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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 7ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃOJUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO
DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA:
0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch)
D EMAIS REFERÊNCIAS:
0502341-40.2018.4.02.5101 (IPL 010/2018-11 – DELECOR - IPL Mãos à Obra – Juan)0506266-78.2017.4.02.5101 (IPL 047/2017-11 – DELECOR – IPL Rio 40 Graus)0506620-06.2017.4.02.5101 (Acordo de colaboração premiada de Celso Ramos Junior) 0506660-85.2017.4.02.5101 (Anexo 9 ao acordo de colaboração de Celso Ramos Junior)0005474-50.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Juan Luis Bertrán Bitllonch) 0004648-24.2018.4.02.5101 (Prisão Preventiva Alexandre Pinto e Vagner Pereira)0506972-95.2016.4.02.5101 (Acordo de leniência da empresa Carioca Engenharia) 0507551-43.2016.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia)0029142-74.2017.4.02.5101 (Adesões ao acordo de leniência da Carioca Engenharia)0509595-35.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo telemático)0509600-57.2016.4.02.5101 (Quebra de sigilo bancário e fiscal)0505235-23.2017.4.02.5101(Sequestro de bens)0505149.52-2017.4.02.5101 (prisão preventiva)0174071-16.2017.4.02.5101 (Ação Penal Rio 40 Graus)0004639-62.2018.4.02.5101 (Ação Penal Lavagem interna Alexandre Pinto)0021748-89.2018.4.02.5101 (Ação Penal Corrupção Dynatest-TCDI)
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da
República que ao final subscrevem1, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais,
em especial a disposta no art. 129, I, da Constituição Federal, comparece perante esse Juízo
para, com base nas provas contidas nos diferentes autos eletrônicos em epígrafe, oferecer
DENÚNCIA em desfavor de:
1) ALEXANDRE PINTO DA SILVA, brasileiro, servidor público municipal, ex-Secretário
Municipal de Obras do Rio de Janeiro, nascido em , inscrito no CPF sob o nº
, filho de , residente na Rua ,
, Casa, Jacarepaguá, Rio de Janeiro-RJ, CEP 22723-390, telefone (21) ,
atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques;
1 Designados para atuar neste feito e conexos pela Portaria PGR/MPF nº 1307, de 7 de dezembro de 2017.
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Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato
2) CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, brasileiro, casado, engenheiro, RG ,
CPF , com endereço na Av. , Niterói,
Ingá, RJ;
3) JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, espanhol, divorciado, nascido em , portador
da carteira de identidade inscrito no CPF sob o número ,
residente na Rua , Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, CEP 227933-38,
atualmente custodiado na Cadeia Pública José Frederico Marques;
4) MIGUEL ALEXANDRE MARTINS CARDOSO DOS SANTOS BARREIROS , português,
casado, nascido em , CI nº , CPF nº , filho de
com endereço na Av. ,
, 1500-328, Lisboa, Portugal ou Rua , 1500-351, Lisboa, Portugal;
pela prática dos crimes a seguir descritos:
1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
A presente denúncia apresenta o resultado de mais uma parcela da
investigação levada a cabo pelo Ministério Público Federal na Operação Rio 40 Graus e das
apurações realizadas após sua deflagração, resultando na Operação Mãos à Obra, tendo como
escopo aprofundar o desbaratamento da complexa organização criminosa instalada no Estado
do Rio de Janeiro, comandada por agentes políticos do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), dedicada à obtenção de vantagens indevidas de empreiteiras executoras de
obras públicas, assim como de diversas outras empresas prestadoras ou concessionárias de
serviços públicos.
No bojo do acordo de leniência da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN
ENGENHARIA S/A, homologado perante este juízo (0506972- 95.2016.4.02.5101), foram
colhidos depoimentos dos lenientes que trouxeram relevantes informações para o
aprofundamento das investigações iniciadas por ocasião da Operação Calicute, indicando que o
esquema de corrupção existente na Secretaria de Estado de Obras, consistente na cobrança de
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propina no valor de 1% dos bilionários contratos, repetia-se na Prefeitura do Rio de Janeiro –
também por meio da Secretaria de Obras.
O quadro narrado pelos lenientes e as investigações que se seguiram
revelaram um grande esquema de corrupção instalado na Prefeitura do Rio de Janeiro,
envolvendo agentes públicos e empreiteiras de forma semelhante ao que foi descoberto no
Governo do Estado do Rio de Janeiro, sendo que os ilícitos inicialmente noticiados ocorreram,
principalmente, em duas obras municipais, financiadas com recursos federais: TRANSCARIOCA
LOTE 2 e OBRAS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA DE JACAREPAGUÁ. Dentre os
fatos citados pelos lenientes e comprovados durante a apuração estava a solicitação de
vantagens indevidas pelo então Secretário Municipal de Obras do Rio de Janeiro ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, correspondente a 1% (um por cento) do valor de cada um dos dois contratos
celebrados entre o Município do Rio de Janeiro e os respectivos consórcios vencedores das
licitações.
Assim, como consequência do prosseguimento das investigações foi deflagrada
a Operação Rio 40 graus, com o objetivo de reprimir parcela da organização criminosa
responsável pela obtenção de vantagens indevidas em detrimento da Prefeitura do Rio de
Janeiro, que era operacionalizada pelo Secretário Municipal de Obras ALEXANDRE PINTO DA
SILVA, contando com o apoio de diversos agentes municipais. Tais fatos são objeto da ação
penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101, sendo que ALEXANDRE PINTO foi ainda denunciado nos
autos 0004639-62.2018.4.02.5101 por diversos crimes de lavagem de dinheiro em razão de
operações visando ocultar seu patrimônio ilicitamente adquirido em nome de familiares e
empresa por ele criada para tal finalidade.
Após a deflagração da Operação Rio 40 Graus na sequência das
investigações, foi celebrado acordo de colaboração premiada com o empresário CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR, homologado por este juízo nos autos nº 0506620-
06.2017.4.02.5101, o que permitiu o aprofundamento das apurações sobre os crimes cometidos
pela supracitada organização criminosa, revelando fatos ilícitos que consubstanciam, dentre
outros, os seguintes tipos penais: organização criminosa; corrupção ativa; corrupção passiva;
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lavagem de dinheiro; fraude contra licitações; evasão de divisas; manutenção de contas não
declaradas no exterior e sonegação fiscal.
De fato, inúmeros outros fatos criminosos praticados por ALEXANDRE PINTO
DA SILVA e outros membros da ORCRIM foram revelados em razão da celebração de acordo
de colaboração premiada com o empresário CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, sendo
possível obter provas de que a atuação da organização criminosa – com liderança pelo
requerido ALEXANDRE PINTO - não se limitou a poucas obras, como as que já foram objeto de
denúncia, mas se estendeu por muitos anos em diversas obras municipais, alcançando não só
as empreiteiras contratadas para execução das obras, assim como outras prestadoras de
serviços e empresas fornecedoras de materiais para as contratadas, como no caso do
colaborador CELSO RAMOS JÚNIOR.
O colaborador inclusive relatou em seus depoimentos que se valeu de diversas
empresas das quais era sócio, dentre as quais a ANDRADE RAMOS e a CAHPI
CONSULTORIA E SERVIÇOS, para geração de caixa 2 em favor das grandes empreiteiras que
executavam obras públicas no Estado e Município do Rio de Janeiro, como a Carioca
Engenharia, a OAS e a Odebrecht, atuando, por exemplo, na geração de caixa 2 durante as
obras da Transcarioca, isto é, “produzindo” recursos em espécie para que as empreiteiras
pudessem efetuar os pagamentos de vantagens indevidas aos agentes públicos municipais,
cujos crimes de corrupção foram narrados na primeira denúncia oferecida na Operação Rio 40
Graus (0174071-16.2017.4.02.5101).
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR atuava na importação e venda de
materiais como geogrelhas, pigmento asfáltico e aditivos de mistura morna, de aplicação em
obras de vias asfálticas, tendo como principais clientes empresas prestadoras de serviços à
Prefeitura do Rio de Janeiro. Embora não fosse contratada diretamente pela Prefeitura, a
recomendação de seus produtos por parte dos ex-Secretário ensejou a cobrança de vantagens
indevidas por ALEXANDRE PINTO. Inicialmente o colaborador vendia tais produtos no Brasil
através da empresa MATONI IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO, e a partir de 2011, com o
fechamento da MATONI por problemas nas transações de comércio exterior, CELSO JÚNIOR
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optou por abrir uma empresa no exterior denominada BYNKELOR, e passou a atuar apenas
como representante comercial dos produtos que já vendia, porém sem a responsabilidade pelas
questões de importação no Brasil, já que havia outras empresas que atuavam em tal etapa
(DOC. 01 – Histórico e Anexo 01).
Depois de um período realizando o pagamento de propinas a
ALEXANDRE PINTO, foi criada uma relação de confiança entre estes, de modo que o
colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR passou a exercer função de um verdadeiro
operador financeiro: além de acautelar recursos devidos a ALEXANDRE PINTO a título de
propina, CELSO JÚNIOR intermediou a solicitação e fez o recolhimento de propina de outras
empresas contratadas a pedido de ALEXANDRE, auxiliou o ex-Secretário na abertura de uma
conta bancária no exterior e na prática de diversos atos de lavagem de capitais, com a
disponibilização dos recursos em conta em nome de uma offshore, além de atuar na remessa
dos recursos espúrios ao exterior e em sua movimentação, disponibilizando os recursos em
questão conforme as demandas de ALEXANDRE, se valendo em tais atividades dos serviços
do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH.
Na presente denúncia são imputados crimes de corrupção passiva praticados
por ALEXANDRE PINTO DA SILVA no que tange a parte das vantagens indevidas recebidas da
Andrade Gutierrez relacionadas às obras da Transcarioca - Lote 01 - Corredor T5, que liga a
Penha e a Barra da Tijuca, assim como fatos criminosos relacionados ao esquema de evasão de
divisas e lavagem de capitais levado a efeito por ALEXANDRE PINTO DA SILVA com o auxílio
de CELSO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e outros agentes não
totalmente identificados, sendo narrada ainda a pertinência dos denunciados à organização
criminosa revelada.
Destaca-se que foram imputados nesta denúncia apenas parte dos atos de
corrupção, lavagem de capitais e evasão de divisas identificados, sendo que naturalmente a
peça acusatória não esgota todos os atos praticados pelos denunciados e pela organização
criminosa da qual fazem parte, que poderão ser objeto de novas denúncias.
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Em relação aos crimes de lavagem de ativos imputados nesta peça,
salienta-se que parte dos crimes antecedentes, de corrupção e pertinência à organização
criminosa, já foram objeto de denúncia nos autos da ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101.
Apresenta-se em anexo a denúncia da referida ação penal (DOC. 02), para que faça parte da
presente imputação toda a narrativa envolvendo os crimes de corrupção já imputados ao
denunciado ALEXANDRE PINTO DA SILVA , de modo a demonstrar a presença dos indícios
suficientes dos delitos antecedentes dos atos de lavagem objeto da presente denúncia.
Outrossim, este órgão ministerial requer o compartilhamento de todas as
provas colhidas naqueles autos e apresentadas junto à peça acusatória para que possam
instruir a presente ação penal. De qualquer modo, serão abordados brevemente, em item
próprio nesta peça, os elementos reunidos acerca de tais crimes antecedentes, sendo ainda
acostados à presente denúncia os depoimentos prestados pelos lenientes da CARIOCA
ENGENHARIA e por executivos da Andrade Gutierrez e OAS (DOC. 03)
2. IMPUTAÇÕES TÍPICAS
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre julho e outubro de
2013, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio da criação da
offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores
recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 0547980 no banco Credit
Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI, com o
recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro
mil e noventa e um dólares americanos), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem
criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o
rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º da Lei
9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 01)
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Em outubro de 2013, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, promoveram, sem
autorização legal, em 4 oportunidades, a saída do total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta
e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o exterior por meio de operações de
“dólar-cabo”, em que os valores em espécie em reais foram entregues por ALEXANDRE PINTO
a JUAN LUIS BERTRÁN no Brasil, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de
contas no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 0547980 no banco
Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING
CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa
oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema
financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central. (Evasão de Divisas/Artigo 22, §
único, primeira parte, da Lei 7.492/86 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02).
Entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA,
de modo consciente e voluntário, em razão da condição de Secretário Municipal de Obras da
Prefeitura do Rio de Janeiro, recebeu, com o auxílio de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e
através da empresa BYNKELOR, em 2 oportunidades, vantagens indevidas que totalizaram
USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade Gutierrez, em
duas parcelas de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares) e com pagamento no exterior,
para exercer o seu cargo com especial atenção aos interesses privados da empresa, em
especial no que concerne ao contrato originalmente celebrado entre o Consórcio Transcarioca
BRT e o Município do Rio de Janeiro e transferido integralmente à Andrade Gutierrez, para
execução da obra de construção da via da Transcarioca – Corredor T5 – Lote 1 – Trecho Penha
à Barra da Tijuca (Corrupção Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e art. 71 do CP– 2 crimes em
continuidade - Conjunto de Fatos 03).
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre dezembro
de 2013 e janeiro de 2014, em duas oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR e o então Diretor Financeiro da Andrade Gutierrez MIGUEL
BARREIROS, bem como outros executivos da referida empreiteira2 a serem oportunamente
2 Com exceção dos crimes de lavagem de dinheiro imputados a MIGUEL BARREIROS, os crimes de corrupção ativa elavagem de ativos com envolvimento de executivos da Andrade Gutierrez serão apurados de forma autônoma e ensejarão ooferecimento de novas denúncias.
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denunciados, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam
a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores
provenientes do crime de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da
celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A., empresa de
CELSO JÚNIOR, e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE
GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos), e
posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando
USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de
aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário
(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto
de Fatos 04).
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre dezembro de 2013 e
setembro de 2014, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio
da remessa dos valores anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR
S.A no Uruguai, através de operações estruturadas por JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH,
para a conta nº 0547980 no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco)
em nome da CENTOVALI TRADING CORP, no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos
de sua origem criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos
recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 4
crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).
No período compreendido entre 16.07.2013 e 09.10.2015, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, com auxílio do colaborador
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve no exterior
depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23
(setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares americanos e vinte e três
cents) em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos
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e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, na conta nº 0547980 do banco
Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), titularizada pela offshore panamenha
CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única
finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda
parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade delitiva -
Conjunto de Fatos 06).
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, em outubro de
2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e
consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e
oitenta e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares e setenta e cinco) provenientes de crimes
de corrupção passiva, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de valores
uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da pessoa
jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR constou
como representante leg perante a instituição bancária, e transferência de todos os recursos que
ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta,
no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real
proprietário dos valores nela depositados (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 -
Fato 07).
Outrossim, consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre
27 e 31 de outubro de 2015, em pelo menos 19 oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA
e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios,
ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e cinquenta dólares e quarenta e quatro
cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os convertendo em ativos de aparência
lícita consistentes em bens e serviços, por meio da utilização do cartão de crédito pré-pago
CORNERCARD em nome de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, emitido a partir do débito
de valores na conta nº 2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS
CORREDOR DE BOLSA S.A de titularidade da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP,
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para pagamento de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa
Érica de Castro Nogueira. (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 19 crimes em
continuidade - Conjunto de Fatos 08).
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em
unidade de desígnios, em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, ocultaram e
dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de
valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio de remessa dos valores
recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora
uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI
TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor aproximado de USD
250.000,003 (duzentos e cinquenta mil dólares), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua
origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e
dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º
da Lei 9.613/1998 – Fato 09)
Em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, os denunciados
ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de modo consciente e
voluntário e em unidade de desígnios, promoveram a saída de aproximadamente
USD 250.000,004 (duzentos e cinquenta mil dólares) do Brasil, por intermédio do sistema
“dólar-cabo”, em que os valores em espécie correspondente recebidos a título de propina por
ALEXANDRE PINTO foram retirados em uma casa de câmbio no Brasil, pelos funcionários do
doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de contas
no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI
TRADING CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a
remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do
3 Valores aproximados da diferença entre o saldo da conta da Hordeñana em 25.11.2016 (USD1.165.813,19) – DOC. 22 e osaldo final transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016 (USD 1.417.067,68) - DOC. 26. Conforme relatou ocolaborador CELSO JÚNIOR, após a transferência da conta da CENTOVALI para a Corretora Hordeñana o único aporte derecursos se referiu a uma remessa via dólar-cabo de recursos de propina pagos pela Andrade Gutierrez no Brasil.
4 Conforme nota de rodapé acima.
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sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central (Evasão de Divisas/Artigo
22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10).
