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Petição inicial - Saúde DPU

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PAJ 2015/016-11969

EXCELENTSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL DA SEO JUDICIRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

URGENTE TUTELA DE SADE

MARIA EDUARDA DE CARVALHO LOBO, brasileira, solteira, menor de idade (nascida em 01/06/2015), portadora da carteira de identidade n 318819992, DETRAN/RJ, sem inscrio no CPF, residente e domiciliada PC DA APRESENTAO 298, TRAVESS 11, Rio de Janeiro - RJ, CEP 21.231-220, telefones: (21) 97951-2133 / (21) 3228-4488, representada neste ato por sua me AGNES TAS NOGUEIRA DE CARVALHO, brasileira, solteira, portadora da carteira de identidade n 107919342, DETRAN/RJ, e inscrita no CPF sob o n 074.720.247-83, vem perante Vossa Excelncia, por intermdio da Defensoria Pblica da Unio, com fulcro no art. 461, 3 e 4 do Cdigo de Processo Civil, propor:

AO DE OBRIGAO DE DARCOM PEDIDO DE ANTECIPAO DA TUTELA

em face da UNIO FEDERAL, com sua procuradoria localizada na Avenida Rio Branco, n 126, 6 andar, Centro, Rio de Janeiro-RJ, do ESTADO DO RIO DE JANEIRO, com sua procuradoria localizada na Rua Dom Manuel, n 25, Centro, Rio de Janeiro e do MUNICPIO DO RIO DE JANEIRO, com sua procuradoria localizada na Travessa do Ouvidor, n 04, Centro, Rio de Janeiro-RJ, pelos fatos e fundamentos jurdicos que passa a expor.

I DA GRATUIDADE DE JUSTIA

Inicialmente, afirma, em documento em anexo, sob as penas da Lei e de acordo com o art. 4 da Lei n 1.060/50, com redao dada pela Lei n 7.510/86, que no se acha em condies econmicas de arcar com as custas judiciais, bem como com os honorrios advocatcios, sem prejuzo de seu prprio sustento e de sua famlia, razo pela qual faz jus ao benefcio da gratuidade de justia, indicando a Defensoria Pblica da Unio para o patrocnio de seus interesses.

II - DA INTIMAO PESSOAL DO DEFENSOR PBLICO DA UNIO E DA CONTAGEM EM DOBRO DOS PARZOS PROCESSUAIS

A autora est sob o plio da Defensoria Pblica da Unio, rgo federal com finalidade constitucional de assistncia jurdica integral e gratuita aos comprovadamente necessitados.

Para exercer tal mister com qualidade e presteza inerentes ao servio pblico, a Lei complementar 80/94, em seu art. 44, conferiu prerrogativas funcionais aos membros da Defensoria Pblica da Unio, dentre elas a intimao pessoal em qualquer processo e grau de jurisdio, bem como a contagem em dobro dos prazos.

Assim sendo, as intimaes devero ser feitas Defensoria Pblica da Unio, na Rua da Alfndega, n 70, Centro, Rio de Janeiro - RJ, CEP: 20070-004.

III - DOS FATOS A autora nasceu com mielomeningocele, que uma malformao do sistema nervoso central provocado por um defeito no fechamento do tubo neural. Esta malformao est associada a sequelas neurolgicas graves causando alterao de vrios rgos e nos sistemas neurolgico, msculo-esqueltico, gastro-intestinal e urinrio. A autora foi diagnosticada com as seguintes enfermidades: Mielomeningocele, Hidrocefalia com derivao ventrculo-peritoneal, Bexiga neurognica e Intestino neurognico CID Q03.9 Hidrocefalia congnita no especificada + Q06.9 Mal formao congnita no especificada da medula espinhal + Q74 Outras malformaes congnitas dos membros + N31.8 Outra disfuno neuromuscular da bexiga. Nesse sentido, necessita EM CARTER DE EXTREMA URGNCIA dos seguintes medicamentos e insumos para seu tratamento:

Material necessrio para a realizao do cateterismo intermitente por ms - 120 cateteres uretrais 6 FR e 2 Pomadas anestsicas (Lidocana gel 2%);

Tratamento medicamentoso da bexiga neurognica por ms - Cloridrato de Oxibutinina )1mg/ml) 1 vidro/ms;

Cuidado dirio - 180 fraldas descartveis tamanho M infantil/ms.

