moda de viola volume 3

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Tião Carreiro & Pardinho – Moda de viola volume 3 www.ponteiocaipira.com.br - João Vilarim® 1 Última Viagem Carreirinho / Fernandes Numa fria madruga da eu arriei o meu picaço Fui fazer uma caçada no campo de Santo Inácio No rancho beira da estrada pra aliviar meu cansaço Parei pra beber uma água conheci o velho Epitácio Era o rei dos cantador que teve um triste fracasso Seu moço você esta vendo esta viola empoeirada Faz dez anos que este pinho está no canto pendurada Dez anos atrás esta viola sempre foi a minha enxada Eu com meu companheiro nós dois não tinha parada Toda semana cantava levando a vida folgada Cada dia uma cidade sempre fazendo viagem Pra violeiro despeitado bater com nós é bobagem Em modas de desafios nós tinha grande bagagem Desafiava dia e noite não levava desvantagem Afamado e o Epitácio já estavam em muitas paragens Fizemos à última viagem do lado do Itararé Quando bateu meia noite os campeões chamou no pé Cantamos o resto da noite sem desconfiar da má fé O povo fingia alegre dançando e batendo o pé Quando foi de madrugada pra nós trouxeram café, ai Seu moço aquele café foi verdadeira cilada A parte que nos trouxeram tava toda envenenada Por eu não tomar café me livrei dessa emboscada Sem dizer que aquela gente tava toda despeitada Os campeões que nós quebramos tinha a fama respeitada No outro dia faleceu meu parceiro de estimação Pendurei ali a viola e nunca mais botei a mão Essa viola vitoriosa nunca perdeu pra campeão Esta foi a última viagem que enlutou meu coração Porque perdi meu parceiro e, além disso, é meu irmão Rio preto de luto Joaquim Moreira / Zé Matão Rio Preto e toda região vive muito aborrecido De um certo tempo pra cá quantos golpes tem sofrido Quantos homens de valor a cidade tem perdido Seus nomes ficou na história gravado em nossa memória E jamais será esquecido Quantas perdas irreparáveis quase que num tempo só As derrotas foram tantas falo apenas das maiores Doutor Anísio Moreira da vizinha Mirassol Na selva de Mato Grosso caiu n’água num destroço A morte não teve dó Num desastre na Bolívia Milton Verde e seu cunhado A bordo de um avião fizeram um pouso forçado Lá viveu setenta dias num mundo desamparado Triste fim teve os dois homens morrerem de sede e fome Completamente isolados

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Tião Carreiro & Pardinho – Moda de viola volume 3

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Última Viagem Carreirinho / Fernandes Numa fria madruga da eu arriei o meu picaço Fui fazer uma caçada no campo de Santo Inácio No rancho beira da estrada pra aliviar meu cansaço Parei pra beber uma água conheci o velho Epitácio Era o rei dos cantador que teve um triste fracasso Seu moço você esta vendo esta viola empoeirada Faz dez anos que este pinho está no canto pendurada Dez anos atrás esta viola sempre foi a minha enxada Eu com meu companheiro nós dois não tinha parada Toda semana cantava levando a vida folgada Cada dia uma cidade sempre fazendo viagem Pra violeiro despeitado bater com nós é bobagem Em modas de desafios nós tinha grande bagagem Desafiava dia e noite não levava desvantagem Afamado e o Epitácio já estavam em muitas paragens Fizemos à última viagem do lado do Itararé Quando bateu meia noite os campeões chamou no pé Cantamos o resto da noite sem desconfiar da má fé O povo fingia alegre dançando e batendo o pé Quando foi de madrugada pra nós trouxeram café, ai Seu moço aquele café foi verdadeira cilada A parte que nos trouxeram tava toda envenenada Por eu não tomar café me livrei dessa emboscada Sem dizer que aquela gente tava toda despeitada Os campeões que nós quebramos tinha a fama respeitada No outro dia faleceu meu parceiro de estimação Pendurei ali a viola e nunca mais botei a mão Essa viola vitoriosa nunca perdeu pra campeão Esta foi a última viagem que enlutou meu coração Porque perdi meu parceiro e, além disso, é meu irmão

