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República de Moçambique Ministério do Turismo Aprovado na 15ª Sessão Ordinária do Conselho de Ministros de 12 de Outubro de 2004 Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique (2004-2013)

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República de MoçambiqueMinistério do Turismo

Aprovado na 15ª Sessão Ordinária do Conselhode Ministros de 12 de Outubro de 2004

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique

(2004-2013)

República de MoçambiqueMinistério do Turismo

Aprovado na 15ª Sessão Ordinária do Conselhode Ministros de 12 de Outubro de 2004

para o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique

(2004-2013)

Plano Estratégico

A indústria turística e de viagens cons-titui neste período de arranque do sé-

culo 21 o sector líder da economia mundi-al, com níveis de crescimento anual bas-tante significativos. Nos países em vias dedesenvolvimento, o turismo tem dado umgrande contributo na luta contra a pobrezaatravés da valorização dos recursos natu-rais e do património histórico e cultural quepropicia a promoção de investimentos e doemprego assim como a geração de recei-tas em moeda externa. O seu carácter trans-versal estimula outros sectores de activi-dade, contribuindo desta forma nos esfor-ços de diversificação da economia.Contudo, para que esta contribuição tenhaos efeitos desajados é necessário umaabordagem coordenada e integrada entreos sectores que concorrem neste proces-so. O Plano Estratégico para o Desenvol-vimento do Turismo 2004-2013 é ocorolário do trabalho empreendido nosector ao longo dos últimos anos e cons-titui um instrumento orientador com vis-ta ao desenvolvimento de um destino tu-rístico atraente e vibrante na Região.

O turismo em Moçambique está gradu-almente a recuperar o seu lugar na econo-mia nacional. O crescimento dos investimen-tos ao longo dos últimos anos que resulta-ram na expansão da capacidade dealojamento e dos serviços similares e no me-lhoramento da qualidade do produto sãofactores que testemunham o futuroencorajador desta indústria no País. O inves-timento empresarial resultou na expansão dacapacidade hoteleira, durante o presentequinquenio, em mais de 2500 camas comdestaque para estabelecimentos de luxo (5e 4 estrelas), de primeira (3 estrelas) e eco-nómica. Em termos de emprego, nota-se umcrescimento em cerca de 26,1% comparadoaos níveis dos princípios de 2000, atingindo

Prefácioactualmente aproxidamente 32,000 postosde trabalho.

O turismo de lazer, a procura de ambi-entes tropicais, nomeadamente as praias,a fauna representada pelos chamados bigfive, a cultura e o turismo de negócio sãosegmentos que continuam a dominar asmotivações de viagens para os destinos tu-rísticos dos países em vias de desenvolvi-mento, como é o caso de Moçambique. Asvantagens comparativas consubstanciadasna sua localização estratégica, na qualida-de dos recursos naturais em virtude da suapreservação e da singularidade do seu pa-trimónio histórico e cultural, constituemoportunidades ímpares a explorar.

A Política do Turismo estabelece prin-cípios orientadores sobre o desenvolvi-mento do turismo em Moçambique resul-tantes das mudanças operadas no sectore que ditam a necessidade de estabele-cer a relação do binómio produto-merca-do; maior valorização das áreas de con-servação como elemento importante doproduto turístico; integração da aborda-gem do Programa de Alívio e Redução daPobreza Absoluta (PARPA) no desenvol-vimento do sector do turismo; e doordenamento compatível com astendencias globais no turismo (eco-turis-mo, cruzeiros, aventura, desportosnauticos); o papel das comunidades lo-cais. As iniciativas de desenvolvimentodas áreas de conservação transfronteiriçasenquadram-se no espírito da Nova Parce-ria de Desenvolvimento de Africa(NEPAD) e constituem marcos para maiorcooperação e integração regional, sendotambém factores de preservação e con-solidação da Paz.

O Ministro do Turismo

Fernando Sumbana Júnior

1. Introdução ............................................................................................................................................................ 7

2. Contextualização ........................................................................................................................................... 11

2.1. Importância Económica do Turismo ................................................................................................ 12

2.2. Perspectiva Regional e Internacional ............................................................................................... 13

2.3. Perspectiva Nacional ........................................................................................................................... 14

2.4. Quadro Legal e Institucional ............................................................................................................. 16

2.5. Política e Estratégia do Turismo ........................................................................................................ 18

2.6. Produto Turístico de Moçambique ................................................................................................... 19

2.7. Conservação e Turismo ...................................................................................................................... 22

3. Modelo Estratégico Para o Desenvolvimento do Turismo ................................................ 39

3.1. Análise do Potencial do Turismo em Moçambique ....................................................................... 40

3.2. Mercados Estratégicos para Moçambique ...................................................................................... 44

4. Visão do Turismo .......................................................................................................................................... 49

4.1. Visão do Turismo para o Futuro ....................................................................................................... 50

4.2. Força dos Recursos ............................................................................................................................. 50

4.3. Factores-Chave do Sucesso ............................................................................................................... 51

4.4. Mercados Estratégicos para Moçambique ...................................................................................... 53

4.5. Mercados de Nicho Estratégicos para Moçambique ................................................................... 53

4.6. Mercados Emissores Estratégicos para Moçambique .................................................................. 55

4.7. Conjugação de Produtos e Mercados ............................................................................................. 56

4.8. Factores de Base .................................................................................................................................. 57

5. Processos Fundamentais de Implementação .............................................................................. 59

5.1. Enfoque e Quadro Espacial do Turismo ........................................................................................ 60

5.2. As Regiões de Moçambique ............................................................................................................... 61

5.3. Definição de Áreas Prioritárias para Investimento no Turismo ................................................ 62

5.4. A Abordagem Dual para o Desenvolvimento de Destinos Turísticos ...................................... 63

5.5. Desenvolvimento de Rotas e Circuitos Estratégicos do Turismo ............................................ 69

6. Implementação do Plano Estratégico .............................................................................................. 75

6.1. Quadro de implementação ................................................................................................................ 76

6.2. Quadro Institucional para o Desenvolvimento do Turismo em APITs e ACTFs ................... 78

6.3. Planificação do Desenvolvimento Integrado .................................................................................. 78

6.4. Desenvolvimento de Recursos Humanos ...................................................................................... 79

6.5. Marketing ............................................................................................................................................... 81

6.6. Conservação ......................................................................................................................................... 84

6.7. Planos de Acção ................................................................................................................................... 87

Índice

Matola

Moamba

Magude

Manhiça

MarracueneNamaacha

Matutuíne

Boane

Massingir

Chicualacuala

Chibuto

Mabalane

MandlacazeChókwè

Bilene

Massangena

Chigubo

Guijá

Massinga

Govuro

Vilankulo

MorrumbeneHomoíne

Inharrime

Zavala

Panda

Maxixe

Inhassoro

Mabote

Jangamo

Funhalouro

Guro

Báruè

Sussundenga

Manica

Mossurize

Tambara

Machaze

Macossa

Gondola

DondoBúzi

Chibabava

Cheringoma

Marromeu

Caia

Chemba

Gorongasa

Muanza

Nhamatanda

Marínguè

Machanga

Changara

Moatize

Mutarara

Angónia

Chiúta

MaráviaMacanga

Zumbo

Chifunde

Tsangano

MágoèCahora Bassa

Pebane

Gilé

Alto Molocúe

Guruè

Namarrói

Lugela

Ile

MorrumbalaNamacurra Maganja

da Costa

Mopeia

Chinde

Milange

Inhassunge

Nicoadala

Mocuba

Angoche

Moma

MogovolasMogincual

Mossuril

Cid. Nacala

Memba

Eráti

MonapoMuecate

Mecuburi

RibáuèMalema

Murrupula

Meconta

LalauaNacaroa

Ilha deMoçambique

Nacala-a-Velha

Namuno

ChiúreMecúfiAncuabe

MuedaMuidumbe

Mocímboa da Praia

Macomia

Meluco Quissanga Ibo

Palma

Balama

Montepuez

Nangade

Mecanhelas

MandimbaCuamba

Maúa

Majune

Marrupa

MeculaSanga

LagoMavago

MetaricaNipepe

Muembe

Ngauma

Rio Limpopo

Rio Save

Rio Zambezi

Rio Chire

Rio Lurio

Rio Lugenda

Rio Rovuma

LagoChirua

LagoNiassa CABO

DELGADO

ZAMBÉZIA

INHAMBANE

GAZA

NAMPULA

SOFALA

Beira

Quelimane

MAPUTO

Inhambane

Xai-Xai

Nampula

PembaLichinga

Tete

Chimoio

MANICA

TETE

NIASSA

MAPUTO

Introdução1

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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1. Introdução

O “Plano Estratégico para o Desenvol-vimento do Turismo em Moçambique”(PEDTM) é resultado de um esforço quevem sendo empreendido no sector comvista a estabelecerem-se as bases deimplementação da Política e Estratégia doTurismo. Este processo compreendeu duasfases, nomeadamente a da revisão eactualização da política e estratégia do tu-rismo levado a cabo entre Julho 2002 e Fe-vereiro 2003 e a elaboração do presentePlano Estratégico para o Desenvolvimentode Turismo em Moçambique. Um aspectode grande realce neste processo é o factode se ter privilegiado o métodoparticipativo para a concepção destes ins-trumentos, onde dominaram as consultase debates a nível das instituições do Esta-do, com as associações económicas, osoperadores individualmente e a socieda-de civil.

Neste plano estratégico procurou-secolocar em evidência o importante papelque as áreas de conservação podem de-sempenhar na promoção e desenvolvimen-to do turismo no país, enaltecendo a ne-cessidade de se estabelecer uma relaçãode simbiose entre as duas áreas de modoa complementarem-se de forma sustentá-vel.

Se a “Política do Turismo e a Estratégiada sua Implementação” aprovada em Abrilde 2003 veio substituir a “Política e Estra-tégia Nacional do Turismo” de 1995, o pre-sente PEDTM procura seguir e colocar, numúnico documento, as linhas do plano es-tratégico elaborado em 1995 (“Estratégiapara o Desenvolvimento de Turismo emMoçambique: 1995-1999”), do plano de de-senvolvimento estratégico para o turismonas zonas litorais elaborado em 1997 (“UmQuadro de Planificação para o Desenvolvi-mento de Turismo Regional emMoçambique”) e a nova abordagem da Po-lítica do Turismo em relação a conjugaçãodo binómio produto-mercado e as áreasprioritárias para o desenvolvimento do tu-rismo, com relavancia para integração dasáreas de conservação.

O PEDTM, tem como pilar a “Política doTurismo e a Estratégia da suaImplementação” e, serve de base no pro-cesso de planificação estratégica. Fixa pri-

oridades específicas, define produtos emercados, identifica Áreas Prioritárias parao Investimento em Turismo (APIT) e focali-za os recursos necessários.

O PEDTM define as áreas, as linhas eas acções estratégicas, e os antecedentesque conduziram à formulação das acçõesestratégicas resumidas. O PEDTM tambémfaz uma avaliação do potencial de merca-do, da base de recursos do turismo, do pa-pel actual e potencial da conservação parao turismo e apresenta de forma detalhadaas acções Estratégicas de Desenvolvimen-to de Recursos Humanos no Turismo e oQuadro Espacial para o Turismo.

O presente Plano Estratégico compor-ta (6) seis Capítulos, o primeiro capítuloapresenta o contexto em que o Plano Estratégico éestabelecido, incluindo a importância económica doturismo e o papel do turismo no alívio àpobreza, o quadro legal e institucional dopaís , o sumário sobre a Política e Estraté-gia do Turismo, as características correntese históricas do produto turísticomoçambicano, o papel da conservação noturismo.

O Segundo capítulo apresenta o Mode-lo Estratégico para o Desenvolvimento doTurismo, uma análise das áreas-chave de in-fluência, incluindo tendências internacio-nais e regionais de turismo e os seus im-pactos no futuro do turismo emMoçambique.

O Terceiro capítulo é referente a visãopara o desenvolvimento do turismo ondea Planificação integrada, o Marketing e De-senvolvimento do Produto e Recursos Hu-manos são os processos identificados comoa chave para o desenvolvimento.

O Quarto capítulo aborda os processosconsideradas fundamentais deimplementação do plano, onde é definidoo quadro espacial que identifica as ÁreasPrioritárias para Investimento no Turismo(APITs), as Áreas de Conservação, incluin-do as transfronteiras, os circuitos turísticose as Rotas Turísticas.

No último capítulo são abordadas as li-nhas de implementação do Plano Estraté-gico, onde se identifica áreas de interven-ção, nomeadamente: quadro institucional,planificação integrada, desenvolvimento derecursos humanos, marketing, áreas de con-

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servação e os conteúdos a observar na ela-boração dos planos de acção.

O presente plano tem um horizonte dedez anos, de 2004 até 2013, e suaimplementação materializa-se através dosplanos quinquenais de acção, sendo o pri-meiro o de 2004 – 2008. A base de partidado processo de implementação do Plano é

relativamente modesta e para asseguraruma maior eficiência no uso dos poucosrecursos disponíveis, as acções foramcriteriosamente seleccionadas e ordenadas,tendo em conta as prioridades do governode acordo com as linhas gerais definidas noPARPA e na Política do Turismo.

Contextualização2

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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2. Contextualização

2.1. Importância Económicado Turismo

O Turismo é um sector económico em cons-tante crescimento em todo o Mundo. É umaactividade económica internacional que,em 2001, contribuiu com 4.2% para o Pro-duto Interno Bruto (PIB) da economia glo-bal e empregou 8.2% da população econo-micamente activa do mundo. É um negóciointernacional em crescimento e altamentecompetitivo. Como sector económico, o tu-rismo é um dos poucos que pode contri-buir para o crescimento e oferta de empre-go à escala necessária para fazer a diferen-ça em Moçambique.

O turismo é um sector de trabalho in-tensivo e abrangente em termos de habili-dades e níveis de formação. Está ligado a

uma diversidade de sectores económicos,como transporte, agricultura, alimentação ebebidas, serviços financeiros, construção eartesanato. Em muitos países da África Aus-tral, o turismo provou ser um sector econó-mico de grande importância e na África sub-Sahariana foi responsável por 7.5% do em-prego total em 2001 (WTTC).

Contudo, reconhece-se que como sec-tor económico que é, o turismo provoca nasociedade impactos que podem ser tantopositivos como negativos, conforme resu-midos no quadro abaixo (quadro 1). Os inú-meros impactos positivos que a indústriaprovoca na sociedade podem sermaximizados e os negativos minimizadosou mesmo suprimidos se houver uma vi-são e uma implementação estratégica a issoconducente.

A este sector económico estão associados vários benefícios directos:

• Rendimento – O acto de satisfazer um turista implica a compra de uma variedade de serviços ede bens que podem ocorrer em diferentes momentos e locais, facto que resulta numa série derendimentos significativos para a economia.

• Emprego – O turismo é um sector de trabalho intensivo que integra todos os graus de habilidade,do mais complexo ao mais simples, envolvendo todas as camadas sociais. Dada a sua característicatransversal, estimula o mercado de emprego nos outros sectores da economia.

• Conservação – Quando gerido de forma adequada, o turismo fortalece a viabilidade económicadas áreas protegidas e reduz a pressão sobre o ambiente.

• Investimento – A intensidade do capital no sector cria várias oportunidades de investimento paraos sectores público e privado.

• Infra-estruturas – O potencial e a dinâmica do crescimento do sector do turismo aliados aosbenefícios económicos associados dita a necessidade de criar e investir em infra-estruturas.

• Prestígio – O prestígio internacional e, finalmente, a conquista de um lugar na “lista” dos destinospreferidos tem implicações comerciais e económicas positivas.

• Criação de pequenos negócios – O turismo está directa e indirectamente ligado a uma diversi-dade de sectores da economia e, por isso, cria oportunidades para pequenos negócios.

Contudo, o desenvolvimento do turismo pode também provocar impacto negativo:

• Impactos sociais – Mudanças no estilo de vida resultantes da migração pelo trabalho, de mudan-ças na cultura, do aumento da taxa de criminalidade e até da prostituição, etc.

• Impactos ambientais – Tanto o desenvolvimento irresponsável de um projecto como umaavalanche de turistas num ambiente sensível e frágil podem destruir o equilíbrio da natureza.

• Fugas – Ocorrência do fluxo de dinheiro para o exterior resultantes das necessidades de impor-tação de bens e serviços, promoção internacional e publicidade, comissões de venda às agênciasestrangeiras, salários do pessoal estrangeiro e repatriamento de lucros representam perdas nascontribuições para a economia.

• Dependência excessiva – O turismo é volátil e responde rapidamente a influências negativascomo distúrbios políticos, ataques terroristas, desastres naturais, etc.

Quadro 1 – Impactos Associados ao Turismo como um sector económico

Contextualização 13

2.2. Perspectiva Regional eInternacional

Os serviços de turismo e de viagens estãoa surgir como os impulsionadores principaisda economia no século XXI. As chegadasnos diferentes destinos evidenciam umcrescimento de 25 milhões em 1950 para682 milhões em 2001. As receitas geradasno turismo atingiram 476 biliões de dóla-res americanos em 2000, o que significa umcrescimento de 4.5% em comparação como ano de 1999. O estudo da OrganizaçãoMundial do Turismo (OMT) sobre a Visãodo Turismo para 2020 prevê que, em 2020,as chegadas de turistas aos vários destinosno mundo alcançarão cerca de 1,6 biliões.Estes turistas gastarão cerca de 2 triliões dedólares americanos.

Do ponto de vista histórico, os fluxosdo turismo têm estado polarizados entre eno seio da Europa Ocidental e Estados Uni-dos da América. Só a Europa gerou mais de

403 milhões de chegadas em 2000 o queequivale a 58% do turismo internacional. Nomesmo período, África recebeu 28 milhõesde chegadas, o equivalente a 4% do negó-cio mundial neste domínio. A diferençaentre os destinos de eleição constituídospela Europa e pelas Américas em compa-ração com África é enorme. O extremo Ori-ente/Pacífico, por sua vez, continuou a darsinais de grande crescimento em matériade turismo externo e, presentemente, aco-lhe 15% das chegadas internacionais. O con-junto constituído por África, Médio Orientee Ásia do sul detém, aproximadamente, 5%das chegadas internacionais. Uma análisedas quotas do Mercado em função dos con-tinentes e dos destinos turísticos preferen-ciais é reflectida nos diagramas que se apre-sentam a seguir.

Figura 1 – Percentagem do Mercado por Continente

Figura 2 - Os Primeiros 15 Destinos

Os primeiros 15 destinos turísticos

Quota mercado por continente (1997-2001)

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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A tendência crescente do acesso às vi-agens e as mudanças nas preferências doconsumidor têm resultado numa mudançanos padrões de viagens, dos fluxos este-oeste para os de norte-sul. De uma manei-ra geral, à medida que se melhora o acessopor intermédio dos transportes etecnologias de informação, se desenvolvematracções turísticas, facilidades e serviçose tornam-se conhecidos e desejáveis comodestinos turísticos, os países em desenvol-vimento vêem a sua participação na capta-ção de turistas internacionais a crescer. Ospaíses do G7 (i.e. Reino Unido, EUA, Ale-manha, França, Itália, Canadá e Japão) con-tinuarão a ser responsáveis pela oferta damaioria dos turistas internacionais no futu-ro próximo. Ao contribuir com 16% do mer-cado em 2000, o que significou um cresci-mento de 1% quando comparado com 1999,a região do extremo Oriente/Pacífico temsido a que tem estado a crescer de formamais rápida, nos últimos anos. Em relaçãoà África existem poucas evidências sobre ocrescimento do turismo – a quota do mer-cado pelo continente cresceu em 1% ao lon-go do período de 15 anos.

Contudo, existe no continente africanouma extensa gama de produtos de turismo,encerrados num caleidoscópio de ambien-tes urbano, costeiro, faunístico e rural. A se-mente que serve como capital está relacio-nada com a natureza sobre a qual se podeconstruir um vibrante sector económico. Deacordo com a OMT, as chegadas turísticasaos países da região da SADC totalizaram10.7 milhões em 2001, o que representa1.6% das chegadas a nível mundial. Calcu-la-se que na próxima década, à medida queo impacto do sector se desdobra pela eco-nomia da região, serão criados 1.6 milhõesde novos postos de trabalho. Neste contex-to, espera-se que o crescimento mais forteda indústria ocorra na África Austral, com aÁfrica do Sul a receber perto de 30.5 mi-lhões de chegadas em 2020. Prevê-se queo crescimento do turismo anual seja de 6.5%na África e 7.8% na África Austral, isto é, bemacima do crescimento médio do mundocalculado em 4.1%.

2.3. Perspectiva NacionalEm 2001, entraram no país, através das fron-teiras da zona sul, cerca de 400.000 turis-

tas, cerca de 80% das chegadas na Tanzânia,que é um país com as mesmas característi-cas naturais e linhas de produto, mas sema proximidade e rotas directas de acessoem relação à África do Sul. Este país rece-beu, em 2001, 6 milhões de entradas e, se-gundo a OMT, prevê receber 30 milhões deentradas em 2020.

A contribuição do turismo para o Pro-duto Interno Bruto (PIB) é também relati-vamente baixa. Em 2002, Moçambiqueatraiu cerca de 900 mil turistas,maioritariamente dos países vizinhos. Oturismo contribuiu com 1.2% para o PIB (Mi-nistério do Plano e Finanças) e represen-tou 0.9 por cento do total de receitasregistadas pelas cem maiores empresas em2001 (KPMG, As Cem Maiores Empresas deMoçambique). Na África do Sul, o sector con-tribui com cerca de 8% para a economia, naÁfrica sub-Sahariana com uma média de6.9% do PIB e, no Mundo, com uma médiade 10.2% do PIB (WTTC). Mesmo se se to-marem em consideração as diferenças nométodo do cálculo, torna-se claro que exis-te uma oportunidade considerável paraMoçambique participar no crescimento in-ternacional e regional.

Como um sector de investimentoprospectivo, o turismo tem estado a regis-tar avanços significativos, tendo nos últimosanos (período 1998–2002) respondido com16% de aplicações de investimentos totaisem Moçambique. Com um investimentototal de 1,3 bilhão USD, o turismo passa aser o terceiro maior sector em investimen-to no país, depois da indústria (33%) e ener-gia e recursos naturais (18%) (Dados forne-cidos pelo CPI).

Reconhecendo as oportunidades que osector de turismo pode oferecer para o cres-cimento económico e a criação de trabalho,o Governo de Moçambique criou em 2000o Ministério do Turismo. Em 2001, foitransferida a responsabilidade das Áreas deConservação do Ministério de Agriculturapara o Ministério do Turismo.

O potencial do turismo de Moçambiqueé invejável: 2700 km de litoral tropical,biodiversidade de grande valor ecológico,incluindo espécies endémicas, e um patri-mónio histórico cultural bastante rico. Con-tudo, os actuais dados estatísticos aindanão são suficientes para revelar a real con-tribuição económica que o sector do turis-mo pode trazer para a economia do país.

Contextualização 15

Moçambique tem uma oportunidadeaberta para partilhar os benefícioseconómicos e sociais relacionados com ocrescimento do turismo na África Austral. Otrabalho conjunto com os parceiros regio-nais, a criação de ligações espaciais, a ori-entação das respostas para as exigências domercado, a promoção de investimentosapropriados e dirigidos, a ênfase na con-servação, o alinhamento e a coordenaçãode políticas, de iniciativas e de recursos sãoisso essenciais se pretender que o poten-cial seja materializado em benefício dopaís.

2.3.1. Plano de Acção do Governopara a Redução da PobrezaAbsoluta

O Plano de Acção do Governo para a Redu-ção da Pobreza Absoluta (PARPA) serve deguião para a redução da pobreza através deprocessos de desenvolvimento. O objecti-vo central do Governo é a redução signifi-cativa dos níveis de pobreza absoluta emMoçambique através da adopção de medi-das tendentes a melhorar as capacidadese oportunidades disponíveis para todos osmoçambicanos, especialmente os pobres.O objectivo específico é reduzir a incidên-cia da pobreza absoluta de 70%, em 1997,para menos que 60% em 2005, e para me-nos de 50% no final da década. A estratégiade redução da pobreza estabelece seis áre-as prioritárias para a promoção do desen-volvimento sócio-económico no país. Estas“áreas fundamentais de acção” são: (i) edu-cação, (ii) saúde, (iii) agricultura e desen-volvimento rural, (iv) infra-estruturas bási-cas, (v) boa governação, e (vi) administra-ção macro-económica e financeira. Como“actividades complementares” integram:programas sociais seleccionados; habitação;políticas sectoriais e programas que contri-buem para a geração de receitas e oportu-nidades de emprego (desenvolvimento denegócios, pesca, recursos minerais e minas,indústria e turismo); programas para redu-zir a vulnerabilidade a desastres naturais;e políticas que apoiam o crescimento sus-tentável (transporte e comunicações,tecnologia e gestão ambiental).

O PARPA considera o desenvolvimentohumano e o crescimento global comointerdependentes. As políticas que promo-

vem um crescimento rápido e equilibradosão favoráveis aos pobres por criar progres-so acelerado e sustentável na luta contra apobreza. O investimento, a produtividadee a criação de postos de trabalho são con-siderados factores fundamentais para ocrescimento global e é responsabilidade doGoverno criar um ambiente favorável, in-vestindo no capital humano, no desenvol-vimento de infra-estruturas, em programaspara melhorar a qualidade das instituiçõespúblicas e políticas de administraçãomacro-económica e financeira. Acções com-plementares que contribuirão para um cli-ma de investimento melhorado e promo-verão eficiência em áreas específicas tam-bém devem ser promovidas.

O Turismo é visto como um “sector com-plementar” por se encontrar intrinsecamen-te ligado a muitas das prioridades primári-as, o que lhe confere um papel significati-vo no desenvolvimento económico do país.Referência particular é feita no PARPA aopapel do turismo no estímulo da procurapara bens localmente produzidos, contri-buindo então para a criação de mais opor-tunidades de emprego e para a importân-cia da criação de uma cultura de “turismodoméstico” como estratégia do aumentodas receitas globais do turismo. Para a pros-secução destes objectivos, o sector estabe-lece o programa de acção que focaliza: (i) ofortalecimento da política, a estratégia e osplanos de acção do sector, (ii) o estímulo àcriação de negócios locais de apoio ao tu-rismo e o desenvolvimento de ligações en-tre si com vista à redução tanto quanto pos-sível das importações (iii) a promoção decondições tanto para turismo domésticocomo para o internacional, (iv) a facilitaçãodo acesso de turistas ao país e (v) a forma-ção profissional.

2.3.2 Papel do Sector do Turismono Alívio à Pobreza nosPaíses em Desenvolvimento

Os pontos seguintes mostram o papel queo turismo pode ter no processo de desen-volvimento económico de países em de-senvolvimento:• O turismo pode dar uma contribuição

significativa às economias de paísespobres. Constata-se que 80% da popu-lação mundial abaixo da linha da pobre-

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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za (abaixo de $1 por dia) vivem em 12países. Em 11 destes, o turismo é signi-ficativo ou em crescimento. De entre oscerca de 100 países mais pobres, o tu-rismo é significativo em quase metadedos países de baixa renda, e pratica-mente significativo em todos os paísesde média renda (contribuindo com maisde 2% do PIB ou 5% das exportações)(DFID, 1999).

• De acordo com o Conselho Mundial deViagens e Turismo (WTTC), as chegadasde turismo para países em desenvolvi-mento subiram uma média de 9.5% anu-almente desde 1990, duas vezes maisrápido que o crescimento do turismomundial no mesmo período.

• De acordo com a OMT, na última déca-da, as despesas em turismo cresceramcerca de 132.9% nos países em desen-volvimento, e cerca de 154.1% nos paí-ses menos desenvolvidos, uma percen-tagem de crescimento muito mais altaque nos países de OECD (64.3%) e daUE (49.2%).

• De acordo com a Comissão da ONU paraa Agenda 21 de Desenvolvimento Sus-tentável, o turismo é o sector que ab-sorve mais mulheres e trabalhadoressem formação profissional, e é econo-micamente significativo na maioria depaíses de baixa renda. Tem uma impor-tância particularmente acrescida para asmulheres, uma vez que o emprego nosector de turismo é mais flexível que nossectores tradicionais de manufactura ouagricultura, e existe uma actividade eco-nómica informal que se expande comfacilidade, permitindo uma crescenteactividade económica consistente coma vida familiar. Os postos de empregono turismo são normalmente mais sau-dáveis e seguros que o tipo de trabalhonoutros sectores, como a indústriaaçucareira, a mineração, as actividadesmadeireiras e a manufactura. Com a ab-sorção de trabalhadores sem formaçãoe sem habilidades, existe uma oportu-nidade enorme para o desenvolvimen-to dos recursos humanos através da for-mação e aperfeiçoamento de habilida-des e capacidades.