No período compreendido entre 09.10.2015 e 01.11.2016, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, inclusive no dia 31.12.2015, com auxílio do colaborador CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve depósitos não declarados à
repartição federal competente no valor correspondente em dólares a, ao menos, USD
1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil, oitocentos e treze dólares americanos e
dezenove cents) na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR
DE BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela offshore panamenha CENTOVALI TRADING
CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única finalidade de titularizar
contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86
– Fato 11).
Ao menos entre os anos de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, e outras pessoas já denunciadas nas
ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, notadamente
ALEXANDRE PINTO DA SILVA, VAGNER DE CASTRO PEREIRA, EDUARDO FAGUNDES e
outros fiscais vinculados à Secretaria Municipal de Obras, e de indivíduos ainda não
identificados ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e
em comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma
organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,
com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas
pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos
e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses
delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização
Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).
Para melhor compreensão das operações realizadas, a imagem abaixo ilustra
cronologicamente os principais eventos relacionados aos crimes de corrupção, evasão de
divisas, lavagem de dinheiro e manutenção de depósitos no exterior:
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3. DOS CRIMES ANTECEDENTES 5 AOS DELITOS DE
LAVAGEM DE ATIVOS ADIANTE NARRADOS
Como revelado na Operação Rio 40 Graus (ação penal
0174071-16.2017.4.02.5101, entre os anos de 2011 e 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, à
época Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro, solicitou e recebeu
vantagem ilícita dos executivos das empresas CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA,
OAS e ANDRADE GUTIERREZ, em virtude da execução de duas obras de construção civil
contratadas pela Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro com os consórcios
Transcarioca Rio e Rios de Jacarepaguá, quais sejam, a construção da via da
TRANSCARIOCA, Lote 2, que liga a Penha ao Aeroporto Internacional do Galeão e as obras de
Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá - Lotes 1B e 1C, respectivamente.
5 Parte dos delitos antecedentes narrados já foram objeto de denúncia nos autos 0174071-16.2017.4.02.5101, naqual são imputados crimes de corrupção, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
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Além dos crimes de corrupção já imputados ao ex-Secretário na ação penal
supracitada, os depoimentos prestados pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR,
acompanhados de fartos elementos probatórios, revelaram uma série de novos crimes de
corrupção praticados entre os anos de 2010 e 2016, que se estenderam por diversas obras
municipais, alcançando não só as empreiteiras contratadas para execução das obras, assim
como outras prestadoras de serviços (Dynatest e TCDI, por exemplo) e empresas fornecedoras
de materiais para as contratadas, como no caso das empresas do colaborador (DOC. 01 –
Histórico e anexos 01, 03, 04, 06, 09)
Os depoimentos do colaborador e demais depoimentos colhidos
demonstraram que houve, do mesmo modo, cobrança de propina da Andrade Gutierrez em
percentual do valor das obras da Transcarioca – Lote 1, cujo valor global foi superior a 1 bilhão
de reais, fazendo, do mesmo modo, parte do rol de crimes antecedentes desta denúncia,
havendo indícios mais que suficientes da prática de tais delitos antecedentes. Registra-se que
nesta denúncia são imputados apenas parte dos crimes de corrupção envolvendo a obra da
Transcarioca Lote 1, envolvendo dois recebimentos específicos de propina no exterior por meio
da celebração de contratos fictícios.
3.1 DA CORRUPÇÃO PASSIVA NAS OBRAS DA TRANSCARIOCA - LOTE 2
Conforme narrado na ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101, no período
compreendido entre maio de 2012 e dezembro de 2014, por pelo menos 33 (trinta e três) vezes,
ALEXANDRE PINTO DA SILVA, de modo consciente e voluntário, em razão da condição de
Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro, solicitou e aceitou promessa de
vantagem indevida correspondente a 1% (um por cento) do valor do contrato celebrado entre o
Consórcio Transcarioca Rio e o Município do Rio de Janeiro, para execução da obra de
construção da via da Transcarioca – Corredor T5 – Lote 2 – Trecho Penha ao Galeão, bem
como recebeu, em razão da função pública exercida, vantagem indevida de ao menos
R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) da empreiteira CARIOCA CHRISTIANI
NIELSEN ENGENHARIA e ao menos valor equivalente da CONSTRUTORA OAS, líder do
consórcio com participação de 46% (quarenta e seis por cento), praticando e omitindo atos de
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ofício, com infração de deveres funcionais, em decorrência das vantagens recebidas,
notadamente com relação à omissão quanto ao direcionamento do procedimento licitatório em
favor do referido Consórcio, assim como no que concerne à atividade de fiscalização e controle
da execução das atividades inerentes à obra citada (Corrupção Passiva/Art. 317, § 1º, do CP).
ALEXANDRE PINTO solicitou, inicialmente, em razão da função exercida,
promessa de vantagem indevida correspondente a 3% (três por cento) dos valores recebidos
pelo Consórcio Transcarioca Rio aos executivos da CARIOCA ENGENHARIA e da
CONSTRUTORA OAS, cuja porcentagem equivaleria a aproximadamente R$ 15.000.000,00
(quinze milhões de reais) considerando o orçamento total da obra (R$ 548.330.000,00).
Tal solicitação foi levada ao conhecimento dos executivos da CARIOCA
ENGENHARIA em uma das reuniões de Conselho da Obra pelo Diretor Superintendente da
OAS REGINALDO ASSUNÇÃO, sendo que na ocasião não foi aceito o elevado percentual
cobrado por ALEXANDRE de 3% do valor das obras. Assim, foi realizada nova reunião com
ALEXANDRE PINTO, na qual estiveram presentes representantes da CARIOCA ENGENHARIA,
ocasião em que se chegou ao acordo de que o valor das vantagens indevidas repassadas ao
ex-Secretário Municipal de Obras corresponderia a 1% do valor das obras.
Em razão do aludido ajuste, ALEXANDRE PINTO recebeu vantagem indevida
de ao menos R$ 750.000,00 (setecentos e cinquenta mil reais) só da parte da empreiteira
CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, que detinha 36% do contrato, tendo a OAS
pago, no mínimo, o mesmo valor ao denunciado, já que era a empresa líder do Consórcio com
46% de participação no contrato.
Os pagamentos efetuados a ALEXANDRE eram efetuados sempre em
espécie, sendo repassados ao ex-Secretário após cada recebimento pelo Consórcio
Transcarioca Rio, totalizando 33 (trinta e três) repasses no período do contrato até o fim de
2014. Parte dos valores para tais pagamentos chegaram a ser obtidos através da geração de
caixa 2 na própria obra pelo Consórcio, sendo que posteriormente os valores passaram a ser
pagos separadamente por cada uma das empreiteiras.
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Quanto à parte da CARIOCA ENGENHARIA, a entrega da propina a
ALEXANDRE PINTO era realizada em regra pelo representante comercial Marcos Antonio dos
Santos Bonfim, que já tinha um relacionamento mais próximo e uma relação de confiança com o
denunciado, sendo que em uma oportunidade os valores foram repassados ao ex-Secretário
pela diretora Luciana Salles. Antonio Cid Campelo Rodrigues também efetuou a entrega de
valores em espécie a ALEXANDRE PINTO quanto à parte da OAS.
Os fatos imputados a ALEXANDRE PINTO DA SILVA foram confirmados pelos
lenientes Luciana Salles Parente, Marcos Antônio dos Santos Bonfim, Roberto José Teixeira
Gonçalves, e também por Antonio Cid Campelo Rodrigues, também denunciado na ação penal
nº 0174071-16.2017.4.02.5101, e corroborados pelas demais provas colhidas nos autos, em
especial pela análise dos dados bancários e fiscais de ALEXANDRE, que evidenciam diversas
operações incompatíveis com o patrimônio do denunciado e seus familiares, além de vários
pagamentos realizados em espécie com o dinheiro amealhado com os crimes de corrupção
narrados.
Assim, os depoimentos dos lenientes e demais provas reunidas na ação penal
supracitada demonstram que ALEXANDRE PINTO DA SILVA, na condição de Secretário
Municipal de Obras, foi responsável por manter em funcionamento na Secretaria um esquema
criminoso de desvio de verbas públicas, inclusive federais, com recebimento de propina em
valores vultosos, correspondentes a percentuais dos valores devidos pela execução de uma
milionária obra pública municipal. Tal esquema contava como o envolvimento de diversos
agentes em toda a cadeia de servidores municipais de hierarquia inferior, alguns já identificados
na referida ação penal e outros ainda pendentes de identificação.
O recebimento dos vultosos recursos em espécie das empreiteiras
naturalmente impactaria o patrimônio de ALEXANDRE PINTO DA SILVA, de maneira que este
se valeu do auxílio de familiares para tentar ocultar a aquisição de bens que não poderiam
constar em seu próprio nome, uma vez que ele não possuía disponibilidade financeira para
suportar a variação patrimonial que seria causada pelo recebimento de propina. Tais operações
evidentemente deixaram seus rastros e serão, em parte, objeto da presente denúncia.
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3.2 DA CORRUPÇÃO PASSIVA NAS OBRAS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA
DE JACAREPAGUÁ – LOTES 1B E 1C
Conforme descrito na denúncia da ação penal nº 0174071-16.2017.4.02.5101,
ALEXANDRE PINTO, na qualidade de Secretário Municipal de Obras da Prefeitura do Rio de
Janeiro, solicitou e aceitou promessa de vantagem indevida correspondente a 1% (um por
cento) dos valores recebidos pelo Consórcio Rios de Jacarepaguá referente à construção das
obras de Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá Lotes 1-B e 1-C. Os valores
solicitados equivaleriam a aproximadamente R$ 2.380.000,00 (dois milhões e trezentos e oitenta
mil reais) considerando o orçamento total da obra (R$ 238.880.904,05).
A solicitação da propina ocorreu por ocasião de uma das visitas de
ALEXANDRE PINTO à obra diretamente ao leniente Marcos Antonio dos Santos Bonfim, que
levou tal solicitação ao conhecimento dos executivos Cristiano Cavalcanti da Andrade Gutierrez
e Rodolfo Mantuano da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, e ambas as empresas
concordaram com o pagamento das vantagens indevidas solicitadas pelo ex-Secretário, ficando
cada empresa responsável pelo pagamento de sua parte.
Mais uma vez, os pagamentos da parte da CARIOCA foram feitos em espécie
e foram entregues a ALEXANDRE PINTO por Marcos Antonio dos Santos Bonfim, no mesmo
local em que havia sido entregue a propina relativa às obras da TRANSCARIOCA.
O denunciado ALEXANDRE PINTO recebeu vantagem indevida de ao menos
R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), ofertados por ação de representantes da empreiteira
CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA. O valor total solicitado por ALEXANDRE
PINTO não foi pago, tendo em vista que apenas cerca de 70% (setenta por cento) do contrato
em questão foi executado em razão de uma série de paralisações.
As oitivas dos lenientes Luciana Salles Parente, Roberto José Teixeira
Gonçalves e Marcos Bonfim confirmaram a solicitação de propina efetuada por ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, assim como os pagamentos feitos pelos funcionários da CARIOCA
CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA ao ex-Secretário Municipal de Obras.
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Marcos Antonio dos Santos Bonfim confirmou que, de 1% do que foi solicitado,
o que corresponderia a aproximadamente R$ 2.380.000,00 (dois milhões e trezentos e oitenta
mil reais), recorda-se que apenas R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) foram pagos a
ALEXANDRE PINTO da parte da CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN ENGENHARIA, devido às
mencionadas paralisações.
As informações prestadas pelo leniente Marcos Bonfim foram confirmadas por
Cristiano Pimentel Cavalcanti Vieira, assistente comercial da Andrade Gutierrez, em depoimento
realizado nesta Procuradoria da República.
Foram apresentadas na denúncia oferecida nos autos
0174071-16.2017.4.02.5101 todos os elementos que comprovam a prática dos delitos de
corrupção passiva por parte do ex-Secretário Municipal de Obras e que, naturalmente,
consubstanciam elementos mais que suficientes da prática dos delitos antecedentes dos atos de
lavagem imputados nesta peça, com destaque para: (i) os depoimentos prestados pelos
executivos da Carioca Engenharia, da Andrade Gutierrez, e da OAS (o corréu naquele feito
ANTONIO CID), acerca do pagamento de valores de propina em espécie diretamente ao
ex-Secretário de Obras; (ii) a análise da situação fiscal de ALEXANDRE PINTO que indica
variação patrimonial a descoberto e operações suspeitas em diversos exercícios, com diversas
transações omitidas em suas declarações de imposto de renda; (iii) o RIF encaminhado pelo
COAF e as informações prestadas pela Odebrecht Realizações que indicam a aquisição de bens
de luxo e imóveis com a utilização de dinheiro em espécie por ALEXANDRE; (iv) os dados
obtidos na quebra de sigilo bancário, que identificaram diversos depósitos em espécie e
transações realizadas por ALEXANDRE nas contas bancárias de sua mãe SÔNIA REGINA
PINTO DA SILVA e de seus filhos RENAN MONTENEGRO NOGUEIRA DA SILVA e CARLOS
VICTOR MONTENEGRO NOGUEIRA DA SILVA; e (v) as demais transações imobiliárias
realizadas por ALEXANDRE PINTO DA SILVA em nome de seus filhos. Todos os elementos
citados evidenciam o efetivo recebimento dos recursos a título de propina narrado pelos
lenientes e consubstanciam provas mais que suficientes da prática dos delitos antecedentes aos
crimes de lavagem do dinheiro que serão descritos nos tópicos a seguir.
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3.3 – DOS CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA REVELADOS POR CELSO JÚNIOR -
EMPRESAS COLABORADOR – CONSÓRCIO DYNATEST-TCDI – ANDRADE GUTIERREZ
A celebração do acordo de colaboração premiada com o empresário CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR permitiu o aprofundamento das apurações sobre os crimes
cometidos pela supracitada organização criminosa, revelando diversos atos de corrupção
praticados por agentes municipais, em especial o ex-Secretário de Obras ALEXANDRE PINTO
DA SILVA. Assim, além dos atos de corrupção que já foram objeto de denúncia na Operação
Rio 40 Graus citados nos itens 3.1 e 3.2 supra, CELSO JÚNIOR trouxe informações e provas
acerca da prática do delito de corrupção passiva envolvendo o fornecimento de materiais pelas
empresas do próprio colaborador MATONI e BYNKELOR, assim como fatos criminosos
relacionados à obra da Transcarioca Lote 1 e dos serviços de monitorização da implantação no
BRT Transbrasil.
Como já destacado, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR atuava na
importação e venda de materiais como geogrelhas, pigmento asfáltico e aditivos de mistura
morna, de aplicação em obras de vias asfálticas, tendo como principais clientes empresas
prestadoras de serviços à Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio das empresas MATONI e
BYNKELOR S.A.. Embora não fosse contratada diretamente pela Prefeitura, a recomendação de
seus produtos por parte dos ex-Secretário ensejou a cobrança de vantagens indevidas por
ALEXANDRE PINTO, como relatou CELSO JÚNIOR (DOC. 01 – Histórico e Anexo 01).
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR relatou a prática do crime de
corrupção passiva de ALEXANDRE PINTO pelo menos nas seguintes contratações:
(i) fornecimento de geogrelhas para aplicação nas obras de restauração da linha Vermelha
(2010); (ii) fornecimento de geogrelhas para aplicação nas obras do programa Asfalto Liso
(2010 a 2012); (iii) fornecimento de geogrelhas e pigmento asfáltico para aplicação nas obras
da Transoeste (2012-2013); (iv) fornecimento de pigmento asfáltico e ligante sintético utilizados
nas obras realizadas no entorno do Maracanã; fornecimento de geogrelhas para aplicação nas
obras da Transcarioca (2012/2013); (v) prestação de serviços de gerenciamento e supervisão
por parte do Consórcio Dynatest-TCDI nas obras de implantação do Corredor TRANSBRASIL
(2014 a 2016); (vi) obras da Transcarioca Lote 2 (Histórico e Anexos 01, 03, 04, 06, 09).
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Em relação às vantagens indevidas pagas pelo próprio colaborador, este
apresentou as notas fiscais do fornecimento de materiais aplicados nas obras municipais e as
planilhas de controle de pagamentos de propina que fazia a ALEXANDRE PINTO DA SILVA, e,
em alguns casos, apresentou ainda extratos das contas da empresa MATONI nos quais
constavam os saques exatos dos valores pagos a ALEXANDRE.
Por sua vez, no que concerne ao pagamento de vantagens indevidas por
parte das empresas que compunham o Consórcio Dynatest-TCDI, contratado para prestação de
serviços de monitorização das obras e serviços relacionados à implantação do Corredor
TRANSBRASIL o colaborador demonstrou a realização de pagamentos em espécie a
ALEXANDRE PINTO e ao Subsecretário de Obras Vagner de Castro Pereira, além da equipe de
fiscalização do contrato, o que ensejou o oferecimento de denúncia nos autos 0021748-
89.2018.4.02.5101, em face dos sócios da referida empresas, dos funcionários responsáveis
pela movimentação dos recursos para pagamento da propina e dos agentes públicos (DOC. 04).
