monografia - ceane alves de sousa - formatação 02.02

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUUFPI

    CAMPUS SENADOR HELVDIO NUNES DE BARROS

    CURSO LICENCIATURA PLENA EM HISTRIA

    CEANE ALVES DE SOUSA

    ATUAO DO PROJETO RONDON NA CIDADE DE PICOS PI, NO

    PERODO DE 19721983

    PICOSPI2013

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    CEANE ALVES DE SOUSA

    ATUAO DO PROJETO RONDON NA CIDADE DE PICOS PI, NO

    PERODO DE 19721983

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Federal do Piau - UFPI comorequisito para concluso de graduao emLicenciatura Plena em Histria.

    Orientador: Marylu Alves de Oliveira

    PICOSPI2013

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    CEANE ALVES DE SOUSA

    ATUAO DO PROJETO RONDON NA CIDADE DE PICOS PI, NO

    PERODO DE 19721983

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Universidade Federal do Piau - UFPI comorequisito para concluso de graduao emLicenciatura Plena em Histria.

    Orientador: Marylu Alves de Oliveira

    _____________________________________________________________________

    Prof.(a)Orientador (a)

    _____________________________________________________________________

    Prof.(a)Examinador

    _____________________________________________________________________

    Prof.(a)Examinador

    PICOSPI2013

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    A minha me, Antonia Maria Alves, pelo amor

    e dedicao na minha criao.

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    AGRADECIMENTOS

    Deus pela vida e por todas as obras que ele tem feito na minha vida.

    minha me, Antonia, por sempre ter me incentivado nos estudos e, aos meus irmos

    pelo carinho.

    Aos meus avs, tios, tias e primos pelo conselho.

    s minhas amigas Suzyanne e Thaise pela amizade e por entenderem a minha

    ausncia durante o perodo de estudo.

    A todos os meus professores, desde o Ensino Infantil at o Ensino Superior, cada um

    de forma diferente contribui para o meu aprendizado e formao.

    A professora Marylu Alves de Oliveira pelas dicas e sugestes.Ao professor Francisco Nascimento pela orientao e pacincia que teve comigo.

    A todos os meus colegas da turma de Histria 2008.2 pela convivncia e amizade

    durante a graduao.

    As minhas amigas Joyce Nunes, Gracivalda Albano e Marlia Pinheiro, por sempre me

    ajudarem nos trabalhos durante o curso e, principalmente pela amizade.

    A toda famlia Albano por manterem viva a memria de Picos, atravs do Museu

    Ozildo Albano, que tem sido de grande relevncia para os pesquisadores picoenses.Ao seu Albano e sua esposa, por deixar que eu pesquisasse o Jornal O Macmabira

    em sua casa e a sua secretria do lar por todos os dias, durante a pesquisa, me receber com um

    sorriso no rosto.

    s minhas entrevistadas Maria Oneide Fialho Rocha e Raimunda Fontes de Moura por

    compartilhar das suas memrias comigo.

    Ao meu amigo Eduardo Almeida por me ajudar na digitao e formatao do texto.

    Ao Elierson Moura por ter a gentileza de me disponibilizar o Jornal A voz doCampus digitalizado.

    Enfim, a todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste

    trabalho.

    A todos a minha eterna gratido.

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    A histria oral possibilita novas verses da

    histria ao dar voz a mltiplos e diferentesnarradores. Esse tipo de projeto propicia,sobretudo fazer da histria uma atividade maisdemocrtica, a cargo das prprias palavrasdaquelas que vivenciaram e participaram deum determinado perodo, mediante suasreferncias e tambm seu imaginrio.

    (Paul Thompson)

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    RESUMO

    Este trabalho tem como objetivo analisar a atuao do Projeto Rondon na cidade de Picos

    PI, no perodo de 1972 a 1983. O Projeto Rondon, coordenado pelo Ministrio da Defesa, um projeto de integrao social que envolve a participao voluntria de estudantesuniversitrios na busca de solues que contribuam para o desenvolvimento de comunidadescarentes e o bem-estar da populao, busca aproximar esses estudantes da realidade do pas,contribuindo para o desenvolvimento das comunidades assistidas. Em Picos, o projeto teve afinalidade de promover estgios de diversos cursos coordenados pela Universidade Federal deGois (UFG). Atravs da Histria Oral procuramos apreender as experincias e a participaodos entrevistados nas atividades do projeto. O referencial terico baseou-se em artigos e tesesque evidenciam a importncia desse projeto para as comunidades assistidas. Tentaremosassim compreender qual a importncia e os impactos causados por ele na cidade, visto quePicos, nessa poca, era uma cidade interiorana com costumes bem tradicionais.

    Palavras-chave:Projeto Rondon. Picos. Campus Avanado. Atividades Desenvolvidas.

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    ABSTRACT

    This study aims to analyze the performance of the Rondon Project in the city of Picos - PI, in

    the period 1972-1983. The Rondon Project, coordinated by the Ministry of Defence, is aproject of social integration that involves the voluntary participation of university students infinding solutions that contribute to the development of poor communities and the welfare ofthe population, those students seeking closer to reality country, contributing to thedevelopment of the assisted communities. In Picos, the project aimed to promote variousstages of courses coordinated by the Federal University of Gois (UFG). Through oral historyattempt to analyze the experiences and participation of respondents in project activities. Thetheoretical framework was based on articles and theses that show the importance of this

    project for assisted communities. So try to understand how important and impacts caused by itin the city, since peaks at that time was a provincial town with very traditional customs.

    Keywords:Rondon Project. Picos. Forward campus. Activities.

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    SUMRIO

    INTRODUO ..........................................................................................................................

    1. O PROJETO RONDON ........................................................................................................

    1.1

    Os programas do Projeto Rondon ...........................................................................................

    2. O CAMPUS AVANADO DE PICOS .................................................................................

    2.1 Picos nas dcadas de 1970-1980 ............................................................................................

    2.2 Instalaes do campus ............................................................................................................

    2.3 Breve histria da UFPICampus de Picos-PI .......................................................................

    2.4 O desenvolvimento das atividades: pbico alvo e temas abordados ......................................

    2.5 A importncia do Projeto Rondon ..........................................................................................

    3 INFORMATIVOS DO CAMPUS ..........................................................................................3.1 Perfil da voz do campus .........................................................................................................

    3.2 Perfil do Mocambira ...............................................................................................................

    CONSIDERAES FINAIS .....................................................................................................

    REFERNCIAS .........................................................................................................................

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    INTRODUO

    Picos uma cidade que situa-se na regio centro-sul do Piau. conhecida por ter uma

    das maiores feiras-livres do Nordeste e por ter e sua economia predominantemente comercial,

    que abastece o seu micro e macrorregio. Possui o segundo maior entroncamento rodovirio

    do nordeste brasileiro. Geograficamente cortada pela BR-316 e pelo Rio Guaribas.

    Atualmente congrega pessoas de vrias localidades do Piau, inclusive de outros estados do

    pas. Essas pessoas vm a Picos em busca de vrios servios como: sade, emprego, comrcio

    e educao. a cidade recebeu esse nome por causa dos montes picosos (morros) que rodeiam a

    cidade.

    O povoamento de Picos se deu atravs da instalao de fazendas de criao de gado,fundada pela famlia Borges Leal.

    O incio do povoamento deu-se com a vinda de compradores de cavalos,originados de Pernambuco e Bahia. O primeiro lugar a ser devassado foi oatual municpio de Bocana, em que Antnio Borges Marinho edificou em1754, uma capela, a qual ainda hoje existe. Em 1851, erigiu-se a freguesia noPovoado sob a invocao de Nossa Senhora dos Remdios. Em 20 dedezembro de 1855, foi elevada categoria de vila pela Resoluo Provincialn 397, sendo desmembrada de Oeiras e ficando na ordem judiciria de

    Jaics. Em 1859, a cidade de Picos foi edificada no local onde ficavalocalizada a fazenda de gado da famlia de Flix Borges Leal, portugusvindo da Bahia que instalou a fazenda Curralinho s margens do rioGuaribas. Como a maioria das cidades do Piau, Picos surgiu da combinaofazenda, curral e capela. Em 12 de dezembro de 1890, foi elevada categoria de cidade.1

    No ano de 2009, ao realizarmos2 uma pesquisa para um seminrio da disciplina de

    Histria da Educao, com o tema: A Educao na Didatura Militar, pesquisamos se em Picos

    tinha acontecido algum fato importante relacionado a esse tema. Para a nossa surpresa,

    encontramos vrias fontes sobre este tema como outros, relacionados a ditadura militar, nacidade de Picos. O que mais me chamou a ateno, foi saber que o Projeto Rondon foi

    instalado em Picos no incio da dcada de 1970 e permaneceu aqui por mais de 10 anos,

    provocando grandes mudanas no cotidiano da mesma.

    1SOUSA, Jane Bezerra de. Picos e a consolidao de sua rede escolar: do Grupo Escolar ao Ginsio Estadual,2005. Dissertao (Mestrado em Educao). Universidade Federal do Piau: 2005, p. 20. Disponvel em:

    http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/dissertacao/2005/picos_e_consolidacao.janeb.pdf Acessoem 10.10.2013.2O grupo que fez parte deste seminrio era composto por: Gracivalda Albano, Joyce Nunes, Marlia Pinheiro,Iris Mariana, Kellyane Gonalves e Ceane Alves.

    http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/dissertacao/2005/picos_e_consolidacao.janeb.pdfhttp://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/dissertacao/2005/picos_e_consolidacao.janeb.pdfhttp://www.ufpi.br/subsiteFiles/ppged/arquivos/files/dissertacao/2005/picos_e_consolidacao.janeb.pdf
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    O Projeto Rondon foi criado durante a ditadura militar no ano de 1967 e ficou em

    atividade at 1989. Esse projeto consistia em enviar universitrios voluntrios para as regies

    mais carentes do Brasil, a fim de prestarem assistncia a comunidade. Durante este perodo

    foram envolvidos mais de 350 mil acadmicos e docentes de instituies de Ensino Superior

    de todas as regies do pas.

    Como sou genuinamente picoense e graduanda do curso de Histria, os dois fatores

    associados foram decisivos para que comeasse a pesquisar mais sobre este projeto e

    constatasse que ele teve um papel muito importante para a cidade.

    Suas contribuies foram as mais variadas, vo desde mudanas nas sociabilidades dos

    jovens da poca, palestras sobre higiene, sade, cursos educacionais at a criao de uma

    biblioteca, com um acervo de mais de 2 mil livros e de dois jornais, chamados de O

    Macambira e A voz do Campus, informativos que eram distribudos gratuitamente a

    populao. Eles tinham a funo de informar as notcias sobre a cidade e tambm as

    atividades que estavam sendo desenvolvidas pelo Projeto Rondon.

