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Ministério Público do Rio Grande do Sul
PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA DE MONTENEGRO
RUA AMAURY DAUDT LAMPERT, 333 - CEP 95780000 - MONTENEGRO, RS
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___VARA DA COMARCA DE MONTENEGRO/RS:
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL, por seu órgão firmatário, com
fulcro nos artigos 127, caput, e 129, inciso III, da
Constituição Federal de 1988, artigo 25, inciso IV,
alínea “b”, da Lei n.º 8.625/93 – Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público –, artigo 1º, inciso
IV, da Lei n.º 7.347/85 – Lei da Ação Civil Pública
–, artigo 9º, caput e XI, artigo 10, caput e incisos
I e XII, e artigo 11, caput e inciso II, da Lei n.º
8.429/92 – Lei de Improbidade Administrativa – e
com base nos documentos que integram os autos
do Inquérito Civil n.º 01175.00005/2014, em
anexo, vem, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, ajuizar a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE
RESPONSABILIDADE PELA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E DE
DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
contra PAULO EUCLIDES GARCIA DE
AZEREDO, brasileiro, Prefeito do Município de
Montenegro, nascido em 13/12/1956, filho de
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Euclides Motta de Azeredo e Lurdes Garcia de
Azeredo, RG n. 4001266214, com endereço
profissional na Rua João Pessoa, 1363, no
Município de Montenegro/RS;
BIOMINA URBANIZADORA LTDA, CNPJ n.
12.670.037-000/08, situada na Rua Arnaldo da
Costa Bard, n. 2.940, Sala 804, Centro Taquara,
representada por Fábio Amilton Rodrigues e
Guliherme Hendges Fries;
FÁBIO AMILTON RODRIGUES, RG 5078227187,
CPF 815.455.250-72, sócio administrador da
empresa BIOMINA URBANIZADORA LTDA. ,
residente na Rua Dr. Nelson Renck, 3027/apto
802, Taquara, fone (51) 81210192;
GHILHERME HENDGES FRIES, RG 4066503956,
CPF 011.672.610-54, sócio gerente da empresa
BIOMINA URBANIZADORA LTDA., residente na
Rua Oscar Bauermann, 1670/casa, Taquara, fone
(51) 81181711, pelos fatos e fundamentos a
seguir elencados :
I – BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DAS
INVESTIGAÇÕES
O Prefeito PAULO EUCLIDES GARCIA DE
AZEREDO, logo após assumir seu mandato, em 2013, revogou a licitação
em curso, referente à contratação de empresa para o serviço de
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recolhimento de lixo de Montenegro, deixando de abrir imediatamente novo
certame, e optando pela contratação emergencial da empresa BIOMINA
URBANIZADORA LTDA.
Contudo, a empresa BIOMINA URBANIZADORA
LTDA, desde a sua contratação, em 19 de março de 2013, nunca conseguiu
prestar um serviço adequado, contínuo e eficiente, gerando reclamações
diárias da comunidade e da imprensa. O lixo não era recolhido nos dias e
nos horários estabelecidos. Bairros da Cidade e localidades do interior
ficavam dias e até semanas sem o recolhimento do lixo. As lixeiras e as vias
públicas acumulavam os resíduos, gerando mau cheiro. Havia por parte da
comunidade incerteza e falta de clareza quanto aos dias de recolhimento,
confundindo a população e levando ao desinteresse na separação de
resíduos, já que estes invariavelmente se acumulavam e se misturavam nas
vias públicas em decorrência dos atrasos na coleta. Como se verá adiante, a
empresa operava com menos caminhões do que o necessário para pleno
atendimento do serviço, chegando a disponibilizar em alguns dias apenas
um ou dois veículos, ao invés dos cinco caminhões exigidos.
Muito embora os técnicos do Município
sistematicamente tivessem feito inúmeros apontamentos, por meio de
Comunicações Internas, chamou a atenção o fato de que tais apontamentos
não acarretavam por parte do Prefeito a adoção de providências efetivas e à
altura da gravidade do problema, deixando de aplicar sanções
administrativas pela quebra do contrato decorrente da má prestação do
serviço. Aliás, o Município, através de órgãos de assessoramento do Prefeito
(Chefia de Gabinete e Assessoria de Comunicação), começou a realizar uma
defesa intransigente da empresa junto à mídia, sustentando que a empresa
havia sido alvo de sabotagens e que os problemas eram decorrentes da
anterior empresa que prestava o serviço (fls. 21/23 e 31 do IC –
numeração original), quando, na verdade, os técnicos do Município
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apontavam justamente o contrário, ou seja, que a BIOMINA era responsável
pelo problema, era incapaz de operar tal serviço e deveria ser punida. O
Prefeito até mesmo organizou diretamente, por meio de caminhões e de
equipes do Município, o recolhimento de lixo em dias em que a empresa não
o executou adequadamente, sem, contudo, buscar qualquer indenização.
A situação caótica vivenciada somente foi
solucionada com a intervenção do Ministério Público, que ajuizou ação civil
pública, na qual o Judiciário fixou multa pessoal e elevada ao Prefeito,
impondo que este agisse imediatamente para regularizar o serviço de
recolhimento do lixo, o que redundou, então e só então, na rescisão do
contrato com a empresa BIOMINA.
Diante disso, levantou-se forte suspeita de que o
Prefeito teria beneficiado indevidamente a empresa, o que levou à
instalação pela Câmara de Vereadores de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito, a qual foi concluída com o indiciamento do alcaide por
improbidade administrativa (arts. 10 e 11 da Lei 8.429/92), e por crimes
previstos no Decreto-Lei 201/67.
O relatório da CPI, juntamente com a
documentação correlata, foi encaminhado à Promotoria de Justiça
Especializada, que instaurou o Inquérito Civil nº 01175.00005/2014 e
realizou diligências complementares.
Com base no aludido Inquérito Civil, em anexo,
entende o Ministério Público que, de fato, o PREFEITO praticou uma série de
condutas, por ação e omissão (revogação injustificada de licitação;
contratação emergencial em afronta a princípios e regras da Lei nº
8.666/93; deficiência na fiscalização do serviço, deixando de
praticar ou retardando injustificadamente a prática de medidas
administrativas de responsabilização cabíveis frente à má prestação
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do serviço; ausência de medidas para ressarcimento ao erário e
pagamento indevido por coleta seletiva), que caracterizaram atos
ilegais e que beneficiaram indevidamente a empresa BIOMINA, uma
empresa, diga-se de passagem, totalmente incapaz de operar o serviço de
recolhimento de lixo em Montenegro, restando caracterizados atos de
improbidade administrativa. Além disso, no curso da CPI, o Prefeito induziu
e instruiu previamente servidor público, em depoimento, igualmente
caracterizando ato ímprobo, tudo conforme a seguir descrito.
II – DOS ATOS ÍMPROBOS
1º ATO ÍMPROBO
No período de 05 de fevereiro a 31 de julho de
2013, o réu PAULO EUCLIDES GARCIA DE AZEREDO, na qualidade de
Prefeito de Montenegro, praticou dolosamente atos de improbidade
administrativa, que importaram em prejuízo ao erário e ao interesse público
e causaram enriquecimento ilícito, violando, ainda, os princípios da
legalidade, moralidade e impessoalidade, na medida em que beneficiou
indevidamente a empresa ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA., revogando
licitação anterior e contratando-a, de forma ilegal, para o serviço de
coleta de resíduos sólidos (lixo), transbordo e transporte até a destinação
final, mesmo essa empresa não tendo demonstrado condições técnicas de
executar o serviço pelo preço proposto. Ainda, o PREFEITO PAULO
AZEREDO omitiu-se quanto ao dever de fiscalizar, tendo deixado de
praticar ou retardando injustificadamente a prática de medidas de
responsabilização cabíveis contra a empresa frente à má prestação
do serviço, além de efetuar o pagamento indevido pelo serviço de
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coleta seletiva e de deixar de adotar medidas para ressarcir o erário
por serviço prestado diretamente pela municipalidade.
A seguir, será apresentada em ordem cronológica
a sucessão dos atos ilegais, comissivos e omissivos, emanados pelo Prefeito
que vieram a beneficiar indevidamente a empresa ré e, por via de
consequência, seus sócios, FÁBIO AMILTON RODRIGUES e GHILHERME
HENDGES FRIES, razão pela qual todos estes figuram como réus neste
processo.
REVOGAÇÃO ILEGAL DO PROCESSO LICITATÓRIO 3451/2012
(violação aos arts. 38, IX, e 49 da Lei 8666/93 e desconsideração
do parecer do Controle Interno do Município)
Em 25 de abril de 2012, ainda no mandato do
Prefeito anterior, Percival Souza de Oliveira, foi instaurado o processo
administrativo nº 3451/2012 (Concorrência nº 23/2012), referente à
licitação para contratação de empresa para execução do serviço de coleta
de lixo (fls. 707 e seguintes do IC – numeração original). Em 05 de
dezembro de 2012, foi realizada a abertura da documentação referente à
habilitação das empresas (fl. 877-v do IC – numeração original). Naquela
ocasião, a ora ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. impetrou Mandado de
Segurança, tombado sob o nº 018/1.12.0005379-7, argumentando que o
Município suprimiu um item do edital de licitação, sem reabrir o prazo para
as empresas apresentarem novas propostas. Então, o juízo da 2ª Vara Cível
da Comarca de Montenegro deferiu o pedido liminar, determinando a
suspensão da licitação, entendendo plausíveis as razões invocadas, no
sentido de que o prazo para as propostas deveria ser reaberto, a teor do
art. 21, § 4º, da Lei 8666/93 (fl. 878-v do Inquérito Civil – numeração
original).
