monografia capital de risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram...

71
1 ÍNDICE INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 3 Contextualização ........................................................................................................... 3 Justificativa.................................................................................................................... 4 Relevância do tema ....................................................................................................... 4 Objectivos...................................................................................................................... 5 Problematização ............................................................................................................ 5 Metodologia .................................................................................................................. 6 Estrutura do Trabalho .................................................................................................... 6 CAPÍTULO I - ABORDAGEM CONCEPTUAL DO TEMA ........................................ 7 1.1. Perspectiva Histórica .............................................................................................. 7 1.2. Conceito ................................................................................................................. 9 1.3. Características do Capital de Risco ...................................................................... 11 1.4. Capital de Risco e o Processo de Internacionalização ......................................... 12 1.5. Vantagens do Investimento em Capital de Risco ................................................. 15 1.6. Tipos de Investidores em Capital de Risco .......................................................... 18 1.7. As Formas de Investimento das Entidades de Capital de Risco .......................... 21 1.8. Mecanismos de Saída (Exit) ou Desinvestimento dos Venture Capitalists/Privat Equity .......................................................................................................................... 24 1.9. A avaliação no processo de decisão de um investimento de Capital de Risco .... 26 1.9.1. O plano de negócios .......................................................................................... 27 1.9.1.1. O seu contexto no capital de risco .................................................................. 28 1.9.1.2. Um plano de negócio vitorioso ...................................................................... 30 1.9.1.3. Riscos envolvidos nos Investimentos de Capital de Risco ............................ 31

Upload: duongmien

Post on 15-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

1

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 3

Contextualização ........................................................................................................... 3

Justificativa.................................................................................................................... 4

Relevância do tema ....................................................................................................... 4

Objectivos...................................................................................................................... 5

Problematização ............................................................................................................ 5

Metodologia .................................................................................................................. 6

Estrutura do Trabalho .................................................................................................... 6

CAPÍTULO I - ABORDAGEM CONCEPTUAL DO TEMA ........................................ 7

1.1. Perspectiva Histórica .............................................................................................. 7

1.2. Conceito ................................................................................................................. 9

1.3. Características do Capital de Risco ...................................................................... 11

1.4. Capital de Risco e o Processo de Internacionalização ......................................... 12

1.5. Vantagens do Investimento em Capital de Risco ................................................. 15

1.6. Tipos de Investidores em Capital de Risco .......................................................... 18

1.7. As Formas de Investimento das Entidades de Capital de Risco .......................... 21

1.8. Mecanismos de Saída (Exit) ou Desinvestimento dos Venture Capitalists/Privat

Equity .......................................................................................................................... 24

1.9. A avaliação no processo de decisão de um investimento de Capital de Risco .... 26

1.9.1. O plano de negócios .......................................................................................... 27

1.9.1.1. O seu contexto no capital de risco .................................................................. 28

1.9.1.2. Um plano de negócio vitorioso ...................................................................... 30

1.9.1.3. Riscos envolvidos nos Investimentos de Capital de Risco ............................ 31

Page 2: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

2

1.10. Instrumentos fundamentais nas operações de capital de risco: Acordos Para-

Sociais e Acções Preferenciais .................................................................................... 33

1.10.1. Acordos Para-Socias ....................................................................................... 33

1.10.2. Acções Preferenciais ....................................................................................... 36

1.11. Projecto de Investimento enquanto instrumento de captação dos fundos de

Capital de Risco .......................................................................................................... 37

1.12. O Capital de Risco e as PMEs de base tecnológica ........................................... 41

CAPITULO II – ENQUADRAMENTO DO CAPITAL DE RISCO NA ECONOMIA

INTERNACIONAL ....................................................................................................... 45

2.1. O Sistema Financeiro Internacional ..................................................................... 45

2.2. Capital de Risco nos EUA .................................................................................... 46

2.3. Capital de Risco na Europa .................................................................................. 49

CAPÍTULO III - ENQUADRAMENTO DO CAPITAL DE RISCO NA ECONOMIA

CABO – VERDIANA .................................................................................................... 52

3.1. Sistema Financeiro Nacional ................................................................................ 52

3.2. Capital de Risco em Cabo Verde ......................................................................... 53

CAPITULO IV – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ........................................... 63

Conclusão .................................................................................................................... 63

Recomendações ........................................................................................................... 64

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 66

ANEXO – Contrato de Accionista ................................................................................. 70

APÊNDICE – Inquérito e modelo de Entrevista aplicado ............................................. 71

Page 3: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

3

INTRODUÇÃO

Contextualização

Nesta conjuntura que vivemos, o capital de risco como alternativa de financiamento

cresce de importância e poderá ter um papel mais profundo do que alavancador de

projectos.

O processo de globalização fomenta o aumento da competição e, com isso, a

necessidade de desenvolver novos produtos e serviços com tecnologias mais arrojadas.

Dentro deste cenário, torna-se necessário que as PMEs tenham investimento a baixo

custo que proporcione a viabilidade de uma produção em maior escala e consigam, com

isso competir de forma mais estruturada.

Segundo Gonçalo Pereira Coutinho, “a actual conjuntura económica determina um

aumento das necessidades de financiamento das empresas através de capitais próprios

em detrimento de capital alheio. Nesse sentido favorece claramente o crescimento do

peso dos capitais próprios na estrutura financeira das empresas, sendo o capital de risco

uma boa opção” (cf. Franchising e Empreendedorismo, 2009).

As PMEs e os empreendedores enfrentam grandes dificuldades de obter um capital

barato e que possa viabilizar a alavancagem financeira, principalmente para estes

últimos que contam apenas com o “capital conhecimento”.

Segundo Titericz apud Pinto, a capacitação, através do capital de risco, vem tornando

uma alternativa importante para que os empreendedores consigam recursos financeiros

para viabilizarem a abertura de suas empresas e ampliarem suas linhas de produto.

Page 4: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

4

Justificativa

Pretende-se, com o desenvolvimento desse tema, conhecer um pouco melhor a

perspectiva histórica, a situação actual e as perspectivas futuras do capital de risco,

recurso muito utilizado nos dias de hoje, devido ao seu baixo custo.

Tendo em conta que 90% do tecido empresarial cabo-verdiano é formado pelas

Pequenas e Médias Empresas; considerando que os bancos, embora com excesso de

liquidez, mostram-se pouco propensos em financiar projectos a 100%, capacidades e

ideias credíveis e sustentáveis, justifica-se, portanto, a abordagem a esta temática.

Assim sendo, é fundamental que se tenha e se conheçam outras fontes alternativas de

financiamento. Um outro motivo que justifica a realização deste trabalho, prende-se

com a pouca divulgação deste produto financeiro e mesmo a inexistência de um estudo

aprofundado deste tema em Cabo Verde. Tendo em vista que o país está ávido por

inovação empresarial, principalmente nas áreas de tecnologia de informação, e reforçar

o seu estatuto de pais de desenvolvimento médio, havendo necessidade de exploração

de todos os recursos de modo a rentabiliza-lo, justifica-se esta discussão em torno do

capital de risco.

Relevância do tema

Este estudo poderá contribuir para algumas reflexões e incentivar a divulgação desta

modalidade de financiamento e, ainda levar ao conhecimento dos eventuais leitores

deste trabalho aspectos importantes relacionados com o capital de risco como uma

alternativa de financiamento. Poderá despertar ainda a atenção pela lacuna que existe

entre os empreendedores e os financiadores, nomeadamente para projectos de alto risco.

Page 5: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

5

Objectivos

Objectivo Geral

Com a realização deste trabalho pretendeu-se, em termos gerais, entender a génese e o

percurso histórico das actividades do capital de risco no mundo e em Cabo Verde.

Objectivos Específicos:

Em termos específicos, os objectivos pretendidos foram:

• Analisar o funcionamento e sucesso deste instrumento a nível internacional;

• Identificar aspectos da cultura empresarial nacional que ajuda ou dificulta a

Entrada do instrumento Capital de Risco nos países;

• Identificar ou evidenciar Capital de Risco como fonte de financiamento em

Cabo Verde;

• Analisar os impactos da entrada de Capital de Risco no sistema financeiro cabo-

verdiano;

• Propor medidas que venham a facilitar a penetração do produto Capital de Risco

no país.

Problematização

Na base deste trabalho está a preocupação em descobrir o que é que explica o

surgimento do CR em Cabo Verde. Entretanto, para compreender a sua chegada a este

país é necessário, em primeiro lugar, entender a sua origem no mundo. Assim, duas

questões de partida serviram como orientadoras dessa pesquisa:

• Em primeiro lugar, procurei desvendar o que impulsionou a criação do fundo de

capital de risco e quais são os projectos mais atractivos para entidades viradas

para essa área de actuação?

• Uma segunda pergunta, mais virada para a realidade cabo-verdiana, busca

explicações para a não penetração do instrumento financeiro Capital de risco no

tecido empresarial nacional.

Page 6: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

6

Tais perguntas impulsionaram essas pesquisas no sentido de encontrar possíveis

soluções. Para tal, formulei as seguintes hipóteses: pode o Capital de Risco constituir-se

em uma alternativa viável de financiamento, oferecendo melhor garantia de

rendibilidade às Pequenas e Médias Empresas, se comparado com as outras

modalidades de financiamento! A entrada deste produto no sistema financeiro nacional

pode ter impactos positivos.

Metodologia

Para aferir da viabilidade das hipóteses formuladas, procedi a um exaustivo

levantamento de bibliografia sobre este tema, para dar conta do seu surgimento a nível

global, da função do capital de risco e suas perspectivas futuras, quer no mundo, como

em Cabo Verde. Como a sua implementação em Cabo Verde é ainda incipiente e faltam

bibliografias sobre esta matéria, porque não abundam estudos acerca, tive que recorrer a

inquéritos junto a técnicos que trabalham em instituições financeiras cabo-verdianas.

Ainda apoiei-me nas modernas tecnologias, designadamente, através de pesquisas na

Internet.

Foi dirigido um inquérito a participadas de A PROMOTORA, SA e a Câmara de

Comércio de Sotavento. Ainda foi efectuada entrevista em que o público-alvo foram

técnicos dos Bancos da Praça e a única participante existente no país.

Estrutura do Trabalho

Para alcançar os objectivos traçados, o trabalho foi estruturado em 4 capítulos a seguir

indicados:

• Capitulo I: Abordagem conceptual do tema;

• Capitulo II: Enquadramento do Capital de Risco na economia Internacional;

• Capitulo III: Enquadramento do Capital de Risco na economia Cabo – Verdiana;

• Capitulo IV: Principais conclusões e Recomendações.

Page 7: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

7

CAPÍTULO I - ABORDAGEM CONCEPTUAL DO TEMA

1.1. Perspectiva Histórica

A realização deste trabalho obriga-me, para uma melhor compreensão do tema em

estudo, a fazer uma reflexão teórica em torno do conceito do Capital de Risco, de modo

a poder explicar a sua implantação no mercado cabo-verdiano. Entretanto, antes de

entrar propriamente na definição deste conceito, é necessário fazer um enquadramento

histórico que permite entender o surgimento, evolução e a chegada desta entidade

financeira ao mercado cabo-verdiano.

Assim, com base no Guia Prático do Capital de Risco, pode-se constatar que os

primeiros antecedentes dos investimentos em capital de risco surgiram ainda no século

XV, quando as primeiras expedições marítimas eram financiadas com expectativa nos

lucros decorrentes, mas com grande risco de perda do investimento.

Outro período relevante para o crescimento do capital de risco, enquanto actividade

económica, foi no século XVIII, em Inglaterra, produto da Revolução Industrial e do

ambiente propício aos investimentos em projectos fabris emergentes com elevado

potencial de rendibilidade, quando mercadores, armadores e os primeiros industriais da

tecelagem procuravam apoio financeiro ocasional para os seus projectos junto de

indivíduos abastados.

Esses indivíduos abastados, hoje designados de business angels, continuam a fazer parte

fundamental da indústria de capital de risco.

As primeiras operações de capital de risco, na forma como conhecemos hoje, têm as

suas origens nos EUA, em meados da década de 40 do século XX.

Page 8: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

8

De acordo com o Guia Prático, a primeira sociedade de investimentos em capital de

risco foi criada em 1946, a American Research & Development, um fundo de capital de

risco gerido por profissionais dedicado a realizar investimentos de alto risco, com o

objectivo especifico de adquirir participações em pequenas e médias empresas

inovadoras.

Embora informal, esta forma alternativa de financiamento, foi se desenvolvendo até

atingir o estatuto de indústria nas décadas de 70 e 80 do século passado.

Ainda de acordo com a mesma fonte, perante o potencial deste projecto, o governo

norte-americano criou a Small Business Investiments Companies Administration

(SBICA) que, ao gerir um conjunto de benefícios fiscais e de créditos bonificados,

permitiu o desenvolvimento da indústria capital de risco.

Os EUA continuam até agora a liderar a mobilização de fundos de capital de risco com

uma grande disparidade em relação a Inglaterra, outro país também bastante evoluído

nesta matéria.

A história de como as pequenas empresas atraem investimentos ou capital de risco de

que precisam para sobreviver e depois para crescer, vale-se de uma cultura que valoriza

o optimismo e o risco, políticas de governo abrangentes e favoráveis a investimentos,

bem como na energia e no entusiasmo do empresário individualmente. Como os Estados

Unidos não têm o monopólio sobre essas características, parece provável que histórias

ligadas a investidores e capital de risco e a empresários de alta tecnologia cada vez mais

serão um fenómeno global compartilhado (cf. Capital de Risco).

Autores como Francisco Banha, que desenvolveram estudos sobre o capital de risco,

deixam dicas sobre esta matéria. Em o “Manual de Capital de risco”, Banha diz que:

“(…) no já distante ano de 1968, quando os cientistas Robert Noyce e Gordon Moore

deixaram a empresa FAIRCHILD – a maior accionista na época da IMB – para

constituírem a INTEL, dirigiram-se a um inteligente financiador, chamado Arthur Rock,

Page 9: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

9

para os ajudar a financiar os seus projectos. Arthur Rock elaborou um business plan de

duas páginas e angariou 2,5 milhões de dólares. A INTEL se tornou uma das mais

omnipresentes e influentes empresas a nível mundial, bem como se pode dizer que faz

parte da história de alta tecnologia” (p.p. 145, 146).

