modelos de gestão de pessoas em ambiente de fusões e aquisições

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Trabalho de Conclusão de Curso Pós-graduação lato sensu MBA RH - Turma 29 Modelos de gestão de pessoas em ambiente de fusões e aquisições Anderson Rafael Brugnera Orientadora: Profa. Dra. Natacha Bertoia da Silva São Paulo – Agosto/2012

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Trabalho de Conclusão de Curso Pós-graduação lato sensu MBA RH - Turma 29

Modelos de gestão de pessoas em ambiente de fusões e aquisições

Anderson Rafael Brugnera

Orientadora: Profa. Dra. Natacha Bertoia da Silva

São Paulo – Agosto/2012

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À Bárbara e à Yasmin

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AGRADECIMENTOS

Um projeto de pesquisa demanda esforço extra para conseguirmos equilibrar

os diversos papéis que exercemos na vida. Por isso, não posso deixar de agradecer

à minha esposa e aos meus pais pela compreensão e apoio durante o tempo em

que me dediquei ao trabalho.

Agradeço aos executivos entrevistados que tanto contribuíram para o estudo,

e à minha orientadora, que colaborou valiosamente para o estudo ter qualidade

acadêmica e sentido prático para as empresas e a carreira de profissionais de

Recursos Humanos.

Aos colegas da turma 29 de MBA Recursos Humanos da FIA, meu muito

obrigado pelo aprendizado e amizades construídas.

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RESUMO

O objetivo geral deste estudo foi analisar os diversos modelos de gestão de pessoas que coexistiriam nas empresas após as mudanças organizacionais provocadas por iniciativas de fusões e aquisições. Por meio de entrevistas com dirigentes de Recursos Humanos, foi possível analisar as principais oportunidades na forma em que a empresa composta por diversas unidades de negócio se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. O estudo mostra que, apesar de haver na organização um conjunto de diretrizes estratégicas compartilhadas entre todos os negócios, os papéis exercidos pelas equipes de gestão de pessoas variam consideravelmente quando se comparam duas unidades de negócio. Como o estágio de desenvolvimento e a cultura dos negócios decorrentes de fusões e aquisições são distintos, os modelos de gestão de pessoas dão respostas diferentes às exigências dos negócios, com tratativas distintas para as diretrizes de grupo.

Palavras-chave: Modelos de gestão de pessoas, mudança organizacional, cultura organizacional, fusões e aquisições.

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ABSTRACT

The aim of this study was to analyze the different people management models that can coexist in companies after organizational changes mainly caused by mergers and acquisitions. Through interviews with human resources leaders, it was possible to analyze the main opportunities in the way a company, composed of several business units, manages and guides human behavior at work. The study shows that, even when the organization has a set of strategic guidelines shared among all business units, the roles played by the HR teams vary considerably when a business unit is compared to another. As businesses stage of development and culture are different, people management models give different answers to business needs, dealing differently with the group HR guidelines. Keywords: People management models, organizational change, organizational culture, mergers and acquisitions.

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LISTA DE QUADROS

Quadro  1  -­‐  Dificuldades  no  gerenciamento  da  cultura  .......................................................  32  

Quadro  2  -­‐  Referências  conceituais  para  as  possíveis  combinações  estratégicas  entre  as  empresas  ..........................................................................................................................  34  

Quadro  3  -­‐  Definições  de  políticas  de  gestão  de  pessoas  ...................................................  49  

Quadro  4  -­‐  Definições  de  políticas  x  autonomia  das  unidades  de  negócios  ........................  50  

Quadro  5  -­‐  Gestão  sobre  os  processos  de  gestão  de  pessoas  .............................................  51  

Quadro  6  -­‐  Responsabilização  dos  negócios  ......................................................................  52  

Quadro  7  -­‐  Predominância  dos  modelos  de  gestão  de  pessoas  e  papéis  de  recursos  humanos  ..........................................................................................................................  55  

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SUMÁRIO

1   INTRODUÇÃO  ..............................................................................................................  6  

2   FUNDAMENTAÇÃO  TEÓRICA  .......................................................................................  8  2.1   Modelos  de  gestão  de  pessoas  e  papéis  de  recursos  humanos  ........................................  8  

2.1.1   Papéis  de  recursos  humanos  ...........................................................................................  11  2.2   Mudanças  organizacionais  ............................................................................................  14  

2.2.1   Tipos  de  mudanças  organizacionais  ................................................................................  16  2.2.2   Modelos  de  gestão  de  mudanças  ....................................................................................  18  

2.3   Cultura  organizacional  ...................................................................................................  23  2.4   Fusões  e  aquisições  .......................................................................................................  32  

3   METODOLOGIA  .........................................................................................................  38  

4   ANÁLISE  DOS  RESULTADOS  .......................................................................................  41  4.1   Caracterização  do  Grupo  G  e  suas  unidades  de  negócio  .................................................  41  4.2   Percepção  sobre  princípios  de  gestão  de  pessoas  ..........................................................  42  4.3   Análise  das  políticas  e  processos  de  gestão  de  pessoas  .................................................  48  4.4   Características  predominantes  nos  modelos  e  papéis  exercidos  pelos  profissionais  de  recursos  humanos  .....................................................................................................................  52  

5   CONSIDERAÇÕES  FINAIS  ............................................................................................  56  

REFERÊNCIAS  ....................................................................................................................  58  Apêndice  A  –  Roteiro  de  entrevista  semiestruturada  .................................................................  62  Apêndice  B  –  Formulário  Complementar  à  Entrevista  ................................................................  62  

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1 INTRODUÇÃO

A primeira década do século XXI mostrou que o aumento do poder aquisitivo

da população e, por conseguinte, o aumento do consumo nacional, favoreceram o

crescimento exponencial do setor varejista e impulsionaram a criação de oligopólios

e de incorporações.

De acordo com Pires (2012), o acelerado processo de mudança vivenciado

pelo segmento de varejo no Brasil implica oportunidades “às empresas e grupos que

se movimentarem rapidamente e que estão preparados para as especificidades” do

mercado brasileiro. “Estima-se que 35 milhões de pessoas vão ascender à classe

média brasileira até 2014, somando-se aos 32 milhões que já se enquadraram a

esse grupo social na última década”.

Os novos consumidores tendem a fortalecer ainda mais o dinamismo das

empresas relacionadas ao mercado de consumo, pois as empresas, como forma de

atrair e manter o número crescente de consumidores, passam a investir em novos

formatos de negócios, novas bandeiras, serviços diferenciados, fusões e aquisições

(PEDROZO, 2008).

Segundo a empresa KPMG, que desde 1994 publica indicadores de fusões e

aquisições, no ano de 2011 foram efetuadas 817 transações, representando

crescimento de 12,5% em relação a 2010, o recorde anterior. “Com 817 operações

de fusões e aquisições que envolveram [...] empresas brasileiras [...], o recorde

anual anterior [...] foi batido em 91 transações” (KPMG, 2012).

O dinamismo do setor e o ritmo acelerado de fusões e aquisições forçam as

maiores empresas a se reinventarem constantemente e a repensar seu modelo de

gestão e estruturas organizacionais.

As revisões constantes impactam na vida dos empregados do setor, mudando

comportamentos, formas de trabalho e relações entre a empresa e colaboradores.

De acordo com Thomson (1999), em processos de fusões, aquisições e

parcerias, enquanto se olha para a parte financeira do acordo, é igualmente

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importante examinar a forma como cada organização trabalha. Muito além da

habilidade de remover custos eliminando duplicações, a tão esperada sinergia

deveria estar centrada na produção e desenvolvimento de capacidades que talvez

nunca se desenvolvessem sozinhas (sem fusões, aquisições e parcerias).

O objetivo geral deste estudo é analisar os diversos modelos de gestão de

pessoas que coexistiriam nas empresas após as mudanças organizacionais

provocadas por iniciativas recentes de novos negócios e reestruturações. Em outras

palavras, propõe-se analisar as principais oportunidades na forma em que “uma

empresa se organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no

trabalho” diante de tais processos de mudança (Fischer, 2002, p. 12).

Os diversos negócios de um mesmo grupo se organizam de maneiras

diferentes, e a relação de áreas corporativas com os distintos negócios torna-se

mais complexa cada vez que há novas incorporações. A estrutura societária e as

decisões de governança dos negócios afetam o estilo de gestão dos líderes e a

forma como o comportamento humano no trabalho é gerenciado pelas áreas de

gestão de pessoas, com a existência de regras, processos e, principalmente,

pessoas diferentes.

Este trabalho não propõe um guia de melhores modelos de gestão de

pessoas em ambiente dinâmico de fusões e aquisições, mas evidencia a

possibilidade e talvez a necessidade de haver modelos diversos convivendo dentro

de um mesmo grupo, apesar de existir uma corporação que na figura de

“controladora” dos negócios centraliza estratégias, políticas, práticas ou processos

de gestão de pessoas na organização.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para a análise de um cenário no qual modelos de gestão de pessoas se

transformam ou são criados em meio a mudanças organizacionais, fusões e

aquisições, fundamenta-se este estudo com literaturas que tratam de:

§ definições e características dos modelos de gestão de pessoas e

papéis de recursos humanos;

§ mudanças organizacionais, características e modelos;

§ cultura organizacional;

§ processos de fusão e aquisição.

2.1 Modelos de gestão de pessoas e papéis de recursos humanos

De acordo com Fischer (2002, p. 12), define-se um modelo de gestão de

pessoas como “a maneira pela qual uma empresa se organiza para gerenciar e

orientar o comportamento humano no trabalho”. Toda organização interfere nas

relações organizacionais de formas diferentes e com intensidades distintas, sendo

que a exigência de busca de padrão de desempenho e comportamento no trabalho

se intensifica à medida que os negócios se sofisticam. Expansão dos negócios,

mudanças no mercado e escolhas de novas tecnologias criam a cada movimento

maior dependência de um padrão de comportamento coerente que diferencia a

empresa em seu mercado.

De acordo com Gil (1994), a administração de recursos humanos é um olhar

da administração de pessoal a partir de abordagem sistêmica, na qual as

organizações são vistas como sistemas dentro de sistemas. Uma empresa seria

vista como um sistema envolvido por um macrossistema, que é o sistema

social. Dentro desse sistema estariam presentes diversos microssistemas, entre eles

o de recursos humanos, que ainda seria visto como um conjunto de sistemas

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menores, como o de seleção, desenvolvimento, manutenção de pessoal etc. A

determinação dos sistemas é arbitrária e as fronteiras que se estabelecem entre eles

apresentam sempre alguma permeabilidade, fazendo com que elementos de um

sistema sejam classificados como integrantes de outro.

Fischer (2002) defende que a maior ou menor formalização desses elementos

de gestão de pessoas na empresa, relacionados aos sistemas mencionados por Gil

(1994), dependem da maior ou menor consciência que a própria empresa tem da

importância de agir organizadamente sobre o comportamento humano aplicado ao

trabalho.

É importante destacar que, para Fischer (2002), a administração de recursos

humanos, termo utilizado no trabalho de Gil (1994), “é resultado do desenvolvimento

empresarial e da evolução da teoria organizacional nos Estados Unidos”, que

buscou suplantar a visão de departamento pessoal. Seria, dentro das grandes

correntes de gestão de pessoas, a primeira vertente histórica de modelo de gestão

de pessoas, tendo como conceitos articuladores produtividade, recompensa e

eficiência de custos com o trabalho.

Para Fischer (2002, p. 32), ao empregar o termo modelo:

busca-se ampliar o âmbito das ações de Recursos Humanos dando-lhes nova dimensão e abrangência. [...] Isso leva a considerar não somente a estrutura, os instrumentos e as práticas normatizadas como elementos componentes do modelo, mas também tudo aquilo que interfere significativamente nas relações entre os indivíduos e a organização.

Nessa ótica, o trabalho de Fischer (2002) categoriza quatro grandes correntes

de gestão de pessoas: modelo de gestão de pessoas articulado como departamento

pessoal, como gestão do comportamento humano, como gestão estratégica e,

finalmente, modelo de gestão de pessoas articulado por competências como

vantagem competitiva. Embora as quatro categorias sejam correspondentes a

diferentes períodos históricos e tenham conceitos articuladores específicos, é

possível observar na composição dos modelos elementos formais menos abstratos

que seriam avaliados nos modelos, independentemente de períodos e conceitos

articuladores.

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Ainda que os modelos sejam compostos por tudo que interfere de alguma

maneira nas relações organizacionais, Fischer define como componentes formais de

um modelo de gestão de pessoas:

1. Princípios de gestão: compostos basicamente pelos valores

definidos para a organização e pelas diretrizes estratégicas de

gestão de pessoas.

2. Políticas: diretrizes de atuação centradas nos objetivos de médio e

longo prazo relacionados às pessoas.

3. Processos: cursos de ação previamente determinados e orientados

pelas políticas, visando alcançar os objetivos traçados sem

ultrapassar os limites dos princípios de gestão. Como exemplos,

planos de cargos e salários, planos de capacitação e de sucessão,

administração de carreiras e avaliações de desempenho e

performance.

No que diz respeito às categorias mencionadas por Fischer (2002), resumem-

se os modelos de gestão de pessoas por meio das seguintes características

principais:

1. Modelo de gestão de pessoas como departamento pessoal:

centrado basicamente na produtividade, recompensa e eficiência de

custos com o trabalho.

2. Modelo de gestão de pessoas como gestão do comportamento

humano: modelo baseado na psicologia como ciência capaz de

apoiar a compreensão e a intervenção na vida organizacional, por

meio de treinamentos gerenciais, processos de avaliação de

desempenho e estímulo ao desenvolvimento de perfis gerenciais

coerentes com o processo desejado de gestão de pessoas. Esse

modelo representa olhar mais direcionado à concretização dos

interesses da empresa, percebendo além da efetividade econômica

(maximização de lucros ou redução de custos), efetividade técnica

(manutenção dos padrões de qualidade requeridos) e a efetividade

comportamental (busca da motivação e satisfação dos

funcionários).

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3. Modelo estratégico de gestão de pessoas: introduz a exigência de

vincular a gestão de pessoas às estratégias da organização,

quando se percebe que a motivação genérica nada significaria para

as diretrizes estratégicas da empresa. A busca de orientação

estratégica para as políticas e práticas de RH implicou a

intensificação dos esforços de adaptação do modelo às reais

exigências da organização.

