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INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS — MGDIRETORIA DE BIODIVERSIDADE

GERÊNCIA DE PROJETOS E PESQUISAS

MG.BIOTA Belo Horizonte v.2, n.4 out./nov. 2009

SUMÁRIO

Editorial .........................................................................................................................

Teste de procedência e progênies de Angico Vermelho (Anadenanthera peregrina (L.)Speg) visando o estabelecimento de pomar de sementesRodrigo Barros Rocha; Maria das Graças Barros Rocha; Danilo Rocha, Dalmir Torres, Renan MilagresLage Novaes ............................................................................................................................................

Ocorrência e danos de Platypodidae em Caesalpinia peltophoroides(Caesalpinioideae) no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, BrasilMarcus Alvarenga Soares, Agenor Vinícius Afonso Pereira, Aline Rodrigues Porto Pedrosa, José ColaZanuncio ..................................................................................................................................................

Teor de taninos e flavonóides em cascas e folhas de barbatimão [Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville]Ernane Ronie Martins, Alisson Moura Santos, Cecílio Frois Caldeira Júnior, Daniel Soares Alves,Thiago Otávio Mendes de Paula e Lourdes Silva de Figueiredo .............................................................

Em Destaque ................................................................................................................

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EDITORIAL

Pesquisar a fauna e a flora, entre outros elementos vitais da vida humana, animal evegetal se revela indispensável para agregar novos conhecimentos científicos etecnológicos, bem como preservar as memórias do tempo, à medida em que a naturezareflete milhões de anos de mudanças e adaptações aos desafios impostos pelas alteraçõesclimáticas e pelas eras geológicas que se sucederam no planeta Terra. Entende-se tambémque o meio ambiente é sinérgico, ou seja, suas relações dinâmicas se refletem umas nasoutras e nas intervenções de qualidade geradas pela pesquisa e desenvolvimento.

Esta edição do "MG-Biota" reúne três importantes pesquisas sobre "Teste deprocedência e progênies do Angico Vermelho, visando o estabelecimento de pomar desementes"; "Ocorrências e danos de Plapodidae em Cesalpinia peltophoroides(Caesalpinnioideae) no município de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil" e"Teor de taninos e flavonóides em casas e folhas de barbatimão (Stryphnodendronadstrigens (Mart.Coville). Essas abordagens científicas abrem novos horizontes paraestudos adicionais relevantes e se configuram também nos desvendamentos que sãopróprios e indispensáveis no trato com os recursos naturais.

Pesquisar a vida nas suas diferentes espécies e formas, inclusive no vasto campo dabiodiversidade mineira, é e será uma obra solidária e nunca concluída num cenáriogeográfico de 586.000 km2, como no caso de Minas Gerais. Além disso, o século 21 seafigura instigante para que, numa de suas vertentes, a pesquisa possa confirmar fatos,debater o controverso, agregar novos conhecimentos, estimular questionamentos, derrubarmitos e contribuir para a qualidade de vida da sociedade, no campo e nas cidades.

Célio Murilo de Carvalho ValleDiretor de Biodiversidade do Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG.

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Teste de procedência e progênies de Angico Vermelho (Anadenantheraperegrina (L.) Speg) visando o estabelecimento de pomar de sementes

Rodrigo Barros Rocha1 ; Maria das Graças Barros Rocha2 ; Danilo Rocha3 , Dalmir Torres4,Renan Milagres Lage Novaes5

Resumo

Este trabalho tem como objetivo o estabelecimento de Pomar de Sementes por Mudas (PSM) a partir da ava-liação do teste de procedência e progênies (TPP) de Angico vermelho (Anadenanthera peregrina). Para ainstalação do teste foram coletadas sementes de 35 matrizes de quatro procedências no Estado de MinasGerais. A avaliação e a seleção das progênies foram feitas aos 65 meses de idade, utilizando o ProgramaSistema Estatístico e Seleção Genética Computadorizada (SELEGEN-REML/BLUP) e foram avaliadas ascaracterísticas da circunferência à altura de 90 cm do solo (CA90cm) e altura total (ALT). Observou-se dife-rença significativa no crescimento entre as procedências de Anadenanthera peregrina para ambas ascaracterísticas. Optou-se pela seleção por meio de característica CA90cm, devido a sua facilidade de men-suração e sua associação natural com o volume de madeira produzido por árvore (m3.arv-1). As procedên-cias Santa Bárbara do Tugúrio e Santo Antônio dos Ferros contribuíram com ganho de seleção de 20,55 e15,67 %, respectivamente, e de 14,81 e 10,74% em ganho indireto da característica altura total (ALT). Paracompor o PSM, foram selecionados 95 indivíduos dentro do TPP, os quais proporcionarão ganhos diretos de57,62% para CA90cm e indiretos de 35,89% para característica ALT. Um ano após o desbaste seletivo, oPSM estará disponível para a coleta de sementes melhoradas de Angico vermelho.

Palavras-chave: angico-vermelho, Anadenanthera peregrina, teste de procedência e progênies, variabilida-de genética, melhoramento genético, pomar de sementes por mudas.

Abstract

This work aimed to establish a seedling seed orchard (SSO) through the analysis of a progeny test (PT) ofAngico Vermelho (Anadenanthera peregrina). Seeds were collected from 35 donor trees in four origins in thestate of Minas Gerais to the test establishment. The progeny evaluation and selection were carried out whentrees were 65 month-old. Using the Statistical System and Selection Genetics Computer software(SELEGEN-REML/BLUP) it was evaluated the circumference to the height of 90 cm of the ground (CA90cm)and total height (ALT) gains. It was observed significant differences in both characteristics growth among dif-ferent origins of Anadenanthera peregrina. The donor trees' selection was based on CA90cm because it iseasier to measure and has a natural association with the wood volume produced per tree (m3.tree-1). Theorigins from Santa Bárbara do Tugúrio and Santo Antônio dos Ferros contributed with selection gains toCA90cm of 20.55 and 15.67% respectively, and of 14.81 and 10.74% of indirect gains to the characteristictotal height (ALT). To compose the PSM 95 donor trees were selected within the PT, which will provide directgains of 57.62% for CA90cm and indirect gains of 35.89% for ALT. One year after the selective harvesting,the SSO will be available for genetically improved seed collection of Angico Vermelho.

Key words: Angico Vermelho, Anadenanthera peregrina, progeny test, genetic variability, selective breeding,seedling seed orchard.

1 Biólogo, Dr. em Genética pela Universidade Federal de Viçosa - UFV. EMBRAPA - Centro de Pesquisas Agroflorestais - Rondônia.2 Engenheira Florestal, Dra. em Melhoramento Genético pela UFV. IEF - Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG.3 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas pela UFV. IEF/MG.4 Administrador Público pela Fundação João Pinheiro e Biólogo pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. IEF/MG.5 Biólogo, Mestre em Genética Evolutiva de Populações pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. IEF/MG.

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Introdução

A disponibilidade de sementes de origemgenética conhecida é uma das principaislimitações para o estabelecimento de umplantio comercial com essências florestaisnativas. O processo de produção de mudas,plantio, produtividade e desenvolvimento dopovoamento dependem da obtenção desementes de boa qualidade genética. Acoleta de sementes de espécies nativas temsido, tradicionalmente, feita nas bordas dosfragmentos florestais remanescentes e/ouem árvores isoladas, na paisagem.Geralmente, estes locais produzem maiorquantidade de sementes em comparaçãocom o interior dos fragmentos florestais, poisestão expostos a maior incidência de luz.

A coleta, a partir de árvores isoladas napaisagem (FIG. 1), pode resultar emsementes de baixa diversidade genética,devido à ausência de outros indivíduos damesma espécie nas proximidades, docruzamento entre indivíduos aparentadosou mesmo de autofecundação (FIG. 2).

FIGURA 1 - Coleta de sementes em árvore isolada como tem sidofeito para produção de mudas nos viveiros.

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FIGURA 2 - Flor hermafrodita completa. A presença da parte feminina e masculina na mesma flor possibilita a autofecundação, cuja taxade ocorrência pode ser aumentada pela indisponibilidade de pólen de outras árvores. Parte feminina: pistilo (estigma e ovário). Partemasculina: estame (antera que contém os grãos de pólen).Fonte: SHIMOYA, 1977.

antera estigma

ovário

sementes de boa qualidade e de melhordesempenho silvicultural. O uso de materiaisgenéticos selecionados para a produção demadeira contribui para a obtenção demateriais produtivos e diminuição da pressãosobre os remanescentes nativos.

A conservação de patrimônios genéticosflorestais exige uma consideração sobretodos os processos genéticos, fisiológicos eecológicos que levam à diversidade eajudam a mantê-la (JR. BROWN, 1987;MARTINS, 1987). É importante ressaltar quea conservação "ex situ", fora do seu local deorigem, subsidia o desenvolvimento denovos materiais voltados para a silvicultura ea conservação "in situ", no local de origem,mantém a diversidade genética dosorganismos. Conseqüentemente, éimprescindível que as matrizes de origemsejam preservadas no seu ambiente naturale, assim, também estarão disponíveis paranovos trabalhos de melhoramento. Sedesejarmos ainda contar com angicos,vinháticos, pequizeiros ou cagaiteiras, querseja para seu melhoramento genético ounão, devemos lutar pela conservação "insitu" das espécies e dos ecossistemas emque se encontram as populações naturais.

Nesse contexto, a legislação florestal eo seu cumprimento têm um importantepapel, principalmente através dasdisposições sobre as áreas de ReservaLegal, de Preservação Permanente e deUnidades de Conservação. A instituição e ouso sustentável dessas áreas de proteçãosão fundamentais para a conservação dadiversidade genética "in situ" e dos ciclos eserviços ambientais.

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Associados à falta de agentes polinizadores,como insetos, aves e morcegos, essescasos podem levar à redução das taxas defecundação cruzada e, conseqüentemente,à depressão endogâmica. A depressãoendogâmica pode ser considerada como umproblema de "saúde genética" resultante daendogamia (cruzamento entre aparentados),e entre estes problemas podem estarprodução de prole de baixo vigor, o seudesenvolvimento deficiente ou mesmo umamaior suscetibilidade a pragas e doenças(FRANKHAM et al., 1996). Por sua vez, osindivíduos mais saudáveis geneticamente deuma espécie de fecundação cruzada têmmaior chance de serem encontrados nosfragmentos florestais mais conservados ouentão obtidos a partir do cruzamento em umPomar de Sementes por Mudas.

O trabalho de coleta de sementes emfragmentos florestais de alta qualidadeacarreta altos custos e tempo de coleta, pelofato dos locais serem de difícil acesso e pelobaixo nível de florescimento das árvores. Aformação de áreas produtoras de sementes,como os pomares de sementes por mudas(PSM), podem ser ótimas alternativas paraconciliar as vantagens de facilidade de coletacom a prevenção da depressão endogâmica.Além disso, o PSM permite a seleção artificialdas plantas com vistas ao melhoramentogenético (ZOBEL & TALBERT, 1984). O PSMé o resultado do desbaste seletivo do teste deprocedência e progênies (TPP). No PSMmantêm-se apenas os indivíduos com ascaracterísticas desejadas, visandopossibilitar o cruzamento natural dasmatrizes selecionadas para a produção de

especialmente em matas estacionais, isto é,matas com estações secas e chuvosasmarcadas (CARVALHO, 1994). Sua madeiraavermelhada tem grande valor econômico,sendo apropriada para o uso na construçãocivil, rural e naval, em obras hidráulicas e nafabricação de móveis e acabamentos

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O Angico vermelho

O angico vermelho (Anadenantheraperegrina (L.) Speg) (FIG. 3 e 4) é uma árvoreda família Leguminosae de ampla ocorrênciano leste do Brasil. Ocorre em uma grandediversidade de ambientes, mas

FIGURA 3 - Angico vermelho.

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Figura 4 - Angico vermelho:A) Folhas e frutos;B) Flores e botão floral;C) Detalhe das flores;D) Detalhe do tronco com acúleos

A

C

B

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internos. Produz ainda carvão e lenha de boaqualidade e apresenta grande potencial paraprodução de energia por biomassa(CARVALHO, 1994; LORENZI, 2000; ZENID,2009). A silvicultura do angico vermelho paraprodução de madeira pode ser umaalternativa de uso econômico altamente viávelem comparação com as espécies exóticas,atualmente, plantadas em Minas Gerais.

O Angico vermelho apresenta váriascaracterísticas favoráveis à silvicultura comoum bom desenvolvimento em plantioshomogêneos ou mistos, boa germinação porsemeadura direta ou em recipientes,brotamento da touça após o corte e fixaçãode nitrogênio (FARIA et al., 1984,KAGEYAMA et al., 1990; CARVALHO, 1994).Seu crescimento é moderado a rápido,podendo atingir, quando em ótimas condições,produtividades de até 25,55 m3.ha-1.ano(CARVALHO, 1994). A característica de rápidocrescimento a torna interessante para seraproveitada também na recuperação de áreasdegradadas (LORENZI, 2000). Cresce melhorem solos férteis, profundos, bem drenados ecom textura argilosa e responde bem àaplicação de macronutrientes (CARVALHO,1994; GONÇALVES, 2008). Apesar disso, oangico vermelho apresenta, em condiçõesnaturais, um fuste normalmente retorcido, commuitas ramificações que geralmente seiniciam próximas ao solo. Essas trêscaracterísticas levam a uma redução daqualidade da madeira. O melhoramento podeminimizar esses problemas, através daseleção dos indivíduos com as característicasdesejadas, caso estas sejam causadas porfatores genéticos.

Silvicultura e o teste de progêniese procedências

Uma das maiores dificuldadesencontradas no desenvolvimento dasilvicultura é o longo período de rotaçãodas espécies arbóreas, que geralmentelevam muitos anos para atingirem a idadereprodutiva. Nesses casos, a avaliação e aseleção das características podemdemorar anos para serem feitos e os reaisganhos serem obtidos somente a longoprazo. Isso pode explicar o fato depouquíssimas espécies florestais nativasterem sido aproveitadas na silvicultura atéa presente data. No entanto, o ganho deprodutividade por seleção de um recursogenético agrega um alto valor econômicoao produto florestal e torna a atividadesilvicultural mais rentável. A domesticaçãode novas espécies não é uma atividadetrivial e depende do aprimoramento daspráticas silviculturais e da seleção dematerial genético mais apropriado(ROCHA et.al., 2009).

O teste de procedências e de progênies(TPP) é uma das estratégias maisexploradas para a seleção e caracterizaçãodos padrões de herança em espéciesflorestais. Basicamente, o TPP permitecomparar a variação entre os indivíduosentre e dentro de progênies eprocedências. Comparando os padrões deherança é possível estimar a quantidade devariação que é devida a fatores genéticos,que são as características herdadas deuma geração para outra. Após a seleção eo desbaste das matrizes não selecionadas,

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instala-se o PSM para recombinação entreos melhores indivíduos selecionados paraas características desejadas (ZOBEL &TALBERT, 1984) (FIG. 5). Adicionalmente, ainformação de procedência permiteidentificar a localização geográfica daspopulações que conservam maiorvariabilidade genética da espécie.Enquanto isso, a informação de progêniespermite caracterizar a fração herdável dascaracterísticas (herdabilidade) e oprogresso genético com a prática daseleção (CRUZ et al., 2004).

O objetivo deste trabalho foi quantificaro ganho genético com a prática da seleçãode matrizes de Angico vermelho(Anadenanthera peregrina) visando àinstalação de PSM. Para tanto os seguintes

objetivos específicos foram traçados: 1)estimar a variação fenotípica entre e dentrode progênies e procedências; 2) estimar acontribuição dos fatores genéticos eambientais no crescimento dos indivíduos;3) estimar as possibilidades de ganhos coma prática da seleção dos indivíduosportadores de maior valor genético; 4)realizar desbaste no TPP para formar oPSM e deixar para a recombinação eprodução de sementes as árvores de maiorvalor genético.

Esse trabalho faz parte do programa"Desenvolvimento da Silvicultura deEspécies Nativas", do Projeto Estruturador"Conservação do Cerrado e Recuperaçãoda Mata Atlântica", do Instituto Estadual deFlorestas de Minas Gerais (IEF-MG).

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Seleção de matrizes nas procedências amostradas

Coleta de sementes

Produção de mudas individualizadas por

matriz

Plantio do teste de procedência e progênies

Avaliação Seleção de 95 indivíduos para comporem

o pomar Desbaste

Pomar de Sementes por Mudas Coleta de sementes

melhoradas Plantios comerciais

FIGURA 5 - Representação Esquemática da estratégia utilizada na produção de sementes através do Pomar de Sementes por Mudas (PSM).

Material e métodos

Foram amostradas 35 matrizes (FIG. 6)de Angico vermelho (Anadenantheraperegrina) de quatro procedências daregião Centro Sul de Minas Gerais. Dezmatrizes foram selecionadas em SantoAntônio dos Ferros (AFA), cinco em FerroTanque (AFT) distrito de Santo Antônio dosFerros, dez em Santa Bárbara do Tugúrio(ASB) e dez em Capela Nova (ACN) (TAB.1). As matrizes foram selecionadas

procurando manter uma distância mínimade 100 metros entre elas. No viveiro do IEFde Barbacena/Pinheiro Grosso foramproduzidas 150 mudas por matriz (FIG. 7).A semeadura foi feita imediatamente após acoleta, em sacos de polietileno, contendocomo substrato terra de subsolo e estercode curral na proporção de 3:1 e adubaçãoNPK 4-14-8 granulado, na dosagem de 5,0Kg/m3 de substrato.

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FIGURA 6 - Matrizes de Angico vermelho selecionadas para colheita de sementes no ano de 2001.

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TABELA 1

Dados de procedências, número de progênies por procedência npp e número de indivíduos por progênie

avaliados nip e sobrevivência (%) de Anadenanthera colubrina aos 65 meses de idade.

Procedência Latitude Longitude Altitude

(m) npp nip Sobrevivência

(%)

Capela Nova (ACN) 20°55’20.55”S 43°36’46.65”O 791 10 266 88,7

Santo Antônio dos Ferros (AFA) 19°13’24.48”S 43°01’00.80”O 470 10 258 86,0 Ferro Tanque (AFT) 19°14’10.93”S 43°01’04.09”O - 5 139 92,7

Santa Bárbara do Tugúrio(ASB) 21°14’49.90”S 43°33’21.78”O 680 10 280 93,0 Total 35 943

FIGURA 7 - Mudas de Angico vermelho com cerca de 90 dias no viveiro do IEF, em Barbacena/MG, no ano de 2002, individualizadaspor matriz para instalação do teste progênies e procedência.

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O teste de procedência e progênie (TPP)(FIG. 8) foi instalado em blocos ao acasocom seis repetições e parcela linear de cincoplantas na Reserva Municipal do PinheiroGrosso no município de Barbacena-MG(21°12'11.79"S, 43°42'40.87" O, 1183 m dealtitude e temperatura média anual de 17°C).A área de plantio foi preparadamanualmente com roçada, marcação doespaçamento de três metros entre linhas edois metros entre plantas. As covas forampreparadas com dimensões de 30 x 30 x 30cm e adubação de 150 gramas de NPK 6-30-6 misturadas na terra. O plantio foi

realizado no mês de novembro de 2002 e943 indivíduos foram avaliados aos 65meses de idade. O crescimento dasprogênies foi quantificado com a avaliaçãoda altura total (ALT) e da circunferência anoventa centímetros do solo (CA90cm).

Análise REML/BLUP e estimação deparâmetros genéticos

A estimação de componentes de variância epredição de valores genéticos foi realizadautilizando o programa Sistema Estatístico eSeleção Genética Computadorizada (SELEGEN-

FIGURA 8 - Vista global do teste de procedência e progênie (centro) na Reserva de Pinheiro Grosso em Barbacena/MG.

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REML/BLUP). O procedimento REML/BLUP(melhor predição linear não enviesada),consiste na predição de valores genéticos dosefeitos aleatórios do modelo estatísticoassociado às observações fenotípicas,ajustando-se os dados aos efeitos fixos e aonúmero desigual de informações nas parcelas,por meio de metodologia de modelos mistos(ROCHA et al., 2007; HENDERSON et al.,1959; RESENDE 2002a; RESENDE 2002b,RESENDE et al., 1995). Na predição dosvalores genéticos utilizou-se o modelo linearmisto considerando o modelo aditivo univariado, com efeito, de procedências dadopor Resende (2000).

A seleção dos melhores indivíduosobjetiva a instalação de pomar de sementesmelhoradas com o desbaste das progêniesque contribuem, negativamente, para ovalor genético das características decrescimento que foram avaliadas.

Resultados e discussão

Interpretação dos parâmetros genéticos

A quantificação dos ganhos com aseleção dos melhores indivíduos, progêniesou procedências é realizada pela obtençãode valores abstratos definidos como valoresgenéticos. Os valores genéticosrepresentam a fração herdável dascaracterísticas, que pode ser entendidacomo a característica que é passada de umageração para a outra devido à ação aditivados genes. Observou-se que a variância quequantifica a ação aditiva dos genes entreindivíduos, foi superior à variância entreprocedências no experimento (TAB. 2). Estecomponente de variância indica a ocorrênciade progênies com maior freqüência degenes favoráveis para as característicasavaliadas (CA90cm e ALT), (FIG. 9).

TABELA 2

Estimativas da variância genética aditiva )ˆ( 2

a , variância ambiental entre parcelas )ˆ( 2

parc , variância

ambiental dentro de progênies )ˆ( 2

e , variância fenotípica entre plantas dentro de progênies )ˆ( 2

f , variância

de procedência )ˆ( 2

proc e herdabilidade no sentido restrito )( 2

ah para as características circunferência a 90

cm do solo (CA90cm) e altura total (ALT).

Parâmetros Características

(CA90cm) ALT (m)

)ˆ( 2

a 65,0013 0,8434

)ˆ( 2

parc 0,0619 0,0009

)ˆ( 2

e 114,1437 1,4387

)ˆ( 2

f 200,7634 2,5976

)ˆ( 2

proc 21,5564 0,3146

)( 2

ah 0,3238 0,3247 Média geral 20,97 3,63

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Visando avaliar a qualidade doexperimento e a natureza da herança dascaracterísticas, também foram interpretadosos valores do coeficiente de variaçãoexperimental, do coeficiente de variaçãogenética aditiva e do coeficiente dedeterminação devido ao ambiente comumda parcela (TAB. 3). Os valores docoeficiente de variação experimental foramde 27,24 para CA90cm e 17,76 para ALT,

podem ser considerados altos emcomparação com os valores de coeficientede variação observados em experimentoscom Eucalipto e Pinus (GARCIA, 1989 eSCAPIM et al., 1994). Nos TPPs aheterogeneidade entre os materiaisgenéticos amostrados e a interação com ascondições climáticas e de solo podem tercontribuído para esses altos valoresobservados. Já o coeficiente de variação

FIGURA 9 - Destaque para a variação de desenvolvimento entre e dentro de progênies.

Progênie com menor CAP, fuste mais retilíneoe bifurcação mais distante do solo.

Progênie com maior CAP, fuste mais retorcidoe bifurcação mais próxima ao solo.

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TABELA 3

Estimativas dos coeficientes de variação genética aditiva (%)gaCV , variação ambiental entre parcelas

(%)parcCV , coeficiente de variação experimental (%)eCV , coeficiente de variação de procedência

(%)procCV e a relação do coeficiente variação genético e o coeficiente de variação ambiental

( ega CVCV / ) para as características circunferência a altura de 90 cm do solo (CA90cm) e altura total (ALT)

em progênies de Anadenanthera colubrina, aos 65 meses de idade.

Características

Parâmetros (CA90cm) ALT (m)

(%)gaCV 38,44 25,32

(%)parcCV 19,22 12,66

(%)eCV 27,24 17,76

(%)procCV 22,14 15,46

ega CVCV / 1,41 1,43

genética pondera a variância aditiva emrelação à média do caráter, e pode serinterpretado para quantificar a variabilidadegenética na população. Quando a relação docoeficiente de variação genética e ocoeficiente de variação ambiental tende paraum valor maior ou igual a um, caracteriza-seuma situação favorável para a prática da

seleção (CRUZ et al.,2004). Foramobservadas relações de 1,41 e 1,43 para(CA90cm) e (ALT) respectivamente (TAB. 3).

As procedências que apresentarammaior magnitude de ganho com a prática deseleção foram as de Santa Bárbara doTugúrio (ASB) e de Santo Antônio dosFerros (AFA) (TAB. 4). Menor freqüência de

TABELA 4 Estimativas do efeito genotípico predito (g), efeito genotípico predito e de dominância (u + g), ganho

genético, ganho genético (%) e a nova média após a seleção para as características circunferência a 90 cm do solo (CA90cm) a altura total (ALT) em progênies de Anadenanthera colubrina, aos 65 meses de idade.

CA90cm (cm)

Procedências G u + g Ganho Ganho (%) Nova Média

4-Santa Bárbara do Tugúrio (ASB) 4,3097 25,2803 4,3097 20,55 25,2803

2- Santo Antonio dos Ferros (AFA) 2,2630 23,2337 3,2863 15,67 24,2570

1-Capela Nova (ACN) -0,8349 20,1358 1,9126 9,12 22,8833

3-Ferro Tanque (AFT) -5,7378 15,2329 0,0000 0,00 20,9707

Altura (m)

4-Sta. Bárbara do Tugúrio (ASB) 0,5372 4,1639 0,5372 14,81 4,1639 2- Santo Antonio dos Ferros (AFA) 0,2417 3,8684 0,3894 10,74 4,0161 1-Capela Nova (ACN) -0,0755 3,5512 0,2345 6,47 3,8612 3-Ferro Tanque (AFT) -0,7034 2,9233 0,0000 0,00 3,6267

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genes favoráveis para as característicasestudadas foi observada nas procedênciasde Capela Nova (ACN) e de Ferro Tanque(AFT). A procedência da localidade FerroTanque apresentou menor variabilidade,provavelmente, por ter sido representadapor um número menor de matrizes.

Outra medida da qualidade experimentalé o coeficiente de determinação devido aoambiente comum da parcela quantifica avariabilidade dentro dos blocos (TAB. 2). Nosbons experimentos em plantas perenes estevalor fica em torno de 0,10 onde apenas10% da variação fenotípica dentro dosblocos é devida a variação ambiental entreparcelas (RESENDE, 2002b).

Após a interpretação da naturezagenética da CA90cm e da ALT optou-se porconduzir a seleção através da característicaCA90cm, devido ser esta avaliação menossujeita ao erro sistemático e estarnaturalmente correlacionada com volumede madeira (m3.arv-1). As estimativas deganho genético foram obtidas com base novalor genético predito dos indivíduos para aprática da seleção entre e dentro dasprogênies, considerando o efeito genotípicode procedências, valores genéticos aditivose efeitos de dominância acumulados e osganhos indiretos para altura (TAB. 4).

Progresso genético e constituição doPomar de Sementes por Mudas (PSM)

O objetivo deste teste foi o de constituir opomar de sementes por mudas (PSM) após odesbaste seletivo do TPP. No PSM osindivíduos selecionados são os portadores dos

maiores valores genéticos preditos que ficarãopara a recombinação após o desbaste. Para arealização do desbaste, deve-se consideraralém da retirada dos indivíduos com menoresfreqüências de alelos favoráveis, umadistribuição equilibrada das árvores napopulação, permitindo maior entrada de luz efavorecendo a recombinação mais efetiva coma participação de maior quantidade de árvoresna troca de pólen (FIG. 10).

FIGURA 10 - Diferença entre fenótipos do angico vermelho nasparcelas no teste de procedência e progênies.

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Um dos critérios que pode ser utilizadopara seleção de indivíduos para arecombinação no PSM é a maximização doganho genético corrigido para endogamia.Observou-se que a seleção dos 16 melhoresindivíduos resulta no valor máximo do limiteinferior do intervalo de confiança do ganhogenético. Porém, o número efetivo mínimo de30 matrizes é recomendado para instalaçãodo PSM (RAWLINGS, 1970; PEREIRA &VENCOVSKY, 1978) e para isso foinecessária a seleção dos 95 melhoresindivíduos considerando a taxa de endogamia.Com a seleção dos 95 melhores indivíduos,que correspondem ao número efetivo de32,24, o ganho direto em CA90cm será de57,62 (%) e indireto de 35,89 (%) (TAB. 5).

De acordo com os critérios de seleçãoestabelecido na tabela 5 serão efetuadosos desbastes e posterior transformação empomar de sementes de mudas (PSM), oque possibilitará a coleta de sementes deboa qualidade genética e com baixoscustos de produção.

Conclusões

- Houveram diferenças significativasentre as procedências de Anadenantheraperegrina, aos 65 meses de idade para ascaracterísticas avaliadas CA90cm e ALT.Duas procedências, Sta. Bárbara doTugúrio (ASB) e Santo Antônio dos Ferros(AFA), contribuíram com os ganhos deseleção para a característica CA90cm de20,55 % e de 15,67 %, respectivamente ede 14,81 e 10,74% de ganho indireto para acaracterística ALT.

- Somente as procedências SantaBárbara do Tugúrio (ASB) e de SantoAntônio dos Ferros (AFA) apresentaramvariabilidade genética significativa entreprogênies dentro de procedências, ou seja,essas duas procedências apresentarammaior diversidade genética intra-populacional e têm, portanto, maior potencialpara o uso para o melhoramento genético.

TABELA 5

Número de indivíduos selecionados, ganho genético corrigido scG e número efetivo (Ne) em progênies de

Anadenanthera colubrina, aos 65 meses de idade.

Circunferência (cm) Altura (m) Número de indivíduos

selecionados cG (cm) scG (%) cG (m) scG (%) Ne

10 18,37 77,23 1,46 35,99 6,22 20 17,27 74,78 1,44 36,78 10,45 30 16,35 72,09 1,42 36,73 14,09 50 14,95 66,79 1,41 36,92 21,82 95 12,80 57,62 1,36 35,89 32,24

100 12,63 56,89 1,36 35,82 32,74 140 11,57 51,96 1,31 34,59 37,78 188 10,41 47,07 1,26 33,47 43,02

- Os valores de herdabilidade de 0,3238para circunferência e de 0,3247 para alturaa nível de indivíduos são consideradosmédios, entretanto indica boa eficiência daseleção em populações estruturadas emprocedências e progênies, com neste caso.Esses valores indicam a contribuiçãogenética para essas características e,portanto deverão responder bem aomelhoramento genético.

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Ocorrência e danos de Platypodidae em Caesalpinia peltophoroides(Caesalpinioideae) no município de Belo Horizonte,

estado de Minas Gerais, Brasil

Marcus Alvarenga Soares1, Agenor Vinícius Afonso Pereira2, Aline Rodrigues PortoPedrosa3, José Cola Zanuncio4

Resumo

Caesalpinia peltophoroides (Caesalpinioideae), popularmente conhecida como sibipiruna, coração-de-negroou sibipira é uma planta originária do Brasil, muito utilizada no paisagismo urbano em geral. O objetivo dessetrabalho foi relatar a ocorrência e danos de Platypus sp. (Coleoptera: Platypodidae) em sibipirunas de áreascom arborização urbana do município de Belo Horizonte. Foram avaliadas sibipirunas nos limites da RegiãoAdministrativa da Pampulha, onde foi possível localizar orifícios nos troncos dessas árvores, com cerca detrês milímetros de diâmetro, de onde foram retirados pequenos besouros. Os besouros foram identificadoscomo Platypus sp. e 79,49% das supressões de sibipirunas, nessa região, foram motivadas por suainfestação. Não existe controle químico, sendo indicado o corte e queima das árvores infestadas.

Palavras-chave: Platypus, reflorestamento urbano, broqueadores de tronco, essências florestais.

Abstract

Caesalpinia peltophoroides (Caesalpinioideae), popularly known as sibipiruna, heart-of-black or sibipira is anoriginal plant of Brazil, used in the urban reforestation. The objective was record the occurrence and damagesof Platypus sp. (Coleoptera: Platypodidae) in sibipirunas in areas with urban forestation of the municipality ofBelo Horizonte. Sibipirunas in the limits of the Administrative area of Pampulha were evaluated and waspossible to locate holes in the trunks of those trees, with about three millimeters of diameter, contend smallsolitary beetles. The beetles were identified as Platypus sp., and 79,49% of the sibipirunas suppressions weremotivated by its infestation. Chemical control doesn't exist, being indicated the elimination of the trees of theplace and burning.

Key-words: Platypus, urban forestation, wound heartwood, forest essences.

1 Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia, professor da Faculdade de Engenharia - FaEnge, Universidade do Estado de Minas Gerais, João Monlevade/MG. E-mail: [email protected] e doutorando do Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG. *autor correspondente.

2 Engenheiro Agrônomo, Especialista, Departamento de Parques e Jardins, Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Belo Horizonte/MG.

3 Estudante de Biologia da Universidade Federal de Viçosa - UFV. Departamento de Biologia Animal, UFV, Viçosa/MG.4 Eng. Florestal, PHD em Entomologia, professor do Departamento de Biologia Animal, UFV, Viçosa/MG.

Introdução

A Mata Atlântica é uma das florestastropicais mais ameaçadas do mundo,sendo o ecossistema brasileiro que maissofreu com os impactos ambientais dosciclos econômicos da história do país. Essebioma originalmente cobria a faixa litorâneadesde o Rio Grande do Norte até o RioGrande do Sul e interior de Minas Gerais,São Paulo, Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul, com cerca de 100 milhõesde hectares de extensão. Atualmentepossui apenas 5% de florestas primárias(PAIS, 2003). Considerado pelaConservation International um "Hotspots"da biodiversidade, esse ecossistemaapresenta alta riqueza de espécies, altoendemismo e presença de espécies raras.

A Mata Atlântica mineira tem sofridopressão constante dos agroecossistemas ecidades adjacentes (DRUMMOND et al.,2005). Por isso, o uso de espécies vegetaistípicas desse ecossistema no reflorestamentourbano poderia reduzir impactos daurbanização e preservar a biodiversidade.Caesalpinia peltophoroides Benth(Caesalpinioideae), popularmente conhecidacomo sibipiruna, coração-de-negro ou sibipiraé uma planta originária do Brasil,especificamente da Mata Atlântica, que atingealtura máxima em torno de 18 metros. Estaespécie de árvore, que costuma viver por maisde um século, é muito utilizada no paisagismourbano em geral, sendo também indicada paraprojetos de reflorestamento pelo seu rápidocrescimento e grande poder germinativo

(LORENZI, 2002). As sibipirunas representamgrande parte da composição paisagística deimportantes capitais do país, tais como, SãoPaulo e Belo Horizonte (FIG. 1 e 2).

No entanto, as modificações que oespaço urbano dessas capitais sofre,constantemente, em virtude de umaurbanização acelerada, estão diretamenterelacionadas com diversos processos econflitos no ambiente. Entre os agentes quepodem causar a morte de árvores urbanas,a classe Insecta ocupa posição dedestaque, encontrando nestas árvorescondições ambientais adequadas ealimento farto para o seu desenvolvimento(SOUZA et al., 2007; SOARES et al., 2009).

Os besouros-de-ambrósia são umimportante grupo de insetos emecossistemas florestais. Seu nome comumé derivado de um fungo simbiôntico queesse coleóptero introduz dentro degalerias nos troncos e com o qual suaslarvas se alimentam (ALFARO et al.,2007). Eles usualmente atacam árvoresdebilitadas ou caídas (ALFARO et al.,2007). Algumas espécies, no entanto,podem atacar árvores vivas, promovendoa abertura de uma rede de galerias, nosplanos transversais e longitudinais aotronco das árvores. Estas galerias afetamo vigor das plantas, além de serem portade entrada de bactérias e fungospatogênicos causadores de diversasdoenças (PEDROSA & MACEDO, 1993;KURODA, 2001; SOUZA et al., 2007).

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Existem relatos de insetos desse grupo naArgentina, onde são conhecidos como broca-do-tronco, em várias fruteiras e essênciasflorestais (SANTANA; SANTOS, 2001). Aespécie Platypus sulcatus (Chapius)(Coleoptera: Platypodidae) é conhecida com onome vulgar de broca-do-tronco da pereira no

Rio Grande do Sul (LIMA, 1956) e já foiobservada nos estados do Paraná, do RioGrande do Sul e de São Paulo, sendoencontrados nos seguintes hospedeiros:acácia-negra (Acacia decurrens Willd.Leguminosae - Mimosoideae), alecrim(Rosmarinus officinalis L. Lamiaceae),

FIGURA 1 - Caesalpinia peltophoroides (Caesalpinioideae) ou Sibipirura.FONTE: LORENZI, 2002.

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ameixeira (Prunus doméstica (L.) Rosaceae),casuarina (Casuarina spp. Casuarinaceae),cedro (Cedrus spp. Pinaceae), castanheira(Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl.Lecythidaceae), eucalipto (Eucalyptus spp.Myrtaceae), Fícus (Ficus spp. Moraceae),macieira (Malus domestica Borkh. Rosaceae),magnólia (Magnolia spp. Magnoliaceae), pau-ferro (Caesalpinia ferrea Mart.Caesalpinioideae), pereira (Pyrus communisL. Rosaceae) e teca da Índia (Tectona grandisLinn. Lamiaceae). (SANTANA; SANTOS,2001; SILVA et. al., 1968; SOUZA et al., 2007).

O objetivo desse trabalho foi relatar aocorrência e danos de Platypus sp.(Coleoptera: Platypodidae) em sibipiruna(Caesalpinia peltophoroides) em áreas comarborização urbana do município de BeloHorizonte, estado de Minas Gerais, Brasil.

Metodologia

O trabalho foi desenvolvido no municípiode Belo Horizonte, estado de Minas Gerais,no período de janeiro a junho de 2008. Aárea experimental compreendeu os limitesda Região administrativa "Pampulha" daPrefeitura Municipal de Belo Horizonte -PMBH (FIG. 3), que possui 559,43 Km devias com arborização urbana, abrangendoos bairros Bandeirantes, Bispo de Maura,Braúnas, Céu Azul, Conjunto São Franciscode Assis, Confisco, Copacabana, Garças,Trevo, Itatiaia, Jardim Atlântico, Ouro Preto,São José, São Luiz, Vila Paquetá e Xangri-lá desta capital.

Foram avaliadas sibipirunas, que seencontravam debilitadas ou mortas, nos

FIGURA 2 - Plantio urbano de sibipiruna em Belo Horizonte/MG.

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limites da Região Administrativa daPampulha, onde foi possível localizarpequenos orifícios nos troncos dessasárvores, com cerca de três milímetros dediâmetro, caracterizados, externamente, pelapresença de goma e de serragem. Foramrealizadas coletas nesses orifícios, com oauxilio de uma pinça, sendo possível retirardo interior das galerias pequenos besouros.

Os exemplares de insetos coletadosforam fixados em álcool 70% e enviadospara o Laboratório de Controle Biológico deInsetos da Universidade Federal de Viçosa- UFV, em Viçosa, estado de Minas Gerais,para identificação.

Foram obtidos dados do número totalde supressões de sibipirunas na Regiãoadministrativa da Pampulha e daquelasmotivadas pela ocorrência dos besourose/ou por outros fatores.

Resultados e discussão

Os besouros coletados foramidentificados como pertencentes ao gêneroPlatypus sp. (Coleoptera: Platypodidae).Não foi possível a identificação de Platypussp. ao nível de espécie nesse trabalho,devido à ausência de taxonomistasespecíficos desse grupo no Brasil, mas essaidentificação é importante e necessária parafuturos estudos, visando o manejo desseinseto em plantios de sibipiruna.

Platypus sp. apresenta corpo largo e tementre 5,0 e 6,0 mm de comprimento. Acabeça é tão larga quanto o pronoto eapresenta um sulco central na parte superior.As antenas são curtas. O tórax tem aspectoquadrangular, quando visto dorsalmente eapresenta um sulco longitudinal nometanoto. Os élitros possuem carenas quese unem formando um "V" quando vistasdorsalmente, sua porção final terminaabruptamente e apresenta muitos pêlos. Oterceiro par de pernas apresenta fêmures,duas vezes maiores, que os presentes nospares anteriores (FIG. 4).

FIGURA 3 - Regiões Administrativas da Prefeitura Municipal deBelo Horizonte (PMBH).FONTE: Departamento de Parques e Jardins da PrefeituraMunicipal de Belo Horizonte. DITPL/SMPL, 2000.

FIGURA 4 - Platypus sp. (Platypodidae) coletado em sibipirunasna Região Administrativa da Pampulha, Belo Horizonte/MG, noperíodo de janeiro a junho de 2008.

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O espécime coletado em Belo Horizonte,se diferencia da espécie P. sulcatus, poresta última possuir 8 mm de comprimento,apresentar pêlos compridos na partesuperior da cabeça, élitros com carenasmais compridas nas laterais da suturaelitral, as quais terminam em um espinhosaliente que se sobressai e o terceiro parde pernas bastante separado do anterior(PEDROSA & MACEDO, 1993).

Outra espécie de besouro-da-ambrosiafrequentemente relatado na literatura éPlatypus mutatus (Chapuis) (Coleoptera:Platypodidae) com uma gama extensa dehospedeiros (GIMENEZ; ETIENNOT, 2003),é praga freqüente na Argentina, onde temcausado danos severos em plantaçõescomerciais de álamo (Populus spp.Salicaceae) (ALFARO, 2003), eucalipto(Eucalyptus spp.) e Pinos (Pinus spp.Pinaceae) (BASCIALLI et al., 1996).Recentemente essa praga foi relatada emplantações de álamo em Nápoles (Itália),possivelmente introduzida por transporte detábuas oriundas da América do Sul(TREMBLAY et al., 2000). No Brasil P.mutatus foi relatado atacando 3% dasárvores de plantações do Pau-Brasil(Caesalpinia echinata Lam.Caesalpinioideae) em Mogi-Guaçu, estadode São Paulo (GIRARDI et al., 2006).

O presente trabalho é o primeiro relatode ocorrência de Platypus sp. em sibipiruna.A composição paisagística da RegiãoAdministrativa da Pampulha, em BeloHorizonte é composta principalmente porabacateiros (Persea americana Mill.Lauraceae), alecrins (R. officinalis),

amendoins-bravo (Peltophorum dubium(Spreng.) Caesalpinieae), araucarias-excelsa(Araucaria excelsa (Lamb.) Araucariaceae),aroeiras-mansa (Schinus terebinthifoliusRaddi. Anacardiaceae), cajazeiras (Spondiasmombin L. Anacardiaceae), cássias rosa(Cassia grandis L. Fabaceae), castanheiras(B. excelsa), casuarinas (Casuarina spp.),espatódeas (Spathodea campanulata Beauv.Bignoniaceae), faveiras (Parkia platycephalaBenth. Leguminosae-Mimosoideae), ficus-benjamina (Ficus benjamina L. Moraceae),flamboyants (Delonix regia (Vojer ex Hook)Fabaceae), ipês (Tabebuia spp.Bignoniaceae), jacarandas (Bignoniaceae),leucenas (Leucaena spp. Fabaceae),magnólias (Magnolia spp.), mongubas(Pachira aquatica Aubl. Bombacaceae),murtas (Myrtus communis L. Myrtaceae), oitis(Licania tomentosa Benth.Chrysobalanaceae), palmeiras imperiais(Roystonea oleracea (Jacq.) Arecaceae),patas-de-vaca (Bauhinia forticata LinkLeguminosae), paus-de-óleo (Copaiferalangsdorffii Desf. Leguminosae), paus-ferro(C. ferrea), paus-formiga (Triplaris brasiliensisL. Polygonaceae), quaresmeiras (Tibouchinagranulosa Cogn. Melastomataceae),sibipirunas (C. peltophoroides), tamboris(Enterolobium maximum DuckeMimosaceae) e tipuanas (Tipuana tipu(Benth.) Fabaceae). Durante o períodoavaliado, a espécie sibipiruna representou18,84% do total de árvores suprimidas naregião da Pampulha. Das supressões feitasem sibipirunas, 79,49% das árvores estavammortas ou debilitadas pela infestação dePlatypus sp., sendo esse, o principal motivo

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para o corte dessa espécie arbórea na áreaexperimental. As outras causas desupressões foram infestações por cupins(5%); por estarem debilitadas por podasfreqüentes (2%) e por estarem danificandomuros residenciais (1%). Algumas sibipirunasapresentavam infestações de Platypus sp.associadas à de cupins (6%), quegeralmente atacavam o sistema radicular e oterço médio inferior das árvores.

Platypus sp. apresenta diferençasmorfológicas, mas se assemelha emaspectos biológicos e comportamentais à P.sulcatus. Adultos de P. sulcatus abandonamas galerias em que se criam entre os mesesde novembro e janeiro para procurar novoshospedeiros, onde as fêmeas colocarãoseus ovos, após a abertura de galerias nolenho. A serragem é jogada para fora doorifício de entrada e constitui elemento quepermite diagnosticar o início do ataque. Osmachos perfuram galerias à razão de 10 cma 15 cm por mês e nelas se acasalam. Asfêmeas iniciam a postura a partir de março eprosseguem durante vários meses. Os ovossão depositados nas galerias em númerovariado, que chega a uma centena. Operíodo de desenvolvimento é de um ano.Com isso, indivíduos de diversas fases dodesenvolvimento biológico compartilhamuma mesma galeria (geralmente as maisantigas). P. sulcatus vivem em simbiose combactérias e fungos, os quais causam àárvore doenças generalizadas. O fungosimbionte pertence ao gênero Raffaela e osesporos desse microrganismo sãocarregados pelos besouros e crescem nasparedes das galerias, servindo de alimento

para este inseto. Se a árvore infestada deixade ser adequada para o desenvolvimento dofungo simbionte, os besouros tendem aabandoná-la (PEDROSA & MACEDO, 1993).

Durante o experimento, observamos osindivíduos de Platypus sp. abrindo galeriasno lenho das plantas e jogando serragempara fora do orifício de entrada, fazendoposturas dentro das galerias, vivendo emsimbiose com microrganismos quedebilitam as sibipirunas e infestandoárvores adjacentes (FIG. 5 e 6).

Não existe controle químico das árvoresinfestadas, pela impossibilidade de fumigaros troncos, com aberturas e galeriasdiminutas. Pode-se indicar um controleindireto, através da irrigação e adubaçãomais freqüente das sibipirunas, garantindoboa nutrição e maior resistência da planta aataques iniciais dos besouros-de-ambrósia.No entanto, em árvores já infestadas, deve-se proceder a supressão e a queima dostroncos, para interromper o ciclo dosinsetos e impedir novas infestações.

Considerações finais

Os plantios de sibipiruna, em ambienteurbano, são de grande importância para abiodiversidade da Mata Atlântica, poispermitem o uso sustentável de espéciesdesse ecossistema, através da propagaçãoe plantio de mudas que trarão benefício àpopulação, como sombreamento, melhorqualidade do ar e do ambiente. Essesplantios podem ainda preservar espéciesameaçadas e minimizar as pressões que aurbanização acelerada causa ao bioma onde

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FIGURA 5 - Tronco de sibipiruna infestado por Platipus sp. com serragem fora do orifício de entrada do inseto, Belo Horizonte/MG.

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se insere. No entanto, o plantio em condiçõesinadequadas para as essências florestais,como alta taxa de poluição, reduzida áreapara crescimento das raízes, reduzida taxade infiltração de água no solo devido àimpermeabilização das vias públicas, baixafertilidade do solo, ausência de adubações eexecuções de podas severas, em épocasinadequadas e muitas vezes freqüentes podedeixar as plantas estressadas e susceptíveisao ataque de pragas e/ou patógenos. Osbesouros-de-ambrósia, em ambiente natural,são relatados atacando árvores debilitadasou caídas e em raras ocasiões atacando

árvores vivas. A infestação dessa praga emáreas de reflorestamento urbano pode terduas explicações: 1. Grande quantidade deplantas hospedeiras no ambiente urbano,aspecto semelhante a um monocultivo, comoferta farta de alimento adequado para essesinsetos. 2. Condições inadequadas paracrescimento dessa árvore no ambienteurbano o que debilita as plantas e as tornamsusceptíveis às infestações. Estudos sobreespécies arbóreas da Mata Atlântica e suasinterações com artrópodes são importantesquando se visa à conservação emanutenção da biodiversidade.

FIGURA 6 - Orifício de entrada de Platypus sp. em tronco de sibipiruna, Belo Horizonte/MG.

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Teor de taninos e flavonóides em cascas e folhas de barbatimão [Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville]

Ernane Ronie Martins1, Alisson Moura Santos2, Cecílio Frois Caldeira Júnior2, DanielSoares Alves2, Thiago Otávio Mendes de Paula2 e Lourdes Silva de Figueiredo3.

Resumo

O barbatimão (Stryphnodendron adstringens) ocorre no Cerrado do estado de Minas Gerais. As cascasapresentam taninos e têm propriedades medicinais, além de serem utilizadas no curtimento de couros. Aexploração da espécie, sem a reposição tem reduzido sua população. O objetivo do estudo foi determinar oteor de taninos e flavonóides em folhas e nas cascas do tronco e dos galhos. O estudo foi conduzido emMontes Claros - MG. Amostras de folhas e cascas do tronco e dos galhos tiveram determinados os teores detaninos e flavonóides. A concentração de taninos nas cascas foi similar no tronco e galhos. O teor deflavonóides foi superior nas folhas em relação às cascas do tronco e galhos. Assim, as cascas dos galhose folhas poderão substituir as cascas dos troncos no manejo da espécie.

Palavras-chave: plantas medicinais, extrativismo, cerrado.

Abstract

The barbatimão (Stryphnodendron adstringens) is widely distributed in the cerrado of Minas Gerais state. Itsbark contains tannin and has medicinal properties and it is tanning bark source for leather preparation.Exploitation without replacement is causing the reduction of this species. The aim of this work was todeterminate the tannin and flavonoid content in bark and leaves of barbatimão trees. This study wasconducted in Montes Claros - MG. Samples of the twigs bark, trunks bark and leaves had been analyzed fordetermination of the concentration of tannin and total flavonoids. The tannin bark concentration was similarbetween the trunks and twigs. The flavonoid content in leaves was superior to the barks of the trunk andtwigs. Thus, the twig bark and leaves can be substitute for bark of the trunk.

Keywords: Medicinal plants, extractivism, Brazilian savanna.

1 Doutor em Produção Vegetal. Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.2 Engenheiro Agrônomo. Instituto de Ciências Agrárias da UFMG.3 Doutora em Produção Vegetal. Departamento de Biologia Geral da UNIMONTES.

Introdução

O barbatimão (Stryphnodendronadstringens) popularmente conhecidocomo barbatimão-verdadeiro, barbatimão-vermelho, borãozinho roxo, casca-da-mocidade, casca-da-virgindade e diversosnomes variando de acordo com a região, éuma árvore nativa do Cerrado pertencenteà família Fabaceae, encontradafreqüentemente nos estados da Bahia,Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso doSul, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins(ALMEIDA et al., 1998; LORENZI; MATOS,2002; SILVA et al., 2001).

Segundo Almeida et al. (1998), cascasde barbatimão são amplamente utilizadasna medicina popular, sendo a planta útil naprodução de madeira de qualidade própriapara a construção civil. Rizzini e Mors(1976) relataram o uso da casca nasindústrias de curtume de couros em funçãodo tanino que apresentam.

Em relação ao uso medicinal da planta,a literatura cita diversas aplicaçõespopulares, podendo-se destacar seu usocontra leucorréia, inflamações em geral,hemorragias, na cicatrização de ferimentos,conjuntivite e pele excessivamente oleosa(MELO et al., 1993; MELO et al., 1996;LORENZI; MATOS, 2002).

A casca do tronco é o principal órgão daplanta utilizado na coleta pelos extrativistas,sendo que esta ação, quando realizada deforma desordenada gera deformaçõesestruturais tornando os indivíduos sensíveisa ação dos ventos, doenças e, ou, pragas,contribui também para menor tolerância aos

danos causados pelo fogo, principalmentenos indivíduos mais jovens, uma vez que, acasca age como um isolante térmicoprotegendo estruturas, como o câmbiovascular das elevadas temperaturas(FIEDLER et al., 2004). Na maioria das vezesa atividade de coleta dessas plantas érealizada indiscriminadamente por leigos,aumentando a possibilidade de levar essasplantas à extinção (CORREA JUNIOR, 1991).

A forma que o barbatimão vem sendoexplorado tem ocasionado diversos danosàs suas populações, por utilizarem práticastradicionais de extrativismo, utilizando acasca do tronco da planta e sem nenhumaadoção de prática sustentável. A tradicionalprática de extrativismo das cascas dotronco de algumas espécies tem levado asplantas exploradas por este método àmorte, aumentando assim o risco deextinção das espécies. A coleta da casca éfeita de maneira desordenada epredatória, sem nenhum critério deescolha do indivíduo (FELFILI ; BORGESFILHO, 2004). Parece não haverpreocupação da população quanto àpreservação e domesticação da espécie,uma vez que é facilmente encontradadentro de sua área de abrangência. Diantedisso, a extração tem trazido, ao longo dostempos, grandes prejuízos à natureza,colocando a espécie em risco (FELFILI;BORGES FILHO, 2004).

O presente trabalho teve como objetivoavaliar o teor de taninos totais nas diferentespartes (casca dos galhos, casca do caule efolhas) de plantas de barbatimão, visandopropor alternativas de coleta da espécie.

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Material e métodos

O estudo foi conduzido no município deMontes Claros, norte de Minas Gerais(S16º43', WO43º54', altitude de 895 m) emsolo do tipo Latossolo Vermelho, em área deCerrado sensu stricto, em área de ocorrênciade Stryphnodendron adstringens. O clima daregião é considerado Aw segundo aclassificação proposta por Köppen.

Foram identificadas 19 plantas debarbatimão adultas que apresentavamdiâmetro à altura do solo (DAS) maior que70 mm. Após a identificação das plantas asmesmas tiveram coletadas partes do galhocom diâmetro maior que 20 mm, casca dotronco e folhas. Na região da coleta decascas foram determinados os diâmetros,para galhos e troncos, sendo que as cascastiveram a espessura determinada, sendoestes dados submetidos à análise decorrelação com os teores de taninos eflavonóides. As partes das plantas coletadas(galho, casca do tronco e folhas) forammoídas em moinho do tipo "Willey", sendoas amostras peneiradas em peneiras de 40mesh. Cada planta identificada representouuma repetição, desta forma o delineamentoexperimental utilizado foi o de blocoscasualizados com três tratamentos (1-casca do tronco, 2 - casca do galho e, 3 -folhas) e 19 repetições ou blocos (árvores).

Análise de taninos

Amostras moídas com 0,05 g, dascascas e folhas, foram transferidas para

tubos de centrífuga com capacidade para 15mL. Adicionou-se 10 mL de HCl 1% emmetanol. Os tubos foram agitados emagitador tipo "Vortex" por 2 min,posteriormente foram centrifugados duranteoito minutos, aumentando a velocidadegradativamente (200, 400, 600, 800 e 1000rpm), sendo o sobrenadante o extrato bruto.

Foram adicionados, em um tubo deensaio, 0,1 mL do extrato bruto, 8,4 mL deágua destilada, 1,0 mL de solução saturada decarbonato de sódio e 0,5 mL do reagente deFolin-Denis (AOAC, 1960). Os tubos de ensaioforam agitados por 1 minuto, após 30 minutosem repouso foi determinada a absorbância emespectrofotômetro a 760 nm. Todas as análisesforam realizadas em triplicata. Foi construídauma curva padrão utilizando concentraçõescrescentes de ácido tânico.

Análise de flavonóides totais

Na extração e análise dos flavonóides foiutilizada a metodologia de Santos e Blatt(1998) modificada. Foram utilizadasamostras moídas de 0,25g, as quais foramcolocadas em tubo de centrífuga em 10 mlde metanol a 70%. Após 24 h foi retiradauma alíquota de 50 μl de extrato e adicionou-se 8,7 ml de metanol 70% e 130 μl desolução de cloreto de alumínio. Procedeu-seà agitação em agitador de tubos tipo "vórtex"e, após 30 min de repouso, foi feita a leiturada absorbância no espectrofotômetro a 425nm. Foi feita uma curva de calibraçãoconstruída a partir de soluções comconcentrações crescentes de rutina.

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TABELA 1

Teores de taninos totais nas folhas e cascas do tronco e galhos de plantas de barbatimão (Stryphnodendron adstringens) coletadas no município de Montes Claros - MG

Partes da Planta Taninos totais (%) Flavonóides totais (%)

Casca do Tronco 20,54 a 0,5955 b Casca do Galho 19,56 a 0,7912 b

Folhas 14,80 b 1,7114 a

*As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pela Teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Resultados e discussão

Os teores de taninos totais na casca dotronco, casca do galho e folhas, variaramsignificativamente, sendo que os teores nacasca dos galhos e casca do tronco nãodiferiram estatisticamente entre si, sendosuperiores ao observado em folhas (TAB. 1). Oteor de flavonóides totais também não diferiusignificativamente entre as cascas do tronco edos galhos, sendo que foram inferiores ao teorapresentado nas folhas (TAB. 1).

As correlações foram significativasapenas entre a espessura da casca e o teorde flavonóides no tronco e de taninos nacasca dos galhos (TAB. 2). Assim, os

resultados indicam que cascas do troncomais finas, ou mais jovens, têm maior teorde flavonóides. Por outro lado, as cascasdos galhos, quando mais grossas e,portanto, de maior idade, tendem aapresentar maior teor de taninos. Éimportante destacar que o diâmetro dasplantas ou dos galhos não afetou o teor detaninos ou flavonóides.

O teor de taninos totais na casca está deacordo com os resultados observados porSantos e Mello (2003), que identificaram teoresde taninos totais na casca do tronco deaproximadamente 20%. Santos et al. (2002)avaliaram comparativamente a composição detaninos totais em três diferentes espécies de

TABELA 2

Coeficientes de correlação de Pearson entre o diâmetro do tronco (DTR), espessura da casca (ESC) e diâmetro do galho (DGA) com o teor de flavonóides (TFL) e taninos (TTA) em cascas do tronco e

galhos de plantas de barbatimão (Stryphnodendron adstringens) coletadas em Montes Claros – MG.

Variável Variável Coeficiente de correlação

TTA tronco 0,3767 DTR

TFL tronco 0,1261

TTA tronco -0,0957

TFL tronco -0,5075*

TTA galho 0,5362** ESC

TFL galho -0,1642

TTA galho -0,2555 DGA

TFL galho -0,2157

**, * - Significativo a 1% e 5% de probabilidade, respectivamente, pelo teste t.

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plantas conhecidas popularmente comobarbatimão: (Stryphnodendron adstringens, S.polyphyllum e Dimorphandra mollis). Osautores observaram diferenças significativasentre a composição química das espéciespertencentes ao gênero Stryphnodendron, etambém entre os indivíduos de diferentesespécies. Porém, de acordo com tais autores,não houve grande diferença entre osconstituintes químicos da casca do tronco e dasfolhas entre as plantas avaliadas, ocorrendoapenas uma pequena variação nos níveis deflavonóides entre ambas as partes, o que estáde acordo com o observado neste trabalho.

A Figura 1 mostra os danos notronco da planta após a coleta de cascas.A Figura 2 mostra que também há danosna coleta de galhos, especialmente seesta for conduzida com ferramentasinadequadas, mas surgem brotações logoabaixo do ponto de corte, permitindonovas coletas em anos subseqüentes.

Dessa forma, os resultadosdemonstram que, como estratégia demanejo ou extrativismo sustentável, podemser adotadas práticas de realização depodas e coleta de galhos e, ou, folhas, emdetrimento do corte da casca do tronco, aqual pode conduzir à maior mortalidade deplantas ou menor resistência ao fogo, porexemplo. Tais práticas de coleta deverãoser aliadas a outras práticas sustentáveisde coleta, como indicado por Felfili &Borges Filho (2004).

Estudos farmacológicos deverãoser conduzidos no sentido de avaliar setais partes da planta apresentam atividadefarmacológica similar.

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FIGURA 1 - Danos pela coleta de cascas de tronco embarbatimão (Stryphnodendron adstringens).

FIGURA 2 - Coleta de galhos em barbatimão (Stryphnodendronadstringens), com destaque pra brotações que surgem abaixo doponto de coleta.

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Conclusão

A coleta da espécie Stryphnodendronadstringens pode ser realizada peloprocesso de podas, aproveitando-se acasca dos galhos e das folhas.

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Em Destaque:

Dimorphandra wilsonii Rizzini - Faveiro de Wilson

Família: Fabaceae (Leguminosae - Mimosoideae)Situação em Minas Gerais: criticamente ameaçadaSituação no Brasil: criticamente ameaçada Situação mundial (IUCN): criticamente ameaçadaDistribuição em MG: endêmica do cerradão da região central de Minas Gerais.

Dimorphandra wilsonii Rizzini é umaespécie arbórea endêmica de MinasGerais. Descrita em 1969 em Paraopeba,até o início desta década muito pouco seconhecia sobre ela, e menos ainda sobreseu status de conservação. Em 2003, noprimeiro contato com a espécie, técnicos doJardim Botânico da FZB-BH, encontraramem Paraopeba e Caetanópolis apenas 13

indivíduos remanescentes da populaçãocitada na literatura, isolados no meio daBrachiaria e sem sinais de autopropagação.Diante dessa situação foi criado o Projetode Conservação do Faveiro de Wilson, queprevia vários estudos, visando conhecermelhor a espécie, e uma série de ações,incluindo educação ambiental, objetivandoa sua conservação. Este Projeto é hoje umesforço que integra o Jardim Botânico daFZB-BH, o IEF, a UFMG e conta com oimportante apoio do ICMBio/FlonaParaopeba, dos fazendeiros e dascomunidades locais.

O levantamento que vem sendo feitorevela até o momento que a espécie existetambém em outros seis municípios daregião central de Minas, mas a populaçãototal não chega a 50 indivíduos adultos,sendo que até agora ela não foi encontradaem nenhuma unidade de conservação. Adestruição do habitat é a principal causa daredução da sua população. Por essesmotivos a espécie foi enquadrada comocriticamente ameaçada nas listasvermelhas da flora ameaçada de extinção.

FIGURA 1 - Frutos maduros no pé.

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Como meio de proteção legal, esta espéciefoi declarada como imune de corte eexploração em todo o território mineiro,através do decreto estadual nº 43904/2004.Já foram concluídas as seguintespesquisas: fenologia, germinação, análiseanatômica da madeira e nutrição mineral.Outras estão em andamento: genética,fisiologia e biologia floral. Estes estudossão importantes para o entendimento da

biologia e da ecologia da espécie efornecem subsídios essenciais para o seumanejo e conservação.

Para o estabelecimento de medidasadequadas para o manejo e conservaçãode uma espécie ameaçada é fundamentalconhecer o seu nível de diversidadegenética e a distribuição geográfica dessadiversidade. Para uma espécie ser capazde se adaptar às mudanças ambientais e

FIGURA 2 - Folhas e floração.

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FIGURA 4 - Sementes

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sobreviver em longo prazo é preciso queela apresente diversidade genética.Espécies ameaçadas geralmenteapresentam baixos níveis de variaçãogenética, além de aumento naendogamia, devido à maior freqüência decruzamentos entre plantas aparentadas. Aendogamia aumenta o risco das plantasapresentarem anomalias genéticas, bemcomo diminui o vigor e a fertilidadeafetando, portanto, a sua sobrevivência. Aárea de pesquisa em Genética daConservação tem como objetivos detectaros fatores genéticos que afetam aextinção de populações e espécies eelaborar estratégias de manejo genéticopara minimizar os riscos de extinção. Como objetivo de colaborar para a

recuperação do faveiro de Wilson,orientando o seu manejo de maneira aevitar posterior perda da diversidadegenética e diminuir a endogamia, olaboratório de Genética de Populações daUFMG realiza estudos acerca dadiversidade e estrutura genética daespécie. Analisando a diversidadegenética dos indivíduos remanescentes,poderão ser feitas inferênciasimportantes relacionadas principalmenteà seleção de matrizes que deverão serutilizadas para coleta de sementes parareintrodução da espécie.

Se você vir por aí alguma árvore comestas características, informe-nos, para quefaçamos a verificação in loco e incluamo-lanas ações de manejo da espécie.

FIGURA 3 - Frutos.

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Fernando Moreira FernandesEngenheiro Florestal. Jardim Botânico da FundaçãoZoo-Botânica - FZB de Belo Horizonte. E-mail:[email protected]

Helena A. Vianna SouzaBióloga, Mestre em Genética. Laboratório deGenética de Populações, Universidade Federal deMinas Gerais - UFMG.

Juliana Ordones RegoBióloga, Mestre em Ecologia, Conservação e Manejode Vida Silvestre. Jardim Botânico da FZB-BH.

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FIGURA 5 - Duas árvores adultas

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Márcia Bacelar FonsecaBióloga, Mestre em Biologia Vegetal. JardimBotânico da FZB-BH.

Miele Tallon MatheusEngenheiro Florestal, Mestre em CiênciasFlorestais. Jardim Botânico da FZB-BH.

Maria Bernadete LovatoBióloga, PhD, Prof. Associada. Laboratório deGenética de Populações, Universidade Federal deMinas Gerais - UFMG.

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