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PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XXXXXXXXXXXXXXXXXX EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA xx. VARA DA COMARCA DE xxxxxx “se pelo consenso político-social plasmado na Constituição de 1988, a nação não reconhece força em si mesma para reduzir de chofre as desigualdades sociais ao patamar mínimo delineado no texto constitucional, opta-se por priorizar a efetivação dos direitos da infância, na perspectiva de que, temporal e gradualmente, vai-se assegurando patamares de maior igualdade ; e, assim, paulatinamente se vai diminuindo a desigualdade social, pois conforme as crianças ‘mais iguais estatisticamente’ vão crescendo, o problema da desigualdade, como um todo, tende a diminuir; espera-se criar um vínculo virtuoso, e menos traumático politicamente, de superação da desigualdade social, já que a criança de hoje é o adulto do futuro.” (MACHADO, Martha de Toledo. A Proteção Constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos. 2003, pp. 133 e 134); PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XXXXXXXXXX Av.

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PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇAPROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XXXXXXXXXXXXXXXXXX

EXMA. SRA. DRA. JUÍZA DE DIREITO DA xx. VARA DA COMARCA DE xxxxxx

“se pelo consenso político-social plasmado na Constituição de 1988, a nação não reconhece força em si mesma para reduzir de chofre as desigualdades sociais ao patamar mínimo delineado no texto constitucional, opta-se por priorizar a efetivação dos direitos da infância, na perspectiva de que, temporal e gradualmente, vai-se assegurando patamares de maior igualdade; e, assim, paulatinamente se vai diminuindo a desigualdade social, pois conforme as crianças ‘mais iguais estatisticamente’ vão crescendo, o problema da desigualdade, como um todo, tende a diminuir; espera-se criar um vínculo virtuoso, e menos traumático politicamente, de superação da desigualdade social, já que a criança de hoje é o adulto do futuro.” (MACHADO, Martha de Toledo. A Proteção Constitucional de Crianças e Adolescentes e os Direitos Humanos. 2003, pp. 133 e 134);

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ - em defesa das crianças e dos adolescentes de xxxxx -, por seu Promotor de Justiça infra-assinado, com base nos artigos 37, caput, e 129, inciso III, da Constituição Federal; no art. 2º, inciso II, 3º, 5º caput, todos, da Lei Federal n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e no art. 497 do Código de Processo Civil/2015, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE TUTELA INIBITÓRIA POSITIVA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA E DE IMPOSIÇÃO

DE MULTA DIÁRIA PELO DESCUMPRIMENTO(AÇÃO PARA IMPLEMENTAÇÃO DO SAI)

- c o n t r a -

ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito público interno, através da Procuradoria Geral do Estado, com sede na Av. Washington Soares, 707, Água Fria, Fortaleza –

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CE, CEP 60811-340, pelos fundamentos de fato e de direito que se passa a expor:

DOS FATOS.

Na Comarca de xxxx o Juiz com competência para processar e julgar as ações e procedimentos que têm referência com os direitos de crianças e adolescentes não recebe o auxílio de nenhum profissional da área de psicologia e serviço social que seja dos quadros do Poder Judiciário do Estado do Ceará.

Tal afirmação, cabe a lembrança, se trata de um fato notório, de conhecimento geral. Inexiste, portanto, a dúvida, que é o fundamento lógico-jurídico de toda a necessidade de provar.

De notar, ademais, que, segundo levantamento nacional efetivado pela ABMP – Associação Brasileira de Magistrados Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e Juventude – restou apurado que em todo o país os únicos Estados da Federação que não detêm sequer um único Serviço Auxiliar Interdisciplinar implementado com técnicos do quadro do Poder Judiciário são o Ceará e o Rio Grande do Norte.

Diante dessa realidade, no dia 16 de maio de 2008, o Ministério Público expediu recomendação administrativa ao Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ para que fosse implementado o Serviços Auxiliar Interdisciplinar em várias comarcas do Estado do Ceará, dentre as quais a Comarca de Nova Russas, estabelecendo o prazo de 60 (sessenta) dias para tanto (v. cópia em anexo).

Tendo em vista a ausência de qualquer resposta por parte da presidência do Tribunal de Justiça no sentido de estar implementando o SAI, o Ministério Público do Estado do CEARÁ - por não dispor de nenhuma outra medida administrativa a ser tomada - vem ajuizar a presente Ação Civil Pública com a finalidade de se obter judicialmente a implementação do Serviço Auxiliar Interdisciplinar junto à Vara da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx bem como para assegurar a previsão orçamentária de verbas para a sua manutenção, pelos fundamentos jurídicos que passamos a expor.

2. DOS FUNDAMENTOS JURIDÍCOS.

2.1. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO DO CEARÁ

Inicialmente, cumpre frisar que, muito embora a presente Ação Civil Pública tenha por objeto a imposição de obrigação de fazer a ser imposta ao Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ, este não é dotado de personalidade jurídica, apesar de exercer uma das funções do Poder do Estado (CF, art. 2º).

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No presente caso, é o Estado do CEARÁ que tem legitimidade para figurar no pólo passivo da presente demanda.

Nesse sentido, é a valiosa lição de Hely Lopes Meirelles, verbis:

“Órgãos independentes são os originários da Constituição e representativos dos Poderes de Estado - Legislativo, Executivo e Judiciário - colocados no ápice da pirâmide governamental, sem qualquer subordinação hierárquica ou funcional, e só sujeitos aos controles constitucionais de um Poder pelo outro. Por isso, são também chamados órgãos primários do Estado. Esses órgãos detêm e exercem precipuamente as funções políticas, judiciais e quase-judiciais outorgadas diretamente pela Constituição, para serem desempenhadas pessoalmente por seus membros (agentes políticos, distintos de seus servidores, que são agentes administrativos), segundo normas especiais e regimentais.De se incluir, ainda, nesta classe o Ministério Público federal e estadual e os Tribunais de Contas da União, dos Estados-membros e Municípios, os quais são órgãos funcionalmente independentes e seus membros integram a categoria dos agentes políticos, inconfundíveis com os servidores das respectivas instituições”.(MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo, 25ª ed., p. 65)

Referido mestre, ainda sobre o tema, arremata, verbis:

“Os órgãos integram a estrutura do Estado e das demais pessoas jurídicas com partes desses corpos vivos, dotados de vontade e capazes de exercer direitos e contrair obrigações para a consecução de seus fins institucionais. Por isso mesmo, os órgãos não têm personalidade jurídica nem vontade própria, que são atributos do corpo e não das partes, mas na área de suas atribuições e nos limites de sua competência funcional expressam a vontade da entidade a que pertencem e a vinculam por seus atos, manifestados através de seus agentes (pessoas físicas). Como partes das entidades que integram, os órgãos são meros instrumentos de ação dessas pessoas jurídicas, preordenados ao desempenho das funções que lhes forem atribuídas pelas normas de sua constituição e funcionamento. Para a eficiente realização de suas funções cada órgão é investido de determinada competência, redistribuída entre seus órgãos, com a correspondente parcela de poder necessária ao exercício funcional de seu agentes.Embora despersonalizados, os órgãos mantêm relações funcionais entre si e com terceiros, das quais resultam efeitos jurídicos internos e

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externos, na forma legal ou regulamentar. E, a despeito de não terem personalidade jurídica, os órgãos podem ter prerrogativas funcionais próprias que, quando infringidas por outro órgão, admitem defesa até mesmo por mandado de segurança”(op. cit. p. 63)

Nessa linha de raciocínio, veja-se os seguintes julgados do egrégio Superior Tribunal de Justiça, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. REAJUSTE. TRIBUNAL DE CONTAS.ILEGITIMIDADE PASSIVA. AUSÊNCIA DE PERSONALIDADE JURÍDICA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.1. Os Tribunais de Contas, federais ou dos estados, não são entes dotados de personalidade jurídica, mas apenas personalidade judiciária, uma vez que constituem órgãos da Administração Direta.2. Tratando-se de ação em que servidores públicos pleiteiam reajuste salarial, a legitimidade passiva é do respectivo ente a que pertence o Tribunal de Contas, uma vez que referido órgão só possui legitimidade jurídica nas demandas relativas à defesa de direitos institucionais, concernentes à sua organização e funcionamento.3. Agravo regimental improvido.”(STJ - AgRg no Ag 806.802/AP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 24.04.2007, DJ 21.05.2007 p. 610)

“PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. TRIBUNAL DE CONTAS. ILEGITIMIDADE.1. Os Tribunais de Contas são partes ilegítimas para figurarem no pólo passivo de ação ordinária visando desconstituir ato de sua competência.2. Não deve ser confundida a capacidade judiciária excepcional, que lhe é concedida para estar em juízo na defesa de suas prerrogativas, bem como de figurar como autoridade coatora em mandado de segurança, com a legitimação ad causam necessária para a formação da relação jurídica formal.3. Os Tribunais de Contas não são pessoas naturais ou jurídicas, pelo que, conseqüentemente, não são titulares de direitos. Integram a estrutura da União ou dos Estados e, excepcionalmente, dos Municípios.4. A alta posição de permeio entre os poderes Legislativo e Executivo, sem sujeição a nenhum deles, embora de relevância para o controle da legalidade e da moralidade das contas públicas, não lhes outorga, só

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por esse fato, a condição de pessoa jurídica para figurar no pólo passivo de ação ordinária visando desconstituir ato que por ele foi praticado no exercício de sua competência.5. Peculiaridades do nosso sistema jurídico que exige obediência em face do querer constitucional.6. Recurso especial improvido.”(STJ - REsp 504.920/SE, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04.09.2003, DJ 13.10.2003 p. 257)

Diante disso, é possível constatar facilmente que seria ilegítimo indicar no pólo passivo o Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ, sendo que o Estado do CEARÁ é que é parte legítima para figurar como parte requerida na presente Ação Civil Pública.

2.2. DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA COMARCA DE xxxxx

Verbete nº 206 da Súmula do STJ: A existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a competência territorial resultante das leis de processo.

A redação do artigo 2º da Lei 7.347/85 é taxativa ao dispor sobre a competência nas questões referentes aos interesses coletivos, in verbis:

Art. 2º - A ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Ao determinar que a competência para o julgamento de ação civil pública é funcional do foro do local do dano, desejou o legislador definir tal competência como absoluta1.

O objetivo da norma, segundo magistério do Prof. Hugo Nigro Mazzilli, “é facilitar o ajuizamento da ação e a coleta da prova, bem como assegurar que a instrução e o julgamento sejam realizados pelo juízo que maior contato tenha tido ou possa vir a ter com o dano efetivo ou potencial aos interesses transindividuais2.

Neste caso, portanto, é competente o Juízo desta Comarca para o conhecimento da ação, devendo ser afastada a incidência da norma do art. 109, I, a, do Código

1 “Embora nas ações civis públicas o foro seja o do local do dano, a competência é, pois, absoluta e, consequentemente, não é territorial” (MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo: meio ambiente, consumidor e outros interesses difusos e coletivos. 13ª ed. São Paulo, 2001, p. 205.

2 Idem, p. 201.

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de Organização Judiciária do Estado do Ceará3 por contrariar a Constituição Federal, porquanto, versa sobre direito processual, cuja competência é privativa da União (art. 22, I, da Constituição Federal).

E não se argumente que o Estado, possuindo competência concorrente com a União para legislar sobre procedimento em matéria processual, poderia alterar a competência fixada em lei federal.

Quanto a esse particular: “(...) No processo entrelaçam-se o procedimento e a relação jurídica vinculativa de seus sujeitos, entende-se que as normas processuais stricto sensu seriam os preceitos destinados a definir os poderes, deveres, faculdades, ônus e sujeição dos sujeitos processuais (relação jurídica processual), sem interferir no desenho das atividades a realizar (procedimento). Normas procedimentais, nesse contexto, seriam aquelas que descrevem os modelos a seguir nas atividades processuais, ou seja (a) o elenco de atos que compõem cada procedimento, (b) a ordem de sucessão a presidir a sucessão desses atos, (c) a forma que deve ser observada em cada um deles (modo, lugar e tempo) e (d) os diferentes tipos de procedimentos disponíveis e adequados aos casos que a própria norma estabelece” (Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, v. I, p. 67, sem grifos no original).

Destarte, a norma que define o poder de um sujeito processual (e o juiz é um deles) tem natureza processual, sendo a competência para a sua edição exclusiva da União. Logo, a norma do art. 109, I, a, da Lei estadual 12.342/1994, padece de inconstitucionalidade formal.

Neste caso, no exercício do controle incidental de constitucionalidade, deve o juiz afastar a norma inválida, negando-lhe aplicação e decidindo-se a questão de acordo com a lei aplicável à espécie, qual seja, o art. 2º, da lei 7.347/1985.

2.3. DO CONCEITO E RELEVÂNCIA DO SERVIÇO AUXILIAR INTEDISCIPLINAR DA INFÂNCIA E JUVENTUDE.

O Serviço Auxiliar Interdisciplinar é um órgão auxiliar, integrante do quadro do Poder Judiciário, vinculado ao cartório ou vara da Infância e Juventude e, basicamente, tem as seguintes funções, conforme preceitua o art. 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente, verbis:

3 Art. 109. Aos Juízes de Direito da Varas da Fazenda Pública compete, por distribuição: I – processar e julgar com jurisdição em todo o território do Estado: a) as causas em que o Estado do Ceará, o Município de Fortaleza, e os seus respectivos órgãos autárquicos forem interessados, como autores, réus, assistentes ou oponentes, excetuadas falências, concordatas, acidentes de trabalho e execuções fiscais, bem como as definidas nas letras “e” e “f”, do inciso I, do art. 102, da Constituição Federal.

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“Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.”

Sobre o Serviço Auxiliar Interdisciplinar (SAI) assim leciona o Des. Antônio Fernando do Amaral e Silva, verbis:

“A peculiaridade da jurisdição abarca serviços e órgãos auxiliares diferentes. Além do escrivão e do oficial de justiça, há a equipe técnica, composta, via de regra, por assistente social, psicólogo e educador.A especialização dos profissionais é indispensável (v. regra 22 das Regras de Beijing).A lei de organização judiciária fixará a competência da equipe interprofissional, constando da proposta orçamentária previsão de recursos para a sua manutenção. (...)A equipe não só assessorará o juiz, funcionando nas perícias e laudos, mas a lei de organização judiciária poderá atribuir-lhe outras funções. Como, p. ex., acompanhar as medidas de proteção, realizar tratamento social, orientar e supervisionar a família; promover o entrosamento dos serviços do juizado com técnicos do Conselho Tutelar, acompanhar execuções de medidas sócio-educativas etc.” (grifou-se)(SILVA, Antônio Fernando do Amaral e. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado, 8ª ed., pp. 495/498)

Ressaltando a necessidade e a importância da existência de equipe multidisciplinar profissionalisada e capacitada, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e Juventude (Regras de Beijing), assentam, na sua regra 22, que “serão utilizados a educação profissional, o treinamento em serviço, a reciclagem e outros meios apropriados de instrução para estabelecer e manter a necessária competência profissional de todo o pessoal que se ocupa dos casos de jovens.” (22.1.) e que “o quadro de servidores da Justiça da Infância e da Juventude deverá refletir as diversas características dos jovens que entram em contato com o sistema. Procurar-se-á garantir uma representação eqüitativa de mulheres e minorias nos órgãos da Justiça da Infância e da Juventude.” (22.2), além disso, assevera que “os serviços da Justiça da Infância e da Juventude se aperfeiçoarão e se coordenarão sistematicamente com vistas a elevar e manter a competência de seus funcionários, os métodos, enfoques e atitudes adotadas.” (1.6);

Inegável a relevância do funcionamento dos serviços auxiliares interdisciplinares para que o Poder Judiciário possa se desincumbir do seu dever de assegurar às crianças e aos adolescentes o direito “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

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profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (CF, art. 227).