4. Modelo de gestão de pessoas articulado por competências:

qualificado como modelo competitivo por privilegiar e se articular

em torno das competências dos funcionários e por ser condizente

com o ambiente de competitividade que caracteriza as

organizações. De acordo com Fischer (2002), a empresa para ser

competitiva precisa criar um novo espaço competitivo e não

simplesmente posicionar-se melhor no espaço competitivo atual,

por isso o modelo de gestão de pessoas deve desenvolver e

estimular as competências humanas essenciais para as

competências organizacionais da empresa se viabilizarem, gerando

maior competitividade.

2.1.1 Papéis de recursos humanos

Como Fischer (2002), Ulrich (1997) discorre sobre a evolução dos modelos de

gestão de pessoas e principalmente sobre a imprescindibilidade de modelos

direcionados à competitividade empresarial para lidar com os desafios do mercado

em constante transformação, objeto principal deste estudo.

De acordo com Ulrich (1997), a criação de empresas que adicionam valor a

seus investidores, clientes e funcionários no cenário competitivo depende do RH e

principalmente do papel exercido pelos profissionais. Ulrich acredita que a

capacidade do líder de recursos humanos em contribuir com o sucesso da

organização seria potencializada por meio de seis princípios.

O primeiro princípio se baseia no alinhamento da estratégia de recursos

humanos à estratégia da organização. Nada contribui com maior intensidade para a

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credibilidade da área do que fixar-se no que é importante, com interesse genuíno no

negócio.

O segundo princípio diz que a gestão de Recursos Humanos não é realizada

por meio de programas, mas de relacionamentos. O papel primário da área é criar

um ambiente que implique o comprometimento dos funcionários com o sucesso da

organização. Engajar os colaboradores nos processos de mudança, dando-lhes voz

na construção do futuro, demonstra que as pessoas suportam o que ajudaram a

construir.

A importância do papel de recursos humanos na construção de

relacionamentos é enfatizada por Silva e Vergara (2003, p. 11) no estudo

“Sentimentos, subjetividade e supostas resistências à mudança organizacional”:

[...] A mudança organizacional, mesmo quando intencional, não pode assim ser entendida somente sob a ótica de estratégias, processos ou tecnologias, ainda que, em alguns casos, até mesmo a tradição funcionalista que tem dominado os textos sobre gestão de mudanças reconheça a dimensão social como uma variável determinante das possibilidades de sucesso das organizações. É preciso que se veja a mudança organizacional também como uma mudança de relações: do indivíduo com a organização, dele com seus pares, da organização com a sociedade, do indivíduo com a sociedade e dele consigo mesmo.

Ulrich (1997) elenca como terceiro princípio que a área de Recursos

Humanos deve ser conhecida como organização que antecipa a mudança e

compreende as exigências de implementação. O RH deve entender o processo de

mudança e atuar com proximidade aos agentes da mesma, auxiliando-os a

compreender que envolver as pessoas nas transformações energiza o processo e

enfatiza os resultados.

O quarto princípio relata a importância do RH como representante dos

interesses dos funcionários, entendendo que as decisões empresariais devem

equilibrar uma série de fatos, por vezes conflitantes. A consultoria dada pelo RH

nesse momento deve ser atenciosa, objetiva e realista, para primar pelas melhores

conclusões. O objetivo da área não é vencer os argumentos, mas garantir que os

problemas recebam a atenção que merecem.

O autor descreve o quinto princípio dizendo que a efetividade da área de

Recursos Humanos depende de ficar centralizado nas questões e não nas

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personalidades. Evita-se o sentimento rígido quando o principal é a questão e não o

indivíduo. Logo, independentemente de como se sente, argumentar por meio dos

fatos é mais representativo.

O sexto princípio relata que a área de Recursos Humanos deve aceitar que a

constante aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades são essenciais para

ela ser um contribuinte para o negócio. As mudanças constantes fazem com que os

conhecimentos se tornem obsoletos na mesma velocidade. Atualmente, o

profissional de RH precisa, além da perícia funcional, conhecer o negócio, entender

de finanças, ter habilidades de consultoria e habilidades interpessoais.

Ulrich (1997) descreve o quanto é importante aos profissionais de Recursos

Humanos fixarem-se no longo prazo (dimensão estratégica) e no curto prazo

(dimensão operacional), e dedicarem-se à gestão de processos e à gestão de

pessoas. Ao organizar o objetivo principal (curto e longo prazo) e atividades dos

profissionais (direcionadas aos processos e pessoas) em dois eixos, descrevem-se

os quatro papéis de Recursos Humanos essenciais para a construção de uma

organização competitiva.

O papel da gestão estratégica de Recursos Humanos se relaciona, de acordo

com Ulrich (1997), com o direcionamento a longo prazo, com visão mais relacionada

a processos do que a pessoas. Nesse papel, os esforços profissionais concentram-

se no alinhamento das ações de Recursos Humanos à estratégia do negócio, de

maneira a apresentar diagnósticos e ações que possibilitem a proximidade da área

de Recursos Humanos às tomadas de decisão do negócio.

Um segundo papel seria a manutenção de olhar ainda mais intenso por

processos, porém no curto prazo, o que leva ao papel da gestão da infraestrutura

organizacional, ou papel de eficiência administrativa. Nesse caso, o profissional de

Recursos Humanos estaria fixado na construção de infraestrutura eficiente e na

prestação de serviços transacionais de qualidade. Um bom exemplo está na análise

da atuação de Recursos Humanos em centros de serviços compartilhados.

Se o profissional de RH empenha sua função mais direcionada à gestão das

pessoas e não dos processos, emergem um terceiro e um quarto papéis

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desempenhados por esses profissionais. Se no curto prazo, com viés maior para

pessoas, o papel de gestor da contribuição dos empregados, como seu agente

defensor, apresenta características relacionadas à atitude de responder às

exigências dos funcionários, provendo-lhes mais recursos. Em contrapartida, centrar

no longo prazo com o mesmo viés para as pessoas (e menos para os processos)

define o papel de agente de transformação e de mudança, quando o profissional

garante para a organização capacidades indispensáveis à mudança organizacional

desejada.

Ainda de acordo com Ulrich (1997, p. 152), profissionais de Recursos

Humanos que atuam como agentes de mudança:

certificam que as iniciativas sejam definidas, desenvolvidas e entregues em tempo hábil; que processos sejam finalizados, iniciados e simplificados; e que valores fundamentais dentro da organização sejam discutidos e adaptados apropriadamente às condições dos negócios em mudança.

Embora Ulrich (1998) defenda que o papel da transformação e da mudança

organizacional seja elemento-chave à essência do profissional de Recursos

Humanos, o estudo de Mendonça Júnior et al. (2010) conclui que poucos

profissionais foram além dos papéis de eficiência administrativa e de gestor da

contribuição dos empregados nas organizações, ainda que o envolvimento de

Recursos Humanos nas mudanças organizacionais seja extremamente relevante e

essencial à realidade das organizações contemporâneas.

De acordo com Leo (1999), a exemplo da Ford, a bagagem de

desenvolvimento organizacional ainda é vista como algo secundário nos imperativos

empresariais, o que dificulta a atuação da área de Recursos Humanos em grandes

processos de aprendizagem e transformação organizacional.

2.2 Mudanças organizacionais

Mudança organizacional, segundo Fischer (1998, p. 44), “consiste em todo o

movimento de transformação de processos, sistemas e estruturas promovido por

grupos e indivíduos de uma empresa, capaz de promover alterações substanciais no

padrão de competitividade [dela]”. De acordo com Guimarães e Borges (2007), as

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mudanças provocadas nas empresas para sobreviverem e se manterem

competitivas, impactam de maneira significativa os processos de gestão.

Bilhim (1995) afirma que uma mudança organizacional ocorre quando há

desequilíbrios ou os resultados são menores que os esperados, estudo

complementado pelo trabalho de Wood Jr. (2009). O autor afirma que geralmente os

processos de mudanças respondem à exigência de transformar e resolver questões

de natureza estrutural, de recursos humanos, tecnologia ou natureza ambiental.

Fischer (1998) e Guimarães e Borges (2007) remetem ao campo da

competitividade como fenômeno provocador da mudança organizacional, o que

permite avaliar as mudanças organizacionais como processo que se inicia na

tomada de decisão sobre os modelos de negócios e sobre as decisões estratégicas

do negócio, e que acarretam necessidades de transformação.

Segundo Wood Jr. (2009), a mudança organizacional se dá porque

consumidores se tornam mais exigentes e criteriosos, e o número de competidores

aumenta em grande velocidade, fazendo com que as empresas tenham que se

adaptar ao que o mercado exige.

Na maioria das vezes, a mudança ocorre apenas quando as organizações

estão em crise, sendo muito pequeno o número de organizações que se dispõe à

mudança como atitude proativa (WOOD JR, 2009).

Por diversas vezes, revisões no modelo de gestão das empresas e nas

estruturas organizacionais tiram o olhar principal da transformação, que deveria ser

manutenção ou aprimoramento da competitividade dos negócios. De acordo com

Blenko, Mankins e Rogers (2010, p. 40), um estudo da Bain & Company de “57

reorganizações ocorridas entre 2000 e 2006 revelou que menos de um terço

produziu qualquer avanço significativo no desempenho das empresas”.

Blenko et al (2010, p. 40) afirmam que “a estrutura de uma empresa só irá

produzir um melhor desempenho se [...] aumentar a capacidade da organização de

tomar decisões importantes de forma melhor e mais rápida do que as concorrentes”,

defendendo um modelo de reorganização organizacional com base na hierarquia de

decisões. Sob essa ótica, o valor das empresas passa a estar diretamente

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relacionado à “soma das decisões que toma e executa”, e seus recursos de nada

servem se não tomarem decisões essenciais à manutenção ou aprimoramento da

competitividade do negócio.

Ulrich (1998, p. 38) defende ser indispensável a agilidade na tomada de

decisões, afirmando que “uma diferença primária entre ganhadores e perdedores

não está no ritmo da mudança, mas na habilidade de responder ao ritmo da

mudança”. Assim, “o alcance necessário de respostas à mudança de uma empresa

deve expandir-se à medida que o ritmo das mudanças externas à empresa cresce”.

De acordo com Wood Jr. (2009, p. 7),

[...] a mudança organizacional deve ser encarada como um processo e caracterizada pelo princípio de melhoria contínua. [...] Mudanças são necessariamente acompanhadas por quebras de paradigmas e [pela] necessidade de que isto ocorra para que a inércia organizacional seja vencida e dê lugar a novos padrões.

Ou seja, independentemente do ritmo de resposta à mudança frente às

necessidades competitivas da organização, como defendido por Ulrich (1998), Wood

Jr. (2009) enfatiza ser imperioso centrar-se constantemente nas iniciativas de

mudança, como busca permanente pelo novo e pela transformação.

2.2.1 Tipos de mudanças organizacionais

De acordo com Bilhim (1995), a mudança organizacional seria feita de duas

maneiras: mudança incremental ou mudança revolucionária.

A mudança incremental consiste na ideia de mudança episódica ou evolutiva.

Segundo o autor, para esse tipo de mudança ocorrer é preciso haver uma meta

desejável e um conjunto específico de etapas indispensáveis a serem atingidas

(BILHIM, 1995).

Esse perfil de mudança limita-se a uma finalidade e, na maioria das vezes, é

reversível caso a mudança implementada não atinja os resultados esperados,

possibilitando inclusive que o modelo organizacional antigo seja retomado. Ressalta-

se que no processo de mudança a forma de atuação passada não é dispensada e

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trocada por uma nova, ou seja, há continuação e prolongamento das ideias

anteriores implementadas na organização.

Bilhim (1995) destaca que no procedimento de mudança incremental, o

dirigente detém o controle sobre a mudança, pois o futuro, normalmente, é bastante

suscetível a previsões.

Os estudos de Bilhim (1995) afirmam que para a mudança incremental

acontecer é importante a existência de algumas categorias que respondam às

perguntas: mudar o quê? e mudar como?. Além disso, Bilhim define como

fundamental e imprescindível a exigência de manter e integrar três elementos para a

efetivação da mudança: contextos interno e externo, conteúdo e processo.

No que diz respeito à mudança revolucionária, de acordo com Bilhim (1995), o

rompimento com padrões anteriores é imprescindível. As mudanças visam ao total

“redesenho” que levaria ao reposicionamento do negócio da organização.

Os autores Costa, Vieira e Rodrigues (2010) caracterizam o processo de

mudança organizacional em aspectos diversos. São eles: cultura, produtos e

serviços, reengenharia, estrutura, tarefa, tecnologia e comportamento.

No que se refere ao aspecto cultural, Costa, Vieira e Rodrigues (2010, p. 9)

afirmam que

a mudança de cultura é um processo lento e difícil, obra mais de líderes do que de gestores. Isso porque implica a substituição de pressupostos básicos que determinam as normas, os valores e as crenças organizacionais, e atingem as formas de pensar, sentir e agir [...]

Acerca da mudança de produtos ou serviços, os autores citam dois tipos de

vantagens, afirmando que mudanças do gênero tornam as empresas mais

competitivas no mercado. A primeira vantagem é que a mudança implicaria custos

mais baixos, e a segunda é a possibilidade de diferenciação, relacionada a

assegurar certo benefício ao consumidor, que passa a estar disposto a pagar

excedente por isso, permitindo a elevação da margem comercial, e por sua vez, a

maximização de valor do negócio.

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Quando o assunto é a reengenharia organizacional, Costa, Vieira e Rodrigues

(2010, p. 9) asseguram:

A reengenharia consiste no repensar fundamental e no reformular radical dos processos de negócios, de forma a alcançarem-se progressos dramáticos nos níveis de desempenho, nos custos, na qualidade, no serviço e na rapidez.

Sobre o aspecto estrutura, os autores Costa, Vieira e Rodrigues (2010)

indicam esse tipo de mudança como alternativa rápida à promoção de mudanças:

Reorganizar implica conceber de novo a estrutura da organização – uma mudança nos departamentos, na coordenação, nos níveis de controle ou nos centros de decisão. A reorganização é um método, relativamente direto e rápido, para operar mudanças na organização e é uma técnica largamente usada e muitas vezes eficaz.