Rio preto de luto Joaquim Moreira / Zé Matão Rio Preto e toda região vive muito aborrecido De um certo tempo pra cá quantos golpes tem sofrido Quantos homens de valor a cidade tem perdido Seus nomes ficou na história gravado em nossa memória E jamais será esquecido Quantas perdas irreparáveis quase que num tempo só As derrotas foram tantas falo apenas das maiores Doutor Anísio Moreira da vizinha Mirassol Na selva de Mato Grosso caiu n’água num destroço A morte não teve dó Num desastre na Bolívia Milton Verde e seu cunhado A bordo de um avião fizeram um pouso forçado Lá viveu setenta dias num mundo desamparado Triste fim teve os dois homens morrerem de sede e fome Completamente isolados

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O Doutor Bady Bassit ilustre batalhador Pela nossa Rio Preto não poupava seu labor Lutava pelo progresso com carinho e com amor Mas uma infeliz sorte foi tragado pela morte Aumentando a nossa dor Meus prezados vinte amigos isto tudo não foi só A morte também levou Doutor Alberto Andaló Nas derrotas rio-pretense foi uma das mais piores Ex prefeito e deputado lutava desesperado Por um Rio Preto melhor Rio Preto também perdeu o Coutinho Cavalcanti Morrer o Doutor Jaffet outra figura importante Nas águas do rio Turvo cinqüenta e nove estudantes Meu Deus tenha piedade defenda nossa cidade E também seus habitantes

Boi Sete Ouro Teddy Vieira / Arlindo Rosas Circo rodeio Ipiranga sua fama vai avante Faixa Preta e o proprietário tem um boi lhe garante O seu nome é Sete Ouro seus pulos vale diamante São Paulo, Goiás e Minas fez proezas importante Parece que o tal boi tem sabão em cima do couro Faixa preta fala grosso o bichão vale um tesouro Derrubou seiscentos peão não contando com os calouros Deixo da vida de circo se quebrarem o Sete Ouro Certo dia um feiticeiro fez um trabalho pesado Levou um peão no rodeio cem conto foi apostado Sete Ouro não pulou deixou o povo admirado Faixa Preta descobriu que o boi foi enfeitiçado Faixa Preta na revanche contratou um macumbeiro Dobrou a aposta com o peão para duzentos mil cruzeiros E foi no primeiro pulo o peão beijou o picadeiro Neste dia o feitiço virou contra o feiticeiro Faixa Preta se orgulha das façanhas que o boi fez Quem tentar montar no bicho nunca mais fica freguês Pros peão da minha terra lanço um desafio cortez Pra quebrar o sete ouro precisa nascer outra vez

Rei do gado Teddy Vieira Num bar de Ribeirão Preto vi com meus olhos está passagem Quando champanhe corria a rodo no alto meio da granfinagem Nisto chegou um peão trazendo na testa o pó da viagem Pro garçom ele pediu uma pinga que era pra rebater a friagem Levantou um almofadinha e falou pro dono eu tenho má fé Quando um caboclo que não se enxerga num lugar deste vem por os pés Senhor que é o proprietário deve barrar a entrada de qualquer E principalmente nessa ocasião que está presente o rei do café

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Foi uma salva de palmas gritaram viva pro fazendeiro Que tem bilhões de pés de cafés por este rico chão brasileiro Sua safra é uma potência e nosso mercado é no estrangeiro Por tanto vejam que este ambiente não é pra qualquer tipo rampeiro Com um modo bem cortês responde o peão pra rapazeada Essa riqueza não me assusta topo e aposto qualquer parada Cada pé do seu café eu amarro um boi da minha invernada E pra encerrar o assunto eu garanto que ainda me sobra uma boiada Foi um silêncio profundo o peão deixou o povo mais pasmado Pagando a pinga com mil cruzeiros disse ao garção pra guardar o trocado Quem quiser meu endereço que não se faça de arrogado É só chegar lá em Andradina e perguntar pelo rei do gado

