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Ministério Público da União Ministério Público do Trabalho
Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região
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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DO TRABALHO DA MM
____ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, por meio da Procuradoria
Regional do Trabalho da 7ª Região, com sede na Av. Almirante Barroso, 466, Praia de
Iracema, Fortaleza - Ceará, neste ato representado pelo Procurador do Trabalho in fine
assinado, com base nos arts. 127 e 129, II e III da Constituição da República, no inc. IV
do art. 83, da Lei Complementar 75/93, e nos arts. 2º,3º, 9º da CLT e Lei n. 6019/74,
vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE
em face de SEEACONCE - SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE
ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito
privado, inscrita no CNPJ sob o nº 23.443.849/0001-35, com sede na Rua São Paulo,
1037, Centro, Fortaleza/CE, CEP: 60.030-101 e SEACEC - SINDICATO DAS
EMPRESAS DE ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa
jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 11.088.721/0001-11, com sede na
Av. Santos Dumont, 1687, Salas 701 e 702, Aldeota, Fortaleza/CE, CEP: 60.1600-150,
pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:
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1. FATOS
Instaurou a Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região o
Procedimento Preparatório nº 000850.2018.07.000/1-02 em face das entidades
sindicais rés, a partir de Ofício encaminhado pela SRTE/CE (Doc. 01 – Ofício
SRTE/CE), noticiando irregularidades em cláusula de Convenção Coletiva de Trabalho
celebrada entre as rés, registrada perante o Ministério de Trabalho e Emprego, em
27/03/2018, sob o nº CE000321/2018, cuja Cláusula Quinquagésima Primeira tem o
seguinte teor (Doc. 02 – CCT 2018/2018):
CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA PRIMEIRA - APRENDIZAGEM
O percentual de aprendizagem de no mínimo 5%, previsto no art. 429 da
CLT, que deve ser aplicado em relação às funções que demandem
formação profissional, no caso das empresas signatárias da presente
norma coletiva, serão excluídas da base de cálculo as funções de
auxiliar de serviços gerais, porteiro, zelador, motoqueiro, servente,
copeira, jardineiro e qualquer atividade que não necessite de
formação técnica específica, justamente por não demandarem
qualquer formação para seu exercício.
Parágrafo Único – Em havendo ação judicial ou imputação de prejuízo
decorrente da aplicação da presente cláusula com a citação do sindicato
laboral, qualquer responsabilidade que ao mesmo seja imputada deverá
ser arcada pelo sindicato patronal, podendo o sindicato laboral denunciar
a lide na forma da Lei. (grifos nossos)
Consoante se observa, a cláusula em debate representa afronta ao direito
constitucional fundamental de profissionalização de jovens e adolescentes,
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consubstanciada na cota de aprendizagem, em total desacordo com a Constituição da
República, com o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA e com a Consolidação das
Leis do Trabalho – CLT.
Em audiência inicial realizada em 27/06/2018 (Doc. 03 – Ata), foi
apresentada ao SEACEC a minuta de TAC (Doc. 04 – Minuta TAC) visando a
alteração da cláusula supramencionada, tendo o SEACEC solicitado o prazo até o dia
31/07/2018 para consultar a categoria e manifestar-se nos autos sobre a concordância
ou discordância na celebração do referido TAC, o que foi deferido. O SEEACONCE,
apesar de regularmente notificado, não compareceu a essa audiência nem justificou a
sua ausência, deixando ainda de se pronunciar sobre o objeto do procedimento.
Decorrido o prazo concedido em audiência sem a manifestação nos autos
quanto à concordância ou discordância na celebração do TAC proposto, não restou
outra opção a este Órgão Ministerial senão o ajuizamento da presente ação com a
finalidade de estancar a lesão aos direitos dos adolescentes e jovens, bem como obter
o ressarcimento decorrente do dano ocasionado à sociedade.
2. DIREITO
2.1. ILEGALIDADE DA CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA PRIMEIRA DA CCT
2018/2018
Por meio do Parágrafo Único da Cláusula Quinquagésima Primeira da
CCT 2018/2018, os réus visam à limitação da base de incidência dos cálculos para
aferição do número de aprendizes (art. 428 e seguintes da CLT) a serem contratadas
pelas empresas que atuam no segmento de asseio e conservação no Estado do Ceará.
