microsoft word - a ferro e fogo 09052008

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  • 7/26/2019 Microsoft Word - A Ferro e Fogo 09052008

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    IV Encontro Nacional da Anppas4,5 e 6 de junho de 2008Braslia - DF Brasil

    A ferro e fogo: impactos da siderurgia para o ambientee a sociedade aps a reestruturao dos anos 1990

    Bruno Milanez (CESTEH/ENSP/FIOCRUZ)Engenheiro de Produo, Mestre em Engenharia de Produo,

    Doutor em Poltica Ambiental,

    Tecnologista

    [email protected]

    Marcelo Firpo de Souza Porto (CESTEH/ENSP/FIOCRUZ)Engenheiro de Produo, Mestre e Doutor em Engenharia de Produo,

    Ps-Doutor em Medicina Social

    Pesquisador Titutar

    [email protected]

    Resumo

    Neste artigo, defendemos o argumento de que o crescimento recente do setor siderrgico noBrasil vem proporcionando importantes ganhos econmicos e, ao mesmo tempo, intensificando osriscos de impactos negativos relevantes sobre a sociedade e o meio ambiente. Ns construmoseste argumento a partir de dados estatsticos, consulta literatura tcnica especfica e descriesde conflitos scio-ambientais que vm ocorrendo tanto em reas tradicionais de produo

    siderrgica como em regies onde plantas industriais vm sendo instaladas. O artigo escritotendo como pano de fundo a discusso sobre Justia Ambiental e a preocupao com que grupossociais especficos suportem parcela desproporcional dos impactos ambientais negativos deatividades econmicas e decises polticas. O texto se baseia em dados preliminares coletadospara um projeto de pesquisa-ao mais amplo que busca identificar, junto a diferentesmovimentos sociais brasileiros que militam sobre o tema siderurgia, as principais questesdebatidas, os desafios enfrentados e as estratgias de ao adotadas. Apesar do foco nasiderurgia, ns a utilizamos como um exemplo para discutir mais concretamente os possveisimpactos para a sociedade e para o ambiente da atual estratgia adotada pelo Brasil na tentativade se inserir na economia global. Nos ltimos anos, o pas vem consolidando uma posio deexportador de produtos de baixa tecnologia, que so intensivos em energia e recursos naturais,incluindo a gua e vastos territrios usados para a expanso de monoculturas. Esseposicionamento, aliado limitada capacidade institucional dos rgos estatais de controle

    sugerem uma forte tendncia para o crescimento da degradao ambiental e a intensificao deconflitos scio-ambientais.

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    1 Introduo

    Neste artigo, defendemos o argumento de que o crescimento recente do setor siderrgico no

    Brasil vem proporcionando importantes ganhos econmicos e, ao mesmo tempo, intensificando os

    riscos de impactos negativos relevantes sobre a sociedade e o meio ambiente. Este argumento

    baseado na constatao do aumento de investimentos para a ampliao da capacidade de

    produo de ao semi-acabado no Brasil, principalmente para exportao, ao mesmo tempo em

    que se intensificam disputas entre empresas e movimentos sociais. Tais disputas refletem vises

    conflitantes quanto aos sentidos do desenvolvimento e usos dos recursos naturais e territrios.

    Expressam tambm uma tendncia de continuidade da explorao de recursos naturais e

    tecnologias poluentes/degradantes como bases da economia brasileira num comrcio

    internacional globalizado. Essas caractersticas conformam, em nossa avaliao, um modelo de

    desenvolvimento socialmente injusto e ambientalmente insustentvel, marcados por metabolismos

    sociais e lgicas de valorao que desprezam e externalizam os impactos scio-ambientais

    negativos destas atividades.

    Este artigo fruto de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido a partir de um

    convnio de cooperao tcnica entre a Fundao Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e a Rede Brasileirade Justia Ambiental (RBJA). O termo justia ambiental, utilizado como o conjunto de

    princpios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, seja tnico, racial ou de classe, suporte

    uma parcela desproporcional de degradao do espao coletivo (ACSELRAD, HERCULANO et

    al., 2004). Dessa forma, o debate sobre siderurgia passa a fazer parte da agenda da justia

    ambiental, uma vez que os complexos siderrgicos no s criam srios riscos ocupacionais (como

    os acidentes industriais e o benzenismo), como tambm esto relacionados ao uso de recursos

    naturais e aos seus impactos sobre os territrios e populaes onde tais atividades so

    realizadas. Alm de ser considerada uma atividade altamente poluente, a produo de ferro-gusa

    e ao demanda uma enorme quantidade de energia, principalmente na forma de carvo mineral

    (com os devidos impactos sobre as mudanas climticas) ou carvo vegetal (cuja produo associada destruio de matas nativas e expanso da monocultura de eucalipto). Alm disso,

    a expanso da siderurgia refora a estratgia de insero do Brasil no mercado globalizado como

    fornecedor de commodities agrcolas e metlicas de baixo valor agregado, intensivas em recursos

    naturais e geradoras de condies de trabalho consideradas inaceitveis nos padres dos pases

    mais ricos.

    O artigo, alm dessa introduo, possui cinco partes. Inicialmente, so feitos alguns comentrios

    sobre o contexto da pesquisa e os mtodos utilizados. Em seguida, apresentam-se aspectos

    econmicos da expanso da produo de ferro-gusa e ao no pas, com especial enfoque nas

    mudanas ocorridas aps a privatizao da dcada de 1990. A seo 4 apresenta os principaisproblemas e impactos da produo de ferro e ao sobre a populao e o meio ambiente. Em

    seguida, so descritos os principais casos onde h conflitos entre entidades vinculadas RBJA,

    as empresas e/ou instituies governamentais envolvidas no processo licenciamento ou incentivo

    aos novos investimentos. Por fim, apresentada uma anlise sobre o papel dos movimentos

    sociais e as estratgias por eles adotadas.

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    2 Mtodos

    Este artigo apresenta os resultados preliminares de um projeto de pesquisa-ao que vem sendo

    desenvolvido dentro do convnio de cooperao tcnica existente entre a FIOCRUZ e a RBJA.

    Para o desenvolvimento desse projeto, pesquisadores da FIOCRUZ elaboraram um extenso

    relatrio sobre aspectos econmicos, sociais e ambientais da expanso da siderurgia no pas (que

    foi em parte resumido neste artigo) para ser comentado e criticado pelas entidades ligadas

    RBJA que desenvolvem trabalhos relacionados siderurgia. O principal objetivo dessa dinmicafoi fornecer aos movimentos sociais uma viso mais geral sobre o setor siderrgico, alm de

    subsidi-los com dados tcnicos que possam ser usados na sua argumentao. Ao mesmo

    tempo, integrantes dos movimentos sociais puderam oferecer aos pesquisadores diferentes vises

    e interpretaes dos dados encontrados. Em paralelo, pesquisadores e militantes da RBJA

    elaboraram conjuntamente um questionrio para ser respondido pelas entidades com o objetivo

    de identificar as caractersticas dos empreendimentos e os conflitos scio-ambientais existentes.