Hoje em dia, de acordo com o autor acima citado, é comum assistirmos ao abandono de

jovens brilhantes, com especialização em engenharia, entre outras, de empresas

mundialmente reconhecidas para criarem os seus próprios empreendimentos. O que

Gordon Moore (actual presidente da INTEL) e o seu amigo fizeram foi totalmente fora

do contexto conservador que caracterizava o ambiente empresarial dos EUA. No

entanto, como faz ver Banha, a inexistência de um sistema de financiamento lógico que

permitisse avançar com uma ideia e transformá-la numa empresa, fez com que o êxito

obtido pela intervenção de Arthur Rock fosse decisivo para validar a perspectiva ao

recurso a capital de risco para financiamento de start-ups de alta tecnologia, e

considerá-lo, hoje em dia, o “Pai” do Venture Capital que todos conhecemos.

Como se pode perceber, o surgimento do capital de risco está profundamente ligado à

liberalização dos mercados financeiros, que demandou o alargamento das fontes

alternativas de financiamento. Assim, o capital de risco surge como uma das alternativas

de financiamento dinamizador da economia, constituindo o factor chave do

empreendedorismo e do processo de criação e viabilização das pequenas e médias

empresas, principalmente as de base tecnológicas.

1.2. Conceito

Sobre o conceito de capital de risco existe um conjunto de formulações, mais ou menos

consensual, que permite entender a importância deste instrumento para a dinâmica do

mercado.

Page 10: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

10

A partir do Guia Prático, define-se a indústria capital de risco como uma fonte de

investimento empresarial, com o objectivo de financiar empresas, apoiando o seu

desenvolvimento e crescimento, com fortes reflexos na gestão.

Citando ainda a mesma fonte, pode-se dizer o capital de risco é uma das principais

fontes de financiamento para jovens empresas, Start-Up´s e investimentos de risco com

elevado potencial de rentabilização. É um magnífico instrumento de desenvolvimento

empresarial.

Para além da definição legal, o capital de risco, também é chamado de capital de

investimento, capital de desenvolvimento, venture capital e private equity na versão,

inglesa (Carlos, 2004, p. 4).

Capital de risco é uma técnica, modalidade ou forma de investimento que se caracteriza

pela existência de um investidor profissional, ou seja, aquele que investe em empresas

com elevado potencial de crescimento, através da aquisição de participações no capital

social de outras empresas, geralmente com objectivo de obter dentro de um horizonte de

médio e longo prazo mais-valias decorrentes do seu investimento (cf. Portal do

Empreendedor).

Para Garcez, CR consiste em investimento na forma de participação accionaria

relevante porém minoritária (podendo chegar 40% do capital total), por investidores

individuais ou institucionais, a empresas emergentes de pequeno ou médio porte para

um produto, processo ou serviço inovador, de grande potencial de crescimento e

rentabilidade associado a altos níveis de risco, por um prazo de 5 a 10 anos em geral,

em que os investidores esperam obter lucros na forma de ganhos de capital.

Para Neto, O capital de risco constitui uma alternativa interessante para capitalizar

Pequenas e Médias Empresas (PMEs), em especial pela dificuldade que estas encontram

na fase de desenvolvimento e crescimento.

Page 11: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

11

1.3. Características do Capital de Risco

A indústria de capital de risco caracteriza – se como uma fonte de apoio financeiro e

gerencial às pequenas e médias empresas de base tecnológica e/ou empreendimentos

com forte potencial de crescimento e rentabilidade. Constitui-se em participações

temporárias (frequentemente 3, 5 ou 10 anos), minoritárias e sem qualquer garantia real,

com objectivo de obter mais-valia significativa na ocasião de desinvestimento

(Geranegócio, sd, p.3). Ainda segundo a mesma fonte, o seu objectivo é buscar retorno

acima da média de mercado, aceitando, para isso, um maior nível de risco, com prazo de

aplicação girando em torno de sete anos.

Caracteriza-se, como refere a citada fonte, como instrumento eficaz na concretização de

iniciativas empresariais especialmente no domínio das novas tecnologias, uma vez que

neste tipo de negócio as empresas necessitam de investimentos financeiros adequados

ao seu rápido crescimento e desenvolvimento, transformando-se em parceiro do

negócio, com todas as vantagens e riscos inerentes ao projecto. Pode-se destacar

algumas características básicas deste instrumento financeiro:

- Não exigir o pagamento de quaisquer encargos financeiros;

- Ter um papel de interlocutor activo;

- Promover o apoio a jovens empresários automotivados;

- Criar e manter uma parceria com o empresário;

- Promover a criação de uma grande confiança entre as partes envolvidas no

negócio.

Ao contrário das formas tradicionais de financiamento, o Capital de Risco assume, de

acordo com guia prático de CR, integralmente os desafios do mercado, ao não ser

recompensado pelos juros do capital investido mas sim pelo sucesso da empresa

financiada.

Page 12: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

12

O investimento em capital de risco dirige-se a novos projectos empresariais e a

empresas não cotadas em mercado de bolsa, e parte substancial da mais-valia gerada

será resultado da venda posterior da participação (HIGH-TECH, p.1).

1.4. Capital de Risco e o Processo de Internacionalização

Nos últimos 20 anos, a evolução da economia mundial é marcada pela globalização dos

mercados e internacionalização das empresas, quando as empresas começaram a cruzar

fronteiras e a se instalarem em mercados estrangeiros. Esse fenómeno as obrigou a

procederem a alterações no que tange ao seu posicionamento competitivo, de forma a

enfrentarem os desafios do século XXI. Hoje é fundamental que as empresas percebam

esta tendência, de modo a poderem definir estratégias competitivas, que lhes permitam

sobreviver num contexto global, mesmo que a sua missão não tenha em consideração a

presença física em mercados internacionais.

Grande parte das empresas recorre, essencialmente, ao crédito bancário para financiar o

seu desenvolvimento, apresentando, consequentemente, um baixo grau de capitalização.

Tal fragilidade é potenciada pela insuficiência dos recursos empresariais dinâmicos, tais

como gestores, quadros técnicos e trabalhadores especializados, provocando que as

empresas se encontrem, de uma forma geral, subdimensionadas e pouco orientadas para

factores de competitividade.

O processo de internacionalização, de acordo com Carvalho, requer da parte das

empresas e dos seus gestores algumas características: têm que ser competitivas no

mercado doméstico, há que compreender as culturas locais, fomentar a dimensão e

sustentabilidade de recursos económicos. As empresas devem pautar por uma estrutura

accionista estabilizada e com elevada participação de capitais próprios, sendo que isto

lhes permite solidificar a fase de aprendizagem. Na perspectiva de Carvalho têm que ser

pró-activas, surpreendentes, e conquistar o nicho do mercado com destaque a nível de

inovação e qualidade. O desenvolvimento de parcerias de ganho mútuo, formais,

Page 13: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

13

informais, inovadoras, com os seus stakholders1, permite-lhes mitigar riscos e alavancar

as capacidades e competências. A estratégia nacional de internacionalização precisa

estar associada a condições macroeconómicas favoráveis, conforme Lacerda.

Para Faria e Santos, a ampliação da actuação das empresas para além dos limites de seus

territórios de origem e o próprio acirramento das disputas internas forçam-nas a se

depararem com novos parâmetros de concorrência (2006, p.104).

O apoio do capital de risco nos processos de internacionalização reveste-se de especial

significado, como mostra A Promotora, já que reforça a estrutura financeira da empresa,

reduz o risco pela sua partilha e ainda é um parceiro de gestão útil pelo rigor das

metodologias, experiência de actuação e rede de contactos internacionais detida.

Citando a mesma fonte, o apoio de gestão que o capital de risco pode/deve efectuar, em

termos de processo de internacionalização das empresas, passa, antes de mais, pela

participação na análise das oportunidades e ameaças versus pontos fortes e fracos da

empresa e na análise “cadeia de valor” da empresa e dos factores críticos de sucesso do

negócio, de uma forma dinâmica. Tal permitirá efectuar uma abordagem sistémica do

processo de definição de uma estratégia, que incorpore a vertente internacional,

permitindo definir necessidade/oportunidade de entrada no mercado internacional.

As análises feitas até aqui permitem perceber um conjunto de vantagens advenientes da

internacionalização empresarial. Apoiando na mesma fonte (p.6), destaco as seguintes:

- Ultrapassagem do limite de crescimento do mercado nacional;

- Oportunidade de desenvolvimento, por contacto com clientes mais exigentes e

concorrentes mais evoluídos;

- Aproveitamento de economias de escala e optimização da utilização das

capacidades produtivas;

1 Todos aqueles que se relacionam com a empresa e tem um interesse directo ou indirecto na sua

existência: clientes, accionistas, fornecedores, bancos, estado, etc.

Page 14: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

14

- Criação de imagem;

- Acesso a factores de vantagem competitiva;

- Diversificação do risco.

A competitividade resultante da contínua globalização, onde a variável tempo ganha

relevante papel e a variável espaço é remetido a um plano marginal, a não participação

de uma empresa em mercados externos não significa capacidade de concorrência local,

mas sim fraqueza de posicionamento e exposição à concorrência internacional. A

competitividade a este nível impõe a formação, quer a nível nacional e quer

internacional, de alianças que minimizem a escassez de recursos (humanos, financeiros,

materiais e outros) e reforcem as capacidades intrínsecas das organizações.

Como enfatizam estudos sobre internacionalização das pequenas e médias empresas, a

opção de internacionalizar dá-se normalmente em uma etapa posterior ao processo de

criação, ou seja, a empresa não nasce com ambição de exportar. De acordo com

Carvalho, investir no estrangeiro deve ser uma etapa do processo de crescimento da

empresa. Já Ovatt e Mc Dougall (1995) defendem um ponto de vista diferente. Para

estes autores, algumas empresas já nascem com a ambição de ser global. A

oportunidade de negócio visualizada transborda as fronteiras do país, sede da empresa.

Muitas vezes, para viabilizar esse negócio as empresas têm que, necessariamente, desde

muito cedo, estabelecer contactos com clientes, fornecedores e parceiros no exterior.

No entender de Faria e Santos, estudos com abordagem behaviorista e incremental, vêm

a entrada das empresas no mercado externo como um processo gradativo, de

aprendizagem, no qual quanto mais houver redução da percepção do risco da actividade

que se dá com o conhecimento do mercado adquirido, mais recursos são investidos.

Page 15: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

15

1.5. Vantagens do Investimento em Capital de Risco

O capital de risco ao assumir a forma de participação no capital social da empresa,

reforça a sua autonomia financeira. E como capital social não há lugar a garantias,

reembolso ou pagamento de encargos com juros, que ocorreria se o financiamento fosse

feito por recurso ao crédito. Facilita-se assim a expansão da empresa e a consequente

criação de mais-valia, que é um dos objectivos dos capitalistas de risco.

As empresas apoiadas pelo capital de risco conhecem resultados significativos, se

comparadas com as que enveredam por outras formas de financiamento, conforme

mostra a experiência internacional. Assim, apresentam benefícios tanto pela injecção de

capitais como pelo aconselhamento à gestão e que reflectem-se da seguinte forma:

- Financeiramente, através de um planeamento financeiro e da optimização das

fontes e custos, preparando a empresa para o acesso ao mercado de capitais;

- Através de uma estratégia empresarial adequada à rápida evolução no meio

contextual;

- Estabelecendo contactos através de sua rede, nacional e internacional, com o

objectivo de direccionar a empresa para o desenvolvimento de contactos

comerciais, a transferência de tecnologia, entre outras.

Outro benefício do capital de risco resulta do apoio técnico prestado às empresas

participadas. Tal apoio produz efeito nos diferentes níveis da participada, que vai desde

a racionalização dos recursos internos à potencialização do relacionamento com o meio

transaccional, passando pelas sinergias resultantes da intervenção numa diversidade de

empresas; pela abertura de oportunidades comerciais internacionais e criação de joint-

venture. O apoio que os investidores profissionais fornecem, conforme realça Correia,

Page 16: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

16

não são só os fundos necessários, como também enviam sinais de credibilidade aos

Stakeholders da empresa.

O capital de risco, segundo A Promotora, é adequado a um leque amplo de

destinatários: tanto os que estão na fase de concretização de projectos, com elevado

potencial de retorno, complementando os recursos próprios escassos dos promotores,

como para as empresas existentes, preferencialmente as de base tecnológica em início

de actividade, transformação ou expansão proporcionando-lhes meios financeiros e

técnicos, apoiando o seu crescimento e desenvolvimento ganhando estabilidade. Ainda

proporciona às empresas e empreendedores o capital de conhecimento, resultante do

know-how do negócio, redes de contactos nacionais e internacionais, capacidade de

conseguir aprender a obter a vantagem económica da quantidade crescente de

informações.

No entanto, segundo algumas fontes, como Geranegócio, é no fazer a comparação das

diferenças comportamentais entre o CR e o crédito bancário que se notam as principais

vantagens do CR, como se pode constatar no quadro seguinte:

Quadro 1

Comparação das diferenças comportamentais entre CR e FT

Vantagens do CR se comparado com financiamento tradicional (crédito bancário)

Características CR Crédito Bancário

Tempo de aplicação Médio e longo prazo De curto prazo a longo prazo

Dedicação e Assistência

A dedicação é total durante a

permanência no negócio,

tornando-se um verdadeiro

parceiro, que partilha riscos e

recompensas, com

aconselhamento e apoio de

gestão com vista a auxiliar ao

sucesso

A única dedicação é no

sentido de resguardar-se caso

empréstimo esteja em risco, e

não haja possibilidade do

cumprimento da dívida. A

disponibilidade de assistência

varia consideravelmente com

as diferentes entidades.

Page 17: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

17

Actividade

Disponibiliza uma base de

capital flexível, adequada às

necessidades de

desenvolvimento e

crescimento da empresa.

É uma boa fonte de

financiamento se a empresa

possuir um plano pré definido

de reembolso que permita,

com segurança, cumprir o

serviço da dívida.

Rentabilidade

A rentabilidade da SCR

depende do sucesso e do

crescimento do negócio.

Quanto maior for o sucesso

maior é rentabilidade de todos

os investidores.

Depende do cumprimento

pela empresa do serviço da

dívida e da manutenção do

valor dos activos que servem

de garantia.

Comportamento

Se o negócio não se revelar

viável as SCR estão, lado a

lado com os demais sócios.

Verificando – se os

problemas as SCR reforçarão

o seu apoio com vista à sua

resolução. Tem sempre por

objectivo valorizar o negócio.

Verificando-se a existência de

problemas, os financiadores

estarão na 1ª linha para

receber. Se houver indicações

de que algo vai mal os

financiadores poderão

precipitar os acontecimentos

já que procurarão resguardar

os seus interesses.

