modelo da tese / projecto / rel. de estágio de mestrado · figura 17 - mural pompeu of the pageant...

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1 2013 PEDRO MIGUEL MARQUES SALVADOR MENDES PROJECTO INTITULADO ANIMAIS DO JARDIM ZOOLÓGICO DE LISBOA” Dissertação apresentada ao IADE-U, Instituto de Arte, Design e Empresa Universitário, para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Design e Cultura Visual, realizada sob a orientação científica do Doutor Eduardo Côrte-Real, Professor Doutor do IADE-U, Instituto de Arte, Design e Empresa Universitário e sob co-orientação do Mestre Pedro Daniel Vaz Pereira Rodrigues Salgado, Professor Especialista e Coordenador do mestrado em Ilustração Científica do ISEC, Instituto Superior de Educação e Ciências.

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2013

PEDRO MIGUEL MARQUES SALVADOR MENDES

PROJECTO INTITULADO ldquoANIMAIS DO JARDIM ZOOLOacuteGICO DE LISBOArdquo

Dissertaccedilatildeo apresentada ao IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndash Universitaacuterio para cumprimento dos requisitos necessaacuterios agrave obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Design e Cultura Visual realizada sob a orientaccedilatildeo cientiacutefica do Doutor Eduardo Cocircrte-Real Professor Doutor do IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndash Universitaacuterio e sob co-orientaccedilatildeo do Mestre Pedro Daniel Vaz Pereira Rodrigues Salgado Professor Especialista e Coordenador do mestrado em Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica do ISEC Instituto Superior de Educaccedilatildeo e Ciecircncias

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O Juacuteri

Presidente Doutor Armando Jorge Gomes Vilas-Boas Professor Auxiliar do IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndash Universitaacuterio

Vogais Doutora Susana Margarida Aacutelvares de Carvalho de Andrade Campos Professora Auxiliar da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa

Mestre Pedro Daniel Vaz Pereira Rodrigues Salgado Professor Especialista e Coordenador do mestrado em Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica do ISEC Instituto Superior de Educaccedilatildeo e Ciecircncias

Doutor Eduardo Alberto Vieira de Meireles Cocircrte-Real Professor Associado e Presidente do Conselho Cientiacutefico do IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndashUniversitaacuterio

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Agradecimentos

Embora este projecto seja pela sua finalidade acadeacutemica um trabalho individual haacute contributos de natureza diversa que natildeo podem e nem devem deixar de ser realccedilados Por essa razatildeo desejo expressar os meus sinceros agradecimentos Aos CTT - Correios de Portugal na pessoa do Sr Dr Pedro Coelho que acreditou no meu projecto e possibilitou a ediccedilatildeo do livro que serve de base agrave minha tese Ao Jardim Zooloacutegico de Lisboa na pessoa do Sr Eng Joseacute Dias Ferreira Sra Dra Inecircs Carvalho e Sra Dra Inecircs Suruya por toda a colaboraccedilatildeo prestada Aos tratadores do Jardim Zooloacutegico que sempre se mostraram disponiacuteveis para me acolher Aos meus amigos Jorge Macedo (Micky) e Orlando Raimundo que me acompanharam no desafio de criar este livro Ao professor e amigo Sr Dr Miguel Faria e ao IADE pelo apoio e pela mais valia que constituiacuteram no meu desenvolvimento Ao bioacutelogo ilustrador cientiacutefico mestre professor e amigo Sr Dr Pedro Salgado que desde a sua primeira aula me cativou e orientou com as suas aulas inuacutemeras tardes no seu atelier e saiacutedas de campo Aos meus amigos pela disponibilidade manifestada e pelo valioso apoio na disponibilizaccedilatildeo de bibliografia E finalmente agrave minha famiacutelia que sempre acreditou em mim me apoiou e incentivou em todos os momentos e em especial agrave minha filha Gabriela pela sua alegria contagiante e gosto pelos desenhos do pai

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Palavras-chave

Resumo

Desenho Desenho Naturalista Ilustraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Caderno de Campo e Desenho de Campo O livro Animais do Jardim Zooloacutegico eacute o objecto deste projecto de mestrado Viria a ser publicado pelos CTTndashCorreios de Portugal em Abril de 2013 com lanccedilamento no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

O objectivo deste projecto foi retratar os animais enquanto indiviacuteduos nas mais diversas posiccedilotildees do seu habitat no Jardim Zooloacutegico de Lisboa independentemente delas se enquadrarem ou natildeo nos paracircmetros cientiacuteficos Todos os desenhos foram feitos tendo por base os modelos vivos de algumas espeacutecies de animais existentes no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

Foram representados desta forma animais ilustrando vaacuterias espeacutecies com caracteriacutesticas uacutenicas e posturas naturais muitas vezes atiacutepicas do padratildeo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que se rege por desiacutegnios cientiacuteficos postura informaccedilatildeo e rigor

Este projecto final de mestrado enquadra-se no acircmbito do desenho e da ilustraccedilatildeo na sua relaccedilatildeo com o mundo animal e remete-nos a uma fronteira onde comeccedila e acaba um desenho naturalista e onde comeccedila um desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Satildeo referidos na Parte I alguns conceitos e elementos histoacutericos relativos a evoluccedilatildeo do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientifica e na Parte II seraacute feita uma breve referecircncia agrave metodologia utilizada tendo em vista integrar as actuais tendecircncias dar uma breve perspectiva da sua evoluccedilatildeo e servindo tambeacutem de contextualizaccedilatildeo do projecto Na Parte III resumem-se alguns dos principais aspectos que estiveram na base das ilustraccedilotildees que constam no livro Animais do Jardim Zooloacutegico e do qual se incluem inuacutemeras ilustraccedilotildees quer com caraacutecter exemplificativo quer com caraacutecter meramente expositivo Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo

Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo

esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em

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Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em sensibilizaccedilatildeo ecoloacutegica e em consciecircncia da necessidade de protecccedilatildeo animal

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

15 16 17 18 19 20 20 21 22 22 23 23 24 24

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

2013

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

54

MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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O Juacuteri

Presidente Doutor Armando Jorge Gomes Vilas-Boas Professor Auxiliar do IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndash Universitaacuterio

Vogais Doutora Susana Margarida Aacutelvares de Carvalho de Andrade Campos Professora Auxiliar da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa

Mestre Pedro Daniel Vaz Pereira Rodrigues Salgado Professor Especialista e Coordenador do mestrado em Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica do ISEC Instituto Superior de Educaccedilatildeo e Ciecircncias

Doutor Eduardo Alberto Vieira de Meireles Cocircrte-Real Professor Associado e Presidente do Conselho Cientiacutefico do IADE-U Instituto de Arte Design e Empresa ndashUniversitaacuterio

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Agradecimentos

Embora este projecto seja pela sua finalidade acadeacutemica um trabalho individual haacute contributos de natureza diversa que natildeo podem e nem devem deixar de ser realccedilados Por essa razatildeo desejo expressar os meus sinceros agradecimentos Aos CTT - Correios de Portugal na pessoa do Sr Dr Pedro Coelho que acreditou no meu projecto e possibilitou a ediccedilatildeo do livro que serve de base agrave minha tese Ao Jardim Zooloacutegico de Lisboa na pessoa do Sr Eng Joseacute Dias Ferreira Sra Dra Inecircs Carvalho e Sra Dra Inecircs Suruya por toda a colaboraccedilatildeo prestada Aos tratadores do Jardim Zooloacutegico que sempre se mostraram disponiacuteveis para me acolher Aos meus amigos Jorge Macedo (Micky) e Orlando Raimundo que me acompanharam no desafio de criar este livro Ao professor e amigo Sr Dr Miguel Faria e ao IADE pelo apoio e pela mais valia que constituiacuteram no meu desenvolvimento Ao bioacutelogo ilustrador cientiacutefico mestre professor e amigo Sr Dr Pedro Salgado que desde a sua primeira aula me cativou e orientou com as suas aulas inuacutemeras tardes no seu atelier e saiacutedas de campo Aos meus amigos pela disponibilidade manifestada e pelo valioso apoio na disponibilizaccedilatildeo de bibliografia E finalmente agrave minha famiacutelia que sempre acreditou em mim me apoiou e incentivou em todos os momentos e em especial agrave minha filha Gabriela pela sua alegria contagiante e gosto pelos desenhos do pai

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Palavras-chave

Resumo

Desenho Desenho Naturalista Ilustraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Caderno de Campo e Desenho de Campo O livro Animais do Jardim Zooloacutegico eacute o objecto deste projecto de mestrado Viria a ser publicado pelos CTTndashCorreios de Portugal em Abril de 2013 com lanccedilamento no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

O objectivo deste projecto foi retratar os animais enquanto indiviacuteduos nas mais diversas posiccedilotildees do seu habitat no Jardim Zooloacutegico de Lisboa independentemente delas se enquadrarem ou natildeo nos paracircmetros cientiacuteficos Todos os desenhos foram feitos tendo por base os modelos vivos de algumas espeacutecies de animais existentes no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

Foram representados desta forma animais ilustrando vaacuterias espeacutecies com caracteriacutesticas uacutenicas e posturas naturais muitas vezes atiacutepicas do padratildeo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que se rege por desiacutegnios cientiacuteficos postura informaccedilatildeo e rigor

Este projecto final de mestrado enquadra-se no acircmbito do desenho e da ilustraccedilatildeo na sua relaccedilatildeo com o mundo animal e remete-nos a uma fronteira onde comeccedila e acaba um desenho naturalista e onde comeccedila um desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Satildeo referidos na Parte I alguns conceitos e elementos histoacutericos relativos a evoluccedilatildeo do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientifica e na Parte II seraacute feita uma breve referecircncia agrave metodologia utilizada tendo em vista integrar as actuais tendecircncias dar uma breve perspectiva da sua evoluccedilatildeo e servindo tambeacutem de contextualizaccedilatildeo do projecto Na Parte III resumem-se alguns dos principais aspectos que estiveram na base das ilustraccedilotildees que constam no livro Animais do Jardim Zooloacutegico e do qual se incluem inuacutemeras ilustraccedilotildees quer com caraacutecter exemplificativo quer com caraacutecter meramente expositivo Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo

Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo

esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em

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Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em sensibilizaccedilatildeo ecoloacutegica e em consciecircncia da necessidade de protecccedilatildeo animal

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Agradecimentos

Embora este projecto seja pela sua finalidade acadeacutemica um trabalho individual haacute contributos de natureza diversa que natildeo podem e nem devem deixar de ser realccedilados Por essa razatildeo desejo expressar os meus sinceros agradecimentos Aos CTT - Correios de Portugal na pessoa do Sr Dr Pedro Coelho que acreditou no meu projecto e possibilitou a ediccedilatildeo do livro que serve de base agrave minha tese Ao Jardim Zooloacutegico de Lisboa na pessoa do Sr Eng Joseacute Dias Ferreira Sra Dra Inecircs Carvalho e Sra Dra Inecircs Suruya por toda a colaboraccedilatildeo prestada Aos tratadores do Jardim Zooloacutegico que sempre se mostraram disponiacuteveis para me acolher Aos meus amigos Jorge Macedo (Micky) e Orlando Raimundo que me acompanharam no desafio de criar este livro Ao professor e amigo Sr Dr Miguel Faria e ao IADE pelo apoio e pela mais valia que constituiacuteram no meu desenvolvimento Ao bioacutelogo ilustrador cientiacutefico mestre professor e amigo Sr Dr Pedro Salgado que desde a sua primeira aula me cativou e orientou com as suas aulas inuacutemeras tardes no seu atelier e saiacutedas de campo Aos meus amigos pela disponibilidade manifestada e pelo valioso apoio na disponibilizaccedilatildeo de bibliografia E finalmente agrave minha famiacutelia que sempre acreditou em mim me apoiou e incentivou em todos os momentos e em especial agrave minha filha Gabriela pela sua alegria contagiante e gosto pelos desenhos do pai

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Palavras-chave

Resumo

Desenho Desenho Naturalista Ilustraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Caderno de Campo e Desenho de Campo O livro Animais do Jardim Zooloacutegico eacute o objecto deste projecto de mestrado Viria a ser publicado pelos CTTndashCorreios de Portugal em Abril de 2013 com lanccedilamento no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

O objectivo deste projecto foi retratar os animais enquanto indiviacuteduos nas mais diversas posiccedilotildees do seu habitat no Jardim Zooloacutegico de Lisboa independentemente delas se enquadrarem ou natildeo nos paracircmetros cientiacuteficos Todos os desenhos foram feitos tendo por base os modelos vivos de algumas espeacutecies de animais existentes no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

Foram representados desta forma animais ilustrando vaacuterias espeacutecies com caracteriacutesticas uacutenicas e posturas naturais muitas vezes atiacutepicas do padratildeo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que se rege por desiacutegnios cientiacuteficos postura informaccedilatildeo e rigor

Este projecto final de mestrado enquadra-se no acircmbito do desenho e da ilustraccedilatildeo na sua relaccedilatildeo com o mundo animal e remete-nos a uma fronteira onde comeccedila e acaba um desenho naturalista e onde comeccedila um desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Satildeo referidos na Parte I alguns conceitos e elementos histoacutericos relativos a evoluccedilatildeo do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientifica e na Parte II seraacute feita uma breve referecircncia agrave metodologia utilizada tendo em vista integrar as actuais tendecircncias dar uma breve perspectiva da sua evoluccedilatildeo e servindo tambeacutem de contextualizaccedilatildeo do projecto Na Parte III resumem-se alguns dos principais aspectos que estiveram na base das ilustraccedilotildees que constam no livro Animais do Jardim Zooloacutegico e do qual se incluem inuacutemeras ilustraccedilotildees quer com caraacutecter exemplificativo quer com caraacutecter meramente expositivo Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo

Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo

esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em

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Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em sensibilizaccedilatildeo ecoloacutegica e em consciecircncia da necessidade de protecccedilatildeo animal

