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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM GOIÁS
Protocolo nº 161.920/2016
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO DO GOIÁSAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL Nº 278-40.2016.6.09.0047Recorrentes: ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHORecorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORALlator: JUIZ LUCIANO MTANIOS HANNA
RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO. ABUSO DE PODER ECONÔMICO. PRELIMINARES AFASTADAS. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. MEDIDA JÁ ALCANÇADA VIA MANDADO DE SEGURANÇA. POSSIBILIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTOS ATÉ A DATA DA AUDIÊNCIA. PRECEDENTES. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA POR NÃO TER SIDO REALIZADO O DEPOIMENTO PESSOAL. DESCABIMENTO. NO MÉRITO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DE PODER ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. OS RECORRENTES ARQUITETARAM UM FORTE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS NO MUNICÍPIO DE DIVINÓPOLIS/GO. O ESQUEMA TINHA TRÊS VERTENTES. 1) DISTRIBUIÇÃO DE 2400 LITROS DE COMBUSTÍVEL (GASOLINA) AOS ELEITORES, MEDIANTE DISTRIBUIÇÃO DE 45 VALE-COMBUSTÍVEIS. PROVA TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL ROBUSTA E FORTE COMPROVANDO A CONDUTA NARRADA NA INICIAL. 2) COMPRA DE PASSAGENS AOS ELEITORES PARA IREM VOTAR. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL NO SENTIDO DE QUE FORAM COMPRADAS MAIS DE 40 PASSAGENS PARA OS ELEITORES IREM VOTAR EM DIVINÓPOLIS. 3) COMPRA DO VOTO DA ELEITORA LORRANE CONFIRMADA PELA PROVA NOS AUTOS E COM INDÍCIOS DE QUE TERIA HAVIDO MAIS VOTOS COMPRADOS. AS PROVAS DOS AUTOS FORAM ROBUSTAS E CONTUNDENTES NO SENTIDO DE QUE OS RECORRENTES, COM O AUXÍLIO DO “TIO JOCA”, “ALÊ” E “SULA”, ARQUITETARAM UM GRANDE ESQUEMA DE COMPRA DE VOTOS, QUE FOI DECISIVO NO PLEITO MUNICIPAL DE 2016, O QUAL FOI DECIDIDO EM DIVINÓPOLIS POR UMA IMPRESSIONANTE DIFERENÇA DE 20 VOTOS. OS FATOS NARRADOS NA INICIAL FORAM INTEGRALMENTE CONFIRMADOS
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DIANTE DA QUEBRA DE SIGILO DE DADOS TELEFÔNICOS QUE APONTARAM COM SEGURANÇA TEREM OS RECORRENTES CIÊNCIA E TEREM PARTICIPADO NA GERÊNCIA DO ILÍCITO ELEITORAL. PROVAS TESTEMUNHAIS E DOCUMENTAL QUE ATESTARAM A PRÁTICA ILÍCITA QUE GANHOU CONTORNOS DE ABUSO DE PODER ECONÔMICO POR PARTE DOS RECORRENTES. RESPONSABILIDADE DOS RECORRENTES É PATENTE E EVIDENTE. MULTA ACERTADAMENTE FIXADA NO MÁXIMO LEGAL, RESPEITANDO OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. PROVA ROBUSTA, CONTUNDENTE E IRREFUTÁVEL DA GRAVIDADE DOS EVENTOS AQUI DESCRITOS. ABUSO DE PODER ECONÔMICO MEDIANTE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO CONFIGURADO. CASSAÇÃO DO DIPLOMA E DECRETAÇÃO DE INELEGIBILIDADE DOS RECORRENTES. MANUTENÇÃO INTEGRAL DA SENTENÇA A QUO. PARECER PELO CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO ELEITORAL.
Trata-se de recurso eleitoral interposto por ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO contra sentença proferida
pelo Juízo da 47ª Zona Eleitoral (Divinópolis/GO) que, ao apreciar Ação de
Investigação Judicial Eleitoral pela suposta prática de abuso de poder econômico
e captação ilícita de sufrágio (art. 41-A, da Lei nº 9.504/97 e art. 22 da LC 64/90),
proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL, reconheceu o ilícito eleitoral e
julgou procedentes os pedidos formulados na inicial e cassou os registros de
candidatura dos recorrentes, declarou suas inelegibilidades por 08 anos e ainda os
condenou à multa individual de R$ 53.205,00.
Em suas razões, os recorrentes alegam, preliminarmente: (a) a necessidade de se conceder efeito suspensivo no presente recurso eleitoral; (b) nulidade das provas juntadas intempestivamente pelo MPE; (c) preliminar de
nulidade por descumprimento do procedimento exigido na AIJE. No mérito,
pugnou pela total improcedência da ação tendo em vista não terem sido
comprovados os fatos narrados na inicial, tampouco foi comprovado que o
candidato beneficiário tinha conhecimento da conduta ilícita aqui narrada.
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Alternativamente, caso se conclua pela procedência do pedido, para que seja
minorada a multa aplicada.
Contrarrazões recursais oferecidas pelo MPE pugnando pelo
desprovimento do recurso aventado.
É o relatório.
I – Das preliminares alegadas pelas partes.
I.1 – DA CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO
No pertinente a esta preliminar, tem-se que os recorrentes já
lograram êxito em conseguir o alegado efeito suspensivo, via mandado de
segurança nº 0600596-18.2016.6.09.0000, impetrado neste TRE/GO, em que lhes
foi garantido o direito à diplomação, nos termos da liminar deferida (ID. 6850
daquele processo).
Ademais, a Lei nº 13.165/2015 incluiu o §2º do art. 257 do
Código Eleitoral, estabelecendo que o recurso eleitoral interposto contra sentença
que resulte em cassação possui efeito suspensivo, excepcionando-se, assim, a
regra da eficácia imediata das decisões judiciais em matéria eleitoral. Confira-se:
Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.
§ 1º A execução de qualquer acórdão será feita imediatamente, através
de comunicação por ofício, telegrama, ou, em casos especiais, a
critério do Presidente do Tribunal, através de cópia do acórdão.
§ 2º O recurso ordinário interposto contra decisão proferida por
juiz eleitoral ou por Tribunal Regional Eleitoral que resulte em
cassação de registro, afastamento do titular ou perda de mandato
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eletivo será recebido pelo Tribunal competente com efeito
suspensivo.
Logo, tendo ocorrida a diplomação dos recorrentes, não há o
que ser aventado quanto a esta preliminar. Mantendo-se, claro, o efeito
suspensivo do recurso.
I.2 – DA NULIDADE DAS PROVAS JUNTADAS PELO MPE ANTES DA AUDIÊNCIA
Alegam os recorrentes que o Ministério Público Eleitoral
inovou ao juntar os documentos de fls. 467/481, impedindo o regular exercício da
defesa.
Porém, razão não os assiste. Os documentos juntados só retratam, de maneira gráfica, todo o extenso trabalho realizado pelo Parquet eleitoral durante a colheita de provas do ilícito aqui narrado, as quais encontram-se devidamente juntadas nos autos, vale dizer, não houve inovação.
No pertinente, colha-se manifestação do Promotor Eleitoral:“06- A alegação de nulidade da juntada de provas quando da audiência
de instrução eleitoral realizada em 30 de novembro de 2016 não
merece prosperar, notadamente porquanto a legislação eleitoral e a
jurisprudência pátria são uníssonas e pacíficas em se admitir a
produção probatória até a data da realização da audiência, conforme
bem lembrado pelo magistrado monocrático.
07- Não houve qualquer prejuízo à defesa dos requeridos, que
puderam exercer seu direito de ampla defesa e de contraditório. Foram juntadas, de diferente, apenas três fotografias nas quais se
revelou, uma vez mais, a posição de destaque na campanha eleitoral
do tio do requerido ALEX SANTA CRUZ, o senhor JOAQUIM IZAÍAS
OLIVEIRA, conhecido como “JOCA”.
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08- Os diagramas juntados aos autos, assim como a relação de
passageiros e de dados telefônicos contêm informações que já
haviam sido trazidas aos autos quando da propositura da ação
eleitoral, e foram reapresentados, desta feita em audiência, após
análise de vínculo dos envolvidos, para a comodidade da consulta
dos dados analisados. Não se trouxe qualquer fato novo ao
processo, mas sim limitou-se o parquet a realizar a análise da
informação anteriormente coligida a partir de decisões judiciais
de afastamento do sigilo telefônico e igualmente disponibilizá-la
aos requeridos. Análise que poderia ser feita quando das
alegações finais, mas optou-se por juntar já quando da audiência
de instrução. 09- Consoante pode ser verificado nos autos da AIJE, a quebra do
sigilo de dados telefônicos de ONILCON RODRIGUES DOS SANTOS,
vulgo “SULA”, de ALEXANDRE FREITAS DE ARAÚJO, vulgo “ALÊ” e
JOAQUIM IZAÍAS, vulgo “JOCA”, foi devidamente juntada aos autos
quando da propositura da ação. Às fls.61/68 encontra-se cópia do
pedido de quebra. Às fls.149/152 pode-se vislumbrar a decisão judicial
que deferiu a quebra de sigilo de dados telefônicos. Às fls.166/275
encontram-se os extratos telefônicos encaminhados pela operadora.
Frise-se, portanto, que todos os documentos referentes à quebra de
sigilo de dados telefônicos foram juntados pelo parquet quando da
propositura da AIJE. Os documentos juntados pelo MPE em audiência
nada mais são que documentos que contêm exatamente as mesmas
informações, apenas dispostas em forma de diagrama de vínculo e em
documento no formato excel.” (fls. 584/585)
Ademais, conforme bem apontou o Juízo a quo, o
procedimento eleitoral previsto no art. 22 da LC 64/90 permite a juntada de
documentos até a audiência.
Não bastasse, ainda temos que no processo eleitoral vigora o
princípio pas de nullité sans grief, em que para se decretar a nulidade há que ter a
prova do prejuízo, o que não ocorreu nos autos, ao revés, já que os documentos
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juntados apenas se limitaram a diagramar as provas nos autos, houve facilitação a o exercício da ampla defesa .
