monografia: a angústia na concepção kierkegaardiana da existência do indivíduo

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TALES MACEDO DA SILVA A ANGÚSTIA NA CONCEPÇÃO KIERKEGAARDIANA DA EXISTÊNCIA DO INDIVÍDUO Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Filosofia da ni!ersida Cat"li#a de $ernam%u#o& #omo re'uisi par#ial para a o%tenção do grau de (a#)arelado em Filosofia* +rea de #on#entração, Filosofia Contempor-nea Orientador, $rof* Dr* .arl/0ein1 Ef2 3ECIFE / $E 4567 1

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Essa monografia, tem como objetivo mostrar uma interpretação interessante sobre o conceito de angústia e como ela influencia na existência do indivíduo. O texto baseia no pensamento do filósofo Sören Aabye Kierkegaard.

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INDIVÍDUO
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Filosofia da ni!ersidade Cat"li#a de $ernam%u#o& #omo re'uisito par#ial para a o%tenção do grau de (a#)arelado em Filosofia*
 +rea de #on#entração, Filosofia Contempor-nea
Orientador, $rof* Dr* .arl/0ein1 Ef2en*
3ECIFE / $E
INDIVÍDUO
Monografia apro!ada #omo re'uisito 8 o%tenção do t9tulo de (a#)arel em Filosofia& pela ni!ersidade Cat"li#a de $ernam%u#o& por uma #omissão e:aminadora formada pelos seguintes professores,
 Apro!ado em, ;;;<;;;<4567*
 ;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;;  $rof* Dr* Andr? Lui1 0olanda de Oli!eira =A!aliador>
2
verdadeiramente esta nova conceitualização
todos os meus amigos e parentes que me
incentivaram e me apoiaram na busca e
compreensão deste sentimento de angústia na
vida do indiv!duo.  A estes, desejo o brilho da
existência guiados pela ", pela esperança e
 pela liberdade.
AGRADECIMENTOS
 A Deus& pelo dom da min)a !ida e pelo amor in#ondi#ional 'ue te!e e tem por 
#ada um de seus fil)os=as>& parti#ularmente& por #amin)ar #omigo ao longo do
per#urso da min)a e:ist@n#ia*
 Aos meus 'ueridos pais e familiares 'ue me #riaram e ensinaram a apro!eitar 
o 'ue a !ida nos ofere#e& desfrutando/a #om responsa%ilidade* Gratidão& so%retudo&
pelo amor e #arin)o 'ue me ofertam a #ada dia*
 Ao $rofessor Dr* .arl 0ein1 Ef2en& pelo e:emplo& disposição& pa#i@n#ia e
moti!ação #om'ue me impulsionou na #ondução desta monografia*
 Ao meu amigo e professor& Dr* Degislando "%rega de Lima& 'ue #om suas
dis#ussBes e 'uestionamentos #ontri%uiu para o aperfeiçoamentodo presente
tra%al)o*
  Congregação do Sant9ssimo 3edentor& 'ue me deu oportunidade para
ini#iar o #urso e #res#er intele#tual e espiritualmente*
 Aos professores=as> do Curso de Filosofia da ni!ersidade Cat"li#a de
$ernam%u#o& pelas aulas& pela dedi#ação& e pela aprendi1agem 'ue nos
propor#ionaram*
  ni!ersidade Cat"li#a de $ernam%u#o& 'ue durante os tr@s anos do Curso
de Filosofia&disponi%ili1ou re#ursos e meios para o %em de seus estudantes*
$or fim& aos meus amigos de sala de aula& 'ue dei:aram mar#as em meu
#oração as 'uais !ão ser lem%radas por toda a min)a e:ist@n#ia* A todos o meu
muito o%rigado
 

 
$ indiv!duo, na sua angústia de não ser culpado, mas de passar por sê%lo, torna%se culpado& 
#  A angústia a possibilidade da liberdade. ' o medo dessa possibilidade. A angústia o puro sentimento do poss!vel.  (e houver coragem de ir mais alm, se constatar) que a então realidade ser) muito mais leve do que era a possibilidade. * o grande salto ser) o mais di"!cil, ser) cair nas mãos de +eus, ser) a coragem& 
SÖREN AABYE KIERKEGAARD
RESUMO
O presente tra%al)o propBe uma refle:ão so%re o #on#eito de angstia& %aseado no
pensamento do fil"sofo e:isten#ialista SrenAa%e.ier2egaard* Esta refle:ão parte
da o%ra prin#ipal do fil"sofo, $ conceito de Angústia, e tem #omo o%Heti!o mostrar 
#omo este sentimento se torna presente e se mo!e na e:ist@n#ia do indi!9duo* $ara
isso& ? ne#essrio #on)e#er os #amin)os e:isten#iais per#orridos do pr"prio
.ier2egaard& e #omo foram pensados e aprofundados na sua filosofia e:isten#ial*
Tenta/se& a partir do seu proHeto de !ida& #)egar 8 #ompreensão do #on#eito de
angstia& sua #onstrução e signifi#ados ela%orados no de#orrer da sua o%ra* $or 
fim&a refle:ão se de%ruça so%re o sentimento de angstia na e:ist@n#ia do indi!iduo&
angstia #omo possi%ilidade de li%erdade& perpassada pelo medo da es#ol)a a ser 
feita* O sentimento do poss9!el entendido #omo #ondição de uma trans#end@n#ia
'ue se inspira na f? e ? mar#ada por um en#ontro #om o A%soluto*
Palavra-!av", AngstiaJ Indi!9duoJ Li%erdade*
6
ABSTRACT
T)e present Kor2 proposes a refle#tion on t)e #on#ept of an:iet& %ased on t)e
t)oug)t of t)e E:istentialist p)ilosop)er SrenAa%e .ier2egaard* T)is refle#tion is
%ased on t)e main Kor2 of t)e p)ilosop)er& The concept o" Anxiet & and aims to
s)oK )oK t)is feeling %e#omes present and mo!es in t)e e:isten#e of t)e indi!idual*
For t)is& it is ne#essar to 2noK t)e pat)s tra!ersed .ier2egaards oKn e:istential&
and as Kere t)oug)t in )is deep and e:istential p)ilosop)* It tries& from .ier2egaard
s life proHe#t& to understand t)e #on#ept of an:iet& its #onstru#tion and its means
ela%orated in t)e #ourse of )is Kor2* Finall& t)e dis#ussion deals Kit) t)e feeling of 
an:iet in t)e e:isten#e of t)e indi!idual& an:iet as possi%ilit of freedom& full % fear 
of #)oi#e to %e made* T)e feeling of possi%le understood as a #ondition of a
trans#enden#e t)at is inspired % t)e fait) and is mar2ed % a meeting Kit) t)e
a%solute*
7
KIERKEGAARD'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' ..
6*6 N $rimeiros passos******************************************************************************** 66 6*4 / Conte:to filos"fi#o****************************************************************************** 6 6*P N As o%ras do e:isten#ialista***************************************************************** 6Q
CAPÍTU)O II * O )UGAR EXISTENCIA) DA ANGÚSTIA'''''''''''''''''''''''''''''''''' /.
4*6 N A pedagogia da angstia******************************************************************* 46
4*4 N O pe#ado )ereditrio************************************************************************** 4R
  4*4*6 N Angstia o%Heti!a*********************************************************************** 4Q
  4*4*4 N Angstia su%Heti!a********************************************************************* 4
CAPÍTU)O III * A ANGÚSTIA NO INDIVÍDUO'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' 0/
P*4 N A es#ol)a do indi!9duo*********************************************************************** P4
P*6 N Li%erdade e angstia************************************************************************** P
P*P N A angstia diante o mal e o %em******************************************************** PR
CONC)USÃO'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' 12
RE,ERÊNCIAS''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' 1/
INTRODUÇÃO
os dias atuais& 'uando se fala de algu?m angustiado& logo se supBe 'ue o
indi!9duo esteHa sofrendo #om a perda de um amigo ou de um parente& ou at?
mesmo 'ue esteHa diante de uma de#isão a ser tomada e #apa1 de mudar o rumo de
sua !ida* Esta ? a Uimagem 'ue a pala!ra angstia e!o#a em muitas pessoas da
nossa so#iedade* O pensamento 2ier2egaardiano amplia a perspe#ti!a de entendimento da
angstia na medida em 'ue a #ompreende #omo inerente 8 pr"pria nature1a
)umana& o 'ue signifi#a di1er 'ue todos os seres )umanos #on!i!em #om este
sentimento de angstia* A e:peri@n#ia )umana de angstia desempen)a um forte
papel no pensamento filos"fi#o de SrenAa%e.ier2egaard* este sentido& ele
dedi#ou a ela toda uma o%ra intitula, UO Con#eito de Angstia 6& es#rita no ano de
6Q77 e na 'ual rela#iona a angstia #om o estado de ino#@n#ia& #om a #ulpa& #om o
pe#ado )ereditrio e #om o pe#ado de Adão* ma %re!e a%ordagem so%re a !ida do fil"sofo e:isten#ialista se fa1
ne#essria& pois ? a partir dela 'ue se pode per#e%er #omo este sentimento de
angstia& 'ue muitos pugnam& en#ontra/se espe#ialmente na )ereditariedade do
fil"sofo* $retende/se tam%?m dis#orrer so%re a sua fundamental fonte de
pensamento& #omo tam%?m as suas prin#ipais o%ras* Em pou#as pala!ras& tenta/se
es#lare#er ao leitor o por'u@ da angstia no indi!9duo e o 'ue esta trs para o seu
#res#imento indi!idual na %us#a de uma e:ist@n#ia aut@nti#a* Esta %re!e
a%ordagem #orresponde ao primeiro #ap9tulo deste tra%al)o* O segundo #ap9tulo& 'ue ? uma tentati!a de #on#eituali1ação da pr"pria
angstia& ini#ia/se #om um ensinamento do 'ue ela ? na !isão do fil"sofo e a partir 
de 'ual momento o suHeito se aper#e%e #om esse sentimento ou se o mesmo H est
presente em #ada indi!9duo desde a sua entrada na e:ist@n#ia* Depois&analisa/se o
ponto mais intrigante da o%ra UO #on#eito de angstia& o pe#ado )ereditrio& o 'ual
o pr"prio .ier2egaard su%di!ide em dois tipos& a sa%er& angstia o%Heti!a e angstia
su%Heti!a* O ter#eiro e ltimo #ap9tulo& a%orda a angstia na !i!@n#ia do indi!9duo& ou
seHa& de 'ue forma podemos en#ontrar a angstia 'ue& neste #aso& ? a pr"pria
1 Obra de referência durante todo o trabalho.
9
 
possi%ilidade de es#ol)a* W nas es#ol)as 'ue est a angstia* O fato do ser )umano
en#ontrar/se diante de es#ol)as o torna um ser angustiado* Verifi#a/se& ainda& se )
uma relação entre angstia e li%erdade* Se e:iste& 'ual seria essa relação e #omo
ela atua na e:ist@n#ia do indi!9duoX $or fim& pretende/se mostrar 'ue a angstia& por 
interm?dio da f?& sal!a o indi!9duo& pois a angstia o le!a a refletir so%re suas açBes
e& assim& o fa1 #res#er na sua e:ist@n#ia* Finalmente& o%Heti!a/se empreender a %us#a de uma #on#eituali1ação da
angstia intrinse#amente ligada 8 e:ist@n#ia do pr"prio indi!9duo*
CAPÍTU)O I - ITINER+RIO ,I)OS,ICO DE SÖREN AABYE KIERKEGAARD
10
 