O SAI presta-se para auxiliar em inúmeros casos gravados de grande complexidade, em que os profissionais da área do direito (juiz, promotores, defensores e advogados) não têm formação técnica para realizar uma avaliação profissional e aprofundada sobre as causas e soluções para os problemas que surgem ao Juiz da Proteção Integral, tais como, colocação em família substituta, adoção, orientação a famílias interessadas em adotar, acompanhamento de famílias adotivas, decisões sobre guarda, tutela, procedimentos apuratórios de situação de risco, acompanhamento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, física e psíquica, de exploração de trabalho infantil, acompanhamento de ações sócio-educativas e da sua execução em eventual aplicação de medida.

Como se vê, os casos que demandam o auxílio do SAI são extremamente delicados e reclamam uma decisão certeira e fundamentada interdisciplinariamente.

Atualmente, nesta Comarca de Nova Russas, o Promotor de Justiça se manifesta e o Juiz decide com base em meros palpites e com base no bom-senso, em decisões improvisadas e amadoras (não por limitação pessoal, mas por falta de auxílio técnico especializado), em manifesta afronta à diretriz de que o Juiz da Proteção Integral deve atuar amparado por conhecimento interdisciplinar (ECA, art. 167), comprometendo, inclusive, o dever constitucional de fundamentação das decisões judiciais (CF, art. 93, IX).

Ora, com direito de crianças e adolescentes não se brinca!

O triunfo ou a tragédia na vida de uma criança ou de um adolescente depende, muitas vezes, de uma decisão acertada ou não do Poder Judiciário.

A situação como está não pode ficar. É absurda e violadora dos mais caros direitos das crianças e adolescentes, não se podendo jamais ignorar a sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento (ECA, art. 6º).

Veja-se que a omissão do Poder Judiciário em implementar o SAI, ocasiona, inclusive, situação de risco a crianças e adolescentes por omissão do Estado, nos termos do art. 98, inciso I, do ECA 4.

Ademais, não podem os processos da infância e juventude – que reclamam prioridade absoluta na tramitação - ficar refém da boa vontade do Executivo Municipal, tendo que reiterar exaustivamente ofícios solicitando ajuda.

4 Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por (...) omissão (...) do Estado

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E, não se pode ignorar, que o Município de XXXX tem inúmeras outras atribuições (que também são cobradas pelo Ministério Público).

É desarrazoado, assim, exigir do Município o cumprimento de uma obrigação que não é dele, é do Poder Judiciário, que tem um orçamento vertiginosamente mais robusto do que o parco orçamento municipal.

Diante desses fatos, é fácil concluir que o Serviço Auxiliar Interdisciplinar da Infância e Juventude tem extrema relevância, que reclama urgente providência para sua implementação.

2.4. DA IMPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL AO PODER JUDICIÁRIO DO DEVER JURÍDICO DE IMPLEMENTAR O SERVIÇO AUXILIAR INTERDISCIPLINAR DA INFÂNCIA E JUVENTUDE.

A Constituição Federal, em seu art. 227, assentou o princípio da prioridade absoluta, ao dizer que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, detalhou, ainda mais, referido princípio, ao dispor em seu art. 4º o seguinte, verbis:

“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.” (grifou-se)

Da leitura do dispositivo Constitucional e do Estatuto da Criança e do Adolescente é possível verificar que uma das facetas do princípio da prioridade absoluta diz

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respeito à preferência na formulação e execução das políticas públicas e sociais, sendo que para a implementação dessa preferência, impôs a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção da infância e juventude.

Sobre esse aspecto do princípio da prioridade absoluta, assim discorre Dalmo de Abreu Dallari, verbis:

“O apoio e a proteção à infância e juventude devem figurar, obrigatoriamente, entre as prioridades dos governantes. Essa exigência constitucional demonstra o reconhecimento da necessidade de cuidar de modo especial das pessoas que, por sua fragilidade natural ou por estarem numa fase em que se completa sua formação, correm maiores riscos. A par disso, é importante assinalar que não ficou por conta de cada governante decidir se dará ou não apoio prioritário às crianças e aos adolescentes. Reconhecendo-se que eles são extremamente importantes para o futuro de qualquer povo, estabeleceu-se como obrigação legal de todos os governantes dispensar-lhes cuidados especiais.” (grifou-se)(DALLARI, Dalmo de Abreu. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado, 8ª ed., pp. 40/41)

Veja-se que o legislador infra-constitucional foi tão cauteloso e zeloso com o aspecto da disponibilização orçamentária do princípio da prioridade absoluta que – não satisfeito com a previsão do art. 4º - trouxe disposição específica destinada ao Poder Judiciário, em que impõe ao Tribunal de Justiça o dever jurídico de destinar recursos para a implementação e manutenção de equipe multidisciplinar, conforme se verifica do art. 150 do Estatuto da Criança e do Adolescente, verbis:

“Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude.” (grifou-se)

Conforme decidido, à unanimidade, pelo egrégio Conselho Nacional de Justiça, no pedido de providências n. 80, oriundo do Estado do CEARÁ (representação formulada pelo ilustre magistrado, Dr. Sérgio Luiz Kreuz), a não-previsão de referidos recursos, “certamente caracteriza a omissão do Poder Judiciário quanto ao seu dever de previsão de recursos orçamentários suficientes para a criação e manutenção de serviço auxiliar interdisciplinar destinada ao assessoramento da Justiça da Infância e da Juventude, flagrantemente incompatível com o tratamento dispensado às crianças e aos adolescentes em nível constitucional e infraconstitucional” (grifou-se).

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Assentado esse panorama normativo, cumpre destacar que essas normas têm efetividade e é possível que Poder Judiciário determine o cumprimento do dever jurídico delas decorrente.

2.5. DA NECESSÁRIA EFETIVIDADE DO DEVER JURÍDICO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL DO PODER JUDICIÁRIO DE IMPLEMENTAR E MANTER O SERVIÇO AUXILIAR INTERDISCIPLINAR DA INFÂNCIA E JUVENTUDE.

A Constituição Federal é dotada de evidente força normativa (“supreme law of land”), sendo que “hoje a Contituição domina não somente o campo, relativamente estrito, da justiça constitucional, mas a totalidade da vida jurídica da sociedade, com um influxo efetivo e crescente. Se pode e se deve dizer, em conseqüência, que a Constituição operou em todo nosso sistema normativo e judicial uma verdadeira revolução jurídica de uma extraordinária significação.”5

Desse modo, o princípio constitucional da prioridade absoluta e os mandamentos legais que impõem a destinação prioritária de recursos para a implementação dos direitos da criança e do adolescente são dotados de evidente força normativa.

O princípio da prioridade absoluta, todavia, infelizmente, em alguns casos, como o presente, não vem obtendo o devido respeito dos administradores.

A questão se põe no plano da falta de efetividade, que é assim definida por Luis Roberto Barroso, verbis:

“A idéia de efetividade expressa o cumprimento da norma, o fato real de ela ser aplicada e observada, de uma conduta humana se verificar na conformidade de seu conteúdo. Efetividade, em suma, significa a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação tão íntima quanto possível, entre o dever-ser

5 Tradução livre: “Hoy la Constitución domina no sólo el campo, relativamente estricto, de la justicia constitucional, sino la totalidad de la vida jurídica de la sociedad, con un influjo efectivo y creciente. Se puede y se debe decir, en consecuencia, que la Constitución ha operado en todo nuestro sistema normativo y judicial una verdadera revolución jurídica de una extraordinaria significación.” (ENTERRIA, Eduardo García; TOMÁS-RAMÓN, Fernández. Curso de Derecho Administrativo, vol. I, 13ª ed., 2006, p. 114)

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normativo e o ser da realidade social.”(BARROSO, Luis Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de sua Norma, limites e possibilidades da Constituição brasileira. 8ª ed., p. 290)

Uma Constituição Federal sem efetividade nada mais é que uma promessa vazia, uma frustrante mentira, em que se assegura formalmente direitos, que se prestam tão-somente para enfeitar pomposos e retóricos discursos, quando, em verdade, o direito encontra-se totalmente divorciado da realidade dos fatos.

