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Ministério Público da União Ministério Público do Trabalho Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região 1 EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DO TRABALHO DA MM ____ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, por meio da Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região, com sede na Av. Almirante Barroso, 466, Praia de Iracema, Fortaleza - Ceará, neste ato representado pelo Procurador do Trabalho in fine assinado, com base nos arts. 127 e 129, II e III da Constituição da República, no inc. IV do art. 83, da Lei Complementar 75/93, e nos arts. 2º,3º, 9º da CLT e Lei n. 6019/74, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE em face de SEEACONCE - SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 23.443.849/0001-35, com sede na Rua São Paulo, 1037, Centro, Fortaleza/CE, CEP: 60.030-101 e SEACEC - SINDICATO DAS EMPRESAS DE ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 11.088.721/0001-11, com sede na Av. Santos Dumont, 1687, Salas 701 e 702, Aldeota, Fortaleza/CE, CEP: 60.1600-150, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: Documento assinado eletronicamente por CLAUDIO ALCANTARA MEIRELES, em 10/09/2018, às 16h18min05s (horário de Brasília). Endereço para verificação do documento original: http://www.prt7.mpt.mp.br/servicos/autenticidade-de-documentos?view=autenticidades CODIGO : id=1413117&ca=V9R5MNHLXVDJ6HJM

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Ministério Público da União Ministério Público do Trabalho

Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região

1

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DO TRABALHO DA MM

____ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, por meio da Procuradoria

Regional do Trabalho da 7ª Região, com sede na Av. Almirante Barroso, 466, Praia de

Iracema, Fortaleza - Ceará, neste ato representado pelo Procurador do Trabalho in fine

assinado, com base nos arts. 127 e 129, II e III da Constituição da República, no inc. IV

do art. 83, da Lei Complementar 75/93, e nos arts. 2º,3º, 9º da CLT e Lei n. 6019/74,

vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR INAUDITA ALTERA PARTE

em face de SEEACONCE - SINDICATO DOS EMPREGADOS EM EMPRESAS DE

ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa jurídica de direito

privado, inscrita no CNPJ sob o nº 23.443.849/0001-35, com sede na Rua São Paulo,

1037, Centro, Fortaleza/CE, CEP: 60.030-101 e SEACEC - SINDICATO DAS

EMPRESAS DE ASSEIO E CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO CEARÁ, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 11.088.721/0001-11, com sede na

Av. Santos Dumont, 1687, Salas 701 e 702, Aldeota, Fortaleza/CE, CEP: 60.1600-150,

pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

Documento assinado eletronicamente por CLAUDIO ALCANTARA MEIRELES, em 10/09/2018, às 16h18min05s (horário de Brasília).

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1. FATOS

Instaurou a Procuradoria Regional do Trabalho da 7ª Região o

Procedimento Preparatório nº 000850.2018.07.000/1-02 em face das entidades

sindicais rés, a partir de Ofício encaminhado pela SRTE/CE (Doc. 01 – Ofício

SRTE/CE), noticiando irregularidades em cláusula de Convenção Coletiva de Trabalho

celebrada entre as rés, registrada perante o Ministério de Trabalho e Emprego, em

27/03/2018, sob o nº CE000321/2018, cuja Cláusula Quinquagésima Primeira tem o

seguinte teor (Doc. 02 – CCT 2018/2018):

CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA PRIMEIRA - APRENDIZAGEM

O percentual de aprendizagem de no mínimo 5%, previsto no art. 429 da

CLT, que deve ser aplicado em relação às funções que demandem

formação profissional, no caso das empresas signatárias da presente

norma coletiva, serão excluídas da base de cálculo as funções de

auxiliar de serviços gerais, porteiro, zelador, motoqueiro, servente,

copeira, jardineiro e qualquer atividade que não necessite de

formação técnica específica, justamente por não demandarem

qualquer formação para seu exercício.

