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Page 1: Mini-curso Deleuze e Educação: conexões Sílvio Gallo Faculdade de Educação UNICAMP

Mini-curso Mini-curso

Deleuze e Educação: Deleuze e Educação: conexões conexões

Sílvio GalloSílvio GalloFaculdade de EducaçãoFaculdade de Educação

UNICAMPUNICAMP

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Deleuze: Filósofo Deleuze: Filósofo da Multiplicidadeda Multiplicidade

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Deleuze: Deleuze: filósofo da multiplicidadefilósofo da multiplicidade

Gilles DeleuzeGilles Deleuze (1925-1995) (1925-1995)

Filósofo francês Filósofo francês contemporâneo, investiu contemporâneo, investiu numa filosofia das numa filosofia das multiplicidades, na criação de multiplicidades, na criação de uma filosofia atenta ao uma filosofia atenta ao mundo e ao tempo presente. mundo e ao tempo presente. Uma filosofia do Uma filosofia do acontecimento. acontecimento.

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Deleuze: Deleuze: principaisprincipais obrasobras Empirismo e SubjetividadeEmpirismo e Subjetividade (1953); (1953); Nietzsche e a FilosofiaNietzsche e a Filosofia (1962); (1962); A Filosofia Crítica de KantA Filosofia Crítica de Kant (1963); (1963); Proust e os SignosProust e os Signos (1964); (1964); O BergsonismoO Bergsonismo (1966); (1966); Apresentação de Sacher-MasochApresentação de Sacher-Masoch (1967); (1967); Diferença e RepetiçãoDiferença e Repetição (1968); (1968); Spinoza e o Problema da ExpressãoSpinoza e o Problema da Expressão (1968); (1968); Lógica do SentidoLógica do Sentido (1969); (1969); Francis Bacon, lógica da sensaçãoFrancis Bacon, lógica da sensação (1981); (1981); Cinema 1: A Imagem-movimentoCinema 1: A Imagem-movimento (1983); (1983); Cinema 2: A Imagem-tempoCinema 2: A Imagem-tempo (1985); (1985); Foucault Foucault (1986);(1986); A Dobra – Leibniz e o BarrocoA Dobra – Leibniz e o Barroco (1988) (1988) Crítica e ClínicaCrítica e Clínica (1993) (1993)

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Deleuze e Guattari: intercessoresDeleuze e Guattari: intercessores

Gilles Deleuze (1925-1995)Gilles Deleuze (1925-1995)

ee

Félix Guattari (1930-1993)Félix Guattari (1930-1993)

Conheceram-se em 1969 e inventaram Conheceram-se em 1969 e inventaram um novo estilo em Filosofia. um novo estilo em Filosofia.

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Deleuze e Guattari: intercessoresDeleuze e Guattari: intercessores

““O essencial são os intercessores. A criação são os O essencial são os intercessores. A criação são os intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas intercessores. Sem eles não há obra. Podem ser pessoas – para um filósofo, artistas ou cientistas; para um cientista, – para um filósofo, artistas ou cientistas; para um cientista, filósofos ou artistas – mas também coisas, plantas, até filósofos ou artistas – mas também coisas, plantas, até animais, como em Castañeda. Fictícios ou reais, animados animais, como em Castañeda. Fictícios ou reais, animados ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios intercessores. É uma série. Se não formamos uma série, intercessores. É uma série. Se não formamos uma série, mesmo que completamente imaginária, estamos perdidos. mesmo que completamente imaginária, estamos perdidos. Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo quando isso não se vê. E mais ainda vários, mesmo quando isso não se vê. E mais ainda quando é visível: Félix Guattari e eu somos intercessores quando é visível: Félix Guattari e eu somos intercessores um do outro.”um do outro.”

