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RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO -INSPEÇÃO ESPECIAL – EXERCÍCIOS DE 2008 A 2010 (até 30/04)

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Rubrica FL. 164

MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS

DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PARECER MPC Nº 13039/2012

Processo nº 9025-02.00/11-8

Relator: CONSELHEIRO MARCO PEIXOTO

Matéria: RECURSO DE RECONSIDERAÇÃOINSPEÇÃO ESPECIAL – EXERCÍCIOS DE 2008 A 2010 (até 30/04)

Órgão: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

Responsável: LEO LIMA

Recorrente: ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RECURSO DE RECONSIDERAÇÃO. INSPEÇÃO ESPECIAL. DECISÃO Nº TP-0779/2011. EXAME DA FOLHA DE PAGAMENTO E GESTÃO DE PESSOAL. PARCELA AUTÔNOMA DE EQUIVALÊNCIA. (1.1). CONHECIMENTO. PROVIMENTO.

O pagamento da denominada Parcela Autônoma de Equivalência aos Magistrados pressupõe a existência de base legal, sintonizada com o texto constitucional, e que a pretensão não tenha sido atingida pelo prazo prescricional.

Para exame e parecer, em cumprimento das normas regimentais,

o Recurso interposto pelo Estado do Rio Grande do Sul, representado pelo

ilustre Procurador-Geral do Estado, Doutor Carlos Henrique Kaipper, e pelo

Procurador do Estado junto a Tribunal de Contas, Doutor Eduardo Cunha da

Costa.

Busca-se a reforma da Decisão nº TP-0779/2011, prolatada, à

unanimidade, pelo Egrégio Tribunal Pleno1 (Sessão de 31/08/2011),

relativamente à parte da decisão que “julgou pela regularidade dos

1 Relator o Eminente Conselheiro Substituto Cesar Santolim.

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pagamentos retroativos de Parcela Autônoma de Equivalência aos membros

do Poder Judiciário deste Estado e determinou o arquivamento do processo”

(fl. 02).

De imediato, os ilustres Procuradores requereram “a sustação de

qualquer pagamento com relação à PAE aos magistrados estaduais”.

Instado a se manifestar sobre o presente Recurso, o

Desembargador Leo Lima ofereceu contrarrazões2 (fls. 27 a 33).

Do exame procedido quanto à preliminar arguida, o Relator

entendeu que “inexiste um dos pressupostos autorizadores do seu

acolhimento, isto é, a fumaça do bom direito, haja vista a Decisão nº

TP-0779/2011, prolatada, à unanimidade, pelo Tribunal Pleno, ter reforçado

a verossimilhança da juridicidade de seu pagamento”.

Nesse particular, o ora Recorrente interpôs Agravo Regimental

(Processo nº 1705-02.00/12-1), propugnando a sua reforma com o

consequente deferimento da “sustação imediata dos pagamentos da PAE

aos magistrados estaduais”. Quando da apreciação do pedido, o egrégio

Plenário, em 11/04/2012, conheceu do recurso e, no mérito, por maioria,

negou-lhe provimento (Decisão nº TP-0348/2012).

Entrementes, o Relator admitiu “a Associação dos Juízes do Rio

Grande do Sul – AJURIS como terceira interveniente nos Processos nºss

9072-02.00/11-9 e 9025-02.00/11-8” (fls. 85 e 86), assim como o atual

Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, o eminente Desembargador

Marcelo Bandeira Pereira.

2 Conforme despacho do Relator (fls. 37 e 38), foram excluídos do pólo passivo os Desembargadores Marco Antônio Barbosa Leal e Armínio José Abreu Lima da Rosa.

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O Órgão Técnico, no que diz com a admissibilidade, destaca o

atendimento dos pressupostos legais e regimentais, e conclui, no mérito,

pelo provimento integral do Recurso.

É o relatório, em síntese.

I – Atendidos os pressupostos legais e regimentais relativos à

admissibilidade, tem-se que o Reclamo pode ser conhecido pelo Egrégio

Plenário.

II – Examinadas as razões que fundamentam o presente, verifica-

se que as mesmas oferecem elementos capazes de modificar o decisum,

sendo de se anunciar, desde já, a conformidade deste Parquet, em linhas

gerais, com as considerações formuladas pela Supervisão.