Como bem proclamou o Ministro Celo de Melo ao falar sobre o direito a saúde – raciocínio que se aplica perfeitamente à espécie – “o caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização federativa do Estado brasileiro - não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado.” (STF – RE-AgR 393175/RS) (grifou-se).

Por fim, como profetiza Norberto Bobbio, “o problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-lo, mas o de protegê-los. Trata-se de uma problema não filosófico, mas político.” (BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. p. 43).

Desse modo, é de rigor que o Poder Público dê efetividade às normas constitucionais, sendo que – caso não o faça espontaneamente – cumpre ao Poder Judiciário determinar o cumprimento forçado do seu dever constitucional.

2.6. DA INEXISTÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE NA IMPLEMENTAÇÃO DOS SERVIÇOS AUXILIARES INTERDISCIPLINARES DA INFÂNCIA E JUVENTUDE (SINDICABILIDADE JUDICIAL DA OMISSÃO ADMINISTRATIVA).

Celso Antônio Bandeira de Mello traz a distinção clássica (à qual tece críticas) entre os chamados atos discricionários e atos vinculados, asseverando o seguinte, verbis:

“É clássica a distinação entre atos expedidos no exercício de competência vinculada e atos praticados no desempenho de competência discricionária. Sobre este tema já se verteram rios de tinta. Haveria atuação vinculada e, portanto, um poder vinculado, quando a norma a ser cumprida já predetermina e de modo completo qual o único possível comportamento que o administrador estará obrigado a tomar perante casos concretos cuja compostura esteja

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descrita, pela lei, em termo que não ensejam dúvida alguma quando ao seu objetivo reconhecimento. Opostamente, haveria atuação discricionária quando, em decorrência do modo pelo qual o Direito regulou a atuação administrativa, resulta para o administrador um campo de liberdade em cujo interior cabe interferência de uma apreciação subjetiva sua quando à maneira de proceder nos casos concretos, assistindo-lhe, então, sobre eles prover na conformidade de uma intelecção, cujo acerto seja irredutível à objetividade e ou segundo critérios de conveniência e oportunidade administrativa. Diz-se que, em tais casos, a Administração dispõe de um ‘poder’ discricionário.”(BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Discricionariedade e Controle Juriscional. 2ª ed., 8ª tiragem, p. 09)

Na espécie, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente são claros na imposição do dever jurídico de “precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública” e “preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas”, além do dever jurídico de “destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.”

No que diz respeito à implementação e manutenção dos serviços auxiliares da infância e juventude, o dever jurídico é mais explícito ainda, prevendo a obrigação ao Poder Judiciário de, “na elaboração de sua proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da Juventude.” (ECA, art. 150).

Como visto a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente não deixam espaço ao agente político – no caso o Presidente do Tribunal de Justiça – para optar entre a implementação ou não do serviço auxiliar da Justiça da Infância e Juventude.

Não há, também, espaço discricionário sobre a previsão ou não de recursos orçamentários na implementação dos chamados SAIs.

Seguindo o mesmo raciocínio é a explanação de José dos Santos Carvalho Filho, verbis:

“Quando o agente administrativo está ligado à lei por um elo de vinculação, seus atos não podem reguir aos parâmetros por ela traçados. O motivo e o objeto do ato já constituirão elementos que o legislado quis expressar. Sendo assim o agente não disporá de nenhum poder de valoração quanto a tais elementos, limitando-se a reproduzir-los no próprio ato. A conclusão, dessa maneira, é a de que não se pode falar em mértio administrativo em se tratando de ato vinculado.”(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo,

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1ª ed., p. 86)

Desse modo, não há que se falar em discricionariedade administrativa nos atos, posto que há vinculação legal ao dever de atuar.

Vê-se, portanto, ser patente a omissão do Exmo. Presidente (e ex-Presidentes) do Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ em adimplir a dívida que lhe é imposta pela Constituição e pelo ECA de se criar, implementar e manter os Serviços Auxiliares Interdisciplinares da Infância e Juventude na comarca de xxxx.

E, uma vez constatada essa omissão – que é reiterada, posto que se desobedeceu a determinação do egrégio Conselho Nacional de Justiça e não se acolheu a recomendação do Ministério Público – só resta uma opção: deve o Poder Judiciário determinar o cumprimento forçado desse dever jurídico.

Justamente nesse sentido é a excelente decisão do Ministro Celso de Mello, na ADPF 45, verbis:

“A omissão do Estado - que deixa de cumprir, em maior ou em menor extensão, a imposição ditada pelo texto constitucional - qualifica-se como comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, mediante inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos que nela se fundam e também impede, por ausência de medidas concretizadoras, a própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei Fundamental." (RTJ 185/794-796, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de conteúdo programático. Cabe assinalar, presente esse contexto - consoante já proclamou esta Suprema Corte - que o caráter programático das regras inscritas no texto da Carta Política ‘não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas

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expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado’ (RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO).”(STF - ADPF 45, decisão monocrática, Rel. Min. Celso de Mello, veiculada no informativo n. 345-STF)

Ora, é pacífica a posição da nossa Suprema Corte no sentido de admitir que o Poder Judiciário determine a implementação de políticas públicas, afastando-se a malsinada tese da separação absoluta dos Poderes.

Apenas para exemplificar, traz-se mais um precedente do egrégio Supremo Tribunal Federal nesse sentido, verbis:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CRIANÇA DE ATÉ SEIS ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV) - COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - RECURSO IMPROVIDO. - A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das "crianças de zero a seis anos de idade" (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. - Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da

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Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social. - Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão - por importar em descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório - mostra-se apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. A questão pertinente à "reserva do possível". Doutrina.”(STF - RE-AgR 410715 / SP, 2ª Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 03.02.2006, p. 00076)

Assim, resta fácil concluir que é perfeitamente possível que o Poder Judiciário determine a implementação e a manutenção do Serviço Auxiliar Interdisciplinar da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx na presente Ação Civil Pública, mesmo porque se trata de ato administrativo vinculado, não se sujeitando a critérios de oportunidade e conveniência (que, vale lembrar, também, são restritos) do administrador.

2.7. DA INAPLICABILIDADE À ESPÉCIE DA CHAMADA CLÁSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL.

Argumento que vem sendo reiteradamente utilizado pelas administrações públicas para tentar justificar suas omissões na implementação de políticas públicas sociais é a chamada cláusula da reserva do possível.

Sobre a reserva do possível assim assevera Jorge Miranda, verbis:

“Sendo abundantes as normas e escassos os recursos dessa apreciação poderá resultar a conveniência de estabelecer diferentes tempos, graus e modos de efetivação dos direitos. Se nem todos os direitos econômicos, sociais e culturais puderem ser tornados plenamente operativos em certo momento ou para todas as pessoas, então haverá que determinar com que prioridade e em que medida o deverão ser. O contrário redundaria na inutilização dos comandos constitucionais:

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querer fazer tudo ao mesmo tempo e nada conseguir.Todavia, por regra (insista-se), o conteúdo essencial de todos os direitos deverá sempre ser assegurado, e só o que estiver para além dele poderá deixar ou não de o ser em função do juízo que o legislador vier a emitir sobre a sua maior ou menor relevância dentro do sistema constitucional e sobre as suas condições de efectivação.”(MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional, tomo IV, direitos fundamentais, 3ª ed., pp.392/393)

Inicialmente, é de se trazer a aprofundada crítica de Andreas J. Krell sobre a aplicação desse instituto estrangeiro no Brasil, verbis:

“Pensando bem, o condicionamenteo da realização de direitos econômicos, sociais e culturais à existência de ‘caixas cheios’ do Estado significa reduzir a sua eficácia à zero; a subordinação aos ‘condicionantes econômicos’ relativiza sua universalidade, condenando-os a serem considerados ‘direitos de segunda categoria’. Num país com um dos piores quadros de distribuição de renda do mundo, o conceito da ‘redistribuição’ (Umverteilung) de recursos ganha uma dimensão completamente diferente.Não é à toa que os estudiosos do Direito Comparado insistem em lembrar que conceitos constitucionais transplantados precisam ser interpretados e aplicados de uma maneira adaptada para as circunstâncias particulares de um contexto cultural e sócio-econômico diferente, o que exige um máximo de sensibilidade. O mundo ‘em desenvolvimento’ ou periférico, de que o Brasil (ainda) faz parte, significa uma realidade específica e sem precedentes, à qual não se podem descuidadamente aplicar as teorias científicas nem as posições políticas transladadas dos países ricos. Assim, a discussão européia sobre os limites do Estado Social e a redução de suas prestações e a contenção dos respectivos direitos subjetivos não pode absolutamente ser transferida para o Brasil, onde o Estado Providência nunca foi implantado.”(KRELL, Andreas J. Direitos Sociais e Controle Judicial no Brasil e na Alemanha, os (des)caminhos de um direito constitucional ‘comparado’. 2002, p. 54)

Corretíssima a advertência do ilustrado autor. Não podemos importar acriticamente conceitos e teorias estrangeiras sem filtrá-las à realidade brasileira, muito embora não se negue a importância do estudo do direito comparado.