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Ocorre que, em 05 de fevereiro de 2013, o
réu PAULO AZEREDO, apenas alegando genericamente “interesse
público”, revogou a licitação (Concorrência 23/2012 – Processo
3451/2012), consoante decisão da fl. 1157 do IC – numeração
original, a qual não está sequer assinada. A decisão não está
fundamentada, não explicita os motivos do ato e sequer faz
referência de que acolhe algum parecer.
Conforme ensina Celso Antônio Bandeira de Mello
(in Curso de Direito Administrativo, 13ª Ed. Malheiros, p. 82), nos atos
administrativos em que existe discricionariedade ou em que a prática do ato
vinculado depende de acurada apreciação e sopesamento dos fatos e das
regras jurídicas em causa, é imprescindível motivação detalhada, tal
como ocorre nos procedimentos em que vários interessados concorrem a
um mesmo objeto, como nas licitações.
Portanto, forçoso concluir que, no caso, a
revogação foi manifestamente ilegal, pois tal ato administrativo
deveria ter sido motivado, fundamentado, até mesmo para que se
pudesse avaliar se efetivamente estava presente o interesse
público, conforme dispõe, aliás, o art. 38, inciso IX, da Lei nº
8666/93.
Não bastasse isso, localizou-se nos autos um
parecer da PGM (ao qual o Prefeito, em sua decisão, não faz remissão), no
qual se argumenta que a revogação da licitação poderia ser justificada na
demora do deslinde do Mandado de Segurança impetrado pela BIOMINA
(fls. 1154/1155 do IC – numeração original).
De qualquer modo, apenas a título de
argumentação, caso tenha sido este o motivo da revogação, o que sequer
está claro, tal não justificaria a medida adotada.
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A revogação de uma licitação somente é possível
nas situações e condições previstas no art. 49 da Lei 8666/93, que
estabelece :
“art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá
revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e
suficiente para justificar tal conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por
provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.”
Assim, para que seja viável a revogação, esta
deve estar ancorada em razões de interesse público devidamente
comprovado e pertinente e suficiente para justificar tal medida. Não
cabe a mera invocação genérica de pretenso atendimento ao interesse
público, sendo preciso sua demonstração concreta e específica no caso
concreto.
A eventual demora na tramitação do Mandado de
Segurança não era motivo pertinente e suficiente para justificar a
revogação da licitação.
Ora, a existência do processo judicial foi
decorrente de uma má interpretação dos dispositivos legais pela
municipalidade, que entendeu possível suprimir um item do edital sem
reabrir prazo para as propostas. Portanto, bastaria ao Município acolher o
entendimento exarado pelo juízo da 2ª Vara Cível e reconhecer o pedido
formulado no Mandado de Segurança. Assim, seria imediatamente aberto
novo prazo para apresentação das propostas. Com isso, restaria encerrado
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o litígio judicial e seria retomado o processo licitatório, evitando-se, aí sim,
novos contratos emergenciais.
Portanto, mesmo supondo, a título de
argumentação, que o referido parecer da PGM serviu de fundamento
para a revogação, conclui-se que, mesmo assim, esta foi um ato
ilegal, na medida em que não observou as condições previstas no
art. 49 da Lei de Licitações. Afinal, a revogação não era um ato
pertinente e nem suficiente para atendimento do alegado interesse público.
Se o problema era a demora no deslinde do Mandado de Segurança, o
adequado seria, como já dito, o Município reconhecer o pedido judicial do
impetrante e a decisão do juízo e, assim, reabrir o prazo para as propostas
e, com isso, se retomar o processo licitatório já em curso.
Aliás, o ato de revogação da licitação permitiu
justamente que ocorressem sucessivas contratações emergenciais, na
medida em que, ao invés de se prosseguir o certame já existente, se iniciou
do “zero” um novo processo licitatório.
Veja-se que, embora revogada a licitação em 05
de fevereiro de 2013, apenas em abril de 2013 foi aberto um novo certame
licitatório, sendo que apenas em 29 de novembro de 2013 foi publicado o
Edital da Concorrência, com previsão de abertura dos envelopes apenas em
fevereiro de 2014 (1866/1870 e 1875/1877 do IC – numeração original)
Ora, tivesse o Município em fevereiro de 2013
reconhecido o pedido judicial no Mandado de Segurança, acatando o
entendimento já exarado pelo juízo, e dado prosseguimento ao certame
existente, a licitação já estaria finda. Contudo, de forma diversa,
completou-se um ano da revogação, com a firmatura do terceiro contrato
emergencial nesse período, sem que o novo certame esteja sequer
concluído.
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Não há dúvida de que a revogação da licitação foi
flagrantemente perniciosa para o interesse público, dando margem para o
prosseguimento de sucessivas contratações emergenciais, o que é evidente
porta aberta para a existência de irregularidades, na medida em que tais
contratações são precedidas de procedimentos administrativos mais
simplificados, facilitando o direcionamento indevido, como se verá adiante.
Registre-se que o Controle Interno do Município,
por meio do Procurador Marcelo Rodrigues, e dos servidores Rogério da
Silva Machado e Luciana Mottin Moreira, ao tomarem conhecimento da
revogação da licitação, peticionaram no Processo 3451/2012,
recomendando que fosse tornada sem efeito tal revogação, entendendo que
esta não foi devidamente motivada e, portanto, seria um ato ilegal.
Contudo, tal entendimento foi desconsiderado pelo PREFEITO, o que reforça
que agiu dolosamente (fls. 1163-v e 1164 do IC – numeração original).
CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL ILEGAL DA EMPRESA BIOMINA
URBANIZADORA LTDA. (ILEGALIDADES NO PROCESSO DE
DISPENSA DE LICITAÇÃO)
Uma vez ilegalmente revogado o Processo nº
3451/2012, o Prefeito não instaurou, de pronto, novo processo licitatório,
tendo, em fevereiro de 2013, autorizado a abertura de processo para
contratação emergencial (dispensa de licitação) de empresa para o
serviço de coleta de lixo (Processo 1154/2013 – fls. 480 e seguintes do C –
numeração original).
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Os princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência encontram-se previstos
no Capítulo VII, que trata da “Administração Pública”, Seção I, Disposições
Gerais, da Constituição Federal (art. 37). Essa localização topográfica
evidencia que tais princípios se destinam a conduzir toda e qualquer ação
da Administração Pública e, logo, devem igualmente ser aplicados
também nas contratações diretas.
Por óbvio, a não realização de licitação não
significa desatendimento aos princípios da isonomia, da economicidade, da
publicidade, da moralidade, da eficiência e da motivação. Na contratação
direta devem estar atendidos todos esses princípios que informam a
atuação da Administração Pública.
As hipóteses de dispensa de licitação devem ser
compatíveis com a sistemática adotada na Constituição Federal e, por
óbvio, os indigitados princípios devem ser aplicados e nunca extirpados.
Afinal, a contratação direta não autoriza a atuação arbitrária da
Administração, de sorte que, existindo vários competidores, a
escolha deve se basear em critérios objetivos e impessoais.
Não obstante isso, compulsando-se o processo de
dispensa de licitação nº 1154/2013, verificam-se diversos atos ilegais, que
vieram a beneficiar a empresa contratada, qual seja, BIOMINA
URBANIZADORA LTDA. Senão vejamos.
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a) Violação do Princípio da Publicidade
(restrição do caráter competitivo)
Na contratação direta, a Administração não precisa
seguir todas as formalidades acerca da publicidade imposta na Lei para a
licitação comum, o que, por certo, não significa poder atuar em segredo.
Há, dessa forma, o dever de a Administração Pública dar conhecimento
público do interesse em realizar um determinado contrato, ainda que tal
contratação esteja prevista para fazer-se diretamente.
No caso, contudo, ao se manusear o processo
administrativo em comento, não se localizou qualquer publicação de edital
dando conta do interesse da municipalidade em realizar a contratação
emergencial. A municipalidade ateve-se apenas a enviar por e-mail para
algumas empresas solicitação para remessa de proposta orçamentária,
deixando de dar a devida e ampla publicidade acerca da pretendida
contratação emergencial, o que, por certo, acabou por restringir o número
de participantes e, por consequência, a competição.
b) Violação do Princípio da Isonomia
A regra geral é a disputa, mesmo na contratação
direta. Assim, todos os potenciais interessados devem ser admitidos a
formular propostas, em igualdade de condições, com possibilidade de
acesso equivalente ao certame.
É fundamental para se garantir tratamento
isonômico entre os participantes, que as propostas sejam encaminhadas de
forma lacrada, designando-se dia e horário para a abertura e análise da
documentação. Com isso, garantir-se-ia o sigilo das propostas e, ainda,
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permitir-se-ia que as empresas acompanhassem a abertura dos envelopes,
contribuindo para fiscalização do ato de escolha.
Contudo, no caso, tal não foi observado, pois os
orçamentos foram remetidos pelas empresas sem qualquer lacre, sendo
enviados informalmente por e-mail, em dias diferentes. O Município não
estipulou sequer data e horário final para a remesa dos orçamentos. Assim,
a Ecotrat enviou sua proposta em 07 de março de 2013, a Komac em 08 de
março de 2013, a Distral em 11 de março de 2013 (fls. 538-v/543 do IC –
numeração original). Quanto à empresa BIOMINA, esta, segundo a
Diretora de Compras Carolina Endres (fl. 229-v do IC – numeração
original), entregou pessoalmente a proposta ao Município, a qual
não está sequer datada, não havendo qualquer carimbo de
protocolo, sem indicação da data do recebimento pela
municipalidade.
Infere-se, dessa forma, que foi frontalmente
violado o princípio da isonomia. Afinal, as empresas que encaminharam as
propostas tardiamente estavam em condições mais vantajosas, pois
poderiam ter acesso ao certame e, assim, conhecimento dos orçamentos
das demais, permitindo a oferta de proposta em menor preço para vencer a
competição. Não se garantiu a igualdade de condições entre os
competidores.
