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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

SECRETARIA DE ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL E CIDADANIA AMBIENTAL

DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS

Estratégia de Implementação do 2º Ciclo do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis

Apresentação

1. Introdução

1.1 A questão da PCS no Brasil

1.2 Diagnóstico Geral

2. Antecedentes e contexto internacional

2.1 Processo de Marrakesh

2.2 Rio + 20 e O Futuro que Queremos

2.3 Marco Decenal de Programas de Produção e Consumo Sustentáveis

(10YFP)

2.4 Agenda de Desenvolvimento 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável

2.5 Estratégia Regional de Produção e Consumo Sustentáveis

2.6 O Mercosul e a agenda de produção sustentável

3. Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis - PPCS

3.1 Princípios

3.2 Diretrizes

3.3 Estratégia

3.4 Objetivos

3.5 Prioridades 1º Ciclo de Implementação (2011 – 2014)

3.6 Resumo dos Resultados do 1º Ciclo

4. Produção e Consumo Sustentáveis no Brasil

4.1 PCS, erradicação da pobreza, equidade e objetivos de desenvolvimento

4.2 PPCS e as políticas e programas setoriais

4.3 Responsabilidade Socioambiental

4.4 Perspectiva de ciclo de vida e abordagem sistêmica

4.5 Perspectiva de longo prazo

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5. Eixos Temáticos – Plano de Ação

5.1 Compras Públicas Sustentáveis

5.2 Finanças Sustentáveis

5.3 Indústria Sustentável

5.4 Construção Sustentável

5.5 Varejo Sustentável

5.6 Agricultura Sustentável

5.7 Consumo Sustentável

5.8 Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

5.9 Gestão de Resíduos Sólidos

5.10 Relatos de Sustentabilidade

6. Institucionalidade de PPCS no Brasil

6.1 Comitê Gestor de PCS – Componentes, Objetivos e Funcionamento

7. Instrumentos e mecanismos de implementação

7.1 Ações governamentais

7.2 Acordos de cooperação técnica

7.3 Iniciativas voluntárias

7.4 Ações de parceria

7.5 Pactos setoriais

7.6 Projeto de cooperação PNUMA

7.7 Termos de Adesão e Rede A3P

7.8 Certificação e premiação

7.9 Fóruns de discussão e implementação

7.10 Outros: estudos e pesquisas; campanhas

8. Monitoramento e Avaliação

Quadros, Tabelas e Figuras

Referências

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Produção e consumo sustentáveis (PCS) é uma abordagem holística para minimizar

os impactos ambientais negativos dos sistemas de consumo e produção, ao mesmo

tempo em que promove qualidade de vida para todos. Através de uma perspectiva

de ciclo de vida, PCS aumenta a gestão sustentável e eficiente dos recursos em

todos os estágios da cadeia de valor de bens e serviços. PCS encoraja o

desenvolvimento de processos que usam menos materiais e menos substâncias

perigosas, geram menos resíduos e resultam em benefícios ambientais.

Tais processos podem também melhorar a competitividade de empresas ao reduzir

os custos de produção, transformando desafios ambientais e sociais em

oportunidades de negócios e empregos. PCS também encoraja a coleta, o reuso e a

reciclagem de recursos valiosos nos fluxos de resíduos. O principal objetivo da

mudança para PCS é dissociar crescimento econômico de degradação ambiental.

PCS visa a fazer mais e melhor com menos, reduzindo o uso de recursos, a

degradação ambiental, os resíduos e a poluição ao longo do ciclo de vida de bens e

serviços, ao mesmo tempo em que melhora a qualidade de vida para todos.

Alcançar PCS requer uma importante mudança de paradigma nas sociedades, e

necessita a cooperação e o engajamento de todos os atores, incluindo políticos,

empresários, varejistas, consumidores, trabalhadores, pesquisadores, cientistas,

mídia, organizações da sociedade civil e agências de cooperação para o

desenvolvimento. Resumindo, envolve todos, desde governos até cidadãos, desde

produtores até consumidores finais.

Os princípios fundamentais de PCS são:

1. Melhorar a qualidade de vida sem aumentar a degradação ambiental, e

sem comprometer as necessidades de recursos das futuras gerações;

2. Dissociar o crescimento econômico da degradação ambiental, por meio

de: redução de materiais / intensidade de energia das atividades

econômicas atuais, e redução de emissões e resíduos da extração,

produção, consumo e disposição; e promoção da mudança para padrões

de consumo para grupos de bens e serviços com menor intensidade de

energia e materiais sem comprometer a qualidade de vida;

3. Aplicar o pensamento de ciclo de vida, que considera todos os impactos

ao longo da cadeia de produtos e serviços, desde a sua extração, a

produção, o consumo e o descarte, ou preferencialmente sua inserção no

processo produtivo; e

4. Evitar ou mitigar o efeito rebote, onde os ganhos de eficiência são

cancelados pelo resultante aumento de consumo.

PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS

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Apresentação

O Plano de Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) foi lançado pelo Ministério do Meio

Ambiente em 2011, como resultado de um processo de construção amplo e participativo.

Sua primeira versão foi disponibilizada em maio de 2008, refletindo os trabalhos

desenvolvidos ao longo de um ano, envolvendo um diversificado grupo de instituições –

tanto governamentais como da sociedade civil – sob a coordenação do MMA. Inspirada

pelo Processo de Marrakesh – processo global iniciado com o Plano de Implementação de

Johanesburgo, documento resultante da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento

Sustentável (2002), no qual a comunidade internacional reconheceu consumo e produção

sustentáveis como objetivo global e requerimento essencial para o desenvolvimento

sustentável –, a primeira versão incluía a definição dos principais conceitos, antecedentes e

escopo, assim como a indicação das estruturas de implementação e a definição das

prioridades do Plano, com seus respectivos responsáveis.

A minuta foi, então, submetida a um processo de revisão, entre 2009 e 2010, envolvendo a

equipe técnica do MMA, o Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentáveis – instituído

pela Portaria MMA nº 44, de 2008 – e parceiros. Nesse mesmo período, foi elaborado o

projeto de cooperação “Eficiência de Recursos e Produção e Consumo Sustentáveis”, entre

o Ministério do Meio Ambiente e o PNUMA, assinado em setembro de 2010 e ainda

vigente. O projeto – que tem por objetivo “promover no Brasil um forte e contínuo

processo de disseminação de ações alinhadas com o conceito de Consumo e Produção

Sustentáveis, estabelecido pelo Processo de Marrakesh, integrado aos esforços nacionais

para abordar as mudanças climáticas, a redução da pobreza, o desenvolvimento econômico

e a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais” – tem sido um dos principais

instrumentos de apoio à realização de estudos, campanhas e outras atividades e ações

necessárias à implementação do Plano.

Entre setembro e novembro de 2010, o Plano foi disponibilizado em consulta pública, tendo

a versão final incorporado as contribuições desse processo, bem como as atualizações

necessárias até seu lançamento, em setembro de 2011.

No segundo semestre de 2014, foi elaborado um relatório de implementação do PPCS, que

consolidou as medidas e iniciativas que contribuíram com os esforços de modificação dos

padrões de produção e consumo no Brasil no 1º ciclo de implementação do Plano, cobrindo

o período entre 2011 e 2014, e apresentou alguns desafios e oportunidades, que sinalizam

aperfeiçoamentos, bem como novas ações, parcerias e iniciativas para fortalecer a

implementação do Plano em seu 2º ciclo e, com isso, o compromisso brasileiro com o

desenvolvimento sustentável.

Esse levantamento das iniciativas governamentais e de setores da sociedade civil, incluindo

os setores produtivos de bens e serviços, desenvolvidos e/ou implementados no contexto

do 1º ciclo de implementação do PPCS indica que é possível avançar para um modelo mais

sustentável de desenvolvimento no País, que garanta uma melhor qualidade de vida para as

presentes e futuras gerações.

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A experiência do 1º ciclo revelou, como um dos caminhos para produzir bens e serviços de

modo mais eficiente, usando menos recursos e gerando menos resíduo e poluição, o

fortalecimento do papel de articulação das políticas que direta e indiretamente têm forte

influência na promoção de mudanças no padrão de produção e consumo no Brasil.

A Agenda de Desenvolvimento 2030, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

(ODS) e suas metas, aprovados na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento

Sustentável (25-27 de setembro 2015), constituem desafio adicional nesse contexto, que

requererá uma parceria global fortalecida, com a participação ativa de todos, incluindo

governos, sociedade civil, setor privado, academia, mídia e Nações Unidas. Os ODS

aprovados foram construídos sobre as bases estabelecidas pelos Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio (ODM), de maneira a completar o trabalho desses e responder

a novos desafios. São integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três

dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental.

Especialmente importante no contexto da Agenda 2030 é o ODS 12, pelo qual os países se

comprometem a “assegurar padrões de consumo e de produção sustentáveis”.

Cabe ressaltar que, a esses desafios, devem ser somados aqueles referentes ao contexto

político, institucional e econômico do Brasil, bem como às dificuldades referentes a

abastecimento de água e geração de energia, consequência da falta de chuvas que vem

afetando vários estados brasileiros, principalmente no Sudeste e no Nordeste. As incertezas

relativas à oferta desses importantes insumos trazem certamente desafios complementares

para governos, empresas e a sociedade como um todo, mas podem também constituir

oportunidades para a adoção de tecnologias mais eficientes, a inovação de processos e uma

mudança de comportamentos, que se reflitam em padrões mais sustentáveis de consumo e

de produção no País.

É nesse cenário que se colocou a necessidade de considerar as premissas e as orientações

do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis lançado em 2011, com vistas a

atualizar e complementar os instrumentos e mecanismos previstos para sua

implementação, bem como redirecionar os focos de trabalho, com base em eixos temáticos

identificados como fundamentais para a mudança de paradigma que o País precisa

incorporar em seus padrões de produção e de consumo. Este documento de diretrizes

consolida este esforço, que é agora submetido em consulta pública, para que sirva como

orientador da implementação do PPCS em seu 2º ciclo – 2016 a 2019/20.

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1. Introdução

1.1 A questão da PCS no Brasil

“Toda atividade econômica gera algum impacto ambiental”.

1. É a partir dessa afirmativa que se iniciou o Plano de Ação para Consumo e Produção

Sustentáveis - PPCS e é a partir dela que iniciamos o planejamento do 2º ciclo. Esta

premissa é fundamental para caracterizarmos o problema basilar da sustentabilidade.

Vivemos, atualmente, sob um sistema socioeconômico que necessita do aumento

ininterrupto e ilimitado da atividade econômica para gerar algum tipo de estabilidade

social. A atividade econômica é, em outras palavras, a produção de bens e serviços, e o seu

consequente consumo.

2. Parte significativa das políticas públicas está focada no aumento da capacidade produtiva

e do consumo do País. A lógica é bem simples: quanto mais produção, maior é o número de

empregos, garantindo renda para as famílias, que despendem parte dela consumindo o que

foi produzido, sendo que o capital utilizado no consumo é reinvestido pelo setor produtivo

para aumentar a produção, aumentando os empregos, aumentando a renda das famílias,

aumentando o consumo, aumentando a produção... e assim esse ciclo se reproduziria, em

termos teóricos, num processo moto-contínuo, indefinidamente. Qualquer distúrbio desse

encadeamento é considerado crise, podendo ter consequências sociais dramáticas, pois em

última instância, reduziria a renda das famílias e a capacidade do Estado em fornecer

serviços básicos para a população, já que a arrecadação de impostos, devido à redução das

atividades econômicas, seria diminuída.

3. Essa é a lógica de organização socioeconômica que tem sido adotada pela maioria dos

países no mundo como método elementar para alcançar um ideário de bem-estar social.

4. Acontece que, para o funcionamento desse modelo teórico, é necessária uma base real,

que é a Natureza. E ela é limitada na sua capacidade de fornecer matéria-prima e de

absorver os resíduos da produção e do consumo.

5. Desse modo, o problema que se coloca, não apenas à sociedade brasileira, mas no

contexto global, é que, para buscar algum nível de estabilidade social, é necessário

aumentar ilimitadamente as atividades econômicas, embora os recursos naturais e a

capacidade de regeneração da natureza sejam limitados. Há, então, um paradoxo que tem

se expressado de modo concreto nos diversos problemas sociais e ambientais que a

humanidade já vivencia como, por exemplo, contaminação do ar, redução e contaminação

dos recursos hídricos, perda de biodiversidade e acúmulo de gases de efeito estufa na

atmosfera, dentre outros.

6. Essa questão diz respeito à estrutura econômica global e vai muito além do escopo do

Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS). No entanto, ela não deve ser

omitida na apresentação geral da problemática que envolve a produção e o consumo.

7. No contexto do PPCS, entretanto, a questão se limita a: como tornar o aumento da

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produção e do consumo mais sustentável? Para que fique mais claro o diagnóstico geral da

insustentabilidade dos atuais padrões de produção e de consumo, e o quão desafiador e

necessário é muda-los, seguem abaixo algumas considerações.

1.2 Diagnóstico Geral

8. Para além de sustentação de uma estrutura econômica, no Brasil, o aumento da

produção e do consumo tem sido tomado como uma necessidade para a busca da equidade

socioeconômica. Fator fundamental para o consumo é a renda, mas ela ainda é

concentrada no País. No ano de 2013, o rendimento médio mensal1 dos 1% mais ricos era

de R$ 18.981 e dos 5% mais ricos era R$ 9.2412, enquanto que os 10% mais pobres tinham

renda média mensal de R$ 178. A grande maioria da população, entre 70 a 80%, tinha uma

renda média de até 1.620, ou seja, pouco mais de 2 salários mínimos3 (tabela abaixo).

Classes de percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade, em ordem

crescente de rendimento (%)

Rendimento médio mensal real (R$)

Até 10 178,00

Mais de 10 a 20 542,00

Mais de 20 a 30 678,00

Mais de 30 a 40 697,00

Mais de 40 a 50 838,00

Mais de 50 a 60 1.020,00

Mais de 60 a 70 1.272,00

Mais de 70 a 80 1.620,00

Mais de 80 a 90 2.357,00

Mais de 90 a 100 6.465,00

Mais de 95 a 100 9.241,00

Mais de 99 a 100 18.981,00

Total 1.567,00

Tabela 1: Rendimento médio mensal real das pessoas de 15 anos ou mais de idade, com rendimento, segundo as classes de percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade, em ordem crescente de rendimento no ano de 2013. Fonte: PNAD-2013 (IBGE, 2013)

9. Observa-se que, conforme a renda aumenta, o padrão de consumo também se altera. As

despesas dos 10% de menor renda se concentram em habitação e alimentação, somando

70% do total. Conforme a renda aumenta, os bens e serviços ligados à saúde, educação e

transporte passam a ser mais visados, sendo que a quantidade per capita de quase todos os

bens de consumo sobe com a renda4. O aumento da renda leva tanto a uma mudança dos

tipos de itens de consumo, como ao aumento do volume do que é consumido (Figuras 1 e 2

abaixo). Dessa forma, fica evidente que a maior parcela da população brasileira está

1 Rendimento médio mensal real das pessoas de 15 anos ou mais de idade, com rendimento. 2 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: síntese de indicadores 2013 - PNAD (IBGE,2015). 3 Com base no valor do salário mínimo de 2013. 4 Padrões de Consumo e Desenvolvimento Sustentável: Tendências do Crescimento e Redistribuição de Renda

sobre o Meio Ambiente (SAE, no prelo).

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limitada, devido a renda insuficiente, para usufruir dos bens e serviços disponíveis no

mercado.

Figura 1: Composição das Despesas – 2009. Fonte: POF 2008-2009 - SAE

Figura 2: Quantidade per capita de bens por domicílio – 2009. Fonte: POF 2008-2009 - SAE

10. A última década foi caracterizada por um contínuo aumento dos rendimentos de todas

as classes de renda no Brasil. A tendência esperada é do seu crescimento continuado,

sobretudo dos grupos mais pobres. Isso, inclusive, é compromisso assumido no âmbito

internacional, expresso em um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável5, de “Reduzir

a desigualdade entre os países e dentro deles”. Nesse Objetivo, os países devem perseguir a

meta de “até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40%

da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional”. No período de 2004 a

2013, o crescimento do rendimento médio das pessoas em idade ativa que possuíam renda

foi 3,04% ao ano. Portanto, assumindo que a tendência dos últimos anos se mantenha, para

cumprir com esse compromisso, 40% da população brasileira deverão ter um crescimento

da renda anual nos próximos 15 anos de, pelo menos, 3,04%.

11. Ocorre que, conforme aumenta a renda, aumenta o consumo e consequentemente a

5 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável -

http://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf

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pressão sobre os recursos naturais. Em termos de pegada ecológica6, o aumento de 1% na

renda de um indivíduo com renda familiar per capita de R$ 2.268 (10% mais ricos) levaria a

um aumento de 0,0094 gha, enquanto o aumento de 1% na renda de um indivíduo com

renda familiar per capita de R$ 170 (10% mais pobre) levaria a um aumento de 0,0046 gha.

A distribuição da pegada ecológica por cada percentil de renda no Brasil está representada

na Figura 3. Vê-se que a renda familiar per capita com pegada ecológica menor ou igual à

biocapacidade do planeta (1,8 gha) é de R$ 470, ou seja, algo em torno de 40% da

população. O padrão de consumo médio no Brasil é de 2,6 gha, observado em indivíduos

com renda familiar per capita de R$ 904. Essa pegada ecológica média per capita de uma

família brasileira aparece no 66º percentil de renda da população, de forma que um terço

da população brasileira (a de maior renda) demanda a mesma área bioprodutiva que os

dois terços mais pobres. Aproximando-se ainda mais a análise, a pegada ecológica média da

população que faz parte dos 1% mais ricos é 3,3 vezes maior que a média7.

Figura 3: Pegada Acumulada por percentil de renda Fonte: SAE

12. Em síntese, o aumento de renda das famílias brasileiras leva a um aumento da pressão

sobre os recursos naturais em termos de pegada ecológica. Nos atuais padrões de produção

e de consumo no Brasil, as famílias que apresentam uma pegada ecológica no limite da

biocapacidade do planeta são aquelas que têm renda familiar per capita de R$ 470, ou seja,

que é comprometida em sua maior parte com alimentação e habitação. Nos atuais padrões

de consumo, espera-se ir muito além disso, tendo-se acesso aos bens e serviços disponíveis

no mercado, assim como têm os 10% mais ricos. Numa perspectiva de equidade, a maioria

dos brasileiros e brasileiras deveria ascender a esse nível de renda. Entretanto, a pegada

ecológica do país aumentaria sobremaneira, a níveis mais insustentáveis do que já se

verifica hoje em dia.

Recursos Hídricos

13. O Brasil possui, em termos gerais, uma grande oferta de recursos hídricos, mas

apresente situações muito diversas e específicas. Enquanto 24,1% dos sistemas de 6 Metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os

recursos naturais. Expressada em hectares globais (gha), permite comparar diferentes padrões de consumo e

verificar se estão dentro da capacidade ecológica do planeta. Fonte: WWF Brasil. 7 (SAE, no prelo).

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abastecimento de água urbanos são considerados satisfatórios, 42,5% requerem ampliação

e 33,4% requerem um novo manancial8. Existem áreas com maior vulnerabilidade quanto à

oferta, tanto em termos de quantidade quanto de qualidade dos recursos hídricos. Essas

áreas estão em todas as regiões do país9, apresentando características próprias que as

colocam em situações críticas. Por exemplo, enquanto no Semiárido a disponibilidade

hídrica é caracterizada por questões naturais afeitas à baixa pluviosidade anual e à alta taxa

de evapotranspiração, a região Sudeste apresenta algumas bacias hidrográficas com

criticidade mais relacionadas a alta demanda e poluição hídrica. Como agravante, vem-se

observando uma contínua redução da disponibilidade pluviométrica desde o ano de 2012

para a região Nordeste e, desde 2013, para a região Sudeste. Se as áreas críticas já

requerem, numa condição climática normal, atenção especial em função do balanço quali-

quantitativo, eventos extremos que levem à acentuada escassez de chuva agravam ainda

mais o problema de oferta de água nessas bacias.

14. Em termos quantitativos, a vazão de consumo de água10 no País aumentou 18% entre

os anos de 2006 a 2010. A principal demanda, no ano de 2010, foi a irrigação, responsável

por 72% da vazão consumida, seguida pelo uso dos animais - 11%, uso urbano - 9%, uso

industrial - 7% e uso rural (consumo das pessoas e não a atividade agrícola) - 1% do total

consumido11. Não por acaso, as regiões críticas em recursos hídricos concentram alta

densidade populacional e/ou do setor produtivo. A maioria das áreas críticas compreende

regiões metropolitanas de algumas capitais estatuais e o Semiárido, ocupadas por, pelo

menos, 36% da população brasileira12. Além disso, parte dessas áreas críticas possui

grandes extensões de cultivos irrigados e/ou alta intensidade de atividade industrial.

15. Além de ser essencial à vida, a água é um insumo fundamental em uma série de cadeias

produtivas. O aumento da produção e do consumo irá ampliar a pressão sobre esse recurso

natural, que se encontra em situação de vulnerabilidade em “condições normais” e que

pode se agravar em eventos extremos, colocando o sistema produtivo e o abastecimento

urbano em situação de maior vulnerabilidade.

Pegada de Materiais

16. A Pegada de Materiais13 mede a quantidade de matéria-prima que um país consome. É

um importante indicador, que deverá ser cada vez mais utilizado, tendo sido proposto como

um dos indicadores para medir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável relacionado a

Produção e Consumo Sustentáveis (ODS 12). Esse indicador considera a quantidade de

matéria-prima utilizada na produção de tudo que é consumido no país, além do que foi

importado e exportado. O cálculo também inclui a porção, muitas vezes considerável, de

8 Atlas Brasil do Abastecimento Urbano de Água (ANA, 2011). 9 Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Informe 2014: Encarte Especial sobre Crise Hídrica (ANA, 2014). 10 “A demanda de água corresponde à vazão de retirada, ou seja, à água captada destinada a atender os diversos usos

consuntivos. Parcela dessa água captada é devolvida ao ambiente após o uso, denominada vazão de retorno. A água não

devolvida, ou vazão de consumo, é calculada pela diferença entre a vazão de retirada e a vazão de retorno”. (ANA, 2013) 11 Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil – 2013 (ANA, 2013). 12 Censo de 2010 (IBGE, 2010) e Sinopse do Censo Demográfico para o Semiárido Brasileiro (INSA, 2012). 13 Pegada de Materiais é definida como a alocação global de extração de matéria prima utilizada para a demanda final de

uma economia (Wiedmann et al, 2015).

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matéria-prima que é utilizada durante o processo de produção, mas que acaba não sendo

incorporada no produto final. Outros indicadores, como o Consumo Doméstico de Materiais

(CDM), medem a quantidade de material diretamente utilizada por uma economia

(matéria-prima extraída + importações - exportações) mas, no caso das importações,

contabilizam apenas a quantidade de matéria do produto pronto, não considerando toda a

matéria-prima a montante do processo produtivo.

17. A análise desse indicador mostra que a Pegada de Materiais per capita do Brasil

aumentou no período de 1990-2008, em níveis superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) e

ao CDM (Figuras 5 e 6). Isso demonstra que os ganhos de produtividade não estão sendo

suficientes para reduzir a demanda por matéria-prima por unidade de PIB, ou seja, no

período analisado, não ocorreu o desacoplamento entre a atividade econômica e o uso dos

recursos naturais, nem em termos relativos, muito menos em termos absolutos.

Figura 5: Pegada de Materiais per capita (PM/cap) em quatro categorias e Consumo Doméstico de Materiais per capita (DMC/cap) do Japão, Reino Unido, países da OCDE e Brasil no período de 1990–2008. A unidade de

medida é t/cap. Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015).

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Figura 6: Mudanças relativas no total de uso de recursos (PM e CDM) e PIB no período de 1990 e 2008, no Japão, Reino Unido, países da OCDE e no Brasil. Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015).

18. Complementarmente, ao analisar a Pegada de Materiais de diversos países, incluindo os

desenvolvidos, obtém-se uma relevante constatação: a pressão sobre os recursos naturais

não diminui conforme a população humana se torna mais rica, visto que, em economias

desenvolvidas, suas PM/cap tornam-se consideravelmente maiores do que suas CDM/cap,

em função de suas economias pós-industriais e sua dependência em importações para o

consumo final.

19. As informações apresentadas neste diagnóstico geral podem ser, então, assim

sintetizadas:

O crescimento da renda aumenta a pegada ecológica e a pegada de materiais;

O Brasil tem o compromisso de um contínuo aumento da renda, sobretudo das parcelas

mais pobres;

Existem bacias hidrográficas com trechos críticos que coincidem com áreas

metropolitanas densamente povoadas e com alta concentração de atividade industrial e de

produção agropecuária. A situação fica ainda mais grave em um contexto de eventos

extremos, como a seca pela qual estão passando o Semiárido e o Sudeste brasileiros;

No Brasil, observa-se um aumento ininterrupto da demanda em todas as categorias de

matérias-primas; e

20. A partir da caracterização feita acima, uma pergunta fundamental se coloca à sociedade

brasileira e que o 2º Ciclo do PPCS deverá enfrentar é: se mais de 90% da população

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14

brasileira não têm renda suficiente para usufruir da ampla variedade de bens e serviços

disponíveis no mercado e, mesmo assim, os impactos ambientais causados pelo consumo

da minoria da população já são significativos; e considerando o compromisso do Brasil de

aumentar a renda de toda a população, ou seja, aumentando seu poder de consumo, como

será possível viabilizar esses objetivos em bases sustentáveis?

21. A resposta a essa questão toma dois caminhos, que o PPCS, em seu 2º Ciclo continuará

a perseguir: 1) o aumento da eficiência dos processos produtivos; e 2) uma expressiva

mudança de padrão de consumo da população. É sobre eles que as agendas temáticas do

2º Ciclo do PPCS seguirão.

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15

2. Antecedentes e contexto internacional

22. A Agenda 21 (adotada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, 1992) já reconhecia, em seu capítulo 4, que “as principais causas da

deterioração ininterrupta do meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de

consumo e produção, especialmente nos países industrializados. Motivo de séria

preocupação, tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da pobreza e

dos desequilíbrios”. A Agenda 21 Brasileira também reconheceu a importância do tema ao

definir a “transformação produtiva e mudança dos padrões de consumo” como uma das

linhas estratégicas de sua Dimensão Econômica, além de incluí-lo em várias outras partes

do documento. Entretanto, este tema só adquiriu um caráter programático no contexto

internacional com o Processo de Marrakesh e os avanços que dele resultaram.

2.1 Processo de Marrakesh

23. Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento

Sustentável, realizada em Johanesburgo, em 2002,

consumo e produção sustentáveis (PCS) foram

reconhecidos como um objetivo global e

requerimento essencial para o desenvolvimento

sustentável. O Plano de Implementação de

Johanesburgo, em seu capítulo III, demanda o

desenvolvimento de um Quadro Decenal de Programas (10 Years Framework Programa –

10YFP) para “acelerar a mudança para consumo e produção sustentáveis, e promover um

crescimento econômico e social no limite da capacidade de carga dos ecossistemas,

dissociando o crescimento econômico da degradação ambiental”. O Processo de Marrakesh,

lançado em 2003 em resposta ao chamado do Plano de Johanesburgo, é um processo

global e informal, com participação de todos os atores interessados (multistakeholder).

24. O Processo teve dois objetivos principais, sendo o primeiro promover o

desenvolvimento e a implementação de políticas, programas e projetos em produção e

consumo sustentáveis (PCS), com apoio de governos, setor privado e outros atores para a

implementação de práticas de PCS, nos níveis nacional e regional. O segundo objetivo foi

gerar subsídios para a elaboração do Quadro Decenal de Programas sobre Produção e

Consumo Sustentáveis (10YFP), estrutura coordenada e custo-efetiva para cooperação

internacional e capacitação para apoiar a transição para PCS.

25. Para alcançar seus objetivos, o Processo de Marrakesh desenvolveu vários mecanismos

(Figura 7 abaixo): reuniões de revisão regionais (26) e internacionais (3); mesas-redondas

nacionais (9); forças-tarefa (7) dedicadas a temas específicos de PCS; um Comitê Assessor

multistakeholder; e diálogos com grupos principais, bem como com agências de cooperação

para o desenvolvimento e agências das Nações Unidas.

26. As forças-tarefa foram iniciativas demonstrativas, coordenadas por governos ou outros

atores, para implementar projetos concretos de modo colaborativo, tais como a Parceria

“A maior causa da contínua

deterioração do meio ambiente global

são os padrões insustentáveis de

consumo e produção, particularmente

nos países industrializados, o que é

assunto muito preocupante, que agrava

a pobreza e as desigualdades”. Agenda

21 (cap. 4.3), Rio 92

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16

Global para Turismo Sustentável, a Parceria para Educação e Pesquisa sobre Vida

Responsável (PERL) ou a Iniciativa de Compras Públicas Sustentáveis.

27. O Processo de Marrakesh apoiou o desenvolvimento de estratégias regionais e

programas, e de planos de ação nacionais de PCS. Na região, foi estabelecida a Estratégia da

América Latina em PCS e o Conselho Regional de Especialistas de Governo em PCS,

apoiados pelo Fórum de Ministros de Meio Ambiente regional.

28. Conforme documentado no relatório de

201114, o Processo de Marrakesh foi um

processo consultivo de baixo para cima, onde as

prioridades nacionais e regionais foram

identificadas, assim como necessidades de

capacitação e desafios para sua implementação,

de modo a progredir no sentido de padrões

sustentáveis de produção e consumo. O

Processo agregou uma variedade de atores, de diferentes disciplinas, permitindo uma

conjunção de esforços e recursos na promoção de PCS. O Processo fomentou a cooperação

entre governos, agências das Nações Unidas, ONGs, setor privado e uma ampla rede de

outros atores interessados. Ele também permitiu o desenvolvimento de políticas,

instrumentos de gestão e parcerias inovadoras.

Figura 7. Mecanismos do Processo de Marrakesh15

29. O trabalho do Processo de Marrakesh permitiu extrair lições da implementação de

14 Paving the way for sustainable consumption and production. The Marrakech Process Report. UNEP, 2011. 15 http://www.unep.org/resourceefficiency/Home/Policy/SCPPolicies/MarrakechProcess/tabid/55816/Default.aspx

Secretariado (PNUMA e UNDESA)

Comitê Assessor

Relatoria sobre progresso,

intercâmbio r informações e

coordenação no nível internacional

Revisão Internacional

Identificação de prioridades em PCS

e desenvolvimento de iniciativas

estratégicas

Identificação de apoio a PCS e

implementação de políticas e

programas

Reunião Regional

Mesas Redonda e

Programas Nacionais

Engajamento do apoio dos Grupos

Principais no Processo

Em temas específicos de PCS,

liderados por governos

Engajamento de agências de

cooperação para o desenvolvimento

e de agências das Nações Unidas

Forças Tarefa

Grupos Principais

Cooperação com agências

“O Processo de Marrakesh é uma experiência

voluntária multiatores única, com

mecanismos efetivos para fortalecer a

cooperação em todos os níveis para alcançar

mudanças com vistas ao consumo e à

produção sustentáveis, e à eficiência no uso

de recursos”. Achim Steiner, Diretor

Executivo do Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente, 2011

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17

políticas e medidas de PCS:

Serão necessárias ações mais concertadas e coordenadas em todos os níveis para

alcançar as mudanças necessárias nos padrões de produção e consumo;

As prioridades regionais e nacionais de PCS são diversas, refletindo as diferentes

necessidades, riquezas e níveis de desenvolvimento e estruturas institucionais;

Um processo multiatores, como o Processo de Marrakesh sobre PCS, que reúne atores

para o diálogo, a aprendizagem, a transferência de conhecimento e a cooperação para a

promoção e implementação de PCS, tem provado ser verdadeiramente catalítico, criando

sinergias e fortalecendo as iniciativas existentes;

Projetos demonstrativos regionais e nacionais têm iniciado a identificação de que

instrumentos de política funcionam, onde e porque;

Novas parcerias com empresas, governos e outros atores provaram ser práticas e úteis;

Foi realizado progresso significativo em produção mais limpa em alguns países, mas a

conscientização para um consumo sustentável e instrumentos para reorientar o

comportamento de consumidores ainda necessitam ações adicionais;

Os consumidores estão preparados para uma mudança com vistas à sustentabilidade,

mas ainda são necessários mecanismos para assegurar que produtores, especialmente os

pequenos produtores em países em desenvolvimento, tenham oportunidades e capacidade

para prover produtos acessíveis e sustentáveis, bem como facilitado o acesso a mercados;

As agências de cooperação para o desenvolvimento e as instituições financeiras

internacionais têm um importante papel na construção de capacidades, infraestrutura e

tecnologias; e

PCS é um tema amplo e transversal – é preciso foco, identificar áreas-chave prioritárias

onde a cooperação internacional é necessária para aumentar a eficiência no uso de

recursos e na dissociação entre crescimento econômico e degradação ambiental, ao mesmo

tempo em que melhore os padrões de vida.

30. O relatório identificou ainda, áreas onde é necessário avançar para alcançar padrões

sustentáveis de produção e consumo: pesquisa e conhecimento científico; coordenação e

formação de redes; trabalho com demanda e estilos de vida; capacitação e instrumentos

políticos; desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologias; investimentos;

comunicação; aumento no compromisso político; disseminação e aumento de escala;

aumento do apoio financeiro; e monitoramento do progresso.

2.2 Rio + 20 e O Futuro que Queremos

31. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio

de Janeiro em 2012, conhecida como Rio+20, representou um marco para o tema de

produção e consumo sustentáveis ao reconhecer, no parágrafo 4 de seu documento final “O

Futuro que Queremos”, que

“a erradicação da pobreza, a mudança dos modos de consumo e

produção não viáveis para modos sustentáveis, bem como a proteção e

gestão dos recursos naturais, que estruturam o desenvolvimento

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econômico e social, são objetivos fundamentais e requisitos essenciais

para o desenvolvimento sustentável. Reafirmamos também que, para a

realização do desenvolvimento sustentável, é necessário: promover o

crescimento econômico sustentável, equitativo e inclusivo; criar maiores

oportunidades para todos; reduzir as desigualdades; melhorar as

condições básicas de vida; promover o desenvolvimento social equitativo

para todos; e promover a gestão integrada e sustentável dos recursos

naturais e dos ecossistemas, o que contribui notadamente com o

desenvolvimento social e humano, sem negligenciar a proteção, a

regeneração, a reconstituição e a resiliência dos ecossistemas diante dos

desafios, sejam eles novos ou já existentes.”

32. Em seu parágrafo 58, os Chefes de Estado e de Governo afirmam que as políticas de

economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza

devem, entre outros, promover os modos de produção e de consumo sustentáveis.

33. Além de várias outras menções, o documento inclui um segmento especialmente

dedicado a PCS:

Consumo e produção sustentáveis

224. Recordamos os compromissos assumidos na Declaração do Rio, a

Agenda 21 e na JPOI sobre consumo e produção sustentáveis e, em

particular, o pedido no capítulo 3 do JPOI, para incentivar e promover o

desenvolvimento de um Programa-Quadro de 10 anos (10YFP).

Reconhecemos que mudanças fundamentais na forma como as sociedades

consomem e produzem são indispensáveis para se alcançar o

desenvolvimento sustentável global.

225. Os países que se comprometeram a eliminar progressivamente as

políticas prejudiciais e ineficientes de subvenção aos combustíveis fósseis

reiteram seu compromisso, uma vez que essas subvenções incitam o

consumo perdulário e comprometem o desenvolvimento sustentável.

Convidamos todos a considerarem a racionalização das subvenções aos

combustíveis fósseis, removendo as distorções de mercado, inclusive por

meio da reestruturação da tributação e da eliminação progressiva de

subsídios prejudiciais, lá onde existirem, de modo a expressar os seus

efeitos sobre o meio ambiente, considerando plenamente as necessidades

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19

e condições específicas dos países em desenvolvimento, com o objetivo de

minimizar os possíveis impactos adversos ao seu desenvolvimento, de uma

forma que proteja os pobres e as comunidades afetadas.

226. Adotamos o quadro decenal de programas (10YFP) sobre consumo

e produção sustentáveis (SCP), como consta do documento

A/CONF.216/5, e destacamos que os programas incluídos nos 10YFP têm

um caráter facultativo. Convidamos a Assembleia Geral das Nações

Unidas em sua 67 a Sessão, a designar um organismo das Nações Unidas

composto por Estados-Membros para tomar as medidas necessárias a

operacionalizar plenamente o quadro.

2.3 Marco Decenal de Programas de Produção e Consumo Sustentáveis (10YFP)

34. O 10YFP é um resultado concreto e operacional da Rio+20, além de responder ao

estabelecido do Plano de Implementação de Johanesburgo (2002), construído em oito anos

de trabalho e experiência do Processo de Marrakesh. O Processo identificou as

necessidades e prioridades regionais e globais em PCS, e apoiou o desenvolvimento de

estratégias regionais e a implementação de 33 projetos demonstrativos em todo o mundo.

Além disso, o 10YFP deve ser construído tendo como base os centros de produção mais

limpa e outras boas práticas, engajando um largo espectro de atores.

35. O 10YFP tem como principais objetivos:

Apoiar políticas e iniciativas regionais para acelerar a mudança para PCS, contribuindo

para o uso eficiente dos recursos e a dissociação do crescimento econômico da degradação

ambiental e do uso de recursos, ao mesmo tempo em que cria novas oportunidades de

trabalho/mercado e contribui para a erradicação da pobreza e o desenvolvimento social;

Integrar PCS nas políticas, programas e estratégias de desenvolvimento sustentável,

incluindo as estratégias de redução da pobreza;

Prover assistência financeira e técnica e criação de capacidades para países em

desenvolvimento, apoiando a implementação de atividades nos níveis regional e nacional; e

Facilitar a troca de informações e de conhecimento em instrumentos, iniciativas e boas

práticas de PCS entre os atores interessados, fortalecendo a conscientização e a

cooperação, e o desenvolvimento de novas parcerias, inclusive parcerias público-privadas.

36. A estrutura do 10YFP inclui um Secretariado, sediado pelo PNUMA, um Grupo

Coordenador Interagencial das Nações Unidas, um Pequeno Conselho de 10 membros,

sendo 2 de cada grupo regional das Nações Unidas16, Pontos Focais nacionais e setoriais, e

um órgão para receber relatorias17.

37. O 10YFP é implementado com recursos voluntários e com apoio do Fundo Fiduciário,

16 A composição do Conselho para o período 2015-2017 inclui Albânia, Argentina, Alemanha, Indonésia, Quênia, México, Nigéria, República da Coreia, Romênia e Turquia. 17A Assembleia-Geral nomeou interinamente o ECOSOC como órgão dos Estados Membros a receber os relatórios do Secretariado e do Conselho do 10YFP.

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20

administrado pelo PNUMA.

Figura 8: Estrutura do 10FYP

Programas do 10YFP

38. Os programas conformam o centro do trabalho do 10YFP, sendo os cinco iniciais: i)

informação ao consumidor; ii) estilos de vida sustentáveis e educação; iii) compras públicas

sustentáveis; iv) construções sustentáveis; e v) turismo sustentável, inclusive ecoturismo.

Os programas devem incluir todos os atores interessados e usar um mix de instrumentos,

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além de possuir objetivos claros, atividades e indicadores. Um sexto programa, dedicado a

Sistemas Alimentares Sustentáveis, encontra-se em fase de consultas para sua formalização.

Portal Global de PCS (SCP Clearinghouse18)

39. O Portal Global de PCS oferece uma oportunidade para compartilhar e encontrar

informação sobre PCS em todo o mundo (iniciativas, notícias, eventos, publicações etc.),

para construir redes, identificar parceiros e fortalecer as capacidades, além de constitui a

plataforma de informações do Quadro Decenal de Programas em PCS (10YFP).

Atividades do 10YFP

40. O 10YFP desenvolve atividades nos níveis internacional, regional e nacional. As

atividades internacionais têm focado no desenvolvimento de indicadores para o Objetivo 12

da Agenda de Desenvolvimento 2030, bem como para suas metas e outras relacionadas a

produção e consumo sustentáveis. Ainda nesse contexto, o 10YFP busca trabalhar em uma

estratégia de fortalecimento das capacidades técnicas e institucionais para monitorar os

impactos das políticas e iniciativas que visam a promover mudanças nos padrões de

produção e de consumo no nível nacional. Além disso, o 10YFP também tem buscado

fortalecer a articulação e coordenação com processos e foros internacionais relevantes, tais

como a Assembleia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (UNEA) e o Foro Político de

Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável (HLPF).

2.4 Agenda de Desenvolvimento 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

41. A nova Agenda de Desenvolvimento foi oficialmente adotada pelos Chefes de Estado e

de Governo na “Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2015”, que

teve lugar na sede da ONU, em Nova York, em setembro de 2015. Esse evento representou

ocasião para que os líderes dos Estados Membros da ONU anunciassem seu compromisso

com o desenvolvimento sustentável e com a materialização da declaração “O Futuro que

Queremos”19.

42. A Agenda de Desenvolvimento Sustentável Pós-

2015, agora chamada Agenda 203020, corresponde

ao conjunto de programas, ações e diretrizes que

orientarão os trabalhos das Nações Unidas e de seus

países membros rumo ao desenvolvimento

sustentável. Concluídas em agosto de 2015, as negociações da Agenda 2030 culminaram

em documento ambicioso, que propõe 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)

18 http://www.scpclearinghouse.org/ 19 Documento final da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, 2012). 20 http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/Agenda2030-completo-site.pdf

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e 169 metas correspondentes, fruto do consenso obtido pelos delegados dos Estados-

membros da ONU. Os ODS são o cerne da Agenda 2030 e sua implementação ocorrerá no

período 2016-2030.

43. A Agenda 2030 não se limita a propor os ODS, mas trata igualmente dos meios de

implementação que permitirão a concretização desses objetivos e de suas metas. Esse

debate engloba questões de alcance sistêmico, como financiamento para o

desenvolvimento, transferência de tecnologia, capacitação técnica e comércio

internacional.

44. Além disso, deverá ser posto em funcionamento mecanismo de acompanhamento dos

ODS e de suas metas.

45. A Agenda 2030 foi construída com base em uma visão transformadora, onde a mudança

para padrões sustentáveis de produção e consumo (PCS) constitui um componente integral

e integrador dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. PCS são refletidos como um

facilitador transversal (na forma de metas e de meios de implementação) para o alcance de

muitos dos Objetivos, além de um ODS dedicado a “assegurar padrões sustentáveis de

consumo e produção” (ODS 12). Essa abordagem demonstra nitidamente a resolução dos

Estados Membros das Nações Unidas de incorporar PCS na Agenda de Desenvolvimento

2030.

46. O ODS 12 da Agenda 2030 incluiu entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

inclui 11 metas, conforme abaixo:

Consumo Responsável Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis

12.1 implementar o Plano Decenal de Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis,

com todos os países tomando medidas, e os países desenvolvidos assumindo a liderança,

tendo em conta o desenvolvimento e as capacidades dos países em desenvolvimento.

12.2 Até 2030, alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais.

12.3 Até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial, nos níveis

de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de

produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita.

12.4 Até 2020, alcançar o manejo ambientalmente adequado dos produtos químicos e todos

os resíduos, ao longo de todo o ciclo de vida destes, de acordo com os marcos internacionais

acordados, e reduzir significativamente a liberação destes para o ar, água e solo, para

minimizar seus impactos negativos sobre a saúde humana e o meio ambiente.

12.5 Até 2030, reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção,

edução, reciclagem e reuso.

12.6 incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais, a adotar

práticas sustentáveis e a integrar informações de sustentabilidade em seu ciclo de relatórios.

12.7 promover práticas de compras públicas sustentáveis, de acordo com as políticas e

prioridades nacionais.

12.8 Até 2030, garantir que as pessoas, em todos os lugares, tenham informação relevante e

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conscientização para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida em harmonia com a

natureza.

12.9 apoiar países em desenvolvimento a fortalecer suas capacidades científicas e

tecnológicas para mudar para padrões mais sustentáveis de produção e consumo.

12.10 Desenvolver e implementar ferramentas para monitorar os impactos do

desenvolvimento sustentável para o turismo sustentável, que gera empregos, promove a

cultura e os produtos locais.

12.11 Racionalizar subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis, que encorajam o consumo

exagerado, eliminando as distorções de mercado, de acordo com as circunstâncias nacionais,

inclusive por meio da reestruturação fiscal e a eliminação gradual desses subsídios

prejudiciais, caso existam, para refletir os seus impactos ambientais, tendo plenamente em

conta as necessidades específicas e condições dos países em desenvolvimento e

minimizando os possíveis impactos adversos sobre o seu desenvolvimento de uma forma

que proteja os pobres e as comunidades afetadas.

47. PCS também contribui para a consecução de outros Objetivos e metas da Agenda 2030,

tais como:

O ODS 11 sobre cidades sustentáveis que visa a, até 2020, aumentar o número de

cidades e assentamentos humanos por meio da implementação de políticas integradas de

inclusão, de eficiência dos recursos, de mitigação e adaptação às alterações climáticas,

poderia ser apoiado por políticas de construção e de construção sustentável, além de

outras iniciativas relativas a PCS.

As compras públicas representam, aproximadamente, 20% do PIB em alguns países da

OCDE e até 30% em alguns países em desenvolvimento. Como consequência, compras

públicas sustentáveis (SPP) podem desempenhar um papel fundamental na expansão, tanto

da demanda como da oferta de produtos sustentáveis.

O fortalecimento da educação e da informação aos consumidores, e a promoção de

estilos de vida sustentáveis contribuem claramente para o ODS 12, particularmente sua

meta 12.8, que visa a garantir que, até 2030, as pessoas em todos os lugares tenham

informação relevante e sensibilização para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida

em harmonia com a natureza (Meta 12.8). Além disso, também contribuem para atingir o

ODS 4 – assegurar educação inclusiva, equitativa e de qualidade –, particularmente sua

meta 4.7, de “garantir que todos os alunos adquiram conhecimentos e habilidades

necessárias para promover o desenvolvimento sustentável, inclusive, entre outros, por

meio da educação para o desenvolvimento sustentável e estilos de vida sustentáveis ...”.

O fomento a sistemas alimentares sustentáveis tem o potencial de contribuir para várias

metas estabelecidas sob o ODS 2, de acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e

melhoria da nutrição, e promover a agricultura sustentável. Pode ajudar a aumentar a

eficiência dos recursos e a produtividade da agricultura, reduzir alguns dos impactos

negativos do setor em ecossistemas, promover o consumo sustentável de alimentos,

incluindo a redução da perda de alimentos e resíduos, e melhorar as dietas.

