midias na cena teatral

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7/23/2019 Midias Na Cena Teatral http://slidepdf.com/reader/full/midias-na-cena-teatral 1/18 MÍDIAS NA CENA TEATRAL Neste capítulo pretendo discorrer acerca das transformações específicas traidas pelo uso das mídias na cena e de como o aporte destes meios de comunicaç!o ao teatro "em# desde o inicio do s$culo passado# o%ri&ando os criadores a %uscarem no"os procedimentos in"enti"os e a criarem conte'tos e percepções diferenciadas da cena de cun(o tradicional) Na se*u+ncia trato de esclarecer as noções de mídia e no"as mídias na cena teatral contempor,nea) -)- .resença da Mídia na Cena/ 0ma .r1tica de Mais de 0m S$culo Conforme 21 afirmei neste estudo# em capítulos anteriores# al&uns dos camin(os *ue as artes tomam a partir do s$culo passado s!o resultado de um processo de permea%ilidade constante entre arte# ci+ncia e tecnolo&ia# processo *ue passou a delinear/se de forma mais e'pressi"a a partir do período das "an&uardas (ist3ricas) Tais in2unções passam pelas e'peri+ncias artísticas dos anos cin*uenta e sessenta# se desen"ol"em nos anos oitenta e no"enta# e a partir deste s$culo marcam sua presença de maneira pronunciada nas pr1ticas criati"as da cena teatral contempor,nea)  A transformaç!o est$tica instaurada a partir das ações das "an&uardas artísticas trou'e consi&o um arca%ouço de cisões com o mundo cl1ssico *ue marcaria o s$culo "inte como um s$culo de rupturas e e'perimentalismo radical) 41 no inicio do s$culo e'peri+ncias com arte e tecnolo&ia fieram parte das a&endas dos artistas)  A glorificação do futurismo às máquinas, as relações das artes visuais com aparatos mecânicos no dadaísmo foram os primeiros passos para o que eventualmente emergiu como uma fusão de arte e de tecnologia por meio de computadores, vídeo e sintetizadores.(... o surrealismo mais radical termina por es!oçar o que mais tarde vai ser

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MÍDIAS NA CENA TEATRAL

Neste capítulo pretendo discorrer acerca das transformações específicas

traidas pelo uso das mídias na cena e de como o aporte destes meios de

comunicaç!o ao teatro "em# desde o inicio do s$culo passado# o%ri&ando os

criadores a %uscarem no"os procedimentos in"enti"os e a criarem conte'tos e

percepções diferenciadas da cena de cun(o tradicional) Na se*u+ncia trato de

esclarecer as noções de mídia e no"as mídias na cena teatral contempor,nea)

-)- .resença da Mídia na Cena/ 0ma .r1tica de Mais de 0m S$culo

Conforme 21 afirmei neste estudo# em capítulos anteriores# al&uns dos

camin(os *ue as artes tomam a partir do s$culo passado s!o resultado de um

processo de permea%ilidade constante entre arte# ci+ncia e tecnolo&ia#

processo *ue passou a delinear/se de forma mais e'pressi"a a partir do

período das "an&uardas (ist3ricas) Tais in2unções passam pelas e'peri+ncias

artísticas dos anos cin*uenta e sessenta# se desen"ol"em nos anos oitenta e

no"enta# e a partir deste s$culo marcam sua presença de maneira pronunciada

nas pr1ticas criati"as da cena teatral contempor,nea)

 A transformaç!o est$tica instaurada a partir das ações das "an&uardas

artísticas trou'e consi&o um arca%ouço de cisões com o mundo cl1ssico *ue

marcaria o s$culo "inte como um s$culo de rupturas e e'perimentalismo

radical) 41 no inicio do s$culo e'peri+ncias com arte e tecnolo&ia fieram parte

das a&endas dos artistas)

 A glorificação do futurismo às máquinas, as relações dasartes visuais com aparatos mecânicos no dadaísmo foramos primeiros passos para o que eventualmente emergiucomo uma fusão de arte e de tecnologia por meio decomputadores, vídeo e sintetizadores.(... o surrealismomais radical termina por es!oçar o que mais tarde vai ser

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c"amado performance, "appening # e instalação($%&',)**+#-.

5ra# na "erdade a mediaç!o tecnol3&ica n!o $ uma no"idade no teatro#

o *ual sempre fe lar&o uso de e*uipamentos *ue possi%ilitassem a mel(oriade seus resultados) 6o2e empre&a/se tecnolo&ia disponí"el para a cena# como

faia o teatro da 7r$cia cl1ssica com "i&orosos mecanismos *ue amplia"am

os efeitos da encenaç!o em seu t"eatron)

0m pouco mais a"ançado no tempo# 21 no encamin(amento da ruptura

moderna# em -89: a atri e %ailarina Loie ;uller# criou a /erpentine 0ance#

uma &rande armaç!o reco%erta por um tecido de seda %ranca *ue ao ser

manipulado# lem%ra"a as asas de um p1ssaro) 5 diferencial de ;uller $ terutiliado a rec$m in"entada iluminaç!o el$trica para pontuar os diferentes

momentos de sua performance se utiliando de "ariadas cores *ue eram ent!o

pro2etadas nesta superfície de pano) <Essa foi a primeira "e *ue o recurso foi

usado# n!o para iluminar um am%iente# e sim para criar uma no"a po$tica=

>SANTANA# :?--@# ou se2a como uma mediaç!o tecnol3&ica)

.or sua "e# a pr3pria ;uller# assim como Meer(old# .iscator e Brec(t#

 21 faiam e'peri+ncias nas *uais a&re&a"am teatro e cinema# demonstrando a

cone'!o desses artistas com o seu tempo e com os meios tecnol3&icos *ue l(e

eram contempor,neos) No caso específico do cinema# este ofereceu ao teatro

do s$culo uma perspecti"a %astante di"ersa da *ue se dispun(a at$ a*uele

momento#

 A multiplicidade cinematográfica viria rapidamente a seradotada pela arte c1nica, não apenas nas mudanças espaciais etemporais que a2udou a provocar no teatro, mas diretamente,com a adoção de imagens filmadas em espetáculos teatrais. (... As primeiras teorizações so!re o cinema tin"am como parâmetro, inicialmente, o teatro e sua linguagem, e, posteriormente, a relação do cinema com as demais artes (....3uscava4se então, a ess1ncia do cinema, atrav5s de suas

- A tradução literal de happening  5 acontecimento, ocorr1ncia, evento.

