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MINISTÉRIO PÚBICO DO ESTADO DE MATO GROSSO 36ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Cuiabá Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA VARA ESPECIALIZADA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO POPULAR DE CUIABÁ-MT SIMP nº 000077-023/2019 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO , pelos Promotores de Justiça subscritores, no exercício de suas atribuições legais e constitucionais, em especial a estampada no 127 e 129 da Constituição da República, Lei nº 7.347-1985, e com suporte probatório nos autos de notícia de fato acima apontada e cujos documentos discriminados no bojo da presente instruem estes autos PJE, dirige-se a esse r. juízo e Vossa Excelência, para propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR E OUTROS contra o ESTADO DE MATO GROSSO, pessoa jurídica de direito público interno, representada por seu Procurador-Geral do Estado, com endereço na Avenida República do Líbano, n.° 2258, Bairro Jardim Monte Líbano, Cuiabá-MT, CEP 78.048-196, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MATO GROSSO, órgão público do Estado de Mato Grosso, pela Messa Diretora, sem personalidade jurídica, porém com personalidade judiciária na defesa de suas prerrogativas, representado por seu Presidente, com endereço na Avenida André Antônio Maggi, n.º 06, Centro Político Administrativo, Cuiabá-MT, CEP 78.049-901, Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de Mato Grosso, MAURO MENDES FERREIRA brasileiro, casado, filho de Abadia Sena Mendes, inscrito no CPF sob o n.º 304.362.301-00, podendo ser localizado na Rua das Mangabas, Quadra 01, Lote 01 02 16 17 453, Alphaville - Cuiabá 2, em Cuiabá/MT, CEP 78061-320, ou quem estiver no exercício do cargo, Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, GONÇALO DOMINGOS DE CAMPOS NETO, brasileiro, filho de Nilda Godoy de Campos, inscrito no CPF sob o n.º 536.438.791-72, podendo ser localizado na Rua Marechal Severiano de Queiroz, n.º 480, apartamento 480, Cuiabá/MT, CEP 78043-372, ou quem estiver no exercício do cargo, e GUILHERME ANTÔNIO MALUF , brasileiro, casado, Deputado Estadual em SEDE DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DA CAPITAL, Av. Des. Milton Figueiredo Ferreira Mendes, s/nº, Setor "D", Centro Político Administrativo, CEP: 78049- 928, Cuiabá/MT. Telefone (65) 3611-0600 1

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MINISTÉRIO PÚBICO DO ESTADO DE MATO GROSSO36ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Cuiabá

Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO

DA VARA ESPECIALIZADA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO

POPULAR DE CUIABÁ-MT

SIMP nº 000077-023/2019

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO , pelos

Promotores de Justiça subscritores, no exercício de suas atribuições legais e

constitucionais, em especial a estampada no 127 e 129 da Constituição da

República, Lei nº 7.347-1985, e com suporte probatório nos autos de notícia de

fato acima apontada e cujos documentos discriminados no bojo da presente

instruem estes autos PJE, dirige-se a esse r. juízo e Vossa Excelência, para propor

a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE NULIDADE DE ATO JURÍDICO COM

PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR E OUTROS

contra o ESTADO DE MATO GROSSO, pessoa jurídica de direito público interno,

representada por seu Procurador-Geral do Estado, com endereço na Avenida República

do Líbano, n.° 2258, Bairro Jardim Monte Líbano, Cuiabá-MT, CEP 78.048-196,

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MATO GROSSO, órgão público do Estado de

Mato Grosso, pela Messa Diretora, sem personalidade jurídica, porém com

personalidade judiciária na defesa de suas prerrogativas, representado por seu

Presidente, com endereço na Avenida André Antônio Maggi, n.º 06, Centro

Político Administrativo, Cuiabá-MT, CEP 78.049-901,

Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de Mato Grosso, MAURO

MENDES FERREIRA brasileiro, casado, filho de Abadia Sena Mendes, inscrito no CPF sob

o n.º 304.362.301-00, podendo ser localizado na Rua das Mangabas, Quadra 01, Lote 01 02 16 17