Parágrafo Único – Em havendo ação judicial ou imputação de prejuízo

decorrente da aplicação da presente cláusula com a citação do sindicato

laboral, qualquer responsabilidade que ao mesmo seja imputada deverá

ser arcada pelo sindicato patronal, podendo o sindicato laboral denunciar

a lide na forma da Lei. (grifos nossos)

Consoante se observa, a cláusula em debate representa afronta ao direito

constitucional fundamental de profissionalização de jovens e adolescentes,

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consubstanciada na cota de aprendizagem, em total desacordo com a Constituição da

República, com o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA e com a Consolidação das

Leis do Trabalho – CLT.

Em audiência inicial realizada em 27/06/2018 (Doc. 03 – Ata), foi

apresentada ao SEACEC a minuta de TAC (Doc. 04 – Minuta TAC) visando a

alteração da cláusula supramencionada, tendo o SEACEC solicitado o prazo até o dia

31/07/2018 para consultar a categoria e manifestar-se nos autos sobre a concordância

ou discordância na celebração do referido TAC, o que foi deferido. O SEEACONCE,

apesar de regularmente notificado, não compareceu a essa audiência nem justificou a

sua ausência, deixando ainda de se pronunciar sobre o objeto do procedimento.

Decorrido o prazo concedido em audiência sem a manifestação nos autos

quanto à concordância ou discordância na celebração do TAC proposto, não restou

outra opção a este Órgão Ministerial senão o ajuizamento da presente ação com a

finalidade de estancar a lesão aos direitos dos adolescentes e jovens, bem como obter

o ressarcimento decorrente do dano ocasionado à sociedade.

2. DIREITO

2.1. ILEGALIDADE DA CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA PRIMEIRA DA CCT

2018/2018

Por meio do Parágrafo Único da Cláusula Quinquagésima Primeira da

CCT 2018/2018, os réus visam à limitação da base de incidência dos cálculos para

aferição do número de aprendizes (art. 428 e seguintes da CLT) a serem contratadas

pelas empresas que atuam no segmento de asseio e conservação no Estado do Ceará.

Com o advento da Lei n. 13.467/17 (Reforma Trabalhista), ainda que

tenha surgido um permissivo mais amplo à negociação coletiva, é certo que a

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prevalência do negociado sobre o legislado em desfavor do trabalhador, tolhendo seus

direitos sociais mínimos, viola os princípios norteadores do Direito do Trabalho

brasileiro, tais como o da prevalência da norma mais favorável, da irrenunciabilidade de

direitos do trabalhador e da adequação setorial negociada. Além desses, viola também

o princípio da vedação ao retrocesso social, expresso em diversas convenções

internacionais ratificadas pelo Brasil.

Assim, não poderá surgir qualquer tipo de norma que venha a permitir que

aprendizes sofram algum tipo de discriminação na admissão de emprego. A alteração

dos critérios legalmente estabelecidos para tais cotas de contratação obrigatória não

tem amparo legal.

O Direito do Trabalho, em sua gênese, tem por fundamento o princípio da

proteção do trabalhador, e por objetivo contrabalancear o desequilíbrio econômico,

social e político existente entre empregador e empregado. Deste princípio decorrem

outros como o da prevalência da norma mais favorável ou da condição mais benéfica, o

da intangibilidade dos direitos trabalhistas, entre outros.

Nos termos do artigo 7°, inciso XXVI, da Constituição da República de

1988, é direito fundamental do trabalhador “reconhecimento das convenções e acordos

coletivos de trabalho. ” A liberdade de negociação, entretanto, não é irrestrita. A

validade dos instrumentos de negociação coletivas, ou de suas cláusulas, está

condicionada ao respeito dos preceitos constitucionais, legais e infralegais que

asseguram patamar mínimo de direitos voltados à proteção do trabalhador.

Nesse sentido, ainda, o artigo 8º da CLT, alterado pela reforma trabalhista,

estabelece:

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de

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disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela

jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de

direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e

costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse

de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.

§ 2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal

Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão

restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam

previstas em lei.

§ 3o No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a

Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos

elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104

da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua

atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade

coletiva.

No caso, os requisitos a serem analisados em Juízo são:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

No que concerne à cláusula questionada, tem-se que o objeto

estabelecido é ilícito, o que justifica a nulidade da cláusula, consoante se observa por

ser norma cogente, de observância obrigatória.

