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MESTR

DeROSE Mestre DeRose é o fundador da Universidade de Yôga. Com quase 50 anos de magistério, mais de 20 livros escritos e 24 anos deviagens à Índia, recebeu o reconhecimento do título de Mestre em Yôga (não-acadêmico) e Notório Saber pela FATEA – FaculdadesIntegradas Teresa d’Ávila (SP), pela Universidade do Porto (Portugal), pela Universidade Lusófona, Lisboa (Portugal), pelaUniversidade Estácio de Sá (MG) e pela UniCruz (RS). Possui título de Comendador e Notório Saber em Yôga pela SociedadeBrasileira de Educação e Integração; e de Comendador pela Academia Brasileira de Arte, Cultura e História. Foi fundador doConselho Federal de Yôga e do Sindicato Nacional dos Profissionais de Yôga. Fundador da primeira Confederação Nacional deYôga do Brasil. Introdutor do Curso de Formação de Instrutores de Yôga nas Universidades Federais do Rio de Janeiro, Rio Grandedo Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande doNorte etc.; Universidades Estaduais do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bahia etc.; PUCs – Pontifícias Universidades Católicas doRio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Bahia, São Paulo e outras. Em Portugal, foi introdutor do Curso de Formação deInstrutores de Yôga na Universidade Lusófona, de Lisboa, e na Universidade do Porto. Na Argentina foi introdutor do Curso deFormação de Instrutores de Yôga na Universidade Nacional de Lomas de Zamora. É aclamado como o principal articulador daRegulamentação dos Profissionais de Yôga cujo primeiro projeto de lei elaborou em 1978. Por lei estadual, em São Paulo, Paraná eSanta Catarina, a data do aniversário do Mestre DeRose foi instituída como o Dia do Yôga em todo o Estado.

YÔGAMITOS E VERDADES

(SAIBA EM QUÊ VOCÊ ESTÁ SE METENDO)

PRIMEIRA UNIVERSIDADE DE YÔGA DO BRASIL 

www.uni-yoga.org.brSão Paulo: Al. Jaú, 2.000 – Tel.: (11) 3081-9821

Rio de J ane i ro : R . D i a s Fe r re i r a , 259 – Te l . : ( 21) 2259-8243Endereços nas demais cidades encontram-se no final do livro.  

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© 1992 Mestre DeRoseDireitos desta edição reservados à

AMPUB Comercial Ltda.(Nobel é um selo editorial da AMPUB Comercial Ltda.)

Rua Pedroso Alvarenga, 1046 – 9o andar – 04531–004 – São Paulo – SPFone: (11) 3706-1466 – Fax: (11) 3706-1462

www.editoranobel.com.br

E-mail: [email protected] editorial, digitação, diagramação: Mestre DeRose

Capa: Ricardo Iazzetta Revisão: Aida Ferraz, Diana Raschelli de Ferraris, Melina Flores

 Revisão desta edição: Fernanda NeisProdução gráfica: Editora Uni-Yôga*

Fotolitos: ERJ Composição Editorial e Artes Gráficas Ltda. Impressão: Cromosete Gráfica e Editora Ltda.

54a edição em disquete: 199635a edição em papel: 2004

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Elaborado pelo autor)

DeRose, L.S.A., 1944 – Yôga: Mitos e Verdades / DeRose. – São Paulo :Editora União Nacional de Yôga ; Primeira Universidade de Yôga do Brasil, 1996.

BibliografiaISBN 85-213-1266-0

1. Yôga 2. DeRose 3. Corpo e mente 4. Yôga na literatura 5. Mestres de Yôga. I. Título

CDD-181.45

Índices para catálogo sistemático: 1. Yôga : Filosofia 181.452. Yôga : Higiene 613.7

3. Yôga : Meditação : Hinduísmo 294.5434. Estresse : Saúde e estresse 613.0195. Corpo - mente : Integração 615.851

Senhor Livreiro,

Este livro não é sobre auto-ajuda, nem terapias e, muito menos, esoterismo.

Não tem nada a ver com Educação Física nem com esportes. O tema YÔGA merece,por si só, uma classificação à parte.

Assim, esta obra deve ser catalogada como YÔGA e ser exposta na estante de YÔGA.

Grato,O Autor 

* A EDITORA UNI-YÔGA, é um órgão de divulgação cultural da 

PRIMEIRA UNIVERSIDADE DE YÔGA DO BRASIL,Registrada nos termos dos artigos 18 e 19 do Código Civil Brasileiro sob o nº 37959 no 6º Ofício,

divisão daUNIÃO INTERNACIONAL DE YÔGA 

www.uni-yoga.org.brAl. Jaú, 2.000 – São Paulo – Brasil – Tel: (11) 3081-9821

Rio de Janeiro – R. Dias Ferreira, 259 – Tel: (21) 2259-8243

Impresso no Brasil/  Printed in Brazil  

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 Alguns homens lutam um dia e são bons;outros lutam um ano e são melhores;os que lutam vários anos são ótimos;

mas os que lutam a vida toda......esses são imprescindíveis.

(Bertolt Brecht)

 À minha filha Chandra.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 6

À ATENÇÃO DO LEITOR 

1.  Como a maioria dos leitores costuma só travar contato com um oudois livros de cada autor, até por não dar tempo de ler tudo o quegostaria, adotamos o procedimento editorial de reproduzir algunsdos principais textos da nossa obra global em mais de um livro.Portanto, sempre que você localizar um desses trechos, não o salte.Releia-o com atenção. A repetição terá sido intencional por tratar-

se de assunto de suma importância.2.  Quando for utilizada a primeira pessoa do singular, tratar-se-á de

conotação estritamente pessoal. Onde for aplicada a primeira doplural, tratar-se-á de circunstância grupal ou de interesse coletivo,ou para a qual tenha ocorrido a participação de outra(s) pessoa(s).

Esta obra foi adotada como livro-texto dos cursos de Formaçãode Instrutores de Yôga das universidades federais, estaduais ecatólicas, e é recomendado pela Confederação Nacional deFederações de Yôga do Brasil.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 8

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YÔGA, MITOS E VERDADES 10

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SUMÁRIO 

INTRODUÇÃO 1. A História do Yôga no Brasil (complementar com a leitura do posfácio

“Política del Yôga en el Brasil”.) ........................................................................17

YÔGA ,  MITOS E VERDADES 2. Resumo do que você vai encontrar neste livro .................................................233. Posicionamento: qual o nosso público e tipo de Yôga .......... .......... ........... .......254. Uma biografia sísmica.......................................................................................315. As Árvores e as Pedras.....................................................................................336. 1944 - O começo de tudo..................................................................................357. 1955 - Comecei a praticar Yôga...... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ...39

8. Comecei a lecionar Yôga ..................................................................................499. A primeira aula de Yôga.. .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... .........5310. A Revelação do Swásthya Yôga.......................................................................5711. O que é o Swásthya Yôga........ .......... ........... .......... ........... .......... ........... ..........6312. A mecânica do método......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ...7113. O Mestre ...........................................................................................................8514. Espiritualismo....................................................................................................9715. Magia ..............................................................................................................11116. Tantra..............................................................................................................12117. O princípio da polêmica......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ...........13518. Desisti de lecionar Yôga........ ........... .......... ........... .......... ........... .......... ...........14719. Uma profissão muito especial .........................................................................15720. Como surgiu o Curso de Formação de Instrutores ........... ........... ........... ........15921. Começam as viagens pelo Brasil ....................................................................17322. As viagens à Índia...........................................................................................181

23. Nasce a Uni-Yôga (União Nacional de Yôga / Universidade de Yôga) ...........21724. Introdução dos Cursos de Formação de Instrutores de Yôga nasUniversidades Federais, Estaduais e Católicas .......... ........... .......... ........... ....227

25. Histórias de Alguns Cursos .............................................................................23126. Cuidado: Bolsistas! .........................................................................................23727. Contos Pitorescos ...........................................................................................24328. 1978 - O 1º projeto de lei para regulamentação da profissão ........... ............ ..26129. “A yóga” é uma coisa e “o Yôga é outra bem diferente .......... ........... ........... ...27530. O incenso........................................................................................................287

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YÔGA, MITOS E VERDADES 12

31. A Medalha com o ÔM.......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... ..29532. A lenda do perfume Carezza...... ........... .......... .......... .......... ........... .......... .......30333. A História é só estória – não acredite nela!.. .......... .......... ........... .......... ..........30734. Em defesa da verdade e da justiça ........... .......... ........... ........... .......... ........... .31735. Vem, eu te quero comigo! ...............................................................................35536. Que pena! Chegamos ao fim ..........................................................................35737. Fim é o início ao contrário...............................................................................35938. Grupos de estudo............................................................................................36139. Curso de Leitura .......... ........... .......... ........... .......... ........... .......... ........... .........365

POSFÁCIO 

40. “Situación Política del Yôga en el Brasil”.......... .......... ........... .......... ........... .....375

EPÍLOGO AOS INSTRUTORES DE YÔGA  41. Herança Cultural do Swásthya Yôga ..............................................................38142. O que eu espero de você................................................................................38243. Quem vai dar prosseguimento à Obra ............................................................38444. Discípulos e indiscípulos .................................................................................38545. Que tipo de discípulo é você?.........................................................................38646. A Supervisão...................................................................................................39147. Recomendação definitiva................................................................................39548. Teste de admissão ao Yôga....... .......... ........... .......... .......... ........... .......... .......397

ANEXO Esta divisão não faz parte do livro, mas destina-se à divulgação da Obra do autor.

• Cursos com o Mestre DeRose na sua Cidade ......... ........... ........... .......... .......416• Como Contribuir para com a Nossa Obra ........... ........... .......... ........... ........... .425• Material Didático Disponível Nas Unidades da Rede DeRose........................427• Para que ser filiado à Uni-Yôga ......................................................................435• O que é a Universidade de Yôga ....................................................................437• Endereços de Instrutores Credenciados pelo Mestre DeRose........................446

PRO NUNCIE YÔGA COM Ô FECHADO  

Você vai ler inúmeras vezes a palavra Yôga no decorrer deste livro. O tempo todo o autor

escreveu Yôga, com ô fechado. Seria muito simpático da sua parte ler como propomos. Vocêainda levaria como brinde a recompensa de se tornar uma das pessoas mais bem informadas,que aprenderam a pronunciar corretamente o termo Yôga. Onde você encontrar a grafia "ayóga", vai notar que assim foi feito com bem humorada ironia, já que entre o Yôga e a yóga, hádiferenças abissais, semelhantes às que existem entre História e estória, ou entre Física eEducação Física, embora muita gente diga que foi "fazer física" quando se referia à ginástica.Você vai encontrar todas as explanações no capítulo A palavra Yôga tem acento?, mais para ofinal do volume. Em caso de dúvida sobre a pronúncia da palavra Yôga e demais termossânscritos utilizados no contexto, consulte o CD Sânscrito - Treinamento de Pronúncia ,gravado na Índia. 

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SUMÁRIO DO LEITOR Este sumário é para ser utilizado pelo leitor, anotando as passagensque precisarão ser localizadas para referências posteriores.

ASSUNTOS QUE MAIS INTERESSARAM PÁGINAS 

Ao ler, sublinhe os trechos mais importantes para recordar ou que suscitemdúvidas, a fim de localizá-los com facilidade numa releitura

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DEFINIÇÕES 

Yôga1

é qualquer metodologia estritamente prática queconduza ao samádhi.

Samádhi é o estado de hiperconsciência e autoconhecimento quesó o Yôga proporciona.

SwáSthya Yôga é o nome da sistematização do Yôga Antigo,Pré-Clássico, o Yôga mais completo do mundo . 

 As características principais do SwáSthya Yôga (ashtánga guna) são:

1. sua prática extremamente completa, integrada por oitomodalidades de técnicas;2. a codificação das regras gerais;3. resgate do conceito arcaico de seqüências encadeadas sem

repetição;4. direcionamento a pessoas especiais, que nasceram para o

SwáSthya Yôga;5. valorização do sentimento gregário;6. seriedade superlativa;7. alegria sincera;8. lealdade inquebrantável.

1 O acento indica apenas onde está a sílaba longa, mas ocorre que, muitas vezes, a tônicaestá noutro lugar. Por exemplo: Pátañjali pronuncia-se “Pat â njali ”; e kundaliní pronuncia-se“k ú ndaliní ”. O efeito fonético aproxima-se mais de “kún -dalin íí ” (jamais pronuncie “kundal í ni ”).Para sinalizar isso aos nossos leitores, vamos sublinhar a sílaba tônica de cada palavra. Se oleitor desejar esclarecimentos sobre os termos sânscritos, recomendamos que consulte oGlossário , do livro Faça Yôga antes que você precise . Sobre a pronúncia, ouça o CD Sânscrito - Treinamento de Pronúncia , gravado na Índia. Para mais conhecimentos, o ideal é estudar osvídeos do Curso Básico de Yôga . 

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DEMONSTRAÇÃO DE QUE A PALAVRA YÔGA TEM ACENTONO SEU ORIGINAL EM ALFABETO DÊVANÁGARÍ:Extraído do livro Faça Yôga antes que você precise , do Mestre DeRose. 

= YA (curta). 

= YAA ∴ YÁ (longa). 

= YOO* ∴ YÔ (longa). 

= YÔGA C.Q.D. 

* Embora grafemos didaticamente acima YOO, este artifício é utilizadoapenas para o melhor entendimento do leitor leigo em sânscrito. Devemosesclarecer que o fonema ô é resultante da fusão do a com o u e, por isso, ésempre longo, pois contém duas letras. Nesta convenção, o acento agudo éaplicado sobre as letras longas quando ocorre crase ou fusão de letras iguais

(á, í, ú ). O acento circunflexo é aplicado quando ocorre crase ou fusão deletras diferentes (a + i = ê; a + u = ô ), por exemplo, em sa+íshwara=sêshwara e AUM , que se pronuncia ÔM . Daí grafarmos Vêdánta . O acento circunflexonão é usado para fechar a pronúncia do ô  ou do ê , já que esses fonemas sãosempre fechados. Não existe, portanto, a pronúncia “véda ” nem “yóga ”.

BIBLIOGRAFIA PARA O IDIOMA ESPANHOL: Léxico de Filosofía Hindú , de Kastberger, Editorial Kier, Buenos Aires.

BIBLIOGRAFIA PARA O IDIOMA INGLÊS:Pátañjali Aphorisms of Yôga , de Srí Purô hit Swá mi, Faber and Faber,Londres.

BIBLIOGRAFIA PARA O IDIOMA PORTUGUÊS:

Poema do Senhor, de Vyasa, Editora Relógio d’Água, Lisboa.

Se alguém, supostamente entendido em sânscrito, declarar que a palavra Yôga não tem acento, peça-lhepara mostrar como se escreve o ô-ki-matra. Depois peça-lhe para indicar onde o ô-ki-matra aparece napalavra Yôga (ele aparece logo depois da letra y ). Em seguida pergunte-lhe o que significa cada uma das trêspartes do termoô-ki-matra. Ele deverá responder queô é a letrao ; ki significade ; ematra traduz-se comoacento . Logo, ô-ki-matra traduz-se como “acento do o ”. Então, mais uma vez, provado está que a palavraYôga tem acento.

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 “IMPRIMATUR”

AGRADECIMENTO AOS REVISORES 

Queremos deixar registrada nossa mais profunda gratidão peloscri-críticos que, com cinzeladas certeiras, lapidaram impiedosamente

o texto deste livro, tornando-o bem melhor.Cientes da responsabilidade que representa a edição de um livro, nãonos permitimos publicá-lo sem a “censura prévia” de uma Junta deNotáveis, entre os quais, dez professores de destacada autoridade.Além dessas opiniões profissionais, requisitei a crítica de algunsalunos de refinado senso para tornar-me ainda mais consciente dasexpectativas dos leitores leigos, que não estão vivendo a realidadeinterna do nosso ambiente cultural.

Com esta censura a priori, esperamos poupar trabalho aos questionadores deplantão e até mesmo alertá-los de que, muita coisa que não entenderem, oucom o que não concordarem, pode tratar-se apenas de opinião pessoal sua ouerro de interpretação, pois o texto desta obra já foi macerado e endossadopor um número de censores exigentes e de opinião ponderada:• Profa. Rosângela de Castro, Presidente da Federação de Yôga do Rio de Janeiro.• Mestre Sérgio Santos, Presidente da Federação de Yôga do Estado de Minas Gerais.• Profa. Nina de Holanda, Presidente da Federação de Yôga do Estado de São Paulo.• Profa. Solange Macagnan, Presidente da Federação de Yôga do Rio Grande do Sul.• Prof. Joris Marengo, Presidente da Federação de Yôga do Estado de Santa Catarina.• Profa. Maria Helena de Aguiar, Presidente da Federação de Yôga do Estado do Paraná.• Mestre Carlos Cardoso, Presidente da Federação de Yôga do Estado da Bahia.• Prof. Roberto Locatelli, Presidente da Associação de Professores de Yôga de São Paulo.• Prof. Mário Ferreira, professor de Língua e Literatura da Universidade de São Paulo – USP

 – co-autor do livro Introdução ao Sânscrito Clássico , que revisou o capítulo que resgata apronúncia correta da palavra Yôga.

• Cristina Locatelli, psicóloga.

A estes que revisaram, moderaram e, de certa forma, avalizaram o queaqui está escrito, nosso reconhecimento do fundo do coração.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 18

COMO NOSSOS LIVROS SÃO REVISADOS 

As publicações, em geral, são escritas por uma pessoa e revisadas por mais uma ou duas. Asnossas são revisadas e lapidadas por, literalmente, centenas de censores.

Para receber o aval da Universidade de Yôga, deve tratar-se de um livro com um índiceextremamente elevado de qualidade no conteúdo e, praticamente, ausência de erros deortografia, digitação ou diagramação.

O livro precisa atender aos requisitos abaixo, passando pelas seguintes etapas, a fim desatisfazer nosso coeficiente de qualidade:

1. O autor deve ser instrutor de Yôga formado e revalidado.2. Começará a escrever o livro ao passar para o nível de docente, o que ocorre quatroanos depois de formado.

3. Levará cerca de cinco anos escrevendo a obra e submetendo-a sistematicamente àapreciação do seu Supervisor.

4. Depois de concluída a obra, fornecerá o livro em disquete, durante, no mínimo, maisum ano, para a apreciação de seus colegas, instrutores de Yôga de graus mais elevadosque o seu.

5. Após receber as críticas e eventuais correções dos seus pares, procederá a umacriteriosa revisão da obra. Novamente submeterá ao seu Supervisor.

6. Quando o livro for considerado adequado pela ótica dos instrutores de Yôga, duranteoutros dois anos ou mais, o autor publicará o livro em forma de apostila, para fornecimentoaos praticantes das escolas de Yôga, a fim de receber os pareceres, agora sob a

perspectiva dos alunos. Pode ser que alguma frase esteja muito boa para um instrutor, masnão seja suficientemente clara para um estudante. Novamente submeterá ao seuSupervisor.

7. Só então, cerca de oito anos depois, e após infindáveis revisões realizadas porcentenas de pessoas, é que um livro nosso chega a ser editado em gráfica, com umatiragem regular de cinco a dez mil exemplares, e vai para as livrarias.

8. Mas ainda não terminou por aí. Normalmente, uma vez editado, um livro comum não émais alterado. Os nossos são melhorados novamente, pois agora são os leitores, leigos ounão, que emitem suas opiniões e nos informam onde é que o texto não está bastantedidático ou comunicativo. Então, na segunda edição o livro será polido mais um tanto.

É por isso que os livros com o selo da Uni-Yôga são impecáveis. Porque eles são obrasgregárias e cada qual contou com a participação de dezenas de instrutores, com as críticas decentenas de praticantes e com as impressões de milhares de leitores que nos ajudam comsuas cartas. É praticamente impossível que um erro de qualquer natureza passe por todo essecrivo. No entanto, caso você localize alguma falha em nossas publicações, imagine como são

os livros que não contam com todos esses cuidados!Não obstante, se encontrar algum termo ou construção inabitual, antes de tachá-lo comoincorreto, consulte um bom dicionário ou gramática, pois a maior parte das correções quecostumamos receber é indevida. Se confirmada a imperfeição, por favor, informe-nos a respeitopara que a obra possa ficar melhor a cada edição.

Estas linhas são para agradecer a você e a todos os que colaboraram ou venham a colaborarpara com o aprimoramento dos nossos livros.

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A HISTÓRIA DO YÔGA NO BRASIL Texto escrito na década de 70 pela Comissão Editorial do Prontuário de Yôga Antigo ,

atualizado com os eventos que ocorreram posteriormente.

Há muita estória mal contada, muita afirmação reticente sobre este temapolêmico. Os verdadeiros introdutores do Yôga no nosso país estão mortose há muito pouca gente disposta a defendê-los publicamente.

Afinal, quem foi o primeiro a ensinar Yôga no Brasil? De quem foi o primeirolivro de Yôga de autor brasileiro? Quem lançou a campanha para aregulamentação da profissão? Quem introduziu o Curso de Extensão Uni-versitária para a Formação de Instrutores de Yôga nas Universidades Fede-rais, Estaduais e Católicas? Quem fundou a Primeira Universidade de Yôga

do Brasil? Já está na hora de divulgarmos esses fatos.

QUEM INTRODUZIU O YÔGA NO BRASIL

Quem inaugurou oficialmente a existência do Yôga no Brasil foi SêvánandaSwámi, um francês cujo nome verdadeiro era Léo Costet de Mascheville.Ele colocava o termo sw ámi no final do nome, o que era uma declaração deque não se tratava de um swámi (monge hindu), mas que usava essapalavra como sobrenome, e isso confundia os leigos. Muitos desses leigosse referiam a ele como “Swámi” Sêvánanda, pois um dos mais relevantesMestres de Yôga da Índia, que viveu na época, chamava-se Swámi Si-vánanda.

Sêvánanda viajou por várias cidades fazendo conferências, fundou um

grupo em Lages (SC) e um mosteiro em Resende (RJ). Ele era um lídernatural e sua voz era suficiente para arrebatar corações e mentes. ComSêvánanda aprenderam Yôga todos os instrutores da velha guarda. Equando dizemos velha guarda , estamos nos referindo aos que lecionavamna década de 60, cuja maioria já partiu para os planos invisíveis.

Sêvánanda enfrentou muitos obstáculos e incompreensões durante suaárdua caminhada. Enfim, esse é o preço que se paga pelo pioneirismo.Todos os precursores pagaram esse pesado tributo.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 20

Ao considerar sua obra bem alicerçada e concluída, o Mestre Sêvánandarecolheu-se para viver em paz seus últimos anos. Todos quantos o conhe-ceram de perto guardam-lhe uma grande admiração e afeto, independen-temente dos defeitos que pudesse ter tido ou dos erros que houvesse co-metido, afinal, errar, erramos todos.

QUEM ESCREVEU O PRIMEIRO LIVRO DE YÔGA

Sêvánanda introduzira o Yôga sob uma conotação pesadamente mística eem clima de monastério. Quem iniciou o Yôga como trabalho profissional noBrasil, foi o grande Caio Miranda. Dele foi o primeiro livro de Yôga de autorbrasileiro. Escreveu vários livros, fundou perto de vinte institutos de Yôgaem diversas cidades e formou os primeiros instrutores de Yôga. Assimcomo Sêvánanda, Caio Miranda tinha forte carisma que não deixavaninguém ficar indiferente: ou o amavam e seguiam, ou o odiavam e perse-guiam.

Na década de sessenta, desgostoso pelas incompreensões que sofrera,morreu com a enfermidade que ceifa todos aqueles que não utilizam pújáem suas aulas, pois essa técnica contribui para com a proteção do instrutore os que não a aplicam ficam mais vulneráveis.

A partir da morte do Mestre Caio Miranda ocorreu um cisma. Antes, haviam-se unido todos contra ele, já que sozinhos não poderiam fazer frente ao seuconhecimento e ao seu carisma. Isso mantinha um equilíbrio de forças. De

um lado, um forte e do outro, vários fracos...Mas a partir do momento em que estava vago o trono, dividiram-se todos.Por essa razão, os nomes desses profissionais serão omitidos, pois nãomerecem ser citados nem lembrados. Pessoas que vivem falando de Deuse de tolerância, mas por trás semeiam a discórdia no seio do Yôga nãomerecem ser mencionadas. São exemplos de incoerência.

QUEM REALIZOU A OBRA MAIS EXPRESSIVA

Em 1960 surgiu o mais jovem professor de Yôga do Brasil. Era DeRose,então com 16 anos de idade, que começara a lecionar numa conhecidasociedade filosófica. Em 1964 fundou o Instituto Brasileiro de Yôga. Em1969 publicou o primeiro livro (Prontuário de Yôga Antigo ), que foi elogi-ado pelo próprio Ravi Shankar, pela Mestra Chiang Sing e por outras auto-

ridades. Em 1975, já consagrado como um Mestre sincero, encontrou oapoio para fundar a União Nacional de Yôga, a primeira entidade a congre-gar instrutores e escolas de todas as modalidades de Yôga sem discrimina-ção. Foi a União Nacional de Yôga que desencadeou o movimento deunião, ética e respeito mútuo entre os profissionais dessa área de ensino.Desde então, a União cresceu muito e conta hoje com centenas de Núcleos,praticamente no Brasil todo, e ainda em outros países da América Latina eEuropa.

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MESTRE DeROSE  21

Em 1978 DeRose liderou a campanha pela criação e divulgação doPrimeiro Projeto de Lei visando à Regulamentação da Profissão deProfessor de Yôga, o qual despertou viva movimentação e acaloradosdebates de Norte a Sul do país. A partir da década de setenta introduziuos Cursos de Extensão Universitária para a Formação de Instrutoresde Yôga em praticamente todas as Universidades Federais, Estaduais eCatólicas. Em 1980 começou a ministrar cursos na própria Índia e a lecionarpara instrutores de Yôga na Europa. Em 1982 realizou o PrimeiroCongresso Brasileiro de Yôga. Ainda em 82 lançou o primeiro livrovoltado especialmente para a orientação de instrutores, o Guia do Instrutor 

de Yôga ; e a primeira tradução do Yôga Sútra de Pátañjali , a maisimportante obra do Yôga Clássico, já feita por professor de Yôga brasileiro.Desafortunadamente, quanto mais sobressaía, mais tornava-se alvo de umaperseguição impiedosa movida pelos concorrentes menos honestos quesentiam-se prejudicados com a campanha de esclarecimento movida peloMestre DeRose, a qual dificultava as falcatruas dos vigaristas2. Em 1994,completando 20 anos de viagens à Índia, fundou a Primeira Universidadede Yôga do Brasil e a Universidade Internacional de Yôga em Portugal ena Argentina. Em 1997 o Mestre DeRose lançou os alicerces do ConselhoFederal de Yôga e do Sindicato Nacional de Yôga. Comemorando 40anos de magistério no ano 2.000, recebeu em 2.001 e 2.002 oreconhecimento do título de Mestre em Yôga (não-acadêmico) e NotórioSaber em Yôga pela FATEA – Faculdades Integradas Teresa d’Ávila (SP),

pela Universidade Lusófona, de Lisboa (Portugal), pela Universidade doPorto (Portugal), pela Universidade de Cruz Alta (RS), pela UniversidadeEstácio de Sá (MG), pela Câmara Municipal de Curitiba (PR) e pelaSociedade Brasileira de Educação e Integração, a qual também lhe conferiuuma Comenda. Em 2.003 recebeu outro título de Comendador, agora pelaAcademia Brasileira de Arte, Cultura e História. Em 2004 recebeu o grau deCavaleiro, pela Ordem dos Nobres Cavaleiros de São Paulo, reconhecidapelo Comando do Regimento de Cavalaria Nove de Julho, da Polícia Militardo Estado de São Paulo.

Por lei estadual, em São Paulo, Paraná e Santa Catarina, a data doaniversário do Mestre DeRose, 18 de fevereiro, foi decretada como o Dia do Yôga em todo o Estado.

Todas essas coisas foram precedentes históricos. Isso fez do Mestre DeRose

o mais discutido e, sem dúvida, o mais importante Mestre de Yôga do Brasil,pela energia incansável com que tem divulgado o Yôga nos últimos 40 anosem livros, jornais, revistas, rádio, televisão, conferências, cursos, viagens e

2 A esse respeito, leia as denúncias publicadas nos livros Encontro com o   Mestre  e Aregulamentação dos Profissionais de Yôga , os dois de autoria do Mestre DeRose.Denúncias essas, jamais contestadas.

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formação de novos instrutores. Formou mais de 5.000 bons instrutores eajudou a fundar milhares de centros de Yôga, associações profissionais eFederações, Confederações e Sindicatos de Yôga, no Brasil e noutrospaíses.

Sempre exigiu muita disciplina e correção daqueles que trabalham com oseu método de Yôga Antigo, o Swásthya Yôga, o que lhe valeu a reputaçãode perfeccionista, bem como muita oposição dos que iam sendo reprovadosnas avaliações das Federações lideradas por ele.

Defende categoricamente o Yôga Antigo, pré-clássico, pré-vêdico, denomi-

nado Dakshinacharatántrika-Niríshwarasámkhya Yôga, o qual sistematizoue denominou Swásthya Yôga, o Yôga Ultra-Integral.

Exemplo de seriedade, tornou-se célebre pela corajosa autocrítica com quesempre denunciou as falhas do métier, sem todavia faltar com a ética pro-fissional e jamais atacando outros professores. Isso despertou um novoespírito, combativo e elegante, em todos aqueles que são de fato seus dis-cípulos.

O PRATICANTE DEVE TER OPINIÃO PRÓPRIA

Quem pratica Yôga ou filosofias correlatas, tem que ter opinião própria enão deixar-se influenciar por especulações sem fundamento.

Dois dos Mestres aqui mencionados já são falecidos e foram cruelmenteincompreendidos enquanto estavam vivos. Será que teremos de esperarque morram todos para então lamentarmos a sua falta? Será que vamoscontinuar, como sempre, sujeitando os precursores à incompreensão, injus-tiça e desapoio para louvá-los e reconhecer seu mérito só depois de mor-tos?

Ass. Comissão Editorial 

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DOCUMENTAÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE RECONHECIDO POR DIVERSAS ENTIDADES 

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CAPÍTULO PRIMEIRO 

APANHADO GERAL DO QUE VOCÊ VAI ENCONTRAR NESTE LIVRO .

Escrevi este livro pensando em você que está agora com um exemplar emsuas mãos. Trate de gostar dele, pois deu um trabalhão e, além disso,estaremos juntos por um bom tempo durante a leitura!

Mesmo que você não se interesse por Yôga, este livro deverá contribuirpara com a sua ilustração e cultura geral, uma vez que relata inúmerasexperiências, viagens, encontros com homens notáveis e situaçõesinauditas.

Se você gosta de crônicas, leia os capítulos  As Árvores e as Pedras, UmaViagem aos Himalayas e A lenda do perfume Carezza. Se gosta de drama,leia Espiritualismo, O Princípio da polêmica e Histórias de alguns cursos.Se quer rir, leia Como comecei a lecionar, Contos pitorescos e Regulamentação da profissão. Se quer filosofia, leia Tantra. Ocultismo,você encontra no capítulo  Magia e na extensa nota sobre Egrégora. Seprocura aprender a nossa técnica e fundamentação, leia os capítulos O queé o Swásthya Yôga e  A mecânica do método. Se deseja aventura, leia  Asviagens à Índia. Perplexidade, você terá em A História é só estória. Mas oideal é ler os capítulos na ordem em que vão se sucedendo.

Nas próximas páginas você vai saber qual é a nossa proposta, a que

público destina-se, que tipo de Yôga ensinamos. Não deixe de lê-las!Uma coisa já posso esclarecer aqui mesmo. Este não é um livro didáticocomo o   Faça Yôga antes que você precise, no qual ensino técnicascorporais, respiratórios, mantras, meditação, relaxamento, etc.  Neste, aidéia é só conversar um pouco, descontraidamente, com meus amigos.Contar uns casos, registrar para a posteridade o trabalho já realizado, definir

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parâmetros para os que vão prosseguir com a nossa obra nas geraçõesfuturas...

Certamente você não gostará de alguns trechos. Não se acanhe: salte-os econtinue a leitura mais adiante. Dobre a página que não foi lida, paravoltar a ela outro dia. Como este trabalho foi escrito para dizer "umasverdades", o leitor estereotipado de Yôga não vai ficar satisfeito com essacaracterística da obra. Ele ficaria mais contente se o autor dissesse queestá sempre tudo bem, se pintasse tudo com a cor-de-rosa do mito. Sinto

muito, mas desta vez trata-se de um texto denunciante.Para abrandar a impressão cáustica que tais passagens possam produzir,vou-lhe ensinar um truque: quando alguma frase incomodar pelafranqueza, lembre-se de que somos pessoas felizes e não temos nada areclamar da vida. Em nenhum momento houve amargura nemressentimento ao relatar os fatos denunciados neste livro. Quem ouviutais relatos pessoalmente do autor, percebeu que tudo foi dito com humorameno e até divertido, como acontece quando alguém conta a um amigoos percalços do passado e ambos se riem das situações embaraçosas.

Um hábito de quem viveu do magistério é dizer as coisas mais de umavez. Agüente firme, pois vou repetir mesmo. Assuntos que tenham poucaimportância, vou redizer umas duas vezes. Os que tiverem maiorimportância, mais vezes. Só posso lhe prometer que farei o possível pararepetir com abordagens diferentes.

Às vezes, ao escrever, excedo-me na eloqüência. Por isso, quero deixarbem claro que não desejo convencê-lo de coisa alguma. Interprete minhaspalavras apenas como dados adicionais para a sua informação. Não mudede opinião.

Repudio o proselitismo já que não me interessa ter gente pouco lúcida àminha volta. Vou simplesmente expor meus pontos de vista. Se vocêsintonizar com eles, caminharemos juntos. Caso contrário, terá sido umaexperiência a mais e separar-nos-emos enriquecidos. Tanto num casoquanto no outro, terei satisfação em receber um feed-back seu. Será umamaneira de sentir que valeram a pena as madrugadas que passei em claro,durante anos, escrevendo, revisando e polindo este livro para você.

Se, contudo, no final da leitura, houvermos nos identificado – que ótimo!– ambos teremos ganho um amigo do peito e um bom parceiro para estafesta que é a vida.

Bem, vire a página, que tem muito papel pela frente.

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POSICIONAMENTO 

QUAL É O NOSSO PÚBLICO 

Especializamo-nos num público jovem, saudável, descontraído, culto ede bem com a vida. Assim são os praticantes de Swásthya Yôga3.

