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Ministério Público do Rio Grande do Sul PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE MONTENEGRO RUA AMAURY DAUDT LAMPERT, 333 - CEP 95780000 - MONTENEGRO, RS Fone: (51)36321834 e-mail: [email protected] 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___VARA DA COMARCA DE MONTENEGRO/RS: O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, por seu órgão firmatário, com fulcro nos artigos 127, caput, e 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, artigo 25, inciso IV, alínea “b”, da Lei n.º 8.625/93 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público , artigo 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85 Lei da Ação Civil Pública , artigo 9º, caput e XI, artigo 10, caput e incisos I e XII, e artigo 11, caput e inciso II, da Lei n.º 8.429/92 Lei de Improbidade Administrativa e com base nos documentos que integram os autos do Inquérito Civil n.º 01175.00005/2014, em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO contra PAULO EUCLIDES GARCIA DE AZEREDO, brasileiro, Prefeito do Município de Montenegro, nascido em 13/12/1956, filho de

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Ministério Público do Rio Grande do Sul

PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE MONTENEGRO

RUA AMAURY DAUDT LAMPERT, 333 - CEP 95780000 - MONTENEGRO, RS

Fone: (51)36321834 e-mail: [email protected]

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___VARA DA COMARCA DE MONTENEGRO/RS:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL, por seu órgão firmatário, com

fulcro nos artigos 127, caput, e 129, inciso III, da

Constituição Federal de 1988, artigo 25, inciso IV,

alínea “b”, da Lei n.º 8.625/93 – Lei Orgânica

Nacional do Ministério Público –, artigo 1º, inciso

IV, da Lei n.º 7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública

–, artigo 9º, caput e XI, artigo 10, caput e incisos

I e XII, e artigo 11, caput e inciso II, da Lei n.º

8.429/92 – Lei de Improbidade Administrativa – e

com base nos documentos que integram os autos

do Inquérito Civil n.º 01175.00005/2014, em

anexo, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE

RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DE

DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO

contra PAULO EUCLIDES GARCIA DE

AZEREDO, brasileiro, Prefeito do Município de

Montenegro, nascido em 13/12/1956, filho de

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Euclides Motta de Azeredo e Lurdes Garcia de

Azeredo, RG n. 4001266214, com endereço

profissional na Rua João Pessoa, 1363, no

Município de Montenegro/RS;

BIOMINA URBANIZADORA LTDA, CNPJ n.

12.670.037-000/08, situada na Rua Arnaldo da

Costa Bard, n. 2.940, Sala 804, Centro Taquara,

representada por Fábio Amilton Rodrigues e

Guliherme Hendges Fries;

FÁBIO AMILTON RODRIGUES, RG 5078227187,

CPF 815.455.250-72, sócio administrador da

empresa BIOMINA URBANIZADORA LTDA. ,

residente na Rua Dr. Nelson Renck, 3027/apto

802, Taquara, fone (51) 81210192;

GHILHERME HENDGES FRIES, RG 4066503956,

CPF 011.672.610-54, sócio gerente da empresa

BIOMINA URBANIZADORA LTDA., residente na

Rua Oscar Bauermann, 1670/casa, Taquara, fone

(51) 81181711, pelos fatos e fundamentos a

seguir elencados :

I – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DAS

INVESTIGAÇÕES

O Prefeito PAULO EUCLIDES GARCIA DE

AZEREDO, logo após assumir seu mandato, em 2013, revogou a licitação

em curso, referente à contratação de empresa para o serviço de

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recolhimento de lixo de Montenegro, deixando de abrir imediatamente novo

certame, e optando pela contratação emergencial da empresa BIOMINA

URBANIZADORA LTDA.

Contudo, a empresa BIOMINA URBANIZADORA

LTDA, desde a sua contratação, em 19 de março de 2013, nunca conseguiu

prestar um serviço adequado, contínuo e eficiente, gerando reclamações

diárias da comunidade e da imprensa. O lixo não era recolhido nos dias e

nos horários estabelecidos. Bairros da Cidade e localidades do interior

ficavam dias e até semanas sem o recolhimento do lixo. As lixeiras e as vias

públicas acumulavam os resíduos, gerando mau cheiro. Havia por parte da

comunidade incerteza e falta de clareza quanto aos dias de recolhimento,

confundindo a população e levando ao desinteresse na separação de

resíduos, já que estes invariavelmente se acumulavam e se misturavam nas

vias públicas em decorrência dos atrasos na coleta. Como se verá adiante, a

empresa operava com menos caminhões do que o necessário para pleno

atendimento do serviço, chegando a disponibilizar em alguns dias apenas

um ou dois veículos, ao invés dos cinco caminhões exigidos.

Muito embora os técnicos do Município

sistematicamente tivessem feito inúmeros apontamentos, por meio de

Comunicações Internas, chamou a atenção o fato de que tais apontamentos

não acarretavam por parte do Prefeito a adoção de providências efetivas e à

altura da gravidade do problema, deixando de aplicar sanções

administrativas pela quebra do contrato decorrente da má prestação do

serviço. Aliás, o Município, através de órgãos de assessoramento do Prefeito

(Chefia de Gabinete e Assessoria de Comunicação), começou a realizar uma

defesa intransigente da empresa junto à mídia, sustentando que a empresa

havia sido alvo de sabotagens e que os problemas eram decorrentes da

anterior empresa que prestava o serviço (fls. 21/23 e 31 do IC –

numeração original), quando, na verdade, os técnicos do Município

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apontavam justamente o contrário, ou seja, que a BIOMINA era responsável

pelo problema, era incapaz de operar tal serviço e deveria ser punida. O

Prefeito até mesmo organizou diretamente, por meio de caminhões e de

equipes do Município, o recolhimento de lixo em dias em que a empresa não

o executou adequadamente, sem, contudo, buscar qualquer indenização.

A situação caótica vivenciada somente foi

solucionada com a intervenção do Ministério Público, que ajuizou ação civil

pública, na qual o Judiciário fixou multa pessoal e elevada ao Prefeito,

impondo que este agisse imediatamente para regularizar o serviço de

recolhimento do lixo, o que redundou, então e só então, na rescisão do

contrato com a empresa BIOMINA.

Diante disso, levantou-se forte suspeita de que o

Prefeito teria beneficiado indevidamente a empresa, o que levou à

instalação pela Câmara de Vereadores de uma Comissão Parlamentar de

Inquérito, a qual foi concluída com o indiciamento do alcaide por

improbidade administrativa (arts. 10 e 11 da Lei 8.429/92), e por crimes

previstos no Decreto-Lei 201/67.

O relatório da CPI, juntamente com a

documentação correlata, foi encaminhado à Promotoria de Justiça

Especializada, que instaurou o Inquérito Civil nº 01175.00005/2014 e

realizou diligências complementares.

Com base no aludido Inquérito Civil, em anexo,

entende o Ministério Público que, de fato, o PREFEITO praticou uma série de

condutas, por ação e omissão (revogação injustificada de licitação;

contratação emergencial em afronta a princípios e regras da Lei nº

8.666/93; deficiência na fiscalização do serviço, deixando de

praticar ou retardando injustificadamente a prática de medidas

administrativas de responsabilização cabíveis frente à má prestação

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do serviço; ausência de medidas para ressarcimento ao erário e

pagamento indevido por coleta seletiva), que caracterizaram atos

ilegais e que beneficiaram indevidamente a empresa BIOMINA, uma

empresa, diga-se de passagem, totalmente incapaz de operar o serviço de

recolhimento de lixo em Montenegro, restando caracterizados atos de

improbidade administrativa. Além disso, no curso da CPI, o Prefeito induziu

e instruiu previamente servidor público, em depoimento, igualmente

caracterizando ato ímprobo, tudo conforme a seguir descrito.

II – DOS ATOS ÍMPROBOS

1º ATO ÍMPROBO

No período de 05 de fevereiro a 31 de julho de

2013, o réu PAULO EUCLIDES GARCIA DE AZEREDO, na qualidade de

Prefeito de Montenegro, praticou dolosamente atos de improbidade

administrativa, que importaram em prejuízo ao erário e ao interesse público

e causaram enriquecimento ilícito, violando, ainda, os princípios da

legalidade, moralidade e impessoalidade, na medida em que beneficiou

indevidamente a empresa ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA., revogando

licitação anterior e contratando-a, de forma ilegal, para o serviço de

coleta de resíduos sólidos (lixo), transbordo e transporte até a destinação

final, mesmo essa empresa não tendo demonstrado condições técnicas de

executar o serviço pelo preço proposto. Ainda, o PREFEITO PAULO

AZEREDO omitiu-se quanto ao dever de fiscalizar, tendo deixado de

praticar ou retardando injustificadamente a prática de medidas de

responsabilização cabíveis contra a empresa frente à má prestação

do serviço, além de efetuar o pagamento indevido pelo serviço de

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coleta seletiva e de deixar de adotar medidas para ressarcir o erário

por serviço prestado diretamente pela municipalidade.

A seguir, será apresentada em ordem cronológica

a sucessão dos atos ilegais, comissivos e omissivos, emanados pelo Prefeito

que vieram a beneficiar indevidamente a empresa ré e, por via de

consequência, seus sócios, FÁBIO AMILTON RODRIGUES e GHILHERME

HENDGES FRIES, razão pela qual todos estes figuram como réus neste

processo.