Com efeito, em face da relevância e da repercussão financeira

envolvidos, convém tecer as seguintes considerações acerca da matéria em

debate, sob a ótica da extensão do direito em foco, de sua legalidade, da

incidência dos prazos prescricionais e, acaso superados esses aspectos, o

percentual dos juros de mora praticados pelo Tribunal de Justiça para apurar

o montante devido.

a) Extensão do direito à Parcela Autônoma de Equivalência.

Cuida-se da possibilidade de Membros da Magistratura estadual

(ativos e inativos) serem beneficiados pelos efeitos de decisão proferida em

ação judicial proposta por Associação de Juízes Federais que buscou, em

nome de seus associados, o reconhecimento de parcela estipendiária que

entendia devida.

Ainda que se leve em consideração o fato de que o mérito da

ação envolvia o valor da remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal

Federal, com reflexos sobre o limite dos vencimentos da Magistratura

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nacional, daí não se extrai a conclusão de que as decisões pertinentes a

questões estipendiárias envolvendo a cúpula do Poder Judiciário tenham

adquirido força mandamental capaz de alcançar, em uma só demanda, por

extensão, a condição subjetiva de todos os integrantes dos diversos órgãos

que compõem aquele Poder estatal.

O acórdão proferido, é preciso sublinhar, atendeu ao

requerimento formulado por Associação de Juízes Federais e, em

nenhum momento, há referência à possibilidade de que aquela medida

judicial conferindo direitos a quaisquer outros destinatários além daqueles

que ali demandavam a prestação jurisdicional.

O argumento de que a Lei Federal nº 8.448, de 21/07/1992,

estabeleceu a unidade de tratamento remuneratório entre juízes federais e

estaduais não tem o condão de assegurar, de modo automático e por

extensão, em seara administrativa, os efeitos financeiros de decisão que

contemplou apenas parte do Judiciário brasileiro.

A homogeneidade retributiva prevista pela lei, em atenção ao

caráter nacional do Poder Judiciário, não pode, em tese, ter o efeito de

conferir uma espécie de efeito erga omnes a todas as decisões proferidas

em favor das diversas instâncias da Magistratura, ou de transformar o

reconhecimento de tais direitos em mera questão administrativa, ante a

exigência constitucional de submissão, ao Poder Legislativo, das demandas

relacionadas ao pagamento de pessoal.

Assim, descabida a extensão dos efeitos processuais da

AO-630/DF aos Membros da Magistratura estadual, nos termos contidos no

Ato nº 007/2010, do Tribunal de Justiça.

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b) Da legalidade da verba estipendiária

De plano, diante da situação posta, poder-se-ia entender

superado o debate quanto à natureza remuneratória ou indenizatória do

auxílio-moradia que deu origem à referida Parcela Autônoma de

Equivalência. Contudo, cabe sublinhar a posição da Procuradoria-Geral da

República sobre a parcela, no sentido de sua natureza indenizatória, e do

tratamento remuneratório desigual que, nos moldes da decisão da Suprema

Corte, restou admitido aos Deputados Federais não contemplados com

unidade residencial funcional da Câmara dos Deputados.

Para além disso, o questionamento que exsurge é o do

pagamento de verba estipendiária através de ato administrativo, amparando-

se em decisão judicial proferida em favor de juízes federais e, também, em

decisões administrativas do mesmo teor tomadas pela própria Suprema

Corte, por outros Tribunais Estaduais e pelo Conselho da Justiça Federal.

Frisa-se, como bem destacado no corpo do Recurso de

Reconsideração interposto pelo Parquet acerca da matéria em exame, que a

Constituição exige a edição de lei para o pagamento de remuneração aos

servidores públicos, ainda mais em se tratando de valores originários de

parcela não contemplada pela lei no período em relação ao qual se entende

haver direitos a serem reconhecidos.

Ademais, como salienta o ilustre Adjunto de Procurador:

De fato, apenas com a edição da Lei 11.069, em 30/12/1997, os Membros do Poder Judiciário passaram a perceber a Verba de Representação que, à época, veio assegurar-lhes a remuneração equivalente prevista em sede constitucional, incorporando a seus vencimentos valor correspondente ao auxílio-moradia ora em debate.

Antes disso, a verba não integraria ao patrimônio jurídico dos Magistrados do Rio Grande do Sul e a decisão da Suprema Corte e a isonomia remuneratória prevista pela Lei nº 8.448/1992 não teriam o efeito de alterar tal condição.

