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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS DIRETORIA DE CONSERVAÇÃO DE BIODIVERSIDADE CONTRATO N° 09/2011 REALIZAÇÃO DE ESTUDOS TÉCNICOS COM O OBJETIVO DE RECOMENDAR E PROMOVER BOAS PRÁTICAS EM EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL NO BIOMA DA CAATINGA, POR MEIO DE MANEJO NÃO-MADEIREIRO EM 3 ESPÉCIES: IMBURANA DE CAMBÃO (COMMIPHORA LEPTOPHLOEOS), ANGICO DE CAROÇO (ANADENANTHERA COLUBRINA) E IMBURANA DE CHEIRO (AMBURANA CEARENSIS), VISANDO A CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS. DOCUMENTO BASE VERSÃO PRELIMINAR DO GUIA DE BOAS PRÁTICAS DE EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL DA UMBURANA-DE-CAMBÃO (COMMIPHORA LEPTOPHLOEOS) Recife, junho 2012 1

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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTESECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS

DIRETORIA DE CONSERVAÇÃO DE BIODIVERSIDADE

CONTRATO N° 09/2011

REALIZAÇÃO DE ESTUDOS TÉCNICOS COM O OBJETIVO DE RECOMENDAR E PROMOVER BOAS PRÁTICAS EM EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL NO

BIOMA DA CAATINGA, POR MEIO DE MANEJO NÃO-MADEIREIRO EM 3 ESPÉCIES: IMBURANA DE CAMBÃO (COMMIPHORA LEPTOPHLOEOS),

ANGICO DE CAROÇO (ANADENANTHERA COLUBRINA) E IMBURANA DE CHEIRO (AMBURANA CEARENSIS), VISANDO A CERTIFICAÇÃO DE

PRODUTOS ORGÂNICOS.

DOCUMENTO BASE

VERSÃO PRELIMINAR DO GUIA DE BOAS PRÁTICAS DE EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL DA UMBURANA-DE-CAMBÃO

(COMMIPHORA LEPTOPHLOEOS)

Recife, junho 2012

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Sumário

1. Apresentação ................................................................................................................. 3 2. A umburana-de-cambão ................................................................................................ 4 3. Diretrizes técnicas de manejo da imburana de cambão ................................................. 5

3.1. Diagnóstico ......................................................................................................... 6 3.2 Exploração ou extração ....................................................................................... 9 3.3 Pós-exploração ................................................................................................... 13 3.4 Manutenção das áreas exploradas ..................................................................... 13 3.5 Monitoramento .................................................................................................. 14

4. Desafios ....................................................................................................................... 14 5. Grupos de referência ................................................................................................... 15 6. Ficha técnica ................................................................................................................ 16 7. Principais referências bibliográficas ............................................................................ 17 8. ANEXO I - Memória fotográfica ................................................................................ 18

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1. Apresentação

Apesar de ainda existirem muitas lacunas no conhecimento científico do bioma Caatin-

ga, a intensidade e diversidade de pressões sobre os seus recursos naturais tornam o de-

senvolvimento e a promoção de alternativas de uso sustentável de fundamental impor-

tância. Este desafio faz parte da missão institucional do Departamento de Conservação

da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente. No âmbito do Projeto Nacional de

Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade - Probio II, parceria estabelecida

entre o Ministério do Meio Ambiente - MMA, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

- Funbio e a Caixa Econômica Federal – CAIXA, foram selecionadas algumas espécies

prioritárias a partir dos resultados do Projeto Plantas do Futuro com potencial de uso

não-madeireiro e comercialização em escala local, nacional ou internacional. Várias des-

tas espécies apresentam problemas para a sua conservação devido à exploração intensiva

e sem critérios, levando a problemas como extinção local e dificuldades para recruta-

mento, polinização e dispersão, dentre outros, que dificultam a sobrevivência das mes-

mas. Contudo, há pouca informação disponível e sistematizada sobre a sua conservação

e o seu manejo e uso sustentável.

