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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Sistema Único n.º 238716/2018 HABEAS CORPUS N. 157.604/RJ IMPETRANTE: Alexandre Wunderlich e outros PACIENTE: Athos Roberto Albernaz Cordeiro COATOR: Relator do HC n. 449.531 do Superior Tribunal de Justiça RELATOR: Ministro Gilmar Mendes Excelentíssimo Senhor Ministro Relator, Egrégia Segunda Turma, A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA vem, respeitosamente, apresentar memorial para expor brevemente as razões para denegação da ordem de habeas corpus pleiteada em favor de A THOS ROBERTO ALBERNAZ CORDEIRO, com a cassação da liminar já deferida. I – OBJETO DESTE MEMORIAL Este pedido de habeas corpus dirige-se contra decisão monocrática do Ministro Rogério Schietti, do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu liminarmente o Habeas Corpus n. 449.531/RJ e manteve a prisão preventiva do paciente decretada pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no âmbito da Operação Câmbio Desligo (processo nº 0060662-28.2018.4.02.5101), e mantida pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região Federal. Gabinete da Procuradora-Geral da República Brasília/DF Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA RAQUEL ELIAS FERREIRA DODGE, em 27/08/2018 10:12. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave C2A8FC0A.3B5C68A4.77E80455.E0473425

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

Sistema Único n.º 238716/2018

HABEAS CORPUS N. 157.604/RJIMPETRANTE: Alexandre Wunderlich e outrosPACIENTE: Athos Roberto Albernaz CordeiroCOATOR: Relator do HC n. 449.531 do Superior Tribunal de JustiçaRELATOR: Ministro Gilmar Mendes

Excelentíssimo Senhor Ministro Relator,

Egrégia Segunda Turma,

A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA vem, respeitosamente, apresentar memorial

para expor brevemente as razões para denegação da ordem de habeas corpus pleiteada em

favor de ATHOS ROBERTO ALBERNAZ CORDEIRO, com a cassação da liminar já deferida.

I – OBJETO DESTE MEMORIAL

Este pedido de habeas corpus dirige-se contra decisão monocrática do Ministro

Rogério Schietti, do Superior Tribunal de Justiça, que indeferiu liminarmente o Habeas

Corpus n. 449.531/RJ e manteve a prisão preventiva do paciente decretada pelo Juízo da 7ª

Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, no âmbito da Operação Câmbio Desligo (processo

nº 0060662-28.2018.4.02.5101), e mantida pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região

Federal.Gabinete da Procuradora-Geral da República

Brasília/DF

Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA RAQUEL ELIAS FERREIRA DODGE, em 27/08/2018 10:12. Para verificar a assinatura acesse

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A defesa do paciente alega, em síntese:

a) preliminarmente, a inaplicabilidade do enunciado n. 691 da Súmula do STF,

pois haveria flagrante ilegalidade na decisão judicial impugnada;

b) que não há provas de que o paciente tenha praticado os crimes de evasão de

divisas ou de lavagem de dinheiro, tendo sido alvo da Operação Câmbio Desligo apenas por

ser irmão de PAULO ARAMIS ALBERNAZ CORDEIRO;

c) que os fatos ilícitos apurados não são contemporâneos à ordem judicial de

prisão preventiva; e

d) que é possível a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares menos

gravosas.

A decisão liminar neste Habeas Corpus determinou a substituição da prisão

preventiva pelas seguintes medidas cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do

CPP: a) proibição de manter contato com os demais investigados, por qualquer meio (inciso

III); b) proibição de deixar o País, devendo entregar seu(s) passaporte(s) em até 48 (quarenta e

oito) horas (inciso IV e artigo 320).

A Segunda Turma do STF iniciou o julgamento na sessão do dia 21/08/2018.

O Ministro Relator votou pela concessão da ordem e manutenção da liminar. Foi acompanha-

do pelo Ministro Dias Toffoli. Denegaram a ordem, os Ministros Edson Fachin e Celso de

Mello. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista do Ministro Ricardo.

Os votos estão divididos. O tema é de alta relevância jurídica. Os fundamentos

adotados pelas duas correntes que se formaram recomendam aprofundar o exame da matéria.