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c) Ausência de propostas financeiras com
planilhas discriminadas dos custos
unitários - Ausência de justificativa do
preço
O art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei
8666/93 estabelece que o processo de dispensa deve ser instruído com
determinados elementos, dentre os quais a justificativa do preço.
Isso significa dizer que a Administração Pública
tem o dever de justificar que a empresa contratada apresentou o melhor
preço. Veja-se que o melhor preço não é necessariamente o menor preço,
pois é obrigação do Poder Público avaliar se a empresa tem condições
técnicas e operacionais de executar o serviço por aquele preço proposto.
Além disso, as propostas não podem conter preços
manifestamente inexequíveis, conforme dispõe o art. 48, inciso II, da Lei
8666/93 :
“Art. 48. Serão desclassificadas:
(...)
II - propostas com valor global superior ao limite
estabelecido ou com preços manifestamente
inexeqüiveis, assim considerados aqueles
que não venham a ter demonstrada sua
viabilidade através de documentação que
comprove que os custos dos insumos são
coerentes com os de mercado e que os
coeficientes de produtividade são compatíveis com
a execução do objeto do contrato, condições estas
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necessariamente especificadas no ato convocatório
da licitação. (...)”
Portanto, a Administração Pública deve
analisar a documentação das empresas, a fim de verificar se o preço
apresentado é viável, o que se comprova mediante confrontação dos
custos dos insumos com os valores de mercado e com o próprio
orçamento inicialmente estimado pelo Poder Público.
É justamente por isso que a Lei de Licitações
exige que se realize orçamento detalhado em planilhas que
expressem a composição de todos os custos unitários dos serviços e
obras que se pretende contratar (art. 7º, § 2º, inciso II). Além
disso, é necessário que as empresas igualmente apresentem suas
propostas financeiras discriminando os custos unitários.
Somente dessa forma é possível identificar os
custos dos insumos apresentados nas propostas, aquilatando se tais são
compatíveis com os preços de mercado e com o orçamento da entidade
contratante. Com isso, se apuram eventuais superfaturamentos ou
propostas inexequíveis.
No caso, as empresas não apresentaram planilha
discriminada de custos unitários, mas apenas planilha genérica com valores
globais dos custos para a coleta urbana, seletiva, rural, transbordo e
transporte, não detalhando, não discriminando os custos com mão de obra,
uniformes e equipamentos de segurança e com composição e operação da
frota (fls. 541, 541v, 542-v, 543 do IC – numeração original).
Conforme se observa, a empresa BIOMINA
URBANIZADORA LTDA. apresentou proposta destoando significativamente
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das demais empresas e bastante inferior ao próprio valor orçado pelo
Município. A BIOMINA ofereceu R$ 150.004,50 por mês, enquanto a KOMAC
ofertou R$ 188.415,36 por mês, a DISTRAL apresentou o valor de R$
188.415,37 e a ECOTRAT ofereceu o montante de R$ 214.022,51. O
Município, por sua vez, estimou o preço em R$ 188.415,37.
Qual o milagre que a BIOMINA operaria para
executar um serviço 21% mais barato do que o próprio Município orçou?
Ora, seria preciso “abrir” a planilha de custos da empresa para se ter noção
da efetiva capacidade para executar nos termos propostos.
Contudo, ao deixar de exigir que as empresas
discriminassem os custos unitários, abdicou o Município do dever de
analisar se a proposta da ré BIOMINA era exequível. Afinal, sem o
detalhamento dos custos, não restou possível a verificação da
viabilidade do preço proposto.
Certamente se a Administração Pública
tivesse exigido a apresentação da planilha de custos unitários e
tivesse realizado confronto com os custos de mercado e com os
valores inicialmente orçados, chegaria à evidente conclusão de que
o preço proposto pela ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. era
inexequível.
Veja-se que, desde o início do contrato e
durante todo o período em que este vigorou, a empresa não
demonstrou capacidade de prestar adequadamente o serviço,
deixando de efetuar o recolhimento nos dias e horários
determinados, sendo que, em alguns locais, o lixo se acumulava
indevidamente por diversos dias, gerando sujeira e mau cheiro nos
passeios públicos e acarretando sucessivas e reiteradas
reclamações da comunidade em geral. A empresa sequer
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disponibilizava o número mínimo de caminhões por dia que lhe era
exigido no contrato.
Assim, tornou-se evidente que a empresa,
com o preço proposto, não tinha condições de executar o serviço
obedecendo a padrões mínimos de eficiência. Cobrava menos
porque fazia menos do que era necessário.
Por tudo isso, infere-se que o Prefeito ao
contratar a empresa ré, sem avaliar a adequação e a exequibilidade
do preço, violou o disposto nos arts. 26, § ú, inciso III e art. 48,
inciso II, ambos da Lei de Licitações, beneficiando indevidamente a
BIOMINA URBANIZADORA LTDA., na medida em que permitiu que
esta, mesmo sem condições, desse início à prestação de tão
relevante e essencial serviço público.
Chama a atenção que o Engenheiro Mario Mayer
Rosa, ao ser ouvido no Ministério Público, mencionou que tanto ele quanto
outros servidores mais experientes na Prefeitura tinham desconfiança com
relação à exequibilidade do contrato com a Biomina no preço proposto.
Acrescentou que essa preocupação foi exposta ao Prefeito, mas este mesmo
assim entendeu por firmar o contrato (fl. 1620 do IC - numeração original).
Tal fato só reforça o agir doloso do Prefeito.
d) Não atendimento a requisito referente à
capacidade técnica
Resta evidente que, mesmo em se tratando de
contratação direta, é necessária a comprovação pela empresa de aptidão
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para desempenho do serviço, sendo que, para tanto, o Município,
inicialmente, exigiu a apresentação de atestado firmado por pessoa jurídica
de direito público que comprovasse a prestação dos serviços em coleta de
resíduos sólidos domiciliares, na quantidade mínima de 900 toneladas por
mês, ou para uma população atendida de, no mínimo, 60.000 habitantes (fl.
544 do IC – numeração original).
Tal exigência se justificava perfeitamente, pois
esses eram os quantitativos estimados do serviço de recolhimento de lixo
em Montenegro, tendo em vista o volume de resíduos produzidos e sua
população. Portanto, o que se pretendia era verificar se a empresa já tinha
prestado serviço em uma cidade em condições similares as de Montenegro.
Ocorre que a empresa BIOMINA não detinha tal
atestado de capacidade, e, assim, não demonstrou que já havia
anteriormente prestado serviços para um município com população de, no
mínimo, 60.000 habitantes ou com recolhimento de 900 toneladas de lixo
por mês.
Para tentar burlar essa exigência, a empresa
apresentou dois atestados, um de Taquara (recolhimento de 750t/mês e
população de 54.643 habitantes1) e outro de São Francisco de Paula
(recolhimento de 350 t/mês e população de 20.537 habitantes2), tendo o
Município de Montenegro somado os quantitativos para declarar atendida a
exigência técnica em questão (!!!), conforme documentos das fls. 597/598,
609/610, 611/612 do IC – numeração original.
Ora, prestar serviços para diversos municípios com
volume de lixo menor não é a mesma coisa que prestar serviços para um
1 Censo 2010 – IBGE – fl. 609-v do IC – numeração original.
2 Censo 2010 – IBGE – fl. 1848 do IC – numeração original.
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Município com população maior e com maior volume de resíduos a recolher,
pois, neste último caso, se exigem mais e melhores condições operacionais.
Ainda que Taquara possua número de habitantes
próximo a de Montenegro, o fato é que a exigência técnica solicitada pelo
próprio Município não foi atendida.
Mesmo não apresentando o atestado de
capacidade técnica nos termos e moldes exigidos inicialmente pelo
Município, o Prefeito contratou a empresa, sendo que o resultado é
por todos conhecido, restando evidente que a BIOMINA não tinha
capacidade técnica para o serviço, sendo, dessa forma,
indevidamente beneficiada.
DEFICIÊNCIA INJUSTIFICADA DO DEVER DE FISCALIZAR
(AUSÊNCIA DE APLICAÇÃO DE SANÇÕES ADMINISTRATIVAS FRENTE
AO GRAVE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL – RETARDAMENTO
INJUSTIFICADO DA MEDIDA DE RESCISÃO CONTRATUAL)
Desde os primeiros dias de execução do contrato,
em março de 2013, a ré BIOMINA URBANIZADORA LTDA. prestou serviços
deficientes, o que foi constatado pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, através do então Secretário Municipal do Meio Ambiente José
Carlos Barreto e da Gestora Ambiental Elisa Kerber Schoenell, e pelo fiscal
do contrato, o engenheiro do Município Mário Mayer Rosa, os quais, em
relatórios técnicos, apontaram os problemas e solicitaram providências
punitivas, com a abertura de três Processos Administrativos.
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Ao ser ouvido na Promotoria de Justiça
Especializada, o engenheiro Mario Rosa referiu que é função do fiscal apurar
eventuais irregularidades na execução do contrato que não sejam de amplo
conhecimento. No caso da BIOMINA, a má prestação do serviço era de
amplo conhecimento, de sorte que ele acreditava que a Administração
Pública iria tomar providências a respeito por conta própria, sem a
necessidade de ele formular requerimentos. Ocorre que isso não se deu e,
então, ele percebeu a necessidade de formalizar os problemas, por meio
dos referidos relatórios técnicos (fl. 1619-v. do IC – numeração original)
Contudo, ao fim e ao cabo, o Prefeito PAULO
AZEREDO, nestes Processos Administrativos, não adotou efetivamente
qualquer medida punitiva contra a empresa, permitindo, com isso, que o
serviço continuasse sendo prestado de forma temerária, descontínua e
ineficiente, não obstante os apelos de uma comunidade indignada. Aliás, a
rescisão contratual, no final do mês de julho de 2013, como já referido
alhures, sequer partiu espontaneamente do Prefeito, sendo consequência do
ajuizamento de ação civil pública movida pelo Ministério Público.