Outras correntes especializaram-se em senhoras, idosos, crianças,gestantes, espiritualistas, alternativos ou em terapia. O tipo de trabalhoque desenvolvemos não serve para essas pessoas. Entenda esteprocedimento como especialização profissional e não comodiscriminação.

A RAZÃO DE TERMOS NOS ESPECIALIZADOS NESSE PÚBLICO 

Adultos jovens, saudáveis e cultos são o público mais refratário a doutri-nações e manipulações. São, portanto, pessoas inteligentes, nas quaispodemos confiar para a consecução do nosso trabalho. Queremos,também, precaver-nos a fim de que nenhum detrator invejoso possa  jamais nos acusar de estar catequizando ou manipulando os alunosdaquelas faixas mais vulneráveis (como costumam fazer alguns

3 No sânscrito é preferível grafar Svásthya, com v . No entanto, depois de insistir nisso durante30 anos de magistério, sou obrigado a reconhecer que essa grafia induz as pessoas de algunspaíses a pronunciar, erradamente, “isvástia”. Além do mais, durante todos esses anos, umnúmero expressivo de instrutores formados por mim persistia em grafar com w  ao escreverseus textos. Para culminar, na Índia falante do idioma hindi, o v  medial, entre um s  e umavogal, ganha o som similar ao da letra u e é substituído por w , o que influencia massivamenteos leitores, alunos e até instrutores de Yôga. Portanto, para nós, por uma questão detolerância, tanto faz escrever Svásthya ou Swásthya .

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ensinantes que, ao contrário, preferem exatamente aquelas pessoas queestão suscetíveis).

NOSSO YÔGA ABOMINA O MISTICISMO, CULTIVA O CORPO E A ALEGRIA DE VIVER 

Existem 108 ramos de Yôga e, ainda, a possibilidade de que cada umdeles pertença a uma das quatro grandes linhas, o que poderia chegar amais de 400 interpretações, diferentes e divergentes, surgidas em

culturas distintas, desenvolvidas por várias etnias mutuamente hostisao longo de 5.000 anos de história indiana! Daí, as contradições entreescolas e as controvérsias entre professores. No decorrer deste livrovamos procurar esclarecer uma boa parte dessa babel. Antes disso,porém, fazemos questão de que você saiba onde está se metendo.

Pela palavra Yôga a gente pode estar se referindo a muitas coisas, quenão têm nada a ver umas com as outras. Por isso é costume dosautores, desde a Antiguidade, iniciar seus textos pela conceituaçãodaquilo que entendem por tal vocábulo. Esta é a minha definição:

Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduza aosamádhi. Mais tarde haveremos de ter oportunidade para explicar issomelhor.

Nossa linhagem é naturalista, técnica, sensorial e desrepressora. Suadenominação ortodoxa em sânscrito é Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga. Isso quer dizer que repudiamos omisticismo, cultivamos o corpo e enaltecemos o prazer, o conforto, obem estar e a liberdade. Celebramos a descontração, a alegria, asexualidade sadia, a prosperidade, o sucesso sócio-econômico.Execramos a repressão, a alienação e as lavagens cerebraisperpetradas por umas quantas filosofias que se declaram afins com oYôga, conquanto, na verdade, não o sejam.

Nossa estirpe é a mais antiga. Seguimos a tradição pré-clássica, pré--ariana, pré-vêdica e proto-histórica. Por ser a mais antiga, reputamo-la como a mais autêntica. De qualquer forma é, de longe, a maiscompleta que existe. Por isso, o Swásthya Yôga é qualificado como oYôga Ultra-Integral.

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Vamos precisar abordar todos os aspectos do nosso trabalho, o qualinclui o desenvolvimento de chakras, kundaliní, siddhis e aquisição deestados de consciência como o samádhi, que conduz aoautoconhecimento. No entanto, por uma questão de coerência com asnossas raízes, nenhum desses temas terá conotação espiritualista4.

Aliás, para evitar falsas imagens muito exploradas por charlatães,vamos classificar o nosso trabalho como de Yôga não-espiritualista 5,apesar de irmos muito além. Na esfera corporal, seguindo a mesma

linha de raciocínio, não trabalhamos com terapia. É fato consumado ede conhecimento público, que o Yôga em sua fase inicial tem umpoderoso efeito sobre a saúde, o qual pode ser facilmente conduzidopara uma interpretação terapêutica. Questão de opinião. Respeitamosquem defende esse ponto de vista, mas preferimos não adotá-lo.

DEVOLVENDO AO YÔGA SUA DIGNIDADE ORIGINAL O Yôga sempre foi uma disciplina restrita a um seleto grupo deiniciados e isso manteve sua qualidade através dos séculos.

Até nas escrituras da Antiguidade havia aconselhamento de que sepreservasse essa sua característica, como é o caso do Maitrí 

Upanishad, ao afirmar: "Esta ciência absolutamente secreta só deveser ensinada a um filho ou a um discípulo totalmente dedicado ao seuMestre." Ou do Hatha Yôga Pradípika que manda praticar Yôga numaposento sem janelas e longe dos olhares curiosos.

4 Não confunda espiritualismo com espiritualidade. A espiritualidade é um patrimônio do serhumano. O Yôga de qualquer modalidade, desde que autêntico, desenvolve a espiritualidade.Espiritualismo é a institucionalização da espiritualidade, ou o sistema que toma por centro oespírito em contraposição à matéria, baseando-se no conceito da dicotomia entre corpo e almacomo coisas separadas e oponentes. 

5 A espiritualidade é uma função biológica. É como a digestão. Todos a temos: uns, melhor;outros, nem tanto. O Yôga a aprimora. Contudo, ficar com fixação sobre isso é sinal dedistúrbio psicológico. Você só pensa na sua digestão quando ela não está funcionando bem. Éa mesma coisa com a espiritualidade. Imagine alguém lendo livros sobre digestão, indo aconferências sobre digestão, debatendo sobre digestão e seguindo Mestres de digestão! Essapessoa deve ser doente da função digestiva... Quem assiste a palestras sobre espiritualidade,lê livros sobre esse tema, debate-o, ou segue Mestres espirituais, por analogia, também deveser uma pessoa doente da espiritualidade. Caso contrário, desfrutaria dela com naturalidade ea aprimoraria com discrição. [Quando afirmamos que a espiritualidade é uma função biológica,estamos utilizando este termo num sentido amplo, estendendo-o para até onde exista a vida,bios , e não o limitamos ao âmbito corporal.]

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Yôga e que os instrutores de melhor formação só consentiamproporcionar a contragosto.

Por que opunham-se eles a que o público buscasse o Yôga com essasexpectativas? O Yôga não produz mesmo tais efeitos? Produz. Porém,a proposta não é essa. Esses benefícios são um acidente de percurso,uma mera conseqüência. Tais objetivos apequenam o Yôga. Ele émuito maior e mais nobre. Quem só tem semelhantes expectativas nãodevia procurar o Yôga e sim alguma outra especialidade.

Entretanto, não havia coisa alguma que pudéssemos, em sãconsciência, recomendar. Nada era tão eficiente quanto o Yôga paratodas aquelas finalidades menores. Então, estruturamos para essepúblico um método especial, que não envolve filosofia, ideologia nemcompromissos. Nada disso. É algo descomplicado, que produz efeitosimediatos e não tem os defeitos ou inconvenientes das outrasmodalidades.

Trabalhamos nesse projeto durante dez anos até que ficasse comodevia. Aí começou o período de testes, o qual levou mais seis anos. Éimpressionante como coisas tão simples podem exigir um trabalho

longo e extenuante, se quisermos que seja algo sério. Em 1990lançamos o método Bio-Ex (Bio-Exercícios), que serve tanto para ossimpatizantes do Yôga, como preparatório, quanto para aqueles quenão gostam e jamais praticariam Yôga – por simples desinformação.

Assim, conseguimos o que desejávamos: proteger o Yôga contra asinvestidas de curiosos e mais curiosos, muitos dos quais passavam alecionar essa matéria sem ter formação, nem a mínima capacitaçãotécnica, cultural ou moral. Bastava abrir as portas e o seu negócio iriadar bons lucros, pois o Yôga tem uma extensa legião de admiradoresincondicionais.

Com o implemento do Bio-Ex, tornou-se realmente mais difícil oacesso ao Yôga, mas, em compensação, o público está mais bemservido ao usufruir dos benefícios que busca. Os professores, pornosso lado, ficamos mais à vontade para lidar com efeitos menoressem comprometer a nobreza do Yôga.

E, sendo o estágio preparatório uma especialidade da nossa profissão,mantemo-nos dentro dos rígidos princípios éticos que recomendam ao

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instrutor de Yôga não lecionar outras disciplinas. Essa questão decompatibilidade será explicada nos capítulos Egrégora e Bio-Ex.

Apesar da tônica de desmitificação e do caráter categórico dascolocações, espero só despertar em você sentimentos positivos.

Enfim, tudo isso e muito mais, você vai descortinar neste livro.Saboreie-o com sensibilidade. Penetre em suas entrelinhas e naveguecomigo pelas peripécias de uma vida dedicada ao Yôga!

NOTA DO CAPÍTULO 

Crianças – é uma responsabilidade muito grande trabalhar com crianças em qualquer área. NoYôga é mais problemático, pois as recomendações comportamentais poderiam entrar emchoque com as dos pais. Além disso, um adulto é menos sujeito a acidentes. Criançasconseguem se machucar até dentro do próprio apartamento, com os pais ao lado. Contudo,mesmo que um adulto sofresse um acidente, causaria menos comoção. Não podemos colocaruma escola de Yôga em risco.

Idosos – são mais frágeis e mais propensos a sofrer algum problema em sala de prática.Também não conseguem acompanhar as técnicas mais eficientes, obrigando o instrutor arestringir-se a uma aula “água-com-açúcar”, o que desmotiva o profissional e também não levaa parte alguma. Finalmente, o idoso já fumou ou bebeu ou manteve outros hábitos prejudiciaisdurante 60 ou 70 anos. Isso compromete seriamente os resultados deste método. Fora isso, émuito raro encontrar um idoso que não esteja também enfermo. O próprio autor, que escreveestas palavras, brevemente será bisavô (portanto, está excluída a possibilidade dediscriminação!) e, mesmo com a prática do Yôga, observa em seu corpo as mudançasbiológicas naturais dessa faixa etária.

Enfermos – são pessoas que necessitam desesperadamente de alívio para o seu sofrimento eanseiam por uma esperança de cura. São vulneráveis às promessas dos charlatães e nãoqueremos que nenhum instrutor de SwáSthya se imiscua nesse território. Outro fator de risco éque podem sofrer um achaque a qualquer momento, em qualquer lugar. Se um idoso ou umenfermo morre dentro de um ônibus, não passa pela cabeça de ninguém querer processar omotorista ou pedir uma lei que proíba os ônibus de circular. No entanto, se ele falecer numaaula de Yôga, não temos dúvidas de que poderão querer acusar o professor ou o próprio Yôga.

Gestantes – também constituem uma grande responsabilidade, especialmente numa

sociedade carregada de desinformação e preconceitos. Se a gestante perder a criança,ninguém vai reconhecer que foi por qualquer outro motivo, como ter montado a cavalo navéspera. Vão acusar o Yôga. E nós não queremos deixar margem para que ninguém ataque anossa profissão.

Espiritualistas – são pessoas boas, que têm uma tendência a crer. Não queremos pessoasque creiam no que estamos ensinando. Queremos pessoas que saibam, que conheçam, queestudem, que possuam um acervo de documentação e fundamentação suficientes para quenossas propostas sejam levadas a sério.

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UMA AUTOBIOGRAFIA SÍSMICA Hay que endurecer-se,

pero sín perder la ternura, jamás! Che Guevara

É inegável a necessidade de registrar e tornar pública a verdadeirahistória do surgimento desta revolução cultural que está ocorrendo noYôga, nos albores do terceiro milênio. Essa revolução tem comoproposta uma volta às origens, conseqüentemente, devolver ao Yôgasua força e brilho originais.

Como está sendo feito isso? Baseado em quê? Será um movimentoautêntico ou equivocado? Isso tudo vou tentar esclarecer um poucomais nesta obra.

Fui o epicentro involuntário do terremoto providencial que trouxe àsuperfície tesouros arqueológicos do Yôga pré-clássico, de valorincalculável. Para que se compreenda o Swásthya Yôga é precisotravar contato com a história legítima dos acontecimentos que lhederam origem, ano após ano, acaso após acaso... mas sem o venenomordaz do "ouvi dizer"; sem a informação eventualmente distorcidados rumores veiculados por pessoas que não chegaram a conhecer o

nosso trabalho.Portanto, urge que esclareçamos tudo isso em vida, uma vez que asversões desencontradas são muitas, confusas e falsas. Elas surgiram justamente pela falta deste relato, apresentando, em primeira mão, aversão mais correta: a daquele que viveu os fatos e não as daquelesque ouviram dizer .

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Não escrevi antes por ser muito jovem e não estar amadurecido osuficiente para relatar estes fatos, alguns deles chocantes, com umaabordagem despojada o bastante para dizer tudo sem orgulho nemmodéstia, sem mágoas nem rancores, e imparcial, na medida dopossível, para não deixar o emocional influenciar demais.

Agora, com mais de meio século de vida, 38 anos de magistério7, 23anos de viagens à Índia, doze livros publicados, mais de 200 Unidadesna nossa União Internacional de Yôga e milhares de instrutores de

Yôga formados nas Universidades Federais, Estaduais e Católicas dequase todos os Estados do Brasil e em outros países, sinto-me apto acontar como isso tudo começou. E como acho que vai terminar.

7 Dados de 1998.

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AS ÁRVORES E AS PEDRAS 

Era uma vez um menino cheio de idéias estranhas. Ele achava que oinfinito era pequeno e que o eterno era curto. Conversava com asÁrvores e com as Pedras, e se emocionava com elas, pela magnitudedo que lhe contavam. Um dia as Árvores lhe disseram:

– Sabe? No nosso Universo cada uma de nós cumpre o que lhe cabe,pela satisfação de fazer assim. Nenhuma de nós se exime da sua parte.Os humanos passam suas vidas a só fazer coisas que lhes resultem em

conflitos, infelicidade e doença. Não fazem o que realmentegostariam. Caem no cativeiro da civilização, trabalham no que nãogostam para ganhar a vida e perdem-na, em vão, ao nada fazer debom. Por isso tornam-se rabugentos, envelhecem e morreminsatisfeitos. Procure você viver feliz como nós, pois alimentamo-nos,respiramos e reproduzimo-nos, de acordo com a Natureza. Assim,quando morremos, na verdade continuamos vivas em nossas sementese crescemos de novo. Vá e ensine isso aos que, como você, podemouvir nossas palavras. Fará muita gente feliz, livre da escravidão dahipocrisia.

O garoto ainda era pequeno para saber a extensão do que lhe

propunham as Árvores, mas concordou em levar essa mensagem aoshomens. Entretanto as Pedras, que até então tinham-se mantido muitoquietas, começaram a falar e disseram coisas aterradoras!

Uma Pedra maior e coberta de musgo, o que lhe conferia um ar anciãoe sacerdotal, tomou a frente das demais e falou fundo, ecoando dentroda sua alma:

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– Não, você não deve cometer a imprudência de levar aos homens amensagem das Árvores. Nós somos Pedras frias e friamente julgamos.Estamos aqui há mais tempo que elas e temos visto o transcorrer destapequena História Universal dos humanos. Antes de você, muitosreceberam essa mensagem e foram incumbidos, por elas, de recuperara felicidade que os hominídeos perderam ao ignorar as leis naturais.Todos quantos tentaram ajudar a humanidade foram perseguidos,difamados e martirizados. Cada um conforme os costumes de sua

época: crucificados em nome da justiça, queimados em praça públicaem nome de Deus e tantos outros martírios pelos quais você mesmo jápassou várias vezes e se esqueceu... Hoje você pensa que não corremais perigo e aceita tentar outra vez. Quanta falta de senso! Quandocomeçar a dizer as coisas que as Árvores transmitiram, vão primeirotentar comprá-lo. Se você não sucumbir ao tilintar dos trinta dinheiros,então precisará ser realmente um forte para permanecer de pé, poispassarão a agredi-lo de todas as formas.

Mas o menino respondeu prontamente. Tomou um ramo em uma dasmãos e uma pedra na outra, e bradou:

– Este é meu cetro. E este, o meu orbe. Com o vosso reino elementalconstruirei nosso santuário e nele reunirei aqueles que forem capazesde ouvir e de compreender. As rochas manterão do lado de fora osincapazes e as toras aquecerão, do lado de dentro, os quereconhecerem o valor deste reencontro.

As Árvores e as Pedras emudeceram. Depois as Árvores o ungiramcom o orvalho sacudido pela brisa, e as Pedras depositaram em suasmãos o musgo primevo que lhes vestia, como que a abençoá-lo.

Nesse momento, os raios do Sol eram difusos por entre os ramos e anévoa da manhã. O menino olhou e compreendeu: se a luz fosseexcessiva não ajudaria a enxergar, mas ofuscaria o entendimento.Então, agradeceu aos ramos e à névoa. E mesmo às Pedras que ofaziam tropeçar para torná-lo mais atento aos caminhos que percorria.E amou a todos... até aos homens!

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1944 - O COMEÇO DE TUDO 

As primeiras duas coincidências que marcaram minha vida no Yôgaocorreram no dia do nascimento. Esta personam veio ao mundo no dia18 de fevereiro, dia e mês do aniversário de Rámakrishna  –   um dosmais importantes Mestres de linha Dakshinacharatantrika (via seca) doséculo XIX e início do século XX  – sob o signo de Aquarius, comascendente Aquarius. Encarnei em 1944, cento e oito anos após onascimento de Rámakrishna. No Yôga e no Hinduísmo o número 108

tem significado especial: o japamala tem 108 contas, existem 108tipos de Yôga, etc. O número 1 representa o praticante; o oito, aprática (que é constituída por oito partes); e o zero é o círculo doAbsoluto, Infinito.

Para quem gosta de malabarismos numerológicos, é interessante notarque o nove, número da Iniciação, marca presença na soma e reduçãodos números mencionados:

• dia 18 = 1+8 = 9;

• ano de 1944 = 1+9+4+4 = 18∴ 18 = 1+8 = 9;

• 108 anos = 1+0+8 = 9.

O número 18, que se reduz para 9, é citado no Bhagavad Gítá, natradução de Roviralta Borrell: “O número de carros de um exército,segundo aqueles que conhecem a ciência dos cálculos, é de 21.870(2+1+8+7+0 = 18 ∴ 1+8 = 9); o número de elefantes é idêntico;109.350 (= 18 ∴ 1+8 = 9) é o número de soldados a pé; e 65.610 (=18∴ 1+8 = 9) é o número de cavalos.”

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YÔGA, MITOS E VERDADES 42

Já o número 9 aparece nos ciclos cósmicos de tempo do hinduísmo, asaber:

• 1 mahayuga corresponde a 4.320.000 anos solares (4+3+2 = 9);

• 71 mahayugas constituem o período de um manú e correspondem a306.720.000 anos (3+0+6+7+2 = 18∴1+8 = 9);

• 1000 mahayugas constituem um kalpa ou dia de Brahma e correspondem a4.320.000.000 anos (4+3+2 = 9).

Tudo isso8 contribuiu para que os reencarnacionistas começassem a

imaginar coisas. Nossa linhagem é de raiz Sámkhya, e mais,Niríshwara-Sámkhya. Portanto, pessoalmente, não concordo cominterpretações místicas. Há, no entanto, ritmos cósmicos que osantigos conheciam e que a ciência ocidental ainda não estudou.

Acontece que as coincidências não pararam por aí. Meu pai, Orlando,era descendente da nobreza européia, razão pela qual usa-se o  D maiúsculo no sobrenome  DeRose. Consta que a família tem suaorigem na França. Durante a Revolução Francesa, devido àsperseguições que a nobreza sofreu, foi obrigada a fugir para a Itália edali para o Brasil. O nome era originalmente  De Rosæ termo latinoque se traduz por “  pertencente ou  referente à rosa”. O símbolo dosDeRoses é, obviamente, a rosa heráldica. Meu pai casou-se com a filhade uma família aristocrática do Rio de Janeiro, os Alvares, origináriosde Aveiro, Portugal, cujo símbolo era a cruz. Estava formado osímbolo da Rosacruz, o que deu margem a mais interpretações.

Assim, se algumas pessoas vieram a fazer oposição ao nosso trabalho,outras me apoiaram muito mais do que merecia, por acreditarem quehavia algum significado nessas coincidências.

Tais circunstâncias foram muito significativas para a formação docaráter em questão. Por outro lado, a educação recebida da família emque nascera contribuiu para criar uma falta de diálogo entre mim e o

mundo real.

8 Por mera coincidência nossa sede de Copacabana, sala 306, foi inaugurada no dia 27 desetembro de 1971 às 18 horas: dia 27 (2+7 = 9); mês de setembro (9); ano 1971(1+9+7+1 = 18∴1+8 = 9); a soma do dia com o mês resulta 9; o dia com o ano resulta 9; o mês com o ano resulta9; o dia com o mês com o ano resulta 9; e outra data que dê o mesmo resultado só ocorre a cada 9anos.

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MESTRE DeROSE  43

Desde a infância, como era de se esperar, surgiram alguns problemasde ajustamento cultural. No colégio havia uma flagrante diferença devocabulário entre o que aprendera no seio da família e a linguagemmais popular que escutava dos colegas e professores9.

Esse fato acentuava a desagradável sensação de ser diferente. Somentedepois dos trinta anos de idade, conheci um provérbio que diz:diferente não é gente. Lembrei-me da Revolução Francesa e de outrasrevoluções, e decidi ser gente, igual a todo o mundo. Simplifiquei o

vocabulário, permiti-me alguns erros consagrados pelo uso coloquial epronto: comecei a ser aceito por todos. O mimetismo funcionararazoavelmente. Apesar de persistir eventualmente o estigma de avisrara, daí para a frente as coisas melhoraram bastante10.

9 Não poucas vezes coleguinhas da mesma idade perguntaram se eu era estrangeiro, pela

linguagem utilizada na infância, a qual soava-lhes insólita e pouco inteligível. Recentemente,em uma das muitas viagens pelo Brasil, precisei alterar o roteiro e recorri diretamente àcompanhia aérea. Mas o funcionário que atendeu não conseguia compreender e em dadomomento concluiu que quem falava com ele não podia ser brasileiro: "Cavaleiro , o poblema é alíngua. O senhor não comprende bem o português."

10 Até hoje, quanto mais inculta a pessoa, mais nos faz oposição. O repúdio é inversamenteproporcional à cultura do observador. Pessoas menos intelectualizadas, rejeitam nossaspropostas sistematicamente, até mesmo porque não conseguem sequer escrever ou verbalizarcorretamente o nome do Swásthya Yôga. E quanto a este pormenor, se o povo consegue pediruma tônica Schweppes, muito mais fácil é pronunciar a palavra Swásthya.

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 O BRASÃO 

Substitui o brasão de família, a divisa heráldica perfeita, verdadeira, inquirente, assumida efalante, acima, constituída por um escudo francês esquartelado por uma cruz chã de ouro, comuma rosa heráldica goles em ponta de honra, sendo a cruz sobre campo blau. O escudo cobreparcialmente um facho prata, aceso com uma flama goles. Na filactera, a legenda: De Rosae Spiritv Provenio . A representação das cores por símbolos foi sacrificada.

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1955 – COMECEI A PRATICAR YÔGA 

Certamente comecei a praticar muito antes de 1955. Mas nessa épocaconscientizei-me de algo que nós garotos sabíamos e que os adultosnão sabiam mais. Não compreendia como podiam desconhecê-lo, poistambém haviam sido pequenos. Para aumentar a perplexidade,observara que mesmo os outros meninos iam crescendo e"esquecendo".

Uma vez amadurecido, isso se tornou bem mais compreensível. Todacriança pratica Yôga como dádiva natural dos seus instintos: executarespiração abdominal e completa, senta-se em ásana, concentra-se tãobem a ponto de fazer inveja, relaxa melhor que os instrutores de Yôga,entra em pratyáhára (abstração dos sentidos externos) com perfeição,

brinca com mantras (vocalizações) e muitas têm percepções extra-sensoriais. Obviamente, isso ainda não chega a ser um Yôga formal,porém, havemos de convir, é um excelente começo!

Depois, a educação imposta pela sociedade, de fora para dentro, incuteuma série de repressões que na verdade deseducam a pessoa, fazendo-a afastar-se de si mesma, da sua natureza e dos seus impulsos internos:numa palavra, apartando-a do Yôga natural com o qual todos nóscontamos de forma incipiente ao nascer. Anos depois, os maisafortunados contratam um instrutor de Yôga para lhes ensinar tudooutra vez!

Sortudos mesmo são os que não esqueceram seu Yôga natural,instintivo, da infância. Descobri isso quando, lá pelos dez anos, noteique a maioria dos amiguinhos já tinha se deslembrado de quase tudo.Consegui, com certa dificuldade, encontrar alguns que ainda serecordavam e formamos a bisavó da União Nacional de Yôga, Uni-Yôga:

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YÔGA, MITOS E VERDADES 46

tratava-se da UniCren, união de todas as crenças. Era uma uniãosecreta, coisa de criança, sem dúvida. Contudo, no meio vinha muitacoisa boa. Estudávamos arqueologia, história, química, ocultismo,astronomia, hipnose, ufologia e artes-marciais. Como tínhamos todosem torno de dez aninhos, não conseguimos ir muito longe nessesestudos. Mas essa fase ajudou a galgar a próxima etapa.

O outro período digno de nota foi o início de 1960. Graças à literaturaque debulhávamos na nossa confraria juvenil, tive acesso ainformações rudimentares sobre Yôga. Por essa época um campeãomundial de mergulho livre batia recordes de profundidadeconsiderados impossíveis para o organismo humano. Era JacquesMayol, sobre cuja vida foi realizado o filme Le Grand Bleu/The BigBlue/Imensidão Azul. Ele foi meu grande motivador. Numaentrevista, Mayol declarou que conseguira aquela excelente formafísica graças ao Yôga. Foi o estímulo que faltava e me impulsionoupara a bibliografia.

Esta sim, foi importante. Quando li o primeiro livro de Yôga, dei um

suspiro e exclamei: "Que alívio! Há mais alguém que pensa comoeu!" Logo depois estudei a primeira obra de ásanas, da Mestra MatajiIndra Dêví. Trinta anos mais tarde tive o privilégio de conhecê-lapessoalmente num congresso de Yôga no Uruguai. Que emoção!

Como na década de 60 havia recém completado dezesseis anos deidade, aquelas obras foram muito importantes, pois encontrei ali quasetudo o que praticava, com todas as explicações e até os nomes dastécnicas. Algumas, sem saber que já existiam, rebatizara-as para meuuso, com nomes tirados da imaginação. Muitos coincidiram.Finalmente, havia algumas técnicas cuja confirmação não encontreiem nenhum livro e só vim a comprovar muito mais tarde, quandopassei a ir anualmente à Índia.

No Brasil ninguém as conhecia e não existia uma literatura confiávelsobre o assunto. Por sorte, o primeiro livro que li fora do SwámiVivekánanda, um dos poucos autores sérios traduzidos para a nossalíngua. Mesmo assim, lamentavelmente, como a maioria dos escritorescontemporâneos, ele oferecia uma visão do Yôga sob o prisma do

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Vêdánta e do Brahmácharya. Esses dois sistemas indianos foram in-troduzidos no Yôga a  posteriori, conseqüentemente, não têmafinidade de origem com ele11.

O Brahmácharya é o sistema comportamental de característicaspatriarcais, anti-sensoriais e repressoras. Isso não tem nada a ver como Yôga original, pré-ariano, uma vez que o Brahmácharya só foiintroduzido milênios depois da criação do Yôga, por ocasião dachegada à Índia dos Aryas provenientes da Europa, cerca de 1.500

a.C.A versão do Yôga Vêdánta-Brahmácharya era a única que havia em1960 no Brasil. Assim, se quiséssemos estudar seriamente o Yôga,todos devíamos esforçar-nos por cumprir as restriçõesbrahmácharyas12. Delas, a mais enfática é a abstinência sexual, bemcomo uma postura de severo autocontrole perante todas as coisasnaturais da vida, do corpo e da emoção. O Yôga pré-clássico não nosexige isso, entretanto, levei uns bons duros anos até descobri-lo!

Quanto ao Vêdánta, ele é uma filosofia espiritualista que só foirelacionada com o Yôga, da forma como o conhecemos, mais tarde

ainda, lá pelo século VIII depois de Cristo, portanto, muitorecentemente. Antes, o Yôga era de tendência fundamentalmenteSámkhya (naturalista). Na época não sabíamos, como não o sabemuita gente até hoje. Se para progredir no Yôga era preciso aceitar osprincípios vêdánta-brahmácharyas, então faria o melhor possível. Aí teve início minha fase espiritualista.

Comecei a freqüentar várias fraternidades rosacruzes, lojas teosóficas,ordens iniciáticas, grupos de magia e tudo o que parecesse correlato.Em quase todas elas falava-se muito de Yôga. Então, pensei, o Yôgadeve ter mesmo alguma relação com estas entidades. Só que – e aí começa a confusão – algumas falavam muito bem do Yôga e ocolocavam lá nas alturas, atribuindo-lhe virtudes desmedidas. Outras,pelo contrário, atacavam-no, dizendo ser coisa do passado e do

11 Isto será demonstrado pormenorizadamente no capítulo Tantra . 

12 Utilizaremos inicial maiúscula quando nos referirmos ao sistema em si, e inicial minúsculaquando tratar-se de algo referente a ele.

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oriente, que não serviria para o homem ocidental13, ainda mais nestaetapa da sua evolução. Que poderia ser até perigoso14. Disparates!

Acontece que eu gostava do Yôga. E mais: ele havia brotadoinstintivamente dentro de mim desde quando me entendo por gente.Não iria abandoná-lo só pelo fato de alguns visionários tentaremassustar-me para vender o seu próprio peixe, pois sempre ao atacar oYôga, iam logo acrescentando: "Porém esta nossa filosofia é muitomelhor, muito mais atual..."

Pelo sim, pelo não, resolvi aprofundar-me no Yôga. A fim de não serperturbado pelos amigos e familiares, pedi aos meus pais para estudarno colégio interno. Todos estranharam muito, pois isso constituía oterror de todo adolescente. Realmente, eu havia sido o único aingressar no internato do Colégio Batista a pedido próprio.Começaram a pensar que “aquele menino” devia ser muito infeliz emcasa. Precisei deixar bem claro que tinha uma ótima família, era feliz ebem ajustado. Só queria tranqüilidade para estudar o Yôga.

De fato, a partir daí passei a estudar Yôga sete horas por dia e praticaroutras sete. Em todos os períodos de estudo escolar trocava de livro eestudava Yôga. Alguns professores notavam, mas preferiam fazervista grossa e fingir que não percebiam, afinal, pelo menos esse alunonão estava perturbando a aula, o que já era um grande consolo paraeles! Quanto aos que implicavam e proibiam minhas leituras, eu

13  Será que o ocidental é mesmo diferente do oriental? Será na anatomia e fisiologia?Sabemos que não. O mesmo alimento nutre tanto a um quanto ao outro. O mesmo venenomata os dois. Então, será psicologicamente que somos diferentes? Também não. Não existeuma psicologia para ocidentais e outra para orientais! Afirmar que o Yôga não funciona paranós por ter sido criado no oriente é tolice. Seria o mesmo que afirmar que Judô, Karatê, Kung-Fu não funcionam para europeus porque foram criados por orientais. Aliás, o papel, a seda, abússola, a pólvora, o macarrão, o jogo de xadrez, a roda, a massagem, a acupuntura, amatemática, os algarismos "arábicos" (na verdade, índicos), o conceito do zero, a química, aastronomia, a medicina... tudo isso foi criado por orientais. Até o Cristianismo veio do Oriente!Devemos, então, supor que todas essas coisas não servem para nós?

“Quando vós nos ferís não sangramos nós? Quando nos divertís não rimos nós? Quando nos envenenais não morremos nós? Se somos como vós em todo o resto, nisto também seremos semelhantes.” 

Shakespeare, O Mercador de Veneza , ato III cena 1. 

14 O uso freqüente da intimidação "isto é muito perigoso, aquilo é muito perigoso", denota umapersonalidade psicótica. Tome cuidado com esse tipo de gente, pois costuma lançar mãodaquele expediente para manipular as pessoas através do medo. 

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faltava sistematicamente às suas classes e ia para a floresta do colégio,ler e praticar Yôga.

Aliás, o Yôga é mesmo incrível, pois, apesar disso tudo, obtivesempre ótimas notas e os colegas ainda tentavam pedir ajuda nasprovas. Atribuo os benefícios no aproveitamento intelectual aosexercícios de concentração e aos respiratórios que hiperventilavam,bombeando mais sangue oxigenado ao cérebro. Fora das aulas, emtodos os períodos livres aproveitava para treinar. Se não fosse possível

fazer técnicas corporais, praticava respiratórios, meditação,mentalização, mantras, relaxamento, o que desse para exercitar.

Na verdade, não sei se o incremento proporcionado pelo Yôga norendimento intelectual foi positivo, pois passei a assimilar a matériaescolar com tanta facilidade que as aulas tornaram-se assazenfadonhas e ficara difícil assisti-las. Ao ouvir o blá-blá-blá dosprofessores, desdobrando-se para se fazerem compreender pelosdemais alunos, e estes, apáticos, distraídos, sem a mínimaconcentração, sem saber nem mesmo o que estavam fazendo ali...

Revoltava-me todo aquele primarismo, aquela abordagem maçante

de assuntos tão simples. Dava-me ganas de protestar e retirar-me declasse. Não suportava ficar ali perdendo tempo, quando havia tantascoisas mais importantes para aprender, toda uma Natureza, todo umUniverso a desvendar! Devíamos criar escolas especiais para jovenspraticantes de Yôga, que têm um ritmo de aprendizado maisacelerado.

Com relação ao internato, como eu tinha ingressado por minha livrevontade, considerava-me desembaraçado também para sair quandoquisesse. Entretanto, os inspetores não compartilhavam dessa opinião.Assim, quase toda noite, eu saía escalando as paredes do dormitórioque ficava num segundo andar. Por sorte, as paredes tinham pedras

saltadas como se fosse mesmo para facilitar a fuga de algum alunomais afoito. Depois de descer, era só atravessar a floresta (hoje, quasetoda desmatada), driblar os cães de guarda, atravessar uma cerca dearame farpado, cruzar o riacho e pronto: estava na rua. Em poucotempo fiquei tão experiente que quase podia fazer tudo de olhosfechados.

