modernidade identidade guiddens baumann

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    Revista Eletrnica dos Ps-Graduandos em Sociologia Poltica da UFSCVol. 5. n. 1 (1) agosto-dezembro/2008

    ISSN 1806-5023

    A questo da identidade em Giddens e Bauman

    Alan Mocellim1

    Resumo: Este artigo tem como objetivo debater as idias de dois socilogos

    contemporneos, Anthony Giddens e Zygmunt Bauman, sobre a questo da identidade,

    e mais especificamente sobre a questo das auto-identidades num contexto de

    globalizao. Partiremos de um esboo geral da relao entre modernidade e identidade

    para, a seguir, abordar o que ambos os autores pensam sobre o tema. Por fim, pretende-

    se fazer uma breve relao entre as idias de ambos.

    Palavras-Chave: modernidade; identidade; Giddens; Bauman.

    Abstract: This article has as objective to debate the ideas of two contemporary

    sociologists, Anthony Giddens and Zygmunt Bauman, on the question of the identity,

    and more specifically on the question of the self-identities in a globalization context.

    We will start with a general sketch of the relation between modernity and identity for,

    after that, approach what both authors think on the subject. Finally, is intended to make

    a brief relation between the ideas of both.

    Key-Words: modernity; identity; Giddens, Bauman.

    1 Alan Delazeri Mocellim graduado em Cincias Sociais e mestrando em Sociologia Poltica (UFSC).E-mail para contato: [email protected]

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    bastante recente a centralidade que a questo da identidade passou a ter

    nas cincias sociais. Seguindo a argumentao de Hall (1998) pode-se dizer que a

    identidade torna-se um problema ainda mais relevante num contexto em que as

    identidades no mais se referem grupos fechados, ou apenas identidades tnicas. Num

    mundo instvel - numa sociedade de risco (BECK, 2003), numa modernidade lquida

    (BAUMAN, 2001) as identidades tambm se tornam instveis. Deixam de ser

    determinadas por grupos especficos e tambm deixam de ser o foco de estabilidade do

    mundo social. As identidades tornam-se hbridas e deslocadas de um vnculo local. E

    isso significa tambm que so transformadas em uma tarefa individual, em um processo

    de construo incessante, e no mais de atribuio coletiva que implicava apenas certa

    conformao s normas sociais.

    Por outro lado, outra discusso acionada atravs do debate acerca das

    identidades: as fronteiras entre a psicologia e a sociologia. O deslocamento da

    identidade enquanto identificao cultural para construo individual opera um

    deslocamento nas fronteiras do que objeto de uma ou outra cincia. Quando o selfse

    torna objeto da sociologia, e quando o debate em torno do indivduo se tornapredominante, torna-se bastante sutil as fronteiras entre essas duas tradies cientficas.

    Esse artigo se prope a debater as idias de dois socilogos

    contemporneos: Anthony Giddens e Zygmunt Bauman. Ambos so nomes

    reconhecidos mundialmente no campo da sociologia, e tm intensa e produtiva obra,

    sendo grandes exemplos de como a questo da identidade ganhou fora nas cincias

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    O industrialismo se refere ao processo de industrializao, ao surgimento

    das fbricas. Sua principal caracterstica o uso de fontes inanimadas de energia

    material na produo de bens, combinado ao papel central da maquinaria no processo de

    produo (GIDDENS, 1991, p.61).

    A vigilncia relacionada superviso da populao pelos que detm o

    poder poltico. Trata-se de vigilncia tanto direta - como as de que trata Foucault (2004;

    2005), como prises, escolas, etc. como tambm indireta, baseada no controle da

    informao por especialistas, ou rgos governamentais.

    O que chamamos aqui de poder militar pode em grande parte ser descrito

    pelo que se nomeia de monoplio da violncia. O monoplio bem-sucedido dos meiosde violncia dentro de fronteiras territoriais precisas especfico do estado moderno.

    Como o igualmente a existncia de vnculos especficos com o industrialismo,

    permeando as organizaes militares e os armamentos a sua disposio (GIDDENS,

    1991, p.64).

    Todas essas quatro formas institucionais se entrelaam para formar o que

    chamamos de modernidade. Todas elas atuam em conjunto, e uma fortalece a outra. Esomente articuladas que podem fazer emergir uma economia capitalista mundial e a

    diviso do mundo pelo sistema de Estado-Nao.

    A modernidade foi em grande parte tambm um projeto. Um projeto que

    tinha como meio o conhecimento, e como fim a organizao e o controle do mundo.

    Diversos autores enunciam essa como uma caracterstica fundamental do projeto

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    moderno. Adorno e Horkheimer (1985) denunciam o projeto moderno como um projeto

    que tendo como objetivo a libertao do homem de suas necessidades naturais, acabava

    por, libertando o homem da natureza, dominando-o pelos mesmos meios que o libertou.

    A dominao do homem pelo homem acabava por ser uma conseqncia da dominao

    do mundo, da natureza.

    Para Bauman (1999) a existncia moderna na medida em que contm a

    alternativa da ordem e do caos. Para ele a modernidade significou uma constante luta

    contra a ambivalncia, uma busca incessante de formas de conhecer, classificar e

    ordenar o mundo. Tudo que no seja ordenado, nesse sentido, passa a ser considerado

    natural, e tudo que natural, deve ser controlado e adequado s condies humanas de

    vida. Modernidade sinnimo de ordem. O projeto moderno era um projeto de ordem, epor ser projeto no podia ser diferente. Esse projeto era o projeto cientfico-tcnico de

    conhecer para controlar, e utilizar a favor dos homens. O projeto do Estado Moderno

    visava organizar os povos e a existncia social de cada um deles, para assim lhes trazer

    uma vida melhor.

