luÍs fernando patsko - uel portal · figura 2.3 – método de modulação em amplitude 22 figura...

54
LUÍS FERNANDO PATSKO MÉTODO DE MODULAÇÃO EM AMPLITUDE PARA ANEMÔMETROS ULTRASSÔNICOS LONDRINA 2011

Upload: nguyenliem

Post on 08-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

LUÍS FERNANDO PATSKO

MÉTODO DE MODULAÇÃO EM AMPLITUDE PARA ANEMÔMETROS ULTRASSÔNICOS

LONDRINA 2011

Page 2: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

MÉTODO DE MODULAÇÃO EM AMPLITUDE PARA ANEMÔMETROS

ULTRASSÔNICOS

Trabalho de conclusão de curso submetido à Universidade Estadual de Londrina

como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

LUÍS FERNANDO PATSKO

Londrina, outubro de 2011.

Page 3: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

LUÍS FERNANDO PATSKO

MÉTODO DE MODULAÇÃO EM AMPLITUDE PARA ANEMÔMETROS ULTRASSÔNICOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Londrina.

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________ Maria Bernadete de Morais França

Orientadora Universidade Estadual de Londrina

_______________________________ José Alexandre de França

Universidade Estadual de Londrina

_______________________________ Newton da Silva

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, outubro de 2011.

Page 4: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

realização deste trabalho e, mais do que isso, para a superação de mais uma etapa

de vida. Agradeço a todos que me possibilitaram o crescimento, seja ele pessoal,

intelectual ou espiritual ao longo de todo esse tempo.

Em especial, agradeço aos professores Maria Bernadete de Morais França e

José Alexandre de França, pela oportunidade que me foi dada, aos demais

professores, pelo conhecimento ministrado ao longo do curso, à minha família e aos

meus amigos, pelo apoio durante todo esse tempo, especialmente nos momentos

mais difíceis.

Page 5: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

PATSKO, Luís Fernando. Método de modulação em amplitude para anemômetros ultrassônicos. 2011. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

Informações sobre o vento são importantes em várias áreas, a saber, na agronomia, na aviação, no projeto de estruturas de pontes e torres de transmissão, dentre outras. Existem vários métodos para se medir a velocidade e a direção dos ventos, desde métodos mecânicos clássicos, como os tubos de pitot, até os mais modernos e eletrônicos, como por ultrassom. Este último é objeto de estudos em alguns projetos do Laboratório de Instrumentação e Automação Inteligente (LA2I) do Departamento de Engenharia Elétrica da UEL. Anemômetros ultrassônicos baseiam-se nos métodos da diferença de tempo ou diferença de fase. Entretanto, tais métodos apresentam algumas deficiências. Este trabalho apresenta a proposta de um novo método de medição do tempo de trânsito, baseado na modulação em amplitude de um sinal ultrassônico, de modo a superar algumas das limitações dos métodos tradicionais. É realizada a descrição teórica do método, assim como o desenvolvimento dos circuitos necessários e a programação envolvida para o cálculo do tempo de trânsito. Resultados de testes do sistema desenvolvido são apresentados, comprovando a viabilidade do método. Palavras-chave: Anemômetro. Modulação em amplitude. Transdutores ultrassônicos.

Page 6: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

PATSKO, Luís Fernando. Método de modulação em amplitude para anemômetros ultrassônicos. 2011. 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

ABSTRACT

Informations about wind speed and direction are very important to many areas of knowledge, e.g: agronomy, aviation, development of bridges and HV power lines. There are a number of methods to measure wind speed like mechanical anemometers, Pitot tubes and, recently, ultrasonic anemometers. This one is being studied at Laboratório de Instrumentação e Automação Inteligente - LA2I (Instrumentation and Intelligend Automation Laboratory – LA2I) of Electrical Engineering Department of UEL (State University of Londrina). Ultrasonic anemometers are based on time difference or phase difference methods. However, both methods are known to have some deficiencies. The present work proposes a new measurement method, based on amplitude modulation, with the objective of overcoming some limitations of the traditional methods. The theretical basis is described, as well as the development of the hardware and firmware needed to calculate the time of flight. Results are presented, proving the amplitude modulation method’s viability. Key words: Anemometer. Amplitude modulation. Ultrasonic transducers.

Page 7: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Anemômetro de rotação Campbell 14

Figura 2.1 – Método da diferença de tempo 17

Figura 2.2 – Método da diferença de fase 18

Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22

Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do método de modulação em amplitude 24

Figura 3.2 – Diagrama simplificado de um amplificador controlado por tensão 25

Figura 3.3 – Diagrama simplificado de um modulador AM 26

Figura 3.4 – Circuito de transmissão elaborado com DAC0808 27

Figura 3.5 – Diagrama de blocos do circuito receptor 28

Figura 3.6 – Retificador ativo de precisão de meia-onda 30

Figura 3.7 – Circuito amostrador sample-and-hold 30

Figura 3.8 – Circuito conversor onda quadrada com diodo série 31

Figura 3.9 – Esquemático completo do circuito de recepção 32

Figura 3.10 – Sequência de pulsos com amplitude modulada por uma senoidal 34

Figura 3.11 – Fluxograma do programa do microcontrolador de recepção 37

Figura 3.12 – Diagrama de blocos do sistema 39

Figura 4.1 – Sinal presente na saída do circuito transmissor 40

Figura 4.2 – Sinal presente na saída do circuito transmissor e sinal de sincronismo 41

Figura 4.3 – Sinal presente na saída do primeiro estágio de ganho 43

Figura 4.4 – Sinal presente na saída do segundo estágio de amplificação 44

Figura 4.5 – Comparação entre o sinal do transmissor e o sinal recebido e amplificado,

exibindo a diferença de fase 45

Figura 4.6 – Saída do conversor onda quadrada 46

Figura 4.7 – Sinal na saída do retificador 47

Figura 4.8 – Sinal na saída do amostrador 47

Figura 4.9 – Relação entre o sinal na saída do amostrador e os pulsos de reset aplicados

Page 8: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

pelo microcontrolador 48

Figura 4.10 – Comparação entre o sinal recebido e amplificado e o sinal presente na saída

do amostrador 49

Figura 4.11 – Comparação entre o sinal recebido e amplificado e o sinal onda quadrada 49

Figura 4.12 – Forma de onda reconstruída a partir dos dados do conversor AD e timer input

capture 51

Figura 4.13 – Tempo de trânsito entre os transdutores ultrassônicos 52

Page 9: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Comandos do protocolo de comunicação serial 38

Page 10: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AD – Analog-to-Digital

AM – Amplitude Modulation

CI – Circuito Integrado

DAC – Digital-to-Analog Converter

EEPROM – Electrially-Eraseable Programmable Read-Only Memory

I2C - Inter-Integrated Circuit

RAM - Read-Only Memory

USB - Universal Serial Bus

VCA – Voltage Controlled Amplifier

Page 11: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO 13

1.1 – Anemômetro de rotação 13

1.2 – Anemômetro termoelétrico 14

1.3 – Anemômetro por tubo de Pitot 15

1.4 – Anemômetro ultrassônico 15

1.5 – Descrição dos capítulos 16

2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 17

2.1 – Método da diferença de tempo 17

2.2 – Método da diferença de fase 18

2.3 – Cálculo da velocidade a partir do tempo de trânsito 18

2.4 – Limitações dos métodos de diferença de fase e de tempo 19

2.5 – Proposta do método de modulação em amplitude 21

3 – DESENVOLVIMENTO PRÁTICO 24

3.1 – Visão geral 24

3.2 – Circuito de transmissão 25

3.2.1 – Amplificador controlado por tensão 25

3.2.2 – Modulador AM 26

3.2.3 – Síntese Digital 26

3.2.4 – Conversor DA 27

3.3 – Circuito de recepção 28

3.3.1 – Estágios de amplificação 28

3.3.2 – Retificação e amostragem 29

3.3.3 – Conversor onda quadrada 31

3.4 – Programação 32

3.4.1 – Programação do microcontrolador de transmissão 33

3.4.2 – Programação do microcontrolador de recepção 35

Page 12: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

4 – RESULTADOS 40

4.1 – Desempenho do circuito de transmissão 40

4.2 – Desempenho do circuito de recepção 42

4.3 – Obtenção de dados 50

5 – CONCLUSÕES 53

6 – BIBLIOGRAFIA 54

Page 13: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

13

1 – INTRODUÇÃO

No desenvolvimento das atividades agrícolas, os fatores climáticos são de extrema

importância para se determinar o planejamento do cultivo. Dessa forma, a obtenção de

dados relacionados a esses fatores pode ser prestar um grande auxílio ao agricultor.