Praticamente todas as ações e iniciativas relativas a PCS contribuem, de um modo ou de

outro, com a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a mitigação das

mudanças climáticas (ODS 13 - tomar medidas urgentes para combater a mudança climática

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e seus impactos), bem como para as metas 7.2 - até 2030, aumentar substancialmente a

participação de energias renováveis na matriz energética global; e 7.3 - até 2030, dobrar a

taxa global de melhoria da eficiência energética.

48. Ainda no contexto da Agenda 2030, o resultado da 3ª Conferência sobre Financiamento

para o Desenvolvimento (Adis Abeba, julho de 2015) – Agenda de Ação de Adis Abeba –

pode ser construído sobre o fato de que o aumento da produtividade e da eficiência no uso

dos recursos, que podem ser obtidos a partir de uma mudança para padrões de SCP, são

estratégicos e podem aumentar dramaticamente os retornos sobre investimentos

financeiros, além de apoiar o desenvolvimento sustentável. Os demais instrumentos da

Agenda de Ação de Adis Abeba – cooperação internacional, desenvolvimento tecnológico,

inovação e comércio internacional – devem constituir instrumentos importantes para a

implementação do ODS 12 e das demais metas referentes a produção e consumo

sustentáveis, apoiando e facilitando seu alcance em todos os níveis – nacional, regional e

global.

2.5 Estratégia Regional de Produção e Consumo Sustentáveis

49. A região da América Latina e Caribe (LAC) foi pioneira no tema de produção e consumo

sustentáveis (PCS) e vem trabalhando nele desde 2003, quando foram estabelecidas a

Estratégia Regional de PCS foi e um Conselho Regional de Peritos Governamentais sobre

PCS foi estabelecido. PCS então tornou-se uma prioridade para a região, conforme expresso

pelo apoio político de alto nível e compromisso recebidos dos ministros da região. Em

março de 2014, o Fórum de Ministros de Meio Ambiente da América Latina e Caribe

aprovou uma decisão em PCS, sublinhando seu apoio ao Quadro Decenal de programas

sobre PCS (10YFP), recordando as prioridades PCS regionais – políticas nacionais, PME

(pequenas e médias empresas), compras públicas sustentáveis e estilos sustentáveis de vida

e demandando a adoção de programas adicionais, no nível internacional, sobre PME,

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sistemas alimentares sustentáveis e gestão integrada de resíduos sólidos.

50. Os Governos dos diversos países da América Latina e Caribe, com o apoio do Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, desenvolveram a Estratégia Regional

de Consumo e Produção Sustentáveis (2014-2022) e seu plano de ação 2015-2016, para

promover a transição da região para estilos de vida mais sustentáveis. A Estratégia e o

plano de ação foram adotados pelo Foro de Ministros de Meio Ambiente da América Latina

e Caribe, reunido no Panamá, em maio de 2015.

51. A Estratégia define como prioridades temáticas e setoriais da região:

1. Políticas, programas e estratégias nacionais de PCS

2. Compras públicas sustentáveis

3. Estilos de vida sustentáveis e educação

4. Informação ao consumidor

5. Turismo sustentável, incluído o ecoturismo

6. Edificações e construção sustentáveis

7. Sistemas alimentares sustentáveis

8. Pequenas Médias Empresas

9. Gestão integrada de resíduos sólidos.

52. Além disso, define como mecanismos para sua implementação:

1. Conselho Regional de Especialistas de Governo sobre Produção e Consumo Sustentáveis

e os Pontos Focais Nacionais (PFN)

2. Desenvolvimento de capacidades e sensibilização

3. Mobilização de recursos financeiros

4. Disseminação e comunicação

5. Reporte e monitoramento.

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53. A região participa na implementação do 10YFP nos seguintes temas:

Compras públicas sustentáveis: projeto “SPPEL” (Compras Públicas Sustentáveis e

Rotulagem Ambiental), com 3 componentes – nível nacional, nível regional, e gestão de

conhecimento e comunicação –, que busca fomentar o uso de certificações, rótulos

ambientais e outras ferramentas voluntárias de mercado em apoio ao programa federal de

compras públicas sustentáveis;

Informação ao consumidor;

Estilos de vida sustentáveis e educação;

Turismo sustentável;

Sistemas alimentares sustentáveis;

Pequenas e médias empresas; e

Gestão integrada de resíduos sólidos.

54. Além disso, a região da América Latina e Caribe, com apoio do PNUMA, tem trabalhado

com o fomento a cooperação, comunicação e disseminação de informações, na promoção

de diálogos e intercâmbios de conhecimento, bem como na integração dos objetivos de

consumo e produção sustentáveis no desenho e implementação de políticas, incluindo

entre outras, os planos nacionais de desenvolvimento, as estratégias nacionais de

desenvolvimento sustentável, e/ou o desenvolvimento de programas nacionais de CPS.

2.6 O Mercosul e a agenda de produção sustentável

55. Ainda antes da construção do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

(PPCS, 2011), em 28 de junho de 2007, o Conselho do Mercado Comum do Mercosul

aprovou, por meio da Decisão CMC n° 26/2007, a “Política de Promoção e Cooperação em

Produção e Consumo Sustentáveis no Mercosul”. Essa Política regional pretende orientar no

sentido de melhorar a eficiência dos processos produtivos, reduzindo os riscos para a saúde

humana e para o meio ambiente. Tendo em vista os princípios e compromissos adotados

pelos Estados Parte do Mercosul, foi então necessário realizar uma mudança para um

consumo mais sustentável, a gestão ambiental das empresas orientada para um consumo

mais racional e eficiente dos recursos naturais, a prevenção da contaminação e a melhoria

da competitividade. Nesse contexto, as ações e ferramentas para produção e consumo

sustentáveis devem ainda facilitar a criação de empregos, a redução da pobreza e a inclusão

social nos Estados parte.

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56. Uma das principais iniciativas do Mercosul para avançar a agenda de produção e

consumo sustentáveis, o projeto ECONORMAS Mercosul fez parte do Programa Indicativo

Regional (PIR) 2007-2013 para cooperação da União Europeia com o Mercosul, ancorado

em três pilares:

Apoio à institucionalização do Mercosul

Apoio à consolidação e ao aprofundamento

Esforços para fortalecer e melhorar a participação da sociedade civil e conhecimento do

processo de integração regional.

57. A iniciativa resultou de estratégias, planos e agendas setoriais definidos pelo próprio

Mercosul, por meio dos grupos técnicos e fóruns políticos.

58. A iniciativa, com duração de 60 meses, foi um projeto piloto que visava a convergir as

estratégias transversais de cada Estado Parte em estratégias regionais coerentes e

executáveis, além de articular quatro linhas de ações integradas e complementares entre si:

1) A promoção da produção e do consumo sustentáveis (PCS);

2) A luta contra a desertificação e os efeitos da seca (DeS);

3) Avanços para a implementação do Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e

Rotulagem de Produtos Químicos (SGH), definidos pelo SGT N° 6; e

4) A convergência da base normativa e regulamentadora - qualidade e segurança - dos

produtos em áreas específicas selecionadas - madeira e móveis (no Uruguai e no Paraguai),

produtos elétricos, metalomecânica – e criação de capacidades regionais de avaliação da

conformidade, definida pelo SGT N°3.

59. A Resolução GMC N°41/09 aprovou a assinatura do Convênio de Financiamento para o

projeto “Programa de Apoio ao Aprofundamento do Processo de Integração Econômica e

Desenvolvimento Sustentável do Mercosul (ECONORMAS MERCOSUL)” DCI-

ALA/2009/19707, entre a Comunidade Europeia, representada pela Comissão das

Comunidades Europeias, e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai), representado

pelo Grupo Mercado Comum, que nomeou o Laboratório Tecnológico do Uruguai (LATU) da

República Oriental do Uruguai como Entidade Executora do Projeto.

60. O projeto teve como objetivo geral melhorar a qualidade e a segurança dos produtos do

Mercosul e reforçar sua capacidade de conciliar o crescimento econômico e a atividade

comercial com a gestão sustentável dos recursos, e reforçar a proteção ambiental. Para isso,

adotou como foco a promoção de boas práticas de produção e consumo sustentáveis, o

reforço à proteção do ambiente e da saúde, bem como o aumento do comércio através da

convergência de regulamentos técnicos e avaliação da conformidade.

61. Sob a linha de ação "Promoção da Produção e do Consumo Sustentáveis (PCS)" do

projeto ECONORMAS e com o apoio para o trabalho de "Serviços de consultoria para a

implantação e posterior avaliação das práticas de gestão ambiental e produção mais limpa

nas PMEs (pequenas e médias empresas) do MERCOSUL", realizado pelo consórcio GOPA-

ITA-Euro Invest nas PMEs da região atendida, foram elaborados manuais de Boas e

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Melhores Práticas de Produção Mais Limpa e Gestão Sustentável em Matéria Ambiental, a

serem divulgados entre as pequenas e médias empresas (PMEs) e as organizações da

região.

Links para os Manuais:

Produção mais Limpa, Consumo Sustentável e Boas

Práticas Ambientais para a Gestão Sustentável do setor de

Serrarias e produtos madeireiros no Uruguai >>

Produção mais Limpa, Consumo Sustentável e Boas

Práticas Ambientais para a Gestão Sustentável dos

Resíduos do setor açucareiro no Paraguai >>

Boas Práticas para a Gestão Sustentável dos Resíduos de

Aparelhos Elétricos e Eletrônicos (RAEE)>>

62. Em 2014, o SGT nº 6 – Meio Ambiente adotou seu Programa de Trabalho 2015-2016, o

qual inclui, no item Competitividade e Meio Ambiente: a) Implementação da Dec. CMC N°

26/07 “Política de Promoção e Cooperação em Produção e Consumo Sustentáveis no

MERCOSUL”; e b) revisão do Projeto de Acordo de Política de Gestão Ambiental de Resíduos

Especiais e de Responsabilidade Pós-Consumo.

63. Em 2015, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil, com o objetivo de contribuir para o

aperfeiçoamento da qualidade e segurança dos produtos originários do MERCOSUL, e

fortalecer a capacidade de conciliar o crescimento da atividade econômica e comercial com

a gestão sustentável dos recursos e o fortalecimento da proteção ambiental, propôs ao SGT

nº 6 – Meio Ambiente o desenvolvimento de duas agendas, quais sejam: (i) compras

públicas sustentáveis; e (ii) relatórios de sustentabilidade, com o objetivo de fortalecer a

cooperação e o desenvolvimento de capacidades para a implementação da agenda de

trabalho do Subgrupo.

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3. Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis - PPCS

64. A estrutura básica do PPCS se mantém neste 2º Ciclo, permanecendo praticamente

inalteradas as suas diretrizes, princípios, objetivo e estratégias. Desse modo, reapresenta-se

neste capítulo o escopo básico do PPCS, assim como são destacadas as agendas prioritárias

implementadas no 1º Ciclo e alguns dos resultados e iniciativas implementadas em cada

uma delas.

3.1 Princípios

65. Dada a sua natureza transversal, os princípios do Plano de Ação para Produção e

Consumo Sustentáveis - PPCS são compatíveis com aqueles expressos em políticas

nacionais estruturantes e acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, voltados

para temas afins, como erradicação da miséria, proteção climática, gestão de resíduos

sólidos, gestão de recursos hídricos, combate à desertificação e proteção da biodiversidade,

entre outros. O PPCS, portanto, norteia-se pelos seguintes princípios:

Do desenvolvimento sustentável, no qual a proteção ambiental é parte integrante do

processo produtivo e de consumo, permitindo qualidade de vida para todos os cidadãos e

atendendo equitativamente as necessidades das gerações presentes e futuras;

Da responsabilidade compartilhada, na qual cada cidadão deve contribuir de forma

proativa para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade dos

ecossistemas, e quando cada segmento da sociedade assume a responsabilidade que lhe

cabe no uso e gestão dos bens comuns;

Da liderança governamental por meio do exemplo, no provimento dos serviços essenciais

com qualidade, na proteção do meio ambiente como patrimônio público e na gestão ética e

eficiente dos recursos e bens comuns;

Da precaução, pelo qual a ausência de certeza científica não pode ser utilizada como razão

para postergar medidas eficazes para prevenir a degradação ambiental quando houver

ameaça de danos sérios ou irreversíveis;

Da prevenção, que consiste na adoção de medidas e políticas públicas capazes de mitigar

impactos socioambientais conhecidos;

Da participação da sociedade civil nos processos consultivos e deliberativos, com

transparência e amplo acesso à informação;

Da cooperação, nacional e internacional, entre Estados, entidades e cidadãos de boa-fé

rumo ao desenvolvimento sustentável, que garanta a qualidade de vida a todos os seres

humanos, em harmonia com outros seres vivos no Planeta; e

Da educação ambiental, para capacitar a sociedade no sentido de proteger o bem comum

para a presente e as futuras gerações, incentivando a busca e a disseminação do

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conhecimento, a implantação de tecnologias orientadas para uso eficiente de recursos

naturais e a proteção da natureza.

3.2 Diretrizes

66. Ações no âmbito do PPCS devem idealmente incorporar a (e beneficiar-se da) influência

recíproca que existe entre produção e consumo, levando em conta os limites físicos e

biológicos que a natureza impõe, e os valores éticos que formam a cultura da

sustentabilidade. Assim, as diretrizes para o PPCS devem:

Considerar tanto o sistema produtivo em si, como o sistema institucional-regulatório

que o sustenta: infraestrutura, tecnologia, instrumentos econômicos e regulatórios;

Considerar os impactos do PPCS sobre o mercado de trabalho e os requisitos da

definição de “empregos verdes” da OIT (Organização Internacional do Trabalho);

Incluir ações que tenham impacto no sistema cultural e educacional visando à mudança

de comportamentos;

Promover a integração do PPCS com outros programas e planos nacionais, como, por

exemplo, aqueles voltados à mudança do clima, à redução da pobreza, a alimentação e

nutrição, à questão energética e ao uso da água e do solo;

Identificar ações existentes em todo o Brasil, que, por suas características, possam vir a

compor e enriquecer o PPCS;

Identificar sinergias e confluências entre as prioridades e metodologias propostas nos

âmbitos nacional e internacional, de modo a contribuir com o processo internacional e com

a sustentabilidade no plano global;

Envolver amplamente a sociedade brasileira no processo, tanto por meio das

organizações já engajadas no Comitê Gestor e seus grupos de trabalho, quanto por meio de

outras organizações e redes que possam ser identificadas e motivadas a participar;

Atender às singularidades do Processo de Marrakesh e de seu conceito de produção e

consumo sustentáveis, de modo a disseminar seus significados e implicações entre todos

os participantes, e principalmente refleti-los nos critérios de escolha e priorização das

ações/objetivos do PPCS;

Observar a variedade e a diversidade de públicos, culturas regionais e de grupos sociais

dentro do País, bem como de interesses quanto ao engajamento na temática do PCS, de

modo a ser mais eficaz e o mais abrangente possível, na cobertura de seus programas,

projetos e ações; e

Levar em conta os acordos internacionais assinados pelo Brasil, especialmente as

Convenções da Biodiversidade e do Clima, bem como as demais que afetem direta ou

indiretamente as prioridades eleitas pelo PPCS.

3.3 Estratégia

67. Os pilares que compõem a estratégia do 2º Ciclo se mantiveram praticamente

inalterados, exceto aquele que enfatizava o consumo sustentável. Excluiu-se este pilar por

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entender que, tanto o consumo quanto a produção são processos sinérgicos que

necessitam ser trabalhados no mesmo nível de ênfase. Não há produção sustentável sem

consumidores conscientes e vice-versa.

68. Desse modo, a estratégia do 2º Ciclo do PPCS está sustentada por cinco pilares:

O primeiro pilar é o estabelecimento de ciclos curtos de implementação e de revisão, a

cada quatro anos.

O segundo pilar é estruturar ações existentes que já vêm sendo implementadas por vários

órgãos da administração pública, como também do setor privado, além de organizações

não governamentais. Assim, o PPCS busca organizar e valorizar essas ações, bem como

aumentar o seu número, qualidade e impacto.

O terceiro pilar está em reconhecer o grande e exitoso esforço do setor privado na

melhoria das suas operações, no fornecimento de produtos mais sustentáveis e em

iniciativas predominantemente voluntárias e sem a inversão de recursos governamentais,

em práticas que guardam total afinidade com o Plano de Ação. Assim, o PPCS tem a

ambição de atrair para o seu âmbito uma série de iniciativas voluntárias do setor produtivo.

O quarto pilar é reconhecer o princípio da exemplaridade e promover ações em que o

Estado, por meio de suas agências de governo e da sua massa de servidores, se engaje em

práticas mais sustentáveis, consolidando no País uma base normativa sólida sobre a adoção

da agenda socioambiental na gestão e na realização de compras governamentais, com

critérios de sustentabilidade definidos.

O quinto pilar está em buscar sinergias diretas e verificáveis com as principais políticas

nacionais de desenvolvimento sustentável, como a PNMC e a PNRS, elegendo prioridades

que estão sob a governabilidade do Ministério do Meio Ambiente e de seus parceiros

estratégicos.

3.4 Objetivos

69. O estabelecimento de um processo de Produção e Consumo Sustentáveis no País tem

como objetivo primordial fomentar dinâmicas e ações no presente, e também no médio e

no longo prazos, que mudem o atual paradigma de produção e consumo, contribuindo

significativamente para o desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira.

70. O resultado que se espera desse processo é a melhora contínua da qualidade de vida da

população e da proteção ambiental, por meio de práticas de produção e consumo que

respeitem a capacidade de suporte do Planeta, no presente e no futuro. Esses resultados

devem ser verificáveis e aperfeiçoados ao longo da implementação do Plano.

Objetivos gerais

71. Constituem objetivos gerais do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis,

em seu 2º ciclo de implementação:

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Fomentar no Brasil um vigoroso e contínuo processo de ampliação de ações

alinhadas ao conceito de PCS, tal como estabelecido pela ONU no Processo de

Marrakesh e no Quadro Decenal de Programas para Consumo e Produção

Sustentáveis (10YFP), compartilhando com os parceiros nacionais e internacionais o

esforço por promover também a sustentabilidade no plano global; e

Integrar a iniciativa de disseminação de PCS ao esforço de enfrentamento das

mudanças climáticas e também a outras frentes prioritárias para a sociedade

brasileira, como o combate à pobreza, a distribuição equitativa dos benefícios do

desenvolvimento e a conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais.

Objetivo específico

72. Fornecer as diretrizes básicas, eleger as prioridades e estabelecer um conjunto de ações

cabíveis, articuladas entre si, de modo a atingir os resultados esperados.

3.5 Prioridades do 1º Ciclo de Implementação do PPCS (2011 – 2014)

73. Ao longo do processo de elaboração de sua primeira

versão, o Comitê Gestor identificou um conjunto de 17 temas

que constituíram a estrutura do PPCS.

74. A estratégia de implementação do Plano de Ação para

Produção e Consumo Sustentáveis foi estruturada para operar

em ciclos de quatro anos, redefinindo as prioridades de

acordo com a evolução do padrão de ecoeficiência da

economia brasileira e de novos engajamentos do país aos

compromissos globais. No primeiro ciclo – 2011 a 2014 –

foram selecionadas seis prioridades (em verde, no Quadro 1

abaixo).

• Educação para o consumo sustentável

• Compras públicas sustentáveis

• Agenda Ambiental na Administração Pública/A3P

• Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

• Varejo e consumo sustentáveis

• Promoção de iniciativas em construção sustentável

• Integração de políticas em PCS

• Fortalecimento de uma articulação nacional em PCS

• Inovação e difusão de tecnologias em PCS

• Desenvolvimento de indicadores em PCS

• Divulgação e capacitação em PCS

• Agricultura e pecuária sustentáveis

• Fomento à produção e consumo

• Diminuição do impacto social e ambiental na geração e uso de energia

• Rotulagem e análise do ciclo de vida

• Rotulagem para expansão sustentável do uso de biocombustíveis

• Estímulo a criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menor impacto ambiental

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sustentáveis

Quadro 1: Os 17 temas que constituíram a estrutura do 1º Ciclo do PPCS, com destaque as 6 prioridades.

3.6 Resumo dos Resultados do 1º Ciclo do PPCS

75. Finalizado o 1º Ciclo do PPCS, levantou-se um conjunto de

iniciativas governamentais e de vários setores da sociedade civil,

inclusive dos setores produtivos de bens e serviços,

desenvolvidos e/ou implementados no contexto no primeiro

período de implementação do Plano de Ação para Produção e

Consumo Sustentáveis. Essas iniciativas estão sumarizadas

abaixo, de acordo com cada uma das seis prioridades do 1º Ciclo

do PPCS. Para o documento completo, acessar

http://www.mma.gov.br/publicacoes/responsabilidade-socioambiental/category/90-

producao-e-consumo-sustentaveis.

Prioridade 1 – Educação para o Consumo Sustentável

76. Com o objetivo de formar uma nova geração de cidadãos para que consigam integrar a

sustentabilidade em suas decisões pessoais e profissionais, as iniciativas na área de

educação para o consumo buscaram dar resposta à necessidade de novos modelos

culturais e educacionais, alcançando milhares de cidadãos por meio de ações de

formação/capacitação e de comunicação, com o uso dos mais recentes e inovadores

instrumentos e tecnologias de informação, comunicação e aprendizagem. Os processos

formativos e de capacitação incluíram cursos semipresenciais e a distância, e publicações

digitais; enquanto as iniciativas de informação e comunicação abarcaram campanhas de

conscientização e mobilização, e a realização de estudos e pesquisas, entre outras.

Prioridade 2 – Compras Públicas Sustentáveis

77. Ao longo dos 4 anos cobertos pelo Relatório (2011-2014), as compras sustentáveis

saíram de R$ 13,5 milhões para uma participação de R$ 40,4 milhões nas aquisições da

administração pública federal direta, autárquica e fundacional, o que significou um

crescimento de 200% em 2013, em relação a 2010. As contratações públicas sustentáveis

representaram, em 2013, 0,06% do total das compras públicas, num aumento significativo

em relação a 2011, início do Plano, quando somavam 0,02%. Já nos três primeiros meses

de 2014, as compras sustentáveis movimentaram R$ 7,9 milhões na aquisição de bens, por

meio de 168 processos. Na comparação com o mesmo período de 2013, as aquisições

sustentáveis sofreram um aumento de 66%. Para o alcance desses resultados, foram

fundamentais os normativos legais e regulatórios, a capacitação e o treinamento de

gestores públicos, e a organização da logística interna de compras do governo.

Prioridade 3 – Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P)

78. O Programa A3P duplicou o número de parceiros do Programa no período entre 2011 e

2014, tanto em adesões formais - 118 novos Termos de Adesão -, como na Rede A3P - 900

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novos membros, totalizando 1.300 instituições cadastradas. Ao longo do 1º Ciclo do PPCS,

foram realizadas campanhas de sensibilização, três edições do Fórum Nacional da A3P, três

edições do Prêmio A3P de Melhores Práticas de Sustentabilidade, o lançamento do Selo de

Sustentabilidade na Administração Pública - Selo A3P e cursos presenciais e a distância

para servidores públicos. Essas iniciativas resultaram em economias significativas no

consumo de água e energia, entre outros insumos, além da correta destinação de resíduos

nas instituições que aderiram e implementaram o Programa.

Prioridade 4 – Aumento de Reciclagem de Resíduos Sólidos

79. Com a publicação da Lei nº 12.305/2010 - Política Nacional de Resíduos Sólidos, o País

passou a contar com importantes princípios e instrumentos para avançar na agenda do

gerenciamento de resíduos sólidos. Entre 2010 e 2014, o governo federal investiu mais de

R$ 1,2 bilhão no fomento à elaboração de planos de resíduos sólidos, em investimentos em

infraestrutura e na inclusão produtiva dos catadores de materiais recicláveis. Esses

investimentos resultaram no crescimento do número de municípios brasileiros que

elaboraram seus planos de resíduos sólidos, na disposição final adequada implementada e

no apoio a empreendimentos de catadores de materiais recicláveis. Além disso, os estados

brasileiros receberam apoio para elaboração dos planos estaduais de resíduos sólidos.

Outras iniciativas relevantes implementadas durante o 1º Ciclo do PPCS foram o Programa

Cataforte – Negócios Sustentáveis em Redes Solidárias, o Prêmio Cidade Pró-Catador e a

criação de associações empresariais, como a Coalizão Empresarial para a Logística Reversa

de Embalagens, que definiu metas de recuperar resíduos sólidos recicláveis que são

descartados diariamente no Brasil.

Prioridade 5 – Varejo Sustentável

80. Desde o início do PPCS, o setor incrementou suas iniciativas e práticas voltadas para:

redução no uso de recursos e na geração de resíduos, principalmente aqueles gerados pelo

uso de sacolas plásticas; ampliação do número de lojas ecoeficientes; aumento no número

de pontos de entrega voluntária de embalagens e resíduos; aumento na oferta de produtos

sustentáveis em quatro categorias - alimentos, utensílios, vestuário, e limpeza e higiene; e

incentivo a produtos que apresentam selos de qualidade e que incluam critérios

socioambientais em seus processos de certificação, entre outras.

Prioridade 6 – Construções Sustentáveis

81. No setor de construções, diversas iniciativas foram implementadas como, por exemplo:

o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H desenvolveu, em

parceria entre o setor público e o privado, sistemas matriciais avaliativos; o Programa

Minha Casa Minha Vida introduziu diretrizes de sustentabilidade em seus projetos; o

Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), em seu componente

dedicado às Edificações, trabalhou com etiquetagem voluntária e eficiência em edifícios

públicos e comerciais; o ProjetEEE (Eficiência Energética em Edifícios) disponibilizou uma

ferramenta online que oferece soluções de eficiência energética, desenvolve material

informativo e didático sobre etiquetagem, e estudos sobre projetos de eficiência

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energética; o Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal classifica socioambientalmente os

projetos habitacionais financiados pela CAIXA; distribuição de material informativo sobre

sustentabilidade na construção e reformas particulares; estudos sobre estado da arte da

construção sustentável; iniciativas voltadas para ampliar a destinação adequada e o

reaproveitamento de resíduos da construção civil; e certificação e gestão sustentável de

arenas esportivas, particularmente aqueles realizados em função da realização da Copa do

Mundo 2014.

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4. Produção e Consumo Sustentáveis no Brasil

82. O tema da produção e consumo sustentáveis ganha a cada dia maior relevância no

cenário internacional, como também no nacional. Iniciativas consideráveis podem ser

observadas nos últimos anos, tanto por parte do setor público quanto do setor privado, que

buscam praticar uma economia mais limpa, observando critérios de conservação

ambiental, e a diminuição dos Gases de Efeito Estufa (GEE), entre outros objetivos. O Plano

de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis ajudou a fortalecer essa agenda no Brasil,

bem como sua articulação e contribuição para os objetivos setoriais e de desenvolvimento

do País.

4.1 PPCS, erradicação da pobreza, equidade e objetivos de desenvolvimento

83. Um dos principais objetivos do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis é

integrar a questão de produção e consumo sustentáveis nas políticas, planos, programas e

estratégias de desenvolvimento sustentável do País, inclusive naqueles dedicados à redução

da pobreza e ao alcance dos objetivos internacionalmente acordados.

84. A articulação e a promoção de sinergias entre as ações voltadas à produção e ao

consumo sustentáveis, e as demais ações, tanto governamentais, em todos os níveis,

quanto empresariais e da sociedade civil em geral, para o alcance dos objetivos das

políticas públicas e mesmo o cumprimento das metas e compromissos assumidos no

contexto de convenções e acordos internacionais.

85. Mudanças nos padrões de produção e consumo têm enorme potencial para contribuir

com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, adotados no contexto da Agenda 203021

em seus pilares econômico, social e ambiental. Mais do que isso, essa mudança é tão mais

viável quanto maiores forem os esforços de articulação e coordenação intersetorial, tanto

nas esferas de Governo como no contexto mais amplo da sociedade.

86. No documento final da Rio+20 “O Futuro que Queremos”, os Chefes de Estado e de

Governo afirmaram “a necessidade de uma melhor integração dos aspectos econômicos,

sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável em todos os níveis, e reconheceram

as relações existentes entre esses diversos aspectos para se alcançar o desenvolvimento

sustentável em todas as suas dimensões”.

87. A implementação do Plano de Ação de Produção e Consumo Sustentáveis pode e deve

ser, cada vez mais, um instrumento fundamental para a realização do futuro idealizado na

Rio+20 e concretizado no documento Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o

Desenvolvimento Sustentável, no qual os Chefes de Estado e de Governo declararam estar

“determinados a proteger o planeta da degradação, incluindo por meio do consumo e da

produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e de medidas

urgentes para combater a mudança do clima, para que possa atender as necessidades das

21 Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável -

http://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2015/10/agenda2030-pt-br.pdf

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gerações presentes e futuras”.

88. O desafio da erradicação da pobreza é multidimensional. Ao convergir com os

processos, políticas e programas do Ministério do Meio Ambiente, bem como com aqueles

das demais instituições públicas, nos três níveis de governo, voltados ao desenvolvimento

econômico, à inclusão social e à proteção ambiental, o Plano de Ação para Produção e

Consumo Sustentáveis constitui uma contribuição fundamental para a o desafio de

promover a inclusão social e produtiva, e fortalecer a sustentabilidade do processo de

desenvolvimento no País.

89. Trata-se da construção de esforços simultâneos e integrados contra a extrema pobreza e

de incentivo à busca por meio da eficiência produtiva da economia, enfrentamento das

consequências da mudança do clima global e busca por soluções para setores e temas

como povos e comunidades vulneráveis, segurança alimentar e nutricional, cidades e

infraestrutura, saúde e recursos hídricos, entre outros, em sintonia com a busca de

processos produtivos e hábitos de consumo mais sustentáveis.

4.2 PPCS e as políticas e programas setoriais

90. Produção e Consumo Sustentáveis é agenda reconhecida como estratégica em, ao

menos, três iniciativas, que a incorporam em seus processos de implementação: o

Planejamento Estratégico do Ministério do Meio Ambiente; as estratégias relativas à

responsabilidade socioambiental e à educação ambiental, no contexto da Secretaria de

Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, ambas com amplo poder de articulação e

integração das ações do Governo, interna e externamente; e as deliberações das

Conferências Nacionais do Meio Ambiente (CNMA) – entre elas a III CNMA (2008), com o

tema Mudanças Climáticas, e a IV CNMA (2014), em torno da Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS), a qual priorizou a Produção e Consumo Sustentáveis como um de seus

quatro eixos temáticos.

91. A V Conferência Nacional de Meio Ambiente deverá ter como tema os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável, devendo constituir assim excelente oportunidade para a

discussão e a conscientização sobre o ODS 12 (assegurar padrões sustentáveis de consumo

e produção) e suas metas, bem como as demais metas relacionadas da Agenda 2030.

92. Além dessas iniciativas citadas, PCS contribui de maneira inequívoca também para

muitas outras políticas, planos, programas e ações, tais como os relacionados com

mudanças climáticas, gestão de resíduos sólidos, conservação da biodiversidade,

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gerenciamento integrado de recursos hídricos e muitos outros.

A Política e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima

93. O conceito de produção e consumo sustentáveis (PCS) permite que os temas abordados

nos esforços de mitigação e adaptação às mudanças climáticas sejam vistos e trabalhados

de modo mais amplo, integrado e efetivo. PCS integra os dois lados dos mercados:

atividades produtivas, do lado da oferta, e as atividades de consumo, do lado da demanda.

Considerar ambos os lados permite ter um quadro completo e integrado do impacto mais

amplo do mercado sobre o meio ambiente, incluindo o clima, e reconhecer a importância

das inter-relações entre atividades empresariais, decisões políticas e, especialmente, o

comportamento dos consumidores.

94. A abordagem PCS permite identificar as relações entre os recursos e insumos utilizados

durante o desenvolvimento de produtos e serviços, a energia consumida durante seu uso, e

a proteção dos ecossistemas – em todo o ciclo de vida de um produto ou serviço. Permite,

assim, identificar claramente as áreas de atuação que têm maior impacto sobre o clima e,

consequentemente, ressalta os pontos chave de intervenção.

95. O papel das pessoas e suas necessidades, e considerar como essas são supridas pela

produção e consumo de produtos e serviços são importantes para avaliar as causas das

mudanças climáticas, especialmente quando a população global se torna cada vez mais

urbanizada. A urbanização intensifica particularmente a demanda por novos bens de

consumo e serviços, construções residenciais e comerciais modernas, e transporte

motorizado, entre outros, sendo os processos de produção desses bens e serviços

altamente intensivos em energia e recursos.

96. Ao estimular o uso de fontes de energias mais limpas e renováveis nas construções; a

eficiência energética em processos produtivos e em instalações; a redução do

desmatamento, por meio de sistemas de controle de origem e de rastreamento; entre

várias outras ações, o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis está

contribuindo de maneira inequívoca para os objetivos da Política Nacional sobre Mudança

do Clima (PNMC, Lei nº 12.187/2009) e o cumprimento dos compromissos assumidos no

contexto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, do Acordo de

Paris – COP21 dos demais instrumentos sobre mudanças climáticas.

97. A construção do PPCS buscou fortalecer as interfaces com o Plano Nacional sobre

Mudança do Clima. A interação entre os dois Planos levou o Comitê Gestor a sugerir novas

ações relacionadas à eficiência energética, ao combate ao desperdício, e a criação e

expansão de mercados para produtos florestais sustentáveis, em referência explicita ao

Plano do Clima.

98. No Quadro 2 abaixo, identificam-se os principais pontos de afinidade entre a PNMC,

seus planos e o PPCS para atingir a meta de redução de emissões de gases de efeito estufa.

(PNMC)

Objetivos da Política Nacional sobre Mudança do Clima

(PPCS)

Objetivos gerais do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

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A PNMC visa (entre outros):

I - à compatibilização do desenvolvimento econômico social com a proteção do sistema climático;

II - à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes;

VII – ao estímulo ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de emissões – MBRE.

Parágrafo único: Os objetivos da Política Nacional sobre Mudança do Clima deverão estar em consonância com o desenvolvimento sustentável a fim de buscar o crescimento econômico, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais.

Fomentar no Brasil um vigoroso e contínuo processo de ampliação de ações alinhadas ao conceito de PCS, tal como estabelecido pelo Processo de Marrakesh, compartilhando com os parceiros nacionais e internacionais o esforço por promover também a sustentabilidade nos planos regional, nacional e global.

Integrar a iniciativa de disseminação de produção e consumo sustentáveis (PCS) ao esforço de enfrentamento das mudanças climáticas, e também a outras frentes prioritárias para a sociedade brasileira, como o combate à pobreza, a distribuição equitativa dos benefícios do desenvolvimento, a conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais.

Objetivos do Plano do Clima Temáticas de PCS

Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores da economia na busca constante do alcance das melhores práticas.

Finanças Sustentáveis

Varejo e consumo sustentáveis

Consumo sustentável

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Compras públicas sustentáveis

Promoção de PCS em construção sustentável

Fomento à Indústria Sustentável

Fomento à produção e consumo sustentáveis

Relatórios de Sustentabilidade

Agenda Ambiental na Administração Pública -A3P

Buscar manter elevada a participação da energia renovável na matriz elétrica, preservando a posição de destaque que o Brasil sempre ocupou no cenário internacional.

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Compras públicas sustentáveis

Promoção de PCS em construção sustentável

Promoção da Indústria sustentável

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Rotulagem para expansão de biocombustíveis

Agenda Ambiental na Administração Pública -A3P

Fomentar o aumento sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional e ainda, atuar com vistas à estruturação de um mercado internacional de biocombustíveis sustentáveis.

Inovação e difusão de tecnologias em PCs

Fomento à produção e consumo sustentáveis

Rotulagem para expansão sustentável do uso de biocombustíveis

Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento, em sua média quadrienal, em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero.

Varejo e consumo sustentáveis

Consumo sustentável

Compras públicas sustentáveis

Promoção em PCS em construção sustentável

Agricultura sustentável

Estimulo à criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menor impacto ambiental

Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil, até 2019.

Varejo e consumo sustentáveis

Consumo sustentável

Compras públicas sustentáveis

Promoção de PCS em construção sustentável

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Integração em PCS

Agricultura sustentável

Estimulo à criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menor impacto ambiental

Fortalecer ações intersetoriais voltadas para redução das vulnerabilidades das populações

Consumo sustentável

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Promoção de iniciativas em construção sustentável

Integração de políticas em PCS

Agricultura sustentável

Estimulo à criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menor impacto ambiental

Iniciativas para enfrentamento das principais vulnerabilidades frente às mudanças do clima e aponta diretrizes para a implementação de medidas adaptativas para incremento da resiliência climática de onze setores e temas: Agricultura, Biodiversidade, Biodiversidade e Ecossistemas, Cidades, Desastres Naturais, Indústria e Mineração, Infraestrutura (Energia, Transporte e Mobilidade Urbana), Povos e Comunidades Vulneráveis, Recursos Hídricos, Saúde, Segurança alimentar e Nutricional e Zonas Costeiras.

Integração de políticas em PCS

Fortalecimento de uma articulação nacional em PCS

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Desenvolvimento de indicadores em PCS

Divulgação e capacitação em PCS

Fomento à produção e consumo sustentáveis

Rotulagem e análise do ciclo de vida

Estímulo à criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menos impacto ambiental

Quadro 2: Afinidades entre a PNMC e o PPCS

Fonte: MMA

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

99. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010,

regulamentada pelo Decreto nº 7.404/10, estabelece novos princípios, objetivos e

instrumentos para a gestão de resíduos sólidos do Brasil.

100. Pelo princípio da responsabilidade compartilhada, os geradores de resíduos públicos e

privados, incluindo os consumidores, têm responsabilidade definida e devem cooperar para

que os objetivos da PNRS sejam alcançados.

101. A PNRS refere-se tanto a resíduos gerados no processo industrial (de fabricação dos

produtos), como em suas fases de comercialização, consumo e pós-consumo, alcançando

sua competência, portanto, todas as etapas do ciclo, que vai da produção ao pós-consumo

(quando os produtos não têm mais vida útil).

102. Na PNRS, como no PPCS, fica estabelecida a necessidade de se rever todo o processo

de produção e o ciclo de vida dos produtos, incluindo o reaproveitamento de materiais

descartados na fase pós-consumo e a destinação adequada dos rejeitos (que não tem mais

aproveitamento). Assim, não só a PNRS está totalmente alinhada com o Plano de Ação para

Produção e Consumo Sustentáveis, como este é, na verdade, um instrumento para sua

aplicação prática.

103. A Lei de Resíduos Sólidos considera como geradores de resíduos sólidos todas as

pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por

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meio de suas atividades, nelas incluído o consumo (art. 3º, IX). Dessa maneira, deixa clara a

responsabilidade de todos (indústrias, importadores, comerciantes, empresários, poder

público, órgãos ambientais e consumidores), tanto na busca pela diminuição dos resíduos

gerados na fonte (produção), quanto na fase intermediária (distribuição, comercialização) e,

ainda, nas atividades diárias de consumo e de destinação final.

104. A correlação da PNRS com as ações previstas no PPCS é total e inseparável, como

destacado no quadro comparativo, a seguir:

(PNRS)

Objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos

(Artigo 7º)

(PPCS)

Objetivos gerais do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

A PNRS visa a (entre outros):

II – não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como na disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos

Fomentar à Produção e Consumo sustentáveis;

Promoção à Indústria Sustentável

Promoção em PCS em Construção sustentável

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

Compras Públicas Sustentáveis

III – estímulo à adaptação de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços

Consumo Sustentável

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

Compras Públicas Sustentáveis

IV – adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Finanças Sustentáveis

Consumo sustentável

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Promoção de PCS em construção sustentável

Fomento à Indústria Sustentável

Fomento à produção e consumo sustentáveis

VI – incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados

Aumento da reciclagem de resíduos sólidos

Compras públicas sustentáveis

Promoção de PCS em construção sustentável

Promoção da Indústria sustentável

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Rotulagem para expansão de biocombustíveis

XI – prioridade, nas aquisições e contratações governamentais para:

a) Produtos reciclados e recicláveis

b) Bens serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis

Compras públicas sustentáveis

Fomento à produção e consumo sustentáveis

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

XIII – estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto

Rotulagem ecológica e avaliação do ciclo de vida – ACV

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Fomento à Produção e Consumo Sustentáveis

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XIV – incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético

Integração de políticas em PCS

Desenvolvimento de indicadores em PCS

Varejo e consumo sustentáveis

Consumo sustentável

Compras públicas sustentáveis

Finanças sustentável

Agricultura sustentável

Inovação e difusão de tecnologias em PCS

Promoção de PCS em construção sustentável

Integração em PCS

Agricultura sustentável

Estimulo à criação e expansão de negócios/mercados com inclusão social e menor impacto ambiental

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

XV – estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável

Consumo sustentável

Rotulagem e avaliação do ciclo de vida - ACV

Quadro 3: Correlações entre a PNRS e o PPCS

Fonte - MMA

105. As iniciativas implementadas no contexto da “Agenda Ambiental na Administração

Pública – A3P” e visando ao “Aumento de Reciclagem de Resíduos Sólidos”, entre outras,

utilizam os princípios, instrumentos e institucionalidades estabelecidos na Política Nacional

de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), visando ao enfrentamento dos principais

problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos

resíduos sólidos, contribuindo também para a inclusão de catadoras e catadores de

materiais recicláveis e reutilizáveis, no contexto das estratégias nacionais de redução da

pobreza e inclusão social.

106. Entre os instrumentos estratégicos para aumentar a reciclagem no País, podem ser

citados especialmente os acordos de logística reversa, tais como o recentemente assinado

entre o MMA e 21 entidades representativas de catadores e da indústria para a logística

reversa de embalagens em geral, como latas de alumínio, garrafas plásticas e papelão. Pelo

acordo, os empresários se responsabilizam por criar um sistema de recolhimento e

destinação adequada desses produtos. Já foram implantados também sistemas de logística

reversa para embalagens de agrotóxicos, embalagens plásticas de óleos lubrificantes, pilhas

e baterias, e pneus.

Outras políticas gerais e setoriais

107. Com a utilização do poder de compra governamental, o Governo é capaz de induzir

novas práticas de mercado e mobilizar importantes setores das compras públicas

sustentáveis rumo a uma produção mais sustentável, a partir dos critérios de

sustentabilidade estabelecidos para a aquisição de bens e serviços. Além de promover um

sistema de comércio mais moderno, competitivo – nacional e internacionalmente – e

inclusivo, o Governo fortalece as políticas, programas e ações de desenvolvimento local e

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de combate às desigualdades regionais.

108. “As aquisições públicas podem auxiliar na criação de um grande mercado para

negócios sustentáveis, aumentando as margens de lucro dos produtores através de

economias de escala e reduzindo seus riscos. Por outro lado, as autoridades públicas, como

consumidores de grande escala, podem incentivar a inovação, estimular a competição na

indústria, garantindo, aos produtores, retornos pelo melhor desempenho ambiental de

seus produtos, através da demanda do mercado ou de incentivos concretos. Esses

mecanismos de mercado têm um papel importante e há vários exemplos que ilustram

como a escolha consciente dos compradores públicos tem mudado consideravelmente a

estrutura do mercado.”22

109. Ao introduzir critérios ambientais nas compras públicas dos setores de Educação,

Agricultura e Transportes, o Governo está favorecendo a qualidade de vida e a saúde da

população, não apenas daquela diretamente almejada pelos programas, como também de

suas famílias e comunidades.

110. O Programa Nacional de Florestas (PNF), os planos de ação para prevenção e controle

do desmatamento, os instrumentos de conservação da biodiversidade – inclusive a

Convenção da Diversidade Biológica (CDB, 1992) –, o desenvolvimento rural sustentável, a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a Política Nacional sobre Mudança do Clima e

a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), além de várias outras políticas, programas,

projetos e ações, têm seus objetivos fortalecidos quando Governo e empresas limitam o

consumo ao atendimento de necessidades reais, sem desperdício e adotando a reutilização

para prolongar a vida útil dos produtos; comprando produtos com menor impacto negativo

e utilizando-os de maneira eficiente, impedindo ou minimizando a poluição ou a pressão

sobre os recursos naturais; desenvolvendo produtos e serviços inovadores; evitando a

transferência de impactos ambientais negativos de um ambiente para outro; incentivando

melhorias ambientais em todos os estágios da vida do produto e levando em conta todo o

ciclo de vida – produção, distribuição, uso e disposição – dos produtos e serviços nas

tomadas de decisão sobre suas compras.

111. Ao fortalecer a agricultura familiar, a sociedade está promovendo o aumento da

produção e da produtividade, e a redução dos custos de produção, e elevando a renda da

família produtora rural. A implementação de programas e ações indutores da transição

agroecológica, da produção orgânica e de base agroecológica, por outro lado, contribuem

para o desenvolvimento sustentável, possibilitando à população a melhoria de qualidade de

vida por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis e do uso sustentável dos

recursos naturais.

112. Ao associar suas decisões de alocação de recursos ao conceito de sustentabilidade, ao

considerar os riscos socioambientais em suas práticas de concessão de crédito e de

investimentos; ao incorporar as externalidades sociais e ambientais que os ativos podem

gerar no médio e longo prazos; ao investir em programas e ações de responsabilidade social

22 http://cpsustentaveis.planejamento.gov.br/wp-content/uploads/2010/06/Cartilha.pdf

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e ambiental, com a adoção de boas práticas em relação à ecoeficiência de instalações, aos

empregados e à comunidade; ao utilizar critérios socioambientais na avaliação de empresas

e projetos, exigindo que seus clientes estejam alinhados com práticas sustentáveis, as

instituições financeiras estão dando uma contribuição inequívoca à construção de

economias mais seguras e sustentáveis, bem como de sociedades mais inclusivas,

equitativas e sustentáveis.

4.3 Responsabilidade Socioambiental

113. Originalmente, a Responsabilidade Social esteve associada à filantropia. Acreditava-se

que somente o Estado, os governos e suas instituições tinham obrigações para com a

sociedade e para com o meio ambiente. À medida que aumentou a consciência da

sociedade (das pessoas, grupos e organizações que a compõem) de que vivemos em um

único planeta, e que estamos todos interligados, a noção de RS se ampliou e ganhou outro

sentido.

114. A partir dos anos 1990, surgiu uma nova visão sobre a Responsabilidade Social: se

materializa por meio de políticas, estratégias e ações que visam, em última instância, a

contribuir para o desenvolvimento sustentável. Para que o desenvolvimento seja

sustentável, passa a ser necessária uma revisão de crenças e valores que embasam as ações

sociais de todas as organizações, bem como o desenvolvimento de novos modelos de

atuação dos diferentes atores sociais.

115. A Responsabilidade Social já foi batizada com vários nomes, como: Responsabilidade

Social Corporativa, Responsabilidade Social Empresarial, Responsabilidade Socioambiental,

Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial, Responsabilidade nos Negócios,

Responsabilidade Social e Sustentabilidade.