    O Estado Moderno nasceu com a busca de uma sociedade racionalmente

    planejada. Buscou obstinadamente ordenar e classificar seu territrio, o deixando deacordo com seu projeto. O projeto (...) fornecia os critrios para avaliar a realidade do

    dia presente. Esses critrios dividiam a populao em plantas teis a serem estimuladas

    e cuidadosamente cultivadas e ervas daninhas a serem removidas ou arrancadas.

    (BAUMAN, 1999, p.29) O projeto do Estado Moderno dividia a sociedade em

    categorias, as pessoas em grupos, e buscava atravs da razo fugir da indeterminao. A

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    convergncia de tal projeto com uma sociedade nacional moderna, em sua nsia por

    ordenar, separava o mundo entre amigos e inimigos, os de dentro e os de fora.

    Todo o projeto, e assim a forma de vida moderna, se fundamentava em uma

    concepo filosfica e cientfica de desenvolvimento, e na idia de que a atravs da

    razo poderamos alcanar a verdade. Filsofos e cientistas foram os grandes profetas e

    missionrios da modernidade:

    A cincia moderna nasceu da esmagadora ambio de conquistar a Naturezae subordin-la s necessidades humanas. A louvada curiosidade cientifica queteria levado os cientistas aonde nenhum homem ousou ir ainda nunca foiisenta da estimulante viso de controle e administrao, de fazer as coisasmelhores do que so (isto , mais flexveis, obedientes, desejosas de servir).

    (BAUMAN, 1999, p.48)

    Esse era o projeto da sociedade moderna, do Estado moderno, e da cincia

    moderna, que acabaram por resultar no mundo globalizado-ocidental que conhecemos.

    A modernidade trouxe mudanas radicais ao mundo, mudanas que Giddens se referiu

    como conseqncias da modernidade (1991). Uma primeira dessas conseqncias foi

    uma mudana radical das concepes de espao e tempo. Nas sociedades pr-modernas,

    espao e tempo estavam plenamente relacionados, sempre foram vinculados no agir

    cotidiano. Com o advento da modernidade, com a inveno de relgios, de um

    calendrio padronizado, e com a possibilidade de se deslocar por longos espaos em

    tempo reduzido, o tempo e o espao se desconectaram, tiveram a dependncia de um em

    relao ao outro reduzida. E assim, as aes humanas, com o espao flexibilizado,

    passaram a repercutir fora dos contextos locais, atingindo o global:

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    O advento da modernidade arranca crescentemente o espao do tempofomentando relaes entre outros ausentes, localmente distantes dequalquer situao dada ou interao face a face. (...) O que estrutura o lugarno simplesmente o que est presente na cena; a forma visvel do localoculta relaes distantes que determinam sua natureza. (GIDDENS, 1991,p.27)

    A esse processo de deslocamento das relaes sociais - uma das principais

    conseqncias da modernidade - de contextos locais para um contexto que articula

    distncias indefinidas de tempo-espao, Giddens se refere como desencaixe. Assim do

    desencaixe da dimenso local, vamos ao reencaixe das relaes em mbito local-global.

    Porm, para haver desencaixe e reencaixe necessrio existirem sistemas

    peritos, e nesse sentido confiana em sistemas peritos. Os sistemas peritos so

    sistemas de excelncia tcnica ou competncia profissional que organizam grandes

    reas dos ambientes material e social que vivemos hoje. (GIDDENS, 1991, p.35) Os

    sistemas peritos removem as relaes sociais de contextos locais, especficos. Eles

    exigem confiana em sua eficcia, confiana que funciona como uma f em seus

    provveis resultados.

    Outra grande caracterstica da vida social moderna, segundo Giddens, a

    acentuada reflexividade das prticas sociais. O que isso significa? Significa que asprticas sociais so constantemente examinadas e reformuladas luz de informao

    renovada sobre estas prprias prticas, alterando assim constutivamente seu carter.

    (GIDDENS, 1991, p.45) A reflexividade inerente s prticas sempre existiu, mesmo nas

    sociedades pr-modernas, porm na modernidade ela se radicaliza, tendo por meio o

    conhecimento cientifico organizado e a propagao de informao por meios de

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    comunicao que atingem uma grande parte da populao mundial em tempo

    relativamente curto.

    Essas so caractersticas da sociedade moderna que nos permitem dizer que

    o mundo moderno a primeira forma de existncia verdadeiramente global, no sentido

    em que articula o local e o global, tendo o tempo controlado e espao minimizado.

    Porm esse quadro a respeito da modernidade, que perdurou por muito

    tempo, est mudando. Vemos, cada vez mais, atravs do desenvolvimento de novos

    meios de comunicao, tendo como exemplo a Internet, e das diversas formas que

    fazem que nosso mundo se torne mais globalizado, para o bem ou para o mal, que

    estamos passando por um novo perodo, onde muitas das caractersticas da modernidadese acentuam, ou se modificam radicalmente. So diversos os nomes que so dados a

    essa possvel nova fase da modernidade: ps-modernidade, modernidade tardia, alta-

    modernidade, segunda modernidade, sociedade de risco, modernidade lquida. Porm,

    para alm de tamanha confuso de termos e conceitos, existem algumas caractersticas

    gerais que dizem respeito a esse novo perodo.

