mÉtodos de prevenÇÃo das perdas comerciais de...

69
MÉTODOS DE PREVENÇÃO DAS PERDAS COMERCIAIS DE ENERGIA Maressa Tuponi Santos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Jorge Nemésio Sousa, M. Sc. Rio de Janeiro Setembro de 2018

Upload: hathien

Post on 29-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MÉTODOS DE PREVENÇÃO DAS PERDAS COMERCIAIS DE ENERGIA

Maressa Tuponi Santos

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro Eletricista.

Orientador: Jorge Nemésio Sousa, M. Sc.

Rio de Janeiro

Setembro de 2018

MÉTODOS DE PREVENÇÃO DAS PERDAS COMERCIAIS DE ENERGIA

Maressa Tuponi Santos

PROJETO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRA ELETRICISTA.

Examinado por:

Prof. Jorge Nemésio Sousa, M. Sc.

Prof. Heloi José Fernandes Moreira, D. Sc.

Prof. Bruno Enéas Santana dos Santos, Eng.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

SETEMBRO DE 2018

Santos, Maressa Tuponi

S237m Métodos de Prevenção das Perdas Comerciais de

Energia / Maressa Tuponi Santos. -- Rio de Janeiro, 2018.

69 f.

Orientador: Jorge Nemésio Sousa.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) -

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica,

Bacharel em Engenharia Elétrica, 2018.

1. Perdas de energia elétrica. 2. Perdas não

técnicas de energia. 3. Métodos para mitigação das perdas.

I. Sousa, Jorge Nemésio, orient. II. Título.

III

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheira

Eletricista.

MÉTODOS DE PREVENÇÃO DAS PERDAS COMERCIAIS DE ENERGIA

Maressa Tuponi Santos

Setembro de 2018

Orientador: Jorge Nemésio Sousa, M. Sc.

Departamento de Engenharia Elétrica.

Este projeto de graduação apresenta métodos para prevenção e/ou mitigação das

perdas comerciais de energia elétrica. Os métodos estão divididos em três categorias:

intensificações e melhoria das ações já existentes nas distribuidoras de energia,

projetos e parcerias entre distribuidoras e consumidores e projetos diferenciados de

engenharia desenvolvidos para inibir as perdas.

Essas perdas de energia representam redução no faturamento em toda a cadeia de

produção, desde a geração até a distribuição. Para o consumidor, tanto as perdas

técnicas quanto as não técnicas, representam aumento da tarifa de energia elétrica,

visto que parte do seu valor é repassada para o consumidor final.

Serão apresentadas as definições de perdas técnica e comerciais, as principais

causas para as fraudes e furtos de energia, os problemas e riscos associados, as

consequências tanto para os consumidores quanto para as distribuidoras de energia

e as ações e tecnologias empregadas no combate às perdas.

Palavras-chave: Perdas de energia elétrica, furto de energia, métodos de prevenção,

configurações de rede de distribuição de energia elétrica.

IV

Summary of graduation project presented at UFRJ as part of the necessary

requirements to get the degree as electrical Engineer

METHODS OF PREVENTING COMMERCIAL LOSSES OF ENERGY

Maressa Tuponi Santos

September, 2018

Advisor: Jorge Nemésio Sousa, M. Sc.

Electrical Engineering Department

This graduation project presents methods for prevention and/or mitigation of

commercial losses of energy. The methods are divided into three categories:

intensification and improvement of current actions in energy distribution companies,

projects and partnerships between energy companies and consumers, and

differentiated engineering projects developed to inhibit fraud.

Energy losses represent a profit reduction throughout all the energy production chain,

from generation to distribution. For the consumer, energy losses represent an increase

in the electric energy tariff, since part of the amount of losses, both technical and non-

technical, is passed to the final consumer.

Will be presented definitions of technical losses and non-technical losses, the main

causes for fraud and theft of energy, the associated problems and risks, the

consequences for both consumers and energy distributors and the actions and

technologies employed to end the energy losses.

Keywords: Energy losses, theft of energy, prevention methods, electrical distribution

network configurations.

V

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida e por todas as

oportunidades que me concedeu. Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas!

Agradeço aos meus pais Romulo e Mereide. Tudo o que sou eu devo a vocês,

meus exemplos de vida. Obrigada aos meus irmãos Israel e Samuel por todo amor e

apoio. Amo vocês.

Obrigada a todos os professores, especialmente ao querido orientador Jorge

Nemésio Sousa, sem sua orientação este trabalho não seria concluído. Agradeço aos

meus queridos mestres Sergio Sami e Helói Moreira, além de professores se tornaram

amigos, me apoiando em momentos difíceis. Vocês têm uma imensa participação

neste diploma. Um obrigada muito especial a Kátia Tripolli, melhor secretária,

psicóloga e amiga que os alunos de engenharia elétrica da UFRJ poderiam ter.

Agradeço ao Núcleo de Solidariedade Técnica da UFRJ (Soltec),

especialmente ao meu amado orientador Celso Alexandre. Com vocês aprendi que a

engenharia vai muito além de números e empresas, e que nós engenheiros somos

capazes de mudar a vida das pessoas e transformar o mundo em que vivemos em um

lugar melhor.

Às pessoas que tornaram os dias de trabalho em momentos de aprendizado e

crescimento profissional: Thalles Nascimento, Vinícios Lamas, Monique Melo e Vitor

Moreira. Mais do que colegas de trabalho, amigos e exemplos de engenheiros.

Obrigada por todo apoio e conhecimento compartilhado.

Aos amigos que entenderam as ausências e mesmo distante me deram força

e animo para seguir esta caminhada. Aos colegas de faculdade por todos os grupos

de estudo e risadas nos corredores. Agradeço ao querido amigo Sersan Guedes, meu

monitor de todas as matérias da faculdade, um excelente engenheiro e um ser

humano incrível. Meu muito obrigada ao amigo Renan Lombardo, meu parceiro do

primeiro ao último dia de aula.

VI

SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................... 13

1.1 Apresentação ............................................................................................... 13

1.2 Proposta ....................................................................................................... 14

1.3 Motivação ..................................................................................................... 14

1.4 Objetivos ...................................................................................................... 15

1.5 Relevância ................................................................................................... 16

1.6 Limitações .................................................................................................... 16

1.7 Metodologia do projeto ................................................................................. 17

1.8 Descrição do trabalho .................................................................................. 18

2. Revisão bibliográfica e base teórica ................................................................... 19

2.1 Perda de energia elétrica ............................................................................. 19

2.2 Perdas técnicas ............................................................................................ 27

2.2.1 Perdas por histerese .............................................................................. 27

2.2.2 Perdas por correntes de Focault ............................................................ 30

2.2.3 Perdas por efeito Joule .......................................................................... 31

2.2.4 Cálculo das perdas técnicas nos sistemas de distribuição .................... 32

2.3 Perdas não técnicas ..................................................................................... 35

2.3.1 Falha de equipamento ........................................................................... 35

2.3.2 Inexistência de medidor e/ou medidor adulterado ................................. 36

2.3.3 Erro de faturamento ............................................................................... 37

2.3.4 Consumo estimado ................................................................................ 38

2.3.5 Cálculo das perdas não técnicas nos sistemas de distribuição ............. 38

2.3.6 Efeito das perdas para as distribuidoras ................................................ 40

2.3.7 Efeito das perdas para os consumidores ............................................... 41

3. Métodos para redução das perdas não técnicas de energia .............................. 43

VII

3.1 Intensificação e melhoria dos processos existentes .................................... 43

3.2 Projetos entre distribuidoras e consumidores .............................................. 43

3.2.1 Projetos sociais ...................................................................................... 45

3.2.2 Geração distribuída ............................................................................... 46

3.3 Configurações especiais de redes de distribuição ....................................... 52

3.3.1 Rede DAT .............................................................................................. 53

3.3.2 Rede invertida........................................................................................ 56

3.3.3 Cabo triconcêntrico ................................................................................ 59

3.3.4 Elevação de tensão ............................................................................... 61

3.3.5 Medição das perdas .............................................................................. 62

4. Conclusão ........................................................................................................... 63

4.1 Sugestões para futuros trabalhos .................................................................... 64

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 65

Anexo I - Padrão de construção rede DAT ................................................................ 68

VIII

TABELA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Abrace - Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de

Consumidores Livres

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRADEE - Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica

AT - Alta Tensão - compreende tensões acima de 36,2 kV

BDGD - Base de Dados Geográficos da Distribuidora

BT - Baixa Tensão - compreende tensões abaixo de 1 kV

CA - Corrente Alternada

CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica

CEER - Council of European Energy Regulators (Conselho dos Reguladores

Europeus de Energia) - Associação belga que promove a troca de experiências

regulatórias e o desenvolvimento do setor energético para uma maior proteção do

consumidor

DEC - Duração Equivalente de interrupção por unidade Consumidora

DIC - Duração de Interrupção Individual por Unidade Consumidora ou por ponto de

conexão

DICRI - Duração da Interrupção individual ocorrida em dia Crítico por unidade

consumidora ou ponto de conexão

DMIC - Duração Máxima de Interrupção Contínua por unidade consumidora ou por

ponto de conexão

EDR - Enel Distribuição Rio

EPE - Empresa de Pesquisa Energética

IX

FEC - Frequência Equivalente de interrupção por unidade Consumidora

FIC - Frequência de Interrupção individual por unidade Consumidora ou por ponto de

conexão, expressa em número de interrupções;

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

IEEJ - The Institute of Energy Economics, Japan (Instituto de Economia de Energia do

Japão)

kWp - Kilowatt Pico - Medida de potência energética associada a células fotovoltaicas.

LT - Linha de Transmissão

MT - Média Tensão - compreende tensões entre 1 e 36,2 kV

MWh - Megawatt-hora - unidade de energia gerada ou consumida

ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico

PROCEL - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica - Programa criado

pelo governo federal em 1985 e executado pela Eletrobrás, com o objetivo de

promover o uso eficiente da energia elétrica

PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional - Documentos elaborados pela ANEEL que normatizam e padronizam as

atividades técnicas relacionadas ao funcionamento e desempenho dos sistemas de

distribuição de energia elétrica

PRORET - Procedimento de Regulação Tarifária

SDAT - Sistema de Distribuição de Alta Tensão

SDBT - Sistema de distribuição de Baixa Tensão

SDMT - Sistema de Distribuição de Média Tensão

SED - Subestações de Distribuição

SIN - Sistema Interligado Nacional

X

Rede DAT - Rede de Distribuição Aérea Transversal

TLI - Terminal de Leitura Individual

TE - Tarifa de Energia

TUSD - Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição

XLPE - Cross Linked Polyethylene (polietileno reticulado)

XI

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Percentual de perdas de energia nas distribuidoras brasileiras ..... 15

Figura 2.1 - Matriz energética brasileira ................................................................ 19

Figura 2.2 - Perdas no sistema de distribuição europeu: porcentagem do total de

energia injetada. ....................................................................................................... 26

Figura 2.3 - Laço de histerese ................................................................................ 28

Figura 2.4 - Fluxograma do procedimento de avaliação das perdas técnica .... 34

Figura 2.5 - Concentrador Secundário Landys com furto em medidor. .............. 37

Figura 2.6 - Exemplo simplificado do cálculo de perdas na energia elétrica ..... 39

Figura 2.7 - Investimento versus perda de energia .............................................. 41

Figura 3.1 - Fatura de energia com consumo excedente .................................... 48

Figura 3.2 - Fatura de energia com geração excedente ...................................... 50

Figura 3.3 - Rede DAT ............................................................................................. 54

Figura 3.4 - Projeto piloto rede invertida ................................................................ 56

Figura 3.5 - Padrão de construção da Rede Invertida ......................................... 57

Figura 3.6 - Cabo triconcêntrico ............................................................................. 60

Figura 3.7 - Equipamento de macromedição de Média Tensão ......................... 62

XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Perdas regulatórias estabelecidas pela ANEEL para as distribuidoras

referentes ao processo tarifário vigente. (atualizado em novembro/2017) ........... 22

Tabela 2.2 - Perdas totais regulatórias estabelecidas pela ANEEL para as

distribuidoras (por ano). ....................................................................................... 24

13

1. Introdução

1.1 Apresentação

O sistema elétrico brasileiro, conhecido como SIN - Sistema Interligado

Nacional1, é um sistema que interliga as 5 regiões do país. Por possuir dimensões

continentais, este sistema trás uma série de complexidades técnicas. Uma das

complexidades que trazem mais preocupação, tanto para os órgãos reguladores como

para as empresas privadas que investem e gerenciam os ativos que compõem este

sistema, são as perdas de energia.

