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Metrologia,

Rastreabilidade,

Qualidade e

Soberania

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1. Breve Histórico:A Convenção do Metro

(Convention du Mètre) é o tratado assinado em Paris, em 20 de maio de 1875, por representantes de dezessete Países, dentre eles o Brasil, O documento instituiu a maneira pela qual suas atividades seriam financiadas e gerenciadas e estabeleceu a configuração organizacional permanente para que os Países membros pudessem atuar em comum acordo em todos os assuntos relacionados a convenção e disseminação das unidades de medição e guarda dos respectivos padrões. Em virtude de seu caráter intergovernamental, deu advento ao Bureau Internacional de Pesos e Medidas (Bureau International des Poids et Mesures – BIPM), como uma organização subordinada à autoridade da Conferencia Geral de Pesos e Medidas (Conférence Générale on Poids and Mesures – GCPM) e sob a supervisão do Comitê Internacional de Pesos e Medidas (Comité International des Poids et Mesures – CIPM). O BIPM é a autoridade, delegada pelo CGPM/CIPM, que atua nas questões da metrologia mundial, em particular em padrões de medição mais precisos e a necessidade de

demonstrar a equivalência entre padrões nacionais de medição.

O Brasil adotara oficialmente o Sistema Métrico Decimal com a Lei Imperial n° 1.157, de 26 de junho de 1862, assinada pelo Imperador Dom Pedro II. O instrumento legal definira 10 anos de transição para sua implantação, com vistas à substituição da diversidade de padrões de medição herdada do período colonial pelo chamado sistema métrico francês em vigor na França desde 1840. Implicou, também, a modernização e harmonização do sistema de medição no país.

Na prática, o sistema métrico começou a ser implantado após concluído o período de transição estabelecido na lei. O novo sistema sofreu considerável resistência da população e da classe política. O Brasil foi um dos dezessete países que assinaram a Convenção do Metro, porém, como esse ato não foi legalmente ratificado no Brasil, não se estabeleceu o vínculo formal1. Somente 46 anos depois, em 6 de outubro de 1921, uma Convenção Internacional modificou a Convenção do Metro de 1875, e embora o Brasil tenha adotado esta nova Convenção, a adesão formal pelo Congresso

Nacional se deu somente em 19532[1]. Este atraso determinou um distanciamento do Brasil em relação aos demais países signatários da Convenção do Metro.

Com o início da industrialização do país, a partir da década de 1930, a necessidade da consolidação da metrologia fez-se extremamente importante.

Cabe destacar que o início da industrialização representava a entrada do país no comércio internacional com produtos manufaturados cujo destaque era a qualidade. Lembrando que os demais países signatários da Convenção do Metro já haviam aderido, ratificado a Convenção e implantado a metrologia. A partir de então, foram tomadas várias iniciativas para atualizar a legislação metrológica brasileira, culminando com o decreto–lei de 4 de agosto de 1938, que criou a Comissão de Metrologia e deu ao País uma estrutura nova para a metrologia científica, industrial e legal.Foi a partir de então que a defasagem de 50 anos em metrologia, um dos eixos fundamentais para o desenvolvimento industrial do Brasil, começou a retroceder. O fortalecimento do setor industrial no século XX exigiu do país a criação de uma infraestrutura que

Por Humberto Siqueira Brandi e Romeu José Daroda

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coordenasse com maior eficiência a metrologia em relação a aspectos tais como ao controle de qualidade, objetivando uma maior proteção a produtores e consumidores. O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), órgão do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio à época, fora incumbido, por intermédio da sua Divisão de Metrologia, pela fiscalização e execução das diretrizes nacionais para metrologia.

A iniciativa vigorou até 1961, quando foram extintas a Comissão de Metrologia e a Divisão de Metrologia do INT e criado o Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INPM), subordinado ao Ministério de Indústria e Comércio. O novo instituto assumiu todas as atribuições de cunho metrológico do País. Em 1960, a 11a CGPM introduziu o Sistema Internacional de Unidades (SI). Nesse interim, a infraestrutura nacional de metrologia se fortaleceu com a delegação a órgãos estaduais (conhecidos como IPEMs), da execução das atividades da metrologia legal.

A expansão da infraestrutura metrológica, com abrangência em todas as regiões do país sob a coordenação do INPM, dinamizou o crescimento econômico, motivando novas políticas de apoio ao setor produtivo. O mundo vivia um

crescimento tecnológicodinâmico em relação ao aperfeiçoamento de produtos e a qualidade e exatidão de medidas, principalmente no tocante à crescente exigência dos consumidores e de requisitos cada vez maiores de competitividade para tomar parte no crescimento do comércio internacional.

2. Infraestrutura de Qualidade- Tecnologia Industrial Básica

O comércio com os países industrializados demanda um grande número de padrões metrológicos e regulamentos técnicos, exigindo dos países em desenvolvimento a instalação do que é conhecido internacionalmente como Infraestrutura de Qualidade (IQ), no Brasil denominada de Tecnologia Industrial Básica (TIB). A IQ é utilizada para otimizar a produção, proteção ao consumidor, saúde, segurança, qualidade e meio ambiente e é constituída pelo tripé Regulamentação (regulamentos técnicos e normas), Avaliação da Conformidade, que incorpora acreditação, certificação e etiquetagem, e Metrologia (padrões de medição, rastreabilidade).

Os governos, as empresas e organizações utilizam normas (adoção

voluntária) e regulamentos (adoção compulsória) para expressar formalmente suas necessidades, desejos e objetivos. A Avaliação da Conformidade estabelece procedimentos, para que os requisitos estabelecidos nas normas e regulamentos possam ser cumpridos, e depende de ensaios metrológicos. Metrologia é a “ciência das medições e suas aplicações”, como descrito no Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM). O consenso sobre essa definição é fundamental para entender que medições precisas e confiáveis são necessárias para prover confiabilidade e segurança aos procedimentos de Avaliação da Conformidade e, portanto, à Regulamentação [2].