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Se, como entendeu o Tribunal de Justiça, acompanhando entendimento e prática de outros tribunais, tais parcelas seriam devidas a seus Membros, necessária seria chancela legal que tornasse inequívoca a juridicidade do pagamento pretendido.

A determinação do Judiciário para pagamento de tais valores levaria a aumento vencimental, repercutindo na política remuneratória dos servidores públicos, com possível afronta aos princípios constitucionais da independência e autonomia entre os Poderes.

Com efeito, tendo o STF assentado que a natureza jurídica da

denominada “parcela autônoma de equivalência” é de vencimento, forçoso

concluir que o Ato nº 007/2010-P resultou em aumento de remuneração aos

seus membros sem anterior dotação orçamentária – com efeitos

financeiros retroativos a setembro/1994 – e sem a correspondente

autorização legal da Assembleia Legislativa. Tais circunstâncias revelam

descumprimento dos artigos 95, inciso V, alínea “b” e 154, inciso X, da

Constituição Estadual, que assim preceituam:

Art. 95 - Ao Tribunal de Justiça, além do que lhe for atribuído nesta Constituição e na lei, compete:

...

V - propor à Assembléia Legislativa, observados os parâmetros constitucionais e legais, bem como as diretrizes orçamentárias:

...

b) a criação e a extinção de cargos nos órgãos do Poder Judiciário estadual e a fixação dos vencimentos de seus membros;

e,

Art. 154 - São vedados:

...

X - a concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos ou alteração da estrutura de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, salvo:

a) se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes;

b) se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista;

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A exigência de lei em sentido estrito, a propósito, vem ao encontro

do posicionamento externado pelo Órgão Especial do eg. Tribunal de

Justiça, em ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-

Geral de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, tendo por objeto a retirada

do ordenamento jurídico da Resolução nº 1.819/2004, da Câmara de

Vereadores de Porto Alegre, que autorizou a incorporação de gratificação

aos proventos de aposentadoria.

O Relator da mencionada ADI, Desembargador Arno Werlang,

assim se manifestou:

“No mérito, tem razão a proponente. A norma impugnada padece dos vícios de inconstitucionalidade formal e material apontados, pois viola os princípios da moralidade administrativa e da legalidade remuneratória ao fixar, através de mera resolução, vantagem pecuniária a servidores públicos em afronta à EC 19/98, que estabeleceu a necessidade de lei formal para a fixação de remuneração e seu reajuste, observada a iniciativa, mas sujeita à sanção do Executivo. No ponto, a Emenda Constitucional, acima citada, instituiu o princípio da legalidade remuneratória dos servidores públicos, atribuindo nova redação ao artigo 37, X, da Constituição Federal e artigo 53, XXXV, da Constituição Estadual, no sentido de que a fixação ou alteração da remuneração de cargo, emprego ou função pública, depende de edição de lei específica, observada, evidentemente, a iniciativa para os casos objeto da fixação ou alteração. No caso, muito embora deva ser respeitada a iniciativa da Câmara de Vereadores para dispor sobre matéria e atos interna corporis, a exclusividade, todavia, não dispensa a edição de lei formal específica e sancionada pelo Executivo.

“Em suma, afigura-se inadmissível, por afronta à ordem constitucional, a alteração de remuneração de cargo público por mera resolução, sem a edição de lei formal.

“No sentido deste entendimento, brilhante precedente deste Tribunal, da lavra do eminente Desembargador João Carlos Branco Cardoso:

‘AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - RESOLUÇÃO Nº 1.818/2004 DA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DE PORTO ALEGRE QUE CRIA A GRATIFICAÇÃO DE INCENTIVO À PRODUTIVIDADE E A GRATIFICAÇÃO LEGISLATIVA - OFENSA AO ARTIGO 37, X, DA CF/88 C/C OS ARTIGOS 8º, CAPUT, E 19, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. 1.Trata a espécie de ato de caráter normativo a partir da não-individuação de servidores que seriam beneficiados com as gratificações de incentivo, assim permitindo o controle abstrato de constitucionalidade, o que afasta a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido por se tratar de ato com efeito concreto. Também não vinga o argumento de que a