Uma das variáveis mais importantes para a agricultura é a velocidade e direção do

vento. Ventos de grande intensidade podem influenciar e prejudicar o desenvolvimento de

plantações, causando rompimento de folhas e quebra de galhos. Além disso, o vento é um

fator determinante para a transmissão de doenças que afetam a lavoura, como a ferrugem

asiática.

Outro papel muito importante do vento é na dispersão de agrotóxicos, já que este

pode causar uma grande perda da eficiência da aplicação, assim como dispersá-los em

locais indesejados, como lavouras vizinhas ou áreas de proteção ambiental.

Além das atividades agrícolas, o conhecimento das características do vento é

também muito importante para se determinar a localização de torres de transmissão e

usinas eólicas.

O monitoramento da velocidade do vento é realizado através de um anemômetro. Os

principais tipos de anemômetros disponíveis no mercado são o anemômetro de rotação, o

termoelétrico, o tubo de Pitot e o ultrassônico. O princípio de funcionamento destes é

descrito a seguir.

1.1 – Anemômetro de rotação

O anemômetro de rotação é composto por pás que giram com uma velocidade

proporcional à velocidade média do vento incidente. A Figura 1 ilustra um anemômetro de

rotação da marca Campbell.

Page 14: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

14

Figura 1.1 – Anemômetro de rotação Campbell.

Anemômetros de rotação possuem um baixo custo, mas estão sujeitos a uma série de

deficiências. Por ser composto por peças móveis, o atrito com o ar no seu deslocamento

faz com que haja imprecisão em sua medida.

Além disso, é necessário que o vento incidente tenha uma intensidade capaz de

superar a inércia do sistema, o que dificulta a medição de ventos de baixas velocidades.

O próprio fato de o sistema ser totalmente mecânico também é um problema por si

só, pois este pode ter seu funcionamento prejudicado por folhas, galhos ou qualquer outra

barreira física que possa acidentalmente impossibilitar o deslocamento das pás. É

necessário, portanto, uma supervisão periódica para garantir o seu bom funcionamento.

1.2 – Anemômetro termoelétrico

No anemômetro termoelétrico, a aquisição da velocidade do vento é feita medindo-se

a troca de calor entre um sensor aquecido e o ar. O dispositivo para troca de calor pode ser

um fio ou filme metálico, o qual é aquecido eletricamente. Quando este é exposto ao ar,

haverá uma perda de calor proporcional à velocidade do vento incidente. Essa perda de

calor pode ser monitorada através de um sensor de temperatura.

Tal anemômetro possui baixa velocidade de partida e tempo de resposta rápido, além

de não possuir nenhuma parte móvel. Entretanto, assim como no anemômetro de rotação,

não é possível obter diretamente a indicação da direção do vento, mas apenas a sua

velocidade.

Page 15: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

15

Outra desvantagem está no fato de que o aquecimento do fio metálico pode requerer

uma grande dissipação de potência. Considerando um sistema de aquisição automatizado

e alimentado por baterias, tal fato pode reduzir muito a autonomia do sistema.

1.3 – Anemômetro por tubo de Pitot

No anemômetro por tubo de Pitot, a velocidade do vento é determinada a partir da

diferença entre a pressão estática e a pressão total em um tubo de Pitot. Tal dispositivo é

constituído por um tubo de pequeno diâmetro, dentro do qual circula o fluido de interesse.

A pressão total no tubo de Pitot é dada pela pressão exercida pelo fluido em

movimento (pressão dinâmica) somada à pressão atmosférica (pressão estática).

Tal equipamento é de grande interesse em aviação e em aplicações industriais, como

tubulações de alta pressão e fluxo elevado. Porém, o anemômetro por tubo de Pitot

apresenta certas deficiências: pode ocasionalmente entupir; não apresenta uma grande

precisão, especialmente em baixas velocidades; assim como também não é ideal para

medição de ventos turbulentos, pois a diferença da pressão responde de maneira lenta.

1.4 – Anemômetro ultrassônico

O anemômetro ultrassônico mede a velocidade do vento através do tempo

transcorrido entre a transmissão e a recepção de um pulso de ultrassom. Qualquer variação

neste tempo, denominado de tempo de trânsito, indica uma variação na velocidade do

fluido no qual o pulso se propaga, sendo que no caso do anemômetro tal fluido é o ar.

Em relação aos outros tipos mencionados anteriormente, o anemômetro ultrassônico

apresenta algumas vantagens, tais como: exatidão, rapidez na resposta, ausência de

partes móveis, não causa obstrução do fluxo a ser medido e melhor resposta em condições

de baixa velocidade do vento (Cyliax, 2006 e Pereira, 2007).

Os componentes fundamentais para o funcionamento do anemômetro ultrassônico

são os transdutores piezoelétricos. Tais transdutores são compostos por materiais como

quarzo (SiO2), titanato de bário (BaTiO3) ou outros compostos cerâmicos desenvolvidos

especificamente, os quais apresentam características piezoelétricas: quando submetidos à

uma diferença de potencial elétrico, geram vibrações mecânicas. O processo é reversível,

Page 16: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

16

de modo que quando é exercida uma pressão sobre o material, ocorre a formação de

cargas elétricas. Dessa forma, um transdutor ultrassônico piezoelétrico pode ser utilizado

tanto para a geração de uma onda acústica quanto para a recepção desta.

A obtenção do tempo de trânsito num anemômetro ultrassônico é tradicionalmente

realizada através de dois métodos: por diferença de tempo ou por diferença de fase. Tais

métodos, entretanto, apresentam algumas deficiências.

1.5 – Descrição dos capítulos

Este trabalho tem como objetivo propor um método alternativo, com o objetivo de

aumentar a eficiência dos anemômetros baseados em transdutores ultrassônicos.

No capítulo 2, são estudados os métodos de determinação do tempo de trânsito em

anemômetros ultrassônicos, assim como algumas deficiências inerentes a estes. É também

feita a proposta de um novo método de aquisição do tempo de trânsito através de

modulação em amplitude do sinal ultrassônico.

No capitulo 3, é apresentado o desenvolvimento necessário à aplicação do método

proposto. São abordados os circuitos necessários para se gerar o sinal modulado em

amplitude e se fazer a recepção deste, assim como a programação elaborada para os

microcontroladores responsáveis pela transmissão e aquisição do sinal.

No capítulo 4, são apresentados os resultados obtidos para a validação do

desempenho do sistema elaborado e no capítulo 5 é feita a conclusão e sugestões para

trabalhos a eventualmente serem desenvolvidos no futuro.

Page 17: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

17

2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O anemômetro ultrassônico determina a velocidade do vento a partir da influência

deste sobre o tempo transcorrido entre a transmissão e a recepção de um pulso de

ultrassom, chamado de tempo de trânsito.

No caso de um anemômetro ultrassônico unidimensional, dois transdutores são

montados em posições diametralmente opostas. Em condições ideais, sem nenhuma

perturbação no ar, o tempo de trânsito entre a transmissão de uma sequência de pulsos em

um transdutor e a sua recepção no outro é constante e será determinada pela distância

entre os dois transdutores e a velocidade do som no ar. Entretanto, caso haja uma

perturbação no ar, o tempo de vôo será alterado e será proporcional à velocidade do vento.