Com o advento da Lei n. 13.467/17 (Reforma Trabalhista), ainda que
tenha surgido um permissivo mais amplo à negociação coletiva, é certo que a
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prevalência do negociado sobre o legislado em desfavor do trabalhador, tolhendo seus
direitos sociais mínimos, viola os princípios norteadores do Direito do Trabalho
brasileiro, tais como o da prevalência da norma mais favorável, da irrenunciabilidade de
direitos do trabalhador e da adequação setorial negociada. Além desses, viola também
o princípio da vedação ao retrocesso social, expresso em diversas convenções
internacionais ratificadas pelo Brasil.
Assim, não poderá surgir qualquer tipo de norma que venha a permitir que
aprendizes sofram algum tipo de discriminação na admissão de emprego. A alteração
dos critérios legalmente estabelecidos para tais cotas de contratação obrigatória não
tem amparo legal.
O Direito do Trabalho, em sua gênese, tem por fundamento o princípio da
proteção do trabalhador, e por objetivo contrabalancear o desequilíbrio econômico,
social e político existente entre empregador e empregado. Deste princípio decorrem
outros como o da prevalência da norma mais favorável ou da condição mais benéfica, o
da intangibilidade dos direitos trabalhistas, entre outros.
Nos termos do artigo 7°, inciso XXVI, da Constituição da República de
1988, é direito fundamental do trabalhador “reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho. ” A liberdade de negociação, entretanto, não é irrestrita. A
validade dos instrumentos de negociação coletivas, ou de suas cláusulas, está
condicionada ao respeito dos preceitos constitucionais, legais e infralegais que
asseguram patamar mínimo de direitos voltados à proteção do trabalhador.
Nesse sentido, ainda, o artigo 8º da CLT, alterado pela reforma trabalhista,
estabelece:
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de
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disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de
direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e
costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse
de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.
§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.
§ 2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal
Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão
restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam
previstas em lei.
§ 3o No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a
Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos
elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua
atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade
coletiva.
No caso, os requisitos a serem analisados em Juízo são:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
No que concerne à cláusula questionada, tem-se que o objeto
estabelecido é ilícito, o que justifica a nulidade da cláusula, consoante se observa por
ser norma cogente, de observância obrigatória.
Tanto é assim que, ao estabelecer a possibilidade do negociado sobre o
legislado (CLT, Art. 611-A, caput), a nova regra da CLT excepcionou determinados
temas que se mostram vedados para a supressão ou redução mediante negociação
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coletiva trabalhista, dentre eles a aprendizagem e a reserva de vaga para pessoas
com deficiência e/ou reabilitadas, senão vejamos (CLT, Art. 611-B, incisos XXII, XXIII
e XXIV):
Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo
de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos:
(...)
XXII - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios
de admissão do trabalhador com deficiência;
XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito
anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição
de aprendiz, a partir de quatorze anos;"
XXIV - medidas de proteção legal de crianças e adolescentes;
Certamente, tais instrumentos já encontrariam limitações na Constituição
Federal, bem como em tratados e convenções internacionais que abordassem Direitos
Humanos. Todavia, o legislador tratou de informar que os acordos e convenções
coletivas encontrariam limites na própria legislação ordinária, sempre que
adotassem como objeto temas expressamente proibidos pelo art. 611-B, da CLT,
como ocorre no caso em exame.
Em outras palavras, as normas oriundas da negociação coletiva somente
terão primazia sobre o texto legal (em sentido lato) quando de sua aplicação decorrer
benefício (melhoria das condições sociais) do obreiro.
A teor do caput do art. 444 da CLT:
Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre
estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às
disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam
aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.
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Face à literalidade dos dispositivos legais acima mencionados, resta
claramente demonstrado que a Cláusula Quinquagésima Primeira da CCT 2018/2018 é
ilegal; as cotas destinadas aos aprendizes não podem ser objeto de negociação
coletiva, máxime quando se pretende a redução da base de cálculo de tais reservas de
vagas de trabalho previstas expressamente em lei, como no caso dos autos.
2.2. RESERVA LEGAL DE VAGAS PARA APRENDIZES
Trata-se a profissionalização de direito fundamental previsto em norma
constitucional, tamanha a importância do tema para a sociedade. Assim dispõe o artigo
227 do Texto Maior:
"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão." (Grifou-se).
