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1 MIRONGA: EXTERMÍNIO, ESTADO E DIVERSIDADE DOS POVOS DE TERREIROS NA CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA NOS ANOS 60/70 NO RN. 1 Maria Rita de Cassia Oliveira Doutoranda em Ciências Sociais CCHLA/UFRN. Resumo: Ao longo das décadas de 60 e 70 os terreiros de jurema sagrada e umbanda, ritual afro-ameríndio característicos do Nordeste, sofre severa perseguição policial no Rio Grande do Norte, no que diz respeito a invasão das casas durante as celebrações religiosas quanto ao espancamento e tortura dos adeptos. Nesse período, segundo os relatos orais, surge um grupo de extermínio denominado mão branca, que formado inicialmente, por membros intolerantes as religiões afro-ameríndias, posteriormente se integraria a polícia civil e militar e formariam o maior grupo de extermínio do Estado. Passando a executar não somente “macumbeiros”, mas todo e qualquer “desafeto” dos comandantes do Estado. Com base nos relatos orais e fontes documentais: registros de prisões, boletins de ocorrência e centenas prisionais que reconstruímos a relação entre política pública e a memória dos povos de terreiros de jurema sagrada e umbanda sobre o papel do Estado. Palavras chaves: Estado, políticas públicas e religião. 1. Essa é uma missão espinhosa 2 Quando éramos crianças tínhamos verdadeiro terror da polícia, corríamos para o quintal da casa da minha avó ao menor sinal de uma patrulha, nos escondíamos sob suas longas saias e durante as celebrações sempre ficávamos no interior de sua residência. Com o tempo passei a questionar esse medo absurdo que tínhamos e o porquê de minha avó sempre nos aconselhar a entrar caso visse a polícia. Ela, em sua enorme paciência nos dizia um dia vocês vão entender, certo? Crescemos, nos engajamos em militância política e nas iniciações religiosas, até que chegou o dia de entender tudo aquilo que ela nos lembrava. Participando das oferendas a yemanjá em 2011, fomos abordados pela polícia, minha tia já idosa, com extremo 2 Ditado comum aos adeptos da jurema sagrada.

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1

MIRONGA:

EXTERMÍNIO, ESTADO E DIVERSIDADE DOS POVOS DE TERREIROS NA

CONSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA NOS ANOS 60/70 NO RN.1

Maria Rita de Cassia Oliveira

Doutoranda em Ciências Sociais

CCHLA/UFRN.

Resumo: Ao longo das décadas de 60 e 70 os terreiros de jurema sagrada e umbanda,

ritual afro-ameríndio característicos do Nordeste, sofre severa perseguição policial no Rio

Grande do Norte, no que diz respeito a invasão das casas durante as celebrações religiosas

quanto ao espancamento e tortura dos adeptos. Nesse período, segundo os relatos orais,

surge um grupo de extermínio denominado mão branca, que formado inicialmente, por

membros intolerantes as religiões afro-ameríndias, posteriormente se integraria a polícia

civil e militar e formariam o maior grupo de extermínio do Estado. Passando a executar

não somente “macumbeiros”, mas todo e qualquer “desafeto” dos comandantes do

Estado. Com base nos relatos orais e fontes documentais: registros de prisões, boletins de

ocorrência e centenas prisionais que reconstruímos a relação entre política pública e a

memória dos povos de terreiros de jurema sagrada e umbanda sobre o papel do Estado.

Palavras chaves: Estado, políticas públicas e religião.

1. Essa é uma missão espinhosa2

Quando éramos crianças tínhamos verdadeiro terror da polícia, corríamos para o quintal

da casa da minha avó ao menor sinal de uma patrulha, nos escondíamos sob suas longas

saias e durante as celebrações sempre ficávamos no interior de sua residência. Com o

tempo passei a questionar esse medo absurdo que tínhamos e o porquê de minha avó

sempre nos aconselhar a entrar caso visse a polícia. Ela, em sua enorme paciência nos

dizia um dia vocês vão entender, certo?

