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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MICRO EMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE:
MERCADO DE CRÉDITO E GESTÃO FINANCEIRA
Por: Adilson de Almeida
Orientador
Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço
2
Rio de Janeiro
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MICRO EMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE:
MERCADO DE CRÉDITO E GESTÃO FINANCEIRA
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Gestão e
finanças corporativa. Por: Adilson de Almeida
3
AGRADECIMENTOS
....Ao corpo docente e dicente da
Universidade Cândido Mendes
4
DEDICATÓRIA
.....Dedico este trabalho aos
empreendedores em Micro-empresas e
empresas de pequeno porte que, mesmo
tendo representação significativa na
formação da economia nacional, sofrem de
restrições e falta de ações
governamentais de suporte ao setor.
5
6
RESUMO
Este trabalho monográfico foi elaborado a partir da necessidade de
se analisar mais profundamente o porque da falta de longevidade das micros -
empresas e empresas de pequeno porte aqui em nosso País. Foi pautado em
cima de informações cedidas pelo Sebrae – MG e sítios governamentais que
tratavam do assunto e outras fontes bibliográficas. Perceberemos a importância
das pequenas empresas na formação de nosso PIB e na geração de empregos,
mas que há também, infelizmente, um grande numero de empresas que encerram
suas atividades de forma muita prematura, causadas, principalmente, pela
dificuldade na capitação de crédito. Perceberemos que estes empreendimentos
encontram grandes dificuldades para alavancar os seus negócios em função da
falta de políticas públicas, desburocratizadas, voltadas ao setor. Para piorar a
situação, estes empreendimentos são carentes de uma gestão financeira
competitiva e eficiente, o que causa em muitas das vezes de aplicações
indevidas dos já escassos recursos financeiros. Assim sendo, em um primeiro
plano, analisaremos as M.E. e as E.P.P. e bem como o mercado creditício em
qual estão inseridas e logo após abordaremos a necessidade de gestão do fluxo
de caixa e outros procedimentos financeiros básicos necessários para uma
gestão financeira simples, mas que poderá equilibrar os fatores eficiência x
eficácia, quebrando este ciclo entrópico existente.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 7
CAPITULO 1 - MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO BRASIL 12
1.1 Justificativas Econômicas para a Existência das MPEs 12
1.2 Caracterização das MPEs no Brasil 13
1.3 Sobrevivências das MPEs no Brasil 17
1.4 Formas de Acesso ao Crédito Disponíveis 21
CAPITULO 2: O MERCADO DE CRÉDITO 23
2.1 O mercado de crédito 23
2.2 O mercado de crédito brasileiro 24
2.3 O processo de análise de crédito 28
CAPITULO 3: GESTÃO FINANCEIRA 32
3.1 Micro e pequenas empresas: Gestão de custos 32
3.2 Fluxo de caixa: introdução 35
3.3 Fluxo de caixa: uma ferramenta financeira e gerencial 36
3.4 Fundamento dos fluxos de caixa 41
CONCLUSÃO 45
FOLHA DE AVALIAÇÃO 47
8
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo. No entanto,
quando avaliamos alguns dados relativos à importância do segmento de Micro e
Pequenas Empresas (MPEs) na produção nacional, vemos que o papel do
pequeno empreendedor é fundamental no funcionamento da economia brasileira.
Quando se observa os resultados do Global Entrepreneurship Monitor,
ratificamos esta realidade. Segundo o relatório, estima-se que no Brasil em
2002, 14.4 milhões de pessoas estavam envolvidas com alguma atividade
empreendedora, ou seja, um em cada sete brasileiros estava empreendendo,
fato este que coloca o Brasil em sétimo lugar na classificação mundial de
empreendedorismo, com uma Taxa de Atividade Empreendedora (TAE) de
13.5%. No cômputo geral, o Brasil participa com 5% dos 286 milhões de
empreendedores ativos em 2002 nos 37 países participantes da pesquisa que
resultou no relatório. Não por acaso, as MPEs assumem tamanha importância no
desenvolvimento econômico e da renda nacionais.
Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério
do Trabalho e Emprego (RAIS / MTE) de 2000, 93% do total dos
estabelecimentos empregadores do país são empresas de micro e pequeno
9
porte, respondendo por cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e 53% dos
empregos formais no Brasil.
Tabela 1 – Participação das MPEs na Economia Brasileira (%)
Total de estabelecimentos empregadores 93
Trabalhadores formais 53
PIB 20
Valor total exportado 12,4
Fonte: RAIS (2000), Funcex (2002), MONAMPE (2003)
Paradoxalmente a esta realidade, notamos que apenas 10% do total de
crédito ofertado no Brasil é destinado às MPEs.
Assim, frente a esta conjuntura, aparentemente antagônica, e dado que o
recurso financeiro é um dos elementos mais importantes no estabelecimento e
sustentação de um negócio, procura-se investigar e levantar neste trabalho alguns
dos fatores que têm proporcionado a manutenção deste status Quo, tão daninho
ao fomento das MPEs.
Nos levantamentos realizados sobre os fatores determinantes da
mortalidade, foram avaliados os principais motivos que, na opinião dos
empresários, levaram as empresas ao encerramento das atividades. Os fatores
que explicam o sucesso nos negócios, ou seja, as condições que, estando
presentes na condução do empreendimento, contribuem para diminuir as causas
de fracasso das empresas. Os fatores de Sucesso (habilidades gerenciais,
capacidade empreendedora; logística operacional) e os fatores de insucesso
10
(falhas gerenciais: falta de capital de giro, ponto inadequado, falta de
conhecimentos gerenciais e causas econômicas conjunturais: falta de clientes,
maus pagadores, recessão econômica no País, falta de crédito bancário.)
Estes fatores refletem diretamente na Taxa de mortalidade empresarial no Brasil,
que foi apurada para as empresas constituídas e registradas nas juntas
comerciais dos Estados nos anos de 2000, 2001 e 2002, revela que 49,4%
encerraram as atividades com até 02 (dois) anos de existência, 56,4% com até
03 (três) anos e 59,9% não sobrevivem além dos 04 (quatro) anos.
Os Impactos sócio-econômicos da mortalidade de empresas no País, em
valores absolutos, aplicando-se as taxas de mortalidade apuradas em relação ao
número de empresas constituídas no período, tem-se uma estimativa do total de
empreendimentos que fecharam as portas, acarretando, por conseguinte,
impactos significativos nos indicadores sócio-econômicos das regiões e do País.
A partir da estimativa do número total de empresas fechadas, tem-se o custo
social advindo do encerramento de uma atividade econômica, em termos de
dispensa de mão-de-obra, perda de poupança e distribuição de renda,
notadamente no Sul e Sudeste, principais responsáveis pela composição do
Produto Interno Bruto - PIB do País. Em termos de Brasil, e considerando que o
número médio de pessoas ocupadas na empresa extinta é de 3,2 pessoas,
estima-se o contingente de trabalhadores que perderam as suas ocupações.