Este documento consiste na primeira aproximação de um guia de boas práticas de extra-

tivismo sustentável para a umburana-de-cambão (Commiphora leptophloeos) com o objeti-

vo de orientar a coleta racional de madeira para artesanato e casca para produção de fito-

ativos, visando a certificação de produtos orgânicos e a utilização da madeira para fins

artesanais.

Esta proposta foi elaborada a partir do levantamento de informação secundária técnica e

científica já existente bem como do conhecimento empírico de atores locais e comunitá-

rios envolvidos nos processos de produção e uso dos produtos.

A fim de conseguir definir as principais práticas de extrativismo sustentável mais indica-

das e consensuais, a sistematização apresentada foi analisada e discutida na Oficina de

discussão e consolidação com a participação de representantes dos diversos setores en-

volvidos (academia, usuários, técnicos, ONGs, agricultores, órgãos de controle).

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Neste momento, o guia está aberto para consulta pública para últimas contribuições para

posteriormente subsidiar a capacitação de comunidade, produtores e técnicos de exten-

são e serem buscados caminhos para a sua inserção em políticas e normas públicas.

2. A umburana-de-cambão

A umburana-de-cambão, Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett é uma espécie

da família Burseraceae. É uma árvore que pode atingir 3m a 9m de altura e 50 cm a 60

cm de diâmetro na altura do peito (DAP) chegando a atingir uma área média de copa de

52 m2/planta. É uma espécie da flora brasileira, característica da vegetação de caatinga.

Ocorre com elevada frequência no vale médio do Rio São Francisco sendo uma espécie

característica das caatingas xeromórficas do Nordeste brasileiro, do Chaco Pantaneiro e

das matas Chaquenhas (Paraguai), onde apresenta dispersão ampla, porém descontínua.

No Brasil, é encontrada principalmente nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Nor-

te, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Mato Grosso. A espécie é também

encontrada no Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, além da Bolívia e Paraguai.

É uma espécie decídua, heliófila, pioneira, xerófila, de crescimento lento e que apresenta

portes variáveis, conforme o ambiente onde se desenvolve. Prefere solos calcários, bem

drenados e profundos. Floresce na época não chuvosa, com o surgimento da nova folha-

gem e a sua frutificação coincide com o início da queda das folhas. A reprodução sexua-

da se dá durante a estação chuvosa.

A espécie apresenta melitofilia como síndrome de polinização, tendo como vetores de

polinização essencialmente as abelhas silvestres sem ferrão, pertencentes aos gêneros

Melipona e Trigona, que geralmente fazem ninhos em partes ocas de seus troncos ou ra-

mos. Possui dispersão zoocórica, principalmente mimercoria (formigas) e ornitocoria

(pássaros).

Os interesses econômicos do uso da espécie contemplam desde a utilização para carpin-

taria e marcenaria, como móveis, janelas, tabuado, gamelas, colheres, adorno, dornas,

cambões, cangalhas e até instrumentos musicais como violino e cavaquinho. É bem utili-

zada na construção de cercas vivas e divisões de propriedades rurais bem como para le-

nha e carvão. É uma das espécies mais utilizadas para artesanato (esculturas,

carrancas,...).

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Em segundo lugar, a imburana de cambão é utilizada ainda para fins medicinais (indica-

da contra tosses, gripes, bronquites, inflamações do trato urinário, gastrite, úlceras e tra-

tamento de feridas), principalmente a casca.

A importância da umburana-de-cambão como uma das principais espécies para

nidificação de abelhas sem ferrão foi registrado em diversos trabalhos, o que demonstra

a importância da espécie para a apifauna e criação de abelhas nativas. Um detalhe

importante para a nidificação de abelhas nativas é que, aparentemente, há

preferência/necessidade de ocos em árvores vivas.

Além disto, a espécie é utilizada para ornamentação, apicultura, meliponicultura e queb-

ra-vento em sistemas agroflorestais, entre outros usos.