REVOGAÇÃO ILEGAL DO PROCESSO LICITATÓRIO 3451/2012

(violação aos arts. 38, IX, e 49 da Lei 8666/93 e desconsideração

do parecer do Controle Interno do Município)

Em 25 de abril de 2012, ainda no mandato do

Prefeito anterior, Percival Souza de Oliveira, foi instaurado o processo

administrativo nº 3451/2012 (Concorrência nº 23/2012), referente à

licitação para contratação de empresa para execução do serviço de coleta

de lixo (fls. 707 e seguintes do IC – numeração original). Em 05 de

dezembro de 2012, foi realizada a abertura da documentação referente à

habilitação das empresas (fl. 877-v do IC – numeração original). Naquela

ocasião, a ora ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. impetrou Mandado de

Segurança, tombado sob o nº 018/1.12.0005379-7, argumentando que o

Município suprimiu um item do edital de licitação, sem reabrir o prazo para

as empresas apresentarem novas propostas. Então, o juízo da 2ª Vara Cível

da Comarca de Montenegro deferiu o pedido liminar, determinando a

suspensão da licitação, entendendo plausíveis as razões invocadas, no

sentido de que o prazo para as propostas deveria ser reaberto, a teor do

art. 21, § 4º, da Lei 8666/93 (fl. 878-v do Inquérito Civil – numeração

original).

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Ocorre que, em 05 de fevereiro de 2013, o

réu PAULO AZEREDO, apenas alegando genericamente “interesse

público”, revogou a licitação (Concorrência 23/2012 – Processo

3451/2012), consoante decisão da fl. 1157 do IC – numeração

original, a qual não está sequer assinada. A decisão não está

fundamentada, não explicita os motivos do ato e sequer faz

referência de que acolhe algum parecer.

Conforme ensina Celso Antônio Bandeira de Mello

(in Curso de Direito Administrativo, 13ª Ed. Malheiros, p. 82), nos atos

administrativos em que existe discricionariedade ou em que a prática do ato

vinculado depende de acurada apreciação e sopesamento dos fatos e das

regras jurídicas em causa, é imprescindível motivação detalhada, tal

como ocorre nos procedimentos em que vários interessados concorrem a

um mesmo objeto, como nas licitações.

Portanto, forçoso concluir que, no caso, a

revogação foi manifestamente ilegal, pois tal ato administrativo

deveria ter sido motivado, fundamentado, até mesmo para que se

pudesse avaliar se efetivamente estava presente o interesse

público, conforme dispõe, aliás, o art. 38, inciso IX, da Lei nº

8666/93.

Não bastasse isso, localizou-se nos autos um

parecer da PGM (ao qual o Prefeito, em sua decisão, não faz remissão), no

qual se argumenta que a revogação da licitação poderia ser justificada na

demora do deslinde do Mandado de Segurança impetrado pela BIOMINA

(fls. 1154/1155 do IC – numeração original).

De qualquer modo, apenas a título de

argumentação, caso tenha sido este o motivo da revogação, o que sequer

está claro, tal não justificaria a medida adotada.

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A revogação de uma licitação somente é possível

nas situações e condições previstas no art. 49 da Lei 8666/93, que

estabelece :

“art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá

revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e

suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por

provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.”

Assim, para que seja viável a revogação, esta

deve estar ancorada em razões de interesse público devidamente

comprovado e pertinente e suficiente para justificar tal medida. Não

cabe a mera invocação genérica de pretenso atendimento ao interesse

público, sendo preciso sua demonstração concreta e específica no caso

concreto.

A eventual demora na tramitação do Mandado de

Segurança não era motivo pertinente e suficiente para justificar a

revogação da licitação.

Ora, a existência do processo judicial foi

decorrente de uma má interpretação dos dispositivos legais pela

municipalidade, que entendeu possível suprimir um item do edital sem

reabrir prazo para as propostas. Portanto, bastaria ao Município acolher o

entendimento exarado pelo juízo da 2ª Vara Cível e reconhecer o pedido

formulado no Mandado de Segurança. Assim, seria imediatamente aberto

novo prazo para apresentação das propostas. Com isso, restaria encerrado

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o litígio judicial e seria retomado o processo licitatório, evitando-se, aí sim,

novos contratos emergenciais.

Portanto, mesmo supondo, a título de

argumentação, que o referido parecer da PGM serviu de fundamento

para a revogação, conclui-se que, mesmo assim, esta foi um ato

ilegal, na medida em que não observou as condições previstas no

art. 49 da Lei de Licitações. Afinal, a revogação não era um ato

pertinente e nem suficiente para atendimento do alegado interesse público.

Se o problema era a demora no deslinde do Mandado de Segurança, o

adequado seria, como já dito, o Município reconhecer o pedido judicial do

impetrante e a decisão do juízo e, assim, reabrir o prazo para as propostas

e, com isso, se retomar o processo licitatório já em curso.

Aliás, o ato de revogação da licitação permitiu

justamente que ocorressem sucessivas contratações emergenciais, na

medida em que, ao invés de se prosseguir o certame já existente, se iniciou

do “zero” um novo processo licitatório.

Veja-se que, embora revogada a licitação em 05

de fevereiro de 2013, apenas em abril de 2013 foi aberto um novo certame

licitatório, sendo que apenas em 29 de novembro de 2013 foi publicado o

Edital da Concorrência, com previsão de abertura dos envelopes apenas em

fevereiro de 2014 (1866/1870 e 1875/1877 do IC – numeração original)

Ora, tivesse o Município em fevereiro de 2013

reconhecido o pedido judicial no Mandado de Segurança, acatando o

entendimento já exarado pelo juízo, e dado prosseguimento ao certame

existente, a licitação já estaria finda. Contudo, de forma diversa,

completou-se um ano da revogação, com a firmatura do terceiro contrato

emergencial nesse período, sem que o novo certame esteja sequer

concluído.

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Não há dúvida de que a revogação da licitação foi

flagrantemente perniciosa para o interesse público, dando margem para o

prosseguimento de sucessivas contratações emergenciais, o que é evidente

porta aberta para a existência de irregularidades, na medida em que tais

contratações são precedidas de procedimentos administrativos mais

simplificados, facilitando o direcionamento indevido, como se verá adiante.

Registre-se que o Controle Interno do Município,

por meio do Procurador Marcelo Rodrigues, e dos servidores Rogério da

Silva Machado e Luciana Mottin Moreira, ao tomarem conhecimento da

revogação da licitação, peticionaram no Processo 3451/2012,

recomendando que fosse tornada sem efeito tal revogação, entendendo que

esta não foi devidamente motivada e, portanto, seria um ato ilegal.

Contudo, tal entendimento foi desconsiderado pelo PREFEITO, o que reforça

que agiu dolosamente (fls. 1163-v e 1164 do IC – numeração original).

CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL ILEGAL DA EMPRESA BIOMINA

URBANIZADORA LTDA. (ILEGALIDADES NO PROCESSO DE

DISPENSA DE LICITAÇÃO)

Uma vez ilegalmente revogado o Processo nº

3451/2012, o Prefeito não instaurou, de pronto, novo processo licitatório,

tendo, em fevereiro de 2013, autorizado a abertura de processo para

contratação emergencial (dispensa de licitação) de empresa para o

serviço de coleta de lixo (Processo 1154/2013 – fls. 480 e seguintes do C –

numeração original).

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Os princípios constitucionais da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência encontram-se previstos

no Capítulo VII, que trata da “Administração Pública”, Seção I, Disposições

Gerais, da Constituição Federal (art. 37). Essa localização topográfica

evidencia que tais princípios se destinam a conduzir toda e qualquer ação

da Administração Pública e, logo, devem igualmente ser aplicados

também nas contratações diretas.

Por óbvio, a não realização de licitação não

significa desatendimento aos princípios da isonomia, da economicidade, da

publicidade, da moralidade, da eficiência e da motivação. Na contratação

direta devem estar atendidos todos esses princípios que informam a

atuação da Administração Pública.

As hipóteses de dispensa de licitação devem ser

compatíveis com a sistemática adotada na Constituição Federal e, por

óbvio, os indigitados princípios devem ser aplicados e nunca extirpados.

Afinal, a contratação direta não autoriza a atuação arbitrária da

Administração, de sorte que, existindo vários competidores, a

escolha deve se basear em critérios objetivos e impessoais.

Não obstante isso, compulsando-se o processo de

dispensa de licitação nº 1154/2013, verificam-se diversos atos ilegais, que

vieram a beneficiar a empresa contratada, qual seja, BIOMINA

URBANIZADORA LTDA. Senão vejamos.

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a) Violação do Princípio da Publicidade

(restrição do caráter competitivo)

Na contratação direta, a Administração não precisa

seguir todas as formalidades acerca da publicidade imposta na Lei para a

licitação comum, o que, por certo, não significa poder atuar em segredo.

Há, dessa forma, o dever de a Administração Pública dar conhecimento

público do interesse em realizar um determinado contrato, ainda que tal

contratação esteja prevista para fazer-se diretamente.

No caso, contudo, ao se manusear o processo

administrativo em comento, não se localizou qualquer publicação de edital

dando conta do interesse da municipalidade em realizar a contratação

emergencial. A municipalidade ateve-se apenas a enviar por e-mail para

algumas empresas solicitação para remessa de proposta orçamentária,

deixando de dar a devida e ampla publicidade acerca da pretendida

contratação emergencial, o que, por certo, acabou por restringir o número

de participantes e, por consequência, a competição.

b) Violação do Princípio da Isonomia

A regra geral é a disputa, mesmo na contratação

direta. Assim, todos os potenciais interessados devem ser admitidos a

formular propostas, em igualdade de condições, com possibilidade de

acesso equivalente ao certame.

É fundamental para se garantir tratamento

isonômico entre os participantes, que as propostas sejam encaminhadas de

forma lacrada, designando-se dia e horário para a abertura e análise da

documentação. Com isso, garantir-se-ia o sigilo das propostas e, ainda,

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permitir-se-ia que as empresas acompanhassem a abertura dos envelopes,

contribuindo para fiscalização do ato de escolha.