453, Alphaville - Cuiabá 2, em Cuiabá/MT, CEP 78061-320, ou quem estiver no exercício do

cargo,

Excelentíssimo Senhor Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato

Grosso, GONÇALO DOMINGOS DE CAMPOS NETO, brasileiro, filho de Nilda Godoy

de Campos, inscrito no CPF sob o n.º 536.438.791-72, podendo ser localizado na Rua Marechal

Severiano de Queiroz, n.º 480, apartamento 480, Cuiabá/MT, CEP 78043-372, ou quem estiver

no exercício do cargo, e

GUILHERME ANTÔNIO MALUF, brasileiro, casado, Deputado Estadual em

SEDE DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DA CAPITAL, Av. Des. Milton Figueiredo Ferreira Mendes, s/nº, Setor "D", Centro Político Administrativo, CEP: 78049-928, Cuiabá/MT. Telefone (65) 3611-0600 1

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

Mato Grosso, filho de Janette Mutran Maluf e de José Mikail Maluf, portador da cédula

de identidade n. 0008504-3 expedida pela SSP IMT, inseri to no Cadastro de Pessoas

Físicas do Ministério da Fazenda sob o n. 314.450.471-87, residente na Rua Adel Maluf,

nº 109, Bairro Jardim Mariana, Cuiabá/MT, pelos seguintes fatos e fundamentos de

direito:

DOS FATOS

Cinge-se a presente ação a buscar, in limine, a suspensão da nomeação e posse do

deputado estadual GUILHERME ANTÔNIO MALUF, indicado pela Assembleia

Legislativa de Mato Grosso para a vaga de Conselheiro do Tribunal de Contas do

Estado de Mato Grosso, e, no mérito a NULIDADE DE SUA INDICAÇÃO e,

eventualmente, de SUA POSSE no referido cargo vitalício, em razão de não

preencher os requisitos traçados pela Constituição do Estado de Mato Grosso e

dispositivos similares da Constituição da República.

Pois bem.

A vaga supra foi disponibilizada para indicação da AL/MT após julgamento da

Ação Direta de Inconstitucionalidade 1 proposta pela Associação Nacional dos

Ministros e Conselheiros Substitutos dos Tribunais de Contas – Audicon - , em

razão de emenda a Constituição do Estado de Mato Grosso nº 61, de 13/07/2011,

que alterou a redação do inciso IV, do §1º, do art. 49 e aditou o art. 46-A no Ato

das Disposições Constitucionais Transitórias da Carta Maior Estadual.

Na ação supra, em 23/12/2014, “ad cautelam” o Ministro Ricardo Lewandowski,

suspendeu, com efeito “ex nunc”, a eficácia dos arts. 1º e 2º da Emenda

Constitucional 61; porém em razão da revogação dos dispositivos impugnados,

por meio da Emenda Constitucional Estadual nº 78/2017, o Supremo extinguiu a

ação de controle concentrado, conforme precedentes daquela corte.

1 http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=4812&processo=4812

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

Com o retorno do status a quo, a Assembleia Legislativa do Estado de Mato

Grosso abriu procedimento para o preenchimento da vaga retro.

Em 20/02/2019, veículos de comunicação noticiaram que, c om 13 votos favoráveis

e 8 contrários, o deputado estadual do PSDB, GUILHERME ANTÔNIO MALUF teve

seu nome avalizado para a vaga de Conselheiro do TCE/MT, dantes ocupada pelo

ex-deputado Humberto Bosaipo, conforme se vê da Resolução 6.253 da Mesa

Diretora, publicada em 21/02/2019 1, tendo sua indicação sido encaminhada para

a nomeação pelo Governador.

Contudo, é de conhecimento amplo e notório que em 17/08/2015 , o Grupo de

Atuação Especial contra o Crime Organizado - GAECO instaurou o Procedimento

Investigatório Criminal - PIC n. ° 07/2015/GAECO, que teve por objeto a apuração de

uma organização criminosa composta por particulares e agentes públicos destinada

à obtenção, em razão de função pública, de vantagens indevidas, que atuou, a

princípio, sobre contratos da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer

de Mato Grosso - SEDUC/MT, bem como a fraudou licitações, a princípio, da

SEDUC/MT.