Não se pode negar, todavia, que a jurisprudência brasileira têm adotado tal princípio, por isso temos que afastar sua incidência ao presente caso, lembrando, que a aplicação

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dessa cláusula exige o máximo de sensibilidade.

Trazemos, sobre o tema, novamente a decisão do ilustre Min. Celso de Mello, verbis:

“Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente à ‘reserva do possível’ (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, "The Cost of Rights", 1999, Norton, New York), notadamente em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais - além de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização - depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese - mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa - criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da ‘reserva do possível’ - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Daí a correta ponderação de ANA PAULA DE BARCELLOS (‘A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais’, p. 245-246, 2002, Renovar): ‘Em resumo: a limitação de recursos existe e é uma contingência que não se pode ignorar. O intérprete deverá levá-la em conta ao afirmar que algum bem pode ser exigido judicialmente, assim como o magistrado, ao determinar seu fornecimento pelo Estado. Por outro lado, não se pode esquecer que a finalidade do Estado ao obter recursos, para, em seguida, gastá-los sob a forma de obras, prestação de serviços, ou qualquer outra política pública, é exatamente realizar os objetivos fundamentais da Constituição. A meta central das

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Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo ponto de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que inclui, além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo existencial), estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes, em que outros projetos se deverá investir. O mínimo existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades orçamentárias, é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível.’ (grifei) Vê-se, pois, que os condicionamentos impostos, pela cláusula da ‘reserva do possível’, ao processo de concretização dos direitos de segunda geração - de implantação sempre onerosa -, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado, (1) a razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face do Poder Público e, de outro, (2) a existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas as prestações positivas dele reclamadas. Desnecessário acentuar-se, considerado o encargo governamental de tornar efetiva a aplicação dos direitos econômicos, sociais e culturais, que os elementos componentes do mencionado binômio (razoabilidade da pretensão + disponibilidade financeira do Estado) devem configurar-se de modo afirmativo e em situação de cumulativa ocorrência, pois, ausente qualquer desses elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de realização prática de tais direitos. Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que não se revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador, nem a de atuação do Poder Executivo. É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a, a eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo intangível consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado - e até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico -, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada pelo Estado. Extremamente pertinentes, a tal propósito, as observações de ANDREAS JOACHIM KRELL (‘Direitos Sociais e Controle Judicial

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no Brasil e na Alemanha’, p. 22-23, 2002, Fabris): ‘A constituição confere ao legislador uma margem substancial de autonomia na definição da forma e medida em que o direito social deve ser assegurado, o chamado 'livre espaço de conformação' (...). Num sistema político pluralista, as normas constitucionais sobre direitos sociais devem ser abertas para receber diversas concretizações consoante as alternativas periodicamente escolhidas pelo eleitorado. A apreciação dos fatores econômicos para uma tomada de decisão quanto às possibilidades e aos meios de efetivação desses direitos cabe, principalmente, aos governos e parlamentos. Em princípio, o Poder Judiciário não deve intervir em esfera reservada a outro Poder para substituí-lo em juízos de conveniência e oportunidade, querendo controlar as opções legislativas de organização e prestação, a não ser, excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo legislador, da incumbência constitucional. No entanto, parece-nos cada vez mais necessária a revisão do vetusto dogma da Separação dos Poderes em relação ao controle dos gastos públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social, visto que os Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de garantir um cumprimento racional dos respectivos preceitos constitucionais. A eficácia dos Direitos Fundamentais Sociais a prestações materiais depende, naturalmente, dos recursos públicos disponíveis; normalmente, há uma delegação constitucional para o legislador concretizar o conteúdo desses direitos. Muitos autores entendem que seria ilegítima a conformação desse conteúdo pelo Poder Judiciário, por atentar contra o princípio da Separação dos Poderes (...). Muitos autores e juízes não aceitam, até hoje, uma obrigação do Estado de prover diretamente uma prestação a cada pessoa necessitada de alguma atividade de atendimento médico, ensino, de moradia ou alimentação. Nem a doutrina nem a jurisprudência têm percebido o alcance das normas constitucionais programáticas sobre direitos sociais, nem lhes dado aplicação adequada como princípios-condição da justiça social. A negação de qualquer tipo de obrigação a ser cumprida na base dos Direitos Fundamentais Sociais tem como conseqüência a renúncia de reconhecê-los como verdadeiros direitos. (...) Em geral, está crescendo o grupo daqueles que consideram os princípios constitucionais e as normas sobre direitos sociais como fonte de direitos e obrigações e admitem a intervenção do Judiciário em caso de omissões inconstitucionais.’”(STF - ADPF 45, decisão monocrática, Rel. Min. Celso de Mello, veiculada no informativo n. 345-STF)

Na espécie, não há que se falar na aplicação da cláusula da reserva do

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possível.

O Poder Judiciário do Estado do CEARÁ tem pujante orçamento.

Para o cumprimento da pretensão formulada pelo Ministério Público basta a contratação de uma assistente social e uma psicóloga, o que geraria impacto orçamentário irrisório, insignificante no orçamento do Poder Judiciário.

Tudo que for feito para melhorar as condições do Poder Judiciário do Estado do Ceará será sempre muito louvável e digno de aplausos, contudo, o que não pode é deixar-se de lado a prioridade absoluta constitucionalmente determinada!

Desse modo, nem de longe, eventual procedência da presente Ação Civil Pública causará impacto orçamentário a justificar a alegação da reserva do possível.

Não há impossibilidade financeira, o que há é falta de vontade política de se dar meios técnicos ao patinho feio da infância e juventude.

2.8. DA EVENTUAL REPRESENTAÇÃO JUNTO À CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS EM CASO DE RECUSA DA JURISDIÇÃO INTERNA.

O Pacto de São José da Costa Rica estatui em seu art. 19 o seguinte, verbis:

“Artigo 19 - Direitos da criançaToda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.”

A toda evidência, o direito às medidas de proteção pressupõe a existência de um órgão técnico idôneo a identificar a medida mais adequada a ser tomada, ou seja, a “medida de proteção que a sua condição de menor requer”.

Assim, o direito que se pretende ver respeitado através da presente Ação Civil Pública insere-se, também, nos direitos assegurados pelo Pacto de São José da Costa Rica, que, segundo é defendido por alguns, possui, inclusive, estatura de norma constitucional (CF, art. 5º, §2º).

Desse modo, caso exista omissão jurisdicional na implementação dos SAI pelo Poder Judiciário, entendendo ser incabível tal pretensão, uma vez esgotados os recursos da jurisdição interna (PSCR, art. 46, ‘a’), o Ministério Público do Estado do CEARÁ (PSCR, art. 44) certamente avaliará a possibilidade de se demandar na Corte Interamericana de Direitos Humanos a implementação internacional da pretensão.

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Não se trata de exagero na tomada de tal providência.

