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1 MÓDULO 2 MIOLOGIA “Os músculos permitem-nos fazer movimentos. Os músculos movem-nos. Sem músculos seriamos incapazes de abrir a boca, falar, andar ou até mesmo digerir a comida. Não conseguiríamos mover nada dentro ou fora do nosso corpo. De facto, sem músculos, não conseguiríamos viver …” ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS O QUE É A MIOLOGIA? A miologia é a área da anatomia responsável pelo estudo dos músculos e seus anexos. O músculo é definido como uma estrutura anatómica capaz de se contrair quando estimulado, ou seja, é capaz de diminuir sua longitude mediante um estímulo; Propriedades dos músculos Tipos de músculo O sistema muscular dos animais é o conjunto de órgãos que lhes permite o movimento, tanto externa, como internamente. O sistema muscular dos vertebrados é formado por três tipos de músculo: liso, estriado cardíaco, estriado esquelético;

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A miologia é a área da anatomia responsável pelo estudo dos músculos e seus anexos. O músculo é definido como uma estrutura anatómica capaz de se contrair quando estimulado, ou seja, é capaz de diminuir sua longitude mediante um estímulo...

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Page 1: Miologia_I

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MÓDULO 2 – MIOLOGIA

“Os músculos permitem-nos fazer movimentos. Os músculos movem-nos. Sem músculos

seriamos incapazes de abrir a boca, falar, andar ou até mesmo digerir a comida. Não

conseguiríamos mover nada dentro ou fora do nosso corpo. De facto, sem músculos, não

conseguiríamos viver …”

ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

O QUE É A MIOLOGIA?

A miologia é a área da anatomia responsável pelo estudo dos músculos e seus anexos. O

músculo é definido como uma estrutura anatómica capaz de se contrair quando

estimulado, ou seja, é capaz de diminuir sua longitude mediante um estímulo;

Propriedades dos músculos

Tipos de músculo

O sistema muscular dos animais é o conjunto de órgãos que lhes permite o movimento, tanto

externa, como internamente. O sistema muscular dos vertebrados é formado por três tipos de

músculo: liso, estriado cardíaco, estriado esquelético;

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Os MÚSCULOS ESTRIADOS ESQUELÉTICOS são controlados pela vontade do homem, e por

serem ligados aos ossos permitem a movimentação do corpo;

Apresentam estrias nas suas fibras. São os responsáveis pelos movimentos voluntários. Estes

músculos inserem-se sobre os ossos e sobre as cartilagens e contribuem para formar o invólucro

exterior do corpo. A maioria dos músculos está presa ao esqueleto, junto a articulações, abrindo-

as e fechando-as e permitindo mover o corpo. Nas articulações, esses músculos são presos a

ossos por meio de tendões, que são cordões de tecido conjuntivo. São formados por células

bastante compridas e polinucleadas;

O MÚSCULO ESTRIADO CARDÍACO é um músculo estriado, no entanto, possui como

característica o facto de não estar sob qualquer controle voluntário;

O músculo estriado cardíaco é o tipo de tecido muscular que forma a camada muscular do

coração, conhecida por miocárdio. Também é chamado tecido muscular estriado esquelético

cardíaco. As fibras musculares cardíacas têm discos (membranas que delimitam a célula)

intercalados entre uma fibra e outra. O músculo cardíaco possui contrações involuntárias,

permitindo levar o sangue a todo o corpo;

Os MÚSCULOS LISOS são involuntários e trabalham para acionar os órgãos internos

(movimentos do esôfago ou intestinos).

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Músculo liso é um tecido muscular de contração involuntária e lenta, composta por células

fusiformes mononucleadas. O músculo liso encontra-se nas paredes de órgãos ocos, tais como

os vasos sanguíneos, na bexiga, no útero e no trato gastrointestinal. O músculo liso é

responsável por movimentos peristálticos, que são contrações lentas e involuntárias, em ondas,

que deslocam o alimento pelo sistema digestivo. Estas contrações peristálticas são controladas

automaticamente pelo Sistema Nervoso Autónomo;

Comparação entre tipo de músculos

Características Músculo Esquelético Músculo Liso Músculo Esquelético

Cardíaco

Localização Inserido nos ossos

Paredes dos órgãos ocos,

vasos sanguíneos, olhos,

Glândulas e pele

Coração

Forma das células Muito longas e cilíndricas Em forma de fusos Cilíndricas e ramificadas

Núcleo Múltiplos, com localização

periférica

Único, com localização

central

Único, com localização

central

Estrias Sim Não Sim

Controle Voluntário e involuntário

(reflexos) Involuntário Involuntário

Capacidade de contração

espontânea Não Sim (alguns músculos lisos) Sim

Função Movimento corporal

Ex.: esvaziamento da bexiga,

alteração do tamanho da

pupila, movimento dos pêlos,

etc.