Por fim, em relação ao relato do colaborador de pagamentos de propina
por parte da Andrade Gutierrez em razão das obras da Transcarioca – Lote 1, foram
comprovados ao menos dois recebimentos de vantagens indevidas no montante de
USD 1.040.000,00 por meio de contratos fictícios de prestação de serviços entre a empresa
ZAGOPE GULF, do grupo AG, e a empresa do colaborador, a BYNKELOR S.A., o que será
objeto da imputação no item 4.2 infra (Conjunto de Fatos 03). Há, no entanto, indícios de que
vários outros pagamentos em espécie foram realizados a ALEXANDRE PINTO por executivos
da Andrade Gutierrez em razão da obra citada. Embora seja necessário o aprofundamento das
apurações quanto a tais pagamentos, o que poderá ser objeto de denúncia autônoma, como já
consignado nesta peça, os elementos já reunidos consubstanciam indícios suficientes em
relação aos delitos antecedentes quando aos crimes de lavagem de capitais ora imputados ao
ex-Secretário.
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4. DOS FATOS
4.1. CONJUNTO DE FATOS 01 e 02: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME ANTECEDENTE
DE CORRUPÇÃO PASSIVA (CONSTITUIÇÃO DA CENTOVALI TRADING CORP, ABERTURA
DE CONTA NO CFM MÔNACO, TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS) E EVASÃO DE DIVISAS
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre julho e outubro de
2013, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio da criação da
offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores
recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 0547980 no banco Credit
Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI, com o
recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro
mil e noventa e um dólares americanos), no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem
criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o
rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º da Lei
9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 01)
Em outubro de 2013, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, promoveram, sem
autorização legal, em 4 oportunidades, a saída do total de USD 274.091,00 (duzentos e setenta
e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o exterior por meio de operações de
“dólar-cabo”, em que os valores em espécie em reais foram entregues por ALEXANDRE PINTO
a JUAN LUIS BERTRÁN no Brasil, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de
contas no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 0547980 no banco
Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING
CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa
oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema
financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central. (Evasão de Divisas/Artigo 22, §
único, primeira parte, da Lei 7.492/86 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02)
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Como já relatado, após diversos episódios de pagamentos de propina e do
estabelecimento de uma relação de confiança com o empresário CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR, no ano de 2013 ALEXANDRE PINTO DA SILVA pediu o auxílio do colaborador para
abrir uma conta no exterior, com o intuito de escamotear os recursos recebidos a título de
propina.
Para tratar do assunto foi realizada uma reunião no escritório de CELSO
JÚNIOR, localizado na Rua Evaristo da Veiga nº 55, sala 1107, em que estiveram presentes o
colaborador, ALEXANDRE PINTO, o contador uruguaio Jorge Navarro, os doleiros JUAN LUIS
BERTRÁN BITLLONCH e “Raul”, pessoas de confiança de CELSO JÚNIOR, que o auxiliavam
nos negócios no exterior e que inclusive haviam viabilizado a criação da empresa BYNKELOR
S.A., pertencente ao colaborador. Na ocasião, o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN e Jorge Navarro
se comprometeram a trabalhar na abertura da conta em nome de ALEXANDRE PINTO no
exterior, mas o alertaram para o fato de que os bancos poderiam recusar o pedido em
decorrência de ALEXANDRE ser classificado como uma Pessoa Politicamente Exposta (PPE)6.
Com efeito, o banco Credit Agricole recusou a abertura de conta em nome de
ALEXANDRE PINTO, em decorrência do mesmo ser uma pessoa politicamente exposta (PPE),
conforme é possível observar no e-mail encaminhado a CELSO JÚNIOR em 31.05.2013 pela
representante do Credit Agricole do Uruguai, Magdalena Staricco (DOC. 05). No referido e-mail,
Magdalena se refere a ALEXANDRE PINTO como “nuestro amigo de Rio de Janeiro”:
6 Nos termos do artigo 1º da Resolução nº 16, de 28 de março de 2007, do Conselho de Controle de AtividadesFinanceiras (COAF) “Consideram-se pessoas politicamente expostas os agentes públicos que desempenham ou tenhamdesempenhado, nos últimos cinco anos, no Brasil ou em países, territórios e dependências estrangeiras, cargos,empregos ou funções públicas relevantes, assim como seus representantes, familiares e estreitos colaboradores”.
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Diante de tal impossibilidade, JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e Jorge
Navarro sugeriram a criação de uma empresa com ações ao portador no Panamá, em que um
terceiro de nacionalidade panamenha constaria como diretor, e o nome de ALEXANDRE PINTO
DA SILVA ficaria oculto, o que representaria uma maior proteção ao ex-Secretário.
Acolhida a sugestão, por determinação de ALEXANDRE PINTO, os
denunciados CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, com
o auxílio dos parceiros uruguaios, e promoveram a criação da pessoa jurídica CENTOVALI
TRADING CORP e, em seguida, em julho de 2013, a abertura da conta bancária nº 0547980 no
banco Credit Agricole de Mônaco (CFM Mônaco). A pedido de ALEXANDRE PINTO DA SILVA,
o colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR figurou como representante da empresa
perante a instituição financeira, embora seu real beneficiário fosse o ex-Secretário (DOC. 06):
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A propósito, a senha escolhida para acesso à conta da CENTOVALI no CFM
Mônaco era “MONTBLANCO”, como consta na troca de e-mails entre CELSO JR e Magdalena
Staricco reproduzida abaixo (DOC. 07), como referência ao próprio denunciado ALEXANDRE
PINTO, uma vez que este se utilizava de endereços de e-mail do Yahoo e Superig com a
palavra “montbranco”, conforme dados obtidos no afastamento do sigilo de dados telemáticos do
denunciado nos autos nº 0509595-35.2016.4.02.5101, e como o próprio ALEXANDRE
confirmou em seu depoimento perante a Polícia Federal:
Conforme relatado pelo colaborador, ALEXANDRE PINTO DA SILVA adquiriu
um laptop para usar exclusivamente no acesso à conta da CENTOVALI no CFM Mônaco, sendo
que o acesso à conta na internet era feito através de um modem pré-pago adquirido em um
mercado popular localizado na Rua Uruguaiana no centro do Rio de Janeiro pelo colaborador
CELSO JÚNIOR, uma vez que o acesso via Wi-Fi poderia deixar rastros.
Evidencia-se, portanto, que ao promover a abertura de uma conta no exterior
em nome de uma offshore panamenha, registrada com ações ao portador, tendo como
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representante o colaborador CELSO RAMOS JÚNIOR, o denunciado ALEXANDRE PINTO
tinha o inequívoco propósito de viabilizar a lavagem de capitais oriundos dos crimes de
corrupção passiva por ele praticados, mantendo elevadas quantias longe do alcance das
autoridades, já que os recursos que seriam clandestinamente remetidos à aludida conta ficariam
em nome de terceiros, sendo ocultada sua propriedade e, naturalmente, sua origem ilícita.
Uma vez aberta a conta citada, em outubro de 2013, o denunciado
ALEXANDRE PINTO DA SILVA procurou o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH para
que este realizasse a remessa para a referida conta de recursos de propina que ALEXANDRE
havia recebido em espécie no Brasil. Assim, ficou ajustada a realização de operações de
dólar-cabo operacionalizadas por JUAN LUIS BERTRÁN, sendo que ALEXANDRE realizou a
entrega ao doleiro de quantia em espécie em reais no Brasil e JUAN, em seguida, por meio de
empresas por ele controladas ou de empresas clientes, creditou o valor correspondente em
dólares na conta da CENTOVALI – deduzido o valor devido ao doleiro pela operação.
Através de tal operação de dólar cabo, após a entrega de recursos no Brasil
por ALEXANDRE, o doleiro JUAN BERTRÁN providenciou a realização de quatro
transferências que totalizaram USD 274.091,00, com crédito na conta da CENTOVALI no CFM
Mônaco. Embora originalmente o valor a ser creditado na conta citada fosse de
USD 375.376,00, conforme e-mail de Ana Karina Souza, funcionária do Credit Agricole Private
Banking do Uruguai, a CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 08), verifica-se do exame
do extratos da conta da CENTOVALI fornecidos pelo colaborador (DOC. 09) que as duas últimas
transferências não se concretizaram, talvez por algum erro, de modo que foi creditado na conta
da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco o total de USD 274.091,00 (duzentos e
setenta e quatro mil e noventa e um dólares americanos) em outubro de 2013, em 4 operações
nos montantes de USD 140.000,00 (01.10.2013); USD 34.091,00 (02.10.2013); USD 20.000,00
(17.10.2013); e USD 80.000,00 (23.10.2013):
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- E-mail da funcionária do Credit Agricole do Uruguai a CELSO JÚNIOR -
- Extratos da conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM MONACO -
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Constatou-se, assim, do exame dos documentos supracitados, que, de
fato, as duas últimas transferências citadas no e-mail de Anna Karina (50.000 USD e
51.285 USD) não chegaram efetivamente à conta da CENTOVALI.
Para remeter os recursos de ALEXANDRE PINTO ao exterior JUAN
LUIS BERTRÁN BITLLONCH se valeu de empresas por ele controladas e empresas de seus
clientes que tinham objetivo de fazer remessas no sentido contrário, isto é, trazer recursos do
exterior para o Brasil, determinando que fossem feitas transferências a partir das contas de tais
empresas no exterior dos valores por ele indicados, de modo a totalizar créditos na conta da
CENTOVALI dos valores equivalentes aos entregues em espécie por ALEXANDRE PINTO no
Brasil, naturalmente descontados os custos das operações e a remuneração do doleiro. Nesse
sentido, as 4 transferências acima citadas com crédito na conta nº 0547980 da CENTOVALI no
CFM Monaco foram realizadas através das contas das empresas panamenhas Aegean
Consultants Inc e Mystic Capital Group Inc, das pessoas naturais Roberto Machado/Fabiula
Catelão (sócios da empresa brasileira Aiupa Brasil Produções Ltda) e de Chapelle Jean
(DOC. 09 acima colacionado).
Embora tenham sido realizadas em datas muito próximas, cada uma das
transferências foi oriunda de diferentes pessoas naturais ou jurídicas, provenientes de diversos
países, o que representa mais uma evidência de que estavam no contexto das operações de
dólar-cabo executadas por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, envolvendo
contas por ele controladas ou de clientes que tinham o objetivo de fazer o caminho inverso de
ALEXANDRE PINTO, isto é, trazer recursos do exterior para o Brasil. Tal sistemática
naturalmente dificultava o rastreamento dos valores disponibilizados a ALEXANDRE PINTO no
exterior, ocultando a origem criminosa dos recursos.
Vale registrar que, em consultas em fontes abertas, verificou-se que consta
que a empresa panamenha AEGEAN CONSULTANTS INC tem como agente a empresa
Mossack Fonseca7, amplamente citada pelo envolvimento no escândalo dos Panama Papers em
esquemas de lavagem internacional de capitais, atuando exatamente na abertura de empresas
7 https://opencorporates.com/companies/pa/495883 e https://offshoreleaks.icij.org/nodes/10019324
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offshore para ocultar o patrimônio ilicitamente amealhado de diversas pessoas, inclusive
envolvidos na Operação Lava Jato8:
Os fatos em exame foram narrados pelo colaborador CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR nos anexos 04 e 10 de seu termo de colaboração (DOC. 01). Embora não
tivesse conhecimento de maiores detalhes acerca da operação originária, CELSO JUNIOR
esclareceu que a remessa dos recursos que resultaram nos créditos na conta da CENTOVALI
de cerca de USD 275.000,00 (duzentos e setenta e cinco mil dólares americanos) se deu por
8 http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160405_quem_sao_mossack_fonseca_lab e http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2017-02/socios-da-mossack-fonseca-presos-no-panama-por-investigacoes-ligadas
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meio de transação de dólar-cabo executada por JUAN LUIS BERTRÁN, que recolheu reais no
Brasil com ALEXANDRE PINTO e providenciou o crédito dos valores ajustados em dólares na
conta da CENTOVALI no CFM Mônaco. Não houve qualquer transação econômica para justificar
as transferências realizadas entre a CENTOVALI TRADING CORP e as empresas que
promoveram os créditos na conta da offshore panamenha.
Vale registrar desde já que, para corroborar suas alegações, o colaborador
efetuou uma gravação espontânea de uma conversa com o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN em
que CELSO JÚNIOR e JUAN falam sobre as operações realizadas, discutindo se há “pontas
soltas” nas contas usadas nas transações, demonstrando preocupação com a prisão de
ALEXANDRE PINTO por ocasião da Operação Rio 40 Graus e eventual delação do
ex-Secretário, com eventuais problemas em razão de transações de geração de caixa 2 com a
OAS no Peru. JUAN ainda menciona a situação de outras pessoas e fala inclusive na
possibilidade de fugir do Brasil caso fosse necessário (mídia já apresentada nas medidas
cautelares e transcrição como DOC. 10 com destaques nos principais trechos).
Ressalta-se ainda que, por ocasião da deflagração da operação Mãos à Obra,
com o cumprimento de mandados de busca na residência de JUAN LUIS BERTRÁN expedidos
por este Juízo, foi apreendida elevada quantidade de dinheiro em espécie de cinco moedas
diferentes dentre reais, dólares americanos, euros, libras esterlinas e pesos uruguaios
(R$ 23.400, USD 1.850, € 1.580, ₤ 1.000, $U 870), além de uma grande quantidade de
envelopes plásticos usados para transportes e depósitos em dinheiro e informações, o que
representa mais um indício de que, de fato, o acusado JUAN BERTRÁN exerce efetivamente a
atividade de doleiro (DOC. 11).
Deste modo, com a criação da offshore panamenha CENTOVALI TRADING
CORP, com ações ao portador e sem vinculação formal com o real beneficiário ALEXANDRE
PINTO, com a abertura da conta no CFM Monaco em nome de tal empresa e a transferência de
recursos em operações estruturadas, método que impede o rastreamento contábil dos recursos,
os denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e
JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção
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passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, incorrendo na prática do delito de lavagem de
capitais, tipificado no art. 1º § 4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos - 4 crimes em
continuidade - Conjunto de Fatos 01).
No mesmo sentido, ao realizarem as operações de dólar-cabo descritas,
os denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH
promoveram, sem autorização legal, em 4 oportunidades, a saída de um total
de USD 274.091,00 (duzentos e setenta e quatro mil e noventa e um dólares americanos) para o
exterior, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a remessa
oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, e, assim, incorrendo na
prática do delito de evasão de divisas, tipificado no art. 22, parágrafo único da Lei 7.492/86
(Evasão de divisas – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 02).
A materialidade delitiva dos crimes de lavagem de capitais e evasão de divisas
se encontra demonstrada pelos depoimentos prestados pelo colaborador (DOC. 01) e pela
documentação relacionada à abertura da conta da CENTOVALI em favor de ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, dos e-mails trocados entre CELSO JÚNIOR e as funcionárias do Banco
Credit Agricole Private Banking, dos extratos da conta da CENTOVALI com indicação do
recebimento dos recursos oriundos das operações de dólar-cabo executadas por JUAN LUIS
BERTRÁN BITLLONCH a pedido de ALEXANDRE PINTO.
A autoria dos delitos em questão deriva dos próprios elementos de prova
supracitados, valendo registrar que, embora o responsável por operacionalizar as transações de
dólar-cabo tenha sido efetivamente o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, tais operações se deram a
pedido e no interesse de ALEXANDRE PINTO, sendo que, no julgamento da AP 470
(Mensalão), o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que “aquele que
efetua pagamento em reais no Brasil, com o objetivo de disponibilizar, através de outro que
recebeu tal pagamento, o respectivo montante em moeda estrangeira no exterior também
incorre no ilícito de evasão de divisas”9. Deste modo, a autoria do delito de evasão de divisas
recai tanto sobre o doleiro JUAN BERTRÁN como sobre o ex-Secretário ALEXANDRE PINTO
DA SILVA.
9 AP 470, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Dje 22/04/2013.
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4.2. CONJUNTO DE FATOS 03 e 04: CORRUPÇÃO PASSIVA (RECEBIMENTO DE
VANTAGENS INDEVIDAS DA ANDRADE GUTIERREZ) E LAVAGEM DE DINHEIRO
(CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS FICTÍCIOS PARA VIABILIZAR O RECEBIMENTO DE
PROPINA COM APARÊNCIA DE LICITUDE).
Entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA,
de modo consciente e voluntário, em razão da condição de Secretário Municipal de Obras da
Prefeitura do Rio de Janeiro, recebeu, em 2 oportunidades, com o auxílio de CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR e através da empresa BYNKELOR, vantagens indevidas que
totalizaram USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade
Gutierrez, em duas parcelas de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares) e com
pagamento no exterior, para exercer o seu cargo com especial atenção aos interesses privados
da empresa, em especial no que concerne ao contrato originalmente celebrado entre o
Consórcio Transcarioca BRT e o Município do Rio de Janeiro e transferido integralmente à
Andrade Gutierrez, para execução da obra de construção da via da Transcarioca – Corredor T5
– Lote 1 – Trecho Penha à Barra da Tijuca (Corrupção Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e art. 71
do CP– 2 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 03).
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre dezembro
de 2013 e janeiro de 2014, em duas oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR e o então Diretor Financeiro da Andrade Gutierrez MIGUEL
BARREIROS, bem como outros executivos da referida empreiteira10 a serem oportunamente
denunciados, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam
a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores
provenientes do crime de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da
celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A., empresa de
CELSO JÚNIOR, e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE
GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos), e
posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando
10 Com exceção dos crimes de lavagem de dinheiro imputados a MIGUEL BARREIROS, os crimes de corrupção ativa elavagem de ativos com envolvimento de executivos da Andrade Gutierrez serão apurados de forma autônoma e ensejarão ooferecimento de novas denúncias.
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USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de
aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário
(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto
de Fatos 04).
No segundo semestre de 2013, em razão de ajuste pretérito do ex-Secretário
Municipal de Obras e executivos da Andrade Gutierrez11 em decorrência do cargo ocupado,
durante a execução das obras da Transcarioca Lote 01 - Corredor T5, que liga a Penha à Barra
da Tijuca, ALEXANDRE PINTO DA SILVA solicitou ao colaborador CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR que atuasse para possibilitar o recebimento de tais valores no exterior de
forma que os valores arrecadados não ficassem em nome do ex-Secretário e permanecessem
fora do alcance das autoridades. Assim, ALEXANDRE pediu a CELSO JÚNIOR que entrasse
em contato com Anuar Caram, então presidente da Unidade Negócios Públicos Brasil da
ANDRADE GUTIERREZ, através do terminal telefônico (021) com tal objetivo.
Em novembro de 2013, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR entrou em
contato com Anuar Caram e se encontrou com ele no escritório da Andrade Gutierrez localizado
no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, oportunidade em que foi apresentado por Anuar ao
denunciado MIGUEL BARREIROS, então Diretor Financeiro da AG (DOC. 12).
Em reunião com MIGUEL BARREIROS, CELSO JÚNIOR propôs que o
pagamento dos valores ajustados se desse na conta que ALEXANDRE PINTO possuía no
CFM Mônaco em nome da offshore CENTOVALI TRADING CORP, mas MIGUEL BARREIROS
se mostrou reticente com a proposta e sugeriu a utilização de uma empresa operacional para a
celebração de contratos fictícios de prestação de serviços para justificar o recebimento dos
valores. Como a CENTOVALI não exercia qualquer atividade, uma vez que foi constituída
apenas para titularizar a conta bancária de ALEXANDRE PINTO no exterior (situação narrada
no item 4.1 supra), CELSO JÚNIOR sugeriu a utilização de sua empresa BYNKELOR S.A., que
era operacional e possuía atividade lícita.
11 Fatos que serão objeto de denúncia autônoma, conforme consignado na nota de rodapé acima.
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Assim, no final de 2013, foi celebrado contrato de prestação de serviços de
consultoria entre a BYNKELOR S.A. e a pessoa jurídica ZAGOPE GULF CONTRACTING,
empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ com sede em Abu Dhabi12, falsamente datado de
15.07.2013, que previa em sua cláusula 3.1 o pagamento de USD 520.000,00 (quinhentos e
vinte mil dólares americanos) à primeira (DOC. 13):
A minuta do aludido contrato foi enviada por e-mail por Miguel Barreiros a
CELSO JÚNIOR em 05.12.2013 (DOC. 14), evidenciando que o contrato foi antedatado para
simular que o pagamento avençado teria ocorrido alguns meses após o contrato, como se os
serviços houvessem, de fato, sido prestados, o que não correspondeu à realidade.
O contrato tinha por objeto a prestação de serviços envolvendo estratégias de
marketing para que a empresa pudesse realizar expansão de suas atividades de construção civil
no Líbano, sendo que a empresa BYNKELOR e o denunciado CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR não detinham expertise suficiente para a execução de tal objeto, e tampouco
conheciam o mercado de construção civil no Líbano.
12 Além da consulta em fontes abertas, que não deixa dúvida acerca da ZAGOPE GULF fazer parte do grupoAndrade Gutierrez, aparecendo em demonstrativos do grupo, o documento de autorização para transferência defundos que será citado a seguir (DOC. 11) tem o timbre da ZAGOPE fazendo referência ao grupo AndradeGutierrez.
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O contrato em questão foi assinado pelo colaborador e por Paulo Ribeiro
Soares Filho, executivo da Andrade Gutierrez, sendo que constam como representantes das
empresas para fins de quaisquer comunicações os denunciados CELSO JÚNIOR pela
BYNKELOR e MIGUEL BARREIROS pela ZAGOPE GULF, exatamente os responsáveis por
idealizar a operação ilícita em benefício de ALEXANDRE PINTO:
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Em 09/12/2013 os representantes da ZAGOPE GULF CONTRACTING Paulo
Ribeiro Soares Filho e Rui Manuel Fernandes Andrade encaminharam uma carta e um e-mail ao
banco BNP Paribas solicitando a transferência de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil
dólares americanos) em favor da conta titularizada pela BYNKELOR S.A. no Banco Santander
no Uruguai (DOC. 15), que foi concretizada em 10/12/2013, conforme extrato da conta nº
5200078669 da BYNKELOR S.A (DOC. 16):
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Após o recebimento de USD 519.975,00 (quinhentos e dezenove mil e
novecentos e setenta e cinco dólares americanos) na conta da BYNKELOR S.A, e ainda em
dezembro de 2013, parte dos valores foram transferidos para contas vinculadas ao doleiro
JUAN LUIS BERTRÁN, para que posteriormente fossem encaminhadas à conta da
CENTOVALI no Credit Agricole de Monaco, em outro ato de lavagem de capitais que será
narrado no item 4.3 infra.
Posteriormente, em 12/01/2014, MIGUEL BARREIROS e CELSO RAMOS
JÚNIOR ajustaram a celebração de aditivo ao contrato fictício de prestação de serviços de
consultoria anteriormente firmado entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING
(DOC. 17), que dobrou o valor da prestação de serviços fictícia originalmente avençada, para
justificar novo repasse de USD 520.000,00 (quinhentos e vinte mil dólares americanos) em favor
de ALEXANDRE PINTO, através da BYNKELOR:
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A transferência dos recursos da ZAGOPE para a BYNKELOR S.A. foi efetivada
em 15.01.2014 (DOC. 16), sendo que novamente após o recebimento de USD 519.492,43 na
conta da BYNKELOR, parte dos valores foram transferidos para contas vinculadas ao doleiro
JUAN LUIS BERTRÁN, para que posteriormente fossem encaminhados à conta da
CENTOVALI no Credit Agricole de Monaco, em outro ato de lavagem de capitais que será
narrado no item 4.3 infra:
Para completar a simulação e não deixar rastros, CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR solicitou ao contador uruguaio Jorge Navarro que emitisse oficialmente faturas
(invoices) com a descrição dos serviços “prestados” pela BYNKELOR a ZAGOPE GULF, de
modo a produzir mais documentos com o objetivo de dar aparência de licitude ao contrato fictício
e aditivo firmados. (DOC. 18).
Assim, a celebração do contrato fictício de prestação de serviços e respectivo
aditivo mencionados viabilizaram o repasse de vantagens indevidas no valor total de
USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares americanos) a ALEXANDRE PINTO DA
SILVA pela ANDRADE GUTIERREZ, que foram efetivamente transferidos à BYNKELOR S.A.
por orientação de ALEXANDRE PINTO e CELSO JÚNIOR, para que posteriormente fossem
objeto de novos atos de lavagem de capitais, com a remessa, mediante operações estruturadas,
dos valores para a conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco à disposição do
ex-Secretário, fatos que serão detalhados no item 4.3 infra.
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Os fatos criminosos ora narrados estão ilustrados na imagem abaixo:
Anuar Caram foi ouvido e esclareceu que ALEXANDRE PINTO
frequentemente cobrava a Andrade Gutierrez acerca de um pagamento de propina que
correspondia a 1% das obras da Transcarioca Lote 1, e que em determinada oportunidade
ALEXANDRE lhe sugeriu que os pagamentos fossem feitos no exterior, por meio de uma pessoa
de nome CELSO, que procuraria Anuar com tal objetivo. Esclareceu que recebeu contato
telefônico de CELSO JÚNIOR em novembro de 2013 e que, por determinação de seu superior
Leandro Aguiar, marcou de se encontrarem no escritório da Andrade Gutierrez e apresentou
CELSO JÚNIOR ao então Diretor Financeiro MIGUEL BARREIROS. Após a reunião MIGUEL
relatou a Anuar que combinara com CELSO um pagamento de pouco mais de 1 milhão de
dólares no exterior, tendo Anuar declarado que não soube maiores detalhes (DOC. 12).
Por sua vez, Paulo Ribeiro Soares Filho declarou que não tinha conhecimento
do objeto do contrato e não conhecia nem a empresa BYNKELOR nem o sócio CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR, mas que assinou o contrato a pedido de MIGUEL BARREIROS,
uma vez que a ZAGOPE GULF tinha, naquela oportunidade, uma dificuldade relacionada à
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representação da empresa, e MIGUEL BARREIROS teria lhe dito que o banco provavelmente
aceitaria um contrato firmado por ele para liberar a transferência, já que Paulo figurava como
representante da empresa perante a instituição financeira desde que operacionalizara a abertura
da conta naquele banco (DOC. 19). Paulo Filho explicou e apresentou um e-mail que menciona
as dificuldades relacionadas à representação da empresa e outro em que MIGUEL BARREIROS
lhe encaminha a minuta do contrato para assinatura em dezembro de 2013 (DOC. 20).
Verifica-se, portanto, que, com o recebimento, por parte de ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, em razão da função pública e com o auxílio de CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR, de USD 1.040.000,00 (um milhão e quarenta mil dólares) da Andrade Gutierrez, em
duas parcelas iguais pagas em dezembro de 2013 e janeiro de 2014, o ex-Secretário de obras e
o colaborador CELSO JÚNIOR praticaram o delito de corrupção passiva (Corrupção
Passiva/Art. 317 c/c 327 § 2º e arts. 29 e 71 do CP– 2 crimes em continuidade - Conjunto
de Fatos 03).
Ademais, com a celebração de contrato fictício para repasse dos valores de
propina devidas a ALEXANDRE PINTO com aparência de licitude, como se fossem decorrentes
de uma prestação de serviços entre a BYNKELOR e a ZAGOPE GULF, evidencia-se a prática
do delito de lavagem de capitais, sendo ocultadas e dissimuladas a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime de
corrupção passiva, estando ALEXANDRE PINTO, CELSO JÚNIOR e MIGUEL BARREIROS
incursos nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei
9.613/1998 – 2 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 04).
4.3. CONJUNTO DE FATOS 05 - LAVAGEM DE DINHEIRO (OPERAÇÕES DE DÓLAR CABO
ESTRUTURADAS PARA AFASTAR OS VALORES DE PROPINA RECEBIDOS DA ZAGOPE
GULF DE SUA ORIGEM ILÍCITA E DIFICULTAR SEU RASTREAMENTO)
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva narrados no item
4.2 supra, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e JUAN
LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios, entre
dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,
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localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes de
corrupção passiva, ao promoverem a remessa dos valores anteriormente recebidos da ZAGOPE
GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai, através de operações estruturadas por JUAN
LUIS BERTRÁN BITLLONCH, para a conta nº 0547980 no banco Credit Agricole Private
Banking de Mônaco (CFM Mônaco) em nome da CENTOVALI TRADING CORP, no intuito de
afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real proprietário dos
valores e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de
Ativos/Artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).
Após o recebimento de USD 519.975,00 (quinhentos e dezenove mil e
novecentos e setenta e cinco dólares americanos) da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR
S.A no Santander Uruguai conforme descrito no item 4.2 supra, e ainda em dezembro de 2013,
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR realizou a transferência de boa parte dos valores
recebidos, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, para contas intermediárias
titularizadas pelas pessoas jurídicas Monarch International Ltd e Hosdil Limited, ambas
localizadas em Hong Kong e indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sem que houvesse
qualquer negócio jurídico subjacente para justificar tais transferências pela BYNKELOR
(DOC. 16):
- Extrato da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai -
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Em seguida, por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foi
realizada a transferência de USD 473.285,00 (quatrocentos e setenta e três mil e duzentos e
oitenta e cinco dólares americanos) de uma conta titularizada pela pessoa jurídica Faber Invest
Trade Inc, localizada na Romênia, com crédito na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING
CORP no CFM Mônaco em 20.12.2013, ficando os valores à disposição de ALEXANDRE
PINTO, que era o real beneficiário da conta em questão (DOC. 09):
- Extrato da conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no CFM Monaco -
Do mesmo modo, após a segunda transferência dos recursos da ZAGOPE
para a BYNKELOR S.A, com o recebimento de USD 519.492,43 na conta da BYNKELOR em
15.01.2014, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR realizou a transferência de boa parte dos
valores recebidos, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, para contas intermediárias
titularizadas pelas pessoas jurídicas Monarch International Ltd, Jin Dai Ying Ningbo Wingge e
Shenzen Shang Ju Trading, todas indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sem que
houvesse qualquer negócio jurídico subjacente para justificar tais transferências pela
BYNKELOR (DOC. 16):
– Extrato da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai -
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Em seguida, por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foram
realizadas duas transferências nos valores de USD 125.524,00 e USD 149.481,00 de DUAS
contas titularizadas pela pessoa jurídica panamenha Schwarzwald Ltd Inc e pela pessoa natural
Hiroko Akabane Okubo com créditos na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no
CFM Mônaco em 10.02.2014 e 18.02.2014, ficando os valores à disposição de ALEXANDRE
PINTO,que era o real beneficiário da conta em questão(DOC. 09):
– Extrato da conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP -
Em razão das dificuldades de tais operações, eis que muitas vezes as
necessidades de seus clientes de remessa de recursos ao exterior não correspondem à
necessidade dos demais clientes em fazer a remessa em sentido inverso, alguns valores das
transações realizadas demoram um pouco para serem efetivadas. Foi o que ocorreu, sendo que
alguns valores daqueles que haviam sido recebidos da ZAGOPE ficaram para ser transferidos
posteriormente a empresas indicadas por JUAN e destas para a conta da CENTOVALI no CFM
Monaco.
Deste modo, alguns meses depois, em 14.04.2014, CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR realizou, por orientação do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, mais uma
transferência de USD 97.660 da conta da BYNKELOR no Santander Uruguai para a conta
intermediária titularizada pela pessoa jurídica BALUMA S.A. Finalmente, em setembro de 2014,
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por ordem do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, foi realizada uma transferência no
valor de USD 165.777,00 (cento e sessenta e cinco mil, setecentos e setenta e sete dólares)
para a conta da CENTOVALI no CFM Monaco, a partir da conta da empresa Winterfell Overseas
S.A., com crédito no CFM Monaco em 10.09.2014: (DOC. 16 e DOC. 09)
Verifica-se, assim, que da primeira transferência da ZAGOPE GULF ficaram à
disposição de ALEXANDRE PINTO na conta da CENTOVALI TRADING CORP no CFM Mônaco
USD 473.285,00 e da segunda transferência o montante de USD 440.782,00, tendo sido objeto
de lavagem de capitais, no total, portanto, os USD 914.067,00 (novecentos e quatorze mil e
sessenta e sete dólares) recebidos na conta do CFM Monaco em razão de tais operações.
O restante dos valores, equivalente a, aproximadamente, 12% (doze por cento)
do total depositado pela ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR, foi utilizado para pagamento
de tributos e taxas administrativas bancárias, bem como das pessoas envolvidas nas operações,
da BYNKELOR, como o contador uruguaio, as pessoas que figuravam como representantes das
empresas envolvidas, o doleiro JUAN LUIS BERTRÁN e o colaborador CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR, que emprestou sua empresa para figurar como contratada e realizou todas as
tratativas com MIGUEL BARREIROS a pedido de ALEXANDRE PINTO.
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CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR confirmou os fatos no anexo 4 de seu
termo de colaboração e acrescentou que recebeu como comissão 5% (cinco por cento) do valor
total que foi depositado pela ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR pelo auxílio que prestou a
ALEXANDRE PINTO DA SILVA (DOC. 01 – Anexo 4). O colaborador também já havia afirmado
que JUAN LUIS BERTRÁN ganhava cerca de 3% nas operações, e que um percentual era
retido para pagamento dos impostos devidos e das demais pessoas envolvidas nas operações
(DOC. 01 – Anexo 9).