O amplo uso da madeira, quase sempre de forma predatória, preocupa o setor apícola

pela importância da espécie para as abelhas nativas.

De uma forma geral, há pouca disponibilidade de informação técnico-científica sobre o

manejo da espécie. Apesar de estudos não apresentarem dados quantitativos, as referên-

cias indicam a espécie como de crescimento “lento”.

Enquanto a produção de mudas deve ocorrer através da semeadura das sementes logo

após de colhidas, devido a sua viabilidade em armazenamento ser curta, a espécie pode

ser facilmente propagada por estacas de até 2 m de altura, cujo plantio deve ser efetuado

antes do início das chuvas.

A umburana pode ser plantada a pleno sol, em sistema de plantio puro. Em plantios

mistos, pode ser associada com espécies pioneiras ou secundárias.

3. Diretrizes técnicas de manejo da imburana de cambão

Este guia foi elaborado tomando como base a situação do bioma Caatinga. Alguns

critérios podem ser diferentes em outras regiões do país e poderiam/deveriam ser

ajustados conforme suas especificidades.

As boas práticas de extração de imburana-de-cambão podem ser integradas ao manejo

florestal sustentado para fins madeireiros em Planos de Manejo Florestal Sustentado

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(PMFS) já existentes. Desta forma, as recomendações específicas para a espécie podem

ser adicionadas aos demais critérios técnicos de manejo visando garantir o extrativismo

sustentável. Outra alternativa consiste na exclusão da imburana-de-cambão no Plano de

Manejo Florestal Sustentável e aplicar as boas práticas de extrativismo sustentável na

mesma área do PMFS.

3.1. Diagnóstico

• Caracterização geral

Descrição geral das áreas e das propriedades contempladas na área de intervenção:

- nome dos proprietários, propriedades, áreas totais, áreas para extração, presença de

Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente;

- situação fundiária;

- nome do detentor (responsável pela extração);

- nome das pessoas/comunidades envolvidas;

- responsável técnico para a intervenção;

- o uso atual e previsto das áreas.

Quando a extração for realizada em área de terceiros, recomenda-se estabelecer de um

termo de compromisso para a manutenção da área entre o proprietário e os extrativistas

(associação). Este termo de compromisso poderia contemplar a permissão de coleta, o

compromisso dos extrativistas em seguir as recomendações técnicas e o compromisso do

proprietário em conservar a área durante o ciclo de coleta proposto.

• Localização e mapeamento das áreas para extração

O primeiro passo para garantir a produção sustentada de casca, madeira e outros

produtos da imburana de cambão consiste na localização e mapeamento das áreas

destinadas para a extração.

Sempre que possível as áreas devem ser georreferenciadas e caso não seja possível,

elaborar um croquis com a indicação dos confrontantes, vias de acesso, etc.

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Além da simples localização das áreas, o mapa ou croquis pode indicar as áreas de

extração sequenciais de acordo com o ciclo de intervenção.

Esse mapa, além de orientar e planejar a intervenção, permitirá o monitoramento pós-

extração e da recuperação dos estoques.

Recomenda-se a intervenção em áreas sequenciais (talhões) em número igual ao ciclo de

corte. com um período de descanso/recuperação de no mínimo de 15 anos. Desta forma,

a área a ser manejada seria dividida em no mínimo 15 talhões de intervenção anual. Este

período poderá ser ajustado posteriormente (para mais ou para menos) a partir de

resultados e informações sobre a produtividade na área (ver item 2. Exploração ou

extração – estimativa de produtividade).

Caso a área seja heterogênea no aspecto de presença da umburana, os talhões poderão

ser de tamanho distintos, porém de produção constante a fim de garantir regularidade de

produção. O tamanho de cada talhão será definido em função da produção obtida no ano,

sem, contudo, ultrapassar a capacidade produtiva da área total. Deverá ser definida uma

orientação mínima ou básica desses talhões.