Estes fatos justificaram a iniciativa de apresentar este memorial.

II – DO FUMUS COMISSI DELICTI: O DELITO DE EVASÃO DE DIVISAS

(PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 22 DA LEI N. 7.492/1986)

Os doleiros que integram o núcleo financeiro da organização criminosa chefia-

da por Sérgio Cabral – desbaratado na Operação Câmbio Desligo – praticaram o crime de

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evasão de divisas, tipificado na primeira parte do parágrafo único do art. 22 da Lei nº

7.492/1986:

Art. 22. Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão dedivisas do País:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem au-torização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósi-tos não declarados à repartição federal competente.

Um esclarecimento é necessário para entender o objeto deste pedido de habeas

corpus.

O paciente fez operações "dólar cabo invertido" que consubstanciam a contra-

partida necessária para as operações “dólar-cabo”, identificadas nos sistemas de contabilidade

fornecidos por Vinícius Claret e Cláudio Barbosa, que são colaboradores. Por isso, pratica-

ram o crime de quem “...a qualquer título, promove, sem autorização legal, a saída de moeda

ou divisa para o exterior...”. Longe estão de terem praticado o crime de evasão de divisas defi-

nido na segunda parte do parágrafo único: “manter depósitos não declarados à repartição fe-

deral competente”.

O esquema criminoso no qual o paciente inseriu-se era gigantesco. Movimen-

tou mais de U$$ 1.652.000.000,00 (um bilhão, seiscentos e cinquenta e dois milhões de

dólares). O paciente, como outros doleiros, muito frequentemente o fizeram, aproveitou a

estrutura integrada de operadores liderada por Dario Messer e operacionalizada pelos colabo-

radores Vinicius Claret e Cláudio Barbosa, para satisfazer adequadamente as necessidades cri-

minosas de seus clientes.

Assim, os doleiros que atuavam na “ponta compradora” de dólares, fornecendo,

em contrapartida, reais no Brasil, e desse modo engendrando as operações “dólar-cabo”, ne-

cessitavam se coordenar com operadores especializados nas operações "dólar cabo inverti-

do", tal como o paciente ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO e seus irmãos, os quais transferiam dóla-

res no exterior para as contas indicadas pelos demais integrantes do grupo criminoso e recebi-

am por isso reais no Brasil.

Esta sistemática foi muito bem delineada no pedido de prisão preventiva feito pelo

Ministério Público Federal:

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“Para liquidação das operações, tradicionalmente, os recursos no exterior

passavam por “contas de passagem” que eram registradas em nome dos doleiros.

Assim, tais contas ficavam responsáveis por receber os recursos em dólares dos

clientes que queriam receber reais no Brasil (“vendedores”), e também transferir

aos clientes no exterior os dólares (“compradores”), em contraprestação a reais re-

cebidos no país.

Com o aprimoramento da legislação de combate à lavagem de dinheiro no

mundo todo, principalmente após os atentados terroristas de 11/09, tais “contas de

passagem” foram sendo fechadas pelos bancos, em razão de regras de complian-

ce, haja vista que movimentavam quantidades altas de recursos sem qualquer jus-

tificativa econômica.

Para fugir aos controles dos bancos e se exporem menos aos riscos, os do-

leiros passaram, então, a não mais usar “contas de passagem” no exterior, fazendo

apenas o “casamento” entre contas de clientes que desejavam comprar e vender

dólares.

Assim, caso um cliente quisesse “comprar” dólares e outro quisesse “ven-

der”, o doleiro apenas intermediava as transações, cobrando uma taxa de cada

uma das pontas. Aqui, o doleiro fica responsável por indicar ao cliente que vai en-

viar os recursos no exterior os dados da conta do cliente que vai receber os dóla-

res, bem como pela logística no Brasil de custódia e transporte dos reais em espé-

cie.

Como se pode perceber, para que tais transações sejam concretizadas, é ne-

cessário que os doleiros possuam uma grande quantidade de clientes de forma que

possam “casar” as operações no exterior, entre clientes que queiram “comprar” e

“vender” dólares para liquidá-las.

