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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA: 0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch) D EMAIS REFERÊNCIAS: 0502341-40.2018.4.02.5101 (IPL 010/2018-11 – DELECOR - IPL Mãos à Obra – Juan) 0506266-78.2017.4.02.5101 (IPL 047/2017-11 – DELECOR – IPL Rio 40 Graus) 0506620-06.2017.4.02.5101 (Acordo de colaboração premiada de Celso Ramos Junior) 0506660-85.2017.4.02.5101 (Anexo 9 ao acordo de colaboração de Celso Ramos Junior) 0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch) 0004648-24.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Alexandre Pinto e Vagner Pereira) 0506972-95.2016.4.02.5101 (Acordo de leniência da empresa Carioca Engenharia) 0507551-43.2016.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia) 0029142-74.2017.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia) 0509595-35.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo telemático) 0509600-57.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo bancário e fiscal) 0505235-23.2017.4.02.5101(Sequestro de bens) 0505149.52-2017.4.02.5101 (prisão preventiva) 0174071-16.2017.4.02.5101 (Ação Penal Rio 40 Graus) 0004639-62.2018.4.02.5101 (Ação Penal Lavagem interna Alexandre Pinto) 0021748-89.2018.4.02.5101 (Ação Penal Corrupção Dynatest-TCDI) O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que ao final subscrevem 1 , no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, em especial a disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, comparece perante esse Juízo para, com base nas provas contidas nos diferentes autos eletrônicos em epígrafe, oferecer DENÚNCIA em desfavor de: 1) ALEXANDRE PINTO DA SILVA , brasileiro, servidor público municipal, ex-Secretário Municipal de Obras do Rio de Janeiro, nascido em , inscrito no CPF sob o nº , filho de , residente na Rua , , Casa, Jacarepaguá, Rio de Janeiro-RJ, CEP 22723-390, telefone (21) , atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques ; 1 Designados para atuar neste feito e conexos pela Portaria PGR/MPF nº 1307, de 7 de dezembro de 2017. 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃOJUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA:

0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch)

D EMAIS REFERÊNCIAS:

0502341-40.2018.4.02.5101 (IPL 010/2018-11 – DELECOR - IPL Mãos à Obra – Juan)0506266-78.2017.4.02.5101 (IPL 047/2017-11 – DELECOR – IPL Rio 40 Graus)0506620-06.2017.4.02.5101 (Acordo de colaboração premiada de Celso Ramos Junior) 0506660-85.2017.4.02.5101 (Anexo 9 ao acordo de colaboração de Celso Ramos Junior)0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch) 0004648-24.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Alexandre Pinto e Vagner Pereira)0506972-95.2016.4.02.5101 (Acordo de leniência da empresa Carioca Engenharia) 0507551-43.2016.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia)0029142-74.2017.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia)0509595-35.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo telemático)0509600-57.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo bancário e fiscal)0505235-23.2017.4.02.5101(Sequestro de bens)0505149.52-2017.4.02.5101 (prisão preventiva)0174071-16.2017.4.02.5101 (Ação Penal Rio 40 Graus)0004639-62.2018.4.02.5101 (Ação Penal Lavagem interna Alexandre Pinto)0021748-89.2018.4.02.5101 (Ação Penal Corrupção Dynatest-TCDI)

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da

República que ao final subscrevem1, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais,

em especial a disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, comparece perante esse Juízo

para, com base nas provas contidas nos diferentes autos eletrônicos em epígrafe, oferecer

DENÚNCIA em desfavor de:

1) ALEXANDRE PINTO DA SILVA, brasileiro, servidor público municipal, ex-Secretário

Municipal de Obras do Rio de Janeiro, nascido em , inscrito no CPF sob o nº

, filho de , residente na Rua ,

, Casa, Jacarepaguá, Rio de Janeiro-RJ, CEP 22723-390, telefone (21) ,

atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques;

1 Designados para atuar neste feito e conexos pela Portaria PGR/MPF nº 1307, de 7 de dezembro de 2017.

1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

2) CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, brasileiro, casado, engenheiro, RG ,

CPF , com endereço na Av. , Niterói,

Ingá, RJ;

3) JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, espanhol, divorciado, nascido em , portador

da carteira de identidade inscrito no CPF sob o número ,

residente na Rua , Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, CEP 227933-38,

atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques;

4) MIGUEL ALEXANDRE MARTINS CARDOSO DOS SANTOS BARREIROS , português,

casado, nascido em , CI nº , CPF nº , filho de

com endereço na Av. ,

, 1500-328, Lisboa, Portugal ou Rua , 1500-351, Lisboa, Portugal;

pela prática dos crimes a seguir descritos:

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

A presente denúncia apresenta o resultado de mais uma parcela da

investigação levada a cabo pelo Ministério Público Federal na Operação Rio 40 Graus e das

apurações realizadas após sua deflagração, resultando na Operação Mãos à Obra, tendo como

escopo aprofundar o desbaratamento da complexa organização criminosa instalada no Estado

do Rio de Janeiro, comandada por agentes políticos do Partido do Movimento Democrático

Brasileiro (PMDB), dedicada à obtenção de vantagens indevidas de empreiteiras executoras de

obras públicas, assim como de diversas outras empresas prestadoras ou concessionárias de

serviços públicos.

No bojo do acordo de leniência da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN

ENGENHARIA S/A, homologado perante este juízo (0506972- 95.2016.4.02.5101), foram

colhidos depoimentos dos lenientes que trouxeram relevantes informações para o

aprofundamento das investigações iniciadas por ocasião da Operação Calicute, indicando que o

esquema de corrupção existente na Secretaria de Estado de Obras, consistente na cobrança de

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

propina no valor de 1% dos bilionários contratos, repetia-se na Prefeitura do Rio de Janeiro –

também por meio da Secretaria de Obras.

O quadro narrado pelos lenientes e as investigações que se seguiram

revelaram um grande esquema de corrupção instalado na Prefeitura do Rio de Janeiro,

envolvendo agentes públicos e empreiteiras de forma semelhante ao que foi descoberto no

Governo do Estado do Rio de Janeiro, sendo que os ilícitos inicialmente noticiados ocorreram,

principalmente, em duas obras municipais, financiadas com recursos federais: TRANSCARIOCA

LOTE 2 e OBRAS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DE JACAREPAGUÁ. Dentre os

fatos citados pelos lenientes e comprovados durante a apuração estava a solicitação de

vantagens indevidas pelo então Secretário Municipal de Obras do Rio de Janeiro ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, correspondente a 1% (um por cento) do valor de cada um dos dois contratos

celebrados entre o Município do Rio de Janeiro e os respectivos consórcios vencedores das

licitações.

Assim, como consequência do prosseguimento das investigações foi deflagrada

a Operação Rio 40 graus, com o objetivo de reprimir parcela da organização criminosa

responsável pela obtenção de vantagens indevidas em detrimento da Prefeitura do Rio de

Janeiro, que era operacionalizada pelo Secretário Municipal de Obras ALEXANDRE PINTO DA

SILVA, contando com o apoio de diversos agentes municipais. Tais fatos são objeto da ação

penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101, sendo que ALEXANDRE PINTO foi ainda denunciado nos

autos 0004639-62.2018.4.02.5101 por diversos crimes de lavagem de dinheiro em razão de

operações visando ocultar seu patrimônio ilicitamente adquirido em nome de familiares e

empresa por ele criada para tal finalidade.

Após a deflagração da Operação Rio 40 Graus na sequência das

investigações, foi celebrado acordo de colaboração premiada com o empresário CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR, homologado por este juízo nos autos nº 0506620-

06.2017.4.02.5101, o que permitiu o aprofundamento das apurações sobre os crimes cometidos

pela supracitada organização criminosa, revelando fatos ilícitos que consubstanciam, dentre

outros, os seguintes tipos penais: organização criminosa; corrupção ativa; corrupção passiva;

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lavagem de dinheiro; fraude contra licitações; evasão de divisas; manutenção de contas não

declaradas no exterior e sonegação fiscal.

De fato, inúmeros outros fatos criminosos praticados por ALEXANDRE PINTO

DA SILVA e outros membros da ORCRIM foram revelados em razão da celebração de acordo

de colaboração premiada com o empresário CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, sendo

possível obter provas de que a atuação da organização criminosa – com liderança pelo

requerido ALEXANDRE PINTO - não se limitou a poucas obras, como as que já foram objeto de

denúncia, mas se estendeu por muitos anos em diversas obras municipais, alcançando não só

as empreiteiras contratadas para execução das obras, assim como outras prestadoras de

serviços e empresas fornecedoras de materiais para as contratadas, como no caso do

colaborador CELSO RAMOS JÚNIOR.

O colaborador inclusive relatou em seus depoimentos que se valeu de diversas

empresas das quais era sócio, dentre as quais a ANDRADE RAMOS e a CAHPI

CONSULTORIA E SERVIÇOS, para geração de caixa 2 em favor das grandes empreiteiras que

executavam obras públicas no Estado e Município do Rio de Janeiro, como a Carioca

Engenharia, a OAS e a Odebrecht, atuando, por exemplo, na geração de caixa 2 durante as

obras da Transcarioca, isto é, “produzindo” recursos em espécie para que as empreiteiras

pudessem efetuar os pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos municipais,

cujos crimes de corrupção foram narrados na primeira denúncia oferecida na Operação Rio 40

Graus (0174071-16.2017.4.02.5101).

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR atuava na importação e venda de

materiais como geogrelhas, pigmento asfáltico e aditivos de mistura morna, de aplicação em

obras de vias asfálticas, tendo como principais clientes empresas prestadoras de serviços à

Prefeitura do Rio de Janeiro. Embora não fosse contratada diretamente pela Prefeitura, a

recomendação de seus produtos por parte dos ex-Secretário ensejou a cobrança de vantagens

indevidas por ALEXANDRE PINTO. Inicialmente o colaborador vendia tais produtos no Brasil

através da empresa MATONI IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO, e a partir de 2011, com o

fechamento da MATONI por problemas nas transações de comércio exterior, CELSO JÚNIOR

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optou por abrir uma empresa no exterior denominada BYNKELOR, e passou a atuar apenas

como representante comercial dos produtos que já vendia, porém sem a responsabilidade pelas

questões de importação no Brasil, já que havia outras empresas que atuavam em tal etapa

(DOC. 01 – Histórico e Anexo 01).

Depois de um período realizando o pagamento de propinas a

ALEXANDRE PINTO, foi criada uma relação de confiança entre estes, de modo que o

colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR passou a exercer função de um verdadeiro

operador financeiro: além de acautelar recursos devidos a ALEXANDRE PINTO a título de

propina, CELSO JÚNIOR intermediou a solicitação e fez o recolhimento de propina de outras

empresas contratadas a pedido de ALEXANDRE, auxiliou o ex-Secretário na abertura de uma

conta bancária no exterior e na prática de diversos atos de lavagem de capitais, com a

disponibilização dos recursos em conta em nome de uma offshore, além de atuar na remessa

dos recursos espúrios ao exterior e em sua movimentação, disponibilizando os recursos em

questão conforme as demandas de ALEXANDRE, se valendo em tais atividades dos serviços

do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH.

Na presente denúncia são imputados crimes de corrupção passiva praticados

por ALEXANDRE PINTO DA SILVA no que tange a parte das vantagens indevidas recebidas da

Andrade Gutierrez relacionadas às obras da Transcarioca - Lote 01 - Corredor T5, que liga a

Penha e a Barra da Tijuca, assim como fatos criminosos relacionados ao esquema de evasão de

divisas e lavagem de capitais levado a efeito por ALEXANDRE PINTO DA SILVA com o auxílio

de CELSO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e outros agentes não

totalmente identificados, sendo narrada ainda a pertinência dos denunciados à organização

criminosa revelada.

Destaca-se que foram imputados nesta denúncia apenas parte dos atos de

corrupção, lavagem de capitais e evasão de divisas identificados, sendo que naturalmente a

peça acusatória não esgota todos os atos praticados pelos denunciados e pela organização

criminosa da qual fazem parte, que poderão ser objeto de novas denúncias.

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Em relação aos crimes de lavagem de ativos imputados nesta peça,

salienta-se que parte dos crimes antecedentes, de corrupção e pertinência à organização

criminosa, já foram objeto de denúncia nos autos da ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101.

Apresenta-se em anexo a denúncia da referida ação penal (DOC. 02), para que faça parte da

presente imputação toda a narrativa envolvendo os crimes de corrupção já imputados ao

denunciado ALEXANDRE PINTO DA SILVA , de modo a demonstrar a presença dos indícios

suficientes dos delitos antecedentes dos atos de lavagem objeto da presente denúncia.

Outrossim, este órgão ministerial requer o compartilhamento de todas as

provas colhidas naqueles autos e apresentadas junto à peça acusatória para que possam

instruir a presente ação penal. De qualquer modo, serão abordados brevemente, em item

próprio nesta peça, os elementos reunidos acerca de tais crimes antecedentes, sendo ainda

acostados à presente denúncia os depoimentos prestados pelos lenientes da CARIOCA

ENGENHARIA e por executivos da Andrade Gutierrez e OAS (DOC. 03)

2. IMPUTAÇÕES TÍPICAS

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre julho e outubro de

2013, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e

propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio da criação da

offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores

recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 0547980 no banco Credit

Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI, com o

recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro

mil e noventa e um dólares americanos), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem

criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o

rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º da Lei

9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 01)

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Em outubro de 2013, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, promoveram, sem

autorização legal, em 4 oportunidades, a saída do total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta

e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o exterior por meio de operações de

“dólar-cabo”, em que os valores em espécie em reais foram entregues por ALEXANDRE PINTO

a JUAN LUIS BERTRÁN no Brasil, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de

contas no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 0547980 no banco

Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING

CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa

oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema

financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central. (Evasão de Divisas/Artigo 22, §

único, primeira parte, da Lei 7.492/86 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02).

Entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA,

de modo consciente e voluntário, em razão da condição de Secretário Municipal de Obras da

Prefeitura do Rio de Janeiro, recebeu, com o auxílio de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e

através da empresa BYNKELOR, em 2 oportunidades, vantagens indevidas que totalizaram

USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade Gutierrez, em

duas parcelas de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares) e com pagamento no exterior,

para exercer o seu cargo com especial atenção aos interesses privados da empresa, em

especial no que concerne ao contrato originalmente celebrado entre o Consórcio Transcarioca

BRT e o Município do Rio de Janeiro e transferido integralmente à Andrade Gutierrez, para

execução da obra de construção da via da Transcarioca – Corredor T5 – Lote 1 – Trecho Penha

à Barra da Tijuca (Corrupção Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e art. 71 do CP– 2 crimes em

continuidade - Conjunto de Fatos 03).

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre dezembro

de 2013 e janeiro de 2014, em duas oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR e o então Diretor Financeiro da Andrade Gutierrez MIGUEL

BARREIROS, bem como outros executivos da referida empreiteira2 a serem oportunamente

2 Com exceção dos crimes de lavagem de dinheiro imputados a MIGUEL BARREIROS, os crimes de corrupção ativa elavagem de ativos com envolvimento de executivos da Andrade Gutierrez serão apurados de forma autônoma e ensejarão ooferecimento de novas denúncias.

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

denunciados, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam

a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores

provenientes do crime de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da

celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A., empresa de

CELSO JÚNIOR, e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE

GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos), e

posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando

USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de

aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário

(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto

de Fatos 04).

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre dezembro de 2013 e

setembro de 2014, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição,

movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio

da remessa dos valores anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR

S.A no Uruguai, através de operações estruturadas por JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH,

para a conta nº 0547980 no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco)

em nome da CENTOVALI TRADING CORP, no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos

de sua origem criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos

recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 4

crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).

No período compreendido entre 16.07.2013 e 09.10.2015, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, com auxílio do colaborador

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve no exterior

depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23

(setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares americanos e vinte e três

cents) em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos

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e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, na conta nº 0547980 do banco

Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), titularizada pela offshore panamenha

CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única

finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda

parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade delitiva -

Conjunto de Fatos 06).

