modulaÇÃo do sistema dos peptÍdeos … · regulaÇÃo do sistema dos peptÍdeos natriurÉticos 8...

73
Mestrado em Medicina e Oncologia Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS EM MODELOS EXPERIMENTAIS DE UNINEFRECTOMIA E INSUFICIÊNCIA RENAL Carla Alexandra Ribeiro dos Santos Araújo Porto 2007

Upload: vanhuong

Post on 10-Nov-2018

227 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

Mestrado em Medicina e Oncologia Molecular da Faculdade

de Medicina da Universidade do Porto

MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS

PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS EM MODELOS

EXPERIMENTAIS DE UNINEFRECTOMIA E

INSUFICIÊNCIA RENAL

Carla Alexandra Ribeiro dos Santos Araújo

Porto 2007

Page 2: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

DISSERTAÇÃO DE CANDIDATURA AO GRAU

DE MESTRE APRESENTADA À FACULDADE DE

MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Page 3: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

INDICE

RESUMO 1

INTRODUÇÃO 2

SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 4 RECEPTORES DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS E SEUS LIGANDOS 5 ACÇÕES DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 6 REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 NÍVEIS PLASMÁTICOS DE BNP 9 PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS E REDUÇÃO DA MASSA RENAL 10

OBJECTIVOS 13

MATERIAL E MÉTODOS 14

ABLAÇÃO DA MASSA RENAL 14 ESTUDOS METABÓLICOS 15 AVALIAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL 15 AVALIAÇÃO HEMODINÂMICA DO VENTRÍCULO ESQUERDO 16 EXPANSÃO DE VOLUME 17 QUANTIFICAÇÃO DOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE BNP 18 HISTOLOGIA E IMUNO-HISTOQUÍMICA RENAIS 19 QUANTIFICAÇÃO DE ARNM ESPECÍFICO POR RT E REAL-TIME PCR 21 ANÁLISE ESTATÍSTICA 23

RESULTADOS 24

UNINEFRECTOMIA 24 NEFRECTOMIA DE ¾ 33

DISCUSSÃO 44

CONCLUSÕES 55

REFERÊNCIAS 56

Page 4: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

1

RESUMO

Introdução: A activação do sistema dos peptídeos natriuréticos (PN’s)

desempenha um papel importante nos mecanismos de adaptação renal à

expansão de volume. Apesar de estar descrito um aumento da actividade

do sistema dos PN’s nas situações de redução da massa renal como a

uninefrectomia e a insuficiência renal crónica, o papel deste sistema na

progressão da doença renal e no aumento da pressão arterial permanece

ainda por esclarecer. O objectivo do presente trabalho foi o de avaliar a

modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de

uninefrectomia e de insuficiência renal crónica. Material e Métodos: Ratos

wistar machos (n=83) foram submetidos a uninefrectomia (Unx) ou

nefrectomia de ¾ (¾nx). Duas, 10 e 26 semanas após a cirurgia procedeu-

se à avaliação da hemodinâmica cardíaca, dos níveis plasmáticos de BNP,

da resposta natriurética à expansão de volume e da expressão renal do

receptor efector (RPN-A) e do receptor de clearance (RPN-C) dos PN’s.

Resultados: Os animais Unx e ¾nx apresentaram ao longo do estudo um

aumento progressivo da pressão arterial sistólica e diastólica e um aumento

sustentado dos níveis plasmáticos de BNP. Verificou-se uma diminuição

precoce e sustentada da expressão do RPN-A na medula renal dos animais

¾nx enquanto que os níveis de ARNm do RPN-C aumentaram no córtex

renal às 10 e 26 semanas após a cirurgia. Nos animais Unx os níveis de

ARNm do RPN-A na medula renal apresentaram-se diminuídos às 10

semanas, mas aumentaram de forma marcada às 26 semanas após a

cirurgia. No córtex renal dos animais Unx observou-se também um aumento

da expressão do RPN-A às 26 semanas. Conclusões: No rim remanescente

dos animais Unx e ¾nx verifica-se uma modulação dependente do tempo

do RPN-A e do RPN-C, que é distinta no córtex e na medula renal. A

alteração da expressão renal dos receptores dos PN’s depende do grau de

ablação da massa renal e ocorre independentemente da activação sistémica

do sistema dos PN’s. Estes resultados poderão contribuir para o

esclarecimento do papel desempenhado pelo sistema dos PN´s nos

mecanismos de adaptação à perda de massa renal.

Page 5: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

2

INTRODUÇÃO

Os modelos animais de perda de massa renal desenvolvem uma série

de mecanismos adaptativos para manter a homeostasia do sódio, que se

traduzem pelo aumento da excreção de sódio por nefrónio residual1 e pela

manutenção do balanço de sódio mesmo na presença de diminuição da taxa

de filtração glomerular. Apesar da activação de mecanismos natriuréticos,

nos modelos de ablação de massa renal verifica-se uma diminuição da

resposta natriurética à expansão de volume, que se acompanha de

hipertensão arterial sensível ao sal que é mais pronunciada nos animais

com menor grau de massa renal remanescente2,3.

Os primeiros estudos animais experimentais de uninefrectomia

demonstraram que a remoção da massa renal se pode associar a um

aumento da pressão arterial, ao aparecimento de proteinúria e à

deterioração da função renal4. No entanto, estes resultados não foram

confirmados em experiências conduzidas posteriormente por outros autores,

que atribuiram a variabilidade de resultados após uninefrectomia à presença

de patologia intrínseca do rim remanescente nos estudos originais5,6. Para

além deste factor, a idade no momento da uninefrectomia, e

consequentemente o número de nefrónios no rim remanescente, parece ser

igualmente determinante para o risco de desenvolvimento de doença renal7.

Em humanos, não foi possível fundamentar até ao momento um aumento

do risco de desenvolvimento de doença renal progressiva após

uninefrectomia em indivíduos previamente com dois rins normalmente

funcionantes. De facto, a uninefrectomia no contexto do transplante renal

de dador vivo é considerada um procedimento seguro e com baixo risco de

Page 6: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

3

complicações8,9,10,11, apesar de se verificar num pequeno número de

indivíduos o desenvolvimento de hipertensão arterial e de proteinúria

ligeira, cujo impacto a longo prazo está ainda por definir12,13. Foi já bem

documentado que nos dias imediatamente após a uninefrectomia se

desencadeiam uma série de mecanismos de adaptação rápidos que se

caracterizam pelo aumento da excreção de sódio e da taxa de filtração

glomerular no rim remanescente, permitindo atingir em algumas semanas

valores de depuração de creatinina que correspondem a 75-80% do valor

prévio à uninefrectomia e que estabilizam posteriormente por períodos de

15 a 20 anos14. Um aumento precoce da excreção fraccional de sódio é

também evidente nas situações de insuficiência renal crónica, seja por

remoção cirúrgica de tecido renal seja pela presença de doença renal

intrínseca15. Vários trabalhos experimentais demonstraram que o aumento

da resposta natriurética no contexto de diminuição da taxa de filtração

glomerular é determinado pela necessidade de manter o balanço de sódio

na presença de uma dieta sem restrição salina, o que é confirmado pelo

facto de a excreção fraccional de sódio diminuir significativamente quando é

imposta uma restrição de sódio proporcional à diminuição da função

renal16,17. Em contraste com esta resposta aguda, os modelos animais de

nefrectomia evidenciam um aumento da pressão arterial sistólica e

diastólica dependente do tempo e uma diminuição da resposta natriurética à

expansão de volume, que podem ser explicados pela acção de múltiplos

mecanismos independentes que interactuam para modificar quer a

hemodinâmica cardíaca quer a excreção renal de sódio3. O aparecimento

precoce de hipertensão arterial caracteristicamente dependente da

expansão de volume na insuficiência renal crónica reveste-se da maior

Page 7: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

4

importância clínica, uma vez que determina de forma fundamental o risco

cardiovascular destes doentes e a própria progressão da doença renal.

Apesar disto, os factores que contribuem para o aumento da pressão

arterial e para a sua progressiva sensibilidade ao sódio ainda não foram

sistematicamente avaliados, reforçando a pertinência da avaliação da

modulação a longo termo de sistemas natriuréticos no contexto de perda de

massa renal funcionante.

Os peptídeos natriuréticos (PN’s) pertencem a uma família de

moléculas peptídicas libertadas a nível cardiaco em situações

fisiopatológicas que se caracterizam por sobrecarga de volume18. As suas

acções fisiológicas reflectem-se essencialmente a nível vascular e renal e

caracterizam-se por efeitos natriuréticos, diuréticos, vasorelaxantes e

antifibróticos, que no seu conjunto contribuem para a manutenção do

volume do fluído extracelular e para a redução da pressão arterial19. Por

esse motivo, o sistema dos peptídeos natriuréticos constitui um potencial

mediador da resposta adaptativa à perda de massa renal.

Sistema dos peptídeos natriuréticos

A descoberta por deBold em 197920 de que os extractos de tecido

auricular, quando injectados em animais, possuíam propriedades

natriuréticas e diuréticas potentes esteve na base da identificação do

primeiro membro da família dos PN’s, o peptídeo natriurético auricular

(ANP)21. Desde então vários outros membros foram adicionados à família:

o peptídeo natriurético auricular tipo B (BNP), identificado pela primeira vez

no tecido cerebral de porco22; o peptídeo natriurético auricular tipo C

(CNP), de produção essencialmente endotelial23; a urodilatina, a

Page 8: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

5

adrenomodulina e o peptídeo natriurético dendroaspis, um grupo de

peptídeos que partilha uma grande semelhança estrutural24,25.

Todos os membros da família dos PN’s são sintetizados como

precursores de alto peso molecular e libertados da porção C-terminal após

processamento da molécula original. Embora, quer o ANP quer o BNP sejam

secretados pelos cardiomiócitos auriculares e ventriculares, a elevação dos

níveis plasmáticos de BNP que se observa nas situações de hipertrofia ou de

disfunção cardíaca deve-se essencialmente ao aumento da produção deste

peptídeo a nível ventricular26,27. Ao contrário do ANP, que é secretado a

partir de grânulos de armazenamento localizados no tecido auricular, a

secreção de BNP é regulada essencialmente ao nível transcripcional e

requer a presença de um estímulo prolongado. Embora já tenham sido

descritos vários estímulos não-hemodinâmicos para a produção de BNP28, os

principais factores envolvidos na libertação aguda de BNP são o estiramento

e o desenvolvimento de tensão na parede ventricular em resposta à

sobrecarga crónica de volume ou de pressão29.

Receptores dos peptídeos natriuréticos e seus ligandos

Foram descritos até ao momento três tipos de receptores com

afinidades distintas para os diferentes tipos de PN’s30. O receptor dos

peptídeos natriuréticos tipo A (RPN-A) e o receptor dos peptídeos

natriuréticos tipo B (RPN-B) são receptores transmembranares que

possuem um domínio intracelular com actividade de guanilil-cíclase e que

medeiam a maioria dos efeitos biológicos dos PN’s através da alteração da

produção de GMPc31,32. O ANP e o BNP ligam-se com elevada afinidade ao

RPN-A, enquanto que o CNP parece ser o ligando natural para o RPN-B33. O

Page 9: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

6

terceiro receptor descrito, o receptor dos peptídeos natriuréticos tipo C

(RPN-C), tem uma importante homologia com os outros dois receptores

mas ao contrário destes não possui o domínio guanilil-cíclase intracelular34.

O RPN-C é expresso numa variedade de tecidos mas apresenta um padrão

de expressão distinto do RPN-A e a colocalização destes dois receptores é

apenas proeminente a nível renal35.

O RPN-A é a forma dominante de expressão dos receptores dos PN’s

nos tecidos periféricos e é responsável pela mediação da maioria as acções

do ANP e BNP36. Apesar de ter sido sugerido previamente que o RPN-C

poderia participar na mediação de alguns dos efeitos celulares dos PN’s,

este receptor parece estar envolvido fundamentalmente na remoção dos

PN’s do plasma através da sua internalização e degradação intracelular e,

assim, na modulação das concentrações sistémicas e locais de PN’s que se

encontram disponíveis para ligação ao RPN-A37,38. Por esse motivo, é

também designado por receptor de clearance. O RPN-B é activado

essencialmente pelo CNP que, como referido anteriormente, é produzido a

nível endotelial e actua localmente de forma autócrina/parácrina como

regulador do tónus vascular e do crescimento celular39.

Acções dos peptídeos natriuréticos

Efeitos hemodinâmicos centrais

A administração de doses farmacológicas de BNP a indivíduos normais

origina uma diminuição rápida e sustentada da pressão arterial média40.

Este efeito do BNP resulta da acção conjugada da diminuição do volume de

ejecção, da redução da resistência vascular sistémica e do aumento da

excreção renal de sódio com diminuição do volume intravascular. Por outro

Page 10: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

7

lado, a administração de doses baixas de BNP a indivíduos normais ou

hipertensos não altera de forma significativa o perfil hemodinâmico

central41.

Efeitos vasculares

Estudos realizados in vivo e in vitro demostraram que os PN’s têm um

efeito vasorrelaxante dependente da dose a nível arterial, resultando num

aumento regional do fluxo plasmático42. O efeito dos PN’s na

microcirculação está menos bem esclarecido. A infusão de doses baixas de

BNP a indivíduos saudáveis está associada a vasoconstrição da

microcirculação, essencialmente a nível venular43. O aumento da pressão

hidraúlica capilar que resulta deste efeito poderá contribuir de forma

significativa para a transudação de fluído do compartimento vascular para o

extravascular e, desta forma, promover a redução da pré-carga cardíaca44.