    Dessa forma, pretendia-se sistematizar tal informao, tornando possvel a comparao entre as

    situaes vividas em diferentes regies do pas. Como forma de fortalecer a interao entre os

    atores, foi ainda programando um encontro, onde cada grupo apresentaria a situao que estava

    enfrentando. Como a oficina somente ocorreu aps a submisso deste artigo, os dadosapresentados na seo 5 foram baseados nos e-mails trocados atravs da lista de discusses da

    RBJA, bem como no material disponvel no Banco Temtico mantido pela rede (RBJA, 2008).

    Nesse sentido, este trabalho caracteriza-se como uma iniciativa de pesquisa-ao, entendida

    como uma pesquisa que tem sua base emprica concebida e realizada em associao com uma

    ao para resoluo de problemas coletivos, na qual pesquisadores e representantes daqueles

    que so prejudicados por tais problemas esto envolvidos (THIOLLENT, 1986). Esta orientao

    deve-se ao fato de se entender que as pessoas que vivem experincias histricas de

    vulnerabilidade possuem um profundo conhecimento sobre sua realidade e devem participar da

    elaborao das perguntas e interpretao dos resultados das pesquisas que estudam suarealidade (CAHILL, 2007).

    Por esse motivo, a pesquisa pode ser caracterizada como uma tentativa de Modernizao

    Epistmica, uma vez que agendas, conceitos e mtodos da pesquisa cientfica esto abertos

    avaliao, influncia e participao de grupos sociais que apresentam perspectivas sobre o

    conhecimento que podem ser diferentes daquelas dos cientistas (HESS, 2007). A partir de tais

    premissas, as propostas derivadas deste estudo buscam sempre ampliar o aspecto participativo e

    democrtico do conhecimento. Ao incorporar no-cientistas ao debate, pretende-se superar a

    barreira construda artificialmente para separar o tcnico e o no-tcnico (SANTOS, MENEZES

    et al., 2004). Assim, pratica-se o que Corburn (2005) batizou de Cincia da Rua (Street Science),

    um paradigma que combina descobertas locais com tcnicas profissionais. Ao mesmo tempo,

    busca-se adotar preceitos da Cincia Cidad (Citizen Science) incorporando distintas formas de

    conhecimentos, considerando definies de problemas no geradas cientificamente, e envolvendo

    situaes-problemas que preocupam os cidados (IRWIN, 1998).

    3 Aspectos econmicos do setor siderrgicoO ciclo de produo do ao envolve basicamente trs grandes etapas: (i) a extrao do minrio de

    ferro; (ii) a produo de ferro gusa atravs de fbricas chamadas de guseiras; (iii) as siderrgicas

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    que fabricam produtos de ao semi-acabado ou refinado. Neste artigo daremos nfase s duas

    ltimas fases, j que a expanso de guseiras e sidergicas que vem sendo mais debatida no

    mbito da RBJA.

    3.1 O setor ferro-gusa

    A produo de ferro-gusa pode ocorrer tanto em usinas integradas, que o utilizam diretamente na

    produo de ao, como em guseiras independentes, que vendem seus produtos para as aciariasou para fundies. A maior parte da produo das guseiras (85% em 2006) abastece as aciarias,

    sendo a produo de ferro fundido um mercado secundrio (SINDIFER, 2007).

    As usinas integradas utilizam tanto o coque de carvo mineral quanto o carvo vegetal na

    produo de ferro-gusa, enquanto que as guseiras independentes usam apenas carvo vegetal

    para alimentar seus alto-fornos (ANDRADE, CUNHA et al., 2003). As usinas integradas vm

    reduzindo a utilizao de carvo vegetal e ampliando o uso de coque: entre 1987 e 2006 o uso do

    carvo vegetal pelas usinas integradas foi reduzido de 17% para 7% (SINDIFER, 2007). Tal

    reduo parece estar ocorrendo em funo dos preos reduzidos do carvo mineral no mercado

    internacional. As guseiras, por sua vez, vm aumentando a sua produo e participao relativa

    no mercado; em 1987 elas respondiam por 21% do mercado e, em 2006, j eram responsveis

    por 29% da produo de ferro-gusa do pas.

    A estrutura do setor de ferro-gusa muito pulverizada, porm concentrada geograficamente.

    Existem 79 empresas no pas, distribudas em quatro regies: Minas Gerais (73%),

    Par/Maranho (18%), Esprito Santo (6%) e Mato Grosso do Sul (3%) (SINDIFER, 2007). Devido

    s diferenas regionais, as empresas historicamente se organizaram em dois grandes sindicatos:

    o Sindicato das Indstrias do Ferro no Estado de Minas Gerais (SINDIFER) e o Sindicato das

    Indstrias de Ferro-gusa do Estado do Par (SINDIFERPA); somente em abril de 2008, as

    empresas formaram uma associao nacional (IMIRANTE, 2008).

    O Brasil possui um importante papel no mercado global de ferro-gusa. Apesar de, em 2005, tersido o quinto maior produtor, com 4% da produo mundial, o pas foi o principal comerciante,

    responsvel por 42% das exportaes mundiais (IISI, 2007). O mercado internacional bastante

    concentrado; em 2006, os EUA foram responsveis pelo consumo de 69% das exportaes

    brasileiras (em 2002, foram 81%); seguido de Espanha (6,5%) e Mxico (4,2%) (IBS, 2007a).

    3.2 O setor ao

    3.2.1 As empresas

    O parque siderrgico brasileiro comeou a se constituir no incio do sc. XX. Sua principal

    referncia foi a criao da Companhia Siderrgica Mineira, em 1917, que viria a se tornar a

    Companhia Siderrgica Belgo-Mineira em 1922. Algumas outras empresas privadas foram criadas

    nos anos 1930, mas a siderurgia brasileira somente tomou flego a partir da dcada de 1940, com

    a entrada do Estado no setor. As principais usinas siderrgicas do pas foram fundadas at os

    anos 1970, sendo a maioria estatal. Em 1973, o governo criou ainda a Siderbrs, uma holdingque

    deveria controlar e coordenar a produo das usinas estatais.

    O marco da siderurgia nacional foi a criao da Companhia Siderrgica Nacional, em Volta

    Redonda, em 1941. Entretanto a produo somente se intensificou a partir dos anos 1950, com o

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    aprofundamento no pas do modelo desenvolvimentista. No Brasil, esse modelo se traduziu em

    trs estratgias principais, substituio de importao de produtos produzidos por indstrias de

    base, rpida acumulao de capital baseado no endividamento internacional e investimento direto

    internacional. A participao do governo se dava principalmente atravs de financiamento,

    subsdio e criao de barreiras importao (SIKKINK, 1991).

    O modelo de substituio de importao, porm, no conseguiu se manter indefinidamente. A

    partir de meados da dcada de 1970, houve uma reduo do fluxo de capital e o milagre

    econmico se mostrou economicamente insustentvel. No incio da dcada de 1980, o Brasil

    estava altamente endividado e o Estado havia perdido sua capacidade de investimento e de

    manuteno das empresas. Apesar das companhias continuarem a operar, o crescimento da

    produo foi bastante limitado. Como o fim do milagre tambm reduziu significativamente a

    demanda interna por ao, e as empresas passaram a reorientar sua produo para o mercado

    internacional. Entretanto, realizar vendas no exterior tambm era uma tarefa difcil, uma vez que

    os mercados nacionais vinham reagindo ao excesso de oferta internacional, e vrios pases

    implantavam restries importao, sobretaxas e salvaguardas (IBS, 2008).