Informações recomendadas a serem apresentadas no mapa ou croquis:

- escala;

- confrontantes;

- norte magnético;

- área de Reserva Legal;

- área para extração;

- vias de acesso;

- nome da propriedade;

- nome do proprietário;

- nome do responsável técnico (se houver);

- tamanho da propriedade;

- nome do município e UF;

- tamanho da área de extração;

- tamanho dos talhões (se houver);

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- coordenadas (se houver);

- fontes de água (rios, açudes) georreferenciadas ou não;

- Áreas de Preservação Permanente (APP) georreferenciadas ou não.

Essas informações são fundamentais para conseguir localizar adequadamente as

propriedades e as áreas de extrativismo bem como os seus principais atores envolvidos

ou responsáveis. Além disto, fornece informações sobre a regularidade e adequação

ambiental das áreas.

• Caracterização do potencial produtivo

O potencial produtivo será estimado a partir de um inventário florestal das áreas

destinadas à extração.

Apesar do inventário florestal dever focar a disponibilidade (densidade, volume,

tamanho das árvores, vitalidade) da espécie em questão, é importante, sempre que

possível, caracterizar a vegetação como um todo das áreas pretendidas para o

extrativismo.

Os principais parâmetros a serem levantados contemplam:

CAP (circunferência à altura do peito – 1m30);

H (altura total estimada);

Vitalidade (sadia, doente, morta);

Presença de oco ou não;

Pé franco (pé natural, nativo, sementes) ou estaquia;

Presença de ninhos de animais com ênfase nas abelhas nativas.

O levantamento destas informações é importante considerando o conhecimento que

fornecem com relação a:

- H e CAP: para definir estoque e quantidade disponível para extração;

- Vitalidade: para caracterizar a sanidade da população;

- Presença de oco ou não: se é adequada para comércio ou não;

- Pé franco ou estaquia: para identificar se a origem foi de plantio e observar o histórico

de intervenção e a necessidade de renovação da população;

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- Presença de ninhos de animais com ênfase nas abelhas nativas: evitar o corte das

árvores que apresentem ninhos de animais pela importância da manutenção da

biodiversidade e possibilidade de renda adicional através de mel de abelhas nativas.

O inventário será realizado de forma a contemplar toda a área de extração e poderá ser

realizado em parcelas de área fixa (ex. 20m x 20m) ou pelo método do ponto quadrante,

ou outro método oportuno.

A partir dos resultados do inventário será possível quantificar a disponibilidade de

árvores por hectare nas diversas classes de tamanho (classes de diâmetro) e assim

estimar a disponibilidade de matéria-prima.

3.2 Exploração ou extração

• formas ou tipos de extração e ferramentas

- Madeira para artesanato:

Recomenda-se que a extração de madeira seja realizada aproveitando, ao máximo, partes

de madeira morta ou seca. Caso haja alta disponibilidade de árvores vivas e a demanda

seja maior, recomenda-se a exploração de até 50% dos indivíduos com circunferência

superior a 60cm.

No caso da exploração de madeira verde, é necessário retirar a casca, com o objetivo de

se prevenir o ataque de cupins.

Os artesãos podem também adquirir as madeiras de imburana de cambão de outras áreas

de supressão, inclusive de áreas de manejo florestal já autorizadas, desde que estas áreas

sigam as recomendações do guia de boas práticas.

- Extração de casca para uso reduzido, por exemplo: fitoativos

Para a extração de casca deve-se utilizar a poda seletiva de ramos em até 50% dos

indivíduos com circunferência superior a 60cm.

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As podas dos ramos devem seguir os seguintes critérios: manter a arquitetura da copa,

retirar até 30% da copa, retirar os ramos com crescimento para o interior da copa, entre

outros. É importante manter a forma uniforme e equilibrada da copa para evitar a queda

das árvores. Para este processo recomenda-se a utilização de ferramentas de corte

afiadas ou serras apropriadas para poda.