Passa-se à análise de cada um desses três
Processos Administrativos, a fim de explicitar a omissão do réu PAULO
AZEREDO quanto ao seu dever de punir administrativamente a empresa.
a) Processo 2013/2510 (fls. 685/706 do
IC – numeração original)
Já em 27 de março de 2013, os fiscais do
Município, Mário Mayer Rosa e Elisa Kerber Schoennel, apontaram diversos
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problemas : a) não coleta de resíduos durante o final de semana (23/03 e
24/03/2013); b) não atendimento do cronograma de coleta previsto para
iniciar em 25/03/2013; c) não encaminhamento de caminhão reserva para
suprir o caminhão que estragou; d) não coleta de grama dos munícipes.
Os fiscais remeteram minuta de notificação de
advertência à PGM para análise, a fim de ser encaminhada à empresa,
dando ensejo à abertura do processo administrativo 2013/2510.
Não foi aplicada a medida de advertência pelo
Prefeito, sendo que este apenas notificou a empresa para se manifestar em
cinco dias acerca dos problemas apontados, sob pena de aplicação de
sanção. A notificação é datada de 1º de abril de 2013.
Em 08 de abril de 2013, a BIOMINA protocolou
defesa, abrindo-se o expediente 2013/2801 (fls. 1751/1762 do IC –
numeração original). Em 09 de abril de 2013, a defesa da empresa é
encaminhada pela Secretária-Geral do Município à Procuradoria-Geral do
Município para conhecimento, análise e manifestação. Contudo, a PGM, em
03/05/2013, devolveu o processo à Secretária-Geral do Município sem nada
dizer. Em 06/05/2013, a Secretária-Geral do Município devolveu novamente
o expediente à PGM para que se manifestasse. Então o Procurador-Geral do
Município limitou-se a pedir que o fiscal do contrato se manifestasse. O
fiscal do contrato se manifestou em 23 de maio de 2013, informando que a
medida de advertência deveria ser aplicada, anexando, mais uma vez,
minuta de notificação.
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Contudo, nenhuma medida foi efetivamente
aplicada, não havendo nem parecer da Procuradoria-Geral do
Município e nem decisão do Prefeito a respeito3.
b) Processo 2013/3915 (fls. 1173/1196
do IC – numeração original)
A fiscal Elisa Kerber Schoenell e o Secretário
Municipal do Meio Ambiente encaminharam a Comunicação Interna nº
221/2013 à Procuradoria-Geral do Município, datada de 09/05/2013, dando
conta, mais uma vez, do não cumprimento do contrato emergencial pela
empresa ré. Referiram que as rotas de coleta de resíduos não vinham sendo
cumpridas, que havia atrasos no recolhimento e que nem sempre o
caminhão passava nos dias pré-definidos nos bairros. Acrescentaram que os
coletores amontoavam os resíduos de diversas residências no chão e
demoravam a passar com o caminhão para coletá-los, acarretando na
abertura dos sacos por cães ou por catadores informais, sujando o passeio
público. Disseram que as reclamações provinham também de hospitais, de
escolas e de restaurantes.
Tal Comunicação Interna deu ensejo a um
segundo processo administrativo, tombado sob o nº2013/3915.
Então, neste Processo Administrativo, apenas em
27 de maio de 2013, foi expedido ofício à empresa, por meio do qual foi
3 Os documentos das fls. 686 e 1761 do IC – numeração original são, na verdade, apenas minutas de
notificação de advertência, subscritas pelos fiscais do Município. O documento efetivamente encaminhado à Biomina é a notificação da fl. 705 e esta, como já dito, não aplica sanção, mas apenas abre prazo para a empresa se defender.
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notificada para prestar o serviço conforme previsão contratual ou
apresentar defesa em 10 dias.
Chama a atenção que, embora datado de 27 de
maio, o ofício somente foi recebido pela empresa em 20/06/2013, muito
embora a situação fosse grave e o clamor público fosse generalizado.
Só este fato, por si, é emblemático, ao demonstrar
o desinteresse do Prefeito em ver efetivamente responsabilizada a empresa,
apesar do caos instalado no recolhimento do lixo. A demora de
aproximadamente um mês para uma simples notificação, evidencia que, por
parte do Prefeito, não havia efetiva pressa e nem vontade de que punições
fossem adotadas contra a empresa.
De qualquer sorte, a empresa apresentou defesa,
em 27/06/2013, tendo a Procuradoria-Geral do Município, somente em
10/07/2013, determinado que a Secretaria Municipal do Meio Ambiente se
manifestasse acerca da resposta da Biomina.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em
15/07/2013, replicou, reiterando que, de fato, as rotas não estavam sendo
cumpridas nos dias estipulados. Acrescentou ter colhido informações de que
não estava ocorrendo nem coleta seletiva e nem rural. A Secretaria
encaminhou em anexo recortes de jornal e cópia de novo relatório de
fiscalização, datado de 26/06/2013.
Contudo, não obstante os apelos da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente para que sanções fossem adotadas, não há
nos autos do processo 2013/3915 qualquer aplicação de sanção à
empresa. Não há decisão nenhuma do Prefeito nestes autos, com
relação à fiscalização realizada.
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c) Processo 2013/5310 (fls. 1197/1214
do IC – numeração original)
Por fim, os fiscais Elisa Kerber Schoenell e Mario
Rosa elaboraram um novo relatório de fiscalização, datado de 26/06/2013.
Referiram que a coleta seletiva não estava ocorrendo regularmente. Na
semana de 17 a 21/06, teria ocorrido coleta seletiva em apenas 02 dias, e
na semana de 24 a 28/06 sequer teria ocorrido coleta seletiva. Sustentaram
que três meses haviam se passado desde que a empresa começou a prestar
o serviço de coleta de resíduos e ainda não havia conseguido se regularizar.
Finalizaram, informando que os fatos descritos se enquadravam na
cláusula 9, alíneas “c” e “f”, indicando multa de 10% sobre o valor
total corrigido da contratação.
Tal relatório deu ensejo ao Processo
2013/5310 que não contou com nenhuma outra movimentação (!!!).
Ora, diante do contexto caótico vivenciado pelos
munícipes e diante dos apontamentos dos próprios fiscais, não se consegue
vislumbrar qualquer justificativa lícita e razoável para que o Prefeito PAULO
AZEREDO, na época, não aplicasse nenhuma sanção à empresa. No
processo 2013/2510, notificou-se a empresa para manifestação, esta
se manifestou e nada foi sequer decidido. No processo 2013/3915,
igualmente não se aplicou qualquer sanção e nem também sequer
houve decisão administrativa. No processo 2013/5310, consta
apenas o relatório de fiscalização e nada mais.
Portanto, com base na simples leitura desses três
processos administrativos, conclui-se que o Prefeito deliberadamente
protegeu a empresa BIOMINA, deixando de aplicar as sanções cabíveis à
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espécie. Afinal, não aplicou as sanções de advertência, nem de multa
de 10% sobre o valor corrigido da contratação e nem decidiu pela
declaração de inidoneidade, muito embora houvesse amparo para
tanto, destacando-se os relatórios técnicos e as solicitações dos
fiscais da própria municipalidade.
Veja-se que, ao não ter sido declarada inidônea, a
empresa BIOMINA não está afastada a priori de participar de novos
certames e de retornar a executar tal serviço neste Município, o que é
extremamente temerário, já que demonstrou à saciedade não ter condições
de operar em Montenegro.
Não socorre ao réu PAULO AZEREDO o argumento
de que reteve créditos da empresa BIOMINA. Na verdade, como se verá
mais adiante, parte significativa da retenção de créditos (R$ 73.022,71)
teve por finalidade dar cumprimento à ordem judicial expedida pela Justiça
do Trabalho. As demais retenções se referem a recolhimentos
previdenciários (INSS) e tributários (ISSQN), bem como à multa contratual
por não apresentação de perfil profissiográfico previdenciário. Ainda, houve
retenção, a pedido da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (CI 374/2013
– fl. 1734 do IC – numeração original), pois esta apurou a necessidade de
desconto de R$ 3.221,75 decorrente do pagamento a maior por coleta
seletiva, já que se identificou, no período de 08/07 a 12/07 e 15/07, que o
veículo desse tipo de coleta teria sido usado para coleta urbana. Contudo,
como já referido anteriormente, não houve qualquer aplicação de
multa ou outra punição pela inexecução do contrato, ou seja, pela
falta do recolhimento adequado do lixo, muito embora a Secretaria
Municipal do Meio Ambiente tivesse expressamente solicitado a
aplicação de multa de 10% sobre o valor total da contratação. Veja-
se que o valor dessa multa sugerida não foi retido pela
municipalidade, conforme se infere da planilha de ordem de
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pagamentos juntada aos autos (fls. 1744/1746 do IC – numeração
original).
d) Audiência na Promotoria de Justiça
Especializada – Apatia da Administração
Municipal – Necessidade de ajuizamento de
Ação Civil Pública para regularização do
serviço de recolhimento do lixo – decisão
judicial - Rescisão Contratual com a BIOMINA
Frente à caótica situação referente ao
recolhimento do lixo e à flagrante e injustificada apatia do Município de
Montenegro, a Promotoria de Justiça Especializada instaurou Inquérito Civil
para adoção de providências, tendo realizado reunião, em 08/07/2013, com
representantes do Município e da empresa Biomina.