Nesse sentido, confira-se acórdão dos TREs brasileiros,
verbis:TRE/MA: MANDADO DE SEGURANÇA. RECURSO CONTRA
EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. MUNICÍPIO DE ARAIOSES. DECISÃO
DO JUIZ RELATOR QUE INDEFERIU O ADIAMENTO DE AUDIÊNCIA
DE INSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA
MANIFESTAÇÃO ACERCA DE DOCUMENTAÇÃO JUNTADA AOS
AUTOS. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO. PROVAS JÁ CONHECIDAS
E IMPUGNADAS PELOS IMPETRANTES EM SUAS
CONTRARRAZÕES. DIREITO DE DEFESA EXERCIDO. PRINCÍIOS
DA AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO ASSEGURADOS. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA.
- A cópia das mídias juntadas posteriormente não se qualifica como
prova nova, por se tratar de simples repetição de documentos que já
constavam dos autos quando as partes adversas foram citadas para
contestar.
- Nenhum ato jurídico deve ser declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.
(MANDADO DE SEGURANCA nº 2829, Acórdão nº 16731 de
17/02/2014, Relator(a) ALICE DE SOUSA ROCHA, Publicação: DJ -
Diário de justiça, Tomo 39, Data 27/02/2014, Página 2 )
TRE/MT: REPRESENTAÇÃO ELEITORAL - CAPTAÇÃO ILÍCITA
DE VOTOS - ART. 41-A DA LEI 9.504/97 - EMBASAMENTO EM
TERMOS DE INQUÉRITO POLICIAL - POSSIBILIDADE -
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL NÃO EXIGIDA.
(….)
DOCUMENTOS - JUNTADA APÓS A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA
- VISTA DA PARTE POR OCASIÃO DAS ALEGAÇÕES FINAIS -
CERCEAMENTO DE DEFESA QUE NÃO SE CARACTERIZA. Se a parte se refere aos documentos nas alegações finais e pede
o desentranhamento, demonstra o seu efetivo conhecimento e _________________________________________________________________________
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acesso sobre eles, o que afasta a alegação de cerceamento de
defesa.
(Recurso Eleitoral nº 497, Acórdão nº 14533 de 04/12/2003, Relator(a)
JURACY PERSIANI, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 28,
Tomo 6786, Data 04/12/2003, Página 45 )
TRE/MG: Recursos Eleitorais. Ações de Impugnação de mandato
eletivo - AIME. Eleição suplementar de 2013. Abuso de poder
econômico. Captação ilícita de sufrágio. Cassação dos mandatos.
Condenação em multa e declaração de inelegibilidade. Preliminar de
cerceamento de defesa. Alegação de não oportunização de acesso
ao relatório de ligações telefônicas e de ausência de vista após a
juntada de documentos com as alegações finais. Obediência aos
princípios constitucionais. Documentos juntados em audiência,
com a presença da defesa técnica dos recorrentes, e/ou
disponíveis na rede mundial de computadores. Preliminar
rejeitada. (…)
(RECURSO ELEITORAL nº 14760, Acórdão de 13/11/2014, Relator(a)
WLADIMIR RODRIGUES DIAS, Relator(a) designado(a) PAULO
CÉZAR DIAS, Publicação: DJEMG - Diário de Justiça Eletrônico-
TREMG, Data 26/11/2014)
Assim, deve esta preliminar ser rejeitada.
I.3 – DA NÃO OBSERVÂNCIA DO RITO PREVISTO EM LEI – NÃO ABERTURA DE PRAZO PARA NOVAS DILIGÊNCIAS
Insurgem as partes recorrentes com a não abertura de prazo
para novas diligências que impossibilitou que fosse realizado o depoimento
pessoal do recorrente “ALEX DE EVA”.
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Todavia, verifica-se da ata de audiência que o Magistrado
questionou sobre novas diligências, tendo indeferido, acertadamente, o pedido de
depoimento pessoal do recorrente.
E isso, por uma razão simples, que decorre da literal
interpretação do art. 385 do CPC, que nos informa que o depoimento pessoal será
tomado se, e somente se, a parte contrária requerer ou o juiz, de ofício, a ordenar.
Art. 385. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a
fim de que esta seja interrogada na audiência de instrução e
julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de ofício.
Ademais, verifica-se que o processo seguiu toda a sua
marcha legalmente definida possibilitando o exercício de todas os instrumentos
processuais disponibilizados às partes, garantindo-se os mais amplos postulados
do devido processo legal, contraditório e ampla defesa.
Assim, não havendo prejuízo, não há que se falar em nulidade,
mesmo raciocínio que faz o Código Eleitoral em seu art. 219, verbis:
Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e
resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades
sem demonstração de prejuízo.
Logo, esta preliminar deve ser rechaçada.
II – DO MÉRITO
Relativamente ao mérito, nota-se que são três os fatos que
embasam a presente ação eleitoral a) a compra de combustível para ser dada aos
eleitores que tivessem ido votar em Divinópolis, como se fosse uma “ajuda de
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custo”; b) fornecimento de passagens de ônibus a eleitores em troca de votos; c) compra de voto da eleitora Lorrane.
II.1 – COMPRA DE COMBUSTÍVEIS PARA OS ELEITORES
O Ministério Público Eleitoral após extenso trabalho de
produção de provas logrou comprovar que os recorrentes arquitetaram um grande esquema de compra de votos dos eleitores de Divinópolis em uma eleição super acirrada, decidida em favor deles por uma impressionante diferença de 20 votos.
Interessante de se notar que, se a vitória foi alcançada com
diferença de duas dezenas de voto, a instrução processual revelou que os
recorrentes capturaram ilicitamente um número muito maior de eleitores.
Segundo apurou-se, em uma das frentes de compra de votos,
o tio do recorrente ALEX SANTA CRUZ, Joaquim Izaías de Oliveira (“TIO JOCA”), juntamente com Alexandre Freitas de Araújo (ALÊ) e Onilcon Rodrigues dos Santos (SULA), empreenderam esforços para que os eleitores de
Divinópolis tivessem vales combustíveis, que variavam entre 40 a 60lts, em troca
de voto nos candidatos, ora recorrentes.
Pois bem. No dia 01/10/2016, véspera das eleições
municipais, “TIO JOCA” foi até o posto GO-118, em Monte Alegre/GO e adquiriu
2.400 litros de combustível (gasolina), que foram distribuídos em vale-
combustíveis contendo 40l ou 60lts.
Aqui, um parênteses, o posto em Monte Alegre situa-se em
uma rota estratégica, tanto para os eleitores que não residem na cidade (que
moram ao Sul do estado por exemplo), quanto para os munícipes de
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Divinópolis/GO, que poderiam completar o tanque de seus carros e utilizá-los
nesta localidade. E, por óbvio, para os recorrentes, o melhor seria que fosse
utilizado um posto de combustível situado em outra cidade, para dificultar a
relação entre os vales combustíveis e o questão eleitoral.
A título de ilustração, junta-se mapa indicando a localização
estratégica do posto de combustíveis.
Os 2.400 litros de combustíveis foram pagos com cheque à
vista, do banco SICOOB, da conta do Sr. Joaquim Izaías de Oliveira (TIO JOCA),
no valor de R$ 9.573,00 (nove mil, quinhentos e setenta reais e setenta e três reais), cuja microfilmagem encontra-se acostada à fl. 55.
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Tal quantia foi distribuídas em 45 vales combustíveis de 40 e 60 litros, que foram utilizados pelos eleitores, principalmente no dia das eleições.
Confira-se a esse respeito depoimento perante à Promotoria Eleitoral de São
Domingos da testemunha Eliane Gomes Cordeio Damasceno, dona do posto de
gasolina (fls. 56/57):
é proprietária/gerente do Posto de Combustíveis GO-118, situado na
entrada de Monte Alegre/GO; QUE no dia 01 de outubro de 2016 foi
procurada por um senhor de Divinópolis de Goiás, cujo nome não se
recorda com precisão, mas é algo parecido com “JOCA”, o qual disse à
depoente que desejava deixar um certo valor em combustível em
“haver” no posto e que fossem emitidos vales abastecimento em
quantidades variáveis referente a este valor de gasolina; QUE o próprio
“JOCA” disse à depoente que fizesse 30(trinta) vales abastecimento na
quantidade de 60 (sessenta) litros cada um, e 15 (quinze) outros vales
abastecimento na quantidade de 40 (quarenta) litros cada um; QUE a
depoente fez os vales abastecimento utilizando para tanto requisições
com timbre do Posto, nas quais constavam a quantidade de
combustível em “HAVER”, o valor do combustível, assim como uma
rubrica da depoente ou de seu filho Bruno; QUE “JOCA” efetuou o
pagamento do combustível adquirido com um cheque no valor
aproximado de R$9.573,00 (nove mil, quinhentos e setenta e três
reais); QUE tal cheque já foi depositado na conta do Posto junto ao
Banco Itáu de Monte Alegre (Agência 5128, Conta 06687-4), tendo sido
compensado sem problemas; QUE apresentará, tão logo seja possível,
microfilmagem da cártula do cheque, a qual pretende solicitar ao banco
ainda esta semana; QUE na data de hoje (10/10/16) durante
cumprimento de Mandado de Busca e Apreensão expedido pela
Justiça Eleitoral, entregou espontaneamente os vale abastecimento
que se encontravam no estabelecimento; QUE deseja esclarecer que
os abastecimentos funcionaram da seguinte forma; QUE os vale
abastecimento foram entregues a “JOCA” no próprio dia 01 de
outubro de 2016, e no dia seguinte, dia 02 de outubro, dia da
eleição, diversos carros foram abastecidos no posto ao longo do _________________________________________________________________________
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dia mediante a apresentação de tais vales pelos motoristas dos
veículos; QUE ocorreu de mais de um carro ser abastecido
mediante a apresentação de um só cupom, já que nem todo carro
comportava no tanque os 60 litros do vale; QUE foram
abastecidos algo em torno de 60 veículos com o uso dos vales
bastecimento; QUE recebeu uma cópia da decisão judicial de busca e
apreensão expedida pelo juízo da 47ª ZE.