As perdas de energia, basicamente, estão divididas em dois grandes grupos:

as perdas técnicas e as perdas não técnicas. As perdas técnicas são inerentes a

qualquer sistema que produza trabalho. Estas perdas estão relacionadas à resistência

dos materiais, à produção de calor etc. Apesar da constante busca por novos materiais

e novos métodos de geração e transmissão de energia, as perdas técnicas, ainda que

reduzidas, sempre irão existir. No entanto, as perdas não técnicas, também

conhecidas como perdas comerciais, são causadas por intervenção humana ou falha,

tanto humana quanto de equipamentos. A perda comercial mais conhecida é o furto

de energia, entretanto também são denominadas perdas não técnicas as perdas

devido a falha de equipamentos, erros de faturamento e falta de medição de consumo.

As perdas de energia representam redução no faturamento em toda a sua

cadeia de produção, desde a geração até a distribuição. Já para o consumidor, as

perdas de energia representam aumento da tarifa de energia elétrica, visto que de

acordo com o PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no

Sistema Elétrico Nacional, parte do valor das perdas, tanto técnicas quanto não

técnicas, é repassada para o consumidor final.

1 O SIN - Sistema Interligado Nacional é um sistema de coordenação e controle, formado por empresas

do setor elétrico brasileiro, que congrega o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil. Trata-se de um sistema hidrotérmico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e proprietários múltiplos, estatais e privados. Apenas 1,7% da capacidade de produção de eletricidade do país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados localizados principalmente na região amazônica.

14

Os órgãos responsáveis por gerir este sistema como a EPE - Empresa de

Pesquisa Energética, ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico e ANEEL -

Agência Nacional de Energia Elétrica, e as concessionárias de energia elétrica,

desenvolvem, constantemente, estudos visando mitigar as perdas de energia.

Portanto, desenvolver e estudar métodos para redução de perdas de energia é de

interesse tanto empresarial como social, visto que ambos são afetados pelas perdas

de energia.

1.2 Proposta

O presente trabalho propõe-se a definir o que são as perdas técnicas e não

técnicas na rede de distribuição, quais as principais causas e consequências, tanto

para as empresas responsáveis pela distribuição quanto para os clientes, e apresentar

métodos atualmente utilizados para mitigar as perdas comerciais.

Com esta leitura, um aluno ou profissional da área de engenharia elétrica estará

apto a entender as origens e causas das perdas em uma rede de distribuição

secundária, as consequências, tanto para as concessionárias quanto para os

consumidores, e também terá conhecimento sobre algumas propostas de solução

para o problema.

1.3 Motivação

As perdas comerciais de energia podem e devem ser evitadas. Além de causar

prejuízos financeiros, tanto para as empresas quanto para os consumidores, as

perdas comerciais diminuem a qualidade da energia entregue. Em entrevista

concedida ao jornal O Globo [1] em novembro de 2016, o então presidente da EDR -

Enel Distribuição Rio, empresa concessionária de energia elétrica de parte do estado

do Rio de Janeiro, anteriormente chamada Ampla, informou que naquele ano, as

perdas da empresa chegaram a 20%, representando uma queda de receita de R$ 100

milhões de reais.

Conforme observado no gráfico apresentado na Figura 1.1, em 2017 as perdas

na EDR foram de 19,4% e na Light, outra concessionária atuante no Rio de Janeiro,

as perdas chegaram a 22,5%.

15

Figura 1.1 - Percentual de perdas de energia nas distribuidoras brasileiras Fonte: ABRADEE [2]

Ainda observando a Figura 1.1, vemos que as perdas comerciais não se

restringem a apenas um estado ou região do País. Tampouco são restritas ao Brasil.

De acordo com PENIN (2008), na Inglaterra e nos Estados Unidos os casos de furto

de energia são mais comuns do que se imagina. Nesses países, os websites das

concessionárias de energia fazem apelo para que os vizinhos denunciem caso

desconfiem de qualquer atitude suspeita em relação á fraude de energia, e enfatizam

que quem paga pelo furto do vizinho é o próprio consumidor [3].

O assunto ‘Furto de Energia’ é de interesse mundial, tanto para empresas

quanto para consumidores. Este trabalho visa incentivar esta discussão, esclarecer

dúvidas relativas ao tema e apresentar técnicas utilizadas no Brasil para mitigar as

perdas comerciais.

1.4 Objetivos

O presente estudo tem como objetivo apresentar métodos utilizados atualmente

pelas concessionárias de energia elétrica para a prevenção das perdas comerciais.

Também serão definidas as diferenças entre as perdas técnicas e perdas não

16

técnicas, as origens, causas e consequências destas perdas tanto para as

concessionárias quanto para os consumidores.

O estudo terá como foco a rede de distribuição secundária, cujo encargo de

operação pertence às concessionárias de energia, responsáveis por entregá-la ao seu

consumidor final.

Do ponto de vista das concessionárias, este estudo fornece soluções viáveis

para implementação, possibilitando recuperação de receita e aumento da qualidade

da energia fornecida.

Do ponto de vista do consumidor, este estudo esclarece o que é considerado

furto de energia, apresentando as consequências econômicas e técnicas que afetam

os clientes.

1.5 Relevância

As perdas não técnicas são um problema enfrentado por todas as

concessionárias do Brasil e de outros países, afetando o faturamento das empresas

e a qualidade da energia elétrica fornecida aos clientes. Além disso os consumidores

também sofrem consequências, visto que parte do valor monetário dessas perdas é

repassado na tarifa dos clientes.

Este não é um problema que preocupa apenas as concessionárias, mas

também é um tema discutido pelos órgãos reguladores do setor de energia elétrica.

Em 2011 a ANEEL confeccionou folders explicando o objetivo da Agência e o uso

consciente de energia elétrica. Em 2013, divulgou uma cartilha sobre ‘Uso indevido

de energia elétrica’, que está disponível no site da Agência e o caminho pode ser

obtido em [4]. Nesta cartilha são tratados os diversos riscos que uma ligação

clandestina provoca.

1.6 Limitações

As limitações deste estudo vão desde a complexidade e diversidade dos

consumidores de cada região aos diferentes métodos de trabalho adotados por cada

concessionária do país.

17

Os métodos e programas de prevenção e combate ao furto de energia

utilizados por cada concessionária não são de domínio público. Logo, o acesso a estas

informações é de difícil obtenção.

Os resultados obtidos pelas concessionárias com a aplicação de algum dos

métodos apresentados neste trabalho também não são divulgados. Portanto, a

restrição de acesso a dados das concessionárias é um fator limitante deste estudo.

1.7 Metodologia do projeto

GIL (2002) define pesquisa como um “processo formal e sistemático de

desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir

respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos” [5].

Entretanto existem diferentes modos de se construir uma pesquisa, sendo

necessária a utilização de metodologias para guiar sua construção. De acordo com

sua natureza, as pesquisas são classificadas como básicas e aplicadas. Já de acordo

com o modo de abordagem, em quantitativa e qualitativa. Quanto aos objetivos, em

exploratória, descritiva e explicativa. Conforme os procedimentos técnicos, a pesquisa

é classificada como bibliográfica, documental, experimental, levantamento, estudo de

caso, Ex-post Facto, pesquisa-ação e participante. Nesta Seção será descrita a

metodologia utilizada neste trabalho detalhando-se as classificações.

Em relação à sua natureza, é classifica como pesquisa aplicada, visto que são

feitas análises, descrição e comparação de diferentes opções de solução para as

perdas não técnicas, problema enfrentado pelas empresas do setor energético.

Portanto, conforme SILVA e MENEZES (2018), possui o objetivo de gerar

conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos

[6].

Quanto ao modo de abordagem, a pesquisa é qualitativa pois tem como base

a análise das diferentes ações possíveis para se mitigar as perdas comerciais de

energia. De acordo com SILVA e MENEZES a pesquisa qualitativa se dá através da

coleta de dados e não requer o uso de técnicas estatísticas, e seus principais focos

são o processo e seu significado [6].

18

De acordo com os objetivos, este trabalho é exploratório, pois conforme GIL,

explicita o problema de perdas de energia, construindo hipóteses, através de

levantamento bibliográfico, para suas causas e análise de ações para resolução do

problema [5].

Conforme os procedimentos técnicos, segundo GIL é bibliográfica, pois se trata

de uma elaboração a partir de outras publicações técnicas a respeito do tema [5].

Em resumo, este TCC é fruto de uma pesquisa qualitativa e aplicada que foi

desenvolvida de acordo com objetivos exploratórios, com metodologia de cunho

bibliográfica, com base em literatura pertinente.

1.8 Descrição do trabalho

Este trabalho está organizado em 5 capítulos. A breve descrição dos mesmos

será apresentada a seguir.

Capítulo 1 - Introdução: neste capítulo apresenta-se uma breve descrição das perdas

técnicas e não técnicas, a relevância deste assunto tanto para empresas quanto para

consumidores, a motivação, objetivo, relevância, limitações do estudo e a metodologia

utilizada para a construção do projeto.

Capítulo 2 - Revisão Bibliográfica: serão apresentadas as principais fontes

consultadas e o conhecimento obtido através de cada uma delas; aqui será

apresentado o material pesquisado referente ao assunto do trabalho.

Capítulo 3 - Métodos para prevenção de perdas comerciais: será desenvolvido o tema

principal deste trabalho; serão apresentados métodos atualmente utilizados por

algumas concessionárias para a prevenção e mitigação das perdas comerciais.

Capítulo 4 - Conclusões: nesta etapa serão discutidas as considerações finais e

apresentadas as conclusões resultantes após a pesquisa sobre o assunto.

19

2. Revisão bibliográfica e base teórica

2.1 Perda de energia elétrica

De acordo a Figura 2.1, a matriz energética brasileira é composta em sua

maioria por hidrelétricas, sendo que 68,1% é de geração hidráulica.

Figura 2.1 - Matriz energética brasileira Fonte: EPE (2016) [7]

Entretanto, um sistema de geração hidráulico não possui 100% de rendimento.

As perdas de energia estão presentes em todas as etapas da geração, desde a queda

d'água, nível do reservatório, até as perdas mecânicas e hidráulicas nos

equipamentos.

De acordo com ENCINA (2006) "a transformação da energia mecânica em

energia elétrica pelo gerador não se verifica de maneira completa, devido a que nessa

transformação também há perdas nos enrolamentos, perdas mecânicas provocadas

pelo atrito nas escovas do sistema de excitação, perdas nos mancais e sistema de

ventilação. Verificam-se também perdas provocadas pela histerese e correntes de

Focault, originadas pela variação da densidade de fluxo magnético no ferro do

gerador" [8].

20

O processo para a obtenção da energia elétrica é dividido em três etapas:

geração, transmissão e distribuição. Na etapa de geração ocorre a transformação de

algum elemento pré-existente (água, óleo, vento etc.) em energia elétrica. Esta

transformação ocorre principalmente nas hidrelétricas, termelétricas, usinas solares e

eólicas. Após a transformação dos elementos físicos em energia elétrica, ocorre a

transmissão da energia, visto que devido ao grande espaço que as usinas geradoras

ocupam, a geração se encontra distante da carga (consumidores da energia). Esta

transmissão ocorre através das LT - Linhas de Transmissão, compostas por cabos

preparados para resistir às altas tensões (acima de 36,2 kV) suportados pelas torres

metálicas.

Ao chegar nos centros urbanos, as altas tensões transmitidas pelas LT passam

pelas subestações e são reduzidas às médias tensões (entre 1 e 36,2 kV). A partir

deste momento a transmissão de energia passa a ser de responsabilidade das

distribuidoras, que recebem a energia dos agentes supridores (transmissoras,

geradores ou outras distribuidoras), e a entregam aos consumidores finais

(residências, comerciantes, indústrias etc.), sendo estes localizados nos centros

urbanos ou rurais.