 Aplica4se a um espectro de manifestações que incluem várias mídias como

artes plásticas, teatro, art-collage, m6sica, dança, etc. 7esmo com essa

fusão, o happening  mant5m como princípio aglutinador sua característica de

arte c1nica >C56EN# :??F@)

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 peculiaridades t5cnicas e de como elas poderiam sertranspostas para a linguagem Gdo teatroH >BAR5NE#:??-?@)

 

No entanto# em *ue pese a &rande import,ncia destes artistas# o fato $

*ue o uso *ue estes faiam da mídia audio"isual se %asea"a apenas em

procedimentos de inte&raç!o destes meios com a cena# sendo *ue as ima&ens

produidas pelo cinemat3&rafo faiam parte de al&umas passa&ens# ilustrando

ou referenciando os espet1culos apresentados)

Este período inicial de e'perimentações das "an&uardas representou um

&rande a"anço no sentido de ultrapassar fronteiras entre as artes e lançar uma

s$rie de t$cnicas fundadoras# *ue anos mais tarde# seriam recon(ecidas como

pr1ticas artísticas p3s/modernas) Dentre outras modificações# destacam/se a

interdisciplinaridade nas pr1ticas de teatro# o rompimento com formas

artísticas tradicionais de confi&uraç!o descriti"a e a presença constante de

e'perimentações com meios tecnol3&icos)

 8o GperíodoH moderno nascem ideias que vão instaurar4seno teatro p9s4moderno a arte não como imitação, mas comoorganização e:pressiva, o apelo à imaginação do pu!lico, a

 performance e a invasão dos implementos tecnol9gicos>JILKE#:??9-8@

 A partir das d$cadas de cin*uenta e sessenta do s$culo passado# o

teatro passa a ser diretamente influenciado por intersecções com a arte da

performance e com as no"as lin&ua&ens de "i$s sincr$tico oferecidas pela

re"oluç!o do "ídeo e das teorias da informaç!o) Tais acontecimentos# aliados

capacidade intrínseca do teatro em associar/se a diferentes meios ee'pressões# possi%ilitaram *ue a pr1tica teatral e as c(amadas no"as mídias

começassem a esta%elecer relações mais íntimas e comple'as

; certo que Gas "an&uardas artísticas dosH revolucionáriosno teatro romperam com quase tudo, que viera antes, masinsistiram na mimese de uma ação no teatro, mesmo aoempregarem recursos de encenação a!stratos e causadores deestran"eza. <or outro lado, no curso da ampliação e em seguidada onipresença das mídias na vida cotidiana, desde os anos

#+*, entrou em cena um modo de discurso teatral novo emultiforme (... Gatra"$s do *ualH as linguagens formais

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desenvolvidas desde as vanguardas "ist9ricas se tornam umarsenal de gestos e:pressivos que l"e servem para dar umaresposta à comunicação social modificada so! as condições daampla difusão da tecnologia da informação >LE6MANN#:??:@)

Neste sentido $ oportuno re&istrar *ue em palestra realiada no ano de

:?-?: a estudiosa francesa Clarisse Bardiot esclarece *ue# por iniciati"a do

artista "isual Ro%ert Rausc(en%er& e do en&en(eiro Bill Kl"er# + venings,

="eatre > ngineering # foi o primeiro &rande e"ento *ue articulou um di1lo&o

efeti"o entre as artes e a tecnolo&ia no s$culo F) 5 ciclo de apresentações

realiado em No"a Ior*ue no ano de -9# ao *ual compareceu um nOmero

pr3'imo a de mil pessoas# era composto de de performances %aseadas

em e*uipamentos e aparatos tecnol3&icos de in"enç!o con2unta entre artistas

e cientistas) No e"ento foram reunidos criadores como Ste"e .a'ton# 4o(n

Ca&e# Lucinda C(ilds# P"ind ;a(lstrQm# "onne Rainer# De%ora( 6a# Ro%ert

Rausc(en%er&# Ale' 6a, Da"id Tudor e Ro%ert J(itman# todos os *uais

(a"iam tra%al(ado com Merce Cunnin&(am em diferentes funções# portanto

n!o $ difícil concluir *ue Cunnin&(am# de al&um modo# tam%$m esta"a

en"ol"ido com o e"ento).or sua "e# os cientistas# os *uais tra%al(a"am em 1reas como

eletrnica# telefonia# sistemas de comunicaç!o ou inform1tica# eram oriundos

do ?ommunication and @esearc" 0epartment de 3ell &a!oratories, centro de

: .alestra realiada no ,m%ito do Semin1rio Corpo .erformance e Tecnolo&ia#realiado na cidade de .orto Ale&re pelo .ro&rama de p3s/7raduaç!o em Arte c+nicas da0ni"ersidade ;ederal do Rio 7rande do Sul e pelo Centro de dança da Secretaria Municipal deCultura de .orto Ale&re no ano de :?-?) So%re o e"ento + venings ="eatre > ngineering  

acessar a p1&ina da undação &anglois, no Canad1# (ttpUUU)fondation/lan&lois)or&(tmlfinde')p(p o sítio cont+m farto material so%re o e"ento)

F Na "erdade# considera/se como primeiro espet1culo de cena e tecnolo&ia a o%ra ?B/< # >Escultura Ci%ern$tica Espaço/din,mica@ realiada em -9V por Nicolas Sc(Qffer# artista(On&aro tido como o precursor da arte ci%ern$tica) A o%ra# uma esp$cie de escultura# possuíacar1ter <interativo pioneiro, Gesta"aH presa à uma !ase fi:a e realizada com sensores edispositivos eletrCnicos anal9gicos, produzia diferentes movimentos em resposta à presençade o!servadoresD   KAC# Eduardo) 5ri&em e Desen"ol"imento da Arte Ro%3tica# disponí"elem(ttpUUU)eWac)or&ro%oarte)(tml# acessado em -:?:?--)

