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MOÇÃO DE ESTRATÉGIA SETORIAL AO 28º CONGRESSO DO CDS-PP
Moção de Estratégia Setorial ao 28º Congresso do CDS-PP Renovar a Esperança
António Barreto Archer 1
ÍNDICE
1 – A situação atual do CDS e como chegamos aqui - 1 2 – Renovar o partido regressando à matriz ideológica originária - 7 3 – Afirmação de um pensamento político coerente - 11 4 – Ser oposição construtiva e aberta ao diálogo interpartidário – 16 5 – Dar voz às bases do partido e à cidadania - 17 6 – Ser farol de esperança para os portugueses - 20 7 – Conclusão - 25 Nota biográfica do 1º subscritor da moção - 28
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1 – A situação atual do CDS e como chegamos aqui
Por ser o partido que à direita do espectro partidário em Portugal tem a matriz
ideológica mais sólida, o CDS teve, na legislatura passada, uma oportunidade de ouro
para se afirmar como alternativa política ao projeto socialista. Uma alternativa
apoiada na visão dos fundadores do CDS de que a Democracia Cristã e a sua conceção
de uma sociedade laica, mas inspirada nos grandes valores éticos da nossa tradição
histórico-cultural cristã, assente numa economia social de mercado, é o modelo mais
adequado para conciliar desenvolvimento económico e justiça social.
Bastaria para isso que o partido se tivesse aberto à sociedade civil, renovado o seu
pessoal dirigente, e ocupado o centro do espetro político-partidário, fazendo uma
oposição construtiva e afirmando-se como uma força política interclassista, apostada
em recuperar para a direita a defesa das causas sociais, que são hoje monopolizadas
pela esquerda.
Seria um projeto político novo num partido que, sendo um dos fundadores da
democracia portuguesa, já se encontrava socialmente implantado. Apostando na
formação ideológica dos seus militantes e na afirmação de uma cidadania
participativa, o CDS teria tido condições para se apresentar como uma nova
esperança de progresso para Portugal, mobilizadora dos portugueses.
Defendendo a credibilidade e a transparência na ação política e pugnando por uma
maior proximidade entre os dirigentes partidários e os eleitores, o CDS afirmaria a sua
vocação de governo, seguindo um caminho separado e independente de qualquer
outra força política, mas estando disponível para convergências com outros partidos
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e até mesmo com o governo, quando estivessem em causa as grandes reformas do
Estado ou o superior interesse nacional.
A verdade é que nada disto aconteceu! Durante os últimos quatro anos, o CDS-PP
continuou agarrado às mesmas pessoas e às soluções governativas do passado,
assentes na austeridade neoliberal, já exorcizada no seio do PSD e dentro do próprio
Eurogrupo, e colocou uma espécie de cordão sanitário à sua volta, que o empurrou
para fora do sistema. Com esta estratégia (ou ausência dela), o CDS ficou reduzido a
um pequeno partido de inconsequente crítica e protesto, que nos últimos quatro anos
em nada foi capaz de influenciar o curso da governação ou a vida concreta dos
portugueses.
O advento da coligação parlamentar de esquerda, que assegurou a estabilidade
política na última legislatura, acabou com o velho conceito de arco da governação. O
nosso regime político semipresidencial adquiriu desse modo uma tonalidade mais
parlamentar, em que todos os votos que se traduzam em deputados contam
efetivamente para a definição das soluções de governo, que passaram a resultar
diretamente dos equilíbrios construídos e negociados no parlamento eleito. Não
adianta vociferar contra esta nova realidade política e constitucional!
Neste novo contexto, a direita portuguesa só poderá governar se os partidos que a
compõem tiverem maioria absoluta no parlamento, o que não é fácil num país em
que a esquerda é cultural e sociologicamente dominante, ou se o fizer com base num
programa de governo moderado, que não mereça a rejeição liminar e taxativa de toda
a esquerda. É esta a realidade política que o futuro nos apresenta, não só em Portugal,
mas na maior parte das democracias europeias, em que as soluções governativas
resultarão essencialmente do diálogo e dos entendimentos possíveis entre as várias
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forças políticas representadas num parlamento com tendência para ser cada vez mais
diverso e atomizado.
A anterior liderança do partido foi incapaz de compreender este novo contexto
político-constitucional e prosseguiu uma linha de orientação do partido sem qualquer
renovação, centralizada e centralizadora, baseada apenas na transmissão para as
estruturas distritais e concelhias do CDS de recados e sound bytes destinados a
transformar os militantes em simples porta-vozes do discurso demagógico da direção
nacional.
Um exemplo desta orientação insensata do partido, que acabou por ser a machadada
final nas aspirações eleitorais do CDS, foi o episódio de aprovação atabalhoada de
uma lei na Comissão Parlamentar de Educação, em sintonia com o PCP e o Bloco de
Esquerda, que daria ao todo poderoso sindicato dos professores, liderado por Mário
Nogueira, ganho de causa na sua intransigente e egocêntrica luta política pela
recuperação total do tempo de serviço, isentando os professores da crise que tanto
sofrimento causou à generalidade dos portugueses. Tratava-se de um alinhamento
com a extrema esquerda que poderia colocar em causa a sustentabilidade das contas
públicas e a estabilidade social do país, ao abrir uma perigosa caixa de Pandora de
reivindicações salariais dos outros corpos especiais da função pública.
Atabalhoadamente justificada pela líder do partido, esta posição do CDS acabou por
se transformar num ato de suicídio político, pela forma hábil como foi aproveitada
pelo Primeiro-Ministro. Forçada a recuar sem assumir claramente o erro, a liderança
do partido perdeu toda a sua credibilidade, dando ao país um triste espetáculo de
irresponsabilidade política.