Os dois métodos mais comumente utilizados para obtenção do tempo de trânsito num

anemômetro ultrassônico são por diferença de tempo e por diferença de fase.

2.1 - Método da diferença de tempo

No método da diferença de tempo, uma sequência de pulsos é enviada de um

transdutor para o outro. O tempo de trânsito é determinado a partir da medição direta do

tempo transcorrido entre a transmissão e a recepção do sinal, como pode ser observado na

Figura 2.1.

Figura 2.1 – Método da diferença de tempo.

Entretanto, é necessário considerar o atraso dinâmico do transdutor ultrassônico, já

Page 18: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

18

que este não responde instantaneamente a uma onda acústica, existindo um atraso entre a

incidência da onda no transdutor e a sua efetiva detecção pelos circuitos de recepção.

2.2 - Método da diferença de fase

No método da diferença de fase, o sinal é enviado continuamente entre o transmissor

e o receptor. O tempo de trânsito é determinado indiretamente, a partir da diferença de fase

entre o sinal transmitido e o sinal recebido, de acordo com a Figura 2.2. A diferença de fase

aumenta ou diminui de acordo com a velocidade de deslocamento do fluido.

Figura 2.2 – Método da diferença de fase.

Uma vantagem deste método é que, devido ao fato de o sinal ser transmitido

continuamente, o atraso causado pela dinâmica do transdutor pode ser desprezado. Porém,

a máxima diferença de fase entre os sinais deve ser de 180º, para que não haja

ambigüidade na leitura.

2.3 - Cálculo da velocidade a partir do tempo de tr ânsito

Após a obtenção dos tempos de trânsito de ida e volta, estes podem ser utilizados

para se determinar a velocidade do vento, através de (Koyama, 2009),

Page 19: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

19

⋅=

BAAB tt

dv

11

cos2 β,

(2.1)

onde v é a velocidade do som, d é a distância entre os dois transdutores, β é o ângulo

formado entre o eixo dos transdutores e a direção do vento e tAB e tBA são os tempos de

trânsito entre os transdutores, na ida e volta, respectivamente.

No método da diferença de fase, os tempos de trânsito são dados por

ft AB

AB πθ

2

∆=

(2.2)

e

ft BA

BA πθ

2

∆= ,

(2.3)

onde f é a frequência do sinal ultrassônico e ∆θ é a diferença de fase entre o sinal recebido

e o transmitido.

No método da diferença de tempo, temos que os tempos de trânsito são dados por:

EABABAB ttt −= ' (2.4)

e

EBABABA ttt −= ' , (2.5)

onde tEAB e tEBA são os atrasos entre a incidência da onda no transdutor de recepção e a

sua efetiva detecção pelo circuito de recepção, nos dois sentidos; tAB e tBA são os tempos

de trânsito reais e t’AB e t’BA são os tempos de trânsito determinados pelo circuito de

recepção, considerando o atraso deste.

Pode-se observar a partir das Equações (4) e (5) que a exatidão do método da

diferença de tempo depende muito da medição dos tempos de trânsito tAB e tBA. Uma

grande variação nos tempos de atraso pode causar erros no cálculo da velocidade do

vento.

2.4 – Limitações dos métodos de diferença de fase e de tempo

No método da diferença de fase, para que não haja ambigüidade na detecção, deve-

Page 20: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

20

se garantir que a diferença de fase entre os sinais não exceda 180º, o que equivale a meio

ciclo de onda do sinal ultrassônico. Isso impõe uma grande limitação a este método: a

distância máxima entre os transdutores.

O próprio tempo de trânsito entre os dois transdutores garante que haja uma

diferença de fase ∆θ entre o sinal transmitido e o recebido. Para um sinal ultrassônico com

frequência de 40 kHz que se propaga numa velocidade de aproximadamente 343 m/s

(considerando pressão de 1 atm e temperatura de 20 ºC), a distância máxima entre os

transdutores deve ser tal que a diferença de fase ∆θ seja inferior a 180º. Portanto, tal

distância será dada pela distância percorrida por meio período de onda do sinal

ultrassônico. Temos que

TVsd ⋅⋅= 5,0 (2.6)

o que resulta em

fVsd

15,0 ⋅⋅= ,

(2.7)

onde d é a distância entre os transdutores, T é o período do sinal ultrassônico, f é a

frequência do sinal ultrassônico e Vs é a velocidade do som.

Portanto, a distância é dada por

31040

15,0343

⋅⋅⋅=d ,

(2.8)

O que resulta em

mmmd 00428,028,4 == . (2.9)

Para a aplicação em um anemômetro, uma distância de 4,28 mm entre os

transdutores é muito pequena, tornando este método inviável.

Além disso, de trabalhos anteriores (Pinto, 2006), sabe-se que o método da diferença

de fase possui uma limitada faixa de velocidades que podem ser detectadas

adequadamente, não sendo confiável para medir ventos de grande intensidade.

O método da diferença de tempo apresenta uma série de problemas em relação ao

atraso entre a incidência da onda no transdutor e a sua detecção no circuito de recepção. O

sinal recebido é considerado válido quando atinge um certo valor de referência, como pode

ser observado na Figura 2.1. Tal valor de referência não pode ser muito baixo, pois deve

Page 21: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

21

ser feita a discriminação correta entre o sinal a ser recebido e um ruído ou interferência

indesejada.

Outro problema está no fato de que, como o nível de comparação é fixo, podem

ocorrer leituras falsas, já que um ar turbulento pode ocasionar alterações na amplitude do

sinal recebido.

Além disso, o tempo de atraso pode variar em função dos parâmetros dos circuitos de

recepção e das próprias características dinâmicas dos transdutores utilizados. Portanto,

para minimizar a imprecisão do cálculo da velocidade do vento, é necessário determinar o

tempo de atraso de cada transdutor. Esse fato exige um processo de calibração minucioso

para cada circuito desenvolvido.

Tendo em vista que a influência do vento causa alterações muito sutis no tempo de

trânsito, pode-se verificar que tais problemas podem causar erros grosseiros na medida.

2.5 – Proposta do método da modulação em amplitude

A proposta do projeto é desenvolver novas técnicas que possam levar a uma maior

exatidão na medida do anemômetro. De trabalhos anteriores (Huang, Y. P. et al, 2007;

Sumathi P. et al, 2009), é comprovado que utilizando uma onda contínua modulada, pode-

se obter maior exatidão num sistema ultrassônico de medição de distância.

Utilizando o conceito de modulação do sinal de ultrassom no anemômetro, espera-se

obter uma maior exatidão e confiabilidade no resultado apresentado. As técnicas a serem

desenvolvidas deverão eliminar os problemas causados pelo tempo de resposta do

transdutor e pelo nível fixo de comparação do sinal recebido.

O objetivo do método é enviar um sinal modulado em amplitude através de um

transdutor ultrassônico configurado como transmissor e recebê-lo no transdutor receptor.

Devido ao tempo de trânsito entre os dois transdutores, haverá uma diferença de fase entre

o sinal enviado e o sinal recebido. O tempo de trânsito pode ser determinado a partir do

tempo transcorrido entre o pico do sinal no transmissor e o pico do sinal no receptor,

conforme exibido na Figura 2.3. Tal valor pode então ser utilizado para o cálculo da

velocidade do vento.

Page 22: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

22

Figura 2.3 – Determinação do tempo de trânsito através do método de modulação em

amplitude.

A frequência do sinal modulante deve ser suficiente para que não haja ambigüidade

na diferença de fase entre o sinal transmitido e o recebido. Considerando que a onda

modulada propaga-se pelo ar com a velocidade do som, a frequência máxima está

relacionada à velocidade do som e à distância entre os transdutores, de acordo com a

Equação 2.7, o que resulta em:

MfVsd

15,0 ⋅⋅= ,

(2.10)

e

d

Vsf M

5,0⋅= (2.11)

onde fM é a frequência do sinal modulante.