    A escolha do recorte temporal de 1972 a 1983 se d pelo fato de ter sido nesse perodo

    a atuao do Projeto Rondon e por perceber as mudanas tanto no que se refere a proposta

    educacional como nas sociabilidades de muitos jovens picoenses com a chegada dos

    rondonistas3

    .Diante disso, o presente trabalho se prope a estudar a atuao do Projeto Rondon na

    cidade de Picos durante as dcadas de 1972 a 1983 e as mudanas por ele trazidas.

    Esse estudo tem grande relevncia, pois mostra que apesar de Picos ser uma cidade

    interiorana do Estado do Piau, as aes do governo militar no passaram desapercebidas. Este

    trabalho indito, pois mesmo existindo outras abordagens histricas sobre esse perodo na

    cidade, esse tema ainda no teve uma pesquisa aprofundada.

    Alm disso, esse trabalho ser de suma importncia tanto para a comunidadeacadmica, que ter um material a mais para pesquisar, como para toda populao picoense

    que anseia por saber mais sobre a histria do nosso municpio.

    O tipo de fonte utilizada a histria oral, por entender que ela pode contribuir para

    que as memrias dos entrevistados proporcionem um dilogo entre passado e presente.

    Tambm o levantamento bibliogrfico sobre tericos que tratam da temtica foi bastante

    importante para um maior entendimento do tema. O presente trabalho est basicamente

    3Eram chamados de rondonistas os professores e estudantes que participavam do Projeto Rondon.

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    sustentado em artigos e dissertaes. Autores como Liceo Piovesan, Daiane Tonato Spiazzi e

    Zilda Mendona foram indispensveis para a compreenso do Projeto Rondon.

    A linha de metodologia usada foram as fontes hemerogrficas e orais. O uso da

    Histria Oral importante, pois os indivduos que passam por um determinado fato, tem a

    oportunidade de falar de suas experincias e vivncias. Os jornais tambm so importantes

    porque guardam a memria de um lugar, uma vez que, tudo (ou quase tudo) que se passa na

    cidade evidenciado nas pginas dos jornais.

    Foi utilizado como estratgia de coleta de dados, entrevistas com pessoas que

    participaram das atividades propostas pelo Projeto Rondon em Picos. Foram elas: Maria

    Oneide Fialho Rocha4e Raimunda Fontes de Moura5. A utilizao dos jornais O macambira

    e A voz do Campus tambm foi relevante. Sobre memria, utilizamos Paul Thompson, quediz [...] A histria oral devolve a histria s pessoas em suas prprias palavras. E ao lhes dar

    um passado, ajuda-as tambm a caminhar para um futuro construdo por elas mesmas 6.

    Foi tomada como campo de atuao da referida pesquisa a Histria Cultural. Com

    relao ao tipo de fonte, foi utilizada a Histria Oral com o objetivo de compreender as

    memrias. O campo de observao percebido foi o da Histria Local da cidade, observando,

    assim, as formas de sociabilidades dos jovens e as atividades desenvolvidas na cidade pelo

    projeto.A anlise da educao nos idos da Ditadura militar deixa claro uma das grandes

    incoerncias do regime: produzir mecanismos de desenvolvimento acelerado de acumulao

    de capital e garantir, simultaneamente, o acesso da populao aos direitos de bem-estar foi

    sacrificado em nome do desenvolvimento acelerado. O setor educacional passou por grandes

    modificaes, reformas foram feitas nos trs nveis de ensino (fundamental, mdio e

    superior), consequentemente, aumentou a rede fsica e o nmero de vagas nos

    estabelecimentos escolares. Qualquer forma de descontentamento ou discordncia era logotaxada de subversiva ou comunista, e seu autor era banido dos meios acadmicos. A

    forma de educao encontrada pelo regime foi desencorajando as atitudes de apoio aos

    subversivos ou comunistas, disseminando o terror e a violncia.

    4 Maria Oneide Fialho Rocha nasceu em Picos e atualmente professora na Universidade Federal do Piau,Campus de Picos.5Raimunda Fontes de Moura nasceu na Lagoa Grande, povoado de Picos. Atualmente professora aposentada eAssessora Pedaggica do Colgio Santa Rita. artista plstica e conhecida pela populao como MundicaFontes e com esse nome que iremos mencion-la.6THOMPSON, Paul. A voz do passado: Histria oral. Rio de Janeiro: paz e terra, 1992. p. 337.

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    Segundo Aranha7, alm dos desaparecimentos, suicdios e torturas, a Ditadura

    Militar teve seus reflexos na educao e na cultura. Sendo a educao um meio pelo qual os

    indivduos tm a capacidade de ver o mundo com um olhar crtico, a interferncia nas

    disciplinas escolares, tinha o objetivo de fazer com que a populao no tivesse conscincia

    do que estava acontecendo nesse perodo. Essas transformaes tambm foram sentidas em

    Picos, com o ensino obrigatrio de Educao Moral e Cvica, onde transparecia o carter

    ideolgico e nacionalista dessas disciplinas.

    As pessoas usavam as msicas e os jornais para mostrar sua insatisfao com o

    governo, para protestar. Apesar que muitas vezes esses materiais nem chegavam a populao,

    outros j passavam despercebidos. Em uma cidade de suma importncia a veiculao de

    jornais, pois atravs deles a populao fica informada sobre o que est acontecendo onde vive.Alm disso, [...]o jornal valoroso como parte da memria de um determinado segmento

    social; repositrio da memria coletiva de um perodo e, muitas vezes, determinante para a

    construo de um momento histrico8.

    Nesse perodo, foram criados vrios projetos voltados para a educao, dentre eles o

    de maior destaque, na cidade de Picos, foi o Projeto Rondon que teve grande importncia para

    o municpio, uma vez que, o projeto realizava palestras, seminrios, valorizava a cultura e as

    tradies locais, desenvolvia atividades na zona urbana e rural e ainda dava treinamentos aosprofessores leigos9, a fim de capacit-los para que estivessem aptos a dar melhores aulas.

    Desta forma, o nosso trabalho est dividido em trs captulos. O primeiro captulo far

    uma abordagem sobre a criao e os objetivos do Projeto Rondon, visto que nem todos tem

    conhecimento deste projeto. Tambm ter uma breve definio dos programas que foram

    criados dentro desse projeto.

    No segundo captulo, o objetivo apresentar as atividades que eram desenvolvidas

    pelo projeto na cidade de Picos e a instalao do Campus Avanado de Picos.Por fim, o terceiro captulo se prope a trabalhar com os jornais O Macambira e A

    Voz do Campus, que foram criados pelos rondonistas e com a participao de alguns

    7ARANHA, Maria Lcia de Arruda. Histria da Educao e da pedagogia: geral e Brasil. 3ed. rev. e ampl. SoPaulo: Moderna, 2006.8 OLIVEIRA, Marylu Alves de. Contra a foice e o martelo: Consideraes sobre o discurso anti-comunista

    piauiense no perodo de 1959-1969: uma anlise a partir do jornal O Dia. Teresina: Fundao MonsenhorChaves, 2007, p. 49.9Professor leigo um termo usado para designar os que trabalham nos anos iniciais do Ensino Fundamental e

    que no tem a formao em nvel mdio, na modalidade Normal (antigo Magistrio). Para mais informaes ver:ALVES, Smairkon Silva de Oliveira. Docncia (RE)Inventada: Histria e memria das professores leigas nacidade de Picos no perodo de 1950 a 1980. Monografia (Licenciatura em Histria/Universidade Federal doPiau: Picos, 2011).

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    estudantes picoenses. Ainda neste captulo abordaremos como acontecia a distribuio, quais

    as notcias e qual era o pblico alvo.

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    1. O PROJETO RONDON

    O Projeto Rondon surgiu no final da dcada de 60. Em uma conversa com o ento

    Comandante da Escola de Estado-maior do Exrcito, General Bina Machado, o professor

    Wilson Choeri, na poca Secretrio-geral da Universidade do Estado da Guanabara (UFG)

    atualmente, o Estado do Rio de Janeiro , criticou o golpe de 1964 por ter deixado os

    estudantes brasileiros fora do processo revolucionrio. O General aceitou a crtica, porm

    desafiou o professor a tomar alguma iniciativa para reparar essa falha. Depois dessa conversa,

    Wilson Choeri acompanhou o 5 Batalho de Engenharia e Construo do Exrcito em

    viagem ao ento territrio de Rondnia, com a misso de recuperar a estrada Braslia-Acre,

    que estava tomada pelo mato, apesar de ser recm-aberta.Durante essa viagem, o professor, um admirador da integrao nacional, pensou em

    uma forma de dar uma resposta ao general: levar estudantes universitrios nas misses para

    que eles conhecessem a realidade dos brasileiros da Regio Amaznica e trabalhassem pela

    melhoria da qualidade de vida dessas pessoas.

    Em 1966, o professor Choeri, ao regressar de uma dessas viagens, emRondnia, impressionado com a realidade e os graves problemas que tivera a

    oportunidade de vivenciar ao visitar as obras de reabertura da BR-364, notrecho que ligava Porto Velho a Rio Branco, no Acre, promove algumaspalestras para seus alunos, ressaltando o trabalho do 5 Batalho deEngenharia e Construo / 5BEC, a quem fora dada a incumbncia dessaconstruo. A receptividade e o entusiasmo dos universitrios ao ouvir essesrelatos e ver os slides projetados contagiaram-no profundamente. E, oprprio professor Choeri quem diz textualmente: ... A surgiu a ideia:porque no mandar os jovens tambm, para que eles, alm da tomada deconscincia da realidade nacional, pudessem ajudar aquelesnecessitados?...10

    Transformada em um projeto, essa proposta de se realizar um estgio de estudantes

    junto ao 5 BEC entregue ao General Bina Machado como resposta concreta do Professor

    Choeri ao desafio recebido.

    Em 11 de julho de 1967, partia rumo ao ento Territrio Federal de Rondnia, uma

    equipe de 30 universitrios de engenharia, medicina, geologia, coordenados pelo professor

    Omir Fontoura. Os estudantes viajaram para Porto Velho, capital do territrio, em uma

    aeronave C-47, cedida pelo Ministrio do Interior e ficaram 28 dias na regio. O sucesso foi

    to grande que a Operao batizada de Operao Zero ou PRO-ZERO resultou na

    10PIOVESAN, Liceo. Projeto Rondon RS e Jeunesse Canad Monde: uma parceria que deu certo. Taquara:FACCAT, 2008, p. 15. Disponvel em:http://licebr.com/Download/PrRondJCM.pdfAcesso em: 28.07.2013

    http://licebr.com/Download/PrRondJCM.pdfhttp://licebr.com/Download/PrRondJCM.pdfhttp://licebr.com/Download/PrRondJCM.pdfhttp://licebr.com/Download/PrRondJCM.pdf
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    institucionalizao da experincia. Em 28 de julho de 1968, por meio do Decreto n 62.927, o

    Governo Federal criou o Grupo de Trabalho Projeto Rondon, integrado por representantes de

    todos os ministrios e coordenados pelo Ministro do Interior, responsvel pelo

    desenvolvimento regional do pas.11

    Em 1970 o Projeto Rondon passou a denominar-se Fundao Projeto Rondon:

    Em novembro de 1970, ocorreu a reformulao do PRO pelo Decreto n67.505, de 06 de novembro de 1970, passando a denominar-se FundaoProjeto Rondon e a funcionar como rgo autnomo, de administraodireta, com sede no Distrito Federal, vinculado ao Ministrio do Interior,para os efeitos administrativos, financeiros e operacionais, e coadunandocom as diretrizes bsicas do Ministrio da Educao e Cultura (MEC). Foiinstitudo nesse Decreto o FUNRONDON, para a captao de recursos e

    assegurar a autonomia financeira do Projeto Rondon. O Presidente daFundao Projeto Rondon foi Mrio Bernardo Garnero, representante doMinistrio do Interior, referenciado como pessoa competente e que manteriao carter apoltico da instituio12.