Efeitos renais

As acções diuréticas e natriuréticas dos PN’s resultam

simultaneamente de efeitos hemodinâmicos e tubulares directos45,46. Estas

acções incluem: 1) a dilatação das arteríolas aferentes e constrição das

arteríolas eferentes renais, originando um aumento da pressão capilar

glomerular e da taxa de filtração glomerular; 2) a modulação do fluxo

plasmático medular interno e 3) a inibição do transporte de sódio nos

segmentos tubulares proximais e distais do nefrónio47,48. Os PN’s interferem

com a reabsorção de sódio a nível da porção interna do ducto colector, uma

porção do nefrónio responsável pela reabsorção de menos de 5% do sódio

Page 11: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

8

filtrado mas que desempenha um papel fundamental na excreção final de

sódio na urina49.

Efeitos anti-fibróticos e anti-proliferativos

Para além do efeito no balanço de sódio e na regulação da pressão

arterial, o sistema dos PN’s foi também implicado na limitação de resposta

proliferativa e fibrótica, quer a nível cardíaco quer a nível renal. De facto, foi

já demonstrado previamente que os PN’s inibem o crescimento e a

proliferação de cardiomiócitos e fibroblastos em cultura e que este efeito é

mediado pelo RPN-A50,51,52. Em concordância com estes dados existe

evidência de que modelos animais sem expressão de RPN-A desenvolvem

hipertrofia cardíaca e eventos vasculares fatais53,54. A nível renal, a

hiperexpressão de BNP associou-se a uma diminuição da resposta

proliferativa e fibrótica em animais transgénicos com doença glomerular de

natureza imune ou submetidos a ablação da massa renal55,56.

Regulação do sistema dos peptídeos natriuréticos

Embora a activação do sistema dos PN’s tenha sido avaliada no

passado essencialmente através dos níveis circulantes dos PN’s, evidências

recentes sugerem que a expressão de receptores dos PN’s nos orgãos alvo

desempenha um papel fundamental na regulação da actividade do

sistema57. De facto, os modelos animais que não expressam RPN-A

desenvolvem precocemente hipertensão arterial enquanto que os animais

com duplicação génica do RPN-A apresentam amplificação das acções dos

PN’s, sugerindo que o nível de expressão do RPN-A é determinante para a

extensão dos efeitos biológicos do ANP e BNP58. Se considerarmos que o

Page 12: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

9

RPN-A é o principal mediador das acções do ANP e do BNP59 e que, por

outro lado, o RPN-C parece estar envolvido fundamentalmente na remoção

dos PN’s do plasma60,61, é legítimo supôr que as acções renais dos PN’s

podem ser reguladas negativamente pelo aumento da expressão renal de

RPN-C e/ou pela diminuição da expressão do RPN-A. De facto, vários

investigadores sugerem que a resistência aos PN’s relacionada com

alterações na expressão renal dos PN’s podem explicar em parte a

manutenção da expansão de volume nas situações associadas à formação

de edema62,63. Na insuficiência cardíaca, por exemplo, os níveis circulantes

de BNP estão elevados e correlacionam-se positivamente com a expansão

de volume e com um mau prognóstico da doença64.

Níveis plasmáticos de BNP

O aumento do aporte de sódio e as modificações no volume de sangue

central induzidas por alterações posturais ou as condições patológicas

associadas a sobrecarga de volume como a insuficiência cardíaca associam-

se a um aumento da produção cardíaca de PN’s e, consequentemente, a um

aumento dos níveis plasmáticos de BNP65,66. Por esse motivo, os níveis

plasmáticos de BNP têm sido utilizados clinicamente como marcadores de

disfunção ou de hipertrofia ventricular esquerda67,68,69,70. No entanto, os

níveis plasmáticos de BNP são regulados também por factores associados à

sua depuração, nomeadamente através da internalização pelo RPN-C,

através da excreção renal por filtração glomerular e em resultado da

degradação pelas endopeptídases neutras localizadas essencialmente a nível

renal71,72. Embora alguns trabalhos tenham conseguido identificar uma

correlação positiva entre a presença de cardiopatia estrutural ou funcional e

Page 13: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

10

os níveis plasmáticos de BNP em doentes com insuficiência renal

crónica73,74,75, estudos recentes confirmam que a elevação dos níveis

plasmáticos de BNP observada nos doentes com alteração da função renal

se relaciona inversamente com a taxa de filtração glomerular76,77,78 e pode

ocorrer na ausência de doença cardíaca. Verifica-se, adicionalmente, uma

elevação dos níveis plasmáticos de BNP com a idade independentemente da

presença de disfunção cardíaca, tendo este efeito sido atribuído à presença

de disfunção renal latente79,80.

Peptídeos natriuréticos e redução da massa renal

Apesar dos factores subjacentes aos mecanismos de adaptação à

perda de massa renal não estarem ainda definidos, vários trabalhos

experimentais descrevem um aumento dos níveis plasmáticos dos PN’s no

período imediato após a uninefrectomia e sugerem que os PN’s podem ser

determinantes para a resposta funcional aguda da massa renal

remanescente após a remoção do rim contralateral81,82,83. Estudos animais

de uninefrectomia mais recentes revelam, no entanto, uma diminuição

tardia na resposta natriurética à sobrecarga de volume e confirmam o risco

de desenvolvimento de hipertensão arterial, relacionando-o com uma

diminuição dependente do tempo de alguns mecanismos envolvidos na

homeostasia do sódio, como o sistema dopaminérgico3. O papel da

modulação do sistema dos PN’s na resposta adaptativa crónica à

uninefrectomia encontra-se, contudo, ainda por definir.

Na insuficiência renal crónica (IRC) observa-se igualmente um

aumento dos níveis plasmáticos de PN’s84 e esta alteração foi implicada na

resposta compensatória de aumento da taxa de filtração glomerular e de

Page 14: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

11

aumento da rebsorção de sódio, tanto em condições basais como nas

situações de sobrecarga de volume78,85. Embora a IRC esteja

frequentemente associada a alterações da hemodinâmica cardíaca, os

mecanismos responsáveis pelo aumento dos níveis plasmáticos dos PN’s nos

doentes com alteração da função renal permanecem ainda por esclarecer.

Concretamente, o verdadeiro impacto da diminuição da função depuradora

renal na diminuição da excreção e metabolização destes peptídeos e,

consequentemente, no aumento dos seus níveis plasmáticos, apesar de

abordado em diversos trabalhos76,77,84 ainda não está bem estabelecido.

Adicionalmente, não é ainda conhecido se a elevação dos níveis plasmáticos

dos PN’s neste contexto se acompanha de alterações na expressão dos

receptores dos PN’s no córtex e na medula renal do rim remanescente

durante a progressão da doença. Este aspecto reveste-se da maior

importância, uma vez que se verifica que o aumento substancial dos níveis

plasmáticos de ANP em doentes com IRC induz apenas um aumento

modesto na resposta natriurética quando comparada com a observada em

controlos normais ou em doentes com glomerulonefrite e função renal

normal86 sugerindo nesta situação um estado de resistência às acções

renais do sistema dos PN’s, à semelhança do que se verifica noutras

condições associadas a alterações da homeostasia do sódio como a

insuficiência cardíaca ou o síndrome nefrótico63,87,88. A verificar-se, este

estado de resistência à acção dos PN’s poderia ter implicações quer a nível

do balanço de sódio com repercussões para o agravamento da hipertensão

arterial quer ao nível da regulação da resposta fibrótica e proliferativa renal,

contribuindo desta forma para o aparecimento de alterações estruturais do

Page 15: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

12

parênquima renal que se sabem ser determinantes para a progressão da

IRC nas situações de perda de massa renal14,89.

Page 16: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

13

OBJECTIVOS

Com base nas considerações tecidas previamente, o objectivo deste

trabalho foi avaliar a actividade do sistema dos peptídeos natriuréticos em

modelos experimentais de ablação da massa renal (uninefrectomia e

nefrectomia de ¾) através dos níveis séricos e da expressão renal dos

receptores dos peptídeos natriuréticos. Para isso procedeu-se à avaliação da

hemodinâmica cardíaca, da pressão arterial, da função renal, da resposta à

expansão de volume, dos níveis circulantes de BNP assim como da

expressão do RPN-A e RPN-C no córtex e na medula renal de animais

submetidos a uninefrectomia e a nefrectomia de ¾ até às 26 semanas após

a cirurgia.

Page 17: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

14

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho respeitou a Directiva Europeia 86/609/CEE, de 24 de

Novembro de 1986, que estabelece as normas mínimas relativas à

protecção dos animais utilizados para fins experimentais e outros fins

científicos, transposta para a ordem jurídica interna pelo DL 129/92 de 6 de

Junho, regulamentado pela Portaria 1005/92 de 23 de Outubro. Está

também de acordo com o Guide for the Care and Use of Laboratory Animals

publicado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH Publication No.

85-23, revisto em 1996).

Ablação da Massa Renal

Ratos Wistar-Han machos (Harlan, Barcelona, Espanha; 190-220 g)

foram mantidos em condições ambientais controladas (ciclos de 12:12

horas luminusidade/obscuridade e temperatura ambiente de 22±2 ºC) e

alimentados ad libitum (com ração regular contendo 1,9 g.Kg-1 de cloreto de

sódio – Panlab, Barcelona, Espanha), durante o período em que decorreu o

estudo.

Após um período de adaptação e estabilização de 7 dias os animais

foram anestesiados com pentobarbital de sódio (60 mg.Kg-1 intraperitoneal)

e aleatoriamente divididos em dois protocolos experimentais: (i)

laparotomia sem manipulação das áreas renais – grupo controlo (Sham,

n=20); (ii) remoção cirúrgica do rim direito – uninefrectomizados (Unx,

n=22) e (i) laparotomia sem manipulação das áreas renais – grupo controlo

(Sham, n=17); (ii) remoção cirúrgica do rim direito e de ambos os pólos do

Page 18: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

15

rim esquerdo – nefrectomia de ¾ (¾nx, n=24). O procedimento cirúrgico

foi efectuado conforme descrito previamente2.

Às 2 (n=12; Sham n=6, Unx n=6 e n=12; Sham n=5, ¾nx n=7), 10

(n=13; Sham n=6, Unx n=7 e n=13; Sham n=5, ¾nx n=8) e 26 semanas

(n=17; Sham n=8, Unx n=9 e n=16; Sham n=7, ¾nx n=9) após a cirurgia

foram efectuados estudos hemodinâmicos, morfométricos, histológicos,

moleculares e de resposta à expansão de volume.

A taxa de sobrevivência durante o estudo foi de: 2 semanas – 100%

nos 3 grupos; 10 semanas – 100% nos 3 grupos; 26 semanas – 100% nos

grupos Sham e Unx e 93% no grupo ¾nx.

Estudos Metabólicos

Duas, 10 e 26 semanas após a cirurgia os animais foram colocados

em gaiolas metabólicas (Tecniplast, Buguggiate-VA, Itália). Durante esse

período procedeu-se à colheita de plasma e de urina de 24 horas para a

determinação da depuração de creatinina (Ccreat, ml.min-1.Kg-1) e da

excreção fraccional de sódio (EFNa+, %).

Avaliação da Pressão Arterial

Às 2, 10 e 26 semanas procedeu-se à avaliação da pressão arterial

sistólica e diastólica e da frequência cardíaca. As medições foram feitas em

animais conscientes no período entre as 7 e as 10 da manhã, tendo sido

utilizado para o efeito um detector de pulso de cauda fotoelectrico (LE5000

Letica, Barcelona, Espanha). Para análise posterior foi utilizado o valor

médio de 4 determinações consecutivas.

Page 19: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

16

Avaliação Hemodinâmica do Ventrículo Esquerdo

Preparação Experimental

A anestesia foi induzida e mantida com pentobarbital de sódio (50

mg.kg-1, i.p. - dose de indução e bólus de 20mg.Kg-1 conforme necessário -

dose de manutenção). Os animais foram colocados sobre uma placa

aquecida para manter a temperatura corporal entre 36-38 ºC, após o que

foram monitorizados com ECG contínuo (DII) para controlo da frequência

cardíaca (Datascope 2000A). Os animais foram depois traqueostomizados e

ventilados mecanicamente (Harvard Small Animal Ventilator, Modelo 683)

com ar enriquecido em oxigénio. A frequência ventilatória e o volume

corrente foram ajustados para o peso corporal. De seguida, efectuou-se

uma esternotomia mediana e abriu-se completamente o pericárdio. Para

compensar as perdas de líquidos peri-operatórias, procedeu-se à

cateterização de uma veia jugular e iniciou-se uma perfusão contínua de

soro fisiológico (0,9% de NaCl), com 40 mEq/L de KCl e 80 mEq/L de

NaHCO3. Finalmente, procedeu-se à instrumentação cardíaca para o registo

das pressões do ventrículo esquerdo (VE). O registo das pressões foi

efectuado com um transdutor de alta-fidelidade (SPR-407, Millar

Instruments, Houston, Texas), montado na extremidade de cateteres 3F e

posicionado, através do ápice, no centro da câmara ventricular esquerda.

Após o posicionamento, o cateter foi conectado a um amplificador de

pressões.