Assim, com a realização de diversas operações estruturadas por JUAN LUIS
BERTRÁN BITLLONCH, se valendo de transferências por meio de empresas intermediárias e
operações casadas para efetivar, em 4 oportunidades, a remessa dos valores de propina
recebidos da conta da BYNKELOR no Santander Uruguai para a conta da CENTOVALI
TRADING CORP no CFM Monaco, com recursos à disposição de ALEXANDRE PINTO DA
SILVA, no valor global de USD 914.067,00 (novecentos e quatorze mil e sessenta e sete
dólares), evidencia-se a prática do delito de lavagem de capitais, sendo ocultadas e
dissimuladas a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de
valores provenientes do crime de corrupção passiva, com o inequívoco intuito de afastar ainda
mais os valores ilícitos de sua origem criminosa e dificultar o rastreamento dos recursos de
propina recebidos, estando ALEXANDRE PINTO, CELSO JÚNIOR, e JUAN BERTRÁN
incursos nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998. (Lavagem de Ativos/Artigo 1º, §4º da
Lei 9.613/1998 – 4 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 05).
4.4. CONJUNTO DE FATOS 06: MANUTENÇÃO DE DEPÓSITOS NÃO DECLARADOS À
REPARTIÇÃO FEDERAL COMPETENTE NO BANCO CFM MÔNACO (2013 e 2014).
No período compreendido entre 16.07.2013 e 09.10.2015, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, com auxílio do colaborador
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve no exterior
depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23
(setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares americanos e vinte e três
cents) em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos
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e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, na conta nº 0547980 do banco
Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), titularizada pela offshore panamenha
CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de ALEXANDRE PINTO com a única
finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda
parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade delitiva -
Conjunto de Fatos 06).
Como já amplamente narrado, a conta nº 0547980 titularizada pela
CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM
Mônaco), foi aberta em 2013 no interesse de ALEXANDRE PINTO DA SILVA para manter os
recursos por ele recebidos a título de propina fora do controle dos órgãos de fiscalização, e
somente foi encerrada em outubro de 2015, quando todos os valores foram transferidos para a
corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A.
Durante todo esse período, a conta nº 0547980 titularizada pela CENTOVALI
TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco) recebeu
recursos na forma narrada nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 supra.
Ao longo do ano de 2013, a referida conta recebeu créditos que totalizaram
USD 747.376,00 (setecentos e quarenta e sete mil e trezentos e setenta e seis dólares
americanos) e teve débitos de apenas USD 112,77 (cento e doze dólares e setenta e sete
cents), resultando no saldo de USD 747.263,23 (setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e
sessenta e três dólares e vinte e três cents) em 30.12.2013, conforme extrato do mês de
dezembro apresentado pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 09):
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Embora tal quantia seja bem superior aos USD 100.000,00 (cem mil dólares
americanos) que constam no caput do artigo 2º da Resolução nº 3.854 do BACEN, limite
máximo estabelecido para a isenção da obrigatoriedade de prestar declaração, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA não declarou os depósitos mantidos no CFM Mônaco ao Banco Central em
31.12.2013, descumprindo a determinação constante no art. 1º da resolução supramencionada e
incorrendo no tipo penal descrito no art. 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.
No ano de 2014, a conduta criminosa do denunciado foi semelhante. A conta
nº 0547980 titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private
Banking de Mônaco (CFM Mônaco) recebeu créditos de USD 440.782,00 (quatrocentos e
quarenta mil, setecentos e oitenta e dois dólares) e teve alguns débitos de valores reduzidos
referentes às taxas bancárias de manutenção da conta. Assim, somado com os valores
amealhados no ano anterior, o saldo da conta em questão em 30.12.2014 era de
USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil, quatrocentos e sessenta e nove
dólares e dezenove cents), conforme extrato do mês de dezembro apresentado pelo colaborador
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR (DOC. 09):
Mais uma vez, ALEXANDRE PINTO DA SILVA deixou de declarar ao Banco
Central os depósitos mantidos no CFM Mônaco em 31.12.2014, descumprindo a determinação
constante no art. 1º da Resolução 3.854 do Banco Central do Brasil e incorrendo no tipo penal
descrito no art. 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.
De fato, ALEXANDRE PINTO DA SILVA não comunicou o Banco Central
sobre a existência dos depósitos, tampouco os incluiu em sua declaração de renda destinada à
Receita Federal nos respectivos anos-calendários (DOC. 21), o que era de se esperar, tendo em
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vista que a manutenção dos depósitos à sua disposição na conta do CFM Mônaco em nome de
terceiros fazia parte de um ciclo de lavagem de dinheiro arquitetado para escamotear os
recursos provenientes das vantagens indevidas por ele recebidos.
Constata-se, portanto, que no período compreendido entre 16.07.2013 e
09.10.2015, inclusive nos dias 31.12.2013 e 31.12.2014, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, em
unidade de desígnios com CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e
voluntário, mantiveram no exterior depósitos não declarados à repartição federal competente no
valor de USD 747.263,23 (setecentos e quarenta e sete mil, duzentos e sessenta e três dólares
e vinte e três cents) em 31.12.2013 e a USD 1.187.469,19 (um milhão, cento e oitenta e sete mil,
quatrocentos e sessenta e nove dólares e dezenove cents) em 31.12.2014, no banco Credit
Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), conta n. 0547980, titularizada pela pessoa
jurídica CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse do denunciado com a única
finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incursos nas penas do artigo 22, § único,
segunda parte, da Lei 7.492/86 c/c artigo 71 do Código Penal – 2 crimes em continuidade.
4.5. FATO 07 e CONJUNTO DE FATOS 08: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME
ANTECEDENTE DE CORRUPÇÃO PASSIVA - TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS PARA
CONTA DA CENTOVALI ABERTA NA CORRETORA HORDEÑANA E CONVERSÃO EM
ATIVOS DE APARÊNCIA LÍCITA (BENS E SERVIÇOS COM CARTÃO CORNERCARD)
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, em outubro de
2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e
consciente e em unidade de desígnios, ocultaram e dissimularam a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e
oitenta e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares e setenta e cinco) provenientes de crimes
de corrupção passiva, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de valores
uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da pessoa
jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR constou
como representante legal da empresa perante a instituição bancária, e transferência de todos os
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recursos que ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a
referida conta, no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e
ocultar o real proprietário dos valores nela depositados (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei
9.613/1998 - Fato 07).
Outrossim, consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, entre
27 e 31 de outubro de 2015, em pelo menos 19 oportunidades, ALEXANDRE PINTO DA SILVA
e CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma livre e consciente e em unidade de desígnios,
ocultaram e dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e cinquenta dólares e quarenta e quatro
cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os convertendo em ativos de aparência
lícita consistentes em bens e serviços, por meio da utilização do cartão de crédito prepago
CORNERCARD em nome de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, emitido a partir do débito
de valores na conta nº 2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS
CORREDOR DE BOLSA S.A de titularidade da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP,
para pagamento de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa
Érica de Castro Nogueira em viagem ao exterior. (Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei
9.613/1998 – 19 crimes em continuidade - Conjunto de Fatos 08).
No ano de 2015, o banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM
Mônaco) decidiu não mais admitir contas titularizadas por pessoas jurídicas com ações ao
portador e solicitou aos correntistas dessa modalidade que informassem os reais beneficiários
de cada uma das contas. Evidentemente, como o nome de ALEXANDRE PINTO DA SILVA não
poderia vir à tona, o denunciado optou por encerrar a conta titularizada pela CENTOVALI
CENTOVALI TRADING CORP no referido banco e determinou que o colaborador CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR abrisse uma conta em nome da CENTOVALI TRADING CORP na
corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A,
promovendo a transferência de todos os valores que estavam na conta do CFM Mônaco para
esta nova conta na aludida corretora (DOC. 22).
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Deste modo, em 09.10.2015, os USD 1.186.245,75 (um milhão, cento e oitenta
e seis mil, duzentos e quarenta e cinco dólares dos Estados Unidos e setenta e cinco cents)
que estavam na conta da CENTOVALI no CFM Mônaco foram transferidos para a conta
nº 2801392 da corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE
BOLSA S.A, também titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP e também representada
pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de forma a manter oculta a real
propriedade dos valores (DOC. 09 e DOC. 22).
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Logo após a entrada dos valores na conta nº 2801392 da corretora
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, ainda no mês de outubro de 2015,
ALEXANDRE PINTO DA SILVA solicitou a CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR que
providenciasse a emissão de um cartão de crédito pré-pago com os valores depositados na
referida conta para que o ex-Secretário de Obras pudesse utilizar em uma viagem que faria a
Nova York.
Assim, a pedido de ALEXANDRE, o colaborador CELSO JÚNIOR
solicitou a emissão de um cartão de crédito pré-pago no valor de USD 20.000,00 (vinte mil
dólares) em seu próprio nome, e o entregou para que pudesse ser usado por ALEXANDRE
PINTO na referida viagem. O colaborador apresentou, como prova de corroboração de suas
declarações, o extrato da fatura do referido cartão de crédito no mês de outubro de 2015, que
demonstra que ALEXANDRE PINTO efetuou gastos de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e
cinquenta dólares e quarenta e quatro cents), de 27.10.2015 a 31.10.2015 em lojas de grifes
internacionais como Lacoste, Gucci, Michael Kors, Chanel, entre outras (DOC. 23). CELSO
RAMOS JUNIOR esclareceu que não tinha como ser ele próprio o responsável por tais gastos,
tendo em vista que neste período estava no Brasil cursando um especialização (MBA) na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Com efeito, a consulta aos registros constantes no Sistema de Tráfego
Internacional evidenciam que CELSO RAMOS JÚNIOR estava de fato no Brasil no período
(entrada em 18.10.2015 e saída apenas em 28.01.2016), enquanto ALEXANDRE PINTO DA
SILVA e sua esposa Érica de Castro Nogueira da Silva estavam efetivamente no exterior, tendo
saído do Brasil em 26.10.2015 e retornado em 03.11.2015, período que coincide com as datas
dos gastos efetuados no cartão de crédito emitido em nome de CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR a partir da conta da CENTOVALI na corretora Hordeñana y Asociados Corredor de
Bolsa S.A (DOC. 24):
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Outros elementos demonstram de forma inequívoca que ALEXANDRE PINTO
DA SILVA e sua esposa Érica de Castro Nogueira da Silva foram os responsáveis pelas
despesas no cartão de crédito em questão, emitido com recursos sacados da conta da
CENTOVALI. De fato, os dados extraídos dos telefones celulares de ALEXANDRE PINTO DA
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SILVA e de sua esposa por ocasião do cumprimento dos mandados expedidos no âmbito da
Operação Rio 40 graus evidenciam que eles estiveram em Nova York no período em questão e,
mais especificamente, em alguns dos locais e datas em que foram efetuadas as despesas
estampadas na fatura:
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Acima estão destacadas as compras realizadas no dia 28.10.2015
realizadas no Woodbury Common Premium Outlet 13 (em Central Valley), as despesas pagas no
Eataly no dia 31.10.2015 e no hotel Marriott no mesmo dia.
Conforme relatório obtido com base nos dados de localização e redes
wireless extraídos do celular de Érica de Castro Nogueira (DOC. 25), verifica-se que a esposa
de Alexandre esteve em Nova York no período citado, e além de ter se conectado à rede Wi-fi
do Hotel Marriott durante a sua estadia, se conectou à rede Eataly-GUEST por duas vezes
exatamente no dia 31.10.2015, e à rede do Woodbury Common Premium Outlet também
por duas vezes exatamente no dia 28.10.2015 (Rede SIMON Wi-fi, sendo que “SIMON” é o
nome da rede de outlets do qual faz parte o Woodbury Common, conforme imagem abaixo):
13 http://www.premiumoutlets.com/outlet/woodbury-common/about – Endereço em 498 Red Apple Ct, Central Valley, NY 10917-661
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Resta evidente, portanto, que ALEXANDRE e sua esposa ÉRICA foram
efetivamente responsáveis por realizar as despesas indicadas na fatura apresentada pelo
colaborador, uma vez que estavam em Nova York no período das compras, conforme
comprovado pelo sistema de movimentos migratórios já apresentados e estiveram
exatamente nos locais em que foram realizadas as despesas nas mesmas datas indicadas
na fatura.
As localizações obtidas no telefone celular de ALEXANDRE PINTO também
confirmam que ele e sua esposa estavam em Nova York no período das compras, conforme
consulta pelas coordenadas geográficas registradas no relatório de extração (consulta aleatória
de um deles, sendo que todos os listados indicam a localização em Nova York):
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Não há dúvidas, portanto, de que os recursos que estavam na conta da
CENTOVALI na corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS foram utilizados em favor de
ALEXANDRE PINTO para a emissão do cartão de crédito pré-pago com o qual o ex-Secretário
custeou parte de suas despesas e a aquisição de bens em sua viagem a Nova York.
Assim, ao promoverem a transferência dos valores depositados na conta do
CFM Mônaco para a conta aberta na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &
ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, novamente em nome da CENTOVALI, no intuito de
afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real proprietário dos
valores nela depositados, ALEXANDRE PINTO DA SILVA e CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR incorreram na prática do delito de lavagem de dinheiro (Lavagem de Ativos/Art. 1º,
§4º da Lei 9.613/1998 - Fato 07).
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No mesmo sentido, ao providenciarem a emissão de cartão de crédito pré-pago
da CORNERCARD em nome do denunciado CELSO JÚNIOR para utilização dos valores
carregados em 19 oportunidades por ALEXANDRE PINTO DA SILVA para convertê-los em
ativos de aparência lícita, consistentes em bens e serviços adquiridos na viagem realizada pelo
denunciado e sua família a Nova York, ocultando e dissimularam a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e
cinquenta dólares e quarenta e quatro cents) provenientes de crimes de corrupção passiva, os
ALEXANDRE PINTO DA SILVA E CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR praticaram 19 delitos
de lavagem de capitais(Lavagem de Ativos/Art. 1º, §4º da Lei 9.613/1998 – 19 crimes em
continuidade - Conjunto de Fatos 08).
4.6 FATO 09 e FATO 10: LAVAGEM DE DINHEIRO DO CRIME ANTECEDENTE DE
CORRUPÇÃO PASSIVA (TRANSFERÊNCIA DE RECURSOS EM ESPÉCIE PARA A CONTA
DA CENTOVALI NO URUGUAI EM OPERAÇÕES ESTRUTURADAS) E EVASÃO DE DIVISAS
Consumados os delitos antecedentes de corrupção passiva, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de forma livre e consciente e em
unidade de desígnios, em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, ocultaram e
dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de
valores provenientes de crimes de corrupção passiva, por meio de remessa dos valores
recebidos a título de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora
uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI
TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor aproximado de
USD 250.000,0014 (duzentos e cinquenta mil dólares), no intuito de afastar os valores ilícitos de
sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos valores nela depositados e
dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos (Lavagem de Ativos/Artigo 1º §4º
da Lei 9.613/1998 – Fato 09)
14 Valores aproximados da diferença entre o saldo da conta da Hordeñana em 25.11.2016 (USD1.165.813,19) – DOC. 22 e osaldo final transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016 (USD 1.417.067,68) - DOC. 26. Conforme relatou ocolaborador CELSO JÚNIOR, após a transferência da conta da CENTOVALI para a Corretora Hordeñana o único aporte derecursos se referiu a uma remessa via dólar-cabo de recursos de propina pagos pela Andrade Gutierrez no Brasil.
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Em data não precisa entre 26/11/2015 e 01/11/2016, os denunciados
ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, de modo consciente e
voluntário e em unidade de desígnios, promoveram a saída de aproximadamente
USD 250.000,0015 (duzentos e cinquenta mil dólares) do Brasil, por intermédio do sistema
“dólar-cabo”, em que os valores em espécie correspondente recebidos a título de propina por
ALEXANDRE PINTO foram retirados em uma casa de câmbio no Brasil, pelos funcionários do
doleiro JUAN LUIS BERTRÁN, sendo, em seguida, realizadas transferências a partir de contas
no exterior indicadas por JUAN LUIS BERTRÁN para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI
TRADING CORP, tornando possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior sem a
remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do
sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central (Evasão de Divisas/Artigo
22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10).
Conforme relatado pelo colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, as
contas da CENTOVALI TRADING CORP receberam valores correspondentes a vantagens
indevidas obtidas por ALEXANDRE PINTO DA SILVA em três ocasiões, sendo que duas delas
ocorreram na conta do CFM Mônaco e já foram narradas nos itens 4.1, 4.2 e 4.3 supra.