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Palavras-chave

Resumo

Desenho Desenho Naturalista Ilustraccedilatildeo Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Caderno de Campo e Desenho de Campo O livro Animais do Jardim Zooloacutegico eacute o objecto deste projecto de mestrado Viria a ser publicado pelos CTTndashCorreios de Portugal em Abril de 2013 com lanccedilamento no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

O objectivo deste projecto foi retratar os animais enquanto indiviacuteduos nas mais diversas posiccedilotildees do seu habitat no Jardim Zooloacutegico de Lisboa independentemente delas se enquadrarem ou natildeo nos paracircmetros cientiacuteficos Todos os desenhos foram feitos tendo por base os modelos vivos de algumas espeacutecies de animais existentes no Jardim Zooloacutegico de Lisboa

Foram representados desta forma animais ilustrando vaacuterias espeacutecies com caracteriacutesticas uacutenicas e posturas naturais muitas vezes atiacutepicas do padratildeo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que se rege por desiacutegnios cientiacuteficos postura informaccedilatildeo e rigor

Este projecto final de mestrado enquadra-se no acircmbito do desenho e da ilustraccedilatildeo na sua relaccedilatildeo com o mundo animal e remete-nos a uma fronteira onde comeccedila e acaba um desenho naturalista e onde comeccedila um desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Satildeo referidos na Parte I alguns conceitos e elementos histoacutericos relativos a evoluccedilatildeo do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientifica e na Parte II seraacute feita uma breve referecircncia agrave metodologia utilizada tendo em vista integrar as actuais tendecircncias dar uma breve perspectiva da sua evoluccedilatildeo e servindo tambeacutem de contextualizaccedilatildeo do projecto Na Parte III resumem-se alguns dos principais aspectos que estiveram na base das ilustraccedilotildees que constam no livro Animais do Jardim Zooloacutegico e do qual se incluem inuacutemeras ilustraccedilotildees quer com caraacutecter exemplificativo quer com caraacutecter meramente expositivo Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo

Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo

esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em

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Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em sensibilizaccedilatildeo ecoloacutegica e em consciecircncia da necessidade de protecccedilatildeo animal

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

4 7 8

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14 14 19

25 25 31 33 35 36

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

15 16 17 18 19 20 20 21 22 22 23 23 24 24

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Define-se este projecto e o livro que lhe serviu de base como enquadrado na recente tendecircncia evolutiva do Desenho Naturalista e da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica em Portugal que depois de muito tempo esquecidos tem vindo a crescer em qualidade em sensibilizaccedilatildeo ecoloacutegica e em consciecircncia da necessidade de protecccedilatildeo animal

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

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14 14 19

25 25 31 33 35 36

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

15 16 17 18 19 20 20 21 22 22 23 23 24 24

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Keywords Abstract

Draw Naturalistic Draw Illustration Scientific Illustration Fieldsketch book and Fieldsketching The book Animais do Jardim Zooloacutegico is the subject of this masters project It was published by CTT-Correios de Portugal in April 2013 and it was launched in Jardim Zooloacutegico de Lisboa The aim of this project was to portray the animals as individuals in various positions of its habitat at the Jardim Zooloacutegico de Lisboa regardless of whether they are fit or not on scientific parameters All drawings made were based on live models of some species of animals of the Jardim Zooloacutegico de Lisboa Various animal species were illustrated with their unique characteristics and natural postures often atypical of the standard scientific illustration which is governed by scientific purposes posture information and rigor This final project falls within the scope of the drawing and the illustration and its relationship with the animal world bringing us to a border and a question where begins and ends a naturalistic drawing and a scientific illustration drawing In Part I are referred some concepts and historical elements on the evolution of Naturalist Drawing and Illustration Scientific In Part II a brief reference to the methodology used will be taken in order to integrate current trends giving a brief overview of its development and serving also to contextualize the project Finally in Part III are summarized some of the main aspects that were the basis of the illustrations contained in the book Animais do Jardim Zooloacutegico which include numerous illustrations either with exemplary character or purely expository character This project and the book on which it was based is integrated in the recent evolutionary trend of Naturalist Drawing and Scientific Illustration in Portugal after long time forgotten has been growing in quality ecological awareness and consciousness of the need for animal protection

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

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14 14 19

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

15 16 17 18 19 20 20 21 22 22 23 23 24 24

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Iacutendice

SumaacuterioAbstract Iacutendice Iacutendice de Figuras Introduccedilatildeo PARTE I ndash Conceitos Influecircncias

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica 12 Wildlife Art Um Caso Paralelo 13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte 132 O Desenho Naturalista em Portugal 133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo 134 A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso 125 O Caderno de Campo PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos 21 Materiais 22 Meacutetodos PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico 31 Processo de Trabalho 32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo 321 Texturas 322 A Importacircncia do Olhar 33 ndash Aguarelas 4 Resultados 5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientiacuteficas de Animais do Zoo Conclusatildeo Bibliografia

4 7 8

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14 14 19

25 25 31 33 35 36

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Iacutendice de Figuras

Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha) Url httpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 2 - Pintura decorativa tuacutemulo Egiacutepcio Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts Url Wwwmuseumtourscommuseumrobertswall11063lhtm Consultado em 25 fevereiro 2013 Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 Figura 5 - Cavalo Selvagem Lascaux e Rinoceronte Chauvet Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 6 - Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 7 - Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 8 - Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) e Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 Figura 10 - Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS 20CARLampoffset=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie aguarela Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 Figura 14 ndash Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo

Cientifica

Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013

15 16 17 18 19 20 20 21 22 22 23 23 24 24

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Cientifica

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Figura 15 ndash Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 16 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva Urlhttpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513) Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas 1503 e Pequena Coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultados em 26 de abril de 2013 Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena 1 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommons wikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010 Figura 27 - Desenho do canguru marcaccedilatildeo de volumes

26 26 27 29 29 30 31 31 33 34 34 36 39

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

54

MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012 Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007 Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121 Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro de gila Heloderma suspectum crocodilo do Nilo Crocodylus niloticus e boa de Dumeril Dumerili de acrantophi Figura 38 ndash Dragatildeo de komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109 Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103 Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106 Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91 Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83 Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm

40 40 40 41 42 42 43 44 45 45 46 46 46 47 47 47 48 48 49

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

61 61 62 62

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89 Figura 48 - Bufo-de-bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88 Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008 Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49 Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64 Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108 Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33 Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35 Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38 Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42 Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53 Figura 60 - Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67 Figura 61 - Tigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69 Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

49 50 51 51 52 52 53 53 56 56 57 57 58 58 59 59 60 60

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95 Figura 66 - Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111 Figura 67 - Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118 Figura 68 - Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Introduccedilatildeo Este trabalho enquadra-se no acircmbito do desenhoilustraccedilatildeo e a sua relaccedilatildeo com o mundo animal Para tal partiu-se de uma base teoacuterica onde seratildeo apresentados os conceitos mais significativos como desenho e ilustraccedilatildeo e seraacute feita uma contextualizaccedilatildeo ou seja ambos os conceitos seratildeo apresentados de forma a contextualizar no tempo e no espaccedilo as suas origens e como evoluiacuteram Posteriormente seraacute apresentado a evoluccedilatildeo do desenho naturalista e da ilustraccedilatildeo cientiacutefica em Portugal Num trabalho desta natureza natildeo poderaacute ser esquecida uma referecircncia ao caderno de campo instrumento indispensaacutevel e parceiro de todo aquele que faz e gosta de desenhar Os cadernos de campo satildeo o espiacuterito do Grupo do Risco grupo ao qual pertenccedilo a convite do Professor Pedro Salgado fundador e coordenador do projecto o mesmo professor que me iria incutir o gosto pelo objecto caderno de campo haacute sensivelmente 16 anos atraacutes Assim neste trabalho seratildeo analisadas as delicadas fronteiras entre desenho naturalista e ilustraccedilatildeo cientiacutefica usando para os desenhos modelos vivos de algumas espeacutecies de animais ao dispor do Jardim Zooloacutegico de Lisboa Ao desenhar os animais ao vivo num ambiente natural existe na realidade a intenccedilatildeo de tentar descobrir meacutetodos de representaccedilatildeo que sejam imediatos e intuitivos tendo em conta que se estaacute a representar um modelo vivo e que como tal poderaacute condicionar a sua representaccedilatildeo atraveacutes do constante movimento No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois transpocirc-las para o papel usando a matildeo como fio condutor Foi com este conceito que fui desenvolvendo as bases deste projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples e circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal como eacute visiacutevel no receacutem editado livro do Clube dos Coleccionadores dos Correios dos CTT Correios de Portugal Animais do Jardim Zooloacutegico

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Parte I - Conceitos

1 Desenho e Ilustraccedilatildeo 11 Uma Perspectiva Histoacuterica O desenho eacute a forma de arte mais antiga do mundo e por isso a mais intuitiva e natural O iniacutecio da histoacuteria do desenho confunde-se aliaacutes com o surgimento do homem

Nas cavernas onde os primeiros homens primitivos habitavam foram desenhados os haacutebitos e cenas representativas dos mesmos Citando Tatiana Sechler Endo (USP 2009) ldquorepresenta

o testemunho de um determinado modus vivendi (forma de vida) e de um peculiar modus operandi

(forma de fazer)rdquo As caccediladas seratildeo porventura as imagens mais marcantes e representativas da eacutepoca por noacutes designadas de pinturas rupestres Essas pinturas eram uma forma de comunicaccedilatildeo e de expressatildeo entre os primitivos humanos quando ainda natildeo havia sido consolidada uma linguagem verbal

O artista primitivo era um feiticeiro cujos desenhos tinham um valor encantatoacuterio e se ele dedicava tanta atenccedilatildeo agrave verdade viva era para dar agraves formas o maior valor de reproduccedilatildeo possiacutevel transmitindo-lhe a virtude da proacutepria criatura1

Sendo as mais antigas datadas do Paleoliacutetico Superior (40000 AC) estas pinturas encontravam-se nas paredes e tetos rochosos das cavernas que lhes davam abrigo sendo que por vezes eram as proacuteprias irregularidades da rocha que sugeriam os motivos da pintura

Esta arte preservada por milhares de anos permitiu que as grutas preacute-histoacutericas se transformassem nos primeiros museus da humanidade As aacutereas com estas marcas artiacutesticas encontram-se um pouco por todo o mundo desde a Sibeacuteria a Austraacutelia o Norte de Aacutefrica ateacute ao Brasil Mas eacute especialmente na Europa que esta arte milenar chegou ateacute noacutes nas melhores condiccedilotildees nomeadamente em Franccedila norte de Espanha Portugal Itaacutelia Alemanha e Balcatildes Na arte preacute-histoacuterica existiram sempre representaccedilotildees comuns independentemente do continente ou da latitude onde tivessem sido desenhadas tais como as marcas das matildeos a proacutepria figura humana que nos era dada atraveacutes de uma forma mais esquemaacutetica e finalmente os animais cujas representaccedilotildees tendiam a ser sempre mais naturalistas Existiam tambeacutem motivos abstratos (linhas emaranhadas) chamados de macarrotildees2 assim referidos por Henri Breuil (1877-1961) o grande estudioso das grutas de Lascaux (Franccedila) e de Altamira (Espanha)

1 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte Livraria Bertrand Lisboa 1976 2 Wikipeacutedia - Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Figura 1 - Representaccedilatildeo de bisontes gruta de Altamira (Espanha)3

Estima-se que esta arte tenha comeccedilado no Periacuteodo Aurignaciano (Hohle Fels Alemanha) alcanccedilando o seu apogeu no final Periacuteodo Magdaleniano ou Madalenense4 do Paleoliacutetico5 Como pigmentos o homem primitivo usava o sangue dos animais e minerais moiacutedos como por exemplo a hematita a goetita a caolinita a argila e excrementos de morcegos Para aleacutem destes pigmentos naturais utilizavam o carvatildeo vegetal (paus queimados das fogueiras) o carvatildeo animal (que resultaria de ossos queimados e triturados dos animais) e a saliva que funcionaria como um medium tal como a aacutegua para dissolver e aglutinar o pigmento Ao longo dos anos o homem foi assim evoluindo bem como o desenho Tal como refere o historiador de arte Germain Bazin no livro Histoacuteria da Arte ldquoos seixos pintados da regiatildeo de Azil jaacute revelavam a existecircnci+a de uma arte de tendecircncia abstracta que dominaraacute todo o periacuteodo Neoliacuteticordquo6 Na antiguidade os Egiacutepcios jaacute usavam o desenho e a pintura na decoraccedilatildeo de tuacutemulos e de templos religiosos tendo a arte atingido curiosamente nesta civilizaccedilatildeo um caraacutecter de imutabilidade e de sagrado Todos os povos tiveram formas especiacuteficas de desenho que os caracterizavam socialmente Na civilizaccedilatildeo egiacutepcia a principal preocupaccedilatildeo da sua arte era a de manter uma coesatildeo social e garantir uma vida eterna confortaacutevel para seus soberanos os faraoacutes considerados deuses na altura

3 UrlhttpmuseodealtamiramcuesPrehistoria_y_Arteindexhtml consultado em 25 fevereiro 2013 4 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976 5 Wikipeacutedia ndash Artigo Arte Rupestre url httpptwikipediaorgwikiArte_Rupestre consultado em 25 fevereiro 2013 6 BAZIN Germain Histoacuteria da Arte 1976

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Nesta eacutepoca a arte natildeo tinha pretensotildees ao belo e ao esteticamente agradaacutevel pretendia sim ser uacutetil Natildeo se falava em peccedilas ou em belas obras e sim em pinturas eficazes ou eficientes