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Para que tanta função? Para poder freqüentar as aulas e os rituaisdaquelas fraternidades e ordens citadas mais atrás. Estava bemempolgado com tais coisas e não me permitia perder pontos noprogresso iniciático por causa de faltas às reuniões. Anos mais tarde,depois de muitos sacrifícios e uma lealdade canina, descobri que issotinha sido uma grande perda de tempo e de energia.

Depois das reuniões nessas entidades, quando conseguia voltar tudo,escalar parede acima e deitar na cama, já era tarde da noite e eu estava

exausto. Contudo, não podia dormir sem fazer minhas práticasnoturnas. Além disso, impondo-me uma disciplina espartana, namanhã seguinte eu precisava acordar mais cedo que os demais para tercondições de praticar ásanas, respiratórios e kriyás, antes que tocasse asirene e aquela turba de garotos meio sonâmbulos entrasse no vestiáriocomo uma manada, aos gritos e empurrões. Quando eles acordavam eiam disputar uma das torneiras, eu já estava pronto e descendocalmamente para o refeitório onde era servido o desjejum. Aí tambémpodia me servir com toda a tranqüilidade, conseguia mastigar bem eainda tinha tempo para repetir as porções, se desejasse.

Nessa época eu dormia muito pouco. Hoje não sei como agüentava.

Mas devo ir avisando aos entusiasmados que lerem este relato: o Yôgaaconselha entre sete e oito horas de sono todos os dias.

Depois do desjejum vinha o período escolar no externato. Mais tarde oalmoço, horário de estudo, tempo livre, banho frio, jantar e outrohorário de estudo. Meus colegas detestavam. Eu adorava.

Nas refeições, como já era vegetariano, costumava trocar minha cotade carne pela sobremesa de alguém. Havia até discussão para decidirquem teria o privilégio de fazer a permuta comigo. Talvez por isso,nunca ninguém tenha questionado o meu sistema alimentar. Sealguém encrencasse, perderia a possibilidade de negociar a minha

porção de carne.Por outro lado, talvez fosse respeito mesmo, pois jamais alguém fezgracejo com as práticas de Yôga. Embora muito discretas, acabavamsendo notadas. Esse respeito foi devido a um acaso. Logo no primeirodia de internato houve uma competição para medir forças eestabelecer hierarquia entre os alunos. Era uma espécie de trote, queconsistia em conquistar o domínio de um pequeno rochedo,

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derrubando quem estivesse lá em cima e depois não deixando maisninguém subir.

Como o Yôga me deu um bom preparo físico, fiquei numa posiçãomuito especial: empatei com um outro aluno, tão grande que seuapelido era Gigante. Logo após, por coincidência, vi-me envolvidonuma esgrima verbal com um veterano para defender um calouromenor, de quem já estavam abusando demais. Eu não sabia, mas esseveterano era considerado o chefão por ali. Como o enfrentei bem, a

gurizada não quis nem saber de fazer troça com o Yôga.Na ocasião em que intervim com o veterano senti-me culpado, poisachava que quem fazia Yôga devia ser passivo. Eu, como muita gente,confundia  passivo com  pacífico. Na verdade, o Yôga não propõepassividade e nem mesmo a calma15. Em todos os textos clássicos oYôga é só associado aos conceitos de poder, força, energia edinamismo. Nenhuma escritura antiga de meu conhecimento declaraque o Yôga acalma. Ele combate o stress, sim, porém Karatê tambémo combate e nem por isso faz as pessoas ficarem calmas ou passivas.O princípio ético de não agressão, que tanto o Yôga quanto as artesmarciais ensinam, não implica em omissão ou covardia.

15 Na escritura Bhagavad Gítá, Krishna exorta o príncipe Arjuna a combater seus adversários,num momento em que ele hesitava por razões éticas. Séculos mais tarde, Rámakrishna reforçaessa postura com a parábola da serpente.

Certa vez, os habitantes de uma aldeia indiana foram procurar um sábio yôgi para pedir seusconselhos:

 – Mestre, nas imediações de nossas plantações vive uma cobra perigosíssima que a todosataca indiscriminadamente, matando homens, mulheres, velhos e crianças sem piedade. Todostemos medo de ir para o campo trabalhar. Que devemos fazer?

O yôgi disse-lhes que voltassem para suas choupanas e que ele iria falar com a serpente. Namanhã seguinte, bem cedo, foi ter com ela. Não precisou procurar muito, porque o ofídio

estava sempre por perto do vilarejo. Era uma majestosa naja, de respeitável tamanho. O sábiose aproximou sem temor, sentou-se perto dela e passou-lhe um belo sermão sobre ahimsa, oprincípio ético de não-agressão. Certo de que sua ouvinte compreendera, levantou-se e partiu.Dali a alguns dias, foi procurado pela serpente:

  – Mestre, o senhor me aconselhou a não atacar as pessoas e assim o fiz. Aos poucos osaldeões foram se convencendo de que eu não lhes oferecia perigo e passaram a me perseguire agredir de todas as formas. Veja como estou toda machucada de pedradas.

Então, o yôgi retrucou:

 – Minha filha. Aconselhei que não picasses, não proibi que silvasses. 

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Nessa noite o chefe de disciplina, Sr. Adalberto, chamou-me na frentede todos e me admoestou severamente.

– Aqui não queremos galos de briga – disse ele – mas como foi paradefender o colega menor, desta vez você não vai ser punido.

Pelo contrário, recebi uma recompensa e tanto: passei a ser ocabeceira, que era quem tomava conta dos que se sentassem à suamesa nas refeições e, mais tarde, tornei-me Auxiliar de Disciplina dosalunos do internato. Depois seria nomeado também para o externato,ganhando com isso diversas vantagens, além da motivação e da auto-afirmação tão importantes naquela idade: passei a poder ir às aulassem uniforme e a ganhar meus estudos como bolsista em troca dessetrabalho.

Nessa época recebi o apelido de Trovão, por causa da minha voz, maisforte que as dos demais devido aos respiratórios. Em relação aoscolegas isso era vantajoso, porém, criou-me problemas com oprofessor de francês, Tancredo, pois achava que o estava enfrentandoquando respondia à chamada... e me punia repetidas vezes! Anosdepois, no serviço militar, voltou a ser útil. Ganhei outra vez o mesmo

apelido, pela mesma razão. Posteriormente, na vida profissional, issome valeu ter muitos alunos locutores das grandes redes de TV,cantores pop, de rock e de ópera, bem como atores e políticos, todosquerendo melhorar a voz.

Nunca antes daquele ano de 1960 havia estudado, praticado ou mededicado tanto a alguma coisa, como ocorria, então, com o Yôga. Esseano foi decisivo na minha vida. Mudou tudo. O corpo e a fisionomiamodificaram-se tanto que, certa vez, encontrei-me com uma prima eela não me reconheceu.

Antes eu era, por constituição, muito franzino, pálido e doentinho.Havia contribuído para isso o fato de ter sido um menino

superprotegido. O Yôga rudimentar que praticava espontaneamentequando criança, não era suficiente para me conferir energia física. Noentanto, o que vinha praticando agora aos dezesseis anos de idadetinha muito mais intensidade. Nesse ano cresci mais de dezcentímetros, a musculatura tomou conformação atlética, passei a ir àpraia e nadar bastante, o que contribuiu para a metamorfose geral. Noinício do ano letivo seguinte, foram meus colegas e professores que

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não me reconheceram. Daí para a frente, passei a ser o guiapermanente de Educação Física em todas as turmas e, posteriormente,também no Exército. Sentia-me feliz e revigorado como nunca haviame sentido antes. Devo isso ao Yôga.

Devo-lhe mais. O ensino institucional mostrou-se absolutamenteprescindível quando, mais tarde, tornando-me professor de Yôga,angariei o respeito da sociedade, viajei o mundo todo várias vezes,escrevi diversos livros, introduzi o curso de formação de instrutores de

Yôga em praticamente todas as Universidades Federais e Católicas dopaís e outras no exterior, e recebi um título de doutor em Filosofiapela World University, de Tucson, USA. Não quero dizer com issoque os jovens não devam estudar. O que poderia ser questionado é aimprescindibilidade do canudo acadêmico para se ter sucesso, culturae aceitação da comunidade.

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Instrutor Lucas de Nardi 

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COMECEI A LECIONAR Regra áurea do magistério: dizer o óbvio e ainda repetir três vezes. 

DeRose

Certa noite, ainda em 1960, enquanto esperávamos o início da reuniãonuma das instituições espiritualistas16 que freqüentava, notei que umasenhora de grau mais alto que o meu entregava, quase secretamente,um papelzinho a alguns membros da ordem e lhes segredava algo aoouvido. Tratei de olhar para o outro lado, pois não queria serindiscreto. Em dado momento, para surpresa minha, fui um dos

escolhidos. Ela me entregou o papel e disse apressadamente: "Váamanhã às 7 da noite a este endereço."

– Finalmente – pensei – vai acontecer alguma coisa para quebrar estarotina de rituais sempre iguais para cada grau e de aulas que nãoensinam nada que eu já não saiba. Deve ser alguma reunião muitoespecial, pois ela está escolhendo uns poucos.

Dali para frente passei a observá-la detidamente. Ela estavacontactando só os Mestres e os membros de grau mais elevado. Maseu não tinha ainda nenhum grau elevado. Isso me lisonjeousobremaneira.

16 Não confunda espiritualista com espírita . São conceitos distintos. Espírita é o que tem porfundamento os ensinamentos dos espíritos dos mortos recebidos pelos vivos através damediunidade. Por definição o espírita é também espiritualista, porém alguns espiritualistas não--espíritas discordam. Esses combatem o espírita porque não concordam que os espíritos depessoas mortas tenham mais sabedoria do que os das pessoas vivas. Muito menos aceitam amediunidade, que consideram perigosa e prejudicial. Espiritualistas são todas aquelas escolascitadas no capítulo Espiritualismo . Este autor não é espiritualista nem espírita, mas não temnada contra essas duas correntes.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 56

No dia seguinte, como não tinha dinheiro nem para o ônibus, fui a pé.Não tendo também relógio, ia controlando a hora pelos relógios daspadarias e lanchonetes. Num dado momento vi que não ia dar tempo.Então, para não chegar atrasado num evento daquela magnitude,comecei a correr. E corri até o local do encontro. Cheguei suando,ofegante, mas pontual. Às sete da noite, lá estava eu, muito nervoso eentusiasmado com a reunião secreta na qual ia tomar parte. A anfitriãme recebeu, mandou sentar e pediu que esperasse os outros, pois ainda

não havia chegado ninguém.Lá pelas oito horas percebi que começou algum movimento na ante-sala. De repente, passou um dos anciãos da ordem, vestido de hindu.Dali a pouco, outro Mestre, vestido de faraó. E outro, de árabe. Eoutro mais, de japonês...

– Deve ser uma prática eclética muito forte – pensei comigo mesmo.

Nisso, a senhora se dirigiu a mim e perguntou:

– Onde está o seu traje?

– Que traje? Não sei nem que tipo de ritual vai ser.

Ela riu.–  Ah! Eu me esqueci de dizer? Estamos dando uma festa à fantasia.Contávamos que você viesse de yôgin.

Parecia que o mundo tinha desabado sobre a minha cabeça. Quedecepção! E ainda por cima, ver aqueles Mestres, verdadeirosbaluartes de austeridade, todos fantasiados... e alguns tomando vinho!Minha vontade era sair dali correndo e nunca mais por os pés naquelaordem. Contudo, eu estava tão estarrecido que jazia imobilizado, emestado de choque.

Hoje, mais vivido, eu encararia de outra forma, com muita

naturalidade. Acho que daria uma boa risada e entraria na festa. Mas,lembre-se, eu carregava a rigidez vêdánta-brahmácharya e, ainda porcima, as ilusões dos meus 16 anos de idade.

Afinal essa recepção trouxe uma conseqüência positiva. A dona dafesta me convidou para fazer uma demonstração de Yôga. Como bomintransigente que era, recusei, pontificando:

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– Yôga não é para exibições.

Ela ficou aborrecida, com razão, e foi se queixar ao Grão-Mestre daordem, que também estava presente. Este veio e me ordenou:

– DeRose, faça a demonstração.

Ordem de Mestre não se discute. Muito menos de Grão-Mestre.Principalmente deste, pois era meu ídolo. Ele fazia crer que me queriabem e que me protegia dos ataques da política interna da fraternidade,

cujos membros viviam disputando o poder. Depois descobri que averdade era bem outra. Mas nesse dia, só o fato dele falar comigo jáme emocionava. Obedeci imediatamente e fiz uma demonstraçãosimples. Quando terminei o Grão-Mestre chamou-me num canto econfidenciou com um tom muito solene:

–  Meu filho. Eu não sabia que você estava tão adiantado no Yôga.Você vai prestar um grande serviço à nossa fraternidade. Há algumassemanas convidei um professor de yóga daqui do Rio, que acabara depublicar um livro, para fazer uma palestra lá na nossa sede. Os irmãosda ordem gostaram das suas maneiras assaz espiritualizadas epediram-lhe que lhes desse aulas. O professor em questão concordou efez o preço. Cobrou caro. Não obstante, eles pagaram. O pilantrapegou o dinheiro e sumiu. Sabemos o endereço dele, porém nãoadianta, pois não temos nenhum recibo do valor pago.

Eu estava escandalizado, mas o Grão-Mestre prosseguiu:

–  Agora veja o dilema. Não podemos dizer aos irmãos, simplesmente,que eles perderam o dinheiro e foram logrados por um professor deyóga, apresentado por mim como um espiritualista de boa reputação.Também não podemos assumir a responsabilidade e lhes devolver odinheiro, pois nossa ordem não está em boa situação financeira.

E concluiu:– Então, vamos declarar que por motivo de força maior, o tal professornão poderá mais dar as aulas e você assume no lugar dele. Como vocêé membro da ordem, não vai cobrar nada e assim poderemos ressarci-los.

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Foi o segundo choque da noite. Aliás, o segundo e o terceiro seguidos.Eu não podia imaginar que aquele professor de yóga, um ilibadoespiritualista, com uma cara tão honesta e que falava de Deus o tempotodo, pudesse ser um vigarista. Depois, foi um choque ser convidadopelo Grão-Mestre para ministrar Yôga. E logo onde!

– Mestre, eu não conheço Yôga o suficiente para ensinar. Nunca deiaula. Sou muito jovem...

Se ele deixasse, eu iria desfiar uma coleção de argumentos paraconvencê-lo a não me escolher, embora me sentisse honrado pelaconfiança.

– Esteja lá na próxima sexta-feira à noite.

Isso encerrava o assunto.

Foi assim, por um acaso do destino (ou terá sido do karma?) e graçasàquele ilustre professor, que fugiu com o dinheiro, que comecei alecionar Yôga e aqui estou hoje. Ah! Se ele soubesse...

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A PRIMEIRA AULA DE YÔGA 

Muito preocupado em dar uma boa impressão, preparei um plano deaula minucioso, com as técnicas que praticava em casa, sozinho, jáque nunca havia tido um Mestre de Yôga em carne e osso.

Lá chegando, o Grão-Mestre da ordem apresentou-me à turma,  justificou a substituição do professor e sentou-se junto para dar oexemplo, senão, todos se levantariam e iriam embora. Afinal haviampago para aprender yóga com um autor conceituado e de idade, e não

para receber Yôga daquele pirralho inexperiente e imberbe que aliestava.

Naquelas circunstâncias seria prudente demonstrar que não pretendiafazer-me passar pelo que não era, nem tomar o lugar de quem querque fosse. Comecei minha aula mais ou menos assim:

–  Vejo que os senhores são muito mais velhos que eu e algunsencontram-se em graus de iniciação mais elevados. Portanto, eu é quedeveria estar sentado aí e algum dos senhores aqui no meu lugar. Maspor ordem do Grão-Mestre, estou diante da turma e peço-lhes que meajudem a cumprir esta missão, pois nunca dei uma aula de Yôga antes.

Pelos sorrisos e acenos de simpatia, deduzi que gostaram daintrodução. Agora vinha o mais difícil. Precisava ensinar algo queaqueles estudiosos apreciassem. Todos tinham muito mais teoria queeu. Por outro lado, querer impressioná-los com minha performancefísica seria um erro uma vez que eles não eram adeptos das técnicascorporais. Afinal, eram espiritualistas e diziam que "o importante é oespírito, e não o corpo". Além disso, o mais jovem ali tinha cerca de

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60 anos e eles não me acompanhariam: rechaçariam o método. Eramesmo um abacaxi!

Devia enfrentar a situação. Então, deflagrei a aula. Praticamosmudrás, pújás, mantras, pránáyámas, kriyás, ásanas, yôganidrá econcluímos com meditação do terceiro grau.

Quando terminamos, percebi que deu certo. Estavam com um brilhode satisfação nos olhos, meio incrédulos, meio estupefatos.Comentaram que nunca tinham visto um Yôga tão completo. Ficaramimpressionados com o fato de encontrarem nessa simples primeira aula de Yôga ministrada por um gurizote, práticas iniciáticas17 avançadas, transmitidas, todavia, com tanta naturalidade como sefosse a coisa mais trivial deste mundo. Questionaram sobre o meugrau de Iniciação e não entenderam como é que aquele fedelho podiaconhecer tudo aquilo, estando no grau em que estava. Então, frisei quenão introduzira na aula nada que fosse de outras escolas iniciáticas.Que essas práticas eram normais no Yôga e que boa parte delas estavaaté nos livros relativamente elementares de Yôga que se encontravamnas livrarias comuns. Mas a parte do interrogatório que mais memarcou foi a que se seguiu:

Aluno A – Que tipo de Yôga você ministrou?

Instrutor – Hatha Yôga.

Aluno A  – O que te leva a declarar que é Hatha Yôga?

Instrutor – O fato de ter ásanas.

Aluno A  –  O Rája Yôga também tem ásanas. E você aplicoumeditação, que é do domínio do Rája Yôga. Não seria Rája Yôga?

Instrutor – Não creio que eu esteja habilitado a lecionar Rája Yôga.Imagino que o que pratico seja Hatha Yôga, mas nunca tive umMestre que me mostrasse exatamente o que é ou como fazer.

Aluno B – Acontece que nós identificamos elementos de Rája Yôga,Bhakti Yôga, Jñana Yôga, Laya Yôga, Mantra Yôga e outros muitomais profundos e poderosos. Onde você aprendeu essas coisas?

17 O termo iniciático  refere-se a Iniciação, cerimônia após a qual os Iniciados recebemensinamentos secretos. 

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Instrutor – Aprendi sozinho. Isto é, ninguém está só. Quero dizer éque foi brotando e fui fazendo. Depois busquei confirmação noslivros, mas ainda não encontrei todas as de que necessito. O quetransmiti é aproximadamente o que pratico em casa desde criança.

Aluno B –  Você está querendo dizer que recebeu isto tudo porrevelação espiritual?

Instrutor – Não. Não quis dizer isso.

Aluno C  –  Meu filho, não fique aborrecido com as nossasperguntas. É que a sua aula foi tão forte e enriquecida com técnicasIniciáticas de graus avançados, que nós mesmos levamos anos paravislumbrar!... Se você, como diz e eu acredito, desenvolveu isso tudosem Mestre, estamos diante de alguém que já foi Mestre de Yôganoutra vida. De uma coisa não há dúvida: acabamos de travar contatocom uma modalidade de Yôga superior. Aceite as nossascongratulações e conte com a nossa presença aqui todas as sextas-feiras.

Pelo tom da voz, ao menos esse último não estava sendo agressivonem irônico. Parecia sincero. Apesar do sucesso, fiquei contrariadocom o fato de não ter elementos para fundamentar o Yôga que estavaensinando18. Isso desencadeou em mim uma preocupação decomprovar e documentar que tipo de Yôga era aquele. Essainquietação durou anos. Certamente, foi uma experiência muitomarcante.

18 Antes disso nunca havia me preocupado em rotular meu tipo de Yôga com este ou aquelenome. A partir desse dia, cheguei à conclusão de que isso me seria cobrado. Sempre quefosse ensinar Yôga, seria exigido que eu soubesse conceituá-lo, fundamentá-lo e situá-lo muitobem no imenso emaranhado de raízes, troncos e ramos, que através dos séculos e milênios detradição uniram-se ou afastaram-se, cruzaram-se ou entrelaçaram-se, formando uma espessafloresta, na qual o imprudente e o aventureiro entram mas não saem e ficam inexoravelmenteperdidos. 

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De Rose aos 20, quatro anos depois da primeira aula: afisionomia denuncia um compenetrado yôgin sobinegável influência vedanta-brahmacharya. 

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A REVELAÇÃO DO SWÁSTHYA YÔGA Aquele que não sabe e não sabe que não sabe, é um tolo – evite-o! 

Aquele que não sabe e sabe que não sabe, é um estudioso – instrua-o! Aquele que sabe e não sabe que sabe, é um sonâmbulo – desperte-o! 

Aquele que sabe e sabe que sabe, é um sábio – siga-o! Máxima hindu

O fato de começar a lecionar Yôga foi a grande alavanca que mecatapultou a um sensível progresso. Dedicando-me integralmente aoYôga, não ocorria dispersão de energias nem de tempo com algumaoutra profissão, a qual ocuparia os dias praticamente inteiros. Em

geral, os praticantes só começam a se dedicar ao Yôga à noite, depoisque chegam do trabalho, tomam banho, jantam... e então, os diligentesyôgins, cansados e sonolentos, vão ler e tentar praticar alguma coisa.Outros, que optam por estudar pela manhã, antes do trabalho, à noitedesmaiam de sono. E ainda têm uma esposa e filhos, a quem precisamdar atenção.

Nesse panorama, praticar Yôga como aluno é perfeitamente viável eaté ajuda a driblar o cansaço, o stress e o sono. Entretanto, tornar-seum estudioso em profundidade e um profissional competente, isso éimpraticável.

Tive a sorte de estar na confortável posição de poder estudar e praticaro dia inteiro, a semana toda, o ano todo, sem ser dispersado, nem poruma outra profissão, nem pela família.

Além disso, tornando-me instrutor de Yôga, passei a poder investir nacompra de livros importados, mais profundos e muito mais caros.Livros esses que os simples estudantes de Yôga hesitavam em adquirir

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uma vez que, sendo para eles fonte de satisfação mas não de renda,tratava-se de investimento sem retorno financeiro. Para o instrutor, aocontrário, o que gastar com livros, cursos, viagens, será tudo revertidoem maior aprimoramento na qualidade do seu trabalho.Conseqüentemente, o investimento retorna de uma forma ou de outra.

Com bons livros e vivendo em estado de imersão total no Yôga, pudemergulhar nos labirintos do inconsciente em longas viagens, cada vezmais remotas, para realizar um verdadeiro garimpo arqueológico 

diretamente nas origens arquetípicas do Yôga. As Iniciações querecebera eram um verdadeiro fio de Ariadne, com o qual conseguiencontrar o caminho de volta. Meu Minotauro foi o Senhor doUmbral.

Algumas experiências eram aterrorizantes, contudo, a juventude medeu forças e intrepidez para superar todas as provas, e chegar aondequeria. Assim, pude testar até à exaustão um número formidável detécnicas. Como era de se esperar, a maioria das práticas mostrava-seinócua e só funcionava como placebo. Outro tanto era de recursos queproduziam efeitos fortes demais e não ofereciam a mínima segurançaao praticante. Descobri, ainda, várias combinações explosivas detécnicas que poderiam ser úteis se praticadas em separado, mastornavam-se violentíssimas se combinadas entre si. Tratei de excluirtodas elas e sistematizei as que constatei serem eficazes e, ao mesmotempo, seguras.

A partir de então, passei a praticar o Swásthya Yôga, agorasistematizado, com ainda mais afinco e dedicação. Ele provou ser umexcelente processo, pois comecei a colher resultados fortes, bemrápidos e com toda a segurança.

Hoje, isso tudo já está experienciado e codificado, mas quando erainiciante e procedia às pesquisas, enfrentando o desconhecido, tivealgumas vivências que, acredito, se descrevê-las aqui poderão ser úteisaos que estão começando.

De qualquer forma, o primeiro e o mais importante de todos osconselhos que me permito dar ao leitor é o de procurar um instrutorautorizado a lecionar o Swásthya Yôga, ou seja, um instrutor formado,revalidado e supervisionado.

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É necessário que o aspirante exerça um bom senso crítico parareconhecer tais atributos e não se deixar iludir por falsos mestres.

Todo praticante tem suas crises de desânimo ocasionadas pelos longosperíodos de disciplina, sem que os resultados do sádhana apareçam.Isso ocorreu também comigo. Questionava-me se aquelas práticasestariam certas, afinal eram horas e horas de exercícios, de dedicaçãoexclusiva durante meses e anos...

Desde as primeiras práticas colhi rápidos e intensos efeitos sobre ocorpo, o stress, a saúde, a flexibilidade, a musculatura. No entanto, oimportante eram os chakras, os siddhis, a kundaliní e o samádhi. Enessa área, não percebia nenhum progresso.

Na verdade, a evolução estava sendo processada aceleradamentedentro de mim, só que em fase de incubação. Mais tarde descobri quequando o praticante não percebe seu progresso é sinal de que o ritmodo seu desenvolvimento está equilibrado e sendo metabolizável, ouseja, encontra-se dentro dos limites considerados seguros. Aconteceque os iniciantes não sabem disso e querem notar picos de progressopalpável. Noutras palavras, aspiram por violentações energéticas que o

organismo não metaboliza e resultam em arrancadas de aceleraçãobrusca. Isso tem um custo e termina por onerar a saúde física e mental.

Tanto fiz que acabei conseguindo tomar um tranco. Só não me dei malgraças ao Swásthya Yôga, pois ele cerca o praticante com inúmerosdispositivos de proteção muito eficazes. Um deles faz com que asforças só sejam liberadas se o sistema nervoso e nadís estiveremrealmente purificados e equilibrados. Para saber mais a respeito,consulte o capítulo  Regras Gerais de Segurança no nosso livro FaçaYôga antes que você precise. 

Certo dia, depois de um longo jejum, pus-me a praticar horas de japa

com bíjá mantras, pránáyámas ritmados e longos kúmbhakas,reforçados com bandhas, kriyás, ásanas e pújás. Após três horas dessesádhana, pratiquei maithuna com a Shaktí por mais três horas. Depois,outras duas horas de viparita ashtánga sádhana, com padma sirshásana

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Faço questão de frisar: foram vivências como essa que aniquilaramcom o meu misticismo assimilado na juventude, perpetrado por leiturasequivocadas. Aqueles que declaram ter-se tornado místicos por causa,  justamente, de experiências semelhantes, na verdade tiveram apenasvislumbres tão superficiais que acabaram gerando mistérios ao invés dedissolvê-los. É como a parábola do homem que encontrou a verdade20.

No meu caso, dali resultaram os conceitos que me permitiram concluira sistematização do método. Naquele momento, tudo ficou claro. Todo

o sistema se ajustou sozinho, bastando para isso que fosse observadodo alto e visto todo de uma só vez, como através de uma lente grande-angular. Tudo era tão simples e tão lógico! Bastava subir para umadimensão diferente daquela na qual nossas pobres mentes jazemagrilhoadas cá em baixo.

Vontade de sair daquela experiência, não tive nenhuma. Porém, depoisde um enorme período, parecendo-me muitas horas de regozijo eaprendizado, senti que havia-se esgotado o tempo e era precisoretornar ao estado de consciência de relação, no qual poderia convivercom os demais, trabalhar, alimentar meu corpo, etc. Bastou cogitar em

volver e imediatamente troquei de estado de consciência. Foi algomuito interessante, sentir-me perder a dimensão do infinito e cair, coma velocidade da luz, de todas as direções às quais havia me expandido,passando a contrair minha consciência para um pequeno centro,infinitesimal, blindado por uma mente e por um corpo, numalocalização determinada dentro daquele Universo que era todo meu eque era todo eu, apenas um instante atrás. Era o Púrusha cósmico,contraindo-se para tornar-se Púrusha individual.

Voltar à dimensão hominal não foi desagradável. A sensação deplenitude e felicidade extasiante permanecia. O curioso foi que tinha-

 20 Um dia, um filósofo estava conversando com o Diabo quando passou um sábio com um sacocheio de verdades. Distraído, como os sábios em geral o são, não percebeu que caíra umaverdade. Um homem comum vinha passando e vendo aquela verdade ali caída, aproximou-secautelosamente, examinou-a como quem teme ser mordido por ela e, após convencer-se de quenão havia perigo, tomou-a em suas mãos, fitou-a longamente, extasiado e, então, saiu correndo egritando: "Encontrei a verdade! Encontrei a verdade!" Diante disso, o filósofo virou-se para oDiabo e disse: "Agora você se deu mal. Aquele homem achou a verdade e todos vão saber quevocê não existe..." Mas, seguro de si, o Diabo retrucou: "Muito pelo contrário. Ele encontrou umpedaço da verdade. Com ela, vai fundar mais uma religião e eu vou ficar mais forte!"

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se passado, não as tantas horas que supunha, mas tempo algum! Orelógio de parede à minha frente marcava a mesma hora. Portanto,para um observador externo, tudo ocorrera num lapso equivalente aum piscar de olhos e não teria chamado a atenção de ninguém.

A partir desse dia, foi como se eu tivesse descoberto o caminho damina: não precisava mais dos mapas. Podia entrar e sair daqueleestado sempre que quisesse, com facilidade.

O QUE É UMA CODIFICAÇÃO Imagine que você ganhou como herança um armário muito antigo (no nosso caso, de cinco milanos). De tanto admirá-lo, limpá-lo, mexer e remexer nele, acabou encontrando um painel queparecia esconder alguma coisa dentro. Depois de muito tempo, trabalho e esforço para nãodanificar essa preciosidade, finalmente você consegue abrir. Era uma gaveta esquecida e, porisso mesmo, lacrada pelo tempo. Lá dentro você contempla extasiado um tesouroarqueológico: ferramentas, pergaminhos, sinetes, esculturas! Uma inestimável contribuiçãocultural!

As ferramentas ainda funcionam, pois os utensílios antigos eram muito fortes, construídos comarte e feitos para durar. Os pergaminhos estão legíveis e contêm ensinamentos importantessobre a origem e a utilização das ferramentas e dos sinetes, bem como sobre o significadohistórico das esculturas. Tudo está intacto sim, mas tremendamente desarrumado,embaralhado e com a poeira dos séculos. Então, você apenas limpa cuidadosamente e arruma

a gaveta. Pergaminhos aqui, ferramentas acolá, sinetes à esquerda, esculturas à direita.Depois você fecha de novo a gaveta, agora sempre disponível e arrumada.

O que foi que você tirou da gaveta? O que acrescentou? Nada. Você apenas organizou,sistematizou, codificou.

Pois foi apenas isso que fizemos. O armário é o Yôga antigo, cuja herança nos foi deixadapelos Mestres ancestrais. A gaveta é um comprimento de onda peculiar no inconscientecoletivo. As ferramentas são as técnicas do Yôga. Os pergaminhos são os ensinamentos dosMestres do passado, que nós jamais teríamos a petulância de querer alterar. Isto foi asistematização do Swásthya Yôga.

Por ter sido honesta e cuidadosa em não modificar, não adaptar, nem ocidentalizar coisaalguma, nossa codificação foi muito bem aceita pela maioria dos estudiosos. Hoje, essemétodo sistematizado no Brasil existe em todos os Continentes. Se alguém não o conhecerpelo nome de Swásthya Yôga, conhecerá seguramente pelo nome erudito e antigo:Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga.

Seu nome já denota as origens ancestrais uma vez que o Yôga mais antigo (pré-clássico, pré-ariano) era de fundamentação Tantra e Sámkhya. Compare estas informações com o quadroda Cronologia Histórica publicado no livro Yôga Sútra de Pátañjali , Editora Uni-Yôga.

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O QUE É O SWÁSTHYA YÔGA (PRONUNCIE: “SUÁSTIA”)

O novo é velhíssimo.Até se pode dizer que é sempre o mais velho. 

Eugène Delacroix

SWÁSTHYA YÔGA É O YÔGA MAIS INTEGRAL QUE EXISTE 

Swásthya , em sânscrito, língua morta da Índia, significa auto-suficiência (swa = seu próprio).Também embute os significados de saúde, bem estar, conforto, satisfação . Pronuncia-se“suástia ”. Em hindi, a língua mais falada na Índia, significa simplesmente saúde. Nesse caso,com o sotaque hindi, pronuncia-se “suásti ”. Não permita que pessoas pouco informadasconfundam Swásthya , sânscrito, método antigo, com Swásthya (“suásti ”), hindi, que daria umainterpretação equivocada com conotação terapêutica.

A DEFINIÇÃO FORMAL DO NOSSO YÔGA:

Swásthya Yôga é o nome da sistematização do Yôga mais completo do mundo, Yôga Ultra- Integral, baseado em raízes muito antigas (Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga).

I. CARACTERÍSTICAS DO SWÁSTHYA YÔGA 

Registre esta informação importante. Só é Swásthya Yôga se tiver estas características.Mesmo a modalidade heterodoxa, precisa observar os itens 2 e 3 abaixo. Se alguém lhe ensinaralgo com o nome de Swásthya Yôga e não respeitar estas particularidades, não é o nossométodo.

Ainda que a pessoa em questão tenha feito curso de formação conosco e possua certificado deinstrutor, uma vez formada tem a autonomia para ensinar o tipo de Yôga que bem entender, jáque o Swásthya contém em si os elementos constituintes de praticamente todos os demaisramos de Yôga. Alguns instrutores mantêm-se fielmente dentro da linha que os diplomou.

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Outros se desviam, mesclam sistemas e passam a transmitir versões apócrifas. Portanto, muitaatenção a este tema, você que pratica, você que ensina, você que pretende tornar-se instrutor.

Leia, por favor, o penúltimo parágrafo do subtítulo III- PRÁTICA HETERODOXA.

As características do Swásthya Yôga são as seguintes:

1) ASHTÁNGA SÁDHANA 

A característica principal do Swásthya Yôga é sua prática ortodoxa denominada ashtángasádhana (ashta = oito; anga = parte; sádhana = prática). Trata-se de uma prática integrada emoito partes, a saber: mudrá, pújá, mantra, pránáyáma, kriyá, ásana, yôganidrá, samyama. Esteselementos são explicados em detalhe no livro Faça Yôga Antes que Você Precise.