Em absoluta consonância com tal previsão, é o Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei nº 8.069/90):
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo
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na condição de aprendiz.
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação
especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei.
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada
segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho,
observados os seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
De outro giro, a Emenda Constitucional nº 20/1998 fixou a idade mínima
para o trabalho em 16 anos (exceto quanto ao noturno e aos que implicam riscos de
quaisquer naturezas à integridade moral e a saúde e segurança dos adolescentes),
permitindo, no entanto, a profissionalização por meio da aprendizagem a partir dos
14 anos, circunstância que torna ainda mais relevante a garantia da profissionalização
por meio de tal instituto.
A Lei nº 10.097/2000, ajustando-se às diretrizes da teoria da proteção
integral, alterou os artigos da CLT que tratam do instituto da aprendizagem,
materializando dessa forma os preceitos da aludida teoria em benefício dos
adolescentes.
No âmbito da legislação trabalhista, a definição do contrato de
aprendizagem encontra-se no caput do art. 428 da CLT:
Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado
por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a
assegurar ao maior de quatorze e menor de vinte e quatro anos inscrito em
programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível
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com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar
com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação.
A obrigatoriedade da contratação de aprendizes, por sua vez, encontra-se
estatuída no art. 429 da CLT:
Art. 429. Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e
matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de
aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no
máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções
demandem formação profissional.
Em nível internacional, o assunto igualmente é regulado e nesse exato
sentido, eis que a Recomendação nº 60 da OIT define a aprendizagem como o
“sistema em virtude do qual o empregador se obriga, por contrato, a empregar um
jovem trabalhador e a ensinar-lhe ou a fazer com que lhe ensinem metodicamente
um ofício, em um período previamente fixado, no transcurso do qual o aprendiz
está obrigado a trabalhar a serviço do dito empregador”.
A partir do conceito de aprendizagem dado pelo legislador pátrio, é fácil
perceber que não se trata de um contrato de trabalho comum; sua nota essencial não é
a simples disposição da força de trabalho do empregado em proveito do empregador,
mas sim a disponibilização, por este, de formação técnico-profissional metódica ao
adolescente ou jovem trabalhador, ao qual incumbirá exercer as tarefas necessárias a
essa formação.
Essa “formação técnico-profissional metódica” a que se refere a CLT deve
ser orientada pelo entendimento consubstanciado agora na Recomendação n° 117 da
OIT: “A formação não é um fim em si mesma, mas um meio de desenvolver as aptidões
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profissionais de uma pessoa, tendo em conta as possibilidades de emprego e de
permitir-lhe fazer uso de suas capacidades como melhor convenha a seus interesses e
aos da comunidade; a formação deveria tender a desenvolver a personalidade,
sobretudo quando se trata de adolescentes”.
No tocante ao número de aprendizes, a norma fixa como parâmetro para o
cálculo o número de empregados mantidos pela empresa, cujas funções demandem
formação profissional, devendo-se, para tanto, lançar-se mão da Classificação
Brasileira de Ocupações - CBO, além da capacidade profissional e do conhecimento
técnico-teórico requeridos para o exercício da atividade profissional, a qual deverá
acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho. Atente-se que a CBO foi instituída
pela Portaria Ministerial nº 397, de 9 de outubro de 2002, e tem por finalidade a
identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos
registros administrativos e domiciliares.
Nesse sentido, há disposição expressa do Decreto nº 5.598/05 que assim
aduz:
Art. 10. Para a definição das funções que demandem formação profissional,
deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO),
elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
§ 1º Ficam excluídas da definição do caput deste artigo as funções que
demandem, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou
superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de
direção, de gerência ou de confiança, nos termos do inciso II e do parágrafo
único do art. 62 e do § 2º do art. 224 da CLT.
§ 2o Deverão ser incluídas na base de cálculo todas as funções que
demandem formação profissional, independentemente de serem proibidas
para menores de dezoito anos.
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A utilização da CBO para a fixação da base de cálculo da cota de
aprendizagem é também matéria pacífica na jurisprudência atual:
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB
A ÉGIDE DA LEI N° 13.015/2014 - CONTRATO DE APRENDIZAGEM - BASE
DE CÁLCULO – CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO).