    Durante o perodo que permaneceu na rea, a equipe realizou trabalhos de

    levantamento, assistncia mdica e pesquisas. Eles voltaram com o SloganIntegrar para no

    Entregar o sentimento predominante entre os participantes da experincia piloto, de lutar

    pela integrao da Amaznia e seu desenvolvimento.

    O Projeto Rondon teve esse nome inspirado nos princpios de Cndido Mariano daSilva Rondon, bandeirante do sculo XX, que lutou pela integrao do pas atravs da ligao

    telegrfica e dedicou sua vida a unidade nacional.

    A consagrao universitria de Rondon aconteceu aps uma expedio deacadmicos Amaznia, em 1967. Inspirados na obra do Marechal, osestudantes trabalhavam em benefcio das comunidades carentes da regiovisitada. No ano seguinte, por Decreto Presidencial, foi criado o ProjetoRondon13.

    Marechal Rondon, como era conhecido, nasceu em Mimoso, no Mato Grosso, no dia

    05 de maio de 1985. Era filho de Cndido Mariano e Claudina de Freitas Evangelista da Silva.

    Ainda criana perdeu seus pais e foi criado em Cuiab pelo seu tio, de quem herdou e

    incorporou o sobrenome Rondon. Aos 16 anos tornou-se professor, mas optou pela carreira

    11MENDES, Isabel Amlia Costa; TREVISAN, Maria Auxiliadora; CUNHA, Ana Maria Palermo da. CampusAvanado como extenso universitria. Rev. Bras. Enf. V4, n-31, 1978, p. 33. Disponvel em:http://gepcopen.urp.usp.br/files/artigos/artigo12fin.pdfAcesso em: 13.07.201312SANTOS, Maria da Solidade Simeo dos; MENDES, Isabel Amelia Costa. Projeto Rondon: a metodologiaeducativo-assistencial de trabalho dos estagirios universitrios. P.4. Disponvel em:

    gepcopenurp.usp.br/files/artigos/artigo12fin.pdf . Acesso em 13.07.1313PRAVATO, Camila Medeiros. Projeto Rondon e Ensino no Brasil: construo de uma aliana entreconhecimento emprico e cientfico. Universidade Salgado de OliveiraUniverso/Juiz de Fora p.21. Disponvelem:www.bocc.ubi.pt/pag/provato-camila-projeto-rodon-e-ensino-no-brasil.pdfAcesso em 13.07.13

    http://gepcopen.urp.usp.br/files/artigos/artigo12fin.pdfhttp://gepcopen.urp.usp.br/files/artigos/artigo12fin.pdfhttp://www.bocc.ubi.pt/pag/provato-camila-projeto-rodon-e-ensino-no-brasil.pdfhttp://www.bocc.ubi.pt/pag/provato-camila-projeto-rodon-e-ensino-no-brasil.pdfhttp://www.bocc.ubi.pt/pag/provato-camila-projeto-rodon-e-ensino-no-brasil.pdfhttp://www.bocc.ubi.pt/pag/provato-camila-projeto-rodon-e-ensino-no-brasil.pdfhttp://gepcopen.urp.usp.br/files/artigos/artigo12fin.pdf
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    militar. Rondon fez levantamentos cartogrficos, botnicos, zoolgicos, topogrficos,

    etnogrficos e lingusticos na Amaznia. Primeiro diretor do Servio de Proteo aos ndios

    (SPI), criado em 1910, ele foi incansvel defensor desses povos14.

    Sua formao positivista o levava a acreditar que os ndios deveriam serrespeitados e, como donos da terra, ter seus territrios demarcados. Para ele,os ndios so a prpria essncia do Brasil, desta forma deveriam ser tuteladospelo Estado brasileiro. Era, nessa perspectiva, o grande defensor dosindgenas brasileiros de sua poca. Seu lema morrer se preciso matarnunca!, mostra a preocupao que ele despertou na comisso em no gerarchoque entre as culturas distintas [...]15.

    O Projeto Rondon surge como um movimento de voluntrios que se iniciou com o

    propsito de ajudar a resolver os vrios e graves problemas que afligiam as populaes dointerior brasileiro, utilizando a mo-de-obra e os conhecimentos dos universitrios durante

    seus perodos de frias.

    Os objetivos do Projeto Rondon eram os seguintes:

    [...] a integrao do universitrio na comunidade e o conhecimento darealidade o pas, atacar a doena, a fome, o analfabetismo, desqualificaoda mo-de-obra, a injustia social, o isolamento do homem, o desestmulo ea desesperana, proporcionar ao universitrio uma viso realstica dosproblemas brasileiros, sem o menor gesto de sofisticao, colaborar com o

    Ministrio da Educao e Cultura na organizao, implantao ecoordenao de estgios de estudantes no interior do pas, da sade, dotrabalho, da agricultura e das minas e energia16.

    O Projeto Rondon cessou em 1989 com a reforma administrativa no governo de ento

    presidente Sarney e retomado em 2005, no governo Lula. Depois de quarenta e quatro anos

    aps sua misso o Projeto Rondon, atualmente, coordenado pelo Ministrio da Defesa e

    realizado com a parceria de outros ministrios, como por exemplo, o Ministrio da Educao,

    do Desenvolvimento e Combate a Fome, das cidades, dentre outros, e com o apoio e a

    segurana necessria s operaes17.

    Em 2003, estudantes universitrios elaboraram uma proposta que foi encaminhada,

    atravs da Unio Nacional dos Estudantes (UNE), ao presidente Luiz Incio Lula da Silva,

    sugerindo sua reativao. Para viabilizar a proposta apresentada, foi criado, em 2004, um

    Grupo Trabalho Interdisciplinar, que estabeleceu as diretrizes e objetivos do projeto e definiu

    14RONDON, Candido Mariano da Silva. Nossa Histria. Disponvel em: progetorondon-pagina-

    oficial.com/portal/index/pagina/id/9718/rea/e/module/default. Acesso em 13.05.1315PRAVATO p.1616SANTOS, MENDES p.517PRAVATO p.26

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    a sistemtica a ser adotada em sua execuo. O programa foi relanado em 19 de janeiro de

    2005, em Tabatinga (AM), atravs da Operao Amazonas 2005.

    Sob o argumento de corte de gastos, em 1989, a iniciativa foi extinta. Noentanto, em 1993 foram criadas a Associao Nacional dos Rondonistas,com sede em Braslia, e Associaes Estaduais, todas unidas pelos mesmosideais, princpios e objetivos estratgicos. Juntas, com o apoio dasInstituies de Ensino Superior (IES), deram continuidade misso doprojeto de mobilizar os universitrios e despertar neles uma conscinciacrtica sobre as diversas realidades nacionais18.

    A segunda edio do Projeto Rondon tem por objetivos:

    Contribuir para a formao do universitrio como cidado, integrar o

    universitrio ao processo de desenvolvimento nacional, por meio de aesparticipativas sobre a realidade do pas; consolidar no universitrio brasileiroo sentido de responsabilidade social, coletiva, em prol da cidadania, dodesenvolvimento e da defesa dos interesses nacionais, e, estimular nouniversitrio a produo de projetos coletivos sociais, em parceria com ascomunidades assistidas19.

    Pereira (2009), analisa as duas edies do Projeto Rondon, e afirma que:

    [...] a primeira edio do PR tinha bastante ligao com objetivos deintegrao nacional. Havia o objetivo de redirecionar a energia dos jovens,reprimida pela ditadura, para atividades de responsabilidade, como o auxlionos programas de desenvolvimento nacionais e regionais do governo. J osobjetivos da segunda edio do PR, sobretudo, ligados a reedio daexperincia de participao do PR, marcante na vida dos estudantes que deleparticipam20.

    Para Pereira (2009), a segunda edio do Projeto Rondon, em relao a primeira, foi

    mais tmida, envolvendo um menor nmero de estudantes. O Projeto Rondon procura

    responder aos anseios de estudantes e professores, levando aos municpios mais distantes do

    Brasil, a contribuio do conhecimento.

    Segundo o Coronel Mauro, mesmo o Projeto Rondon tendo sido oficialmente extinto

    em 1989, ele j vinha passando por desgastes de seu sentido altrusta e por esvaziamento de

    sua filosofia, desde 1983, quando terminou os ciclos dos chamados Governos militares. Os

    novos lderes que assumiam o poder estavam com a ideia de que deveriam extinguir tudo que

    estivesse ligado ao Regime militar, e o Projeto Rondon era fruto desse momento.

    18PRAVATO, p.25.19Projetorondon.pagina-oficial.com/portal/index/pagina/id/9752/rea/c/module/defult Acesso em 14.07.1320PEREIRA, Daline Vinhal. Um olhar sobre o Projeto Rondon e a dimenso ambiental. 2009. Dissertao(mestrado em Desenvolvimento Sustentvel). Universidade Federal de Braslia, Braslia, 2009. p. 49 Disponvelem: repositrio.unb.br/bitstream/10482/4194/2009DalineVinhalPereira.pdf Acesso em 13.07.13

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    [...] no se poderia permitir que a imagem de um movimento de sentido toaltrustico e patritico, que durante 22 anos teve aceitao irrestrita no meiodos universitrios e da prpria sociedade brasileira, continuasse a ser

    distorcida, sendo passada para as grandes geraes futuras com a imagem deter sido apenas ... um movimento criado pelos governos militares paraanestesiar a juventude universitria... ou ento ...como uma forma fascistade mobilizao dos jovens..., ou ainda, ...como um instrumento oficial dapropaganda do autoritarismo..., tratando-o sempre de forma depreciativa,superficial e irresponsvel, como sendo simplesmente mais um resquciodos tempos da ditadura23.

    Apesar de reconhecermos esses debates em torno da criao e dos objetivos do projeto

    Rondon, no iremos aprofundar esta discusso por entendermos que o mesmo no ser

    relevante para o nosso trabalho, visto que temos por objetivo maior, apresentar as

    contribuies do Projeto Rondon para a cidade de Picos-PI, durante o tempo que permaneceu

    na mesma. Ou seja, iremos mostrar o outro lado desse projeto, o lado que proporciona

    melhorias para os municpios que atendiam.