Deleuze, Deleuze, ConversaçõesConversações

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Deleuze e Guattari: obrasDeleuze e Guattari: obras

Juntos, Deleuze e Guattari escreveram:Juntos, Deleuze e Guattari escreveram:

O Anti-Édipo – capitalismo e O Anti-Édipo – capitalismo e esquizofreniaesquizofrenia (1972) (1972)

Kafka – por uma literatura menorKafka – por uma literatura menor (1975)(1975)

Mil Platôs – capitalismo e Mil Platôs – capitalismo e esquizofreniaesquizofrenia (1980) (1980)

O que é a Filosofia?O que é a Filosofia? (1991) (1991)

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Deleuze ProfessorDeleuze Professor

““As vidas dos professores raramente são interessantes. Claro, As vidas dos professores raramente são interessantes. Claro, há as viagens, mas os professores pagam suas viagens com há as viagens, mas os professores pagam suas viagens com palavras, experiências, colóquios, mesas-redondas, falar, palavras, experiências, colóquios, mesas-redondas, falar, sempre falar. Os intelectuais têm uma cultura formidável, eles sempre falar. Os intelectuais têm uma cultura formidável, eles têm opinião sobre tudo. Eu não sou um intelectual, porque não têm opinião sobre tudo. Eu não sou um intelectual, porque não tenho cultura disponível, nenhuma reserva. O que sei, eu o sei tenho cultura disponível, nenhuma reserva. O que sei, eu o sei apenas para as necessidades de um trabalho atual, e se volto apenas para as necessidades de um trabalho atual, e se volto ao tema vários anos depois preciso reaprender tudo. É muito ao tema vários anos depois preciso reaprender tudo. É muito agradável não ter opinião nem idéia sobre tal ou qual assunto. agradável não ter opinião nem idéia sobre tal ou qual assunto. Não sofremos de falta de comunicação, mas ao contrário, Não sofremos de falta de comunicação, mas ao contrário, sofremos com todas as forças que nos obrigam a nos exprimir sofremos com todas as forças que nos obrigam a nos exprimir quando não temos grande coisa a dizer. Viajar é ir dizer alguma quando não temos grande coisa a dizer. Viajar é ir dizer alguma coisa em outro lugar, e voltar para dizer alguma coisa aqui. A coisa em outro lugar, e voltar para dizer alguma coisa aqui. A menos que não se volte, que se permaneça por lá. Por isso sou menos que não se volte, que se permaneça por lá. Por isso sou pouco inclinado às viagens; é preciso não se mexer demais para pouco inclinado às viagens; é preciso não se mexer demais para não espantar os devires.” não espantar os devires.” (1988, em entrevista a F. Ewald e R. Bellour)(1988, em entrevista a F. Ewald e R. Bellour)

Gilles Deleuze, Gilles Deleuze, ConversaçõesConversações. .

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Deleuze ProfessorDeleuze Professor

““As aulas foram uma parte da minha vida, eu as dei com As aulas foram uma parte da minha vida, eu as dei com paixão. Não são de modo algum como as conferências, paixão. Não são de modo algum como as conferências, porque implicam uma longa duração, e um público porque implicam uma longa duração, e um público relativamente constante, às vezes durante vários anos. É relativamente constante, às vezes durante vários anos. É como um laboratório de pesquisas: dá-se um curso sobre como um laboratório de pesquisas: dá-se um curso sobre aquilo que se busca e não sobre o que se sabe. É preciso aquilo que se busca e não sobre o que se sabe. É preciso muito tempo de preparação para obter alguns minutos de muito tempo de preparação para obter alguns minutos de inspiração. Fiquei satisfeito em parar quando vi que inspiração. Fiquei satisfeito em parar quando vi que precisava preparar mais e mais para ter uma inspiração precisava preparar mais e mais para ter uma inspiração mais dolorosa /.../ Um curso é uma espécie de mais dolorosa /.../ Um curso é uma espécie de SprechgesangSprechgesang [canto falado], mais próximo da música que [canto falado], mais próximo da música que do teatro. Nada se opõe em princípio a que um curso seja do teatro. Nada se opõe em princípio a que um curso seja um pouco até como um concerto de rock.”um pouco até como um concerto de rock.”

Gilles Deleuze, Gilles Deleuze, ConversaçõesConversações. .

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Por uma Filosofia Por uma Filosofia da Diferençada Diferença

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Roberto Machado afirmou que Roberto Machado afirmou que “não há “não há dúvida de que a grande ambição de dúvida de que a grande ambição de Deleuze é realizar, inspirado sobretudo em Deleuze é realizar, inspirado sobretudo em Bergson, uma filosofia da multiplicidade”Bergson, uma filosofia da multiplicidade”. .