Da mesma maneira, os autores abordam a redefinição de tarefas como

alternativa ao processo de mudança, mas relatam que a introdução de novos

sistemas tecnológicos é um dos mais difíceis desafios a se enfrentar em processos

de mudança organizacional.

Os autores Costa, Vieira e Rodrigues (2010) ainda afirmam que para a

mudança de comportamento a abordagem deve ser sistêmica e de caráter positivo,

ou seja, com enfoque abrangente, alicerçada na busca de benefícios aos

colaboradores. Com isso, torna-se possível a construção de nova realidade social,

por meio inclusive das percepções dos colaboradores.

2.2.2 Modelos de gestão de mudanças

A literatura existente que trata de transformações organizacionais sob o

prisma dos processos planejados de mudança, segundo Silva e Vergara (2003,

p.10), procura “fornecer respostas sobre como fazer com que a organização tenha

sucesso na estratégia de mudança intencional ao promover a coesão de esforços e

vencer as supostas resistências humanas”.

Pettigrew (1989, p. 146) reforça:

a pesquisa teoricamente correta e praticamente útil sobre a tomada de decisão e mudança estratégica deve desenvolver a interação contínua entre ideias a respeito do contexto da mudança, do processo de mudança e do

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conteúdo da mudança, juntamente com a habilidade de regular as relações entre os três.

Nesse cenário, Fischer (2002) propõe a adoção de um modelo de gestão de

mudança por meio de abordagem contextualista, a mesma citada por Pettigrew

(1989). O modelo de gestão de mudança na visão de Fischer (2002) é composto por

quatro etapas interdependentes: auscultação, concepção, disseminação/adesão e

sustentação.

A etapa de auscultação é aquela na qual há levantamentos e análises de

dados para identificar características dos processos de trabalho, fluxos de

comunicação e interação entre as áreas da organização. Nesse momento, é

importante mapear e analisar os processos existentes, evitando o desperdício de

esforços mobilizados, além de respeitar os padrões da cultura organizacional.

A segunda etapa do processo de transformação organizacional, Fisher (2002)

chama de concepção. A fase representa a transição entre a situação constatada e a

concepção do processo de mudança. Por meio de técnicas participativas, se

constroem parâmetros e indicadores e se definem papéis para compor o grupo de

mobilização, responsável por gerir e disseminar todo o processo de transformação.

Nesse período, em que os planos de ação são objeto de atuação, é fundamental que

a performance organizacional seja impactada pelos aprimoramentos realizados, e

que as ações agreguem valor à qualidade e a produtividade dos resultados para o

processo ser legitimado.

Kotter (1999), em complemento às afirmativas de Fischer (2002), descreve

que a mudança deve se iniciar a partir de um senso de urgência, pois, por meio dele

se obtém a cooperação essencial ao processo. Para aumentar o senso de urgência

de uma organização é imprescindível minimizar a complacência utilizando-se de

ações ousadas que rompem o status quo, promovendo a mobilização das pessoas.

Como mencionado por Fischer (2002), é preciso fazer com que a maior parte dos

colaboradores acredite que a mudança proposta é imprescindível para se obter o

senso de urgência adequado.

Na etapa disseminação ou adesão, os demais colaboradores são envolvidos,

gradativa e planejadamente, na mudança organizacional. O objetivo principal é

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disseminar os produtos elaborados, aferir o entendimento dos funcionários e a

adequação das propostas, avaliar críticas e sugestões, buscando o engajamento

dos participantes e a internalização de princípios e valores que representem

significado à reconstrução da identidade organizacional.

Kotter (1999) denomina como um segundo passo de gestão da mudança a

criação de coalizão administrativa. Bastante relacionado à fase de disseminação

proposta por Fischer (2002), esse passo visa formar uma aliança entre pessoas,

com adequado nível de confiança e objetivos comuns. Segundo Kotter, para ocorrer

é indispensável liderar, mais do que gerir a mudança.

A gestão da mudança, de acordo com Kotter (1999), evolui em oito passos. O

terceiro passo seria o desenvolvimento da visão e a estratégia da mudança

proposta. A visão auxilia a transmitir as expectativas futuras da organização, dando

direção geral à transformação e ajudando todos os colaboradores a compreender o

sentido da mudança. A estratégia suporta a visão, implicando a lógica de execução

da mesma. O processo deve ser criado com cautela para transmitir de forma simples

e clara os reais desejos da organização no processo em questão.

O quarto passo, comunicar a nova visão, tem como objetivo alinhar com o

grupo de funcionários a nova direção a ser tomada. Criar nova visão e não transmiti-

la repetidamente acarretará inconsistência ao processo de mudança. É fundamental,

nesse momento, que a mensagem seja amplamente divulgada, aplicada nos

processos da organização e transmitida por meio de exemplos da liderança

(KOTTER, 1999).

Kotter (1999) elenca como quinto passo potencializar o processo,

conquistando e capacitando o maior número de colaboradores para atingir os

objetivos da visão criada. Durante o movimento da mudança é natural que se

identifiquem resistências e obstáculos a serem transpostos; é fundamental identificar

pessoas capazes de gerir a mudança para auxiliar a remoção dos obstáculos.

Conseguir vitórias em curto prazo é a definição de Kotter (1999) para a sexta

etapa. Para a conquista ser impactante é essencial garantir a visibilidade da mesma

por um grande número de pessoas, que concluam sozinhas a veracidade dos

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21

resultados. O apelo da conquista não deve ser ambíguo, mas claramente

relacionado à mudança. Celebrar as pequenas vitórias ocasiona reforço positivo ao

processo, reconhecendo os líderes do projeto e minimizando as resistências.

A etapa sete é descrita pelo autor como consolidação dos ganhos e produção

de mais mudanças. Acrescenta-se ao processo a visão de longo prazo, sendo

preciso desenvolver uma transformação organizacional. Isso acontece ao se

consolidar e reavaliar as pequenas vitórias, empreendendo maior quantidade, e mais

ampla, de projetos de mudança, expandindo a consciência de um ambiente

inovador.

E, por fim, o oitavo passo ocorre por meio do estabelecimento de novos

conceitos à cultura da organização. Assim, esse estágio requer a incorporação das

novas atitudes no núcleo organizacional e a consolidação da cultura, integrando as

novas práticas ao cotidiano empresarial. Na realidade da organização haverá uma

proposta contínua de mudança.

Os passos sete e oito de Kotter (1999) seriam comparados à quarta etapa

proposta por Fischer (2002), denominada sustentação, que tem o propósito de

monitorar e avaliar continuamente o processo de mudança, identificando a cada

ciclo oportunidades de aperfeiçoamento, considerando os acontecimentos no

mercado.

Trabalho análogo ao de Kotter (1999) e Fischer (2002) é o estudo de Beer,

Spector, Lawrence, Mills e Walton (1984). Segundo os autores, para um processo de

mudança profunda ou revolucionária ser eficiente é preciso que sejam seguidos seis

passos importantes.

O primeiro é mobilizar os colaboradores para a mudança, analisando em

conjunto os problemas de competitividade a serem enfrentados. A segunda ação é

criar ideia partilhada de como gerir e organizar para a competitividade. Incentivar a

equipe acerca da nova visão é o terceiro passo. Sequencialmente é essencial

espalhar a nova visão para todos os departamentos. O quinto passo é formalizar a

revitalização por meio de políticas formais, e por último, controlar e ajustar as

estratégias (BEER et. al., 1984).

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Ulrich (1997), de maneira similar, porém baseado em fatores críticos de

sucesso para mudanças organizacionais bem-sucedidas das empresas, estrutura a

construção de capacidade para mudança em quatro passos: (i) identificação dos

fatores críticos de sucesso; (ii) alcance dos fatores críticos como ferramenta

gerencial; (iii) identificação de atividades de melhoria para cada fator crítico; e (iv)

visão iterativa dos fatores críticos.

O primeiro passo de Ulrich (1997) está exatamente na identificação dos sete

princípios baseados nos quais estrutura os passos na construção da capacidade

para a mudança. Os princípios identificados são, na verdade, imperativos para a

capacidade de mudar: (i) liderar a mudança (ter patrocinador que detém e lidera a

mudança); (ii) criar necessidade compartilhada (assegurar que os funcionários

saibam o porquê da mudança e que a necessidade seja maior que a resistência); (iii)

modelar a visão da mudança; (iv) mobilizar e comprometer os principais

stakelhoders; (v) mudar sistemas e estruturas; (vi) monitorar o progresso; (vii)

sustentar a mudança.

Após a identificação dos fatores críticos pertinentes à mudança e à

organização, o segundo e terceiro passos propostos por Ulrich (1997) consistem em

tornar os fatores críticos ferramentas gerenciais e criar planos de ação para que os

fatores críticos com baixa avaliação tenham melhora de performance.

O quarto e último passo proposto por Ulrich (1997), não muito diferente dos

trabalhos de Kotter (1999) e Fischer (2002), consiste em ver os fatores críticos como

processo iterativo, e não como evento. Segundo o autor, os profissionais de

Recursos Humanos que atuam como agentes de mudança devem reconhecer a

importância de revisitar periodicamente os fatores críticos para manter a mudança

em pauta, o que está intimamente relacionado à fase de sustentação defendida por

Fischer (2002) e às fases nas quais se sugere o estabelecimento da visão de longo

prazo e a proposta contínua de mudança apresentada por Kotter (1999).

De acordo com Junqueira e Bichuetti (2010, p. 60-61), das muitas empresas

que “mergulharam em processos de mudança [...] para dar um salto de qualidade na

gestão e no desempenho”, aquelas que apresentaram processos de mudanças bem-

sucedidas ou mesmo aquelas que não apresentaram processos bem-sucedidos,

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mas avaliaram as falhas cometidas, compartilham ao menos cinco fatores

considerados como críticos para o sucesso da transformação. São eles: (i)

estabelecimento de visão clara da mudança; (ii) abordagem simples com mudança

gradual da cultura; (iii) envolvimento adequado das equipes e gestores; (iv)

comunicação objetiva a todos os níveis da organização; e (v) tempo adequado para

o amadurecimento e absorção da mudança.

Esses fatores corroboram a abordagem dos sete fatores críticos de Ulrich

(1997), com a diferença de que Junqueira e Bichuetti (2010) não mencionam

mecanismos de sustentação e monitoramento do processo de mudança.

Observa-se que há vasta literatura sobre a estruturação de processos de

mudança organizacional, mas de acordo com Senge (1999), há diversos exemplos

organizacionais de como o trabalho de desenvolvimento organizacional é percebido

como secundário, subestimado frente aos demais processos em que as empresas

atentam quando passam por processos de mudanças, principalmente em se

tratando de fusões e aquisições.

2.3 Cultura organizacional

O conceito de cultura sofreu alterações ao longo do tempo, pois à medida que

as sociedades e culturas se transformam, os conceitos acompanham as mudanças,

o que gera vasto material sobre o assunto. Como de maneira geral o conceito passa

por mudanças, no contexto organizacional suas alterações acontecem a partir das

transformações vivenciadas pelas organizações, gerando novos significados.

Para Aidar, Brisola, Motta e Wood Jr (2009, p.37), “toda cultura possui uma

lógica própria, que deve ser compreendida a partir dela mesma”. Os autores afirmam

que os estudiosos de cultura precisam, ao observar qualquer grupo de pessoas, se

aprofundar em sua rotina, no seu dia a dia, para entender o que significam atos e

percepções dos membros.

Dentro do contexto, as definições precisas de cultura organizacional tornam-

se difíceis de ser circunscritas, contribuindo com o risco de serem consideradas

como cultura organizacional situações que na realidade não o são, podendo ser, por

exemplo, clima organizacional. De maneira simplificada, fazem parte do clima

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organizacional os fatos rapidamente percebidos na organização, mas que ainda são

superficiais e não refletem a realidade e crenças mais profundas.

Considerando o contexto de cultura organizacional, Aidar, Brisola, Motta e

Wood Jr. (2009) ressaltam que uma empresa multinacional terá maior sucesso de

acordo com sua capacidade de gerenciar a diversidade, sendo que uma das maiores

dificuldades que líderes de empresa internacionalizadas encontram é a criação de

sinergias entre culturas diversificadas, aproveitando o que cada uma tem de melhor.

De acordo com os autores, estudos comprovam que respeitar a cultura onde se quer

operar implica vantagens competitivas.

A conclusão de Aidar, Brisola, Motta e Wood Jr. (2009) é que não se pode

desconsiderar o meio ambiente, interno e externo, no estudo da cultura das

organizações. O meio possui muita influência nos comportamentos, valores e

atitudes das pessoas que fazem parte da organização, e se refletirá no modelo de

gestão da empresa. A compreensão dos contextos sociais e culturais da

organização é fundamental para sua gestão.

Schein (2009, p.17) ainda afirma

[...] para se atingir esses níveis mais profundos, deve-se entender as percepções e sentimentos que surgem em situações críticas e observar e entrevistar os membros regulares ou veteranos para obter um senso correto das suposições compartilhadas de nível mais profundo.

A cultura organizacional precisa ser interiorizada, isto é, entendida e praticada

pelas pessoas que a influenciam e são por ela influenciadas. Quando acontece a

interiorização há então a autoidentificação com a cultura. De maneira similar citamos

Berger e Luckmann (1985, p. 176):

[...] Quaisquer que sejam, a interiorização só se realiza quando há identificação. A criança absorve os papéis e as atitudes dos outros significativos, isto é, interioriza-os, tornando-os seus. Por meio desta identificação com os outros significativos a criança torna-se capaz de identificar a si mesma, de adquirir uma identidade subjetivamente coerente e plausível. Em outras palavras, a personalidade é uma identidade reflexa, que retrata as atitudes pela primeira vez pelos outros significativos com relação ao indivíduo, que se torna o que é pela ação dos outros para ele significativos. Este processo não é unilateral nem mecanicista. Implica uma dialética entre a identificação pelos outros e a autoidentificação, entre a identidade objetivamente atribuída e a identidade subjetivamente atribuída.