A terceira ocasião ocorreu em data não precisa, entre 26.11.2015 e
01.11.2016, quando o denunciado ALEXANDRE PINTO DA SILVA mais uma vez procurou o
doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH para que este realizasse a remessa de recursos de
propina que ALEXANDRE receberia para a conta da CENTOVALI TRADING CORP no exterior,
que neste momento já era na corretora uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS. Assim, ficou
ajustada a realização de operação de dólar-cabo por JUAN LUIS BERTRÁN, na qual recursos
de propina destinados a ALEXANDRE PINTO foram recolhidos em espécie e em reais de uma
casa de câmbio na Barra da Tijuca pelos funcionários de JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH,
e este, em seguida, por meio de empresas por ele controladas ou de empresas clientes, creditou
o valor correspondente em dólares na conta da CENTOVALI na CORRETORA HORDEÑANA
(movimentada por CELSO JÚNIOR e tendo ALEXANDRE como real beneficiário) – deduzido o
valor devido ao doleiro pela operação.
15 Conforme nota de rodapé 14.
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Através de tal operação, após a retirada de recursos no Brasil pertencentes a
ALEXANDRE PINTO, o doleiro JUAN BERTRÁN providenciou a realização de transferência no
valor de USD 250.000,00, com crédito na conta da CENTOVALI no Uruguai.
Verifica-se, nos extratos da conta da CENTOVALI na corretora uruguaia, que o
saldo em 25.11.2015 era de USD 1.165.813,19 (DOC. 22), sendo que o saldo final da referida
conta foi transferido para a conta da própria BYNKELOR em 01.11.2016, totalizando
USD 1.417.067,68 (DOC. 26).
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Entre tais datas ocorreu o terceiro aporte de valores oriundo dos valores de
propina destinados a ALEXANDRE PINTO recolhidos no Brasil pelos funcionários de JUAN
LUIS BERTRÁN BITLLONCH e remetidos através das operações dólar cabo já descritas. Tal
remessa foi de aproximadamente USD 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil dólares -
correspondente à diferença entre o saldo da conta na Hordeñana em 25.11.2015 e o saldo final
transferido para a conta da Bynkelor em 01.11.2016). Os valores, segundo o colaborador
CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, são novamente provenientes de pagamentos da Andrade
Gutierrez, tendo sido recolhidos em casa de câmbio indicada por MIGUEL BARREIROS (DOC.
01 – Anexos 04 e 10).
Para remeter os recursos de ALEXANDRE PINTO ao exterior, JUAN LUIS
BERTRÁN BITLLONCH se valeu de empresas por ele controladas e empresas de seus clientes
que tinham objetivo de fazer remessas no sentido contrário, isto é, trazer recursos do exterior
para o Brasil, determinando que fossem feitas transferências a partir das contas de tais
empresas no exterior dos valores por ele indicados, de modo a totalizar créditos na conta da
CENTOVALI dos valores equivalentes aos recolhidos em espécie no Brasil pertencentes a
ALEXANDRE PINTO, naturalmente descontados os custos das operações e a remuneração do
doleiro.
Vale ressaltar mais uma vez que, para corroborar suas alegações, o
colaborador efetuou uma gravação espontânea de uma conversa com o doleiro JUAN LUIS
BERTRÁN em que CELSO JÚNIOR e JUAN falam sobre as operações realizadas, discutindo
se há “pontas soltas” nas contas usadas nas transações, demonstrando preocupação com a
prisão de ALEXANDRE PINTO por ocasião da Operação Rio 40 Graus e eventual delação do
ex-Secretário, com eventuais problemas em razão de transações de geração de caixa 2 com a
OAS no Peru. JUAN ainda menciona a situação de outras pessoas e fala inclusive na
possibilidade de fugir do Brasil caso fosse necessário (mídia já apresentada nas medidas
cautelares e transcrição como DOC. 10 com destaques nos principais trechos).
Registra-se ainda que, conforme descrito no tópico 4.1, por ocasião da
deflagração da operação Mãos à Obra, com o cumprimento de mandados de busca na
residência de JUAN LUIS BERTRÁN expedidos por este Juízo, foi apreendida elevada
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quantidade de dinheiro em espécie de cinco moedas diferentes dentre reais, dólares
americanos, euros, libras esterlinas e pesos uruguaios (R$ 23.400, USD 1.850, € 1.580, ₤ 1.000,
$U 870), além de uma grande quantidade de envelopes plásticos usados para transportes e
depósitos em dinheiro e informações, o que representa mais um indício de que, de fato, o
acusado JUAN BERTRÁN exerce efetivamente a atividade de doleiro (DOC. 11).
Assim, com as transações acima narradas, que permitiram a ALEXANDRE
PINTO a movimentação de recursos sem que nada passasse por contas de sua titularidade, em
operações estruturadas que impedem o rastreamento contábil dos recursos, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH ocultaram e dissimularam a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes de crimes
de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, incorrendo na prática do delito de
lavagem de capitais, tipificado no art. 1º § 4º da Lei 9.613/1998 (Lavagem de Ativos - Fato 09)
No mesmo sentido, ao realizarem a operação de dólar-cabo descrita, os
denunciados ALEXANDRE PINTO DA SILVA e JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH
promoveram, sem autorização legal, a saída de um total de USD 250.000,00 (duzentos e
cinquenta mil dólares americanos) para o exterior, tornando possível a obtenção de
disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos
legalmente permitidos, e, assim, incorrendo na prática do delito de evasão de divisas, tipificado
no art. 22, parágrafo único da Lei 7.492/86 (Evasão de divisas – Fato 10).
A materialidade delitiva dos crimes de lavagem de capitais e evasão de divisas
se encontra demonstrada pelos depoimentos prestados pelo colaborador (DOC. 01 – Anexos 04
e 10) e pelos extratos da conta da CENTOVALI na corretora uruguaia HORDEÑANA &
ASOCIADOS e da conta titularizada pela BYNKELOR no Santander Uruguai, evidenciando as
operações de dólar-cabo executadas por JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH a pedido de
ALEXANDRE PINTO.
A autoria dos delitos em questão deriva dos próprios elementos de prova
supracitados, valendo registrar que, conforme descrito no item 4.1, embora o responsável por
operacionalizar as transações de dólar-cabo tenha sido efetivamente o doleiro JUAN LUIS
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BERTRÁN, tais operações se deram a pedido e no interesse de ALEXANDRE PINTO, sendo
que, no julgamento da AP 470 (Mensalão), o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no
sentido de que “aquele que efetua pagamento em reais no Brasil, com o objetivo de
disponibilizar, através de outro que recebeu tal pagamento, o respectivo montante em moeda
estrangeira no exterior também incorre no ilícito de evasão de divisas”16. Deste modo, a autoria
do delito de evasão de divisas recai tanto sobre o doleiro JUAN BERTRÁN como sobre o ex-
Secretário ALEXANDRE PINTO DA SILVA.
Vale registrar que os valores pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA
SILVA e ocultados em nome da CENTOVALI TRADING CORP na contas do CFM Monaco e
posteriormente da corretora Hordeñana foram transferidos em novembro de 2016 para a
conta da BYNKELOR no Santander Uruguai, permanecendo ocultados em nome da
empresa do colaborador até o final de 2017, quando CELSO RAMOS JÚNIOR firmou
acordo de colaboração premiada e revelou o crime de lavagem de capitais praticado até
aquela data, se comprometendo a restituir os valores lavados, o que fez recentemente
neste mês de fevereiro de 2018.
4.7. FATO 11: MANUTENÇÃO DE DEPÓSITOS NÃO DECLARADOS À REPARTIÇÃO
FEDERAL NA CORRETORA DE VALORES URUGUAIA HORDEÑANA & ASOCIADOS
CORREDOR DE BOLSA S.A. (2015)
No período compreendido entre 09.10.2015 e 01.11.2016, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA, inclusive no dia 31.12.2015, com auxílio do colaborador CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário, manteve depósitos não declarados à
repartição federal competente no valor de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e
cinco mil, oitocentos e treze dólares americanos e dezenove cents) na corretora de valores
uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, conta nº 2801392,
titularizada pela offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse de
ALEXANDRE PINTO com a única finalidade de titularizar contas em seu nome (Evasão de
Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86 – Fato 11).
16 AP 470, Relator Ministro Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Dje 22/04/2013.
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A conta nº 2801392 titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na
corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, foi
aberta no segundo semestre de 2015 no interesse de ALEXANDRE PINTO DA SILVA para
manter os recursos por ele recebidos a título de propina fora do controle dos órgãos de
fiscalização, e somente foi encerrada em novembro de 2016, quando todos os valores foram
transferidos para a conta da empresa do colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR,
BYNKELOR S.A., no Banco Santander de Montevideo, Uruguai.
Conforme extrato apresentado pelo colaborador, em novembro de 2015 a
conta em questão tinha o saldo de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil,
oitocentos e treze dólares americanos e dezenove cents), sendo que não houve retirada de
valores da conta até 31.12.2015, razão pela qual o saldo da conta era aproximadamente o
acima citado no final de 2015.
Embora tal quantia seja bem superior aos USD 100.000,00 (cem mil dólares
americanos) que constam no caput do artigo 2º da Resolução nº 3.854 do BACEN, limite
máximo estabelecido para a isenção da obrigatoriedade de prestar declaração, ALEXANDRE
PINTO DA SILVA não declarou ao Banco Central os depósitos mantidos na HORDEÑANA &
ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em 31.12.2015, descumprindo a determinação
constante no art. 1º da resolução supramencionada e incorrendo no tipo penal descrito no art.
22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86.
De fato, ALEXANDRE PINTO DA SILVA não comunicou o Banco Central
sobre a existência dos depósitos, tampouco os incluiu em sua declaração de renda destinada à
Receita Federal nos respectivos anos-calendários (DOC. 21), o que era de se esperar, já que a
manutenção dos depósitos à sua disposição na conta do CFM Monaco e posteriormente da
Hordeñana em nome de terceiros fazia parte de um ciclo de lavagem de dinheiro arquitetado
para escamotear os recursos provenientes das vantagens indevidas por ele recebidos.
Em razão da celebração do acordo de colaboração premiada, CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR efetivamente promoveu a restituição dos valores de propina
pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA SILVA e custodiados pelo colaborador que
passaram pela conta do CFM Monaco, em seguida pela Corretora Hordeñana e ao final na
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conta da própria Bynkelor, no total de USD 1.417.067,68 (um milhão, quatrocentos e
dezessete mil e sessenta e sete dólares e sessenta e oito cents), que, considerando a
cotação na data da restituição, equivalia a R$ 4.490.687,47.
Vale registrar que além da quantia acima em dólares, CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR restituiu ainda valores consigo custodiados também pertencentes a
ALEXANDRE PINTO a título de vantagens indevidas que foram planilhadas para entrega
posterior ao ex-Secretário, conforme havia sido ajustado com ALEXANDRE, sendo que tais
valores alcançaram o montante de R$ 1.690.430,00 (um milhão, seiscentos e noventa mil,
quatrocentos e trinta reais). Assim, somadas as quantias citadas, os valores de propina
pertencentes a ALEXANDRE PINTO e que se encontravam sob a custódia do colaborador,
parte em dólares e parte em reais, totalizaram R$ 6.181.117,47 (seis milhões e cento e
oitenta e um mil e cento e dezessete reais e quarenta e sete centavos). Todos esses valores se
encontram depositados em conta à disposição deste Juízo junto com a multa ajustada
(DOC. 27).
Constata-se, portanto, que no período compreendido entre 09.10.2015 e
01.11.2016, inclusive em 31.12.2015, ALEXANDRE PINTO DA SILVA, em unidade de
desígnios com CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, de modo consciente e voluntário,
mantiveram no exterior depósitos não declarados à repartição federal competente no valor
aproximado de USD 1.165.813,19 (um milhão, cento e sessenta e cinco mil, oitocentos e treze
dólares americanos e dezenove cents) em 31.12.2015, na corretora de valores uruguaia
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A , conta nº 2801392, titularizada pela
pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, constituída no interesse do denunciado com a
única finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, §
único, segunda parte, da Lei 7.492/86.(Evasão de Divisas/Artigo 22, § único, segunda parte,
da Lei 7.492/86 – Fato 11).
4.8. FATO 12: PERTINÊNCIA A ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
Ao menos entre os anos de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, e outras pessoas já denunciadas nas
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ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, notadamente
ALEXANDRE PINTO DA SILVA, VAGNER DE CASTRO PEREIRA, EDUARDO FAGUNDES e
outros fiscais vinculados à Secretaria Municipal de Obras, e indivíduos ainda não identificados
ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e em
comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma
organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,
com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas
pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos
e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses
delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização
Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).
Com efeito, agindo de forma estruturalmente ordenada, caracterizada pela
divisão de tarefas e com o objetivo de obter, direta e indiretamente, vantagens indevidas por
meio da prática dos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem
de dinheiro e evasão de divisas, os denunciados acima referidos e aqueles já acusados após a
deflagração da Operação Rio 40 Graus integraram organização criminosa que estava
estruturada da maneira a seguir sintetizada, tendo em consideração as descrições fáticas até
aqui realizadas.
Como já destacado nesta peça, a evolução das investigações revelou que o
esquema de corrupção existente na Secretaria de Estado de Obras, consistente na cobrança de
propina de 1% dos bilionários contratos por parte do ex-Secretário Hudson Braga, assim como
de outros percentuais destinados ao ex-Governador e a outros agentes públicos, repetia-se na
Prefeitura do Rio de Janeiro – também por meio da Secretaria de Obras, operacionalizada pelo
ex-Secretário ALEXANDRE PINTO DA SILVA.
Na ação penal 0174071-16.2017.4.02.5101 foi descrito o funcionamento da
organização criminosa responsável pela prática de atos de corrupção e lavagem de dinheiro
envolvendo a execução de obras de construção civil contratadas pela Secretaria Municipal de
Obras do Rio de Janeiro e grandes empreiteiras, sendo que à época se tinha ciência apenas dos
atos de corrupção envolvendo a construção da via da Transcarioca, Lote 2, que liga a Penha ao
Aeroporto do Galeão, e as obras de Recuperação Ambiental da Bacia de Jacarepaguá.
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Após o aprofundamento das investigações e a celebração do acordo de
colaboração premiada com o empresário CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, homologado
por este juízo nos autos nº 0506620-06.2017.4.02.5101, foi possível identificar outros
integrantes da organização criminosa que estava instalada na estrutura da Prefeitura Municipal
do Rio de Janeiro, sendo revelados, do mesmo modo, novos fatos ilícitos praticados pelos
membros do grupo criminoso, dentre os quais crimes de corrupção ativa; corrupção passiva;
lavagem de dinheiro; fraude contra licitações; evasão de divisas; manutenção de contas não
declaradas no exterior e sonegação fiscal.
Como já destacado, os crimes de corrupção aos quais se dedicava a
organização criminosa alcançaram não só as empreiteiras contratadas para execução das
obras, chegando a envolver prestadoras de serviços e empresas fornecedoras de materiais para
as contratadas, como no caso do colaborador CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR.
Assim, conforme mencionado no início desta peça, verificou-se, nos mesmos
moldes existentes em relação às demais organizações criminosas investigadas pela Operação
Lava Jato, a sua estruturação e divisão de tarefas em três núcleos básicos: a) o núcleo
econômico, formado por executivos das empreiteiras cartelizadas contratadas para execução
de obras pelo Município do Rio de Janeiro, dentre elas a CARIOCA CHRISTIANI NIELSEN, e a
CONSTRUTORA OAS, e a ANDRADE GUTIERREZ, as quais ofereciam vantagens indevidas a
agentes políticos e gestores públicos para potencialização de seus lucros, assim como dos
responsáveis por empresas prestadoras de serviços como a DYNATEST ENGENHARIA e a
TCDI CNSULTORIA17 e de fornecedoras de materiais, e outras pessoas a serem denunciadas
oportunamente ou ainda não identificadas; b) o núcleo administrativo, composto por gestores
públicos e pessoas a eles relacionadas, os quais solicitaram e administraram o recebimento das
vantagens indevidas pagas pelas empreiteiras, dentre os quais se inseriam o ex-Secretário
Municipal de Obras ALEXANDRE PINTO DA SILVA, o ex-Subsecretário VAGNER DE CASTRO
PEREIRA18 e outros agentes municipais vinculados à Secretaria Municipal de Obras já
17 O crime de pertinência a organização criminosa de administradores da DYNATEST ENGENHERIA e da TCDI CONSULTORIA é objeto de denúncia autônoma.
18 O crime de pertinência a organização criminosa de VAGNER DE CASTRO PEREIRA é objeto de denúncia autônoma.
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denunciados na ação penal 0174071-16.2017.4.02.5101; c) o núcleo financeiro operacional,
do qual faziam parte os denunciados JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH, CELSO REINALDO
RAMOS JÚNIOR, VANUZA VIDAL SAMPAIO e outros a serem denunciados oportunamente ou
anda não identificadas, responsáveis pelo recebimento e repasse das vantagens indevidas,
movimentação espúria dos valores de propina, atos de lavagem de capitais, e remessa
clandestina de recursos ao exterior.