    1.1Os programas do Projeto Rondon

    Devido a grande participao dos universitrios nas tarefas de desenvolvimento e

    integrao nacional do Projeto Rondon, foram criadas e executadas as Operaes, programas

    que visava atender a demanda de universitrios interessados em participar do Projeto Rondon.

    [...] para por em prtica os ideais do Projeto Rondon, foram planejadas edesenvolvidas, entre os anos de 1968 a 1989, cinco formas de Operaes,que aconteciam simultaneamente e/ou sequencialmente. Essas operaesforam denominadas respectivamente com as ordens de suas criaes:Operao Nacional, Operao Regional, Campus Avanado, OperaesEspeciais e Operao de Interiorizao24.

    A seguir ns faremos uma breve explanao para melhor compreendermos como

    funcionava cada uma dessas mobilidades de ao.

    Operaes Nacionais ou Federais: realizada nos meses de janeiro/fevereiro, os

    universitrios se deslocava de sua regio geo-educacional para trabalhar em comunidades

    interioranas, com realidades diferentes de sua origem.

    23PIQUESAU, 2008,p.1524SPIAZZI, Daiane Tonato. Memorial Projeto Rondon: um espao de pesquisa, preservao e valorizao daHistria do Projeto Rondon na UFSM. 2011. Dissertao (Patrimnio Cultural) Universidade Federal de SantaMaria. p.26

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    Operao Regional: realizada no ms de junho/julho o universitrio desenvolveu

    atividades na sua prpria regio, fator que contribui na busca de solues para os

    problemas locais, pois os estudantes conhecem a sua prpria realidade.

    Operao Especial: ocorriam em qualquer poca do ano, nas prprias cidades dos

    universitrios, geralmente nas comunidades perifricas. Essa operao proporcionava aos

    estudantes treinamento prtico que complementava sua formao profissional, alm de

    beneficiar as comunidades atendidas.

    Operao de Interiorizao: este programa tinha a finalidade de fixar os profissionais de

    nvel superior nas regies interioranas.

    Campus Avanado: eram bases de operaes que as universidades mantinham em estados

    distantes. Caracterizava-se pela presena constante de universitrios e professores na

    regio onde se encontravam a sede do Campus.

    Atravs das caractersticas dos programas citados acima, verifica-se que os estudantes

    tinham a oportunidade de adquirir experincia fora da universidade e levar as comunidades

    mais carentes, os conhecimentos e tcnicas aprendidas em seu curso.

    Aps dois anos de atuao do Projeto Rondon, comeavam a surgir os Campus

    Avanados, extenses que as universidades mantinham em estados distantes. Era montada

    toda uma infraestrutura que possibilitava um fluxo maior e contnuo de universitrios nolocal. A criao deste programa surgiu de uma sugesto dos prprios universitrios que

    serviram a necessidade de uma atuao mais constante.

    Acolhendo as sugestes dos prprios participantes, que em seus relatriossugeriam a necessidade de se estabelecerem atuaes permanentes nas reasassistidas, e no somente nas pocas das frias, nasceu a ideia dos CampiAvanados como uma evoluo em direo a um desempenho maispermanente, mais tcnico e de maior alcance25.

    Segundo Piovesan (2009), os Campus Avanado tinham duplo objetivo:

    Por um lado propiciar aos universitrios um aprendizado indireto, atravs daprestao de servios tcnico-profissionais mais dentro de suas reas deformao, cumprindo programas previamente estabelecidos e sob asuperviso direta de professores de suas universidades em contato com arealidade local, vivenciada em seus mltiplos e complexos problemas,interiorizando o ensino universitrio e a tecnologia.De outra parte, as regies onde se desenvolveriam esses trabalhos de estgio,iriam se constituindo em polos de desenvolvimento integrado, pois as aesexecutadas ajustavam-se, em perfeito entrosamento, com as diretrizes dosrgos de administrao local ou regional, visando acelerar o

    25PIQUESAN, 2008, p.35-36

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    desenvolvimento local integrado. O Campus Avanado proporcionava-secomo um rgo de assessoramento nos trabalhos de pesquisa,experimentao, planejamento e execuo dos projetos que ali sedesenvolviam26.

    O primeiro Campus Avanado a ser instalado foi o de Boa Vista (RR), que era ligada a

    Universidade Federal de Santa Maria (Rio Grande do Sul). Em 1972, a Universidade Federal

    de Gois (UFG), instalou na cidade de Picos-PI o seu primeiro campus. Durante o perodo em

    que permaneceu ativo, o Campus Avanado de Picos, trouxe grandes contribuies para a

    cidade e foi de suma importncia para o desenvolvimento educacional da mesma. A UFG foi

    criada em 14 de dezembro de 1960, em um movimento organizado por professores e

    estudantes, liderados por Colemar Natal e Silva. No cenrio de expanso do ensino superior

    no Brasil, a UFG tinha o objetivo de:

    [...] atender aos anseios da populao goianense. Era enorme a expectativaem relao a instalao e ao dessa instituio. Esperava-se dela a formaode profissionais sintonizados com os problemas da regio, sob diferentesaspectos. Acredita-se que, enquanto instituio pblica fosse capaz depossibilitar a promoo e equidade social.27

    Nesse sentido, o Estado de Gois, atravs Da UFG, promoveu um processo de

    expanso e interiorizao de ensino superior, com a instalao de vrios campi avanados no

    interior do estado e um em Picos-PI.

    26PIQUESAN, 2008, p.36-3727MENDONA, Zildo Gonalves de Carvalho. Extenso: uma poltica de interiorizao da Universidade federalde Gois. Uberlndia. 2010. p.136. Disponvel em:www.ldtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3079.Acesso em outubro de 2013.

    http://www.ldtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3079http://www.ldtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3079http://www.ldtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3079http://www.ldtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3079
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    2 O CAMPUS AVANADO DE PICOS

    2.1 Picos nas dcadas de 1970 1980

    Picos nas dcadas de 1970-1980, ainda era um espao que dividia-se entre o urbano e

    o rural. A atividade econmica que predominava era a produo de alho e cebola, que era

    base da renda de inmeras famlias picoenses no incio da dcada de 1970, foi instalado em

    Picos as Indstrias Coelho S/A e o 3 Batalho de Engenharia e Construo 3 BEC, que

    possibilitou a gerao de emprego na cidade.

    O cultivo de alho [...] foi um dos principais produtos de exportao domunicpio. Em seguida, aps o declnio na produo de alho, mereceudestaque na cidade a atividade econmica ligada produo irrigada dealgodo, poca que o municpio recebeu sua primeira fbrica, a IndstriaCoelho S/A (Piau Txtil LTDA), empresa que beneficiava o algodoplantado na cidade e adjacncias, exportando os tecidos pr-fabricados paraoutras cidades1.

    Picos, nessa poca, apesar de ser uma cidade pacata e com costumes interioranos,

    comeava a aflorar o seu lado urbano. A cidade j no era mais aquela cidade onde adultos e

    crianas ficavam nas caladas e nas ruas brincando, conversando e ouvindo as histrias dos

    mais velhos. A violncia, que parecia algo longe da realidade da cidade, havia chegado e

    tirado a tranquilidade e a paz de outrora.

    A paz e a tranquilidade reinavam na cidade e nos interiores circunvizinhos.Ningum se preocupava quando iam sair noite. A tranquilidade e a paz deoutrora, porm, cederam lugar a essa terrvel e abominvel onda de violnciaque infelizmente vem ocorrendo em nossa sociedade. triste e doloroso,mas necessrio reconhecer que infelizmente o mundo mudou, e mudoupraticamente em todos os aspectos2.

    Acontecimento importante na cidade na dcada de 1970, especificamente em 1975, foi

    a elevao da cidade de categoria de Diocese que teve o seu primeiro bispo Dom Augusto.

    dessa poca tambm, a construo do Hospital Regional Justino Luz e a inaugurao da Rdio

    Difusora de Picos. Segundo Edimar Luz, as rdios que mais a populao picoense gostava de

    ouvir eram: as Rdio Cultura, de preferncia pela manh e, a Sociedade da Bahia, ouvida mais

    1SOUSA, Marcos Vinicius Holanda. A cidade em perspectiva: as mudanas espaciais e urbansticas na cidadede Picos(PI) no perodo de 1960-1980. Disponvel em:

    gthistoriacultural.com.br/VISimposio/Anais/Marcos%20Vinicius%20Holanda%20Sousa%20%Juliana%20Lopes%20Elias.pdf Acesso em 14/11/13.2LUZ, Edimar. Histrias em fragmento da dcada de 70 em Picos. Disponvel em:www.jornalista292.com.br/noticia_detalhe.pnh?id=13533 Acesso em 05/11/2013.

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    a noite. Tambm eram ouvidas por aqui a Rdio Clube Pernambucano, do Recife, a Rdio

    Nacional de Braslia, Rdio Globo do Rio de Janeiro, a Educadora de Cariri, a Rdio Pioneira

    de Teresina, dentre outras. Ainda segundo Edimar Luz, na segunda metade da dcada de

    1970, importante destacar os shows que aconteciam na cidade. Luiz Gonzaga, o Rei do

    Baio, tocou em cima da carroceria de um caminho, na Avenida Getlio Vargas. Ele lembra

    ainda, que nos dias que aconteciam os shows, por mais que os diretores impedissem, no

    conseguiam conter os alunos que fugiam para assistir os cantores.

    Sobre este aspecto, Oneide Rocha afirma:

    [...] o primeiro how que eu vi na minha vida eu era muito pequena foi ode Luiz Gonzaga, na praa pblica, ali na praa do mercado em frente onde

    hoje Moreno Calados. Em cima de um caminho, de tarde, assim umasquatro horas da tarde, todo mundo dos Pico l em cima n? Marido,mulher e os filhos. O primeiro show que eu vi foi o de Luiz Gonzaga. Elecantava mermo para o povo. Por isso que ficou, se notabilizou,n? [...] seeu me lembro de Jerry Adriano, Valdik Soriano e outros cantores da poca3.

    Como vimos no depoimento acima, os shows eram momentos de lazer para toda

    famlia, os pais iam e levavam seus filhos. Um ponto que despertou a admirao da nossa

    entrevistada, era a humildade do cantor, pois ele no tocava em cima de um palco bem

    estruturado, ele se apresentava em cima de um caminho, o que proporcionava um contato

    maior com os fs.

    Segundo Edimar Luz, a partir do final da dcada de 1970 e incio de 1980, comeava a

    entrar em decadncia as serenatas romnticas que se faziam com as vitrolas e os violes nas

    noites de luar, que se destinavam aos coraes apaixonados. Esta dava lugar a um som mais

    quentee descontrado.

    Na segunda metade da dcada de 1970, estourava em todo Brasil, econsequentemente em Picos, claro, a onda da discoteque, um estilo

    musical acompanhado de um ritmo jovial e alucinante que tomava conta dossales dos clubes e casas de danas noturnas da poca. Tudo era alegria aosom e embalos de msicas nacionais e internacionais4.