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, em outubro de

2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e

consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e

oitenta e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares e setenta e cinco) provenientes de crimes

de corrupção passiva, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de valores

uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da pessoa

jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR constou

como representante leg perante a instituição bancária, e transferência de todos os recursos que

ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta,

no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real

proprietário dos valores nela depositados (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 -

Fato 07).

Outrossim, consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre

27 e 31 de outubro de 2015, em pelo menos 19 oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA

e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios,

ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e

propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e cinquenta dólares e quarenta e quatro

cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os convertendo em ativos de aparência

lícita consistentes em bens e serviços, por meio da utilização do cartão de crédito pré-pago

CORNERCARD em nome de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, emitido a partir do débito

de valores na conta nº 2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS

CORREDOR DE BOLSA S.A de titularidade da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP,

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para pagamento de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa

Érica de Castro Nogueira. (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 19 crimes em

continuidade - Conjunto de Fatos 08).

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em

unidade de desígnios, em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, ocultaram e

dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de

valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio de remessa dos valores

recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora

uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI

TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor aproximado de USD

250.000,003 (duzentos e cinquenta mil dólares), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua

origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e

dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º

da Lei 9.613/1998 – Fato 09)

Em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, os denunciados

ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de modo consciente e

voluntário e em unidade de desígnios, promoveram a saída de aproximadamente

USD 250.000,004 (duzentos e cinquenta mil dólares) do Brasil, por intermédio do sistema

“dólar-cabo”, em que os valores em espécie correspondente recebidos a título de propina por

ALEXANDRE PINTO foram retirados em uma casa de câmbio no Brasil, pelos funcionários do

doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de contas

no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI

TRADING CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a

remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do

3 Valores aproximados da diferença entre o saldo da conta da Hordeñana em 25.11.2016 (USD1.165.813,19) – DOC. 22 e osaldo final transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016 (USD 1.417.067,68) - DOC. 26. Conforme relatou ocolaborador CELSO JÚNIOR, após a transferência da conta da CENTOVALI para a Corretora Hordeñana o único aporte derecursos se referiu a uma remessa via dólar-cabo de recursos de propina pagos pela Andrade Gutierrez no Brasil.

4 Conforme nota de rodapé acima.

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sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central (Evasão de Divisas/Artigo

22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10).

No período compreendido entre 09.10.2015 e 01.11.2016, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, inclusive no dia 31.12.2015, com auxílio do colaborador CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve depósitos não declarados à

repartição federal competente no valor correspondente em dólares a, ao menos, USD

1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil, oitocentos e treze dólares americanos e

dezenove cents) na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR

DE BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela offshore panamenha CENTOVALI TRADING

CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única finalidade de titularizar

contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86

– Fato 11).

Ao menos entre os anos de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, e outras pessoas já denunciadas nas

ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, notadamente

ALEXANDRE PINTO DA SILVA, VAGNER DE CASTRO PEREIRA, EDUARDO FAGUNDES e

outros fiscais vinculados à Secretaria Municipal de Obras, e de indivíduos ainda não

identificados ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e

em comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma

organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,

com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas

pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos

e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses

delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização

Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).

Para melhor compreensão das operações realizadas, a imagem abaixo ilustra

cronologicamente os principais eventos relacionados aos crimes de corrupção, evasão de

divisas, lavagem de dinheiro e manutenção de depósitos no exterior:

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3. DOS CRIMES ANTECEDENTES 5 AOS DELITOS DE

LAVAGEM DE ATIVOS ADIANTE NARRADOS

Como revelado na Operação Rio 40 Graus (ação penal

0174071-16.2017.4.02.5101, entre os anos de 2011 e 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, à

época Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro, solicitou e recebeu

vantagem ilícita dos executivos das empresas CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA,

OAS e ANDRADE GUTIERREZ, em virtude da execução de duas obras de construção civil

contratadas pela Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro com os consórcios

Transcarioca Rio e Rios de Jacarepaguá, quais sejam, a construção da via da

TRANSCARIOCA, Lote 2, que liga a Penha ao Aeroporto Internacional do Galeão e as obras de

Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá - Lotes 1B e 1C, respectivamente.

5 Parte dos delitos antecedentes narrados já foram objeto de denúncia nos autos 0174071-16.2017.4.02.5101, naqual são imputados crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

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Além dos crimes de corrupção já imputados ao ex-Secretário na ação penal

supracitada, os depoimentos prestados pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR,

acompanhados de fartos elementos probatórios, revelaram uma série de novos crimes de

corrupção praticados entre os anos de 2010 e 2016, que se estenderam por diversas obras

municipais, alcançando não só as empreiteiras contratadas para execução das obras, assim

como outras prestadoras de serviços (Dynatest e TCDI, por exemplo) e empresas fornecedoras

de materiais para as contratadas, como no caso das empresas do colaborador (DOC. 01 –

Histórico e anexos 01, 03, 04, 06, 09)

Os depoimentos do colaborador e demais depoimentos colhidos

demonstraram que houve, do mesmo modo, cobrança de propina da Andrade Gutierrez em

percentual do valor das obras da Transcarioca – Lote 1, cujo valor global foi superior a 1 bilhão

de reais, fazendo, do mesmo modo, parte do rol de crimes antecedentes desta denúncia,

havendo indícios mais que suficientes da prática de tais delitos antecedentes. Registra-se que

nesta denúncia são imputados apenas parte dos crimes de corrupção envolvendo a obra da

Transcarioca Lote 1, envolvendo dois recebimentos específicos de propina no exterior por meio

da celebração de contratos fictícios.

3.1 DA CORRUPÇÃO PASSIVA NAS OBRAS DA TRANSCARIOCA - LOTE 2

Conforme narrado na ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101, no período

compreendido entre maio de 2012 e dezembro de 2014, por pelo menos 33 (trinta e três) vezes,

ALEXANDRE PINTO DA SILVA, de modo consciente e voluntário, em razão da condição de

Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro, solicitou e aceitou promessa de

vantagem indevida correspondente a 1% (um por cento) do valor do contrato celebrado entre o

Consórcio Transcarioca Rio e o Município do Rio de Janeiro, para execução da obra de

construção da via da Transcarioca – Corredor T5 – Lote 2 – Trecho Penha ao Galeão, bem

como recebeu, em razão da função pública exercida, vantagem indevida de ao menos

R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) da empreiteira CARIOCA CHRISTIANI

NIELSEN ENGENHARIA e ao menos valor equivalente da CONSTRUTORA OAS, líder do

consórcio com participação de 46% (quarenta e seis por cento), praticando e omitindo atos de

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ofício, com infração de deveres funcionais, em decorrência das vantagens recebidas,

notadamente com relação à omissão quanto ao direcionamento do procedimento licitatório em

favor do referido Consórcio, assim como no que concerne à atividade de fiscalização e controle

da execução das atividades inerentes à obra citada (Corrupção Passiva/Art. 317, § 1º, do CP).

ALEXANDRE PINTO solicitou, inicialmente, em razão da função exercida,

promessa de vantagem indevida correspondente a 3% (três por cento) dos valores recebidos

pelo Consórcio Transcarioca Rio aos executivos da CARIOCA ENGENHARIA e da

CONSTRUTORA OAS, cuja porcentagem equivaleria a aproximadamente R$ 15.000.000,00

(quinze milhões de reais) considerando o orçamento total da obra (R$ 548.330.000,00).

Tal solicitação foi levada ao conhecimento dos executivos da CARIOCA

ENGENHARIA em uma das reuniões de Conselho da Obra pelo Diretor Superintendente da

OAS REGINALDO ASSUNÇÃO, sendo que na ocasião não foi aceito o elevado percentual

cobrado por ALEXANDRE de 3% do valor das obras. Assim, foi realizada nova reunião com

ALEXANDRE PINTO, na qual estiveram presentes representantes da CARIOCA ENGENHARIA,

ocasião em que se chegou ao acordo de que o valor das vantagens indevidas repassadas ao

ex-Secretário Municipal de Obras corresponderia a 1% do valor das obras.

Em razão do aludido ajuste, ALEXANDRE PINTO recebeu vantagem indevida

de ao menos R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) só da parte da empreiteira

CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, que detinha 36% do contrato, tendo a OAS

pago, no mínimo, o mesmo valor ao denunciado, já que era a empresa líder do Consórcio com

46% de participação no contrato.

Os pagamentos efetuados a ALEXANDRE eram efetuados sempre em

espécie, sendo repassados ao ex-Secretário após cada recebimento pelo Consórcio

Transcarioca Rio, totalizando 33 (trinta e três) repasses no período do contrato até o fim de

2014. Parte dos valores para tais pagamentos chegaram a ser obtidos através da geração de

caixa 2 na própria obra pelo Consórcio, sendo que posteriormente os valores passaram a ser

pagos separadamente por cada uma das empreiteiras.

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Quanto à parte da CARIOCA ENGENHARIA, a entrega da propina a

ALEXANDRE PINTO era realizada em regra pelo representante comercial Marcos Antonio dos

Santos Bonfim, que já tinha um relacionamento mais próximo e uma relação de confiança com o

denunciado, sendo que em uma oportunidade os valores foram repassados ao ex-Secretário

pela diretora Luciana Salles. Antonio Cid Campelo Rodrigues também efetuou a entrega de

valores em espécie a ALEXANDRE PINTO quanto à parte da OAS.

Os fatos imputados a ALEXANDRE PINTO DA SILVA foram confirmados pelos

lenientes Luciana Salles Parente, Marcos Antônio dos Santos Bonfim, Roberto José Teixeira

Gonçalves, e também por Antonio Cid Campelo Rodrigues, também denunciado na ação penal

nº 0174071-16.2017.4.02.5101, e corroborados pelas demais provas colhidas nos autos, em

especial pela análise dos dados bancários e fiscais de ALEXANDRE, que evidenciam diversas

operações incompatíveis com o patrimônio do denunciado e seus familiares, além de vários

pagamentos realizados em espécie com o dinheiro amealhado com os crimes de corrupção

narrados.

Assim, os depoimentos dos lenientes e demais provas reunidas na ação penal

supracitada demonstram que ALEXANDRE PINTO DA SILVA, na condição de Secretário

Municipal de Obras, foi responsável por manter em funcionamento na Secretaria um esquema

criminoso de desvio de verbas públicas, inclusive federais, com recebimento de propina em

valores vultosos, correspondentes a percentuais dos valores devidos pela execução de uma

milionária obra pública municipal. Tal esquema contava como o envolvimento de diversos

agentes em toda a cadeia de servidores municipais de hierarquia inferior, alguns já identificados

na referida ação penal e outros ainda pendentes de identificação.

O recebimento dos vultosos recursos em espécie das empreiteiras

naturalmente impactaria o patrimônio de ALEXANDRE PINTO DA SILVA, de maneira que este

se valeu do auxílio de familiares para tentar ocultar a aquisição de bens que não poderiam

constar em seu próprio nome, uma vez que ele não possuía disponibilidade financeira para

suportar a variação patrimonial que seria causada pelo recebimento de propina. Tais operações

evidentemente deixaram seus rastros e serão, em parte, objeto da presente denúncia.

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3.2 DA CORRUPÇÃO PASSIVA NAS OBRAS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA

DE JACAREPAGUÁ – LOTES 1B E 1C

Conforme descrito na denúncia da ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101,

ALEXANDRE PINTO, na qualidade de Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de

Janeiro, solicitou e aceitou promessa de vantagem indevida correspondente a 1% (um por

cento) dos valores recebidos pelo Consórcio Rios de Jacarepaguá referente à construção das

obras de Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá Lotes 1-B e 1-C. Os valores

solicitados equivaleriam a aproximadamente R$ 2.380.000,00 (dois milhões e trezentos e oitenta

mil reais) considerando o orçamento total da obra (R$ 238.880.904,05).

A solicitação da propina ocorreu por ocasião de uma das visitas de

ALEXANDRE PINTO à obra diretamente ao leniente Marcos Antonio dos Santos Bonfim, que

levou tal solicitação ao conhecimento dos executivos Cristiano Cavalcanti da Andrade Gutierrez

e Rodolfo Mantuano da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, e ambas as empresas

concordaram com o pagamento das vantagens indevidas solicitadas pelo ex-Secretário, ficando

cada empresa responsável pelo pagamento de sua parte.

Mais uma vez, os pagamentos da parte da CARIOCA foram feitos em espécie

e foram entregues a ALEXANDRE PINTO por Marcos Antonio dos Santos Bonfim, no mesmo

local em que havia sido entregue a propina relativa às obras da TRANSCARIOCA.

O denunciado ALEXANDRE PINTO recebeu vantagem indevida de ao menos

R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), ofertados por ação de representantes da empreiteira

CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA. O valor total solicitado por ALEXANDRE

PINTO não foi pago, tendo em vista que apenas cerca de 70% (setenta por cento) do contrato

em questão foi executado em razão de uma série de paralisações.

As oitivas dos lenientes Luciana Salles Parente, Roberto José Teixeira

Gonçalves e Marcos Bonfim confirmaram a solicitação de propina efetuada por ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, assim como os pagamentos feitos pelos funcionários da CARIOCA

CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA ao ex-Secretário Municipal de Obras.

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Marcos Antonio dos Santos Bonfim confirmou que, de 1% do que foi solicitado,

o que corresponderia a aproximadamente R$ 2.380.000,00 (dois milhões e trezentos e oitenta

mil reais), recorda-se que apenas R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) foram pagos a

ALEXANDRE PINTO da parte da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, devido às

mencionadas paralisações.

As informações prestadas pelo leniente Marcos Bonfim foram confirmadas por

Cristiano Pimentel Cavalcanti Vieira, assistente comercial da Andrade Gutierrez, em depoimento

realizado nesta Procuradoria da República.

Foram apresentadas na denúncia oferecida nos autos

0174071-16.2017.4.02.5101 todos os elementos que comprovam a prática dos delitos de

corrupção passiva por parte do ex-Secretário Municipal de Obras e que, naturalmente,

consubstanciam elementos mais que suficientes da prática dos delitos antecedentes dos atos de

lavagem imputados nesta peça, com destaque para: (i) os depoimentos prestados pelos

executivos da Carioca Engenharia, da Andrade Gutierrez, e da OAS (o corréu naquele feito

ANTONIO CID), acerca do pagamento de valores de propina em espécie diretamente ao

ex-Secretário de Obras; (ii) a análise da situação fiscal de ALEXANDRE PINTO que indica

variação patrimonial a descoberto e operações suspeitas em diversos exercícios, com diversas

transações omitidas em suas declarações de imposto de renda; (iii) o RIF encaminhado pelo

COAF e as informações prestadas pela Odebrecht Realizações que indicam a aquisição de bens

de luxo e imóveis com a utilização de dinheiro em espécie por ALEXANDRE; (iv) os dados

obtidos na quebra de sigilo bancário, que identificaram diversos depósitos em espécie e

transações realizadas por ALEXANDRE nas contas bancárias de sua mãe SÔNIA REGINA

PINTO DA SILVA e de seus filhos RENAN MONTENEGRO NOGUEIRA DA SILVA e CARLOS

VICTOR MONTENEGRO NOGUEIRA DA SILVA; e (v) as demais transações imobiliárias

realizadas por ALEXANDRE PINTO DA SILVA em nome de seus filhos. Todos os elementos

citados evidenciam o efetivo recebimento dos recursos a título de propina narrado pelos

lenientes e consubstanciam provas mais que suficientes da prática dos delitos antecedentes aos

crimes de lavagem do dinheiro que serão descritos nos tópicos a seguir.