Em juízo, a testemunha confirmou os fatos narrados,
relatando, ainda, que após a busca e apreensão realizada no referido posto, o Sr. Joaquim Izaías a procurou no estabelecimento e solicitou que ela lhe fornecesse um documento falso atestando que ele era um cliente antigo e contumaz do posto, oferecendo em troca o encaminhamento de vários veículos para serem abastecidos no posto. Confira-se:
Testemunha Eliane Gomes Cordeiro Damasceno
Juiz: A Sra. É proprietária do posto GO-118? Que fica em Monte
Alegre?
Testemunha: Sim.
Juiz: Na época da eleição, o posto da Sra. Forneceu combustível para
o tio do candidato ALEX, Joaquim Izaías de Oliveira?
Testemunha: Não. Chegou um Sr. Lá que até então eu não conhecia.
Não sabia o nome. Procurou a gente que queria comprar um
combustível. Não sei a finalidade do combustível. Aí ele me procurou,
tava eu na minha sala. Tava eu e meu marido. Chegou esse Sr. Que eu
não conhecia, falando que era de Divinópolis, procurou a gente que
queria comprar uma quantidade de combustível, não falou pra que era.
E ia fazer o pagamento pra gente. Aí ele falou que era em cheque. O
meu marido pegou o cheque, olhou, não conhecia. Pra gente vender o
combustível... nós não tem o costume.. tem que ter assim uma
referência. Uma identificação. Aí meu marido pegou o cheque, olhou..
não conhecia... não conhecia a pessoa, mas falou que era de
Divinópolis. Tudo bem. Aí falou lá, quanto o Sr. Quer, aí falou lá a
quantidade né..
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Juiz: A Sra. Lembra a quantidade?
Testemunha: Como a quantidade era maior... ele falou que o cheque
viria de 8 a 9 mil reais.
Juiz: Era mais de 2 mil litros de combustível?
Testemunha: Isso, acredito que sim. Aí ele falou.. não eu tinha que ver
o cheque analisar... consultar o cheque tudo, porque eu não conhecia a
pessoa. Ou então pegasse uma referência de alguém.
Juiz: Nunca tinha passado essa pessoa antes lá. Pra fazer compra
com a Sra?
Testemunha: Não. Nunca. Não conhecia.
Juiz: Isso era um dia antes das eleições? A sra. Se recorda ou não?
Testemunha: Foi. Acho que foi dia primeiro. Eu não conhecia. E
falei, não, então tudo bem. To aqui, sou comerciante há 30 anos em
Monte Alegre. Nunca tive problema referente a venda com ninguém
(…) Ele falou que queria comprar. Tudo bem. Aí fomos pegar o
cheque, analisar, olhar né. Mas como não conhecia, meu marido
falou que queria uma referência. Ou então fornecer o combustível
após a compensação do cheque. Aí ele... não, mas não tem
problema, meu cheque é bom. (…) Aí ele deu as referências que
tem no cheque. Peguei o telefone. E falei, tudo bem, aí a gente
vende e depois o Sr. Pode pegar. Aí ele pediu um comprovante. Aí
eu falei tudo bem. Como o Sr. Quer? Aí ele falou a forma como ele
queria, fiz os comprovantes os a ver né. E passei pra ele. Como ele
tinha dado referências boas do cheque, que não tinha problema.
Normal.
Juiz: E aí, como é que foi entregue esse combustível? De que forma
que ele foi fornecido?
Testemunha: Ele falou que queria que eu fizesse os comprovantes de
60 litros e 40 litros. E queria assim, aí eu dividi toda a litragem dessa
forma.
Juiz: A Sra. Entregou pra ele documentos semelhantes a estes que eu
vou mostrar pra Sra. Que estão nas folhas 35 até 53 do processo?
Testemunha: São esses mesmos. São os comprovantes. Todos
assinados por mim, por meu filho. Eu chamei ele porque ia dar uma
quantidade maior. Tá aqui a assinatura do Bruno e assinatura minha.
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(…) Eu falei assim, só que o Sr. Vai pegar tudo de uma vez? Ele
falou, não vai ser aos poucos. Como era muito, a gente não tinha
uma disponibilidade muito grande.
Juiz: Então, só para ficar bem claro. Houve o pagamento, em
forma desse cheque, e para garantir a entrega desse combustível,
a forma que vocês combinaram foi a entrega dessas notinhas...
dessas pequenas notas, constando o haver, ou seja, cada cupom
daquele valia essa quantidade de combustível que estava escrita
aqui. Então, qualquer pessoa que chegasse lá e apresentasse
esse cupom pegava o combustível. Não pagava nada.
Testemunha: Isso. Não pagava nada. Já tinha recebido
Juiz: Esse combustível foi fornecido quando? A Sra. Fez o negócio
com ele no sábado. Aí a Sra. Falou que as vezes nem teria todo esse
combustível naquele dia. Então como é que foi distribuído isso?
Testemunha: Eu perguntei pra ele se ele ia pegar tudo de uma vez ele
falou que não, então a partir do dia seguinte ele começou a pegar.
Inclusive ele não pegou tudo de uma vez, eu fiquei abastecendo
durante muitos dias.
Juiz: Durante muitos dias... Durou o que? Só pra gente ter uma
estimativa?
Testemunha: Mais ou menos uns oito dias.
Juiz: Todo o combustível foi entregue?
Testemunha: Eu acho que ainda não foi pego todos não. Inclusive
eu tava com isso aí assim... porque eu tinha que fechar meu caixa
e eu tava vendo isso aí e eu acho que não foi pego tudo, não
entrou. Não sei porque, mas eu passei o valor todinho.
Juiz: A sra. Não sabe, entregou pra ele abastecer e cada pessoa era
diferente? Sempre pessoas diferentes?
Testemunha: Eu entreguei pra ele, não sei que carro que foi, quem ia,
mas eram sempre pessoas diferentes.
(...)
MP (10'40''): Quando a Sra. Prestou depoimento no Ministério Público
a Sra. Informou que os cupons eram cupons de 60 e 40 litros. E
Poucos carros tinham a capacidade de 60 e 40... A Sra. Disse que um
cupom era utilizado em mais de um carro.
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Testemunha: Eu não sei a forma definitiva ni que.. se ele queria por
em um carro, se eram em dois... era a forma dele pegar né. Mas
assim.. eu não poderia determinar.. ele não me questionou nada não.
MP: No domingo a Sra. Não trabalhou? A Sra. Viu o movimento de
carro?
Testemunha: Trabalhei.. sábado, domingo. Muito movimento de carro
né... de fora... muita gente...
MP: O cheque, é esse de fl. 55? Foi esse que ele utilizou para pagar a
Sra.? No valor de 9.563,70 reais. Esse é o cheque? Aqui tá o verso do
cheque, essa letra que está no verso do cheque é de quem?
Testemunha: É. Esse cheque. Foi dele. Foi meu marido que
escreveu.
MP (12'): Aqui consta o telefone e o nome do Filoneto José dos Santos.
Quem fez essa anotação?
Testemunha: Ele queria pagar em cheque, mas meu marido pediu
uma referência, porque ele não conhecia. Aí foi fornecida a
referência dele.
MP: Então, esse celular 62 999174563 e Filó, Divinópolis foi o marido
da Sra. Que escreveu?
Testemunha: Foi, a referência que ele que deu esses telefones... Aí
meu marido escreveu abonando o cheque porque ele não conhecia.
MP (13'50''): Depois desse fato, que o MP teve lá, o Joaquim Izaías,
essa pessoa que comprou o combustível ela voltou lá no posto?
Testemunha: Um dia ela voltou na minha residência, me falando
sobre esse abastecimento, se teve algum problema, querendo
nota... Aí eu falei que eu não posso emitir mais, porque o Sr. Tinha
que ter pego no dia. No dia ele não pegou nota, não pediu.. e eu
não tinha nada a fazer.
MP: Ele pediu para que a Sra. Fizesse alguma declaração que
constasse que ele era um cliente frequente do posto?
Testemunha: Ele me pediu assim... como que eu podia ajudar. Eu
não sei o que tá se passando, eu vou ajudar como? O Sr. Chegou
comprou, eu recebi, entreguei meu combustível... O que que o Sr.
Quer que eu faça? Porque eu não vou fazer nada, porque eu não
posso fazer nada, porque eu não fiz nada além disso pro Sr. Ele foi
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querendo uma forma de eu ajudar, por conta de uma declaração,
sei lá... de fazer uma nota fiscal.. de comprovar que ele era meu
cliente... Como que é meu cliente se eu nunca vi essa pessoa? Lá
no posto nunca comprou de mim.
MP: Por acaso o Joaquim Izaías prometeu que se a Sra. Fizesse
essa declaração ele ia providenciar veículos para serem
abastecidos lá no posto?
Testemunha: Ele... teve uma conversa assim que eu não dei muita
atenção, porque eu não vou fazer nada além do que foi
acontecido. Eu não me interessei, era meu horário de almoço eu
não tinha nem almoçado ainda, ele chegou lá por volta de meio
dia, uma hora.. Eu falei... ó Sr. Infelizmente eu não posso ajudar o
Sr. Nota eu não posso fazer, eu não posso fazer nada... O Sr.
Chegou, comprou, foi pago, recebi, meu combustível foi entregue
não tem forma nenhuma de eu ajudar o Sr. Não... Agora inventar...
o posto não inventou nada. Eu vou pegar meu combustível e dar
de graça pra alguém que eu nem conheço? Não existe isso. Foi
comprado, pago e entregue. (…)
Ora, a situação acima narrada além de extremamente grave
configura ato atentatório à dignidade da justiça eleitoral, na medida que revela que
JOCA tentou corromper uma testemunha do autor da presente ação.