Considerando que a estrutura utilizada para o desenvolvimento possui uma distância

de 15 cm entre os transdutores, e tendo a velocidade do som como aproximadamente 343

m/s (considerando pressão de 1 atm e temperatura de 20 ºC), a frequência máxima do sinal

modulante é dado por

Hzf M 3,114315,0

5,0343 =⋅= . (2.12)

Optou-se por utilizar um sinal modulante de 1000 Hz, o que é compatível com as

Page 23: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

23

condições descritas.

Espera-se com o método de modulação em amplitude:

- Evitar as limitações do método de diferença de trânsito, transmitindo um sinal

ultrassônico continuamente, e não intermitentemente. Desta forma, o atraso devido à

dinâmica do transdutor pode ser ignorado. Outra vantagem está no fato de que o nível de

comparação para se determinar o tempo não é fixo, mas relativo. Deve-se determinar o

pico do sinal recebido, independente de qual seja sua amplitude.

- Evitar as limitações do método da diferença de fase, determinando a diferença de

fase a partir de um sinal modulado. Dessa forma, torna-se possível aumentar a distância

entre os transdutores e ampliar a faixa de velocidades que podem ser detectadas.

O sistema proposto neste trabalho para testar e validar o método da modulação em

amplitude foi desenvolvido para ter a capacidade de:

- Enviar através de um transdutor ultrassônico um sinal de 40 kHz modulado em

amplitude com frequência de 1 kHz.

- Receber o sinal em outro transdutor e realizar o processamento necessário

(amplificação, filtragem, amostragem).

- Determinar o tempo de trânsito a partir do tempo transcorrido entre o pico do sinal

no transmissor e o pico do sinal no receptor.

Page 24: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

24

3 – DESENVOLVIMENTO PRÁTICO

3.1 – Visão geral

O desenvolvimento prático consistiu na elaboração dos circuitos destinados à

transmissão e à recepção dos sinais ultrassônicos, assim como a criação dos programas

dos microcontroladores.

O sistema proposto foi desenvolvido com microcontroladores MC9S08SH4, da família

HCS08 da Freescale Semiconductor. O microcontrolador é um dispositivo que contém uma

unidade de processamento, memórias RAM de dados e Flash para armazenamento de

programas, além de uma ampla gama de periféricos tais como portas de entrada e saída,

comunicação serial, conversores AD, temporizadores, entre outros.

O circuito de transmissão tem a função de gerar o sinal modulado em amplitude a ser

aplicado no transdutor de transmissão, enquanto que o circuito de recepção é responsável

por adequar o sinal recebido e possibilitar que o microcontrolador de recepção determine

tempo e amplitude.

A Figura 3.1 apresenta um diagrama em blocos, exibindo algumas das

funcionalidades do sistema desenvolvido para validar o método da modulação em

amplitude.

Figura 3.1 – Esquema geral do sistema de testes do método de modulação em amplitude.

Nas próximas seções são apresentados detalhes das implementações estudadas e

escolhidas para o desenvolvimento.

Page 25: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

25

3.2 - Circuito de transmissão

O circuito de transmissão é responsável pela geração do sinal modulado e pela

subseqüente transmissão deste através do transdutor ultrassônico. O sinal a ser gerado

deverá ser constituído por uma portadora de 40 kHz (frequência dos transdutores

ultrassônicos utilizados) modulada por um sinal de, aproximadamente, 1 kHz. Com esse

objetivo, foram estudadas algumas opções que poderiam satisfazer tais condições.

3.2.1 – Amplificador controlado por tensão

A primeira opção analisada foi o uso de um amplificador controlado por tensão,

comumente chamado pela sua sigla em inglês, VCA. Tal circuito consiste de um

amplificador cujo ganho é controlador por uma tensão. Para se elaborar o sinal modulado

em amplitude, a portadora seria aplicada à entrada do amplificador, enquanto que o sinal

modulante seria aplicado no controle de ganho. O sinal presente na saída do amplificador é

um sinal com a frequência da portadora cujo envelope de amplitude é determinado pelo

sinal modulante. A Figura 3.2 apresenta um diagrama simplificado deste circuito.

Figura 3.2 – Diagrama simplificado de um amplificador controlado por tensão.

A maior desvantagem desta opção é que para se elaborar um amplificador controlado

por tensão é necessário o uso de circuitos integrados específicos, tais como o SA2159, ou

o uso de amplificadores de transcondutância, como o LM13700. Tais componentes são

difíceis de serem encontrados comercialmente e são relativamente caros.

Page 26: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

26

3.2.2 - Modulador AM

A segunda alternativa seria o uso de um modulador AM. Tal modulador pode ser

elaborado através do uso de um circuito integrado específico, como o MC1496, ou um

multiplicador analógico, como o AD633. O modulador se encarrega de realizar a

multiplicação entre a portadora e o sinal modulante. Na saída deste, obtém-se o sinal

modulado em amplitude, como pode ser observado na Figura 3.3.

Figura 3.3 – Diagrama simplificado de um modulador AM.

Tal opção, porém, ainda apresenta alguns inconvenientes. Ainda é necessário de

alguma forma gerar a portadora e o sinal modulante. Teoricamente, isso pode ser feito

através de osciladores comuns. Entretanto, tal opção não é flexível e, o que é mais

importante, não permite ao sistema saber diretamente uma informação crucial: o momento

no qual ocorre o pico do sinal modulante.

3.2.3 - Síntese digital

A terceira alternativa estudada é o uso de síntese digital. Através deste método o

sinal é totalmente sintetizado através de um DAC (Digital Analog Converter – Conversor

Digital-Analógico).

O DAC é um dispositivo que gera um sinal analógico a partir de um valor digital.

Através de uma série de valores tabelados, enviados continuamente ao DAC por um

microcontrolador, torna-se possível construir determinada forma de onda.

Uma grande vantagem no uso deste método é a sua grande flexibilidade.

Obedecendo as características de velocidade e resolução do DAC utilizado, torna-se

Page 27: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

27

possível elaborar qualquer forma de onda desejada, bastando apenas alterar os valores a

serem enviados. É possível sintetizar diretamente o sinal de 40 kHz modulado em

amplitude numa frequência de 1 kHz. Além disso, com a sequência de envio sendo

controlada pelo microcontrolador, é possível saber com exatidão a amplitude da forma de

onda a cada instante.

Considerando tais características, assim como as desvantagens das opções

anteriores, o uso do DAC foi classificado como sendo a opção mais vantajosa e foi o

método adotado neste projeto.

3.2.4 – Conversor DA

O conversor digital-analógico adotado no projeto foi o DAC0808, da National

Semiconductor. Tal componente é um conversor digital-analógico de 8 bits, permitindo 256

níveis de quantização. Ele é elaborado com a topologia R-2R e possui entrada paralela.

Tais características são determinantes, pois garantem que o dispositivo seja rápido e possa

ser facilmente acessado através de um microcontrolador. Além disso, é um componente

relativamente fácil de ser encontrado e de baixo custo.

Este componente possui saída em corrente, mas pode ser facilmente convertida em

tensão através do uso de um amplificador operacional, como o próprio datasheet sugere.

Sendo um modelo de 8 bits, tal DAC não possui precisão recomendada para aplicações de

áudio, por exemplo, mas apresenta características ideais para o uso no presente projeto.

O circuito elaborado para o uso do DAC é apresentado na Figura 3.4. O DAC é

acessado através de um barramento de 8 bits, controlado por um microcontrolador. O

transdutor ultrassônico é ligado à saída do circuito.

Figura 3.4 – Circuito de transmissão elaborado com DAC0808.

Page 28: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

28

3.3 - Circuito de recepção

O circuito de recepção é responsável pela adequação dos sinais do transdutor

ultrassônico de recepção.

Para se determinar o tempo de trânsito, é necessário calcular a amplitude de pico da

onda recebida, assim como o instante em que este pico ocorreu. Para isso, serão utilizados

dois recursos do microcontrolador de recepção: o conversor AD e o timer input capture. O

circuito de recepção deverá gerar sinais adequados ao funcionamento desses periféricos.