Fonte: GERANEGÓCIO, p. 5

Pela análise do quadro constata-se que nesta modalidade de financiamento, o CR, ao

contrário do financiamento bancário, não são prestadas garantias pessoais ou reais pelos

promotores, o que torna o CR vantajoso em relação a outras modalidades de

financiamento. Pois que uma das condições para o acesso ao crédito bancário é as

garantias solicitadas o que condiciona, uma vez que as empresas, na fase de lançamento,

não têm activos, existirá, sim, uma ideia, um produto, conhecimentos dos processos

técnicos de fabrico e um forte empenho pessoal do promotor ou promotores do projecto.

Com base no quadro, percebe-se ainda que, no capital de risco, os investidores ficam

sujeitos à performance financeira do negócio, ou seja, a rentabilidade dos investidores

Page 18: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

18

depende da rentabilidade e do sucesso do negócio. Se o negócio for inviável, o

capitalista de risco fica na mesma posição de qualquer outro sócio/accionista da

empresa. Com a ligação a uma SCR, o empreendedor tem resguarda a sua

independência, podendo equilibrar a relação entre capitais próprios e alheios,

beneficiando-se dos contactos da SCR e ganhando credibilidade e força nas negociações

junto a instituições financeiras e outras entidades.

Trata-se de uma entidade financiadora com objectivos e espírito diferente do

financiador clássico e por isso capaz de avaliar as potencialidades da ideia.

O financiador de capital de risco, como parceiro de um projecto, com know how e

experiência a nível financeiro, pode funcionar como um importante factor de

dinamização de outros apoios, pois o conhecimento do mercado financeiro potencia

facilidades de contracção de empréstimos.

O CR de risco tem uma perspectiva de investimento de médio e longo prazo, situando

entre os 3 e 10 anos, que constitui uma vantagem para investimentos cujo retorno é de

longo prazo e associado a incerteza ambiental. Os capitalistas de risco têm um empenho

total na actividade da empresa até ao desinvestimento, tornando-se um verdadeiro

parceiro. Constata-se que no CR não são exigidos pagamentos regulares de montantes

determinados, o que para uma empresa em início de actividade é bom porque não

sentem pressão de tesouraria, ao contrário do financiamento bancário em que são

exigidos pagamentos regulares de capital e juros.

1.6. Tipos de Investidores em Capital de Risco

As entidades de capital de risco são cruciais na promoção do crescimento económico de

qualquer país, uma vez que financiam pequenas e médias empresas, que no fundo mais

contribuem para a produção e emprego em todo o mundo.

Page 19: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

19

De acordo com Correia (2002), os capitalistas de risco procuram aplicar os seus

recursos nas empresas com perspectivas de alto retorno, que tenham potencial para se

consolidar no mercado. O investidor de capital de risco, todavia, não é um mero

prestamista, mas sim um novo sócio da empresa: se esta fracassa, ele não retirará

benefício algum do investimento. Se tiver êxito, terá direito a participar nesse sucesso.

Para Banha, os investidores de capital de risco são investidores sofisticados,

profissionais geralmente com alcance muitas vezes internacional cujo suporte financeiro

pode ser fundamental no momento de expansão do negócio.

Em geral, eles formam uma parceria operacional estreita com os fundadores, e podem

trazer gerentes profissionais que ocuparão os cargos de director executivo e director

financeiro. A questão, para qualquer investidor em capital de risco, é a avaliação da

empresa. O primeiro desafio dos fundadores é entrar em acordo com os investidores no

que tange ao valor da empresa já que ele determina o valor do seu investimento e a

extensão de sua participação accionaria (C & R).

Dependendo da avaliação quanto à competência administrativa dos fundadores, esses

investidores podem condicionar seu investimento à contratação nos novos directores

gerentes e podem requerer participação directa na gestão das actividades diárias da

empresa. Segundo Garcez, na indústria de capital de risco existem os seguintes tipos de

investidores:

- Empreendedores, Famílias e Amigos

Os empreendedores em geral contam com recursos próprios (seed capital) para

desenvolver um protótipo ou um estudo de mercado com objectivo de subsidiar a

concepção e avaliação preliminar da viabilidade do seu empreendimento. No caso de

levantamento de recursos de terceiros, esses fundos são em geral obtidos através de

hipotecas de bens pessoais, empréstimos bancários pessoais ou da participação de

amigos e familiares no negócio. Reforça Garcez, que esses recursos são designados no

mercado de love money, e seus fornecedores geralmente não envolvem na gestão do

empreendimento.

Page 20: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

20

- Business Angels

Os business angels, investidores informais, isto é não institucionais de capital de risco

dispõem de recursos abundantes e procuram “não pôr todos os ovos no mesmo cesto” –

diz Esperança e Matias (p.34) constituem uma das entidades de capital de risco útil para

as empresas que precisam de financiamento estável, ou seja, recursos a capital próprio.

Portanto, segundo F. Banha, os business angels são capitalistas de risco individuais que

cobrem as necessidades de financiamento a que os fundos institucionais de capital de

risco não dão resposta, nomeadamente os projectos de seed capital e start-ups. O seu

capital proporciona taxas mais baixas de financiamento.

Esses tipos de financiadores individuais são especiais. Normalmente realizam

investimentos em sectores de actividade nos quais já conhecem o melhor possível. Esta

particularidade lhes permitem não só aportar recursos nos projectos que seleccionam,

como também proporcionar contactos através da sua rede de relações e da sua própria

experiência de empresário, sendo que, os BA como empresários, proporcionam aos

empreendedores conselhos preciosos que fazem ganhar tempo, o que para uma jovem

empresa é um verdadeiro acelerador.

Este tipo de investidor representa uma fonte de capital importante para novos e

crescentes negócios. Normalmente são qualificados em quatro grupos diferentes a

destacar os angels com experiência profissional (ex-executivos); angels guardiões ou

veteranos da indústria; angels de rendimento financeiro que são os indivíduos com

grandes fortunas e angels empreendedores (empreendedores que triunfam nos seus

negócios). (in file://E:\caprisco2.htm, em 23/02/2009).

- Empresas de venture capital

Estas, segundo Garcez, são empresas formalmente constituídas para realizar

investimentos em capital de risco, normalmente constituídas como fundos de

investimentos, sob gestão de profissionais especializados, agregando recursos de

Page 21: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

21

diversos investidores para compra de participação accionária de empresas emergentes.

Além de participar dos conselhos das empresas, elas actuam de forma sistematizada no

apoio de gestão. O funding (fundo) destas empresas de capital de risco provê fundos de

pensão, grandes corporações, investidores privados, universidades e investidores

estrangeiros. Nesse sentido, como refere Garcez, estas empresas actuam como um fundo

de investimento cujo padrão de operação, exige um grande envolvimento na gestão dos

empreendimentos em carteira.

- Corporate venturing

Os investimentos são realizados por investidores, normalmente empresas de maior

porte, ou mesmo grandes corporações, em empresas de menor porte, com objectivos

específicos de alavancar competências ou desenvolver produtos inovadores que

complementam às suas actividades. Tendencialmente, estes investidores corporativos

participam em empresas em estágios mais avançados, as quais já tenham desenvolvido

um produto e obtido alguma aceitação junto ao mercado e adicionar valor contribuindo

para o seu posicionamento estratégico. A nível da gestão podem assumir uma atitude

passiva. Estas empresas muitas vezes e acabam mais tarde por pertencer aos respectivos

conglomerado (cf. Garcez; Geranegócio).

1.7. As Formas de Investimento das Entidades de Capital de Risco

De acordo com o Guia Prático de CR, o investimento em outras empresas processa-se

de forma diferente e com características específicas, de acordo com as diferentes

necessidades das empresas, à medida que percorrem os estágios de desenvolvimento da

cadeia de inovação. As designações utilizadas pela indústria do capital de risco

reflectem quer a sua origem anglo-saxónica, como na fase do desenvolvimento

empresarial em que o investimento é realizado.

Page 22: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

22

Assim de acordo com os operadores do mercado, os investimentos em CR revestem as

seguintes formas: Seed Capital, Start-Up, Other early stage, Expansão, Management

Buy-Out, Managemente Buy-In, Buy-In Management Buy-Out, Institutional Buy-Out,

Replacement equity (capital de substituição), Bridge financing (capital ponte),

Resgate/Turnaround (recuperação de empresas), Public to Private.

Destaco, a seguir, as características essências das formas de investimento mais

utilizadas nas empresas de alta tecnologia, conforme glossário de capital de risco -

gesbanha:

- Seed Capital (Capital Semente)

Financiamento de pequeno montante dirigido a projectos empresariais em fase de

concepção, envolvendo muitas vezes apoio a estudos de mercado para determinar a

viabilidade de um produto ou serviço, mas também ao desenvolvimento de produto a

partir de projectos ou estudos. Este investimento é o que oferece mais desafios para a

indústria do capital de risco, partindo muitas vezes de ideias originais que carecem de

suporte financeiro e de gestão para singrar, sendo o financiamento que mais estimula a

participação do investidor na gestão e organização do projecto empresarial. Dado à

incerteza ambiental, tem subjacente um risco elevado, a sua taxa de retorno potencial

será também bastante elevada.

- Start-Ups (Capital de Arranque)

Implica o investimento no capital de empresas já existentes e a funcionar, ou em

processo final de instalação, com um projecto desenvolvido, mas que não iniciaram

ainda a comercialização dos produtos ou serviços. Geralmente, o investimento é

destinado ao marketing inicial e ao lançamento dos produtos, serviços ou conceitos

desenvolvidos. As start-ups podem ser pequenos projectos empresariais resultado da

investigação ou de ideias originais, mas também projectos suportados por grandes

conglomerados empresariais, como no caso da indústria de componentes automóveis ou

das telecomunicações. No fundo tem como objectivo o desenvolvimento do produto e

Page 23: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

23

imagem permitindo um maior crescimento e valorização do negócio (cf. Guia Prático de

Capital de Risco; IAPMEI; CR, 2009).

- Other Early Stage (Estágio de Maturação)

Este investimento é dirigido a empresas recém-instaladas, que completaram a fase de

desenvolvimento de produto e que possam já ter iniciado a comercialização, mas ainda

sem lucros, sendo destinado à melhoria dos processos de fabrico e comercialização, e ao

marketing. É a fase que decorre até a empresa atingir o seu ponto de equilíbrio. (Guia

Prática de Capital de Risco, IAPMEI, p. 12).

- Expansão

Este tipo investimento, designado de desenvolvimento ou de crescimento, é destinado a

empresas que já atingiram maturidade, isto é, o produto ou serviço já está implementado

e sua comercialização com êxito, mas que não tem recursos adicionais para expandir o

seu negócio, aumentar a sua capacidade de produção ou desenvolver técnicas de

comercialização e promoção. Nesta fase o risco é menor e dai há mais investidores

dispostos em financiar as empresas. (Cf. Banha; Guia Prático do Capital de Risco).

Gráfico 1

Formas de Investimento em Capital de Risco

Fonte: IPMEI, in www.iapmei.pt/iapmei-art-03.php?id=533, consultado em 27/02/2009.

Page 24: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

24

1.8. Mecanismos de Saída (Exit) ou Desinvestimento dos Venture Capitalists/Privat

Equity

Para realizar retornos financeiros, os capitalistas de risco precisam revender a

participação que detêm nas empresas investidas. Essa etapa mesmo quando não é

lucrativa chama-se saída (exit) e é fundamental para esse ramo de negócios (GOMPERS

e LERNER, 1999 apud Ribeiro e Almeida 2005).

Segundo Pinto (1996) a existência de mecanismos de saída ou desinvestimento bem

desenvolvidos é um dos factores fundamentais para o sucesso da actividade de capital

de risco, cuja lógica das operações pressupõe um desinvestimento no menor prazo

possível e com maior retorno possível. Todo o processo de investimento fica

estabelecido no contrato de accionistas assinado entre as duas partes.

Segundo Banha, (2000), os capitalistas de risco têm sempre uma “estratégia de saída”.

Precisam de liquidez. Assim, a empresa pode ser estável, rentável e vender um produto

de qualidade, mas, se não houver uma estratégia de saída bem definida - um caminho

para obter essa liquidez, não vale a pena investir.

Do ponto de vista de Almeida e Ribeiro, a oportunidade de realização de saídas, que

cubram o custo de oportunidade dos recursos empregados, é condição necessária para a

existência do capital de risco e depende de diversos factores relacionados às

competências do VC, características do empreendimento e especificidade do mercado

em que se actua.

Como a remuneração dos ventures capitalists depende das mais-valias realizadas,

importa conhecer quais os mecanismos de desinvestimento (saída), onde se destacam os

cinco mais comuns, conforme Pinto:

Page 25: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

25

1- O capitalista de risco pode optar pela venda das participações no mercado accionário,

notadamente no mercado secundário (Bolsa de Valores), na situação de existência de

oferta pública de venda (Initial Public Offering – IPO), em especial quando o capital de

risco assumiu a natureza de “bridge financing”. Esta forma de alienação das

participações é preferida nos mercados mais desenvolvidos, ou com uma projecção das

PMEs em mercado de bolsas; Esta modalidade só é viável para empresas em boas

condições financeiras.

2- Pode-se optar pela venda directa a outras empresas, normalmente maior do que a

participada (Take-Over). É uma excelente alternativa de saída no caso de participações

em empresas enfrentando dificuldades. A saída via aquisições é especialmente

apropriada para investimentos em empresas menores, que, por causa de seu tamanho,

não são atraentes para os grandes investidores institucionais ou para as empresas com

atracção por segmentos estratégicos.

3- Através da recompra por parte dos empreendedores/gestores das empresas. A venda

aos antigos titulares pode recorrer de forma espontânea, como pré-negociada no

momento da entrada das entidades de capital de risco. Contratos promessa, opções call e

put, e MBO são as variantes mais comuns.

4- Compra secundária da participação por uma terceira parte;

5- Pela liquidação da empresa (write-off). A empresa é descontituída, e todos os activos

são liquidados de divididos entre os accionistas e credores. (cf. Guia Prático de Capital

de Risco; Garcez; A Promotora).