Movida por essa situao e com o risco de agravamento do seu quadro clnico pela falta de tratamento adequado, a requerente, representada por sua me, solicitou a assistncia dessa Defensoria Pblica da Unio a fim de obter, dos Entes Federativos, o fornecimento da medicao indispensvel ao pleno exerccio do direito fundamental sade e vida, visto que no o fizeram voluntariamente. Diante do contexto, os rus devem ser condenados ao fornecimento do medicamento prescrito como nica e ltima indicao teraputica a autora diante de seu quadro clnico peculiar, de forma contnua e na dosagem que necessitar, sendo este indispensvel para o tratamento e controle da patologia que acomete e ameaa a demandante.

V. DOS FUNDAMENTOS

1. DO DIREITO FUNDAMENTAL SADEA Constituio da Repblica assegura a todos o direito vida, bem como sade, conforme consignado no artigo 196 da Carta Magna:

"Art. 196 - A sade direito de todos e dever do estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao."Esse dispositivo constitucional atribui ao Estado o dever de realizar quaisquer medidas necessrias para prestao da sade populao, atravs de prestaes positivas do ente pblico. Nesse sentido, discorre o Professor Luis Roberto Barroso:

Aqui, ao contrrio da hiptese anterior, o dever jurdico a ser cumprido consiste em uma atuao efetiva, na entrega de um bem ou na satisfao de um interesse. Na Constituio de 1988, so exemplos dessa espcie os direitos proteo da sade (art.196) ...

A norma transcrita enuncia direito subjetivo do particular correspondente a um dever jurdico estatal. , na classificao da doutrina constitucionalista, norma de eficcia plena e aplicabilidade imediata, conforme disposto no art. 5, 1, da CRFB/88, independendo assim de qualquer ato legislativo, aguardando-se to-somente a sua efetivao pela Administrao Pblica.Nesse particular tambm oportuno colao de trecho da obra supra citada:

, contudo, no tocante s normas definidoras de direitos que a questo da efetividade das normas constitucionais, por sua aplicao direta e imediata, se torna mais relevante...

Mais especificamente, enuncia o art. 198 da Carta Magna, as diretrizes que norteiam atuao do Estado na efetivao do acesso ao servio de sade, dentre as quais destaca-se a contida no inciso II:Artigo 198 (...) II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuzo dos servios assistenciais." (grifamos).Da mesma forma a Lei no 8.080/90 estabelece o dever do Estado de prover e assegurar a sade, conforme o seu artigo 2. in verbis:

Art. 2 - A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno exerccio.

de se observar, por derradeiro, que a Lei n 8080/90 em seu artigo 6, preceitua que o direito vindicado na presente demanda est no campo de atuao do Sistema nico de Sade, seno vejamos:Artigo 6 - Esto includas ainda no campo de atuao do Sistema nico de Sade (SUS) a execuo de aes:d) de assistncia teraputica integral, inclusive farmacutica;" (grifamos)

Por fim, ressalta-se o entendimento jurisprudencial para a concesso de medicamentos por parte do Estado a cidado na condio de hipossuficincia, como se pode observar adiante:

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DIREITO SADE. PRELIMINAR AFASTADA. RECURSOS INOMINADOS DOS RUS IMPROVIDOS. RECURSO: 05000861520154058308. RELATOR: FREDERICO AUGUSTO L. KOEHLER. rgo Julgador: Segunda Turma. Deciso: 28/05/2015. Publicao: 29/05/2015. Trata-se de recurso inominado interposto pelo Estado de Pernambuco e pelo Municpio de Petrolina em face de sentena que julgou procedente o pedido contido na inicial, para "fornecer o medicamento deCINACALCETE30mg, 60 comprimidos por ms, durante trs meses, ao autor, consoante a indicao mdica, caber ao ru ESTADO DE PERNAMBUCO (Secretaria de Sade), permanecendo com a r UNIO a obrigao de custeio, sem prejuzo da natureza solidria da obrigao entre esses entes e o ru MUNICPIO DE PETROLINA e de posteriores compensaes acaso devidas entre os corresponsveis.". - Desde logo, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva aventada pelo Municpio de Petrolina, a qual se confunde com o prprio meritum causae, por considerar que o direito sade, assegurado pela Constituio Federal em seus art. 194, 195 e 196, dever de todos os entes federativos, solidariamente, sendo este o entendimento pacfico dos tribunais ptrios. Ademais, a prpria Lei n 8.080/90, que dispe sobre o Sistema nico de Sade (SUS), previsto, em seu art. 4, a participao de todas as esferas do governo - Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios. Feitas tais consideraes, passo ao exame do mrito. - Com efeito, diferentemente do alegado, no h que se falar em ingerncia do Poder Judicirio no mbito de competncia do Executivo e do Legislativo na regulamentao, fiscalizao e controle das aes e servios de sade de relevncia pblica, aplicando de maneira direta e imediata o preceito que positiva o direito sade. - Ora, no se pode perder de vista que, no atual regime constitucional, sempre que a Constituio define um direito fundamental ele se torna exigvel, inclusive mediante ao judicial. - Portanto, estando positivada a regra consagradora da aplicabilidade imediata das normas que definem os direitos e garantias fundamentais (art. 5, 1, da CF), cabe ao Poder Judicirio defender a efetividade desses direitos, autorizando tal Poder a assegurar, no caso concreto, o seu efetivo gozo, com base no art. 5, inc. XXXV, da CF (inafastabilidade do controle judicirio), ainda que isso implique em alocao de recursos pblicos. Neste sentido, colaciono a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal: "No obstante a formulao e a execuo de polticas pblicas dependam de opes polticas a cargo daqueles que, por delegao popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer que no se revela absoluta, nesse domnio, a liberdade de conformao do legislador, nem a de atuao do Poder Executivo. que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazovel ou procederem com a clara inteno de neutralizar, comprometendo-a, a eficcia dos direitos sociais, econmicos e culturais, afetando, como decorrncia causal de uma injustificvel inrcia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele ncleo intangvel consubstanciador de um conjunto irredutvel de condies mnimas necessrias a uma existncia digna e essenciais prpria sobrevivncia do indivduo, a, ento, justificar-se-, como precedentemente j enfatizado e at mesmo por razes fundadas em um imperativo tico-jurdico , a possibilidade de interveno do Poder Judicirio, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruio lhes haja sido injustamente recusada pelo Estado." (ADPF 45, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 04/05/04 - grifei). - Argumenta-se, ainda, ser necessria a observncia reserva do possvel, isto , disponibilidade financeira, por parte do Estado, para implemento das prestaes materiais relativas aos direitos sociais, como o caso dos autos, que o direito sade. - Contudo, a ausncia de recursos no pode ser confundida com a m gesto do dinheiro pblico, de modo que a alegao estatal da reserva do possvel somente poderia ser aceita caso o Estado demonstrasse, satisfatoriamente, a eficincia da administrao pblica (o que pressupe a maximizao dos recursos), a efetiva indisponibilidade total ou parcial de recursos e o no desperdcio dos recursos existentes. - Por outro lado, inconcebvel utilizar-se a Teoria da Reserva do Possvel a fim de desonerar o Poder Pblico do cumprimento de suas obrigaes constitucionais, principalmente aquelas que dizem respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, no sendo razovel, do mesmo modo, utilizar-se do argumento de ofensa ao princpio da isonomia. Nesta mesma direo, colaciono julgados do STJ: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - VIOLAO DO ART. 535 DO CPC - INEXISTNCIA. - FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS - ART. 461, 5, DO CPC - BLOQUEIO DE VALORES PARA ASSEGURAR O CUMPRIMENTO DA DECISO JUDICIAL - POSSIBILIDADE. 