Recomenda-se deixar 20 cm de ponta de galho nas podas seletivas dos ramos para

facilitar a brotação. Evitar ao máximo a intervenção em indivíduos com floração e

frutificação.

Devido à maior concentração de princípios ativos, recomenda-se realizar os

procedimentos preferencialmente pela manhã (até 09:00 hr) e no final da tarde.

A segunda poda de ramos no mesmo indivíduo, somente poderá ser realizada 6 anos

após o corte anterior. Este prazo poderá ser ajustado no futuro em função de novos

conhecimentos. Não se devem podar galhos que apresentem ninhos de animais.

• Ciclo de intervenção

- Madeira para artesanato:

O ciclo mínimo recomendado é de 15 anos entre uma intervenção (extração) e outra.

- Extração de casca em escala reduzida:

O ciclo mínimo recomendado é de 6 anos entre uma poda de ramos e outra.

• Intensidade de intervenção

Recomenda-se adotar um corte seletivo de até 50% das árvores sadias e aptas para o

corte (circunferência superior a 60 cm à altura do peito). Isto promoverá a manutenção

de árvores matrizes para permitir a regeneração via sementes e outros serviços

ecológicos (alimentação e abrigo de animais, principalmente as abelhas nativas,

microclimas, dentre outros).

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• Período da intervenção

No caso da extração para madeira para artesanato e em se tratando de indivíduos vivos, a

exploração pode ocorrer em qualquer período do ano.

O período ideal para a coleta de casca se concentra nos dois últimos meses antes da

floração, podendo ser antecipada em um mês,em caso de necessidade. Isto devido à

maior concentração de princípios ativos neste período.

• Estimativa de produtividade

Não foram encontrados dados referentes à produtividade madeireira da espécie. Apesar

de não apresentarem valores quantitativos, as referências indicam um crescimento

“lento”.

Em um primeiro momento, não será possível a estimativa de produtividade, por não se

dispor de indivíduos com períodos de crescimento conhecidos. Recomenda-se instalar e

monitorar parcelas permanentes nas áreas exploradas (de extração de madeira para

artesanato), utilizando os mesmos parâmetros do inventário.

Uma alternativa consiste no monitoramento da sobrevivência e crescimento de árvores

individuais exploradas ao longo do tempo. Neste caso, recomenda-se monitorar um

mínimo de 20 a 50 árvores podadas, dependendo do tamanho da área manejada.

• Principais riscos e precauções

É importante evitar-se o sobrepastoreio nas áreas de extração visto, que a imburana-de-

cambão pode ser consumida pelos animais de criação.

O fogo não deve ser utilizado nas áreas manejadas, devendo, também, ser adotadas

outras medidas para prevenção de incêndios.

No caso do uso da casca para fitoativos, deve ser realizada uma seleção para exclusão do

material apodrecido, sem vitalidade ou com aspecto impróprio, para se evitar

contaminação no ato da coleta.

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Evitar o corte das árvores que apresentem ninhos de animais pela importância da

manutenção da biodiversidade e pela possibilidade de geração de renda adicional

mediante a produção de mel.

Os ninhos de abelhas nativas que estiverem em árvores selecionadas para corte deverão

ser transferidos para caixas ou ser realizado o cortiço. Estes deverão ser encaminhados

para meliponários ou realocados na vegetação natural considerando as devidas medidas

para a proteção da colônia.

Em caso de indisponibilidade do extrator em realizar a meliponicultura, o mesmo poderá

buscar auxílio junto a entidades que prestam assistência técnica ou centros

especializados conforme lista apresentada no item 5.

É importante observar a legislação vigente (Resolução No 346 de 06 de julho de 2004).

• Transporte dos produtos

A madeira selecionada não passa por padronização e o transporte poderá ser realizado

em caminhões normalmente utilizados para o transporte de lenha. Não existem maiores

exigências para o transporte da casca, que pode ocorrer em sacos de ráfia ou sacos para

acondicionamento de cebola.