Quanto às alegações da defesa do recorrente no sentido de
que a proprietária do posto teria inventado as histórias, reproduzo trecho da
brilhante peça processual do Promotor de Justiça Eleitoral, verbis:
“29- Os recorrentes, na defesa apresentada ao juízo singular,
acusaram, absurdamente, a proprietária do posto de ter criado todos os
fatos informados pelo Ministério Público com relação à aquisição de
combustível. Pela teratologia dos argumentos, cabe destacá-los neste
momento:
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“Por certo para livrar-se de distribuição de gasolina- que poderia estar
fazendo para eleitores do município onde tem o seu comércio- inventou
a história da reserva de uma cota de combustível pelo tio do candidato,
ora investigado. Valeu-se, sabe lá, do cheque polpudo que recebera,
para criar a história quando pega em flagrante, tanto que no PPE
encabeçado pelo MPE não apareceu com o cheque e, ainda, não
consta depósito específico do referido cheque na conta da empresa”
(Trecho da defesa apresentada pelos requeridos às fls.439)
30- Em audiência, a testemunha proprietária do posto repudiou
veementemente todas as aleivosias assacadas pelos requeridos, tendo
informado detalhes de como ocorrera a transação, esclarecendo, no
que tange ao depósito e compensação do cheque de “TIO JOCA”, que
mais de um cheque foi depositado no dia 03/10/16, juntamente com o
cheque emitido por “TIO JOCA”, razão pela qual o valor específico do
cheque (R$9.573,60) aparece registrado junto ao valor total depositado
(R$10.453,60)”. (fls. 597/598)
Pois bem. A verdade é que com a quebra de sigilo bancário
autorizada judicialmente, foi possível verificar que no dia 03/10/16 foi realizado um
depósito de cheque no valor de R$ 10.453,60 (fls. 54/55), referente ao depósito do
mencionado cheque de R$ 9.573,60 dado pelo Sr. Joaquim, além de outros. Aliás,
o próprio banco Itaú encaminhou a microfilmagem do cheque emitido pelo Sr.
JOCA e depositado na conta corrente do posto. Não bastasse, a proprietária do estabelecimento, Sra. Eliane, em juízo confirmou que o cheque foi depositado no dia 03:
MP (15'50''): Aqui nas fls. 54 consta o extrato da conta onde foi
depositado o cheque. No dia 03/10, segunda-feira, consta aqui
deposito em cheque no valor de R$ 10.353,60, o cheque foi emitido é
R$ 9.573,60, porque dessa diferença?
Testemunha Eliane Gomes Cordeiro Damasceno: Porque a conta
nossa tem vários cheques né. Foi depositado esses e outros cheques.
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Pode ter dado o valor a mais não foi só o dele. Como eu faço depósito
constante na conta.
Logo não há dúvidas de que o cheque foi utilizado pelo Sr.
Joaquim para pagamento do combustível para compra de votos e que o cheque
contou com o aval do ex-Prefeito, FILONETO JOSÉ DOS SANTOS, vulgo “FILÓ”, que inclusive foi aposto seu número de celular no verso da cártula.
O Sr. FILONETO declarou explícito apoio político à campanha do ora recorrente, ALEX DE EVA, participando ativamente de atos de campanha, discursando em palanques, doações eleitor a is, além de manter
intenso contato telefônico com o Sr. Joaquim, no dias 23, 26, 29 e 30 de setembro
e 06, 10 e 11 de outubro, conforme apurado na quebra de sigilo de dados
telefônicos.
Portanto, tem-se como evidenciado que a c aptação ilícita de sufrágio ocorreu massivamente mediante a distribuição dos vales- combustíveis do posto GO-118 aos eleitores , os quais foram utilizados no dia das eleições (02 de outrubro) pelos beneficiados. Interessante notar que a
defesa, em uma tentativa desesperada de livrar os recorrentes da imposição das
duras sanções disciplinadas no art. 22, XIV, da LC 64/90, inventou que o Sr.
Joaquim teria comprado 2.400 litros de óleo diesel, para utilização em sua
propriedade. Para sustentar essa afirmativa, arrolaram como testemunha o
funcionário do “TIO JOCA” ERLLAINY OLIVEIRA ROCHA, o qual praticou, em
flagrante, o delito de falso testemunho, durante o seu depoimento em juízo.
Vem a calhar que o próprio Magistrado, em audiência, advertiu
a testemunha, reiteradas vezes, do delito de falso testemunho, ao ponto da
própria advogada, após o pedido de encaminhamento da testemunha à Delegacia de Polícia, ter solicitado ao juízo uma retratação da versão anteriormente dada. (conforme mídia de fls. 466 )
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Novamente, colaciono trecho das contrarrazões recursais do
MPE:
33- Na tentativa desesperada de convencer o magistrado de piso de
que não adquirira 2.400 litros de gasolina destinados a eleitores por
meio de vales abastecimento de 40 e 60 litros, “TIO JOCA” apresentou
como testemunha o seu funcionário de nome ERLLAINY OLIVEIRA
ROCHA, o qual, flagrantemente, cometeu o delito de falso testemunho
durante o depoimento em juízo. Ao ponto de a própria advogada, após
o pedido do MPE de prisão, ter solicitado um juízo de retratação, a qual
se verificou apenas parcialmente. Contrariando a totalidade de provas
testemunhais e documentais produzidas, a testemunha insistiu na
mentira apresentada por seu patrão de que haviam adquirido óleo
diesel no posto e que, portanto, os vales abastecimento onde consta
expressamente a aquisição de gasolina teriam sido forjados pelo
próprio estabelecimento comercial.
34- Tratou-se, em verdade, de uma “testemunha de viveiro”, como já
denominava o célebre ROBERTO LYRA. Aquela testemunha criada,
alimentada, para servir a determinado propósito, que no caso dos autos
foi o de reforçar as mentiras de “TIO JOCA”. (fls. 613/614)
Nesse particular, irretocáveis as conclusões lançadas pelo
Magistrado a quo:
No mais, pretender valer o depoimento da testemunha Erllany Oliveira
Rocha significaria simplesmente ignorar todas as demais evidências,
que demonstram claramente a testemunha ter faltado com a
verdade em diversas informações prestadas. A testemunha em
questão trabalha para Joaquim Isaías na citada fazenda e disse
inicialmente que era comum o fornecimento de diesel pelo posto de
combustíveis GO 118 em Monte Alegre/GO, mas, ao final do
depoimento, resolveu voltar atrás e confirmar que foi ao posto apenas
em um dia, na companhia de Joaquim Isaías, tendo visto ele ingressar
no escritório sem acompanhar ou detalhar a negociação de
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combustíveis. Apenas confirmou que recolheu diesel para a fazenda
no citado posto uma única vez até o dia das eleições. Neste ponto,
está claro que mentiu sob influência do patrão, notadamente quando
se compara suas informações com as demais provas, a saber, os
relatos em juízo de Elaine Gomes Cordeiro e Josué Gomes, além da
citada prova documental que já destacamos. É dizer: não bastassem
as ilicitudes praticadas no pleito eleitoral, os requeridos ainda
buscam corromper a apuração dos fatos e a patente possibilidade
de terem cometido novos delitos. Se para chegar ao poder se
sujeitam a semelhantes condutas, que se pode pensar caso
iniciem o exercício dele? Parece não haver limites aos requeridos,
ao vulnerar não apenas regras eleitorais e promover o
desequilíbrio no pleito eleitoral, mas também buscar levar a erro o
próprio Juízo, acreditando que o relato de uma testemunha
pudesse abalar todas as demais evidências.
Por isso, não há espaço para qualquer dúvida sobre a aquisição
de vultuosa quantidade de combustíveis no Posto GO 118 voltada
a beneficiar eleitores de Divinópolis de Goiás e angariar votos
para os então candidatos - e agora réus nesta demanda eleitoral -
Alex Santa Cruz Oliveira e Jofre Pereira Cirineu Filho. (fl. 540)
Por fim, releva destacar o depoimento da testemunha JOSUÉ ALVES DOS SANTOS, que esclareceu ter tomado conhecimento de que o
combustível adquirido por “TIO JOCA” no Posto GO-118 era destinado à
campanha de “ALEX DE EVA”, e que as sobras da gasolina haviam sido dadas
por ALEX a um candidato a vereador da coligação que havia se endividado e
venderia a parte doada para cobrir parte das despesas.
“Testemunha Josué Alves dos Santos
(4'49'') Juiz: Então, o candidato falou pro Sr., ele que comentou pro Sr.,
que esse combustível era pertinente à campanha do então candidato,
que acabou sendo eleito, ALEX, à Prefeitura de Divinópolis e que
aquilo ali era pra ele tentar diminuir o prejuízo dele?
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Testemunha: Isso, pra tentar diminuir o prejuízo que ele gasto. Os R$
5.000,00 que ele gastou na campanha.
(...)”
Ainda segundo JOSUÉ ALVES, à mando de “ALEX DE EVA”, seu “TIO JOCA”, havia lhe ligado de Alagoas prometendo-lhe depositar dinheiro
em sua conta bancária caso concordasse em trabalhar na campanha de seu
sobrinho, o que, ainda segundo a testemunha, foi recusado. Resta demonstrado,
uma vez mais, o papel de protagonista de “TIO JOCA” na campanha eleitoral de
seu sobrinho “ALEX DE EVA”.
“Testemunha Josué Alves dos Santos
(7'31'') Juiz: O Sr. Recebeu alguma proposta de combustível...
alguma coisa nesse sentido pra votar em alguém nessa eleição?
Testemunha: Não não. A única proposta que eu tive que eu me recusei
dela, foi só que o Sr. Joca que é Tio do Alex me pediu o número da
minha conta para ele passar dinheiro na minha conta para eu fazer
campanha pro ALEX
(...)
(08'20'')MP : O Sr. Sabe se o Tio do Alex procurou outras pessoas
para trabalhar na campanha?
Testemunha: Não
MP: Como foi essa proposta?
Testemunha: Essa proposta ele me fez... assim.. ele até tava me
ligando só na parte da manhã... até seis horas da manhã.. acho
porque do fuso horário da cidade onde ele mora... Porque assim,
lá no assentamento de fato.. lá o pessoal me conhece assim
porque eu gosto de mexer com política.. sou mais relacionado,
tenho muitos amigos... aí ele me pediu e mandou eu apoiar o ALEX
… aí eu fui e falei.. olha mas eu já tenho compromisso... Aí ele foi e
falou assim.. e quanto você quer pra tocar... uma hora você quer
fazer uma festinha, quer fazer uma farrinha pra tu... pra você fazer
as coisas.. quanto você precisa? Ai eu falei assim, pra mim te dar
uma resposta mais clara, primeiro, eu tenho que saber do _________________________________________________________________________
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candidato. Eu não sei nem se esse candidato quer que eu faça
parte de campanha dele... então eu não quero abrir compromisso
com o sr. Dessa parte.. de pegar dinheiro... aí ele falou que eu
pensasse que depois ele retornava a ligação pra mim.”