No entanto, a energia entregue pelas distribuidoras nas unidades consumidoras

sempre é inferior à energia recebida pelas distribuidoras. Outra diferença observada

é entre a energia fornecida aos consumidores e a energia faturada pelas

distribuidoras. Essas diferenças são denominadas perdas de energia e estão divididas

nos seguintes grupos:

• Perdas na Rede Básica (ou Transmissão): são aquelas que ocorrem entre a

geração de energia elétrica e a rede de distribuição2. Estas perdas são

apuradas mensalmente pela CCEE - Câmara de Comercialização de Energia

Elétrica, e é calculada através da diferença entre os dados de medição de

geração e a medição da energia entregue às redes de distribuição. O custo

dessas perdas é rateado em 50% para geração e 50% para o consumo.

2 Rede de distribuição é a rede que transmite a energia que será entregue ao consumidor final. A rede de distribuição é composta por média e baixa tensão (variando entre 110V e 36,2 kV).

21

• Perdas na Rede de Distribuição: são as perdas que ocorrem dentro do

sistema de distribuição e que serão o foco deste trabalho. Elas podem ser

divididas em duas categorias:

o Perdas Técnicas: devido ao transporte da energia elétrica na rede, à

transformação de energia elétrica em energia térmica nos condutores,

perdas nos núcleos dos transformadores, perdas dielétricas etc.

o Perdas Não Técnicas: calculadas a partir da diferença entre as perdas

totais e as perdas técnicas, ou seja, são todas as outras perdas associadas

à distribuição de energia elétrica como furtos de energia, erros de medição,

erros no processo de faturamento, unidades consumidoras sem

equipamento de medição etc. Esse tipo de perda está diretamente

associado à gestão comercial da distribuidora.

De acordo com a Tabela 2.1, o somatório de perdas (técnicas e não técnicas)

representa um prejuízo anual de bilhões de reais para as distribuidoras. A Tabela 2.1

representa os valores de perdas técnicas e não técnicas tanto em MWh como em R$

das 20 distribuidoras com maiores perdas do país. Pode-se observar que a Light,

distribuidora da capital fluminense, teve um total de R$ 1.446.224.740,00 em perdas

de energia no ano de 2017. Já a Enel Distribuição Rio, responsável por fornecer

energia para 66 municípios do estado do Rio de Janeiro, R$ 452.313.819,00, segundo

a ANEEL [9].

22

Tabela 2.1 - Perdas regulatórias estabelecidas pela ANEEL para as distribuidoras referentes ao processo tarifário vigente. (atualizado em novembro/2017)

Fonte: ANEEL [9]

23

Os custos das perdas para as distribuidoras da Tabela 2.1 foram calculados

pela multiplicação do valor da perda total em MWh pelo preço médio da energia dos

processos tarifários, que são estimados.

A Tabela 2.2 estratifica os valores das perdas técnicas e não técnicas das duas

principais distribuidoras do estado do Rio de Janeiro. Estão representadas as medidas

obtidas pelas concessionárias de energia3 e as medidas reguladas pela ANEEL.

Observa-se que com o passar do tempo, a porcentagem de perdas reconhecidas e

reguladas vem diminuindo. Isto demonstra que o órgão regulador vem exigindo uma

eficiência cada vez maior na operação das distribuidoras.

3 Concessionárias de energia são as empresas de energia elétrica responsáveis por fornecer a energia

elétrica ao consumidor final. Estas empresas possuem um contrato de concessão do governo para exercer tal função. A duração média dos contratos de concessão é de 20 anos.

24

Tabela 2.2 - Perdas totais regulatórias estabelecidas pela ANEEL para as distribuidoras (por ano).

Fonte: ANEEL [9]

25

Os valores de perdas técnicas e não técnicas regulatórias da Tabela 2.2 foram

calculados para os anos indicados respeitando os percentuais regulatórios4 vigentes

de cada mês. Como os percentuais regulatórios das perdas técnicas são calculados

nas revisões tarifárias (a cada 4 ou 5 anos), foi aplicada uma trajetória linear entre as

perdas técnicas da última revisão com a anterior. Em razão desse procedimento, os

novos percentuais regulatórios das perdas técnicas estabelecidos na próxima revisão

de cada distribuidora alteram os valores passados.

No Rio de Janeiro, devido ao alto nível de complexidade social do estado, as

maiores perdas são as não técnicas. Em entrevista fornecida à ABRADEE no ano de

2012, o diretor comercial da EDR, Bruno Golebiovski afirmou "Se fossem eliminadas

por completo, as perdas comerciais reduziriam a tarifa em 8%" [2]. Neste mesmo ano,

a empresa realizou, com o apoio da Polícia Civil e da Delegacia de Defesa dos

Serviços Delegados, 111 prisões nos 66 municípios onde atua, sendo 38 em

estabelecimentos comerciais e 61 em residências, e 440 Registros de Ocorrência.

Desses, 308 foram em residências e 136 em comércios, o que demonstra que o perfil

dos clientes que furtam energia é, predominantemente, residencial.

As perdas no sistema de distribuição não se restringem ao Brasil. São um

problema mundial. A Figura 2.2 representa a porcentagem das perdas no sistema de

distribuição da União Europeia, divulgadas em 2017 no Report on Power Losses

(Relatório de Perdas de Energia) elaborado pelo CEER - Council of European Energy

Regulators (Conselho dos Reguladores Europeus de Energia)5.

4 As perdas regulatórias de energia são níveis aceitáveis de perdas que são reconhecidos pela ANEEL

na tarifa de energia. As perdas técnicas são calculadas de acordo com o módulo 7 do PRODIST e as perdas não técnicas são calculadas de acordo com o submódulo 2.6 do PRORET - Procedimento de Regulação Tarifária. 5 O Conselho de Reguladores Europeus de Energia (CEER) é uma organização sem fins lucrativos, na

qual os reguladores nacionais da energia cooperam voluntariamente para proteger os interesses dos consumidores e para facilitar a criação de um mercado competitivo e sustentável de gás e eletricidade.

26

Figura 2.2 - Perdas no sistema de distribuição europeu: porcentagem do total de energia injetada.

Fonte: CEER - Report on Power Losses 2017 [10]

De acordo com a Figura 2.2, em 2015 as maiores perdas de energia no sistema

de distribuição registradas na União Europeia ocorreram na Romênia

(aproximadamente 9%), seguido por Portugal (aproximadamente 8,5%).

É de se esperar que mitigar as perdas de energia seja uma das principais

preocupações das concessionárias. Vale ressaltar que a agência reguladora

estabelece valores aceitáveis de perdas que serão reconhecidas na tarifa de energia

elétrica. Perdas além do limite aceitável, representam prejuízos para as companhias.

Nas Seções 2.2 e 2.3, serão apresentados os conceitos de perdas técnicas e

não técnicas do sistema de distribuição, como essas perdas são calculadas e os

9%

8,5%

27

efeitos das mesmas tanto para as empresas do ramo de energia quanto para os

consumidores.

2.2 Perdas técnicas

Classificamos como perdas técnicas as perdas inerentes ao processo de

geração, transmissão e distribuição da energia. Apesar de sempre se buscar mitigar

essas perdas através dos estudos de novos materiais, as perdas técnicas sempre

existirão.

De forma simplificada, o sistema de distribuição é dividido em AT - Alta; MT -

Média; e BT - Baixa Tensões, transformadores, ramais de ligação e medidores. Para

cada um destes elementos aplicam-se modelos específicos que utilizam informações

como comprimento e bitola dos condutores, potência dos transformadores e energia

fornecida às unidades consumidoras, para estimar o percentual de perdas técnicas

relativas à energia injetada na rede.

A seguir, iremos classificar as perdas técnicas em três tipos: perdas por

histerese, perdas por correntes de Focault e perdas por efeito Joule.

2.2.1 Perdas por histerese

As perdas por histerese estão relacionadas aos materiais utilizados na

fabricação dos equipamentos.

As máquinas elétricas, como por exemplo os motores, geradores e

transformadores, são compostas por núcleos magnéticos e possuem perdas

energéticas as quais diminuem seu rendimento. Há um somatório de perdas nestas

máquinas, entre elas as perdas por ventilação, por atrito, por ruído, nos enrolamentos

e assim por diante. Quando o campo magnético variável no tempo atravessa um meio

magnético, neste caso o núcleo magnético das máquinas, ocorrem as perdas por

histerese e correntes parasitas.

Ao aplicar-se uma corrente alternada e assumindo que inicialmente o fluxo é

zero no núcleo, quando a corrente começa a ser aumentada, o fluxo no núcleo

percorre o caminho a-b da Figura 2.3. Entretanto, quando a corrente volta a diminuir,

o fluxo percorrido segue um caminho diferente daquele que foi percorrido quando a

28

corrente foi incrementada. À medida que a corrente diminui, o fluxo do núcleo segue

o caminho b-c-d e depois, quando a corrente cresce novamente, o fluxo segue o

caminho d-e-b.

Observe que a quantidade de fluxo presente no núcleo depende não só do valor

da corrente aplicada ao enrolamento do núcleo, mas também da história prévia do

fluxo no núcleo. Essa dependência da história anterior do fluxo e a impossibilidade

resultante de se repetir os mesmos caminhos de fluxo é denominada histerese. O

caminho b-c-d-e-b na Figura 2.3, que é percorrido quando há mudança na intensidade

da corrente aplicada, é denominado laço de histerese. (Chapman, 2013)

Figura 2.3 - Laço de histerese Fonte: CHAPMAN (2013) [11]

Conforme CHAPMAN (2013), nos átomos de ferro e de outros metais similares

(cobalto, níquel e algumas de suas ligas), os campos magnéticos tendem a estar

estreitamente alinhados entre si. No interior do metal, há inúmeras regiões minúsculas

denominadas domínios. Em cada domínio, os átomos estão alinhados de forma que

29

todos os seus campos magnéticos apontam no mesmo sentido, de modo que cada

domínio dentro do material se comporta como um pequeno ímã permanente. Um bloco

inteiro de ferro pode aparentar não ter nenhum fluxo porque todos esses domínios

estão orientados de forma aleatória dentro do material. Inicialmente, quando um

campo magnético externo é aplicado a esse bloco de ferro, os domínios que estão

apontando com o mesmo sentido que o campo cresce à custa dos domínios que

apontam em outras direções. Os domínios que apontam no sentido do campo

magnético crescem, porque os átomos em suas periferias sofrem rotação, mudando

fisicamente de orientação e alinhando-se com o campo magnético aplicado. Esses

átomos extras, alinhados com o campo, aumentam o fluxo magnético no ferro. Isso,

por sua vez, faz com que mais átomos mudem de orientação e aumentem ainda mais

a força do campo magnético. Esse efeito de realimentação positiva leva o ferro a ter

uma permeabilidade muito mais alta do que a do ar. À medida que o campo magnético

externo continua crescendo, domínios inteiros alinhados na direção errada terminam

se reorientando e formando um bloco único alinhado com o campo externo [11].

Finalmente, quando quase todos os átomos e domínios no ferro estiverem

alinhados com o campo externo, então qualquer incremento adicional na força

magnetomotriz causará apenas o mesmo aumento de fluxo que ocorreria no vácuo

(uma vez que tudo estiver alinhado, não é possível haver mais efeito de realimentação

para reforçar o campo). Neste ponto, o ferro tornou-se saturado com o fluxo. Essa é a

situação na região de saturação que pode ser observada na Figura 2.3.

A chave da explicação da histerese é que quando o campo magnético externo

é removido, os domínios não voltam completamente a ter orientações aleatórias. Os

domínios permanecem alinhados porque a rotação necessária para realinhar seus

átomos requer energia. Originalmente, a energia para realizar o alinhamento foi

fornecida pelo campo magnético externo. Quando o campo é removido, não há

nenhuma fonte de energia para fazer com que os domínios sofram rotação de volta a

suas posições originais. Agora, o bloco de ferro tornou-se um ímã permanente. Uma

vez que os domínios tenham sido realinhados, alguns deles permanecerão assim até

que uma fonte de energia externa seja aplicada para mudá-los. Exemplos de fontes

de energia externa, que podem alterar as fronteiras e/ou os alinhamentos dos

30

domínios, são uma força magnetomotriz aplicada em outra direção, um choque

mecânico intenso e um aumento de temperatura. Qualquer um desses eventos pode

dar energia aos domínios e permitir que eles sofram realinhamento. É por essa razão

que um ímã permanente poderá perder seu magnetismo se cair no chão, se for

submetido a uma batida de martelo ou se for aquecido.