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De acordo com Fleury e Sampaio (2002), esse conceito de cultura

organizacional começou a ser debatido no final da década de 1950, porque

empresas iniciaram sua expansão internacional, e queriam reproduzir em outros

países estruturas e forma de administrar. Embora replicassem a mesma estrutura e

os mesmos programas, os resultados nem sempre eram similares. Os

administradores passaram a se deparar com problemas que não havia no país onde

a empresa fora criada. Por isso, no princípio a palavra cultura aplicada à

administração é utilizada de modo parecido a como utilizamos para conceituar

culturas nacionais, conforme Fleury e Sampaio (2002, p. 285):

[...] elementos culturais foram obtidos na sociedade pelos empregados, especialmente os que entram em conflito com a ordem organizacional original, para então buscar um novo arranjo organizacional ou uma mudança de crenças e valores apropriada.

Segundo Fleury (2011, p. 15), “estudar o tema cultura organizacional tem

apresentado para os pesquisadores o desafio de encontrar caminhos metodológicos

inovadores, interessantes e consistentes”, até mesmo porque a cultura

organizacional não é formada por elementos objetivos; ao contrário, a subjetividade

se torna efetiva da composição às escolhas e diretrizes. Tomando como ponto de

partida a linha de pesquisa e estudo com perspectiva antropológica, Fleury (2011,

p.17) afirma que “a dimensão simbólica é concebida como capaz de integrar todos

os aspectos da prática social”. A “dimensão simbólica” é a expressão que resume a

complexidade do assunto.

Bertero (2011, p. 37) complementa ressaltando que “a cultura pode ser vista

como propiciando aos indivíduos uma interpretação da realidade e, portanto,

conferindo sentido e significado à realidade”. Reforçando a ideia, Schein (2009, p.1)

afirma:

[...] cultura é um fenômeno dinâmico que nos cerca em todas as horas, sendo constantemente desempenhada e criada por nossas interações com outros e moldada por comportamento de liderança, e um conjunto de estruturas, rotinas, regras e normas que orientam e restringem o comportamento.

A cultura está presente em todos os momentos. Ela é moldada e molda as

pessoas. Por isso, no contexto organizacional, a cultura está intimamente

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26

relacionada ao modelo de liderança e com o perfil dos líderes, pois a liderança não

acontece sozinha, mas nasce de interação entre líder e liderado.

Fleury e Sampaio (2002, p.293) definem cultura organizacional:

[...] Um conjunto de valores e pressupostos básicos expresso em elementos simbólicos que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação

Schein (2009, p. 187) afirma:

[...] uma cultura integrada é aquela em que toda a organização compartilha um único conjunto de suposições; uma cultura diferenciada é uma organização em que subculturas poderosas discordam em certas questões cruciais, tal como trabalho braçal e trabalho administrativo; e uma cultura fragmentada é uma organização, como um conglomerado financeiro, que tem subculturas muito grandes e nenhum conjunto muito amplo de suposições que sejam compartilhadas.

Como a cultura é formada por elementos básicos carregados de crenças,

valores e subjetividade, ela precisa refletir um contexto mais amplo. É essencial

haver elementos-chave que permeiem no coletivo, pois caso isso não aconteça, a

cultura organizacional se desintegraria, sendo prejudicial à organização.

Para se ter melhor entendimento de contexto organizacional, avaliar apenas

os aspectos ou traços culturais da organização não é suficiente. É preciso avaliar

liderança, modelo de gestão, condições de mercado e planejamento da organização.

Na relação entre liderança e cultura Schein (2009) define

[...] liderança é a habilidade de ficar à margem da cultura que criou o lider e de iniciar os processos de mudança evolucionária que forem mais adaptativos. Essa capacidade de perceber as limitações da cultura própria de alguém e de desenvolver adaptativamente a cultura constitui a essência e o desafio final da liderança.

Se o líder não tem esse movimento, deixa de liderar, o que

consequentemente interferirá na rotina da organização, gerando a perda de valores

até então considerados importantes para a manutenção da organização. Schein

(2009, p. 34) ressalta:

[...] originalmente liderança é a fonte das crenças e valores que levam um grupo a lidar com seus problemas internos e externos. Se o que o

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27

líder propõe funciona e continua a funcionar, o que antes eram apenas suposições do líder, gradualmente passam a ser suposições compartilhadas.

Cultura e liderança estão tão interligadas que a separação entre ambas não é

viável. Shein (2009, p.10) afirma que “são dois lados de uma mesma moeda; nem

uma nem a outra podem, realmente, ser entendidas por si próprias”. Segundo

Schein (2009), o único aspecto da cultura apenas parcialmente influenciado pelo

comportamento do líder é o resultado complexo de um processo de aprendizagem

de grupo, pois o aprendizado depende significantemente do aprendiz.

Levando adiante o papel da liderança, identifica-se que o direcionamento que

dá à organização contribui para o fortalecimento dos laços culturais, sendo que,

quando se tem missão, visão e valores da organização definidos, há contribuição

significativa na formação, fortalecimento ou mudanças dos traços culturais. Ainda no

mesmo assunto, considera-se como um dos fortalecedores da cultura a forma como

a alta liderança direciona, acompanha e cobra suas equipes nas ações do dia a dia

e em outras atividades.

Segundo Pettigrew (2011, p.146), “no nível mais profundo a cultura é pensada

como um conjunto complexo de valores, crenças e pressupostos que definem os

modos pelos quais uma empresa conduz seus negócios”. A formação de cultura

organizacional está ligada ao perfil dos fundadores da organização. Entretanto, para

a cultura ser levada adiante, é indispensável que as pessoas que passarem a fazer

parte da organização de alguma forma partilhem valores e crenças dos fundadores,

pois somente assim contribuirão para o processo de consolidação e mutação da

cultura, conforme surgirem novas realidades. Berger e Luckmann (1985, p. 35)

afirmam: “A vida cotidiana apresenta-se como uma realidade interpretada pelos

homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um

mundo coerente”. Nas organizações, as situações apresentam-se como realidade

para quem as observa e são interpretadas de maneira subjetiva, de acordo com as

experiências vividas pelos funcionários, individualmente.

Segundo Berger e Luckmann (1985, p. 47),

[...] nenhuma outra forma de relacionamento social pode reproduzir a plenitude de sintomas da subjetividade presentes na situação face a face. Somente aqui a subjetividade do outro é expressivamente próxima. Todas

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as outras formas de relacionamento com o outro são, em graus variáveis, remotas.

Analisando a partir dessa afirmação e considerando o número de horas que

as pessoas passam diariamente dentro das organizações, nota-se que a

subjetividade está mais presente do que se assume, o que interferiria de maneira

relevante na tomada de decisões.

A cultura organizacional é composta por conhecimentos, objetivos e

subjetivos, que, ao lado de outros fatores ligados ao ambiente a tornam dinâmica,

ora influenciando, ora sendo influenciada. Berger e Luckmann (1985, p. 120),

descrevendo situação semelhante, analisam:

[...] a relação entre o conhecimento e sua base social é dialética, isto é, o conhecimento é um produto social e [...] um fator na transformação social [...] O crescente número de complexidade dos subuniversos faz com que [eles] se tornem cada vez mais inacessíveis aos estranhos.

Entende-se que a relação é de múltipla interferência, assim como na cultura

organizacional, em que o indivíduo influencia e é influenciado pelo meio. Aos recém-

chegados entender a complexidade da cultura organizacional inicialmente é difícil,

pois ainda nem todos os aspectos lhes são familiares.

Berger e Luckmann (1985) tratam de socialização primária e socialização

secundária. Segundo eles, a primária é carregada de emoções e tem como grande

propulsor o desenvolvimento da linguagem, sendo que pais, familiares e amigos

próximos são os elementos-chave. Na secundária a carga emocional é menor, se

comparada à primeira, e nessa socialização os elementos de ordem mais técnica

são mais importantes. A cultura organizacional se dá com base na socialização

secundária, e se o ambiente organizacional não a favorecer haveria problemas que

se refletirão no clima organizacional.

Quando o fundador inicia uma organização, seus valores, crenças, objetivos e

cultura apreendidos em sua vida nortearão o novo projeto, contribuindo com a

circunscrição dos traços culturais da organização. Essa cultura consequentemente

será compartilhada com as pessoas que fizerem parte da organização. Para isso

acontecer, é imprescindível que ambos, fundador e contratado, estejam dispostos a

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iniciar a nova etapa, comunicando crenças, ajustando gradualmente os aspectos

passíveis de ajustes a curto ou médio prazo (SCHEIN, 2009).

Bertero (2011) acrescenta:

[...] Na fase inicial de uma empresa, o fundador, indivíduo ou grupo formam a cultura organizacional, moldando-a um pouco à sua própria imagem e semelhança. As atitudes do fundador, comportamento, sua visão de mundo, da natureza humana e do próprio negócio, acabam por ir moldando a organização e vão lenta e gradativamente se impondo, como valores e crenças. O poder do fundador se faz sentir desde o início nos processos de recrutamento e seleção, tomados aqui em sentido amplo. O fundador escolherá as pessoas afins com seus valores, visão de negócio, ou pelo menos buscará pessoas moldáveis e adaptáveis ao que julga ser a postura organizacional conveniente e adequada [grifo do autor].

Na verdade, desde o começo da organização, o fundador é o responsável por

direcionar o caminho por onde quer que ela transite; é ele quem deve dar o

comando do que automaticamente configurará para o início do estabelecimento das

crenças da organização, invariavelmente vinculadas às suas crenças. Com o passar

do tempo, será ampliada para os demais membros.

Bertero (2011) sugere que se requer do empresário a capacidade de

possibilitar que outras pessoas, ao longo do tempo, contribuam com sua

organização, sendo que essa ação resultará em mudanças de traços na cultura

conforme se afirmou anteriormente. O processo não significa que o fundador deixou

de ser útil, mas que a partir do momento em que pessoas até então “estranhas” à

organização deixam de ser “estranhas”, elas contribuirão para a perenidade do

negócio.

Não obstante a ansiedade que cerca as pessoas envolvidas em quaisquer

organizações quando se aborda o tema mudanças, cultura organizacional, crenças e

valores, identifica-se que a cultura organizacional muda constantemente. A cultura

não é estática, mas dinâmica. Logo, as pessoas que direcionam as mudanças

precisam identificar qual o ritmo adequado às mesmas, levando em consideração

que não há modelo padrão. Cada realidade é única, portanto, deve ser avaliada para

possibilitar a saída mais adequada.

Maanem (2011, p.47) afirma que “alguma socialização sempre ocorrerá

quando uma pessoa se movimentar no interior da organização e passar a assumir

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um novo papel”. Portanto, as mudanças na cultura organizacional acontecem com

maior intensidade do que talvez se supõe, mesmo que em menor grau. Os casos de

mudanças constatadas rapidamente não são frequentes; em alguns, quando se

percebe, é porque as mudanças caminham em rumo não planejado.

Nos casos de novas admissões, o recém-contratado, ao chegar à

organização, é rapidamente identificado, e nos primeiros dias passará por uma fase

de adaptação na qual terá de assimilar a enxurrada de informações e percepções do

clima organizacional. Mas a cultura somente será assimilada com o passar do

tempo. Ao longo dos anos, se identificará se houve aderência do admitido à

empresa e vice-versa. Maanem (2011, p.49) afirma que “é provável que uma pessoa

que se submeta à socialização formal se sinta isolada, separada e proibida de

assumir relacionamentos sociais cotidianos com seus superiores mais

experimentados”. E na permanência do sentimento, é pequena a possibilidade de

integração da pessoa à cultura da organização.

Considerando que a cultura organizacional é concebida, vivida e moldada

pelas crenças, valores e atitudes das pessoas, nota-se que o turnover, saída de

funcionários da organização, possibilita o enfraquecimento da cultura organizacional

oriunda dos fundadores, pois os profissionais que não permanecem na organização

não internalizam a cultura, dificultando a perpetuação dos valores. Por outro lado,

Shein (2009, p. 13) ressalta:

[...] a cultura sobrevive mesmo quando alguns membros deixam a organização. A cultura é difícil de ser mudada, porque os membros do grupo valorizam a estabilidade no que ela fornece de significado e previsibilidade.

Outra questão não menos importante a ser considerada na cultura

organizacional são os círculos de poder presentes na organização. Fischer (2011, p.

65) frisa que “pertencem a este universo difuso, mas extremamente importante de

ser conhecido, as dúvidas e indagações referentes às relações existentes entre a

cultura e o poder nas organizações”. Os círculos de poder fazem parte desse

contexto e não podem ser desconsiderados. Como exemplo, o papel dos fundadores

com as pessoas diretamente ligadas a ele, fator que não deve ser desconsiderado

ao se abordar o tema cultura organizacional.

Fischer (2011) ainda afirma:

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[...] não se pode tratar a resistência à mudança como uma questão genérica, um empecilho a mais nos projetos de desenvolvimento organizacional; porque se as premissas básicas de cultura da organização permanecem válidas, ou suficientemente internalizadas, mesmo as propostas de indiscutível qualidade técnica e de prioridade estratégica não se viabilizam.

A afirmação mostra o poder que tem a cultura organizacional, sua

importância, e que os círculos de poder devem ser sempre lembrados como

facilitadores ou dificultadores nos processos de mudança cultural.

De acordo com Fleury (2011), um dos agentes da cultura organizacional é a

figura do herói. “[...] das estórias sobre os atos de coragem nascem os heróis, que

personificam os valores e proveem modelos de comportamentos para os demais”

(FLEURY, 2011, p.120).

No contexto organizacional, o herói é aquele que em algum momento da

história da empresa atuou de maneira exemplar e conseguiu reverter situação

avaliada como comprometedora. Ao longo do tempo, o acontecimento tende a se

perpetuar, criando essa figura.

Por último, sobre a administração da cultura organizacional, Pettigrew (2011)

afirma que a cultura das organizações é administrável, mas destaca que o

gerenciamento seria possível com extrema dificuldade, frequentemente se iniciando

com mudanças estratégicas na organização.

Sobre a dificuldade no gerenciamento da cultura organizacional, Schein

(2003) analisa:

[...] o que ocorre nas organizações é muito fácil de observar; por exemplo, fracassos de liderança, miopia de marketing, arrogância baseada em sucessos passados etc.; mas, no esforço de entender por que tais coisas ocorrem, a cultura como conceito é apropriadamente reconhecida.