• EPI

Recomenda-se a utilização de Equipamentos de Proteção Individual na fase de

exploração:

- botas;

- chapéu;

- perneira;

- óculos de proteção;

- luvas;

- calça e camisa de manga comprida.

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3.3 Pós-exploração

O armazenamento deve ser feito em local seco, arejado e deitados no chão para evitar

acidentes por tombamento e rolamento.

Para o uso da casca para fitoativos recomenda-se as seguintes medidas de

beneficiamento e armazenamento, constantes no Manual da Associação Fitovida:

- o armazenamento deve ser feito o mais rapidamente possível, evitando-se assim a per-

da dos princípios ativos;

- acondicionamento deve ser feito, preferencialmente, em ambiente arejado e seco, sem

acesso de poeira ou animais;

- o material deve ser limpo, para que possam ser retiradas as partes não aproveitáveis e

os resíduos da coleta (terra, insetos, fungos, outras plantas, etc.);

- caso seja necessário, deve ser cortado ou picado, para que seja transformado em mate-

rial homogêneo, facilitando a secagem;

- material em quantidades reduzidas deve ser colocado em potes de vidro ou sacos plás-

ticos.

Para o uso de outras partes da planta (frutos, folhas, raízes,...) os mesmos procedimentos

deverão ser adotados.

3.4 Manutenção das áreas exploradas

Os seguintes procedimentos são fundamentais para a manutenção e a garantia da

recuperação das áreas manejadas:

não uso do fogo;

evitar o pastoreio e, sobretudo o sobrepastoreio;

evitar a exploração durante o período de recuperação ou antes do ciclo recomendado.

Em área com uso intensivo e regeneração deficiente, é recomendada a reposição

mediante o plantio de mudas ou de estacas de até 2 m de altura. No segundo caso, o

plantio deve ser efetuado antes do início das chuvas. Essa reposição deverá ser, no

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mínimo, em número igual ao número de árvores exploradas e ocorrer de forma dispersa

na área onde ocorreu a extração.

3.5 Monitoramento

O monitoramento permitirá avaliar a recuperação das áreas manejadas e a manutenção

da produtividade da espécie. Conforme mencionado anteriormente, recomenda-se a

instalação de parcelas permanentes, no manejo visando extração madeireira, e a

demarcação de indivíduos para o manejo de retirada de casca em escala reduzida.

Será dada especial atenção aos seguintes aspectos:

mortalidade de indivíduos;

ocorrência de doenças ou pragas;

ocorrência de regeneração natural;

ocorrência de regeneração de ramos podados;

crescimento dos indivíduos.

4. Desafios

O modelo de extração reduzida (pode de ramos), visando à produção de casca para

fitoativos, poderá se adequar para áreas de Reserva Legal.

Um dos principais desafios consiste na busca de mecanismos de agregação de valor à

matéria-prima. Isto poderia ocorrer mediante um valor adicional por ser produto

sustentável. Outra opção consiste na integração da produção não-madeireira com

produção de mel nativo considerado de valor medicinal. Também deve-se buscar a

inserção da produção em sistemas de mercados solidários.

Os principias desafios na área de pesquisa são:

Produtividade e ciclo de corte;

Uso e manejo cultural, tradicional e/ou socioambiental;

Biologia floral e polinização;

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Relação fauna – planta;

Germinação, produção de mudas e crescimento inicial.

5. Grupos de referência

Associação Pernambucana de Apicultores e Meliponicultores - APIME

Recife/PE (81) 8816-9628 [email protected] ONG – abelhas nativas

Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA

Juazeiro/BA (74) 3611-6481 [email protected]

ONG – desenvolvimento rural

Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA

Salvador/BA (71) 3116-1900 [email protected] – Coordenação de Pesquisa e Extensão Rural

Associação Plantas do Nordeste - APNE Recife / PE (81) 3271- 4256 [email protected] Uso sustentável

Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia - Agendha

Paulo Afonso/BA

(75) 3281 -5370 (75) 8864-4611

ONG – desenvolvimento

Federação Baiana de Apicultura e Meliponicultura - Febamel

http://febamel.zip.net/ Abelhas nativas

Núcleo de estudos dos insetos

Cruz das Almas - BA (75) 36212002 http://www.insecta.ufrb.edu.br/ Abelhas nativas

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6. Ficha técnica

Nome científico: Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett

Família: Burseraceae

Nomes vulgares: amburana-de-cambão, imburana-de-cambão, imburana-vermelha.