Para Pinto (1996), as modalidades de saída mais utilizadas nos Estados Unidos da

América são através de aberturas de capital no mercado accionário e através de

aquisições, embora a primeira gera maior lucratividade apesar de horizonte de tempo

maior, conforme quadro 2, elaborado com base em estudo com 26 fundos operando

Page 26: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

26

entre 1970 e 1982. Formalmente, a abertura de capital é o processo pelo qual a

propriedade de uma empresa fechada é transferida, total ou parcialmente, para um

grande número de pessoas que desejam dela participar e que não mantêm

necessariamente, relações entre si, com um grupo controlador.

Quadro 2

Comparação entre Métodos Alternativos de Desinvestimento

Tempo Custo

(US$Mil)

Proveitos

(US$Mil)

Múltiplo

Abertura de Capital

Aquisição

Recompra

Venda Secundária

Liquidação

4,2

3,7

4,7

3,6

4,1

814

988

595

715

1.030

5.804

1.699

1.268

1.431

198

7,1

1,7

2,1

2,0

0,2

Fonte:Sagari e Guidotti (1992) apud Pinto.

1.9. A avaliação no processo de decisão de um investimento de Capital de Risco

Analisados alguns aspectos do capital de risco, como sua evolução histórica, suas

vantagens, as formas como as entidades de capital de risco investem numa sociedade e

como processa a saída, refiro-me agora à importância da avaliação para tomada de

decisão de investir ou não num determinado negócio.

Segundo Banha, o investidor de CR, ao aplicar os seus recursos numa empresa, espera e

pretende sempre ter êxito, ou seja, obter retornos, tanto através de dividendos, como na

realização de mais-valias no momento da sua retirada do empreendimento. Contudo,

para o êxito da decisão do investimento contribui, indubitavelmente, uma correcta

avaliação, quer do ponto de vista qualitativa como quantitativa, dos interesses

envolvidos. O apoio de técnicos e consultores qualificados é indispensável neste

processo. O processo começa com a entrega das propostas por parte dos

Page 27: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

27

empreendedores ou promotores, de seguida faz-se a selecção, passa-se para a avaliação,

estruturação e por último actividades de pós-investimento (Ibid, p. 101 e 102).

Ainda, segundo Banha, nos mercados mais evoluídos como o Americano e o Inglês, as

sociedades de capital de risco para poderem responder a demanda das propostas de

investimento, utilizam determinadas técnicas de avaliação para a pré-selecção, onde se

destaca o modelo de análise elaborado por Tyebjee e Bruno. Segundo este modelo,

como refere Banha, a fase de avaliação consiste na análise exaustiva dos projectos que

passaram as fases anteriores, caracterizando-se pelo objectivo de seleccionar as

melhores propostas com as maiores expectativas de sucesso e os rendimentos potenciais

mais elevados.

Assim, para além das técnicas de avaliação correntes da previsão e actualização dos

cash flows, os gestores das SCR procuram efectuar uma abordagem qualitativa baseada

nos aspectos focados nos pontos seguintes:

1.9.1. O plano de negócios

As entidades de capital de risco consideram o plano de negócio uma ferramenta muito

importante, pois permite, por um lado, ao empreendedor fazer a auto análise dos pontos

fracos e fortes do seu projecto, atingir o seu objectivo que é angariar fundos necessários

para alavancar o seu negócio, por outro lado, aos investidores, de terem instrumentos

úteis na análise de oportunidades de investimento.

Para Banha, o grau de profissionalismo usado na elaboração do plano de negócios

fornece logo uma primeira visão da qualidade de gestão. Por essa razão, deve ser dada

uma especial atenção ao grau de objectividade com que é definida a missão da empresa;

ao pormenor com que é descrito o produto/serviço idealizado; a relevância ao valor das

informações de mercado apresentadas; ao domínio da tecnologia envolvida; o grau de

conhecimento dos clientes, fornecedores e concorrentes; à identificação dos vários

Page 28: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

28

responsáveis e das suas competências específicas; à coerência das projecções elaboradas

e do plano de médio/longo prazo e à lógica inerente ao dossier elaborado (op. cit, p.

102, 103).

É evidente que a consistência e o rigor do plano de desenvolvimento do negócio

apresentado, bem como com a objectividade na apresentação do projecto, constituem

elementos fundamentais para análise das competências dos promotores bem como a

viabilidade da ideia, enfatizam Banha e Glossário de CR.

A avaliação é uma peça chave de apresentação de um projecto de investimento a um

investidor ou financiador, seja ele um particular (um BA, por exemplo), uma SCR ou

instituição financeira (IAPMEI, 2009).

1.9.1.1. O seu contexto no capital de risco

Segundo Banha, os capitalistas de risco (ou investidores em capitais próprios), devem

munir-se da máxima informação possível sobre o negócio alvo do seu investimento,

para que na medida do possível o risco possa ser diminuído, na medida que contribuem

com o seu capital em troca de uma participação no capital da sociedade, não têm

garantias, o sucesso do seu investimento depende da performance da empresa. Eles

assumem totalmente os riscos do negócio, sendo isto, um dos elementos que lhes

caracterizam como entidades de capital de risco (Idem, p. 103 e 104).

Segundo o autor acima citado, as entidades de capital de risco conseguem essas

informações através de plano de negócios completos onde constem todos os dados

referentes ao conceito de viabilidade do negócio, como por exemplo:

- Características do produto ou serviço que pretendem lançar;

- Vantagens para potenciais clientes – qual a necessidade do mercado a

preencher;

- Posicionamento do produto ou serviço que pretendem lançar no mercado

Page 29: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

29

nacional, e possibilidades de penetração no mercado internacional;

- Vantagens competitivas da iniciativa a desenvolver;

- Linhas mestras que permitirão obter, a partir de uma ideia, a rendibilidade do

projecto;

- Equipa de management (gestão);

- Projecções económico-financeiras e respectivos indicadores.

Estas informações têm de estar devidamente estruturadas de modo a captar a atenção do

investidor.

O plano de negócios deve assim ser realista e dar a conhecer de uma forma eficaz o seu

“sonho” aos capitalistas de risco. Para isso, deve basear-se nos chamados quatro Ms:

- A magia

O capitalista de risco tem de visualizar e estar comprometido com o seu “sonho”. O

plano de negócios tem de convencer que a sua oportunidade de investimento não se

baseia apenas em “fumos e espelhos”, mas sim numa verdadeira solução a um problema

ou oportunidade existente.

- A equipa de gestão

A qualidade da equipa de gestão é um dos indicadores mais importantes de um

investimento de capital de risco potencialmente bem sucedido. O plano de negócios tem

de convencer o capitalista de risco que a equipa de gestão (directores

executivos/principais gestores) está apaixonada, preparada, e mantém sempre uma

atitude positiva.

Page 30: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

30

- O mercado

A pesquisa apropriada, compreensão e selecção de uma indústria, mercados e clientes-

alvos são importantes no sucesso potencial de uma empresa financiada por capital de

risco. No entanto, o plano de negócios tem de convencer o capitalista de risco de que o

mercado alvo é grande, ou está a crescer, e que existe um plano sólido para conquistar e

manter uma quota de mercado significativa.

- O dinheiro

É sobre ele, ou mais propriamente sobre o negócio, que o capitalista de risco toma

decisão de investimento. Sendo assim, o plano de negócios tem de o convencer que a

estratégia financeira adoptada se baseia em suposições sólidas e comprovadas, que o

preço da empresa está correcto, e que existirá um ROI significativo.

1.9.1.2. Um plano de negócio vitorioso

É evidente que as entidades de capital de risco não dispõem de muito tempo para

analisar pormenorizadamente todos os projectos apresentados. Contudo, torna

necessário que haja um resumo das ideias de negócios, de modo que os capitalistas de

risco encontrem com facilidade dentro de um plano de negócios as respostas a cinco

questões básicas, nomeadamente: qual a actividade? Qual o posicionamento face à

concorrência? Qual o perfil da equipa de gestão? Qual o volume de negócio previsto a

3/5 anos? E qual o montante de capital necessário?

No entanto, para que esse objectivo seja alcançado/concretizado, é necessário que exista

um sumário executivo, composto por duas ou três páginas no máximo, que se

encontrem logo de inicio, e que funcionem como a “fotografia” de todo o projecto. É

esse sumário executivo que determina se o projecto merece mais atenção por parte dos

Page 31: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

31

capitalistas de risco. Permite aos capitalistas de risco ter uma noção daquilo que é o

projecto na generalidade. Se o sumário executivo cativar o capitalista de risco, ele pode

analisar o projecto na íntegra, onde espera encontrar todas as informações anteriormente

referidas de forma mais pormenorizadas. Portanto, o plano de negócio tem de transmitir

a segurança do projecto (Banha, op. cit; Glossário de capital de risco).

O capitalista de risco, uma vez na posse do plano de negócio, inicia a fase de recolha de

informações sobre a equipa de gestão, o promotor, pois é importante saber se este é

capaz de liderar um projecto empresarial, o mercado, e o produto ou serviço. Se todas

estas etapas da elaboração do plano forem tidas em consideração, e se o negócio

satisfazer todas as condições atrás descritas, por certo que o empreendedor vai

conseguir angariar o capital necessário ao seu negócio, uma vez que conseguiu atrair,

demonstrar e provar que o projecto é realista e cria valor para o capitalista de risco

(Glossário de Capital de Risco).

Para José Manuel, em selecção e encaminhamento de projectos de investimento: Caso

SEBRAE-RS, BRDE E CRP, uma ideia enquadrada num mercado, gestão, meio

ambiente, engenharia financeira, preço, custo, vendas, clientes, um espírito

empreendedor por trás entre outros é o mínimo que precisa ter um projecto ou plano de

negócio para poder despertar interesse de instituições financeiras, principalmente,

investidor de risco.

1.9.1.3. Riscos envolvidos nos Investimentos de Capital de Risco

Para Nabhan, risco não é uma incerteza, é um evento conhecido, cuja ocorrência pode

causar uma variação nos indicadores económicos e financeiros de um negócio e,

diminuir ou aumentar a rentabilidade do negócio.

Em qualquer aspecto da vida económica e financeira envolve riscos que precisam ser

avaliados e mitigados na medida do possível.

Page 32: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

32

As sociedades de capital de risco não ficam de fora. Quando recebem os projectos das

empresas que a elas recorrem, procuram identificar os aspectos da iniciativa que

apresentam maior vulnerabilidade e avaliar se esses riscos são de natureza controlável.

Segundo Barbierato (2000) apud Correia, a maior fragilidade de decisão de investir em

projectos, principalmente, nas empresas de capital de risco tem a ver com a

subjectividade do agente, imposta por um alto grau de incerteza, escassez de dados e

assimetria informal.

As actividades das entidades de capital de risco envolvem uma série de riscos que

poderão conduzir a perda total do investimento, caso não forem devidamente

ponderados. Os riscos envolvidos podem ser controlados com maior ou menor grau por

parte das entidades de capital de risco, com excepção de alguns. No conjunto dos riscos

que as entidades de capital de risco estão sujeitos, podemos encontrar, segundo Banha,

os de desenvolvimento, comercial, de gestão e de crescimento.

Para Banha, o risco de desenvolvimento trata-se de estudar se será de facto, possível

conhecer e produzir o produto/serviço imaginado em condições eficientes. É importante

para as sociedades de capital de risco tentar perceber mais sobre o produto ou serviço e

sobre a tecnologia utilizada, sendo também importante analisar a posição dos

concorrentes. Um outro risco envolvido é o comercial. Segundo o mesmo autor, uma

vez conseguido desenvolver a produção em condições favoráveis, torna-se fundamental

saber se será possível colocá-lo no mercado de forma competitiva, nomeadamente

através da análise das cinco forças competitivas (Barreiras à entrada, produtos

substitutos, concorrentes, fornecedores e clientes) que, segundo Porter (1992) apud,

Banha, determinam a rentabilidade de uma empresa. Um terceiro risco envolvido

constitui o risco de gestão. Importa, após estar concebida uma política comercial eficaz,

estudar a possibilidade de obter lucros interessantes por via da margem ou do volume.

Finalmente, envolve o risco de crescimento. Estando dominadas as áreas de produção e

Page 33: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

33

do marketing de forma eficiente, trata-se de avaliar o potencial e a viabilidade do

crescimento do negócio, reforça Banha.

Os riscos comercial e de gestão, deverão ser os únicos aceitáveis pelo investidor de

risco, uma vez que se trata de áreas nas quais ele detém competências específicas e nas

quais poderá acrescentar maior valor às iniciativas.

1.10. Instrumentos fundamentais nas operações de capital de risco: Acordos Para-

Sociais e Acções Preferenciais

No entender de F.B., as negociações de capital de risco envolvem muitas vezes acordos

que exigem 20 ou mais páginas para que se possa contemplar tudo o que os investidores

insistem em reduzir a escrito.

Os empreendedores, também são interessados em ver traduzido por escrito os termos e

condições das relações que serão desenvolvidas neste processo de investimento.

1.10.1. Acordos Para-Sociais

Numa operação de capital de risco o acordo para-social, resulta de negociações que

estabelecem claramente os direitos e deveres das duas partes, os financiadores (SCR ou

business angel) e os empreendedores (Beta, soc. cr 2009).

O acordo para-social ou acordo de accionistas, para além dos aspectos relacionados com

a avaliação do negócio e estrutura de financiamento da operação, regula um conjunto de

outras questões, que deverão ser negociados pelas partes de entre as quais, destacam-se

algumas (A Promotora, 2009):

- Termos de entrada, permanência e saída da SCR, onde se definem os timings

para a colaboração conjunta de empresa e SCR;

Page 34: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

34

- Distribuição de lucros, ponto fundamental que deve ser cuidadosamente

analisado. É preciso não esquecer que uma SCR participa efectivamente nos

ganhos e perdas da empresa;

- Presença do representante do investidor de risco nos órgãos sociais. Mesmo

que esse investidor não intervenha, na maioria dos casos, na gestão corrente da

empresa, normalmente, nomeia um membro não executivo para o Conselho de

Administração da empresa;

- A existência de maioria qualificada, na tomada das decisões mais importantes

pelos órgãos sociais da empresa, visando negociações entre as partes;

- Restrição à venda, a qualquer investidor, das acções detidas pelas partes

(promotores e sociedade de capital de risco), evitando assim grandes alterações

na estrutura de accionistas, sem acordo e consentimento das partes. Os

promotores, geralmente, têm a opção da compra das acções detidas pela

sociedade de capital de riscos no desinvestimento;

- Fixação de comissões a pagar ao investidor de Capital de Risco por esta

prestar, por exemplo, algum apoio à gestão e este deve constar de um Contrato

de Prestação de Serviços, entre outras.