Tanto é assim que, ao estabelecer a possibilidade do negociado sobre o

legislado (CLT, Art. 611-A, caput), a nova regra da CLT excepcionou determinados

temas que se mostram vedados para a supressão ou redução mediante negociação

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coletiva trabalhista, dentre eles a aprendizagem e a reserva de vaga para pessoas

com deficiência e/ou reabilitadas, senão vejamos (CLT, Art. 611-B, incisos XXII, XXIII

e XXIV):

Art. 611-B. Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo

de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos:

(...)

XXII - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios

de admissão do trabalhador com deficiência;

XXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito

anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição

de aprendiz, a partir de quatorze anos;"

XXIV - medidas de proteção legal de crianças e adolescentes;

Certamente, tais instrumentos já encontrariam limitações na Constituição

Federal, bem como em tratados e convenções internacionais que abordassem Direitos

Humanos. Todavia, o legislador tratou de informar que os acordos e convenções

coletivas encontrariam limites na própria legislação ordinária, sempre que

adotassem como objeto temas expressamente proibidos pelo art. 611-B, da CLT,

como ocorre no caso em exame.

Em outras palavras, as normas oriundas da negociação coletiva somente

terão primazia sobre o texto legal (em sentido lato) quando de sua aplicação decorrer

benefício (melhoria das condições sociais) do obreiro.

A teor do caput do art. 444 da CLT:

Art. 444 - As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre

estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às

disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam

aplicáveis e às decisões das autoridades competentes.

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Face à literalidade dos dispositivos legais acima mencionados, resta

claramente demonstrado que a Cláusula Quinquagésima Primeira da CCT 2018/2018 é

ilegal; as cotas destinadas aos aprendizes não podem ser objeto de negociação

coletiva, máxime quando se pretende a redução da base de cálculo de tais reservas de

vagas de trabalho previstas expressamente em lei, como no caso dos autos.

2.2. RESERVA LEGAL DE VAGAS PARA APRENDIZES

Trata-se a profissionalização de direito fundamental previsto em norma

constitucional, tamanha a importância do tema para a sociedade. Assim dispõe o artigo

227 do Texto Maior:

"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de

toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão." (Grifou-se).

Em absoluta consonância com tal previsão, é o Estatuto da Criança e do

Adolescente (Lei nº 8.069/90):

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder

público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à

vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência

familiar e comunitária.

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo

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na condição de aprendiz.

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação

especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei.

Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada

segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho,

observados os seguintes aspectos, entre outros:

I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

De outro giro, a Emenda Constitucional nº 20/1998 fixou a idade mínima

para o trabalho em 16 anos (exceto quanto ao noturno e aos que implicam riscos de

quaisquer naturezas à integridade moral e a saúde e segurança dos adolescentes),

permitindo, no entanto, a profissionalização por meio da aprendizagem a partir dos

14 anos, circunstância que torna ainda mais relevante a garantia da profissionalização

por meio de tal instituto.

A Lei nº 10.097/2000, ajustando-se às diretrizes da teoria da proteção

integral, alterou os artigos da CLT que tratam do instituto da aprendizagem,

materializando dessa forma os preceitos da aludida teoria em benefício dos

adolescentes.

No âmbito da legislação trabalhista, a definição do contrato de

aprendizagem encontra-se no caput do art. 428 da CLT:

Art. 428. Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado

por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a

assegurar ao maior de quatorze e menor de vinte e quatro anos inscrito em

programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível

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com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar

com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação.

A obrigatoriedade da contratação de aprendizes, por sua vez, encontra-se

estatuída no art. 429 da CLT:

Art. 429. Os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar e

matricular nos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem número de

aprendizes equivalente a cinco por cento, no mínimo, e quinze por cento, no

máximo, dos trabalhadores existentes em cada estabelecimento, cujas funções

demandem formação profissional.