Isso porque, a omissão na implementação dos SAIs gera efetivamente graves violações aos direitos humanos das crianças e dos adolescentes, que, muitas vezes, permanecem abrigados por tempo e em ocasiões desnecessárias (em manifesta violação à política de não-institucionalização), ficam expostos à situação de risco, deixam de receber tratamento psicológico adequado após sofrerem abusos sexuais, físicos ou psicológicos ou mesmo após serem explorados em redução à condição análoga a escravos ou mesmo em trabalho em afronta à peculiar situação de pessoa em desenvolvimento (ECA, art. 6º), à sua estrutura física e psicológica, dentre outras violações à sua dignidade e desenvolvimento.

A matéria que se põe na presente Ação Civil Pública é, repita-se, de altíssima relevância e envolve intimamente os mais sérios e fundamentais direitos das nossas crianças e adolescentes.

2.9. DA NATUREZA E FUNÇÃO DA TUTELA INIBITÓRIA (REMOÇÃO DO ILÍCITO) POSITIVA (CPC/2015, art. 497).

A chamada tutela inibitória é um dos mais modernos instrumentos de efetivação da tutela jurisdicional, tendo sido consagrada pelo art. 461 do Código de Processo Civil (também é trazida pelo art. 84 do CDC), que tem a seguinte redação, verbis:

“Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.”

A tutela inibitória traz um novo paradigma para o direito processual civil, abandonando-se o excessivo apego à vetusta reparação do dano, para concentrar-se na prevenção do ilícito.

Ninguém melhor do que Luis Guilherme Marinoni e o co-autor Sérgio Cruz Arenhart, para explicar o tema, verbis:

“é necessário isolar uma tutela contra o ilícito (compreendido como ato contrário ao direito), requer-se a reconstrução do conceito de ilícito,

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que não pode mais ser compreendido como sinônimo de fato danoso.A tutela inibitória é essencialmente preventiva, pois é sempre voltada para o futuro, destinando-se a impedir a prática de um ilícito, sua repetição ou continuação.(...)A tutela inibitória não tem o dano entre seus pressupostos. O seu alvo, como já foi dito, é o ilícito.É preciso deixar claro que o dano é uma conseqüência meramente eventual do ato contrário ao direito. O dano é requisito indispensável para a configuração da obrigação ressarcitória, mas não para a constituição do ilícito.Se o ilícito independe do dano, deve haver uma tutela contra o ilícito em si, e assim uma tutela preventiva que tenha como pressuposto a probabilidade do ilícito, compreendido como o ato contrário ao direito.” (grifou-se)(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo do Conhecimento. 3a ed., 2004, p. 485)

Uma vez compreendido o conceito de tutela inibitória, cumpre salientar uma de suas principais funções, a prevenção do dano e a remoção do ilícito, como garantia do respeito às normas jurídicas.

Para auxiliar a entender o assunto, trazemos à colação, novamente, os ensinamentos dos autores acima citados, verbis:

“(...) as normas que, visando garantir determinados bens, vedam certos atos, têm função preventiva. Portanto, se essas normas objetivam garantir bens imprescindíveis à vida social, é claro que sua violação, por si só, implica em transgressão que deve ser imediatamente corrigida. Nas situações em que uma dessas normas é violada, não importa o ressarcimento do dano (não só porque dano pode ainda não ter ocorrido, como também porque a pretensão à correção do ato contrário ao direito é independente da pretensão do ressarcimento do dano) e a punição do violador da norma. O que realmente interessa é dar efetividade à norma não observada.” (grifou-se)(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do Processo do Conhecimento. 3a ed., 2004, p. 495 e 496)

Ora, a tutela inibitória, como visto, é o meio processual que se amolda perfeitamente ao caso em exame, pois o que pretende o Ministério Público é coibir a continuação da violação ao princípio constitucional da prioridade absoluta e da norma que determina a implementação e manutenção do SAI (ECA, art. 150).

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Registre-se, ainda, que existem duas modalidades de tutela inibitória: a) a tutela inibitória positiva e b) a tutela inibitória negativa. A primeira, para debelar e inibir o ilícito, demanda uma atitude positiva do requerido, uma obrigação de fazer para cessar ou evitar o ilícito. Já a segunda, exige uma abstenção, negação, na prática de determinada atividade para cessar ou evitar a prática do ilícito.

Estando, agora, bem clara a natureza e a função da tutela inibitória positiva, verifica-se que esse é o instrumento processual idôneo para fazer impor a obrigação de implementar e manter o SAI.

2.10. DO PEDIDO DE CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR.

Cumpre trazer, no presente, tópico as razões que, a nosso aviso, justificam a concessão de medida liminar.

A antecipação dos efeitos da tutela na Ação Inibitória tem fundamental importância, dada a sua relevância para, desde logo, debelar a continuação do ilícito.

Nesse sentido, ensina Luiz Guilherme Marinoni, verbis:

“As ações inibitória e de remoção do ilícito, diante de sua natureza, não podem dispensar a tutela antecipatória. A técnica antecipatória é imprescindível para a estruturação de um procedimento efetivamente capaz de prestar as tutelas inibitória e de remoção do ilícito. Se a natureza dessas tutelas exige tal técnica, não é difícil visualizar, na legislação processual, o local de sua inserção. Ora, tanto o art. 461 do CPC, quanto o art. 84 do CDC, permitem ‘ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu’, na ‘ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não-fazer’.” (grifou-se)(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória e Remoção do Ilícito, publicado no sítio do autor: http://www.professormarinoni.com.br/ consultado no dia 09.12.2005)

A Lei 7.347/85, em seu 12 traz a hipótese da medida liminar, vejamos:

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia

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pública, poderá o Presidente do Tribunal a que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a partir da publicação do ato.§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

No caso em tela estão presentes o “fumus boni juris” e o “periculum in mora”. O “fumus boni juris”, em razão do flagrante desrespeito às normas vigentes, como demonstrado anteriormente.

Ao nosso sentir, no presente caso, está preenchido o primeiro requisito, levando-se em conta toda argumentação trazida no corpo da presente petição inicial nesse sentido, com normas expressas a impor a observância ao princípio da prioridade absoluta com a implementação e manutenção do SAI.

Assim, a análise restringe-se à presença ou não requisito do justificado receio de ineficácia do provimento final, que na tutela antecipatória, também, tem conteúdo singular.

Sobre a interpretação que deve ser dada ao justificado receio de ineficácia do provimento final, mais uma vez, trazemos o ensinamento de Luiz Guilherme Marinoni, verbis:

“Esse ‘justificado receio de ineficácia do provimento final’ quer indicar, diante da ação inibitória, ‘justificado receio’ de que o ilícito seja praticado antes da efetivação da tutela final. No caso de remoção, o periculum in mora é inerente à própria probabilidade de o ilícito ter sido praticado. Ou melhor: como a tutela final, na ação de remoção, objetiva eliminar o próprio ilícito ou a causa do dano, não há como supor que a tutela antecipada de remoção exija, além da probabilidade da prática do ilícito (fumus), a probabilidade da prática do dano (que seria o perigo nas ações tradicionais). Isso por uma razão óbvia: a simples prática do ilícito abre oportunidade à tutela final, sem que seja preciso pensar em dano, que já é pressuposto pela regra de proteção e, assim, descartado para a efetividade da tutela jurisdicional, seja final ou antecipada.” (grifou-se)(MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitória e Remoção do Ilícito)

Veja-se que na espécie há uma peculiaridade bastante interessante, pois uma vez verificada a ocorrência do fumus boni iuris como conseqüência lógica estará presente o

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requisito do periculum in mora.

Isso porque, concluindo o órgão julgador que, realmente, existe a imposição constitucional e legal para a implementação e manutenção do SAI (como já exaustivamente argumentado) se estará, em decorrência disso, concluindo que há o “’justificado receio’ de que o ilícito se perpetue antes da efetivação da tutela final”, pois, a cada dia que passa em que não há o Serviço Auxiliar Interdisciplinar instalado e em funcionamento na Comarca de Nova Russas, estará ocorrendo uma ilicitude. Isso parece lógico.

Ora, não deferir o pedido de concessão da antecipação da tutela é permitir que a ilicitude se perpetue até o dia em que se profira a sentença final (em caso de procedência), ou seja, o ilícito permanece ocorrendo antes da sentença definitiva, o que frustra a finalidade da tutela inibitória.