Permite à SCR comprometimento dos sócios numa gestão fortemente empenhada no

bom funcionamento e desenvolvimento da empresa e também acautelar os seus

interesses.

Este acordo resulta das negociações efectuadas entre as entidades que aportam fundos

de capital de risco e as entidades que carecem desses fundos, ou seja, entre as entidades

de capital de risco e as participadas (F.B). Nesse contrato são definidas as condições das

relações que futuramente vão ser estabelecidas, nomeadamente as percentagens nas

participações; o grau de intervenção das entidades de capital de risco na gestão da

empresa, fixação de penalidades e cláusulas indemnizatórias, no caso de incumprimento

Page 35: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

35

dos objectivos delineados por acordo entre as partes; estabelecimento de regulamento de

gestão que espelha o planeamento financeiro, baseando-se normalmente no Plano de

Negócio elaborado pelos promotores e fixa normas de fornecimento das informações da

empresa aos investidores, entre outras.

Pode-se dizer que a celebração dos acordos para-sociais visa garantir às partes

segurança e certeza jurídica.

As operações de financiamento via capital de risco assumem, como mostra Simões, uma

importância fundamental para a nova geração de empresários empenhados na criação de

empreendimentos, empregos, produtos e serviços inovadores, exportações e

rendimentos fiscais para os países. No entanto, as negociações com as sociedades de

capital de risco, são algo de muito complexo que deve pressupor um profundo

conhecimento dos termos e condições que normalmente são exigidas por estas

entidades, sob pena de as concepções efectuadas pelo empresário, poderem levar a

conflitos ruinosos no futuro, esclarece o autor.

Os acordos para-sociais desempenham a função de integração e regulamentação das

normas constantes do contrato de sociedade, criando assim vínculos que são assumidos

pelos sócios, entre eles ou perante a sociedade e terceiros. A sua eficácia é obrigacional,

pessoal ou individual, ou seja, apenas estão sujeitos à sua disciplina aqueles que

participam no acordo.

Ainda, citando o mesmo autor, o acordo para-social é uma figura diferente dos contratos

de sociedade. O contrato de sociedade tem que obedecer aos requisitos de forma

legalmente previsto, vigorando para o contrato para-social o princípio da liberdade sob a

forma. Em relação à validade, o contrato de sociedade tem regras especiais para aplicar,

enquanto que o regime jurídico da invalidade dos acordos para-social se encontra sujeito

às normas gerais de direito civil sobre a invalidade dos negócios jurídicos. No que

respeita à eficácia, a do acordo para-social é meramente obrigacional ou pessoal,

enquanto que, o contrato de sociedade é eficaz perante terceiros, explica Simões. A

Page 36: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

36

interpretação do contrato de sociedade deve realizar-se segundo um critério objectivo,

enquanto que, a interpretação de um acordo para-social deve fazer-se de acordo com a

regra geral aplicável aos negócios jurídicos.

Pode-se dizer que a celebração dos acordos para-sociais visa garantir às partes

segurança e certeza jurídica.

1.10.2. Acções Preferenciais

O financiamento via capital de risco poderá ser estruturado através de acções

preferenciais2 visando sobretudo uma aplicação prática do que pode constituir um

instrumento importante, para as PMEs se financiarem com vista à sua expansão e

desenvolvimento. O financiamento via capital de risco pode desempenhar um papel

importante na vida de muitas empresas, designadamente através da sua estruturação em

acções preferenciais (Banha, op. cit., p. 123).

Ainda, segundo F. Banha, os privilégios concedidos nas acções preferenciais aos

financiadores de capital de risco podem ter uma duração limitada. Deste modo, os

empresários e financiadores de capital de risco poderão convencionar acções

preferenciais a termo. Estas serão reconvertidas automaticamente em acções ordinárias,

desde que decorrido determinado prazo e quando forem ultrapassadas as circunstâncias

que forem determinantes para a concessão de vantagens, o que se apresenta bastante

útil, tanto para os empresários, como para as SCR, sabendo que a participação destas no

capital social terá sempre um carácter temporário, que poderá ser convencionado após

as negociações que decorrem entre os empresários e as SCR, com vista a acertar os

termos de entrada e saída do capital social.

2 São acções que dão aos seus titulares preferência na distribuição de dividendos

Page 37: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

37

1.11. Projecto de Investimento enquanto instrumento de captação dos fundos de

Capital de Risco

Um projecto começa com idealização de um negócio, ideia essa que pode ser uma

oportunidade de gerar rendimento. Essa ideia precisa ser estruturada de modo a se

estimar “justo” para o empreendimento que tenciona pôr em prática.

Para Carlos Mata (2002), um projecto pode ser definido como um conjunto de

actividades, implicando a utilização de diferentes recursos, executados para levar a cabo

um determinado objectivo.

Segundo Esperança e Matias (2005, p. 67), um projecto de investimento permite

determinar a viabilidade económica da afectação de fundos escassos, qualquer que seja

a capacidade da empresa promotora, a um investimento real que deverá gerar um

retorno compensador.

Buarque, em “Avaliação económica de projectos”, diz que a realização do projecto,

desde a ideia inicial até ao seu funcionamento como uma unidade de produção, é um

processo contínuo no tempo, através de sucessivas fases, nas quais se combinam

considerações de carácter técnico, económico e financeira estudadas através de

diferentes etapas.

É de salientar que uma ideia de negócio deve ser estruturada com base num estudo

aturado das condições básicas para confecção do projecto. Segundo Buarque, na obra

acima citada, a elaboração e execução do projecto de investimento respeitam diversas

etapas a realçar, a identificação da ideia, o estudo da previsibilidade, o detalhamento de

engenharia e a execução, sendo que as três primeiras fases é que são mais importantes

no quadro deste estudo.

A fase de identificação consta-se de caracterização, de forma preliminar, a concepção da

ideia, de forma a ter uma noção clara se existe ou não razões para prosseguir para etapas

Page 38: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

38

seguintes. Uma vez justificada a ideia como sendo lógica, dá-se a inicialização da etapa

seguinte, ou o estudo de previsibilidade durante o qual é elaborado um estudo

preliminar, com base em dados que podem não ser definitivos. Se o estudo da

previsibilidade justifica o investimento no estudo definitivo, é que os projectistas

partem para o estudo de viabilidade.

O projecto de investimento e as suas fases de elaboração devem conter um estudo de

mercado, um estudo de tamanho e localização, a engenharia, uma análise de custos e

receitas e uma avaliação do mérito do projecto, também chamada de análise de

rentabilidade (Buarque, op. cit., p. 26). Tendo em consideração a conclusão dos estudos

acima citados, permite a engenharia iniciar o trabalho de determinação do nível dos

custos, a localização e o tamanho. Por outro lado, permite determinar, ainda que de

forma preliminar, os custos e receitas, a estrutura do financiamento e a rentabilidade da

empresa. No entanto, a partir destes pontos, conclui-se deste modo, se faz sentido

investir mais recursos para a consumação das etapas seguintes.

Correia diz que, no caso de um investidor de risco, o aprofundamento do estudo

pressupõe um bom plano de negócio, redigido recorrendo a vocabulários simples, claro,

evitando o uso de línguas robustas e demasiadamente técnica. Isto se deve ao facto

desse plano ser, geralmente, lido por pessoas que têm formação e experiência na área

financeira não dominando os aspectos técnicos do negócio da empresa.

O projecto de investimento constitui um instrumento que os financiadores,

particularmente os capitalistas de risco, utilizam para extraírem informações úteis que

permitem formar uma ideia ideal do negócio projectado (Esperança e Matias). Contudo,

os analistas utilizam determinadas estratégias para caracterizarem essas informações,

nomeadamente, um plano preliminar que deve apresentar uma síntese do plano de

negócio, onde no geral se forma uma primeira opinião sobre o que está sendo proposto.

Esse documento deve ser conciso, persuasivo e conter informações sintetizadas

referentes ao mercado, negócio da empresa, clientes, produto/serviços, as vantagens

Page 39: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

39

competitivas, área operacional, a gestão e seus objectivos, projecções económicas e

financeiras, a necessidade de financiamento e as possibilidades de saída do investidor de

risco (Correia, op. cit., 2002).

Na elaboração do projecto de investimentos, procura-se reunir todas as informações,

com o objectivo de dar uma maior consistência ao mesmo. Por outro lado, os analistas

financeiros, especificamente, os quadros técnicos das entidades de capital de risco,

também procuram reunir todas as informações necessárias para efectuarem uma análise

aturada do projecto. Muitas vezes as informações recolhidas junto dos destinatários são

distorcidas a àquelas que foram solicitadas. Os destinatários do financiamento fornecem

informações que mais lhes beneficiam. Contudo, cabe aos analistas tentarem catalisar o

máximo possível das informações, para poderem ajuizar da melhor forma o projecto e

outras informações extra-projecto (qualitativas).

Se o empreendedor possuir um projecto que ambicione alcançar a liderança num

determinado segmento de mercado através de uma solução que permita mudar os

hábitos dos clientes ou seja que identificou uma necessidade não satisfeita em vez de

somente alcançar um novo nível de desempenho, promover melhorias incrementais,

atender melhor as actuais expectativas ou acrescentar mais um produto/serviço há gama

dos já existentes, certamente que terá vários investidores interessados no seu projecto.

Segundo Correia, os investidores de risco ao “abraçarem” um projecto submetem-no a

uma avaliação, visando sua análise, para que se possa minimizar os riscos e incertezas

garantindo assim, em parte, a possibilidade de maximização de valor para os

empresários.

Aprovado o plano de negócio, deve-se, de seguida, dar prosseguimento às análises

numéricas, que passa pela utilização de critérios económicos e financeiros para concluir

sobre a viabilidade (estudo técnico de cariz financeiro que procura determinar as

possibilidades de sucessos económicos e financeiro de um projecto) dos projectos de

investimento. No conjunto dos critérios atrás referidos encontramos, nomeadamente, os

Page 40: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

40

critérios financeiros TIR (taxa interna de rentabilidade), VAL (valor actual liquido),

PAY-BACK PERIOD (período de recuperação dos investimentos, ou PRI) e os rácios

(liquidez, rentabilidade, endividamento, actividade, entre outras), como sendo os mais

utilizados pelas entidades de capital de risco.

A taxa de rentabilidade interna (TIR) representa a rentabilidade gerada pelo

investimento, ou seja, representa uma taxa de juro tal, que se o capital tivesse sido

colocado a essa taxa, obteríamos exactamente a mesma taxa de rentabilidade final.

Podemos conceituá-lo como taxa a que se utiliza como taxa de desconto, torna o VAL

igual a zero.

O valor actual líquido (VAL) tem por objectivo avaliar a viabilidade de um projecto de

investimento através do cálculo do valor actual de todos os seus cash-flow. Entende-se

como VAL, o valor acumulado dos cash-flows que se conhece hoje, como sendo

resultado dos cash-flows que o projecto vai gerar durante o período de vida útil. Tendo

em conta que qualquer investimento só gera cash-flows no futuro, torna-se imperativo a

actualização de cada um desses cash-flows com o propósito de compara-lo com o valor

do investimento.

O PRI destina-se a determinar o tempo de recuperação do capital investido, ou seja,

calcula-se o tempo necessário para que as receitas geradas e acumuladas recuperem as

despesas em investimento realizadas e acumuladas durante o período de vida do

projecto (IAPMEI).

A partir do momento em que já estão determinados os valores para cada indicador

acima citado, cabe aos gestores de projectos concluírem sobre a viabilidade do projecto.

No entanto, na escolha e selecção de projectos, os gestores de projecto aceitam os que

têm uma maior TIR, maior VAL e menor PRI.

Para além dos critérios atrás citados, os capitalistas de risco não conformam em apenas

analisar o projecto em si. Como é óbvio, a rentabilidade satisfatória de um projecto, não

Page 41: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

41

justificam, por si só, o sucesso do negócio. Por isso, os analistas (pessoas qualificadas

que indagam sobre pontos importantes a ter em conta no processo de financiamento)

realizam várias entrevistas com os promotores, no âmbito da análise qualitativa para o

aporte do recurso a fundo do capital de risco. Por outro lado, a conjuntura económica e

o sector para o qual o projecto é direccionado, são analisados pormenorizadamente, no

sentido de tirar conclusões reais dos fenómenos.

1.12. O Capital de Risco e as PMEs de base tecnológica

As PMEs de base tecnológica3, são as que mais atraem os investidores de capital de

risco uma vez que oferecem perspectivas de rentabilidade bastante elevadas e

possibilidade de alto crescimento. A esta associação entre CR e as PMEs de base

tecnológica tem sido denominado de “capital clássico” (Pinto, 1996).

A criação e desenvolvimento das empresas de base tecnológica requerem um ambiente

tecnologicamente activo, com grande disponibilidade de recursos técnicos e humanos

que apresente oportunidades para a iniciativa empresarial, favoreça o espírito

empreendedor e gere sinergias para o estabelecimento de novas empresas. (Jorge de

Paula, p. 1). Elas vêm sendo há muito tempo alvo de atenção de analistas económicos

devido a seu potencial de geração de rendimento e do emprego. No pós-fordismo, esta

atenção se intensifica á medida em que os atributos de flexibilidade e rapidez de

adaptação às demandas do mercado características de muitas PMEs são valorizados

(Renata La Rovere, 1999).

O mercado das novas tecnologias (Software, telecomunicações, Internet, bioinformática

e biotecnologia) apresenta um crescimento estrondoso a nível mundial, gerando

significativas oportunidades para os que querem investir e outros que apresentam uma

capacidade empreendedora que lhes permitem aproveitar as oportunidades de

realizarem mais-valias. Compete dizer que as empresas de base tecnológica são

3 Segundo Santos apud Garcez (2005), são aquelas que operam com processos, produtos ou serviços onde a tecnologia é considerada nova ou inovadora.

Page 42: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

42

actualmente, os maiores destinos dos fundos de capital de risco a nível mundial. Para

confirmar essa afirmação, baseio-me em Venture One, apud F. Banha onde se afirma

que os investimentos em empresas a operar na Internet representam 58% da totalidade

do capital de Risco disponibilizado entre Janeiro e Abril de 1999, num total de 600

milhões de contos.

As maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas nascentes de base tecnológica

relacionam-se à sua carência de capacidade gerencial e à sua dificuldade para obter

recursos financeiros. Tipicamente, as pequenas e médias empresas de base tecnológica

são criadas por profissionais com grande conhecimento técnico em sua área, mas que

possuem pouca ou nenhuma experiência administrativa e comercial. Embora este facto

não inviabilize a constituição da empresa, ele tende a tornar-se progressivamente mais

importante à medida em que a empresa se desenvolve, podendo, em muitos casos, ser o

determinante do seu eventual insucesso.