• O Turismo é um enorme catalisador eco-nómico, pois, os visitantes gastam di-nheiro directamente em hotéis e fora de

hotéis, gerando empregos directo e in-directo e rendas numa economia. Emtermos de impacto indirecto, o IFC cal-cula que os turistas gastam, na econo-mia local em outros bens e serviços,entre 50% a 190% do que gastam emhotéis e similares. O turismo tem impac-to na construção, indústrias agro-pecu-árias, artesanato e atracções culturaistradicionais, actividade bancária, pesca,fábricas, seguro, telecomunicações, me-dicina, segurança e vendas a retalho.

• De acordo com o IFC, o turismo é umaactividade de trabalho intensivo comcerca de 1.2 a 1.5 empregados directospor quarto de hotel em países em de-senvolvimento, dependendo do tipo dehotel e níveis de habilidade locais. Foicalculado que o benefício de trabalhoindirecto pode estar entre 3 e 5 empre-gados por quarto de hotel.

O turismo é uma aglomeração de sectorese, por isso, cria oportunidades para a ex-pansão transversal de pequenas empresase do mercado informal na economia, ondemuitos tipos de pequenos negócios podemser iniciados com capital ainda modesto.

2.4 Quadro Legal eInstitucional

2.4.1 Quadro LegalO turismo é um sector transversal por lidarcom vários outros sectores e, assim, emmuitos aspectos tem implicações na apli-cação dos instrumentos legais e leis.

Desde 1994 que o Governo deMoçambique tem vindo a adoptar e a apro-var várias políticas sectoriais e legislaçãopara uma gestão melhorada de recursosnaturais, que desempenham um papel im-portante na promoção do turismo. Entre asque têm relações directas com o sectorpodem mencionar-se as seguintes:• Lei do Turismo (2004)

• Política do Turismo e Estratégia da suaImplementação (2003)

• Política e Estratégia Nacional de Flores-ta e Fauna Bravia (1995)

• Lei de Floresta e Fauna Bravia (1999)

Contextualização 17

• Lei de Terras (1997)

• Programa Nacional de Gestão Ambiental(1995)

• Lei Quadro Ambiental (1997)

• Lei das Pescas

• Lei de Investimento

Em relação à componente ambiental,salienta-se que para assegurar a coordena-ção efectiva e a integração de políticassectoriais e dos planos relativos a gestãoambiental ao nível mais alto, o Conselho deMinistros criou, em 1997, através da Lei doAmbiente, a Comissão Nacional para o De-senvolvimento Sustentável (CONDES).

Por outro lado, várias acções ligadas aprojectos e empreendimentos turísticosestão condicionadas pelo Regulamento deAvaliação dos Impactos Ambientais, queespecifica que todos os programas e pro-jectos que possam afectar, directa ou indi-rectamente áreas sensíveis, devem ser su-jeitos a uma Avaliação dos ImpactosAmbientais (AIA), incluindo as áreas de con-servação e zonas de valor arqueológico, his-tórico e cultural que devem ser preserva-das.

A actividade do sector privado é consi-derada o motor principal para o crescimen-to económico, e está estreitamente ligadaao aumento de emprego e alívio à pobrezaem Moçambique. A legislação adequada ea sua implementação são factores-chavepara a promoção do investimento na indús-tria do turismo. A Lei de Investimento e arestante legislação que estabelecem osbenefícios fiscais, o repatriamento dos lu-cros e o emprego de estrangeiros tambémsão consideradas essenciais no contexto doquadro legal para o turismo.

Uma nova lei do turismo a entrar emvigor no presente ano procura actualizar osconceitos em vigor na indústria assim comoestabelecer princípios éticos para um de-senvolvimento são do turismo no país, in-cluindo a necessidade de se desencorajarqualquer tentativa de prática do turismosexual infantil, discriminação social, entreoutras.

2.4.2 Organização InstitucionalNum esforço para a dinamização do proces-so de desenvolvimento do turismo, foi cri-ado, em 2000, o Ministério do Turismo, atra-

vés do Decreto Presidencial no 1/2000 de17 de Janeiro, tendo o Decreto Presidenci-al no 9/2000 de 23 de Maio, definido as suasatribuições e competências como sendo adirecção, planificação e execução das polí-ticas nos seguintes domínios: actividadesturísticas; indústria hoteleira e similar; eáreas de conservação para fins do turismo.

Para a realização das suas atribuições ecompetências, o Ministério do Turismo or-ganiza-se de acordo com as seguintes áre-as de actividade:

a) Actividades turísticas;

b) Indústria hoteleira e similar;

c) Áreas de conservação para fins do tu-rismo;

d) Inspecção do turismo

O Ministério do Turismo tem como órgãosa nível central a Direcção Nacional do Tu-rismo (DINATUR), Direcção Nacional paraas Áreas de Conservação para fins Turísti-cos (DNAC), Direcção Nacional de Promo-ção Turística (DPT), Direcção de Planifica-ção e Cooperação (DPC), Inspecção Geraldo Turismo (IGT), Departamento de Recur-sos Humanos (DRH), Departamento deAdministração e Finanças (DAF), Departa-mento Jurídico (DJ) e Unidade de Coorde-nação das Áreas de ConservaçãoTransfronteira (ACTF).

A nível local, o Ministério do Turismo érepresentado pelas direcções provinciaisdo turismo, prevendo-se a possibilidade devir a ter direcções ou serviços distritais. EmJaneiro de 2004, o Ministério do Turismoestabeleceu Direcções Provinciais de Turis-mo em todas as províncias do país, comexcepção da Província e Cidade de Mapu-to. Em termos de instituições tuteladas peloMinistério do Turismo existem:

a) o Fundo Nacional do Turismo (FUTUR),responsável pela promoção do desen-volvimento do turismo através domarketing, assistência técnica e financei-ra aos operadores locais, formação e pro-visão de assistência aos empreendimen-tos de interesse turístico.

b) o Hotel Escola Andalucia, vocacionadopara formação do pessoal do ramo ho-teleiro de nível básico, nas áreas de re-cepção, cozinha e pastelaria, bar e an-dares.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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Quadro 2 - Princípios da Política do Turismo

A política do Turismo preconiza os seguintes princípios:

• integração do Turismo na política geral, planificação e estratégia do desenvolvimento do País;

• assumpção do Governo aos níveis Nacional, Provincial e Local da responsabilidade pela definição econtrolo dos padrões de desenvolvimento de qualidade do Turismo;

• planificação e coordenação do desenvolvimento dos mercados, produtos e infra-estruturas turísticasno pais;

• estabelecimento de um quadro institucional de mecanismos de planificação e controle de participaçãoactiva no desenvolvimento do Turismo;

• reconhecimento do sector privado como força motriz do desenvolvimento da indústria;

• consciencialização sobre a importância do Turismo e sobre o valor do património natural e cultural;

• formação e profissionalização dos recursos Humanos como forma de aumentar a qualidade do turis-mo;

• promoção do envolvimento efectivo da comunidade nos programas de desenvolvimento.

Quadro 3 - Objectivos do Turismo

Os objectivos Globais do Turismo assentam em três vertentes: Económica, Social e Ambiental

• desenvolver e posicionar Moçambique como destino turístico de classe mundial;

• contribuir para a criação de emprego, crescimento económico e alívio à pobreza;

• desenvolver um turismo responsável e sustentável;

• participar na conservação e protecção da biodiversidade;

• preservar os valores culturais e orgulho nacional; e

• melhorar a qualidade de vida dos moçambicanos.

Fonte: Política do Turismo e Estratégia da sua Implementação, Abril 2003.

Actualmente, o MITUR possui um total decerca de 600 trabalhadores entre pessoaldo órgão central, pessoal afecto às Direc-ções Provinciais e pessoal empregue nosparques e reservas nacionais (400).

2.5. Política e Estratégia doTurismo

Através da Resolução nº 14 de 4 de Abril2003 o Governo aprovou a “Política do Tu-rismo e Estratégia da sua Implementação”que estabelece a perspectiva orientadorado crescimento e desenvolvimento do tu-rismo no futuro.

A Política do Turismo identifica os Prin-cípios Gerais, os Objectivos do Turismo eas Áreas Prioritárias de Intervenção e Actu-ação.

A Política inclui a estratégia para a suaimplementação que consiste numa série de

directrizes cuja finalidade é de orientar aimplementação das acções com vista ao al-cance dos objectivos e princípios estabe-lecidos na Política do Turismo, através demedidas estratégicas essenciais.

Um aspecto fundamental da política éa abordagem orientada para oenvolvimento das estruturas distritais e dascomunidades locais. Tal situação tem im-plicações enormes nos processos de admi-nistração pública e desenvolvimento dacapacidade de recursos humanos. Outrasnovas direcções fundamentais na nova po-lítica são o reconhecimento do valor realdas Áreas de Conservação no desenvolvi-mento do sector, a ênfase colocada no pa-pel que o sector do turismo pode ter noalívio à pobreza e o desenvolvimento denovas linhas de produto na perspectiva dosvários segmentos de mercado.

Contextualização 19

Quadro 4 – Áreas Prioritárias para Intervenção e Actuação

• Planificação integrada

• Acesso a Terra para o Desenvolvimento doTurismo

• Infra-estruturas e Serviços Públicos

• Turismo Sustentável

• Áreas de Conservação

• Desenvolvimento do Produto Turístico

• Valorização do Património Cultural.

• Promoção Turística

• Desenvolvimento de Recursos Humanos eFormação

• Envolvimento Comunitário

• Desenvolvimento Social

• Financiamento

• Áreas Prioritárias para o Investimento do Tu-rismo

• Regulamentação e Controlo da Qualidade.

Fonte: Política do Turismo e Estratégia da sua Implementação, Abril 2003.

2.6. Produto Turístico deMoçambique

1.1.1. Perspectiva HistóricaHistoricamente, Moçambique era conside-rado um dos destinos turísticos de primei-ra classe em África e este sector jogava umpapel importante na economia do país. Em1973 Moçambique recebeu cerca de 400.000turistas provenientes principalmente daÁfrica do Sul, Zimbabwe e Portugal. O tu-rismo desenvolveu-se em torno de três te-mas – as praias, a fauna e o ambiente dinâ-mico oferecido pelos centros urbanos – econcentrava-se principalmente nas zonassul e centro do país. As praias tropicais, aságuas quentes e as oportunidadesmarcantes de pesca e de andar de barcoeram únicos na África Austral. O ambientecontinental, a cozinha mediterrânea e ascidades cosmopolitas de Maputo e Beiraconstituíam uma componente importanteda experiência turística. O produtofaunístico encontrava-se muito desenvolvi-do e o Parque Nacional da Gorongosa eraconsiderado uma das melhores reservas deanimais da África Austral e a caça nascoutadas (áreas de caça) na zona centropossuíam padrão internacional.

As mudanças em termos de segurança,verificadas depois de 1973, resultaram numrápido declínio do desempenho do sector.As infra-estruturas turísticas degradaram-sedevido à guerra e os recursos faunísticos,com destaque para os grandes mamíferos,foram virtualmente dizimados.

A assinatura do Acordo de Paz, em 1992,marcou o início da revitalização do sectordo turismo. A partir de meados dos anosnoventa, a economia regista um crescimen-

to apreciável e na cidade de Maputo foramabertos vários hotéis vocacionados para oturismo de negócio e restaurantes. A pro-cura de lazer com base em praias tem esta-do a estimular o desenvolvimento do alo-jamento nas estâncias turísticas do sul: naPonta do Ouro, Inhambane, Bilene etc. Osinvestimentos foram feitos predominante-mente em cabanas de praia, locais de cam-pismo e acomodação com cozinha própriadestinados ao mercado regional. Têm es-tado a realizar-se investimentos dirigidosaos mercados mais exigentes nas ilhas doParque Nacional do Bazaruto e na área con-tinental de Vilankulos. Nos tempos maisrecentes, os investidores começam a mos-trar interesse pelas regiões situadas a nor-te do país, principalmente em Pemba, noarquipélago das Quirimbas e na zona deNacala.

Em 2001, Moçambique recebeu atravésdas fronteiras do sul cerca de 400.000 turis-tas, aproximadamente o equivalente aosnúmeros recordes registrados no tempocolonial. Em termos de capacidade de alo-jamento, actualmente, Moçambique ofere-ce um total de 12.000 camas, das quais cer-ca de 5.000 se enquadram nos padrões in-ternacionais de luxo ou de primeira classe(3 estrelas para cima), comparado com al-guns destinos da região (a Cidade do Cabopossui cerca de 30.000 camas e as Mauríciascerca de 19 600 camas).

2.6.2. Perfis RegionaisMoçambique pode ser dividido em trêsregiões geográficas: o norte, constituídopelas províncias de Cabo Delgado,Nampula e Niassa, o centro, com as provín-cias de Sofala, Manica, Tete e Zambézia e o

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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sul, com Maputo-Cidade, províncias deMaputo, Gaza e Inhambane. As característi-cas geofísicas, o desenvolvimento sócio-económico e os perfis turísticos diferembastante entre as três regiões e as distânci-as entre elas são significativas.

Perfil Regional SulO turismo encontra-se concentrado no suldo país. A cidade de Maputo e as provínci-as de Maputo, Gaza e Inhambane detêm 50% da capacidade total de estabelecimentosregistados e 65 % do total das camas. Em2001, 60% das dormidas do país foram ven-didas em Maputo-Cidade. Nota-se que estaregião está a beneficiar de níveis conside-ravelmente elevados de desenvolvimentoe detém a melhor infra-estrutura de todo opaís. O turismo de negócios encontra-seconcentrado em Maputo-cidade, enquantoa província de Inhambane alberga o maiornúmero de facilidades de acomodação parao lazer, correspondendo, neste momento,à zona do país que recebe maior númerode turistas ligados ao lazer. Nos anos maisrecentes, o desenvolvimento ao longo dazona costeira da região sul fugiu ao contro-lo e os governos provinciais decidiram to-mar medidas para reverter a situação, cri-ando uma plataforma para o crescimentosustentável do turismo.

Maputo é o portal primário paraMoçambique relativamente a negócios elazer. A oferta de alojamento na capital temestado a crescer a um ritmo relativamenterápido a partir de meados dos anos noven-ta. No final de 2002, 10 hotéis ofereciam umtotal de 1300 quartos, cifra que há cinco anosse situava em 6 hotéis e pouco mais de 750camas.

O turismo de lazer está a desenvolver-se em várias partes das províncias de Ma-puto, Gaza e Inhambane. Os centros de de-senvolvimento incluem a Ponta do Ouro e aPonta Malongane para desportos aquáticos,Macaneta, Bilene e Xai Xai para turismo fa-miliar e a zona costeira de Inhambane comuma mistura de todas as características jámencionadas. A maior parte dos empreen-dimentos tem estado a ocorrer na provín-cia de Inhambane, com os nódulos do de-senvolvimento a surgirem em Vilankulos/Bazaruto e na zona costeira próxima da ci-dade de Inhambane. Com excepção da re-

gião de Vilankulos, a infra-estrutura do tu-rismo compreende principalmente facilida-des de nível médio.

O desenvolvimento do ParqueTransfronteiriço do Grande Limpopo irá pro-porcionar à zona sul do país mais um pro-jecto âncora. O Parque Transfronteiriço in-clui o Parque Nacional do Kruger na Áfricado Sul, Gonarezhou no Zimbabwe e o Par-que Nacional do Limpopo em Moçambique.Embora seja de esperar que ainda decor-rerá algum tempo até que o Parque N.Limpopo esteja operacional para o turismofotográfico, existem já oportunidades paraa zona de Massingir se ligar imediatamenteao Parque de Kruger, tirando proveito dapopularidade e infra-estrutura deste. Outrasoportunidades no eco-turismo são ofereci-das pela Reserva Especial de Maputo e pelaAFTC de Libombos no sul da província deMaputo.

Perfil Regional CentroHistoricamente, o centro desempenhoutambém um papel de relevo no turismo emMoçambique. O Parque Nacional daGorongosa era uma das reservas de animaismais famosas da África Austral e a caça nascoutadas do centro figurava entre as melho-res do mundo. O conflito armado afectoutodas as áreas de conservação do país, sen-do a zona centro uma das mais afectadas. AReserva de Búfalos de Marromeu, que ou-trora era conhecida pela sua população demais de 20.000 búfalos, hoje apenas possuialgumas centenas. A fauna bravia naGorongosa foi dizimada. Contudo, existemsinais de recuperação das espécies e osanimais de pequeno porte estão de novo aser cada vez mais vistos. O número dos ani-mais que compõem os chamados “Big Five”é baixo nos parques e o turismo fotográficoprovavelmente não acorrerá no futuro maispróximo. Todavia, com uma boa gestão,dentro de 15 a 20 anos os parques podemrecompor-se e retomar a sua antiga força.

A cidade da Beira é a segunda cidadede Moçambique e um centro económico deimportância regional. O seu porto desem-penha um papel importante na ligação deMoçambique com o Zimbabwe e outrospaíses vizinhos localizados no centro. Actu-almente, o crescimento do turismo da cida-de da Beira baseia-se no comércio e negó-

Contextualização 21

cios. A importância comercial da Beira foidestacada com o estabelecimento do Cor-redor de Desenvolvimento da Beira. Noperíodo colonial, as praias de Sofala consti-tuíam uma grande atracção. Elas eram fre-quentadas sobretudo em combinação comvisitas à Gorongosa ou a uma das coutadas.A procura era principalmente provenientedo vizinho Zimbabwe (antiga Rodésia). Nostempos mais recentes, os zimbabweanosvoltaram a frequentar as praias da Beira eSavane. No entanto, a falta de infra-estrutu-ras tem obrigado a que muitos desçam paraa costa norte da província de Inhambane. Éimportante salientar, porém, que nestes diasa situação económica do Zimbabwe tem es-tado a reflectir-se num decrescimento donúmero de turistas de praia.

A região centro contribui com 18% do to-tal da capacidade de alojamento que existeno país. Uma em cada duas ocupações dequartos que acontecem fora da Cidade deMaputo tem lugar na região centro. A movi-mentação está principalmente relacionadacom negócios e comércio e concentra-se naBeira e nos centros de negócios perto dasfronteiras com o Zimbabwe, Zâmbia e Malawi.Beira tem dois hotéis de padrão razoável apesar de os níveis de preço/qualidade sereminferiores comparados com os de Maputo.Manica, de acordo com os padrões internaci-onais de negocio não possui por enquantoalojamento adequado. Em Quelimane, o úni-co hotel de qualidade, no tempo colonial,encontra-se sob gestão estatal e oferece ser-viços razoáveis, mas a preços elevados. EmTete, o antigo hotel de “luxo” nos tempos pas-sados está a ser gerido pelo sector privado,mas não possui água canalizada, e só algu-mas das secções do hotel estão renovadas epermanecem a um nível muito modesto. Emgeral, as opções na zona Centro são escassase os preços são muito elevados. As alternati-vas aos hotéis antigamente geridos pelo Es-tado são muito difícil de encontrar e as op-ções de alojamento com cozinha própria sãomuito reduzidas. Todas as cidades têm algu-mas “pensões” a custos razoáveis, mas nãopossuem padrões de serviços internacional-mente aceitáveis. Os hotéis em todas as pro-víncias da zona centro enfrentam dificulda-des para encontrar pessoal qualificado. Oaprovisionamento em bens deconsumo mos-tra-se bastante difícil e oneroso, em particu-lar em Tete e na Zambézia.

Perfil Regional NorteO norte do país pode designar-se comosendo a “jóia do turismo” relativamente vir-gem de Moçambique. Aqui se encontra arica história do passado da Ilha deMoçambique e do Ibo, a vida marinha e abeleza do que é provavelmente um dosmais lindos arquipélagos no mundo, o ar-quipélago das Quirimbas, a selva intacta eextensa da Reserva do Niassa e abiodiversidade única do Lago Niassa. To-dos estes factores fornecem, quer em ter-mos de qualidade, quer em termos de di-versidade, uma experiência única de turis-mo. A proposta de formação de uma ACTFentre a Reserva do Niassa e a do Selous naTanzânia irá resultar numa das maiores emais espectaculares experiências de faunabravia em África. A natureza fornece umaexcelente base para o turismo. Contudo, aregião enfrenta dificuldades sérias em ter-mos de acesso para e entre as diferenteszonas no norte e, durante estes últimosanos o turismo ainda não se desenvolveude modo significativo.

As províncias de Nampula, Cabo Del-gado e Niassa repartem entre si menos de25% de todas as unidades registadas dealojamento e menos de 10% do total dascamas ocupadas em 2001. Niassa, a pro-víncia menos desenvolvida de Moçambi-que, tem a capacidade mais baixa comapenas 15 unidades e 280 camas. Nampu-la, com 40 unidades e mais de 1000 camasregistadas encontra-se acima da médianacional, enquanto Cabo Delgado possui27 unidades e acima de 800 camas. Contu-do, importa realçar o facto de que esta re-gião já ter sido “descoberta” pelos inves-tidores. Recentemente foi aberto um ho-tel de luxo de cinco estrelas em Pemba euma pequena estância de luxo numa dasilhas das Quirimbas. Constata-se haverinteresses significativos por parte dosempreendedores, mas também especu-ladores em novos projectos de hotéis ede estâncias turísticas, nomeadamentenas ilhas das Quirimbas e na zona litoralde Pemba.

O turismo encontra-se principalmenteconcentrado em Nampula, Nacala e Pemba.O Corredor de Nacala é um doscatalisadores importantes do desenvolvi-mento da região: liga Nacala e Nampula aoLago Niassa e ao Malawi por ar, estrada e

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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infra-estrutura marítima. A ênfase colocadano desenvolvimento da área já resultounum aumento da procura de quartos emNampula e Nacala e há um aumento de pos-sibilidades de escolha ao mesmo tempoque novos empreendimentos estão a ga-nhar forma.

O norte tem permanecido relativamen-te intocável comparado com o tipo de pro-jectos que estão a ser desenvolvidos no suldo país. A zona tem as melhores condiçõespara ensaiar um processo de planificaçãointegrada e sustentável do turismo dado oisolamento, a qualidade geral do produtoe as necessidades consideráveis de infra-estruturas. Dada a experiência da zona sul,afigura-se urgente a tomada de medidas nosentido de se potenciar as oportunidadesa longo prazo e evitar os impactosambientais e sociais adversos que têm es-tado a surgir no sul.

2.6.3. Integração Regional (ÁfricaAustral)

A imagem da África Austral como destinoturístico permanece ainda ligada à selva,onde o “Big-Five”, o eco-turismo e outrasexperiências baseadas na natureza desem-penham um papel importante.

A região da SADC registou um cresci-mento relativamente consistente em turis-mo nos últimos anos. Prevê-se que nos pró-ximos anos o crescimento do turismo naregião da SADC seja significativamente maiselevado do que no resto do mundo. Umaintegração mais forte entre nações da Áfri-ca Austral é considerada uma pré-condiçãopara fortalecer a posição do continente afri-cano na competição mundial, sempre cres-cente. As tendências internacionais paraviagens múltiplas só ajudam a justificar anecessidade de uma integração regionalmais sólida.

África Austral testemunhou recente-mente a criação de várias iniciativastransfronteiriças que fortalecem a coopera-ção regional e fornecem oportunidades ex-citantes para a conservação e desenvolvi-mento do turismo.

As Áreas de Conservação Transfronteira(ACTFs) desempenham um papel impor-tante no estabelecimento de uma coope-ração mais sólida. As ACTFs compreendemregiões que se estendem às fronteiras en-

tre vários países, ( Lebombo, GPT Limpopo,Chimanimani) em que as diversas áreas têmdiferentes formas de conservação, taiscomo reservas de animais privadas, áreasde gestão comunitária dos recursos natu-rais e as concessões para a caça e coutadas.As ACTFs tem um papel importante na ace-leração do desenvolvimento das éreas deconservação de Turismo em Moçambique.

As ACTFs, porém, não são um fim emsi mesmo. Daí que maior enfoque deve serdado ao seu papel no quadro turístico, comênfase na criação das ligações entre asACTFs e a costa (bush-beach linkages) com oobjectivo de criar uma plataforma para aatracção de investimento e promoção docrescimento.

De importância estratégica serão a ha-bilidade de Moçambique para se unir aosmercados de turismo mais desenvolvidosdos países vizinhos, de se promover comoum destino adicional para estes países(principalmente África do Sul, mas tambéma Suazilândia , o Zimbabwe e os países vi-zinhos no norte do país, incluindo a Zâmbia,Malawi e Tanzânia), e de usar efectivamen-te as infra-estruturas existentes nestes pa-íses (principalmente os aeroportos interna-cionais, agências de viagens e operadoresturísticos).

2.7. Conservação e TurismoEm 1948, foi criada a União Mundial de Con-servação da Natureza (UICN) cujos mem-bros são governos ou instituições governa-mentais e ONGs, universidades e institu-tos de pesquisas científicas. A UICN facilitoua formulação de um sistema global de con-servação centrado na identificação de áre-as especiais de valor ecológico ou debiodiversidade, e define como “área pro-tegida” uma porção de terra e/ou mar es-pecialmente dedicada à protecção de di-versidade biológica e de recursos culturais/naturais e associados, que é administradaatravés de meios legais ou outros meiosefectivos (UICN, 1994).

Os países africanos do sul do Saharatêm a vantagem de possuir o nicho do mer-cado de turismo denominado “o turismo denatureza” suportado pelas áreas de conser-vação. Os mais beneficiados são os paísesda África Oriental e Austral que dispõemde grande variedade de fauna bravia. Na

Contextualização 23

sua rede de áreas de conservação, a atrac-ção não se limita apenas à mega fauna, masestende-se a toda vida selvagem que seencontra no seu estado natural. Assim, osturistas são atraídos pelas áreas de conser-vação devido ao seu estado natural, à faunaselvagem, e às culturas ricas e dotadas detradições sócio-culturais. A palavra “safari”é utilizada para a promoção nos mercadosinternacionais e internos, significando “oturismo de aventura” que tem captado ointeresse de muitos turistas.

Além disso, a África é conhecida porimagens de vida tropical, praias ricasrodeadas de palmeiras e mar cheio de vida.Todos os que têm esperança de visitar Áfri-ca pelo prazer e pela aventura ficam forte-mente motivados pela vontade de uma ex-periência africana no seu estado natural eagradável. Portanto, os países africanos, emgeral, e Moçambique em particular, queren-do competir no mercado internacional doturismo, terão de salvaguardar e fazer a ges-tão dos seus recursos naturais de maneiraa criarem produtos turísticos desejáveis.Fazendo isto e colocando esses produtos àdisposição dos turistas, devem garantir queos mesmos não sofram alterações resultan-tes da sua utilização por turistas e nem per-cam o seu valor. A conservação é o instru-mento de que o governo e a sociedade ci-vil dispõem para proteger os seus recursosnaturais especialmente os ecossistemas, ea sua biodiversidade com vista ao uso sus-tentável, sendo o turismo um mecanismopreferencial de utilização destes recursosnaturais. Assim, sem margem de dúvida nãose pode separar o turismo da conservação.

Uma atenção crescente tem sido orien-tada para o desenvolvimento de sistemasparticipativos de gestão de conservação,incluindo a criação de áreas protegidas,durante o último século, como resultado dodeclínio dos recursos naturais.

A maioria dos governos no mundo com-preendeu que se tornou difícil suportar oscustos de gestão e administração das Áre-as Protegidas (APs) e busca formas alterna-tivas de gestão para responder aos desafi-os, dada a necessidade de promover a saú-de, a educação e o desenvolvimento. Aaceitação do princípio de delegação dosprocessos de tomada de decisão às autori-dades de gestão das Áreas Protegidas per-mite a realização e utilização de receitasprovenientes do uso sustentável destasáreas.

2.7.1. Administração de ÁreasProtegidas no ContextoGlobal

A União Internacional da Conservação daNatureza (UICN) estabeleceu critérios paraa categorização das áreas de conservaçãode acordo com o uso e objectivos da ges-tão. Uma intenção fundamental do estabe-lecimento destes critérios foi encorajar osgovernos a desenvolver sistemas de áreasprotegidas virados para a gestão a nível lo-cal e nacional. Existem seis categorias quepermitem níveis de uso de acordo com ograu, tipo e intensidade das actividadeshumanas que podem ter lugar em cada umadas categorias.