E o próprio Deleuze iniciou um de seus E o próprio Deleuze iniciou um de seus últimos escritos, últimos escritos, O Atual e o VirtualO Atual e o Virtual, , afirmando que afirmando que “a filosofia é a teoria das “a filosofia é a teoria das multiplicidades”multiplicidades”..

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

A filosofia de Deleuze pode ser vista como um A filosofia de Deleuze pode ser vista como um desviodesvio::

““Se tivermos que ler a obra de Deleuze como um Se tivermos que ler a obra de Deleuze como um ataque ou uma traição aos elementos da tradição ataque ou uma traição aos elementos da tradição metafísica ocidental, temos que compreender tal metafísica ocidental, temos que compreender tal postura como uma afirmação de outros elementos postura como uma afirmação de outros elementos dessa mesma tradição. Em outras palavras, não dessa mesma tradição. Em outras palavras, não podemos ler a obra de Deleuze como se estivesse podemos ler a obra de Deleuze como se estivesse ‘fora’ ou ‘além’ da tradição filosófica, ou mesmo ‘fora’ ou ‘além’ da tradição filosófica, ou mesmo como uma efetiva via de escape daquele bloco; ao como uma efetiva via de escape daquele bloco; ao invés disso, devemos encará-la como a afirmação invés disso, devemos encará-la como a afirmação de uma (descontínua, mas coerente) linha de de uma (descontínua, mas coerente) linha de pensamento que permaneceu suprimida e latente, pensamento que permaneceu suprimida e latente, mas, não obstante, profundamente embebida na mas, não obstante, profundamente embebida na mesma tradição.” mesma tradição.”

Michael Hardt. Michael Hardt. Gilles Deleuze, um aprendizado em filosofiaGilles Deleuze, um aprendizado em filosofia..

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

A A Filosofia da MultiplicidadeFilosofia da Multiplicidade está articulada está articulada com uma “com uma “filosofia da diferençafilosofia da diferença”, que ”, que Deleuze exercitou em obras como Deleuze exercitou em obras como Diferença Diferença e Repetiçãoe Repetição e e Lógica do SentidoLógica do Sentido, já no final , já no final da década de 1960.da década de 1960.

Ela foi marcada por uma tomada de posição Ela foi marcada por uma tomada de posição contra a filosofia hegemônica no Ocidente, o contra a filosofia hegemônica no Ocidente, o platonismo, fundada na noção de platonismo, fundada na noção de representaçãorepresentação. .

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Inspirado em Nietzsche, Deleuze quer Inspirado em Nietzsche, Deleuze quer inverter o platonismo. Em lugar de buscar inverter o platonismo. Em lugar de buscar as formas puras expressas numa única as formas puras expressas numa única Idéia, atentar para as miríades de detalhes Idéia, atentar para as miríades de detalhes da sensibilidade; em lugar de buscar a da sensibilidade; em lugar de buscar a contemplação do Sol, divertir-se com as contemplação do Sol, divertir-se com as múltiplas possibilidades do teatro de múltiplas possibilidades do teatro de sombras no interior da caverna.sombras no interior da caverna.

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Em Em Diferença e RepetiçãoDiferença e Repetição, a tese central é que a , a tese central é que a diferença não foi tomada em si mesma pela diferença não foi tomada em si mesma pela tradição filosófica, mas foi assumida sempre como tradição filosófica, mas foi assumida sempre como representação, como conceito. representação, como conceito.

A tarefa a que se propõe Deleuze é a de buscar A tarefa a que se propõe Deleuze é a de buscar elementos na história da filosofia, em filósofos elementos na história da filosofia, em filósofos como Hume, Spinoza, Nietzsche e Bergson, para como Hume, Spinoza, Nietzsche e Bergson, para pensar a diferença por si mesma. pensar a diferença por si mesma.