Dessa forma, de um total de 772.679 empresas extintas, com até quatro anos da
data de constituição, 2,4 milhões de pessoas perderam as suas ocupações,
sendo as Regiões Sudeste e Sul as mais afetadas. Os valores acima, contudo,
não representam perda total, pois uma parcela dos recursos investidos foi
11
recuperada, conforme mostra a tabela 3. Além disso, é necessário ter presente
que há um forte dinamismo na criação de novas empresas todo ano, que alcança
em torno de 470 mil empresas instaladas, gerando novos empregos. No final, há
um processo líquido de aumento anual do número de empresas em atividade e
dos empregos gerados nas MPE.
Verifica-se que, por região, os recursos totais despendidos para o funcionamento
da empresa, em termos de capital investido em máquinas, equipamentos,
mobiliário, etc (investimento fixo) e capital de giro, permite estimar uma perda de
R$ 19,8 bilhões de inversões na atividade econômica, oriundas das empresas
encerradas, com até 04 (quatro) anos de constituição. Haja vista que os R$ 19,8
bilhões estimados têm como origem recursos próprios, segundo uma grande
parcela dos entrevistados (acima de 74% para o consolidado Brasil), pode-se
inferir que o referido montante representa a perda nominal da poupança pessoal /
familiar dos empreendedores. Do montante de R$ 19,8 bilhões, 67% compõem o
ativo imobilizado pelas empresas extintas e 33% representam os recursos
utilizados para cobrir as despesas variáveis da empresa – capital de giro.
Diante do exposto, pauteremos este trabalho um dos fatores cruciais na
concessão de crédito a qualquer agente econômico, ou seja, a informação. É
devido ao fenômeno de informação incompleta que órgãos públicos e privados,
primordialmente bancos, deixam de ofertar crédito a muitos empreendedores
que, apesar de dotados de espírito criativo, bons planos de negócio e
capacidade de liquidação de suas dívidas, não conseguem disponibilizar um
número de informações pré - determinado e formatado na burocracia legal, pois
se encontram muitas vezes na informalidade. Demonstra-se que o fator capital de
12
giro é um dos principais pontos, apontados, pelo empreendedores, como sendo
o principal causador da insolvência destes empreendimentos e que na maioria
dos casos, causa o encerramento do negócio e ou decretação de falência. E por
lado, percebe-se que, estes empreendimentos, na maioria das vezes, não
conseguem gerir com eficiência o seu capital de giro, o que também, juntamente
com a dificuldade de alavancagem financeira, tornam este setor em um dos mais
voláteis, causando grades mudanças nos fatores sociais ( renda-emprego) e
econômico para o País.
Poderemos observar que há um paradoxo nisto tudo: As empresas têm
alto índice de volatilidade por falta de alavancagem financeira que por sinal é
derivada da falta de crédito, que por sua vez, usa uma base de informação para
geração de crédito, que analisa entre outros fatores a volatilidade deste
segmento.
13
CAPITULO 1 – MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO BRASIL
1.1 - Justificativas Econômicas para a Existência das MPEs
Muitos autores descreveram o papel econômico - social das MPEs, mas
um em especial se destaca por sua lucidez na reflexão sobre o tema
“empreendedorismo”. Destaca-se quatro pontos fundamentais para o fomento ao
pequeno empreendimento como elemento crucial no desenvolvimento
tecnológico e na inovação:
1: Empresário Inovador: figura central, que busca, por meio de espírito inventivo e
criativo, a inovação tecnológica e novas técnicas de gestão e adaptação.
2: Empreendedor: dono da “intuição” que move o gênio criativo na direção do
desenvolvimento tecnológico.
3: Novos mercados x empreendedor: o produtor é que inicia a mudança
econômica e os consumidores se necessário são por ele “educados” (ensinados
a desejar novos produtos e serviços).
4: Banco de desenvolvimento:
a. Somente o empreendedor necessita de crédito para desenvolvimento industrial
com novas combinações de fatores;
b. O consumidor não necessita de crédito, pois o crédito ao consumidor não é um
elemento essencial ao processo econômico;
c. Desenvolvimento é impossível sem crédito;
14
Ainda podemos direcionar outras justificativas atuais para a existência das
MPEs: Estímulo à livre iniciativa e à capacidade empreendedora; relações
capital/trabalho mais harmoniosas; contribuição para geração de novos
empregos e absorção de mão-de-obra, seja pelo crescimento das MPEs já
existentes, seja pelo surgimento de novas; efeito amortecedor dos impactos do
desemprego; efeito amortecedor dos efeitos das flutuações na atividade
econômica (principalmente, aqueles efeitos de caráter global, de maior impacto
em empresas mais dependentes dos mercados externos); manutenção de certo
nível de atividade econômica em determinadas regiões; contribuição para a
descentralização da atividade econômica, em especial na função de
complementação às grandes empresas; Potencial de assimilação, adaptação,
introdução, algumas vezes, geração de novas tecnologias de produtos e
processos.
1.2 – Caracterização das MPEs no Brasil
Para a efetiva caracterização das MPEs no Brasil, devemos fazer algumas
considerações em relação ao seu posicionamento diferenciado na economia.
Assim, as MPEs:
1) Não são grandes organizações miniaturizadas e não são organizadas e
geridas de forma departamentalizada / segmentada;
2) Normalmente, as MPEs atuam em um mercado de bens, produtos e serviços
com características de demanda elástica e com grandes flutuações no tempo;
15
3) Apresentam baixa dificuldade de barreiras à sua entrada no mercado e com
uma concorrência fortemente presente;
4) Possuem grandes dificuldades de sobrevivência, sendo que a esmagadora
maioria desaparece em menos de dois anos e;
5) Representam mais de 90% do total de organizações existentes no Brasil.
Verificamos que a maior parte das empresas no Brasil, segundo a
classificação do SEBRAE, tem até nove empregados (se comércio ou serviço) e
até 19 empregados (se indústria), indicando a natureza dinâmica dos negócios
brasileiros.
Não por acaso, o discurso político no final dos anos 90 e do início do séc.
XXI prima, via de regra, pelo desenvolvimento de metas sustentáveis de apoio
aos micro e pequenos empresários dada, inclusive, a dificuldade de se
estabelecerem objetivos gerais (macro) que tenham eficiência real no
crescimento econômico no Brasil.
Conforme podemos observar na tabela 1.2, quando caracterizamos de
forma mais geral, percebemos que as MPEs são bem distintas das grandes
empresas e transnacionais. Vale destacar o alto grau de concentração de
compras dentro do país (nos mercados internos), reforçando a hipótese de que
são as MPEs que dinamizam a economia nacional.