O diagrama de blocos do circuito receptor é mostrado na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Diagrama de blocos do circuito receptor.

3.3.1 – Estágios de amplificação

A primeira etapa do circuito de recepção é responsável por aplicar um ganho

suficiente ao transdutor ultrassônico. Devido ao fato de que o sinal emitido pelo transdutor

de transmissão é de baixa potência e sabendo-se que há a atenuação do ar no percurso, a

amplitude do sinal presente nos terminais do receptor é muito baixa, na ordem de 10 mV.

Para que o sinal recebido possa ser devidamente processado e utilizado pelo sistema, é

necessário uma amplificação.

A etapa de ganho foi elaborada utilizando-se dois amplificadores operacionais

montados no modo amplificador não-inversor. Uma grande vantagem deste modo de

operação em relação ao modo inversor é que sua impedância de entrada é muito alta. No

caso do TL074, amplificador operacional com entradas FET, a impedância de entrada é da

Page 29: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

29

ordem de 1012 Ohms.

O sinal será amplificado para que tenha um valor de pico em torno de metade da

tensão de alimentação do circuito. Para tal, foi determinado experimentalmente que o

ganho total necessário deve ser da ordem de algumas centenas.

Foram utilizados dois estágios de ganho semelhantes, cuja amplificação é definida

por

28,2217,4

100 =

+ΩΩ=

k

kA .

(3.1)

O ganho total da etapa de amplificação é

4,49628,2228,2221 =⋅=⋅= AAAT , (3.2)

onde A1 e A2 são os ganhos dos estágios de amplificação 1 e 2, respectivamente.

Definindo os estágios de ganho, o sinal já tem amplitude suficiente para as próximas

etapas de processamento.

3.3.2 - Retificação e amostragem

Para se determinar a amplitude do sinal, este deverá ser aplicado a um dos

conversores AD do microcontrolador. Entretanto, o sinal não pode ser aplicado diretamente.

Primeiramente, os níveis de amplitude devem respeitar as características do

microcontrolador. De acordo com o datasheet fornecido pela Freescale, o sinal aplicado

deve se encontrar entre 0 V e a tensão de alimentação, que no caso é de 5 V.

Além disso, é interessante garantir que seja feita a amostragem correta do sinal de

pico da forma de onda. O conversor AD leva um certo tempo para realizar a conversão,

tempo este definido em função das suas configurações. Uma eventual falta de sincronismo

entre o processo de conversão e o formato de onda aplicado pode levar a uma leitura

incorreta.

A proposta é retificar o sinal e aplicá-lo num circuito amostrador sample-and-hold, de

modo que enquanto o microcontrolador realize a conversão AD, o nível de tensão se

mantenha constante. A saída do circuito amostrador será uma sequência de pulsos com

Page 30: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

30

amplitude variável.

Decidiu-se utilizar um retificador de precisão ativo de meia-onda, composto por um

amplificador operacional e dois diodos de sinal, como apresentado na Figura 3.6. Verifica-

se que tal circuito apresenta uma linearidade muito maior do que se utilizar um único diodo

retificador ou um retificador ativo composto por apenas um amplificador operacional e um

diodo (Horowitz, 1989).

Figura 3.6 – Retificador ativo de precisão de meia-onda.

Após a etapa de amplificação, o sinal passa por um circuito amostrador sample-and-

hold, composto por diodo, capacitor e transistor, conforme mostrado na Figura 3.7. O

amostrador sample-and-hold tem a função de realizar a amostragem do pico do sinal

retificado, mantendo-o constante enquanto é realizada a conversão para um valor digital

pelo microcontrolador.

Figura 3.7 – Circuito amostrador sample-and-hold.

O circuito amostrador contra com uma entrada de reset, o qual deve ser aplicado pelo

microcontrolador para descarregar o capacitor após a conversão e permitir a amostragem

de um outro nível de tensão.

Page 31: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

31

3.3.3 - Conversor onda quadrada

Para se obter a referência de tempo, é necessário converter o sinal recebido pelo

transdutor numa onda quadrada, a ser aplicada em uma das entradas do microcontrolador.

O circuito utilizado para esta função pode ser visto na Figura 3.8.

Para isso, o sinal já devidamente amplificado foi aplicado num amplificador

operacional montado no modo comparador. Estando a entrada inversora deste ligada ao 0

V, e sendo o amplificador operacional alimentado com 5V e -5V, o sinal é convertido numa

onda quadrada com níveis de tensão próximos às tensões de alimentação. Tal onda

quadrada, entretanto, não pode ser aplicada diretamente ao microcontrolador, sob o risco

de danificá-lo. Torna-se necessário eliminar o nível de tensão negativo, o que pode ser feito

através de um diodo em série.

Figura 3.8 – Circuito conversor onda quadrada com diodo série.

A saída de circuito exibido na Figura 3.8 é aplicada em uma entrada de timer input

capture do microcontrolador receptor.

O esquemático completo do circuito de recepção é exibido na Figura 3.9.

Page 32: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

32

Figura 3.9 – Esquemático completo do circuito de recepção.

3.4 – Programação

O microcontrolador utilizado no projeto é o MC9S08SH4. Ele dispõe de uma unidade

de processamento de 8 bits e 40 MHz, memória Flash de 4 Kbytes (utilizado para

armazenamento do firmware), memória RAM de 256 bytes (para armazenamento de

Page 33: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

33

variáveis do programa), além de 12 canais de conversor AD, 17 pinos de entrada e saída,

comunicação I2C, SPI e serial, assim como outros periféricos diversos.

Os programas dos microcontroladores foram desenvolvidos para realizar o controle

do sistema: enviar valores para o DAC sintetizar a forma de onda, obter os tempos e

amplitudes dos sinais recebidos, dentre outras funções. Para o seu desenvolvimento, foi

utilizada a linguagem de programação C, tendo como compilador o CodeWarrior, da

Freescale.

Ao longo do desenvolvimento do projeto, verificou-se a necessidade do uso de dois

microcontroladores, já que tanto a recepção quanto a transmissão são processos que

devem ocorrer em tempo real e que consomem muito tempo de processamento.

Caso seja utilizado um microcontrolador mais veloz (que conte com recursos de DMA

ou tenha maior velocidade de processamento) poderia ser possível utilizar apenas um

dispositivo nas duas funções. Diversos componentes disponíveis no mercado podem

satisfazer esses requisitos, como os microcontroladores da família HC12 da Freescale ou

os DSPs da Texas.

3.4.1 – Programação do microcontrolador de transmis são

O firmware do microcontrolador relacionado ao transmissor é encarregado das

seguintes funções:

- Controlar o conversor digital-analógico para que este sintetize a forma de onda

desejada.

- Enviar o sinal de sincronismo (trigger) ao microcontrolador de recepção no instante

em que for enviado o pulso de maior amplitude.

Foram utilizados 9 pinos de saída do microcontrolador, sendo 8 destinados ao DAC e

um usado para o sinal de trigger.

A forma de onda desejada é construída a partir de valores tabelados em um vetor de

80 posições. Cada valor do vetor representará um determinado nível de tensão a ser

gerado pelo DAC.

Para se gerar um sinal de 40 kHz, o DAC deve ser atualizado numa taxa duas vezes

superior à onda desejada, de 80 kHz nesse caso. A cada instante, o DAC é atualizado com

um valor do vetor e gera um nível de tensão correspondente a este.

Caso o objetivo fosse sintetizar uma onda quadrada de 40 kHz, seria necessário um

Page 34: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

34

vetor com apenas duas posições: uma correspondente à amplitude alta e outra relacionada

à amplitude baixa.

Porém, como o DAC é capaz de gerar vários níveis de tensão distintos (256 no caso

do DAC0808 de 8 bits), torna-se possível alternar a amplitude dos pulsos, sendo necessário

para isso apenas acrescentar outros valores no vetor que determina a forma de onda.

