mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/press/1997/despertar...2 tiragem m6dla: 18.360.000...

13

Upload: others

Post on 05-Aug-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores
Page 2: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

2

Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas

Mitos e realidad~' da floresta ama~ica

3-13 Construtores de estrada, madeireiros, garimpeiros. criadores de gado e outros grandes fazendeiros destroem anualmente milhares de quilómetros quadrados da floresta amazônica. Uns 10% da floresta talvez já lenha sido destruída. A destruição contínua terá

conseqüências mundiais.

Testemunhas de A f loresta amazônlca - envolt a em mistério

Jeová vindicadas na Grécia 14 O futuro sombrio

Trata-se de uma religião idó- da flore.at a tropical úmlda

oca e bem-estabelecida, e seus membros contribuem muito A busca de soluções

para o bem-estar da comunidade. Um século e melo de metrõ

Que mal há em mexer Maré alta: a hora do rush

com outros? 17 Observando o Mundo Se se sentir tentado a apelar

para a intimidação, agressão De Nossos leitores ou violência, lem bre·se de que

no passado Deus destruiu os Horta é com ela mesma "nefilins" por praticarem tais

coisas. - Gênesis 6:4-7. Uma revist a valiosa

Despertai! 22 de março de 1997

3

4

10

20

24

28

30

31

32

Page 3: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

A floresta .. . amazon1ca

ENVOLTA EM MISrÉRIO

OS lNDIOS irimaraí que habitavam às margens do rio Napo, no Peru. mal podiam crer no que viam! Dois navios

de vela redonda. bem diferentes de suas pró­prias canoas esguias, 3proximavarn-se de sua aldeia. Eles viram guerreiros barbudos a bor­do - diferentes de qualquer outra tribo que já tinham visto. Desnorteados, os índios cor­reram para se esconder e ficaram observan­do os alienígenas de pele branca desembarcar. surrupiar o estoque de alimentos da aldeia e zarpar novamente - entusiasmados pela idéia de fazer história como primeira expedi­ção a cruzar a inteira floresta tropical úmida. da cordilheira dos Andes ao oceano Atlântico.

Durante aquele ano. 1542, uma tribo indíge­na atrf1s da outra sofreu um choque similar. à medida que esses exploradores europeus, em­punhando bestas e arcabuzes (armas medie­vais). se embrenhavam cada vez mais na flo­resla tropical da América do Sul.

Francisco de Orellana. o capitào espanhol que chefiava esses conquistadores. logo des­cobriu que as nolicias sobre suas pilhagens e tiros corriam mais depressa do que seus dois patachos (navios). Tribos indígenas mais abai­xo no rio (perto da atual cidade brasileira de Manaus), com ~ suas flechas de prontidão, aguardavam os 50 e poucos invasores.

E esses índios atiravam bem, admitiu um membro da tripulação. Gaspar de Carvajal. Ele falou de experiência própria, pois uma das ílechas indígenas penetrou entre suas coste­las. "Se não fosse o 1ecido grosso da minha ba­tina", anotou o frade ferido. "isso teria sido o meu fim". fvnooe. no 1110: l~t Compltt• CncyctoptC11a ol 111us1r•11on / J G. Heck

DO CORRESPONDENTE DE DESPERTAll NO BRASIL

'Guerreira• que valem por dez homens·

Carvajal passou a descrever a força por trás desses índios arrojado~ . 'Vimos mulheres combatendo à frente dos homens. como capi­tãs. Essas mulheres !>ào brancas e altas, com longos cabelos !rançados e enrolados n3 cabe­ça. São robustas e. de arco e ílccha na nuio. são combatentes que valem por dez homens.'

Se esses exploradores realmente viram es­sas guerreiras. ou se, como diz certa fonte. foi "uma simples miragem provocada pela fe­bre malárica", não se sabe. Ma!>. segundo pelo menos alguns relatos. na época em que Orel­lana e Carvajal chegaram à foz do caudalo so rio e penetrnram no oceano Atlântico. ele~ criam ter vislumbrado a versflo Novo Mundo das Amazonas, as ferozes guerreiras descritas na mitologia grega.•

O frade Carvajal preservou a hbtória das Amazonas Americana~ para a po~leridade. in cluindo-a no seu relato de primeira mão a rc5 peito da expedição de Orellana. que durou oito meses. O Capitão Orellana. por sua vez. velejou para a ~panha. onde fez um relato vi­vido sobre a sua Jornada ao longo do que ele, lendariamentc. chamou de Rio de las Ama:o­nas, ou rio Amazonas. Não muito tempo de­pois, cartógrafos do sé cu lo 16 faziam um novo acréscimo ao emergente mapa da América do Sul - a Amazónia. Foi assim que a flores­ta amazónica ficou envolta em mistério. mas. agora. ela é afligida por realidades.

•A p<1lavra '"Amazona~ .. provavelnlentf vem do g1ci:o " · que significa ~sem'", e ma ;ós, que ~igmlíca .. sdo'". Segundo a lenda. ~ Amazonl!s ampUtllvam o loelO dtrcito para facilitar <1 moncjo du arco e d~> ílci:has.

Despertai! 22 de março de 1997 3

Page 4: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

4

O futuro sombrio ela floresta tropical úmicla

VISTA de um avião, a floresta tropical amazónica parece um espesso carpe· te de tamanho continental. tão verde e

novinha em foJha como quando Orellana a co­locou no mapa_ No chão. ao caminhar com úifículdade pela mata quente e úmida, esqui­vando-se de insetos do tamanho de pequenos mamíferos. você descobre que é difícil dizer onde termina a realidade e começa a fantasia. O que parece ser uma folha pode na verdade ser uma borboleta: um cipó, uma cobra, e um peda­ço seco de madeira um assustado roedor que foge velozmente. Na íloresta amazônica. fato ainda se mistura com ficção.