    Beck (2003) distingue algumas caractersticas fundamentais entre as duasmodernidades, a primeira e a segunda. A primeira profundamente marcada pelo

    Estado Nacional, e baseia-se numa clara distino entre sociedade e natureza. Sendo a

    natureza mero conceito daquilo que estranho, daquilo que est fora da sociedade e

    precisa ser controlado (BECK, 2003, p.21). Tratam-se tambm de sociedades do

    trabalho, onde a participao social se define pela participao no trabalho produtivo.

    Na segunda modernidade a oposio natureza/sociedade torna-se questionvel em

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    virtude da tecnologia intensificada e da crise ecolgica (BECK, 2003, p.24). Cada vez

    mais as vantagens trazidas pela industrializao trazem com elas grandes riscos. Alm

    disso, essa segunda modernidade tem os processos de globalizao econmica, social,

    poltica, e cultural intensificados por meio dos avanados meios de transporte e

    comunicao; assim como os processos de individualizao, que faz com que as

    categorizaes coletivas baseadas no trabalho j no expliquem muita coisa.

    Giddens (2002) considera umas das principais caractersticas da

    modernidade tardia, como prefere chamar, a radicalizao da reflexividade: cada vez

    mais as prticas sociais so revisadas mais rapidamente sob a luz de conhecimentos

    estes, agora, produzidos mais rapidamente e em maior quantidade. Essa radicalizao da

    reflexividade torna a modernidade tardia ainda mais imprevisvel, e impede qualquerpossibilidade de ordenamento racional da sociedade e do meio ambiente. Os sistemas

    peritos atuam como um dos principais meios por onde atua essa reflexividade, e so, na

    busca de oferecer solues especializadas para os problemas, um gerador de novos

    problemas, pois:

    (...) quanto mais um problema colocado e foco, tanto mais as reascircundantes de conhecimento se tornam embaraadas para os indivduos que

    delas se ocupam, e tanto menos provvel que eles sejam capazes de anteveras consequncias de sua contribuio para alm da esfera particular de suaaplicao. (GIDDENS, 2002, p.35)

    Bauman (2001) chama de modernidade lquida essa nova fase da

    modernidade. Ele usa a idia de liquidez em oposio da solidez, que seria a metfora

    apropriada da primeira modernidade. Essa liquidez estaria invadindo todos os setores da

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    modernidade que antes eram slidos. A economia se desterritorializou, e se tornou

    independente do local, o trabalho que antes era localizado, e vigiado em grandes

    fbricas, hoje flexvel, no depende mais da produo de bens materiais, no depende

    da localidade onde so produzidos, e muitas vezes nem mesmo dos que trabalham -

    esses passam a ser mo-de-obra flexvel, cada vez com menos direitos trabalhistas. O

    poder que antes dependia da localidade tambm se tornou fludo, hoje no necessrio

    estar num local para manter ele sob controle, a prpria distncia e o nomadismo se

    tornaram estratgias de poder. Em meio a isso, o indivduo se torna cada vez mais apto

    a escolher livremente, dentre as opes que o mercado dispe ao consumo. Suas

    possibilidades so infinitas, mas isso no faz dos indivduos mais felizes: em meio a

    tantas possibilidades, as conseqncias de uma m escolha recaem sobre o indivduo,

    no existem mais bases slidas nas quais se apoiar caso tomem uma m deciso.

    Enfim, todos esses autores evidenciam que uma grande mudana est em

    curso na atualidade, e se torna cada vez mais radical a cada deslocamento do tempo e do

    espao de suas dimenses tradicionais. E assim, as identidades nesse novo perodo

    tambm se tornam diferentes das identidades slidas da primeira modernidade.

    Segundo Hall as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram omundo social, esto em declnio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o

    indivduo moderno, at aqui visto como sujeito unificado. (HALL, 1998, p.7) Para ele

    as mudanas estruturais que tiveram inicio nas sociedades modernas no fim do sculo

    XX esto transformando com elas as idias que temos de sujeito, e nossas formas de

    exercer uma identidade.

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    Hall (1998) distingue trs concepes bastante diferentes de identidade,

    cada uma equivalente a um perodo histrico - sendo reflexo de um momento social e de

    formas de pensar especficas de sua poca - so elas:

    a) sujeito do Iluminismo

    b) sujeito sociolgico

    c) sujeito ps-moderno

    O sujeito do Iluminismo era baseado na idia de ser humano autnomo,

    nico, centrado, unificado e coerente. Segundo essa viso todos os homens eram

    dotados de razo e agiam racionalmente. E as identidades eram coerentemente, e

    racionalmente construdas. Era tambm uma viso muito individualista do sujeito e desua identidade. Podemos encontrar essa viso nos trabalhos de Ren Descartes e John

    Locke, assim como na viso da economia poltica clssica, tendo como exemplo Adam

    Smith.

    O sujeito sociolgico nasceu com as mudanas complexas pelas quais

    passavam as sociedades modernas. uma viso que surgiu por volta do fim do sculo

    XIX, mas se tornou muito aceita durante meados do sculo XX. Essa viso consistia nadescoberta que o sujeito no era autnomo como se imaginava, que ele no poderia ser

    auto-suficiente, e de que sua identidade era construda num dilogo incessante com as

    pessoas da sociedade em que vive. O sujeito ainda tem sua individualidade, um eu

    interior, s que esse formado, e transformado, de acordo com as experincias do

    indivduo no meio social. uma noo de identidade que depende de uma estrutura

    social, e que no pode ser constituda independentemente dela. Podemos encontrar essa

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    noo se desenvolvendo, inicialmente, nos trabalhos de Durkheim, e pode-se dizer que

    tambm nos de Marx e mesmo Freud, mas ela chega a seu auge nos trabalhos dos

    interacionistas simblicos, como Goffmann e Garfinkel.