    O perodo entre o final dos anos 1980 e meados dos anos 1990 foi caracterizado pelo incio dofortalecimento do pensamento neoliberal e a consolidao da globalizao dos mercados. A partir

    de 1988, empresas siderrgicas foram transferidas do Estado para a iniciativa privada em

    diferentes pases, como Mxico, Sucia, Itlia, Peru, Alemanha, Frana e Taiwan. Segundo o

    BNDES (1996), esse no foi um processo isolado, mas parte de um movimento (que tambm

    inclua aumento de escala, internacionalizao e fuso de empresas) que buscava reagir ao

    excesso de oferta mundial do ao.

    As idias neoliberais e as presses da globalizao tambm chegaram ao Brasil, influenciando a

    tomada de deciso poltica. Assim, a partir de 1988, o setor siderrgico passou por uma intensa

    mudana, iniciado com a transferncia das empresas estatais para o setor privado. A privatizao

    das usinas siderrgicas foi feita em dois momentos. Em 1988, foi lanado o Plano de Saneamento

    do Sistema Siderbrs, que possibilitou a venda das empresas de menor porte. A partir de 1991, as

    empresas maiores foram includas no Programa Nacional de Desestatizao, e privatizadas at

    1993 (ANDRADE, CUNHAet al., 2001).

    Com a privatizao, as empresas passaram por profundo processo de reestruturao, tendo como

    principais objetivos aumentar a eficincia e a produtividade. Para tanto, uma das principais

    estratgias foi a reduo de pessoal e, entre 1990 e 1999, o nmero de empregados no setor

    passou de 133 mil para 59 mil (ANDRADEet al., 2001). Este processo vem tendo continuidade,

    principalmente atravs da flexibilizao e precarizao das relaes de trabalho. Em 1997, cerca

    de 17% da fora de trabalho empregada nas siderrgicas nacionais era de trabalhadoresterceirizados, passando este percentual para quase 45% em 2006 (IBS, 2003; 2007a).

    Outra conseqncia da privatizao foi o surgimento de novas formas de financiamento e

    captao de recursos que no eram acessveis s empresas estatais. Ao mesmo tempo em que

    as companhias tinham mais facilidade de se capitalizar, o governo diminua as barreiras s

    importaes de produtos siderrgicos (o que aumentava a presso pela eficincia) e de

    equipamentos industriais. Dessa forma, parte significativa dos recursos foi usada para aquisio

    de novos bens de capital e modernizao das fbricas (ANDRADEet al., 2001).

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    Outro impacto da privatizao, sentido no mdio prazo, foi o processo de fuses entre as

    empresas, que tornou o setor bastante concentrado (AMMANN e NIXSON, 1999). No incio da

    dcada de 1990, havia cerca de 40 usinas siderrgicas no pas, caindo este nmero para 25 em

    2007 (IBS, 2008). Os grupos controladores, por sua vez, passaram de 21, na dcada de 1980,

    para oito em 2007. Um dos impactos das fuses foi a concentrao do mercado: j em 2001, as

    quatro principais empresas eram responsveis por 93% da produo mercado. Os principais

    grupos atuantes no pas so: ArcelorMittal Brasil (controlada pela ArcelorMittal, formada a partir dafuso de grupos da Espanha, Blgica, Frana, ndia e EUA), Sistema Usiminas (Grupo Nippon do

    Japo, Camargo Corra, Votorantim e Vale), Companhia Siderrgica Nacional (Grupo Vicunha),

    Gerdau (Metalrgica Gerdau e investidores estrangeiros); V&M do Brasil (V&M da Frana) e Ao

    Villares (Corporacin Sidenor S.A. da Espanha) (CROSSETTI e FERNANDES, 2005; IBS, 2005;

    ARCELOR, 2008; CSN, 2008; GERDAU., 2008; USIMINAS, 2008; V&M, 2008; VILLARES, 2008).

    3.2.2 Produtos e mercado

    A maior parte da produo siderrgica nacional foi direcionada para o mercado domstico; em

    2007. Os principais consumidores de ao eram a indstria da construo civil (29%), o setor

    automotivo (28%) e os produtores de bens de capitais (21%) (COELHO, 2007). Entretanto, aparticipao do mercado externo vem crescendo nos ltimos anos; entre 1997 e 2006, as

    exportaes brasileiras passaram de 38% para 42% da produo (IBS, 2003; 2007a). Porm, uma

    anlise mais detalhada mostra que os aos semi-acabados e os produtos refinados tm destinos

    diferentes. Em 2006, cerca de 70% da produo dos aos laminados foi destinada ao mercado

    interno, enquanto que 90% dos produtos semi-acabados foi exportada.

    De forma geral, o Brasil se coloca em posio de destaque no mercado internacional; em 2005, o

    pas foi o dcimo maior produtor e o dcimo primeiro exportador de ao bruto do mundo. Essa

    posio se deve, principalmente, aos baixos custos de produo de ao no pas; por exemplo, em

    2004, a tonelada de bobina a frio era produzida no Brasil por US$109, enquanto que no Mxico

    custava US$ 148, na Coria do Sul US$149, e nos EUA, US$ 161 (CROSSETTI e FERNANDES,

    2005). Um dos principais fatores para essa vantagem competitiva a riqueza mineral do pas que,

    segundo o Ministrio de Minas e Energia, possui a quinta maior reserva de minrio de ferro do

    mundo (DNPM, 2006). Outro fator importante nessa reduo de preo o valor dos salrios pagos

    no Brasil; em 2005, enquanto um operador de auto-forno brasileiro recebia por ms cerca de

    274, o mesmo operador teria um salrio mensal de 1.667 na Alemanha e 1.150 na Coria do

    Sul (OIT, 2005). Essas estimativas de preo, contudo, no consideram outros fatores importantes

    sob a tica da justia ambiental, como os custos da energia, do carvo vegetal e eventuais

    economias realizadas em sistemas de gesto ambiental menos eficientes. Todos estes elementos

    podem significar que parcela do preo reduzido do ao estaria se dando em funo de diversosimpactos scio-ambientais no considerados nas cadeias de produo e comercializao.

    Uma importante explicao para o aumento da participao das exportaes em pases como o

    Brasil deve-se deciso das indstrias globais de redistriburem sua capacidade produtiva e

    concentrar a fase quente do processo siderrgico (que vai at o estgio dos produtos semi-

    acabados) nos pases perifricos, mantendo a fase fria prxima aos mercados consumidores

    (CROSSETTI e FERNANDES, 2005; BHLER, 2007). Alm dos motivos econmicos, como os

    baixos custos de produo, essa deciso est associada ao posicionamento estratgico dos

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    pases mais ricos, uma vez que os produtos acabados possuem maior intensidade tecnolgica,

    valor agregado e se adequam mais facilmente a mudanas na demanda. Articulado a isso, a

    redistribuio da produo tambm ocorre devido a fatores polticos e institucionais, como

    legislao trabalhista e ambiental menos rigorosa dos pases perifricos e a necessidade dos

    pases industrializados reduzirem suas emisses de CO2(ANDRADE, CUNHAet al., 1999).