Como nem sempre isso é possível, os doleiros fazem uso de outros doleiros

para que, caso um de seus clientes queira “comprar” dólares e não haja disponibi-

lidade no exterior, outras fontes de recursos sejam utilizadas.

Os colaboradores JUCA e TONY funcionavam como verdadeira instituição

financeira, fazendo a compensação de transações entre vários doleiros do Brasil,

servindo como “doleiros dos doleiros”, indicando clientes que necessitavam dó-

lares (compradores) e que necessitavam reais.

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Assim, se um doleiro possuísse um cliente que desejasse “comprar dólares”,

mas não outro que quisesse “vender”, lançava-se mão dos doleiros JUCA e TONY

que, com sua vasta rede de contatos, conseguiam “casar” as operações.”

Por este mecanismo desenvolvido pelos doleiros, eles tinham de ter uma atuação

necessariamente conjunta nas pontas “compradora” e “vendedora” de dólares. Isto conduz à

conclusão de que, neste esquema específico, o crime por eles praticado era o mesmo, a

evasão de divisas na forma de “promover, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa

para o exterior”, em concurso de agentes e no contexto de atos de organização criminosa.

Essa relação intrínseca entre as operações “dólar-cabo” e "dólar cabo inverti-

do" é reforçada pelos termos em que deduzida a pretensão punitiva, na denúncia, que foi

ofertada no juízo de primeiro grau e juntada aos autos do agravo regimental da decisão que

deferiu a liminar. Os seguintes fatos criminosos foram imputados a ATHOS ALBERNAZ

CORDEIRO:

(i) em 26/10/2011, promoveu a saída para o exterior de U$$ 10.632,63, sem

autorização legal, por meio de uma operação “dólar-cabo”, mediante uma

transferência bancária de valores provenientes de conta controlada por ele e seus

irmãos para conta registrada em nome de off-shore no exterior, indicada por Diego

Candolo (“Zorro”), também denunciado no âmbito da Operação Câmbio Desligo,

mediante o registro de crédito do valor correspondente em reais, no Brasil;

(ii) em 26/10/2011, ocultou e dissimulou a origem, a natureza, disposição,

movimentação e a propriedade de quantia em real correspondente a U$$

10.632,63, em uma oportunidade, com a movimentação de recursos em espécie no

Brasil correspondentes a valores remetidos de maneira ilícita para o exterior, por

intermédio da atuação do grupo de doleiros identificado nas investigações

promovidas no âmbito da 7ª Vara Federal da SJ/RJ;

(iii) em 31/03/2011, promoveu a saída para o exterior de U$$ 23.473,00,

sem autorização legal, por meio de uma operação “dólar-cabo”, mediante uma

transferência bancária de valores provenientes de conta controlada por ele e seus

irmãos para conta registrada em nome de off-shore no exterior, indicada por

Francisco Araújo Costa Júnior (“Jubra”) e Afonso Fábio Barbosa FernandesHABEAS CORPUS N. 157.604/RJ 5

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(“Falcão”), também denunciados no âmbito da Operação Câmbio Desligo,

mediante o registro de crédito do valor correspondente em reais, no Brasil;

(iv) em 31/03/2011, ocultou e dissimulou a origem, a natureza, disposição,

movimentação e a propriedade de quantia em real correspondente a U$$

23.473,00, com a movimentação de recursos em espécie no Brasil

correspondentes a valores remetidos de maneira ilícita para o exterior, por

intermédio da atuação do grupo de doleiros identificado nas investigações

promovidas no âmbito da 7ª Vara Federal da SJ/RJ;

(v) em 21/11/2011, promoveu a saída para o exterior de U$$ 50.000,00, sem

autorização legal, por meio de uma operação “dólar-cabo”, mediante uma

transferência bancária de valores provenientes de conta controlada por ele e seus

irmãos para conta registrada em nome de off-shore no exterior, indicada por

Camilo de Lélis Assunção e José Carlos Maia Saliba (“Saliba”), também

denunciados no âmbito da Operação Câmbio Desligo, mediante a entrega de valor

correspondente em reais, no Brasil;

