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ANÁLISE DA INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ALUNOS COM
SÍNDROME DE DOWN EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO DF
Pró-Reitoria de Graduação Escola de Educação Curso de Pedagogia
Trabalho de Conclusão de Curso
Autora: Débora Ítila Ventura De Brito
Orientador: Prof. Dr. Elvio Marcos Boato
Brasília - DF
2015
DÉBORA ÍTILA VENTURA DE BRITO
ANÁLISE DA INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN
DE UMA ESCOLA PUBLICA DO DF
Trabalho de conclusão do curso apresentado
como requisito parcial para obtenção do
Título de Licenciatura em Pedagogia,
desenvolvido sob a orientação do Prof. Dr.
Elvio Marcos Boato.
Brasília – DF
2015
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ANÁLISE DA INCLUSÃO EDUCACIONAL DE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN DE
UMA ESCOLA PUBLICA DO DF
DÉBORA ÍTILA VENTURA DE BRITO
RESUMO:
Esta pesquisa teve como objetivo verificar a atuação dos professores que atuam com alunos com
Síndrome de Down em uma escola pública de Taguatinga-DF. Para a coleta de dados foram
observadas duas turmas, uma com um aluno Síndrome de Down e o outro com Transtorno global
do desenvolvimento, já a outra turma com seis alunos com Síndrome de Down e um com
Deficiência Intelectual. No entanto também foi necessária uma entrevista com dois professores e
quatro pais de alunos com Síndrome Down. Na análise dos resultados, foram observados os
domínios do questionário, o qual foi aplicado aos professores com o intuito de saber mais sobre a
atuação dos professores e o processo de inclusão das crianças com Síndrome de Down com os
demais alunos, sendo este questionário dividido em dois domínios, o primeiro contendo
perguntas para dois professores a cerca da metodologia aplicada em sala de aula e o outro com a
visão da família em relação ao desenvolvimento e a educação destinada para as crianças com
Síndrome de Down. A partir desse estudo verificou-se que a formação e a autonomia dos
professores contribuem para o processo de aprendizagem dos alunos com Síndrome de Down,
apesar de não haver uma parceria entre professor e escola dentro da instituição. Concluiu-se que
a inclusão dos alunos dos alunos com Síndrome de Down que estão inseridos nesta instituição,
apesar do comprometimento dos professores dos mesmos, não existe, causando aos pais e
professores um descontentamento visível.
Palavras-chave: Educação Inclusiva; Síndrome de Down; Formação; Família.
ABSTRACT: This research aimed to evaluate the performance of teachers who work with students who has
Down Syndrome in a public school at Taguatinga-DF. For data collection were observed two
groups, one with a student Down Syndrome's carrier and another group with a student who
has Pervarsive Developmental Disorder, and the second group with six students who has Down
Syndrome and one with Intellectual Disabilities. However, it was also required an interview with
two teachers and four student's parents with Down Syndrome. Analyzing the results, we observed
the domains of the questionnaire, which has applied to teachers in order to learn more about the
work of teachers and the process of inclusion of Down Syndrome's children carriers with another
students, and this questionnaire divided into two domains, the first containing questions for two
teachers about the methodology applied in the classroom and the second with the family's vision
for the development and the education designed for children with Down Syndrome. From this
study it was found that the formation and autonomy of teachers contribute to the learning process
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of students with Down Syndrome, although there is a partnership between teacher and school
within the institution. It was concluded that the inclusion of students with Down syndrome who
are included in this institution, althought the commitment of the teachers, doesn't exist, causing
for parents and teachers a visible discontent.
Keywords: Inclusive Education; Down's syndrome; Formation; Family.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo teve como principal foco a investigação de como se dá a atuação de
professores em relação às crianças com Síndrome de Down, analisando como uma escola da rede
pública do Distrito Federal tem auxiliado na educação inclusiva em relação ao desenvolvimento
de cada uma delas, pois a ideia de uma sociedade inclusiva é para que todos tenham o mesmo
direito em aprender de forma que lhes sejam oferecidas condições adequadas com respeito e
qualidade.