    Adotando uma viso de mdio prazo, a concentrao da produo de semi-acabados nos pases

    perifricos pode trazer uma sria de conseqncias indesejveis, inclusive do ponto de vista

    econmico. Os produtos semi-acabados possuem um valor mais baixo em relao aos produtos

    siderrgicos mais nobres (CROSSETTI e FERNANDES, 2005) e isso pode ter impactos negativos

    nas balanas comerciais. Em segundo lugar, esses produtos so commodities, no possuindo

    nenhum diferencial, tendo seu preo bastante influenciado pela demanda e sendo, por isso, mais

    voltil. Por exemplo, no perodo 1998-2002, o mercado passou por uma situao de baixa

    demanda, que fez o preo do lingote de ao passar de US$ 260 por tonelada para US$ 160 por

    tonelada (METTALBULLETIN, 1993-2009). Essa tendncia foi revertida a partir de 2002, quando

    se configurou uma situao de alta, principalmente pelo aumento de demanda pelo sudeste

    asitico e pela China (ANDRADE, CUNHAet al., 2002). Em outras palavras, ao concentrar suasexportaes em commodities, esses pases aumentam a vulnerabilidade de suas economias, que

    ficam mais dependentes de fatores sobre os quais eles no tm controle.

    A internacionalizao da produo brasileira, o reposicionamento estratgico do Brasil como

    exportador de semi-acabados e a perspectiva de aumento de demanda em funo do crescimento

    do consumo na sia (particularmente na China) tm motivado as empresas a investirem no

    aumento da produo. O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) prev que, somente considerando

    o parque existente, as empresas iro fazer investimentos da ordem de US$ 17,2 bilhes entre

    2007 e 2012, elevando a capacidade instalada de 37,1 milhes de toneladas para 52,2 milhes de

    toneladas (IBS, 2007b), ou seja, um aumento previsto de aproximadamente 40% em apenas 5

    anos.

    Alm do aumento da capacidade das fbricas existentes, investimentos tambm vm sendo feitos

    em novas unidades. Nesse sentido, novos grupos comeam a aparecer como importantes atores.

    Um deles a brao siderrgico da EBX (MMX Minerao e Metlicos S.A.), que possui

    instalaes no Amap, no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais; a empresa visa atender

    principalmente consumidores nos EUA, Europa e sia (MMX, 2008). Outro grupo que vem

    tentando ampliar sua participao no mercado da siderurgia a Vale, empresa que vem

    projetando e implantando siderrgicas para semi-acabados no Esprito Santo, Maranho, Cear e

    Rio de Janeiro, todas em parcerias com companhias transnacionais.

    A expanso da produo e a instalao de novas plantas podem aumentar consideravelmente osriscos e os impactos negativos para a populao e para o meio ambiente, conforme discutido na

    prxima seo.

    4 Questes ambientais e sociais

    4.1 Produo de carvo vegetal

    No Brasil, a produo de ferro-gusa e ao o principal consumidor de carvo vegetal. Em 2006,

    76% do consumo energtico de carvo vegetal foi para o setor, e a sua produo passou de 7,0

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    milhes de toneladas em 1997 para 9,6 milhes de toneladas em 2006, um aumento de 36%

    (MME, 2007).

    A elevada necessidade de carvo vegetal exerce forte presso sobre os recursos madeireiros.

    Entre 1997 e 2006 o percentual de carvo vegetal produzido no pas a partir de mata nativa

    passou de 24,6% para 49% (AMS, 2007a). Na Amaznia Oriental pesquisadores da UFPA

    indicam que cerca de 60% do carvo que abastece essas guseiras feito sem o devido

    licenciamento (CAMARGO, 2006); para o IBAMA, esse percentual chega a quase 80% (BRASIL,

    2005).

    Na regio sudeste, as empresas vm substituindo a mata nativa por monoculturas de rvores na

    produo de carvo vegetal, as quais vm assumindo crescente importncia no conjunto do

    agronegcio do pas. Em 2004, foram plantados 115 mil hectares no pas para a monocultura de

    rvores destinas ao uso energtico, dos quais 96 mil apenas no estado de Minas Gerais (AMS,

    2007b), o que mostra a concentrao deste problema neste estado, embora a tendncia seja sua

    expanso para outras regies onde esto ocorrendo os novos investimentos, como o Maranho e

    o Par. Essa mudana deveu-se a diversas questes como: (1) o custo para se obter madeira de

    locais cada vez mais distantes; (2) ganhos operacionais na produo de carvo a partir de umamatria prima uniforme, (3) ganhos de escala e economias na plantao de rvores, em especial

    com o barateamento da produo de eucalipto, e (4) presso social (nacional e internacional),

    contra o corte de mata nativa. Com relao fonte de madeira, foram apontados aspectos

    favorveis ao uso de madeira plantada, ao invs de floresta nativa, principalmente pela

    importncia da preservao da biodiversidade. Apesar dessas vantagens relativas, a monocultura

    para produo de carvo vegetal no deve ser considerada como a soluo ideal, uma vez que,

    por ser uma monocultura, ela tambm est associada a uma srie de problemas, como a

    concentrao fundiria, o uso intensivo de agrotxicos, reduo da biodiversidade e diminuio do

    acesso de comunidades tradicionais a recursos florestais. Existem vrios parmetros para se

    calcular a necessidade de terra e diferentes autores utilizam valores diferentes. Considerando amdia nacional de uso de madeira (ANDRADEet al., 2003), se toda a produo de ferro-gusa do

    Brasil dependesse de carvo vegetal, seria necessrio derrubar todo ano uma rea de

    aproximadamente 7.463,73 mil ha, o equivalente a 1,7 vezes o estado do Rio de Janeiro.

    Alm das questes ambientais mencionadas acima, existem diversos impactos sociais negativos

    da produo de carvo vegetal que precisam ser verificados. Entre eles, h a concentrao

    fundiria, poluio atmosfrica, reproduo de relaes de trabalho injustas e explorao da mo

    de obra. Na regio da Amaznia Oriental, a siderurgia favoreceu a concentrao fundiria atravs

    de dois mecanismos principais. Em primeiro lugar, existe a concentrao direta, uma vez que

    muitas empresas na regio acabam por adquirir largas extenses de terra para a instalao demonoculturas. Denncias de movimentos sociais e casos relatados na mdia indicam que muitas

    dessas aquisies so feitas atravs de grilagem e violncia contra posseiros. A segunda

    contribuio se d de forma indireta, pois como as carvoarias compram madeira de terceiros, elas

    baratearam o custo da limpeza dos terrenos, favorecendo a expanso das pastagens

    (MONTEIRO, 2004).

    Do ponto de vista da sade ambiental, uma importante contribuio negativa das carvoarias a

    emisso de material particulado. O carvo vegetal, em sua grande parte, produzido de forma

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    tradicional, utilizando tecnologias primitivas sem sistemas de segurana e sade ocupacional ou

    controle de poluio (BRITO, 1990).