Em nível internacional, o assunto igualmente é regulado e nesse exato

sentido, eis que a Recomendação nº 60 da OIT define a aprendizagem como o

“sistema em virtude do qual o empregador se obriga, por contrato, a empregar um

jovem trabalhador e a ensinar-lhe ou a fazer com que lhe ensinem metodicamente

um ofício, em um período previamente fixado, no transcurso do qual o aprendiz

está obrigado a trabalhar a serviço do dito empregador”.

A partir do conceito de aprendizagem dado pelo legislador pátrio, é fácil

perceber que não se trata de um contrato de trabalho comum; sua nota essencial não é

a simples disposição da força de trabalho do empregado em proveito do empregador,

mas sim a disponibilização, por este, de formação técnico-profissional metódica ao

adolescente ou jovem trabalhador, ao qual incumbirá exercer as tarefas necessárias a

essa formação.

Essa “formação técnico-profissional metódica” a que se refere a CLT deve

ser orientada pelo entendimento consubstanciado agora na Recomendação n° 117 da

OIT: “A formação não é um fim em si mesma, mas um meio de desenvolver as aptidões

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profissionais de uma pessoa, tendo em conta as possibilidades de emprego e de

permitir-lhe fazer uso de suas capacidades como melhor convenha a seus interesses e

aos da comunidade; a formação deveria tender a desenvolver a personalidade,

sobretudo quando se trata de adolescentes”.

No tocante ao número de aprendizes, a norma fixa como parâmetro para o

cálculo o número de empregados mantidos pela empresa, cujas funções demandem

formação profissional, devendo-se, para tanto, lançar-se mão da Classificação

Brasileira de Ocupações - CBO, além da capacidade profissional e do conhecimento

técnico-teórico requeridos para o exercício da atividade profissional, a qual deverá

acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho. Atente-se que a CBO foi instituída

pela Portaria Ministerial nº 397, de 9 de outubro de 2002, e tem por finalidade a

identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos

registros administrativos e domiciliares.

Nesse sentido, há disposição expressa do Decreto nº 5.598/05 que assim

aduz:

Art. 10. Para a definição das funções que demandem formação profissional,

deverá ser considerada a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO),

elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

§ 1º Ficam excluídas da definição do caput deste artigo as funções que

demandem, para o seu exercício, habilitação profissional de nível técnico ou

superior, ou, ainda, as funções que estejam caracterizadas como cargos de

direção, de gerência ou de confiança, nos termos do inciso II e do parágrafo

único do art. 62 e do § 2º do art. 224 da CLT.

§ 2o Deverão ser incluídas na base de cálculo todas as funções que

demandem formação profissional, independentemente de serem proibidas

para menores de dezoito anos.

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A utilização da CBO para a fixação da base de cálculo da cota de

aprendizagem é também matéria pacífica na jurisprudência atual:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB

A ÉGIDE DA LEI N° 13.015/2014 - CONTRATO DE APRENDIZAGEM - BASE

DE CÁLCULO – CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO).

Vislumbrada violação ao art. 429 da CLT, dá-se provimento ao Agravo de

Instrumento para determinar o processamento do Recurso de Revista. II –

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N° 13.015/2014 -

CONTRATO DE APRENDIZAGEM - BASE DE CÁLCULO - CLASSIFICAÇÃO

BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO) 1. A contratação de aprendizes decorre

de imposição legal, nos termos dos artigos 429 da CLT e 9° do Decreto n°

5.598/2005. 2. Cinge-se a controvérsia em definir quais funções demandam

formação profissional, servindo para base de cálculo da quota de

aprendizes necessários na empresa. 3. O § 2° do artigo 10 do Decreto 5.598

estabelece que devem ser incluídas na base de cálculo todas as funções

que demandem formação profissional, independentemente de proibidas

para menores de 18 (dezoito) anos, devendo ser considerada a

Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), elaborada pelo MTE. 4. O

Tribunal Regional decidiu a controvérsia em sentido contrário ao entendimento

desta Corte Superior, que acolhe a tese de que devem ser incluídos no cálculo

da quota de aprendizes os empregados listados na Classificação Brasileira de

Ocupações. Recurso de Revista conhecido e provido. (Processo: RR - 10731-

36.2014.5.03.0073. Data de Julgamento: 23/11/2016, Relatora Ministra: Maria

Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/11/2016)