Bombeia o sangue

Page 4: Miologia_I

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FUNÇÕES DO MÚSCULO

a) Produção dos movimentos corporais: Movimentos globais do corpo, como andar e correr;

b) Estabilização da Posição e distribuição do peso corporais: A contração dos músculos

esqueléticos estabilizam as articulações e participam da manutenção das posições corporais,

como a de ficar em pé ou sentar, bem como a distribuição do peso;

c) Manutenção dos contornos corporais, proteção dos órgãos viscerais e regulação do

Volume dos Órgãos: A contração sustentada dos músculos lisos pode impedir a saída do

conteúdo de um órgão oco;

d) Movimento de Substâncias dentro do Corpo: As contrações dos músculos lisos das

paredes vasos sanguíneos regulam a intensidade do fluxo, podem mover alimentos, urina e

gâmetas do sistema reprodutivo e promovem o fluxo de linfa e o retorno do sangue para o

coração;

e) Regulação da temperatura: Quando o tecido muscular se contrai ele produz calor e grande

parte desse calor libertado pelo músculo é usado na manutenção da temperatura corporal.

A – ORGANIZAÇÃO MACROSCÓPICA E PROPRIEDADES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO

Organização e estrutura geral

Ventre muscular

Ventre muscular é a porção contrátil do músculo, constituída por fibras musculares que se

contraem. Constitui o corpo do músculo (porção carnosa).

Aponevroses

São terminações ou origens musculares, em forma de leque ou qualquer membrana

constituída por fibras conjuntivas densas que envolve um músculo. Possuem cor

esbranquiçada ou amarelada. São finas e delgadas, porém muito resistentes. Como um

invólucro ao redor dos músculos, as aponeuroses criam resistência e aderem à superfície

da região do osso em que o músculo se prende.

Page 5: Miologia_I

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Tendões

O tendão é constituído por um cordão fibroso formado por tecido conjuntivo. Através do

tendão os músculos se inserem nos ossos ou noutros órgãos. possuem a função de manter o

equilíbrio estático e dinâmico do corpo, através da transmissão do exercício muscular aos ossos

e articulações;

PAPEL DA ELASTICIDADE MUSCULAR

Como fator protetor da atividade muscular

A elasticidade muscular é a capacidade dos músculos se distenderem e recuperarem o seu

comprimento inicial, depois de efetuarem uma

contração. Este processo depende, sobretudo, do

comprimento inicial das fibras musculares, já que

quanto maior for a longitude, mais amplo será o

movimento de contração e distensão e,

consequentemente, maior será a elasticidade

muscular;

Esta propriedade pode ser aperfeiçoada através do

alongamento muscular, já que os exercícios de

alongamento, essenciais em todas as atividades de

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aquecimento, aumentam o comprimento das fibras musculares;

Exercícios de alongamento garantem maior elasticidade, evitando situações de rutura

muscular.

Como fator de organização da atividade muscular

Quando se intenta à realização de qualquer exercício, deve considerar-se a capacidade de

elasticidade individual do praticante,

segundo a realização prévia de um

esquema de exercícios, devidamente

monitorizados;

Os objetivos do alongamento centram-

se em restaurar a amplitude de

movimento normal; prevenir o

encurtamento dos músculos; facilitar

o relaxamento muscular; aumentar a

amplitude de movimento de uma área

particular do corpo antes de iniciar os

exercícios de fortalecimento; e reduzir

o risco de lesões músculo-tendinosas.

Principais elementos elásticos do músculo

Os elementos elásticos do músculo também apresentam alguma resistência ao alongamento,

tendo capacidade de, quando estirados, armazenar energia elástica que posteriormente restituem

quando se verifica o encurtamento.

A sua função é transmitir tensão dos

músculos aos ossos e assim

produzir movimento;

São componentes elásticos, as

membranas celulares das fibras

musculares e as membranas

envolventes (endomisio – tecido

que envolve uma fibra muscular,

perimisio – tecido que envolve o

fascículo; e epimisio – tecido que

envolve o músculo), constituídas

por tecido conjuntivo. Também

constituídos por tecido conjuntivo

são os tendões (elemento elástico ).