    4.2 Processo siderrgico

    O consumo de energia um importante indicador para iniciar o debate sobre siderurgia, ambiente

    e sociedade, uma vez que a produo de energia tem diferentes impactos, e medida que seu

    consumo for reduzido, menor ser a necessidade de sua produo. A produo siderrgica caracterizada por sua grande necessidade de energia, principalmente trmica, para fundir o ferro-

    gusa e, assim, conseguir transform-lo em ao. Segundo o Ministrio de Minas e Energias, os

    setores de ferro-gusa e ao ampliaram sua participao conjunta no consumo total de energia do

    pas de 5,3% em 1970 para 8,4% em 2006 Considerando a origem dessa energia, em 2006, as

    principais fontes foram o coque de carvo mineral (34%), carvo vegetal (27%) e eletricidade

    (8,5%) (MME, 2007).

    As siderrgicas brasileiras tm tentado reduzir sua dependncia energtica, principalmente,

    atravs de ganhos de eficincia. Entre 1970 e 2006, a energia necessria para produzir uma

    tonelada de ao foi reduzida de 0,6 tonelada equivalente de petrleo (tep) para 0,55 tep (MME,

    2007). Entretanto, do ponto de vista comparativo, as siderrgicas brasileiras ainda so pouco

    eficientes (BARTON, 1998); segundo as estimativas de Worrel et al (1997), de uma lista de sete

    pases, o Brasil era o sexto em eficincia energtica, ficando atrs da Alemanha, Japo, Frana,

    Estados Unidos e Polnia, e apenas na frente da China. Considerando a riqueza gerada, em

    1970, o setor metalrgico1 usava 0,454 tep (tonelada equivalente de petrleo) para gerar

    US$1.000 de riqueza; em 1980, essa relao subiu para 0,541 e atingiu 0,844 em 2006 (MME,

    2007). Em outras palavras, a metalurgia brasileira gasta mais energia hoje do que h 35 anos

    para gerar a mesma quantidade de riqueza, o que basicamente explicado pela crescente

    desvalorizao do preo do ao medida que ele se torna uma commodity global. Outra

    alternativa de eficincia energtica utilizada pelas empresas o aproveitamento dos gases em

    alta temperatura produzidos para gerar energia (co-gerao); em 2006, as empresas brasileiras

    conseguiram, em mdia, produzir 27% da energia que consumiram (IBS, 2006).

    Como conseqncia da grande intensidade energtica do setor siderrgico, assim como de suas

    fontes de energia, outro importante problema ambiental associado produo de ferro e ao a

    poluio atmosfrica. O processo siderrgico emite uma srie de poluentes como xidos de

    enxofre (SOx), gs sulfdrico (H2S), xidos de nitrognio (NOx), monxido de carbono (CO),

    dixido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6), material particulado e diferentes

    hidrocarbonetos orgnicos, como o benzeno.

    CO2 e CH4 contribuem para o aumento da quantidade de carbono na atmosfera e,

    consequentemente para as mudanas climticas. Segundo as estimativas de Kim & Worrel

    (2002), apesar da baixa eficincia energtica do setor siderrgico brasileiro, sua contribuio

    relativa (medida em tonelada de carbono emitida por tonelada de ao) para as mudanas

    climticas seria baixa, quando comparado com outros pases. Em uma lista de seis pases, o

    Brasil aparece com maior eficincia do que Mxico, Coria do Sul, Estados Unidos, ndia e China.

    1O Balano Energtico Nacional no apresenta os indicadores de intensidade energtica desagregados por setor. A metalurgia incluios setores ferro-gusa, ao, ferro-ligas e metais no-ferrosos.

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    Essa vantagem, segundo os autores, seria devida ao uso do carvo vegetal pelas empresas

    brasileiras. Contudo, quando comparadas s emisses anuais totais de CO2 pelo setor

    siderrgico, o Brasil aparece em segundo lugar, atrs apenas do Mxico.

    SOx e NOx reagem com a umidade presente no ar e formam, respectivamente, cido sulfrico e

    cidos de nitrognio, constituindo assim a chamada chuva cida. Dependendo do grau de acidez

    da chuva, ela pode impactar negativamente plantas, aumentar a acidez de rios e lagos, aumentar

    a mortandade de peixes e outros animais, e danificar prdios e construes.

    Material particulado, com dimetro igual ou menor a 10, est associado com diferentes problemas

    de sade, incluindo problemas respiratrios e aumento da incidncia de cncer (GIODA, SALES

    et al., 2004). Estes problemas so ampliados na presena dos hidrocarbonetos policclicos

    aromticos (HPAs), que so produzidos pela combusto incompleta da matria orgnica presente

    no carvo e adsorvidos no material particulado (TERRA FILHO e KITAMURA, 2006).

    Os HPAs so substncias que possuem dois ou mais anis aromticos condensados. Muitas

    destas substncias so potenciais carcinognicos e mutagnicos, pois podem reagir (diretamente,

    ou aps transformaes metablicas) com o DNA. Os HPAs podem ser liberados na atmosfera

    tanto na sua forma gasosa, quanto adsorvidos no material particulado, dependendo do seu grau

    de volatilidade. Quando os seres vivos absorvem esses componentes em sua forma gasosa, eles

    so rapidamente eliminados, porm quando associados a partculas inalveis, a eliminao mais

    demorada. Quando as partculas se depositam no solo, alguns desses elementos degradam-se

    muito lentamente (PEREIRA NETTO, MOREIRAet al., 2000; TERRA FILHO e KITAMURA, 2006).

    Ainda com relao segurana qumica, outro importante problema relacionado siderurgia a

    exposio ao benzeno. O benzeno um hidrocarboneto cclico aromtico, e apresenta-se como

    um lquido, incolor, voltil e altamente inflamvel. Na siderurgia ele aparece como um produto

    secundrio na produo de coque. A exposio crnica ao benzeno tem impactos nos sistemas

    nervoso, endcrino e imunolgico, alm disso, ele pode causar leucopenia e leucemia (MIRANDA,DIASet al., 1999). Estudos indicam que, se uma populao de 30.000 pessoas estiver exposta a

    1 ppm de benzeno na atmosfera, so esperados 60 novos casos de cncer (em 1990, a exposio

    ocupacional mdia na CSN era de 4 ppm) (MACHADO, COSTAet al., 2003).

    Quanto ao uso dos recursos hdricos pelas siderrgicas, duas questes vm sendo consideradas

    mais relevantes: o consumo de gua e a contaminao dos corpos dgua pelos efluentes

    industriais. Com relao ao consumo dgua, os volumes usados pelas usinas elevado,

    principalmente devido necessidade de resfriamento dos equipamentos. As usinas vm tentando

    adotar sistemas de recirculao para reduzir a presso sobre os recursos hdricos e tm

    conseguido reciclar aproximadamente 90% da gua utilizada. Considerando a captao de 14,94

    m3de gua por tonelada de ao produzida (IBS, 2006), pode-se estimar que o setor captou, em

    2006, um total de 453 milhes de m3; o equivalente metade de toda a gua distribuda no estado

    do Rio Grande do Sul (IBGE, 2000).