Crescemos, nos engajamos em militância política e nas iniciações religiosas, até que

chegou o dia de entender tudo aquilo que ela nos lembrava. Participando das oferendas a

yemanjá em 2011, fomos abordados pela polícia, minha tia já idosa, com extremo

2 Ditado comum aos adeptos da jurema sagrada.

2

nervosismo nos dizia: “não digam nada, fiquem quietos”. E eu lhe perguntei: porque? E

ela nos respondeu, com lágrimas nos olhos, porque eles podem nos bater, minha filha,

essa religião é uma missão espinhosa, nem todos entendem. Aquelas palavras me

reportaram a todas as nossas lembranças da minha infância e todo aquele sigilo sobre o

papel da polícia em nossas vidas.

Formada em ciências sociais, com mestrado na área de religião, cultura e política, sabia

das inúmeras experiências negativas correlacionadas aos adeptos das religiões afro-

brasileiras, mas descobri que há ainda muito dessa história para contar, analisar e objetivar

como ciência e religião. Entender, nossos caminhos, sermos sujeitos de nossas próprias

pesquisas, registrar fatos de uma história silenciosa e cruel que compõe a própria história

do Brasil e do rio Grande do Norte.

Quando os anos passam na academia e nos exigem certa “neutralidade”, em especial

quando somos integrantes de um coletivo religioso, é quase num passe de mágica que o

cientista social entra em cena, nessas ocasiões que descrevi acima. Passe a analisar todas

as minhas lembranças e a dialogar com membros do terreiro, o qual faço parte, sobre o

suas memórias relacionadas ao papel da polícia e a insistente recusa dos mesmos em

participar dos espaços de debates políticos sobre as questões referentes as religiões de

matriz africana e indígena. Iniciei minha pesquisa, com entrevistas, catalogação de

documentos policiais, manchetes em jornais, bibliografia e comecei a construção de um

objeto de estudo que mudou para sempre minha percepção sobre estado, política e

religião.

2. Nós e eles, conjuntura política e movimento negro dos povos de terreiros.

A proposta da pesquisa é buscar da formação histórica da política de estado e os povos

de terreiros que permita a compreensão de traumas históricos relacionados a não

participação desses grupos nas esferas de deliberações das políticas públicas voltadas para

os direitos e garantias das religiões afro-brasileiras. Propomos aqui, uma antropologia

reversa, como descreve Benites a partir de Roy Wagner, no sentido que: “o significado

só pode ser pensado em suas relações, em seu contexto, já que os símbolos só adquirem

algum sentido quando relacionados entre si” (BENITES, 118;2006). Para tanto, começo

a minha analise a partir dos significados do que é direito e do que é estabelecido como

papel do estado, da polícia para esses grupos.

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Tendo um histórico de opressão desde que o Brasil se tornou colônia, os povos de terreiros

afro-ameríndios sempre conviveram com a intolerância e a permanência, visto que,

muitos dos que se opõe a religiosidades desses grupos são os que mais procuram e assim

“mantem” viva uma certa necessidade de continuidade, num eterno círculo de

negação/crença. De modo, nunca me despertou a atenção as narrativas sobre os tempos

de perseguição cotidiana sofrida, mesmo sendo pesquisadora das religiões afro-brasileiras

e mestre com dissertação com essa proposta, a questão da ação policial, hoje, percebo e

analiso, sempre esteve subentendida. O que despertou minha percepção, foi com o início

das preposições das políticas públicas para povos de terreiros e as constantes negações

em participar, como adepta me irritava inicialmente, as pessoas não desejarem participar

de espaços deliberativos depois de anos de exclusão das políticas públicas, mas, quando

buscamos dentro do pesquisador nosso lugar no grupo, passei a analisar os inúmeros

porquês dessa negativa e buscar algo que me esclarecesse as ações das pessoas, elas

tinham medo, um medo tão presente, silencioso, quase em sigilo, perceptível pelos

olhares entre si e os gestos corporais.