As investigações da Operação Rêmora culminaram na dedução de denúncia cujo

dispositivo imputa 23 (vinte e três) crimes a GUILHERME ANTÔNIO MALUF e o

dá por incurso nas seguintes penas, conforme transcrição a seguir 2:

“incurso nas penas do art. 2°, caput, c.c. seu §§ 3° e 4°,II, ambos da Lei

n.º 12.850/2013 (fato 1); do art. 317, caput, por quatro vezes na

forma do art. 71, caput, ambos do Código Penal ( fato 3); do art. 317,

caput, por duas vezes na forma do art. 71, caput, ambos do Código

Penal (fato 7); do art. 317, caput, por duas vezes na forma do art. 71,

caput, ambos do Código Penal (fato 11); do art. 317, caput, por doze

vezes na forma do art. 69, caput, do Código Penal (fatos 2, 4, 5, 6, 8,

9, 10, 12, 13, 14, 16, 17); do art. 317, c.c. art. 14, 11, ambos do Código

Penal (fato 15); do art. 317, caput, por duas vezes na forma do art.

1 Diário oficial Eletrônico da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, Quinta-feira, 21 de Fevereiro de 2019 •ANO IV | N° 460 2 Vide denúncia juntada no PJE sob denominação “DENÚNCIA REMORA - GUILHERME MALUF E OUTROS - parte 1” a “DENÚNCIA REMORA - GUILHERME MALUF E OUTROS - parte 4”

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

70, caput, in fine, ambos do Código Penal (fato 18); do art. 317, caput,

por duas vezes na forma do art. 69, ambos do Código Penal (fatos 18

e 19); do art. 317, caput, por duas vezes na forma do art. 71, caput,

ambos do Código Penal (fato 20); do art. 317, caput, do Código Penal

(fato 21); do art. 2°, :"1°1, da Lei n. ° 12.850/2013, por duas vezes na

forma do art. 69 do Código Penal (fatos 22 e 23); todos combinados na

forma do art. 69 do Estatuto Penal”

O recebimento da denúncia se deu por unanimidade pelo pleno do Tribunal de

Justiça; inclusive com 9 (nove) votos a favor do afastamento do denunciado do

cargo – vide a Ação Penal nº 0128660-39.2017.8.11.0000.

Demais disso, também é de conhecimento púbico que o indicado é médico por

formação e não possui formação acadêmica ou experiência que lhe atribuam

notoriedade de conhecimento jurídico, contábil, econômico e financeiro ou de

administração pública e, ainda, não possui mais de dez anos de exercício de

função ou de efetiva atividade profissional que exija estes conhecimentos;

requisitos constitucionais para a nomeação, posse e exercício do cargo vitalicio de

Conselheiro do Tribunal de Contas.

Fonte: https://www.eleicoes2014.com.br/guilherme-maluf/

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

Aliás, durante os trabalhos de indicação e votação da Assembleia Legislativa do

MT, o próprio indicado afirmou o seguinte 1:

“Não sou detentor profundo de conhecimento jurídico e

orçamentário, mas reúno sim os quesitos necessários para ocupar

essa vaga”

Não bastassem as informações até aqui levadas ao conhecimento desse r. Juízo, o

deputado indicado e sabatinado pela AL-MT para o cargo de Conselheiro do TCE-

MT é alvo de processo no próprio Tribunal de Contas no qual almeja assento.

Na Representação de Natureza Interna, com pedido de medida Cautelar -

processo nº: 34.025-1/2018 do TCE-MT- figuram o Deputado Estadual Eduardo

Botelho, presidente da AL/MT e o indicado e nomeado para o cargo de

Conselheiro do TCE, enquanto 1º Secretário, Guilherme Antônio Maluf.

O processo analisa o Pregão Presencial nº 008/2018, Ata de Registro de Preços

nº 007/2018/ALMT e Contrato n 026/2018/SCCC/ALMT, firmado entre a

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso com o Consórcio BLOCKTRIA,

o TCE.