2) REGRAS GERAIS DE EXECUÇÃO Uma das mais notáveis contribuições históricas da nossa sistematização foi o advento dasregras gerais, as quais não são encontradas em nenhum outro tipo de Yôga... a menos quevenham a ser incorporadas a partir de agora, por influência do Swásthya Yôga. Já temostestemunhado exemplos dessa tendência em aulas e textos de vários tipos de Yôga emdiferentes países, após o contacto com o Swásthya.

É fácil constatar que as regras e demais características do nosso método não eram conhecidasnem utilizadas anteriormente: basta consultar os livros das várias modalidades de Yôgapublicados antes da codificação do Swásthya. Em nenhum deles vai ser encontrada referênciaalguma às regras gerais de execução.

Por outro lado, podemos demonstrar que as regras gerais constituíram apenas uma descobertae não uma adaptação, pois sempre estiveram presentes subjacentemente. Tome para exemploalguns ásanas quaisquer, tais como uma anteflexão (paschimôttanásana), uma retroflexão(bhujangásana) e uma lateroflexão (trikônásana), e execute-os de acordo com as regras doSwásthya Yôga. Depois consulte um livro de Hatha Yôga e faça as mesmas posições seguindosuas extensas descrições para cada exercício. Você vai se surpreender: as execuções serãoequivalentes em mais de 90% dos casos. Portanto, existe um padrão de comportamento. Essepadrão foi identificado por nós e sintetizado na forma de regras gerais.

Tal fato passou despercebido a tantas gerações de Mestres do mundo inteiro durante milharesde anos e foi descoberto somente na entrada do terceiro milênio da Era Cristã, da mesmaforma como a lei da gravidade passou sem ser registrada pelos grandes sábios e físicos daGrécia, Índia, China, Egito e do mundo todo, só vindo a ser descoberta bem recentemente porNewton. Assim como Newton não inventou a gravidade, também não inventamos as regrasgerais de execução. Elas sempre estiveram lá, mas ninguém notou.

No Swásthya Yôga as regras ajudam bastante, simplificando a aprendizagem e acelerando aevolução do praticante. Ao instrutor, além disso, poupa um tempo precioso, habitualmentegasto com descrições e instruções desnecessárias.

3) SEQÜÊNCIAS COREOGRÁFICAS 

Outra importante característica do Swásthya Yôga é o resgate do conceito primitivo detreinamento, que consiste em execuções mais naturais, anteriores ao costume de repetir osexercícios. A instituição do sistema repetitivo é muito mais recente do que se imagina. Astécnicas antigas, livres das limitações impostas pela repetição, tornavam-se ligadas entre si porencadeamentos espontâneos. No Swásthya Yôga esses encadeamentos constituemmovimentos de ligação entre os ásanas não repetitivos nem estanques, o que predispõe àelaboração de execuções coreográficas.

Assim, [A] a não repetição, [B] as passagens (movimentos de ligação) e [C] as coreografias(com ásanas, mudrás, bandhas, kriyás, etc.), são conseqüências umas das outras,reciprocamente, e fazem parte desta terceira característica do Swásthya Yôga.

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As coreografias também não são uma criação contemporânea. Esse conceito remonta ao Yôgaprimitivo, do tempo em que o Homem não tinha religiões institucionalizadas e adorava o Sol. Oúltimo rudimento dessa maneira primitiva de execução coreográfica é a mais ancestral práticado Yôga: o súrya namaskara!

Ocorre que o súrya namaskara é a única reminiscência de coreografia registrada naslembranças do Yôga moderno. Não constitui, portanto, característica sua. Vale lembrar que oHatha Yôga é um Yôga moderno, um dos últimos a surgir, já no século XI depois de Cristo,cerca de 4.000 anos após a origem primeira do Yôga.

Importante: o instrutor que declara ensinar Swásthya Yôga, mas não monta a aula inteira comformato de coreografia não está transmitindo um Swásthya 100% legítimo. Quem não consegueinfundir nos seus alunos o entusiasmo pela prática em forma de coreografia, precisa fazer mais

cursos e estreitar o contato com a nossa egrégora, pois ainda não compreendeu o ensinamento docodificador do Swásthya Yôga.

4) PÚBLICO CERTO 

É fundamental que se compreenda: para tratar-se realmente de Swásthya Yôga não basta afidelidade ao método. É preciso que as pessoas que o praticam sejam o público certo. Casocontrário, estarão tecnicamente exercendo o método preconizado, mas, ao fim e ao cabo, nãoestarão professando o Yôga Antigo. Seria o mesmo que dispor da tecnologia certa paraproduzir um determinado tipo de pão, mas querer fazê-lo com a farinha errada.

5) SENTIMENTO GREGÁRIO 

O sentimento gregário é a força de coesão que nos fez crescer e tornar-nos tão fortes.Sentimento gregário é a energia que nos mobiliza para participar de todos os cursos, eventos,reuniões e festas do Swásthya Yôga, pois isso nos dá prazer. Sentimento gregário é osentimento de gratidão que eclode no nosso peito pelo privilégio de estar juntos e participandode tudo ao lado de pessoas tão especiais. É o poder invisível que nos confere sucesso em tudo

o que a gente fizer, graças ao apoio que os colegas nos ofertam com a maior boa vontade.Sentimento gregário é a satisfação incontida com a qual compartilhamos nossas descobertas edicas para o aprimoramento técnico, pedagógico, filosófico, ético, etc. Sentimento gregário é oque induz cada um de nós a perceber, bem no âmago da nossa alma, que fazer tudo isso,participar de tudo isso, não é uma obrigação, mas uma satisfação.

6) SERIEDADE SUPERLATIVA 

Ao travar contato com o Swásthya Yôga, uma das primeiras impressões observadas pelosestudiosos é a superlativa seriedade que se percebe nos nossos textos, linguagem eprocedimentos. Essa seriedade manifesta-se em todos os níveis, desde a honestidade depropósitos – uma honestidade fundamentalista – até o cuidado extremado de não fazernenhum tipo de doutrinação, nem de proselitismo, nem de promessas de terapia.Definitivamente, não se encontra tal cuidado na maior parte das demais modalidades deYôga.

Fazemos questão absoluta de que nossos instrutores e alunos sejam rigorosamente éticos

em todas as suas atitudes, tanto no Yôga, quanto no trabalho, nas relações afetivas, nafamília e em todas as circunstâncias da vida. Devemos lembrar-nos de que, mesmo en-quanto alunos, somos representantes do Yôga Antigo e a opinião pública julgará o Yôga apartir do nosso comportamento e imagem.

Em se tratando de dinheiro, lembre-se de que é preferível perder o nobre metal do queperder um amigo, ou perder o bom nome, ou perder a classe.

Devemos mostrar-nos profundamente responsáveis, maduros e honestos ao realizar negócios,ao fazer declarações, ao evitar conflitos, ao buscar aprimoramento em boas maneiras, aocultivar a elegância e a fidalguia. O mundo espera de nós um modelo de equilíbrio,

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especialmente quando tivermos a obrigação moral de defender corajosamente nossos direitose aquilo ou aqueles em que acreditamos. Fugir à luta seria a mais desprezível covardia. Lutarcom galhardia em defesa da justiça e da verdade é um atributo dos corajosos. Contudo, lutarcom elegância e dignidade é algo que poucos conseguem conquistar.

7) ALEGRIA SINCERA 

Seriedade e alegria não são mutuamente excludentes. Você pode ser uma pessoacontagiantemente alegre e, ao mesmo tempo, seriíssima dentro dos preceitoscomportamentais que regem a vida em sociedade.

A alegria é saudável e nos predispõe a uma vida longa e feliz. A alegria esculpe nossafisionomia para que denote mais juventude e simpatia. A alegria cativa e abre portas que,sem ela, nos custariam mais esforço. A alegria pode conquistar amigos sinceros epreservar as amizades antigas. Pode até salvar casamentos.

Um praticante de Yôga sem alegria é inconcebível. Se o Yôga traz felicidade, o sorriso e ocomportamento descontraído são suas conseqüências inevitáveis.

Entretanto, administre sua alegria para que não passe dos limites e não agrida os demais.Algumas pessoas quando ficam alegres tornam-se ruidosas, indelicadas e invasivas.Esse, obviamente, não é o caso do swásthya yôgin.

8) LEALDADE INQUEBRANTÁVEL 

Lealdade aos ideais, lealdade aos amigos, lealdade ao seu tipo de Yôga, lealdade aoMestre, são também característica marcante do Yôga Antigo. No Swásthya valorizamosaté a lealdade aos clientes e aos fornecedores. Simbolicamente, somos leais mesmo aosnossos objetos e à nossa casa, procurando preservá-los e cultivar a estabilidade, ao evitara substituição e a mudança pelo simples impulso de variar (Yôga chitta vritti nirôdhah). Hácircunstâncias em que mudar faz parte da evolução e pode constituir a solução de um pro-blema de estagnação. Nesse caso, é claro, não se trata de instabilidade emocional. O

próprio Shiva, criador do Yôga, tem como um dos seus atributos a renovação.Não há nada mais lindo que ser leal. Leal quando todos os demais já deixaram de sê-lo.Leal quando todas as evidências apontam contra o seu ente querido, pessoa amada,colega ou companheiro, mas você não teme comprometer-se e mantém-se leal até o fim.

Realmente, não há nada mais nobre que a lealdade, especialmente numa época em quetão poucos preservam essa virtude.

II. PRÁTICA ORTODOXA 

Swásthya Yôga é o próprio tronco de Yôga Pré-Clássico, após a sistematização. O SwásthyaYôga mais autêntico é o ortodoxo, no qual cada prática é constituída pelas oito partes seguintes:

1. mudrá gesto reflexológico feito com as mãos;2. pújá retribuição de energia;3. mantra vocalização de sons e ultra-sons;4. pránáyáma expansão da bioenergia através de respiratórios;

5. kriyá atividade de purificação das mucosas;6. ásana posições físicas ou psicofísicas;7. yôganidrá técnica de descontração;8. samyama concentração, meditação e samádhi.

Existem vários tipos de ashtánga sádhana. A estrutura acima é a primeira que o praticanteaprende. Denomina-se ádi (seguido de palavra iniciada por vogal o i se transforma em y , ády).O segundo tipo é o viparíta ashtánga sádhana, para alunos graduados. Depois virão maha,swa, manasika e gupta ashtánga sádhana, somente acessíveis a instrutores de Yôga.

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Entretanto, se você não se identifica com esta forma mais completa em oito partes, existe aopção denominada Prática Heterodoxa.

III. PRÁTICA HETERODOXA 

Esta variedade é totalmente flexível. A estrutura de cada prática é determinada pelo instrutorque a ministra. Portanto, a sessão pode ser constituída por um só anga, dois deles ou quantoso ministrante quiser utilizar, e na ordem que melhor lhe aprouver. Pode, por exemplo, ministrarum sádhana exclusivamente de ásana, ou de mantra, ou de pránáyáma, ou de samyama, oude yôganidrá, etc. Ou pode combinar alguns deles à sua vontade. Ainda assim pode serSwásthya Yôga, desde que obedeça às demais características do Swásthya Yôgamencionadas no item I  e desde que haja uma orientação generalizada de acordo com a

filosofia que preconizamos.Todavia, na aplicação desta alternativa o instrutor deverá, de preferência, utilizar todos osangas, conquanto possa fazê-lo em ocasiões diferentes e com intensidades variáveis. Dessamaneira, nas diversas aulas que ministrar durante o mês, terá proporcionado aos alunos aexperimentação e os benefícios de todos os oito angas.

O ideal é que o instrutor não adote somente a versão heterodoxa e sim que a combine com aortodoxa, lecionando, por exemplo, duas vezes por semana, uma com a primeira e outra com asegunda modalidade de prática.

Já para os exames de habilitação de instrutores perante a Universidade Internacional de Yôgae pelas Federações Estaduais só é aceita a versão ortodoxa.

Finalmente, é fundamental que se compreenda: para tratar-se realmente de SwásthyaYôga não basta a fidelidade ao método. É preciso que as pessoas que o praticam (amatéria prima) sejam o público certo. Caso contrário, estarão tecnicamente praticando o

método preconizado, mas, ao fim e ao cabo, não estarão exercendo o Swásthya Yôga.Seria o mesmo que dispor da tecnologia certa para produzir um pão de excelentequalidade, mas querer fazê-lo com a farinha errada.

A boa compreensão deste capítulo é imprescindível para a fundamentação do nosso trabalho, bemcomo para assimilar a proposta desta modalidade de Yôga. Seria uma ótima idéia você voltar e lertudo outra vez, com mais atenção. Releia um pequeno trecho de cada vez, pare e analise o que leu.

DIFERENÇAS ENTRE O SWÁSTHYA E O HATHA YÔGA 

Todos os 108 tipos de Yôga são diferentes entre si: não apenas estes dois aqui abordados sãodistintos um do outro. Ocorre que o Hatha é mais comum e o leitor poderá utilizar este quadrocomo parâmetro de comparação entre uma imagem popular e uma outra mais ancestral.

DIFERENÇAS SWÁSTHYA YÔGA HATHA YÔGA 

FUNDAMENTAÇÃO: Tantra-Sámkhya (assumido). Tantra-Vêdánta (mas umnúmero expressivo deinstrutores desse ramodeclara-se contra o Tantra ealinha-se comoBrahmácharya-Vêdánta).

FASE HISTÓRICA EM QUE Pré-clássica Medieval

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YÔGA, MITOS E VERDADES 74

DIFERENÇAS SWÁSTHYA YÔGA HATHA YÔGA 

SITUA SUAS RAÍZES: (mais de 5.000 anos). (± século XI da era cristã).

CULTURA DE REFERÊNCIA: Dravídica (pré-ariana). Ariana.

CONSTITUIÇÃOCARACTERÍSTICA DAPRÁTICA:(não nos referimos a todo oconteúdo de técnicas damodalidade analisada, mas

apenas às que sãoconsideradas indispensáveispara que a aula da modalidadeem questão seja consideradaautêntica.) 

Oito partes: mudrá, pújá,mantra, pránáyáma, kriyá,ásana, yôganidrá, samyama.

Além destes oito elementosmínimos, constitutivos de uma

prática do Swásthya Yôga,podem constar ainda algunsrecursos suplementares, taiscomo: chakra sádhana, nyása,bandha, etc.

Duas partes: pránáyáma eásana. O shavásana tambémé ásana.

Além desses dois elementosmínimos, constitutivos de uma

prática de Hatha Yôga, podemconstar ainda alguns outroscomo kriyá, mudrá e bandha,mas não obrigatoriamente.

REGRAS GERAIS DEEXECUÇÃO:

O Swásthya é o único Yôgaque possui regras explícitas deexecução.

O Hatha não usa regras. Livroalgum as menciona.

PASSAGENS COORDENADASDE UM ÁSANA A OUTRO:

O Swásthya Yôga possuipassagens.

O Hatha Yôga não utilizapassagens.

COREOGRAFIAS: O Swásthya Yôga cultivacoreografias, tanto parademonstrações, quanto para aprática individual e para a

estrutura da aula.

O Hatha Yôga não cultivacoreografias.

CRITÉRIO SELETIVO PARAMONTAR UMA PRÁTICA:

O Swásthya Yôga possui doiscritérios de seleção aplicadossimultaneamente, cruzados,para obter uma série bemcompleta e balanceada.

O Hatha Yôga, em geral,possui um critério por Escola,o qual pode variar de umapara outra. Na prática, a maiorparte dos instrutores não oaplica por ignorá-lo.

REPETIÇÃO: No Swásthya Yôga não serepetem os ásanas, a não serem caráter excepcional.

No Hatha Yôga os ásanas sãorepetidos três vezes, cincovezes ou até 25 vezes.

RELAXAMENTO DURANTE OSÁSANAS:

No Swásthya, executa-se orelax como fase preliminar decada ásana, inseparável dele.É o próprio ásana em variação

sukha.

No Hatha, executa-se o relaxapós os ásanas, entre um eoutro exercício. Isso cria umritmo interrompido entre

ásanas estanques e repetidos.POLARIZAÇÃO DOSEXERCÍCIOS:

No Swásthya Yôga executamosuma fase passiva e outra ativaem cada ásana, conforme foiexplicado no item anterior.

No Hatha Yôga, geralmente,aplica-se um ásana ativo edepois outro passivo, e assimsucessivamente.

AQUECIMENTO MUSCULARPRÉVIO:

Nenhum tipo de Yôga legítimoaplica aquecimento muscular.O aquecimento, assim como a

O Hatha também não utilizaaquecimento. Os instrutoresque o adotam, fazem-no

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MESTRE DeROSE  75

DIFERENÇAS SWÁSTHYA YÔGA HATHA YÔGA 

repetição, foi absorvido daginástica britânica durante acolonização da Índia.

copiando da Educação Física.Mas é apócrifo.

CRITÉRIO PARA HABILITAÇÃODOS INSTRUTORES:

Só leciona o Swásthya Yôgaquem for formado e qualificadomediante cursos, exames,revalidações anuais esupervisão permanente de umMestre. E achamos que todos

esses cuidados ainda não sãosuficientes.

No Hatha Yôga a maiorialeciona sem nenhum preparo,sem curso, sem avaliação,sem certificado e sem registroprofissional. Estamos nosreferindo a uma realidade da

maior parte dos países doOcidente no século XX.

TIPO DE PÚBLICO (NO OCIDENTE):

Pessoas dinâmicas,intelectuais, artistas,escritores, cientistas,

  jornalistas, empresários,executivos, profissionaisliberais, universitários,desportistas, etc.

Alternativos, espiritualistas,idosos, enfermos, nervosos,gestantes, senhoras donas decasa, etc.

FAIXA ETÁRIA: Adultos jovens dos 16 aos 50anos de idade. Poucaspessoas acima dessa faixa.

A maioria, dos 50 anos emdiante. Poucas pessoasabaixo dessa faixa.

NÍVEL CULTURAL: Superior e médio. Médio e básico.

CLASSE SÓCIO-ECONÔMICA: Todas as classes, masespecialmente A e B.

Todas as classes, masespecialmente B e C.

SEXO (NO OCIDENTE): Maior procura por parte doshomens.

Maior procura por parte dasmulheres.

MOTIVO PELO QUALPRATICAM:

Prazer de praticar, satisfaçãopessoal, adquirir boa forma,qualidade de vida, definiçãomuscular, administrar o stress ,autoconhecimento.

Problemas psicológicos,doenças, expectativa devantagens espirituais.

PROPOSTA DO MÉTODO: Como em qualquer tipo

legítimo de Yôga, a proposta éatingir o samádhi.

O Hatha Yôga não tem a

proposta de atingir o samádhi.Por isso as maioresautoridades ortodoxas nãoconsideram o Hatha como umYôga.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 76

Bem feito é melhor do que bem explicado.Benjamin Franklin 

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ESQUEMA DE ATUAÇÃO ESCALONADADO MÉTODO DEROSE DE YÔGA AVANÇADO 

ETAPA FASE ESTÁGIO EM QUE CONSISTE

1 Bio-Ex Preparatório antes do Yôga.INICIAL 

2 Ashtánga Sádhana Reforço da estrutura biológica.

3 Bhúta Shuddhi Purificação corporal intensiva.MEDIAL 

4 Maithuna Canalização da energia sexual.

5 Kundaliní  Despertamento da energia criadora.FINAL 

6 Samádhi Estado de hiperconsciência.

A MECÂNICA DO MÉTODO DeROSE Capítulo extraído de uma das aulas do Curso Básico de Yôga , em vídeo.

O MÉTODO CONSISTE EM TRÊS ETAPAS:1. A etapa inicial – tem por objetivo preparar o praticante para suportar o empuxo evolutivoque ocorrerá na etapa final. O resultado desse preparo prévio, é o reforço da estruturabiológica com um aumento sensível e imediato da vitalidade.

2. A etapa medial – tem por objetivo a purificação mais intensiva e energização da sexualidade.

3. A etapa final – tem por objetivo despertar a energia kundaliní, com o conseqüentedesenvolvimento dos chakras, seus poderes paranormais e, finalmente, a eclosão dahiperconsciência chamada samádhi.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 78

Noutras palavras, a etapa inicial visa a proporcionar saúde e força suficientes para que opraticante agüente as prodigiosas alterações biológicas resultantes de uma evolução pessoalacelerada que ocorrerá na etapa final.

Por isso, a etapa inicial tende a proporcionar todos aqueles efeitos mencionados no capítuloanterior. É que a fase final vai trabalhar para tornar o praticante uma pessoa fora da faixa danormalidade, acima dela. Se alguém está fora dessa faixa para baixo, a fase inicial vai içá-lo até anormalidade plena, conferindo-lhe uma cota ótima de saúde e vitalidade. Daí poderemos fazer umbom trabalho de desenvolvimento interior equilibrado e seguro, no qual o praticante vai conquistara evolução de um milhão de anos em uma década. Para isso, há que adquirir estrutura.

Por esse motivo, há uma legião de pessoas que adotam o Yôga apenas visando aos benefíciospropiciados pela prática introdutória e por aí ficam, satisfeitas com os ótimos resultados obtidos.

Vejamos agora, estágio por estágio.

O QUE É BIO-EX 

BIO-EX, ou Bio-Exercício, é uma especialização da profissão de professor de Yôga. Foi umdesdobramento do Swásthya heterodoxo que, todavia, conquistou identidade própria. Não deveser confundido com Yôga. Por isso recomendamos que não seja mencionado em artigos sobreYôga; e que o Yôga não seja citado em matérias a respeito de Bio-Ex.

Definimos Bio-Ex como um exercício biológico por excelência, indicado a quem sabe, por umaquestão de cultura geral, que o ser humano precisa exercitar-se para não deteriorar seu corpo,não se tornar disforme e não morrer mais cedo.

Trata-se de um pré-Yôga. É o estágio preliminar, obrigatório antes do interessado ter acessoao Yôga propriamente dito. Vai trabalhar exclusivamente o corpo, com efeitos imediatos,intensos e de larga duração. Desenvolve a flexibilidade, a vitalidade, o tônus muscular e a

saúde como um todo. Tem uma proposta descomplicada, sem filosofia, sem compromissos,sem sânscrito.

Embora pertença à estrutura global do Swásthya como um pré-Yôga, ele sozinho não é Yôga.Bio-Ex não é Yôga uma vez que não se enquadra na definição técnica do Yôga. Lembra-se dela?Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi. Ora, se Bio-Ex nãose propõe a conduzir ao samádhi, como de fato não conduz, então, tecnicamente não é Yôga.

Consiste em técnicas corporais sem cansaço, exercícios biológicos, baseados em movimentosconscientes, sem repetição, que atuam prioritariamente em três áreas:

1) Flexibilidade  – esta compreende o alongamento muscular e a flexibilização articular, pois oalongamento só atua no âmbito muscular; contudo, se queremos conquistar uma boaflexibilidade, precisamos aumentar o ângulo de amplitude das articulações.

2) Tônus muscular  – visa ao aumento de força, a definição da musculatura e o enrijecimentodos tecidos, sem comprometer a flexibilidade.

3) Vitalidade   – ao realizar um trabalho continuado e gradual que promove profundasmudanças na vascularização da massa muscular, reforçadas pelo aumento de oxigenaçãocelular e a redução do stress, o resultado é uma sensação de bem estar, boa disposição,alegria de viver e incremento na saúde de todos os tecidos e órgãos do corpo.

A partir dessa terceira área, compreende-se o motivo pelo qual o Bio-Ex tende a atuar em umalarga gama de efeitos corporais aos quais muita gente atribui conotações terapêuticas.

Não se trata de ginástica. A Educação Física e os esportes são muito bons dentro dosobjetivos a que se propõem. Bio-Ex não é ginástica. Tampouco é contra a ginástica.Simplesmente oferece mais uma opção.

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Algumas vezes somos procurados por interessados em praticar nossa técnica e, por umaquestão de honestidade, reconhecendo que seus objetivos não serão alcançados com Bio-Ex,orientamo-los para que experimentem natação, musculação, dança, artes marciais, etc. Tudo éválido, dependendo do que a pessoa precisa ou deseja. Da mesma forma, é comum quealguém venha às nossas Unidades procurando por Yôga, e esclarecermos que Bio-Ex satisfarámelhor suas expectativas. Ou vice-versa.

O princípio do Bio-Ex é o do exercitamento natural. A repetição não é tão natural quanto avariedade de movimentos. Você jamais verá um leopardo executando "um, dois, um, dois",nem se aquecendo antes de caçar, ou repetindo os exercícios até estressar a musculatura. Sevocê não dispõe de um leopardo, observe o seu gato. Há três coisas que ele não faz: nãorepete, não se aquece e não executa coisa alguma até estressar a musculatura, pois issoproduz desconforto e é natural que qualquer animal irracional evite o desconforto. Parece

lógico os animais racionais também desejarem evitá-lo, com muito mais razão.Como é que o seu gato faz? Ele flexiona a coluna com força e intensidade, sob uma duraçãodeterminada. Então, estende bem as patas dianteiras, e assim permanece por um período detempo. Depois estica uma pata traseira e depois a outra. Pronto! Terminou uma agradável aulade Bio-Ex para gatos. Se funciona? Experimente pôr um cão perto dele. Sem aquecimentomuscular algum, o felino vai lhe mostrar o que é estar em forma, dará um show de reflexos, deagilidade, de coordenação motora. Se o cão tiver até o dobro do tamanho do bichano, levaráuma boa surra, sem dúvida alguma. Isso é estar em forma. Isso é o que nós oferecemos aosnossos praticantes.

BIO-EX NÃO É YÔGA?

Uma resposta simples, rápida, direta e erudita é que Bio-Ex não se enquadra na definiçãotécnica do Yôga. Lembra-se dela? Yôga é qualquer metodologia estritamente prática queconduza ao samádhi. Ora, se Bio-Ex não se propõe a conduzir ao samádhi, como de fato nãoconduz, então, tecnicamente não é Yôga.

Outra resposta bem objetiva é a seguinte: mostre uma aula de Bio-Ex a um instrutor de Yôga epergunte-lhe se aquilo é Yôga. Ele responderá peremptoriamente que não. Então, não é.

Na prática percebe-se muito facilmente que Bio-Ex é diferente. Tal diferença não precisa estarforçosamente nos exercícios, tanto que, para excitar a perspicácia dos nossos praticantes,utilizamos para a Série Regular de Bio-Ex praticamente os mesmos exercícios que havíamosusado anteriormente para montar a Série Básica de Yôga.

Portanto, a diferença não está nos exercícios. Está na maneira de fazê-los, no ritmo, na atitudeinterior e até no clima emocional na sala de prática.

Além do mais, se mostrarmos uma foto ou desenho de uma pessoa sentada no chão, com aspernas estendidas, as mãos nos tornozelos e a cabeça nos joelhos, essa mesma ilustraçãopode ser de um exercício de Ginástica Olímpica, aquecimento de Karatê, Yôga, Bio-Ex e maisuma dúzia de modalidades. A maneira de executar, a intenção e até a indumentária é que vãoterminar por definir a que especialidade pertence esse exercício.

NÃO OCORRE CHOQUE DE EGRÉGORAS ENTRE

O YÔGA E O BIO-EX?

Não, pois o Bio-Ex nasceu de um desdobramento do Swásthya Yôga Heterodoxo. Como todofilho, logo ganhou identidade própria e podemos dizer, sem receio, que o Bio-Ex não é Yôga.Entretanto, há uma simbiose entre ambos. Reciprocamente, auxiliam-se. Isso preserva acompatibilidade.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 80

Assim, para lecionar essa disciplina, é requisito ser instrutor de Yôga formado, comespecialização em Bio-Ex, desde que trabalhe numa Unidade Credenciada da REDE DeROSE.Sem isso, o instrutor só pode ensinar Yôga, mas não a especialização Bio-Ex.

O QUE CARACTERIZA E DISTINGUE UMA PRÁTICA DE BIO-EX 

Em relação ao Yôga, as diferenças são inúmeras. Aí vão algumas características do Bio-Ex:

1. Bio-Ex permite a adaptação, bem como a criação de novos exercícios;

2. por isso mesmo, os exercícios não têm nomes;

3. evidentemente não se utiliza o sânscrito para coisa alguma;

4. pratica-se sempre de olhos abertos;

5. cultivam-se muito mais coreografias e os encadeamentos ou passagens de umexercício para o outro;

6. não se utilizam, nas coreografias, gestos típicos do Yôga;

7. a aula não é recitada em monólogo e sim em diálogo, incentivando-se o tempo todo ofeed-back do aluno;

8. a alegria é explorada ao máximo;

9. a sala é bem iluminada e não precisa estar em silêncio; isso permite que pessoas semovimentem, até mesmo entrem e saiam, ou dirijam-se ao instrutor, sem perturbar a aula;

10. não há filosofia, compromissos nem ideologia de espécie alguma;

11. não existe restrição alimentar, mas apenas aconselhamento;

12. não se justifica coisa alguma, não se deseja provar nada a ninguém21.

O instrutor de Swásthya que esteja autorizado a ensinar Bio-Ex, deve estimular seuspraticantes para progredir e galgar o Yôga, fazendo-os conscientizar-se de que, se estão de talforma satisfeitos com o Bio-Exercício, hão de gostar muito mais do Swásthya, que éinfinitamente mais completo. E, ao final do primeiro mês de prática de Bio-Ex, o ministrantedeve proporcionar-lhes uma sessão de Swásthya ortodoxo para que percebam bem asdiferenças entre um método e outro. Se gostarem do Yôga, deverão ler a bibliografiarecomendada e disponível na época, fazer um teste de assimilação e, só então, ser admitidosno Yôga.

Se algum candidato não gostar do Yôga e preferir continuar na turma de Bio-Ex, poderáprosseguir normalmente com essa forma biológica de exercitar-se. Não há nenhuminconveniente.

Caso considere descabida a exigência de ler determinados livros e submeter-se à avaliação erecusar-se, já estará auto-excluído por falta de humildade, disciplina e senso hierárquico. Oseleto grupo de Yôga permanecerá constituído por pessoas muito especiais e nenhumquestionador se infiltrará para eventualmente comprometer a harmonia do ensinamento ou darelação Mestre/discípulo.

Em nossas andanças pelo mundo, percebemos facilmente quando um instrutor não segue esta

orientação. Em alguns Núcleos notamos que há muito mais praticantes de Bio-Ex do que deYôga, sinal de que o instrutor acomodou-se e não soube estimular seus pupilos, não soubedemonstrar o quanto o Swásthya é fascinante. Talvez, porque ele mesmo não o tenha aindametabolizado.

21 O Yôga também não quer provar nada, mas o que se vê na prática são professores queprocuram justificar demais. Trata-se de uma pandemia no ambiente do Yôga e outras filosofiasorientalistas.

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MESTRE DeROSE  81

Noutros lugares há muitos praticantes de Yôga, sim, mas estes não parecem cem por centoidentificados com a nossa egrégora, não transmitem o brilho de carinho no olhar, nãomanifestam a empatia com o método ou respeito para com os preceptores. Sinal de que forampassados para a turma de Yôga sem que as normas de seleção tivessem sido obedecidas.

2 − ASHTÁNGA SÁDHANA 

Uma das principais características do Swásthya Yôga é o ashtánga sádhana. Ashtángasádhana significa prática em oito partes  (ashta = oito; anga = parte; sádhana = prática). Utilizamos diversos níveis desse programa óctuplo. O primeiro nível, para aqueles que já foramautorizados a ingressar no Yôga, é o ády ashtánga sádhana (ádi/ády = primeiro, fundamental),o qual é constituído pelas oito partes seguintes, nesta ordem:

1) mudrá gesto reflexológico feito com as mãos;2) pújá sintonização com o arquétipo; retribuição de energia;3) mantra vocalização de sons e ultra-sons;4) pránáyáma expansão da bioenergia através de respiratórios;5) kriyá22 atividade de purificação das mucosas;6) ásana posição psicofísica;7) yôganidrá técnica de descontração;8) samyama concentração, meditação e outros exercícios mais profundos.

ANÁLISE DOS 8 ANGAS:

1) Mudrá

É o gesto ou selo que, reflexologicamente, ajuda o praticante a conseguir um estado dereceptividade superlativa. Mesmo os que não são sensitivos, podem entrar em estados alfa etéta, já nesta introdução. No capítulo Mudrá do livro Faça Yôga Antes que Você Precise ,apresentamos as fotos de 108 mudrás.

2) Pújá (manasika pújá)

É a técnica que estabelece uma perfeita sintonia do sádhaka com o arquétipo desta linhagem.Com isso, seleciona um comprimento de onda adequado a esta modalidade de Yôga, conectaseu plug no compartimento certo do inconsciente coletivo e liga a corrente, estabelecendo umaperfeita troca de energias entre o discípulo e o Mestre.

3) Mantra (vaikharí mantra: kirtan e japa)

A vibração dos ultra-sons que acompanham o "vácuo" das vocalizações, neste caso do ádyashtánga sádhana, tem a finalidade de desesclerosar os canais para que o prána possacircular. Prána é o nome genérico da bio-energia. Somente depois dessa limpeza é que sepode fazer pránáyáma. O Swásthya Yôga utiliza centenas de mantras: kirtan e japa; vaikharí e

manasika; saguna e nirguna mantras. No capítulo Mantra , do livro citado, ensinamos as letrasde 33 mantras.

4) Pránáyáma (swara pránáyáma)

22 O acento indica apenas onde está a sílaba longa, mas ocorre que, muitas vezes, a tônicaestá noutro lugar.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 82

São exercícios respiratórios que bombeiam o prána para que circule pelas nádís e vitalize todoo organismo. E também a fim de distribuí-lo entre os milhares de chakras que temosespalhados por todo o corpo. Bombear aquela energia por dutos obstruídos pelos detritosdecorrentes de maus hábitos alimentares, secreções internas mal eliminadas e emoçõesintoxicantes, pode resultar inócuo ou até prejudicial. Por isso, antes do pránáyáma,procedemos à prévia limpeza dos canais, na área energética. Utilizamos 58 exercíciosrespiratórios diferentes, que são ensinados em detalhe no respectivo capítulo do livro Faça Yôga .