16
Tabela 1.2 – Caracterização das MPEs brasileiras (ano 2000)
Características das MPEs Total–Brasil Compram só do mercado interno 90% Exportam 5% Utilizam até 50% da capacidade instalada 50% Compraram máquinas e equipamentos nos últimos três anos
30%
Querem melhorar a gestão, mas não possuem recursos 60% Utilizam a informática 30% Utilizam sistema de controle de qualidade 47% Treinam seu pessoal 30% Utilizam técnicas de marketing 20% Fazem planejamento da produção e vendas 60% Controlam e avaliam a produtividade 25% Têm controle de estoques 60% Têm gestão de estoques 20% Têm registro de marcas e patentes no INPI 35% 25% 25% Seguem normas do INMETRO 30%
Fonte: SEBRAE
Para concluir esta breve caracterização da MPE brasileira, é interessante notar
alguns dos aspectos gerenciais deste segmento, como demonstrado na tabela
1.3.
17
Tabela 1.3 – Desempenho, Capacitação e Estratégias competitivas (2000)
Faturamento médio por pessoa ocupada
Micro empresas
Pequenas
Brasil em US$ / Ano
25.000
35.000
Rejeição de produtos (média brasileira: 2%) 5%
Desperdício de matérias-primas 7%
Dias de interrupção da produção, não previstas (anual) 18
Utilizam controle estatístico do processo 17%
Utilizam “just in time” 20%
Não realizam treinamento da mão-de-obra 70%
Pessoal qualificado ou nível superior no quadro 40%
Concedem benefícios aos empregados 30%
Realizam pesquisas sobre necessidades dos
consumidores
12%
Registram as sugestões dos clientes 15%
Têm serviço de atendimento aos clientes 55%
Fazem uso de controles gerenciais 60%
Programam investimentos 30%
Dotam de informações sobre processos produtivos e
tecnologia
27%
Fonte: SEBRAE
Percebemos neste quadro a distância de comportamento das MPEs frente
às grandes empresas no que se refere às práticas gerenciais. Há, sem dúvidas,
grande espaço para profissionalização e capacitação do segmento. Tal
aprimoramento, no médio prazo, pode aumentar as chances de sustentação
18
dessas empresas no mercado no longo prazo, bem como permitir a geração e
coleta de informações necessárias na obtenção de crédito junto às instituições
financeiras privadas e públicas.
1.3 – Sobrevivência das MPEs no Brasil
Como visto anteriormente, a realidade empresarial brasileira é
eminentemente composta por MPEs, que são as verdadeiras responsáveis pela
geração de emprego no país. Assim, seu fomento é necessário e incentivável.
Como apontaram Feldmann e Audretsch (1999), as pequenas unidades
nascentes são vistas como agentes de mudança, com papel crucial na inovação
tecnológica, mas também impõem, sob a ótica tradicional, custos excessivos
para a economia como resultado de escalas de produção ineficientes,
implicando em baixa produtividade e baixos salários para seus trabalhadores.
Para estes autores, as MPEs nascentes têm em seus primeiros anos de
existência muitas incertezas quanto à demanda de seus produtos. Eles apontam
ainda que muitos dos motivos que não permitem que tais empresas sobrevivam
no longo prazo, tenham relação com a própria competência do empresário e de
seus empregados.
Muitos estudos comprovam que a taxa de mortalidade se reduz com o
porte e tempo de existência (idade) da empresa. Najberg et al (2000) apontam
para a necessidade de uma expansão do conhecimento e mapeamento das
causas que levam à realidade brasileira. Segundo estes autores, a existência de
algum tipo de filiação ou relação com uma empresa matriz (no Brasil ou exterior)
e o porte da empresa determinam em muito o nível de mortalidade das empresas
19
no Brasil. Os autores ainda investigam a alta correlação entre a taxa de
natalidade das empresas e sua taxa de mortalidade que, no período da
realização do estudo, foi de 32.6% e 25.3% para as MPEs e 4.7% e 4.5% para
as grandes empresas respectivamente. Outro ponto fundamental para se
entender o problema da sobrevivência das MPEs no Brasil é o período em que
suas atividades normalmente são encerradas. Há uma concentração grande da
mortalidade até o primeiro ano de vida da empresa.
Numa investigação mais detalhada, os autores avaliam a mortalidade das
empresas inseridas no macro-setor de atividade econômica. Assim, na indústria,
onde a economia de escala é mais relevante, é maior a mudança de porte das
firmas sobreviventes em relação, por exemplo, àquelas que compõem o setor de
comércio.
Najberg et al (2000) concluem o estudo apontando para a necessidade da
existência de políticas públicas que reduzam a mortalidade das unidades de
menor porte, uma vez que estas, apesar das altas taxas de mortalidade,
formaram o segmento que apresentou a criação líquida de empregos
(contratações superando demissões) no período analisado.
Nos levantamentos realizados sobre os fatores determinantes da
mortalidade, foram avaliados os principais motivos que, na opinião dos
empresários, levaram as empresas ao encerramento das atividades.
A pesquisa de campo levantou, ainda, os fatores que explicam o sucesso
nos negócios, ou seja, as condições que, estando presentes na condução do
empreendimento, contribuem para diminuir as causas de fracasso das empresas.
20
Os fatores de sucesso são apresentados a seguir, antecipando a discussão das
causas do fechamento apontadas nas entrevistas.
Fatores de Sucesso
a - habilidades gerenciais;
b - capacidade empreendedora;
c - logística operacional.
Fatores de insucesso:
a - falhas gerenciais
a.1 - falta de capital de giro;
a.2 - ponto inadequado;
a.3 - falta de conhecimentos gerenciais.
B - causas econômicas conjunturais:
b.1 - falta de clientes;
b.2 - maus pagadores;
b.3 - recessão econômica no País;
b.4 - falta de crédito bancário.
A taxa de mortalidade empresarial no Brasil, apurada para as empresas
constituídas e registradas nas juntas comerciais dos Estados nos anos de 2000,
2001 e 2002, revela que 49,4% encerraram as atividades com até 02 (dois) anos
de existência, 56,4% com até 03 (três) anos e 59,9% não sobrevivem além dos
04 (quatro) anos.
Em valores absolutos, aplicando-se as taxas de mortalidade apuradas em
relação ao número de empresas constituídas no período, tem-se uma estimativa
21
do total de empreendimentos que fecharam as portas, acarretando, por
conseguinte, impactos significativos nos indicadores sócio-econômicos das
regiões e do País. A partir da estimativa do número total de empresas fechadas,
tem-se o custo social advindo do encerramento de uma atividade econômica, em
termos de dispensa de mão-de-obra, perda de poupança e distribuição de renda,
notadamente no Sul e Sudeste, principais responsáveis pela composição do
Produto Interno Bruto - PIB do País.