O mineiro e o italiano Teddy Vieira / Nelson Gomes O mineiro e o italiano viviam as barras dos tribunais Numa demanda de terra que não deixava os dois em paz Só em pensar na derrota o pobre caboclo não dormia mais O italiano roncava nem que eu gaste alguns capitais Quero ver esse mineiro voltar de a pé pra Minas Gerais Voltar de a pé pro mineiro seria feio pros seus parentes Apelou pro advogado fale pro juiz pra ter dó da gente Diga que nos somos pobres que os meus filhinhos vivem doentes Um palmo de terra a mais para o italiano é indiferente Se o juiz me ajudar ganhar lhe dou uma leitoa de presente Retrucou o advogado o senhor não sabe o que está falando Não caia nesta besteira se não nós vamos entrar pro cano Esse juiz é uma fera, caboclo sério e de tutano Paulista da velha guarda família de quatrocentos anos Mandar a leitoa pra ele é dar a vitória pro italiano Porém chegou o grande dia que o tribunal deu o veredicto Mineiro ganhou a demanda o advogado achou esquisito Mineiro disse ao doutor eu fiz conforme eu lhe havia dito Respondeu o advogado que o juiz vendeu e eu não acredito Jogo meu diploma fora se neste angu não tiver mosquito De fato falou o mineiro nem mesmo eu estou acreditando Ver meus filhinhos de a pé meu coração vivia sangrando Peguei uma leitoa gorda foi Deus no céu me deu esse plano De uma cidade vizinha para o juiz eu fui despachando Só não mandei no meu nome mandei no nome do italiano

Padecimento Carreirinho Ai a viola me conhece que eu não posso cantar só Ai se eu sozinho canto bem, junto eu canto melhor Ai vai chegando o mês de agosto bem pertinho de setembro Os passarinhos cantam alegres por as matas florescendo Ai eu não sei o que será que já vai me entristecendo Passando tantos trabalhos debaixo de chuva e sereno Eu não como e não bebo nada vivo triste padecendo

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Ai pra um coração de quem ama o alívio é só morrendo ai, ai, ai Ai quem já teve amor na vida e por desventura perdeu Não deve se lastimar e ficar triste como eu Pois eu também já tive amor, mas não me correspondeu O desgosto no meu peito quis ser inquilino meu Mas eu tenho esta viola que foi enviada por Deus Ai que só me trás alegria e a tristeza rebateu ai, ai, ai Ai a viola me acompanha desde quinze anos de idade Ela é minha companheira nas minhas contrariedades Faço moda alegre e triste conforme a oportunidade Esse dom de fazer moda não é querer e ter vontade Tem muita gente que quer, mas não tem facilidade É um dom que Deus me deu pra desabafar saudade ai, ai, ai Ai pra aprender cantar de viola primeiro estudo que eu tive Aprendi com um violeiro velho que fazia moda impossível Pois eu sou um violeiro novo, mas também quero ser terrível Faço moda de gente boa e de alguns incorrigíveis Toda moda que eu invento ocupo régua, prumo e nível Ai pensando bem um violeiro com prazer no mundo vive ai, ai, ai

Preto inocente Teddy Vieira / Campão / Bento Palmiro Quando eu soube deste fato pelo rádio anunciado Que o tal um preto fugido morreu por haver roubado As façanhas que ele fez me deixou muito amolado Por lembrar que os pretos sempre são os mais visados Mas diante da verdade eu vi que estava enganado Vou contar o causo direito do modo que se passou Porque o pai de Suzana num criminoso virou Na hora que deu o tiro foi que a Suzana gritou Oh! Papai por que fez isso o senhor nem me consultou Se eu ainda estou com vida é o preto que me salvou No mato eu tava lenhando logo pegou a escurecer O caminho que voltava eu não podia mais ver Naquilo avistei um preto de susto peguei tremer Mocinha não tenha medo escutei ele dizer Eu sou preto só na cor mal nenhum vou lhe fazer Eu tava muito cansada o meu corpo não agüentou Fui sentar de par de um toco uma cobra me picou O preto arrancou da faca o meu pé ele sangrou O veneno da serpente com a boca ele tirou Pra salvar minha vida com a morte ele brincou E aqui nesta cabana ele trouxe eu carregando E que nem uma sentinela na porta ficou vigiando Lá fora na mata escura as feras tava uivando Abatido pelo sono coitado foi cochilando Veio o senhor de surpresa a vida foi lhe tirando Com as palavras de Suzana o seu pai pegou chorar Fosse coisa que eu pudesse de novo a vida eu lhe dar Com o sangue deste inocente minha honra eu fui manchar Este chão que ele pisava eu não mereço pisar Sei que vou ser condenado só Deus pode me livrar