1. Inexiste omisso capaz de ensejar a ofensa ao art. 535 do CPC se o Tribunal de origem examina, ainda que implicitamente, a questo dita omissa. (...) 4. Tem prevalecido no STJ o entendimento de que possvel, com amparo no art. 461, 5, do CPC, o bloqueio de verbas pblicas para garantir o fornecimento de medicamentos pelo Estado. 5. Embora venha o STF adotando a "Teoria da Reserva do Possvel" em algumas hipteses, em matria de preservao dos direitos vida e sade, aquela Corte no aplica tal entendimento, por considerar que ambos so bens mximos e impossveis de ter sua proteo postergada. (RECURSO ESPECIAL - 784241, Ministra Relatora Eliana Calmon, STJ, Segunda Turma, DJE DATA:23/04/2008). ADMINISTRATIVO - CONTROLE JUDICIAL DE POLTICAS PBLICAS - POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS - DIREITO SADE - FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS - MANIFESTA NECESSIDADE - OBRIGAO DO PODER PBLICO - AUSNCIA DE VIOLAO DO PRINCPIO DA SEPARAO DOS PODERES - NO OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSVEL AO MNIMO EXISTENCIAL. (REsp 771.537/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 3.10.2005). Agravo regimental improvido. (AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - 1136549, Ministro Relator Humberto Martins, STJ, Segunda Turma, DJE DATA:21/06/2010). - Pelos motivos expostos, tambm no prevalece o argumento de que, no estando os medicamentos em questo includos em listagem de medicamentos disponibilizados pelo SUS (Portaria GM n 2981/2009), seria indevida a imputao de obrigao: PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. INEXISTNCIA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. DIREITO SADE E VIDA. 1. Sendo o SUS composto pela Unio, Estados e Municpios, solidria a responsabilidade dos trs entes federativos. Sendo assim, a Unio parte legtima para figurar no plo passivo da lide; 2. obrigao do Estado garantir a sade dos cidados, competindo-lhe proporcionar o tratamento mdico adequado, bem como fornecer os medicamentos excepcionais, ainda que no constantes da lista do SUS; (AC - Apelao Civel - 464905. Relator Desembargador Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima. DJ - Data:17/07/2009 - Pgina:290 - N:135) - In casu, bem destacou o magistrado singular: "(...) Na espcie, o autor foi submetido percia mdica, tendo o expert concludo que: 5. "DISCUSSO E CONCLUSO: O periciando portador de insuficincia renal crnica diagnosticada em agosto de 2009, desde abril de 2010 realizando hemodilise. No momento apresenta hiperpatireoidismo secundrio insuficincia renal crnica (IRC), evoluindo com hiperfosfatemia, hipercalcemia e elevados nveis de fosfatase alcalina, no controlados por medidas convencionais (dieta e medicamentos usuais). Apesar de a paratireoidectomia (retirada cirrgica das glndulas paratireides) ser uma opo teraputica nestes casos, no se aplica ao caso do periciando, pois este teve o procedimento contra-indicado por motivo de risco cirrgico cardiovascular aumentado. Desta forma, resta ao periciando a opo teraputica do uso da medicaoCINACALCETEde forma continuada. Esta medicao controla os nveis sricos do paratormnio e, por conseguinte do clcio srico, prevenindo deformidades sseas, fraturas e melhora da sobrevida global do periciando, sendo uma medicao de benefcio comprovado por estudos cientficos, reconhecida e liberada para uso pela ANVISA (doc. 29). No mais, apresenta complementao do laudo nos seguintes termos: Em resposta aos questionamentos da Advocacia-Geral da Unio, esclareo que o periciando portador de Hiperparatireoidismo secundrio a insuficincia renal e encontra-se em dilise, estando entre as trs situaes as quais a ANVISA a prova o uso do medicamento MIMPARA para transtornos da tireide. (doc. 35). Diante do exposto, friso que, como auxiliar do Juzo, o Perito imparcial. (...)" - Diante do contexto apresentado, devida a manuteno da sentena em todos os seus termos. (...) Insta acentuar, por fim, que os embargos de declarao no se prestam para reanlise de pedidos j decididos. - Recursos improvidos. Sentena mantida por seus prprios fundamentos. - Ressalte-se que caber ao JEF, nos termos do art. 52, da Lei n 9.099/95, processar o cumprimento da sentena. - Honorrios advocatcios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa para cada um dos rus. ACRDO Decide a 2 Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de Pernambuco, unanimidade, NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS INOMINADOS DO ESTADO DE PERNAMBUCO E DO MUNICPIO DE PETROLINA. Recife, data da movimentao. Frederico Augusto Leopoldino Koehler Juiz Federal Relator, (grifos nossos)

2. DO PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A Carta Magna instituiu o Princpio da Dignidade da Pessoa Humana como direito fundamental, em seu artigo 1, inciso III, a seguir transcrito:

Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: (...)III - a dignidade da pessoa humana.

Tamanha a sua importncia que a Constituio o tem como fundamento do prprio ordenamento jurdico, objetivando construir sua organizao poltico-administrativa com base no nesse princpio, o qual se configura como pilar de sustentao de todos os outros princpios jurdicos.A noo de Dignidade da Pessoa Humana exsurge como critrio de definio do mbito de prestaes jus-fundamentais. Segundo o ilustre jurista Ingo Sarlet a noo de que a pessoa humana dotada de uma dignidade, de uma autonomia transcendente, encontra seu bero no pensamento clssico onde se achava ligada noo de cidadania, de status social (dignitas) e na doutrina crist que, reconhecendo a dignidade como dado distintivo de toda a pessoa (aquele que fala por si mesmo, que autnomo) em relao s demais criaturas, lanou as bases para a compreenso atual deste conceito.Acerca da definio do conceito de Dignidade da Pessoa Humana, vale destacar a lio:...Uma outra dimenso intimamente associada ao valor da dignidade da pessoa humana consiste na garantia de condies justas e adequadas de vida para o indivduo e sua famlia, contexto no qual assumem relevo de modo especial os direitos sociais ao trabalho, a um sistema efetivo de seguridade social, em ltima anlise, proteo da pessoa contra as necessidades de ordem material e assegurao de uma existncia com dignidade. (grifamos)(in Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituio de 1988, Editora Livraria do Advogado, Porto Alegre, 2001, pgs. 107 e 108).

O Superior Tribunal de Justia decidiu o RMS 24197 / PR no dia 24/8/2010 acerca da defesa da Dignidade da Pessoa Humana:

1. A ordem constitucional vigente, em seu art. 196, consagra o direito sade como dever do Estado, que dever, por meio de polticas sociais e econmicas, propiciar aos necessitados no "qualquer tratamento", mas o tratamento mais adequado e eficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e menor sofrimento.2. Sobreleva notar, ainda, que hoje patente a idia de que a Constituio no ornamental, no se resume a um museu de princpios, no meramente um iderio; reclama efetividade real de suas normas. Destarte, na aplicao das normas constitucionais, a exegese deve partir dos princpios fundamentais, para os princpios setoriais. E, sob esse ngulo, merece destaque o princpio fundante da Repblica que destina especial proteo a dignidade da pessoa humana. (grifamos)

Dessa forma, fcil perceber que a presente ao visa apenas obter dos Entes Pblicos aes positivas a fim de restaurar a dignidade humana da autora, que pretende to somente ter meios de cuidar de sua sade, para que lhe seja assegurado o direito de viver.Assim est fundamentado o pedido autoral, que possui amplo respaldo do ordenamento jurdico brasileiro.

3. DA RESPONSABILIDADE SOLIDRIA DOS ENTES FEDERATIVOSInfelizmente, nesse tipo de demanda, no raro que as alegaes do Estado e do Municpio, ora segundo ru e terceiro ru, para acobertar a falta de atendimento populao, sejam de que certos remdios no constam nas suas respectivas grades de medicamentos, regulados por meras portarias.Ora, direito constitucional a prestao e o atendimento integral sade da populao, conforme preceitua o artigo 198 da Carta Magna de 1988.No tocante hierarquia das leis deve-se observar o Princpio da Supremacia da Constituio, que orienta que os textos de hierarquia constitucional prevalecem sobre os infraconstitucionais quando estes coexistem, logo, normas inferiores, mormente portarias, no tm o condo de afastar a disposio constitucional.J a Unio, primeiro ru, foge responsabilidade geralmente alegando no ter legitimidade para figurar no plo passivo das demandas de fornecimento de medicamentos, ocorre que alm dos dispositivos pertinentes na Constituio Federal de 1988 (art. 196 c/c 198), h farta jurisprudncia que afirma serem todos os entes federativos responsveis SOLIDARIAMENTE pela prestao da assistncia sade. Vejamos abaixo: O Superior Tribunal de Justia, ao julgar o Agravo Regimental no Recurso Especial n. 1163188/SC, em 15/06/2010, salientou que:

Ainda que considerado o prequestionamento implcito, o acrdo recorrido est em consonncia com o entendimento jurisprudencial do STJ no sentido de que o fornecimento de medicamentos para as situaes de exceo deve ser coordenado entre as trs esferas polticas: Unio, Estado e Municpio, no sendo permitido, dado o texto constitucional, imputar responsabilidade a apenas um dos operadores. (grifamos)Outro julgado no mesmo sentido do Superior Tribunal de Justia, ao julgar o Agravo regimental no Recurso Especial n. 1136549 / RS, publicado em 21/06/2010, afirmou que: ADMINISTRATIVO CONTROLE JUDICIAL DE POLTICAS PBLICAS POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS DIREITO SADE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS MANIFESTA NECESSIDADE OBRIGAO DO PODER PBLICO AUSNCIA DE VIOLAO DO PRINCPIO DA SEPARAO DOS PODERES NO OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSVEL AO MNIMO EXISTENCIAL.1. No podem os direitos sociais ficar condicionados boa vontade do Administrador, sendo de fundamental importncia que o Judicirio atue como rgo controlador da atividade administrativa. Seria uma distoro pensar que o princpio da separao dos poderes, originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como bice realizao dos direitos sociais, igualmente fundamentais.2. (...)3. In casu, no h empecilho jurdico para que a ao, que visa a assegurar o fornecimento de medicamentos, seja dirigida contra o municpio, tendo em vista a consolidada jurisprudncia desta Corte, no sentido de que "o funcionamento do Sistema nico de Sade (SUS) de responsabilidade solidria da Unio, Estados-membros e Municpios, de modo que qualquer dessas entidades tm legitimidade ad causam para figurar no plo passivo de demanda que objetiva a garantia do acesso medicao para pessoas desprovidas de recursos financeiros" (texto extrado do REsp 771.537/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 3.10.2005). (grifamos)As decises do Superior Tribunal de Justia continuam no mesmo sentido em publicao do dia 1/9/2010, em julgamento do AgRg no REsp 1159382 / SC:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. RESPONSABILIDADE SOLIDRIA DOS ENTES FEDERATIVOS. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.1. ()2. O entendimento majoritrio desta Corte Superior no sentido de que a Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios so solidariamente responsveis pelo fornecimento de medicamentos s pessoas carentes que necessitam de tratamento mdico, o que autoriza o reconhecimento da legitimidade passiva ad causam dos referidos entes para figurar nas demandas sobre o tema.3. Agravo regimental no provido. (grifamos)

VI. DA ANTECIPAO DE TUTELA (ART. 461, 3 E 4, DO CPC)

permitido ao juiz o deferimento de tutela antecipatria para garantir a tutela da sade e da vida, nos termos do artigo 461, 3, do Cdigo de Processo Civil. Este dispositivo confere autora o poder de requerer deciso e meio executivo idneo tutela jurisdicional do direito.A verossimilhana da pretenso autoral est demonstrada no s pela narrativa dos fatos, mas tambm pela documentao acostada (laudos mdicos e receiturios) consistente em prova inequvoca do direito da parte, posto que resta comprovada a necessidade do fornecimento do medicamento como nico para o tratamento da doena no caso concreto e manuteno da prpria sade.Todos os brasileiros possuem direito a assistncia sade que deve ser prestado pelos rgos pblicos, cabendo aos litigantes to somente a demonstrao de sua falta e consequente supervenincia de mazelas fsicas e psquicas alm das sociais, j suportadas.O dano irreparvel deflui inexoravelmente da natureza da pretenso, posto que a autora tem urgncia em obter o referido medicamento, sob perigo de agravamento de seu estado de sade, podendo vir a causar um dano maior. Os documentos em anexo relatam a doena da autora e a necessidade de obteno imediata do medicamento requerido, que imperioso para a manuteno de uma vida digna e, relativamente, saudvel. Impe-se, assim, a concesso da tutela de urgncia, porquanto presentes os requisitos do art. 273 e 461, 3o do CPC, uma vez que trata-se da vida e sade da parte autora, devendo, o medicamento de que necessita a demandante para seu tratamento de sade, ser fornecido continuamente e por prazo indeterminado. importante salientar que a tutela antecipada tem que ser prestada de forma clere e eficaz, reparando de forma imediata a leso aos direitos causados pela ao ou omisso do Poder Pblico.O direito a sade e a dignidade da pessoa humana devem ser garantidos pelo Poder Judicirio, no podendo ser ignorados diante do mero interesse secundrio da Administrao Pblica na incidncia do sistema de precatrios. O suposto interesse pblico no pode ser levado ao extremo de impedir que a autora tenha acesso aos recursos necessrios para a manuteno de sua sade, fragilizada por uma srie de patologias.

Observemos os seguintes precedentes acerca do tema:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. ARTS. 461, 5, E 461-A DO CPC. BLOQUEIO DE VALORES. POSSIBILIDADE.1. possvel o bloqueio de verbas pblicas e a fixao de multa (astreintes) para garantir o fornecimento de medicamentos pelo Estado.2. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1058836/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 01.09.2008)

Nesse contexto, imprescindvel que se determine aos rus, por meio de antecipao de tutela, a obrigao de propiciar as condies necessrias para a melhora da requerente.

VII. DOS PEDIDOS

Dessa forma, requer a V. Exa. o seguinte:

a) a concesso do benefcio da gratuidade de justia, na forma do artigo 4 da Lei n 1.060/50, por ser a autora hipossuficiente, na acepo jurdica do termo;

b) a citao e intimao dos rus, UNIO FEDERAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO e MUNICPIO DO RIO DE JANEIRO para responder aos termos do presente, apresentado, conforme art. 11, da Lei n 10.259, toda a documentao que disponha para o esclarecimento da situao, sob pena de revelia;

c) deferimento da antecipao dos efeitos da tutela, para determinar que os rus propiciem as condies necessrias para a melhora da autora, determinando que seja desde j concedido o fornecimento dos medicamentos/insumos a seguir descritos: 120 (cento e vinte cateteres uretrais 6 FR (por ms), 2 (duas) Pomadas anestsicas (Lidocana gel 2%) (por ms), Cloridrato de Oxibutinina (1mg/ml) (1 vidro por ms) e 180 fraldas descartveis tamanho M infantil (por ms), podendo estas quantidades e especificaes serem aumentadas e/ou modificadas, conforme prescrio mdica, de acordo com a evoluo clnica do tratamento de suas patologias, no prazo mximo de 5 (cinco) dias;

d) que seja julgado procedente o pedido autoral, com a confirmao da antecipao dos efeitos da tutela;

e) a fixao de multa diria no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), no caso de descumprimento da deciso, nos termos dos arts. 287 e 461 pargrafo 4 do CPC;

f) caso os Rus da presente ao no forneam a prestao pretendida, e no disponibilizem os valores necessrios obteno na rede privada, requer o SEQUESTRO de verbas pblicas, em carter de urgncia, suficientes para financiar o tratamento da Autora, conforme entendimento jurisprudencial consolidado;

g) a intimao pessoal, nos termos do art. 44, I da LC 80/94;

h) condenao da r nas custas e honorrios advocatcios, estes a serem revertidos Defensoria Pblica da Unio.

Protesta por todos os meios de provas em Direito admitidos.

D-se a causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 25 de Setembro de 2015.

ERALDO SILVA JNIOR DEFENSOR PBLICO FEDERAL

Jimmi Austin Arago MartinsEstagirio DPU/RJ