Em termos de Brasil, e considerando que o número médio de pessoas
ocupadas na empresa extinta é de 3,2 pessoas, estima-se o contingente de
trabalhadores que perderam as suas ocupações. Dessa forma, de um total de
772.679 empresas extintas, com até quatro anos da data de constituição, 2,4
milhões de pessoas perderam as suas ocupações, sendo as Regiões Sudeste e
Sul as mais afetadas. Os valores acima, contudo, não representam perda total,
pois uma parcela dos recursos investidos foi recuperada, conforme mostra a
tabela 3. Além disso, é necessário ter presente que há um forte dinamismo na
criação de novas empresas todo ano, que alcança em torno de 470 mil empresas
instaladas, gerando novos empregos. No final, há um processo líquido de
aumento anual do número de empresas em atividade e dos empregos gerados
nas MPE.
A pesquisa apurou, por região, os recursos totais despendidos para o
funcionamento da empresa. Desta forma, o resultado consolidado para o Brasil,
em termos de capital investido em máquinas, equipamentos, mobiliário, etc
(investimento fixo) e capital de giro, permite estimar uma perda de R$ 19,8
bilhões de inversões na atividade econômica, oriundas das empresas
22
encerradas, com até 04 (quatro) anos de constituição. Haja vista que os R$ 19,8
bilhões estimados têm como origem recursos próprios, segundo uma grande
parcela dos entrevistados (acima de 74% para o consolidado Brasil), pode-se
inferir que o referido montante representa a perda nominal da poupança pessoal /
familiar dos empreendedores. Do montante de R$ 19,8 bilhões, 67% compõem o
ativo imobilizado pelas empresas extintas e 33% representam os recursos
utilizados para cobrir as despesas variáveis da empresa – capital de giro.
1.4 – Formas de acessso ao crédito disponíveis
Existem três tipos de linhas disponíveis para crédito às MPEs no país
atualmente, cujas características são melhores descritas na tabela 1.4.
Tabela 1.4 – Linhas disponíveis de crédito às MPES
Tipo Características
Para investimento e/ou
investimento fixo
O capital destinado à aquisição de máquinas
e/ou equipamentos e obras civis
indispensáveis à implantação, modernização,
funcionamento ou ampliação da empresa
Para capital de giro Recurso destinado à compra de
mercadorias, reposição de estoques,
despesas administrativas, etc.
Capital de giro associado ao
investimento misto
A parcela de recursos destinada a cobrir as
despesas que a empresa terá com
investimentos realizados. Ou seja, se a
empresa financiou uma máquina, poderá
23
necessitar de matéria-prima para a produção
– neste caso, será financiado o capital de
giro
Fonte: SEBRAE
Dentre os principais agentes financiadores das MPEs no país, destacam-
se o Banco do Brasil (BB), o BNDES e a Caixa Econômica Federal (CEF). Para
se ter uma dimensão, só em 2002, o BB ofereceu linhas de crédito no montante
de R$ 7.9 milhões, com a expectativa de aumentar este total para R$ 11 milhões
em 2003.
Entre os bancos privados, destaca-se o Unibanco que projetara para o
ano de 2003 um repasse de R$ 700 milhões, com expansão prevista em 30%
para 2004. Tal expansão foi sustentada na ampliação dos canais de acesso ao
crédito, atendimento diferenciado e oferta de serviços.
Por fim, é importante destacar a função dos bancos no apoio ao
desenvolvimento das MPEs, segundo o SEBRAE: “É função dos bancos decidir
a aprovação ou não da solicitação de empréstimo, bem como liberar os recursos
financeiros para as microempresas e empresas de pequeno porte.”
Para essa decisão, os bancos executam, pelo menos, essas tarefas:
a - Análise do cadastro da empresa, dos sócios e dos avalistas;
b- Enquadramento da operação de acordo com suas linhas de crédito;
c - Definem as garantias sobre o financiamento e negocia com o interessado;
24
d - Análise de crédito de acordo com o projeto de viabilidade econômica e
financeira.
25
CAPÍTULO 2 – O MERCADO DE CRÉDITO
2.1. O mercado de crédito
“Credit markets in underdeveloped countries often strongly reflect the operation of the llemons principle” (AKERLOF, 1970).
De acordo com dados da pesquisa realizada pelo SEBRAE – SP e a Fipe
(1999), 60% das MPEs gostariam de tomar algum tipo de empréstimo, se fosse
fácil e barato. Na prática, apenas 10 % de fato buscam um financiamento
bancário (comercial ou oficial) para alavancar seus negócios.
Conforme apontam Pinheiro e Moura (2001), muito da ineficiência atual no
funcionamento dos mercados de crédito se deve aos poucos incentivos para o
investimento em instrumentos de análise de crédito para concessões de médio e
longo prazo para empresas e indivíduos até 1994, com o início do plano real.
Até esta data, grande parte dos lucros auferidos pelos bancos advinham
de receitas com operações de floating que associadas à tradição de concessão
de crédito por bancos estatais, levava os bancos privados a não apenas
concederem pouquíssimos empréstimos, como também concentravam tais
atividades em operações de curto prazo.
Adicionalmente, os autores demonstram que no Brasil os bureaus de
informação de crédito (BICs) tradicionalmente mantêm informações negativas
sobre os tomadores de empréstimos, impossibilitando os credores de utilizar
informações disponíveis para selecionar os bons tomadores de empréstimos. A
26
ênfase sempre foi sobre a execução da dívida e não sobre a criação de bancos
de dados confiáveis sobre os históricos de pagamento do tomador.
Por fim, as péssimas práticas contábeis e a alta sonegação fiscal fazem
com que o relacionamento bancário seja uma das principais fontes de
informações sobre um amplo espectro de tomadores de empréstimos. Assim
grande parte das informações relevantes sobre a capacidade de obtenção de
crédito é privativa dos bancos, individualmente. Sem algum tipo de
regulamentação ou política governamental que atue no sentido de reduzir esta
segmentação, os bancos continuarão a explorar seu monopólio de informações,
cobrando taxa de juros e exigindo níveis de garantias (burocracia) acima
daquelas que prevaleceriam num contexto de informação simétrica.
Longe de termos um perfeito equilíbrio entre a demanda por crédito e a
oferta existente para o segmento de MPEs, este capítulo busca sintetizar as
principais teorias e percepções acerca deste complexo tema.
2.2. O mercado de crédito brasileiro
Pinheiro e Moura (2001) classificam o mercado em três segmentos, no
que tange ao volume típico de empréstimos tomados e à natureza e quantidade
de informações sobre os tomadores utilizadas pelos credores, a saber:
27
- Mercado a varejo: o número de solicitações de empréstimo é muito
alto, o tamanho do empréstimo é pequeno, as taxas de juros são altas
e o processo de tomada de decisão de crédito é descentralizado,
automatizado e baseado essencialmente em informações negativas e
terceirizadas.
- Middle-Market: os bancos tendem a basear suas decisões em
informações coletadas internamente, freqüentemente obtida por meio
de um relacionamento bancário contínuo com os tomadores. A
péssima qualidade das informações contidas nos balanços desses
tomadores, que se deve basicamente à sonegação fiscal e às práticas
contábeis ineficientes, fazem com que as informações sobre o fluxo de
caixa do tomador se tornem extremamente valiosas para avaliar sua
efetiva capacidade de pagamento.