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pes*uisa tecnol3&ica# *ue na $poca desen"ol"ia o primeiro sat$lite# a

lin&ua&em inform1tica Eni: F e pes*uisas pioneiras de ima&em di&ital)Dentre os e"entos# uma das performances de autoria do pr3prio

Rausc(n%er& consistia numa partida de t+nis realiada no escuro# da *ual eram

captados e amplificados os sons# sendo *ue as ima&ens# por sua "e# eram

coletadas por c,meras infra"ermel(as e pro2etadas num tel!o) 0m outro

e'emplo de performance no e"ento era uma e'peri+ncia de imers!o proposta

por Ste"e .a'ton# na *ual corredores de tu%os pl1sticos com pro2eções eram

percorridos pelo pO%lico *ue ao final# 21 no e'terior do tu%o# rece%ia fones de

ou"ido com os *uais capta"a ondas de r1dios de diferentes conteOdos)

 A "is!o retrospecti"a deste específico e"ento torna/se esclarecedora da

influ+ncia *ue as intersecções entre o teatro# a arte da performance e astecnolo&ias das comunicações e da inform1tica passaram a ter no panorama

das artes c+nicas a partir da se&unda metade do s$culo passado# causando

mudanças das *uais ainda estamos nos ocupando em identificar)

G 3rasil apresenta uma tra2et9ria de cerca de cinquentaanos de "ist9ria no campo das po5ticas tecnol9gicas. 8os anoscinquenta, as primeiras e:peri1ncias com arte cin5tica foramrealizadas por A!ra"am <alatiniH. A d5cada de sessenta foimarcada pelo surgimento da m6sica eletro ac6stica por iniciativa

de Iorge Antunes e pela introdução do computador na arte, por$aldemar ?ordeiroJ  >MELL5#:?-?@)

Sistema computacional de funcionamento multitarefa) Neste período

dos sessenta inicia"am/se as pes*uisas nos La%orat3rios 3ell # somente ao final

dos anos setenta o sistema Eni:  passou a ser utiliado e comercialiado)

V Todos s!o artistas *ue despontaram no período dos cin*uenta e

sessenta no encla"e de arte e tecnolo&ia) .alatiniW foi um artista# in"entor# epioneiro da arte cin$tica no Brasil) 4or&e Antunes $ um dos mais produti"os

compositores de mOsica eletroacOstica no Brasil# professor uni"ersit1rio#

sempre te"e uma postura política e sua o%ra se constitui numa das produções

mais amplas no cen1rio nacional) Jaldemar Cordeiro# nascido na It1lia# pintor#

escultor# paisa&ista# desi&ner e crítico de arte# tal"e se2a o nome mais

importante das artes eletrnicas no Brasil pelo papel (ist3rico estrat$&ico *ue

desempen(ou) Na d$cada de V?# ele era 21 um dos mem%ros mais

proeminentes da cena "an&uardística %rasileira# tendo sido tam%$m o principal

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 Na esteira de <9 E"enin&s)))= inscre"em/se artistas %rasileiros como

4Olio .laa# Suete Xenturelli# Eduardo Kac# Diana Domin&ues# Analí"ia

Cordeiro# Renato Co(en# e I"ani Santana# sendo *ue a o%ras destes tr+s

Oltimos encontra/se na intersecç!o específica entre artes c+nicas e as mídias

tecnol3&icas) De fato# esta incorporaç!o de no"os meios a cena mesclou

especificidades e su&eriu no"os ,n&ulos de enfo*ue e construç!o  oferecendo

recepç!o no"as formas narrati"as de distintos car1teres)

 Apesar de predecessores como 7eKer"old e <iscator sevalerem do impacto da pro2eção de imagens em movimento emfilme pr54gravado durante eventos de teatro ao vivo, acapacidade de registro ao vivo e manipulações de imagensem tempo real estendem em muito as possi!ilidades das

 práticas do teatro contemporâneo. m termos gerais, os ventosnão precisam estar fi:ados diante mão, mas podem ser mais processuais neste momento, com as novas implicações práticas eest5ticas. Ema o!ra que empregue e manipule m6ltiplos meiosLao vivoM requer uma resposta por meio de varias modalidadessensoriais ao mesmo tempo e a ela podem, inclusive, demandarmodulações do sensorium "umano como um todo(8&/G8N)*#*#O,#. Prifos meus.

-): A Mídia# Esta Mutante

 A desi&naç!o YmídiaZ tem ori&em na pala"ra latina media# *ue si&nifica

a*uilo *ue est1 no meio de al&o# ou se2a# a*uilo se localia entre dois

elementos e portanto# assume características dos componentes das mar&ens

interli&adas pela pr3pria midia) No entanto# o "oc1%ulo ultrapassa a noç!o

inicial de simples "ia ou canal# e carre&a a ideia de mediaç!o# ou se2a# al&o

<*ue est1 no lu&ar de outra coisa ou se con(ece atra"$s de=# de maneira *ue

*uando se fa uma alteraç!o *ual*uer em um meio# pode/se afetar todo o

processo instaurado > Caramella# :??9:#:V@)

Tomo a ideia de mídia para al$m de um condutor de mensa&ens# pois

se a mídia $ tida como uma simples "ia de circulaç!o de dados fica impossí"el

teoriador da arte concreta >;onte enciclop$dia ItaO Cultural Arte e Tecnolo&ia)

Disponi"el em (ttpUUU)ci%ercultura)or&)%rtiWiUiWi(ome)p(p  Acessado em

-8?:?--)