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resolução impugnada, na condição de ato administrativo, goza de presunção de legitimidade, na linha de precedentes deste órgão fracionário. 2. Resolução impugnada que substitui a de nº 1.353/97 declarada inconstitucional no julgamento da ADIn nº 70005723044, mas que também contém vício de inconstitucionalidade material, por criar artificialmente gratificações de 47,6% e de 134% para os titulares de cargos de Assistente Legislativo IV, V e VI que tenham escolaridade de nível superior completo ou habilitação legal equivalente em detrimento dos demais. 3. Violação ao princípio da moralidade administrativa e da impessoalidade, bem como da legalidade remuneratória, ao fixar, através de mera resolução, vantagem pecuniária a servidor público em afronta à EC 19/98 que estabeleceu a necessidade de lei formal para a fixação de remuneração e seu reajuste, observada a iniciativa, mas sujeita à sanção do Executivo. PRELIMINARES REJEITADAS. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. (Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº 70013982236, Tribunal Pleno, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Carlos Branco Cardoso, Julgado em 18/12/2006).’

...

“Por todo o exposto, rejeitadas as preliminares, julgo procedente esta ação direta, para proclamar a inconstitucionalidade da Resolução no. 1.819/2004, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, forte no artigo 37, caput e inciso X, da Constituição Federal, combinado com os artigos 8º, caput, e 19, caput, da Constituição Estadual.” (Processo nº 70031510688. Julgamento acolhido pelo Órgão Especial, à unanimidade, em Sessão de 14/12/2009).

No mesmo sentido – aumento de vencimentos sem a necessária

previsão legal – o Supremo Tribunal julgou procedentes as seguintes ações

diretas de inconstitucionalidade:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DECISÃO ADMINISTRATIVA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 6ª REGIÃO. VERBA DE REPRESENTAÇÃO QUE COMPÕE A REMUNERAÇÃO DOS MAGISTRADOS. INCIDÊNCIA SOBRE O VENCIMENTO BÁSICO MAIS A PARCELA DE EQUIVALÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. AUMENTO DE VENCIMENTOS SEM A NECESSÁRIA PREVISÃO LEGAL. ART. 96, II, B DA CF. 1. No cálculo da remuneração dos magistrados, consoante diretriz estabelecida por esta Suprema Corte em sessão administrativa, deveria a verba de representação incidir tão-somente sobre o vencimento básico. 2. Por meio da decisão administrativa ora impugnada, em manifesta divergência com a orientação desta Suprema Corte, o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região ampliou a base de cálculo da verba de representação, na medida em que nela inseriu a parcela de equivalência. 3. Trata-se, portanto, de indisfarçável aumento salarial concedido aos membros do Poder Judiciário Trabalhista de Pernambuco sem a previsão legal exigida pelo art. 96, II, b da Constituição da República. Precedentes: ADI 2093, rel. Min. Carlos Velloso, DJ 18.06.04, ADI 2107, rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 14.12.01 e AO's 679, 707 e 724, rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 02.08.02. 4. Ação direta de

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inconstitucionalidade cujo pedido se julga procedente” (ADI 2.103/PE, Rel. Min Ellen Gracie, Tribunal Pleno, DJ 20.9.2004).

“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MAGISTRATURA: MAJORAÇÃO DE VENCIMENTOS. DECISÃO ADMINISTRATIVA: TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO: INCONSTITUCIONALIDADE. C.F., art. 96, II, b. I. - Não têm os Tribunais competência para majorar vencimentos de seus membros e servidores, matéria reservada à lei. II. - Inconstitucionalidade da Resolução nº 156/99 do T.R.T. da 12ª Região (Estado de Santa Catarina). III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente” (ADI 2.093/SC, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ 18.6.2004).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA Nº 45/99, DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 17ª REGIÃO, PELA QUAL FOI REVISTO O CRITÉRIO DE CÁLCULO DA GRATIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO DOS MAGISTRADOS. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 96, II, B, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Ato normativo que, ao estabelecer verdadeiro aumento de remuneração para os magistrados por ele afetados, sem a devida previsão legal, contraria o dispositivo constitucional sob enfoque. Ação direta procedente” (ADI 2.107/DF e ADI 2.098/AL, Rel. Min. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, DJ 14.12.2001).