Tabela 1 – Categorias de Áreas Protegidas de Acordo com os Objectivos de Gestão1

Categoria Propósito de Área Protegida Nomes das APs

Administrado principalmente para ciência ou protec-ção da selva

Administrado principalmente para protecção deecossistema e recreação

Administrado principalmente para conservação de ca-racterísticas naturais específicas

Administrado principalmente para conservação atra-vés de gestão participativa

Administrado principalmente para conservação da pai-sagem terrestre e marítima e recreação

Administrado principalmente para uso sustentável deecossistema natural

(a) Reserva de Natureza Restrita(b) Área Selvagem

Parque Nacional

Monumento de Natureza

Reserva Parcial

Ambiente Terrestre ou MarítimoProtegido

Área Protegida para Gestãode Recursos

Categoria I

Categoria II

Categoria III

Categoria IV

Categoria V

Categoria VI

1 Classificação de acordo com UICN

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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mos para salvaguardar espécies e abiodiversidade, através de acordos e trata-dos internacionais. Existem os seguintesacordos de conservação: a Convenção so-bre Diversidade Biológica (CBD); a Conven-ção sobre Comércio Internacional de Espé-cies de Flora e Fauna em Perigo de Extinção(CITIES); a Convenção sobre Espécies Mi-gratórias (RAMSAR); a Convenção das Na-ções Unidas para o Combate àDesertificação (UNCCD) e o Comité Inter-nacional de Baleias. Além disso, dois ou-tros acordos, a Convenção sobre o Patrimó-nio Natural e Cultural Mundial em Proprie-dades Naturais e Culturais (WHC) e oPrograma sobre o Homem e Biosfera (MAB)também se aplicam aos processos de con-servação.

Moçambique é signatário da CBD,CITIES, UNCCD e da Convenção de Heran-ça Mundial (WHC) e está em processo aadesão à RAMSAR.

2.7.4. Conceitos Globais,Abordagens e PrincípiosInerentes a Conservação

Existem conceitos reconhecidos global-mente que influenciam também a conser-vação da natureza no mundo. Em primeirolugar, entre outros, estão os conceitos de“uso sustentável” e “gestão deecossistemas.

O conceito do usos sustentável defini-do a nível mundial reconhece que o usoconsumptivo e não consumptivo da diver-sidade biológica é fundamental para as eco-nomias, culturas e bem estar de todas asnações e povos, e se esse “uso” for susten-tável pode servir as necessidades humanasnuma base contínua contribuindo para aconservação da diversidade biológica.

A abordagem do ecossistema e uso sus-tentável são uma estratégia que comparti-lham muitos elementos mas diferem prin-cipalmente nas respectivas metas. O usosustentável pode utilmente ser visto den-tro do quadro da abordagem doecossistema. A meta do uso sustentávelrepresenta um objectivo intermediário, va-lioso por si mesmo, mas que também podecontribuir para a meta mais larga de man-ter os processos do ecossistema.

O sistema de categorias de gestão dasáreas protegidas baseia-se no objectivo pri-mário de gestão de actividades específicas,tais como pesquisa científica, turismo e re-creação ou uso sustentável de recursos.

Moçambique é membro da UICN eassuas áreas de conservação encontram-seem três Categorias deste organismo: Par-ques Nacionais (Categoria II), Reservas Na-cionais (Categoria IV) e Coutadas (Catego-ria VI).

2.7.2. Gestão Comunitária deRecursos Naturais (GCRN)

Os Recursos naturais são geralmente vistoscomo propriedade do Estado na maioriados países. Historicamente, as áreas pro-tegidas foram criadas para preservar ele-mentos fundamentais destes recursos,usando a terra que era formalmente pro-priedade ou ocupada por comunidades lo-cais. A natureza exclusiva das abordagensclássicas de gestão de áreas protegidas pra-ticada em muitos países colonizados no iní-cio e meados do século XX, invariavelmen-te conduziu a tensão e conflitos entre osgestores das áreas protegidas e as comuni-dades circunvizinhas. A exigência de aces-so e direito de uso dos recursos naturais eterra nessas áreas, como também nas ter-ras comunitárias, forçou os gestores de APsa desenvolverem grandes organismos defiscalização a custos elevados de controledo processo o que não podia ser sustenta-do pelo Estado, delegando assim, os po-deres para a comunidade gerir e usar osrecursos naturais sob certos critérios e con-dições. Deste modo, surgiram na Ásia mo-vimentos sociais sobre florestas que inicia-ram o que é hoje conhecido como CBNRM.Esta é uma abordagem global envolventepara a solução inovadora dos problemasmodernos de desenvolvimento e da con-servação.

2.7.3. Convenções e TratadosInternacionais

O comércio excessivo, a super-exploraçãode espécies e a mudança de habitats natu-rais para a agricultura a nível mundial inci-tou a necessidade da adopção de mecanis-

Contextualização 25

2.7.5. Tendências GlobaisEmergentes na Conservação

A nível internacional e, em particular den-tro da região Austral de África, há várias ten-dências de práticas de referência que têmemergido nas últimas duas décadas, queorientam as abordagens modernas da ges-tão de processos de conservação:

• A conservação tem sido, de forma cres-cente, conceptualizada como um negó-cio “baseado em incentivos” que admi-nistra a produção, o fornecimento, oacesso e o uso de bens e serviços quederivam das áreas de conservação;

• Os governos concentram-se cada vezmais em políticas e regulamentos emvez de operações e implementação;

• O sector privado (inclusive empreendi-mentos das comunidades) tem sidocada vez mais aceite como“implementador” de processos de con-servação – normalmente em parceriacom as comunidades;

• Globalmente, os governos estão a des-centralizar, levando a tomada de deci-sões aos cidadãos e outrosintervenientes;

• De uma forma ou de outra, os governosestão cada vez mais à procura de ges-tão colaborativa;

• Particularmente em países em desen-volvimento, a necessidade de normali-zação da vida das populações tende aafastar dos orçamentos o financiamentopara a conservação. Isto exige que osprocessos e áreas de conservação setornem auto-sustentáveis; e

• Os processos de conservação requerempolíticas e regulamentos fortes, visioná-rios e efectivos do governo, que asse-gurem que as gerações presente e futu-ras possam beneficiar dos resultadosdesses processos.

2.7.6. Perspectiva RegionalA África Austral é reconhecida globalmentepela sua abordagem pragmática e visioná-ria da conservação. A região contribuiu sig-nificativamente para o desenvolvimentodos conceitos de uso sustentável e gestão

de ecossistemas, como também para aGCRN. A região também contribuiu global-mente para a evolução técnica da “ciência”de Gestão de Áreas Protegidas (PAM –Protected Areas Management), através dassuas abordagens inovadoras e visionáriasde administração e governação.

A África do Sul iniciou algumas das pri-meiras formas de quadros de gestão (para-estatais) nos Parques do Kwa-Zulu Natal edo Norte-Oeste. Tornando-se para-estatais,foi possível responder de modo eficaz eefectivo aos seus clientes e capitalizar ra-pidamente as oportunidades empresariais,em resultado de:

• Determinada autonomia financeira epoder de delegar: permitindo que a or-ganização use e disponha das suas pró-prias receitas para financiar parte deseus serviços, reduzindo a sua depen-dência do orçamento do Estado;

• Flexibilidade da tomada de decisão:onde o poder de tomada de decisão édelegado a uma organização, a adminis-tração pode responder mais rápida, efi-caz e efectivamente à demandaambiental e oportunidades de merca-do, permitindo, assim, que os funcioná-rios de conservação sejam vistos comomais atenciosos e responsáveis pelasnecessidades das comunidades;

• Elevação das capacidades do pessoal:uma organização que é independentedos processos de comissão de serviçopúblico, obtem pessoal altamente qua-lificado através de processos de merca-do-livre e competitivos e, através dis-so, promover outros trabalhadores a ní-veis mais altos de competência. Aremuneração competitiva e os benefíci-os oferecidos permitem a manutençãodo pessoal motivado, produtivo e efici-ente.

• Exigência de responsabilidade pública:a organização está sujeita, através dalegislação, à responsabilidade públicae auditoria para assegurar o controloapropriado de fundos públicos, compenalização por falta de desempenho.

Os processos de conservação no Zimbabwe,Namíbia, Botswana, África do Sul e Tanzâniatêm levado à delegação de poderes e di-reitos sobre os recursos naturais a níveis

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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mais baixos de governação e, em algunscasos, para as próprias comunidades atra-vés de processos como CAMPFIRE, LIFE eo CBNRMP. A delegação de direitos de pro-priedade da vida selvagem para proprietá-rios de terra na África do Sul durante os anos80 do século XX precipitou a conversão,quase por completo, das fazendas de gadona Província de Limpopo em fazendas degado bravio, criando uma nova indústria decaça e turismo baseada na natureza, querende anualmente, mais de 10 milhões derands apenas naquela província. Programasde CBNRM no Zimbabwe, Namíbia eBotswana permitiram a muitas comunidadesreconquistar os direitos para administrar econtrolar o uso e o acesso aos recursos na-turais na sua terra, providenciando fluxos debenefícios que aumentaram imensamenteas suas rendas anuais per capita durante aúltima década. As concessões de caça pro-tegidas em terras comunitárias no Zimbabweproporcionaram às comunidades centenasde milhares de dólares durante a última dé-cada.

2.7.7. Novo Paradigma para asÁreas de Conservação

“Novas soluções para problemas modernos.”

O novo paradigma para as áreas protegidasreconhece que tais áreas destinadas à con-servação têm um duplo propósito: ser ad-ministradas para conservação, bem comopara objectivos sócio-económicos. Anteri-ormente, as áreas de conservação eramestabelecidas principalmente para a pre-servação de populações de animais selva-gens ou certas espécies e, em alguns ca-sos, para paisagens espectaculares. Contu-do, as referidas áreas estão actualmente aser criadas e desenvolvidas para fortaleceros objectivos de desenvolvimento e criaremprego e oportunidades empresariaispara as populações circunvizinhas. De sali-entar que actualmente a administração nãosó se preocupa com os visitantes e turistas,mas sobretudo com o bem estar das popu-lações.

Figura 3 - Tendência do Crescimento das Áreas de Conservação Privadas e Comunitáriasdurante a Última Década

O novo paradigma para as áreas de conser-vação tem desenvolvido abordagens maisinclusivas à administração de recursos na-

turais e de áreas protegidas, como se podever na Tabela 2.

Contextualização 27

Figura 4 – Abordagens de Governação para Áreas de Conservação (De Graham et al 2003)

Tabela 2 –Tendências de Administração das Áreas de Conservação

2.7.8. Abordagens de GovernaçãoEmergentes para osSistemas de Conservação

Os governos da África Austral usaram seis

tipos de abordagens de gestão de recur-sos naturais e áreas de conservação duran-te as últimas duas décadas, representan-do uma contínua delegação de poderes,como se mostra na Figura 4.

Futuro - Áreas de Conservaçãoserão:

Objectivos • Exclusivas e reservadas para apreservação de populações animais,espécies e paisagens /cenários espectaculares

• Administradas principalmente paravisitantes e turistas

• Valorizadas como selva• Focalizadas em protecção e fiscalização

• Geridas pelo Governo Central

• Planeadas e geridas contra as comunidades locais

• Administradas sem ter em conta asopiniões dos locais

• Planificadas e desenvolvidas e administradas como unidades separadas

• Terra e recursos vistos principalmentecomo propriedades do Estado–acessoe direitos de uso restritos

• Vistas como uma preocupação nacional

• Geridas reactivamente num curtoperíodo de tempo

• Geridas de uma forma tecnocrática

• Pagas por contribuintes

• Administradas por cientistas e peritosde recursos naturais

• Criadas e administradas com objectivosecológicos, sociais e económicos emmente

• Administradas tendo em mente aspopulações locais

• Valorizadas pela sua importância cultural• Auto regulação com consultas entre os

parceiros

• Geridas por vários parceiros principal-mente o sector privado e comunidades

• Geridas com, para e, em alguns casos, porcomunidades locais

• Geridas para a satisfação das necessidadesdas comunidades locais

• Planificadas como parte de um sistemalocal, nacional e internacional

• Desenvolvidas como redes ligando áreasprotegidas e zonas-tampão através de cor-redores verdes

• Vistas também como um recurso decomunidade–devolução do acesso edireitos de uso

• Vistas também como preocupação locale internacional (continuidade perfeita dedireitos e obrigações)

• Geridas de forma ajustada numa perspectiva de longo termo

• Geridas numa perspectiva de negócio/comercial com considerações políticas

• Pagas por benefícios provenientes de recursos que são geridos e protegidos

• Administradas por pessoal comercialmente orientado, guiado por cientistas e pe-ritos

• Valorizando indivíduos com orientaçãotécnica múltipla e utilizando conhecimento local

Autoridade

Comunidadeslocais

Planificação

Técnicas deadministração

TÓPICOPassado - Áreas de Conservaçãoeram:

Percepções

Formas deadministração

Finanças

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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As características de cada uma destas for-mas de abordagens de governação ou ges-tão são indicadas na As características de

cada uma destas formas de abordagens degovernação ou gestão são indicadas na Ta-bela 3.

Nr. Abordagem Critérios

A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assen-ta somente numa agência de governo que não tem nenhumaobrigação de envolver outros intervenientes antes da tomadade decisões.

A Responsabilidade pela gestão assenta numa agência do go-verno que normalmente consulta e pode ter a obrigação deconsultar outros intervenientes antes da tomada de decisões.

A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assentanuma agência do governo que tem, como exigência, cooperarcom outros intervenientes identificados na tomada de decisões.

A Responsabilidade pela gestão da área de conservação assen-ta numa agência do governo (ou agências) e representantes deoutros intervenientes não governamentais que junto colabo-ram na tomada de decisões.

A Responsabilidade pela gestão da área de conservada é dele-gada a uma ou mais organizações claramente designadas (estaspoderiam incluir corpos do governo locais, organizações decomunidade, corporações privadas, ONGs ambientais ou multi-sectoriais) que administrem a área e tomem decisões dentrode princípios definidos.

A Responsabilidade pela gestão da área de conservação é deindivíduos não pertencentes ao governo, corporações ou re-presentantes de comunidades locais que são donos da terraque foi usada para a conservação, que administram a área etomam decisões.

I AdministraçãoExclusiva do Governo

v Delegação da Administra-ção

vi. Administração pela Co-munidade ou por Privados

Ii Administração Consul-tiva do Governo

iii Administração Coopera-tiva do Governo

iv Administração Con-junta

Tabela 3 - Descrição das Abordagens num Quadro Contínuo da Gestão da Conservação

Qualquer que seja a abordagem adoptada,o sucesso depende de uma boagovernação, cometimento e responsabili-dade. Com boa governação, assuntos comorelação, níveis de poder e autoridade, res-ponsabilidade, confiança e justiça devemser aplicados de forma equitativa e clara.

2.7.9. Gestão Comunitária dosRecursos Naturais

Em muitos países da África Austral grandespopulações de animais selvagens encon-tram-se em terras comunitárias. Em algunspaíses, a extensão de tais populações ex-cede a população de animais em áreas for-malmente protegidas sendo, portanto, va-liosos recursos naturais. A gestão de recur-sos naturais pela comunidade na regiãopartiu da constatação de que os sistemasgovernamentais não poderiam administrarou controlar adequadamente as popula-ções fora das áreas de protecção. Um re-

sultado lógico deste fenómeno foi a dele-gação, a vários níveis, da posse de recur-sos às comunidades, como uma forma deencoraja-las a atribuirem um valor econó-mico à vida selvagem e assumirem a guar-da conjunta desses recursos.

Em muitas áreas, esta abordagem temdado frutos, e as comunidades participan-tes têm recebido níveis significativos debenefícios a partir de actividades de caçade quotas específicas de animais selvagens,do desenvolvimento de facilidades turísti-cas como locais de acampamento, ou daparticipação em empreendimentos conjun-tos com o sector privado no desenvolvi-mento de estâncias turísticas.

Moçambique também iniciou recente-mente programas comunitários de conser-vação e eco-turismo, estando emimplementação os programas TchumaTchato (Tete), Xipange Tcheto (Niassa) eChimanimani (Manica).

Contextualização 29

2.7.10. Aparecimento de Áreas deConservação Transfronteira

Uma tendência emergente na conservaçãoa nível global é o encorajamento da exten-são de áreas de conservação para abarcarecossistemas críticos ou permitir que ani-mais selvagens tenham maiores áreas paralevar a cabo os seus ciclos de vida naturais.Como resposta a esta tendência, e comomeio de dar maior visibilidade à conserva-ção, o desenvolvimento de Áreas de Con-servação Transfronteira tornou-se uma for-ma globalmente aceite de administração deáreas protegidas. Moçambique tem sido lí-der na África Austral nesta abordagem, cri-ando caminho para várias novas iniciativasde ACTF no sub-continente.

A ACTF do Grande Limpopo proporci-ona um modelo no qual as áreas de conser-vação formais podem ser combinadas coma CBNRM num conceito único de gestão in-tegrada da conservação. Por envolver efec-tivamente as comunidades no conceito glo-bal, o caminho está preparado para facili-tar a reabilitação da vida selvagem, não só

nas áreas formais de conservação, mas tam-bém em áreas comunitárias – proporcionan-do-lhes efectivamente novos modos devida e outras opções económicas além daagricultura. As ACTFs tornam-se, assim, umaferramenta para facilitar o desenvolvimen-to das comunidades marginalizadas.

Os governos da África Austral estão anegociar planos para criar uma vasta redede ACTFs numa proporção significativa dasfronteiras de todos os países. 1.5

2.7.11. Relação entreConservação e Turismo

Sendo a conservação o mecanismo que ogoverno e a sociedade civil usam para pro-teger os recursos naturais, e o turismo umdos que mais uso faz desses recursos, tor-na-se evidente que o turismo e a conserva-ção não podem ser separados. Assim, énecessário compreender como é que a con-servação apoia o turismo a alcançar os seusobjectivos nacionais, e como é que o turis-mo também ajuda a conservação na conse-cução dos seus objectivos (Fig. 5).

Figura 5 - A Relação Simbiótica entre Conservação e Turismo

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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2.7.12. O papel da Conservaçãono Turismo

O turismo não pode acontecer sem trazeralterações ao ambiente natural. Nesse sen-tido, o turismo coloca uma ameaça à inte-gridade das áreas naturais. Mas tambémpode apoiar a conservação, encorajando in-vestimentos e o desenvolvimento de infra-estruturas que permitam aos turistas ace-der às áreas de conservação. Tal situaçãocria oportunidades de emprego e produzreceitas, algumas das quais podem ser di-rectamente canalizadas para a gestão dosimpactos do turismo e para a promoção deuma conservação sã.

Os benefícios internos provenientes daconservação relacionada com o turismo sãovariados e estão em todos os sectores daeconomia. Ao nível externo, o sucesso dosdestinos turísticos de conservação cria pres-tígio para o país e encoraja o apoio e inves-timentos para o seu desenvolvimento eesforços de conservação. Os turistas quevisitam as áreas de conservação consomemum grande leque de produtos e serviçosinternos, muitos dos quais não estão direc-tamente relacionados com áreas de conser-vação, tais como a actividade bancária, co-municações, transporte e serviços de saú-de. Porque as áreas de conservação estãogeralmente em zonas rurais pobres, elaspodem contribuir para o bem estar social eeconómico em situações onde existem mui-to poucas opções. Em Moçambique, as áre-as de conservação estão situadas em todasas províncias. Deste modo, os turistas quefrequentam as áreas de conservação trazemos benefícios das suas visitas à economiacontribuindo assim para a consecução dosobjectivos nacionais do Turismo.

Os turistas anseiam, de forma crescen-te, por experiências pessoais nos destinospor si escolhidos. Tal tendência encoraja odesenvolvimento de mercados de nichotais como mergulho, pesca de alto mar, caça,observação de aves, eco-turismo e aventu-ras de eco-turismo. Todas estas áreas de-pendem fortemente da presença de umprocesso efectivo de conservação com vis-ta a garantir uma boa qualidade da experi-ência. Deste modo, considerar o alto po-tencial dos mercados de nicho associadosàs áreas de conservação contribuirá signifi-cativamente para que o turismo atinja osseus objectivos nacionais.

2.7.13. O Papel do Turismo naConservação

Há uma tendência global de redução do fi-nanciamento do governo central para a con-servação, sendo as áreas de conservaçãocada vez mais consideradas capazes degerar receitas suficientes para serem auto-sustentáveis. Contudo nem todas as áreasde conservação podem se tornar auto-sufi-cientes.

O turismo doméstico, internacional (re-gional e intercontinental) é visto como sen-do o mecanismo através do qual as áreasde conservação gerarão receitas. Em algunspaíses, as áreas de conservação foram bemgeridas por muitos anos e são ícones na in-dústria turística. A sustentabilidade finan-ceira dessas áreas de conservação é maisfácil do que nos casos em que estas têm deser reabilitadas e para as quais o mercadoprecisa de ser desenvolvido como é o casode Moçambique que para reconquistar asua posição no mercado do turismo e gerarreceitas para o seu maneio sustentável, acurto e médio prazo, deverá efectuar umaapreciação do potencial das áreas de con-servação a fim de contribuir para um turis-mo que motive a alocação de recursos paraa conservação. A promoção nacional do tu-rismo, baseada na forte convicção do im-portante papel futuro das áreas de conser-vação no turismo, pode apoiar a reabilita-ção e, assim, ajudar a conservação a atingiros seus objectivos nacionais.

A conservação esteve sempre ligada aoturismo, mas mais como um serviço socialdo que como negócio. O turismo estáestruturado segundo princípios comerci-ais, e como tal orienta as práticas de con-servação para a adopção de modelos denegócios.

No contexto de um país em desenvolvi-mento que não pode elevar a conservação aum nível de santuário, baseado em exigên-cias puramente ecológicas, biológicas ou ci-entíficas, o anterior modelo promove a adop-ção de uma abordagem mais flexível à ges-tão de recursos naturais e áreas deconservação. No entanto, isso não exclui anecessidade de adoptar uma perspectivaracional na gestão e uso de tais recursos eáreas, com base na necessidade de servir obem comum da nação e, em casos específi-cos, o bem comum onde espécies em peri-go de extinção devem ser protegidas.

Contextualização 31

Geralmente os visitantes tendem asentir- se atraídos de uma forma distintapor diferentes categorias de áreas prote-gidas. Neste contexto e sem perder a ên-fase em condições ecológicas e outras, umpaís pode ter categorias diferentes de áre-as protegidas para aumentar a sua vanta-gem competitiva na atracão de turistas. Aindústria do turismo mundial responde ademanda específicas, desenvolvendo vá-rios tipos de mercados de nicho. O turis-mo baseado na natureza ou eco-turismo églobalmente um dos mercados de nichocom crescimento mais rápido. Este tipo deturismo pode ser classificado em duas ca-tegorias, eco-turismo forte e eco-turismoligeiro, sendo este aquele cujas activida-des têm uma abordagem mais casual, me-nos dedicada para a actividade ou atrac-ção natural, e com um desejo de viver aexperiência com um determinado confor-to. O eco-turismo forte (incluindo activida-des de aventura) envolve interesse de es-pecialistas ou uma abordagem maisdedicada, com uma predisposição paraenfrentar ambientes ao ar livre ou a selva,com pouco ou mesmo nenhum conforto.

Contudo, importa salientar que as di-rectrizes da Comissão da UICN sobre Par-ques e Áreas Protegidas (CNPPA) atribuemgrande importância à determinação domodelo de abordagem de gestão e usospermitidos em cada área.

2.7.14. Conservação e Áreas deConservação emMoçambique

Os propósitos do sistema de áreas de con-servação em Moçambique são: conservar osecossistemas, habitat, diversidade biológi-ca e recursos naturais para o benefício dasgerações presentes e futuras e, em segun-do plano, contribuir para o desenvolvimen-to sócio- económico e para o bem-estar doscidadãos através do turismo doméstico einternacional, disponibilizando produtosde vida selvagem e outros recursos natu-rais para o consumo local.

No caso de Moçambique, apesar de alegislação actual (Lei de Terra de 1997 e aLei de Florestas e Fauna Bravia de 1999)não permitir assentamentos humanos den-

tro das áreas de conservação designadascomo totalmente protegidas (Parques Na-cionais e Reservas Nacionais), a realidadeé que há um número significativo de comu-nidades que vivem dentro destas áreas pro-tegidas. Isto constitui um desafio conside-rável à gestão destas áreas, dando origema geração de conflitos (homem-animal) edegradação de recursos (destruição dehabitats e abate indiscriminado de ani-mais).

Moçambique tem uma boa rede ou sis-tema de áreas protegidas ou de conserva-ção cuja cobertura estende-se em todas aseco-regiões e biomas que asseguram a suaintegridade como uma porção representa-tiva da herança natural do país (Ver tabelaabaixo). A rede principal das áreas protegi-das, i.e., os Parques e Reservas Nacionais,cobre cerca de 12.6% da superfície total dopaís, mas essa cobertura aumenta para,aproximadamente, 15% quando se incluemas coutadas.

Porém, a maioria das áreas de conser-vação em Moçambique apresenta núme-ros de populações de animais reduzidosdevido a conflitos armados internos pro-longados antes e depois da independên-cia e a caça descontrolada. Comoconsequência, áreas que eram ricas emespécies diversificadas de fauna bravia,como os parques nacionais de Gorongoza,Zinave, Banhine e Limpopo e as ReservasNacionais de Marromeu e Gilé, agora pos-suem apenas populações ou fragmenta-dos de animais raras ou em perigo deextinção. Além disso, a instabilidade civil,não só dizimou a fauna bravia como tam-bém teve um impacto profundo na infra-estrutura das áreas de conservação paraalém de ter movimentado populações paradentro dos parques, reservas nacionais ecoutadas oficiais.

A ausência de gestão durante o perío-do da guerra levou à deterioração de todasas infra-estruturas de apoio existentes aosParques e Reservas Nacionais. Os postosadministrativos foram abandonados, o queconduziu à falta de manutenção de estra-das, fontes de abastecimento de água, deenergia tendo-se degradado as habitaçõesdevido a actos de vandalismo e falta demanutenção.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

32

Tabela 4 (a) - Parques Nacionais

Parques Nacionais

Província Designação Ano de Criação Área (km2)

CABO DELGADO Parque Nacional das Quirimbas 2002 7,500

SOFALA Parque Nacional da Gorongoza 1960 3770 (Área central )

1600 (Área tampão)

INHAMBANE Parque Nacional de Zinave 1973 6,000

Parque N. do Arquipélago de Bazaruto 1971 1,600

GAZA Parque Nacional do Limpopo 2001 10,000

Parque Nacional de Banhine 1973 7,000

Área total 37,470

Tabela 4 (b) - Reservas Nacionais

Reservas Nacionais

Província Designação Ano de Criação Área (km2)

NIASSA Reserva Nacional do Niassa 1964 Área central = 15,000zona tampão = 17,000

ZAMBEZIA Reserva Nacional do Gilé 1960 2,100

SOFALA Reserva Especial do Marromeu 1960 1,500

MANICA Reserva Nacional de Chimanimani 2000 7,500

INHAMBANE Reserva Nacional do Pomene 1964 200

MAPUTO Reserva Especial do Maputo 1960 700

O estabelecimento das áreas de conserva-ção no país é um fenómeno recente. A dé-cada de 60 e o princípio da década de 70foram o período em que as áreas de con-servação da categoria de protecção totalforam criadas. Os princípios da década de60 foram marcados pela criação das reser-vas nacionais (83,3% das reservas nacionaise 17% dos parques nacionais). Já no inícioda década de 70 foi marcado pela criaçãodos parques, (cerca de 50% dos existentesno país). A década de 2000 iniciou com o

crescimento dos parques (a criação dos res-tantes 33,3%) e das reservas (os 17%).

A criação das áreas de conservação deexploração orientada, como são as de caça(coutadas oficiais), deu-se praticamente nadécada de 60, com especial destaque parao último ano em que foram criadas cercade 67% das actuais 12. Por seu turno, as 7fazendas de caça existentes no país foramintroduzidas a partir do princípio da pre-sente década.