116. Pode-se chegar à conclusão de que Responsabilidade Social é um conceito dinâmico,

assim como é a própria sociedade, em permanente evolução e em estado contínuo de

transformação. Esse conceito está diretamente relacionado às expectativas e às

necessidades da sociedade, e ao modo como respondemos às consequências de nossas

atitudes e aos impactos que causamos a indivíduos ou grupos, bem como aos ecossistemas.

117. No contexto internacional, o debate sobre temas como direitos humanos, direitos do

trabalho, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, entre os Estados Membros das

Nações Unidas, acarretou a reformulação da ideia de Responsabilidade Social com relação

às organizações de todos os setores sociais.

118. Em 2010, a ISO (International Organization for Standardization – Organização

Internacional de Normalização), entidade que coordena a elaboração de normas técnicas

internacionais, publicou a ISO 26.000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social23. O

entendimento é que Responsabilidade Social aplica-se a todos os tipos e portes de

organizações: privadas, públicas ou organizações sem fins lucrativos, sejam elas pequenas,

23 http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/[field_generico_imagens-filefield-

description]_65.pdf.

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médias ou grandes. Por organização entende-se qualquer entidade ou grupo de pessoas e

instalações com um conjunto de responsabilidades, autoridades e relações, e com objetivos

identificáveis.

119. A definição cunhada pela ISO 26.000, e também adotada na norma Brasileira ABNT

NBR 16.001, é a de que a Responsabilidade Social:

“é a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões

e atividades24 na sociedade e no meio ambiente, por meio de um

comportamento ético e transparente que:

• contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive para a saúde e o

bem-estar da sociedade;

• leve em consideração as expectativas das partes interessadas;

• esteja em conformidade com a legislação aplicável;

• seja consistente com as normas Internacionais de comportamento; e

• esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas

relações25.”

120. Com essa nova definição, o termo Responsabilidade Social passou a ter um

entendimento compartilhado entre vários países e organizações distintas.

121. Os Princípios e Temas Centrais da Responsabilidade Social: os sete Princípios-base da

Responsabilidade Social (RS) encontram-se estabelecidos nas normas, internacional e

nacional:

1. Accountability ou Responsabilização: Aceitar e assumir a

responsabilidade pelas consequências de ações e decisões, prestar

contas às partes interessadas (Princípio 4, abaixo) por seus impactos

na sociedade, na economia e no meio ambiente, bem como

esclarecer as medidas tomadas para evitar a repetição de impactos

negativos.

2. Transparência: Prover, às partes interessadas, informações claras, objetivas,

compreensíveis e acessíveis sobre dados e fatos que possam

afetá-las. Estas informações devem oferecer uma base para

que as partes interessadas possam avaliar precisamente o

impacto que as decisões e atividades da organização têm

em seus respectivos interesses.

3. Comportamento ético: Agir de modo correto, com base nos

valores da honestidade, equidade e integridade - perante pessoas,

animais e meio ambiente - e que seja consistente com as normas

Internacionais de comportamento26.

24 Atividades incluem produtos, serviços e processos. 25 Relações referem-se às atividades da organização dentro de sua esfera de influência. 26 As normas internacionais de comportamento são aquelas amplamente praticadas e reconhecidas

internacionalmente. Muitas delas estão expressas em acordos, tratados e convenções internacionais, como, por

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4. Respeito pelos interesses das partes interessadas: Respeitar, considerar e

responder aos interesses das partes interessadas. Parte interessada (também

usado o termo em inglês stakeholder) pode ser qualquer indivíduo ou grupo que

tenha interesse em qualquer decisão ou atividade

de uma organização. Há vários tipos de

stakeholders, inclusive aqueles que não têm

consciência, mas que podem ter seus interesses

afetados pela organização, como é o caso das

futuras gerações. Há também aqueles que não falam por si mesmos, mas que têm

seus interesses defendidos por outros grupos que defendem causas sociais ou

representam grupos vulneráveis, como, por exemplo, as crianças.

5. Respeito pelo Estado de Direito: Obedecer a todas as leis e

regulamentos aplicáveis no local onde se está operando.

6. Respeito pelas normas internacionais de comportamento:

Buscar adotar preceitos estabelecidos em acordos internacionais

relativos à Responsabilidade Social, mesmo que não haja

obrigação legal no local onde se está operando.

7. Respeito aos Direitos Humanos: Respeitar os direitos humanos

e reconhecer sua importância e sua universalidade (isto é, são

aplicáveis em todos os países, culturas e situações de forma

unívoca), assegurando-se que as atividades da organização não

os agridam direta ou indiretamente.

122. Toda organização que queira seguir as normas de RS(A) deve ter esses sete princípios

incorporados como parte integrante de sua conduta e, desse modo, contribuirá para o

desenvolvimento sustentável, inclusive para a saúde e o bem-estar da sociedade. O

Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO – desenvolveu um

programa de certificação voluntário para a comprovação do atendimento aos requisitos da

NBR 16001, o Programa Brasileiro de Certificação em Responsabilidade Socioambiental.

4.4 Perspectiva de ciclo de vida e abordagem sistêmica

123. Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)27 é a compilação e avaliação das entradas e saídas

dos potenciais impactos ambientais de um produto por meio do ciclo de vida (ISO 14.040:

2006). É um método estruturado, compreensivo e padronizado no nível internacional.

Quantifica informação sobre as emissões e os recursos consumidos em todas as fases do

ciclo de vida de um produto, processo ou serviço, analisando seus impactos ambientais, os

impactos sobre a saúde humana e o nível de depleção de recursos (JRC/IES, 2010c).

exemplo, a Carta Internacional de Direitos Humanos. 27 Life Cycle Assessment (LCA), em inglês.

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124. Trata-se de uma abordagem para produção mais limpa, aumento da competitividade

das empresas e fortalecimento das iniciativas para a promoção da sustentabilidade das

intervenções humanas no meio ambiente.

125. No contexto mundial, a ACV vem sendo difundida cada vez mais, por meio de bancos

de dados consolidados (Europa e Japão), políticas públicas (Políticas Integradas de

Produtos) e desenvolvimento de estudos por empresas, em parceria com governos e a

academia.

126. As primeiras normas a respeito do método surgiram em 1997 e 1998, tendo o Brasil28

participado das discussões por meio de subcomitê específico, sendo que, no ano de 2001,

foi lançada a NBR ISO 14.040. O interesse pela ACV tem aumentado ao longo dos anos. A

crescente evolução das publicações científicas e o aumento das parcerias e redes que visam

a promove-lo são exemplos disso.

127. Segundo o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), é uma

metodologia utilizada principalmente por instituições de pesquisa e universidades, mas que

também é uma fonte de negócios de importância crescente, tanto no âmbito de atuação

dos prestadores de serviço, quanto na aplicação pela indústria.

128. Por esse motivo, observa-se sua utilização como ferramenta de gestão ambiental

estratégica, capaz de identificar oportunidades para melhorar o desempenho ambiental de

produtos em vários pontos do seu ciclo de vida e, em consequência disso, promover a

imagem corporativa.

129. De forma geral, a ACV permite uma análise científica sobre as questões ambientais

ligadas a um produto ou processo, evitando um olhar superficial do seu impacto, a partir de

processos que incluem:

Compilação de inventários sobre materiais e energias relevantes inseridas, e emissões

ambientais;

Avaliação do impacto ambiental associado com o consumo e as emissões identificadas; e

Interpretação dos resultados sobre o impacto do produto, processo ou serviço.

28 No Brasil, a comunidade de ACV é representada por mais de 27 grupos e/ou laboratórios de pesquisa, 18

empresas de consultoria e 64 empresas/indústrias. Transcrição dos Diálogos Setoriais Brasil e União Europeia

Desafios e soluções para o fortalecimento da ACV no Brasil. IBICT, 2015.

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Figura 9. Fases da ACV. Fonte: ABNT, 2009

130. A ACV é desenvolvida e incentivada, no Brasil, pela Associação Brasileira de Ciclo de

Vida (ABCV), IBICT e Inmetro, responsáveis pela coordenação do Programa Brasileiro em

Avaliação do Ciclo de Vida (PBACV), que tem como finalidade construir uma base nacional

de Inventário de Ciclo de Vida – ICV setorial e contribuir para a disseminação do

pensamento do ciclo de vida.

141. Nesse contexto, destaca-se que o Guia de Compras Públicas Sustentáveis para a

Administração Federal sugere o uso de rotulagens baseadas em estudos de ACV como

comprovação da sustentabilidade de produtos e serviços, em processos de Compras

Públicas Sustentáveis.

132. Não obstante tudo isso, observam-se barreiras que devem ser superadas para que o

uso da ACV seja realizado de forma mais ampla e efetiva no Brasil, como, por exemplo:

Necessidade da confidencialidade de dados;

Necessidade de implementação da abordagem sistêmica;

Desconhecimento das limitações e vantagens da ferramenta;

Necessidade de abordagens simples e rápidas;

Requisitos metodológicos para elaboração de estudos robustos;

Diferentes possibilidades de modelagem, que levam a resultados diferentes para o

mesmo inventário; e

Grau de incerteza científica elevada na avaliação de impacto do ciclo de vida para

algumas categoriais ambientais.

133. Para superar os desafios para o uso de ACV no Brasil, ainda é necessário aumentar a

quantidade de bases de dados existentes, bem como melhorar a qualidade desses, além de

maior investimento em infraestrutura tecnológica e, por fim, sua internalização nas

políticas públicas como poderosa ferramenta de gestão ambiental. Deve-se considerar,

sempre, a viabilidade técnica e econômica e a aplicação técnica correta da metodologia,

evitando perda de competitividade pelo uso equivocado da ferramenta.

134. Cabe ressaltar, que, para superar esses desafios, é fundamental a conexão e

compatibilização do 2º ciclo do PPCS com o Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de

Vida (PBACV). Além disso, é necessário o fortalecimento das parcerias entre entidades

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públicas, empresas, universidades e instituições de pesquisas nacionais e internacionais

para a difusão e o fomento do uso da metodologia de ACV como ferramenta para tornar a

gestão ambiental mais efetiva no país.

135. Diante desse contexto, consideram-se como áreas potenciais para a promoção do uso

de ACV no Brasil e o fortalecimento de sua contribuição à mudança de padrões de

produção e consumo: o desenvolvimento de base de dados brasileira de ICV; o apoio à

disponibilização de processos de ICV brasileiros em bases de dados internacionais; a

regionalização de fatores de categorias de impacto ambiental; a utilização de infraestrutura

tecnológica e metodológica de países parceiros e avançados no uso de ACV; a abordagem

sistêmica; o desenvolvimento de bases de dados input-output ambientais; a Pegada

Ambiental dos produtos e organizações; e a troca de experiências para o desenvolvimento

de licitações públicas sustentáveis.

4.5 Perspectiva de longo prazo

136. Embora tenham impacto no curto prazo, as políticas públicas devem ser,

necessariamente, construídas com base em uma perspectiva de longo prazo, sistêmica e

incremental, que busca a instituição de objetivos e instrumentos determinados a partir de

um cuidadoso estudo dos problemas a serem enfrentados e das alternativas de ação.

137. Deve-se também considerar as limitações, possíveis ameaças e oportunidades, além

de seu aperfeiçoamento e adaptação contínua, tendo como premissa fundamental uma

perspectiva de desenvolvimento mais duradoura e sustentável.

138. A construção das diretrizes para o 2º ciclo do Plano de Ação para Produção e Consumo

Sustentáveis e sua implementação têm, nesse sentido, a perspectiva de longo prazo como

estratégia fundamental para o alcance dos cenários que são propostos em cada um de seus

eixos estratégicos e o alcance dos objetivos propostos.

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5. Eixos Temáticos – Plano de Ação

139. Ao longo do processo de elaboração do Plano de Ação para Produção e Consumo

Sustentáveis – PPCS, o Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentáveis (instituído pela

Portaria MMA nº 44/2008) identificou um conjunto de 17 temas prioritários que constituem

a estrutura do PPCS. Conforme indicado no Plano, a seleção dos temas não implicou na

exclusão de outros como áreas de interesse e atuação, que poderiam ser agregados ao

PPCS de acordo com a demanda da própria sociedade.

140. Para a implementação do 2º ciclo do Plano, várias áreas de foco foram mantidas, tais

como compras públicas sustentáveis, varejo sustentável e construções sustentáveis, entre

outras. Alguns dos temas prioritários identificados no Plano, entretanto, serão abordados,

neste 2º ciclo, de modo mais transversal, como é o caso de fomento, rotulagem, análise de

ciclo de vida, divulgação e capacitação, inovação e difusão de tecnologias. Devem somar-se

a esses temas transversais questões relacionadas às crises de energia e de água, além de

outras mais estruturais e de impacto sistêmico, tais como as institucionais e políticas.

141. O fomento à produção sustentável, mesmo constituindo uma abordagem transversal

ao Plano, foi escolhido como um dos eixos temáticos essenciais no 2º ciclo por sua natureza

estratégica e fundamental para a viabilização das políticas, programas e ações.

142. Foram considerados, também, na construção das diretrizes para o 2º ciclo os desafios

trazidos pela Agenda 2030, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e suas metas, que

deverão congregar os esforços nacionais, regionais e globais para alcançar o

desenvolvimento sustentável em suas três dimensões – econômica, social e ambiental – de

forma equilibrada e integrada. Não apenas com relação ao ODS 12, de assegurar padrões

de produção e de consumo sustentáveis, e suas onze metas, como também a inúmeros

outros que dizem respeito ao uso eficiente e sustentável de recursos e insumos, e a

proteção ambiental.

143. Os dez eixos temáticos que seguem são o resultado da avaliação dos avanços

realizados no 1º ciclo de implementação do PPCS (2011-2014) e da consideração dos

contextos nacional, regional e global para a implementação de padrões mais sustentáveis

de produção e de consumo no Brasil. O quadro abaixo sintetiza as estratégias identificadas

em cada um dos dez eixos temáticos, os quais são detalhados mais adiante.

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EIXO TEMÁTICO ESTRATÉGIAS PARA ALCANÇAR OS CENÁRIOS DESEJADOS

COMPRAS

PÚBLICAS

SUSTENTÁVEIS

1) Fortalecimento da Comissão Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública - CISAP;

2) Criação de um fórum permanente de diálogo entre os setores público e privado para promover o debate sobre o tema de produção e consumo sustentáveis;

3) Definição e utilização de metodologias de mensuração e verificação dos critérios de sustentabilidade para produtos e serviços, em parceria com o setor privado e academia;

4) Alinhamento das ações realizadas pelos governos federal e estaduais sobre compras públicas sustentáveis;

5) Proposição de melhorias do arcabouço jurídico;

6) Construção, de forma colaborativa, de rótulos, selos e normas com critérios ambientais, sociais e econômicos;

7) Fomento à adoção de critérios de sustentabilidade em sua cadeia produtiva pelas empresas de grande porte;

8) Conscientização da importância de incorporar a perspectiva socioambiental nas contratações públicas e privadas;

9) Capacitação continuada de todos os envolvidos nas contratações públicas sustentáveis;

10) Apoio à implementação de um sistema de informação para compras públicas sustentáveis.

FINANÇAS

SUSTENTÁVEIS

1) Implementação e melhoria contínua de sistemas de gestão socioambiental;

2) Aprimoramento e disseminação das melhores práticas de avaliação e mensuração de impactos sociais e ambientais;

3) Realização de programas de treinamento e assistência técnica para formação de equipes qualificadas no sistema financeiro para avaliar e

monitorar os riscos sociais e ambientais dos negócios;

4) Desenvolvimento de iniciativas em políticas de estado e fiscais que estabelecessem os preços de atividades/produtos/serviços segundo

seu impacto socioambiental, com tributação diferenciada, incentivos e regulação específica;

5) Criação, em parcerias bancos/setor público, de novos instrumentos econômicos (benefícios financeiros, creditícios, etc) que viabilizem

projetos socioambientais de longo prazo;

6) Desenvolvimento dos mercados de carbono e energia, buscando a regulação desses mercados;

7) Estimulo à criação, fortalecimento e ampliação de fundos socialmente responsáveis

8) Estimulo à criação, fortalecimento e ampliação de programas de microcrédito;

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9) Estímulo à criação de linhas de crédito, benefícios e incentivos fiscais para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas; e

10) Estímulo ao desenvolvimento e oferta de seguros ambientais

INDÚSTRIA

SUSTENTÁVEL

1) Otimização do consumo de matérias-primas;

2) Otimização do consumo de energia;

3) Redução da emissão de gases de efeito estufa, seguindo as diretrizes do Plano Indústria;

4) Intensificação da reutilização e da reciclagem de materiais;

5) Maximização do uso sustentável de recursos renováveis;

6) Potencializar os canais de comunicação com as partes interessadas e disseminação de boas práticas socioambientais;

7) Fomento a uma transição gradual para o modelo de economia circular.

CONSTRUÇÃO

SUSTENTÁVEL

1) Fomento ao desenvolvimento do Programa PBQP-H para garantia da qualidade dos produtos e serviços da Construção Civil;

2) Fomento ao desenvolvimento do PROCEL Edifica, no âmbito do Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE, para a etiquetagem voluntária do nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos;

3) Fomento à parceria com Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, municípios e estados para a ampliação dos critérios de sustentabilidade nas habitações de interesse social;

4) Apoio e fortalecimento do Projeto Esplanada Sustentável (PES);

5) Apoio, em parceria com a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), dos programas no setor de construções sustentáveis, compreendendo: água, energia, resíduos, sistemas e materiais, mudanças climáticas, desenvolvimento humano, meio ambiente, infraestrutura e desenvolvimento urbano;

6) Apoio a programas no setor construção civil nos temas de ecodesign e arquitetura sustentável; eficiência energética, uso racional da água, inovação tecnológica, redução de Gases de Efeito Estufa - GEE na cadeia de produção, infraestrutura urbana, valorização do trabalhador da construção civil, treinamento e melhoria da mão de obra, gestão da qualidade e de resíduos e conservação ambiental;

7) Apoio e participação em programas no setor de construção sustentáveis, compreendendo os seguintes temas: água, energia, resíduos, sistemas e materiais, mudanças climáticas, desenvolvimento humano, meio ambiente infraestrutura e desenvolvimento urbano;

8) Elaboração de guias e manuais que mostrem os impactos das escolhas de materiais, componentes e sistemas em construções sustentáveis, seja em reformas ou retrofits, de modo a induzir a utilização de técnicas e materiais de menor impacto socioambiental;

9) Elaboração de estudos e publicações que promovam a adoção de práticas sustentáveis no setor da construção e nas edificações;

10) Elaboração, em parceria com o CBCS/PNUMA, de estudos de referência com a metodologia de ACV e governança da área de Materiais e Componentes de Construção do PBACV (Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida), e discussão com atores estratégicos do setor,

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que permita a introdução acelerada de boas práticas de produção e consumo sustentáveis na cadeia produtiva da construção;

11) Acompanhamento do desenvolvimento da indústria de reciclagem de resíduos da construção civil e a normatização dos produtos reciclados;

12) Incentivo ao uso, por meio de linhas de crédito, financiamentos e subsídios, em edifícios e residências – prioritariamente em habitações de interesse social e obras públicas –, de sistemas de aproveitamento de energia solar, fotovoltaica e energia solar fototérmica, e energia eólica e outras formas de energias renováveis;

13) Incentivo ao desenvolvimento de método de avaliação da acessibilidade aos sistemas de transportes em futuros empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV, como recomendação ou normativa e contribuindo para a construção de cidades melhor adaptadas à sustentabilidade;

14) Promoção de iniciativas de capacitação nos municípios com vistas a fomentar novos padrões de estruturação urbana, por meio do Plano Diretor de Mobilidade Urbana, e tendo em vista a implementação de Lei nº 12.587/2012, que institui as diretrizes da política nacional de mobilidade urbana;

15) Apoio ao aperfeiçoamento do modelo de gestão do Fundo Socioambiental - FSA CAIXA de modo a fortalecer as políticas e programas de sustentabilidade para construções;

16) Apoio ao desenvolvimento de especificações de desempenho dos empreendimentos de Habitação de Interesse Social – HIS baseado na NBR 15575;

17) Promoção de iniciativas visando a ampliar as fontes de energia participantes do sistema de compensação: fontes renováveis e cogeração qualificada;

18) Fomento à criação de linhas de recursos não reembolsáveis específicas para projetos de pesquisa e inovação tecnológica focados em sistemas de aproveitamento da energia solar e biogás.

VAREJO

SUSTENTÁVEL

1) Combate às perdas e ao desperdício de alimentos;

2) Aumento da oferta de produtos mais sustentáveis;

3) Estímulo à certificação e a selos que garantam a qualidade e origem dos produtos;

4) Diminuição das embalagens em excesso nos produtos;

5) Apoio a produtores e fornecedores locais;

6) Investimento em comunicação e mobilização, e envolvimento dos consumidores com a sustentabilidade;

7) Implementação de programas de gestão dos resíduos;

8) Ampliação do número de lojas ecoeficientes.

AGRICULTURA 1) Combate ao desperdício e às perdas de alimentos;

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SUSTENTÁVEL 2) Aumento da oferta de produtos mais sustentáveis;

3) Estímulo à certificação e a selos que garantam a qualidade e origem dos produtos;

4) Apoio a produtores e fornecedores locais;

5) Fortalecimento da comunicação e sensibilização;

6) Crédito e Financiamento;

7) Fortalecimento e ampliação da Assistência Técnica e Extensão Rural para uma agricultura sustentável;

8) Programas de P&D para o desenvolvimento de tecnologias para transição para agroecologia;

9) Outras ações: controle e gerenciamento dos impactos socioambientais na produção agrícola; incentivo ao desenvolvimento de produtos com diferenciais ambientais e/ou sociais; e a racionalização da oferta de produtos, fazendo uso de entregas a granel com a redução do uso de embalagens.

CONSUMO

SUSTENTÁVEL

1) Ampliação do debate, para estimular padrões mais sustentáveis de consumo é necessário que o debate sobre a (in)sustentabilidade dos atuais padrões se torne presente em todos os setores da sociedade;

2) Qualificação e divulgação de informação para subsidiar o debate sobre consumo;

3) Ampliação do acesso aos bens, serviços e práticas sustentáveis para, além de priorizar o encorajamento para a escolha de bens e serviços mais sustentáveis, derrubar as barreiras para o acesso aos meios que possibilitem a mudança de comportamento;

4) Identificação e incentivo a iniciativas sustentáveis inovadoras, além das práticas sustentáveis clássicas, em diversos setores da sociedade, desde iniciativas individuais ou de pequenos grupos coletivos de bairro até de pequenas, micro e grandes empresas;

5) Regulação da publicidade e da comunicação mercadológica, e combate ao consumismo infantil para encorajar a adoção de padrões de consumo para o Desenvolvimento Sustentável.

AGENDA

AMBIENTAL NA

ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA

- A3P -

1) Continuidade no crescimento de números de parceiros da A3P, com novos arranjos de governança e estratégias de municipalização diferenciadas, que sejam eficientes e adequadas para as distintas realidades do País;

2) Articulação do Programa com o MPOG, com a criação, em caráter obrigatório, de unidades específicas para tratar do tema da sustentabilidade nas instituições públicas, e a criação de um Comitê Setorial para tratar da implementação da Agenda nos órgãos militares e de segurança;

3) Fortalecimento das ações relacionadas aos eixos temáticos da A3P, especialmente no eixo de licitações sustentáveis;

4) Criação de uma agenda permanente de cursos de capacitação, que incluam: 1) capacitação presencial e à distância, sobre os seis eixos temáticos da A3P, para as 27 unidades da federação; 2) formação de agentes multiplicadores; 3) cursos específicos de capacitação por eixo da Agenda; e 4) programa de intercâmbio entre as instituições; e ampliar as parcerias com outras instituições que promovam capacitação;

5) Elaboração de materiais específicos de orientação da A3P por setor: a) municípios com até 50.000 habitantes; b) órgãos e entidades

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públicas; c) instituições financeiras; d) tribunais; e) empresas públicas; e f) universidades e institutos federais;

6) Implantação do sistema de monitoramento online da A3P (Ressoa) e do Banco de Boas Práticas, com a publicação de relatórios regulares de impactos do Programa;

7) Inclusão de ações da A3P junto às escolas públicas, em parceria com o MEC, para apoiar a implementação do projeto Escolas Sustentáveis;

8) Elaboração de uma proposta de metodologia para certificação pública da A3P. A ideia é que, a partir da certificação, seja possível apoiar financeiramente projetos de sustentabilidade, ligados aos 6 eixos temáticos da A3P.

GESTÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS

1) Planejamento e Gestão para implementação da PNRS, em todos as esferas de governo, por meio dos planos nacional, estaduais, municipais e intermunicipais de resíduos sólidos;

2) Coleta Seletiva dos resíduos, separados previamente na fonte geradora, como ação fundamental para a gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos – RSU e instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos;

3) Implementação de sistemas de compostagem;

4) Logística reversa e reciclagem, com base na responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto - fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos;

5) Análise do Ciclo de Vida do produto – ACV, para definir o perfil ambiental do produto ou processo, bem como possibilitar que os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida de um bem sejam medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais.

6) Incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados (previsto na Lei Federal nº 12.305/2010;

7) Incentivo à Economia Circular e incorporação de conceitos de ciclo de vida para embalagens e produtos visando o seu aproveitamento e reciclagem após o descarte.

RELATOS DE

SUSTENTABILIDADE

1) Criação de condições para que empresas públicas que integram os Orçamentos de Investimentos da União, Estados e Municípios divulguem anualmente Relatos Corporativos de Sustentabilidade na modalidade Relate ou Explique, adotando roteiro compatível com o porte, materialidade e relevância dos impactos sociais e ambientais;

2) Incentivo às grandes empresas de capital fechado (alterando a Lei nº 11.638/2007) e limitadas, de grande porte, a publicar informações financeiras e não financeiras;

3)Criação de incentivos para divulgação integrada de informações não financeiras e financeiras, na modalidade Relate ou Explique, como critério para participação em compras públicas sustentáveis, política de incentivos ficais e acesso facilitado ao crédito, licenciamento e concessões;

4) Identificação de parâmetros de sustentabilidade setoriais e globais que permitam gerar compromissos voluntários com as associações

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empresariais e outras organizações da sociedade interessadas, cujo instrumento de verificação de desempenho em relação a esses compromissos sejam os Relatos Corporativos de Sustentabilidade;

5) Utilização da capacidade de indução das agências reguladoras, considerando a aplicabilidade e a relevância quanto aos impactos sociais e ambientais dos setores regulados, para exigir e/ou recomendar a prática do Relato Corporativo de Sustentabilidade das empresas reguladas;

6) Criação de plataforma digital, de acesso público, para disponibilizar banco de dados com as informações das organizações e dados oficiais do Governo, acolher relatos de boas práticas, documentos/materiais de divulgação, acolher acervo de informações necessárias ao acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), indicadores e metas, relacionados com os compromissos da base produtiva do País, com a melhoria do desempenho socioambiental e da governança das empresas, e acolher a divulgação de relatos, viabilizando o monitoramento estatístico pela sociedade e as partes interessadas;

7) Consideração, de forma efetiva, da aplicação do sistema internacional XBRL (Extensible Business Reporting Language) - dicionário estruturado que explica o conjunto de conceitos utilizados por um país, um grupo de países ou um domínio particular (bancos, seguradoras, bolsa de valores);

8) Adoção de medidas de estímulo ao relato das pequenas e microempresas (P&ME) na cadeia de valor das empresas públicas e privadas, por meio da modalidade Relate ou Explique, em processos compatíveis com o porte, materialidade e relevância quanto aos impactos sociais e ambientais, das P&ME;

9) Proposição às instâncias pertinentes do Governo federal de um modelo de relato anual compatível com a natureza, materialidade, relevância e capacidade gerencial das suas organizações, bem como sua publicação no website do órgão;

10) Início de processos de diálogos com setores específicos não contemplados no GT, de modo a ampliar o processo de escuta, engajamento e construção de uma Estratégia Nacional para a Promoção de Relatos Corporativos de Sustentabilidade;

11) Estabelecimento de mecanismo de governança como instrumento de coordenação e de diálogo permanente com as partes interessadas, com o objetivo de viabilizar uma Estratégia Nacional para a Promoção de Relatos Corporativos de Sustentabilidade e para uma gestão integrada de recursos financeiros e não financeiros.

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5.1 Compras Públicas Sustentáveis

Descrição e contexto

144. As compras e contratações públicas sustentáveis vêm se consolidando nos últimos

anos no Brasil como uma prática reconhecida nas três esferas de governo – Federal,

Estadual e Municipal – dos três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário –, tendo

ocorrido avanços significativos com relação a essa temática nos últimos dez anos.

145. Prova desses avanços consiste na busca constante por parte dos governos em

aprimorar seus mecanismos de compras e contratações, a partir da inserção de requisitos

de sustentabilidade nos processos administrativos. Para tanto, a vontade política e o

empreendimento de esforços por parte dos gestores públicos têm se demonstrado

essenciais à viabilização das compras e contratações sustentáveis.

146. Tal se deve pelo fato de as compras sustentáveis despertarem, ainda, alguma

resistência no âmbito da Administração Pública, decorrente, muitas vezes, de uma

interpretação limitada da legislação nacional vigente, associada à falta de embasamento

técnico por parte dos gestores públicos no que diz respeito às formas de realização das

exigências de caráter socioambiental e de sua respectiva contratação após o processo de

licitação.

147. Na busca de superar essas dificuldades, diversos entes governamentais brasileiros vêm

realizando iniciativas no campo das licitações e contratações sustentáveis, inspiradas pelas

mudanças ocorridas na legislação ao longo dos últimos vinte anos e pela própria crise

ambiental vivenciada nos dias atuais, relacionada a escassez hídrica, poluição, insegurança

energética, contaminação da água e do solo, e mudanças climáticas e seus efeitos.

148. Importante destacar que, atualmente, o Brasil conta com um arcabouço jurídico vasto

e valoroso no que diz respeito à prática das compras e contratações públicas sustentáveis,

tendo superado velhos dilemas que permaneciam até há pouco tempo impedindo ou

dificultando sua realização na prática. As mudanças e melhorias ocorridas na legislação

aplicável às licitações e contratos administrativos garantiram maior tranquilidade ao agente

público, restando apenas superar algumas questões de caráter técnico para garantir

efetividade à política.

LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

A legislação brasileira prevê uma série de dispositivos para o tema da sustentabilidade. O

art. 170 da Constituição, que dispõe sobre a ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, estabelece que esta tem por fim assegurar a todos

existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados dentre os seus

princípios a “defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado

conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e

prestação” (inciso VI). O art. 225 da Constituição reconhece implicitamente a ideia de

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desenvolvimento sustentável, uma vez que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever

de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Em âmbito infraconstitucional, a Lei Geral das Licitações, Lei 8.666, de 21 de junho de 1993,

alterada em 2010, passou a prever em seu artigo 3º que a licitação destina-se a garantir a

observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa

para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, e será

processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da

impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa,

da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são

correlatos. A Lei Complementar, Lei 123, de 14 de dezembro de 2006, estabelece normas

gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas

e empresas de pequeno porte. Prevê em seu art. 44º que nas licitações será assegurada,

como critério de desempate, preferência de contratação para as microempresas e empresas

de pequeno porte.

O Decreto nº 7.746/2012, que regulamentou o artigo 3º da Lei nº 8.666/93, estabeleceu

critérios, práticas e diretrizes para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável nas

contratações realizadas pela administração pública federal, e instituiu a Comissão

Interministerial de Sustentabilidade na Administração Pública – CISAP. Em seu artigo 4º, o

Decreto aponta como diretrizes de sustentabilidade:

• menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e água;

• preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local;

• maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia;

• maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local;

• maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;

• uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; e

• origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos bens,

serviços e obras.

Essas diretrizes servem de base para os critérios adotados para compras públicas

sustentáveis realizadas atualmente. Nesse mesmo sentido, a Portaria do Inmetro 317/2012

reafirmou esses princípios como norteadores e criou os Requisitos Gerais de

Sustentabilidade de Processos Produtivos.

Considerando a legislação vigente, é fundamental que o Estado utilize seu poder de compra

de modo estratégico, não só de modo a promover a sustentabilidade em suas compras

públicas, mas também como forma de fomentar as políticas públicas já existentes, tais como

a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), a Política Nacional de Recursos

Hídricos (PNRH) a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a Política Nacional de

Habitação (PNH), a Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB) e a Política Nacional de

Recursos Hídricos, dentre outras.

149. A efetividade das medidas legislativas depende da existência de alguns fatores, como a

já mencionada vontade política. Outros fatores relevantes consistem na existência de um

sistema de compras bem estruturado, que garanta transparência, agilidade e padronização

aos processos, e na capacitação permanente e contínua dos servidores atuantes nos

setores de licitações, contratos, suprimentos, almoxarifado, apoio jurídico e todos os

demais envolvidos nos processos licitatórios em geral.

150. A constituição de uma base jurídica específica foi determinante para a expansão das

contratações sustentáveis. O Governo Federal aprendeu, todavia, que não é suficiente

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definir normas de conduta responsável para o setor público e, por indução, para o setor

privado. A experiência mostra que o governo deve assumir uma posição de liderança e, ao

mesmo tempo, dar exemplo de gestão socioambiental mais eficiente, capaz de induzir

grandes transformações em prol da sustentabilidade no setor produtivo.

151. É dentro desse contexto que as compras públicas sustentáveis terão grande

importância no 2º ciclo de implementação do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis –

PPCS, ao estimular que, nos processos de compras, sejam incorporados os aspectos sociais

e ambientais aos econômicos, não somente por que o Governo Federal reconhece sua

responsabilidade de proteção ao meio ambiente, mas por que reconhece sua habilidade no

uso do poder do Estado para promover produtos com melhor desempenho ambiental,

geração de emprego e o bem estar da população.

152. Em todo o mundo, as estruturas administrativas governamentais são responsáveis por

uma grande parcela da movimentação na economia de seus países. O governo,

normalmente, é o principal consumidor da economia nacional. Os governos europeus

gastam, a cada ano, aproximadamente 16% do PIB em bens e serviços, e os gastos públicos

dos países latino-americanos giram em torno de 24%. No Brasil, a participação do consumo

das administrações públicas no PIB foi de 20,2 %, em 2014, segundo o IBGE (Figura 10).

Tratando apenas das compras do governo federal de produtos padronizados, em 2013,

segundo o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, essas movimentaram R$ 68,4

bilhões na aquisição de bens e serviços.

Figura 10. Variação das Compras da Administração Pública. Fonte: IBGE 2016 –Séries Estatísticas (1) Para os anos de 2012, 2013 e 2014 os resultados preliminares foram obtidos a partir das Contas Nacionais Trimestrais.

153. Dada a escala dessas operações, o poder de compra governamental tem sido utilizado

crescentemente como instrumento de política pública junto ao setor produtivo, em especial

para mudar os padrões de produção, combinando inovação e sustentabilidade. A intenção é

que o setor produtivo passe a incorporar aspectos ambientais e sociais nos seus processos

produtivos e de suprimentos, induzidos por exigências de critérios de sustentabilidade,

inseridos nos editais de compras públicas.

164. Em nível global, desde 2002, vem se dando bastante atenção ao tema. Na Cúpula

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Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johanesburgo, África do Sul, foi

elaborado um plano de implementação que incita autoridades a levar em consideração o

desenvolvimento sustentável em suas tomadas de decisões. Nesse sentido, o texto explicita

a importância das licitações “... englobando ações para promover políticas de licitação

pública que incentivem o desenvolvimento e a difusão de bens e serviços ambientais

saudáveis”.

155. No Brasil, a prática já vem sendo adotada há pelo menos sete anos, em iniciativas

estaduais e no Governo Federal. Além do Governo Federal, duas outras unidades da

Federação merecem destaque, os estados de São Paulo (Decreto Estadual nº 50.170/2005)

e de Minas Gerais (Decretos Estaduais nº 44.903/2008 e nº 46.105/2012), usam de forma

sistemática o poder de compra do Estado como instrumento de política pública voltado

para a ampliação de práticas de sustentabilidade do setor produtivo brasileiro.

156. A prioridade deste tema no 1º Ciclo do Plano Nacional de Produção e Consumo

Sustentáveis- PPCS espelhou a determinação do Governo Federal, tomada em 2010, com a

criação do Programa de Contratações Sustentáveis do Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão (MPOG), e a inclusão, na legislação federal de licitações – Lei nº

8.666/93 –, de critérios de sustentabilidade ambiental para compras e contratações

realizadas pela Administração Pública Federal.

157. Também a norma que implementou o Regime Diferenciado de Contratações (RDC – Lei

nº 12.462, de 4 de agosto de 2011), tem como prerrogativas o desenvolvimento regional e

a sustentabilidade. Mesmo com a alteração na Lei de Licitação e Contratos, em 2010, a

preocupação com produtos menos agressivos ao meio ambiente era incipiente para a

maioria dos órgãos da Administração Federal.

158. Entretanto, permaneceram por um bom tempo dúvidas quanto à legalidade da

inserção de critérios sustentáveis como forma de selecionar a proposta mais vantajosa em

razão de uma possível afronta ao princípio da isonomia que rege o processo licitatório,

como demonstra a pesquisa feita pelo Tribunal de Contas da União – TCU junto aos gestores

envolvidos no processo de contratação sobre a Inclusão de Critérios de Sustentabilidade

nas Licitações, no Relatório de Gestão Consolidada, demonstrada a seguir.

Figura 11. Inclusão de Critérios de Sustentabilidade nas Licitações

Fonte: Relatórios de Gestão Consolidados referentes ao exercício de 2010 /TCU

159. Depreende-se da figura acima que grande parte das instituições entrevistadas admitiu

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não realizar licitações sustentáveis, em desacordo com o disposto na IN nº

01/2010/SLTI/MP.

160. Com a criação do Programa de Contratações Sustentáveis do Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e a edição da Instrução Normativa nº 01/2010,

da Secretaria de Logística do MPOG, foi criado o Catálogo de Bens Sustentáveis - CATMAT29,

no âmbito do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais – SIASG. 0

161. O Catálogo, e o esforço para ampliação do número de itens ofertados ao gestor de

compras, tem-se constituído num dos principais instrumentos para a política de expansão

do valor de compras sustentáveis em relação ao total gasto em contratações pela

administração pública. Atualmente, o Catálogo do Governo Federal conta com cerca de 810

itens, número que vem crescendo ao longo dos últimos anos. O Catálogo do Estado de São

Paulo conta com cerca de 990 itens e o de Minas Gerais com cerca de 714 itens.

162. A identificação de bens e serviços sustentáveis tem crescido sistematicamente e por

conseguinte o valor total de contratações sustentáveis nas três unidades da federação. O

Estado de São Paulo, a unidade mais antiga nessa prática, vem mantendo seu potencial de

indução de boas práticas de sustentabilidade, em percentuais, e o desempenho de

contratações sustentáveis. Em 2014, as aquisições de itens com o Selo Socioambiental do

Estado de São Paulo foram em torno de 5,37% em relação ao valor total das aquisições,

equivalente a cerca de R$ 215 milhões. Cabe destacar que o Governo do Estado de São

Paulo tem como meta, até 2020, que 20% de todas as contratações públicas estejam em

conformidade com referências socioambientais.

163. O Governo Federal registrou também um avanço significativo na evolução do valor das

compras sustentáveis, embora em valor menor que o Estado de SP, tendo em vista que sua

adesão ao sistema ocorreu mais tarde, em 2010.

164. Embora necessite ser ampliada observa-se, pelos dados apresentados nas tabelas

abaixo, que as compras sustentáveis apresentaram uma considerável evolução. Partiram de

R$ 13,5 milhões, em 2010, chegando a R$ 44,7 milhões, em 2013, nas aquisições dos

órgãos do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais – SIASG, com uma

pequena queda em 2014, devido aos contingenciamentos do Governo Federal.

165. No primeiro ano da regulamentação do art. 3º da Lei nº 8.666/1993, pelo Decreto nº

7.746/2012, o acréscimo no valor das contratações sustentáveis foi de 200% em relação ao

ano anterior, frente ao crescimento aproximado de 30% nos valores das compras públicas

do mesmo período. Apesar desse crescimento, as compras públicas sustentáveis

representaram apenas 0,063% das compras governamentais ocorridas em 2014, levando-se

em consideração todas as modalidades de contratação.

29 http://comprasnet.gov.br/acesso.asp?url=/Livre/Catmat/Conitemmat1.asp

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Tabela 2. Valor das Compras Sustentáveis. Fonte: Comprasnet/MPOG.

Figura 12. Participação das Compras Sustentáveis no total das compras governamentais.

Fonte: Comprasnet/MPOG.

166. Em 2012, a SLTI publicou a Instrução Normativa nº 10, que estabelece a

obrigatoriedade de elaboração de Planos de Gestão

de Logística Sustentável para cada órgão da

Administração Pública Federal. Nesse plano, os

órgãos devem estabelecer metas em relação à

aplicação de critérios e práticas de

sustentabilidade, o que deve fortalecer a

contribuição das políticas de compras para a

sustentabilidade no setor público federal. O MMA

foi um dos primeiros órgãos públicos a construir

seu PLS, tendo-o aprovado em 2013, no qual já

identificava 46 materiais de consumo que deveriam

seguir critérios de sustentabilidade.

167. Em fevereiro de 2015, a SLTI publicou a Portaria nº 23, a qual “estabelece boas

práticas de gestão e uso de energia elétrica e de água nos órgãos e entidades da

Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dispõe sobre o

monitoramento de consumo desses bens e serviços”. Além de reduzir o gasto e tornar mais

eficiente o uso dos insumos, a medida deverá permitir um melhor gerenciamento dos

contratos de prestação de serviços das instituições.

Conforme a Instrução Normativa SLTI/MP

nº 10, de 12 de novembro de 2012, os

Planos de Gestão de Logística

Sustentável, são ferramentas de

planejamento com objetivos e

responsabilidades definidas, ações, metas,

prazos de execução e mecanismos de

monitoramento e avaliação, que permite ao

órgão ou entidade estabelecer práticas de

sustentabilidade e racionalização de gastos e

processos na Administração Pública:

http://www.comprasgovernamentais.gov

.br/gestor-de-

compras/sustentabilidade/planos-de-

gestao-de-logistica-sustentavel

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168. Entre janeiro a dezembro de 2014, as compras sustentáveis feitas pelo governo

federal movimentaram R$ 39 milhões. Os itens mais adquiridos foram: papel A4, aparelhos

de ar condicionado e computadores.

Tabela 3. Bens adquiridos nas compras governamentais dos Órgãos SISG - 2014.

Fonte: Comprasnet/MPOG.

169. O resultado relativo ainda continua pequeno, se tomado o valor total das compras de

produtos padrão do governo, o que traduz, em parte, a pouca experiência do Governo

Federal na promoção de compras públicas sustentáveis, e a ainda baixa capacidade dos

gestores de compras de incorporar a questão da sustentabilidade em suas atividades.

Cenário almejado e estratégias para sua realização

170. As compras públicas sustentáveis são importante instrumento para criar práticas que

melhorem a eficiência do uso de produtos e recursos naturais, de forma a reduzir o impacto

sobre o meio ambiente; promover a igualdade social e a redução da extrema pobreza;

estimular novos mercados, produtos e a inovação tecnológica.

171. Nesse sentido, o 2º Ciclo do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis – PPCS tem o

intuito de continuar fomentando dinâmicas e ações que mudem o atual paradigma de

produção e consumo, de forma a contribuir significativamente para o desenvolvimento

sustentável da economia e da sociedade brasileiras. Para isso, impulsionar a adoção das

compras públicas sustentáveis no âmbito da administração pública, nas três esferas e níveis

de governo, incentivando setores industriais e empresas a ampliarem seu portfólio de

produtos e serviços sustentáveis permanece como um dos objetivos e eixo fundamental

para fomentar o desenvolvimento sustentável no País.

172. É necessário fortalecer os instrumentos de comando e controle existentes e

desenvolver novos que promovam a ampliação das compras públicas sustentáveis no

âmbito Federal e Estadual.

173. Para tanto, foram identificadas ações que contribuem com esse objetivo e que devem

ser exploradas na continuidade da implementação do PPCS: (i) preparar, com o auxílio dos

setores industriais e de serviços, fichas técnicas com requisitos mínimos para a aquisição de

bens/serviços com melhor perfil socioambiental; (ii) fomentar a importância de incorporar

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a perspectiva socioambiental nas contratações públicas e privadas; (iii) apoiar as compras

sustentáveis estimulando a demanda por produtos e serviços com adequado desempenho

socioambiental; (iv) estimular os órgãos das administração pública a introduzir o plano de

compras sustentáveis anual nos Planos de Logística Sustentável; (v) apoiar a implementação

de um sistema de informação para gerar uma base de dados para as compras públicas

sustentáveis; (vi) implementar um modelo eletrônico de pesquisa (anual) sobre as compras

públicas sustentáveis; (vii) elaborar diagnósticos sobre as compras públicas sustentáveis no

Brasil para subsidiar novas propostas de políticas públicas para implementar uma estrutura

de contratações sustentáveis entre os Estados e Municípios; e (viii) capacitar os

responsáveis envolvidos nas contratações públicas sustentáveis (áreas de compras,

fiscalização e fornecedores).

Estratégias para a condução da política em Compras Públicas Sustentáveis

174. As estratégias identificadas para avançar rumo ao cenário almejado, conforme descrito

acima, foram organizadas em função da previsão de implementação no curto, médio e

longo prazos, conforme descritas abaixo.

175. Curto prazo:

1) Fortalecimento da Comissão Interministerial de Sustentabilidade na

Administração Pública - CISAP;

2) Criação de um fórum permanente de diálogo entre os setores público, privado e

academia para promover o debate sobre o tema de Produção e Consumo

Sustentáveis;

3) Utilização de metodologias de mensuração e verificação dos critérios de

sustentabilidade para produtos e serviços, com suporte de profissionais e instituições

que indiquem a forma correta de incluir as exigências de cunho social e ambiental, e

verificar o seu atendimento após a contratação, garantindo-se a preservação da

competividade e a legalidade. No caso da União, essas orientações devem ser

prestadas pela Advocacia Geral da União – AGU e pelo Tribunal de Contas da União –

TCU, com apoio técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e do

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO,

juntamente com os setores envolvidos nos objetos das especificações técnicas;

4) Alinhamento das ações realizadas pelos governos federal e estaduais sobre

compras públicas sustentáveis; e

5) Proposição de melhorias do arcabouço jurídico a fim de fortalecer os

instrumentos de comando e controle existentes, e desenvolver novos, que promovam

o aumento das compras públicas sustentáveis nos âmbitos federal e estadual.