- Grandes Corporações: têm uma contabilidade muito melhor e suas
informações são de conhecimento público. Há poucos tomadores, mas
os empréstimos tendem a ser maiores e as taxas de juros mais baixas
do que em outros segmentos.
28
Claramente, as MPEs se enquadram no segmento de varejo, com mais de
60% dos valores típicos de empréstimo demandados até R$ 20 mil e prazo de
pagamento em até 24 meses para 70% dos casos.
Outro ponto interessante a ser destacado neste segmento é a finalidade
dos empréstimos desejados para as MPEs. Em 40% dos casos, a utilização do
crédito é para uso exclusivo em capital de giro e em 30% das MPEs, o crédito
tomado seria utilizado para expansão do negócio e investimentos, com pequenas
variações nestes percentuais no caso das PEs que estão atualmente operando
com lucro. Podemos avaliar este último ponto, da finalidade do crédito
concedido, como um indicador da pouca ou precária profissionalização do setor
das MPEs. Se avaliarmos os dados dispostos na tabela 2.1, notamos um alto
grau de casamento entre os prazos médios de vendas e gastos das MPEs em
todos os níveis. Isto faz com que a MPE consiga ter muito pouco “colchão”
financeiro no curto prazo para poder operar com tranqüilidade, tendo sua saúde
financeira (ao menos de curto prazo) bastante elástica à sua demanda. Assim, se
a clientela dessas empresas estiver inadimplente, as MPEs não têm “fôlego” para
sobreviver sem tomar novos empréstimos, daí, talvez, o percentual tão elevado na
finalidade “giro”, para aplicação do novo crédito obtido.
29
2.1 – Distribuição das MPs segundo prazo médio de pagamento e prazo
médio de recebimento.
Prazo Prazo médio – vendas Prazo médio – gastos
30 dias 54% 56%
60 dias 19% 18%
45 dias 7% 6%
90 dias 6% 6%
15 dias 6% 6%
Outros prazos 8% 8%
Total 100% 100%
Fonte: SEBRAE-SP / Fipe (1999)
Quando avaliamos a distribuição dos tomadores de acordo com o valor
total de empréstimos pela quantidade de instituições financeiras ofertantes,
PINHEIRO & MOURA (2001) apresentam dados interessantes sobre as
características em que se inserem as MPEs. Segundo análise dos autores para
dados fornecidos pelo Banco Central, no caso dos pequenos devedores
(empréstimos até R$ 50 mil), a dívida com um único banco é ainda mais
predominante, e apenas uma em cada dez empresas deve dinheiro para mais de
uma instituição.
Ainda segundo os autores, para os tomadores com dívidas abaixo de R$
20 mil, 64% das MPEs, que requerem suas dívidas de uma única instituição,
concentram-se 30% do total de crédito concedido a pessoas físicas e a
30
empresas no Brasil (R$ 325 bilhões em 30 de junho de 2000), sendo R$ 53
bilhões para pessoas físicas e R$ 44,8 bilhões para empresas.
2.3. O processo de análise de crédito
Os bancos privados brasileiros não estavam muito engajados na
concessão de empréstimos e, portanto, também não eram cuidadosos com a
implementação de políticas e processos de análise de créditos, uma vez que
grande parte de suas receitas não derivava de operações dessa natureza.
No período de alta inflação (de 1974 a junho de 1994), a política monetária
visava em geral ao controle da taxa de juros nominal, fornecendo liquidez para
sustentar os crescentes níveis de demanda agregada. Com isso, as taxas de
inadimplência das empresas eram baixas, as mudanças nas provisões para
devedores duvidosos constituíam uma pequena fatia dos gastos totais dos
bancos e a receita com crédito respondia por uma fatia igualmente pequena de
seu rendimento total. Sob essas circunstancias, as políticas de crédito eram
quase inexistentes, limitando-se à manutenção dos cadastros internos dos
clientes, que armazenavam principalmente informações negativas. Os bancos
trocavam informações sobre seus clientes com outros credores (bancos e não-
bancos) por meio de uma rede informal de informantes, cuja função única era
checar os dados restritivos sobre os tomadores de empréstimos.
Só após a estabilização dos preços em 1994, com o plano real, que os
bancos passaram a se interessar em expandir suas operações de crédito,
31
concentrando-as na venda de bens de consumo duráveis. De qualquer modo,
ainda hoje, apenas 10% das MPEs requerem algum tipo de financiamento por
meio de bancos (privados e oficiais), sendo que 30 a forma predileta de
financiamento ainda se encontra no pagamento de fornecedores a prazo e
utilização do cheque pré-datado e cartão de crédito.
Com o surgimento de uma “bolha” de crédito de julho de 1994 a março de
1995, os bancos começaram também a experimentar o aumento considerável da
inadimplência que, no período, atingiu uma variação positiva de 125%. Esta
experiência catastrófica levou muitos bancos a reestruturar suas áreas de crédito,
na tentativa de introduzir novos mecanismos, políticas e procedimentos de
análise para tratar e identificar o risco de crédito.
Oito anos após a explosão dessa bolha de crédito, ainda existem
diferenças substanciais entre os bancos em relação ao estágio de seu
desenvolvimento organizacional no que se refere à formulação, implementação,
monitoramento, controle e avaliação das políticas, procedimentos e práticas de
crédito. Alguns bancos, com uma cultura de crédito mais forte, utilizam em seus
modelos informações geradas tanto internamente quanto externamente
(fornecidas, principalmente, pelos BICs). Por outro lado, bancos com políticas de
crédito menos rigorosas não utilizam critérios formais para tomarem suas
decisões de alocação de crédito e, portanto, utilizam menos informações
(incluindo das BICs) em seus modelos de análise. De forma geral, muitas
instituições financeiras buscam introduzir políticas, práticas e procedimentos
32
formais de gestão de crédito, incluindo a aquisição de métodos e modelos
estrangeiros de análise e pontuação de crédito.
Ressalta-se ainda a diferença de procedimentos adotados no processo de
análise de crédito dependendo do tipo de banco e as características do
empréstimo / tomador. No empréstimo às MPEs, a tendência geral é a de
introdução de um processo altamente descentralizado de gestão de crédito. De
acordo com ele, todas as solicitações de empréstimo são tratadas
automaticamente por métodos estatísticos, com base nas informações fornecidas
pelo cliente e/ou disponíveis nos registros públicos, com a rápida tomada de
decisão na própria agência. Em geral, as agências têm seus próprios limites de
crédito para operações garantidas. Isso significa que uma grande parcela das
operações de empréstimo (de até 80% em alguns bancos) é decidida na própria
agência, com base nos métodos descritos anteriormente.
Para finalizar esta caracterização, é necessário avaliar a importância das
análises de informações negativas (restritivas) no mercado de varejo, onde é
concedido um grande número de empréstimos de baixo valor para as MPEs.