Page 20: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

17

Aquisição e Análise dos Dados Hemodinâmicos

Após a instrumentação, a preparação experimental estabilizou

durante 30 minutos. Os sinais correspondentes ao electrocardiograma

(derivação DII), pressão do VE e sua primeira derivada (dP/dt), foram

digitalizados automaticamente a uma frequência de 1000 Hz. Todos os

registos foram efectuados com a respiração suspensa no final da expiração.

A partir dos sinais registados em computador, foram calculados os

seguintes parâmetros hemodinâmicos: (i) pressão sistólica máxima (PS);

(ii) velocidades máximas de elevação (dP/dtmax) e de queda (dP/dtmin) da

pressão; (iii) pressão telediastólica (PTD); (iv) constante de tempo de

relaxamento isovolumétrico τ (tau).

No final do protocolo experimental procedeu-se à colheita de sangue

para tubos contendo heparina/lítio para posterior determinação da

concentração sérica de sódio e de creatinina e para a quantificação do BNP

plasmático. Adicionalmente foram colhidas amostras do VE, córtex renal

(CR) e medula renal (MR) para posterior quantificação de ARNm. Estas

amostras foram criopreservadas a -70 ºC. De forma a minimizar a

degradação do ARNm, procedeu-se à submersão das amostras em RNAlater

(Qiagen 74124), antes da congelação. Foram também colhidas amostras de

tecido renal, que foram embebidas em parafina e fixadas em formalina para

posterior estudo histológico e imunohistoquímico.

Expansão de Volume

Num grupo de experiências, 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia, os

animais foram anestesiados com pentobarbital de sódio (indução com 60

mg.Kg-1 i.p.; manutenção com 20 mg.Kg-1,h-1 i.p.) e colocados em placas

Page 21: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

18

aquecidas, com temperatura regulada por termostato para manter uma

temperatura rectal de 37 ºC. Após a traqueostomia, procedeu-se à

cateterização da veia jugular interna esquerda com um catéter PE50

(Becton Dickson, Lisboa, Portugal) para a expansão de volume e à

cateterização da bexiga através de uma incisão suprapúbica para a colheita

de urina. No fim dos procedimentos cirúrgicos foi iniciada a perfusão de

cloreto de sódio isotónico (0,9%) a uma velocidade de 5ml.Kg-1.h-1 durante

120 minutos; durante este período procedeu-se à colheita de uma amostra

de urina (t=120 min, Basal). Depois do período de estabilização, a

velocidade de administração de cloreto de sódio isotónico foi aumentada

para 100ml.Kg-1.h-1 durante 30 minutos (5% do peso corporal); durante

esta fase procedeu-se à colheita de uma amostra de urina (t=150 min, EV).

Posteriormente a velocidade de administração de cloreto de sódio foi

novamente reduzida para 5ml.Kg-1.h-1 durante 90 minutos; durante este

período de recuperação foram colhidas 3 amostras de urina (t=160 min, R-

EV1; t=170 min, R-EV2 e t=240 min, R-EV3).

Quantificação dos Níveis Plasmáticos de BNP

Às 2, 10 e 26 semanas, os níveis plasmáticos de BNP foram

quantificados por radioimunoensaio competitivo após extracção do peptídeo

do plasma de acordo com indicação do fabricante (RK-011-14; Phoenix

Pharmaceuticals; Belmont, California). Em cada reacção procedeu-se à

incubação do anticorpo anti-peptídeo de coelho com a amostra ou o padrão

(16-24h a 4 ºC) e à adição de uma quantidade fixa de peptídeo

radiomarcado (125I-peptídeo). Após um segundo período de incubação (16-

24h a 4 ºC) foram adicionados ao preparado anterior soro de cabra anti-

Page 22: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

19

coelho e soro normal de coelho e incubados durante 90 minutos. Os tubos

de reacção foram subsequentemente centrifugados e o sedimento utilizado

para contagem numa câmara Gamma. Posteriormente foi construída uma

curva padrão utilizando a quantidade de 125I-peptídeo ligado em função da

concentração de peptídeo nas amostras padrão para determinação da

concentração de BNP de cada amostra. Os resultados são expressos em

pg/tubo.

Histologia e Imuno-Histoquímica Renais

Os cortes histológicos de tecido renal com 4 µm de espessura,

embebidos em parafina e fixados em formalina, foram desparafinizados em

xileno e re-hidratados em soluções de etanol com gradação crescente.

Fibrose Renal

A quantificação da fibrose renal intersticial foi obtida através da

detecção do colagénio pela coloração de tricrómio de Masson (Goldner with

light green; Bio-Optica, 011802). As secções de tecido renal foram coradas

sequencialmente com hematoxilina férrica de Weigert (10 min), solução

alcoólica estabilizada de ácido pícrico (4 min), fucsina ácida de Ponceau (4

min), ácido fosfomolíbdico (10 min) e light green (5 min). Para a

quantificação da fibrose intersticial foi utilizado o número de pontos de

colagénio corados de verde interseptando uma grelha específica, em 12

campos (ampliação x200) seleccionados aleatoriamente. Cada amostra foi

avaliada por dois observadores. Os resultados são expressos em número

médio de pontos de intersepção identificados na grelha.

Page 23: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

20

Atrofia Tubular

A quantificação da atrofia tubular foi obtida através da detecção do

espessamento da membrana basal tubular, conforme descrito

previamente90. A membrana basal tubular foi identificada pela coloração do

ácido periódico de Schiff (PAS - Hotchkiss-MC Manus; Bio-Optica, 04-

130802). As secções de tecido renal foram coradas sequencialmente com

ácido periódico (10 min), reagente de Schiff (20 min), metabissulfito de

potássio (2 min), solução fixadora (2 min) e Hemalum de Mayer (3 min).

Em cada grupo experimental a espessura da membrana basal tubular foi

medida em 100 secções transversas tubulares (50 túbulos no córtex, 50

túbulos na medula). Cada amostra foi avaliada por dois observadores. Os

resultados são expressos em percentagem de secções tubulares transversas

espessadas.

Imunolocalização do RPN-A

A coloração imuno-histoquímica do RPN-A foi obtida pela incubação

sequencial de amostras de tecido renal dos animais às 26 semanas após a

cirurgia, à temperatura ambiente em: solução de H2O2 a 0,3% solution (10

min; Labvision Corp., TR-004-HD), solução bloqueadora (15 min; Labvision

Corp., TR-004-HD), soro anti-RPN-A de rato (30 min; diluição 1/4000;

Biodesign International, K24031R), soro biotinilado de cabra anti-coelho (15

min; Labvision Corp., TR-004-HD), peroxidase de estreptavidina (15 min;

Labvision Corp., TR-004-HD) e 3,3-diaminobenzidina a 4% (10 min;

Labvision Corp., TR-004-HD). A contracoloração foi feita com hematoxilina.

Page 24: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

21

Quantificação de ARNm Específico por RT e Real-Time PCR

Extracção do ARNm Total

A extracção do ARNm total foi efectuada a partir de amostras de CR

e MR submersas em RNAlater (Qiagen 74124) e criopreservadas a -70ºC.

Após pulverização e homogeneização da amostra com rotor metálico (~800

rpm), procedeu-se à extracção do ARNm total pelo método de guanídio-

tiocianato e membrana de sílica-gel, de acordo com as instruções do

fabricante (Qiagen 74124). A concentração de ARNm foi calculada por

espectrofotometria (1 A260 = 40,0 µg/ml; Eppendorf 6131 000.012) e a

pureza das amostras foi avaliada pelo quociente da absorvância da amostra

final a 260 nm pela absorvância a 280 nm (A260/A280).

Transcrição Reversa

Sintetizou-se o ADNc total por transcrição reversa (RT; Whatmann

Biometra 050-901) a partir de 50 ng do ARNm total das amostras, num

volume de 20 µl: 30 U/reacção de transcriptase reversa (Invitrogen 18064-

014); 20 U/reacção de inibidor de ARNases (Promega N2515); 0,6 µg de

random primers (Invitrogen 48190-011); 0,5 mM nucleótidos (MBI

Fermentas R0192); 1,9 mM MgCl2 (Promega A3513); 10 mM DTT

(Invitrogen 18064-014).

PCR em Tempo Real

Dez por cento do ADNc resultante da RT foi amplificado por PCR

(volume total 20 µl), sendo o produto da reacção detectado por tecnologia

de avaliação em tempo real (LightCycler®, Roche), utilizando o fluorocromo

Page 25: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

22

SYBR Green (Qiagen 204143), de acordo com as instruções do fabricante.

Para cada gene de interesse, utilizou-se um par de primers:

RPN-A - fw 5’-ACA CAT GCC CAG TCC CAC CCT TAC-3’ e rev 5’-AAC

CGG CAG CTT CTC TTC TCC TCA-3’; RPN-C - fw 5’-GGA CCG CGA AGC CTG

AGT TTG AGA-3’ e rev 5’-ATG GAC ACC TGC CCG GCG ATA CCT-3’; BNP -

fw 5’-CAG AGC TGG GGA AAG AAG AG-3’ e rev 5’-GGA CCA AGG CCC TAC

AAA AGA-3’; e GAPDH - fw 5’-CCG CCT GCT TCA CCA CCT TCT-3’ e rev 5’-

TGG CCT TCC GTG TTC CTA CCC-3’.

No final de cada experiência foi efectuada a avaliação da

especificidade da PCR, excluindo a formação de dímeros de primers e a

contaminação por ADN, através da análise do ponto de fusão (melting curve

analysis). Adicionalmente procedeu-se, para cada gene, à electroforese

(agarose 2%; brometo de etídio 0,5 µg/ml) de pelo menos uma reacção de

amplificação, tendo-se obtido bandas únicas com o número esperado de

pares de bases.

Para cada gene assegurou-se a linearidade da reacção de RT-PCR

através da criação de curvas-padrão, obtidas a partir de diluições seriadas

de um padrão de ARNm total. A linearidade (r>0,97) da relação entre o

log10 da quantidade inicial de ARNm total do padrão e o ciclo limiar da

amplificação na PCR (obtido pelo método do máximo da segunda derivada

da fluorescência), permitiu a quantificação relativa de ARNm do gene em

estudo de cada amostra através da regressão do ciclo limiar. O gene da

GAPDH (Desidrogenase do Gliceraldeído 3-Fosfato) foi usado como controlo

interno, conforme descrito previamente91. As experiências foram efectuadas

em duplicado. O nível de expressão de um determinado gene, para cada

amostra, foi calculado através da razão entre a quantidade de ARNm desse

Page 26: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

23

gene e a de GAPDH, após comparação com o valor médio do grupo controlo

(Sham). Os resultados são assim expressos em unidades arbitrárias (UA) da

razão gene/GAPDH, em que 1 UA corresponde à média do grupo controlo

(Sham).

Análise Estatística

Os resultados são apresentados como média±erro padrão. A análise

inter-grupos foi efectuada pelo teste two-way ANOVA. Quando se

registaram diferenças estatisticamente significativas empregou-se o teste

Student-Newman-Keuls para efectuar comparações múltiplas entre os

grupos. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas

quando P<0,05.

Page 27: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

24

RESULTADOS

Uninefrectomia

Dados Morfométricos

A ablação da massa renal não teve efeito significativo no

crescimento corporal, uma vez que os animais do grupo Unx atingiram o

mesmo peso corporal que os animais do grupo Sham (Tabela 1). Dez

semanas após a uninefrectomia verificou-se um aumento de cerca de 85%

da massa do rim remanescente, que se manteve até às 26 semanas após a

cirurgia. A ablação da massa renal nos animais Unx não teve efeito no peso

do coração ao longo das 26 semanas do estudo. De facto, nos animais do

grupo Sham e nos animais do grupo Unx o peso cardíaco aumentou de

forma semelhante das 2 para as 10 semanas, não se tendo verificado em

nenhum dos grupos experimentais um aumento adicional do peso cardíaco

das 10 para as 26 semanas após a cirurgia (Tabela 1).

Dados Metabólicos

Os animais do grupo Unx apresentaram um aumento significativo

dos valores de creatinina plasmática às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia

e uma redução concomitante de 40% a 50% nos valores da depuração da

creatinina às 2, 10 e 26 semanas (Tabela 1). Nos animais do grupo Sham

verificou-se uma elevação dos valores de creatinina plasmática e uma

diminuição concomitante dos valores da depuração da creatinina plasmática

às 26 semanas após a cirurgia. Como resultado, o valor de depuração da

creatinina plasmática apresentado pelos dois grupos 26 semanas após a

cirurgia foi semelhante.

Page 28: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

25

Tabela 1. Morfometria, função renal, pressão arterial e frequência cardíaca nos animais controlo (Sham) e

submetidos a uninefrectomia (Unx) 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

Resultados expressos em médias ± DP; Peso corp., peso corporal; PCreat, concentração plasmática de creatinina; CCreat, depuração de creatinina; EFNa+, excreção fraccional de sódio; PA sistólica, pressão arterial sistólica; PA diastólica, pressão arterial diastólica. *P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; δP<0,05 vs. 10 semanas.