CONTRATAÇÃO DE APRENDIZES. BASE DE CÁLCULO. ART. 429 DA CLT,

DECRETO 5598 /2005 E CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇOES -

CBO. Para compor a base de cálculo do número de aprendizes a serem

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contratados pela empresa, necessário se faz observar os parâmetros

estabelecidos no art. 429 da CLT, no Decreto 5598 /2005 e na Classificação

Brasileira de Ocupações - CBO. E, uma vez constatado o preenchimento dos

critérios objetivos previstos na legislação de regência, inexiste razão para a

exclusão de funções expressamente elencadas na CBO da base de cálculo da

cota de aprendizes. (TRT-3ª Região, RO 0000111-35.2012.5.03.0040, Data de

publicação: 05/09/2016)

A CBO é, pois, o único documento indicativo das funções que ensejam

formação profissional, não se admitindo qualquer negociação coletiva tendente a excluir

esta ou aquela função da formação profissional.

No caso dos autos, verifica-se que as funções excluídas da base de

cálculo da cota de aprendizes demandam formação profissional para o seu exercício,

ao contrário do constante na cláusula, conforme os seguintes códigos da Classificação

Brasileira de Ocupações, quais sejam: Auxiliar de Serviços Gerais (Código 5143);

Porteiros (Código 5174); Zelador (Código 5141); Motoqueiro (5191); Servente (Código

5143); Copeira (Código 5134) e Jardineiro (6220).

Cabe destacar que a flexibilização proposta no instrumento normativo em

testilha reduzirá, ao arrepio da normatização cogente sobre a matéria, a base para

cálculo da cota legal, o que redundará na diminuição do número de aprendizes a que as

empresas do segmento econômico estão obrigadas a contratar. Tal conduta impactará

direta e negativamente na vida de milhares de adolescentes e jovens ávidos por uma

oportunidade de inserção no mercado de trabalho.

Como já dito, atualmente, a aprendizagem profissional além de propiciar o

fomento da qualificação profissional do mercado laboral, constitui uma ação afirmativa e

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política pública de proteção das crianças, adolescentes e jovens brasileiros.

Tal como informa o Plano Plurianual 2016-2019, reproduzindo Planos

Plurianuais anteriores, o número de aprendizes admitidos nos sistemas nacionais de

aprendizagem é indicador da efetividade das políticas púbicas voltadas para a

promoção dos direitos da juventude. Isso significa dizer que a inserção de aprendizes é

uma das maneiras identificadas pelo Estado para assegurar o bem-estar da juventude,

por meio de sua qualificação e inclusão no mercado.

A aprendizagem profissional também tem colaborado decisivamente na

erradicação do trabalho infantil e regularização do trabalho de adolescentes, na medida

em que constitui uma resposta para os adolescentes resgatados em situação de

trabalho irregular e que necessitam de alternativa para garantia de sua subsistência

pessoal ou de suas famílias.

Além de beneficiar os egressos do trabalho infantil, resgatados em

situação de trabalho ilegal, a aprendizagem profissional também tem contribuído para

inserção no mercado de trabalho, profissionalização e resgate social de adolescentes e

jovens vulneráveis, como aqueles atendidos ou egressos do SINASE - Sistema

Nacional de Atendimento ao Sistema Socioeducativo, de famílias de baixa renda,

pessoas com deficiência, em situação de acolhimento institucional, dentre outros.

Pelo exposto, não resta dúvida de que as normas que instituem as cotas

de aprendizes são normas cogentes, de indisponibilidade absoluta, representando

parcela que, portanto, não pode ser negociada.

As normas que instituem a obrigação de cumprimento de cotas de

aprendizes (e de outras ações afirmativas) extrapolam os limites do Direito do Trabalho,

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representando instrumentos de políticas de Estado, que, de nenhuma forma, poderiam

ser transacionados por meio da norma coletiva.