A divisão de tarefas dentro do grupo criminoso restou plenamente
caracterizada, podendo a estrutura da organização criminosa ser assim ilustrada:
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É importante destacar que CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR tinha duplo
papel na organização criminosa, tendo integrado inicialmente o núcleo econômico, considerando
que, enquanto responsável pela MATONI IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO e posteriormente
pela BYNKELOR S.A, empresas que atuavam na venda de materiais como geogrelhas,
pigmento asfáltico e aditivos de mistura morna, de aplicação em obras de vias asfálticas,
ofereceu e pagou propina19 a ALEXANDRE PINTO DA SILVA e a outros agentes municipais em
razão do fornecimento de tais materiais a diversas empreiteiras contratadas para execução de
obras municipais (DOC. 01 – Histórico profissional e anexo 01). Esses primeiros atos de
corrupção ativa praticados por CELSO JÚNIOR remontam ao ano de 2010.
Contudo, não há dúvida de que CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR teve
papel bem mais relevante na organização criminosa como operador financeiro, uma vez que
intermediou a solicitação e fez o recolhimento de propina de outras empresas contratadas a
pedido de ALEXANDRE, auxiliou o ex-Secretário na abertura de uma conta bancária no exterior,
na prática de diversos atos de lavagem de capitais, com a disponibilização dos recursos em
contas em nome de uma offshore, além de atuar na remessa dos recursos espúrios ao exterior
por meio de operações de dólar-cabo e em sua movimentação, disponibilizando os recursos em
questão conforme as demandas de ALEXANDRE, se valendo em tais atividades dos serviços
do doleiro JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH.
Em outro aspecto de sua atuação como operador financeiro, CELSO
REINALDO RAMOS JÚNIOR relatou em seus depoimentos que se valeu de diversas empresas
das quais era sócio, dentre as quais a ANDRADE RAMOS e a CAHPI CONSULTORIA E
SERVIÇOS, para geração de caixa 2 em favor das grandes empreiteiras que executavam obras
públicas no Estado e Município do Rio de Janeiro, como a Carioca Engenharia, a OAS e a
Odebrecht, atuando na geração de caixa 2 durante as obras da Transcarioca, “produzindo”
recursos em espécie para que as empreiteiras pudessem efetuar os pagamentos de vantagens
indevidas aos agentes públicos municipais, cujos crimes de corrupção foram narrados na
primeira denúncia oferecida na Operação Rio 40 Graus (0174071-16.2017.4.02.5101).
19 Tais fatos criminosos não serão objeto de imputação nesta peça, e serão objeto de apuração autônoma para oferecimento de nova denúncia oportunamente.
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Vale registrar que os valores pertencentes a ALEXANDRE PINTO DA
SILVA e ocultados com o auxílio de CELSO RAMOS JÚNIOR em nome da CENTOVALI
TRADING CORP foram transferidos em novembro de 2016 para a conta da BYNKELOR no
Santander Uruguai, permanecendo ocultados em nome da empresa do colaborador até o
final de 2017, quando CELSO RAMOS JÚNIOR firmou acordo de colaboração premiada e
revelou o crime de lavagem de capitais praticado até aquela data, se comprometendo a
restituir os valores lavados, o que fez recentemente neste mês de fevereiro de 2018
(DOC. 27). Assim, os crimes praticados por CELSO RAMOS JÚNIOR, e, naturalmente, a
sua atuação em favor da organização criminosa, somente cessaram no final de 2017.
Por sua vez, o doleiro JUAN LUIS BERTRAN ocupava importante posição na
organização criminosa, também como operador financeiro, tendo, com o auxílio de parceiros no
Uruguai, idealizado um esquema de lavagem de capitais com a criação uma offshore com sede
no Panamá para viabilizar a remessa e manutenção no exterior de recursos de propina
recebidos por ALEXANDRE PINTO.
A atuação dos operadores financeiros ora denunciados era essencial para o
êxito dos crimes levados a efeito pela organização criminosa, uma vez que cabia a eles a
movimentação e ocultação dos vultuosos recursos de propina aos agentes públicos.
A partir dos depoimentos prestados pelo colaborador e das provas de
corroboração apresentadas, verificou-se que JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH realizou
diversas operações de dólar-cabo em favor dos integrantes da ORCRIM, com inúmeras
remessas clandestinas de recursos ao exterior, utilizando-se de uma série de técnicas para
dissimular a origem espúria dos valores, tais como contratos fictícios e utilização de contas de
terceiros, passando por um sofisticado esquema de lavagem de capitais e movimentações
financeiras sequenciais e fracionadas envolvendo empresas de “fachada” por ele constituídas,
de modo a dificultar o rastreamento do dinheiro.
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JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH foi essencial nas operações de geração
de “caixa 2” realizadas por CELSO JÚNIOR em favor das empreiteiras contratadas para
execução de obras municipais, uma vez que o esquema idealizado dependia das operações de
dólar-cabo invertido realizado por JUAN BERTRÁN. Assim, o doleiro se utilizou de contas sob
sua administração ou de seus clientes para receber quantias em dólar no exterior transferidas
por CELSO JÚNIOR, e posteriormente entregar, por meio de seus funcionários, o valor
equivalente – deduzida a comissão cobrada – em reais no Brasil, para que essas quantias
fossem utilizadas pelas empreiteiras para finalidades diversas, dentre as quais o pagamento de
propina solicitada por agentes públicos. No mesmo sentido, tais operações permitiram também a
disponibilização de dinheiro em espécie no Brasil para que o próprio colaborador pudesse
efetuar os pagamentos de propinas devidas por ele aos agentes públicos municipais.
A atuação criminosa do denunciado JUAN BERTRÁN em favor da ORCRIM se
estendeu por muitos anos, valendo destacar o enorme volume de recursos movimentado por
JUAN nas operações de dólar cabo verificadas. Em tais operações, as contas indicadas pelo
doleiro receberam, apenas do colaborador, no período entre 26.10.2011 e 08.12.2014,
USD 11.745.684,98 (onze milhões, setecentos e quarenta e cinco mil, seiscentos e oitenta e
quatro dólares e noventa e oito centavos) e EUR 2.987.399,00 (dois milhões, novecentos e
oitenta e sete mil, trezentos e noventa e nove euros), em transferências realizadas da conta da
BYNKELOR, conforme extratos e mensagens SWIFT apresentados pelo colaborador (DOC. 28
e DOC. 29). Assim, considerando as cotações atuais20, JUAN BERTRAN movimentou, no
interesse da organização criminosa, em um período de pouco mais de 3 anos, o
equivalente a quase 50 milhões de reais, ou mais precisamente R$ 49.484.970,67 21.
Ainda com a auxílio de JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH e CELSO
JÚNIOR, ALEXANDRE PINTO DA SILVA promoveu a saída para o exterior, sem autorização
legal, por meio de operações “dólar-cabo”, significativa quantia que foi mantida oculta em nome
da empresa CENTOVALI no banco CFM Monaco e posteriormente na corretora uruguaia
Hordenaña. Entre os anos de 2013 e 2014, a conta no CFM Monaco recebeu pelo me nos
20 Utilizada a taxa de conversão de Dólar para Real de R$ 3,2192 e de Euro para Real de R$ 3,9075, em 12/01/2018, conforme divulgado pelo Banco Central do Brasil (http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp)
21 Tais fatos não são imputados na presente e serão objeto de denúncia autônoma.
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USD 1.186.245,75 em diversas transações intermediadas pelo requerido, o equivalente
atualmente a R$ 3.818.762,3122.
Tais circunstâncias, em especial o enorme volume de recursos movimentados
no período, denotam o relevante papel exercido pelo denunciado JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH no contexto da organização criminosa em questão. Vale registrar que ainda que há
ainda outros integrantes da ORCRIM que tinham como ponto de contrato exatamente o doleiro
JUAN BERTRÁN, já que os elementos colhidos indicam a participação de outros agentes nos
crimes levados a efeito por JUAN LUIS BERTRAN BITLLONCH ainda não totalmente
identificados, tais como os parceiros uruguaios, e outros não conhecidos, como os responsáveis
pelas empresas cujas contas foram utilizadas nas transações ilícitas e os agentes que
promoveram a entrega dos recursos em espécie gerados com tais operações.
Destaca-se que JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH se valia de diversas
técnicas para ocultar a práticas dos ilícitos praticados, dentre as quais a comunicação em
sistema próprio, via VPN, para dificultar qualquer interceptação, com códigos numéricos para
indicar os interlocutores (parceiros e clientes) e assim evitar a exposição de seus nomes. O
requerido JUAN ainda se vale habitualmente da confecção de contratos fictícios e de estrutura
de pessoas jurídicas de fachada para realização de negócios espúrios. Em sua relação com
CELSO JÚNIOR, considerando os intensos contatos para realizar as atividades ilícitas de
interesse da organização criminosa, JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH ajustou com o
colaborador a formalização de contratos de assessoria fictícios e a emissão de notas frias entre
sua empresa Expertrade Assessoria e Serviços de Consultoria Empresarial Ltda, e as empresas
de CELSO JÚNIOR, com o objetivo de justificar a relação e os contatos realizados entre eles
com negócios com aparência de licitude (DOC. 30 e DOC. 31).
De fato, a simulação de negócios jurídicos fazia parte do modus operandi
adotado pelos integrantes da organização criminosa, sendo que CELSO REINALDO RAMOS
JÚNIOR e ALEXANDRE PINTO DA SILVA também se valeram de operações simuladas para
ocultar o recebimento e a movimentação dos recursos objeto da vantagem indevida oferecida
22 Utilizada a taxa de conversão de Dólar para Real de R$ 3,2192, em 12/01/2018, conforme divulgado pelo BancoCentral do Brasil (http://www4.bcb.gov.br/pec/conversao/conversao.asp)
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pela ANDRADE GUTIERREZ, como se verificou na celebração de contrato fictício entre a
BYNKELOR e a ZAGOPE GULF.
Estes episódios reforçam o planejamento da organização criminosa, adotando
uma sistemática de atuação nos delitos praticados de modo a prevenir eventual ação das
autoridades.
Vale registrar que durante o período em que foram praticados os delitos ora
imputados ao denunciado JUAN LUIS BERTRÁN (entre 2012 e abril de 2016), este manteve
contatos telefônicos frequentes com CELSO RAMOS JÚNIOR, que cessaram exatamente no
período em que CELSO RAMOS deixou o Brasil, quando as operações de dólar-cabo realizadas
com o colaborador se encerraram (DOC. 32).
Os elementos colacionados demonstram que os delitos não foram cometidos
ocasionalmente, havendo união de desígnios entre os agentes públicos e empresários
agraciados por contratos para execução de obras públicas (as quais justamente deveriam ser
fiscalizadas pelos agentes públicos vinculados à Secretaria Municipal de Obras), e ainda com os
operadores financeiros responsáveis por viabilizar o recebimento de propina, promover a
lavagem dos capitais oriundos dos crimes de corrupção passiva e realizar a movimentação
clandestina dos recursos de origem espúria, inclusive com operações de dólar-cabo para
remessa de tais recursos ao exterior, os quais integraram verdadeira organização criminosa
dedicada à obtenção indevida de vantagens pelos servidores públicos, em prejuízo dos cofres
públicos, assim como à prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de
ativos.
Assim, pelo menos desde o ano e de 2013 e 2018, JUAN LUIS BERTRÁN
BITLLONCH, CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR, além das pessoas já denunciadas nas
ações penais 0174071-16.2017.4.02.5101 e 0021748-89.2018.4.02.5101, dentre as quais
ALEXANDRE PINTO DA SILVA e VAGNER DE CASTRO PEREIRA, e de indivíduos ainda não
identificados ou a serem denunciados oportunamente, de modo consciente, voluntário, estável e
em comunhão de vontades, promoveram, constituíram e integraram, pessoalmente, uma
organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de corrupção ativa e passiva,
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com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por pessoas jurídicas contratadas
pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens indevidas por agentes públicos
e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses
delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional (Pertinência a Organização
Criminosa/Art. 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 - Fato 12).
5) CAPITULAÇÃO DOS FATOS
5.1) ALEXANDRE PINTO DA SILVA
a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,
movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva por ele
praticados, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI TRADING CORP, e de
pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a conta titularizada pela
referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco),
com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 274.091,00, no intuito de afastar
os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e beneficiário dos
valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos, estando
incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em continuidade) – Conjunto
de Fatos 01;
b) em outubro de 2013, promoveu, sem autorização legal, em 4 oportunidades,
a saída do total de USD 274.091,00 para o exterior por meio de operações de “dólar-cabo”,
tendo como destino final a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit
Agricole Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), tornando possível a obtenção de
disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos
legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do
Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, da Lei
7.492/1986 – (4 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 02;
c) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, por pelo menos 2 vezes,
solicitou, aceitou e recebeu vantagens indevidas que totalizaram USD 1.040.000,00 (um milhão
e quarenta mil dólares), de executivos da Andrade Gutierrez, em razão do cargo de Secretário
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Municipal de Obras que ocupava, para exercer a sua função com especial atenção aos
interesses privados da empresa, estando incurso nas penas do artigo 317 c/c 327 § 2º, do
Código Penal, na forma do artigo 71, do mesmo diploma legal (2 crimes em continuidade)
– Conjunto de Fatos 03;
d) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ocultou e dissimulou a origem, a
natureza, movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção
passiva por ele praticados, através da celebração de contrato fictício de prestação de serviços
entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE
GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00, e posterior celebração de aditivo contratual para
dobrar o valor original do contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no intuito de converter o
dinheiro recebido a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os valores ilícitos de
sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º,
da Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 04;
e) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes
de crimes de corrupção passiva por ele praticados, por meio da remessa dos valores
anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai para a
conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking
de Mônaco (CFM Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem
criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos de
propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes em
continuidade) - Conjunto de Fatos 05;
f) entre 16.07.2013 e 09.10.2015, manteve no exterior depósitos não
declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23 em 31.12.2013 e
USD 1.187.469,19 em 31.12.2014, no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM
Mônaco), na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa jurídica constituída
no seu interesse e com a única finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso
nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86, na forma do artigo 71 do
Código Penal (2 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 06;
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g) em outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 provenientes de crimes de
corrupção passiva por ele praticados, por meio da abertura da conta nº 2801392 na corretora de
valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da
pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, e transferência de todos os recursos que
possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta, no intuito de afastar
os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real proprietário dos valores
nela depositados, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 - Fato 07;
h) entre 27 e 31 de outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 (sete mil setecentos e
cinquenta dólares e quarenta e quatro cents) provenientes de crimes de corrupção passiva por
ele praticados, os convertendo em ativos de aparência lícita consistentes em bens e serviços,
por meio da utilização do cartão de crédito pré-pago CORNERCARD em pelo menos 19
oportunidades, emitido em nome de terceiro a partir do débito de valores na conta titularizada
pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &
ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, para pagamento de despesas efetuadas em seu
benefício e de sua esposa Érica de Castro Nogueira, estando incurso nas penas do artigo 1º,
§4º da Lei 9.613/1998 (19 crimes em continuidade) - Conjunto de Fatos 08;
i) entre 26.11.2015 e 01.11.2016 , em data não precisa, ocultou e dissimulou a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes
de crimes de corrupção passiva por ele praticados, por meio de remessa dos valores recebidos
a título de propina em operações estruturadas para a conta titularizada pela CENTOVALI
TRADING CORP na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR
DE BOLSA S.A, com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 250.000,00, no
intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e
beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina
recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 – Fato 09;
j) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, promoveu a saída de
aproximadamente USD 250.000,00 do Brasil, através de operações de “dólar-cabo”, tendo como
73
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destino final a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora uruguaia
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, tornando possível a obtenção de
disponibilidade financeira no exterior sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos
legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do
Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, da Lei
7.492/1986 – Fato 10;
k) entre 15.10.2015 e 01.11.2016, manteve depósitos não declarados à
repartição federal competente no valor correspondente em dólares a, ao menos, USD
1.165.813,19 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE
BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa jurídica
constituída no seu interesse e com a única finalidade de titularizar contas em seu nome ,
estando incurso nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei 7.492/86 - Fato 11.