176. Médio prazo:

6) Construção, de forma colaborativa e inclusiva, de rótulos, selos e normas com

critérios ambientais, sociais e econômicos, dentro da estrutura do Sistema Brasileiro

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de Avaliação da Conformidade do INMETRO;

7) Fomento à adoção de critérios de sustentabilidade pelas empresas de grande

porte em suas cadeias produtivas;

8) Conscientização da importância de incorporar a perspectiva socioambiental nas

contratações públicas e privadas; e

9) Construção, de forma colaborativa, de rótulos, selos e normas com critérios

ambientais, sociais e econômicos.

177. Longo prazo:

10) Capacitação continuada dos responsáveis envolvidos nas contratações públicas

sustentáveis, nas áreas de compras, fiscalização e planejamento, bem como dos

fornecedores de bens e serviços para a administração pública; e

11) Apoio à implementação de um sistema de informação capaz de gerar uma base

de dados para as compras públicas sustentáveis.

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5.2 Finanças Sustentáveis

Descrição e contexto

178. O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é um conjunto de instituições e instrumentos

financeiros que possibilitam a transferência de recursos entre agentes superavitários e

deficitários. A função do SFN é regulamentar, fiscalizar e executar as operações necessárias

à circulação da moeda e do crédito na economia.

179. A Constituição da República Federativa do Brasil, ao tratar da Ordem Econômica e

Financeira, atribui um capitulo ao SFN, cujo art. 192 preconiza: “O Sistema Financeiro

Nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e a

servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as

cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive,

sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram".

180. O SFN é composto por Órgãos normativos, Entidades Supervisoras e Operadores, de

acordo com o quadro abaixo:

Figura 13. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Fonte: Banco Central do Brasil em http://www.bcb.gov.br/?SFNCOMP

181. As instituições do setor financeiro são responsáveis pela gestão dos recursos que

movimentam toda a economia e, como tal, têm potencial para contribuir significativamente

com o desenvolvimento sustentável. A consciência sobre esse papel tem feito com que as

finanças sustentáveis ganhem cada vez mais relevância no cenário nacional e internacional.

182. Mas, afinal, o que são finanças sustentáveis e como esse conceito está presente no dia

a dia das instituições que atuam nesse mercado? O princípio básico é a integração de

critérios sociais e ambientais, além dos econômicos, às atividades, produtos, serviços e

relacionamentos das organizações, o que significa, por exemplo, analisar o risco

socioambiental na hora de conceder créditos.

183. Nessa perspectiva, no século 21, fortalece-se a agenda da sustentabilidade,

reconhecendo os vários problemas sociais e ambientais não tratados pelos sistemas

econômicos. Grupos de pressão da sociedade começam a exigir mais responsabilidade das

empresas em lidar com problemas mundiais, muitos deles considerados externalidades das

atividades econômicas. Cientes do poder fiduciário dos investidores e financiadores nas

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estratégias das empresas, a sociedade civil organizada passou a pressionar, cobrando a

responsabilização dos acionistas pelos impactos socioambientais das empresas. Enquanto

as empresas deram início às discussões sobre responsabilidade corporativa, o setor

financeiro iniciou o debate sobre o investimento socialmente responsável.

184. Dessa forma, o setor financeiro está cada vez mais sensível ao tema da incorporação

das variáveis socioambientais em suas práticas de negócios, reconhecendo e assumindo seu

papel de veículo do desenvolvimento sustentável, através da participação de bancos,

companhias seguradoras e fundos de pensão em iniciativas como o Pacto Global, os

Princípios para o Investimento Responsável, os Princípios do Equador e o Carbon Disclosure

Project.

185. Um número crescente de ferramentas de gestão e transparência (como os relatórios)

procuram explicitar a relevância estratégica de políticas de sustentabilidade no setor

financeiro, enquanto a análise de investimento agrega novas variáveis ao processo

decisório, fundamentalmente ligadas às questões de governança corporativa e

responsabilidade socioambiental.

186. Inúmeros sinais parecem confirmar, de maneira explícita, a tendência a considerar a

internalização das variáveis social e ambiental na estratégia de negócios, como fator não

mais dissociável da análise econômica e das perspectivas de retorno financeiro e

valorização acionária.

187. Os Princípios do Equador envolveu um número significativo de bancos internacionais

de primeira linha, que passaram a incluir critérios de análise e monitoramento

socioambiental, especialmente nos financiamentos estruturados na modalidade project

finance, em conformidade com as diretrizes formuladas pela International Finance

Corporation – IFC30.

188. O PRI (Principles for Responsible Investments) se insere no mesmo processo que tem

conduzido seguros e fundos de pensão (PSI – Principles for Responsible Insurance) a avaliar

o perfil de risco socioambiental de seus clientes e/ou entidades investidas, como parte

integrante da estratégia de tomada de decisão.

189. Tendo em vista que, no modelo econômico vigente, o sistema financeiro é um dos

agentes mais importantes na determinação do desenvolvimento econômico, este não

poderia caminhar à margem da agenda de sustentabilidade. As instituições financeiras

estão expostas a riscos que podem se traduzir em prejuízos relevantes, comprometer sua

saúde financeira e, no limite, sua continuidade. Cada instituição faz sua própria

classificação, de acordo com seu porte e nicho de mercado ou, ainda, em função da melhor

forma de gerenciar os riscos.

190. Considerando a perspectiva que instituições financeiras não possuem qualquer tipo de

atividade extrativista ou manufatureira e sem fornecer serviços e produtos de impacto

30 Membro do Grupo Banco Mundial, é a maior instituição de desenvolvimento global voltada para o setor privado nos países em desenvolvimento – fonte: http://www.ifc.org/wps/wcm/connect/Multilingual_Ext_Content/IFC_External_Corporate_Site/Home_PT.

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significativo direto no meio ambiente, o setor financeiro não é considerado de alto impacto

socioambiental. Por exemplo, o índice da Bolsa de Valores de Londres classifica o setor na

categoria de médio impacto e, na literatura acadêmica, o mesmo setor é visto como de

baixo impacto ambiental. No entanto, embora o setor não possua um alto impacto direto

de suas atividades, o potencial impacto indireto, por meio da concessão de crédito, em

especial para o financiamento de projetos, é estratégico e seu papel como agente

estimulador do desenvolvimento sustentável vem ganhando crescente reconhecimento

mundial.

191. Sempre haverá risco ambiental se o rendimento real de um ativo ou de um

investimento diferir do rendimento esperado por razões relacionadas a variáveis

ambientais.

192. Os bancos dependem do retorno financeiro de seus clientes e, dessa forma, o risco

socioambiental afeta indiretamente o desempenho econômico dos bancos. Isso ocorre

porque, na medida em que o risco passa c comprometer o valor dos ativos financeiros das

organizações, afeta sua capacidade de honrar os empréstimos, bem como sua própria

reputação junto à sociedade.

193. Em virtude disso, os investidores individuais e institucionais estão solicitando aos

órgãos de regulação que criem regras obrigando as empresas a divulgar relatórios

socioambientais padronizados, possibilitando aos investidores avaliar o risco

socioambiental. Isso mostra que os investidores pretendem agregar o risco socioambiental

ao custo do investimento. Por exemplo, empresas que tenham maior potencial de

causarem impactos socioambientais, bem como que possuam passivo ambiental

significativo, poderão ter maior custo de captação.

194. Nessa perspectiva, observa-se que o mercado de capitais responde tanto de forma

positiva quanto negativa ao desempenho socioambiental das empresas. Assim, o impacto

do risco socioambiental sobre o preço das ações ou títulos tem efeito sobre os resultados

das instituições financeiras, podendo provocar perdas ou ganhos.

Iniciativas em Finanças Sustentáveis

Princípios do Equador

195. A International Finance Corporation (IFC), subsidiária do Banco

Mundial, criou em 2002, junto com os 10 dos maiores bancos do

mundo – ABN Amro, Barclays, Citigroup, Crédit Lyonnais, Crédit

Suisse, HypoVereinsbank (HVB), Rabobank, Royal Bank of Scotland,

WestLB e Westpac –, um conjunto de regras que estabelece critérios

mínimos ambientais e sociais, que deverão ser atendidos para a

concessão de crédito em financiamento de projetos acima de US$ 50

milhões. Posteriormente, em julho de 2006, foi lançada uma nova versão dos Princípios do

Equador, prevendo critérios mais rigorosos, principalmente na análise da população

atingida pelos projetos financiados, além da redução do valor de enquadramento do

projeto, que passa de US$ 50 milhões para US$ 10 milhões.

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196. Essas regras incluem avaliação em base a critérios, como o impacto ambiental do

projeto sobre a flora e fauna, exigência de compensações para populações afetadas por

projetos, proteção a comunidades indígenas e proibição de financiamento ao uso de

trabalho infantil ou escravo. Segundo a IFC, aderir a esses princípios deixou de ser um custo

para se tornar uma vantagem comparativa.

197. De acordo com os Princípios do Equador, os projetos são categorizados em três

categorias, de acordo com seu nível de risco socioambiental: A, B ou C. A categoria A indica

o mais alto nível de impacto socioambiental. Para os projetos nessa categoria, devem ser

exigidos planos de ação que minimizem esses impactos. Além disso, é requisitado o

monitoramento de todos os projetos financiados até o prazo de encerramento do

financiamento, procurando garantir que esses projetos sejam desenvolvidos de forma social

e ambientalmente responsável. A adoção dos Princípios do Equador é voluntária.

198. O Brasil, comparado a outras nações emergentes, tem a maior representatividade

entre as instituições que aderiram aos Princípios do Equador. De acordo com a Câmara

Técnica de Finanças Sustentáveis, o setor financeiro nacional destaca-se como um dos mais

avançados no mundo no contexto da sustentabilidade, assumindo, de forma crescente e

definitiva uma posição proativa na análise dos projetos de financiamento.

Índice de Sustentabilidade Empresarial

199. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) busca criar um ambiente de

investimento compatível com as demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade

contemporânea e estimular a responsabilidade ética das corporações. O ISE constitui

ferramenta para análise comparativa do desempenho conjunto das empresas listadas na

BOVESPA sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada na eficiência econômica,

no equilíbrio ambiental, na justiça social e na governança corporativa.

200. A composição do índice é uma ferramenta importante para ampliar o entendimento

sobre empresas e grupos empresariais comprometidos com a sustentabilidade empresarial,

diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compromisso, transparência e

desempenho, dentre outros fatores relevantes para investidores com preocupações éticas.

201. Além disso, o índice serve como instrumento de avaliação dos próprios bancos, ou

seja, é possível analisar até que ponto os bancos estão utilizando a análise dos índices para

a concessão de empréstimos e financiamentos às empresas, e, consequentemente,

conseguindo atender aos princípios da sustentabilidade. A forma de mensurar como os

bancos têm atendido aos apelos da sustentabilidade pode ser feita por meio de relatórios

de sustentabilidade, elaborados a partir da metodologia do Global Reporting Iniciative

(GRI).

Relatório de Sustentabilidade

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202. O Relatório de Sustentabilidade é um instrumento de gestão e comunicação utilizado

pelas organizações para relatar suas práticas e consequentes impactos econômicos, sociais

e ambientais. O processo de relato é voluntário e as organizações podem elaborar o seu

próprio modelo de relatório de sustentabilidade.

203. Atualmente, a metodologia da Global Reporting Iniciative (GRI), organização

internacional não governamental, é a mais utilizada no mundo, por estabelecer diretrizes e

padrões estruturados em itens e indicadores que são utilizados pelas organizações para

medir e comunicar seu desempenho econômico, social e ambiental.

204. No Brasil, diversas organizações e todos os maiores bancos com atuação no país

utilizam a metodologia GRI para relatar, tornar públicas suas atividades socioambientais,

exibindo suas principais fortalezas e debilidades no que tange o seu desempenho.

Princípios para Sustentabilidade em Seguros

205. Os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI, sigla em Inglês), iniciativa

estabelecida pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (UNEP FI, sigla em inglês) em parceria com a indústria global de seguros,

representam um arcabouço global para a indústria de seguros avaliar as dimensões

ambiental, social e de governança.

206. Os PSI foram lançados durante o 48º Seminário Anual da IIS (International Insurance

Society), em 19 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, por ocasião da Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20).

207. Os Princípios para Sustentabilidade em Seguros fornecem um plano de ação global

para desenvolver e expandir o gerenciamento de risco e soluções inovadoras em seguros,

necessários para garantir energia renovável, água limpa, alimento seguro, cidades

sustentáveis e comunidades resilientes a catástrofes, entre outros.

208. A adesão aos PSI representa uma oportunidade para que o setor de seguros se

posicione ao lado da solução para os desafios inerentes à busca de um desenvolvimento

sustentável.

209. Com nove signatários, o Brasil é o país com maior número de participantes.

Protocolo de Intenções pela Responsabilidade Socioambiental (“Protocolo Verde”)

210. O “Protocolo Verde” foi elaborado por Grupo de Trabalho instituído pelo Governo

Federal por meio de decreto, em 29 de maio de 1995, e revisado em 2008. O objetivo desse

grupo, constituído em 1995 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social,

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Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste do

Brasil, foi o de elaborar uma proposta contendo diretrizes, estratégias e mecanismos

operacionais para incorporar a variável ambiental na gestão das instituições financeiras

públicas. Como resultado desse esforço, os bancos públicos signatários do documento se

comprometeram a implementar e seguir as inovadoras diretrizes de sustentabilidade

contidas no referido documento.

211. O Protocolo explicita os compromissos voluntários do setor bancário em relação à

sustentabilidade e orienta a agenda a partir dos seus cinco Princípios, quais sejam: (i)

oferecer linhas de financiamento e programas que fomentem a qualidade de vida da

população e do uso sustentável do meio ambiente; (ii) considerar os impactos e custos

socioambientais na gestão de seus ativos e nas análises de risco de projetos; (iii) promover

o consumo consciente de recursos naturais e de materiais deles derivados nos processos

internos; (iv) informar, sensibilizar e engajar continuamente as partes interessadas nas

políticas e práticas de sustentabilidade da instituição; e (v) promover a cooperação e

integração de esforços entre as organizações signatárias do Protocolo.

212. Com efeito, em maio de 2008, a partir de discussões sobre os impactos do

desmatamento na Amazônia, envolvendo órgãos governamentais e bancos públicos

federais, foi constituído grupo de trabalho informal para avaliação e revisão do Protocolo

Verde. O grupo foi constituído por representantes do Ministério do Meio Ambiente,

Ministério da Integração Nacional, Ministério da Fazenda, Banco do Nordeste do Brasil,

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, Banco da Amazônia, Caixa

Econômica Federal e Banco do Brasil.

213. O resultado desse esforço foi a proposição de um novo pacto, no qual ficou acordado

que os bancos devem cumprir um papel indutor fundamental na busca de um

desenvolvimento sustentável, que pressuponha a responsabilidade com a preservação

ambiental e uma contínua melhoria no bem-estar social. Para tanto, foram previstos novos

princípios, que envolvem o compromisso dos bancos com: o fomento ao desenvolvimento

sustentável; a avaliação socioambiental dos empreendimentos a serem financiados; a

ecoeficiência das práticas administrativas; a evolução das políticas e práticas voltadas à

sustentabilidade; e a previsão de mecanismos de monitoramento e governança dos

compromissos assumidos pelos signatários.

Protocolo de Intenções – FEBRABAN/ Bancos Privados

214. Paralelamente à assinatura do Protocolo de Intenções pela Responsabilidade

Socioambiental, o Ministério do Meio Ambiente realizou articulação com a Federação

Brasileira de Bancos (FEBRABAN), com o objetivo de incluir as instituições financeiras

privadas dentro do contexto de internalização da responsabilidade socioambiental nas

instituições financeiras. Essa estratégia se baseia na premissa de que a sustentabilidade do

financiamento produtivo apenas será alcançada caso o sistema financeiro, no seu conjunto,

esteja engajado na mesma direção de responsabilidade socioambiental.

215. Nesse contexto, e após rodadas de negociação, o MMA e a FEBRABAN formataram um

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Protocolo de Intenções para formalizar o compromisso das instituições bancárias privadas.

A Federação Brasileira de Bancos assinou com o Ministério do Meio Ambiente o Protocolo

em 7 de abril de 2008, cujo conteúdo se assemelha bastante ao da versão anteriormente

assinada pelos bancos públicos – Protocolo Verde.

216. É importante destacar caráter voluntário do Protocolo, ou seja, não vinculando

juridicamente os bancos associados à FEBRABAN (que conta com 120 dos 159 bancos

registrados no Brasil) ao documento.

217. Como resultado dessa articulação, a Febraban elaborou, em parceria com o Centro de

Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces-FGV), uma matriz de

indicadores, a fim de criar uma agenda comum de sustentabilidade no setor financeiro.

218. Este conjunto de indicadores teve como objetivo induzir a adoção de práticas pelo

setor financeiro, bem como acompanhar a evolução dos compromissos assumidos no

Protocolo Verde ao longo do tempo.

219. Em abril de 2015, foi publicado um livro que apresenta o resultado de três estudos

complementares sobre o tema: o volume de recursos alocados pelo setor financeiro na

economia verde, em 31/12/2013; o quadro institucional e regulatório do País para o setor

financeiro nacional com relação ao tema; e a relação entre finanças e sustentabilidade em

dois setores e em dois temas da economia: agronegócio, energias renováveis,

biodiversidade e cidades.

220. Dando continuidade à parceria entre a FEBRABAN e o GVces, também foi feito um

estudo voltado para a discussão sobre as oportunidades e os limites para o

desenvolvimento de um mercado de Green Bonds no Brasil, a exemplo da experiência

internacional.

Acordo de Cooperação MMA-BACEN

221. Considerando o importante papel que o Banco Central do Brasil (BACEN) possui

perante todo o sistema financeiro público e privado brasileiro como órgão oficial regulador

e fiscalizador, e a grande credibilidade institucional que possui perante a sociedade, a

participação dessa instituição dentro do processo de acompanhamento da implementação

das ações firmadas pelos protocolos se tornou indispensável.

222. Em dezembro de 2010, o Banco Central do Brasil e o Ministério do Meio Ambiente

assinaram acordo de cooperação técnica com vistas a acompanhar as ações

socioambientais das instituições financeiras signatárias do Protocolo Verde, com o objetivo

de contribuir para a economia sustentável.

Resolução n° 4.327/2014 – Responsabilidade Socioambiental das Instituições do

Sistema Financeiro Nacional

223. Após um período de debates acerca da responsabilidade socioambiental dos bancos,

principalmente na aplicação de recursos quando da concessão de financiamento a projetos

potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos ambientais, o Banco Central do

Brasil publicou a Resolução n° 4.327/2014, na tentativa de regular a responsabilidade civil

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das instituições financeiras pelos seus impactos sociais e ambientais.

224. A Resolução, aprovada após quase dois anos da publicação do Edital de Audiência

Pública n° 41/2012, estabelece diretrizes e critérios gerais bastante abrangentes.

225. A Resolução nº 4327/2014 representa um norte para a implementação da Política de

Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições financeiras, o Banco Central

estabelece que as instituições financeiras devem pautar suas ações de natureza

socioambiental de acordo com as seguintes diretrizes e critérios gerais, dentre outros: (i)

sistemas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, avaliar, monitorar,

mitigar e controlar o risco socioambiental presente nas atividades e nas operações das

instituição; e (ii) avaliação prévia dos potenciais impactos socioambientais negativos de

novas modalidades de produtos e serviços, inclusive em relação ao risco de reputação.

Ademais, a Resolução exige que, além da PRSA, as instituições financeiras elaborem um

Plano de Ação para o cumprimento da política e a integração das questões socioambientais

às suas atividades.

226. A resolução configura o primeiro passo para a construção de um padrão mínimo de

gestão socioambiental e para a adoção de critérios de igualdade no nível de diligência para

cada tipo de serviço e produto financeiro, assim como o dever fiduciário e a

corresponsabilidade dos agentes financeiros nos negócios e nas relações com todos os

públicos que possam ser afetados pela atuação da instituição.

227. Além do BNDES, que vem desenvolvendo produtos voltados ao meio ambiente – tais

como o BNDES Finem (modernização de empreendimentos), o BNDES Florestal

(reflorestamento, conservação e recuperação florestal de áreas degradadas ou convertidas,

e uso sustentável de áreas nativas na forma de manejo florestal), Eficiência Energética, e

Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos –, outras instituições financeiras têm avançado

no apoio a projetos mais sustentáveis.

228. É o caso do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, que lançou

recentemente o BRDE-PCS (Produção e Consumo Sustentáveis) para incentivar a adoção de

conceitos e práticas de desenvolvimento sustentável. As linhas de crédito do BRDE-PCS

oferecem condições especiais para as linhas de uso eficiente e racional da água; geração de

energia renovável; gestão de resíduos e reciclagem; agronegócio sustentável; e cidades

sustentáveis.

Cenário almejado e estratégias para sua realização

229. A coordenação de esforços para direcionar o Sistema Financeiro Brasileiro para uma

trajetória mais sustentável requer a articulação entre as diferentes esferas de governo, as

empresas e a sociedade. Como agente envolvido no direcionamento dos recursos para as

atividades produtivas, a comunidade financeira tem importante papel a desempenhar,

alinhada com o conceito de finanças sustentáveis.

230. A contribuição da comunidade financeira pode estar na indicação de que empresas,

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governos e cidadãos devem alinhar a alocação de recursos ao conceito de sustentabilidade,

que sugere que, no longo prazo, não há sociedade desenvolvida com empresas fracas, nem

empresas vencedoras em sociedades derrotadas. Isto pode ser visto como uma extensão

natural da ênfase usual da gestão financeira corporativa em criação de valor, passando-se a

considerar, na discussão sobre value drivers das organizações, um conjunto maior de grupos

de interesse.

231. Cabe destacar, ainda, que a sustentabilidade corporativa pode ser inserida no setor

financeiro de diversas formas. Em alguns casos, ela se faz mais presente na criação de

novos produtos, com características específicas ligadas à inclusão social ou à preservação

ambiental, por exemplo. Em outros, há maior esforço na mudança de processos existentes,

como a inserção de variáveis socioambientais no processo de avaliação de risco de crédito,

nas decisões de financiamento e alocação de recursos e, ainda, na adoção de critérios de

sustentabilidade para o desenvolvimento e seleção de fornecedores. Um terceiro grupo de

empresas preocupa-se com ambas as dimensões.

232. Com efeito, entende-se que, para alcançar o objetivo de alavancar, de modo

negociado, voluntário e planejado, a internalização da variável socioambiental nas

atividades, tanto internas quanto externas, desenvolvidas pelas entidades integrantes do

Sistema Financeiro Nacional, deve-se coordenar e promover ações e iniciativas com vistas

a:

1) Implementação e melhoria contínua de sistemas de gestão socioambiental e fomento

à adoção da ABNT NBR 16001 – Responsabilidade Social-Sistema de Gestão – Requisitos e

gradual obtenção de sua certificação pelo INMETRO;

2) Aprimoramento e disseminação das melhores práticas de avaliação e mensuração de

impactos sociais e ambientais;

3) Realização de programas de treinamento e assistência técnica para formação de

equipes qualificadas no sistema financeiro para avaliar e monitorar os riscos sociais e

ambientais dos negócios;

4) Desenvolvimento conjunto, entre o setor financeiro, o público e o produtivo, de

iniciativas em políticas de estado e fiscais que estabelecessem os preços de

atividades/produtos/serviços segundo seu impacto socioambiental, com tributação

diferenciada, incentivos e regulação específica, com o objetivo de viabilizar

economicamente produtos com impacto ambiental reduzido;

5) Criação, em parcerias bancos/setor público, de novos instrumentos econômicos que

viabilizem projetos socioambientais de longo prazo, com garantias de fundos institucionais

e/ou subscrição parcial de emissão de títulos por bancos de desenvolvimento, com suporte

técnico de instituições multilaterais – Banco Mundial, IFC etc., com retorno financeiro e

ambiental adequados ao investidor e ao emprestador, além da estabilidade de regras e

segurança jurídica;

6) Agregação de esforços com o setor público na intenção de desenvolver soluções para

os gargalos que impedem o pleno desenvolvimento dos mercados de carbono e energia,

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buscando a regulação desses mercados;

7) Estimulo à criação de fundos socialmente responsáveis, em consonância com a

tendência mundial da emissão dos títulos verdes, com o objetivo de aplicação em projetos

com temáticas socioambientais, garantindo rentabilidades atrativas para os investidores;

8) Estimulo à criação e ampliação de programas de

microcrédito;

9) Estimulo a elaboração e publicação de relatórios

coorporativos de sustentabilidade; e

10) Estimulo ao desenvolvimento e oferta de seguros

ambientais.

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5.3 Indústria Sustentável

Descrição e contexto

233. No ambiente em transformação no qual se insere o ser humano, é cada vez mais se

necessário refletir sobre as atitudes e comportamentos apresentados pelos indivíduos. As

mudanças climáticas, as crises econômicas e os abalos sociais percebidos, apesar de

assumir um caráter natural ao longo da história, tem sido agravadas pela atuação

insustentável do homem sobre o meio ambiente. Mesmo diante das crises hídrica e

energética pelas quais vem passando o país, ainda persiste o pensamento, equivocado, da

abundância de recursos.

234. As discussões sobre a inserção ambiental na análise econômica datam do início dos

anos 70, a partir de encontros como o Clube de Roma e a Conferência de Estocolmo,

resultados da preocupação com o crescimento da poluição nos grandes centros do

denominado Primeiro Mundo e as crises da época, como o choque de oferta do Petróleo

(OPEP). As discussões buscavam analisar a viabilidade do crescimento baseado no uso

intensivo de energia e recursos naturais, assim como as consequências desse modelo sobre

o meio ambiente.

235. Esses eventos motivaram o debate sobre as inter-relações entre o sistema econômico

e o ecossistema. Como resultado, várias organizações internacionais, entre elas as

integrantes das Nações Unidas, e governos nacionais, criaram estruturas institucionais, que

estabelecem o vínculo entre desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente.

236. A Agenda 21, acordada na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável,

ocorrida no Rio de Janeiro em 1992, alçou o conceito de Produção e Consumo Sustentáveis

(PCS) a uma posição de destaque, enfatizando a necessidade de buscar caminhos, mediante

o desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais, para reduzir a pressão sobre o meio

ambiente causada pelos padrões insustentáveis de produção e consumo. Nesse conceito,

incorporava-se a ideia de que não é possível extrair recursos naturais acima do que a

natureza é capaz de repor, bem como descartar mais resíduos do que a natureza é capaz de

assimilar.

237. Ao longo de seus 40 capítulos, a Agenda 21 aponta caminhos e define

responsabilidades. Um deles, em particular, trata diretamente do papel do setor produtivo

nesse processo. Parte do reconhecimento de sua importância decisiva na promoção do

desenvolvimento econômico e social de cada país. E aponta o desafio:

As políticas e operações do comércio e da indústria, inclusive das

empresas transnacionais, podem desempenhar um papel importante na

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redução do impacto sobre o uso dos recursos e o meio ambiente por meio

de processos de produção mais eficientes, estratégias preventivas,

tecnologias e procedimentos mais limpos de produção ao longo do ciclo

de vida do produto, assim minimizando ou evitando os resíduos. Inovações

tecnológicas, desenvolvimento, aplicações, transferências e os aspectos

mais abrangentes da parceria e da cooperação são, em larga medida, da

competência do comércio e da indústria.

238. Dez anos depois da Cúpula do Rio, o Plano de Ação de Johannesburgo (aprovado na

Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10) instou a comunidade

internacional a estabelecer um programa de ação de dez anos para apoiar iniciativas

regionais e nacionais para a promoção de mudanças nos padrões de produção e consumo.

Como resposta a esse chamado, teve início, em 2003, o chamado Processo de Marrakesh

sobre Produção e Consumo Sustentáveis. Em continuidade a esse Processo, foi adotado na

Rio+20 o Quadro Decenal de Programas para Consumo e Produção Sustentáveis (10YFP),

como um quadro global de ação para fortalecer a cooperação e acelerar a mudança para

consumo e produção sustentáveis, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

239. Nesse contexto, a sociedade atual vem caminhando na busca por uma economia

“verde”, que apesar do termo remeter à questão ambiental, significa também ser inclusiva

e responsável. Se, por um lado, o número de normas e leis ambientais aumentam, de outro

aumenta a quantidade dos chamados mecanismos voluntários, adotados por empresas e

instituições privadas, tais como os relatórios de sustentabilidade elaborados com base no

Global Report Iniciative (GRI) e os inventários de emissão de GEE com base no Greenhouse

Gas Protocol (GHG Protocol).

240. Somente com uma produção sustentável, com o menor impacto ambiental e social

negativo possível, um consumo mais responsável e com a consciência do impacto gerado

pelas escolhas pessoais e institucionais, será possível progredir rumo a uma economia de

baixo carbono, verde, inclusiva, ou seja, mais sustentável.

241. É quase impossível imaginar o desenvolvimento de um país sem uma indústria forte,

ampla e diversificada. Dentre todos os setores produtivos, a indústria é o que exerce maior

impacto no crescimento do produto agregado.

242. Economias bem-sucedidas no processo de industrialização são aquelas que atingem

um estágio de desenvolvimento industrial em que são capazes de desenvolver e absorver

novas tecnologias e disseminar as mudanças tecnológicas para todo o resto da economia.

243. Por outro lado, estruturas industriais onde a renda obtida com exportação é

prioritariamente oriunda de processos que demandam o uso intensivo dos recursos

naturais e mão de obra não qualificada, podem se mostrar insuficientes para sustentar o

crescimento de longo prazo. Os estímulos gerados pelo crescimento baseado na abundância

de recursos são limitados para promover uma mudança estrutural, além de torná-lo mais

vulnerável às mudanças na economia internacional e ao comportamento da demanda

externa.

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244. O processo de industrialização do Brasil ocorreu principalmente de meados da década

de 1950 até o fim da década de 1970, com foco na substituição das importações. Esse

processo foi liderado pelo governo federal, mas também contou com uma considerável

participação de capital estrangeiro. Assim, houve uma extraordinária transformação

industrial no país nas três décadas após o fim da 2ª Guerra Mundial, que apresentou um

desempenho impressionante mesmo quando comparado com outros países da época,

quando a economia mundial passava por intenso crescimento.

245. A indústria desempenha um papel extremamente relevante na economia brasileira,

responsável por cerca de 13,13%31 de toda a riqueza produzida no País. No Brasil, por

categoria de uso, essa atividade divide-se em indústrias de bens de capital, bens

intermediários, bens de consumo duráveis, semiduráveis e não duráveis. A indústria de

capital (produtora de bens que serão utilizados no processo produtivo, como máquinas e

equipamentos) é um dos destaques entre as categorias, tanto em termos de produção

física, quanto em termos de faturamento.

246. Por setores, a indústria brasileira divide-se em indústrias extrativas minerais (com

destaque para as indústrias de extração de petróleo e gás natural, além das indústrias de

extração de minério de ferro); indústrias de transformação (com os maiores faturamentos

nas indústrias de alimentos e bebidas, têxteis, vestuário, madeira, calçados e couros);

indústrias de produção e distribuição de eletricidade, gás e água; e as indústrias de

construção.

247. Mais de 70% da produção industrial brasileira encontra-se na região Sudeste, com

cerca de 50% da produção nacional, sendo que um único estado, São Paulo, concentra 40%

dos estabelecimentos industriais do País.

248. O estado de São Paulo é o líder no ranking nacional de vendas de produtos

industrializados: 41% do total, em seguida vem os estados de Minas Gerais (10,4%), Rio

Grande do Sul (8,0%), Paraná (7,3%) e Rio de Janeiro (7,3%).

249. Os produtos mais vendidos da indústria brasileira são óleo diesel, minério de ferro

beneficiado, automóveis, gasolina automotiva (exceto para aviação), óleos brutos de

petróleo, álcool combustível, telefones celulares, açúcar cristal e cervejas ou chope.

250. Nos termos do Processo de Marrakesh, "produção sustentável" pode ser entendida

como sendo a incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida de bens e serviços, das

melhores alternativas possíveis para minimizar impactos ambientais e sociais.

251. Dessa opção, que deve ser consistente com a política nacional de desenvolvimento

sustentável, decorre o objetivo de interagir a política industrial voltada para o

desenvolvimento com uma política ambiental que busque a preservação e racionalidade do

uso dos recursos naturais. Dessa forma, o 2° Ciclo do Plano de Ação em Produção e

Consumo Sustentáveis pretende desenvolver as bases para entendimentos entre diferentes

setores econômicos em consonância com as restrições e possibilidades da gestão

31 Fonte: IBGE, Contas Nacionais, 2013.

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ambiental.

252. De forma geral, pode-se definir sustentabilidade como sendo a inserção da variável

socioambiental nos modelos de crescimento econômico. A questão ambiental deixa de ser

tratada como uma restrição, e passa a ser interpretada como um ponto necessário, avaliado

e estrategicamente tratado, e com um novo referencial de valores associados, em especial,

a um relacionamento mais harmonioso do homem com a natureza e com seus

semelhantes.

253. Nessa perspectiva, é necessário compatibilizar a política industrial com as demais

políticas macroeconômicas, ou seja, políticas articuladas (em termos macroeconômicos)

com aquelas que determinam o uso sustentável de recursos. Não obstante a política

industrial estar articulada às políticas de competitividade (como política de defesa da

concorrência) e outras políticas regulatórias (como direitos de propriedade autorais,

mercado de trabalho, transferência tecnológica e proteção do meio ambiente), é necessário

desenvolver mecanismos que encorajem ações e investimentos que promovam a inovação

em processos e produtos compatíveis com a Produção e Consumo Sustentável.

254. É crescente a preocupação com o uso eficiente e racional dos recursos naturais, aliada

à proteção do meio ambiente, entendido como o espaço físico e suas relações, em especial

nas áreas estratégicas em termos de biodiversidade, recursos hídricos e energéticos. Em

contrapartida, é imprescindível a redução do desperdício e a obtenção do máximo

rendimento das atuais fontes de energia e matérias-primas. Corroboram para este objetivo

a busca de fontes alternativas de energias e o emprego de matérias-primas secundárias,

favorecendo o reuso e a reciclagem de materiais.

255. As políticas e operações da indústria desempenham um papel central na redução do

impacto sobre o uso dos recursos e o meio ambiente, por meio de processos de produção

mais eficientes, estratégias preventivas, tecnologias e procedimentos mais limpos de

produção ao longo do ciclo de vida do produto.

256. Reconhece-se, portanto, que os processos e produtos que utilizam recursos de

maneira ineficiente, geram resíduos que não são reutilizados e efluentes que causam

impactos adversos à saúde humana e ao meio ambiente precisam ser substituídos por

tecnologias, sistemas de engenharia e boas práticas de manejo, que integrem

conhecimentos técnico-científicos que fortaleçam a eficiência no uso dos recursos e

insumos, e reduzam ao mínimo os resíduos ao longo de seu ciclo de vida. Como resultado,

haverá uma melhora de eficiência e produtividade das empresas, melhor desempenho

econômico e menor pressão sobre o meio ambiente.

Cenário almejado e estratégias para sua realização

257. Considerando que na maioria das sociedades boa parte das necessidades e desejos da

sociedade são atendidos por produtos e serviços, pela minimização dos impactos

socioambientais deverá necessariamente incluir a trajetória dos produtos desde a extração

dos recursos necessários à sua produção, passando por todos os elos da cadeia produtiva e

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seguindo pela distribuição, comercialização, uso e destinação final - uma análise

perspectiva de ciclo de vida dos processos produtivos

258. A relação entre a gestão ambiental e a política industrial deve ser construída com base

na premissa de que a realidade econômica e social deve ser planejada e ajustada à

conservação ambiental. Para tanto, busca-se delinear instrumentos capazes de adequar o

planejamento governamental que, em conjunto com outras iniciativas da sociedade civil e

da área empresarial, contribuam na reversão de tendências restritivas à melhoria do bem-

estar da população brasileira dentro de um contexto de desenvolvimento sustentável. Este

é o grande desafio a ser enfrentado durante a implementação do 2º ciclo do PPCS.

259. Entende-se que, no longo prazo, poderá ser inevitável um ajuste no padrão ambiental

da economia nacional, de forma a assegurar sua eficiência, permitindo expandir sua

capacidade de participar do comércio internacional. Nesse sentido é vantajoso antecipar

possíveis mudanças nos processos e nos produtos, para que não resultem, no futuro, em

custos de ajuste excessivos e economicamente inviáveis.

260. Em última análise, a lógica da produção mais sustentável é a de otimização do uso de

insumos e matérias-primas, como requisito para aumento da competitividade dos negócios.

Assim, os ganhos podem ocorrer em duas vertentes: a dos ganhos econômicos, com a

redução do custo de produção, e dos ganhos ambientais, com a minimização do consumo

de agua, energia e demais matérias-primas.

261. O aperfeiçoamento dos sistemas de produção por meio de tecnologias e processos

que utilizem os recursos de maneira mais eficiente e, ao mesmo tempo, produzam menos

resíduos - conseguindo mais com menos - constitui um caminho importante na direção da

sustentabilidade da indústria. Da mesma forma, é necessário encorajar e estimular a

criatividade, empreendedorismo, a competitividade e as iniciativas voluntárias para

estimular opções mais variadas, eficientes e efetivas.

262. Compatibilizar o crescimento econômico, em harmonia com o meio ambiente e a

promoção da qualidade de vida das pessoas, é um desafio para todos. Nesse contexto, uma

indústria competitiva tem um papel de relevância na geração de empregos, na indução

tecnológica e na melhoria do bem-estar das pessoas.

263. Do ponto de vista dos efeitos provocados pela produção industrial no meio ambiente,

há que se destacar conceitos relevantes na construção desta estratégia que conduzirá a

execução das ações e iniciativas do 2° ciclo do PPCS conceitos relevantes, tais como o da

produção mais limpa (P+L), ecoeficiência, análise do ciclo de vida (ACV), sustentabilidade ao

longo da cadeia de suprimentos (Green Supply Chain) e logística reversa, como sendo

elementos fundamentais para a elaboração e execução de um plano de sustentabilidade

nas empresas.

264. Avançar a agenda de sustentabilidade nos setores industriais passa por considerar

estratégias que, ao mesmo tempo, contribuam para aumentar a eficiência das empresas,

reduzam os custos de produção e melhorem sua competitividade, ajudem a proteger o

meio ambiente e a aumentar a qualidade de vida das pessoas:

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1) Otimização do consumo de matérias-primas;

2) Otimização do consumo de energia;

3) Redução da emissão de gases de efeito estufa e da geração de resíduos;

4) Intensificação do reuso e da reciclagem de materiais;

5) Maximização do uso sustentável de recursos renováveis; e

6) Melhoria de atributos ambientais dos produtos; e

7) Fomento a uma transição gradual para o modelo de economia circular.

265. Além desses, outros três elementos transversais devem sempre ser levados em

consideração: (i) formas de capilarização/descentralização (federalização) da agenda, (ii)

estratégia de comunicação, e (iii) estratégia de monitoramento e avaliação.

266. Por fim, é necessário o esforço de todos os representantes da indústria e dos demais

setores que possuem alinhamento com os temas tratados, no sentido de contribuírem de

forma efetiva na busca de soluções e na geração de ideias inovadoras que possam ajudar

no desenvolvimento de ações e iniciativas para a implementação das diretrizes

identificadas.

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5.4 Construção Sustentável

Descrição e contexto

267. O setor da construção civil tem papel fundamental para a realização dos objetivos

globais de desenvolvimento sustentável, particularmente dos objetivos e metas

relacionados com produção e consumo sustentáveis. O Conselho Internacional da

Construção – CIB aponta a indústria da construção como o setor de atividades humanas

que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando

consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos relacionados ao consumo de

materiais e energia, há aqueles associados à geração de resíduos, efluentes e emissões.

268. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades

humanas sejam provenientes da construção. Esse setor representa 11,6% do PIB brasileiro

e as empresas do setor da construção já empregaram cerca de 2,5 milhões de pessoas

(IBGE, 2010).

269. Na busca por minimizar os impactos ambientais provocados pela construção, surge o

paradigma da construção sustentável. No âmbito da Agenda 21, a construção sustentável é

definida como: "um processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia

entre os ambientes natural e construído, e à criação de assentamentos que afirmem a

dignidade humana e encorajem a equidade econômica".

270. No contexto do desenvolvimento sustentável, o conceito transcende a

sustentabilidade ambiental, para abraçar as dimensões econômica e social, que enfatizam a

adição de valor à qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades.

271. As iniciativas do governo federal relativas à sustentabilidade do setor da construção

amadureceram durante o primeiro ciclo do PPCS e agregaram conteúdo e valor à temática,

de acordo com as demandas da própria sociedade. Assim, a expectativa é que, ao longo do

2º ciclo, a experiência de indução do setor da construção civil seja reforçada por meio da

adoção de práticas que melhorem o desempenho socioambiental, desde o projeto até a

construção efetiva, passando por criteriosa seleção de materiais e alternativas menos

impactantes ao ambiente e à saúde humana.

272. Várias atividades e iniciativas foram desenvolvidas e/ou implementadas com vistas à

promoção das construções sustentáveis até o momento. Destaca-se, como avanço para a

sustentabilidade do setor da construção civil, o Programa Minha Casa Minha Vida

(PMCMV), cuja meta foi produzir mais de três milhões de habitações até o final de 2014.

Nesse sentido, desde 2008, foram definidas diretrizes socioambientais a serem observadas

no financiamento das habitações, tais como minimização dos impactos da obra no meio

ambiente; aproveitamento dos recursos naturais do ambiente local; e promoção da

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educação ambiental dos moradores, entre outras.

273. Incluiu-se também no financiamento do Programa Minha Casa Minha Vida a opção de

compras de coletores solares ao invés do uso de chuveiros elétricos, sendo a iniciativa

compulsória nas habitações para a faixa de renda de até três salários mínimos.

274. Outra iniciativa que deverá impulsionar o 2º ciclo do plano é o Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H, que orienta o financiamento do PMCMV e

que desenvolveu, em parceria com o setor privado, sistemas avaliativos, visando à

qualidade e à conformidade dos materiais usados e das condições de habitabilidade, todos

com impacto direto na sustentabilidade da habitação de interesse social, por meio do

Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras (SiAC); do Sistema de

Qualificação Empresas de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos (SiMaC); e do

Sistema Nacional de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores (SiNAT).

275. Resultado positivo das iniciativas de sustentabilidade para o aperfeiçoamento do setor

da construção civil no Brasil, por meio do PBQP-H, é o esforço para melhorar o desempenho

no âmbito da redução do consumo de água, o desempenho funcional de equipamentos, a

estanqueidade das torneiras e a aplicação de inovação e de novas tecnologias para

produtividade e qualidade do habitat, entre outros.

276. O MMA, o Ministério da Fazenda e a ESAF (Escola de Administração Fazendária)

apoiam, por meio de acordo de cooperação, a disseminação de conceitos e práticas em

edificações sustentáveis para gestores e servidores públicos, no contexto do Projeto de

Transformação de Mercado para Eficiência Energética, promovido por meio de doação do

Fundo para o Meio Ambiente Global (Global Environment Facility – GEF).

277. Iniciativa de grande importância para a certificação de edificações públicas é o

Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, em seu componente dedicado às

Edificações, que trabalha com etiquetagem voluntária de eficiência em edifícios públicos e

comerciais. O Procel Edifica realiza cursos de capacitação; e disponibiliza o Software de

Simulação Hidrotermoenergético de Edificações, contendo cursos de capacitação

dedicados.

278. Cabe lembrar ainda o Programa Inova Sustentabilidade, conduzido em parceria entre

MMA, FINEP e BNDES, que incluiu o setor da construção civil, especialmente referente à

temática de materiais, o qual lançou o primeiro edital em 2014, tendo uma demanda de

aproximadamente R$ 5 bilhões.

279. No contexto dos grandes eventos, podem-se ressaltar as certificações e a gestão

sustentável das 12 Arenas usadas na Copa do Mundo de 2014, que obtiveram a certificação

LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), de origem norte-americana,

desenvolvida pela ONG United States Green Building Council, ação que resultou na

determinação, pela FIFA, de que as próximas edições do evento adotem a certificação como

padrão.

280. A preparação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 também tem como

objetivos estratégicos a utilização racional e eficiente de recursos e insumos, e a redução do

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impacto ambiental desde o desenho até a construção de todas as instalações e sua

operação. Para as novas arenas, tanto definitivas quanto temporárias, o planejamento

abarcou a escolha da localização, características formais e estruturais do projeto

arquitetônico, planejamento e controle do processo de construção, operação durante os

Jogos, uso e a manutenção no período pós-Jogos e reuso das estruturas não permanentes.

O planejamento detalhado das novas instalações segue elevados padrões de qualidade

ambiental e garante o impacto menor possível da infraestrutura dos Jogos Rio 2016 ao

meio ambiente.

281. Dentre as 36 instalações esportivas utilizadas nos Jogos Rio 2016, 16 são existentes

(sendo que a metade delas será renovada especialmente para os Jogos), 9 serão

temporárias e apenas 11 novas instalações permanentes serão construídas. Além desse

cuidado para evitar desperdício, as arenas temporárias foram planejadas e estão sendo

construídas a partir do conceito de arquitetura nômade, com edificações modulares que

podem ser desmontadas, reaproveitadas, transformadas e mudadas de lugar, de forma a

não gerar resíduos após a realização dos Jogos.

282. Outros avanços foram observados, tais como:

Selo Casa Azul CAIXA - Classificação Socioambiental de Projetos de Empreendimentos

Habitacionais;

Resolução CONAMA nº 307 / 2002 e suas alterações, que estabelece diretrizes, critérios

e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil;

Instrução Normativa MPOG/SLTI nº 2/2014, que trata do uso da Etiqueta Nacional de

Conservação de Energia (ENCE);

Estudo sobre Construção Sustentável realizado pelo CBCS (Conselho Brasileiro de

Construção Sustentável), em parceira com MMA e PNUMA, sobre “Aspectos da Construção

Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas”; e

Regulamentação da política de responsabilidade socioambiental do FGTS, publicação da

circular 861/2015, que traz orientações para projetos de habitação, infraestrutura e

mobilidade para projetos financiados com recursos do FGTS.

Cenário almejado e estratégias para sua realização

283. No âmbito das edificações, a redução do consumo de matérias-primas é uma

prioridade. A promoção da industrialização da construção permitirá reduzir as perdas e, em

consequência, os impactos ambientais da construção, além da redução de resíduos. A

sustentabilidade depende da inovação. A criação de um programa de fomento à

ecoinovação tem um potencial significativo de retorno ambiental e de ganho de

competitividade da indústria (CBCS, 2014).