Contudo, no caso, tal não foi observado, pois os

orçamentos foram remetidos pelas empresas sem qualquer lacre, sendo

enviados informalmente por e-mail, em dias diferentes. O Município não

estipulou sequer data e horário final para a remesa dos orçamentos. Assim,

a Ecotrat enviou sua proposta em 07 de março de 2013, a Komac em 08 de

março de 2013, a Distral em 11 de março de 2013 (fls. 538-v/543 do IC –

numeração original). Quanto à empresa BIOMINA, esta, segundo a

Diretora de Compras Carolina Endres (fl. 229-v do IC – numeração

original), entregou pessoalmente a proposta ao Município, a qual

não está sequer datada, não havendo qualquer carimbo de

protocolo, sem indicação da data do recebimento pela

municipalidade.

Infere-se, dessa forma, que foi frontalmente

violado o princípio da isonomia. Afinal, as empresas que encaminharam as

propostas tardiamente estavam em condições mais vantajosas, pois

poderiam ter acesso ao certame e, assim, conhecimento dos orçamentos

das demais, permitindo a oferta de proposta em menor preço para vencer a

competição. Não se garantiu a igualdade de condições entre os

competidores.

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c) Ausência de propostas financeiras com

planilhas discriminadas dos custos

unitários - Ausência de justificativa do

preço

O art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei

8666/93 estabelece que o processo de dispensa deve ser instruído com

determinados elementos, dentre os quais a justificativa do preço.

Isso significa dizer que a Administração Pública

tem o dever de justificar que a empresa contratada apresentou o melhor

preço. Veja-se que o melhor preço não é necessariamente o menor preço,

pois é obrigação do Poder Público avaliar se a empresa tem condições

técnicas e operacionais de executar o serviço por aquele preço proposto.

Além disso, as propostas não podem conter preços

manifestamente inexequíveis, conforme dispõe o art. 48, inciso II, da Lei

8666/93 :

“Art. 48. Serão desclassificadas:

(...)

II - propostas com valor global superior ao limite

estabelecido ou com preços manifestamente

inexeqüiveis, assim considerados aqueles

que não venham a ter demonstrada sua

viabilidade através de documentação que

comprove que os custos dos insumos são

coerentes com os de mercado e que os

coeficientes de produtividade são compatíveis com

a execução do objeto do contrato, condições estas

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necessariamente especificadas no ato convocatório

da licitação. (...)”

Portanto, a Administração Pública deve

analisar a documentação das empresas, a fim de verificar se o preço

apresentado é viável, o que se comprova mediante confrontação dos

custos dos insumos com os valores de mercado e com o próprio

orçamento inicialmente estimado pelo Poder Público.

É justamente por isso que a Lei de Licitações

exige que se realize orçamento detalhado em planilhas que

expressem a composição de todos os custos unitários dos serviços e

obras que se pretende contratar (art. 7º, § 2º, inciso II). Além

disso, é necessário que as empresas igualmente apresentem suas

propostas financeiras discriminando os custos unitários.

Somente dessa forma é possível identificar os

custos dos insumos apresentados nas propostas, aquilatando se tais são

compatíveis com os preços de mercado e com o orçamento da entidade

contratante. Com isso, se apuram eventuais superfaturamentos ou

propostas inexequíveis.

No caso, as empresas não apresentaram planilha

discriminada de custos unitários, mas apenas planilha genérica com valores

globais dos custos para a coleta urbana, seletiva, rural, transbordo e

transporte, não detalhando, não discriminando os custos com mão de obra,

uniformes e equipamentos de segurança e com composição e operação da

frota (fls. 541, 541v, 542-v, 543 do IC – numeração original).

Conforme se observa, a empresa BIOMINA

URBANIZADORA LTDA. apresentou proposta destoando significativamente

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das demais empresas e bastante inferior ao próprio valor orçado pelo

Município. A BIOMINA ofereceu R$ 150.004,50 por mês, enquanto a KOMAC

ofertou R$ 188.415,36 por mês, a DISTRAL apresentou o valor de R$

188.415,37 e a ECOTRAT ofereceu o montante de R$ 214.022,51. O

Município, por sua vez, estimou o preço em R$ 188.415,37.

Qual o milagre que a BIOMINA operaria para

executar um serviço 21% mais barato do que o próprio Município orçou?

Ora, seria preciso “abrir” a planilha de custos da empresa para se ter noção

da efetiva capacidade para executar nos termos propostos.

Contudo, ao deixar de exigir que as empresas

discriminassem os custos unitários, abdicou o Município do dever de

analisar se a proposta da ré BIOMINA era exequível. Afinal, sem o

detalhamento dos custos, não restou possível a verificação da

viabilidade do preço proposto.

Certamente se a Administração Pública

tivesse exigido a apresentação da planilha de custos unitários e

tivesse realizado confronto com os custos de mercado e com os

valores inicialmente orçados, chegaria à evidente conclusão de que

o preço proposto pela ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. era

inexequível.

Veja-se que, desde o início do contrato e

durante todo o período em que este vigorou, a empresa não

demonstrou capacidade de prestar adequadamente o serviço,

deixando de efetuar o recolhimento nos dias e horários

determinados, sendo que, em alguns locais, o lixo se acumulava

indevidamente por diversos dias, gerando sujeira e mau cheiro nos

passeios públicos e acarretando sucessivas e reiteradas

reclamações da comunidade em geral. A empresa sequer

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disponibilizava o número mínimo de caminhões por dia que lhe era

exigido no contrato.

Assim, tornou-se evidente que a empresa,

com o preço proposto, não tinha condições de executar o serviço

obedecendo a padrões mínimos de eficiência. Cobrava menos

porque fazia menos do que era necessário.

Por tudo isso, infere-se que o Prefeito ao

contratar a empresa ré, sem avaliar a adequação e a exequibilidade

do preço, violou o disposto nos arts. 26, § ú, inciso III e art. 48,

inciso II, ambos da Lei de Licitações, beneficiando indevidamente a

BIOMINA URBANIZADORA LTDA., na medida em que permitiu que

esta, mesmo sem condições, desse início à prestação de tão

relevante e essencial serviço público.

Chama a atenção que o Engenheiro Mario Mayer

Rosa, ao ser ouvido no Ministério Público, mencionou que tanto ele quanto

outros servidores mais experientes na Prefeitura tinham desconfiança com

relação à exequibilidade do contrato com a Biomina no preço proposto.

Acrescentou que essa preocupação foi exposta ao Prefeito, mas este mesmo

assim entendeu por firmar o contrato (fl. 1620 do IC - numeração original).

Tal fato só reforça o agir doloso do Prefeito.

d) Não atendimento a requisito referente à

capacidade técnica

Resta evidente que, mesmo em se tratando de

contratação direta, é necessária a comprovação pela empresa de aptidão

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para desempenho do serviço, sendo que, para tanto, o Município,

inicialmente, exigiu a apresentação de atestado firmado por pessoa jurídica

de direito público que comprovasse a prestação dos serviços em coleta de

resíduos sólidos domiciliares, na quantidade mínima de 900 toneladas por

mês, ou para uma população atendida de, no mínimo, 60.000 habitantes (fl.

544 do IC – numeração original).

Tal exigência se justificava perfeitamente, pois

esses eram os quantitativos estimados do serviço de recolhimento de lixo

em Montenegro, tendo em vista o volume de resíduos produzidos e sua

população. Portanto, o que se pretendia era verificar se a empresa já tinha

prestado serviço em uma cidade em condições similares as de Montenegro.

Ocorre que a empresa BIOMINA não detinha tal

atestado de capacidade, e, assim, não demonstrou que já havia

anteriormente prestado serviços para um município com população de, no

mínimo, 60.000 habitantes ou com recolhimento de 900 toneladas de lixo

por mês.

Para tentar burlar essa exigência, a empresa

apresentou dois atestados, um de Taquara (recolhimento de 750t/mês e

população de 54.643 habitantes1) e outro de São Francisco de Paula

(recolhimento de 350 t/mês e população de 20.537 habitantes2), tendo o

Município de Montenegro somado os quantitativos para declarar atendida a

exigência técnica em questão (!!!), conforme documentos das fls. 597/598,

609/610, 611/612 do IC – numeração original.

Ora, prestar serviços para diversos municípios com

volume de lixo menor não é a mesma coisa que prestar serviços para um

1 Censo 2010 – IBGE – fl. 609-v do IC – numeração original.

2 Censo 2010 – IBGE – fl. 1848 do IC – numeração original.

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Município com população maior e com maior volume de resíduos a recolher,

pois, neste último caso, se exigem mais e melhores condições operacionais.

Ainda que Taquara possua número de habitantes

próximo a de Montenegro, o fato é que a exigência técnica solicitada pelo

próprio Município não foi atendida.

Mesmo não apresentando o atestado de

capacidade técnica nos termos e moldes exigidos inicialmente pelo

Município, o Prefeito contratou a empresa, sendo que o resultado é

por todos conhecido, restando evidente que a BIOMINA não tinha

capacidade técnica para o serviço, sendo, dessa forma,

indevidamente beneficiada.

DEFICIÊNCIA INJUSTIFICADA DO DEVER DE FISCALIZAR

(AUSÊNCIA DE APLICAÇÃO DE SANÇÕES ADMINISTRATIVAS FRENTE

AO GRAVE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL – RETARDAMENTO

INJUSTIFICADO DA MEDIDA DE RESCISÃO CONTRATUAL)

Desde os primeiros dias de execução do contrato,

em março de 2013, a ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. prestou serviços

deficientes, o que foi constatado pela Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, através do então Secretário Municipal do Meio Ambiente José

Carlos Barreto e da Gestora Ambiental Elisa Kerber Schoenell, e pelo fiscal

do contrato, o engenheiro do Município Mário Mayer Rosa, os quais, em

relatórios técnicos, apontaram os problemas e solicitaram providências

punitivas, com a abertura de três Processos Administrativos.