COUTADAS

Província Designação Ano de Criação Área (km2)

MANICA N.º 4 1969 4 300N.º 9 1969 4 333N.º 7 1969 5 408Nº13 1960 5 683

SOFALA N.º 5 1972 6 868N.º 6 1960 4 563N.º 8 1969 310

N.º 10 1961 2 008N.º 11 1969 1 928N.º 12 1969 2 963N.º 14 1969 1 353N.º 15 1969 2 300

Área Total 42 017

Tabela 5 (a)

Contextualização 33

Reflectindo o período em que estascoutadas foram criadas (baixa densidadepopulacional, entre outras) nota-se, porém,que os limites de muitas coutadas apresen-tam-se desajustadas à realidade actual,havendo casos de conflitos latentes de in-teresse entre as populações que cresceram(seja por factores naturais ou por movimen-tações voluntárias ou involuntárias impos-tas pelo conflito armado que terminou em1992) e os operadores de safaris. Neste con-

texto, a revisão dos limites, assim como doplano de uso dos espaços das áreas dascoutadas, tendo em conta os vários interes-se, é crucial e urgente. Este processo de-verá incluir a revisão da abordagem do re-lacionamento entre as actividades econó-micas de safaris e as comunidades locaisde forma a criar condições de canalização,aos locais, dos benefícios resultantes dasactividades de safaris.

FAZENDAS DE BRAVIO

Província Designação Ano de Criação Área (ha)

CABO DELGADO Negomano Safaris Lda. 2000 10 000

Messalo Safaris 2000 10 000

Cabo Delgado Biodiversity& Tourism - 5 342

SOFALA Sabie Safaris Tours Lda. 2000 10 000

ZAMBÉZIA Game Farm Naora Gile 2000 10 000

GAZA Paul & Ubisse 2000 30 000

MAPUTO Sabie Game Park 2001 40 000

SAPAP (Sociedade de Abastecimento 2000 10 000e Produção Agro-Pecuária)

Área Total 125 342

ACTF do Grande Limpopo PN Limpopo, PN Banhine PN Zinave

ACTF dos Chimanimani Reserva Nacional de Chimanimani

Moçambique, África doSul e Suazilândia

Moçambique, África do Sule Zimbabwe

Moçambique e Zimbabwe

ACTFs

Localização Designação Áreas de Conservação nas ACTFs

ACTF dos Lubombo Reserva Especial do Maputo

Tabela 5 (b)

Tabela 6

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

34

2.7.15. Áreas de ConservaçãoTransfronteira e GCRN emMoçambique

Moçambique reconhece que a conservaçãoé uma forma valiosa e compatível de usoda terra e que, quando correctamente ad-ministrada, providencia bens e serviçossócio-económicos sustentáveis para o bem-estar das comunidades, contribuindo parao alívio da pobreza. O país é dotado de umavariedade de sistemas ecológicos que sãoricos em espécies endémicas, incluindo lar-gas áreas marinhas e sistemas de água doceque transcendem os limites nacionais.Moçambique tem potencial para desenvol-ver uma indústria de turismo baseada na

natureza, tanto na costa como no interior,que poderá tornar o país um destino deturismo privilegiado no leste e sul de Áfri-ca até ao ano 2020.

Algumas das áreas costeiras existentesjá se tornaram destinos turísticos de altaprocura e desenvolveram infra-estruturas einstalações consideráveis para responder aessa procura. Porém, as áreas interiores têmpoucas infra-estruturas e poucos produtosdesenvolvidos para oferecer, dado que afauna bravia foi dizimada durante os anosde conflito.

Reconhecendo isto, o país tem sido pi-oneiro no desenvolvimento de novas áre-as de conservação através do projecto deÁreas de Conservação Transfronteira. Esta

Figura 6 – Áreas de conservação em Moçambique

Contextualização 35

iniciativa pretende criar esquemas de co-laboração com os países vizinhos em queas áreas contíguas possam ser geridas emconjunto, aumentando efectivamente asáreas de conservação. As ACTFs são partede uma estratégia que fornece um quadropara que o sector privado invista no desen-volvimento de novas instalações e serviçosde turismo nestas áreas, à medida que es-tas são formadas ou reabilitadas. A redeMAB (AfriMAB) pretende promover a coo-peração regional nos campos de conserva-ção da biodiversidade e desenvolvimentosustentável através de projectostransfronteiriços que são primariamente ba-seados em reservas de biosfera, emboraMoçambique não seja um parceiro activodeste programa. Reservas de biosfera sãoáreas de ecossistema terrestres e costeirosque promovem soluções para reconciliar aconservação de biodiversidade com o seuuso sustentável. (Ver Anexo I).

Moçambique já tem acordos com Áfri-ca do Sul, Zimbabwe e a Suazilândia paraformar a ACTF do Grande Limpopo, a ACTFde Chimanimani e a ACTF dos Libombos eencontra-se em negociação um acordo parao estabelecimento de uma ACTF com oZimbabwe e Zâmbia a ser denominadaACTF-ZIMOZA. Estão em curso planos deuma ACTF com a Tanzânia, que irá juntar aReserva do Niassa e a Reserva do Selous,outra com a cadeia de ilhas Quirimbas, eainda uma outra ACFT costeira/marinha coma África do Sul para juntar Ponta de Ouro eKosi Bay, que podem ser incorporadas naACFT dos Libombos.

A CBNRM é aceite como uma forma fun-damental de uso da terra no país baseadana conservação, que promove a delegaçãoda gestão de recursos naturais às comuni-dades e proporciona uma plataforma paraatribuir a posse da terra e desenvolver ca-pacidade de gestão institucional. O Progra-ma Tchuma Tchato na província de Tete foio projecto pioneiro no país, servindo demodelo para outras iniciativas de CBNRMno futuro.

2.7.16. Situação Actual daConservação

Uma análise da situação actual de conser-vação no país permite realçar várias ques-tões que devem ser consideradas no de-

senvolvimento de um sector forte e robus-to, que apoiarão o turismo a longo prazo.Essas propostas incluem:• fixar e definir claramente os objectivos

para o uso das várias categorias de áre-as de conservação;

• integrar a planificação da conservação eo desenvolvimento geral;

• instituir a boa governação paraincrementar esquemas de parcerias,colaboração e redes de informação;

• desenvolver mecanismos de prestaçãode serviços que sejam atractivos para osector empresarial;

• reconhecer e levar em consideração, nosplanos de gestão das áreas de conser-vação, a conservação da biodiversidadee outras funções não turísticas das áre-as de conservação;

• adoptar os novos e emergentesparadigmas de conservação, o que éessencial se Moçambique pretende re-abilitar o seu sector de conservação acurto prazo e tornar-se reconhecidocomo uma agência de conservação regi-onal de algum significado;

• adoptar políticas boas e propícias rela-tivas à conservação e um quadro legaladequado são elementos importantespara aumentar a segurança dos recursos,atrair investimentos e proporcionar des-tinos atraentes para turistas e outrosusuários das áreas de conservação.

O plano estratégico nacional para a conser-vação deve ser elaborado assegurando oreconhecimento da conservação como umaforma legítima e viável do uso da terra,praticada para levar a cabo dois objectivos:conservação de biodiversidade e geraçãode produtos económicos para a indústriado turismo.

2.7.17. Pontos Fortes, Fracos ,Desafios e oportunidades

Uma análise dos pontos fortes, fracos, opor-tunidades e ameaças da conservação emMoçambique gira em torno de aspectos re-lativos ao desenvolvimento de políticasboas e adequadas relacionadas com a con-servação e de quadros legais para a gestãodos recursos naturais e áreas de conserva-ção, com vista a aumentar a biodiversidade

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

36

e abordar aspectos de desenvolvimento,especialmente através da sua contribuiçãopara o sucesso do desenvolvimento do tu-rismo. Contudo, boas políticas só são signi-ficativas se houver capacidade paraimplementar estratégias concebidas porforma a alcançar os objectivos.

Pontos Fortes• Floresta de miombo da costa oriental

• Floresta de miombo do sul

• Florestas de Mopane

• Floresta litoral do sul de Zanzibar –Inhambane

• Mangal da costa oriental de África

• O ecossistema marinho da costa orien-tal e Madagáscar.

Presentemente, Moçambique tem uma sig-nificativa rede de áreas de conservação quecobrem os três biomas e eco-regiões, e in-clui as seguintes categorias de áreas de con-servação: Parques Nacionais (6); ReservasNacionais (6); Concessões para Caça(Coutadas) (12).

Os Parques e Reservas Nacionais co-brem cerca de 12% da área total deMoçambique. Com a inclusão das Conces-sões de Caça, esta proporção passa paraquase 15%.

Pontos Fracos

• Redução drástica de populações defauna bravia

• Uma base de recursos de fauna braviamuito fraca que precisa de reabilitaçãoe restauração para ser competitiva naatracção de turistas na região austral deÁfrica;

• Dotações orçamentais do Estado insufi-cientes para o sector de conservação,devido a distorções na definição de pri-oridades, levando à falta de recursos fi-nanceiros para a reabilitação e gestãodestas áreas;

• Confusão histórica sobre a posse de ter-ra, direitos das comunidades e práticasincompatíveis de uso da terra;

• Fraca definição institucional, visto quea conservação é administrada por doisministérios;

• Centralização da posse de recursos e fra-

ca delegação dos direitos de acesso euso;

• Níveis altos de pobreza, que conduzema uma dependência excessiva no uso derecursos naturais para sobrevivência;

• Coordenação fraca entre os váriosintervenientes em processos de conser-vação;

• Integração inadequada de processos degestão ambiental;

• Fracos sistemas de gestão da informa-ção – recolha de dados, armazenamentoe análise inadequados – inibindo a efi-cácia da gestão;

• Recursos humanos inadequados pararesponder às exigências das necessida-des existentes ou para a expansão deprogramas de conservação;

• Assentamentos humanos significativosdentro da maioria dos parques e reser-vas nacionais;

OportunidadesEmbora a fauna bravia tenha sidodepauperada, a existência de alguns assen-tamentos humanos em muitas áreas do in-terior representa uma grande oportunida-de para o aumento de populações de faunabravia existentes ou a sua reintrodução nou-tros locais, como forma de uso da terra. Umaampla reabilitação apropriada da fauna bra-via em todas as áreas permitiria que o paísse tornasse um destino preferencial de tu-rismo na África Austral nos próximos vinteanos.

DesafiosO governo moçambicano enfrenta um du-plo desafio: reabilitar e restaurar e restau-rar muitas áreas de conservação, com gra-ves constrangimentos orçamentais. O gover-no definiu princípios que irão nortear a suaactuação influenciar a direcção das suas res-postas tais desafios:• garantir a participação das comunida-

des na tomada de decisões sobre aspec-tos que possam afectar o seu modo devida e bem-estar;

• conceber modelos inovadores e prag-máticos para resolver o problema dascomunidades que residem no interiorde Parques e Reservas Nacionais semprejudica-las;

Contextualização 37

• fortalecer e expandir um sistema das ACem geral e as ACTFs em particular;

• desenvolver abordagens e incentivosque possam fortalecer o sector de con-servação e facilitar a rápida reabilitaçãoda fauna bravia em todas as áreas pro-tegidas do país;

• criar mecanismos de Gestão partici-pativa das AC;

• criar um quadro institucional apropria-do, que reflicta abordagens de interven-ção efectiva de conservação;

• estimular o desenvolvimento da caçadesportiva;

• optimizar o uso da fauna bravia atravésdo sector privado no desenvolvimentoe expansão da indústria de caçadesportiva.

Tabela 7 – Assentamentos Humanos em Algumas Áreas de Conservação em Moçambique

Assentamentos Humanos em Algumas Áreas de Conservação em Moçambique

População Actividades principais

Principal Usode Terra

Apoio Mudanças Parceiros

15 000

5 000

21 000

55 000

2 000

Agricultura;Pesca; Criaçãode animais depequena es-pécie; Caça.

Agricultura;Pesca; Criaçãode animais depequena es-pécie; Caça.

Agricultura,pesca e caça.

Agricultura,Pesca, Criaçãode animais depequena es-pécie e caça.

A Administraçãodo Parque e osSPFFB providenci-am um apoio técni-co e formação àcomunidade.

As ONG’s apoiam aobtenção de títulosde ocupação nazona tampão.

ONG’s apoiam ofortalecimento dacapacidade institu-cional e aquisição detítulos de ocupaçãona zona tampão.

Apoio técnico dosector privado e in-vestimento nas co-munidades.

Governo da pro-víncia, a administra-ção do PN, ONG’se as comunidadesdeterminam zonasdo Parque.

Diversificação douso de recursos nazona tampão: api-cultura, produçãode carvão. Caçacultural no PN.

Diversificação douso de recursos nazona tampão: agri-cultura, apicultura.

Infra-estruturasocial.

Participação dacomunidade nozoneamento doParque.

SPFFB. ORAM.Administraçãodo distrito.

Conselho degestão da Zonatampão

A agência para odesenvolvimentodo Corredor deMaputo apoia agestão da zonatampão.

SGDRN

WWF

IUCN

Áreas deConservação

PN deGorongosa

Reserva doMaputo

Reserva doNiassa

PN dasQuirimbas

NP de Zinave

Modelo Estratégico3

do TurismoPara o Desenvolvimento

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

40

3.1. Análise do Potencial doTurismo emMoçambique

Para análise do potencial turístico emMoçambique, foram tomados em conside-ração factores como as forças competitivasdo produto turístico moçambicano, cons-trangimentos para o desenvolvimento doturismo. Nesta perspectiva:

3.1.1. Forças Competitivas doProduto TurísticoMoçambicano

Os elementos-chave competitivos emMoçambique distinguem-se pela qualida-de dos seus produtos de praia, pelo ambi-ente exótico, perfil cultural do paísmultifacetado e pela biodiversidade e flo-restas selvagens. Moçambique é um dospoucos países que pode oferecer produtosassim diversificados de praia, eco-turismoe cultura.

Moçambique é um país abençoado comos recursos costeiros mais fortes da ÁfricaAustral. O litoral de Moçambique permane-ce inexplorado e é muito diversificado empaisagem, flora e fauna. A vida marinha estápresente em grandes quantidades e o mer-gulho e a pesca correspondem aos padrõesinternacionais de alta qualidade. Ao longoda costa de Moçambique encontramos es-pécies marinhas como golfinhos, baleias,tubarões, raias, tartarugas, e, em algumasáreas, os muito raros dugongos, criando as-sim uma experiência litoral diversa e inte-ressante.

Em termos fronteiriços, os países vizi-nhos de Moçambique têm um passadoanglófono. Moçambique é o único país naregião que oferece um ambiente culturaldiferente por ter uma herança diversificadae rica, onde são reflectidas as influênciasárabe, swahili, portuguesa e africanas. Istoreflecte-se na vida quotidiana emMoçambique através da história, arquitec-tura, língua, gastronomia, artes e expressõesculturais. Moçambique tem de apreciar es-

3. Modelo Estratégico Para o Desenvolvimentodo Turismo

tas diferenças e usá-las como uma vanta-gem.

Dentro do continente africano,Moçambique permanece um país relativa-mente inexplorado com verdadeiras áreasde selva e oportunidades para experimen-tar a real vida africana. A paisagem é larga-mente virgem e, com a excepção das áreasmais densamente povoadas, permaneceintacta, pouco afectada pela acção huma-na. Quase nenhuma indústria existe fora daszonas industriais que cercam as principaiscidades e a actividade agrícola comercialestá muito limitada. Moçambique foi aben-çoado com uma paisagem cénica e viajarentre os diferentes destinos de turismoconstitui uma experiência interessante. Naszonas rurais, as Áreas de Conservação ofe-recem uma larga variedade de paisagens eecossistemas e proporcionam uma platafor-ma rica e variada para o desenvolvimentodo sector do turismo baseado na naturezae fauna bravia.

3.1.2. Constrangimentos para oDesenvolvimento doTurismo

No país há consensos gerais de que o turis-mo tem um grande potencial para o desen-volvimento de Moçambique. Porém, estepotencial precisa de se traduzir em produ-tos e serviços de qualidade aceitáveis.

Sentimentos relativos ao estado fracode desenvolvimento do sector apontampara:• uma falta de recursos financeiros, huma-

nos e materiais no sector público quese traduz numa fraca capacidade deimplementação das políticas e progra-mas aprovados pelo governo. Por con-seguinte, mesmo onde foram formula-das políticas, directrizes e programas deacção clarividentes, essa falta de recur-sos limita consideravelmente a capaci-dade de intervenção institucional;

• a necessidade da criação e desenvolvi-mento de uma maior capacidade de in-tervenção pública, com introdução derecursos qualificados e adequados à

Modelo EstratégicoPara o Desenvolvimento

do Turismo41

demanda, particularmente ao nível lo-cal, concentrando-se nos distritos commaior potencial turístico. Isto não só seaplica ao turismo, mas também em re-lação a outras instituições do governoque interagem com o sector do turismono seu todo;

• o fraco nível de planificação e de admi-nistração integradas;

• a falta de dados estatísticos seguros e oestabelecimento de um sistema de“Satellite Accounting” para formar umabase de planificação e para medir o im-pacto económico actual do turismo naeconomia nacional;

• a falta de mão-de-obra qualificada, cujaatenção deverá estar direccionada paraa formação e educação aos níveis bási-co e médio. Considerando estas comosendo as prioridades imediatas do sec-tor, o esforço de educação e formaçãonão deve restringir-se apenas aos futu-ros profissionais específicos do sectordo turismo, mas incluir outros importan-tes actores tais como a migração, polí-cia, serviços de transporte, comunida-des, etc.;

• o sector privado manifesta preocupaçãoface a excessiva burocracia e fraca capa-cidade de planificação no sector. As pre-ocupações têm a ver com os procedi-mentos de investimento, a disponibili-dade, distribuição e difícil acesso a terrae a falta de disponibilidade de infra-es-truturas e serviços básicos. A falta dequadros qualificados e o acesso ao cré-dito constituem, entre outras, parte daspreocupações deste mesmo sector;

• a falta de envolvimento da populaçãolocal, particularmente em termos depropriedade, emprego, investimento,desenvolvimento de Pequenas, Médiase Micro Empresas (PMMEs) e o melho-ramento de habilidades profissionais;

• a necessidade de incentivo do Investi-mento Directo Estrangeiro (IDE) comosendo fulcral para o crescimento futurodo sector. Um crescimento equilibradodo IDE e do investimento por parte dosector empresarial moçambicano é fun-damental;

• a imagem e posicionamento deMoçambique como destino turístico

permanece obscura. Os recursos para omarketing são bastante exíguos e mani-festamente insuficientes. Por outro lado,a falta de órgãos criados direccionadospara a realização das actividades demarketing e a fraca ou quase inexistênciade estratégias sectoriais de marketing sãoconsiderados factores-chave edeterminantes para o acolhimento denovos investimentos de vulto e para oimpacto no crescimento e desenvolvi-mento do turismo em Moçambique;

• o fraco nível de parcerias entre o sectorprivado e público e comunidades éidentificado como assunto primordial eapontado como estratégia que deveráser incorporada nos futuros programasdo sector;

• o uso de áreas da conservação em turis-mo permanece inexplorado. Os obstá-culos incluem: números reduzidos defauna bravia, assuntos não resolvidosrelativos às comunidades, falta de recur-sos humanos devidamente preparadose treinados para exercer cabalmente asactividades de fiscalização, bem comofalta de apoio logístico e operacional.Consequentemente, a falta de investi-mento por parte do sector privado, oquadro institucional e a falta de adequa-ção institucional com vocação e capaci-dade para o fomento e realização deparcerias entre o sector público e priva-do e comunidades, resultam em facto-res que urgem ser devidamente revis-tos e solucionados a fim de garantir aosector do turismo colher vantagens dasoportunidades disponíveis.

A Tabela 7 resume os principais assuntoslevantados durante os seminários provin-ciais e regionais sobre a Política e Estraté-gia Nacional do Turismo. Embora os assun-tos esboçados aqui não sejam no seu todoabrangentes, eles representam temas, ele-mentos e factores fundamentais por ondese podem estabelecer referências comopontos de partida de estudos mais com-pletos que resultem em directivas maisclaras e objectivas de acordo com a reali-dade e interesses do país. Estes temasorientaram a Política Nacional de Turismoe também direccionaram o Plano Estraté-gico do Turismo.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

42

Infra-estrutura

Desenvolvimento institucional

• Falta de planeamento, zoneamento e de planos directores para áreas estratégicas do turismo.• Falta de comunicação, coordenação e interligação entre sectores e entidades administrativas.• Procedimentos complicados para os pedidos de investimentos e procedimentos de alocação de terra.• Fraca promoção de investimento.• Fraca capacidade de intervenção institucional.• Fraca disponibilidade de recursos materiais e financeiros no sector do turismo.• Fraca capacidade de controle e monitoramento, quer nas Áreas de Conservação (combate à caça furtiva),

quer nas Zonas Costeiras (construções desordenadas e ilegais).• Procedimentos menos expeditos na gestão do movimento internacional de pessoas. Resultado: longas

esperas e má imagem em relação a migração (vistos, fronteiras).• Segurança.

Recursos humanos

• Baixa qualidade e quantidade de pessoas formadas em matérias de conservação, de hotelaria e turismo.• Limitadas instituições de formação e de educação e sua distribuição geográfica.• Fraca consciência sobre a importância do turismo no seio da população local, especialmente junto das

comunidades rurais.• Fraco envolvimento das comunidades nos processos de desenvolvimento de empreendimentos turísticos.• Falta de comunicação interna acerca do significado do turismo e seus benefícios associados para a

economia e para as comunidades locais.

Marketing e produtos

Ambiente

• Saúde; doenças e situação de higiene (malária, cólera, HIV/SIDA) e qualidade e quantidade de hospitais eclínicas.

• Erosão.• Uso não sustentável dos recursos naturais (produção mineral, caça furtiva, desflorestação).• Fraca intervenção em termos de conservação e preservação das zonas de turismo.• Escassez de directrizes e normas para a construção de estabelecimentos de turismo.• Proliferação de comportamento impróprios por uma parte dos turistas no que respeita às regras e

normas de convivência com os recursos naturais.• Fraco nível de informação e formação de pessoas pertencentes às comunidades locais com vista à

preservação e manutenção de valores e recursos nacionais.

Conservação e Turismo

• Baixo número de fauna bravia na maioria das Áreas de Conservação.• A caça furtiva por caçadores ilegais e comunidades locais.• Comunidades que vivem em Áreas de Conservação e o impacto das actividades de subsistência nos

ecossistemas (as práticas de queimadas, caça, agricultura).• Falta de fiscais treinados nas Áreas de Conservação.• Falta de equipamentos para o pessoal (uniformes, botas, transporte, rádio, armas de fogo, etc.) e baixos

níveis de provisão de infra-estrutura (estradas, acomodação, serviços de saúde, etc.).• Falta de investimento do Sector Privado nas Áreas de Conservação e falta de condições para o atrair.• Falta de planos de gestão e zoneamento das áreas para o desenvolvimento de turismo.

Tabela 8 – Constrangimentos Fundamentais para o Desenvolvimento do Turismo

Fonte: Seminários sobre a Política e Estratégia de Turismo, 2002 e 2003, Banco Mundial/ KPMG/MITUR

3.1.3. Análise SWOT do Turismoem Moçambique

Uma análise dos pontos fortes, fraquezas,oportunidades e ameaças (SWOT –Strenghts, Weaknesses, Opportunities andThreats) do turismo em Moçambique (Ta-bela 8) mostra que as suas praias constitu-em actualmente um factor preponderantena oferta dos produtos nacionais, embora oseu interior relativamente intacto proporci-

one também um excelente potencial para ocrescimento da componente eco-turística.

A falta de infra-estruturas é um factorlimitante que inibe o investimento e o de-senvolvimento de melhores produtos turís-ticos, além de um desenvolvimento nãoplanificado e descontrolado do sector aolongo da costa, que constitui uma das mai-ores ameaças que a indústria enfrenta naactualidade.

Modelo EstratégicoPara o Desenvolvimento

do Turismo43

Tabela 9 – Pontos fortes, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças do Turismo em Moçambique

PONTOS FORTES FRAQUEZAS

• Imagem (afectada pelo passado de Moçambiquee assuntos relacionados com o continente africano como instabilidade política, minas,criminalidade, desastres naturais, pobreza, HIV/AIDS, malária e outras doenças, etc.).

• Nível global de instalações e serviços (água, ser-viço de saúde pública, esgoto, saúde).

• Falta de planeamento do uso da terra e outrosrecursos, bem como fraca interligaçãointerinstitucional na história de desenvolvimen-to do turismo em Moçambique.

• Fraca Capacidade institucional por parte do Go-verno para elaborar, controlar e monitorar a pla-nificação de Turismo.

• Fraco investimento e responsabilidadesinstitucionais não claramente definidas e atribuí-das.

• Níveis profissionais baixos no sector público eprivado para a identificação de cenários de de-senvolvimento adequados.

• Níveis altos de burocracia e processos compli-cados para atrair investimento.

• Relação preço/qualidade não equilibrada. Os pre-ços praticados são demasiado elevados.

• Comunidades e empresários locais têm poucaexperiência no turismo.

• Pouco diversidade na oferta de produtos utili-zando-se o potencial das cidades.

• Serviço e qualidade de acomodação baixos, emgeral.

• Vias de acesso e cuidados preventivos contra aMalária, cólera e outras doenças.

• Distâncias enormes e serviços de transporte li-mitados no país.

• Dificuldades em infra-estruturas, acesso, recur-sos humanos, aspectos institucionais, marketing,ambiente, conservação, etc.

• Praias tropicais e águas quentes duranteo ano inteiro.

• Ilhas tropicais exóticas, sendo muitas parte de umareserva marinha nacional. Estas Ilhas são procuradas por muitos turistas de alto rendimento,havendo poucas na África Austral.

• Extensões longas de recifes de corais de alta qualidade e variedade e uma vida marinha rica queinclui animais do mar de grande porte comobaleias, golfinhos, tartarugas, dugongos, etc.

• Qualidade de pesca desportiva.

• Terras húmidas, ecossistemas e flora e fauna nazona litoral sem igual.

• Beleza cénica das rotas do turismo (p.e. a costado sul e as montanhas do norte).

• Ambiente tropical/exótico (diferente de outrospaíses anglo-saxónicos na região), reflectido através da língua, música, arte, arquitectura, gastrono-mia, etc.

• Frutos do mar (mariscos como camarão, lagosta,lagostim).

• Cidades históricas (Inhambane, Ilha deMoçambique).

• Arquitectura especial e sem igual nas grandes ci-dades (principalmente Beira e Maputo).

• Parques Marinhos Nacionais (Bazaruto, Quirimbas)

• Proximidade do Parque Nacional de Kruger naÁfrica do Sul.

• Carácter relativamente pouco desenvolvido e aexistência de floresta virgem relativamente intac-ta nas zonas mais isoladas.

• Registos mundiais: dunas de areia mais altas, maio-res populações de dugongos, litoral do Índico maislongo, luta armada pela independência.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

44

• Impactos ambientais e perda de recursos marinhospelo crescimento descontrolado de turismo e téc-nicas artesanais de pesca.

• Crescimento descontrolado do sector de turismo.

• Domínio de operadores e turistas de África de Sule outros países da região ou de países com interes-se complementar a Moçambique.

• Comunidades não participam efectivamente nosprogramas do turismo.

• Falta de incentivos governamentais e de alocaçãode recursos para a realização das actividades demarketing e de atracção de investidores

• Crescimento desequilibrado dos mercados regio-nal/doméstico/internacional e de investidores.

• O clima de instabilidade em alguns países na ÁfricaAustral ameaça toda a região, em geral, e o merca-do moçambicano, em particular.

• A contínua fraca disponibilização de quadros quali-ficados para a concepção e implementação dos pro-gramas.

• Fraca disponibilidade de recursos técnicos e finan-ceiros para a implementação de planos integradose estratégicos para o desenvolvimento do turismo.

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

• Hipótese de interligação bush/ beach com KrugerPark e a ACTF do Limpopo e as praias deInhambane/Gaza.

• Safaris de Indico (uma forma mais activa de turis-mo de sol, praia e mar com o objectivo de obser-var a vida marinha e os grandes animais do mar).

• Rotas turísticas e circuitos de turismo que liguemas principais atracções turísticas do país e da re-gião.

• Mercado do eco-turismo

• Marketing de Nicho. Nichos de alto potencial paraMoçambique: observação de pássaros, caça, mer-gulho, pesca, turismo cultural, eco-turismo e aven-tura.

• Marketing das regiões de Moçambique (o norte,o centro e o sul têm perfis e oportunidades muitodiferentes)

• Integração regional (África Austral) através da cri-ação de ligações entre o interior e a costa, ACTFs,corredores e circuitos de turismo regional.

• Tendências de decrescimento do mercado do-méstico da África do Sul e da região.