A Síndrome de Down ou Trissomia 21 como também é conhecida, segundo Danielski
(2001), ocorre por uma alteração genética causada pela presença de um cromossomo a mais na
célula, acarretando um variável nível de retardo no desenvolvimento físico, mental e motor. O
cromossomo extra se acrescenta ao par 21, a criança Down tem o desenvolvimento mais lento e é
grande a incidência de retardo mental podendo apresentar diversos problemas de saúde e as
características próprias podem diferir de pessoa para pessoa.
Porém, o aluno com SD apesar de se diferenciar dos demais por apresentar lentidão no
aprendizado não deve ser isolado ou esquecido pela escola, pelo contrario deve-se acolhê-lo com
afetividade fazendo com que ele se sinta capaz de aprender.
De acordo com Pueschel (1993), o professor tem o papel de mediador na aprendizagem
do aluno com Síndrome de Down, sendo, necessária uma adaptação curricular à qual deve
respeitar a realidade concreta tida no meio dessas pessoas.
Vários progressos já aconteceram em beneficio das pessoas com Síndrome de Down por
decorrência da Declaração de Salamanca, como ficou conhecido a Conferencia Mundial de
Educação Especial que ocorreu na Espanha em 1994 (BRASIL, 1994). Esse documento foi um
dos avanços mais importante para a história da educação, contribuindo para o direito de
socialização de pessoas deficientes, pois aponta para a necessidade que as escolas têm de se
ajustarem para receber a todos, independente de quais sejam suas dificuldades, apropriando de
um curriculum adequado, estratégias de ensino, recursos e ambiente organizado.
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Outros avanços não menos importante, como a Constituição Federal de 1988, a Lei das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, também vieram no sentido de efetivar o direito
à educação inclusiva das pessoas com deficiências.
No entanto, torna-se relevante verificar se as escolas da rede pública do Distrito Federal,
que recebem esta função de inclusão das pessoas com deficiência na escola comum, têm
desempenhado esse papel com a necessária qualidade e efetividade, pois crianças com Síndrome
de Down precisam, no seu processo educacional, de estudos e recursos que possibilite a elas a
aquisição de conhecimentos e o convívio social com os demais alunos para ter um
desenvolvimento integral.
Diante disso surgiu o interesse em pesquisar como é executada a inclusão de alunos com
Síndrome de Down em uma escola da rede pública do DF e qual é a postura dos educadores para
garantir uma educação inclusiva e de qualidade. Sendo assim, o objetivo desse estudo foi
verificar a atuação dos professores que atuam com alunos com Síndrome de Down em uma
escola pública de Taguatinga-DF.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo teve um enfoque qualitativo e, segundo Ludke e André (1986) nesse
caso, o pesquisador tem contato direto com o ambiente e a situação pela qual irá pesquisar, os
dados relatados e a análise dos dados tende a seguir um processo de instigação, o que torna a
pesquisa natural e rica. No entanto os dados obtidos nesse estudo ocorreram por meio de um
estudo de caso com alunos Síndrome de Down, professores e pais.
Para coleta de dados foi feita uma observação participativa classificada por DEMO (1995)
como uma “metodologia alternativa”, implicada em uma avaliação pela participação do público
ao qual foi destinada a pesquisa, considerando conhecimentos obtidos, que após consistirá na
organização dos dados e problemas identificados. Tendo que esta observação foi realizada em
duas turmas de classe especial de uma escola pública localizada em Taguatinga – DF, havendo
total participação do observador com os alunos, tanto nos momentos de atividades as quais foram
proposta pela professora, quanto no auxilio com os alunos no horário do lanche e recreio.
Após as observações foram realizadas entrevistas com professores e pais de alunos com
Síndrome de Down das turmas observadas, com o intuito de adquirir maiores conhecimentos
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sobre o processo de aprendizagem, analisar a atuação dos professores e o papel dos pais nesses
processos. De acordo com Rosa (2006), a entrevista é um instrumento fundamental para
aquisição de informações, a fim de se contextualizar momentos, comportamentos e sentimentos
vividos e ainda presentes na vida dos sujeitos, cabendo ao entrevistador transmitir aos
entrevistados tranquilidade e confiança.