Todas, e cada uma, das três componentes da IQ são essenciais para a produção industrial, para o comércio e um fator determinante para captação de investimentos, para a competitividade e inovação.

Todo país deve possuir uma IQ compatível com o seu mercado interno, sua inserção internacional, e as demandas da sociedade. Os requisitos mínimos exigidos de uma IQ são: (1) acesso a normas internacionais e regulamentos técnicos; (2) um sistema capaz de oferecer acreditação às

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instalações que provêm ensaios e certificações e; (3) uma estrutura de medições capaz de proporcionar ao sistema resultados de medição aceitos e reconhecidos internacionalmente.

O tratado sobre barreiras técnicas da Organização Mundial do Comércio (WTO/TBT) reconhece explicitamente o papel dos padrões, normas e avaliação da conformidade na melhoria da produção e das relações internacionais de troca. Écomprovado que barreiras técnicas podem ser superadas, simplesmente através da definição e implantação de novos padrões, introdução de normas, acordados dentro do sistema internacional de metrologia. Padrões e normas, harmonizados internacionalmente, quando usados em produtos, serviços e métodos de produção, servem para estabelecer parâmetros de segurança, qualidade e compatibilidade, tornando-se instrumentos vitais para o comércio internacional e, ao promover as boas práticas regulatórias, contribuem também para a infraestrutura básica da sociedade, incluindo saúde, segurança e meio ambiente. Os países devem possuir uma IQ reconhecida

internacionalmente diminuindo desta maneira os riscos de que barreiras técnicas sejam empecilhos ao comércio de seus produtos e serviços [4].

O Sistema Nacional de Metrologia, Normalização de Qualidade Industrial (Sinmetro) foi instituído pela lei nº 5966 de 11 de dezembro de 1973 com o desafio de fortalecer o governo brasileiro na área metrológica. O Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) é o colegiado interministerial responsável por formular, coordenar e supervisionar a política nacional de metrologia, normalização industrial e certificação da qualidade de produtos industriais no País, dentre outras atribuições.

A lei também criou o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, hoje, Instituto Nacional de Metrologia Qualidade e Tecnologia (Inmetro), órgão executivo do Conmetro. O Instituto tem por finalidade executar as políticas e diretrizes nacionais da metrologia e qualidade industrial. O Inmetro se estruturou e se desenvolveu para atender a várias demandas: consolidar-se como Instituto

Nacional de Metrologia (INM) responsável pelos padrões de medições nacionais e pela inserção da metrologia brasileira na comunidade internacional. Por esse motivo, é também disseminador das unidades de medida do Sistema Universal de Unidades (SI), provendo rastreabilidade metrológica. Uma de suas peculiaridades diz respeito à integração entre metrologia científica e metrologia legal: o Instituto responde por ambas as atividades no País.

Por fim, também é o principal articulador de ações de avaliação da conformidade e acreditação de laboratórios. Especialmente nas duas últimas décadas, é reconhecido pelo alto nível de pesquisa, desenvolvimento, inovação (P,D&I) e formação de recursos humanos na área de metrologia.

É importante ressaltar que, como INM, o Inmetro tem por missão a guarda dos padrões nacionais de medição e, sendo o provedor de suas rastreabilidades internacionais, transferir essa rastreabilidade aos padrões de medições secundários (laboratórios acreditados) e terciários (laboratórios industriais). O Inmetro é a única instituição brasileira a qual é atribuída a

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responsabilidade de atuar nas três áreas de IQ, constituindo- se hoje em um locus de conhecimento avançado, com grande investimento em pessoal técnico e científico altamente qualificados, em sofisticados laboratórios de pesquisa, desenvolvimento e apoio ao comércio e à indústria do país. Embora, à primeira vista, a metrologia pareça uma estrutura complexa de atividades relacionadas à IQ, o conceito de rastreabilidade metrológica é muito elucidativo. Por esse motivo, discutiremos sua definição e aplicações práticas daqui por diante.

3. Rastreabilidade Metrológica

O Vocabulário

Internacional de Metrologia [6] (VIM) define a rastreabilidade como:

“Propriedade dum resultado de medição pela qual tal resultado pode ser relacionado a uma referência através duma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma contribuindo para a incerteza de medição”.

A própria definição de rastreabilidade é explicita quanto a necessidade de se estabelecer uma hierarquia de calibração e ensaios. De fato, calibração é uma cadeia ininterrupta de medições que compara um instrumento de medição com um padrão,

que possui menor incerteza de medição. A Fig. 1 abaixo ilustra a hierarquia da cadeia de rastreabilidade de calibrações e ensaios.

O Acordo de Reconhecimento Mútuo do CIPM MRA, estabelecido em outubro de 1999, provê o reconhecimento internacional e a aceitação de padrões de medição e calibração nacionais, cujos certificados tenham sido emitidos por INMs signatários do acordo. O CIPM MRA é baseado em comparações metrológicas [7] para assegurar equivalência nas medições ao redor do mundo. Os INMs

Fig. 1. Hierarquia de Rastreabilidade Metrológica

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participantes do acordo reconhecem o grau de equivalência dos padrões nacionais de medida, derivados dos resultados de comparações chave para avaliar a capacidade de cada Instituto em prover resultados de medição para grandezas específicas. Os valores são registrados no Banco de Dados de Comparações Chave (ou Key Comparison Database - KCDB), fonte de informação para toda a estrutura internacional. Nele, os institutos participantes reconhecem a validade das calibrações e dos certificados de medições emitidos pelos institutos participantes para as quantidades e os valores especificados no Apêndice B do KCDB.