5) Kriyá 

São purificações das mucosas, que têm a finalidade de auxiliar a limpeza do organismo, agorano nível físico. Em se tratando de Yôga, só se deve proceder às técnicas corporais após o

cuidado de limpar o corpo por meio dos kriyás. Relacionamos 27 kriyás no livro acima citado. 6) Ásana 

Esta é a parte mais conhecida e característica do Yôga para o público leigo. Não é ginástica enão tem nada a ver com Educação Física. São as técnicas corporais que produzem efeitosextraordinários para o corpo em termos de boa forma, flexibilidade, musculatura, equilíbrio depeso e saúde em geral. Para aproveitar ao máximo seu potencial, os ásanas devem serprecedidos pelos kriyás, pránáyámas, etc. Aplicamos milhares de ásanas, dos quais 2.000constam do mesmo livro. Os efeitos dos ásanas começam a se manifestar a partir doyôganidrá.

7) Yôganidrá 

É a descontração que auxilia o yôgin na assimilação e manifestação dos efeitos produzidos portodos os angas. A eles, soma os próprios efeitos de uma boa recuperação muscular e nervosa.Mas atenção: yôganidrá não tem nada a ver com o shavásana do Hatha Yôga. Shavásana,como o nome já diz, é apenas um ásana, uma posição, em que se relaxa, mas não é a ciênciado relaxamento em si. Essa ciência se chama yôganidrá e ela não consta do currículo do HathaYôga. Por isso muitos instrutores de Hatha Yôga censuram o uso de música ou de induçãoverbal do ministrante durante o relaxamento. O yôganidrá aplica não apenas a melhor posiçãopara relaxar, mas também a melhor inclinação em relação à gravidade, o melhor tipo de som,de iluminação, de cor, de respiração, de perfume, de indução verbal, etc.

8) Samyama 

Essa técnica compreende concentração, meditação e o samádhi "ao mesmo tempo", isto é,praticados juntos, em seqüência, numa só sentada (etimologicamente, samyama pode significar ir 

 junto ). Se o praticante vai fazer apenas concentração, chegar à meditação ou atingir o samádhi,isso dependerá exclusivamente do seu adiantamento pessoal. Assim, também é corretodenominar o oitavo anga de dhyána, que significa meditação. É uma forma menos pretensiosa.

Portanto, mesmo uma prática de Swásthya Yôga considerada para iniciantes, como esteconjunto de oito feixes de técnicas que acabamos de analisar e que constitui a fase inicial donosso método, será bem avançada em comparação com qualquer outro tipo de Yôga, já se

prevendo a possibilidade de atingir um sabíja samádhi.

REAÇÃO DOS QUE VIERAM DE OUTRAS LINHAS DE YÔGA 

Muitos migram para o Swásthya Yôga, deparam-se com o ashtánga sádhana e ficamperplexos. Freqüentemente, após o choque da primeira aula, repetem a mesma frase:

- Em anos de yóga não aprendi tanto quanto nesta primeira aula de Swásthya!

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E isso porque só conheceram o ády ashtánga sádhana, a nossa prática mais elementar.Depois vêm outros mais adiantados: o viparíta ashtánga sádhana, o maha ashtánga sádhana,o swa ashtánga sádhana, o manasika ashtánga sádhana, etc.

Como o Swásthya Yôga pode ser tão completo? Ele é prodigiosamente global por tratar-se de umproto-Yôga integrado, Yôga pré-clássico, pré-vêdico, pré-ariano. Yôga original, resgatadodiretamente de seu registro akáshico. Do Yôga Pré-Clássico nasceram todos os demais e poressa razão ele possui os elementos constitutivos dos principais e mais antigos ramos de Yôga.Swásthya é o nome do próprio Yôga Pré-Clássico após a sistematização. Por isso é tão completo.

Certa vez um aluno perguntou-nos se havia alguma literatura que explicasse o motivo pelo qualo nosso método era tão eficiente. Indicamos o livro Kundaliní Yôga, do Swámi Shivánanda,página 86 da segunda edição argentina. Em poucas linhas o Mestre hindu nos proporciona

uma excelente elucidação, quando diz:"Os hatha yôgins o conseguem mediante a prática de pránáyáma, ásana e mudrá; os rája yôgins, mediante a concentração e o treinamento da mente; os bhaktas, por devoção e entrega total; os jñanis, mediante o processo analítico da vontade; e os tântricos, mediante mantras,bem como pelo kripá guru (a graça do Mestre) por imposição das mãos, a fixação do seu olhar ou o mero sankalpa ."

Aqui cabe uma pergunta: um método detentor, simultaneamente, de todos esses recursos eoutros mais, como se denominaria um Yôga assim tão completo?

Seu nome é Swásthya Yôga, sistematizado em 1960 a partir do Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga, hoje extinto.

OUTRAS TÉCNICAS 

Independentemente das diversas gradações de ashtánga sádhana ortodoxo e das miríades devariações heterodoxas, nossa tradição ainda oferece ao praticante os demais estágios que se

seguem.

3- BHÚTA SHUDDHI 

É a etapa de purificação intensiva do corpo e seus canais de prána, as nádís. Na terceira partedo ády ashtánga sádhana (o anga mantra), e depois na quinta parte (o anga kriyá), já demosos primeiros passos nessa tarefa. Trata-se agora de especializar e aprofundar a purificação,não apenas com mantras, kriyás, pránáyámas, mas também com uma rígida seleção alimentar,

  jejuns regulares moderados e com um sistema de reeducação das emoções para que opraticante não conspurque seu corpo com os detritos tóxicos das emoções viscosas como oódio, a inveja, o ciúme, o medo, etc. Também tratamos de regular a quantidade de exercíciofísico, de trabalho, de sono, de sexo e de alimentos. Há uma medida ideal para cada umdesses fatores. Qualquer excesso ou carência pode comprometer o resultado almejado.

Estes e outros recursos são utilizados para deixar os canais desimpedidos, desesclerosados, a

fim de que a energia possa fluir livremente quando for despertada. Caso contrário, sedespertarmos a kundaliní sem termos antes liberado seu caminho pelas nádís, sua eclosãoavassaladora pode romper os dutos naturais e vazar para onde não deve, causandoinconvenientes à saúde. Como os praticantes da "yóga ", com ó  aberto, não conhecem osprocedimentos corretos, nutrem um justificado medo de despertar a kundaliní. O homem receiao desconhecido e esse tema, para aqueles da "yóga ", é ignorado, misterioso. Daí o misticismode alguns. Na verdade, seguindo as regras do jogo e a orientação de um Mestre, despertar akundaliní é menos perigoso que atravessar a rua. Por isso, os praticantes do Yôga, com ô  fechado, não o temem e dominam perfeitamente esse processo de desenvolvimento.

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4- MAITHUNA 

Uma vez obtido o grau desejado de purificação, sempre cultivando a prática do ashtángasádhana, chegamos à parte mais fascinante do currículo tântrico: a alquimia sexual.Evidentemente, nenhuma obra ensina as técnicas do maithuna, pois pertencem à tradiçãochamada gupta vidyá ou ciência secreta. O que se encontra nos livros são informações falsas efantasiosas para iludir os curiosos. É preciso procurar um Mestre autêntico que aceite transmitirpessoalmente esse conhecimento. Os poucos instrutores que de fato conhecem tais técnicas,também evitam ensiná-las uma vez que a maior parte das pessoas não tem maturidade e nemsensibilidade suficientes para merecer essa Iniciação. Fora isso, ainda há os entraves culturaise não foram poucos os Mestres cujos discípulos, nessa etapa, sentindo as pérolas sob seuspés "voltaram-se e os despedaçaram " (Mateus, 7:6).

Contudo, o maithuna é o meio mais poderoso e eficiente de atiçar a serpente ígnea. Segundoesse processo tântrico, temos na região genital uma usina nuclear, à nossa disposição.Podemos deixá-la adormecida como fazem os monges e os beatos de quase todas asreligiões. Podemos simplesmente usá-la e desperdiçá-la sob o impulso cego do instinto, comofazem todos os bichos, inclusive o bicho homem. Ou podemos cultivá-la, usufruindo um prazermuito maior e ainda canalizando essa força descomunal para onde quisermos: para um melhorrendimento nos esportes, nos estudos, no trabalho, na arte e no objetivo principal dessa prática

 – o autoconhecimento advindo do despertamento da kundaliní e pela eclosão do samádhi.

Normalmente poderíamos dizer que em relação ao sexo não há meio termo: ou você usa ounão usa. O Tantra nos oferece uma terceira opção: domesticá-lo e passar de escravo a senhordesse poderoso instinto. Usá-lo sim, e até mais intensamente, mas de acordo com certastécnicas de reeducação e aproveitamento da força gerada. Para utilizá-la é só bombear maisou menos pressão na caldeira termonuclear que todos possuímos no ventre. Em seguida, irliberando o vapor aos poucos para que sempre haja alta pressão na usina.

5- KUNDALINÍ  

Kundaliní é uma energia física, de natureza neurológica e manifestação sexual. O termo éfeminino, deve ser sempre acentuado e com pronúncia longa no í  final. Significa serpentina ,aquela que tem a forma de uma serpente. De fato, sua aparência é a de uma energia ígnea,enroscada três vezes e meia dentro do múládhára chakra, o centro de força situado próximo àbase da coluna e aos órgãos genitais. Enquanto está adormecida, é como se fosse uma chamacongelada. É tão poderosa que o hinduísmo a considera uma deusa, a Mãe Divina, a ShaktíUniversal.

De fato tudo depende dela conforme o seu grau de atividade – a tendência do homem àverticalidade, a saúde do corpo, os poderes paranormais, a iluminação interior que o arrebatada sua condição de mamífero humano e o catapulta numa só vida à meta da evolução semesperar pelo fatalismo de outras eventuais existências.

Segundo Shivánanda "nenhum samádhi é possível sem kundaliní ". Isso é o mesmo quedeclarar que os instrutores de yóga e de Yôga que forem contra o despertamento da kundaliní,não sabem de que estão falando, não sabem o que é o Yôga e nem eles, nem seus discípulos,vão atingir a meta do Yôga.

A energia da kundaliní responde muito facilmente aos estímulos. Despertá-la é fácil. Umexercício respiratório que aumente a taxa de comburente é suficiente para inflamar o seupoder. Um bíja mantra corretamente vocalizado, é capaz de movimentá-la. Um ásana quetrabalhe a base da coluna posiciona-a para a subida pela medula. Uma prática de maithunapode deflagrá-la. Basta combinar os exercícios certos e praticá-los com regularidade.

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Já que despertar a kundaliní não é difícil, não mexa com ela enquanto não tiver um Mestre. Equando o encontrar, não a atice sem a autorização dele.

Difícil é conduzí-la com disciplina, ética e maturidade. Freud e Reich tentaram domá-la para finsterapêuticos. Freud chamou-a de libido. Reich denominou-a orgônio. Como nenhum dos doispossuía a Iniciação de um Mestre nesses mistérios, ambos fracassaram e deixaram à posteridadeuma herança meramente acadêmica de teorias sobre o assunto, sem grandes resultados práticos.

O Yôga tântrico vai fundo nesse trabalho, levantando a kundaliní da base da coluna até o altoda cabeça, através dos chakras, ativando-os poderosamente, despertando os siddhis eeclodindo o samádhi.

6- SAMÁDHI Samádhi é o estado de hiperconsciência, de megalucidez, que proporciona oautoconhecimento, bem como o conhecimento do Universo.

Os praticantes de outros tipos de Yôga consideram o samádhi algo inatingível, digno apenasdos grandes Mestres. Algo que simples mortais não devem nem almejar sob pena de serconsiderados pretensiosos. E quem o atinge, deve negá-lo publicamente para evitar o escárniodos demais yôgis! Quanta estupidez! Quanta distorção! Se a meta do Yôga é o samádhi, todosos que o praticam devem atingir esse estado de megalucidez.

O sabíja samádhi, ou samádhi com semente, é um estado de consciência que pode sertraduzido como pré-iluminação e está ao alcance de qualquer praticante saudável edisciplinado, que tenha passado por todos os estágios anteriores e permanecido em cada umdeles o tempo prescrito pelo seu Mestre.

Não há perigo nem misticismo algum. É apenas um estado de consciência.

O nirbíja samádhi23

é o estágio final, em que o praticante atinge a meta do Yôga, o coroamentoda evolução do ser humano. Não há como descrevê-lo. Conta-se que, quando os discípulos doiluminado Rámakrishna pediam-lhe para explicar o que era o samádhi, o Mestre simplesmenteentrava em samádhi.

Aceite-se, apenas, que o fenômeno é um estado de consciência que está muitas dimensõesacima da mente e, por isso, é impossível compreendê-lo com o auxílio dos mecanismosmentais, lógica ou cultura. Essas ferramentas só serão úteis depois que o fenômeno tiver sidoexperienciado, para conceituá-lo. Isto basta por ora.

RECURSOS SUPLEMENTARES 

Além da estrutura que acabamos de estudar, o Swásthya Yôga possui alguns recursos que sãoconsiderados suplementares por não fazerem falta no processo de crescimento e evolução dopraticante mas que, por outro lado, podem contribuir para com a sua melhor integração naegrégora, assim como para proporcionar maior satisfação ao estudante. Tais recursos são:

SAT SANGA 

23 Se o leitor desejar esclarecimentos sobre os termos sânscritos, recomendamos queconsulte o Glossário do livro Faça Yôga Antes que Você Precise . Sobre a pronúncia, ouça oCD Sânscrito - Treinamento de Pronúncia , gravado na Índia. Para mais conhecimentos, oideal é estudar os vídeos do Curso Básico de Yôga . 

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Sat sanga significa reunião em boa companhia , ou simplesmente associação . Designa um tipode reunião festiva, geralmente promovida apenas para executar kirtans. Nessa oportunidade ooficiante pode aproveitar para fazer uma preleção ou uma meditação com o grupo.

Por extensão pode denominar-se sat sanga uma reunião festiva na casa de um praticante deYôga, de preferência se todos os convidados forem também yôgins.

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SAT CHAKRA 

Sat chakra é uma modalidade de sat sanga em chakra, em círculo. Não confundir com termohomônimo que significa “os seis chakras”.

Sat chakra é um tipo de chakra sádhana, isto é, prática feita em círculo.

Quando o objetivo é realizar um pújá, denomina-se chakra pújá, que é uma técnica tipicamentetântrica.

O sat chakra é um exercício em que os praticantes, em número mínimo de seis pessoas,sentam-se formando um círculo, no qual vão executar seis angas, a saber:

1. captação de energia, através de pránáyáma;2. equalização da energia, através de mantra;3. dinamização da energia, pelas palmas;4. circulação da energia, dando-se as mãos;5. projeção da energia, por mentalização e/ou imposição de mãos;6. filtro contra retorno kármico, através de mentalização específica.

NYÁSA 

Nyása significa identificação. Consiste num exercício de origens tântricas que visa a produzirum fenômeno muito peculiar em que o praticante se identifica de tal maneira com o objeto dasua concentração que passa a possuir as características desse objeto. Terminado o nyása, ascaracterísticas cessam. Contudo, se o yôgin praticar sistematicamente nyása sobre um mesmoobjeto, gradativamente suas qualidades vão sendo incorporadas pelo praticante.

Assim, se o sádhaka pratica nyása com o seu Mestre, vai compreender melhor o ensinamentodele. Passa a incorporá-lo como seu. É possível executar nyása, não apenas com pessoas

vivas ou mortas, mas também com objetos da Natureza, tais como uma flor ou uma pedra. E,ainda, com egrégoras e com seres mitológicos.

Há várias formas de nyása. Duas delas são: o Satguru nyása sádhana e o Shiva Natarája nyása.

S ATGURU N YÁSA S ÁDHANA 

Trata-se de uma prática muito forte. Ela é tão poderosa pelo fato de o discípulo a receber porvia direta, de dentro para fora, numa espécie de catarse desencadeada por ação de presençado Mestre.

Este sádhana só pode ser transmitido pelo Satguru, isto é, pelo Mestre dos demais Mestresdesta linhagem. Sua simples presença catalisa as energias dos sádhakas e eles passam aexecutar ásanas, mudrás, pránáyámas, mantras, bandhas, kriyás, dhráraná, dhyána e samádhisem que o Preceptor transmita qualquer ensinamento concretamente. Ele apenas se permitecorrigir alguma prática que não tenha sido captada de forma correta.

S HIVA N ATARÁJA NYÁSA 

Esta é uma identificação com Shiva no seu aspecto de Natarája, aquele que dança dentro deum círculo de fogo, marcando o ritmo do Universo com seu tambor dhamaru, e pisoteando odemônio da ignorância, Avidyá.

Num nível inicial reprograma a movimentação do neófito para aprimorar a linguagem gestualassociada aos ásanas e suas passagens nas coreografias. Em nível mais profundo promove aidentificação com o criador do Yôga, facilitando a sintonia relativa à origem primeira,conseqüentemente, à autenticidade e legitimidade do ensinamento que nos propomos arepresentar.

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Se bem feito, o Shiva Natarája nyása pode introjetar a egrégora de Shiva no inconsciente doyôgin, tornando-o uno com o criador do Yôga.

6SAMÁDHI 

HIPERCONSCIÊNCIA, AUTOCONHECIMENTO 

5

KUNDALINÍ  DESPERTAMENTO DO PODER INTERNO 

4MAITHUNA 

TÉCNICAS DE CANALIZAÇÃO DA ENERGIA SEXUAL 

3BHÚTA SHUDDHI 

FASE DE PURIFICAÇÃO INTENSIVA 

2ASHTÁNGA SÁDHANA 

REFORÇO DA ESTRUTURA BIOLÓGICA 

1BIO-EX 

EXERCÍCIOS BIOLÓGICOS DE INTRODUÇÃO

ASHTÁNGA YANTRA 

O ashtánga yantra é o símbolo do Swásthya Yôga. Suas origens remontam às maisarcaicas culturas da Índia e do planeta. Parte de sua estrutura é explanada no Shástra

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Yantra Chintamani . Constitui um verdadeiro escudo de proteção, lastreado emarquétipos do inconsciente coletivo.

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Portanto, não apenas no Yôga, mas em todas as demais artes, o que ocorreu pura esimplesmente foi a deturpação da coisa verdadeira e sua transformação em uma agüinha-com-açúcar, simplificada tanto quanto o público exigia, e que pouca ou nenhuma semelhançaguardava com aquilo cujo nome utilizava. Era preciso fazer algo a respeito.

Decidimos perfazer o caminho inverso, ou seja, começaríamos definindo o que a nova metodologiadeveria não ser. Tal como numa escultura, em que o artista vai lavrando a rocha com o seu cinzelpara libertar a delicada imagem que o bloco de pedra esconde em seu seio, da mesma forma fomosdefinindo todas as qualidades indesejáveis que queríamos evitar, e tratamos de excluí-las, comvigorosas cinzeladas, uma a uma. Primeiro, relacionamos os defeitos de todos os processosexistentes. Em seguida começamos a desbastar o monólito que tínhamos diante de nós.

A modalidade A era muito parada? Então, o nosso método não o seria! A especialidade B era

mística? A nossa não poderia sê-lo! O sistema C era chato? O nosso seria o oposto. A correnteD  violentava o corpo? Então, nós não o faríamos! O processo E  demorava para produzirefeitos? Nesse caso precisávamos de algo que proporcionasse resultados rápidos! E, acima detudo, todos eles deixaram que sua imagem evoluísse aleatoriamente? Pois o nosso não seriaassim. Nós é que determinaríamos precisamente qual deveria ser sua imagem, qual o seupúblico, seus objetivos, seu ambiente e o clima de trabalho. Assim foi.

POR QUE SENTIMOS A NECESSIDADE DA FORMALIZAÇÃO 

A formalização da nossa metodologia teve vários objetivos. Um deles foi devolver ao Yôga aestatura original de filosofia iniciática, envolvê-lo em um casulo protetor que impedisse odeterioramento pelo contato corrosivo com a poluição do consumismo destes últimos tempos.

Não suportávamos mais ter que conviver com a inversão de valores, a qual afastava do Yôga justamente as pessoas que eram o seu público alvo, e atraía gente equivocada que não queriaYôga nenhum. Pessoas que vinham buscando, na verdade, não Yôga, mas tábuas desalvação; que nos procuravam, não por entender a proposta da nossa arte, porém para pedir

socorro, como se fôssemos alguma espécie de seita. Que tremendo mal entendido!A culpa de tais distorções é dos "professores" de yóga, não-formados, os quais, carecendo dequalificação profissional, não têm nem a mínima noção daquilo que ensinam e, assim, inventam àvontade. Por isso, só conseguem alunos entre as pessoas menos informadas a respeito e poucoexigentes: místicos (que são crentes por excelência), velhinhos ou enfermos (que já estãocombalidos e buscam um alívio para seus males, não estando, portanto, interessados nemabalizados a questionar a autenticidade do método ou as credenciais do "professor").

Entre os absurdos perpetrados, um dos mais comuns é o seguinte: o Yôga é estritamenteprático, não comporta doutrinação. Contrariando essa característica e norma ética, é comumencontrar praticantes queixosos contra supostos professores por tentativas de doutrinação.Não bastasse isso, a catequese, ainda por cima, é explorada em favor de correntes que nadatêm a ver com Yôga, tais como Vêdánta, Espiritismo, Rosacruz, Teosofia, seitas exóticas, etc.Outro engano é aplicar qualquer tipo de religiosidade, já que o Yôga clássico é baseado noSámkhya, uma filosofia freqüentemente qualificada como materialista e ateísta  – embora, naverdade, nem o seja – tantas as características anti-místicas e não-espiritualistas dessa raiz.

Muitas vezes fomos consultados na Confederação Nacional de Yôga sobre se conhecíamos oprofessor Fulano ou Sicrano. Ao informarmos que a pessoa em questão não era instrutorformado e não deveria estar dando aulas, a própria pessoa que encaminhara a questãodiscordava da opinião profissional que consultara.

 – Ah! Não, deve haver algum engano. Esse professor é muito bom!

O que um leigo chama de "professor bom"? É uma pessoa simpática, bem falante, que secomunica bem e procura fazer-se agradável nas aulas e no relacionamento. O que isso tem aver com honestidade, competência, habilitação, eficiência das técnicas, segurança da saúdefísica e mental do aluno, ou autenticidade do objetivo a que o Yôga se propõe?

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Qual seria a sua opinião a respeito de um médico simpático, comunicativo, extremamenteatencioso, capaz de proceder a uma consulta muito interessante e agradável, mas que nãotivesse se formado em medicina?

Lembre-se de que os vigaristas não poderiam exercer seu ofício se não tivessem cara dehonestos.

Quando aquele consumidor declara que o suposto professor de Yôga é bom, pode estar sereferindo ainda aos resultados obtidos:

 – Mas as aulas dele me fizeram muito bem. Naquela época fiquei mais calma e melhorei dadepressão.

Acontece que Yôga não acalma – energiza! Yôga não é terapia, é filosofia. Não visa a resolver

as mazelas do trivial diário e sim a grande equação cósmica da evolução.Em nenhum texto da antiguidade (com mais de 2.000 anos), sobre Yôga, você encontra adeclaração de que essa filosofia seja uma terapia ou, muito menos, que acalme! Em todos oslivros ancestrais o Yôga é associado a conceitos de poder e de força. Jamais à calma.

Ainda se, eventualmente, encontrarmos alguma referência que deixe dúvidas a esse respeito,terá sido devida à má tradução, verdadeira pandemia nas versões modernas dos antigoscompêndios. Um exemplo disso é a palavra púrusha, que significa homem, mas aparece quasesempre traduzida como espírito, devido às traduções das escrituras Sámkhya terem sidocometidas por adeptos do Vêdánta, e este ser um dárshana espiritualista, logo, oposto aoSámkhya. Seria o mesmo que ler um livro de Santo Agostinho traduzido por Marx. Não oGroucho – o outro!

Pratiquei muitas modalidades de técnicas físicas, dediquei-me a inúmeros esportes, dança, artesmarciais, estudei incontáveis filosofias, fui iniciado em um sem-número de sociedades secretas,viajei o mundo todo várias vezes, adquiri cultura geral e específica, conheci diversos Mestresfamosos, debati com muita gente importante, sem esquecer o inegável valor da experiência pessoal,e posso confirmar: não há nada tão bom, eficiente, amplo e profundo quanto o Yôga. Contudo, nofinal do século XX a imagem do Yôga foi alterada, confundindo-se os meios com os fins.

Graças aos procedimentos defendidos no nosso trabalho, alteramos a balança da lei de oferta-e-procura, a favor do Yôga. Conseguimos torná-lo mais respeitado, reduzindo a oferta,aumentando a procura, limitando drasticamente o número de privilegiados que teriam acesso aele.

Hoje, quem chegar procurando por Yôga, vai ser informado de que o nosso sistema é assim:primeiro todos precisam passar pelo período preparatório com Bio-Exercícios, de um mês oumais, a fim de adquirir estrutura suficiente para suportar o impacto do Yôga, que aprenderáposteriormente. Nesse meio tempo, muita gente vai descobrir que desejava mesmo era Bio-Exe seguirá aperfeiçoando-se nesse sentido. Os outros, se de fato tiverem vocação emerecimento para receber a iniciação no Yôga, eventualmente terão acesso a essaprerrogativa.

O Yôga voltou a ser iniciático, hermético. Aí, passou a despertar até mais interesse.

Repentinamente, todo o mundo passou a saber que temos esse tesouro e a bater na nossaporta para candidatar-se a uma das raras e, por isso mesmo, preciosas vagas.

Desde que adotamos essa política de conversão de imagem, nosso público melhorou bastante.

A faixa etária baixou, gerando uma expressiva maioria de 16 a 36 anos de idade. Não obstante,continuamos tendo praticantes de mais de 40.

O nível cultural subiu e hoje atendemos principalmente a um público de nível universitário:escritores, artistas, cientistas, em sua maioria jovens. Atualmente temos mais homens do quemulheres. As mulheres são empresárias, executivas, profissionais liberais, universitárias,escritoras, jornalistas e desportistas.

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O MEU MESTRE 

Se você tem um relógio, sabe que horas são.Se tem dois relógios, já não tem certeza.

Sabedoria popular

Em 24 anos de viagens à Índia, estudei com vários Mestres hindus, hoje já falecidos, considerados os últimos grandes mestres daquele país. Mas anenhum deles posso reconhecer como o Meu Mestre. Isso confundiu umpouco os críticos que induziu-os ao erro de supor que eu fosse um

autodidata, o que não é fato. Embora haja professores de yóga quealardeiem com indisfarçável orgulho que são autodidatas, esse não é omeu caso. Como a maioria, eu também considero que em Yôga, oautodidatismo não é nada louvável. É apenas uma questão de ego.

No entanto, antes de ter estudado com aqueles renomados mentores,quando bem jovem, andei à procura de alguém para ser meu Mestrefísico, Mestre de carne-e-osso. Ninguém aceitou, uns por honestidadeao avaliar sua própria limitação, outros disfarçando isso com falsamodéstia ("Oh! Não, quem sou eu... não posso ser Mestre deninguém!"). O fato é que, professor algum julgou-se apto a levar-meadiante do ponto onde eu já estava.

Muito antes de descobrir o verdadeiro Mestre gastei muita sola emuito latim (e sânscrito!) na procura. Finalmente desisti de encontrá-lo entre meus conterrâneos e comecei a buscá-lo nos indianos quevinham dar conferências no Brasil. Mas decepcionava-meseguidamente, pois era freqüente que eles não parecessem ter maisconhecimento do que os brasileiros. Em suas palestras não

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YÔGA, MITOS E VERDADES 94

acrescentavam nada e por vezes deixavam muito a dever aos nossos.Só iludiam mais a opinião pública por apresentarem-se com trajesexóticos e dirigirem-se ao público em inglês. Até que certo dia, umdeles, que pareceu possuir realmente algum grau mais avançado, pôstermo a essa fatigante peregrinação. Foi o Swámi Bhaskaránanda, queesteve no Brasil em 1962. Tive a oportunidade de estar com ele eexpor minha expectativa. Ele esclareceu:

– Seu Mestre ainda não sou eu, nem é nenhum dos da sua terra. Ele é

maior do que todos nós juntos e tem muito mais a lhe transmitir doque o mero conhecimento intelectual. Não se preocupe em achá-lo.Ele é que vai achar você, mas só no momento certo, quando estivermais amadurecido e puder entender.

A partir daí, fiquei tranqüilo e parei de buscar. Ao invés disso, passeia investir todo o meu tempo no aprimoramento necessário para mecolocar à altura de um tão grandioso Mestre. Forçosamente tive queler pencas de livros, fazer muitos cursos e conhecer bastante gente. Nomeio, vinham coisas boas, coisas ruins e muitas fraudes.

Entre várias experiências positivas, uma é especialmente digna de

nota. Foi o meu relacionamento com um professor que deixou claroque não poderia ser meu Mestre, mas propôs-se com muitahonestidade a me preparar a fim de tornar-me apto a contactá-lo.

Além dos ensinamentos formais e das aulas regulares, ele me punha obraço sobre o ombro e levava-me a longas caminhadas nas quaistransmitia coisas muito mais interessantes. Por vezes, mandava-me lerlivros difíceis de se encontrar ou muito caros ou, ainda, escritos emidiomas que eu não entendia:

– Se você quer aprender algo que valha a pena, não perca tempo compublicações populares e não meça esforços para adquirir ou para ler as

obras principais, qualquer que seja o seu preço e ainda que estejam emoutras línguas. Se lhe mando ler um livro que só exista em inglês,francês ou espanhol, aprenda a língua e leia o livro.

Ele também me permitia ir à sua casa estudar em livros muito antigose que, pelo jeito, nunca tinham ido ao grande público. Um dia oProfessor me fez sentar diante dele, olhou-me nos olhos e disse:

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– Noto que você tem lido livros de diversas linhas do Conhecimento,que não indiquei. Sei que o tem feito na louvável intenção de adquirirum progresso mais abarcante e universal. Mas esse procedimento não éaconselhável. Por mais que leia, jamais irá, por isso, alcançar oConhecimento. Ele não pode ser conquistado por leitura, uma vez queestá acima do intelecto. Os livros que tenho recomendado sãoescolhidos criteriosamente para lhe proporcionar uma base sólida numsentido bem definido e isso é tudo. Você deve escolher uma filosofia e,

dentro dela, definir-se por uma só de suas linhas. E então, segui-la comtoda a dedicação. Leia o suficiente sobre ela, menos sobre as outras,pratique-a bastante e não misture com mais nada. Espere que o seuMestre chegue e que ele lhe imponha as instruções e restrições quecouberem para o seu caso. A partir desse dia, cumpra-as à risca, custe oque custar.

– Tem certeza de que o meu Mestre não é o senhor?

– Tenho. A sua linhagem, a tradição para a qual você nasceu, ésuperior à minha. Nesta etapa do discipulado sou apenas incumbido delhe proporcionar o impulso inicial. Você deve dar atenção especial aoslivros de Yôga. Mas, mesmo no Yôga, existem muitos ramos. Vocêvai ter que descobrir qual é aquele que lhe veste como uma luva. Osoutros lhe serão inúteis e até prejudiciais.

– Não compreendo. Pensava que todas essas escolas filosóficas secomplementassem e apoiassem umas às outras. Achava que o estudoda Teosofia, Rosacruz, Antroposofia, Esoterismo, Hermetismo,Eubiose, Cabala, Magia, Alquimia e Yôga se reforçassemmutuamente...

– De forma alguma. Todas essas correntes originaram-se em princípiosdiferentes, em países diferentes, épocas diferentes, culturas diferentes etêm objetivos diferentes. Com o tempo, foram se distanciando aindamais, de tal forma que hoje quase todas são praticamente antagônicasentre si. E o Yôga não tem nada a ver com tais filosofias, artes e ciências.A confusão foi criada por buscadores crônicos que detinham poucoconhecimento e muita curiosidade. Os maiores Mestres costumam seguiruma só coisa e exigir isso dos seus discípulos. Preste muita atenção nisto:cada filosofia pode conduzir o ser humano a uma meta diferente. Como

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todas essas metas estão muito acima do entendimento do leigo, eleimagina que ao longe, acima das nuvens, essas paralelas se encontrem.Mas é apenas uma ilusão da perspectiva. Mesmo se assim não fosse,mesmo se todas levassem ao mesmo lugar, considere que muitas são asestradas que levam a Roma, mas você tem de percorrer apenas uma.

– Acontece que sinto um impulso quase irresistível para estudar todasas ciências, artes e filosofias, do oriente e da antiguidade. Isso deveser um sinal de que a minha vocação é essa pois, ao estudá-las, não

faço confusão alguma e até encontro pontos de conciliação. Será que aminha natureza real não é esta? Quero dizer, estudar todas as coisaspara encontrar uma linguagem comum que as concilie?

– Não, meu caro. Todavia, acho que você deve continuar nessa buscaeclética até concluir por sua própria experiência que isso é tempoposto fora e que é extremamente arriscado.

– Arriscado?

– Sim. Seguir duas escolas ou dois Mestres é como acender uma vela nosdois lados. Você está se excedendo muito além disso. Portanto, pormedida de segurança, vou deixar que você continue estudando os livrosda minha biblioteca, mas não vou lhe ensinar mais nenhum exercícioenquanto você não se definir pela senda que pretende trilhar.

– Mas, Professor...

– Não argumente. Não quero desenvolver em você os poderesenquanto não souber exatamente o que fará com eles, e se teráequilíbrio e disciplina para merecê-los.

Terminado o passeio, voltei aos livros. Queria lê-los todos, porémagora preocupava-me a advertência do Professor. Procurei o Grão-Mestre de uma das ordens iniciáticas que freqüentava e expus-lhe

resumidamente o meu dilema. Ele respondeu com uma história.– Meu filho. Um dia fui visitar o Grão-Mestre que me precedeu nestecargo. Ele me recebeu em sua imensa biblioteca. Estantes enormesreuniam milhares de livros onde se viam nomes como Paracelso,Agrippa, Avicena, Cagliostro e outros sábios. Ao ver tais obras nãopude deixar de exclamar: “Como gostaria de poder um dia ler todosesses livros!" E o meu anfitrião respondeu com indiferença: "Seria

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uma grande perda de tempo. A sabedoria não está neles." O problemaé que só compreendi isso trinta anos depois, quando já os havia lido...

Num misto de perplexidade e decepção, fui consultar um professor deYôga, em cuja linhagem eu estava pleiteando Iniciação. Queria quealguém me dissesse o contrário. Precisava de uma só pessoa abalizadaque me desse um grama de incentivo para voltar às leiturasdiversificadas e à salada de práticas e exercícios, nas diversas ordens,sociedades e fraternidades. Afinal, aquilo tudo era fascinante! Mas foi

uma água fria na fervura. Ele confirmou tudo o que os outros jáhaviam dito e foi mais além. Disse que não me daria a Iniciação amenos que me desligasse de tudo o que já havia estudado até então eaceitasse começar da estaca zero!