Da mesma forma, o STF impugnou Ato oriundo do Conselho da

Justiça Federal, verbis:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ATO NORMATIVO DO PRESIDENTE DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. INSTITUIÇÃO E EXTENSÃO DA GRATIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO MENSAL AOS SERVIDORES DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO E SEGUNDO GRAUS. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 48, 61, "CAPUT", 96, INCISO II, ALÍNEA "B", E 169 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA 339 DO S.T.F. MEDIDA CAUTELAR. 1. É inegável o caráter normativo do ato impugnado, pois instituiu para os servidores das carreiras de Analista Judiciário, Técnico Judiciário e Auxiliar Judiciário do Quadro de Pessoal do Conselho da Justiça Federal, da Justiça Federal de Primeiro e Segundo Graus, a Gratificação de Representação Mensal, estendeu a vantagem aos aposentados e pensionistas e fixou os respectivos valores. 2. E não se trata de mera regulamentação de qualquer Lei, como poderia parecer da proposta aprovada, pois nenhum diploma legal tratou de instituir a gratificação em questão para tais servidores. 3. Por outro lado, o ato normativo é impugnado diretamente em face de normas da Constituição Federal (arts. 48, 61, "caput", 96, II, "b", e 196), e não mediante interpretação de legislação infraconstitucional. 4. A A.D.I., portanto, comporta conhecimento (art. 102, I, "a", da C.F.). 5. Das informações elaboradas pela Assessoria Especial da Presidência do Conselho da Justiça Federal, a lembrança das Leis nºs 264, de 25.02.1948, 2.961, de 23.12.1955, e 3.890, de 18.04.1961, serve apenas para uma retrospectiva histórica, mas sem caráter decisivo para o enfrentamento da questão, pois nenhuma delas tratou da Gratificação de Representação Mensal de que ora se cuida. E, ademais, revogadas, no ponto, desde a Constituição Federal de 1967, passando pela E.C. nº 1/69 e pela atual Constituição de 05.10.1988, toda s proibindo

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vinculações e equiparações de vencimentos. 6. A Lei nº 9.421, de 24.12.1996, por sua vez, limitou-se a criar as carreiras dos servidores do Poder Judiciário, a fixar os valores de sua remuneração e a adotar outras providências, mas sem instituir a Gratificação de Representação Mensal, de que ora se cogita. E também não conferiu ao Presidente do Conselho da Justiça Federal o poder de concedê-la a seus servidores, aos da Justiça Federal de Primeiro e Segundo Graus, como demonstrou a Procuradoria Geral da República. 7. Aliás, se a Lei tivesse criado a Gratificação em questão ela também estaria sendo paga aos servidores do Supremo Tribunal Federal (Analistas Judiciários, Técnicos Judiciários e Auxiliares Técnicos). E se houvesse sido outorgado o poder de instituí-la ao Presidente da Corte, com certeza já teria sido instituída e estaria sendo satisfeita. 8. Não se mostra adequada a invocação de precedente desta Corte, na ADI nº 408-DF, conforme demonstrado no voto do Relator. 9. No caso presente, o ato impugnado criou a Gratificação de Representação Mensal, para todos os Analistas Judiciários, Técnicos Judiciários e Atendentes Judiciários do Conselho da Justiça Federal, da Justiça Federal de 1º e 2º graus, num percentual de 85% sobre a remuneração da Função Comissionada 06, 05, 04, respectivamente, e que corresponde a acréscimos consideráveis, sendo certo que o aumento de 5,25, na folha de pagamento, corresponde, apenas, à dos servidores do Superior Tribunal de Justiça. Não, assim, à daqueles do Conselho da Justiça Federal, da Justiça Federal de 1º e 2º graus. Foram contemplados, ainda, os aposentados e pensionistas. 10. Também não colhe a alegação de que a Câmara dos Deputados e Senado Federal concederam a mesma Gratificação a seus servidores, sem lei. É que tais Casas estão expressamente autorizadas, pela Constituição, a fazê-lo, mediante simples Resolução (artigos 51, IV, e 52, XIII). 11. Se é certo que o Tribunal de Contas da União, que dentre outras funções, acumula a de órgão auxiliar do Poder Legislativo, igualmente concedeu a mesma Gratificação a seus servidores, sem Lei, menos exato não é que também a respectiva Resolução está sendo impugnada pela Procuradoria Geral da República, na ADI nº 1.782, assim como na ADI nº 1.776 impugna a Resolução do Superior Tribunal de Justiça, que deu origem àquela objeto da presente Ação. 12. Na verdade, a leitura atenta do ato normativo impugnado, do expediente administrativo que lhe deu origem, bem como das informações encaminhadas pela Presidência do Conselho da Justiça Federal, convence de que o argumento básico, para a instituição da vantagem ora em foco, resultou da invocação do princípio da isonomia. 13. Mas o próprio art. 39, § 1º, da C.F., que o manda observar, atribui à Lei - e não a ato normativo de Tribunal - a sua observância, ainda que caiba ao Tribunal a iniciativa para sua elaboração, mediante o envio de projeto ao Congresso Nacional. 14. No caso, a Resolução impugnada, criando a Gratificação de Representação Mensal e fixando-lhe a respectiva remuneração, para os servidores do Conselho da Justiça Federal, da Justiça Federal de 1º e 2º Graus, implicou aumento dos vencimentos respectivos, sem que o Superior Tribunal de Justiça tivesse enviado Projeto de Lei ao Congresso Nacional, sem que este o aprovasse e sem que o Presidente da República o vetasse ou sancionasse, no exercício de competência que lhe é privativa (art. 84, V, da Constituição Federal). E, na verdade, também não restou observado o art. 169 da Constituição Federal, como expressamente exige o inc. II do art. 96. É que não houve lei alguma criando a Gratificação em questão. Conseqüentemente, não pode ter sido levada em consideração, seja no orçamento anual, seja na lei de diretrizes orçamentárias. 15. Importa notar, ainda, que, nos termos da Súmula 339 da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal,