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

““Talvez o engano da Filosofia da diferença, de Talvez o engano da Filosofia da diferença, de Aristóteles a Hegel passando por Leibniz, tenha Aristóteles a Hegel passando por Leibniz, tenha sido o de confundir o conceito da diferença com sido o de confundir o conceito da diferença com uma diferença simplesmente conceitual, uma diferença simplesmente conceitual, contentando-se com inscrever a diferença no contentando-se com inscrever a diferença no conceito em geral. Na realidade, enquanto se conceito em geral. Na realidade, enquanto se inscreve a diferença no conceito em geral, não se inscreve a diferença no conceito em geral, não se tem nenhuma Idéia singular da diferença, tem nenhuma Idéia singular da diferença, permanecendo-se apenas no elemento de uma permanecendo-se apenas no elemento de uma diferença já mediatizada pela representação.” diferença já mediatizada pela representação.”

Deleuze, Deleuze, Diferença e RepetiçãoDiferença e Repetição

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Para experimentar a diferença é preciso mudar os “óculos Para experimentar a diferença é preciso mudar os “óculos filosóficos”. Deleuze propôs uma filosofia baseada na filosóficos”. Deleuze propôs uma filosofia baseada na diferença e não na identidade, que escapa ao âmbito da diferença e não na identidade, que escapa ao âmbito da representação. Segundo ele, a diferença é tratada na representação. Segundo ele, a diferença é tratada na filosofia da representação como uma espécie de “monstro”:filosofia da representação como uma espécie de “monstro”:““E não é certo que seja apenas o sono da Razão a E não é certo que seja apenas o sono da Razão a engendrar monstros. Também a vigília, a insônia do engendrar monstros. Também a vigília, a insônia do pensamento, os engendra, pois o pensamento é este pensamento, os engendra, pois o pensamento é este momento em que a determinação se faz una à força de momento em que a determinação se faz una à força de manter uma relação unilateral e precisa com o manter uma relação unilateral e precisa com o indeterminado. O pensamento “faz” a diferença, mas a indeterminado. O pensamento “faz” a diferença, mas a diferença é o monstro /.../ Arrancar a diferença de seu diferença é o monstro /.../ Arrancar a diferença de seu estado de maldição parece ser, pois, a tarefa da filosofia estado de maldição parece ser, pois, a tarefa da filosofia da diferença.” da diferença.”

Deleuze, Deleuze, Diferença e RepetiçãoDiferença e Repetição

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Para Deleuze, o pensamento não é “Para Deleuze, o pensamento não é “naturalnatural”: é um ”: é um empreendimento difícil; ele é raro e só acontece empreendimento difícil; ele é raro e só acontece de maneira forçada.de maneira forçada.

O modelo tradicional do pensamento é o da O modelo tradicional do pensamento é o da recognição: o objeto do pensamento é sempre o recognição: o objeto do pensamento é sempre o mesmo, não se sai do âmbito do platonismo.mesmo, não se sai do âmbito do platonismo.

Isto leva a uma “Isto leva a uma “ortodoxiaortodoxia”, isto é, o não ”, isto é, o não rompimento com a rompimento com a doxadoxa, com a opinião., com a opinião.

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

A recognição implica em que sempre pensamos a A recognição implica em que sempre pensamos a partir de uma “partir de uma “imagem do pensamentoimagem do pensamento”, que ”, que define, de antemão, o que se pode e o que não se define, de antemão, o que se pode e o que não se pode pensar.pode pensar.

Mas, para Deleuze, o pensamento é criação, é a Mas, para Deleuze, o pensamento é criação, é a experiência de “pensar no próprio pensamento”; experiência de “pensar no próprio pensamento”; isto só é possível se deixamos a ortodoxia e isto só é possível se deixamos a ortodoxia e experimentamos um “experimentamos um “pensamento sem imagempensamento sem imagem”. ”. É ele que permite a criação e a diferença.É ele que permite a criação e a diferença.

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Em Em Lógica do SentidoLógica do Sentido Deleuze explorou mais a Deleuze explorou mais a fundo a noção de fundo a noção de AcontecimentoAcontecimento, propondo o , propondo o pensamento como Acontecimento. pensamento como Acontecimento.

Mais tarde, em O que é a Filosofia?, voltaria ao Mais tarde, em O que é a Filosofia?, voltaria ao tema, apresentando o conceito – a experiência de tema, apresentando o conceito – a experiência de pensamento e seu produto – como um pensamento e seu produto – como um Acontecimento. Acontecimento.