Na ocasião, chamou a atenção do Ministério
Público a postura do Município, pois este não apresentou qualquer proposta
efetiva de ação para solução do problema, muito embora a empresa não
tivesse apresentado naquela solenidade qualquer argumento sólido que
efetivamente justificasse o descumprimento contratual, conforme resta
demonstrado na cópia do Termo de Audiência das fls. 1856/1857 do IC –
numeração original.
Na referida audiência, a empresa BIOMINA
mencionou que o Município rescindiu o contrato firmado com a empresa
ECOTRAT, localizada em Triunfo, responsável pelo transbordo. Sem o
transbordo em Triunfo, o lixo estaria sendo transportado diretamente até o
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destino final em São Leopoldo. De acordo com a empresa, tal fato levaria a
um aumento do tempo de deslocamento dos caminhões até o destino final
em São Leopoldo, sobrando menos tempo para as equipes de garis
efetuarem o recolhimento. Ora, essa situação não justificava o
descumprimento contratual da empresa, porque a ré havia firmado, em 29
de maio de 2013, um aditivo contratual, alterando valores do contrato,
justamente levando em consideração a ausência de transbordo e o fato de o
lixo estar sendo transportado diretamente até o seu destino final em São
Leopoldo. Além disso, a empresa sustentou na indigitada audiência, que o
roteiro de recolhimento de lixo da cidade seria muito longo, com um
percurso de aproximadamente 300 km, quando o ideal seria
aproximadamente 100 km. Tal argumento foi rebatido pelo fiscal do
Município, Sr. Mário Rosa, que referiu que as outras empresas
anteriormente contratadas sempre se utilizaram desse roteiro, sem
qualquer reclamação. Por fim, a BIOMINA, ainda naquela audiência, disse
que estaria com dificuldade de obtenção de mão-de-obra, sendo que o fiscal
do Município, Mário Rosa, observou que os salários dos empregados da
BIOMINA são inferiores aos salários que vinham sendo pagos anteriormente
por outras empresas de recolhimento de lixo na cidade (fls. 1856/1857 do
IC – numeração original).
Portanto, como já dito, não havia argumento
algum que justificasse a incapacidade da empresa na operacionalização do
serviço contratado. Contudo, mesmo assim, o Município não manifestou
qualquer medida de responsabilização administrativa e nem judicial contra a
empresa.
Não havia quem não reclamasse do problema,
incluindo até mesmo os correligionários do partido do Prefeito, sendo que,
no dia 15 de julho de 2013, o vereador Roberto Braatz, filiado ao próprio
partido do Prefeito (PDT), protocolou no Ministério Público representação
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solicitando providências, pois igualmente não vislumbrava solução por parte
da municipalidade (fls. 1858 /1860 do IC – numeração original)
Como a apatia do Município de Montenegro
persistia, o Ministério Público, em 17 de julho de 2013, ajuizou ação civil
pública, solicitando a concessão de antecipação de tutela, a fim de
determinar que a BIOMINA e o Município de Montenegro, em no máximo
48 (quarenta e oito) horas, passassem a prestar, de forma adequada,
eficiente e contínua, o serviço de recolhimento de resíduos sólidos (urbano,
rural e seletivo) e transporte até a destinação final, de acordo com o roteiro
de recolhimento de lixo (dia, horários e locais) já estabelecido, sob pena de
pagamento de multa diária de R$ 10.000,00 (dez mil reais) à empresa
BIOMINA e de R$ 1.000,00 (mil reais) ao sócio-gerente dessa empresa e ao
Prefeito (fls. 1849/1855 do IC – numeração original).
No dia 18 de julho de 2013, o eminente Juiz de
Direito Dr. André Luís de Aguiar Tesheiner, atuando na 2ª Vara Cível de
Montenegro, deferiu o pedido liminar, determinando que a empresa e o
Município regularizassem o serviço de coleta de lixo, em 48 (quarenta e
oito) horas, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 à BIOMINA e de R$
500,00 ao sócio-gerente da empresa e ao Prefeito pessoalmente. O juízo
explicitou em sua fundamentação que o Município de Montenegro,
embora possuísse o dever de fiscalizar o cumprimento das
obrigações assumidas pela empresa Biomina, não vinha realizando
esforços suficientes para a solução dos problemas, o que justificava
a decisão liminar de caráter coercitivo (fls. 1861/1862 do IC –
numeração original).
Então, após noticiada na mídia local a decisão
judicial e após intimado pessoalmente (fls. 1863-v e 1864/1865 do IC –
numeração original), não restou outra alternativa ao Prefeito senão
rescindir unilateralmente o contrato com a empresa ré e abrir novo
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processo de contratação emergencial, a fim de evitar o pagamento de multa
pessoal e visando a dar cumprimento à ordem judicial que determinava que
agisse em prol da comunidade.
Calha aqui registrar que o Município de
Montenegro não firmou qualquer Termo de Rescisão Contratual com a
empresa BIOMINA, tendo emitido, em 24/07/2013, apenas um
“COMUNICADO” (fl. 1847 do IC – numeração original), de que estava
rescindido o contrato, mas que a empresa BIOMINA deveria continuar
prestando o serviço até a data em que assumisse uma nova empresa. A
BIOMINA prestou o serviço de recolhimento do lixo até 31/07/2013, tendo a
nova empresa contratada emergencialmente (KOMAC) assumido em 1º de
agosto de 2013.
De acordo com o art. 78, parágrafo único, da Lei
8666/93, os casos de rescisão contratual devem ser FORMALMENTE
motivados nos autos de processo administrativo, assegurado o contraditório
e a ampla defesa.
Ora, não houve decisão do Prefeito a respeito da
rescisão contratual. Veja-se que o Ministério Público notificou o Prefeito
para que apresentasse cópia da decisão administrativa, sobrevindo um
único documento, intitulado de “COMUNICADO”, assinado pelo Procurador-
Geral do Município, que informa a empresa de que estaria, a partir de
24/07/2013, rescindido o contrato, sem sequer mencionar especificamente
os motivos da rescisão ou fazer referência a qualquer decisão prévia,
citando apenas genericamente os artigos 77 e 78 da Lei 8666/93, em que
são arrolados todos os motivos, em tese, possíveis para eventual rescisão
(de inexecução à falência).
Esse proceder do Município bem demonstra dois
pontos importantes : a) o Prefeito não rescindiu espontaneamente o
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contrato, mas sim porque havia medida judicial obrigando-lhe a agir e a
adotar de forma rápida (48 horas) alguma providência em prol da sociedade
montenegrina, sob pena de pesadas multas, inclusive pessoais; b) o
Prefeito e os sócios da BIOMINA guardavam relacionamento estreito entre
si, caso contrário a empresa iria impugnar administrativa e/ou judicialmente
a forma como se operou a rescisão unilateral, que não foi sequer
formalmente motivada pelo Prefeito por meio de uma decisão
administrativa.
e) Não disponibilização pela empresa do
número mínimo de caminhões – Falta
injustificada de providências pelo Município
Merece destaque específico o fato de que o
Contrato emergencial firmado com a empresa BIOMINA URBANIZADORA
LTDA. estabelecia que as obrigações da contratada seriam as constantes no
Memorial Descritivo (Relatório Técnico) integrante do Processo
Administrativo 1154/2013 (cláusula 7ª – fl. 620 do IC – numeração
original).
Nesse relatório técnico elaborado pelo Município,
constava expressamente a necessidade de a empresa vencedora
disponibilizar, NO MÍNIMO, 03 (três) caminhões coletores com capacidade
mínima de 15 m³ do tipo compactador para coleta urbana, 01 (um)
caminhão com carroceria aberta, tipo baú, com capacidade de carga mínima
de 25 m³ para coleta seletiva, e 01 (um) caminhão coletor com capacidade
mínima de 15 m³ do tipo compactador para coleta rural, totalizando cinco
veículos (fls. 510/523 do IC – numeração original).
Contudo, conforme se infere das planilhas de
medição do serviço (versão final revisada pela Secretaria Municipal do Meio
Ministério Público do Rio Grande do Sul
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Ambiente - fls. 1650/1651, 1657/1660, 1668/16721680/1686, 1695/1700
do IC – numeração original) e tickets de pesagens (fls. 1454/1600 do IC –
numeração original), conclui-se que a empresa NUNCA operou NENHUM
DIA SEQUER com o número mínimo de veículos exigidos no contrato. No
máximo, operava com quatro caminhões por dia, havendo, contudo,
diversos dias em que operava com três veículos, ou até mesmo com
dois ou com um único apenas.
Nesse sentido, identificaram-se 04 dias com
um único caminhão recolhendo lixo, 14 dias com apenas dois
veículos recolhendo lixo, 33 dias com três caminhões e 64 dias com
quatro veículos (planilha de medição dos serviços – fls. 1647/1700
do IC – numeração original).
01 caminhão 3%
02 caminhões 12%
03 caminhões 29%
04 caminhões 56%
nº de caminhões por dia trabalhado
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A título de ilustração, conforme planilhas de
medição já referidas, veja-se, por exemplo, que, dia 31/03/2013, um único
caminhão recolheu lixo apenas urbano, no montante de 2,46 toneladas. Em
17 de julho de 2013, um caminhão prestou o serviço recolhendo 6,53
toneladas apenas do lixo rural. Ainda, em 09 de maio de 2013, dois
caminhões recolheram lixo urbano e rural, no total de 11,45 toneladas. No
dia 27 de junho de 2013, com três veículos em operação, nenhum lixo seco
ou rural foi recolhido, mas apenas urbano, no montante de 19,96
toneladas4.
Ocorre que a produção estimada de lixo era de
33,33 toneladas por dia5.
Procurou-se, com o exemplo acima, citar situações
que se referem aos diversos meses de execução do contrato, evidenciando
não se cuidar de uma ocorrência pontual ou isolada, havendo recolhimento
diário até mesmo inferior a 10% do lixo produzido.