De antemão, o TCE visualizou sobrepreço na aquisição de solução integrada de

segurança de rede; assinalando que o valor obtido pela Assembleia, no Pregão nº

08/2018 seris 12 (doze) vezes maior do que o obtido pela equipe técnica,

caracterizando um potencial sobrepreço para 05 (anos) no valor de R$

45.747.390,56 (quarenta e cinco milhões, setecentos e quarenta e sete mil,

trezentos e noventa reais e cinquenta e seis centavos), e pagamento de R$

2.140.741,30 (dois milhões, cento e quarenta mil, setecentos e quarenta e um

reais e trinta centavos), que indicou em superfaturamento de R$ 1.978.790,72

(um milhão, novecentos e setenta e oito mil, setecentos e noventa reais e setenta e

dois centavos).

1http://www.unicanews.com.br/politica/com-13-votos-a-favor-e-08-contra-maluf-oficializado-como-indicado-ao-tce/35923

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

O TCE decidiu-se pela conversão do processo em Tomada de Contas 1.

Desta forma, comprovado está que pairam mais do que dúvidas razoáveis sobre a

idoneidade do indicado pela AL-MT para a vaga aqui tratada.

E, enfim, Excelência, há de se anotar que a relevância das funções do Tribunal de

Contas sobreleva a importância das regras relativas à escolha de seus futuros

membros, que deve atender aos princípios da legalidade, moralidade, finalidade e

publicidade, razão pela qual este órgão do Ministério Público instaurou o feito

destacado na testilha, e, não resta alternativa senão socorrer-se do Poder

Judiciário para evitar e corrigir esta grave falha da Assembleia Legislativa e,

eventualmente, do Governo do Estado de Mato Grosso e do Tribunal de Contas

Estadual, por, respectivamente, nomear e dar posse ao indicado Guilherme

Antônio Maluf.

DO DIREITO

O artigo 37 “caput”, da Constituição da República e o artigo 129 “caput”, da

Constituição do Estado de Mato Grosso dispõem que Administração Pública

direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios devem pautar-se pelos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Desta forma, a presente ação vem respaldada no exercício de tutela dos princípios

constitucionais da Administração Pública, haja vista que a ausência de melhor

delineamento legal para a indicação da Assembleia Legislativa de membros do

TCE/MT afronta aos princípios constitucionais e, também, desatende os

requisitos para ascensão ao cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas,

segundo a Carta Estadual.

In casu, é importante ressaltar que o Tribunal de Contas desempenha papel

fundamental para o equilíbrio do Estado de Direito e o controle social apoia-se1 Vide processo TCE incluso no PJE.

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

em órgãos dotados de legitimidade e autonomia constitucional.

De consequência, somente dotado de membros legitimados, o Tribunal de Contas

oferecerá à sociedade um julgamento objetivo e imparcial, fundamentado em

bases técnicas, sobre aplicação dos recursos públicos; exercendo um controle

externo aliado dos bons gestores, combatendo a ineficiência, a improbidade e as

ilicitudes que, não poucas vezes, permeiam as contas públicas.

Neste contexto, quanto ao procedimento de indicação, nomeação e requisitos dos

membros do Tribunal de Contas, a Constituição do Estado de Mato Grosso, em

seu artigo 49, dispõe o quanto segue:

Art. 49 - O Tribunal de Contas do Estado, integrado por sete

Conselheiros, tem sede na Capital, quadro próprio de pessoal e

jurisdição em todo o território estadual, exercendo, no que couber, as

atribuições previstas no Art. 46, desta Constituição.

§ 1º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas serão nomeados pelo

Governador do Estado, com aprovação prévia da Assembleia Legislativa,

dentre brasileiros que satisfaçam os seguintes requisitos:

I - mais de trinta anos e menos de sessenta e cinco anos de idade;

II - idoneidade moral e reputação ilibada;

III - notório conhecimento jurídico, contábil, econômico e

financeiro ou de administração pública;

IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva

atividade profissional que exija os conhecimentos

mencionados no inciso anterior.