"A maior ironia''. diz certo observador, "é que a realidade amazónica é tão fantástica como seus mitos". E é fantástica! Imagine uma nores­ta do tamanho da Europa Ocidental. Recheie-a com mais de 4.000 espécies de árvores. Ador· ne-a com a bdeza de mais de 60.000 espécies de plantas noriferas. Pinte-a com as brilhantes matizes de 1 .000 espécies de aves. Enriqueça-a com 300 espécies <.le mamíferos. Sature-a com o zumbido de talvez <.loís milhões de espécies de insetos. Agora você compreende por que todos os que descrevem a noresta tropíeal amazónica acabam usan<.lo superlativos. Nada menos do que isso faria justiça ao fervilhante legado bio­lógíco dessa que é a maior noresta tropical úmi· tia da Terra.

Os isolados "mortos-vivos" Noventa anos atrâs, o escritor e humorista

americano Mark Twain descreveu essa fasci· nantc floresta como "terra encantada. terra pro­digamente rica cm maravilhas tropicais, terra misteriosa em que todas as aves. as flores e os animais mereciam ser exibidos em museus. e em que todos osjacarés, os crocodilos e os ma­cacos vivem tão à vontade como se estivessem num zoológico··. Hoje, essas palavras espirituo sas de Twain sofreram uma distorção inquictan te. Museus e zoológicos talvez sejam em breve os únícos refúgios para um crescente núme rodas maravilhas tropícaís da Amazónia. Por quê?

A causa priDcipal, obviamente, é a clerrnbada da floresta pelo homem. que destrói o lar natu· ral da flora e fauna da região. Contu<.lo. além da destruição indiscriminada do habitat. hà outrns causas, mais sutis, que estão transformando cs· pécies <le animais e de plantas, embora ainda vi­vos. em "mortos-vivos"'. Em outras palavras. as amoridades acham inevitável a extinção llcssns espécies.

Uma dessas causas é o isolamento. Autori­dades governamentais favoráveis à preservação talvez banam a motosserra num determinado bolsão da floresta para assegurar a sobrcvivi!n· eia de espécies ali. Contudo, a perspecliva fí. na! que uma pequena ilha-floresta oferece para tais espécies é a morte. O informe Protecting

-------------- Despertall*-------------Por que •• edita D••P•Ttsl! Despertai! visa o esclarecimento de toda a famflia. Mostra-nos como enfrentar os problemas atuais. Veicula as nolícias. fala sobre pessoas de muitas terras, examina a religião e a ciência. Mas taz mais do Que isso. Ela sonda abai1<.o da superficle e aponta o verdadeiro significado por trâs dos eventos correntes; todavia, permanece sempre polít1camente neutra e não exalta raça alguma como superior a outra Importantíssimo é que esta revista gera conliança na promessa do Criador de estabelecer um novo mundo pacfllco e seguro, prestes a substituir o atual sistema de

coisas perverso e anárquico.

$~Ivo ouHa 1nd1cação usa·se a Traduçao do No~o Alundo das Escrrturas Sagradas.

Orsperta/te publle.tda e impressa Qulnzenalmente pela Sociedade Torre de V101a de Blbhas e Tratados. Sede e Q•~hca R<ldo~1a SP-141, Km 43. 18280·000 C~rio Lanoe. SP. Oiretor e editor respons.!Yel: Auous10 dos Santos Machado Filho Rev1sla reg1strada sob o nlin1e10 de ordtm SI 1 Re,i1stta11a no OPF • DCOP sob o n • 328.P.209173. lmpreua "º !lraS•I AnlA!' sem1monlhty, March 22 1997. ~I 78, No. 6 PORTUGUESE EOITION

Despertai! 22 de março de 1997

Page 5: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

the Tropical Forests-A High­Priorit.~· f 111ema1ional Task (Proteger as Florestas Tro­picais - Tarefa Internacio­nal de Alta Prioridade) ilus­tra com um exemplo por que pequenas ilhas-flores­tas não sustentam a vida po~ muito tempo.

Arvores tropicais muitas vezes são constilllídas de macho e fêmea. Para se re­produzirem, elas contam com a ajuda de morcegos que transportam o pó­lendas llores machos para as flores fêmeas. Na­turalmente. essa polinização ocorre apenas se as árvores estiverem dentro dos limites de al­cance de vôo Jo morcego. Se a distância entre uma árvore fêmea e uma árvore macho tornar· se grande demais - como muitas vezes aconte­ce quando uma ilha-lloresta acaba rodeada por um oceano de terra ressequida - o morcego não consegue cobrir a lacuna. A~ árvores. diz o iníorme. tornam-se então "'mortos-vivos', pois a sua reprodução, a longo prazo, não é mai~ pos­~í vel".

Esse vínculo entre árvores e morcegos é ape­nas uma das relações que constituem a comuni­dade natural amazónica. Em termos ~imples. a lloresta amazónica é comparável a uma sun­tuosa mansão que oferece casa e comida para muitos irn.livíduos diferentes. porém esLreita· mente interligados. Para evitar a superlotação. os habitantes da noresta tropical úmida vivem em diferentes andares. alguns perto do chão da lloresta.outros lá na copa <las árvores. Todos os moradores têm tarefas a cumprir. e eles traba-

Edlç6•• qulnz•nala dlaponívela pelo correio:

lham 24 horas por dia - a 1-guns de dia. outros de noi· te. Se se permitir que todas as espécies executem tran­qüilamente as suas tarefas. essa complexa comunidade de flora e fauna am:uóni­ca funciona rã com precisão eronom~t rica.