    Os anos de 1970 e 1980, foram marcados por um governo ditadorial, onde a violncia

    e a censura eram constante. Na cidade de Picos no foi diferente, apesar que de forma mais

    acentuada e tmida, professores e estudantes eram perseguidos e vigiados, livros sobre Che

    Guevara eram queimados, padres eram chamados para dar esclarecimentos sobre as reunies

    que fazia com os jovens.3ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.4LUZ, Edimar. Histrias em fragmentos da dcada de 70 em Picos.

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    Mundica Fontes lembra como era o cotidiano escolar nessa poca e nos conta que na

    escola que ela estudava, havia o capito Camelo, que era um diretor militar. Segundo ela, o

    capito Camelo teria chamado seus pais e advertindo-os em relao a algumas amizades que

    sua filha estava se relacionando e que no era boa companhia para ela. Essas amizades que o

    capito se referia, eram jovens que tinham comportamentos que na poca eram considerados

    subversivos, comunistas. Mundica Fontes afirma que a juventude da poca era um pouco

    ingnua, e ela no entendia o porque do capito camelo proibi-la de ter certas amizades. S

    depois de muito tempo que ele veio entender que era uma questo poltica. [...] eu tinha uns

    colegas que foram vigiados, constantemente e at livros deles foram tomados, foram

    queimados [...]5.

    Segundo Mundica Fontes, na escola, Capito Camelo,

    [...] ficava o tempo todinho, at no recreio ele andava, ele vinha de pontinhade p, a gente nem percebi e ele tava atrs da gente: o que que vocs

    esto lendo? [...] eu fazia parte do jornalzinho do Grmio. Ai tinha dotSoares [...] ele gostava de escrever. E nosso jornalzinho a gente fazia papel,[...] a cola era o grude, no era a cola que temos hoje industrializada. [...] agente fazia cola caseira de goma. E a gente fazia o jornalzinho [...] de papelmadeira, papel embrulho que era muito usado no mercado. [...] Eu era adesenhista da equipe. [...] E uma vez dot Soares, ele colocou nojornalzinho assim: Cuba o paraso de Fidel Castro. A fez um recorte, eu

    tinha a gravura de Fidel Castro. Se fez um recorte, que eu tinha a gravura deFidel Castro, colocamos Che Guevara tambm. A colocamos essejornalzinho, a ele (Capito Camelo) arrancou o jornalzinho, retirou, n? Aifoi procurar saber toda equipe. E a gente naquela poca, a gente assinava aequipe todinha. Ai ele me chamou e perguntou porque? Que incentivo agente recebeu? De quem havamos recebido aquele incentivo? Esimplesmente falou: no, foi ideia nossa mesma, no tnhamos incentivo deningum. Ele imaginava que tinha algum por traz incentivando, mas notinha6.

    Como podemos perceber, Capito Camelo vigiava os alunos e a qualquer sinal eles

    eram interrogados. Apesar dessa fiscalizao, para Mundica Fontes, na sua ingenuidade, essaordem e disciplina era benfica.

    Tinha a disciplina moral e clnica [...] colocar pra gente trabalhar os valorestnicos, de uma certa forma, foi muito bom, porque a gente aprendeutambm como respeitar o patrimnio dos outros, sem depredar [...] no tinhaanarquia. Quer dizer, aqui a gente no sentiu aquela dura, propriamente daditadura, como nas capitais, porque era mais protestos, com violncia, comtortura. E pra gente aqui foi uma coisa mais leve, em relao as capitais7.

    5MOURA, Raimunda Fontes de. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. Maio/2012.6MOURA, Raimunda Fontes de. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. Maio/2012.7MOURA, Raimunda Fontes de. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. Maio/2012.

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    Segundo Oneide Rocha, em Picos havia jovens que liam e sabiam sobre o que estava

    acontecendo no Brasil. Eles eram tidos como perigosos e m influncia para os demais.

    [...] eu me lembro que l dentro do colgio, as meninas que eram amigasdesses meninos, eram reclamadas pra no andar com eles, que eles eramperigosos, que eles podiam ser presos e elas tambm. Pra no ler os livrosque eles davam pra elas [...]8.

    Nesse perodo, de vez em quando apareciam pessoas de outros estados em Picos.

    Oneide Rocha, afirma que a populao ficava curiosa em saber o porqu que essas pessoas

    deixavam a cidade grande para vir para uma cidade do interior do Piau.

    [...] em Picos chegava muitos bancrios. Inclusive veio um bancrio tambm

    que era militante do Rio de Janeiro. Veio morar aqui em Picos pra seesconder. Arildo [...] Arildo tinha muita amizade, quer dizer, era uma pessoamuito inteligente. A gente admirava! Porque que essa pessoa veio l doRio de Janeiro morar aqui? [...] mas depois a gente sabia, mas tudo era muitovelado, ningum falava. [...] o povo de Picos tinha medo9.

    Atravs da fala da nossa entrevistada, percebemos que os ventos da ditadura militar,

    no passaram despercebidos. Ainda que de forma velada e temerosa, as pessoas de Picos

    evitavam falar no assunto, porque tinham medo do que poderia acontecer com elas. Oneide

    Rocha lembra de um fato que aconteceu com um casal chamado Guilhermina e Ezequias.

    Guilhermina era uma picoense que foi terminar seus estudos em Recife-PE. L ela conheceu

    Ezequias, militante que lutava a favor da democracia do pas, e casaram-se. Numa certa noite

    Guilhermina e Ezequias foram presos pelos militares e cada um levado para lugares

    diferentes. Seri a ltima vez que ela via seu esposo e ouvia sua voz gritando [...] ela voltou

    aqui pra Picos. E ela passou muito tempo sem saber se era casada ou viva [...]10.

    Guilhermina depois de um tempo foi solta e seu marido nunca mais foi visto. Ela retornou

    Picos para casa de seus familiares e ningum comentava o assunto, quando falavam era

    baixinho para ningum ficar sabendo.

    [...] o povo tinha medo de falar, nem a famlia de Guilhermina falava, nem aprpria Guilhermina quando voltou, que conversava com a gente. Eu eramuito amiga dela, eu falava baixinho. Ela no queria nem... ningum nempodia tocar, porque ela tinha medo, n? De voltar de novo a prender11.

    Guilhermina foi morar e trabalhar em Teresina-PI e l veio a morrer em um de carro.

    8ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.9ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.10ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.11ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.

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    [...] Guilhermina um dia numa combi, trabalhando e teve um acidente emsetembro de 1978. E ela caiu e morreu. A hoje tem dvidas. Era 78, emplena [...] ditadura militar, foi proposital, mas nunca foi provado. E a famlia

    tambm nunca foi atrs, porque tinha medo [...]

    12

    .

    Oneide Rocha nos contou esta histria para podermos compreender como chegavam

    as informaes em Picos sobre a ditadura militar. Pessoas que eram da cidade de Picos que

    morava em outros estados, quando vinham em Picos contava alguma coisa, sempre de forma

    discreta, pois o medo acompanhava essas pessoas, ou seja, pessoas da cidade que participava

    ou era vtima desses acontecimentos. Outra forma de saber era atravs das Rdios e de

    pessoas de fora que circulavam na cidade.

    Oneide Rocha, na dcada de 1970, participava do Treinamento da Liderana Crist

    TLC, que era realizado pela Igreja Catlica para reunir jovens e adultos. E segundo ela, com a

    chegada do 3 BEC, passou a ser constante a presena de militares nesses encontros. Uma

    certa vez veio para Picos um grupo de TLC de So Paulo, e eles apresentaram uma msica

    para ser cantada durante o ofertrio da Igreja. E os militares chamaram o padre para dar

    esclarecimentos sobre os assuntos das reunies e a msica foi proibida de ser cantada. A

    seguir um trecho da msica: Senhor h homens com fome / poucos com muito e muitos sem

    nada / soldados somos na caminhada / Senhor d fora...13.Segundo os depoimentos de Mundica Fontes e Oneide Rocha, os reflexos da ditadura

    militar teve suas peculiaridades. Havia a censura, como no caso dos livros que eram proibidos

    de ler e a msica que foi proibida de cantar, pessoas eram vigiadas, ou seja, no era como em

    So Paulo, Braslia, e outras capitais, que havia muitos militares nas ruas provocando

    violncia e opresso, mas de uma forma mais sutil a populao era sempre repreendida

    quando algo que ameaava a soberania dos militares eram percebidos.

    Segundo SOUSA, a cidade de Picos nas dcadas de 1960 a 1980, passava pormudanas urbansticas e espaciais devido ao crescimento desorganizado e a ocupao dos

    morros que rodeavam a cidade.

    Na segunda metade do sculo XX, a zona urbana do municpio se situava margem direita do Rio Guaribas, mas com o crescimento populacional nomunicpio, esta faixa de ocupao cresceu em todas as direes e seu traadourbano ganhou novas propores, com a criao de novos bairros14.

    12ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.13ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.14SOUSA, Marcos Vinicius Holanda. A cidade em perspectiva: as mudanas espaciais e urbansticas na cidadede Picos(PI) no perodo de 1960-1980, p. 5.

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    Com a chegada do 3 BEC, alm da gerao de prego e os servios que eram prestados

    a populao, possibilitou o surgimento de aglomeraes na cidade, como a COHAB e o

    Bairro Unha-de-gato, onde esta localizada a sede do batalho.

    Picos frequentemente sofria com as enchentes do rio Guaribas, sendo a de maior

    destruio a que houve na dcada de 1960. Muitas casas eram construdas muito prxima do

    leito do rio, quando a chuva vinha o rio transbordava e invadia as casas. Como a cidade

    rodeada por morros, a populao comeou a migrar para esses locais, afim de fugirem das

    enchentes, como afirma.

    Durante os anos 70, os moradores continuavam a ser assolados pelas cheiasdo rio, mas nada como fato ocorrido na dcada interior. Os moradores se

    distanciam um pouco da margem d rio, procurando os morros da cidade paramorarem nas regies mais altas, dando nova configurao espacial eurbanstica cidade15.

    Em 1972, chega em Picos a primeira equipe do Projeto Rondon, que trouxe muito

    benefcios para a cidade. Ao chegarem perceberam que a cidade enfrentava vrios problemas

    sociais e econmicos. O objetivo deles seriam trabalhar junto a comunidade no intuito de

    solucionar os problemas e melhorar a condio de vida dos picoenses.

    No incio da dcada de 1980, Picos sofria com a falta de saneamento bsico, o que

    acarretava doenas para a populao. A falta de uma rede de esgoto fazia parte do cotidiano

    da cidade. A situao se agravava ainda mais nos morros e encostas, onde morava a

    populao mais pobre. Os moradores do Morro da Mariana (atualmente Aerolndia) fazia o

    escoamento dos seus setores morro abaixo, contaminando as reas vizinhas. O mais

    prejudicado era o Rio Guaribas, que alm de receber as guas poludas, estava servindo de

    depsito de lixo.