§ 2º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas Estado serão escolhidos:

I - três pelo Governador do Estado, com aprovação da Assembleia

Legislativa, sendo um da sua livre escolha e dois, alternadamente,

dentre auditores e membros do Ministério Público junto ao Tribunal,

indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de

antiguidade e merecimento;

II - quatro pela Assembleia Legislativa. (Redação dada aos incisos I e II

pela EC 6/93)

§ 3º - O auditor, quando em substituição a Conselheiro, terá as mesmas

garantias e impedimentos do titular e, quando no exercício das demais

atribuições da judicatura, as de Juiz de Entrância Especial. (Parágrafo

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acrescido pela EC 6/93) – Destacado.

No caso dos autos, como exposto na narrativa fática, o deputado estadual

GUILHERME ANTÔNIO MALUF é médico por formação acadêmica e, fora esta

atividade, é deputado estadual e não possui mais de dez anos de exercício de

função ou de efetiva atividade profissional que exija estes conhecimentos exigidos

pela Carta Maior do Estado.

Demais disso, o indicado figura como réu em ação penal pública, pela prática, em

tese, de vinte e três crimes graves – além de ser alvo de outras investigações,

conforme certidão inserta no PJE 1.

Sobreleva relembrar que o recebimento de uma denúncia por um colegiado

qualificado de um Tribunal, após direito de defesa concedido ao réu, constitui um

plus em relação a uma aceitação de inicial acusatória por um juízo de piso.

Ora, no caso em evidência, todo o Colegiado do TJMT reconheceu a presença de

indícios ou mesmo provas de que o réu Guilherme Antônio Maluf encabeçava

organização criminosa destinada a desviar dinheiro público, bem como

evidenciada a sua participação em mais de duas dezenas de delitos de corrupção e

embaraçamento de investigações, somente não sendo afastado do cargo de

Deputado Estadual, pelo voto minerva do Presidente do TJ.

O ato aqui tratado – indicação, nomeação e posse referente ao Conselheiro do

Tribunal de Contas do Estado – é ato vinculado quanto aos requisitos

constitucionais, dentre eles os da idoneidade moral e da reputação ilibada sendo,

sem qualquer margem de discricionariedade, portanto, e passível de controle

judicial; além de não implicar em ofensa à separação dos poderes 2.

No caso, o Parquet insiste, por zelo aos princípios constitucionais que regem a

Administração Pública, que, para o preenchimento do requisito de notório

conhecimento jurídico, contábil, econômico e financeiro ou de administração

1 Certidão inserta no PJE.2 STF - PROCESSO 0001613-75.2015.8.03.0000 - AMAPÁ

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

pública, é necessário se aferir um mínimo de pertinência entre as qualidades

intelectuais e as atividades do indicado em correspondência às essenciais funções

que o futuro conselheiro desempenhará no TCE.

Igualmente, quanto ao critério de ordem objetiva do tempo mínimo de 10 anos de

efetiva atividade profissional que exija a comprovação de conhecimentos

jurídicos, econômicos, financeiros ou de administração pública, o indicado não o

preenche.

Neste contexto, frisa que o mero exercício de diversos e sucessivos mandatos

eletivos – como no caso do deputado GUILHERME MALUF, ora indicado e

avalizado - por si só, não comprova as condições exigidas no artigo 49, § 1º,

incisos III e IV, da Constituição Estadual; já que tais conhecimentos não são pré-

requisitos para concorrer a um mandato eletivo, tampouco para as funções de

Conselheiro do TCE de Mato Grosso.

Já a idoneidade moral, no mínimo, deveria ser apurada em prévia “sindicância”

pelo órgão indicador da vaga e, ainda, pelo Órgão que o empossará -TCE/MT -,

apurando a existência ou não de antecedentes desabonadores do futuro membro

do TCE/MT, tais como condenações nas esferas criminal e civil - improbidade

administrativa - ou investigações em trâmite nos órgãos fiscalizadores e

repressivos - Polícias Judiciárias Civis, Polícia Federal, Ministérios Públicos e o

próprio TCE.

Assim, para a efetiva concretização do disposto no artigo 49 da Constituição do

Estado de Mato Grosso, é indispensável que a indicação da vaga a membro do

TCE/MT pela AL/MT implique em procedimento administrativo mínimo que

possibilite que a escolha recaia sobre aquele que realmente preencha todos os

requisitos constitucionais exigidos e, de consequência, é indispensável que a

própria Corte de Contas analise os documentos apresentados pelo nomeado, antes

de conferir-lhe a posse, conforme previsto no artigo 2º, do Regimento interno do

TCE/MT.