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3.3 – DOS CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA REVELADOS POR CELSO JÚNIOR -

EMPRESAS COLABORADOR – CONSÓRCIO DYNATEST-TCDI – ANDRADE GUTIERREZ

A celebração do acordo de colaboração premiada com o empresário CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR permitiu o aprofundamento das apurações sobre os crimes

cometidos pela supracitada organização criminosa, revelando diversos atos de corrupção

praticados por agentes municipais, em especial o ex-Secretário de Obras ALEXANDRE PINTO

DA SILVA. Assim, além dos atos de corrupção que já foram objeto de denúncia na Operação

Rio 40 Graus citados nos itens 3.1 e 3.2 supra, CELSO JÚNIOR trouxe informações e provas

acerca da prática do delito de corrupção passiva envolvendo o fornecimento de materiais pelas

empresas do próprio colaborador MATONI e BYNKELOR, assim como fatos criminosos

relacionados à obra da Transcarioca Lote 1 e dos serviços de monitorização da implantação no

BRT Transbrasil.

Como já destacado, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR atuava na

importação e venda de materiais como geogrelhas, pigmento asfáltico e aditivos de mistura

morna, de aplicação em obras de vias asfálticas, tendo como principais clientes empresas

prestadoras de serviços à Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio das empresas MATONI e

BYNKELOR S.A.. Embora não fosse contratada diretamente pela Prefeitura, a recomendação de

seus produtos por parte dos ex-Secretário ensejou a cobrança de vantagens indevidas por

ALEXANDRE PINTO, como relatou CELSO JÚNIOR (DOC. 01 – Histórico e Anexo 01).

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR relatou a prática do crime de

corrupção passiva de ALEXANDRE PINTO pelo menos nas seguintes contratações:

(i) fornecimento de geogrelhas para aplicação nas obras de restauração da linha Vermelha

(2010); (ii) fornecimento de geogrelhas para aplicação nas obras do programa Asfalto Liso

(2010 a 2012); (iii) fornecimento de geogrelhas e pigmento asfáltico para aplicação nas obras

da Transoeste (2012-2013); (iv) fornecimento de pigmento asfáltico e ligante sintético utilizados

nas obras realizadas no entorno do Maracanã; fornecimento de geogrelhas para aplicação nas

obras da Transcarioca (2012/2013); (v) prestação de serviços de gerenciamento e supervisão

por parte do Consórcio Dynatest-TCDI nas obras de implantação do Corredor TRANSBRASIL

(2014 a 2016); (vi) obras da Transcarioca Lote 2 (Histórico e Anexos 01, 03, 04, 06, 09).

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Em relação às vantagens indevidas pagas pelo próprio colaborador, este

apresentou as notas fiscais do fornecimento de materiais aplicados nas obras municipais e as

planilhas de controle de pagamentos de propina que fazia a ALEXANDRE PINTO DA SILVA, e,

em alguns casos, apresentou ainda extratos das contas da empresa MATONI nos quais

constavam os saques exatos dos valores pagos a ALEXANDRE.

Por sua vez, no que concerne ao pagamento de vantagens indevidas por

parte das empresas que compunham o Consórcio Dynatest-TCDI, contratado para prestação de

serviços de monitorização das obras e serviços relacionados à implantação do Corredor

TRANSBRASIL o colaborador demonstrou a realização de pagamentos em espécie a

ALEXANDRE PINTO e ao Subsecretário de Obras Vagner de Castro Pereira, além da equipe de

fiscalização do contrato, o que ensejou o oferecimento de denúncia nos autos 0021748-

89.2018.4.02.5101, em face dos sócios da referida empresas, dos funcionários responsáveis

pela movimentação dos recursos para pagamento da propina e dos agentes públicos (DOC. 04).

Por fim, em relação ao relato do colaborador de pagamentos de propina

por parte da Andrade Gutierrez em razão das obras da Transcarioca – Lote 1, foram

comprovados ao menos dois recebimentos de vantagens indevidas no montante de

USD 1.040.000,00 por meio de contratos fictícios de prestação de serviços entre a empresa

ZAGOPE GULF, do grupo AG, e a empresa do colaborador, a BYNKELOR S.A., o que será

objeto da imputação no item 4.2 infra (Conjunto de Fatos 03). Há, no entanto, indícios de que

vários outros pagamentos em espécie foram realizados a ALEXANDRE PINTO por executivos

da Andrade Gutierrez em razão da obra citada. Embora seja necessário o aprofundamento das

apurações quanto a tais pagamentos, o que poderá ser objeto de denúncia autônoma, como já

consignado nesta peça, os elementos já reunidos consubstanciam indícios suficientes em

relação aos delitos antecedentes quando aos crimes de lavagem de capitais ora imputados ao

ex-Secretário.

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4. DOS FATOS

4.1. CONJUNTO DE FATOS 01 e 02: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME ANTECEDENTE

DE CORRUPÇÃO PASSIVA (CONSTITUIÇÃO DA CENTOVALI TRADING CORP, ABERTURA

DE CONTA NO CFM MÔNACO, TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS) E EVASÃO DE DIVISAS

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre julho e outubro de

2013, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e

propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio da criação da

offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores

recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 0547980 no banco Credit

Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI, com o

recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro

mil e noventa e um dólares americanos), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem

criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o

rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º da Lei

9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 01)

Em outubro de 2013, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, promoveram, sem

autorização legal, em 4 oportunidades, a saída do total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta

e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o exterior por meio de operações de

“dólar-cabo”, em que os valores em espécie em reais foram entregues por ALEXANDRE PINTO

a JUAN LUIS BERTRÁN no Brasil, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de

contas no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 0547980 no banco

Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING

CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa

oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema

financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central. (Evasão de Divisas/Artigo 22, §

único, primeira parte, da Lei 7.492/86 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02)

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Como já relatado, após diversos episódios de pagamentos de propina e do

estabelecimento de uma relação de confiança com o empresário CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR, no ano de 2013 ALEXANDRE PINTO DA SILVA pediu o auxílio do colaborador para

abrir uma conta no exterior, com o intuito de escamotear os recursos recebidos a título de

propina.

Para tratar do assunto foi realizada uma reunião no escritório de CELSO

JÚNIOR, localizado na Rua Evaristo da Veiga nº 55, sala 1107, em que estiveram presentes o

colaborador, ALEXANDRE PINTO, o contador uruguaio Jorge Navarro, os doleiros JUAN LUIS

BERTRÁN BITLLONCH e “Raul”, pessoas de confiança de CELSO JÚNIOR, que o auxiliavam

nos negócios no exterior e que inclusive haviam viabilizado a criação da empresa BYNKELOR

S.A., pertencente ao colaborador. Na ocasião, o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN e Jorge Navarro

se comprometeram a trabalhar na abertura da conta em nome de ALEXANDRE PINTO no

exterior, mas o alertaram para o fato de que os bancos poderiam recusar o pedido em

decorrência de ALEXANDRE ser classificado como uma Pessoa Politicamente Exposta (PPE)6.

Com efeito, o banco Credit Agricole recusou a abertura de conta em nome de

ALEXANDRE PINTO, em decorrência do mesmo ser uma pessoa politicamente exposta (PPE),

conforme é possível observar no e-mail encaminhado a CELSO JÚNIOR em 31.05.2013 pela

representante do Credit Agricole do Uruguai, Magdalena Staricco (DOC. 05). No referido e-mail,

Magdalena se refere a ALEXANDRE PINTO como “nuestro amigo de Rio de Janeiro”:

6 Nos termos do artigo 1º da Resolução nº 16, de 28 de março de 2007, do Conselho de Controle de AtividadesFinanceiras (COAF) “Consideram-se pessoas politicamente expostas os agentes públicos que desempenham ou tenhamdesempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em países, territórios e dependências estrangeiras, cargos,empregos ou funções públicas relevantes, assim como seus representantes, familiares e estreitos colaboradores”.

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Diante de tal impossibilidade, JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e Jorge

Navarro sugeriram a criação de uma empresa com ações ao portador no Panamá, em que um

terceiro de nacionalidade panamenha constaria como diretor, e o nome de ALEXANDRE PINTO

DA SILVA ficaria oculto, o que representaria uma maior proteção ao ex-Secretário.

Acolhida a sugestão, por determinação de ALEXANDRE PINTO, os

denunciados CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, com

o auxílio dos parceiros uruguaios, e promoveram a criação da pessoa jurídica CENTOVALI

TRADING CORP e, em seguida, em julho de 2013, a abertura da conta bancária nº 0547980 no

banco Credit Agricole de Mônaco (CFM Mônaco). A pedido de ALEXANDRE PINTO DA SILVA,

o colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR figurou como representante da empresa

perante a instituição financeira, embora seu real beneficiário fosse o ex-Secretário (DOC. 06):

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A propósito, a senha escolhida para acesso à conta da CENTOVALI no CFM

Mônaco era “MONTBLANCO”, como consta na troca de e-mails entre CELSO JR e Magdalena

Staricco reproduzida abaixo (DOC. 07), como referência ao próprio denunciado ALEXANDRE

PINTO, uma vez que este se utilizava de endereços de e-mail do Yahoo e Superig com a

palavra “montbranco”, conforme dados obtidos no afastamento do sigilo de dados telemáticos do

denunciado nos autos nº 0509595-35.2016.4.02.5101, e como o próprio ALEXANDRE

confirmou em seu depoimento perante a Polícia Federal:

Conforme relatado pelo colaborador, ALEXANDRE PINTO DA SILVA adquiriu

um laptop para usar exclusivamente no acesso à conta da CENTOVALI no CFM Mônaco, sendo

que o acesso à conta na internet era feito através de um modem pré-pago adquirido em um

mercado popular localizado na Rua Uruguaiana no centro do Rio de Janeiro pelo colaborador

CELSO JÚNIOR, uma vez que o acesso via Wi-Fi poderia deixar rastros.

Evidencia-se, portanto, que ao promover a abertura de uma conta no exterior

em nome de uma offshore panamenha, registrada com ações ao portador, tendo como

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representante o colaborador CELSO RAMOS JÚNIOR, o denunciado ALEXANDRE PINTO

tinha o inequívoco propósito de viabilizar a lavagem de capitais oriundos dos crimes de

corrupção passiva por ele praticados, mantendo elevadas quantias longe do alcance das

autoridades, já que os recursos que seriam clandestinamente remetidos à aludida conta ficariam

em nome de terceiros, sendo ocultada sua propriedade e, naturalmente, sua origem ilícita.

Uma vez aberta a conta citada, em outubro de 2013, o denunciado

ALEXANDRE PINTO DA SILVA procurou o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH para

que este realizasse a remessa para a referida conta de recursos de propina que ALEXANDRE

havia recebido em espécie no Brasil. Assim, ficou ajustada a realização de operações de

dólar-cabo operacionalizadas por JUAN LUIS BERTRÁN, sendo que ALEXANDRE realizou a

entrega ao doleiro de quantia em espécie em reais no Brasil e JUAN, em seguida, por meio de

empresas por ele controladas ou de empresas clientes, creditou o valor correspondente em

dólares na conta da CENTOVALI – deduzido o valor devido ao doleiro pela operação.

Através de tal operação de dólar cabo, após a entrega de recursos no Brasil

por ALEXANDRE, o doleiro JUAN BERTRÁN providenciou a realização de quatro

transferências que totalizaram USD 274.091,00, com crédito na conta da CENTOVALI no CFM

Mônaco. Embora originalmente o valor a ser creditado na conta citada fosse de

USD 375.376,00, conforme e-mail de Ana Karina Souza, funcionária do Credit Agricole Private

Banking do Uruguai, a CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 08), verifica-se do exame

do extratos da conta da CENTOVALI fornecidos pelo colaborador (DOC. 09) que as duas últimas

transferências não se concretizaram, talvez por algum erro, de modo que foi creditado na conta

da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco o total de USD 274.091,00 (duzentos e

setenta e quatro mil e noventa e um dólares americanos) em outubro de 2013, em 4 operações

nos montantes de USD 140.000,00 (01.10.2013); USD 34.091,00 (02.10.2013); USD 20.000,00

(17.10.2013); e USD 80.000,00 (23.10.2013):

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- E-mail da funcionária do Credit Agricole do Uruguai a CELSO JÚNIOR -

- Extratos da conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM MONACO -

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Constatou-se, assim, do exame dos documentos supracitados, que, de

fato, as duas últimas transferências citadas no e-mail de Anna Karina (50.000 USD e

51.285 USD) não chegaram efetivamente à conta da CENTOVALI.

Para remeter os recursos de ALEXANDRE PINTO ao exterior JUAN

LUIS BERTRÁN BITLLONCH se valeu de empresas por ele controladas e empresas de seus

clientes que tinham objetivo de fazer remessas no sentido contrário, isto é, trazer recursos do

exterior para o Brasil, determinando que fossem feitas transferências a partir das contas de tais

empresas no exterior dos valores por ele indicados, de modo a totalizar créditos na conta da

CENTOVALI dos valores equivalentes aos entregues em espécie por ALEXANDRE PINTO no

Brasil, naturalmente descontados os custos das operações e a remuneração do doleiro. Nesse

sentido, as 4 transferências acima citadas com crédito na conta nº 0547980 da CENTOVALI no

CFM Monaco foram realizadas através das contas das empresas panamenhas Aegean

Consultants Inc e Mystic Capital Group Inc, das pessoas naturais Roberto Machado/Fabiula

Catelão (sócios da empresa brasileira Aiupa Brasil Produções Ltda) e de Chapelle Jean

(DOC. 09 acima colacionado).

Embora tenham sido realizadas em datas muito próximas, cada uma das

transferências foi oriunda de diferentes pessoas naturais ou jurídicas, provenientes de diversos

países, o que representa mais uma evidência de que estavam no contexto das operações de

dólar-cabo executadas por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, envolvendo

contas por ele controladas ou de clientes que tinham o objetivo de fazer o caminho inverso de

ALEXANDRE PINTO, isto é, trazer recursos do exterior para o Brasil. Tal sistemática

naturalmente dificultava o rastreamento dos valores disponibilizados a ALEXANDRE PINTO no

exterior, ocultando a origem criminosa dos recursos.

Vale registrar que, em consultas em fontes abertas, verificou-se que consta

que a empresa panamenha AEGEAN CONSULTANTS INC tem como agente a empresa

Mossack Fonseca7, amplamente citada pelo envolvimento no escândalo dos Panama Papers em

esquemas de lavagem internacional de capitais, atuando exatamente na abertura de empresas

7 https://opencorporates.com/companies/pa/495883 e https://offshoreleaks.icij.org/nodes/10019324

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offshore para ocultar o patrimônio ilicitamente amealhado de diversas pessoas, inclusive

envolvidos na Operação Lava Jato8:

Os fatos em exame foram narrados pelo colaborador CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR nos anexos 04 e 10 de seu termo de colaboração (DOC. 01). Embora não

tivesse conhecimento de maiores detalhes acerca da operação originária, CELSO JUNIOR

esclareceu que a remessa dos recursos que resultaram nos créditos na conta da CENTOVALI

de cerca de USD 275.000,00 (duzentos e setenta e cinco mil dólares americanos) se deu por

8 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160405_quem_sao_mossack_fonseca_lab e http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-02/socios-da-mossack-fonseca-presos-no-panama-por-investigacoes-ligadas

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meio de transação de dólar-cabo executada por JUAN LUIS BERTRÁN, que recolheu reais no

Brasil com ALEXANDRE PINTO e providenciou o crédito dos valores ajustados em dólares na

conta da CENTOVALI no CFM Mônaco. Não houve qualquer transação econômica para justificar

as transferências realizadas entre a CENTOVALI TRADING CORP e as empresas que

promoveram os créditos na conta da offshore panamenha.

Vale registrar desde já que, para corroborar suas alegações, o colaborador

efetuou uma gravação espontânea de uma conversa com o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN em

que CELSO JÚNIOR e JUAN falam sobre as operações realizadas, discutindo se há “pontas

soltas” nas contas usadas nas transações, demonstrando preocupação com a prisão de

ALEXANDRE PINTO por ocasião da Operação Rio 40 Graus e eventual delação do

ex-Secretário, com eventuais problemas em razão de transações de geração de caixa 2 com a

OAS no Peru. JUAN ainda menciona a situação de outras pessoas e fala inclusive na

possibilidade de fugir do Brasil caso fosse necessário (mídia já apresentada nas medidas

cautelares e transcrição como DOC. 10 com destaques nos principais trechos).