    Deveras chocante e contraditrio a relao existente entre odesenvolvimento econmico de Picos e sua estrutura sanitria. Se por umlado, h um comrcio ativo, um movimento bancrio operante, um trfegodinmico e crescente, etc., por outro lado, h uma triste realidade social quesalta aos altos de todos: as pssimas condies da rede bsica de esgoto16.

    Alm da falta de saneamento bsico, outro problema tomava conta da cidade: os

    animais soltos pelas ruas. Jumentos, carros e pessoas disputavam as vias pblicas, o cu era

    enfeitado pelos pombos e urubus, cachorros e porcos brigavam por imundcias nas ruas,

    fazendo de Picos uma cidade nada convidativa.

    15SOUSA, Marcos Vinicius Holanda, p. 8.16Editorial Saneamento bsico. O Macambira, Picos 31/08/1981, p. 2.

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    Problema tambm era violncia que assustava cada vez mais a populao. Em janeiro

    de 1982, durante uma festa no bairro Pedrinhas, uma confuso entre civis e policiais deixaram

    um saldo de 4 mortos. A populao ficou aterrorizada devido a falta de respeito e amor ao ser

    humano. Os picoenses cobravam um comportamento mais fraterno em relao ao seu

    semelhante.

    A festa corria solta na noite do dia 10 de janeiro no Conjunto Pedrinhas. Derepente, l pelas 22:30hs, entre meio a muita dana e muita bebida,aconteceu o maior tiroteio entre policiais e civis. De festejo paracomemorao da inaugurao do Conjunto Habitacional Picos II, a reuniotomou um sentido totalmente diverso.Os motivos ainda pairam pelo ar. Ningum ao certo sabe dizer o querealmente aconteceu naquela noite. Uns dizem que a polcia queria cobrar

    uma cota na festa, outros, no entanto, afirmam que os policiais apenascumpriam com o servio de proteo da festana. A verdade que empoucos minutos se armou tamanha confuso que ningum sabia o que sepassava, e foi tiro, facada e correria pra todo lado17.

    Estes so alguns dos aspectos da cidade de Picos nas dcadas de 1970-1980. Essa

    apresentao foi importante para vermos como era a cidade quando os rondonistas chegaram

    aqui. No prximo item, vamos ver como se deu a instalao do Campus Avanado de Picos.

    2.2 Instalaes do Campus

    Como j vimos no captulo anterior, os Campi Avanados foram criados com o Projeto

    Rondon e a partir dele caracterizava-se pela presena constante de professores e universitrios

    na comunidade onde se encontrava instalada a sede do Campus.

    A primeira equipe do Projeto Rondon chegou a Picos em 29 de agosto de 197218,

    nessa equipe vieram professores e universitrios da UFG, que permaneceram na cidade de

    29/08 a 18/09 de 1972. Os professores que fizeram parte dessa equipe, foram: o professorWilliam da Silva Guimares, coordenador da equipe, as professoras Vera Maria Magalhes e

    Maria Marlene Marinho, da Faculdade de Educao e os universitrios Paulo Prado Batista e

    Enio Magalhes Freire, ambos da rea de matemtica e fsica, e, Garcindo Martins Pereira da

    rea de veterinria. Eles realizaram trabalhos na rea de matemtica, fsica, veterinria e

    educao.

    No basta olhar o mapa do Brasil aberto sobre a mesa de trabalho ou

    pregado parede de nossa casa. necessrio andar sobre ele para sentir as17Violncia em Picos. O Macambira. Picos 31/01/1982, p. 5.18Relatrios das equipes rondonistas. A Voz do Campus. Picos 08/12/1972

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    angstias do povo, suas esperanas, seus dramas ou tragdias, sua histria, esua f no destino da nacionalidade19.

    Era com essa ideia que os rondonista, saiam de suas cidades e de perto de sua famlia,

    em direo ao interior do pas, a fim de conhecer a realidade enfrentada por essas

    comunidades e tentar de alguma maneira ajud-las.

    Visando um melhor desenvolvimento dos trabalhos promovidos pelos rondonistas, em

    22 de setembro de 1972, foi instalado na cidade o Campus Avanado de Picos, que pertencia

    a UFG.

    [...] esse pertencia rede do Projeto Rondon, que criou no brasil, 21 campi,prioritariamente nas regies Norte, Nordeste, Centro-Oeste. E convidou as

    universidades do Centro-Sul, inclusive Gois [...]. O Campus de Picos foi oque nos foi oferecido. O Projeto Rondon ofereceu o Campus de Picos aUFG, que atravs de um convnio, pelo qual Rondon fazia todas as despesas.O objetivo era a realizao de estgios supervisionados profissionalizantes.Supervisionados por professores nossos, com programas criados porprofessores nossos, em nossos departamentos (UFG) para serem realizadosl, de acordo com a comunidade de l. Para isso tinha que fazer pesquisa l.Iam muitos professores para l. Picos foi a nossa primeira experincia comCampus Avanado. Trabalhamos 12 anos l20.

    Cada equipe permanecia no CAP durante um ms, dando lugar no ms seguinte a

    outros acadmicos que davam continuidade aos trabalhos at ento desenvolvidos.Para a instalao e consolidao do CAP, foi feito um convnio entre a UFG e a

    Prefeitura Municipal de Picos. A seguir, a justificativa para a instalao do campus.

    A existncia do Campus Avanado de Picos justifica-se pela tarefa daintegrao nacional, a ser realizada tambm com a colaborao daUniversidade de Gois, visando transformar a microrregio S1 do Piau empolo de desenvolvimento, carregando para l a teoria e a tcnicarepresentada pela colaborao dos professores e alunos da UFG, e de outrasinstituies conveniadas, visando a preparar a mo-de-obra especializada

    local, para enfrentar as tarefas do desenvolvimento, dando oportunidade aosalunos de ampliarem seus conhecimentos em uma rea carente do pas, ecom isto, exercitando-se um melhor desempenho de suas tarefasespecficas21.

    O Campus Avanado era to importante para a cidade que o recebia quanto para os

    participantes oriundos de outras regies, pois proporciona para eles experincias que talvez

    eles jamais teriam restrito a sala de aula. O Campus Avanado funcionava como um estgio

    19PROJETO RONDON, 1979. Disponvel em: projetorondon.pagina-

    oficial.com/portal/lindex/pagina/rea/projeto_rondon/defesa.gov.br Acesso em outubro de 2013.20CASSIMIRO, Maria do Rosrio, 2009 apud MENDONA, Zilda Gonalves de Carvalho. Extenso: umapoltica de interiorizao da Universidade Federal de Gois (1972-1994), 2010, p. 157.21UFG, 1978. Apud MENDONA, Zilda Gonalves de Carvalho, p. 159.

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    para eles por em prtica a teoria aprendida e ao retornarem para casa levavam em suas

    bagagens uma experincia que servia tanto para sua vida pessoal quanto para os seus

    currculos.

    O Campus Avanado de Picos ficava situado no bairro Junco, na Avenida Brasil

    (atualmente Avenida Senador Helvdio Nunes de Barros), numa rea de 10 000m, que foi

    cedida pela Secretaria de Agricultura do Estado do Piau.

    Os rondonistas ficavam hospedados no prprio campus. L eles realizavam as

    atividades propostas pelo PR, promoviam palestras, seminrios tudo em prol do

    desenvolvimento da educao de Picos e de povoados prximos. Segundo Mundica Fontes22o

    espao o campus era muito agradvel e espaoso, e alm de serem realizadas as atividades, os

    rondonistas tambm promoviam festas e serestas. Por este fato o campus passou a ser malvisto pela populao picoense, pois o local estava fugindo do seu principal objetivo que era

    promover o conhecimento.

    O campus se converte em centro de encontros entre gente da terra eforasteiros rondonistas, com toda sequela de tais acontecimentos. Poucotrabalho apresentado, muito movimento, muito descontentamento, imagemdesfavorvel ao campus, quase levando a universidade a fechar as portas domesmo23.

    A partir desta citao acima, podemos perceber que o campus, que era para contribuir

    para o desenvolvimento da cidade, por algum momento foi indesejado pela mesma, pois ele

    estava passando uma imagem de local que servia apenas para o divertimento dos rondonistas

    e dos jovens picoenses. Diante desses acontecimentos a UFG chegou ao ponto de pensar em

    fechar o campus, pois este no estava produzindo o resultado desejado.

    Segundo Mendona, aos poucos o campus passa a ser uma instituio respeitada pela

    populao, principalmente por os mais pobres do lugar, que encontra nos rondonistas um

    apoio como jamais tiveram do poder pblico no que diz respeito a sade e educao.

    O campus passou a adotar uma tinha disciplinar exigente para todos osestudantes e professores que para l se dirigiam. Dentro de pouco tempo, aimagem deixada era o reverso da medalha. O trabalho dos jovens passa a sermais aceito, de modo todo especial pelas populaes mais pobres edesassistidas, que vinham encontrar, sobretudo, nos acadmicos demedicina, uma ateno respeitosa como jamais haviam recebido24.

    22MOURA, Raimunda Fontes de. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. Maio/2012.23CASSIMIRO, Maria do Rosrio; GONALVES, Oliveira Leite, 1986 apud MENDONA, Zilda Gonalvesde Carvalho, p. 161.24CASSIMIRO; GONALVES apud MENDONA, Zilda Gonalves de Carvalho, p. 161.

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    De um lugar mal visto, o campus passa a ser um local onde a populao se sente

    acolhida e satisfeita com os servios disponibilizados.

    Oneide Rocha, lembra como era a chegada dos rondonistas em Picos: [..] todos os

    meses vinham esses jovens do Projeto Rondon. Isso era uma grande animao pra cidade. As

    moas esperavam os universitrios e os rapazes esperando as universitrias25. Segundo ela,

    Picos nessa poca era uma cidade pequena e pacata e ver tantos jovens chegarem em um

    nibus grande, era uma animao para a populao, principalmente, os jovens que ficavam

    ansiosos para conhecerem os rondonistas. Ao chegarem a cidade eles eram apresentados a

    populao e haviam tambm aquelas pessoas que ficavam encarregados de mostrar a

    cidade, para eles irem se familiarizando com a comunidade local. A cidade ficava mais

    movimentada no perodo que os rondonistas permaneciam na cidade.O CAP, frequentemente recebia pessoas ilustres que enriqueciam ainda mais os

    trabalhos realizados pelas equipes.

    [...] esteve hospedada no Campus Avanado de Picos a jornalista MarvineHouve, do Jornal New York Times, oportunidade em que fez uma coleta devasto material de pesquisa durante sua participao junto a 5 equipe deRondonista da Universidade Federal de Gois26.

    Esteve presente tambm no CAP, a Dr Maria do Rosrio Cassimiro, que era

    coordenadora de um grupo de trabalho da UFG.

    Em visita a servio, esteve entre ns nos dias 12, 13 e 14 do ms de junhopassado, a Dr Maria do Rosrio Cassimiro, ilustre coordenadora do GTU daUFG, grupo ao qual estamos diretamente vinculados.Durante o referido espao de tempo tratou de assuntos relevantes deinteresse deste Campus Avanado [...]27.