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a e'ist+ncia de uma po$tica das mídias# posto *ue dentro deste pensamento a

mídia n!o teria força de representaç!o) No entanto# as mídias acrescentam

no"as ocorr+ncias e transformam as po$ticas artísticas em po$ticas

tecnol3&icas# simultaneamente ao fato de *ue estas tam%$m atuam inter/

relacionando/se entre si pr3prias na medida em *ue refletem# faem refer+ncia#

afetam ou retificam umas s outras) De forma intrincada# elas est!o em

constante transformaç!o# e# assim# <as "el(as mídias n!o desaparecem

necessariamente para sempre# mas# ao contr1rio# mudam seu si&nificado e

papel= >BELTIN7# :??F@) [ o *ue ocorre# por e'emplo# com o 2ornal ao

confi&urar/se na Internet# ou com o li"ro# *uando este aparece no formato e4

ta!let ) Conforme Beltin&# de maneira &eral a mídia nunca aparece isolada e#

de"ido sua &rande capacidade de a&lutinar/se ou recom%inar/se com outros

diferentes meios# ela a%re espaço para a (i%ride de no"as mídias *ue sur&em)

  Na %usca desta afirmaç!o dos meios como construtores de sentido e

n!o apenas como "eículos amorfos# Mars(all MacLu(an# te3rico canadense

se de%ruçou so%re as tecnolo&ias da comunicaç!o# especificamente em

relaç!o ao cinema# a tele"is!o e a pu%licidade) ;icou con(ecido por

e'pressões como <o meio $ a mensa&em= título de um dos capítulos de seuli"ro lançado em -9# Gs 7eios de ?omunicação ?omo :tensões do

Qomem) Em sua refle'!o# o estudioso canadense o%ser"a *ue os meios s!o

esp$cie de tradutores# com a funç!o de des"endar no"os sa%eres# traduindo

uma esp$cie de con(ecimento em outro# como ocorreu com o sistema da

5u se2a# remediam/se) <Conforme conceito de 4a Boelter e Ric(ard

7rusin# remediaç!o $ a característica da mídia di&ital# pois implica o

recon(ecimento do meio anterior# da sua lin&ua&em e da sua representaç!osocial) Desta maneira# todos os meios t+m o seu sistema de produç!o afetado

pela c(amada no"a mídia) As no"as mídias remediam# isto $ mel(oram seus

predecessores# tanto o 2ornal# a re"ista# o r1dio# o telefone# a arte# o "ídeo# a

foto&rafia# a comunicaç!o face/a/face# os modos de pu%licar# assim como a

e'peri+ncia social e o espaço ur%ano=>R5DRI70ES DA C0N6A# MA7DA@)

Disponí"el em (ttp UUU)dialo&osfelafacs)netre"istaarticulos/resultado)p(p\

ed]^id]F) Acessado em -8?:?--) .ara maiores detal(es consultar

B5ELTER e 7R0SIN >-999@# ao final deste documento)

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escrita em relaç!o a pala"ra falada >MACL06AN# -9@) ;oi o estudioso

canadense um dos primeiros a perce%er as transformações da cultura

tecnol3&ica empreendida a partir dos anos cin*uenta e sessenta# e a propor

uma refle'!o *ue desloca"a as mídias da "is!o tradicional de meio en*uanto

"eículo da mensa&em a ser transmitida e demonstrar *ue as mídias produiam

uma lin&ua&em específica <*ue le"a a uma confi&uraç!o cultural audiot1til

pr3'ima do c3di&os culturais da oralidade# distanciados# portanto dos c3di&os

da "isualidade alfa%$tica# da imprensa# do li"ro e da leitura)

>MAC6AD5#:??9-@)

6o2e# passadas d$cadas# se compreende *ue a materialidade do meio

determina o padr!o de c3di&o utiliado e a atri%uiç!o de seu si&nificado) Assim# dependendo da confi&uraç!o# cada meio ir1 determinar um tipo de

percepç!o *ue apela para sentidos diferenciados# os *uais# por sua "e "!o

&erar con(ecimentos i&ualmente diferentes entre si) De certo *ue a mídia

possui seus aspectos caracterísitcos e de maneira ainda mais específica# os

meios di&itais s!o entre si <distintos e sin&ulares= como c,meras de "ídeo#

computadores pessoais ou a presença de e*uipamentos sonoros na cena#

para os *uais s!o necess1rias estrat$&ias *ue incluam <diferentes lin&ua&enspara diferentes meios# mas *ue o%edecem a um con2unto de principios

comuns= dentro do &+nero mídias di&itais ao *ual pertencem) (<@%@A,

)**+OR+.

-): No"a Mídia / .resença na Cena Teatral

  Deste modo# se&uindo esta l3&ica# o sur&imento da mídia di&ital $ umcapítulo específico o *ual alterou tam%$m as relações criadoras e as

interações com o pr3prio material produido na pr1tica da cena) 0ma "e *ue

a no"idade $ a &rande capacidade associati"a dos meios# somada certa

facilidade no seu manuseio e operacionaliaç!o# a interface do computador e a

codificaç!o di&ital s3 faem ampliar as possi%ilidades e as realiações da arte

teatral contempor,nea) A c(e&ada da mídias di&ital na cena# ensaiada nos

sessenta# iniciada nos setenta e ampliada a partir dos anos oitenta# otimioudemandas de criaç!o# &erou no"as atri%uições pr1ticas e alterou as po$ticas

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teatrais de forma definiti"a# inseridas num processo mais amplo de modificaç!o

das trocas culturais)

G 6ltimo quarto do s5culo SS marca o inicio da era digital. A partir dos anos setenta, os computadores tornaram4se mais !aratos,rápidos, potentes e mais conectados uns aos outros numa ta:ae:ponencial de aperfeiçoamento, fundindo em um 6nico meiotecnologias de comunicação e de representação antes díspares.G computador ligado em rede atua como um telefone, ao oferecer comunicação pessoa4a4pessoa em tempo realN como umatelevisão, ao transmitir filmesN um audit9rio, ao reunir grupos para palestras e discussõesN uma !i!lioteca, ao oferecer granden6mero de te:tos de refer1nciaN um museu, em sua ordenadaapresentação de informações visuaisN como um quadro de avisos,um aparel"o de rádio, um ta!uleiro de 2ogos e, at5 mesmo, como

um manuscrito, ao reinventar os rolos de te:tos dos pergamin"os.=odas as principais formas de representação dos primeiros cincomil anos da "ist9ria "umana 2á foram traduzidas para o formatodigital >M0RRA# :??F# p)-@)