No que tange à obtenção de recursos financeiros, para empresas nascentes de base

tecnológica são inadequados os modelos tradicionais de financiamento, pois

amortização e juros previamente estabelecidos retiram-lhes recursos fundamentais ao

seu desenvolvimento e, em última instância, à sua sobrevivência. Note-se, ainda, que os

activos de um empreendimento nascente de base tecnológica constituem-se,

essencialmente, nos conhecimentos acumulados em longos anos de pesquisa,

intangíveis e, imprestáveis como garantias bancárias (Jorge de Paula, p. 1 e 2).

A experiência internacional indica que, por ser capaz de oferecer resposta satisfatória a

essas duas demandas básicas de modo conjugado, o capital de risco constitui-se como

motor fundamental para a criação e para as fases iniciais de desenvolvimento de

empresas de base tecnológica.

Estudos realizados no Brasil pela FINEP – Financiadora de estudos e projectos, citado

por Jorge da Costa (p. 2 e 3) - referem que os requisitos para o florescimento de um

dinâmico mercado de capitais de risco são as demandas, as ofertas e o ambiente.

Page 43: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

43

Portanto, deve haver uma quantidade adequada de investidores motivados a investir seu

capital em empresas de crescimento acelerado e alto risco.

Por outro lado, referem ainda estes estudos, deve haver um fluxo contínuo de

oportunidades de investimento, isto é, faz-se necessária a constante criação e o

desenvolvimento de novos negócios de crescimento acelerado, a fim de que haja uma

permanente geração de propostas de alta qualidade para os capitalistas de risco.

Por fim, devem estar presentes condições subjacentes que tornem baixos os custos de

transacção, seja para a localização de empreendimentos de alto potencial, seja para a

efectivação dos investimentos em diversas etapas, seja para o desenvolvimento. Sob

esta dominação podem-se incluir condições que no escopo de instituições de fomentos

não são manipuláveis (ex. as variáveis macroeconómicas), outras de grande

complexidade mas nem por isso insuportáveis, como a adequação do sistema

regulatório e o desenvolvimento de mercados que confiram liquidez às aplicações,

assim como outras passíveis de intervenção mais simples e directa, como a

disponibilidade de profissionais altamente qualificados e a oferta de informações

qualificadas que reduzam os custos de transacção.

O que se depreende actualmente, é que as pequenas e médias empresas,

fundamentalmente as de base tecnológica, constituem importantes “alicerce”do

crescimento económico em qualquer país do mundo, mesmo os desenvolvidos.

Constituem importantes fontes de criação de emprego e de consolidação do tecido

empresarial do país. Sabe-se também que, muitas das grandes empresas existentes

actualmente, foram as PMEs que conseguiram crescer até atingirem o estatuto de

grandes empresas. Por isso, são considerados como maiores indutores do crescimento a

nível mundial.

É verdade que nos países em vias de desenvolvimento e os emergentes, não são fáceis a

criação de uma grande empresa. Torna imperativo a idealização de pequenos e médios

empreendimentos de base tecnológico, que com o andamento do tempo poderão

Page 44: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

44

transformar numa grande empresa. Nesses países, esses empreendimentos são

avassaladores em relação às grandes empresas, o que leva a existência de incentivos

para o surgimento de muitas outras e que se desenvolvam efectivamente.

As PMEs de base tecnológica desempenham um papel fundamental para o crescimento

e desenvolvimento das economias. Suas contribuições sociais podem ser avaliadas,

tanto na geração de oportunidades com o aproveitamento de uma grande parcela da

força de trabalho, como no estímulo do desenvolvimento empresarial, ajudando na

criação de um mercado interno capaz de funcionar como base sólida para uma economia

sustentável. Sem o constante surgimento de novas empresas de orientação inovativa, o

sistema económico vê-se privado do dinamismo tecnológico necessário ao processo de

desenvolvimento.

Page 45: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

45

CAPITULO II – ENQUADRAMENTO DO CAPITAL DE RISCO NA

ECONOMIA INTERNACIONAL

2.1. O Sistema Financeiro Internacional

Por Sistema Financeiro, entende-se o conjunto de instituições, instrumentos e

mecanismos que permitem canalizar os excedentes financeiros, ou seja, a oferta de

fundos líquidos dos agentes económicos superavitários ou aforradores com capacidade

de financiamento para os agentes económicos deficitários, isto é, os agentes com

necessidade de financiamento, de forma a que o processo de intermediação se processe

em conformidade com as necessidades dos agentes deficitários quanto aos prazos de

reembolso, custo desses fundos e, simultaneamente, de acordo com o interesses dos

agentes aforradores, em termos de risco, liquidez e remuneração.

Alguns autores como Bravo definem o sistema financeiro como o conjunto de

instituições, regras, capacidades e práticas existentes em cada país, que permite o

funcionamento da economia, e concretamente a rentabilização de poupanças e a

obtenção de financiamento investimentos e despesas. Para Capul e Garnier (p. 403), o

sistema financeiro internacional descreve o conjunto de actividades financeiras

realizadas no mundo. Elas representam a contrapartida das actividades comerciais

(compra e venda de produtos em diferentes países) ou correspondem a aplicações

financeiras (empréstimos, compra e venda de títulos mobiliários, concessão de crédito,

etc). O sistema financeiro engloba todas as instituições financeiras, de entre as quais o

capital de risco. Nas economias modernas coexistem diferentes modelos de Sistema

Financeiro.

Thiel (2001) considera que um factor importante para o papel do sistema financeiro

enquanto causa do crescimento poderá ser o grau de abrangência e complementaridade

das estruturas existentes.

Page 46: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

46

A entidades de capital de risco, constituem importantes factos para a economia mundial,

mormente as em vias de desenvolvimento, tendo em consideração a crise financeira que

vem fustigando sistematicamente a economia mundial. É evidente que os bancos têm

uma importância inquestionável, sendo que constituem o mais importante alavancador

do crescimento económico mundial. Torna-se imperativo referir que nas situações de

crise, as entidades de capital de risco, os grandes fundos mundiais de capital de risco,

podem assistir tecnicamente as suas participadas, evitando o colapso total dos mesmos.

2.2. Capital de Risco nos EUA

Os EUA desenvolveram pioneiramente e de forma mais abrangente, um sistema

peculiar de financiamento da inovação através da concessão de capital de risco. Este

país nunca parou de apostar no CR como uma das alternativas viáveis para dinamizar a

economia. É o país onde este produto é mais desenvolvido. Tudo isto deveu-se a um

conjunto de factores favoráveis, como ambiente cultural e institucional, pois que a

mentalidade Norte-Americana acerca do self-made man é um factor fundamental que

estimula o surgimento de novos empresários. Essa dinâmica, justifica-se pela existência

de pólos e parques tecnológicos e universidades voltadas para áreas de alta tecnologia,

ao gerar uma grande oferta de novos empreendimentos com forte conteúdo tecnológico

e grande potencial de crescimento, contribuindo sobremaneira para que esta actividade

se tornasse atraente e viável do ponto de vista dos investidores (Gorgulho, 1996, apud

Pinto).

Ainda segundo a autora, o aparato regulatório do país, também foi um factor de grande

estímulo à actividade do CR. As mudanças na legislação sobre questões relativas à

actividade, como, por exemplo, a permissão de que os fundos de pensão participassem

deste tipo de investimento, tiverem efeitos imediatos e radicais sobre a evolução da

indústria. Todo um conjunto de medidas como incentivos e restrições fiscais,

começando pela alteração das alíquotas de imposto sobre os ganhos de capital

Page 47: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

47

provenientes dos investimentos de capital de risco, contribuíram para o sucesso desta

operação nos EUA.

Posto isto vale a pena conhecer um pouco os impactos deste produto na economia

americana e para os investidores e participadas.

Impacto económico

Segundo Luciane Pinto (1996), o impacto económico da actividade de capital de risco é

inegável. Os investimentos em empresas como DEC, Apple, Su, Lotus, Fairchild,

Genentech, Federal Express, Cellular One e, recentemente, a Ntescape, contribuíram

para o desenvolvimento de segmentos industriais completamente novos, alguns entre os

mais importantes nos dias actuais como o de computadores, de semicondutores, de

biotecnologia, entre outras.

Continuando com a citação da autora acima, estas empresas que obtiveram avaliações

milionárias em suas aberturas de capital, tornando também milionários os que nelas

investiram, atraíram bilhões de dólares em milhares de investidores para a actividade de

capital de risco. Contudo, não são apenas estes sucessos notáveis que trazem

contribuições positivas para o dinamismo da economia americana. Centenas de

empresas não tão famosas trabalharam em conjunto para promover o estímulo

tecnológico de regiões inteiras dos Estados Unidos.

Em pesquisa realizada pela Venture Economics Inc. e Coopers & Lybrand apud Luciane

Pinto, com 235 empresas financiadas por capital de risco entre 1985 a 1989,

concluíram-se que, em apenas 1,9 ano de existência, elas criaram 36 mil novos

empregos, exportaram US$786 milhões em P&D e pagaram US$ 170 milhões de

impostos. O crescimento destas empresas ultrapassou de longe o da maioria das demais

pequenas empresas e o das grandes corporações. Elas contavam também com mais

trabalhadores especializados em sua força de trabalho (53%) do que a matéria geral

(13%).

Page 48: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

48

Resultados alcançados do ponto de vista dos investidores

A avaliação das taxas de retorno é uma tarefa difícil e delicada, uma vez que ela

depende dos critérios utilizados, do período que está sendo avaliado e da amostra de

empresas seleccionada.

Bygrave e Timmons (1992) apud Pinto, analisaram as taxas de retorno anualizadas

médias de todos os fundos formados entre 1969 e 1985. Estes dados, ainda segundo

estes autores, mostram que os retornos tipicamente são menores que 20%, com breves

picos acima de 30%. Contudo, o quartil superior teve uma performance bem melhor,

apresentando retornos acima de 20% em nove dos dezasseis anos, acima de 30% em

quatro destes anos e acima de 40% em um ano.

Outro factor a ser observado neste país, segundo a mesma obra, pag.17, é que, de acordo

com a lógica da formação de carteira do capital de risco, algumas poucas empresas são

responsáveis pela maior parte dos ganhos. Bygrave e Timmons (1992) apud Pinto,

citaram estudo que analisaram 383 investimentos realizados por 13 empresas de venture

capital entre 1969 e 1985. O estudo realizado por esses autores mostrou que quase

metade do valor final da carteira resultou de apenas 6,8% de todos os seus

investimentos e 75% vieram de 15,7%, tendo havido perdas em 34,5% dos

investimentos.

Estudos realizados por Florida e Kenney (1988) apud Pinto, avaliando a performance

dos 10 principais fundos de capital de risco nos EUA no período de 1972/83, mostrou

que, dos 525 investimentos realizados, apenas os 56 vencedores ou 10,7% geraram mais

de metade do valor da carteira (US$823 milhões), quintuplicando o valor investido,

enquanto 38% dobraram o investimento original e aproximadamente metade deles (266)

ficou up break-even point ou resultou em perdas. Este desempenho gerou um retorno

ponderado para a certeira de 35% no período.

Page 49: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

49

Contudo, as análises realizadas sobre os retornos, revelaram que foram melhores através

da abertura de capitais, em fundos especializados em investimentos nas empresas em

estágios iniciais e de alta tecnologia. No entanto, deve-se esperar um longo período até a

obtenção destes retornos (Pinto, 1996).

Resultados alcançados do ponto de vista das participadas (empresas investidas)

O capital de risco tem um papel fundamental no processo de inovação nos EUA, através

do fornecimento de recursos e do auxílio prestado à organização de empresas de

orientação tecnológica embrionárias, afirmou Pinto. Os ventures capitalists estão no

centro de diversas redes, que eles activamente ajudam a desenvolver, compreendendo

instituições financeiras, grandes empresas, universidades e empreendedores.

O capital de risco serve, em grande medida, para formalizar os papéis historicamente

desempenhados pelo empreendedor e financiador independente e estimula, com sua

estrutura, o processo de inovação, que é vital para o desenvolvimento das economias

capitalistas, de acordo com Florida e Kenney (1988) apud Pinto.

Segundo Barra, a disseminação do capital de risco fora dos EUA é um fenómeno

recente, mas vem representando uma alternativa não desprezível de financiamento a

novas diversas economias.

2.3. Capital de Risco na Europa

A actividade de capital de risco na Europa teve maior expressão no Reino Unido e em

França, embora neste último país ainda o desenvolvimento está aquém do alcançado no

Reino Unido.

Page 50: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

50

A indústria de capital de risco no Reino Unido é a maior desenvolvida da Europa. Este

país foi o primeiro, a nível europeu, a perceber a sua importância no florescimento da

economia, sendo que esta modalidade de financiamento representa 50% do total que se

realiza na Europa, ocupando a segunda posição a nível mundial, a seguir aos Estados

Unidos, diz Francisco Banha, em O CR (p. 68).

Continuando com a citação do autor, a indústria de capital de risco investiu, no tecido

empresarial Britânico, mais de 32 mil milhões de Euros em mais de 26.500 empresas

desde 1983, tendo em 1997 atingido o recorde de investimento no montante de 5.9 mil

milhões de Euros em mais de 1.200 empresas. Mais de 49% do investimento via capital

de risco foi destinado à expressão de empresas existentes, contribuindo assim para o seu

crescimento e aumentando o seu grau de competitividade. Estudos realizados

demonstram a importância da utilização de financiamento via capital de risco, em

operações de management buy-in e management buy-out que constituem um

significativo valor para a economia britânica.

Em França, segundo Chausson apud Banha, o capital de risco nos princípios do ano

1995, não tinha o brilho desejado, existiam alguns pequenos fundos dispostos a investir

em projectos start-ups. Os fundos disponíveis na altura se destinavam,

fundamentalmente, ao financiamento do crescimento das empresas que tinham alguma

maturidade. Verificava-se ainda inexistência dos business angels e um mercado bolsista

virado exclusivamente para as grandes empresas.

Ainda de acordo com este autor, já nos finais de 1995, com a entrada dos business

angels no mercado francês e do novo mercado, que permitiu o financiamento em vários

estágios das empresas, é que os fundos de capital de risco passaram a ter maior

expressão.