Fiquei chocado. Como é que um Mestre poderia ser mesquinho a esseponto? Expus-lhe educadamente essa minha estranheza e obtive aseguinte resposta:

– Não se trata de atitude mesquinha. Trata-se apenas de protegê-lo.Imagine que o discípulo é como um equipamento eletrônico e oMestre é o técnico que deverá reprogramá-lo para aumentar sua

potência e desempenho. Se você tiver dois ou mais Mestres, estarácom cada um mexendo no painel e estabelecendo ligações entre seusfios sem saber o que os demais estarão fazendo do outro lado. Issoocasiona seguramente um curto-circuito e incendeia o equipamento,que é você. Por isso, não o aceitarei a menos que pare tudo, paraseguir somente o que eu lhe ensinar.

Não restava nenhuma dúvida. Todos eram unânimes em desaprovar oecletismo, esse mesmo ecletismo que entraria em moda dez anosdepois na América, com o rótulo de universalismo e mais tarde o deholística, mas na verdade uma miscelânea de conhecimentos etécnicas muitas vezes incompatíveis, e que fizeram inúmeras vítimasentre a juventude desavisada e entre espiritualistas ingênuos.

Um exemplo típico do choque de egrégoras são os sikhs da Índia.Vendo que os muçulmanos e os hindus se perseguiam, torturavam ematavam mutuamente numa interminável guerra "santa", que seodiavam, em nome de Deus, um grupo formado por indianos deambas as religiões fundou uma seita pacifista, o sikhismo, que tinha a

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proposta de ser um pólo conciliatório entre as duas e reconheciapreceitos do hinduísmo e do islamismo. Resultado: tanto uma quanto aoutra declarou os sikhs como hereges e infiéis... e as duas passaram aperseguí-los mais furiosamente do que ao antigo inimigo!

Eu mesmo pude testemunhar que todos quantos tentaram umaconciliação entre Mestres ou escolas supostamente compatíveis,acabaram tendo sérios problemas de psiquismo e de saúde física,produzidos por desarmonização energética. Testemunhei cenas e fatos

tão graves que sua memória justifica plenamente alguma insistênciasobre este assunto.

Por tudo isso, a partir de uma determinada época eu me defini epassei a dedicar-me estritamente ao Yôga, começando a me desligarprogressivamente de todas as outras correntes, o que foiextremamente saudável.

Hoje só aceito como discípulo ou como professor da nossa linhagemquem me convencer de que já sabe o que quer, que será leal e que nãovai ficar buscando aqui e ali, neste e naquele livro, nem misturando osensinamentos deste e daquele Mestre.

O  CONTACTO COM O  MESTRE  

Sempre que me perguntavam quem era o meu Mestre, eu respondiasinceramente que não tinha Mestre algum. Acho que não sentiaorgulho nem tristeza por isso. Era um fato. Eu não contava com aorientação de nenhum mentor de carne-e-osso. Só muitos anos depoiscomecei a ligar as circunstâncias relatadas aqui e cheguei a umacuriosa conclusão que vou expor no final deste capítulo.

Tudo começou em 1960 numa das iniciações que recebi. Quando o

ritual terminou minha madrinha disse-me:– Na hora em que fez o Juramento, vi o seu Mestre diante de você. Eraum hindu com olhar fulminante, mas por trás do qual pude perceberuma bondade imensa. Tinha a pele muito escura, longos cabelos ebarbas, totalmente brancos. Ele o abençoou e desvaneceu-se.

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caracterizava como espiritismo todas as linhas que utilizassemmediunidade.

O terreiro era bonito, bem organizado, as pessoas cordiais e tinha umaótima vibração. Em dado momento uma entidade incorporada dirigiu-se a mim e disse mais ou menos o seguinte:

– Você, garoto, está fazendo uma prática errada na sua salinha azul.

Eu não tinha nenhuma salinha azul. Mas logo recordei que no início

das aulas fazíamos uma mentalização azul celeste e a impregnávamosnas paredes, chão e teto, como uma redoma de luz. Era possível que osensitivo/médium estivesse percebendo essa cor e não a tinta dasparedes. Fiquei um pouco ferido no meu amor-próprio juvenil,entretanto, podia mesmo estar fazendo algo errado, afinal, era moço einexperiente. Então, perguntei o que seria.

– Uma vez por semana você junta as pessoas numa roda (era o satchakra) e manda energias boas para as pessoas que estão precisando,não manda? Uhn?

– É, de fato. E o que há de mal nisso?

– Mal é que você está se esquecendo de se defender, fechando aproteção no final da prática. Tá pensando que é imortal, é? Imortal soueu que já morri. Você só está ainda com saúde por ter um guia hindumuito forte, que lhe protege26

Em seguida, descreveu-o. Era a mesma figura! Aí associei com ascenas anteriores e mais uma, bem mais antiga, que se havia apagadoda minha memória: quando guri, eu tinha feito o desenho de umancião que correspondia a todas aquelas descrições. Chegando emcasa, procurei o tal esboço. Encontrei-o no fundo de um armário, nomeio de velharias e, pelo sim, pelo não, resolvi pô-lo em um quadro,

na parede do meu Núcleo de Yôga.Já estava pronto para responder à contestação de um aluno maiscrítico com alguma coisa do gênero "no creo en brujas, pero que las

26 Estava faltando a sexta parte do chakra sádhana, que eu desprezava e que consistia nacriação de um campo de força contra retorno kármico.

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hay, las hay". Qual não foi a minha surpresa quando uma aluna entrou,olhou e disse:

– É ele! É ele! Eu o vejo desde criança...

Cenas como essa repetiram-se muitas vezes.

– Eu sonho com esse velho há muitos anos, professor. Quem é ele?

Eu não sabia.

Eu não sabia quem era mas, obviamente, era alguém. E alguém que,pelo jeito, gostava muito de quem praticava Yôga... A partir daí comecei a meditar naquele rosto, utilizando-o como yantra para ameditação de primeiro grau. Era fascinante como conseguia umaconcentração tão boa e alcançava níveis de consciência bem razoáveis.

Em pouco tempo surgiu uma "legenda": era a palavra Bháva. E depoisfoi completada:  Bhávajánanda. Eu não sabia o que era, masexperimentei utilizar essa palavra como mantra para a meditação desegundo grau.

A partir do dia em que associei o yantra com o mantra (o rosto com o

nome), começaram a ocorrer percepções muito boas, insights ultrasignificativos. Foi assim que aprendi todas as coisas que aindaestavam faltando para elaborar a codificação doDakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga. Após asistematização, para simplificar, denominei-o Swásthya Yôga, nomeesse que me surgira intuitivamente e foi confirmado mais tarde noSanskrit-English Dictionary, de Monier-Williams.

Todos os conhecimentos que recebi por aquele processo tiveramconfirmação posterior através de literatura, de contatos diretos comeruditos e através de viagens à Índia. Isso somado a outros fatores,levou-me a concluir que a figura do ancião de olhar severo devia ser

do meu Mestre, que Bháva ou Bhávajánanda seria o seu nome e que,provavelmente, eu lhe devia tudo o que aprendera antes, "sozinho"27.

27 Uma técnica legítima de meditação é a concentração no rosto e no nome de um Mestre comquem se tenha empatia. A identificação obtida por esse intermédio funcionará como fio deconexão com as origens da linhagem representada por ele. Os mesmos resultados que conseguimediante meu Mestre, hoje meus discípulos alcançam através de mim, e assim sucessivamente.

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Entretanto, isso não estava me agradando nada. Meu senso crítico nãome permitia declarar essas coisas em público.

Ademais, como convencer os outros se eu próprio não estavaconvencido plenamente? E isso me deixaria vulnerável perante osopositores. Uns diriam: "é um místico, visionário". Outros poderiamaté ir mais longe: "um mentiroso, impostor". Por isso preferi guardarsilêncio durante os primeiros dez anos. Nos dez anos seguintes passeia mencionar discretamente. Só agora, mais de vinte anos depois,

quando já tenho a reputação de profissional avesso ao misticismo, éque julguei oportuno divulgar estes fatos, pois sei que hoje ninguémvai me considerar "um gajo que vê coisas".

Além do mais, creio que atualmente tenho uma explicação plausível.

Quem é Bhávajánanda? É meu Mestre, quer tenha vivido, quer não,pois foi através dele, ou seja, da motivação do seu retrato, queconsegui me concentrar o bastante para ir no fundo do inconsciente,resgatar conhecimentos ancestrais que são patrimônio da humanidade.

Através dele, reverencio a memória do patrono da nossa linhagemnobre de Yôga Tantra-Sámkhya. Alguém tem que ter sido o primeiro.A esse, rendo homenagem durante o pújá, no início de cada prática.

Caso tenha vivido, seu nome terá sido mesmo Bhávajánanda? Não faza mínima diferença. Moisés também não se chamava assim, nemJesus. Estas são distorções idiomáticas enormes dos seus nomesoriginais em hebraico. Nem por isso eles deixam de merecer oreconhecimento de milhões de contemporâneos em todos oscontinentes. Nomes são apenas códigos verbais para lograrmosassociação com o objeto que designam.

Sendo, Bháva, outro nome de Shiva, o criador do Yôga, Bhávajánandapoderia ser o próprio Shiva? Poderia, já que Bhávajánanda é

considerado o patrono da nossa estirpe, a qual, por sua vez é a maisantiga. Ora, pode-se entender que o criador da linhagem mais antigasó pode ter sido o próprio criador do Yôga em si, Shiva.

Contudo, a explicação ficou ainda mais estimulante quando descobri,num livro do psicanalista Carl G. Jung, uma declaração sua de quetudo o que havia aprendido de psicologia a partir dos dez anos de

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" Eu Sou aquele que não tem nome nem forma.Não te importes tanto se vivi há muito ou há pouco tempo,

Se no Oriente ou no Ocidente. Importa que eu viva Aqui e agora, dentro do teu coração."  

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ESPIRITUALISMO Yôga é uma prece feita com o corpo.

DeRose, 1960

A fase espiritualista foi uma das mais marcantes. Como supúnhamosque Yôga fosse uma coisa mística, espiritualista, dos 16 aos 30 anosde idade lancei-me numa incansável pesquisa, uma via crucis portodas as sociedades secretas, ordens iniciáticas, entidades filosóficas,antroposóficas, teosóficas, eubióticas, esotéricas, herméticas,

ocultistas, gnósticas, etc.Entre algumas dessas denominações, as diferenças deveriam ser sósemânticas, mas na verdade estabeleceram-se diametrais divergênciasde egrégora30. No afã de obter progresso espiritual, procurei aceitartudo, mesmo as divergências e recolhi-me à minha insignificância deneófito. Adotei uma postura de mero observador, com o coraçãoaberto para aprender e servir, sem intenção de julgar.

Hoje estou convencido de que não foi válido passar por essas escolasiniciáticas. Se tivesse dedicado estritamente ao Yôga todo o trabalho,estudo, práticas e despesas investidos nelas, dispersamente, durantetantos anos, seguramente teria progredido muito mais. Não é quesejam ruins. Eu gostava muito delas e guardo uma saudade imensadaqueles tempos. Sinto uma profunda gratidão pelo carinho com queseus dirigentes e a maior parte dos membros me recebeu em todaselas, apesar da minha pouca idade. Sou-lhes reconhecido até hoje por

30 Ver nota sobre egrégora no final do capítulo.

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haverem confiado na minha capacidade e por terem me ajudado agalgar, em algumas delas, altos graus ao longo dos anos.

Porém, o fato é que perdi muito tempo. Dispersei ao invés deconcentrar a atenção no que me interessava. Envolvi-me com um sem-número de pessoas fanáticas, intolerantes, perturbadas e atéalucinadas, que poluem enormemente as sociedades secretas e escolasiniciáticas. Sua proximidade é nociva mesmo a um adulto com idéiasformadas e muito mais a um jovem estudante. Havia todo o tipo de

gente: fariseus, sabichões exibicionistas de pseudo-saber,manipuladores de mentes, magos negros disfarçados, casos puramentepsiquiátricos e coisas piores que prefiro não mencionar. Por pura sorteou muita proteção, a mim nunca conseguiram prejudicar, entretanto,assisti a diversas ocorrências deprimentes. Isso foi aos poucos medesiludindo até o ponto de desligar-me totalmente daquelas entidades.

Não sou contra tais instituições, uma vez que acredito nas boasintenções da maioria delas e na sinceridade dos seus dirigentes, bemcomo na dos seus filiados. O que não se deve é misturar correntes. Eisso acontece seguidamente. Sistemas distintos não devem sermesclados, sob pena de um inevitável choque de egrégoras. Operdedor será fatalmente o indisciplinado que insistiu em ler, praticare freqüentar esta e aquela, com o pretexto sofismático de que "tudoleva ao mesmo lugar ". Ledo engano. Não leva. E se levasse, entãoporque buscar noutras? Não seria mais justificável permanecereticamente, lealmente, numa só?

Não se deve mestiçar Rosacruz com Teosofia, nem Teosofia comAntroposofia, nem Antroposofia com Eubiose. Nem qualquer umadestas com Yôga. Nem um tipo de Yôga com outro. Acredito nodireito de opção e liberdade de escolha. Cada pessoa deve saber o queé melhor para ela. Contudo, não deve misturar, pois o coquetel

certamente explodirá na sua mão.A indecisão é fruto da insegurança e da imaturidade. Não tendo acoragem de escolher, o estudante quer pegar tudo. Porém, quem tudoquer, tudo perde. É a mesma questão de fidelidade, como se vocêfosse noivar com duas ou mais pessoas ao mesmo tempo.

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Entretanto, naquela época eu ainda não sabia nada sobre egrégoras,nem estava consciente da ética que acabo de invocar. Assim, litoneladas de livros, os quais só serviram para confundir e informarmal; freqüentei dezenas de ordens e fraternidades durante anos... Anosperdidos, esperando pelas grandes revelações prometidas esistematicamente proteladas para quando se chegasse aos graus maiselevados.

Não obstante, em quase todas as ordens, ao chegar o tão ansiado

momento de receber aqueles grandes segredos e as práticas maisavançadas, que decepção! Eram, nada mais, nada menos, que osensinamentos do Yôga sobre kundaliní, chakras, siddhis e osexercícios mais rudimentares para desenvolvê-los. O Yôga porém, jáme ensinara isso tudo muito antes, sem segredos nem mistérios. E euhavia sacrificado um tempo precioso, roubando-o do Yôga paraoferecê-lo a essas entidades! Estas ensinavam muito menos edemoravam muito mais.

Quando descobri isso, escrevi no diário de estudos: "Se despirmos oocultismo dos seus ritos e paramentos, o que resta no fundo é oYôga." Nesse momento eu ainda não havia descoberto a respeito daincompatibilidade de egrégoras, que constitui risco muito mais sério.

Acabei permanecendo por mais de dez anos em algumas daquelasinstituições, galgando todos os graus, aprendendo Cabala, Magia,Alquimia – mas o que buscava era o Yôga por trás dessas ciências.Então, restava-me travar contato mais íntimo com a literatura de Yôgae com os poucos yôgins da época.

Por sorte, não cheguei a ser aluno de nenhum professor de yóga, poisera estudante e me faltavam recursos. Convivia com todos naquelecírculo fechado de pessoas que se dedicavam ao Yôga meiosecretamente, contudo, tive a ventura de não ser influenciado pornenhum deles, já que a falta de identificação era recíproca. Nocapítulo Contos Pitorescos vou narrar as divertidas peripécias dessebando exótico. Por ora, gostaria de continuar relatando algumas dasminhas experiências da fase espiritualista (aplico aqui este termo parame referir genericamente àquela constelação de correntes já citadas).

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De todas as entidades que freqüentava dedicadamente, a que mais mefascinava era a Rosacruz pela sua aura de orientalismo, antiguidade eocultismo. Fui iniciado em várias ordens rosicrucianas do Brasil ealgumas do exterior. Eram várias fraternidades diferentes edivergentes. Isso me serviu para ter uma idéia comparativa e deconjunto, para concluir que nenhuma delas parecia possuir osverdadeiros ensinamentos Rosacruzes. Mas... como eu gostavadaquela gente! E eles de mim. Gostaram logo do meu sobrenome

 DeRose, que lembrava a denominação da fraternidade. Por isso, nainiciação, onde se recebe um nome místico, preferi dispensá-lo e usaro meu mesmo. Trata-se de uma cerimônia na qual morremos para avida profana e nascemos de novo, com um outro nome. Escolhi o meupróprio para evitar pseudônimos. Por isso, hoje só uso o DeRose. Aoutra pessoa, dona dos pré-nomes, morreu no dia dessa iniciação.

Logo os irmãos da ordem descobriram que o símbolo dos DeRoses, daminha família paterna, era a rosa, e o dos Alvares, da minha famíliamaterna, era a cruz, resultando como meu símbolo, o casamentodessas duas divisas heráldicas, ou seja: a Rosacruz! Como osocultistas em tudo vêem sinais, isso me projetou bem para a frente em

mais de uma dessas fraternidades, o que foi enormemente vantajoso,pois pude ter logo contato com determinados ensinamentos para cujoacesso gastaria muitos anos mais, se não queimasse etapas.

Eu já estava amadurecendo interiormente e alcançando aemancipação. Chegou o momento em que só precisava de um pequenoempurrão para sair do passivo rebanho do espiritualismo e tornar-melivre--pensador. A gota d’água foi proporcionada pelas ocorrências querelatarei a seguir. Evidentemente não foram o motivo da minhaconscientização, mas apenas seu estopim.

Fatos como estes que vou descrever, acontecem na vida de todos nós.Quando passam, concluímos que não constituíram nenhuma tragédia,superamo-los e ficamos mais fortalecidos com a experiência.Chegamos até a achar graça de certas coisas.

Corria a década de sessenta. Continuei ministrando Yôga naquelaordem filosófica mencionada anteriormente, por vários anos. Tempos

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Voltei para casa escandalizado. No impulso da indignação, passei anoite em claro, compilando outro quadro, agora muito maior, comcerca de 1000 comparações. E, abaixo, os nomes dos livros,especificando os números das páginas de onde as informações foramextraídas. Assim, ninguém poderia achar que estava transmitindoensinamentos secretos e ficava provado que qualquer leigo podiaentrar numa livraria e aprender aquilo. Não precisava gastar anosnuma sociedade secreta para, ainda por cima, descobrir que o que está

em livros populares é considerado mais profundo.No dia seguinte, com o ímpeto atrevido da juventude, passei por cimada autoridade daquele diretor-de-aula e ofereci o " Esquema Sinótico  das Relações Universais" diretamente ao Grão-Mestre. Este o pôsnuma moldura e afixou-o numa parede do salão nobre, onde ficou pormuitos anos.

Pronto. Havia cometido um erro bestial. Que ingenuidade! Agoratinha um inimigo dracúleo na cúpula da ordem. Eu não sabia, masesse era o segundo. O primeiro fora o secretário. Bem mais antigo, eleachava que merecia ser o sucessor do Grão-Mestre. Como eu nãoalimentava essa intenção, nem tomei a precaução de tranqüilizar osque sustentavam tais aspirações. Pelo contrário. Minhas atitudes osassustavam e, quanto mais dedicava-me a agradá-los, tanto mais osdesagradava. Especialmente ao secretário, pois em função do seutrabalho profano, ele só conseguia dedicar algumas horas por dia aosinteresses da ordem. Eu, em contrapartida, podia consagrar o tempoque bem entendesse, uma vez que trabalhava com Yôga e, naquelaépoca, achávamos que fosse tudo a mesma coisa.

Um dia fui falar com ele, a fim de melhorar nossas relações. Ofereci-lhe um novo desenho com o símbolo da fraternidade, muito bemelaborado, para usar como e onde quisesse. Sugeri, quem sabe, para

uma nova capa do boletim, pois a antiga, em uso, era meio feiúsca.– Fui eu mesmo que a desenhei – disse-me, secamente. Puxa, tinhasido uma gafe macrocósmica!

Tentei consertar com uma prova de boa vontade e lealdade. Nossosrituais eram realizados num subterrâneo, com vestimentas talares delã, dos pés à cabeça, incluindo calçados de lã e capuz de lã. No verão

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do Rio de Janeiro, isso era uma tortura. Tinha gente que passava mal ecomeçava a faltar por causa do desconforto. Havia até um grupinho dedissidentes liderando um movimento para mudar o tecido para linho"porque Jesus usava linho". Enquanto isso, a banda conservadoracontrapunha que não estava em discussão o tecido usado por Jesus ouBuddha. A lã era usada por razões Iniciáticas de isolamento nos rituaisde Alta Magia e os fundadores da ordem haviam determinado o uso delã! Estava formado o qüiproquó.

Para tentar atenuar essa situação constrangedora, comuniquei aosecretário que queria doar dois aparelhos de ar condicionado para otemplo subterrâneo.

Assim já era demais. Se concretizasse a doação, todos ficariam gratose eu seria beneficiado politicamente. Ora, não tinha feito com essaintenção. Tratava-se apenas de um jovem ingênuo querendo agradar.Mas havia aplicado os meios inadequados. Que patetice! Agora eratarde. Tinha assinado a minha sentença.

Em menos de vinte e quatro horas recebi uma carta suspendendo-mesumariamente por seis meses, assinada, não pelo Conselho ou Grão-

-Mestre, mas pelo secretário. Comuniquei-me imediatamente. Queriasaber a razão.

– Soubemos que você anda se interessando pelo Tantra e a nossafraternidade é contra.

Então, escrevi uma carta ao meu suposto protetor e autoridademáxima, o Grão-Mestre, solicitando uma audiência com o Conselho.Quanta ilusão! Eu não levara a sério os exemplos de Galileu Galilei,Giordano Bruno, Wilhelm Reich e tantos outros...

Foi marcada uma data para a audiência. Pedi ao Grão-Mestre queestivesse presente, pois confiava nele. Mas ele não compareceu.

Foi tudo uma farsa. Quando viram que meus argumentos, já expostosna carta e agora desenvolvidos de viva-voz, eram muito fortes para serignorados, começaram a acrescentar novas acusações infundadas e tãoloucamente absurdas que se fosse hoje mandá-los-ia às favas e iriaembora. Porém, eu acalentava minhas ilusões. Achava que a verdadeteria poder de absolvição. Acreditava serem todos os espiritualistas

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pessoas justas, honestas e honradas. Agasalhava a convicção de queninguém podia ter nada contra mim naquele templo de amor e piedadecristã... Estava com a consciência tranqüila e convencido de que devialutar pelo direito e pela justiça.

No final, confirmaram a penalidade: eu teria que cumprir a suspensãode seis meses. Terminada a sanção, poderia voltar. O secretário nãogostou do desfecho. Ele havia tentado alterar a pena para expulsão enão conseguira.

Saí de lá desolado. Como puderam me acusar de tantas mentiras numlugar onde pregam a verdade? Foi um dos maiores sofrimentos daminha juventude. Qualquer prática espiritual que tentasse fazer, naintenção de que me ajudasse a superar o trauma, só piorava tudo.Curioso que, no fundo, eu não ficara ressentido com ninguém.Aceitara a experiência como uma prova Iniciática. Isso foi muito bompara mim.

Há males que vêm para bem. Essas coisas todas contribuíram paraestimular meu senso de crítica. Tive bastante tempo para pensardurante o período de afastamento. Juntei, como num quebra-cabeças,

vários dados que durante anos observara dentro desta e de outrasordens, sociedades e fraternidades: o resultado era um cenáriodesolador que gostaria de poder não ver.

Quando terminou a suspensão, não voltei. Um grupo de irmãos maissinceros, inteirando-se do ocorrido, encabeçou um movimento paraque eu retornasse. Mandaram-me chamar diversas vezes. Recusei.Não guardo rancores e procuro não generalizar, mas eles, comocoletividade, caíram no meu conceito e perderam a minha confiança.

Por tudo isso e mais umas tantas coisas, quando chega ao meuconhecimento que algum discípulo está freqüentando paralelamente

uma dessas instituições, fico muito decepcionado.Este relato não teria nenhuma importância se não houvesse servidocomo fator desencadeante das circunstâncias que, mais tarde, vieram aconspirar para impor algumas pedrinhas (rochedozinhos) no meucaminho.

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Um antílope não vive no meio de leopardos, nem um tubarão entregolfinhos. A comunidade expulsa ou destrói o intruso. Como asgaivotas sábias – e banidas – do livro Fernão Capelo Gaivota.

Sirvam estes exemplos para que alguns leitores mais lúcidos entendame não misturem escolas, Mestres ou tendências. Quem põe um pé emcada canoa, não vai a parte alguma: cai na água!

EGRÉGORA 

Egrégora provém do grego egrégoroi  e designa a força gerada pelo somatório de energiasfísicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquerfinalidade. Todos os agrupamentos humanos possuem suas egrégoras características: todasas empresas, clubes, religiões, famílias, partidos, etc.

Egrégora é como um filho coletivo, produzido pela interação "genética" das diferentes pessoasenvolvidas. Se não conhecermos o fenômeno, as egrégoras vão sendo criadas a esmo e osseus criadores tornam-se logo seus servos já que são induzidos a pensar e agir sempre nadireção dos vetores que caracterizaram a criação dessas entidades gregárias. Serão tantomais escravos quanto menos conscientes estiverem do processo. Se conhecermos suaexistência e as leis naturais que as regem, tornamo-nos senhores dessas forças colossais.

Por axioma, um ser humano nunca vence a influência de uma egrégora caso se oponhafrontalmente a ela. A razão é simples. Uma pessoa, por mais forte que seja, permanece umasó. A egrégora acumula a energia de várias, incluindo a dessa própria pessoa forte. Assim,quanto mais poderoso for o indivíduo, mais força estará emprestando à egrégora para que elaincorpore às dos demais e o domine.

A egrégora se realimenta das mesmas emoções que a criaram. Como ser vivo, não quermorrer e cobra o alimento aos seus genitores, induzindo-os a produzir, repetidamente, asmesmas emoções. Assim, a egrégora gerada por sentimentos de revolta e ódio, exige maisrevolta e ódio. No caso dos partidos ou facções extremistas, por exemplo, são os intermináveisatentados. No das revoluções, freqüentemente, os primeiros líderes revolucionários a alcançaro poder passam de heróis a traidores. Terminam os seus dias exatamente como aqueles queacabaram de destronar (segundo Richelieu, ser ou não ser um traidor, é uma questão dedatas).

Já a egrégora criada com intenções saudáveis, tende a induzir seus membros a continuarsendo saudáveis. A egrégora de felicidade, procura "obrigar" seus amos a permanecer sendofelizes. Dessa forma, vale aqui a questão: quem domina a quem? Conhecendo as leis naturais,você canaliza forças tremendas, como o curso de um rio, e as utiliza em seu benefício.

A única maneira de vencer a influência da egrégora é não se opor frontalmente a ela. Paratanto é preciso ter Iniciação, estudo e conhecimento suficiente sobre o fenômeno. Comosempre, as medidas preventivas são melhores do que as corretivas. Portanto, ao invés de

querer mudar as características de uma determinada egrégora, o melhor é só gerar ouassociar-se a egrégoras positivas. Nesse caso, sua vida passaria a fluir como uma embarcaçãoa favor da correnteza. Isso é fácil de se conseguir. Se a egrégora é produzida por grupos depessoas, basta você se aproximar e freqüentar as pessoas certas: gente feliz, descomplicada,saudável, de bom caráter, boa índole. Mas também com fibra, dinamismo e capacidade derealização; sem vícios nem mentiras, sem preguiça ou morbidez. O difícil é diagnosticar taisatributos antes de se relacionar com elas.

Uma vez obtido o grupo ideal, todas as egrégoras geradas ou nas quais você penetre, vãoinduzi-lo à saúde, ao sucesso, à harmonia e à felicidade.

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Os antigos consideravam a egrégora um ser vivo, com força e vontade próprias, geradas apartir dos seus criadores ou alimentadores, porém independente das de cada um deles. Paravencê-la ou modificá-la, seria necessário que todos os genitores ou mantenedores o quisesseme atuassem nesse sentido. Acontece que, como cada um individualmente está sob suainfluência, praticamente nunca se consegue superá-la.

Se você ocupa uma posição de liderança na empresa, família, clube, etc., terá uma armapoderosa para corrigir o curso de uma egrégora. Poderá afastar os indivíduos mais fracos,mais influenciáveis pelos condicionamentos impostos pela egrégora e que oponham maisresistência às mudanças eventualmente propostas. É uma solução drástica, sempre dolorosa,mas às vezes imprescindível.

Se, entretanto, você não ocupa posição de liderança, o mais aconselhável é seguir o ditado da

sabedoria popular: os incomodados que se mudem. Ou seja, saia da egrégora, afastando-sedo grupo e de cada indivíduo pertencente a ele. Isso poderá não ser muito fácil, mas é amelhor solução.

Outro fator fundamental neste estudo é o da incompatibilidade entre egrégoras. Como todo serhumano está sujeito a conviver com a influência de algumas centenas de egrégoras, a arte deviver consiste em só manter no seu espaço vital egrégoras compatíveis. Sendo elas forçasgrupais, um indivíduo será sempre o elo mais fraco. Se estiverem em dessintonia umas com asoutras, geram um campo de força de repulsão e se você está no seu comprimento de onda, aorepelirem-se mutuamente, elas rasgam-no ao meio, energeticamente. Dilaceram suasenergias, como se você estivesse sofrendo o suplício do esquartejamento, com um cavaloamarrado em cada braço e em cada perna, correndo em direções opostas.

Esse esquartejamento traduz-se por sintomas, tais como ansiedade, depressão, nervosismo,agitação, insatisfação ou solidão. Num nível mais agravado, surgem problemas na vidaparticular, familiar, afetiva, profissional e financeira, pois o indivíduo está disperso e nãocentrado. No grau seguinte, surgem neuroses, fobias, paranóias, psicopatologias diversas, quetodos percebem, menos o mesclante . Finalmente, suas energias entram em colapso e surgemsomatizações concretas de enfermidades físicas, das quais, uma das mais comuns é o câncer.

Isso tudo, sem mencionar o fato de que duas ou mais correntes de aperfeiçoamentopessoal, se atuarem simultaneamente sobre o mesmo indivíduo, podem romper seuschakras, já que cada qual induz movimento em velocidades, ritmos e até sentidos diferentesnos seus centros de força.

Com relação à compatibilidade, há algumas regras precisas, das quais pode ser mencionadaaqui a seguinte: as egrégoras semelhantes são incompatíveis na razão direta da suasemelhança; as diferentes são compatíveis na razão direta da sua dessemelhança. Vocêimaginava o contrário, não é?

Todo o mundo se engana ao pensar que as semelhantes são compatíveis e ao tentar acoexistência de forças antagônicas, as quais terminam por destruir o estulto que o intentara.

Quer um exemplo da regra acima? Imagine que um homem normal tenha uma egrégora defamília, uma de profissão, uma de religião, uma de partido político, uma de clube de futebol,uma de raça, uma de país e assim sucessivamente. Como são diferentes entre si, conseguemcoexistir sem problemas. Aquele homem poderia ter qualquer profissão e qualquer partidopolítico, torcer por qualquer clube e freqüentar qualquer igreja.

Agora imagine o outro caso. Esse mesmo homem resolve ter duas famílias, torcer por váriosclubes de futebol, pertencer a partidos políticos de direita e de esquerda ao mesmo tempo,exercer a medicina e a advocacia simultaneamente e ser católico aos domingos, protestante àssegundas e judeu aos sábados! Convenhamos que a pessoa em questão é psiquiatricamentedesequilibrada. Não obstante, é o que muita gente faz quando se trata de seguir correntes deaperfeiçoamento interior: a maioria acha que não tem importância misturar aleatoriamente

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Yôga, tai-chi, rei-ki, macrobiótica, teosofia e quantas coisas mais se lhe cruzarem pela frente.Então, bom proveito na sua salada mista!

O FATOR DE PROTEÇÃO DA EGRÉGORA OU

O ANJO GREGÁRIO 

A egrégora é também um ente que pode, sob certo aspecto, ser associado ao conceito de anjoprotetor. É inegável que a consolidação de laços entre o indivíduo e o grupo, integra o primeiro comum registro do inconsciente coletivo. Se estiver identificado com a nossa egrégora, onde quer quevocê esteja o Anjo Gregário o envolve com suas asas protetoras. Seja dia ou noite, Américas,Europa ou Ásia, nos altos ou nos baixos da vida, você estará sempre amparado e jamais estará só.Os reveses serão bastante amortecidos, pois seu impacto cru é absorvido pelo poder gregário de

milhões de irmãos desta confraria mundial sem muros. Enquanto integrado, cada um de nós tem aforça de milhões. É isso que nos faz vencedores onde os demais são perdedores.

Se você está identificado e bem integrado em nossa egrégora, nos momentos de necessidadepoderá recorrer ao auxílio do Anjo Gregário, fazendo uma meditação ou mantra do SwásthyaYôga, ou mesmo lendo algum livro nosso para fortalecer os liames e, em seguida,mentalizando (mas não peça, apenas mentalize) o que você precisa. Outra forma eficiente dese manter dentro do círculo de proteção da nossa egrégora é manter um contato constantecom o maior número possível de companheiros da mesma sintonia.

A  SUBLIMAÇÃO DO QUADRADO AO C ÍRCULO

Um conceito universalmente aceito é o de que os ritos, símbolos, paramentos e oraçõesconstituem as muletas das quais o ser humano pode eventualmente necessitar no início da suaevolução. Quando, entretanto, tiver conquistado o amadurecimento interior, torna-se

emancipado de todos esses artifícios e do próprio espiritualismo. Essa equação é desenvolvidapelo simbolismo do quadrado, do triângulo e do círculo.

O quadrado é a pedra bruta e representa o homem embrutecido, ainda-materialista porignorância, por desconhecimento do universo interior que está por descortinar.

O triângulo é a pedra angular e representa o homem que começou sua caminhada através doespiritualismo.

O círculo é a pedra filosofal e representa o homem já evoluído, sem arestas, que conquistou oConhecimento e o Poder. Por isso, não precisa mais das ferramentas, agora para ele obsoletase até mesmo grosseiras que o espiritualismo proporciona. Tudo isso lhe foi útil numa etapa,mas agora encontra-se muito além. É como subir os degraus de uma escadaria. Cada degraupode ter sido extremamente necessário para se galgar os seguintes, mas para continuarsubindo é necessário desapegar-se dos já trilhados e prosseguir para os subseqüentes.