Ressalta-se ainda que, por ocasião da deflagração da operação Mãos à Obra,

com o cumprimento de mandados de busca na residência de JUAN LUIS BERTRÁN expedidos

por este Juízo, foi apreendida elevada quantidade de dinheiro em espécie de cinco moedas

diferentes dentre reais, dólares americanos, euros, libras esterlinas e pesos uruguaios

(R$ 23.400, USD 1.850, € 1.580, ₤ 1.000, $U 870), além de uma grande quantidade de

envelopes plásticos usados para transportes e depósitos em dinheiro e informações, o que

representa mais um indício de que, de fato, o acusado JUAN BERTRÁN exerce efetivamente a

atividade de doleiro (DOC. 11).

Deste modo, com a criação da offshore panamenha CENTOVALI TRADING

CORP, com ações ao portador e sem vinculação formal com o real beneficiário ALEXANDRE

PINTO, com a abertura da conta no CFM Monaco em nome de tal empresa e a transferência de

recursos em operações estruturadas, método que impede o rastreamento contábil dos recursos,

os denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e

JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização,

disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção

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passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, incorrendo na prática do delito de lavagem de

capitais, tipificado no art. 1º § 4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos - 4 crimes em

continuidade - Conjunto de Fatos 01).

No mesmo sentido, ao realizarem as operações de dólar-cabo descritas,

os denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH

promoveram, sem autorização legal, em 4 oportunidades, a saída de um total

de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o

exterior, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa

oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, e, assim, incorrendo na

prática do delito de evasão de divisas, tipificado no art. 22, parágrafo único da Lei 7.492/86

(Evasão de divisas – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02).

A materialidade delitiva dos crimes de lavagem de capitais e evasão de divisas

se encontra demonstrada pelos depoimentos prestados pelo colaborador (DOC. 01) e pela

documentação relacionada à abertura da conta da CENTOVALI em favor de ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, dos e-mails trocados entre CELSO JÚNIOR e as funcionárias do Banco

Credit Agricole Private Banking, dos extratos da conta da CENTOVALI com indicação do

recebimento dos recursos oriundos das operações de dólar-cabo executadas por JUAN LUIS

BERTRÁN BITLLONCH a pedido de ALEXANDRE PINTO.

A autoria dos delitos em questão deriva dos próprios elementos de prova

supracitados, valendo registrar que, embora o responsável por operacionalizar as transações de

dólar-cabo tenha sido efetivamente o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, tais operações se deram a

pedido e no interesse de ALEXANDRE PINTO, sendo que, no julgamento da AP 470

(Mensalão), o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que “aquele que

efetua pagamento em reais no Brasil, com o objetivo de disponibilizar, através de outro que

recebeu tal pagamento, o respectivo montante em moeda estrangeira no exterior também

incorre no ilícito de evasão de divisas”9. Deste modo, a autoria do delito de evasão de divisas

recai tanto sobre o doleiro JUAN BERTRÁN como sobre o ex-Secretário ALEXANDRE PINTO

DA SILVA.

9 AP 470, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Dje 22/04/2013.

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4.2. CONJUNTO DE FATOS 03 e 04: CORRUPÇÃO PASSIVA (RECEBIMENTO DE

VANTAGENS INDEVIDAS DA ANDRADE GUTIERREZ) E LAVAGEM DE DINHEIRO

(CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS FICTÍCIOS PARA VIABILIZAR O RECEBIMENTO DE

PROPINA COM APARÊNCIA DE LICITUDE).

Entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA,

de modo consciente e voluntário, em razão da condição de Secretário Municipal de Obras da

Prefeitura do Rio de Janeiro, recebeu, em 2 oportunidades, com o auxílio de CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR e através da empresa BYNKELOR, vantagens indevidas que

totalizaram USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade

Gutierrez, em duas parcelas de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares) e com

pagamento no exterior, para exercer o seu cargo com especial atenção aos interesses privados

da empresa, em especial no que concerne ao contrato originalmente celebrado entre o

Consórcio Transcarioca BRT e o Município do Rio de Janeiro e transferido integralmente à

Andrade Gutierrez, para execução da obra de construção da via da Transcarioca – Corredor T5

– Lote 1 – Trecho Penha à Barra da Tijuca (Corrupção Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e art. 71

do CP– 2 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 03).

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre dezembro

de 2013 e janeiro de 2014, em duas oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR e o então Diretor Financeiro da Andrade Gutierrez MIGUEL

BARREIROS, bem como outros executivos da referida empreiteira10 a serem oportunamente

denunciados, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam

a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores

provenientes do crime de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da

celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A., empresa de

CELSO JÚNIOR, e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE

GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos), e

posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando

10 Com exceção dos crimes de lavagem de dinheiro imputados a MIGUEL BARREIROS, os crimes de corrupção ativa elavagem de ativos com envolvimento de executivos da Andrade Gutierrez serão apurados de forma autônoma e ensejarão ooferecimento de novas denúncias.

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USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de

aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário

(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto

de Fatos 04).

No segundo semestre de 2013, em razão de ajuste pretérito do ex-Secretário

Municipal de Obras e executivos da Andrade Gutierrez11 em decorrência do cargo ocupado,

durante a execução das obras da Transcarioca Lote 01 - Corredor T5, que liga a Penha à Barra

da Tijuca, ALEXANDRE PINTO DA SILVA solicitou ao colaborador CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR que atuasse para possibilitar o recebimento de tais valores no exterior de

forma que os valores arrecadados não ficassem em nome do ex-Secretário e permanecessem

fora do alcance das autoridades. Assim, ALEXANDRE pediu a CELSO JÚNIOR que entrasse

em contato com Anuar Caram, então presidente da Unidade Negócios Públicos Brasil da

ANDRADE GUTIERREZ, através do terminal telefônico (021) com tal objetivo.

Em novembro de 2013, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR entrou em

contato com Anuar Caram e se encontrou com ele no escritório da Andrade Gutierrez localizado

no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, oportunidade em que foi apresentado por Anuar ao

denunciado MIGUEL BARREIROS, então Diretor Financeiro da AG (DOC. 12).

Em reunião com MIGUEL BARREIROS, CELSO JÚNIOR propôs que o

pagamento dos valores ajustados se desse na conta que ALEXANDRE PINTO possuía no

CFM Mônaco em nome da offshore CENTOVALI TRADING CORP, mas MIGUEL BARREIROS

se mostrou reticente com a proposta e sugeriu a utilização de uma empresa operacional para a

celebração de contratos fictícios de prestação de serviços para justificar o recebimento dos

valores. Como a CENTOVALI não exercia qualquer atividade, uma vez que foi constituída

apenas para titularizar a conta bancária de ALEXANDRE PINTO no exterior (situação narrada

no item 4.1 supra), CELSO JÚNIOR sugeriu a utilização de sua empresa BYNKELOR S.A., que

era operacional e possuía atividade lícita.

11 Fatos que serão objeto de denúncia autônoma, conforme consignado na nota de rodapé acima.

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Assim, no final de 2013, foi celebrado contrato de prestação de serviços de

consultoria entre a BYNKELOR S.A. e a pessoa jurídica ZAGOPE GULF CONTRACTING,

empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ com sede em Abu Dhabi12, falsamente datado de

15.07.2013, que previa em sua cláusula 3.1 o pagamento de USD 520.000,00 (quinhentos e

vinte mil dólares americanos) à primeira (DOC. 13):

A minuta do aludido contrato foi enviada por e-mail por Miguel Barreiros a

CELSO JÚNIOR em 05.12.2013 (DOC. 14), evidenciando que o contrato foi antedatado para

simular que o pagamento avençado teria ocorrido alguns meses após o contrato, como se os

serviços houvessem, de fato, sido prestados, o que não correspondeu à realidade.

O contrato tinha por objeto a prestação de serviços envolvendo estratégias de

marketing para que a empresa pudesse realizar expansão de suas atividades de construção civil

no Líbano, sendo que a empresa BYNKELOR e o denunciado CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR não detinham expertise suficiente para a execução de tal objeto, e tampouco

conheciam o mercado de construção civil no Líbano.

12 Além da consulta em fontes abertas, que não deixa dúvida acerca da ZAGOPE GULF fazer parte do grupoAndrade Gutierrez, aparecendo em demonstrativos do grupo, o documento de autorização para transferência defundos que será citado a seguir (DOC. 11) tem o timbre da ZAGOPE fazendo referência ao grupo AndradeGutierrez.

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O contrato em questão foi assinado pelo colaborador e por Paulo Ribeiro

Soares Filho, executivo da Andrade Gutierrez, sendo que constam como representantes das

empresas para fins de quaisquer comunicações os denunciados CELSO JÚNIOR pela

BYNKELOR e MIGUEL BARREIROS pela ZAGOPE GULF, exatamente os responsáveis por

idealizar a operação ilícita em benefício de ALEXANDRE PINTO:

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Em 09/12/2013 os representantes da ZAGOPE GULF CONTRACTING Paulo

Ribeiro Soares Filho e Rui Manuel Fernandes Andrade encaminharam uma carta e um e-mail ao

banco BNP Paribas solicitando a transferência de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil

dólares americanos) em favor da conta titularizada pela BYNKELOR S.A. no Banco Santander

no Uruguai (DOC. 15), que foi concretizada em 10/12/2013, conforme extrato da conta nº

5200078669 da BYNKELOR S.A (DOC. 16):

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Após o recebimento de USD 519.975,00 (quinhentos e dezenove mil e

novecentos e setenta e cinco dólares americanos) na conta da BYNKELOR S.A, e ainda em

dezembro de 2013, parte dos valores foram transferidos para contas vinculadas ao doleiro

JUAN LUIS BERTRÁN, para que posteriormente fossem encaminhadas à conta da

CENTOVALI no Credit Agricole de Monaco, em outro ato de lavagem de capitais que será

narrado no item 4.3 infra.

Posteriormente, em 12/01/2014, MIGUEL BARREIROS e CELSO RAMOS

JÚNIOR ajustaram a celebração de aditivo ao contrato fictício de prestação de serviços de

consultoria anteriormente firmado entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING

(DOC. 17), que dobrou o valor da prestação de serviços fictícia originalmente avençada, para

justificar novo repasse de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos) em favor

de ALEXANDRE PINTO, através da BYNKELOR:

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A transferência dos recursos da ZAGOPE para a BYNKELOR S.A. foi efetivada

em 15.01.2014 (DOC. 16), sendo que novamente após o recebimento de USD 519.492,43 na

conta da BYNKELOR, parte dos valores foram transferidos para contas vinculadas ao doleiro

JUAN LUIS BERTRÁN, para que posteriormente fossem encaminhados à conta da

CENTOVALI no Credit Agricole de Monaco, em outro ato de lavagem de capitais que será

narrado no item 4.3 infra:

Para completar a simulação e não deixar rastros, CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR solicitou ao contador uruguaio Jorge Navarro que emitisse oficialmente faturas

(invoices) com a descrição dos serviços “prestados” pela BYNKELOR a ZAGOPE GULF, de

modo a produzir mais documentos com o objetivo de dar aparência de licitude ao contrato fictício

e aditivo firmados. (DOC. 18).

Assim, a celebração do contrato fictício de prestação de serviços e respectivo

aditivo mencionados viabilizaram o repasse de vantagens indevidas no valor total de

USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares americanos) a ALEXANDRE PINTO DA

SILVA pela ANDRADE GUTIERREZ, que foram efetivamente transferidos à BYNKELOR S.A.

por orientação de ALEXANDRE PINTO e CELSO JÚNIOR, para que posteriormente fossem

objeto de novos atos de lavagem de capitais, com a remessa, mediante operações estruturadas,

dos valores para a conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco à disposição do

ex-Secretário, fatos que serão detalhados no item 4.3 infra.

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Os fatos criminosos ora narrados estão ilustrados na imagem abaixo:

Anuar Caram foi ouvido e esclareceu que ALEXANDRE PINTO

frequentemente cobrava a Andrade Gutierrez acerca de um pagamento de propina que

correspondia a 1% das obras da Transcarioca Lote 1, e que em determinada oportunidade

ALEXANDRE lhe sugeriu que os pagamentos fossem feitos no exterior, por meio de uma pessoa

de nome CELSO, que procuraria Anuar com tal objetivo. Esclareceu que recebeu contato

telefônico de CELSO JÚNIOR em novembro de 2013 e que, por determinação de seu superior

Leandro Aguiar, marcou de se encontrarem no escritório da Andrade Gutierrez e apresentou

CELSO JÚNIOR ao então Diretor Financeiro MIGUEL BARREIROS. Após a reunião MIGUEL

relatou a Anuar que combinara com CELSO um pagamento de pouco mais de 1 milhão de

dólares no exterior, tendo Anuar declarado que não soube maiores detalhes (DOC. 12).

Por sua vez, Paulo Ribeiro Soares Filho declarou que não tinha conhecimento

do objeto do contrato e não conhecia nem a empresa BYNKELOR nem o sócio CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR, mas que assinou o contrato a pedido de MIGUEL BARREIROS,

uma vez que a ZAGOPE GULF tinha, naquela oportunidade, uma dificuldade relacionada à

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representação da empresa, e MIGUEL BARREIROS teria lhe dito que o banco provavelmente

aceitaria um contrato firmado por ele para liberar a transferência, já que Paulo figurava como

representante da empresa perante a instituição financeira desde que operacionalizara a abertura

da conta naquele banco (DOC. 19). Paulo Filho explicou e apresentou um e-mail que menciona

as dificuldades relacionadas à representação da empresa e outro em que MIGUEL BARREIROS

lhe encaminha a minuta do contrato para assinatura em dezembro de 2013 (DOC. 20).

Verifica-se, portanto, que, com o recebimento, por parte de ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, em razão da função pública e com o auxílio de CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR, de USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares) da Andrade Gutierrez, em

duas parcelas iguais pagas em dezembro de 2013 e janeiro de 2014, o ex-Secretário de obras e

o colaborador CELSO JÚNIOR praticaram o delito de corrupção passiva (Corrupção

Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e arts. 29 e 71 do CP– 2 crimes em continuidade - Conjunto

de Fatos 03).

Ademais, com a celebração de contrato fictício para repasse dos valores de

propina devidas a ALEXANDRE PINTO com aparência de licitude, como se fossem decorrentes

de uma prestação de serviços entre a BYNKELOR e a ZAGOPE GULF, evidencia-se a prática

do delito de lavagem de capitais, sendo ocultadas e dissimuladas a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime de

corrupção passiva, estando ALEXANDRE PINTO, CELSO JÚNIOR e MIGUEL BARREIROS

incursos nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei

9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 04).

4.3. CONJUNTO DE FATOS 05 - LAVAGEM DE DINHEIRO (OPERAÇÕES DE DÓLAR CABO

ESTRUTURADAS PARA AFASTAR OS VALORES DE PROPINA RECEBIDOS DA ZAGOPE

GULF DE SUA ORIGEM ILÍCITA E DIFICULTAR SEU RASTREAMENTO)

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva narrados no item

4.2 supra, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN

LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre

dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,

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localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de

corrupção passiva, ao promoverem a remessa dos valores anteriormente recebidos da ZAGOPE

GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai, através de operações estruturadas por JUAN

LUIS BERTRÁN BITLLONCH, para a conta nº 0547980 no banco Credit Agricole Private

Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING CORP, no intuito de

afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real proprietário dos

valores e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de

Ativos/Artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).