Vislumbrada violação ao art. 429 da CLT, dá-se provimento ao Agravo de
Instrumento para determinar o processamento do Recurso de Revista. II –
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N° 13.015/2014 -
CONTRATO DE APRENDIZAGEM - BASE DE CÁLCULO - CLASSIFICAÇÃO
BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO) 1. A contratação de aprendizes decorre
de imposição legal, nos termos dos artigos 429 da CLT e 9° do Decreto n°
5.598/2005. 2. Cinge-se a controvérsia em definir quais funções demandam
formação profissional, servindo para base de cálculo da quota de
aprendizes necessários na empresa. 3. O § 2° do artigo 10 do Decreto 5.598
estabelece que devem ser incluídas na base de cálculo todas as funções
que demandem formação profissional, independentemente de proibidas
para menores de 18 (dezoito) anos, devendo ser considerada a
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborada pelo MTE. 4. O
Tribunal Regional decidiu a controvérsia em sentido contrário ao entendimento
desta Corte Superior, que acolhe a tese de que devem ser incluídos no cálculo
da quota de aprendizes os empregados listados na Classificação Brasileira de
Ocupações. Recurso de Revista conhecido e provido. (Processo: RR - 10731-
36.2014.5.03.0073. Data de Julgamento: 23/11/2016, Relatora Ministra: Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/11/2016)
CONTRATAÇÃO DE APRENDIZES. BASE DE CÁLCULO. ART. 429 DA CLT,
DECRETO 5598 /2005 E CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇOES -
CBO. Para compor a base de cálculo do número de aprendizes a serem
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contratados pela empresa, necessário se faz observar os parâmetros
estabelecidos no art. 429 da CLT, no Decreto 5598 /2005 e na Classificação
Brasileira de Ocupações - CBO. E, uma vez constatado o preenchimento dos
critérios objetivos previstos na legislação de regência, inexiste razão para a
exclusão de funções expressamente elencadas na CBO da base de cálculo da
cota de aprendizes. (TRT-3ª Região, RO 0000111-35.2012.5.03.0040, Data de
publicação: 05/09/2016)
A CBO é, pois, o único documento indicativo das funções que ensejam
formação profissional, não se admitindo qualquer negociação coletiva tendente a excluir
esta ou aquela função da formação profissional.
No caso dos autos, verifica-se que as funções excluídas da base de
cálculo da cota de aprendizes demandam formação profissional para o seu exercício,
ao contrário do constante na cláusula, conforme os seguintes códigos da Classificação
Brasileira de Ocupações, quais sejam: Auxiliar de Serviços Gerais (Código 5143);
Porteiros (Código 5174); Zelador (Código 5141); Motoqueiro (5191); Servente (Código
5143); Copeira (Código 5134) e Jardineiro (6220).
Cabe destacar que a flexibilização proposta no instrumento normativo em
testilha reduzirá, ao arrepio da normatização cogente sobre a matéria, a base para
cálculo da cota legal, o que redundará na diminuição do número de aprendizes a que as
empresas do segmento econômico estão obrigadas a contratar. Tal conduta impactará
direta e negativamente na vida de milhares de adolescentes e jovens ávidos por uma
oportunidade de inserção no mercado de trabalho.
Como já dito, atualmente, a aprendizagem profissional além de propiciar o
fomento da qualificação profissional do mercado laboral, constitui uma ação afirmativa e
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política pública de proteção das crianças, adolescentes e jovens brasileiros.
Tal como informa o Plano Plurianual 2016-2019, reproduzindo Planos
Plurianuais anteriores, o número de aprendizes admitidos nos sistemas nacionais de
aprendizagem é indicador da efetividade das políticas púbicas voltadas para a
promoção dos direitos da juventude. Isso significa dizer que a inserção de aprendizes é
uma das maneiras identificadas pelo Estado para assegurar o bem-estar da juventude,
por meio de sua qualificação e inclusão no mercado.
A aprendizagem profissional também tem colaborado decisivamente na
erradicação do trabalho infantil e regularização do trabalho de adolescentes, na medida
em que constitui uma resposta para os adolescentes resgatados em situação de
trabalho irregular e que necessitam de alternativa para garantia de sua subsistência
pessoal ou de suas famílias.