Uma perda de energia comum a todas as máquinas e transformadores deve-

se ao fato de que há necessidade de usar energia para fazer o realinhamento dos

domínios no ferro. A perda por histerese em um núcleo de ferro é a energia necessária

para realizar a reorientação dos domínios a cada ciclo de uma corrente alternada

aplicada ao núcleo. A área delimitada pelo laço de histerese, formado pela aplicação

de uma corrente alternada ao núcleo, é diretamente proporcional à energia perdida

em um dado ciclo CA. Quanto menores forem as excursões da força magnetomotriz

aplicada ao núcleo, menores serão as áreas do laço de histerese resultante e,

portanto, menores serão as perdas resultantes [11].

Em determinados materiais, como por exemplo o ferro doce, a perda por

histerese é muito grande. Já em materiais como o aço, esse tipo de perda é menor.

Por isso, alguns transformadores de grande potência utilizam ligas especiais

como ferro-silício em seu núcleo, que apresentam uma perda por histerese reduzida.

As perdas por histerese aumentam com a frequência do sinal. Um

transformador que apresenta baixa perda nas frequências menores, pode ter uma

grande perda por histerese ao ser usado com sinais de frequências mais altas.

Umas das formas mais utilizadas para mitigar as perdas por histerese é realizar

a laminação dos núcleos magnéticos submetidos a campos regularmente variáveis no

tempo.

2.2.2 Perdas por correntes de Focault

Da mesma forma que as perdas por histerese, as perdas por correntes de

Focault também estão associadas aos materiais magnéticos.

De acordo com MEURER (2005), as perdas por corrente de Focault variam com

a frequência da forma de onda do fluxo, incluindo o efeito das harmônicas, e são

31

geradas através das correntes induzidas no núcleo ferromagnético quando este é

percorrido por um fluxo variável no tempo [12]. A variação do fluxo produz um campo

elétrico ao longo de um caminho fechado (Lei de Faraday - Equação 2.1) e, como este

‘caminho’ possui uma condutividade elétrica associada, formam-se anéis de corrente

(através da relação de passagem - Equação 2.2).

Segundo MEURER, ao analisar uma lâmina de aço, sendo seu fluxo paralelo a

sua direção, haverá a formação de anéis de corrente num plano perpendicular ao do

fluxo [12]. Estes anéis de corrente são as correntes parasitas denominadas correntes

de Focault.

𝑟𝑜𝑡 �⃗� = −𝑑�⃗�

𝑑𝑡 (2.1)

𝐽 = 𝜎. �⃗� (2.2)

A partir de formulações matemáticas, obtemos na Equação 2.3, a forma final

da perda por correntes de Foucault (𝑃𝐹) no núcleo magnético das máquinas (perdas

dinâmicas clássicas calculadas a partir da condutividade elétrica σ, da espessura da

lâmina d, densidade específica do material mv, fluxo magnético B e frequência f) para

uma indução senoidal pura.

𝑃𝐹 =𝜎.(𝜋.𝑑)2

6.𝑚𝑣𝐵2. 𝑓2 (2.3)

Como forma de minimizar a formação das correntes parasitas, faz-se as

lâminas do material magnético o mais finas possível, e desta forma achatam-se os

anéis de correntes induzidas, dificultando sua formação.

2.2.3 Perdas por efeito Joule

Em resumo, o efeito Joule é a transformação da energia elétrica em energia

térmica a partir da passagem de corrente elétrica através de um condutor que oferece

resistência, ou seja, são as perdas por dissipação de calor devido a resistência elétrica

oferecida por cada material.

Segundo a ANEEL [9], no sistema de distribuição, observa-se o efeito Joule

nos cabos e a energia transformada em calor é considerada uma perda. O calor

32

gerado pelo efeito Joule é expresso pela Equação 2.4, sendo Q o calor gerado por

uma corrente i que percorre uma resistência R durante o intervalo de tempo de t1 até

t2.

Q = R∫ i2dtt2

t1 (2.4)

O efeito Joule também é observado no núcleo magnético dos transformadores.

A potência dissipada pela lâmina do núcleo por efeito Joule (PJ), é expressa pela

Equação 2.5, sendo σ o valor da condutividade elétrica do material.

PJ = ∭ σ[E(t)]2 ∂v.

V (2.5)

Como forma de diminuir o efeito Joule, a energia elétrica é transmitida em altas

tensões, possibilitando uma menor corrente já que a potência é o produto da tensão

pela corrente.

Outra solução viável é a utilização de condutores com tamanho de secção

transversal correta e suficiente para suportar o valor de corrente que circulará pelos

mesmos. Com isto, evita-se uma dissipação de calor maior do que o necessário. Sabe-

se que quanto maior a secção transversal, menor é a resistência conforme enuncia a

Equação 2.6.

𝑅 =𝜌.𝑙

𝑆 (2.6)

Porém, quanto maior a secção transversal, maior a quantidade de material

utilizado tanto nos cabos quanto nas suas estruturas de sustentação. Portanto, existe

um valor de secção transversal ideal, que pondera a resistência aceitável a ser

oferecida pelos cabos e o custo do projeto.

2.2.4 Cálculo das perdas técnicas nos sistemas de distribuição

Como apresentado na Seção 2, as perdas técnicas são inevitáveis em qualquer

sistema de distribuição de energia elétrica no mundo e representam um custo fixo para

o setor elétrico [10].

33

As perdas técnicas de cada distribuidora são reguladas pela ANEEL e seus

cálculos estão previstos no Módulo 7 do PRODIST - Procedimentos de Distribuição

de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional [13].

O PRODIST (2018) [13] tem como principais objetivos estabelecer a

metodologia e os procedimentos para obtenção dos dados necessários para apuração

das perdas dos sistemas de distribuição de energia elétrica, estabelecer os

parâmetros regulatórios, a metodologia e os procedimentos para a apuração das

perdas nos sistemas de distribuição de energia elétrica, definir indicadores para

avaliação das perdas nos segmentos de distribuição de energia elétrica. Também

define a metodologia e os procedimentos para o cálculo das perdas técnicas nos

ramais de ligação e compensação dessas perdas ao consumidor quando da

instalação de medição externa pela distribuidora [13].

Para a realização dos cálculos são consideradas as informações fornecidas

pelas distribuidoras, conforme previsto no Módulo 6 - Informações Requeridas e

Obrigações - do PRODIST [14]. No caso de existirem inconsistências nas informações

fornecidas, de tal modo que impossibilite a realização do cálculo de perdas descrita

no Módulo 7 do PRODIST, o percentual de perdas técnicas adotado para a

distribuidora será o de menor valor entre os percentuais já calculados pela ANEEL.

Portanto, observa-se a importância da veracidade dos dados fornecidos durante a

revisão tarifária6 e em qualquer outro momento, quando solicitado pela ANEEL. Os

valores das perdas que são reconhecidos na tarifa de energia elétrica são

recalculados periodicamente (de acordo com o calendário da revisão tarifária)

conforme as regras definidas no PRODIST. Além de reconhecer os valores das perdas

na tarifa, através destes cálculos a ANEEL acompanha os níveis de eficiência da rede

elétrica de cada concessionária. Desta forma pode-se saber se as distribuidoras estão

operando em um nível aceitável de eficiência.

6 A revisão tarifária é uma análise feita periodicamente (geralmente em intervalos de 4 anos) pela

ANEEL e tem como principal objetivo analisar o equilíbrio econômico-financeiro das concessionárias de energia elétrica.

34

A Figura 2.4 representa o fluxograma do procedimento de avaliação das perdas

técnicas, resumindo cada uma das etapas deste procedimento. Através deste

fluxograma percebemos que a obtenção e consolidação dos dados necessários para

o cálculo das perdas é de responsabilidade da distribuidora, enquanto que a execução

do cálculo, a crítica aos resultados e a homologação do resultado final é de

responsabilidade da ANEEL.

Figura 2.4 - Fluxograma do procedimento de avaliação das perdas técnica Fonte: Módulo 7 - PRODIST [13]

O cálculo de perdas técnicas é realizado mensalmente e o período de apuração

é anual e deve coincidir com o ano civil. São obtidos três valores de perdas de energia

considerando dias úteis, sábados, domingos e feriados.

As perdas de energia nas redes e nos equipamentos associados ao SDAT -

Sistema de Distribuição de Alta Tensão, são apuradas por dados obtidos do sistema

de medição. Conforme previsto no Módulo 2 do PRODIST [15], a distribuidora deve

possuir medição de modo a totalizar as perdas de energia no SDAT pela diferença

entre a energia injetada e fornecida, medidas na fronteira desse sistema com agentes

de transmissão, geração, consumidores, outras distribuidoras e Subestações de

Distribuição – SED. Quando os cálculos de perdas do SDAT não são feitos através de

sistema de medição, são consideradas perdas adicionais de 5% sobre o total de

35

perdas técnicas, devido a essas perdas produzidas por efeito corona em conexões,

sistemas supervisórios, relés fotoelétricos, capacitores, transformadores de corrente

e de potencial, e por fugas de correntes em isoladores e para-raios.

As perdas de energia nas redes e equipamentos associados ao SDMT -

Sistema de Distribuição de Média Tensão e ao SDBT - Sistema de Distribuição de

Baixa Tensão são obtidas pela aplicação do método de fluxo de potência. Para os

medidores são computadas as perdas nas bobinas de tensão localizadas nas

unidades consumidoras do grupo B7.

2.3 Perdas não técnicas

As perdas não técnicas, ou perdas comerciais, estão relacionadas a qualquer

situação que cause o não faturamento, ou faturamento incorreto, da energia

consumida pelo cliente.

Basicamente, as perdas não técnicas podem ser divididas em dois grupos: furto

e fraude de energia. Classificamos como fraude os casos em que apenas parte da

energia consumida é registrada pela distribuidora. Isto é possível através da

adulteração de cabos ou medidores, erro de leitura por parte do leiturista, medidor

danificado devido a deterioração causando leitura parcial ou leitura incorreta.

Classificamos como furto o completo desvio da energia, ou seja, nenhuma parte da

energia consumida é contabilizada pelo sistema da distribuidora. Abaixo serão

detalhados alguns tipos de perdas não técnicas.

2.3.1 Falha de equipamento

As perdas por falha de equipamento são causadas pela deterioração dos

instrumentos, devido ao tempo de utilização ou mesmo pela exposição à agentes

7 Unidades consumidoras do grupo B possuem fornecimento em tensão inferior a 2,3 kV, caracterizado

pela tarifa monômia e subdividido nos seguintes subgrupos: a) subgrupo B1 - residencial; b) subgrupo B2 - rural; c) subgrupo B3 - demais classes; e d) subgrupo B4 - Iluminação pública. Fonte: http://www.aneel.gov.br/home?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_returnToFullPageURL=http%3A%2F%2Fwww.aneel.gov.br%2Fhome%3Fp_auth%3DtKPnkZ9v%26p_p_id%3D3%26p_p_lifecycle%3D1%26p_p_state%3Dnormal%26p_p_state_rcv%3D1&_101_assetEntryId=15049535&_101_type=content&_101_groupId=656835&_101_urlTitle=grupo-b&inheritRedirect=true Acesso em 5 de setembro de 2018.

36

externos como chuva e calor. Instrumentos deteriorados causam medições erradas,

abaixo ou acima do valor correto, sendo, portanto, enquadradas como fraude.

Esta falha é denominada perda não técnica pois a deterioração do instrumento

não pode ser modelada matematicamente, ou seja, não pode ser avaliada pelos

métodos das perdas técnicas. Portanto, automaticamente é classificada como perda

não técnica.

2.3.2 Inexistência de medidor e/ou medidor adulterado

Em alguns locais a concessionária não instala instrumentos de medição,

ocorrendo a avaliação estimada do consumo. Isto é devido ao consumo ser baixo e

não compensar financeiramente a instalação do medidor, ou áreas de risco onde a

equipe da concessionária não trabalha, ou ainda os casos previstos pela legislação

como bancas de jornal e quiosques.

Outro caso é a fraude por adulteração de medidor, como por exemplo, troca

dos cabos do medidor ou a contabilização de consumo de apenas uma das fases. A

Figura 2.5 representa um concentrador secundário8 com furto em um dos seus

medidores.

8 Os concentradores são equipamentos que reúnem um conjunto de medidores de diferentes clientes.

Possuem capacidade de comunicação remota, através de uma Unidade Central de Processamento (UCP ou CPU) com rádio acoplado, protegidos por blindagem elétrica que restringem o acesso, e uma porta chaveada com restrição sistêmica que emite alarme quando violada.