• O recente processo de descentralização de com-petências do governo prevê oportunidades paraa planificação e desenvolvimento aos níveis Pro-vincial e Distrital.

Considerando o potencial turístico dadopelos seus recursos naturais, Moçambiquedeve perspectivar o seu futuro desenvol-vimento devidamente enquadrado em es-tratégias que assentem, por um lado, na ne-cessidade de dar resposta às demandas domercado interno, regional e internacional,estratégicos para o país e, por outro, nadefinição correcta das zonas de desenvol-vimento para a elevação da qualidade doproduto turístico.

3.2. Mercados Estratégicospara Moçambique

3.2.1. Análise de MercadosEstratégicos paraMoçambique

A correcta avaliação dos mercados emisso-res e a identificação de segmentos e ten-dências pertinentes são condições préviaspara o desenvolvimento efectivo de pro-dutos turísticos e realização de programasde marketing focalizados para esses mes-

mos produtos. Neste capítulo são aborda-dos elementos fundamentais para o desen-volvimento de mercados importantes paraMoçambique. Neste contexto temos:

3.2.2. Mercados Emissores paraÁfrica do Sul

A ligação com o sector do turismo da Áfricado Sul é uma condição primordial paraMoçambique, cuja oportunidade geográfi-ca é primordial, considerando mesmo queos padrões estandardizados do turismo naÁfrica do Sul poderão ter uma certa influ-ência na futura estrutura do sector emMoçambique.

O sector do turismo na África do Sulredefiniu a sua estratégia de crescimentoem 2002. Assim, em termos de chegadas ereceitas, foram identificados, em primeiroplano, o Reino Unido, Alemanha, EUA, Fran-ça, Itália, Países Baixos, Canadá e Austráliaque constituem o foco dos esforços demarketing do sector turístico sul africano.O Japão, a Suécia e a China representamoportunidades de segundo plano.

Modelo EstratégicoPara o Desenvolvimento

do Turismo45

Figura 7 – Análise dos Mercados Emissores para a África do Sul

Analisando os mercados emissores, pode-se constatar que apresentam interessantesoportunidades de marketing para os merca-dos africanos, que contribuíram com 65%das chegadas totais em 2000. Espera-se quea quota das chegadas intra-regionais naschegadas internacionais totais para o con-tinente africano continue a aumentar de57%, em 1995, para 65% no ano de 2020.Embora o número de chegadas à África doSul reflicta significativamente chegadas pro-venientes do mercado africano, os paísesgeradores de procura no continente nãotêm merecido a devida atenção.

África continua a ser tratada como ummercado uniforme de compradores“transfronteiriços” de baixa renda, o que éclaramente incorrecto. Dados estatísticosdetalhados sobre as actuais rendas são di-fíceis de obter, uma vez que os turistas afri-canos têm tendência de gastar menos di-nheiro em parâmetros de turismo“mensuráveis”, como por exemplo aloja-mento e entradas em parques, e mais emcompras a retalho e entretenimento.

Contudo, com a pouca informação dis-ponível, é possível verificar que os princi-pais segmentos dos mercados africanos são“turismo de retalho” e “turismo de negóci-os”. Conforme a “Pesquisa de Turistas In-ternacionais” feita pelo Sector do Turismo

sul-africano em Janeiro de 2000, quase me-tade (46%) de todos os visitantes dos paí-ses africanos à África do Sul deslocam-secom o propósito de negócios. 78% de to-dos os visitantes africanos foram paraGauteng.

O turismo de retalho pertence aos visi-tantes de outros países que entram na Áfri-ca do Sul com o objectivo principal de com-prar bens e serviços para levar para os seuspaíses de origem. A maioria de comprado-res “transfronteiriços” é oriunda dos paísesda SADC, com chegadas crescentes dospaíses do norte do continente como aNigéria e o Gana. As cidades sul-africanasde Gauteng e, particularmente,Joanesburgo estão bem posicionadas paracapitalizar o turista de retalho africano.

Os turistas de retalho enfrentam cons-trangimentos relativos a transporte, proce-dimentos de migração e travessiatransfronteiriça de bens, segurança, acomo-dação satisfatória e acessível, etc. Estesconstrangimentos devem ser devidamen-te considerados e atendidos para que osesforços de marketing tenham impacto namanutenção e aumento da procura.

O mais interessante a este respeito énotar que o número de moçambicanos quevisitou a África do Sul é maior (aproxima-damente 500.000, em 2000) em relação às

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

46

visitas de sul africanos a Moçambique (cer-ca de 300.000 no ano de 2001).

Ainda neste mesmo contexto africano,o mercado angolano oferece outras interes-santes oportunidades para Moçambique. Asemelhança de culturas e de língua e a exis-tência de um segmento com altos rendi-mentos constituem uma base sólida para asua exploração. Num futuro próximo,Moçambique também pode beneficiar dosfluxos africanos existentes para a África doSul através da oferta de pacotes “Fun andSun”, ligando os produtos de entretenimen-to e de retalho de Gauteng com o turismode sol, praia e mar da zona costeira do sulde Moçambique.

3.2.3. Mercados Emissores paraMoçambique

Tradicionalmente, os fluxos de turismo paraMoçambique provinham da África do Sul ePortugal. Em 1997, as chegadas internacio-nais registadas foram aproximadamente de300.000, e no ano 2001 atingiram 404.095,oriundas na sua maioria desses países.

Embora se tenha registado este incre-mento, o que constitui uma tendência po-sitiva, as chegadas correntes permanecemrelativamente baixas em comparação comoutros destinos similares ao nível regional,continental e global com valor de atracçãocomparável ao moçambicano.

As chegadas da África são as dominan-tes, com registos que assinalam um cresci-mento de 350 por cento sobre o ocorridoem 1999. A República da África do Sul é afonte principal do mercado deMoçambique, tendo contribuído com apro-ximadamente 67 por cento nas chegadastotais em 2001. Outros mercados vizinhoscomo a Suazilândia, para citar um exemplo,também geram alguma demanda, emboracom uma base relativamente baixa. Portu-gal é a principal fonte do mercado interna-cional e contribuiu com, aproximadamen-te, 7,5 por cento das chegadas internacio-nais totais em Moçambique no ano de 2001.

Assim sendo, é de considerar que no-vos mercados emissores para Moçambiquedeverão ser objecto de atenção das autori-dades do sector do turismo, onde oportu-nidades em África similares ao exemploacima citado em relação a Angola deverãoser avaliadas e direccionadas com vista aoincremento do turismo de retalho.

3.2.4. Mercados EmissoresEmergentes paraMoçambique

Competir nos mercados saturados como aAlemanha, o Reino Unido e os EUA, ondeMoçambique concorre com outros destinosmundiais emergentes com um potencial deproduto comparável como Honduras,Etiópia, Madagáscar, Vietname etc., serádifícil e oneroso numa primeira fase.

Na componente de marketing ter-se-ágastos elevados contudo, espera-se em al-guns mercados algum tipo de sinergia comMoçambique. Neste contexto, será neces-sário um olhar mais profundo sobre os mer-cados emissores emergentes como MédioOriente, América do Sul e Ásia. Os turistasdo Médio Oriente enfrentam, cada vez maise de modo geral, complicações para a aqui-sição dos vistos para visitar os destinos tu-rísticos desenvolvidos nas Américas e Eu-ropa, e estão à busca de alternativas.

A proximidade relativa de Moçambiqueao Médio Oriente e a elevada influênciamuçulmana no país constituem excelentesoportunidades, o mesmo acontecendo como Brasil, na América do Sul. A semelhançada cultura e língua entre estes dois paísese a percentagem da população com raízesafricanas (aproximadamente 45%), combi-nada com o crescendo da população quese predispõe a viajar, abre uma boa basede exploração.

3.2.5. Impulsionadores daDemanda

Os principais impulsionadores de deman-da para as condições de Moçambique po-dem ser identificados nos seguintes mer-cados:

3.2.5.1. Mercado Doméstico

Uma cultura de turismo doméstico é impor-tante para qualquer destino. Apesar da sualimitação em termos de tamanho, o merca-do doméstico está a crescer. A fonte primá-ria da procura doméstica é constituída porMaputo e, com importância crescente, en-contram-se os centros urbanos da Beira,Chimoio e Nampula. Estas cidades encon-tram-se situadas próximo de atracções tu-rísticas e podem gerar uma quantidade con-siderável de viagens. O futuro preconiza

Modelo EstratégicoPara o Desenvolvimento

do Turismo47

que o turismo doméstico estará associadoaos seguintes sectores principais:• Negócios – incluindo o sector privado,

o governo e o sector de desenvolvimen-to (ONGs, embaixadas, parceiros de co-operação, etc.);

• Lazer – incluindo famílias, pequenosgrupos, casais, estrangeiros residentesem Moçambique, que viajam com o pro-pósito de passar férias, fazer pequenosintervalos de fim-de-semana, excursõesdiárias, eventos, desportos, compras,entretenimento etc.;

• Visita a amigos e familiares (VFR) – mui-tos moçambicanos que moram nas gran-des cidades têm laços fortes com paren-tes que residem em áreas rurais e visi-tam-nas durante os feriados e as férias;

• Visitas de Trabalho (MICE) – o mercadode reuniões, incentivos, conferências eexposições. Os objectivos da viagemincluem negócios, formação de equipas,encontros sociais, religião, etc.

3.2.5.2. Mercado RegionalA nível global, o turismo doméstico e regi-onal tende a tornar-se mais importante doque o turismo internacional, quer em ter-mos de actividades, quer em termos dastransacções monetárias. A África do Sulconstitui uma fonte-chave regional de mer-cado para Moçambique. Tem uma popula-ção relativamente com mais posses em ter-mos regionais e com uma forte propensãopara gastar em viagens, lazer e entreteni-mento.

As famílias, turistas de aventura e pes-cadores são os segmentos tradicionalmen-te atraídos por Moçambique que procuramprincipalmente as praias do sul. Actualmen-te, as preferências apontam para a existên-cia de um mercado mais diversificado pro-veniente da África do Sul. O mercado regi-onal de jovens está a ganhar poder decompra e estes começam a viajar mais como propósito de lazer do que apenas paravisitar amigos e familiares. O ambiente so-cial dos locais a serem visitados, o factorde estar longe de casa e a cultura de praiapodem atrair maiores números de pessoasdeste segmento do mercado.

A natureza virgem, isolada e românticaque ainda existe, praticamente nas trêsgrandes regiões de Moçambique, poderá

atrair números consideráveis de casais, deprofissionais e pessoas em lua-de-mel, dealto rendimento. O enfoque estratégicoserá colocado para a obtenção de um va-lor maior deste mercado, recorrendo a ven-das para níveis cada vez mais altos e a cru-zamentos com outras áreas de produtos,penetrando em novos segmentos de gran-de rendimento.

A procura regional de turismo será pro-veniente dos seguintes sectores principais:• Negócios – viajantes comerciais, viajan-

tes para estudos de viabilidade, mis-sões de negócio, visitantes para negó-cios e visitantes do governo, ONGs,agências de desenvolvimento, embaixa-das, etc.;

• Lazer – incluindo famílias, pequenosgrupos, casais, estrangeiros que vivemna região. Os propósitos de viagem in-cluem passar férias escolares/de verão,fazer pequenos intervalos de fim-de-semana, excursões diárias, eventos, des-portos, compras, entretenimento, visitaa amigos e familiares (VFR), etc.;

• Viagem de Trabalho (MICE) – para de-signar mercado de reuniões, conferên-cias e exposições. Os objectivos da via-gem incluem negócios, formação deequipas, encontros sociais, religião, lan-çamento de produtos, etc.; e

• Interesse especial – incluem pesca dealto mar, mergulho, aventura, eco-turis-mo, overlanders e entusiastas de 4x4, ob-servação de pássaros, entusiastas decultura, caça, etc.

3.2.5.3. Mercado InternacionalActualmente, os visitantes internacionaisvêm a Moçambique acima de tudo paranegócios ou para visitar amigos e familia-res. Aqueles visitantes que não têm estasduas razões como motivos para a sua che-gada a Moçambique, são principalmente osque vêm numa “Viagem à África Austral”.

A caça também tem contribuído histo-ricamente para a procura do turismo inter-nacional e continua a desempenhar umpapel preponderante no crescimento doturismo internacional. Os overlanders ebackpackers começam, cada vez mais, a in-cluir Moçambique nas suas rotas de aven-turas pela África Austral, com Maputo eInhambane já a consistirem “destinos ha-

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

48

bituais e familiares”, enquanto outros pou-cos também usam Moçambique como pas-sagem (via região centro) a caminho doMalawi.

Assim, a procura do turismo internacio-nal está essencialmente ligada aos seguin-tes sectores:

• Visita a amigos e familiares – estes vi-rão principalmente do mercado portu-guês, bem como de amigos e familiaresque visitam o pessoal que trabalha jun-to das agências de desenvolvimento,embaixadas e empresas internacionais;

• Lazer – incluindo viajantes independen-tes, grupos de viagem independentes,grupos de turismo organizado, viajantesinternacionais de alto rendimento;

• Negócios – viajantes comerciais, viajan-tes para estudos de viabilidade, mis-sões de negócio, visitantes para negó-cios e visitantes do governo, ONGs,agências de desenvolvimento, embaixa-das, etc.;

• Interesse especial – inclui mergulho,pesca, eco-turismo, observação de pás-saros, caça, turistas de aventura,backpackers, entusiastas de cultura, cru-zeiro.

3.2.5.4. Mercados de NichoUma análise das tendências internacionaise regionais aponta para uma propensãopara produtos de turismo maisespecializados e habituais, em vez dos pro-dutos genéricos. Factores-chave de moti-vação para os mercados especializados in-cluem visitas a uma atracção específica (porexemplo, um ecossistema particular) ou

participação numa actividade especial (porexemplo, mergulho ou pesca), enquanto asmotivações de viagem dos mercados ge-rais são mais abrangentes e incluem, porexemplo, relaxamento e conhecer novaspessoas.

O produto turístico de Moçambiqueainda é relativamente desconhecido e es-forços de marketing serão principalmentenecessários para aumentar essa consciên-cia. O marketing do turismo, quando estáespecialmente engrenado aos mercadosinternacionais gerais, é extremamente one-roso. Uma abordagem de nicho, de acordocom as tendências globais para umasegmentação significativa de mercado, é, naperspectiva do marketing, muito mais efec-tiva em termos de custos do que uma abor-dagem “geral”. Os mercados de nicho sãofrequentemente mais fáceis de abordaratravés de revistas especializadas, web sites,agências de viagens especializadas, asso-ciações e clubes, e do poder da palavra.

Os turistas de nicho são, frequentemen-te, menos exigentes em termos de níveisde serviços e infra-estruturas. Assim, elesrepresentam um factor que poderá ser uti-lizado para o desenvolvimento de uma re-gião com menos serviços e infra-estruturas.Assim sendo, este facto constitui um bene-fício para um certo tipo de mercado espe-cializado, por exemplo a caça, o eco-turis-mo e o turismo de aventura, no qual as pes-soas procuram uma experiência fora domundo desenvolvido.

Por isso, os mercados de nicho tam-bém podem constituir uma meta a curtoprazo para o desenvolvimento e marketingde diferentes produtos que o país podeoferecer.

4 Visãodo Turismopara o Futuro

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

50

“Até ao ano de 2025 Moçambique será o desti-no turístico mais vibrante, dinâmico e exóticode África, famoso pelas suas praias e atracçõeslitorais tropicais, produtos de eco-turismo ex-celentes e pela sua cultura intrigante, que dáboas-vindas a mais de 4 milhões de turistas porano.

As áreas de conservação constituem uma par-te integrante do turismo e os seus benefíciosdarão um contributo significativo para o PIB,trazendo riqueza e prosperidade para as comu-nidades do País”’

Quadro 6 – Missão para o Desenvolvimento do Turismo em Moçambique

A missão da Administração do Turismo consiste na implantação da visão do turismo, trans-formando-a numa realidade. Nessa direcção, essencialmente deverá:• Estabelecer um quadro institucional, com mecanismos adequados de planificação e de controlo e

uma capacidade de implementação efectiva de programas aos níveis nacional, provincial e distrital;

• Estabelecer os mecanismos de marketing efectivo que resultem na criação de uma imagem forte dopaís através dos programas nacionais de marketing, bem como resultantes das parcerias com o sectorprivado;

• Desenvolver mecanismos para o estabelecimento de produtos turísticos prósperos e a criação deum ambiente de investimento harmonioso para investidores nacionais e internacionais;

• Proceder à reabilitação e reorganização das Áreas de Conservação do país;

• Proceder à implementação de políticas práticas e sustentáveis para a planificação e desenvolvimentodo turismo;

• Criar as condições para o envolvimento efectivo das comunidades no desenvolvimento do sector doturismo;

• Participar activamente na constituição de parcerias efectivas com os países vizinhos e a promoção deuma integração regional forte entre os países da SADC em marketing, a oferta de pacotes de diferen-tes produtos, iniciativas transfronteiriças (corredores, ACTFs) e a coordenação e alinhamento depolíticas e legislação relativas à migração, transporte e turismo;

• Desenvolver uma base de recursos humanos a todos os níveis profissionais no sector privado epúblico e dentro das comunidades através da educação e formação;

• Realizar programas de sensibilização para todos os moçambicanos sobre a importância do turismo eo valor do património e das heranças natural e cultural.

Adaptado de “Princípios Gerais da Política de Turismo”, Política e Estratégias do Turismo, Parágrafo 5

4. Visão do Turismo

4.1. Visão do Turismo para oFuturo

Tendo em conta a modesta base de desen-volvimento e das infra-estruturas para o tu-rismo e as metas e objectivos definidos noPEDTM, a visão sobre o turismo, devida-mente contemplada no processo de plani-ficação estratégica, deverá reflectir a natu-reza ambiciosa desses objectivos, cujasmetas só poderão ser realisticamente fixa-das e alcançadas a longo prazo. Assim, éidentificado o ano de 2025 como o ano dereferência para a Visão do Turismo emMoçambique.

Quadro 5 – Visão do Turismo paraMoçambique em 2025

Para a materialização desta visão a missãoda gestão macro do turismo assenta nosprincípios gerais da política do turismo.

4.2. Força dos RecursosO potencial do turismo de Moçambique édeterminado pela sua “Força em termos deRecursos”. Essa força está relacionada coma terra, fauna bravia, recursos naturais, re-cursos humanos, artesanais, os trunfos na-turais e litorais, o património e as herançasnatural e cultural. A atracção turística que

estes representam pode ser considerada a“Força dos Recursos” de Moçambique. Esta“Força” é dada pela:1) qualidade das praias e recursos litorais

(a linha de produto “azul”);

2) diversidade e qualidade dos recursosnaturais e de fauna bravia e as oportu-nidades que estes oferecem para o de-

Visão do Turismopara o Futuro 51

Tabela 10 – Estratégias para o Uso de ‘Forças de Recursos’ de Moçambique

Recurso Estratégia Explicação

O litoral vasto de Moçambique, as praias tropicaise as águas quentes e os recursos marinhos são dequalidade excepcional e sem igual na África Aus-tral. Moçambique deveria capitalizar esta posiçãono marketing e desenvolvimento de produtos, en-quanto, ao mesmo tempo, a conservação e pro-tecção dos recursos litorais e marinhos frágeisdeveriam ser uma prioridade.

Para poder competir na África Austral,Moçambique tem de desenvolver o seu produtobaseado na natureza e fauna bravia. Esforços deve-riam ser focalizados na reabilitação e construçãodas infra-estruturas, na promoção de investimen-tos nas zonas de conservação, no desenvolvimen-to de recursos humanos e na repovoação dos ani-mais.

Moçambique tem uma identidade cultural, deter-minada pela sua herança, povos e história, que di-fere significativamente da de outros países na ÁfricaAustral. O “sabor” da cultura deve ser melhor usa-da no marketing e enriquecer as linhas de produto“azul” e “verde” e, por outro lado, também deve-ria ser desenvolvida uma linha específica de pro-dutos culturais.

Capitalizar

Desenvolver

Captar

Recursos litorais e marinhos

Recursos da Natureza e FaunaBravia

Recursos culturais e artificiais

senvolvimento de produtos turísticos (alinha de produto “verde”);

3) identidade cultural de Moçambique,determinada pela sua herança, povos ehistória, que difere significativamenteda de outros países na África Austral (li-nha de produto “cor de laranja”).

Estes recursos devem ser valorizados, pro-tegidos e continuamente desenvolvidospara garantir o valor de atracção do “Desti-no Moçambique”. As estratégias específi-cas para o uso correcto de cada uma das“Forças dos Recursos” consistem no seguin-te:

4.3. Factores-Chave doSucesso

A força dos recursos no turismo representao potencial do turismo que o país possui.Assim, devem ser desenvolvidas estratégi-as sãs com vista a traduzir este “potencial”na oferta real do turismo e em benefícioseconómicos e sociais sólidos para o país.

A implementação efectiva das três es-tratégias para o uso das forças dos recursos

de Moçambique é fundamental. Três facto-res adicionais emergem como instrumen-tos impulsionadores para conduzirMoçambique para o seu futuro estatuto dedestino turístico internacional. Estes são: (1)integração regional (África Austral), (2)marketing e desenvolvimento de produtosvirados para os mercados emissores e ni-chos seleccionados, (3) enfoque espacial naplanificação, marketing e desenvolvimentode produtos.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

52

Figura 8 – Factores-Chave do Sucesso para Maximizar o Potencial do Turismo de Moçambique

Os factores-chave do sucesso com vista àmaximização do potencial do turismo deMoçambique são:• Capitalização dos recursos marinhos e

litorais – O vasto litoral de Moçambique,as praias tropicais e as águas quentes eos recursos marinhos são de qualidadeexcepcional e sem igual na África Aus-tral. Moçambique deveria capitalizaresta posição no marketing e desenvolvi-mento de produtos, enquanto prioriza,ao mesmo tempo, a conservação e pro-tecção dos recursos litorais e marinhosfrágeis.

• Desenvolvimento de produtos basea-dos nos recursos da natureza e faunabravia – Moçambique ainda não é umactor no sector do eco-turismo na ÁfricaAustral. Para ser capaz de competir naÁfrica Austral, Moçambique tem de de-senvolver o seu produto baseado nanatureza e fauna bravia. Esforços deve-riam ser focalizados na reabilitação econstrução das infra-estruturas, na pro-moção de investimento nas zonas deconservação, no desenvolvimento derecursos humanos e no repovoamentode animais.

• Inserção da Força da Cultura –Moçambique tem uma identidade cul-

tural, determinada pela sua herança,povos e história, que difere significati-vamente da de outros países na ÁfricaAustral. Moçambique deve acarinharestas diferenças para “condimentar” osseus produtos das linhas “azul” e “ver-de”, bem como para desenvolver umaoferta especial de produtos “laranja” ouprodutos culturais.

• Integração com países vizinhos (ÁfricaAustral) – Nenhum país na África Aus-tral será capaz de enfrentar a competi-ção forte no mercado de turismo inter-nacional sozinho. A integração regionale o desenvolvimento de um destino afri-cano são técnicas de sobrevivência es-senciais para todos os países na ÁfricaAustral. Moçambique tomará o papel delíder neste contexto através i) do desen-volvimento e promoção de ligaçõesbush-beach com países vizinhos, ii) dumaparticipação pró-activa na criação e ges-tão das ACTFs, e iii) duma participaçãoactiva em iniciativas de marketing e de-senvolvimento regional.

• Mercados estratégicos: Mercados deNicho – Com a oferta actual de produ-tos e a disponibilidade limitada de re-cursos para marketing e desenvolvimen-to de produtos, Moçambique tem que

Visão do Turismopara o Futuro 53

concentrar os seus recursos limitadosem alguns mercados seleccionados, ba-seado numa análise profunda das ten-dências do turismo e das forças dos re-cursos de Moçambique. Actividades taiscomo mergulho, pesca de alto mar, caça,observação de pássaros, eco-turismo,aventura, turismo de praia e ilhas dealto-rendimento, e turismo cultural po-derão emergir como nichos estratégicos.

• Mercados estratégicos: Mercados Emis-sores – Com um baixo domínio dos mer-cados estrangeiros e recursos limitadosdisponíveis para marketing e desenvol-vimento de produtos, Moçambiquedeve concentrar os poucos recursos nospoucos mercados seleccionados. Osmercados emissores estratégicos foramseleccionados usando três critérios: (i)mercados emissores estratégicos para aÁfrica do Sul; (ii) mercados de nicho comalto potencial; e (iii) a existência de umasinergia cultural forte.

• Enfoque espacial: Regiões deMoçambique – O país é muito vasto ediverso e não pode ser considerado eadministrado como um único destino. Astrês regiões de Moçambique, o sul, cen-tro e norte têm cada uma a sua própriaidentidade, forças de recursos, priorida-des de desenvolvimento e parceiros re-gionais. O perfil do turismo da região sulenfatiza o turismo regional e domésti-co, o turismo litoral e os desportos aqu-áticos; a região centro posiciona-se me-lhor como um destino de eco-turismo eaventura, principalmente para mercadosde nicho internacionais e backpackers,enquanto a região norte provavelmen-te se desenvolverá como um exclusivodestino de praia e eco-turismo interna-cional com uma forte componente decultura.

• Enfoque espacial: APITs, ACTFs, Rotase Circuitos – O turismo é espacial pornatureza e áreas geográficasseleccionadas deveriam ser priorizadasno processo de desenvolvimento. AsACTFs (Áreas de ConservaçãoTransfronteira), APITs (Áreas Prioritáriaspara Investimento em Turismo) e as Ro-tas Turísticas são os pontos identifica-dos em espaços onde os recursos parao desenvolvimento de turismo serãoconcentrados.

4.4. Mercados Estratégicospara Moçambique

Moçambique procurará activamente umamistura de segmentos de mercado-alvo(alto/médio/baixo rendimento; negócios/lazer; doméstico/regional/internacional) eimplementará uma abordagem de nichopara mercados internacionais focalizadosnos nichos de alto potencial como mergu-lho, pesca de alto mar, caça, observação depássaros, eco-turismo, aventura, turismo depraia e ilhas de alto-rendimento, e turismocultural. Abordagens mais gerais serão usa-das para os mercados regionais e domésti-cos onde os segmentos de mercado princi-pais continuam a concentrar o turismo desol, praia e mar, e o turismo familiar.

Assim, a abordagem do desenvolvi-mento de mercado terá dois enfoques: osmercados emissores seleccionados e osprodutos de nicho.

4.5. Mercados de NichoEstratégicos paraMoçambique

Os mercados de nicho estratégicos paraMoçambique são:• Mergulho – Mergulhar é um dos despor-

tos de aventura em rápido crescimentoe é cada vez mais popular entre pesso-as jovens. Os peritos consideramMoçambique um dos melhores destinosdo mundo para o mergulho. No seio dosbackpackers e no mercado regional,Moçambique, em particular a provínciade Inhambane, já é famoso pela diver-sidade de espécies, com particular re-levância para as grandes espécies mari-nhas como baleias, tubarões, tartarugas,golfinhos e raias, e pela qualidade derecifes de coral.

• Pesca de alto mar – Desde o tempo co-lonial Moçambique foi famoso pela suagrande pesca desportiva (big game-fish).Atum, marlim e agulhão estão entre asespécies regulares. Esta realidade écoadjuvada pelo clima tropical, as águasquentes e as infra-estruturas de embar-cação que agora existem ao longo dacosta do sul. A pesca de mar alto é umaactividade fundamental, especificamen-te para o mercado regional e os merca-

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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dos internacionais de alto rendimento.

• Caça – Caçar é um negócio de pequenaescala, mas muito lucrativo. A qualida-de de troféus em Moçambique (especi-almente no norte do país) é muito altacom uma variedade boa de espécies. Acaça requer esforços de marketing e podeser um catalisador de novas áreas, comoé o caso do turismo fotográfico.

• Observação de pássaros – “Ornitofilia”é o passatempo com os níveis de cres-cimento mais elevados no mundo e, glo-balmente, é um dos segmentos de eco-turismo com maior crescimento. A vari-edade e densidade de espécies de avesem Moçambique são excepcionais e cer-tas áreas, como a Montanha deGorongosa, Panda, em Inhambane, e aslagoas litorais em Bazaruto e no distritode Matutuíne são famosas entre osornitólogos. Moçambique possui poten-cial significativo para se desenvolvercomo um destino de ornitofilia interna-cional.

