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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CENTRO DE PROCESSOS SELETIVOS MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009 EDITAL N.º 03/2009 CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES III (21 de junho de 2009) BOLETIM DE QUESTÕES LEIA COM MUITA ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES SEGUINTES. 1 Este BOLETIM DE QUESTÕES contém 40 questões objetivas: 20 de Língua Portuguesa, 10 de Literatura e 10 de Filosofia. Cada questão apresenta cinco alternativas de resposta, identificadas com as letras (A), (B), (C), (D) e (E). Apenas uma é correta. 2 Esta prova está redigida conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). 3 Confira se, além deste BOLETIM DE QUESTÕES, você recebeu o CARTÃO-RESPOSTA destinado à marcação das respostas das questões objetivas. 4 Confira se a prova está completa e sem falhas. Caso exista algum problema, comunique-o imediatamente ao fiscal de sala. 5 Verifique se o seu nome e o número de sua inscrição conferem com os dados contidos no CARTÃO-RESPOSTA. Em caso de divergência, notifique imediatamente o fiscal de sala. 6 Após a conferência, assine seu nome no espaço próprio do CARTÃO-RESPOSTA. 7 A marcação do CARTÃO-RESPOSTA deve ser feita com caneta esferográfica de tinta preta. 8 O CARTÃO-RESPOSTA não pode ser dobrado, amassado, rasurado, manchado ou conter qualquer registro fora dos locais destinados às respostas. Não é permitida a utilização de qualquer espécie de corretivo. O cartão só será substituído se contiver falha de impressão. 9 O CARTÃO-RESPOSTA é o único documento considerado na avaliação. O BOLETIM DE QUESTÕES deve ser usado apenas como rascunho e não valerá, sob hipótese alguma, para efeito da correção. 10 Quando terminar a prova, entregue ao fiscal de sala este BOLETIM DE QUESTÕES e o CARTÃO-RESPOSTA e assine a LISTA DE PRESENÇA. Sua assinatura deve corresponder àquela que consta no seu documento de identificação. 11 O tempo disponível para a prova é de quatro horas, com início às 8 horas e término às 12 horas, observado o horário de Belém-PA. Se você for portador de necessidades educativas especiais, disporá de 1 (uma) hora a mais para fazer a prova, desde que tenha comunicado previamente a sua necessidade ao CEPS. 12 Reserve os 20 minutos finais destinados à prova para a marcação do CARTÃO-RESPOSTA. __________________________________________________ ______________________ NOME DO(A) CANDIDATO(A) N.º DE INSCRIÇÃO MOBA Interna Edital N.º 03/2009

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CENTRO DE PROCESSOS SELETIVOS

MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009 EDITAL N.º 03/2009

CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES III

(21 de junho de 2009)

BOLETIM DE QUESTÕES

LEIA COM MUITA ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES SEGUINTES.

1 Este BOLETIM DE QUESTÕES contém 40 questões objetivas: 20 de Língua Portuguesa, 10 de Literatura e 10 de Filosofia. Cada questão apresenta cinco alternativas de resposta, identificadas com as letras (A), (B), (C), (D) e (E). Apenas uma é correta.

2 Esta prova está redigida conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

3 Confira se, além deste BOLETIM DE QUESTÕES, você recebeu o CARTÃO-RESPOSTA destinado à marcação das respostas das questões objetivas.

4 Confira se a prova está completa e sem falhas. Caso exista algum problema, comunique-o imediatamente ao fiscal de sala.

5 Verifique se o seu nome e o número de sua inscrição conferem com os dados contidos no CARTÃO-RESPOSTA. Em caso de divergência, notifique imediatamente o fiscal de sala.

6 Após a conferência, assine seu nome no espaço próprio do CARTÃO-RESPOSTA.

7 A marcação do CARTÃO-RESPOSTA deve ser feita com caneta esferográfica de tinta preta .

8 O CARTÃO-RESPOSTA não pode ser dobrado, amassado, rasurado, manchado ou conter qualquer registro fora dos locais destinados às respostas. Não é permitida a utilização de qualquer espécie de corretivo. O cartão só será substituído se contiver falha de impressão.

9 O CARTÃO-RESPOSTA é o único documento considerado na avaliação. O BOLETIM DE QUESTÕES deve ser usado apenas como rascunho e não valerá, sob hipótese alguma, para efeito da correção.

10 Quando terminar a prova, entregue ao fiscal de sala este BOLETIM DE QUESTÕES e o CARTÃO-RESPOSTA e assine a LISTA DE PRESENÇA. Sua assinatura deve corresponder àquela que consta no seu documento de identificação.

11 O tempo disponível para a prova é de quatro horas , com início às 8 horas e término às 12 horas, observado o horário de Belém-PA. Se você for portador de necessidades educativas especiais, disporá de 1 (uma) hora a mais para fazer a prova, desde que tenha comunicado previamente a sua necessidade ao CEPS.

12 Reserve os 20 minutos finais destinados à prova para a marcação do CARTÃO-RESPOSTA.

__________________________________________________ ______________________ NOME DO(A) CANDIDATO(A) N.º DE INSCRIÇÃO

MOBA Interna Edital N.º 03/2009

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MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009

EDITAL N.º 03/2009

MOBA Interna 2009 2 Humanidades III

LÍNGUA PORTUGUESA

Leia o texto abaixo para responder às questões de 1 a 20.

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36

A arte de ser velho

É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América, e sobretudo, do Brasil. E talvez seja melhor assim; pois se esse sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures.