Após o recebimento de USD 519.975,00 (quinhentos e dezenove mil e

novecentos e setenta e cinco dólares americanos) da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR

S.A no Santander Uruguai conforme descrito no item 4.2 supra, e ainda em dezembro de 2013,

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR realizou a transferência de boa parte dos valores

recebidos, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, para contas intermediárias

titularizadas pelas pessoas jurídicas Monarch International Ltd e Hosdil Limited, ambas

localizadas em Hong Kong e indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sem que houvesse

qualquer negócio jurídico subjacente para justificar tais transferências pela BYNKELOR

(DOC. 16):

- Extrato da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai -

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Em seguida, por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foi

realizada a transferência de USD 473.285,00 (quatrocentos e setenta e três mil e duzentos e

oitenta e cinco dólares americanos) de uma conta titularizada pela pessoa jurídica Faber Invest

Trade Inc, localizada na Romênia, com crédito na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING

CORP no CFM Mônaco em 20.12.2013, ficando os valores à disposição de ALEXANDRE

PINTO, que era o real beneficiário da conta em questão (DOC. 09):

- Extrato da conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco -

Do mesmo modo, após a segunda transferência dos recursos da ZAGOPE

para a BYNKELOR S.A, com o recebimento de USD 519.492,43 na conta da BYNKELOR em

15.01.2014, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR realizou a transferência de boa parte dos

valores recebidos, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, para contas intermediárias

titularizadas pelas pessoas jurídicas Monarch International Ltd, Jin Dai Ying Ningbo Wingge e

Shenzen Shang Ju Trading, todas indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sem que

houvesse qualquer negócio jurídico subjacente para justificar tais transferências pela

BYNKELOR (DOC. 16):

– Extrato da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai -

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Em seguida, por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foram

realizadas duas transferências nos valores de USD 125.524,00 e USD 149.481,00 de DUAS

contas titularizadas pela pessoa jurídica panamenha Schwarzwald Ltd Inc e pela pessoa natural

Hiroko Akabane Okubo com créditos na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no

CFM Mônaco em 10.02.2014 e 18.02.2014, ficando os valores à disposição de ALEXANDRE

PINTO,que era o real beneficiário da conta em questão(DOC. 09):

– Extrato da conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP -

Em razão das dificuldades de tais operações, eis que muitas vezes as

necessidades de seus clientes de remessa de recursos ao exterior não correspondem à

necessidade dos demais clientes em fazer a remessa em sentido inverso, alguns valores das

transações realizadas demoram um pouco para serem efetivadas. Foi o que ocorreu, sendo que

alguns valores daqueles que haviam sido recebidos da ZAGOPE ficaram para ser transferidos

posteriormente a empresas indicadas por JUAN e destas para a conta da CENTOVALI no CFM

Monaco.

Deste modo, alguns meses depois, em 14.04.2014, CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR realizou, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, mais uma

transferência de USD 97.660 da conta da BYNKELOR no Santander Uruguai para a conta

intermediária titularizada pela pessoa jurídica BALUMA S.A. Finalmente, em setembro de 2014,

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por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foi realizada uma transferência no

valor de USD 165.777,00 (cento e sessenta e cinco mil, setecentos e setenta e sete dólares)

para a conta da CENTOVALI no CFM Monaco, a partir da conta da empresa Winterfell Overseas

S.A., com crédito no CFM Monaco em 10.09.2014: (DOC. 16 e DOC. 09)

Verifica-se, assim, que da primeira transferência da ZAGOPE GULF ficaram à

disposição de ALEXANDRE PINTO na conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Mônaco

USD 473.285,00 e da segunda transferência o montante de USD 440.782,00, tendo sido objeto

de lavagem de capitais, no total, portanto, os USD 914.067,00 (novecentos e quatorze mil e

sessenta e sete dólares) recebidos na conta do CFM Monaco em razão de tais operações.

O restante dos valores, equivalente a, aproximadamente, 12% (doze por cento)

do total depositado pela ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR, foi utilizado para pagamento

de tributos e taxas administrativas bancárias, bem como das pessoas envolvidas nas operações,

da BYNKELOR, como o contador uruguaio, as pessoas que figuravam como representantes das

empresas envolvidas, o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN e o colaborador CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR, que emprestou sua empresa para figurar como contratada e realizou todas as

tratativas com MIGUEL BARREIROS a pedido de ALEXANDRE PINTO.

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CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR confirmou os fatos no anexo 4 de seu

termo de colaboração e acrescentou que recebeu como comissão 5% (cinco por cento) do valor

total que foi depositado pela ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR pelo auxílio que prestou a

ALEXANDRE PINTO DA SILVA (DOC. 01 – Anexo 4). O colaborador também já havia afirmado

que JUAN LUIS BERTRÁN ganhava cerca de 3% nas operações, e que um percentual era

retido para pagamento dos impostos devidos e das demais pessoas envolvidas nas operações

(DOC. 01 – Anexo 9).

Assim, com a realização de diversas operações estruturadas por JUAN LUIS

BERTRÁN BITLLONCH, se valendo de transferências por meio de empresas intermediárias e

operações casadas para efetivar, em 4 oportunidades, a remessa dos valores de propina

recebidos da conta da BYNKELOR no Santander Uruguai para a conta da CENTOVALI

TRADING CORP no CFM Monaco, com recursos à disposição de ALEXANDRE PINTO DA

SILVA, no valor global de USD 914.067,00 (novecentos e quatorze mil e sessenta e sete

dólares), evidencia-se a prática do delito de lavagem de capitais, sendo ocultadas e

dissimuladas a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de

valores provenientes do crime de corrupção passiva, com o inequívoco intuito de afastar ainda

mais os valores ilícitos de sua origem criminosa e dificultar o rastreamento dos recursos de

propina recebidos, estando ALEXANDRE PINTO, CELSO JÚNIOR, e JUAN BERTRÁN

incursos nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998. (Lavagem de Ativos/Artigo 1º, §4º da

Lei 9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).

4.4. CONJUNTO DE FATOS 06: MANUTENÇÃO DE DEPÓSITOS NÃO DECLARADOS À

REPARTIÇÃO FEDERAL COMPETENTE NO BANCO CFM MÔNACO (2013 e 2014).

No período compreendido entre 16.07.2013 e 09.10.2015, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, com auxílio do colaborador

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve no exterior

depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23

(setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares americanos e vinte e três

cents) em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos

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e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, na conta nº 0547980 do banco

Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), titularizada pela offshore panamenha

CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única

finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda

parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade delitiva -

Conjunto de Fatos 06).

Como já amplamente narrado, a conta nº 0547980 titularizada pela

CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM

Mônaco), foi aberta em 2013 no interesse de ALEXANDRE PINTO DA SILVA para manter os

recursos por ele recebidos a título de propina fora do controle dos órgãos de fiscalização, e

somente foi encerrada em outubro de 2015, quando todos os valores foram transferidos para a

corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A.

Durante todo esse período, a conta nº 0547980 titularizada pela CENTOVALI

TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) recebeu

recursos na forma narrada nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 supra.

Ao longo do ano de 2013, a referida conta recebeu créditos que totalizaram

USD 747.376,00 (setecentos e quarenta e sete mil e trezentos e setenta e seis dólares

americanos) e teve débitos de apenas USD 112,77 (cento e doze dólares e setenta e sete

cents), resultando no saldo de USD 747.263,23 (setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e

sessenta e três dólares e vinte e três cents) em 30.12.2013, conforme extrato do mês de

dezembro apresentado pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 09):

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Embora tal quantia seja bem superior aos USD 100.000,00 (cem mil dólares

americanos) que constam no caput do artigo 2º da Resolução nº 3.854 do BACEN, limite

máximo estabelecido para a isenção da obrigatoriedade de prestar declaração, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA não declarou os depósitos mantidos no CFM Mônaco ao Banco Central em

31.12.2013, descumprindo a determinação constante no art. 1º da resolução supramencionada e

incorrendo no tipo penal descrito no art. 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.

No ano de 2014, a conduta criminosa do denunciado foi semelhante. A conta

nº 0547980 titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private

Banking de Mônaco (CFM Mônaco) recebeu créditos de USD 440.782,00 (quatrocentos e

quarenta mil, setecentos e oitenta e dois dólares) e teve alguns débitos de valores reduzidos

referentes às taxas bancárias de manutenção da conta. Assim, somado com os valores

amealhados no ano anterior, o saldo da conta em questão em 30.12.2014 era de

USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos e sessenta e nove

dólares e dezenove cents), conforme extrato do mês de dezembro apresentado pelo colaborador

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 09):

Mais uma vez, ALEXANDRE PINTO DA SILVA deixou de declarar ao Banco

Central os depósitos mantidos no CFM Mônaco em 31.12.2014, descumprindo a determinação

constante no art. 1º da Resolução 3.854 do Banco Central do Brasil e incorrendo no tipo penal

descrito no art. 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.

De fato, ALEXANDRE PINTO DA SILVA não comunicou o Banco Central

sobre a existência dos depósitos, tampouco os incluiu em sua declaração de renda destinada à

Receita Federal nos respectivos anos-calendários (DOC. 21), o que era de se esperar, tendo em

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vista que a manutenção dos depósitos à sua disposição na conta do CFM Mônaco em nome de

terceiros fazia parte de um ciclo de lavagem de dinheiro arquitetado para escamotear os

recursos provenientes das vantagens indevidas por ele recebidos.

Constata-se, portanto, que no período compreendido entre 16.07.2013 e

09.10.2015, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, em

unidade de desígnios com CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e

voluntário, mantiveram no exterior depósitos não declarados à repartição federal competente no

valor de USD 747.263,23 (setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares

e vinte e três cents) em 31.12.2013 e a USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil,

quatrocentos e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, no banco Credit

Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), conta n. 0547980, titularizada pela pessoa

jurídica CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse do denunciado com a única

finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incursos nas penas do artigo 22, § único,

segunda parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade.

4.5. FATO 07 e CONJUNTO DE FATOS 08: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME

ANTECEDENTE DE CORRUPÇÃO PASSIVA - TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS PARA

CONTA DA CENTOVALI ABERTA NA CORRETORA HORDEÑANA E CONVERSÃO EM

ATIVOS DE APARÊNCIA LÍCITA (BENS E SERVIÇOS COM CARTÃO CORNERCARD)

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, em outubro de

2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e

consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e

oitenta e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares e setenta e cinco) provenientes de crimes

de corrupção passiva, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de valores

uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da pessoa

jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR constou

como representante legal da empresa perante a instituição bancária, e transferência de todos os

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recursos que ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a

referida conta, no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e

ocultar o real proprietário dos valores nela depositados (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei

9.613/1998 - Fato 07).

Outrossim, consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre

27 e 31 de outubro de 2015, em pelo menos 19 oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA

e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios,

ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e

propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e cinquenta dólares e quarenta e quatro

cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os convertendo em ativos de aparência

lícita consistentes em bens e serviços, por meio da utilização do cartão de crédito prepago

CORNERCARD em nome de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, emitido a partir do débito

de valores na conta nº 2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS

CORREDOR DE BOLSA S.A de titularidade da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP,

para pagamento de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa

Érica de Castro Nogueira em viagem ao exterior. (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei

9.613/1998 – 19 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 08).

No ano de 2015, o banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM

Mônaco) decidiu não mais admitir contas titularizadas por pessoas jurídicas com ações ao

portador e solicitou aos correntistas dessa modalidade que informassem os reais beneficiários

de cada uma das contas. Evidentemente, como o nome de ALEXANDRE PINTO DA SILVA não

poderia vir à tona, o denunciado optou por encerrar a conta titularizada pela CENTOVALI

CENTOVALI TRADING CORP no referido banco e determinou que o colaborador CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR abrisse uma conta em nome da CENTOVALI TRADING CORP na

corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A,

promovendo a transferência de todos os valores que estavam na conta do CFM Mônaco para

esta nova conta na aludida corretora (DOC. 22).

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Deste modo, em 09.10.2015, os USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e oitenta

e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares dos Estados Unidos e setenta e cinco cents)

que estavam na conta da CENTOVALI no CFM Mônaco foram transferidos para a conta

nº 2801392 da corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE

BOLSA S.A, também titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP e também representada

pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma a manter oculta a real

propriedade dos valores (DOC. 09 e DOC. 22).

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Logo após a entrada dos valores na conta nº 2801392 da corretora

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, ainda no mês de outubro de 2015,

ALEXANDRE PINTO DA SILVA solicitou a CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR que

providenciasse a emissão de um cartão de crédito pré-pago com os valores depositados na

referida conta para que o ex-Secretário de Obras pudesse utilizar em uma viagem que faria a

Nova York.

Assim, a pedido de ALEXANDRE, o colaborador CELSO JÚNIOR

solicitou a emissão de um cartão de crédito pré-pago no valor de USD 20.000,00 (vinte mil

dólares) em seu próprio nome, e o entregou para que pudesse ser usado por ALEXANDRE

PINTO na referida viagem. O colaborador apresentou, como prova de corroboração de suas

declarações, o extrato da fatura do referido cartão de crédito no mês de outubro de 2015, que

demonstra que ALEXANDRE PINTO efetuou gastos de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e

cinquenta dólares e quarenta e quatro cents), de 27.10.2015 a 31.10.2015 em lojas de grifes

internacionais como Lacoste, Gucci, Michael Kors, Chanel, entre outras (DOC. 23). CELSO

RAMOS JUNIOR esclareceu que não tinha como ser ele próprio o responsável por tais gastos,

tendo em vista que neste período estava no Brasil cursando um especialização (MBA) na

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Com efeito, a consulta aos registros constantes no Sistema de Tráfego

Internacional evidenciam que CELSO RAMOS JÚNIOR estava de fato no Brasil no período

(entrada em 18.10.2015 e saída apenas em 28.01.2016), enquanto ALEXANDRE PINTO DA

SILVA e sua esposa Érica de Castro Nogueira da Silva estavam efetivamente no exterior, tendo

saído do Brasil em 26.10.2015 e retornado em 03.11.2015, período que coincide com as datas

dos gastos efetuados no cartão de crédito emitido em nome de CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR a partir da conta da CENTOVALI na corretora Hordeñana y Asociados Corredor de

Bolsa S.A (DOC. 24):

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Outros elementos demonstram de forma inequívoca que ALEXANDRE PINTO

DA SILVA e sua esposa Érica de Castro Nogueira da Silva foram os responsáveis pelas

despesas no cartão de crédito em questão, emitido com recursos sacados da conta da

CENTOVALI. De fato, os dados extraídos dos telefones celulares de ALEXANDRE PINTO DA

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SILVA e de sua esposa por ocasião do cumprimento dos mandados expedidos no âmbito da

Operação Rio 40 graus evidenciam que eles estiveram em Nova York no período em questão e,

mais especificamente, em alguns dos locais e datas em que foram efetuadas as despesas

estampadas na fatura:

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Acima estão destacadas as compras realizadas no dia 28.10.2015

realizadas no Woodbury Common Premium Outlet 13 (em Central Valley), as despesas pagas no

Eataly no dia 31.10.2015 e no hotel Marriott no mesmo dia.

Conforme relatório obtido com base nos dados de localização e redes

wireless extraídos do celular de Érica de Castro Nogueira (DOC. 25), verifica-se que a esposa

de Alexandre esteve em Nova York no período citado, e além de ter se conectado à rede Wi-fi

do Hotel Marriott durante a sua estadia, se conectou à rede Eataly-GUEST por duas vezes

exatamente no dia 31.10.2015, e à rede do Woodbury Common Premium Outlet também

por duas vezes exatamente no dia 28.10.2015 (Rede SIMON Wi-fi, sendo que “SIMON” é o

nome da rede de outlets do qual faz parte o Woodbury Common, conforme imagem abaixo):

13 http://www.premiumoutlets.com/outlet/woodbury-common/about – Endereço em 498 Red Apple Ct, Central Valley, NY 10917-661

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Resta evidente, portanto, que ALEXANDRE e sua esposa ÉRICA foram

efetivamente responsáveis por realizar as despesas indicadas na fatura apresentada pelo

colaborador, uma vez que estavam em Nova York no período das compras, conforme

comprovado pelo sistema de movimentos migratórios já apresentados e estiveram

exatamente nos locais em que foram realizadas as despesas nas mesmas datas indicadas

na fatura.

As localizações obtidas no telefone celular de ALEXANDRE PINTO também

confirmam que ele e sua esposa estavam em Nova York no período das compras, conforme

consulta pelas coordenadas geográficas registradas no relatório de extração (consulta aleatória

de um deles, sendo que todos os listados indicam a localização em Nova York):

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Não há dúvidas, portanto, de que os recursos que estavam na conta da

CENTOVALI na corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS foram utilizados em favor de

ALEXANDRE PINTO para a emissão do cartão de crédito pré-pago com o qual o ex-Secretário

custeou parte de suas despesas e a aquisição de bens em sua viagem a Nova York.

