moção - Águas

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MOÇÃO O Governo, sem qualquer diálogo prévio com os municípios, propõe-se fundir as empresas das Águas do Portugal, provocando o aumento da tarifa da água na cidade do Porto, tornando irrelevante a posição accionista da Câmara Municipal e alterando unilateralmente um contrato de concessão existente, prolongando por mais 30 anos a duração dessa concessão. O sistema de abastecimento de água à cidade do Porto é estável e garante um serviço de qualidade e a preço justo. As Águas do Douro e Paiva, empresa do grupo Águas de Portugal na qual o Município do Porto detém uma participação superior a 13%, é responsável pela captação, tratamento e adução. As Águas do Porto procedem à distribuição domiciliária da água que recebem do sistema em «alta». No que diz respeito às águas residuais, todo o sistema de recolha e tratamento é municipal e gerido pelas Águas do Porto. A constituição do sistema em «alta», juntando municípios próximos e com afinidades territoriais fez, ao tempo, todo o sentido. Era necessário fazer grandes investimentos e opções técnicas de vulto, que recomendavam que as autarquias, sem perderem o seu poder, se agregassem em torno de um só sistema. A concessão que foi constituída estará terminada daqui a 12 anos, já concluiu os seus investimentos, tem distribuído dividendos pelas autarquias, e, mais do que tudo, contribuiu decisivamente para a melhoria da qualidade e fiabilidade do abastecimento de água à cidade. Este modelo foi alargado a todo o país, nuns casos com sucesso, noutros sem ele, podendo apenas assinalar-se, à escala nacional, a grande melhoria da qualidade da água. No entanto, o instrumento que serviu de solução, transformou-se num problema, ditado por contratos leoninos para com as autarquias que fixavam mínimos de consumo, soluções técnicas de grande dimensão e elevado consumo energético e, posteriormente, por decisão de muitos dos municípios, a não progressão dos preços ao consumidor que permitisse pagar a factura aos sistemas da «alta». Fala o Governo num défice tarifário dos sistemas em alta, mas o que sabemos que existe é um grande défice de tesouraria no grupo Águas de Portugal, que o Governo, na sua fúria privatizadora, quer resolver antes de passar o sector para as mãos de privados. Note-se: nenhum destes problemas existe no Porto ou nas Águas de Douro e Paiva. O Porto sempre pagou a factura que lhe foi debitada, mesmo quando não aumentou as suas tarifas domésticas, coisa que as Águas de Portugal nunca fizeram, aumentando sempre a tarifa. Também, de uma maneira geral, os restantes municípios do sistema têm sido pagadores regulares.

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PS Porto contesta modelo apresentado pelo Governo e vai defender os interesses do Porto e da água como bem público.

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MOÇÃO

O Governo, sem qualquer diálogo prévio com os municípios, propõe-se fundir as empresas das

Águas do Portugal, provocando o aumento da tarifa da água na cidade do Porto, tornando

irrelevante a posição accionista da Câmara Municipal e alterando unilateralmente um contrato de

concessão existente, prolongando por mais 30 anos a duração dessa concessão.

O sistema de abastecimento de água à cidade do Porto é estável e garante um serviço de qualidade

e a preço justo. As Águas do Douro e Paiva, empresa do grupo Águas de Portugal na qual o

Município do Porto detém uma participação superior a 13%, é responsável pela captação,

tratamento e adução. As Águas do Porto procedem à distribuição domiciliária da água que recebem

do sistema em «alta». No que diz respeito às águas residuais, todo o sistema de recolha e

tratamento é municipal e gerido pelas Águas do Porto.

A constituição do sistema em «alta», juntando municípios próximos e com afinidades territoriais

fez, ao tempo, todo o sentido. Era necessário fazer grandes investimentos e opções técnicas de

vulto, que recomendavam que as autarquias, sem perderem o seu poder, se agregassem em torno

de um só sistema. A concessão que foi constituída estará terminada daqui a 12 anos, já concluiu os

seus investimentos, tem distribuído dividendos pelas autarquias, e, mais do que tudo, contribuiu

decisivamente para a melhoria da qualidade e fiabilidade do abastecimento de água à cidade.

Este modelo foi alargado a todo o país, nuns casos com sucesso, noutros sem ele, podendo apenas

assinalar-se, à escala nacional, a grande melhoria da qualidade da água.

No entanto, o instrumento que serviu de solução, transformou-se num problema, ditado por

contratos leoninos para com as autarquias que fixavam mínimos de consumo, soluções técnicas de

grande dimensão e elevado consumo energético e, posteriormente, por decisão de muitos dos

municípios, a não progressão dos preços ao consumidor que permitisse pagar a factura aos sistemas

da «alta».

