de Ouro Preto promovendo assim um intercâmbio cultural custeado por

valores simbólicos cobrados dos turistas para quitar despesas extras da casa,

acarretadas por tal hospedagem, como por exemplo, encarecimento da conta de luz.

Em seu acervo, a República Bangalô possui relatos de turistas que conheceram a

casa, se hospedaram lá e aprovaram a experiência. Estes turistas demonstraram

isso permanecendo na casa mais tempo que o previsto e oferecendo sua residência

como estadia para os moradores que quisessem conhecer a cidade de origem do

turista.

Olá meninos! Há muito tempo não conhecia pessoas tão legais e tão hospitaleiras como vocês. Eu só podia encontrá-los aqui em Minas mesmo... Adorei demais ficar aqui na Bangalô e quando pintar outra oportunidade, estarei aqui de novo ( se vocês deixarem, é claro!)

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Acho que, pra quem veio ficar apenas 5 dias, 20 já foram o bastante. Por mim ficaria muito mais.. Agora vou fazer uma confissão... Nunca achei que fosse encontrar tanto engenheiro legal! Meninos, gostei muito MESMO de estar aqui com vocês, foi uma troca de experiências deliciosa, afinal, não foi à toa que fui esticando minha estadia até agora... Bom, isto aqui é apenas um bilhetinho de “ate breve”, pois logo logo já estarei aporrinhando vocês aqui outra vez...(mensagem da turista Camila Caffaro, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP.)

Jovens, É a 5ª vez que venho aqui e pretendo voltar pelo menos mais um monte de vezes. E vocês, como sempre, me receberam muito bem. Adoro vocês! Tchau com carinho da MARAVILHA. (mensagem da turista Keyla de Oliveira Neves, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP.)

Meninos da Bangalô, Foi muito legal conhecê-los e passar esses dias com vocês. Adorei a boa recepção. Espero um dia reencontrá-los... Um abraço, Leilane (UFPR – Arquitetura). (mensagem da turista Leilane Tascheck, dossiê da república Bangalô, acervo REFOP. 29 set. 2002).

Obrigada pela hospitalidade e desculpe atrapalhar as finais de vocês. Muito bom conhecê-los, querendo ir pra Curitiba é só ligar... (mensagem da turista Mariana Sellucio, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP. 29 set.2002).

Estou esperando vocês lá em Vitória, quando quiserem é só aparecerem! Será um prazer recebê-los na minha casa, de verdade! Já estou com saudades... Beijos, beijos, beijos, Lu (mensagem da turista Luciana Lisboa Mota e Castro, em 24/09/2000, dossiê da República Bangalô, acervo da REFOP).

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De acordo com os depoimentos citados acima, é possível identificar a hospitalidade

para com os turistas, uma vez que, eles aumentam o tempo de estadia, pretendem

voltar, criam laços de amizades e elogiam a República Bangalô a todo o momento.

No “Alcorão” também existem registros dessa espécie, onde as pessoas manifestam

sua satisfação em ter estado na Consulado. Muitas repúblicas possuem livros de

memórias com a finalidade de registrar estes momentos.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao conhecer o histórico das repúblicas percebe-se que a hospitalidade está inclusa

em sua tradição. Parte da ideologia dos republicanos de Ouro Preto é receber bem

as pessoas, independente de quem seja.

A forma de abordar os calouros na fila de matrícula já demonstra essa hospitalidade.

Nota-se que o republicano de Ouro Preto entende que a relação social é favorável

para manter a tradição. Num primeiro momento, ele se esforça para receber bem o

calouro e com isso torna-se possível preencher as vagas ociosas em sua república,

mais tarde ele ensina o calouro a importância dessa relação social e isso vai

passando de geração para geração, fortalecendo a tradição.

O sistema de batalha interfere diretamente na personalidade do calouro, que para

ser “escolhido” precisa se enquadrar nos quesitos exigidos pela casa. Todas as

repúblicas desta amostra citaram a afinidade como fator essencial para que o

calouro seja aceito, ou seja, isso o força a trabalhar questões como timidez e

individualismo, quando existentes. A partir do momento que ele se relaciona bem

com os moradores ele parte pro segundo passo, que seria se relacionar bem com as

pessoas do ciclo social da sua república. Ele aprende com os moradores mais

antigos a ser um bom anfitrião, tanto com os visitantes, quanto com os amigos e ex-

alunos.