Dessa forma o estudo foi realizado com duas turmas e com a duração de dois dias
destinados para cada turma, sendo que foram divididas 4 horas para cada dia de observação. Os
professores entrevistados foram nomeados de Professor “A” e Professora “B”.
2.1 Apresentação da escola pesquisada
A escola escolhida para realizar o presente estudo localiza-se em Taguatinga-DF. É uma
escola pública inclusiva, direcionada para o ensino médio e para educação de jovens e adultos
que ocorre nos períodos matutino, vespertino e noturno, oferecendo em seu espaço vinte salas de
aula grandes e arejadas, sendo apenas quatro delas destinadas para a educação especial. São dois
pátios externos grandes e um interno coberto onde ficam quatro mesas para o uso dos alunos no
horário do lanche, duas quadras de esportes, sendo uma de terra vermelha e a outra de cimento
não estando em bom estado. Na escola existe uma biblioteca grande que oferece computadores,
livros antigos e atuais para a realização das pesquisas, podendo esta ser frequentada por todos os
alunos, professores e comunidade.
A direção é composta por duas salas amplas, sendo elas divididas entre o diretor, vice-
diretor, coordenadora, orientadora e a psicopedagoga. Já a secretaria é uma sala pequena onde
ficam a secretária escolar e a supervisora.
Nesta escola são apenas quatro professores responsáveis pela educação especial e três
monitores, onde estudam quatorze alunos com deficiências em salas separadas dos demais
alunos, sendo sete desses com Síndrome de Down, três com deficiência intelectual, dois autistas e
dois com transtorno global de desenvolvimento e a escola possui um numero aproximado a mil
quatrocentos e trinta alunos no total.
Ao longo das observações pode-se perceber que na escola não existem salas de recursos
e nem professores responsáveis pelo apoio pedagógico para os alunos com deficiência, sendo que
os próprios professores que acompanham a sala de aula realizam este trabalho conforme acham
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necessário, não seguindo um padrão de atendimento ou uma rotina, podendo assim ser ou não
realizado, pois não existe uma supervisão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Professor A afirmou ser graduado em Pedagogia desde o ano de 2000 pela
Universidade Católica de Brasília (UCB), além de possuir especialização em psicopedagogia pela
Universidade de Brasília (UNB). Foi diretor por oito anos em uma escola da Ceilândia, Região
Administrativa do Distrito Federal, e há três anos assumiu turmas de educação especial em
Taguatinga, o que o levou a aprimorar o conhecimento nesta área com o intuito de exercer um
bom trabalho. Sendo assim, fez a opção por realizar alguns cursos pela Escola de
Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE) da Secretaria de Educação do Distrito
Federal, como o de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), alfabetização matemática
para aluno com Deficiência Intelectual, inclusão escolar e por ultimo o TEACCH (Rotina para
alunos autistas).
Já a Professora B é graduada pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e tem
Especialização em desenvolvimento humano pela Universidade de Brasília (UNB). Além disso,
vem realizando alguns cursos pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação
(EAPE) com o objetivo de atingir sucesso na educação de alunos com deficiência. Assim, já fez
curso sobre Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), Deficiência intelectual (DI),
Educação matemática para aluno com Deficiência Intelectual, Deficiências Múltiplas, Educação
Precoce e Inclusão Escolar.
Esse compromisso dos Professores com sua formação docente é quesito indispensável
para a atuação e preparação dos mesmos em classe inclusiva, considerando que tal formação deve
ser composta por fundamentação teórica, instrumentalização técnica e sensibilidade diante das
causas subjetivas que passam pelas diversidades.
Segundo Mazzota (VOIVODIC, 2008, p.40) “a inclusão só ocorre quando o professor é
tido e visto como ator fundamental no processo educativo”. Portanto, se espera que esse educador
seja uma ponte entre o educando e o seu desenvolvimento, e para que isso aconteça o professor
deve estar preparado profissionalmente, receber o amparo da escola, o apoio necessário de seus
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gestores, coordenadores e de toda a equipe da instituição, além de estar disponível para adquirir
novos conhecimentos e aperfeiçoar os já obtidos.