284. O papel das políticas públicas em superar barreiras e realizar programas é essencial.

Para tanto, uma visão integrada e estratégica do setor faz-se necessária. Os relatórios

dedicados ao assunto abordam as necessidades e apresentam recomendações organizadas

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em três grupos: ações institucionais de planejamento e gestão, ações de pesquisa e

desenvolvimento tecnológico, e ações de sensibilização e capacitação profissional.

285. Dessa forma, ratifica-se a necessidade de apoiar a adoção das metas em cidades e

assentamentos humanos de modo a superar as demandas do setor como um todo:

ampliação de conhecimento, campanhas de esclarecimento e sensibilização da população,

capacitação técnica dos profissionais que atuam no setor; ferramentas específicas;

incentivos e linhas de financiamentos específicos; legislação e regulamentos específicos,

entre outros.

286. São várias as oportunidades e desafios para o setor da construção civil, porém, para o

2º ciclo do PCS, propõe-se, no mínimo, focar na redução e otimização do consumo de

energia, redução de resíduos nas obras, preservação do ambiente natural, melhoria da

qualidade do ambiente construído e desenvolvimento e adoção de alternativas menos

impactantes ao meio ambiente, à segurança e saúde humana.

287. Para tal, identifica-se como estratégico avançar ainda mais nas ações de parceria entre

o setor público, o setor privado e a sociedade civil, que possibilitem, considerando a

disponibilidade de insumos e matérias-primas, e as especificidades de cada região:

mudanças do processo produtivo convencional na direção de projetos integrados

flexíveis, com possibilidade de readequação para futuras mudanças de uso e atendimento

de novas necessidades, reduzindo as demolições;

busca de soluções inovadoras, que promovam o uso racional de energia ou de energia

renováveis;

gestão racional e eficiente da água;

redução e/ou eliminação do uso de matérias com alto impacto ambiental;

redução dos resíduos da construção, com modulação de componentes, para diminuir

perdas, e especificações que permitam a reutilização de materiais;

criação de valor no setor da construção civil;

promoção de projetos colaborativos, empregando Tecnologia da Informação na

Construção (TIC);

desenvolvimento de métodos de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV);

incentivos, modelos e ferramentas para a avaliação de desempenho de edifícios,

infraestrutura e suas partes, incluindo métodos e equipamentos de ensaio;

fomento a modelos de sistema de gestão do conhecimento que sirvam de suporte para a

implantação de Sistema de Códigos de Práticas Nacional;

desenvolvimento de pesquisas sobre aplicação de Tecnologias da Informação na

construção, desde o projeto até a construção, operação e manutenção de edifícios e

infraestruturas;

desenvolvimento de componentes, sistemas e processos inovadores para obras de

edificações públicas e privadas;

desenvolvimento de materiais, componentes, equipamentos e sistemas ecoeficientes;

desenvolvimento de sistemas de produção, envolvendo temas como: gestão de custos,

prazos e riscos; gestão de pessoas; logística e gestão de suprimentos; e produção enxuta;

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geração e disseminação de informações sobre métodos e ferramentas para a gestão do

uso, operação e manutenção; e

desenvolvimento de métodos e ferramentas para conforto ambiental e de energia na

escala urbana.

288. A construção e o gerenciamento do ambiente construído devem ser encarados desde

a perspectiva de vida útil e de ciclo de vida das edificações.

289. Ressaltando o importante avanço realizado até o momento, ainda há muito para fazer.

Existem muitos exemplos de boas práticas, mas a taxa de mudança é demasiada lenta para

levar a uma transformação do mercado em geral. As diretrizes chaves de construção

sustentável identificadas são:

Qualificação de referência: construção sustentável é mais do que edifícios verdes e

eficientes em energia. Enquanto muitas das políticas têm como objetivo reduzir o consumo

de energia, componente chave da construção sustentável, elas devem contribuir também

para o uso eficiente dos recursos. Um primeiro passo, é chegar a um consenso sobre o que

é uma construção sustentável, alcançado por meio de diálogo e do desenvolvimento de

uma linguagem comum.

Adoção de um enfoque de ciclo de vida e aperfeiçoamento da eficiência dos recursos

nas cadeias de fornecedores da construção. O desafio é realizar análise do ciclo de vida

mais eficiente e efetiva, com normas e orientações simples que permitam a capacitação

ampla e o planejamento do projeto de edifícios que permita que a cadeia de fornecedores

melhore seu rendimento e sustentabilidade.

A construção sustentável depende de uma infraestrutura sustentável. Os edifícios

devem contribuir para a infraestrutura mais sustentável e de acordo com as condições

ambientais construídas locais. É necessário impulsionar a demanda e permitir a provisão de

mais infraestrutura e serviços urbanos sustentáveis.

Construções sustentáveis devem esforçar-se por ser “positivas em recursos.” Os edifícios

podem proporcionar mais energia limpa que consomem, produzir água mais limpas do que

consomem, reduzir e transformar mais dejetos do que produzem.

Construções sustentáveis devem ter um enfoque de “economia circular”. A transição

para edifícios e construções mais sustentáveis exigirá mudanças na forma de contratação e

financiamento de projetos, considerando toda a vida útil do edifício.

A construção sustentável deve começar em casa. Para o ano de 2050, serão necessárias

de mais de um bilhão de novas casas no mundo para satisfazer uma população crescente e

cada vez mais urbana. No Brasil, o déficit habitacional é de aproximadamente cinco milhões

e meio de domicílios. Os edifícios de apartamentos podem tem impacto positivo e

proporcionar o aumento da sustentabilidade dos estilos de vida.

Construção sustentável requer a participação comprometida direta e bem informada de

todas as partes interessadas. O desempenho de um edifício depende do correto manejo

pelos usuários do edifício de seus componentes mais críticos para assegurar seu êxito.

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A construção sustentável faz necessário um enfoque climático. Os edifícios duram mais

do que outros produtos e o mundo todo sofrerá grandes mudanças durante sua vida útil.

Eles devem ser concebidos para resistir e fazer frente às mudanças climáticas previstas no

nível local, bem como para reduzir seus impactos sobre o clima.

Monitoramento, verificação, disposição para a retroalimentação das informações e

ações são fundamentais para o êxito. O desempenho, a sustentabilidade e a eficiência de

recursos dos edifícios devem ser verificados por meio do monitoramento e da

retroalimentação ao longo de seu ciclo de vida para garantir que se cumpram os objetivos

no curto, médio e longo prazos.

O Governo tem um papel chave em todos os níveis para induzir e dar o exemplo. Os

edifícios públicos devem ser exemplo de edifícios sustentáveis e agentes catalizadores para

o desenvolvimento da cadeia de fornecedores eficientes em recurso, tecnologias,

habilidade experiência.

Estratégias para a condução da política em Construção Sustentável

290. Para o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, no eixo de construções

sustentáveis, foram identificadas como estratégias e ações para o 2º ciclo de

implementação:

1) Fomento ao desenvolvimento do Programa PBQP-H para garantia da qualidade dos

produtos e serviços da Construção Civil, por meio do Comitê Nacional de Desenvolvimento

Tecnológico da Habitação - CTECH, com especial enforque aos sistemas:

Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras – SiAC;

Sistema de Qualificação Empresas de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos –

SiMaC; e

Sistema Nacional de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores – SiNAT.

2) Fomento ao desenvolvimento do PROCEL Edifica, no âmbito do Programa Brasileiro de

Etiquetagem - PBE, para a etiquetagem voluntária do nível de eficiência energética de

edifícios comerciais, de serviços e públicos,

conforme o modelo do Regulamento Técnico da

Qualidade elaborado por MME/Eletrobrás/

INMETRO;

3) Fomento à parceria com Ministério das Cidades,

Caixa Econômica Federal, municípios e estados para

a ampliação dos critérios de sustentabilidade nas

habitações de interesse social, na terceira fase do

Programa Minha, Minha Vida – PMCMV3;

4) Apoio e fortalecimento do Projeto Esplanada

Sustentável (PES);

5) Apoio, em parceria com a CBIC (Câmara Brasileira

da Indústria da Construção), dos programas no setor de construções sustentáveis,

Projeto Esplanada Sustentável

O Projeto Esplanada Sustentável (PES),

estabelecido pela Portaria Interministerial nº

244/2012, é uma iniciativa conjunta de

quatro Ministérios: Planejamento; Meio

Ambiente; Minas e Energia; e

Desenvolvimento Social e Combate à Fome,

que tem por objetivo principal incentivar

órgãos e instituições públicas federais a

adotarem modelo de gestão organizacional e

de processos estruturado na implementação

de ações voltadas ao uso racional de

recursos naturais, promovendo a

sustentabilidade ambiental e

socioeconômica na Administração Pública

Federal:

http://www.planejamento.gov.br/assuntos/or

camento/esplanada-sustentavel

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compreendendo: água, energia, resíduos, sistemas e materiais, mudanças climáticas,

desenvolvimento humano, meio ambiente, infraestrutura e desenvolvimento urbano;

6) Apoio a programas no setor construção civil nos temas de ecodesign e arquitetura amiga

do meio ambiente; eficiência energética, uso racional da água, inovação tecnológica,

redução de Gases de Efeito Estufa - GEE na cadeia de produção, infraestrutura urbana,

valorização do trabalhador da construção civil, treinamento e melhoria da mão de obra,

gestão da qualidade e de resíduos e conservação ambiental;

7) Apoio e participação em programas no setor de construção sustentáveis,

compreendendo os seguintes temas: água, energia, resíduos, sistemas e materiais,

mudanças climáticas, desenvolvimento humano, meio ambiente infraestrutura e

desenvolvimento urbano;

8) Elaboração de guias e manuais que mostrem os impactos das escolhas de materiais,

componentes e sistemas em construções sustentáveis, seja em reformas ou retrofits, de

odo a induzir a utilização de técnicas e materiais de menor impactos socioambiental;

9) Elaboração de estudos e publicações que promovam a adoção de práticas sustentáveis

no setor da construção e nas edificações;

10) Elaboração, em parceria com o CBCS/PNUMA, de estudos de referência com a

metodologia de ACV e governança da área de Materiais e Componentes de Construção do

PBACV (Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida), e discussão com atores

estratégicos do setor, que permita a introdução acelerada de boas práticas de produção e

consumo sustentáveis na cadeia produtiva da construção;

11) Acompanhamento do desenvolvimento da indústria de reciclagem de resíduos da

construção civil e a normatização dos produtos reciclados;

12) Incentivo ao uso, por meio de linhas de crédito, financiamentos e subsídios, em

edifícios e residências – prioritariamente em habitações de interesse social e obras públicas

–, de sistemas de aproveitamento de energia solar, fotovoltaica e energia solar fototérmica,

e energia eólica e outras formas de energias renováveis, de modo a disseminar a cultura da

conservação de energia e do aproveitamento apropriado, segundo a característica do

imóvel e da região;

13) Incentivo ao desenvolvimento de método de avaliação da acessibilidade aos sistemas

de transportes em futuros empreendimento do Programa Minha Casa Minha Vida –

PMCMV, podendo tornar-se recomendação ou normativa e contribuindo para a construção

de cidades melhor adaptadas à sustentabilidade;

14) Promoção de iniciativas de capacitação nos municípios com vistas a fomentar novos

padrões de estruturação urbana, por meio do Plano Diretor de Mobilidade Urbana, e tendo

em vista a implementação de Lei nº 12.587/2012, que institui as diretrizes da política

nacional de mobilidade urbana;

15) Apoio ao aperfeiçoamento do modelo de gestão do Fundo Socioambiental - FSA CAIXA

de modo a fortalecer as políticas e programas de sustentabilidade para construções;

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16) Apoio ao desenvolvimento de especificações de desempenho dos empreendimentos

de Habitação de Interesse Social – HIS baseado na NBR 15575;

17) Promoção de iniciativas visando a ampliar as fontes de energia participantes do sistema

de compensação: fontes renováveis e cogeração qualificada; e

18) Fomento à criação de linhas de recursos não reembolsáveis específicas para projetos de

pesquisa e inovação tecnológica focados em sistemas de aproveitamento da energia solar

e biogás.

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5.5 Varejo Sustentável

Descrição e contexto

291. Englobando todas as atividades envolvidas na comercialização de bens ou serviços

diretamente aos consumidores finais, o varejo está estrategicamente localizado entre estes

e os fornecedores, o que lhe confere um papel de fundamental importância como

intermediador na cadeia de suprimentos.

292. Por ser um importante elo de ligação, o varejo tem capacidade de promover mudanças

em prol da sustentabilidade. As atividades do varejo, pelo lado da produção ou da oferta,

contribuem com 5-10% dos impactos ambientais da cadeia, enquanto os demais 90-95%

dos impactos são gerados pela cadeia de suprimentos e transporte dos produtos

(Conservation International e Food Marketing Institute apud CARDOSO, 2008). Dessa forma,

o varejo pode impulsionar a sustentabilidade ao adotar critérios de compra que superem o

tradicional binômio preço-qualidade, incentivando seus fornecedores a desenvolver

produtos com diferenciais ambientais e/ou sociais.

293. Pelo lado da demanda, o varejo tem a possibilidade de auxiliar os consumidores a

utilizarem critérios socioambientais em suas decisões de compra, tanto disponibilizando

produtos mais sustentáveis como fornecendo informações no ponto-de-venda.

294. Assim, seja por meio da oferta de produtos mais sustentáveis, da mobilização da

cadeia produtiva ou pela conscientização e informação dos seus consumidores, o setor

varejista pode efetivamente contribuir para a minimização de impactos sociais e ambientais

da produção e do consumo.

295. O setor varejista representa uma enorme variedade de segmentos e empresas, sendo

o mais tradicionalmente representativo o de supermercados. Segundo dados da Abras, o

setor tem hoje aproximadamente 40 mil empresas e cerca de 84 mil lojas (destas, cerca de

50% possuem apenas um check-out). Ao contrário do que comumente se divulga, trata-se

de um setor pulverizado: no Brasil, a participação das três maiores empresas é de

aproximadamente 27% do mercado (bastante abaixo da média europeia, da ordem de 60%)

e a concentração se verifica principalmente na região metropolitana da Grande São Paulo.

Responsável por aproximadamente 23% da receita líquida de revendas de todo o comércio

brasileiro, o setor supermercadista empregava 1,836 milhão de pessoas ao final e 2014,

correspondendo a 20% dos empregos formais do comércio brasileiro e 3,7% do total de

empregos formais.

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296. Pode-se dizer que 2008 e 2009 foram os anos do varejo sustentável. Motivados pela

elaboração do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), capitaneado

pelo Ministério do Meio Ambiente, e pela criação do Fórum do Varejo Sustentável, liderado

pela Fundação Getúlio Vargas, empresários e instituições da sociedade civil mobilizaram-se

em torno da sustentabilidade no setor. Inúmeras iniciativas surgiram, especialmente por

parte de grandes redes supermercadistas, como Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour, que

se tornaram a vanguarda do varejo sustentável. Lojas ecoeficientes foram implantadas,

alguns reformaram seu parque de iluminação, redes fomentaram o retorno para a cadeia de

valor de produtos no pós-consumo, recebendo e encaminhando, por exemplo,

eletroeletrônicos usados e embalagens descartadas nas lojas pelos consumidores. Muitas

lojas se aproximaram do consumidor, por meio de informações e campanhas, ao mesmo

tempo em que lançaram programas para levar os números de resíduos a zero, estimularam

as compras locais, reduziram o impacto do transporte e beneficiaram o desenvolvimento

local.

297. Entretanto, há uma percepção de que esses esforços se tornaram mais tímidos nos

anos seguintes, seja pela pouca mobilização do setor depois de 2009, seja pela falta de

informação disponível sobre as iniciativas implementadas pelas empresas. Certamente,

muito disso se deve à crise de 2008/2009, que levou os empresários a voltarem sua atenção

para questões de ordem econômica e social, mais prementes a partir de então.

Cenário desejado e estratégias para sua realização

298. Como parceiro do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis, desde do seu

primeiro ciclo, o GVCev - Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-

EAESP) sugere duas diretrizes fundamentais para traçar o caminho do Varejo Sustentável

durante o próximo ciclo de implementação do Plano.

299. O varejo como centro de disseminação de valores sustentáveis para a comunidade em

que está localizado: apesar das diversas iniciativas sistemáticas e voluntárias das empresas,

do governo e da sociedade civil, ainda há uma lacuna, uma falta de conexão entre o

discurso e a prática da sustentabilidade.

300. Para que as diversas empresas e entidades varejistas possam se tornar centros

irradiadores de valores sustentáveis para a comunidade é preciso ampliar o envolvimento

dos consumidores nesse processo, que pode ser feito por meio do/da:

Desenvolvimento de pesquisas, com mais profundidade, para analisar a percepção dos

consumidores brasileiros em relação ao tema sustentabilidade;

Oferta de incentivos para aumentar sua adesão às diversas práticas promovidas pelas

empresas e organizações da sociedade;

Mobilização dos consumidores para compreender, praticar e compartilhar suas ações

sustentáveis diariamente, por meio das suas redes de relacionamento; e

Comunicação da sustentabilidade para os consumidores, de forma simples, porém

inovadora.

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301. O consumidor não se interessa por números que ele não entende; não quer saber

somente de notícias ruins e de uma visão pessimista; o consumidor sente a necessidade

receber mensagens positivas, de esperança, de mudança (não somente para as empresas e

entidades), mas para ele mesmo; o consumidor quer saber quais são os benefícios da

sustentabilidade para a sua vida, para a sua família; é isso que pode engajá-lo no processo e

levá-lo a agir, a praticar a sustentabilidade. Caso contrário, ele continuará sem motivação

para entrar nessa luta.

302. É preciso investigar o que o consumidor entende por sustentabilidade. Como fazê-lo

entender de forma simples, clara e objetiva, e com apelos emocionais? Como articular os

processos, os meios e as diversas técnicas e ferramentas sofisticadas de comunicação do

varejo, da indústria e do setor de serviços para engajar o consumidor para a

sustentabilidade?

303. O varejo como agente modificador em toda a cadeia de valor: houve uma evolução

significativa no entendimento das empresas varejistas e dos seus fornecedores sobre a

importância de reduzir o impacto ambiental na cadeia de suprimentos. Entretanto, são

necessários avanços, de modo que as cadeias de valor do varejo e da indústria abordem, de

forma sistemática e estratégica, as questões sociais, sobretudo aquelas que dizem respeito

às condições de trabalho.

304. Não é possível mobilizar o consumidor para a sustentabilidade sem que ele consiga ter

uma ideia mais clara sobre “o que está por trás da cadeia produtiva do varejo”.

305. Para valorizar as iniciativas das empresas e entidades varejistas que estão trabalhando

pela sustentabilidade nesses últimos anos, é preciso estender as práticas sustentáveis por

toda a cadeia de valor desse setor, aumentando a responsabilidade de todos os agentes

envolvidos sobre as questões sociais e ambientais. Caso contrário, todo o setor continuará a

ser penalizado pelos que não estão desenvolvendo iniciativas nesse sentido.

306 Dessa forma, é necessário melhorar a inserção da sustentabilidade na cadeia produtiva

de todo o setor varejista, por meio de:

Monitoramento sistemático dos elos da cadeia produtiva, para evitar riscos e coibir o

vínculo de produtos e empresas com o desmatamento, o trabalho escravo e o trabalho

infantil, entre outras;

Inovação dos mecanismos e ferramentas de rastreabilidade dos produtos das indústrias

têxtil, alimentos, eletroeletrônicos, automotiva, entre outras;

Promoção de critérios de compra que privilegiam os aspectos sociais e ambientais na

mesma proporção que os critérios econômicos;

Incentivo, do ponto de vista econômico, à compra de produtos sustentáveis, destacando

seus benefícios socioambientais para os consumidores; e

Aumento do número de parcerias entre as empresas varejistas e as entidades de classe

do varejo e da indústria para promover a sustentabilidade na cadeia produtiva.

307. O varejo e a indústria, juntos, têm condições de aproximar o poder público da

realidade e da complexidade dos processos produtivos e do trabalho nestes setores. É

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preciso que os órgãos públicos também estejam engajados em soluções e não somente na

punição às empresas.

308. O varejo tem condições de informar e facilitar o processo de compra dos

consumidores, exercendo seu forte papel de influência sobre a cadeia de valor. A

comunicação transparente do varejo e da indústria com os consumidores precisa ser a base

desse processo.

Estratégias para o Varejo Sustentável

309. A atual crise econômica pode se converter em uma oportunidade para o setor, na

medida em que custos são reduzidos, por meio do menor consumo de matérias-primas e

de recursos naturais, como água e energia, e da adoção de medidas que levem a um

consumo mais responsável pela população em geral.

310. O varejo é um setor estratégico no sentido de tornar os padrões de produção e

consumo no país mais sustentáveis. Por isso, no processo de construção do 2º Ciclo do

PPCS, considera-se fundamental fortalecer o diálogo e a mobilização, e estimular novas

parcerias. Para tal fim, são descritas a seguir algumas linhas de ação que visam ao avanço

da sustentabilidade no setor varejista no Brasil:

1) Combate às perdas e ao desperdício de alimentos

311. O Brasil é um dos países que mais desperdiçam alimentos no mundo: cerca de 26,3

milhões de toneladas de alimentos têm o lixo como destino. No Brasil existem cerca de 3,4

milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, que corresponde a 1,7% da

população. Segundo relatório da FAO de 2013, 805 milhões de pessoas, ou seja, uma em

cada nove sofre de fome no mundo. No Brasil, o desperdício de alimentos está presente em

toda a cadeia, sendo o varejo responsável diretamente por 10% do desperdício (10% ocorre

no campo, 50% manuseio e transporte e 30% na comercialização e abastecimento), mas

com um grande potencial de influenciar os demais elos da cadeia. O ideal seria reduzir

esses números a zero nos próximos anos.

312. No âmbito internacional, é importante mencionar que a redução do desperdício de

alimentos é uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12, relativo a PCS:

meta 12.3 - até 2030, reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita mundial,

nos níveis de varejo e do consumidor, e reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias

de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita.

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Figura 14. Proporção de alimentos disponíveis que se perde ou são desperdiçados. Fonte: WRI

313. Segundo o World Resources Institute, no mundo, são gastos US$ 750 bilhões por ano

com alimentos perdidos ou desperdiçados em toda a cadeia de fornecimento de alimentos.

Reduzir a perda e o desperdício de alimentos poderá ajudar a recuperar o gasto econômico

e reduzir a carga financeira sobre as populações mais vulneráveis do mundo.

314. No Brasil, a preocupação com a redução do percentual de perdas de alimentos é

comum a todas as grandes redes de supermercados. Em algumas situações, o valor de

perda chega a ser maior do que o resultado líquido dos supermercados.

Visando a combater o desperdício de alimentos, o setor varejista já adota algumas

iniciativas, que vêm sendo aperfeiçoadas ao longo dos últimos anos:

Rastreabilidade FLV: uso do sistema de rastreabilidade é uma tecnologia/alternativa que

as grandes redes varejistas (Carrefour, Walmart e Pão de Açúcar) utilizam para monitorar

a origem e qualidade de seus produtos, controlar as perdas e consequentemente

combater o desperdício de alimentos no País. O sistema permite saber de onde veio o

alimento, no caso frutas, legumes e hortaliças (FLV), conhecer todo o processo produtivo

e visualizar cada ponto de passagem, da produção até a comercialização nas gôndolas

dos supermercados.

Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), o programa de

rastreabilidade de FLV foi desenvolvido com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo que os

produtos rastreados respondem por 20% do volume de vendas. Quinze Estados já

praticam a rastreabilidade. O objetivo é que até o final de 2016 todos os Estados

possuam pelo menos um supermercado que a pratique.

Doação para o Programa Mesa Brasil SESC: rede nacional de bancos de alimentos

contra a fome e o desperdício, cujo objetivo é contribuir para a promoção da cidadania e

a melhoria da qualidade de vida de pessoas em situação de pobreza, em uma

perspectiva de inclusão social. Trata-se, essencialmente, de um Programa de Segurança

Alimentar e Nutricional, baseado em ações educativas e de distribuição de alimentos

excedentes ou fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser

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consumidos.

Atualmente, a exemplo de outros doadores, as redes de supermercado, Carrefour e

Walmart atuam por meio dessa iniciativa para redução do desperdício, mediante a

doação de alimentos para o programa em todo o país.

315. Para combater o desperdício e as perdas de alimentos, a ABRAS propõe a mobilização

do setor supermercadista brasileiro, a divulgação da cartilha de boas práticas para combate

do desperdício de alimentos nos supermercados (recente publicação da instituição) e a

implementação do programa para reduzir as perdas de alimentos nos supermercados.

316. Para essa agenda o principal desafio, na visão da ABRAS, é o envolvimento de mais

empresas do setor nas ações de prevenção de perdas, especialmente as médias e

pequenas, e a conscientização dos gestores das empresas do setor supermercadista com

relação ao objetivo do País de redução pela metade do desperdício de alimentos até 2030.

317. A redução das perdas e desperdícios de alimentos também é uma das frentes de

atuação do Plano de Ação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos

(Celac) 2025 para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome. O Plano,

desenvolvido e executado com o apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura

e Alimentação (FAO), está sendo estruturado em torno dos pilares da Segurança Alimentar

e Nutricional, e visa a contribuir para a obtenção de resultados que garantam melhorias

significativas na qualidade de vida das populações, proporcionando o direito à alimentação

aos setores em situação de fome e vulnerabilidade.

318. A Embrapa tem desenvolvido várias iniciativas relativas ao assunto, como a

implantação do observatório de tendências sobre "Redução de perdas pós-colheita de

frutas e hortaliças no Brasil", ligado ao Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa

(Agropensa). O instrumento vai reunir especialistas internos e externos para prospectar

desafios tecnológicos e mercadológicos, além de qualificar e quantificar as demandas por

novos conhecimentos e tecnologias. Deve capturar e prospectar tendências, identificar

futuros possíveis e elaborar cenários que permitam à agropecuária brasileira se preparar

melhor frente aos potenciais desafios e oportunidades ligadas à redução de perdas na pós-

colheita de alimentos. Além disso, a Embrapa tem apoiado o desenvolvimento de pesquisas

e a realização de uma série de eventos sobre Segurança Alimentar e Nutricional, tais como

a oficina "Redução de Perdas e Desperdícios e Segurança Alimentar e Nutricional", em

2015.

2) Aumento da oferta de produtos mais sustentáveis

319. Grandes varejistas unem a credibilidade de suas marcas a linhas de produtos,

comprovando seu pioneirismo no segmento de produtos mais sustentáveis. São marcas

próprias, que chegaram ao mercado para oferecer produtos de qualidade a um menor

custo, com certificados e critérios de sustentabilidade, ou com embalagens possuindo

certificação CERFLOR/PEFC (Programa Brasileiro de Certificação Florestal/Program of

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Endorsement of Forest Certification Schemes) ou FSC (Forest Stewardship Council).

320. A sustentabilidade dos produtos deve cobrir não apenas questões ambientais. Como

também sociais e de direitos humanos, com a finalidade de oferecer segurança aos

consumidores, garantindo que somente fornecedores que atuam em conformidade com a

legislação produzam para a rede. Nesse contexto, a realização de auditorias para o

cumprimento de critérios sociais relacionadas ao processo produtivo do setor e a

certificação dos produtos é estratégica.

3) Estímulo à certificação e a selos que garantam a qualidade e origem dos produtos

321. Mesmo no caso de produtos de outras marcas, é possível o incentivo a produtos que

apresentem selos de qualidade, que incluam critérios socioambientais em seus processos

de certificação, entre outros. O selo possui valor na medida em que o consumidor é

informado sobre as implicações e a importância de obter determinada certificação ou selo

de responsabilidade socioambiental. Um exemplo clássico é o selo do CERFLOR/PEFC

(Programa Brasileiro de Certificação Florestal/Program for Endorsement of Forest

Certification Schemes) ou FSC, já reconhecido por grande parte dos consumidores. Porém,

existe uma série de selos sobre uso de água ou compensação de emissões de carbono

ainda desconhecidos e que acabam por não criar o impacto desejado. Ou seja, não basta

oferecer produtos certificados, é preciso fazer com que o consumidor entenda o que está

por trás do processo de certificação, para entender o seu significado e atribuir o valor

adequado. Tão importante quanto é que o selo seja emitido por um organismo confiável,

que disponibilize de forma transparente informações sobre os critérios e metodologias

utilizadas para o desenvolvimento destes selos e que sejam preferencialmente, verificado

por uma terceira parte independente.

322. Outro exemplo a ser citado, é a Certificação de Sustentabilidade e Qualidade da

Indústria Têxtil e de Confecção - SELO QUAL, criado pela Associação Brasileira da Indústria

Têxtil e de Confecção (Abit) em parceria com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento

Industrial) e apoio da APEX BRASIL - Agencia Brasileira de Promoção de Exportação e

Investimentos. A certificação visa avaliar a conformidade dos produtos têxteis e

confeccionados, bem como atestar que as empresas certificadas atendem às normas

socioambientais. Para essa iniciativa o maior desafio é ampliar o número de empresas

participantes do programa, conscientizar os consumidores e atingir a todos os estados da

federação.

323. A Abras se propõe a fortalecer essa iniciativa, com o apoio da empresa gestora do

Programa, responsável pelas coletas e análises técnicas, promover maior adesão ao

Programa, e fomentar parcerias com universidades, centrais de distribuição – (Ceasas).

Hoje, o Programa RAMA já conta com a parceria da ANVISA e do MAPA.

324. O maior desafio dessa iniciativa é ampliar o número de empresas participantes do

programa, atingindo todos os estados da federação.

325. O Instituto de Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) também

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atua nessa linha de ação, por meio da educação para o consumo, com a produção de

cartilhas, das análises apresentadas pelo Programa do Fantástico, além de auxiliar o

governo nas definições de especificações técnicas para compras públicas sustentáveis. A

ampliação da adesão das empresas do setor, especialmente as médias e pequenas, é um

grande desafio para o futuro.

4) Diminuição das embalagens em excesso nos produtos

326. Uma das formas de reduzir os custos do produto (que não necessitam embalagens

especiais), sem prejudicar sua qualidade e ainda contribuir com o meio ambiente, é ofertar

produtos a granel ou com o mínimo de embalagens.

327. A redução do volume de matéria-prima nas e também no processo de produção é hoje

desejo de muitas empresas, não só do ponto de vista ambiental, mas também do ponto de

vista financeiro, pois reduz custos.

328. O uso de embalagens recicláveis ou com menor quantidade de componentes não

recicláveis é outra tendência do setor, gerando menor volume de resíduos sólidos. Muitas

redes recebem as embalagens vazias e as encaminham para reaproveitamento, diretamente

ou por meio de parcerias com associações de catadores de materiais recicláveis, empresas

que utilizam material reciclável ou ONGs voltadas para a conscientização e reeducação do

consumidor. A logística reversa tem ganhado espaço no setor varejista, e precisa ser

fortalecida e ampliada para ganhar escala e alcançar também as micro, pequenas e médias

empresas.

329. Algumas redes e empresas têm investido no uso de refis como forma de reduzir o

impacto causado pelo descarte de embalagens no meio ambiente. Além da vantagem

ecológica evidente, o consumidor ainda economiza, já que o refil custa menos.

5) Apoio a produtores e fornecedores locais

330. Uma das formas de os supermercadistas atuarem no combate ao desperdício, de

promover a economia local e garantir produtos de qualidade é diminuindo o número de

intermediários na cadeia de produção, privilegiando a compra direta de produtores locais.

Além de promover a economia local e regional, as redes contribuem assim com a redução

do transporte, gerando menor impacto com emissões de gases de efeito estufa.

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6) Investimento em comunicação e mobilização, e envolvimento dos consumidores com a

sustentabilidade

331. Consumidores se mostram cada vez mais interessados em saber como as empresas e

marcas que consomem atuam em seus mercados. O que as empresas efetivamente fazem

têm mais valor do que elas buscam divulgar ao mercado e aos consumidores. O caráter e o

respeito à sustentabilidade devem abranger todos os processos e ações que a empresa

possa realizar. As informações têm como fonte principal a Internet em sites de busca.

Ampliar a comunicação aos consumidores é fundamental.

332. Nesse aspecto, os varejistas possuem um papel fundamental na disseminação de

valores e princípios da sustentabilidade, seja por meio do apoio ou a realização de

campanhas de mobilização, seja pela constante disponibilização de informações claras

sobre o impacto das escolhas realizadas pelos consumidores e sobre o pós-consumo dos

produtos. A coleta seletiva e o descarte adequado dos resíduos e das embalagens podem

ser estimulados pelos supermercadistas.

333. O desafio dessa linha de ação é considerado um dos mais importantes, tanto pelo

próprio setor quanto pelas organizações que trabalham com o tema do varejo sustentável.

O setor precisa oferecer comunicação adequada e qualificada para potencializar mudanças

de valores, atitudes e comportamentos.

334. Engajar o consumidor é uma das tarefas mais desafiadoras, pois de nada adianta o

avanço da indústria na inserção de aspectos socioambientais nos produtos se a empresa

não souber comunicar de maneira adequada e eficiente a importância disso para o meio

ambiente e para sociedade. Se o consumidor não possui informação clara a respeito dos

critérios aplicados para fazer as melhores escolhas, ele acaba não se envolvendo no

processo de mudança.

7) Implementação de programas de gestão dos resíduos

335. Administrar os próprios resíduos gerados em suas lojas e estimular que os

consumidores façam o descarte corretamente, apoiando a reciclagem, de modo que os

materiais sejam separados e, posteriormente, enviados para cooperativas ou indústrias

especializadas em transformação é uma das grandes contribuições que os varejistas podem

fazer à sustentabilidade.

336. Aumentar o número de Pontos de Entrega Voluntária (PEV) de embalagens e resíduos

tem se mostrado uma iniciativa muito importante, uma vez que o sistema de limpeza

pública de várias cidades ainda não dá conta desse atendimento. A instalação de estações

de reciclagem, com estruturas para facilitar a separação dos resíduos recicláveis nos

hipermercados e supermercados, para atender à crescente procura da população por locais

que possam receber esses resíduos gerados em suas residências é fundamental.

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337. Outras estratégias para a gestão dos resíduos também podem ocorrer por meio da

adequação de estruturas de operação (coletores, caçambas, locais de armazenamento); da

identificação e formação de parcerias na gestão de resíduos (cooperativas de catadores ou

empresas que atendam aos critérios de gestão de resíduos com o objetivo de dar o destino

ambientalmente adequado para todos os resíduos segregados); ou da ampliação dos

resíduos a serem recebidos, tais como óleo de cozinha usado, medicamentos vencidos,

pilhas e baterias e cartuchos de impressoras.

338. Em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a ABRAS propõe a

ampliação do Programa Lixo Zero Supermercado, 2020 da ACATS, criado pela Associação

Catarinense de Supermercados para que as lojas do estado adotem políticas de redução de

consumo, reutilização de recursos, reciclagem e também sejam lixo zero, ou seja,

promovam ações para eliminar qualquer forma de lixo, minimizando o descarte de

materiais e buscando técnicas de reciclagem e reutilização, evitando somente a destinação

aos aterros sanitários. A destinação correta dos resíduos gerados inclui um amplo grupo de

produtos, como resíduos orgânicos, óleo de cozinha, eletroeletrônicos, pilhas, baterias,

lâmpadas fluorescentes, além de papéis, plásticos, vidro, isopor, caixas madeira das frutas e

verduras, entre outros.

339. O principal desafio dessa agenda é ampliar o número de empresas participantes do

Programa e atingir todos os estados da federação.

8) Ampliação do número de lojas ecoeficientes

340. Umas das formas de os varejistas contribuírem e darem o exemplo em relação à

sustentabilidade é investir em lojas ecoeficientes, principalmente pela substituição de

equipamentos que reduzam o consumo de água e energia. Algumas grandes lojas, atentas

para essas melhorias, já vêm adotando esse novo modelo.

341. Outra iniciativa importante das lojas é a melhoria dos balcões de exposição de

produtos resfriados e congelados. Balcões convencionais, sem fechamento frontal, utilizam

mais energia para manutenção da temperatura adequada. Balcões com fechamento frontal

promovem uma significativa redução no consumo de energia e a melhora do ambiente de

compra da loja. A utilização de sistemas automáticos de controle e medição de energia

também contribui para redução do consumo, mantendo um adequado funcionamento dos

equipamentos elétricos.

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9) De embalagens plásticas para embalagens alternativas para as compras

342. Durante o ano de 2009, foi realizada tentativa de proibição do uso das sacolas

plásticas, as quais caíram há muitos anos no gosto do consumidor brasileiro, não somente

por serem mais resistentes que as antigas sacolas de papel, mas também pela possibilidade

de serem reaproveitadas como sacos de lixo, principalmente para ambientes como cozinha

e banheiro. Mesmo com a tentativa de cobrança pelo uso das sacolas por alguns lojistas,

seu uso ainda permanece. Entretanto, o uso das sacolas retornáveis, as chamadas ecobags,

confeccionadas principalmente em tecidos resistentes, vêm ganhando cada vez mais

adeptos e a tendência é de um uso cada vez mais frequente. Contudo, há também outras

formas possíveis de acomodação das compras, como caixas de papelão, por exemplo, que

são disponibilizadas por diversas lojas.

343. Tendo em vista aumentar a conscientização das empresas e dos consumidores para a

redução do uso de sacos e sacolas plásticas, a ABRAS propõe como ação a reformulação do

pacto setorial assinado entre o MMA e a ABRAS em (2011), que estabeleceu a meta de

redução de 40% das sacolas plásticas até 2015, tornada inviável diante do cenário de

consumo dessas embalagens no País. Para essa iniciativa, a associação pretende orientar as

empresas do setor supermercadista e as associações estaduais de supermercados sobre as

iniciativas em curso e sobre a importância de envolver os órgãos de defesa do consumidor

nesse debate para redução, reciclagem e reaproveitamento das embalagens plásticas por

meio do sistema de comunicação da ABRAS.

Para todas as linhas de ações apontadas pela ABRAS, a instituição se compromete a

fomentar/ampliar as iniciativas já em andamento pelo setor, a fim de avançar a

sustentabilidade do varejo no País. A associação também sinaliza a possibilidade de

estabelecer metas a partir de 2017, utilizando como ferramenta de monitoramento os

indicadores da pesquisa RANKING ABRAS e registro de ações nos meios de comunicação do

Sistema ABRAS.

344. O principal desafio dessa linha é encontrar caminhos para conscientizar e estimular o

consumidor a dar destino correto aos sacos e sacolas plásticas, evitando jogá-las nas ruas,

já que ainda não existem sistemas de coleta seletiva implantados na maioria das cidades.

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5.6 Agricultura Sustentável

Descrição e contexto

345. A publicação Trade and Environment Review (TER2013), da Conferência das Nações

Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), alerta em seu título: “Acorde Antes

que Seja Tarde Demais - Torne a Agricultura Verdadeiramente Sustentável para que Haja

Segurança Alimentar em um Momento de Mudanças Climáticas.” Segundo o documento, a

diversidade, os produtores locais, a redução de fertilizantes e a reforma das regras globais

de comércio, que caminham para um mosaico sustentável e regenerativo de sistemas

agrícolas produtivos, parecem a única opção para assegurar alimentos e saúde para a

população mundial.

346. Os países desenvolvidos e em desenvolvimento precisariam proceder mudanças de

paradigma no desenvolvimento agrícola, no qual a "revolução verde" seria substituída por

uma opção de intensificação verdadeiramente sustentável. Isso implicaria em uma

mudança rápida e significativa dos insumos para a indústria e da monocultura convencional

rumo a um mosaico, com sistemas regenerativos, resilientes e integrados que melhorariam

consideravelmente a produtividade dos agricultores. É necessária uma mudança de visão

para uma abordagem holística na gestão agrícola. Esta reconheceria que um agricultor não

é apenas um produtor de bens agrícolas, mas um gestor de um sistema agroecológico, que

fornece um grande número de bens públicos e serviços, como segurança territorial,

alimentar, água de qualidade, solo estruturado, paisagem, energia, biodiversidade, cultura e

recreação.

347. A TER2013 destaca que a transformação necessária é muito mais do que o

aprimoramento do sistema agroindustrial existente. Ao invés disso, exige a percepção das

multifunções da agricultura. O desenvolvimento rural, reduzindo-se a pobreza no campo,

tem papel importante para lidar com a escassez de recursos e a mitigação e adaptação às

mudanças climáticas. No entanto, os métodos de produção teriam que ser adaptados às

realidades locais, mais resilientes, melhorando significativamente a governança do processo

produtivo, corrigindo problemas de assimetrias na entrada de alimentos nos mercados,

bem como nas atuais regras do comércio para a agricultura.

348. O resultado seria um tratamento amplo, inter-relacionando-se problemas como fome

e pobreza, meios de subsistência rurais, desigualdade social e de gênero, falta de saúde e

nutrição, alterações climáticas e sustentabilidade ambiental.

349. O sistema de produção e distribuição dos alimentos pode promover justiça social,

saúde pública e proteger o ambiente; ou, ao contrário, gerar desigualdades sociais,

problemas de saúde e ameaças aos recursos naturais e à biodiversidade. Segundo o Guia

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Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014, p.10; 125-126), três dos dez passos

para uma alimentação adequada e saudável são: fazer que alimentos in natura ou

minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal,

sejam a base da alimentação; limitar o consumo de alimentos processados; e evitar o

consumo de alimentos ultraprocessados.

350. Segundo estudo da SAE (no prelo, p.5), “a Pegada Ecológica brasileira é gerada

principalmente por despesas relacionadas à alimentação (46%)” e a área de pastagens é a

maior área bioprodutiva demandada pelos brasileiros, seguida por áreas de agricultura.

Ainda segundo esse estudo (no prelo, p.26):

A produção de 1 tonelada de carne requer, por exemplo, 0,4 ha globais,

enquanto a produção de 1 tonelada de cereais ou frutas requer o uso de

0,1 ha globais.

351. A produção vegetal no Brasil é suportada por uma grande variedade cultural com

dimensões proporcionais aos seus diferentes biomas. As culturas de soja, milho e cana de

açúcar são as que mais demandam áreas produtivas no País e destinam- se à produção de

rações, agroenergia e alimentos processados e ultraprocessados.

352. Aspectos que definem o impacto ambiental e social do sistema alimentar incluem:

tamanho e uso das propriedades rurais que produzem os alimentos; autonomia dos

agricultores na escolha de sementes, de fertilizantes e de formas de controle de pragas e

doenças; condições de trabalho e exposição a riscos ocupacionais; papel e número de

intermediários entre agricultores e consumidores; capilaridade do sistema de

comercialização; geração de oportunidades de trabalho e renda ao longo da cadeia

alimentar; e partilha do lucro gerado pelo sistema entre capital e trabalho.

353. Há que se observar que além dos aspectos zoo e fitotécnicos, tais sistemas evoluem na

produtividade e das condições ergométricas das intervenções humanas nestes sistemas. A

exemplo disto trabalho, em prol da gestão dos riscos ocupacionais, mecanização agrícola

com uso de tecnologia embarcada, sistema de informação geográfica, e a chamada IoT

(Internet of Things), demonstra a tendência das chamadas “tecnologia habilitadoras” serem

aplicadas a campo. Com diferenças regionais ainda contrastante, é possível verificar nas

últimas décadas a evolução e o fortalecimento no Brasil, das organizações da base social

produtiva. Em particular da expansão do associativismo na agricultura familiar e do

desenvolvimento do profissionalismo e empreendedorismo comercial das cooperativas

agrícolas. Tais organizações são elementos chaves ao desenvolvimento sustentável, pois

atuam com efeitos na distribuição equitativa de benefícios agregados pelas cadeias de

valores ligadas à produção agrícola. São estas organizações capazes de participar da

dinâmica necessária ao relacionamento entre agricultores e consumidores, por exemplo em

sistemas de comercialização capazes de promover os mecanismos de “mercado justo”.

Ainda com o formato de nicho, os arranjos estruturados para atender aos padrões destes

consumidores que valorizam o “fair trade”, geram casos de estudos importantes à

distribuição de benefícios gerados pela cadeia de produção, ao fomento ao trabalho digno

e produtivo ao longo da cadeia alimentar.

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354. Sobre o uso racional da água, insumo essencial para as atividades dos setores

produtivos da economia, é importante salientar que o setor da irrigação é responsável pela

maior parcela de retirada de água dos cursos superficiais, chegando a 54% do total

(1.270m3/s), seguido das vazões retiradas para fins de abastecimento humano urbano,

industrial, animal e humano rural. A Organização das Nações Unidas (ONU), cita de forma

geral que aproximadamente 70% de toda a água consumida no mundo é utilizada para

irrigação, enquanto as atividades industriais consumem 20% e o uso doméstico 10%. Buscar

soluções para a racionalização do uso da água no país está associada a todos os setores que

a consomem, sendo certamente a adoção boas práticas agrícolas, agroflorestais ou

agroecológicas fator chave para a conservação deste recurso natural. Neste particular, o

custo da água, da energia elétrica e a falta de qualidade ainda restringe o uso da irrigação

na agricultura. A disponibilidade de água para irrigação é heterogênea entre regiões

agrícolas no Brasil. Tal disponibilidade é restrita, por diversos fatores e entre estes, pela

aplicação de marcos regulatórios que não consideram a produção de alimentos como uso

de interesse social, o que tem oportunizado a análise das autoridades ambientais em tais

outorgas.

355. Muitos agricultores utilizam processos pouco eficientes de irrigação, como a aspersão

convencional (jatos de água lançados para o ar), muitas vezes feita em horários não

apropriados, fazendo com que a maior parte da água evapore antes mesmo de atingir o

solo ou se deposite nas folhas, ao invés de ser absorvida pelas raízes. É necessário divulgar

e incentivar a aplicação de técnicas mais modernas e ecológicas de irrigação, como a

irrigação por gotejamento ou micro aspersão.

356. O Acordo de Cooperação Técnica assinado entre os ministérios da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento, da Integração Nacional e do Meio Ambiente, e a Agência Nacional de

Águas em 2014, tendo como objetivo principal a gestão integrada e sustentável dos

recursos hídricos no meio rural pode ser citado como um grande avanço nessa agenda e um

exemplo de como as instituições governamentais podem colaborar na viabilização de ações

que visem à conservação e à gestão sustentável de um insumo estratégico para o País.

357. No Censo Agropecuário de 2006, identificou-se que, dos 80,25 milhões de hectares da agricultura familiar, 45% eram destinados a pastagens, enquanto a área com matas, florestas ou sistemas agroflorestais ocupava 24% das áreas e, por fim, as lavouras, que ocupavam 22%. Ou seja, em 2006, havia 19,25 milhões de hectares de matas, florestas ou sistemas agroflorestais sob responsabilidade da agricultura familiar. Vale observar, que os novos marcos regulatórios deverão criar oportunidades para o uso destes recursos de forma racional, em especial para os sistemas agroflorestais, viáveis para as limitadas aptidões agrícolas de “rain forests”, a exemplo dos biomas da Floresta Amazônica e Mata Atlântica. 358. No Brasil, importante iniciativa nesse sentido foi a publicação da Política Nacional de

Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO, por meio do Decreto Presidencial nº 7.794, de

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20 de agosto de 2012, art. 1º: “fica instituída a Política Nacional de Agroecologia e

Produção Orgânica – PNAPO, com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas,

programas e ações indutoras da transição agroecológica e da produção orgânica e de base

agroecológica”.