    O CAP estava ligado a UFG, mas isso no impedia que alunos de outros estados

    viessem realizar trabalhos aqui, como por exemplo, os alunos da Universidade Federal daParaba (UFPB) e da Universidade Federal do Cear (UFCE).

    Por duas vezes, em novembro, o Campus Avanado recebeu alunos dasUniversidades Federal do Cear e da Paraba. Os acadmicos da UFCE,realizaram um trabalho de pesquisa sobre minerais na regio de Picos eficaram hospedados no campus, que se encarregou de dar-lhes o suportenecessrio para o bom desempenho de suas atribuies. Os da UFPB,doutorandos do curso de engenharia, em nmero de 36, vieram fazer uma

    25ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.26Notcias Diversas. A Voz do Campus. Picos 08/12/1972, p. 2.27Coordenadora do GTU da UFGo em Picos. O Macambira. Picos 08/07/1977, p. 5.

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    visita e se mostraram muito interessados em participar dos trabalhos de umCampus Avanado28.

    Outra figura ilustre que visitou o CAP, foi o Pr-reitor de Extenso da UFG Prof.

    Mauro Urbano Rogrio, o objetivo de sua visita, era de conhecer in loco os programas que

    estavam sendo desenvolvidos pelos professores e alunos estagirios.

    O CAP ficou em atividade at setembro de 1984, quando ocorreu sua transferncia

    definitivamente da UFG para a FUFPI. Durante doze anos o PR desenvolveu trabalhos que

    envolveu toda comunidade picoense, buscando melhorar a condio de vida das pessoas e o

    crescimento da cidade. O diretor do PR, na poca, Renato Filrio dos Reis, explicou que esta

    transferncia no aconteceu por causa de motivos financeiros, mas que j era uma ideia do

    PR, que estava sendo planejada h muito tempo e a populao de Picos almejava ter o seuprprio campus. Mesmo com o desejo dos picoenses pelos seu prprio campus, quando

    ocorreu essa transferncia e a UFG deixou o campus, eles ficaram um pouco apreensivos, pois

    temiam a influncia poltica dentro do campus, fato que no ocorria antes, mas o professor

    Paulo Ximenes, diretor do campus, enfatizou que no haveria nenhum prejuzo para a

    populao com essa transferncia:

    [...] a iniciativa partiu do Projeto Rondon e a UFG espera que tudo seja

    resolvido do melhor modo possvel, para que no possa haver prejuzos paraa comunidade. Esta tambm a ideia do Projeto de Picos, Dr Abel de BarrosArajo, que vem acompanhando com grande interesse todos os passos datransferncia. [...] no final de setembro, a UFG estar deixandodefinitivamente a diretoria do campus, assim como a coordenao dostrabalhos realizados29.

    No prximo item, iremos ver como se deu os passos e impasses da instalao de um

    campus universitrios em Picos.

    2.3 Breve histria da UFPI Campus de Picos-PI

    Durante muito tempo, a sociedade picoense, almejava ver em sua cidade uma

    instituio de ensino superior, que possibilitasse para seus jovens a oportunidade de uma

    qualificao profissional e fixao na sua cidade natal.

    No intuito de realizar esse sonho acalentado da populao, foi assinado em 22 de

    Setembro de 1978 um convnio entre a Universidade Federal do Piau (UFPI), a Universidade

    28Cearenses e Paraibanos no Campus Avanado. O Macambira. Picos dezembro/1977, p. 2.29A UFG deixar o Campus Avanado de Picos. O Macambira. Picos 31/08/1984, p. 11.

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    do Gois, O Projeto Rondon e a e a Prefeitura municipal de Picos, com o ento prefeito

    Severo Maria Eullio, onde estes reivindicaro a participao direto da Fundao Federal do

    Piau (FUFPI), e a instalao de um dos campos de um campus universitrio em Picos. O

    ento reitor da FUFPI, Jos Camilo Silveira Filho, que a partir de maro de 1979 iria ter o

    funcionamento de vrios cursos superiores na cidade mas esta foi apenas o primeiro passo a

    ser tomado em favo da sociedade, ter o seu sonho realizado ainda ia demora um pouco.

    Depois deste passo, o problema agora era ter um local adequado para se ministrar s aulas. A

    FUFPI gostaria que a diocese de Picos pudesse ceder suas propriedades instalaes at

    construo de uma se prpria.

    [....] Para tanto, a UFPI, espera atravs de entendimentos com a Diocese dePicos, poder utilizar as instalaes do Centro de treinamento, O que semduvidas, alm de reduo do custo e do tempo de implantao dos cursos,levaria a comunidade a participar do processo30.

    O povo de Picos enxergava nos cursos superiores uma sada para solucionar seus

    problemas, mas acima de tudo, de ter uma educao de qualidade e oportunidade de emprego.

    Pois quando os jovens terminavam o segundo grau ficavam sem saber oque fazer e sem nada

    pra fazer, por que quem tinha uma condio financeira mais elevada ai para outros estados

    terminar seus estudos.

    Sabemos que os cursos superiores nem sempre solucionam os problemas deum lugar e muitas vezes nem os problemas das pessoas, entretanto, eles soos embries da formao de uma cultura regional e de uma estrutura sobre aqual os ensinos de primeiro e segundo graus se fundamentam e se aliceram.Picos, na medida em que melhor forem capacitados os professores melhorser o ensino ministrado. E s assim teremos uma educao segura eeficiente, fase de qualquer processo de desenvolvimento31.

    No dia 29 de novembro de 1978, mais uma vez lideranas da cidade se reuniram no

    CAP a fim de discutir propostas de suporte para apressar a instalao de cursos superiores emPicos, no ano de 1979.

    Desde setembro de 1977 que as UFG, UFPI, Secretaria de Educao de Estado e

    Diocese de Picos, atravs de um Documento de Intenes, se manifestaram interessados em

    oferecer Picos cursos de Licenciatura Curta, que seriam ministrados pela UFG mas devido a

    alguns empecilhos se problemas financeiros, a UFG encontrou dificuldades para a

    implantao dos referidos cursos.

    30Editorial. Ensino Superior em Picos. O Macambira. Picos 28/09/1978, p. 1.31Editorial. Ensino Superior em Picos. O Macambira. Picos 28/09/1978, p. 1.

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    Aps vrias reunies e promessas do reitor para a implantao do curso superior, o

    impasse agora era falta de terreno para ser construdo o prdio do campus. Nessa questo, a

    populao de Picos teve um papel muito importante, pois ela estava sempre disposta a ajudar,

    visto que todo esse esforo e empenho depois iria se reverter em prprio benefcio para a

    comunidade.

    Diante desse impasse, a comunidade reunida atravs de suas lideranasbuscou encontrar um meio de oferecer a Universidade do Piau uma soluopara sua implantao definitiva e outra para a instalao provisria, at quefiquem prontos os edifcios. Vrias sugestes foram apresentadas pelospresentes. Para o primeiro caso decidiu-se que seria elaborado ummemorando a CIBRAZEU, solicitando a doao de uma rea de terras de suapropriedade no fundo do Campus Avanado. Esse expediente dever ser

    encaminhado atravs do Prefeito Municipal e ser assinado pelos os queestiverem presentes reunio32.

    Como vimos na citao acima, para o problema do terreno j havia a soluo. Faltava

    agora um local para a instalao provisria. Diante disto, foi sugerido dois locais para o

    campus: o Hospital So Vicente de Paulo ou o Grupo Escolar Justino Luz. A escolha caberia a

    Universidade do Piau.

    Em 1980, a FUFPI implanta na cidade de Picos um ncleo de Extenso do Programa

    de Desenvolvimento Rural (PDR). Este programa h dois anos j atuava em Teresina-PI eGuadalupe-PI, e tinha o objetivo de melhorar a vida da comunidade, atravs do aumento da

    produo de alimentos.

    A passos lentos o antigo desejo do municpio de Picos de ter o seu prprio campus

    universitrio, vai se tornando realidade. O primeiro vestibular aconteceu entre os dias 18 e 21

    de julho de 1981. Os curso oferecidos foram os de Letras, Cincias, Estudos Sociais,

    Administrao Escolar e Superviso Escolar, disponibilizando 40 vagas cada um. No ano de

    1982, o campus iniciou suas atividades pedaggicas, tendo na direo o mdico Jos Nunes

    de Barros.

    Em novembro de 1982, vem Picos uma comisso de professores da FUFPI, para

    conhecer as atividades desenvolvidas pelo PR, pois a partir daquele momento a FUFPI iria

    integrar os seus trabalhos com o PR. Essa integrao foi bem vista pelo diretor do CAP,

    Mrio Pedroso, que achava importante essa ligao do PR com as universidades locais em que

    atuava.

    32Lideranas municipais renem-se por cursos superiores. O Macambira. Picos 20/12/1978, p. 5.

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    A populao de Picos teve uma forte influncia para a implantao de cursos

    superiores em Picos. Participava das reunies, das decises e queria estar informada e

    consultada sobre qualquer deciso que fosse tomada em relao aos interesses da comunidade.

    Foi lembrado ainda a rejeio que as pessoas tem manifestado a obrasimplantadas sem consulta popular, acontecendo, s vezes, alm daociosidade a que ficam relegadas essas obras, at mesmo a sua destruio,talvez numa forma deprotesto33.

    Como podemos verificar, a populao tinha voz ativa e a qualquer sinal de que no

    estavam sendo ouvidos, j que este mais do que ningum sabiam e conheciam suas reais

    necessidades, em forma de protesto, muita vezes no participavam de alguns projetos.

    Outra forma importante para a consolidao do ensino superior em Picos foi SeveroMaria Eullio, prefeito de Picos, eleito em 1976. Em sua administrao, priorizava os setores

    da sade e educao, pois tinha como objetivo melhorar a condio de vida de sua

    comunidade. Era visto pela populao como um homem de carter e um poltico que

    trabalhava em prol de seu Estado.

    SEVERO MARIA EULALIO...Como pessoa humana, na sua vida foi marcada pela nobreza de carter,simplicidade, lealdade, vontade de servir; como poltico, foi um dos

    piauienses que mais trabalharam em defesa do seu Estado.A prosperidade lhe far justia!34

    Mas a sua carreira foi interrompida em 1979,em um acidente, quando ia a Teresina,

    resolver questes ligadas a instalao da universidade em Picos. Morreu trabalhando para o

    bem estar e desenvolvimento de sua terra natal.

    Em pleno mandato de Prefeito Municipal, veio a falecer, em desastreautomobilstico, no dia 24 de novembro de 1979, nas proximidades da

    cidade de Valena, quando, em Viagem a Teresina, l iria pegar o avio paraGoinia, a servio da instalao da Faculdade d Picos, sua terra natal35.

    O campus universitrio de Picos recebeu o nome de Senador Helvdio Nunes de

    Barros. Para Oneide Rocha36, isso foi uma injustia, pois o Severo Maria Eullio tinha sido

    uma chave importante para a abertura do campus, portanto o nome deveria ser seu. E, alm do

    mais, ele teria perdido a sua vida justamente por causa desse campus.