Figura 2 - Pintura decorativa em tuacutemulo Egiacutepcio7

Na arte egiacutepcia a cor era muito apreciada As estaacutetuas e as pinturas do interior dos templos e dos tuacutemulos eram profusamente coloridas mas a passagem do tempo fez com que se perdessem muitas das cores originais que as cobriam Quanto agraves representaccedilotildees da figura humana os olhos e o torso nunca estavam de perfil jaacute os membros superiores e inferiores eram colocados de perfil deformando assim a loacutegica da observaccedilatildeo natural da figura Ou seja nas representaccedilotildees humanas os egiacutepcios usavam as cabeccedilas e os peacutes vistos de perfil sendo os olhos pintados de frente bem como os ombros e o tronco ao inveacutes dos braccedilos e das pernas que eram representados tambeacutem de perfil Esta distorccedilatildeo ficou conhecida como Lei da Frontalidade8

Haacute um relato sobre o estilo egiacutepcioldquoO estilo egiacutepcio incorporou uma seacuterie de leis bastante rigorosas e todo artista tinha que aprendecirc-las desde muito jovem As estaacutetuas sentadas deviam ter as matildeos sobre os joelhos os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres a aparecircncia de cada deus egiacutepcio era rigorosamente estabelecida Hoacuterus o deus-ceacuteu tinha que ser apresentado como um falcatildeo ou com uma cabeccedila de falcatildeo Anuacutebis o deus dos ritos funerais como um chacal ou com uma cabeccedila de chacal Todo artista precisava aprender tambeacutem a arte da bela escrita Tinha que recortar na pedra de maneira clara e precisa as imagens e os siacutembolos dos hieroacuteglifos Mas assim que dominasse todas essas regras dava-se por encerrada a sua aprendizagem Ningueacutem queria coisas diferentes ningueacutem lhe pedia que fosse ldquooriginalrdquo Pelo contraacuterio era provavelmente considerado o melhor artista aquele que pudesse fazer suas estaacutetuas o mais parecidas com os belos monumentos do passado Por isso aconteceu que no transcurso de trecircs mil anos ou mais a arte egiacutepcia mudou muito pouco Tudo o que era considerado bom e belo na eacutepoca das

7 Url wwwinfopediapt$pintura-egipcia consultado em 25 janeiro 2013 8 Wikipeacutedia Arte do Antigo Egito Lei da Frontalidade a atenccedilatildeo ao pormenor de detalhe realista que tenta apresentar o aspecto mais revelador de determinada entidade embora com restritos acircngulos de visatildeo Para esta representaccedilatildeo satildeo soacute possiacuteveis trecircs pontos de vista pela parte do observador de frente de perfil e de cima

que cunham o estilo de um forte componente de estaacutetica de uma imobilidade soleneO corpo humano

especialmente o de figuras importantes eacute representado utilizando dois pontos de vista simultaneos os que oferecem maior informaccedilatildeo e favorecem a dignidade da personagem os olhos ombros e peito representam-se vistos de frente a cabeccedila e as pernas representam-se vistos de lado UrlhttpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

54

MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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piracircmides era tido como igualmente perfeito mil anos depois Eacute certo que surgiram novas modas e novos temas foram pedidos aos artistas mas a maneira de representar o homem e a natureza permaneceu essencialmente imutaacutevelrdquo (GOMBRICH 1999 P 65)

Figura 3 - Aguarela da entrada de um templo David Roberts9

Com estas misturas de perspetiva e representaccedilotildees contorcidas os egiacutepcios natildeo queriam criar imagens reais tal como as viam queriam na realidade captar a essecircncia do objeto representado e nada melhor para captar essa essecircncia do que representar acircngulos que melhor representassem determinada parte do corpo Quer fosse pessoa ou animal a representaccedilatildeo ficava assim marcada para a eternidade

Para os egiacutepcios quanto mais importante fosse a pessoa maior era a dimensatildeo da sua representaccedilatildeo como eram disso exemplo os faraoacutes os deuses e os sacerdotes Ao inveacutes os servos eram apresentados frequentemente com o tronco de perfil numa posiccedilatildeo de veneraccedilatildeo e com uma dimensatildeo reduzida

Os criadores do legado egiacutepcio chegam aos nossos dias anoacutenimos sendo que soacute em poucos casos se conhece efectivamente o nome do artista Tatildeo pouco se sabe sobre o seu caraacutecter social e pessoal que se crecirc talvez nem ter existido tal conceito no grupo artiacutestico de entatildeo Por regra o artista egiacutepcio natildeo tem um sentido de individualidade da sua obra ele efectua um trabalho consoante uma encomenda e requisiccedilotildees especiacuteficas e raramente assina o trabalho final Tambeacutem as limitaccedilotildees de criatividade impostas pelas normas esteacuteticas e as exigecircncias funcionais de determinado empreendimento reduzem o seu campo de actuaccedilatildeo individual e juntamente com o facto de ser considerado um executor da vontade divina fazem do artista um elemento de um grupo anoacutenimo que leva a cabo algo que o transcende

Wikipeacutedia - Arte do Antigo Egipto

O artista egiacutepcio era visto como um indiviacuteduo com uma tarefa divina importante Mesmo que se tratasse na realidade de um executor segundo os egiacutepcios ele necessitava de contacto com o mundo divino para poder receber a sua forccedila criadora Sem ele natildeo seria possiacutevel tornar visiacutevel o conteuacutedo espiritual o invisiacutevel O proacuteprio termo para designar este executor s-ankh significava o que daacute vida10

9 Wikipeacutedia David Roberts (17961864) pintor escocecircs do periodo romantico da Academia Real Inglesa urlhttpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 10 Wikipeacutedia ndash Arte do Antigo Egito url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_EgitoLei_da_ Frontalidade consultado em 25 fevereiro 2013

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Ao contraacuterio dos egiacutepcios a civilizaccedilatildeo grega natildeo via os seus reis como deuses mas sim como pessoas saacutebias e justas que se dedicavam ao bem-estar do povo Assim o artista grego procurava na sua arte a perfeiccedilatildeo um estilo de arte de elevada elaboraccedilatildeo intelectual onde se podia observar o ritmo o equiliacutebrio e uma espeacutecie de harmonia ideal Na Greacutecia antiga o racionalismo o amor pela beleza o homem e a democracia eram alguns dos temas de interesse representativo Assim enquanto os egiacutepcios representavam temas religiosos transcendentais e ligados ao espiacuterito os gregos eram mais mundanos e racionais pois limitavam-se a representar a realidade As suas manifestaccedilotildees artiacutesticas eram nitidamente antropocecircntricas com dimensatildeo humana e interesse pela representaccedilatildeo natural do homem Em funccedilatildeo disso os gregos criaram tambeacutem cacircnones ou regras fixas que definiam riacutegidos sistemas de proporccedilotildees e relaccedilotildees formais para todas as produccedilotildees artiacutesticas desde a arquitetura agrave escultura passando tambeacutem pelo desenho e pintura

O povo grego cultivava a arte pela arte e na sua constante busca da perfeiccedilatildeo criou uma arte de elaboraccedilatildeo intelectual em que predominavam o ritmo o equiliacutebrio a harmonia ideal No primeiro periacuteodo da arte grega o Arcaico ocorreram duas subdivisotildees o Periacuteodo Geomeacutetrico onde pontificavam linhas retas e curvas e o Periacuteodo Arcaico propriamente dito bem patente na ceracircmica e na arquitetura heleacutenica De maneira limitada e repetitiva surgiram tambeacutem as figuras de animais e monstros mitoloacutegicos aleacutem de imagens do homem nuacute o atleta e da mulher vestida lembrando uma deusa

O periacuteodo Claacutessico foi assim o periacuteodo da maturidade da arte grega onde se fez a expansatildeo do movimento e se criou o cacircnone das proporccedilotildees atleacuteticas No periacuteodo Heleniacutestico ou Alexandrino as influecircncias de outras culturas foram marcantes levando a cultura heleacutenica a desenvolver um estilo de arte pela arte tornando-se mais decorativa e sumptuosa Um dos exemplos mais marcantes deste periacuteodo foi o famoso Mosaico de Alexandre descoberto em Pompeia e que demonstra de forma expliacutecita o estilo decorativo pelo qual a arte heleacutenica se estava a enveredar Figura 4 - Alexandre Magno e seu cavalo Buacutecefalo na Batalha de Isso Mosaico encontrado em Pompeia Museu Arqueoloacutegico Nacional Naacutepoles11

11 Wikipeacutedia Alexandre o Grande url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande consultado em 10 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Posteriormente no Periacuteodo Medieval o desenho tal como as ciecircncias e outras formas de arte acabaram por sofrer um retrocesso no que toca agrave representaccedilatildeo da figura humana jaacute que a religiatildeo voltou a tornar-se no tema central da representaccedilatildeo O foco passou a ser a salvaccedilatildeo e a vida eterna A representaccedilatildeo realiacutestica do mundo deixou de fazer sentido passando os desenhos de nuacutes a serem proibidos As proporccedilotildees harmoniosas desapareceram e a falta do uso de perspetiva deu aos desenhos cenaacuterios completamente impossiacuteveis Ateacute ao seacutec XV as representaccedilotildees dos animais natildeo tinham detalhe nem uma vez mais perspectiva conferindo-lhes um certo ar de grotesco Outro factor que levou a perca de qualidade nesta aacuterea eacute o facto de os artistas medievais terem de viajar para fazer copias do trabalho de outros artistas podendo conclui-los quando chegavam a casa atraveacutes de um livro de padrotildees no entanto desencorajando o desenho do real e fazendo realccedilar o espiacuterito copista da altura Foi Albrecht Duumlrer no entanto quem nesse mesmo seacuteculo criou o que se pode considerar hoje o iniacutecio do desenho naturalista precursor por sua vez da Ilustraccedilatildeo Cientifica Mas este feito teve um contexto mais amplo no qual os Descobrimentos Portugueses tambeacutem se incluem como iremos ver

12 Wildlife Art ndash Um Caso Paralelo O conceito Wildlife Art nasceu com as pinturas rupestres da preacute-histoacuteria muito antes de ser oficialmente inventado Provavelmente a mais famosa das pinturas rupestres a imagem do cavalo selvagem em Lascaux (Franccedila) eacute um dos primeiros exemplos conhecidos da Wildlife Art Mas outros animais jaacute eram representados isto eacute visiacutevel nas pinturas rupestres encontradas nas Grutas Chauvet em Franccedila (talvez com cerca de 32000 anos) que retratam cavalos rinocerontes leotildees buacutefalos e mamutes

Figura 5 ndash Cavalo selvagem Lascaux12 (Franccedila) e Rinoceronte Chauvet (Franccedila)13

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Wikipeacutedia Lascaux url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg consultado em 18 de marccedilo de 2013 13 Url actividadesonlineblogspotpt201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml consultado em 18 de marccedilo de 2013

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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O termo Wildfife foi crescendo ateacute aos dias de hoje perdido em paralelo com a histoacuteria da pintura e ilustraccedilatildeo em particular e a historia de arte em geral

Podemos ver ao longo do tempo inuacutemeras pinturas de animais representadas pelos mais diversos pintores e estilos Natildeo querendo isto significar que todas se enquadravam neste conceito mas mostrando a importacircncia e a forccedila do tema animal que ao longo dos tempos cresceu e originou por meacuterito proacuteprio o agora designado de Wildlife Art

No Romantismo Delacroix14 pintou inuacutemeras telas com inclusatildeo de animais selvagens em

especial leotildees e tigres Destaco o quadro Caccedila ao Tigre e o quadro O Tigre ataca o Cavalo onde se representa o Cavalo animal domesticado pelo homem em contraponto com o Tigre animal selvagem

Figura 6 ndash Caccedila ao Tigre e O Tigre Ataca o Cavalo Delacroix oacuteleo sobre tela15

Mais tarde no expressionismo e cubismo alematildeo Franz Marc16 dedicou tambeacutem atenccedilatildeo ao tema animal com os quadros Raposa O Macaco do Friso Veado Tigre etc fora-lhe atribuiacutedo o conceito de Wla embora os criacuteticos da altura viam mais no seu trabalho um estilo de autor do que Wla

Figura 7 ndash Tigre (1912) e Raposa (1913) Franz Marc fase cubista oacuteleo sobre tela17

14 Ferdinand Victor Eugegravene Delacroix (1798 ndash 1863) considerado um dos mais importantes pintores do periodo romacircntico francecircs url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 15 Url wwweugnedelacroixorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 16 Franz Moritz Wilhelm Marc (Munique 1880 - 1916) pintor alematildeo foi um dos mais influentes representantes do movimento expressionista na Alemanha urlwwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013 17 Url wwwfranzmarcorg consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Salvador Daliacute o mais conhecido e mediaacutetico dos surrealistas utilizou o tema animal em alguma das suas pinturas como por exemplo Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949)

Figura 8 ndash Girafa Incendiada (1937) Sonho causado pelo voo de uma abelha em redor de uma romatilde um segundo antes de acordar (1944) Leda Atoacutemica (1949) Salvador Daliacute oacuteleo sobre tela18

Carl Runguis eacute um artista americano cuja obra abrange o final do seacuteculo XIX e o iniacutecio do seacuteculo XX Seu estilo evoluiu influenciado por o estilo cientiacutefico e influenciado tambeacutem por os impressionistas Mais recentemente nas deacutecadas de 7080 e ateacute aos dias de hoje surgiram nomes como John Seerey-Lester (GB) os irmatildeos Hunt (EUA) Robert Bateman (Canadaacute) Carl Brenders (Beacutelgica) Harris-Ching (Nova Zelacircndia UK) Keith Brokie (Escoacutecia) Sue Dikinson (Aacutefrica do Sul) que aplicando as mais diversas teacutecnicas tem em comum a praacutetica do fieldsketching