(vi) em 21/11/2011, ocultou e dissimulou a origem, a natureza, disposição,

movimentação e a propriedade de quantia em real correspondente a U$$

50.000,00, com a movimentação de recursos em espécie no Brasil

correspondentes a valores remetidos de maneira ilícita para o exterior, por

intermédio da atuação do grupo de doleiros identificado nas investigações

promovidas no âmbito da 7ª Vara Federal da SJ/RJ;

(vii) em 07/02/2012, 13/01/2014 e 27/03/2014, promoveu a saída para o

exterior de U$$ 148.028,00, sem autorização legal, por meio de três operações

“dólar-cabo”, mediante três transferências bancárias de valores provenientes de

conta controlada por ele e seus irmãos para conta registrada em nome de off-shore

no exterior, indicada por Chaaya Moghrabi (“Monza”), também denunciado no

âmbito da Operação Câmbio Desligo, mediante a entrega de valor correspondente

em reais, no Brasil;

(viii) 07/02/2012, 13/01/2014 e 27/03/2014, ocultou e dissimulou a origem,

a natureza, disposição, movimentação e a propriedade de quantia em real

correspondente a U$$ 148.028,00, com a movimentação de recursos em espécieHABEAS CORPUS N. 157.604/RJ 6

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no Brasil correspondentes a valores remetidos de maneira ilícita para o exterior,

por intermédio da atuação do grupo de doleiros identificado nas investigações

promovidas no âmbito da 7ª Vara Federal da SJ/RJ;

(ix) em 29/08/2013, promoveu a saída para o exterior de U$$ 61.983,00,

sem autorização legal, por meio de uma operação “dólar-cabo”, mediante uma

transferência bancária de valores provenientes de conta controlada por ele e seus

irmãos para conta registrada em nome de off-shore no exterior, indicada por

Augusto Rangel Larrabure e Bruno Farina (“Boxe”), também denunciados no

âmbito da Operação Câmbio Desligo, mediante a entrega de valor correspondente

em reais, no Brasil;

(x) em 29/08/2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza, disposição,

movimentação e a propriedade de quantia em real correspondente a U$$

61.983,00, com a movimentação de recursos em espécie no Brasil

correspondentes a valores remetidos de maneira ilícita para o exterior, por

intermédio da atuação do grupo de doleiros identificado nas investigações

promovidas no âmbito da 7ª Vara Federal da SJ/RJ;

(xi) pelo menos desde meados dos anos 90 até os dias atuais, promoveu,

constituiu, financiou e integrou organização criminosa cuja finalidade era a prática

de crimes de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas.

Em todos estes crimes, minuciosamente descritos na denúncia, o paciente e

seus irmãos fizeram operações "dólar cabo invertido", em complemento às operações

“dólar-cabo” feitas pelos demais integrantes da organização criminosa, que também fo-

ram denunciados precisamente por esses mesmos fatos, com o único diferencial de esta-

rem atuando na ponta oposta do comércio ilegal de divisas monetárias. Nos termos do art.

29 do Código Penal, a hipótese é de crime único, o de evasão de divisas na modalidade “pro-

mover, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior (primeira parte

do parágrafo único do art. 22 da Lei nº 7.492/1986).

Esta conduta criminosa não é de mera manutenção no exterior de depósitos

não declarados ao Banco Central do Brasil.

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Fosse esta hipótese, seria imprescindível que constasse da ordem judicial de prisão

preventiva o exame da ausência de comunicação ao Banco Central, que é elemento do crime,

na forma da segunda parte do parágrafo único. Só assim seria satisfeito o requisito do fumus

comissi delicti.

Todavia, o paciente foi acusado de praticar outro crime, que não tem este elemento

em seu tipo penal. Deste modo, não é necessário considerá-lo na decisão judicial questionada.

Na modalidade do crime praticado pelo paciente, tais considerações são desnecessárias, diante

da caracterização do auxílio prestado por ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO aos outros integrantes da

organização criminosa para promover o envio de divisas ao exterior – de forma escritural, por

óbvio. È o que afirma a jurisprudência do STF:

Como já demonstrado no acórdão embargado, durante o julgamento da Ação Pe-nal n° 470, o Plenário firmou entendimento de que, para configuração do crimede evasão de divisas previsto no art. 22 e parágrafo único, primeira parte, daLei n. 7.492/1986, não é necessário que a saída da moeda ou divisa tenha ori-gem em solo nacional, sobretudo, nos casos onde a evasão ocorre por inter-médio das operações dólar-cabo realizadas com intuito fraudulento.