Não estou querendo dizer com isso que todos os velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade. Mas, como coletividade, não há dúvida que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional (tirante, é claro, a China), embora entreguem mais depressa a rapadura.

Talvez nem seja compostura; talvez seja esse pudor de que falávamos acima, de se mostrarem em sua decadência, misturado ao muito freqüente sentimento de não terem aproveitado os verdes anos como deveriam. Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que, como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos. Em reuniões e lugares públicos não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim: “Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado...”

Isso, aqui no Brasil, é fácil sentir nas boates, com exceção de São Paulo, onde alguns cocorocas ainda arriscam seu pezinho na pista, de cara cheia e sem ligar ao enfarte. No Rio é bem menos comum,e no geral, em mesa de velho não senta broto, pois, conforme reza a máxima popular, quem gosta de velho é reumatismo. O que me parece, de certo modo, cruel. Mas, o que se vai fazer? Assim é a mocidade – ínscia, cruel e gulosa em seus apetites. Como aliás, muito bem diz também a sabedoria do povo: homem velho e mulher nova, ou chifre ou cova.

Na Europa, felizmente para a classe, a cantiga soa diferente. Aliás, nos Estados Unidos dá-se, de certo modo, o mesmo. É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; mas na Europa não. Na Europa, vêem-se meninas lindas nas boates dançando cheek-to-cheek com verdadeiros macróbios, e de olhinho fechado e tudo. Enquanto que nos Estados Unidos eu creio seja mais... cheek-to-cheek. Lembro-me que em Paris, no Club St. Florentin, onde eu ia bastante, havia na pista um velhinho sempre com meninas diferentes. O “matusa” enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá e dançava o fino, com todos os extravagantes passinhos com que os gauleses enfeitam as danças do Caribe, sem falar no nosso samba. Um dia, um rapazinho folgado veio convidar a menina do velhinho para dançar e sabem o que ela disse? – isso mesmo que vocês estão pensando e mais toda essa coisa. E enquanto isso, o velhinho de pé, o peito inchado, pronto para sair na física.

Eu achei a cena uma graça só, mas não sei se teria sentido o mesmo aqui no Brasil, se ela se tivesse passado no Sacha´s com algum parente meu. Porque, no fundo, nós queremos os nossos velhinhos, em casa, em sua cadeira de balanço, lendo Michel Zevaco ou pensando na morte próxima, como fazia meu avô. Velhinho saliente é muito bom, muito bom, mas de avô dos outros. Nosso não.

Moraes, Vinicius de. Para viver um grande amor. Crônicas e Poemas. 1991.

MARQUE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA NAS QUESTÕES DE 1 A 40.

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MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009

EDITAL N.º 03/2009

MOBA Interna 2009 3 Humanidades III

1 O texto “A arte de ser velho” tem como um de seus propósitos

(A) refletir sobre os temores da velhice.

(B) condenar os relacionamentos na velhice.

(C) estimular os velhos a relacionarem-se com jovens.

(D) defender o direito do velho de se relacionar com jovens.

(E) comparar os velhos brasileiros aos de outra nacionalidade.

2 Da leitura do texto depreende-se que

(A) na velhice há muita ingenuidade.

(B) os velhos, de modo geral, sentem-se inferiores aos mais jovens.

(C) os velhos são muito infelizes por não ter vivido como deveriam.

(D) os homens, mais do que as mulheres, temem encarar a velhice.

(E) a velhice é um momento muito prazeroso em países da Europa.

3 A ideia apresentada no segundo parágrafo é a de que os velhinhos brasileiros são

(A) mais pilantras do que os europeus.

(B) mais acomodados do que os chineses.

(C) mais amargurados do que os americanos.

(D) mais coerentes do que a velhorra internacional.

(E) mais ingênuos neste momento da vida do que na mocidade.

4 De acordo com o texto, é correto afirmar que, no Brasil, a velhice está intimamente associada ao/à

(A) enfado.

(B) inatividade.

(C) pilantragem.

(D) enfermidade.

(E) degradação moral.

5 O trecho em que se observa um julgamento positivo em relação à atitude dos velhos é

(A) “[...] com o avançar dos anos e o aproximar da

morte, vão os homens fechando portas atrás de si.” (linhas 01 e 02)

(B) “[...] aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que, como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos.” (linhas 12 e 13)

(C) “[...] em mesa de velho não senta broto.” (linha 19)

(D) “[...] quem gosta de velho é reumatismo.” (linha 19)

(E) “[...] o velhinho de pé, o peito inchado, pronto para sair na física.” (linha 32)

6 Em relação ao trecho abaixo, julgue as afirmativas apresentadas a seguir.

“Na Europa, felizmente para a classe, a cantiga soa diferente. Aliás, nos Estados Unidos dá-se, de certo modo, o mesmo. É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; mas na Europa não.” (linhas 23 a 25)

I. O termo “vigarista” refere-se ao modo pelo qual os velhinhos buscam sua felicidade.

II. A expressão “felizmente” aponta para a condição de alegria em que se encontra a classe dos velhinhos.

III. Na expressão “a felicidade dos velhinhos”, o termo “dos velhinhos” refere-se ao possuidor do sentimento de felicidade.

IV. No enunciado “Aliás, nos Estados Unidos dá-se, de certo modo, o mesmo.”, o vocábulo “aliás” expressa retificação.

Estão corretas as afirmativas

(A) I e II.

(B) II e IV.

(C) I, II e III.

(D) I, III e IV.

(E) II, III e IV.