Assim, ao promoverem a transferência dos valores depositados na conta do

CFM Mônaco para a conta aberta na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &

ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, novamente em nome da CENTOVALI, no intuito de

afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real proprietário dos

valores nela depositados, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR incorreram na prática do delito de lavagem de dinheiro (Lavagem de Ativos/Art. 1º,

§4º da Lei 9.613/1998 - Fato 07).

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No mesmo sentido, ao providenciarem a emissão de cartão de crédito pré-pago

da CORNERCARD em nome do denunciado CELSO JÚNIOR para utilização dos valores

carregados em 19 oportunidades por ALEXANDRE PINTO DA SILVA para convertê-los em

ativos de aparência lícita, consistentes em bens e serviços adquiridos na viagem realizada pelo

denunciado e sua família a Nova York, ocultando e dissimularam a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e

cinquenta dólares e quarenta e quatro cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os

ALEXANDRE PINTO DA SILVA E CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR praticaram 19 delitos

de lavagem de capitais(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 19 crimes em

continuidade - Conjunto de Fatos 08).

4.6 FATO 09 e FATO 10: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME ANTECEDENTE DE

CORRUPÇÃO PASSIVA (TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS EM ESPÉCIE PARA A CONTA

DA CENTOVALI NO URUGUAI EM OPERAÇÕES ESTRUTURADAS) E EVASÃO DE DIVISAS

Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em

unidade de desígnios, em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, ocultaram e

dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de

valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio de remessa dos valores

recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora

uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI

TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor aproximado de

USD 250.000,0014 (duzentos e cinquenta mil dólares), no intuito de afastar os valores ilícitos de

sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e

dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º

da Lei 9.613/1998 – Fato 09)

14 Valores aproximados da diferença entre o saldo da conta da Hordeñana em 25.11.2016 (USD1.165.813,19) – DOC. 22 e osaldo final transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016 (USD 1.417.067,68) - DOC. 26. Conforme relatou ocolaborador CELSO JÚNIOR, após a transferência da conta da CENTOVALI para a Corretora Hordeñana o único aporte derecursos se referiu a uma remessa via dólar-cabo de recursos de propina pagos pela Andrade Gutierrez no Brasil.

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Em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, os denunciados

ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de modo consciente e

voluntário e em unidade de desígnios, promoveram a saída de aproximadamente

USD 250.000,0015 (duzentos e cinquenta mil dólares) do Brasil, por intermédio do sistema

“dólar-cabo”, em que os valores em espécie correspondente recebidos a título de propina por

ALEXANDRE PINTO foram retirados em uma casa de câmbio no Brasil, pelos funcionários do

doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de contas

no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI

TRADING CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a

remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do

sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central (Evasão de Divisas/Artigo

22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10).

Conforme relatado pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, as

contas da CENTOVALI TRADING CORP receberam valores correspondentes a vantagens

indevidas obtidas por ALEXANDRE PINTO DA SILVA em três ocasiões, sendo que duas delas

ocorreram na conta do CFM Mônaco e já foram narradas nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 supra.

A terceira ocasião ocorreu em data não precisa, entre 26.11.2015 e

01.11.2016, quando o denunciado ALEXANDRE PINTO DA SILVA mais uma vez procurou o

doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH para que este realizasse a remessa de recursos de

propina que ALEXANDRE receberia para a conta da CENTOVALI TRADING CORP no exterior,

que neste momento já era na corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS. Assim, ficou

ajustada a realização de operação de dólar-cabo por JUAN LUIS BERTRÁN, na qual recursos

de propina destinados a ALEXANDRE PINTO foram recolhidos em espécie e em reais de uma

casa de câmbio na Barra da Tijuca pelos funcionários de JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH,

e este, em seguida, por meio de empresas por ele controladas ou de empresas clientes, creditou

o valor correspondente em dólares na conta da CENTOVALI na CORRETORA HORDEÑANA

(movimentada por CELSO JÚNIOR e tendo ALEXANDRE como real beneficiário) – deduzido o

valor devido ao doleiro pela operação.

15 Conforme nota de rodapé 14.

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Através de tal operação, após a retirada de recursos no Brasil pertencentes a

ALEXANDRE PINTO, o doleiro JUAN BERTRÁN providenciou a realização de transferência no

valor de USD 250.000,00, com crédito na conta da CENTOVALI no Uruguai.

Verifica-se, nos extratos da conta da CENTOVALI na corretora uruguaia, que o

saldo em 25.11.2015 era de USD 1.165.813,19 (DOC. 22), sendo que o saldo final da referida

conta foi transferido para a conta da própria BYNKELOR em 01.11.2016, totalizando

USD 1.417.067,68 (DOC. 26).

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Entre tais datas ocorreu o terceiro aporte de valores oriundo dos valores de

propina destinados a ALEXANDRE PINTO recolhidos no Brasil pelos funcionários de JUAN

LUIS BERTRÁN BITLLONCH e remetidos através das operações dólar cabo já descritas. Tal

remessa foi de aproximadamente USD 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil dólares -

correspondente à diferença entre o saldo da conta na Hordeñana em 25.11.2015 e o saldo final

transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016). Os valores, segundo o colaborador

CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, são novamente provenientes de pagamentos da Andrade

Gutierrez, tendo sido recolhidos em casa de câmbio indicada por MIGUEL BARREIROS (DOC.

01 – Anexos 04 e 10).

Para remeter os recursos de ALEXANDRE PINTO ao exterior, JUAN LUIS

BERTRÁN BITLLONCH se valeu de empresas por ele controladas e empresas de seus clientes

que tinham objetivo de fazer remessas no sentido contrário, isto é, trazer recursos do exterior

para o Brasil, determinando que fossem feitas transferências a partir das contas de tais

empresas no exterior dos valores por ele indicados, de modo a totalizar créditos na conta da

CENTOVALI dos valores equivalentes aos recolhidos em espécie no Brasil pertencentes a

ALEXANDRE PINTO, naturalmente descontados os custos das operações e a remuneração do

doleiro.

Vale ressaltar mais uma vez que, para corroborar suas alegações, o

colaborador efetuou uma gravação espontânea de uma conversa com o doleiro JUAN LUIS

BERTRÁN em que CELSO JÚNIOR e JUAN falam sobre as operações realizadas, discutindo

se há “pontas soltas” nas contas usadas nas transações, demonstrando preocupação com a

prisão de ALEXANDRE PINTO por ocasião da Operação Rio 40 Graus e eventual delação do

ex-Secretário, com eventuais problemas em razão de transações de geração de caixa 2 com a

OAS no Peru. JUAN ainda menciona a situação de outras pessoas e fala inclusive na

possibilidade de fugir do Brasil caso fosse necessário (mídia já apresentada nas medidas

cautelares e transcrição como DOC. 10 com destaques nos principais trechos).

Registra-se ainda que, conforme descrito no tópico 4.1, por ocasião da

deflagração da operação Mãos à Obra, com o cumprimento de mandados de busca na

residência de JUAN LUIS BERTRÁN expedidos por este Juízo, foi apreendida elevada

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quantidade de dinheiro em espécie de cinco moedas diferentes dentre reais, dólares

americanos, euros, libras esterlinas e pesos uruguaios (R$ 23.400, USD 1.850, € 1.580, ₤ 1.000,

$U 870), além de uma grande quantidade de envelopes plásticos usados para transportes e

depósitos em dinheiro e informações, o que representa mais um indício de que, de fato, o

acusado JUAN BERTRÁN exerce efetivamente a atividade de doleiro (DOC. 11).

Assim, com as transações acima narradas, que permitiram a ALEXANDRE

PINTO a movimentação de recursos sem que nada passasse por contas de sua titularidade, em

operações estruturadas que impedem o rastreamento contábil dos recursos, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH ocultaram e dissimularam a natureza,

origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes

de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, incorrendo na prática do delito de

lavagem de capitais, tipificado no art. 1º § 4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos - Fato 09)

No mesmo sentido, ao realizarem a operação de dólar-cabo descrita, os

denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH

promoveram, sem autorização legal, a saída de um total de USD 250.000,00 (duzentos e

cinquenta mil dólares americanos) para o exterior, tornando possível a obtenção de

disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos

legalmente permitidos, e, assim, incorrendo na prática do delito de evasão de divisas, tipificado

no art. 22, parágrafo único da Lei 7.492/86 (Evasão de divisas – Fato 10).

A materialidade delitiva dos crimes de lavagem de capitais e evasão de divisas

se encontra demonstrada pelos depoimentos prestados pelo colaborador (DOC. 01 – Anexos 04

e 10) e pelos extratos da conta da CENTOVALI na corretora uruguaia HORDEÑANA &

ASOCIADOS e da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai, evidenciando as

operações de dólar-cabo executadas por JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH a pedido de

ALEXANDRE PINTO.

A autoria dos delitos em questão deriva dos próprios elementos de prova

supracitados, valendo registrar que, conforme descrito no item 4.1, embora o responsável por

operacionalizar as transações de dólar-cabo tenha sido efetivamente o doleiro JUAN LUIS

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BERTRÁN, tais operações se deram a pedido e no interesse de ALEXANDRE PINTO, sendo

que, no julgamento da AP 470 (Mensalão), o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no

sentido de que “aquele que efetua pagamento em reais no Brasil, com o objetivo de

disponibilizar, através de outro que recebeu tal pagamento, o respectivo montante em moeda

estrangeira no exterior também incorre no ilícito de evasão de divisas”16. Deste modo, a autoria

do delito de evasão de divisas recai tanto sobre o doleiro JUAN BERTRÁN como sobre o ex-

Secretário ALEXANDRE PINTO DA SILVA.

Vale registrar que os valores pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA

SILVA e ocultados em nome da CENTOVALI TRADING CORP na contas do CFM Monaco e

posteriormente da corretora Hordeñana foram transferidos em novembro de 2016 para a

conta da BYNKELOR no Santander Uruguai, permanecendo ocultados em nome da

empresa do colaborador até o final de 2017, quando CELSO RAMOS JÚNIOR firmou

acordo de colaboração premiada e revelou o crime de lavagem de capitais praticado até

aquela data, se comprometendo a restituir os valores lavados, o que fez recentemente

neste mês de fevereiro de 2018.

4.7. FATO 11: MANUTENÇÃO DE DEPÓSITOS NÃO DECLARADOS À REPARTIÇÃO

FEDERAL NA CORRETORA DE VALORES URUGUAIA HORDEÑANA & ASOCIADOS

CORREDOR DE BOLSA S.A. (2015)

No período compreendido entre 09.10.2015 e 01.11.2016, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA, inclusive no dia 31.12.2015, com auxílio do colaborador CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve depósitos não declarados à

repartição federal competente no valor de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e

cinco mil, oitocentos e treze dólares americanos e dezenove cents) na corretora de valores

uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, conta nº 2801392,

titularizada pela offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de

ALEXANDRE PINTO com a única finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de

Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86 – Fato 11).

16 AP 470, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Dje 22/04/2013.

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A conta nº 2801392 titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na

corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, foi

aberta no segundo semestre de 2015 no interesse de ALEXANDRE PINTO DA SILVA para

manter os recursos por ele recebidos a título de propina fora do controle dos órgãos de

fiscalização, e somente foi encerrada em novembro de 2016, quando todos os valores foram

transferidos para a conta da empresa do colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR,

BYNKELOR S.A., no Banco Santander de Montevideo, Uruguai.

Conforme extrato apresentado pelo colaborador, em novembro de 2015 a

conta em questão tinha o saldo de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil,

oitocentos e treze dólares americanos e dezenove cents), sendo que não houve retirada de

valores da conta até 31.12.2015, razão pela qual o saldo da conta era aproximadamente o

acima citado no final de 2015.

Embora tal quantia seja bem superior aos USD 100.000,00 (cem mil dólares

americanos) que constam no caput do artigo 2º da Resolução nº 3.854 do BACEN, limite

máximo estabelecido para a isenção da obrigatoriedade de prestar declaração, ALEXANDRE

PINTO DA SILVA não declarou ao Banco Central os depósitos mantidos na HORDEÑANA &

ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em 31.12.2015, descumprindo a determinação

constante no art. 1º da resolução supramencionada e incorrendo no tipo penal descrito no art.

22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.

De fato, ALEXANDRE PINTO DA SILVA não comunicou o Banco Central

sobre a existência dos depósitos, tampouco os incluiu em sua declaração de renda destinada à

Receita Federal nos respectivos anos-calendários (DOC. 21), o que era de se esperar, já que a

manutenção dos depósitos à sua disposição na conta do CFM Monaco e posteriormente da

Hordeñana em nome de terceiros fazia parte de um ciclo de lavagem de dinheiro arquitetado

para escamotear os recursos provenientes das vantagens indevidas por ele recebidos.

Em razão da celebração do acordo de colaboração premiada, CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR efetivamente promoveu a restituição dos valores de propina

pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA SILVA e custodiados pelo colaborador que

passaram pela conta do CFM Monaco, em seguida pela Corretora Hordeñana e ao final na

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conta da própria Bynkelor, no total de USD 1.417.067,68 (um milhão, quatrocentos e

dezessete mil e sessenta e sete dólares e sessenta e oito cents), que, considerando a

cotação na data da restituição, equivalia a R$ 4.490.687,47.

Vale registrar que além da quantia acima em dólares, CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR restituiu ainda valores consigo custodiados também pertencentes a

ALEXANDRE PINTO a título de vantagens indevidas que foram planilhadas para entrega

posterior ao ex-Secretário, conforme havia sido ajustado com ALEXANDRE, sendo que tais

valores alcançaram o montante de R$ 1.690.430,00 (um milhão, seiscentos e noventa mil,

quatrocentos e trinta reais). Assim, somadas as quantias citadas, os valores de propina

pertencentes a ALEXANDRE PINTO e que se encontravam sob a custódia do colaborador,

parte em dólares e parte em reais, totalizaram R$ 6.181.117,47 (seis milhões e cento e

oitenta e um mil e cento e dezessete reais e quarenta e sete centavos). Todos esses valores se

encontram depositados em conta à disposição deste Juízo junto com a multa ajustada

(DOC. 27).

Constata-se, portanto, que no período compreendido entre 09.10.2015 e

01.11.2016, inclusive em 31.12.2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, em unidade de

desígnios com CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário,

mantiveram no exterior depósitos não declarados à repartição federal competente no valor

aproximado de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil, oitocentos e treze

dólares americanos e dezenove cents) em 31.12.2015, na corretora de valores uruguaia

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A , conta nº 2801392, titularizada pela

pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse do denunciado com a

única finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, §

único, segunda parte, da Lei 7.492/86.(Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte,

da Lei 7.492/86 – Fato 11).

4.8. FATO 12: PERTINÊNCIA A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Ao menos entre os anos de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, e outras pessoas já denunciadas nas

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ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, notadamente

ALEXANDRE PINTO DA SILVA, VAGNER DE CASTRO PEREIRA, EDUARDO FAGUNDES e

outros fiscais vinculados à Secretaria Municipal de Obras, e indivíduos ainda não identificados

ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e em

comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma

organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,

com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas

pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos

e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses

delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização

Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).

Com efeito, agindo de forma estruturalmente ordenada, caracterizada pela

divisão de tarefas e com o objetivo de obter, direta e indiretamente, vantagens indevidas por

meio da prática dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem

de dinheiro e evasão de divisas, os denunciados acima referidos e aqueles já acusados após a

deflagração da Operação Rio 40 Graus integraram organização criminosa que estava

estruturada da maneira a seguir sintetizada, tendo em consideração as descrições fáticas até

aqui realizadas.

Como já destacado nesta peça, a evolução das investigações revelou que o

esquema de corrupção existente na Secretaria de Estado de Obras, consistente na cobrança de

propina de 1% dos bilionários contratos por parte do ex-Secretário Hudson Braga, assim como

de outros percentuais destinados ao ex-Governador e a outros agentes públicos, repetia-se na

Prefeitura do Rio de Janeiro – também por meio da Secretaria de Obras, operacionalizada pelo

ex-Secretário ALEXANDRE PINTO DA SILVA.