    Segundo Oneide Rocha,

    33FUFPI integra aes do Campus. O Macambira. Picos 30/11/1982, p. 6.34MCEDO, Jos Albano de. Maria Severo Eullio. O Macambira. Picos 31/10/1982, p. 8.35MCEDO, Jos Albano de. Maria Severo Eullio. O Macambira. Picos 31/10/1982, p. 8.36ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.

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    [...] o nome desse campus, no desmerecendo dot Helvdio, n? DotHelvdio, ele tem seu mrito, seu mrito, foi senador. S que de fato lutoupelo campus, desde de sua origem, foi Severo Maria Eullio. [...] lutando pra

    instalao do campus aqui, eu vejo que foi um equvoco, de certa maneira uma injustia. O nome deveria ser Severo Eullio37.

    Apesar desse detalhe, a frase anterior: A prosperidade lhe far justia! Com certeza foi

    cumprida. Atualmente o Campus Senador Helvdio Nunes de Barros possui 9 cursos, sendo

    eles: Administrao, Nutrio, Enfermagem, Biologia, Histria, Sistema de Informao,

    Letras, Pedagogia e Matemtica, que possibilita que jovens e adultos (de todos os nveis

    sociais) de Picos e sua regio, e tambm de outros estados do pas tenham uma educao de

    qualidade que lhe permitam entrar no mercado de trabalho e promove o desenvolvimento da

    cidade.

    2.4 O desenvolvimento das atividades: pblico alvo e temas abordados

    As atividades extencionistas proporcionadas pelo PR em Picos tiveram um importante

    papel para aproximar a universidade da populao e na construo de uma sociedade com

    mais oportunidades de desenvolvimento. Os trabalhos que eram realizados pelos rondonistas

    variavam de acordo com as necessidades e dificuldades de cada comunidade. Em Picos, os

    rondonistas atuaram nas reas de educao, direito, sade, higiene, esportes, cursos de

    capacitaes dentre outros.

    De acordo com o jornal A voz do campus, a primeira equipe do PR esteve em Picos do

    perodo de 29/08 a 18/09 de 1972. Na rea de Educao, fizeram entrevistas nos nveis de

    ensino primrio e secundrio e perceberam a dificuldade de muitos alunos nas disciplinas de

    matemtica financeira e fsica, ento acharam por bem iniciar um cursinho de matemtica e

    fsica, a fim de solucionar esse problema. Na rea de veterinria, autoridades locais,solicitaram um curso de Inspeo de carnes no Matadouro Municipal. O rondonista

    responsvel por essa rea, aps perceber as condies sanitrias do Matadouro, resolveu

    suspender o curso e fazer uma adequao nas condies sanitrias do local. Foi feito um

    servio de limpeza e todos os funcionrios passaram por exames. Todos os exames tiveram

    resultados negativos, ou seja, no foi detectada nenhuma doena38.

    37ROCHA, Maria Oneide Fialho. Entrevista concedida a Ceane Alves de Sousa. 18/12/13.38Relatrio das equipes de rondonistas. A Voz do Campus. Picos 08/12/1972, p. 6-7.

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    A segunda equipe de rondonistas esteve em Picos de 18/09 a 08/10 de 1972. A equipe

    era composta por dois professores e cinco universitrios da rea de Cincias Humanas. Esta

    equipe realizou uma coleta de dados junto comunidade, a fim de conhecer quais os

    problemas que afligiam a comunidade. Tambm foi dado continuidade as aulas do curso de

    matemtica e fsica.39

    A terceira equipe era composta por 1 professora e 10 universitrios das reas de

    Veterinria, Agronomia, Odontologia e Educao Fsica. No perodo de 08/10 a 28/10 de

    1972, deram continuidade ao curso de Matemtica e Fsica, reforando a seriedade do curso e

    motivando a integrao dos jovens. Na rea de Veterinria, a comunidade solicitou que

    fizessem uma profilaxia da raiva canina, os rondonistas, ao perceberem esse problema,

    resolveram ministrar um curso de vacinao. Neste curso foram capacitados algunsfazendeiros e 2 funcionrios da prefeitura municipal para que dessem continuidade nas

    vacinaes dos ces. Os estudantes de Odontologia promoveram palestras sobre profilaxia

    bucal e a preveno das cries. Foram feitas visitas aos Grupos Escolares da cidade,

    ensinando e motivando o uso da escova dental por parte dos alunos; com as professoras, foi

    trabalhado a possibilidade de fazer campanhas para doao de escovas dental para as crianas

    mais pobres. Na rea de Educao Fsica, foram oferecidos cursos para os professores.40

    A quarta equipe era composta por 2 professores e 9 estudantes das reas de EducaoFsica, Odontologia e Enfermagem. No perodo de 29/10 a 18/11 de 1972, deram

    continuidade aos trabalhos da equipe passada, no curso de Matemtica e Fsica, e perceberam

    que os professores tambm tinham uma grande dificuldade nessas disciplinas. Foi dado

    continuidade aos cursos para os professores, na rea de Educao Fsica, reforando a

    importncia do conhecimento de tcnicas das diversas modalidades de esportes e a prtica

    com os alunos. Foi proferido palestras para docentes, discentes e a comunidade explicando as

    finalidades do Campus Avanado. Os universitrios de Odontologia realizaram diagnsticoscario gnico em 1 619 alunos de todas as escolas da comunidade, a fim de prevenir a crie. Os

    acadmicos de Enfermagem tiveram um dilogo com as enfermeiras e parteiras locais,

    visando curso para ambas.

    A quinta equipe realizou trabalhos de 19/11 a 08/12 de 1972 e era composta por 4

    professores e 3 estudantes da rea de Sade. Esta equipe realizou palestras, assistncia mdica

    e trabalhou nos povoados menos assistidos pela sade local a conscientizao do uso de

    vacinas para a preveno de doenas. Foram oferecidos cursos para parteiras e gestantes. Para

    39Relatrio das equipes de rondonistas. A voz do Campus. Picos 08/12/1972, p.740Relatrio das equipes de rondonistas. A voz do Campus. Picos 08/02/1072,p.8-9

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    as gestantes o curso ensinou at a confeccionar o enxoval para os recm-nascidos. Os

    rondonistas pesquisaram sobre o folclore local e fizeram um intercmbio do folclore goiano e

    o da regio, ao final, foi organizado um coral e apresentado para toda comunidade.41

    A 6 e 7 equipe realizaram um Curso de Reciclagem, juntamente com a Secretaria de

    Educao e Cultura do Piau, e tinha como objetivo treinar e qualificar professores da rede

    estadual de ensino, nas seguintes reas: Estudos Sociais, Cincias e Comunicao e

    Expresso. Segundo o jornalzinho A voz do campus, foram treinados 155 professores e o

    curso alcanou os objetivos desejados.

    A 8 equipe realizou um trabalho no setor de Comunicao Social, a atividade

    desenvolvida foi feita atravs de compilao de dados e fotografias de vrias atividades da

    cidade, esse material foi transformado em uma reportagem e seria divulgada em Goinia eBraslia, com o objetivo de mostrar as autoridades brasileiras os problemas que afligiam a

    cidade de Picos. Esta equipe tambm realizou um curso de Atendente Hospitalar que contou

    com o apoio dos mdicos e farmacuticos da cidade e funcionrios do Hospital So Vicente

    de Paula.42

    A 9 equipe era composta por universitrios de Medicina, Agronomia, Bioqumica e

    Enfermagem. Aps realizarem pesquisas e observaes nas reas de agricultura, os

    rondonistas chegaram a concluso que os setores de cultivo de alho e da cebola eram os quemais precisavam de ateno e cuidado, pois notou-se que os produtores dessas culturas eram

    os mais interessados em aumentar a sua produtividade. A equipe fizeram experimentos,

    aplicando vrios tipos de sementes e adubos especficos no leito do Rio Guaribas. Os

    estagirios de Enfermagem realizaram dois cursos: Enfermagem do Lar e Atendente

    Hospitalar. O primeiro teve como pblico alvo, os alunos do Ginsio Monsenhor Hiplito, e,

    o segundo, os funcionrios do Hospital So Vicente de Paula, Casa de Sade e demais

    interessados. Em todos os cursos que eram realizados, notava-se o interesse dos participantese o excelente aproveitamento do que era ensinado. Os estudantes de Bioqumica realizaram

    exames em crianas de todos os nveis sociais.43

    A 10 equipe ministrou o curso Trabalhos em Comunidade para Jovens e Adultos e

    tinha como finalidade preparar esse pblico para realizao de aes comunitrias. O curso

    em Dinmica de Grupo e Relaes Humanas foi ministrado aos funcionrios da prefeitura de

    Picos e alguns de Jaics-PI, a administradora de Campus Avanado, militares, secretrio da

    41Relatrio das equipes de rondonistas. A voz do Campus. Picos 08/12/1972, p.10-11.42Misso cumprida. A voz do Campus. Picos 28/02/1973, p.2.43O que fez a 9 equipe. A voz do Campus. Picos 18/03/1973, p.3 e 5.

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    Unidade Escolar Marcos Parente, ao diretor adjunto do campus e sua esposa. Este curso foi

    bastante concorrido e muitos interessados deixaram de participar por falta de vagas. Na rea

    de Alimentao, veio o Sr. Joo Jos Urbano da Silva, culinrio que orientou as cozinheiras

    do campus e criou um cardpio no intuito de melhorar a comida que era servida. Uma

    curiosidade deste Senhor, que ele foi convidado pelo prprio presidente Getlio Vargas,

    para cozinhar no Palcio do Rio de Janeiro. Da percebemos o nvel dos rondonistas que eram

    enviados Picos. Ele era bastante querido no campus, preparava o caf da manh, almoo e

    janta. Sua nica reclamao era a saudade d sua famlia. Os rondonistas tambm realizaram

    um levantamento topogrfico da cidade, com o objetivo e ajudar a prefeitura a realizar o

    cadastramento imobilirio. Esta equipe enfrentou alguns problemas na realizao deste

    trabalho: ruas com ms condies de trfego, chuva forte e o desrespeito de alguns motoristas.Para o xito dessa atividade, o campus se viu obrigado a pedir a colaborao da Polcia

    Militar durante os trabalhos.44

    A 11 equipe desenvolveram atividades nas reas de Tecnologia e Educao. Na rea

    de Tecnologia, foi realizado um levantamento das edificaes pblicas, privadas, comerciais,

    das ruas e quadras da cidade, com o objetivo de ser criada uma planta fidedigna da cidade. Na

    rea de Educao, prosseguiram com os treinamentos de lideranas locais para trabalhos

    comunitrios. A pedido da Prefeitura Municipal de Picos, toda equipe ajudou a fazer aremoo das famlias do bairro Trisidela, que tinham sido atingidas pela enchente do Rio

    Guaribas. Tambm fizeram um levantamento das famli