    Porm, desde o fim do sculo XX, tem sido argumentado que essas noes

    de auto-identidade no correspondem mais a realidade. Hall argumenta que:

    O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada eestvel, est se tornando fragmentado; composto no de uma nica, mas devrias identidades, algumas vezes contraditrias e no resolvidas.Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociaisl fora e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com asnecessidades objetivas da cultura, esto entrando em colapso, comoresultado de mudanas estruturais e institucionais. O prprio processo de

    identificao, atravs do qual nos projetamos em nossas identidades culturais,tornou-se mais provisrio, varivel e problemtico. (HALL, 1998, p.12)

    Tudo isso acontece em meio a um momento de intensa globalizao. O

    desenvolvimento incessante das tecnologias de transporte e comunicao, cada vez mais

    liga o local ao global. A maior interdependncia global leva a um colapso das

    identidades tradicionais, ligadas ao local, e produz uma diversidade cada vez maior de

    estilos e identidades (HALL, 1998). E se por um lado, o acesso a informaes

    provenientes de muitos lugares do mundo hibridiza, por outro tambm homogeneza, um processo duplo. De um lado os locais, se misturam, e identidades que antes eram

    locais podem ser encontradas agora em qualquer local. De outro, certos padres se

    encontram em todos lugares, padres que se relacionam ao consumo:

    Os fluxos culturais, entre as naes, e o consumismo global criampossibilidades de identidades partilhadas como consumidores para osmesmos bens, clientes para os mesmos servios, pblicos para as mesmas

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    mensagens e imagens entre pessoas que esto bastante distantes umas dasoutras no espao e no tempo. (HALL,1998, p.74)

    E ainda:

    Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos,lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mdia epelos sistemas de comunicao globalmente interligados, mais as identidadesse tornam desvinculadas desalojadas de tempos, lugares, histrias etradies especficos e parecem flutuar livremente. (HALL, 1998,

    p.75)

    Assim, a globalizao inclui processos que hibridizam - colocando culturas,

    formas de ser, estilos de vida, um de frente com o outro e processos que

    homogenezam negando o local em favor de um global destitudo de ambiguidade,num processo de padronizao radical. As culturas locais se inter-relacionam, e solapam

    assim sua localidade, ao mesmo tempo em que adotam uma cultura que partilham

    globalmente como consumidores, freqentando shoppings e supermercados, andando

    por estradas ou aeroportos. nesse sentido que encontramos em Aug (1994) a

    considerao de que a vida urbana contempornea produtora de no-lugares, espaos

    que no podem ser traduzidos por vnculos identitrios, relacionais ou histricos -

    lugares de fluxo, de transio, por onde a passagem fugidia. So lugares que no maisdefinem as identidades pelas relaes sociais que neles se estabelecem, so lugares

    destinados passagem, negao dos vnculos relacionais.

    Debatemos aqui algumas das mudanas radicais pelas quais passam as

    sociedades nesse inicio de sculo XXI - mudanas essas que comearam a seguir esse

    caminho a cerca de trinta anos e suas conseqncias para as formas de identidade que

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    emergem atualmente. Iremos, nos tpicos seguintes, nos aprofundar em algumas

    questes especficas sobre as identidades na modernidade.

    Giddens: Identidade, Reflexividade e Estilos de Vida

    Diversos so os fatores que contribuem para o dinamismo da modernidade

    tardia. Entre eles podemos citar a separao do tempo e espao que permite a

    articulao de relaes scias em amplos intervalos de tempo espao, do local ao global

    -, os mecanismos de desencaixe fichas simblicas esistemas peritos , que em conjunto

    separam as relaes das particularidades de uma relao local - e a reflexividade o uso

    de conhecimento constantemente reformulado sobre a vida social. (GIDDENS, 2002)Todos estes fatores tm grandes conseqncias para o eu e para as identidades.

    Podemos dizer que agora as identidades deixam de ser localizadas, ou relacionadas a

    grupos locais, elas se tornam globais, dialogam com o global a todo tempo. A

    reflexividade, seja atravs do conhecimento perito ou da mediao da experincia pelos

    meios de comunicao, contribui para isso de maneira radical. Somos expostos a novas

    informaes, que podem levar a reformulao de ns mesmos e de nossas prticas

    sociais.

    Giddens (2002, p.74) acredita que dizer que a questo da auto-identidade

    um problema moderno originado no individualismo ocidental uma forma muito

    simplista de falar sobre as identidades. Giddens ressalta que a questo da identidade,

    assim como a individualidade, sempre foram questes presentes mesmo nas culturas

    tradicionais, pr-modernas. Para ele necessrio explicar melhor o que a modernidade,

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    e em especial a modernidade tardia, traz de diferente sobre a forma como as pessoas

    pensam, constroem e vivem suas identidades.

    Giddens (2002) responde essa questo elucidando as caractersticas centrais

    desse eu e dessas identidades, caractersticas que esto presentes, por exemplo, no

    discurso dos livros de auto-ajuda, ou auto-terapia. Esses livros trazem a tona toda uma

    narrativa sobre o eu na modernidade tardia, deixando claro que O que fazer?, Como

    agir?, e Quem ser? so questes cada vez mais importantes e presentes no nosso

    cotidiano. Giddens (2002, p.74-79) enumera 10 caractersticas referentes auto-

    identidade na modernidade tardia que podem ser verificadas no discurso da auto-terapia

    - que para ele, apesar da parcialidade, bastante representativo do discurso

    contemporneo sobre a identidade.:

    1- O eu visto como um projeto reflexivo, pelo qual o indivduo responsvel.