• Eco-turismo – O segmento de aventurarepresenta mundialmente 5 milhões deturistas por ano ou, aproximadamente,1% do total de chegadas turísticas inter-nacionais, e é um segmento em cresci-mento (Travel and Tourism Analyst Nº 4,2001). Viagens de aventura podem serdefinidas como uma actividade intensi-va de lazer, sobretudo ao ar livre(outdoors) e que envolve alguma forma derisco, excitação e desafio pessoal.Moçambique tem um potencial signifi-cativo para o desenvolvimento de acti-vidades de “forte” e “suave” aventura,incluindo escalar montanhas, “abseiling”(inselbergs no norte), circuitos de 4x4, ca-minhadas (hiking), e desportos fluviais eaquáticos como a canoagem e balsa(rafting).

• Turismo de aventura – O segmento deaventura representa mundialmente 5milhões de turistas por ano ou, aproxi-madamente, 1% de total de chegadasturísticas internacionais, e é um segmen-to de crescimento (Travel and TourismAnalyst No 4, 2001). Viagens de aventurapodem ser definidas como uma activi-dade intensiva de lazer, que está prin-

cipalmente ligada ao ar livre (outdoors) eque atinge alguma forma de risco, exci-tação e desafio pessoal. Moçambiquetem um potencial significativo para odesenvolvimento de actividades de“hard” e “soft” aventura, incluindo esca-lar montanhas, “abseiling” (inselbergs nonorte), circuitos de 4x4, caminhadas(hiking) e desportos fluviais e aquáticoscomo a canoagem e o rafting.

• Cruzeiro – O mercado de cruzeiro estáem crescimento rápido a nível mundial.Os operadores olham para o OceanoÍndico para expandir a gama de produ-tos de cruzeiro. Com 2700 km de litorale muitas cidades históricas e outros lu-gares e opções de actividade interessan-tes, a oportunidade para Moçambiquese tornar um actor importante neste ni-cho é significativa.

• Mercado de luxo de alto rendimento –Este sector de mercado é altamenteeducado, tem um rendimento disponí-vel significativo e é atraído pelo desti-no ou pelo prestígio do operador. A for-ça da palavra e imagens de um estilo devida exclusiva são bastante importantesno marketing deste segmento. A força damarca é um elemento cada vez maisimportante no processo de escolha dedestino. As estâncias turísticas têm deser pequenas e exclusivas e os clientes,profissionais, casais e reformados queaí afluem encontram-se, socializam erelaxam num ambiente de luxo total. Asestâncias turísticas nas ilhas tropicaistêm uma atracção particular para estemercado.

• Turismo cultural – A rica herança cultu-ral de Moçambique proporciona bastan-tes oportunidades para o turismo cultu-ral. Ícones como a Ilha Moçambique e,num grau menor, a cidade de Inhambanesão de um valor histórico e cultural ex-cepcional e atrairão o mercado especi-alizado internacional. Um outro nichocom alto potencial é o da arquitectura,que é de uma variedade e qualidadeexcepcional, com destaque para Mapu-to e Beira. Novos nichos de cultura po-dem ser desenvolvidos na música tra-dicional e contemporânea.

Visão do Turismopara o Futuro 55

4.6. Mercados EmissoresEstratégicos paraMoçambique

Reconhecendo o fraco domínio em relaçãoaos mercados estrangeiros e os recursos li-mitados disponíveis para o marketing e de-senvolvimento de produtos, os esforços demarketing serão concentrados apenas emalguns mercados emissores devidamenteseleccionados: Portugal, por causa da his-tória e da língua, e África do Sul, fundamen-talmente devido à proximidade geográfica.Estes constituem os dois mercados “natu-rais” para Moçambique. Na selecção deoutros mercados emissores de alto poten-cial, deve-se aplicar um marketing astuto einteligente.

Os mercados emissores estratégicosforam seleccionados usando três critérios:(i) mercados emissores estratégicos para aÁfrica do Sul; (ii) mercados de nicho comalto potencial; e (iii) sinergia cultural. Trêscategorias de mercados emissores estraté-gicos emergiram: (1) mercados naturais (ba-seados em proximidade e sinergia cultural

forte), (2) mercados de nicho (países estra-tégicos para a África do Sul que têm umpotencial de mercado de nicho alto) e (3)mercados de sinergia emergentes (merca-dos emissores em desenvolvimento quetêm uma sinergia cultural forte comMoçambique).

Na figura abaixo, apresenta-se o agru-pamento dos mercados emissores estraté-gicos para Moçambique. Portugal e Áfricado Sul são mercados actuais deMoçambique. Entre os mercados emisso-res estratégicos para a África do Sul, os EUA,o Reino Unido, a Alemanha e os Países Bai-xos e a Itália foram identificados como es-tratégicos para Moçambique pela sua pre-ferência por produtos de nicho estratégi-cos e a Itália também pela sinergia cultural.Dentro do agrupamento da “Sinergia”, Por-tugal e África do Sul foram identificadoscomo o foco primário por causa dos laçoshistóricos; os outros países indicados (Itá-lia, Espanha, Brasil, Arábia Saudita, EAU,Angola, Zimbabwe e Suazilândia) foramidentificados como mercados de foco se-cundários.

Figura 9 – Carteira de Mercados Emissores Estratégicos para Moçambique

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

56

4.7. Conjugação de Produtose Mercados

Combinando os mercados de nicho estra-tégicos, mercados emissores estratégicos e

Tabela 11 – Segmentos de Mercado Estratégicos para Moçambique

Mercado estratégico Critérios de selecção Mercados Emissores

Mercado doméstico, África doSul, Portugal, Zimbabwe,Suazilândia

Espanha, Itália, Reino Unido, EUA,Alemanha, Países Baixos

Brasil, Arábia Saudita e UAE eAngola

Mercados naturais

Mercados de nichoestratégicos

Mercados de sinergia emer-gentes

Países emissores estratégicos para Áfri-ca do Sul que tem um potencial alto paraprodutos de nicho estratégicos

Mercados emissores em desenvolvimen-to com uma forte sinergia cultural comMoçambique

Proximidade e sinergia cultural forte

Os mercados “naturais” primários são omercado doméstico, a África do Sul e Por-tugal. A África do Sul e Portugal represen-tam, actualmente, quase 75% das chegadastotais e espera-se que continuem a domi-nar o mercado a curto e médio prazo. ASuazilândia e o Zimbabwe, como resultadoda sua proximidade e as tendências paraum aumento intra-regional em viagens re-presentam os mercados “naturais” secun-dários. Dada a corrente situação económi-ca e política no Zimbabwe, esforços espe-cíficos para desenvolver este mercado terãoque ser adiados até à recuperação econó-mica deste país. A procura a partir destemercado cingir-se-á aos segmentos de lazer,visita de amigos e familiares e ao sector denegócio, enquanto, para a África do Sul, osprodutos seleccionados de nicho, principal-mente baseados na praia e mar como apesca de alto mar e o mergulho, serão im-portantes e determinantes.

Uma abordagem específica do marketingde nicho será adoptada para os mercadosemissores seleccionados que sejam estra-tégicos para a África do Sul e tenham umpotencial forte para os produtos de nichoestratégicos de Moçambique. A oferta depacotes de produtos da África do Sul e deMoçambique (product packaging) e o desen-

os impulsionadores de demanda para osmercados domésticos, regionais e interna-cionais, os seguintes mercados estratégicosemergem para Moçambique:

volvimento e marketing de ligações bush-beach entre estes países também serão ins-trumentos importantes.

Os países sul-europeus, Itália eEspanha, também são incluídos nesta ca-tegoria. Só que a abordagem para estespaíses será ligeiramente diferente da dosoutros países e concentrar-se-á no merca-do de alto rendimento de sol, praia e mar.A procura nestes países será direccionadapara o lazer, principalmente concentradaem turismo de praia exclusivo e de interes-se especial, incluindo desportos aquáticos(pesca de alto mar e mergulho), eco-turis-mo e cultura.

Como uma última categoria foram iden-tificados os mercados emergentes com umaforte sinergia cultural com Moçambique. OBrasil emerge como um mercado de alto po-tencial devido às similaridades em culturae língua entre os dois países. A ArábiaSaudita e os EAU devem-no à proximidaderelativa de Moçambique e à afinidade reli-giosa (muçulmana).

A figura abaixo apresenta graficamenteos três segmentos de mercado estratégicos,os seus impulsionadores de procura e osmercados emissores principais dentro decada segmento.

Visão do Turismopara o Futuro 57

Figura 10 – Segmentos de Mercado Estratégicos para Moçambique

4.8. Factores de BaseUm sector de turismo saudável só podeemergir em países com um nível básico deprovisão de infra-estruturas e serviços. Estaindústria depende muito das infra-estrutu-ras sócio-económicas do país. Daí que se-jam exigências para o desenvolvimento doturismo a provisão e qualidade mínima deinfra-estruturas, o conhecimento (estatísti-cas de turismo, migração, o impacto econó-mico de turismo, pesquisa de mercado,etc.), os recursos humanos e um quadroinstitucional adequado (leis, governação,cooperação sectorial), a estabilidade, a se-gurança e os recursos financeiros.

Na realidade, sem esta combinaçãoharmoniosa dos factores acima menciona-dos, o desenvolvimento de turismo seráefectivamente impossível. Negligenciar umou mais destes factores de base é conde-nar a partida o desenvolvimento harmoni-oso do sector que poderá conhecer efeitosdesastrosos na realização desordenada deempreendimentos turísticos sem a correc-ta interligação com os programas e objecti-vos traçados pelo Governo.

Embora sejam essenciais para o desen-

volvimento do sector, muitos destes facto-res, tais como a infra-estrutura e a estabili-dade e segurança, não são da responsabi-lidade directa da administração nacional deturismo, o que torna o turismo vulnerávelao desempenho noutros sectores. Tambémdemonstra que o sector do turismo deveser uma prioridade nacional, em que a in-tervenção intersectorial é imprescindívelpara garantir que seja assegurada a aten-ção apropriada e sejam devidamente aten-didos todos os factores de base.

Assim, constitui responsabilidade daadministração nacional de turismo a iden-tificação das exigências de desenvolvimen-to mínimas e a cooperação com outros sec-tores para que todos esses factores de basepara o desenvolvimento do turismo sejamcontemplados nos seus programas e, assim,contribuam para o estabelecimento de pla-nos nacionais.

A constante actualização desses facto-res de base é considerada uma prioridadee o Plano Estratégico para o Desenvolvi-mento de Turismo aborda, no quadro daimplementação, as exigências que o sectordo turismo coloca para cada um dos facto-res básicos acima referenciados.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

58

Figura 11 - Factores de Base para o Desenvolvimento do Turismo

5 ProcessosFundamentaisde Implementação

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

60

Emergem três processos estratégicos deimplementação que atravessam os factorescríticos de sucesso, o desenvolvimento defactores de base e o uso das forças de re-cursos de Moçambique, que guiarão as es-tratégias futuras para desenvolverMoçambique como actor internacional emturismo:1) Planificação integrada: Implementar

princípios sustentáveis nos processosde planificação de terra e na planifica-ção e coordenação organizacional e fi-nanceira, que conduzam à um cresci-mento controlado e responsável do tu-rismo.

5. Processos Fundamentais de Implementação

Figura 12 – Processos-Chave de Implementação para o Desenvolvimento do Turismo emMoçambique

2) Desenvolvimento de produtos: Melho-rar os produtos e serviços de turismoexistentes e desenvolver novos produ-tos e serviços.

3) Marketing: Melhorar os esforços demarketing para criar consciência, aplican-do princípios de marketing adequados einteligentes focalizados em mercadosemissores e nichos estratégicos selec-cionados, e no mercado doméstico.

Estes três processos são “os processos-cha-ve da implementação” e devem ser reali-zados concomitantemente.

5.1. Enfoque e QuadroEspacial do Turismo

Moçambique tem potencial para se desen-volver como destino turístico de classemundial. Porém, encontra-se ainda numafase embrionária de desenvolvimento commuitos constrangimentos por ultrapassar.Os recursos humanos e financeiros e a ca-pacidade institucional são bastante limita-dos, o que torna praticamente impossívelo desenvolvimento do país inteiro ao mes-

mo tempo. O turismo é, por natureza, es-pacial, neste sentido estão identificada trêsplataformas para o seu desenvolvimento,nomeadamente (1) as Áreas Prioritárias paraInvestimento em Turismo (APITs), (2) as Áre-as de Conservação Transfronteira (ACTFs )e as Áreas de Conservação (ACs), e (3) asRotas de Turismo. Há, de algum modo,sobreposição entre estas três plataformas.Por exemplo, algumas APITs cobrem intei-ramente partes de uma ACTF ou Áreas deConservação.As primeiras duas (APITs e

Processos Fundamentaisde Implementação 61

ACTFs ) são indicadas como “destinos”.Contudo, um destino tem duas carac-

terísticas fundamentais: ter uma atracçãosuficiente, por exemplo na forma dos recur-sos naturais, e ter uma provisão básica deinfra-estruturas e serviços, como acesso,acomodação, lojas, actividades, etc. Todasas APITs, ACTFs e Áreas de Conservaçãoestabelecidas no plano possuem os requi-sitos referentes ao factor atracção, mas pou-cos garantem uma oferta básica de infra-es-truturas e serviços. De acordo com a defini-ção acima feita, nem todas as APITs, ACTFse Áreas de Conservação são efectivamentedestinos, mas porque eles constituem osfuturos destinos do país, são assim consi-derados, no contexto deste Plano Estraté-gico.

Figura 13 – Elementos do Quadro Espacial de Moçambique

As ligações entre os destinos formam aúltima plataforma para a implementaçãodeste Plano Estratégico. Estas ligações sãoas rotas que ligam os vários destinos. Asrotas são estabelecidas de um modo lógi-co, formando circuitos de turismo que de-terminam ligações entre os diferentes des-tinos turísticos do país. A ligação entre asACTFs, APITs e Rotas acontece a nível regi-onal, criando, assim, três agrupamentos dedestinos ou circuitos turísticos: sul, centroe norte.

Por outro lado, para se desenvolver oTurismo, um segundo conceito crucial deveser adoptado para guiar o marketing e paraposicionar o país, bem como para o quadroinstitucional de governação do sector, é ode “Regiões de Moçambique”.

5.2. As Regiões deMoçambique

O país é muito vasto e diverso e não podeser considerado e administrado como umúnico destino. As três regiões deMoçambique, o sul, o centro e o norte têm

cada uma a sua própria identidade, forçasde recursos, prioridades de desenvolvi-mento e parceiros regionais.

As áreas de “enfoque espacial” e as “Re-giões de Moçambique” são plataformas es-paciais para a implementação do “PEDTM”.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

62

Sul de Moçambique: Províncias de Maputo, Maputo Cidade, Gaza, Inhambane. Mercadosregional/domestico: sol, praia e mar e desportos aquáticos. Mercado internacional: nichos -mergulho, eco-turismo e cultura.O sul de Moçambique continuará a ser caracterizado como destino principal para os mercados regionaise domésticos, com ênfase em sol, praia e mar, férias de família, desportos aquáticos, entretenimento. O sultambém se posicionará como destino para o mercado internacional, mas com enfoque nos produtos denicho e “ícones” da região. Actividades fundamentais são mergulho e safaris oceânicos com objectivo deapreciar “as grandes espécies marinhas”. Os ícones do sul são: ACTF de Limpopo (eco-turismo), Reservade Elefantes de Maputo (eco-turismo), Bazaruto (sol, praia e mar exclusivo) , Inhambane (cultura e mergu-lho) e Maputo (cultura e entretenimento).

Centro de Moçambique: Províncias de Sofala, Manica, Tete Abordagem de Nicho de eco-turismo para todos mercados geográficos.Mercados regional e doméstico: negócios e comércio e sol, praia e mar (Zimbabwe).O centro é caracterizado pela sua riqueza em oportunidades de eco-turismo e aventura. “Ícones” comoChimanimani, Cahora Bassa e Gorongosa têm de ser desenvolvidos e posicionados principalmente paraos mercados internacionais e regionais. Actividades fundamentais para o marketing e para o simultâneodesenvolvimento de produto são caminhada (hiking), pesca nos rios e lagos, observação de pássaros ecaça. Esta região atrairá principalmente as viajantes de aventura independentes (incluindo backpackers) eoverlanders. Para os mercados doméstico e regional próximos (Zimbabwe), “negócios e comércio”, “sol,praia e mar” são de importância secundária.

Norte de Moçambique: Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia. Destinoexclusivo para segmentos de alto rendimento. Destino exclusivo de praia, ilhas e eco-turis-mo com uma influência forte de cultura.O norte de Moçambique será um destino ímpar do país. Daí que as iniciativas de marketing e o desenvol-vimento do produto devem destacar o carácter exclusivo e selvagem da região. “Estâncias turísticas”pequenas e ímpares surgirão ao longo da costa e ilhas de Cabo Delgado e Nampula. Os “ícones” fortes daregião são Pemba, o Parque Nacional e o Arquipélago das Quirimbas, a Ilha de Moçambique, a Reserva deNiassa e o Lago Niassa. Eco-turismo exclusivo (aventura, observação de pássaros, caça, actividades delago) pode ser desenvolvido, principalmente nas áreas remotas do Niassa e Cabo Delgado.

Quadro 8 - Perfis Regionais de Moçambique

5.3. Definição de ÁreasPrioritárias paraInvestimento noTurismo

A priorização das áreas de desenvolvimen-to do turismo constituiu sempre uma preo-cupação dos governos, incluindo no perío-do da administração colonial. Contudo,nota-se que as zonas, outrora definidas emdiferentes períodos, eram tendencialmentemuito amplas para servirem de base paraum processo da planificação realista, numambiente marcado pela disponibilidade li-mitada de recursos e sem definição claradas responsabilidades relativamente àimplementação. A priorização continua a seruma necessidade. Assim sendo, desenvol-veu-se uma metodologia para dar substân-cia à priorização. Esta metodologia é con-sultiva, científica e prática e baseia-se num

conhecimento profundo do local, e temcomo alicerces a Política de Turismo, as pri-oridades nela definidas e a experiênciainternacional e regional na planificação e de-senvolvimento do turismo.

Os critérios para a identificação das áre-as foram desenvolvidos em sessões de tra-balho com uma variedade de intervenientesdo sector aos níveis nacional, provincial edistrital. Tais critérios são:• Distância – a área deveria estar a uma dis-

tância de 3 horas ou menos por estrada apartir de um ponto de entrada aéreo;

• Máximo potencial do produto e marketing– parques marinhos, locais de patrimóniomundial, parques nacionais, Áreas de Con-servação Transfronteira (ACTFs), águas in-teriores significativas, centros de comér-cio e investimento, portos, praias de qua-lidade, diversidade biológica, “ícones”turísticos existentes e potenciais;

Processos Fundamentaisde Implementação 63

• Densidade populacional – o nível dadensidade populacional constitui umfactor de influência sobre o tipo de es-tâncias e destinos a desenvolver;

• Infra-estruturas e acesso – níveis deinfra-estruturas existentes ou planifica-das, particularmente no que respeita afacilidades por via terrestre e aérea;

• Acomodação – volume e qualidadeexistente e planificado de alojamento;

• Agrupamento – a lógica da associaçãode atracções de alojamento com atrac-ções turísticas que permita que sejamacessíveis a partir de um centro comum;

• Ligação com iniciativas económicas na-cionais – a ligação existente ou poten-cial com as principais iniciativassectoriais nacionais e regionais commais impacto económico e ambiental(por exemplo, iniciativas de desenvol-vimento espacial (IDEs), ACTFs, Corre-dores de Desenvolvimento, etc.); e

• Áreas estratégicas – áreas de importân-cia estratégica nacional do ponto de vis-ta do desenvolvimento do produto, domercado e/ou das infra-estruturas.

Os critérios foram medidos e mapeadosusando Sistemas de Informação Geográfi-ca (GIS) e os resultados são: o mapa sobreo “Potencial Estético Total do Turismo”,que mostra as características físicas do paíscomo elevação, uso de terra, cobertura deterra, recifes corais, etc.; o mapa que ava-lia o potencial turístico do país baseadoem critérios infra-estruturais e outras de ca-rácter antropológico, como população,infra-estrutura, electricidade, acomodaçãoexistente, etc. As áreas mais escuras nestemapa representam as áreas com maiorpotencial do turismo.

5.4. Abordagem Dual para oDesenvolvimento deDestinos Turísticos

As APITs, as ACTFs e as ligações entre elas,as rotas, são consideradas o veículo fun-damental para a implementação deste Pla-no Estratégico para o desenvolvimento doturismo.

Há que notar aqui que os níveis de de-senvolvimento turístico, assim como os ní-

veis gerais de desenvolvimento sócio-eco-nómico e de infra-estruturas não estão dis-tribuídos de forma igual ao longo do país.Algumas APITs, especificamente no sul, jáalcançaram níveis significativos de desen-volvimento, enquanto outras, especialmen-te em áreas remotas de difícil acesso, ain-da estão relativamente pouco desenvolvi-das. Serão necessárias estratégiasdiferentes para guiar o desenvolvimento deturismo nas várias APITs, com característi-cas quase opostas de turismo e de desen-volvimento sócio-económico. Neste contex-to, para facilitar a implementação e classi-ficação, foi adoptada neste PlanoEstratégico uma abordagem dual para lidarcom os vários tipos de APITs, baseada nosníveis existentes de desenvolvimento deturismo, acesso e desenvolvimento sócio-económico de cada APIT.

A APIT do tipo “A” é aquela que possuijá um certo nível de desenvolvimento deturismo e infra-estrutura de turismo. Estasáreas já atraíram investimento em turismo,ou têm merecido um grande interesse porparte dos investidores, havendo uma gran-de variedade de opções de acomodação eprodutos existentes. Os níveis de provisãode infra-estrutura e a quantidade e quali-dade de produtos estão muito longe daperfeição, mas já existe um mínimo de faci-lidades. Prioridades nestas áreas apontampara um desenvolvimento controlado, paraa integração de planos de desenvolvimen-to entre sectores, o desenvolvimento derecursos humanos e a necessidade demarketing dos produtos existentes.

As APITs tipo “B” são áreas que foramseleccionadas como Áreas Prioritárias, prin-cipalmente por causa do seu elevado po-tencial de turismo ou da sua localizaçãoestratégica, mas que efectivamente aindanão têm nível significativo de desenvolvi-mento do turismo. Muitas destas áreas sãode acesso difícil, com baixos níveis de pro-visão de infra-estruturas e serviços e os ní-veis de desenvolvimento sócio-económicosão, em geral, modestos. As prioridadespara estas áreas apontam para a melhoriade infra-estruturas, planificação integradae promoção de investimento.

Esta abordagem dual para o desenvol-vimento de destinos turísticos guiará aestruturação adicional do Plano Estratégi-co para o Desenvolvimento do Turismo.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

64

Figura 14 - Abordagem Dual para o Desenvolvimento de APITs

As APITs são indicadas no mapa com umcírculo simbólico. Uma demarcação da áreareal dentro de cada APIT através de pro-cessos provinciais de planificação, determi-nará a forma final de cada uma. Os tama-nhos e formas finais podem variar entre asAPITs. Nesta fase, as APITs ainda se encon-tram numa fase conceptual, devendo a fasede implementação dar vida à forma actual

e permitir o desenvolvimento de activida-des em cada APIT.

As APITs identificadas constituirão ospontos focais para planificação e alocaçãodos recursos do turismo. O objectivo é cri-ar centros de excelência e modelos de pla-nificação, investimento e sustentabilidadedo turismo que serão reaplicados no restodo país.

Processos Fundamentaisde Implementação 65

Elevação+

Fisiografia+

Cobertura da Terra+

Uso da Terra+

Vegetação+

Áreas Protegidas+

Importantes Rios+

Zona Costeira+

Recifes de Coral

Figura 15 – Potencial estético para turismo

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

66

Condição de Accessibilidade nos Aeroportos Internacionais

Infra-estruturas Disponíveis para o Turismo

Moderada

Alta

Baixa

Densidade Populacional+

Turismo Existente+

Electricidade+

Iniciativas de Desenvolvimento Espacial+

Infra-estrutura

Figura 16 – Acessibilidade e Infra-estruturas do Turismo

O quadro seguinte resume as APITsidentificadas e estabelece directrizes geraisem relação ao tipo de produtos e segmen-tos de mercado que cada APIT pretendedesenvolver.

O mapa seguinte combina os aspectosestéticos e infra-estruturais num mapa úni-co. Este mapa é usado como a base paraidentificar as Áreas Prioritárias para Inves-

timento em Turismo. Dezoito áreas foramidentificadas como APIT; três áreas comoAPIT tipo “A”, destinos existentes; cinco áre-as como APIT tipo “A/B”, destinos com umlimitado nível de desenvolvimento de tu-rismo; e dez áreas como APIT tipo “B”, des-tinos com um alto potencial turístico, masnão desenvolvidos.

Processos Fundamentaisde Implementação 67

APIT’s Tipo ‘A’

2. Zona de Grande Maputo6. Zona Costeira de Inhambane7. Zona de Vilanculos/Bazaruto

APIT’s Tipo ‘A/B’

1.Zona de Costa de Elefantes3.Zona Costeira de Xai-Xai8. Zona de Turismo de Sofala14. Zona de Ilha de Moçambique/Nacala15. Zona de Pemba/Quirimbas

APIT’s ‘B’

4.Zona de Limpopo – Massingir5.Zona de Limpopo – Mapai9. Zona de Turismo de Gorongosa10. Zona de Turismo de Manica11. Zona de Tur. de Cahora Bassa12. Zona de Gilé/Pebane13. Zona de Turismo de Guruè16. Zona de Norte de Cabo Delgado17. Zona de Lago de Niassa18. Zona de Reserva de Niassa

Fugura 17 – Áreas prioritárias para investimento do turismo

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

68

Lazer regional e domésticoLazer internacional de nicho ede alto rendimento

Lazer regionalLazer doméstico

MICE e negócios doméstico eregionalLazer domésticoLazer regional

Nichos de lazer internacionalLazer regional

Nichos de lazer internacionalLazer regional

Tabela 12 – Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (APITs)

Áreas Prioritárias para Investimento em Turismo (APITs)

Destinos existentes (Tipo A)

Zona Tipo Nome & Local Produtos Chave Segmentos de mercado

Negócios domésticos, regio-nais e internacionaisTrânsito e lazer internacionale VFR (amigos e familiares),Lazer doméstico e VRF

Lazer domésticoLazer regional e internacionalInteresses especaisBackpackers

Lazer internacionalLazer regional

Turismo urbano e denegóciosSol, praia e marCulturaEco-turismoSol, praia e marDesportos aquáticosCultura

Eco-turismo costeiroSol, praia e marDesportos aquáticos

Zona do Grande Maputo – in-clui Maputo Cidade, Marracuenee Inhaca

Zona Costeira de Inhambane– de Inharrime até Massinga, naProvíncia de Inhambane

Zona de Bazaruto Vilanculos– inclui o Arquipélago doBazaruto e a costa de Vilankulosaté Inhassoro, na Província deInhambane

2

6

7

A

A

A

1

3

8

14

15

A/B

A/B

A/B

A/B

A/B

Destinos existentes com desenvolvimento limitado (Tipo A/B)

Zona Tipo Nome & Local Produtos Chave Segmentos de mercado

Eco-turismo costeiroDesportos aquáticosSol, praia e mar

Sol, praia e marDesportos aquáticosCultura

Turismo urbanoSol, Praia e marCultura, eco-turismolitoral

CulturaSol, praia e marDesportos aquáticos

Sol, praia e marDesportos aquáticosCulturaEco-turismo

Zona de Turismo da Costados Elefantes – a zona costei-ra entre Catembe e Ponta doOuro na Província de Maputo

Zona Costeira de Xai Xai – azona costeira de Bilene até aoLago Chidenguele, na Provínciade Gaza

Zona de Turismo de Sofala –inclui Beira, Sofala e a zona cos-teira de Savane em Província deSofala

Zona da Ilha de Moçam-bique – Nacala - de baía deMacambo no sul até à Baia deMemba, no norte da Provínciade Nampula

Zona de Pemba – Quirimbas– de baía de Pemba, até à Ilhade Matemo e os parques mari-nho e terrestre do Parque Na-cional das Quirimbas, na Pro-víncia de Cabo Delgado

Processos Fundamentaisde Implementação 69

Destinos emergindo (Tipo B)

Zona Tipo Nome & Local Produtos Segmentos de mercadoFundamentais

Lazer doméstico e regionalMICE doméstico e regionalLazer internacionalNichos de eco-turismo

Lazer domésticoLazer regional e internacionalNichos de eco-turismo

Lazer internacional e domésticoNichos de eco-turismo

Backpackers e overlandersNichos de eco-turismo

Nichos de eco-turismoBackpackers e overlandersInteresses especiais

Mercado de lazer domésticoNichos internacionais

Lazer domésticoNichos internacional e regional

Lazer internacionalLazer regionalInteresses especiais

Lazer internacionalLazer regionalInteresses especiais

Nichos de eco-turismo interna-cionais

4

5

9

10

11

12

13

16

17

18

Zona do Limpopo Massingir -inclui a vila de Massingir, a albu-feira de Massingir e o parte suldo Parque Nacional do Limpopo,na Província de Gaza

Zona do Limpopo Mapai - naProvíncia de Gaza, na zona nortedo Parque Nacional do Limpopo

Zona de Turismo de Gorongosa- Inclui o Parque Nacional e aMontanha de Gorongosa

Zona de Turismo de Manica -inclui Manica, Chicamba e o partenorte de reserva de Chimanimani,na Província de Manica

Zona de Turismo de CahoraBassa - inclui Songo, partes da al-bufeira Cahora Bassa e a área co-munitária de turismo de TchumaTchato, na Província de Tete

Zona de Turismo da Reservado Gilé–Pebane – inclui a reser-va de Gilé e a zona costeira dePebane, na Província da Zambézia.