O ecossistema da Ama· zônia ("eco" vem de oikos. a palavra grega para "casa"l é, porém. frágil. Mesmo

que a interferência humana nessa comunidade florestal se limite a explorar algumas espécies. a ruptura do ecossistema repercute em todos os andares Ja casa·íloresta. O conservacioni"ta Norman Myers estima que a cxtinçào <lc uma única espécie de planta pode acabar contri­buindo para a extinção de até 30cspécies de ani· mais. E. visto que a maioria das {lrvores tropi cais. por sua vez. depende dos animais para a dispersão de sementes. o extermínio de espé· cics de ;.mimais. pelo humcm. leva ;i l!Xtinção <las árvores às quais eles servem. (V~ja o qua· dro "A interação árvore-peixe".) A!.~Ím como o isolamento. romper relaçôc!-1 consigna mah e mais espécies florestais às fileiras <los "mortos vivos".

Pe.quenos cortes, pequenas perdas? Alguns justificam o desmatamcnto Jc peque

nas áreas alegando que a ílon::st;.t se recuperarú e criará uma nova cobertur<i verde sobn: o ter· rcno desmatado, assim como o corpo cria pele nova depois de um corte no dedo_ Certo'! Bem. mlo exatamente.

Endereço• da Sociedade Torre de Vi9ia em algun• paí•e• AJucdner, alemão. arabe, cebuanu. cn1oes. cninês 1s1111pllf1caao). co

reano, croâcio, dinamarqu~s. eslOVõ!C() esloveno, espanhol l1nlanaês. rr:;ncês Qr!9o. holandês. Mngaro. Uocano. iMonésio, Inglês 1oruba 11a11ano. japon~s. l'lalalala. Mrueguês. polonés. por1ugués. romeno russo sérvio, sua1h, sueco, tagalo, làmll. tcheco. ucrao•ano e w 1u

Argentma. Rosell 1084. Estados Unidos. Waltkill. NY 12589 Paraguai. Oraz de Sous 1485 esq C.A Lopez. Sajonia. Asuncion Portugal. Rua Conde Barao. 51 t Alcabldcche, P-2765 Estoril Uruguõ1. Francisco Bauza 3372 11600 Morilt!videu

Edlçõ•• m•n ... 1• dl•ponivel• pelo corr•lo: Canarês. chlcheva. chona, cíbemoa, clogalês. esromano. eve guzera­te. hillgà1no, hindi. 1bo. mac&lõnlo, mala9as1ano, marata. mlanniar. r1epJlês. pap1arnento, p1d1Jin da Nova Guine. ~eped1. sesoto. lar 1a1-

liano, lélugo. tsonga. tsvana. tu1co. rvl e xosa C 1991 V..lth T-r Rl~lo •AO TllCI Soc~ly or 1'1<\n'YIYin•a e Sot>tGodt

lor•e de V1g<a cst 9,bt•u e TratbOOs locJos o; d1re1t1>1 re~l'\lildos

C.F Casilla de Correo 83 (Sue. 27 Bl 1427 Buenos Aires 80/1v1a. Casitla N.• 1440 la Paz Brasil. Caixa Postal 92 18270-970 Tatul. SP

•11d•n9•• d• •nd•r•90 devem chegar a nôs 30 d1•~ antes da data da muoança Forneça·nos tanto o endereço antigo como o novo (se poss1vel, a

etiqueta de seu endereço antrgo)

Despertai! 22 de março de 1997 5

Page 6: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

6

Naturalmente, é verdade que a floresta de­vastada renasce, caso o homem a deixe em paz por tempo suficiente. Mas também é verdade que a nova cobertura de vegetação é tão dif eren· te da floresta original como uma fotocópia de má qualidade é diferente de um original exce­lente. Ima Vieira, botânica brasileira, estudou uma área de floresta .recuperada, de um sécu­lo de existência, na Amazõnia. Ela descobriu que, das 268 espécies de árvores que cresciam na floresta primária, apenas 65 fazem parte da nova floresta hoje. Essa mesma diferença, diz a botânica, vale para. as espécies de animais da região. Portanto, embora o desmatamento não esteja transformando, como alguns dizem, flo­restas verdes em desertos vermelhos, está real­mente transformando partes da flore.sta tropi­cal amazônica em pobres imiiações da original.

Além disso, a derrubada de até mesmo uma pequena área da mata não raro destrói muitas plantas e animais rastejantes e trepadores que procriam e vivem apenas naquele segmento da floresta, e em mais nenhum outro lugar. Pesqui­sadores no Equador, por exemplo, encontraram 1.025 espécies de plantas numa certa área de 1,7 quilómetro quadrado de floresta tropical. Mais de 250 dessas espécies não crescem em mais nenhum outro lugar na Terra. "'Um exemplo local", diz o ecologista brasileiro Rogério Gri­bel, "é o sauim-de-coleira", um charmoso maca­quinho que parece estar usando uma camiseta branca. "Os poucos que restam vivem apenas num pequeno bolsão da mata perto de Manaus, no Amazonas central, mas a destruíção desse pequeno habitat'', diz o Dr. Gribel. "extermína­rá essa espécie para sempre". Pequenos cortes, mas grandes perdas.