Estabeleci entre os entrevistados parcerias cognitivas, iniciamos com conversas informais

em grupos, por terreiros, rememorando experiências relacionadas ao estado, o que os

adeptos pensavam sobre o papel do estado, poucas respostas e muitas dúvidas, até que

começamos discutir sobre o que é o estado a partir da minha compreensão e então, muitos

se expressaram como não sendo nada daquilo que eu pensava, então, me falem como é o

estado?

Quase todas as respostas levavam a um definição, é um lugar onde os políticos não nos

querem, agora essa invenção de irmos lá, querem nos proibir, vão é nos prender. Então

surgiu o papel da polícia nos diálogos, porque nos prender? Iniciava desse ponto, o objeto

da minha pesquisa. Todos tinham algo para falar sobre a polícia, em especial, os relatos

se reportavam ao período militar, sempre os diálogos citava os anos 60, 70 e 80, como

havia ocorrido com nossos antepassados e como poderia ocorrer conosco se passássemos

a frequentar espaços públicos.

Percebi que, as constantes narrativas de perseguições e abusos pela polícia se referiam ao

período da ditadura militar no Brasil e de como esse período, marcou a compreensão

sobre estado, política e religião para os terreiros do RN. De como, os entrevistados

mantinham uma comunicação constante sobre os roteiros de ação do grupo mão branca e

como esse grupo agia com os adeptos do culto tanto da jurema quanto da Umbanda nessa

época. Escolhiam dias e horas para celebração, em especial, os meses. Sabiam que o

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grupo mão branca atuava mais durante nos meses de julho e agosto quando se celebram

as oferendas e exú e pomba-gira, são celebrações na maioria das vezes, festivas. Nesse

período, durante três décadas, foram constantes as torturas, invasões, prisões e

encarceramento de pai e mães de santo, assim como surras e “aleijos” as mãos dos ogãs.

Selecionamos 30 entrevistados, a maioria com idade acima de 40 anos que pudesse me

relatar memórias e fatos sobre a ação militar e a relação com os povos de terreiros,

também passei a mapear documentos como jornais, boletins de ocorrência e sentenças de

prisões que se referissem aos adeptos da jurema e da umbanda. Assim como, passei a

aprofunda minhas leituras sobre política e religião. Delimitei essas bases teóricas porque

compreendo que muitos dos fatos estão relacionados a política estabelecida no estado

brasileiro. Visto que, até 1924, os cultos afro-brasileiros se mantinham como crimes “atos

de magia negra, feitiçaria, catimbó” no código penal brasileiro. Sendo modificado, pelo

o Decreto-Lei 1.202 de 1932, durante o estado novo por Getúlio Vargas na nova

constituição brasileira, no qual ficava proibido o embargo sobre o exercício da religião

do candomblé e suas ramificações no Brasil. A partir da edição deste decreto-lei, cultuar

os Òrìsà, mestres e caboclos deixou de ser considerada atividade criminosa. Aos

brasileiros das religiões afro-brasileiros ficaram assegurados os direitos à liberdade de

professarem sua fé.

Mas, infelizmente, não foi bem assim. A repressão e intolerância aos terreiros, em verdade

havia se organizado em tramites de opressão pelo governo vargas. Para o funcionamento

das casas religiosas, realizar as cerimônias religiosas, os dirigentes precisavam pedir

autorização e requerer um alvará de funcionamento na Delegacia de Jogos e Costumes,

criada com o ideário do estado novo de conter vícios e práticas que ferissem a moral

pública, pagando taxas impostas para expedição deste documento, muitos terreiros não

possuíam recursos para obtenção dos alvarás e passaram a atuar na clandestinidade.

Como a política de governo do estado novo mantinha o discurso e sua práxis bem alinhada

com os regimes Nazi-Facistas europeus, Getúlio compartilhava dos ideais de Hitler e

Mussolini. Vargas instaurou no nosso país um pensamento de um povo brasileiro puro:

Católico, branco, rico, só precisando de “ordem”. No governo vargas, com a criação da

delegacia de jogos e costumes, os terreiros de jurema, umbanda e candomblé passaram

pelo maior período de violência institucional já praticado pelo estado brasileiro, eram

destruídos, incendiados e, seus dirigentes presos, torturados e, algumas vezes mortos!

Como consta no diário da Paraíba, a morte de Pai João do Caboclo Tupinambá, que

segundo a jornal se recursou a depor ao chegar na delegacia e lá mesmo se suicidou

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enforcando-se, a matéria ainda diz “reconhecido negro por artes de magia negra,

feitiçaria”. Embora, seus familiares e filhos de santos terem registrados em cartas ao

jornal que essa seria uma atitude impensável pelo religioso, pois era “homem de fé e

temente a deus e a virgem Maria, devoto do sagrado coração de Jesus e Maria, jamais

tiraria a própria vida, o inquérito foi encerrado.

O alvará de nada adiantou, não oferecia nenhum tipo de proteção, os terreiros continuaram

a ser invadidos pela polícia que se tornava cada vez mais violenta. Os praticantes das

religiões afro-brasileiras continuaram a receber ordem de prisão, sofriam as mais diversas

formas de intimidação, a citar como exemplo: autuados eram obrigados a destruir seus

tambores, tinha suas mãos quebradas com cassetetes, surrados e levados a força até a

delegacia, tinham seus pérgis, altares e assentamentos quebrados, imagens estatuetas e/ou

fotografias apreendidas como provas criminais. Os casos são diversos e inúmeras

situações de violências, registradas em todo nordeste. No entanto, me detenho aos

terreiros de jurema sagrada e umbanda no rio grande do norte, porque são os mais antigos,

os candomblés vieram nos anos seguintes, sendo popularizada, posteriormente, feitura no

Estado nos meados da década de 80 e 90.

No Rio Grande do Norte, os alvarás eram expeditos pelo delegado Pessoa de Medeiros,

conhecido como uma pessoa violenta que mantinha informantes sobre os terreiros nas

localidades, sendo o caso mais conhecido de sua atuação o caso da preta Ana Maricó, que

mantinha um terreiro nas rocas, que recursando a ordem de prisão foi surrada chegando

a óbito três dias depois. Hoje, essa entidade atua nos terreiros realizando curas, como

preta Maricó. Segundo, as entrevistas, é nesse período que surge o grupo mão branca,

chamado assim, por fazer alusão como “os que faziam a limpeza” dos inimigos do estado,

ou em alguns relatos por perseguir “aqueles que festem brancos”, no caso, aos adeptos de

terreiros. No entanto, no material analisado sobre o grupos mão branca, não encontrei

registro de quando ou como esse grupo surgiu, nem tão pouco de onde vem a

denominação, mas já existe registro de sua atuação desde 1939, em alguns jornais e

folhetins policiais da capital Natal/RN e em Mossoró/RN sempre ligados a crimes de

torturas e extermínio.

Somente, em 1952, foram denunciadas oficialmente, as ações da polícia contra os povos

de terreiros ao poder legislativo com atuação de Mãe Simplícia de Oxumaré da Bahia.

Essa mãe de santo, tomou conhecimento que o presidente Getúlio Vargas, juntamente

com o governador Régis Pacheco, o senador Assis Chateubriand, o vice-presidente Café

Filho iriam inaugurar o Grande Hotel Caldas do Cipó, no sertão da Bahia. Diante desta

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informação, articulou-se para realizar a recepção para o presidente e sua comitiva, com o

intuito de denunciar os crimes contra os terreiros promovido pela polícia Baiana da época,

assim como em todo Nordeste. Nesta recepção, realizada aos 24 junho de 1952, Mãe

Simplícia conseguiu a esperada conversa com o presidente e denunciou os horrores que

os povos de religiões de matrizes africanas ainda sofriam, reivindicando, assim, os

direitos de liberação dos cultos, tendo acesso ao “falado” decreto por ele sancionado. O

mesmo prontamente a atendeu, mas os crimes continuaram a ocorrer. No entanto,

milhares de cópias do decreto-lei se popularizou pelo Brasil, chegando aos mais diversos

terreiros, o que coibiu em determinados momentos a ação policial, em especial, nas casas

de dirigentes com maior escolaridade.

De forma, que nas décadas de 40 a 60, os povos terreiros se afastarão de todo e qualquer

contato com a política imposta pelo estado. Se mantêm na periferia social, em alguns

momento contribuindo para fuga e esconderijo de procurados políticos e em outros se

isolando cada vez mais para periferias das cidades, em especial, nas capitais. É a partir,

de então, que compreendemos a estruturas físicas, que as casas de terreiros do RN, passam

a erguer, são espaços inteiramente fechados, com pouquíssimas janelas, em fundos de

quintais ou comunidades extremamente pobres, e/ou áreas semi-rurais. As casas próximas

aos centros da capital são retiradas no período da segunda guerra com a chegada dos

americanos a cidade, é nesse período que as derrubadas de barracos se consolidam e

muitos terreiros sobem o morro de mãe Luiza ou se deslocam para os bairros da zona

Oeste, onde já existiam grande número de casas de terreiros e morada consagrada dos

grandes nomes da jurema sagrada do Estado.

As questões religiosas afro-brasileiras pautaram isoladamente, a cena de mobilidade

social das reivindicações de direitos e ações a população negra nas década de 40/50.

Como resposta a constantes pressão popular, o estado novo elege o status da umbanda

como religião verdadeira brasileira, em oposição aos cultos afro-maeríndos, no caso a

jurema sagrada, que passa a sofrer dura repressão e exclusão dos adeptos da umbanda.

Numa tentativa de escapar da perseguição muitos terreiros de jurema sagrada passam a

inserir seus sacerdotes na umbanda. O culto entre jurema sagrada e umbanda se integram

no rio grande do norte, fazendo um junção que predomina até a atualidade.

Nos demais estado do nordeste, ocorre dos cultos da jurema sagrada se isolar da umbanda

e do candomblé, em outros, os sacerdotes passam a se inserir no candomblé, por perceber

que esse adquiri uma maior “estabilidade” social e passam a se intensificar os estudos

acadêmicos sobre o mesmo. De modo, que a maioria das casas passam a reger em dois

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cultos afro-religiosos: candomblé e jurema sagrada, essa última já encorpando a

ritualística da umbanda mantendo apenas as entidades e os orixás passa ao culto de nação.

Esse processo, irá ocorrer de integração entre jurema sagrada e o candomblé se dará

posteriormente, no rio grande do norte, especificamente a partir da década de 70.

Essa interrelação, entre os cultos afro-brasileiros, em muitos aspectos irão gerar um

separatismo entre as casas religiosas, mas não apaziguará a ação policial. As ideias

propostas pelo estado novo se firmaram no estado brasileiro de tal modo, que nas décadas

seguintes passado a ditadura do estado novo, a ditadura seguinte, bem mais repressora,

continuará a oprimir as religiões afro-brasileiras.

Assim, a minha percepção nesse dois anos de pesquisa, que ainda configuro como em

desenvolvimento, a rejeição a participação social dos povos de terreiros é fenômeno

histórico e socialmente construído, a minha tese é: com o aparato policial mantido pelo

estado e a constante perseguição aos povos de terreiros desde o estado novo à abertura

política 1989, se construiu uma mentalidade entre os povos de terreiros que tudo que

poderia vim de ações políticas do estado não poderia ser bom para os adeptos dos cultos

afro-brasileiro.

As ideias propagadas pelo estado novo e reforçadas pelas ditaduras seguintes, foram tão

nocivas aos povos de terreiros que até o final da década de 80, a maioria dos pais e mães

de santos das casas religiosas afro-brasileiras eram analfabetos. Muitos estudos

atribuíram esse dado a pobreza e a exclusão social dos povos afro-brasileiros desde a

colônia, mas mais do que isso, foram os crivos da discriminação religiosas que meus

entrevistados atribuíram a não frequência à escola, embora a oralidade tenha suplantado

a necessidade de outros conhecimentos que além dos terreiros, em todas as entrevistas

foram relatos casos do “desejo de aprender a ler”, mas na escola “todos sabiam que eu

era macumbeiro e/ou de famílias de macumbeiros, e com o tempo eu preferir sair”. Visto

que, no período da ditadura militar brasileira existia um sentimento da vida estudantil,

então porque esse sentimento não envolveu os povos de terreiros? Essa questão, me foi

respondida dessa forma: “a escola não admitia que gente da macumba continuasse sendo

da macumba”.3 Até na atualidade ainda temos o maior número de pessoas não

escolarizadas entre todas as religiões do Brasil.

3 Entrevista de D. Luíza de aganjú.

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Após as décadas de 30, 40 e 50, os povos de terreiros saem de cena pública das questões

políticas propriamente ditas, mas se mantem inseridos através de novas roupagens, talvez

uma forma de proteção, não temos ainda dados suficientes, são inúmeros os militantes

negros que participarão da cena política que pertencem a terreiros e cultos afro-

brasileiros, mas poucas são as propostas inclusas em seus documentos que se referiam a

essa população nas décadas de 60 à 80 ou militantes que assumam publicamente que

pertencem à religiões afro-brasileiras. Nesse período, a pauta das reivindicações políticas

era o combate à discriminação, racismo e da proposição das leis para igualdade racial, o

movimento emergente negro se apropriavam da cultura afro-brasileira, mas pouco a

relacionava aos terreiros e suas causas.

A partir de leituras sobre a formação do movimento negro no Brasil, o que conclui: duas

das questões dos terreiros afastarem-se do movimento negro nas décadas seguintes,

primeira: foi institucionalização do movimento negro seja em partidos, seja em

agremiações, pautadas em correntes teóricas das ciências sociais, em especial, a teoria

marxista e dos pensadores marxistas brasileiros da esquerda emergente que analisa todas

as formas de religião como a alienação do homem, base intelectual que supostamente,

levou ao distanciamento entre movimento negro afro-religioso e movimento negro

nacional. E segundo, a forte influência norte-americana nas reivindicações e plasticidade

das performase de expressão pública, como esclarece BRAGA, (1995).

Conforme Braga (1995), nas décadas de 60 e 70 a juventude brasileira ligada aos

movimentos sociais negros, reforça sua identidade através da música, por meio do Soul

Music e da moda através do estilo Black Power, características do negro dos Estados

Unidos juntamente com o movimento pelos direitos civis em que Martin Luther King

lutava pela igualdade entre negros e brancos. Visando acabar de vez com a falsa teoria da

democracia racial, o movimento negro contra o racismo, constrói seus ideais com o

marxismo, denunciando a hierarquia social baseada na cor. Dessa forma a ideia de

Consciência Negra deixada por esses movimentos está ligada as “lutas por emancipação,

cidadania e afirmação étnico-racial baseada na realidade sócio-histórico-cultural

brasileira”.

O movimento negro nacional busca a identidade política na efervescência dos

movimentos sociais brasileiros em décadas de transformações da sociedade no Brasil,

para tanto, acha necessário despir-se dos rótulos sociais e culturais impregnados pelo

racismo, dentre esses: o de macumbeiro, pobre, analfabeto e da suposta histeria coletiva

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dos cultos, como se denominava na literatura da psicologia e da psiquiatria sobre os

processos mediúnicos dos ritos e adeptos das religiões afro-brasileiras na época em que

se fundamentaram as teorias sobre raça e negritude no Brasil, (BRAGA, 1995).

Esse pensamento intelecto-político das lideranças do movimento negro se torna

perigosamente tão perto do pensamento euro-branco, fomentado pelo governo de Getúlio,

que sempre vislumbrou o terreiro entre o medo e a magia, e assim, o movimento negro

antes fortemente enraizado na base teórica de lutas de classe e a resistência dos terreiros

com a “bandeira” de direitos ao culto e a liberdade religiosa passa a não integrar a “pasta”

de prioridades do movimento negro nacional quando assume a luta por igualdade sócio-

racial.

