minério,petróleo e os novos inconfidentes

1
TENDÊNCIAS / DEBATES OS artigos publicados com assinara nlo traduzem a opinião do jornal Sua publicao obedece ao propósito de estimular o debate dos oblemas asileiros e mundiais e de rdletir as diversas tendências do pelilmento contemporâneo [email protected] ttt.Foete Minério, petróleo e os novos inconfidentes A Inconfidência Mineira legou aos brasileiros um dos mais vigoro- sos pilares na formação da naciona- lidade. Seus líderes tomaram-se íco- nes da luta pela liberdade e pela in- dependência. Dessa maneira, é mui- to apropriado buscar inspiração em 1789 para o movimento Justiça Ain- da que Tardia, que lançamos recen- temente e cujo nome homenageia a bandeira dos inconfidentes. Nosso combate de hoje busca maior compensação financeira pe- la exploração de recursos minerais. Há, atualmente, uma grande dis- paridade ene os royales do peó- leo e do minério, o que prejudica Es- tados como Minas Gerais e Pará, com avidade mineradora intensa. Enquanto, em 2011, os royales e pardpações referentes ao petróleo alcançaram a soma de R$ 25,8 bilhões,o valor arrecadado com a Contribuição Financeira pela Ex- p loração de Recursos Minerais (ÏEM) foi de apenas R$1,54 bilhão, Quos mudanças na legisla- ção brasileira que define os royal- ties sobre as atividades de minera- ção. Não se jusca a disparidade existente entre a CFEM e os royal- ties do peóleo. Por mais que se re- jeite a comparação, não há como negar tão grande distorção. No caso do minério de rro,prin- cipal produto da pauta das expor- tações brasileiras, nossa proposta é que o percentual da CFEM seja, em média,de40/0 sobre oturam- to bruto das empresas mineradoras. Em2011, verificamos que enquan- to a CFEM desnou aos cofres de Minas Gerais cerca de R$181,4 mi- lhões, o Rio de Janeiro foi destina- tário do significativo montante de R$ 6,9 bilhões relavo aos royales e à parcipação especial (valor 38 vezes maior do que Minas). Essa gritante distorção se repete em relação aos muniópios. Enquan- �\�;:dmilhões, os muniópios fluminenses produtores de peóleo receberam R$ 3,7 bilhões (sete vezes mais). As atividades de exploração de peóleo e de minérios, produtos primários não renováveis, têm, am- bas, alto impacto ambiental. Entre- tanto, são atadas de forma mui- to desigual. Enquanto os royalties do petróleo chegam a até 100 do faturamento bruto, no caso dos mi- nérios são de, no máximo, 30 do faturamento líquido (faturamento bruto menos despesas). ANTONIO ANASTASIA Peleo dá bem mais rales do que io. Em 20+, o RJ leu 6,9 bi; MG, 181 milhs. Mas ério também é fmito, tam é "safra ica" A arrecadação estatal em relação ao minério de ferro teve uma redu- ção expressiva nas úlmas décadas. Em 1988, era de US$ 1,30 por tone· lada explorada. Hoje, equivale a apenas a US$ 0,26 por tonelada de minério de ferro. O aumento do valor dos royalties da mineração é nessário para fi- nanciar projetos de desenvolvimen- to sustentável de longo prazo, pois ata-se de uma riqueza finita -co- mo o ex-presidenteArthur Ber- nardes, o minério só dá uma safra. Esta é uma discussão mundial. Muitos países têm proposto um au- mento de alíquota que poe chegar, em alguns casos, a 150 do fatura- mento bruto. Na Austrália, por exemplo, a alí- quota é de 7,5% sobre o turamen- to bruto no caso do minério de ferro, e está sendo discutida uma partici- pação especial de 30%sobre olucro. Na , a alíquota está em 10%. O debate nacional sobre os royal- ties dos minérios não pode mais ser postergado. O clamor de Tiraden- tes e seus contemporâneos de re- beldia ajudou a formar o nosso Bra- sil. Esse é o exemplo de civismo que nos inspira. ANTONIOANASTASlA,51. profe�sordedireiloda Universidade Federal de r1ina� Gerais, égovernador do Eslado de Iinas Gerals pelo PSDB

Upload: governo-de-minas-gerais

Post on 05-Dec-2014

412 views

Category:

News & Politics


4 download

DESCRIPTION

Artigo do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, na Folha de S.Paulo de 22/07/2012, na seção Tendências/Debates A Inconfidência Mineira legou aos brasileiros um dos mais vigorosos pilares na formação da nacionalidade. Seus líderes tornaram-se ícones da luta pela liberdade e pela independência. Dessa maneira, é muito apropriado buscar inspiração em 1789 para o movimento Justiça Ainda que Tardia, que lançamos recentemente e cujo nome homenageia a bandeira dos inconfidentes. Nosso combate de hoje busca maior compensação financeira pela exploração de recursos minerais. Há, atualmente, uma grande disparidade entre os royalties do petróleo e do minério, o que prejudica Estados como Minas Gerais e Pará, com atividade mineradora intensa. Enquanto, em 2011, os royalties e participações especiais referentes ao petróleo alcançaram a soma de R$ 25,8 bilhões, o valor arrecadado com a Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) foi de apenas R$ 1,54 bilhão. Queremos mudanças na legislação brasileira que define os royalties sobre as atividades de mineração. Não se justifica a disparidade existente entre a CFEM e os royalties do petróleo. Por mais que se rejeite a comparação, não há como negar tão grande distorção. No caso do minério de ferro, principal produto da pauta das exportações brasileiras, nossa proposta é que o percentual da CFEM seja, em média, de 4% sobre o faturamento bruto das empresas mineradoras. Em 2011, verificamos que enquanto a CFEM destinou aos cofres de Minas Gerais cerca de R$ 181,4 milhões, o Rio de Janeiro foi destinatário do significativo montante de R$ 6,9 bilhões relativo aos royalties e à participação especial (valor 38 vezes maior do que Minas). Essa gritante distorção se repete em relação aos municípios. Enquanto todos os municípios mineiros produtores de minério receberam R$ 512 milhões, os municípios fluminenses produtores de petróleo receberam R$ 3,7 bilhões (sete vezes mais). As atividades de exploração de petróleo e de minérios, produtos primários não renováveis, têm, ambas, alto impacto ambiental. Entretanto, são tratadas de forma muito desigual. Enquanto os royalties do petróleo chegam a até 10% do faturamento bruto, no caso dos minérios são de, no máximo, 3% do faturamento líquido (faturamento bruto menos despesas). A arrecadação estatal em relação ao minério de ferro teve uma redução expressiva nas últimas décadas. Em 1988, era de US$ 1,30 por tonelada explorada. Hoje, equivale a apenas a US$ 0,26 por tonelada de minério de ferro. O aumento do valor dos royalties da mineração é necessário para financiar projetos de desenvolvimento sustentável de longo prazo, pois trata-se de uma riqueza finita -como dizia o ex-presidente Arthur Bernardes, o minério só dá uma safra. Esta é uma discussão mundial. Muitos países têm proposto um aumento de alíquota que pode cheg