Esse período de ilicitude jamais poderá ser compensado, posto que – revele-se o truísmo da afirmação – o tempo que passou não volta mais!

Os danos decorrentes desse tempo, também, são irreparáveis, pois todos os processos e procedimentos em tramitação ou mesmo as questões extra-judiciais serão resolvidas sem o imprescindível auxílio dos profissionais do SAI.

Ora, é fato que existe justificado receio de que o ilícito continue a ser praticado antes da efetivação da tutela final, vez que não há SAI nesta Comarca de Nova Russas, estando, pois, preenchido o requisito do periculum in mora.

Nunca é demais trazer à colação a genial frase de Carnelutti “o tempo é um inimigo do direito, contra o qual o juiz deve travar uma guerra sem tréguas.” (citado por DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil, 2ª ed., p. 138).

Assim, o Ministério Público requer a concessão de medida liminar nos seguintes termos:

a) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias, projeto de lei para a criação de um cargo de assistente social e um cargo de psicólogo para auxiliarem a Vara da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx (a carga horária, o salário, a cumulação ou não com outras comarcas, a toda evidência, ficam a critério da cúpula do Poder Judiciário), sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

b) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de expedir edital de concurso público para prover referidos cargos no prazo de 30 (trinta) dias após a eventual aprovação do projeto de lei, sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

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c) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de providenciar, no prazo de 60 (sessenta) dias, um assistente social e um psicólogo para auxiliarem a Vara da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx (a carga horária, o salário, a cumulação ou não com outras comarcas, a toda evidência, ficam a critério da cúpula do Poder Judiciário), seja mediante convênio, seja mediante designação de funcionário do quadro do Poder Judiciário, seja através de contratação via teste seletivo, concurso público, licitação ou qualquer outro meio a critério do TJ/CE (claro, obedecida a legalidade), sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais)6;

d) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de incluir na proposta orçamentária para o ano de 20187 recursos para a

6 Sobre a possibilidade de o Poder Judiciário deferir esse pedido, mesmo não estando tal despesa previamente prevista no orçamento, é a lição de Inês Soares com base em estudo do Min. Eros Grau: “Eros Roberto Grau, em parecer exarado em consulta da União Federal acerca de ‘Despesa Pública – Princípio da Legalidade – Decisão Judicial’, traz farta e ponderada argumentação acerca do problema em debate nesse tópico. Primeiro, analisa a hipótese de ausência de ‘capacidade orçamentária’ para efetuá-los; apesar de ter pretendido ampliá-la mediante a obtenção de autorização legislativa para tanto, considere-se a possibilidade, real e efetiva, de o Poder Legislativo ter recusado essa autorização. Aí, neste caso, há disponibilidade de caixa para os pagamentos, ausente, porém, a capacidade orçamentária. Dessa forma, destaca que, ‘embora pudesse a Administração adquirir recursos suficientes para efetuar os pagamentos a que foi judicialmente condenada, não obtém do Poder Legislativo autorização para isso. Nesse ponto estão em confronto dois princípios: o da despesa pública e o da sujeição da Administração às decisões do Poder Judiciário. O citado Professor entende que a este princípio deve ser atribuído peso mais elevado que ao da despesa pública. Afirma que, ‘nesse caso, deverá a Administração prover-se de créditos orçamentários sem observar as regras acima indicadas, cuja eficácia é afastada’.” (SOARES, Inês Virgínia Prado. Ação Civil Pública como Instrumento de Controle da Execução Orçamentária. In Ação Civil Pública, 20 anos da Lei n. 7.347/85, pp. 503 e 504)

7 Sobre a viabilidade desse pleito em sede de Ação Civil Pública, veja-se a doutrina: “Lúcia Valle de Figueiredo, ao tratar da defesa dos interesses difusos e coletivos, sugere que em sede de ação civil pública na qual se pleiteia a realização de obras, prestação de serviços ou implementação de políticas públicas, quando a omissão administrava esteja causando ou possa causar dano à saúde dos cidadãos e ao meio ambiente, é cabível a acumulação deste pedido com a ‘inclusão da respectiva despesa no orçamento do ano seguinte. Atenta a Professora que essa acumulação de pedidos com a determinação de inclusão da despesa é ‘uma sofisticação do conceito de controle dos atos administrativos: se a Administração tem um dever-negativo judicial do não-fazer, sejam viabilizados recursos que permitam a realização do objetivo pretendido’.” (SOARES, Inês Virgínia Prado. Ação Civil Pública como Instrumento de Controle da Execução Orçamentária. In Ação Civil Pública, 20 anos da Lei n. 7.347/85, p. 502)

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manutenção da equipe multidisciplinar da Comarca de xxxx, composta por uma assistente social e uma psicóloga, conforme preceitua o art. 150 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

e) caso já tenha sido apresentada a proposta orçamentária, como parece ser a hipótese, seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de aditá-la, no prazo de 15 (quinze) dias, para inclusão de referida verba, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

Veja-se que todos os prazos acima referidos apresentam-se extremamente razoáveis e proporcionais ao dever jurídico exigido.

Lembrando, sempre, que o egrégio Conselho Nacional de Justiça já tinha determinado tais providências, estipulando o prazo máximo para cumprimento o dia 25.10.2006.

O Ministério Público do Estado do CEARÁ, por sua vez, expediu recomendação administrativa estabelecendo como prazo máximo para acolhimento o dia 15.07.2008.

Os dois prazos foram ignorados.

O pedido liminar ora formulado, repita-se, apresenta-se razoável.

Trazemos valioso precedente sobre pedido liminar semelhante ao presente, verbis:

“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. TRATAMENTO DE SAÚDE E FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS A NECESSITADO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FAZENDA PÚBLICA. INADIMPLEMENTO. COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA. ASTREINTES. INCIDÊNCIA DO MEIO DE COERÇÃO. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. MEDIDA EXECUTIVA. POSSIBILIDADE, IN CASU. PEQUENO VALOR. ART. 461, § 5.º, DO CPC. ROL EXEMPLIFICATIVO DE MEDIDAS. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À SAÚDE, À VIDA E À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRIMAZIA SOBRE PRINCÍPIOS DE DIREITO FINANCEIRO E ADMINISTRATIVO. NOVEL ENTENDIMENTO DA E. PRIMEIRA TURMA.1. Ação Ordinária c/c pedido de tutela antecipada ajuizada em face do Estado do Rio Grande Sul, objetivando o fornecimento de medicamento de uso contínuo e urgente a paciente sem condição de adquirí-lo.2. A função das astreintes é vencer a obstinação do devedor ao

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cumprimento da obrigação e incide a partir da ciência do obrigado e da sua recalcitrância.(...)4. "Consoante entendimento consolidado neste Tribunal, em se tratando de obrigação de fazer, é permitido ao juízo da execução, de ofício ou a requerimento da parte, a imposição de multa cominatória ao devedor, mesmo que seja contra a Fazenda Pública." (AGRGRESP 189.108/SP, Relator Ministro Gilson Dipp, DJ de 02.04.2001).5. Precedentes jurisprudenciais do STJ: RESP 490228/RS, DJ de 31.05.2004; AGRGRESP 440686/RS, DJ de 16.12.2002; AGRESP 554776/SP, DJ de 06.10.2003; AgRgREsp 189.108/SP, DJ 02.04.2001 e AgRgAg 334.301/SP, DJ 05.02.2001.6. Depreende-se do art. 461, §5.º do CPC, que o legislador, ao possibilitar ao juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas assecuratórias como a ‘imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial’, não o fez de forma taxativa, mas sim exemplificativa, pelo que, in casu, o seqüestro ou bloqueio da verba necessária à aquisição de medicamento objeto da tutela indeferida, providência excepcional adotada em face da urgência e imprescindibilidade da prestação dos mesmos, revela-se medida legítima, válida e razoável.7. Deveras, é lícito ao julgador, à vista das circunstâncias do caso concreto, aferir o modo mais adequado para tornar efetiva a tutela, tendo em vista o fim da norma e a impossibilidade de previsão legal de todas as hipóteses fáticas. Máxime diante de situação fática, na qual a desídia do ente estatal, frente ao comando judicial emitido, pode resultar em grave lesão à saúde ou mesmo por em risco a vida do demandante.8. Os direitos fundamentais à vida e à saúde são direitos subjetivos inalienáveis, constitucionalmente consagrados, cujo primado, em um Estado Democrático de Direito como o nosso, que reserva especial proteção à dignidade da pessoa humana, há de superar quaisquer espécies de restrições legais. (...)9. A Constituição não é ornamental, não se resume a um museu de princípios, não é meramente um ideário; reclama efetividade real de suas normas. Destarte, na aplicação das normas constitucionais, a exegese deve partir dos princípios fundamentais, para os princípios setoriais. E, sob esse ângulo, merece destaque o princípio fundante da República que destina especial proteção a dignidade da pessoa humana.10. Outrossim, a tutela jurisdicional para ser efetiva deve dar ao lesado resultado prático equivalente ao que obteria se a prestação fosse