Arrancando o "tapete" O desmatamento indiscrimioado, contudo,

prenuncia o mais alarmante futuro par-a a flo­resta tropical amazónica. Construtores de es­tradas, madeireiros, mineradores e muitos outros estão destruindo a floresta como se esti­vessem arrancando um tapete do chão, arrasan­do ecossistemas inteiros num piscar de olhos.

Embora haja profunda discordância sobre os números exatos da taxa. anuaJ de destruição da mata no Brasil - estimativas conservadoras in-

dicam 36.000 quilómetros quadrados por ano - o total da floresta amazónica já destruído pode ser mais de l 0%, urna área maior do que a Alemanha. Veja, o principal semanário brasilei­ro, publicou que. os fazendeiros que derrubam e queimam as matas produziram cerca de 40.000 focos de incêndio no país, em 1995 - cinco ve­zes mais do que no ano a.nterior. O homem está incendiando a floresta com tal vigor. alertou Veja, que partes da Amazónia parecem um "in-ferno na fronteira verde". ·

Espécies estão desaparecendo; e daí? 'Mas', alguns perguntam, 'precisamos mes­

mo de todos esses milhões de espécies?' Sim. precisamos, argumenta o conservacionista Ed­ward O. Wilson, da Universidade de Harvard. "Visto que dependemos de ecossistemas opera­cionais para limpar a nossa água, enriquecer o nosso solo e criar o próprio ar que respí.ramos", diz Wilson, "é óbvio que a biodiversidade não é algo para se descartar descuidadamente". Diz o livro People, Plants, and Patents (Pessoas, Plan­tas e Patentes): "O acesso à abundante diver­sidade genética será a chave da sobrevivência humana. Se a dive.rsidade acabar, nós também logo acabaremos."

Realmente, o impacto da destruição das es­pécies vai muito além de árvores tombadas, animais ameaçados de extinção e nativos mo­lestados. (Veja o quadro "O fator humano''.) O encolhimento das florestas pode afetar você. Pense nisso: um lavrador em Moçambique cor­tando talos de mandioca; uma mãe no Usbe­quistão tomando uma pílula anticoncepcional: um menino ferido em Sarajevo recebendo mor­fina; ou uma freguesa numa loja de Nova York provando uma fragrância exótica - todas essas pessoas, observa o Instituto Paoos, de Londres, usam produtos originários de florestas tropi­cais. A floresta intacta, portanto, serve a pes­soas em todo o mundo-incluindovocê.

Nem banquete nem fome Admitidamente, a floresta tropical amazóni­

ca não pode oferecer um banquete mundial, mas pode ajudar a prevenir uma fome mundial. {Veja o quadro "O mito da fertilidade''.) Em que sentido? Bem, nos anos 70, o homem começou

Despertai! 22 de março de 1997

Page 7: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

A ruptura do ecossistema e o desmatamento estao preju­dicando não apenas as plan­tas e os animais, mas tam­bém os seres humanos. Cerca de 300.000 índios, o remanes­cente dos 5 .000.000 que ou­trora habitavam a região amazõnica brasileira, ainda vi­vem integrados ao seu melo ambiente florestal. Os índios sao cada vez mais pe,rturbados por madeireiros. garimpeiros, mineradores e outros, muitos dos quais consideram os índios

O fator humano como "obstáculos ao desenvol­vimento" .

Há também os caboclos, uma gente rija de ascendên­cia branca e Indígena, cujos an­tepassados se Instalaram na Amazõnia uns 100 anos atrás. Morando em casas sobre pala­f ltas às margens de rios, talvez nunca tenham ouvldo a palavra "ecologia", mas eles vivem da floresta sem destruí-la. No en­tanto, o seu dia-a-dia está sen­do afetado pelas ondas de mi­grantes que Invadem os seus domínios.

De fa t o, em toda a flores­ta amazõnica, o futuro de uns 2.000.000 de colhedores de castanhas. serlnguelros, pes­cadores, e outros nativos, que convivem harmoniosamente com os ciclos da floresta e o regime das águas. é Incerto. Muitos acreditam que os es­forços de preservçaçao das fio· restas deviam Ir além de prote­ger pés de mogno e pebres-bol. Deviam proteger também os habitantes humanos das fio· restas.

a semear. em larga escala. algumas variedades

de plantas que produziram enormes colheitas. Embora essas superplantas tenham aju<la<lo a

material genético''. E é aqui que entra a impor tância das floresta::. tropicais llmidas e seus ha birantes originais.

' alimentar 500 milhões tle pessoas a mais. há um porém. Visto que lhes falta variação genética. essas plantas são fracas e vulneráveis a doenças. Um vírus pode dizimar a supersafra de uma na· çào, provocando fome,

Portanto. para produzir safras mais resis­tentes e evitar a fome, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) recomenda agora o "uso de uma variedade mais ampla de

Seu viveiro e sua farmácia

Visto que as ílorestas tropicais abrigam mais da metade das espécies <le plantas do mun<lo. (incluindo umas 1.650 espécies com polcm:ial de produzir alimentos). o viveiro <la Arn.izô nia é o local ídeal para qualquer pcsqui~ador à procura de especies <le plantas silvestres. Além disso. os habitantes da íloresta sabem como

Ph•llp M Feo•M•O•

Page 8: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

8

-

O mito da fertllldade A Ideia de que o solo amazónico é fértil. diz a

revista Counterpart. é um •mito dlfícll de extln· gu1r· No século 19, o explorador Alexander vo11 Humboldt chamou a Amazõnla de Mcelelro do mundo". Um século depois, o presidente ame­ricano Theodore Roosevelt também achou que a AmazOnla prometia boas safras. MUma terra tao rica e tào férOI nao deve permanecer ocio· sa". escreveu.