Hoje, o Professor A trabalha com uma turma de educação de jovens e adultos (EJA) de
primeiro seguimento e interventiva. Porém, os dois alunos deficientes que compõem esta turma
se encontram em um nível de educação infantil segundo o educador. Por isso, o professor A diz
fazer uso de vários métodos adaptados para executar um trabalho satisfatório, chegando a citar o
método da repetição por meio de atividades lúdicas que trabalha a coordenação dinâmica geral e
a motricidade fina, além do letramento. Para que as aulas sejam prazerosas ele utiliza recursos
pedagógicos comprados ou confeccionados por ele mesmo, dando assim, suporte aos métodos
trabalhados em sala de aula.
A professora B acompanha uma turma de Educação de jovens e adultos – interventivo do
primeiro segmento. A turma é constituída por seis adolescentes com Síndrome de Down e um
com Deficiência Intelectual. A faixa etária deles está entre dezessete e vinte e um anos, sendo que
todos se comunicam e se ajudam quando necessário, porém apenas um aluno sabe ler e escrever.
Segundo a Professora B:
“Os alunos com Síndrome de Down necessitam de mais tempo para aprender. Todos os
dias eu tento repetir no inicio da aula o que aprendemos no dia anterior, porque não são todos
que conseguem se lembrar do conteúdo estudado.”
A professora B afirmou ainda trabalhar bastante com o método da repetição e falou que
não faz uso de recursos pedagógicos além da lousa e dos cadernos, pois além da escola não
disponibilizar materiais adequados para os níveis dos seus alunos, ela também disse não ter
habilidade para confecciona-los, mas, apesar das dificuldades encontradas em seu cotidiano ela
jamais deixa de atender adequadamente a todos.
Essa autodeterminação que os professores A e B possuem ao se dispor em relação à busca
por novos métodos e a criação de novos recursos sem poupar esforços é a noção do ser humano
ativo que busca o crescimento, satisfação e a progressão do eu no intuito de se integrar com as
estruturas sociais. Segundo teóricos Ryan, Connell e Deci (1985), que desenvolveram a teoria da
autodeterminação, ela está ligada a motivação humana, a integração da personalidade e ao bem-
estar pessoal. Esta autodeterminação no âmbito educacional focaliza a maneira pela qual o
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professor irá provocar interesses nos estudantes pela aprendizagem, na valorização pela educação
e na confiança de suas próprias capacidades e atributos.
Sendo assim, o estilo motivacional dos professores observados tem um papel de suma
importância na educação, por meio do impacto que exerce no processo de desenvolvimento
motivacional dos estudantes.
De acordo com Deci e Ryan (2000), esta disponibilidade é voluntaria e traz ao individuo
experiências interessantes que ajudam a alcançar objetivos como, o de exercitar capacidades,
buscar vínculos sociais, obter sentidos unificados do eu por meio da integração interpessoal e o
de sentir-se confiante diante de obstáculos.
Com relação à forma de avaliar, os Professores A e B afirmaram que os alunos são
avaliados no decorrer do ano letivo e não com uma atividade específica aplicada bimestralmente.
Dessa forma, durante o ano são observados os progressos e dificuldades reais de cada aluno,
cabendo aos professores elaborar um relatório onde devem constar as situações vividas no âmbito
escolar e familiar.
No que se refere ao acompanhamento psicopedagógico da escola com relação ao trabalho
em sala de aula, foi observado no decorrer deste estudo que não há qualquer ajuda direcionada
aos alunos com deficiência que estudam nas duas turmas observadas. Cabe aos próprios
professores, considerando sua formação e especialização, fazer o acompanhamento educacional e
psicopedagógico dos alunos, além de manter uma parceria efetiva com os pais dos mesmos.