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Defesa Do Patrimônio Público e da Probidade Administrativa

Caso assim não se proceda, o Estado estará fadado ao ciclo vicioso de longa data

instalado pela “velha política” de preenchimento de cargos eminentemente

técnicos de fiscalização por “políticos de carreira”, o que já levou à situação de,

atualmente, cinco dos atuais 06 (seis) Conselheiros do TCE/MT estarem

afastados por suspeitas de corrupção, inclusive com caso concreto de “compra” de

vaga por um ex-deputado.

Ad argumentandum tantum, a mens legis da Constituição do Estado de Mato

Grosso reside na circunstância de que uma melhor e maior qualificação técnica é

a mais apropriada para o desempenho de uma das funções mais relevantes do

Estado republicano, dela derivando a expectativa de eficiência e oportunidade

para o desempenho da função de julgador no Tribunal de Contas; evitando-se as

rasas escolhas político-partidárias em detrimento da competência e formação

técnico-profissional – como ocorreu no caso do deputado GUILHERME

ANTÔNIO MALUF.

Para atendimento da exigência constitucional, portanto, é necessário oportunizar

candidaturas à indicação da Casa Leis, não apenas aos membros do Legislativo

Estadual, com o que será possível ao órgão legislativo demonstrar que procedeu a

melhor escolha para a vaga.

De fato, qualquer pessoa que preencha os requisitos constitucionais está

legitimada a candidatar-se ao processo de indicação, no qual os integrantes dos

parlamentos assumem a condição de eleitores, mantendo-se adequada

observância dos princípios éticos e republicanos.

Ademais, a realização de um célere, porém sério procedimento administrativo

prévio à indicação, permitiria a participação da sociedade civil e até de conselhos

de classe - a exemplo dos que representam os advogados, economistas,

contadores, administradores, engenheiros, entre outros – na escolha e

preenchimento dos cargos de Conselheiros de Contas; sendo de bom alvitre a

ampla divulgação da seleção, com o que obter-se-ia o maior número de inscritos

possível e, especialmente destacando-se que, por submetidos à Lei Orgânica da

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Magistratura Nacional, os candidatos a membros desta relevante carreira

preencham, efetivamente, requisitos idênticos .

Quanto a isto, é importante relembrar o disposto no artigo 50, §3º, da

Constituição do Estado de Mato Grosso, que dispõe o seguinte:

§ 3º - Os Conselheiros do Tribunal de Contas terão as mesmas

garantias, prerrogativas, vedações, impedimentos, remuneração e

vantagens dos Desembargadores e somente poderão aposentar-se com

as vantagens do cargo quando o tiverem exercido efetivamente por mais

de cinco anos.

A mesma redação é repetida na Lei Complementar Estadual n.º 269/2007, cujo

artigo 91, caput, prescreve:

“Art. 91 Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, em número

de sete, nomeados e escolhidos nos termos Constitucionais, terão as

mesmas garantias, prerrogativas, vedações, impedimentos, subsídio e

vantagens dos Desembargadores;”

Portanto, tendo o cargo de Conselheiro do TCE-MT as prerrogativas de um

Desembargador, deve, com supedâneo na “paridade de formas”, obedecer, no que

couber, as exigências de eleição de um Desembargador - seja por ordem de

antiguidade, seja por merecimento, ou até mesmo as exigências do “Quinto

Constitucional”.

Assim, os rigores do processo de ingresso no cargo devem ser, por paridade,

assemelhados aos dos Desembargadores, naquilo que for cabível.

Com esta atuação, não busca o Parquet submeter a Assembleia Legislativa a

imposições indevidas, mas reconhecer que, no mínimo, cabe a paridade de formas

para que a votação seja aberta – transparência administrativa - e motivada.