 Este fenmeno de con"er&+ncia se deu atra"$s da uniformiaç!o de

lin&ua&ens acrescida pela di&italiaç!o# possi%ilitando *ue as no"as mídias

tam%$m pudessem faer parte efeti"a da cena teatral) No entanto# fa/se

necess1rio esclarecer meu ponto de "ista so%re o *ue estou c(amando de<no"as mídias=# as *uais tem relaç!o direta com o meio di&ital) Em um ciclo

(ist3rico# *ue se inicia com a re"oluç!o industrial e a ideia de ma*uin1rio

automatiado# passando pelas m1*uinas de tecer# a foto&rafia# o cinema ou

mesmo as calculadoras mec,nicas de cartões perfurados# o computador

incorpora todas estas tecnolo&ias e dei'a de ser apenas uma Tmáquina

analítica, adequado apenas para processar n6meros e torna4se uma mídia

sintetizadora e manipuladora de dadosD  >MAN5XIC6#:??:::/:V@) Assim# asno"as mídias s!o fruto da con"er&+ncia das tecnolo&ias da computaç!o e da

mídia# *ue mesclou "1rios usos como a automaç!o das m1*uinas# o modelo

%in1rio e a fra&mentaç!o decorrente desta condiç!o de lin&ua&em numeral e

modular# resultando no modelo da cultura di&ital *ue con(ecemos (o2e) Assim#

Mano"ic( c(ama de no"as mídias as formas de produç!o# acesso#

distri%uiç!o e de comunicaç!o mediadas por computador)

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 Isto implica a"ançar mais a frente da ideia de *ue as no"as mídias s!o

apenas a*uelas e'i%idas em telas de computacionais como a internet#

computadores multimídias# 2o&os de computador ou d"dZs) Conforme o

pensamento do matem1tico russo# a *uest!o $ ir al$m da ideia simplista *ue

encara os te'tos distri%uídos em sites e li"ros eletrnicos como no"as mídias#

mas *uando estes mesmos te'tos s!o distri%uídos em papel dei'am de ser

"istos como mídias di&itais# ocorrendo o mesmo# com uma s$rie de outros

o%2etos# com por e'emplo a foto&rafia di&ital impressa) So%re esta

constataç!o# Mano"ic( ar&umenta *ue costuma/se considerar como no"a

mídia apenas os meios *ue faem uso de computador para a sua distri%uiç!o

e e'i%iç!o) Contudo# formas *ue necessitam do computador para serem

produidas como as fotos di&itais ou os te'tos# tam%$m de"em ser entendidos

como no"as mídias# na medida em *ue 21 n!o se pode prescindir do

computador e de sua lin&ua&em específica para *ue estas mídias se2am

criadas) De maneira *ue#

GnH!o (1 ra!o para pri"ile&iar o computador como mídia dee'posiç!o e distri%uiç!o# so%re a m1*uina computadorusada como uma ferramenta para a produç!o de mídia ou

como uma mídia de armaenamento) Todos t+m o mesmopotencial para mudar as lin&ua&ens culturais) >)))@ are"oluç!o dos suportes informatiados afeta todas as etapasda comunicaç!o# incluindo a a*uisiç!o# manipulaç!o#armaenamento e distri%uiç!o# mas tam%$m afeta todos ostipos de mídia / te'to# ima&ens fi'as# ima&ens emmo"imento# som e construções espaciais) >MAN5XIC6#:??:-9@

  Neste sentido# fica claro ser praticamente impossi"el n!o tra%al(ar com

no"as mídias em certo momento da pr1tica na cena contempor,nea# pois em

al&uma parte do processo de criaç!o artística teatral o meio di&ital estar1

implicado)

No entanto# acredito *ue a ideia de no"as mídias na cena de"a referir/se

a monta&ens <*ue se apropriam de de recursos tecnol3&icos desen"ol"idos

pelas indOstrias eletrnico/inform1ticas e *ue disponi%iliam interfaces 1udio/

t1til/moto/"isuais propícias para o desen"ol"imento de tra%al(os artísticos >)))@

>ARANTES#:??V:@) 5u se2a#trata/se de espet1culos nos *uais as mídias

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este2am intrinsecamente li&adas construç!o de suas po$ticas# como $ o caso

de Isadora) 5r% e Ridicolo)

  Da mesma forma# no ,m%ito deste estudo# adoto a desi&naç!o Yno"as

mídiasZ com a finalidade de a%ordar a presença dos meios de comunicaç!o no

conte'to das artes c+nicas) 5s traços delimitadores deste pressuposto se

encontram atualiados no pensamento de Le" Mano"ic(# e trato de forma

%re"e na se*u+ncia deste te'to) Conforme o autor russo# as no"as mídias# ou

se2a as mídias di&itais# possuem um con2unto de cinco princípios *ue as

fundamentam)

5 primeiro destes princípios $ a representação numérica onde os

o%2etos# se2am eles ori&inalmente criados em computadores ou con"ertidos a

partir de fontes anal3&icas# uma "e em estado di&ital# estes s!o compostos

por representações num$ricas de c3di&o %in1rio) .or isso# as no"as mídias

s!o pro&ram1"eis e podem ser modificadas automaticamente# atra"$s de um

al&oritmo apropriado# o *ual por sua "e $ capa de manipular uma ima&em

alterando suas dimensões e proporções)

 A modularidade $ apresentada por Mano"ic( como o se&undo

princípio# e esta caracteria o o%2eto das no"as mídias# os *uais como um

fractal# apresentam uma estrutura modular# mesmo estando nos mais

diferentes conte'tos# e podem ser com%inadas em o%2etos maiores sem perder 

sua independ+ncia) Esta ocorr+ncia se d1 tanto com um te'to# como com um

"ídeo ou uma ima&em reunida num am%iente como um sítio da internet)

Contudo estes o%2etos continuam mantendo sua e'ist+ncia de forma separada

do todo# pois na no"a mídia os elementos s!o armaenados de forma

independente e podem ser modificados sem a necessidade de se faerem

alterações *ue modifi*uem o am%iente do *ual estes o%2etos de mídia di&italfaem parte)

Al&oritmo $ uma se*u+ncia finita de instruções %em definidas e n!o

am%í&uas# cada uma das *uais pode ser e'ecutada mecanicamente num

período de tempo finito e com uma *uantidade de esforço finita) 0m al&oritmo

n!o representa# necessariamente# um pro&rama de computador# e sim os

passos necess1rios para realiar uma tarefa)

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  A possi%ilidade *ue as no"as mídias possuem de terem seu processo

parcialmente controlado sem inter"enç!o (umana aparece como o terceiro

fundamento enumerado por Le" Mano"ic(# o *ual ele denomina automação.