Porte da planta: Árvore espinhosa de 3 m a 9 m de altura, copa muito espalhada, com

tronco de 50 cm a 60 cm de diâmetro, chegando a atingir uma área média de copa de 52

m2/planta. Caule com ramos de crescimento tortuoso, dotados de espinhos. Casca do

tronco lisa e lustrosa, desprendendo-se em lâminas irregulares. Conforme a idade, a

casca varia de verde, quando jovem, ao laranja-avermelhado, quando idosa. O fruto é

comestível quando maduro e abre no meio liberando apenas uma semente.

Área de ocorrência: Característica da vegetação de caatinga com elevada frequência no

vale médio do Rio São Francisco. É encontrada nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande

do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Mato Grosso e ainda no Mato

Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, além da Bolívia e Paraguai. De uma forma geral,

apresenta distribuição ampla, porém descontínua.

Floração: No período seco, com o surgimento da nova folhagem (outubro a janeiro)

Frutificação: no início da queda das folhas

Sementes por fruto: 01

Sementes por kg: 5.300

Usos: A madeira da imburana-de-cambão é muito utilizada para marcenaria, na

confecção de artesanato (esculturas, carrancas,...) e, em menor grau, para lenha e carvão.

A casca da imburana-de-cambão é utilizada na medicina popular como fitoterápico.

Cuidados: A imburana-de-cambão é uma das principais espécies para nidificação de

abelhas sem ferrão o que demonstra a importância da espécie para a apifauna.

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7. Principais referências bibliográficas

Carvalho, P.E.R. Imburana-de-espinho Commiphora leptophloeos. Comunicado Técnico 228. Embrapa Florestas. Colombo,PR. 2009. 8 p.

Fitovida. Manual de boas práticas de beneficiamento de produtos florestais não madeireiros. Agregar valor e qualidade. 30p

Maia, G.N. 2004. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades, São Paulo, D&Z Computação Gráfica e editora.

Pereira, S.C. Gamarra-Rojas, C.F.L., Gamarra-Rojas, G., Lima, M., Gallindo, F.A. T. Plantas úteis do Nordeste do Brasil. Recife: Centro Nordestino de Informações sobre Plantas – CNIP, Associação Plantas do Nordeste-APNE, 2003. 140p.

Sampaio, E.V.S.B.; Pareyn, F.G.C.; Figueirôa, J.M. de; Santos Junior, A.G. 2005. Espécies da flora nordestina de importância econômica potencial. Recife:Associação Plantas do Nordeste. 331 p.

Siqueira Filho, J.A.; Santos, A.P.B.; Nascimento, M.F.S.; Espírito Santo, F.S. (editores) 2009. Guia de campo de árvores da caatinga. Petrolina: Editora e Gráfica Franciscana Ltda. 64 p.

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8. ANEXO I - Memória fotográfica

Planta Galho e Flor

Galho com frutos Casca Detalhe

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Foto: Banco de imagens APNE Foto: Banco de imagens APNE

Foto: Banco de imagens APNEFoto: Banco de imagens APNE

Folha Semente

Toras Trabalhando com a Madeira

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Foto: Banco de imagens APNE Foto: Banco de imagens APNE

Foto: José Luiz V.da Cruz Filho Foto: José Luiz V.da Cruz Filho

Artes com a Madeira Artes com a Madeira

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Foto: José Luiz V.da Cruz FilhoFoto: José Luiz V.da Cruz Filho