Aí bem se observa o quanto de lixo acabava por se
acumular sistematicamente nas lixeiras, misturando-se entre seco e
orgânico e gerando mau cheiro.
Apesar disso, não se vislumbrou, por parte do
Prefeito, nenhuma decisão específica no sentido de efetivamente cobrar da
empresa que operasse com o número mínimo de caminhões exigidos por
ocasião da contratação, permitindo, com isso, a operação de um serviço
visivelmente deficiente, sendo que tal fato era facilmente constatável,
4 As informações foram extraídas diretamente da planilha de medição final de serviços das fls.
1650/1651. 1657/1660, 1668/1672, 16801686 e 1695/1700 do IC – numeração original, elaborada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e com base na qual eram efetuados os pagamentos à empresa BIOMINA. 5 750 toneladas urbano+100 toneladas seletivo+ 150 toneladas rural = 1.000 toneladas/mês. (fl. 520 do
IC – numeração original)
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bastando a análise das pesagens realizadas diariamente, dando conta do
total de veículos em operação aquém do acertado no contrato. Ao
contrário, por meio da Assessoria de Comunicação e da Chefia de Gabinete,
consoante já referido alhures, o Prefeito passou a injustificadamente
defender a empresa, sustentando uma tese conspiratória, no sentido de que
esta estaria sendo alvo de sabotagens, apesar de os próprios técnicos do
Município terem entendimento diametralmente oposto, explicitado pelos
diversos relatórios técnicos, dando conta de que a BIOMINA era, isso sim,
incapaz para prestar o serviço.
f) Falta de efetivo controle quanto à
natureza do lixo recolhido
Calha igualmente registrar que o preço contratado
com a empresa BIOMINA variava de acordo não apenas com a quantidade
recolhida, mas também em função da natureza do lixo recolhido. O lixo
urbano convencional custava aos cofres públicos R$ 86,59 por tonelada, o
seletivo R$ 178,43 por tonelada e o rural R$ 147,42 por tonelada, conforme
contrato emergencial firmado.
Cabia à empresa encaminhar aos fiscais do
Município uma planilha de medição do serviço, na qual discriminava o total
de lixo recolhido por veículo diariamente. Para tanto, os veículos eram
pesados no destino final. Primeiro, eram pesados carregados e, após,
vazios, sendo a diferença equivalente ao lixo recolhido e transportado. Tal
pesagem era registrada eletronicamente e emitido um ticket.
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Ocorre que o Município, no destino final, junto ao
aterro sanitário de São Leopoldo, não possuía fiscais que acompanhassem a
pesagem e o descarregamento do lixo, conforme informações colhidas nos
depoimentos da CPI, notadamente do motorista Marcelo Júnior Nunes dos
Santos (fls. 202/204 do IC – numeração original). Assim é que tal
procedimento era apenas acompanhado pelo motorista da empresa
BIOMINA, cabendo-lhe, então, apor à mão a natureza do lixo, ou seja, se
era seletivo, urbano ou rural, conforme se infere das cópias dos tickets nas
fls. 1454/1600 do IC – numeração original.
Esses tickets eram, então, encaminhados ao
Município, juntamente com a planilha de medição para o pagamento.
Ora, bem se vê que o Município possuía controle
quanto à pesagem (quantidade de lixo por veículo), mas não possuía
controle efetivo quanto à natureza do lixo recolhido (seletivo, urbano ou
rural), ficando à mercê das informações apostas pelos motoristas da
empresa.
A falta de controle nesses termos é conduta grave,
violando o princípio da moralidade, permitindo abusos.
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DO PREJUÍZO AO ERÁRIO 6
a) Falta de indenização da empresa pelo
serviço diretamente realizado pelo Município
de Montenegro
Entre os dias 23 de março de 2013 e 25 de março
de 2013, em plena vigência do contrato da BIOMINA URBANIZADORA
LTDA., o Município de Montenegro realizou diretamente a coleta de lixo com
equipamentos e pessoal próprios, em decorrência da falta de atendimento
adequado pela empresa contratada.
Conforme apurado pelo fiscal do contrato,
engenheiro Mario Mayer Rosa, o Município, na ocasião, se viu obrigado a
recolher 26,59 toneladas de lixo, entre coleta urbana, rural e seletiva, a fim
de aplacar a situação de acúmulo de lixo na Cidade. Concluiu o referido
técnico que a empresa deveria ressarcir o Município em razão dos custos
oriundos dessa coleta. Estimou que o valor a ser ressarcido seria de R$
2.789,24. Tais informações constam em relatório técnico da fl. 294 do IC –
6 Calha registrar que o Sindicato dos Trabalhadores em Empresa de Asseio, Conservação e Limpeza em
Geral ingressou com ação coletiva contra a empresa BIOMINA junto à Justiça do Trabalho, buscando o pagamento de verbas trabalhistas em favor dos empregados que trabalharam em Montenegro. A Justiça do Trabalho determinou, a título cautelar, a retenção dos créditos da empresa perante a municipalidade. Diante disso, foi retido o valor de R$ 73.022,71, sendo efetuado depósito judicial. Também foram ajuizadas diversas reclamatórias trabalhistas individuais. Tanto na ação coletiva quanto nas individuais, figuram como réus a BIOMINA e o Município de Montenegro. Portanto, caso o valor depositado não seja suficiente para o pagamento das verbas trabalhistas, corre-se o risco de o Município de Montenegro, enquanto corréu, arcar com tais despesas, na hipótese de a Justiça do Trabalho entender pela responsabilização da municipalidade, o que levaria ao prejuízo ao erário . Faz-se esse registro para demonstrar que o prejuízo ao erário poderá ser ainda maior do que o descrito nesta petição inicial (fls. 172 e 1725/1748 do IC – numeração original).
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numeração original, encaminhado pelo engenheiro à Procuradoria-Geral do
Município.
Contudo, o Município não adotou qualquer
providência para se ressarcir desse custo. Embora o Procurador Geral do
Município tenha informado tanto à CPI quanto ao Ministério Público que o
valor foi descontado da empresa, tal informação não veio acompanhada de
nenhum documento comprobatório nesse sentido, o que, inclusive, foi alvo
de apontamento no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito
(fls. 1871 do IC – numeração original).
Além disso, o próprio Prefeito, ao ser ouvido na
Promotoria de Justiça Especializada, disse que não seria o caso de
ressarcimento, pois a empresa não recebeu pelo recolhimento desse lixo (fl.
1713 do IC – numeração original).
Ora, não se pode olvidar que o equipamento
e o pessoal alocados diretamente pelo Município foram desviados
das atividades fins a que destinados. Em outras palavras, ao realizar
o serviço de coleta de lixo diretamente, o Município deixou de
atender outras atividades públicas que poderia fazer com essas
máquinas e equipes de servidores, tendo despendido recursos
próprios físicos e humanos e, por tal motivo, deve ser indenizado
pela empresa.
Ao não buscar a devida indenização, o
Prefeito beneficiou ilicitamente a empresa BIOMINA, devendo
ambos, por isso, serem responsabilizados.
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b) Do pagamento indevido pelo serviço de
coleta seletiva
Conforme estabelecido pelo próprio Município, no
processo de contratação emergencial, a coleta seletiva de resíduos
recicláveis (lixo seco) consistiria no serviço de recolhimento de porta em
porta, com transporte até um local para realização da separação dos
materiais por catadores, sendo que o material não reciclado deveria ser
acondicionado em caixas e, após, encaminhado até o destino final. A coleta
deveria ser realizada nos 26 bairros do Município, duas vezes por semana
em cada um deles, conforme cronograma estipulado pela Secretaria
Municipal do Meio Ambiente. Para tanto, deveria pôr à disposição um
veículo, com carroceria aberta e com capacidade mínima de 25 m³ (ver
Relatório Técnico das fls. 510/523 do IC – numeração original).
Para esse serviço, o Município contratou a
empresa BIOMINA, pagando-lhe R$ 178,43 por tonelada, valor este bem
superior ao pago pela coleta convencional (R$ 86,59 por tonelada).
O Município pagava por esse serviço, a partir dos
tickets de pesagens emitidos junto à Ecotrat (nos primeiros 11 dias de
contrato) e junto ao aterro sanitário em São Leopoldo (de 1º/04 a
31/07/2013). Para tanto, somava-se o montante de lixo recolhido e
transportado pela empresa com relação aos caminhões indicados para a
coleta seletiva. Contudo, como visto acima, no aterro sanitário em São
Leopoldo, não havia fiscais do Município e quem apunha à mão qual a
natureza do lixo transportado no caminhão era o motorista da própria
empresa BIOMINA. Assim, nada impedia que caminhões inicialmente
indicados para a coleta seletiva, fizessem, na prática, recolhimento de lixo
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convencional. Aliás, a própria Secretaria Municipal do Meio Ambiente
apontou tal prática irregular.
De mais a mais, para que fosse considerado
cumprido o serviço de coleta seletiva seria preciso: a) o cumprimento pela
empresa contratada do roteiro de recolhimento de lixo seco, nos dias e
horários definidos, colocando efetivamente à disposição da comunidade tal
espécie de coleta; e b) existência de local onde se pudesse efetivamente
triar o lixo seco recolhido, reciclando os materiais.
É possível afirmar que, na prática, tal não ocorreu
no período em questão. Senão vejamos.
Como dito, os veículos que a empresa colocou à
disposição para realizar a coleta seletiva (lixo seco) eram sistematicamente
utilizados para realização de coleta urbana e/ou rural.