2 semanas 10 semanas 26 semanas

Sham Unx Sham Unx Sham Unx

Peso corporal, g 2555 2604 4176‡ 4219‡ 48014‡δ 47410‡δ

Peso do coração, g 0,740,02 0,750,02 1,050,03‡ 1,030,04‡ 1,080,06‡ 1,100,03‡

Aumento da massa renal, % 516 8411‡ 865‡

PCreat , mg.dl-1 0,340,02 0,470,02* 0,310,03 0,420,04* 0,550,02‡δ 0,630,02*‡δ

CCreat, ml.min-1.kg-1 8,81,0 6,00,4* 10,81,0 7,70,9* 4,70,4‡δ 3,70,2*‡δ

EFNa+, % 0,360,04 0,500,09* 0,230,05 0,310,03* 0,330,04 0,460,04*

PA sistólica, mmHg 123 3 122 2 128 3 150 3*‡ 136 2‡δ 160 5*‡

PA diastólica, mmHg 80 3 81 3 92 2‡ 108 4*‡ 101 3‡δ 111 4‡

Page 29: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

26

Não se observaram diferenças significativas na excreção urinária

diária de sódio entre o grupo Sham e o grupo Unx às 2 e às 10 semanas do

estudo. Às 2 e 10 semanas após a cirurgia, a excreção fracccional de sódio

nos animais do grupo Unx foi superior à excreção fracional de sódio do

grupo Sham (Tabela 1). Pelo contrário, 26 semanas após a cirurgia a

excreção diária de sódio no grupo Unx foi inferior à observada no grupo

Sham e a excreção fraccional de sódio foi semelhante entre os dois grupos

(Tabela 1).

Pressão Arterial

A ablação da massa renal nos animais Unx acompanhou-se de um

aumento da pressão arterial sistólica e diastólica às 10 e às 26 semanas

após a cirurgia ao passo que nos animais Sham a pressão arterial sistólica e

diastólica subiu apenas às 26 semanas. Os valores de pressão arterial

sistólica e diastólica foram significativamente superiores nos animais Unx

em relação aos animais do grupo Sham às 10 e 26 semanas após a cirurgia

(Tabela 1).

Hemodinâmica do Ventrículo Esquerdo

Os parâmetros hemodinâmicos do ventrículo esquerdo (VE) dos dois

grupos experimentais estão sumariados na Tabela 2. Em relação aos

parâmetros hemodinâmicos sistólicos, não foram detectadas diferenças

estatisticamente significativas entre os dois grupos às 2, 10 e 26 semanas

após a cirurgia, quer na pressão ventricular esquerda máxima (PVEmax)

quer no índice de contractilidade (dP/dtmax). Adicionalmente, a pressão de

Page 30: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

27

enchimento do VE estimada pela pressão telediastólica do VE e pela

constante de tempo de relaxamento isovolumétrico τ foram semelhantes

nos dois grupos às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

Tabela 2. Parâmetros hemodinâmicos do ventrículo esquerdo (VE) nos animais

controlo (Sham) e submetidos a uninefrectomia (Unx) às 2, 10 e 26 semanas após a

cirurgia.

Resultados expressos em médias ± DP. VE, ventrículo esquerdo; PVEmax, pressão sistólica máxima do VE; dP/dtmax e dP/dtmin, velocidades máximas de aumento e queda da pressão ventricular, respectivamente; PTDVE, pressão telediastólica do VE; τ, constante de tempo de relaxamento isovolumétrico. Não foram detectadas diferenças estatisticamente significativas nos parâmetros hemodinâmicos estudados entre os dois grupos às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

2 semanas 10 semanas 26 semanas

Sham Unx

Sham Unx

Sham Unx

PVEmax, mmHg 77,4±8,0 80,6±11,1 85,2±15,6 96,3±11,1 87,8±6,8 96,7±9,8

dP/dtmax, mmHg/s 4212±642 4478±561 4716±1062 5738±823 4608±458 4894±629

dP/dtmin, mmHg/s -2259±309 -2432±268 -2669±673 -3251±562 -2582±297 -3343±435

PTDVE, mmHg 2,9±0,9 3,0±1,2 2,3±0,5 3,4±0,7 3,7±0,7 3,9±1,0

τ, ms 20±2 18±1 21±2 19±2 21±1 18±1

Resposta à Expansão de Volume

A excreção urinária de sódio antes (t=0-120 min, Basal), durante

(t=120-150 min, EV) e após (t=150-210 min, R-EV1 e t=210-240 min, R-

EV2) a expansão de volume nos animais controlo (Sham) e nos submetidos

a uninefrectomia (Unx) está representada na Figura 1. Duas semanas após

a cirurgia a resposta natriurética à expansão de volume foi semelhante

entre os dois grupos de animais. No entanto, às 10 e 26 semanas após a

cirurgia verificou-se uma diminuição da resposta natriurética dos animais

Unx à expansão de volume em relação à observada no grupo Sham.

Page 31: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

28

Sódi

o U

rinár

io (m

ol/g

cre

atin

ina)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- Unx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

26 Semanas

Sódi

o U

rinár

io (m

ol/g

cre

atin

ina)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- Unx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

10 Semanas

Sódi

o U

rinár

io (m

ol/g

cre

atin

ina)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- Unx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

2 Semanas

*

* **

Figura 1. Excreção urinária de sódio nos animais submetidos a uninefrectomia (mol.g creatinina-1) antes

(t=120 min, Basal), durante (t=150 min, EV) e após (t=160 min, R-EV1 e t=170 min, R-EV2, t=240 min, R-EV3) uma

expansão de volume com cloreto de sódio isotónico às 2, 10 e 26 semanas após a cirugia. Resultados expressos em

médias ± DP. *P<0,05 vs. Sham; †P<0,05 vs. 2 semanas; ‡P<0,05 vs. 10 semanas.

Page 32: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

29

Níveis Plasmáticos de BNP

Apesar da ausência de disfunção cardíaca nos animais Unx,

verificou-se uma elevação significativa e progressiva dos níveis plasmáticos

de BNP neste grupo experimental ao longo do estudo. No grupo Sham, pelo

contrário, obervou-se uma elevação dos níveis plasmáticos de BNP apenas

às 26 semanas após a cirurgia. Como resultado, os níveis plasmáticos de

BNP às 26 semanas foram semelhantes entre os dois grupos (Tabela 3).

Tabela 3. Níveis plasmáticos de BNP nos animais controlo (Sham) e

submetidos a uninefrectomia (Unx) às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

2 semanas

10 semanas

26 semanas

Sham 1,35±0,39 2,85±0,67 4,43±0,32*‡

Unx 2,51±0,20*

3,44±0,79* 4,30±0,20*‡

Resultados expressos em médias ± DP em pg/tubo. *P<0,05 vs Sham 2 semanas; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; P<0,05 vs. 10 semanas.

Fibrose Intersticial e Atrofia Tubular Renal

Nos animais Unx, a ablação da massa renal acompanhou-se de um

aumento progressivo quer da fibrose intersticial quer da atrofia tubular a

partir das 10 semanas após a cirurgia (Figura 2) enquanto que no grupo

Sham se observou apenas um aumento ligeiro da atrofia tubular às 26

semanas após a cirurgia.

Page 33: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

30

Figura 2. Fibrose intersticial e atrofia tubular nos animais controlo (Sham)

e submetidos a uninefrectomia (Unx) às 2, 10 e 26 semanas após a

cirurgia. *P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; δP<0,05 vs. 10

semanas.

Scor

e de

Fib

rose

0

50

100

150

200

250

300

Fibrose Inters tic ial Sh am U nx

Espe

ssam

ento

da

MB

T (%

)

0

10

20

30

40

A tro fia Tubu lar Sh am U nx

*

* ‡

‡*

*

2 sem an as 10 sem an as 26 sem anas

2 sem an as 10 sem anas 26 sem anas

Page 34: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

31

Perfil de Expressão Génica dos Receptores dos PN’s

Nos animais controlo (Sham), a expressão basal do RPN-A e do

RPN-C diferiu entre o córtex e a medula renal: os níveis de ARNm do RPN-A

foram superiores na medula renal (Córtex: 1,0±0,40 AU; Medula:

14,0±3,10 AU) enquanto que os níveis de ARNm do RPN-C foram superiores

no córtex renal (Córtex: 1,0±0,17 AU; Medula: 0,37±0,02 AU) (Figura 3).

Durante o estudo, observou-se um aumento significativo e

progressivo dos níveis de ARNm do RPN-A na medula renal dos animais do

grupo Sham ao passo que a expressão do RPN-A na medula renal dos

animais Unx baixou às 10 semanas e aumentou às 26 semanas após a

cirurgia. Estes resultados condicionaram que a expressão do RPN-A na

medula renal dos animais Unx às 10 semanas fosse menor do que no grupo

Sham (Figura 3). No córtex renal, os níveis de ARNm do RPN-A foram

semelhantes entre os dois grupos de animais ao longo do estudo, tendo-se

verificado um aumento significativo dos níveis de ARNm do RPN-A nos

animais dos dois grupos apenas às 26 semanas após a cirurgia (Figura 3).

A expressão do ARNm do RPN-C no córtex renal não variou ao longo

do tempo e não foi diferente entre os dois grupos. Adicionalmente, na

medula renal dos animais do grupo Sham os níveis de ARNm do RPN-C não

variaram ao longo do estudo. No entanto, na medula renal dos animais Unx

os níveis de ARNm do RPN-C diminuiram significativamente a partir das 10

semanas após a nefrectomia (Figura 3). Estes resultados condicionaram que

a expressão do RPN-C na medula renal dos animais Unx fosse menor do que

no grupo Sham às 10 e às 26 semanas após a cirurgia.

Page 35: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

32

Figura 3. Quantificação do ARNm por RT-PCR do RPN-A e do RPN-C

no cortex e medula renal nos animais do grupo controlo (Sham) e animais

submetidos a uninefrectomia (Unx) às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

*P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; δP<0,05 vs. 10 semanas.

RP

N-A

/GAP

DH A

RN

m (U

A)

0

10

20

40

60

80

100

Córtex

RP

N-A

/GAP

DH A

RN

m (U

A)

0

10

20

40

60

80

100

Medula

RP

N-C

/GAP

DH A

RN

m (U

A)

0

1

2

3

4

5

6

*‡

- Sham- Unx

*‡

*‡ ‡

RP

N-C

/GAP

DH A

RN

m (U

A)

0

1

2

3

4

5

6

‡ ‡

2 semanas 10 semanas 26 semanas 2 semanas 10 semanas 26 semanas

2 semanas 10 semanas 26 semanas2 semanas 10 semanas 26 semanas

Page 36: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

33

Nefrectomia de ¾

Dados Morfométricos

A ablação da massa renal não teve efeito significativo no

crescimento corporal, uma vez que os animais do grupo ¾nx atingiram o

mesmo peso corporal ao longo do estudo que os animais do grupo Sham

(Tabela 4). No grupo ¾nx verificou-se um aumento progressivo da massa

renal remanescente durante o estudo: às 26 semanas após a cirurgia a

massa renal remanescente dos animais ¾nx pesava mais 257±15% do que

no dia da nefrectomia (Tabela 4). A ablação da massa renal nos animais

¾nx acompanhou-se também de um aumento progressivo no peso do

coração ao longo das 26 semanas do estudo. Estes dados contrastam com

as características de crescimento do coração nos animais do grupo Sham,

nos quais o peso cardíaco aumentou das 2 para as 10 semanas, mas não

das 10 para as 26 semanas após a cirurgia. Às 26 semanas após a cirurgia

o peso do coração dos animais ¾nx era significativamente superior ao peso

do coração dos animais do grupo Sham (Tabela 4).

Dados Metabólicos

Às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia, os animais do grupo ¾nx

apresentaram aumentos significativos dos valores de creatinina plasmática

e reduções concomitantes de 50 a 60% dos valores da depuração da

creatinina quando comparados com os animais do grupo Sham (Tabela 4).

Não se observaram diferenças significativas na excreção diária de sódio

entre o grupo Sham e o grupo ¾nx durante o período do estudo. A

Page 37: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

34

excreção fracccional de sódio foi consistentemente cerca de 2,5 vezes mais

elevada nos animais do grupo ¾nx ao longo do estudo (Tabela 4).

Page 38: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

35

Tabela 4. Morfometria, função renal, pressão arterial e frequência cardíaca nos animais controlo (Sham) e

submetidos a nefrectomia de ¾ (¾nx) 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

Resultados expressos em médias ± DP; Peso corp., peso corporal; PCreat, concentração plasmática de creatinina; CCreat, depuração de creatinina; EFNa+, excreção fraccional de sódio; PA sistólica, pressão arterial sistólica; PA diastólica, pressão arterial diastólica. *P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; δP<0,05 vs. 10 semanas.

2 semanas 10 semanas 26 semanas

Sham ¾nx Sham ¾nx Sham ¾nx

Peso corporal, g 2566 2475 4218‡ 40915‡ 47222‡δ 4627‡δ

Peso do coração, g 0,740,02 0,770,02 1,050,03‡ 1,110,04‡ 1,080,06‡ 1,320,04*‡δ

Aumento da massa renal, % 9910 19117‡ 25715‡δ

PCreat , mg.dl-1 0,350,03 0,760,04* 0,320,03 0,690,07* 0,560,03‡δ 1,270,17*‡δ

CCreat, ml.min-1.kg peso corp.-1 9,41,5 3,50,3* 8,00,4 4,60,7* 4,70,4‡δ 2,00,2*‡δ

EFNa+, % 0,360,04 0,890,06* 0,240,05 0,670,10* 0,290,02 0,80,10*

PA sistólica, mmHg 125 2 139 4* 130 2 187 6*‡ 137 2‡δ 209 4*‡δ

PA diastólica, mmHg 85 2 106 4* 93 2‡ 142 5*‡ 100 2‡δ 156 4*‡δ

Page 39: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

36

Pressão Arterial

A ablação da massa renal nos animais ¾nx acompanhou-se de um

aumento significativo da pressão arterial sistólica e diastólica às 2 semanas

após a cirurgia com aumento progressivo subsequente às 10 e 26 semanas

após a cirurgia (Tabela 4).