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MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009

EDITAL N.º 03/2009

MOBA Interna 2009 4 Humanidades III

7 O trecho em que NÃO há linguagem figurada é

(A) “[...] com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si.” (linhas 01 e 02)

(B) “Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade.” (linhas 06 a 08)

(C) “No Rio é bem menos comum, e no geral, em mesa de velho não senta broto.” (linhas 18 e 19)

(D) “Mas o que se vai fazer? Assim é a mocidade – ínscia, cruel e gulosa em seus apetites.” (linhas 20 e 21)

(E) “Na Europa, felizmente para a classe, a cantiga soa diferente.” (linha 23)

8 O termo, em destaque, empregado pelo autor com a finalidade de evitar a generalização de uma ideia é

(A) “[...] vão os homens fechando portas atrás de si,

numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América, e sobretudo, do Brasil.” (linhas 01 a 03)

(B) “[...] evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo , a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures.” (linhas 04 e 05)

(C) “‘Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado...’” (linhas 15 e 16)

(D) “O “matusa” enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá e dançava o fino, com todos os extravagantes passinhos com que os gauleses enfeitam as danças do Caribe,[...]” (linhas 28 a 30)

(E) “Porque, no fundo , nós queremos os nossos velhinhos, em casa, em sua cadeira de balanço, lendo Michel Zevaco ou pensando na morte próxima, como fazia meu avô.” (linhas 34 e 35)

9 Compreende-se do trecho “homem velho e mulher nova, ou chifre ou cova” (linhas...) que, no Brasil, os relacionamentos entre pessoas de diferentes faixas etárias são

(A) ilegais.

(B) inexistentes.

(C) inaceitáveis.

(D) degradantes.

(E) malsucedidos.

10 O segmento em destaque que NÃO restringe o significado do termo anterior é

(A) “[...] a velhice que se aproxima .” (linha 02)

(B) “[...] nenhuma flor que se cheire .” (linha 06)

(C) “[...] talvez seja esse pudor de que falávamos acima [...]” (linha 10)

(D) “[...] não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim : [...]” (linhas 13 e 14)

(E) “É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; [...]” (linhas 24 e 25)

11 Em relação aos fatos da língua, é correto afirmar que

(A) Em “Não estou querendo dizer com isso que

todos os velhinhos [...]” (linhas 06), a palavra “velhinhos” tem uma conotação irônica.

(B) Em “[...] quem gosta de velho é reumatismo.” (linha 19), o vocábulo “quem” tem valor interrogativo.

(C) Em “‘Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado...’” (linhas 15 e 16), o vocábulo “sequer” reforça a ideia expressa no enunciado.

(D) Em “havia na pista um velhinho sempre com meninas diferentes.” (linhas 27 e 28), o vocábulo “sempre” limita o espaço físico em que ocorria o fato expresso pelo verbo.

(E) Em “Eu achei a cena uma graça só , [...]” (linha 33), se o vocábulo “só” fosse deslocado para antes do termo “a cena”, não haveria mudança de sentido.

12 No trecho em destaque

“Eu achei a cena uma graça só, mas não sei se teria sentido o mesmo aqui no Brasil, se ela se tivesse passado no Sacha´s com algum parente meu.” (linhas 33 e 34)

estabelece-se entre as ideias uma relação de

(A) adição.

(B) condição.

(C) oposição.

(D) conclusão.

(E) concessão.

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MOBILIDADE ACADÊMICA INTERNA 2009

EDITAL N.º 03/2009

MOBA Interna 2009 5 Humanidades III

13 As expressões em destaque revelam avaliações do autor em relação ao assunto tratado EXCETO em

(A) “É curioso como, com o avançar dos anos e o

aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima.” (linhas 01 e 02)

(B) “Mas, como coletividade, não há dúvida que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional [...]” (linhas 08 e 09)

(C) “No Rio é bem menos comum, e no geral , em mesa de velho não senta broto,[...]” (linhas 18 e 19)

(D) “O que me parece , de certo modo, cruel.” (linha 20)

(E) “Na Europa, vêem-se meninas lindas nas boates dançando cheek-to-cheek com verdadeiros macróbios, e de olhinho fechado e tudo .” (linhas 25 e 26)

14 Com relação à sintaxe de regência, o trecho que não está de acordo com a norma culta é

(A) “[...] numa espécie de pudor de que o vejam

enfrentar a velhice que se aproxima.” (linha 02)

(B) “Não estou querendo dizer com isso que todos os velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire .” (linha 06)

(C) “Mas, como coletividade, não há dúvida que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional [...]” (linhas 08 e 09)

(D) ““Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu,[...]’” (linha 15)

(E) “[...] onde alguns cocorocas ainda arriscam seu pezinho na pista, de cara cheia e sem ligar ao enfarte .” (linhas 17 e 18)

15 Entende-se que os parênteses empregados no segundo parágrafo (linhas 06 a 09) servem ao propósito de

(A) indicar o discurso de uma outra pessoa.

(B) separar uma informação que não merece atenção.

(C) inserir uma ressalva sobre o comportamento dos chineses.

(D) inserir no texto um esclarecimento a respeito da velhorra internacional.

(E) realçar a informação sobre o preconceito contra os velhinhos da China.

16 Considerando os recursos de coesão, julgue os itens abaixo:

I. No trecho “Não estou querendo dizer com isso

que todos os velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade.” (linhas 06 a 08), o autor retoma a referência a “velhinhos” por meio dos pronomes “-los” e “seus”.