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"não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos, sob fundamento de isonomia". A Súmula resultou de pacífica jurisprudência da Corte, ao interpretar os artigos 36 e 65, IV, da Constituição Federal de 1946. E continua ela em pleno vigor, como já o proclamaram vários julgados, posteriores ao advento da Constituição Federal de 05.10.1988. 16. Ora, se nem mesmo na atividade jurisdicional cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos, sob fundamento de isonomia, como reza a Súmula 339, com maior razão não lhe competirá fazê-lo em Resolução Administrativa, ainda que de caráter normativo, como ocorreu na hipótese. 17. Aliás, são numerosíssimos os acórdãos do Supremo Tribunal Federal, seja ao deferir medida cautelares, seja no julgamento de mérito de Ações Diretas de Inconstitucionalidade, no sentido de não admitir que simples Resoluções Administrativas de Tribunais concedam aumentos de vencimentos ou criem vantagens pecuniárias para seus Juízes e servidores. 18. Ademais, em situação que praticamente coincide com a retratada nestes autos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, por votação unânime, em data de 15.12.1997, portanto há pouco mais de dois meses, suspendeu as Resoluções nºs 26, de 22.12.1994, 15, de 23.10.1997, e 16, de 30.12.1997, todas do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. 19. Medida Cautelar deferida, para se suspender, "ex nunc", a eficácia da Resolução baixada pela Presidência do Conselho da Justiça Federal, datada de 19.12.1997.) (ADI 1777 – MC/DF, Relator Ministro Sidney Sanches, Sessão do Tribunal Pleno de 18/03/1998).

Diante do contexto evidenciado, nota-se que a jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de se reconhecer a

necessidade de lei em sentido formal para a majoração de vencimentos de

servidores públicos e agentes políticos.

c) Da prescrição da pretensão à Parcela Autônoma de

Equivalência

Tendo o prazo prescricional da pretensão à percepção da verba

remuneratória interrompido pela propositura da AO 630/DF, em 06/09/1999,

contemplando o período de 1994 a 1997, entende-se que ali se iniciou um

novo lapso temporal que permitiria o ajuizamento de ações tendentes a ver

reconhecido o mesmo direito.

Com efeito, tratando-se da interrupção da prescrição em favor da

Fazenda Pública, o Decreto Lei nº 4.597/1942, em seu artigo 3º, e o Decreto

nº 20.910/1932, em seu artigo 9º, determinam que ele recomeça a correr

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pela metade, seja do ato interruptivo, seja do último ato do processo que a

interrompeu:

- DL 4.597/1942:

Art. 3º A prescrição das dívidas, direitos e ações a que se refere o decreto n. 20.910, de 6 de janeiro de 1932, somente pode ser interrompida uma vez, e recomeça a correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu, ou do último do processo para a interromper; consumar-se-á a prescrição no curso da lide sempre que a partir do último ato ou termo da mesma, inclusive da sentença nela proferida, embora passada em julgado, decorrer o prazo de dois anos e meio.

- Decreto n 20.910/1932:

Art. 9º A prescrição interrompida recomeça a correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do último ato ou termo do respectivo processo.