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A estratégia de oposição delineada pela comissão política nacional do partido para
ser protagonizada por Assunção Cristas, destrutiva e centrada no ataque obsessivo à
pessoa do primeiro-ministro, devastou por completo a imagem simpática e afável
com que a líder conseguiu obter tão bons resultados na eleição para a Câmara
Municipal de Lisboa. Com o apoio e conivência de quem estava à sua volta, esta
estratégia de oposição e a aposta feita na exibição cool da sua pessoa no mundo social
e cor-de-rosa criou uma contradição insanável de personalidade e transformou a líder
numa figura radical e incoerente, que acabou por merecer a rejeição generalizada dos
eleitores.
Apesar dos avisos de muitos simpatizantes e militantes e do péssimo resultado de
Nuno Melo nas eleições Europeias, que afundou o partido com um discurso
anacrónico a lembrar os tempos do PREC, a comissão política nacional persistiu em
governar o partido com base num taticismo destinado a manter o CDS refém do
sectarismo de um punhado de pessoas que o dirigem há muito tempo como um grupo
de interesses ou um clube de amigos.
Com o aparecimento de novos partidos, bem ancorados nas suas posições ideológicas
de direita, o CDS teimou em querer ser o “albergue espanhol” da direita portuguesa,
onde caberiam todos - liberais, conservadores, democratas cristãos e nacionalistas -
não percebendo que o liberalismo exacerbado é estruturalmente imiscível com a
democracia cristã e o espaço dos liberais e dos nacionalistas estava em vias de ser
ocupado por forças partidárias nadas e criadas nesses específicos ambientes
ideológicos e sociológicos.
Com esta desorientação do CDS, o PSD teve todo o tempo para se recompor da crise
interna gerada pelo fim traumático da era de Passos Coelho. E António Costa
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conseguiu, numa manobra política de antecipação a propósito da questão dos
professores, ao estilo de Sá Carneiro, salvar o PS de uma possível derrota nas eleições
europeias e catapultar o partido para uma sólida vitória nas eleições legislativas de 6
de outubro de 2019.
Não foi apenas a líder, mas toda a comissão política nacional do CDS, que conduziram
o partido à situação agónica em que este se encontra atualmente, com um resultado
eleitoral de 4,2% e um grupo parlamentar reduzido a 5 deputados. Não nos iludamos!
O estado do partido é muito mais grave do que a situação análoga que o CDS viveu
em 1987 e 1991, pois nessa altura havia a justificação do fenómeno do “arrastão” de
votos provocado pela maioria absoluta do PSD de Cavaco Silva, que, sozinho,
conseguiu obter mais de 50% de votação.
A verdade é que o CDS corre risco de extinção se continuar na mesma linha e com os
mesmos dirigentes!
Está na hora dos democratas-cristãos deste país, dos milhares de militantes e
simpatizantes do CDS fundado por Freitas do Amaral e Amaro da Costa, se
mobilizarem para dar um novo rumo ao partido, refundando-o e renovando-o, para
que este se torne, verdadeiramente, num partido defensor do humanismo
personalista, fiel à defesa dos valores fundamentais da ética cristã e exigente no que
respeita ao exercício dos cargos políticos com independência dos grupos de interesses
e com elevado sentido de Estado.
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2 – Renovar o partido regressando à matriz ideológica originária
A partir do passado dia 6 de outubro de 2019 nada será como dantes no espetro
político-partidário da direita em Portugal. Depois de algumas tentativas falhadas,
entraram finalmente na Assembleia da República dois novos partidos que se
posicionam neste campo ideológico: um partido liberal nos costumes e na economia,
capaz de defender sem timidez os grandes interesses económicos privados, que
considera serem o único motor de criação de riqueza nacional, que ocupará o espaço
político onde alguns dos atuais dirigentes do CDS se têm posicionado; e um partido
nacionalista, de direita radical, hábil na defesa das teses populistas e securitárias,
hostil à imigração e adepto de uma economia protecionista e antissocial.
Quanto ao grande partido que tem ocupado o espectro partidário à direita, o PSD,
pese embora a indefinição estratégica em que se encontra, tenderá a afirmar-se como
um partido social democrata, que se distinguirá do PS mais pela sua origem
sociológica conservadora e não marxista, na linha da social democracia escandinava,
que tanto agradava a Francisco Sá Carneiro, do que pelas políticas que preconiza.
Neste novo quadro de uma direita plural, quer em termos partidários quer em termos
ideológicos, julgo que a única hipótese de sobrevivência autónoma do CDS será a sua
afirmação como partido democrata cristão, de vocação interclassista. Teremos então,
no espectro partidário da direita em Portugal quatro partidos bem individualizados,
entre os quais o CDS poderá destacar-se como uma força política aberta a todas as
classes sociais, mobilizadora de um projeto político alternativo capaz de renovar a
esperança dos portugueses na construção de uma sociedade mais livre, mais justa e
mais solidária. Mais liberdade significa valorizar a cidadania plena e responsável e
tornar o Estado verdadeiramente democrático e independente dos interesses
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económicos e sociais que o condicionam. Mais justiça significa garantir a vigência
efetiva do Estado de Direito e dar a cada cidadão o que cada um merece por direito
próprio, numa sociedade mais equilibrada, que promova o mérito e o trabalho
honesto. Mais solidariedade significa reconhecer a imanente e absoluta dignidade de
todos os homens e mulheres e assumir o cuidado pelos mais pobres, vulneráveis e
desprotegidos como um objetivo essencial da política económica.