    (GIDDENS, 2002, p.74) Somos o que fazemos de ns. O que uma pessoa se

    torna depende das aes nas quais se envolve, nas escolhas quanto ao que deve

    ou no fazer.

    2- O eu construdo tendo por base o passado, mas visando o futuro. O indivduo

    apropria seu passado peneirando-o luz do que antecipa como um futuro.(GIDDENS, 2002, p.75) A trajetria do eu depende da coerncia do discurso

    respeito do passado, depende da apropriao do passado para objetivos futuros.

    3- A reflexividade da auto-identidade nunca cessa. De tempos em tempos nos

    perguntamos sobre o que estamos fazendo. E com base nas respostas que

    conseguimos reformulamos a forma como agimos.

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    4- A construo de uma identidade coerente depende de uma narrativa sobre si. A

    autobiografia assim um fator central para as identidades na vida social

    moderna.

    5- O futuro pensado como cheio de possibilidades, mas no aberto ao livre jogo

    das contingncias. Tanto quanto possvel, o futuro dever ser ordenado

    exatamente por aqueles processos de controle temporal e interao ativa de que

    depende a integrao da narrativa do eu. (GIDDENS, 2002, p.76) O controle

    do tempo se torna essencial para a organizao do futuro, para a satisfao

    pessoal, e para a construo de uma identidade coerente.

    6- A reflexividade afeta tambm o corpo. O corpo apresentado como uma forma

    de construir um eu diferenciado. Experimentar o corpo uma maneira de tornar

    coerente o eu como um todo integrado, uma maneira do indivduo dizer aquique vivo. (GIDDENS, 2002, p.76)

    7- A auto-realizao depende do enfrentamento de determinados riscos, e do

    equilbrio entre riscos e oportunidades. O indivduo deve enfrentar novos riscos

    decorrentes da ruptura com os padres estabelecidos de comportamento

    inclusive o risco de que as coisas possam ficar piores do que estavam.

    (GIDDENS, 2002, p.77)

    8- A auto-realizao depende da autenticidade no ser verdadeiro consigo mesmo.Temos que permanentemente enfrentar desafios que nos impedem de

    compreender a ns mesmos como realmente somos.

    9- A vida, e a narrativa de si, composta de diversas passagens no

    institucionalizadas. Passar por um perodo de transio significativo por um

    momento decisivo significa aceitar e correr riscos para assim ter acesso a

    novas oportunidades.

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    10- A realizao de um eu autntico depende da integrao das experincias da vida

    cotidiana com a narrativa do auto-desenvolvimento individual. A histria de

    vida construda e reconstruda com base no que vivemos e no que buscamos.

    As condies modernas de vida fazem com que os indivduos se deparem

    com uma grande variedade de escolhes. Uma dessas escolhas se refere ao estilo de vida:

    (...) nas condies da alta modernidade, no s seguimos estilos de vida,mas num importante sentido somos obrigados a faze-lo no temos escolhaseno escolher. Um estilo de vida pode ser definido como um conjunto maisou menos integrado de prticas que um indivduo abraa, no s porque essasprticas preenchem necessidades utilitrias, mas porque forma material a umanarrativa particular da auto-identidade. (GIDDENS, 2002, p.79)

    Os estilos de vida so ligados a rotinas cotidianas: formas de comer, formas

    de vestir, modos de agir, lugares freqentados. Porm as rotinas esto sempre abertas a

    mudanas. Cada pequena deciso que tomada no nosso cotidiano contribui para a

    alterao dessas rotinas, e, portanto, para a reformulao do eu. So escolhas sobre

    como agir e sobre quem ser.

    Na alta modernidade dispomos de uma pluralidade escolhas em relao ao

    nosso estilo de vida. Isso no significa que todas as possibilidades esto abertas para

    todos, nem que as pessoas faam suas escolhas sabendo de todas alternativas

    disponveis. A seleo estilos de vida influenciada em grande parte por presses de

    grupo e pela visibilidade de determinados estilos, ou limitada a determinadas condies

    socioeconmicas. (GIDDENS, 2002, p.81)

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    Alm disso, a pluralidade de escolhas quanto aos estilos de vida tem por

    base diversas caractersticas especficas:

    1- Escolhas plurais a possibilidade de escolher entre diversas alternativas

    possveis isto , a tradio j no determinante na escolha de estilos de vida,

    o indivduo agora pode optar, dentro de determinados limites acima comentados,

    por estilos bastante diferenciados.

    2- A vida moderna pressupe a interao social em ambientes bastante diversos.

    Certos estilos de vida esto fortemente ligados a alguns ambientes especficos.

    Tambm em parte da diversidade de ambientes onde interagir as escolhas

    individuais tendem a ser fragmentadas, pois modos de agir e de ser que so

    necessrios em determinados ambientes so dispensveis em outros.3- A reflexividade nos leva a viver numa situao de dvida metdica. Com o

    conhecimento sendo constantemente reformulado fica difcil decidir sobre como

    agir. E os mesmos problemas podem ter diversas formas de resoluo.

    4- As experincias transmitidas pela mdia influenciam as escolhas de diversas

    maneiras. A mdia oferece acesso a possibilidades, ambientes, e estilos de vida

    antes desconhecidos; e ao mesmo tempo ajuda a diminuir as diferenas entre

    ambientes antes afastados e modos de vida bastante diferentes.

