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1 Unidade 4 - ACOMPANHANDO AS CONTAS PÚBLICAS Nessa unidade, vamos ter oportunidades de conhecer as formas de fazer o acompanhamento das contas públicas. Nosso diálogo se dará em torno da prestação de contas públicas e sobre as formas que todo cidadão dispõe para fundamentar e encaminhar denúncias de irregularidades quando necessário. Esperamos, que ao final, você possa reconhecer os locais aonde se encontram disponíveis as documentações referentes às receitas e despesas das contas públicas, identificar possíveis irregularidades e fundamentar e encaminhar denúncias às instituições competentes, exercendo sua cidadania. 8. ACOMPANHANDO AS CONTAS PÚBLICAS 8.1 Prestação de Contas Já falamos muito sobre orçamento participativo. Agora é hora de dar um passo além e, efetivamente, acompanhar e vigiar as contas públicas, na hora da execução do orçamento. Vamos lá?

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Educação fiscal

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    Unidade 4 - ACOMPANHANDO AS CONTAS PBLICAS

    Nessa unidade, vamos ter oportunidades de conhecer as formas de fazer o acompanhamento das contas pblicas. Nosso dilogo se dar em torno da prestao de contas pblicas e sobre as formas que todo cidado dispe para fundamentar e encaminhar denncias de irregularidades quando necessrio.

    Esperamos, que ao final, voc possa reconhecer os locais aonde se encontram disponveis as documentaes referentes s receitas e despesas das contas pblicas, identificar possveis irregularidades e fundamentar e encaminhar denncias s instituies competentes, exercendo sua cidadania.

    8. ACOMPANHANDO AS CONTAS PBLICAS

    8.1 Prestao de Contas

    J falamos muito sobre oramento participativo. Agora hora de dar um passo alm e, efetivamente, acompanhar e vigiar as contas pblicas, na hora da execuo do oramento. Vamos l?

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    Voc concorda que uma ampla mobilizao da comunidade muitas vezes consegue colocar no Oramento recursos para a construo de uma creche para o bairro? Observe porm que a construo da creche no estar garantida, pois o Oramento no obriga a Prefeitura a fazer o que est previsto. Os recursos para construo da creche

    previstos no Oramento tornam-se instrumento de presso bastante forte sobre o governo. Nesse caso, o gasto est autorizado e, se a Prefeitura no o realizar, cabe sociedade organizada pression-la, exigindo esclarecimentos e sua possvel realizao.

    A publicao da Lei Oramentria do exerccio autoriza a execuo das despesas pelos responsveis. Entretanto, o chefe do Executivo pode bloquear a realizao da despesa por meio do dispositivo chamado contingenciamento, ou seja, a autoridade maior no libera recursos autorizados pela Lei Oramentria. O contingenciamento serve para equilibrar a realizao da despesa com a receita obtida, mas tambm serve para impedir a realizao de uma ao prevista na lei e que no seja de seu interesse.

    Isso quer dizer que no basta incluir uma reivindicao no plano plurianual, nas diretrizes e no oramento anual; necessrio tambm acompanhar o desenrolar da execuo oramentria. Isto pode ser feito por meio da anlise dos demonstrativos contbeis que o Executivo obrigado a publicar. Lembrando que, de dois em dois meses, cada governo obrigado pela LRF a

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    publicar um relatrio resumido da execuo do respectivo oramento inclusive divulgar na internet.

    Outra forma mais eficaz seria a aferio, isto , a verificao fsica do servio, da obra reivindicada. De qualquer forma, informaes detalhadas podero ser obtidas, todos os meses, na Inspetoria Regional do Tribunal de Contas, onde possvel, inclusive, o acesso aos processos e documentos.

    Atente que qualquer cidado poder requerer ao Executivo essas informaes, pois so de interesse geral, e no fornec-las considerado crime de responsabilidade. Essa avaliao permanente fundamental para evitar desvios de recursos e orientar outras aes, como denncias aos rgos competentes.

    Anualmente, durante sessenta dias (abril e maio), toda a documentao do ano anterior referente receita e s despesas da Mesa da Cmara e da Prefeitura fica disponvel para exame dos contribuintes e dela pode-se obter certido para efeito de denncia de irregularidade.

    Em qualquer ocasio, os cidados podero ainda examinar as licitaes e denunciar irregularidades perante o Ministrio Pblico e, no caso de indcios de enriquecimento ilcito, requerer instaurao de inqurito (Lei n 8.666/93).