Os Sindicatos, ao inserirem a cláusula impugnada nesta ação civil pública

em seus instrumentos normativos, ultrapassaram em muito suas esferas de atribuição e

atuação, dispondo sobre direito que não lhes pertence.

Os réus fomentam o descumprimento da legislação brasileira, interferindo,

impondo obstáculo e impedindo o cumprimento integral da aprendizagem profissional,

tal como prevista no ordenamento jurídico. A conduta dos réus importa, portanto, em

prática ilegal, violadora de direitos sociais e, em especial, dos direitos das crianças,

adolescentes e jovens brasileiros.

2.3. A LESÃO E A REPARAÇÃO DO DANO MORAL COLETIVO

O art. 3º da Lei nº 7.347/85 dispõe que a ação civil pública poderá ter por

objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

O art. 1º, inciso IV, da referida Lei, por sua vez, assim, estabelece:

Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as

ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:

(...).

IV. a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.

Um dos objetivos desta Ação Civil Pública, conforme já exposto, é fazer

cessar a conduta ilícita dos réus, obrigando-os a rever sua conduta e a respeitar os

dispositivos legais que vêm sendo violados.

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Entretanto, não se pode olvidar que a prática dos sindicatos, ao

desrespeitarem as normas pertinentes à contratação de empregados aprendizes,

ofendeu de forma flagrante a ordem jurídica, tendo ocasionado prejuízos irreparáveis à

coletividade.

O ato ilícito praticado pelos Réus já causou, está causando e continuará a

causar danos irreparáveis à sociedade, até que cesse a prática ilegal. Agora mesmo,

centenas de empresas componentes do segmento econômico empresarial, inclusive

aquelas que já cumpriam suas obrigações legais, devem estar revendo suas práticas

para se adequar ao "mercado", se pautando pelos marcos estabelecidos na Convenção

Coletiva violadora do ordenamento jurídico.

Ou seja, empresas que cumpriam a lei deixarão de fazê-lo em razão da

apontada convenção coletiva.

Ainda que alguma empresa do segmento quisesse prosseguir cumprindo

suas obrigações legais, instada pela prática concorrência, deixaria de fazê-lo, sob pena

de não conseguir sobreviver no mercado.

Portanto, até que cesse a conduta irregular e enquanto perdurar o tempo

de tramitação da presente ação civil pública, persistirá o dano de ordem patrimonial a

uma gama difusa de adolescentes e jovens, não identificáveis, que poderiam e

deveriam ser contratados como aprendizes.

O Código Civil prescreve em seu art. 927 que: “Aquele que, por ato ilícito,

causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo”.

Além do dano coletivo causado aos interesses dos jovens potenciais

aprendizes, houve, ainda, a ocorrência de um dano geral, de natureza moral, causado a

toda coletividade.

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Trata-se de um prejuízo jurídico, social e moral de que foi alvo toda a

coletividade, na medida em que acintosamente violada a ordem jurídica social, já que

formação profissional do jovem e sua inserção no mercado de trabalho beneficiam a

sociedade, como já exposto.

A indenização é necessária para recompor o referido dano coletivo e coibir

que os réus e outras entidades classistas não mais incorram na prática delituosa

apontada nestes autos. A responsabilidade não penal decorrente de ato ilícito implica

uma condenação em dinheiro (Lei n. º 7.347/85, art. 3º), levando-se em conta a

natureza do ato ilícito, a gravidade da lesão, o número de trabalhadores envolvidos, o

lapso temporal e o comprometimento do bem jurídico violado.

A jurisprudência trabalhista há muitos anos vem reconhecendo a

pertinência da imposição de indenização pelo dano coletivo para os casos de

inadimplemento de cotas de aprendizes. Neste diapasão, o entendimento

jurisprudencial sobre o tema é pacífico. Cite-se alguns precedentes do E. TST:

RECURSO DE REVISTA. CONTRATO DE APRENDIZAGEM. MOTORISTAS

DE ÔNIBUS E COBRADORES. INCIDÊNCIA NA BASE DE CÁLCULO PARA

EFEITO DE CONTRATAÇÃO. A jurisprudência desta Corte é no sentido de

considerar que a função de motorista e cobrador de ônibus demandam formação

profissional e devem ser incluídas na base de cálculo para a fixação da cota de

aprendizes a serem contratados por estabelecimento, tendo em vista a

inexistência de impedimento legal, sendo que deve ser observada a limitação da

permissão para contratação de aprendizes com idade entre 21 a 24 anos, para o

cargo de motorista, e, dos adolescentes com idade entre 18 a 24 anos, para a

função de cobrador. Evidenciado nos autos que a reclamada descumpriu a

norma legal que estabelece a base de cálculo para a contratação de aprendizes,

restam caracterizados os prejuízos aos menores aprendizes que tiveram suas

expectativas frustradas. Presentes os elementos configuradores do dano moral

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coletivo (ato ilícito, dano e nexo de causalidade), é devido o pagamento da

indenização. Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 599-

07.2010.5.08.0109, Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, Data de

Julgamento: 16/12/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/02/2016)

DANO MORAL COLETIVO - CONTRATAÇÃO DE APRENDIZES -

DESCUMPRIMENTO - CONFIGURAÇÃO. O descumprimento de percentual

mínimo de contratação de aprendizes pela Ré trouxe repercussão negativa à

coletividade, causando, como registrado pelo Eg. TRT, verdadeiro - dano à

esfera jurídica de proteção dos jovens aprendizes. Desse modo, configurado o

dano moral coletivo na hipótese dos autos, é devido o pagamento da indenização

fixada. Recurso de Revista não conhecido. (RR -689- 13.2011.5.04.0005 Data de

Julgamento: 08/10/2014, Relator Desembargador Convocado: João Pedro

Silvestrin, 8ª Turma, ata de Publicação: DEJT 10/10/2014)

Considerando que a conduta dos réus impacta todo o segmento

econômico, entende o Ministério Público ser bastante razoável, além de proporcional, a

fixação da indenização pela lesão a direitos coletivos no valor não inferior a R$

500.000,00 (quinhentos mil reais), imputada a cada um dos sindicatos réus, em virtude

do desrespeito às normas que prescrevem a obrigatoriedade da contratação de

aprendizes e asseguram os direitos dos adolescentes e jovens brasileiros.

3. LIMINAR

É cediço que este processo levará tempo para a instrução e demais atos

que lhe são pertinentes, podendo prolongar-se por anos, até mesmo pela possibilidade

dos réus se utilizarem dos diversos recursos que a legislação processual lhe oferece.

Contudo, a gravidade da situação versada nestes autos não pode esperar por muito

tempo uma resposta do Poder Público, ainda mais a vigência da CCT ser somente até

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31 de dezembro de 2018, conforme previsto na cláusula primeira, tornando inócua a

atuação deste Órgão Ministerial, caso haja a demora no julgamento dos pedidos aqui

contidos.

Neste contexto, conclui-se que a concessão da liminar prevista no art. 12

da Lei nº 7.347/1985 torna-se imprescindível, sobretudo para assegurar a efetividade do

processo:

“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia,

em decisão sujeita a agravo. ”

No mesmo sentido é a dicção do artigo 300 do Código de Processo Civil:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado

útil do processo.

(...)

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação

prévia.

De início, cabe ressaltar que a medida liminar prevista na ação civil

pública não tem natureza cautelar; trata-se de típica hipótese de antecipação de tutela

e, assim, devem estar presentes os requisitos do dispositivo legal supra.

No caso em tela, verificam-se presentes todos os requisitos que ensejam

o deferimento de tutela de urgência. É manifesta a ilegalidade da cláusula

quinquagésima primeira da CCT 2018/2018 registrada perante o MTE sob n°

CE000321/2018 firmada pelos reclamados.

A probabilidade do direito advém do fato de que o objeto estabelecido é

ilícito, o que justifica a nulidade da cláusula, consoante se observa, por ser norma

cogente, de observância obrigatória.

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O perigo dano está igualmente presente, na medida em que enquanto a

norma negocial em debate permanecer vigente haverá reiteração da lesão a preceitos

constitucionais e legais expressas que assegura direitos fundamentais indisponíveis

das categorias especiais de trabalhadores: aprendizes.