Zona de Turismo do Guruè –zona de Gurué na Província daZambézia

Zona Costeira do norte deCabo Delgado - inclui Palma eMocímboa da Praia até a frontei-ra com Tanzânia no norte da Pro-víncia de Cabo Delgado

Zona de Turismo do LagoNiassa - inclui as margens dolago de Metangula até Cóbuè e azona leste de Manda Wilderness,na província de Niassa

Zona da Reserva do Niassa– a reserva e blocos de caça deReserva de Niassa na Provínciado Niassa

B

B

B

B

B

B

B

B

B

B

Eco-turismo,AventuraInteresses especiaisDesportos aquáticosCultura

Eco-turismo, Aventu-raInteresses especiais

E c o - t u r i s m oObservação de pás-saros

Eco-turismoAventuraCulturaInteresses especiais

Eco-turismoAventuraInteresses especiaisCultura

Eco-turismoSol, praia e marCulturaInteresses especiais

AventuraEco-turismoCulturaSol, praia e marDesportos aquáticosCultura

Eco-turismoDesportos aquáticosEco-turismoCultura

Interesses especiais

5.5. Desenvolvimento deRotas e CircuitosEstratégicos do Turismo

5.5.1. Importância das RotasA identificação e a promoção de rotas cons-titui um poderoso conceito no desenvolvi-

mento do turismo. Baseia-se na ideia deque há um grupo de produtos que ofere-cem diversidade de experiências e é maisatractivo do que as suas componentes in-dividuais. A Caixa 10 explica algumas razõespor que as rotas são importantes.

O desenvolvimento de rotas é tambémextremamente importante porque além deestabelecerem uma ligação espacial entre

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

70

Quadro 9 – O Valor das Rotas de Turismo

• Os turistas nem sempre optam pela rota mais curta e mais rápida, mas tendem a equilibrar o“esforço de lá chegar” com a qualidade da experiência e segurança.

• A planificação e promoção adequadas de rotas pode influenciar e mudar os padrões de viagem dosturistas.

• Rotas não se aplicam apenas às estradas. Rotas férreas, aéreas e marítimas são componentesintegrais para transportar turistas de um destino para outro.

• Rotas podem constituir uma plataforma credível para o marketing e o controlo de qualidade deoperadores turísticos. Bons exemplos são as famosas rotas na África.

Tabela 13 – Corredores Primários de Transporte em Moçambique

• N4 (Corredor de Maputo): Joanesburgo – Maputo

• EN1(Rota Costeira): Maputo – Beira

• EN6 (Corredor da Beira): Beira – Harare

• Corredor de Tete: Tete – Malawi

• Corredor de Nacala: Nacala – Lilongwe

Corredores primários de transporte

produtos diversos, também reforçam aatenção sobre potenciais atracções que po-deriam ser perdidas por turistas que plani-ficam, de forma independente, os seus iti-nerários. As rotas podem também consti-tuir um instrumento forte de marketing, poisproporcionam opções para oferecer paco-tes que podem ser concebidos especifica-mente em função dos interesses de um cli-ente.

As rotas fornecem as ligações entre asAPITs e destinos, mas também são elemen-tos essenciais do quadro espacial do turis-mo. Geralmente, as rotas unem tanto osespaços, como as experiências.

Foram identificados dois tipos de ro-tas, nomeadamente: Corredores de Trans-porte Primários e Rotas Turísticas ou Jorna-das do Visitante.

É importante notar que as rotas não se apli-cam apenas às estradas. Rotas ferroviárias,aéreas e marítimas são componentes inte-grais para transportar turistas de um desti-no para outro. Por exemplo, emMoçambique, o acesso aéreo entre as áre-as prioritárias e as ligações aéreas entre osdestinos nacionais e regionais são tão im-portantes como a estrada devido ao redu-zido tempo que consome e à eficiência decustos, o estado inicial de desenvolvimen-to e a capacidade para abrir novos desti-nos a longo prazo. Em vez de limitar o al-cance das rotas para um único produto outema, as rotas deverão integrar diferentesprodutos e expor os visitantes à uma diver-sidade de experiências.

5.5.2. Corredores PrimáriosOs corredores primários oferecem a rotamais curta e mais conveniente entre o pon-to A e B. Os corredores, apresentados naTabela 11, foram identificados como sendoos mais urgentes para o desenvolvimentogeral de Moçambique. Estes corredores sãoprincipalmente rotas existentes de trans-porte e de negócios. A acessibilidade dasatracções e infra-estruturas vai começar adar forma aos padrões de consumo,centrando-se assim no turismo. Os corredo-res são também importantes rotas de aces-so e de abastecimento para Moçambique apartir dos países vizinhos.

5.5.3. Rotas TurísticasAs rotas de distribuição secundária repre-sentam as rotas turísticas ou “jornadas dovisitante” entre os pontos de entrada e as

maiores atracções do país.Este tipo de pontos turísticos satisfaz

uma função de três componentes, na me-dida em que permite a edificação de uma

Processos Fundamentaisde Implementação 71

Figura 18 - Rotas Turísticas e Circuitos de Turismo

Rotas do Sul

Rota de Libombo ou da Costa dos ElefantesRota de Costa das LagoasRota de LimpopoRota da Selva-Praia

Rotas do Centro

Rota de Aventura Moçambique/ZimbabwéRota de Aventura Moçambique/MalawiTriângulo de Eco-Turismo (Marromeu,Gorongosa, Chimanimani)Rota de Lagos (Chicamba, Cahora Bassa)

Rotas do Norte

Rota da Costa e CulturaRota da Coast Swahili (Moçambique/Tanzania)Rota do Lago-Costa

massa crítica do produto turístico, introduzo turista numa experiência mais ampla deMoçambique e cria oportunidades econó-micas em áreas populacionais. As Rotas são“jornadas do visitante” a nível nacional e osCircuitos são “jornadas do visitante” a ní-vel regional (entre países) em movimentosrelativamente circulares. Os turistas nãotêm necessariamente que seguir uma rotaou circuito desde o início até ao fim, mas

podem percorrer, de acordo com o tempoe orçamento disponível e os seus interes-ses, parte de uma rota ou circuito. A maio-ria das rotas turísticas em Moçambiquepode fazer parte de circuitos turísticos re-gionais.

A Tabela 14 apresenta as rotas propos-tas que deveriam ser desenvolvidas e pro-movidas dentro do prazo proposto nestePlano Estratégico.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

72

Rotas Turísticas do Sul

Circuito de Libombos Kosi Bay (AS) - Santa Lúcia (SA) - Ponta do Ouro – Reservade Elefantes de Maputo – Maputo – Namaacha – Suazilândia

Uma experiência única que combina praia, selva, património,desportos aquáticos, diversidade cultural, beleza de paisagem,actividades de interesse especial une Moçambique, Suazilândiae África do Sul.

Rota da “Costa das Lagoas” Ponta do Ouro – Reserva dos Elefantes de Maputo – Mapu-to - Xai-Xai – Inhambane – Vilankulos

Uma Rota da zona costeira sul de Moçambique que começaem Maputo ou mesmo na fronteira África do Sul/Moçambique,na Ponta do Ouro, e vem pela costa acima até Vilankulos/Arquipélago do Bazaruto. Esta Rota centra-se sobre o eco-turismo da zona costeira e liga os vários lagos da costa sul.ARota associa beleza de paisagem, praia, desportos aquáti-cos, ecossistemas e flora e fauna diversos (dunas e florestasde areia, lagos costeiros, aves, tartarugas, vida marinha, etc.)

Circuito bush-beach do Grande Limpopo (Joanesburgo) – Nelspruit - Parque Nacional de Kruger –Parque Nacional de Limpopo – (Pafuri – Parque Nacional deGonarezhou (Zim) – Mapai) – Parque Nacional de Banhine -Parque Nacional de Zinave - Vilankulos – Bazaruto –Inhambane– Xai-Xai – Bilene – Maputo

Uma rota excitante que reúne eco-turismo, cultura e costa.Capitaliza em fluxos existentes no KNP. Para muitos turistasinternacionais isto representará umas “férias de sonho” queliga o parque maior do mundo com as praias lindas e ilhastropicais de Moçambique. Partida em RSA (Joanesburgo ouNelspruit) ou seguir em sentido contrário, começando emMaputo.

Maputo – Bilene – Chokwe – Massingir – Parque Nacionalde Limpopo - Parque Nacional de Kruger (RSA) - Malelane –Komatipoort - Ressano Garcia – Maputo

Uma versão do Circuito do Grande Limpopo mais consoli-dada. Esta rota permite uma relativamente rápida inclusão deMoçambique no turismo regional e fornece ao visitante, de-pois de saborear a praia, um acesso directo ao ParqueTransfronteiriço do Grande Limpopo. Estabelece-se que sejauma rota circular com início e fim em Maputo.

Rotas Turísticas do Centro

Rota de aventura Moç/Zim Inhambane – Vilanculos – Gorongosa – Albufeira de Chicamba– Manica – Chimanimani –Zimbabwe

Virada para o mercado de backpackers e “viajantes de aven-tura”, a região centro já é uma “rota de passagem” a partirdas praias moçambicanas para o interior de África. O desafioconsiste em fornecer uma massa crítica de atracções já pron-tas para o mercado e facilidades e amenidades de turismo demodo a alargar o tempo de permanência. Devem ser criadasligações estratégicas que comecem a aproximar atracçõeslocais fortes aos itinerários dos visitantes , como é o caso deGorongosa e Chimanimani. A Rota Moç/Zim começa nas prai-as do sul de Moçambique e liga os destinos eco-turísticos aolongo do corredor da Beira com o interior do Zimbabwe viaMachipanda/Murare.

Rota de aventura Moç/Malawi Inhambane – Vilanculos – Gorongosa – Albufeira de Chicamba– Cahora Bassa – Tchuma Tchato – Malawi

Tal como acima, mas centrando-se na passagem para o Malawicom ênfase nos destinos de eco-turismo de Cahora Bassa eThcuma na Província de Tete.

Tabela 14 – Rotas Turísticas Nacionais e Circuitos de Turismo Regionais

Rota do Lipompo

(interior/costa)

Processos Fundamentaisde Implementação 73

Rota de Eco-turismo do centro Beira – Reserva de Marromeu – Parque Nacional de Gorongosa– Montanha de Gorongosa – Chimoio – Reserva deChimanimani – Albufeira de Chicamba – Manica – Beira

Uma rota circular que combina os destaques de eco-turis-mo das províncias de Sofala e Manica. Rica em aves e opor-tunidades de hiking, esta rota atrairá entusiastas de eco-tu-rismo.

Rota de Lagos do centro Beira – Albufeira de Chicamba – Chimoio – Tete – CahoraBassa – (Malawi –Lago Niassa)

Uma rota focalizada em eco-turismo que combina os “gran-des lagos da região centro” e do norte (Lago Niassa). A albu-feira de Chicamba é conhecida pelo peixe tilapia gigantesca,Cahora Bassa e famosa pela abundância e tamanho do peixetigre. Esta viajem pode ser estendida até ao Lago Niassa, querepresenta oportunidades magníficas para mergulhar na águadoce.

Rotas Turísticas do Norte

Rota de “Costa e Cultura” Nampula/Nacala - Ilha de Moçambique – Pemba – Quirimbas

A única rota de curto prazo no norte que liga a Ilha deMoçambique, património mundial da UNESCO, com as prai-as tropicais, ilhas virgens, águas quentes e recursos marinhosricos e vários. As oportunidades de eco-turismo nasQuirimbas e a experiência cultural de ilha do Ibo completamesta jornada de descoberta dos tesouros do norte deMoçambique.

Costa de “Shawili” Zanzibar – Bulawayo – Pemba (Tan) - Mtwara (Tan) – Palma– Mocímboa da Praia – Quirimbas – Pemba

Uma oportunidade de longo prazo que liga as experiênciascosteiras de Moçambique e da Tanzânia. O sucesso dependedo desenvolvimento da APIT do norte em Cabo-Delgado, oCorredor de Mtwara e o Circuito do sul da Tanzânia. A cul-tura dos povos da região e a rica tradição e história de co-mércio, as lindas praias e as oportunidades de desportosaquáticos constituem os elementos-chave desta rota.

Rota “Lago-a Costa” Pemba – Quirimbas – Reserva de Niassa – Lago Niassa

Uma rota de longo prazo que liga as águas quentes do Índicoàs águas doces do Lago Niassa. Uma versão consolidada des-ta rota, Pemba – Reserva de Niassa, ligando as praias tropi-cais de Cabo Delgado com a selva absoluta do Niassa já estáa funcionar, principalmente para caçadores e outros merca-dos de nichos. Actualmente existem constrangimentos rela-tivamente à infra-estrutura e será necessário fazer impor-tantes investimentos em estradas e tráfico aéreo.

Descoberta do norte Nacala/Ilha de Moçambique – Corredor de Nacala – Nampula– Gurue – Cuamba – Lichinga – Metangula – Reserva deNiassa – Palma – Quirimbas –Pemba – Nacala

Uma rota circular que liga todas as APITs do norte. As vastasdistâncias e a falta de infra-estrutura vai exigir uma rede aé-rea entre as APITs. A rota deve juntar cultura, praia e vidaselvagem.

Cada rota varia em termos de extensão, tem-po de viagem e infra-estrutura disponível.Contudo, o reconhecimento da oportunida-de destas rotas permite ao turismo comuni-

car as suas necessidades às autoridades detransporte e obras públicas para considera-ção e tomada de decisões relacionadas coma provisão de estradas e infra-estruturas.

6 Implementaçãodo PlanoEstratégico

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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6.1. Quadro deimplementação

O quadro de implementação prevê uma es-trutura e um sistema de implementação doPlano Estratégico. Identifica acções práticase pragmáticas e intervenções necessáriaspara guiar o desenvolvimento do turismodurante os próximos dez anos emMoçambique.

O Quadro de Implementação consistenum Modelo para o Desenvolvimento doTurismo em Moçambique, com cinco áre-as-chave de implementação e respectivosplanos de acção.

O Modelo para o Desenvolvimento doTurismo em Moçambique traça a contribui-ção estratégica para um desenvolvimentopróspero do turismo e integra as estratégi-as apresentadas na Estratégia para o De-senvolvimento do Turismo emMoçambique.As cinco áreas-chave para a implementaçãosão:• Estrutura Institucional e Administração

e Coordenação das APITs e ACTFs

• Planificação do Desenvolvimento Inte-grado

• Desenvolvimento dos Recursos Huma-nos

• Marketing

• Conservação

O Quadro de Implementação identifica osvários elementos e factores que influenci-am o desenvolvimento próspero do turis-mo e tem como fim a realização dos objec-tivos do Turismo numa visão mais ampla: aVisão 2025. Neste sentido, foram identifi-cados três processos fundamentais para aimplementação do Plano Estratégico: Pla-nificação Integrada, Marketing e Desenvol-vimento de Produtos.

Os elementos do Quadro deImplementação são os seguintes:

6. Implementação do Plano Estratégico

• Força dos Recursos

A força dos recursos-chave deMoçambique são: a qualidade das suaspraias e recursos litorais sem igual naÁfrica Austral, a diversidade e qualida-de do seu ambiente natural e recursosde fauna bravia, as oportunidades queestas providenciam para o desenvolvi-mento do turismo e a identidade cultu-ral de Moçambique, determinada pelasua herança, povos e história que dife-rem significativamente de outros paísesna África Austral. Estes recursos devemser apreciados, protegidos e continua-mente desenvolvidos para garantir ovalor da atracção de “DestinoMoçambique”.

• Factores de Base

Uma provisão mínima de infra-estrutu-ras de qualidade, conhecimento (esta-tísticas de turismo, migração, o impactoeconómico de turismo, pesquisa demercado, etc.), recursos humanos e umquadro institucional adequado (leis,governação, cooperação sectorial), esta-bilidade, segurança e recursos financei-ros são exigências para o desenvolvi-mento do Turismo. Sem uma provisãobásica destes factores, o desenvolvi-mento do turismo é efectivamente im-possível. Cabe à instituição responsávelpela supervisão do sector do turismoidentificar as necessidades básicas parao desenvolvimento de todos os facto-res de base e contribuir para o estabe-lecimento de planos nacionais para con-tinuamente desenvolver e melhorar osníveis de provisão desses factores. Aactualização dos factores de base é con-siderada uma prioridade, e o Plano Es-tratégico para o Desenvolvimento deTurismo aborda, no quadro deimplementação, as exigências do turis-mo para cada um deles.

Implementação doPlano Estratégico 77

Figura 19 – Elementos e Processos de Desenvolvimento do Turismo

• Participação

O desenvolvimento do turismo é umprocesso complexo, fundamentado nainteracção entre um grande número deintervenientes. O compromisso entreeles, o grau de envolvimento, a contri-buição e o assumir dos planos e proces-sos são fundamentais para um desen-volvimento sustentável do turismo. OPlano Estratégico para o Desenvolvi-mento de Turismo em Moçambique re-conhece a importância das comunida-des, do sector privado e do sector pú-blico a nível nacional, provincial edistrital em todos os sectores que inter-vêm no desenvolvimento do turismo, eorienta o papel que estas entidadesdevem desempenhar e como obter umamelhor coordenação e interacção entreeles.

• Princípios

As filosofias fundamentais que influen-ciam a política do turismo e o processode definição de estratégias foram iden-tificados como princípios. Estas incluempráticas de referência internacionalmen-te aceites que conduzem a uma admi-

nistração do turismo ambiental e soci-almente sustentável e responsável, bemcomo os modelos nacionais degovernação que afectam seriamente aestrutura do sector. “Turismo sustentá-vel”, “turismo pró-pobre”,“descentralização” e “integração regio-nal” foram identificados como os princí-pios fundamentais que influenciam odesenvolvimento sustentável do turis-mo em Moçambique. A filosofiasubjacente ao “Plano Estratégico para oDesenvolvimento de Turismo emMoçambique” é baseada nestes princí-pios, e os seus valores e influência es-tão reflectidos em toda a estratégia.

• Tendências Turísticas

As tendências do turismo são os padrõesdo consumidor e da indústria que de-terminam o mercado mundial de turis-mo e os tipos de produtos de turismoque as pessoas, de facto, procuram. Odesenvolvimento e marketing de produ-tos devem ser geridos de acordo comas preferências e necessidades dos con-sumidores de hoje, sendo também ne-cessária uma compreensão profunda

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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das necessidades futuras para o desen-volvimento futuro de novos produtos. OPEDTM baseia-se numa análise profun-da das preferências dos consumidores,dos produtos do turismo e tendênciaseconómicas e sociais a nível internacio-nal e regional.

• Processos-Chave de Implementação

A implementação dos processos-chaveconduzirá à realização dos objectivos doturismo. Estes processos-chave serãosuportados por processos de desenvol-vimento relativos a “factores de base”,participação efectiva entre comunida-des, sector privado e sector público, egestão e desenvolvimento efectivos da“Força dos Recursos”.

A “Planificação Integrada”, Marketing e “De-senvolvimento do Produto” são os proces-sos identificados como chave para o desen-volvimento do turismo em Moçambique. Osquadros na figura 18 detalham os conceitosbásicos dentro de cada um destes proces-sos-chave.

• Enfoque

As ACTFs (Áreas de ConservaçãoTransfronteira), APITs (Áreas Prioritáriaspara Investimento em Turismo) e as Ro-tas Turísticas são os pontos identifica-dos, no espaço, onde devem ser con-centrados os esforços para o desenvol-vimento de turismo. Um segundoconceito crucial para guiar as acções demarketing e para posicionar o país e de-senvolver um quadro institucional deadministração do sector, é o de “Regi-ões de Moçambique”. O país é muitovasto e diverso e não pode ser conside-rado e administrado como um únicodestino. As três regiões deMoçambique, o sul, o centro e o norteapresentam cada uma a sua própriaidentidade, forças de recursos, priorida-des de desenvolvimento e parceirosregionais. As áreas de “enfoque espaci-ais” e as “Regiões de Moçambique” sãoas plataformas espaciais para aimplementação do PEDTM.

• Destino Moçambique

O sucesso da implementação do PEDTMconduzirá à realização da “Visão do Tu-

rismo 2025” e os “Objectivos do Turis-mo”. Estes últimos definem os objecti-vos globais que se pretendem alcançarcom o desenvolvimento de um sector deturismo próspero e de um equilíbrio deinteresses económicos, sócio-culturais eambientais.

6.2. Quadro Institucionalpara o Desenvolvimentodo Turismo em APITs eACTFs

As Áreas Prioritárias para o Investimento emTurismo (APITs) e as rotas entre elas são ofundamento deste Plano Estratégico parao Desenvolvimento do Turismo. Transfor-mar o conceito de APIT numa realidade é odesafio principal e requer coordenação erecursos adequados aos níveis nacional,provincial e distrital.As principais tarefas associadas àimplementação do conceito das APIT são:• coordenação aos níveis nacional, provin-

cial e distrital;

• planificação do desenvolvimento inte-grado;

• padrões de arquitectura e construção;

• promoção de investimento; econsciencialização.

6.3. Planificação doDesenvolvimentoIntegrado

A Planificação do Desenvolvimento Integra-do (PDI) é um dos processos centrais queconduzirão ao desenvolvimento prósperodo turismo em Moçambique. A PDI preten-de promover o desenvolvimento de todosos sectores de uma forma integrada epriorizada. É um processo genérico quepode ser aplicado em qualquer sector, masquanto mais sectores agregar mais sentidoterá a integração. Para tal deve:• unir, integrar e coordenar os planos ten-

do em conta as propostas para o desen-volvimento da área;

• harmonizar os recursos e capacidadesda autoridade responsável com aimplementação do plano;

Implementação doPlano Estratégico 79

• formar o quadro das políticas e criar umabase geral para orçamentação.

As vantagens da implementação da PDIcomo um processo comum a todas as par-tes são: maior facilidade de definir metascomuns, de integrar, partilhar recursos ealcançar sinergias. Não é um processo a seroperacionalizado apenas por uma institui-ção. É um processo integrador que deve serinstitucionalizado por todas as partes deforma que, em conjunto, possam alcançarmetas comuns que, de contrário, não seri-am alcançadas. Para ser efectiva, a PDI pre-cisa de ser defendida por uma “instituiçãolíder” que pode ser responsável pelo pro-cesso global, operando com o apoio e com-prometimento de organizações parceiras.Apesar de o turismo não ser responsávelpela planificação do desenvolvimento, de-vido à sua natureza espacial, o desenvolvi-mento controlado e planificado a nível dodestino é de importância extrema para umcrescimento coordenado do sector. É papeldo MITUR assegurar que o turismo seja in-tegrado nas políticas gerais a nível nacio-nal, provincial e distrital e nos processosde planificação e desenvolvimento de es-tratégias, bem como promover e defenderos Processos de Planificação do Desenvol-vimento Estratégico nos distritos, municí-pios e províncias, especialmente nas áreascom elevado potencial turístico.

• O sector considera a Planificação doDesenvolvimento Integrado a base parao desenvolvimento controlado e alcan-ce dos padrões internacionalmente acei-tes no turismo.

• O MITUR, não sendo uma instituição lí-der na implementação do PDI, terá, con-tudo, um papel fundamental no desen-volvimento de uma cultura de PDI e napromoção e defesa dos seus princípiosaos níveis nacional, provincial e local;

• Definiu-se uma gama de directrizes re-lativas à planificação integrada do turis-mo a nível nacional, à planificação inte-grada do turismo aos níveis provinciaise distritais e ao zoneamento (Cf. Políti-ca de Turismo e Estratégia da suaImplementação, Abril, 2003). O sectorconsidera a implementação destas di-rectrizes uma prioridade;

• O Turismo apoiará tanto quanto possí-vel as iniciativas do PDI e as agênciasimplementadoras. Evitará a duplicaçãode esforços ou criar processos de PDI “sódo turismo”. O Turismo apoiará e, ondefor possível, fortalecerá os processos dePDI existentes e implementados peloMICOA, através dos CDSs e dos proces-sos da Avaliação Ambiental Estratégica,que conduzem a propostas de macro-zoneamento nos distritos e municípios;

• A administração central do turismo pro-move a descentralização em processosdo PDI e apoiará iniciativas locais dePDI, providenciando, sempre que pos-sível, a direcção, orientação ecapacitação ao nível local para assegu-rar a inclusão do turismo nos processosdo PDI.

6.4. Desenvolvimento deRecursos Humanos

Moçambique é um país que se encontra emfase de recuperação de um longo períodode instabilidade social e económica e odesenvolvimento de recursos humanos éreconhecido como prioridade nacional.Existem fragilidades em matéria de expe-riência e especialização nos sectores públi-co e privado que precisam de ser supera-das para que o país usufrua dos dividen-dos do seu potencial, transformando-senum destino turístico de nível internacio-nal. Em sintonia com as prioridades nacio-nais, a formação e educação e o desenvol-vimento de recursos humanos no sector doturismo, conservação, hospitalidade e áre-as relacionadas são, por isso, consideradosfundamentais para o desenvolvimento doturismo em Moçambique.

6.4.1. Estratégia para oDesenvolvimento deRecursos Humanos noTurismo

A estratégia para o desenvolvimento derecursos humanos no turismo identifica doisdesafios principais a enfrentar. O primeirorelaciona-se com a necessidade de compe-tir, com sucesso, na economia global, carac-terizada por competição crescente e

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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globalização. O segundo relaciona-se coma necessidade de eliminar a pobreza e defazer face às questões das desigualdades.Assim sendo, o desafio que o país enfrentano sentido de se transformar num destinoturístico tem duas vertentes. Em primeirolugar, refere-se a como oferecer experiên-cias de turismo iguais às melhores do mun-do. Em segundo, trata-se de canalizar ospotenciais benefícios económicos e sociaisdo turismo para a vasta gama debeneficiários, tanto quanto possível, emparticular para os mais necessitados emtermos de acesso a oportunidades econó-micas.

A falta generalizada de capacidade dosrecursos humanos é em parte reflexo dofacto de ser um sector de turismo relativa-mente jovem, de uma falta de operadoresde maior dimensão com experiência inter-nacional para fazer a diferença, mas tam-bém da falta de programas de formação ede qualificações formais. O nível actual deformação é insuficiente e muitos dos pe-quenos operadores não têm absolutamen-te nenhuma educação formal. Comoconsequência disto, o nível de serviços e aqualidade dos produtos são geralmentebaixos. A capacidade técnica eorganizacional no sector público é tambémmuito fraca. Criado em 2000, o Ministériode Turismo é ainda relativamente novo,enfrentando falta de pessoal nos níveis na-cional e provincial, enquanto os níveis decapacidade técnica são também baixos.Existe a necessidade urgente decapacitação a todos os níveis de formaçãoe de desenvolvimento de habilidades pro-fissionais em todos os organismos funcio-nais e provinciais.O desenvolvimento de recursos humanosconstitui uma pedra angular para vencer osdesafios do processo de edificação do des-tino turístico. Três requisitos são fundamen-tais para se erguer um destino turístico desucesso:1) uma força de trabalho, no sector do tu-

rismo, competente e motivada;

2) desenvolvimento de habilidades, for-mação e desenvolvimento de carreiras;e

3) funcionários do Governo com capacida-de e vontade para implementar os ob-jectivos do turismo e maximizar os be-

nefícios económicos e sociais para apopulação.