Pettigrew (2011) destaca alguns fatores, resumidos no Quadro 1, como os

mais importantes de se reconhecer como problemas ligados à cultura que afetam as

organizações no cotidiano.

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Quadro 01 – Dificuldades no gerenciamento da cultura Problema Descrição

Problema dos níveis Relaciona-se ao fato de que a cultura organizacional existe em uma variedade de níveis diferentes na empresa.

Problema da infiltração

A cultura não é apenas profunda, mas também extensa, alcançando os pontos de vista, as estruturas, os sistemas, a missão da empresa, as formas de recrutamento, a socialização e o sistema de recompensa.

Problema do implícito Muito da cultura organizacional é aceito implicitamente. Raramente emerge para discussão explícita.

Problema do impresso São as raízes históricas profundas de grande parte da cultura organizacional.

Problema do político Refere-se às conexões entre a cultura organizacional e a distribuição de poder na empresa.

Problema da pluralidade São as subculturas que de alguma forma apresentam crenças e valores com algumas diferenças.

Problema da interdependência A cultura está interconectada não apenas à política da empresa, mas à estrutura, aos sistemas, às pessoas e às prioridades.

Fonte: elaborado com base em Pettigrew (2011)

Quando os fatores apresentados no Quadro 01 são compreendidos, as

possibilidades de se trabalhar a cultura organizacional passam a ser mais coerentes

com as estratégias definidas pela organização.

A partir do entendimento da cultura organizacional e sua dinâmica no contexto

organizacional, explicita-se a necessidade de atenção ao tema como imperativo aos

processos de transformação organizacional, em destaque aqueles decorrentes de

fusões e aquisições.

2.4 Fusões e aquisições

O crescente aumento das operações de fusões e aquisições em empresas de

diferentes tamanhos e países causa “profundas mudanças, alterando os padrões de

gestão, produção e emprego no mundo todo” (BARROS; SOUZA; STEUER, 2003, p.

17).

De acordo com as autoras Barros, Souza e Steuer (2003), o fenômeno tende

a continuar, pois os processos de fusão e aquisição respondem a necessidades de

manutenção das empresas no atual cenário competitivo.

De acordo com Gitman (2006), as fusões acontecem principalmente com o

objetivo de maximizar os lucros organizacionais, aumentando o valor da empresa no

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mercado. Como objetivos secundários, o autor cita intenções tecnológicas, aumento

de liquidez e maior participação de mercado, motivos igualmente encontrados nos

estudos de Rourke (1992).

Evans, Pucik e Barsoux (2002) citam motivos como domínio de mercado,

expansão geográfica, aquisição ou alavancagem de competências, aquisição de

recursos, ajuste ao mercado competidor e desejo irracional de executivos.

Cartwright e Cooper (1999) relacionam duas razões lógicas para as

combinações estratégicas entre as empresas. Uma se relaciona à maximização de

valor da empresa e a outra a motivações do corpo diretivo, de tal forma que ambas,

em última análise, teriam como objetivo principal o aumento de valor da empresa,

pois seria a motivação maior do corpo diretivo da organização.

Sterger (1999), por sua vez, consolida os diversos motivos citados pelos

demais autores para fusões e aquisições entre empresas em dois grupos: tradicional

e transformacional. Os motivos tradicionais se relacionam à consolidação e à

expansão do mercado, ainda dentro do mesmo setor de atividade, visando, por

exemplo, ao aumento de share of wallet1. Os motivos transformacionais se

relacionam ao desenvolvimento de novo portfólio, novo modelo de negócios ou

mudança radical de patamar.

O tema ganha importância no Brasil desde a década de 90, pois as barreiras

de entrada ao capital estrangeiro foram reduzidas e o país passou a se inserir com

maior intensidade no mercado global (BARROS; SOUZA; STEUER, 2003).

Buscando maior objetividade no estudo proposto, resumem-se as possíveis

combinações estratégicas entre empresas por meio das palavras “fusões” e

“aquisições”, mas é possível sumarizar diferentes tipos de combinações por meio do

Quadro 2.

1 O aumento de share of wallet se relaciona ao aumento da participação dos clientes na compra de produtos. O conceito vai além do conceito de market share, que busca entender a participação que a empresa tem no mercado (SOUZA e SERRENTINO, 2002). De acordo com os estudos de Souza e Serrentino (2002), os processos de fusão e aquisição, principalmente no varejo brasileiro, visam ao crescimento de share of wallet para a maximização do valor da empresa.

Page 37: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

34

Vale ressaltar que, de acordo com Evans, Pucik e Barsoux (2002), a maioria

das fusões revela-se, na prática, como aquisições após a assinatura dos acordos de

associação. A designação de fusão atende, no primeiro momento, às exigências do

mercado e dos órgãos regulatórios, como a Comissão de Valores Mobiliários, além

de ser mais conveniente aos adquiridos, que veem caráter depreciativo na ideia de

venda. No entanto, o grande impacto sobre a gestão das pessoas depende do jogo

de poder entre as empresas e da estratégia de integração adotada, que determinam

o novo perfil e o novo modelo de gestão das companhias.

Quadro 2 – Referências conceituais para as possíveis combinações estratégicas entre as empresas

Tipologia Descrição

Aliança (Estratégica)

Associação entre duas ou mais empresas que empenham recursos comuns para juntamente desenvolver uma nova atividade. O termo parceria pode ser empregado quando esse esforço cooperativo não envolver concorrentes, mas fornecedores ou clientes, na lógica da cadeia de valor da empresa.

Joint Venture

Associação de empresas para o desenvolvimento e a execução de projetos específicos. As empresas criam nova empresa, formalmente separada das demais, com governança, força de trabalho, procedimentos e cultura própria.

Consórcio Grupo de empresas formado para a aquisição de outra empresa, para a execução de uma obra ou financiamento de projeto de grande envergadura.

Contrato de longa duração Acordo, pacto ou convenção entre empresas para a execução de atividade comum.

Fusão

União de duas ou mais companhias, envolvendo uma completa combinação de duas ou mais empresas, que deixam de existir legalmente para formar uma terceira, com nova identidade, teoricamente sem predominância de nenhuma das empresas anteriores, mas, na prática, geralmente sob controle administrativo da maior ou mais próspera.

Aquisição Compra de controle acionário de uma empresa por outra, determinando o desaparecimento legal da empresa comprada.

Fonte: adaptado de Rossetti (2001) e Barros, Souza e Steuer (2003).

Divide-se um processo de fusão ou aquisição em três etapas: due diligence,

negociação e integração (BARROS, 2001a).

A due dilligence refere-se à fase na qual são feitos levantamentos e análises

sistematizadas sobre a empresa a ser adquirida. O mais frequente, de acordo com

Marks e Mirvis (1998), é analisar aspectos objetivos do negócio, principalmente as

implicações financeiras, para ajudar na definição do preço a ser pago.

Page 38: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

35

Barros, Souza e Steuer (2003, p. 25) defendem que a presença de equipes

multidisciplinares na due diligence, incluindo equipes de Recursos Humanos,

“possibilita uma visão mais estratégica de todas as competências da empresa,

evitando que as pessoas se deixem seduzir pelas possibilidades de sinergia que, na

maioria das vezes, não se concretizam”. Entretanto, Evans, Pucik e Barsoux (2002)

afirmam que a área de RH está envolvida em apenas 25% do planejamento das

operações de fusão e aquisição de empresas, segundo pesquisas nos Estados

Unidos e Europa. O envolvimento da área de Recursos Humanos na etapa de

negociação é sensivelmente maior (aproximadamente 80% das operações), o que

revela atuação de RH centrada em diferenças culturais e sinergias de gestão de

pessoas apenas depois que a compra foi efetivada.

Na etapa de negociação, os estudos de caso apresentados por Barros, Souza

e Steuer (2003) não revelam padrão de comportamento das empresas, mas a

possibilidade de haver operação extremamente profissionalizada e operação mais

personalizada, conduzida com frequência por profissionais sem a experiência

adequada.

Rourke (1992) afirma que a última etapa do processo, a integração, sofre de

pouco planejamento e atenção por parte dos adquirentes, que geralmente não dão a

importância devida ao fato de que o encontro de culturas organizacionais distintas

impacta na gestão da nova organização.

Marks (1994) enfatiza a importância da maneira que nos atentamos para

essas etapas do processo de fusão e aquisição, afirmando que líderes

organizacionais devem notar que a maneira pela qual algumas organizações se

transformaram, principalmente durante o início da década de 90, “sufocou a

motivação dos funcionários, prejudicou o desempenho das equipes e danificou a

eficácia organizacional” (MARKS, 1994, p. 14, tradução do autor).

Marks (1994) ressalta a importância da atitude da alta liderança nos

processos de transição para um novo modelo (decorrente de fusão ou aquisição).

Um presidente com a combinação correta das habilidades de liderança carismática e visionária pode mobilizar os funcionários para a ideia de que a transição não é simplesmente uma resposta necessária às realidades do negócio, mas uma oportunidade proativa de melhorar como o trabalho é

Page 39: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

36

abordado e conduzido na organização. Um processo [desse] [...] tem o potencial de descongelar a organização e seu pessoal, provendo uma chance rara de mudar drasticamente a cultura organizacional e reforçar uma nova maneira de fazer as coisas. [...] Os resultados podem incluir a adoção de novos comportamentos e atitudes em trabalho em equipe para sustentar aprimoramentos em trabalhos inovativos e um comprometimento sincero com a qualidade (MARKS, 1994, p. 15, tradução do autor).

Marks (1994) menciona que a aquisição seria um ponto de inflexão no

contrato psicológico até então relativamente estável entre a empresa e seus

colaboradores. O caso da empresa Majestic é exemplo em que “após três grandes

reorganizações em quatro anos, os colaboradores viam-se desgastados em

decorrência da extensão e ritmo da mudança na organização” (MARKS, 1994, p. 21,

tradução deste autor).

Sendo tão importantes a forma em que se atua nesses processos e o aspecto

cultural envolvido, o segredo estaria em como fazer com que as diferenças culturais

contribuam com mais intensidade como agentes enriquecedores que agregam valor

ao negócio e menos como agentes dificultadores do próprio processo de fusão ou

aquisição (BARROS, 2001a).

De acordo com Barros (2001a, p. 133), “é necessário identificar qual grau de

aculturação será o do processo em questão, uma vez que ela pode ocorrer em três

diferentes níveis”.

No primeiro nível, intitulado de assimilação cultural, uma empresa claramente

absorve a outra. No caso, a combinação produtiva acontece, pelo menos em

algumas oportunidades, se as empresas estiverem cientes do processo que

passarão e desenvolverem um acordo mínimo em torno dele (BARROS, 2001a).

No segundo nível, o de mescla cultural, as empresas reúnem as culturas de

forma equilibrada. É natural que, após a operação, a direção da empresa tenha

urgências diferentes de integrar as culturas de áreas, promovendo ritmo e

velocidade diferentes no processo de integração. Se bem utilizado, o segundo nível

de aculturação permitiria o uso de benchmarkings internos no processo de

comunicação, usando como exemplo áreas que tiveram processos de integração

mais avançados (BARROS, 2001a).

Page 40: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

37

No terceiro nível, o da pluralidade cultural, diferentes culturas passam a

coexistir. Vale ressaltar:

atuar no mundo dos negócios e com o management significa ter competência para lidar com ambiguidades e gerenciar paradoxos. A ambiguidade pode ser entendida pela necessidade de se analisar criticamente a situação de cada operação e de se conhecer suficientemente as condições para se encontrar a melhor resposta para determinada situação (BARROS, 2001a, p. 134).

Por isso não há nível de aculturação correto, mas respostas corretas para

determinadas situações.

Quanto ao envolvimento da área de recursos humanos, como Barros, Souza

e Steuer (2003), Thomson (1999) propõe em seu estudo, intitulado “due diligence

cultural”, que ao buscar aspectos financeiros da negociação, é igualmente

importante examinar a maneira como cada organização se comporta, para avaliar

se, dado o momento em que as empresas se juntam, as diferenças culturais não

diminuem ou negam o valor do acordo. Thomson (1999) afirma que a maioria dos

administradores utiliza a palavra sinergia querendo dizer sobre “a habilidade de se

remover custos por meio da eliminação de duplicações, mas na verdade ela significa

organizar dois grupos de maneira que eles possam, juntos, produzir e desenvolver

capacidades que eles nunca poderiam ter desenvolvido sozinhos” (THOMSON,

1999, p. 403).

Tudo isso, de acordo com Thomson (1999), representa oportunidade para o

diálogo. Se esse diálogo tratar da nova identidade, do controle e dos planos de ação

promoveria a aculturação, como proposta por Barros (2001a), de forma mais natural

e participativa.

Page 41: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

38

3 METODOLOGIA

O objetivo deste estudo foi compreender como diversos modelos de gestão

de pessoas coexistem nas empresas após mudanças organizacionais provocadas

por iniciativas recentes de novos negócios, fusões e aquisições. Para tanto, realizou-

se em um grupo varejista estudo com abordagem qualitativa, quando “o interesse

está em verificar como determinado fenômeno se manifesta nas atividades,

procedimentos e interações diárias” desse determinado grupo (GODOY, 1995, p.

63).

A unidade de estudo selecionada foi o grupo econômico de empresas G2,

composto por um conjunto de unidades de negócio do qual foram selecionadas

cinco para pesquisa exploratória. Como as diferentes unidades de negócios

selecionadas foram constituídas ou adquiridas em momentos diferentes, e a

composição acionária do Grupo G para com elas é diversificada (em alguns casos o

grupo detém maior controle sobre a unidade de negócio, em outros menos), a

pesquisa exploratória buscou a conexão entre as diversas variáveis que compõem

os modelos de gestão de pessoas coexistentes no grupo (RICHARDSON et al.,

2007).

As variáveis foram analisadas por meio de estudo qualitativo para buscar a

compreensão do significado que os colaboradores de gestão de pessoas constroem

sobre as experiências vividas nesses modelos (Merriam, 2002).

