microbiota do corpo humano

Download Microbiota Do Corpo Humano

If you can't read please download the document

Upload: souzacarl

Post on 05-Jul-2015

3.236 views

Category:

Documents


42 download

TRANSCRIPT

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO - USP Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes Patognicos

RESUMOS DE MICROBIOLOGIA

1. Microbiota Normal do Corpo Humano 2. Principais Caractersticas dos Microrganismos 3. Principais Microrganismos Responsveis por Infeces: Oculares Ouvido Trato respiratrio Ossos e articulaes Sistema nervoso central Pele Trato gastro-intestinal Trato gnito-urinrio Sexualmente transmissveis Paciente imunodeprimido Hospitalares Sistema vascular e septicemias

Profa. Dra. Claudia Maria Leite Maffei

2

MICROBIOTA (FLORA) NORMAL DO CORPO HUMANO.

O termo normal ou flora nativa usado para descrever microrganismos que so frequentemente encontrados em determinados stios de indivduos sadios. No entanto, devemos lembrar que o conceito de microbiota (flora) normal encerra um aspecto dinmico, que sofre influncia de vrios fatores, como por exemplo: os constituintes e o nmero da microbiota varia em diferentes reas do corpo e em diferentes idades. A criana intra-tero normalmente estril, entretanto logo ao nascer rapidamente colonizada e vai carregar uma microbiota abundante e variada em determinados locais do organismo. As condies fisiolgicas e ecolgicas locais, que determinam a natureza da microbiota. Essas condies incluem a quantidade e o tipo de nutrientes disponveis, pH, potencial de xido-reduo, resistncia substncias antibacterianas locais como bile ou lisozina e afinidade por tipos especficos de clulas epiteliais. Tudo que estiver em contato com o meio ambiente tem uma microbiota normal. Essa microbiota implantada no organismo humano, na maioria das vezes, no causa distrbios sade, so simbiticas e beneficiam o organismo. importante para o estudante de medicina, ter uma boa compreenso do papel da microbiota normal, por causa do seu duplo significado: como mecanismo de defesa contra infeces e como fonte de microrganismos potencialmente patognicos (por mudana de stio). importante tambm, conhecer a composio de cada stio para evitar confuso entre membros da microbiota normal e organismos especficos patognicos, quando da interpretao de resultados laboratoriais.

1. AES BENFICAS DA MICROBIOTA NORMAL 1.1 ANTAGONISMO BACTERIANO A implantao de um determinado microrganismo num determinado local do corpo, interfere com a implantao de outros microrganismos. Esse fenmeno devido competio por nutrientes

3

essenciais ou por produo de substncias que eliminam as espcies competidoras (bacteriocinas, perxido de hidrognio, etc...). Desta forma estabelece uma microbiota que se mantm em equilbrio impedindo a implantao de outras espcies. Quando esse equilbrio quebrado por um fator externo e/ou interno, pode ocorrer a maior proliferao de um microrganismo patognico e resultar em doena. Um exemplo tpico dessa situao so as infeces intestinais causadas por Candida, Staphylococcus aureus e Clostridium difficile, quando o indviduo submetido a tratamento por antibitico de largo espectro. Esse tratamento, usando grandes doses por tempo prolongado, suprime a maioria das bactrias do trato intestinal e permite a maior proliferao dos microrganismos citados.

1.2. A FLORA AUTOCTONE INFLUE NA FORMAO DE ANTICORPOS Animais criados em ambiente livres de germes, tm um hipodesenvolvimento dos tecidos linfides formadores de anticorpos, baixos nveis sricos de gama-globulinas e no tm imunoglobulinas para antgenos da microbiota normal, que frequentemente produz reaes cruzadas com os antgenos de organismos patognicos, perdendo o grau de proteo contra estes ltimos microrganismos.

1.3. SNTESE DE SUBSTNCIAS ESSENCIAIS As bactrias da microbiota normal do intestino so responsveis pela produo de vitaminas como o complexo B (B2 = riboflavina, B5 = cido pantotnico, B6 = piridoxina) e biotina, porm a quantidade disponvel ou absorvida pequena quando comparada com a derivada de uma dieta balanceada. Ao contrrio, a vitamina K, essencial ao organismo humano, obtida quase que exclusivamente da sntese pelos coliformes intestinais.