359. Em outubro de 2013, foi lançado o Plano Nacional de Agroecologia e Produção

Orgânica (Planapo), para ampliar e efetivar ações para orientar o desenvolvimento rural

sustentável. Fruto de debate e construção participativa, o Planapo é o principal instrumento

de execução da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO). O plano

busca integrar e qualificar diferentes políticas e programas de dez ministérios parceiros na

sua execução. O principal objetivo do Planapo é implementar programas e ações indutoras

da transição agroecológica, da produção orgânica e de base agroecológica, como

contribuição para o desenvolvimento sustentável, possibilitando à população a melhoria de

qualidade de vida por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis e do uso

sustentável dos recursos naturais.

360. As ações articuladas dos dez ministérios parceiros no Plano formam um conjunto de

134 iniciativas, distribuídas em 14 metas e organizadas a partir de 4 eixos estratégicos. I.

Produção; II. Uso e Conservação de Recursos Naturais; III. Conhecimento; e IV.

Comercialização e Consumo.

361. O Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a

Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura - Plano ABC é

outro plano que tem a sustentabilidade como eixo norteador. Reconhecido no artigo 3º do

Decreto nº 7.390, de 9 de dezembro de 2010, como um dos planos setoriais de mitigação e

de adaptação às mudanças climáticas, tem como finalidade planejar ações para adoção de

tecnologias sustentáveis de produção na agropecuária brasileira, de modo a elevar a renda

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do produtor rural, recuperar e intensificar áreas de pastagens degradadas, promover a

recuperação de áreas de preservação permanente e de reserva legal, reduzir os níveis de

elevação dos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa e desmatamento.

362. Com esse fim, o Plano ABC estimula a adoção de técnicas e gestão da agricultura para

diminuir a vulnerabilidade da agricultura no Brasil frente às mudanças climáticas, tornando-

a mais produtiva, competitiva, sustentável, resiliente.

363. De julho de 2010 a setembro de 2015, foram contratados cerca de R$ 11,2 bilhões

para apoiar os sete programas do Plano, num total de 25.389 contratos, dos quais seis se

referem a tecnologias de mitigação e o último a ações de adaptação às mudanças

climáticas. A abrangência é nacional e o período de vigência do Plano é de 2010 a 2020,

sendo previstas revisões e atualizações no período.

364. Os compromissos na agropecuária relacionam-se à recuperação de pastagens

atualmente degradadas (RPD); promoção da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e

suas combinações como ILP, ILF e IPF; ampliação do uso do sistema plantio direto (SPD),

fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas plantadas (FP) e tratamento de dejetos

animais (TDA). Adicionam-se a essas medidas estratégias de Integração lavoura-pecuária-

floresta (iLPF) e os sistemas agroflorestais (SAFs), bem como a produção de florestas

plantadas e o processo de tratamento de dejetos animais. A meta para integração lavoura-

pecuária-floresta (iLPF) e de sistemas agroflorestais (SAFs) é atingir 4 milhões de hectares

em todo país.

365. A adoção de boas práticas agrícolas de produtos de origem vegetal, pauta-se pelo

programa de Produção Integrada. Este sistema assegura, com instrumentos metrológicos,

entre outros quesitos, a racionalização do uso de insumos, a conformidade social,

trabalhista e ambiental, enfim a comprovação de sua conformidade e a promoção da

qualidade, em atendimento à denominada “saudabilidade”, tendência mundial de

consumo. Este programa iniciado em 2003 induziu importantes avanços visíveis nos

produtos ofertados pelo varejo, de frutas, legumes e verduras. Os produtos capazes de

cumprir todos estes protocolos têm a opção de receber a marca de certificação oficial

“Brasil Certificado”. Este sistema de produção rastreados, auditados por certificadoras

oficialmente acreditadas, para a produção de dezenove espécies agrícolas. Nove outras

cadeias, já acordaram, tiveram suporte da pesquisa para o desenvolvimento de suas

Normas Técnicas Específica e buscam neste, sua inclusão. Como importante multiplicador

da adoção das boas práticas agrícolas preconizadas, este sistema tem ainda, oferecido

referências para certificações privadas, marcas coletivas e indicações geográficas para estas

cadeias, e modelagens para outras. Este projeto conta com o apoio do estratégico Portfolio

de Alimentos Seguro da EMBRAPA, com a colaboração de diversas unidades estaduais de

pesquisas e universidades, não raramente organizadas em redes formais de pesquisa que

geram soluções tecnológicas, capazes, por exemplo, de racionalizar o uso de insumos

agropecuários, especialmente de agrotóxico, reduzir custos de produção, melhorar a

competitividade das cadeias de valor.

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366. A Política de Garantia de Preços Mínimos para Produtos da Sociobiodiversidade

(PGPMBio), que visa ao fortalecimento e desenvolvimento econômico e social das

populações tradicionais e à permanência do homem na floresta, constitui outro

instrumento relevante para a sustentabilidade do setor, ao representar a valorização da

floresta em pé, contribuindo para a conservação, preservação e uso sustentável de seus

recursos naturais.

367. A adoção de boas práticas agrícolas de produtos de origem vegetal, pauta-se pelo

programa de Produção Integrada. Este sistema assegura, com instrumentos metrológicos,

entre outros quesitos, a racionalização do uso de insumos, a conformidade social,

trabalhista e ambiental, enfim a comprovação de sua conformidade e a promoção da

qualidade, em atendimento à denominada “saudabilidade”, tendência mundial de

consumo. Este programa iniciado em 2003 induziu importantes avanços visíveis nos

produtos ofertados pelo varejo, de frutas, legumes e verduras. Os produtos capazes de

cumprir todos estes protocolos têm a opção de receber a marca de certificação oficial

“Brasil Certificado”. Este sistema de produção rastreados, auditados por certificadoras

oficialmente acreditadas, para a produção de dezenove espécies agrícolas.

368. Inicialmente, a Política, executada com recursos do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA) repassados à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), visou à

sustentação de preços de sete produtos da sociobiodiversidade - açaí, babaçu, borracha,

castanha-do-Brasil, carnaúba, pequi e piaçava. Posteriormente, outros produtos passaram a

integrar a lista do programa de garantia de preço mínimo e novos estudos estão sendo

realizados para inclusão de outros produtos do extrativismo nacional.

369. Por sua vez, o Programa de Aquisições de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) atua

na promoção da inclusão social e econômica no campo por meio do fortalecimento da

agricultura familiar, combatendo a insegurança alimentar e nutricional, contribuindo para a

formação de estoques estratégicos, o abastecimento institucional de alimento para fins

diversos e possibilitando a estocagem dos produtos pelos agricultores para serem

comercializados a preços mais justos. A implementação do PAA ocorre por meio de

parcerias com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), governos estaduais e

municipais.

370. O programa é desenvolvido com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS) e do Desenvolvimento Agrário (MDA). No Relatório de Balanço

Geral do ano de 2013, a Conab relata que o PAA atendeu 524 municípios e 41.412 mil

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produtores/famílias, sendo adquiridas 123 mil toneladas de produtos, envolvendo recursos

na ordem de R$ 666.083 mil apenas no ano de 2013.

371. Em processo de elaboração, o Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos

(Pronara), fruto do Grupo de Trabalho Agrotóxicos da Comissão Nacional de Agroecologia e

Produção Orgânica – CNAPO, avança rapidamente. Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados

Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos. Segundo o Ibama,

conforme dados divulgados no Boletim de Comercialização de Agrotóxicos e Afins –

Histórico de Vendas 2000 a 2012, as vendas anuais de agrotóxicos e afins no Brasil no

período tiveram um crescimento de 194,09%, passando de 162,5 mil para 477,8 mil

toneladas de ingredientes ativos comercializados, sendo que os principais estados - SP, MT,

PR, RS, GO, MG, BA, MS, SC e MA – são responsáveis por mais de 82,8% das vendas. Vale

observar que o PRONARA poderá apoiar este programa no âmbito da agricultura familiar.

372. O Pronara está sendo elaborado de forma a orientar e organizar diferentes iniciativas

do governo para desencadear a construção de mecanismos suplementares de controle.

Ferramentas como restrição ao uso, produção e comercialização de agrotóxicos no País,

com especial atenção para aqueles com alto grau de toxicidade e ecotoxidade; incentivo à

redução do uso dos agrotóxicos, promovendo a conversão para sistemas de produção como

os orgânicos e de base agroecológica; e educação em torno da temática agrotóxicos, de

forma a conscientizar a população dos problemas advindos do seu uso, bem como das

alternativas existentes para o seu enfrentamento.

373. O Pronara foi estruturado em torno de seis eixos temáticos: Registro; Controle,

Monitoramento e Responsabilização de Toda a Cadeia Produtiva; Medidas Econômicas e

Financeiras; Desenvolvimento de Alternativas; Informação, Participação e Controle Social; e

Formação e Capacitação.

Cenário desejado e estratégias para sua realização

374. A Agricultura Sustentável pode se tornar um setor estratégico no sentido de modificar

os padrões de produção e consumo no País. Por isso, no processo de construção do 2º Ciclo

do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis, considerou-se fundamental induzir o

diálogo, buscar novas parcerias e fortalecer uma mobilização constante para avançar essa

agenda fundamental para o Brasil. Para tal fim, são descritas a seguir algumas

tendências/iniciativas que poderão alavancar a agricultura sustentável e que indicariam a

situação desejada para o avanço da sustentabilidade no setor.

1) Combate ao desperdício e às perdas de alimentos

375. Apesar da necessidade de um diagnóstico atualizado, é possível dizer que o Brasil é um

dos países que mais desperdiçam alimentos no mundo. É certo que há necessidade de

avanços na redução de perdas, especialmente de frutas, verduras e legumes, e de outros

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produtos dependentes de cadeia de frios. Há a necessidade de racionalização das logísticas

tanto das centrais de comercializações, como nas operações intermediárias entre as

operações de pós colheita e o consumo. Avalia-se que cerca de 26,3 milhões de toneladas

de alimentos têm o lixo como destino no Brasil, o que contrasta com a situação de 3,4

milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar, e que representa 1,7% da

população. O combate ao desperdício de alimentos preocupa a FAO, que reconheceu em

2013 a existência de 805 milhões de pessoas, ou seja, 1 em cada 9 sofre de fome no

mundo.

376. Há necessidade de fortalecer iniciativas que promovam a racionalização no consumo,

tanto do ponto de vista quantitativo, por exemplo, melhorar o aproveitamento integral dos

alimentos, quanto a valorizar os aspectos qualitativos do consumo, como, por exemplo,

dobrar o consumo de frutas, verduras e legumes. Há, ainda, a necessidade de o consumidor

passar a reconhecer, também, externalidades aos sistemas de produção relativos à sua

sustentabilidade. Há necessidade de redução da diferença entre as tecnologias e a efetiva

adoção de práticas de produção e consumo sustentáveis.

377. A exemplo disto, a Embrapa desenvolve várias iniciativas relacionadas à redução de

perdas e desperdícios na agricultura, tais como elaboração de diagnósticos locais e

participativos; formação de multiplicadores em boas práticas agrícolas produtivas, e

fabricação e uso seguro de alimentos processados; pesquisa sobre técnicas de manejo e

pós-colheita para prolongamento da vida dos produtos; desenho de embalagens

inteligentes; desenvolvimento de alimentos funcionais e coprodutos a partir da

recuperação de desperdícios; e implementação de bancos de alimentos, que necessitam ser

valorizadas e valoradas pelo consumidor.

378. Já existem iniciativas de cooperação e promoção de ações sobre o tema em nível

regional - Plano de Ação para a Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome até

2015, e construção da Aliança Regional para a Redução de Perdas e Desperdícios de

Alimentos – e em nível global – programa sobre redução de perdas e desperdícios de

alimentos, em desenvolvimento no contexto do Quadro Decenal de Programas para

Produção e Consumo Sustentáveis (10YFP), as quais poderiam ser fortalecidas no País. Estes

necessitam ser fortalecidas no País.

2) Aumento da oferta de produtos mais sustentáveis.

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379. O respeito às questões sociais e de direitos humanos é também fundamental para a

sustentabilidade da agricultura e a segurança de varejistas e consumidores. O cumprimento

de critérios sociais relacionados ao processo produtivo do setor e a utilização de

certificação de produtos, para além da obediência da legislação ambiental, são aspectos a

serem promovidos e valorizados.

380. A oferta desses produtos pode ser estimulada, com o fomento de sistemas mais

sustentáveis de produção e distribuição, o desenvolvimento de cadeias que estendam a

responsabilidade pelo desempenho social e ambiental, e a disponibilização de incentivos e

estrutura de crédito que tornem o preço do produto final mais acessível aos consumidores.

381. Torna-se, portanto, necessário um esforço que envolva governo, setor varejista, setor

produtivo, certificadoras e outros atores, para identificar claramente as medidas e

instrumentos que precisam ser adotados para superar as dificuldades e aumentar a oferta

de produtos mais sustentáveis do setor agrícola. Estabelecendo-se metas concretas;

privilegiando-se pequenos e médios agricultores; apoiando a logística; privilegiando

mercados locais; garantindo mecanismos de rastreabilidade; apoiando a formação de

parcerias e associações; e promovendo ações de sensibilização do público, entre outras

ações.

382. Os sistemas de produção sustentáveis acima descritos são capazes de orientar o

amadurecimento e as possibilidades de multiplicar um representativo conjunto de casos de

sucesso. A efetiva decisão de política de estado em fortalecer e integrar tais ações

certamente mobilizará e oferecerá acesso a um grande conjunto de produtores rurais no

País e poderá gerar um exemplo importante para agricultura tropical do mundo de

suprimento de produtos de origem animal e vegetal criados e cultivados sistemas

sustentáveis.

383. Ações coordenadas de ensino em ciências agrárias, de pesquisas agropecuárias e a

assistência técnica e extensão rural necessitam ser ainda mais abrangentes para as

transformações e ampliações de tais sistemas. Estes instrumentos, embora de suporte às

decisões dos produtores são fundamentais para que avanços efetivos se consolidem à

campo.

384. A complexidade dessas transformações requer o desenvolvimento de capacidades e

esforços coordenados entre governos, lideranças do setor agropecuário, agroindustrial,

varejista, prestadores de serviços e outros agentes econômicos capazes de ajustar condutas

para esta nova realidade.

3) Estímulo à certificação e a selos que garantam a qualidade e origem dos produtos

385. O incentivo a produtos que apresentem selos de qualidade, que incluam critérios

socioambientais em seus processos de certificação, entre outros aspectos, pode ser ação

estratégica para avançar a sustentabilidade na agricultura. O selo possui grande valia,

quando o consumidor é informado sobre a importância de determinada certificação ou selo

para o desenvolvimento sustentável. Porém, existe uma série de selos sobre uso de água ou

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compensação de emissões de carbono ainda pouco conhecidos e que acabam por não criar

o impacto desejado. Ou seja, não adianta somente oferecer produtos certificados. Fazer

com que o consumidor entenda o que está por trás do selo, seu valor e significado, com

transparência e base técnica, é fundamental32.

386. A rastreabilidade é outra forma que pode garantir produtos de qualidade e com menos

impacto ambiental, sejam identificados pelo consumidor e pelos agentes da cadeia de valor.

Informações cada vez mais claras, a exemplo de algumas já fornecidas através de aplicativos

móveis, leva os consumidores a proceder suas escolhas e aos produtores a aprimorar seus

processos.

387. Ao mesmo tempo, é importante que os preços dos produtos diferenciados (“mais

sustentáveis”) não sejam muito superiores aos dos produtos comuns, pois tal elemento de

escolha do consumidor, será sempre um fator relevante. A redução deste diferencial, em

prol do abastecimento de produtos sustentáveis, é crescentemente possível, especialmente

com o desenvolvimento tecnológico, como o uso de novos produtos de insumos

preconizados pela agricultura orgânica, como inimigos naturais e outras estratégias de

controle. O preço ainda é um fator relevante na escolha dos consumidores.

4) Apoio a produtores e fornecedores locais

388. O desperdício de alimentos também pode ser combatido com a promoção da

economia local, que ainda garante produtos de maior qualidade, diminuindo o número de

intermediários na cadeia de produção, privilegiando a compra direta de produtores locais e

os circuitos curtos de comercialização.

389. Outros benefícios importantes incluem a redução da logística e escoamento, a

promoção do consumo de alimentos regionais, a adequação dos alimentos locais a padrões

de qualidade e a inclusão de pequenos produtores nas cadeias de suprimento, entre vários

outros.

5) Fortalecimento da comunicação e sensibilização

390. Consumidores se mostram cada vez mais interessados em conhecer as características

do que consomem. Fortalecer a comunicação aos consumidores é fundamental para

garantir uma escolha mais consciente e informada, privilegiando produtos com menor

impacto ambiental, melhor qualidade e maior retorno social. É necessário oferecer fontes

confiáveis com bases técnicas e científicas.

32 Os signos distintivos são amparados por tratados internacionais importantes como Agreement on Trade-

Related Aspects of Intellectual Property Rights - TRIPS e Tratado de Barreiras Técnicas ao Comércio – TBT. O uso destas ferramentas de forma adequada traz credibilidade internacional aos produtos nacionais e respeitam direitos internacionais conquistados pelos consumidores de todo o mundo. É necessário fortalecer os mecanismos oficiais de acompanhamento e que assegurem os direitos difusos do consumidor contra falsas certificações. Por outro lado, é fundamental que o consumidor entenda as garantias que tais signos distintivos oferecem, seu valor e significado, com transparência e até a sua base técnica.

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391. Para apoiar os consumidores na escolha de produtos mais sustentáveis, cada ator deve

demonstrar com transparência suas responsabilidades. Os produtores e empresários devem

identificar os impactos negativos de seus produtos e serviços sobre o meio ambiente e a

sociedade, em todo o ciclo de vida, e prover tais informações diretamente ao consumidor.

O governo, no exercício da transparência, deve difundir o desenvolvimento do

conhecimento científico, técnico e tecnológico aplicado à segurança dos alimentos,

oferecer estatísticas ágeis e confiáveis sobre o tema, inclusive daquelas de interesse dos

agentes econômicos operantes nos mercados de produtos sustentáveis.

6) Crédito e Financiamento

392. Os dois principais instrumentos de financiamento da agricultura no Brasil, o Plano

Safra e o Plano Safra da Agricultura Familiar, apresentam linhas destinadas à

sustentabilidade para o setor. No entanto, o total de recursos efetivamente aplicados

nessas linhas ainda são modestos. Entre os fatores que contribuem para isso é possível

destacar a limitada capacidade de elaboração de projetos de financiamento destinados às

diferentes estratégias de sustentabilidade da agricultura, seja por agentes públicos, seja por

agentes privados. O sistema financeiro ainda não absorveu as particularidades dos sistemas

produtivos sustentáveis, sendo balizados pelos custos e receitas dos pacotes tecnológicos,

insumos químicos e maquinários utilizados na agricultura convencional.

393. Sendo assim, há necessidade de adequar os procedimentos e as informações

solicitadas pelo sistema financeiro, que determinam a configuração dos projetos de

financiamento para a agricultura sustentável; capacitar técnicos ou funcionários dos

agentes financeiros sobre os diferentes sistemas produção sustentável na agricultura; e

ampliar e consolidar as linhas de financiamento diferentes estratégias e técnicas de

sustentabilidade na agricultura.

7) Fortalecimento e ampliação da Assistência Técnica e Extensão Rural para uma

agricultura sustentável

394. Todas as iniciativas listadas nos itens anteriores são potencializadas com a devida

capacitação e assistência técnica oferecida aos agricultores, visando-se à correta utilização

dos insumos agropecuários. Há necessidade de ampliar e consolidar os conhecimentos e a

qualificação de agentes de assistência técnica para a capacitação de agricultores em

princípios e técnicas de produção orgânica, agroecológica e outras, que busquem reduzir o

consumo de recursos naturais, a geração de resíduos e o desperdício, além de agregar valor

à produção e acessar mercados.

395. Nesse sentido, muito se espera do Programa Nacional de Assistência Técnica e

Extensão Rural (Pronater) como instrumento fundamental desta transformação. Mesmo

havendo grandes avanços nessa temática nos últimos anos, ainda há necessidade de

implementar ações capazes de reorientar a assistência técnica e extensão rural para

enfoque nas estratégias de sustentabilidade da agricultura; promover formação continuada

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e qualificação profissional dos agentes de ATER com agregação de estudos sobre estratégias

de sustentabilidade na agricultura; sistematizar o saber aplicado e validado relacionado à

agricultura sustentável.

8) Programas de P&D para o desenvolvimento de tecnologias para transição para

agroecologia.

396. Embora a sustentabilidade tem sido foco dos trabalhos de pesquisa agropecuária nas

últimas décadas, há a necessidade de fortalecer as redes de pesquisas que geram efetivas

inovações neste campo. Nestes conjuntos estão os programas de pesquisa para do

desenvolvimento da agroecologia, especialmente daqueles capazes de promover o uso da

agrobiodiversidade nativa. Entre tais potenciais estão os insumos com uso regulamentados

para a agricultura orgânica que a rigor tem o potencial de mudar a face de toda a

agricultura convencional e reduzir seus riscos ambientais, de saúde dos alimentos e dos

trabalhadores rurais que os aplicam. Estas técnicas poderiam substituir aquelas

convencionais que ainda geram impacto significativo ao meio ambiente. O

desenvolvimento de técnicas com estas características, como a produção integrada e a

adoção de boas práticas agrícolas podem auxiliar, tanto o agricultor familiar, quanto o

grande produtor na transição para uma agricultura com atributos agroecológicos.

9) Outras ações

397. Outras ações incluem o controle e o gerenciamento dos impactos socioambientais na

produção agrícola, com a redução do consumo de energia, água e outros insumos; o

incentivo ao desenvolvimento de produtos com diferenciais ambientais e/ou sociais,

estimulando o desenvolvimento de pequenos produtores e a produção local e regional por

meio de compras públicas sustentáveis, da pesquisa e do desenvolvimento; e a

racionalização da oferta de produtos, fazendo uso de entregas a granel com a redução do

uso de embalagens.

398. A promoção de políticas e planos governamentais constitui ação fundamental para

avançar esses e outros objetivos relacionados à agricultura sustentável, podendo ser

identificados como prioritários nesse contexto:

A. Promover a implantação do PRONARA, concluindo a proposta e

implementando o Plano.

B. Fortalecer o Plano ABC e potencializar suas ações para cobrir todo o

território nacional com a mesma intensidade: ampliando a implementação de unidades de

teste e demonstração (UTD), o uso de sistemas de plantio direto (SPD), integração lavoura-

pecuária-floresta, fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas, promovendo a

conservação do solo, da água e da biodiversidade, com aumento da eficiência da adubação,

do conteúdo de matéria orgânica do solo e, especialmente, a redução do consumo de

combustíveis fósseis; e incrementando processos de biodigestão e compostagem, que

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proporcionam a redução de custos de produção por evitar consumo de energia e de

insumos químicos, diminuir os riscos para o meio ambiente, bem como reduzir a emissão

de GEE (gases de efeito estufa), ampliando o uso dessas tecnologias para 4,4 milhões de m3

de dejetos de animais para geração de energia e produção de composto orgânico, para

compostagem de hortas em áreas públicas.

C. Ampliar a inclusão de outros produtos do extrativismo nacional na Política de

Garantia de Preços Mínimos para Produtos da

Sociobiodiversidade (PGPMBio).

D. Fortalecer o Programa de Aquisições de

Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), adequando a

estratégia para os próximos anos de modo a

promover sua sustentabilidade social, econômica e

ambiental.

E. Fortalecer a Produção Integrada e os sistemas de produção de boas práticas agrícolas sob certificações voluntárias que promovam a sustentabilidade no campo.

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5.7 Consumo Sustentável

Descrição e contexto

399. Há anos a ONU tem alertado que o consumo da humanidade ultrapassou em 40% a

capacidade de suporte e regeneração do sistema-Terra. Em outras palavras, a humanidade

está consumindo um planeta inteiro e mais 40% dele, que não existe. Mudar os padrões de

consumo insustentáveis é algo tão óbvio quanto obrigatório. No entanto, não é fácil, pois

envolve uma série de questões sociais, culturais, psicológicas, econômicas, políticas etc. Por

outro lado, enquanto órgão responsável pela promoção de princípios e estratégias para a

proteção do meio ambiente, o Ministério do Meio Ambiente entende que a busca de um

novo paradigma civilizatório que coloque a sustentabilidade no centro de nossas ações não

é mais uma opção – trata-se de condição de nossa sobrevivência como espécie.

400. A preocupação com o consumo está presente no debate nacional, sobretudo nos

últimos dez anos. O Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) inseriu o

tema na agenda governamental e fomentou movimentos voluntários na sociedade que

despertem uma mudança dos atuais paradigmas insustentáveis de produção e consumo.

Ampliou a disseminação de conceitos sobre o consumo, por meio de campanhas,

publicações e capacitações ao longo desses quatro anos de implementação. Estudos e

pesquisas realizados por meio de parcerias no 1º ciclo do PPCS também foram importantes

para ampliar o conhecimento da realidade do cidadão brasileiro no que se refere a atitudes

e comportamentos.

401. No entanto, a implementação de ações concretas que mudem substancialmente os

padrões de consumo para níveis mais sustentáveis no Brasil não acontece na mesma

medida da importância e urgência dessa agenda. Em boa parte isso ocorre porque ainda

não há um entendimento claro do que venham a ser padrões de consumo sustentáveis,

quais são efetivamente os limites dos atuais padrões de consumo e de como como a

política pública pode potencializar a mudança de comportamento do(a) consumidor(a).

Além disso, o acesso a bens e serviços mais sustentáveis é muito mais limitado do que aos

insustentáveis, que por sua vez contêm um aparato de comunicação muito mais amplo e

estruturado.

402. Nas últimas décadas, 19 milhões de brasileiros foram incluídos na economia de

mercado, saindo da linha da pobreza, e 34 milhões ascenderam à chamada "nova classe

média" – a classe "C". No entanto, não foi somente a base que encolheu. Toda a pirâmide

socioeconômica se moveu para cima. E, ao contrário do que se divulga, as classes A e B

foram as que mais cresceram proporcionalmente (PADUAN, 2011).

403. A questão é que o consumo pelas diferentes classes é desigual, além disso as pessoas

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são estimuladas a almejar o padrão de consumo dos ricos e o planeta não suporta, isto é,

não é capaz de fornecer recursos e absorver os impactos desse comportamento. Ao

satisfazerem suas necessidades básicas, as pessoas passam a gastar cada vez mais em bens

de consumo duráveis, como celulares televisores, carros, cosméticos. Também aumentam

despesas com lazer, entretenimento e com "bens identitários" – grifes, marcas, produtos

que diferenciam as personalidades dos indivíduos consumidores, na cena urbana, do

trabalho ao lazer: "eu sou o que consumo", ou "consumo, logo existo" (CRESPO, 2014).

404. Dados de estudo feito pela SAE (no Prelo) sugere que tanto a manutenção do

crescimento da renda como a sua redistribuição são forças que atuam no sentido de

aumentar a Pegada Ecológica nacional e que “a renda de um indivíduo com uma Pegada

Ecológica igual ou menor à biocapacidade global é de até R$ 470” (40% da população

brasileira). Baseando-se nesses dados, atingir padrões sustentáveis de consumo é uma

condição essencial para efetivamente construir uma sociedade equitativa. Do contrário, a

equidade será inviabilizada por fatores biofísicos. Nos atuais padrões de consumo, “um

terço da população (o de maior renda) [brasileira] demanda a mesma área bioprodutiva

que os dois terços mais pobres”. O estudo sugere ainda que, “a Pegada Ecológica da

população do percentil de maior renda é 3,3 vezes maior do que a média nacional,

enquanto a renda média do 100º percentil era 13 vezes maior do que a renda per capita

média brasileira em 2009” (SAE, no Prelo).

405. Esse estudo reforça a existência do sobreconsumo nas classes de rendas mais elevadas

(no Brasil e no mundo). Isto coloca ao PPCS, e à sociedade, uma questão altamente

desafiadora, já que ao mesmo tempo que o sobreconsumo dos ricos parece comprometer

substantivamente os recursos naturais, o consumo é uma decisão livre e vivemos numa

sociedade que preza pela liberdade de escolha, que, entretanto, deve se basear em valores

e princípios éticos.

406. O estudo da SAE (no Prelo) sugere que 46% da pegada ecológica dos(as) brasileiros(as)

pertencem à categoria de despesa “Alimentos”, seguida da categoria “Bens”, com 18%, e da

categoria “Mobilidade”, com 6,5%. O mesmo estudo identifica que as despesas com

alimentação tendem a diminuir em termos relativos às demais categorias de despesa,

conforme se aumenta a renda per capita, e as despesas com transporte tendem a

aumentar. Complementarmente, ambas as categorias de despesas aumentam em termos

absolutos conforme o aumento da renda, até um patamar em que estabilizam. Apesar da

pegada com mobilidade estar na terceira posição, ela tende a aumentar num cenário de

aumento da renda média dos(as) brasileiros(as), já que, conforme aumenta a renda,

aumenta a quantidade de automóveis e motocicletas por domicílio (SAE, no Prelo).

Cenário desejado e estratégias para sua realização

407. O Brasil tem pela frente um grande desafio, que não difere da maioria dos países em

desenvolvimento, que é garantir a equidade do consumo respeitando os limites ambientais

e sua capacidade de suporte. A redução das desigualdades é um dos maiores desafios que

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se coloca aos atuais padrões de consumo.

408. Torna-se fundamental a realização de um amplo debate, em nível nacional, para

sensibilizar a sociedade a respeito dos impactos dos níveis de consumo das diferentes

classes de renda, de modo que as respostas para esse desafio podem ser de fato

construídas e legitimadas pela sociedade.

409. Com base nos dados apresentados, as ações relacionadas ao consumo no 2º Ciclo do

PPCS poderiam ser priorizadas nas seguintes temáticas33:

• Uso racional da água;

• Alimentação e nutrição;

• Mobilidade e transporte; e

• Bens: sobretudo os bens para manutenção da habitação; vestuário e calçados;

aparelhos e equipamentos; e telefone.

410. Quando se fala em bens e serviços (mais) sustentáveis, surge uma multiplicidade de

opções. No entanto, para otimizar os esforços e recursos, é necessário priorizar temáticas

para a ação. Nesse sentido, as temáticas foram organizadas em três áreas de consumo,

apontadas como as mais relevantes para o Desenvolvimento Sustentável, segundo consulta

feita pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE, 2015): Água e Saneamento,

Mobilidade e Transporte, e Alimento e Nutrição.

Estratégias para ação

1) Ampliação do debate

411. Para estimular padrões mais sustentáveis de consumo é necessário que o debate sobre

a (in)sustentabilidade dos atuais padrões se torne presente em todos os setores da

sociedade. Esse debate deve estar adequado às especificidades das diferentes classes de

renda e deve se dar de modo transparente e objetivamente pautado em dados. A partir da

consulta realizada pelo CGEE (2015), identificou-se que as áreas de estilos de vida e

educação e; informação para o consumidor (Programas do 10YFP) deveriam ser priorizadas

para a transição para padrões de consumo sustentável, para fortalecer e disseminar a

cultura dos estilos de vida sustentáveis, e encorajar para a escolha de bens e serviços mais

sustentáveis.

412. Uma comunicação adequada é um dos principais desafios identificados para se

promover a mudança de atitude e comportamento de consumo da população. A

implementação do 2º PPCS constitui uma oportunidade para promover na sociedade um

33 Aqui não foi incluído o saneamento (apontado, pela consulta do CGEE33, como uma das áreas do consumo

mais relevantes para o Desenvolvimento Sustentável) por entender-se que sua menção nos estudos se deve muito mais ao fato de que um número grande de pessoas ainda não possui acesso a esse serviço básico no País. Mais do que tornar o saneamento mais sustentável do ponto de vista ambiental, é necessário aumentar sua oferta a todas às regiões, um problema ainda muito básico, já solucionado em outros lugares.

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amplo debate sobre valores a serem construídos, indo além do antagonismo entre

diminuição ou redução de consumo. Desta forma, as ações de comunicação para o os novos

padrões de produção e consumo devem ser focados na promoção dos novos valores

civilizatórios.

413. A comunicação mercadológica e o marketing excessivo focado na criação de

necessidades para fomentar o consumismo e mover a economia tem sido o instrumento

básico utilizado pelas corporações privadas com fins lucrativos para promover um padrão

de consumo que se mostra cada dia mais insustentável. Trata-se de uma área muito

complexa e de alto custo financeiro, composta por técnicas sofisticadas e eficazes em

influenciar as decisões de consumo das pessoas. De outra parte, a capacidade de

comunicação dos governos e das entidades que buscam a sustentabilidade no consumo é

deficiente, seja por negligenciar a comunicação como instrumento essencial para a

transformação de valores, seja pelo uso de uma linguagem ultrapassada, seja pelas

restrições financeiras para implementar uma comunicação mais abrangente e eficaz.

414. Para que a comunicação para o consumo sustentável de fato influencie a mudança de

comportamento da população, ela deve ser destinada aos diferentes públicos, atendendo,

por exemplo, as diferentes classes de renda e regiões do Brasil. A temática do consumo

sensibiliza de modo distinto cada grupo social brasileiro, devido a sua heterogeneidade de

nível de educação formal, de acesso aos vários tipos de meios de comunicação, de padrões

e condições de consumo, de garantia de direitos básicos, de acesso aos serviços púbicos

essenciais, e das suas aspirações sociais etc. Assim, para que o 2º Ciclo do PPCS possa

contribuir para uma comunicação eficaz para o consumo sustentável, é necessário

identificar as especificidades dessa diversidade de grupos sociais, decidir quais são os

grupos prioritários para a mudança de padrões de consumo e elaborar estratégias

adequadas a eles.

415. Para tanto, é necessário promover um diálogo amplo sobre como tornar mais eficaz a

comunicação para padrões de vida mais sustentáveis. Deve-se dialogar com quem de fato

entende do assunto e está na ponta da comunicação no Brasil. O 2º Ciclo do PPCS

contribuirá na promoção de um amplo diálogo, objetivando um grande pacto por uma

comunicação para a sustentabilidade. Para que isso tenha êxito, será necessário dialogar

com comunicadores, publicitários e jornalistas consagrados no Brasil, que têm sensibilidade

à temática ambiental e que a assumem publicamente. Além, obviamente, das agências

publicitárias, da blogosfera, de diferentes geradores de conteúdo nas redes sociais e das

mídias corporativas, livres e alternativas, dentre toda a diversidade de atores que compõem

o amplo campo da comunicação no Brasil.

416. Nesse sentido, são importantes instrumentos:

• inclusão da temática do consumo (in)sustentável na educação formal;

• estímulo ao debate sobre o consumo (in)sustentável em âmbito regional e local

(por meio da parceria com Estados e Municípios), e em diversas categorias de

organização (associações, empresas, cooperativas, órgãos públicos, sindicatos,

movimentos sociais etc.);

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• organização de eventos específicos sobre a temática (encontros, seminários e

congressos);

• ampliação da presença do tema em notícias de jornais, blogs e revistas;

• promoção permanente de debates em programas de televisão e rádio, públicas e

privadas; e

campanhas de conscientização e de mobilização, e educativas, adequadas às

diferentes classes de renda e grupos sociais.

Como parceiro do PPCS nesta linha de ação, o PNUMA Brasil desenvolve a campanha

Passaporte Verde no Brasil, a qual promove valores da sustentabilidade e

comportamentos sustentáveis por meio do turismo, além de incentivar práticas mais

sustentáveis no setor. A campanha tem caráter permanente e conta com uma

plataforma de comunicação, por meio da qual transmite suas mensagens, servindo

também de repositório de referência para o turismo sustentável. O público-alvo

preferencial são os turistas residentes e internacionais, e os donos de

estabelecimentos turísticos. O objetivo do Passaporte Verde é promover viagens mais

sustentáveis, tanto do ponto de vista do turista quanto da oferta de serviço,

contribuindo assim para a sustentabilidade dos destinos turísticos. É uma iniciativa

global e que no Brasil, conta com o apoio do MMA, do Ministério do Turismo (MTUR),

do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), do Comitê Rio2016, e das entidades

do setor do turismo, além de outras agências da ONU.

A Campanha Brasil Saudável e Sustentável é outra iniciativa que contribuirá com a

ampliação do debate sobre consumo sustentável. Iniciativa da Secretaria de

Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério de Desenvolvimento Social

(SESAN/MDS) e que conta com diferentes parceiros, será implementada com objetivo

de promover a alimentação saudável e sustentável, a partir de uma campanha de

consumo consciente de alimentos. Serão implementadas ações para: aumentar o

nível de conhecimento da população para um consumo alimentar saudável e

sustentável; ampliar e diversificar os canais de comercialização; fortalecer as ações de

educação alimentar e nutricional nas Redes Públicas de Educação, Saúde e Assistência

Social; e promover parcerias entre o setor privado, público e organizações econômicas

da agricultura familiar.

2) Qualificação e divulgação de informação

417. Para subsidiar o debate sobre consumo (in)sustentável, são fundamentais informações

objetivas e consistentes que possibilitem tomadas de decisão individuais, coletivas e

políticas, pautadas em fatos e dados concretos e cenários futuros bem projetados. Para

tanto, é necessário o aperfeiçoamento ou a qualificação de dados já existentes que

permitam:

avaliar a (in)sustentabilidade dos diferentes padrões de consumo nas diferentes

classes de renda e diferentes categorias de bens;

projetar cenários futuros em diferentes contextos de crescimento econômico, de

inclusão socioeconômica e de evolução tecnológica para avaliar os impactos

socioambientais de diferentes padrões de consumo;

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analisar os aspectos culturais, psicológicos e sociais relacionados ao consumo

que possam catalisar as mudanças de padrões de consumo nas diferentes classes

de renda;

analisar os aspectos econômicos, políticos e tecnológicos que possam viabilizar

estratégias e instrumentos para a mudança dos padrões de consumo; e

identificar e avaliar as iniciativas de consumo alternativo existentes, assim como

seus potenciais e limites sociais, ambientais, econômicos, tecnológicos e políticos

para as mudanças dos padrões de consumo.

418. No Brasil, estudos com essas abordagens ainda são escassos e pouco divulgados, o que

resulta na importância de estimular a elaboração e a ampla divulgação de dados sobre

diferentes dimensões relacionadas ao consumo e à sustentabilidade socioambiental. Para

tanto, algumas estratégias a serem adotadas são:

Estímulo à criação de centros, programas ou instituições de pesquisa específicos

para a temática;

Criação de concursos ou prêmios anuais de pesquisas na área; e

Criação de periódicos acadêmicos ou edições específicas sobre o tema em

periódicos já existentes.

Partindo da premissa de que agrobiodiversidade, saúde, nutrição e sustentabilidade

estão vitalmente conectados, o projeto BFN34 (Biodiversidade para Alimentação e

Nutrição) contêm três componentes: base de conhecimento; estrutura política e

regulatória; e conscientização e capacitação. O projeto tem como perspectiva para os

anos de 2015-2017: i) criar um Banco de Dados de Composição Nutricional da

Biodiversidade, com informações sobre o valor nutricional de espécies da flora

brasileira de valor econômico atual ou potencial, com ênfase para espécies nativas,

incluindo alimentos preparados com estas espécies; ii) publicar livros de receitas

regionais, com base em espécies nativas da flora brasileira; iii) implementar curso

online sobre biodiversidade para alimentação e nutrição; e iv) ampliar a publicação

"Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial - Plantas

para o Futuro” para a Região Centro-Oeste e regiões Norte, Nordeste e Sudeste.

3) Ampliação do acesso aos bens, serviços e práticas sustentáveis

419. Para além de priorizar o encorajamento para a escolha de bens e serviços mais

sustentáveis (CGEE, 2015), é necessário identificar e remover as barreiras para o acesso aos

meios que possibilitem essa mudança de comportamento. Essas barreiras estão

relacionadas tanto a questões de mercado (restrição de oferta ou questões de preço), como

pela falta de informações adequadas impactos sociais e ambientais, que impossibilita uma

tomada de decisão adequada. Incluem-se tanto bens e serviços que podem ser adquiridos 34 O projeto BFN é coordenado no nível internacional pela Bioversity International, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e no nível nacional pelo MMA, sendo que o gestor financeiro é o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO).

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no mercado, como bens e serviços públicos como, por exemplo, mobilidade urbana.

Nesse sentido, é necessário:

• ampliar a oferta de bens e serviços mais sustentáveis para todas as classes de

renda;

• tornar os preços acessíveis aos consumidores, estimulando o desenvolvimento

desse mercado;

• oferecer alternativas de bens e serviços públicos;

• implementar incentivos econômicos que desestimulem o consumo de bens e

serviços insustentáveis ou que estimulem o consumo de bens e serviços mais

sustentáveis; e

• estimular a ampliação da rotulagem de bens e serviços que permitam o processo

consciente de tomada de decisão dos consumidores.

4) Identificação e incentivo a iniciativas sustentáveis inovadoras

420. Além das práticas sustentáveis clássicas como, por exemplo, evitar desperdício de água

e energia em casa e separar os resíduos, existem diferentes iniciativas inovadoras sendo

implementadas, que buscam ir além. Essas iniciativas estão presentes em diversos setores

da sociedade, por parte de indivíduos, passando por pequenos grupos coletivos de bairro

até pequenas empresas de diferentes portes (micro, pequenas e grandes). Parte dessas

iniciativas insere-se nos conceitos de “economia do compartilhamento” e da “economia da

vida útil longa” (LOSKE, 2015).

Na economia do compartilhamento, a essência é usar coletivamente em vez de

possuir individualmente um bem, sendo que o fundamental para o consumidor passa

a ser o valor e uso em vez do valor de posse desse bem (LOSKE, 2015). É plausível que

isso possa reduzir a pressão sobre os recursos naturais, já que, por exemplo,

aparelhos intensivos em recursos são substituídos por uma cooperação mais

inteligente e menos intensiva em recursos. O compartilhamento de bens é

secularmente feito pelas bibliotecas (livros) e atualmente vem ganhando novos

contornos como jardins comunitários; residências comunitárias (cohousing);

compartilhamento de automóveis (car sharing); compartilhamento de bicicleta;

compartilhamento de hospedagem (couch surfing, AirBnB); compartilhamento de

ferramentas (Fab Labs); caronas; e feiras de troca. Essas práticas envolvem diferentes

modelos de negócios: aluguel, gratuidade, divisão de custos, troca etc. Essas

iniciativas estão presentes em diversos países no mundo, inclusive no Brasil.

421. Questões que necessitam ser aprofundadas pela sociedade brasileira e podem

constituir relevantes conteúdos para o 2º Ciclo do PPCS, são:

• Qual o potencial que essas iniciativas podem oferecer para o Desenvolvimento

Sustentável?

• Quais são, onde estão e quais as dimensões dessas iniciativas?

• Como a política pública pode contribuir para que essas iniciativas deixem de ser

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marginais e passem para o centro do debate sobre padrões de consumo?

422. Na economia da vida útil longa a essência é que a proporção de produtos descartáveis

precisa cair e a proporção de serviços de conservação, manutenção e conserto deve crescer

proporcionalmente (LOSKE, 2015). Deve-se superar a tendência de que, aos primeiros sinais

de desgaste, os bens não são mais levados ao conserto, mas à "coleta de recicláveis",

quando são. Isto tem relação com a obsolescência programada e a perceptiva. Substituir

um bem podendo ele ser reparado ou ter uma vida útil maior é um ato que gera resíduos,

devido ao descarte, e que leva ao consumo de energia e matéria, no processo de

reciclagem e/ou produção de um novo produto. Assim, o prolongamento da vida útil dos

produtos é uma questão relevante para o consumo sustentável.

423. Pesquisa do IDEC (2014) mostra que a maioria dos brasileiros troca equipamentos

eletroeletrônicos sem antes levá-los à assistência técnica. O principal motivo para isso,

segundo a pesquisa, é que o conserto é muito caro. Outro estudo do IDEC (2012) mostra

que “a quantidade de assistências técnicas dos cinco principais fabricantes de celular é

ínfima em grande parte do Brasil”. Há que se considerar, no entanto, o estudo elaborado

pelo SPC (2015), que contrasta com o do IDEC (2014), já que identificou que 81% das

pessoas pesquisadas têm a atitude de deixar de comprar um produto novo, enquanto o que

tem ainda pode ser utilizado ou consertado. A logística reversa pode ser um grande

instrumento para pressionar as empresas a aumentarem a vida útil dos produtos, além da

pressão dos consumidores e da ampliação das redes de serviço de manutenção.

424. Para se contrapor à tendência do descarte, da obsolescência, algumas opções podem

ser eficazes:

• estimular o aumento de estabelecimentos que fornecem assistência técnica e

consertos em geral;

• implementar estímulos econômicos que tornem a manutenção de produtos com

preços mais competitivos em relação aos novos;

• promover a discussão sobre o arcabouço jurídico para a implementação da

logística reversa na Política Nacional de Resíduos Sólidos; e

• realizar amplas campanhas estimulando os(as) consumidores(as) a reduzirem o

consumo de descartáveis, inclusive de embalagens e sacolas plásticas.

5) Regulação da publicidade e combate ao consumismo infantil

425. Atualmente, os setores que conseguem atingir o conjunto da população com

informações relacionadas ao consumo são as redes de comunicação de massa, que vendem

suas audiências para que empresas divulguem suas mensagens publicitárias. Assim, o

espaço institucional que tem sistematicamente trabalhado estratégias de comunicação para

influenciar o padrão de consumo da população são as agências de publicidade. Nesse

sentido, emerge em alguns setores da sociedade debates visando a regulamentação da

publicidade e da comunicação mercadológica. Esta regulamentação foi apontada pela

consulta do CGEE (2015) como o segundo principal instrumento para encorajar a adoção de

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padrões de consumo alinhados com o Desenvolvimento Sustentável.