Denominaram-se neste estudo as unidades de negócio selecionadas como

N1, N2, N3, N4 e N5. Embora a organização G seja composta por diversas unidades

de negócios de composição acionária diferentes, decorrentes de processos de fusão

e contratos de associação heterogêneos, G possui uma Vice-Presidência de

Recursos Humanos responsável por todas as unidades de negócio. Cada uma das

unidades de negócio possui um responsável pela área de Recursos Humanos, que

em alguns casos tem a nomenclatura de cargo de gerente e em outros de diretor. Os

responsáveis pela área de RH de N1, N2, N3, N4 e N5 foram os sujeitos da

pesquisa, aqui denominados RH1, RH2, RH3, RH4 E RH5. 2 Nome fictício.

Page 42: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

39

Buscou-se identificar com este estudo os padrões recorrentes, os aspectos e

as principais características dos modelos de gestão de pessoas dessas unidades,

observando e comparando os papéis e posturas adotados pela liderança de RH nos

negócios e expressando as informações por meio de relato descritivo com base no

referencial teórico abordado neste trabalho.

Para a coleta de dados, utilizou-se a técnica de entrevistas semiestruturadas

(Apêndice A), de maneira a obter informações que não podem ser encontradas em

registros ou fontes documentais, pois o objetivo do estudo é compreender como o

fenômeno se manifesta nas atividades, procedimentos e interações do cotidiano do

trabalho (DENCKER; VIÁ, 2001).

As entrevistas semiestruturadas referem-se a técnica com perguntas abertas,

de maneira a permitir certa flexibilidade ao entrevistado para que pontos peculiares

de gestão de pessoas nos diversos negócios sejam percebidos pelo entrevistador.

Esse tipo de entrevista costuma ser utilizado para que a situação de coleta de dados

pareça uma conversa na qual os envolvidos sintam-se confortáveis e ambientados

com a situação (FLICK, 2004).

A fim de complementar os dados obtidos nas entrevistas, foram aplicados

formulários (Apêndice B) formados por um conjunto de perguntas de múltipla

escolha, buscando compreender melhor as características dos modelos de gestão

de pessoas da unidade investigada. Os formulários foram aplicados ao final de cada

entrevista semiestruturada, ao mesmo entrevistado, ainda na presença do

entrevistador.

A elaboração do roteiro da entrevista (Apêndice A) e do formulário

complementar (Apêndice B) baseou-se essencialmente no referencial teórico sobre

modelos de gestão de pessoas e sobre o papel de Recursos Humanos nas

transformações organizacionais.

Todo o conteúdo das entrevistas foi transcrito na íntegra em texto digitado, com

as respostas compiladas em um único arquivo digital. Desse arquivo foram retirados

trechos e evidências que revelaram características importantes para a análise de

dados do estudo, os quais foram confrontados com a fundamentação teórica.

Page 43: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

40

De acordo com Collis e Hussey (2005), a filosofia de pesquisa qualitativa, por

eles nomeada fenomenológica, é usada para que se reflita sobre percepções para o

entendimento de atividades sociais; nesse caso, os modelos de gestão de pessoas

estabelecidos pelas relações humanas organizacionais. Em uma pesquisa dessa

natureza, não se busca a solução de um problema, mas a descoberta de maneiras

diferentes de gestão.

As entrevistas e a aplicação do formulário complementar permitiram a coleta e

análise de dados acerca da caracterização do grupo G e suas unidades de negócio

e da percepção dos gestores sobre os princípios, políticas e processos de gestão de

pessoas. Pôde-se ainda evidenciar características predominantes nos modelos e

papéis exercidos pelos profissionais de recursos humanos.

Page 44: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

41

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Nesta seção, os dados obtidos nas entrevistas e na aplicação dos formulários

de pesquisa foram apresentados com o enfoque exploratório, visando compreender

como os diversos modelos de gestão de pessoas coexistem na empresa após

mudanças organizacionais.

4.1 Caracterização do Grupo G e suas unidades de negócio

O Grupo G tem mais de 50 anos é um dos líderes no segmento de varejo no

Brasil, com atuação em diversos Estados e número de colaboradores que ultrapassa

20 mil. Sua atuação é sustentada por distintas unidades de negócio, que permitem

atender às necessidades de consumidores de diferentes regiões e classes

socioeconômicas.

A N1 é uma das maiores unidades de negócio do grupo G e foi criada a partir

de processo de fusão iniciado há mais de três anos. O contrato de associação do

Grupo com essa unidade de negócio estabelece regras de governança que prezam

pelo respeito à cultura anterior da unidade, que, assim como o grupo G, tem história

superior a 50 anos.

A unidade de negócio N2 foi estruturada há dois anos, após a fusão do grupo

G com a unidade de negócio N1. Não era de expertise de nenhum dos negócios do

grupo, mas se fortaleceu com a fusão do grupo com N1, pois esse movimento gerou

sinergias importantes nos processos de vendas que envolvem N2. Vale ressaltar

que a unidade N1 tem participação acionária relevante de N2. Entretanto, durante as

entrevistas de coleta de dados, não se nota influência de gestão de N1 sobre N2, a

não ser por meio de fóruns de governança corporativa.

A unidade de negócios N3 é caracterizada por três formatos de negócios

distintos, um deles estabelecido recentemente e dois deles estabelecidos há mais de

12 anos, por meio de aquisições e fusões. No momento da coleta de informações

observa-se que a estrutura de gestão de pessoas dessa unidade de negócio se

utiliza de recursos e ferramentas desenvolvidos pela unidade de negócio N4.

Page 45: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

42

A unidade de negócio N4 é caracterizada ainda por formatos de negócios

diferentes, nesse caso mais de cinco. Parte desses formatos expandiu-se por meio

de fusões e aquisições, ao longo dos diversos anos de história do grupo. A unidade

de negócio ainda é composta pelas primeiras iniciativas de negócio do grupo G, que

iniciaram-se há mais de 50 anos.

Por último, a unidade de negócio N5 foi estabelecida há cinco anos por meio

de fusão com o grupo G. Primeiramente, o controle acionário foi compartilhado entre

o grupo G e os fundadores de N5 antes da fusão, mas há dois anos o controle

acionário passou a ser integralmente do grupo G. A unidade trabalha com apenas

um formato de negócio e tem planos importantes de expansão para os próximos

anos.

4.2 Percepção sobre princípios de gestão de pessoas

Primeiramente, propõe-se analisar a percepção dos líderes de Recursos

Humanos sobre os princípios de gestão. De acordo com Fischer (2002), os

princípios de gestão estão relacionados à definição dos valores da organização e às

diretrizes estratégicas de gestão de pessoas.

Os líderes de todos os negócios sabem quais os valores da organização, mas

parte dos líderes questiona a real aplicabilidade dos valores às unidades de negócio.

O RH1 menciona que tem mais certeza dos valores do N1 do que dos valores

do grupo. Ressalta que há diretrizes estratégicas e valores compartilhados apenas

por meio do conselho de administração, ou seja, “não são diretrizes que

necessariamente contribuem para o sucesso do N1, mas que são impostas por

desejo do grupo G”.

Como a unidade de negócio N1 passou por mudanças recentes com relação

à governança corporativa, a proximidade de N1 com as diretrizes do grupo G se

intensificou. De acordo com RH1, o maior contato com outras práticas e diretrizes

que não eram comuns à N1 começou a modificar diretrizes, políticas e práticas de

RH.

Page 46: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

43

Fischer (2002) defende que a maior ou menor formalização de elementos de

gestão de pessoas na empresa dependem do grau de consciência que a empresa

tem de agir organizadamente sobre o comportamento humano no trabalho. No

discurso de RH1, quando se menciona que “a empresa não tinha a missão e os

valores definidos e divulgados e por isso iniciou um trabalho de construção”,

observa-se que a proximidade com o grupo G trouxe maior nível de consciência

sobre a necessidade, e que o processo de fusão acelerou a evolução do modelo de

gestão de pessoas de N1.

De acordo com RH1, não existe para N1 coparticipação na construção das

diretrizes de gestão de pessoas para o grupo G. O distanciamento entre o que se

acredita como diretrizes corporativas de G e o que se pratica em N1 gera a

necessidade de criação de diretrizes específicas para N1. Diretrizes que respondem

às reais exigências do negócio em termos de gestão de pessoas.

Quando questionado sobre a aplicabilidade dos valores definidos por G para

todos os negócios, a posição de RH1 é de que houve a divulgação de valores para

todos os negócios, mas que os valores foram apenas oficializados, não

institucionalizados em N1. A unidade N1 buscou definir e institucionalizar valores,

por meio de distinto programa formal de desenvolvimento. O outro programa

pretende tornar tangíveis alguns atributos para serem princípios norteadores de

comportamento, e que simplesmente não foram chamados de “valores”. Entretanto,

são atributos que na prática se relacionarão aos comportamentos esperados, e que

contribuirão para o alcance dos objetivos do negócio da unidade N1.

O RH4, em sua entrevista, apresenta elementos de valores organizacionais

de maneira bastante parecida com RH1. A unidade N4 admitiu ter diretrizes

específicas para que o comportamento esperado seja compreendido e praticado por

todos os níveis. Como se trata de negócio em expansão, com diferentes formatos, a

exigência de posicionamento diferente faz os perfis profissionais desejados e as

necessidades de gestão de pessoas serem diferentes dentro da mesma unidade de

negócio. Sendo assim, RH4 afirma que cria diretrizes específicas para os diferentes

formatos, e que o corporativo do grupo G não tem envolvimento na definição das

diretrizes.

Page 47: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

44

De acordo com Berger e Luckmann (1985), a cultura organizacional precisa

ser interiorizada, o que implica identificação pelos outros e autoidentificação. Por

isso, de acordo com Fleury e Sampaio (2002), em processos de fusão, a mesma

forma de administrar traz resultados diferentes nos diversos negócios. O que não

parece ser diferente no grupo G. Os modelos de gestão de pessoas nesse ambiente

mostram-se constituídos mais intensamente por elementos específicos do que por

elementos compartilhados.

No caso da unidade N1, o entrevistado apresenta evidências de que acredita

que a área de Recursos Humanos não tem a legitimidade e a penetração essenciais

ao negócio para o cumprimento pleno de seu papel. RH1 justifica o fato na

desconfiança dos dirigentes frente ao processo recente de mudança no controle

acionário, em que o grupo G passa a ter mais influência no negócio, e parte da área

de Recursos Humanos é oriunda de outros negócios e da corporação do grupo G.

No contexto, por mais que RH1 ainda entenda que há um conjunto de diretrizes

estratégicas compartilhadas pelo corporativo para todos os negócios, pouco acredita

na efetividade da aplicação dos princípios de gestão em sua unidade.

A posição do RH1 é de que, dado que o momento de cada um dos negócios

do grupo é bastante diferente, o nível de consciência dos negócios sobre as

necessidades de gestão de pessoas é igualmente diferente. Acredita que deveria ser

papel do corporativo de Recursos Humanos definir estratégias e diretrizes de gestão

de pessoas que respondessem às exigências específicas dos negócios. RH1 afirma

que na prática a área corporativa de Recursos Humanos desenha diretrizes lineares

que são oficializadas, mas, por não responderem aos anseios reais do momento,

são pouco institucionalizadas nos diversos negócios.

O RH2 não percebe ainda se os valores oficializados pelo grupo G são

aplicáveis à sua unidade de negócios. Entende-se que há busca de N2 para

absorver melhores práticas do grupo e dos demais negócios por meio das diretrizes

estratégicas de gestão de pessoas, compartilhadas para implementação nos

diversos negócios.

Em N2, as diretrizes não são vistas como imposições, termo mencionado pelo

RH1, mas como opções. O RH2 ressalta que construiu relação de parceria com o

Page 48: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

45

grupo G, embora por razões de governança corporativa e posição acionária pudesse

optar, assim como N1, em receber diretrizes somente por meio de caminhos formais

da governança, como os conselhos de administração.

RH2 ressalta que o relacionamento com o grupo G lhe permite avaliar o que

de fato tem sentido para a realidade do negócio e aplica, em seu tempo, programas

centrados nas diretrizes escolhidas e não impostas.

Ao comentar sobre as diretrizes estratégicas de gestão de pessoas, o RH2

afirma que o dinamismo dos negócios não permite a fixação de uma cultura única,

por isso há dificuldade em definir diretrizes lineares. As culturas dos negócios são

mais fortes do que uma cultura de grupo, por isso os programas devem ser

selecionados em resposta às realidades e não ao desejo corporativo.

A unidade N3, de acordo com RH3, é composta por subculturas muito

diferentes. Os diferentes formatos da unidade de negócio resultam em valores e

diretrizes corporativas aplicadas com certas adaptações.

O RH5 acredita e trabalha em favor dos valores e diretrizes de gestão de

gente do grupo G, mas relata a dificuldade de implementação dos valores e

diretrizes em sua unidade de negócio. A unidade N5, de acordo com o entrevistado,

é impactada pelo posicionamento de seus dirigentes, que não valorizam o fator

humano no estágio de transformação do negócio. Na teoria, Leo (1999) confirma

que quando a bagagem de desenvolvimento organizacional é vista como secundária

e menos importante, a área de Recursos Humanos tem, de fato, maior dificuldade

em atuar frente a processos de aprendizagem e transformação organizacional.

A unidade N5 passou recentemente por mudança de controle acionário. De

acordo com Blenko et. al. (2010), o valor das empresas se relaciona à soma das

decisões tomadas, sendo seus recursos responsáveis por decisões essenciais à

manutenção e competitividade do negócio. Fischer (2002) complementa que o

modelo de gestão de pessoas deve desenvolver e estimular as competências

humanas imprescindíveis para as competências organizacionais da empresa se

viabilizarem, gerando maior competitividade. No contexto, o RH5 entende que os

valores da organização e parte das diretrizes corporativas de desenvolvimento

Page 49: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

46

servem como direcionadores para o processo de transformação da liderança, o que

implicaria competências indispensáveis para o alcance da competitividade esperada

do negócio. O RH5 menciona durante a entrevista que tem ciência do que a

organização espera, a partir de sua atuação: consolidar nessa unidade a prática dos

valores e o desenho de programas baseados nas diretrizes do grupo G.