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Catimbau Carreirinho / Teddy Vieira Tive lendo num romance de um casal de namorado De Rosinha e Catimbau dois jovens apaixonados Rosinha família rica, Catimbau era um coitado Capataz de uma fazenda, mas trabalhador honrado Domava burro brabo no laço era respeitado Um caboclo destemido por todos era admirado, ai Catimbau encontrou Rosinha lá no alto do espigão Por se ver os dois sozinhos quis aproveitar da ocasião Catimbau pediu um beijo Rosinha disse que não Ela bem tava querendo, mas não deu demonstração De tanto que ele insistiu ela deu uma decisão Vamos deixar pra outro dia, ai para as festas de São João, ai Passaram esses cinco meses chegou o esperado dia Rosinha tava mais linda com uma flor parecia A festa tava animada todos com grande alegria Quando o pai de Rosa veio perguntando quem queria Mostrar ciência no laço pra laçar o boi Ventania E os vaqueiros amedrontados, ai todos eles se escondiam Chamaram então Catimbau, mas ele não atendeu Rosinha disse meu bem vai fazer um pedido meu Catimbau é corajoso, mas nessa hora tremeu Depois de um sorriso amargo pra Rosinha respondeu Eu vou laçar esse touro pra te mostrar quem sou eu Mas depois eu quero o beijo, ai que você me prometeu, ai Catimbau mais que depressa no seu bragado montou Chegou a espora no macho e a laçada ele aprontou A laçada foi certeira que o povo se admirou Catimbau foi infeliz o bragado se atrapalhou O laço fez uma volta no seu pescoço enrolou Com o pialo que o boi deu sua cabeça decepou Trouxeram a cabeça dele Rosinha nela pegou Chorando desesperada deste jeito falou Catimbau prometi um beijo receba agora eu te dou, ai Na boca do seu amado tristemente ela beijo Esta é fim de uma história dando prova que se amou Rosinha e Catimbau, ai que a morte separou Boi cigano Tião Carreiro / Peão Carreiro Na cidade de Andradina com a boiada eu fui chegando Eu tava só com seis peões oitocentos bois nos vinha tocando Com esse gadão de raça naquela praça eu fui atravessando O ponteiro ia adiante com o berrante ia repicando No meio dessa boiada eu levava um boi por nome Cigano O mestiço era valente por onde andava fazia dano Ganhei o boi de presente na negociada dos cuiabanos Já vinha recomendado pra ter cuidado com esse tirano O comprador desse gado na estação já estava esperando Pra fazer o pagamento depois do embarque dos cuiabanos

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Soltei os bois na mangueira e gritei pros peões já podem ir embarcando Embarcamos os pantaneiros e no mangueiro ficou o Cigano Chegou naquela cidade o grande circo sul africano Uns homens com o proprietário a respeito do boi tava comentando Insultou-me numa briga do leão feroz e do cuiabano Bati vinte mil na hora e jogos por fora estava sobrando O circo tava lotado e dado momento estava chegando Quando as feras se encontraram eu vi que o mundo ia se acabando Uns gritavam de emoção e outros de medo estavam chorando Em vinte minutos o leão assentou no chão e ficou urrando O leão é o rei das feras na selva ele é o soberano ai, ai Com sentimento seu dono entregou o trono pro meu Cigano ai, ai

A viola e o violeiro Lourival dos Santos / Tião Carreiro Tem gente que não gosta da classe de violeiro No braço desta viola defendo os meus companheiros Pra destruir nossa classe tem que me matar primeiro Mesmo assim depois de morto ainda eu atrapalho Morre o homem e fica a fama e minha fama dá trabalho Todos que nascem no mundo têm seu destino traçado Uns nascem pra ser engenheiro outros pra ser advogado Eu nasci pra ser violeiro me sinto bastante honrado De tanto pontear viola meus dedos estão calejados Sou um violeiro que canta para os vinte e dois estados Viva o povo mineiro cantador de recortado Também viva os gaúcho que no xote e respeitado Viva o violeiro do norte que só canta improvisado Goiano e paranaense cantam tudo bem cantado Viva o chão de Mato Grosso que é o berço do rasqueado Representando São Paulo este pagode é um recado As músicas dos estrangeiros quer invadir nosso mercado Vamos fazer uma guerra cada violeiro é um soldado Nossa viola é a carabina e o nosso peito é um trem blindado A viola e o violeiro é que não pode ser derrotado