II. Os pronomes “seu” (linha 04) e “seus” (linha 07) têm o mesmo valor coesivo por referirem-se, igualmente, a “velhos”.

III. No trecho “Na Europa, vêem-se meninas lindas nas boates dançando cheek-to-cheek com verdadeiros macróbios, e de olhinho fechado e tudo.” (linhas 25 e 26), o vocábulo “macróbio” refere-se a “velhos”.

IV. A palavra “matusa” no trecho “O ‘matusa’ enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá” (linhas 28 e 29) refere-se a “rapazinho”.

Estão corretas as afirmativas

(A) I e II.

(B) I e III.

(C) II e III.

(D) II e IV.

(E) III e IV.

17 Do trecho em destaque

“Eu achei a cena uma graça só, mas não sei se teria sentido o mesmo aqui no Brasil, se ela se tivesse passado no Sacha´s com algum parente meu. Porque, no fundo, nós queremos os nossos velhinhos, em casa, em sua cadeira de balanço, lendo Michel Zevaco ou pensando na morte próxima, como fazia meu avô. Velhinho saliente é muito bom, muito bom, mas de avô dos outros. Nosso não.” (linhas 33 a 36)

pode-se inferir que o autor

(A) reprova a velhice.

(B) lamenta a atitude de seu avô.

(C) demonstra preconceito contra os velhos.

(D) questiona ser a velhice um momento de acomodação.

(E) valoriza a atitude de seu avô, por sua dedicação à leitura.

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18 Segmentos do tipo narrativo e descritivo são empregados pelo autor com o propósito de expressar seu posicionamento, em relação à velhice, em

(A) “E talvez seja melhor assim; pois se esse

sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures. (linhas 03 a 05)

(B) “Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que, como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos.” (linhas 12 e 13)

(C) “Como aliás, muito bem diz também a sabedoria do povo: homem velho e mulher nova, ou chifre ou cova.” (linhas 21 e 22)

(D) “É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; mas na Europa não.” (linhas 24 e 25)

(E) “Um dia, um rapazinho folgado veio convidar a menina do velhinho para dançar e sabem o que ela disse? – isso mesmo que vocês estão pensando e mais toda essa coisa. E enquanto isso, o velhinho de pé, o peito inchado, pronto para sair na física.” (linhas 30 a 32)

19 O enunciado em que a forma verbal expressa uma conjectura é

(A) “É curioso como, com o avançar dos anos e o

aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si,” (linhas 01 e 02)

(B) “O “matusa” enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá [...]” (linhas 28 e 29)

(C) “Um dia, um rapazinho folgado veio convidar a menina do velhinho para dançar [...]” (linhas 30 e 31)

(D) “[...] se ela se tivesse passado no Sacha´s com algum parente meu.” (linhas 33 e 34)

(E) “[...] como fazia meu avô.” (linhas 35)

20 Julgue as afirmativas referidas abaixo, considerando o significado das palavras/expressões do texto.

I. A expressão “com o avançar dos anos” (linha

01) poderia ser substituída, sem prejuízo de valor semântico por “com o passar do tempo”.

II. A expressão “os verdes anos” (linha 11) indica “imaturidade”.

III. Em “pezinho” (linha 18), o sufixo “-inho” indica dimensão reduzida.

IV. A expressão “parada” (linha 28) indica tipo de dança.

Estão corretas as afirmativas

(A) I e II apenas.

(B) II e III apenas.

(C) III e IV apenas.

(D) I, II e III.

(E) I, II e IV.

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MOBA Interna 2009 7 Humanidades III

LITERATURA

21 Leia atentamente o poema de Estêvão Coelho (século XIV) transcrito abaixo. Sedia la fremosa seu sirgo torcendo, sa voz manselinha fremoso dizendo

cantigas d’ amigo. Sedia la fremosa seu sirgo lavrando, sa voz manselinha fremoso cantando

cantigas d’ amigo. — Par Deus de Cruz, dona, sei eu que avedes amor mui coitado que tan ben dizedes

cantigas d’ amigo. — Par Deus de Cruz, dona, sei eu que andades d’ amor mui coitada que tan ben cantades

cantigas d’ amigo. — Avuitor comestes, que adevinhades.

(In: CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL; leitura [...] por Elza Paxeco Machado e José Pedro Machado. Lisboa: Revista de Portugal, 1949-1964. v. 4, p. 15-16.)

Vocabulário: Sedia = estava; la = a (artigo); sirgo = fio, fita ou obra de seda; fremoso = formosamente; manselinha = mansa, doce; lavrar = trabalhar (em lavores femininos); avedes = tendes; dizedes = dizeis; avuitor = abutre. Primeira manifestação literária em língua portuguesa, a poesia trovadoresca apresenta alguns elementos distintivos como a adoção do paralelismo e o recurso aos temas do amor cortês. Considerando tais informações, é CORRETO afirmar que, no poema acima, (A) não ocorre o sistema de paralelismo, em função

do número ímpar de estrofes do poema.

(B) o verso 8 se refere a um “amor mui coitado que tan ben dizedes”, como expressão do eu lírico masculino.

(C) as rimas “torcendo / dizendo” e “lavrando / cantando” aproximam o trabalho do canto e indicam um universo poético não cortês.

(D) nos versos “[...] fremoso dizendo” e “[...] fremoso cantando”, o trovador limitou-se a substituir “dizer” por “cantar”, sem criar estrofes paralelas.

(E) no verso inicial — “Sedia la fremosa seu sirgo lavrando” —, faz-se o elogio das habilidades manuais da amada, de acordo com o espírito do amor cortês.