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Ao ser ouvido na Promotoria de Justiça

Especializada, o engenheiro Mario Rosa referiu que é função do fiscal apurar

eventuais irregularidades na execução do contrato que não sejam de amplo

conhecimento. No caso da BIOMINA, a má prestação do serviço era de

amplo conhecimento, de sorte que ele acreditava que a Administração

Pública iria tomar providências a respeito por conta própria, sem a

necessidade de ele formular requerimentos. Ocorre que isso não se deu e,

então, ele percebeu a necessidade de formalizar os problemas, por meio

dos referidos relatórios técnicos (fl. 1619-v. do IC – numeração original)

Contudo, ao fim e ao cabo, o Prefeito PAULO

AZEREDO, nestes Processos Administrativos, não adotou efetivamente

qualquer medida punitiva contra a empresa, permitindo, com isso, que o

serviço continuasse sendo prestado de forma temerária, descontínua e

ineficiente, não obstante os apelos de uma comunidade indignada. Aliás, a

rescisão contratual, no final do mês de julho de 2013, como já referido

alhures, sequer partiu espontaneamente do Prefeito, sendo consequência do

ajuizamento de ação civil pública movida pelo Ministério Público.

Passa-se à análise de cada um desses três

Processos Administrativos, a fim de explicitar a omissão do réu PAULO

AZEREDO quanto ao seu dever de punir administrativamente a empresa.

a) Processo 2013/2510 (fls. 685/706 do

IC – numeração original)

Já em 27 de março de 2013, os fiscais do

Município, Mário Mayer Rosa e Elisa Kerber Schoennel, apontaram diversos

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problemas : a) não coleta de resíduos durante o final de semana (23/03 e

24/03/2013); b) não atendimento do cronograma de coleta previsto para

iniciar em 25/03/2013; c) não encaminhamento de caminhão reserva para

suprir o caminhão que estragou; d) não coleta de grama dos munícipes.

Os fiscais remeteram minuta de notificação de

advertência à PGM para análise, a fim de ser encaminhada à empresa,

dando ensejo à abertura do processo administrativo 2013/2510.

Não foi aplicada a medida de advertência pelo

Prefeito, sendo que este apenas notificou a empresa para se manifestar em

cinco dias acerca dos problemas apontados, sob pena de aplicação de

sanção. A notificação é datada de 1º de abril de 2013.

Em 08 de abril de 2013, a BIOMINA protocolou

defesa, abrindo-se o expediente 2013/2801 (fls. 1751/1762 do IC –

numeração original). Em 09 de abril de 2013, a defesa da empresa é

encaminhada pela Secretária-Geral do Município à Procuradoria-Geral do

Município para conhecimento, análise e manifestação. Contudo, a PGM, em

03/05/2013, devolveu o processo à Secretária-Geral do Município sem nada

dizer. Em 06/05/2013, a Secretária-Geral do Município devolveu novamente

o expediente à PGM para que se manifestasse. Então o Procurador-Geral do

Município limitou-se a pedir que o fiscal do contrato se manifestasse. O

fiscal do contrato se manifestou em 23 de maio de 2013, informando que a

medida de advertência deveria ser aplicada, anexando, mais uma vez,

minuta de notificação.

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Contudo, nenhuma medida foi efetivamente

aplicada, não havendo nem parecer da Procuradoria-Geral do

Município e nem decisão do Prefeito a respeito3.

b) Processo 2013/3915 (fls. 1173/1196

do IC – numeração original)

A fiscal Elisa Kerber Schoenell e o Secretário

Municipal do Meio Ambiente encaminharam a Comunicação Interna nº

221/2013 à Procuradoria-Geral do Município, datada de 09/05/2013, dando

conta, mais uma vez, do não cumprimento do contrato emergencial pela

empresa ré. Referiram que as rotas de coleta de resíduos não vinham sendo

cumpridas, que havia atrasos no recolhimento e que nem sempre o

caminhão passava nos dias pré-definidos nos bairros. Acrescentaram que os

coletores amontoavam os resíduos de diversas residências no chão e

demoravam a passar com o caminhão para coletá-los, acarretando na

abertura dos sacos por cães ou por catadores informais, sujando o passeio

público. Disseram que as reclamações provinham também de hospitais, de

escolas e de restaurantes.

Tal Comunicação Interna deu ensejo a um

segundo processo administrativo, tombado sob o nº2013/3915.

Então, neste Processo Administrativo, apenas em

27 de maio de 2013, foi expedido ofício à empresa, por meio do qual foi

3 Os documentos das fls. 686 e 1761 do IC – numeração original são, na verdade, apenas minutas de

notificação de advertência, subscritas pelos fiscais do Município. O documento efetivamente encaminhado à Biomina é a notificação da fl. 705 e esta, como já dito, não aplica sanção, mas apenas abre prazo para a empresa se defender.

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notificada para prestar o serviço conforme previsão contratual ou

apresentar defesa em 10 dias.

Chama a atenção que, embora datado de 27 de

maio, o ofício somente foi recebido pela empresa em 20/06/2013, muito

embora a situação fosse grave e o clamor público fosse generalizado.

Só este fato, por si, é emblemático, ao demonstrar

o desinteresse do Prefeito em ver efetivamente responsabilizada a empresa,

apesar do caos instalado no recolhimento do lixo. A demora de

aproximadamente um mês para uma simples notificação, evidencia que, por

parte do Prefeito, não havia efetiva pressa e nem vontade de que punições

fossem adotadas contra a empresa.

De qualquer sorte, a empresa apresentou defesa,

em 27/06/2013, tendo a Procuradoria-Geral do Município, somente em

10/07/2013, determinado que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente se

manifestasse acerca da resposta da Biomina.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em

15/07/2013, replicou, reiterando que, de fato, as rotas não estavam sendo

cumpridas nos dias estipulados. Acrescentou ter colhido informações de que

não estava ocorrendo nem coleta seletiva e nem rural. A Secretaria

encaminhou em anexo recortes de jornal e cópia de novo relatório de

fiscalização, datado de 26/06/2013.

Contudo, não obstante os apelos da Secretaria

Municipal do Meio Ambiente para que sanções fossem adotadas, não há

nos autos do processo 2013/3915 qualquer aplicação de sanção à

empresa. Não há decisão nenhuma do Prefeito nestes autos, com

relação à fiscalização realizada.

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c) Processo 2013/5310 (fls. 1197/1214

do IC – numeração original)

Por fim, os fiscais Elisa Kerber Schoenell e Mario

Rosa elaboraram um novo relatório de fiscalização, datado de 26/06/2013.

Referiram que a coleta seletiva não estava ocorrendo regularmente. Na

semana de 17 a 21/06, teria ocorrido coleta seletiva em apenas 02 dias, e

na semana de 24 a 28/06 sequer teria ocorrido coleta seletiva. Sustentaram

que três meses haviam se passado desde que a empresa começou a prestar

o serviço de coleta de resíduos e ainda não havia conseguido se regularizar.

Finalizaram, informando que os fatos descritos se enquadravam na

cláusula 9, alíneas “c” e “f”, indicando multa de 10% sobre o valor

total corrigido da contratação.

Tal relatório deu ensejo ao Processo

2013/5310 que não contou com nenhuma outra movimentação (!!!).

Ora, diante do contexto caótico vivenciado pelos

munícipes e diante dos apontamentos dos próprios fiscais, não se consegue

vislumbrar qualquer justificativa lícita e razoável para que o Prefeito PAULO

AZEREDO, na época, não aplicasse nenhuma sanção à empresa. No

processo 2013/2510, notificou-se a empresa para manifestação, esta

se manifestou e nada foi sequer decidido. No processo 2013/3915,

igualmente não se aplicou qualquer sanção e nem também sequer

houve decisão administrativa. No processo 2013/5310, consta

apenas o relatório de fiscalização e nada mais.

Portanto, com base na simples leitura desses três

processos administrativos, conclui-se que o Prefeito deliberadamente

protegeu a empresa BIOMINA, deixando de aplicar as sanções cabíveis à

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espécie. Afinal, não aplicou as sanções de advertência, nem de multa

de 10% sobre o valor corrigido da contratação e nem decidiu pela

declaração de inidoneidade, muito embora houvesse amparo para

tanto, destacando-se os relatórios técnicos e as solicitações dos

fiscais da própria municipalidade.

Veja-se que, ao não ter sido declarada inidônea, a

empresa BIOMINA não está afastada a priori de participar de novos

certames e de retornar a executar tal serviço neste Município, o que é

extremamente temerário, já que demonstrou à saciedade não ter condições

de operar em Montenegro.

Não socorre ao réu PAULO AZEREDO o argumento

de que reteve créditos da empresa BIOMINA. Na verdade, como se verá

mais adiante, parte significativa da retenção de créditos (R$ 73.022,71)

teve por finalidade dar cumprimento à ordem judicial expedida pela Justiça

do Trabalho. As demais retenções se referem a recolhimentos

previdenciários (INSS) e tributários (ISSQN), bem como à multa contratual

por não apresentação de perfil profissiográfico previdenciário. Ainda, houve

retenção, a pedido da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (CI 374/2013

– fl. 1734 do IC – numeração original), pois esta apurou a necessidade de

desconto de R$ 3.221,75 decorrente do pagamento a maior por coleta

seletiva, já que se identificou, no período de 08/07 a 12/07 e 15/07, que o

veículo desse tipo de coleta teria sido usado para coleta urbana. Contudo,

como já referido anteriormente, não houve qualquer aplicação de

multa ou outra punição pela inexecução do contrato, ou seja, pela

falta do recolhimento adequado do lixo, muito embora a Secretaria

Municipal do Meio Ambiente tivesse expressamente solicitado a

aplicação de multa de 10% sobre o valor total da contratação. Veja-

se que o valor dessa multa sugerida não foi retido pela

municipalidade, conforme se infere da planilha de ordem de

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pagamentos juntada aos autos (fls. 1744/1746 do IC – numeração

original).

d) Audiência na Promotoria de Justiça

Especializada – Apatia da Administração

Municipal – Necessidade de ajuizamento de

Ação Civil Pública para regularização do

serviço de recolhimento do lixo – decisão

judicial - Rescisão Contratual com a BIOMINA

Frente à caótica situação referente ao

recolhimento do lixo e à flagrante e injustificada apatia do Município de

Montenegro, a Promotoria de Justiça Especializada instaurou Inquérito Civil

para adoção de providências, tendo realizado reunião, em 08/07/2013, com

representantes do Município e da empresa Biomina.