O CIPM MRA oferece aos usuários informações quantitativas confiáveis sobre a comparabilidade dos serviços metrológicos nacionais e fornece uma base técnica ampla e sólida para acordos relacionados ao comércio internacional e questões regulatórias. É um importante instrumento de proteção, ajudando a eliminar barreiras técnicas ao comércio internacional (Technical Barriers to Trade – TBT) originadas pela falta de rastreabilidade e equivalência, ajudando a eliminar barreiras técnicas

às exportações. A confiança na capacidade metrológica de um país também evita a necessidade de repetição de medições em diferentes países. O resultado representa para o comércio internacional uma economia da ordem de bilhões de dólares [8].

Para que o INM tenha o reconhecimento internacional de sua capacidade de calibração e medição, seus laboratórios devem atender a rígidos requisitos internacionais estabelecidos em normas:• Sistema de gestão da

qualidade implantado segundo a norma técnica ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017;

• Condições climáticas (temperatura, umidade relativa, vibração, campos eletromagnéticos) dentro de rígidos padrões;

• Quadro de pessoal qualificado e de elevado conhecimento científico e tecnológico com permanente atividade de pesquisa científica e tecnológica, na fronteira do conhecimento;

• Capacidade de investimento para manter os padrões em perfeito estado para que se obtenha o melhor resultado de medição/calibração com a menor incerteza;

• Ser avaliado periodicamente por outros INMs;

• Participar de comparações chaves (Key Comparison – KC) com outros INMs demonstrando sua competência em calibração e medição;

A abrangência da rastreabilidade metrológica vai ao encontro das mais diversas áreas do conhecimento, sendo, portanto, considerada como a base para a competitividade de empresas de todos os setores. [2]

4. Estrutura Metrológica Brasileira

O Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro) tem como secretaria executiva o Inmetro com atribuições específicas, dentre as quais:• Elaborar e expedir

regulamentos técnicos nas áreas determinadas pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO;

• Realizar ou reproduzir as unidades de medida, bem como manter e conservar os padrões metrológicos nacionais;

• Conservar os padrões das unidades de medida,

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e implantar e manter a cadeia de rastreabilidade dos padrões metrológicos dos diversos laboratórios do País, referenciada aos padrões internacionais;

• Estabelecer diretrizes de atuação no âmbito da metrologia, avaliação da conformidade, acreditação e barreiras técnicas ao comércio, de acordo as com políticas consolidadas no Conmetro;

• Referenciar, direta ou indiretamente, os padrões metrológicos nacionais aos internacionais, visando à harmonização através de comparações- chaves, comparações suplementares, comparações internacionais, comparações regionais e rastreabilidade das medições a laboratórios acreditados, indústria e serviços, promovendo a competitividade produtiva destes setores;

• Garantir a rastreabilidade das medições através do desenvolvimento, produção e alienação de Materiais de Referência Certificados (MRC), ensaios e serviços de calibração a toda a cadeia produtiva;

• Elaborar e expedir regulamentos técnicos

sobre o controle metrológico legal e instrumentos de medição;

• Exercer o poder de polícia administrativa na área de metrologia legal, que poderá ser delegado a órgãos ou entidades de direito público;

• Exercer poder de polícia administrativa, expedindo regulamentos técnicos nas áreas de avaliação da conformidade de produtos, insumos e serviços, desde que não constituam objeto da competência de outros órgãos ou entidades da administração pública federal, quanto a: segurança; proteção da vida e da saúde humana, animal e vegetal; proteção do meio ambiente; e prevenção de práticas enganosas de comércio;

• Executar, coordenar e supervisionar as atividades de metrologia legal e de avaliação da conformidade compulsória por ele regulamentadas ou exercidas por delegação;

• Atuar como órgão acreditador oficial de organismos de avaliação da conformidade;

• Registrar objetos sujeitos a avaliação da conformidade

compulsória;• Planejar e executar

atividades de pesquisa, ensino e desenvolvimento científico e tecnológico em metrologia, avaliação da conformidade e áreas afins;

• Prestar serviços de transferência tecnológica e de cooperação técnica voltados à inovação e à pesquisa científica e tecnológica em metrologia, avaliação da conformidade e áreas afins;

• Prestar serviços voltados à inovação nas empresas nacionais;

• Produzir e alienar materiais de referência, padrões metrológicos e produtos relacionados;

• Conceder bolsas de pesquisa científica e tecnológica para o desenvolvimento de tecnologia de produto ou de tecnologia de processo, de caráter contínuo, diretamente ou por intermédio de parceria com instituições públicas ou privadas;

• Estabelecer parcerias com entidades de ensino para a formação e especialização profissional nas áreas de sua atuação, inclusive para programas de residência técnica;e

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• Representar o País em foros regionais, nacionais e internacionais sobre metrologia científica, industrial, legal e avaliação da conformidade.

A estrutura organizacional do Inmetro é mostrada na Fig. 2 abaixo.

O Inmetro cumpre suas atribuições, através de cinco Diretorias:Diretoria de Metrologia Científica e Tecnologia (Dimci): realizar ou reproduzir as unidades de medida, bem como manter e conservar os padrões metrológicos nacionais; referenciar, direta ou indiretamente, os padrões metrológicos nacionais aos

internacionais, visando à harmonização por meio de comparações-chave, comparações internacionais, comparações regionais e rastreamento; disseminar as unidades do Sistema Internacional de Unidades - SI, os seus múltiplos e submúltiplos, por intermédio de metodologias metrológicas adequadas; prover rastreabilidade aos padrões metrológicos dos diversos laboratórios do País; prestar apoio às áreas de metrologia legal, qualidade e credenciamento, no âmbito da metrologia básica; participar dos foros internacionais e regionais relacionados com as atividades de metrologia

científica e industrial, bem como representar o Brasil no Bureau International de Poids et Mesures - BIPM, na França, e em outras instâncias internacionais de metrologia entre outras atividades.