0ma "e *ue os o%2etos destas mídias s!o controlados por pro&ramações pr$/

definidos >ou automatiadas@# o usu1rio pode modificar *ual*uer o%2eto ou

parte dele# usando apenas o pro&rama ade*uado *ue fa as alterações

necess1rias# sem a necessidade de uma inter"enç!o direta do en&en(o

(umano)

  Conforme Mano"ic(# as c(amadas mídias anti&as# s!o criações de

elementos te'tuais# "isuais ou auditi"os *ue resultam numa uma composiç!o

sin&ular e Onica# a *ual $ armaenada em al&um "eículo material# como um

*uadro pintado ou uma canç!o &ra"ada numa fita cassete) A fim de serem

"eiculadas# estas criações podem ser reproduidas &erando outros

e'emplares# os *uais possuem forma id+ntica ao ori&inal) Neste sentido# a

variabilidade aparece como um *uarto fundamento da teoria de Mano"ic( a

*ual defende *ue o o%2eto de no"as mídias n!o possui fi'ide# sendo

constituídas de forma "irtual) Neste sentido# as no"as mídias podem replicar se

for necess1rio8# contudo# em "e de c3pias id+nticas dos o%2etos# estas mídias

&eralmente d!o ori&em a muitas "ersões diferentes de um mesmo o%2eto# o

*ual pode ter alterados seus conteOdos# formas# taman(os ou ní"eis de

detal(e# &erando muitas "ariantes do o%2eto ori&inal) Tal condiç!o de

"aria%ilidade se de"e ao fato de *ue a mídia di&ital opera com padrões

"irtuais# o *ue fa com *ue este o%2eto possua uma capacidade (ipot$tica de

se atualiar em di"ersificadas e infind1"eis confi&urações)

  5 *uinto principio $ a transcodificação# uma traduç!o do conteOdo de

uma mídia para o formato di&italiado# ou se2a# a traduç!o para o modelo%in1rio de informaç!o) De modo *ue a transcodificaç!o# ocorre *uando uma

8 Este processo de criaç!o de uma r$plica em mídia di&ital $ c(amado

de di&italiaç!o) Durante este procedimento sempre ocorre uma certa perda

de al&um traço do o%2eto ori&inal# pois esta simplificaç!o $ necess1ria para *ue

os computadores n!o ten(am *ue processar e'cesso de informaç!o# e"itando

assim *ue a demanda de distri%uiç!o e e'ecuç!o se torne mais morosa do

*ue o dese2ado >MAN5XIC6# :??V-?:#-?F@)

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mOsica# uma tela ou uma ima&em de "ídeo assume o padr!o di&ital# num

mo"imento onde

UaVos poucos, toda a forma como nos relacionamos comas informações vão se transformando, uma vez que oscomputadores criam, distri!uem, armazenam e arquivam estasinformações. sse fenCmeno de reconceituação cultural consiste!asicamente na mudança do anal9gico para o digital em quasetodos os espectros da produção de dados (@G?QA,)**J-.

Na "erdade# conforme Mano"ic(# esta $ a conse*u+ncia mais importante

da passa&em do c3di&o físico para o di&ital# *ual se2a# a transcodificaç!o

cultural *ue ocorre nesta transiç!o# onde sa%eres culturais di"ersos s!o

su%stituídos en*uanto lin&ua&em e sentido# por cate&orias culturais presentes

nos padrões computacionais)

Em ní"el computacional# uma informaç!o cultural $ um ar*ui"o *ue

consiste em um ca%eçal(o le&í"el por uma m1*uina# se&uido por nOmeros *ue

representam seus "alores) Ao atin&ir este est1&io# a informaç!o entra em

contato com outros ar*ui"os deste computador# onde o *ue "ai importar n!o $

seu conteOdo# si&nificado ou *ualidades formais# mas o taman(o# o padr!o eformato de ar*ui"o %em como o tipo de compress!o9 utiliado# entre outras

idiossincrasias da pr3pria lin&ua&em computacional e n!o da cultura (umana)

Neste caso# como os o%2etos de mídia s!o criados# "eiculados# ou ar*ui"ados

em computadores# o ne'o computacional termina por influenciar a l3&ica da

mídia) 5 resultado deste composto# desta transcodificaç!o# pode ser uma

no"a cultura computacional *ue mistura os si&nificados (umanos e da

inform1tica >Mano"ic(#:??V9:@)

9 A maioria dos ar*ui"os de computador possui a mesma informaç!o

re&istrada repetidas "ees) 5s pro&ramas de compress!o de dados

simplesmente se li"ram dessa redund,ncia) Em "e de re&istrarem uma parte

da informaç!o "1rias "ees# um pro&rama de compress!o de ar*ui"o lista esta

informaç!o uma "e# faendo no"a refer+ncia a ela sempre *ue "olta a

aparecer no pro&rama ori&inal) Atra"$s da compress!o $ possí"el diminuir os

taman(os dos ar*ui"os para *ue estes circulem com maior "elocidade)

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  A *uest!o da transcodificaç!o implica pensar/se a transposiç!o do

modo anal3&ico para o di&ital# na medida em *ue# am%as s!o tecnolo&ias

usadas na cena e capaes de produir# ar*ui"ar ou transmitir informações em

formatos de ondas-? de car1ter auditi"o ou "isual)