O alcance das metas acima indicadas irádeterminar o rumo do desenvolvimento dosector do turismo em Moçambique, nãoapenas nos próximos cinco anos, mas tam-bém num futuro próximo.Com base naquelas metas, são delineadosos seguintes objectivos estratégicos paraguiar o quadro de implementação da es-tratégia para o desenvolvimento de recur-sos humanos em turismo:• investir nas pessoas para assegurar o

crescimento do turismo;

• promover o emprego de nacionais comos mais diversos níveis de formação noturismo e sectores relacionados, inclu-indo áreas de conservação e sectoresvocacionados para apoiar o seu desem-penho, recorrendo à formação ecapacitação;

• adoptar medidas apropriadas de modoa dar resposta às questões de oferta demão-de-obra e implementação dos pa-drões nacionais de formação e educa-ção de habilidades;

• comprometer-se a desenvolver e a in-vestir num sistema de educação queconduza à auto-suficiência e redução dadependência em relação à mão-de-obrae habilidades importadas;

• desenvolver recursos humanos qualifi-cados para a gestão e fiscalização dasÁreas de Conservação; tendo em contaa importância das Áreas de Conservaçãopara o sector de turismo e a importân-cia de um turismo baseado nos recur-sos naturais e de fauna bravia,

• apoiar o envolvimento do sector priva-do e instituições com ele relacionadas,na disponibilização de educação e deformação.

A estratégia para o desenvolvimento derecursos humanos em turismo baseia-se nas10 áreas focais, que influenciam os objecti-vos de “desenvolvimento de um destino deexcelência” e “desenvolvimento humano”.Estas áreas focais identificadas foramtraduzidas em metas estratégicas quenortearão o processo de desenvolvimentodos recursos humanos nos próximos cincoanos.

Implementação doPlano Estratégico 81

Figura 20 – Áreas de Focais da Estratégia para o Desenvolvimento de Recursos Humanos noTurismo

6.5. MarketingMoçambique ainda tem um longo caminhopara se posicionar como destino turísticointernacional. A percepção pública em re-lação a Moçambique ainda é afectada porum passado de instabilidade política, de-sastres naturais, problemas sócio-económicos e, infelizmente, os atractivosnaturais e culturais ainda têm pouca influ-ência na imagem pública do país. Mudarestas percepções através do marketing vailevar algum tempo. O marketing deve serempreendido como um processo paraleloao desenvolvimento de produtos e provi-são de infra-estruturas melhoradas. Nota-se, no entanto, que o esforço de marketingnacional ainda é bastante modesto, comuma capacidade institucional ainda porconstruir e uma base fraca de recursos hu-manos e financeiros disponíveis. Poucoapoio e orientação são, por enquanto,disponibilizados para acções regionais eprovinciais de marketing, mas nenhuma mar-ca nacional ou imagem de marketing

abrangente foi já construída para o país epara as suas regiões.

A Política e a Estratégia do Turismo re-conhecem a importância do marketing paraa promover o crescimento do turismo. Osector pretende criar esquemasinstitucionais adequados que visem esta-belecer um enfoque renovado do marketinge um envolvimento maior do sector priva-do.

O quadro de implementação enfatiza aimportância de três princípios que deveri-am suportar o esforço de marketing emMoçambique, nomeadamente (1) asegmentação do mercado, (2) atribuição deuma marca e diversificação da imagem dasregiões de Moçambique, e (3) o uso detecnologias de informação e comunicação.

Os segmentos de mercado estratégicos(nichos estratégicos e mercados emissoresestratégicos), as regiões do país e as rotasde turismo são conceitos fundamentais noquadro do marketing nacional. Estes foramresumidos na Tabela 13.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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Tabela 15 – Enfoque Estratégico do Marketing para Moçambique

Sumário do Enfoque Estratégico do Marketing para Moçambique

Segmentos de mercado Doméstico (1) Negócios, (2) Lazer, (3) MICE.

Regional (1) Negócios, (2) Lazer, (3) MICE, (4) Interesse especial.

Internacional (1) Amigos e Familiares (VFR), (2) Lazer, (3)Negócios, (4) Interesse especial.

Ni chos Mergulho, Eco-turismo, Observação de pássaros, Caça, Hiking, Aventura,Cruzeiro, Pesca de alto mar, ilhas e sol, praia e mar exclusivo.

Mercados emissores 1. “Mercados naturais”: mercado doméstico, Portugal, África do Sul,Zimbabwe, Suazilândia.

2. Mercados de nicho: Espanha, Itália, Reino Unido, Alemanha, EUA,Países Baixos.

3. Mercados de Sinergia Emergentes: Brasil, Arábia-Saudita, UAE, Angola.

Regiões de Moçambique Sul Regional/Doméstico: sol, praia e mar e desportosaquáticos. Mercado internacional, abordagem denicho: mergulho, eco-turismo e cultura.

Centro Abordagem de nicho para todos os mercados quefocaliza a aventura e o eco-turismo. Para mercadosregionais e domésticos perto também negócios ecomércio e sol, praia e mar.

Norte Destino exclusivo para segmentos de alto rendimento,com enfoque no mercado internacional. Imagem exclusiva de um destino de praia e ilhas com influência cultural forte. Nichos de eco-turismo para os produtos “daselva intacta” de Niassa e interior de Cabo Delgado.(eco-turismo de luxo, aventura, backpackers, caça).

6.5.1. Estratégia de MarketingCom vista a promover o desenvolvimentode uma estratégia abrangente de marketingpara o sector, foram traduzidos os princípi-os e directrizes estabelecidos na Política.As avaliações avançadas neste plano resul-tam em seis objectivos de marketing queformarão o esqueleto da Estratégia deMarketing para o país:• Objectivo Um: Mercados Alvo e Planifi-

cação Estratégica – identificar os merca-dos principais alvo e delinear estratégi-as com vista a motivar esses mercadosa visitarem o país, aumentarem os gas-tos e prolongarem o tempo de estadia.

• Objectivo Dois: Desenvolvimento deProdutos e Organização em Pacotes –determinar os pontos fortes dos produ-tos, encorajar o desenvolvimento denovas qualidades nessas áreas, organi-zar os produtos em pacotes de formaapropriada para os mercados alvo econsciencializar as comunidadesreceptoras.

• Objectivo Três: Marca e Posicionamento– cristalizar os pontos exclusivos que

tornam Moçambique diferente ecomercializável; desenvolver uma per-sonalidade clara e características damarca a serem consistentementecomunicada e facilitar uma imagem demarca muito forte.

• Objectivo Quatro: Serviços ao Visitantee Prestação de Serviços – desenvolveruma série de brochuras com marca con-sistente e peças de comunicação dese-nhadas com metas de mercado e objec-tivos claramente identificados.

• Objectivo Cinco: Promoção e RelaçõesPúblicas – projectar uma imagem posi-tiva de Moçambique, recorrendo à pro-dução de material promocional que sejainspirador e encoraje as pessoas a ex-perimentarem o país como destino tu-rístico.

• Objectivo Seis: Parcerias e Cooperaçãopara a Promoção – desenvolver campa-nhas cooperativas de promoção, acor-dos de parceria e encorajar a coopera-ção na indústria.

Implementação doPlano Estratégico 83

6.5.2. Orientação do EnfoqueEstratégico

• O marketing é considerado um instrumen-to estratégico para influenciar o cresci-mento do turismo e o sector deverá cri-ar mecanismos institucionais adequadosque visam estabelecer um enfoque re-novado em marketing e a criação de par-cerias com o sector privado no marketing(Política e Estratégia do Turismo).

• O marketing só é efectivo quando associ-ado ao processo de desenvolvimentoparalelo do produto e à provisão deinfra-estruturas. As três linhas estratégi-cas de produto, baseadas na água, nanatureza e nas pessoas e experiênciasculturais e urbanas proporcionam a pla-taforma para o desenvolvimento do pro-duto e do marketing nacional de turismo(Política e Estratégia do Turismo).

• O sector definiu uma gama de directri-zes relativas ao marketing do turismo.Estas definem os objectivos globais (au-mento das chegadas, duração prolonga-da das visitas e, ultimamente, um au-mento das receitas do turismo),enfatizam as necessidades de enfoque,em termos técnicos, sobre os mercados-alvo e reconhecem o papel do sectorprivado no desenvolvimento de acçõesde marketing turístico. Deve-se estabe-lecer um quadro institucional efectivopara dinamizar as acções de marketing(Política e Estratégia de Turismo).

• O sector definiu a necessidade da cria-ção de um órgão consultivo para a coor-denação da promoção turística. Defen-de a criação de um órgão multi-sectorial,constituído por elementos do sector pri-vado e público, para o reforço e coorde-nação das iniciativas e estratégias vira-das para o fortalecimento do produtoturístico nacional (Política e EstratégiaTurismo).

• As linhas de produtos estratégicas paraMoçambique são: (1) sol, praia e mar edesporto aquático, (2) eco-turismo e tu-rismo de aventura e (3) turismo basea-do na cultura e no ambiente urbano.

• Os esforços de marketing para os merca-dos principais basear-se-ão em duasabordagens principais, nomeadamenteo enfoque nos mercados emissores es-

colhidos e o enfoque nos mercados denicho seleccionados (ex.: mergulho,caça, eco-turismo, observação de pás-saros, cultura, etc.).

• Serão desenvolvidos perfis de marketingseparados para as três regiões deMoçambique (sul, centro e norte). Operfil de marketing para o sul enfatiza oturismo litoral e os desportos aquáticos;o do centro realça o eco-turismo e aaventura, e o do norte o turismo exclu-sivo de praia e cultura.

• As regiões são o nível privilegiado paraos esforços de marketing nacional. En-quanto algumas acções de marketing se-rão dirigidas ao nível nacional, num paístão vasto e diversificado como éMoçambique, as acções mais concretasdeverão ser desenvolvidas ao nível re-gional para daí constituírem um enrique-cimento aos resultados de âmbito naci-onal.

• O fortalecimento da capacidade demarketing ao nível regional realçando aintegração regional, constitui uma prio-ridade.

• A identificação e o marketing de rotas éum conceito poderoso de desenvolvi-mento do turismo. O desenvolvimentode rotas de turismo é um conceito fun-damental para a implementação destePlano Estratégico. As APITs são mais umconceito administrativo e de planifica-ção e, individualmente, não serão pro-movidos como “marcas” para os consu-midores, enquanto que as rotas e os cir-cuitos constituem veículos importantespara o marketing nos níveis nacional eregional (África Austral).

• Moçambique considera a integração re-gional entre os países da região australde África uma condição para o desen-volvimento próspero do turismo no con-tinente africano. Moçambique terá umpapel activo e principal em iniciativasde marketing regional.

• A oportunidade para implementar as li-gações bush-beach constitui uma vanta-gem estratégica para Moçambique naregião. Onde for apropriado, as iniciati-vas nacionais e regionais de marketing,devem realizar e promover esta mensa-gem.

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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• Usar melhor as tecnologias de informa-ção no marketing (web-sites, sistemas dereserva on-lines, bancos de dados deturismo, etc.).

6.6. ConservaçãoHabitat e recursos naturais são a base parao turismo em Moçambique. A procura eoferta actuais de serviços do turismo encon-tram-se concentrados nas zonas costeiras –proporcionando uma base segura sobre aqual podem ser desenvolvidos mercadosexistentes. O potencial real depende davalorização do vasto potencial existente nasáreas interiores do país, onde grandes efec-tivos de fauna bravia existiam até há algu-mas décadas. Parques Nacionais, como oda Gorongosa, eram mundialmente conhe-cidos devido à sua fauna bravia abundan-te, e eram a “bandeira” do seu sistema deconservação. Com uma atenção adequada,investimento e gestão inovadora eparticipativa, Moçambique pode restabe-lecer o seu potencial de fauna bravia.

Quase todas as populações principaisda chamada mega-fauna carismática de Áfri-ca – as abundantes e espectaculares espé-cies de animais selvagens de grande portecomo o elefante, o leão, o búfalo, a girafa, azebra, o hipopótamo, etc. – em conjuntocom outros elementos associados a expe-riências culturais e exóticas como a dosMassai, Zulus e outros grupos tribais da re-gião austral e oriental de África, constituiuma vantagem competitiva que nenhumaoutra região do mundo pode oferecer. É oúnico ponto de venda e Moçambique pre-cisa de desempenhar um papel fundamen-tal neste mercado. Mas para tal precisa ur-gentemente de reabilitar os seus efectivosde fauna bravia.

As tendências globais do turismo indi-cam que os nichos de mercados orientadospara a aventura e fauna bravia são algunsdos sectores de turismo em crescimentomais rápido, visto haver uma tendênciacrescente de turistas provenientes do he-misfério norte para visitarem lugares inte-ressantes e exóticos. Portanto, é urgente de-senvolver o sector de fauna bravia para res-ponder a esta procura. Contudo, isto nãopode acontecer sem uma abordagem estra-tégica para a reabilitação rápida da faunabravia em áreas apropriadas do país, usan-

do o sector privado como impulsionador doprocesso.

Muitas das áreas interiores do país pos-suem um potencial agrícola limitado, e coma indústria e o comércio pouco desenvolvi-dos em muitas províncias, as perspectivasde promover o crescimento económico e odesenvolvimento nestas áreas é muito li-mitado, daí que o turismo baseado na na-tureza constitua uma opção viável caso seconceda a devida atenção e recursos.

6.6.1. Estratégias de Conservaçãopara o apoio doDesenvolvimento doTurismo em Moçambique

As estratégias de conservação específicaspara apoiar o desenvolvimento do turismoem Moçambique durante os próximos dezanos são as seguintes:

6.6.1.1. Consolidação da Gestão dosPrincipais Recursos Naturais

O presente estágio do desenvolvimento doturismo e assentamentos urbanos ao longoda zona costeira é alarmante, e requer, por-tanto, uma planificação e gestão cuidado-sas. As áreas marinhas protegidas e a costasão especialmente sensíveis, visto queabrigam colecções ecológicas frágeis ebiodiversidade importante e precisam deser geridas para evitar qualquer desenvol-vimento que possa ter efeitos adversos.Cerca de 80% da superfície terrestre do paísestá coberto de floresta de savana natural.

Assim, a gestão dos recursos naturaisselvagens, incluindo os costeiros e mari-nhos, deve ser melhorada e consolidadanum quadro de gestão de recursos naturaisno país que tome em atenção a necessida-de de promover uma abordagemestruturada na definição de políticas, regu-lamentação, administração e coordenaçãodas actividades relativas a conservação.

6.6.1.2. Melhoramento da Qualidadede Produtos e ServiçosRelacionados com aConservação

A ausência de regulamentos paraoperacionalizar as várias Leis e Decretospara apoio às actividades nas áreas de con-servação no país é um dos constrangimen-

Implementação doPlano Estratégico 85

tos de momento. São necessários regula-mentos específicos para cada área de acti-vidade, nomeadamente:• Regulamentos e Directrizes sobre de-

senvolvimento e uso turístico das áreasmarinhas e costeiras protegidas Regu-lamentos e Directrizes sobre actividadesde caça desportiva

• Regulamentos e Directrizes sobre Ges-tão Comunitárias dos Recursos Naturais(GCRN)

• Regulamentos e Directrizes sobre admi-nistração e comercialização de animaisvivos;

• Regulamentos e Directrizes sobre con-cessões e oportunidades de investi-mentos em áreas de conservação espe-ciais, i.e., Parques e Reservas Nacionais.

6.6.1.3. Reabilitação Rápida da FaunaBravia nas Áreas deConservação

Dado o reduzido efectivo da fauna bravianas áreas de conservação do país e em ter-ras comunitárias, é necessário acelerar a suareabilitação em locais apropriados.

Uma campanha específica deverá serlançada para atrair o sector privado, doa-dores e outros parceiros com vista a suaparticipação no repovoamento faunísticonas áreas comunitárias, através de activida-des tais como fazendas de caça e áreas deconservação em áreas apropriadas para agestão de fauna bravia, oferecendo incen-tivos de investimento especiais. Tais incen-tivos serão pesquisados e testados em pro-jectos-piloto na ACTF do Grande Limpopo,para servirem de modelos que permitamassegurar que as comunidades obtenhambenefícios equitativos para o melhoramen-to do seu modo de vida, e que o país nãoseja prejudicado pela implementação detais projectos ou incentivos. Os modelosbem sucedidos serão implementados nou-tras províncias do país. Esta acção estraté-gica será vista como prioritária.

O local ideal para um projecto-piloto éo Parque Nacional da Gorongosa. Situadono centro do país, Gorongosa tem váriasvantagens para essa escolha: o seu tama-nho com habitats naturais diversos; ricosrecursos de água; boas estradas de acessoao Parque; rede razoável de estradas inter-nas; bons núcleos de fauna bravia para im-

pulsionar a reprodução; boas áreas para odesenvolvimento de chalés e acampamen-tos turísticos; corredores naturais adjacen-tes para facilitar o movimento e crescimen-to da população faunística; por fim, a suaproximidade à cidade da Beira.

6.6.1.4. O Papel das ACTFs noDesenvolvimento do Turismo

Através das APITs, a meta primária das áre-as de conservação é providenciar oportu-nidades de recreação de alta qualidadepara apoiar o crescimento do turismo.Dado o alto perfil alcançado nos últimosanos pela ACTFGL,ha uma necessidade decontinuar a desenvolver esforços com vis-ta ao fortalecimento das ACTFs já criadas(Libombo, e Chimanimani) ACTFs poderãoser planificadas e desenvolvidas onde forpossível e considerado apropriado. A Re-serva do Niassa , o Parque Nacional dasQuirimbas, o Lago Niassa, bem como aACTF do ZIMOZA devem receber umaatenção especial.

6.6.1.5. Estabelecimento de NovasÁreas de Conservação

Dada a baixa densidade humana em algu-mas áreas, a promulgação de áreas de con-servação novas é uma opção importantepara aumentar as oportunidades de desen-volvimento e preservação dos recursos. Aproclamação de Locais de Herança Cultu-ral Mundial (caso da Ilha Moçambique)como Áreas de Conservação deve serprevilegiada por outro lada há tambémoportunidades significativas para estabele-cer áreas da Categoria VI da UICN, que sur-gem de iniciativas de CBNRM.

6.6.1.6 Fortalecimento e Expansãoda Indústria de CaçaDesportiva

As operações de caça desportiva têm opotencial de se tornarem uma boa fonte dereceitas, especialmente nas áreas de GCRN.Contudo, a indústria de caça desportiva emMoçambique não está bem desenvolvida,se comparada com a Tanzânia, Zimbabwee África do Sul.

• Realização de sensos anuais nafauna bravia

• Envolvimento de operadores decaça na promoção e comercializaçãoda Indústria

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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• Elevar o estágio da caça ao nívelmundial

• Adoptar Plataforma de articulaçãoa desenvolver entre o sector públi-co e privado

• Regulamentação e monitoria dasactividades de caça

• Zoneamento para identificação denovas áreas potenciais para caça

6.6.1.7. Promoção de Processos deGCRN no País

As Áreas de Conservação Comunitárias sãouma componente fundamental para o de-senvolvimento de uma base de turismo nopaís, especialmente as ligadas às ACTFs. Osprocessos de GCRBN provaram ser efecti-vos ao facilitarem uma grande participaçãodas comunidades em assumir responsabi-lidades de gestão dos recursos naturais,particularmente nos países da região aus-tral de África. Esta é a oportunidade funda-mental para aproveitar este potencial emMoçambique e, assim, acelerar a reabilita-ção da fauna bravia nessas áreas. É tam-bém uma oportunidade para assegurarque a gestão de ecossistemas e práticasde uso sustentáveis sejam divulgadas emtodo o país.

Acções concretas com vista a encorajaras comunidades a desenvolverem capaci-dades para adoptar abordagens e práticasde GCRN, de acordo com o potencial dosrecursos naturais na sua região. Isto serãoimplementados através de estruturas e co-ordenados a nível provincial.

Dever-se-à facilitar e promover o de-senvolvimento de acordos de empreendi-mentos conjuntos entre as comunidades eo sector privado, assegurando simultanea-mente e sempre que possível, que direi-tos das comunidades sejam protegidos eestas obtenham benefícios equitativos ejustos. Os parceiros, juntamente com asestruturas provinciais, também deverão serencorajados a facilitar o acesso das comu-nidades aos mercados, de forma a que elasrecebam lucros equitativos do investimen-to pelos seus produtos e serviços.

6.6.1.8. Benefícios das ConvençõesInternacionais

Moçambique é signatário de muitas Con-venções Internacionais relativas à conser-

vação (Ver Secção 6.1.3). Este estatuto pro-videncia muitas oportunidades para obterfundos de doadores para facilitar aimplementação das actividades de conser-vação, especialmente as relativas à gestãode biodiversidade e CBNRM.

A participação nas funções deimplementação de convenções internacio-nais é, por si só, um exercício de aprendi-zagem e capacitação, aproveitando ao mes-mo tempo a oportunidade para influenciara direcção desses órgãos no futuro.Assim,havera necessidade de se encorajar os par-ceiros nacionais (i.e., instituiçõesacadémicas nacionais) a participarem acti-vamente na Comissão da UICN sobre Par-ques Nacionais e Áreas Protegidas (CNPPA),na Comissão da UICN sobre Gestão deEcossistemas, no Grupo da UICN de Espe-cialistas da Região sobre Uso Sustentável,na Comissão da UICN na CBD, e nas CITIES.

6.6.1.9. Orientação do EnfoqueEstratégico para aConservação

• Adopção de abordagens modernas degestão nas organizações responsáveispela administração de áreas de conser-vação.

• Melhoramento e desenvolvimento deprodutos e serviços turísticos relativosà conservação, para apoiar os objectivosdo turismo.

• Aceleração do repovoamento da faunabravia em parques e reservas seleccio-nados, em cooperação com os parceiros.

• Consolidação e expansão das Áreas deConservação e ACTF para o desenvolvi-mento turístico efortalecimento na coo-peração com os países vizinhos

• Fortalecimento da indústria de caçadesportiva através de operações melho-radas, marketing, regulamentos, controloe atribuição de preços competitivos detrofeus.

• Encorajamento e apoio a iniciativas deGCRN no país com o objectivo de pro-mover uma participação mais activa eefectiva das comunidades e PMMEs, in-cluindo parcerias e joint-ventures com osector privado;

Implementação doPlano Estratégico 87

6.7. Planos de AcçãoO Quadro de Implementação proporcionadirectivas estratégicas para as seguintesactividades, consideradas fulcrais para aimplementação do PEDTM:• Planificação Organizacional e Financei-

ra

• Planificação Física

• Conservação

• Promoção do Investimento

• Estabilidade e Segurança

• Integração Regional

• Marketing e Relações Públicas

• Desenvolvimento de uma Cultura deTurismo

• Estatísticas e“Contas Satélites do Turis-mo”

• Gestão e Desenvolvimento de RecursosHumanos

• Envolvimento das comunidades e par-ticipação das PMMEs

• Regulamento e Controlo.

Os planos de acção planeiam as activida-des detalhadas a realizar em cada área fo-cal a nível nacional, regional interno e pro-vincial durante os próximos cinco anos.

6.7.1.1. Planificação Organizacional eFinanceira

Estratégia: Melhorar a operacionalidade(eficácia) institucional do MITUR

• Planificação Institucional• Elaboração de planos de trabalho e or-

çamentos anuais• Procura de Financiadores• Criação de Comités de Facilitação Tu-

rística a níveis provinciais• Implementação e Coordenação de

APITs

6.7.1.2. Planificação FísicaEstratégia: Aumentar o investimento emprodutos e serviços no sector do turismo,proporcionando apoio eficiente e efectivode planificação ao sector privado, e facili-tação de uma provisão melhorada de infra-estruturas.• Planificação do desenvolvimento inte-

grado

• Elaboração de Directrizes e Padrões

para a concepção, arquitectura e cons-trução no sector do turismo

• Desenvolvimento de Rotas Turísticas

• Liberalização dos Transportes Aéreos

• Construção de Infra-estruturas

• Rede de Transportes Rodoviários, Fer-roviários e Marítimos e Infra-estruturas

6.7.1.3. ConservaçãoEstratégia: Trabalhar com o sector privado,parceiros e doadores, para reabilitação dosprocessos de conservação e das áreas deconservação em Moçambique.• Rápida Reabilitação da Fauna Bravia

• Construção e Reabilitação de Infra-Es-truturas

• Administração das Áreas de Conserva-ção

• Administração dos Recursos Marinhos

• Criação de Novas Áreas de Conservação

• Concessões

6.7.1.4. Promoção de InvestimentoEstratégia: Consolidar os processos e pro-cedimentos de investimento para o turis-mo e criar oportunidades atraentes parainvestidores credíveis.• Promover Investimento Nacional

• Promover o Investimento nas ÁreasPrioritárias

• Estabelecimento de Projectos Âncora

6.7.1.5. Estabilidade e SegurançaEstratégia: Colaborar com a polícia, organi-zações civis e comunidades por forma a criarum ambiente mais seguro para os turistase investidores.• Colaborar com a polícia e autoridades

provinciais e organizações comunitárias

• Campanha de Segurança Nacional

• Campanha de Consciencialização Naci-onal

6.7.1.6. Integração RegionalEstratégia: Formar alianças estratégicas compaíses vizinhos e organizações relevantes,desenvolvendo sinergias e integrando pla-nos e acções.• Planos e Estratégias Regionais

Plano Estratégicopara o Desenvolvimentodo Turismo em Moçambique(2004 - 2013)

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• Promover Alianças e Parceirias com Go-vernos Vizinhos e Sectores-Chave

6.7.1.7. Marketing e Relações PúblicasEstratégia: Trabalhar com planos e estraté-gias de marketing bem definidos eoptimizar o uso das tecnologias de comu-nicação e informática com objectivo depriorizar os mercados estratégicos identifi-cados e melhorar a imagem deMoçambique como destino turístico.• Estratégia de Marketing

• Mercados de Nicho Estratégicos

• Mercados Emissores Estratégicos

• Mercado Doméstico

• Centros de Informação de Turismo

• Eventos e Feiras da Indústria

• Comunicação Electrónica e Informática

• Marketing das Regiões de Moçambique

• Relações Públicas e Media

• Adquirir Facilidades de Escritórios Apro-priados

6.7.1.8. Desenvolvimento de umaCultura de Turismo

Estratégia: Usar os media e a comunicaçãosocial para promover campanhas desensibilização e consciencialização sobre oturismo, direccionadas para todos osintervenientes e público geral, mostrandoos benefícios económicos e sociais deriva-dos do apoio e do aumento dos processosde turismo.• Quantificar os Benefícios de Turismo

através da Conta Satélite de Turismo

• Campanhas de Consciência sobre o Tu-rismo

• Criar uma Instituição Promotora do Tu-rismo

6.7.1.9. Estatísticas e Conta Satélitedo Turismo

Estratégia: Desenvolver um banco de da-dos nacional detalhado e inclusivo comobjectivo de gerir a Conta Satélite de Tu-rismo nacional, como meio de identificar equantificar o impacto económico do turis-mo na economia do país.• Análise das necessidades preliminares

• Estabelecimento da coordenação e dos

sistemas inter-sectoriais, conforme osrequisitos da Conta Satélite do Turismo

• Desenvolver uma capacidade de reco-lha de dados no turismo e sectores re-lacionados

• Recolher e analisar e produzir dados daConta Satélite do Turismo

6.7.1.10. Gestão e Desenvolvimentode Recursos Humanos

Estratégia: Aumentar a habilidade doMITUR e da indústria do turismo e relacio-nados para proporcionar produtos e servi-ços de turismo de alta qualidade, atravésde quadros qualificados e capazes.• Fortalecimento institucional do MITUR

• Formação e Educação

6.7.1.11. Envolvimento dasComunidades e participaçãodas PMMEs

Estratégia: Permitir uma participação acti-va das comunidades de modo que benefi-ciem mais através dos processos de turis-mo, criando um ambiente apropriado paradesenvolverem empreendimentos e negó-cios.• Programas de Turismo Comunitário

• Programas de micro-finanças

• Capacitação

6.7.1.12. Regulamento e ControloEstratégia: Aperfeiçoar os lucroseconómicos e sociais do turismo, a curto elongo prazo, desenvolvendo eimplementando sistemas de administraçãoe mecanismos reguladores mais efectivos.• Legislação e Regulamentos

• Planificação integrada

• Capacidade para fiscalização

• Processos de Concursos e Concessões

Com o apoio financeiro da Agência Australiana para o Desenvolvimentoe Banco Mundial