Diretoria de Metrologia Legal (Dimel): responsável pela elaboração de regulamentos técnicos de caráter compulsório ou voluntário e pela aplicação prática da metrologia na sociedade tendo como agentes de fiscalização a Rede Brasileira de Metrologia e Qualidade do Inmetro (RBMLQ-I) através da Coordenação Geral da Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade (Cored).

Fig. 2. Organograma do Inmetro

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Diretoria de Avaliação da Conformidade (Dconf): realizar ações para acompanhar, fiscalizar e verificar, no mercado, a conformidade de produtos, de processos e de serviços às normas e regulamentos técnicos pertinentes.

Coordenação Geral de Acreditação (Cgcre): planejar, dirigir, orientar, coordenar e executar as atividades de acreditação e atuar como órgão acreditador de organismos de avaliação da conformidade e de outros organismos necessários ao desenvolvimento da infraestrutura de serviços tecnológicos no país, em conformidade com as normas, guias e regulamentos internacionalmente reconhecidos.

Diretoria de Metrologia Aplicada às Ciências da Vida (Dimav): planejar, coordenar e executar atividades de pesquisa e desenvolvimento na área de metrologia das Ciências da Vida, desenvolvendo métodos de medição, produção de materiais de referência certificados, provendo rastreabilidade metrológica aos laboratórios do país.Regulamentação (Dimel, Dconf, Cored) e Avaliação da Conformidade (Dconf e Cgcre) dependem de

medições rastreadas aos padrões metrológicos internacionais, providas pela Dimci e pela Dimav, de modo que as medições e ensaios realizados pelos laboratórios acreditados, industriais, de pesquisas, e pelo comércio do país sejam corretos, confiáveis e aceitos internacionalmente. Isto requer sofisticados e modernos laboratórios de metrologia científica, industrial e legal. Através de acordos internacionais, os países buscam harmonizar os procedimentos de avaliação

da conformidade afim de superar barreiras técnicas, que podem dificultar o comércio de seus produtos e serviços.

Nessa estrutura, a Diretoria de Metrologia Científica e Tecnologia – Dimci e a Diretoria de Metrologia Aplicada às Ciências da Vida - Dimav constituem o cerne do Inmetro, e da IQ do país, pois provêm rastreabilidade metrológica a todos os laboratórios do país, privados e públicos, e são as guardiãs

Fig. 3. Cadeia de rastreabilidade

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dos padrões metrológicos primários nacionais. Estas duas Diretorias atuam também como o elo do Inmetro com os demais Institutos Nacionais de Metrologia (INM) e com o órgão máximo da Metrologia Internacional, o BIPM.

A Dimci e Dimav, pelas atribuições que possuem, são o cerne do Inmetro, a base da metrologia do Brasil. Atuam como o elo entre o SI (Sistema Internacional de Unidades) representado pelo CGPM (Conferência Geral de Pesos e Medidas) e a sociedade. A Fig. 3 da página anterior mostra a cadeia de rastreabilidade do CGPM até a sociedade passando pelo Inmetro através da Dimci e Dimav.

O papel fundamental da Metrologia na IQ pode ser resumido em poucas linhas:• A sociedade demanda

qualidade de seus produtos, processos e serviços;

• Não há qualidade sem gestão da qualidade;

• Não há gestão da qualidade sem medições confiáveis;

• Não há medições confiáveis sem calibrações;

• Não há calibrações suficientes sem laboratórios acreditados;

• Não há laboratórios acreditados sem rastreabilidade;

• Não há rastreabilidade sem padrões de medidas;

• Não há padrões de medidas sem metrologia;

• Não há metrologia sem um Instituto forte, robusto e com reconhecimento internacional;

• Não há normas e regulamentos, não há proteção ao consumidor, não há inserção em um mercado global cada vez mais competitivo e não há inovação, sem confiabilidade nas medições.

• Não há normas, regulamentos, avaliação da conformidade, acreditação e, portanto, Infraestrutura de Qualidade, sem Metrologia.

5. O valor social da metrologia

A economia globalizada oferece oportunidades e riscos. Enquanto no passado as barreiras tarifárias eram utilizadas como instrumentos de restrições ao comércio internacional, hoje são as barreiras técnicas ao comércio que podem exercer esse papel. Diretivas e normas internacionais, que por exemplo podem estabelecer exigências de custosas certificações ou de requisitos ambientais, sociais e de sustentabilidade, muitas vezes podem implicar em barreiras técnicas a produtos,

processos e serviços, e hoje, representam um importante obstáculo à redução da pobreza, através do comércio internacional [3].

No Brasil, não faltam exemplos de suspensão e devolução de produtos agropecuários sob a alegação de não satisfazerem requisitos de normas internacionais sanitárias, fitossanitárias ou de segurança alimentar, e muitos outros, que causaram, e vem causando, grandes prejuízos à exportação brasileira. A situação é de fato mais complexa pois, o comércio mundial é hoje fortemente dominado por produtos manufaturados baseados em tecnologia intensiva e, os produtos não manufaturados, com baixo valor agregado, são secundários.

A IQ é um instrumento essencial na defesa dos interesses comerciais de um país e da legitimação de seus pleitos em disputas internacionais, assegurando a qualidade dos seus produtos e serviços através do controle e monitoramento de sua aderência as normas e diretivas internacionais e evitando barreiras técnicas ao comércio. No país, é instrumento de proteção ao cidadão ajudando a dar confiança à qualidade dos produtos e serviços oferecidos à população.

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Uma indagação permanente diz respeito à relação custo/benefício da IQ para um país. Esta questão é complexa e, por não ter uma resposta simples e direta, é tratada, muitas vezes, de forma superficial quando não displicente. Certamente, não é difícil calcular os custos da infraestrutura de qualidade de um país, porém, não é fácil quantificar seus benefícios. De modo qualitativo podemos dizer que seus benefícios são amplos e abrangem principalmente toda a sociedade pois ao enfatizar a qualidade dos produtos e serviços aumenta a competitividade, estimula a inovação e a proteção do meio ambiente, criando condições favoráveis ao mercado de trabalho, a formação de riqueza, e a qualidade de vida do cidadão.