O CDS tem a obrigação histórica de defender em Portugal os valores proclamados
pela doutrina social da Igreja e, com particular acutilância, pelo Papa Francisco, que
são tão necessários no mundo atual. A defesa dos mais débeis, fragilizados e excluídos
é património ideológico da democracia cristã e não pode ser monopolizada pela
extrema esquerda, que o faz mais por razões materialistas, assentes numa dialética
económica, do que em nome da dignidade da pessoa humana. O CDS devia, por isso,
estar na primeira linha da defesa do aumento do salário mínimo, como forma de
combater a pobreza, e recusar a submissão das pessoas e das nações aos ditames dos
mercados financeiros. Sem esquecer a necessidade de criar uma cultura de trabalho,
responsabilidade e produtividade a favor do país, de modo a capacitar as empresas
portuguesas para vencerem os desafios da competitividade económica global.
Esta estratégia consistirá, em grande medida, na defesa, ao nível partidário, das ideias
que têm norteado o mandato do atual Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo
de Sousa, que com o seu humanismo de inspiração cristã e a sua preocupação em
falar diretamente para o povo e defender a inclusão de todos os cidadãos sem
exceção na vida do país, se transformou na grande reserva política da nação, com
elevadíssimos níveis de popularidade em todos os quadrantes políticos e sociais. O
Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa tem afirmado muitas vezes o seu
desejo de que exista um diálogo aberto e permanente entre todas as correntes
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políticas e ideológicas, com vista à construção de consensos nacionais que façam
Portugal avançar decisivamente num rumo de desenvolvimento sustentável.
Propomos, assim, que o CDS lidere um projeto político-partidário interclassista,
aberto à sociedade civil, protagonizado por um novo líder, que seja capaz de fazer o
que não foi feito durante a legislatura que terminou em 2019: uma oposição firme e
construtiva ao governo do Partido Socialista e a reafirmação da direita do espetro
partidário português na defesa das causas sociais e de um desenvolvimento
económico equilibrado e ambientalmente sustentável, quebrando a hegemonia dos
partidos de esquerda na preocupação por estes temas.
Não se trata da criação de um novo partido político de direita ou de centro-direita,
mas sim da reafirmação do CDS neste campo ideológico, com base num projeto
político sólido, protagonizado por novas figuras e assente numa leitura atualizada da
ideologia personalista de inspiração democrata cristã, que é hoje a grande alternativa
ao socialismo e à social-democracia. Um projeto aberto à participação de todos os
cidadãos, que aposte na formação ética e ideológica da sua base de apoio e defina,
com o contributo de todos, um programa e uma estratégia de longo prazo para o país
que possa constituir uma renovada esperança de progresso económico, social e
cultural para Portugal, verdadeiramente mobilizadora dos portugueses.
Num país desigual, onde as diferenças de rendimento são enormes, o nepotismo e o
clientelismo imperam e a autoridade é considerada repressiva, a cultura de esquerda
é naturalmente dominante. Mas isto acontece também porque não existe uma
cultura de direita capaz de acolher a esperança dos cidadãos numa vida melhor, que
é afinal o desejo de todos os seres humanos. Antes de mais é necessário construirmos
essa nova cultura. A afirmação dos valores universais do humanismo e a crítica
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fundamentada do relativismo e da negação das diferenças naturais e éticas entre as
pessoas, incluindo as de género, são a pedra de toque para uma nova cultura de
direita, moderna e solidária, que se proponha governar sem complexos uma
sociedade heterogénea, dando esperança aos cidadãos numa vida mais feliz. A defesa
da vida humana e da sua intangível dignidade é um princípio fundamental, bem como
a afirmação do papel primordial da família enquanto célula viva do tecido social.
Mas o CDS não pode reduzir o seu discurso a um registo radical, de rejeição irracional
ou odiosa das novas tendências sociais. Tem de dialogar criticamente com a esquerda,
de utilizar argumentos consistentes e de apresentar propostas adequadas ao tempo
em que vivemos, num aggiornamento permanente.
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3 – Afirmação de um pensamento político coerente
Para se afirmar eleitoralmente, com o seu projeto ideológico próprio e as soluções
que propõe para o país, o CDS tem de mostrar coerência, sentido de Estado e
indisponibilidade para ceder ao oportunismo político.
Do ponto de vista da economia política, o modelo que o CDS deve propor aos eleitores
é o da Economia Social de Mercado, que, aliás, está intimamente ligado ao processo
de integração económica e política que deu origem à União Europeia. Este modelo
não é mais do que a conciliação entre a livre iniciativa, governada pelas leis do
mercado, e a justiça social, assegurada pela intervenção reguladora do Estado.
Historicamente, é um modelo de sucesso em muitos países europeus, como a
Alemanha, a Áustria, os países escandinavos ou a Itália do sorpasso, no pós-II Guerra
Mundial. E é uma alternativa clara ao modelo neoliberal capitalista que tem como
consequências a especulação financeira, que nos levou à crise económica global de
2008, e o aumento da diferença entre o topo e a base da escala de rendimentos, que
é gerador de desigualdade social e está na origem de crises e revoltas sociais, que
podem ser tão graves como as que se vivem atualmente em alguns países da américa
latina.
O modelo da Economia Social de Mercado está enraizado na doutrina social cristã e
aponta para um desenvolvimento sustentável e integrado da sociedade,
considerando não apenas os indicadores do crescimento económico e de
competitividade, mas também os indicadores que se referem à desigualdade social e
à pobreza, cuja erradicação deve ser objetivo fundamental da política económica. O
Estado tem a obrigação ética de intervir na economia com medidas reguladoras e
políticas públicas capazes de corrigir os excessos e arbitrariedades do mercado e
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impedir que os cidadãos sejam reduzidos pela globalização económica à mera
condição instrumental de consumidores, atuais ou potenciais.