Na ocasião, chamou a atenção do Ministério

Público a postura do Município, pois este não apresentou qualquer proposta

efetiva de ação para solução do problema, muito embora a empresa não

tivesse apresentado naquela solenidade qualquer argumento sólido que

efetivamente justificasse o descumprimento contratual, conforme resta

demonstrado na cópia do Termo de Audiência das fls. 1856/1857 do IC –

numeração original.

Na referida audiência, a empresa BIOMINA

mencionou que o Município rescindiu o contrato firmado com a empresa

ECOTRAT, localizada em Triunfo, responsável pelo transbordo. Sem o

transbordo em Triunfo, o lixo estaria sendo transportado diretamente até o

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destino final em São Leopoldo. De acordo com a empresa, tal fato levaria a

um aumento do tempo de deslocamento dos caminhões até o destino final

em São Leopoldo, sobrando menos tempo para as equipes de garis

efetuarem o recolhimento. Ora, essa situação não justificava o

descumprimento contratual da empresa, porque a ré havia firmado, em 29

de maio de 2013, um aditivo contratual, alterando valores do contrato,

justamente levando em consideração a ausência de transbordo e o fato de o

lixo estar sendo transportado diretamente até o seu destino final em São

Leopoldo. Além disso, a empresa sustentou na indigitada audiência, que o

roteiro de recolhimento de lixo da cidade seria muito longo, com um

percurso de aproximadamente 300 km, quando o ideal seria

aproximadamente 100 km. Tal argumento foi rebatido pelo fiscal do

Município, Sr. Mário Rosa, que referiu que as outras empresas

anteriormente contratadas sempre se utilizaram desse roteiro, sem

qualquer reclamação. Por fim, a BIOMINA, ainda naquela audiência, disse

que estaria com dificuldade de obtenção de mão-de-obra, sendo que o fiscal

do Município, Mário Rosa, observou que os salários dos empregados da

BIOMINA são inferiores aos salários que vinham sendo pagos anteriormente

por outras empresas de recolhimento de lixo na cidade (fls. 1856/1857 do

IC – numeração original).

Portanto, como já dito, não havia argumento

algum que justificasse a incapacidade da empresa na operacionalização do

serviço contratado. Contudo, mesmo assim, o Município não manifestou

qualquer medida de responsabilização administrativa e nem judicial contra a

empresa.

Não havia quem não reclamasse do problema,

incluindo até mesmo os correligionários do partido do Prefeito, sendo que,

no dia 15 de julho de 2013, o vereador Roberto Braatz, filiado ao próprio

partido do Prefeito (PDT), protocolou no Ministério Público representação

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solicitando providências, pois igualmente não vislumbrava solução por parte

da municipalidade (fls. 1858 /1860 do IC – numeração original)

Como a apatia do Município de Montenegro

persistia, o Ministério Público, em 17 de julho de 2013, ajuizou ação civil

pública, solicitando a concessão de antecipação de tutela, a fim de

determinar que a BIOMINA e o Município de Montenegro, em no máximo

48 (quarenta e oito) horas, passassem a prestar, de forma adequada,

eficiente e contínua, o serviço de recolhimento de resíduos sólidos (urbano,

rural e seletivo) e transporte até a destinação final, de acordo com o roteiro

de recolhimento de lixo (dia, horários e locais) já estabelecido, sob pena de

pagamento de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) à empresa

BIOMINA e de R$ 1.000,00 (mil reais) ao sócio-gerente dessa empresa e ao

Prefeito (fls. 1849/1855 do IC – numeração original).

No dia 18 de julho de 2013, o eminente Juiz de

Direito Dr. André Luís de Aguiar Tesheiner, atuando na 2ª Vara Cível de

Montenegro, deferiu o pedido liminar, determinando que a empresa e o

Município regularizassem o serviço de coleta de lixo, em 48 (quarenta e

oito) horas, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 à BIOMINA e de R$

500,00 ao sócio-gerente da empresa e ao Prefeito pessoalmente. O juízo

explicitou em sua fundamentação que o Município de Montenegro,

embora possuísse o dever de fiscalizar o cumprimento das

obrigações assumidas pela empresa Biomina, não vinha realizando

esforços suficientes para a solução dos problemas, o que justificava

a decisão liminar de caráter coercitivo (fls. 1861/1862 do IC –

numeração original).

Então, após noticiada na mídia local a decisão

judicial e após intimado pessoalmente (fls. 1863-v e 1864/1865 do IC –

numeração original), não restou outra alternativa ao Prefeito senão

rescindir unilateralmente o contrato com a empresa ré e abrir novo

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processo de contratação emergencial, a fim de evitar o pagamento de multa

pessoal e visando a dar cumprimento à ordem judicial que determinava que

agisse em prol da comunidade.

Calha aqui registrar que o Município de

Montenegro não firmou qualquer Termo de Rescisão Contratual com a

empresa BIOMINA, tendo emitido, em 24/07/2013, apenas um

“COMUNICADO” (fl. 1847 do IC – numeração original), de que estava

rescindido o contrato, mas que a empresa BIOMINA deveria continuar

prestando o serviço até a data em que assumisse uma nova empresa. A

BIOMINA prestou o serviço de recolhimento do lixo até 31/07/2013, tendo a

nova empresa contratada emergencialmente (KOMAC) assumido em 1º de

agosto de 2013.

De acordo com o art. 78, parágrafo único, da Lei

8666/93, os casos de rescisão contratual devem ser FORMALMENTE

motivados nos autos de processo administrativo, assegurado o contraditório

e a ampla defesa.

Ora, não houve decisão do Prefeito a respeito da

rescisão contratual. Veja-se que o Ministério Público notificou o Prefeito

para que apresentasse cópia da decisão administrativa, sobrevindo um

único documento, intitulado de “COMUNICADO”, assinado pelo Procurador-

Geral do Município, que informa a empresa de que estaria, a partir de

24/07/2013, rescindido o contrato, sem sequer mencionar especificamente

os motivos da rescisão ou fazer referência a qualquer decisão prévia,

citando apenas genericamente os artigos 77 e 78 da Lei 8666/93, em que

são arrolados todos os motivos, em tese, possíveis para eventual rescisão

(de inexecução à falência).

Esse proceder do Município bem demonstra dois

pontos importantes : a) o Prefeito não rescindiu espontaneamente o

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contrato, mas sim porque havia medida judicial obrigando-lhe a agir e a

adotar de forma rápida (48 horas) alguma providência em prol da sociedade

montenegrina, sob pena de pesadas multas, inclusive pessoais; b) o

Prefeito e os sócios da BIOMINA guardavam relacionamento estreito entre

si, caso contrário a empresa iria impugnar administrativa e/ou judicialmente

a forma como se operou a rescisão unilateral, que não foi sequer

formalmente motivada pelo Prefeito por meio de uma decisão

administrativa.

e) Não disponibilização pela empresa do

número mínimo de caminhões – Falta

injustificada de providências pelo Município

Merece destaque específico o fato de que o

Contrato emergencial firmado com a empresa BIOMINA URBANIZADORA

LTDA. estabelecia que as obrigações da contratada seriam as constantes no

Memorial Descritivo (Relatório Técnico) integrante do Processo

Administrativo 1154/2013 (cláusula 7ª – fl. 620 do IC – numeração

original).

Nesse relatório técnico elaborado pelo Município,

constava expressamente a necessidade de a empresa vencedora

disponibilizar, NO MÍNIMO, 03 (três) caminhões coletores com capacidade

mínima de 15 m³ do tipo compactador para coleta urbana, 01 (um)

caminhão com carroceria aberta, tipo baú, com capacidade de carga mínima

de 25 m³ para coleta seletiva, e 01 (um) caminhão coletor com capacidade

mínima de 15 m³ do tipo compactador para coleta rural, totalizando cinco

veículos (fls. 510/523 do IC – numeração original).

Contudo, conforme se infere das planilhas de

medição do serviço (versão final revisada pela Secretaria Municipal do Meio

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Ambiente - fls. 1650/1651, 1657/1660, 1668/16721680/1686, 1695/1700

do IC – numeração original) e tickets de pesagens (fls. 1454/1600 do IC –

numeração original), conclui-se que a empresa NUNCA operou NENHUM

DIA SEQUER com o número mínimo de veículos exigidos no contrato. No

máximo, operava com quatro caminhões por dia, havendo, contudo,

diversos dias em que operava com três veículos, ou até mesmo com

dois ou com um único apenas.

Nesse sentido, identificaram-se 04 dias com

um único caminhão recolhendo lixo, 14 dias com apenas dois

veículos recolhendo lixo, 33 dias com três caminhões e 64 dias com

quatro veículos (planilha de medição dos serviços – fls. 1647/1700

do IC – numeração original).

01 caminhão 3%

02 caminhões 12%

03 caminhões 29%

04 caminhões 56%

nº de caminhões por dia trabalhado

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A título de ilustração, conforme planilhas de

medição já referidas, veja-se, por exemplo, que, dia 31/03/2013, um único

caminhão recolheu lixo apenas urbano, no montante de 2,46 toneladas. Em

17 de julho de 2013, um caminhão prestou o serviço recolhendo 6,53

toneladas apenas do lixo rural. Ainda, em 09 de maio de 2013, dois

caminhões recolheram lixo urbano e rural, no total de 11,45 toneladas. No

dia 27 de junho de 2013, com três veículos em operação, nenhum lixo seco

ou rural foi recolhido, mas apenas urbano, no montante de 19,96

toneladas4.

Ocorre que a produção estimada de lixo era de

33,33 toneladas por dia5.