22 A obra de Gregório de Matos Guerra (1633-1696), vinculada fortemente à estética barroca, pode ser dividida em satírica, lírico-amorosa e lírico-religiosa, levando-se em conta, sobretudo, aspectos temáticos. A faceta satírica desse poeta está CORRETAMENTE exemplificada no seguinte trecho:

(A) “Já sei, meu Senhor, que vivo / depois que em

meu peito entrastes, / porque logo me deixastes / ardendo em um fogo ativo:”

(B) “Maldade, que encaminha à vaidade, / Vaidade, que todo me há vencido; / Vencido quero ver-me, e arrependido, / Arrependido a tanta enormidade.”

(C) “Vai-se com temporal a Nau ao fundo / carregada de rica mercancia, / Queixa-se da Fortuna, que a envia, / E eu sei, que a submergiu Deus iracundo.”

(D) “A cada canto um grande conselheiro, / Que nos quer governar cabana, e vinha, / Não sabem governar sua cozinha, / E podem governar o mundo inteiro.

(E) “Venho, Madre de Deus, ao Vosso monte, / E reverente em vosso altar sagrado, / Vendo o Menino em berço argenteado, / O sol vejo nascer desse Horizonte.”

23 Gonçalves Dias (1823-1864) representa, na poesia brasileira do século XIX, o Indianismo. Ao lado dessa temática, o poeta maranhense cultivou a lírica amorosa, de que é EXEMPLO o excerto:

(A) “A vida é um fio negro d’amarguras / E de longo

sofrer; / Semelha a noite; mas fagueiros sonhos / Pode de noite haver.” (“Espera”)

(B) “No centro da taba se estende um terreiro, / Onde ora se aduna [reúne] o concílio guerreiro / Da tribo senhora, das tribos servis:” (“I-Juca Pirama”)

(C) “Cabe a outros porém que se dor vemos / Passar, girar no turbilhão dos vivos, / De carne inda vestidos, / O nada inda encoberto;” (“A morte é vária”)

(D) “E o Piaga se ruge / No seu Maracá, / A morte lá paira / Nos ares frechados, / Os campos juncados / De mortos são já: / Mil homens viveram,” (“O canto do guerreiro”)

(E) “Se tal paixão enfim transborda, / Se tem na terra o galardão [prêmio] devido / Em recíproco afeto; e unidas, uma, / Dois seres, duas vidas se procuram,” (“Se se morre de amor”)

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24 Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), dividido entre a estética normativa do Neoclassicismo e as sondagens abismais, prenunciadoras do Romantismo, destaca-se como um dos mais importantes sonetistas da Literatura Portuguesa, tendo escrito quase quatrocentos textos, segundo a edição de Hernâni Cidade. Leia atentamente o soneto de Bocage, a seguir:

Já se afastou de nós o Inverno agreste, Envolto nos seus úmidos vapores; A fértil Primavera, a mãe das flores, O prado ameno de boninas [flores] veste. Varrendo os ares o sutil nordeste Os torna azuis: as aves de mil cores Adejam entre Zéfiros [personificação do vento] e Amores, E toma o fresco Tejo a cor celeste. Vem, ó Marília, vem lograr comigo Destes alegres campos a beleza, Destas copadas árvores o abrigo.

Deixa louvar da corte a vã grandeza: Quanto me agrada mais estar contigo, Notando as perfeições da Natureza!

(BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Bertrand, 1969. p. 12)

Levando em conta o soneto transcrito acima, é CORRETO afirmar:

(A) Estabelece-se, no poema, a superioridade da

beleza do campo sobre a “vã grandeza” da corte.

(B) A retomada da mitologia greco-romana — “Adejam [as aves] entre Zéfiros e Amores,” — confere uma nota de subjetividade ao poema.

(C) O soneto em exame deve ser definido como pré-romântico, dado o predomínio da nota pessoal sobre o rigor normativo do século XVIII.

(D) O soneto apresenta diversas irregularidades métricas, que procuram traduzir, no plano formal, as inquietações de um eu lírico atormentado pelo amor.

(E) O poema apresenta nítida valorização do campo, segundo uma perspectiva mitológica cara ao Neoclassicismo, como se vê em “A fértil Primavera, a mãe das flores, / O prado ameno de boninas veste”.

25 Em Tarde, publicado postumamente em 1919, Olavo Bilac (1865-1918) manteve-se fiel à concepção parnasiana de poesia como minucioso trabalho formal e ao culto do estilo, conforme demonstrado no seguinte poema:

“A um poeta” 1 Longe do estéril turbilhão da rua, 2 Beneditino, escreve! No aconchego 3 Do claustro, na paciência e no sossego, 4 Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! 5 Mas que na forma se disfarce o emprego 6 Do esforço; e a trama viva se construa 7 De tal modo, que a imagem fique nua, 8 Rica mas sóbria, como um templo grego. 9 Não se mostre na fábrica o suplício

10 Do mestre. E, natural, o efeito agrade, 11 Sem lembrar os andaimes do edifício:

12 Porque a Beleza, gêmea da Verdade, 13 Arte pura, inimiga do artifício, 14 É a força e a graça na simplicidade.

(BILAC, Olavo. Obra Reunida. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. p. 268.)

Levando em conta este poema, extraído do referido livro póstumo, é CORRETO afirmar: (A) Na teoria formal de Bilac, a imagem deve ser

banida da poesia, como se vê no trecho: “imagem fique nua, / Rica mas sóbria,” (vv. 7-8)

(B) O verso 13 indica que, no final da sua carreira poética, Olavo Bilac abandonou o princípio da arte pela arte.

(C) No último terceto, há uma definição de beleza, apoiada em elementos estranhos à poética parnasiana, como a arte pura e a busca da verdade.