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Por outro lado, seja na seleção por merecimento, no âmbito da Magistratura, seja

quanto ao Quinto Constitucional - oriundos da OAB e MP -, há um processo de

publicidade da vaga, com a possibilidade de candidaturas (e não mera indicação

por terceiros), prazo de impugnação de candidaturas, que é uma forma de

controle social, julgamento das impugnações, e, finalmente, sabatina.

Demais disso, a escolha dos Conselheiros dos Tribunais de Contas se iguala a

escolha dos Desembargadores que, mesmo não se igualando a um concurso

público, não deixa de ser processo seletivo, tal como a escolha de Desembargador

- seja proveniente da Magistratura em si ou do “Quinto Constitucional”, sabença

de Vossa Excelência.

Desta maneira, da forma exposta a esse r. Juízo, na busca da efetivação das

exigências constitucionais do Estado de Mato Grosso e da Carta Maior

Republicana, atendendo os princípios já declinados no introito da exposição do

direito, este Órgão Ministerial de base busca a NULIFICAÇÃO de indicação,

nomeação e posse de Conselheiro do TCE do Mato Grosso que não atenda aos

ditames Constitucionais Estaduais e a CRFB de 1988, como está se dando no caso

exposto; de sorte que este órgão ministerial imparcial e que tem por função

constitucional zelar pelos princípios da Administração Pública não poderia

eximir-se nesta tutela.

Das Tutelas Provisórias de Urgência

e Da tutela provisória de urgência cautelar

Como sabido, o Novo Código de Processo Civil adotou a terminologia clássica e distinguiu

a tutela provisória, fundada em cognição sumária, da definitiva, baseada em cognição

exauriente.

Desta forma, a tutela provisória – de urgência ou de evidência –, quando concedida,

conserva a sua eficácia na pendência do processo, mas pode ser, a qualquer momento,

revogada ou modificada – art. 296 do CPC.

Especificamente, a tutela de urgência, espécie de tutela provisória, subdivide-se em tutela

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de urgência antecipada e tutela de urgência cautelar, que podem ser requeridas e

concedidas em caráter antecedente ou incidental – art. 294, parágrafo único do CPC.

Destarte, o art. 300, caput, do CPC, apresenta os requisitos comuns para a concessão da

tutela provisória de urgência – antecipada ou cautelar – são a probabilidade do direito -

fumus boni iuris – e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo - periculum

in mora.

Quanto à sua natureza, ensina Fredie Didier Jr:

“A tutela provisória satisfativa antecipa os efeitos da tutela definitiva satisfativa,

conferindo eficácia imediata ao direito afirmado. Adiantando-se, assim, a

satisfação do direito, com a atribuição do bem da vida. Esta é uma espécie de

tutela provisória que o legislador resolveu denominar de “tutela antecipada”,

terminologia inadequada, mas que não será desconsiderada.

(…)

A tutela provisória cautelar antecipa os efeitos de tutela definitiva não

satisfativa (cautelar), conferindo eficácia imediata ao direito de cautela.

Adianta-se, assim, a cautela a determinado direito. Ela somente se justifica

diante de uma situação de urgência ao direito a ser acautelado, que exige sua

preservação imediata, garantindo sua futura e eventual satisfação (arts. 294 e

300, CPC)”1

Concluindo, a tutela provisória de urgência cautelar guarda relação com toda e qualquer

outra providência de natureza acautelatória e para o seu cabimento é necessária a

coexistência do fumus bonis juris e o periculum in mora; enquanto a antecipada guarda

relação direta com o pedido de mérito da demanda, ou seja, a tutela antecipada é, em

suma, a antecipação do provimento final, guardando, portanto, limite com esse pleito e

adstrita a existência da probabilidade do direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil

do processo.

Feitas estas considerações, muito embora o Parquet entenda possuir provas

incontroversas dos fatos aqui alegados, o que ensejaria pleitear tutela de evidência, já que,

neste caso, dispensa a demonstração de periculum quando a petição inicial for instruída

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com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu

não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável, nos termos do artigo 311, do CPC, como

não busca a peleja mas sim a efetividade do direito, evitando a todo custo a

procrastinação dos feitos por meio de recursos; limitar-se-á a pleitear tutelas de urgência.