(RE 866.722/PR Ag-ED, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 30/09/2015)

No mesmo sentido: RE 876.692/PR Ag, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ 22/05/2015 e

Ext 1413/DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 20/05/2016.

Por todos estes motivos, os crimes praticadas pelo paciente – devidamente anali-

sados já no decreto prisional e detalhado na denúncia – reúnem todas as elementares do cri-

me de evasão de divisas na modalidade “promover, sem autorização legal, a saída de moeda

ou divisa para o exterior” (primeira parte do parágrafo único do art. 22 da Lei nº

7.492/1986).

Satisfeito, portanto, o requisito do fumus comissi delicti para decretar a pri-

são preventiva do paciente, que observou todos os requisitos legais.

III – DO PERICULUM LIBERTATIS: GRAVIDADE CONCRETA DOS CRIMES DO PACIENTE.

CONTEMPORANEIDADE DOS CRIMES E DO DECRETO PRISIONAL

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Ao contrário do que a defesa alega e do que consta da liminar, o periculum liber-

tatis foi devidamente demonstrada na ordem judicial de prisão preventiva emitida pela 7a Vara

da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.

A decisão consigna, com precisão, que há provas do crime praticado por ATHOS

ALBERNAZ CORDEIRO em atuação conjunta com seus irmãos PAULO ARAMIS ALBERNAZ CORDEIRO e

ANTÔNIO CLÁUDIO ANBERNAZ CORDEIRO. Ele remeteu para o exterior pelo menos U$$

5.100.000,00, por meio de transferências bancárias partidas de suas contas para contas regis-

tradas em nome de off-shores apontadas pelos demais doleiros integrantes do grupo crimino-

so, em várias operações feitas por ele entre 31/03/2011 e 27/03/2014.

Sete dessas operações “dólar-cabo”, configuradoras dos crimes de evasão de divi-

sas e de lavagem de dinheiro, ocorridas entre os anos de 2011 e 2014, foram objeto da primei-

ra denúncia feita no âmbito da Operação Câmbio Desligo.

O elevado volume de cada transação ilícita e a frequência em que eram realizadas

demonstram a gravidade concreta do crime de que ele foi acusado. Isto exige firme interven-

ção do Ministério Público e do Poder Judiciário para fazer cessar, definitivamente, o quadro

de delinquência crônica em que se encontra o paciente e os demais envolvidos.

As atribuições dos irmãos ALBERNAZ CORDEIRO na organização criminosa estão bem

definidas.

O paciente cuidava da representação política da família e emprestava credibilidade

às operações que realizavam perante a ODEBRECHt e demais clientes.

Em razão disso, era procurador de todas as contas que os irmãos utilizavam para

transferir dólares no exterior, e o saldo destas contas foi transferido para seu nome em 2014.

Desse modo, observa-se que o paciente ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO e seus irmãos

tinham inegável posição de destaque na organização criminosa, tendo atuado em uma série de

operações de remessa ilegal de dólares para o exterior, com os subsequentes atos de lavagem

de capitais no Brasil.

Apenas a primeira denúncia ofertada no âmbito da Operação Câmbio Desligo im-

puta sete operações “dólar-cabo” ao paciente e seus irmãos, a partir de minuciosa análise dos

sistemas de contabilidade utilizados pelos colaboradores, bem como por relatórios de inteli-

gência financeira, elaborados pelo COAF.

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Outros fatos criminosos praticados pelos irmãos ALBERNAZ CORDEIRO, em par-

ticular pelo paciente, posteriores às operações “dólar-cabo”, foram imputados na denún-

cia de que trata este habeas corpus.

Nesse ponto, destaco os seguintes trechos da manifestação do Ministério Público

Federal no HC nº 0004717-33.2018.4.02.0000, impetrado no TRF2 em benefício do paciente

ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO1:

Além disso, a Força-Tarefa apresentou em seu pedido de prisão o Relatório de In-teligência Financeira nº 32867.3.5701.7821 do Conselho de Controle de Ativi-dades Financeiras – COAF, em que consta um emaranhado de informações ban-cárias suspeitas atribuídas à família ALBERNAZ CORDEIRO e suas empresas,reforçando as declarações originárias dos agentes colaboradores (vide documentonº 11 do pedido de prisão).