Ainda assim, o RH5 entende haver valores complementares e específicos a

N5, e diretrizes corporativas que não deveriam ser diretrizes por não serem

aplicáveis aos diversos negócios.

Como contraponto, RH4 mostra que, em sua opinião, as diretrizes são feitas

para serem “traduzidas” pelas áreas de Recursos Humanos. A responsabilidade

sobre as adaptações e sua efetividade se prende à unidade de negócio. Mais do que

avaliar se são aplicáveis, fala-se em entender as diretrizes como norteadores que

devem ser adaptados e aplicados em todos os negócios, sem restrições, apenas

levando-se em conta a realidade atual do negócio.

De acordo com Schein (2009), uma cultura integrada é aquela em que toda a

organização compartilha um único conjunto de suposições; uma cultura diferenciada

é uma organização em que subculturas poderosas discordam em certas questões

cruciais, e uma cultura fragmentada é a organização que tem subculturas muito

grandes e nenhum conjunto amplo de suposições compartilhadas. A partir das

entrevistas, observa-se que as diretrizes estratégicas do grupo não parecem ser

aceitas integralmente e compartilhadas entre os diversos negócios, indício de uma

cultura diferenciada. Ainda assim, o grupo G é claramente detentor de diretrizes

lineares conhecidas por todos os negócios, o que demonstra modelos de gestão de

pessoas convivendo em cultura não fragmentada, pois, de maneira geral, há

discussão sobre as diretrizes e sua aplicabilidade em cada um dos negócios.

Ao avaliar o grau de autonomia dos líderes de Recursos Humanos

contrapondo-o às possíveis vantagens de se ter mais alinhamentos estratégicos com

o grupo G, não há visão uniforme sobre vantagens e necessidade de maior ou

menor autonomia. Como mencionado por Thomson (1999) sobre esse aspecto, os

negócios deveriam estar direcionados à produção e ao desenvolvimento de

capacidades que talvez nunca fossem desenvolvidas isoladamente (antes da fusão,

Page 50: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

47

aquisição ou parceria). Entretanto, os negócios opinam de maneira bastante

divergente sobre as possíveis vantagens de sinergia e aprendizado compartilhado.

O RH1 menciona que, no momento de mudança vivido por N1, os

alinhamentos deveriam acontecer de forma muito mais intensa, pois atualmente as

decisões são tomadas pelo corpo diretivo do negócio, sem elementos suficientes

para a tomada de decisão sobre processos de gestão de pessoas. As decisões, se

compartilhadas, estariam direcionadas à evolução do modelo de gestão de pessoas

e não à preservação de modelo de gestão de pessoas que não condiz com as

práticas do grupo G.

De acordo com RH4, o grupo sempre viveu ciclos de maior ou menor

centralização de diretrizes estratégicas de gestão de pessoas, nos quais há distintas

exigências de alinhamentos. Atualmente, a unidade N4 não exige processos

estruturados, o que, de acordo com RH4, é premissa para maior descentralização e

autonomia da unidade de negócio frente às questões de Recursos Humanos.

Enquanto os processos não amadurecem, a unidade N4 depende da área

corporativa. Segundo RH4, não evolui a forma de trabalhar gestão de pessoas no

ambiente com diferentes subculturas, o que enfraquece a disseminação de

diretrizes, haja vista a falta de profundidade sobre as reais necessidades dos

negócios e o controle da efetividade de suas diretrizes e ações corporativas.

De acordo com Fischer (2002), a busca de padrão de desempenho e

comportamento no trabalho se intensifica à medida que os negócios se sofisticam. O

RH4 apresenta em seu discurso a exigência cada vez mais relevante de construir

competências para um padrão de comportamento coerente, que diferencie sua

unidade de negócio, resposta que não enxerga na corporação, e não entende que

há ganhos de aprendizado e sinergia com as aquisições e fusões que dividiram o

grupo em diversos negócios.

O RH5, ao comentar a questão, utiliza com grande frequência a expressão

“discernimento”. Entende-se que os alinhamentos são válidos, porém superficiais,

mas que cabe a cada líder de Recursos Humanos o discernimento sobre o que é

aplicável. No caso da unidade N5, o RH5 entende que as diretrizes servem de

exemplo para atuação diferenciada e que contribuem significativamente para, num

Page 51: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

48

processo longo de gestão da mudança, evoluir competências e capacidades que o

negócio não tinha antes da aquisição.

O RH3 apresenta elementos de interferência entre os negócios, afirmando

que, como os negócios têm dimensões e regras de governança corporativa

diferentes, há negócios com o modelo de gestão de pessoas nitidamente

enfraquecido pela corporação e por outros negócios. A unidade N3 utiliza serviços

de Recursos Humanos de outros negócios, como o N4, por exemplo. Por ter

estruturas mais enxutas de gestão de pessoas, o N3 entende que a exigência de

alinhamentos com a corporação e outros negócios reduz a autonomia além do nível

suficiente para os ganhos de sinergia e aprendizado entre a corporação e os

negócios.

O RH2, por sua vez, trata desse aspecto como fonte de aprendizado e

capacidades na corporação, entendendo os alinhamentos como necessários, mas

não como imprescindíveis para a evolução do modelo de gestão de pessoas da

unidade N2.

Observa-se que as diferenças de percepções entre os entrevistados, gestores

de gestão de pessoas, corroboram os autores Aidar, Brisola, Motta e Wood Jr.

(2009), pois esses autores afirmam que a criação de sinergias entre culturas

diversificadas é uma das maiores dificuldades que os líderes encontram. Segundo

os autores, há estudos que comprovam que o respeito à cultura onde se quer operar

é bom caminho para a conquista de vantagens competitivas.

4.3 Análise das políticas e processos de gestão de pessoas

Ao analisar os diversos modelos de gestão de pessoas por meio dos

elementos mais tangíveis propostos por Fischer (2002) – políticas e processos de

gestão de pessoas –, percebe-se configuração bastante diferente entre os negócios

do grupo G.

Primeiramente, os entrevistados foram questionados sobre a definição de

políticas relacionadas a um conjunto de processos de gestão de pessoas em sua

unidade de negócio, buscando entendimento sobre o quanto os líderes definem

Page 52: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

49

políticas e em quais processos é padrão a definição de políticas por parte dos

negócios.

Os resultados apresentados no Quadro 3 mostram que, com exceção do

tópico relacionado à capacitação, no qual todos os gestores veem-se definidores de

políticas, não houve nenhum padrão recorrente de resposta para os negócios. No

caso dos subsistemas de Comunicação Interna e Desenvolvimento, há a

predominância dos negócios como definidores de política. Nota-se, entretanto, nas

entrevistas, que o processo de Comunicação Interna não parece estar direcionado a

todas as unidades, o que força maior independência dessas unidades frente às

ações de comunicação. O mesmo vale para Desenvolvimento, mas há contraponto

com o processo de Relações Trabalhistas e Sindicais. No caso desse processo, os

gestores dos diversos negócios demonstram estar confortáveis com a maior

centralização das atividades, pois justificam não ter a expertise essencial para liderá-

lo descentralizadamente. Isso significa que a definição de políticas varia conforme o

comportamento de cada uma das unidades de negócios.

Quadro 3 – Definição de políticas de gestão de pessoas

Processos/Unidades N1 N2 N3 N4 N5 Cargos e Salários Sim Parcialmente Parcialmente Não Parcialmente

Estrutura Parcialmente Sim Parcialmente Parcialmente Sim

Relações Trabalhistas e Sind. Sim Não Não Não Não

Benefícios Sim Parcialmente Parcialmente Parcialmente Sim

Capacitação Sim Sim Sim Sim Sim

Avaliação de Desempenho Parcialmente Sim Não Sim Não

Desenvolvimento Sim Sim Parcialmente Sim Sim

Recrutamento e Seleção Sim Sim Não Parcialmente Sim

Medicina e Segurança Sim Parcialmente Não Parcialmente Não

Gestão do Clima Parcialmente Parcialmente Parcialmente Sim Sim

Comunicação Interna Sim Sim Parcialmente Sim Sim

Administração de Pessoal Sim Parcialmente Não Parcialmente Não

Quando se avaliam os negócios separadamente e se comparam os totais de

respostas “Sim” para a definição de políticas de Recursos Humanos, é possível

inferir sobre o grau individual de autonomia. Para tanto, calcula-se a média simples

para o negócio, avaliando-se percentualmente quanto cada um é definidor de

políticas para os processos apresentados, como mostra o Quadro 4.

Page 53: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

50

Quadro 4 – Definição de políticas x autonomia das unidades de negócios

    Processos      

Unida

des  d

e  Negócio  

Cargos  e  Salários  

Estrutura  

Relações  Traba

lhistas  e  Sind.  

Bene

fícios  

Capa

citação  

Avaliação  de

 Desem

penh

o  

Desenvolvimen

to  

Recrutam

ento  e  Seleção

 

Med

icina  e  Segurança  

Gestão  do

 Clim

a  Organ

izacion

al  

Comun

icação

 Interna  

Administração  de

 Pessoal  

PERC

ENTU

AL  DE  AU

TONOMIA  

N1   Sim   Parc   Sim   Sim   Sim   Parc   Sim   Sim   Sim   Parc   Sim   Sim   75%  N2   Parc   Sim   Não   Parc   Sim   Sim   Sim   Sim   Parc   Parc   Sim   Parc   50%  N3   Parc   Parc   Não   Parc   Sim   Não   Parc   Não   Não   Parc   Parc   Não   08%  N4   Não   Parc   Não   Parc   Sim   Sim   Sim   Parc   Parc   Sim   Sim   Parc   42%  N5   Parc   Sim   Não   Sim   Sim   Não   Sim   Sim   Não   Sim   Sim   Não   58%  

Neste levantamento, a unidade N1 parece ter mais autonomia na definição de

políticas de gestão de pessoas, com 75%, seguida da unidade N5, com 58%. A

unidade com menor autonomia é a N3, com 8%.

Como o contrato de associação do Grupo G com N1 estabelece regras de

governança que prezam pelo respeito à cultura anterior da unidade, que tem uma

história de mais de 50 anos, a maior autonomia na definição de políticas estaria

diretamente relacionada ao contrato de associação.

No caso de N5, como o controle acionário foi primeiramente compartilhado

entre o grupo G e os fundadores de N5 antes da fusão, a autonomia estaria

relacionada a esse momento, quando havia a criação de políticas específicas de

gestão de pessoas para a unidade. Aparentemente, após a mudança de controle, a

busca de sinergia não se intensificou o suficiente para o compartilhamento de mais

políticas de gestão de pessoas do Grupo G.

No caso de N3, o baixo nível de autonomia deve estar associado à

necessidade de a unidade utilizar-se de recursos e ferramentas desenvolvidos por

outra unidade de negócio, conforme mencionado na caracterização das unidades de

negócios.

Page 54: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

51

Com relação à gestão sobre os processos avaliados, não houve padrão

recorrente de resposta, como mostra o quadro 5. Significa que no grupo G as

unidades de negócios têm gestão sobre processos diferentes, independentemente

de serem definidores ou não de políticas relacionadas aos processos. Identificou-se

que os processos de cargos e salários, avaliação de desempenho e comunicação

interna não receberam nenhuma resposta negativa relacionada à gestão,

evidenciando que são os únicos três processos analisados sobre os quais todos os

negócios têm gestão total ou parcial.

Quadro 5 – Gestão sobre os processos de gestão de pessoas

Processos/Unidades N1 N2 N3 N4 N5

Cargos e Salários Sim Parcialmente Sim Sim Parcialmente

Estrutura Parcialmente Sim Não Parcialmente Sim

Relações Trabalhistas e Sind. Parcialmente Sim Não Parcialmente Não

Benefícios Parcialmente Parcialmente Não Parcialmente Sim

Capacitação Sim Sim Não Sim Sim

Avaliação de Desempenho Sim Parcialmente Sim Sim Parcialmente

Desenvolvimento Parcialmente Sim Não Parcialmente Sim

Recrutamento e Seleção Parcialmente Sim Não Parcialmente Não

Medicina e Segurança Parcialmente Parcialmente Não Parcialmente Sim

Gestão do Clima Sim Sim Não Sim Sim

Comunicação Interna Sim Parcialmente Sim Sim Parcialmente

Administração de Pessoal Parcialmente Sim Não Parcialmente Sim

O formulário complementar às entrevistas igualmente identificou o quanto os

líderes de Recursos Humanos sentem-se responsáveis pelos subsistemas de gestão

de pessoas nas diversas unidades de negócio, independentemente de definir

políticas e fazer a gestão sobre os processos. Na análise, detalhada no quadro 6, os

negócios apresentam padrão mais recorrente de respostas.

Ao analisar isoladamente os processos, observa-se que no mínimo quatro das

cinco unidades sentem-se responsabilizadas por cada um deles.

Frente à análise, percebe-se que ainda que os modelos de gestão de pessoas

presentes nos diversos negócios sejam distintos, há ideia clara difundida na

organização que as unidades de negócios são responsabilizadas pela maioria dos

processos.

Page 55: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

52

Quadro 6 – Responsabilização dos negócios

Processos/Unidades N1 N2 N3 N4 N5

Cargos e Salários Sim Sim Sim Sim Parcialmente

Estrutura Sim Sim Sim Sim Sim

Relações Trabalhistas e Sind. Sim Sim Não Sim Sim

Benefícios Sim Sim Sim Sim Sim

Capacitação Sim Sim Não Sim Sim

Avaliação de Desempenho Sim Sim Sim Sim Parcialmente

Desenvolvimento Sim Sim Sim Sim Sim

Recrutamento e Seleção Sim Sim Não Sim Sim

Medicina e Segurança Sim Sim Sim Sim Sim

Gestão do Clima Sim Sim Não Sim Sim

Comunicação Interna Sim Sim Sim Sim Parcialmente

Administração de Pessoal Sim Sim Sim Sim Sim

De acordo com Gil (1994), a determinação dos sistemas é arbitrária e as

fronteiras que se estabelecem entre eles apresentam sempre alguma

permeabilidade, fazendo com que elementos de um sistema em uma unidade de

negócio sejam classificados como integrantes de outro em unidade distinta. Por isso,

não se pode analisar com rigidez a posição dos negócios frente ao questionamento

sobre os processos de gestão de pessoas.