-)F Mídias Anal3&icas e Mídias Di&itais Nas Artes

  Em arti&o acerca das implicações da cultura di&ital# LaUrence Sc(um#

traça um paralelo %astante esclarecedor das diferenças entre a tecnolo&ia

anal3&ica e a di&ital) Conforme o autor# o meio anal3&ico opera com dados

codificados na mesma materialidade de seu conteOdo) Assim# uma &ra"aç!o de

um som *ual*uer $ o re&istro das ondas sonoras emitidas e re&istradas numa

mídia pro2etada para a*uele uso específico)

 A operaç!o anal3&ica# di respeito transcriç!o de um meio físico para

outro de materialidade an1lo&a# onde a informaç!o $ re&istrada de maneira

contínua e inte&ral uma "e *ue a onda >se2a de naturea sonora ou "isual@ n!o

pode ser fra&mentada pois (a"eria perda de informaç!o) .or esta ra!o a

mídia anal3&ica < preserva traços de seu suporte físico Gsendo *ue# por

e'emplo#H uma fita cassete acrescenta ao sinal gravado o ruído inerente aoatrito entre a fita magn5tica e o ca!eçote de leituraD  >SC60M# :??9@)Tal

particularidade fa com *ue o meio anal3&ico ou físico# se2a mais difícil de ser

manipulado# pois re*uer con(ecimento específico# en*uanto o meio di&ital

possui ní"eis de automaç!o *ue facilitam sua manipulaç!o atra"$s de

pro&ramas) Da mesma forma ao proceder/se a manipulaç!o de dados

analo&icamente re&istrados# estes s!o passí"eis de perderem *ualidade a

cada duplificaç!o)

-? 5ndas s!o mo"imentos oscilat3rios *ue se propa&am num meio e

transportam apenas ener&ia sem transportar mat$ria) Suas ori&ens rece%em

duas classificações ondas mec,nicas *ue s!o pro"ocadas por pertur%ações

em meios materiais el1sticos# como por e'emplo# ondas em superfícies

lí*uidas# ondas em cordas# ondas sonoras) As ondas mec,nicas n!o se

propa&am no "1cuo# ao passo *ue as ondas eletroma&n$ticas se propa&am

tanto no "1cuo como em meios materiais tais como ondas de r1dio# tele"is!o#

raios/'# lu solar# micro/ondas# e outras mais )

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  Em contrapartida# o re&istro di&ital $ e'presso nos dí&itos %in1rios - ou

?# c(amados de BiT >3%narK digi= @# *ue representam "e *ue os impulsos

el$tricos positi"os ou ne&ati"os com os *uais os computadores tra%al(am e

*ue podem ser representados por estes dí&itos respecti"amente) Cada

impulso el$trico $ um !it # sendo *ue um con2unto de oito !its reunidos como

uma Onica unidade forma um !Kte# contraç!o de !K eig"t  >multiplicado por oito@)

  Neste processo a mídia di&ital recol(e as informações em ondas

sonoras# "isuais# eletroma&n$ticas ou outras# e as decodifica em

representações num$ricas finitas >BTES@# processa estas informações e s3

ent!o as decodifica em seu formato físico de onda no"amente# pra *ue assim

possam ser "eiculadas e compreendidas) Isto 2ustifica a necessidade decodificadores e decodificadores >CoDecs@ nos e*uipamentos multimídia de

modo &eral# pois s!o estes aparatos *ue a todo momento codificam as

informações *ue est!o em modo anal3&ico e passam ent!o a ser codificados

em !its para *ue os dados possam ser manipulados pelo aparato

computacional) No sistema di&ital# estruturado para codificar finitas

com%inações de ero e um# as ondas sonoras s!o con"ertidas em se*uencias

num$ricas# s!o tra%al(adas >editadas# &ra"adas# etc@ e ao serem e'ecutadas#s!o decodificadas e recon"ertidas a seu formato ori&inal)

  Desta maneira# o conteOdo di&italiado ocupa menos espaço# possui

mais esta%ilidade# n!o estando su2eito s interfer+ncias de ruídos e a

de&radaç!o# como ocorre com a mídia anal3&ica) [ por esta ra!o *ue# ao

passar do modo anal3&ico para o di&ital# o paradi&ma da representaç!o mi&ra

da mimese para a matem1tica >Sc(um#:??9 apud  BINKLE# -99V:8@) Este

processo de manipulaç!o di&ital de te'tos# sons ou ima&ens pode ser feito deforma simplificada# sendo *ue a c3pia passa a ser i&ual ao ori&inal# o *ue

 2ustificaria tecnicamente *ue a <G(Ha!ilidade de cortar , copiar  e colar  constitui4

se na fundamentação est5tica de muitas criações digitais nos dias de "o2eD  

>SC60M#:??9 apud  65LT_MANN# -99-:@)

5 meio di&ital# conforme Sc(um# apresenta as se&uintes características

$ um am%iente <n!o linear= *ue proporciona mudanças de rotas e des"ios

en*uanto est1 sendo utiliado` <interati"o= pois pode desen"ol"er/se e associar/

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se de diferentes maneiras em todas fases de seu processo de produç!o# $

<et$reo=# posto *ue o uni"erso di&ital n!o possui materialidade` se e'pressa de

forma ef+mera solicita ao artista compreender "1rias lin&ua&ens# criando

<intersecções maiores= entre as diferentes 1reas de atuaç!o dos profissionais

das artes >SC60M# :??9@) Assim# a criaç!o artística no ,m%ito da tecnolo&ia

di&ital se mo"e para uma ideia de ressi&nificaç!o# de malea%ilidade# onde as

o%ras podem ser constantemente alteradas# recicladas ou reconte'tuliadas)

G processo de codificação !inária em zero e um presenteem todas as mídias digitais, permite a converg1ncia entre ascodificações e decodificações de ordem visual, ver!al, sonora egestual. Ema vantagem, particularmente relevante para a perspectiva do teatro e da performance no que concerne este

aspecto digital, 5 a capacidade de manipular dados em temporeal, de uma maneira que não era possível com tecnologiaanal9gicas anteriores como o cinema >NELS5N#:?-?-@)