Entretanto, esta é uma postura que não condiz com o que determina a Resolução
CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, que no seu Artigo 8º propõe:
As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de
suas classes comuns:
I - ...
II - ...
III – ...
IV – Serviços de apoio pedagógico especializado, realizado, nas classes
comuns, mediante:
a) atuação colaborativa de professor especializado em educação especial;
b) ...
c) atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e
interinstitucionalmente;
d) disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e
à comunicação.
V – serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos, nas quais
o professor especializado em educação especial realize a complementação ou
suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais
específicos (BRASIL, 2001).
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De acordo com o Professor A os alunos que acompanha estão no nível de alfabetização,
apesar da idade dos dois. Mas por decorrência dos problemas referentes às deficiências que
apresentam, ele afirma ser uma educação bastante comprometida, onde a repetição das vogais e
dos numerais do 1 ao 10, por exemplo, precisa ser diária, pois os dois alunos esquecem o
conteúdo já apresentado e se ausentam das aulas com frequência por necessitarem de
acompanhamento de médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e também por ficarem doentes
com mais facilidade. Sendo assim, o processo de alfabetização caminha devagar de acordo com o
tempo e o nível deles.
Um dos alunos do Professor A, tem diagnostico de Síndrome de Down, apresentando
Deficiência Intelectual considerada pela Medicina como Severa. Também apresenta Ecolalia, o
que faz com que sua autonomia seja bastante comprometida mesmo aos 17 anos. Segundo o
Professor A é necessário que ele o leve ao banheiro, abaixe a calça, cueca e segure a porta, pois
ele não consegue tranca-la e após isso é necessário que o próprio professor faça a higienização
caso necessário.
Já o segundo aluno tem 20 anos e apresenta Transtorno global do desenvolvimento
(TGD), o que também faz com que o professor utilize métodos que trabalham a motricidade, a
percepção e a repetição por meio da prática.
Na turma da Professora B, diferentemente dos alunos do Professor A, todos os alunos,
segundo ela, conseguem ir ao banheiro e ao refeitório sozinhos, sendo que essa autonomia é
trabalhada em sala desde o primeiro momento em que ela os conheceu e afirmou ainda que
apesar de terem a Síndrome de Down não existem alunos em sua turma que tenha a motricidade
comprometida ou que tenha um grau de Deficiência Intelectual profunda. Porém todos recebem o
apoio necessário devido as suas limitações a partir da síndrome a qual possuem, sendo que alguns
deles estão entre os níveis de educação infantil que seria a pré-escola, enquanto outros já estão no
nível de alfabetização.
Essas posturas dos professores A e B apontam para o entendimento dos mesmos de que
todo ser humano apresenta limitações e todos são merecedores de uma educação de qualidade.
Para tanto, o educador precisa entender que cada criança independente de ter ou não alguma
deficiência desenvolve suas habilidades e competências de forma diferente uma das outras.
Segundo Gorgatti e da Costa (2005, p. 19) “o professor, como mediador do conhecimento
e entendedor dos limites de cada aluno, deve inclui-los a partir de meios que possibilitam o
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aprendizado sobre o eu em diferentes situações de ideias e sentimentos, assim, respeitando suas
diferenças”. Cabe salientar que a ideia de uma sociedade inclusiva é para que haja a valorização e
o respeito às diversidades de cada sujeito, sendo necessário garantir a participação de todos, e o
acesso a todas as oportunidades, independente das particularidades de cada individuo.
Dessa forma, para que sejam atendidas as necessidades reais e para que este processo
aconteça de uma maneira eficaz, é necessária a disposição de todos os envolvidos, médicos,
educadores do ensino regular e especial, família, psicólogos, além de projetos que favoreçam
condições de desenvolvimento e aprendizagem.