37

Figura 2.5 - Concentrador Secundário Landys com furto em medidor. Fonte: SANTOS (2017) [16]

Quando os medidores eram eletromecânicos, uma forma muita conhecida de

fraude era fazer com que o disco girante que marcava a energia consumida girasse

mais lentamente, registrando desta forma menos energia consumida.

Nos casos de fraude os condutores utilizados são de secção inferior a

tecnicamente recomendada, ou seja, também causam perdas técnicas.

2.3.3 Erro de faturamento

É classificado como erro de faturamento o erro do leiturista, quando este faz

uma medição equivocada do medidor. O leiturista é um funcionário da concessionária

que realiza a medição do consumo em locais onde não existe medição remota, ou

seja, o funcionário comparece mensalmente no local e realiza pessoalmente a leitura

do medidor. Neste caso o erro pode ocorre por falha humana ou por má fé.

Pode-se classificar como erro de faturamento falhas no sistema da

concessionária, causando a contabilização errada de energia, aumentando ou

diminuindo o valor esperado.

38

2.3.4 Consumo estimado

Há casos em que a inexistência do medidor ou a falha dos instrumentos é de

conhecimento da concessionária, que por falta de um novo equipamento no estoque,

ou mesmo a demora na sua instalação, a concessionária realiza o consumo estimado.

Outro motivo para a realização do consumo estimado ocorre quando por algum motivo

o leiturista não comparece no local para realizar a medição. Neste caso, a falha é

denominada perda não técnica pois a estimativa de consumo não pode ser modelada

matematicamente, pois cada consumidor possui um perfil próprio de consumo. Da

mesma forma que ocorre com os erros de faturamento, as perdas decorrentes do

consumo estimado não podem ser calculadas pelos métodos de cálculo das perdas

técnicas sendo classificada como perda não técnica.

O caso de perda não técnica mais conhecido é o furto de energia, popularmente

conhecido como 'gato'. O furto ocorre quando a unidade consumidora é conectada

diretamente à rede da concessionária, e o consumo não é medido e remunerado.

No Brasil o furto de energia é crime para o qual é prevista pena de multa e

reclusão entre um e quatro anos, conforme previsto no Artigo 155 do Código Penal –

Decreto Lei 2848/40: “Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”, em que

no terceiro inciso registra-se “equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer

outra que tenha valor econômico” [17].

2.3.5 Cálculo das perdas não técnicas nos sistemas de distribuição

A partir de 2002, com a publicação do Decreto nº 4562, artigo primeiro,

estabeleceu-se que o custo do transporte de energia e suas perdas, além das perdas

comerciais da distribuição devem ser contabilizados em tarifa, ou seja, parte dos

prejuízos contábeis devido as perdas comerciais são previstos na tarifa e repartidos

entre todos os consumidores [18].

Essa parcela de perdas não técnicas de energia repassada à tarifa e paga pelos

consumidores é definida pela ANEEL. Os valores são estabelecidos por metodologias

específicas, cujos parâmetros se baseiam, em grande parte, na observação das boas

práticas de empresas eficientes nessas atividades. Essa análise ocorre na revisão

tarifária, e as concessionárias são comparadas por critérios de similaridade. O

39

referencial de perdas é estabelecido observando o nível real das perdas da própria

empresa (histórico recente de perdas) e o nível de perdas reais praticadas por

empresas similares e mais eficientes. Essa comparação foi viabilizada pela criação do

‘índice de complexidade’ que reflete o conjunto de dados estruturados por área de

concessão e que reúne as variáveis socioeconômicas que melhor explicariam o

fenômeno de estudo. Com a caracterização de cada área de concessão através do

índice e a apuração das perdas praticadas por cada empresa é possível identificar as

mais eficientes [9]. As regras de cálculo das perdas não técnicas estão definidas

no Submódulo 2.6 do PRORET - Procedimento de Regulação Tarifária [19].

A Figura 2.6 exemplifica um sistema de geração de 100 MWh com perdas em

cada uma das etapas até a entrega ao consumidor final da energia.

Figura 2.6 - Exemplo simplificado do cálculo de perdas na energia elétrica Fonte: ANEEL [9]

40

No esquema da Figura 2.6 foram gerados e injetados na rede básica 100 MWh.

No sistema de transmissão houve 4% de perdas, ou seja, dos 100 MWh gerados

apenas 96 MWh efetivamente chegaram na rede de distribuição. Os 4% de perdas

são rateados entre os agentes de geração e os consumidores. No sistema de

distribuição houve 13,5% de perda, sendo 7,5% de perdas técnicas e 6% de perdas

não técnicas. Logo, observamos que dos 100 MWh gerados apenas 83 MWh foi

faturado pela distribuidora.

2.3.6 Efeito das perdas para as distribuidoras

Apesar das perdas serem contabilizadas na tarifa de energia, a ANEEL define

limites regulatórios para a cobrança tarifária. Conforme explicitado na Seção 2.3.5, os

valores regulatórios são estabelecidos por metodologias específicas definidas

no Submódulo 2.6 do PRORET [19]. Ou seja, parte do prejuízo devido as perdas é

paga pelas concessionárias.

Em 2015, as perdas comerciais das 59 principais distribuidoras do país foram

da ordem de 5% da energia injetada nas redes de distribuição, representando mais

de 15 milhões de megawatts-hora (MWh) por ano. Isto equivale ao consumo de todo

os clientes do estado de Santa Catarina. Em termos monetários, multiplicando-se

esse montante pela tarifa média de fornecimento, incluindo os tributos (R$ 546/MWh),

obtém-se aproximadamente R$ 8 bilhões [20].

Além dos prejuízos devidos às perdas comerciais, existe a inadimplência da

conta de eletricidade. Em 2015, 1,74% da energia faturada permanecia não paga após

24 meses. Multiplicando esse percentual pelo consumo anual de 343 milhões de MWh

e pela tarifa média no ano, incluídos os tributos, pode-se concluir que o montante de

faturas não pagas emitidas pelas distribuidoras supera R$ 3 bilhões. Portanto, quando

são somadas as perdas comerciais e a inadimplência de 24 meses, chega-se a mais

de R$ 11 bilhões não recebidos pelos serviços prestados anualmente [20].

A Figura 2.7 demonstra o montante de investimento em R$ milhões/ano em

contrapartida com a porcentagem das perdas de energia na Enel Rio. Nota-se que

durante um período de 5 anos (entre 2003 e 2008) as perdas diminuíram. A partir de

41

2013 as perdas voltaram a crescer e em 2015 a concessionária registrou o maior

investimento para combate ao furto (aproximadamente R$ 225 milhões) desde 2003.

Figura 2.7 - Investimento versus perda de energia Fonte: INSTITUTO ACENDE BRASIL [20]

O montante investido em tecnologia, materiais e equipes destinadas ao

combate ao furto poderiam ser convertidos em melhoria da rede, compra de novos

equipamentos, melhoria da qualidade dos serviços etc.

2.3.7 Efeito das perdas para os consumidores

Embora o furto, a fraude e inadimplência pareçam ações inofensivas, elas têm

impactos muito significativos sobre os consumidores regulares [20].

As perdas não técnicas impactam no valor regulatório considerado na tarifa de

energia elétrica, ou seja, o consumidor regular arca pela fraude ou furto de energia.

No caso da Light, por exemplo, segundo a ANEEL, estima-se que dos seus 4,2

milhões de clientes, cerca de 1,75 milhão (41,7%) cometem furto de energia. Se todos

esses furtos fossem eliminados, a tarifa de energia elétrica poderia ser cerca de 17%

menor [9].

42

Além dos prejuízos financeiros, as ações clandestinas oferecem risco ao

sistema de distribuição e aos consumidores.

Os indivíduos que realizam a ação fraudulenta, quando não são funcionários

próprios ou terceirizados das concessionárias, são pessoas que não possuem

conhecimento técnico para trabalho com eletricidade, não utilizam equipamentos de

segurança, realizam a ação à noite sem iluminação adequada. Desta forma colocam

suas vidas e de outras pessoas em risco para realizar tal ação.

Além do risco de vida, as ações fraudulentas expõem a integridade e qualidade

dos equipamentos da rede de distribuição. Ao violar um cabo para realizar uma ligação

clandestina, o corte pode ser muito profundo e danificar uma das fases da rede. Os

cabos utilizados nas ligações clandestinas não são cabos com as especificações

técnicas adequadas, como, por exemplo, a relação de ampacidade correta à carga da

instalação. Essas ações, quase sempre, causam sobrecarga nos transformadores,

interrupção de energia indevida, choques elétricos devido a conexões incorretas,

danos a eletrodomésticos etc.

Conforme o ACENDE BRASIL, os altos índices de furtos, fraudes e

inadimplemento no país não se devem apenas aos que cometem as infrações, mas

também aos cidadãos que deixam de denunciar as infrações [20].

43

3. Métodos para redução das perdas não técnicas de energia

Este Capítulo propõe dissertar sobre as alternativas para minimizar as perdas

técnicas das concessionárias de energia.

As propostas estão divididas em três grupos: i) intensificação de trabalhos e

ações realizadas atualmente pelas distribuidoras; ii) relação da distribuidora com a

comunidade e desenvolvimento de ações sociais; e iii) desenvolvimento de projetos

de engenharia e novas tecnologias.

3.1 Intensificação e melhoria dos processos existentes

Atualmente as distribuidoras contam com ações e procedimentos que visam a

mitigação das perdas. A intensificação ou melhoria destas ações resulta em

diminuição das perdas. Nas Seções desse Capítulo serão descritos alguns métodos

e apresentadas propostas de melhorias.

Uma ação comum é a realização de inspeção dos medidores dos clientes. No

entanto, um erro que ocorre frequentemente é que os técnicos possuem metas de

inspeção. Há casos em que o técnico recebe bônus financeiro quando realiza uma

inspeção e encontra irregularidade. Por esse fato, comumente são realizadas

inspeções em locais e clientes sem suspeitas de irregularidade. Uma proposta de

melhoria seria a aplicação de inspeções mais direcionadas, ou seja, desenvolver um

método que identifique os locais e consumidores com suspeitas de fraude (através de

implementação de softwares, por exemplo), além da modernização dos medidores.

Após a inspeção, quando constatada uma irregularidade, o cliente é notificado.

Promover ações para a regularização é fundamental. Parcelar a dívida, oferecer taxa

de juros reduzida, inscrever o consumidor em programas sociais de baixa renda são

ações possíveis para que esse estes possam ser regularizados e não voltem a ser

irregulares.

3.2 Projetos entre distribuidoras e consumidores

Mais do que um problema financeiro para as concessionárias, o furto de energia

se mostrou um problema social. Os consumidores residenciais de baixa renda são os

mais vulneráveis à elevação da inflação ou do desemprego. Além disso, parte destes

consumidores localizam-se em comunidades carentes.

44

De acordo com ACENDE, as estatísticas do ISP - Instituto de Segurança

Pública do Estado do Rio de Janeiro confirmam o aumento da violência nos municípios

vizinhos à cidade do Rio de Janeiro: entre 2010 e 2013, o número de registros de

ocorrências saltou 83,5% nos municípios de São Gonçalo, Niterói, Magé, Itaboraí e

Duque de Caxias, municípios que compõem grande parte da área de concessão da

Enel Distribuição Rio. O resultado desta migração foi a ampliação das ‘áreas de risco’

na zona de concessão atendida pela Enel Distribuição Rio. Nas áreas de risco, além

da alta complexidade socioeconômica, há ausência do Poder Público e altos índices

de violência. Estudos contratados pela Enel Distribuição Rio indicam que as regiões

classificadas como áreas de risco na sua área de concessão cresceram 373% entre

2008 e 2013 [20].

As concessionárias de energia vêm diminuindo a atuação nas localidades

denominadas ‘áreas de risco’. Nestes locais é frequente a equipe de trabalho ser

ameaçada, agredida, ocorrendo até mesmo casos de sequestro. Segundo o JORNAL

G1 RIO (2018), uma equipe da Light foi sequestrada por bandidos para religar a

energia de moradores localizados nas regiões de Inhaúma, Campo Grande e Ramos

[21].