Hoje em dia tambeacutem conhecido por Wildlife Artist eacute aquele que representa o animal no seu habitat natural Aqui as pinturas naturalistas procuram dar a conhecer ao puacuteblico em geral a relaccedilatildeo do homem com a natureza mesmo que a figura humana natildeo esteja representada Ao contraacuterio da ilustraccedilatildeo cientiacutefica que eacute em pose e explica a mensagem da espeacutecie (por vezes representada sem uso de fundo pintado) o desenho naturalista vive da representaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos animais (selvagens ou natildeo) no seu habitat Estas ilustraccedilotildees podem ser por vezes grandes pinturas a oacuteleo aguarelas acriacutelico ou em qualquer outro material mas sempre com uma representaccedilatildeo muito fiel agrave realidade sendo este o denominador comum do desenho e da pintura naturalista O desenho naturalista ou wla (wild life art) tambeacutem requere o conhecimento das espeacutecies naturais contudo aqui prevalece o lado esteacutetico e artiacutestico O trabalho eacute feito a pensar na sua reproduccedilatildeo em serigrafias posters ou mesmo na venda dos originais Tambeacutem podemos ver estes trabalhos

18 Url wwwsalvador-daliorg consultado em 19 de marccedilo de 2013

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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em livros de texto livros para crianccedilas selos folhetos e museus especialmente mais ligados agrave educaccedilatildeo ambiental19 Satildeo incluiacutedas abaixo algumas imagens de artistas da geraccedilatildeo de Wildlife Art que surge na deacutecada de 70 e 80 e todos eles actualmente artistas de renome internacional Robert Bateman nascido em Toronto Ontaacuterio Canadaacute em 1930 que utiliza preferencialmente o acriacutelico nos seus trabalhos

Figura 9 ndash Dozing Lynx Robert Bateman acriacutelico20

Carl Brenders nascido perto de Antueacuterpia Beacutelgica em 1937 daacute preferecircncia ao guache nas suas obras

Figura 10 ndash Puma Family 1993 e Companions 1989 guache Carl Brenders21

19 The Guild Hand Book of Cientific Illlustration Wiley 2 ed 2003 20 BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml consultado em 23 marccedilo de 2013 21 BRENDERS Carl Wildlife ndash The Natural Paints of Carl Brenders Mill Pond press inc New York 1994 Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLampoffset=1 consultado em 23 de marccedilo de 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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John Seerey-Lester nascido em Manchester no Reino Unido mudou-se para os Estados Unidos em 1980 utiliza preferencialmente oacuteleo sobre tela

Figura 11 - Polar Express Seerey-Lester oacuteleo sobre tela22

Raymond Harris-Ching nascido na Nova Zelacircndia em 1939 que utiliza principalmente oacuteleo sobre tela

Figura 12 - Bald Eagle grafite 1981 e Puffin and Young Herring Gulls oacuteleo 2003 Raymond Harris-Ching23

Sue Dikinson e Hadzel Soans24 utilizam preferencialmente a aguarela Keith Brockie25 usa vaacuterios materiais como grafite aguarela e guache e Dougland Stermer que trabalha com combinaccedilotildees de grafite e aguarela

22 Url wwwseerey-lestercom consultado em 23 de Marccedilo de 2013 23 Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 consultado em 23 de Marccedilo de 2013 24 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 25 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Tambeacutem Claire Walker Leslie26 que se tem dedicado mais agrave produccedilatildeo de livros sobre desenho naturalista eacute hoje em dia uma referecircncia nessa aacuterea

Figura 13 ndash Ilustraccedilatildeo de Clare Walker Leslie27 aguarela

Assim como Pedro Salgado28 o mais conceituado ilustrador cientiacutefico portuguecircs que usando sobretudo grafite aguarela e tinta-da-china se dedica agora tambeacutem agrave introduccedilatildeo das novas tecnologias ao serviccedilo da ilustraccedilatildeo cientiacutefica

Figura 14 ndash Peixe galo Zeus faber tinta da china sobre scratchboard e Saltador do lodo Periophthalmus argentilineatus aguarela Pedro Salgado Ilustraccedilatildeo Cientifica29

26 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising 1995 27 Url wwwclarewalkerlesliecom consultado em 22 de abril de 2013 28 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB e Selos da Natureza Museu Nacional de Histoacuteria Natural e da Ciecircncia Lisboa 1997 29 Url wwwpedrosalgadoeu em 13 de Setembro de 2013 e OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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13 Desenho Naturalista e Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica ndash Origens e Antecedentes Alguns Contributos 131 A Aventura de um Rinoceronte Em 1515 a frota de Cristoacutevatildeo de Brito partiu de Cochim rumo a Lisboa trazendo consigo um rinoceronte indiano O animal resistiu agrave perigosa viagem sendo alimentado com palha feno e arroz cozido Chegado caacute segundo relatos da altura foi recolhido no Palaacutecio da Ribeira para ficar separado dos elefantes que estariam no Palaacutecio de Estatildeos que segundo autores romanos da antiguidade eram inimigos mortais

No Palaacutecio da Ribeira estariam tambeacutem outros animais exoacuteticos expostos como uma espeacutecie de coleccedilatildeo com grades de ferro feitas agrave sua medida

D Manuel o rei vigente na altura trouxe para Portugal graccedilas ao comeacutercio activo que os portugueses mantinham com Aacutefrica e Aacutesia desde gazelas a antiacutelopes leotildees macacos imensas aves africanas e elefantes espalhados em vaacuterios edifiacutecios reais e eles eram marcas indeleacuteveis do seu proacuteprio poder e riqueza

Querendo testar crenccedilas antigas mais concretamente o facto de elefantes e rinocerontes serem inimigos mortais decidiu promover entatildeo um combate entre estes dois paquidermes num paacutetio que se estendia dos aposentos reais ateacute agrave Casa da Mina espaccedilo que o Rei mandou fechar com uma vedaccedilatildeo em madeira formando uma espeacutecie de arena para o confronto Este espaccedilo por muitos desconhecido eacute hoje a Praccedila do Comeacutercio A data do evento ficou marcada para 3 de Junho domingo da Santiacutessima Trindade O elefante escolhido era muito jovem e o facto de as ruas estarem cheias de gente aos gritos fizeram com que o animal ficasse bastante nervoso durante o percurso

Aquando da chegada agrave arena o Rei ordenou que se tirasse o pano que separava o elefante do rinoceronte que jaacute laacute estava Ao ver o elefante o rinoceronte iniciou uma investida contra este provocando o pacircnico num animal jaacute assustado O elefante fugiu derrubando uma estrutura de ferro que continha uma abertura e o rinoceronte foi aplaudido e proclamado vencedor sem sequer ter entrado em combate

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico D Manuel decidiu enviar o rinoceronte Este partiu de Lisboa num barco com destino a Roma contudo o barco naufragou ao largo da costa Italiana e o animal morreu afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer e ele fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data de 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Figura 15 - Rinoceronte Rhinoceros unicornis desenho enviado de Lisboa para a Alemanha em 1515 presumivelmente de autor portuguecircs A nota manuscrita de Duumlrer eacute uma coacutepia da missiva que

originalmente acompanhava o desenho (Museu Britacircnico Londres)30

Como fizera no ano anterior em que tinha enviado ao Papa Leatildeo X um elefante agora certamente com o intuito de mostrar o poderio do Impeacuterio Portuguecircs e tambeacutem com o intuito diplomaacutetico decidiu enviar o rinoceronte Partiram de Lisboa de barco com destino a Roma tendo este vindo a naufragar ao largo da costa Italiana e o animal a morrer afogado A partir de um desenho feito supostamente por um artista portuguecircs anoacutenimo que eacute enviado numa missiva a Albrecht Duumlrer este fez uma gravura em madeira onde viria a acrescentar a data 1515 e a designaccedilatildeo cientiacutefica do animal (Rhinocherus)

Figura 16 - Gravura sobre madeira de Albrecht Duumlrer baseado no original enviado de Lisboa (1ordf ediccedilatildeo Museu Britacircnico Londres)31

A gravura de Duumlrer conheceu uma difusatildeo tal que condicionaria as representaccedilotildees do rinoceronte asiaacutetico pelo menos ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX Claro que nos seacuteculos que se seguiram alguns naturalistas visitaram a Iacutendia e corrigiram erros expressos na representaccedilatildeo Mas muitos peritos concordam que no essencial a obra de Duumlrer e num certo sentido a do

30 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de Abril de 2013 31 Ibidem

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

54

MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

40

Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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artista portuguecircs anoacutenimo continuou a influenciar a forma como os ilustradores viram e representaram este extraordinaacuterio animal

Luiacutes Tirapicos in O Rinoceronte de Duumlrer 32

No desenho poreacutem podem ser observados pormenores que natildeo correspondem agrave realidade O efeito de couraccedila com placas um pequeno chifre no dorso escamas nas patas e um serrilhado nos quartos traseiros no animal satildeo claramente adornos que provecircm da coacutepia do desenho e que prova que Duumlrer nunca tinha visto de facto o animal Esta imagem conheceu uma difusatildeo tal que iria ser ateacute ao iniacutecio do seacuteculo XIX reproduzida como a imagem mais iconograacutefica do rinoceronte Estaacutevamos ainda na altura do Renascimento (houve no entanto nos seacuteculos seguintes naturalistas que visitaram a Iacutendia e corrigiram alguns erros evidentes na representaccedilatildeo do animal) Eacute tambeacutem no Renascimento mas pela matildeo de artistas preacute-perspetivistas que a perspetiva voltou a ter um papel importante e que ainda perdura ateacute aos dias de hoje Estes iriam usar um meacutetodo que consistia na convergecircncia das linhas ortogonais ou seja perpendiculares em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical dando origem a um esquema que permitia construir e projectar bidimensionalmente o espaccedilo que queriam representar ainda sem se fazerem valer do ponto de fuga Este processo empiacuterico de construccedilatildeo denominou-se entatildeo de espinha-de-peixe33

Este esquema de espinha de peixe ou dito de maneira mais elaborada principio da ldquolinha de convergecircnciardquo deteve pelo menos ateacute onde podemos remontar um lugar central na representaccedilatildeo espacial da Antiguidade Cf Erwin PANOFSKY op cit p40

Figura 17 - Mural Pompeu of the pageant of Orestes34 SeacutecII AD Conteacutem as convergecircncias centrais (linhas negras) e lsquoespinha de peixersquo convergecircncia paralela para a periferia (linhas brancas) criando a perspectiva

A Espinha de Peixe foi assim um dos meacutetodos mais usados para representar o efeito de perspectiva na pintura preacute-renascentista e claacutessica da Antiguidade A convergecircncia das linhas ortogonais em pares simeacutetricos para uma linha central e vertical e a convergecircncia das rectas

32 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Episoacutedios ndash O Rinoceronte de Duumlrer Url httpcvcinstituto-camoesptcienciae71html consultado em 26 de abril de 2013 33 Wikipeacutedia ndash Artigo Prespectiva (graacutefica) urlhttpptwikipediaorgwikiErwin_Panofsky consultado em 26 de abril de 2013 e PANOFSKY Erwin A Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed 70 1999 34 Url httpsirlstanfordedu~bobteachingpdfarth20203_Perspective_Depth_070124pdf consultado em 26 de abril de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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para uma zona indeterminada mas muito proacutexima foram a imagem de marca deste estilo No entanto soacute a partir das pinturas de Giotto eacute que o ldquoponto de fugardquo foi utilizado contudo ainda sem o respectivo conhecimento cientiacutefico que viria a atingir mais tarde

Nos anos que se seguiram agrave gravura de Duumlrer inuacutemeras pranchas repletas de ilustraccedilatildeo cientiacutefica viriam a ser reproduzidas Plantas insectos estudos detalhados e pormenorizados foram ganhando aos poucos destaque relativamente ao fundo que passou de ricamente ilustrado ateacute ao branco absoluto no papel do espaccedilo envolvente ao desenho Nesta altura surgiram as regras estruturais pelas quais a representaccedilatildeo taxonoacutemica se comeccedilou a reger por exemplo pelo uso do plano frontal e pela aboliccedilatildeo do fundo (era um elemento perturbador na leitura do desenho) Nas pranchas reproduzidas neste periacuteodo verificamos que cada indiviacuteduo representava a espeacutecie inteira evidenciando todos os traccedilos e caracteriacutesticas de forma generalista dando nenhum ou pouco destaque a um traccedilo em particular de uma figura representada Estas regras serviram posteriormente para as pranchas de botacircnica e tambeacutem para pranchas com funccedilotildees taxonoacutemicas usadas para a classificaccedilatildeo zooloacutegica

Neste capiacutetulo e mais concretamente na Entomologia35 iremos no entanto observar algumas alteraccedilotildees que se sucederam na forma de representar o sujeito Na representaccedilatildeo entomoloacutegica enfatizou-se mais a representaccedilatildeo sequencial ao contraacuterio das ilustraccedilotildees botacircnicas que privilegiavam a representaccedilatildeo do conjunto Esta opccedilatildeo de representaccedilatildeo tem-se mantido imutaacutevel atraveacutes dos tempos sendo por isso que ainda hoje uma fotografia natildeo pode competir neste campo com uma ilustraccedilatildeo pois a fotografia representa um indiviacuteduo singular e natildeo a espeacutecie no geral coisa que uma ilustraccedilatildeo pode fazer36 O interesse jaacute demonstrado pela natureza intensificou-se ainda mais com a proacutepria anatomia humana que jaacute era estudada e aprofundada nessa altura e que teve como expoente maacuteximo Leonardo da Vinci cujos desenhos revelam conhecimentos com um seacuteculo de avanccedilo em relaccedilatildeo agrave sua eacutepoca Da Vinci iniciou a sua formaccedilatildeo nesta aacuterea no atelier de Andrea del Verrocchio e enquanto mestre insistia que todos os alunos deviam ter conhecimentos de anatomia Rapidamente tornou-se o mestre da anatomia topograacutefica37 que estuda que estuda o corpo humano por regiotildees descrevendo as suas estruturas realizando inuacutemeros estudos de muacutesculos oacutergatildeos e tendotildees entre outras caracteriacutesticas anatoacutemicas

Foi tambeacutem um dos primeiros a usar o caderno de esboccedilos para desenvolver os seus freneacuteticos pensamentos Enquanto folheava o caderno para a frente e para traacutes no emaranhado de desenhos e escritos Leonardo estava a por em praacutetica o correspondente ao processo mental de Kemp brainstorming38 Estaacutevamos no renascimento onde os artistas se inspiravam na natureza fazendo registos de exemplares vivos

35 Entomologia - ciecircncia que estuda os insetos sob todos os seus aspectos e relaccedilotildees com o homem as plantas os animais e o meio-ambiente Entomologia eacute proveniente do grego entomon (inseto) e logos (estudo) Url httpptwikipediaorgwikiEntomologia consultado em 26 de abril de 2013 36 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 37

Anatomia topograacutefia eacute aquela que estuda o corpo humano por regiotildees e que daacute enfase as relaccedilotildees entre as vaacuterias extrutura existentes (pele ossos musculos nervos etc) nessa regiatildeo Url wwwthefreedictionarycom topographic+anatomy consultado em 30 de abril de 2013 38 Modelo de reuniatildeo em que os participantes apresentam espontaneamente as suas ideias e propostas para resolver determinado problema URL httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming consultado em 30 de abril de 2013

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Posteriormente jaacute como artista de sucesso teve permissatildeo para dissecar cadaacuteveres humanos no Hospital de Santa Maria Nuova em Florenccedila e mais tarde nos Hospitais de Milatildeo e Roma Considera-se que entre 1510 e 1515 colaborou com ele o meacutedico Marcantonio della Torre e juntos fizeram uma pesquisa aprofundada que terminaria numa obra complexa sobre a anatomia humana para a qual Leonardo fez mais de 200 desenhos Esta obra o Trattato della Pittura39 foi apenas publicada 161 anos apoacutes a sua morte em 1680 Nela seriam publicados tambeacutem assuntos teacutecnicos e fundamentos do desenho e da pintura Da Vinci desenhou assim ao pormenor o esqueleto humano para aleacutem do coraccedilatildeo sistema vascular nervos oacutergatildeos sexuais e outros oacutergatildeos internos Viria ainda a fazer um dos primeiros desenhos de um feto no uacutetero

Figura 18 ndash Estudos anatoacutemicos de Leonardo da Vinci Estudo de ossos do braccedilo (cerca de 1510) e Estudos de embriotildees (1510ndash1513)40

Para aleacutem da anatomia humana tambeacutem estudou a anatomia de vaacuterios animais como morcegos vacas aves macacos ursos e ratildes Presume-se que em termos de perspectiva animal Leonardo teraacute feito uma seacuterie de estudos de cavalos incrivelmente precisos e simeacutetricos para a criaccedilatildeo de uma estaacutetua em bronze duas vezes maior agraves existentes na altura Figura 19 ndash Estudo de Cavalos cerca de 1490 caderno de Leonardo Da Vinci Actualmente na Royal Library of Windsor41

39 O Trattato della pittura em italiano ou Tratado da Pintura coleccedilatildeo de escritos do de Leonardo da Vinci que trata assuntos teacutecnicos e dos fundamentos do desenho e da pintura Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo _da_Vinci e url wwwsaberculturalcom consultado em 26 de abril de 2013 40 Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 41 Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg consultado em 26 de abril de 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Contudo o monumento nunca viria a se concretizar pois em 1494 rebentou a primeira de uma seacuterie de oito guerras em Itaacutelia e o bronze foi todo utilizado para a produccedilatildeo de canhotildees Leonardo Da Vinci eacute reconhecido como um dos maiores geacutenios da histoacuteria sendo tambeacutem conhecido como cientista matemaacutetico engenheiro inventor anatomista pintor escultor arquitecto muacutesico poeta e botacircnico

Depois da representaccedilatildeo humana e a representaccedilatildeo animal sofrerem um retrocesso na sua interpretaccedilatildeo ateacute ao seacutec XV homens como Leonardo da Vinci viriam marcar a diferenccedila e criando novas tendecircncias representativas dando um lugar de relevo ao mundo natural

A perspectiva foi o meio com o qual o Renascimento conseguiu ligar num continuum initerrupto os significados isolados dos objectos (suspensos e errantes num fundo amorfo e indefinido na Idade Meacutedia) com a finalidade de compor um discurso visual sem vazios fluido e cerrado A traduccedilatildeo da profundidade natildeo eacute soacute um novo modo de representar o mundo

tridimensional sobre uma superfiacutecie bidimensional mas um novo modo de o observar42

Nesse mesmo seacuteculo imbuiacutedo pelo espiacuterito naturalista que se vivia na altura o alematildeo Albrecht Duumlrer43 gravador pintor ilustrador matemaacutetico e teoacuterico e provavelmente o mais famoso e importante artista alematildeo do Renascimento viria a fazer inuacutemeros desenhos e pinturas de animais e de plantas mostrando jaacute a sua vertente naturalista Quanto mais a tua

obra retratar minuciosamente a vida melhor ela parecera este era um dos lemas do grande mestre Albrecht Duumlrer44

Obras como a lebre jovem a pequena coruja o grande tufo de ervas ou o escaravelho ficaram na histoacuteria como o iniacutecio de uma viagem ao mundo natural e que iriam consagrar Duumlrer como o primeiro mestre da aguarela

Figura 20 ndash Desenhos de Duumlrer45 Lebre Jovem 1502 Grande Tufo de Ervas1503 e Pequena coruja 1506 aguarelas e guaches Museu Albertina Viena

Em 1512 com 41 anos Duumlrer tinha chegado ao auge da sua carreira Nesse ano viria a desenhar uma asa de paacutessaro num pergaminho podendo-se notar na figura as diferentes

42 MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010 43 Albrecht Duumlrer Nuremberga Alemanha (14711528) url httpptwikipediaorgwikiAlbrecht_Duumlrer e url wwwinfopediapt$albrecht-durer consultado em 26 de Abril de 2013 44 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) 45 Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer consultado em 26 de abril de 2013

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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reacutemiges46 e as cores das penas desenhadas de forma anatomicamente correta tal como seriam vistas atraveacutes do olhar de um bioacutelogo Figura 21 ndash Desenho de Duumlrer Asa de Rola 1512 aguarela e guache sobre pergaminho Museu Albertina Viena

No entanto apesar da evoluccedilatildeo de Duumlrer foi o rinoceronte desenhado em 1515 por um portuguecircs anoacutenimo que viria a fazer toda a diferenccedila sendo considerado ainda hoje como o primeiro desenho naturalista precursor da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica que viria a ser notabilizado e reconhecido atraveacutes da gravura de Duumlrer que passou a ter associado o nome do animal em latim Esta associaccedilatildeo ao desenho do nome em latin da espeacutecie passou a ser desde entatildeo um dos pilares fundamentais da Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica

132 O Desenho Naturalista em Portugal

Jaacute com alguma tradiccedilatildeo em Portugal foi com a Casa do Risco anexa ao Jardim Botacircnico da Ajuda criada por Domingos Vandelli47 no uacuteltimo quartel do seacuteculo XVIII concretamente em 1780 que o desenho naturalista nacional alcanccedilou o destaque merecido E foi tambeacutem Domingos Vandelli que esteve na origem do projeto de envio para o Brasil de naturalistas com o fim de estudarem a fauna e flora locais Meacutedico botacircnico e professor italiano nascido em 1735 concluiu os cursos de Filosofia Natural e Medicina na Universidade de Paacutedua em 1761 Em 1764-17651768 foi convidado pelo Marquecircs de Pombal para delinear e dirigir as obras do Real Jardim Botacircnico da Ajuda Em 1772 foi entatildeo graduado Doutor em Filosofia e Medicina na Universidade de Coimbra tornando-se regente nas disciplinas de Quiacutemica e Histoacuteria Natural e ficando tambeacutem responsaacutevel pela criaccedilatildeo e direccedilatildeo do Jardim Botacircnico da Universidade No final do seacutec XVIII (1783-1792) Vandelli criou as expediccedilotildees filosoacuteficas portuguesas Defendia que o Naturalista devia dominar a arte do desenho para poder registar tudo o que natildeo se pudesse trazer para Portugal Ou seja este tipo de desenho rigoroso e cientiacutefico permitia assim dar a conhecer e catalogar a diversidade de fauna e flora presente em lugares distantes

As famosas expediccedilotildees de Vandelli chegariam mesmo a vaacuterios pontos do mundo como Angola Moccedilambique Goa Cabo Verde Cabo da Boa Esperanccedila Calicute Melinde e Brasil 46 Ornitologia-cada uma das penas resistentes das asas que executam o voo Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9migegt consultado em 29 de abril de 2013 47 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Personagens e Episoacutedios Domingos Vandelli (1735-1816) url httpcvcinstituto-camoesptcienciap10html consultado em 29 de abril de 2013

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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sendo a expediccedilatildeo do Brasil levada a cabo pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) que fora seu aluno na Universidade de Coimbra

Figura 22 - Planta do Dragoeiro Draco yuciformis Vandelli 1768

Em Setembro de 1783 Alexandre Rodrigues Ferreira deixou o Museu da Ajuda e partiu para o Brasil para estudar profundamente a natureza brasileira mais concretamente as capitanias de Gratildeo-Paraacute Rio Negro Mato Grosso e Cuiabaacute Descrever recolher e enviar para o Real Museu de Lisboa amostras de utensiacutelios em uso pela populaccedilatildeo local bem como de minerais plantas e animais era o que se pedia ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira

Ficou tambeacutem encarregado de tecer comentaacuterios filosoacuteficos e poliacuteticos sobre o que visse nos lugares por onde viajasse e foi este pragmatismo que fez daquela expediccedilatildeo a mais distinta das expediccedilotildees entre outras que foram realizadas por congeacuteneres seus naturalistas

Nesta expediccedilatildeo participaram vaacuterios desenhadores na altura denominados de riscadores merecendo principal destaque Joseacute Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim Joseacute Codina (natildeo se sabe se morreu no Brasil) responsaacuteveis por magniacuteficos desenhos naturalistas que se notabilizaram pelo seu rigor e virtuosismo Estes dois riscadores iriam ficar na histoacuteria como desenhadores topograacuteficos e de Histoacuteria Natural sendo a sua obra de extrema importacircncia para retratar visualmente o Brasil natural setecentista Freire teve a sua formaccedilatildeo enquanto jovem nas oficinas do Real Arsenal do Exeacutercito e com 20 anos apenas foi dada a sua admissatildeo no Jardim Botacircnico da Ajuda e na Casa do Risco entre 1780 e 1783 Fazendo uso da sua superlativa formaccedilatildeo de desenhador-militar foi incorporado na equipa de Alexadre Rodrigues Ferreira onde iria ser destacado para a expediccedilatildeo ao Paraacute Como vimos anteriormente Freire enquanto artista extremamente versaacutetil natildeo se iria restringir no que toca agrave temaacutetica mas sim ao niacutevel teacutecnico De facto a formaccedilatildeo de Riscador estava bem patenteada na sua obra e os seus desenhos em aguarela encarnavam bem a tradiccedilatildeo internacional do desenhador-viajante48

Tendo o patrociacutenio da igreja estes desenhos eram destinados agrave produccedilatildeo editorial para assim se mostrar a histoacuteria natural das coloacutenias portuguesas Apesar de posteriormente o projecto ter fracassado tinha sido assim dado o mote para a evoluccedilatildeo desta aacuterea

48 FARIA Miguel Ferreira A Imagem Uacutetil EDIUAL Editora da Universidade Autonoma SA Lisboa 2001 e Wikipeacutedia - Alexandre Rodrigues Ferreira e Biblioteca Nacional Digital Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpwwwbnbrbndigitalprojetoshtm consultado em 29 de Abril de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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133 D Carlos - Artista e Oceanoacutegrafo Um seacuteculo mais tarde a 1 de Setembro de 1896 o Rei D Carlos estimulado pelo Priacutencipe do Moacutenaco liderou a primeira campanha Oceanograacutefica a bordo do Yacht Ameacutelia nos mares de Portugal O Yacht de 33 metros de comprimento e 147 toneladas estava equipado para fazer sondagens ateacute 1500 metros dragagens ateacute 600 metros e pesca agrave linha a grandes profundidades As campanhas duraram 12 anos e ao longo deste tempo D Carlos supervisionou pessoalmente todas as operaccedilotildees em curso a bordo dos seus iates O monarca preferia estudar pequenas aacutereas da costa portuguesa a fim de se poder concentrar num espaccedilo mais reduzido obtendo assim resultados mais detalhados e objectivos ao inveacutes de cobrir aacutereas maiores obtendo com isso resultados mais vagos e imprecisos Os locais de estudo foram vaacuterios sendo os de sua eleiccedilatildeo os mares da embocadura dos estuaacuterios do Tejo e do Sado e aacuteguas adjacentes que seratildeo os mares de Cascais Cabo Espichel Sesimbra e aacutereas mais amplas como a aacuterea costeira entre o Cabo da Roca e Sines Tambeacutem a costa do Algarve foi estudada mais especificamente na observaccedilatildeo do atum No que diz respeito agrave ictiologia D Carlos publicou em 1904 um trabalho bastante exaustivo sobre tubarotildees e com isso veio preencher a falta de conhecimento que havia sobre esta espeacutecie Visava a distribuiccedilatildeo geograacutefica e batimeacutetrica das diferentes espeacutecies Abordava ainda as teacutecnicas de pesca e possiacuteveis partes de valor econoacutemico do animal e suas caracteriacutesticas fiacutesicas nomeadamente o comprimento a coloraccedilatildeo parasitas conteuacutedo do estocircmago ausecircncia de fetos nomenclaturas e designaccedilotildees comuns em Portuguecircs e Francecircs entre outras O outro trabalho publicado em 1899 pelo Rei D Carlos foi uma obra dedicada ao atum no Algarve Para aleacutem disso deixou mais duas publicaccedilotildees relatando os resultados gerais das suas expediccedilotildees

Figura 23 ndash Fotografia do Rei D Carlos e Capa da publicaccedilatildeo A Obra Artiacutestica de ELrsquoRei D Carlos

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Figura 24 ndash Aguarela do caderno do Rei D Carlos49

Nas suas obras D Carlos utilizou teacutecnicas e materiais de representaccedilatildeo muito diversas Realizou inuacutemeras aguarelas pasteacuteis desenhos agrave pena e gravuras Neles o monarca revelaria um apurado sentido de observaccedilatildeo que era posto em praacutetica por um traccedilo raacutepido e seguro Qualidade do desenho boa memoacuteria e observaccedilatildeo eram as qualidades defendidas por Vandelli que deveriam estar presentes num desenhador Naturalista e que ficaram bem expliacutecitas na obra do Rei D Carlos50

Figura 25 ndash Paacutegina de caderno do Rei D Carlos51

49 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 50 Instituto Camotildees Centro Virtual Camotildees Ciecircncia em Portugal Web e ldquoD Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesardquo Professor Luiacutes Saldanha Url httpcvcinstituto-camoes ptcienciae78html consultado em 29 de Abril de 2013 51 Imagem retirada do livro Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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134 Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica Percurso Podemos considerar que inserida na histoacuteria da Ilustraccedilatildeo a Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica surgiu no Renascimento com a famosa ilustraccedilatildeo do rinoceronte indiano no seacutec XVI Contudo foram com as viagens de Vasco da Gama agrave Iacutendia Pedro Alvares Cabral ao Brasil e Colombo agraves Ameacutericas que exploradores e naturalistas se depararam com a difiacutecil tarefa de descrever e relatar quer as espeacutecies descobertas os povos indiacutegenas laacute encontrados quer os proacuteprios lugares

Atraveacutes da ilustraccedilatildeo foi assim possiacutevel fazer chegar imagens em vez de soacute meras descriccedilotildees Posteriormente com o advento do uso da imprensa e dos seus caracteres moacuteveis houve uma maior facilidade de reproduccedilatildeo de gravuras feitas de madeira ou cobre permitindo a sua publicaccedilatildeo e consequente divulgaccedilatildeo

Podemos dizer que a Ilustraccedilatildeo Cientifica eacute a arte ou o ofiacutecio de comunicar ciecircncia ou seja eacute o complemento visual da divulgaccedilatildeo da ciecircncia Como tal ela tem de ser rigorosa e a parte esteacutetica soacute tem relevacircncia se natildeo interferir com a vertente cientiacutefica da mensagem pois eacute disso que se trata transmitir conhecimento cientifico quer seja sob a forma de reproduccedilotildees de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em livros de texto folhetos publicaccedilotildees populares ou acadeacutemicas publicaccedilotildees para crianccedilas para museus etc Manfredo Massironi considera que as regras estruturais sobre as quais se baseia a representaccedilatildeo taxonoacutemica satildeo as seguintes

uso do plano frontal

sinal variado nas suas 3 declinaccedilotildees

aboliccedilatildeo do fundo visto como elemento de perturbaccedilatildeo da leitura do desenho Assim na Ilustraccedilatildeo cientiacutefica cada indiviacuteduo estaacute para a espeacutecie inteira onde se evidenciam todas as caracteriacutesticas e traccedilos pertinentes Eacute por esta razatildeo que ainda hoje se prefere usar o desenho de ilustraccedilatildeo cientiacutefica em vez de fotografia porque a fotografia ao registar um indiviacuteduo natildeo poderia evitar de registar os traccedilos singulares ou extravagantes enquanto o desenho o pode fazer de maneira elegante mas cientiacutefica

Soacute recentemente com o desenvolvimento da ciecircncia e aperfeiccediloamento do rigor cientiacutefico eacute que surgiram as condiccedilotildees ideais para a divulgaccedilatildeo cientiacutefica ser comunicada tambeacutem por imagens

De forma simplificada podemos considerar que actualmente dentro do conceito de ilustraccedilatildeo ciecircntifica enquanto modelo de comunicaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico existem trecircs grupos de representaccedilatildeo eles satildeo

Desenhos descritivos que satildeo representaccedilotildees e que nos mostram com exactidatildeo o objecto natural seja macro ou microscoacutepio

Desenhos interpretativos que para aleacutem de descrever interpretam as teses e as ideias em geral do que foi observado funcionando por vezes sob a forma de diagramas ou seja uma representaccedilatildeo visual estruturada e simplificada de um determinado conceito ou ideia ou infografias que satildeo um recurso mais complexo onde se pode utilizar a combinaccedilatildeo de desenho fotografias e texto

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Desenhos imaginativos que interpretam ou representam o que natildeo pode ser completamente visto ou percebido pelo homem Neste tipo de desenho eacute possiacutevel fazer uso da criatividade e da intuiccedilatildeo mas sempre de forma controlada pela contraposiccedilatildeo do que eacute cientificamente plausiacutevel Tambeacutem aqui podemos recorrer ao uso de diagramas ou infografias

Em Portugal a Ilustraccedilatildeo Cientifica estaacute a atravessar um ponto alto na sua jaacute longa vida graccedilas a nomes como Alfredo da Conceiccedilatildeo Luiacutes Saldanha e mais recentemente Pedro Salgado que de haacute duas deacutecadas para caacute tecircm vindo a potenciar a formaccedilatildeo de vaacuterios nomes na ilustraccedilatildeo cientiacutefica nacional

135 O Caderno de Campo Enquanto objecto o caderno pode ter vaacuterios nomes consoante os tiacutetulos que lhe quisermos dar Quando usado por designers graacuteficos arquitectos escultores pintores e ilustradores generalistas ganha a denominaccedilatildeo por eles de Diaacuterio Graacutefico podendo haver algumas variantes no nome Caderno de Campo eacute normalmente a denominaccedilatildeo dada por bioacutelogos geoacutelogos antropoacutelogos paleontoacutelogos e ilustradores cientiacuteficos Eacute um suporte de experimentaccedilatildeo e de investigaccedilatildeo por excelecircncia tendo por si soacute vida proacutepria enquanto objecto sendo do ponto de vista artiacutestico um objecto rico e de maior valor sentimental Ou seja eacute uma memoacuteria efectiva documentada in loco um registo paralelo e complementar da Ilustraccedilatildeo Cientifica Nele registam-se desde os primeiros esboccedilos aos apontamentos de cor pequenas notas escritas ateacute estudo de caligrafia tudo feito na presenccedila do modelo vivo quer sejam animais plantas ou paisagens

Figura 26 - Paacutegina de um dos meus Cadernos de Campo Amazoacutenia 2010

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Posteriormente esses desenhos presentes no caderno juntamente com outras referecircncias como fotografias do modelo livros especiacuteficos e algumas paacuteginas de internet datildeo a informaccedilatildeo necessaacuteria para a realizaccedilatildeo de uma peccedila final com todo o rigor desejado Em contraponto ao rigor de uma Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica temos o estudo sob a forma de desenho de campo Para Pedro Salgado o desenho em caderno de campo abrange apresenta inuacutemeras potencialidades agrave exploraccedilatildeo do mundo natural

A potencialidade do desenho per si acaba por exceder as expectativas como complemento do desenho cientiacutefico ganhando vida proacutepria emancipando-se como actividade de exploraccedilatildeo extraordinariamente motivante do desenho sem compromisso com lugar para o erro com grande eficaacutecia na renovaccedilatildeo do vocabulaacuterio graacutefico Em suma um contraponto para o trabalho moroso disciplinado meticuloso e impoluto que caracteriza uma ilustraccedilatildeo cientiacutefica52 Trabalhando nos mesmos espaccedilos e ao mesmo tempo em pequenos grupos por vezes em solitaacuterio produzimos uma visatildeo multifacetada diversa e por isso enriquecida de uma mesma realidade Para aleacutem da consequente mostra artiacutestica colectiva assumimos o espaccedilo visitado como o verdadeiro protagonista numa atitude consciente de sensibilizaccedilatildeo ambiental53

52SALGADO Pedro Da Casa do Risco agrave Casa da Cerca in Sobre-Natural 10 Olhares Sobre a Natureza Almada Casa da Cerca ndash Centro de Arte Contemporacircnea Cacircmara Municipal de Almada 2011 53 Ibidem

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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PARTE II ndash Metodologia do Projecto

2 Materiais e Meacutetodos Ao contraacuterio de uma fotografia quando temos um animal agrave nossa frente e o queremos desenhar eacute necessaacuterio ser-se raacutepido e objetivo porque os animais estatildeo regra geral em constante movimento O volume e as proporccedilotildees naturais do animal satildeo elementos muito importantes e podem tornar-se eles proacuteprios num obstaacuteculo ao seu enquadramento no papel O simples facto de se estar quase sempre a trabalhar numa posiccedilatildeo pouco confortaacutevel torna os desenhos ao vivo num maior desafio

21 Materiais O material utilizado de suporte foi o seguinte

Bloco Fabriano Sketch A3 90g

Bloco Canson Sketchbook A3 90g

Papel de Aguarela Artiacutestico Fabriano 300g

Meacutediuns riscadores - Grafites HB B 2B 4B

Borrachas - Borracha patildeo borracha eleacutectrica borracha Rotring B20

Tintas - Aguarelas Winsor amp Newton em pastilha e tubo

Pinceacuteis - Pinceacuteis Windsor amp Newton Seacuterie 7 nordms 4 e 8

Maacutequina fotograacutefica Nikon Coolpix P100

22 Meacutetodos Os meacutetodos ou teacutecnicas utilizadas na execuccedilatildeo das ilustraccedilotildees foram

Desenhos a Grafite

Aguarelas Esta metodologia utilizada no projecto Jardim Zooloacutegico de Lisboa seraacute detalhada na terceira parte desta tese

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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PARTE III ndash Trabalho de Ilustraccedilatildeo do Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

3 Trabalho de Campo no Jardim Zooloacutegico

31 Processo de Trabalho

Neste campo especiacutefico o trabalho feito in loco ganha um cariz de estudo e investigaccedilatildeo Outra dificuldade que poderaacute estar subjacente a um desenho de campo eacute a proacutepria postura do desenhador para a elaboraccedilatildeo do desenho muitas vezes um desafio pois nem sempre se estaacute numa posiccedilatildeo confortaacutevel a desenhar Num processo como este eacute importante ter na memoacuteria jaacute alguma informaccedilatildeo e para isso uma observaccedilatildeo atenta eacute fundamental para comeccedilar um desenho

Podemos dizer com Hockberg (1977) que o processo de olhar eacute ao mesmo tempo eacute ao mesmo tempo um processo activo e selectivo A maneira como uma pessoa volta a olhar para o mundo tanto depende da sua consciecircncia do mundo como dos seus objectivos - ou seja das informaccedilotildees que procura

Manfredo Massironi54

Aqui o registo eacute feito desde as formas mais perceptiacuteveis ateacute aos mais pequenos detalhes com o recurso ao zoom da maacutequina fotograacutefica ou de uns binoacuteculos que satildeo naturalmente recursos importantes pois permitem observar o que a olho nuacute natildeo se consegue O processo inicial do desenho consiste em apanhar rapidamente os volumes de uma ou de vaacuterias posiccedilotildees e depois escolher o que trabalhar com mais detalhe

Figura 27 - Desenho do Canguru marcaccedilatildeo de volumes

Para obter essas formas faz-se o foco visual nos grandes volumes procurando-se ver na forma do animal as formas geomeacutetricas mais concretamente os volumes circulares de todo o seu corpo

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho 2010

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Figura 28 ndash Bongo Tragelaphus eurycerus isaaci construccedilatildeo das figuras geomeacutetricas e Arte-Final paacuteg 37 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Na figura 28 temos trecircs esquemas sequenciais da abordagem ao desenho do bongo No primeiro temos a construccedilatildeo do desenho atraveacutes de volumes circulares no segundo eacute feita a uniatildeo dos volumes com linha e no terceiro o desenho final Figura 29 - Dromedaacuterio Camelus dromedarius esboccedilo com marcaccedilatildeo de volumes paacuteg120 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

Depois desde os espaccedilos negativos procura-se tirar partido de alguns pontos de referecircncia no animal em questatildeo e do espaccedilo envolvente Tudo isto eacute importante para o crescimento proporcionado do desenho Figura 30 ndash Camelo Camelus bactrianus pontos de referecircncia na construccedilatildeo do desenho paacuteg 40 do livro Animais do Jardim Zooloacutegico

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Figura 31 ndash Camelo Camelus bactrianus espaccedilos negativos na construccedilatildeo do desenho

Bastante significativo tambeacutem neste processo de desenho eacute a utilizaccedilatildeo do material O modo de agarrar a lapiseira mais a meio permite um desenho instantacircneo e gestual que potencia a raacutepida obtenccedilatildeo das formas Neste caso o tipo de mina utilizado eacute HB ou B Na fase avanccedilada do desenho para se ser mais contido e rigoroso deve-se segurar a lapiseira na ponta para alcanccedilar um maior controlo podendo nesta situaccedilatildeo utilizar-se uma mina mais macia - 4B Nalguns desenhos eacute utilizada borracha branca borracha patildeo para esbatimentos e um apagar mais controlado e ainda borracha eletrica para pontos de luz Nesta situaccedilatildeo mais do que apagar estamos a desenhar com a borracha num processo inverso que eacute o de abrir espaccedilos brancos tambeacutem numa uacuteltima fase do desenho podemos realccedilar brilhes com o recurso ao computador mais concretamente ao Photoshop

32 Concepccedilatildeo de um Desenho ao Vivo Olhar intensamente para o animal perceber caracteriacutesticas da espeacutecie e enquadraacute-lo no espaccedilo satildeo os trecircs passos fundamentais para a concepccedilatildeo de um desenho naturalista ou cientiacutefico Em primeiro lugar eacute necessaacuterio reconhecer a forma do animal e esboccedilar os volumes de forma raacutepida e gestual sem preocupaccedilatildeo com o detalhe volumes esses que seratildeo circulares ou semicirculares Os principais volumes identificados neste processo satildeo a cabeccedila (natildeo inclui o focinho que na realidade eacute outro volume independente) um segundo volume para ombros e peito um terceiro volume que iraacute abranger as costas e a barriga do animal e um quarto e uacuteltimo volume um pouco mais pequeno que o anterior e a que correspondem os quartos traseiros do animal As pernas dependem por sua vez da postura do animal se estaacute ou natildeo deitado esticado encolhido etc Nestes casos procura-se encontrar volumes nos ombros ateacute ao cotovelo seguido dos volumes do pulso joelhos e patas (articulaccedilotildees) As pernas seratildeo linhas que iratildeo unir estas combinaccedilotildees de volumes

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Figura 32 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus esboccedilos teacutecnica grafite 2012

Depois de um apanhado geral que consiste nos volumes suas divisotildees e linhas de arrasto55 daacute-se iniacutecio agrave fase da modelaccedilatildeo onde procuramos integrar elementos ainda que em apontamento como os olhos o nariz ou a boca algum sentido de orientaccedilatildeo do padratildeo ou do pelo do animal alguma angulosidade muscular carregando mais no laacutepis e ainda nesta fase desenhar por cima do apontamento inicial mas jaacute com a preocupaccedilatildeo da forma

Figura 33 ndash Gorila Gorilla Gorilla esboccedilos teacutecnica grafite 2007

Aproveitando o emaranhado de linhas que surgem no papel daacute-se iniacutecio ao preenchimento do desenho respeitando a orientaccedilatildeo e tonalidade claro-escuro do pelo e padrotildees Este processo confere ao desenho jaacute algumas tonalidades de grafite sendo que todas as linhas de construccedilatildeo serviratildeo de base no posterior preenchimento a grafite

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Designo como linhas de arrasto as linhas que ficam no esboccedilo devido agrave teacutecnica utilizada onde a matildeo quase natildeo levanta do papel durante o desenho O facto de a matildeo natildeo se levantar do papel faz com que natildeo nos percamos nas dimensotildees do modelo e na sua transposiccedilatildeo para o papel

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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Numa fase seguinte quando o desenho estiver finalizado ou praticamente quase finalizado com tons de grafite comeccedilamos a introduzir mais detalhe e informaccedilatildeo usando para isso a teacutecnica claroescuro que iraacute dar o contraste e conferir mais realismo Na uacuteltima fase depois de o desenho estar concluiacutedo abre-se brancos com uma borracha eleacutectrica para brilhos e pontos de luz e realccedila-se o desenho no Photoshop se necessaacuterio Figura 34 ndash Gorila Gorilla Gorilla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 121

321 Texturas Para fazer o pecirclo de um animal eacute preciso identificar de que tipo de pecirclo eacute constituiacutedo Conforme seja este curto comprido volumoso ou escorrido natildeo podemos representaacute-lo da mesma maneira Depois de reconhecida a forma o ritmo e repeticcedilotildees orientaccedilatildeo e o padratildeo do pecirclo comeccedila-se a esboccedilar com uma mina HB sem fazer muita pressatildeo na grafite Sentir e compreender a orientaccedilatildeo do pecirclo nesta fase caso haja eacute fundamental O passo seguinte eacute reforccedilar o claroescuro escurecendo um pouco mais as zonas de sombra e deixar a primeira abordagem a grafite mais suave para as zonas iluminadas refinando soacute detalhes pontuais Depois desta fase surgiratildeo os acabamentos finais onde satildeo trabalhadas de forma mais detalhada as zonas de sombra e as zonas de luz dando destaque aos brilhos No caso de existir um padratildeo associado ao pecirclo como por exemplo o pecirclo de um tigre de uma chita ou de uma zebra o procedimento seraacute o mesmo com a diferenccedila de existir no proacuteprio padratildeo as suas proacuteprias zonas de luz e sombra querendo isto dizer que nestes casos iratildeo surgir mais tonalidades de cinzentos diferentes entre si Nos exemplos que se seguem para aleacutem dos desenhos do livro incluo trecircs tipos de pecirclo sendo dois do mesmo animal o leacutemure-de-cauda-anelada e o outro de orangotango O leacutemure-de-cauda-anelada tem no peito um pecirclo curto e compacto mais parecido com latilde e na cauda um pecirclo mais frondoso e fino Para desenhar o pecirclo do peito primeiro esbocei suavemente com laacutepis HB todo o desenho de linha e nos espaccedilos em branco alguma orientaccedilatildeo do pecirclo

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Depois comeccedilamos a definir os escuros ainda com o HB Trabalha-se o pecirclo estando atento agrave forma aglomeraccedilatildeo e sentido com aacutereas curtas e recortadas repetidas com pequenas diferenccedilas entre elas Numa fase mais adiantada do preenchimento com a grafite HB passa-se a usar respectivamente a grafite B 2B e se necessaacuterio 4B para as diversas intensidades de cinzentos que existem no desenho

Figura 35 ndash Lemuacutere-de-cauda-anelada (Lemur catta) pelos do peito e da cauda

Numa uacuteltima fase abrimos brancos com a borracha e redesenhamos pormenores Podendo nesta fase uma vez mais recorrer ao photoshop Para a cauda o princiacutepio eacute o mesmo soacute que aqui desenhamos o pecirclo com uma forma substancialmente diferente uma vez que este pecirclo eacute comprido e podem-se ver os finos agrupamentos de pecirclo delimitado por as sombras envolventes Uma vez mais depois de se perceber a forma e esboccedila-la comeccedila-se o preenchimento do desenho o claroescuro as sombras as vaacuterias tonalidades de cinzento e os brilhos Outro exemplo de tipo de pecirclo eacute o da cabeccedila do orangotango Neste caso o pecirclo tem como base no desenho uns cachos compridos e compactos Depois dentro dos cachos vecirc-mos ou natildeo os fios de cabelo do animal Aqui o que tecircm maior relevacircncia em relaccedilatildeo aos anteriores eacute o facto de haver muitas sobreposiccedilotildees de pecirclo Atraveacutes de irregularidades e quebras de linha no desenho conseguidas com o laacutepis mais deitado procurou-se dar o efeito do pelo mais hirto e aacutespero Eacute importante tambeacutem sentirmos o peso e volume do pecirclo para isso socorremo-nos com o sentido de orientaccedilatildeo do traccedilo o uso das sombras reforccediladas em determinados pontos bem como a luz incidente e consequentes brilhos Importante tambeacutem salientar uns quantos pecirclos individualmente para dar a sensaccedilatildeo de uma vez mais hirto e tambeacutem despenteado

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 36 ndash Orangotango-de-sumatra (Pongo abelii) pelos do cabeccedila

O padratildeo de um animal eacute a sua dissimulaccedilatildeo na natureza e por vezes sentimos a dificuldade da perfeita funcionalidade do mesmo O padratildeo de uma zebra serve para confundir os predadores quando estatildeo em grupo Aqui eacute a massa de conjunto que faz a camuflagem entre eles confundindo o predador de onde comeccedila e acaba o corpo de uma zebra Neste caso eacute faacutecil perdermo-nos quando tiramos os olhos do animal e olhamos para o papel e dentro desta perspectiva a zebra e as suas riscas hipnotizantes foram as mais morosas e complexas a desenhar

Num reacuteptil eacute substancialmente diferente a forma desenhar Aqui temos uma estrutura padratildeo ao longo do corpo sendo este padratildeo variaacutevel em tamanho no proacuteprio animal Por exemplo as escamas do ventre variam em tamanho das da cabeccedila do dorso ou patas se as tiver mantendo no entanto a mesma estrutura A melhor forma de representar as texturas de um reacuteptil seraacute criando linhas diagonais ao longo da zona do corpo do animal a trabalhar dando-lhe um ligeiro arqueado bem como finalizar em perspectiva e acompanhar o volume do corpo para dar o efeito pretendido Figura 37 ndash Esboccedilos de pele de reacutepteis monstro-de-gila Heloderma suspectum crocodilo-do-nilo Crocodylus niloticus e boa-de-dumeril Dumerili de acrantophi

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 38 ndash Dragatildeo-de-komodo Varanus komodoensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 109

Figura 39 ndash Hidrossauro-das-filipinas Hydrosaurus pustulatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto de 2012 Natildeo incluiacutedo no Livro Animais do Jardim Zooloacutegico

De seguida traccedilamos umas diagonais no sentido contraacuterio sendo o espaccedilo onde se interceptam o espaccedilo das escamas Quando obtemos o corpo do animal coberto com esta estrutura o padratildeo das escamas comeccedilamos a juntar e a uniformizar a estrutura padratildeo de diferentes tamanhos E finalmente depois de termos a estrutura padratildeo das escamas desenhada no corpo do animal desenhamos o proacuteprio padratildeo do animal caso tenha Por uacuteltimo criamos o preenchimento do padratildeo o detalhe e o reforccedilar do claroescuro e os pontos de luz Figura 40 ndash Tartaruga-do-egito Testudo kleinmanni Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 103

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Figura 41 ndash Crocodilo Crocodylus niloticus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2007 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

Figura 42 ndash Piton Pythonidae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 106

Com as aves pode-se dizer que conjugou-se uma mistura interessante das duas abordagens Numa delas onde as penas satildeo sugeridas com claroescuro com tratamento semelhante ao do pecirclo e noutra abordagem mais complexa onde o princiacutepio das escamas eacute reinterpretado para o contexto das penas

Figura 43 - Esboccedilo de penas de ave asa de grifo Gyps fulvu

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Teriacuteamos entatildeo um padratildeo de construccedilatildeo feito com as mesmas diagonais usadas para a construccedilatildeo das texturas dos reacutepteis com a diferenccedila na finalizaccedilatildeo Neste caso procura-se dar o efeito das penas suavizando-as ou realccedilando-as consoante a necessidade Figura 44 ndash Cacatua-de-crista-amarela Cacatua sulphurea Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 90 Figura 45 ndash Calau-da-papuaacutesia Aceros plicatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 91

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 46 ndash Aacuteguia-azul-do-chile Geranoaetus melanoleucus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 83

Figura 47 ndash Faisatildeo-tragopan-satyr Tragopan blythii Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 89

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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322 A Importacircncia do Olhar Os olhos sejam eles de homens ou animais quando representados satildeo a alma de um desenho ou de uma pintura a sua fiel reproduccedilatildeo atrai o observador pois daacute uma sensaccedilatildeo de proximidade e cumplicidade Nesta situaccedilatildeo em causa existem detalhes importantes na sua reproduccedilatildeo Em primeiro lugar a atenccedilatildeo vai para a sua colocaccedilatildeo na cabeccedila natildeo podendo ficar nem muito em cima nem muito em baixo pois estariacuteamos a descaracterizar o animal caso isso acontecesse mesmo estando os olhos muito bem desenhados Para isso traccedila-se uma linha horizontal que serviraacute de guia de construccedilatildeo Para quem natildeo estaacute familiarizado com o animal essa linha tem de ser bem ponderada e feita com a maacutexima convicccedilatildeo e certeza A partir da linha horizontal desenhamos os olhos no sentido descendente sendo a linha usada como a linha da arcada supra-orbital do proacuteprio olho proporcionando assim o nivelamento por cima deste elemento De seguida devemos estar atentos agrave sua equidistacircncia em relaccedilatildeo ao eixo da cabeccedila isto eacute eacute tatildeo importante estarem nivelados horizontalmente como estarem separados entre si A esta linha imaginaacuteria que divide a cabeccedila ao meio chamamos linha de simetria Figura 48 - Bufo-de-Bengala Bubo bengalensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 88

Depois de os olhos estarem colocados no sitio certo trabalha-se de seguida a grafite do claro para o escuro das minas duras para as minas macias tendo atenccedilatildeo agraves zonas de luz e sombra natildeo esquecendo as linhas de arrasto que durante a construccedilatildeo foram surgindo e mapeando o papel com grafite Todos estes elementos satildeo trabalhados como um todo e individualmente isto eacute trabalhando a forma sombra como um elemento a forma brilho como outro elemento etc

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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permitindo assim o destaque e o realismo pretendidos para aleacutem de outro tipo de texturas que possam existir no olho

Figura 49 - Tigre Panthera Tigris olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

Finalmente usou-se o Photoshop para realccedilar alguns brilhos potenciando o branco preacutevio do papel ou acrescentado algo mais ao desenho Uma vez mais constatamos a importacircncia do contraste e a sua inata tendecircncia comunicativa com o leitorobservador

Figura 50 - Girafa Giraffa camelopardalis olho Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2008

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 51 ndash Leacutemure-preto-e-branco Varecia variegata Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro

Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 49

Figura 52 ndash Puma Puma concolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 64

33 - Aguarelas Para este livro maioritariamente ilustrado a grafite foram criadas algumas aguarelas Aqui o que se pretendia era criar aguarelas soltas e despreocupadas pintadas ao vivo o que acabou por natildeo acontecer na totalidade tendo alguns exemplos sido pintados no estirador mas

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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mantendo sempre um caraacutecter espontacircneo e natildeo o de um registo fotograacutefico muito elaborado Figura 53 - Iguana Iguana iguana Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 108

O iniacutecio do trabalho era semelhante enquanto desenho diferenciando-se na fase de pintura Depois de obter o desenho a opccedilatildeo foi uma aguada geral muito diluiacuteda da cor dominante da cor base No caso do Rinoceronte por exemplo a primeira aguada foi um ocre diluiacutedo por todo o desenho sendo que esta primeira camada mais diluiacuteda permaneceu intocaacutevel e eacute na realidade a parte mais iluminada do desenho