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Por uma Filosofia da DiferençaPor uma Filosofia da Diferença

Acontecimento (Puro): não aquilo que chega (o acidente), mas a parte eterna e inefetuável de tudo aquilo que chega, entidade impassível sempre já advinda, mas também ainda a vir, subdividindo-se sem cessar em múltiplos acontecimentos singulares, e os reunindo em único e mesmo Acontecimento; o enfrentamento de tudo aquilo que nos chega, sendo digno disso, constitui a moral.

Sasso; Villani, Le Vocabulaire de G. Deleuze

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““Uma introdução à Uma introdução à vida não fascista”vida não fascista”

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

A obra produzida em conjunto por Deleuze e A obra produzida em conjunto por Deleuze e Guattari:Guattari:

O Anti-ÉdipoO Anti-Édipo (1972) (1972) Kafka, por uma literatura menorKafka, por uma literatura menor (1975)(1975) Mil PlatôsMil Platôs (1980) (1980) O que é a Filosofia?O que é a Filosofia? (1991) (1991)

Pode ser lida como uma Pode ser lida como uma PolíticaPolítica e como uma e como uma ÉticaÉtica. .

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Uma Uma PolíticaPolítica, pois trata-se de uma leitura do , pois trata-se de uma leitura do panorama social e um ensaio de possibilidades de panorama social e um ensaio de possibilidades de intervenção, desde uma perspectiva intervenção, desde uma perspectiva transformadora e revolucionária;transformadora e revolucionária;

E como uma E como uma ÉticaÉtica, na medida em que implica em , na medida em que implica em um trabalho do indivíduo sobre si mesmo, na um trabalho do indivíduo sobre si mesmo, na perspectiva de produzir uma outra forma de vida, perspectiva de produzir uma outra forma de vida, para além dos mecanismos autoritários do poder.para além dos mecanismos autoritários do poder.

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Segundo Foucault, a obra deleuzo-guattariana Segundo Foucault, a obra deleuzo-guattariana opunha-se a três adversários: os ascetas políticos, opunha-se a três adversários: os ascetas políticos, que ele chama de “burocratas da revolução” e que ele chama de “burocratas da revolução” e “funcionários da Verdade”; os técnicos do desejo, “funcionários da Verdade”; os técnicos do desejo, isto é, psicanalistas e semiólogos; e, por fim, o isto é, psicanalistas e semiólogos; e, por fim, o maior dos inimigos: o fascismo, este fascismo que maior dos inimigos: o fascismo, este fascismo que habita todos nós, para além de qualquer fascismo habita todos nós, para além de qualquer fascismo histórico, como o de Hitler ou de Mussolini. histórico, como o de Hitler ou de Mussolini. Foucault faz uma analogia com o título de um livro Foucault faz uma analogia com o título de um livro de São Francisco de Sales, do século XVII, a de São Francisco de Sales, do século XVII, a Introdução à vida devotaIntrodução à vida devota, e afirma que , e afirma que O Anti-O Anti-ÉdipoÉdipo é uma é uma introdução à vida não fascistaintrodução à vida não fascista. .

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

““O sistema político moderno é um todo global, unificado e O sistema político moderno é um todo global, unificado e unificante, mas porque implica um conjunto de unificante, mas porque implica um conjunto de subsistemas justapostos, imbricados, ordenados, de modo subsistemas justapostos, imbricados, ordenados, de modo que a análise das decisões revela toda espécie de que a análise das decisões revela toda espécie de compartimentações e de processos parciais que não se compartimentações e de processos parciais que não se prolongam uns nos outros sem defasagens ou prolongam uns nos outros sem defasagens ou deslocamentos. A tecnocracia procede por divisão do deslocamentos. A tecnocracia procede por divisão do trabalho segmentário (inclusive na divisão internacional do trabalho segmentário (inclusive na divisão internacional do trabalho). A burocracia só existe através de suas trabalho). A burocracia só existe através de suas repartições e só funciona através de seus “deslocamentos repartições e só funciona através de seus “deslocamentos de meta” e os “desfuncionamentos” correspondentes. A de meta” e os “desfuncionamentos” correspondentes. A hierarquia não é somente piramidal: o escritório do chefe hierarquia não é somente piramidal: o escritório do chefe está tanto no fundo do corredor quanto no alto da torre. Em está tanto no fundo do corredor quanto no alto da torre. Em suma, tem-se a impressão de que a vida moderna não suma, tem-se a impressão de que a vida moderna não desistiu da segmentaridade, mas que ao contrário a desistiu da segmentaridade, mas que ao contrário a endureceu singularmente.”endureceu singularmente.”