Na ação penal 0174071-16.2017.4.02.5101 foi descrito o funcionamento da

organização criminosa responsável pela prática de atos de corrupção e lavagem de dinheiro

envolvendo a execução de obras de construção civil contratadas pela Secretaria Municipal de

Obras do Rio de Janeiro e grandes empreiteiras, sendo que à época se tinha ciência apenas dos

atos de corrupção envolvendo a construção da via da Transcarioca, Lote 2, que liga a Penha ao

Aeroporto do Galeão, e as obras de Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá.

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

Após o aprofundamento das investigações e a celebração do acordo de

colaboração premiada com o empresário CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, homologado

por este juízo nos autos nº 0506620-06.2017.4.02.5101, foi possível identificar outros

integrantes da organização criminosa que estava instalada na estrutura da Prefeitura Municipal

do Rio de Janeiro, sendo revelados, do mesmo modo, novos fatos ilícitos praticados pelos

membros do grupo criminoso, dentre os quais crimes de corrupção ativa; corrupção passiva;

lavagem de dinheiro; fraude contra licitações; evasão de divisas; manutenção de contas não

declaradas no exterior e sonegação fiscal.

Como já destacado, os crimes de corrupção aos quais se dedicava a

organização criminosa alcançaram não só as empreiteiras contratadas para execução das

obras, chegando a envolver prestadoras de serviços e empresas fornecedoras de materiais para

as contratadas, como no caso do colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR.

Assim, conforme mencionado no início desta peça, verificou-se, nos mesmos

moldes existentes em relação às demais organizações criminosas investigadas pela Operação

Lava Jato, a sua estruturação e divisão de tarefas em três núcleos básicos: a) o núcleo

econômico, formado por executivos das empreiteiras cartelizadas contratadas para execução

de obras pelo Município do Rio de Janeiro, dentre elas a CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN, e a

CONSTRUTORA OAS, e a ANDRADE GUTIERREZ, as quais ofereciam vantagens indevidas a

agentes políticos e gestores públicos para potencialização de seus lucros, assim como dos

responsáveis por empresas prestadoras de serviços como a DYNATEST ENGENHARIA e a

TCDI CNSULTORIA17 e de fornecedoras de materiais, e outras pessoas a serem denunciadas

oportunamente ou ainda não identificadas; b) o núcleo administrativo, composto por gestores

públicos e pessoas a eles relacionadas, os quais solicitaram e administraram o recebimento das

vantagens indevidas pagas pelas empreiteiras, dentre os quais se inseriam o ex-Secretário

Municipal de Obras ALEXANDRE PINTO DA SILVA, o ex-Subsecretário VAGNER DE CASTRO

PEREIRA18 e outros agentes municipais vinculados à Secretaria Municipal de Obras já

17 O crime de pertinência a organização criminosa de administradores da DYNATEST ENGENHERIA e da TCDI CONSULTORIA é objeto de denúncia autônoma.

18 O crime de pertinência a organização criminosa de VAGNER DE CASTRO PEREIRA é objeto de denúncia autônoma.

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denunciados na ação penal 0174071-16.2017.4.02.5101; c) o núcleo financeiro operacional,

do qual faziam parte os denunciados JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, CELSO REINALDO

RAMOS JÚNIOR, VANUZA VIDAL SAMPAIO e outros a serem denunciados oportunamente ou

anda não identificadas, responsáveis pelo recebimento e repasse das vantagens indevidas,

movimentação espúria dos valores de propina, atos de lavagem de capitais, e remessa

clandestina de recursos ao exterior.

A divisão de tarefas dentro do grupo criminoso restou plenamente

caracterizada, podendo a estrutura da organização criminosa ser assim ilustrada:

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É importante destacar que CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR tinha duplo

papel na organização criminosa, tendo integrado inicialmente o núcleo econômico, considerando

que, enquanto responsável pela MATONI IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO e posteriormente

pela BYNKELOR S.A, empresas que atuavam na venda de materiais como geogrelhas,

pigmento asfáltico e aditivos de mistura morna, de aplicação em obras de vias asfálticas,

ofereceu e pagou propina19 a ALEXANDRE PINTO DA SILVA e a outros agentes municipais em

razão do fornecimento de tais materiais a diversas empreiteiras contratadas para execução de

obras municipais (DOC. 01 – Histórico profissional e anexo 01). Esses primeiros atos de

corrupção ativa praticados por CELSO JÚNIOR remontam ao ano de 2010.

Contudo, não há dúvida de que CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR teve

papel bem mais relevante na organização criminosa como operador financeiro, uma vez que

intermediou a solicitação e fez o recolhimento de propina de outras empresas contratadas a

pedido de ALEXANDRE, auxiliou o ex-Secretário na abertura de uma conta bancária no exterior,

na prática de diversos atos de lavagem de capitais, com a disponibilização dos recursos em

contas em nome de uma offshore, além de atuar na remessa dos recursos espúrios ao exterior

por meio de operações de dólar-cabo e em sua movimentação, disponibilizando os recursos em

questão conforme as demandas de ALEXANDRE, se valendo em tais atividades dos serviços

do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH.

Em outro aspecto de sua atuação como operador financeiro, CELSO

REINALDO RAMOS JÚNIOR relatou em seus depoimentos que se valeu de diversas empresas

das quais era sócio, dentre as quais a ANDRADE RAMOS e a CAHPI CONSULTORIA E

SERVIÇOS, para geração de caixa 2 em favor das grandes empreiteiras que executavam obras

públicas no Estado e Município do Rio de Janeiro, como a Carioca Engenharia, a OAS e a

Odebrecht, atuando na geração de caixa 2 durante as obras da Transcarioca, “produzindo”

recursos em espécie para que as empreiteiras pudessem efetuar os pagamentos de vantagens

indevidas aos agentes públicos municipais, cujos crimes de corrupção foram narrados na

primeira denúncia oferecida na Operação Rio 40 Graus (0174071-16.2017.4.02.5101).

19 Tais fatos criminosos não serão objeto de imputação nesta peça, e serão objeto de apuração autônoma para oferecimento de nova denúncia oportunamente.

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Vale registrar que os valores pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA

SILVA e ocultados com o auxílio de CELSO RAMOS JÚNIOR em nome da CENTOVALI

TRADING CORP foram transferidos em novembro de 2016 para a conta da BYNKELOR no

Santander Uruguai, permanecendo ocultados em nome da empresa do colaborador até o

final de 2017, quando CELSO RAMOS JÚNIOR firmou acordo de colaboração premiada e

revelou o crime de lavagem de capitais praticado até aquela data, se comprometendo a

restituir os valores lavados, o que fez recentemente neste mês de fevereiro de 2018

(DOC. 27). Assim, os crimes praticados por CELSO RAMOS JÚNIOR, e, naturalmente, a

sua atuação em favor da organização criminosa, somente cessaram no final de 2017.

Por sua vez, o doleiro JUAN LUIS BERTRAN ocupava importante posição na

organização criminosa, também como operador financeiro, tendo, com o auxílio de parceiros no

Uruguai, idealizado um esquema de lavagem de capitais com a criação uma offshore com sede

no Panamá para viabilizar a remessa e manutenção no exterior de recursos de propina

recebidos por ALEXANDRE PINTO.

A atuação dos operadores financeiros ora denunciados era essencial para o

êxito dos crimes levados a efeito pela organização criminosa, uma vez que cabia a eles a

movimentação e ocultação dos vultuosos recursos de propina aos agentes públicos.

A partir dos depoimentos prestados pelo colaborador e das provas de

corroboração apresentadas, verificou-se que JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH realizou

diversas operações de dólar-cabo em favor dos integrantes da ORCRIM, com inúmeras

remessas clandestinas de recursos ao exterior, utilizando-se de uma série de técnicas para

dissimular a origem espúria dos valores, tais como contratos fictícios e utilização de contas de

terceiros, passando por um sofisticado esquema de lavagem de capitais e movimentações

financeiras sequenciais e fracionadas envolvendo empresas de “fachada” por ele constituídas,

de modo a dificultar o rastreamento do dinheiro.

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JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH foi essencial nas operações de geração

de “caixa 2” realizadas por CELSO JÚNIOR em favor das empreiteiras contratadas para

execução de obras municipais, uma vez que o esquema idealizado dependia das operações de

dólar-cabo invertido realizado por JUAN BERTRÁN. Assim, o doleiro se utilizou de contas sob

sua administração ou de seus clientes para receber quantias em dólar no exterior transferidas

por CELSO JÚNIOR, e posteriormente entregar, por meio de seus funcionários, o valor

equivalente – deduzida a comissão cobrada – em reais no Brasil, para que essas quantias

fossem utilizadas pelas empreiteiras para finalidades diversas, dentre as quais o pagamento de

propina solicitada por agentes públicos. No mesmo sentido, tais operações permitiram também a

disponibilização de dinheiro em espécie no Brasil para que o próprio colaborador pudesse

efetuar os pagamentos de propinas devidas por ele aos agentes públicos municipais.

A atuação criminosa do denunciado JUAN BERTRÁN em favor da ORCRIM se

estendeu por muitos anos, valendo destacar o enorme volume de recursos movimentado por

JUAN nas operações de dólar cabo verificadas. Em tais operações, as contas indicadas pelo

doleiro receberam, apenas do colaborador, no período entre 26.10.2011 e 08.12.2014,

USD 11.745.684,98 (onze milhões, setecentos e quarenta e cinco mil, seiscentos e oitenta e

quatro dólares e noventa e oito centavos) e EUR 2.987.399,00 (dois milhões, novecentos e

oitenta e sete mil, trezentos e noventa e nove euros), em transferências realizadas da conta da

BYNKELOR, conforme extratos e mensagens SWIFT apresentados pelo colaborador (DOC. 28

e DOC. 29). Assim, considerando as cotações atuais20, JUAN BERTRAN movimentou, no

interesse da organização criminosa, em um período de pouco mais de 3 anos, o

equivalente a quase 50 milhões de reais, ou mais precisamente R$ 49.484.970,67 21.

Ainda com a auxílio de JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e CELSO

JÚNIOR, ALEXANDRE PINTO DA SILVA promoveu a saída para o exterior, sem autorização

legal, por meio de operações “dólar-cabo”, significativa quantia que foi mantida oculta em nome

da empresa CENTOVALI no banco CFM Monaco e posteriormente na corretora uruguaia

Hordenaña. Entre os anos de 2013 e 2014, a conta no CFM Monaco recebeu pelo me nos

20 Utilizada a taxa de conversão de Dólar para Real de R$ 3,2192 e de Euro para Real de R$ 3,9075, em 12/01/2018, conforme divulgado pelo Banco Central do Brasil (http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp)

21 Tais fatos não são imputados na presente e serão objeto de denúncia autônoma.

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USD 1.186.245,75 em diversas transações intermediadas pelo requerido, o equivalente

atualmente a R$ 3.818.762,3122.

Tais circunstâncias, em especial o enorme volume de recursos movimentados

no período, denotam o relevante papel exercido pelo denunciado JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH no contexto da organização criminosa em questão. Vale registrar que ainda que há

ainda outros integrantes da ORCRIM que tinham como ponto de contrato exatamente o doleiro

JUAN BERTRÁN, já que os elementos colhidos indicam a participação de outros agentes nos

crimes levados a efeito por JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH ainda não totalmente

identificados, tais como os parceiros uruguaios, e outros não conhecidos, como os responsáveis

pelas empresas cujas contas foram utilizadas nas transações ilícitas e os agentes que

promoveram a entrega dos recursos em espécie gerados com tais operações.

Destaca-se que JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH se valia de diversas

técnicas para ocultar a práticas dos ilícitos praticados, dentre as quais a comunicação em

sistema próprio, via VPN, para dificultar qualquer interceptação, com códigos numéricos para

indicar os interlocutores (parceiros e clientes) e assim evitar a exposição de seus nomes. O

requerido JUAN ainda se vale habitualmente da confecção de contratos fictícios e de estrutura

de pessoas jurídicas de fachada para realização de negócios espúrios. Em sua relação com

CELSO JÚNIOR, considerando os intensos contatos para realizar as atividades ilícitas de

interesse da organização criminosa, JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH ajustou com o

colaborador a formalização de contratos de assessoria fictícios e a emissão de notas frias entre

sua empresa Expertrade Assessoria e Serviços de Consultoria Empresarial Ltda, e as empresas

de CELSO JÚNIOR, com o objetivo de justificar a relação e os contatos realizados entre eles

com negócios com aparência de licitude (DOC. 30 e DOC. 31).

De fato, a simulação de negócios jurídicos fazia parte do modus operandi

adotado pelos integrantes da organização criminosa, sendo que CELSO REINALDO RAMOS

JÚNIOR e ALEXANDRE PINTO DA SILVA também se valeram de operações simuladas para

ocultar o recebimento e a movimentação dos recursos objeto da vantagem indevida oferecida

22 Utilizada a taxa de conversão de Dólar para Real de R$ 3,2192, em 12/01/2018, conforme divulgado pelo BancoCentral do Brasil (http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp)

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pela ANDRADE GUTIERREZ, como se verificou na celebração de contrato fictício entre a

BYNKELOR e a ZAGOPE GULF.

Estes episódios reforçam o planejamento da organização criminosa, adotando

uma sistemática de atuação nos delitos praticados de modo a prevenir eventual ação das

autoridades.

Vale registrar que durante o período em que foram praticados os delitos ora

imputados ao denunciado JUAN LUIS BERTRÁN (entre 2012 e abril de 2016), este manteve

contatos telefônicos frequentes com CELSO RAMOS JÚNIOR, que cessaram exatamente no

período em que CELSO RAMOS deixou o Brasil, quando as operações de dólar-cabo realizadas

com o colaborador se encerraram (DOC. 32).

Os elementos colacionados demonstram que os delitos não foram cometidos

ocasionalmente, havendo união de desígnios entre os agentes públicos e empresários

agraciados por contratos para execução de obras públicas (as quais justamente deveriam ser

fiscalizadas pelos agentes públicos vinculados à Secretaria Municipal de Obras), e ainda com os

operadores financeiros responsáveis por viabilizar o recebimento de propina, promover a

lavagem dos capitais oriundos dos crimes de corrupção passiva e realizar a movimentação

clandestina dos recursos de origem espúria, inclusive com operações de dólar-cabo para

remessa de tais recursos ao exterior, os quais integraram verdadeira organização criminosa

dedicada à obtenção indevida de vantagens pelos servidores públicos, em prejuízo dos cofres

públicos, assim como à prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de

ativos.

Assim, pelo menos desde o ano e de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN

BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, além das pessoas já denunciadas nas

ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, dentre as quais

ALEXANDRE PINTO DA SILVA e VAGNER DE CASTRO PEREIRA, e de indivíduos ainda não

identificados ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e

em comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma

organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,

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com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas

pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos

e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses

delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização

Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).