Determinando cuidadosamente os valores do vetor, torna-se possível sintetizar uma

sequência de pulsos de 40 kHz modulada em amplitude por uma senoidal de 1 kHz,

conforme exibido na Figura 3.10. O vetor foi construído com o auxílio de um gerador de

“look-up table” de senos para linguagem C (Pavel, 2010).

Figura 3.10 – Sequência de pulsos com amplitude modulada por uma senoidal.

O periférico de maior importância para o microcontrolador responsável pela

transmissão é o temporizador (timer). Este foi configurado para gerar uma interrupção em

intervalos de 12,5 µs, numa frequência de 80 kHz. No momento em que a interrupção é

executada, o firmware realiza as seguintes operações:

- Envia determinado valor para o DAC, de acordo com a posição atual do vetor.

- Verifica se a posição atual é a do valor máximo e, caso afirmativo, envia o sinal de

sincronismo para o receptor.

- Incrementa a posição do vetor e, caso tenha chegado ao último valor, retorna à

posição zero.

No momento em que o valor a ser enviado ao DAC representar o pico da forma de

onda a ser construída, é aplicado um nível lógico alto em uma das portas do

microcontrolador, de modo a gerar o sinal de sincronismo.

O intervalo entre as interrupções para o envio dos valores ao DAC é curto, de 12,5 µs,

Page 35: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

35

sendo que para a correta geração da forma de onda, elas devem ocorrer continuamente,

sem atraso. Portanto, o microcontrolador utilizado para controlar o circuito de transmissão

foi encarregado exclusivamente dessa tarefa, não podendo ser responsável por receber os

sinais do circuito de recepção e nem realizar todo o processamento envolvido para

determinar os tempos de trânsito. O segundo microcontrolador foi utilizado com este

objetivo.

3.4.2 – Programação do microcontrolador de recepção

O programa do microcontrolador de recepção é responsável por determinar os

tempos de trânsito do sinal ultrassônico, assim como realizar todo o processamento

necessário para essa finalidade.

Ele utiliza alguns recursos importantes do microcontrolador:

- Interrupção por borda de subida em pino de entrada, para identificar o sinal de

sincronismo.

- Interrupção por input capture, para determinar o tempo de cada pulso que chega ao

microcontrolador.

- Conversor AD para determinar amplitude do sinal recebido.

- Comunicação I2C para interface com memória EEPROM 24FC128, de 16 Kbytes.

- Comunicação USB através de conversor serial-USB.

O programa do microcontrolador de recepção foi desenvolvido de modo a executar

os seguintes passos:

- Inicializar registradores e periféricos do sistema.

- Aguardar o comando BEGIN enviado pelo usuário através da comunicação USB.

- Aguardar o sinal de sincronismo enviado pelo microcontrolador de transmissão.

- Ao receber o sinal de sincronismo, iniciar a verificação da amplitude e do tempo dos

pulsos que chegam do circuito receptor.

- Calcular qual o pulso de maior amplitude e em qual instante este ocorreu. Tal valor é

o tempo de trânsito entre o sinal de pico no transmissor e no receptor.

- Realizar 13 leituras de tempos de trânsito e armazenar os valores num buffer.

Page 36: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

36

- Determinar a mediana dos 13 valores. O resultante da operação é considerado

como o tempo de trânsito válido.

- Armazenar o tempo de trânsito válido na memória EEPROM.

- Repetir as operações anteriores, desde o segundo passo, até preencher o espaço

alocado na memória EEPROM.

O fluxograma da Figura 3.11 mostra de maneira clara o fluxo de execução do

programa de recepção:

Figura 3.11 – Fluxograma do funcionamento do programa do microcontrolador de recepção.

Page 37: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

37

Inicialmente, o programa executa uma rotina de inicialização, na qual são

configurados os valores de todos os registradores associados aos periféricos utilizados, tais

como timer input capture, conversor AD, comunicação I2C, dentre outros.

A interrupção do sinal de sincronismo ocorre quando o microcontrolador do

transmissor indica que realizou a transmissão do pulso de maior amplitude. Neste instante,

a saída de sincronismo vai para nível lógico 1, causando uma interrupção por borda de

subida no microcontrolador de recepção. No instante em que esta interrupção é tratada, o

microcontrolador inicia o contador do seu temporizador e habilita as interrupções da entrada

de input capture.

A entrada de input capture está ligada à saída de onda quadrada do circuito receptor.

Quando habilitada, cada transição que ocorrer na entrada de input capture gerará uma

interrupção. No instante em que isto ocorre, o valor atual do temporizador é

automaticamente gravado em um registrador específico, o qual deve ser lido e

armazenado.

Durante a interrupção, é chamado também o conversor AD, para se realizar a leitura

da amplitude da saída amostrada do circuito receptor. Deste modo, na interrupção do input

capture é realizada a leitura do tempo e da amplitude de cada pulso que chega ao

microcontrolador.

É realizada uma sequência de 30 leituras. Sendo que cada fase do sinal enviado é

composta por 20 pulsos, o valor de pico obrigatoriamente se encontrará entre estas leituras.

Após o término dessas leituras, o microcontrolador encerra as leituras desativando as

interrupções do input capture. Um próximo sinal de sincronismo enviado pelo

microcontrolador de transmissor pode reiniciar o processo de aquisição.

Depois que os valores de tempo e amplitude são obtidos, eles devem ser

processados. Em primeiro lugar, deve-se determinar qual é o pico do sinal e em que

momento este ocorreu. Para isso, o vetor de amplitudes é ordenado em valores

decrescentes. O rearranjo dos valores deve ser feito também com o vetor de tempos.

Determinando-se qual é o valor de pico, pode-se encontrar o valor de tempo

associado a este. Tal valor é o tempo de trânsito entre o transmissor e o receptor.

Para se obter maior precisão, é obtida uma sequência de 13 valores distintos de

tempo e é realizado o cálculo da mediana destas leituras. O resultante da mediana é

estabelecido como a medida válida do tempo de trânsito.

Esse valor é armazenado numa memória EEPROM 24FC128, com capacidade de

armazenamento de 16 Kbytes e comunicação através de barramento I2C. Sendo que o

Page 38: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

38

valor de tempo é constituído por 2 bytes, a memória possui uma capacidade de

armazenamento de até 8000 valores de tempos de trânsito válidos.

Para uma maior facilidade de operação, o controle do microcontrolador de recepção é

realizado através de comunicação serial. Torna-se possível, portanto, utilizar um

computador para se controlar e obter os dados do sistema.

A interface serial do microcontrolador foi programada de modo que cada novo byte

recebido dispara uma interrupção no sistema. De acordo com o valor do byte recebido, uma

ação é realizada. Um protocolo de comunicação simples foi elaborado com esta finalidade,

conforme mostrado na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Comandos do protocolo de comunicação serial.

Comando Valor enviado (hexadecimal)

Resposta

BEGIN 0x01 Inicia a aquisição dos tempos de trânsito e retorna 0xFF para confirmar.

READ_BUFFER 0x02 Retorna o valor do buffer de tempo e amplitude.

READ_VETOR 0x03 Retorna o valor do vetor de tempos de trânsito.

READ_MEMORY_DATA 0x04 Retorna o valor dos tempos de trânsito válidos armazenados na memória EEPROM.

READ_ALL_MEMORY 0x05 Retorna todos os bytes armazenados na memória EEPROM.

CLEAR_MEMORY 0xF0 Limpa toda a memória, gravando 0x00 em todos os endereços.

Inválido Qualquer outro valor

Retorna 0x00 para indicar um comando inválido.

Dentro da interrupção serial, os comandos são decodificados e a resposta é feita em

função do valor deles. Quando se faz necessário retornar alguma informação, a rotina

realiza a conversão para ASCII.

O fato de o controle ser realizado através da serial tem como objetivo uma maior

facilidade no período do desenvolvimento no sistema. Caso seja interesse utilizar o sistema

operando de forma autônoma, algumas das rotinas do firmware poderiam ser modificadas

com esta finalidade.