Na verdade, o lavrador que pensa assim como eles pensavam descobre que, por um ano ov dois, a terra produz uma boa safra, pois as cinzas das árvores e das plantas carboniza­das servem de fertlllzante. Mas. depois disso, o solo fica estéril. Embora o verde exuberante da mata pareça Indicar a existência de um solo fér­ttl, o solo é , na verdade, o ponto fraco da flores­ta. Como assim?

Oespertall talou sobre Isso com o Dr. Flávio J. lulzao, pesquisador do lhstituto Nacional de Pesquisa da Amazonla, especialista em solo de floresta tropical úmlda. A seguir. alguns de seus comentários:

'Diferente de muitos outros solos de flores­ta, a maior parte do solo da bacia amazónica nao recebe nutrientes a partir de sua base. de rochas em decomposlçao, pois a rocha-mae é pobre em nutrientes e profunda demais. Em vez disso, o solo recebe nutrientes de cima para baixo. da chuva e do húmus. Contudo, tanto as gotas de chuva como as folhas caídas precisam de ajuda para se tornarem nutritivas. Por quê?

'A chuva que cal na floresta não é multo rica em nutrientes. Mas, ao atingir as folhas e es· correr pelos troncos das árvores. ela recolhe nutrientes das folhas. dos galhos. dos mus­gos, das algas, dos formigueiros, do pó. Quando essa água se Infiltra no solo, já se transformou num bom alimento para as plantas. Para que esse alimento lfquldo nao escoe simplesmen­te para os córregos, o solo detém os nutrientes, por melo de um emaranhado de raízes finas dispostas numa camada de vários centfmetros debaixo da terra. Uma prova da eficácia disso é que os córregos que recebem essa água da chuva têm conteúdo nutritivo ainda mais pobre do que o próprio solo da floresta. Assim, os nu·

trientes penetram nas raízes antes que a água entre nos córregos ou nos rios.

·outra fonte de alimentos é o húmus - fo­lhas, raminhos e frutos caídos. Cerca de oito to­neladas de excelente húmus se forma por ano num hectare de piso florestal. Mas, como é que esses resktuos penetram no solo ate o sistema de raízes das plantas? Os cuplns ajudam. Eles cortam pedacinhos de folha em forma de dls· cos. e os carregam para seus ninhos subterrã· neos. Especialmente durante a estação chuvo­sa, eles formam um grupo laborioso, levando para o subterrãneo espantosos 40% de todo o húmus. All, eles usam as folhas para construir canteiros para o cultivo de fungos. Esses fun­gos, por sua vez, decompõem a matéria vege­tal e liberam nltrogênio, fósforo. cálcio e outros elementos - nutrientes valiosos para as plan· tas.

·o que é que os cuplns ganham com Isso? Atl· mentos. Eles comem os fungos e talvez engu­lam também uns fragmentos de folhas. Daí, os mlcroorganlsmos nos Intestinos dos cuplns se encarregam de transformar quimicamente o alimento dos cuplns, de modo que o excremen­to desses Insetos vira um alimento nutri tivo para as plantas. Portanto, a chuva e a recicla· gem de matéria organica sao dois dos fatores que sustentam e fazem crescer a floresta tropl· cal úmida.

'É fácíl ver o que acontece se você derruba e queima a floresta. Desaparecem a copa para lnterceptar a chuva e o húmus para reciclar. Em vez disso, as chuvas torrenciais batem forte no solo desnudo, e seu Impacto endurece a super­fície. Ao mesmo tempo, os ralos solares que atingem diretamente o solo aquecem e com· pactam o terreno. Com Isso, as águas da chu· va escorrem com facllldade, alimentando os rios, em vez de o solo. A perda de nutrientes de terras desmatadas e queimadas pode ser tão grande que os cursos de água perto dessas ter­ras chegam a sofrer de excesso de nutrientes, pondo em risco a vida de espécies aquáticas. Obviamente, se deixada em paz, a floresta sus­tenta a si mesma. mas. a Interferência do ho­mem prenuncia desastre.'

Oe,spertall 22 de março de 1997

Page 9: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

utilizar essas plantas. Os indios caiapós, do Bra· sil. por exemplo. não apenas cultivam novas va· riedades mas também preservam amostras de reserva numa espécie de banco genético nas en­costas de morros. O cruzamento dessas varieda­des silvestres com as vulneráveis espécies do­mesticadas reforça o vigor e a resistência das culturas de alimentos do homem. E esse empu· xo é urgentemente necessário, diz a FAO. pois "é preciso um aumento de 60% na produção de alimentos nos próximos 25 anos". Apesar dis­so. enormes tratores arrasa-florestas avançam cada vez mais fundo na mata amazónica.

As conseqüências? Bem. a destruição das ma· tas tropicais pelo homem é bem comparável ao fazendeiro que come as sementes reservadas para o plantio - ele mata a sua fome imedia­ta. mas põe em risco safras futuras. Um grupo de especiafütas em biodiversidade recentemen­te alertou que .. a conservação e o desenvolvi­mento da remanescente diversidade de cultivos é assunto de vital preocupação globaJ".