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cumprida voluntariamente. O meio de coerção tem validade quando capaz de subjugar a recalcitrância do devedor. O Poder Judiciário não deve compactuar com o proceder do Estado, que condenado pela urgência da situação a entregar medicamentos imprescindíveis proteção da saúde e da vida de cidadão necessitado, revela-se indiferente à tutela judicial deferida e aos valores fundamentais por ele eclipsados.11. In casu, a decisão ora hostilizada pelo recorrente importa na negativa de fixação das astreintes ou bloqueio de valor suficiente à aquisição dos medicamentos necessários à sobrevivência de pessoa carente, revela-se indispensável à proteção da saúde do autor da demanda que originou a presente controvérsia, mercê de consistir em medida de apoio da decisão judicial em caráter de sub-rogação.12. Por fim, sob o ângulo analógico, as quantias de pequeno valor podem ser pagas independentemente de precatório e a fortiori serem, também, entregues, por ato de império do Poder Judiciário.13. Recurso especial provido.”(STJ - REsp 836.913/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08.05.2007, DJ 31.05.2007 p. 371)

Requer-se que a imputação de multa seja feita ao Exmo. Sr. Presidente do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ pois é o agente político que tem o dever de cumprir os pedidos formulados.

Sobre a possibilidade dessa multa ser aplicada ao Exmo. Sr. Presidente do Tribunal de Justiça, assim anota a doutrina, verbis:

“(...) o agente público responsável pelo cumprimento da ordem judicial deve responder tanto pela multa prevista no parágrafo 4º, do art. 461, como por aquela capitulada no parágrafo único do art. 14, ambos, do CPC. Tais multas, cujos pressupostos são diversos, podem ser cumuladas, sendo a primeira revertida em favor da parte contrária e, esta última, em favor do Estado ou da União, a depender do órgão jurisdicional que esteja processando a causa.Desse modo, e diante da ameaça de o agente público responder pessoalmente pelo pagamento de multas, não hesitará em cumprir o comando judicial, conferindo-se maior efetividade às decisões judiciais que imponham o atendimento de obrigações de fazer e não fazer.”(CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo, 5ª ed., p. 143)

Requer o Ministério Público que, em caso de aplicação de multa (que, sinceramente, esperamos que não venha a acontecer), seja ela revertida em favor do Fundo

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Municipal da Infância e Juventude do Município de Nova Russas.

3. DOS PEDIDOS.

Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do Estado do CEARÁ, requer:

a) a autuação da presente petição inicial e dos documentos que a instruem, bem como o seu recebimento e processamento segundo o rito estabelecido na Lei n. 7.347/85;

b) seja concedida a prioridade na tramitação processual na presente Ação Civil Pública, por envolver direitos difusos de crianças e adolescentes, que devem receber prioridade absoluta, afixando-se, nesse sentido, tarjeta na capa dos autos;

c) a notificação do Estado do CEARÁ para se manifestar sobre o pedido de concessão de medida liminar, dentro do prazo de 72 (setenta e duas) horas, nos termos do art. 2º da Lei n. 8.437/92;

d) a concessão de medida liminar para que:

d.1.) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias, junto à Assembleia Legislativa, projeto de lei para a criação de um cargo de assistente social e um cargo de psicólogo para auxiliarem o cartório da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx(a carga horária, o salário, a cumulação ou não com outras comarcas, a toda evidência, ficam a critério da cúpula do Poder Judiciário), sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

d.2.) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de expedir edital de concurso público para prover referidos cargos no prazo de 30 (trinta) dias após a eventual aprovação do projeto de lei, sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

d.3.) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de providenciar, no prazo de 60 (sessenta) dias, uma assistente social e uma psicóloga para auxiliarem o cartório da Infância e Juventude da Comarca de Nova Russas (a

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carga horária, o salário, a cumulação ou não com outras comarcas, a toda evidência, ficam a critério da cúpula do Poder Judiciário), seja mediante convênio, seja mediante designação de funcionário do quadro do Poder Judiciário, seja através de contratação via teste seletivo, concurso público, licitação ou qualquer outro meio a critério do TJ/CE, sob pena de multa diária pessoal, no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

d.4.) seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de incluir na proposta orçamentária para o ano de 2018 recursos para a manutenção da equipe multidisciplinar da Comarca de xxxx, composta por uma assistente social e uma psicóloga, conforme preceitua o art. 150 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

d.5.) caso já tenha sido apresentada a proposta orçamentária, seja imposto o dever jurídico (obrigação) ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) de aditá-la, no prazo de 15 (quinze) dias, para inclusão de referida verba, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais);

e) que a imputação de multa seja feita (tanto na medida liminar quando na sentença final) ao Exmo. Sr. Presidente do egrégio Tribunal de Justiça do Estado do CEARÁ pois é o agente político que tem o dever de cumprir os pedidos formulados.

Requer-se que o Exmo. Sr. Presidente do TJCE seja informado da presente decisão para cumprimento, em caso de deferimento, via correio (CPC/2015, art. 246 ), posto que a citação por mandato deve ser feita tão-somente ao Estado do CEARÁ (CPC, art. 247, III) que está no pólo passivo da demanda;

f) sejam o Estado do CEARÁ citado para integrar o pólo passivo da relação jurídico-processual, dando-lhe oportunidade para, se quiser, apresentar resposta ou reconhecer a procedência do pedido, no prazo legal;

g) a produção de todas as provas necessárias à demonstração do alegado, muito embora, em princípio, se trate de causa em que está presente a possibilidade do julgamento antecipado da lide, vez que se trata de prova eminentemente documental, não havendo necessidade de prova testemunhal (CPC/2015, art. 335, I,), sendo que se protesta, desde já, pela eventual juntada posterior de documentos;

h) seja julgada integralmente procedente a presente Ação Civil Pública para o fim de impor ao Estado do CEARÁ (Tribunal de Justiça) o dever jurídico (obrigação) de:

h.1.) implementar o Serviço Auxiliar Interdisciplinar da Infância e Juventude da Comarca de xxxxx, composto, pelo menos, por um cargo de psicólogo e um cargo

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de assistente social, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), a ser revertida em favor do Fundo Municipal da Infância e Juventude de xxxx;

h.2.) de incluir, anualmente, na proposta orçamentária do Poder Judiciário previsão de recursos para a manutenção da equipe multidisciplinar da Comarca de xxxxx, composta por uma assistente social e uma psicóloga, conforme preceitua o art. 150 do Estatuto da Criança e do Adolescente, sob pena de multa diária pessoal no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), a ser revertida em favor do Fundo Municipal da Infância e Juventude de xxxxx;

i) a condenação do réu às custas processuais, honorários advocatícios e demais verbas de sucumbência, a serem revertidos em favor do Fundo Especial do Ministério Público (Lei Estadual n. 12.241/98);

j) observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 91 do Código de Processo Civil/2015 quanto aos atos processuais requeridos pelo Ministério Público;

l) a intimação pessoal do Ministério Público para acompanhar todos os atos praticados no processo civil ora instaurado;

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), por ser inestimável.

Nestes termos,Pede deferimento;Comarca-CE, xx de xxx de xxxxx

xxxxxxxxxxxxPromotor de Justiça

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