Procurou-se, com o exemplo acima, citar situações

que se referem aos diversos meses de execução do contrato, evidenciando

não se cuidar de uma ocorrência pontual ou isolada, havendo recolhimento

diário até mesmo inferior a 10% do lixo produzido.

Aí bem se observa o quanto de lixo acabava por se

acumular sistematicamente nas lixeiras, misturando-se entre seco e

orgânico e gerando mau cheiro.

Apesar disso, não se vislumbrou, por parte do

Prefeito, nenhuma decisão específica no sentido de efetivamente cobrar da

empresa que operasse com o número mínimo de caminhões exigidos por

ocasião da contratação, permitindo, com isso, a operação de um serviço

visivelmente deficiente, sendo que tal fato era facilmente constatável,

4 As informações foram extraídas diretamente da planilha de medição final de serviços das fls.

1650/1651. 1657/1660, 1668/1672, 16801686 e 1695/1700 do IC – numeração original, elaborada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e com base na qual eram efetuados os pagamentos à empresa BIOMINA. 5 750 toneladas urbano+100 toneladas seletivo+ 150 toneladas rural = 1.000 toneladas/mês. (fl. 520 do

IC – numeração original)

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bastando a análise das pesagens realizadas diariamente, dando conta do

total de veículos em operação aquém do acertado no contrato. Ao

contrário, por meio da Assessoria de Comunicação e da Chefia de Gabinete,

consoante já referido alhures, o Prefeito passou a injustificadamente

defender a empresa, sustentando uma tese conspiratória, no sentido de que

esta estaria sendo alvo de sabotagens, apesar de os próprios técnicos do

Município terem entendimento diametralmente oposto, explicitado pelos

diversos relatórios técnicos, dando conta de que a BIOMINA era, isso sim,

incapaz para prestar o serviço.

f) Falta de efetivo controle quanto à

natureza do lixo recolhido

Calha igualmente registrar que o preço contratado

com a empresa BIOMINA variava de acordo não apenas com a quantidade

recolhida, mas também em função da natureza do lixo recolhido. O lixo

urbano convencional custava aos cofres públicos R$ 86,59 por tonelada, o

seletivo R$ 178,43 por tonelada e o rural R$ 147,42 por tonelada, conforme

contrato emergencial firmado.

Cabia à empresa encaminhar aos fiscais do

Município uma planilha de medição do serviço, na qual discriminava o total

de lixo recolhido por veículo diariamente. Para tanto, os veículos eram

pesados no destino final. Primeiro, eram pesados carregados e, após,

vazios, sendo a diferença equivalente ao lixo recolhido e transportado. Tal

pesagem era registrada eletronicamente e emitido um ticket.

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Ocorre que o Município, no destino final, junto ao

aterro sanitário de São Leopoldo, não possuía fiscais que acompanhassem a

pesagem e o descarregamento do lixo, conforme informações colhidas nos

depoimentos da CPI, notadamente do motorista Marcelo Júnior Nunes dos

Santos (fls. 202/204 do IC – numeração original). Assim é que tal

procedimento era apenas acompanhado pelo motorista da empresa

BIOMINA, cabendo-lhe, então, apor à mão a natureza do lixo, ou seja, se

era seletivo, urbano ou rural, conforme se infere das cópias dos tickets nas

fls. 1454/1600 do IC – numeração original.

Esses tickets eram, então, encaminhados ao

Município, juntamente com a planilha de medição para o pagamento.

Ora, bem se vê que o Município possuía controle

quanto à pesagem (quantidade de lixo por veículo), mas não possuía

controle efetivo quanto à natureza do lixo recolhido (seletivo, urbano ou

rural), ficando à mercê das informações apostas pelos motoristas da

empresa.

A falta de controle nesses termos é conduta grave,

violando o princípio da moralidade, permitindo abusos.

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DO PREJUÍZO AO ERÁRIO 6

a) Falta de indenização da empresa pelo

serviço diretamente realizado pelo Município

de Montenegro

Entre os dias 23 de março de 2013 e 25 de março

de 2013, em plena vigência do contrato da BIOMINA URBANIZADORA

LTDA., o Município de Montenegro realizou diretamente a coleta de lixo com

equipamentos e pessoal próprios, em decorrência da falta de atendimento

adequado pela empresa contratada.

Conforme apurado pelo fiscal do contrato,

engenheiro Mario Mayer Rosa, o Município, na ocasião, se viu obrigado a

recolher 26,59 toneladas de lixo, entre coleta urbana, rural e seletiva, a fim

de aplacar a situação de acúmulo de lixo na Cidade. Concluiu o referido

técnico que a empresa deveria ressarcir o Município em razão dos custos

oriundos dessa coleta. Estimou que o valor a ser ressarcido seria de R$

2.789,24. Tais informações constam em relatório técnico da fl. 294 do IC –

6 Calha registrar que o Sindicato dos Trabalhadores em Empresa de Asseio, Conservação e Limpeza em

Geral ingressou com ação coletiva contra a empresa BIOMINA junto à Justiça do Trabalho, buscando o pagamento de verbas trabalhistas em favor dos empregados que trabalharam em Montenegro. A Justiça do Trabalho determinou, a título cautelar, a retenção dos créditos da empresa perante a municipalidade. Diante disso, foi retido o valor de R$ 73.022,71, sendo efetuado depósito judicial. Também foram ajuizadas diversas reclamatórias trabalhistas individuais. Tanto na ação coletiva quanto nas individuais, figuram como réus a BIOMINA e o Município de Montenegro. Portanto, caso o valor depositado não seja suficiente para o pagamento das verbas trabalhistas, corre-se o risco de o Município de Montenegro, enquanto corréu, arcar com tais despesas, na hipótese de a Justiça do Trabalho entender pela responsabilização da municipalidade, o que levaria ao prejuízo ao erário . Faz-se esse registro para demonstrar que o prejuízo ao erário poderá ser ainda maior do que o descrito nesta petição inicial (fls. 172 e 1725/1748 do IC – numeração original).

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numeração original, encaminhado pelo engenheiro à Procuradoria-Geral do

Município.

Contudo, o Município não adotou qualquer

providência para se ressarcir desse custo. Embora o Procurador Geral do

Município tenha informado tanto à CPI quanto ao Ministério Público que o

valor foi descontado da empresa, tal informação não veio acompanhada de

nenhum documento comprobatório nesse sentido, o que, inclusive, foi alvo

de apontamento no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito

(fls. 1871 do IC – numeração original).

Além disso, o próprio Prefeito, ao ser ouvido na

Promotoria de Justiça Especializada, disse que não seria o caso de

ressarcimento, pois a empresa não recebeu pelo recolhimento desse lixo (fl.

1713 do IC – numeração original).

Ora, não se pode olvidar que o equipamento

e o pessoal alocados diretamente pelo Município foram desviados

das atividades fins a que destinados. Em outras palavras, ao realizar

o serviço de coleta de lixo diretamente, o Município deixou de

atender outras atividades públicas que poderia fazer com essas

máquinas e equipes de servidores, tendo despendido recursos

próprios físicos e humanos e, por tal motivo, deve ser indenizado

pela empresa.

Ao não buscar a devida indenização, o

Prefeito beneficiou ilicitamente a empresa BIOMINA, devendo

ambos, por isso, serem responsabilizados.

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b) Do pagamento indevido pelo serviço de

coleta seletiva

Conforme estabelecido pelo próprio Município, no

processo de contratação emergencial, a coleta seletiva de resíduos

recicláveis (lixo seco) consistiria no serviço de recolhimento de porta em

porta, com transporte até um local para realização da separação dos

materiais por catadores, sendo que o material não reciclado deveria ser

acondicionado em caixas e, após, encaminhado até o destino final. A coleta

deveria ser realizada nos 26 bairros do Município, duas vezes por semana

em cada um deles, conforme cronograma estipulado pela Secretaria

Municipal do Meio Ambiente. Para tanto, deveria pôr à disposição um

veículo, com carroceria aberta e com capacidade mínima de 25 m³ (ver

Relatório Técnico das fls. 510/523 do IC – numeração original).

Para esse serviço, o Município contratou a

empresa BIOMINA, pagando-lhe R$ 178,43 por tonelada, valor este bem

superior ao pago pela coleta convencional (R$ 86,59 por tonelada).

O Município pagava por esse serviço, a partir dos

tickets de pesagens emitidos junto à Ecotrat (nos primeiros 11 dias de

contrato) e junto ao aterro sanitário em São Leopoldo (de 1º/04 a

31/07/2013). Para tanto, somava-se o montante de lixo recolhido e

transportado pela empresa com relação aos caminhões indicados para a

coleta seletiva. Contudo, como visto acima, no aterro sanitário em São

Leopoldo, não havia fiscais do Município e quem apunha à mão qual a

natureza do lixo transportado no caminhão era o motorista da própria

empresa BIOMINA. Assim, nada impedia que caminhões inicialmente

indicados para a coleta seletiva, fizessem, na prática, recolhimento de lixo

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convencional. Aliás, a própria Secretaria Municipal do Meio Ambiente

apontou tal prática irregular.

De mais a mais, para que fosse considerado

cumprido o serviço de coleta seletiva seria preciso: a) o cumprimento pela

empresa contratada do roteiro de recolhimento de lixo seco, nos dias e

horários definidos, colocando efetivamente à disposição da comunidade tal

espécie de coleta; e b) existência de local onde se pudesse efetivamente

triar o lixo seco recolhido, reciclando os materiais.

É possível afirmar que, na prática, tal não ocorreu

no período em questão. Senão vejamos.

Como dito, os veículos que a empresa colocou à

disposição para realizar a coleta seletiva (lixo seco) eram sistematicamente

utilizados para realização de coleta urbana e/ou rural.