4.4 Características predominantes nos modelos e papéis exercidos pelos profissionais de recursos humanos

Segundo Silva e Vergara (2003), as mudanças organizacionais não podem

ser entendidas somente sob a ótica de estratégias, processos ou tecnologias. A

mudança deve ser vista sob a ótica do indivíduo e suas relações. É importante

analisar o papel dos diversos líderes responsáveis pelas áreas de Recursos

Humanos e o quanto entendem ser parte de seu papel trabalhar como agentes de

transformação nos negócios para uma cultura organizacional que sofre influências e

muda constantemente.

De acordo com RH1, a função do RH está ainda muito distante de influenciar

e agir nas transformações do negócio. O objetivo principal do RH1 está na formação

da liderança, pois acredita na importância de transformar os líderes para, por meio

Page 56: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

53

deles, transformar a cultura organizacional. Está ainda direcionado à organização e

divulgação de ferramentas e instrumentos de Recursos Humanos que não existiam

ou não eram claros, o que envolve, além de práticas remuneratórias, políticas de

treinamento e desenvolvimento.

De acordo com as definições de Fischer (2002), o modelo de gestão de

pessoas mais predominante na atuação sobre a gestão de pessoas de N1 é o

modelo como gestão do comportamento humano. Nesse modelo, apoiado na

psicologia, o ponto central de Recursos Humanos é apoiar a compreensão e a

intervenção na vida organizacional, por meio principalmente de treinamentos

gerenciais, estimulando o desenvolvimento de perfis gerenciais coerentes com o

desejado processo de gestão de pessoas. Observa-se com essa abordagem que a

unidade de negócios está mais centrada na efetividade econômica, técnica e

comportamental do negócio.

As definições de Ulrich (1997) indicam que o papel de Recursos Humanos de

RH1 tende a estar mais relacionado ao papel de eficiência administrativa quando os

profissionais de recursos humanos estão direcionados à construção de infraestrutura

eficiente na prestação de serviços transacionais de qualidade. Os planos e

programas de recursos humanos que estão em ação em N1, de acordo com RH1,

não são projetos de transformação de longo prazo, mas ainda estratégias de curto

prazo, para os serviços de Recursos Humanos se consolidarem.

Analogamente à N1, há, em N4 e N5, elementos bastante parecidos em seu

discurso, mostrando que o papel de recursos humanos em N4 e N5 ainda está mais

preocupado em garantir serviços de RH com qualidade para os diferentes formatos

de negócio que compõem sua unidade de negócio. A preparação da liderança é

igualmente colocada como objetivo, menos como preparação para grandes

transformações, mas ainda relacionada à qualidade técnica e comportamental

esperada pelo negócio. De acordo com a teoria de Fischer (2002), os modelos de

gestão de pessoas teriam a mesma predominância que N1, gestão do

comportamento humano, e a mesma predominância de papel de eficiência

administrativa, teorizado por Ulrich (1997).

Page 57: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

54

RH3 mostra em seu discurso elementos relacionados ao papel de eficiência

administrativa, ao dizer que “embora seja necessária a aproximação à estratégia da

organização, ainda atuo muito mais no operacional”. Porém, enfatiza que os

programas buscados devem satisfazer as necessidades dos colaboradores e de

quem trabalha em prover os colaboradores com mais recursos para terem satisfeito

o básico das necessidades. O papel de direcionar com maior intensidade nos

colaboradores do que nos processos de gestão de pessoas, ainda no curto prazo,

não está relacionado, segundo Ulrich (1997), ao papel mais estratégico ou

transformacional de recursos humanos, mas ao papel de gestor da contribuição dos

empregados, defendendo-os e posicionando-se de forma a responder às

necessidades.

O RH2 julga que está atuando para a criação de políticas e práticas de

Recursos Humanos que não existiam e são essenciais. Segundo RH2, os planos

atuais estão construídos para o negócio migrar de uma fusão malfeita, com escasso

olhar para as mudanças organizacionais da ótica do indivíduo, para área de

Recursos Humanos mais estratégica. No discurso de RH2, há entendimento de que

o modelo migra do departamento pessoal para modelo diferenciado. De acordo com

a abordagem de Fischer (2002), um modelo de gestão de pessoas articulado como

departamento pessoal concentra-se basicamente na produtividade, recompensa e

eficiência de custos. De acordo com o RH2, depois da fusão, a unidade de negócio

encontrava-se apenas com as tarefas básicas de recursos humanos, como folha de

pagamento e rotinas administrativas, corroborando o termo departamento pessoal

da teoria de Fischer.

Atualmente, segundo RH2, grande parte do tempo ainda é investido em

treinamentos de líderes e processos de recrutamento e seleção, mas existem planos

estruturados para parcerias estratégicas com universidades para atração de talentos

e para desenvolvimento de competências. Existe a nítida ambição de migrar a

atuação de recursos humanos para algo que responda às estratégias da

organização. De acordo com Fischer (2002), o modelo estratégico de gestão de

pessoas introduz a exigência de vincular a atuação de recursos humanos às

estratégias da organização, intensificando os esforços de adaptação do modelo às

reais necessidades do negócio.

Page 58: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

55

De acordo com Ulrich (1997), o papel de gestão estratégica de recursos

humanos está relacionado ao objetivo de longo prazo, com olhar mais intensamente

processual sobre o alinhamento das ações de recursos humanos à estratégia do

negócio, aproximando o RH das tomadas de decisão. A proximidade das tomadas

de decisão aparece no discurso de RH2, quando afirma que “hoje a atuação ainda

não é nada estratégica, mas temos buscado oportunidades de adquirir know-how

para contribuir com as decisões do negócio que impactam as pessoas” (RH2).

Percebe-se que ainda existe espaço de evolução dos modelos de gestão de

pessoas do grupo G para modelos mais articulados em competências. De acordo

com Fischer (2002), um modelo competitivo se relaciona ao desenvolvimento e

estímulo das competências humanas imprescindíveis para as competências

organizacionais se viabilizarem, gerando maior competitividade aos negócios.

Entretanto, embora Ulrich (1997) defenda que o papel de transformação e da

mudança organizacional mais atento à competitividade seja elemento-chave para os

profissionais de Recursos Humanos, Mendonça Júnior et. al. (2010) afirmam que

poucos profissionais foram além dos papéis de eficiência administrativa e de gestor

da contribuição dos empregados, o que não parece ser diferente para o grupo G.

O Quadro 7 sumariza os modelos predominantes e os papéis exercidos pelos

líderes de RH das diferentes unidades de negócios.

Quadro 7 – Predominância dos modelos de gestão de pessoas e papéis de Recursos Humanos

Unidade  de  Negócio   Modelo  Predominante  (Fischer)   Papel  de  RH  (Ulrich)  

N1   Gestão  do  Comportamento  Humano   Eficiência  Administrativa  

N2   Modelo  Estratégico  de  Recursos  Humanos   Gestão  Estratégica  de  Recursos  Humanos  

N3   -­‐   Gestor  da  Contribuição  dos  Empregados  

N4   Gestão  do  Comportamento  Humano   Eficiência  Administrativa  

N5   Gestão  do  Comportamento  Humano   Eficiência  Administrativa  

Observa-se nas entrevistas que os modelos atendem a realidades

momentâneas das unidades de negócio e que o cenário dos modelos de gestão de

pessoas evoluiria com o crescimento das unidades.

Page 59: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

56

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho possibilitou análise inicial sobre os diversos modelos de gestão de

pessoas nas unidades de negócios do grupo G, que se consolidou por meio de

diversos processos de fusão e aquisição, e que se organizou de forma diferente para

gerenciar relações e comportamento humano nos diversos negócios.

Conclui-se que são distintos os papéis exercidos pelas equipes de gestão de

pessoas dentro da mesma organização, ainda que diretrizes estratégicas sejam

compartilhadas entre todos os negócios. Como os negócios do grupo estão em

estágios diferentes de desenvolvimento e possuem culturas distintas, os modelos de

gestão de pessoas adotados dão respostas diferentes a esses momentos dos

negócios. Sendo assim, a “tradução” das diretrizes estratégicas depende de diversos

fatores além da governança corporativa, por isso se configura de forma singular em

cada um dos negócios.

No entanto, entende-se que a capacidade de compreender a diversidade de

modelos e de atuar nesse ambiente de grande ambiguidade tornou-se competência

fundamental para os profissionais de Recursos Humanos de grupos dinâmicos em

ambiente de fusão e aquisição, pois não existem manuais nas organizações que

explicam as diferenças entre modelos de gestão de pessoas nos diversos negócios.

Como nos ambientes dinâmicos torna-se difícil distinguir condição transitória

de condição definitiva, conclui-se ainda que a consciência sobre a necessidade de

atuar em modelos de gestão de pessoas distintos e paralelamente ativos parece ser

mais importante do que a formalização de princípios, políticas e processos comuns

entre os modelos. No processo de coleta de dados, por meio das entrevistas,

percebe-se que os entrevistados, embora responsáveis pelas estratégias de

Recursos Humanos das unidades de negócios, pouco pensaram sobre as diferenças

de diretrizes e de processos e pouco formalizaram as diferenças, mesmo quando

insatisfeitos por depender de outros negócios ou áreas para a atuação plena de

Recursos Humanos.

Page 60: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

57

Fischer (2002) menciona que os níveis de consciência sobre a importância de

agir organizadamente sobre o comportamento humano variam de negócio para

negócio, mas seriam influenciados pela atitude do líder de gestão de pessoas. A

influência dos líderes seria considerada limitação do estudo, pois no mesmo grupo

analisado existem, frente a seus negócios, líderes de gestão de pessoas com

experiências, senioridade e perfis profissionais aparentemente muito diferentes, o

que pode levar a posicionamentos e tomadas de decisão heterogêneas. A diferença

de posicionamento estaria refletida nas entrevistas, distorcendo análise mais pura

sobre a atuação de recursos humanos e os modelos de gestão de pessoas.

Como sugestões futuras, estudos abrangendo outros grupos formados por

diversas unidades de negócio em transformação e com mais sujeitos selecionados

dariam continuidade a este, buscando evidências sobre a percepção de outras áreas

de negócio sobre os modelos de gestão de pessoas.

Page 61: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

58

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Page 65: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

62

APÊNDICES

Apêndice A – Roteiro de entrevista semiestruturada

1. Você tem clareza sobre os valores da organização?

2. Você tem um papel que contribui de alguma forma para reforçar esses valores

em sua unidade de negócio, ou você vê isso muito mais como uma função

corporativa?

3. Você entende que os valores da empresa são aplicáveis à sua unidade de

negócio? Eles fazem sentido com a relação que se quer entre as pessoas e

das pessoas com a organização?

4. Há valores específicos que compõem as diretrizes de gestão de pessoas de

seu negócio?

5. As diretrizes estratégicas de gestão de pessoas são únicas de seu negócio ou

são compartilhadas?

6. Como você vê essa questão de diretrizes estratégicas para o seu negócio (a

autonomia que você tem e os alinhamentos necessários)?

7. Se você pudesse escolher dois pontos que tem dado maior foco como head

de gestão de pessoas, quais você diria?

8. O nível de serviço prestado como Recursos Humanos é satisfatório? Existem

planos neste momento para atingir outro nível de prestação de serviço de

RH?

9. O quanto você acredita que tem respondido às necessidades dos

colaboradores? Este pode ser considerado um foco de seu trabalho?

10. Você tem se envolvido em processos de transformação organizacional que

exijam esforço extra do time de Recursos Humanos?

11. Usando este formulário (Apêndice 2), gostaria que você classificasse o quanto

esses processos estão sob sua gestão em seu negócio.

Apêndice B – Formulário Complementar à Entrevista

Você define políticas relacionadas a esses processos para sua unidade de negócio?

Cargos e Salários Sim Parcialmente Não Estrutura Organizacional Sim Parcialmente Não

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63

Relações Trabalhistas e Sindicais Sim Parcialmente Não Benefícios Sim Parcialmente Não Capacitação dos colaboradores Sim Parcialmente Não Avaliação dos colaboradores Sim Parcialmente Não Ações de Desenvolvimento Sim Parcialmente Não Recrutamento e Seleção Sim Parcialmente Não Medicina e Segurança do Trabalho Sim Parcialmente Não Gestão do Clima Organizacional Sim Parcialmente Não Comunicação Interna Sim Parcialmente Não Administração de Pessoal (Transacional) Sim Parcialmente Não

Quanto cada um dos processos está sob sua gestão? (Você atua e dirige esses processos?)

Cargos e Salários Totalmente Parcialmente Não está Estrutura Organizacional Totalmente Parcialmente Não está Relações Trabalhistas e Sindicais Totalmente Parcialmente Não está Benefícios Totalmente Parcialmente Não está Capacitação dos colaboradores Totalmente Parcialmente Não está Avaliação dos colaboradores Totalmente Parcialmente Não está Ações de Desenvolvimento Totalmente Parcialmente Não está Recrutamento e Seleção Totalmente Parcialmente Não está Medicina e Segurança do Trabalho Totalmente Parcialmente Não está Gestão do Clima Organizacional Totalmente Parcialmente Não está Comunicação Interna Totalmente Parcialmente Não está Administração de Pessoal (Transacional) Totalmente Parcialmente Não está

Page 67: Modelos de Gestão de Pessoas em ambiente de fusões e aquisições

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Quanto você é responsabilizado por cada um dos processos em sua unidade de negócio? (Independentemente se estão sob sua gestão)

Cargos e Salários Totalmente Parcialmente Não sou Estrutura Organizacional Totalmente Parcialmente Não sou Relações Trabalhistas e Sindicais Totalmente Parcialmente Não sou Benefícios Totalmente Parcialmente Não sou Capacitação dos colaboradores Totalmente Parcialmente Não sou Avaliação dos colaboradores Totalmente Parcialmente Não sou Ações de Desenvolvimento Totalmente Parcialmente Não sou Recrutamento e Seleção Totalmente Parcialmente Não sou Medicina e Segurança do Trabalho Totalmente Parcialmente Não sou Gestão do Clima Organizacional Totalmente Parcialmente Não sou Comunicação Interna Totalmente Parcialmente Não sou Administração de Pessoal (Transacional) Totalmente Parcialmente Não sou