Assim, conforme restou demostrado na representação ministerial por meio não sóda palavra dos colaboradores mas dos documentos anexados, ATHOSCORDEIRO e ANTÔNIO CLÁUDIO CORDEIRO eram os responsáveis porpessoalmente receberem os pagamentos realizados pelos colaboradores.

Consta ainda nos autos da investigação até então apurada que ATHOSALBERNAZ CORDEIRO em conjunto com sua irmã CARMEN REGINAALBERNAZ CORDEIRO utilizou-se da empresa ALLCORPADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES para realizar a lavagem de capitais,como indica o Relatório de Inteligência Financeira do COAF (fls. 288):

Nestes relatórios, consta a comunicação COAF informando que a CARMEN RE-GINA CORDEIRO, em 24 de outubro de 2016, sacou o impressionante valor deR$1.650.000,00 (um milhão, seiscentos e cinquenta mil reais) da conta titulariza-da pela empresa ALLCORP ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES, depositou

1 Apresentada a este STF junto do agravo regimental interposto da decisão que concedeu a liminar.HABEAS CORPUS N. 157.604/RJ 10

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em sua conta pessoa física e, imediatamente, transferiu esse valor para seu irmão eora paciente ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO (fls. 402). Mais um elementoque afasta a sustentada ausência de contemporaneidade, de indícios concre-tos e de individualização das condutas.

Portanto, os elementos de prova examinados acima impedem desqualificar a con-

temporaneidade dos fatos criminosos ora analisados, em particular quando se considera que

um dos irmãos do paciente, ANTÔNIO CLÁUDIO, foi preso temporariamente, no âmbito da 26ª

fase da “Operação Lava Jato”, a “Operação Xepa”, em maio de 2016.

Portanto, mesmo após sua prisão preventiva, o paciente e o restante de sua

família continuaram a praticar os mesmos crimes de que foram acusados: a operação fi -

nanceira criminosa identificada acima foi feita em 24 de outubro de 2016 e eles todos

mantém valores depositados no exterior de forma i lícita , precisamente na conta titulari -

zada pelo ora paciente, ATHOS ROBERTO .

A Operação Câmbio Desligo – é importante destacar – não é a única investigação

criminal da conduta do paciente. Com efeito, a “Operação Étimo”, feita em agosto de 2017,

incluiu empresas ligadas a ATHOS ROBERTO, que foram objeto de buscas e apreensões, em

desdobramento da “Operação Xepa”, na qual seu irmão ANTÔNIO CLÁUDIO foi preso tem-

porariamente.

No caso dos autos, há farto material probatório que indica a prática de crimes por

ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO, associado criminosamente ao restante de sua família, pelo menos

até meados de 2016, e, como tais, são contemporâneos ao decreto prisional em abril de 2018.

Ora, tendo em conta que o tempo dos fatos criminosos é, para a prisão preventiva,

necessariamente tempo passado, não há como exigir, para que ela seja validamente decretada,

fatos mais recentes do que aqueles praticados por ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO. Dizer que cri-

mes praticados no final de 2016 – em reiteração delitiva que, apenas no tocante aos crimes

praticados junto à organização criminosa objeto da Operação Câmbio Desligo, vem desde

2011 - não são aptos a justificar uma prisão preventiva decretada no início de 2018 por não se-

rem contemporâneos, seria o mesmo que dizer que essa modalidade de prisão apenas se justi-

fica diante de fatos criminosos presentes – o que, a toda evidência, equivaleria a eliminar a

prisão preventiva do ordenamento jurídico pátrio, fazendo subsistir, em seu lugar, apenas a

prisão em flagrante.

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Além disso, o fato de que ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO e os demais membros de

sua família mantêm recursos ilícitos no exterior, em conta de sua titularidade, demonstra

o potencial lesivo advindo de sua liberdade não só à garantia da ordem pública, mas

também à aplicação da lei penal.