5) CAPITULAÇÃO DOS FATOS

5.1) ALEXANDRE PINTO DA SILVA

a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,

movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva por ele

praticados, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de

pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a conta titularizada pela

referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco),

com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00, no intuito de afastar

os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos

valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos, estando

incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em continuidade) – Conjunto

de Fatos 01;

b) em outubro de 2013, promoveu, sem autorização legal, em 4 oportunidades,

a saída do total de USD 274.091,00 para o exterior por meio de operações de “dólar-cabo”,

tendo como destino final a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit

Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), tornando possível a obtenção de

disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos

legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do

Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, da Lei

7.492/1986 – (4 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 02;

c) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, por pelo menos 2 vezes,

solicitou, aceitou e recebeu vantagens indevidas que totalizaram USD 1.040.000,00 (um milhão

e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade Gutierrez, em razão do cargo de Secretário

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Municipal de Obras que ocupava, para exercer a sua função com especial atenção aos

interesses privados da empresa, estando incurso nas penas do artigo 317 c/c 327 § 2º, do

Código Penal, na forma do artigo 71, do mesmo diploma legal (2 crimes em continuidade)

– Conjunto de Fatos 03;

d) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ocultou e dissimulou a origem, a

natureza, movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção

passiva por ele praticados, através da celebração de contrato fictício de prestação de serviços

entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE

GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00, e posterior celebração de aditivo contratual para

dobrar o valor original do contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no intuito de converter o

dinheiro recebido a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os valores ilícitos de

sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º,

da Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 04;

e) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes

de crimes de corrupção passiva por ele praticados, por meio da remessa dos valores

anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai para a

conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking

de Mônaco (CFM Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem

criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos de

propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes em

continuidade) - Conjunto de Fatos 05;

f) entre 16.07.2013 e 09.10.2015, manteve no exterior depósitos não

declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23 em 31.12.2013 e

USD 1.187.469,19 em 31.12.2014, no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM

Mônaco), na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa jurídica constituída

no seu interesse e com a única finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso

nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86, na forma do artigo 71 do

Código Penal (2 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 06;

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g) em outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem, localização,

disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 provenientes de crimes de

corrupção passiva por ele praticados, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de

valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da

pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, e transferência de todos os recursos que

possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta, no intuito de afastar

os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real proprietário dos valores

nela depositados, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 - Fato 07;

h) entre 27 e 31 de outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e

cinquenta dólares e quarenta e quatro cents) provenientes de crimes de corrupção passiva por

ele praticados, os convertendo em ativos de aparência lícita consistentes em bens e serviços,

por meio da utilização do cartão de crédito pré-pago CORNERCARD em pelo menos 19

oportunidades, emitido em nome de terceiro a partir do débito de valores na conta titularizada

pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &

ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, para pagamento de despesas efetuadas em seu

benefício e de sua esposa Érica de Castro Nogueira, estando incurso nas penas do artigo 1º,

§4º da Lei 9.613/1998 (19 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 08;

i) entre 26.11.2015 e 01.11.2016 , em data não precisa, ocultou e dissimulou a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes

de crimes de corrupção passiva por ele praticados, por meio de remessa dos valores recebidos

a título de propina em operações estruturadas para a conta titularizada pela CENTOVALI

TRADING CORP na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR

DE BOLSA S.A, com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 250.000,00, no

intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e

beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina

recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 – Fato 09;

j) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, promoveu a saída de

aproximadamente USD 250.000,00 do Brasil, através de operações de “dólar-cabo”, tendo como

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destino final a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora uruguaia

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, tornando possível a obtenção de

disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos

legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do

Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, da Lei

7.492/1986 – Fato 10;

k) entre 15.10.2015 e 01.11.2016, manteve depósitos não declarados à

repartição federal competente no valor correspondente em dólares a, ao menos, USD

1.165.813,19 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE

BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa jurídica

constituída no seu interesse e com a única finalidade de titularizar contas em seu nome ,

estando incurso nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86 - Fato 11.

5.2) CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR

a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,

movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva

praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI

TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a

conta titularizada pela referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de

Mônaco (CFM Mônaco), com o recebimento na conta de destino do valor total de USD

274.091,00, no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular

da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de

propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em

continuidade) – Conjunto de Fatos 01;

b) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, auxiliou ALEXANDRE PINTO

DA SILVA a receber, em razão da função pública, em 2 oportunidades, vantagens indevidas que

totalizaram USD 1.040.000,00, de executivos da Andrade Gutierrez, através de sua empresa

BYNKELOR S.A, estando incurso nas penas do artigo 317 c/c 327, §2º, na forma dos artigos

29 e 71, todos do Código Penal (2 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 03;

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

c) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ocultou e dissimulou a natureza,

origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime

de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, em duas oportunidades, através da

celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a sua empresa BYNKELOR S.A. e

a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ, no valor de

USD 520.000,00, e posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do

contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido por

ALEXANDRE a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua

origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da

Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 04;

d) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes

de crimes de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da remessa dos

valores anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai

para a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private

Banking de Mônaco (CFM Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua

origem criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos

de propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes

em continuidade) – Conjunto de Fatos 05;

e) entre 16.07.2013 e 09.10.2015, auxiliou ALEXANDRE PINTO DA SILVA a

manter depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23

em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 em 31.12.2014, no banco Credit Agricole Private Banking

de Mônaco (CFM Mônaco), na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa

jurídica constituída no interesse de ALEXANDRE e com a única finalidade de titularizar contas

em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei

7.492/86, na forma dos arts. 29 e 71 do Código Penal (2 crimes em continuidade) –

Conjunto de Fatos 06;

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f) em outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem, localização,

disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 provenientes de crimes de

corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da abertura da conta nº

2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE

BOLSA S.A em nome da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual constou como

representante legal perante a instituição bancária, e transferência de todos os recursos que

ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta,

no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real

proprietário dos valores nela depositados, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei

9.613/1998 – Fato 07;

g) entre 27 e 31 de outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 provenientes de crimes

de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, os convertendo em ativos de

aparência lícita consistentes em bens e serviços, por meio de gastos efetuados em pelo menos

19 oportunidades no cartão de crédito pré pago CORNERCARD emitido em seu nome a partir

do débito de valores na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora de

valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, para pagamento

de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa Érica de Castro

Nogueira, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (19 crimes em

continuidade) – Conjunto de Fatos 08;

h) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, auxiliou ALEXANDRE PINTO DA SILVA a

manter depósitos não declarados à repartição federal competente no valor correspondente em

dólares a, ao menos, USD 1.165.813,19, na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &

ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela CENTOVALI

TRADING CORP, pessoa jurídica constituída no interesse de ALEXANDRE e com a única

finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, § único,

segunda parte, da Lei 7.492/86, na forma do artigo 29 do Código Penal – Fato 11;

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i) promoveu, constituiu e integrou, pessoalmente, ao menos entre os anos de

2013 e 2018, uma organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de

corrupção ativa e passiva, com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por

pessoas jurídicas contratadas pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens

indevidas por agentes públicos e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos

recursos financeiros auferidos desses delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional,

razão pela qual está incurso nas penas do artigo 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 – Fato 12.

5.3) JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH

a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,

movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva

praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI

TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a

conta titularizada pela referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de

Mônaco (CFM Mônaco), com o recebimento na conta de destino do valor total de USD

274.091,00, no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular

da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de

propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em

continuidade) – Conjunto de Fatos 01;

b) em outubro de 2013, promoveu, sem autorização legal, em 4 oportunidades,

a saída do total de USD 274.091,00 para o exterior, ao receber valores em espécie em reais das

mãos de ALEXANDRE PINTO no Brasil e em seguida realizar transferências a partir de contas

no exterior para a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole

Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), tornando possível a obtenção de disponibilidade

financeira no exterior por parte de ALEXANDRE sem a remessa oficial do dinheiro através dos

mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos

normativos do Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte,

da Lei 7.492/1986 (4 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 02;

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

c) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes

de crimes de corrupção passiva pratIcados por ALEXANDRE PINTO DA SILVA, realizando

operações estruturadas que permitiram a remessa dos valores anteriormente recebidos da

ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai para a conta titularizada pela

CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM

Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o

real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos,

estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes em continuidade) -

Conjunto de Fatos 05;

d) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, ocultou e dissimulou a

natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes

de crimes de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO DA SILVA, por meio da

realização de operações estruturadas que viabilizaram a remessa dos valores recebidos a título

de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia

HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI

TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 250.000,00, no

intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e

beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina

recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º §4º da Lei 9.613/1998 – Fato 09;

e) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, promoveu a saída de

aproximadamente USD 250.000,00 do Brasil, ao determinar aos seus funcionários a retirada de

valores em espécie e em reais recebidos por ALEXANDRE PINTO a título de propina em uma

casa de câmbio na Barra da Tijuca, e em seguida disponibilizar o valor equivalente em dólares

americanos na conta da CENTOVALI TRADING CORP na corretora uruguaia HORDEÑANA &

ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, por intermédio do sistema “dólar-cabo”, tornando

possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior por parte de ALEXANDRE PINTO

sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja,

através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central, estando incurso

nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10;

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

f) promoveu, constituiu e integrou, pessoalmente, ao menos entre os anos de

2013 e 2018, uma organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de

corrupção ativa e passiva, com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por

pessoas jurídicas contratadas pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens

indevidas por agentes públicos e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos

recursos financeiros auferidos desses delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional,

razão pela qual está incurso nas penas do artigo 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 – Fato 12.

5.4) MIGUEL ALEXANDRE MARTINS CARDOSO DOS SANTOS BARREIROS

a) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, na condição de Diretor

Financeiro da Andrade Gutierrez, em duas oportunidades, ocultou e dissimulou a natureza,

origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime

de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da celebração de contrato

fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING,

empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00, e posterior celebração

de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no

intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os

valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas

penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) - Conjunto de

Fatos 04.

5.5) CONCURSO DE CRIMES

Vale frisar que, como já apontado em cada tópico, entende-se que há continuidade

delitiva entre os crimes que compõem cada conjunto de fatos. Por outro lado, os entre os Fatos

e Conjuntos de Fatos criminosos descritos sob numerações diversas há concurso material de

crimes, com exceção dos seguintes:

a) entre o Conjuntos de Fatos 04 e conjuntos de fatos 05 há continuidade

delitiva, por envolverem operações realizadas em circunstâncias semelhantes e

de forma subsequente para lavagem dos mesmos ativos.

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b) entre o Conjunto de Fatos 6 e Fato 11 há continuidade delitiva, por serem

crimes da mesma espécie e praticados nas mesmas condições de tempo,

lugar, maneira de execução e outras semelhantes.

6) CONCLUSÃO

Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer o recebimento

e processamento da denúncia, com a citação dos denunciados para o devido processo penal e

oitiva das testemunhas e informantes abaixo arrolados.

Requer, ainda, ao final do feito, a condenação dos denunciados pelos crimes

imputados, determinando-se o perdimento dos bens produto dos crimes narrados e

cumulativamente, a fixação de um valor mínimo para reparação dos danos causados pelas

infrações penais descritas na presente denúncia, observando-se os termos do acordo de

colaboração premiada firmado com o denunciado CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e

homologado por este Juízo.

Apesar da apresentação, neste momento, de um caderno de documentos

citados na presente denúncia, conforme lista ao final, este órgão ministerial requer o

compartilhamento de todas as provas produzidas nos autos citados como referência no início

desta peça.

Rio de Janeiro-RJ, 26 de fevereiro de 2018.

LEONARDO CARDOSO DE FREITASProcurador Regional da República

JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOSProcurador Regional da República

EDUARDO RIBEIRO GOMES EL HAGEProcurador da República

RODRIGO TIMÓTEO DA COSTA E SILVAProcurador da República

RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSProcurador da República

SÉRGIO LUIZ PINEL DIASProcurador da República

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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato

FELIPE ALMEIDA BOGADO LEITEProcurador da República

STANLEY VALERIANO DA SILVAProcurador da República

FABIANA KEYLLA SCHNEIDERProcuradora da República

MARISA VAROTTO FERRARIProcuradora da República

Documento eletrônico assinado digitalmente. Data/Hora: 26/02/2018 18:54:08Signatário(a): RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSCódigo de Autenticação: E21FDEB2F9B2C8CF3864DB883E050C12Verificação de autenticidade: http://www.prrj.mpf.mp.br/transparencia/autenticacao-de-documentos/

ROL DE TESTEMUNHAS:

1) LUCIANA SALLES PARENTE – Leniente CARIOCA ENGENHARIA.

2) MARCOS ANTONIO DOS SANTOS BONFIM - Leniente CARIOCA ENGENHARIA

3) ANUAR BENEDITO CARAM, brasileiro, engenheiro, inscrito no CPF sob o n° , RG n° com endereço na São Paulo-SP, CEP 04726-220

4) CRISTIANO PIMENTEL CAVALCANTI VIEIRA, brasileiro, engenheiro da Andrade Gutierrez, inscrito no CPF sob o nº , residente e domiciliado na Rua

, cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.

5) PAULO RIBEIRO SOARES FILHO,brasileiro, engenheiro, inscrito no CPF nº ,domiciliado na Rua , Belo Horizonte, CEP 30.320-640

DOCUMENTOS APRESENTADOS:

DOC. 01 – Termos de colaboração de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR – Histórico e anexos 01,03, 04/10, 06, 09DOC. 02 – Denúncia Rio 40 Graus - 0174071-16.2017.4.02.5101DOC. 03 – Depoimentos executivos da OAS, Carioca e Andrade GutierrezDOC. 04 – Denúncia Consórcio Dynatest-TCDI (Autos 0021748-89.2018.4.02.5101)DOC. 05 – E-mail de Magdalena Staricco sobre a recursa de abertura de contaDOC. 06 – Documento de abertura da conta da CENTOVALI no CFM MônacoDOC. 07 – E-mails com referência à senha “MONTBLANCO”DOC. 08 – E-mail de Ana Karina sobre créditos na conta da CENTOVALI no CFM Mônaco.DOC. 09 – Extratos da conta da CENTOVALI no CFM MônacoDOC. 10 – Degravação da conversa gravada entre JUAN LUIS BETRÁN e CELSO JÚNIOR comdestaque nos trechos mais relevantesDOC. 11 – Auto de apreensão na residência de JUAN LUIS BETRÁN

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DOC. 12 – Depoimento prestado por Anuar Benedito CaramDOC. 13 – Contrato entre ZAGOPE GULF CONTRACTING e BYNKELOR S.A.DOC. 14 – E-mails sobre a Minuta do contrato da ZAGOPE com a BYNKELOR.DOC. 15 – Carta e e-mail enviados pela ZAGOPE ao banco solicitando a transferência deUSD 520.000,00 a BYNKELOR.DOC. 16 – Extratos da conta da Bynkelor S.A no Banco Santander e SWIFTS.DOC. 17 – Aditivo ao contrato da ZAGOPE GULF e BYNKELOR.DOC. 18 – E-mails trocados entre Jorge Navarro e CELSO JÚNIOR sobre invoice DOC. 19 – Depoimento prestado por Paulo Ribeiro Soares FilhoDOC. 20 – Emails indicando problemas da representação da ZAGOPE e entre Miguel Barreiros ePaulo Filho sobre o contrato com a BynkelorDOC. 21 – Dossiê integrado de ALEXANDRE PINTO.DOC. 22 – Carta e comprovante da transferência do CFM MÔNACO para a HORDEÑANA.DOC. 23 – Fatura do cartão de crédito CORNERCARDDOC. 24 – Dados do Sistema de Tráfego Internacional – Alexandre Pinto e esposaDOC. 25 – Relatório dados dos celulares de Alexandre Pinto e esposa.DOC. 26 – Extrato comprovando transferência de valores da conta da Centovali na corretoraHORDEÑANA para a conta da BYNKELORDOC. 27 – Petição apresentada pelo colaborador comprovando a restituição dos valorespertencentes a ALEXANDRE PINTODOC. 28 – Extrato da conta bancária da empresa BYNKELOR utilizada para recebimento derecursos e posterior transferência para contas indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRANDOC. 29 – SWIFTS de operações realizados por CELSO JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁNDOC. 30 – E-mail versando sobre a celebração de contrato fictício entre a empresa de JUAN LUISBERTRAN BITLLONCH e a de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR;DOC. 31 – Contratos fictícios e notas fiscais “frias” emitidas pela empresa EXPERTRADEASSESSORIA E SERVIÇOS DE CONSULTORIA EMPRESARIAL, de JUAN LUIS BERTRAN DOC. 32 – Relação de comunicações telefônicas entre CELSO RAMOS JUNIOR e JUAN LUISBERTRÁN BITLLONCH (Relatório Sittel)

Documento eletrônico assinado digitalmente. Data/Hora: 26/02/2018 18:54:08Signatário(a): RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSCódigo de Autenticação: E21FDEB2F9B2C8CF3864DB883E050C12Verificação de autenticidade: http://www.prrj.mpf.mp.br/transparencia/autenticacao-de-documentos/

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