  De forma resumida $ possí"el dier/se *ue no modo anal3&ico cada

formato adota um suporte específico e assim desen"ol"e uma determinada

tecnolo&ia para cada padr!o de funcionamento) 0ma "e *ue o padr!o di&ital

possi%ilita a unificaç!o dos formatos <o computador não precisa de um

aparel"o leitor para cada Gitem e'ecutadoH# para ele todos Gos ítensH são iguais

e ele os l1 de forma igual. As mídias se tornaram m5dium, ou se2a, os muitos

meios convergiram em um 6nicoD  >S5BRAL e BELLICIERI#:??@) Esta

con"er&+ncia das mídias para a lin&ua&em di&ital# possi%ilitam a um cidad!o

comum ter acesso criaç!o de seus pr3prios conteOdos e di"ul&1/los para um

sem fim de usu1rios# capaes por sua "e# n!o s3 de acessar a estes mesmos

conteOdos# como replicar ou produir i&ualmente suas pr3prias criações) .or

certo *ue as relações culturais se alteram de forma profunda# pois nestemodelo o espectador tem acrescida ainda uma outra desi&naç!o# $ c(amado

de usu1rio)

  Acredito *ue ca%e a*ui uma %re"e refle'!o acerca da ideia de um

am%iente mais amplo no *ual circulam estas pr1ticas# *uais se2am# a l3&ica

comunicacional pertinente a c(amada cultura de massa e a*uela referente

mídia di&ital) A cultura de massa# presente nas mídias tradicionais como o

r1dio# o cinema e a tele"is!o# se orienta por padrões (ier1r*uicos de produç!o

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e distri%uiç!o do con(ecimento) Este prot3tipo de informaç!o centraliada#

ainda (o2e se&ue um modo mais rí&ido# %aseado no modelo um4para4todos)

Em contrapartida# a cultura di&ital# presente no ci%erespaço# fa parte

de um conte'to onde opera a l3&ica de todos para todos. <8esse sentido, esteam!iente comunicacional emerge com a pot1ncia que comporta o discurso

democrático em sua g1nese= >Couto# Melo# Moreira e a"ier#:??8--:@)

Claro *ue seria in&enuidade pensar a ci%ercultura como um foro

democr1tico ideal# i&norando os interesses di"ersos *ue alimentam sua pr3pria

e'ist+ncia) Da mesma forma# $ impossí"el *ue todos possam criar de forma

indiscriminada e produir i&ualmente um conteOdo de *ualidade) Isto s3 $

possí"el no Ymundo idealZ# o *ual o capital *ue controla estas trocas

intermediais# procura comercialiar 2unto a seus Yusu1riosZ)

  Contudo# $ impossí"el n!o recon(ecer/se *ue o modelo comunicacional

da cultura di&ital resulta mais fle'í"el e menos autorit1rio *ue a*uele

encontrado na mídia tradicional) .ortanto# os recentes modos de comunicaç!o

por certo apontam para no"as cate&orias culturais as *uais os conceitos

te3rico/cl1ssicos n!o contemplam mais) No"as maneiras de pensamento e

construç!o sim%3lica# e'i&em a produç!o de outras refle'ões mais

condientes com as modulações da arte na atualidade)

(... não 5 preciso muito esforço para perce!er que omundo das mídias, com sua ruidosa irrupção no s5culo SS, temafetado su!stancialmente o conceito e a prática da arte,transformando a criação artística no interior da sociedademidiática numa discussão !astante comple:a. (... Iá "ouve umtempo em que se podia distinguir com total clareza entre umacultura elevada, densa, secular e su!limada e, de outro lado,uma su!cultura dita Tde massaD, !analizada, ef1mera ere!ai:ada ao nível da compreensão e da sensi!ilidade do maisrude dos mortais. (.. a cisão entre os vários níveis de culturanão parece tão cristalina. m nossa 5poca, o universo dacultura se mostra muito mais "í!rido e tur!ulento do que o foi emqualquer outra 5poca >MAC6AD5# :??@)

  Lucia Santaella acrescenta ainda um ponto intermedi1rio entre as

l3&icas comunicacionais da cultura de massa e o modelo de informaç!o di&ital)

.ara a estudiosa# a partir dos anos -98? (ou"e um momento de transiç!o >diriainclusi"e de transiç!o do modo anal3&ico para o di&ital@ no *ual se

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intensificaram as misturas entre lin&ua&ens e meios# ao *ual a te3rica c(ama

de <período de cultura das mídias=) Neste ínterim sur&iram aparatos "oltados

para a Tcultura do disponível e do transit9rioD  como "ídeo/games# WalHmans#

alu&uel de "ídeos e TX a ca%o# todos e*uipamentos *ue propiciam Ta escol"a

e o consumo individualizado, em oposição ao consumo massivo das mídiasD. 

.ara Santaella# tais ocorr+ncias funcionaram como uma esp$cie de preparaç!o

para a c(e&ada dos meios di&itais cu2o traço fundamental reside na L!usca

dispersa, alinear, fragmentada, mas certamente uma !usca individualizada da

mensagem e informaçãoD   >SANTAELLA# :??9#8@)

Deste modo# as transformações da cena# as *uais me referi no início deste

te'to# inserem/se num conte'to mais amplo e *ue operou de forma &radual

mudanças de paradi&mas *ue incluem a %usca de informaç!o e a produç!o de

con(ecimento e de %ens culturais)

0ma "e *ue tanto artistas# *uanto seus pO%licos# encontram/se

imersos na cultura di&ital# $ ine"it1"el *ue ocorram tais tr,nsitos de

con(ecimento e *ue as pr1ticas artísticas resultem profundamente alteradas#

conforme referi# apresentando al&uns dados acerca do panorama da criaç!o

teatral em curso nos Oltimos *uarenta anos)

 A capacidade das tecnologias digitais de integrar dinâmicassonoras, visuais, de palavras e temporais, de uma formamultimodal (no que se refere à facilidade da edição digital tantono tempo real quanto durante a gravação, estendeu, talvez deforma radical, a multimodalidade do teatro. Al5m disso, elasinvocaram a possi!ilidade das transformações do físico ao virtualem dimensões adicionais de espaço e tempo. A seminalconcepção de <eter 3rooH de um corpo físico que se sa!eo!servado num espaço atual por5m vazio, está desafiada pornovas circunstâncias. >NELS5N# :?-?-@