Nesse sentido, a própria Secretaria Municipal do

Meio Ambiente, através da Comunicação Interna 315/2013, apontou tal

situação, noticiando que o caminhão caçamba específico para a coleta

seletiva era indevidamente utilizado na coleta urbana. Acrescentou :

“Portanto, o município pode estar pagando por um serviço que não está

ocorrendo, sendo que o valor da coleta seletiva é maior que o da coleta

urbana, o que agrava mais este fato.” (fls. 1701/1708 do IC – numeração

original)

Além disso, nas próprias planilhas de medições de

serviço prestado (versão final revisada pela Secretaria Municipal do Meio

Ambiente - fls. 1650/1651, 1657/1660, 1668/1672, 1680/1686, 1695/1700

do IC – numeração original), é possível identificar que os veículos colocados

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à disposição pela empresa para a coleta seletiva7 eram reiteradamente

alocados para a coleta urbana (convencional) e/ou rural.

De mais a mais, a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, no mesmo documento já referido, mencionou que, no dia 17 de

julho de 2013, manteve contato com TODOS os coletores (garis) que

aguardavam os veículos da empresa para trabalharem, sendo que estes

informaram que não sabiam da rota de coleta seletiva (!!!).

Não bastasse isso, a empresa não conseguiu, ao

longo da vigência do contrato, cumprir regularmente o roteiro de

recolhimento de resíduos, seja seco ou orgânico, nos dias e horários

definidos, sendo comum o acúmulo de lixo nas lixeiras da Cidade (fls.

1174/1183 do IC –numeração original). Como já dito alhures, há relatos de

moradores de que a BIOMINA atrasava dias e até semanas para recolher o

lixo. Como visto anteriormente, teve dias em que o recolhimento de lixo foi

inferior a 30% do total produzido, chegando até mesmo a menos de 10%.

Vistoria técnica em julho de 2013, mencionada pela Comunicação Interna

315/2013 da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, constatou, ainda, que

a coleta continuava sem seguir o cronograma estipulado, sendo verificadas

diversas localidades com grande quantidade de resíduos. Com isso, os

resíduos se acumulavam nas lixeiras de um dia para outro e assim

sucessivamente, de sorte que a mistura entre orgânico e seco era

inevitável, tornando inviável e sem razão a separação pela

comunidade dos resíduos por natureza.

Veja-se que a Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, através dos fiscais Mario Rosa e Elisa Schoennel, por

meio da CI 306/2013, datada de 15/07/2013, referiu que, com

7 De acordo com a técnica do Município, Elisa Schoenell, os caminhões indicados para coleta seletiva

eram os de placas IPR 0232 e ISX 9347, além de eventualmente algum outro caminhão reserva.

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relação ao cumprimento das rotas, como estas não estavam sendo

cumpridas nos dias estipulados, acabavam por confundir os

munícipes quanto ao dia certo para colocar os sacos de resíduos na

lixeira (fl. 1193-v. do IC – numeração original).

Estes fiscais acrescentaram, ainda, que uma

funcionária de empresa, responsável pelo atendimento às reclamações dos

usuários por meio do telefone 0-800, informou-lhes que Montenegro “não

tem coleta seletiva” e que “Montenegro não paga por esse serviço”. A

declaração dessa funcionária evidencia que a empresa, embora recebesse

pelo serviço seletivo, na prática não o prestava.

Ainda, no ofício da fl. 1196 do IC – numeração

original, datado de 26 de junho de 2013, os mesmos técnicos do Município

lamentam que, depois de uma campanha de anos para que a população

separasse seu resíduo reciclável em casa, com rotas e dias estipulados para

coleta apenas do resíduo seletivo, a comunidade não quer mais separar os

resíduos porque o caminhão não tem passado.

Cita-se, outrossim, trecho de representação

oferecida ao Ministério Público pelo Vereador Roberto Braatz (PDT), que

bem ilustra a situação vivida (fls. 1858/1860 do IC – numeração original):

“(...)até o final de 2012, a contraprestação era aceitável. Aliás, era o ponto forte da administração anterior. Os contribuintes sabiam os dias e

horários que havia o recolhimento. Havia dias e horários tanto para recolhimento do lixo sexo,

quanto do orgânico. Éramos atendidos. Muitos moradores separavam o lixo. Desde que o atual prefeito assumiu, o recolhimento está

anarquizado. Como é de conhecimento dos integrantes do Ministério Público. A situação

piorou a partir de março. Todos os dias há reclamações. A empresa prestadora do serviço contratado pela prefeitura não tem

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recolhido o lixo nos dias e horários por ela mesma divulgado. Depois de muitas

reclamações, a empresa divulgou na imprensa local cronograma de recolhimento. Não cumpriu um dia sequer por inteiro. (....) Além de

causar desconforto e a irritabilidade dos contribuintes esta anarquia tem colocado por

terra o frágil programa antes existente de separação do lixo. Muitos que separavam o lixo não mais o fazem.(...) A leniência do

Executivo ante o caso é preocupante.” [grifou-se]

Nesse mesmo sentido, destaca-se o depoimento

do motorista da BIOMINA Marcos Antônio Lopes Linhares, perante a

Comissão Parlamentar de Inquérito (fl. 184 do IC – numeração original),

referindo:

Presidente : Coleta seletiva, existia, não ?

Marcos Antônio: Não. Presidente: Nunca

houve? Marcos Antônio : Nunca houve. O que

acontecia é que o caminhão que era para fazer a

coleta seletiva, que seria uma caçamba azul, ela

ajudava a fazer o interior; ela tirava a Germano

Hencke, tirava o Aeroclube, enquanto o outro

caminhão do interior tirava Santa Rita e Estação,

no começo. Então, aquele lixo que ela coletava,

ela pesava como lixo seco, e na realidade era lixo

orgânico, tá entendendo?”

Não socorre ao Município dizer que não pagava

pela coleta seletiva quando o caminhão indicado para esse serviço não

operava ou, ainda, que não pagava o valor diferenciado quando identificava

que esse caminhão trabalhava, no dia, para atender outros serviços.

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Ora, como nos dias de recolhimento de lixo

orgânico os caminhões não atendiam de forma adequada, pois eram poucos

que operavam, então tal lixo se acumulava nas lixeiras. Portanto, nos dias

de recolhimento do lixo seco, ainda que passasse o caminhão (o que sequer

ocorria regularmente como já referido), as lixeiras estavam entulhadas com

o lixo orgânico dos dias anteriores.

Cita-se um exemplo emblemático. No dia 31 de

março de 2013, por se cuidar de domingo, não havia previsão de

recolhimento de lixo na Cidade, mas a empresa BIOMINA efetuou o serviço,

com um único caminhão, na zona urbana. No dia seguinte (1º de abril de

2013 – segunda-feira), embora houvesse previsão de recolhimento de lixo

orgânico e seco em diversos bairros da Cidade (ver fl. 48/50 do IC –

numeração original), nenhum caminhão trabalhou, acumulando-se, então,

mais de 30 toneladas de lixo, só neste dia. No dia 02 de abril, foram

disponibilizados apenas 04 caminhões, que recolheram 34,39 toneladas (ver

planilhas de medição de serviço já citadas). Ora, tal recolhimento não foi

suficiente para esvaziar as lixeiras, pois em dois dias (1º e 02/04), a

produção estimada de lixo excede a 60 toneladas. E assim, como visto, os

lixos se amontavam no passeio público...

É razoável, então, que a empresa receba um valor

dobrado por esse tipo de recolhimento? Isso é uma prática de coleta

seletiva? Certamente, a resposta é negativa.

Por fim, mas não menos importante, ressalta-se

que, no período de 20 a 31 de março de 2013, o lixo era transportado pela

BIOMINA até a ECOTRAT, pois esta era contratada pela municipalidade para

realizar o recebimento dos resíduos em área de transbordo com uma central

de triagem. Contudo, com a extinção do contrato com a ECOTRAT, a partir

de 1º de abril de 2013, a empresa BIOMINA, com a concordância do

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Município, passou a transportar diretamente o lixo recolhido até o aterro

sanitário da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos, em São

Leopoldo.

Tal aterro sanitário serve de depósito final do lixo,

de sorte que não é feito nenhum tipo de trabalho de separação de resíduos

e nem de reciclagem, consoante, inclusive, confirmado por Antônio

Saldanha Nunes, representante da Companhia Riograndense de Valorização

de Resíduos, ouvido na CPI (fl. 212/214 do IC – numeração original).

Ora, se o lixo recolhido é transportado

diretamente para um aterro sanitário, sem atividade de reciclagem, então,

não há qualquer razão lógica para que se realize uma coleta seletiva,

pagando-se o dobro do valor por tal serviço.

Por tudo isso, fica claro que a empresa

BIOMINA não poderia ter recebido valor diferenciado e maior por

um serviço que não foi colocado efetivamente à disposição da

comunidade, pois a empresa: a) não cumpria adequadamente o

roteiro de recolhimento de lixo em geral, confundindo os munícipes

quanto ao dia e ao horário da coleta seletiva; b) permitia que o lixo

se acumulasse nas lixeiras de um dia para outro sucessivamente,

levando à mistura entre o seco e o orgânico; c) utilizava os

caminhões de coleta seletiva para realização de coleta urbana e/ou

rural; d) transportava, no período de 1º/04 a 31/07/13,

diretamente o lixo, independente de ser seletivo ou orgânico, até

um aterro sanitário, onde não havia qualquer tipo de separação ou

reciclagem do material.

Ora, é lamentável dizer que existia coleta

seletiva. Existia, isso sim, um caminhão caçamba indicado pela

empresa para esse serviço (o de placas IPR 0232 ou o de placas ISX

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9347), mas que não cumpria os roteiros adequadamente ou, ainda,

fazia outros serviços de coleta, ou, então, até poderia passar no dia

programado, mas as lixeiras estavam entulhadas de lixos dos

demais dias em atraso.

Portanto, é inconcebível que se pagasse

dobrado por esse recolhimento, nos moldes como estava sendo

realizado. Sendo indevido o pagamento, o ressarcimento ao erário é

medida que se impõe.