Sendo exposto, no debate político da igualdade racial e nas teorias sociais, como somente

mais um elemento da africanidade no Brasil e não símbolo de resistência negra à opressão

fruto da predominância racista, da intolerância religiosa e de um estado não laico, gestado

na escravidão, as perseguição por parte do estado, com paramento policial e das igrejas

cristãs aos terreiros passam invisíveis ao olhar dos movimentos sociais brasileiros, se

publicizando no senso comum como uma questão “desviante de conduta pessoal,

primitivismo africano, num processo de resquício da inquisição religiosa mesclado à

postura de evangelização, de ideias positivistas, evolucionistas, nesse contexto, as

religiões afro-brasileiras amargam o silêncio social-político e emergem inúmeros

estudos que sintonizam no senso comum ao invés do afastamento tão defendido pelos

acadêmicos para averiguação dos fatos sociais, desde o período da escravidão talvez as

religiões afro-brasileiras não tenham na sua história um período tão opressor quanto

nas décadas de revoluções do estado brasileiro para abertura democrática, uma das

questões de estado e política mais difíceis e ignoradas em ações de empoderamento até

os dias atuais em um estado democrático e de direitos”, (IANNI,2004.15p)

Segundo Octavio Ianni (2002;179p), a questões dos cultos afro-brasileiro estão ausentes

nas ações e debates das políticas públicas para igualdade racial desde que o movimento

negro optou pelo “quilombismo” nos meados de 1960 a 1980. A tendência quilombista

buscava de uma raiz pura do que é ser negro, o que gerou a exclusão da pauta política

causas dos demais seguimentos negros que “pela força da opressão tiveram que integrar

o mundo branco, mesmo mantendo viva as raízes africanas, visto que, nunca houve uma

mobilização massiva do movimento negro em prol por exemplo, das religiões afro-

brasileira diante do Estado brasileiro, exigindo a laicidade”.

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Outra questão, é o terreiros abraçarem todos os povos brasileiro, independentes de cor,

sendo um universo múltiplo, enquanto o movimento negro estava pautado em questões

de raça e cor. Essa ideia do terreiro “ser o local mais democrático dentro de uma

sociedade conservadora e intolerante, único elo entre opressão e sentimento de

pertencimento e nação” será desenvolvida por Luis Nicolau Parés, em seu livro: “A

formação do candomblé – história e ritual jejê na Bahia” (2008). Um tema que o autor

desenvolve muito bem e que acho ser de extrema relevância é a passagem do que ele

chama “nação étnica” para “nação de terreiro”. O tema trata justamente dessa questão de

múltiplas nacionalidades que têm uma herança em comum e, no caso, um presente

também comum – que é a escravidão, discriminação e exclusão. Com o tempo o termo

nação vai mudando de significado e deixa de designar “indivíduos compartilhando uma

mesma terra de “origem”, ou seja, “o parentesco biológico foi substituído pelo parentesco

do santo”. Então o termo passou a designar uma forma de organização com bases

religiosas-políticas, como hoje, se consagram as diversas matrizes dos terreiros no Brasil.

Para o autor é a identidade do terreiros que mais fortalecerá o ideário brasileiro de um só

povo e construirá o desejo de igualdade racial desde a colônia a após escravatura, visto

que, somos todos iguais quando temos o mesmo opressor e a cor se torna elemento a

parte, o que contraria a pauta do movimento negro, onde a cor é central no debate, o

grupamento por semelhança da condição negra e não sócio-econômica tão comuns aos

terreiros.

Perseguidos pela polícia, ordens religiosas e intolerância social, os povos de terreiros se

isolam em questões internas ao culto construindo barreiras contra a participação direta

enquanto entidade religiosa, também, rompe com as bandeiras propostas pelo movimento

negro, gerando na atualidade um dualidade de questões que colocam cada movimento em

lados opostos, sendo todos das mesmas origens.

3. Vovó não quer casca de coco no terreiro, pra não lembrar dos tempos do

cativeiro.

Na atualidade, em especial na última década, os terreiros afro-brasileiros vem construindo

aos poucos uma identidade enquanto movimento social. Embora, essa construção não se

der nos mesmos parâmetros nas mais diversas regiões brasileiras, é a ação do estado que

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tem possibilitado um novo reencontro com a política e um novo recomeço sobre as

mentalidades sobre o papel do estado e da segurança social.

Essa visibilidade dos terreiros no Governo Lula tem suas origens a partir da década

de 90, explicitamente, 1998, uma pequena parcela dos movimentos negros nacional,

rompe com a tendência “quilombista” dentro do próprio partido dos trabalhadores,

(JACCOUD;2009), e integram os terreiros em suas manifestações públicas e

reivindicações, uma postura seguida por, Pernambuco, alagoas, Ceará e Maranhão, em

especial, a Bahia estabelecendo em suas práticas um forte reconhecimento das

irmandades criadas pelas yálorisas (sacerdotisas) como a irmandade Nossa Senhora da

Boa Morte e senhor dos Martírios nos estudos e debates sobre a emancipação dos negros

no Nordeste. A partir de então, os terreiros entram em cena política reconhecidos como

movimento negro e começam a participar das reivindicações locais de políticas públicas

de igualdade racial, sendo 2006, realizado em Brasília o primeiro encontro nacional de

povos de terreiros no Brasil intitulado “os orixás dança no Planalto Central em célebre

reconhecimento do candomblé pelo presidente da república, como patrimônio imaterial

brasileiro, assinando o tombamento como patrimônio cultural nacional o Candomblé do

engenho velho e o compromisso da casa civil da constituição de um plano nacional de

políticas de reparação para povos de terreiros, um ato histórico na democracia brasileira

em busca de um estado laico.

Nesse encontro nacional, o Rio Grande do Norte foi único estado sem

representação em Brasília, isto porque, seguindo a tendência conservadora o movimento

negro local não integrou as reivindicações locais, conforme orientação nacional, os

terreiros como os demais estados do Nordeste. Os terreiros do Rio Grande do Norte, ainda

temem esses espaços políticos, embora muitos já se integram neles, a maioria dos terreiros

se mantem ausentes dos debates sobre políticas públicas. Os conflitos entre as casas

demonstra que ainda resistem a ideia de um estado de direitos. Os acontecimentos, relatos

sobre violências policiais ainda se mantenham vivos na memória coletiva dos grupos,

novos atores entram em cena e reacendem essa constante sensação de ameaça enraizado

na construção histórica, são evangélicos, parte de grupos policiais e a mídia que a cada

notícia relata invasão e maus tratos aos povos de terreiros os relaciona com as políticas

governamentais, o eleva a desconfiança dos mais idosos e a indignação dos mais jovens

adeptos.

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Embora reconhecidamente pelo movimento negro nacional, que houve conflitos

políticos frutos de mentalidades anteriores no apoio e fortalecimento de povos de

terreiros, e que tais posturas necessitam de reparação na atualidade, há forte resistência

de grupos do movimento negro ao reconhecimento da contribuição dos terreiros na

emancipação do negro Brasil. As consequências de perseguição aos terreiros no rio

grande do norte ainda se mantem viva, pulsante e sendo assim, para aprofundamento da

análise desse trabalho, é uma construção cotidiana de pesquisa e elaboração teórica,

precisamos recontar esses fatos, expor e exorcizar as penúrias dos cativeiros ora colônia

ou da intolerância religiosa, abrir novos caminhos e perspectivas para democracia e a

construção de um estado laico, a fim de contribuir para maiores esclarecimentos políticos

dos processos democráticos do debate da igualdade racial e políticas públicas no Brasil.

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Bibliografia:

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