Além de beneficiar os egressos do trabalho infantil, resgatados em
situação de trabalho ilegal, a aprendizagem profissional também tem contribuído para
inserção no mercado de trabalho, profissionalização e resgate social de adolescentes e
jovens vulneráveis, como aqueles atendidos ou egressos do SINASE - Sistema
Nacional de Atendimento ao Sistema Socioeducativo, de famílias de baixa renda,
pessoas com deficiência, em situação de acolhimento institucional, dentre outros.
Pelo exposto, não resta dúvida de que as normas que instituem as cotas
de aprendizes são normas cogentes, de indisponibilidade absoluta, representando
parcela que, portanto, não pode ser negociada.
As normas que instituem a obrigação de cumprimento de cotas de
aprendizes (e de outras ações afirmativas) extrapolam os limites do Direito do Trabalho,
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representando instrumentos de políticas de Estado, que, de nenhuma forma, poderiam
ser transacionados por meio da norma coletiva.
Os Sindicatos, ao inserirem a cláusula impugnada nesta ação civil pública
em seus instrumentos normativos, ultrapassaram em muito suas esferas de atribuição e
atuação, dispondo sobre direito que não lhes pertence.
Os réus fomentam o descumprimento da legislação brasileira, interferindo,
impondo obstáculo e impedindo o cumprimento integral da aprendizagem profissional,
tal como prevista no ordenamento jurídico. A conduta dos réus importa, portanto, em
prática ilegal, violadora de direitos sociais e, em especial, dos direitos das crianças,
adolescentes e jovens brasileiros.
2.3. A LESÃO E A REPARAÇÃO DO DANO MORAL COLETIVO
O art. 3º da Lei nº 7.347/85 dispõe que a ação civil pública poderá ter por
objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
O art. 1º, inciso IV, da referida Lei, por sua vez, assim, estabelece:
Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
(...).
IV. a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
Um dos objetivos desta Ação Civil Pública, conforme já exposto, é fazer
cessar a conduta ilícita dos réus, obrigando-os a rever sua conduta e a respeitar os
dispositivos legais que vêm sendo violados.
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Entretanto, não se pode olvidar que a prática dos sindicatos, ao
desrespeitarem as normas pertinentes à contratação de empregados aprendizes,
ofendeu de forma flagrante a ordem jurídica, tendo ocasionado prejuízos irreparáveis à
coletividade.
O ato ilícito praticado pelos Réus já causou, está causando e continuará a
causar danos irreparáveis à sociedade, até que cesse a prática ilegal. Agora mesmo,
centenas de empresas componentes do segmento econômico empresarial, inclusive
aquelas que já cumpriam suas obrigações legais, devem estar revendo suas práticas
para se adequar ao "mercado", se pautando pelos marcos estabelecidos na Convenção
Coletiva violadora do ordenamento jurídico.
Ou seja, empresas que cumpriam a lei deixarão de fazê-lo em razão da
apontada convenção coletiva.
Ainda que alguma empresa do segmento quisesse prosseguir cumprindo
suas obrigações legais, instada pela prática concorrência, deixaria de fazê-lo, sob pena
de não conseguir sobreviver no mercado.
Portanto, até que cesse a conduta irregular e enquanto perdurar o tempo
de tramitação da presente ação civil pública, persistirá o dano de ordem patrimonial a
uma gama difusa de adolescentes e jovens, não identificáveis, que poderiam e
deveriam ser contratados como aprendizes.
O Código Civil prescreve em seu art. 927 que: “Aquele que, por ato ilícito,
causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo”.
Além do dano coletivo causado aos interesses dos jovens potenciais
aprendizes, houve, ainda, a ocorrência de um dano geral, de natureza moral, causado a
toda coletividade.
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Trata-se de um prejuízo jurídico, social e moral de que foi alvo toda a
coletividade, na medida em que acintosamente violada a ordem jurídica social, já que
formação profissional do jovem e sua inserção no mercado de trabalho beneficiam a
sociedade, como já exposto.
A indenização é necessária para recompor o referido dano coletivo e coibir
que os réus e outras entidades classistas não mais incorram na prática delituosa
apontada nestes autos. A responsabilidade não penal decorrente de ato ilícito implica
uma condenação em dinheiro (Lei n. º 7.347/85, art. 3º), levando-se em conta a
natureza do ato ilícito, a gravidade da lesão, o número de trabalhadores envolvidos, o
lapso temporal e o comprometimento do bem jurídico violado.