4

2. FLORA NORMAL DOS DIFERENTES STIOS 2.1. PELE A microbiota da pele varia quando se considera diferentes regies anatmicas e idades. Enquanto a pele da face reflete a microbiota da boca, a pele do perneo influenciada pela presena de bactrias intestinais. Price (1938) dividiu a microbiota da pele em: Transitria: - superfcial, facilmente removida e extremamente varivel. Residente: - mais profunda e estvel Os principais microrganismos da pele so: a) Cocos Gram positivos: - predominam nas regies de dobras por suportarem umidade e altas concentraes salinas. Staphylococcus epidermidis (distribuio universal) Staphylococcus aureus (recm-nascidos) Streptococcus alfa e gama-hemolticos (ao redor da boca, em crianas que possuem baixa concentrao de cidos graxos na pele). b) Bacilos Gram positivos: - aerbios, tambm com predominio em reas midas (axilas, interdigitos, etc...) Corynebacterium sp (difeteroides de distribuio universal) c) Bacilos Gram negativos: - raros, frequentemente s na regio perianal, decorrente de m higiene e composta pelos representantes da microbiota intestinal (Escherichia coli). d) Mycobacterium smegmatis: - observado em regies ricas em secrees sebceas. e) Fungos: - distribuio depende das caractersticas da pele . Malassezia furfur: - regio rica em glndula sebcea, na fase de puberdade (face, couro cabeludo, torax). Candida sp: - reas midas e dobras (interdigitos, regio infra mamria, regio inguinal). Rhodotorula sp, Torulopsis sp e Saccharomyces sp : - pele livre de pelos. f) Anaerbios no formadores de esporos: - mais frequente na puberdade e ps-puberdade, em locais ricos em glndulas sebceas e folculos pilosos. Propionibacterium acnes (couro cabeludo, axilas, face, trax).

5

2.2. APARELHO DIGESTIVO Na boca e faringe observamos uma grande variedade de microrganismos. A saliva usualmente contem uma microbiota mista de cerca de 108 microrganismos/ml. As bactrias anaerbias geralmente so observadas em nichos mais profundos como fendas da gengiva ao redor dos dentes, e nas criptas amigdalianas.Os principais microrganismos da cavidade oral so: a) Cocos Gram positivos: - Streptococcus alfa e gama-hemolticos (dentre vrios, observa-se o S. mutans que adere aos dentes com possvel papel na gnese da crie dental). Staphylococcus epidermidis Staphylococcus aureus b) Cocos Gram negativos: - Branhamella catarrhalis Neisseria sp c) Bacilos Gram positivos: - Corynebacterium sp (difterides) d) Espirilos: - Treponema (bucalis, denticum, intermedium) e) Anaerobios: - Bacteroides sp Fusobacterium sp Peptostreptococcus sp Actinomyces sp f) Fungos: - Candida sp h) Bacilos Gram negativos: - raramente observados, quando encontrados, so geralmente transitrios, decorrentes da dieta. O esfago, o estmago e intestino delgado praticamente no apresentam microbiota residente, devido a ao do cido clordrico gstrico e enzimas ppticas. O intestino grosso de adultos tem a microbiota mais variada do corpo. 25% do peso das fezes constituido por bactrias, ou seja, cerca de 1010 microrganismos/grama de fezes. O tipo de dieta afeta os componentes, sendo que geralmente os indivduos que comem muita carne vermelha possuem muito mais anaerbios que os indivduos que se alimentam com peixe ou vegetais. A microbiota intestinal de lactentes difere da dos adultos, devido a alimentao rica em lactose que favorece os Lactobacillus, responsveis pela produo de fezes cidas. a) Adultos: 90% anaerbios - Bacteroides sp (bacilo Gram negativo)

6

Fusobacterium sp, Eubacterium sp, Clostridium sp, Lactobacillus sp(bacilos Gram positivos) Peptostreptococcus sp (coco Gram positivo) 10% aerbios- 90% - E. coli 10% - Enterobacter, Proteus, Morganella, Pseudomonas (bacilos Gram negativos) Streptococcus faecalis e outros enterococos (cocos Gram positivos) Candida sp (fungos) b) Lactentes: 90% anaerbios - Bifidobacterium sp (bacilo Gram negativo) Lactobacillus sp (bacilo Gram positivo) 10% aerbios - Streptococcus sp (coco Gram positivo) 2.3.APARELHO RESPIRATRIO As fossas nasais apresentam uma microbiota semelhante a da pele do local, com predominio de: Staphylococcus epidermidis Staphylococcus aureus (portadores) Corynebacterium sp (difterides) A nasofaringe apresenta maior riqueza de Streptococcus viridans, Streptococcus gama hemolticos, porm um stio frequente para portadores de Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae (organismos patognicos). Os seios paranasais, a traquia, e a trompa de Eustquio, possuem um epitlio mucociliar que impede a colonizao desses stios, protegendo assim o ouvido mdio. Os brnquios e pulmes so praticamente estreis. 2.4. APARELHO GNITO - URINRIO O trato urinrio masculino e feminino (dentro e acima da bexiga), em condies normais, estril, com exceo da parte distal da uretra que reflete a microbiota derivada do perineo, basicamente constituda por: Staphylococcus epidermidis Streptococcus alfa e gama hemolitcos Corynebacterium sp (difterides) Bacilos Gram negativos entricos.