Da análise do processo no site do STF, constata-se que o “feito”

coletivo transitou em julgado em 16/08/20023. A partir daí, portanto, correm

meros dois anos e meio, pena de prescrição. Nota-se que durante o trâmite

do mandado de segurança, de 03/09/1999 a 16/08/2002, não fluiu a

prescrição, somente recomeçando, e pela metade, quando de seu trânsito

em julgado.

Assim, os magistrados que desejassem perceber a questionada

parcela deveriam, em tese, ter ajuizado ação visando a esse fim dentro dos

dois anos e meio contados do trânsito do Mandado de Segurança

(16/08/2002).

Aliás, apenas a título de reforço argumentativo, a idéia de uma

renúncia administrativa à prescrição é absolutamente incompatível com o

Direito Administrativo brasileiro, em que consagrada a indisponibilidade

do interesse público pelo administrador. Afinal, tratando-se a renúncia à

prescrição de ato de disposição, somente por lei se revela viável, em face do

predito princípio. Não bastasse iterativa jurisprudência nesse sentido4,

3 Fonte: www.stf.gov.br.4 Exemplificativamente o REsp 747.091-ES, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 8/11/2005:

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recebeu ela chancela legislativa expressa na Lei Federal nº 9.784/1999,

artigo 2º, parágrafo único, inciso II:

Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de:

...

II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei”.

Assim, a pretensão à percepção da referida vantagem deveria ter

sido exercitada até fevereiro de 2005, já passados, portanto, mais de 5 anos

da edição do Ato. Ainda no que concerne à indisponibilidade do interesse

público, impende salientar, que “A Administração não pode dispor desse

interesse geral nem renunciar a poderes que a lei lhe deu para tal tutela,

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. PRESCRIÇÃO. ORIENTAÇÃO FIRMADA PELA 1ª SEÇÃO NO ERESP 435.835/SC. LC 118/2005: NATUREZA MODIFICATIVA (E NÃO SIMPLESMENTE INTERPRETATIVA) DO SEU ARTIGO 3º. INCONSTITUCIONALIDADE DO SEU ART. 4º, NA PARTE QUE DETERMINA A APLICAÇÃO RETROATIVA. ENTENDIMENTO CONSIGNADO NO VOTO DO ERESP 327.043/DF. 1. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação jurisdicional o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia posta. 2. A 1ª Seção do STJ, no julgamento do ERESP 435.835/SC, Rel. p/ o acórdão Min. José Delgado, sessão de 24.03.2004, consagrou o entendimento segundo o qual o prazo prescricional para pleitear a restituição de tributos sujeitos a lançamento por homologação é de cinco anos, contados da data da homologação do lançamento, que, se for tácita, ocorre após cinco anos da realização do fato gerador — sendo irrelevante, para fins de cômputo do prazo prescricional, a causa do indébito. Adota-se o entendimento firmado pela Seção, com ressalva do ponto de vista pessoal, no sentido da subordinação do termo a quo do prazo ao universal princípio da actio nata (voto-vista proferido nos autos do ERESP 423.994/SC, 1ª Seção, Min. Peçanha Martins, sessão de 08.10.2003). 3. No caso, a ação foi promovida quando já passados mais de dez anos da data do recolhimento do tributo que se busca repetir. 4. A renúncia à prescrição em favor da Fazenda Pública somente se dá quando expressamente autorizada por lei. 5. Recurso especial a que se nega provimento.

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mesmo porque ela não é titular do interesse público, cujo titular é o Estado,

que por isso, mediante lei poderá autorizar a disponibilidade ou renúncia.”5.

d) Do percentual dos juros de mora aplicados para apuração do

montante devido aos Magistrados

Acaso superadas as razões recursais, bem como as

considerações acima destacadas, verifica-se que os critérios utilizados para

a apuração do quantum supostamente devido não se mostram apropriados,

especificamente no que se refere ao percentual dos juros de mora.

Nesse aspecto, registra-se que somente a partir de 07/03/2008 o

Conselho da Justiça Federal reconheceu o direito dos requerentes

(magistrados federais) à percepção dos valores atrasados da PAE,

consoante se extrai do teor da ementa do Processo nº 20061600316:

PAGAMENTO DE DIFERENÇAS CONCERNENTES AO VALOR DO AUXÍLIO-MORADIA NÃO CONSIDERADO NA COMPOSIÇÃO DA PARCELA AUTÔNOMA DE EQUIVALÊNCIA DOS MAGISTRADOS FEDERAIS EM PERÍODO ANTERIOR À IMPETRAÇÃO DA AÇÃO ORIGINÁRIA Nº 630-9/DF. Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

O Conselho, por unanimidade, deliberou reconhecer o direito dos requerentes, relativamente ao período de setembro de 1994 a dezembro de 1997, estendendo a decisão aos demais magistrados federais, nos termos do voto do relator.