O testemunho de JOSUÉ ALVES DOS SANTOS (Fone: 99928-9421, Cadastro telefônico à fl.337) goza de credibilidade, não apenas
pela segurança e convicção com que foi prestado, mas sobretudo por estar em
harmonia com as demais provas dos autos. De fato, “TIO JOCA” manteve contato
telefônico com JOSUÉ em duas oportunidades, consoante revelado pela quebra
de sigilo de dados telefônicos de “TIO JOCA” (Fone: (82) 981140814). No dia
15/09, às 07:30(fl.240) assim como no dia 16/09, às 06:15 (fl.241).
Prudente mencionar que foram confeccionados e distribuídos
45 vales-combustível de 60 e 40lts, cada um, totalizando 2.400 litros. Na pior das
contas, o benefício alcançou 45 eleitores, porém, como é sabido um carro pode levar até 5 pessoas, não obstante, conforme bem ponderou a própria dona do posto de gasolina, um carro as vezes não comportava a litragem especificada no vale, que era utilizada para abastecer outros veículos. Ou
seja, na realidade, o número de votos captados ilicitamente é muito maior.
II.2 – DO FORNECIMENTO DE PASSAGENS DE ÔNIBUS A ELEITORES EM TROCA DE VOTOS
Não bastasse a gravidade dos fatos já delineados, temos que
os recorrentes ainda articularam uma nova empreitada na compra de votos,
capitaneada pela distribuição de passagens de ônibus aos eleitores de Divinópolis
para ali exercerem a sua soberania, claro, em troca pediam o apoio aos
candidatos, ora recorrentes.
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Após uma intensa investigação, descobriu-se que
ALEXANDRE FREITAS DE ARAÚJO, vulgo “ALÊ”, e ONILCON RODRIGUES DOS SANTOS, vulgo “SULA”. “SULA” e “ALÊ” cooptaram eleitores em
Goiânia/GO, adquiriram eles mesmos as passagens de ônibus da empresa Real
Expresso, e as entregaram aos eleitores, consoante esclarecido no depoimento
prestado pela eleitora IRANETE PEREIRA CAMPOS DE SOUSA, integralmente
confirmado em juízo.
“QUE obteve o contato da pessoa responsável pela aquisição e entrega
de passagens em Goiânia, que conhece por “SULA”; QUE manteve
contato com “SULA”(996553434) e conversou acerca das passagens,
no que “SULA” pediu que a depoente ligasse para “ALÊ”, com quem
deveria tratar a respeito; QUE se não lhe falha a memória ligou para
“ALÊ” na quinta feira (996539738) e informou-lhe os nomes das
pessoas que viajariam, mais precisamente seu filho ÍTALO SOUSA
CAMPOS e seu sobrinho DHIONATAN PEREIRA BARBOSA, além da
própria depoente; QUE quando foi na sexta-feira à noite recebeu uma
ligação telefônica de “SULA”, durante a qual ele disse à depoente que
entregaria as passagens na rodoviária de Goiânia por volta das
20:30min;QUE no horário e local marcados “SULA” entregou para a
depoente 06 (seis) passagens, três de ida para Divinópolis de Goiás e
três de volta para Goiânia; QUE embarcou no ônibus em companhia de
seu filho e de seu sobrinho por volta das 21:30hrs de sexta feira, tendo
chegado no dia seguinte a Divinópolis; QUE retornaram de Divinópolis
no dia 02 de outubro às 21:30min;QUE “SULA”, no ato de entrega das
passagens disse à depoente que desse uma força para o 23, que
votasse no candidato “ALEX DE EVA”.
Aqui, a empreitada garantiu que aproximadamente 40
eleitores, nominalmente identificados pelo MPE fossem contemplados pelos
recorrentes e seu esquema de compra de votos, o que desequilibrou,
sobremaneira, a isonomia do pleito municipal, que foi definido com uma diferença de 20 votos apenas.
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Sobre a emissão de bilhetes, na modalidade, bloco, confira-se
o delineado pelo Promotor Eleitoral:
43- Observe ilustríssimo relator, que nos bilhetes de passagem
(fls.74/114) constam a data e a hora da emissão de cada bilhete. Os
bilhetes referentes aos eleitores WESLEY (fl.79), KESSIA (fl.80),
MARIA APARECIDA (fl.81), FRANCILEIDE (fl.82), ALLYNE (fl.83),
WENES (fl.84), MORGANIA (fl.85) e JOSILENE (fl.86) foram todos
emitidos exatamente às 13:05, em bloco.
44- Os bilhetes referentes aos eleitores WAGNER (fl.87), EDILENE
(fl.88), VALÉRIA (fl.89), HILKA (fl.90), KELLY (fl.91), ÍTALO (fl.92),
MARIZE (fl.93), TAVANY (fl.94), ALINE (fl.95) e DIEGO (fl.96) foram
todos emitidos precisamente às 13:18, em bloco.
45- Os bilhetes referentes aos eleitores WEBER (fl.97), DESVITA
(fl.98), MARCILENE (fl.99), ISMAR (fl.100), DIEGO (fl.101), LUCIENE
(fl.102), MURITA (fl.103) e KAMILA (fl.104) foram todos emitidos
precisamente às 13:28, em bloco.
46- Os bilhetes referentes aos eleitores IRANETE (fl.105),
WANDERLEIA (fl.106), KARINE (fl.107), DIONATHAM (fl.108), ÍTALO
SOUSA (fl.109), MARCOS (fl.110), MATHEUS (fl.111) e IVANILSON
(fl.112) foram todos emitidos precisamente às 13:40, em bloco.
47- O fato de os bilhetes terem sido emitidos em blocos em momentos
distintos se deu porquanto o sistema da empresa era preenchido com
os dados dos passageiros e logo em seguida os bilhetes daquele
determinado conjunto de passagens eram impressos de uma só vez,
mediante um só comando. Após a impressão daquele bloco o sistema
era novamente preenchido com mais dados, que por sua vez eram
impressos no conjunto seguinte, e sucessivamente. Observe
Excelência, que os bilhetes “doados” à testemunha IRANETE e a seu
sobrinho DHIONATAM e filho ÍTALO foram emitidos no bloco referente
às 13:40.
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Durante todo este período dispendido para a impressão das
passagens (13:05 às 13:53) “ALÊ” encontrava-se no terminal rodoviário situado
no Araguaia Shopping, conforme revelou a quebra da erb (Estação Rádio Base)
responsável pela transmissão do sinal de seu aparelho celular naquele dia, horário
e local.
A erb utilizada pelo aparelho empregado por “ALÊ” (nº 62 996539738) no dia 29/09/16 (erb n 6506 3228), no período compreendido entre
10:56 e 14:40 horas, conforme informado pela operadora VIVO a este juízo
(fls.217/218), situa-se na Avenida Goiás Norte, 3592, Quadra 02, precisamente
no Terminal Rodoviário situado no Araguaia Shopping (fls.230). Vale dizer, durante
todo este período “ALÊ” permaneceu no terminal rodoviário de Goiânia e, ao
contrário do que disse em juízo na condição de informante, não permaneceu
apenas por 40 minutos na rodoviária para adquirir tão somente as passagens de
IRANETE SOUSA CAMPOS, do filho e sobrinho dela, mas sim por quase 04(quatro) horas, adquirindo mais de 40 bilhetes em benefício de eleitores.
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Em juízo, a testemunha ALÊ – ouvida como informante –
negou veementemente que manteve contato com outros eleitores, além, de claro,
inventar uma versão fantasiosa sobre a compra da passagem da Sra. Iranete
Sousa Campos. Porém, a quebra de sigilo de dados telefônicos revelou que ele manteve contato com vários outros eleitores. A título de exemplo :
Nome do eleitor Dia e hora do contato Referência nos autosFrancileide Margarida da
Silva
30/09/16 – às 10h05; 10h11;
10h13 e 10h15
Fls. 219 e fls. 398
Allyne Martins dos Santos 28/09/16 – às 10h26 Fls. 216 e 369Valéria Pereira Gonçalves 30/09/16 – às 10h55 e 10h56 Fl. 220 e 321
Ilka Nayara Teixeira Sidião 28/09/16 – às 10h39 Fls. 216 e 392Marize Ribeiro da Silva 30/09/16 – às 07h20; 08h26 e
08h42
Fls. 219 e 351
Ismar Rodrigues Damaceno
Santos
29/09/16 – às 11h13 Fls. 217 e 366
Weder Francisco de Souza 30/09/16 – às 15h52 15h53 Fls. 220 e 398
Adão Gomes Cardoso 28/09/16 – às 13h53 e 15h56 Fls. 216 e 350
O negócio de compra de passagens se dava da seguinte
forma. Os eleitores procuravam ALÊ, SULA ou até mesmo o TIO JOCA, solicitando
passagens para o dia da eleição, para tanto, pediam os dados dos agraciados
para que fossem emitidos os bilhetes de viagem. Então, no dia 29/09/16, ALÊ se
dirigiu ao guichê da empresa Real Expresso e comprou as passagens dos
seguintes eleitores, os quais efetivamente votaram em Divinópolis, conforme
demonstram os cadernos de votação juntados nos autos:
1. WESLEY DA SILVA LIMA (fl.146);2. MARIA APARECIDA PEREIRA DOS SANTOS (fl.134);3. FRANCILEIDE MARGARIDA DA SILVA (fl.121);4. ALLYNE MARTINS DOS SANTOS (fl.117);5. WENES DA SILVA LIMA (fl.145);
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6. MORGANIA BARBOSA LIMA (fl.137);
7. JOSILENE DIAS DE SOUZA (fl.128 );
8. WAGNER PEREIRA GONÇALVES (fl.143);9. EDILENE FERREIRA DE ALMEIDA (fl.120);10. VALÉRIA PEREIRA GONÇALVES (fl.141);11. ILKA NAYARA TEIXEIRA SIDIÃO (fl.123);12. MARIZE RIBEIRO DA SILVA (fl.135);13. TAUANY RIBEIRO DE SOUSA (fl.147)14. ALINE PEREIRA DA SILVA (fl.116);15. DIEGO RODRIGUES GOMES (fl.118);16. WEDER FRANCISCO DE SOUSA (fl.142);17. MARCILENE ALVES DE SOUSA (fl.132);18. ISMAR RODRIGUES DA MACENA(fl.125);19. LUCIENE RODRIGUES DA MACENA (fl.131);20. MURILA TORRES DO PRADO (fl.138);21. KAMILA TORRES DO PRADO (fl.129);22. IRANETE PEREIRA CAMPOS DE SOUSA (fl.124);23. VANDERLEIA LUSTOSA CARDOSO (fl.144);24. KARINE DOS SANTOS GUIMARÃES (fl.130);25. DHIONATHAM PEREIRA BARBOSA (fl.118);26. ÍTALO SOUSA CAMPOS (fl.126);27. MARCOS ADRIANO FERREIRA JESUS (fl.133);28. MATHEUS FERREIRA DE JESUS (fl.136) ;29. IVANILSON SANTOS GUIMARÃES (fl.127);30. RAIMUNDA PIMENTEL (FL.140);31. HELOÍSA PAULO DE MACEDO MELO (FL.122) e32. ADÃO GOMES CARDOSO (fl.115).