Mas mesmo diante das dificuldades apresentadas, no que diz respeito ao rendimento da
turma, a professora B citou alguns alunos como a Aluna 1, que é sua aluna há três anos e que aos
quinze anos de idade não conseguia copiar nenhuma letra do quadro, já hoje comemora, pois com
dezoito anos ainda que com dificuldade na escrita, consegue copiar com êxito. A educadora
também citou a Aluna 2 que aos dezessete anos de idade iniciou o ano de 2015 com muita
timidez o que dificultava a socialização da mesma. Porém, no decorrer do ano, ela tem se
socializado e feito amizades com os colegas de turma, o que para a professora B é um grande
salto para a educação da mesma.
Já o Aluno 3, de dezesseis anos, que iniciou o ano de 2015 com dificuldade em
interpretação de texto quando maior do que três parágrafos, teve um enorme avanço no segundo
semestre deste ano, pois ele esta conseguindo ler e compreender, sendo capaz de responder
perguntas relacionadas aos textos de geografia e história, o que, para ser feito antes, seria
necessário a ajuda da professora. Porém a Professora B identificou que seria necessário utilizar
em todos os conteúdos o Luan Santana (cantor) como personagem, pois o Aluno 3 o tem como
ídolo e dessa forma ele consegue prender a atenção no texto e compreende-lo. Ressaltou ainda
que este é um aluno privilegiado, pois os pais possuem condições financeiras melhores do que os
demais, sendo acompanhado por psicopedagogo, psicólogo, neurologista, fonoaudiólogo e com
acesso a aula de reforço e esporte. Dessa forma ela concluiu que o desenvolvimento desse aluno
é maior e acontece mais rápido que nos demais.
Já o Professor A, afirmou que o progresso dos alunos com deficiência, apesar de tantas
dificuldades no ano de 2015, na visão dele, está satisfatório, pois o mesmo diz:
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“O aluno (com Síndrome de Down) no inicio do ano não conseguia sair da letra ‘C’ e
muito menos levantava a visão enquanto realizávamos uma atividade. Mas desde o mês de junho
o aluno mostra estar se condicionando a erguer a visão para a realização das atividades e já
consegue repetir todas as letras do alfabeto e isso é um avanço enorme para ele e a família dele
está muito orgulhosa”.
Com relação ao aluno com TGD, o professor A afirma:
“Esse aluno para mim foi um desafio, porque ele era agressivo e não parava em sala,
sempre que íamos executar alguma tarefa ele desconversava e saía de sala, por isso dificilmente
conseguíamos concluir uma atividade. Hoje já não é mais com tanta frequência que ele se
ausenta, a não ser quando ele chega nervoso. Com ele eu nunca posso dar bobeira, dar as costas
enquanto ensino e deixar o outro aluno de costas para ele jamais, porque já aconteceu dele
pegar a caneta e segurar como se quisesse furá-lo. Mas hoje sabendo de tudo isso eu sei como
devo agir com ele nesses momentos”.
Com relação ao progresso dos alunos, citado pelos dois professores há que se observar
que, mesmo sem o apoio necessário da escola, o empenho profissional resultou num
desenvolvimento significativo da aprendizagem, pois estimulou as capacidades cognitivas, o
comportamento, a linguagem, autonomia e socialização dos alunos.
De acordo com Nunes (2008), para que o desenvolvimento de alunos com deficiência
aconteça, é preciso que haja preparo por parte do educador, a fim de ajudar o sujeito a se
socializar com o meio em que vive e esse preparo pode ser plenamente observado nos dois
professores que participaram da pesquisa.
No que se refere ao comportamento dos alunos sem deficiência para com os alunos dos
Professores A e B, de acordo com a opinião dos dois, foi possível concluir que a inclusão, nesse
caso, é uma utopia e que infelizmente não existe nessa escola. Segundo o Professor A, os alunos
durante o intervalo se distanciam dos alunos com deficiência e a escola não trabalha com nenhum
projeto destinado a educação inclusiva, o que na visão dele é de suma importância para o
crescimento social dos estudantes que ali estão inseridos.
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Segundo a Professora B são realizadas várias oficinas na escola com os alunos sem
deficiência, nas quais sua turma poderia estar inserida, mas infelizmente a direção não comunica
ou sequer convida seus alunos. Disse ela:
“Muitas vezes a gente fica sabendo depois que já está acontecendo, por que eles nunca
avisam ou sequer perguntam se a gente quer levar os alunos”.