A continuidade da vigência da cláusula ora discutida representa o

mal ferimento de previsões constitucionais e legais expressas em sentido

contrário, além de fragilizar e gerar descrédito a respeito de importantes instrumentos

de políticas públicas voltados à proteção dos trabalhadores aprendizes.

Ante a clara presença dos requisitos legais, nos termos do art. 12 da Lei nº

7.347/85, c/c os arts. 84, § 3º, do CDC, e 300 do CPC/2015, o Ministério Público do

Trabalho requer a concessão de TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA, inaudita

altera pars, para o efeito de suspender a Cláusula Quinquagésima Primeira da

CCT 201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que alterou

ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem, até a decisão final de mérito da

presente ação.

4. PEDIDOS

Do exposto, requer o Ministério Público do Trabalho:

1. LIMINARMENTE, inaudita altera pars, na forma do art. 12 da Lei nº

7.347/85 c/c o art. 300 do NCPC:

1.1. A suspensão da Cláusula Quinquagésima Primeira da CCT

201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que

alterou ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem, até a decisão

final de mérito da presente ação.

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2. EM CARÁTER DEFINITIVO, que seja admitida a presente ação, por

presentes os pressupostos subjetivos e objetivos de sua admissibilidade, e julgada

totalmente procedente, pugnando pela:

2.1. Declaração de nulidade da Cláusula Quinquagésima Primeira da

CCT 201/2018, registrada perante o MTE sob o nº CE000321/2018, que

alterou ilegalmente a base de cálculo de aprendizagem;

2.2. Condenação dos réus na obrigação de se absterem de celebrar

instrumentos normativos autorizando, por qualquer medida ou forma,

a flexibilização ou alteração da base de cálculo da cota legal de

aprendizagem tal como prevista nos artigos 428 e seguintes da

Consolidação das Leis do Trabalho e Decreto n. 5598/2005, SOB

PENA DE MULTA DIÁRIA DE R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),

imposta a cada um dos réus que descumprir a decisão judicial;

2.3. A condenação dos réus na obrigação de pagar indenização pelos

danos morais já causados aos interesses e direitos coletivos lato

sensu, no valor não inferior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais),

imputada a cada um dos sindicatos réus, corrigido monetariamente

até o efetivo recolhimento.

Postula, ainda, que o montante objeto de condenação a título de

dano moral coletivo e os valores das multas (“astreintes”) que, por ventura, forem

cominadas pelo descumprimento da decisão sejam depositados em juízo e

revertidos em prol de entidades sociais, de projetos sociais e/ou de órgãos

públicos que atuam no Ceará, a serem indicados pelo MPT.

Caso Vossa Excelência assim não entenda, postula, sucessivamente,

que sejam destinados ao Fundo de Amparo do Trabalhador – FAT.

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5. REQUERIMENTOS

Por fim, requer o Ministério Público do Trabalho:

5.1. A citação dos réus, nos endereços informados no preâmbulo, para

contestarem o objeto da ação, no prazo legal ou em audiência, sob pena

de sofrerem os efeitos materiais e processuais da revelia;

5.2. Seja observado o disposto nos artigos 18, inciso II, alínea “h”, e 84,

inciso IV, da Lei Complementar n. º 75/93, e artigo 236, § 2º, do CPC;

5.3. A produção de todas as provas admitidas em direito, em especial a

juntada de documentos, perícias, depoimentos pessoais e testemunhais.

5.4. A condenação dos réus ao pagamento das custas e demais despesas

processuais.

Atribui-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais) para

efeitos fiscais.

Termos em que pede e espera deferimento.

Fortaleza/CE, 5 de setembro de 2018.

CLÁUDIO ALCÂNTARA MEIRELES

Procurador do Trabalho

PRT 7ª Região

DOCUMENTOS ANEXADOS À INICIAL

Doc. 01 – Denúncia – Ofício SRTE/CE;

Doc. 02 – Convenção Coletiva de Trabalho

Doc. 03 – Ata de Audiência MPT;

Doc. 04 – Minuta TAC

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