Após a compra das passagens, estas foram dadas para o Sr.
Onilcon Rodrigues dos Santos (“SULA”), que as distribuiu aos eleitores, conforme
destacou a testemunha Sra. Iranete, a qual também afirmou em juízo que a _________________________________________________________________________
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benesse não foi gratuita, tendo o “SULA” entregado o bilhete e pedido para que
ela votasse no 23, número do candidato ALEX SANTA CRUZ (“ALEX DE EVA”),
ora recorrente.“6'
Testemunha Iranete: Aí eu fui e liguei pra ele. Ele atendeu e disse.
Uai, a Sra. Não vai querer as passagens não? To aqui com elas, a
sua, do seu irmão e do seu filho. Aí pus a roupa e fui lá pra rodoviária
e cheguei lá e peguei lá com ele as passagens.
Juiz: A Sra. Veio pelo ônibus regular?
Testemunha Iranete: Eu vim por aquele da Real Expresso, que vem
diariamente.
Juiz: Que horas que saiu de lá?
Testemunha Iranete: Saiu 21h30 da noite.
Juiz: Quem forneceu a passagem para a Sra. Foi quem?
Testemunha Iranete:Foi o SULA. Eu conheço ele por SULA eu não
sei o nome dele.
Juiz: Na hora de entregar a passagem, a Sra. Recebeu algum
indicativo ou alguma informação que era pra Sra. Votar pra esse ou
aquele candidato?
Testemunha Iranete: Ele me entregou as seis passagens, as três
de vinda, que era minha, do meu filho e do meu sobrinho e as três
de volta. Aí falou pra mim, aí você dá uma ajudinha lá pro 23.
Juiz: Pro 23? O 23 era o número do candidato ALEX, a Prefeito e
do candidato JOFRE, a vice?
Testemunha Iranete: Foi. Isso mesmo. Uhum.
Juiz: Que horas ele falou isso? Foi por telefone?
Testemunha Iranete: Foi na hora de entregar as passagens.
Juiz: E era esse SULA que estava lá?
Testemunha Iranete: Foi. Foi o SULA que me deu as passagens.
Juiz: E ele falou para dar uma ajudinha pro 23?
Testemunha Iranete: Foi. Ele falou, dá uma ajudinha pro 23.
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Vale lembrar que, muito embora ALÊ e SULA tenham sido
ouvidos como informantes em juízo, apresentaram uma versão contraditória,
mentirosa e claramente moldada para tentar, sem sucesso, excluir a
responsabilidade dos ora recorrentes.
Nesse ponto, para facilitar a visualização, colaciona-se o
diagrama juntado à fl. 469 dos autos.
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Aqui, convém trazer mais uma prova da participação do
candidato ALEX DE EVA no mencionado esquema de compra de votos. A quebra
de sigilo de dados telefônicos mostrou que no dia 28/09/16, um dia antes da
compra das passagens, às 07h28, o recorrente (nº 62 999494150) manteve
contato telefônico com o Sr. Alexandre Freitas de Araújo (62 996539738),
conforme fl. 215, além de vários outros telefonemas realizados.
Assim, após exaustiva instrução, não restam dúvidas de que
o candidato ALEX DE EVA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO, ora recorrentes,
comandaram um esquema de compra de votos nas eleições municipais de 2016,
para o qual contou com a efetiva participação do Sr. Joaquim Iazais de Oliveira,
seu “TIO JOCA”, o Sr. Alexandre Freitas (ALÊ) e o Sr. Onilcon Rodrigues dos
Santos (SULA).
A sentença foi categórica em afirmar, verbis:
“Mais que isso, forçoso reconhecer que o MPE comprovou, ao
trazer aos autos os registros de emissão de passagens, que
foram expedidas cerca de 40 passagens em blocos no período de
13h05 e 13h53 do dia 29/09/2016 (três dias antes da eleição),
todas direcionadas a pessoas de Divinópolis (fls. 74/114). Ademais, coincide o registro das pessoas beneficiadas com os
contatos realizados entre Alexandre Freitas via telefone entre os dias
28/09 e 30/09/2016. Os relatórios comprovam contatos realizados que
Alexandre Freitas ("Alê" ) com as seguintes pessoas: Francileide
Margarida, Allyne Martins, Valéria Pereira, Ilka Nayara Sidião, Marize
Ribeiro da Silva, Weder Souza, Ismar Rodrigues e Adão Gomes.
Não há espaço probatório para prosperar as versões de Onilon
Rodrigues e de Alexandre Freitas, quando ouvidos em juízo,
porquanto, muito embora confirmem o fornecimento das
passagens, buscam fazer o vínculo com um parente de Iranete, o
que foi negado por esta. Interessante que não há nos autos a
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apresentação de qualquer motivo para que Iranete faltasse com a
verdade. Ao contrário, tanto Onilon como Alexandre têm claro
motivo para faltar com a verdade ao serem ouvidos em juízo,
porquanto a confirmação da versão constante na inicial
implicaria na confissão de crime eleitoral (como aliás já estão
sendo processados). Não por outro motivo, foram ouvidos como
informantes. Portanto, as provas existentes nos autos demonstram de modo
uníssono o esquema de benefício a eleitores de Divinópolis de Goiás
voltado a influenciar de modo decisivo o resultado das Eleições 2016
de Divinópolis de Goiás a partir dessa frente de aquisição de
passagens rodoviárias.” (fls. 542/543)
Por fim, frise-se, estamos tratando de um episódio em que
cerca de 40 eleitores foram agraciados pela compra de passagens realizada pelo
candidato ALEX DE EVA, por intermédio de TIO JOCA, ALÊ e SULA, sendo que a eleição foi decidida pela surpreendente diferença de 20 votos, razão pela qual
está mais que evidenciado que o fato é grave e violou a isonomia, o equilíbrio e a
probidade das eleições daquele pequeno município.
II.3 – COMPRA DE VOTOS DA ELEITORA LORRANE
Colhe-se da inicial que no dia das eleições, o Sr. Oloízio
Pereira Martins abordou a Sra. Lorrane Santos em sua residência, e lhe indagou
se já teria ido votar, ao que respondeu que ainda não, momento no qual entregou-
lhe uma nota de R$ 50,00 (cinquenta reais) e pediu para que votasse nos
candidatos ALEX SANTA CRUZ e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO.
Confira-se, neste particular, depoimento prestado junto ao
MPE:
que reside em Divinópolis de Goiás/GO há mais de dez anos com seu
companheiro; QUE no dia 02 de outubro de 2016 encontrava-se na
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área dos fundos de sua residência escovando os dentes quando foi
chamada da rua por uma pessoa que conhece como ELOÍSIO,
morador de Divinópolis de Goiás/GO; QUE ELOÍSIO perguntou à
depoente se já havia votado, no que respondeu que ainda não; QUE
ELOÍSIO aproximou-se por detrás do muro e chamou a depoente,
tendo perguntado em seguida qual era o candidato da casa e a
depoente respondeu que ainda não sabia; QUE ELOÍSIO retirou da
carteira uma nota de R$50,00 (cinquenta reais) a estendeu para a
depoente e disse: “então vota pra nóis, pro 23, pro ALEX”; QUE ele
perguntou ainda se havia mais alguém da casa para votar “no lado
deles”, no que a depoente disse que não; QUE ELOÍSIO disse antes
de sair: ”não tem problema, porque pra nóis já ganhamos”; QUE
chamou a tenção da depoente o fato da cédula estar com marca de
grampo; QUE ELOÍSIO estava de bicicleta; QUE sua sogra MARIA
BEATRIZ encontrava-se molhando o canteiro neste momento e
presenciou a entrega do dinheiro.
Em juízo, a Sra. Lorrane confirmou o depoimento prestado e
ainda foi ouvida a sua sogra Maria Beatriz, que presenciou a cena, a qual também
corroborou os fatos descritos. Confira-se:
Testemunha Lorrane Santos Santana
Juiz (1'45''): O que a Sra. sabe a respeito dos fatos? O que Sra.
Presenciou sobre eventual compra de votos. Algo nesse sentido
Testemunha: Tipo, meu.. pediu para votar e tentaram comprar.
Juiz: A Sra. É eleitora de Divinópolis? Como é que aconteceu esse
fato?
Testemunha: Eu tava em casa.
Juiz: Tava em casa? Onde a Sra. Mora?
Testemunha: Eu moro em Divinópolis. Próximo à Igreja Assembleia
de Deus.
Juiz: Alguém bateu lá? Bateram a campainha na casa da Sra.?
Testemunha: E me chamaram.
Juiz: Já conhecia?
Testemunha: Ahn. Um pouco. _________________________________________________________________________
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Juiz: E como é que foi essa abordagem?
Testemunha: Chegaram e me perguntaram se eu já tinha votado e
eu disse que não.
Juiz: Domingo de manhã?