(D) Os versos 5 e 6 condensam a ideia de que o trabalho poético não deve ficar aparente: “Mas que na forma se disfarce o emprego / Do esforço; e a trama viva se construa”.

(E) O emprego do polissíndeto no verso 4 — “Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!” — opõe o labor intelectual do poeta ao trabalho repetitivo e não criativo de um artesão.

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26 Cesário Verde (1855-1886), poeta português ligado ao Realismo, teve seus poemas publicados em livro póstumo, organizado por Silva Pinto: O livro de Cesário Verde. Nesta coletânea, a crítica tem enfatizado o contraste campo-cidade. Contudo, em alguns poemas desse livro, como “O sentimento dum ocidental”, há a percepção de um mal-estar em relação à CIDADE QUE MURA, que constrange o eu lírico, como se vê em: (A) “Mas se vivemos, os emparedados,

Sem árvores, no vale escuro das muralhas! Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas E os gritos de socorro ouvir estrangulados.”

(B) “Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas [vendedoras de peixe].”

(C) “Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Colocam-se taipais, rangem as fechaduras, E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.”

(D) “E eu sigo, como as linhas de uma pauta, A dupla correnteza augusta das fachadas; Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas, As notas pastoris de uma longínqua flauta.”

(E) “A espaços, iluminam-se os andares, E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos Alastram em lençol os seus reflexos brancos; E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.”

27 A peça O velho da horta (1512), encenada perante o rei D. Manuel, foi escrita por Gil Vicente (?1465-1536), autor em que se aliam a tradição dos autos medievais e um profundo sentido de crítica social. Nesse texto, “as declarações amorosas do Velho têm um inequívoco sabor literário. Com efeito, uma leitura atenta do texto revela que em toda a sua actuação como apaixonado o Velho assume uma atitude e uma maneira de se expressar que são típicos, convencionais, da literatura amorosa cortesã do século XV.” (ZIMIC, Stanislav. O velho da horta. In: BERNARDES, José Augusto Cardoso et alii. Ensaios vicentinos. Coimbra: A Escola da Noite, 2003. p. 97.). A afirmação relativa às declarações de amor proferidas pelo Velho é CONFIRMADA pelos versos:

(A) “Já perto sois de morrer. / Donde nasce esta

sandice que / quanto mais na velhice, / amais os velhos viver? (vv. 111-114)

(B) “Oh flor da mor [maior] formosura! / Quem vos trouxe a este meu horto? / Ai de mi[m]! / Porque, logo que vos vi, cegou minha alma...” (vv. 111-114)

(C) “Ulos [Onde] esses namorados? / Desinçada [livre] é a terra deles! / Olho mau se meteu neles! / Namorados de cruzados...” (vv. 149-152)

(D) “Raivou tanto, rosmear [resmungar]! / Oh! Pesar ora da vida! / Está a panela cozida, / minha dona quer jantar. / Não quereis?” (vv. 267-271)

(E) “Estas velhas são pesadas! / Santa Maria vai com a praga! / Quanto os homens mais afaga, / tanto são mais endiabradas!” (vv. 365-368)

28 Acerca da poesia de Mario Faustino (1930-1962), Benedito Nunes, professor emérito da UFPA, escreveu: “A segunda matriz da poesia de Mário Faustino, o erotismo universal, exprime-se num pathos amoroso dominante. Atração sexual e impulso que governa o alto mundo, o amor está “Por cima de qualquer muro de credo, / Por cima de qualquer fosso de sexo”. (NUNES, Benedito. A poesia de Mário Faustino. In: FAUSTINO, Mário. Poesia Completa. São Paulo: Max Limonad, 1985. p. 22.).

Os versos que EXEMPLIFICAM a segunda matriz da poesia de Mário Faustino, assinalada pelo professor Benedito Nunes, são:

(A) “Dormia um redentor nos incensados /

Lençóis que a lua póstuma cobria / De mirra e de açafrões embalsamados;” (“Agonistes”)

(B) “Inferno, eterno inverno, quero dar / Teu nome à dor sem nome deste dia / Sem sol, céu sem furor, praia sem mar.” (“Inferno, eterno inverno, quero dar”)

(C) “Vida toda linguagem, / frase perfeita sempre, talvez verso, / geralmente sem qualquer adjetivo, coluna sem ornamento, geralmente partida.” (“Vida toda linguagem”)

(D) “Onde paira a canção recomeçada / No capitel de acanto de teu lar? / Onde prossegue a dança terminada / Nas lajes de meu tempo de chorar?” (“Onde paira a canção recomeçada”)

(E) “O mundo que venci deu-me um amor / [...] Amor que dorme e treme. Que desperta / E torna contra mim, e me devora / E me rumina em cantos de vitória [...]” (“O mundo que venci deu-me um amor.”)

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29 Leia atentamente o poema abaixo de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta modernista mineiro.

“Noturno à janela do apartamento” Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado. A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência. A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da Ilha Rasa.

(In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. In: Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983. p. 138-139.)

Considerando este poema, extraído da coletânea Sentimento do mundo (1940), um dos mais importantes de Drummond, é CORRETO afirmar: (A) O suicídio — “Silencioso cubo de treva: / um salto,

e seria a morte.” — é a única saída para a angústia vivenciada pelo eu lírico.

(B) O poema apresenta uma reflexão sobre a existência humana, como se vê em “A alma severa se interroga / e logo se cala”.

(C) Na terceira estrofe do poema, nega-se o tom pessimista predominante no poema, como se vê em “A soma da vida é nula. / Mas a vida tem tal poder:”.