Alguns desses setores diretamente beneficiados podem ser destacados: [3]• Exportadores e

importadores que dependem de normas e regulamentos.

• Regulamentadores que utilizam esta estrutura evitando duplicação de instituições e instalações.

• Instituições arbitrais em caso de disputas, nacionais e internacionais.

• Setores agroindustriais, manufatureiros, arranjos

produtivos locais, pequenas e médias empresas, que podem utilizar um sistema de certificação adequado.

• Ciência, Tecnologia, Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que necessitam de medições confiáveis e regulamentação adequada.

• Instituições financeiras que podem utilizar o sistema de certificação na concessão de financiamento.

A Infraestrutura de Qualidade deve ser considerada como um instrumento de soberania nacional. Consequentemente, sem o eixo desempenhado pela Metrologia, perde-se parte dessa soberania. Muitos dos benefícios que um país recebe através da metrologia são parte do cotidiano de toda população, e sua importância é relativamente fácil de ser percebida e compreendida. Nas grandes metrópoles e nas mais longínquas regiões a exatidão das balanças, dos grandes supermercados e das pequenas mercearias, as bombas de combustível os postos de abastecimento e o peso e volume do conteúdo dos produtos devem ser aferidos através de um processo que transmita

confiança ao cliente.A exatidão destes

instrumentos de medição é aferida comparando seus valores de peso, volume, etc. com os valores disponibilizados pelo Inmetro (INM), através da cadeia de rastreabilidade das medições, descrita acima.

Assim, o cidadão que compra um kilograma de arroz, coloca 30 litros no tanque de gasolina do seu carro, compra um botijão de gás, ou paga o valor registrado pelo taxímetro quando utiliza um táxi, depende do valor registrado pelo instrumento de medição e, como não pode verificar se os instrumentos estão medindo o valor correto, precisa confiar que, de fato, estão medindo corretamente estes produtos e serviços.

Nestes casos, o cidadão é protegido pela legislação que regula estas transações comerciais, e proporciona confiança às medições através da Metrologia Legal, que verifica se os valores indicados pelos instrumentos, estão de acordo com a tolerância estabelecida nos Regulamentos técnicos. Esta verificação é realizada com instrumentos calibrados, e rastreados, aos padrões de medições do INM [3].

O cidadão adquire confiança nos mais variados produtos,

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sejam eles alimentos, bebidas, brinquedos, berços, cadeirinhas para bebês, eletrodomésticos, combustíveis,medicamentos, automóveis, ou imóveis, através de um processo aceito no país e no exterior, como por exemplo as calibrações de instrumentos e padrões, as certificações emitidas pelos laboratórios acreditados e os “selos” e “etiquetas”, com origem no Inmetro”. Adulterações e falsificações trazem importantes prejuízos financeiros e riscos para a sociedade.

Os médicos, hospitais, laboratórios clínicos e farmacêuticos utilizam instrumentos para medir a temperatura, pressão, massa, volume, oxigenação, composição do sangue e da urina, raios X, ressonância magnética, tomografia, radiação, etc., cujos resultados baseiam-se e necessitam de medições precisas e confiáveis, que são obtidas através de calibrações, ensaios e comparações. As decisões médicas são tomadas baseadas nestas medidas e falsos diagnósticos podem causar custos humanos inaceitáveis.

Algumas pessoas podem ser medicadas sem necessidade enquanto outras deixam de ser tratadas, com consequências imprevisíveis.

Falsos diagnósticos implicam também custos financeiros vultosos. Estima-se que o sistema de seguridade social custe nos EUA cerca de 2,5 trilhões de dólares por ano. Deste valor, entre 10% a 15% são atribuídos a medições, dos quais cerca de 20% estão associados a falsos diagnósticos, devido às incertezas nas medições. Medições com menor incerteza, trazem enorme benefício sociais e financeiros ao país.

6. Outros impactos da rastreabilidade metrológica

6.1. CalibraçãoHá outros benefícios

proporcionados pela metrologia à sociedade que são menos aparentes, mas, no entanto, têm um enorme impacto econômico e financeiro muitas vezes não percebido claramente, mas que podem ser avaliados quantitativamente. A rastreabilidade metrológica fornecida pelos INMs de um país talvez seja um dos melhores exemplos.

O cliente necessita saber onde é menos oneroso calibrar os padrões, e, portanto, obter rastreabilidade internacionalmente aceita, se no Inmetro ou fora do país. Para exemplificar o impacto da rastreabilidade,

vamos comparar os custos de calibração de um serviço disponibilizado pelo Inmetro, com os custos de calibração do mesmo serviço, disponibilizado por um INM do exterior, como o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (National Institute of Standards and Technology – NIST), o INM americano. Como explicado anteriormente, o Inmetro disponibiliza rastreabilidade a todo o Brasil e às organizações e laboratórios internacionais que assim desejarem.

Para atender a demanda dos clientes que dependem da rastreabilidade, aceita internacionalmente para a comercialização dos seus produtos, consideramos, para efeito didático, o modelo mais simples:

A diferença de custos ∆C para os clientes calibrarem fora do país (Cf) ou no Inmetro CI é simplesmente:

∆C = Cƒ − CI

• Custo fora do País é computado com base nos preços fornecidos por Institutos Nacionais de Metrologia (INMs) de fora do país.

• São comparados serviços com características equivalentes e mesmos níveis de qualidade (incerteza).