Testemunha: Foi, eu tava escovando os dentes na área e aí me
chamaram e eu fui. Aí perguntaram se eu já tinha votado e eu disse
que não. Aí me deram uma nota de cinquenta reais e me perguntaram
se eu votava pro 23. Aí eu peguei o dinheiro e ele me perguntou se
tinha mais alguém na casa queria. E eu falei que eu achava que não,
porque realmente não ia querer. Aí ele me entregou o dinheiro e saiu.
Juiz: Então alguém bateu na casa da Sra. No dia da eleição. A sra.
Conhece essa pessoa?
Testemunha: É o Eloísio.
Juiz: Então ele entregou o dinheiro pra Sra., com o compromisso
da Sra. Votar para o número 23. O número 23 era do candidato
ALEX e do vice-candidato a Prefeito JOFRE?
Testemunha: Sim. Isso.
MP: Alguém tava lá próximo e presenciou isso?
Testemunha: Só minha sogra.
MP: Qual o nome da sua sogra?
Testemunha: Maria Conceição, mais conhecida como Maria Beatriz...
MP: Ela mora lá junto? Ela ouviu vocês conversando ou só viu?
Testemunha: Ela mora lá comigo. Ela tava próxima a horta. Aí Ela só
viu tudo, entendeu? Aí eu acho que mais alguém viu, porque só tava
nós duas e não comentou com ninguém. Alguém viu e comentou com
mais alguém.
MP: Ela viu e foi lá falar com você? Porque você tava conversando
com outro homem?
Testemunha: Aí ela viu, mas como eu tava conversando com outro
homem. Aí eu peguei e falei pra ela.
MP (5'35''): Ele te deu foi quanto?
Testemunha: 50 reais.
MP: Uma nota de cinquenta reais? Você viu se tinha mais dinheiro?
De onde ele tirou esse dinheiro?
Testemunha: Foi. Ele tinha. Tirou da carteira.
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Testemunha Maria da Conceição Filha Ferreira
Juiz (1'26''): O que a Sra. Sabe desses fatos?
Testemunha: Eu tava no dia em que chegou essa pessoa lá e deu
dinheiro pra minha nora. Pra ela votar pra ele. E eu tava molhando a
horta e vi aquela pessoa conversando com ela. Quando eu cheguei lá
ela falou que o rapaz passou aqui e deu um dinheiro pra mim votar
pra ele.
Juiz: A Sra. Não viu ele entregando a nota?
Testemunha: Eu não vi. Mas quando eu cheguei lá ela tava com a
nota na mão e tava grampeada né.
(...)
Ouvido em juízo, o Sr. Oloízio Martins negou os fatos, porém,
não deu explicação plausível para a transferência efetuada por Onilcon Rodrigues
Santos (“SULA”) para a esposa daquele, Sra. Aline Rodrigues Vieira Martins, na
vultosa quantia de R$ 4.000,00, no dia 27/09/16. Dinheiro que certamente foi
destinado à compra de votos aqui delineada, sobretudo pelo fato da Sra. Lorrane e
Sra. Maria Beatriz, que a nota de R$ 50,00 dada a ela estava com marca de
grampos, indicando que a mesma fazia parte de um bolo muito maior de dinheiro.
Testemunha Oloízio Martins
Juiz (2'): O que que o Sr. Participou dessas eleições aqui, Sr.
Oloízio?
Testemunha: Nada.
Juiz: No dia eleição o Sr. Tava fazendo o que?
Testemunha: Na cidade, lá em casa e andando na rua.
Juiz: Nesse caminhar do Sr. Pela rua, o Sr. Cometeu algum crime
eleitoral?
Testemunha: Também não.
Juiz: O Sr. Não pegou lá, não bateu na casa da eleitora?
Testemunha: Não.
Defesa: O Sr. Não encontrou no dia da eleição com ninguém? Não
pediu voto pra ninguém?
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Testemunha: Não. Eu não participei de nada não.
MP: Sr. Aluízio, qual o nome da esposa do Sr.?
Testemunha: Aline.
MP: Aline Rodrigues Vieira Martins?
Testemunha: É.
MP: Ela faz o que? E o Sr.?
Testemunha: Ela trabalha na Prefeitura. Trabalha na merenda. Eu não
trabalho não.
MP: O Sr. Sabe de um depósito de 4 mil reais que a Aline recebeu na
conta dela?
Testemunha: Sei.
MP: Quem fez essa transferência pra ela
Testemunha: Foi um sobrinho meu, SULA.
MP: O Sr. Pode esclarecer do que se trata esse dinheiro?
Testemunha: Ele me passou o dinheiro pra mim comprar uns bezerro
pra ele.
MP: Foi pra isso esses 4 mil?
Testemunha: Exatamente.
MP: E transferiu na conta dela? Ela que sacou?
Testemunha: Sim. Comprei os bezerros, tem como provar. Na época
eu comprei dez bezerros, porque eu comprei eles a 700.
MP: O sr. Pagou quanto em cada bezerro?
Testemunha: Eu paguei neles 600 / 700 reais.
MP: Então o dinheiro não deu?
Testemunha: Deu... depois ele passou mais 3500.
MP: E o Sr. Comprou de quem?
Testemunha: Pessoal de Divinópolis mesmo.
MP: E o sr. Pegou GTA?
Testemunha: Não. Vou receber eles agora. No mês de maio.
MP: O Sr. Sabe o que é GTA?
Testemunha: Sei. Mas eu vou receber os bezerro agora no mês de
maio
MP: Certo. O Sr. Manteve contato com o Sr. Alex Santa Cruz, o
Joaquim Izaías (JOCA), conhece eles?
Testemunha: Não. Tive não.
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MP: Com o Alê, com o Onilcon (SULA)?
Testemunha: Não, também não. Com o SULA sim.
Destarte, está comprovado que houve a captação ilícita de
sufrágio da eleitora Sra. Lorrane Santos, o que bastaria para uma cassação, nos
termos do art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Confira-se precedente do TSE:
RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. ABUSO DE PODER
ECONÔMICO. ART. 14, § 10, DA CF/88. PROVAS INEQUÍVOCAS.
GRAVIDADE DA CONDUTA. DESPROVIMENTO.
Histórico da Demanda
(...)
6. A compra de um único voto é suficiente para configurar
captação ilícita de sufrágio, uma vez que o bem jurídico tutelado
pelo art. 41-A da Lei 9.504/97 é a livre vontade do eleitor, sendo
desnecessário aferir potencial lesivo dessa nefasta conduta para
desequilibrar a disputa. Precedentes.7. Abuso de poder também comprovado diante do conteúdo
econômico, do grande número de pessoas na reunião e, ainda, da
diferença de apenas 58 votos para o primeiro suplente.
Conclusão
8. Nego provimento ao recurso especial e mantenho a cassação de
diploma imposta à recorrente por compra de votos e abuso de poder.
(Recurso Especial Eleitoral nº 54542, Acórdão de 23/08/2016,
Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO,
Relator(a) designado(a) Min. ANTONIO HERMAN DE
VASCONCELLOS E BENJAMIN, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Data 18/10/2016, Página 85/86)
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III – DA RESPONSABILIDADE DOS RECORRENTES
Como restou demonstrado ao longo da instrução processual
os candidatos ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU
FILHO arquitetaram um grande esquema de compra de votos, no qual fizeram
parte Joaquim Izaías de Oliveira (TIO JOCA), Onilcon Rodrigues Dos Santos
(SULA) e Alexandre Freitas de Araújo (ALÊ).
Aliás, pode-se constatar que o grande intermediador dos
candidatos, até mesmo com o fim de mascarar o esquema ilegal e criminoso, foi o
Sr. Joaquim (TIO JOCA), que é tio do recorrente ALEX SANTA CRUZ (ALEX DE
EVA).
Com efeito, a quebra de sigilo telefônico, com
monitoramento das ERBs (estação rádio-base) possibilitaram saber a localização
do aparelho celular (linha nº 82-981140814) utilizado pelo Sr. Joaquim no período
citado, o que indica que no dia 22/09/16 por volta de 16h, o Sr. Joaquim estava no aeroporto de Maceió/AL (ERB 8507 3008 7) tendo chegado em Brasília/DF (ERB 6570 0218 1) por volta das 19h30 ( fl. 246 ) . Ressalte-se, ainda, que às
19h58 TIO JOCA tentou estabelecer contato com o ora recorrente, ALEX DE EVA, não tendo sucesso. Fato que se repetiu mais a noite no mesmo dia, e as ligações perduraram ainda durante todo o período que aqui esteve.
Destaque-se, que mesmo antes eles já trocaram inúmeros telefonemas, conforme bem apontou o promotor eleitoral.
“21. Uma brevíssima consulta aos extratos telefônicos obtidos judici-
almente e juntados a esta ação eleitoral revelam que no período de
cerca de 30 dias da campanha “TIO JOCA” e o sobrinho “ALEX DE
EVA” mantiveram entre si intenso contato telefônico, com aproxima-
damente 100(cem) chamadas.” (fl. 589)
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Veja-se que o Sr. Joaquim é funcionário público em Alagoas
e esteve em Goiás, mais precisamente em Divinópolis ajudando o sobrinho,
justamente no período entre o dia 2 7 de setembro e 0 6 de outubro . Ou seja, o
tio do recorrente esteve aqui justamente para auxiliar na campanha eleitoral do
então candidato ALEX DE EVA.
O vínculo também é reforçado ao se constatar da prestação de contas que o Sr. Joaquim Izaías de Oliveira foi doador de campanha do candidato. Além disso, ainda participou ativamente da campanha do sobrinho, subindo em palanques, participando de reuniões e passeatas, articulando com agentes políticos (prefeito, vereadores, deputado), consoante revelam as fotografias juntadas aos autos (fls. 479/481).
Interessante, ainda, o seguinte apontamento feito pelo
Promotor Eleitoral:
Após a eleição do sobrinho, a título de exemplo da relevância da
eminência parda, o tio “JOCA” apressou-se em encontrar-se com o
deputado estadual por Goiás/GO ISO MOREIRA em seu gabinete em
Goiânia(fl.165), fazendo-se fotografar ao lado do deputado como tio e
emissário do sobrinho recém-eleito, como que para agradecer o apoio
do deputado e prestar contas da eleição, revelando uma vez mais sua
decisiva participação e influência durante a campanha, não apenas
como tio de “ALEX DE EVA”, mas como protagonista de atos legais e
ilegais.