De acordo com LIS (2018), outro fator relevante no aumento da inadimplência

e das perdas comerciais é o valor da tarifa de energia que vem sofrendo aumento

desde 2015. Segundo a autora, um levantamento da Abrace - Associação Brasileira

de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, feito a

pedido do JORNAL G1, indicou que, entre 2014 e 2017, a tarifa média dos

consumidores residenciais acumulou alta média de 31,5% no país e que a estimativa

é de que, ao final de 2018, o aumento acumulado chegue a 44% [22].

Conforme LIS, o encarecimento da conta de luz nos últimos quatro anos

superou a inflação acumulada no período, de 28,86%, de acordo com os dados do

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas [22].

Segundo OLIVEIRA (2009), para lidar com os problemas sociais que afetam o

mercado de energia, algumas ações podem ser tomadas por parte das distribuidoras

afim de amenizar os prejuízos e diminuir as perdas comercias [23].

45

• Identificar as localidades (normalmente comunidades carentes) e desenvolver

uma relação com os seus líderes.

• Implementar políticas comerciais, como: negociar os débitos, criar grupos da

própria comunidade para a contínua explicação do uso correto de energia.

• Promover ações de eficiência energética como troca de eletrodomésticos

antigos por novos e mais eficientes (que possuam selo PROCEL9), troca de

lâmpadas incandescentes por lâmpadas LED, instalação gratuita dos padrões

de entrada, instalação de aquecedores solar em substituição aos chuveiros

elétricos.

• Projetos de responsabilidade social, como: criação de bibliotecas com

computadores, treinamento de eletricistas da própria comunidade, eventos nas

escolas, palestras, qualificação dos professores para educar os alunos no uso

correto de energia etc.

3.2.1 Projetos sociais

O principal programa do setor energético destinado a consumidores de baixa

renda é o Tarifa Social, instituída pela Lei 12.212, de 2010, que prevê descontos de

10% a 100% para os consumidores residenciais qualificados a participar do programa.

Estão qualificados para obter a tarifa social consumidores residenciais inscritos

no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e que atendam a um

dos seguintes requisitos.

• Renda familiar mensal per capita menor ou igual a meio salário mínimo

nacional.

• Famílias cujo algum membro do domicílio receba o benefício de prestação

continuada da assistência social.

• Renda familiar de até três salários mínimos que tenha entre seus membros

portador de doença ou patologia cujo tratamento ou procedimento médico

9 O Selo PROCEL de Economia de Energia tem como finalidade ser uma ferramenta simples e eficaz

que permite ao consumidor conhecer, entre os equipamentos e eletrodomésticos à disposição no mercado, os mais eficientes e que consomem menos energia. Criado pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL, programa do Governo Federal executado pela Eletrobrás, o Selo PROCEL foi instituído por Decreto Presidencial em 8 de dezembro de 1993. Fonte:http://www.procelinfo.com.br/main.asp?TeamID=%7B88A19AD9-04C6-43FC-BA2E-99B27EF54632%7D - Acesso em 2 de setembro de 2018.

46

pertinente requeira o uso continuado de aparelhos, equipamentos ou

instrumentos que, para o seu funcionamento, demandem consumo de energia.

• Famílias indígenas ou quilombolas.

Outra ação que já se encontra em andamento em algumas distribuidoras é a

implementação de projetos de eficiência energética como troca de eletrodomésticos

antigos por equipamentos novos e mais eficientes de acordo com selo PROCEL.

Conforme o JORNAL EXTRA (2018), em 2017, os clientes da Enel Rio tiveram

desconto de 50% na compra de novos eletrodomésticos como parte do Programa Luz

Solidária Enel [24].

De acordo com a LIGHT (2018), através do programa Comunidade Eficiente, a

Empresa beneficiou 16.987 clientes com a ação de troca de lâmpadas, substituindo

47.266 lâmpadas incandescentes e fluorescentes usadas por fluorescentes novas e

LED. Também foi realizada a mudança de 638 geladeiras antigas por novas, com selo

PROCEL, e a troca de 2.182 chuveiros com alto consumo de energia, por chuveiros

eficientes com trocador de calor [25].

Também parte do programa Comunidade Eficiente, no ano de 2017, a Light

realizou 127 palestras com a participação de 5.513 pessoas, potenciais

multiplicadores das informações para os demais moradores. Além disso, foram feitas

37 palestras em escolas vizinhas, com a participação de 1.347 pessoas,

majoritariamente alunos, mas também pais e professores [25].

3.2.2 Geração distribuída

A geração distribuída10 é regulada pela Resolução Normativa ANEEL Nº 482

(2012), que estabelece as condições gerais para o acesso de microgeração e

minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica e o sistema

de compensação de energia elétrica [26]. De acordo com essa Agência, a geração

distribuída está dividida em microgeração e minigeração.

10 A geração distribuída é definida como uma fonte de energia elétrica conectada diretamente à rede

de distribuição, situada próximo ou no próprio consumidor.

47

Microgeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência

instalada menor ou igual a 75 kW e que utilize cogeração qualificada, conforme

regulamentação da ANEEL, ou fontes renováveis de energia elétrica, conectada na

rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.

Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada

superior a 75 kW e menor ou igual a 5 MW e que utilize cogeração qualificada11,

conforme regulamentação da ANEEL, ou fontes renováveis de energia elétrica,

conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.

Ou seja, geração distribuída são unidades geradoras de pequeno porte

(máximo de 5 MW), capaz de suprir a demanda parcial ou total da(s) unidade(s)

consumidora(s) cadastrada(s) para receber sua geração. Esse cadastro é feito junto

à distribuidora de energia responsável pela concessão local, podendo ser apenas uma

unidade consumidora ou múltiplas unidades desde que sejam cadastradas no mesmo

CPF ou CNPJ. É importante ressaltar que a unidade geradora deve estar dentro da

mesma área de concessão que a unidade consumidora. A geração não pode estar na

área de concessão da Light e a unidade de consumo na área de concessão da Enel

Rio, por exemplo.

Em geral, a unidade consumidora que possui geração distribuída continua

conectada à rede de distribuição da concessionária. Nos casos em que a geração

distribuída não é capaz de suprir toda a demanda de consumo, o cliente consome

também energia da concessionária e a diferença entre geração e consumo é cobrada

na conta de energia, conforme se observa na Figura 3.1.

11 Cogeração de energia é o processo de geração simultânea, de duas ou mais energias a partir do

consumo de uma mesma fonte energética. Por exemplo, o consumidor possui placas fotovoltaicas para geração solar e também está conectado a rede de distribuição da concessionária. A cogeração qualificada é um conceito definido pela ANEEL Resolução Normativa nº 235/2006, que estabelece uma eficiência energética total mínima para geração de energia elétrica e térmica com gás natural. Com isso, o cogerador torna-se aderente às políticas de incentivo estabelecidas pelo governo, podendo se enquadrar, por exemplo, como micro ou minigerador, e se beneficiar das resoluções normativas nº 482/2012 e 687/2015.

48

Figura 3.1 - Fatura de energia com consumo excedente Fonte: Light

49

A Figura 3.1 representa a fatura de energia de uma unidade consumidora que

participa do sistema de geração distribuída, porém a geração não supriu toda sua

demanda de consumo. A unidade consumiu um total de 8.440 kWh no mês de maio

de 2018, porém sua geração foi de 6.027 kWh. Portanto houve um consumo

excedente de 2.413 kWh que a unidade consumiu da concessionária de energia. A

TE - Tarifa de Energia representa os custos com a energia consumida. A TUSD -

Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição representa os custos com o transporte da

energia - linhas de transmissão e distribuição.

Já a Figura 3.2 representa uma fatura de energia em que a geração foi maior

do que o consumo da unidade, resultando em um crédito de energia. Observa-se que

no mês de junho de 2018 esta unidade consumiu 33.324 kWh de energia. A energia

gerada foi maior do que o consumo, e por isso a unidade pagou para a concessionária

apenas a taxa de uso do sistema de distribuição (representada pelos 100 kWh) e os

impostos. No quadro grifado em vermelho na Figura 3.2, se observa que a energia

excedente virou crédito de energia que poderá ser consumido pela unidade em até 60

meses. No Brasil a energia excedente ainda não pode ser comercializada.

50

Figura 3.2 - Fatura de energia com geração excedente Fonte: Light

51

A geração distribuída pode ser uma forma de reduzir a inadimplência e as

perdas comerciais. Com a geração distribuída o indivíduo deixa de ser um cliente

irregular e passa a ser um consumidor ativo, que além de gerar energia para o seu

próprio consumo passa a gerar energia para a concessionária.

Uma solução viável é o arrendamento dos telhados das residências dos clientes

para instalação de placas solares. Ou seja, o cliente cede o telhado da residência para

a distribuidora instalar placas solares e como retorno o cliente participa de um

programa diferenciado de pagamento pela energia consumida.

Duas possíveis opções de pagamento pela energia gerada seriam: o cliente

recebe uma porcentagem da energia gerada para consumo próprio ou o cliente paga

a energia consumida com uma tarifa diferenciada. Para esclarecer as duas

alternativas apresentadas, serão demonstrados dois possíveis cenários, descrevendo

cada uma das opções.

Supondo que o cliente faça um acordo para receber 30% da energia gerada,

sendo a geração de 1 MWh e o consumo de 200 kWh, o cliente recebe 300 kWh de

energia, ou seja, seu consumo foi totalmente suprido e ainda restam 100 kWh como

crédito de energia. Entretanto se o acordo fosse de 10%, o cliente receberia apenas

100 kWh, tendo que pagar por 100 kWh de consumo excedente.

No mês de julho de 2018, a tarifa de Baixa Tensão da Light foi de R$ 1,053 /

kWh - tarifa com impostos e bandeira tarifária do mês. Para o caso em que o cliente

tenha optado por pagar pelos 100 kWh de consumo excedente, o total pago seria de

R$ 105,30. Optando pela tarifa diferenciada, supondo que esta custe R$ 0,50 / kWh,

o cliente pagaria um total de R$ 100 pelos seus 200 kWh de consumo, em comparação

com o valor de R$ 210,60 se não participasse do programa. Ou seja, a melhor opção

de escolha depende do quanto custaria a tarifa diferenciada.

SANTOS (2017), realizou um estudo de caso de aplicação de geração

distribuída através de painéis solares na comunidade do Azeite, localizada no

município de Duque de Caxias. Sob concessão da Enel Rio, a localidade registrava

perdas de energia superiores a 50% [16].

52

O projeto previa a instalação de painéis solares nos telhados das residências

totalizando uma potência de 397,5 kWp12 na comunidade, através dos 1.500 painéis

(100 residências com 9 painéis e 50 residências 12 painéis), sendo necessário um

investimento de R$ 2.775,05 milhões, o que significa uma média de R$ 6.603 / kWp.

SANTOS estimou duas opções para o retorno do investimento: em 6 anos, o

investimento traria retorno à concessionária se a energia fosse vendida a clientes, ou

em 11 anos, caso a energia seja repassada somente a clientes de baixa renda. Vale

ressaltar que o equipamento solar possui tempo de vida útil de 25 anos, calculando-

se um ganho total para a concessionária de R$16 milhões ao longo dos 25 anos de

geração dos painéis solares.

Conforme o IEEJ13 (2014), no Japão o aluguel de telhados para geração de

energia solar já é uma realidade. Desde 2012 telhados de escolas públicas veem

sendo alugados para empresas geradoras de energia e em 2014 proprietários

residenciais começaram a fazer o mesmo [27].

3.3 Configurações especiais de redes de distribuição

Duas possibilidades para mitigar as perdas comerciais foram apresentadas nas

Seções 3.1 e 3.2. A primeira sugere a intensificação de metodologias atualmente

utilizadas nas concessionárias. A segunda propõe ações junto à comunidade.

A terceira opção de método para redução de perdas comerciais apresentada

neste trabalho, são os projetos de engenharia, utilizando novas tecnologias, materiais,

equipamentos e novas configurações de rede projetadas especificamente para inibir

as perdas de energia.

12 O valor de kWp de um determinado sistema fotovoltaico que funcione em corrente contínua é a

potência medida, quando este sistema é irradiado por uma luz que simula a luz solar com a potência de 1.000 W/m², à temperatura de 25 °C. 13 IEEJ - Instituto de Economia de Energia do Japão (https://eneken.ieej.or.jp/en/), foi fundado em junho

de 1966 e certificado como uma fundação pelo Ministério do Comércio Internacional e Indústria. Tem

como objetivo desenvolver pesquisas especializadas na área da energia, afim de contribuir para o bom

desenvolvimento das empresas japonesas fornecedoras de energia e para a melhoria da vida das

pessoas no país. Fornece informações e relatórios necessários para a formulação de políticas.