426. De acordo com o IBGE, crianças entre 0 a 14 anos representam mais de 45 milhões de

brasileiros, quase 25% da população. Essa parcela expressiva da população vem sendo, cada

vez mais, considerada como um potencial público consumidor e, portanto, alvo de ações de

estímulo ao consumo e ao consumismo. Segundo o Instituto Alana, a publicidade na TV

constitui, no Brasil, a principal ferramenta de mercado para a persuasão do público infantil,

que cada vez é exposto mais cedo às complexas relações de consumo sem que esteja

efetivamente preparado para isso. Corroborando essa percepção, estudos apontam a

influência dos filhos no consumo familiar. O SPC (2014) identificou que 52% dos pais

pesquisados afirmam ceder à pressão e às “chantagens” dos filhos em relação às compras

e, segundo o Datafolha (2010), 69% dos pais entrevistados dizem ser influenciados pelos

filhos nas decisões de compras. Esses mesmos pais apontaram que a principal atividade de

lazer dos filhos (80% dos casos) é assistir televisão. Pesquisa anual do IBOPE Media

Workstation, Painel Nacional de Televisão, apontou que o tempo médio que crianças e

adolescentes de 4 a 17 anos passaram em frente à televisão em 2014 foi de 5h35m.

427. No entanto, com o advento das novas tecnologias de comunicação, a televisão não é

mais a único veículo de difusão de mensagens publicitárias para crianças. Jogos para

computadores, tablets e celulares, redes sociais, parques temáticos, redes de lanchonetes,

atividades escolares promovidas por empresas ligadas à produtos destinados às crianças

etc. fazem parte da multiplicidade de estratégias para difundir mensagens publicitárias e de

comunicação mercadológica, nem sempre de modo explícito. Entretanto, há o princípio da

identificação da mensagem publicitária, previsto no artigo 36 do Código de Defesa do

Consumidor, que diz que a publicidade deve ser facilmente identificada como tal pelo

público ao qual se destina.

428. Porém, com o aumento do grau de sofisticação, a publicidade e a comunicação

mercadológica tornaram-se menos explícitas, o que representa um fator complicador pelo

fato de que quanto mais nova é a criança, menor é sua capacidade de identificar as

mensagens como publicidade. Desse modo, é forte o risco de violação do referido

dispositivo. Além disso, o Código de Defesa do Consumidor também estabelece no seu

artigo 37, §2º, que é abusiva, e, portanto, ilegal, a publicidade que se aproveita da

deficiência de julgamento e falta de experiência da criança.

429. Para além de questões legais, destacam-se dois dos principais problemas em relação

ao consumismo infantil: os transtornos alimentares e o materialismo excessivo. Com

relação ao primeiro, encontra-se na base da obesidade infantil, que atinge 15% da

população infantil brasileira. Conforme dados do IBGE, o sobrepeso entre crianças dobrou

nos últimos 34 anos e está intimamente relacionado ao aumento do consumo de alimentos

industrializados, amplamente divulgados pelo mercado produtor e distribuidor. Uma em

cada duas crianças obesas torna-se um adulto obeso (CONDE & BORGES, 2011).

430. Dados levantados pelo Ministério da Saúde mostram que 52,5% da população

brasileira acima de 18 anos estão acima do peso ideal e 17,9% estão obesos (MS, 2014). A

Pesquisa Nacional de Saúde 2013 identificou que seis em cada dez crianças brasileiras com

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menos de 2 anos já comeram biscoito, bolacha ou bolo, e 32% já beberam refrigerante ou

suco industrializado (IBGE, MS e MPOG, 2013).

O Plano para Prevenção de Obesidade em Crianças e Adolescentes, implementado

pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), estabelece estratégias para

combater a epidemia de obesidade infantil no ocidente, incluindo a promoção de

alimentos mais saudáveis, políticas para reduzir o consumo de bebida açucarada, e

alimentos com alto teor calórico e pobres em nutrientes, dentre outras (PAHO &

WHO, 2014). Na mesma direção aponta o Guia Alimentar para a População Brasileira,

que orienta que a base da alimentação seja de alimentos in natura ou minimamente

processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, ao

mesmo tempo que se deve limitar o consumo de alimentos processados e evitar o

consumo de alimentos ultraprocessados (BRASIL, 2014).

431. O materialismo excessivo e o consumismo constituem o segundo problema, fazendo

com que a referência de felicidade e satisfação pessoal esteja, sobremaneira, vinculada às

ideias do "eu quero, eu tenho", "eu posso comprar", sendo estas atitudes consideradas

sinônimos de contentamento. Alguns estudos encontram evidências que reforçam esta

ideia. Um deles, feito na Holanda com 466 crianças com idades entre 8 e 11 anos, apontou

que as que se declaram infelizes tendem a ser mais materialistas quando expostas à

publicidade. A conclusão do estudo é que a publicidade parece ensinar para as crianças

“infelizes” que a posse de bens materiais seria uma maneira de torna-las mais felizes

(OPREE et al, 2012).

432. No Brasil, 53% das crianças e adolescentes entre 10 a 17 anos que foram entrevistadas

numa pesquisa afirmaram que ficaram tristes por não poderem comprar um produto cujo

anúncio foi visto na TV ou na internet, e 32% falam que sentem vontade de comprar um

produto anunciado nesses meios de comunicação (NOSSA SÃO PAULO e IBOPE, 2015). Em

outra pesquisa, 33% de entrevistados, com idades de 11 a 17 anos, afirmaram terem pedido

aos pais ou responsáveis algum produto após contato com publicidade na internet (CETIC,

2014).

433. O fenômeno do consumismo infantil, que futuramente evolui para o consumismo

adulto, está na base dos dois problemas apontados acima, relacionados a aspectos sociais e

de saúde pública. Há ainda uma terceira dimensão, que é a ambiental, visto que na base

das cadeias produtivas dos produtos objeto do consumismo estão os recursos naturais e a

degradação ambiental, provocada pela contaminação e geração de resíduos no final dos

processos produtivos. Os alimentos, principal objeto de comunicação mercadológica são

em geral os da categoria dos ultraprocessados. A cadeia produtiva destes envolve matérias

primas que demandam uso intensivo de recursos naturais, e geram degradação dos

ambientes naturais e geração de resíduos. A composição desses alimentos ultraprocessados

inclui, geralmente, açúcar, soja e seus derivados, farinha de trigo e milho, e seus derivados.

434. Os sistemas produtivos desses insumos são caracterizados por grandes extensões de

terra, utilizadas na forma de monocultura, altamente intensiva no uso de energia, água,

fertilizantes químicos e agrotóxicos. Esse tipo de sistema está associado à perda de solos,

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redução de biodiversidade, diminuição da disponibilidade hídrica e contaminação de corpos

de água, dentre outros. Além de depender de sistemas gigantescos e complexos para o

armazenamento e transporte de grandes cargas por longas distâncias.

435. Somando-se a isto, há um volume enorme de embalagens destinadas não só a

proteger os produtos, sejam eles alimentos ultraprocessados, brinquedos ou outros, mas

para chamar a atenção dos consumidores. Ainda não se tem um dado específico sobre a

demanda de embalagens, a geração e a destinação de resíduos de produtos destinados ao

público infantil. Mas, no agregado, verifica-se que, no período de 2009 a 2013, a “Produção

Física de Embalagens” acumula um aumento. Constata-se que o aumento do volume de

embalagens produzidos é ligeiramente maior que o crescimento da indústria geral, maior

que o crescimento do PIB e maior que o PIB per capita (ABRE e FGV, 2011; 2012; 2013;

2014). Verifica-se também um aumento na geração total de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU)

no período de 2011 a 2013, da ordem de 5,4%, enquanto que a geração per capita para o

mesmo período foi de 0,79% (ABRELP, 2012, 2013, 2014). A grosso modo, observa-se que a

geração total de RSU no período cresceu acima do aumento do PIB do mesmo período e da

taxa de crescimento da população brasileira.

436. Existem entendimentos internacionais que visam informar a população e criar

condições legais e políticas para que a publicidade e comunicação mercadológica

destinadas às crianças seja regulamentada e restringida, quando couber, dentre as quais:

• o artigo 17 da Convenção de Direitos da Criança (ONU) de 1989 estabelece que o

conteúdo midiático ao qual a criança é exposta deve respeitar seu bem-estar,

além de sua saúde física e mental;

• o Comitê de Direitos da Criança da ONU, por meio do General Comment n°13 de

2011, reconhece a publicidade infantil como potencialmente nociva, podendo

configurar-se como uma forma de violência à criança, de modo que deve ser

coibida;

• o General Comment nº 17 de 2013 reconhece que a comercialização em

ambientes lúdicos influencia nas formas com que a criança lida com seus

momentos de recreação, bem como nas atividades culturais e artísticas,

reconhecendo o potencial da comunicação mercadológica de afetar também

garantias relativas ao lazer, bem como direitos artísticos e culturais, restando

patentes os diversos reflexos negativos decorrentes dessa prática abusiva;

• a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) publicou, em 2012, documento

intitulado “Recomendações sobre a promoção e publicidade de alimentos e

bebidas não alcoólicas dirigida a crianças na região das Américas”, estimulando

os governos a elaborarem uma política que discuta a exposição de crianças de

até 16 anos a determinadas publicidades; e

• o Parlamento Latinoamericano (Parlatino) acordou o marco “Regulação da

publicidade e promoção de alimentos e bebidas não alcoólicas dirigidas a

crianças e adolescentes”, que foi distribuído aos parlamentos dos países latino-

americanos.

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437. Em diversos países, o debate sobre a regulação da publicidade e da comunicação

mercadológica dirigidas ao público infantil está bastante amadurecido, a ponto de terem se

desenvolvido legislações e políticas públicas muito abrangentes e efetivas nesse tema,

destacando-se:

• Canadá: proíbe a publicidade de produtos não destinados a crianças em

programas infantis. Pessoas ou personagens conhecidos pelas crianças não

podem ser usados para endossar, ou pessoalmente promover, produtos, prêmios

ou serviços. A televisão pública não exibe qualquer publicidade durante

programas infantis, nem imediatamente antes ou depois. É proibida a exibição de

um mesmo produto em menos de meia hora. Nenhuma estação de TV pode

transmitir mais de 4 minutos de publicidade comercial a cada meia hora de

programação para crianças, ou mais de 8 minutos a cada 1 hora quando os

programas forem de duração maior. Na província de Quebec, é proibida qualquer

publicidade de produtos destinados a crianças menores de 13 anos, em qualquer

mídia.

• Suécia: veta totalmente comerciais televisivos dirigidos às crianças nos canais

nacionais, através da Lei de Rádio e Televisão. A proibição é abrangente,

incluindo a publicidade de produtos infantis, como brinquedos, alimentos e

bebidas.

• Chile: proíbe a oferta ou comercialização de alimentos com altos teores de sal,

calorias, açúcar e gorduras em estabelecimentos de educação infantil,

fundamental e média. Nesses locais, também não pode haver qualquer tipo de

promoção ou publicidade desses alimentos, tampouco sua oferta ou entrega

gratuita a menores de 14 anos, ou a indução do seu consumo por meio de ofertas

de brindes e prêmios, realização de concursos e jogos, dentre outros. Tal norma

também destaca a proibição a qualquer forma de comunicação mercadológica de

alimentos não saudáveis aos menores de 14 anos, o que inclui a venda de lanches

com oferta de brinquedos. Além disso, toda a publicidade de alimentos efetuada

por meios de comunicação de massa deve apresentar mensagens que estimulem

a população a adotar hábitos saudáveis.

438. No Brasil, esse debate foi fortalecido por meio da Resolução no 163/2014 do Conanda

(Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que dispõe sobre a

abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança e

ao adolescente, numa tentativa de esclarecer o artigo 37 do Código de Defesa do

Consumidor.

439. O setor privado também vem adotando medidas voluntárias nesse sentido:

• a empresa de materiais escolares Mercur decidiu

não utilizar personagens em seus produtos; e

• os membros da International Food & Beverage

Alliance (IFBA), como Coca-Cola, Ferrero, General

Mills, Grupo Bimbo, Kellog´s, Mars, McDonald’s,

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Mondelēz Internacional, Nestlé, PepsiCo e Unilever, assumiram compromissos

públicos perante à Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre os quais a

restrição à publicidade infantil.

440. Dessa forma, considera-se de extrema importância o papel da regulação da

publicidade direcionada ao público infantil no contexto da produção e consumo

sustentáveis. A publicidade e a comunicação mercadológica dirigidas às crianças são a

principal ferramenta para persuasão do público infantil ao consumo em geral, expondo,

dessa forma, às complexas relações de consumo um público que não têm os instrumentos e

ferramentas que o habilite a lidar com essa situação. Sua peculiar situação de

desenvolvimento faz com que a criança seja mais vulnerável aos apelos consumistas e a

todas as graves consequências.

441. Na agenda da publicidade e comunicação mercadológica infantil, o Instituto Alana um

sido parceiro essencial. Por meio de seu Projeto Criança e Consumo, o Instituto promove

palestras, entrevistas e trabalho de advocacy relativos à necessidade de se regular a

publicidade e a comunicação mercadológica direcionadas à criança, como forma de mitigar

os impactos maléficos do consumismo infantil na sociedade.

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5.8 Programa Ambiental na Administração Pública – A3P

Descrição e contexto

442. A iniciativa voluntária Agenda Ambiental na Administração Pública, conhecida pela

sigla A3P, completou, em 2014, 15 anos, comemorando o fato de ter crescido a sua

implementação em todo país. A Agenda nasceu do propósito de cumprir o capítulo nº 4 da

Agenda 21 – instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis. O

capítulo instiga o desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais de estímulo a

mudanças nos padrões inadequados de produção e consumo.

443. A A3P é uma agenda pioneira e um marco indutor das ações de sustentabilidade nos

órgãos públicos. Parte do princípio de que a administração pública deve dar o exemplo na

mudança dos padrões de produção e consumo, combatendo todas as formas de

desperdícios. A agenda não é restrita ao meio ambiente. É mais ampla, trata de

sustentabilidade, ou seja, envolve reduzir desperdícios, economizar recursos públicos,

proteger o meio ambiente e proporcionar qualidade de vida no trabalho.

444. Concebida com o objetivo principal de estimular os gestores públicos a incorporar

princípios e critérios socioambientais no governo, levando à economia de recursos naturais

e à redução de gastos institucionais por meio do uso racional dos bens públicos e da gestão

adequada dos resíduos, a A3P é, atualmente, a principal ação para estabelecimento de um

novo padrão de responsabilidade nas atividades meio da gestão pública.

445. A A3P opera duas linhas de engajamento do setor público: a primeira é a adesão

formal, monitorada pelo Ministério do Meio Ambiente; a segunda é uma rede colaborativa

de informação – a chamada Rede A3P. Até o presente momento, a A3P conta com a adesão

formal de 255 parceiros e mais de 500 participantes na Rede A3P. O Programa tem ganhado

amplitude nos últimos anos, especialmente, junto aos municípios. Segundo dados da

Munic/IBGE 2013, no Brasil, 504 municípios implementam programas de sustentabilidade

na administração pública e desses, 66 são parceiros formais da A3P. Quatro Estados

possuem adesão formal ao Programa: Bahia, Pernambuco, Sergipe e Ceará.

446. O Programa A3P trabalha com a inserção da sustentabilidade nas instituições a partir

de seis eixos temáticos:

a. Gerenciamento de Resíduos;

b. Licitação Sustentável;

c. Qualidade de Vida no Ambiente de Trabalho;

d. Sensibilização e Capacitação dos Servidores;

e. Uso Racional de Recursos Naturais e Bens Públicos;

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f. Construções Sustentáveis.

447. O Programa A3P também articula com outras iniciativas que promovem a

sustentabilidade – ambiental, econômica e social – na Administração Pública, em todos os

níveis de governo, como o Projeto Esplanada Sustentável – PES e os Planos de Logística

Sustentável – PLS.

448. No PPCS, a A3P foi considerada como uma das prioridades para o primeiro ciclo de

implementação proposto para o período de 2011 a 2014, tendo sido selecionadas seis

ações estratégicas para a A3P no âmbito do Plano. Todas essas ações foram realizadas e

algumas fazem parte da Agenda permanente atual do Programa.

449. No período considerado, vários avanços foram feitos no sentido de dar maior

visibilidade à A3P e ampliar o número de instituições participantes. Em relação às adesões

formais, a meta definida no PPCS já foi superada e, dentre os fatores que contribuíram para

esse desempenho, encontram-se o Projeto Esplanada Sustentável - PES, a realização dos

Fóruns Regionais da A3P e as ações de capacitação presencial realizadas em várias regiões

do país.

450. A realização de quatro fóruns regionais foi uma iniciativa que contribui muito para a

ampliação da A3P que tem crescido quase 20% anualmente. Até então, os Fóruns da A3P

eram apenas nacionais e realizados em Brasília – DF, limitando a participação e a articulação

com novas instituições públicas.

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451. Outras iniciativas que também contribuem para o fortalecimento da A3P são a

realização do evento de premiação que, a cada edição, tem um número crescente de

projetos e a criação do Selo de Sustentabilidade na Administração Pública. Na última

premiação, realizada em 2014, foram 88 projetos inscritos.

452. São reconhecidos três tipos de selo: Verde, Prata e Laranja. Atualmente, são 111

instituições com Selo Verde, 9 com Selo Prata e 10 com Selo Laranja.

453. As ações de capacitação constituem uma das principais iniciativas da A3P, que foram

fortalecidas com o desenvolvimento de um curso de educação à distância, para facilitar o

acesso e disseminar as boas práticas na A3P em todo o território nacional, além da

realização de cursos presenciais. Essas iniciativas já envolveram mais de 3.500 participantes,

tendo os cursos presenciais sido realizados nos Estados do Ceará, Distrito Federal, Minas

Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Sergipe, São Paulo e Tocantins.

454. Entre as fragilidades do programa A3P, a principal tem sido a dificuldade de

acompanhamento e aferição de impacto das ações nas instituições parceiras. Apesar da

elaboração de um modelo padrão para o relatório de atividades e do desenvolvimento de

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indicadores de desempenho, a falta de um sistema de monitoramento integrado vem

prejudicando uma avaliação sistêmica do Programa.

Cenário desejado e estratégias para sua realização

455. Para o 2º Ciclo do PPCS, as expectativas são de:

1) Expansão do número de parceiros da A3P.

456. Para tanto, tem-se buscado junto aos Estados novos arranjos de governança para

implementação da Programa, envolvendo parcerias com órgãos estaduais, consórcios de

municípios e redes de sustentabilidade. A proposta é criar estratégias de municipalização

diferenciadas, que sejam eficientes e adequadas para as distintas realidades do País.

457. Espera-se também que algumas das iniciativas que já se encontram em andamento,

como é o caso da implantação da A3P em municípios do Estado de São Paulo, e da Rede de

Sustentabilidade do Rio de Janeiro, possam consolidar-se e que outros novos arranjos

sejam implementados. Além disso, busca-se promover a A3P no âmbito de outros

instrumentos de âmbito estadual como é o caso do ICMS Ecológico.

2) Articulação do Programa com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

458. Estima-se que a criação de unidades específicas para tratar do tema da

sustentabilidade nas instituições públicas ajudará a fortalecer ainda mais a Agenda e o

alcance de seus objetivos. Propõe-se, ainda, a criação de um Comitê Setorial para a

implementação da Agenda nos órgãos militares e de segurança.

3) Fortalecimento das ações relacionadas aos eixos temáticos da A3P, especialmente no

eixo de licitações sustentáveis.

459. Neste caso, sugere-se a articulação com os órgãos de controle, especialmente,

tribunais de contas, e Ministério do Planejamento. Deve-se também promover maior

integração regional e a criação de espaços de discussão, além do engajamento dos

fornecedores.

4) Criação de uma agenda permanente de cursos de capacitação

460. Os cursos de capacitação devem contemplar (i) capacitação presencial e à distância,

sobre os seis eixos temáticos da A3P, nas 27 unidades da Federação; (ii) formação de

agentes multiplicadores; (iii) cursos específicos de capacitação por eixo da Agenda; e (iv)

programa de intercâmbio entre as instituições. Propõe-se também ampliar as parcerias com

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outras instituições que promovam capacitação, como é o caso das escolas de governo e

universidades corporativas.

5) Elaboração de materiais específicos de orientação da A3P por setor

461. Já foram identificados os seguintes públicos/setores para os quais a A3P deveria ser

orientada considerando suas especificidades: a) municípios com até 50.000 habitantes; b)

órgãos e entidades públicas; c) instituições financeiras; d) tribunais; e) empresas públicas; e

f) universidades e institutos federais. Esses novos materiais visam a aperfeiçoar a

implantação da Agenda de modo diferenciado e adequado a cada tipologia de

instituição/setor.

6) Implantação do sistema de monitoramento online da A3P (Ressoa) e do Banco de Boas

Práticas

462. O Ressoa permitirá o aperfeiçoamento das iniciativas e facilitará a implementação das

ações do Programa nas instituições parceiras, tendo em vista que o monitoramento e a

avaliação de impacto do Programa constituem as maiores fragilidades identificadas. A

proposta é a publicação anual de um relatório de impactos do Programa. O sistema Ressoa

já está sendo implantado, e ficará a cargo das instituições a inserção de seus dados de

monitoramento, fortalecendo a avaliação e o aperfeiçoamento permanente do Programa.

7) Inclusão de ações da A3P junto às escolas públicas.

463. A ideia é, em conjunto com o MEC, apoiar a implementação do projeto Escolas

Sustentáveis.

8) Elaboração de uma proposta de metodologia para certificação pública da A3P.

464. A ideia é que, a partir da certificação, seja possível apoiar financeiramente projetos de

sustentabilidade, ligados aos 6 eixos temáticos da A3P. Com a abrangência de sua atuação,

o Programa A3P tem demonstrado grande capacidade de contribuir para o alcance do ODS

12 (Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis), além dos Objetivos 6

(Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos), 7

(Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos), e 11

(Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e

sustentáveis).

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134

5.9 Gestão de Resíduos Sólidos – Aumento da Reciclagem

Descrição e contexto

465. A gestão de resíduos sólidos perpassa muitos dos temas abordados no 2º ciclo do

PPCS. A Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS tem como um de seus princípios a

necessidade de abordagem sistêmica na gestão dos resíduos sólidos. Esse princípio

responde face à natureza multidimensional da gestão dos resíduos, introduzindo o conceito

de gestão integrada de resíduos sólidos, o qual designa o conjunto de ações voltadas para a

busca de soluções, considerando as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e

social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.

466. A adequada gestão de resíduos é um dos grandes desafios sociais e ambientais

enfrentados pelos municípios para o desenvolvimento e implementação de cidades

sustentáveis. Está vinculada aos modelos econômicos e de desenvolvimento e crescimento

urbano adotados, o que faz com que toda e qualquer iniciativa voltada ao equacionamento

dessa questão deva ser analisada à luz dos padrões atuais de produção e de distribuição da

riqueza, assim como, do processo de produção do ambiente urbano construído e das

formas de apropriação desses espaços pelos diferentes segmentos sociais e do cenário

futuro ideal que se almeja alcançar.

467. A esse respeito, ressalta-se que ao longo do século XX, o país passou por um

acentuado processo de crescimento populacional e de urbanização, cujo padrão de

desenvolvimento e de crescimento de muitas cidades baseou-se na expansão horizontal,

imprimindo um forte caráter de diferenciação, segregação e fragmentação espacial, bem

como de exclusão social associada ao ordenamento do território, com significativos

impactos sobre o meio ambiente e acirramento das desigualdades urbanas e sociais.

468. Nesse modelo de desenvolvimento urbano, parcela significativa da população se

mantém excluída da produção formal da cidade, ocupando e adensando áreas desprovidas

de serviços básicos, equipamentos públicos e de infraestrutura urbana. Além desta, outras

disputas se manifestam no território, como por exemplo, disputas associadas ao padrão de

produção e consumo de bens em contraposição à garantia de alguns direitos, a exemplo da

contradição entre a produção e o consumo crescente de bens, com consequente ampliação

da geração de resíduos, e a diretriz de redução da geração associada, em última instância, à

redução da massa de rejeitos a serem dispostas em aterros sanitários e, portanto, à

proteção ao meio ambiente.

469. As desigualdades territoriais e sociais expressas na diferenciação e na fragmentação

espacial estão associadas, dentre alguns fatores, à concentração de renda, que determina a

distribuição espacial diferenciada em função das condições de acesso e consumo de bens e

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serviços por parte dos diferentes segmentos da sociedade e, como consequência, influencia

na quantidade, composição e qualidade dos resíduos gerados em cada região das cidades e

municípios. A lógica desta dinâmica intraurbana pode ser estendida para a escala entre

municípios e entre regiões do país.

470. A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional de Meio Ambiente e,

sob esta ótica, deve assegurar a integração e a articulação entre políticas públicas voltadas

à melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades urbanas e sociais, com base

na qualidade ambiental, na proteção da saúde pública, na equidade, na justiça social e

garantia de direitos, no desenvolvimento econômico e na gestão democrática e

participativa das cidades.

A Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, trouxe em seu texto legal um conjunto de

propostas, as quais, em um contexto geral, dão à Política Nacional de Resíduos Sólidos –

PNRS, um caráter inovador, desafiador e, muitas vezes, indutor de mudanças

paradigmáticas nas relações que a sociedade estabelece com a produção de bens,

consumo e geração de resíduos sólidos. Esta lei pode induzir uma ruptura da tradicional

relação dos cidadãos e das instituições, públicas ou privadas, com a gestão dos resíduos

sólidos.

A fim de organizar e conferir à gestão integrada dos resíduos sólidos um encadeamento

lógico de ações, estabeleceu-se uma ordem de prioridade a ser observada na gestão dos

resíduos, a saber: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos

sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

471. De acordo com a Constituição Federal, a prestação dos serviços públicos de interesse

local é de competência e responsabilidade dos municípios. A esse respeito, destaca-se que

os serviços, as infraestruturas e as instalações operacionais relativas à limpeza urbana e ao

manejo de resíduos sólidos urbanos, assim como ao abastecimento de água potável, ao

esgotamento sanitário, à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, integram o

saneamento básico, que constituem serviços públicos de caráter essencial.

472. A prestação desses serviços deve pautar-se pela universalização do acesso,

integralidade do serviço e articulação com outras políticas de relevante interesse social,

voltadas à melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico é fator

determinante. Nesta perspectiva, o equacionamento da questão dos resíduos sólidos, por

meio do fortalecimento de sua gestão integrada, coloca-se como uma importante dimensão

do direito ambiental e do direito a um meio ambiente saudável e a cidades sustentáveis,

temas a serem debatidos com vistas à construção de uma nova agenda urbana global,

central na 3ª Conferência das Nações Unidas sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano

Sustentável - Habitat III, em 2016.

473. No contexto da gestão dos resíduos sólidos, a não geração está relacionada tanto ao

ato de reflexão do consumidor em optar por não adquirir um determinado produto que

considere inadequado do ponto de vista socioambiental, quanto ao fato de as empresas

intervirem e modificarem seus modelos de negócios, como os focados em produto-serviço,

desvinculando a necessidade de adquirir o produto para se obter o benefício esperado,

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assim como repensar o processo produtivo. Evita-se, assim, a poluição, materiais

provenientes de fontes não renováveis, ou, ainda, atuando na redução ou restruturação das

embalagens, que também favorece a diminuição da geração de resíduos sólidos e da não

produção de excedentes.

474. A redução, estreitamente relacionada ao item anterior, incentiva a reflexão sobre

consumo, necessidades e desejos do indivíduo frente aqueles da coletividade, ora

conflitantes e por vezes convergentes. Nesta mesma linha, se encaixa a reutilização. Juntas,

estas três primeiras etapas, não geração, redução e reutilização, representam as mudanças

de paradigmas mais profundas propostas pela PNRS. Por esta razão, exigem, a princípio, um

trabalho intenso de Educação Ambiental, debates, disponibilização de informações

qualificadas e campanhas educativas.

475. Cabem também ações junto ao setor produtivo, no sentido de incentivar pesquisas e

adoção de práticas sustentáveis na produção de bens e mercadorias. Nesse sentido, o PPCS

deve incentivar estudos de avaliação do ciclo de vida dos produtos, principalmente da

cadeia de embalagens recicláveis, além do desenvolvimento e aprimoramento de

tecnologias limpas e das pesquisas em ecodesign, entre outras.

476. Em relação à reciclagem, existem ações importantes em andamento, mas ainda são

necessários o planejamento e ações complementares que viabilizem o aumento da

reciclagem no Brasil, tanto quantitativa como qualitativamente.

477. Por sua vez, o tratamento dos resíduos sólidos refere-se às tecnologias utilizadas para

reduzir sua periculosidade, a possibilidade de contaminação ambiental e os riscos à saúde

pública. São várias as tecnologias de tratamento, desde as mais simples, baratas e

eficientes, como a compostagem, até as mais complexas. Após o tratamento, com ou sem

recuperação de matéria-prima e/ou energia, os rejeitos devem ser encaminhados para a

disposição final ambientalmente adequada em aterros sanitários.

478. Desde a aprovação da Lei 12.305/2010, os maiores esforços do Governo Federal, assim

como dos Estados e Municípios estão relacionados à etapa final do ciclo de gestão dos

resíduos sólidos - disposição final ambientalmente adequada de rejeitos -, devido à

significativa existência de lixões e de aterros controlados no país, que comprometem a

qualidade do ar, do solo e das águas.

Cenário desejado e estratégias para sua realização

479. Na lógica de encadeamento das etapas previstas na PNRS, é fundamental fortalecer,

prioritariamente, todas as ações que precedem a reciclagem. Assim como a reutilização, a

reciclagem pressupõe a implantação de um sistema de coleta seletiva, mediante prévia

segregação dos resíduos na fonte geradora e acondicionamento adequado.

480. As ações prévias à coleta em si estão, portanto, atreladas a fatores culturais e a

padrões comportamentais relativos ao consumo, ao desperdício, ao descarte e à

conscientização do papel fundamental dessas ações para aumentar a eficiência da cadeia

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da reciclagem.

481. A reciclagem, conforme a Lei nº 12.305/2010, consiste no “processo de transformação

dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou

biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as

condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama35 e, se couber,

do SNVS36 e do SUASA37”.

482. As possíveis alternativas para reutilização e reciclagem dos resíduos estão associadas a

distintos fatores, muitos dos quais variam em função das condições e capacidade local para

implementá-las. Dentre esses fatores, destacam-se: i) a viabilidade técnica, ambiental e

econômica dos processos tecnológicos existentes e disponíveis, relativos à cada fase da

ordem de prioridade acima; ii) a capacidade institucional, técnica e financeira do poder

público local, titular dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos,

de conduzir um processo participativo de planejamento e gestão dos resíduos e articular

junto aos diferentes atores envolvidos na gestão integrada a implementação das ações

necessárias que assegurem a ordem de prioridade das etapas na gestão e no

gerenciamento dos resíduos sólidos; iii) a capacidade instalada no mercado para reabsorção

dos resíduos passíveis de reciclagem e dos reciclados; a distribuição no território nacional

dos polos recicladores e as conectividades existentes, por meio de infraestrutura e logística

que viabilizem os fluxos dos resíduos; iv) a capacidade do setor produtivo de desenvolver e

implantar processos produtivos inovadores, assim como produtos a partir dos reciclados.

Estratégias

483. No tocante ao aumento da reciclagem, no âmbito do 2º Ciclo do PPCS, a atuação deve

ser pautada nos seguintes eixos: fortalecimento do planejamento e da gestão em níveis

local e regional; estímulo à coleta seletiva; fortalecimento e estímulo à compostagem;

estruturação da logística reversa; estímulo à Análise do Ciclo de Vida do produto - ACV e

fortalecimento da inclusão socioeconômica e produtiva dos catadores de materiais

recicláveis, como apresentado a seguir.

1) Planejamento e Gestão

484. A Política Nacional de Resíduos Sólidos ressalta a importância do planejamento para

sua implementação, em todas esferas de governo, por meio dos planos nacional, estaduais,

municipais e intermunicipais de resíduos sólidos.

485. Nessa mesma direção, a PNRS confere destaque a alternativas, como o

consorciamento público intermunicipal ou compartilhamento entre municípios na área dos

resíduos sólidos, por meio do qual é possível o arranjo institucional pautado na cooperação

35 Sistema Nacional de Meio Ambiente. 36 Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. 37 Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária.

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federativa para realização de objetivos de interesse comum pelos entes envolvidos.

486. No tocante ao apoio técnico e financeiro para aquisição de equipamentos e para obras

de infraestrutura para a gestão dos resíduos sólidos, a Fundação Nacional de Saúde, do

Ministério da Saúde (FUNASA) apoia os municípios com população inferior a 50 mil

habitantes, ao passo que o Ministério das Cidades, a quem compete a coordenação da

implementação da Política Federal de Saneamento Básico, apoia aqueles com população

superior a 50 mil habitantes.

2) Coleta Seletiva

487. A coleta dos resíduos separados previamente na fonte geradora é fundamental para a

gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos – RSU e instrumento da Política Nacional de

Resíduos Sólidos.

488. A separação prévia dos resíduos na origem interfere na qualidade dos processos pós

consumo estabelecidos na gestão integrada dos resíduos sólidos. Por meio da coleta

seletiva, evita-se a contaminação dos materiais recicláveis, aumentando o valor agregado, a

quantidade de material passível de recuperação e diminuindo os custos do processo. Em

relação à produção de bens, cabe lembrar que a substituição de matéria prima virgem por

material reciclado evita a retirada da primeira, além de diminuir o uso de água e energia

nos processos produtivos.

489. A coleta seletiva facilita e melhora os processos de tratamento da fração orgânica dos

RSU (compostagem e biodigestão), resultando na produção de composto de qualidade

superior aos resíduos de coleta mista e seguro para qualquer uso agrícola.

490. Ressalta-se, ainda, que a segregação dos RSU interfere na prestação de serviços das

associações e cooperativas de catadores, dando melhores condições de trabalho e

aumentando a quantidade e qualidade do material disponibilizado para comercialização.

491. Por último, é importante ponderar sobre o papel da coleta seletiva nas mudanças

comportamentais da população. Ao separar seus resíduos, os cidadãos têm a possibilidade

de refletir, individual e coletivamente, sobre a geração e formas de disposição dos mesmos.

De modo geral, ao descartarem seus resíduos, os tratam como “lixo” e acreditam que, a

partir de então, já não tem mais qualquer responsabilidade sobre ele. Em última instância,

portanto, a coleta seletiva é, em si, um processo educativo e promotor de cidadania.

3) Compostagem

492. A PNRS, por meio dos acordos setoriais, destaca, como um de seus objetivos, o

incentivo à reciclagem de resíduos sólidos, normalmente associada somente à fração seca

dos resíduos, tais como papel, papelão, plásticos, vidro e metais.

493. Entretanto, já há o entendimento de que a compostagem, ao transformar a matéria

orgânica em insumo, é, ao mesmo tempo, reciclagem e uma forma de tratamento desses

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resíduos. Nesse sentido, a compostagem da fração orgânica dos RSU contribui

significativamente para o aumento da reciclagem no país.

494. A implementação de sistemas de compostagem é especialmente importante no

contexto brasileiro, uma vez que os resíduos orgânicos representam mais de 50% da massa

total dos RSU coletados. Além disso há uma quantidade significativa proveniente das

atividades agrossilvopastoris (aproximadamente 900 milhões de toneladas ao ano), que

podem contribuir para aumentar a qualidade de vida da população em vários aspectos,

desde a diminuição da poluição até a obtenção de composto de qualidade para produção

de alimentos mais saudáveis.

495. Os processos de reciclagem permitem a reincorporação de materiais nos processos

produtivos, ou em outros processos. No caso da reciclagem dos orgânicos, por meio da

compostagem, podem ser exploradas novas possibilidades e estabelecidas novas relações

com esses resíduos. No contexto urbano, o composto pode ser utilizado como adubo em

áreas verdes ou na produção de hortas urbanas, favorecendo uma nova forma de interação

do cidadão com seu meio.

496. Nas áreas rurais ou nos cinturões verdes municipais, o composto pode ser destinado à

produção de alimentos pela agricultura familiar ou mesmo incorporado pela agricultura

tradicional em substituição, ainda que parcial, dos adubos minerais ou mesmo na

recuperação de solos degradados.

497 Cabe ressaltar, ainda, que a compostagem de resíduos orgânicos contribui com a

redução de volume e de sua periculosidade, fatores importantes do ponto de vista

econômico, social e ambiental. Além de reduzir a quantidade de resíduos a serem dispostos

em aterros sanitários, a decomposição da fração orgânica dos resíduos constitui um dos

principais fatores de contaminação ambiental. Além da geração de chorume, as Unidades

de Disposição Final (Aterros Sanitários, Aterros Controlados e Lixões) são fontes de emissão

de gases de efeito estufa, produzido a partir do processo natural de decomposição da

matéria orgânica.

498. Por último, vale ressaltar que a compostagem pode contribuir para a inserção social

dos catadores de materiais recicláveis, ampliando a gama de oportunidades de negócio

para as associações e cooperativas.

4) Logística reversa e reciclagem

499. A PNRS trouxe um importante princípio, chamado responsabilidade compartilhada

pelo ciclo de vida do produto, que é o conjunto de atribuições individualizadas e

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encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e

titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, no

sentido de minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para

reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo

de vida dos produtos.

500. Esse princípio atribui à toda a sociedade responsabilidade por reintroduzir os produtos

após o uso pelo consumidor ao novo ciclo produtivo, outro que o utilize ou, caso isto não

seja possível, promover sua disposição final ambientalmente adequada.

501. Nesse contexto surge a logística reversa, instrumento que materializa o princípio da

responsabilidade compartilhada, definida como instrumento de desenvolvimento

econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios

destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial,

para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação

final ambientalmente adequada.

502. Portanto, o objetivo da logística reversa é promover atividades que viabilizem a coleta

e o retorno dos produtos descartados pelo consumidor aos fabricantes e importadores (por

meio dos comerciantes e distribuidores) para reaproveitamento na cadeia produtiva ou sua

destinação final ambientalmente adequada, levando em consideração a responsabilidade

compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

503. A logística reversa, de certa forma, pode desonerar o município e a coleta seletiva,

caso o consumidor descarte parte das suas embalagens nos pontos de entrega voluntária,

por exemplo.

504. Apesar de serem sistemas independentes, a coleta seletiva e a logística reversa se

complementam e compartilham os objetivos de reduzir a quantidade de resíduos dispostos

nos aterros sanitários, aumentar a taxa de reciclagem dos materiais e criar oportunidades

de trabalho e renda para os catadores e demais trabalhadores desta nova indústria da

reciclagem que vem se expandindo no Brasil.

505. Um dos gargalos que dificulta a implementação da logística reversa no país é o número

insuficiente de indústrias de reciclagem. Essa restrição encarece a atividade de reciclagem,

em função da necessidade de percorrer grandes distâncias para transportar o material às

poucas unidades disponíveis no país, aliada aos baixos preços de mercado.

506. A logística reversa favorece o aumento da reciclagem de resíduos, uma vez que a

indústria passa a assumir metas de reciclagem de seus produtos na ocasião da assinatura

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dos respectivos acordos setoriais. Isto implica um maior envolvimento, por parte dos

fabricantes, no aproveitamento dos materiais na fase pós consumo e, consequentemente,

na reinserção do produto no ciclo de vida dos produtos.

5) Análise do Ciclo de Vida do produto

507. A Análise do Ciclo de Vida consiste em uma metodologia desenvolvida para definir o

perfil ambiental de um produto ou processo, por meio da avaliação das cargas ambientais

associadas e do impacto da energia e materiais lançados no meio ambiente, e da

identificação e avaliação das oportunidades que afetam o melhoramento ambiental

durante todo o ciclo de vida do produto, processo ou atividade.

508. Constitui um instrumento relevante para a PNRS, uma vez que permite definir o perfil

ambiental de um produto ou um processo, bem como possibilita que os fluxos de matéria e

energia envolvidos no ciclo de vida de um bem sejam medidos e relacionados a diversas

categorias de impactos ambientais.

509. A ACV é essencialmente quantitativa, sendo que os resultados refletem as categorias

de impacto e permitem inclusive comparações entre produtos semelhantes. Pode ser

utilizada para estimar o impacto da reinserção de produtos no ciclo produtivo, por meio da

reciclagem e, desse modo, incentivar investimentos no setor.

6) Inclusão socioeconômica e produtiva dos catadores de materiais recicláveis

510. Os catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis desempenham papel fundamental

na implementação da PNRS. Sua atuação é anterior à Política, marcada tanto pela prática

da catação individual e autônoma, de maneira informal e dispersa nas ruas e em lixões,

quanto de forma organizada, por meio de associações e cooperativas.

511. A participação dos catadores na cadeia da reciclagem está vinculada, de modo geral, às

etapas de coleta, triagem (separação e classificação), parte do processamento (prensagem,

enfardamento) e comercialização dos materiais recicláveis, ainda de forma insipiente no

beneficiamento e agregação de valor dos materiais.

512. A perspectiva de organização dos catadores em associações e cooperativas, estas de

venda e em rede, é uma forma de fortalecer a atuação desse segmento na cadeia da

reciclagem, ampliando a possibilidade de comercialização em escala e de oportunidades

alternativas de negócio, dentre as quais, inclusive a verticalização da produção com o

beneficiamento. Para tanto, é preciso superar dificuldades e desafios enfrentados para a

viabilidade desses empreendimentos, os quais vão desde a precariedade das infraestruturas

disponíveis à capacidade de autogestão, organização e gerenciamento do empreendimento,

até a melhoria das condições de trabalho.

513. Nesse contexto, ações voltadas à proteção social, à capacitação profissional dos

catadores e ao acesso à infraestrutura adequada tornaram-se imprescindíveis para

estruturar a atividade realizada por este segmento, assim como aprimorar e abrir novas

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oportunidades de negócio para as cooperativas e associações.

514. Com base nos princípios como o “reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e

reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e

promotor de cidadania” e da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos

produtos, associados aos objetivos de incentivar a indústria da reciclagem, visando

“fomentar o uso de matérias-primas e de insumos derivados de materiais recicláveis e

reciclados”, a PNRS busca a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis

nas ações da responsabilidade compartilhada, incentivando a criação e o desenvolvimento

de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis, cuja participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística reversa deverá

ser priorizada, quando possível.

515. Acrescenta-se o fato de que, no âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo

de vida dos produtos, o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de

resíduos sólidos poderá efetivar a contratação dispensável de licitação das cooperativas e

associações de catadores de materiais recicláveis, nos termos da Lei de Licitações, alterada

pela Lei nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico.

516. Esforços têm sido empreendidos pelo governo federal, além daqueles já mencionados

no âmbito da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no qual se destacam:

i) Comitê Interministerial para a Inclusão Social e Econômica dos Catadores de

Materiais Reutilizáveis e Recicláveis - CIISC, reestruturado em 2010, por meio do Decreto nº

7.405, o mesmo que instituiu o Programa Pró-Catador;

ii) Programa Pró-Catador: visa “integrar e articular as ações do governo federal

voltadas ao apoio e fomento à organização produtiva dos catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis, à melhoria das condições de trabalho, à ampliação de

oportunidades de inclusão social e econômica, à expansão da coleta seletiva, da

reutilização e reciclagem”. Sua execução e monitoramento é coordenada pelo CIISC, dirigido

pela Secretaria-Geral da Presidência da República;

iii) Prêmio Cidade Pró-Catador: promovido pela Secretaria de Governo da

Presidência da República, em parceria com outros órgãos e o Movimento Nacional dos

Catadores de Materiais Recicláveis, com a finalidade de reconhecer, valorizar e estimular

práticas e iniciativas voltadas à inclusão social e econômica de catadores de materiais

recicláveis na implantação da coleta seletiva;

iv) Projeto Cataforte: no âmbito do Programa Pró-Catador, é coordenado pela

Secretaria de Governo da Presidência da República, com vistas a estruturar e fortalecer as

redes de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, enquanto

empreendimentos solidários;

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v) Coleta Seletiva Solidária: separação, na fonte geradora, dos resíduos recicláveis

descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta,

para destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis; e

vi) Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec, que tem o

Ministério do Meio Ambiente como um de seus demandantes para a oferta de cursos na

sua modalidade Pronatec Catador.

517. Para o fortalecimento dessas iniciativas e expansão da reciclagem, são identificados

como instrumentos fundamentais:

a) Educação Ambiental e Comunicação Social

518. Instrumento da PNRS, educação ambiental e comunicação ambiental incluem medidas

a serem tomadas pelo poder público para o “aprimoramento do conhecimento, dos valores,

dos comportamentos e do estilo de vida relacionados com a gestão e o gerenciamento

ambientalmente adequado dos resíduos sólidos”. Neste contexto, as ações de comunicação

social devem estar sempre associadas aos processos educativos de forma a consolidar a sua

repercussão junto aos cidadãos. A sociedade precisa ser sensibilizada, mobilizada e

motivada a assumir seu papel protagonista na gestão adequada dos resíduos sólidos, da

mesma forma que o poder público e o setor empresarial.

519. Ao introduzir novos elementos para o manejo dos resíduos sólidos, cujo conceito foi

ampliado para gestão integrada, a PNRS coloca em pauta o desafio não apenas de levar a

política ao conhecimento do público, mas também permitir que esse público entenda e

incorpore seus princípios em sua prática cotidiana, imprescindível para a efetiva

implementação da política.

520. Para o 2º Ciclo do PPCS, deve-se centrar esforços na educação ambiental e

comunicação social voltadas para o aumento da reciclagem e para a destinação final

ambientalmente adequada. Isto significa que os diferentes atores devem entender

claramente o seu papel em cada etapa do processo.

521. A proposta é definir diferentes estratégias de comunicação para os diferentes públicos:

I) Governo Federal - A3P (Esplanada Sustentável), “Plano de Ação” para viabilizar a

implementação da PNRS junto às instituições que compõem o CI;

II) Governos estaduais - A3P; cursos (compostagem, planos de resíduos,

implementação da Coleta Seletiva, logística reversa), divulgação de estudos e manuais

sobre reciclagem, premiação e divulgação de boas práticas; governos municipais - A3P;

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cursos (compostagem, planos de resíduos, implementação da Coleta Seletiva, logística

reversa), divulgação de estudos e manuais sobre reciclagem, premiação e divulgação de

boas práticas; sociedade no geral - campanhas, principalmente nas redes sociais, com

linguagem clara e direta sobre cada assunto específico e sobre qual o papel de cada um;

fóruns de discussões, oficinas locais sobre práticas sustentáveis relacionadas à reciclagem; e

campanha nacional, monitorada e continuada, nas redes sociais, sobre a importância da

reciclagem.

b) Arcabouço Legal

522. A regulamentação de algumas matérias é importante, tanto para conferir segurança

jurídica aos processos ainda não estabelecidos e instituídos, quanto para incentivar a

implementação de ações que não necessariamente precisam de uma regra para serem

implementadas, mas que apenas por mérito não são priorizadas.