23. Na audiência de instrução realizada na data de 30 de novembro
de 2016 “TIO JOCA” informou ao juízo, após ser reiteradas vezes
inquirido, que chegou a Divinópolis de Goiás/GO tão somente no dia
30 de setembro, tendo votado no dia 02/10/16 e depois retornado
para Alagoas. Ocorre eminente relator, que a quebra de sigilo de
dados telefônicos autorizada judicialmente revelou, por meio das erb’s
(estação de rádio base) utilizadas pelo aparelho de “TIO JOCA”, que o
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mesmo permaneceu em Divinópolis desde o dia 27 de setembro a 08
de outubro(fls.251/260). A erb utilizada pelo aparelho celular de “TIO
JOCA” neste período possui registro nº 6583 0071, e encontra-se
situada no município de Divinópolis de Goiás/GO, mais precisamente
na praça da prefeitura municipal (fls.269).
Para facilitar o estabelecimento do vínculo entre o Sr.
Joaquim Izaías e o ora recorrente, segue diagrama juntado aos autos nas fls. 470.
No caso debatido nestes autos a atuação da eminência
parda de “ALEX DE EVA”, seu tio “JOCA”, foi crucial nas práticas ilegais
flagradas e no caixa dois desenvolvido com recursos que não transitaram pela
conta de campanha. O forte vínculo familiar, e até mesmo político existente entre _________________________________________________________________________
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ambos restou amplamente demonstrado e foi fundamental para o “êxito” das
práticas ilícitas anteriormente planejadas e levadas a efeito nestas eleições.
Quanto a esta questão, a jurisprudência eleitoral brasileira há muito superou a fase ingênua em que se exigia o envolvimento direto do candidato nas ilicitudes eleitorais, reconhecendo, hodiernamente, no vínculo de parentesco existente entre os envolvidos, fator que não deve ser desprezado, sobretudo no contexto probatório que se apresenta nestes autos. Neste sentido:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEI-
ÇÕES 2008. PREFEITO. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA
DE SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. CONFIGURAÇÃO. CO-
NHECIMENTO PRÉVIO. DEMONSTRAÇÃO. MULTA PECUNIÁRIA.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. NÃO PROVIMENTO. 1. A decretação de nulidade de ato processual sob a alegação de cer-
ceamento de defesa - inobservância do art. 22, I, a, da LC 64/90 -
pressupõe a efetiva demonstração de prejuízo, nos termos do art. 219
do CE, o que não ocorreu no caso concreto. Precedentes. 2. A carac-
terização da captação ilícita de sufrágio pressupõe a ocorrência simul-
tânea dos seguintes requisitos: a) prática de uma das condutas pre-
vistas no art. 41-A da Lei 9.504/97; b) fim específico de obter o voto
do eleitor; c) participação ou anuência do candidato beneficiário na
prática do ato. 3. Na espécie, o TRE/MG reconheceu a captação ilícita
com esteio na inequívoca distribuição de material de construção em
troca de votos - promovida por cabos eleitorais que trabalharam na
campanha - em favor das candidaturas do agravante e de seu respec-
tivo vice. 4. O forte vínculo político e familiar evidencia de forma
plena o liame entre os autores da conduta e os candidatos bene-
ficiários. Na hipótese dos autos, os responsáveis diretos pela
compra de votos são primos do agravante e atuaram como cabos
eleitorais - em conjunto com os demais representados - na cam-
panha eleitoral. 5. A adoção de entendimento diverso demandaria o
reexame de fatos e provas, providência inviável em sede extraordiná-
ria, a teor da Súmula 7/STJ..(Agravo Regimental em Recurso Espe-
cial Eleitoral nº 815659, Acórdão de 01/12/2011, Relator(a) Min.
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FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário da Justiça
Eletrônico, Tomo 026, Data 06/02/2012, Página 28).
Recurso contra expedição de diploma. Captação ilícita de sufrá-
gio. Abuso do poder econômico. Cassação de diploma. Candida-
ta ao cargo de deputado federal. 1. Caracteriza captação ilícita de
sufrágio o depósito de quantia em dinheiro em contas-salário de inú-
meros empregados de empresa de vigilância, quando desvinculado
de qualquer prestação de serviços, seja para a própria empresa, que
é administrada por cunhado da candidata, seja para campanha eleito-
ral. 2. A atual jurisprudência do Tribunal não exige a prova da par-
ticipação direta, ou mesmo indireta, do candidato, para fins de
aplicação do art. 41-A da Lei das Eleições, bastando o consenti-
mento, a anuência, o conhecimento ou mesmo a ciência dos fa-
tos que resultaram na prática do ilícito eleitoral, elementos esses
que devem ser aferidos diante do respectivo contexto fático. No
caso, a anuência, ou ciência, da candidata a toda a significativa
operação de compra de votos é fruto do envolvimento de pesso-
as com quem tinha forte ligação familiar, econômica e política. 3.
Na hipótese de abuso do poder econômico, o requisito da potenciali-
dade deve ser apreciado em função da seriedade e da gravidade da
conduta imputada, à vista das particularidades do caso, não devendo
tal análise basear-se em eventual número de votos decorrentes do
abuso, ou mesmo em diferença de votação, embora essa avaliação
possa merecer criterioso exame em cada situação concreta. Recurso
a que se dá provimento para cassar o diploma da recorrida.
(Recurso Contra Expedição de Diploma nº 755, Acórdão de
24/08/2010, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES,
Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 28/9/2010,
Página 11 e 15 )
Pondera-se, ainda, que as eleições para os cargos de vereador e prefeito são definidas, muitas vezes, por diferença de poucos votos –
como se deu in casu, com a vitória sendo consagrada com uma diferença de
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apenas 20 votos, sendo que a compra ilícita de votos, mediante distribuição de combustíveis, passagens e dinheiro desequilibra as eleições em favor dos candidatos, ora recorrentes, o que também denota a gravidade da conduta (art. 22, XVI, da LC 64/90).
Com efeito, há fatos ilícitos que, por si só, possuem uma carga ética negativa tão forte que por si só denotam gravidade suficiente para a caracterização de abuso de poder e cassação de mandato (v.g. utilização
na campanha de dinheiro de fontes vedadas como corrupção, tráfico de drogas,
caixa 2, etc.).
In casu, a distribuição de combustíveis, entrega de
passagens e dinheiro com o fim de obter-lhe o voto, constitui captação ilícita de sufrágio e, tendo em vista o alto gasto despendido para financiamento do esquema de compra de votos, também restou configurado o abuso de poder econômico por parte dos candidatos, ora recorrentes.
Destarte, as condutas aqui descritas afetaram seguramente a igualdade e a normalidade do pleito eleitoral , havendo provas robustas, contundentes e irrefutáveis da gravidade dos eventos aqui narrados ,
razão pela qual deve ser mantida integralmente a sentença a quo , mantendo- se a cassação dos diplomas dos candidatos ALEX SANTA CRUZ OLIVEIRA e JOFRE PEREIRA CIRINEU FILHO, bem como a decretação de suas inelegibilidades pelo prazo de 08 anos.
II. 4 – DA MULTA APLICADA
Um último ponto aventado no recurso diz respeito à
minoração da multa aplicada. Todavia, os recorrentes sequer se dignaram a
fundamentar tal pleito.
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Com efeito, não há como prosperar as irresignações quanto
ao patamar fixado no máximo legal, visto que foi devidamente fundamentado,
confira-se:
Assim também a jurisprudência tem entendimento pacificado, no
sentido de que a configuração de abuso de poder econômico a ponto
de influenciar o pleito eleitoral:
No que tange à aplicação da multa de que trata o art. 41-A da Lei
9.504/97, que varia entre R$ 1.064,10 (mil e sessenta e quatro
reais e dez centavos) a R$ 53.205,00 (cinquenta e três mil
duzentos e cinco reais), tenho que o caso demanda aplicação da
pena em patamar máximo, ante a absoluta gravidade dos fatos
narrados, a quantidade de documentos apreendidos que
demonstra a manifesta compra de votos e o grau de
reprovabilidade da conduta concretizada pela própria
versatilidade da captação ilícita por três diferentes formas. (fl.
545)
Ora, após todo o aqui narrado, somado às provas robustas
firmadas no âmbito da presente ação de investigação judicial eleitoral, tem-se que a fixação de multa no máximo legal atende aos parâmetros da razoabilidade e proporcionalidade, vez que os fatos aqui narrados são graves e denotam o ardil dos recorrentes em afetar significativamente a isonomia e o equilíbrio das eleições, mediante captação ilícita de sufrágio.
Repita-se, a eleição foi acirradíssima, tendo sido decidida em
favor dos recorrentes por uma diferença de apenas 20 votos, sendo que as
condutas aqui narradas beneficiaram um sem-número de eleitores, além de ter
sido evidenciada a formação de caixa dois de campanha, bem com o dispêndio de vultosos gastos para distribuição de passagens, combustíveis, tudo em troca de votos. Sem falar, é claro, na compra direta do voto da eleitora LORRANE, sendo certo que a prática foi reiterada no dia das eleições. E,
deixando de lado a questão puramente patrimonial, ainda temos a afetação do _________________________________________________________________________
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equilíbrio e normalidade das eleições .
IV. Conclusão
Destarte, as provas dos autos revelam de forma contundente
e robusta que os recorrentes promoveram, por intermédio de seus articuladores de
campanha, uma captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97) massiva,
como verdadeira estratégia de campanha eleitoral, por meio de doação de
combustíveis, passagens de ônibus e dinheiro a diversos eleitores, o que pela
elevada gravidade, notadamente em uma eleição muito disputada definida por
uma pequena diferença de apenas 20 (vinte) votos, faz com que também esteja
caracterizado o abuso de poder econômico, nos termos do art. 22, inciso XIV, da
LC 64/90. Assim, a sentença recorrida deve ser integralmente confirmada.
Ante o exposto, a Procuradoria Regional Eleitoral manifesta-se
pelo conhecimento e desprovimento do recurso eleitoral.
Goiânia, 27 de fevereiro de 2017.
ALEXANDRE MOREIRA TAVARES DOS SANTOSPROCURADOR REGIONAL ELEITORAL
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