(D) A reflexão sobre a linguagem como dimensão fundamental do poema pode ser identificada em versos como “Somente a contemplação / de um mundo enorme e parado”.

(E) O eu lírico refugia-se na lembrança da infância, como forma de fuga ao vazio existencial que o tomou: “Nenhum pensamento de infância, / nem saudade nem vão propósito”.

30 Leia atentamente o trecho abaixo extraído da narrativa “Campo Geral”

Quando o Dito falou, aquilo devagar ainda podia parecer justo, o Dito sabia tanta coisa tirada de idéia, Miguilim se espantava. Menos agora. Agora, êle excogitava, cismava que não era só assim, o do Dito, achava que era o contrário. A ver, com êle Miguilim, era o contrário. A coisa mais difícil que tinha era a gente poder saber fazer tudo certo, para os outros não ralharem, não quererem castigar. De primeiro, Miguilim tinha medo de bois, das vacas costeadas. Pai bramava, falava: — “Se um sendo medroso, por isso o gado te estranha, rês sabe quando um está com pavor, qualquer receiozinho, então, capaz mesmo que até a mansa vira brava, com vontades de bater...” Pois isso, outra vez, Miguilim sabia que a gente não tivesse medo não tinha perigo, não se importou mais, andou logo por dentro da boiada, duma boiada chegada, poeira de boi. Daí, foi um susto, veio Pai, os vaqueiros vieram, com as varas, carregaram com ele Miguilim pra o alpendre, passavam muito ralho. — “Menino, diabo, demonim [demoninho]! Tu entra no meio desse gado bruto, que é outro, tudo brabeza dos Gerais?! Sei como não sentaram chifre, não te espisaram [pisotearam]!...” De em diante, Miguilim tudo temeu de atravessar um pasto, a tiro de qualquer rês, podia ser brava podia ser mansa, essas coisas. Mas agora Miguilim queria merecer paz dos passados, se rir seco sem razão. Ele bebia um golinho de velhice.

(ROSA, João Guimarães. “Campo Geral”. In: Corpo de Baile: sete novelas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. v. 1, p. 74-75.)

“Campo Geral” é o texto de abertura do primeiro volume de Corpo de Baile (1956), do autor modernista Guimarães Rosa (1908-1967). Considerando o trecho transcrito, é CORRETO afirmar:

(A) O trecho “[...] a gente poder saber fazer tudo

certo, para os outros não ralharem, não quererem castigar.” expressa o temor de Dito diante do autoritarismo paterno.

(B) Expressões como “Ele bebia um golinho de velhice.” traduzem, em termos poéticos, a experiência do pai de Miguilim diante da situação de perigo por que passou o filho.

(C) Adota-se o ponto de vista de Miguilim, protagonista da história, apesar do uso da forma verbal em terceira pessoa: “se espantava”, “excogitava”, “cismava”, “bebia”, etc.

(D) O trecho indica, por parte de Migulim, uma inveja contida em relação ao irmão Dito, como se vê em: “o Dito sabia tanta coisa tirada de idéia, Miguilim se espantava”.

(E) No excerto, o pai de Miguilim comporta-se de maneira afetuosa, gritando (“bramava”) apenas para advertir o filho dos perigos de atravessar o caminho de uma boiada.

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FILOSOFIA

31 Quanto maior a visão em profundidade menor a visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos. De acordo com o texto acima é correto afirmar que

(A) essa tendência é prejudicial ao procedimento

científico no seu afã de conhecimento cada vez mais abrangente da realidade, impossibilitando assim o aprofundamento do conhecimento.

(B) a especialização é um processo segundo o qual se produz um conhecimento mais aprofundado de uma determinada dimensão da realidade estudada em prejuízo de um conhecimento mais abrangente da realidade.

(C) a especialização é uma tendência acadêmico-científica de conhecer cada vez menos de uma determinada dimensão da realidade.

(D) é um grande paradoxo do procedimento científico contemporâneo, que se anula a si mesmo, ao pretender conhecer cada vez menos de uma dimensão maior do real.

(E) a produção especializada produz um conhecimento científico mais abrangente do objeto até então ignorado em prejuízo de um aprofundamento maior da realidade estudada.

32 Leia o seguinte texto com a visão de Sartre sobre o homem. “Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras,não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade [...]. Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.”

SARTRE, J.P. “O existencialismo é um humanismo”. In COTRIN, Gilberto. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 288-289 (Coleção Pensadores).

De acordo com o texto acima, o homem

(A) está condenado à liberdade em consequência da

queda do pecado original.

(B) decifra ele mesmo um sinal transcendental sobre a Terra, sem auxílio de ninguém.

(C) apesar de livre não pode ser responsabilizado pelos seus atos perante a si mesmo.

(D) foi criado por Deus e lançado a sua própria sorte, sem proteção alguma transcendental.

(E) está condenado a ser livre porque não se criou a si próprio; e, no entanto, é livre porque é responsável por tudo que fizer.

33 Na Crítica da Razão Pura, Kant declara que “a razão [...] se aproxima da natureza não como um aluno que ouve tudo aquilo que o professor decide dizer, mas como um juiz que obriga a testemunha a responder à questão que ele mesmo formulou”. Com base nessa declaração, é correto afirmar que

(A) a razão extrai da natureza o que ela

dogmaticamente formula a priori.

(B) o procedimento racional é uma projeção indevida do procedimento jurídico.

(C) há um determinismo na natureza suscetível de ser conhecido a priori pela Razão.

(D) as categorias a priori do entendimento legislam sobre os fenômenos naturais a serem conhecidos.

(E) a realidade se deixa apreender pela razão porque os fenômenos encerram em si mesmos uma estrutura idêntica à da razão legisladora.

34 Um dos objetivos básicos da ciência é tornar o mundo compreensível por meio do controle da atividade científica sobre os fenômenos naturais. Com base nessa assertiva, avalie as afirmações abaixo.

I. O objetivo do controle da experiência

científica é o isolamento das variáveis com o propósito de identificar a causa determinante da ocorrência do fenômeno estudado.

II. O controle da natureza é um procedimento científico que visa o impedimento da ocorrência de catástrofes provenientes dos fenômenos naturais.

III. O controle da experiência exercido pelo cientista tem por objetivo a manipulação do saber para efeito do reconhecimento de sua teoria acerca da realidade.

IV. O procedimento experimental que testa a validade da hipótese científica deve ser controlado para que o fator relevante previsto na hipótese seja destacado na ocorrência do fato-problema.

Estão corretas as afirmações (A) I e III.

(B) I e IV.

(C) II e III.

(D) II e IV.

(E) III e IV.

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35 Nos Princípios da Filosofia do Direito, Hegel reconhece que “o indivíduo tem [...] sua liberdade substancial no sentimento de que ele [o Estado] é sua própria essência, o fim e o produto de sua atividade [...] por ser o Estado o espírito objetivo, o indivíduo só tem objetividade se toma parte dele.” Com base nesse texto, é correto afirmar que, para Hegel, o Estado é (A) fruto da submissão da vontade particular à

vontade geral do povo, como único soberano.

(B) formado a partir da vontade geral dos indivíduos para se protegerem entre si dos males que os afligem.

(C) concebido como produto do sentimento de alienação produzido pela objetivação dos seres humanos pela máquina estatal.

(D) o legítimo fundador da sociedade civil, que concilia a universalidade humana com os interesses particulares.

(E) concebido com base na idéia do indivíduo isolado e que só posteriormente teria se organizado em sociedade.

36 Segundo Schiller, “Para se chegar a uma solução, mesmo em questões políticas, o caminho da estética deve ser buscado porque é pela beleza que chegamos à liberdade.” De acordo com essa passagem, é correto afirmar que, para o autor, (A) o estudo do belo artístico proporciona a

reconciliação da beleza natural da vida em sociedade.

(B) a reeducação estética da humanidade deve coincidir com a liberdade inerente às instituições políticas vigentes.

(C) a beleza nos restitui a liberdade graças à educação da sensibilidade aprisionada pela educação moral da sociedade.

(D) a estética é uma instância cujas regras prescritivas são as únicas capazes de libertar os homens da sensibilidade desenfreada.

(E) a atividade artística precisa abandonar a realidade e elevar-se para além da necessidade, pois a arte é filha da liberdade e quer ser legislada pela necessidade do espírito, não pela conveniência da matéria.

37 Leia o texto abaixo de Marilena Chauí, na qual a autora expressa sua concepção de ideologia .

“A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar [...] o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo [...] de caráter prescritivo, normativo e regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes”.

(CHAUÍ, Marilena. “O que é ideologia”. In ARANHA, M.L.A; MARTINS, M.H.P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1989, p.70).

De acordo com essa concepção, é correto afirmar que uma das funções da ideologia é a

(A) produção de um discurso pleno e concreto a

respeito da realidade social das sociedades de classe.

(B) produção consciente e deliberada de uma maneira de pensar e de agir para subjugar as classes dominadas.

(C) de apagar as diferenças de classe e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento de uma identidade nacional.

(D) de provocar uma inversão da maneira pela qual se estabelecem relações entre teoria e prática, como se esta fosse a condicionante da concepção teórica.

(E) reprodução de um ideário que se considera como representação particular de uma classe em vez de ser visto como uma representação que aspira a uma universalidade reconhecida por todos os membros das classes sociais.

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38 Para o linguista Roman Jakobson, a função poética da linguagem funda-se sobre a própria mensagem. Tendo por base essa concepção, é correto afirmar que essa função caracteriza-se por (A) enfatizar o significado referencial da própria

mensagem.

(B) enfatizar os eventuais destinatários da mensagem enviada.

(C) enfocar o contexto externo em que a obra se encontra inserida.

(D) considerar exclusivamente o conteúdo que a mensagem vincula.

(E) evidenciar a forma de estruturação e de composição da própria mensagem.

39 Um ato, para que seja considerado moral, deve ser livre, autônomo, intencional e responsável. De acordo com essa concepção, é correto afirmar que o ato moral é (A) produto do desejo irreprimível da realização

consciente do bem comum.

(B) oriundo da adesão livre e consciente às normas prescritas pelo direito positivo.

(C) obediente ao próprio dever livremente imposto pela razão prática, compartilhada universalmente.

(D) responsável pelo cumprimento livre das normas extraídas do determinismo da ordem natural das coisas.

(E) livremente determinado por prescrições morais, herdadas dos costumes e das tradições de uma determinada sociedade e/ou de uma civilização.

40 Afirmar que a linguagem verbal é uma instituição social equivale dizer que

(A) os signos são arbitrários e convencionais.

(B) a linguagem verbal é uma convenção natural extraída da própria realidade.

(C) a estrutura do sistema lingüístico é uma abstração social da realidade natural.

(D) as palavras são instituídas por instâncias sociais reguladoras do código verbal.

(E) os vocábulos instituídos socialmente guardam uma relação de semelhança com os objetos representados.