Como ainda há um grande volume de recursos ilicitamente evadidos do país pela

organização criminosa, o paciente, se for mantido em liberdade, poderá proceder à movimen-

tação desses valores, com o fim de impossibilitar a recuperação do montante ilicitamente au-

ferido.

A posição de integrante de sofisticada organização criminosa, a circunstância de

ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO ter na prática de ilícitos a sua forma de trabalho há décadas, a gra-

vidade em concreto dos crimes por ele praticados (a demonstrar, na linha da jurisprudência

dessa Suprema Corte, a sua periculosidade), assim como a contemporaneidade dos crimes -

tudo comprovado nos autos, e não fruto de mera especulação ou afirmações genéricas – indica

que a única forma de sobrestar as atividades ilícitas incorridas pelo paciente é mediante a sua

custódia cautelar. Do contrário, o risco de reiteração delitiva é óbvio e inegável em razão

de o paciente dedicar-se à prática de tais operações; assim, a necessidade da prisão cau-

telar se funda, antes de mais nada, no risco que a liberdade de ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO

traz à ordem pública.

Em situações em tudo idênticas à destes autos, o Ministro Gilmar Mendes tem

mantido prisões preventivas decretadas com base na necessidade de proteger a ordem pública

contra o risco de reiteração delitiva, deixando, inclusive, de superar o óbice previsto na Sumu-

la 691/STF.

É o caso, por exemplo, do HC 157.857, impetrado em favor de Henri Joseph Ta-

bet, um dos doleiros preso em maio de 2018 na “Operação Pão Nosso”, por crime de lava-

gem de dinheiro praticado pelo menos até 2017, e pelo crime de organização criminosa. No

referido HC, o Ministro Gilmar Mendes rejeitou a tese da defesa, de ausência de contempora-

neidade dos fatos, e decidiu que:

˜Não há como afirmar, com inequívoca segurança, em análise precária, própria dasliminares, que não persiste risco atual à ordem pública. A forma sofisticada comque aparentemente o paciente agia, a estrutura que detém para fazer operações decâmbio sem auxílio dos colaboradores e a notícia de que, em tese, reiterava os ilí-

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citos há anos, com profissionalismo, justificam o receio contemporâneo de novaspráticas criminosas.

Não se pode perder de vista que alguns dos crimes assinalados pelo Juiz, como opertencimento a organização criminosa (ainda não totalmente desarticulada) e o delavagem de dinheiro (na modalidade ocultar), são de natureza permanente e nãoforam, ainda, completamente elucidados, pois as investigações estão em curso.Prematuro concluir, em indevida supressão de instância, que não existe nenhumrisco contemporâneo de prática de novos crimes.

Nesse contexto, é desaconselhável a intervenção prematura desta Corte Superior.

À vista do exposto, não supero a Súmula n. 691 do STF e indefiro liminarmenteeste habeas corpus, com fulcro no art. 210 do RISTJ”. (eDOC 7)

Feitas essas considerações, ressalvo minha posição pessoal, mas, em homenagemao princípio do colegiado, adoto a orientação no sentido de não conhecer do pre-sente HC.

Ante o exposto, nego seguimento ao habeas corpus, por ser manifestamente inca-bível (artigo 21, § 1º, do RI/STF)”.

É importante observar que as provas trazidas pelo Ministério Público Federal indi-

cam ocultação de recursos em poder dos envolvidos, elemento que reforça a necessidade de

se restabelecer a prisão preventiva para a garantia da ordem pública e para assegurar a aplica-

ção da lei penal.

Por fim, ressalta-se que há coautores foragidos, notadamente o líder da organiza-

ção criminosa, Dario Messer, outro elemento que aponta para a necessidade da constrição cau-

telar para assegurar a aplicação da lei penal na espécie.

IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essas são as razões, pelas quais a Procuradoria-Geral da República pede a denega-

ção do pedido de habeas corpus com a cassação da liminar e o restabelecimento da prisão pre-

ventiva de ATHOS ALBERNAZ CORDEIRO, para a garantia da ordem pública e da aplicação da lei

penal.

Brasília,26 de agosto de 2018.

Raquel Elias Ferreira DodgeProcuradora-Geral da República

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