Considerando que, de acordo com o

Município, a empresa BIOMINA, nos veículos indicados para a coleta

seletiva, recolheu 436,798 toneladas, no período em que prestou o

serviço em Montenegro, e considerando, como visto, não ser cabível

considerar prestado o serviço de coleta seletiva nos moldes como

ocorreu, então, ao invés de pagar o valor diferenciado de R$ 178,43

pela tonelada, deveria ter sido pago R$ 86,59, que era o preço da

coleta convencional/urbana. Nesses termos, ao invés de receber R$

77.936,429 por esse recolhimento, a BIOMINA deveria ter recebido

apenas R$37.821,64, devendo, dessa forma, ser devolvido aos

cofres públicos o montante de R$ 40.114,78.

8 170,65 toneladas – de 20/03 a 19/04/2013 (fl. 1695) ; 120,87 toneladas – de 19/04 a 20/05 (fl. 1682);

115,35 toneladas – de 21/05 a 20/06/2013 (fl.1668); – 29,92 toneladas - de 21/06/2013 a 20/07/2013 (fl. 1657). 9 R$30.449,07 –de 20/03 a 19/04/2013 (fl. 1695) ; R$ 21.566,83 –de 19/04 a 20/05 (fl. 1682); R$

20.581,90 – de 21/05 a 20/06/2013 (fl.1668); R$ 5.338,62 – de 21/06/2013 a 20/07/2013 (fl. 1657).

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2º ATO ÍMPROBO

No dia 21 de outubro de 2013, o réu PAULO

EUCLIDES GARCIA DE AZEREDO praticou dolosamente ato de

improbidade administrativa, ao violar os princípios da moralidade, da

honestidade e da lealdade às instituições, na medida em que

deliberadamente instruiu e induziu testemunha sobre o quê e como deveria

responder, a fim de que seu depoimento fosse utilizado como prova junto à

Comissão Parlamentar de Inquérito que apurava as irregularidades na

prestação do serviço de lixo municipal.

Na ocasião, o réu PAULO AZEREDO apresentou à

Comissão Parlamentar de Inquérito, como prova de sua defesa, um Termo

de Declarações do servidor público municipal Airton Gaspar Gallas, em que

este prestava alguns esclarecimentos de como se operava o serviço de

recolhimento do lixo no Município no período em que os resíduos eram

transportados até a estação de transbordo da ECOTRAT, em Catupi, Triunfo.

Além do Termo de Declarações degravado, o

Prefeito apresentou à Comissão Parlamentar de Inquérito um CD, contendo

a gravação em áudio e vídeo das declarações desse servidor.

É interessante observar que o arquivo de áudio

contém exatamente o mesmo diálogo degravado e apresentado à CPI.

Contudo, neste CD, também consta um arquivo de vídeo, em que aparece

toda a conversa entre o Prefeito e o servidor Airton Gallas, inclusive trechos

não degravados e não disponíveis no arquivo de áudio. Acredita-se que este

arquivo foi equivocadamente encaminhado à CPI, pois, como se verá, não

apenas torna o depoimento de Airton imprestável, mas evidencia conduta

anti-ética do Prefeito.

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O trecho não degravado consiste em uma

conversa travada entre o réu PAULO AZEREDO e Airton Gallas, nos

instantes antes de começar o depoimento, em que o primeiro, nitidamente,

instrui o segundo, induzindo-o ao que deveria dizer. Afinal, o Prefeito diz a

Airton que irá indagá-lo acerca de como era feita a descarga de resíduos lá

na ECOTRAT e como era o controle da pesagem. Ato contínuo, o Prefeito

prossegue, respondendo ele próprio aos questionamentos, enfim, falando ao

servidor o que este deveria responder e em que termos. O Prefeito pede

que é para o servidor “falar a verdade”, mas “a verdade” nos termos e

moldes que convém ao Prefeito, tanto que diz que, se der errado, se grava

de novo.

Transcreve-se o trecho em questão:

“PAULO: Tu fala a verdade, então, tá? Se não der

certo, a gente grava de volta.

(...)

PAULO: Vamos conversando, tá? Mas bem curto e

grosso. A pergunta que vou fazer pra ti: se tu

controlava, tu fazia a pesagem do lixo lá junto à

Ecotrat como fiscal do município. Como era feita a

descarga lá? Como fazia o controle, a pesagem?

Então eu pesava, tal, o caminhão seletivo ia

pro galpão de triagem, seleção, o galpão lá

embaixo; e o caminhão misturado ia lá pra

cima. De vez em quando, eles me pediam, o

coordenador lá, o encarregado, pedia pra

quando viesse o caminhão de Montenegro,

que eles não tinham mais pra triar com 15

pessoas na esteira e tal, descarregavam o

caminhão, também da prensa,

descarregavam ali embaixo. Então isso vai

mostrar que, além de seletivo, eles triavam

ainda a prensa.

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(....)

PAULO: É duas perguntas só, tu diz isso e tá

pronto. É tua maneira de dizer. Tá?

(...)

PAULO: Daí eu pergunto o teu nome, peço pra tu

falar estritamente a verdade, o que tu viu, e deu.

Fala a verdade.” [grifou-se]

Após esses “esclarecimentos”, começa a “gravação

oficial” para servir de prova na CPI.

Tal proceder, no entender do Ministério Público,

não é ético e, assim agindo, o réu PAULO AZEREDO violou os princípios

elementares da moralidade, da honestidade e da lealdade às

instituições, e, por tal motivo, deve ser responsabilizado por

improbidade administrativa.

III – DO FUNDAMENTO JURÍDICO:

O réu PAULO EUCLIDES, na qualidade de Prefeito,

está sujeito à Lei da Improbidade Administrativa, nos termos do art. 2º da

Lei 8.429/92, que estabelece: “reputa-se agente público, para os efeitos

desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem

remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer

outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função

nas entidades mencionadas no artigo anterior.”

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Outrossim, a empresa BIOMINA URBANIZADORA

LTDA. e seus sócios são legitimados passivos, forte no art. 3º da LIA, que

dispõe :

“art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no

que couber, àquele que, mesmo não sendo agente

público, induza ou concorra para a prática do ato

de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer

forma direta ou indireta.

Ainda, a Lei da Improbidade Administrativa, Lei nº

8.429/92, através dos arts. 4º, 5º e 6º, prevê:

“Art. 4º - Os agentes públicos de qualquer nível ou

hierarquia são obrigados a velar pela estrita

observância dos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade e publicidade, no trato

dos assuntos que lhe são afetos.”

“Art. 5º - Ocorrendo lesão ao patrimônio público

por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do

agente ou de terceiro, dar-se-á o integral

ressarcimento do dano.”

Art. 6º - No caso de enriquecimento ilícito,

perderá o agente público ou terceiro beneficiário

os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.”

Como se observa da exposição fática, funda-se a

ação de improbidade no artigo 9º, caput e XI, no artigo 10, caput e incisos I

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e XII, bem como no art. 11, caput e inciso II, todos da Lei nº 8.429/92- Lei

da Improbidade Administrativa, que expressam:

Art. 9° Constitui ato de improbidade

administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício

de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no art. 1°

desta lei, e notadamente:

(...)

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu

patrimônio bens, rendas, verbas ou valores

integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei (...)”;

“Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário,

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,

que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos

bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º

desta Lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa

física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

(...)

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que

terceiro se enriqueça ilicitamente;”

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“Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra os princípios da

administração pública qualquer ação ou omissão

que viole os deveres de honestidade,

imparcialidade, legalidade, e lealdade às

instituições, e notadamente:

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente,

ato de ofício; (...)”

Nesse contexto, as condutas dos réus violaram

princípios que regem a atividade pública, especialmente o da legalidade e

da moralidade administrativa, e que dão suporte às cláusulas gerais dos

arts. 9º, 10 e 11, da Lei 8.429/92- Lei da Improbidade Administrativa, bem

como deveres de honestidade, de imparcialidade e de lealdade institucional,

causando igualmente prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito.

Diante disso, devem ser imputadas aos réus as

sanções previstas no art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa, que

propugna:

“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que

podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação

dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,

ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa

civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais

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ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta

circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos,

pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o

Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da

qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral

do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes

o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos.”

No que tange especificamente ao ressarcimento

integral do dano, este corresponde ao valor do prejuízo anteriormente

apontado nesta petição inicial, acrescido de juros e correção monetária, nos

termos da lei (R$ 40.114,78 + R$ 2.789,24 = R$ 42.904,02), o que

deverá ser arcado, solidariamente, pelos réus.

IV – DOS PEDIDOS:

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Diante do exposto, o Ministério Público REQUER:

a) a notificação dos requeridos para, querendo,

oferecerem manifestação prévia por escrito,

dentro do prazo de quinze dias, na forma do

parágrafo 7º do artigo 17 da Lei nº 8.429/92;

c) o recebimento da ação, transcorrido o prazo

descrito na alínea anterior;

d) a citação dos réus para, querendo, contestarem

a presente ação, sob pena de revelia, na forma do

parágrafo 9º do artigo 17 da Lei nº 8.429/92;

e) a intimação do Município de Montenegro,

pessoa jurídica de direito público interessada, para

integrar a lide, na qualidade de litisconsorte,

querendo;

e) a produção de todas as provas em direito

admitidas, tais como a testemunhal, documental e

pericial;

f) a integral procedência dos pedidos, com a

condenação dos réus pela prática dos atos de

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improbidade administrativa previstos no artigo

9º, caput e XI, no artigo 10, caput e incisos I

e XII, da Lei nº 8.429/92 e no art. 11, caput e

inciso II, da Lei nº 8.429/92, com aplicação

das sanções previstas nos incisos I, II e III do art.

12 do mesmo Diploma Legal.

Por inestimável, dá-se à causa o valor de alçada.

Nesses termos, pede deferimento.

Montenegro, 18 de março de 2014.

Thomás Henrique de Paola Colletto,

Promotor de Justiça Especializado.