Neste mercado, a variável discriminante é o cadastro de crédito do tomador, que
tende a priorizar fortemente as informações restritivas. Informações estas que
tendem a perder importância à medida que aumentam o tamanho e a
complexidade da operação de empréstimo.
33
De acordo com que foi exposto, podemos visualizar, de uma forma mais
clara, a importância das pequenas empresas na economia nacional - tanto na
formação do PIB, quanto na geração de empregos – e que os altos Índices de
mortalidade que em muitas das vezes, advêm de uma gestão financeira não
desejável, somada a falta de dificuldade de se alavancar com fontes externas de
recursos. Assim sendo, abordaremos, a seguir, conceitos simples, porem
preciosos para que possamos “brigar “ com este “mostro “ nominado de um
modo geral com “dinheiro”
34
CAPITULO 3 MICRO E PEQUENAS EMPRESAS:
ENFOQUE FINANCEIRO
3.1 – Micro e pequenas empresas – Gestão de custos
A falta de controle dos custos, especialmente da folha de pagamentos e
dos estoques de matéria-prima, tem tido grande participação na queda do
faturamento das micro e pequenas empresas. Foi o que descobriu a Pesquisa de
Conjuntura das Micro e Pequenas Empresas (MPE) do Estado de São Paulo
(Pecompe) do Sebrae.
É verdade que a conjuntura econômica não ajudava. O dólar disparou, as
taxas de juros estavam nas alturas, a renda e o emprego da população em baixa.
Estes são, efetivamente, os principais fatores para a queda do faturamento das
micro e pequenas empresas, apontado na Pecompe. Desde meados de 2001, a
curva do faturamento vem em baixa, e só agora mostra alguma tendência de
reversão. Segundo a pesquisa, 86% do universo de micro e pequenas empresas
35
pesquisadas pelo Sebrae simplesmente não tinham noção clara da estrutura de
custos.
Na última compilação, referente ao mês de maio de 2002, a Pecompe
mostrou que o faturamento médio das MPEs já caiu 23,5% em termos nominais
no confronto com os dados de maio de 2001. Em comparação a abril, ficou
praticamente igual, com uma pequena variação positiva de 0,1%. A queda foi
mais expressiva entre as pequenas indústrias, que reduziram seu faturamento em
3,8%, vindo em seguida os serviços, com queda de 0,6%.
No comércio houve um aumento do faturamento em 2,8%. Segundo os
coordenadores da pesquisa, o resultado positivo do comércio foi influenciado por
"fatores sazonais", basicamente o desempenho das vendas por conta do Dia das
Mães, efeito que já havia favorecido a indústria em abril. "A queda verificada
entre maio de 2001 e maio de 2002 está associada às taxas de juros elevadas e
à redução da renda real média das pessoas ocupadas", sustentam os
coordenadores.
Os pesquisadores, porém, desconfiaram que não era um problema só de
conjuntura. Resolveram então aprofundar alguns aspectos da Pecompe para
descobrir porque as pequenas e micro empresas estavam perdendo dinheiro. E
descobriram que elas não têm idéia de como se formam seus custos mais
importantes.
A Pecompe vinha mostrando que o faturamento das empresas estava
crescendo muito lentamente, mesmo em fases melhores da economia.
Começaram a desconfiar que não era só por causa da economia. Resolveram
então fazer um estudo exploratório, colocando questões sobre o processo de
36
formação de preços e apuração dos custos". As respostas surpreenderam: 86%
do universo de micro e pequenas empresas pesquisadas pelo Sebrae
simplesmente não tinham noção clara da estrutura de custos. Em geral elas
seguem a concorrência, ou seja, elas formam preço olhando para os preços uns
dos outros. Mas não conhecem os principais mecanismos de controle.
Alguns dos mais fortes sinais de que os microempresários não controlam
direito seus custos, foram encontrados na gestão de pessoal e de estoques. Em
pesquisas anteriores, o Sebrae já constatava que o custo de matéria-prima
responde por 75% da despesa no comércio, 53% na indústria e 19% nos
serviços. O gasto com pessoal representa 11% no comércio, 24% na indústria e
56% nos serviços.
Entre 65% dos entrevistados, o próprio dono do negócio é quem faz o controle de
matérias-primas. No entanto, descobriram, nas mesmas atividades, pessoas que
faziam o controle uma vez por dia, uma vez por mês, uma vez por ano. Ou seja, é
muito disperso, não há uma sistemática de controle de matérias-primas
desenvolvida para cada atividade.
Quando se trata de folha de pagamento dos funcionários, 64% dos
entrevistados revelaram que seu controle de gastos era terceirizado em firmas de
contabilidade. O lado positivo de se terceirizar a folha é se livrar da burocracia. O
lado negativo é perder o controle desse custo.
Essa falta de um controle mais apurado dos custos pode, inclusive,
comprometer a própria sobrevivência dessas empresas, em especial em uma
conjuntura econômica difícil, com retração das vendas, como a que algumas
delas atravessam atualmente. As empresas poderiam tentar reverter este quadro
37
aplicando uma política de gestão de custos e introduzindo, principalmente, uma
administração financeira capaz.
3.2 – Introdução ao fluxo de caixa
Em 1492, o monge franciscano, Lucca Pacioli, publicava, na cidade
italiana de Santo Sepulcro, o livro "Análise Aritmética das Proporções e das
Proporcionalidades", no qual lançava as bases da contabilidade tal como nós a
conhecemos hoje. Os fundamentos sobre os quais se baseiam os princípios
contábeis idealizados por Lucca Pacioli foram tão bem concebidos que se
conservam inalterados até os dias de hoje.
Nos últimos quinhentos anos a contabilidade tem sido o grande
instrumento de gestão empresarial em geral e de gestão financeira em particular.
No entanto, com a crescente complexidade dos processos empresariais, a
contabilidade começa a apresentar suas vulnerabilidades, o que dificulta ao
administrador uma visão precisa da situação financeira e patrimonial de seu
negócio. Isto faz com que o administrador busque novos instrumentos que o
auxiliem a interpretar a realidade de seu negócio. E é aí que entra o fluxo de
caixa.
No entanto o fluxo de caixa tem sido usado, quase que exclusivamente,
como instrumento de avaliação de investimentos. Muito pouco tem sido escrito
acerca o fluxo de caixa como o poderosíssimo instrumento de gestão financeira
38
que ele é. Daí as empresas, de um modo geral, fazerem um uso tão limitado de
suas possibilidades. E, no entanto, o fluxo de caixa pode ser usado para obter
informações tais como: Qual a capacidade de a empresa de gerar recursos para
financiar suas operações? Se a empresa é geradora de caixa, porque o dinheiro
não aparece? Se a empresa não é geradora de caixa, o que é que tem
viabilizado suas operações?; Quais as necessidades de capital de giro da
empresa?; Qual a relação ótima entre o capital de giro próprio e o de terceiros na
empresa ? Qual o saldo de caixa mínimo que a empresa deve manter para fazer
face a suas obrigações financeiras ?; Qual a capacidade de a empresa
imobilizar ou distribuir dividendos sem fragilizar a estrutura de capital de giro?; A
capacidade de geração de caixa da empresa é compatível com suas políticas de
reposição de estoques e de financiamento de seus clientes?