Este #ap9tulo tem #omo o%Heti!o tratar& ini#ialmente& da )istoria de !ida do
fil"sofo dinamar'u@s Sren.ier2egaard* Em seguida& faremos uma rememoração
filos"fi#a do indi!9duo formati!o de .ier2egaard& de modo a au:iliar na grande
dis#ussão so%re o #on#eito de angstia* E& por fim& em um %re!e relato a%ordar as
prin#ipais o%ras do primeiro fil"sofo e:isten#ialista*
.'.* Pr34"3r%5 6a55%5
Em uma #idade da Dinamar#a #)amada Copen)ague& no dia #in#o de maio
de 6Q6P& nas#ia o menino 'ue futuramente iria ser um dos grandes pensadores do
tempo moderno e #ontempor-neo& SrenAa%e.ier2egaard* as#eu no ano 'ue a
Dinamar#a tin)a #)egado 8 fal@n#ia& depois de seis anos de guerra intil #om a
Inglaterra* C)egou/se a #)amar a Dinamar#a de um pa9s Uen#antado de
medio#ridade N e:pressão usada pelo pr"prio Ho!em* .ier2egaard era de uma
fam9lia seguidora fiel de Martin Lutero =Luteranismo>& esta religião tin)a #omo
#ara#ter9sti#a %astante enfati1adora, o pietismo e a melan#olia* Cara#ter9sti#a esta
'ue perpassou para a fam9lia do Ho!em .ier2egaard*
Yuando ainda era pe'ueno se interessa!a muito por leituras seHa literatura&
psi#ologia& teologia e a pr"pria filosofia* Era #onsiderado um menino dotado pela sua
orat"ria diante do p%li#o* Era tanto 'ue o seu pr"prio pai& !endo seus interesses por 
grandes leituras e tam%?m o%ser!ando 'ue ele tin)a uma grande fa#ilidade para
aprender& ordenou 'ue o Ho!em 'uando entrasse na es#ola não fosse o mais
inteligente da mesma& mas sim apenas fi#asse na ter#eira #olo#ação referente aos
demais*
Seu pai& Mi#)ael $edersen .ier2egaard& era #omer#iante e se #asara
no!amente #om a sua dom?sti#a* Ao #ontrario do primeiro #asamento de Mi#)ael&
'ue a#a%ou sem nen)um fil)o& o segundo foi fe#undo& tendo ele sete fil)os* Sua
mãe e seu pai H eram de idade a!ançada 'uando .ier2egaard nas#eu, U=***> esse
ltimo fil)o4 representa!a para ele o fil)o da !el)i#e =LE (LAC& 455P& p*P6>*
2 ão foi 8 toa 'ue Sren futuramente sa#rifi#ara/se em !ista desta mesma perspe#ti!a seu o%Heti!o era ser #omo o #a!aleiro da f? =A%raão>& 'ue tudo perdeu para tudo re#e%er de Deus* Sendo ele tam%?m um no!o Isaa#& H 'ue era o fil)o da !el)i#e& assume/se #omo sa#rif9#io !i!o& sinal tam%?m de s9ntese& pare#endo e:istir dois indi!9duos =A%raão e Isaa#> 'ue se posi#ionam numa relação de f?&
11
 
 Apesar de ter nas#ido em Copen)ague& sua fam9lia era de uma aldeia&
#)amada Seading& lo#ali1ada a Oeste de Zutl-ndia* Foi a9 'ue o pai de .ier2egaard
re#e%eu uma e:igente& r9gida e austera influ@n#ia para a sua !ida* L ele aprendeu a
rela#ionar/se #om o Cristo #)agado& 'ue o fa1ia re#ordar a sua #ondição de pe#ador*
Com isto Mi#)el .ier2egaard& na sua Hu!entude ergueu/se #om sua fria e
amaldiçoou a Deus& por t@/lo #olo#ado na'uela aldeia e #om pou#as e#onomias& ou
seHa& de uma fam9lia po%re* $or isso& surgiu em Mi#)el um medo de 'ue todas as
açBes negati!as 'ue passa!am em sua !ida eram por #ausa desta maldição 'ue ele
 Hogou #ontra Deus& ou seHa& e:istia um pensamento um pou#o Hansenista& no 'ual
Deus era um #astigador& pensamento este& surgido no Luteranismo* Assim& pensa!a
ele 'ue de!ido a este episodio na sua Hu!entude o pr"prio Deus #astiga/o #om a
morte de seus #in#o fil)os e de sua !ida passar por uma melan#olia total*
O Ho!em .ier2egaard )erdou de seu pai a melan#olia e a angstia& de!ido 8
formação rigorosa e e:ageradamente es#rupulosa 'uanto ao pe#ado, Uo Ho!em
Sren re#e%e desde #edo uma formação religiosa dominada por um pai se!ero& pelo
temor do Hu91o& pela in#erte1a da sal!ação& pelo desd?m do mundo e pelo es#-ndalo
do Cristo ensanguentado e martiri1ado =LE (LAC& 455P& p* P6>*
 A relação #om seu pai tin)a para o fil"sofo uma import-n#ia fundamental* $or 
isso o menino .ier2egaard& !i!en#iou as dores do pai& isto ?& ele tomou #omo suas
os pe#ados 'ue o pai tin)a #ometido* Yuando o .ier2egaard nas#eu& o pai H era o
)omem !el)o de anos e a mãe tin)a 7* .ier2egaard em nen)uma o%ra fala dela&
mas sa%emos por outras fontes 'ue ele a ama!a muito e 'ue ela era de nature1a
mais le!e e menos triste 'ue o do marido* Sren foi %ati1ado no dia P de Hun)o& na
IgreHa do Esp9rito Santo& seguindo os pre#eitos religiosos da fam9lia .ier2egaard*
a sua inf-n#ia um fato muito #[mi#o e tam%?m refle:i!o era seu apelido de
Ugarfo& surgido numa #ena dom?sti#a, Certo dia& por o#asião da Hanta& ol)ou para a
#omida do seu prato e disse, Ueu sou um garfo& e !ou l)e espetar* Este fato poderia
ser muito %anal ou poderia a menos passar por uma %rin#adeira de #riança& mas
o%ser!amos 'ue no futuro ele se tornar um #riti#o se!ero de instituiçBes e autores
aos 'uais !ai se opor Uespetando/os ironi#amente& e uma das suas prin#ipais
espetadas foi ao sistema )egeliano
esta& 'ue e:pressa #omprometimento e sa#rif9#io pelo 'ue se #r@*
12
 
Yuando a mãe de .ier2egaard !eio a fale#er& ele H esta!a #onstantemente
ligado ao pai& ao ponto 'ue a melan#olia do pai a#a%ou passando para o Ho!em&
#omo tam%?m todos os interesses 'ue o pai tin)a para o futuro do menino
.ier2egaard* Seu pai& muitas !e1es& passa!a os momentos de melan#olia em %ares&
fi#ando totalmente %@%ado& pensa!a ele 'ue na %e%ida iria es'ue#er os sofrimentos
e agonias de sua !ida* Em um dia& nestes momentos de em%riague1 ao retornar 
para #asa en#ontra o Ho!em fil)o e #omentou so%re dois grandes segredos e disse
'ue no tempo #erto ele iria sa%er* o dia oito de agosto de 6QPQ& H nos ltimos
momentos de Mi#)el .ier2egaard& o pr"prio relem%rou para seu fil)o os dois
grandes segredos e nestes segredos grandes pe#ados mortais* $rimeiro era o fato
'ue 'uando ele era ainda uma #riança& tomado por uma fria& tin)a maldiçoado a
Deus por ter nas#ido na'uela aldeia e na'uela fam9lia* O outro era #onsiderado mais
pesado para os #ristãos luteranos* Yuando ainda #asado #om a primeira mul)er&
'uando esta!a enferma& Mi#)el se en!ol!eu #om a empregada 'ue futuramente iria
ser a mãe do Ho!em SrenAa%e.ier2egaard* A partir deste dia& .ier2egaard tomou
a #ulpa do pai de uma forma 'ue para a'ueles 'ue nun#a #on)e#eram o seu pai&
!iam nele a figura do sen)or Mi#)el $edersen .ier2egaard* Foi neste #onte:to 'ue
se deu a sua filosofia& partindo da angstia 'ue sentia em sa%er 'ue o pai tin)a
#ometido este pe#ado e deste pe#ado ele teria nas#ido*
este #onte:to da !ida do fil"sofo e:isten#ialista o#orre o auge da sua
filosofia* Yuando ou!imos falar de .ier2egaard& !emos 'ue ele ? #ara#teri1ado pela
melan#olia& angstia e desespero& mas de!emos o%ser!ar 'ue o pr"prio .ier2egaard
a!isa 'ue sua filosofia partiu da sua !ida& ou seHa& da sua !i!@n#ia #om o seu pai*
 Assim de!emos entender primeiramente #omo ele #)egou a ser 'uem ele foi / um
indi!9duo angustiado e desesperado*
W importante salientar 'ue .ier2egaard ? um fil"sofo 'ue suspende o mundo
e os pro%lemas 'ue e:istem& para se dedi#ar espe#ialmente ao ser em si* W a partir 
disto 'ue ele !ai tirar a atenção das reali1açBes do mundo e !ai passar a %us#ar 
uma e:ist@n#ia aut@nti#a de si mesmo& surgindo deste modo a famosa #orrente do
e:isten#ialismo& no 'ual ele ? o primeiro a pensar indi!idualmente*
13
 
Segundo Fran#e Farago& ) uma estreita ligação entre sua relação #om seu
pai e sua melan#olia* $ara o autor,
 A )ist"ria de Sren.ier2egaard ? a de uma dis#ord-n#ia 8 pro#ura da graça& ou seHa& da unifi#ação do eu* UDeus me #on#edeu a força de !i!er #omo um enigma N es#re!e Sren.ier2egaard em seu +i)rio& em 6Q7R* E& em 6Q7Q, UMin)a !ida #omeçou por uma terr9!el melan#olia& foi pertur%ada desde min)a primeira inf-n#ia em sua %ase mais profunda N uma melan#olia 'ue durante algum tempo me pre#ipitou no pe#ado e na de!assidão e& no entanto& )umanamente falando& era 'uase mais insensata 'ue #ulpada* 0a!ia nele uma #li!agem ps9'ui#a 'ue o torna!a in#apa1 de enganar 'uem o #er#a!a& fa1endo/o pare#er #)eio de !ida e alegria& ao passo 'ue& nos %astidores de sua alma& )ou!e sempre dentro dele uma #riança a #)orar* A #ausa dessa melan#olia não ? e!identemente un9!o#a* A predisposição para o )umor depressi!o era amplamente& #ompartil)ada pela fam9lia* Mas a esse fundamento fisiol"gi#o& )oHe re#on)e#ido& soma!a/se o tormento de uma )ist"ria =FA3AGO& 4566& p* 4>*
.ier2egaard tam%?m estuda teologia por ordem de seu pai& mas ele a#a%a
dei:ando/a por'ue se interessa mais por assuntos filos"fi#os e literrios* De#orrente
da morte do pai& de#idiu #ontinuar o 'ue seu pai deseHa!a 'ue era a #on#lusão do
#urso de teologia em 6Q76& #om a tese #$ conceito de ironia- constantemente
re"erido a (crates& * m ano antes& em 6Q75& noi!ara #om a mul)er de sua !ida,
3egina Olsen* Este fato o le!ar a uma densa refle:ão so%re o seu fato de e:istir no
mundo* Este tempo ? #onsiderado para ele um tempo de grande #rise& pois ao
#on)e#er Olsen em 6QPR& H se apai:ona #)egando a di1er 'ue ela era a sua alma
g@mea& mas mal ele sa%ia 'ue esta afirmação iria le!/lo a uma profunda angstia e
um grande desespero* o ano de 6Q76& salientando 'ue não teria #apa#idade de
!i!er #om uma pessoa& ou seHa& !i!er o matrim[nio #omo o pr"prio ? proposto&
de#ide romper o noi!ado #om 3egina Olsen* E um momento muito importante na
sua maturação filos"fi#a e en#ontra e:pressão em uma das suas anotaçBes
UOu***Ou***& 'ue est no li!ro UDirio de um Sedutor* O pr"prio e:isten#ialista fe1
pare#er 'ue 3egina Olsen ti!esse a#a%ado o noi!ado& pois não sofreria reHeição pela
sua fam9lia e sua so#iedade* Com esta atitude o%ser!amos 'ue .ier2egaard ainda
tem um grande amor pela Ho!em& tanto amor 'ue fe1 poup/la de tanto
sofrimento*Pa o%ra /ier0egaard & Le (lan# afirma, U? poss9!el #onHeturar& igualmente&
3Ou seHa& Sren.ier2egaard não deseHa!a 'ue ela parti#ipasse da melan#olia 'ue ele !i!ia e !ia 'ue ela s" estaria longe disso se ti!esse longe da presença de .ier2egaard* =At? )oHe& muitos #omentadores tenta pro#ura ra1Bes !er9di#as para esta ação em relação ao rompimento do noi!ado&
14
 