5.2) CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR
a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,
movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva
praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI
TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a
conta titularizada pela referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de
Mônaco (CFM Mônaco), com o recebimento na conta de destino do valor total de USD
274.091,00, no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular
da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de
propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em
continuidade) – Conjunto de Fatos 01;
b) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, auxiliou ALEXANDRE PINTO
DA SILVA a receber, em razão da função pública, em 2 oportunidades, vantagens indevidas que
totalizaram USD 1.040.000,00, de executivos da Andrade Gutierrez, através de sua empresa
BYNKELOR S.A, estando incurso nas penas do artigo 317 c/c 327, §2º, na forma dos artigos
29 e 71, todos do Código Penal (2 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 03;
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c) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ocultou e dissimulou a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime
de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, em duas oportunidades, através da
celebração de contrato fictício de prestação de serviços entre a sua empresa BYNKELOR S.A. e
a ZAGOPE GULF CONTRACTING, empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ, no valor de
USD 520.000,00, e posterior celebração de aditivo contratual para dobrar o valor original do
contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no intuito de converter o dinheiro recebido por
ALEXANDRE a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os valores ilícitos de sua
origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da
Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 04;
d) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes
de crimes de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da remessa dos
valores anteriormente recebidos da ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai
para a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private
Banking de Mônaco (CFM Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua
origem criminosa, ocultar o real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos
de propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes
em continuidade) – Conjunto de Fatos 05;
e) entre 16.07.2013 e 09.10.2015, auxiliou ALEXANDRE PINTO DA SILVA a
manter depósitos não declarados à repartição federal competente, no valor de USD 747.263,23
em 31.12.2013 e USD 1.187.469,19 em 31.12.2014, no banco Credit Agricole Private Banking
de Mônaco (CFM Mônaco), na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP, pessoa
jurídica constituída no interesse de ALEXANDRE e com a única finalidade de titularizar contas
em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, segunda parte, da Lei
7.492/86, na forma dos arts. 29 e 71 do Código Penal (2 crimes em continuidade) –
Conjunto de Fatos 06;
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f) em outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem, localização,
disposição, movimentação e propriedade de USD 1.186.245,75 provenientes de crimes de
corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da abertura da conta nº
2801392 na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE
BOLSA S.A em nome da pessoa jurídica CENTOVALI TRADING CORP, da qual constou como
representante legal perante a instituição bancária, e transferência de todos os recursos que
ALEXANDRE PINTO possuía no CFM Mônaco em nome da CENTOVALI para a referida conta,
no intuito de afastar os valores ilícitos ainda mais de sua origem criminosa e ocultar o real
proprietário dos valores nela depositados, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei
9.613/1998 – Fato 07;
g) entre 27 e 31 de outubro de 2015, ocultou e dissimulou a natureza, origem,
localização, disposição, movimentação e propriedade de USD 7.750,44 provenientes de crimes
de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO, os convertendo em ativos de
aparência lícita consistentes em bens e serviços, por meio de gastos efetuados em pelo menos
19 oportunidades no cartão de crédito pré pago CORNERCARD emitido em seu nome a partir
do débito de valores na conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP na corretora de
valores uruguaia HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, para pagamento
de despesas efetuadas em benefício de ALEXANDRE PINTO e sua esposa Érica de Castro
Nogueira, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (19 crimes em
continuidade) – Conjunto de Fatos 08;
h) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, auxiliou ALEXANDRE PINTO DA SILVA a
manter depósitos não declarados à repartição federal competente no valor correspondente em
dólares a, ao menos, USD 1.165.813,19, na corretora de valores uruguaia HORDEÑANA &
ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, conta nº 2801392, titularizada pela CENTOVALI
TRADING CORP, pessoa jurídica constituída no interesse de ALEXANDRE e com a única
finalidade de titularizar contas em seu nome, estando incurso nas penas do artigo 22, § único,
segunda parte, da Lei 7.492/86, na forma do artigo 29 do Código Penal – Fato 11;
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i) promoveu, constituiu e integrou, pessoalmente, ao menos entre os anos de
2013 e 2018, uma organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de
corrupção ativa e passiva, com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por
pessoas jurídicas contratadas pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens
indevidas por agentes públicos e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos
recursos financeiros auferidos desses delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional,
razão pela qual está incurso nas penas do artigo 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 – Fato 12.
5.3) JUAN LUIS BERTRÁN BITLLONCH
a) Entre julho e outubro de 2013, ocultou e dissimulou a origem, a natureza,
movimentação e a propriedade de valores provenientes de crimes de corrupção passiva
praticados por ALEXANDRE PINTO, por meio da criação da offshore panamenha CENTOVALI
TRADING CORP, e de pelo menos 4 remessas dos valores recebidos a título de propina para a
conta titularizada pela referida pessoa jurídica no banco Credit Agricole Private Banking de
Mônaco (CFM Mônaco), com o recebimento na conta de destino do valor total de USD
274.091,00, no intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular
da conta e beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de
propina recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º, da Lei 9.613/1998 (4 crimes em
continuidade) – Conjunto de Fatos 01;
b) em outubro de 2013, promoveu, sem autorização legal, em 4 oportunidades,
a saída do total de USD 274.091,00 para o exterior, ao receber valores em espécie em reais das
mãos de ALEXANDRE PINTO no Brasil e em seguida realizar transferências a partir de contas
no exterior para a conta titularizada pela CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole
Private Banking de Mônaco (CFM Mônaco), tornando possível a obtenção de disponibilidade
financeira no exterior por parte de ALEXANDRE sem a remessa oficial do dinheiro através dos
mecanismos legalmente permitidos, ou seja, através do sistema financeiro, na forma dos atos
normativos do Banco Central, estando incurso nas penas do artigo 22, § único, primeira parte,
da Lei 7.492/1986 (4 crimes em continuidade) – Conjunto de Fatos 02;
77
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c) entre dezembro de 2013 e setembro de 2014, ocultou e dissimulou a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes
de crimes de corrupção passiva pratIcados por ALEXANDRE PINTO DA SILVA, realizando
operações estruturadas que permitiram a remessa dos valores anteriormente recebidos da
ZAGOPE GULF na conta da BYNKELOR S.A no Uruguai para a conta titularizada pela
CENTOVALI TRADING CORP no banco Credit Agricole Private Banking de Mônaco (CFM
Mônaco), no intuito de afastar ainda mais os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o
real proprietário dos valores e dificultar o rastreamento dos recursos de propina recebidos,
estando incurso nas penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (4 crimes em continuidade) -
Conjunto de Fatos 05;
d) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, ocultou e dissimulou a
natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes
de crimes de corrupção passiva praticados por ALEXANDRE PINTO DA SILVA, por meio da
realização de operações estruturadas que viabilizaram a remessa dos valores recebidos a título
de propina por ALEXANDRE PINTO para a conta nº 2801392 na corretora uruguaia
HORDEÑANA & ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A em nome da CENTOVALI
TRADING CORP, com o recebimento na conta de destino do valor total de USD 250.000,00, no
intuito de afastar os valores ilícitos de sua origem criminosa, ocultar o real titular da conta e
beneficiário dos valores nela depositados e dificultar o rastreamento dos recursos de propina
recebidos, estando incurso nas penas do artigo 1º §4º da Lei 9.613/1998 – Fato 09;
e) entre 26.11.2015 e 01.11.2016, em data não precisa, promoveu a saída de
aproximadamente USD 250.000,00 do Brasil, ao determinar aos seus funcionários a retirada de
valores em espécie e em reais recebidos por ALEXANDRE PINTO a título de propina em uma
casa de câmbio na Barra da Tijuca, e em seguida disponibilizar o valor equivalente em dólares
americanos na conta da CENTOVALI TRADING CORP na corretora uruguaia HORDEÑANA &
ASOCIADOS CORREDOR DE BOLSA S.A, por intermédio do sistema “dólar-cabo”, tornando
possível a obtenção de disponibilidade financeira no exterior por parte de ALEXANDRE PINTO
sem a remessa oficial do dinheiro através dos mecanismos legalmente permitidos, ou seja,
através do sistema financeiro, na forma dos atos normativos do Banco Central, estando incurso
nas penas do artigo 22, § único, primeira parte, Da Lei 7.492/1986 – Fato 10;
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f) promoveu, constituiu e integrou, pessoalmente, ao menos entre os anos de
2013 e 2018, uma organização criminosa, que tinha por finalidade a prática de crimes de
corrupção ativa e passiva, com desvio de recurso públicos de obras públicas executadas por
pessoas jurídicas contratadas pelo Município do Rio de Janeiro para a obtenção de vantagens
indevidas por agentes públicos e pessoas a eles relacionadas, bem como a lavagem dos
recursos financeiros auferidos desses delitos e crimes contra o sistema financeiro nacional,
razão pela qual está incurso nas penas do artigo 2º, § 4º, II, da Lei 12.850/2013 – Fato 12.
5.4) MIGUEL ALEXANDRE MARTINS CARDOSO DOS SANTOS BARREIROS
a) entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, na condição de Diretor
Financeiro da Andrade Gutierrez, em duas oportunidades, ocultou e dissimulou a natureza,
origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores provenientes do crime
de corrupção passiva praticado por ALEXANDRE PINTO, através da celebração de contrato
fictício de prestação de serviços entre a BYNKELOR S.A. e a ZAGOPE GULF CONTRACTING,
empresa do grupo ANDRADE GUTIERREZ, no valor de USD 520.000,00, e posterior celebração
de aditivo contratual para dobrar o valor original do contrato, alcançando USD 1.040.000,00, no
intuito de converter o dinheiro recebido a título de propina em ativo de aparência lícita, afastar os
valores ilícitos de sua origem criminosa e ocultar seu real proprietário, estando incurso nas
penas do artigo 1º, §4º da Lei 9.613/1998 (2 crimes em continuidade) - Conjunto de
Fatos 04.
5.5) CONCURSO DE CRIMES
Vale frisar que, como já apontado em cada tópico, entende-se que há continuidade
delitiva entre os crimes que compõem cada conjunto de fatos. Por outro lado, os entre os Fatos
e Conjuntos de Fatos criminosos descritos sob numerações diversas há concurso material de
crimes, com exceção dos seguintes:
a) entre o Conjuntos de Fatos 04 e conjuntos de fatos 05 há continuidade
delitiva, por envolverem operações realizadas em circunstâncias semelhantes e
de forma subsequente para lavagem dos mesmos ativos.
79
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b) entre o Conjunto de Fatos 6 e Fato 11 há continuidade delitiva, por serem
crimes da mesma espécie e praticados nas mesmas condições de tempo,
lugar, maneira de execução e outras semelhantes.
6) CONCLUSÃO
Diante do exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer o recebimento
e processamento da denúncia, com a citação dos denunciados para o devido processo penal e
oitiva das testemunhas e informantes abaixo arrolados.
Requer, ainda, ao final do feito, a condenação dos denunciados pelos crimes
imputados, determinando-se o perdimento dos bens produto dos crimes narrados e
cumulativamente, a fixação de um valor mínimo para reparação dos danos causados pelas
infrações penais descritas na presente denúncia, observando-se os termos do acordo de
colaboração premiada firmado com o denunciado CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR e
homologado por este Juízo.
Apesar da apresentação, neste momento, de um caderno de documentos
citados na presente denúncia, conforme lista ao final, este órgão ministerial requer o
compartilhamento de todas as provas produzidas nos autos citados como referência no início
desta peça.
Rio de Janeiro-RJ, 26 de fevereiro de 2018.
LEONARDO CARDOSO DE FREITASProcurador Regional da República
JOSÉ AUGUSTO SIMÕES VAGOSProcurador Regional da República
EDUARDO RIBEIRO GOMES EL HAGEProcurador da República
RODRIGO TIMÓTEO DA COSTA E SILVAProcurador da República
RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSProcurador da República
SÉRGIO LUIZ PINEL DIASProcurador da República
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FELIPE ALMEIDA BOGADO LEITEProcurador da República
STANLEY VALERIANO DA SILVAProcurador da República
FABIANA KEYLLA SCHNEIDERProcuradora da República
MARISA VAROTTO FERRARIProcuradora da República
Documento eletrônico assinado digitalmente. Data/Hora: 26/02/2018 18:54:08Signatário(a): RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSCódigo de Autenticação: E21FDEB2F9B2C8CF3864DB883E050C12Verificação de autenticidade: http://www.prrj.mpf.mp.br/transparencia/autenticacao-de-documentos/
ROL DE TESTEMUNHAS:
1) LUCIANA SALLES PARENTE – Leniente CARIOCA ENGENHARIA.
2) MARCOS ANTONIO DOS SANTOS BONFIM - Leniente CARIOCA ENGENHARIA
3) ANUAR BENEDITO CARAM, brasileiro, engenheiro, inscrito no CPF sob o n° , RG n° com endereço na São Paulo-SP, CEP 04726-220
4) CRISTIANO PIMENTEL CAVALCANTI VIEIRA, brasileiro, engenheiro da Andrade Gutierrez, inscrito no CPF sob o nº , residente e domiciliado na Rua
, cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro.
5) PAULO RIBEIRO SOARES FILHO,brasileiro, engenheiro, inscrito no CPF nº ,domiciliado na Rua , Belo Horizonte, CEP 30.320-640
DOCUMENTOS APRESENTADOS:
DOC. 01 – Termos de colaboração de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR – Histórico e anexos 01,03, 04/10, 06, 09DOC. 02 – Denúncia Rio 40 Graus - 0174071-16.2017.4.02.5101DOC. 03 – Depoimentos executivos da OAS, Carioca e Andrade GutierrezDOC. 04 – Denúncia Consórcio Dynatest-TCDI (Autos 0021748-89.2018.4.02.5101)DOC. 05 – E-mail de Magdalena Staricco sobre a recursa de abertura de contaDOC. 06 – Documento de abertura da conta da CENTOVALI no CFM MônacoDOC. 07 – E-mails com referência à senha “MONTBLANCO”DOC. 08 – E-mail de Ana Karina sobre créditos na conta da CENTOVALI no CFM Mônaco.DOC. 09 – Extratos da conta da CENTOVALI no CFM MônacoDOC. 10 – Degravação da conversa gravada entre JUAN LUIS BETRÁN e CELSO JÚNIOR comdestaque nos trechos mais relevantesDOC. 11 – Auto de apreensão na residência de JUAN LUIS BETRÁN
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Núcleo de Combate à Corrupção – Força-Tarefa Lava Jato
DOC. 12 – Depoimento prestado por Anuar Benedito CaramDOC. 13 – Contrato entre ZAGOPE GULF CONTRACTING e BYNKELOR S.A.DOC. 14 – E-mails sobre a Minuta do contrato da ZAGOPE com a BYNKELOR.DOC. 15 – Carta e e-mail enviados pela ZAGOPE ao banco solicitando a transferência deUSD 520.000,00 a BYNKELOR.DOC. 16 – Extratos da conta da Bynkelor S.A no Banco Santander e SWIFTS.DOC. 17 – Aditivo ao contrato da ZAGOPE GULF e BYNKELOR.DOC. 18 – E-mails trocados entre Jorge Navarro e CELSO JÚNIOR sobre invoice DOC. 19 – Depoimento prestado por Paulo Ribeiro Soares FilhoDOC. 20 – Emails indicando problemas da representação da ZAGOPE e entre Miguel Barreiros ePaulo Filho sobre o contrato com a BynkelorDOC. 21 – Dossiê integrado de ALEXANDRE PINTO.DOC. 22 – Carta e comprovante da transferência do CFM MÔNACO para a HORDEÑANA.DOC. 23 – Fatura do cartão de crédito CORNERCARDDOC. 24 – Dados do Sistema de Tráfego Internacional – Alexandre Pinto e esposaDOC. 25 – Relatório dados dos celulares de Alexandre Pinto e esposa.DOC. 26 – Extrato comprovando transferência de valores da conta da Centovali na corretoraHORDEÑANA para a conta da BYNKELORDOC. 27 – Petição apresentada pelo colaborador comprovando a restituição dos valorespertencentes a ALEXANDRE PINTODOC. 28 – Extrato da conta bancária da empresa BYNKELOR utilizada para recebimento derecursos e posterior transferência para contas indicadas pelo doleiro JUAN LUIS BERTRANDOC. 29 – SWIFTS de operações realizados por CELSO JÚNIOR e JUAN LUIS BERTRÁNDOC. 30 – E-mail versando sobre a celebração de contrato fictício entre a empresa de JUAN LUISBERTRAN BITLLONCH e a de CELSO REINALDO RAMOS JÚNIOR;DOC. 31 – Contratos fictícios e notas fiscais “frias” emitidas pela empresa EXPERTRADEASSESSORIA E SERVIÇOS DE CONSULTORIA EMPRESARIAL, de JUAN LUIS BERTRAN DOC. 32 – Relação de comunicações telefônicas entre CELSO RAMOS JUNIOR e JUAN LUISBERTRÁN BITLLONCH (Relatório Sittel)
Documento eletrônico assinado digitalmente. Data/Hora: 26/02/2018 18:54:08Signatário(a): RAFAEL ANTONIO BARRETTO DOS SANTOSCódigo de Autenticação: E21FDEB2F9B2C8CF3864DB883E050C12Verificação de autenticidade: http://www.prrj.mpf.mp.br/transparencia/autenticacao-de-documentos/
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