Figura 54 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Depois de ser dada a primeira aguada e sem secar completamente vai-se carregando (charge) com mais pigmentos fazendo com que a aguarela comece a alastrar e a fundir com a primeira aguada que como referi anteriormente natildeo deve estar seca Este processo eacute repetido com o acrescentar de vaacuterios pigmentos permitindo uma aguarela com as cores e tons base fundidas e em degradecirc As cores com que o rinoceronte foi pintado foram as mesmas de base com que o espaccedilo envolvente foi pintado e a progressatildeo na aguarela foi em simultacircneo ateacute certo ponto Depois de avanccedilarmos para uma fase em que temos o animal e o fundo pintados ainda pouco definidos comeccedilamos a trabalhar cada elemento individualmente Pouco a pouco o animal vai sendo moldado atraveacutes do claroescuro procurando desta forma dar volume agrave figura Por uacuteltimo as texturas que trabalhamos por cima Nesta fase tira-se partido da aguarela seca (drybrush) que natildeo eacute mais do que aguarela onde se retira o excesso de aacutegua Isto pode-se fazer de duas maneiras ou retirando a aacutegua do pincel com o auxilio de um papel absorvente ou pintando ateacute que a aacutegua se vaacute esgotando do pincel processo este que eacute fundamental na aguarela pois ao fazermos isto possibilita uma passagem de aacutegua agrave posteriori que se iraacute fundir com o pigmento aplicado em drybrush caso seja necessaacuterio permitindo ainda prosseguir a pintura sem deixar as marcas de aacutegua por vezes indesejadas No caso do rinoceronte as cores mais usadas foram o yellow ocre indian yellow burnt sienna e seacutepia Para sombras usou-se cores frias o ultramarine blue violet cobalt e payneacutes gray Podemos finalmente constatar que por baixo da aguarela temos na realidade o desenho a laacutepis sobretudo nas partes mais claras acentuando assim o caraacutecter mais despreocupado e mais espontacircneo da aguarela como tinha sido referido anteriormente

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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4 Resultados Quando comecei o projecto de desenhar os animais do Jardim Zooloacutegico jaacute tinha as ferramentas baacutesicas para o fazer mas foi durante o projecto que elas evoluiacuteram mais significativamente Era assim o meu processo de trabalho um desejo aacutevido de querer fazer sem restriccedilotildees os meus anseios de ter prazer ao maacuteximo com cada desenho Foram vaacuterios os cadernos com desenhos que fui coleccionando soacute no Jardim Zooloacutegico onde se podia ver diferentes tipos de registo e a evoluccedilatildeo dos mesmos O que gostava anteriormente depressa era posto em causa pelo proacuteximo e assim sucessivamente No fundo andava agrave procura de uma maneira de representaacute-los sem falhas percebendo ou tentando perceber o que natildeo se via o esqueleto e a massa muscular Tentava descobrir foacutermulas de representaccedilatildeo que me permitisse desenhaacute-los sem esforccedilo e sem apagadelas No meu ponto de vista saber desenhar eacute saber observar e fazer interpretaccedilotildees Reconhecer formas simples num padratildeo rico e complexo e depois passar para o papel Foi com este meu conceito que fui desenvolvendo este projecto ao longo de quase uma deacutecada Depois de muito observar e experimentar reconheci e interpretei formas simples circulares na complexidade das formas volumes e texturas de cada animal Mais tarde tambeacutem um outro tipo de figuras geomeacutetricas passaram a fazer parte do meu processo natural de construccedilatildeo do desenho A interpretaccedilatildeo de formas por noacutes reconhecidas ajudam-nos assim a sintetizar e a transpor para o papel o que na realidade temos agrave nossa frente

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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5 Ilustraccedilotildees Naturalistas Cientifiacutecas de Animais do Zoo

Figura 55 ndash Rinoceronte-indiano Rhinoceros unicornis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 33

Figura 56 ndash Palanca-ruana Hippotragus equinus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 62 ndash Palanca-negra Hippotragus niger niger Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 35

Figura 57 ndash Hipopoacutetamo Hippopotamus teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 38

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 58 ndash Bisonte Bison bison bison Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 42

Figura 59 - Urso-formigueiro-gigante Myrmecophaga tridactyla Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm abril 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 53

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 60 ndash Chita Aciconix jubatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm Agosto 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 67

Figura 61 ndashTigre-de-sumatra Phantera tigris sumatrae Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm marccedilo 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 69

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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Figura 63 ndash Lobo-ibeacuterico Canis lupus signatus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 71 Figura 64 ndash Pinguim-do-cabo Spheniscus demersus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio de 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 84

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 65 ndash Arara-de-fronte-vermelha Ara rubrogenys Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm junho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 95

Figura 66 ndash Aligator Alligator mississippiensis Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm julho 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 111

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Figura 67 ndash Buacutefalo-vermelho Syncerus caffer nanus Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 118

Figura 68ndash Leopardo-da-peacutersia Panthera pardus saxicolor Teacutecnica grafite dimensotildees 297x42cm maio 2012 Livro Animais do Jardim Zooloacutegico paacuteg 123

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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WIKIPEacuteDIA - Arte Rupestre Url httpptwikipediaorgwikiArte_rupestre Consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA - David Roberts Url httpptwikipediaorgwikiDavid_Roberts e url wwwmuseum-tourscommuseum robertswall11063lhtm consultado em 25 fevereiro 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Lascaux Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroLascaux_IIjpg e url actividadesonlineblogspotpt 201205arte-rupestre-da-gruta-de-chauvet-ehtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiLeonardo_da_Vinci consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Study of horse Leonardo da Vinci Url httpptwikipediaorgwikiFicheiroStudy_of_horsejpg Consultado em 26 de abril de 2013

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Conclusatildeo Tal como a ilustraccedilatildeo cientiacutefica e o desenho naturalista andam de braccedilo dado o meu gosto por ambos os campos levaram-me natural e intuitivamente a fazer uma abordagem que de alguma forma faz a ponte entre os dois De algum modo diria que o meu trabalho eacute maioritariamente desenho naturalista Pretendo com alguns destes desenhos mais do que retratar as espeacutecies sempre de maneira consensual entre a comunidade cientiacutefica em pose pretendo retrataacute-los individualmente Desenhar detalhes que contassem histoacuterias caracterizaacute-los enquanto figuras singulares jaacute que a meu ver o mais importante era demonstrar a integraccedilatildeo do animal e as suas variadas posiccedilotildees no espaccedilo do Jardim Zooloacutegico captando para tal movimentos acircngulos variados e pormenores Agora depois de finalizados acho que ao tecirc-los representado desta maneira irei permitir mais facilmente a criaccedilatildeo de laccedilos afectivos entre o leitor e o desenho (laccedilos que tambeacutem eu fui criando enquanto os desenhava) No fundo procurei mostrar educar sensibilizar e criar laccedilos para o futuro e para as futuras geraccedilotildees atraveacutes de uma ferramenta tatildeo poderosa quanto o desenho Poreacutem alguns destes desenhos assumem caracteriacutesticas que caberiam numa Ilustraccedilatildeo cientiacutefica pois de facto aparecem em pose e com legibilidade e por vezes o espaccedilo envolvente natildeo compromete a mensagem que eacute comunicar ciecircncia Temos assim desenhos que mostram de facto a tatildeo teacutenue linha que separa o desenho naturalista per si e o que se potecircncia numa ilustraccedilatildeo cientifica O contexto em que a ideia de livro surgiu enquadrou-se na tendecircncia ecoloacutegica de protecccedilatildeo da vida animal e da necessidade que sentia em contribuir de alguma forma para a proteccedilatildeo das espeacutecies animais Fiquei a saber entretanto que irei doar dois desenhos para um leilatildeo e os lucros desse leilatildeo iratildeo reverter para o projecto de conservaccedilatildeo do Lince Ibeacuterico A Ilustraccedilatildeo Cientiacutefica bem como o Desenho Naturalista em Portugal estiveram muito tempo esquecidos sendo que recentemente haacute quase duas deacutecadas tem vindo a crescer com muita qualidade atraveacutes dos inuacutemeros cursos de Ilustraccedilatildeo Cientifica e de desenho ministrados pelo Professor Pedro Salgado que vai cativando e deixando disciacutepulos na aacuterea da formaccedilatildeo Caracterizaria assim este projecto que creio ser ineacutedito como uma fusatildeo natural de duas paixotildees pessoais que foram caminhando lado a lado numa escalada evolutiva o desenho e os animais Elas tiveram como consequecircncia o projecto de um livro com o tiacutetulo Animais do Jardim Zooloacutegico a publicar pelos CTT Correios de Portugal a 8 de Fevereiro de 2013 e que conta com o apoio do Jardim Zooloacutegico de Lisboa bem como uma parceria com a National Geographic Portugal Esse livro eacute complementado por Jorge Macedo Ilustrador e Orlando Raimundo Jornalista Autor Literaacuterio e responsaacutevel pelos textos informativos existentes livro

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Bibliografia BATEMAN Robert and Archbold Rick Thinking Like a Mountain Penguin Toronto 2000 Url wwwrobertbatemancabookshtml Consultado em 18 de marccedilo de 2013 BAZIM Germain Histoacuteria da Arte da Preacute-Histoacuteria aos Nossos Dias Ed 2ordf Livraria Bertrand Lisboa 1976 BERGER John Duumlrer Taschen Lisboa 2008 (reimpressatildeo) BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL Alexandre Rodrigues Ferreira Brasil 2006 Url httpbndigitalbnbrprojetosalexandre Consultado em 29 de Abril de 2013 BRENDERS Carl (1994) Wildlife ndash The Nature Painted of of Carl Brenders Harry N Abrams Inc PublishersIn Association With Mill Pond Press Inc Url httpwwwmillpondcomsitenamesearchresults-iconcfmartistname=BRENDERS20CARLamp off set=1 Consultado em 23 de marccedilo de 2013 BROCKIE Keith One Manrsquos Island - Paintings and Sketches from Isle of May JM Dent amp Sons Ltd London 1984 DALIacute Salvador Fundacioacute Gala ndash Salvador Daliacute Url wwwsalvador-daliorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 D Carlos Diaacuterio Naacuteutico do Yacht Ameacutelia Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 - Instituto Hidrograacutefico de Lisboa tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 DELACROIX Ferdinand Victor Eugegravene - Url wwweugnedelacroixorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013 FARIA Miguel Ferreira de (2001) A Imagem Uacutetil Reimpressatildeo EDIUAL Editora da Universidade Autoacutenoma SA Lisboa HILDER Rowland Pintar a Aguarela Editorial Presenccedila Lisboa 1991 INFOPEacuteDIA Brainstorming - Url httpwwwinfopediaptlingua-portuguesabrainstorming Consultado em 30 de abril de 2013 INFOPEacuteDIA Pintura Egiacutepcia - Url httpwwwinfopediapt$pintura-egipcia Consultado em 25 janeiro 2013 INFOPEacuteDIA Reacutemige - Url wwwinfopediaptlingua-portuguesarC3A9mige Consultado em 5 de Maio de 2013 INSTITUTO HIDROGRAacuteFICO DE LISBOA Diaacuterio Naacuteutico do Yacht ldquoAmeacuteliardquo Campanha Oceanograacutefica Realizada em 1897 Tiragem limitada a 4500 exemplares Lisboa 1988 LESLIE Claire Walker Nature Drawing A Tool for Learning KendalHunt Publising Dubuque (USA) 1995 Url wwwclarewalkerlesliecom Consultado em 22 de abril de 2013 MARC Franz Moritz Wilhelm - Url wwwfranzmarcorg Consultado em 18 de marccedilo de 2013

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MASSIRONI Manfredo Ver pelo Desenho Ediccedilotildees 70 Lisboa 2010 MUSEU NACIONAL DE HISTOacuteRIA NATURAL E DA CIEcircNCIA Selos da Natureza Lisboa 2012 Urlhttpmuseudacienciaptindexphpmodule=contentampoption=collectionsampaction=storiesampidc=4ampid=94 Consultado em 29 de Abril de 2013 OCEANAacuteRIO DE LISBOA Ilustraccedilatildeo dos Oceanos Ed Bizacircncio Lisboa 2011 PANOFSKY Erwin Perspectiva Como Forma Simboacutelica Lisboa Ed70 Lisboa 1999 RAYMOND HARRIS-CHING - Url wwwwildlifeartorgcollectionartistsartist-raymond-harris-ching-311 Consultado em 23 marccedilo 2013 SALDANHA Luiacutes D Carlos de Braganccedila Pai da Oceanografia Portuguesa Publicaccedilotildees avulsas do Museu Bocage (2ordf seacuterie) Lisboa 1997 SALGADO Pedro Peixes e Outros ICNB Lisboa 1997 Url wwwpedrosalgadoeu Consultado em 13 de setembro de 2013 SALGADO Pedro O Desenho Cientiacutefico e o Caderno de Campo in Arte do Ofiacutecio nuacutemero 7 Instituto de Artes e Ofiacutecios da Universidade Autoacutenoma de Lisboa Lisboa 2009 SEEREY-LESTER John - Url wwwseerey-lestercom Consultado em 23 de marccedilo de 2013 SILVA T R Do Cacircnone agrave Criaccedilatildeo A Simbologia Usada na Representaccedilatildeo do Faraoacute Akhenaton Instituto de Artes Universidade Estadual Paulista Brasil 2006 SOAN Hazel Hazel Soanrsquos African Watercolours HarperCollins Publishers London 2008 THE GUILD HAND BOOK OF CIENTIFIC ILLUSTRATION Wiley 2 ed 2003 THE FREE DICTIONARY Anatomia Topograacutefia Url wwwthefreedictionarycomtopographic+anatomy Consultado em 30 de abril de 2013 TIRAPICOS Luiacutes (2004) O Rinoceronte de Duumlrer Ciecircncia em Portugal Episoacutedios Centro Virtual Camotildees Instituto Camotildees Url cvcinstituto-camoesptcienciae71html Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Albrecht Durer Url wwwalbrecht-durerorg e url httpcommonswikimediaorgwikiFileAlbrecht_Duumlrer Consultado em 26 de abril de 2013 WIKIPEacuteDIA ndash Alexandre o Grande Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_o_Grande Consultado em 10 de marccedilo 2013 WIKIPEacuteDIA - Alexandre Rodrigues Ferreira Url httpptwikipediaorgwikiAlexandre_Rodrigues_Ferreira WIKIPEacuteDIA - Arte do Antigo Egito Url httpptwikipediaorgwikiArte_do_Antigo_Egito Consultado em 25 fevereiro 2013

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