O Swásthya Yôga oferece um método eficaz de sublimação do quadrado diretamente para ocírculo, sem passar pelo triângulo, portanto, sem misticismo nem doutrinação.

O QUE É SUBLIMAÇÃO?Sublimação é o fenômeno que nos permite passar de um estado mais denso para outro mais sutil,sem passar pelo intermediário. Por exemplo, podemos ter água em estado sólido, líquido ou gasoso.Em estado sólido é gelo, em estado gasoso é vapor d’água. Se deixarmos um bloco de gelo semrefrigeração, a tendência é que ele derreta, passando ao estado líquido e, em seguida, comece aevaporar, passando ao gasoso. Entretanto, um cubo de gelo seco não passa pelo estado líquido,intermediário, e vai diretamente ao gasoso, mais sutil. O mesmo ocorre com um tablete de cânfora.Isso, na Física, chama-se sublimação. No nosso caso, a sublimação consiste em passar diretamente

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do estado grosseiro, representado pelo quadrado, ao de pessoa lúcida e sensível, representada pelocírculo, sem passar pelo estado hipnótico do misticismo, representado pelo triângulo.

QUADRADO, TRIÂNGULO, CÍRCULO A maioria das escolas filosóficas de inspiração orientalista adota a divisão didática em seteníveis de atuação do ser humano no universo, em ordem de sutileza crescente. Desses seteveículos de manifestação da consciência, os quatro primeiros são considerados concretos e oquadrado é o seu símbolo.

Os três mais sutis são considerados abstratos e simbolizados pelo triângulo. O conjunto dosquatro primeiros chama-se quaternário inferior ou personalidade. O conjunto dos outros trêsdenomina-se tríade superior ou individualidade.

O quaternário inferior é constituído pelo corpo físico denso, físico energético, emocional emental concreto. A tríade superior é formada pelo mental abstrato, intuicional e mônada. Paraos reencarnacionistas, a tríade é a parte que reencarna e o quadrado consome-se totalmente,entre uma encarnação e outra.

O homem de pouca evolução tem mais desenvolvido o quaternário e bem menos a tríade. Oque está no meio do caminho, o espiritualista, tem a tríade mais desenvolvida e o quaternáriobem menos. Em ambos os casos observa-se um desequilíbrio, uma hipertrofia de um setor emdetrimento de outro. Contudo, isso faz parte do plano de evolução. O movimento oscilatórioprecede a estabilidade.

Tendo superado o quadrado e o triângulo, o ser humano penetra na esfera superior,representada pelo círculo, de equilíbrio perfeito. Observamos, então, três etapas da evolução,tamas, rajas e sattwa, simbolizadas pelas formas geométricas: quadrado, triângulo e círculo,respectivamente. Quando você atinge a evolução circular todos os veículos, desde o físicodenso até à mônada, tendem a manifestar equilibradamente o seu potencial de saúde, força e

rendimento.Para o desenvolvimento comum é assim que se evolui: primeiro, o quaternário, depois, otriângulo e, só então, o círculo. Contudo, há meios de acelerar a evolução, obtendo umprogresso de um milhão de anos em uma década. Consiste na sublimação da faseespiritualista, convertendo o quadrado diretamente no círculo.

Simbolicamente isso é obtido através do dinamismo (rajas) imposto ao símbolo de tamas(inércia) e transmutando-o em um signo giratório, o círculo. Para quem sabe ler o alfabeto dasimbologia, isso é feito traçando-se linhas de força entre os ângulos do quadrado e, depois,recruzando-os. É o mesmo que tomar o quadrado e fazê-lo girar. O produto da energia liberadaé a aceleração evolutiva e a queima de etapas, logo, a eliminação de karma.

Uma alusão ocultista a esses conceitos encontra-se no desenho do homem inscrito numquadrado e num círculo, de Da Vinci, que sugere a identidade natural do ser humano comesses dois símbolos, mas omite intencionalmente o triângulo. Como se sabe, esse gênio nãoera espiritualista, logrou uma evolução bem acelerada e tentou dizer-nos, de forma cifrada,como o conseguiu.

Conclusão: o homem comum tem que passar pelas três fases, a do quadrado (o homem bruto);a do triângulo (o espiritualista) e a do círculo (a pessoa lúcida e evoluída, portantodescondicionada de credos e ideologias). Entretanto, os que tiverem o privilégio de receber ainiciação no Swásthya Yôga, passam diretamente do estado bruto ao de Ser Consciente, semprecisar perder tempo com o misticismo.

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Instrutor Sandro Nowacki

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MAGIA 

Eu havia rompido com o espiritualismo rançoso, mas continuavapossuidor de um considerável resíduo de conhecimentos sobre asciências que eram associadas – equivocadamente – com ele, tais comoa Magia, a Cabala, a Alquimia e outras artes dadoras de poderes.Tinha investido muitos anos de profunda dedicação a esses estudos eagora dispunha de um formidável arsenal.

Já estava trabalhando com Yôga, contudo ainda não havia feito minhaopção exclusiva. Como a maioria dos jovens (e alguns adultosimaturos), na década de 70 do século passado permitia-me algumasmisturanças sob o sofismático pretexto de que cada disciplinacomplementava e reforçava a outra. Assim, paralelamente ao Yôga,dedicava-me à Magia32 e a outras correntes.

Por essa época, tornou-se meu aluno Paulo Coelho que era o parceirofavorito do cantor Raul Seixas. Logo após, compôs a música Gítá,inspirado, suponho, na página de abertura do nosso livro Prontuáriode Yôga Antigo, na qual se encontra a frase:

"Eu sou o amor puro dos amantes, que nenhuma lei pode proibir."(Bhagavad Gítá, cap. VII, vers. 11)

Paulo Coelho e eu, travamos uma amizade amena, não muito íntima,mas bastante cordial. Com o tempo, afastamo-nos. Eu abandonei aMagia e segui o caminho do Yôga. Paulo Coelho abandonou o Yôga eseguiu a Magia. Anos depois escreveu vários best-sellers.

32 Magia: leia definição em nota no final do capítulo.

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Essa foi uma fase em que o nosso trabalho inspirou livros, músicas efilmes. Na mesma ocasião, outro aluno, Alberto Salvá, escreveu eproduziu um filme chamado   As Quatro Chaves Mágicas, umaexcelente película sobre Magia, com trucagens excepcionais para aépoca. Foi reapresentado muitas vezes ao longo dos anos. Uma dassuas melhores realizações é a fita   A Menina do Lado, baseada numconto do próprio Salvá. Sinto-me feliz pelo sucesso de antigos alunose amigos.

Outra conseqüência da profícua fase de fantasias sobrenaturais e algolisérgicas daqueles tempos, foi a música Vira, Vira ("...vira homem,vira, vira lobisomem...") cantada por Ney Matogrosso, composta pelaLulli, mais uma aluna inspirada pelo Swásthya e pelo convívio com ofervilhante caldo de cultura artístico existente na nossa escola de Yôga.

Se, por um lado, o estudo da Magia era erudito e fascinante, suaprática tornava-se quase impossível por várias razões. Haviaproblemas intransponíveis. Um era o custo dos instrumentosrequeridos. A espada tinha que ser de aço e precisava ser forjada numadeterminada configuração astrológica. Fazia-se necessário mandarforjar a espada num ferreiro e acompanhar o serviço de perto para tercerteza de estarem sendo obedecidos os requisitos ritualísticos.

Ocorre que no século XX não havia ferreiros no Brasil capazes demanufaturar espadas. Logo, a solução seria comprar uma que játivesse pertencido a outro magista sério. Porém, também não haviamagistas dessa corrente européia. Então a espada teria que vir daEuropa! Que mão-de-obra! E como saber se a transação não era umconto do vigário? O ambiente do ocultismo tem tanto vigarista que o  justo acaba pagando pelo pecador. A espada de Papus, segundoconsta, já foi comprada tantas vezes pelo mundo afora, que esse Magoteria de ter possuído algumas centenas delas... Afinal, fosse escolhida

a solução de mandar forjar a espada ou a de adquirir a de um antigoIniciado, o preço seria sempre proibitivo.

Por outro lado, a espada é apenas um dos itens entre instrumentos,substâncias e trajes indispensáveis a um trabalho eficiente e queofereça proteção para o operador dos fenômenos.

Evidentemente muita gente parte para a simplificação através do merosimbolismo. Por exemplo, no Brasil há muitos magistas usando

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caricaturas de espadas, mal feitas, de substâncias não-ferrosas e semponta amolada. Ora, o efeito da espada é semelhante ao de um pára-raios. Precisa ser de ferro ou aço e deve ter a extremidade afiada. É aproteção maior do magista. Não sendo assim, só auxilia como símboloe pode ter algum efeito pela fé do operador, porém será muito restritoe sujeito a falhar. Os trajes têm que ser de tecido isolante (lã), ocírculo mágico protege muito mais se for traçado com substânciascertas do que simplesmente riscado no chão. E por aí vai...

Por isso muitos aprendizes de feiticeiro terminam dando-se mal, pois  julgam ter seguido todas as instruções e, no entanto, podem terfalhado num ou noutro pequeno detalhe. Os livros de Magia nãoensinam a Grande Arte. Quando ensinam, colocam armadilhas aqui eali, transmitindo instruções erradas propositadamente para impedir aintrusão de um não-Iniciado nesse grupo exclusivo e hermético. Asobras de Papus e de Eliphas Levi estão eivadas desses ardis. Se vocênão tem um Mestre, pode encontrar, ao invés do poder, a morte ou aloucura. Por que grandes Mestres de Magia fariam isso com osleitores? Primeiramente para proteger sua ciência contra os relescuriosos, aventureiros deturpadores em busca do poder sem ética, que

comprometeriam o nome da Magia (como acabou, de fato, ocorrendo).E também para punir, com ciladas, os inquisidores do Santo Ofícioque tentassem dominar as artes do ocultismo. A quem supõe queteólogos católicos jamais o fariam, cumpre lembrar que Eliphas Leviera o nome místico do abade Alphonse Louis Constant.

A maior força do magista é a sua vontade (thélema). Por isso,desenvolvíamos exercícios para reforçá-la. Uma das práticas maissimples era o jejum de um a três dias (os meus eram de dez dias, masnão o recomendo a ninguém, pois já vi muito exagero por parte depessoas sem condições orgânicas ou psicológicas para enfrentar umaprova dessas). Havia diversos outros como, por exemplo, subir de joelhos os 365 degraus da igreja da Penha. Não obstante, era precisofazê-lo sem motivo religioso e, evidentemente, desapegada edesinteressadamente, só como treinamento da vontade e da disciplina.Isso tinha, ademais, um enorme peso positivo no moral do grupo.

Outro exercício era o da sincronia. Dávamos instruções muito precisasa cada membro do grupo como, por exemplo:

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"Rigorosamente às 9 horas da manhã, coloque-se sob a marquise doprédio número 583 da Av. Copacabana, diante da porta principal e defrente para a rua. Fique em pé a 3 metros e 52 centímetros da parededo prédio e 43 centímetros à esquerda do poste mais próximo. Confiraas distâncias. Às 9 horas, 15 minutos e 30 segundos, estenda os braçosà frente, a 90º, com as mãos juntas, em concha. Conte até dez e abaixeos braços. Depois, telefone e reporte o exercício para receber maisinstruções."

Ao seguir a orientação sem saber para quê, naquele exato lugar,naquele minuto e segundo, caía em suas mãos um ovo! Se a pessoaerrasse na localização ou no momento certo, o ovo se espatifaria nosolo... ou na sua cabeça.

Outro membro do grupo havia recebido instruções, igualmenteminuciosas, para jogar o ovo lá de cima, no mesmo justo instante ecom a localização também milimetrada. Marcado para não poder sersubstituído, o ovo ia passando de mão em mão, por peripécias mil,viajando dezenas de quilômetros, até a Barra da Tijuca ou até Niterói,e no fim do dia precisava ser apresentado intacto. É claro que no inícioele se quebrava logo na primeira tentativa. Depois durava um pouco elogo alguém falhava e o partia. Porém, no fim de algum tempo detreinamento o ovo passou a chegar inteiro, sempre. A disciplina, asincronia e a confiança recíproca proporcionada por essa prática eramsoberbas.

Havia também os exercícios que primeiramente localizavam osmaiores medos de cada um e, em seguida, iam ensinando as pessoas asuperá-los gradualmente. Um dos casos mais marcantes foi o de um jovem que tinha acessos de nervos se visse uma simples barata. Foraisso, na sua vida ele era uma pessoa perfeitamente equilibrada. Bonito,forte, atlético, adepto de esportes perigosos, corajoso... Exceto se

aparecesse uma barata! Para ele isso constituía um problema muitosério, que não tinha nada de engraçado. Com algum tempo detreinamento, o mancebo em questão já estava conseguindo colocar oinseto na palma da mão e ainda achar bonitinho!

Tal superação viria a ser indispensável futuramente nas invocações. Seo magista guardar algum medo lá no fundo do inconsciente e não

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tiver treinamento para dominá-lo, esse temor manifesta-se na forma dealucinações, fazendo-o fugir, saindo de dentro do círculo mágico querepresenta uma proteção territorial.

Para exemplificar esse tipo de fenômeno, um respeitado tratado deMagia relata a experiência mal sucedida, na qual dois magistasfizeram seu ritual numa encruzilhada, à meia-noite, em uma estradadeserta do século XVIII. No meio dos trabalhos, ouviram um tropel decavalos aproximando-se rapidamente na escuridão. Um deles deduziu:

– É uma carruagem. Vamos sair já daqui antes que ela nos despedace.

O outro, mais corajoso, ponderou:

– Se for, o cocheiro verá a luz dos nossos lampiões e vai parar oudesviar-se.

No entanto, o ruído dos cascos e das rodas estava cada vez maispróximo e ameaçador, rasgando o silêncio da noite na floresta. Todosos fatores conspiravam para inspirar pavor. Quando os cavalossurgiram da escuridão, galopando já em cima dos dois, o maisapavorado saltou para fora do círculo e morreu. O outro resistiu dentro

da proteção e pode confirmar que era tudo ilusão. Não havia cavalosnem carruagem. Quando a imagem chegou às bordas do círculo, tudocessou bruscamente.

No entanto, e se fosse mesmo uma carruagem? Para evitar que algumdos nossos aprendizes acabasse atropelado por um caminhão, pensandotratar-se de ilusão, sempre fazíamos os círculos dentro de casa.

Nem por isso tais experiências eram desprovidas de risco. Certa vez,antes do ritual, contei a desventura dos dois jovens e adverti osparticipantes para não saírem de dentro do círculo, houvesse o quehouvesse. A fim de não sermos perturbados, utilizamos nossa sala do

Edifício Avenida Central, no Rio, num sábado à noite já que a entradado prédio era fechada no final da tarde e ninguém poderia nosdisturbar.

Assim que começamos as invocações em latim, ouviu-se alguém baterà porta. Um dos nossos, ato contínuo, levantou-se e já ia saindoquando o detive:

– Onde é que você vai?

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YÔGA, MITOS E VERDADES 128

– Vou atender à porta, Mestre, para que o senhor não seja perturbado.

Parece até comédia, mas era tragédia. A tragédia de como o serhumano é desatento, ingênuo e indisciplinado.

– Quer dizer que as instruções dadas por mim para não saírem docírculo em hipótese alguma, são desobedecidas simplesmente poralguém bater à porta?

– O senhor tem razão. Eu estava preparado para resistir a um

fenômeno horripilante como a aparição de uma serpente ou espectro,mas essa coisinha à toa me pegou desprevenido.

Não atendemos à porta e prosseguimos com o ritual. Entretanto ointruso continuava batendo. Além de insistentemente, como ninguémem seu juízo normal faria, passou a esmurrar e chutar com tamanhaviolência que uma outra pessoa, em pânico, queria sair do círculo parachamar a polícia. Tive de segurá-la para que não se expusesse, pois otelefone estava, é claro, fora do círculo.

O barulho na porta era ensurdecedor. Parecia ser mais de uma criatura,algo como um bando de vândalos furiosos, dando chutes e

arremessando com ferramentas. A madeira da porta estalava e rangiacomo se fosse fragmentar-se.

Paciência. Eram os ossos do ofício. Continuamos nossa liturgia,serenamente. Num dado momento, quando fizemos a consagração daágua e do sal, o ruído cessou repentinamente.

Passadas algumas horas, no fim da prática, começamos a nos retirar.Todos estavam curiosos para ver os estragos do lado de fora. Só quenão havia nada. A porta estava intacta.

Ao passar pela portaria do edifício, perguntamos se havia subidoalguém. O porteiro nos mostrou o registro de entradas e saídas. Não

havia entrado nem saído pessoa alguma!Por essas e outras, era necessário um bom treinamento prévio dedisciplina, sincronia, superação dos medos e desenvolvimento davontade. Aquele ritual havia sido apenas um trabalho pequeno, ele-mentar, somente para exercício de iniciantes. E quando fizessem umaprática maior e mais profunda, estariam preparados para controlar astremendas energias liberadas?

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Assim, a quem se propusesse à Iniciação, como parte das formalidadesentregávamos a declaração abaixo, que escrevi num momento deexaltação:

 A DVERTÊNCIA AOS N  EÓFITOS 

"Eis que diante de ti hão de abrir-se, de par em par, as portas doTemplo; o véu de Isis ser-te-á, ao meio, desvendado. Estarás diante

do Guardião do Umbral e cumpre que assumas a decisão que só a ticoncerne: caminhar para a frente, optando pelo caminho do meio, ouretroceder, conforme qualquer um faria. Seria prudente que tambémtu o fizesses.

  A porta estreita é reservada aos fortes; aos medíocres, cabe postarem-se no frio, mas não penetrar no fogo. Quantos o intentaremdeverão estar conscientes de que vislumbrarão mais amploshorizontes, a uma altitude que dará vertigens aos fracos, e estescairão. A luz será muita, ofuscante para os que não estão habituadossenão às trevas, e estes cegar-se-ão.

Portanto, se pensas penetrar estes segredos para traí-los, nãoenxergarás a não ser a escuridão da noite no deserto e, quandosupuseres ver duas estrelas de pequena luz, serão elas as pupilas daserpente que matou, em Adão, a Árvore da Vida!

Pensarás ter a Pedra Filosofal em tuas mãos, porém, ao querer mostrá-la aos infiéis, verás que é uma pedra de gelo a te escapar por entre os dedos e nada terás a divulgar, somente tua vã estultícia. Nada terás visto. Contudo, terás muito a deplorar.

Pesa bem tua decisão no silêncio interior. Este é o caminho sem voltaque torna liberto o corajoso ou agrilhoado o indeciso. Escolhe se

  ficarás no mundo da ilusão, ouvindo e seguindo falsos mestres queusam Seu Santo Nome em vão, assumindo com eles o karma culposoda difamação e exclusão daqueles que têm uma mensagem e umamissão, ainda que por mera covarde omissão tua; ou se te ergueráscom dignidade para divisar a verdade, projetando-te no seio dos queestão predestinados a acordar as consciências para os eventos queaguardam a Humanidade. Em ambos os casos, terás que assumir as

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YÔGA, MITOS E VERDADES 130

conseqüências da tua escolha, pois há uma lei que virá inexorávelcobrar a quem deve e recompensar a quem merece.

 Medita: qualquer que seja a tua decisão, parta ela somente de ti. Sequiseres desistir, ainda está em tempo.”

Por essa época gravei uma fita cassette com um ritual de Magia parafornecer às pessoas que desejassem praticar em casa, com segurança,

pois ali estavam todos os dispositivos de proteção. Hoje, quando osinteressados em Magia a adquirem, mal acreditam que tivesse sidoobra nossa. Como a gente evolui! Apenas alguns anos depois daquelafase, já estava desenvolvido, conseguindo tudo aquilo e muito mais,sem a necessidade de ritual algum! Era o Yôga que amadurecia dentrode mim e se mostrava superior a qualquer outra corrente.

DEFINIÇÃO DE MAGIA A Magia é a arte de dominar as leis da natureza, produzindo fenômenos que, aparentemente,as contrariam. Na verdade, a Magia nada mais é senão a parte da ciência que ainda não foi

suficientemente estudada para ser aceita como tal.Existem várias correntes de Magia, umas mais requintadas, outras menos. Minha preferênciavoltou-se para a Magia Cerimonial Européia, a mais erudita de todas. Fundamenta-se naCabala, tradição secreta dos hebreus, em Escolas de Mistérios greco-romanas e egípcias.Essa corrente divide-se em Magia Branca e Magia Negra, em Alta Magia e Baixa Magia.

A Magia Branca trabalha com altruísmo, para auxiliar os outros e jamais para obter vantagenspessoais. A Magia Negra, ao contrário, visa a finalidades egoístas e não se importa seprejudicará a outras pessoas para alcançar os seus intentos. É confundida pelo leigo com aBaixa Magia. Esta utiliza substâncias impuras, geradoras de larvas astrais, tais como sangue,suor, lágrimas, esperma, mênstruo, etc. A Baixa Magia admite produzir dor, sofrimento e mortede animais em seus hediondos rituais.

Já a Alta Magia é limpa e elegante. Não utiliza substâncias animais, a não ser emcircunstâncias especiais, como no caso de perfumes que contenham componentes extraídosdo reino animal, e, mesmo assim, em ínfimas quantidades. Fora essas discretas exceções, sóutiliza vegetais e minerais.

A melhor de todas, por ser a mais elevada, culta e refinada, é a Alta Magia Branca. Foi a queestudei no passado. Só trabalha com altruísmo, em benefício de terceiros, não visa abenefícios pessoais, não utiliza substâncias animais e não admite produzir dor, sofrimento,nem morte.

Apesar disso, até essa linha branca pode causar, indiretamente, conflitos referentes àspropostas de só fazer o bem, mas, involuntariamente, acabar atingindo alguém que tenteprejudicar o magista. Tal ocorre, uma vez que, no ato da Iniciação, todos nós recebemos umaprote- ção extremamente poderosa contra os inimigos. Mesmo que não a queiramos, elafaz parte dos rituais e é obrigatória por motivos de autopreservação do Iniciado.

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No nosso caso, conferiram uma proteção irreversível, que nunca mais conseguimos desfazer.Para que desfazer uma proteção, se ela nos defende dos agressores? No início é algointeressante e até motivo de um certo orgulho. Mais tarde, porém, quando a gente presenciarepetidas cenas aflitivas, em que nossos detratores são atingidos por graves doenças etragédias, é inevitável assumir um sentimento de responsabilidade pelas ocorrências e tentar,desesperadamente, anular esse poder indesejável.

Entre o flagelo que atinge o nosso inimigo e o pouco que ele teria conseguido contra nós,chegamos à conclusão de que o impacto é sempre excessivo e talvez não fosse necessário.Ao menos, de acordo com os nossos princípios.

Pior é quando ele descobre a razão do seu padecimento ter sido algo que obrou, disse oumentalizou contra nós e procura-nos para o perdoarmos e liberarmos desse retorno kármico  –

mas tudo o que podemos fazer por ele são algumas tentativas. Elas às vezes são bemsucedidas, outras, nem tanto, pois a eficácia da remissão depende da sinceridade doarrependimento de quem promoveu a agressão. É profundamente desconfortável ver alguém,por pior que seja o seu caráter ou por mais grave que tenha sido sua ofensa, precisando deajuda e você estar impotente para retirar a carga que o aflige. É natural questionar que ele nãoa teria absorvido se não existisse a blindagem de proteção.

Por isso, é preciso ponderar muito bem antes de envolver-se com o ocultismo, uma vez queseus comprometimentos, quase sempre, são irreversíveis.

A Magia confere domínio sobre os elementais, que são energias ("espíritos") da natureza,mediante o qual opera fenômenos paranormais de alto impacto. Comparados com a Alta MagiaBranca, disciplinas como a Parapsicologia, o Mentalismo, o Esoterismo, o Vodu, a Umbanda, oCandomblé, são considerados correntes moderadas.

Muita gente irresponsável se lança no universo da Magia só pela leitura de livros. Bem, anatureza é seletiva. Tais aventureiros, mais cedo ou mais tarde, terminam sendo eliminados.Com Magia não se brinca.

Papus (pseudônimo do Mago Gérard Vincent Anaclet Encausse) conta que certa noite acordoue viu um vulto na escuridão do seu aposento. Rapidamente desembainhou a espada e investiucontra ele, atingindo-o na cabeça. Acendendo a lamparina, verificou que não havia ninguém,nem marcas de sangue. Voltou a dormir. Cedo pela manhã, como era médico, foi chamadopara atender a uma senhora que tinha fama de magista e de fazer viagens astrais. Láchegando, constatou, curiosamente, em sua cabeça um ferimento causado por espada, que elanão sabia explicar (ou não o queria...).

Esse mesmo Papus costumava declarar que os elementais deviam ser tratados como simplesanimaizinhos e ser dominados com mão forte. Mas, para tanto, é preciso supor que não seterão, jamais, momentos de fraqueza. Pois ele os teve quando, mais velho, sentiu-se debilitadoe foi dominado por aqueles a quem antes dominara.

Por isso, uma das regras da Magia é nunca pedir coisa alguma aos elementais. Só que, então,90% dos fenômenos se inviabilizam para a maior parte dos operadores, os quais ainda nãotranscenderam o ferramental.

Conta-se que o Dr. Krumm-Heller, fundador de uma das Fraternidades Rosacruzes, quandoesteve no Brasil na década de 40, ficou hospedado em Copacabana. Ele, alemão, sofria com ocalor tropical e ainda mais naquela época desprovida de ar condicionado. Para piorar o sufoco,era o momento de expansão do bairro e freqüentemente faltava água em Copacabana. Constaque, um dia, um elementalzinho cutucou seu braço e disse:

 – Krumm, venha cá.

O Dr. Krumm-Heller, familiarizado com tais fenômenos, simplesmente perguntou:

 – O que é que você quer?

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YÔGA, MITOS E VERDADES 132

 – Venha. Quero lhe mostrar uma coisa.

Levando-o até o banheiro, o elemental lhe ofereceu:

 – Veja! A banheira está cheia de água fresquinha!

Vendo isso, o experiente Mestre bradou:

 – Tire já isso daqui. Eu não lhe pedi nada e não quero coisa alguma.

Atitude sábia. Há outras maneiras de operar fenômenos, para quem já evoluiu mais na senda.É quando o poder passa a ser do próprio Mago e não dos instrumentos, símbolos, invocações,substâncias e vestimentas. Nessa fase o Mago dá mais um passo e torna-se um Yôgi.Entretanto, essas incursões por outras filosofias não deixam de ser uma perda de tempo se

você já tem condições de iniciar logo pelo Yôga, o qual propicia evolução mais rápida, maissegura e com poderes bem maiores.

CONCLUSÃO 

A essa conclusão chegou, por exemplo, Eliphas Levi. Em sua última obra, ele transmitiuensinamentos muito claros sobre a kundaliní e declarou ser essa energia muito mais poderosado que tudo o que ele havia ensinado nos livros anteriores. Deu a entender que seusconhecimentos sobre Magia estavam superados pela nova descoberta, para a qual precisarainvestir toda uma vida de estudos e muitos dissabores. Felizes daqueles que podem ter acessoa essa ciência antes da idade em que de nada mais valeria.

O mesmo aconteceu com muitos Magos famosos os quais, no fim da vida concluíram que oYôga era superior, mais nobre, mais poderoso, mais profundo e muito mais seguro. Outroexemplo é o caso do Mago Vasariah, autor do livro No Mundo dos Elementais. Ele abandonoua Magia quando estava no auge da carreira, para tornar-se o Diretor do Rámakrishna Ashram,no Rio de Janeiro.

Assim, fico feliz por ter podido descobrir o melhor caminho quando ainda jovem o bastante paratrabalhar minhas energias, conquistar graus satisfatórios no Yôga e ficar a salvo dos violentoschoques de egrégoras que costumam produzir doenças, loucura e morte, àqueles que estudamou praticam mais de uma linha de desenvolvimento.

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TANTRA Os Tantras estão para os Vêdas 

assim como o perfume está para as flores.Kulárnava Tantra

Liberado dos meus compromissos com correntes anti-tântricas, acabeisendo levado quase por compulsão, a aceitar a iniciação tântrica.

Ah! Que felicidade! Que alegria! Que sensação boa de liberdade33,como nunca havia sentido! Agora entendia o motivo pelo qual os não-

-tântricos temem tanto e alimentam tanto ressentimento contra osseguidores dessa filosofia comportamental. É tão melhor, tão maisagradável, dá-nos tanta liberdade e respeita-nos tanto que, ao conhecê-lo, todos querem adotá-lo em detrimento das demais linhas.

Só percebi o quanto vinha sendo reprimido, como vinha sendo durocomigo mesmo e intolerante com os outros, no momento em queentrei para esta corrente de Yôga. Para que isso? Estamos aqui paraser felizes e espalhar felicidade à nossa volta por onde andarmos. Hácorrentes que prometem a evolução pelo sofrimento e há as queproduzem o aprimoramento através do prazer. As tântricas pertencema este segundo grupo.

33 Por falar em liberdade, vale a pena observar aqui que algumas pessoas confundem osideais libertários do Tantra com a pura e simples anarquia. Quando lhes recordamos as normasda disciplina ou da ética, redargúem, acusando-nos de estarmos sendo repressores para, comisso, justificarem suas atitudes, por vezes, inconvenientes. Tais praticantes não entenderamnada do conceito de l iberdade-com-disciplina do Yôga tântrico.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 134

MAS O QUE VEM A SER TANTRA?

O termo Tantra significa: regulado por uma regra geral; oencordoamento de um instrumento musical; tecido ou teia, ou a tramado tecido. Outra tradução é "aquilo que esparge o conhecimento". Ouainda, segundo Shivánanda34, explica (tanoti) o conhecimento relativoa tattwa e mantra, por isso se chama Tantra. Não podemos ignorar acorrelação etimológica sugerida pela frase vakrat vak tantraram, quedesigna a tradição boca-a-ouvido. 

Tantra é o nome dos antigos textos de transmissão oral (param-pará)do período pré-clássico da Índia, portanto, de mais de 5.000 anos.Mais tarde, alguns desses textos foram escritos e tornaram-se livros ouescrituras secretas do hinduísmo. Naquela recuada época de origem doTantra, a Índia era habitada pelo povo drávida, cuja sociedade ecultura eram matriarcais, sensoriais e desrepressoras. Por isso, diz-seque eram um povo tântrico, já que essa filosofia é caracterizadaprincipalmente por aquelas três qualidades. Aliás, isso é uma noçãoamplamente divulgada e universalmente aceita.

O Tantra, o Sámkhya e o Yôga são três das mais antigas filosofias

indianas e suas origens remontam à Índia proto-histórica, ao períododravídico35. Talvez por isso essas três tenham mais afinidades entre sido que cada uma delas com qualquer outra filosofia surgidaposteriormente. Este dado é de fundamental importância na milenardiscussão: o Yôga mais autêntico é de tendência Sámkhya ouVêdánta? Tantra ou Brahmácharya?

A HISTÓRIA DO TANTRA 

A linha brahmácharya é patriarcal, anti-sensorial e repressora.Portanto, diametralmente contrária à linha tântrica, que é matriarcal,sensorial e desrepressora.

34 Livro Tantra Yôga, Nada Yôga e Kriyá Yôga , de Swámi Sivánanda (pronuncie Shivánanda),Editorial Kier, página 25.

35 Livro Yôga, Sámkhya e Tantra , do Prof. Sérgio Santos. Ler também os livros: Conhecer melhor a Índia , de Raghavan, Publicações Dom Quixote, páginas 12 e 25; Antigas Civilizações ,de Gaston Courtillier, Editions Ferni, página 24; Yôga e Consciência , de Renato Henriques,Escola Superior de Teologia, páginas 26, 33, 34, 54 e 55 da primeira edição.

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MESTRE DeROSE  135

De onde surgiram essas características? A maior parte das sociedadesprimitivas não-guerreiras as tinham. Toda sociedade na qual a culturanão era centrada na guerra, valorizava a mulher e até mesmo adivinizava, pois ela era capaz de um milagre que o homem nãocompreendia nem conseguia reproduzir: ela dava a vida a outros sereshumanos. Gerava o próprio homem. Alimentava-o com o seu seio. Porisso era adorada como encarnação da divindade mesma. E mais:através das práticas tântricas, era a mulher que despertava o poder

interno do homem por meio do sexo sacralizado. Ainda hoje ela éreverenciada assim na linha tântrica.

Daí, a qualidade matriarcal. Dela desdobram-se as outras duascaracterísticas. A mãe dá à luz pelo seu ventre – isso é sensorial.Alimenta o filho com o seu seio – isso é sensorial também. Nãopoderia ser contra a valorização do corpo, não poderia ser anti-sensorial como os brahmácharyas. A mãe é sempre mais carinhosa eliberal do que o pai, até mesmo pelo fato de o filhote ter nascido docorpo dela e não do dele. E também por ser da natureza do macho termais agressividade e menos sensibilidade. Pode ser que talcomportamento tenha muita influência cultural, mas é reforçado, sem

dúvida, por componentes biológicos.Por tudo isso e ainda como conseqüência da sensorialidade, desdobra-se a qualidade desrepressora do Tantra.

Assim era o povo drávida, que vivia antigamente no território hojeocupado pela Índia. Assim era o Tantra que nasceu desse povo e assimera o Yôga que existia nessa época: um Yôga tântrico.

Mas um dia a Índia começou a ser invadida por hordas de sub--bárbaros guerreiros, os áryas ou arianos.

Ao guerreiro não podem importar o envolvimento mais profundo com

a mulher nem a conseqüente família e o afeto. Seria até incoerente.Ele não pode ter laços que o amoleçam ou se sentirá acovardadodiante da expectativa da luta e da morte sempre iminente. Então, eletorna-se contra a influência da mulher que frenaria sua liberdade e seu

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impulso belicoso. É contra os prazeres que o tornariam acomodado36.É contra a sensorialidade, pois também não pode se permitirsensibilidade à dor perante o combate ou a tortura. Por isso tudo ele éanti-sensorial, contra a mulher e contra o prazer. Por conseqüência,torna-se repressor, pois começa a proibir o sexo, a convivência com amulher37. E os prazeres em geral. Depois expande essa restrição,tornando-a uma maneira de ser, uma filosofia comportamental38.

Quando os arianos invadiram a Índia há 3.500 anos

39

, escravizaram osdrávidas e impuseram-lhes a cultura brahmácharya (patriarcal, anti--sensorial e repressora), proibindo-lhes, portanto, exercer a culturatântrica (matriarcal, sensorial e desrepressora) por ser oposta aoregime vigente. Quem praticasse o Tantra e reverenciasse a mulher, oudivindades femininas, seria acusado de subversão e traição. Como tal,seria perseguido, preso e torturado até à morte.