    Com relao aos efluentes gerados, eles apresentam alta concentrao de contaminantes. Entre

    os poluentes encontrados esto amnia, benzeno e outros componentes aromticos, slidos em

    suspenso, cianetos, fluoretos e zincos, leos, cobre, chumbo, cromo e nquel. Para lidar com

    esse problema, todas as usinas devem ser equipadas com estaes eficientes de tratamento de

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    efluentes. Ainda assim, o problema no pode ser considerado resolvido, j que o lodo dessas

    estaes deve ser tratado como resduo slido, cujo impacto ambiental depender da qualidade

    final de sua destinao (BARTON, 1998). Apenas em 2006 estima-se que a indstria siderrgica

    gerou 1,35 milhes de toneladas de lamas que incluem, entre outros, o lodo das estaes de

    tratamento (IBS, 2006).

    Outro resduo slido problemtico o chamado p de balo, o material coletado pelo sistema de

    limpeza a seco dos gases do alto forno. Sua produo em termos relativos no muito elevada:

    as guseiras de Minas Gerais produzem entre 28 e 45 kg de p de balo para cada tonelada de

    gusa. Porm, devido presena de grande quantidade de fenis (compostos orgnicos com anis

    aromticos de elevado potencial txico e cancergeno), este material considerado como resduo

    Classe I. Segundo pesquisa de Oliveira & Martins (2003), cerca de 75% desse material

    acondicionado nos ptios das empresas a cu aberto, o que permite que ele seja disperso e

    contamine solo e corpos dgua.

    Em termos quantitativos, um importante resduo slido produzido pelas siderrgicas a escria de

    aciaria. Este sub-produto possui uma grande quantidade de metais como alumnio, antimnio,

    cdmio, cromo, estanho, mangans, molibidnio, selnio, tlium e vandio. Em 2005, assiderrgicas brasileiras produziram cerca de 9,6 milhes t de agregados siderrgicos, dos quais

    93% foram reutilizados ou comercializados, principalmente para a indstria de cimento (IBS,

    2006). Apesar de estudos apontarem que os metais presentes na escria e no clnquer no

    lixiviam em quantidades significativas (PROCTOR, SHAYet al., 2002), ainda no so claros os

    impactos para a sade de trabalhadores da indstria de cimento e da construo civil da inalao

    constante de p de cimento com elevada concentrao desses elementos.

    Dessa forma, pode-se concluir que a produo de ferro-gusa e ao no apenas consome grandes

    quantidades de recursos (como energia e gua), mas geram inmeros poluentes. Os dados

    indicam que as empresas tm investido principalmente em solues tecnolgicas (como

    recirculao de gua e co-gerao de energia) para aumentar sua eficincia e reduzir seus

    impactos. Contudo, embora esses ganhos sejam importantes, eles so apenas incrementais e no

    conseguem compensar de forma substantiva o conjunto dos impactos decorrentes do aumento da

    produo. Dessa forma, considerando os nmeros absolutos, os impactos das empresas

    continuam a crescer.

    5 Estudos de caso

    5.1 Plo Carajs (MA, PA, TO)

    Nos anos 1980, o Programa Grande Carajs foi criado como parte de uma proposta para

    industrializar e desenvolver a parte oriental da Amaznia. Em teoria, afirmava-se que aconstituio de um primeiro estgio da indstria siderrgica (a produo de ferro-gusa) iria levar

    naturalmente ao surgimento do restante da cadeia, formando um complexo industrial e

    dinamizando a economia local. Entretanto, quase trinta anos depois, o plo rene apenas

    guseiras, cuja produo exportada em quase sua totalidade. Como resultado, surgiu uma srie

    de problemas ambientais e sociais.

    Atualmente existem cerca de 25 mil carvoarias na regio, das quais apenas 5 mil so legalizadas.

    Conforme mencionado anteriormente, grande parte do carvo produzido oriunda de desmate

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    ilegal. Entre 2005 e 2007, o IBAMA visitou diferentes empresas nos estados do Maranho e Par

    encontrando vrias irregularidades; entre elas estavam recebimento de carga de caminhes sem

    Autorizao de Transporte de Produto Florestal (ATPF), utilizao de carvo de reas sem plano

    de manejo e carvo produzido sem autorizao de desmatamento. Alm disso, havia ainda

    empresas funcionando sem licena de operao e empresas fantasmas (SATO e COSTA, 2005;

    BRASIL, 2006; 2007; HASHIZUME, 2007; MACEDO, 2007).

    Afora os problemas com desmatamento, outra questo muito debatida na regio de Carajs diz

    respeito s condies de trabalho. A explorao da mo de obra nas carvoarias muitas vezes

    chega a situaes extremas, sendo comum a manuteno de trabalhadores em situaes

    anlogas escravido. H uma grande quantidade de carvoarias siderrgicas que foram includas

    na Lista Suja do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) (MTE, 2008; REPRTER BRASIL,

    2008).

    Em 1999, o Ministrio Pblico do Trabalho (MPT) acordou um Termo de Ajustamento de Conduta

    (TAC) com as siderrgicas, que definia as carvoarias como responsveis pelo trabalho escravo e

    estabelecia que as siderrgicas deveriam atuar para corrigir essa situao. Porm, como as

    usinas no cumpriram o TAC, a partir de 2003, o MPT passou a orientar os auditores aresponsabilizar as siderrgicas por trabalho escravo quando constatassem que os empregadores

    nas carvoarias eram gatos a servio das empresas. A maior parte das usinas foi ento autuada,

    algumas, mais de uma vez. (CAMARGO, 2006). Uma das conseqncias da mudana de

    estratgia do MPT foi a criao, em 2004, do Instituto Carvo Cidado (ICC), uma organizao

    mantida pelas siderrgicas que, em teoria, se comprometeria a identificar locais onde h

    explorao de trabalho degradante, realizaria auditorias nas carvoarias e promoveria a correo

    dos problemas (ICC, 2004; MENDES, 2005).

    5.2 So Lus (MA)

    Em 2004, a empresa Vale iniciou estudos para verificar a viabilidade de instalar um complexo detrs usinas siderrgicas e duas guseiras em So Luis do Maranho. De acordo com o projeto, o

    plo siderrgico teria capacidade de produzir cerca de 22,5 milhes de toneladas de ao por ano,

    principalmente produto semi-acabado para a exportao (ALMEIDA, 2005; SANTANA, 2005). Isso

    faria do estado do Maranho o principal produtor de ao do pas.

    O plo siderrgico, que seria construdo em parceria com o grupo chins Baosteel Group, estaria

    localizado originalmente a seis quilmetros do centro da cidade de So Lus, em uma rea de

    2.471 hectares quilmetros quadrados. Do ponto de vista ambiental, ele consumiria entre 8 e 13

    milhes de toneladas de combustvel fssil, e necessitaria de cerca de 2.400 litros de gua por

    segundo (apesar de estar em uma localidade onde h problemas no abastecimento de gua e

    cuja populao somente recebe gua em dias alternados). Considerando as questes sociais, o

    empreendimento levaria remoo de 11 comunidades, totalizando mais de 14.000 pessoas,

    includo populaes rurais, marisqueiros, pescadores artesanais e quilombolas (SANTANA, 2005;

    CONAMA, 2006).