As casas disponibilizadas pela Universidade para moradias estudantis, assim como

as que são disponibilizadas para serem locadas por repúblicas particulares, são

casas grandes, com muitos quartos. Isso faz com que as repúblicas de Ouro Preto,

diferente de outros lugares, abriguem na maioria das vezes uma média mínima de

10 moradores. O elevado número de pessoas dividindo a mesma casa exige uma

maior organização e regras indispensáveis para seu bom andamento. As medidas

organizacionais para o funcionamento da casa acabaram por gerar ações

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empreendedoras como, como por exemplo, o carnaval que acontece nas repúblicas,

a organização de festas de grande porte, como o “Beer Fest”, e a organização de

blocos de carnaval como o “Bloco da Praia”.

A hospedagem em épocas isoladas, como o vestibular e fins de semana comuns, ou

durante eventos como o Festival de Inverno, gera vínculo entre hóspedes e

moradores. Por ser uma hospedagem informal, onde o “republicano” sede espaço

em sua própria casa para o turista, e divide sua rotina com ele, acaba estreitando os

laços entre ambos. Isso é um fator positivo no que diz respeito à imagem deturpada

que as repúblicas de Ouro Preto tem em várias localidades do país. Possibilita ao

turista constatar a organização, ver que existe um ambiente de estudo, que os

moradores terminam a graduação e muitas vezes viram profissionais bem

sucedidos.

Outro fator é que, algumas vezes, além de freqüentar Ouro Preto, o visitante passa a

querer viver esta rotina da mesma forma que os “republicanos”, o que aumenta a

visibilidade da UFOP. É comum ver pessoas que visitaram Ouro Preto declarando

que não somente querem estudar na UFOP, mas que fazem questão de fazer parte

deste sistema único de repúblicas.

Quanto aos ex-alunos, percebe-se que o vínculo entre eles e Ouro Preto, por

intermédio da república, é muito forte. O retorno a antiga moradia surge como

oportunidade de viver um pouco da saudosa vida universitária. Ele volta com a

expectativa de ver outras pessoas fazendo as coisas que ele fazia tempos atrás, de

ver que seus ensinamentos atingiram outras gerações, que a essência da casa

ainda é a mesma, e se sentir importante, querido, como de fato é. A entrega de

homenagens referentes aos anos que se passaram após o término da graduação é

um fator motivador interessante para que ele retorne, pelo menos, de 5 em 5 anos,

quando é homenageado.

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A respeito dos excursionistas, as repúblicas tornam-se um interessante meio de

hospedagem não só pelo custo econômico, mas também pela troca de experiências

entre pessoas da mesma faixa etária, mas que vivem rotinas culturais diferentes em

seu cotidiano. No caso dos alunos mais novos, eles tiveram bons exemplos de

vivência em grupo, união, cooperação e disciplina, fatores importantes para

formação de seu caráter e personalidade.

Em relação à Ouro Preto, enquanto patrimônio histórico e cultural da humanidade, a

hospitalidade das repúblicas faz-se importante, pois é com o dinheiro arrecadado

também com a hospedagem que os moradores das repúblicas federais do Centro

Histórico da cidade mantém conservados os casarões que sediam suas repúblicas,

contribuindo de forma significativa, para a preservação e estética do município.

A hospitalidade também contribui com o futuro profissional dos “republicanos”, pois

através da relação estreita com os ex-alunos ativos no mercado de trabalho o

ingresso dos recém-formados em suas atividades profissionais acaba sendo

facilitado, através de indicações para estágios, programas de trainee, e até mesmo

para o primeiro emprego.

Um sistema tão produtivo, e que perdura há tanto tempo, merece atenção. Sugiro

um estudo aprofundado sobre as repúblicas de Ouro Preto, para que seja possível

levantar, com precisão, os prós e os contras de começar e concluir uma graduação,

estando inserido neste contexto. Isso poderia solucionar ou, ao menos, amenizar os

problemas e também aumentar a visibilidade dos pontos positivos, fazendo, talvez,

com que este sistema seja implantado em outros lugares.

Outro estudo interessante seria a respeito do potencial das repúblicas em relação ao

carnaval de Ouro Preto. Tendo sido indicada a hospitalidade nas repúblicas

juntamente com a forte organização das mesmas, cabe uma pesquisa sobre os

impactos positivos e negativos que elas geram realizando hospedagens,

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organizando festas e blocos carnavalescos durante o carnaval de Ouro Preto, para

que esta prática empreendedora seja realizada de forma sustentável e trazendo

benefícios tanto para o município quanto para as repúblicas de Ouro Preto.

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