Depois das últimas décadas de neoliberalismo e após a crise financeira iniciada em
2008, que foi tão funda, dolorosa e prolongada, a pergunta essencial que se coloca é
a seguinte: que tipo de sistema económico é mais propicio ao bem-estar das pessoas,
ao bem comum da sociedade? Sabemos que, mesmo no período antes da crise, a
ordem neoliberal, não só conduziu o mundo a um crescimento económico menor do
que em épocas anteriores, como fez com que a maior parte da riqueza se acumulasse
no topo da escala de rendimentos. A própria cura para a crise económica preconizada
pela litania neoliberal, assente na receita da austeridade punitiva ou redentora,
revelou-se um erro, capaz de matar o doente mais depressa do que a doença, já
assumido pelas instituições da União Europeia e pelo próprio FMI.
Existem pelo menos três grandes alternativas políticas ao neoliberalismo: o
nacionalismo de extrema-direita, o socialismo democrático (ou social democracia) e
aquela que para nós deverá ser a opção do CDS: o humanismo social cristão. A direita
nacionalista renega a globalização, culpando os migrantes e os estrangeiros por todos
os problemas económicos e sociais e como tem demonstrado a presidência de Donald
Trump nos EUA, está empenhada em reduções fiscais para os mais ricos e na
eliminação de programas sociais. O socialismo democrático tem realmente como
objetivo moderar os excessos do mercado e reduzir as desigualdades económicas,
mas tende a ver o indivíduo mais como peça de uma engrenagem coletiva, do que
como pessoa livre e responsável pelas suas escolhas.
Dialogando com as outras perspetivas, o CDS deveria afirmar a sua prática política
através da defesa de uma espécie de capitalismo ético, assente nos valores cristãos,
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tão bem enunciados e desenvolvidos pela doutrina social da igreja católica, desde há
mais de cem anos. Trata-se de construir uma agenda económica capaz de restaurar o
equilíbrio entre o mercado, o Estado e a sociedade civil, no quadro do modelo já
acima descrito de uma economia social de mercado. O fraco crescimento económico,
a crescente desigualdade, a instabilidade financeira e a degradação do ambiente são
os quatro grandes problemas da economia atual e se todos eles nasceram do mercado
não poderão certamente ser resolvidos apenas pelo mercado.
Os governos têm o dever de promover o desenvolvimento económico a um ritmo
suficiente para permitir a Portugal abandonar a cauda da Europa em termos de
riqueza criada por habitante, o que não tem acontecido. Mas esse desenvolvimento
tem de ser equilibrado e sustentável, pelo que é necessária uma efetiva regulação dos
mercados através de normas imperativas, inspiradas pelos valores éticos
fundamentais do humanismo: a proteção dos mais vulneráveis, a paz e a segurança,
a defesa do ambiente, a dignidade do trabalho, a proteção da família, a função social
da riqueza, etc. É também tarefa do governo fazer o que o mercado não pode fazer
ou não quer fazer, tal como investir decisivamente em investigação científica
fundamental, na cultura, na educação, na saúde e na eficiência dos serviços públicos
essenciais.
No mundo atual, as questões ambientais assumem uma importância fundamental e
não podem ser abandonadas ao campo da esquerda e dos partidos ecologistas, pelo
que se impõe que, à direita, o CDS desenvolva um discurso ambiental devidamente
estruturado. Este discurso deve basear-se na defesa do desenvolvimento sustentável,
por meio de soluções equilibradas e integradas, assentes na dignidade da pessoa
humana e numa visão ecocêntrica do planeta, inspirada num ideal de harmonia entre
o homem e a natureza, e na solidariedade intergeracional. Dentro desta perspetiva,
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as leis do mercado não podem prevalecer sobre as exigências de proteção ambiental
e de preservação dos recursos naturais.
O CDS precisa de recuperar a herança de Freitas do Amaral e Amaro da Costa, que
fundaram o CDS como partido centrista e deram-lhe a consistência programática e
ideológica, aspirando a que o CDS se tornasse num grande partido democrata cristão
interclassista, à imagem e semelhança dos partidos equivalentes nos países mais
desenvolvidos da Europa ocidental, como a CDU na Alemanha. Durante a primeira
fase da liderança de Freitas do Amaral o CDS chegou mesmo a conseguir 16% de votos
numa eleição legislativa!
Político e estadista brilhante, graças à sua acutilante inteligência e à sua excecional
formação jurídico-política, Freitas do Amaral foi um doutrinador, com uma profunda
cultura política, filosófica e histórica, escrevendo brilhantemente em várias áreas, e
manteve sempre o seu pensamento e as suas convicções de democrata cristão. Foi
presidente da União Europeia das Democracias Cristãs, onde exerceu grande
influência para acelerar a entrada de Portugal na então CEE, em paralelo ao esforço
de Mário Soares no seio da Internacional Socialista. Afastou-se do CDS quando o
partido tomou outros rumos ideológicos, negando a sua matriz fundacional centrista
e democrata cristã, mas isso não deve impedir o CDS de honrar a sua memória, pois
Freitas do Amaral foi sempre fiel a si mesmo e às suas convicções, mesmo depois de
se tornar independente, tendo sido por várias vezes chamado a altas funções políticas
nacionais e internacionais pelos partidos social democrata e socialista, com os quais
a doutrina social da igreja, de que sempre foi defensor, permite naturais e históricas
convergências, no plano político-económico.