'ue um .ier2egaard 'ue ti!esse #onser!ado a lem%rança do \terremoto] e do
\sa#rif9#io] de seu pai se sentisse in#omodado diante de seu pr"prio deseHo e da
angstia de fa1er 3egina& moça tão Ho!ial& entrar em seu mundo espiritual pleno de
desolação* =LE (LAC* 455P* p* P>
Depois dessa sua es#ol)a& a 'ual a pr"pria 3egina não #onseguia entender&
.ier2egaard partiu para (erlim em 6Q76& #)egando l #omeçou a se aprofundar nas
teorias filos"fi#as& estudando no #urso de S#)elling& pois espera!a uma e:pli#ação
da realidade 'ue não en#ontra!a em 0egel N fil"sofo alemão 'ue era muito
estudado no s?#ulo ^I^* este tempo na #apital alemã& .ier2egaard !ai ao teatro
ou!ir Don Gio!anni de Mo1art& o%ra em 'ue o seu amado pai admira!a* E foi atra!?s
deste personagem 'ue o pr"prio .ier2egaard se assemel)ou no seu tempo de
%o@mio& 'uando ele de#idiu dei:ar tudo 'ue era !oltado para estudos e #urtir a !ida&
#om sa9das #om amigos para %oates& onde era o #entro das atençBes #om suas
piadas e %rin#adeiras* Al?m disso&emprega!a o seu tempo %us#ando sedu1ir !rias
mul)eres sem nen)um #ompromisso* Com isto& o%ser!amos uma semel)ança #om
a "pera de Mo1art& Don Gio!anni* $osteriormente 'uando o nosso fil"sofo !ir a
es#re!er so%re os estdios da e:ist@n#ia& ? esse o per9odo 'ue !ai inspir/lo a
denominar de Uest?ti#o& so%re o 'ual !amos a%ordar mais a frente*
o dia 4 de outu%ro de 6Q& #ansado ? en#ontrado deitado em plena rua&
não sa%endo o moti!o& ? le!ado para o )ospital& onde passa um %om tempo e os
m?di#os não des#o%rem o moti!o da sua fragilidade* .ier2egaard nega/se a re#e%er 
o ni#o irmão 'ue l)e resta* 3e#usa os ltimos sa#ramentos* E a 66 de no!em%ro&
Sren.ier2egaard morre aos 74 anos lutando pela !erdade e pelo #ristianismo
parado:al* O fil"sofo e:isten#ialista repousa no #emit?rio da Frue.ir2e de
Copen)ague*
.'/ * O %78"98% :3l%5;:3%
este #onte:to de sua !ida& .ier2egaard& !ai ela%orar grandes e #omple:os
#on#eitos* 3e!endo a traHet"ria da sua e:ist@n#ia& o%ser!amos 'ue o e:isten#ialista
#ristão %aseou seu pensamento filos"fi#o totalmente na sua !ida* Muitos pensam
mas não en#ontrar por'ue .ier2egaard não e:pressar uma prin#ipal #ir#unst-n#ia do fato o#orrido N o 'ue temos at? )oHe ? o 'ue foi dito anteriormente>
15
 
'ue o fato de .ier2egaard#on#eituali1ar espe#ialmente a angstia o torna um lou#o&
mas de!emos entender #omo ele #on#reti1ou estes #on#eitos e per#e%emos isto na
pr"pria !ida do fil"sofo*
W %om salientar 'ue a filosofia de SrenAa%e.ier2egaard foi influen#iada
pela filosofia de 0egel7& mesmo não ar#ando em totalidade #om a filosofia )egeliana*
Todos 'ue se dedi#a!am a estudar sua filosofia se apai:ona!am& foi assim 'ue
0egel #onseguiu um ponto de desta'ue neste s?#ulo* Mas& depois de .ier2egaard
se aprofundar na filosofia do alemão& ele se op[s 8s ideias )egelianas&
prin#ipalmente ao a:ioma, Uo 'ue ? ra#ional ? real& todo real ? ra#ional& ou seHa&
tudo ? pensando na ordem de um sistema* Era #om isto 'ue .ier2egaard não
#omunga!a& nem #om o fato de 'ue tudo ? ra#ional* U$ara .ier2egaard& o
auto#on)e#imento s" poderia ser al#ançado no n9!el do su%Heti!o e não atra!?s da
ra1ão& o su%Heti!o de!eria ser o mais importante para os indi!9duos* a teoria de
0egel& por outro lado& a !ida se resumiria a uma ideia fora das !i!@n#ias =ETO&
4567& p* 65P>* $artindo desta #r9ti#a& o e:isten#ialista mar#a o s?#ulo ^I^& ?po#a em
'ue as ideias de 0egel predomina!am na sua região*
 A angstia foi o tema #orrente durante todo o pensamento de .ier2egaard&
pois ele pretendia defini/la em um #on#eito ni#o& mas sa%ia 'ue esta %us#a era
imposs9!el* $ensando assim a angstia e:iste na e:ist@n#ia do indi!iduo por'ue não
? aut@nti#a* $or isso .ier2egaard #omeçou uma %us#a por esta autenti#idade& onde
formula tr@s estdios independentes& ou seHa& não era ne#essariamente um #amin)o
o%rigat"rio 'ue o indi!iduo teria 'ue per#orrer& mas podia per#orrer por dentro de um
deles ou se fosse ne#essrio poderia #amin)ar por todos*
Os estdios são, Est?ti#o& 'uando o )omem !i!e para o a'ui e agora e !isa
sempre o pra1er instant-neo& a#reditando 'ue %om ? a'uilo 'ue ? %om e agrad!elJ
Wti#o& 'uando o  )omem passa a !i!er eti#amente& !ida pautada na seriedade
ordenada por de#isBes #onsistentes e padrBes morais* m e:emplo para isto ? o
#asamento& s9m%olo do estdio ?ti#o / neste estdio podemos o%ser!ar uma ordem
mais r9gida #orrespondente ao estdio anteriorJ e o 3eligioso& 'ue ? #onsiderado o
mais importante& pois ? um e'uil9%rio do primeiro estdio& 'ue s" ? di!ertimento e o
segundo& 'ue ? a luta pela so%re!i!@n#ia* este estdio o )omem %us#a a
4 Georg _il)elm Friedri#) 0egel& fil"sofo alemão 'ue !i!eu entre 6RR5 a 6QP6
16
 
!erdadeira !i!en#ia na F?* $ortanto& ? diante destes estdios 'ue o Ho!em
.ier2egaard tenta %us#ar uma e:ist@n#ia aut@nti#a para a sua !ida& tam%?m estes
estdios se tornam um pontap? ini#ial para o seu pensamento filos"fi#o*
Diante de tantos argumentos so%re sua filosofia& ? interessante e muito
importante salientar o seu #on#eito de angstia* Este sentimento& para o fil"sofo
dinamar'u@s& ? #onstituinte na nature1a )umana& ou seHa& e:iste desde o
nas#imento do )omem* Ele a#onte#e 'uando o )omem ? posto diante de um
pre#ip9#io de possi%ilidades& isto ?& 'uando o )omem esta diante de !rias es#ol)as*
$ara isto& .ier2egaard ela%orou um li!ro #om o t9tulo de UO #on#eito de Angstia& no
'ual e:pressar a Uangstia #omo pressuposição do pe#ado )ereditrio& a angstia
na progressão do pe#ado )ereditrio& a angstia #omo #onse'u@n#ia deste pe#ado
'ue #onsiste na aus@n#ia da #ons#i@n#ia do pe#ado& a angstia do pe#ado ou
angstia #omo #onse'u@n#ia do pe#ado no indi!iduo e a angstia #omo o 'ue sal!a
pela f? * este #amin)o tam%?m en#ontramos o desespero 'ue ? o deseHo do
)omem de entender Deus e analisa a luta )umana para eliminar as angstias 'uanto
8 imortalidade da alma& %us#ando assim& preen#)er o !a1io espiritual da sua
e:ist@n#ia*
 A partir destes grandes pensamentos ir #omeçar uma grande re!ira!olta na
%us#a de entender o 'ue seria a angstia& pala!ra 'ue amedronta mil)ares de
indi!9duos na so#iedade do nosso tempo* .ier2egaard se arris#ou primordialmente
na %us#a de um entendimento so%re a este 'uestionamento* $ara 'ue assim os
pensadores 'ue !ieram posteriormenteN #omo Sartre& 0eidegger& iet1s#)e N
tam%?m se 'uestionasse so%re esta forma angustiante de !i!er no mundo*
_ittgenstein era um grande leitor de .ier2egaard e admira!a/o 'uando %us#a!a o
#on#eito de angstia& pois para _ittgenstein não e:istia ningu?m 'ue pudesse
entender a angstia* Assim& para o fil"sofo austr9a#o a ni#a pessoa 'ue falou o 'ue
não se sa%ia falar foi o Ho!em Sren.ier2egaard e tam%?m Martin 0eidegger*
.'0 * A5 O<ra5 &% "9358"73al358a
 As o%ras de .ier2egaard se di!idem em duas partes* $or um lado& as o%ras
assinadas #om pseud[nimo são suas o%ras primas de #ontedo filos"fi#o<teol"gi#o
5 T9tulos de #ada #ap9tulo do li!ro UO #on#eito de angstia do fil"sofo e:isten#ialista*
17
 
e as o%ras edifi#antes 'ue ele assina!a no seu pr"prio nome* En'uanto a o%ra
pseud[nima apresenta !ariada anlise da e:ist@n#ia )umana& a parte edifi#ante de
sua o%ra resulta mais #ate'u?ti#a* O fil"sofo e:isten#ialista es#re!eu intensamente
durante o tempo de sua e:ist@n#ia a ponto de #riar um mo!imento filos"fi#o& o 'ual
!ai ser #on)e#ido um s?#ulo depois& #omo o E:isten#ialismo* Suas o%ras são
#omple:as& não podemos l@/las superfi#ialmente ou apenas tre#)os ou partes de
alguns de seus li!ros& pois poder ter uma #ompreensão e'ui!o#ada do pensamento
filos"fi#o do autor*
.ier2egaard tin)a fama de es#re!er muito e de ser dotado de grandes
#on)e#imentos* ão e:iste dentre as suas o%ras uma 'ue poderia di1er ser a mais
importante ou a mais #ompleta de seus pensamentos& mas sim poder9amos di1er 
'ue todos os seus es#ritos são !alorosos e de grande import-n#ia para a sua
filosofia* Detal)ando mais& e:iste 'uem faça um per#urso pelas o%ras do autor&
#onsiderando suas respe#ti!as ?po#as& a ast#ia na es#ol)a das pala!ras& ironia
#riti#a e uso da dial?ti#a* Z afirma o grande Adorno 'ue Unen)um es#ritor pro#ede
tão astu#iosamente na es#ol)a das pala!ras 'uanto .ier2egaard& nen)um pro#ura
es#onder tanto #om as pala!ras 'uanto ele& 'ue in#ansa!elmente se denun#ia #omo
`*** pol9#ia se#reta e sedutor dial?ti#o =ADO3O* 4565& p* P>*
Tam%?m ? interessante e:por 'ue o Ho!em .ier2egaard em algumas de suas
o%ras& usa de pseud[nimos in!entados pelo pr"prio autor* estes pseud[nimos
.ier2egaard se e:pressa por uma #omuni#ação indireta para os seus leitores* Assim
? #om esta forma de es#re!er& =atra!?s de pseud[nimos> 'ue seus tra%al)os se
tornam mais denso& por isso 'uem deseHar se lançar em 'uerer interpretar o
pensamento deste e:isten#ialista tem 'ue ter em mãos todos os seus es#ritos* Estes
nomes fi#t9#ios apare#em #omo !o1es 'ue representam !ariados pontos de !ista de
opiniBes distintas& de a#ordo #om o #onte:to da o%ra& por'ue o fil"sofo não trata de
um ponto de !ista ni#o* $ortanto& essas !o1es produ1idas pelo mesmo autor&
signifi#am uma dial?ti#a su%Heti!a*
O pseud[nimo JohannesClimacus trata do dilema entre 8 du!ida e a f?& ele
tam%?m ? o mais #on)e#ido na filosofia 2ier2egaardiana& autor de 1igalhas
"ilos"icas  =6Q77> e do su%se'bente 2s%escrito conclusivo não cient!"ico as
18
 