    Diante de variadas alternativas de estilos de vida, um planejamento de vida

    assume grande importncia. As pessoas tendem a no s optar por um estilo para

    responder a pergunta Quem sou eu?, mas junto do estilo adotam um planejamento de

    vida com o qual podero responder Quem serei no futuro?. Nas palavras de Giddens

    (2002, p.83):

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    O planejamento de vida pressupe um modo especfico de organizar otempo porque a construo reflexiva da auto-identidade depende tanto da preparao para o futuro quanto da interpretao do passado, emboraretrabalhar os eventos passados seja sempre importante nesse processo.

    Uma outra parte importante da identidade individual que afetada

    fortemente pela reflexividade o corpo que, para Giddens, inclui aparncia, postura, e

    sensualidade. A aparncia conjunto de caractersticas da superfcie de um corpo

    (incluindo modos de vestir); a postura a forma como a aparncia utilizada pelos

    indivduos nos ambientes nos quais se passam as atividades cotidianas; e a sensualidade

    a forma como o corpo utilizado em relao ao prazer e a dor. Ao contrrio das

    culturas pr-modernas, temos relativa liberdade de escolha a respeito dos modos de se

    vestir. Digo relativa porque apesar de termos mais liberdade de escolha quanto

    vestimenta, muitas situaes sociais, ou posies especficas, assim como presses de

    grupo e recursos econmicos, limitam esse tipo de escolha. A postura bastante

    influenciada pela pluralizao dos ambientes de interao; temos de interagir de modos

    diferentes em uma grande gama de espaos diferentes. A possibilidade de manter uma

    postura constante nos mais diversos onde possa se desenrolar uma interao um dos

    meios mais importantes pelos quais se constri uma auto-identidade coerente.

    (GIDDENS, 2002, p.95-96)

    Nos ambientes ps-tradicionais da alta modernidade, nem a aparncia nem apostura podem ser consideradas definitivas; o corpo participa de maneiramuito direta do princpio de que o eu deve ser construdo. Regimes corporais,que tambm se referem diretamente aos padres de sensualidade, so o meioprincipal pelo qual a reflexividade institucional da vida social moderna secentra no cultivo quase se poderia dizer na criao do corpo.(GIDDENS, 2002, p.96)

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    A construo das identidades reflexivamente tambm implica em alguns

    dilemas. Giddens (2002, p.175-186) descreve 4 dilemas fundamentais nesse processo.

    O primeiro dilema o entre a unificao e fragmentao. Desde o nvel

    local ao global, as tendncias disperso se opem as tendncias integrao. A

    unificao aqui se refere construo de uma narrativa coerente sobre si diante das

    mudanas promovidas pela globalizao. A fragmentao significa uma diversificao

    dos contextos de interao. Esse dilema se resolve com o uso da diversidade para a

    criao de uma identidade que incorpore os diferentes contextos numa narrativa

    integrada, fazendo dos diversos eus um s.

    O segundo dilema o entre a impotncia e a apropriao. Temos hojegrandes oportunidades de nos apropriar de diversas formas de vida, de interagir em

    diversos ambientes, e de nos tornarmos bastante diferenciados (em comparao com as

    sociedades pr-modernas), porm junto com essas vantagens trazidas pela globalizao,

    temos que lidar com situaes em que o sentimento de impotncia se amplia; diante de

    determinadas instituies de alcance global e dos riscos globais de altas conseqncias a

    sensao de impotncia se radicaliza.

    O terceiro dilema o que contrape autoridade e incerteza. Nas condies

    atuais de vida, em quase todo o ocidente, no existem autoridades definitivas, a tradio

    j no tem poder como fonte primeira de autoridade. Vivemos hoje diante de um

    pluralismo de autoridades. A cincia, a religio, os governos, todos participam de

    decises sobre temas que se cruzam e inter-relacionam. Essa pluralidade fornece vrias

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    opes aos indivduos, mas os colocam diante das incertezas que diversas vises, muitas

    vezes opostas, fazem surgir quando se busca fazer a melhor das escolhas.

    O quarto dilema o da experincia personalizada versus experincia

    mercantilizada. Determinados padres de consumo promovidos pela propaganda

    influenciam a formao das identidades e promovem certos estilos de vida. A

    publicidade busca estimular estilos de vida que condizem com padres de consumo que

    visam estabelecer. Assim, muitas vezes, o projeto reflexivo de se construir uma

    identidade se traduz na posse de determinados bens. Os meios de comunicao de massa

    apresentam estilos de vida aos quais deve-se aspirar. Porm nem tudo mercantilizao.

    As pessoas tendem a reagir criativamente, e seletivamente, a esses processos. Os

    indivduos selecionam ativamente que tipo de informao importante, e as interpretamde forma particular. A mercantilizao no apenas padronizao ou homogeneizao,

    algo que promove a possibilidade de pluralidade de escolhas. As pessoas mesmo se

    utilizando de produtos de consumo de massa, ainda assim tomam decises e re-

    interpretam essa utilizao da sua prpria maneira.

    Bauman: Identidade, Liquidez e Ambivalncia

    As identidades, durante a modernidade, em oposio ao perodo pr-

    moderno, se tornaram uma questo de construo, de esforo individual. Durante o

    perodo anterior a modernidade elas eram uma atribuio, voc era algo e ponto final,

    no havia opo, ou mesmo esforo capaz de mudar isso. A modernidade inaugurou um

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    novo perodo. A modernidade transformou a identidade em questo de realizao. Era o

    esforo individual que fazia a diferena:

    O projeto moderno prometia libertar o indivduo da identidade herdada. No

    tomou, porm, uma firme oposio contra a identidade como tal, contra se teruma identidade, mesmo uma slida exuberante e slida identidade. Stransformou a identidade, que era questo de atribuio, em realizao fazendo dela, assim, uma tarefa individual e da responsabilidade doindivduo. (BAUMAN, 1998, p.30)

    Mesmo rompendo com a identidade atribuda a modernidade no rompeu

    com as identidades slidas, coesas, e mesmo fixas, apenas comeou a considerar vlido,

    e obrigatrio, o esforo para constru-las, sob a ressalva de que aps adquirir uma

    identidade era muito difcil dela se desvencilhar.