TRANSCRIPT

Page 1: Minério,petróleo e os novos inconfidentes

TENDÊNCIAS / DEBATES OS artigos publicados com assinatura nlo traduzem a opinião do jornal Sua publicao;:lIo obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de rdletir as diversas tendências do pel\Silmento contemporâneo

[email protected] Iltwltter.oom/Folhadebate

Minério, petróleo e os novos inconfidentes

A Inconfidência Mineira legou aos brasileiros um dos mais vigoro­sos pilares na formação da naciona­lidade. Seus líderes tomaram-se íco­nes da luta pela liberdade e pela in­dependência. Dessa maneira, é mui­to apropriado buscar inspiração em 1789 para o movimento Justiça Ain­da que Tardia, que lançamos recen­temente e cujo nome homenageia a bandeira dos inconfidentes.

Nosso combate de hoje busca maior compensação financeira pe­la exploração de recursos minerais.

Há, atualmente, uma grande dis­paridade entre os royalties do petró­leo e do minério, o que prejudica Es­tados como Minas Gerais e Pará, com atividade mineradora intensa.

Enquanto, em 2011, os royalties e partidpações especiais referentes ao petróleo alcançaram a soma de R$ 25,8 bilhões, o valor arrecadado com a Contribuição Financeira pela Ex­ploração de Recursos Minerais (CFEM) foi de apenas R$1,54 bilhão,

Queremos mudanças na legisla­ção brasileira que define os royal­ties sobre as atividades de minera­ção. Não se justifica a disparidade existente entre a CFEM e os royal­ties do petróleo. Por mais que se re­jeite a comparação, não há como negar tão grande distorção.

No caso do minério de ferro, prin­cipal produto da pauta das expor­tações brasileiras, nossa proposta é que o percentual da CFEM seja, em média,de40/0 sobre ofaturamen­to bruto das empresas mineradoras.

Em2011, verificamos que enquan­to a CFEM destinou aos cofres de Minas Gerais cerca de R$181,4 mi­lhões, o Rio de Janeiro foi destina­tário do significativo montante de R$ 6,9 bilhões relativo aos royalties e à participação especial (valor 38 vezes maior do que Minas).

Essa gritante distorção se repete em relação aos muniópios. Enquan-

��\�;:d�=�t=::J�� milhões, os muniópios fluminenses produtores de petróleo receberam R$ 3,7 bilhões (sete vezes mais).

As atividades de exploração de petróleo e de minérios, produtos primários não renováveis, têm, am­bas, alto impacto ambiental. Entre­tanto, são tratadas de forma mui­to desigual. Enquanto os royalties do petróleo chegam a até 100/0 do faturamento bruto, no caso dos mi­nérios são de, no máximo, 30/0 do faturamento líquido (faturamento bruto menos despesas).

ANTONIO ANASTASIA

Petróleo dá bem mais royalties do que núnério. Em 2011, o RJ levou R$ 6,9 bi; MG, só R$ 181 milhões. Mas núnério também é fmito, também é "safra única"

A arrecadação estatal em relação ao minério de ferro teve uma redu­ção expressiva nas últimas décadas. Em 1988, era de US$ 1,30 por tone· lada explorada. Hoje, equivale a apenas a US$ 0,26 por tonelada de minério de ferro.

O aumento do valor dos royalties da mineração é necessário para fi­nanciar projetos de desenvolvimen­to sustentável de longo prazo, pois trata-se de uma riqueza finita -co­mo dizia o ex-presidenteArthur Ber­nardes, o minério só dá uma safra.

Esta é uma discussão mundial. Muitos países têm proposto um au­mento de alíquota que pocle chegar, em alguns casos, a 150/0 do fatura­mento bruto.

Na Austrália, por exemplo, a alí­quota é de 7,5% sobre o faturamen­to bruto no caso do minério de ferro, e está sendo discutida uma partici­pação especial de 30%sobre olucro. Na lndia, a alíquota está em 10%.

O debate nacional sobre os royal­ties dos minérios não pode mais ser postergado. O clamor de Tiraden­tes e seus contemporâneos de re­beldia ajudou a formar o nosso Bra­sil. Esse é o exemplo de civismo que nos inspira.

ANTONIOANASTASlA,51. profe�sordedireiloda Universidade Federal de r.1ina� Gerais, égovernador do Eslado de lIIinas Gerals pelo PSDB