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MODELO DE LOGÍSTICA REVERSA PÓS-CONSUMO PARA APARELHOS CELULARES POR MEIO DE CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS DE CICLO ABERTO Reginaldo Rossi, Fabrício Molica de Mendonça, Susana A. Q. Feichas (Fundação Getútio Vargas; Universidade Federal de São João del-Rei) Resumo: Este trabalho teve por finalidade a criação de um modelo de logística reversa pós- consumo de ciclo aberto de aparelhos celulares, de forma integrada, envolvendo todos os atores já existentes no mercado, de modo que o maior número de aparelhos celulares em desuso seja coletado, armazenado e destinado corretamente, atendendo a imposição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e resolvendo problemas relacionados aos pontos de coletas, a falta de escala e os custos de transporte e tratamento de resíduos. Por meio da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental nos relatórios de sustentabilidade das principais operadoras de telefonia celular do país e de entrevistas semiestruturadas aplicadas a empresas de logística reversa e pontos de comercialização de celulares foi possível levantar e analisar o modelo de logística reversa praticados pelas principais operadoras; propor um modelo de logística reversa e, ainda, construir um conjunto de ações a ser praticadas pelas principais operadoras, no sentido, de melhorar a eficiência e eficácia do novo modelo, com maior impacto no consumidor de aparelhos celulares. Palavras-chaves: Logística Reversa; Resíduos; Telefones Celulares ISSN 1984-9354

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MODELO DE LOGÍSTICA REVERSA PÓS-CONSUMO PARA APARELHOS CELULARES POR MEIO DE CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS DE CICLO ABERTO

Reginaldo Rossi, Fabrício Molica de Mendonça, Susana A. Q. Feichas

(Fundação Getútio Vargas; Universidade Federal de São João del-Rei)

Resumo: Este trabalho teve por finalidade a criação de um modelo de logística reversa pós-consumo de ciclo aberto de aparelhos celulares, de forma integrada, envolvendo todos os atores já existentes no mercado, de modo que o maior número de aparelhos celulares em desuso seja coletado, armazenado e destinado corretamente, atendendo a imposição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e resolvendo problemas relacionados aos pontos de coletas, a falta de escala e os custos de transporte e tratamento de resíduos. Por meio da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental nos relatórios de sustentabilidade das principais operadoras de telefonia celular do país e de entrevistas semiestruturadas aplicadas a empresas de logística reversa e pontos de comercialização de celulares foi possível levantar e analisar o modelo de logística reversa praticados pelas principais operadoras; propor um modelo de logística reversa e, ainda, construir um conjunto de ações a ser praticadas pelas principais operadoras, no sentido, de melhorar a eficiência e eficácia do novo modelo, com maior impacto no consumidor de aparelhos celulares.

Palavras-chaves: Logística Reversa; Resíduos; Telefones Celulares

ISSN 1984-9354

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1 INTRODUÇÃO

Os aparelhos de telefone celular quando chegam ao final do ciclo de vida, por qualquer

motivo, tornam-se inúteis e, consequentemente, são tratados como lixo, descartados em aterros

sanitários ou mantidos nas residências. O aquecimento do mercado de celulares tem feito com que

esse tipo de lixo venha apresentando nível de significância dentro da categoria “lixo eletrônico”,

considerado tóxico e nocivo, porque contamina o solo, os lençóis freáticos e as pessoas que

frequentam tais ambientes em busca de materiais para vender e poder tirar seu sustento. No Brasil,

por exemplo, no ano de 2012 foram vendidos 62 milhões de celulares (IDC CONSULTORIA,

2012) em um universo de mais de 256 milhões de linhas ativas de celulares (ANATEL, 2012),

funcionando com aparelhos de menos de dois anos de uso (CPQD, 2012).

Nesse contexto, no Brasil, foi aprovada a Lei nº 12.305 de 02 de agosto de 2010,

conhecida como Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Nessa lei há a obrigatoriedade da

estruturação e implementação de sistemas de logística reversa por parte dos fabricantes, dos

importadores, dos distribuidores e dos comerciantes de eletroeletrônicos, em consonância com os

planos de gerenciamento de resíduos, desenvolvidos pelo poder público.

A partir da aprovação do PNRS há registros de esforços isolados de fabricantes (Nokia,

Motorola, Samsung e LG), operadoras (TIM, Vivo, Claro e Oi) e empresas e cooperativas

especializadas em coleta e tratamento de resíduos eletroeletrônicos (Eco-Cel, Oxil, Cooperei,

GM&C LOG e outras 200 empresas) no sentido de contribuir para solucionar o problema dos

aparelhos celulares depois de não serem mais usados pelo consumidor. No entanto, os resultados

de tais esforços para aparelhos celulares são bastante modestos, pois, pesquisas revelam que

apenas 2% dos aparelhos são destinados ás empresas especializadas e 98% são descartados no lixo

ou ficam guardados nas residências (ECO-CEL, 2011). No ano de 2012, 6.2 milhões de celulares

foram parar nos lixões a céu aberto e 19,84 milhões de aparelhos permaneceram sem utilidade nas

residências (ISC CONSULTORIA, 2012; DIÁRIO DO GRANDE ABC, 2012). Tal valor é

expressivo quando comparado como volume de lixo eletrônico gerado no mesmo ano que foi de

97 mil toneladas (CPQD, 2012).

Acredita-se que os resultados pouco expressivos dessas ações isoladas se devem à falta de

uma estrutura de logística reversa organizada e integrada, com atribuições de responsabilidades

para todas as partes envolvidas – clientes, vendedores, distribuidores e produtores –. Isso dificulta

a divulgação junto aos consumidores, que continuam não sabendo o que fazer com o telefone

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depois da aquisição de um novo e, consequentemente, não proporcionam ganhos de escala e

continuidade de coleta desses aparelhos e baterias (ROSSI, 2013).

Assim, este trabalho tem por finalidade propor um modelo de logística reversa pós-

consumo de ciclo aberto, abrangendo, de forma integrada, todos os agentes envolvidos, de modo

que o maior número de aparelhos de telefone celular em desuso seja coletado, armazenado e

destinado corretamente. Mais especificamente, este estudo pretendeu: a) analisar as

especificidades do mercado de aparelhos celulares no Brasil de modo a verificar o seu impacto na

geração de resíduos eletroeletrônicos; b) Levantar o modelo de logística reversa pós-consumo de

celulares no Brasil, praticado pelos principais fabricantes e operadoras de celulares do país, de

modo a verificar possíveis falhas nesse modelo; c) Propor um modelo de logística reversa pós-

consumo para aparelhos celulares que possa servir de base para a construção de ações das

empresas de telefonia celular e de produção de aparelhos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 LOGÍSTICA REVERSA PÓS-CONSUMO DE CANAIS DE

DISTRIBUIÇÃO REVERSOS DE CICLO ABERTO

A logística reversa pode ser entendida como o processo de planejamento, implementação e

controle de um fluxo – eficiente e de baixo custo – de materiais, de produtos em processo, de

produtos acabados e de informações relacionadas a produtos pós-venda ou pós-consumo (LEITE,

2009), desde o ponto de consumo até o ponto de origem, por meio de canais de distribuição

reversos (ROGERS E TIBBEN-LEMBKE,1998; 2001; DIAS, 2005). Tem como propósito

recuperar valor e garantir o reaproveitamento de materiais, peças e produtos no mesmo ciclo

produtivo – canal fechado – em outros ciclos – Canal aberto – ou ainda dar outra destinação final

ambientalmente adequada (CARTER & ELLRAM, 1998; LEITE, 2003; CORRÊA E XAVIER,

2013).

Os canais reversos de pós-venda surgem motivados por aspectos relativos a garantia e a

qualidade de produtos, assumida pelos fabricantes e varejistas, na devolução ou troca de um

produto danificado; na troca de produtos que se tornaram obsoletos nos pontos comerciais,

mediante acordos; substituição de componentes, por meio de assistência técnica. Os canais

reversos de pós-consumo surgem quando os produtos se encontram no estágio de fim de uso ao

proprietário anterior, porém, em condições de uso, ou que atingiram o fim de sua vida útil, em que

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não há a possibilidade de ser reutilizado, por mail estado, implicações legais ou obsolescência

(LEITE, 2009).

Os canais reversos de ciclo fechado ocorrem quando os materiais reciclados podem ser

utilizados para a fabricação do mesmo tipo de produto, como é o caso de óleos lubrificantes e suas

embalagens que podem voltar como óleo lubrificante e embalagens. Os de ciclo aberto ocorrem

quando os materiais são usados para a fabricação de produtos diferentes do original, como é o

caso de pneus que podem ser transformados em matéria prima da indústria asfáltica (COSTA,

MENDONÇA E SOUZA, 2014).

A Lei 12.305/2010 define a logística reversa como “Instrumento de desenvolvimento

econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a

viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,

em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”

(BRASIL, 2010).

Miguez (2010) chama a atenção ao fato de que nem sempre há uma compreensão tão

ampla da logística reversa, por parte dos gestores. Muitas vezes, as empresas se limitam a recolher

produtos, sem gerenciar adequadamente o caminho destes até o descarte. Por isso, Leite (2009)

ressalta os aspectos econômicos da logística reversa. De acordo com ele, as entidades relacionadas

coma logística reversa devem atender a algumas condições, tais como: a) remunerar todas as

etapas reversas; b) ser responsável pela qualidade e integridade dos materiais reciclados

processados; c) preocupar com a escala econômica da atividade e a continuidade de recebimento

de materiais; d) garantir a existência de mercado consumidor competitivo para produtos/matérias-

primas com conteúdo de reciclados.

Daher et al. (2003) consideram que a logística reversa diz respeito a todas as atividades

logísticas de coletar, desmontar e processar produtos, materiais ou peças após seu uso, para

assegurar uma recuperação sustentável. Rogers e Tibben-Lembke (2001) listam as seguintes

atividades: retorno, reuso, recuperação, reforma, remanufatura, reempacotamento, reciclagem ou

descarte em aterro. Tais atividades foram classificadas por Prahinski & Kocabasoglu (2006) em

quatro grupos: 1) reuso por meio de revenda imediata ou reutilização do produto; 2) upgrade do

produto graças a sua reembalagem, reparação, reforma ou remanufatura; 3) recuperação do

produto tanto por canibalização - reaproveitamento de alguns componentes dos produtos

retornáveis (KUMAR & MALEGEANT, 2006) –. quanto por reciclagem; 4) gerenciamento dos

resíduos a serem incinerados ou enviados para aterro.

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O aparelho celular, por exemplo, é considerado um bem de consumo durável composto por

diversos tipos de materiais como plásticos, circuitos, metais, cristal líquido e placa de magnésio,

que podem retornar para a linha de produção de novos produtos, ou, então, que seus componentes

passam a ser reaproveitados ou simplesmente servir como fonte de energia para a produção de

outros produtos. Por isso, sua logística reversa é caracterizada como de ciclo aberto (TADEU,

2012).

2.2 Especificidades do mercado de aparelhos celulares no Brasil e a necessidade

de sua logística reversa

No Brasil, a existência de 256 milhões de linhas ativas de celulares (ANATEL, 2012) e o

tempo médio de vida de dois anos para cada aparelho celular (CPQD, 2012) – que é o tempo

transcorrido desde a sua produção original até o momento em que o primeiro possuidor se desfaz

dele (TADEU, 2012) – representam, por um lado, o aquecimento no mercado de eletrônicos, mas,

por outro, significa o aumento do descarte de aparelhos usados e de seus componentes de forma

inapropriada, contribuindo para a geração do lixo eletrônico, que contém substâncias nocivas

como chumbo, mercúrio, cádmio ou berílio (SEPROJ, 2012).

No ano de 2012, do volume de vendas de 62 milhões de novos celulares, há uma estimativa

de que 6,2 milhões foram descartados em aterros sanitários a céu aberto e 19,84 milhões de

aparelhos são mantidos nas residências sem utilidade (IDC CONSULTORIA, 2012), totalizando

26,40 milhões de aparelhos. Considerando uma média de 192 gramas por celular (considerando

aparelhos, baterias e carregadores), esse volume é equivalente a 5.000 toneladas de resíduos

gerados.

Além disso, o aumento da demanda pelos celulares aumenta a pressão pela extração de

recursos naturais, intensificando as atividades extrativistas de mineração e de petróleo (SEPROJ,

2012), provocando aumento nas duas pontas do processo de insumos e de lixo.

De acordo com a Eco-Cel (2011), os aparelhos de telefone celular são compostos de

diferentes tipos de materiais, sendo que, 80% desses componentes podem ser reciclados. Os

plásticos representam 45% do aparelho; a placa de circuito, 40%; os metais diversos como prata,

ouro, paládio, cobre e cobalto e outros representam 8%; o cristal líquido, 4%; e a placa de

magnésio, 3%.

Em relação aos metais preciosos que fazem parte do celular, estudos desenvolvidos pela

UNEP (2009) mostram que, um celular contém 0,25 gramas de Prata (Ag), 0,024 gramas de ouro

(Au), 0,09 gramas de paládio (Pd), 9 gramas de Cobre (Cu) e 3,8g de Cobalto (Co). Considerando

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essas informações e, ainda, que, no ano de 2012, 26,40 deixaram de ter uso (6,2 milhões

descartados no lixo e 19,84 milhões mantidos nas residências), caso houvesse um processo

eficiente de logística reversa de telefones celulares, estes contribuiriam com 42% de materiais

preciosos que deixariam de ser extraídos para a fabricação de novos celulares, conforme mostra a

Tabela 1

Tabela 1 – Quantidade de metais preciosos em celulares novos e descartados em 2012

Metais Quantidade Quantidade de metais em toneladas contidos em celulares Preciosos

por celular

(em gramas) Novos

(62.000.000)Sem uso

(26.040.000 ) Em aterros (6.200.000)

Nas residências (19.840.000)

Prata (Ag) 0,250 15,5 6,5 1,6 5,0 Ouro (Au) 0,024 1,5 0,6 0,1 0,5 Paládio (Pd) 0,009 0,6 0,2 0,1 0,2 Cobre (Cu) 9,000 558,0 234,4 55,8 178,6 Cobalto (Co) 3,800 235,6 99,0 23,6 75,4 Total 13,083 811,1 340,7 81,1 259,6 Fonte: Adaptado de UNEP (2009) e IDC CONSULTORIA (2012)

Apesar da importância da implantação da logística reversa de celulares no Brasil como

estratégia de reduzir o volume de resíduos eletrônicos descartados nos aterros, atender o PNRS e,

ainda, reduzir o uso de recursos naturais, a implantação da logística reversa está atrelada a fatores

econômicos, tecnológicos, logísticos, ecológicos e legais (LEITE, 2009). Segundo o autor:

a) Os fatores econômicos estão relacionados com as economias necessárias e escalas econômicas

para que as matérias-primas secundárias possam reintegrar aos processos produtivos e

possibilitar o retorno financeiro adequado aos agentes da cadeia produtiva reversa;

b) Os fatores tecnológicos estão relacionados a existência de tecnologia que permita o tratamento

econômico de resíduos a partir de seu descarte, passando por sua coleta, desmontagem, seleção

e separação de materiais constituintes, no processo de reciclagem ou tratamento no processo de

transformação de resíduos em matérias-primas recicladas, as quais substituirão as novas quando

de sua reintegração ao ciclo produtivo;

c) Os fatores logísticos estão relacionados à existência de sistemas de transporte, localização e à

organização da cadeia de distribuição reversa, ressaltando as fontes primárias e secundárias de

captação, centros de coleta, separação, consolidação e adensamento de materiais de pós-

consumo, processadores intermediários, centros de processamento de reciclagem e mercado

consumidor para tais materiais reciclados;

d) Os fatores ecológicos devem-se às pressões geradas pelo comportamento de consumidores,

bem como às exigências de ordem legal, competitividade e imagem corporativa das

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organizações. São incentivados pelas iniciativas dos agentes que compõem a cadeia como o

governo, a sociedade, os consumidores e as empresas;

e) Os fatores legais visam à educação, regulamentação, promoção e incentivos para a melhoria de

condições de retorno dos produtos ao ciclo produtivo, possibilitando a organização dos canais

reversos. Outros fatores são: incentivo à redução da captação de matéria-prima na fonte, menor

agressão ao meio ambiente e crescimento sustentável de populações e países.

No caso de telefones celulares, o estudo de Rossi (2013) mostra que, apesar de existir

diversas ações isoladas para coletar, destinar e tratar celulares, mas, que, falta um modelo mais

eficaz de logística reversa. O maior problema pode estar relacionado à dispersão geográfica dos

celulares, o que exigiria uma coleta capilar.

Para casos envolvendo coleta capilar, o estudo de Mendonça et al (2013) propõe que sejam

adotados modelos de logística reversa que envolvam parcerias e responsabilidade compartilhada

envolvendo fabricantes, distribuidores, cooperativas, associações e o próprio usuário. A

combinação adequada entre a coleta capilar e o transporte concentrado, garante a eficiência e

eficácia desde a geração até a destinação do resíduo.

Em muitos casos, um modelo que envolve parcerias e responsabilidade compartilhada

acaba exigindo a presença de operadores logísticos, que acabam surgindo como oportunidades de

negócio, com retornos atrativos, associados aos benefícios sociais e ambientais (MIGUEZ, 2010).

Um operador logístico é conceituado pela Associação Brasileira de Movimentação e

Logística (ABML) como o fornecedor de serviços logísticos com especialização no gerenciamento

de todas as atividades logísticas ou parte delas, nas diversas fases da cadeia de abastecimento de

seus clientes, agregando valor ao produto e que tenha competência para prestar serviços,

simultaneamente, nas áreas de controle de estoques, armazenagem e gestão de transportes

(NOVAES, 2001).

3 METODOLOGIA

Para descrever um modelo de logística reversa pós-consumo de ciclo aberto de aparelhos

celulares, abrangendo, de forma integrada, todos os agentes envolvidos, de modo que o maior

número de aparelhos de telefone celular em desuso seja coletado, armazenado e destinado

corretamente, foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo.

A coleta de dados foi realizada por meio de três técnicas: a) pesquisa bibliográfica, que

visou conhecer as contribuições científicas, relacionadas aos estudos de alternativas de logística

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reversa de equipamentos eletroeletrônicos e de aparelhos de celular; b) pesquisa documental

(BLACK & CHAMPION, 1976), que usou dados secundários extraídos dos relatórios de

sustentabilidade das principais operadoras de celular do Brasil e de seus sites, contendo

reportagens e informações disponibilizadas na mídia digital; c) entrevistas semi-estruturadas

realizadas junto às empresas que atuam em operações de logística reversa e celulares, como Eco-

cel, Oxil, Cooperei, GM&C LOG e ILOS e entrevistas semi-estruturadas aplicadas nas lojas das

principais operadoras de telefonia celular TIM, Vivo, Claro e Oi.

A aplicação dessas técnicas de coleta de dados contribuiu para conhecer o modelo de

logística reversa adotado no Brasil para aparelhos de telefones celulares; as ações que as

operadoras têm desenvolvido ao longo dos anos, no sentido de contribuir para o aumento do

retorno de celulares, a eficiência e eficácia dessas ações; a atuação das empresas de logística

reversa; o envolvimento entre fabricantes, operadoras de telefonia e empresas de logística reversa

para tratamento desses resíduos; o envolvimento da população; e, ainda, investigar possíveis

estratégias conjuntas entre os elementos da cadeia produtiva.

A partir dos resultados levantados com a pesquisa foi desenvolvido um modelo de logística

reversa de aparelhos celulares, combinando adequadamente a coleta capilar com transporte

concentrado, abrangendo desde a geração do resíduo até a sua destinação correta.

Para aumentar a eficiência do modelo, foi incorporado a ele ações que podem ser

desenvolvidas em conjunto, pelas operadoras de telefonia celular, no sentido de criar uma cultura

de reciclagem envolvendo toda a população do país.

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

4.1 O modelo de logística reversa pós-consumo de celulares no Brasil e

principais dificuldades de funcionamento

A estruturação e implantação de um processo de logística reversa para bens

eletroeletrônicos é um desafio hoje no Brasil. A Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, conhecida

como Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) exige a criação de mecanismos que

viabilizem a estruturação e implementação de sistemas de logística reversa por parte dos

fabricantes, dos importadores, dos distribuidores e dos comerciantes de eletroeletrônicos, em

consonância com os planos de gerenciamento de resíduos, desenvolvidos pelo poder público

(BRASIL, 2010). No entanto, essa exigência tem sido considerada, no Brasil, como um desafio,

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visto que, exige que sejam desenhados modelos eficientes e capazes de concretizar os objetivos e

metas exigidos pela legislação.

Em relação aos aparelhos de telefones celulares e seus acessórios não há um modelo

consolidado de logística reversa pós-consumo integrado envolvendo os diversos atores que fazem

parte da cadeia de valor desses produtos (ROSSI, 2013). O que se tem percebido é a ocorrência de

inciativas isoladas de cada ator envolvido, tais como:

a) Os fabricantes como Nokia, Motorola, Samsung e LG recebem em suas fábricas e em

estabelecimentos de assistência técnica os aparelhos usados e seus respectivos componentes;

b) As operadoras como a TIM, Vivo, Claro e Oi possuem programas específicos para coletar

aparelhos em seus postos de vendas de serviços e de aparelhos de telefones celulares (Tabela

2);

c) As empresas Eco-Cel, Oxil, Cooperei, GM&C LOG e outras atuam em operações de logística,

efetuando a coleta, triagem e separação das partes, destinando alguns componentes como o

plástico para a reciclagem, e placas de circuito para empresas especializadas na extração de

metais.

A Eco-cel, por exemplo, é uma empresa pioneira na expertise de sustentabilidade de

resíduos sólidos de celulares no Brasil, atuando no recolhimento, implantação e logística de

resíduos sólidos de celulares. Utiliza a logística de fornecimento gratuito de urnas para

recolhimento de celulares que são disponibilizadas em espaços comerciais, com grande fluxo de

pessoas (shoppings, universidades e áreas residenciais). Tais urnas, quando cheias, são recolhidas

e enviadas para o armazém da Eco-cel. No armazém os materiais coletados são contados, pesados

e identificados; os componentes reutilizáveis são direcionados para a reciclagem e testados para

assegurar que cumpram as especificações exigidas e devolvidos ao mercado; as placas eletrônicas

são trituradas e redirecionadas para a recuperação de metal precioso, armazenado em tambores

selados e enviados ao destino final.

Os resultados obtidos por meio dessas iniciativas isoladas são pouco expressivos. Os

trabalhos desenvolvidos pelos fabricantes de celulares e pelas operadoras como podem ser visto

por meio da Tabela 2, estão conseguindo recolher em torno de 1% do volume de celulares

relacionados a novas linhas que são adicionadas por ano, revelando que tais estratégias não tem

conseguido a adesão dos consumidores de aparelhos celulares. As entrevistas realizadas junto às

empresas que atuam em operações de logística reversa e celulares, como Eco-cel, Oxil, Cooperei,

GM&C LOG, mostram dificuldades na coleta capilar nas residências e nos postos de coleta

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porque o consumidor não é informado suficiente sobre onde dispor dos celulares e acessórios pós-

consumo e os postos de coleta serem localizados somente nas grandes capitais.

De acordo com a consultora da empresa ILOS, entrevistada nesta pesquisa, um dos pontos

que dificulta o desenho de uma operação conjunta de logística reversa desde a coleta até a

destinação de celulares pós-consumo e dos demais aparelhos eletrônicos está relacionada ao

volume de produtos “piratas” em circulação no Brasil. Isso acaba dificultando a gestão da

responsabilidade dos agentes envolvidos ao longo da cadeia reversa. Outra dificuldade está

relacionada ao destino dos resíduos, principalmente os de maior valor agregado, como as placas e

circuitos contendo metais preciosos que são destinados para fora do país porque na América

Latina não há uma empresa de urban mining – mineração em áreas urbanas – para buscar nos

resíduos produzidos pela sociedade os insumos que possam entrar novamente em processos

produtivos, especialmente encontrados em aparelhos eletrônicos descartados como obsoletos.

Tabela 2 Programas voltados para a coleta de aparelhos celulares e acessórios das principais

operadoras de telefonia do Brasil e a participação percentual desses resultados no

volume de linhas anuais adicionadas

Operadora TIM VIVO CLARO OI Programa Recarregue e Planeta

Papa-pilhas Recicle seu celular Claro Recicla Descarte certo

Início 2006 2006 2008 2009 Material coletado

Aparelhos celulares, baterias acessórios e pilhas.

Aparelhos celulares, baterias e acessórios.

Aparelhos celulares, baterias, acessórios.

Aparelhos celulares, baterias, acessórios.

Método Urnas em lojas próprias, autorizadas e pontos de revenda TIM

Urnas em lojas próprias, autorizadas e pontos de revenda VIVO

Urnas em lojas próprias, pontos de venda e autorizadas. Cartilha sobre lixo eletrônico

Urnas em lojas próprias, autorizadas e pontos de revenda.

Resultados 70.000 aparelhos coletados no ano de 2012, representando 13,9 toneladas de aparelhos. Envio de 87,8 kg de resíduos para a Bélgica

53.245 aparelhos em 2011 (794.486 no período de 2008 a 2011).

65.396 celulares e baterias, e 1,7 toneladas de acessórios e pilhas (no período de 2008 a 2011)

43.782 celulares em 2011

Representação percentual

1,11% das novas linhas no ano (6,3 milhões de linha)

1,11% do volume de novas linhas do

período

1,04% do volume de celulares de novas linhas da

operadora

0,18% do volume de celulares

proveniente de novas linhas da

operadora no ano de 2011

Fonte (TIM, 2012) (VIVO, 2011) (CLARO, 2012) (Oi, 2011) Fonte: Dados da pesquisa.

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4.1 Proposta de um modelo de logística reversa pós-consumo para aparelhos

celulares

Durante a realização do estudo, pôde-se perceber que apesar de haver iniciativas dos

fabricantes em receber aparelhos celulares pós-consumo, disponibilidade de pontos de coleta pelas

operadoras de telefonia celular, atuação de coleta e tratamento por empresas especializadas, a

maior parte dos consumidores não sabe como destinar corretamente o seu aparelho pós-consumo.

Isso requer uma atuação mais integrada entre os diversos agentes que fazem parte do ciclo de vida

de aparelhos celulares, incluindo o consumidor final.

Por isso, é apresentada uma proposta de um modelo integrado de logística reversa pós-

consumo destinado a aparelhos celulares, envolvendo os principais atores que fazem parte do ciclo

de vida dos aparelhos celulares que são: os importadores e os fabricantes de celulares – Nokia,

Samsung, LG, Motorola, Apple e outras – os distribuidores, os comerciantes e as operadoras de

telefonia celular – Vivo, Tim, Claro e Oi – as empresas especializadas na reciclagem de

componentes de celulares como plásticos, baterias, placas de circuitos; as empresas ou

organizações que trabalham na coleta, tratamento e destinação dos componentes de celulares; e os

consumidores.

No modelo, os diferentes atores têm seu papel e responsabilidade para que o fluxo seja

executado com sucesso (Figura 1). Esse modelo é formado por cinco etapas: Coleta e transporte;

Desmonte e triagem; Teste de componentes reutilizáveis; Embalagem; Destinação.

Coleta e Transporte - envolve o consumidor que tem o papel de entregar os aparelhos pós-

consumo nos postos de coletas das lojas das operadoras, das lojas comerciais ou dos postos de

assistência técnica. A partir de um volume de celulares e acessórios os postos de coletas acionam

o transporte para que possa retirar o conteúdo e transportar até o armazém de triagem e tratamento.

Desmonte e triagem - No armazém o material é contado, pesado, identificado e embalado. Na

área de desmonte o material é retirado da embalagem, desmontado e separado em elementos tais

como: Plásticos, placas e circuitos; componentes reutilizáveis e componentes não reutilizáveis.

Teste de componentes reutilizáveis - Esse teste é feito em cima dos componentes reutilizáveis

como câmeras, placa de cristal líquido, acessórios. Caso estejam em perfeita condições são

vendidas para o próprio fabricante de celular. Se não estiverem em boas condições são embalados,

identificados e destinados corretamente.

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Embalagem – Os plásticos são triturados e guardados em um tambor. As placas e circuitos são

triturados e guardados em um tambor selado. Os materiais reutilizáveis são embalados e os não

utilizados são identificados e encaixotados.

Figura 1 - Modelo de logística reversa pós-consumo para aparelhos celulares Fonte: autoria própria.

Destinação – Os plásticos são vendidos para a indústria de reciclagem. As placas e circuitos

triturados são enviados para empresas especializadas em retirar esse material preciso. Os

componentes servíveis são vendidos para a indústria de celular. Os não servíveis e os

contaminados são destinados para o aterro.

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O modelo busca criar um elo entre os principais atores do segmento de telefonia celular;

aproveitar a estrutura atual de canais de coleta dos aparelhos celulares; unificar as atividades das

empresas que atuam na operação logística de celulares e aparelhos eletrônicos dentro de uma

estrutura de logística reversa.

4.2 Ações que podem ser aplicadas pelas empresas de telefonia celular para

proporcionar mais eficiência ao modelo

Os resultados da pesquisa mostraram que mesmo as operadoras possuírem programas de

coletas de aparelhos celulares pós-consumo, a aderência dos consumidores é considerada baixa,

pois o percentual que é destinado corretamente gira em torno de 1% das linhas adicionadas a cada

ano. Assim, as ações que são apresentadas para as operadoras de telefonia celular têm como meta

ampliar e difundir entre os clientes dessas operadoras a importância de destinar corretamente os

aparelhos que não serão mais utilizados para terem uma destinação correta. Dessa forma,

contribuem para o funcionamento do modelo de logística reversa pós-consumo proposto.

Como as operadoras de telefonia celular são empresas que provêm serviços na área de

telecomunicações, ou seja, possuem um canal de comunicação com o poder de atingir hoje no

Brasil cerca de 70% da população (IBGE. 2013), tais ações podem ter grande impacto em um

processo de logística reversa pós-consumo de celulares. Essas ações podem ser especificadas e

detalhadas em um Plano de Comunicação Efetivo, envolvendo todas as partes: consumidores,

colaboradores, representantes, parceiros externos e fornecedores. Nesse plano, serão destacadas

ações que as operadoras podem implementar de forma simples e de baixo custo que envolvem

ações sistêmicas junto aos consumidores que são clientes das operadoras, ações internas dentro

das operadoras e ações nos pontos de venda de celulares.

4.2.1 Ações sistêmicas

As ações sistêmicas são consideradas como o conjunto de ações que as operadoras podem

fazer com o foco no seu cliente. Tais ações envolvem envio de mensagens de textos (SMS),

comunicados e orientações nas faturas mensais, programas de bonificações, e disponibilização de

informações no site da operadora.

Envio de mensagens de texto (SMS)

O envio de mensagens curtas e de impacto para o celular do cliente é uma ferramenta de

comunicação eficiente que tem por finalidade sensibilizá-lo e de lembra-lo de descartar

corretamente o aparelho usado que não será mais utilizado.

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Essas mensagens podem ser enviadas também quando o cliente faz a troca do aparelho, por

meio da operadora, via call center. Neste caso, o cliente receberia uma informação da importância

de entregar o aparelho não mais usado em um ponto de entrega, juntamente com os acessórios

desse aparelho.

Orientações nas faturas mensais

Nas faturas de cobrança eletrônica ou em papel, há espaços que podem ser aproveitados

para serem colocadas mensagens de orientação e incentivo para o descarte correto dos aparelhos e

acessórios celulares sem uso.

Programas de bonificações

As operadoras podem adotar programas de bonificação ou de pontos para os clientes que

desejam adquirir um novo celular, associando quantidade de pontos à entrega de aparelhos pós-

consumo, no momento da troca do aparelho.

Disponibilizar informações no site da operadora

As informações relacionadas a necessidade do descarte correto de aparelhos celulares, por

meio do site das operadoras, devem ser de fácil acesso e visualização, destacando os locais de

disposição dos aparelhos usados e os incentivos que a operadora oferece para seus clientes que

dispõem os aparelhos para a reciclagem.

4.2.3 Ações internas na operadora

As ações internas na operadora envolvem promover informações aos parceiros e

colaboradores e estabelecer parcerias com operadores logísticos.

Promover informações aos parceiros

A informação dada aos parceiros, colaboradores e representantes sobre o posicionamento

da empresa na articulação da logística reversa pós-consumo de aparelhos celulares deve ser

contínua e os mecanismos usados para isso são workshops, fóruns e treinamentos.

Parcerias com operadores logísticos

As operadoras devem fazer parceiras com empresas que já atuam no ramo de operações

logísticas de telefones celulares em desuso, ou seja, que já possuam uma estrutura montada. Um

exemplo é a empresa Eco-Cel, que tem como proposta disponibilizar em locais de alto movimento

de pessoas urnas de recolhimento de aparelhos celulares usados. Quando a urna fica cheia, a

empresa recolhe todo o material coletado, que será levado para o local de armazenagem e

tratamento dos aparelhos, onde a mesma irá fazer todo o trabalho de desmonte, triagem e

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destinação dos componentes. A disponibilização das urnas é de custo zero. A empresa não faz

cobrança para disponibilizar as urnas.

4.2.4 Ações nos pontos de venda

As ações nos pontos de venda estão relacionadas com estratégias mais agressivas para

alertar o cliente da necessidade de devolver os seus aparelhos celulares nos lugares corretos. Essas

ações envolvem: canal de comunicação voltado para o cliente; quadros informativos sobre

descarte correto e, ainda, urnas de coleta de celulares.

Canal de comunicação voltado para o cliente

Esse canal tem por finalidade informar ao cliente, por meio do vendedor, de usa

responsabilidade de dispor corretamente seu aparelho celular usado. Para isso, os vendedores

devem receber treinamento mais específico para o assunto.

Quadros informativos sobre descarte de aparelhos e acessórios

Esses quadros informativos sobre descarte correto de celular e de lixo eletrônico deve estar

em locais de fácil visualização de modo a chamar a atenção dos clientes.

Implantação de urnas de coleta de celulares nos postos de atendimento

A implantação de urnas nos postos de atendimento, em posições de fácil visualização tem

por finalidade ampliar o programa de coleta de aparelhos nas lojas.

5 CONCLUSÃO

Este trabalho teve por finalidade a criação de um modelo de logística reversa pós-consumo

de ciclo aberto de aparelhos celulares, de forma integrada, envolvendo todos os atores já existentes

no mercado, de modo que o maior número de aparelhos celulares em desuso seja coletado,

armazenado e destinado corretamente, atendendo a imposição da Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS) e resolvendo problemas relacionados aos pontos de coletas, a falta de escala e os

custos de transporte e tratamento de resíduos.

Por meio da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental nos relatórios de sustentabilidade

das principais operadoras de telefonia celular do país e de entrevistas semiestruturadas aplicadas a

empresas de logística reversa e pontos de comercialização de celulares foi possível levantar e

analisar o modelo de logística reversa praticados pelas principais operadoras; propor um modelo

de logística reversa e, ainda, construir um conjunto de ações a ser praticadas pelas principais

operadoras, no sentido, de melhorar a eficiência e eficácia do novo modelo, com maior impacto no

consumidor de aparelhos celulares.

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O modelo de logística reversa, adotado pelas principais operadoras de telefonia celular no

Brasil, têm se limitado a algumas ações individuais e isoladas praticadas por fabricantes,

operadores logísticos e operadoras, sem esforços no sentido de obter a realização de práticas

conjuntas e compartilhadas. Como resultado, o volume de celulares coletados e direcionados ao

processo produtivo é bastante modesto quando comparados com o volume de novos celulares que

são vendidos para substituir os aparelhos mais antigos.

O modelo proposto, então, consistiu em criar uma estrutura de logística reversa formado

por ações conjuntas entre fabricantes, distribuidoras, operadoras de telefonia e o consumidor,

capaz de conjugar a coleta capilar, o transporte concentrado, a estrutura de armazenamento,

desmanche e distribuição de componentes de aparelhos celulares, por meio de parcerias e

responsabilidade compartilhada.

Acredita-se que, por meio de ações desenvolvidas pelas operadoras de telefonia celular, o

consumidor seja incentivado a descartar de forma segura seus celulares, aumentando o percentual

de coleta e o correto tratamento e destinação de aparelhos celulares fora de uso e,

consequentemente, a diminuição de aparelhos eletroeletrônicos descartados no lixo.

Além da redução do volume de resíduos de aparelhos celulares descartados em lixões,

espera-se também que uma parte da matéria-prima utilizada para a fabricação de novos aparelhos

celulares tenha como fonte o material reciclado de aparelhos usados, contribuindo para a redução

de extração de recursos naturais que servem como insumo para a produção de eletroeletrônicos.

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