Nesse sentido, a própria Secretaria Municipal do
Meio Ambiente, através da Comunicação Interna 315/2013, apontou tal
situação, noticiando que o caminhão caçamba específico para a coleta
seletiva era indevidamente utilizado na coleta urbana. Acrescentou :
“Portanto, o município pode estar pagando por um serviço que não está
ocorrendo, sendo que o valor da coleta seletiva é maior que o da coleta
urbana, o que agrava mais este fato.” (fls. 1701/1708 do IC – numeração
original)
Além disso, nas próprias planilhas de medições de
serviço prestado (versão final revisada pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente - fls. 1650/1651, 1657/1660, 1668/1672, 1680/1686, 1695/1700
do IC – numeração original), é possível identificar que os veículos colocados
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à disposição pela empresa para a coleta seletiva7 eram reiteradamente
alocados para a coleta urbana (convencional) e/ou rural.
De mais a mais, a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, no mesmo documento já referido, mencionou que, no dia 17 de
julho de 2013, manteve contato com TODOS os coletores (garis) que
aguardavam os veículos da empresa para trabalharem, sendo que estes
informaram que não sabiam da rota de coleta seletiva (!!!).
Não bastasse isso, a empresa não conseguiu, ao
longo da vigência do contrato, cumprir regularmente o roteiro de
recolhimento de resíduos, seja seco ou orgânico, nos dias e horários
definidos, sendo comum o acúmulo de lixo nas lixeiras da Cidade (fls.
1174/1183 do IC –numeração original). Como já dito alhures, há relatos de
moradores de que a BIOMINA atrasava dias e até semanas para recolher o
lixo. Como visto anteriormente, teve dias em que o recolhimento de lixo foi
inferior a 30% do total produzido, chegando até mesmo a menos de 10%.
Vistoria técnica em julho de 2013, mencionada pela Comunicação Interna
315/2013 da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, constatou, ainda, que
a coleta continuava sem seguir o cronograma estipulado, sendo verificadas
diversas localidades com grande quantidade de resíduos. Com isso, os
resíduos se acumulavam nas lixeiras de um dia para outro e assim
sucessivamente, de sorte que a mistura entre orgânico e seco era
inevitável, tornando inviável e sem razão a separação pela
comunidade dos resíduos por natureza.
Veja-se que a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, através dos fiscais Mario Rosa e Elisa Schoennel, por
meio da CI 306/2013, datada de 15/07/2013, referiu que, com
7 De acordo com a técnica do Município, Elisa Schoenell, os caminhões indicados para coleta seletiva
eram os de placas IPR 0232 e ISX 9347, além de eventualmente algum outro caminhão reserva.
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relação ao cumprimento das rotas, como estas não estavam sendo
cumpridas nos dias estipulados, acabavam por confundir os
munícipes quanto ao dia certo para colocar os sacos de resíduos na
lixeira (fl. 1193-v. do IC – numeração original).
Estes fiscais acrescentaram, ainda, que uma
funcionária de empresa, responsável pelo atendimento às reclamações dos
usuários por meio do telefone 0-800, informou-lhes que Montenegro “não
tem coleta seletiva” e que “Montenegro não paga por esse serviço”. A
declaração dessa funcionária evidencia que a empresa, embora recebesse
pelo serviço seletivo, na prática não o prestava.
Ainda, no ofício da fl. 1196 do IC – numeração
original, datado de 26 de junho de 2013, os mesmos técnicos do Município
lamentam que, depois de uma campanha de anos para que a população
separasse seu resíduo reciclável em casa, com rotas e dias estipulados para
coleta apenas do resíduo seletivo, a comunidade não quer mais separar os
resíduos porque o caminhão não tem passado.
Cita-se, outrossim, trecho de representação
oferecida ao Ministério Público pelo Vereador Roberto Braatz (PDT), que
bem ilustra a situação vivida (fls. 1858/1860 do IC – numeração original):
“(...)até o final de 2012, a contraprestação era aceitável. Aliás, era o ponto forte da administração anterior. Os contribuintes sabiam os dias e
horários que havia o recolhimento. Havia dias e horários tanto para recolhimento do lixo sexo,
quanto do orgânico. Éramos atendidos. Muitos moradores separavam o lixo. Desde que o atual prefeito assumiu, o recolhimento está
anarquizado. Como é de conhecimento dos integrantes do Ministério Público. A situação
piorou a partir de março. Todos os dias há reclamações. A empresa prestadora do serviço contratado pela prefeitura não tem
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recolhido o lixo nos dias e horários por ela mesma divulgado. Depois de muitas
reclamações, a empresa divulgou na imprensa local cronograma de recolhimento. Não cumpriu um dia sequer por inteiro. (....) Além de
causar desconforto e a irritabilidade dos contribuintes esta anarquia tem colocado por
terra o frágil programa antes existente de separação do lixo. Muitos que separavam o lixo não mais o fazem.(...) A leniência do
Executivo ante o caso é preocupante.” [grifou-se]
Nesse mesmo sentido, destaca-se o depoimento
do motorista da BIOMINA Marcos Antônio Lopes Linhares, perante a
Comissão Parlamentar de Inquérito (fl. 184 do IC – numeração original),
referindo:
Presidente : Coleta seletiva, existia, não ?
Marcos Antônio: Não. Presidente: Nunca
houve? Marcos Antônio : Nunca houve. O que
acontecia é que o caminhão que era para fazer a
coleta seletiva, que seria uma caçamba azul, ela
ajudava a fazer o interior; ela tirava a Germano
Hencke, tirava o Aeroclube, enquanto o outro
caminhão do interior tirava Santa Rita e Estação,
no começo. Então, aquele lixo que ela coletava,
ela pesava como lixo seco, e na realidade era lixo
orgânico, tá entendendo?”
Não socorre ao Município dizer que não pagava
pela coleta seletiva quando o caminhão indicado para esse serviço não
operava ou, ainda, que não pagava o valor diferenciado quando identificava
que esse caminhão trabalhava, no dia, para atender outros serviços.
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Ora, como nos dias de recolhimento de lixo
orgânico os caminhões não atendiam de forma adequada, pois eram poucos
que operavam, então tal lixo se acumulava nas lixeiras. Portanto, nos dias
de recolhimento do lixo seco, ainda que passasse o caminhão (o que sequer
ocorria regularmente como já referido), as lixeiras estavam entulhadas com
o lixo orgânico dos dias anteriores.
Cita-se um exemplo emblemático. No dia 31 de
março de 2013, por se cuidar de domingo, não havia previsão de
recolhimento de lixo na Cidade, mas a empresa BIOMINA efetuou o serviço,
com um único caminhão, na zona urbana. No dia seguinte (1º de abril de
2013 – segunda-feira), embora houvesse previsão de recolhimento de lixo
orgânico e seco em diversos bairros da Cidade (ver fl. 48/50 do IC –
numeração original), nenhum caminhão trabalhou, acumulando-se, então,
mais de 30 toneladas de lixo, só neste dia. No dia 02 de abril, foram
disponibilizados apenas 04 caminhões, que recolheram 34,39 toneladas (ver
planilhas de medição de serviço já citadas). Ora, tal recolhimento não foi
suficiente para esvaziar as lixeiras, pois em dois dias (1º e 02/04), a
produção estimada de lixo excede a 60 toneladas. E assim, como visto, os
lixos se amontavam no passeio público...
É razoável, então, que a empresa receba um valor
dobrado por esse tipo de recolhimento? Isso é uma prática de coleta
seletiva? Certamente, a resposta é negativa.
Por fim, mas não menos importante, ressalta-se
que, no período de 20 a 31 de março de 2013, o lixo era transportado pela
BIOMINA até a ECOTRAT, pois esta era contratada pela municipalidade para
realizar o recebimento dos resíduos em área de transbordo com uma central
de triagem. Contudo, com a extinção do contrato com a ECOTRAT, a partir
de 1º de abril de 2013, a empresa BIOMINA, com a concordância do
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Município, passou a transportar diretamente o lixo recolhido até o aterro
sanitário da Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos, em São
Leopoldo.
Tal aterro sanitário serve de depósito final do lixo,
de sorte que não é feito nenhum tipo de trabalho de separação de resíduos
e nem de reciclagem, consoante, inclusive, confirmado por Antônio
Saldanha Nunes, representante da Companhia Riograndense de Valorização
de Resíduos, ouvido na CPI (fl. 212/214 do IC – numeração original).
Ora, se o lixo recolhido é transportado
diretamente para um aterro sanitário, sem atividade de reciclagem, então,
não há qualquer razão lógica para que se realize uma coleta seletiva,
pagando-se o dobro do valor por tal serviço.
Por tudo isso, fica claro que a empresa
BIOMINA não poderia ter recebido valor diferenciado e maior por
um serviço que não foi colocado efetivamente à disposição da
comunidade, pois a empresa: a) não cumpria adequadamente o
roteiro de recolhimento de lixo em geral, confundindo os munícipes
quanto ao dia e ao horário da coleta seletiva; b) permitia que o lixo
se acumulasse nas lixeiras de um dia para outro sucessivamente,
levando à mistura entre o seco e o orgânico; c) utilizava os
caminhões de coleta seletiva para realização de coleta urbana e/ou
rural; d) transportava, no período de 1º/04 a 31/07/13,
diretamente o lixo, independente de ser seletivo ou orgânico, até
um aterro sanitário, onde não havia qualquer tipo de separação ou
reciclagem do material.
Ora, é lamentável dizer que existia coleta
seletiva. Existia, isso sim, um caminhão caçamba indicado pela
empresa para esse serviço (o de placas IPR 0232 ou o de placas ISX
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9347), mas que não cumpria os roteiros adequadamente ou, ainda,
fazia outros serviços de coleta, ou, então, até poderia passar no dia
programado, mas as lixeiras estavam entulhadas de lixos dos
demais dias em atraso.
Portanto, é inconcebível que se pagasse
dobrado por esse recolhimento, nos moldes como estava sendo
realizado. Sendo indevido o pagamento, o ressarcimento ao erário é
medida que se impõe.