Deleuze e Guattari, Deleuze e Guattari, Micropolítica e SegmentaridadeMicropolítica e Segmentaridade

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista““Diremos, da mesma forma, que o fascismo implica um regime Diremos, da mesma forma, que o fascismo implica um regime molecular que não se confunde nem com os segmentos moleculares molecular que não se confunde nem com os segmentos moleculares nem com sua centralização. Sem dúvida, o fascismo inventou um nem com sua centralização. Sem dúvida, o fascismo inventou um conceito de Estado totalitário, mas não há porque definir o fascismo conceito de Estado totalitário, mas não há porque definir o fascismo por uma noção que ele próprio inventa: há Estados totalitários sem por uma noção que ele próprio inventa: há Estados totalitários sem fascismo, do tipo estalinista ou do tipo ditadura militar. O conceito de fascismo, do tipo estalinista ou do tipo ditadura militar. O conceito de Estado totalitário só vale para uma escala macropolítica, para uma Estado totalitário só vale para uma escala macropolítica, para uma segmentaridade dura e para um modo especial de totalização e segmentaridade dura e para um modo especial de totalização e centralização. Mas o fascismo é inseparável de focos moleculares, que centralização. Mas o fascismo é inseparável de focos moleculares, que pululam e saltam de um ponto a outro, em interação, antes de pululam e saltam de um ponto a outro, em interação, antes de ressoarem todos juntos no Estado nacional-socialista. Fascismo rural e ressoarem todos juntos no Estado nacional-socialista. Fascismo rural e fascismo de cidade ou de bairro, fascismo jovem e fascismo ex-fascismo de cidade ou de bairro, fascismo jovem e fascismo ex-combatente, fascismo de esquerda e de direita, de casal, de família, combatente, fascismo de esquerda e de direita, de casal, de família, de escola e de repartição: cada fascismo se define por um de escola e de repartição: cada fascismo se define por um microburaco negro, que vale por si mesmo e comunica com os outros, microburaco negro, que vale por si mesmo e comunica com os outros, antes de ressoar num grande buraco negro central generalizado. Há antes de ressoar num grande buraco negro central generalizado. Há fascismo quando uma máquina de guerra encontra-se instalada em fascismo quando uma máquina de guerra encontra-se instalada em cada buraco, em cada nicho.”cada buraco, em cada nicho.”

Deleuze e Guattari, Deleuze e Guattari, Micropolítica e SegmentaridadeMicropolítica e Segmentaridade

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Fenômeno de massa, molecular, o fascismo Fenômeno de massa, molecular, o fascismo estende rizomaticamente seus tentáculos pela teia estende rizomaticamente seus tentáculos pela teia social. São os microfascismos, os fascismos do social. São os microfascismos, os fascismos do cotidiano, aqueles cristalizados nas relações de cotidiano, aqueles cristalizados nas relações de casal, nas relações entre irmãos, entre pais e casal, nas relações entre irmãos, entre pais e filhos, nos locais de trabalho, nas relações filhos, nos locais de trabalho, nas relações pedagógicas, que tornam o fascismo um pedagógicas, que tornam o fascismo um fenômeno socialmente forte. São os fascismos fenômeno socialmente forte. São os fascismos moleculares que puderam, em alguns momentos moleculares que puderam, em alguns momentos históricos, fazer emergir um fascismo molar, um históricos, fazer emergir um fascismo molar, um Estado fascista.Estado fascista.