Terra roxa Teddy Vieira Um grã-fino num carro de luxo parou em frente de um restaurante Faz favor de trocar mil cruzeiros afobado ele disse para o negociante Me desculpe que eu não tenho troco, mas ai tem freguês importante O grã-fino foi de mesa em mesa e por uma delas passou por diante Por ver um preto que estava almoçando num traje esquisito num tipo de andante Sei dizer que o tal mil cruzeiro ali era dinheiro para aqueles viajantes, ai, ai Negociante falou pro grã-fino esse preto eu já vi tem trocado O grã-fino sorriu com desprezo o senhor não tá vendo que é um pobre coitado Com a roupa toda amarrotada e um jeito de muito acanhado Se esse cara for alguém na vida então eu serei presidente do estado Desse mato aí não sai coelho e para o senhor fico muito obrigado Perguntar se esse preto tem troco é deixar o caboclo muito envergonhado, ai,ai

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Nisso o preto que ouviu a conversa chamou o moço de um educado Arrancou da guaiaca um pacote com mais de umas cem cor de abóbora embolado Uma a uma jogou sobre a mesa me desculpe não lhe ter trocado O grã-fino sorriu amarelo na certa o senhor deve ser deputado Pela cor avermelhada essas notas parece dinheiro que estava enterrado Disse o preto não arregale o olho é apenas um restolho do que eu tenho empatado, ai, ai Estas notas vermelhas de terra é de terra pura amassa-pé Foi aonde eu plantei a sete anos duzentos e oitenta mil pés de cafés Essa terra que a água não lava que sustenta o Brasil de pé Você estando montado nos cobre nunca falta amigo e algumas mulheres É com elas que nós importamos os tais cadilak, ford, chevrolet Pra depois os mocinhos grã-finos andar se exibindo que nem coronel, ai, ai O grã-fino pediu mil desculpas rematou meio desenxabido Gostaria de arriscar a sorte onde está esse imenso tesouro escondido Isso é fácil respondeu o preto se na enxada tu for sacudido Terra lá é a peso de ouro e o seu futuro estará garantido Essa terra é abençoada por Deus não é propaganda lá não fui nascido É no estado do Paraná aonde que está meu ranchinho querido, ai, ai Exemplo de humildade Dino Franco / Tião Carreiro Eu entrei num restaurante pra tomar uma cerveja Quando um tipo que andeja encostou-se no balcão Apesar de maltrapilho pareceu-me inteligente E pediu humildemente uma batida de limão Mas eu tive uma surpresa no copeiro mal criado Quis dinheiro adiantado para depois atender E o rapaz interiorano dando provas de humildade Satisfez uma vontade absurda no meu ver O patrão que estava perto deu razão ao empregado Cabisbaixo e humilhado o mendigo se serviu Demonstrando crueldade o dono do restaurante De maneira arrogante resmungando prosseguiu Eu de fato me aborreço com freguês pés de chinelo E pegando um parabelo exibiu depois guardou E o rapaz de olhar manso nada disse, mas sentiu Outra dose ele pediu mas primeiro ele pagou Trinta dois dias de viagem é uma longa caminhada Aparecida do Norte era o fim dessa jornada Nessa altura no recinto havia bastante gente Com pena do indigente que muito calmo falou Se eu estou sujo, rasgado é de tanto caminhar Pois eu preciso pagar alguém que me ajudou Eu vi minha mãe doente de um mal quase sem cura E com essa desventura pressenti a fria morte Então à Deus fiz um pedido e o milagre foi tão lindo E é por isso que vou indo à Aparecida do Norte Concluindo essas palavras deixou bem claro a lição Para os dois deu um cartão com as suas iniciais Sou um forte criador de gado raça holandesa Além de outras riquezas que tenho em Minas Gerais Pelo meu tipo de andante eu aqui fui maltratado Mas eu fico obrigado pela falta de atenção

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Os senhores desta casa não souberam me atender Quando deveriam ter um pouco mais de educação