    A perspectiva do projeto despertou insegurana entre os moradores da regio, principalmente

    porque, apesar de estarem na localidade h dcadas, muitos no possuam ttulo de posse de

    suas terras. Como conseqncia desse conflito scio-ambiental essas comunidades, juntamente

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    com entidades ambientalistas e movimentos sociais, constituram um movimento chamado de

    Reage So Lus. Este buscou defender os interesses das principais comunidades afetadas e

    construiu uma oposio crtica instalao do projeto. Uma de suas principais reivindicaes era

    a transferncia da responsabilidade pelo licenciamento ambiental do rgo ambiental estadual

    para o IBAMA (ALMEIDA, 2005). Alegando os denominados custos ambientais do projeto, a Vale

    passou a considerar a transferncia do investimento para outro local (SPITZ, 2007).

    5.3 Pecm (CE)

    Em 2004, a Vale assinou um memorando de entendimento com a coreana Dongkuk Steel Mill Co.

    e a italiana Danielli para constituir a Cear Steel, cuja produo seria principalmente voltada para

    a exportao de produtos semi-acabados. Entretanto, o projeto original, que envolvia a utilizao

    de gs natural, no pde ser levado adiante, devido ao fato da Petrobrs no poder garantir

    fornecimento do combustvel. Como alternativa, a Vale e a Dongkuk optaram por substituir o gs

    por carvo mineral, e ao invs da Danielli, firmaram um novo acordo com a empresa japonesa

    JFE Steel Corporation. Dessa forma, constituiu-se a Companhia Siderrgica do Pecm (CSP)

    (FOLHA ONLINE, 2005; TELES, 2007; FOLHA ONLINE, 2008).

    Do ponto de vista dos recursos naturais, a usina ir ocupar um terreno de 297 hectares, consumir

    gua equivalente a um municpio de 90 mil pessoas (um recurso crtico na regio do semi-rido) e

    utilizar 180 MW de potncia (mais de 14% de toda a potncia fornecida aos estados do Cear e

    Pernambuco) (RIGOTTO, 2007). Em 2007, movimentos sociais locais, juntamente com

    acadmicos, organizaram, em articulao com o Ministrio Pblico Federal, um movimento de

    resistncia instalao da siderrgica em Pecm (DUTRA, 2007).

    5.4 Rio de Janeiro (RJ)

    A Vale tambm vem desenvolvendo, em parceria com o grupo alemo ThyssenKrupp Steel, outro

    importante projeto siderrgico no Rio de Janeiro, junto Baia de Sepetiba. A Companhia

    Siderrgica do Atlntico (CSA), voltada principalmente para a exportao de produtos semi-acabados, dever estar operando em 2009.

    As primeiras aes contra o projeto comearam a ser movidas em 2006, devido s atividades de

    dragagem de um canal na Baia de Sepetiba para permitir a construo de um terminal de carga

    para escoamento da produo. Movimentos sociais locais questionaram o procedimento da

    empresa, pois segundo ambientalistas e pescadores a dragagem estaria revolvendo o fundo da

    baa e espalhando grande volume de lama contaminada por metais pesados (DURO, M., 2007;

    DURO, V. S., 2007).

    Em 2007, a CSA teve parte de suas obras embargadas pelo IBAMA, em funo de ter suprimido 4

    km2 de mangue (embora a licena fosse para 2 km2) para a construo de uma ponte. Olicenciamento do empreendimento de responsabilidade do governo do estado e a empresa

    alegou ter tido autorizao do Instituto Estadual de Florestas e da Fundao Estadual de

    Engenharia do Meio Ambiente (rgos ambientais estaduais) para ampliar a rea de supresso. O

    IBAMA, entretanto, alegou que os rgos estaduais teriam delegado ao IBAMA a responsabilidade

    pelo licenciamento e, em momento algum, comunicaram a mudana no projeto (O DIA, 2007).

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    5.5 Corumb (MS)

    Em Corumb, o grupo EBX possui um sistema de produo siderrgica que consiste em uma

    unidade de sinterizao, dois mini-fornos, uma aciaria e uma unidade de laminao. Em 2007, a

    empresa j operava os dois alto-fornos (COALIZO RIOS VIVOS, 2008).

    O processo de licenciamento do plo de Corumb desenvolveu-se de forma pouco ortodoxa. Na

    data da audincia pblica sobre o empreendimento em Corumb, carros de som com o logotipoda prefeitura passeavam pela cidade com palavras de ordem como Fora ambientalistas!, Vamos

    expuls-los bala! (NASSIF, 2006). Apesar desses problemas, a licena foi concedida, porm

    suspensa posteriormente. O juiz considerou ilegtima a licena concedida pelo Instituto de Meio

    Ambiente do Pantanal, uma vez que o empreendimento envolvia impactos ambientais alm das

    fronteiras nacionais, devendo, portanto, ser analisado pelo IBAMA (ANDRADE, 2007).

    Mesmo com todas essas questes, o empreendimento foi concludo e a usina entrou em

    operao. Entretanto, em 2007, a Polcia Federal e o IBAMA flagraram extrao ilegal de madeira

    para a produo de carvo dentro do municpio de Corumb, na terra dos ndios Kadweu. Atravs

    dos Documentos de Origem Federal, os rgos de fiscalizao puderam averiguar que o carvo

    estava sendo encaminhado para as siderrgicas do grupo EBX (MAHMOUD, 2007).

    6 Anlise e discusso

    A parte descritiva deste artigo buscou apresentar diferentes aspectos da produo de ferro e ao

    no Brasil. Primeiramente, foi abordada a questo econmica, em seguida se discutiu impactos

    scio-ambientais relacionadas ao setor e, por fim, apresentaram-se os principais conflitos

    discutidos pelas entidades que integram a RBJA. Nesta seo, pretende-se analisar essas

    informaes, buscando identificar possveis estratgias de ao para tentar reduzir os efeitos

    negativos da produo siderrgica.

    Com relao estrutura do setor, identificou-se que o setor siderrgico se divide em dois grandesgrupos: as guseiras e as empresas siderrgicas, que merecem ser tratadas de formas distintas.

    Comparadas aos grandes grupos siderrgicos, a guseiras so empresas de menor porte,

    possuem alguma relevncia regional, mas pouca visibilidade nacional. Elas esto concentradas

    em dois grandes plos, um em Minas Gerais e outro na Regio de Carajs. Os grupos de

    empresas localizados nesses plos possuem caractersticas distintas: as guseiras de Carajs

    produzem quase que exclusivamente para o mercado internacional, mas apresentam muitas

    prticas inadequadas de produo, principalmente ligadas compra de carvo produzido em

    condies anlogas escravido a partir de desmatamento ilegal. Essas empresas tm sido alvo

    constante de aes do IBAMA, Polcia Federal e Ministrio Pblico e do Ministrio de Trabalho e

    Emprego. Documentos sobre Carajs circulam com alguma freqncia entre as entidades daRBJA. As guseiras de Minas Gerais dirigem a maior parte de sua produo para o mercado

    domstico, no existindo muitos documentos diretamente relacionados a elas no Banco Temtico

    da RBJA, embora estejam indiretamente ligadas extrao de madeira ilegal no Mato Grosso do

    Sul. Segundo o SINDIFER (2007), o carvo utilizado em Minas Gerais produzido a partir de

    monoculturas de eucalipto, o que aproxima as discusses e conflitos scio-ambientais em torno

    da produo de ao com as crticas produo de celulose, como as realizadas pela Rede Alerta

    contra o Deserto Verde.