Page 39: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

39

O diagrama em blocos do sistema completo é mostrado na Figura 3.12.

Figura 3.12 – Diagrama de blocos do sistema.

Page 40: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

40

4 – RESULTADOS

Os testes foram realizados em laboratório, com o auxílio de equipamentos tais como

fonte de tensão regulada, osciloscópio digital com comunicação USB e ventilador. O

osciloscópio digital revelou ser uma ferramenta muito importante, pois pode ser conectado

a um computador através de uma porta USB e enviar imagens para este.

4.1 – Desempenho do circuito transmissor

Os testes relacionados ao circuito transmissor consistiram em verificar as formas de

ondas geradas por este. Deve-se verificar se a forma de onda sintetizada pelo DAC

corresponde à saída desejada, se as temporizações dos sinais estão corretas, e se o sinal

de sincronismo está sendo acionado devidamente.

Observando a saída do circuito transmissor através do osciloscópio, obtém-se a

forma de onda apresentada na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Sinal presente na saída do circuito transmissor.

Page 41: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

41

Conforme os valores na Figura indicam, o osciloscópio estava configurado com 2V /

divisão na vertical e 200us / divisão na horizontal. Tem-se então um sequência de pulsos

de 40 kHz modulados em amplitude. Os valores de amplitude máxima e mínima são,

respectivamente, 4 e 0,8 V, e a frequência do sinal modulante é de 1 kHz.

Além de sintetizar a forma de onda, o circuito de transmissão é responsável por

enviar o sinal de sincronismo para o receptor. Tal sinal deverá ser acionado no momento

em que for enviado o pulso de valor máximo no transdutor ultrassônico.

Figura 4.2 – Sinal presente na saída do circuito transmissor e sinal de sincronismo.

Na Figura 4.2, o sinal superior (no canal 1 do osciloscópio) é a saída do circuito

transmissor, enquanto que o sinal inferior (no canal 2 do osciloscópio) é o sinal de

sincronismo. É possível constatar que ele está sendo acionado corretamente, no mesmo

instante em que a saída atinge a maior amplitude.

Através da verificação de tais parâmetros, o funcionamento do circuito de transmissão

foi validado.

Page 42: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

42

4.2 – Desempenho do circuito de recepção

O circuito de recepção apresenta uma complexidade superior à do de transmissão,

sendo necessário, portanto, verificar um número maior de parâmetros para determinar se

seu funcionamento está correto.

Deve-se verificar:

- A recepção do sinal no transdutor.

- O funcionamento do estágio de amplificação.

- A relação entre o sinal amplificado e o sinal enviado pelo transmissor, para se

determinar se ocorre o deslocamento de fase.

- O estágio retificador e amostrador.

- O conversor onda quadrada.

Primeiramente, tentou-se obter o sinal diretamente nos terminais do receptor

ultrassônico. Entretanto, o sinal recebido é de baixa amplitude, sendo difícil visualizá-lo

adequadamente através do osciloscópio.

Verificando-se o sinal após o primeiro estágio de ganho, já é possível notar a

presença do sinal recebido pelo transdutor. O sinal ainda possui uma amplitude baixa, de

aproximadamente 150 mV pico a pico, mas pode-se perceber claramente a presença de um

sinal modulado em amplitude, conforme exibido na Figura 4.3.

Page 43: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

43

Figura 4.3 – Sinal presente na saída do primeiro estágio de ganho.

Esse sinal ainda deve passar por um segundo estágio de ganho, na saída do qual

espera-se encontrar o sinal com uma amplitude adequada, entre 1 e 3 V.

Verificando-se o sinal obtido através do osciloscópio (Figura 4.4), é possível constatar

a presença do sinal modulado em amplitude e com um valor máximo de aproximadamente

4 V pico a pico. Além disso, o sinal apresenta um nível de ruído muito baixo se comparado

ao estágio anterior.

Page 44: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

44

Figura 4.4 – Sinal presente na saída do segundo estágio de amplificação.

Pelos dados obtidos, é possível afirmar que as etapas de recepção e amplificação do

sinal estão funcionando corretamente. Neste ponto, é interessante verificar se realmente

ocorre o deslocamento de fase entre o sinal enviado pelo transmissor e o sinal presente no

receptor. De acordo com o tempo de trânsito entre os dois transdutores ultrassônicos,

deverá haver uma diferença de fase entre os dois sinais. Esse resultado pode ser

observado na Figura 4.5.

Page 45: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

45

Figura 4.5 – Comparação entre o sinal do transmissor e o sinal recebido e amplificado,

exibindo a diferença de fase.

A imagem obtida através do osciloscópio (Figura 4.5) confirma a presença de uma

diferença de fase entre o sinal do transmissor e o sinal recebido.

Tal sinal é aplicado tanto na etapa do retificador-amostrador, quanto na do conversor

de onda quadrada. O conversor de onda quadrada tem como função converter o sinal

modulado em amplitude numa sequência de pulsos com frequência de 40 kHz. Tal sinal

servirá como referência de tempo para o sistema e será aplicado na entrada do timer input

capture do microcontrolador.

Além do requisito da frequência, os níveis de tensão da onda quadrada não poderão

ter valores negativos, de modo a não danificar o microcontrolador.

Page 46: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

46

Figura 4.6 – Saída do circuito conversor onda quadrada.

O sinal de onda quadrada obtido através do osciloscópio, apresentado na Figura 4.6,

mostra que o sinal de onda quadrada possui uma frequência de 40 kHz e alterna entre os

níveis de tensão 0 e 3,3 V. Tais parâmetros estão de acordo com as especificações.

Além do sinal de onda quadrada, o circuito de recepção deverá processar o sinal a

ser aplicado na entrada do conversor AD. Isso é realizado nas etapas de retificação e

amostragem.

A função do retificador é cortar os semiciclos negativos do sinal recebido. O sinal

presente na saída do retificador é apresentado na Figura 4.7. Pode-se constatar que o

retificador funciona adequadamente.

Page 47: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

47

Figura 4.7 – Sinal na saída do retificador.

Para garantir que o conversor AD obtenha os valores corretos, o circuito amostrador

sample-and-hold deverá manter o nível de pico do sinal retificado enquanto é realizada a

conversão. Após a conversão, o sinal Reset deve ser aplicado pelo microcontrolador de

recepção, para zerar o valor do amostrador (ver Figura 3.7).

Figura 4.8 – Sinal na saída do amostrador.

Page 48: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

48

A Figura 4.8 exibe o sinal presente na saída do circuito amostrador. Pode-se

constatar a presença de vários “degraus”, cada um relacionado a um valor de pico do sinal

retificado.

Figura 4.9 – Relação entre o sinal na saída do amostrador e os pulsos de reset aplicados

pelo microcontrolador.

Na Figura 4.9 é apresentada a relação entre o sinal amostrado e o pulso de reset

aplicado no circuito. O sinal presente na parte superior (canal 1) é a saída do amostrador,

enquanto que a parte inferior (canal 2) indica o sinal de Reset.

Temos então as duas saídas do circuito de recepção funcionando corretamente.

Pode-se então verificar a relação entre as saídas e o sinal recebido (Figuras 4.10 e 4.11).

Page 49: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

49

Figura 4.10 – Comparação entre o sinal recebido e amplificado e o sinal presente na saída

do amostrador.

Figura 4.11 – Comparação entre o sinal recebido e amplificado e o sinal onda quadrada.

Page 50: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

50

A Figura 4.10 mostra a relação entre o sinal recebido e amplificado e o sinal presente

na saída do amostrador. É possível ver que a amplitude do sinal amostrado está

diretamente relacionada à do sinal recebido.

A Figura 4.11 exibe o sinal recebido e a onda quadrada obtida a partir deste. Pode-se

observar que o sinal de onda quadrada possui a mesma frequência da portadora do sinal

modulado, que no caso é de 40 kHz.