Hoje, como refere o autor, assiste-se a uma multiplicação de fundos canalizados, acima

de tudo, para os projectos start-ups, a um aumento substancial de SCR e valores

envolvidos neste mercado.

Page 51: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

51

Conforme AUESL, apesar de o mercado europeu continuar a ser fragmentado em

consequência das divergências que subsistem entre os Estados-Membros, o sector de

capital de risco é actualmente muito mais importante, mais maduro e mais profissional

do que em 1998.

Page 52: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

52

CAPÍTULO III - ENQUADRAMENTO DO CAPITAL DE RISCO NA

ECONOMIA CABO – VERDIANA

3.1. Sistema Financeiro Nacional

O sistema financeiro cabo-verdiano, à data da Independência Nacional, era formado

pelo Banco Nacional Ultramarino, com a natureza de banco emissor e comercial, com

uma filial na Praia e outra em S. Vicente e uma delegação na ilha do Sal; a Caixa de

Crédito de Cabo Verde, como instituição especial de crédito do Estado; a Caixa Postal,

com natureza de instituição especial de crédito.

Hoje a realidade do SFN é outra. Tem um órgão regulador que é o Banco de Cabo

Verde, cinco Bancos Comerciais, IFIs, Seguradoras, Sociedades Correctoras e

Financeiras de Corretagem, Sociedade de Capital de Risco, Banco de Investimento,

Bolsa de Valores, sendo que esta última veio dinamizar o sistema.

Essas alterações, verificadas no SFN, resultaram da pressão do mercado e das

imposições de uma economia moderna e globalizada.

O Sistema Financeiro cabo-verdiano vive actualmente um momento interessante da sua

história, ou seja, de um sistema unicamente intermediador transitou-se para o sistema

duplo, isto é, Intermediação Financeira conjuntamente com a Desintermediação

Financeira.

Já estão a ser comercializados no Mercado Financeiro cabo-verdiano produtos

financeiros que se enquadram no âmbito dos mercados desintermediados,

nomeadamente, emissão de Acções e Obrigações das grandes empresas, e por isso, a

implementação e a diversificação de novos produtos financeiros não deve ser

subestimada.

Page 53: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

53

O acesso ao crédito por certas classes económicas constitui um grande problema. O

sistema financeiro cabo-verdiano ainda não se encontra suficientemente desenvolvido e

estruturado, de modo a dar resposta cabal às necessidades desses agentes, pelo que a

introdução no mercado de novos produtos/alternativas, adaptados a cada classe, é uma

forma inteligente de se colmatar essa insuficiência do sistema.

É neste cenário que o CR, tema deste estudo, é tratado como um instrumento ou forma

alternativa de financiamento viável que merece destaque.

3.2. Capital de Risco em Cabo Verde

O instrumento Capital de Risco foi instituído em Cabo Verde na década de 90, pelo

Decreto-Lei nº 72/94 de 12 de Dezembro, que o define como instrumento de promoção

de investimento e de introdução de inovação tecnológica.

Foi instituído com o objectivo de implementar uma política de fomento de utilização de

instrumentos de capitalização de empresas e estimular o aparecimento dessas sociedades

de iniciativa privada e possível de associar às entidades públicas.

Só mais tarde, com a instituição da primeira sociedade de capital de risco, é que se deu

o início a essa actividade no país. Pois, foi mediante o Decreto-Lei nº 3/96 de 19 de

Fevereiro, que se instituiu a primeira sociedade de capital de risco no SFN, que recebeu

a denominação de A Promotora, SA. Isto deveu-se à necessidade de modernização do

sector financeiro e dinamização da economia, consequentemente o aumento do leque de

opções dos instrumentos financeiros no mercado financeiro nacional.

Como sendo a primeira e única sociedade de capital de risco existente em Cabo Verde,

implica afirmar que falar da actividade de capital de risco em Cabo Verde é referir às

actividades e acções desenvolvidas pela A Promotora, SA.

Page 54: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

54

A sociedade tem como fito o apoio e promoção de investimentos no sector privado e

nacional e da inovação tecnológica em projectos ou empresas, através da participação

temporária e minoritária no respectivo capital social. Tem como objecto acessório:

- Prestação de assistência na gestão financeira, técnica, administrativa e

comercial da participada, designadamente a elaboração de estudos técnico-económicos

de viabilidade de empresas ou de novos projectos de investimentos, bem como das

condições e modalidades do respectivo financiamento, e ainda execução de estudos ou

projectos, visando a reorganização, concentração ou outra forma de racionalização da

actividade das empresas em que participa, incluindo a promoção de mercados, a

melhoria de processos de produção e a introdução de novas tecnologias.

A sociedade tem como estratégia reforçar o relacionamento dentro do grupo financeiro

CGD, aumentar o fundo para aplicação financeira, aproximar dos capitais de risco do

grupo CGD, por forma a aumentar a capacidade de participação de A Promotora.

O capital social da sociedade é de 450.000.000.00, representado por 450 mil acções com

o valor nominal de 1.000, 00 e repartido da seguinte forma:

Quadro 3

Composição Accionaria de A Promotora, SA

Nome do Accionista Nº. de Acções Detidas % de Participação

CGD 180.000 40,00 %

Estado de Cabo Verde 120.000 26,67 %

BCA 50.000 11,11 %

Garantia, SARL 50.000 11,11 %

INPS 50.000 11,11 %

Total do capital social 450.000 100 %

Fonte: A Promotora, SA

Page 55: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

55

A única fonte para financiamento de actividade de capital de risco é o capital social de

A Promotora. Dado à pouca demanda, o fundo até agora mostrou-se suficiente,

conforme dados recolhidos junto à A Promotora.

Embora, desde 1994, exista todo um quadro legal que permita a A Promotora a

implementação e promoção do produto e com o tecido empresarial cabo-verdiano

formado 90% por Pequenas e Médias Empresas, a dinâmica do CR na economia

nacional não tem sido a melhor. Assim, mediante o decreto-lei nº 22/2004, o governo

alterou o Decreto-Lei nº 72/1994 com o objectivo de alargar o âmbito das actividades da

SCR no país, permitindo entre outras, que a A Promotora, SA, assuma outras

actividades parabancárias e preste serviços de consultoria a todas as empresas

interessadas, independentemente de serem ou não suas participadas. Essa alteração visa

impulsionar a actividade da sociedade de capital de risco e afirmar no mercado.

A participação social de CR nas empresas permite o seu fortalecimento, a sua

credibilidade junto das instituições financeiras e melhorar os seus posicionamentos

competitivos no mercado. Esta estratégia reforça também as estruturas de capital dessas

empresas e ao mesmo tempo a bancarização dos seus projectos. É essa acção que

também aconteceu com a actuação da única SCR existente em Cabo Verde.

A Sociedade não tem preferência em relação às áreas de investimento, desde que seja

apresentado um projecto de elevado potencial de crescimento e que revela um alto grau

de retorno, com carácter inovador e com promotor associado que mostre interessado,

capaz e que conheça o negócio.

Procedimentos de análise de projectos

A parceria entre o empreendedor e o investidor não acontece de uma forma espontânea,

mas sim segue todo um processo que vai desde a decisão do promotor do projecto em

procurar o parceiro, CR, até a decisão da SCR em aceitar o projecto apresentado, após a

Page 56: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

56

análise deste e avaliação do seu promotor, seguindo o seu trâmite normal até ao

desinvestimento.

A sociedade dispõe de dois técnicos para analisar os projectos apresentados. Isto nunca

pôs em causa a capacidade de resposta, de acordo com A Promotora, SA.

Para selecção dos projectos de investimento apresentados analisam o perfil do

promotor, o seu currículo, idoneidade, entre outras; o plano de negócios apresentado; a

envolvente externa Cabo Verde e o mundo para o negócio proposto e o fundo

disponível para o efeito.

Procedimentos de relacionamento

As negociações com as Sociedades de Capital de Risco são procedimentos complexos

que pressupõem um profundo conhecimento dos termos e condições que normalmente

são exigidos.

Assim, o acordo para-social e o pacto social são instrumentos utilizados até agora para o

vínculo entre as partes, promotor e a Sociedade de CR. No entanto, dadas as limitações

desses acordos e as fragilidades da justiça no país, estuda-se reforçar este método de

forma a reduzir os riscos associados ao incumprimento dos acordos existentes no país

hoje.

O relacionamento mantido entre a A Promotora e suas participadas tem sido apenas a

troca de informações, através de apresentação de informação periódica sobre a evolução

da situação económico-financeira da participada.

Participações nos capitais considerados de risco

Desde a data da sua criação, A Promotora participou, em termos de investimento, em 10

(dez) empresas caracterizadas, no contexto cabo-verdiano, de Média e Pequena

Page 57: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

57

dimensão, e estão distribuídas pelas ilhas de S. Vicente (40%) e Santiago (60%), com

maior concentração nesta última, como mostra o gráfico 2.

Gráfico 2

Fonte: elaborado com base nos dados recolhidos no terreno

Pela análise do quadro, pode-se constatar que na maior parte das ilhas de Cabo Verde a

presença de participadas ainda é um desconhecido.

Das dez participadas, cinco não estão activas no mercado em consequência de falência

declarada e fechamento das portas pura e simplesmente. Duas estão ainda na fase inicial

de actividade. Nas restantes aconteceu o desinvestimento, com a recuperação do capital

social investido e um prémio de desinvestimento negociado, na medida em que, como

não são empresas cotadas, a determinação do valor do mercado exige uma avaliação das

participadas.

Com este cenário, em parte, fica explicado a situação de CR em Cabo Verde, já que os

50% de falências representam uma perda para a A Promotora em valores que ascendem

a 50.000 cts. Essas falências deveram-se mais a erros de gestão e decisões estratégicas

do que propriamente dificuldades sectoriais, conforme A Promotora.

Para o país essas falências tiveram impactos a nível económico e social, em virtude do

número de desemprego associado.

Page 58: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

58

As participadas dedicam-se a actividades como artes decorativas e publicidade,

transportes marítimos, exploração de veículos automóveis táxis normais e especiais;

produção e comercialização de produtos agrícolas e avícolas; transformação,

conservação e comercialização de produtos do mar; exploração de actividades

desportivas; sistema de informação e comércio electrónico, inertes e imobiliária.

Gráfico 3

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1996-1998 1998-2000 2000-2002 2002-2004 2004-2006 2006-2008

Evolução do Portfolio das parti

cipações

Ano

Fonte: elaborado com base nos dados recolhidos no terreno

Como mostra o gráfico, a actividade da empresa esteve estagnada durante algum tempo,

2002 a 2006, o que deixa transparecer a pouca dinâmica do produto.

No último período, conforme o gráfico, houve um impulso motivado pela estratégia

traçada pela SCR em 2006 e devido também ao alargamento do âmbito da sua

actividade.

Em matéria de evolução, constata-se que a actividade de CR não ganhou ainda espaço

no mercado, pois decorridos 13 anos de sua existência no panorama financeiro, continua

Participadas

Page 59: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

59

a existir uma só sociedade CR, com a mesma composição accionaria e um número

reduzido de investimentos.

De acordo com o relatório de contas de 2007, conhecem-se os factores que estiveram na

origem da não penetração plena do produto na economia nacional e que se destacam:

• Exiguidade do mercado e o nível de desenvolvimento da cultura empresarial em

Cabo Verde;

• Baixa capacidade de inovação a nível nacional;

• Falta de capacidade financeira dos empreendedores.

Perante este cenário, vale-se uma Análise SWOT do produto em Cabo Verde, onde se

destacam como pontos fortes a repartição de riscos, capacitação da gestão, entre outras.

Ponto fraco: investimento em empreendimentos novos, ligados directamente à grande

subjectividade do promotor, imposta pelo alto grau de incerteza, a escassez de dados e

assimetria de informações;

As oportunidades que são várias como tecido empresarial formado com grande

percentagem de PMEs que deparam com insuficiência de capital próprio; receio dos

bancos em financiar PMEs e empresas emergentes sem histórico e mais de 50% sem

garantias sólidas; fomento do empreendedorismo que implica surgimento de projectos

com grande potencial de crescimento; estágio de desenvolvimento do país (progressão à

categoria de país de desenvolvimento médio); necessidade de inovação para melhoria e

competitividade da economia nacional, precisam ser aproveitadas para dinamizar a

actividade de CR no país.

Como ameaças destacam-se a dificuldade dos empresários em partilhar informações;

cultura do empresariado nacional na planificação e controlo como instrumento de

gestão; gestão deficiente de tesouraria e fragilidade de justiça em termos do

cumprimento do contrato. Estas ameaças podem ser transformadas em oportunidades

que poderão fortalecer a presença e actuação da actividade no mercado nacional.

Page 60: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

60

Análise do inquérito e da entrevista

Os inquéritos aplicados e as entrevistas efectuadas permitiram recolher informações a

cerca do produto em Cabo Verde e funcionamento da actividade de CR. Apenas 20%

das participadas responderam o inquérito. Pelo que o tamanho da amostra não facilita o

tratamento estatístico dos dados recolhidos.

Analisadas as respostas dos 20% das participadas que responderam aos inquéritos,

chegamos aos seguintes resultados:

Os motivos da participação foram complementos de capitais. Uma das inqueridas

afirmou que o motivo de imagem esteve fora de cogitação, uma vez que são pessoas

com alguma imagem no mercado quanto ao ramo de actividade e carácter do próprio

promotor.

Quanto à questão de conhecimento do produto, uma das inqueridas já o conhecia.

Conforme resposta do mesmo, este conhecimento deu-se através da Câmara de

Comércio, pelo que pude constatar que, o facto de ser uma pessoa com título de técnico

superior, talvez tenha facilitado um pouco no acesso ao produto, contrariamente à outra

inquerida, que não o conhecia.

As inqueridas foram inânimes em afirmar que o produto CR não é suficientemente

divulgado na classe empresarial.

Formas de investimento em capital de risco

As empresas Start-Up foram as que receberam investimentos. Pois, conforme entrevista,

à Promotora as outras formas ainda não foram experimentadas, pelo que pressupõe-se

que a actividade de capital de risco em Cabo Verde é bastante incipiente.

Page 61: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

61

Situação das participadas após o aporte de capital de risco

De acordo com a resposta das participadas constata-se que com o aporte de capital

sentiram algumas melhorias, sendo a rentabilidade económica e financeira foi a que

mais sofreu alteração. A melhoria em termos de qualidade de gestão, imagem externa da

empresa, nível de competitividade reflectiu apenas numa participada. As outras

melhorias que se podiam sentir como inovação tecnológica e volume de negócio não se

reflectiu em nenhuma das participadas.