Apesar de ser um instrumento importantíssimo de gestão empresarial e
financeira, o fluxo de caixa é quase completamente desconhecido pelas
empresas e desprezado pelo meio acadêmico. Os livros que tratam do assunto
são poucos e, quase sempre, ruins. Sem que o meio acadêmico disponibilize
estas informações, o meio empresarial faz um uso muito limitado deste
instrumento. O que nós vemos, quase sempre, é que as empresas olham para o
fluxo realizado apenas para verem se o saldo no período foi positivo ou não.
Quanto ao fluxo projetado, este tem sido usado, quase que
exclusivamente, para verificar se a empresa terá recursos suficientes para pagar
suas contas.
39
3.3. – Fluxo de caixa – Ferramenta gerencial e financeira
Em qualquer riqueza administrada, para fins empresariais ou ideais, o
movimento em dinheiro, aquele que representa tal curso é de rara importância e
merece considerações específicas.
Nenhum analista consciente pode julgar sobre a verdadeira liquidez de
uma empresa se não conhecer como se comporta o curso de recebimentos e
pagamentos, assim como de recursos que podem ser imediatamente utilizados
para cumprir obrigações. Há uma inequívoca dinâmica, em função do tempo, que
evidencia as transformações que se derivam do movimento de maior capacidade
circulante e que é o de numerário. Uma coerente conjugação de tempos entre o
pagar e o receber é importante para que se possa aferir a capacidade real de
liquidez da empresa . Esta a razão pela qual tem crescido, cada vez mais, a
necessidade de informar sobre os denominados «fluxos de caixa».
O fluxo de caixa, genuinamente, é, pois, o curso, a evidência desse circular
de recebimentos e pagamentos em dinheiro no tempo . A expressão «Caixa»,
em Contabilidade, é tradicional e vem do hábito de se guardar o dinheiro em
«caixas» ou «baús» que muito se usava no tempo em que as partidas dobradas
se desenvolviam. Registros do século XIV já evidenciavam a movimentação
ampla dessa conta, destinada aos registros do movimento de numerário . Nada
se deve excluir, todavia, nas demonstrações de fluxos, ou seja, quer o que se
refere ao operacional ou próprio da atividade, quer ao extra-operacional e
eventual .
40
É obvio que a cada momento o fluxo se altera, pois, a vida da empresa é
toda uma grande dinâmica. A rigor os fluxos se projetam para conhecimento da
situação que se espera e essa é uma das grandes utilidades do mesmo. Nada
impede, todavia, que se tenha, em cada posição estática, de cada dia, algo que
possa ser evidenciado . Assim, por exemplo, pode-se ter a posição do fluxo em
qualquer data .
Há, entretanto, um modelo de fluxo de caixa, adotado por alguns
profissionais que pode apresentar uma somatória de todos os momentos
estáticos. Nesse caso o que se pode em verdade conseguir é uma peça
estatística que soma posições de fluxos .Isto porque o saldo de uma data é uma
posição estática e um fluxo, por essência e natureza é uma evidência dinâmica.
Assim, pode-se demonstrar o total recebido de vendas, o montante pago a
fornecedores etc. relativo a um período.
Tal peça, genuinamente, segundo entendo, não representa um fluxo, mas,
uma síntese de elementos que estiveram em fluxos . Para que fosse fluxo,
demandaria espelhar uma evolução, um curso e não, simplesmente, apresentar
totais ou uma posição em um determinado dia. Se apresento o valor total
recebido de Clientes eu não estou apresentando um curso de recebimentos,
mas, a soma de cursos de recebimentos. Em lógica contábil, um valor de
R$500,00 de clientes pode resultar de um fluxo de muitos instantes, onde em um
momento 1 foi de 50,00, em um momento 2 foi de 250,00 e assim por diante. Se
o fluxo é um curso e esta a essência conceptual da palavra, não pode ser uma
somatória, mas, obrigatoriamente deve expressar-se pela analise das
circulações no tempo.
41
A expressão fluxo significa algo que se manifesta por uma corrente, uma
seqüência de movimentos. Como conceito, pois, admite-se que como se faz em
matemática, devemos falar de fluxo quando evidenciamos o curso de movimentos
e não, apenas os totais desse mesmo movimento. Alguns técnicos, entretanto,
empregam a expressão fluxo no sentido de expor em um dado momento os totais
dos movimentos ocorridos em todo um período. Seja como for, o que se pretende
é sempre mostrar como se comportaram as entradas e as saídas em dinheiro e
como se evidencia esse sistema de liquidez da empresa, comparando meios e
necessidade de pagamentos.
A gestão dos recursos financeiros representa uma das principais
atividades da empresa. Dessa forma, faz-se necessário um efetivo planejamento
dos montantes captados e o acompanhamento dos resultados obtidos, com o
objetivo de administrar tais recursos, possibilitando uma melhor
operacionalização.
Para obter-se um boa gestão financeira, é necessária a utilização de
ferramentas gerenciais, como o Fluxo de Caixa, entre outros, que visam orientar e
planejar os recursos disponíveis na organização a partir da criação de cenários.
Com isso, torna-se possível a identificação de necessidades ou oportunidades,
para a aplicação dos excedentes de caixa em áreas rentáveis da empresa ou em
investimentos estruturais.
Tal instrumento tem a finalidade de direcionar as ações dos
coordenadores e gerentes financeiros na busca pelo equilíbrio das contas, a
partir da visualização de períodos determinados e de um planejamento. Dessa
forma, o controle de desembolsos de caixa, investimentos, análise dos melhores
42
períodos para pagamento e da programação de prazos para venda, são algumas
facilidades propiciadas por esta ferramenta gerencial.
A utilização do Fluxo de Caixa pode ser feita por qualquer empresa, sendo
este diferenciado apenas pelas características peculiares existentes (prazos de
recebimento e pagamento, sazonalidade de vendas, operações, etc). Com isso,
torna-se possível a verificação das disponibilidades e a ordenação da
movimentação financeira, independente do porte ou da área de atuação da
empresa, propiciando, dessa forma, a reordenação em tempo hábil de
deficiências na geração de caixa, bem como a análise posterior de possíveis
distorções ocorridas entre o que fora previsto e o que foi efetivamente realizado,
evitando que esses problemas voltem a ocorrer.