7

Devido a isso, o exame bacteriolgico da urina d grande importncia ao nmero de bactrias observadas e ao tipo de micorganismo. O trato genital externo feminino (vulva) e masculino, apresenta uma microbiota rica e variada, decorrente de caractersticas prprias do local (glndulas sebceas e folculos pilosos) e de contaminao perianal; sendo os principais representantes: Bacilos Gram negativos (coliformes) Corynebacterium sp (difterides) Anaerbios estritos e facultativos Streptococcus alfa hemolticos Fungos (Candida sp, Trichosporon sp) Mycobacterium smegmatis (sulco balano prepucial) A vagina sofre influncia dos hormnios de acordo com a idade, o que significa dizer que antes da puberdade e aps a menopausa, a microbiota vaginal escassa, mista, no especfica, constituda por microrganismos derivados da microbiota da pele e intestino grosso. Durante o perodo frtil da mulher, pela influncia dos estrgenos, glicognio depositado no epitlio vaginal e este passa a ser metabolizado por Lactobacillus, que constituem assim o microrganismo predominante da microbiota vaginal (bacilos de Dderlein). Sob efeito desses bacilos, o pH vaginal se torna cido (pH-4-5), permitindo assim e presena de outros microrganismos como: Streptococcus, Bacteroides, Difteroides, Candida 2.5.SANGUE, FLUDOS CORPORAIS E TECIDOS Normalmente, o sangue, fludos corporais (lquor, urina, liqudo pleural, pericrdico, sinovial, asctico) e tecidos, so estreis. Ocasionalmente, organismos podem quebrar as barreiras epiteliais como resultado de um trauma (incluindo traumas fisiolgicos) causando uma bacteremia transitria que pode ser fonte de infeco de vlvulas cardacas lesadas ou anormais, gerando endocardites, por exemplo por Streptococcus viridans (orofaringe) ou Staphylococcus epidermidis (usurios de drogas injetveis). Na maioria das vezes, os microrganismos que aparecem transitoriamente na corrente sangunea, so rapidamente eliminados pelas clulas do sistema reticuloendotelial (fagocitose). O sistema nervoso central altamente protegido anatomicamente, e s apresenta microrganismo quando h quebra de

8

barreiras.

9

PRINCIPAIS CARACTERSTICAS DOS MICRORGANISMOS 1.VIROLOGIA DNA Envelopado No envelopado Poxviridae (fd) = Vaccinia e Varola Herpesviridae (fd) = HVS,VZV,CMV,EBV,HHV6 Adenoviridae (fd) = Adenovirus Hepdnaviridae (fd) = Hepatite B Papovaviridae (fd) = Condiloma,Verrugas,Tumores Paramyxoviridae (fs) = Sarampo,Parainfluenza ,caxumba, RSV Orthomyxoviridae (fs) = Influenza Rhabdoviridae (fs) = Raiva Retroviridae (fs) = HIV Togaviridae (fs) = Rubeola Flaviviridae (fs) = Febre amarela e Dengue Bunyaviridae (fs) = Encefalite Picornaviridae (fs) = Polio,Coxsackie,Echo,Hepatite A Reoviridae (fd) = Rotavirus (fs) = Fita simples

RNA

Envelopado

No envelopado (fd) = fita dupla

2. MICOLOGIA Leveduras Malassezia furfur Cryptococcus neoformans Candida sp Trichosporon sp Rhodotorula sp Geotrichum sp Hialinos Dermatfitos Zigomicetos Fusarium sp Aspergillus sp Penicillium sp Pseudoallescheria boydii Acremonium sp Paracoccidioides brasiliensis Histoplasma capsulatum Sporothrix schenckii Blastomyces dermatitidis Coccidioides immitis Dematiceos Fonsecaea pedrosoi Phialophora verrucosa Cladosporium carrionii Madurella sp Alternaria sp Exophiala sp Piedraia hortai

Filamentosos

Dimrficos

10

3. BACTERIOLOGIA Aerbias Cocos Gram (+) Staphylococcus Streptococcus Bacilos Corynebacterium Listeria Bacillus Nocardia Streptomyces Gram (-) Neisseria Branhamella Escherichia, Shigella, Salmonella, Yersinia, Klebsiella, Citrobacter, Enterobacter, Proteus, Morganella, Serratia*. Vibrio, Aeromonas, Plesiomonas** Pseudomonas, Acinetobacter, Moraxella Alcaligenes,Xantomonas , Flavobacterium*** Campylobacter Helicobacter Haemophilus Bordetella Brucella Legionella Gardnerella Mycobacterium Leptospira Chlamydia Nocardia Borrelia Rickettsia Veillonella Anaerbias Cocos Peptococcus Peptostreptococcus Bacilos Clostridium Bifidobacterium Eubacterium Propionibacteriu m Lactobacillus Actinomyces Bacteroides Fusobacterium Prevotella Porphyromonas

AAR Espirilos Outras

Rhodococcus Treponema Mycoplasma

* Famlia Enterobacteriaceae (de Escherichia a Serratia) ** Famlia Vibrionaceae (de Vibrio a Plesiomonas) *** No fermentadores (de Pseudomonas a Flavobacterium)