A professora B ressaltou ainda que:
“A inclusão aqui não acontece nem entre os alunos e nem entre os professores que atuam
com os alunos sem deficiência, porque eu já ouvi de professora aqui, que nós professores de
turmas especiais não sabemos de nada e por isso optamos por trabalhar com as pessoas com
deficiência”.
Considerando que todos nós somos merecedores de respeito e que a ideia de uma
educação inclusiva, segundo Alves (2006), parte do princípio de que as pessoas com deficiência
precisam se sentir valorizadas, inteligentes e capazes assim como os demais alunos de uma escola
regular, respeitando, sobretudo os limites de cada sujeito, a postura apresentada pela escola diante
dos alunos das classes especiais revela que infelizmente a inclusão é vista com descaso e
despreparo de muitos docentes.
Ainda de acordo com Alves (2006), a inclusão só existe quando há a colaboração de
todos, e quando as pessoas envolvidas se preocupam com a participação das pessoas com
deficiência nas atividades, sem diferencia-los dos demais alunos.
É evidente que devido à deficiência intelectual presente na Síndrome de Down a educação
desses alunos é um processo complexo que necessita de adaptação e o uso de recursos especiais,
por muitas vezes, demandando cuidado e acompanhamento por parte dos educadores e pais.
Além disso, de acordo com Vygotsky (1991), as dificuldades dos indivíduos com o atraso mental
se dão em grande parte pelo seu isolamento e a pouca interação com indivíduos mais evoluídos.
No entanto, é imprescindível para que exista uma educação de qualidade, que os
professores envolvidos no processo de inclusão busquem novos conhecimentos e estudos de
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métodos que os habilite para o trabalho com os alunos com deficiência, mas que também capacite
os demais alunos para a convivência.
Sobre a parceria da família com a escola, segundo os professores A e B, apesar dos pais
não comparecerem nas reuniões, a presença deles é diária, pois os pais dos alunos os levam para a
escola e os buscam na porta da sala de aula, fato que permite um diálogo assíduo, tornando os
pais parceiros dos professores. Porém, não existe uma assiduidade dos pais nas reuniões
escolares, pois os mesmos declaram não poder comparecer devido ao trabalho, o horário e o dia
em que é agendada a reunião.
Segundo os professores entrevistados, a participação da família é bastante importante
durante o processo de desenvolvimento de qualquer individuo. Para Freire (1987, p. 68),
“ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo”. Assim, no âmbito educacional, quando o professor se encontra ciente
de situações relacionadas ao cotidiano do seu aluno no meio familiar e social, o trabalho que irá
realizar será mais organizado e possivelmente a elaboração de atividades práticas também.
Corroborando com tal questão, Mazzota (apud VOIVODIC, 2008, p.30), “é muito
importante que a inclusão e a integração de qualquer individuo, com necessidades especiais ou
não, seja compreendida pelo seu contexto de vida, ou seja, dependem das condições sociais,
econômicas e culturais da família, da escola e da sociedade e essa inclusão depende de cada um
de nós”.
Em relação ao processo de autonomia de um dos alunos com Síndrome de Down, do
Professor A, segundo seu pai, é bastante limitado, devido a todos os problemas que ele apresenta
e às regressões que vêm acentuando há cerca de dois anos. Porém, o pai dele relata não ter
desistido de estimula-lo nos momentos das refeições, procurando fazer com que ele tenha a
autonomia de pegar um copo com água, segurar a colher ao comer e o de abrir o saco de pão para
pega-lo.
Já no processo de autonomia realizado em casa por parte dos pais dos alunos da
Professora B, foi identificado que esses alunos apresentam boas condições referentes às
atividades da vida autônoma e social. As mães das Alunas 1 e 2 que conversaram com a
pesquisadora durante o estudo, afirmaram que as duas tem a autonomia ao comer, ao escovar os
dentes, ao pentear o cabelo, calçar a meia, o tênis e tomar banho sozinhas, apesar de ser
necessário colocar o shampoo e o condicionador em um copo descartável com a finalidade de
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evitar o desperdício. Já o pai do Aluno 3 afirmou que o mesmo também possui autonomia nesses
afazeres, no entanto é necessário vigia-lo, pois ele permanece com o fone de ouvido durante todo
o dia ouvindo Luan Santana esquecendo até mesmo de tomar banho.