53

Ressalta-se que a utilização de um método não exclui a utilização de outro.

Ambos os métodos propostos nas Seções 3.1, 3.2 e 3.3 podem ser utilizados em

conjunto.

3.3.1 Rede DAT

A Rede DAT - Rede de Distribuição Aérea Transversal é um projeto executado

pela Enel Distribuição Rio. O projeto teve início em 2003 e ao longo dos anos já

atendeu mais de 912 mil clientes - cerca de 47% da base de clientes da

concessionária.

Esta configuração de rede visa inibir as conexões clandestinas na rede de BT,

além de evitar possíveis reconexões não autorizadas de clientes que tiveram o

fornecimento de energia suspenso. Nas áreas de complexidade social a rede existente

é substituída por uma nova no padrão de rede DAT. Atualmente, todas as novas redes

construídas pela concessionária seguem este padrão.

De acordo com SANTOS, a Rede DAT consiste em [16].

• Instalação da rede de BT na ponta externa da cruzeta (lado mais distante do

poste), enquanto a média tensão é instalada no lado interno da cruzeta (lado

mais próximo ao poste). Desta forma a rede de média tensão funciona como

uma forma de ‘blindagem’ para a BT.

• Adoção de postes de 11 metros, no lugar de postes de 9 metros tipicamente

utilizados na construção de rede.

• Vão médio de 36 metros de distância entre os postes

• Utilização de cruzetas de 2,4 m

• Transformadores de menor potência para atendimento de um número menor

de unidades consumidoras - máximo de 12 clientes.

• Instalação de medidores nos transformadores para possibilitar monitoramento

mais detalhado do balanço energético na rede de distribuição, permitindo a

medição do montante de energia elétrica efetivamente fornecido aos

consumidores.

54

• Fixação do cabo de BT e dos concentradores de medidores das unidades

consumidoras na ponta da cruzeta mais distante do poste (ao lado da rede de

média tensão) para dificultar o acesso.

Figura 3.3 - Rede DAT Fonte: Enel Rio

A Figura 3.3 demonstra a rede DAT, e pode-se observar o cabeamento de BT

e o concentrador instalado na extremidade externa da cruzeta (ponto mais distante do

poste), enquanto o circuito de média tensão é instalado na extremidade interna da

cruzeta - ponto mais próximo ao poste.

Outra característica da rede DAT é a menor distância entre cada poste, pois

devido à quantidade de equipamentos instalados em uma mesma cruzeta (cabos de

BT e MT e concentradores), é necessária uma quantidade maior de cruzetas para

reduzir os esforços mecânicos no equipamento. O padrão de construção da Rede DAT

encontra-se no Anexo I.

A Rede DAT inicialmente proporcionou grande redução das perdas, mas em

pouco tempo novas formas de furtar energia foram encontradas. Uma delas foi a

violação e a manipulação indevida dos medidores. Para conter essa nova forma de

violação, em agosto de 2005, a concessionária introduziu o Ampla Chip – um sistema

55

de medição eletrônica com funcionalidade de telecomunicação via celular que permitia

leitura, suspensão e restabelecimento do fornecimento de energia elétrica de forma

remota.

Segundo o ACENDE em seus White Papers 14, o Ampla Chip foi instalado em

cerca de 752 mil consumidores [20]. Com a medição eletrônica, todo o sistema de

leitura do consumo se encontra na extremidade superior do poste. Embaixo, nos locais

dos antigos relógios de leitura, instala-se apenas um leitor denominado TLI - Terminal

de Leitura Individual, para que o consumidor possa verificar e acompanhar o consumo

que está sendo medido pelo chip.

O novo equipamento não só contribuiu para a redução das perdas comerciais,

mas também ajudou a evitar erros de leitura; reduzir a inadimplência - ao agilizar a

suspensão e religação de consumidores; e aprimorar a qualidade do fornecimento de

energia - ao proporcionar melhor informação e controle sobre o fluxo de energia nas

redes. No entanto, novamente foram descobertas formas indevidas de manipulação e

adulteração dos medidores eletrônicos [20].

Uma evolução do projeto Ampla Chip foi o Projeto Sentinela criado em 2007,

que consistia na instalação de medidores eletrônicos numa caixa blindada localizada

na ponta da cruzeta. A blindagem dos medidores nos concentradores impedia o

acesso de terceiros aos medidores. Os novos concentradores também passaram a

fazer medições mais detalhadas, medindo, em tempo real, a energia ativa e reativa, o

fator de potência, a tensão e a corrente. As iniciativas da empresa renderam

resultados. Entre 2003 e 2008, as perdas caíram de 23,9% para 18,6% [20].

Em 2015, foi desenvolvido um novo cabo para ser usado no circuito de BT da

Rede DAT. Este novo condutor, denominado cabo protegido, é formado por

condutores de alumínio puro ou liga de alumínio contendo uma capa de isolamento

externa de XLPE - Cross Linked Polyethylene, em português, polietileno reticulado.

14 Os White Papers do Instituto Acende Brasil (www.acendebrasil.com.br), são documentos que consolidam análises e recomendações aprofundadas sobre temas do Setor Elétrico Brasileiro e visam à promoção de discussões qualificadas sobre as seguintes dimensões setoriais: Agência Reguladora, Governança Corporativa, Impostos e Encargos, Leilões de Energia e Transmissão, Meio Ambiente e Sociedade, Oferta de Energia, Rentabilidade, Tarifa e Regulação.

56

Esta capa de XLPE é extremamente resistente dificultando a violação do cabo e o

acesso indevido às fases.

Nos anos seguintes, inovações adicionais foram incorporadas nas redes de

distribuição para dificultar ainda mais o furto de energia elétrica, como a adoção da

Rede Invertida, uma modificação da Rede DAT na qual a rede de BT é colocada acima

da rede de AT ou MT para dificultar ainda mais o acesso à rede de BT. Os detalhes

deste tipo de rede serão apresentados na Seção 3.3.2.

3.3.2 Rede invertida

Conforme citado na Seção 3.3.1, pode-se dizer que a rede invertida é uma

evolução da rede DAT na qual a rede de Baixa Tensão é colocada acima da rede de

Média Tensão para dificultar ainda mais o acesso à rede de BT. Da mesma forma que

na Rede DAT, a rede de MT funciona como uma maneira de blindar a rede de BT,

dificultando o acesso indevido.

Esta configuração também foi desenvolvida pela Enel Rio, e dois projetos

pilotos foram implementados. O primeiro, realizado em 2014, está localizado no bairro

de Laranjal - São Gonçalo, e alcança 58 clientes. O segundo, implementado em 2016,

está localizado no bairro Jardim Anhangá - Duque de Caxias e atende cerca de 600

clientes. A Figura 3.4 ilustra a rede invertida do projeto piloto de Duque de Caxias.

Figura 3.4 - Projeto piloto rede invertida Fonte: acervo do autor.

57

A configuração da rede invertida ocorre da seguinte forma: a rede de BT é

localizada na parte superior do poste, sendo apoiada e conectada na cruzeta nível 1,

onde também se encontra a caixa concentradora que abriga o Ampla Chip para

medição de consumo. Abaixo da rede de BT temos o transformador e, a uma distância

de 145 cm abaixo do transformador, temos a cruzeta de nível 2 suportando a rede de

MT. O ramal do cliente é encaminhado através do interior de um tubo de PVC de 200

cm, desta forma atravessando a rede de Média Tensão de modo seguro e se

conectando no poste padrão do cliente. Abaixo da rede de MT, a 45 cm abaixo da

saída do tubo de PVC, foi instalado o protetor de poste caracterizado por uma placa

de material isolante plástico na cor laranja - conforme pode ser observado na Figura

3.4. Este protetor foi instalado com o objetivo de alertar e proteger as equipes que

porventura venham a trabalhar no poste, impedindo o contato do trabalhador com a

rede de Média Tensão. Também foram instalados avisos de risco elétrico em todos os

postes, informando que a rede localizada no nível 2 é a rede de MT. O padrão de

construção da rede invertida e os detalhes do projeto podem ser observados na Figura

3.5.

Figura 3.5 - Padrão de construção da Rede Invertida Fonte: Enel Rio.

58

A rede invertida possui uma configuração diferenciada e inovadora, que vem

despertando opiniões controversas. Nesse tipo, a rede de MT está localizada abaixo

da rede de BT, abaixo até mesmo do transformador, diferente do padrão usual que

traz a rede de Média Tensão no topo do poste. Caso uma pessoa que não tenha

conhecimento da nova configuração de rede tente subir no poste e acessar a rede, os

cabos mais baixos e consequentemente primeiramente acessados, seriam os cabos

de MT invés dos usuais cabos de Baixa Tensão, caracterizando assim um risco de

vida para o acessante.

Ressalta-se que abaixo dos cabos de MT foram instalados adesivos de aviso

de perigo e também o protetor plástico. Além disso, os cabos respeitam as distâncias

de segurança exigidos pela NBR 5410:2004 [28].

No processo de implementação deste projeto foram feitas reuniões com os

moradores das localidades para explicar o risco de vida ao tentar acessar

indevidamente a rede invertida. Também foram realizadas reuniões com as empresas

que utilizam mutuamente os postes (telefonia e internet) para explicitar o cuidado no

acesso ao poste.

Outro ponto de destaque é que toda e qualquer intervenção na rede invertida

deve ser feita com a rede desligada. Para fazer uma simples ligação nova (conexão

de um novo cliente na rede), é necessário desligá-la. Inclusive a manutenção da

iluminação pública que é de responsabilidade da prefeitura local, passou a ser

realizada pela equipe da Enel Rio, devido a necessidade de desligamento da rede

para o acesso à iluminação.

O desligamento de rede não é um processo trivial e não pode ser realizado com

frequência. O tempo que a carga permanece desligada afeta os indicadores DIC -

Duração de Interrupção Individual por Unidade Consumidora ou por ponto de

conexão; DMIC - Duração Máxima de Interrupção Contínua por unidade consumidora

ou por ponto de conexão; DICRI - Duração da Interrupção individual ocorrida em dia

Crítico por unidade consumidora ou ponto de conexão; e DEC - Duração Equivalente

de interrupção por unidade Consumidora. A frequência com que uma mesma unidade

consumidora é desligada afeta os indicadores FIC - Frequência de Interrupção

59

individual por unidade Consumidora ou por ponto de conexão, expressa em número

de interrupções; e FEC - Frequência Equivalente de interrupção por unidade

Consumidora.

Por meio do cálculo e da divulgação dos indicadores de continuidade de

serviço, as distribuidoras, os consumidores, as centrais geradoras e a ANEEL podem

avaliar a qualidade do serviço e o desempenho do sistema elétrico. Os indicadores

deverão ser calculados para períodos de apuração mensais, trimestrais e anuais, com

exceção do indicador DICRI, que deverá ser apurado por interrupção ocorrida em Dia

Crítico15. Os limites para os indicadores são estabelecidos pelo Módulo 8 do PRODIST

[29]. No caso de violação do limite de continuidade individual dos indicadores em

relação ao período de apuração (mensal, trimestral ou anual), a distribuidora deverá

calcular a compensação ao consumidor ou central geradora acessante do sistema de

distribuição, e efetuar o crédito na fatura, apresentada em até dois meses após o

período de apuração [29].

A necessidade de desligamento para os procedimentos de intervenção na rede

invertida é um fator limitante a este projeto. Entretanto, sugere-se que sejam feitos

estudos sobre esta rede e desenvolvidos novos procedimentos para intervenção afim

de que o projeto não seja impedido de ser executado.

3.3.3 Cabo triconcêntrico

O cabo triconcêntrico se apresenta como uma nova tecnologia a ser utilizada

afim de evitar fraudes. Neste cabo as fases estão localizadas concentricamente e a

camada mais externa de filamentos representa o neutro.