Considerando que, de acordo com o
Município, a empresa BIOMINA, nos veículos indicados para a coleta
seletiva, recolheu 436,798 toneladas, no período em que prestou o
serviço em Montenegro, e considerando, como visto, não ser cabível
considerar prestado o serviço de coleta seletiva nos moldes como
ocorreu, então, ao invés de pagar o valor diferenciado de R$ 178,43
pela tonelada, deveria ter sido pago R$ 86,59, que era o preço da
coleta convencional/urbana. Nesses termos, ao invés de receber R$
77.936,429 por esse recolhimento, a BIOMINA deveria ter recebido
apenas R$37.821,64, devendo, dessa forma, ser devolvido aos
cofres públicos o montante de R$ 40.114,78.
8 170,65 toneladas – de 20/03 a 19/04/2013 (fl. 1695) ; 120,87 toneladas – de 19/04 a 20/05 (fl. 1682);
115,35 toneladas – de 21/05 a 20/06/2013 (fl.1668); – 29,92 toneladas - de 21/06/2013 a 20/07/2013 (fl. 1657). 9 R$30.449,07 –de 20/03 a 19/04/2013 (fl. 1695) ; R$ 21.566,83 –de 19/04 a 20/05 (fl. 1682); R$
20.581,90 – de 21/05 a 20/06/2013 (fl.1668); R$ 5.338,62 – de 21/06/2013 a 20/07/2013 (fl. 1657).
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2º ATO ÍMPROBO
No dia 21 de outubro de 2013, o réu PAULO
EUCLIDES GARCIA DE AZEREDO praticou dolosamente ato de
improbidade administrativa, ao violar os princípios da moralidade, da
honestidade e da lealdade às instituições, na medida em que
deliberadamente instruiu e induziu testemunha sobre o quê e como deveria
responder, a fim de que seu depoimento fosse utilizado como prova junto à
Comissão Parlamentar de Inquérito que apurava as irregularidades na
prestação do serviço de lixo municipal.
Na ocasião, o réu PAULO AZEREDO apresentou à
Comissão Parlamentar de Inquérito, como prova de sua defesa, um Termo
de Declarações do servidor público municipal Airton Gaspar Gallas, em que
este prestava alguns esclarecimentos de como se operava o serviço de
recolhimento do lixo no Município no período em que os resíduos eram
transportados até a estação de transbordo da ECOTRAT, em Catupi, Triunfo.
Além do Termo de Declarações degravado, o
Prefeito apresentou à Comissão Parlamentar de Inquérito um CD, contendo
a gravação em áudio e vídeo das declarações desse servidor.
É interessante observar que o arquivo de áudio
contém exatamente o mesmo diálogo degravado e apresentado à CPI.
Contudo, neste CD, também consta um arquivo de vídeo, em que aparece
toda a conversa entre o Prefeito e o servidor Airton Gallas, inclusive trechos
não degravados e não disponíveis no arquivo de áudio. Acredita-se que este
arquivo foi equivocadamente encaminhado à CPI, pois, como se verá, não
apenas torna o depoimento de Airton imprestável, mas evidencia conduta
anti-ética do Prefeito.
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O trecho não degravado consiste em uma
conversa travada entre o réu PAULO AZEREDO e Airton Gallas, nos
instantes antes de começar o depoimento, em que o primeiro, nitidamente,
instrui o segundo, induzindo-o ao que deveria dizer. Afinal, o Prefeito diz a
Airton que irá indagá-lo acerca de como era feita a descarga de resíduos lá
na ECOTRAT e como era o controle da pesagem. Ato contínuo, o Prefeito
prossegue, respondendo ele próprio aos questionamentos, enfim, falando ao
servidor o que este deveria responder e em que termos. O Prefeito pede
que é para o servidor “falar a verdade”, mas “a verdade” nos termos e
moldes que convém ao Prefeito, tanto que diz que, se der errado, se grava
de novo.
Transcreve-se o trecho em questão:
“PAULO: Tu fala a verdade, então, tá? Se não der
certo, a gente grava de volta.
(...)
PAULO: Vamos conversando, tá? Mas bem curto e
grosso. A pergunta que vou fazer pra ti: se tu
controlava, tu fazia a pesagem do lixo lá junto à
Ecotrat como fiscal do município. Como era feita a
descarga lá? Como fazia o controle, a pesagem?
Então eu pesava, tal, o caminhão seletivo ia
pro galpão de triagem, seleção, o galpão lá
embaixo; e o caminhão misturado ia lá pra
cima. De vez em quando, eles me pediam, o
coordenador lá, o encarregado, pedia pra
quando viesse o caminhão de Montenegro,
que eles não tinham mais pra triar com 15
pessoas na esteira e tal, descarregavam o
caminhão, também da prensa,
descarregavam ali embaixo. Então isso vai
mostrar que, além de seletivo, eles triavam
ainda a prensa.
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(....)
PAULO: É duas perguntas só, tu diz isso e tá
pronto. É tua maneira de dizer. Tá?
(...)
PAULO: Daí eu pergunto o teu nome, peço pra tu
falar estritamente a verdade, o que tu viu, e deu.
Fala a verdade.” [grifou-se]
Após esses “esclarecimentos”, começa a “gravação
oficial” para servir de prova na CPI.
Tal proceder, no entender do Ministério Público,
não é ético e, assim agindo, o réu PAULO AZEREDO violou os princípios
elementares da moralidade, da honestidade e da lealdade às
instituições, e, por tal motivo, deve ser responsabilizado por
improbidade administrativa.
III – DO FUNDAMENTO JURÍDICO:
O réu PAULO EUCLIDES, na qualidade de Prefeito,
está sujeito à Lei da Improbidade Administrativa, nos termos do art. 2º da
Lei 8.429/92, que estabelece: “reputa-se agente público, para os efeitos
desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função
nas entidades mencionadas no artigo anterior.”
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Outrossim, a empresa BIOMINA URBANIZADORA
LTDA. e seus sócios são legitimados passivos, forte no art. 3º da LIA, que
dispõe :
“art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no
que couber, àquele que, mesmo não sendo agente
público, induza ou concorra para a prática do ato
de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer
forma direta ou indireta.
Ainda, a Lei da Improbidade Administrativa, Lei nº
8.429/92, através dos arts. 4º, 5º e 6º, prevê:
“Art. 4º - Os agentes públicos de qualquer nível ou
hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade, no trato
dos assuntos que lhe são afetos.”
“Art. 5º - Ocorrendo lesão ao patrimônio público
por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do
agente ou de terceiro, dar-se-á o integral
ressarcimento do dano.”
Art. 6º - No caso de enriquecimento ilícito,
perderá o agente público ou terceiro beneficiário
os bens ou valores acrescidos ao seu patrimônio.”
Como se observa da exposição fática, funda-se a
ação de improbidade no artigo 9º, caput e XI, no artigo 10, caput e incisos I
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e XII, bem como no art. 11, caput e inciso II, todos da Lei nº 8.429/92- Lei
da Improbidade Administrativa, que expressam:
Art. 9° Constitui ato de improbidade
administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no art. 1°
desta lei, e notadamente:
(...)
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu
patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei (...)”;
“Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário,
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta Lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa
física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
(...)
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que
terceiro se enriqueça ilicitamente;”
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“Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão
que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
ato de ofício; (...)”
Nesse contexto, as condutas dos réus violaram
princípios que regem a atividade pública, especialmente o da legalidade e
da moralidade administrativa, e que dão suporte às cláusulas gerais dos
arts. 9º, 10 e 11, da Lei 8.429/92- Lei da Improbidade Administrativa, bem
como deveres de honestidade, de imparcialidade e de lealdade institucional,
causando igualmente prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito.
Diante disso, devem ser imputadas aos réus as
sanções previstas no art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa, que
propugna:
“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que
podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: (Redação
dada pela Lei nº 12.120, de 2009).
I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa
civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
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ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos,
pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o
Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;
III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral
do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes
o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos.”
No que tange especificamente ao ressarcimento
integral do dano, este corresponde ao valor do prejuízo anteriormente
apontado nesta petição inicial, acrescido de juros e correção monetária, nos
termos da lei (R$ 40.114,78 + R$ 2.789,24 = R$ 42.904,02), o que
deverá ser arcado, solidariamente, pelos réus.
IV – DOS PEDIDOS:
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Diante do exposto, o Ministério Público REQUER:
a) a notificação dos requeridos para, querendo,
oferecerem manifestação prévia por escrito,
dentro do prazo de quinze dias, na forma do
parágrafo 7º do artigo 17 da Lei nº 8.429/92;
c) o recebimento da ação, transcorrido o prazo
descrito na alínea anterior;
d) a citação dos réus para, querendo, contestarem
a presente ação, sob pena de revelia, na forma do
parágrafo 9º do artigo 17 da Lei nº 8.429/92;
e) a intimação do Município de Montenegro,
pessoa jurídica de direito público interessada, para
integrar a lide, na qualidade de litisconsorte,
querendo;
e) a produção de todas as provas em direito
admitidas, tais como a testemunhal, documental e
pericial;
f) a integral procedência dos pedidos, com a
condenação dos réus pela prática dos atos de
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improbidade administrativa previstos no artigo
9º, caput e XI, no artigo 10, caput e incisos I
e XII, da Lei nº 8.429/92 e no art. 11, caput e
inciso II, da Lei nº 8.429/92, com aplicação
das sanções previstas nos incisos I, II e III do art.
12 do mesmo Diploma Legal.
Por inestimável, dá-se à causa o valor de alçada.
Nesses termos, pede deferimento.
Montenegro, 18 de março de 2014.
Thomás Henrique de Paola Colletto,
Promotor de Justiça Especializado.