Quando estimulados a falar sobre a satisfação com a escola, foi perceptível o
descontentamento dos pais com a direção e o seu trabalho, pois os pais veem muitas falhas, por
exemplo, o fato deles não estimularem a inclusão, o de não ofertar nenhum tipo de esporte,
gincana ou aula de Educação Física para os alunos com deficiência de forma a aproximá-los com
os demais alunos sem deficiência.
Já em relação à satisfação com o papel exercido pelos Professores A e B, os pais
demonstraram muita gratidão e satisfação. Apenas uma mãe disse não estar de acordo com a
didática aplicada pela Professora B, pois ressaltou que a filha estuda há três anos com ela e estava
aprendendo apenas o alfabeto e os numerais. Disse a mãe:
“Conversei com ela sobre esse assunto no bimestre passado e disse que não estava
satisfeita com o que ela estava fazendo com a minha filha, porque ela não estava progredindo
muito, ao contrário, estava era estagnada nisso. Mas daí ela me disse que ia aplicar atividades
sobre essas disciplinas associando com o alfabeto e os numerais. E foi aí que ela começou a
ensinar essas matérias, porque senão estava ate hoje no alfabeto, nas vogais e nos números de
um a dez”.
Em contrapartida a mãe da Aluna 2 disse estar satisfeita com o trabalho da professora e
quando citou a crítica feita pela mãe da Aluna 1, disse entender o motivo que a professora B não
seguia com a matéria, ressaltou que o aprendizado da sua filha depende muito da repetição e
chegou a comparar o quanto era trabalhoso para ela ensinar sua filha em casa sozinha com o
trabalho da professora que tem em sala de aula seis alunos iguais à filha. E afirmou que esse era
um trabalho que exige muita paciência e que por isso disse admirar muito a professora B.
O pai do Aluno 3 também demonstrou satisfação com relação ao aprendizado do seu
filho. Porém, lembrou que ele tem acompanhamento com uma professora de reforço particular
que associa o conteúdo dado pela professora B com outras atividades.
Percebeu-se assim que o bom desenvolvimento dos alunos dos Professores A e B se deu
em função da formação continuada e do empenho e interesse dos mesmos, apesar do descaso da
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escola com relação ao processo inclusivo. Pode-se assim perceber que a formação possui um
papel primário no conhecimento do professor cabendo a ele estimular o desenvolvimento
profissional dos alunos, promovendo uma preparação profissional capaz de valorizar os
paradigmas de formação preparando professores reflexivos que assumem a responsabilidade do
seu desenvolvimento como educador.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo apresentado ficou salientado que a educação inclusiva não é um
beneficio para as crianças com Síndrome de Down, por não ser exercida de maneira ética e
respeitosa, quando esse é um direito de todos, independente das diferenças que cada indivíduo
possua. No entanto cabe-se ressaltar que os Professores A e B tidos neste estudo, são motivados
por uma força intrínseca, não medindo esforços para ir de encontro com novos recursos e
condições humanas e sociais para suprir a falta dos gestores na educação das crianças com
Síndrome de Down.
Dessa forma a educação inclusiva, quando não aplicada de forma correta, leva à exclusão
de alunos que deveriam estar em contato com os demais, não cumprindo seu objetivo principal
que é o de possibilitar a aprendizagem por meio da troca de saberes e o de combater a
discriminação a fim de formar uma sociedade menos preconceituosa onde a igualdade deve sim,
ser direito de todos.
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5. REFERÊNCIAS
ALVES, Graziela. A Construção de Uma Escola Inclusiva. 2006. Disponível em:
http://www.profala.com/arteducesp103.htm. Acesso em: 20 out. 2015.
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