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O CDS deve, pois, recuperar a sua coerência, reconciliar-se com o seu passado e
retomar uma prática política consentânea com a sua matriz programática, idealizada
por Freitas do Amaral e Amaro da Costa, assente na doutrina democrata cristã, único
caminho que lhe permitirá crescer eleitoralmente num movimento interclassista,
aberto e tolerante, deixando de ser o pequeno partido de direita sem ideias nem
convicções em que ultimamente se tornou. É lamentável que na recente morte de
Freitas do Amaral, a líder do CDS não tenha sido capaz de dizer nada de substancial
sobre o fundador e primeiro presidente do partido, que foi uma figura ímpar da
história do Portugal moderno. Apenas os antigos líderes Ribeiro e Castro e Manuel
Monteiro salvaram a honra do partido, com as intervenções brilhantes que fizeram
na comunicação social sobre a sua figura.
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4 – Ser oposição construtiva e aberta ao diálogo interpartidário
Um partido existe para defender e procurar que sejam postas em prática as ideias
que os seus membros consideram as mais adequadas para a construção de uma
sociedade mais pacífica, mais segura e mais justa, que proporcione a todos os
cidadãos maior bem-estar económico, social, cultural e ambiental. O que é necessário
ao país e valoriza o CDS, enquanto oposição ao governo, é a apresentação de
propostas construtivas, inteligentes e bem fundamentadas, que possam merecer a
aprovação no parlamento. Não basta apresentar propostas avulsas, sabendo à partida
que não serão aprovadas, apenas para ficar bem na fotografia. Há que procurar
efetivos consensos com o Partido Social Democrata e o Partido Socialista, baseados
na visão ideológica matricial do CDS, centrada na defesa de uma economia social de
mercado.
É fundamental que a prática política do CDS se mostre contrastante com a oposição
destrutiva que foi feita durante a anterior legislatura, que parecia ter como único
objetivo o regresso ao poder para contentar clientelas partidárias e retomar a política
de austeridade neoliberal. Esse período de acolhimento da Troika e dos seus ditames,
com os cortes nas pensões e nos salários, a permanente contração da economia e a
ausência de perspetivas de futuro, causou em milhões de portugueses um
traumatismo tão forte que, com o passar do tempo, se transformou numa impressão
neuronal de tipo emocional, que como nos ensinou o Prof. António Damásio no seu
“Erro de Descartes” é uma memória que dificilmente se apaga. Pelo que, enquanto o
CDS mantiver na ribalta política os protagonistas desse período e não reconhecer
humildemente os seus erros, jamais reconquistará a confiança desses inúmeros
portugueses que retêm a memória emocional das provações que sofreram durante o
período da troika.
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O CDS deve ter um discurso centrado nas pessoas e na sociedade e não na crítica
cerrada da esquerda. É necessário um percurso de reconhecimento. E reconhecer é
antes de tudo saber quem é o outro e quem sou eu, ouvir melhor e aprender a ver
em profundidade. Temos de nos tornar mais próximos do cidadão comum e dos seus
legítimos anseios. Apostar num Portugal mais desenvolvido e mais moderno, mas
também mais justo e mais solidário, pois para um humanista, o ser humano e a sua
felicidade são o padrão e a medida de todas as opções políticas.
Uma alternativa partidária forte na área da direita democrática deve seguir um
caminho separado e independente de qualquer outra força política, mas tem de estar
disponível para convergências com outros partidos, quando estejam em causa as
grandes reformas do Estado ou o superior interesse nacional. Nenhum partido se
pode fechar hoje sobre si próprio. Uma postura destrutiva e injuriosa dos adversários
políticos não se coaduna com os valores éticos da direita personalista e democrata
cristã e ainda que seja motivada por mero taticismo eleitoral, é prejudicial para o país
e para os portugueses e, na prática, tem conduzido os líderes partidários que a
adotam ao suicídio político, como aconteceu com Assunção Cristas.
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5 – Dar voz às bases do partido e à cidadania A nova direção do CDS deve ter como linha estruturante de ação partidária dar voz e
relevância política às bases do partido e, em especial, à juventude e aos trabalhadores
democratas-cristãos. Deve apostar na promoção de uma cidadania ativa e informada,
no apelo à participação política dos independentes e na afirmação de um partido
interclassista, qualificado através da escolha dos seus dirigentes com base na sua
elevação ética e no seu mérito cívico e profissional.
Há que romper com o modelo de organização partidária centralizadora, dominada
pelo sectarismo de um punhado de dirigentes, que gerem o partido como se este
fosse uma “quinta” sua, olhando para as estruturas e os militantes de base como
meras correias de transmissão do seu discurso demagógico de crítica obsessiva e
destrutiva dos adversários políticos.
É urgente implementar estatutariamente a eleição direta do Presidente do Partido,
que é o método mais democrático de escolha do líder, que já há muito foi adotado
por PS e PSD, uma vez que é menos propício a manobras de bastidores que possam
influenciar o resultado das votações nos congressos.
Os dirigentes nacionais do CDS e os deputados eleitos deverão dar um apoio
permanente às estruturas locais e aos militantes de base, através da disponibilização
de formação política e ideológica, de informação e de apoio técnico e logístico
adequado, pois os militantes de base são os verdadeiros impulsionadores do
crescimento e da implantação do partido.
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Neste contexto, defendemos a valorização das organizações autónomas, Juventude
Popular e Federação dos Trabalhadores Democratas Cristãos, através de um
aprofundamento permanente do diálogo, ouvindo-as obrigatoriamente em parecer
antes de ser definida qualquer opção partidária em matéria de juventude ou em
matéria laboral e apoiando-as política e materialmente para que tenham condições
adequadas de dignidade e eficácia. Cada uma destas organizações, JP e FTDC, deverá
indicar um candidato a Deputado para figurar nas listas em lugar previsivelmente
elegível, para enriquecimento de um futuro grupo parlamentar do CDS nos temas
relacionados com a juventude e com o mundo do trabalho.