Plantas promissoras Venha agora à "farmácia" florestal, e verá que

o de!.lino do homem está interligado com as tre­padeiras e outras plantas tropicais. Por exem­plo. alcalóides extraídos de trepadeiras amazó­nicas são usados como relaxantes musculares nas cirurgias: 4 de cada 5 crianças com leuce­mia são ajudadas a viver mais tempo graças às substâncias quimicas encontradas na boa-noite. uma ílor siJvestre. A floresta também fornece quinina. usada no combate à malária: digitali· na. para tratar insuficiência cardíaca; e diosge­nina, usado em pílulas anticonccpcionais. Ou tras plantas são promissoras na luta contra a Aids e o câncer. "Só na Amazônia". diz um in­forme da ONU, .. foram catalogadas 2.000 es­pécies de plantas usadas como remédio pela população nativa e que têm potencial farmaco­lógico". Mundialmente. segundo outro estudo, 8 em cada 10 pessoas tratam suas doenças com plantas medicinais.

Portanto. faz sentido salvar as plantas que nos salvam. diz o Dr. Philip M. Fearnside. "A perda da floresta amazõnica é considerada um virtual grave revés nos esforços de encon-

A interação árvore-peixe

Durante a estação chuvosa. o rio Amazo­nas transborda e Inunda as árvores das re­giões ribeirinhas. No auge das cheias. a maioria dessas árvores dão fruto e deixam cair sementes - mas. evidentemente, não tié roedores submersos para dispersá-las. Aí entra em ceoa o peixe tambaqul, um que­bra-nozes flutuante, de faro bem aguçado. Nadando entre os galhos de árvores Inunda­das. ele fareja as arvores que estao em vias de deixar cair bagas ou sementes. Quando as bagas caem na água, o peixe quebra as cápsulas com as suas fortes mandíbulas, en­gole os caroços, digere a parte comestível, e os deposita. como excremento, no chao da floresta, onde eles germinam com o recuo das águas. O peixe e a árvore se beneficiam. O tambaqul acumula reservas de gordura. e a árvore se reproduz. Cortar essas árvores ameaça a sobrevivência do tambaqul e de mais umas 200 outras espécies de pel)leS que comem bagas ou semen· tes.

trar a cura do câncer humano. . .. A noção de que os feitos bri· lhantcs da medicina moderna per mi tem-nos dispensar grande parte dessas reservas Ide plantas silves tres]"'. acrescenta, "representa uma po­tencialmente fataJ forma de temeridade ..

Não obstante. o homem pros~eguc des· truindo animais e plantas mais rápido do que podem ser encontrados e identilicados. Você se pergunta: 'Por que o desmatamcnto continua? Pode-se reverter a tendência? Será que a flores­ta amazónica tem futuro?'

Despertall 22 de março de 1997 9

Page 10: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

10

O DISCUTIR os efeitos de um proble­ma. é fácil esquecer-se das suas cau­sas', disse, em essência, o autor inglês

John Lyly. Pi:lra evitar esse laço, é imperioso lembrar-se de que o futuro sombrio das no­restas lropicais é mero reílexo de problemas mais profundos, e que a destruição das ílo· restas continuará. a menos que sejam ataca­das as causas subjacentes. Que causas são es· sas? As '·forças fundamentais que atacam a preservação da Amazónia'', diz um estudo da ONU, são "a pobreza e a injustiça humana".

Uma revolução não-tão-verde-assim A devastação das ílorestas, dizem certos

pesquisadores é, em parte, um deito co· lateral da "revolução verde", que deslanchou uécadas atrás nas regiões Sul e Centro do Brasil. Antes dela. milhares de famílias de pequenos lavradores subsistiam ali cultivan­do arroz, feijão e batata, junto com a cria­ção de alguns animais. Daí. grandes ope­rações mecanizadas de produção de soja e projetos hidroelétricos engoliram as suas ter­ras e substítuíram o gado e as culturas lo­cais por produtos agrícolas destinados ao

A busca

de soluiões Para onde poderiam ir esses lavradores

sem terra? Políticos. esquivando-se do proble­ma da distribuição injusta de terras na sua própria região, ofereceram-lhes uma saída. promovendo a região amazôníca como "terra sem homens para homens sem terra". Dez anos depois da abertura da primeira rodo\lia transamazônica, mais de dois mHhões de la· vradores pobres do Sul e do careme e seco Nordeste brasileiro já haviam se estabelecido em milhares de casebres ao longo da rodovia. Com a construção de novas estradas. mais prospectivos lavradores se deslocaram para a Amazónia. prontos para transformar a flo­resta em terras de lavoura. Num retrospecto sobre esses programas de colonização. os pes­quisadores dizem que "o balanço de quase 50 anos de colonização é negativo"'. A pobre­za e a injustiça têm sído ''exportadas para a Amazônia ". e "criaram-se novos prohlemas na região".

A recomendaçào de três medidas Para ajudar a atacar as causas do de:,ma·

lamento e melhorar as condições. de vida do homem na íloresta amazónica, a C'omis

consumo de países indus· trializaclos. Apenas entre 1966 e 1979, as terras desti­nadas ao cultivo de produ­tos de exportação aumen­taram 182%. Com isso, lJ de cada 12 lavradores tra­dicionais perderam suas terras e seus meios de sub­sistência. Para eles, a revo-1 uçào verde acabou sendo uma revol uçào tenebrosa.

• Estrada para o ~ ~' ._ transporte de toras,

rasgando a floresta

são do Desenvolvimenlo e Meio Ambiente da Ama zõnia publicou um docu­mento recomendando que, entre outras coisas. os governos na bacia amazô­nica tomem três medidas iniciais. ( 1) Atacar os pro· blemas económicos e so­ciais nas regiões pobres fora da íloresta amazôni· ca. (2) Usar a floresta in-

Despertai! 22 de março de 1997

Page 11: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

tacta e reutilizar as áreas já desmatadas. (3) Tratar das graves injustiças da socieda­de - as verdadeiras causas dos flagelos humanos e da destruição das florestas. Exa­mínemos essas três medidas pro· postas.