• Quando são aplicadas

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condições diferentes, métodos de normalização e justificativas pertinentes devem ser apresentados. Normalização: devido a câmbio, pontos de calibração, entre outras)

i

Cƒ = Ccn(INM) + ∑n Cƒi

CI = Ccn(I) + ∑n Cii

i

• Ccn(INM) (Ccn(I) , custo do serviço no INM fora do país (custo do serviço no Inmetro).

• Custos de logística fora do país: armazenamento, frete e transporte internacional, desembaraço alfandegário, seguro, serviços bancários, impostos.

• Custos de logística no país: frete e transporte nacional, seguro.

Ex. Serviço de transferência AC (corrente alternada), DC (corrente contínua) por ponto de calibração:

• Custos do serviço se feito no NIST ou no Inmetro

Cƒ = R$ 607,96 x o núnero de pontos CI = R$ 46,55 x núnero de pontos

Caso o Inmetro não oferecesse este serviço, e o

cliente o realizasse no NIST, a diferença de custo a ser pago pelo cliente seria:

Portanto, esta estimativa mostra que os clientes que utilizaram os serviços de calibração AC-DC do Inmetro, em comparação ao do NIST, tiveram um benefício financeiro superior R$ 3,2 milhões, em quatro anos.

É importante notar que esse é o resultado para um serviço calibração feito para os clientes que procuram especificamente a Dimci para calibrar seus instrumentos, pois necessitam de medições no mais alto nível de confiabilidade, como é fornecido pelo Inmetro.

O valor social da rastreabilidade oferecida pelo Inmetro pode ser facilmente avaliado tendo em vista que a Dimci disponibiliza para a sociedade um catálogo com centenas serviços e uma demanda de mais

de milhares calibrações/ano. Esta rastreabilidade é disponibilizada para toda a rede de metrologia legal e para os laboratórios acreditados do país, que por sua vez fornecem a rastreabilidade exigida por todos laboratórios industriais, de pesquisa,

desenvolvimento e acadêmicos.

Em resumo, os benefícios financeiros da rastreabilidade oferecida pela Dimci, resultante dos milhares de serviços realizados por milhares de laboratórios do país, que necessitam ter seus instrumentos calibrados poderiam ser estimados, “grosso modo”, por estes números.

7. Material de Referência Certificado

Um outro exemplo que bem demonstra o impacto da rastreabilidade metrológica, são os Materiais de Referência Certificados (MRCs). Devido à complexidade das medições em química, a estrutura internacional da Metrologia Química só foi incorporada ao BIPM em 1993 com a constituição do Comitê

Ccn(INM,NIST) = R$ 585,00Csm(I) = R$ 41,38

∑n Cƒ,NISTi=R$ 22,96

∑n CIi = R$ 5,17

Ano Número de Pontos

2013 887

2014 1825

2015 1409

2016 1618

Ano Economia para o Cliente2013 539.261,74 41.289,85 497.971,89

2014 1.109.529,52 84.953,75 1.024.575,77

2015 856.617,58 65.588,95 791.028,63

2016 983.681,51 75.317,90 908.363,61

TOTAL 3.221.939,91

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Consultivo de Quantidade de matéria (CCQM). As medições químicas não dependem exclusivamente da quantidade de matéria do produto analisado (cuja unidade de base do SI é o mol), mas também de milhares de parâmetros e processos que não estão diretamente associados ao SI. Ao longo das duas últimas décadas um sistema aceito internacionalmente foi construído, para a Metrologia Química, dentro do BIPM. Vale mencionar que uma estrutura metrológica semelhante às da Metrologia Física e da Metrologia Química, que seja internacionalmente aceita para as Ciências da Vida, está em processo de construção

As medições metrológicas em química, biologia, farmácia, alimentos, cosméticos, meio ambiente, forense, e outros, utilizam em sua grande maioria da instrumentação analítica que, como toda medição, necessita de comparações, e, portanto, de uma referência que sirva de “controle das medições”.

Materiais de referência (MRs) são “controles das medições” utilizados, em geral, em análises químicas, clínicas e biológicas, para verificar a qualidade e a rastreabilidade metrológica de produtos, validar métodos analíticos de medições,

ou para calibração de instrumentos, atribuir valor às propriedades físicas/químicas de materiais e garantir a qualidade de processos, fundamentais para assegurar a confiabilidade metrológica. O mercado mundial é enorme envolvendo dezenas de milhares de MRs.

Material de Referência Certificado (MRC) é um MR especial, com grande valor agregado, pois, é acompanhado por um certificado, com um ou mais valores de propriedade, certificado por um procedimento que estabelece sua rastreabilidade à obtenção exata da unidade na qual os valores da propriedade são expressos, com cada valor certificado acompanhado por uma incerteza para um nível de confiança estabelecido.

São produzidos conforme requisitos estabelecidos internacionalmente, e sua rastreabilidade é adquirida através de uma comparação de seus valores e incertezas, com de outros INMs. Um MRC é um tipo de padrão metrológico para a química, biologia e todos que necessitam de medições com alta qualidade, confiabilidade de valores e incertezas.

Os laboratórios do Inmetro produzem Materiais de Referência Certificados (MRC) em conformidade

com critérios aceitos internacionalmente estabelecidos na ABNT NBR ISO Guia 34:2012. A produção nacional de MRCs diminui a dependência dos laboratórios de análises de MRCs produzidos no exterior.

O MRC disponibilizado pelo Inmetro à sociedade contribui decisivamente para o aumento da confiança dos resultados das medições, mas também traz importantes benefícios econômicos e financeiros ao país.

Duas situações ocorridas recentemente, quando o Inmetro ficou impedido de alienar os seus MRCs, exemplificam bem estes impactos:1. um dos muitos MRCs

produzidos pelo Inmetro que ficaram indisponíveis foi o “Material de Referência Certificado de Solução de calibração de sódio”. Devido a demanda de laboratórios por este MRC, uma empresa passou a importa-lo do exterior e, tendo em vista os custos envolvidos neste processo, disponibiliza-lo no mercado brasileiro por R$ 7.456,00, (3/05/2018). O custo do MRC disponibilizado pelo Inmetro seria de R$ 693,00.