Fala o Governo num défice tarifário dos sistemas em alta, mas o que sabemos que existe é um

grande défice de tesouraria no grupo Águas de Portugal, que o Governo, na sua fúria

privatizadora, quer resolver antes de passar o sector para as mãos de privados.

Note-se: nenhum destes problemas existe no Porto ou nas Águas de Douro e Paiva. O Porto

sempre pagou a factura que lhe foi debitada, mesmo quando não aumentou as suas tarifas

domésticas, coisa que as Águas de Portugal nunca fizeram, aumentando sempre a tarifa. Também,

de uma maneira geral, os restantes municípios do sistema têm sido pagadores regulares.

Chegados aqui, a proposta que é feita ao Porto é a de ver aumentada em 30% para 5 anos a tarifa

da água, que se faça uma nova concessão pelo período de 30 anos sem estarem previstos

quaisquer investimentos que o justifiquem, que a posição accionista do Porto na gestão da

empresa seja reduzida à insignificância. Tudo isto, com o pretexto da solidariedade regional,

aumentando a água no litoral e reduzindo o seu preço no interior do país.

Ora, até esta última razão é enganadora, pois quando o Governo diz que o custo da água no interior

pode ser reduzido, esconde que na maioria dos municípios o valor cobrado ao consumidor final não

cobre o valor a pagar pelo fornecimento da água em alta. Assim, em quase todos os municípios do

interior o preço da água vai aumentar, provavelmente bem mais do que o aumento que o Governo

prevê para a cidade do Porto.

Os documentos do Governo nada mostram sobre o efeito de poupança nas Águas de Portugal em

consequência da fusão. Limitam-se a falar na concentração de serviços e redução de chefias o que

pressupõe apenas o desmantelamento da capacidade técnica das Águas do Douro e Paiva,

concentrando serviços, com uma forte componente operacional, em Lisboa, curiosamente a única

empresa que não muda de nome continuando-se a chamar EPAL.

O que se pretende é resolver os problemas de tesouraria da empresa da administração central, no

pressuposto de que os pagadores continuem a pagar, pois quem não paga continuará sem pagar.

No passado recente, este não foi problema para o Governo, ao nomear como administrador das

Águas de Portugal o antigo presidente da Câmara Municipal do Fundão, concelho tido como um

dos que mais dívidas tinha neste domínio. Disse então o Primeiro-Ministro que a nomeação era

cheia de intencionalidade, pois quem não pagava conhecia melhor os problemas do sector. Estamos

esclarecidos com o contributo que foi dado para a resolução do problema: quem paga que pague

mais, e quem não paga que fique sem pagar.

Por tudo isto, e considerando que:

É inadmissível o processo conduzido pelo Governo, que desprezou, na proposta da fusão

que fez, a opinião das autarquias que representam 49% do capital de cada sistema que

se pretende fundir;

Esta é uma questão política, pelo desprezo a que os municípios foram votados, mas é

também uma questão de gestão empresarial, pois empresa nenhuma se comporta da

forma centralista como o Governo agiu em relação aos restantes accionistas;

Esta é ainda uma questão de respeito contratual, desprezando contratos firmados e

decisões tomadas pelos executivos municipais. A presença de cada município em cada

sistema, com regras claras e pré-estabelecidas, foi aprovada em todos os executivos

municipais e Assembleias Municipais, não sendo tolerável que seja feita tábua rasa

dessas decisões;

É falso que com este sistema se venha a pagar mais barata a água nos municípios do

interior do país;

É impensável a solução proposta, de repercutir no bolso directo dos cidadãos dos

municípios pagadores a factura dos erros de concepção dos restantes sistemas e das

opções politicas relativamente ao tarifário e ao pagamento das facturas dos restantes

municípios;

A Comissão Política Concelhia do PS, reunida em 17 de Outubro de 2014, manifesta:

1. A total oposição à proposta apresentada pelo Governo, atentatória dos interesses do

Porto, injusta para os seus cidadãos, que em nada contribui para a solidariedade

regional;

2. O apoio à posição de repúdio assumida, em nome da cidade, pela Câmara Municipal do

Porto;

3. A firme disposição de usar por todos os meios legítimos para lutar contra mais uma

decisão atentatória da autonomia da cidade, que dificultará a vida dos portuenses e que

castiga o escrupuloso pagamento dos encargos de que tanto nos orgulhamos.

Porto, 17 de Outubro de 2014

A Comissão Política Concelhia do PS