Foi possível validar o circuito receptor, analisando o comportamento de cada uma de

suas etapas e confirmando que seu funcionamento se enquadra nas definições do projeto.

4.3 – Obtenção de dados

Após a validação dos circuitos de transmissão e recepção, o próximo passo foi obter

dados do sistema e comprovar o seu funcionamento como um todo.

Para os testes de obtenção de dados, o sistema foi montado de modo completo, com

os circuitos transmissor e receptor, as placas com microcontroladores e os transdutores

ultrassônicos. Além disso, o microcontrolador receptor foi conectado a um computador

através de uma porta USB, de modo a ser possível enviar comandos e receber valores.

O primeiro passo consistiu em verificar os valores obtidos no conversor AD. O

programa do receptor foi elaborado de modo que, após receber o sinal de sincronismo do

transmissor, é iniciada a aquisição dos dados referentes aos sinais recebidos. Tais dados

informam o tempo em que cada pulso chegou (após o sinal de sincronismo) e a amplitude

destes.

Para este teste, o programa foi alterado de modo que, a cada sinal de sincronismo

ocorrido, sejam obtidas 60 amostras dos sinais. O teste foi realizado enviando-se através

da comunicação serial o parâmetro BEGIN, para iniciar as leituras, e o parâmetro

READ_BUFFER, para se fazer a leitura dos valores de tempo e amplitude armazenados.

Page 51: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

51

0

20

40

60

80

100

120

9,38

85,2

161

237

314

391

469

545

622

698

774

851

927

1004

1081

1158

1234

1311

1387

1463

Tempo (em µs)

Val

or d

o co

nver

sor

AD

Série1

Figura 4.12 – Forma de onda reconstruída a partir dos dados do conversor AD e timer input

capture.

O gráfico apresentado na Figura 4.12 mostra os valores obtidos através do conversor

AD em função do tempo. O tempo foi obtido fazendo-se uma multiplicação entre o valor do

timer input capture de cada posição e o período de clock do microcontrolador.

Pode-se constatar que o microcontrolador consegue obter adequadamente tanto os

tempos quanto as amplitudes desejadas. A aquisição dos dados funciona de acordo com o

desejado.

O próximo teste foi feito com o programa completo. O programa completo do

microcontrolador obtém os valores de amplitude e tempo, faz o cálculo da mediana para

obter os tempos de trânsito válidos e armazena estes valores na memória I2C. O objetivo é

verificar o desempenho das rotinas relacionadas ao cálculo do valor máximo da onda, a

obtenção do tempo de trânsito e cálculo da mediana dos valores.

O teste foi realizado enviando-se através da comunicação serial o parâmetro BEGIN,

para iniciar as leituras, e o parâmetro READ_DATA_MEMORY, para se fazer a leitura dos

valores de tempo de trânsito armazenados na memória EEPROM. O programa do

microcontrolador foi configurado para armazenar 200 amostras.

O teste foi iniciado numa situação de repouso, sem vento. No meio do ensaio, foi

acionado um ventilador, de modo a gerar um fluxo de ar e se verificar qual é a influência

deste no tempo de trânsito do sistema.

Page 52: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

52

770

771

772

773

774

775

776

777

778

779

780

1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 109 118 127 136 145 154 163 172 181 190 199

Amostras

Tem

po (

em µ

s)

Figura 4.13 – Tempo de trânsito entre os transdutores ultrassônicos.

O gráfico obtido através deste teste é exibido na Figura 4.13, e pode-se observar que

o tempo de trânsito se encontra entre 774 e 775 µs durante um grande número de

amostras, aumentando subitamente para valores na ordem de 778 µs no momento em que

é acionado o ventilador (entre amostras 100 e 150, aproximadamente), retornando para

valores próximos de 775 µs quando o ventilador é desligado (a partir da amostra 150).

Os testes realizados validaram o funcionamento do método de modulação de

amplitude para a obtenção do tempo de trânsito em anemômetros ultrassônicos.

Page 53: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

53

5 – CONCLUSÕES

Através dos resultados obtidos, pode-se comprovar a viabilidade do método proposto

de amplitude modulada para se determinar o tempo de trânsito de um pulso ultrassônico.

Pode-se constatar que o sistema é capaz de receber as informações de amplitude e tempo

da onda, determinar em qual instante ocorre o pico de amplitude e, a partir deste, calcular o

tempo de trânsito entre o sinal transmitido e o recebido.

Através dos testes, pode-se também comprovar que a presença de um fluxo de ar

altera o tempo de trânsito entre os transdutores ultrassônicos, sendo que o sistema foi

capaz de detectar tal variação.

O trabalho apresentado teve como objetivo comprovar a viabilidade do método de

amplitude modulada para se determinar o tempo de trânsito. Este tempo foi determinado

em apenas um eixo e em um único sentido, não sendo efetuado o cálculo da velocidade do

vento.

Para trabalhos futuros, propõe-se elaborar um anemômetro completo utilizando o

método de amplitude modulada. Tal anemômetro pode medir a velocidade do vento em

duas ou três dimensões, utilizando um número de transdutores suficiente para tal. Além

disso, podem ser utilizadas técnicas de multiplexação para controlar a transmissão e

recepção em cada um dos transdutores.

Obtendo os tempos de trânsito, o anemômetro pode efetuar o cálculo da velocidade e

armazenar tais valores na memória EEPROM, enviá-los através de uma comunicação serial

ou USB ou disponibilizá-los como um nível de tensão analógico correspondente à

velocidade do vento.

Outra sugestão seria substituir os dois microcontroladores usados no sistema por um

único dispositivo com maior capacidade de processamento. Tal dispositivo pode ser um

microcontrolador da família HC12 da Freescale, alguns dos quais contam com recursos de

processamento paralelo, ou um DSP da Texas, os quais possuem elevadas velocidades de

clock e possuem instruções específicas para realização de processamento matemático.

Page 54: LUÍS FERNANDO PATSKO - UEL Portal · Figura 2.3 – Método de modulação em amplitude 22 Figura 3.1 – Esquema geral do sistema para o do mét odo de modulação em amplitude

54

6 - BIBLIOGRAFIA

CYLIAX, I. (2006). Internet-connected sonic anemometer. Circuit Cellar, the Magazine for

Computer Applications.

KOYAMA, M. H. (2009). Desenvolvimento de um Anemômetro 3D Ultra-sônico baseado em

Apenas Quatro Transdutores. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de

Londrina.

HUANG, Y. P.; WANG, J. S.; HUANG, K. N.; HO, C. T.; HUANG, J. D. e YOUNGA, M. S.

(2007). Envelope pulsed ultrasonic distance measurement system based upon amplitude

modulation and phase modulation. Review of Scientific Instruments 78, 065103 (2007).

PEREIRA, R. V. (2007). Sensores e transdutores para um sistema automático de aquisição

de dados agrometeorológicos. Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de

Londrina.

PINTO, M. S. P. (2006). Especificações de projeto para medição de velocidade de vento

utilizando anemômetro ultra-sônico com o método de diferença de fase. Dissertação de

Mestrado, Universidade Federal do Maranhão.

SUMATHI, P.; JANAKIRAMAN, P. A. (2009). FPGA Implementation of an Amplitude-

Modulated Continuous-Wave Ultrasonic Ranger Using Restructured Phase-Locking

Scheme. VLSI Design, Volume 2010, Article ID 213043.

HOROWITZ, P.; HILL, W. (1989); The Art of Electronics. Cambridge Press University, 2nd

edition.

NATIONAL SEMICONDUCTOR. DAC0808 datasheet. Disponível em

<http://www.national.com/ds/DA/DAC0808.pdf>. Acesso em 1 out. 2011.

TEXAS INSTRUMENTS. TL074 datasheet. Disponível em

<http://www.ti.com/lit/ds/symlink/tl071.pdf>. Acesso em 1 out. 2011.

PAVEL, S (2010). Sin table calculator Disponível em

<http://www.meraman.com/htmls/en/sinTableOld.html>. Acesso em 1 out. 2011.