Hemodinâmica do Ventrículo Esquerdo

Os parâmetros hemodinâmicos do ventrículo esquerdo (VE) dos dois

grupos experimentais estão sumariados na Tabela 5. Em relação aos

parâmetros hemodinâmicos sistólicos, não foram detectadas diferenças

estatisticamente significativas entre os dois grupos às 2, 10 e 26 semanas

após a cirurgia, quer na pressão ventricular esquerda máxima (PVEmax)

quer no índice de contractilidade (dP/dtmax). Adicionalmente, a pressão de

enchimento do VE estimada pela pressão telediastólica do VE e pela

constante de tempo de relaxamento isovolumétrico τ foram semelhantes

nos dois grupos às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

Page 40: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

37

Tabela 5. Parâmetros hemodinâmicos do ventrículo esquerdo (VE) nos animais

controlo (Sham) e submetidos a nefrectomia de ¾ (¾nx) às 2, 10 e 26 semanas após

a cirurgia.

Resultados expressos em médias ± DP. VE, ventrículo esquerdo; PVEmax, pressão sistólica máxima do VE; dP/dtmax e dP/dtmin, velocidades máximas de aumento e queda da pressão ventricular, respectivamente; PTDVE, pressão telediastólica do VE; τ, constante de tempo de relaxamento isovolumétrico. Não foram detectadas diferenças estatisticamente significativas nos parâmetros hemodinâmicos estudados entre os dois grupos às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

2 semanas 10 semanas 26 semanas

Sham ¾nx

Sham ¾nx

Sham ¾nx

PVEmax, mmHg 77,6±9,8 71,5±6,4 83,4±16,8 102,3±7,4 81,1±6,4 76,3±9,2

dP/dtmax, mmHg/s 4258±785 4114±335 4697±1075 5823±405 4421±468 3635±568

dP/dtmin, mmHg/s -2262±379 -2205±172 -2632±695 -3282±391 -2526±622 -2117±340

PTDVE, mmHg 2,9±1,1 3,2±1,3 2,2±0,7 3,9±0,4 4,2±0.8 3,1±0,5

τ, ms 19±2 17±2 21±2 21±2 22±1 22±1

Resposta à Expansão de Volume

Duas semanas após a cirurgia a resposta natriurética à expansão de

volume foi semelhante entre os animais dod dois grupos. Pelo contrário, 10

semanas após a cirurgia os animais do grupo ¾nx apresentaram uma

diminuição significativa da resposta natriurética durante a fase REV-1

(t=150-210 min). Para além disso, 26 semanas após a cirurgia, verificou-se

uma diminuição da resposta natriurética à expansão de volume nos animais

do grupo ¾nx quer na fase REV-1 (t=150-210 min) quer na fase REV-2

(t=210-240 min) (Figura 5).

Page 41: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

38

Sódi

o U

rinár

io (m

ol/g

cre

atin

ina)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- 3/4 nx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

26 SemanasSó

dio

Urin

ário

(mol

/g c

reat

inin

a)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- 3/4 nx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

10 Semanas

Sódi

o U

rinár

io (m

ol/g

cre

atin

ina)

0

1

2

3

4

5

6

Basal EV

- 3/4 nx- Ctrl

REV1 REV2 REV3

2 Semanas

* * **

Figura 5. Excreção urinária de sódio nos animais submetidos a nefrectomia de ¾ (mol.g creatinina-1) antes

(t=120 min, Basal), durante (t=150 min, EV) e após (t=160 min, R-EV1 e t=170 min, R-EV2, t=240 min, R-EV3)

expansão de volume com cloreto de sódio isotónico 2, 10 e 26 semanas após a cirugia. Resultados expressos em médias

± DP. *P<0,05 vs. Sham; †P<0,05 vs. 2 semanas; ‡P<0,05 vs. 10 semanas.

Page 42: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

39

Níveis Plasmáticos de BNP

Apesar da ausência de disfunção cardíaca nos animais ¾nx,

verificou-se uma elevação significativa e progressiva dos níveis plasmáticos

de BNP neste grupo experimental, ao longo do estudo (Tabela 6). No grupo

Sham, pelo contrário, a elevação dos níveis plasmáticos de BNP foi

observada apenas às 26 semanas após a cirurgia. Como resultado, os níveis

plasmáticos de BNP às 26 semanas foram semelhantes entre os dois

grupos.

Tabela 6. Níveis plasmáticos de BNP nos animais controlo (Sham) e submetidos

a nefrectomia de ¾ (¾nx) às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia.

2 semanas

10 semanas

26 semanas

Sham 1,19±0.38 2,84±0,77 4,51±0,37*‡

3/4nx 2,95±0,81*

3,86±0,43* 4,58±0,20*‡

Resultados expressos em médias ± DP em pg/tubo. *P<,05 vs Sham 2 semanas; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; P<0,05 vs. 10 semanas.

Fibrose Intersticial e Atrofia Tubular Renal

Nos animais ¾nx, a ablação da massa renal resultou num aumento

progressivo da fibrose intersticial e da atrofia tubular desde a 10 semanas

após a cirurgia (Figura 6). Em contraste, no grupo Sham observou-se

apenas um aumento ligeiro da fibrose intersticial e da atrofia tubular às 26

semanas após a cirurgia. Como resultado, o grupo ¾nx apresentou um

maior grau de fibrose intersticial e de atrofia tubular que o grupo Sham

quer às 10 quer às 26 semanas após a cirurgia.

Page 43: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

40

Figura 6. Fibrose intersticial e atrofia tubular nos animais do grupo

controlo (Sham) e animais submetidos a nefrectomia de ¾ (¾nx) às 2, 10 e

26 semanas após a cirurgia. *P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas;

δP<0,05 vs. 10 semanas.

Scor

e de

Fib

rose

0

50

100

150

200

250

300

F ibrose In te rstic ia l S ham

*‡

Espe

ssam

ento

da

MB

T (%

)

0

10

20

30

40

A tro fia Tubu lar S ham 3/4 nx

3/4nx

*

*‡

*‡

‡*

*‡

*‡

*

2 s em a nas 1 0 sem ana s 2 6 sem anas

2 sem anas 1 0 sem ana s 26 s em a nas

Page 44: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

41

Perfil de Expressão Génica dos Receptores dos PN’s

Nos animais controlo (Sham), a expressão basal do RPN-A e do

RPN-C diferiu entre o córtex e a medula renal: os níveis de ARNm do RPN-A

foram superiores na medula renal (Córtex: 1,0±0,40 AU; Medula:

14,0±3,10 AU) enquanto que os níveis de ARNm do RPN-C foram superiores

no córtex renal (Córtex: 1,0±0,17 AU; Medula: 0,37±0,02 AU) (Figura 7).

Observou-se um aumento significativo dependente do tempo nos

níveis de ARNm do RPN-A na medula renal de ambos os grupos

experimentais (Figura 7). Contudo, a expressão do RPN-A na medula renal

dos animais ¾nx foi consistentemente inferior ao apresentado pelos animais

Sham às 2, 10 e 26 semanas após a cirurgia. No córtex renal, os níveis de

ARNm do RPN-A dos animais ¾nx aumentaram significativa e

progressivamente durante o estudo enquanto que nos animais Sham a

expressão do RPN-A aumentou apenas discretamente às 26 semanas após a

cirurgia (Figura 7). Como resultado, os níveis de ARNm do RPN-A no córtex

renal dos animais ¾nx foram superiores aos observados nos animais Sham,

quer às 10 quer às 26 semanas após a cirurgia.

A expressão do ARNm do RPN-C na medula renal não variou ao

longo do tempo, quer no grupo Sham quer no grupo ¾nx. Os níveis de

ARNm do RPN-C no córtex renal dos animais Sham também não variaram

entre as 2 e as 26 semanas após a cirurgia. No entanto, os níveis de ARNm

do RPN-C no córtex renal dos animais ¾nx aumentaram significativamente

às 10 e 26 semanas após a ablação da massa renal (Figura 7).

Page 45: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

42

Figura 7. Quantificação do ARNm por RT-PCR em tempo real do RPN-A e do

RPN-C no cortex e na medula renal nos animais controlo (Sham) e dos

animais submetidos a nefrectomia de ¾ (¾nx) às 2, 10 e 26 semanas após

a cirurgia. *P<0,05 vs. Sham; ‡P<0,05 vs. 2 semanas; δP<0,05 vs. 10

semanas.

RPN

-A/G

APD

H A

RN

m (U

A)

0

10

20

40

60

80

100

Córtex

RPN

-A/G

APD

H A

RN

m (U

A)

0

10

20

40

60

80

100

Medula

RPN

-C/G

AP

DH A

RN

m (U

A)

0

1

2

3

4

5

6

*‡

*‡

*‡

*

- Sham

- 3/4nx

*‡

*‡

RPN

-C/G

APD

H A

RN

m (U

A)

0

1

2

3

4

5

6

*‡

*‡

2 semanas 10 semanas 26 semanas 2 semanas 10 semanas 26 semanas

2 semanas 10 semanas 26 semanas 2 semanas 10 semanas 26 semanas

Page 46: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

43

Imunolocalização do RPN-A

Na medula renal, o RPN-A foi detectado nas estruturas tubulares

dos animais do grupo Sham e do grupo ¾nx. No córtex renal dos animais

do grupo Sham, o RPN-A foi apenas identificado de forma ténue nas

estruturas corticais glomerulares e tubulares enquanto que nos animais do

grupo ¾nx a coloração do RPN-A foi claramente identificada nas estruturas

tubulares corticais 26 semanas após a cirurgia.

Page 47: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

44

DISCUSSÃO

Neste modelo experimental, a ablação da massa renal acompanhou-se

de um esperado crescimento compensatório do rim remanescente, de um

aumento da pressão arterial e de um aumento da excreção fraccional de

sódio. Apesar do aumento da excreção fraccional de sódio observado, a

nefrectomia condicionou uma diminuição da resposta natriurética à

expansão de volume que se foi intensificando ao longo do tempo e se

manifestou de forma mais marcada nos animais submetidos a nefrectomia

de ¾. Em paralelo com estas alterações, observou-se uma modulação

dependente do tempo da expressão renal dos receptores dos peptídeos

natriuréticos que foi distinta no córtex e na medula renal e que ocorreu na

presença de uma elevação consistente dos níveis plasmáticos de BNP. Nos

animais ¾nx observou-se uma diminuição precoce e sustentada da

expressão do RPN-A na medula renal, que foi acompanhada por um

aumento dos níveis de ARNm do RPN-C no córtex renal. Por outro lado, nos

animais submetidos a uninefrectomia a diminuição da expressão do RPN-A

na medula renal foi apenas observada transitoriamente 10 semanas após a

cirurgia, tendo-se verificado um aumento marcado da expressão deste

receptor às 26 semanas quer no córtex quer na medula renal;

concomitantemente, não foram observadas alterações significativas na

expressão do RPN-C no córtex renal dos animais uninefrectomizados. A

modulação da expressão génica dos receptores dos peptídeos natriuréticos

observada a nível renal ocorreu independentemente da activação sistémica

dos PN’s e foi distinta nos animais Unx e ¾nx. Estes dados sugerem que o

Page 48: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

45

tipo de modulação do sistema dos PN’s na resposta adaptativa à perda de

massa renal depende da quantidade de nefrónios funcionantes residuais e

que nas situações de uninefrectomia e de insuficiência renal podem

contribuir de forma distinta para a diminuição da resposta natriurética à

sobrecarga de volume e para o desenvolvimento de hipertensão arterial.