Assim, como bem ressaltam os Representantes do Estado do Rio

Grande do Sul, mostra-se evidente de que “não há mora antes da referida

data, pois não havia como se cobrar nem se pagar a vantagem pleiteada” (fl.

13). Concluem, ainda, os doutos Procuradores do Estado:

“... em se mantendo a decisão do Egrégio Tribunal Pleno de existência do direito e inocorrência da prescrição, deve ser determinada a alteração do cálculo dos juros de mora, os quais tão-somente são devidos, pela tese adotada pela decisão ora recorrida, a contar de 07/03/2008, data da decisão do Conselho da Justiça Federal, de outra forma estaria efetivamente prescrita a pretensão dos magistrados estaduais à percepção da PAE”.

5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 102.6 Processo referido no Ato nº 007/2010-P.

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Com efeito, o termo ‘mora’, segundo o Vocabulário Jurídico de De

Plácido e Silva, significa:

“MORA. Do latim mora, em sentido originário quer significar a tardança, a delonga ou o adiamento em se fazer ou se executar o que se deve ou o a que se está obrigado no momento aprazado.

O sentido técnico-jurídico do vocábulo não se afasta do sentido literal: mora é a falta de execução ou cumprimento da obrigação no momento em que se torna exigível.

Ou seja, é o retardamento ou a demora na execução da obrigação, quando deveria ser executada ou cumprida”. (Grifou-se).

In casu, não havia qualquer obrigação para o devedor até o

advento da referida decisão do CJF, não se podendo cogitar, por óbvio, de

apuração que compute na contagem qualquer período anterior, não havendo

que se falar em retardamento imputável ao devedor.

Dessa feita, acaso rechaçados os aspectos da ilegalidade do

pagamento e da prescrição da pretensão, propugna-se seja reconhecida,

como marco para a incidência de juros de mora devidos, a data da decisão

do CJF, dia 07/03/2008, observando-se os parâmetros fixados na Medida

Provisória 2.180-35, de 24/08/2001, e na Lei Federal nº 11.960, de

29/06/2009, que estabelecem juros simples de 0,5% ao mês, mais correção

monetária, até 28/06/2009, e índice de juros aplicáveis à caderneta de

poupança a partir de 29/06/20097.

7 A título colaborativo, cita-se o teor da ementa a seguir: APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. ABONO DE PERMANÊNCIA. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. CON-CESSÃO AUTOMÁTICA PELA ADMINISTRAÇÃO. JUROS. HONORÁRIOS. O servidor que preenche os requisitos para a aposentadoria voluntária e optar em permanecer no serviço público, faz jus ao abono permanência, de acordo com o art. 3º, § 1º, da EC 41/03, sendo desnecessário pedido administrativo. Os juros moratórios de 6% ao ano incidem a contar da citação, de acordo com o art. 1º-F da Lei 9.494/97, acrescido pela Medida Provisória 2.180-35/2001. No entanto, a partir de 30.06.2009, com a edição da Lei nº 11.960/2009, que, em seu art. 5º, alterou a redação art. 1º-F, a incidência de juros se dará de acordo com os índices oficiais de juros aplicados à caderneta de poupança. Verba honorária fixada, de acordo com os critérios do art. 20, § 4º, do CPC. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO. (Apelação Cível Nº 70035394410, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Mussoi Moreira, julgado em 15/09/2010).

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II – Isto posto, este Ministério Público de Contas opina pelo

conhecimento do Recurso e, no mérito, por seu provimento, para reformar a

decisão recorrida, dando pela ilegalidade da percepção da PAE, com a

pertinente sustação dos respectivos pagamentos ou, se assim não se

entender, que os juros de mora tenham incidência a contar de 07/03/2008,

data da decisão do Conselho da Justiça Federal, bem como sejam

calculados em conformidade com o estabelecido pela Medida Provisória nº

2.180-35/2001, e na Lei Federal nº 11.960/2009, com o consequente

recálculo dos montantes devidos.

É o Parecer.

MPC, em 04 de dezembro de 2012.

GERALDO COSTA DA CAMINO,

Procurador-Geral.

07/16

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