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    Dadas essas caractersticas, os impactos criados por esses dois grupos de empresas so

    bastante distintos, assim como as estratgias que vm sendo ou podero ser utilizadas pelos

    movimentos sociais. No caso de Carajs, existem problemas claros de ilegalidade, portanto,

    atuaes conjuntas com rgos governamentais podem produzir efeitos significativos. Porm,

    como as empresas tm uma forte influncia regional, em especial com os governos estaduais e

    municipais das reas envolvidas, parece ser desejvel atuar em conjunto com rgos federais

    como forma de obter uma atuao mais isenta e responsvel nos processos de licenciamento, porexemplo. Alm disso, como parte considervel de sua produo voltada para a exportao,

    parcerias estratgias com entidades e redes internacionais (principalmente nos EUA, principal

    consumidor de ferro-gusa brasileiro) tambm podem surtir efeitos. Essas estratgias podem, a

    princpio, tambm ser aplicadas no caso das empresas localizadas no Mato Grosso do Sul.

    O debate sobre as guseiras de Minas Gerais, em um primeiro momento, parece ser mais

    sofisticado. Como essas empresas obtm o carvo a partir da monocultura de eucalipto, que no

    diretamente associada a prticas ilegais pelos rgos governamentais e pela sociedade em

    geral, a discusso se torna mais complexa. O debate sobre os chamados desertos verdes vem

    ocorrendo h alguns anos, porm o uso do eucalipto plantado costuma ser divulgado como umaprtica mais adequada do que o corte de mata nativa e (devido questo do aquecimento global)

    do que a utilizao do carvo mineral. A prpria conexo entre a siderurgia e as monoculturas de

    rvores parece ser menos direta, o que dificulta a responsabilizao das empresas. De forma

    geral, as guseiras de Minas Gerais comercializam seus produtos para o mercado interno, porm

    como fabricam bens intermedirios so invisveis para a opinio pblica. Nesse sentido, pode-se

    tentar pression-las atravs da co-responsabilizao das empresas siderrgicas, das quais

    tratamos a seguir. Esses fatores facilitam eventuais alianas entre grupos ambientalistas mais

    conservacionistas com empresas e rgos de governo em torno de padres considerados mais

    sustentveis de preservao.

    O setor de produo do ao possui caractersticas bastante distintas. Ele composto por poucasempresas, todas de grande porte e, em sua maioria, controladas por grupos internacionais. Essas

    empresas tm marcas reconhecidas, so mais visveis para a sociedade e tendem a se preocupar

    com sua imagem corporativa frente sociedade e seus clientes. Esse argumento poderia,

    teoricamente, levar tais grupos a terem uma postura, ainda que limitada ao escopo da chamada

    governana ambiental, mais aberta ao debate com movimentos sociais, principalmente

    considerando o elevado grau de internacionalizao das corporaes envolvidas. Essa

    argumentao pode ser relativizada diante dos pases emergentes que fazem parte da

    composio acionrias dos novos investimentos, como a China e a Coria do Sul. Entretanto,

    apesar do processo de reestruturao, fuso e ampliao da produo, as crticas s siderrgicas

    existentes no vm sendo utilizadas na mobilizao e argumentao pelas entidades da RBJA.

    Questes como poluio atmosfrica, segurana qumica, contaminao de corpos dgua ou

    disposio de resduos slidos so potenciais casos de injustia ambiental e, a princpio, deveriam

    estar na agenda da rede. Existe a possibilidade das empresas estarem todas funcionando

    adequadamente sem causar efeitos negativos s populaes e ao meio ambiente no seu entorno,

    porm essa hiptese parece pouco provvel. Por outro lado, tambm possvel que as empresas

    estejam causando impactos negativos, cujas denncias no esto alcanando a RBJA. Nesse

    sentido, talvez seja indicado que as entidades da rede tomem uma posio pr-ativa, buscando

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    localizar entidades e movimentos sociais prximos s siderrgicas e mapear possveis situaes

    de conflito e injustia ambiental.

    Com relao aos conflitos scio-ambientais que envolvem entidades da RBJA, com exceo do

    Plo Carajs, todos os outros casos esto relacionados a novos empreendimentos. Nesse campo,

    ao invs de empresas tradicionais do setor siderrgico, os conflitos se do com novos atores.

    Por um lado, a EBX, com seu plo em Corumb, por outro a Vale, que vem criando diversas joint-venturescom grupos internacionais. No caso da EBX, diante da vulnerabilidade institucional que

    dificulta uma atuao mais efetiva dos rgos ambientais estaduais, as entidades tm tentado

    envolver rgos federais, para evitar a dependncia dos rgos estaduais e aes de conivncia,

    ou mesmo de intimidao, por parte dos governos locais. No caso da Vale, as entidades vm

    atuando regionalmente, de forma mais pontual; uma outra estratgia poderia ser a negociao

    coletiva sobre todas as iniciativas da empresa. Nesse sentido, seria importante, no apenas criar

    um movimento de resistncia, mas tentar construir critrios mnimos que garantam que novos

    empreendimentos tero impactos limitados sobre a populao e o meio ambiente.

    Outro aspecto que pode ser identificado nos estudos de caso a fragilidade e vulnerabilidade

    institucional dos rgos ambientais estaduais. Em todos os exemplos, com exceo de Pecm, os

    rgos federais se envolveram (ou foram convidados pelos movimentos sociais) em algum

    momento. A limitada capacidade institucional dos rgos ambientais um problema crnico no

    Brasil, e o aprimoramento de suas aes parece ainda ser um desafio a ser superado.

    Por fim, como questo de fundo, parece ainda ser necessrio o debate sobre a estratgia do

    Brasil para insero no mercado globalizado. No caso da siderurgia, o Brasil vem se

    especializando na produo de bens semi-acabados, que possuem menor valor agregado e

    contedo tecnolgico, e cuja produo exige grande quantidade de recursos naturais e gera maispoluio. Embora essa discusso possa ser feita diretamente com as empresas, existem limites

    no dilogo com elas, pois esse debate passa pelo questionamento do seu papel no

    desenvolvimento do pas, para o qual elas talvez ainda no estejam abertas. Como alternativa, os

    movimentos sociais poderiam buscar meios de alertar diretamente a sociedade para os efeitos

    (ambientais, sociais e econmicos) de mdio e longo prazo da opo por essa globalizao. Para

    aumentar as chances de aceitao de seus argumentos, eles tambm deveriam, ao mesmo

    tempo, construir coletivamente alternativas que permitam sociedade vislumbrar estratgias para

    um de desenvolvimento ambientalmente sustentvel, socialmente justo e economicamente vivel

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