523. Esse, possivelmente, é o caso da compostagem. No MMA acredita-se que

regulamentá-la é fundamental para trazer segurança jurídica aos setores privado e público,

além de ser um catalizador para aumentar a implantação de sistemas de compostagem nos

municípios. Dessa forma, está sendo proposta uma Resolução CONAMA sobre

compostagem de resíduos orgânicos.

524. Uma decorrência dessa proposta de Resolução é a revisão da Resolução Conama nº

275, de 25 de abril de 2001, que trata das cores de recipientes de descarte de resíduos. A

proposta é adequar a forma de segregação dos resíduos à realidade dos municípios

brasileiros. A separação em muitos containers dificultou a adesão à coleta seletiva.

525. Outro documento que visa estabelecer regras entre o setor público e o privado são os

acordos setoriais, firmados entre o Ministério do Meio Ambiente e os representantes da

indústria em cada cadeia de produtos previstos na PNRS.

c) Instrumentos Econômicos

526. A PNRS estabelece um conjunto de instrumentos econômicos voltados à viabilização

da gestão integrada de resíduos. Em relação especificamente à reciclagem, define que a

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir normas com o

objetivo de conceder incentivos fiscais, financeiros ou creditícios a indústrias e entidades

dedicadas a reutilização, ao tratamento e reciclagem de resíduos sólidos.

527. Nesse sentido, foi criado grupo de trabalho (GT3), no âmbito do Comitê

Interministerial de implementação da PNRS – CI, a fim de propor incentivos creditícios e

financeiros para a implementação da política nacional.

528. O GT3, coordenado pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior, realizou, em

parceria com a Confederação Nacional da Indústria – CNI, um estudo sobre estímulos à

cadeia de reciclagem, o qual prevê medidas indutoras da reciclagem, tais como: pagamento

em uma única vez de impostos dos materiais incluindo embalagens retornáveis; alívio

tributário para as cadeias de logística reversa obrigatórias, da coleta à reciclagem e

desoneração do trabalho.

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529. Algumas ações, do ponto de vista tributário, sugeridos pelo estudo para atender às

referidas medidas são: isenção de impostos sobre materiais reciclados (ICMS, PIS-COFINS,

IPI); isenção de impostos sobre as atividades de reciclagem, particularmente relacionadas

às cadeias de logística reversa obrigatórias (ICMS, PIS-COFINS, ISS); isenção de impostos

sobre embalagens retornáveis; e outros (IR, ecovalor/taxa de destinação, desoneração da

folha).

530. Nesse sentido, é necessária uma articulação maior entre os órgãos dos diferentes

níveis de governo responsáveis por essas ações, a qual poderá ser viabilizada por meio das

Mesas Federativas.

531. A gestão integrada dos resíduos sólidos possui interfaces com vários Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável, particularmente os Objetivos: 3 (assegurar uma vida

saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades, dado a importância da

implementação da PNRS e da Política Federal de Saneamento Básico para a proteção da

saúde pública e da qualidade ambiental; 11 (tornar as cidades e os assentamentos

humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; e 12 (assegurar padrões de

produção e consumo sustentáveis, e particularmente a meta 12.5, de reduzir

substancialmente a geração de resíduos por meio da prevenção, redução, reciclagem e

reutilização).

532. Vários princípios e objetivos da PNRS, dentre os quais o reconhecimento do resíduo

sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de

trabalho e renda e promotor da cidadania, contribuem para a consecução desses e de

outros ODS, bem como das políticas e prioridades nacionais relativas ao combate à

pobreza, à segurança alimentar, melhoria da nutrição e promoção da agricultura

sustentável, à gestão sustentável da água e saneamento, ao acesso confiável, sustentável,

moderno e a preço acessível à energia, ao crescimento econômico sustentado, inclusivo e

sustentável, ao emprego pleno e produtivo, e ao trabalho decente.

533. Considerando a autonomia administrativa dos municípios para lidar com problemas

locais, apresenta-se como um grande desafio para a implementação da PNRS a real

capacidade institucional, financeira e técnica das administrações locais para atuarem na

busca de soluções para questões, incluindo a questão dos resíduos sólidos.

534. Ademais, torna-se imprescindível mudar os atuais padrões de produção, distribuição e

consumo de bens e serviços, pautados na obsolescência programada, na cultura do

descarte e do desperdício, como forma de reduzir a pressão sobre os recursos naturais e

consequentes impactos ao meio ambiente.

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146

5.10 Relatos de Sustentabilidade

Descrição e contexto

535. A consciência cada vez maior do papel social das empresas e a responsabilidade que

decorre dos impactos de suas atividades têm levado à inclusão sistemática das questões

ambientais, sociais e de governança (ESG, em inglês) na estratégia e no processo de tomada

de decisão das organizações. Impõe-se, assim, desafios de segurança energética, alimentar,

hídrica e climática e de medidas que não podem depender de ações isoladas das empresas

mais cientes desses riscos, tampouco esperar os sinais de mercado que pavimentem esse

caminho rumo à economia sustentável.

536. Esse panorama começou a mudar nos últimos anos, sendo possível identificar avanços

na base produtiva brasileira, ainda que dispersos, mas consistentes, acompanhadas de um

crescente interesse das empresas em relatar esse esforço. Nesse contexto, os Relatos

Corporativos de Sustentabilidade passam a ser um instrumento cada vez mais importante

por incluírem uma abordagem ESG ao processo decisório das organizações, ajudando a

melhorar o seu desempenho geral.

537. O processo de relato é importante, pois atende, pelo menos, a três objetivos: 1)

comunicar e demostrar o grau de compromisso de uma empresa com os aspectos

socioambientais; 2) planejar atividades de forma integrada e melhorar a competitividade

nos diversos mercados; e 3) fornecer subsídios para a tomada de decisão e a alocação

eficiente de capital.

538. Existe, atualmente, um ambiente favorável à transparência das empresas, que

estimula direta ou indiretamente, a disponibilização de informações financeiras e não

financeiras na forma de Relatos Corporativos de Sustentabilidade. Esse ambiente foi

fortalecido graças a iniciativas intergovernamentais, como o GoF4738, e por plataformas de

relato – Carbon Disclosure Project (CDP), o Global Reporting Initiative (GRI) e o International

Integrated Reporting Council (IIRC). Essas iniciativas encontram respaldo e ganham força

com os ODS (12) pela adoção (meta 12.6), que é Incentivar as empresas, especialmente as

empresas grandes e transnacionais, a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações

de sustentabilidade em seu ciclo de relatórios –, além de diversas iniciativas e normas,

tanto do âmbito nacional como internacional, que ampliam a prática de integração de

informações e sua transparência (UNEP et al., 2013 mod.).

539. A título de exemplo, são listadas seis iniciativas internacionais, abrangendo diferentes

38 GOF 47: grupo de trabalho, criado pelo Brasil e outros países, com o fim de encorajar as empresas públicas

ou privadas a considerarem a integração de informações sobre a sustentabilidade de suas atividades em seus

relatos corporativos, conforme disposto no parágrafo 47 da Declaração “O Futuro que Queremos” (Rio+20).

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contextos socioeconômicos, setores da economia e processos de implementação. O

elemento em comum entre elas é que são todas mandatórias.

• Bolsa de Valores de Johanesburgo e King Code (África do Sul);

• Danish Financial Statements Act (Dinamarca);

• Lei n° 2010-788 (França);

• Companies act, corporate governance code e London stock exchange (Reino Unido);

• State-ownership Policy (Suécia);

• Diretivas da União Europeia n° 2003/51 e n° 2006/46.

540. No Brasil, existem iniciativas e normas em vigência e em processo de debate, que

obrigam a publicação de Relatos Corporativos de Sustentabilidade, assim como outras que

a estimulam, sem obrigatoriedade. Há normas que favorecem indiretamente a prática de

divulgação de informações não financeiras, que não estão necessariamente no formato de

um Relato Corporativo de Sustentabilidade, ou que dizem respeito especificamente a

informações socioambientais, mas que tratam, sim, de transparência. Abaixo, são

apresentadas 15 dessas iniciativas e normas que oferecem razoável estado da arte da

temática no País:

• Relatórios de Responsabilidade Socioambiental da Agência Nacional de Energia

Elétrica (Aneel);

• Resolução nº 4.327/2014, do Conselho Monetário Nacional (CMN), e Edital de

Audiência Pública no 41/2012;

• Instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nº 480/2009;

• Lei nº 12.527/2011 – Acesso à informação;

• Projeto de Lei nº 3.613/2008 e Projeto de Lei do Senado nº 289/2012;

• Relate ou Explique – BM&FBOVESPA;

• ICO2 – Índice Carbono Eficiente;

• Resolução Normativa nº 277/2011 da Agência Nacional de Saúde Suplementar

(ANS);

• Código Previ de Melhores Práticas de Governança Corporativa;

• Pronunciamentos de Orientação nº 13, de 15/06/2012 e nº 14, de 4/09/2012 do

Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim);

• Código Abrasca de Autorregulação e Boas Práticas das Companhias Abertas;

Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa – IBGC.

541. O Brasil é o terceiro país em número de organizações que publicam Relatos

Corporativos de Sustentabilidade, a partir da metodologia GRI. Dados de 2010 indicam que

as empresas brasileiras responderam por 7% do total de Relatos Corporativos de

Sustentabilidade publicados em todo o mundo, atrás apenas das companhias espanholas

(9%) e norte-americanas (10%). Mais recentemente, o conceito de relato integrado

desenvolvido pelo International Integrated Reporting Council (IIRC), que tem a GRI como

uma de suas idealizadoras e membro do Conselho, vem sendo crescentemente adotado

pelas companhias exatamente por orientar a integração das questões financeiras e não

financeiras.

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542. Nesse contexto, o Governo Brasileiro, conforme disposto no parágrafo 47 da

Declaração “O Futuro que Queremos” (Rio+20), comprometeu-se a encorajar as empresas

públicas e privadas a considerarem a integração de informações sobre a sustentabilidade de

suas atividades em seus relatos corporativos.

543. Para dar conta desse compromisso, no contexto internacional, o Brasil criou junto com

Dinamarca, França e África do Sul, o Grupo de Amigos do Parágrafo 47 (GoF47). O ponto

focal do GoF47 no Brasil é o Departamento de Produção e Consumo Sustentáveis (DPCS) do

MMA, que está empenhado na implementação da proposta do Brasil para o Plano de

Trabalho (2015-2020) do Grupo que consiste em: i) Traduzir publicações, ampliar e

melhorar a comunicação sobre as iniciativas do Gof47 nacionalmente; ii) Colaborar no

estudo de caso sobre relatos corporativos no mercado financeiro, especificamente, a

experiência da BMF&BOVESPA; iii) Elaborar documento sobre como governos e sociedade

civil utilizam (ou podem utilizar) os Relatos Corporativos de Sustentabilidade; iv) Colaborar

com eventos regionais e internacionais com o objetivo de promover, dar visibilidade ou

divulgar o GoF47, fazendo intervenções ou apresentações sobre o Grupo; e v) Disseminar

informações e publicações do GoF47 entre os parceiros de cooperação bilateral ou regional,

tais como os países-membros do Mercosul.

544. No contexto nacional, por iniciativa do MMA em 2014, foi constituído o Grupo de

Trabalho sobre Relatos Corporativos de Sustentabilidade (GT), composto pelas entidades

que mais têm se destacado na promoção de relatos no Brasil. O trabalho do GT, finalizado

em 2015 e consolidado em um documento final, trouxeram como resultados: i) o

apontamento de diretrizes que orientem o Governo Federal na construção de uma

Estratégia Nacional para Promoção de Relatos Corporativos de Sustentabilidade; e ii) o

aperfeiçoamento do conhecimento pelo MMA sobre o tema dos Relatos Corporativos de

Sustentabilidade, com vistas a constituir um locus de referência dentro do Governo Federal

para a promoção desses relatos.

545. A estratégia de incorporação do eixo temático relativo aos Relatos no 2º Ciclo de

Implementação do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS) atende a

duas recomendações do GT. A primeira é a de “Incluir a temática dos Relatos Corporativos

de Sustentabilidade no 2º Ciclo do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis

(PPCS)”, já que os Relatos Corporativos de Sustentabilidade são potenciais instrumentos

para divulgar os compromissos das empresas em suas práticas nos processos de produção.

546. A segunda recomendação atendida é a de “iniciar em 2015 processos de diálogos com

setores específicos não contemplados no GT, de modo a ampliar o processo de escuta,

engajamento e construção de uma Estratégia Nacional para a Promoção de Relatos

Corporativos de Sustentabilidade” (MMA, 2015, p.36).

Cenário desejado e estratégias para sua realização

547. Os elementos aqui propostos para o desenvolvimento da agenda no contexto do 2º

Ciclo do PPCS são as recomendações do GT sobre Relatos Corporativos de Sustentabilidade,

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que fortalecem a articulação entre diferentes políticas, ações e instrumentos para maior

sustentabilidade da produção e do consumo no País, além de contribuírem para o alcance

da meta 12.6 (Incentivar as empresas, especialmente as empresas grandes e transnacionais,

a adotar práticas sustentáveis e a integrar informações de sustentabilidade em seu ciclo de

relatórios) e, consequentemente, o cumprimento do Objetivo 12 de Assegurar padrões de

produção e de consumo sustentáveis.

Estratégias

1) Criação de condições para que empresas públicas que integram os Orçamentos de

Investimentos da União, Estados e Municípios divulguem anualmente Relatos Corporativos

de Sustentabilidade na modalidade Relate ou Explique, adotando roteiro compatível com o

porte, materialidade e relevância dos impactos sociais e ambientais.

Ações Propostas:

548. Incluir no Anteprojeto de Lei de Responsabilidade das Estatais (LRE) artigo que obrigue

as empresas públicas a divulgarem anualmente Relatos Corporativos de Sustentabilidade na

modalidade Relate ou Explique;

549. Criar Grupo de Apoio ao relato das empresas públicas, de modo a orientar na

elaboração de roteiro e implementação de procedimentos de relatos que sejam adequados

com o porte, materialidade e relevância dos impactos sociais e ambientais.

2) Incentivo às grandes empresas de capital fechado (alterando a Lei nº 11.638/2007) e

limitadas, de grande porte, a publicar informações financeiras e não financeiras.

Ações Propostas:

550. Influir na tramitação do Projeto de Lei do Senado nº 289/2015 (PLS) que dispõe sobre a

obrigatoriedade de relatórios de sustentabilidade para companhias ou sociedade anônimas,

de modo que o PLS se adeque às recomendações feitas pelo GT sobre Relatos Corporativos

de Sustentabilidade;

551. Instituir Grupo de Apoio à divulgação de informações financeiras e não financeiras por

companhias de capital fechado.

3) Criação de incentivos para divulgação integrada de informações não financeiras e

financeiras, na modalidade Relate ou Explique, como critério para participação em compras

públicas sustentáveis, política de incentivos ficais e acesso facilitado ao crédito,

licenciamento e concessões. Devendo ser o roteiro compatível com o porte, a materialidade

e a relevância quanto aos impactos econômico-financeiro, sociais e ambientais da

organização, sendo essa observância discriminada nas normas e/ou nos editais, quando

necessário.

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Ações Propostas:

552. Influir na tramitação do Projeto de Lei nº 3.613/2008 que obriga a publicação,

anualmente, do Balanço Social pelas empresas públicas, sociedades de economia mista,

empresas permissionárias e concessionárias de serviços públicos, em todos os níveis da

Administração Pública e empresas privadas que tenham recebido apoio financeiro ou

creditício do poder Público.

553. Instituir mesa de diálogo com Ministério do Planejamento e da Fazenda, Banco

Central, órgãos ambientais para tratar da obrigatoriedade de publicação de relatos

corporativos quando, respectivamente, das compras públicas, do recebimento de

incentivos fiscais, crédito facilitado e licenciamento.

4) Identificação de parâmetros de sustentabilidade setoriais e globais que permitam

gerar compromissos voluntários com as associações empresariais e outras organizações da

sociedade interessadas, cujo instrumento de verificação de desempenho em relação a esses

compromissos seja os Relatos Corporativos de Sustentabilidade.

Ações Propostas:

554. Elaborar estudo que deverá conter o perfil da indústria nacional, no qual mapear-se-ão

as principais características da indústria nacional, tais como: consumo de matérias primas,

energia, perfil do parque industrial, principais externalidades geradas (impactos ambientais,

sociais e econômicos) distribuição espacial dos principais tipos de indústria e os respectivos

problemas ambientais pelos quais são responsáveis;

555. Promover eventos temáticos com setores específicos para pactuação de parâmetros

de sustentabilidade e compromissos voluntários.

5) Utilização da capacidade de indução das agências reguladoras, considerando a

aplicabilidade e a relevância quanto aos impactos sociais e ambientais dos setores

regulados, para exigir e/ou recomendar a prática do Relato Corporativo de Sustentabilidade

das empresas reguladas. A materialidade e a relevância dos impactos relativos aos temas de

governança, social e ambiental, específica aos setores regulados, devem ser observadas nos

processos adotados pelas agências nos respectivos setores de atuação.

Ações Propostas:

556. Influir na tramitação do Projeto de Lei nº 3.613/2008 que obriga a publicação,

anualmente, do Balanço Social pelas empresas públicas, sociedades de economia mista,

empresas permissionárias e concessionárias de serviços públicos, em todos os níveis da

Administração Pública e empresas privadas que tenham recebido apoio financeiro ou

creditício do poder Público;

557. Instituir Mesa de Diálogo com a agências reguladoras para promoção dos relatos pelas

empresas reguladas, incluindo a identificação do uso das informações fornecidas por elas.

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6) Criação de plataforma digital, de acesso público, com a finalidade de: i)

disponibilizar banco de dados com as informações das organizações e dados oficiais do

Governo, para que sirvam como instrumento de pesquisa, benchmarking e, sobretudo, de

transparência no diálogo entre empresas, Governo e sociedade civil, no que respeita os

compromissos com a sustentabilidade; ii) acolher relatos de boas práticas,

documentos/materiais de divulgação em Português, visando o apoio à difusão dos Relatos

Corporativos de Sustentabilidade; iii) acolher acervo de informações necessárias ao

acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), indicadores e

metas, relacionados com os compromissos da base produtiva do País, com a melhoria do

desempenho socioambiental e da governança das empresas. Essas métricas devem servir

de referência para a criação de mecanismos de estímulo ao setor produtivo e auxiliar no

monitoramento do desempenho das empresas e do País, pelas partes interessadas, tendo

como instrumento os relatos; iv) acolher a divulgação de relatos, viabilizando, após

tratamento estatístico dos principais quesitos que integram os relatos nas áreas de

governança, social e ambiental, o monitoramento estatístico pela sociedade e as partes

interessadas.

Ações Propostas:

558. Criar plataforma integrada com o Plano de Comunicação do PPCS.

559. Promover pesquisas que evidenciem a relação entre a adoção de práticas integração

de processos e do seu relato e benefícios para as empresas e demais steakholders.

560. Ampliar o debate na sociedade em relação aos potenciais benefícios da utilização dos

Relatos Corporativos de Sustentabilidade.

7) Consideração, de forma efetiva, da aplicação do sistema internacional XBRL

(Extensible Business Reporting Language), que é um dicionário estruturado que explica o

conjunto de conceitos utilizados por um país, um grupo de países ou um domínio particular

(bancos, seguradoras, bolsa de valores).

Ações Propostas:

561. Estabelecer link entre este sistema e a plataforma de que trata uma das

recomendações acima.

8) Adoção de medidas de estímulo ao relato das pequenas e microempresas (P&ME) na

cadeia de valor das empresas públicas e privadas, por meio da modalidade Relate ou

Explique, em processos compatíveis com o porte, materialidade e relevância quanto aos

impactos sociais e ambientais, das P&ME.

Ações Propostas:

562. Estabelecer diálogo com a Secretaria de Micro e Pequenas Empresas da Presidência da

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República e com o SEBRAE;

563. Disponibilizar de forma gratuita sistemas de avaliação e mensuração e controles dos

indicadores de sustentabilidade para as pequenas e médias empresas implantarem em sua

gestão, viabilizando assim a introdução dos conceitos e indicadores em sua gestão e

promovendo a geração de diferencial competitivo mercadológico àquelas que assim o

fizerem, promovendo parâmetros de atendimento dos indicadores de sustentabilidade para

as pequenas e médias empresas se compararem por região, porte e setor de atividade.

564. Estabelecer pactos setoriais para que as grandes empresas viabilizem que as pequenas

e médias empresas de suas cadeias de suprimento adotem a gestão integrada de seus

negócios e o relato.

9) Proposição às instâncias pertinentes do Governo federal de modelo de relato anual

para instituições públicas, compatível com a natureza, materialidade, relevância e

capacidade gerencial das suas organizações, bem como sua publicação no website do órgão

respectivo.

Ações Propostas:

565. Incorporar o relato nos Planos de Logística Sustentável dos órgãos públicos federais.

10) Realização de processos de diálogos com setores específicos não contemplados no GT,

de modo a ampliar o processo de escuta, engajamento e construção de uma Estratégia

Nacional para a Promoção de Relatos Corporativos de Sustentabilidade.

Ações Propostas:

566. Instituir no âmbito do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis instância

específica e permanente para acompanhamento da temática.

11) Estabelecimento de mecanismo de governança como instrumento de coordenação e

de diálogo permanente com as partes interessadas, com o objetivo de viabilizar uma

Estratégia Nacional para a Promoção de Relatos Corporativos de Sustentabilidade e para

uma gestão integrada de recursos financeiros e não financeiros.

Ações Propostas:

567. Instituir no âmbito do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis instância

específica e permanente para acompanhamento da temática.

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6. Institucionalidade de PPCS no Brasil

Comitê Gestor de PCS – Componentes, Objetivos e Funcionamento

568. No final de 2014, a equipe do Ministério de Meio Ambiente deu início a um diálogo

sobre o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis - PPCS, convocando seus

parceiros a repensar estratégias inovadoras para a implementação e fortalecimento da

segunda fase do Plano. A finalidade dessa convocação foi realizar um amplo debate,

articulando os membros do Comitê Gestor do PPCS, parceiros dos setores público e privado

e da sociedade civil, a identificar ações que possam levar o Brasil, de forma planejada e

monitorada, a buscar padrões mais sustentáveis de produção e consumo nos próximos

anos. Nesse sentido, no mesmo período, foi publicada a Portaria MMA nº 437, de 8 de

dezembro de 2014, que restituiu o Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentáveis,

instância máxima deliberativa de desenvolvimento e implementação do PPCS.

569. Assim como no primeiro ciclo, a aposta nesse processo de mudança é na

governabilidade e no comprometimento das instituições que contribuem para a construção

e implementação do Plano, adicionadas à motivação dos gestores públicos, dos

empresários e dos cidadãos, para que juntos trabalhem com soluções criativas e

sustentáveis, a partir de uma cooperação baseada na articulação intersetorial coletiva.

570. Com esse propósito, o Ministério do Meio Ambiente, em conjunto com o Comitê

Gestor de Produção e Consumo Sustentável (CGPCS) e seus parceiros, visa a fomentar

soluções duradouras, eficientes e passíveis de multiplicação nacional e internacional,

criando as condições para uma efetiva mudança nos atuais processos de produção e

consumo, em benefício de todos.

Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentáveis

571. Conforme estabelecido na Portaria MMA nº 437/2014, o CGPCS é integrado por:

1. Ministério do Meio Ambiente (MMA), que exerce as funções de Secretaria

Executiva do CGPCS e coordenador do PPCS;

2. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA);

3. Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI);

4. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC);

5. Ministério de Minas e Energia (MME);

6. Ministério das Cidades (MCidades);

7. Ministério da Fazenda (MF);

8. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP);

9. Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA);

10. Ministérios dos Transportes (MT);

11. Banco Central do Brasil (BACEN);

12. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);

13. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO);

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14. Escritório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

no Brasil;

15. Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

(CEBDS);

16. Confederação Nacional da Indústria (CNI);

17. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI);

18. Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE);

19. Central Sindical envolvida em atividade de gestão ambiental, produção

mais limpa e desenvolvimento sustentável;

20. Fundação Getúlio Vargas (FGV);

21. Instituto Akatu;

22. Confederação Nacional do Comércio (CNC);

23. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC);

24. Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE);

25. Associação Brasileira de Ciclo de Vida – (ABCV); w

26. Instituto dos Auditores Independentes do Brasil – (IBRACON).

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7. Instrumentos e mecanismos de implementação

572. Como forma de valorizar e fortalecer iniciativas já em curso e estimular novas ações –

tanto do setor governamental quanto não governamental, o 2º ciclo do PPCS também

prevê uma tipologia diversa de ações que possam ser agrupadas e nomeadas segundo a sua

natureza e as principais partes envolvidas. O Plano conta com os seguintes mecanismos e

ferramentas de gestão:

7.1 Ações Governamentais (AG)

573. Iniciativas conduzidas sob a liderança e a coordenação técnica dos Ministérios do

Governo Federal e de outros entes públicos, como agências e autarquias, empreendidas

com recursos públicos do Orçamento da União ou dos congêneres nos Estados e

Municípios, de empresas ou bancos estatais - e que representem uma contribuição direta

às prioridades do PPCS. Encaixam-se nesta categoria, por exemplo, a edição da Resolução

nº 4.327, de 25 de abril de 2014, do Banco Central do Brasil, que dispõe sobre as diretrizes

que devem ser observadas no estabelecimento e na implementação da Política de

Responsabilidade Socioambiental pelas instituições financeiras e demais instituições

autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.

7.2 Acordos de Cooperação Técnica (ACT)

574. Instrumentos formais utilizados por entes públicos para estabelecer um vínculo

cooperativo ou de parceria entre si ou, ainda, com entidades privadas, que tenham

interesses e condições recíprocas ou equivalentes, de modo a realizar um propósito

comum, voltado ao interesse público. O acordo de cooperação se diferencia de convênios,

contratos de repasse e termos de execução descentralizada pelo simples fato de não prever

a transferência de recursos. A título de exemplo, o Acordo de Cooperação Técnica firmado

entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Confederação Nacional das Indústrias (CNI)

e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MCTI), que acordaram unir esforços para

implementar a agenda proposta pelo PPCS, com a criação do Fórum Permanente de Diálogo

entre os setores público e privado para promover o debate sobre o tema de Produção e

Consumo Sustentáveis.

7.3 Iniciativas Voluntárias (IV)

575. Iniciativas empreendidas sem aporte de recursos governamentais, pelo setor privado

ou por organizações da sociedade, em execução ou previstas para implementação do PPCS,

planejadas como contribuição direta para atender às prioridades do Plano. Podem ser

ações de empresas, desenvolvidas individualmente, em grupo ou setor, neste caso

representado por alguma associação empresarial ou entidade da sociedade. Para integrar o

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Plano oficialmente, a iniciativa deve observar critérios de transparência, que incluem

relatórios anuais e metas monitoradas por agente externo à empresa ou organização.

Encaixam-se nesta categoria ações como a campanha do “Programa Movimento Limpeza

Consciente”, da Associação Brasileira de Produtos de Limpeza e Afins (Abipla), com o

objetivo de chamar a atenção do consumidor para a grave crise hídrica que vivem diversas

regiões do País, promovendo a conscientização da população quanto à conservação e ao

uso eficiente da água, disseminando práticas que diminuam o seu desperdício renovando a

mensagem em prol do consumo sustentável dos produtos de limpeza.

7.4 Ações de Parceria (AP)

576. Iniciativas conjuntas entre o setor público e o setor privado e/ou sociedade organizada,

com recursos mistos (aportes públicos e privados), sob coordenação e/ou monitoramento

conjuntos. Embora guardem certa autonomia de execução ou desempenho em relação ao

Governo, para fazer parte do PPCS oficialmente, estas ações devem contar com

mecanismos de monitoramento público – como relatórios anuais e outros cabíveis –, de

acordo com a característica da iniciativa.

577. Ações de parceria entre o MMA e instituições ou setores empresariais já se encontram

em curso, como por exemplo o Estudo sobre Estado da Arte da Construção Sustentável,

numa parceria entre o MMA e o Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS); e

iniciativas voltadas para ampliar a destinação adequada e o reaproveitamento de resíduos

da construção civil, particularmente no contexto da publicação e implementação da Política

Nacional de Resíduos Sólidos.

7.5 Pactos Setoriais (PS)

578. Pactos efetuados entre o Ministério do Meio Ambiente e associações representativas

de diferentes cadeias do setor produtivo, estabelecendo compromissos voluntários ou

vinculantes. Os pactos visam a promover a produção, o uso e o consumo sustentáveis, e o

descarte correto de produtos ou serviços específicos, claramente significativos na redução,

mitigação ou prevenção de impacto socioambiental já detectado. São compromissos

construídos de maneira participativa e transparente, estabelecendo medidas práticas e

metas, bem como seus instrumentos de monitoramento.

579. Nesses pactos ou acordos, o governo é necessariamente parte integrante e

constitutiva, participando ativamente do monitoramento. Como exemplo, o pacto realizado

entre o MMA e a Associação Brasileira de Indústrias de Limpeza e Afins (ABIPLA) que, por

meio de campanhas vem promovendo a redução do consumo de água e energia, da

emissão de gases de efeito estufa, do uso de químicos e de embalagens, e da maior

ergonomia na cadeia e para o consumidor.

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7.6 Projeto de Cooperação entre MMA e PNUMA

580. O MMA e o PNUMA firmaram, em 2010, um acordo de cooperação técnica, que se

estenderá até 2017, para a implementação do projeto Produção e Consumo Sustentáveis, a

fim de “promover no Brasil um forte e contínuo processo de disseminação de ações

alinhadas com o conceito de Produção e Consumo Sustentáveis, estabelecido pelo Processo

de Marrakesh, integrado aos esforços nacionais para abordar mudanças climáticas, redução

da pobreza, desenvolvimento econômico e conservação da biodiversidade e recursos

naturais”.

581. O projeto contou com um aporte do MMA no montante de R$ 7.000.000,00 (sete

milhões de reais), para custear atividades de: elaboração de estudos técnicos e manuais

metodológicos; realização de cursos de capacitação; apoio técnico para a criação de novas

parcerias entre governos, setor privado e agências de financiamento, e expansão das redes,

iniciativas e parcerias existentes em PCS; apoio a atividades de intercâmbio e cooperação

técnica; desenvolvimento de ferramentas de informação, tais como plataformas, redes e

clearinghouses; elaboração de materiais didáticos para o público consumidor; realização de

campanhas e estudos de análise de ciclo de vida; e desenvolvimento de instrumentos de

Comunicação.

7.7 Termos de Adesão e Rede A3P

582. O Termo de Adesão é o instrumento de compromisso para implantação do Programa

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P nas instituições públicas, celebrado

entre os interessados e o MMA, cuja finalidade é integrar esforços para desenvolver

projetos destinados à implementação da A3P. A assinatura do termo demonstra o

comprometimento da instituição com a agenda socioambiental e a gestão transparente.

583. A A3P tem sido implementada em vários órgãos e entidades públicos por meio da

participação na Rede A3P. A Rede é um canal de comunicação permanente para promover o

intercâmbio técnico, difundir informações sobre temas relevantes à agenda, sistematizar

dados e informações sobre o desempenho ambiental das instituições e incentivar

programas de formação e mudanças organizacionais, permitindo a troca de experiências.

7.8 Certificação e Premiação

584. O Selo de Sustentabilidade na Administração Pública – composto por três categorias

independentes: o Selo Verde, o Selo Prata e o Selo Laranja – tem por objetivo conferir o

reconhecimento e a divulgação de práticas de gestão baseadas em conceitos de

sustentabilidade, implantadas pelas Administração Pública no contexto do Programa

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P.

585. O Prêmio A3P procura dar visibilidade e estimular a implantação de iniciativas

inovadoras em instituições públicas, contemplando as melhores ações em quatro

categorias: Gestão de Resíduos, Uso Sustentável dos Recursos Naturais, Inovação na Gestão

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Pública e Destaque da Rede A3P.

7.9 Fóruns de Discussão e Implementação

586. Fórum Anual do PPCS: o terceiro mecanismo de implementação do PPCS é o fomento

à troca de experiências e à visibilidade de experiências exitosas em Produção e Consumo

Sustentáveis, bem como a discussão sobre os gargalos ao longo da implementação do

Plano. O Fórum busca debater os avanços do Plano e estratégias para sua maior

efetividade. Para o planejamento do Fórum Anual, o Comitê Gestor deve designar uma

comissão específica.

587. Mesas de Diálogos: anterior à divulgação das diretrizes para o 2º ciclo do PPCS para

consulta pública, os documentos de base foram objeto de discussões em mesas de

diálogos, com a participação de instituições relevantes dos setores públicos e privados, e de

representantes da sociedade civil. O objetivo foi aprofundar os entendimentos sobre as

prioridades do Plano e suas estratégias no 2º ciclo de implementação. Durante o 2º ciclo,

deverão ser estabelecidas outras instâncias setoriais de diálogos, como grupos de trabalho

ad hoc, reuniões bilaterais e webinars, para avançar na identificação de iniciativas e

aperfeiçoar as estratégias e ações de implementação dos eixos temáticos do plano.

588. Consulta Pública: as diretrizes para o 2º ciclo do Plano de Ação para Produção e

Consumo Sustentáveis, construídas a partir dos debates e parcerias no contexto das mesas

de diálogo, e aprovadas preliminarmente pelo Comitê Gestor, serão disponibilizadas em

consulta pública, de modo a permitir a toda a sociedade contribuir com seu

aperfeiçoamento e a fortalecer o sentido de pertencimento e apropriação necessários para

a mudança de paradigma que o Plano tem como premissa e missão, de mudança para

padrões sustentáveis de produção e consumo no País.

589. Portal e redes - comunicação e informação eletrônica: o PPCS privilegiará a utilização

dos meios eletrônicos para comunicação entre parceiros e a divulgação de informações

sobre o progresso de sua implementação. As ferramentas incluem um portal específico,

redes sociais e redes temáticas. O Portal do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis

deverá ser uma ferramenta viva e dinâmica, a ser atualizada permanentemente pela equipe

técnica do DPCS/MMA.

590. Para melhor compartilhamento das ações e integração das parcerias, o Plano pretende

lançar a Rede PCS, que integrará o Portal PPCS, reunirá parceiros e trará novos atores e

projetos, a fim de discutir mudanças, desafios e oportunidades para uma economia mais

inclusiva, além de analisar e estimular as transformações de comportamento do

consumidor apontadas nas estratégias do Plano. A rede também contribuirá para a

disseminação e discussões sobre questões relativas ao alcance dos Objetivos do

Desenvolvimento Sustentável (ODS), particularmente o ODS 12 - Assegurar padrões de

produção e de consumo sustentáveis.

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591. Na esfera internacional, em 2013, o PNUMA conta com o SCP Clearinghouse, ambiente

virtual cujo objetivo é disseminar informações sobre consumo e produção sustentáveis.

Essa plataforma de alcance internacional permite o compartilhamento de informações

sobre produção e consumo sustentáveis ao redor do mundo, a construção de redes e a

identificação de parcerias, além de fornecer informações sobre o Quadro Decenal de

Programa sobre Produção e Consumo Sustentáveis (10YFP) - http://www.unep.org/10yfp/.

7.10 Outros: estudos e pesquisas; campanhas

592. As campanhas são, junto aos processos informativos e de comunicação, uma das principais ferramentas de sucesso do PPCS. Ao longo desses últimos anos foram realizadas diversas campanhas direcionadas ao consumo sustentável, buscando a sensibilização do consumidor em geral. Nesse sentido, no âmbito das atividades/estratégias do 2º Ciclo, o Ministério do Meio Ambiente buscará continuar a promover e/ou desenvolver das campanhas, além de apoiar institucionalmente as campanhas desenvolvidas pelos parceiros.

593. A realização das campanhas em todos os ciclos do plano considera a influência que podem ter nas pessoas, nas instituições e na sociedade como um todo, por meio do engajamento do público para a sustentabilidade, fazendo com que o cidadão se sinta parte de um movimento que trará mudanças estruturantes na sociedade, mudando sua maneira de compreender a vida, o mundo e, sobretudo, suas próprias motivações, critérios de escolha e de comportamento.

594. Nesse sentido, pretende-se, no 2º ciclo do PPCS, continuar realizando e apoiando campanhas nacionais anuais tratando principalmente de aspectos do consumo sustentável, com vistas à sensibilização do consumidor em geral; buscar parcerias para implementar e apoiar campanhas dos parceiros que tratem de aspetos do consumo e estímulo ao setor produtivo para comunicar melhor suas ações; e elaborar materiais didáticos e campanhas dirigidas aos impactos da geração de resíduos sólidos, buscando sensibilizar para a importância da reciclagem.

595. No contexto da construção e da implementação do 1º ciclo do PPCS, foram realizados inúmeros estudos, levantamentos e pesquisas para subsidiar e qualificar informações e assim fortalecer o alcance dos objetivos do Plano de Produção e Consumo Sustentáveis. Esses estudos e pesquisas têm permitido a transferência, a absorção e o desenvolvimento de conteúdo específicos, garantindo a geração de conhecimento e a realização de atividades fundamentais para a concretização dos objetivos do Plano.

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596. Entre os estudos realizados ou em execução, podem ser citados (i) o estudo comparado concernente às compras públicas sustentáveis (CEPAL); (ii) a elaboração de diagnóstico e recomendações sobre construções sustentáveis, visando melhorar o desempenho do setor no ambiente construído e urbano (PNUMA); e a elaboração de critérios de sustentabilidade (Fundação Universidade de Brasília) para subsidiar as compras públicas sustentáveis, especificamente para os produtos mobiliário, de informática e bens de limpeza e afins.

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162

8. Monitoramento e Avaliação

597. O processo de planejamento, gestão, monitoramento, avaliação e controle das

políticas públicas no Brasil passa, nos últimos 20 a 30 anos, pelo debate sobre a

incorporação dos requisitos democráticos da transparência dos atos governamentais e do

modo pelo qual procedimentos e processos burocráticos do Estado podem ser mobilizados

a fim de garantir direitos e aumentar a eficiência e eficácia das ações públicas. Desse

movimento decorre a percepção da avaliação e monitoramento como atividades que

integram o próprio ciclo das políticas públicas e com capacidade efetiva de subsidiar as

mudanças da realidade social à qual a ação se volta e a própria ação39.

598. Nesse sentido, sistemas de monitoramento e avaliação constituem uma das etapas

mais sensíveis na gestão de programas e políticas públicas, sobretudo ambientais. O

acompanhamento cotidiano e a realização de estudos específicos de avaliação, como

insumo ao planejamento público, são procedimentos com pouca tradição em nosso País e,

portanto, ainda não são institucionalizados de forma adequada por órgãos públicos, para

além daqueles criados para essa função específica40.

599. No Brasil, a experiência mais consolidada de criação de um painel de indicadores

focados no desenvolvimento sustentável, incluindo um número significativo de indicadores

ambientais, é a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com a publicação

regular dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), desde 2002. A última versão

dos IDS foi publicada em 2015, contendo 63 indicadores, produzidos com dados adquiridos

nas pesquisas do IBGE e de diversas instituições, e procura mensurar, em seus aspectos

essenciais, a qualidade ambiental e de vida da população, o desempenho macroeconômico

do País, os padrões de produção e consumo, e a governança para o desenvolvimento

sustentável.

600. Outra experiência de relevo é o Painel Nacional de Indicadores Ambientais (PNIA)

2012, atualizado em maio de 2014, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente41, que

busca atender à estratégia de consolidação e fortalecimento do Sistema Nacional de

Informação sobre o Meio Ambiente (SINIMA), um dos instrumentos básicos da Política

Nacional de Meio Ambiente, instituída pela Lei n° 6.938, de 1981.

39 39 BELUZZO, Lilia; LIMA, Renato Sérgio. Planejamento, diagnósticos setoriais, indicadores socioeconômicos e culturais na gestão, monitoramento, avaliação e controle das políticas públicas. Fundação João Mangabeira: Escola de Formação Política Miguel Arraes. 40 Vaitsman, J.; W. S. Rodrigues, R; Paes-Sousa, R.; O Sistema de Avaliação e Monitoramento das Políticas e Programas Sociais: a experiência do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Brasil. Brasília: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 2006. 41 O primeiro esforço empreendido pelo MMA na construção de indicadores ocorreu quando foi assumido o compromisso junto ao Fórum de Ministros da América Latina e do Caribe para compilação de um conjunto de indicadores que pudessem ser padronizados com os demais países da região. O resultado foi o Relatório de Acompanhamento da Iniciativa Latino Americana e Caribenha, a ILAC Brasil - 2007. Esse trabalho foi realizado em parceria entre os departamentos do MMA e participação da ANA, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), e apoio direto do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA.

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601. O PPCS ainda não conta com um conjunto de indicadores por meio dos quais seja

possível realizar o monitoramento e a avaliação do impacto gerado pela implementação

dessa agenda. Um sistema regular de informações para o Plano contribuirá para o alcance

de maior eficiência na alocação de recursos e de eficácia e qualidade das ações realizadas,

produzindo dados gerenciais indispensáveis à tomada de decisões. Esse sistema permitirá

identificar a necessidade de ajustes e mudanças de rumo, bem como a transparência das

ações realizadas e seus resultados para executores, parceiros e principalmente para a

sociedade.

602. A definição de Linhas de Base (baselines) têm fundamental importância nesse

contexto, para a medição e o controle dos indicadores das ações e seu desempenho, sendo

também são fontes ricas de lições aprendidas para orientar e melhorar a precisão de

iniciativas futuras. Por meio delas será possível identificar se as metas e cronogramas estão

acima ou abaixo da previsão inicial, e qual o nível de aderência ao escopo original das linhas

de ação e cenários desejados.

603. O documento “Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento

Sustentável”, aprovado pelas Nações Unidas em setembro de 2015, ressalta a importância

de estabelecer mecanismos para seu acompanhamento e revisão, nos níveis nacional, sub-

regional, regional e global, facilitando o compartilhamento de experiências, incluindo

sucessos, desafios e lições aprendidas, e promovendo a coerência de todo o sistema e a

coordenação das políticas de desenvolvimento sustentável. Salienta a importância de os

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas, constantes da Agenda 2030,

serem acompanhados de modo inclusivo, com vistas a promover sua integração com os

instrumentos de planejamento existentes, tais como as estratégias de desenvolvimento

nacional e de desenvolvimento sustentável.

604. Da mesma forma como aconteceu com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,

busca-se, a partir dos ODS, determinar linhas gerais orientadoras de uma série de políticas

públicas de execução nacional42, que refletirão o compromisso amplo de conciliar o

desenvolvimento de uma economia de baixo impacto ambiental com a inclusão social, além

de estabelecer as fontes de recursos destinadas à cooperação internacional para o

desenvolvimento nos próximos anos.

605. A agenda de produção e consumo sustentável (PCS) permeia de modo direto e

indireto, praticamente todo o conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e

não apenas no Objetivo 12, que é “assegurar padrões de consumo e produção

sustentáveis”, que contempla metas explícitas nessa direção. Dessa forma, acredita-se que a

agenda em PCS ganhará espaço e robustez no cenário nacional e internacional e, portanto,

faz-se necessário o desenvolvimento de indicadores, e seu acompanhamento sistemático,

42 Angelim, D; Oliveira, T.; Qual nova agenda para o desenvolvimento? Desafios e prioridades dos ODS-ONU. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos Sociais e Políticos Universidade do Estado do Rio de Janeiro IESP/UERJ, 2015.

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para que monitoramento e a avaliação das ações e atividades desenvolvidas à luz do 2° ciclo

do PPCS possam alçar o País à altura dos compromissos assumidos.

606. Assim sendo, espera-se que o conjunto de instrumentos aprovados no contexto da

Agenda 2030, inclusive seu mecanismo de monitoramento e avaliação regular, possa, além

de estabelecer os critérios de avaliação dos avanços de países desenvolvidos e em

desenvolvimento, oferecer sugestões de melhores práticas e garantir recursos

internacionais suficientes para estimular bons projetos e promover práticas de governança

participativa fundadas no diálogo entre Estados e sociedade civil, em todos os níveis.

607. Diante dessa realidade, fica claro que a elaboração de um plano de monitoramento e

verificação se faz necessário para que os tomadores de decisão, gestores públicos e

privados, passem a ter subsídios fidedignos quanto ao atual estágio da implementação da

agenda nacional de produção e consumo sustentáveis, expresso especialmente neste texto

de referência para a implementação do 2° ciclo do Plano de Ação de Produção e Consumo

Sustentáveis.

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QUADROS, FIGURAS E TABELAS

Página

Quadro 1: Os 17 temas que constituíram a estrutura do 1º Ciclo do PPCS, com destaque as 6 prioridades 33

Quadro 2: Afinidades entre a PNMC e o PPCS 39

Quadro 3: Correlações entre a PNRS e o PPCS 42

Tabela 1: Rendimento médio mensal real das pessoas de 15 anos ou mais de idade, com rendimento,

segundo as classes de percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade, em ordem crescente de

rendimento no ano de 2013. Fonte: PNAD-2013 (IBGE, 2013)

7

Tabela 2: Valor das Compras Sustentáveis. Fonte: Comprasnet/MPOG 63

Tabela 3: Bens adquiridos nas compras governamentais dos Órgãos SISG - 2014. Fonte: Comprasnet/MPOG 64

Figura 1: Composição de Despesas – 2009. Fonte: POF 2008-2009. Extraído de: SAE 8

Figura 2: Quantidade per capita de bens por domicílio – 2009. Fonte: POF 2008-2009. Extraído de: SAE 8

Figura 3: Pegada Acumulada por percentil de renda. Fonte: SAE 9

Figura 4: Evolução da renda média anual da população em idade ativa com renda (renda média anual) e

evolução da redução da intensidade tCO2e e renda média anual. A representação do período de 2004-2013

está baseada em dados observados e a do 2014-2030 foi elaborada a partir de projeções com base nas metas

de emissão (COP21) e de aumento da renda (ODS). As fontes de dados foram IBGE (2015) e Observatório do

Clima (2015). Fonte: elaboração própria.

10

Figura 5: Pegada de Materiais percapita (PM/cap) em quatro categorias e Consumo Doméstico de Materiais

per capita (DMC/cap) do Brasil no período de 1990–2008. A unidade de medida é t/cap. Fonte: Adaptado de

Wiedmann e colaboradores (2015).

13

Figura 6: Mudanças relativas no total de uso de recursos (PM e CDM) e PIB no período de 1990 e 2008 no

Brasil. Fonte: Adaptado de Wiedmann e colaboradores (2015). 14

Figura 7: Mecanismos do Processo de Marrakesh 17

Figura 8: Estrutura do 10FYP 21

Figura 9: Fases da ACV. Fonte: ABNT, 2009 48

Figura 10: Variação das Compras da Administração Pública. Fonte: IBGE/FGV 2014 60

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61

Figura 12. Participação das Compras Sustentáveis no total das compras governamentais. Fonte:

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Figura 13: Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Fonte: Banco Central do Brasil em

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