1igalhas "ilos"icas =6Q7>* Apare#e ainda #omo protagonista no ensaio %iogrfi#o -
' preciso duvidar de tudo  =es#rito em 6Q74/6Q7P pu%li#ado ap"s a morte de
.ier2egaard>* Johannes de Silentio  autor de Temor e tremor   =6Q7P> no 'ual
e:pressa 8 angstia #onstante de A%raão& ConstantinConstantiusautor de  A
repetição =6Q7P>* 3etorna& dois anos depois& em *st)dios no caminho da vida=6Q7>&
#omo um dos oradores do simp"sio 3n vinoveritas* Esses dois ltimos o#upam/se da
?ti#a& a partir dos aspe#tos en!ol!idos no rela#ionamento de .ier2egaard #om
3egine Olsen* HilariusBogbinder era editor de *st)dios no caminho da vida =6Q7>&
para o 'ual es#re!e um %re!e pref#io* Johannes, O sedutor  era o autor do dirio
'ue #ompBe a primeira parte de A alternativa =6Q7P>* Apare#e& tam%?m& no simp"sio
3n vinoveritas, 'ue #ompBe a o%ra *st)dios no caminho da vida =6Q7 4*  Assessor 
Guilherme  tam%?m #on)e#ido #omo Juiz Guilherme  ou& ainda& simplesmente&
#omo O Ético& este pseud[nimo assina os dis#ursos da segunda parte de  A
alternativa =6Q7P> e apare#e& ainda& depois& em *st)dios no caminho da vida 5 6Q7>*
FraterTaciturnus   era autor de U6ulpado ou inocente7&, ter#eira parte da o%ra
*st)dios no caminho da vida  =6Q7>* Anti-Climacus ? o #ristão ideal& foi autor de
+oença para a morte =6Q7> e de  A pratica do cristianismo  =6Q5> e o
irgiliusHau!niensis  o#upa/se dos aspe#tos psi#ol"gi#os do pe#ado e da
ansiedade& ou seHa& da pr"pria angustia* W este ultimo pseud[nimo 'ue !ai a%ordar 
eufori#amente a 'uestão da angstia no indi!iduo e no mundo& ele ? autor do $
conceito de Angústia =6Q77>*
 As obras do amor   =6Q7R>& O instante=6Q7/6Q> e "onto de #ista
e$%licati#o da minha obra de escritor  =es#rito em 6Q7Q e pu%li#ado em 6Q& ou
seHa& 'uatro anos ap"s a morte de .ier2egaard> são te:tos de #omuni#ação direta*
Diante das o%ras #itadas a#ima se enfati1ara $ conceito de angústia  de
8igilius9au"niensis& no 'ual !amos analisar 'ue a pr"pria angstia esta intr9nse#a na
li%erdade& e esta li%erdade dar a oportunidade do )omem es#ol)er 'ual'uer 'ue seHa
a possi%ilidade& e nesta possi%ilidade de es#ol)er surgi o pe#ado& pe#ado este 'ue
surgi em Adão e se prosseguir por toda e:ist@n#ia )umana* W atra!?s deste ato de
pe#ar 'ue podemos !er a angstia* $ortanto& di1 .ier2egaard& a angstia est
intr9nse#a no indi!9duo*
$ortando resumindo este #apitulo& usamos das pala!ras do professor de
filosofia da ni!ersidade Cat"li#a de $ernam%u#o& Andr? Lui1 0olanda de Oli!eira,
UEstudar o pensamento de .ier2egaard ? sem d!ida& um desafio de!ido 8 sua
multifa#etria #omposição* Ao lermos .ier2egaard& não estamos lidando apenas #om
mais um es#ritor& mas #om um autor surpreendente& enigmti#o e pol@mi#o 'ue
#olo#a \!in)o no!o em odres !el)os] e 'ue& não raramente& pro!o#a sentimentos de
admiração& in'uietação& repro!ação ou reHeição em seus leitores* =OLIVEI3A& 455P*
p* 6P>
CAPÍTU)O II * O )UGAR EXISTENCIA) DA ANGÚSTIA
O presente #ap9tulo !em tra1er& de uma forma resumida& o #on#eito de
angstia& muito de%atido no pensamento do fil"sofo dinamar'u@s* E:pli#aremos
seus aspe#tos prin#ipais mostrando #omo a angstia est sendo !i!en#iada
)odiernamenteJ %em #omo sua apro:imação #om o pe#ado )ereditrio& uma !e1 'ue
20
 
pe#ar se torna angustiante* $or ltimo& mostraremos 'ue esta angstia 'ue
perpassa a !ida do indi!9duo di!ide/se em angstia o%Heti!a e angstia su%Heti!a*
/'. * A 6"&a=%=3a &a a7=>583a
Diante de toda a !ida do fil"sofo e:isten#ialista
SrenAa%e.ier2egaardo%ser!amos 'ue um grande signifi#ado foi atri%u9do a este
sentimento& a%ordado em momentos pi#es de sua )ist"ria& #onsiderado por ele
mesmo #omo grandes Uterremotos para a sua e:ist@n#ia* $or isto& o #on)e#imento
de sua %iografia torna/se indispens!el para a #ompreensão de seu pensamento
filos"fi#o* o entanto& #om este !asto #on)e#imento& ? importante e se torna
ne#essrio #on)e#er 'ual ? este #on#eito deste sentimento& mas não s" #omo um
#on)e#imento 'ue a so#iedade adere& e sim o #on)e#imento !oltado para a
psi#ologia& 8 filosofia e 8 teologia*
Toda !e1 'ue nos #)ega aos ou!idos a pala!ra angstia ? 'uase ine!it!el
'ue a asso#iemos a situaçBes de #rise e de desorientação* E essas lem%ranças&
'uase sempre& #onterão sentimentos e signifi#ados de cdorc ou csofrimentoc* Apesar 
de tudo& esse cnão sei 'u@c 'ue des#onforta e desassossega& por !e1es nos #)ega&
digamos&%em familiar, ? #omo se nos falasse algo de n"s mesmos* Mesmo #om a
in#ompreensão e o aparente mist?rio 'ue en!olta o estar angustiado& o #erto ? 'ue
sou eu mesmo 'ue estou e:perien#iando  a angstia* $ara al?m da cdorc& ) calgoc
'ue #lama em n"s e nos aponta para alguma !erdade em n"s ou do mundo ao
redor* E H 'ue nem sempre sa%emos do 'ue trata nossa angstia& o 'ue !em se
impBe o des#onforto*
$ara .ier2egaard a angstia e:iste desde o nas#imento& ou seHa& o ser 
e:istente H tem a angstia #omo inata ou intr9nse#a* Esta angstia inata se daria&
uma !e1 'ue o pr"prio )omem foi #riado no mundo para !i!en#i/la& primeiramente
no estado da ino#@n#ia& ou seHa& sem um #on)e#imento so%re seu signifi#ado ou
#omo d resposta para um sentimento e:isten#ial* m e:emplo muito importante e
'ue nos informa so%re essa e:peri@n#ia na grade )umana& ? a fase da inf-n#ia& na
'ual não se tem #on)e#imento so%re a realidade 'ue ? !i!ida* A #riança s" deseHa
%rin#ar& di!ertir/se %us#ando o seu pr"prio pra1er* Ela não #on)e#e o 'ue ? #erto ou
errado& neste #aso ela se en#ontra neste estado da ino#@n#ia e ela s" ter o
6 $ala!ra !inda da $si#ologia 'ue mel)or des#re!e o tr-nsito de um afeto em nosso esp9rito*
21
 
#on)e#imento so%re sua e:ist@n#ia e tudo 'ue e:iste ao seu redor 'uando passa
pelo #)amado salto 'ualitati!oR*
Então& ? atra!?s da pr"pria ino#@n#ia 'ue se en#ontra a pr"pria angstia& ou
seHa& ? a partir dela 'ue o indi!9duo !ai ini#iar o seu pro#esso e:isten#ial angustiante*
$odemos o%ser!ar isto no pargrafo 'uinto da o%ra UO #on#eito de angstia& do
pr"prio fil"sofo, UA ino#@n#ia ? ignor-n#ia* a ino#@n#ia& o ser )umano não est
determinado #omo esp9rito& mas determinado psi'ui#amente em unidade imediata
#om sua naturalidade =.IE3.EGAA3D& 4565& p* 77>* E ainda de a#ordo #om esta
a%ordagem temos a ino#@n#ia #omo o nada& e deste nada ? 'ue surge a angstia*
este estado ) pa1 e repouso& mas ao mesmo tempo ) algo de diferente 'ue não ? dis#"rdia e lutaJ pois não ) nada #ontra o 'ue lutar* Mas o 'ue )& entãoX ada* Mas nada& 'ue efeito temX Fa1 nas#er angstia* Este ? o segredo profundo da ino#@n#ia& 'ue ela ao mesmo tempo ? angstia* Son)ando& o esp9rito proHeta sua pr"pria realidade efeti!a& mas esta realidade nada ?& mas este nada a ino#@n#ia !@ #ontinuamente fora dela* =.IE3.EGAA3D& 4565& p* 7>*
$artindo ainda da ino#@n#ia& !erifi#amos 'ue ela não ? um empe#il)o ou não/
'ualidade para o indi!9duo& mas sim ? um estado 'ue pode muito %em perdurar na
e:ist@n#ia do )omem* Como foi o%ser!ado& este estado ? o primeiro 'ue surge no
indi!9duo& e ? ne#essrio passar por ele& a#alentando a e!olução futura de um
poss9!el salto 'ualitati!o e& assim& passar da ino#@n#ia ao estado de #ulpa* Como o
pr"prio .ier2egaard di1& Ua ino#@n#ia não ?& pois& #omo o imediato& algo 'ue de!a
ser anulado& #uHa destinação ? ser anulado& algo 'ue para falar propriamente não
e:iste& e 'ue s" !em a e:istir pelo fato de ser anulado& isto ?& !em a e:istir #omo
a'uilo 'ue e:istia antes de ser anulado e 'ue agora& est anulado =.IE3.EGAA3D&
4565& p* 75>*
Sinteti1ando& então& a angstia segundo .ier2egaard pre#ede o pe#ado e est
ligada 8 possi%ilidade e 8 li%erdade* Ela #ara#teri1a a e:ist@n#ia e ser!e para re!elar 
ao e:istente o seu ser* Desde 'ue o 'ue ? dado não ? o eu& mas somente a
possi%ilidade do eu& #olo#ando/se diante do nada e #omo 'ue de%ruçado so%re o
!#uo* W !ertigem diante do 'ue não ?& mas poder ser pelo uso de uma li%erdade
'ue não se e:perimentou e 'ue não se #on)e#e* Como uma esp?#ie de Uantipatia
7 Este salto 'ualitati!o ser a%ordado mais adiante*
22
 
simpti#a ou de simpatia antipti#a =.IE3.EGAA3D& 4565& p* 7>& a angstia ?
deseHo do 'ue se temeJ temor do 'ue se deseHa*
$ara se #ompreender mel)or a presença da angstia no indi!9duo e no
mundo ? ne#essrio ir 8s ra91es da pala!ra angstia* Esta pala!ra deri!a do latim
angere& apertar& estrangular* Desta forma& este sentimento& ao #ontrrio do medo&
não tem um o%Heto pre#iso& ou seHa& não e:iste Ualgo 'ue possa e:pressar 'ue
estamos angustiados& pois o pr"prio ser angustiado H se en#ontra intr9nse#o ao
indi!9duo*
 m fator muito importante ? 'ue tam%?m H foi a%ordado a#ima& ? a forma
#omo Adão surgiu no mundo& ou seHa& a #riação de tudo 'ue )* O%ser!amos
#laramente 'ue Adão foi #riado por um Ser A%soluto& ou seHa& um Ser Criador de
tudo 'ue e:iste na terra* E nesta #riação Deus deu ao )omem a li%erdade de
es#ol)a* Desta forma& o%ser!amos 'ue se o pr"prio Deus H nos #riou de uma forma
li!re& n"s nas#emos #om a in'uietação nas nossas poss9!eis de#isBes* Estas
in'uietaçBes podem ser analisadas #omo #ertas dores 'ue !ão a#arretar nossas
pr"prias de#isBes* E ainda& estas dores 'ue sentimos podem ser #onsideradas #omo
grandes angstias& angstia de possi%ilidade& isto ?& de ser angustiante& 'ue se doa
totalmente a uma es#ol)a& sem dei:ar de pensar na outra possi%ilidade& 'ue mesmo
não es#ol)ida& ainda #ontinua #omo uma possi%ilidade na sua !ida*
Vemos a )ist"ria do primeiro pe#ado ou pe#ado de Adão e E!a 'ue& ao serem
#riados& foram proi%idos pelo seu #riador de #omer o fruto de uma r!ore 'ue esta!a
no #entro do para9so* Mas& o interessante desse #on)e#ido relato ? 'ue Deus
pro9%e& mas dei:a o )omem li!re para as suas es#ol)as* $or isto& muitas !e1es& os
#ristãos se arrependem muito de algumas atitudes e açBes 'ue& muitas !e1es& não
foram refletidas #omo il9#itas para a es#ol)a pelo 'ual se optou ou se deseHou ter 
es#ol)ido* Então& !oltando ao #on)e#ido relato %9%li#o& Adão e E!a #omeram do fruto
proi%ido e& a partir da9& entrou o #on)e#ido pe#ado original* Os dois #omeram do
fruto proi%ido& pois am%os eram li!res nas es#ol)as* W neste ponto 'ue #omeça a
angstia diante de algo proi%ido* O deseHo de #on)e#er& a -nsia de sa%er #omo ?&
era tão grande 'ue a#a%aram #on)e#endo*
23
 
 Mas& #onsiderando a )ip"tese 'ue nem Adão nem E!a ti!essem #omido
deste fruto proi%ido& )oHe não se #ontaria #om o pe#ado original e& assim& e:istiria a
angstiaX A resposta para esta pergunta se torna muito #lara para o fil"sofo
dinamar'u@s& pois& #aso eles es#ol)essem não #omer do fruto proi%ido& eles
mesmos estariam& assim& repletos da angstia de não ter pro!ado da'uele su#ulento
fruto 'ue esta!a 8 disposição*
 Caso tudo 'ue a#onte#eu no in9#io dos tempos renas#esse tudo ao #ontrrio&
o )omem ainda& para .ier2egaard& #ontinuaria plenamente angustiado por sua
es#ol)a* $ortanto& per#e%e/se 'ue não se pode fugir da angstia& por'ue ela H est
operante intrinse#amente no nosso ser* A e:ist@n#ia ne#essita dela para prosseguir&
pois se o indi!9duo di1 'ue ? feito de possi%ilidades de es#ol)a& ele tam%?m afirma
'ue ele ? um ser mar#ado pela angstia e:isten#ial* m tre#)o da monografia de
Maril1a (arrios dos Santos es#lare#e %em so%re esta determinada ideia da angstia
em Adão e E!a*
 A angstia foi respons!el pela 'ueda do primeiro )omem& Adão* o Wden ele !i!ia num estado de ino#@n#ia mes#lado #om ignor-n#ia* Essa ignor-n#ia determinou sua 'ueda* A angstia& portanto foi respons!el por sua 'ueda por esta%ele#er uma relação entre a ino#@n#ia de Adão& a #oisa proi%ida e o #astigo* $ara .ier2egaard& a 'ueda ? um ato de li%erdade* Comer o fruto& a es#ol)a pro!o#ada pela pr"pria angstia* O ato de pe#ar ?& então& !isto #omo natural por  ser #onse'u@n#ia da pr"pria angstia& 'ue representa o mais alto grau de ego9smo& pois nesse estado o indi!9duo não des!ia o ol)ar  dele pr"prio e& assim& perde de !ista Deus* O pe#ado& a'ui& ? #onsiderado #omo estar apartado de Deus* O pe#ado ? uma de#isão 'ue& mesmo tomada em li%erdade& a#a%ou por amarr/la e& para ele& ? nesse lo#al da li%erdade 'ue o indi!9duo pode reen#ontrar a si mesmo* O ser )umano transformou sua li%erdade em es#ra!idão =SATOS& 4565& p* PP>*
O te:to 'ue analisamos re!ela a angstia nos nossos prim"rdios& nos le!a a
#on#ordar #om este prin#ipal pensamento do fil"sofo dinamar'u@s* $or 'u@X Se o
pr"prio =.ier2egaard> di1 'ue a angstia ? intr9nse#a ao )omem& ao indi!9duo e isto
pelo fato de sermos seres ou indi!9duos de possi%ilidades de es#ol)a& então o fato
de n"s es#ol)ermos tra1 a in#erte1a de am%as as de#isBes& surgindo assim a
angstia* Isto ?& todas as nossas es#ol)as sempre são ne#essrias& pre#isando&
assim& dei:ar uma possi%ilidade de es#ol)a para #on#reti1ar a outra e dei:ando/a
sofre/se uma angstia na ess@n#ia da e:ist@n#ia*
24
 
 A angstia se #on#reti1a totalmente 'uando o indi!9duo passar do estado da
ino#@n#ia para o estado da #ulpa* $ara tanto ? ne#essrio passar pelo salto
'ualitati!o* A partir da9 o indi!9duo #omeça a !er a sua e:ist@n#ia #om outros ol)os&
pois ele não se en#ontra mais na'uele anterior estado& mas no 'ue aprendeu o 'ue
era #erto e errado& agrad!el e ruim& li#ito e il9#ito* Ou seHa& um indi!9duo no estado
da #ulpa #omeça a !er a realidade #om outros ol)os& #om um senso mais apurado
so%re tais #oisas& por'ue ele #on)e#eu o %em e o mal*
Esse salto representa grandes #onse'u@n#ias para a e:ist@n#ia do indi!9duo*
Se& no lugar de Adão e E!a& surgisse um indi!9duo totalmente no!o& a )ist"ria da
esp?#ie não teria #ontinuidade, )a!eria em seu lugar uma repetição* Toda!ia& não ?
assim 'ue a#onte#e& por'ue ) uma des#end@n#ia& ) uma deri!ação 'ue não afeta
a ess@n#ia do indi!9duo* Sendo o indi!9duo ele mesmo e a esp?#ie& o estado da
ino#@n#ia ante#ede tanto a )ist"ria indi!idual 'uanto a uni!ersal* o entanto& ? a
partir do momento em 'ue o indi!9duo tem #ons#i@n#ia de si mesmo& em 'ue ele
dis#erne entre o %em e o mal& 'ue ele se en#ontra inserido na )ist"ria da esp?#ie*
Isso a#onte#e atra!?s de um salto 'ualitati!o da ino#@n#ia 8 #ulpa* W atra!?s desse
salto do des#on)e#imento ao #on)e#imento 'ue o indi!9duo ingressa na )ist"ria da
esp?#ie e entra na pe#aminosidade*
Voltando para outro relato %9%li#o& o%ser!amos mais um e:emplo de !i!@n#ia
de profunda angstia& 'ue ? a )ist"ria de A%raão& ou& #omo o pr"prio .ier2egaard
#)ama& do #a!aleiro da f?* A angstia de A%raão se %aseia na es#ol)a de matar ou
não o seu ni#o fil)o& proposta sugerida pelo pr"prio Deus a A%raão* Ele poderia
es#ol)er entre não matar e assim não #umprir a !ontade do $ai ou #umprir e& assim&
perder o seu ni#o fil)o para sempre& al?m de ser #onsiderado um assassino
perante a so#iedade 'ue não iria entender sua ação para #om o fil)o* Ou seHa&
#ompreendido pela ?ti#a& o sa#rif9#io de Isaa# seria uma ação ina#eit!el* o
entanto& A%raão est no estgio superior 8 ?ti#a& ele se en#ontra no estgio
religiosoQ* O 'ue a#onte#e ? 'ue& por #ausa da f?& A%raão não pode ser Hulgado
#omo assassino& pois a'uele 'ue se renega a si pr"prio e se sa#rifi#a ao de!er 
8En#ontram/se na filosofia de .ier2egaard tr@s estgios, o est?ti#o& o ?ti#o e o religioso* São diferentes maneiras de se !i!er a !ida* Em lin)as gerais& podemos di1er 'ue o estgio est?ti#o est rela#ionado #om o instante* O indi!9duo 'ue possui a e:ist@n#ia est?ti#a se preo#upa #om o imediato* Z o indi!9duo 'ue est no estgio ?ti#o se preo#upa #om os de!eres& #om a moral* $or outro lado& a e:ist@n#ia religiosa tem #omo ponto prin#ipal e referente, Deus*
25
 
renun#ia ao finito para al#ançar o infinito* Atra!?s do sa#rif9#io A%raão est
intimamente ligado a DeusJ a atitude de e:e#utar Isaa# ? a !ontade do ser a%soluto*
Com efeito& a moralidade ? suspensa e A%raão não pode se tornar assassino* So%re
o ponto de !ista ?ti#o& a atitude do sa#erdote ? imoral* So%re o ponto de !ista
religioso& A%raão de!e fa1er a'uilo 'ue Deus l)e ordena*
este #onte:to& en#ontramos ainda o parado:o da ?ti#a* A%raão de!e agir de
a#ordo #om as leis morais ou de a#ordo #om a !ontade de DeusX Como agirX Desta
forma& en#ontramos um #onflito ?ti#o no momento em 'ue Deus pede para 'ue se
#ometa um ato Hulgado imoral* esta situação& !emos 'ue o sa#erdote não pode ser 
au:iliado atra!?s de #rit?rios ra#ionais #omo as regras da ?ti#a& 'ue são uni!ersais e
gerais* De um lado& A%raão #umpre as ordens di!inas& mas ? Hulgado #omo
#riminoso e sua tentação ? não ser #onsiderado #umpridor do deseHo de Deus e ter 
demonstrado o deseHo pela finitude e não possuidor de f?* Caso mate o fil)o& perde o
'ue mais ama e ningu?m poder entender sua ação*
Mas o pai de Isaa# resol!e seguir o deseHo de Deus e le!a Isaa# para uma
montan)a& preparando tudo para ofere#@/lo em sa#rif9#io para o Deus Supremo*
Imaginemos #omo esta!a A%raão neste momento& ele est diante de grandes
de#isBes 'ue iriam mudar a sua !ida e& a#)ando mais !i!el e seguindo a sua f?&
de#ide ofertar o seu ni#o fil)o para Deus& sa%endo 'ue a so#iedade não entenderia
sua ação* W neste #onte:to 'ue .ier2egaard !ai #)amar A%raão de o Ca!aleiro da
F?& pois ele =A%raão> se entregou totalmente 8 !ontade de Deus #)egando a dar em
sa#rifi#o o seu ni#o fil)o a 'uem ele mais ama!a* .ier2egaard o%ser!a!a nele um
e:emplo de um aut@nti#o #ristão* Diante desta situação& o%ser!amos a %us#a de
.ier2egaard pela autenti#idade da !i!@n#ia da !ontade de Deus* Assim #omo
 A%raão& ele 'ueria !i!er este ser aut@nti#o s" 'ue suas in#apa#idades& !indas de
)erança& espe#ialmente paterna& não permitiam*
 A angstia& portanto& est rela#ionada #om a pr"pria li%erdade do indi!9duo&
na 'ual se perpetua o pe#ado do pr"prio indi!9duo* $e#ado este 'ue #omeça #om os
prim"rdios e nossos ante#edentes a'ui na terra e per#orre toda a e:ist@n#ia
)umana*
9 Tam%?m& ? neste #onte:to 'ue .ier2egaard desen!ol!e sua #r9ti#a 8 moralidade )egeliana e 2antiana
26
/'/ * O P"a&% ?"r"&38@r3%
o 'ue foi a%ordado at? a'ui& utili1amos muitas !e1es a pala!ra \pe#ado]*
Este termo ? muito sistemati1ado na o%ra O #on#eito da Angstia& do autor 
Vigilius0aufniensis65* A partir dela o%ser!amos 'ue a 'uestão do pe#ado est
en!ol!ida #om a pr"pria definição do 'ue ? angstia* $ara .ier2egaard& a angstia
#omeça a partir do pe#ado66& ou seHa& o pe#ado est intr9nse#o 8 angstia* $ara
e:pli#ar mel)or& temos 'ue partir do fato de .ier2egaard fo#ali1ar a primeira angstia
e:perimentada pelo ser )umano #omo a es#ol)a de Adão em #omer do fruto da
r!ore do #on)e#imento& proi%ido por Deus* Então& depois de Adão ter #omido do
fruto proi%ido& nas#eu o pe#ado* De uma forma geral& a pe#aminosidade no g@nero
)umano mo!e/se em determinaçBes 'ualitati!as 'ue& por assim di1er& tornam/se
angstias*
Ser 'ue ? este primeiro pe#ado ou pe#ado original o 'ue perpassa toda a
nossa )umanidadeX O pe#ado original =pe#ado de Adão> ? a mesma #oisa 'ue o
pe#ado )ereditrioX Ora& ? ne#essrio pensar 'ue o primeiro pe#ado& #omo o
pr"prio nome e:pressa& ele ? original não s" por'ue ele foi o primeiro& mas tam%?m
por'ue perpassa toda a )umanidade* Este pe#ado foi o de Adão& 'ue atra!?s da sua
angstia ini#ial da es#ol)a fe1 surgir o pe#ado no mundo* Importa notar& #ontudo&
'ue não ? espe#ifi#amente o pe#ado de Adão 'ue permane#e nos indi!9duos& mas
sim o pe#ado )ereditrio 'ue passa de geração em geração e !ai ad!ir para os
seres )umanos futuros& ou seHa& a #onse'u@n#ia deste pe#ado ? angstia& 'ue s"
'uantitati!amente se diferen#ia da de Adão*
 Assim& .ier2egaard& seguindo fielmente suas #renças #ristãs& di1 'ue esta
#ondição do pe#ado ? algo 'ue #ada um #arrega em si& um e#o do $e#ado Original*
Isto ?& 'ue o indi!9duo #arrega o sentido do primeiro pe#ado& mas não ? este pe#ado
primordial 'ue perdura no e:istente*
a o%ra $ conceito de Angústia& .ier2egaard ir a%ordar mais
detal)adamente esta diferença,
`*** o fato de 'ue a angstia no indi!9duo posterior ? mais refletida / em #onse'u@n#ia de sua parti#ipação na )ist"ria do g@nero )umano& 'ue ? #ompar!el #om o )%ito& o 'ual de#erto ? a segunda nature1a& mas& no entanto& não uma no!a 'ualidade& e sim somente um progresso 'uantitati!o N de#orre de 'ue a angstia agora entra
10$seud[nimo 'ue o pr"prio .ier2egaard adotam& neste li!ro* 11ão ) mais angstia na ino#@n#ia
27
 
no mundo tam%?m num outro signifi#ado =.IE3.EGAA3D& 4565& p* Q>*
Enfim& pode/se di1er 'ue a angstia tem dois aspe#tos& duas formas de
entend@/las* A angstia& na 'ual o indi!9duo pBe o pe#ado& por meio do salto
'ualitati!o64& e a angstia 'ue so%re!eio e so%re!?m #om o pe#ado e 'ue& portanto&
tam%?m entra no mundo determinada 'uantitati!amente #ada !e1 'ue o indi!9duo
pBe o pe#ado* .ier2egaard nomeia esses dois tipos de angstia #omo angstia
o%Heti!a e angstia su%Heti!a*
/'/'. * A7=>583a O<"83va
$ara entendermos mel)or este tipo de angstia& !amos partir do autor Le
(lan#& em seu li!ro .ier2egaard& no 'ual di1 'ue Ua angstia o%Heti!a ? do )omem
gen?ri#o #olo#ado& pelo pr"prio fato da e:ist@n#ia& diante da possi%ilidade de poder&
em outras pala!ras& de sua li%erdadeJ ? angstia pela 'ual o pe#ado entrou no
mundo =LE (LAC& 455P& p* Q4>*
 A partir deste #on#eito dado por Le (lan#& podemos entender 'ue a angstia
o%Heti!a surgiu a partir do primeiro pe#ado no mundo* $ortanto& se o ato primeiro do
seu surgimento foi o pe#ado e se este pe#ado est intr9nse#o 8 angstia& #onforme
e:posto no t"pi#o anterior& Adão #omo ser primeiro a !i!en#iar a angstia& estaria no
#onte:to desta angstia o%Heti!aX Se assim pensssemos estar9amos totalmente
e'ui!o#ados& pois o fato da angstia o%Heti!a surgir a partir do primeiro pe#ado não
signifi#a 'ue Adão fa1 parte dessa angstia& pois #omo o pr"prio nome nos re!ela&
ela est o%Heti!amente no mundo* Contudo& a angstia o%Heti!a não se d na
e:ist@n#ia da angstia de Adão& mas na #ondição na 'ual ele se en#ontra na
nature1a do )omem& ou seHa& atra!?s do primeiro pe#ado N o de Adão N o pe#ado
surgiu no mundo e se aderiu 8 nature1a deste mundo*
esse #onte:to& importante por em desta'ue a #itação 'ue .ier2egaard fa1
da Carta de São $aulo aos 3omanos, UAssim #omo o pe#ado entrou no mundo
atra!?s de um s" )omem e #om o pe#ado !eio a morte& assim tam%?m a morte
atingiu todos os )omens& por'ue todos pe#aram* UA pr"pria #riação espera #om
impa#i@n#ia a manifestação dos fil)os de Deus*** Sa%emos 'ue a #riação toda geme
e sofre dores de parto at? agora =3m & 64J Q& 6*44>
$ara Gara!enta,
12 Vemos a figura de Adão no ato li!re de #omer do fruto da ar!ore proi%ida por Deus*
28
 
.ier2egaard Hulga& de fato& 'ue o pe#ado& uma !e1 entrado no mundo& ten)a produ1ido uma alteração na #riação* E este Uestado de imperfeição estaria na %ase da'uela Ue:pe#tati!a impa#iente 'ue se e:prime na angstia* $ortanto& a prop"sito desta angstia o%Heti!a não se pode #ertamente e:#luir uma influ@n#ia do S#)elling das 3nvestigaç:es "ilos"icas sobre a essência da liberdade humana =6Q5> 'ue& falando da possi%ilidade do mal em relação a Deus& pro#ura Hustifi#ar a triste1a ligada a 'ual'uer !ida finita& o !?u de aflição 'ue se estende so%re toda a nature1a& a profunda& insuprim9!el melan#olia de #ada !ida* A angstia& por?m& ad'uire a'ui um tom natural9sti#o& 'ue !ai al?m da #ompreensão da angstia #omo fen[meno da li%erdade =GA3AVETA& 4566& pp* 6Q/6>*
$ortanto& ao !ir ao mundo o pe#ado assume& para a #riação& a import-n#ia de
nela esta%ele#er uma 'ualidade não a partir dela mesma& mas #omo efeito da
li%erdade do indi!9duoJ ? este efeito do pe#ado na e:ist@n#ia não/)umana 'ue
.ier2egaard designa #om o nome de angstia o%Heti!a* Então& podemos #ara#teri1ar 
esta angstia #omo !oltada para a nature1a& ou seHa& a p)sis& H a angstia
su%Heti!a se d a partir da )umanidade* esta )umanidade ? 'ue o%ser!amos
fortemente a angstia de Adão& pois ? !oltada para a sua mais profunda ess@n#ia de
ser um indi!9duo ra#ional*
/'/'/ * A7=>583a S<"83va
Este tipo de angstia& totalmente diferente da anterior& ? #onsiderado para
SrenAa%e.ier2egaard a mais signifi#ati!a e a mais importante para a nossa
e:ist@n#ia* Mas o interessante ? sa%ermos 'ue neste tipo o fil"sofo e:isten#ialista
a%orda a relação do pe#ado no indi!9duo de )oHe e no indi!9duo posterior&
sistemati1ando todas as poss9!eis formas da angstia na sua su%Heti!idade* A
angstia su%Heti!a ? a'uela da ino#@n#ia do indi!9duo& diferente da de Adão em
'uantidade*
W interessante salientar 'ue para .ier2egaard a angstia ? #onsiderada #omo
uma !ertigem* E o 'ue seria esta !ertigemX o seu signifi#ado parti#ular !ertigem ?
um sintoma no 'ual a pessoa tem a sensação de uma tontura rotat"ria& podendo
#ausar nuseas& ![mitos& ilusão de mo!imento& et#* Z para o nosso fil"sofo U`*** a
angstia ? a !ertigem da li%erdade& 'ue surge 'uando o esp9rito 'uer esta%ele#er a
s9ntese& e a li%erdade ol)a para %ai:o& para sua pr"pria possi%ilidade& e então agarra
a finitude para nela firmar/se* esta !ertigem& a li%erdade desfale#e
29
 
=.IE3.EGAA3D& 4565& p* R>* W o )omem 'ue e:perimenta pessoalmente Ua
!ertigem da li%erdade por meio de seus atos e de seus pe#ados*
a angstia su%Heti!a& o indi!9duo #olo#a a )ip"tese de sua sal!ação e s"
'uando a sal!ação for #olo#ada #omo uma realidade ? 'ue essa angstia ser
superada* Como %em e:pressa Le (lan#& em sua o%ra H #itada,
 A angstia su%Heti!a aumenta #om a espiritualidade e pode/se a!aliar  a 'ue oprimiu Cristo& 'uando di1 a Zudas, UO 'ue tens a fa1er& fa1e/o logo& #omo mais forte do 'ue a 'ue o traspassou 'uando pronun#iou as pala!ras terr9!eis 'ue angustia!am Lutero, UMeu Deus& meu Deus& por 'ue me a%andonastesXJ não somente ela re!ela a )umanidade de Cristo& mas ainda mostra #omo a e:ist@n#ia ? possi%ilidade e #omo a possi%ilidade ? angstia* o entanto& a angstia o%Heti!a ? insond!el, Zesus/Deus sa%e o 'ue far Zudas =#omo sou%e di1er a $edro 'ue ele O renegaria tr@s !e1es antes do #anto do galo> e o di1 a seu dis#9pulo ordenando/l)e fa1@/lo depressa& o Cristo/)omem des#o%re na aflição a%soluta o fato de 'ue ele de nada sa%ia e o pro#lama*** =LE (LAC& 455P& p* QP>*
W interessante notar tam%?m 'ue .ier2egaard !ai %us#ar entender o fato de
'ue a sensualidade tornou/se pe#aminosidade* $restemos atenção na pala!ra
\tornou/se]& pois mostra 'ue antes a sensualidade não era !ista #omo um pe#ado&
mas a partir da li%erdade dos primeiros indi!9duos e #om o #on)e#imento entre o
%em e o mal& a sensualidade fi#ou !ista #omo pe#aminosa& perten#endo assim 8
)ist"ria da geração*
O )omem& depois de Adão& e:perimenta a angstia de uma forma mais
intensa& mais #on#reta& mas o refle:o desta angstia ? !i!en#iada mel)or na pessoa
de E!a do 'ue no pr"prio Adão& isto por'ue a mul)er ? mais sensual 'ue o )omem e
por ser sensual a mul)er tem mais angstia 'ue o )omem* U A mulher acumula mais
angústia que o homem =.IE3.EGAA3D& 4565& p* RP>* a narrati!a %9%li#a da
#riação E!a te!e uma parti#ipação importante uma !e1 'ue& ao fa1er por primeiro a
e:peri@n#ia do #on)e#imento do %em e do mal& ela se torna a sedutora para Adão* *
Isto não signifi#a 'ue o seu pe#ado seHa maior 'ue o dele& nem 'ue angstia seHa
imperfeiçãoJ pelo #ontrrio& se a angstia ? grande isso indi#a o grau de perfeição* A
%ele1a est?ti#a e a #apa#idade de pro#riar são as pro!as de 'ue a mul)er ? mais
sensual 'ue o )omem* Ela tem um destino espiritual& %em #omo o )omem* A
sensualidade foi transformada em pe#a%ilidade por efeito do pe#ado*
30
 
De modo resumido& podemos di1er 'ue o #on#eito de angstia não ?
apenas !isto em um aspe#to negati!o* Intimamente ligada ao pe#ado& ) duas
formas de !er a angstia, o%Heti!a e su%Heti!a* Esta ltima pode ser #onsiderada
#omo a mais importante para a e:ist@n#ia do indi!9duo& pois le!a o mesmo a uma
atitude positi!a de #on)e#imento de si e do mundo* Tendo #on#lu9da a a%ordagem
do #on#eito de angstia na forma filos"fi#a& urge agora fo#ali1/la na e:ist@n#ia do
indi!9duo e #omo ela atua nas nossas so#iedades*
CAPÍTU)O III * A ANGÚSTIA NO INDIVÍDUO
O fo#o do presente #ap9tulo ? a angstia na e:ist@n#ia do indi!9duo* Trata/se
de %us#ar entender mel)or #omo este sentimento& 'ue perpassa toda a filosofia de
.ier2egaard& est intr9nse#o ao indi!iduo& #omo o pr"prio fil"sofo a%orda na sua o%ra
UO #on#eito de angstia* $ara tanto far/se/ ne#essrio entender #on#retamente o
fato da possi%ilidade do indi!9duo es#ol)er suas de#isBes& pois a es#ol)a ?
31
 
ne#essria para 'ue a angstia faça morada no )omem* $artindo da es#ol)a& um
tema importante para a #orrente e:isten#ialista& ser dis#utida a li%erdade do
indi!9duo* E& por fim& %us#ar/se/ lançar lu1es so%re a finalidade da angstia, seria
ela ne#essria ou sal!aria o indi!iduo de sua #onformidadeX
0'. * A "5%l!a &% I7&3v&%
Diante toda a !ida de .ier2egaard& 6P podem/se o%ser!ar grandes de#isBes na
sua !ida& tanto na 'uestão parti#ular ou pessoal& #omo no #amin)o de sua pr"pria
!ida* Dois pontos muito interessantes a serem relem%rados são, primeiro a es#ol)a
de a#eitar a melan#olia do seu pai e& segundo& o rompimento #om sua noi!a 3egina
Olsen* Essas de#isBes poderiam ser muito simples para 'ual'uer pessoa& mas para
.ier2egaard foram momentos #onsiderados grandes Uterremotos 'ue& por sua !e1&
deram um pontap? na sua filosofia e e:ist@n#ia no mundo*
W neste #onte:to 'ue ao a#eitar a superioridade da e:terioridade so%re a
su%Heti!idade& sem possi%ilidade de es#ol)a& estar9amos diante de um #on#eito e
não de uma #on#epção do indi!iduo* W por isso 'ue antes de 'ual'uer #oisa ?
pre#iso ter a ideia do 'ue ? indi!9duo para .ier2egaard& mas sa%endo 'ue esta ideia
ou definição não ter #ompletude ou totalidade& pois não se pode #on#eituali1ar o
indi!9duo& ele não ? uma #oisa* 0 'ue se #)egar a uma #on#epção do 'ue se
entende por indi!9duo*
O indi!9duo 2ier2egaardiano se #onstitui a partir do pro#esso de
indi!iduali1ação* Ele não nas#e pronto& mas& no trans#orrer da e:ist@n#ia& Utorna/se
o 'ue ? =$ALA& 455& p* 657>* E isto não por influ@n#ia al)eia& mas por de#isão
pr"pria* O indi!9duo passa pelo pro#esso do tornar/se o 'ue se ?* $ara isso ?
pre#iso de#isão& es#ol)aJ ? ne#essrio se assumir* O indi!9duo 2ier2egaardiano& em
tese& ? o ni#o& ? o singular 'ue sente a !ida pulsar em si& durante seu e:istir* esse
sentido& Ua #ada indi!9duo na geração `***& %asta o seu tormento =.IE3.EGAA3D&
4565& p* >* Etimologi#amente& a #ategoria indi!9duo e:pressa singularidade* W
tam%?m desta forma 'ue ele #onfere uma realidade ao indi!iduo 'ue %us#a a sua
pr"pria su%Heti!idade& 'ue %us#a a si mesmo*
13 Cf*, O primeiro #ap9tulo
32
 
Dado 'ue o ser )umano ? um ser de es#ol)as& ou seHa& ele !i!e no seu
mundo de es#ol)a& ? pre#iso sa%er o 'ue es#ol)er para& assim& ter uma gratifi#ação
na sua de#isão de es#ol)a* $ois& uma de#isão 'ue não passa pelos meandros da
su%Heti!idade& não pode ser #onsiderada uma grande es#ol)a& e não fa1 parte do
indi!9duo* O indi!9duo em .ier2egaard pressupBe& antes de 'ual'uer #oisa& o
#on)e#imento do !alor da su%Heti!idade* W na su%Heti!idade 'ue& em primeiro lugar&
a#onte#e a de#isão* W nisto 'ue o%ser!amos 'ue o pr"prio indi!9duo ? 'ue tem as
suas pr"prias es#ol)as& ele ? respons!el pelo 'ue es#ol)e& assim& !ale 8 pena
relem%rar de um tre#)o da o%ra $ 2equeno 2r!ncipe& U!o#@ ? a'uilo 'ue #ati!a& ou
seHa& o indi!9duo se forma a partir da sua es#ol)a de #ati!ar a'uilo 'ue deseHa*
este fato de es#ol)er& o indi!9duo pode se tornar aut@nti#o de a#ordo #om o
'ue ele optar por es#ol)er* a %us#a por uma !erdadeira autenti#idade& o indi!9duo
tem 'ue sa%er o 'ue es#ol)er& tem 'ue repensar as suas futuras es#ol)as a serem
reali1adas* $ois o aut@nti#o indi!9duo não permite 'ue outros indi!9duos es#ol)am
por ele* W interessante ressaltar 'ue .ier2egaard não apresenta um #on#eito de
indi!9duo* O indi!9duo& segundo o dinamar'u@s& não ? um ser distante da realidade&
ao #ontrrio& ? a'uele afundado na realidade& no mundo& em prol de suas es#ol)as*
Ele não pode ser o%Heti!ado& #omo se fosse uma #oisa a ser in!estigada* Diante do
 A%soluto& na singularidade& sente o peso do e:istir* O indi!9duo não ? um #on#eito&
mas uma realidade 'ue sente a !ida pulsar em si*
Contudo& ? ne#essrio o%ser!ar 'ue o fato de 'ue um ser ? um ser de
es#ol)as& H o #onstitui #omo um ser de angstia* O ser =ente> passa por fortes
momentos de inde#isão& no pro#esso de sua es#ol)a* O desafio de fa1er es#ol)as
aut@nti#as #ondu1 ao en#ontro #om intensas angstias* m e:emplo ilustra %em
isso, algum mem%ro da fam9lia passa por uma #irurgia e neste momento um dos
mem%ros& por ter feito a es#ol)a de estudar em outra #idade distante& não tem
possi%ilidade de estar presente neste momento Hunto 8 fam9lia& em%ora deseHasse
muito estar l* este #aso& tem/se uma situação de angstia do indi!iduo 'ue est
em outra #idade& pois te!e 'ue reali1ar uma es#ol)a e assumir as responsa%ilidades
e #onse'u@n#ias& no presente* O%ser!ando este #aso& infere/se 'ue o fato de
es#ol)er tem uma forte ligação #om o sentimento da angstia*
33
 
 A partir dessas #onsideraçBes& pode/se afirmar 'ue o indi!9duo o#upa um
lugar de desta'ue na filosofia do fil"sofo* W atra!?s dele =do indi!9duo> 'ue surgem
todos os sentimentos =angstia e desespero>& os 'uais serão analisados por ele* o
mundo #ontempor-neo tornam/se e:pli#itas as possi%ilidades de es#ol)as no fato de
se #ontar #om grandes inde#isBes so%re os rumos a seguir& #omo, em 'ue se
espe#iali1arX O 'ue se 'uer para o meu futuroX Com 'uem firmar par#eriaX Onde
tra%al)arX Tais perguntas fundamentais e es#ol)as de#isi!as a serem feitas
pro!o#am em #ada pessoa uma imensa angstia* ão se pode ter tudo* W pre#iso
optar por #oisas 'ue !ão aHudar no #res#imento pessoal e tam%?m profissional*
 A es#ol)a& portanto& o#orre a partir da li%erdade e esta li%erdade& 'ue ?
ofertada ao indi!iduo& gera nele angstia& a 'ual ? deturpada pelos indi!9duos 'ue
não tem nen)um #on)e#imento so%re o !erdadeiro sentido deste !alioso sentimento&
o 'ual o fa1 #res#er #omo indi!iduo* A partir desta angstia a e:ist@n#ia se torna
aut@nti#a* Disso de#orre a import-n#ia de se !i!en#iar os momentos de sofrimento e
de angstia #omo se fossem os ni#os* Assim& de a#ordo #om a filosofia de
Sren.ier2egaard& entre angstia e li%erdade ) uma profunda ligação& pois a
li%erdade ? dada ao )omem para de#idir o 'ue deseHa es#ol)er e neste fato de
es#ol)er ? 'ue se origina a angstia no indi!9duo*
0'/ * )3<"r&a&" " A7=>583a
De a#ordo #om a anlise reali1ada at? agora& far/se/ mais uma passagem
pela o%ra $ conceito de Angústia& na 'ual se patenteia a relação da possi%ilidade de
li%erdade& 'ue ? angstia& #om a e:ist@n#ia do indi!9duo no mundo* W atra!?s desta
#ompreensão 'ue se o%t?m a angstia #omo inata na e:ist@n#ia do indi!9duo& pois
se as pessoas são seres de es#ol)as& #omo foi a%ordado durante todo o tra%al)o&
são& por sua !e1& seres profundamente angustiados* A angstia para .ier2egaard
est ligada 8 li%erdade* Essa ligação ser o%Heto de aprofundamento neste t"pi#o*
$artindo de um ponto de !ista religioso& muitos ateus ou #onsiderados
agn"sti#os di1em 'ue os #ristãos não !i!em totalmente uma li%erdade e sim uma
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não/li%erdade* $ara .ier2egaard& no entanto& os #ristãos são seres totalmente li!res
nas suas es#ol)as e isto pode ser !isto nos ante#edentes& Adão e E!a* Eles foram
totalmente li!res para #omer do fruto& por'ue o fato de Deus ser o #riador& não tirou
a li%erdade deles* Então& !i!e/se uma li%erdade& li%erdade esta 'ue passa pela
angstia& ou mel)or& pela es#ol)a* $or esta ra1ão& os #ristãos li!remente es#ol)eram
ser #ristãos e&por #ausa desta li%erdade& sofrem profundamente seus #onflitos
pessoais& pois terão 'ue assumir as #onse'u@n#ias das suas es#ol)as*
W a partir da9 'ue se #onfirma esta grande m:ima do pr"prio .ier2egaard, Ua
angstia est intr9nse#a na li%erdade& ou seHa& se a angstia ? li%erdade& o fato de
se #onstituir #omo ser de possi%ilidade de es#ol)a& fa1 de #ada ser )umano um ser 
angustiado& ser de eterna %us#a& perpassada pela angstia e:isten#ial* Então& #om
esta tese pode/se di1er 'ue para .ier2egaard a angstia se %asearia apenas no fato
de es#ol)erX Se a resposta for positi!a e esse pensamento estaria mais na lin)a de
outro grande fil"sofo e:isten#ialista& Zean/$aul Sartre&67'ue pensa 'ue a angstia se
%aseia na es#ol)a feita e 'ue neste es#ol)er reside a li%erdade*
Sartre afirma 'ue o )omem est #ondenado 8 li%erdade e ? pelo seu Ser 'ue
o nada !em ao mundo* Entretanto& #om esta li%erdade ad!?m a angstia* Somente o
)omem aut@nti#o 'ue se angustia& pois este se !@ #omo 'ue lançado ao mundo
gratuitamente e independente de sua !ontade* Este )omem não es#ol)eu nas#er&
14 UZean/$aul Sartre =65/6Q5> nas#eu em $aris& França& no dia 46 de Hun)o de 65* Fil)o de Zean (aptiste Marie Emard Sartre& ofi#ial da Marin)a Fran#esa e de Anne/Marie Sartre* Fi#ou "rfão de pai #om apenas 6 meses de idade* Sua mãe muda/se para a #asa dos a![s maternos* Te!e uma %oa formação literria* Ingressou aos 6 anos na Es#ola ormal Superior no #urso de filosofia& onde #on)e#eu Simone de (eau!oir& sua futura #ompan)eira* Sartre es#re!eu um roman#e& cA Lenda da Verdadec& 'ue não foi %em a#eito pela #r9ti#a* Com o fra#asso& en!eredou/se pela filosofia a fim de estudar a fenomenologia do fil"sofo 0usserl na Aleman)a e as teorias e:isten#ialistas de .arl Zaspers e Martin 0eidegger* $osteriormente& Sartre estudaria as o%ras de .ier2egaard* A partir desses estudos& Sartre ela%orou sua pr"pria ideia do e:isten#ialismo* $u%li#ou li!ros importantes na França& roman#es& #ontos e ensaios #omo forma de disseminar seus pre#eitos e:isten#ialistas, cA useac& cA Imaginaçãoc& cO Muroc& al?m da peça teatral cAs Mos#asc& na 'ual usou da lenda grega para sim%oli1ar o dom9nio alemão so%re a França na segunda guerra* Seu tra%al)o filos"fi#o prin#ipal foi cO Ser e o adac& pu%li#ado em 67& onde tenta #ara#teri1ar as estruturas fundamentais da e:ist@n#ia )umana des#re!endo o #)o'ue entre a #ons#i@n#ia e o mundo o%Heti!o& de forma a desta#ar a #ara#ter9sti#a 'ue definia o ser )umano& sua li%erdade*Sartre era um intele#tual engaHado #om os mo!imentos so#iais na França* Era filiado ao $artido Comunista fran#@s e apoiou a in!asão #omunista na 0ungria feita pelo ditador so!i?ti#o Stlin& o 'ue foi #riti#ado posteriormente por  intele#tuais li%erais& segundo esses& atitude #ontradit"ria #om os ideais de li%erdade 'ue o fil"sofo prega!a* Foi )omenageado #om o $r@mio o%el de Literatura& mas se re#usou a re#e%@/lo*Zean/$aul C)arles Amard Sartre morreu em $aris& França& no dia 6 de a%ril de 6Q5* Seus restos mortais en#ontram/se no Cemit?rio de Montparnasse& onde tam%?m est sepultada sua #ompan)eira Simone de (eau!oir* Dispon9!el no site, )ttp,<<KKK*e/%iografias*net<Hean;paul;sartre
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#ontudo& ter de de#idir seu destino& agindo #onforme sua li%erdade& ou seHa& por 
meio de suas es#ol)as* Enfim& o )omem ? li!re para determinar seu futuro e ?
 Hustamente esta li%erdade 'ue l)e tra1 a angstia* Assim& apesar de ser li!re para
determinar seu destino e fa1er opçBes diante das #ondiçBes do mundo& o )omem ?
um #ondenado& pois ? respons!el por tudo o 'ue fa1*
$ara .ier2egaard ? imposs9!el falar de li%erdade sem falar de angstia& pois
am%as estão pr":imas& ou mel)or& li%erdade e angstia são as mesmas #oisas&
estão intimamente ligadas entre si* $or isso& 'uando .ier2egaard !em a%ordar a
angstia su%Heti!a6& enfati1a 'ue a angstia ? a !ertigem da li%erdade* W
interessante o%ser!ar& na o%ra $ conceito de Angústia, 'ue a angstia de 'ue trata ?
a da li!re es#ol)a entre as possi%ilidades& 'ue se tornou a ideia %si#a do futuro
mo!imento N o e:isten#ialismo*
Se a !erdade ? su%Heti!a& de#orre da9 uma li%erdade ilimitada* .ier2egaard
não s" reHeitou o determinismo l"gi#o de 0egel =tudo est logi#amente
predeterminado para a#onte#er> #omo tam%?m sustentou a import-n#ia suprema do
indi!9duo e das suas es#ol)as l"gi#as ou il"gi#as* Yual'uer forma de a%soluto& 'ue
não seHa a li%erdade& ser ne#essariamente restriti!a da li%erdade* Yual'uer forma
de a%soluto 'ue não seHa a li%erdade #ontraria a li%erdade* $ara .ier2egaard ?
mesmo imposs9!el 'ue a li%erdade possa ser pro!ada filosofi#amente& por'ue
'ual'uer pro!a impli#aria numa ne#essidade l"gi#a& o 'ue ? o oposto de li%erdade*
O pensamento fundamental de .ier2egaard& e 'ue !eio a se #onstituir em
lin)a mestra do e:isten#ialismo& ? a falta de um proHeto %si#o para a e:ist@n#ia do
)omem& !en)a de onde !ier* Yual'uer proHeto para o )omem representaria uma
limitação 8 sua li%erdade& e afirma 'ue esta li%erdade ?& portanto& in#ompat9!el #om
a mal)a l"gi#a em 'ue& segundo 0egel& #aem todos os fatos e tam%?m as açBes
)umanas e& mais ainda& 'ue a li%erdade gera no )omem profunda insegurança&
medo e angstia*
 
E por 
fim& .ier2egaard sentiu a ne#essidade de ampliar para a esfera da psi#ologia suas
15Yue a%ordamos no #apitulo anterior 
 
ideias a respeito da filosofia da li%erdade* O resultado foi o #on#eito de angstia e o
#on#eito de desespero* A li%erdade presume possi%ilidades& e as possi%ilidades
#riam a angstia& seHa por'ue estão es#assas& ou& no outro e:tremo& por'ue e:iste
um nmero muito grande de opçBes* m #olapso pode o#orrer tanto por muitas
'uanto por pou#as possi%ilidades a%ertas ao indi!9duo* $or isso& torna/se um
!erdadeiro pro%lema de !ida des#o%rir 'uais são os !erdadeiros dons e talentos de
uma pessoa*
0'0 * A a7=>583a 5alva % 37&3v&%
Esta angstia 'ue .ier2egaard tenta #on#eituali1ar ? #onsiderada para a
so#iedade uma lou#ura& pois #omo tentar #on#eituali1ar algo 'ue não se #on)e#e ou
não se sa%e o !erdadeiro signifi#ado* $or isso& as pessoas se apresentam #om
#on#eitos in#ompletos do 'ue seria o sentimento da angstia* As so#iedades de
massa pensam 'ue a angstia s" ? !oltada 8 desolação e 8 dor* Mas& se a angstia
se redu1isse a isto& seria um engano* E:iste na angstia esta parte de sofrimento&
desespero& dor& desolação& et#*& mas& ? a partir da9 'ue o indi!iduo #res#e e #onstitui
a sua e:ist@n#ia& por'ue sem a angstia o )omem não ? o indi!iduo de es#ol)as& de
possi%ilidades* A partir disso& pode/se perguntar se a angstia no indi!iduo ?
ne#essria ou ) uma #on#epção totali1ante do indi!9duoX
a o%ra UO #on#eito de Angstia& espe#ialmente o ltimo #apitulo ? dedi#ada
8 Uangstia #omo o 'ue sal!a pela f?* $ara .ier2egaard& #omo H foi anteriormente
demonstrado& a angstia de!e perten#er 8 !ida& 8 e:ist@n#ia do indi!9duo& U=***> por 
isso& a'uele 'ue aprendeu a angustiar/se #orretamente& aprendeu o 'ue ) de mais
ele!ado =.IE3.EGAA3D& 4565& p* 6Q>* Esta ? uma frase muito importante& pois
nela #ontempla/se& tal!e1& um e:agero& mas este e:agero torna/se ne#essrio para
a e:ist@n#ia do indi!9duo no mundo*
a o%ra& 8igilius& o fil"sofo relem%ra 'ue a angstia s" ? dada a seres
dotados de ra1ão& seres 'ue ne#essariamente seHam feitos de possi%ilidades* Sendo
assim& um animal e um anHo não teriam angstia* Tam%?m ? interessante sa%er 'ue
'uem produ1 a angstia ? o pr"prio )omem& pois ele tem a ne#essidade de t@/la em
sua !ida* Imagine/se o indi!9duo sem a angstia& ele seria& assim& sem
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possi%ilidades& e sem possi%ilidades ele seria um ser intil& não adiantaria sua
e:ist@n#ia no mundo& pois estaria na in?r#ia*