A jurisprudência trabalhista há muitos anos vem reconhecendo a
pertinência da imposição de indenização pelo dano coletivo para os casos de
inadimplemento de cotas de aprendizes. Neste diapasão, o entendimento
jurisprudencial sobre o tema é pacífico. Cite-se alguns precedentes do E. TST:
RECURSO DE REVISTA. CONTRATO DE APRENDIZAGEM. MOTORISTAS
DE ÔNIBUS E COBRADORES. INCIDÊNCIA NA BASE DE CÁLCULO PARA
EFEITO DE CONTRATAÇÃO. A jurisprudência desta Corte é no sentido de
considerar que a função de motorista e cobrador de ônibus demandam formação
profissional e devem ser incluídas na base de cálculo para a fixação da cota de
aprendizes a serem contratados por estabelecimento, tendo em vista a
inexistência de impedimento legal, sendo que deve ser observada a limitação da
permissão para contratação de aprendizes com idade entre 21 a 24 anos, para o
cargo de motorista, e, dos adolescentes com idade entre 18 a 24 anos, para a
função de cobrador. Evidenciado nos autos que a reclamada descumpriu a
norma legal que estabelece a base de cálculo para a contratação de aprendizes,
restam caracterizados os prejuízos aos menores aprendizes que tiveram suas
expectativas frustradas. Presentes os elementos configuradores do dano moral
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coletivo (ato ilícito, dano e nexo de causalidade), é devido o pagamento da
indenização. Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 599-
07.2010.5.08.0109, Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, Data de
Julgamento: 16/12/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/02/2016)
DANO MORAL COLETIVO - CONTRATAÇÃO DE APRENDIZES -
DESCUMPRIMENTO - CONFIGURAÇÃO. O descumprimento de percentual
mínimo de contratação de aprendizes pela Ré trouxe repercussão negativa à
coletividade, causando, como registrado pelo Eg. TRT, verdadeiro - dano à
esfera jurídica de proteção dos jovens aprendizes. Desse modo, configurado o
dano moral coletivo na hipótese dos autos, é devido o pagamento da indenização
fixada. Recurso de Revista não conhecido. (RR -689- 13.2011.5.04.0005 Data de
Julgamento: 08/10/2014, Relator Desembargador Convocado: João Pedro
Silvestrin, 8ª Turma, ata de Publicação: DEJT 10/10/2014)
Considerando que a conduta dos réus impacta todo o segmento
econômico, entende o Ministério Público ser bastante razoável, além de proporcional, a
fixação da indenização pela lesão a direitos coletivos no valor não inferior a R$
500.000,00 (quinhentos mil reais), imputada a cada um dos sindicatos réus, em virtude
do desrespeito às normas que prescrevem a obrigatoriedade da contratação de
aprendizes e asseguram os direitos dos adolescentes e jovens brasileiros.
3. LIMINAR
É cediço que este processo levará tempo para a instrução e demais atos
que lhe são pertinentes, podendo prolongar-se por anos, até mesmo pela possibilidade
dos réus se utilizarem dos diversos recursos que a legislação processual lhe oferece.
Contudo, a gravidade da situação versada nestes autos não pode esperar por muito
tempo uma resposta do Poder Público, ainda mais a vigência da CCT ser somente até
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31 de dezembro de 2018, conforme previsto na cláusula primeira, tornando inócua a
atuação deste Órgão Ministerial, caso haja a demora no julgamento dos pedidos aqui
contidos.
Neste contexto, conclui-se que a concessão da liminar prevista no art. 12
da Lei nº 7.347/1985 torna-se imprescindível, sobretudo para assegurar a efetividade do
processo:
“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia,
em decisão sujeita a agravo. ”
No mesmo sentido é a dicção do artigo 300 do Código de Processo Civil:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.
(...)
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia.
De início, cabe ressaltar que a medida liminar prevista na ação civil
pública não tem natureza cautelar; trata-se de típica hipótese de antecipação de tutela
e, assim, devem estar presentes os requisitos do dispositivo legal supra.
No caso em tela, verificam-se presentes todos os requisitos que ensejam
o deferimento de tutela de urgência. É manifesta a ilegalidade da cláusula
quinquagésima primeira da CCT 2018/2018 registrada perante o MTE sob n°
CE000321/2018 firmada pelos reclamados.