Neste trabalho, verificou-se uma expressão distinta do RPN-A e RPN-C

no córtex e medula renal dos animais Sham às 2 semanas. De facto, os

níveis basais de ARNm do RPN-A na medula renal foram cerca de 14 vezes

superiores aos do córtex renal, tendo-se observado o inverso em relação à

expressão do RPN-C, cuja expressão foi cerca de 3 vezes superior no córtex

em relação à medula renal. Estudos prévios efectuados em rins normais

descrevem de forma consistente diferenças na expressão do RPN-A e do

RPN-C no córtex e medula renal92,93. Nestes trabalhos, o RPN-A é expresso

essencialmente no ducto colector medular enquanto que o RPN-C

predomina nas estruturas corticais. Esta descrição está de acordo com

estudos funcionais de natriurese induzida pelos PN’s, que realçam os efeitos

dos PN’s no transporte tubular e atribuem menor importância fisiológica às

alterações que induzem na hemodinâmica glomerular94,95,96. Curiosamente,

também os animais do grupo controlo apresentaram às 26 semanas uma

elevação da pressão arterial sistólica e diastólica e uma diminuição da taxa

de filtração glomerular. Apesar da ausência de disfunção cardíaca nos

estudos hemodinâmicos do VE, estas alterações ocorreram em simultâneo

com uma elevação dos níveis plasmáticos de BNP. O efeito da idade na

elevação dos níveis plasmáticos de PN’s foi já descrito anteriormente,

mesmo na ausência de cardiopatia estrutural, e foi explicado pela presença

Page 49: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

46

de disfunção renal latente79,97. Alguns autores chegam a sugerir, por esse

motivo, que no estabelecimento de intervalos de normalidade para os níveis

plasmáticos de BNP o efeito de covariáveis como a idade e a função renal

devam ser tidas em consideração98. Por outro lado, a elevação dos níveis

plasmáticos dos PN’s com o desenvolvimento, principalmente se

interpretada em conjunto com a diminuição do racio entre o GMPc e o BNP

observada nalguns trabalhos, pode sugerir uma diminuição da actividade

biológica compensatória do sistema dos PN’s com a idade97. A verificar-se,

este estado de diminuição da capacidade da resposta renal à acção dos PN’s

poderia contribuir para o aparecimento de hipertensão arterial sensível ao

sódio, já por diversas vezes documentada nos indivíduos das faixas etárias

mais avançadas99. No nosso trabalho observamos nos animais Sham ao

longo das 26 semanas um aumento consistente da expressão do RPN-A no

córtex (cerca de 2 vezes) e, de forma mais marcada, na medula renal

(cerca de 6 vezes), sem alterações na expressão do receptor de clearance

RPN-C, o que não sugere uma situação de resistência renal à acção dos PN’s

e orienta para uma interpretação diferente dos resultados. O rim é um

orgão alvo da hipertensão arterial de importância crescente. De facto,

vários ensaios clínicos demonstraram até ao momento uma relação

significativa entre a presença de hipertensão arterial e uma diminuição da

taxa de filtração glomerular100,101. Apesar dos benefícios que o tratamento

da hipertensão teve nos últimos anos no desenvolvimento de doença cardio

ou cerebrovascular, a insuficiência renal associada à hipertensão arterial

tem vindo a aumentar sem mostrar tendência para a estabilização. Nos

mecanismos subjacentes à lesão renal pela hipertensão arterial foram

Page 50: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

47

implicados previamente a hiperfiltração glomerular e o aumento da

reabsorção proximal de sódio102, embora estes resultados não tenham sido

consensualmente confirmados noutros trabalhos. Um estudo realizado

posteriormente em doentes hipertensos confirma uma alteração da

reabsorção proximal de sódio e documenta adicionalmente uma elevação

sustentada dos níveis dos PN’s nestas situações, sugerindo um papel

contraregulador dos PN’s no desenvolvimento de glomerulosclerose

hipertensiva103. De acordo com estes dados estão os resultados de estudos

realizados em indivíduos normais que documentam um aumento da acção

tubular distal dos PN’s nas situações de aumento da pressão arterial e uma

atenuação desses efeitos quando se verifica uma diminuição da pressão

arterial na ausência de alteração dos níveis plasmáticos104. De facto, o

padrão de expressão dos receptores dos PN’s nos animais controlo do nosso

estudo está de acordo com uma diminuição da capacidade de reabsorção

tubular de sódio e pode servir de base para uma explicação molecular para

o aumento da resposta natriurética na hipertensão arterial. Até que ponto a

modulação da expressão dos receptores dos PN’s observada contribui para

um possível papel protector deste sistema no desenvolvimento de lesão

renal condicionado pelo aumento da pressão arterial permanece ainda por

esclarecer.

A ablação da massa renal teve um profundo impacto na expressão dos

receptores dos PN’s tanto a nível cortical como a nível medular renal, mas

de forma distinta nos animais submetidos a uninefrectomia e a nefrectomia

de ¾. No grupo Unx, a alteração da expressão do RPN-A no córtex e na

medula renal variou com o tempo decorrido após a cirurgia. Na medula

Page 51: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

48

renal, observou-se uma diminuição transitória dos níveis de ARNm do RPN-

A às 10 semanas após a cirurgia, enquanto que às 26 semanas se observou

um aumento significativo da expressão deste receptor, quer na medula quer

no córtex renal. Simultaneamente, verificou-se nos animais Unx uma

diminuição da expressão do RPN-C na medula renal, sem alteração da

expressão deste receptor a nível cortical. Adicionalmente, os animais

submetidos a uninefrectomia apresentaram um aumento precoce e

sustentado dos níveis plasmáticos de BNP na ausência de disfunção

cardíaca,. Apesar de estar bem documentado o aumento da excreção

fraccional de sódio após a uninefrectomia, os mecanismos subjacentes à

adaptação aguda e, principalmente, à adaptação crónica do transporte de

sódio na sequência de perda de nefrónios funcionantes ainda não se

encontram bem esclarecidos. A excreção renal de sódio resulta da

interacção de um conjunto de factores que interferem por um lado com a

reabsorção tubular de sódio e, por outro, com a quantidade de sódio filtrada

a nível glomerular através da modulação da pressão de perfusão glomerular

e dos mecanismos que a controlam, tais como o débito cardíaco e as

resistências vasculares periféricas105. Várias linhas de investigação têm

implicado alguns destes factores na fisiopatologia da hipertensão arterial

parenquimatosa, mas poucos são os estudos que avaliaram o seu contributo

para a adaptação da massa renal remanescente à redução do número de

nefrónios funcionantes106. O sistema dopaminérgico foi um dos sistemas

natriuréticos já avaliado no contexto de uninefrectomia experimental3,

tendo a diminuição da natriurese mediada pela dopamina dependente do

tempo decorrido após a cirurgia sido implicada na diminuição da excreção

Page 52: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

49

de sódio e no aparecimento de hipertensão arterial nos animais submetidos

a uninefrectomia. De acordo com estes dados estão outros trabalhos que

documentaram a ausência de um efeito antagonista da resposta natriurética

após uninefrectomia em animais submetidos a inibição selectiva dos

receptores da dopamina e da enzima conversora da angiotensina107. O

sistema dos peptídeos natriuréticos foi já avaliado previamente na fase

adaptativa à uninefrectomia. De facto, estudos efectuados em modelos

experimentais de uninefrectomia documentaram um aumento precoce dos

níveis plasmáticos dos PN’s após a cirurgia e uma diminuição da resposta

natriurética aquando do tratamento com anticorpo anti-ANP81,108. No

entanto, estes estudos não avaliaram a função cardíaca ou o padrão de

expressão renal dos receptores dos PN’s. No Homem, essencialmente após

uninefrectomia electiva para doação renal, foi também observado um

aumento precoce dos níveis plasmáticos dos PN´s, mas não existem

trabalhos que tenham avaliado o sistema dos PN’s alguns meses ou anos

após a uninefrectomia109. O aumento da expressão de RPN-A observado

tanto a nível da medula como do córtex renal às 26 semanas após a

cirurgia, principalmente se avaliado em conjunto com a diminuição da

expressão de RPN-C na medula renal sugere que os PN’s podem

desempenhar um papel importante na resposta adaptativa crónica à

ablação da massa renal, permitindo manter a excreção de sódio mesmo na

presença de uma diminuição da actividade de outros sistemas natriuréticos.

O RPN-C é um subtipo de receptor dos PN’s independente da guanilil-

cíclase, que parece mediar a clearance dos PN’s, contrariando desta forma

os efeitos biológicos do RPN-A110. Os mecanismos moleculares/celulares

Page 53: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

50

envolvidos na regulação do RPN-C ainda não se encontram, contudo, bem

esclarecidos. A diminuição da expressão do RPN-C foi atribuída em estudos

anteriores, quer a um aumento dos níveis circulantes dos PN’s, através do

aumento da produção do GMPc por activação da guanilil-cíclase associada

ao RPN-A, quer ao aumento da ingestão de sódio na dieta, visando nesta

situação aumentar a biodisponibilidade renal dos PN’s para os receptores

efectores medulares111,112. No entanto, vários trabalhos sugerem que a

modulação da expressão do RPN-C é complexa podendo inclusivamente ser

influenciada por uma variedade de factores de crescimento113.

Independentemente do mecanismo subjacente à diminuição da expressão

do RPN-C após a uninefrectomia, estudos realizados em animais com

delecção génica para o RPN-C indicam que este receptor desempenha um

papel importante na regulação, quer dos níveis circulantes quer dos níveis

locais dos PN’s, estando a diminuição da sua expressão associada a um

aumento da disponibilidade local de PN’s para ligação ao receptor efector

RPN-A e, assim, a um aumento da actividade global do sistema114. Apesar

disto, nos animais Unx verificou-se ao longo do estudo um aumento da

pressão arterial e uma diminuição da resposta natriurética à expansão de

volume. Embora as evidências apontem para um aumento compensatório

da actividade do sistema dos PN’s neste modelo experimental, tal não

impediu a redução da resposta natriurética à expansão de volume nas fases

mais avançadas após a uninefrectomia, o que poderá estar associado à

diminuição dependente do tempo da actividade de outros sistemas

natriuréticos, conforme descrito previamente3.

Page 54: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

51

Nos animais submetidos a nefrectomia de ¾ verificou-se um padrão

de modulação dos receptores dos PN’s distinto do apresentado pelos

animais submetidos a uninefrectomia. Ao contrário do que se observou nos

animais Unx, a redução da massa renal induzida pela nefrectomia de ¾

associou-se a uma diminuição precoce e sustentada da expressão do RPN-A

na medula renal, que persistiu durante as 26 semanas do estudo e que se

acompanhou de um aumento selectivo dos níveis de ARNm do RPN-C no

córtex renal dos animais ¾nx. Estes dados, quando avaliados em conjunto

com o aumento progressivo da pressão arterial e com a diminuição precoce

da resposta natriurética à expansão de volume nos animais submetidos a

¾nx sugerem que as alterações renais da expressão do RPN-A e do RPN-C

poderão contribuir para o desenvolvimento de hipertensão arterial, apesar

do aumento precoce e sustentado dos níveis plasmáticos de BNP observado

no nosso trabalho. Cerca de 99% dos receptores dos PN’s expressos a nível

renal são NPR-C e estão essencialmente localizados nas estruturas

vasculares e glomerulares do córtex115. O aumento selectivo da expressão

do RPN-C observado no córtex renal dos animais ¾nx às 10 e 26 semanas

após a cirurgia sugere que este mecanismo de regulação local da

biodisponibilidade dos PN’s poderá diminuir a concentração de PN’s ao nível

dos receptores RPN-A na medula renal33, assim contribuíndo para o

compromisso da resposta natriurética ao longo do tempo. Esta limitação da

capacidade de excreção de sódio torna-se ainda mais importante na

presença da diminuição da expressão do RPN-A na medula renal, conforme

foi documentado consistentemente nos animais submetidos a nefrectomia

de ¾ desde as 2 semanas após a cirurgia, e pode ajudar a explicar a

Page 55: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

52

diminuição da resposta natriurética à expansão de volume apresentada

pelos animais ¾nx. No seu conjunto, estes resultados sugerem uma

dissociação entre a activação sistémica e local do sistema dos PN’s neste

modelo de insuficiência renal crónica: enquanto que a elevação dos níveis

circulantes destes peptídeos acompanha a expansão de volume, a redução

da expressão local do RPN-A inclui apenas o órgão em sobrecarga funcional.

Este fenómeno poderá estar na base da resistência local à acção tubular

renal dos PN’s e assim contribuir para o aparecimento da hipertensão

arterial e para a progressão da doença cardíaca e renal. Curiosamente, uma

alteração na regulação da sinalização pelo RPN-A foi já previamente descrita

em situações de expansão do volume. De facto, em doentes com

insuficiência cardíaca e síndrome nefrótico foi documentada uma diminuição

dos efeitos dos PN’s a nível renal, assim como uma diminuição da expressão

renal do RPN-A, sendo sugerido que a diminuição da expressão renal dos

receptores efectores dos PN’s poderia desempenhar um papel importante na

retenção de sódio e na progressão destas doenças63,116.

Em oposição ao observado na medula renal, a expressão do RPN-A

aumentou no córtex renal após a nefrectomia de ¾, com correspondente

aumento da marcação imunohistoquímica nas estruturas tubulares. Embora

não seja possível determinar a relevância fisiológica deste achado, esta

modulação poderá indicar uma contribuição da activação do RPN-A cortical

para as alterações da hemodinâmica glomerular e para a hiperfiltração que

caracteriza a insuficiência renal crónica.

As alterações do balanço de sódio observadas nos animais ¾nx

acompanharam-se, adicionalmente, de um aumento da fibrose intersticial e

Page 56: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

53

da atrofia tubular. O sistema dos PN’s desempenha, como é sabido, um

papel importante na regulação da resposta fibrótica e proliferativa. A

diminuição da expressão do BNP ou do RPN-A foi implicada no aumento da

hipertrofia cardíaca53,54 e, por outro, o aumento da expressão de PN’s foi

implicado na diminuição da resposta proliferativa e fibrótica em modelos de

lesão glomerular imune55. No nosso modelo experimental de insuficiência

renal crónica, a diminuição global da actividade do sistema dos PN’s

sugerida pelo padrão de expressão molecular dos receptores RPN-A

designadamente a nível medular, poderá contribuir para o desenvolvimento

da fibrose e da atrofia tubular e para a perda progressiva de parênquima

renal funcionante. No entanto, permanece ainda por esclarecer o verdadeiro

papel desempenhado pelo sistema dos PN’s na regulação da resposta

fibrótica que caracteriza a evolução da insuficiência renal crónica.

Conforme esperado, a ablação da massa renal acompanhou-se de um

aumento precoce e sustentado dos niveis plasmáticos de BNP. Este

aumento não se relacionou com um aumento da produção cardíaca de BNP,

uma vez que não foram observadas alterações nos níveis de ARNm do BNP

no miocárdio e não foi documentada disfunção da hemodinâmica ventricular

esquerda dos animais submetidos a nefrectomia de ¾. Por outro lado, a

elevação dos níveis plasmáticos de BNP nos 3 grupos experimentais evoluiu

em paralelo com a diminuição da depuração da creatinina. Estes dados

estão de acordo com observações recentes que sugerem que a diminuição

da excreção renal de BNP poderá ser um determinante importante da

elevação dos níveis plasmáticos de BNP nas situações de insuficiência renal

crónica moderada a grave77,117. Assim sendo, a utilização do BNP como

Page 57: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

54

marcador diagnóstico e prognóstico da doença cardíaca nos doentes com

insuficiência renal crónica deverá ser analisada tendo em conta esta

limitação potencial. Este facto é particularmente relevante se considerarmos

a prevalência de alterações da função renal nos doentes com doença

cardíaca clinicamente significativa.

Page 58: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

55

CONCLUSÕES

A alteração da função renal acompanha-se de uma modulação da

expressão dos receptores dos PN’s dependente do tempo, que não se limita

apenas aos animais submetidos a ablação da massa renal mas que também

se observa durante o processo de envelhecimento dos animais do grupo

controlo.

Quer a expressão do RPN-A quer a do RPN-C é distinta no córtex e na

medula renal e varia em resposta à redução da massa renal,

independentemente da activação sistémica do sistema dos PN’s.

Nos animais uninefrectomizados o padrão de expressão dos receptores

dos PN’s parece sugerir um papel importante deste sistema na resposta

adaptativa e compensatória necessária para a excreção de sódio pelo rim

remanescente.

Nos animais submetidos a nefrectomia de ¾, o padrão de expressão dos

receptores dos PN’s traduz um estado de resistência renal à acção dos PN’s,

a qual poderá contribuir para explicar o desenvolvimento precoce e

agravamento progressivo da hipertensão arterial sensível ao sal.

Nos 3 grupos experimentais verifica-se um aumento dos níveis

plasmáticos de BNP, que ocorre na ausência de disfunção cardíaca e poderá

resultar da diminuição da função renal dependente do tempo.

Page 59: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

56

REFERÊNCIAS

1. Hayslett J. Functional adaptation to reduction in renal mass.

Physiol Rev 1979; 59: 137-164.

2. Sampaio-Maia B, Serrão P, Guimarães J, Vieira-Coelho M,

Pestana M. Renal dopaminergic system activity in the rat remnant kidney.

Nephron Exp Nephrol 2005; 99: e46-e55.

3. Moreira-Rodrigues M, Sampaio-Maia B, Moura M, Pestana M.

Renal dopaminergic system activity in uninephrectomized rats up to 26

weeks after surgery. Am J Nephrol 2007; 27(3): 232-9.

4. Hostetter T, Olson J, Rennke H. Hyperfiltration in remnant

nephrons: a potentially adverse response to renal ablation. Am J Physiol

1981; 241: F85–F93.

5. Robertson J, Goldschmidt M, Kronfeld D. Long-term renal

responses to high dietary protein in dogs with 75% nephrectomy. Kidney

Int 1986; 29: 511–519.

6. Bourgoignie J, Gavellas G, Hwang K. Renal function of baboons

(Papio hamadryas) with a remnant kidney, and impact of different protein

diets. Kidney Int 1989; 27 (Suppl): S86–S90.

7. Woods L, Weeks D, Rasch R. Hypertension after neonatal

uninephrectomy in rats precedes glomerular damage. Hypertension 2001;

38: 337-342.

8. Siebels M, Theodorakis J, Schmeller N, Corvin S, Mistry-

Burchardi N, Hillebrand G. Risks and complications in 160 living kidney

Page 60: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

57

donors who underwent nephroureterectomy. Nephrol Dial Transplant 2003;

18(12): 2648-54.

9. Goldfarb D, Matin S, Braun W, Schreiber M, Mastroianni B,

Papajcik D. Renal outcome 25 years after donor nephrectomy. J Urol

2001; 166(6): 2043-7.

10. Najarian J, Chavers B, McHugh L, Matas A. 20 years or moreof

follow-up of living kidney donors. Lancet 1992; 340: 807–810.

11. Matas A, Bartlettb S, Leichtmanc A, Delmonicod F. Morbidity

and Mortality After Living Kidney Donation, 1999–2001: Survey of United

States Transplant Centers. Am J Transplant 2003; 3: 830–834.

12. Ramcharan T, Matas A. Long-Term (20–37Years) Follow-Up of

Living Kidney Donors. Am J Transplant 2002; 2: 959–964.

13. Mimran A, Mourad G, Ribstein J. Early systemic and renal

responses to nephrectomy in normotensive kidney donors. Nephrol Dial

Transplant 1993; 8(5): 448-53.

14. Nagata M, Scharer K, Kriz W. Glomerular damage after

uninephrectomy in young rats. Hypertrophy and distortion of capillary

architecture. Kidney Int 1992; 42: 136-147.

15. Smith S, Anderson S, Ballermann B, Brenner B. Role of atrial

natriuretic peptide in adaptation of sodium excretion with reduced renal

mass. J Clin Invest 1986; 77: 1395-1398.

16. Slatopolsky E, Elkan E, Weerts C, Bricker N. Studies on

characterization of the control system governing sodium excretion in remic

man. J Clin Invest 1968; 47: 521-528.

Page 61: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

58

17. Schmidt R, Bourgoignie J, Bricker N. On the adaptation in

sodium excretion in chronic uremia. The effects of “proportional reduction”

of sodium intake. J Clin Invest 1974; 53: 1736-1741.

18. LaPointe M. Molecular regulation of the brain natriuretic peptide

gene. Peptides 2005; 26: 944-956.

19. Brenner B, Ballerman B, Gunning M. Diverse biological actions

of atrial natriuretic peptide. Physiol Rev 1990; 70: 665-699.

20. deBold A. Heart natriuretic factor in the rat heart. Studies on

isolation and properties. Proc Soc Exp Biol Med 1982; 170: 133-138.

21. Kangawa K, Fukuda A, Kubota I, Hayashi Y, Matsuo H.

Identification in rat atrial tissue of multiple forms of natriuretic polypeptides

of about 3000 daltons. Bioch Biophys Res Commun 1984; 121: 585-591.

22. Sudoh T, Kangawa K, Minamino N, Matsuo H. A new

natriuretic peptide in porcine brain. Nature 1988; 332: 78-81.

23. Sudoh T, Minamino N, Kangawa K, Matsuo H. C-type

natriuretic peptide (CNP): a new member of natriuretic peptide family

identified in porcine brain. Bioch Biophys Res Commun 1990; 168: 863-870.

24. Schweitz H, Vigne P, Moinier D, Frelin C, Lazdunski M. A new

member of the natriuretic peptide family is present in the venom of the

green mamba (Dendroapsis angusticeps). J Biol Chem 1992; 267: 13928-

13932.

25. Forssmann W. Urodilatin: a renal natriuretic peptide. Nephron

1995; 69:211-222.

Page 62: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

59

26. Ogawa Y, Nakao K, Mukoyama M. Natriuretic peptides as

cardiac hormones in normotensive and spontaneously hypertensive rats.

The ventricle is a major site of synthesis and secretion of brain natriuretic

peptide. Circ Res 1991; 69: 491-500.

27. Hosoda K, Nakao K, Mukoyama M. Expression of brain

natriuretic peptide gene in human heart. Production in the ventricle.

Hypertension 1991; 17: 1152-1155.

28. Ogawa T, Linz W, Stevenson M. Evidence for load-dependent

and load-independent determinants of cardiac natriuretic peptide

production. Circulation 1996; 93: 2059-2067.

29. Kinnunen P, Vuolteenaho O, Ruskoaho H. Mechanisms of atrial

and brain natriuretic peptide release from rat ventricular myocardium:

effect of stretching. Endocrinology 1993; 132: 1961-1970.

30. Koller K, Goeddel D. Molecular biology of the natriuretic peptides

and their receptors. Circulation 1992; 86(4): 1081-8.

31. Chinkers M, Singh S, Garbers D. Adenine nucleotides are

required for activation of rat atrial natriuretic peptide receptor/guanylyl

cyclase expressed in a baculovirus system. J Biol Chem 1991; 266(7):

4088-93.

32. Potter L, Hunter T. Phosphorylation of the kinase homology

domain is essential for activation of the A-type natriuretic peptide receptor.

Mol Cell Biol 1998; 18(4): 2164-72.

Page 63: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

60

33. Kuhn M. Structure, regulation and function of mammalian

membrane guanylyl cyclase receptors, with a focus on guanylyl cyclase-A.

Circ Res 2003; 93: 700-709.

34. Fuller F, Porter J, Arfsten A, Miller J, Schilling J,

Scarborough R. Atrial natriuretic peptide receptor. J Biol Chem 1988; 263:

9395-401.

35. Sagnella G. Atrial natriuretic peptide mimetics and vasopeptidase

inhibitors. Cardiovasc Res 2001; 51: 416-428.

36. Pandey K. Internalization and trafficking of guanylyl cyclase /

natriuretic peptide receptor-A. Peptides 2005; 26: 985-1000.

37. Potthast R, Potter L. Phosphorylation-dependent regulation of

the guanylyl cyclase-linked natriuretic peptide receptors. Peptides 2005;

26: 1001-1008.

38. Matsukawa N, Grzesik W, Takahashi N, Pandey K, Pang S,

Yamauchi M. The natriuretic peptide clearance receptor locally modulates

the physiological effects of natriuretic peptide system. Proc Natl Acad Sci

USA 1999; 96: 7403-8.

39. Shulz S. C-type pepetide and guanylyl cyclase B receptor.

Peptides 2005; 26: 1024-1034.

40. Holmes S, Espiner E, Richards A, Yandle T, Frampton C.

Renal, endocrine and hemodynamic effects of human brain natriuretic

peptide in normal man. J Clin Endocrinol Metab 1993; 76: 91-96.

Page 64: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

61

41. Lazzeri C, Franchi F, Porciani C. Systemic hemodynamics and

renal function during brain natriuretic peptide infusion in patients with

essential hypertension. Am J Hypertens 1995; 8: 799-807.

42. Protter A, Wallace A, Ferraris V, Weisshaar R. Relaxant effect

of human brain natriuretic peptide on human artery and vein tissue. Am J

Hypertens 1996; 9: 432-436.

43. Houben A, Krekels M, Schaper N, Fuss-Lejeune M, Rodriguez

S, de Leeuw P. Microvascular effects of atrial natriuretic peptide (ANP) in

man: studies during high and low salt diet. Cardiovasc Res 1998; 39: 442-

450.

44. Wijeyaratne C, Moult P. The effect of alpha human atrial

natriuretic peptide on plasma volume and vascular permeability in

normotensive subjects. J Clin Endocrinol Metab 1993; 76: 343-346.

45. Jensen K, Carstens J, Pedersen E. Effect of BNP on renal

hemodynamics, tubular function and vasoactive hormones in humans. Am J

Physiol 1998; 274: F63-F72.

46. Marin-Grez M, Fleming J, Steinhausen M. Atrial natriuretic

peptide causes pre-glomerular vasodilatation and post-glomerular

vasoconstriction in rat kidney. Nature 1986; 324: 473-476.

47. Sonnenberg H, Honrath U, Chong C, Wilson D. Atrial

natriuretic factor inhibits sodium transport in medullary collecting duct. Am

J Physiol 1986; 250: F963-F966.

48. Zeidel M. Regulation of collecting duct Na+ reabsorption by ANP

31-67. Clin Exp Pharmacol Physiol 1995; 22: 121-124.

Page 65: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

62

49. Melo L, Steinhelper M, Pang S, Tse Y, Ackermann U. ANP in

regulation of arterial pressure and fluid-electrolyte balance: lessons from

genetic mouse models. Physiol Genom 2000; 3: 45-58.

50. Calderone A, Thaik C, Takahashi N, Chang DL, Colucci W.

Nitric oxide, atrial natriuretic peptide, and cyclic GMP inhibit the growth-

promoting effects of norepinephrine in cardiac myocytes and fibroblasts. J

Clin Invest 1998; 101(4): 812-8.

51. Fujisaki H, Ito H, Hirata Y, Tanaka M, Hata M, Lin M.

Natriuretic peptides inhibit angiotensin II-induced proliferation of rat cardiac

fibroblasts by blocking endothelin-1 gene expression. J Clin Invest 1995;

96(2): 1059-65.

52. Rosenkranz A, Woods R, Dusting G, Ritchie R.

Antihypertrophic actions of the natriuretic peptides in adult rat

cardiomyocytes: importance of cyclic GMP. Cardiovasc Res 2003; 57: 515-

522.

53. Oliver P, Fox J, Kim R, Rockman H, Kim H, Reddick R.

Hypertension, cardiac hypertrophy and sudden death in mice lacking

natriuretic peptide receptor A. Proc Natl Acad Sci USA 1997; 94: 14730-

14735.

54. Tamura N, Ogawa Y, Chusho H, Nakamura K, Nakao K, Suda

M. Cardiac fibrosis in mice lacking brain natriuretic peptide. Proc Natl Acad

Sci USA 2000; 97: 4239-4244.

55. Suganami T, Mukoyama M, Sugawara A, Mori K, Nagae T,

Kasahara M. Overexpression of brain natriuretic peptide in mice

Page 66: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

63

ameliorates immune-mediated renal injury. J Am Soc Nephrol 2001; 12:

2652-2663.

56. Kasahara M, Mukoyama M, Sugawara A, Makino H,

Suganami T, Ogawa Y. Ameliorated glomerular injury in mice

overexpressing brain natriuretic peptide with renal ablation. J Am Soc

Nephrol 2000; 11: 1691-1701.

57. Joffy S, Rosner M. Natriuretic Peptides in ESRD. Am J Kidney Dis

2005; 46: 1-10.

58. Garg R, Pandey K. Regulation of guanylyl cyclase / natriuretic

peptide receptor-A gene expression. Peptides 2005; 26: 1009-1023.

59. Shi S, Vellaichamy E, Chin S, Smithies O, Navar L, Pandey K.

Natriuretic peptide receptor A mediates renal sodium excretory responses to

blood volume expansion. Am J Physiol 2003; 285: 694-702.

60. Maack T. Receptors of atrial natriuretic factor. Annu Rev Physiol

1992; 54: 11–27.

61. Pandey K, Nguyen H, Sharma G, Shi S, Kriegel A. Ligand-

regulated internalization, trafficking and downregulaion of guanylyl

cyclase/atrial natriuretic peptide receptor-A in human embryonic kidney 293

cells. J Biol Chem 2002; 277: 4618-27.

62. Tsutamoto T, Kanamori T, Morigami N, Sugimoto Y,

Yamaoka O, Kinoshita M. Possibility of downregulation of natriuretic

peptide receptor coupled do guanylate cyclase in peripheral vascular beds of

patients with chronic severe heart failure. Circulation 1993; 88: 811-3.

Page 67: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

64

63. Tsutamoto T, Wada A, Maeda K, Hisanaga T, Maeda Y, Fukai

D. Attenuation of compensation of endogenous cardiac natriuretic peptide

system in chronic heart failure. Circulation 1997; 96: 509-516.

64. Sagnella G. Measurement and significance of circulating

natriuretic peptides in cardiovascular disease. Clin Sci 1998; 95: 519-529.

65. Lang C, Coutie W, Khong T, Choy A, Struthers A. Dietary

sodium loading increases plasma brain natriuretic peptide levels in man. J

Hypertens 1991; 9: 779-782.

66. La Villa G, Vena S, Conti A. Plasma levels of brain natriuretic

peptide in healthy subjects and patients with essential hypertension:

response to posture. Clin Sci 1993; 85: 411-416.

67. Bettencourt P, Azevedo A, Pimenta J, Friões F, Ferreira S,

Ferreira A. N-terminal-pro-brain natriuretic peptide predicts outcome after

hospital discharge in heart failure patients. Circulation 2004; 110: 2168-

2174.

68. Maisel A. B-type natriuretic peptide (BNP) levels: diagnostic and

therapeutic potential. Rev Cardiovasc Med 2001; 2(suppl. 2): S13-S18.

69. Berkowitz R. B-type natriuretic peptide and the diagnosis of acute

heart failure. Rev Cardiovasc Med 2004; 5: S3-S16.

70. Maki T, Nasa Y, Yamaguchi F, Yoshida H, Mori M, Takada T.

Long-term treatment with neutral endopeptidase inhibitor improves cardiac

function and reduces natriuretic peptides in rats with chronic heart failure.

Cardiov Res 2001; 51: 608-617.

Page 68: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

65

71. Tang J, Webber R, Chang D, Chang J, Kiang J, Wei E.

Depressor and natriuretic activities of several atrial peptides. Regul Pept

1984; 9: 53-59.

72. Charles C, Espiner E, Nicholls M, Richards A, Yandle T,

Protter A. Clearance receptors and endopeptidase 24.1: equal role in

natriuretic peptide metabolism in conscious sheep. Am J Physiol 1996; 271:

R373-380.

73. Takami Y, Horio T, Iwashima Y. Diagnostic and prognostic value

of plasma brain natriuretic peptide in non-dialysis-dependent CRF. Am J

Kidney Dis 2004; 44: 420-428.

74. Tikkanen I, Metsarinne K, Gronhagen-Riska C, Fyhrquist F.

Plasma level of atrial nauriuretic peptide as an indicator of increased cardiac

load in uremic patients. Clin Nephrol 1990; 34: 167-172.

75. Goto T, Takase H, Toriyama T, Sugiura T, Kurita Y, Tsuru N.

Increased circulating levels of natriuretic peptides predicts future cardiac

event in patients with chronic hemodialysis. Nephron 2002; 92: 610-615.

76. Tsutamoto T, Wada A, Sakai H, Ishikawa C, Tanaka T,

Hayashi M. Relationship between renal function and plasma brain

natriuretic peptide in patients with heart failure. J Am Coll Cardiol 2006;

47(3): 582-6.

77. Mark P, Stewart G, Gansevoort R, Petrie C, McDonagh T,

Dargie H. Diagnostic potential of circulating natriuretic peptides in chronic

kidney disease. Nephrol Dial Transplant 2006; 21: 402-410.

Page 69: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

66

78. de Nicola L, Bellizzi V, Cianciaruso B, Minutolo R, Colucci G,

Balleta M. Pathophysiological role and diuretic efficacy of atrial natriuretic

peptide in renal patients. J Am Soc Nephrol 1997; 8: 445-455.

79. Nomura H, Hayashi T, Esaki T, Kanda S, Kano H, Hattori A.

Standardization of plasma brain natriuretic peptide concentrations in older

Japanese – relationship to latent renal dysfunction and ischemic heart

disease. J Am Geriatr Soc 2002; 50(9): 1504-9.

80. Sayama H, Nakamura Y, Saito N, Kinoshita M. Why is the

concentration of plasma brain natriuretic peptide in elderly inpatients

greater than normal? Coron Artery Dis 1999; 10(7): 537-40.

81. Valentin J, Ribstein J, Neuser D, Nussberger J, Mimran A.

Effect of monoclonal anti-ANP antibodies on the acute functional adaptation

to unilateral nephrectomy. Kidney Int 1993; 43(6): 1260-6.

82. Valentin J. Plasma concentration of atrial natriuretic peptide after

acute reduction in functioning renal mass in the rat. Can J Physiol

Pharmacol 1997; 75(2): 153-7.

83. Valentin J, Ribstein J, Pussard E, Mimran A. Role of atrial

natriuretic peptide in the acute response to uninephrectomy. Am J Physiol

1990; 258: F1054-60.

84. Suda S, Weidmann P, Saxenhofer H, Cottier C, Shaw S,

Ferrier C. Atrial natriuretic factor in mild to moderate chronic renal failure.

Hypertension 1988; 11: 483-490.

85. Vesely D. Atrial natriuretic peptides in pathophysiological

diseases. Cardiovasc Res 2001; 51: 647-658.

Page 70: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

67

86. Cianciaruso B, Bellizzi V, Minutolo R, Coluci G, Bisesti V,

Russo D. Renal adaptation to dietary sodium restriction in moderate renal

failure resulting from chronic glomerular disease. J Am Soc Nephrol 1996;

7: 306-313.

87. Valentin J, Ying W, Sechi L, Ling K, Qiu C, Couser W.

Phosphodiesterase inhibitors correct resistance to natriuretic peptides in

rats with Heymann nephritis. J Am Soc Nephrol 1996; 7: 582-593.

88. Perico N, Remuzzi G. Edema of the nephritic syndrome: the role

of the atrial natriuretic peptide. Am J Kidney Dis 1993; 22(3): 355-66.

89. Nagata M, Kriz W. Glomerular damage after uninephrectomy in

young rats. Mechanical stress on podocytes as a pathway to sclerosis.

Kidney Int 1992; 42: 148-160.

90. Moller J, Jorgensen T, Mortensen J. Proximal tubular atrophy:

qualitative and quantitative structural changes in chronic obstructive

nephropathy in the pig. Cell Tiss Res 1986; 244: 479-91.

91. Ceol M, Del Prete D, Tosetto E, Graziotto R, Gambaro G,

D'Angelo A. GAPDH as housekeeping gene at renal level. Kidney Int 2004;

65: 1972–1973.

92. Zeeuw D, Janssen W, Jong P. Atrial natriuretic factor: its

(patho)physiological significance in humans. Kidney Int 1992; 41: 1115-

1133.

93. Martin E, Lewicki J, Scarborough R, Ballermann B. Expression

and regulation of ANP receptor subtypes in rat renal glomeruli and papillae.

Am J Physiol 1989; 257: 649-657.

Page 71: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

68

94. Brenner B, Ballermann B, Gunning M, Zeidel M. Diverse

biological actions of atrial natriuretic peptide. Physiol Rev 1990; 70(3): 665-

699.

95. Sonnenberg H, Cupples A, Debold A, Veress A. Intrarenal

localization of the natriuretic effect of cardiac atrial extract. Can J Physiol

1982; 60: 1149-1152.

96. Sonnenberg H, Honrath U, Chong C, Wilson D. Atrial

natriuretic factor inhibits sodium transport in medullary collecting duct.

Bioch Biophys Res Commun 1986; 250: F963-F966.

97. Kawai K, Hata K, Tanaka K, Kubota Y, Inoue R, Masuda E.

Attenuation of biological compensatory action of cardiac natriuretic peptide

system with aging. Am J Cardiol 2004; 15(6): 719-723.

98. Loke I, Squire I, Davies J. Reference ranges for natriuretic

peptides for diagnostic use are dependent on age, gender and heart rate.

Eur J Heart Fail 2003; 5(5): 599-606.

99. McEniery C, Wilkinson I, Avolio A. Age, hypertension and

arterial function. Clin Exp Pharmacol Physiol 2007; 34(7): 665-71.

100. Walker W, Neaton J, Cutler J, Neuwirth R, Cohen J. Renal

function change in hypertensive members of the Multiple Risk Factor

Intervention Trial: racial and treatment effects. JAMA 1992; 268: 3085-91.

101. Freedman B, Iskander S, Appel R. The link between

hypertension and nephrosclerosis. Am J Kidney Dis 1995; 25: 207-21.

102. Kimura G, Frem G, Brenner B. Renal mechanisms of salt

sensitivity in hypertension. Curr Opin Nephrol Hypertens 1994; 3: S71-4.

Page 72: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

69

103. Semplicini A, Ceolotto G, Sartori M, Maresca A, Baritono E,

de Toni R. Regulation of glomerular filtration in essential hypertension: role

of abnormal transport and atrial natriuretic peptide. J Nephrol 2002; 15:

489-496.

104. Eiskjaer H, Nielsen C, Pedersen E. Pressure-dependent distal

tubular action of atrial natriuretic peptide in healthy humans. J Hypertens

1996; 14(1): 99-106.

105. Anderson W, Evans R, Malpas S. Pressure natriuresis and

long-term blood pressure control. J Cardiovasc Pharmacol 1995; 26(suppl

2): s17-s23.

106. Preston R, Epstein M. Renal parenchymal disease and

hypertension. Semin Nephrol 1995; 15: 138-151.

107. Valentin J, Ribstein J, Mimran A. Influence of dopamine and

angiotensin II blockade on the acute response to unilateral nephrectomy in

rats. J Cardiovasc Pharmacol 1994; 23(2): 246-51.

108. Valentin J, Ribstein J, Mimran A. Tubular site of the natriuresis

after unilateral nephrectomy in the rat. Am J Med Sci 1993; 305(2): 88-94.

109. Kamper A, Pedersen E, Strandqaard S, Holstein-Rathlou N,

Leyssac P, Skaarup P. Atrial natriuretic peptide and renal adaptation to

contralateral nephrectomy in healthy man. Scand J Clin Lab Invest 1991;

51(1): 99-103.

110. Almeida F, Suzuki M, Scarborough R, Lewicki J, Maack T.

Clearance function of type-C receptors of atrial natriuretic factors in rats.

Am J Physiol 1989; 256(2): 469-475.

Page 73: MODULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS … · REGULAÇÃO DO SISTEMA DOS PEPTÍDEOS NATRIURÉTICOS 8 ... modulação renal do sistema dos PN’s em modelos experimentais de uninefrectomia

70

111. Sun J, Chen S, Hasan E, Oparil S, Chen Y. Dietary salt

supplementation selectively downregulates NPR-C receptor expression in

kidney independently of ANP. Am J Physiol 2002; 282: 220-227.

112. Katafuchi T, Mizuno T, Hagiwara H, Itakura M, Ito T, Hirose

S. Modulation by NaCl of atrial natriuretic peptide receptor levels and cyclic

GMP responsiveness to atrial natriuretic peptide of cultured vascular

endothelial cells. J Biol Chem 1992; 267: 7624-7629.

113. Anand-Srivastava M. Natriuretic peptide receptor-C signaling

and regulation. Peptides 2005; 26: 1044-1059.

114. Andreassi M, Del R, Palmieri C, Clerico A, Biagini A,

Giannessi D. Up-regulation of clearance receptor in patients with chronic

heart failure: a possible explanation for the resistance to biological effects

of cardiac natriuretic hormones. Eur J Heart Fail 2001; 3(4): 407-14.

115. Carrithers S, Taylor B, Cai W, Johnson B, Ott C, Jackson B.

Guanylyl cyclase-C receptor mRNA distribution along the rat nephron. Regul

Peptides 2000; 95: 65-74.

116. Sechi L, Valentin J, Griffin C, Lee E, Bartoli E, Humphreys

M. Receptors for atrial natriuretic peptide are decreased in the kidney of

rats with streptozotocin-induced diabetes mellitus. J Clin Invest 1995;

95:2451–2457.

117. Vesely D. Natriuretic peptides and acute renal failure. Am J

Physiol 2003; 285: 167-177.