A partir da implementação do Fluxo de Caixa, como uma das ferramentas
gerenciais para operacionalização da gestão financeira, será possível obter
informações imprescindíveis à tomada de decisão e resultados satisfatórios em
um curto espaço de tempo. Entretanto, a simples formalização desse instrumento
não será suficiente para a resolução dos problemas normalmente enfrentados,
devendo ser de responsabilidade do administrador financeiro a elaboração e
implementação de medidas para que a organização alcance as metas
estabelecidas.
43
3.4. – Fundamentos dos fluxos de caixa
Na vida temos que tomar varias decisões, e nos negócios, se tomarmos a
decisão errada, isto poderá ser fatal.
Partindo deste pressuposto, quando tratamos, nos negócios, de assuntos
relacionados a “dinheiro”, deveremos ser cautelosos e nossas decisões serem
embasadas em análises financeiras precisas que darão suporte a decisões
estratégicas, as quais poderão determinar o período de longevidade da
empresa.
Para avaliarmos bem uma “opção” de “investimento”, “compra”,
“financiamento”, “reestruturação”, “expansão produtivia” entre outros faores,
deveremos avaliar os fluxos de caixa que estas operações gerarão.
Em uma avaliação de um fluxo de caixa, antes de mais nada, deveremos
conhecer o planejamento estratégico da empresa envolvida, nele, provavelmente
constarão o retorno esperado pelos investidores, tempo de duração estimado
para duração do empreendimento, formas de alavancagem financeira agregadas
pelo empreendimento dentre outros fatores relevantes.
Depois de angariar essas informações, deveremos começar a avaliar o
fluxo de caixa em questão:
Deveremos determinar:
- Suas anualidades;
- O valor presente líquido;
- O valor presente anualizado;
- Sua taxa interna de retorno;
44
- Seu valor residual;
- Seu pay-back;
- Valores subjetivos.
Anualidades:
Analisar as anuidades é fundamental para que possamos definir os outros
fatores (VPL, VPLA, TIR, Payback) e, principalmente, deveremos analisar as
inconsistências do fluxo de caixa (fatores de assimetria, Gaps, PFFOA).
O VPL – Valor presente líquido:
Para podemos verificar se o fluxo de caixa é positivo ou negativo teremos
que caucula-lo na data atual, em função da taxa de atratividade definida no
planejamento estratégico, se positivo, poderíamos dizer que é, a princípio, o
empreendimento é viável.
O VPLA – Valor presente anualizado:
Deveremos calcular os VPLA para conseguirmos, enxergar,
simetricamente, o valor constante da anualidade.
A TIR – taxa interna de retorno
A TIR é taxa que retorna o fluxo de caixa ao valor zero, no presente. Se TIR
maior que a taxa de atratividade, poderíamos dizer que é, a princípio, o
empreendimento é viável também.
O valor residual:
45
É o valor que será agregado a ultima anualidade do empreendimento, a
qual poderá influenciar, consideravelmente, o VPL, o VPLA e a TIR.
O Pay-back:
É tempo necessário para recuperar o investimento inicial. È fator
importante, pois imaginemos: O empreendimento é uma concessão para
exploração por tempo determinado ou fatores ambientais/tecnológicos poderão
tornar o empreendimento obsoleto em um determinado período. Assim sendo,
necessitaremos de um pay-back menor que os prazos acima.
Valores subjetivos:
Podemos citar as necessidades estratégicas da empresa, as
contingências relativas ao negócio que poderão afetar o referido fluxo de caixa
(fatores ambientais e tecnológicos).
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CONCLUSÃO
As empresas de pequeno e médio porte no Brasil têm sido tratadas com
se fossem de mesmos “valia “ pelo mercado financeiro e principalmente por parte
do governo federal que é quem detêm o poder de regular o referido setor ou se
preferir de, através de políticas econômicas e creditícias , alavacam
financeiramente o setor que por sinal, conforme dados de pesquisas macro -
econômicas, têm representação significativa na economia nacional (formação do
PIB) e geração de empregos (política social).
Considerando que, 60% das empresas de pequeno e médio porte no
Brasil encerram suas atividades antes de completarem 04 anos de vida, e que
isto impactua profundamente na geração de emprego e na poupança dos
empreendedores.
Caberia ao Estado, elaborar políticas, voltadas a geração de
disponibilidade financeira, de forma que estas empresas pudessem gerir melhor
a sua necessidade de capital de giro, o que, provavelmente, causaria o aumento
da probalidade de que estes empreendimentos tivessem uma vida mais
duradoura, mas, infelizmente, o mercado de crédito é extremamente excludente
e governo federal bastante omisso.
O governo federal, apenas, oferece o seu apoio as empresas de pequeno
e médio porte no Brasil através, principalmente, de atividades do sebrae, mas
isto não é o suficiente.
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O próprio Sebrae, através da pecomp – pesquisa de conjuntura
econômica das empresas de pequeno e médio porte no Brasil, identificou as
principais causas de mortalidade entre estas empresas, e a principal, sem dúvida
nenhuma, é falta de capital de giro ou sua ingerência.
No caso de ingerência, o sebrae vem tentando fazer um trabalho de
contingênciamento, no intuito de orientar e capacitar os empreendedores
envolvidos em programas de gestão financeira e capacitação gerencial em todos
os setores de um empreendimento.
O problema maior é a falta de linha de crédito, para este tipo de
empreendimento. As linhas de crédito disponíveis no BNDES são de difícil
acesso e as dos bancos privados ou públicos não são apropriadas para o setor,
é claro que em função das exigências contratuais e principalmente das elevadas
taxas de juros.
Se o governo federal através de seus bancos, BB e CEF, ou através de
regulamentação para os bancos privados, de projetos voltados ao financiamento
deste setor da economia, conseguiria, como reza os princípios da nossa
Constituição Federal, uma sociedade mais justa, pois haveria uma melhor
distribuição de emprego e renda e consequentemente um avanço na área social
e econômica, principalmente nas regiões menos “favorecidas” e isto poderia
diminuir, consideravelmente, o fluxo migratório em busca de alternativas à falta de
perspectivas de renda e emprego.
48
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- Tracy, Jonh A. MBA compacto Finanças. Rio de Janeiro: Campus,
2000.
- Garrity, Peter. MBA compacto Matemática aplicada aos negócios. Rio
de Janeiro: Campus, 2000.
- Silbiger, Steven., MBA em 10 lições. Rio de Janeiro: Campus, 1996
- Najberg, Sheila. 2000, Texto para discussão nº 79. Criação e
fechamento de firmas no Brasil. Rio de Janeiro: BNDES, 2000.
- FUBRA Fundação universitária de Brasilia. Fatores condicionantes e
taxa de mortalidade de empresas no Brasil. Brasília: Sebrae, 2004.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Projeto AVM
Título da Monografia: Micro empresas e empresas de Pequeno Porte:
Mercado de Crédito e Gestão Financeira
Autor: Adilson de Almeida
Data da entrega: Outubro de 2004
Avaliado por: Prof. Jorge Tadeu Vieira Lourenço
Conceito: