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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ
Promotoria de Justiça de Família de Belém
Processo nº ________-14.2014.8.14.0301
Protocolo MP ________-003/2014
Autos Cíveis de Ação de Conversão de Separação Judicial em Divórcio
Requerentes(s): M B S e J E DOS P C
MM. Juiz (a):
Tratam os presentes autos de Ação de Conversão de Separação Judicial em
Divórcio, requerida por M B S e J E DOS P C, já qualificados nos autos.
Narra a inicial que a separação judicial do casal foi decretada em 19 de agosto
de 2008 (Proc. 2008.1.056.730-3), bem como foram cumpridas todas as condições
estabelecidas.
Após vieram os autos a esta Promotoria de Justiça para exame e manifestação.
Consoante dispõe o artigo 25 da Lei n. 6.515/77, “a conversão em divórcio da
separação judicial dos cônjuges existente há mais de um ano, contada da data da decisão ou da
que concedeu a medida cautelar correspondente (art. 8º), será decretada por sentença, da qual
não constará referência à causa que a determinou”.
Com as recentes alterações da Constituição Federal, através da emenda 66, de
13 de julho de 2010, na última edição de sua obra, Cahali1, passou asseverar, com apoio em
inúmeros outros estudiosos, que a emenda constitucional nº 66 extinguiu a modalidade de
divórcio por conversão, mesmo para aqueles que já estão na condição de “separados
judicialmente”. Ressalta o mestre, no entanto, que este “divórcio direto” precedido de separação
judicial possui “algumas particularidades a serem observadas”, verbis:
“Entretanto, se almejam a desconstituição do vínculo, o divórcio direto agora
pretendido oferece algumas particularidades a serem observadas: já coberta
pela coisa julgada formal a dissolução da sociedade conjugal, operando o
efeito preclusivo máximo quanto aos direitos e obrigações reciprocamente
antes assumidas ou estipuladas, a ação deveria, a rigor, restringir-se ao
desfazimento do casamento; mesmo quanto às estipulações si et in quantum,
passíveis, por natureza, de serem modificadas, a sua modificação somente
poderia ser admitida se fundamentada em motivos supervenientes...”
Data venia, este representante do Ministério Público não consegue alcançar a
diferença do divórcio conversão para este divórcio direto que possui “algumas
particularidades”. Não seria a mesma coisa? É indiscutível que o nome da ação não delimita sua
natureza, então que diferença existira em chamar de divórcio “direto” quando se apregoa que
deve ele respeitar o estabelecido na separação judicial, exatamente igual ao divórcio por
conversão...
Melhor raciocínio parece provir de Rodrigo da Cunha Pereira2, citado pelo
próprio Cahali, que leciona que caso os separados judicialmente queiram se divorciar “poderão,
excepcionalmente, converter tal separação em divórcio ou simplesmente promover ação de
divórcio, o que na prática é a mesma coisa”.
1 Separações Conjugais e Divórcio. 12ª edição, editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2011, p. 910/912 e 994/995.. 2 Obra cit. logo acima, p. 910.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ
Promotoria de Justiça de Família de Belém
Trilhando o mesmo caminho, a professora Regina Beatriz Tavares da Silva3
leciona que “no que toca às pessoas já separadas antes do advento da EC nº 66/2010 e àquelas
que passaram a ter esse estado civil após essa Emenda, deve-se garantir o procedimento
conversivo, sob pena de, no primeiro caso, ser simplesmente apagado o que foi estabelecido na
separação, em prejuízo de uma das partes, dos filhos e de terceiros”.
Também o Conselho Nacional de Justiça, ao alterar a Resolução nº 35/2007
para adaptá-la à emenda constitucional já mencionada, manteve a possibilidade de conversão.
Em consonância com esta conclusão, a jurisprudência dos tribunais vêm
reconhecendo a permanência da conversão da separação judicial em divórcio, verbis:
“Embora a alteração conferida pela Emenda Constitucional nº 66 de 13.07.10,
que permite o divórcio direto tenha aplicabilidade imediata, deve-se respeitar
o ato jurídico perfeito, por conseguinte, quando há sentença transitada em
julgado que declara a separação, pode ocorrer a conversão em divórcio, mas
não de forma automática.” (Processo nº 2010.01.1.142036-0 (531291), 5ª
Turma Cível do TJDFT, Rel. Romeu Gonzaga Neiva. unânime, DJe
31.08.2011).
“Repele-se assertiva de impossibilidade jurídica do pedido, pois, no caso em
tela, o Autor, ora Apelado, postula a conversão da separação judicial em
divórcio, pleito que, além de não se encontrar vedado pelo ordenamento
jurídico pátrio, tem respaldo legal.” (Processo nº 2007.06.1.005692-4
(491988), 1ª Turma Cível do TJDFT, Rel. Flavio Rostirola. unânime, DJe
31.03.2011).
O que muda, após a reforma constitucional, é a exigência de prazo para a
conversão, que deixa de existir, nada mais. Exige-se agora, para o divórcio dos separados
judicialmente apenas a manifestação de vontade, ou seja, “a partir de 14 de julho de 2010, data
da publicação da emenda nº 66, quem tiver pedido a separação judicial ou estiver cumprindo o
chamado período de ‘pedágio’ para pedir o divórcio fica livre das restrições que vinham
vigorando” ( Ozéias J. Santos, Divórcio Constitucional, Syslook editora, Petrópolis-RJ, 2010, p.
46).
É o caso dos autos. As partes já estão separadas e todas as cláusulas
estabelecidas na respectiva transação devem ser mantidas.
Resta tão somente a necessidade de romper definitivamente o vínculo gerado
com o matrimônio, o que é hoje tido como direito potestativo de ambas as partes.
ANTE O EXPOSTO, o Ministério Público se manifesta pelo DEFERIMENTO
DO PEDIDO e DECRETAÇÃO DO DIVÓRCIO.
Belém-PA, 23 de maio de 2014.
ALEXANDRE BATISTA DOS SANTOS COUTO NETO
5º Promotor de Justiça de Família de Belém
3 Divórcio e Separação 2ª edição. Editora Saraiva, São Paulo, 2012, p. 197.