    8.2 Como Denunciar?

    Importante! O objetivo do chamado Controle Social verificar se o dinheiro est sendo usado adequadamente ou se est sendo desviado para outras finalidades. Mas os agentes desse controle no podem julgar nem punir, afastando ou prendendo os responsveis por irregularidades. Esse papel, nos pases democrticos, cabe Justia, que precisa ser acionada pelo Ministrio Pblico (Promotor) ou mesmo por qualquer cidado.

    Assim, pode haver casos em que o cidado, ao exercer o Controle Social, depare com irregularidades na gesto dos recursos ou com outras situaes em que seja necessrio encaminhar denncias aos rgos responsveis.

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    Nesses casos, recomenda-se que a denncia seja encaminhada da forma mais fundamentada possvel, o que poder ser feito de vrias maneiras:

    Cpia de documentos

    Caso haja acesso aos documentos e processos, deve-se copiar aquelas partes que comprovam as informaes denunciadas e encaminh-las junto com o formulrio de denncias. Por exemplo, notas fiscais, contratos, oramentos, cpias de cheques etc.

    Fotos

    O registro fotogrfico importante para comprovar a divergncia entre uma situao desejada e uma situao real. As fotos so recomendadas, por exemplo, no caso de obras declaradas como concludas e que esto inacabadas ou que nem sequer foram iniciadas. Tambm podem comprovar a existncia de estoques inadequados (alimentos, medicamentos etc.); a utilizao indevida de equipamentos, veculos e mquinas ou, ainda, a realizao de promoo pessoal do agente pblico. Da mesma forma, quando verificado que uma empresa fornecedora ou participante de uma licitao no existe no endereo informado nos documentos, pode-se fotografar o local informado para auxiliar na comprovao desse fato.

    Declaraes e entrevistas

    Pode-se entrevistar ou solicitar declaraes da populao com relao ao fato denunciado. A populao pode, por exemplo, informar quando uma determinada obra foi iniciada, se foi executada pela empresa que venceu a licitao, quais foram as caractersticas da construo etc. H tambm

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    a possibilidade de se entrevistar os funcionrios que executaram determinada obra pblica para verificar se eles realmente trabalharam na empresa vencedora da licitao. Da mesma forma, os vizinhos dos endereos informados pelas empresas fornecedoras e participantes de licitaes podem ser entrevistados para confirmar se elas realmente existem naquele local.

    Outra possibilidade coletar declaraes assinadas de pessoas que deveriam ser beneficiadas com aes do poder pblico, mas que no foram corretamente assistidas. No caso do Bolsa-Famlia, por exemplo, a populao tambm pode informar se os beneficirios possuem o perfil necessrio para receber os recursos do Programa (situao de pobreza ou de extrema pobreza).

    No corpo da denncia deve ser informado o nmero de pessoas entrevistadas. As declaraes devem conter a identificao de quem as assina e devem ser enviadas juntamente com o formulrio de denncia.

    Informaes obtidas por pesquisa

    O denunciante pode obter informaes relevantes e tambm anex-las denncia. Por exemplo, dados cadastrais das empresas contratadas podem ser pesquisados no stio www.sintegra.gov.br

    J os dados sobre recursos federais transferidos aos Estados e Municpios ou informaes sobre os convnios firmados podem ser obtidos no Portal da

    Transparncia www.portaldatransparencia.gov.br

    Agora vamos conhecer algumas instituies parceiras da sociedade civil, as quais tm o dever de receber e processar as denncias formuladas por qualquer cidado ou associao:

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    A denncia pode ser apresentada por meio do preenchimento e envio do formulrio eletrnico de denncia, disponvel no stio da CGU.

    http://www.cgu.gov.br

    Ao TCU cabe a fiscalizao dos atos que envolvam a utilizao de recursos pblicos federais. Para irregularidades que envolvam a utilizao de recursos pblicos estaduais ou municipais, deve-se oferecer denncia ao Tribunal de Contas do Estado ou ao Tribunal de Contas do Municpio, quando existir.

    As denncias que cabem ao TCU podem ser encaminhadas das seguintes maneiras:

    denncia formal mediante entrega da documentao no protocolo do TCU, no edifcio sede ou nas secretarias regionais;

    reclamao via Ouvidoria - mediante preenchimento de formulrio eletrnico, disponvel no stio do TCU, link Ouvidoria;

    central de atendimento (0800-6441500). http://www.tcu.gov.br

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    Esses gestores podem ser governadores, prefeitos, secretrios estaduais e municipais, ordenadores de despesas e dirigentes de autarquias, fundaes, empresas pblicas ou sociedades de economia mista.

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    9. LEI DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

    Nossa Constituio inaugurou um novo tempo no cenrio da participao popular. Muitos caminhos foram abertos. A sociedade est aprendendo a participar e a se interessar pelo que coletivo, como podemos ver, por exemplo, nas iniciativas de controle social.

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    Praticar o exerccio do controle social uma jornada que nos leva a discutir o controle dos gastos pblicos e a destinao dos recursos imprescindveis ao desenvolvimento do nosso pas.

    Nesse sentido, foi aprovado pelo Senado, em abril de 2009, o Projeto de Emenda Constituio PEC n 29/2003, que trata da Lei de Responsabilidade Social. O Projeto, aprovado em primeiro turno (passar por um segundo turno de votao), se prope a redesenhar a ao do Estado, criando estratgias capazes de dirimir as dificuldades decorrentes dos atuais procedimentos administrativos causadores das perniciosas desigualdades sociais.

    Conforme encontra-se em www.senado.gov.br/sf/publicacoes/diarios/pdf/sf/2009/04/01042009/08223.pdf

    Os principais pontos da Proposta de Emenda Constitucional so:

    1. Estabelece que os parmetros indicados devem ser detalhados em uma lei complementar, a ser denominada Lei de Responsabilidade Social;

    2. Exige do administrador pblico o cumprimento de metas chamadas Macrossociais, a serem adotadas nos trs nveis de governo e que definiro as prioridades gerenciais na rea social;

    3. Prope tambm na PEC a instituio de um ndice de Responsabilidade Social, de modo a permitir a verificao do cumprimento dessas metas;

    4. Indica que a iniciativa de elaborao de uma Lei de Responsabilidade Social pode ser inserida dentro dos esforos para alcance dos objetivos das metas do milnio;

    5. Entende que o processo de responsabilidade, na gesto social, passa pela definio e normalizao de metas Macrossociais para o Pas, a exemplo das metas Fiscais e Macroeconmicas;

    6. Ressalta a necessidade de parmetros slidos para avaliar as aes que interessam s camadas mais pobres da populao, de modo que a ao estatal promova significativa melhoria na qualidade da vida e a integrao dessa parcela de pessoas s foras produtivas da sociedade.

    Segundo Rud Ricci (2004):

    () O tema da criao de uma Lei de Responsabilidade Social vem despertando a ateno de movimentos e redes sociais envolvidas com a construo de um sistema de controle social sobre a gesto estatal, em especial sobre a execuo oramentria em nosso pas nos ltimos anos. ()

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    ( ) A elaborao de uma rgida Lei de Responsabilidade Social redefiniria o desenho da ao pblica no Pas. Poderia, assim, criar uma estratgia nacional de articulao de esforos para superao da desigualdade social, definindo padres mnimos de investimento, de resultado e, principalmente, estabelecendo um amplo sistema de monitoramento e avaliao participativa dos gastos pblicos ()

    10. EDUCAO FISCAL E DEMOCRACIA

    Em concluso, a democracia exige duas condies bsicas e simples:

    Primeiro, todo imposto tem que ser criado por lei, ou seja, um governo s pode exigir um imposto depois que os representantes eleitos diretamente pelo povo tenham autorizado sua cobrana e a forma e a carga de sua exigncia.

    Segundo, todo gasto pblico precisa ser autorizado por lei, ou seja, um governo s pode aplicar o dinheiro pblico depois que os mesmos representantes eleitos pelo povo autorizem prvia e expressamente, atravs do oramento, como sero aplicados.

    Acompanhar as coisas e contas pblicas um direito elementar da cidadania e um pilar da responsabilidade social. Cabe reivindicar e participar ativamente das decises dos governos e dos legislativos sobre os recursos pblicos.

    Mas veja que o controle no deve se reduzir mera fiscalizao burocrtica. Os cidados podem pressionar o poder pblico para que haja transparncia em seus atos, que possam avaliar o desempenho da gesto e que cobrem a correo de eventuais irregularidades e a responsabilizao das autoridades e agentes polticos.

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    A democracia pressupe que a sociedade civil participe efetivamente desde a elaborao at a execuo do oramento pblico. A educao fiscal, que se procurou desenvolver atravs deste curso, um instrumento para o exerccio dessa liberdade democrtica.

    Finalizamos aqui o nosso curso!

    Parabns pela concluso!

    Esperamos que os nossos dilogos tenham contribudo para ampliar seus conhecimentos de forma a possibilitar sua participao de forma consciente e democrtica no exerccio de controle social e, ainda, auxiliar no engajamento de toda a sociedade nesses processos.

    Foi um prazer t-lo conosco nesta jornada!