Das provas carreadas aos autos não há dúvidas sobre a necessidade de buscar a tutela de

urgência cautelar no sentido de determinar-se a suspensão do processo de nomeação e

posse de Conselheiro do Tribunal de Contas em trâmite, cuja votação recaiu sobre o

indicado GUILHERME ANTÔNIO MALUF, que não preenche os requisitos legais para a

indicação, nomeação e exercício do cargo.

O fumus boni juris a justificar a medida está substanciado na verossimilhança das

alegações, já que a Constituição Estadual dispõe de requisitos intransponíveis para o

cargo de Conselheiro do TCE-MT, como já exaustivamente exposto.; requisitos esse não

preenchidos pelo indicado.

Já o periculum in mora está demonstrado na celeridade que o procedimento de indicação,

votação, nomeação e posse de Conselheiro do Tribunal de Contas de MT, nos termos do

regimento interno do TCE e da Assembleia Legislativa; sabendo-se que a indicação foi

realizada no dia 20/02/2019 e a Resolução 6.253 da Mesa Diretora, foi expedida em

21/02/2019, restando apenas a nomeação pelo Governador do Estado de Mato

Grosso.

E, sobretudo, o perigo da demora reside em permitir-se o preenchimento do relevante

cargo de fiscalização e controle de gastos públicos, por pessoa desprovida dos requisitos

legais delineados e ainda respondendo ação penal por malversação de dinheiro público,

colocando, assim, em risco os procedimentos sensíveis que tramitam naquela Corte de

Contas, bem como a apuração que ali tramita contra a sua pessoa, na mencionada tomada

de contas especial.

DOS PEDIDOS

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Posto isto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO,

pelos Promotores de Justiça subscritores, requerem digne-se Vossa Excelência de,

in limine, conceder:

1 – Tutela provisória de urgência cautelar determinando a SUSPENSÃO DO

PROCESSO DE NOMEAÇÃO E POSSE do indicado pela Assembleia legislativa do

Estado de Mato Grosso, GUILHERME ANTÔNIO MALUF, para o cargo de

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, por não preencher,

efetivamente, os requisitos da Constituição do Estado do Mato Grosso para o

cargo, até decisão final;

Requer, também, digne-se de:

2 – Determinar a Citação dos demandados, nos endereços declinados no preâmbulo

desta, para apresentarem defesa, no prazo de lei;

3 – Aplicar ao caso a inversão do ônus da prova, com fundamento no artigo 21, da lei da

ação civil pública – Lei 7.347/1985 –, combinada com art. 6º, VIII, do CDC;

E, Finalmente, no Mérito:

4 – Confirmar, ao final, a tutela de urgência concedida in limine;

5 – JULGAR PROCEDENTES OS PEDIDOS, DECLARANDO NULA a indicação,

nomeação e posse para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato

Grosso, de GUILHERME ANTÔNIO MALUF, pelo não atendimento dos requisitos da

Constituição Estadual e da CFRB-1988, e IMPOR OBRIGAÇÃO DE FAZER AOS

DEMANDADOS no sentido de se absterem de indicar, nomear e empossar, cada um na

medida de suas atribuições, pessoa que não preencha os requisitos aqui tratados;

6- Determinar a intimação pessoal do Ministério Público para os atos do processo, com a

determinação de abertura de vista dos autos, nos termos de sua prerrogativa insculpida

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no artigo 41, IV, da Lei 8.625/1993 – LONMP e com observância ao item 6.4.1.11 da

CNGCJ – TJMT, que visa, justamente, reafirmar a prerrogativa ministerial;

Por fim, protesta e requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito

admitidos.

Dá-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Cuiabá-MT, 22 de fevereiro de 2019 – sexta-feira.

AUDREY ILITY CLÓVIS DE ALMEIDA JÚNIOR Promotora de Justiça Promotor de Justiça

1 As intimações do Ministério Público e do Defensor Público serão efetuadas pessoalmente, dispensada a expedição de mandado, mediante certidão eciência nos autos. Quando a intimação for para manifestação, bastará o termo de vista e carga dos autos, contando-se os prazos do efetivo recebimento dacarga. Havendo recusa no recebimento, observar-se-á o disposto no subitem 2.3.5.5.1.

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