Os eleitores têm consciência que, muitas vezes, elegem representantes a tempo
parcial e com outros interesses económicos ou mediáticos. Precisamos de titulares de
cargos públicos a tempo inteiro, que se entreguem totalmente ao compromisso
assumido com os eleitores, exercendo os seus cargos com responsabilidade e espírito
de missão e privilegiando o contacto direto com o povo.
Os Deputados à Assembleia da República são eleitos por círculos eleitorais
geograficamente definidos na lei, pelo que deverá abolir-se a imposição, pela direção
nacional do partido, de candidatos que não sejam residentes ou naturais do círculo
eleitoral por onde se candidatam, já que essa prática enfraquece a democracia
representativa e é uma desconsideração grave para com os militantes e simpatizantes
do partido nessas regiões.
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6 – Ser farol de esperança para os portugueses
O CDS deve apostar na instauração em Portugal de uma dinâmica social de
cooperação e concertação, aberta à integração de todos, mesmo daqueles que sejam
oriundos de outras geografias e tenham heranças culturais distintas, desde que
aceitem responsavelmente tomar parte numa sociedade que não renega os valores
éticos fundamentais em que se encontra histórica e culturalmente baseada: a paz, a
ordem pública, a justiça, o trabalho, a solidariedade. Não podemos admitir uma
imigração massificada ou descontrolada, que ponha em causa a estabilidade social do
país e os valores da nossa tradição cristã, que nos estruturaram como um dos mais
antigos Estados-Nação europeus. Uma filosofia de integração através da cooperação
responsável tem potencial para se sobrepor aos ideais da competição e do conflito,
que predominam nas relações económicas atuais, ainda hoje marcadas pelo
materialismo dialético pós-hegeliano. É necessário que as pessoas se organizem em
rede para trabalharem juntas para um futuro melhor e embora os mercados tenham
um papel crucial na interação económica e social, só cumprirão os objetivos do
desenvolvimento sustentável se forem governados pelo Estado de Direito e sujeitos
ao seu controlo democrático.
O capitalismo ético deve procurar a construção do bem comum. Para isso é necessário
enfrentar o problema da concentração excessiva de poder no mercado. Ao
explorarem as vantagens do acesso a grandes mananciais de informação sobre os
consumidores e os seus comportamentos (big data), as empresas e organizações
financeiras globais adquirem posições dominantes no mercado, que são perigosas
para os direitos fundamentais dos cidadãos. Com a sofisticação dos seus
conhecimentos tecnológicos e os enormes recursos financeiros que possuem, as
grandes empresas adquirem os potenciais concorrentes e criam barreiras à entrada
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António Barreto Archer 21
de novos players nos negócios, restringindo a concorrência e esmagando a pequena
iniciativa privada. Este fenómeno contribui para o fraco crescimento económico, para
o aumento do desemprego e para a desigualdade na escala de rendimentos. A menos
que os governos assumam um papel muito mais ativo do que aquele que o
neoliberalismo prescreve, estes problemas agravar-se-ão no futuro próximo, devido
aos previsíveis avanços da robótica e da inteligência artificial.
Como refere o Prof. Paulo Mota da Faculdade de Economia da Universidade do Porto,
no seu livro “Austeridade expansionista”, com o subtítulo “como matar uma ideia
zombie”, que é uma obra de referência escrita numa linguagem acessível mas muito
exata, a ideia da austeridade expansionista, apesar de ser uma ideia morta, continua
a caminhar, ou seja, é algo que se sabe que não funciona, mas que continua a ter
seguidores e a fazer estragos! É preciso que o CDS assuma perante os portugueses a
evidência, já reconhecida por muitos economistas e políticos conservadores, de que
a austeridade não produziu nenhum tipo de crescimento, tendo sido um fracasso em
todos os lugares e em todos os tempos.
Portugal precisa de um projeto político novo, que renove a esperança dos
portugueses numa alternativa credível à atual solução de governo liderada pelo
Partido Socialista. Um projeto que se distinga do ideário socialista, mas tenha uma
matriz ideológica sólida, assente numa visão personalista da sociedade e da vida,
inspirada nos grandes valores éticos da nossa tradição histórico-cultural, de génese
cristã.
Uma direita conservadora, personalista e democrática deve ser capaz de impedir o
Estado de controlar tudo e todos, mas deve combater também os “poderosos” que,
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na sombra do poder, dominam muitas vezes os regimes políticos e a economia. O
capital não existe sem o trabalho e este é um direito fundamental, que dignifica o ser
humano, pelo que ser de direita não é opor-se ao mundo sindical ou demonizar as
conquistas sociais da esquerda, mas ser capaz de defender a conciliação entre o
trabalho e o capital, entre a liberdade individual e o bem comum da nação. A direita
não pode apresentar-se para governar apenas em situações de bancarrota, como
campeã da austeridade e da imposição de sacrifícios às classes sociais mais
desfavorecidas.
O português é um misto de sonhador e de homem de ação. A sua motivação não tem
raízes na vontade fria, mas alimenta-se da imaginação e de um idealismo emotivo. O
português é profundamente solidário, sensível e amoroso. E o amor está sempre na
base de todas as grandes obras humanas, expressões reais do amor ao próximo numa
sociedade solidária. A mentalidade portuguesa deu origem a um estado de alma
caraterístico que denominamos saudade. Saudade daqueles que nos precederam e
construíram o presente de que nos orgulhamos enquanto seus sucessores. O
etnólogo Jorge Dias definia a saudade como um estranho sentimento de ansiedade
que resulta da combinação de três tipos mentais distintos: o lírico sonhador, mais
aparentado com o temperamento céltico, o fáustico de tipo germânico e o fatalístico
de tipo oriental. Por isso, a saudade é umas vezes um sentimento poético de fundo
amoroso. Outras vezes é uma ânsia permanente da distância, de outros mundos, de
outras vidas, que leva à realização das maiores empresas. Outras vezes ainda,
sobretudo nas épocas de infortúnio, a saudade alimenta-se morbidamente das glórias
passadas e cai no fatalismo de tipo oriental, de que parece ser expressão artística o
nosso fado, cujo nome provém do étimo latino fatu (destino, fatalidade).
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Este temperamento explica os períodos de grande apogeu e de grande decadência da
história portuguesa. Mas o português não degenerou, as suas virtudes e defeitos
mantiveram-se através dos séculos. As manifestações do seu caráter é que variam
conforme as circunstâncias históricas. Quando o português é chamado a
desempenhar um papel importante e difícil põe em jogo todas as suas qualidades de
ação, espírito de sacrifício e coragem e é capaz de grandes e gloriosos feitos. Mas se
o chamam a desempenhar um papel banal ou rotineiro, que não satisfaz a sua
imaginação, o português esmorece e falha frequentemente objetivos que à partida
se pensaria serem facilmente alcançáveis.
Em épocas extraordinárias, quando determinados acontecimentos históricos
puseram à prova o seu valor ou durante a gloriosa gesta dos descobrimentos, os
portugueses encheram-se de esperança e revelaram o seu génio em obras de
excecional valia. Porém, nos períodos de crise ou de estagnação instala-se em nós
uma espécie de apatia coletiva, um sentimento exacerbado de crítica e somos
dominados pela tal saudade fatalista.
Cabe-nos a nós, pois, portugueses de hoje, encarnar este génio intemporal,
ultrapassar velhos fantasmas, e, inspirados no passado que celebramos,
reinventarmos um futuro de desenvolvimento e de solidariedade. Num mundo global
e complexo, cheio de infinitas possibilidades de desenvolvimento, mas também de
inúmeras misérias e conflitos, a nossa missão é mais importante do que nunca:
inspirar os portugueses a olhar o futuro com otimismo e renovada esperança.
Partamos para esse futuro, com criatividade, inspirados nos versos do poeta chileno
Pablo Neruda, no sublime poema que escreveu sobre Portugal, intitulado"A lâmpada
marinha":
“Portugal, volta ao mar, a teus navios
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Portugal volta ao homem, ao marinheiro, volta à tua terra, à tua fragrância, à
tua razão livre no vento, de novo… à luz matutina do cravo e da espuma.
Mostra-nos teu tesouro, teus homens, tuas mulheres, não escondas mais teu
rosto de embarcação valente posta nas avançadas do Oceano.
Portugal, navegante, descobridor de Ilhas, inventor de pimentas, descobre o
novo homem, as ilhas assombradas, descobre o arquipélago no tempo.
Navega, Portugal, a hora chegou, levanta tua estatura de proa e entre as ilhas
e os homens volta a ser caminho. A esta idade agrega tua luz, volta a ser lâmpada
aprenderás de novo a ser estrela...”
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7 – Conclusão
A afirmação dos valores universais do personalismo, que vê os seres humanos como
pessoas e não como peças de uma engrenagem coletiva ou meros consumidores, e a
oposição fundamentada ao relativismo e ao individualismo devem constituir a base
doutrinária de um renovado CDS. Um CDS que se afirme numa sociedade
heterogénea e em mutação, convictamente, como alternativa política no campo da
direita moderada. Uma direita moderna e solidária, capaz de dar esperança aos
cidadãos numa vida mais feliz, que é afinal o desejo elementar de todos os seres
humanos.
A defesa da vida humana e da sua intangível dignidade é um princípio fundamental,
a afirmar contra qualquer cultura de morte, assim como o reconhecimento do papel
primordial da família natural enquanto célula viva do tecido social.
Mas o CDS não pode reduzir o seu discurso a um registo radical, de rejeição
injustificada de novas expressões sociais. Tem de saber dialogar criticamente com
todas as forças políticas, da esquerda à direita, utilizar argumentos consistentes e
apresentar propostas adequadas ao tempo em que vivemos, num aggiornamento
permanente, recusando a mera tática conjuntural ou o jogo mesquinho dos poderes.
Uma direita personalista e democrática deve recusar um Estado castrador da
iniciativa privada, mas não pode deixar de combater quaisquer formas não
escrutinadas de poder económico ou financeiro e de se opor tenazmente à corrupção
e ao nepotismo.
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Eticamente, o CDS deve centrar-se na defesa do personalismo e da dignidade da
pessoa humana, fundamento básico do princípio constitucional da igualdade. Deve
combater o primado dos interesses sobre os valores, do casuístico sobre o
importante, do individualismo sobre a solidariedade, do ceticismo sobre a esperança.
Deve saber conservar os valores fundamentais da vida em sociedade, combatendo o
relativismo amoral e o consumismo desenfreado.
Economicamente, o CDS deve defender uma economia social de mercado,
transparente, eficaz, que elimine o desperdício irresponsável de recursos coletivos,
mas em que as preocupações sociais estejam presentes. Uma economia que seja
capaz de conciliar o crescimento económico com o desenvolvimento pleno do ser
humano, nos planos social, cultural e ambiental.
Socialmente, o CDS deve desenvolver os ensinamentos da doutrina social cristã, na
defesa dos pobres, dos excluídos, dos que sofrem a solidão e a ignorância, fazendo
suas as causas socias e assegurando a sustentabilidade do Estado Social. O CDS deve
saber exprimir equilibradamente o direito ao trabalho e o dever de trabalhar,
valorizando o mérito e defendendo a conciliação entre o trabalho e a vida familiar,
bem como a indispensável regulação ética do capitalismo, tendo em vista o objetivo
maior da prossecução do bem comum.
Ambientalmente, o CDS deve defender o desenvolvimento sustentável, por meio de
soluções equilibradas e integradas, assentes na dignidade da pessoa humana e numa
visão ecocêntrica do planeta, inspirada num ideal de harmonia entre o homem e a
natureza. Dentro desta perspetiva, as leis do mercado não devem prevalecer sobre as
exigências de proteção ambiental e de preservação dos recursos naturais, face ao
imperativo da solidariedade intergeracional.
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Do ponto de vista europeu, o CDS deve saber exprimir o direito à afirmação das
culturas e línguas dos diferentes povos e nações e defender o aprofundamento do
princípio da subsidiariedade com a menor erosão possível da soberania. O CDS deve
lutar contra uma Europa burocrática, adormecida, egoísta e espiritualmente
redutora.
Estruturalmente, o CDS deve preconizar o robustecimento ético do Estado de Direito
Democrático enquanto garante da paz e do bem comum. Um Estado de rigor, que
esteja realmente ao serviço da sociedade e não das suas próprias conveniências.
O CDS deve pugnar por uma melhor e mais célere administração da justiça, por uma
segurança eficaz e humanizada, pela coesão do território e por um sistema fiscal
redistributivo, que favoreça o trabalho, a iniciativa privada e a natalidade. O CDS deve
empenhar-se numa educação que não seja apenas informativa, mas verdadeiramente
formativa, tanto da inteligência como do carácter.
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Nota biográfica do 1º subscritor da moção
António Casimiro de Freitas Borges Barreto Archer nasceu em Guimarães em 22 de
dezembro de 1967, vive e trabalha no Porto. Ingressou no CDS após as eleições
autárquicas de 2017, nas quais foi mandatário da candidatura de António Parada à
Câmara Municipal de Matosinhos, baseada no movimento independente SIM, que
teve o apoio eleitoral do CDS e obteve 15% dos votos. A sua filiação no CDS ocorreu
na sequência de um convite que lhe foi feito pelo então Presidente da Comissão
Política Concelhia de Matosinhos, convite esse que aceitou porque sempre foi,
ideologicamente, um democrata cristão, na linha do pensamento de Freitas do
Amaral e Adelino Amaro da Costa, e entendeu ser seu dever ético, na fase da vida em
que se encontrava, pôr os conhecimentos académicos e profissionais que teve a
felicidade de adquirir e alguma experiência de intervenção cívica e associativa que foi
obtendo, ao serviço dos seus concidadãos.
É Licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa (2001) e Pós-Graduado
em Direito do Ordenamento, Urbanismo e Ambiente pela Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra (2005). É também Licenciado em Engenharia Química pela
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (1990) e Mestre em Engenharia
do Ambiente pela mesma Faculdade (1997). Realizou cursos de pós-graduação
especializada em Inovação Tecnológica (Agência de Inovação, 1993), Avaliação de
Impacte Ambiental (IPAMB, 1996) e Direito do Petróleo (Sociedade Portuguesa de
Direito Internacional, 2014).
Exerce a sua atividade profissional como advogado, com escritório no Porto, tendo,
para além do patrocínio de mais de quinhentos processos judiciais, liderado mais de
uma centena de projetos na área jurídica, incluindo projetos de investimento público
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e empresarial, na área da agricultura e setor primário (petróleo e gás), indústria,
comércio e serviços. Atualmente, é o líder e CEO do Consórcio de Advogados Archer
& Associados, projeto que integra 6 advogados e da sociedade Archer Consulting,
dedicada à consultoria económico-financeira, onde atua também como
engenheiro/jurista e consultor. É ainda professor na Universidade Lusófona do Porto
e na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde tem lecionado cadeiras
de direito e engenharia, nos domínios do ambiente, da política energética, da
proteção civil, do urbanismo e da ética.
É autor de diversos trabalhos científicos e académicos, vinte e cinco publicações nas
áreas da engenharia, direito e ética e do livro "Direito do Ambiente e
Responsabilidade Civil", publicado em 2009 pela editora Almedina. Tem participado
como orador em diversos colóquios, seminários e conferências sobre temas técnicos
e jurídicos e foi formador durante mais de 15 anos nos Cursos de Ética e Deontologia
da Ordem dos Engenheiros. Fez ainda três estágios profissionais em Itália, nas áreas
da gestão e engenharia industrial (1994, 2002 e 2005), abrangendo domínios como o
tratamento de efluentes industriais líquidos e gasosos, a refinação de óleos e a
produção de biodiesel.
Na Ordem dos Advogados exerceu os cargos de Presidente de Delegação, Vogal do
Conselho Geral entre 13 de maio de 2013 e 10 de janeiro de 2014 e Presidente da
Comissão Nacional de Estágio e Formação entre 2014 e 2017. É Membro Sénior da
Ordem dos Engenheiros, onde exerceu os cargos de Vogal do Conselho Regional do
Norte do Colégio de Engenharia Química no triénio 1998/2001, Vogal do Conselho
Disciplinar da Região Norte no triénio 2001/2004 e de Vogal do Conselho Jurisdicional
no triénio 2016/2019.