    A identidade durante a modernidade era vivida como projeto de vida, e

    assim devia ser construda vagarosamente, com muito esforo, com o objetivo de chegar

    a um ponto final:

    A construo requeria uma clara percepo da forma final, o clculocuidadoso dos passos que levariam a ela, o planejamento a longo prazo e aviso atravs de conseqncias de cada movimento. Havia, assim, um

    vnculo firme e irrevogvel entre a ordem social como projeto e a vidaindividual como projeto, sendo a ltima impensvel sem a primeira.(BAUMAN, 1998, p.31)

    Assim como o projeto moderno foi uma questo de eliminao da

    ambivalncia, de classificao e ordenamento incessante, as identidades na

    modernidade tambm seguiram esse mesmo caminho. Apesar de se tornarem

    identidades construdas, essas tinham um fim, e deviam ser bem definidas, e aps

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    definidas imutveis. Qualquer identidade que no fosse clara, ou que no pudesse se

    situar claramente em de uma forma ou outra ficando em cima do muro passava a

    ser considerada um problema. (BAUMAN, 1999)

    Bauman (1998, 1999, 2001, 2003) afirma que hoje esse contexto no mais

    vlido. Estamos vivendo em um perodo onde esse medo da ambivalncia quanto s

    identidades no existe mais. Hoje a prpria ambivalncia se torna um valor. Num

    mundo onde tudo transitrio, uma identidade fixa e bem definida no parece ser muito

    atrativa. Segundo Bauman (1998, p.112-113):

    O mundo construdo de objetos durveis foi substitudo pelo de produtosdisponveis projetados para imediata obsolescncia. Num mundo como esse,

    as identidades podem ser adotadas e descartadas como uma troca de roupa. Ohorror da nova situao que todo diligente trabalho de construo podemostrar-se intil; e o fascnio da nova situao, por outro lado, se acha nofato de no estar comprometida por experincias passadas, de nunca serirrevogavelmente anulada, sempre mantendo as opes abertas.

    Manter as opes abertas significa aqui no se apegar a nada, nem a

    ningum. No se deixar levar por nenhum tipo de forma de vida durvel

    suficientemente para se tornar um tdio:

    E desse modo a dificuldade j no descobrir, inventar, construir, convocar(ou mesmo comprar) uma identidade, mas como impedi-la de serdemasiadamente firme e aderir depressa demais ao corpo. (...) O eixo daestratgia de vida ps-moderna no fazer a identidade deter-se mas evitarque se fixe. (BAUMAN, 1998, p.114)

    Vivemos num mundo em que a durabilidade no mais um valor to

    importante como no passado. A ao e mesmo trabalho cada vez mais se tornam

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    secundrios ao labor (ARENDT, 1991), e o consumo assim se torna o grande valor.

    Tudo deve ser consumido, e tudo deve ser descartvel para ser consumido. Num mundo

    que, diferente da modernidade slida, no se organiza mais em torno do trabalho, e sim

    em torno do consumo, as identidades se tornam tambm algo a ser consumido. E o

    consumo passa a ser o meio pelo qual so construdas as identidades.

    Bauman (2001) ope a vida organizada em torno do trabalho e da produo

    e em torno do consumo. A organizada em torno da produo tende a ser

    normativamente regulada, necessria uma conformidade com determinadas regras

    para exercer seu papel na cadeia produtiva de forma correta. A vida organizada em

    torno do consumo, por outro lado, dispensa as normas: a seduo e o desejo se tornam

    os nicos fatores importantes. Essa vida orientada pelo consumo faz com que asidentidades sejam apenas construdas por meio do consumo. O consumo, movido pelo

    desejo a ser saciado, voltil, de curto prazo, serve como padro agora s identidades.

    o produto e o produtor, fruto e semente dos mesmos processos que fazem a identidade

    se tornar lquida.

    Em vista da volatilidade e instabilidade intrnsecas de todas ou quase todasas identidades, a capacidade de ir s compras no supermercado das

    identidades, o grau de liberdade genuna ou supostamente genuna deselecionar a prpria identidade e de mant-la enquanto desejado, que se tornao verdadeiro caminho para a realizao das fantasias da identidade. Com essacapacidade somos livres para fazer e desfazer identidades vontade. Ouassim parece. (BAUMAN, 2001, p.98)

    E continua:

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    e de uma insatisfao constante com as possibilidades atuais. (BAUMAN, 2001,

    p.91-94)

    Para Bauman (2003) a identidade surge como substituta da comunidade. Ela

    substitui a comunidade das normas, regras, padres de conduta, e conforto, pela falta de

    conforto de um mundo sem padres slidos, onde a identificao se torna fugidia e

    frgil.

    Identidade significa aparecer: ser diferente e, por essa diferena, singular eassim a procura da identidade no pode deixar de dividir e separar. , noentanto a vulnerabilidade das identidades individuais e a precariedade dasolitria construo da identidade levam os construtores da identidade a procurar cabides em que possam, em conjunto, pendurar seus medos e

    ansiedades individualmente experimentados e depois disso, realizar ritos deexorcismo em companhia de outros indivduos tambm assustados eansiosos. (BAUMAN, 2003, p.21)

    A identidade como substituta da antiga forma de comunidade faz com que

    passe a existir uma nova forma de comunidade: as cloakroom communities, ou

    comunidades cabide (BAUMAN, 2001; 2003). Essas so comunidades volteis,

    passageiras, destinadas a um ou alguns poucos aspectos, so comunidades voltadas a

    interesses especficos. Esse tipo de comunidade - ao contrrio das comunidades da

    modernidade slida, que se agrupavam em torno de interesses comuns e durveis - se

    forma em torno de eventos e espetculos, e dificilmente conseguem fundir interesses

    individuais em interesses de grupo (BAUMAN, 2001, p.227-230).