2. outro MRC produzido

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pelo Inmetro, que também ficou indisponível, é utilizado para calibrar todos os etilômetros (conhecidos popularmente como bafômetros) utilizados no país. Uma das consequências é que as empresas que fabricam os etilômetros, utilizados por exemplo em operações da “lei sêca”, ficam impedidas de fabrica-los, pois não possuem mais rastreabilidade ao Inmetro e não podem calibra-los com a confiabilidade exigida por lei, assim, os etilômetros usados nas operações de fiscalização não são calibrados e as operações têm que ser suspensas pois as medidas, não tem validade metrológica e podem ser contestadas judicialmente.

8. Arbitragem em disputas

Outro papel importante da rastreabilidade metrológica, envolve situações onde disputas, nacionais e internacionais, dependem de medições confiáveis e aceitas internacionalmente.

Um caso concreto ilustra como o potencial de oferecer medições confiáveis e de alta exatidão ao mercado podem exercer um papel determinante. Há quinze

anos, o Brasil e a União Européia (UE) entraram em disputa quanto à contaminação do frango exportado brasileiro por nitrofurano, uma espécie de antibiótico. Os nitrofuranos são carcinogênicos e, por esse motivo, seu uso em qualquer animal na UE ou para lá exportado, é proibido.

Nessa ocasião, foram detectados traços de nitrofurano em cerca de 20% dos frangos exportados, sendo então exigido que amostras de qualquer lote de frango brasileiro entrando na EU fosse submetido a análises. Caso confirmada a presença de metabólito de nitrofurano a carga era destruída, o que causou grandes prejuízos às exportações brasileiras.

No entanto, desde 1995 a proibição estava em vigor.Então, por que, apenas sete anos depois, foi detectado nitrofurano no frango exportado? A razão foi odesenvolvimento, nessa época, de um equipamento disponível em poucos laboratórios: um novo cromatógrafo, acoplado a um duplo espectrômetro de massa, capaz de detectar traços do nitofurano entre um trilhão de elementos que compunham as amostras de frango selecionadas para testes. No entanto, uma vez que o uso de nitrofuranos

em aves eram proibidos no Brasil, como os frangos haviam sido contaminados? [9]. Após uma extensa investigação, verificou-se que resíduos de fezes e urina dos animais domésticos das granjas, que utilizavam antibióticos com nitrofurano, ao serem levados pelo vento contaminavam as rações que alimentavam os frangos. A solução foi proibir o uso total de metabólitos de nitrofurano no Brasil, eliminando a principal fonte da contaminação. Este é um caso onde medições confiáveis e rastreadas evitaram um prejuízo financeiro de centenas de milhões de dólares.

Um exemplo mais trágico é do acidente ocorrido em setembro de 2006 quando um Boeing 737 da GOL colidiu no ar com um Embraer Legacy 600, quando sobrevoavam o Estado de Mato Grosso. O acidente causou a morte de todos os 154 passageiros e tripulantes a bordo do Boeing.

Investigado pela Força Aérea Brasileira, pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e pelo National Transportation Safety Board (NTSB). No relatório final, emitido em dezembro de 2008, o CENIPA concluiu que o acidente foi causado por erros cometidos tanto pelos controladores de tráfego

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aéreo quanto pelos pilotos do Legacy, enquanto que o NTSB determinou que os pilotos agiram corretamente e foram colocados em rota de colisão por uma variedade de erros dos controladores de tráfego aéreo. Antes do início do voo foi conferido, em solo e em voo, se todos os equipamentos do Legacy funcionavam corretamente.

O plano de voo estabelecia que a aeronave deveria permanecer no nível de voo 370 (37.000 pés, equivalente a 11.277 m) até Brasília, onde desceria ao nível de voo 360 (36 000 pés ou 10.972 m) e seguiria até um dado ponto (waypoint Teres), onde subiria para o nível de voo 380 (38 000 pés ou 11.582 m). As famílias de vítimas do acidente propuseram ações judiciais alegando que os pilotos estavam voando em uma altitude incorreta e alguns equipamentos estavam desligados, ou não operantes [10].

Uma das primeiras investigações foi sobre o funcionamento do altímetro, um aparelho que indica a altitude da aeronave através da medição da pressão atmosférica, que decresce com a altitude. Caso fosse encontrado algum problema com as medidas do altímetro, o Legacy poderia estar em uma altitude diferente da estabelecida no plano de voo e, portanto, os fabricantes

estariam sujeitos a ações penais. Após análises técnicas, possíveis problemas com as medições do altímetro foram descartados, pois a calibração de pressão, base de funcionamento do altímetro, havia sido realizada por um laboratório rastreado ao Inmetro, cujas medições de pressão têm validade e aceitação internacional, devido aos acordos de reconhecimento mútuo (MRA). 9. Considerações finais

O relatório do Banco Mundial, Systematic Country Diagnostic- Retaking the Path to Inclusion, Growth and Sustainability, publicado em junho de 2016, abrange uma ampla análise da situação socioeconômica do Brasil.

Embora não apresente recomendações específicas, se propõe a oferecer uma contribuição ao debate sobre o desenvolvimento futuro do país. Neste sentido, o relatório enfatiza duas fraquezas fundamentais do modelo socioeconômico brasileiro: a baixa produtividade e a incapacidade fiscal do setor público em continuar mantendo, de forma sustentável, suas obrigações financeiras constitucionais.

No capítulo quatro do relatório, intitulado The Origins of Brazil’s Productivity Malaise,

há uma análise sobre a origem de alguns dos problemas associados à baixas produtividade e competitividade nacional.