Investir Atacar os problemas socioecon6m i­

cos. "Uma das melhores opções para reduzir o desmatamento"~ observa a comissão, "é investir em algumas das áreas mais po· bres dos países amazônicos, aque­las que obrigam as populações a migrar para essa região em busca de um futuro melhor". No entan­to, os membros da comissão acres­cerlla m que "essa opção raramente é cogitada nos planos de desenvol· vimento nacional ou regional ou pe.Jos que. nos paises industrializados. defendem a dimi· nuição drástica das taxas de desmatamenlo na Amazónia". Contudo, explícam os espe­cialistas, se autoridades e governos estrangei­ros preocupados aplicarem sua têcnica e seu apoio financeiro à solução de problemas, tais como o da má distribuição de terras ou a po­breza urbana nas regiões próximas à Amazô­nia. estarão diminuindo o íluxo de Lavradores para a Amazônia e ajudando a salvar a flo­resta.

Mas. o que se pode fazer pelos pequenos la· vradores que já vivem na Amazônia? A sub­sísténcia deles depende de cultivas em solo impróprio para a lavoura.

Preservar a floresta em favor das árvores Usar e reutilizar a floresta. "As florestas tro­

picais são superexploradas, porém suba­proveitadas. Desse paradoxo depende a sua salvação". diz The Disappearing Forests <Flo­restas em Extinção), uma publicação da ONU. Em vez de explorar a floresta abaten· do-a, dizem os especialistas, o homem devia

Produtos da floresta tropical: frutas, castanhas, óleos, borracha, e multo mais

usar a floresta extraindo. ou colhendo. seus produtos. tais como frutas. castanhas. óleos. bo.rracha. essências, plantas medicinais e ou tros produtos naturais. Tais produtos. alega damente, representam "uns 9C1Yc1 do valor eco· nômico da floresta".

Doug Daly. do Jardim Botânico de Nova York, explica por que ele acredita que cam biar da atividade de destruição para a ativida· de extrativista da floresta foz sentido: "Isso aplaca o governo - ele não vê grandes área~ da Amazónia serem tirauas do mercado .. .. Pode proporcionar meios de subsistência e trabalho para as pessoas. e preserva a flores­ta. É muito difícil encontrar algo negativo a dizer sobre isso:· - Wildl(fe Co11servatio11.

Preservar a floresta em favor das árvores realmente melhora as condições de vida dos habitantes da floresta. Pesquisadores de Be-­lém. no norte do Brasil. por exemplo, calcula· ram que transformar um hectare em pasto para o gado da um lucro anual de apenas 25 dólares. Assim. apenas para ganhar o salârio minimo mensal do Brasil são necessários 48

Despertai! 22 de março de 1997 ti

Page 12: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

12

hectares de pasto e J 6 cabeças de gado. Con­tudo. segundo a revista ~ja., o hipotético fa­zendeiro poderia ganhar muito mais extrain­do os produtos naturais da floresta. E a gama de produtos à espera de colheita é surpreen­dente, diz o biólogo Charles Clement "Há de­zenas de espécies de vegetais, centenas de es­pécies de frutas, resínas e óle.os que podem ser administrados e colhidos", ac.rescenta o Dr. Clement. "Mas o problema é que o ho­mem precisa aprender que a própria floresta é a fonte de riquezas e não um empecilho nes­se sentido", concluiu.

Reaproveitamento de terras devastadas O desenvolvimento económico e a preser·

vação do meio ambiente podem caminhar juntos, diz João Ferraz, um pesquisador bra­sileiro. "Veja a quantidade de floresta já des· truída. Não há necessidade de cortar mais floresta primária. Em vez disso. podemos re­cuperar e reutilizar as áreas já desmatadas e degradadas.·· E, na região amazónica, o que não falta é terra para recuperar.

A partir de fins dos anos 60, o governo bra­silei.ro subsidiou enormes somas para incen­tivar grandes investidores a transformar a floresta em pastos. Eles fizeram isso, mas, como explica o Dr. Ferraz, ··os pastos esta­vam degradados depois de seis anos. Mais tarde, quando todo mundo percebeu que foi um enorme erro. os grandes proprietários de terra disseram: 'OK, recebemos um bom dinheiro do governo', e debandaram". O re­sultado'? "Cerca de 200.000 quilómetros qua­drados de pastos abandonados estão se degra­dando."

Atualmente, contudo, pesquisadores como Ferraz estão encontrando novas utílizações para essas terras degradadas. Em que senti­do? AJguns anos atrás eles plantaram 320.000 mudas de pés de castanha-do-pará (castanha­da-amazônja) numa fazenda de gado abando­nada. Hoje., essas árvores já produzem frutos. Visto que crescem rapidamente e produzem também boa madeira, mudas de castanha-do-

pará estão sendo plantadas em terras desma· tadas em várias partes da bacia amazónica. A extração de produtos, ensinar os lavradores a cultivar plalltas perenes, adotando méto· dos de extração de madeira sem danificar as florestas e revitalizar terras degradadas, são, na opinião dos especialistas, alternativas ra­cionais que podem ajudar a manter intacta a floresta. - Veja o quadro "Empenhados na preservação".

Não obstante, dizem os especialistas, sal­var as florestas exige mais do que recuperar terras degradadas. E preciso mudar a natu· reza humana.

Como endireitar o que está torto As injustiças. O comportamento humano

injusto, que viola os direitos de outros, mui­tas vezes é causado pela ganância. E, como disse o antigo filósofo Sê.neca. "para a ganân­cia, a natureza inteira ainda é pouco" - in­cl.uindo a vasta floresta amazônica.

Em contraste com os sofridos lavradores pobres da Amazônia. indllStriais e donos de grandes extensões de terra desnudam as flo­restas para engordar as suas contas bancá­rias. Certas autoridades dizem que nações ocidentais também são culpadas por terem contribaído em larga escala para a ação e.las motosserras na Amazônia. "Os ricos paí­ses industrializados". concluiu um grupo de. pesquisadores alemães, "contribuíram larga­mente para o jã existente dano ambiental". A ComJssão do Desenvolvimento e Meio Am­biente da Amazónia diz que a preservação da Amazónia exige nada menos que uma "nova ética global, uma ética que produza um estilo aprimorado de desenvolvimento, baseado na solidariedade humana e na justiça".

No entanto, contínuas nuvens de fumaça sobre a Amazónia são um lembrete de que. malgrado os esforços de homens e mulheres do mundo inteiro preocupados com o meio ambiente, transformar idéias racionais ~m realidade revela ser tão difícil como agarrar fumaça com as mãos. Por quê?

Despertai! 22 de março de 1997

Page 13: Mitos e da florestaphilip.inpa.gov.br/publ_livres/Press/1997/Despertar...2 Tiragem m6dla: 18.360.000 Publicada em 81 Idiomas Mitos e realidad~' da floresta ama~ica 3-13 Construtores

As raízes dos vícios, como a ganância, es· tão entranhadas fundo no tecido da socie· dade humana. muito mais fundo do que as raízes das árvores da Amazónia no solo da íloresta. Embora devamos pessoalmente fa­zer tudo o que pudermos para ajudar a pre­servar a íloresta, não é reaHstico esperar que os humanos, embora sinceros, consigam de­sa rraígar as profundas e emaranhadas causas da destruição das florestas. O que o antigo Rei Salomão, um sábio observador da nature­za humana. disse uns três mil anos atrás ain· da é verdade. Se depender só de esforços hu· manos, .. aquilo que foi feito torto não pode ser endireitado". (Eclesiastes l: 15) Isso é si· mi lar ao ditado ~o pau que nasce torto, mor­re torto". Não obstante, as florestas tropicais ao redor do mundo têm futuro. Corno assim?

Vislumbres do futuro Uns cem anos atrás, o escritor brasileiro

Euclides da Cunha ficou tão impressionado com a fabulosa profusão de formas de vida da floresta amazónica que a descreveu como ·•página inédita e contemporânea do Gêne· sis''. E. embora o homem continue danifi­cando e rasgando essa "página", a Amazónia intacta ainda é, como diz o documentoAma­wnia Without Mychs (Amazónia sem Mitos), "um símbolo nostálgico <la Terra como ela era na época da Criação'', Mas, por quanto tempo ainda?

Considere o seguinte: a floresta amazôni­ca, e as outras florestas do mundo, são prova

viva da existência de, como disse Euclides da Cunha. "uma inteligência singular". Da!> rai­zes às folhas, as árvores da floresta procla­mam ser a obra de um arquiteto-mor. Assim sendo, permitirá esse Grande Arquiteto que homens gananciosos destruam as floresta~ e arruínem a Terra? Uma profecia bíblica res­ponde a essa pergunta com um sonoro Não! Diz ela: "As nações ficaram furiosas. e veio teu próprio furor [de Deus] e o tempo desig· nado para ... arruinar os que arruínam a ter· ra.'' - Revelação (Apocalipse) 11 :18.

Mas, queira notar que essa profecia não diz apenas que o Criador atacará a raiz do proble ma eliminando os gananciosos, mas que fará isso nos nossos dias. Com que base afirmamos isso? Ora, a profecia diz que Deus agirá numa época em que a humanidade estiver 'arrui­nando' a Terra. Quando isso foi escrito, quase dois mil anos atrás. a humanidade não era su­ficientemente numerosa nem tinha os meios para arruinar a Terrn. Mas a situação mudou. "Pela primeira vez na sua história' ', diz o livro Protecti11g the Tropical Forests-A Higlt-Priorit.1· /11ternational Task, "a humanidade hoje tem condições de destruir os pilares de sua própria sobrevivência, não apenas em regiões ou seto­res específicos, mas em escala global ...

"O tempo designado" para o Criador agir contra "os que arruínam a terra" está próx.i· mo. A floresta amazónica e o utros ambientes naturais em perigo têm futuro. O Criador cui­dará disso - e isso não é mito, é realidade.

Empenhados na preservação Uma área de uns 400.000 metros quadrados de

exuberante floresta secundária, na cidade de Ma­naus, no centro da Amazõnla, abriga as várias re­partições do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazõnla (INPA), do Brasll. Essa instituição, de 42 anos de existência, com 13 diferentes departa­mentos cobrindo tudo de ecologia a sUvlcultura e saúde humana, é a maior organização de pesqui­sas da região. Abriga também uma das mais ri­cas coleções de plantas, peixes, répteis, anfiblos,

mamíferos, aves e insetos da Amazõnla, do mun­do. O trabalho dos 280 pesquisadores do Instituto está contrlbu1ndo para a melhor compreensão das complexas Interações dos ecossistemas da Ama­zõnla. Os visitantes deixam o Instituto com uma sensação de otimismo. Apesar das restrições bu­rocráticas e potftlcas, cientistas brasileiros e es­trangeiros arregaçaram as mangas para trabalhar pela preservação da rainha das florestas tropicais úmldas do mundo: a Amazõnia.

Despertai! 22 de março de 1997 13