A probabilidade do direito advém do fato de que o objeto estabelecido é
ilícito, o que justifica a nulidade da cláusula, consoante se observa, por ser norma
cogente, de observância obrigatória.
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O perigo dano está igualmente presente, na medida em que enquanto a
norma negocial em debate permanecer vigente haverá reiteração da lesão a preceitos
constitucionais e legais expressas que assegura direitos fundamentais indisponíveis
das categorias especiais de trabalhadores: aprendizes.
A continuidade da vigência da cláusula ora discutida representa o
mal ferimento de previsões constitucionais e legais expressas em sentido
contrário, além de fragilizar e gerar descrédito a respeito de importantes instrumentos
de políticas públicas voltados à proteção dos trabalhadores aprendizes.
Ante a clara presença dos requisitos legais, nos termos do art. 12 da Lei nº
7.347/85, c/c os arts. 84, § 3º, do CDC, e 300 do CPC/2015, o Ministério Público do
Trabalho requer a concessão de TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA, inaudita
altera pars, para o efeito de suspender a Cláusula Quinquagésima Primeira da
CCT 201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que alterou
ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem, até a decisão final de mérito da
presente ação.
4. PEDIDOS
Do exposto, requer o Ministério Público do Trabalho:
1. LIMINARMENTE, inaudita altera pars, na forma do art. 12 da Lei nº
7.347/85 c/c o art. 300 do NCPC:
1.1. A suspensão da Cláusula Quinquagésima Primeira da CCT
201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que
alterou ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem, até a decisão
final de mérito da presente ação.
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2. EM CARÁTER DEFINITIVO, que seja admitida a presente ação, por
presentes os pressupostos subjetivos e objetivos de sua admissibilidade, e julgada
totalmente procedente, pugnando pela:
2.1. Declaração de nulidade da Cláusula Quinquagésima Primeira da
CCT 201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que
alterou ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem;
2.2. Condenação dos réus na obrigação de se absterem de celebrar
instrumentos normativos autorizando, por qualquer medida ou forma,
a flexibilização ou alteração da base de cálculo da cota legal de
aprendizagem tal como prevista nos artigos 428 e seguintes da
Consolidação das Leis do Trabalho e Decreto n. 5598/2005, SOB
PENA DE MULTA DIÁRIA DE R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
imposta a cada um dos réus que descumprir a decisão judicial;
2.3. A condenação dos réus na obrigação de pagar indenização pelos
danos morais já causados aos interesses e direitos coletivos lato
sensu, no valor não inferior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),
imputada a cada um dos sindicatos réus, corrigido monetariamente
até o efetivo recolhimento.
Postula, ainda, que o montante objeto de condenação a título de
dano moral coletivo e os valores das multas (“astreintes”) que, por ventura, forem
cominadas pelo descumprimento da decisão sejam depositados em juízo e
revertidos em prol de entidades sociais, de projetos sociais e/ou de órgãos
públicos que atuam no Ceará, a serem indicados pelo MPT.
Caso Vossa Excelência assim não entenda, postula, sucessivamente,
que sejam destinados ao Fundo de Amparo do Trabalhador – FAT.
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5. REQUERIMENTOS
Por fim, requer o Ministério Público do Trabalho:
5.1. A citação dos réus, nos endereços informados no preâmbulo, para
contestarem o objeto da ação, no prazo legal ou em audiência, sob pena
de sofrerem os efeitos materiais e processuais da revelia;
5.2. Seja observado o disposto nos artigos 18, inciso II, alínea “h”, e 84,
inciso IV, da Lei Complementar n. º 75/93, e artigo 236, § 2º, do CPC;
5.3. A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a
juntada de documentos, perícias, depoimentos pessoais e testemunhais.
5.4. A condenação dos réus ao pagamento das custas e demais despesas
processuais.
Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais) para
efeitos fiscais.
Termos em que pede e espera deferimento.
Fortaleza/CE, 5 de setembro de 2018.
CLÁUDIO ALCÂNTARA MEIRELES
Procurador do Trabalho
PRT 7ª Região
DOCUMENTOS ANEXADOS À INICIAL
Doc. 01 – Denúncia – Ofício SRTE/CE;
Doc. 02 – Convenção Coletiva de Trabalho
Doc. 03 – Ata de Audiência MPT;
Doc. 04 – Minuta TAC
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