Entre outros, destaca-se que o Brasil é um dos países mais fechados do mundo ao comércio internacional, especialmente no que diz respeito à política comercial brasileira enfatizar o mercado interno em detrimento da integração internacional. Indícios dessa tendência são a adoção sistemática de medidas não-tarifárias, técnicas, sanitárias e de requisitos de conteúdo local, que podem ter efeitos adversos na produtividade e competitividade do país. Essas barreiras são a principal fonte de restrições do arcabouço regulatório brasileiro.

As consequências dessa política são fortemente agravadas pelos onerosos requisitos para a importação e exportação de bens e pelo custo administrativo das empresas em cumprir com suas obrigações tributárias, que é o mais elevado do mundo. São 2.600 horas/ano, quando comparado com 176 horas/ano nos países de maior economia da OCDE.

Além das barreiras técnicas impostas à competição internacional, há uma grande incerteza jurídica em relação às decisões que envolvem litígios comerciais.

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Estes desafios regulatórios dificultam a produtividade, a competitividade e levam, muitas vezes, empreendedores e empresas buscarem a informalidade, não adotarem as normas internacionais de qualidade, tipo ISO (International Organization for Standardization), dificultando a integração internacional, fator determinante para a difusão de tecnologias avançadas.

Tudo isso representa também uma desvantagem para o país e as empresasbrasileiras inovarem e, como consequência, a grande maioria das inovações introduzidas no país são de natureza incremental, que consiste em adaptar para o mercado local tecnologias existentes e por vezes já obsoletas em outros países.

Neste mesmo capítulo, uma sessão é dedicada a infraestrutura de qualidade da país. Se, por um lado, há um destaque desfavorável para o índice de IQ/PNB, quando comparado com os BRICS e Coreia, o fato dos valores absolutos de cada um dos indicadores, que constituem o Index de IQ, convergirem para os dos Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido, França e Itália é altamente positivo, uma vez que a IQ brasileira é muito mais recente que a desses países. O Inmetro é

mencionado explicitamente como exemplo [11].

A interpretação destes dados é simples: o país possui uma infraestrutura de qualidade compatível com as mais avançadas do mundo, porém, como o foco principal das empresas brasileiras é o mercado interno, que é muito protegido, pode explicar porque o país não desenvolve plenamente sua infraestrutura de qualidade uma vez que as empresas, em suas atividades, pouco utilizam normas internacionais, e, portanto, não necessitam plenamente dos serviços de IQ.

Várias conclusões podem ser obtidas desta análise, uma delas é que à medida em que for sendo exigido das empresas brasileiras uma maior exposição à competição internacional, um aumento da sua produtividade e consequentemente a introdução de inovação em seus produtos, processos e serviços, haverá uma necessidade do país ampliar e desenvolver a IQ nacional.

No entanto a base dessa infraestrutura, o Inmetro, já está estabelecido dentro dos melhores padrões internacionais.

Referências1. Decreto nº 36.878, de 4 de

fevereiro de 1955-https://www.planalto.

gov.br/Ccivil_03/Atos/decretos/1955/D36878.html1a - CNI.COMPI, Confederação Nacional da Indústria, Metrologia 2ª ed. Ver., Brasília, 2002.

2. Brandi, H. S. ; T.L. Souza . Metrology infrastructure for sustainable development of the Americas: the role of SIM. Accreditation and Quality Assurance, v. 14, p. 567-576, 2009.

3. Clemens Sanetra and Rocío M. Marbán -The answer to the global quality challenge: a national Quality Infrastructure-, 2007, PTB, OEA, SIM.

4. Brandi, H.S.- Um passeio no tempo com as medições: do Cúbito ao Metro In: Metrologia -Fundamentos.1 ed..Rio de Janeiro: Brasport Livros e Multimídia Ltda., 2017, v.1, p. 14-35.

5. Vocabulário Internacional de Metrologia- Conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM 2012)- Inmetro, Rio de Janeiro, Edição Luso- Brasileira 2012

6. CIPM Mutual Recognition Arrangement-https://www.bipm.org/en/cipm-mra/

7. www.bipm.fr/KCDB8. http://www.bipm.org9. https://pt.wikipedia.org/

wiki/Voo_Gol_190710. http://www.cnpsa.

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embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/anais0304_bsa_kennedy.pdf

11. World Bank Brazil Group; Report No: 101431-BR - Systematic Country Diagnostic- Retaking the Path to Inclusion, Growth and Sustainability

Humberto Brandi obteve os graus de Bacharel (1966) e o Mestrado em FísicaPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)), e o Ph.D. em Física(1971), no Massachusetts Institute of Technology (MIT).Atualmente é Diretor de Metrologia Científica e Tecnologia do Inmetro, (2005- )Foi Presidente da Federação Iberoamericana das Sociedades de Física, (Felasofi),(2010- 2014), Membro do Comitê Internacional de Pesos e Medidas, CIPM, (2013-2016), Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1994- 2009),Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1971-1994), Presidente do Sistema Interamericano de Metrologia, SIM, (1996-2010),Presidente da Sociedade Brasileira de Física, SBF, (1997-2001), Diretor do Setorde Física do Conselho Nacional de Pesquisas, CNPq, (1973-1975), Decano doCentro Técnico Científico da PUC-RIO, (1986-1991), Professor/Cientista Visitanteem universidades e institutos de pesquisa do país e do exterior.É autor de mais de 140 publicações científicas. Nos últimos dez anos ministroumais de 130 conferências convidadas, em Metrologia, Inovação, Qualidade eSustentabilidade.Recebeu as distinções, Medalha de Comendador da Ordem National do MéritoCientífico (1998), Grã - Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico,MéritoMetrológico Científico (2017), Mérito Educacional da IBM do Brasil 1991), e émembro da Academia Brasileira de Ciências (1996).