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B – ORGANIZAÇÃO MICROSCÓPICA E PROCESSO DE CONTRAÇÃO MUSCULAR

Constituição da fibra muscular

Fibras musculares, células musculares ou miócitos são as células que constituem os

músculos. Podem chegar a 30 cm de comprimento. Para além do seu tamanho e forma, estas

células têm ainda outra particularidade: são preenchidas por feixes longitudinais de

miofibrilhas, responsáveis pela contração muscular.

Funções gerais dos principais elementos

Miofibrinas – responsáveis pela contração muscular; Sarcolema – membrana plasmática das

células do tecido muscular; Sarcoplasma – citoplasma das células musculares; Sarcómero –

um dos componentes básicos do músculo estriado que permite a contração muscular;

Miofilamentos – filamentos das miofibrinas, responsáveis pela contractibilidade.

Placa motora

Cada músculo possui o seu nervo motor, o qual se divide em muitos ramos para poder

controlar todas as células do músculo. O local onde as divisões destes ramos terminam e se

unem ao músculo é denominado como placa motora (região de contato, de invaginação, da

fibra nervosa na fibra muscular);

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Mitocôndria

A mitocôndria é um dos organitos celulares mais importantes. É abastecida pela célula que a

hospeda por substâncias orgânicas como a glicose, as quais processa e converte em energia

sob a forma de ATP, que devolve para a célula hospedeira, sendo energia química que pode

ser usada em reações bioquímicas que necessitem de consumo de energia;

O sarcómero e a contração muscular

Contração muscular é um

processo fisiológico

característico das fibras

musculares que corresponde à

capacidade de gerar tensão

com a ajuda de um neurónio

motor. Ocorre com a saída de

um impulso elétrico, do

sistema nervoso central, que é

conduzido ao músculo através

de um nervo.

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Processos de contração e relaxamento

A contração do músculo esquelético é voluntária e ocorre pelo deslizamento dos filamentos

de actina sobre os de miosina. Nas pontas dos filamentos de miosina existem pequenas

projeções, capazes de formar ligações com certos sítios dos filamentos de actina, quando o

músculo é estimulado;

Essas projeções (cabeças)

de miosina puxam os

filamentos de actina,

forçando-os a deslizar

sobre os filamentos de

miosina. Isso leva ao

encurtamento das

miofibrilas e à contração

muscular. Durante a

contração muscular, o

sarcómero diminui

devido à aproximação

das duas linhas Z, e a

zona H chega a

desaparecer.

Ação do cálcio

A contração muscular esquelética acontece quando há uma interação das proteínas

contráteis de actina e

miosina, que ocorre na

presença de íões de cálcio e

energia;

A função do cálcio no

músculo esquelético é expor

um sítio de ligação da

miosina na proteína actina.

Quando o impulso é

interrompido o cálcio é

removido através da bomba

de cálcio para ser armazenado

no retículo sarcoplasmático;

Formação do complexo actomiosina (ponte cruzada)

Os filamentos de actina e miosina dentro do músculo participam principalmente do processo

mecânico da contração muscular. Quando o cálcio e a adenosina trifosfato (ATP) estão

presentes em quantidades suficientes, os filamentos interagem para formar o complexo

actomiosina, o que vai acabar por resultar na contração muscular.

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Noção de tétania (tetanus) muscular

Corresponde a uma

continuada e involuntária

contração muscular, devido a

problemas no estímulo

nervoso. É um estado

patológico caracterizado por

crises de contrações

musculares espasmódicas. A

estimulação contínua faz com

que o músculo atinja um grau

máximo de contração, o

músculo permanece contraído,

condição conhecida como

tetania;

A Fadiga Muscular pode ser definida como declínio da tensão muscular com a estimulação

repetitiva e prolongada durante uma atividade.

Curvas força

A Força Máxima, que é solicitada no Powerlifting, demora em média 0,8 segundos a ser

atingida e traduz-se no máximo valor de força oferecido por uma resistência que o individuo

consiga igualar;

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A Força Rápida, requerida na Halterofilia, trata-se do máximo valor de força que o indivíduo

consegue produzir até aos 0,4 segundos;

A força inicial traduz o máximo valor de produção de força num movimento até aos 0,2

segundos.