Mecanismos de saída/desinvestimento

Como é óbvio, a A Promotora, como qualquer outra sociedade de capital de risco, tem

como estratégia desinvestir quando for a altura devida, que normalmente acontece com

a maturação e valorização do negócio. Segundo o relatório de 2007 a sociedade

desinvestiu de mais uma empresa, totalizando assim 3 (três) desinvestimento realizados.

A forma utilizada para a saída das participadas foi a recompra por parte dos próprios

promotores. Um dos inqueridos explica que a venda da participação a terceiros à

empresa, seria uma ameaça, por se tratar de um estranho e dai acarretar um conjunto de

situações que pode pôr em crise a empresa.

A estratégia de saída através de abertura de capital na bolsa ainda é um fenómeno por

acontecer, porque as PMEs não preenchem os requisitos para serem cotadas na bolsa.

Esse é mais um desafio ou mais um passo a dar futuramente, após a plena penetração do

produto no SFN.

Situação da participada após Desinvestimento

As duas inqueridas que responderam o inquérito afirmam que não notaram nenhuma

diferença, embora a parceria manteve-se por um período de 5 a 10 anos.

Page 62: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

62

As participadas que responderam o inquérito avaliam o desempenho de A Promotora

como razoável.

Uma inquerida aconselha outras empresas e empreendedores a financiarem via CR

enquanto a outra não aconselha, e o mesmo acontece quando esta última responde a

pergunta 13 do inquérito em anexo, pois se tiver um novo projecto, CR não seria a

alternativa escolhida.

Quanto às unidades associadas do governo, apenas uma respondeu o inquérito, onde,

segundo o ponto de vista da mesma, a introdução do produto no sistema financeiro

cabo-verdiano teve pouca influência na resolução de dificuldades relacionadas com os

recursos financeiros e de gestão das PMEs, verificando-se o mesmo quanto às

perspectivas dos pequenos e médios empresários.

Ainda, segundo a mesma, a introdução do produto não colmatou a insipiência do

sistema financeiro nacional, pelo que a solidez do sistema não alterou, embora fora visto

como uma das alternativas que poderia contribuir para a melhoria da situação.

Page 63: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

63

CAPITULO IV – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

Conclusão

Ao final das análises, com base no material bibliográfico consultado, foi possível

constatar que são os EUA o país onde o capital de risco tem maior expressão e apresenta

maior volume de investimentos de capital de risco no mundo. O CR é tido como uma

das causas do desenvolvimento económico que os EUA conheceu. Como um produto

voltado para as micro, pequenas e médias empresas, que são consideradas como aquelas

que mais empregam pessoas e que consequentemente contribuem significativamente

para a diminuição do desemprego, é um grande alavancador da economia de qualquer

país.

Conclui-se ainda que o capital de risco é uma alternativa viável de financiamento tanto

para as PMES como para os projectos de empreendedorismo.

As operações de financiamento via capital de risco assumem uma importância

fundamental para a nova geração de empresários empenhados na criação de

empreendimentos, empregos, produtos e serviços inovadores, exportações e

rendimentos fiscais para os países.

Constata-se que CR não é solução adequada para todas as necessidades financeiras das

empresas, pois estas devem combinar, de forma adequada, o capital próprio e de

terceiros.

Da análise à literatura sobre o CR depreende-se que este instrumento financeiro se

traduz num investimento em capitais próprios. Ou seja, não é uma dívida, mas sim um

investimento colocado, assumindo idêntico nível de risco que os promotores iniciais

assumem no negócio. O capitalista de risco é um parceiro que se alia a quem criou uma

nova ideia e com eles partilha o risco de desenvolvimento do negócio.

Page 64: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

64

O endividamento é completamente distinto, pois baseia-se no fornecimento de capital

alheio, sendo remunerado por via do pagamento de uma taxa de juro e com exigência de

garantias. No capital de risco para além do dinheiro, o investidor também aplica parte de

seus conhecimentos e ajuda na gestão da empresa.

Ainda conclui-se que a meta do empreendedor e do investidor é agregar valor à

empresa.

Constata-se que Cabo verde, pelas suas características, país com grande percentagem de

PMES, tem fortes potencialidades nesta modalidade de financiamento. Constata-se

ainda que a criação de mecanismos eficazes de divulgação e promoção deste produto

junto da classe empresarial é algo que precisa ser melhor explorado.

Denota-se que a aposta na dinamização do mercado de CR ainda é pouco desenvolvida

no panorama nacional tendo em conta todas as vantagens advenientes desta actividade.

Entretanto, levando em consideração as palavras dos representantes do governo de Cabo

Verde\, percebe-se uma vontade de querer mudar o rumo, com aposta no

Empreendedorismo, como uma das ferramentas para o desenvolvimento da economia.

O produto precisa ser divulgado e trabalhado junto da classe empresarial, das

universidades e na sociedade em geral, porque pude constatar na pesquisa e abordagem

às pessoas formadas, técnicos de empresas, que desconhecem o produto e o seu

funcionamento.

Recomendações

- A imagem de capital de risco deve ser desligada da noção de pura participação

financeira;

Page 65: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

65

- Deve-se apostar na adequada divulgação, junto dos empresários e empreendedores,

não só das vantagens e possibilidade que esta alternativa de financiamento permite, mas

também pela sensibilização para aspectos intangíveis, acesso a uma rede de contactos, e

a própria credibilidade conferida às ideias;

- A criação de fundos de riscos, que seriam geridos pela A Promotora, SA seria uma

outra alternativa, pois este fundo (principalmente como capital semente num país como

Cabo Verde) permite aos promotores de novos projectos encontrar parceiros que

possibilitam alavancagem destes projectos;

- Seria aconselhável a realização de concurso nacional de Planos de Negócios, destinado

a inovação.

- Criação de programas para atrair e apoiar projectos ainda em fases iniciais.

Page 66: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

66

BIBLIOGRAFIA

A PROMOTORA. (sd), Capital de Risco – um aliado estratégico, in www.cgd.pt,

acessado em 20/02/2009.

_______. (sd), Capital de Risco – uma alternativa de financiamento, in www.cgd.pt,

acessado em 20/02/2009.

AUESL. (sd), Plano de Acção em matéria de Capital de Risco (PACR), in

http://www.europa.eu/scadplus/leg/pt, consultado em 30-04-09.

BANHA, Francisco Manuel Espingardeiro. (2000), Capital de Risco – os tempos estão

a mudar, Bertrand Editora, Venda Nova.

_______. (2007), A importância/vantagens do capital de risco para a empresa e para o

investidor, in http://www.gesbanha.blogs.sapo.pt, consultado em 29-03-2009.

BARRA, Mariana Corrêa. (2004), Capital de Risco: análise a partir das estratégias das

grandes corporações na realização de investimentos de risco em empresas de base

tecnológica, Relatório Técnico Individual, UNESP, São Paulo.

BARROS, Marc. (2009), Capital de Risco e “business angels” – alternativas no

financiamento ao empreendedorismo, ………….

BARTLETT, Joseph W. (?), Capital de Risco: um Manual Básico……..

BETA. O que é capital de risco e em que se traduz?, in

http://www.betascr.com/?sec=capital&=faqs, consultado em 29-03-2009

BINDER, Robert, FLORES, Javier. (2003), Resultados da pesquisa de capital de risco

para o primeiro trimestre de 2003, in http://www.venturecapital.gov/bol/venture.

BPNImofundos. (2009), O que é um Organismo de Investimento Colectivo?, in

http://www.bpnimofundos.pt/pt/faqs/2, consultado em 13-04-2009.

BRAVO, Ricardo, Os Investimentos Institucionais no Centro de Sistema Financeiro

Internacional, in http:// geein.fclear.unesp.br.

BUARQUE, Cristovan. (1994), Avaliação Económica de Projectos, Editora Campus,

Rio de Janeiro.

CAPITAL DE RISCO. (2009), in http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/Criação,

consultado em 13-04-2009.

Page 67: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

67

_______.. In http://www.portugalehightech.com/apoio/capitalrisco.aspx, consultado em

27-02-2009.

CARLOS, Guilherme Afonso Carvalho de. (2004), Inserção do capital de risco no

cálculo de portfolio eficiente no Brasil, Faculdade de Economia e Finanças do Ibmec,

Rio de Janeiro.

CARVALHO, Rui Moreira de. (2008), Os 10 mandamentos para o processo de

internacionalização, consultado em 9-04-2009.

CLOUD, Label. (2008), Capital de Risco – introdução, in

http://www.empreenderti.com/2008/09/capital-de-risco-introduo.html, consultado em

27-02-2009.

COMISSÃO EUROPEIA, Direcção-Geral para a Política Regional. (2002), Guia para

o financiamento de Capital de Risco na Política Regional, Centre for Strategy &

Evaluation Services, Bruxelas.

COMOTUDOFUNCIONA. (2009), Como funciona o Capital de Risco,

file://E\questao398.htm, consultado em 23-02-2009.

EMPREENDEDORISMO. (2009), http://pt.wikipedia.org/wiki/Empreendedorismo,

consultado em 29-03-2009.

ESPERANÇA, José Paulo, MATIAS, Fernanda. (2005), Finanças Empresariais, 1ª

edição, Dom Quixote, Lisboa.

ESTUDOS. (2009), Acesso ao financiamento por parte das PME portuguesas: um

potencial de crescimento económico e criação de emprego, in

http://www.gesbanha.pt/caprisc/estudos/ecinind.htm, consultado em 02-04-2009.

FARIAS, Josivânia Silva. (2006), O processo de internacionalização das empresas

brasileiras: o caso de Sergipe, RAP, Rio de Janeiro.

FILHO, José Rodrigues Farias, NETO, Júlio Vieira. (sd), Capital de Risco para

capitalização das Pequenas e Médias Empresas: um estudo bibliográfico sobre os

critérios para capitalização, IV Congresso Nacional de Excelência em Gestão, (sl).

GARCEZ, Marcos. (2005), O panorama brasileiro do Capital de Risco: características,

evolução e perspectivas, in http://www.terraprum.com.br/site/terraprum/inz, consultdo

em 15-03-2009.

Page 68: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

68

GERANEGÓCIO. (2009), Capital de Risco, coord. de Carlos Sequeira,

file://E:\caprisco2.htm, consultado em 23-02-2009.

GESVENTURE. (2006), Plano de negócios virtuoso, in

http://www.gesventure.pt/vcit2006/press/agrocapital.htm, consultado em 16-04-2009.

_______. (2009), Introdução ao Capital de Risco, in

http://www.gesventure.pt/cap_risco/introducao.asp, consultado em 16-04-2009.

GLOSSÁRIO DO CAPITAL DE RISCO. (2007), in

http://www.gesbanha.blogs.sapo.pt/143900.html, consultado em 13-04-2009.

GLOSSÁRIO. (2009), Capital de Risco, o que é?, in

http://www.rs4e.com/portal/CR_1, consultado em 09-04-2009.

GONÇALVES, et alli Financiamento à inovação, in http://www.google.com/search?,

consultado rm 16-04-09.

http://www.portaldaempresa.pt/CVE/pt/Criacao/Financiamento/CapitalRisco/SER_ca,

consultado em 13-04-2009.

IAPMEI. (2006), Guia Prático do Capital de Risco, in http://www.iapmei.pt/iapmei-

mstplartigo-01.php?temaid=103, consultado em 13-04-09.

_______. (2009), Capital de Risco

_______. (2009), Capital de Risco, in http://www.iapmei.pt/iapmei-art03.php?id=533,

consultado em 27-02-2009.

_______. (2009), Novo regime do Capital de Risco e Fundo de Sindicação de Capital de

Risco, in http://www.iapmei.pt/iapmei-art-03.php?id=1533, consultado em 30-04-2009.

_______. Capital de Risco in http://www.portaldaempresa.pt, consultado em 09-04-

2009.

LA ROVERE, Renata. 1999, em Grupo de Economia da inovação – Instituto de

economia da UFRJ

LACERDA, António Correia de. (2008), Internacionalização das empresas brasileiras,

in http://terramagazine.terra.com.br/interna/0, consultado em 09-04-2009.

MENDES, José Manuel Correia. (2002), Selecção e encaminhamento de projectos de

investimentos: caso SEBRAE-RS, BRDE E CRP, URGS, Porto Alegre.

NABHAN, Fernando Mansour. (2004), Principais riscos envolvidos na decisão de

investimentos em concessões rodoviárias no Brasil, Monografia (MBA em

Page 69: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

69

Gerenciamento de Empresas e Empreendedorismos na Construção Civil) – Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo

NETO, Mário Casale. (2007), Um estudo sobre o capital de risco com foco em

Pequenas e Médias Empresas brasileiras in http//:www.prod.eesc.usp.br, consultado em

08-05-09.

PAULA, Jorge de (sd). FINEP-Praia do Flamengo. Rio de Janeiro, RJ Brasil.

PINTO, Luciane F. Gorgulho (sd.). Capital de risco: uma alternativa de financiamento

às Pequenas e Médias Empresas de Base Tecnológica – o caso do contec

PORTAL DO EMPREENDEDOR. (2009), Rede de Informação – financiamento –

Capital de Risco, in http://www.empreendedor.ifdep.pt/index.php?=optinon=com,

consultado em 29-03-2009.

PRIME. (2009), Capital de Risco nas novas tecnologias, in http://www.prime.min.pt,

consultado em 13-04-2009.

PRIME. (2009), Programa, in http://www.prime.min-

economia.pt/PresentationLayer/prime_CTexto_00.aspx?active..., consultado em 13-04-

2009.

RIBEIRO, Leonardo, ALMEIDA, Martinho Isnard Ribeiro de Almeida. (2005),

Estratégia de saída em Capital de Risco, R. Adm., v.40, nº1, p.55-67, São Paulo.

RODRIGUES, Artur Jorge e ARMADA, Manuel José da Rocha. (2009),

http://www.portugalzone.com/?p=41628, consultado em 07-04-2009.

UNI>ERSIA, Knowledge Wharton, Receitas para a Internacionalização das empresas,

consultado em 09-04-2009.

Page 70: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

70

ANEXO – Contrato de Accionista

Page 71: Monografia Capital de Risco - uma alternativa de ... · uma boa opção” ... que desenvolveram estudos sobre o capital de risco, ... permitisse avançar com uma ideia e transformá-la

71

APÊNDICE – Inquérito e modelo de Entrevista aplicado