Dessa forma, com a sua proibição por razões culturais, raciais epolíticas, o Tantra se tornou uma tradição secreta. Continua assim atéhoje, pois continuamos vivendo num mundo marcantementebrahmácharya, não apenas na Índia, mas na maior parte das nações.

Mencionamos razões raciais pois, ao invadir a Índia, os arianos eramlouros (como ainda o eram os arianos que Hitler liderou em suacampanha de conquistas militares, em pleno século XX – por isso seusímbolo era a cruz swástika, antigo símbolo hindu), enquanto que osdrávidas tinham pele escura e cabelos pretos.

36 Consta que uma das razões que contribuíram para a queda do Império Romano teria sido aintrodução dos banhos quentes como hábito cotidiano, os quais teriam arrefecido a têmperados seus, antes, bravos guerreiros. No Brasil, para domar a fibra dos temíveis índios cinta-larga, do Amazonas, os construtores da estrada Transamazônica usaram... açúcar!

37 Autobiografia , de Swámi Sivánanda, Editora Pensamento, página 140.

38 Em vários livros de Yôga de linha brahmácharya encontra-se a proibição de se utilizar alhoe cebola na alimentação, enquanto que nos de Yôga tântrico esses dois alimentos sãoconsiderados muito úteis à saúde. É que, por serem bastante energéticos, costumam aumentara energia sexual de quem os utilize e, como os brahmácharyas são contra a expressão dasexualidade, tais alimentos são tachados de "piores do que a carne".

39 Nota sobre discrepâncias históricas: há duas versões principais para a Proto-Históriaindiana e algumas outras variantes de menor importância. A esse respeito, leia nota no final docapítulo. 

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O EQUÍVOCO DAS PROFESSORAS DE YÓGA 

Isso explica a razão pela qual os professores de yóga do Brasil quefazem oposição ao Tantra são também machistas e racistas, pois nãoreconhecem o valor da mulher e não permitem acesso aos negros.Evidentemente eles não assumem isso, pois sabem que essas atitudessão impopulares. Não precisamos armar nenhuma discussão parademonstrar o que foi dito. Basta observar o comportamento dosoponentes dos tântricos: será fácil notar seus preconceitos étnicos, que

contradizem aquilo que eles ensinam teoricamente40.Por exemplo: na Índia, mulher não pratica Yôga. Para cada cemhomens, existe apenas uma praticante. Você não sabia? Lá, as escolasde Yôga são quase todas de orientação brahmácharya. Tente citar onome de dez Mestres de Yôga da Índia e veja se encontra entre elesuma só Mestra.

Como se justifica então o fato de no Ocidente tantas yôginís seposicionarem contra o Tantra, precisamente a linha matriarcal, a únicaque valoriza a mulher? Isso se chama desinformação.

A fundamentação às declarações feitas neste capítulo encontram-sebem documentadas nos livros de Yôga de boa qualidade publicadosaqui mesmo no nosso país e fora dele, a saber:

O Yôga , de Tara Michaël, Editora Zahar;Manual de Yôga , de Georg Feuerstein, Editora Cultrix;Tantra, o culto da feminilidade , de Van Lysebeth, Summus Editorial;Yôga, Imortalidade e Liberdade , de Mircea Eliade, Palas Athena;Tantra Yôga, Nada Yôga y Kriyá Yôga , de Sivánanda, Editorial Kier;e outros. 

Será que elas leram esses bons livros? Por outro lado é preciso tomarcuidado com livrinhos populares que não acrescentam nada e aindaensinam coisas erradas.

É lamentável o desconhecimento das praticantes sobre a verdade arespeito do Tantra. Muito mais grave, porém, é as instrutoras de yóganão o saberem, nem terem lido bons livros. Explica-se pelo fato de a

40 Os praticantes do nosso sistema de Yôga, evidentemente, costumam ter padrões decomportamento bem diferentes desses a quem censuramos publicamente.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 138

maioria não ser formada. Por isso elas ajudam a perseguir, difamar eboicotar os instrutores de linha tântrica, seus aliados naturais. Paratanto, aliam-se e rendem submissão justamente aos líderes delinhagens anti-tântricas, os quais são nada mais, nada menos, que osseus verdadeiros adversários.

Além disso tudo, ocorre um contra-senso ainda maior entre assenhoras que lecionam a modalidade denominada Hatha Yôga. Comoas outras, estas são contra os tântricos mas, pasmem, o Hatha Yôga,

que elas ensinam, é tântrico! Isto também está confirmado naliteratura mais séria.

O Hatha Yôga foi criado por Goraksha Natha, discípulo deMatsyendra Natha, o célebre fundador da Escola Kaula, do tantrismonegro41. Ora, na Índia, ainda hoje, o discípulo segue estritamente alinhagem do Mestre. Se discordasse dele em alguma coisa, não odeclararia como seu Mestre. Um Mestre tântrico não criaria um Yôgaanti-tântrico e o discípulo de um Mestre tântrico não professaria umacorrente contrária ao seu próprio Mestre. Ainda mais na época em queele viveu, século XI d.C., um período de grande rivalidade entre essasduas correntes tradicionalmente inimigas, como continuam sendo atéhoje. Naquela época ocorria tortura física dos tântricos, perpetradapelos adeptos da linha patriarcal.

Portanto, ser mulher e declarar-se contra o Tantra é um contra-senso.Mas ser instrutora de Hatha Yôga e atacar os tântricos, bem, aí já éestupidez, afinal, como vimos o próprio Hatha que ela ensina étântrico!

Como se estabeleceu essa situação? Explica-se: o Yôga foiintroduzido no Brasil, pelos homens. Os primeiros autores brasileiros

41 O Tantrismo possui várias divisões, das quais a principal é a que o divide em linha branca enegra (ou, melhor ainda, em "mão direita" e "mão esquerda"). A linha branca (ou da mãodireita) é a mais sutil, discreta, elegante e desaconselha o uso de fumo, álcool, carnes edrogas. A linha negra inclui vários desses itens nas suas próprias práticas. Entre as duas linhashá diversas Escolas, com tendência mais para a esquerda (vamachara) ou para a direita(dakshinachara). Não custa relembrar que a nossa é a linha branca, da mão direita. E mais:que branco e negro aqui são usados não para se referir à raça dos praticantes, mas apenascomo uma alusão à diametralidade das divergências entre as duas. Aliás, consta que a linhabranca é a mais antiga, portanto a que foi praticada pelos drávidas que eram morenos,enquanto que a linha negra teria surgido bem depois, entre os arianos, que eram brancos!

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MESTRE DeROSE  139

a escrever sobre Yôga foram, também, todos do sexo masculino. Sódepois de uma vintena de títulos publicados por homens é que asprimeiras mulheres brasileiras começaram timidamente a escreversobre Yôga. Mas foram livros muito fraquinhos, tanto que não tiveramnenhuma repercussão e suas autoras continuaram desconhecidas, comexceção da escritora Ro de Castro, que é celebrada em todo o país.

Por outro lado, a maioria das mulheres, para escrever, baseou-se nosoutros livros já escritos e que recendiam a patriarcalismo

brahmácharya. Ora, o patriarcalismo e o coronelismo são doisconceitos muito aparentados e muito arraigados na cultura latino-americana. Então elas acataram esse coronelismo instalado no Yôgada década de 60, no nosso país, e divulgaram os mesmos conceitosque os homens do Yôga latino haviam importado dos homens doYôga indiano. E estaria tudo igual até hoje, com todo o mundoreverenciando parvoíces aureoladas, se não houvesse eclodido noBrasil o Swásthya Yôga, que acredita na competência e na força derealização da mulher.

COMO CHEGUEI AO TANTRA 

Aos vinte e poucos anos de idade, comecei a ler sobre Tantra edescobri todas estas coisas e muito mais. Estava na hora, então, debuscar os Iniciadores. Porém, a partir da perseguição racial eideológica dos arianos contra os drávidas (brahmácharyas contra ostântricos), o Tantra tornou-se uma tradição secreta, para garantir a suapreservação (vakrat vak tantraram,  tradição boca-a-ouvido). Epermanece secreto desde centenas de anos antes de Cristo até osnossos dias. Portanto, ler sobre Tantra não adianta quase nada. Vocêrecebe informação, mas não Iniciação. Ficam faltando as chaves quesó são transmitidas de Mestre a discípulo.

Comecei, então, uma peregrinação ainda mais difícil. Se as sociedadessecretas podiam ser encontradas (não eram assim tão secretas!), osMestres de Tantra pareciam não existir mais. Dessa forma, comeceitravando contato com um sem-número de charlatães, de todas as corese estilos. Finalmente, de tanto freqüentar o ambiente, começaram asurgir indícios de pessoas sérias, contudo, praticamente inacessíveis.

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YÔGA, MITOS E VERDADES 140

Era preciso ser apresentado por um outro discípulo que assegurasse ahonestidade, lealdade e disciplina do eventual novato.

Passei, a partir daí, por um longo período de sondagem de intenções eavaliação de mérito. O que lera e praticara antes foi totalmentedesconsiderado. Aos avaliadores só interessava o caráter, a índole, aeducação, a personalidade do candidato. Como eram de linha branca,gostaram de saber sobre os hábitos de vida que exercia, como nãofumar, não tomar álcool nem drogas e não comer carnes de nenhum

tipo.

A INICIAÇÃO TÂNTRICA 

Depois de inúmeras provas de merecimento e muita paciência,consegui a indicação. Foi marcado dia, hora e local. Jovenzinho, ávidopor novos aprendizados, mal pude esperar.

Quando cheguei à residência do iniciador senti o impacto daarquitetura clássica de muito bom-gosto. O padrinho, a pessoa que seresponsabilizara por mim, aguardava-me na ante-sala e me introduziuaos presentes. Fiquei tocado pelo ambiente lindo, o astral leve, as

pessoas bonitas e afetuosas. Havia um clima de cultura esensibilidade. Os acordes de Mozart aveludavam a atmosfera.Esculturas por toda parte incitavam à beleza e à arte. Enquanto iapercorrendo os salões, era apresentado a jovens que, para oferecer,sorrindo, um abraço de boas-vindas, interrompiam a leitura deVoltaire ou de Göethe no original. Todos os que lá estavam vestiamroupas a um só tempo elegantes e com discretos toques de extremasensualidade. Nunca tinha estado num lugar assim, nem com pessoascomo aquelas. Não havia dúvida de que dedicavam-se a algo bemsaudável, positivo e elevado, diferente de tudo quanto já conheceraanteriormente.

O iniciador era um distinto senhor que, pelo falar, percebia-se sermuito culto. Quase esqueci que estava lá para receber uma iniciaçãotântrica, pois o prazer de ouvi-lo dissertar cativou-me inteiramente.Que personalidade magnética, que olhar doce, que forma envolventede transmitir a sabedoria!

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Finalmente, fui conduzido a uma câmara iluminada por velas eperfumada com incenso. Senti-me enlevado e já nem fazia questão deconhecer os exercícios. Bastava-me estar ali, em companhia daquelagente. O iniciador deu-nos as instruções preliminares e ordenou oinício do ritual.

Uma Dêví tomou-me pelas mãos e cuidou para que me sentisse àvontade. Sob os seus cuidados, qualquer resquício de ansiedade sedissipou. As técnicas iam sendo ensinadas por ela e explicadas pelo

iniciador. Jamais na vida havia me sentido tão feliz, nunca antesexperimentara um prazer tão profundo e sutil.

Enquanto tais ensinamentos me eram passados teoricamente, achava-os lindos e aceitava-os intelectualmente. Mas, quando fui iniciado nomaithuna, percebi sensorialmente aquela verdade que considera amulher como a própria Divindade feita carne – uma excelentemetáfora do que se vivencia no exercício a dois. Os parceirosconvertem-se em algo sublime, tornam-se capazes de conferir, um aooutro, o estado de graça.

Antes dessa iniciação, eu julgava que estados de graça eram produto

de asceses espirituais e não conseguia imaginar que pudessem serdesencadeados por um transbordamento do prazer sexual. Após umasérie de técnicas sensoriais, visando a aumentar a sensibilidade, oiniciador nos transmitiu a chave do processo:

– Retenham o orgasmo – disse-nos. – Retenham-no com bandha ekumbhaka, uma só vez, no primeiro dia. Duas no segundo. E assimsucessivamente. Terminem sempre sem derramar a ânfora de bindu. Oprimeiro ciclo será de um dia. O segundo será de dois dias ao fim dosquais vocês devem ter um orgasmo. O terceiro ciclo será de três dias,ao fim dos quais vocês devem liberar o orgasmo. E assim por diante,aumentando sempre um dia. Dessa forma, quando estiverem no 30ºciclo, reterão a energia orgástica por trinta dias seguidos. Quando omaithuna chegar a uma hora de duração os resultados serão avaliadose as normas alteradas.

Estávamos recebendo um patrimônio de conhecimento que o Tantradescobrira há milênios: um dispositivo de alta tecnologia biológica e,ao mesmo tempo, de extrema simplicidade.

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Até hoje, trinta anos depois, sou grato com os olhos úmidos àquelaspessoas que não esquecerei enquanto viver. Todos os dias evoco asbênçãos dos Mestres para que sejam sempre felizes como me fizeramfeliz. Que a Lei Universal os recompense sempre pelo bem quedifundiram concedendo-me o raro privilégio dessa excelsaexperiência. Ela mudou a minha vida, o meu karma, a minhaprofissão, a minha vida afetiva.

Na primeira prática formal de linha tântrica, descobri que sempre fora

um tântrico e já havia até realizado intuitivamente alguns exercícios.Nesta primeira prática senti logo o impacto da energia sobre o meucorpo e nos dias subseqüentes quase não dormi, vivi em estado degraça, tive percepções muito profundas, passei a enxergar maisnuances de cores, ouvir mais modulações de sons, sentir mais tato. Ameditação atingiu níveis indescritíveis. Os chakras passaram diasvibrando. A kundaliní não ficava quieta. Pelo aprimoramento quedisso resultou, os alunos passaram a apreciar bem mais as minhasaulas, catalisados que ficavam por uma força efervescente.

Uma das características do Tantra é o culto à sensorialidade. Por isso,

enquanto outras correntes de Yôga tentavam obter efeitos a partir deconceitos repressores do prazer, restritivos ao corpo e supressores dasexualidade, o Yôga de linhagem tântrica, pelo contrário, ensinara-mecomo alcançar os mais potentes e rápidos resultados, através, justamente, do prazer e do trabalho com a libido!

Imagine, um adolescente descobrindo isso! Quantos traumas eneuroses deixei de adquirir! E quantos relacionamentosenriquecedores, plenos de trocas energéticas pude usufruir ao longo daminha vida.

No Tantra aprendemos um conceito muito bonito, segundo o qualShiva sem Shaktí é shava. Isto é, "o homem sem a mulher é umcadáver". Shiva é o elemento masculino, que deve ser potencializadopela Shaktí, elemento feminino. Veja como é interessante: a mulher,quando companheira, denomina-se Shaktí, que significa literalmenteenergia. É aquela que energiza, que faz acontecer.

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Sem a mulher, o homem não evolui na senda tântrica. Nem a mulhersem o homem. É preciso que tenhamos os dois pólos. Podemos fazerpassar qualquer quantidade de eletricidade por um fio e ainda assim aluz não se acenderá, a menos que haja um pólo positivo e outronegativo, um masculino e outro feminino. Assim é nas práticastântricas.

O Tantra também possui um componente fortemente poético quecontribui para tornar as pessoas mais sensíveis e aumenta o senso derespeito e de amor entre homem e mulher. Nesse sentido, um dos seusconceitos mais encantadores ensina que, para o homem, a mulher é amanifestação vivente da própria divindade e, como tal, ela deve serreverenciada e amada. A recíproca é verdadeira, pois a mulherdesenvolve um sentimento equivalente em relação ao homem.

O MECANISMO BIOLÓGICO DO TANTRA 

Os antigos haviam descoberto que, para a natureza, o indivíduo é fatordescartável, porém a espécie não. Esta deve ser preservada a qualquercusto. A natureza é capaz de eliminar sumariamente milhões de

indivíduos se isso for útil à espécie. As sociedades de insetos nosfornecem bons exemplos disso, quando milhões de formigas ou deabelhas se sacrificam voluntariamente pelo bem do formigueiro ou dacolméia. Na verdade, o ser humano não está muito distante dessecomportamento. Basta lembrar nossa história de guerras tribais,depois entre nações e agora, envolvendo praticamente todo o planeta.

Que utilidade há em sabermos que a natureza descarta o indivíduo,mas luta para preservar as espécies? Sob a ótica da lei natural, quandoum indivíduo se reproduz já cumpriu sua obrigação perante a espécie.E logo depois seu organismo passará a um processo mais acelerado dedecadência em direção à morte. Entretanto, se ele praticar o maithuna,

segregando hormônios sexuais em abundância e depois retiver oorgasmo, criará artificialmente um estado de permanentedisponibilidade para a reprodução. Como a natureza preserva umreprodutor por ser muito útil à espécie, esse indivíduo será protegidocontra doenças, envelhecimento e até acidentes, pois mantém-se commais reflexos e mais inclinação a Eros que a Tânathos. Esses dois

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impulsos, o de vida e o de morte, estão em constante oposição nosseres humanos.

Quando o impulso de Eros é mais atuante, a pessoa manifesta melhordisposição para a vida e maior vitalidade. Logo, desfruta de maissaúde, menos enfermidades e depressão. Por isso, também apresentamenor propensão a acidentes. Muitas vezes, esses não passam detentativas inconscientes de suicídio.

De fato, em todo o reino animal, quando os indivíduos estão aptos àreprodução, quando estão bem abastecidos de hormônios sexuais,tornam-se exuberantes e bem mais fortes. Isso também poderiaexplicar o efeito semelhante que a prática de maithuna tem sobre osseus praticantes.

Para terminar, convém informar ao leitor que Yôga e Tantra não são amesma coisa. São coisas diferentes. Mas o Yôga original, logo maisautêntico, era comportamentalmente tântrico, já que o brahmácharyasó seria introduzido milênios mais tarde. Então, este último não temautenticidade em termos de origens e de coerência com o Yôga. Poressa razão, todos os nossos alunos gostaram muito mais quando

comecei a ensinar as mesmas técnicas que ensinava antes, só queagora com o colorido de uma influência mais coerente, mais legítima,mais original42. Foi aí que começou o meu êxito no campo domagistério de Yôga. E, como não há sucesso sem a reação dos queestão sendo ultrapassados, com isso teve início também a pendengaque me estimulou a crescer, estudar mais, trabalhar melhor edesenvolver tudo o que será relatado nos capítulos seguintes.

NOTA SOBRE DISCREPÂNCIAS HISTÓRICAS 

Há duas versões principais para a Proto-História indiana e algumas outras variantes de menorimportância. A razão disso é que o período proto-histórico não possui registro e baseia-se na

arqueologia, tradições orais e deduções construídas por historiadores, antropólogos e outroscientistas.

42 Ainda assim, para me desintoxicar de toda a lavagem cerebral a que havia sido submetidoanteriormente, levou tempo. Mesmo estando atento para retirar toda a tendência espiritualista erepressora, levei mais de dez anos até conseguir chegar a um bom termo. E isso só ocorreuquando comecei a entender as raízes Sámkhyas do Yôga pré-clássico.

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Uma das principais versões foi adotada por nós por ser a que conta com a maior e melhorliteratura de apoio documental, à qual podemos remeter nosso leitor. Isso não significa queseja a versão verdadeira.

Esta interpretação ensina-nos que há mais de 3.000 a.C. os Drávidas viviam na Índia e quesub-bárbaros guerreiros da etnia ariana invadiram seu território, destruindo suas cidades,matando e escravizando os de etnia drávida, principalmente em torno de 1.500 a.C., o que osteria obrigado a migrar para o Sul da Índia e para Srí Lanka.

De fato essa vertente explicaria porque os drávidas são muito mais numerosos no Sul da Índiae no país vizinho, Srí Lanka. Também faz sentido no que concerne à tradição guerreira dosarianos, ancestrais dos alemães, proverbiais senhores da guerra e inventores das maiseficientes armas desde a Antiguidade.

Também é coerente com a tendência dos arianos de pregar a hegemonia da sua raça emdetrimento das demais, e de cometer genocídios para “depurar” a espécie humana, eliminandosumariamente os de raças consideradas inferiores. Isso se explica à luz da genética, já que osarianos, de pele clara, olhos azuis e cabelos louros, têm genes recessivos, enquanto que os depele, cabelos e olhos mais escuros são geneticamente dominantes. Assim, num cruzamentoentre os arianos e a maior parte das demais raças, a descendência teria as características dasoutras etnias, terminando por exterminar a raça ariana. Sendo assim tão mais fracos, emtermos genéticos, passamos a entender porque, ao longo de milhares de anos,sistematicamente, quiseram eliminar os demais. Era uma questão de sobrevivência para eles.A tendência à guerra e a dominar outros povos está inclusive expressa nos Vêdas, escriturasagrada ariana, no verso que declara as intenções dos arianos daquela época: “Com o arcovenceremos nossos inimigos e conquistaremos toda a Terra.” Hitler, que era austríaco (logo,ariano) não teria dito melhor!

Outra versão que vem ganhando adeptos é a de que os arianos não migraram da EuropaCentral para a Índia em vagas de invasões que culminaram com a destruição da jáenfraquecida civilização do Vale do Indo. De acordo com essa vertente, os arianos estavam naÍndia há mais de seis mil anos... antes de Cristo! Academicamente, é difícil sustentar essaafirmação. No entanto, se ela for verdadeira, os arianos já se encontravam lá quando o Yôga, oSámkhya e o Tantra surgiram. Segundo essa interpretação, não foram os arianos quedestruíram a civilização Harapiana. Ela teria se deteriorado sozinha e entrado em colapso porvários motivos, entre eles o desaparecimento de um importante rio, o Saraswatí. Um dosmotivos que nos levam a ser prudentes antes de aceitar essa versão, é o fato de que ela vemsendo defendida exatamente pelos arianos. Gostaríamos de ouvir a opinião de historiadoresdrávidas a esse respeito.

Há uma terceira opinião bastante difundida na França, segundo a qual o Yôga teria sido criadolá mesmo, pelos Celtas, e levado para a Índia. Portanto, o mérito não seria daquele povo depele escura e sim dos Europeus. Defendem ainda que o sânscrito não deve ser chamado delíngua indo-européia e sim euro-indiana, porquanto teria sido levada da Europa para a Índia.Foi por isso que recebi o convite que me tornou Presidente do Collège d’Études Celto-Druidiques para a América Latina, com sede em Drancy, na França. Enviaram-me uma cartadeclarando que o Swásthya Yôga que sistematizei era, nada mais, nada menos, que o YôgaCelta. Discordei com veemência dessa opinião e recusei o cargo. De nada adiantou. Um diarecebi pelo correio o Diploma investindo-me da Presidência, juntamente com um medalhãodruídico. Acabei aceitando o cargo apenas em caráter honorífico. Acrescentei esta história parailustrar com uma terceira versão que pode auxiliar o estudante a ser cuidadoso antes deendossar esta ou aquela opinião.

Na verdade, não importa muito qual é a versão verdadeira, até porque nenhuma delas deve sê-lo. Não precisamos perder tempo debatendo isso, uma vez que não somos historiadores e quenossa preocupação prioritária é o Yôga. Sabemos o quanto o nosso tipo de Yôga é bom enenhuma nova versão “histórica” vai-nos fazer oscilar na nossa confiança e fidelidade peloSwásthya Yôga.

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Nossa posição com relação a isso é: se a História puder contribuir para com o entendimento ea fundamentação de conceitos e princípios do Swásthya Yôga, não vemos nenhum mal emmencionar os dados históricos. Se, por outro lado, a História não tiver nenhum dado que nosinteresse pedagogicamente para explanar melhor nosso sistema, não há porque citar quandosurgiu certa cidade ou quando existiu determinada civilização.

Finalmente, não combatemos as opiniões divergentes daquela que adotamos. A maiordemonstração de tolerância e boa vontade com relação a isso é o fato de um dos nossosmelhores instrutores ter realizado pesquisas e trabalhos escritos a esse respeito, ministrando,inclusive, cursos sobre o tema na nossa sede central em São Paulo e em várias outras pelopaís.

O que quisemos deixar patente neste esclarecimento é que não existe qualquer estado de

animosidade entre este autor e seus discípulos que adotem outra versão histórica, nem cons-titui da parte deles qualquer intenção de desrespeito, pois têm se mostrado sempre respeitosose carinhosos, consultando-nos freqüentemente. E, repito, não somos historiadores e nãoprecisamos discutir por assuntos que não nos dizem respeito. Limitamo-nos a ler e expor osresultados das pesquisas de terceiros no campo da História e da Arquelogia.

Seja qual for a verdade histórica, isso não altera nossa forma de executar os mantras, osásanas, os pújás ou a meditação. Yôga é a técnica. Yôga é quando todos calam a boca esentam-se para praticar!

Para encerrar, cabe aqui uma citação de Jean Cocteau: “À História, prefiro a Mitologia. AHistória parte da verdade e ruma em direção à mentira. A Mitologia parte da mentira e seaproxima da verdade.”43

 43 Leia o livro Eu me lembro ..., deste autor.

CRONOLOGIA HISTÓRICA DO YÔGA

Divisão YÔGA ANTIGO YÔGA MODERNOTendência Sámkhya Vêdánta

Período Yôga Pré-Clássico Yôga Clássico Yôga Medieval Yôga Contemporâneo

Época Mais de 5.000 anos séc. III a.C. séc. VIII d.C.  séc. XI d.C. Século XX

Mestre Shiva Pátañjali Shankara Gôrakshanatha

Literatura Upanishad Yôga Sútra Vivêka Chudamani Hatha Yôga

AurobindoRámakrishnaVivêkánandaShivánandaChidánanda

KrishnánandaYôgêndra

Fase Proto-Histórica Histórica

Fonte Shruti Smriti

Povo Drávida Árya

Linha Tantra Brahmácharya

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O PRINCÍPIO DA POLÊMICA A verdade sempre resplandece no fim,

quando todos já foram embora...Julio Ceron

Bem, para você ler este capítulo nós precisamos entrar numacordo prévio. Se você vai achar que estamos reclamando oureivindicando alguma coisa, se vai achar que nos julgamosperseguidos ou incompreendidos, se vai considerar este relatohistórico com amargor, não leia. Salte o capítulo. Se você é do tiposonhador/contestador/alternativo/misticóide e não quer que oMestre de Yôga diga nada realista, mas apenas que tudo sãoflores, não leia este capítulo. Aliás, feche o livro.

Por outro lado, se você é uma pessoa madura e equilibrada, se leuoutras autobiografias antes e reconhece que uma obra com essaproposta precisa contar tudo e não esconder nada, então,prossiga. Acho que vai se divertir e instruir-se bastante naspáginas que se seguem.

Enquanto não demonstrei sérias intenções de montar escola e tornar--me profissional, os professores da época diziam abertamente queaquele yôgin era um exemplo de dedicação, que era "muito evoluído",que sua seriedade devia ser seguida por todos, que com tão poucaidade ter chegado àquele ponto, era sinal seguro de que viria a ser um

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grande Mestre... Eles não esperavam que viéssemos a fundar umNúcleo ou, pelo menos, que o concretizássemos tão cedo, poisestavam habituados com pessoas que ficam anos dizendo que vãorealizar alguma coisa e nunca fazem nada. Enganaram-se.

Aos 17 anos de idade decidi que queria servir o Exército na tropa. Foium escândalo!

–  O que é que um rapaz como você vai fazer lá no meio daquela

gente? Não é ambiente para você. – Era o que ouvia com freqüência.Mas, assim como escolhi o colégio interno que, todos diziam, iriadetestar e adorei, da mesma maneira ocorreu com a caserna. As razõesé que eram diferentes. Não fui para o Exército a fim de estudar mais oYôga e sim para pô-lo à prova num ambiente adverso.

Decidira também que após o serviço militar iria tornar-me uminstrutor de Yôga e exercê-lo como profissão verdadeira, em tempointegral, dedicando minha vida a esse ideal.

Tão logo dei baixa no Exército arranjei um pequeno emprego com oqual paguei um curso visando a prestar concurso para a Companhia

Siderúrgica Nacional. Passei em boa colocação e fui trabalhar lá,apenas provisoriamente, para reunir capital e poder abrir meu Núcleo.Assim foi feito.

Tornei-me amigo de um brilhante médico da CSN, Dr. PedroJaimovich, que, percebendo minha real vocação, introduziu-me nomundo fascinante do contato com o público. Perguntou-me um dia,como que a me sondar:

– Você teria coragem de dar uma conferência para o Lions Clube?

Nunca havia dado conferências, mas aceitei o desafio. Acho que mesaí razoavelmente bem, pois bastante gente quis praticar Yôga. Além

disso, o Dr. Jaimovich assestou-me logo outro desafio:– E agora, você iria ao programa do Flávio Cavalcanti, na televisão?

Aceitei, e esse foi o meu batismo de fogo com a TV, da qual não meafastei nunca mais.

Então, o Dr. Pedro disse:

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– Você tem algo mais do que coragem. Você nasceu para isso. Está nahora de tomar a sua decisão. Se ficar mais tempo aqui dentro daC.S.N. vai acabar se acomodando e tendo medo de sair, como ocorrecom a maioria.

Era o estímulo de que precisava. Outros dois amigos tinham-secomprometido a abandonar seus empregos para juntos montarmosuma escola. Felizmente, na hora H, ambos se acovardaram e mudaramde idéia, deixando-me só na empreitada. Assim, comecei certo, isto é,

sem sócios.Todos os instrutores quando cogitam em abrir um Núcleo, porinsegurança, planejam sempre fazê-lo em sociedade com mais umcolega ou um grupo deles. Ficam apavorados com a idéia de que terãode arcar com todas as decisões e despesas se o fizerem sozinhos.Acontece que fazer sociedade é a pior maneira de começar. Portanto,dei sorte. Na data prevista, em 1964, pedi demissão e, com o dinheiroeconomizado, aluguei uma sala no 33º. andar do recém-construídoEdifício Avenida Central, então, o mais alto do Rio de Janeiro.

Preferi o 33o. andar em alusão aos 33 graus da Maçonaria e às 33

vértebras que a kundaliní tem que ascender.Escolher um lugar tão alto foi um erro de cálculo típico dainexperiência da juventude. Eu imaginava que as pessoas apreciariamo fato de estarmos longe dos ruídos e da fumaça dos automóveis. Nãocontava com que tanta gente tivesse medo da altura! Todos meexclamavam:

– Mas por que tão alto?

Eu lhes dizia:

– Você não precisa ir de escada. Use o elevador.

Mas não entendiam a piada e respondiam:–  É justamente dele que não gosto. Sobe muito rápido e não temascensorista...

Contudo, era o único lugar do Rio e do Brasil onde encontrariam oSwásthya Yôga. Dessa forma, acabavam aceitando vencer suas fobiase chegar lá em cima. O Instituto logo ficou com as turmas cheias,

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porém, tenho a certeza de que perdi muitos alunos por sempre pensaranos demais à frente.

Tão logo inaugurei a escola, justamente aqueles professores e autoresque me elogiavam, até por escrito, mudaram bruscamente de opinião.Antes eu era um praticante dedicado, que dominava práticasavançadas; e convinha ter por perto, pois sempre poderiam declararque eram meus mestres para autopromover-se, como ocorria comfreqüência.

No entanto, havia-me convertido agora em um concorrente forte quelhes tomaria inevitavelmente um bom número de alunos. Fazia-senecessário, assim, deflagrar uma campanha para criar descrédito. Aí afofoca começou. Primeiro em relação ao método. Não deu certo, aspessoas estavam gostando das aulas. Todos diziam estar encontrandono “Yôga do DeRose” exatamente aquilo que faltava nos outros tiposde Yôga.

O Swásthya ganhou imediatamente a fama de constituir o Yôga maiscompleto de todos e que englobaria o Hatha Yôga, Rája Yôga, BhaktiYôga, Karma Yôga, Jñána Yôga, Laya Yôga, Mantra Yôga e Tantra

Yôga. Na verdade, o Hatha não faz parte e sim o Ásana Yôga, com oqual o leigo o confunde. De fato, o Swásthya Yôga contém todos oselementos pré-clássicos que vieram a dar origem a esses oito ramos(Tantra, Mantra, Laya, Jñána, Karma, Bhakti, Rája e Ásana Yôga.Deste último, séculos mais tarde, nasceria o Hatha). Cumpre lembraraqui que o Swásthya não foi criado a partir da combinação daquelesoito ramos, e que não aprovamos miscelâneas. Ele é a codificação dotronco de Yôga pré-clássico, no qual todos os ramos tiveram suaorigem. Por isso o Swásthya é tão completo.

Como a tentativa de difamação do método não deu certo, devido à suaindiscutível superioridade, um dos concorrentes teve a "brilhante"idéia de investir com calúnias pessoais sobre a pessoa do professor,baseado em argumentos convincentes e contra os quais encontrava-memesmo indefeso:

1) Eu era muito jovem, ingênuo e inexperiente.

2) Era de linhagem tântrica e ela viria a ser violentamente combatidapelos espiritualistas.

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3) Estávamos em plena vigência do golpe de 64 que instaurou aditadura militar de direita. Por coincidência fundei o primeiro Núcleo justamente em 1964. Usava barba, coisa que na época era associada aocomunismo de Fidel Castro, do qual temia-se a expansão pelos demaispaíses da América Latina. Ninguém no Brasil ousava ostentar pelos norosto. Como nunca me envolvi em política e vivia mergulhado decorpo e alma em filosofia, jamais imaginei que cultivar uma barbapudesse ter conotações políticas ou que isso chegasse a prejudicar o

trabalho com Yôga. Acontece que o tal professor concorrente queelaborara aquelas invectivas, era coronel! E, não se esqueça,estávamos na ascensão de uma ditadura militar de direita...

Pronto, estava fechado o círculo. Com aqueles três trunfos,procuraram me acossar durante os vinte anos que durou a ditadura. Sevocê, leitor mais jovem, acha exagero, é por não ter vivido naquelaépoca. Ser militar, mesmo sargento, bastava para todos obedecerem etemerem. Todas as portas se lhe abriam; ou fechavam-se a quem omilitar mandasse Em minha inocência só notei que as perseguições