Alongamento versus força

Um músculo flexível tende a ser mais resistente a lesões que um músculo rígido. Os

alongamentos permitem uma melhor mobilidade e flexibilidade, desenvolvendo uma certa

amplitude de movimento;

Existe a ideia que o alongamento se

opõe às lesões, sendo um músculo

alongado mais resistente que

músculos não alongados;

O exercício de alongamento

realizado em alta intensidade de

extensão muscular, acaba por

diminuir a força, por um mecanismo

conhecido como Inibição Neural;

A diminuição da força pode ser

decorrente de fatores neurológicos, mecânicos e comprimento-tensão da fibra muscular.

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Força / velocidade da fibra muscular

A velocidade na qual um

músculo varia em

comprimento (geralmente

regulado por forças externas,

tais como carregar pesos)

também afeta a força que pode

gerar. A força declina

(hiperbólica) em relação à

força isométrica medida

conforme aumenta a

velocidade de encurtamento,

eventualmente chegando a

zero à velocidade máxima.

O inverso vale para quando o músculo é esticado - aumenta a força acima do máximo

isométrico, até finalmente chegar a um máximo absoluto. Há fortes implicações para a taxa na

qual os músculos podem realizar trabalho mecânico (energia). Dado que a energia é igual à

força vezes a velocidade, o músculo gera nenhum poder em força isométrica (devido à

velocidade zero).

Velocidade da fibra muscular – contração lenta

As fibras de contração lenta são

responsáveis pela resistência da

contração, permitindo forças

suficientes para contrações

prolongadas, podendo persistir

por vários minutos ou horas.

Um músculo com função de

resistência, sustentação, que

responde de forma lenta,

suportando maior tempo de

contração, possui maior número

de fibras lentas, que são

preparadas para atender essas

características;

Estas têm uma alta capacidade de oxidar aerobicamente os glícidos e os ácidos gordos, de

modo a gerar ATP e permitindo exercícios duradouros;

As Fibras musculares lentas (tipo I) oxidativas, efectuam atividades lentas; são menores;

exercícios aeróbicos; baixa intensidade, muita vascularização; muitas mitocôndrias;

abundante mioglobina (aspeto avermelhado).

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Velocidade da fibra muscular – contração rápida

Proporcionam grandes quantidades de potência de contração, podendo suportar trabalhos de

segundos a um minuto. As fibras rápidas são

adaptadas para contrações musculares muito rápidas

e fortes, como as que ocorrem nos saltos e corridas

curtas, entrando em fadiga apenas alguns minutos

após a sua contração;

As Fibras musculares rápidas (brancas – Tipo II)

exercem atividades rápidas; exercícios anaeróbicos;

fibras maiores; maior diâmetro, retículo

sarcoplasmático extenso; poucas mitocôndrias; pouca vascularização; possuem coloração

esbranquiçada devida a menor quantidade de mioglobina;

Sub-tipo IIa – fibras rápidas oxidativas-glicolíticas; Sub-tipo IIb – rápidas glicolíticas.

Tipos de fibras musculares no nosso dia-a-dia

As fibras CL (contração lenta) são recrutadas em primeiro lugar, independentemente da

intensidade do exercício. Caso haja necessidade de um fornecimento rápido e potente de

energia, fibras adicionais do tipo IIA serão recrutadas. Somente em níveis máximos ou quase

máximos é que recrutamos as fibras IIB. Quando corremos em velocidade máxima recrutamos

todos os tipos de fibras, principalmente as do tipo IIB. No entanto, as fibras IIB entram

rapidamente em fadiga e caso quiséssemos continuar correndo, seríamos obrigados a reduzir a

velocidade, pois as fibras IIA passariam a ser preferencialmente recrutadas. Apesar de

possuírem um alto potencial energético, este é ainda assim inferior à potência das fibras IIB.

Não demoraria muito e rapidamente sentiríamos uma enorme sensação de fadiga, forçando a

reduzir ainda mais a velocidade. Assim, as fibras CR (contração rápida) passariam a ser

recrutadas preferencialmente. Estas fibras utilizam o alto potencial oxidativo para queimar,

preferencialmente as gorduras e ácido láctico, que foi acumulado durante os momentos

anteriores do exercício. Somente assim seria possível continuar sem esgotar as reservas

limitadas de glícidos que se encontram nos músculos.

C – PROCESSOS ENERGÉTICOS NO MÚSCULO ESQUELÉTICO

Necessidades energéticas da fibra muscular

A Bioenergética dedica-se ao estudo dos vários processos

químicos que tornam possível a vida celular do ponto de vista

energético, e permite entender como a capacidade para realizar

trabalho depende da conversão sucessiva, de uma em outra forma

de energias;

O trabalho muscular é uma questão de conversão de energia

química em energia mecânica, energia que é utilizada pelas

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miofibrilas para provocar o deslize dos miofilamentos, resultando em ação muscular e produção

de força

O dispêndio energético depende de vários fatores, da tipologia do exercício, da frequência, da

duração e intensidade, dos aspetos de carácter dietético, das condições de exercitação (altitude,

temperatura e humidade), da condição física do atleta e da sua composição muscular em termos

de fibras (tipo I e II)

Papel do ATP

A fonte de energia garante o fornecimento de energia às

células é o ATP. O trifosfato de adenosina (ATP) é o

instrumento bioquímico que serve para armazenar e

utilizar energia;

O ATP é necessário para as reações químicas envolvidas

em toda contração muscular. Conforme a atividade do

músculo aumenta, mais ATP é consumido;

As células obtêm energia química, pelo

catabolismo de nutrientes e empregam esta

energia para sintetizar ATP a partir de ADP +

Pi. O ATP transfere parte de sua energia para

processos de síntese de macromoléculas ou

transporte de substâncias através das membranas

contra gradientes de concentração.

A reação que transforma o ATP em energia

apresenta um conjunto de etapas:

– Quimicamente, o ATP é um nucleótido

de adenina cercado por três fosfatos;

– Há muita energia armazenada na ligação

entre o segundo e o terceiro grupo de fosfato que pode ser usada para alimentar as

reações químicas;

– Quando uma célula precisa de energia, a ligação é quebrada para produzir difosfato de

adenosina (ADP) e uma molécula livre de fosfato (Pi);

– Em alguns casos, o segundo grupo de fosfato também pode ser quebrado para

produzir monofosfato de adenosina (AMP);

– Quando uma célula tem excesso de energia, é armazenada produzindo ATP a partir de

ADP e fosfato;

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O ATP dos músculos vem de três sistemas bioquímicos diferentes, nesta ordem:

– Sistema ATP - fosfocreatina (anaeróbio alático)

– Sistema Glicolítico (anaeróbio lático);

– Sistema Oxidativo (Aeróbio).

Diferentes processos e diversos tipos de esforço

Em termos de performance, destacam-se três grupos distintos - potência, velocidade e

resistência (endurance) – aos quais associam um sistema energético específico, respetivamente,

os fosfatos de alta energia, a glicólise anaeróbia e o sistema oxidativo.

O lançamento do peso e a corrida de 400m são sistemas energéticos designados de anaeróbios,

o que significa que a produção de energia não está dependente da utilização de oxigénio;

A maratona é um sistema oxidativo (mitocôndria) com gasto de oxigénio - sistema aeróbio;

O sucesso e a operacionalidade de cada um dos grupos de atividade encontra-se dependente

do funcionamento do sistema energético preferencialmente utilizado.

Sistema anaeróbio

As fibras musculares costumam "construir" as moléculas de ATP a partir da combustão ou

oxidação dos nutrientes que armazenam no seu interior através de um processo aeróbio, ou

seja, mediante um processo que necessita da presença de oxigénio;

Todavia, como a assimilação de oxigénio a partir da circulação sanguínea, durante os

primeiros dois minutos de exercício físico, o tempo que o aparelho cardiorrespiratório

necessita para se adaptar completamente às necessidades, é muito reduzido, as fibras

musculares, durante a fase inicial do exercício físico, obtêm o ATP de que necessitam a partir

de dois mecanismos anaeróbios em que não é necessária a presença de oxigénio: o da

fosfocreatina e o da glicólise anaeróbia.

Sistema ATP - fosfocreatina (anaeróbico alático)

A fosfocreatina é uma substância composta por uma molécula de creatina e outra de ácido

fosfórico armazenada no interior das fibras musculares, que participa no primeiro mecanismo

destinado a obter moléculas de ATP e, consequentemente, energia, perante necessidades

repentinas. O mecanismo da fosfocreatina é ativado no preciso momento em que a contração

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da fibra muscular se inicia e

consiste no desdobramento desta

substância numa molécula de

creatina e noutra de ácido

fosfórico e na posterior junção

desta molécula e de outra de ADP,

de modo a formar uma nova

molécula de ATP.

Embora este mecanismo seja muito

eficaz no início da contração, o

depósito de fosfocreatina acaba

igualmente por se esgotar, obrigando

a fibra muscular a recorrer a outro

dos seus processos anaeróbios, com vista a obter mais moléculas de ATP.

Sistema Glicolítico (anaeróbio lático)

Este processo consiste na degradação do glicogénio

armazenado no interior das fibras musculares, de

modo a proporcionar a obtenção de energia que

permita a junção das moléculas de ácido fosfórico

com outras de ADP, para que no final do processo se

obtenham duas moléculas de ATP e, como produtos

residuais, duas moléculas de água e outras duas de

ácido láctico.

Cerca de quarenta segundos após este tipo de

atividade, a relevância da glicólise anaeróbia diminui,

já que após este período, o aparelho

cardiorrespiratório começa a adaptar-se ao exercício

físico e a transportar uma quantidade mais significativa de oxigénio para o tecido muscular.

A velocidade da eliminação do ácido láctico provocado por este processo é menor do que a

velocidade de produção, pois tem tendência para se acumular. Cerca de dois minutos após o

início do exercício físico, os mecanismos aeróbios desempenham um papel muito mais

importante do que os anaeróbios.

Sistema aeróbio

É através do metabolismo aeróbio que as fibras musculares obtêm a energia de que necessitam

para formarem as moléculas de ATP, a partir da união de moléculas de ADP e ácido fosfórico,

mediante a degradação de nutrientes em processos que necessitam da presença de oxigénio

Este processo fornece dez vezes mais energia do que os mecanismos anaeróbios e tem a

vantagem de não gerar substâncias residuais tóxicas, formando moléculas eliminadas de dióxido

de carbono, com o ar expirado, e água. Após a adaptação do aparelho cardiorrespiratório ao

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exercício, o principal mecanismo de obtenção de energia consiste na neoglicogénese aeróbia, a

partir do momento em que as reservas de glicogénio do tecido muscular e hepático começam a

esgotar-se. As fibras musculares começam a construir moléculas de ATP através da degradação

das moléculas de proteínas e lipídios dos tecidos, provenientes dos depósitos adiposos, que se

encontram na hipoderme e à volta dos órgãos internos através do sangue.

Sistema Oxidativo (Aeróbio)

Com cerca de dois minutos de exercício, o corpo já responde para suprir oxigénio aos músculos

que se exercitam. Quando há

oxigénio, a glicose pode ser

completamente decomposta em

dióxido de carbono e água em um

processo chamado respiração

aeróbia. A glicose pode ter três

diferentes origens:

As reservas de glicogénio restantes

nos músculos; a quebra do glicogénio do fígado, através da corrente sanguínea; a absorção da

glicose dos alimentos no intestino, através da corrente sanguínea;

A respiração aeróbica também pode usar ácidos gordos das reservas de gordura do músculo e do

corpo para produzir ATP. Em casos extremos, as proteínas também podem ser decompostas em

aminoácidos e utilizadas para produzir ATP. A respiração aeróbica usaria primeiramente os

glícidos, depois as gorduras e, se necessário, as proteínas. A respiração aeróbica produz ATP

num ritmo mais lento, mas pode continuar o fornecimento por muitas horas.

Processos de resíntese de ATP

A energia necessária para a realização de todas as tarefas que nosso corpo necessita é

proveniente do ATP, fabricada em todas as células vivas como um modo de capturar e

armazenar energia. À medida que o corpo vai realizando suas funções, o ATP é degradado e,

consequentemente, restaurado por outra fonte energética que pode ser proveniente da

fosfocreatina, das ácidos gordos, dos lípidos ou das proteínas. Conforme as necessidades

energéticas, o corpo utiliza o pouco ATP que tem disponível . À medida que o ATP acaba, é

solicitado o uso da fosfocreatina para ressintetizar o ATP, porém a fosfocreatina também é

reduzida. Então, o nosso organismo solicita outro macronutriente para realizar a ressintese do

ATP. Entretanto, o organismo precisa de determinar qual o substrato energético a utilizar:

gordura, na forma de triglicerídeos, ou glícidos na forma de glicose ou glicogénio muscular,

dependendo de dois fatores: a velocidade de ressintese do ATP e se há ou não a presença de

oxigénio.

Diferentes processos e diversos tipos de esforço

Page 18: Miologia_I

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Na presença de oxigénio e na pouca necessidade de solicitação deste macronutriente, o

organismo utilizaria a gordura para ressintetizar ATP, uma vez que a gordura gera mais ATP

que a glicose, e sua fonte é praticamente ilimitada no nosso corpo, não levando-o ao risco de

sofrer pela má utilização deste substrato.

Por outro lado, na necessidade de alta velocidade de ressintese do ATP o organismo irá optar

pela glicose ou glicogénio hepático e muscular; como em exercícios extenuantes e muito

intensos. Isso também ocorreria na ausência de oxigênio durante o processo de transformação

para gerar energia, chamado de ciclo da glicólise. Esse ciclo seria capaz de gerar energia

suficiente para ressintese do ATP, mas teria um efeito indesejável, a produção de ácido lático,

que faria com que o exercício fosse interrompido minutos depois pela instalação da fadiga

muscular dos músculos ativos (músculos exercitados).

D – TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES

Fibras dos tipos I e II

Tipo I

A classificação das fibras musculares faz-se de acordo com o metabolismo energético

dominante, da velocidade de contração e da sua coloração histoquímica, a qual depende das

atividades enzimáticas: Tipo I , de contração lenta ou vermelhas, e isto devido à densidade

capilar e ao conteúdo em mioglobina e Tipo II, de contracção rápida ou fibras brancas, as quais

se subdividem na lIa, IIb, e IIc

Fibras tipo I, de contração lenta, vermelhas ou ST(slow twitch) São fibras com menor

diâmetro, com um maior fornecimento sanguíneo, quando expresso em capilares por fibra,

possuem muitas e grandes mitocôndrias e muitas enzimas oxidativas. São por isso fibras com

um metabolismo energético de predomínio aeróbico, resultando uma grande produção de ATP,

permitindo esforços duradouros. Estas fibras predominam nos músculos dos atletas de

endurance ou resistência

Tipo II

De contração rápida, brancas ou FT(fast twitch) São fibras brancas, de maior diâmetro, com

predomínio de metabolismo energético de tipo anaeróbico. Possuem grandes quantidades de

enzimas ligadas a este tipo de metabolismo, como por exemplo a CPK (creatinofosfoquínase),

necessária à regeneração rápida de ATP a partir da fosfocreatina (CP)

O músculo tem uma velocidade de contração, uma velocidade de condução na membrana e uma

tensão máxima maior do que nas fibras do tipo I. Têm elevados níveis de atividade da ATPase

miofibrinar, o que revela grande velocidade na elaboração das interações actina-miosina

Nas Fibras subtipo IIb o metabolismo anaeróbico é dominante, o que origina uma grande

acumulação de ácido láctico. São fibras com um mau rendimento energético, de contração

rápida e facilmente fatigáveis; Fibras do subtipo lIa: são também fibras brancas, com

predomínio do metabolismo anaeróbico, mas já com uma capacidade oxidativa superior; as

fibras IIc possuem predomínio do metabolismo anaeróbico e uma capacidade oxidativa

superior.

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Distribuição dos tipos de fibras nos músculos

As percentagens de fibras rápida, intermediária e lenta num músculo esquelético pode ser

bastante variável. Músculos dominado por fibras rápidas aparecem pálidas e são chamados de

músculos brancos. Peitos de frango contêm "carne branca", porque as galinhas usam as asas

apenas por breves intervalos, como quando em fuga de um predador, e o poder de voo provém

de fibras rápidas nos músculos do peito. Os vasos sanguíneos e mioglobina nas fibras lentas

conferem uma cor avermelhada aos músculos lentos. Na galinha, o andar todo o dia confere às

fibras lentas (carne escura) o tom escuro das pernas.

A maioria dos músculos humanos contêm uma mistura de tipos de fibras e assim aparecem rosa.

No entanto, não há fibras lentas nos músculos do olho ou na mão, onde contrações rápidas, mas

breve são obrigatórios. São dominados por fibras lentas, os músculos que se contraem

continuamente para manter uma postura ereta. A percentagem de fibras rápidas versus lenta em

cada músculo é determinada geneticamente, podendo aumentar como resultado do treinamento

atlético

E – CONCEITOS RELACIONADOS COM A DETERMINAÇÃO DAS AÇÕES MUSCULARES

O músculo esquelético e a função articular

Os músculos esqueléticos ou músculos estriados, já

que apresentam estriações nas suas fibras, são os

responsáveis pelos movimentos voluntários; estes

músculos inserem-se sobre os ossos e sobre as

cartilagens e contribuem, com a pele e o esqueleto, para

formar o invólucro exterior do corpo.

A maioria dos músculos está presa ao esqueleto, junto

a articulações, abrindo-as e fechando-as. Nas

articulações, esses músculos são presos a ossos por

meio de tendões, que são cordões de tecido conjuntivo.

Quando os tendões são chatos e largos, e não possuem a

forma de cordão, recebem o nome de aponeuroses ou

aponevroses.

Noções de origem e de inserção

Por convenção, denomina-se de origem, a extremidade do músculo presa à peça do esqueleto

que não se move e inserção a extremidade do músculo presa à peça óssea que se desloca;

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Tipos de Acão muscular

Estática (isométrica) - se a tensão desenvolvida pelo músculo é igual

à resistência que ele tem de vencer, o comprimento das fibras

musculares, mantém-se essencialmente inalterado. Este tipo de ação

muscular ocorre quando se pretende exercer força contra uma

resistência inamovível;

Dinâmica concêntrica - quando a tensão desenvolvida pelo músculo

é superior à resistência que ele tem de vencer, ocorre um

encurtamento. Este tipo de ação ocorre na fase positiva (concêntrica)

da maioria dos exercícios de treino de força, como o supino ou o

agachamento;

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Dinâmica excêntrica - quando a tensão desenvolvida pelo músculo é inferior à resistência que

ele tem de vencer, apesar do músculo tentar encurtar-se, ocorre um alongamento das fibras

musculares. Este tipo de ação ocorre na fase negativa (excêntrica) da maioria dos exercícios de

treina da força, como o supino ou o agachamento.

Ciclo muscular alongamento/encurtamento

O ciclo alongamento e encurtamento

(CAE), mecanismo fisiológico cuja função

é aumentar a eficiência mecânica dos

movimentos, utiliza ações musculares

excêntricas seguidas, imediatamente, por

explosivas ações concêntricas;

A primeira fase é o pré-estiramento ou

ação muscular excêntrica. Aqui, a energia

elástica é gerada e armazenada;

A segunda fase é o período entre o fim do

pré-estiramento e do início da ação

muscular concêntrica, fase de amortização. Quanto menor esta fase, mais poderosa será a

subsequente contração do músculo. A terceira e última fase é a contração real do músculo,

que corresponde ao salto (ou lançamento).

Papéis dos músculos desempenham no movimento

Agonistas: São os músculos principais que

ativam um movimento específico do corpo,

contraindo ativamente para criar o movimento

desejado. Ex: agarrar uma chave sobre a mesa,

agonistas são os flexores dos dedos.

b) Antagonistas: Músculos que se opõem à ação

dos agonistas, quando o agonista se contrai, o

antagonista relaxa progressivamente, produzindo

um movimento suave. Ex: os antagonistas são os

extensores dos dedos.

d) Fixadores: Estabilizam a articulação e a

origem do agonista de modo que ele possa agir

mais eficientemente. Estabilizam a parte

proximal do membro quando move-se a parte

distal.

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F – ORGANIZAÇÃO GERAL E CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS MÚSCULOS DO TRONCO

Músculos da camada profunda da região posterior do tronco

Músculos da camada superficial da região posterior do tronco

Músculos da região lateral do pescoço

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Músculos do tórax

Paredes musculares da cavidade abdominal

Músculos da parede posterior do abdómen

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Músculos da parede antero-lateral do abdómen

G – ORGANIZAÇÃO GERAL E CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO

SUPERIOR

Músculos cintura escapular

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Músculos do braço – região anterior

Músculos do braço – região posterior

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Regiões musculares do antebraço – Antero-interna

Regiões musculares do antebraço – Postero-externa

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27

Regiões musculares da mão

H – ORGANIZAÇÃO GERAL E CARACTERIZAÇÃO DOS PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO

INFERIOR

Músculos superficiais e profundos da bacia

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28

Músculos da coxa – região anterior

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Músculos da coxa – região posterior – “hamstrings”

Músculos da coxa – região interna

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30

Músculos da perna – região anterior

Músculos da perna – região posterior

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Músculos da perna – região externa

Regiões musculares do pé –superficiais