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

““É uma potência micropolítica ou molecular que É uma potência micropolítica ou molecular que torna o fascismo perigoso, porque é um torna o fascismo perigoso, porque é um movimento de massa: um corpo canceroso mais movimento de massa: um corpo canceroso mais do que um organismo totalitário. O cinema do que um organismo totalitário. O cinema americano mostrou com freqüência esses focos americano mostrou com freqüência esses focos moleculares, fascismo de bando, de gangue, de moleculares, fascismo de bando, de gangue, de seita, de família, de aldeia, de bairro, de carro e seita, de família, de aldeia, de bairro, de carro e que não poupa ninguém. Não há senão o que não poupa ninguém. Não há senão o microfascismo para dar uma resposta à questão microfascismo para dar uma resposta à questão global: por que o desejo deseja sua própria global: por que o desejo deseja sua própria repressão, como pode ele desejar sua repressão, como pode ele desejar sua repressão?”repressão?”

Deleuze e Guattari, Deleuze e Guattari, Micropolítica e SegmentaridadeMicropolítica e Segmentaridade

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Na filosofia política que desenvolveram em Na filosofia política que desenvolveram em Mil Mil PlatôsPlatôs Deleuze e Guattari opõem (não em sentido Deleuze e Guattari opõem (não em sentido formal ou dialético) as figuras do Estado e da formal ou dialético) as figuras do Estado e da máquina de guerra. O Estado é uma invenção dos máquina de guerra. O Estado é uma invenção dos sedentários, dos povos que vivem em cidades. O sedentários, dos povos que vivem em cidades. O Estado age sobretudo pelo estriamento do espaço Estado age sobretudo pelo estriamento do espaço e das relações, isto é, criando normas, regras, e das relações, isto é, criando normas, regras, técnicas, burocracias, modelos, contenção e técnicas, burocracias, modelos, contenção e direcionamento de fluxos. O Estado age pela direcionamento de fluxos. O Estado age pela territorializaçãoterritorialização. .

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Mas o Estado encontra-se permanentemente Mas o Estado encontra-se permanentemente ameaçado por outra invenção política, ameaçado por outra invenção política, completamente alheia a ele: a completamente alheia a ele: a máquina de guerramáquina de guerra, , que por sua vez é uma invenção dos nômades. A que por sua vez é uma invenção dos nômades. A máquina de guerra procede por máquina de guerra procede por desterritorizalizações, pelo alisamento do espaço, desterritorizalizações, pelo alisamento do espaço, isto é, pela liberação dos fluxos, pelo desvio, pelo isto é, pela liberação dos fluxos, pelo desvio, pelo escapar às normas e burocracias. escapar às normas e burocracias. A máquina de A máquina de guerra consiste em uma outra maneira de viver o guerra consiste em uma outra maneira de viver o espaço e as relações.espaço e as relações.

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

A A máquina de guerramáquina de guerra pode ser capturada pelo pode ser capturada pelo Estado; a máquina de guerra pode devir em Estado; a máquina de guerra pode devir em Estado, deixando de ser máquina de guerra. Mas Estado, deixando de ser máquina de guerra. Mas ela também pode alojar-se no interior do Estado, ela também pode alojar-se no interior do Estado, escavando trincheiras e vivendo nele e dele, como escavando trincheiras e vivendo nele e dele, como verdadeiro parasita, sem no entanto territorializar-verdadeiro parasita, sem no entanto territorializar-se no Estado. Aí está o fenômeno do fascismo: se no Estado. Aí está o fenômeno do fascismo: alojar-se no interior do Estado, utilizar-se dele, alojar-se no interior do Estado, utilizar-se dele, sem no entanto tornar-se estritamente estatal; sem no entanto tornar-se estritamente estatal; nisso reside seu poder e sua força. nisso reside seu poder e sua força.

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Uma introdução à vida não fascistaUma introdução à vida não fascista

Enquanto Enquanto aparelho de Estadoaparelho de Estado, a instituição , a instituição escolar é também espaço de proliferação escolar é também espaço de proliferação dos fascismos.dos fascismos.

Mas, do próprio interior da escola, podemos Mas, do próprio interior da escola, podemos criar focos de resistência e de criação, criar focos de resistência e de criação, máquinas de guerramáquinas de guerra que invistam na que invistam na invenção de um modo de vida não fascista, invenção de um modo de vida não fascista, que trace linhas de fuga e possibilite a que trace linhas de fuga e possibilite a emergência de “vacúolos de liberdade”. emergência de “vacúolos de liberdade”.