    A construo da identidade um processo que no tem fim ou destino, e no

    qual os objetivos se transformam antes mesmo de serem alcanados. A construo da

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    identidade sempre um projeto incompleto. As comunidades devem ser sempre

    flexveis, o corpo do construtor de identidade deve ser flexvel, e suas atitudes sempre

    mutveis e readaptveis. A comunidade do perodo lquido da modernidade deve assim

    estar de acordo com essa nova identidade:

    A comunidade, cujos usos principais so confirmar, pelo poder do nmero,a propriedade de escolha e emprestar parte de sua gravidade a que confereaprovao social, deve possuir os mesmos traos. Ela deve ser to fcil dedecompor como foi fcil de construir. Deve ser e permanecer flexvel, nuncaultrapassando o nvel at nova ordem e enquanto for satisfatrio(BAUMAN, 2003, p.62)

    As comunidades criadas em torno dessa idia de identidade passam a ser

    comunidades estticas e no comunidades ticas como as comunidades que giram em

    torno de normas e objetivos, e destinos partilhados. As comunidades estticas so

    reunidas em torno do entretenimento, de celebridades, de dolos, Essas comunidades

    estticas, comunidades cabide, cloakroom communities, dificilmente favorecem laos

    duradouros entre seus membros:

    Uma coisa que a comunidade esttica definitivamente no faz tecer entreseus membros uma rede de responsabilidades ticas e, portanto, decompromissos a longo prazo. Quaisquer que sejam os laos estabelecidos na

    explosiva e breve vida da comunidade esttica, eles no vinculamverdadeiramente: eles so literalmente vinculos sem consequncias. (...)Como as atraes disponveis nos parques temticos, os laos dascomunidades estticas devem ser experimentados, e experimentados no ato- no levados para casa e consumidos na rotina diria. (BAUMAN, 2003,p.67-68)

    Bauman (1999, p.263) sugere que essas comunidades estticas geradas pela

    busca de identidade, pela constante auto-definio individual, se assemelham as neo-

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    tribos de Maffesoli (2006). Maffesoli afirma que nosso mundo tribal, que admite

    apenas verdades e concepes tribais. Porm neo-tribal, pois diferente das tribos dos

    relatos etnogrficos, as tribos urbanas de nossa nova modernidade, no so rigidamente

    controladas ou estruturadas. Hoje, ficar dentro ou fora de uma tribo uma escolha

    individual, escolha que opera por meio do processo de auto-identificao. O prprio

    pertencimento a uma tribo uma parte do processo de auto-definio individual. E

    assim, da mesma forma que o processo de construo de uma identidade, as neo-tribos

    esto sempre em fluxo contnuo.

    Assim, para Bauman (2005) as identidades se tornam, em nosso mundo

    moderno-lquido, mais ambivalentes e lquidas. A continuidade para toda uma vida,

    assim como a coerncia e univocidade das identidades, no so mais algo que exijagrande preocupao. Os projetos de vida vitalcios, hoje, j no so bem acolhidos. Uma

    identidade coesa, fixada, solidamente construda vista, atualmente, como um fardo,

    uma limitao da liberdade. Assim:

    Para a grande maioria dos habitantes do lquido mundo moderno, atitudescomo cuidar da coeso, apegar-se s regras, agir de acordo com precedentes emanter-se fiel lgica da continuidade, em vez de flutuar na onda dasoportunidades mutveis e de curta durao, no constituem opes

    promissoras. (BAUMAN, 2005, p.60)

    Consideraes Finais

    Pudemos observar que a questo da identidade um problema fundamental

    nas anlises que Giddens e Bauman fazem do atual contexto da modernidade. Para

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    ambos os autores a identidade se torna um processo de construo constante. Mais do

    que um problema especificamente moderno, as identidades sempre estiveram no centro

    da vida social, porm, o que trazido pela modernidade um deslocamento do foco

    da identidade. Nas sociedades ps-tradicionais eram relativamente restritas s

    influncias externas na formao das identidades individuais, essas se adaptavam

    fortemente a um contexto cultural local. Com a globalizao h uma ruptura, e as

    identidades passam a estar em dilogo constante, deslocadas de um contexto nico.

    As categorias de reflexividade e liquidez, utilizadas pelos autores em

    questo, quando utilizadas para pensar as identidades, se referem aos mesmos

    problemas. Ambas so relativas s ampliadas possibilidades de construo de uma

    identidade individual, e mais do que isso, ambas apontam que numa alta modernidade,ou modernidade lquida, as identidades so constantemente reformuladas tendo em vista

    informaes e contextos que tambm se encontram em constante reformulao. Os

    processos de globalizao, dessa forma, ao acelerarem a mudana num contexto

    ampliado, tambm favorecem a mudana num contexto individual e cotidiano. Temos

    assim, em ambos autores, apesar de significativas diferenas na abordagem com

    Giddens seguindo uma tradio mais analtica, e Bauman uma linha de pensamento

    mais crtica similitudes que nos permitem encarar s identidades como um processoincessante de reformulao e mudana.

    Referncias Biliogrficas

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