A Figura 3.6 apresenta a configuração do cabo triconcêntrico. Conforme vemos

na figura, cada uma das fases (e o neutro) é envolvida por uma camada isolante

15 Dia crítico é o dia em que a quantidade de ocorrências emergenciais, em um determinado conjunto de unidades consumidoras, superar a média acrescida de três desvios padrões dos valores diários. A média e o desvio padrão a serem usados serão os relativos aos 24 (vinte e quatro) meses anteriores ao ano em curso, incluindo os dias críticos já identificados. Fonte: http://www.aneel.gov.br/documents/656827/14866914/M%C3%B3dulo1_Revisao_9/1b78da82-6503-4965-abc1-a2266eb5f4d7 Acesso em 6 de setembro de 2018

60

protetora formada por um composto termoplástico de polietileno na cor preta com no

mínimo 2% de negro de fumo16.

O neutro forma a camada de fios mais externa, seguida por uma camada

protetora que, por sua vez, é acompanhada por uma camada de filamentos de

alumínio constituindo a primeira fase do cabo e assim, sucessivamente. Entre a

camada isolante e a camada de filamento do neutro, existe uma fina película

semicondutora. Caso haja a tentativa de violação do cabo, o contato entre a camada

semicondutora e os filamentos do neutro ocasionará um curto-circuito monofásico e

desta forma a rede será desenergizada e a equipe de manutenção será acionada.

Com isto, pretende-se inibir qualquer tentativa de furto de cabos na rede.

Figura 3.6 - Cabo triconcêntrico Fonte: Enel.

O cabo triconcêntrico permite blindar cada uma das fases da rede, tornando-se

uma alternativa inovadora e que dificulta o acesso aos condutores, elevando a

segurança da rede.

16 Negro de fumo é um material produzido pela combustão incompleta de derivados de petróleo. É uma

forma de carbono amorfo que tem uma área superficial extremamente alta em relação ao volume. É semelhante à fuligem, o negro de fumo é frequentemente usado como pigmento e reforço em borrachas e produtos plásticos.

61

Os cabos disponíveis atualmente no mercado apresentam pontos de

vulnerabilidade, possibilitando o furto de energia elétrica. A disposição das fases e do

neutro de forma concêntrica dificulta o acesso de terceiros a rede para ligações

indevidas. A utilização da película semicondutora empregada neste projeto

proporciona uma camada de bloqueio em contato com o condutor neutro, podendo

gerar um curto-circuito em casos de acesso indevido, e ocasionar choque elétrico caso

haja algum contato externo durante o funcionamento normal da rede.

3.3.4 Elevação de tensão

A solução de elevação de tensão consiste na instalação de transformadores

com níveis de tensão fora dos padrões atuais de distribuição.

Neste projeto o transformador de distribuição converte a MT (13,8 kV neste

caso) em BT de 330 V (fase-neutro) e 572 V (fase-fase). Como a rede de BT possui

tensão diferente da tensão usualmente utilizada na maioria dos eletrodomésticos,

torna-se mais difícil as ligações irregulares.

Em cada uma das unidades consumidoras fez-se necessária a instalação de

um transformador de BT, reduzindo novamente a tensão de rede de 330 V (fase-

neutro) e 572 V (fase-fase) para níveis convencionais de fornecimento 127 V (fase-

neutro) e 220 V (fase-fase) fazendo que no ponto de entrega da unidade consumidora

a tensão de fornecimento seja a padronizada conforme concessão.

São utilizados materiais inovadores como o transformador de distribuição com

primário de 13,8 kV e secundário de 330 V (fase-neutro), transformador do cliente com

primário 330 V e secundário 127 V (fase-neutro), equipamento de proteção eletrônica

do cliente, reator e fotocélula especiais para iluminação pública (572 V) e um gabinete

de alumínio para instalação de transformadores e contadores. Este projeto se tornou

inviável devido ao elevado custo dos equipamentos necessários para a sua execução

- necessidade de instalação de um transformador para cada cliente, desenvolvimento

de transformador fora da tensão usual etc.

62

3.3.5 Medição das perdas

No projeto Rede DAT, em cada transformador é instalado um equipamento de

macromedição que realiza a medição da energia fornecida por aquele transformador,

de forma a realizar o balanço energético para o cálculo das perdas.

Entretanto, esta medição eletrônica é aplicada apenas aos municípios de

Niterói, São Gonçalo, Maricá e Magé, em razão de inviabilidade técnica e financeira

para aplicação desse projeto em outras áreas. Para realização do balanço energético

das áreas inviáveis ao Ampla Chip, são instalados os equipamentos de macromedição

em Média Tensão.

O equipamento de macromedição consiste em um transformador de corrente,

com um medidor de quatro quadrantes acoplado ao secundário de um transformador

de corrente e de um transformador de potencial, instalado nas áreas limites das obras

de rede DAT. Desta forma, o equipamento mede a corrente que entra para

alimentação dos clientes localizados na área da obra e também mede a corrente que

sai desta área. A variação da energia consumida comparada com a energia vendida

nos fornece as perdas do local. O equipamento de macromedição de média tensão

está mostrado na Figura 3.7.

Figura 3.7 - Equipamento de macromedição de Média Tensão Fonte: acervo do autor.

63

4. Conclusão

O objetivo principal desse Projeto de Graduação, foi apresentar os métodos

utilizados atualmente pelas concessionárias de energia elétrica para a prevenção das

perdas comerciais. Mostramos que, em 2015, as perdas comerciais das 59 principais

distribuidoras do país foram da ordem de 5% da energia injetada nas redes de

distribuição, representando aproximadamente R$ 8 bilhões. Na Figura 2.7, observa-

se que, em 2015, o total de investimento da Enel Rio em projetos e ações para

mitigação das perdas, se aproximou de R$ 225 milhões. Portanto, a tratativa das

perdas comerciais de energia se mostra um tema de grande relevância tanto para as

empresas quanto para os consumidores, visto que parte deste prejuízo é rateado entre

os clientes regulares.

Dissemos que seriam definidas as diferenças entre as perdas técnicas e perdas

não técnicas, suas origens, causas e consequências, tanto para as concessionárias

quanto para os consumidores. Esse objetivo foi alcançado na medida em que, no

Capítulo 2 desse trabalho, foram apresentados os conceitos e mostrados como são

contabilizadas as perdas técnicas (Seção 2.2) e não técnicas - perdas comerciais

(Seção 2.3), que estão divididas em furto e fraude de energia.

Do ponto de vista do consumidor, este estudo se propôs esclarece o que é

considerado furto de energia, apresentando as consequências econômicas e técnicas

que afetam os clientes. Mostramos que, classifica-se como furto o completo desvio da

energia, ou seja, nenhuma parte da energia consumida é contabilizada pelo sistema

da distribuidora.

Como fraude são considerados os casos em que apenas parte da energia

consumida é registrada pela distribuidora e as principais causas são adulteração de

cabos ou medidores, erro de leitura por parte do leiturista, medidor danificado devido

a deterioração causando leitura parcial ou leitura incorreta.

Por sua vez, as consequências e efeitos das perdas para as distribuidoras,

foram apresentadas nas Seções 2.3.6, enquanto que a Seção 2.3,7, discorreu sobre

esses efeitos para os consumidores, mostrando como o furto de energia é um

problema global que afeta a todos os clientes, principalmente os regulares.

64

O estudo também tinha como objetivo focar a rede de distribuição secundária,

cuja responsabilidade de operação pertence às concessionárias de energia,

fornecendo soluções viáveis para implementação, possibilitando recuperação de

receita e aumento da qualidade da energia fornecida.

O objetivo também foi alcançado, uma vez que o Capítulo 3 citou os principais

métodos utilizados para redução das perdas comerciais, dividindo as ações em três

grupos: i) a intensificação de metodologias atualmente utilizadas pelas; ii) proposição

de ações junto à comunidade, através da realização de projetos de eficiência

energética e implementação de programas sociais; e iii) estudos e implementação de

projetos de engenharia, usando novas tecnologias, materiais, equipamentos e

configurações de rede projetadas especificamente para inibir as perdas de energia.

Tudo exemplificado por iniciativas executadas pela Enel Rio, como a rede DAT, o

Ampla Chip e a Rede Invertida.

Os métodos de mitigação de perdas aqui apresentados utilizaram como base a

experiência das concessionárias, e a divulgação desses métodos objetivou disseminar

as ações implementadas pelas concessionárias atuantes no estado do Rio de Janeiro

para as outras empresas do pais, afim de que a solução do problema seja de âmbito

nacional.

4.1 Sugestões para futuros trabalhos

Sugere-se para trabalhos futuros a evolução dos métodos aqui apresentados,

a descrição de novos métodos para a mitigação de perdas não técnicas, um estudo

aprofundado da tarifação de energia e sua relação com as perdas.

Além de uma análise do tratamento regulatório para as perdas comerciais e

para os que praticam ações de furtos e fraudes, em conjunto com a proposição de

novos parâmetros para realização dos cálculos regulatórios e medidas mais rígidas

para os fraudadores.

Outro trabalho de grande relevância seria o estudo das perdas técnicas e os

possíveis métodos para a sua mitigação, além de um estudo detalhado dos impactos

das perdas na qualidade da energia.

65

Referências Bibliográficas

[1] RAMONA Ordoñez. ‘Furto de energia em área de risco supera os 50%’. Publicado em 8 de novembro de 2016. Acesso em 2 de setembro de 2018 e disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/furto-de-energia-em-area-de-risco-supera-os-50-diz-presidente-da-enel-brasil-20429245#ixzz5LCaIeZT0

[2] ABRADEE – Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica. Perdas na distribuição: baixa tensão, altos prejuízos - Reportagem Especial Canal Energia. 2013. Publicado em 11 de outubro de 2013. Acesso em 2 de setembro de 2018 e disponível em: http://www.abradee.com.br/imprensa/artigos-e-releases/1018-perdas-na-distribuicao-baixa-tensao-altos-prejuizos-reportagem-especial-canal-energia

[3] PENIN, C. A. de S. Combate, Prevenção e Otimização das Perdas Comerciais de Energia Elétrica. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

[4] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Energia do dia a dia: uso indevido de energia elétrica. Cartilha publicada em 2013. Disponível em: http://www.aneel.gov.br/documents/656835/14876406/Cartilha_uso_indevido_energia.pdf/767e470d-f1bb-45e3-84b5-e98a5489b200. Acesso em 2 de setembro de 2018.

[5] GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. Editora Atlas. São Paulo, 2002

[6] SILVA, E. L. & MENEZES, E. M. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, 2018.

[7] EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Matriz energética e elétrica. 2016. Acesso em 5 de setembro de 2018 e disponível em: http://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica

[8] ENCINA, A. S. A. Despacho ótimo de unidades geradoras em sistemas hidreléticos via heurística baseada em relaxação lagrangeana e programação dinâmica. Tese de doutorado - Departamento de engenharia de sistemas, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, 2006.

[9] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Perdas de energia. Publicado em 25 de novembro de 2015. Acesso em 2 de setembro de 2018 e disponível em: http://www.aneel.gov.br/metodologia-distribuicao/-/asset_publisher/e2INtBH4EC4e/content/perdas/654800

[10] CEER - Council of European Energy Regulators (Conselho dos Reguladores Europeus de Energia). Report on Power Losses (Relatório de Perdas de Energia). Bélgica, 2017. Acesso em 29 de julho de 2018 e disponível em: https://www.ceer.eu/documents/104400/-/-/09ecee88-e877-3305-6767-e75404637087

66

[11] CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. Tradução: Anatólio Laschuk. – 5. ed. – Porto Alegre, 2013.

[12] MEURER, E. J. Estudo das perdas magnéticas interlaminares em máquinas elétricas. Tese - UFSC, Florianópolis, 2015.

[13] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 7 – Cálculo de Perdas na Distribuição, 2018.

[14] ______. PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 6 – Informações Requeridas e Obrigações, 2018.

[15] ______. PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 2 – Planejamento da Expansão do Sistema de Distribuição, 2018.

[16] SANTOS, B. E. S. dos. Geração fotovoltaica como auxílio no combate às perdas de energia. Projeto de graduação: DEE - Departamento de Engenharia Elétrica da UFRJ, Rio de Janeiro, 2017.

[17] BRASIL. Código Penal - Decreto Lei 2848/40, art. 155. Publicado em 1940. Acesso em 29 de julho de 2018 e disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm

[18] BRASIL. Decreto n° 4562, art 1°. Publicado em 31 de dezembro de 2002. Acesso em 2 de setembro de 2018 e disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2002/decreto-4562-31-dezembro-2002-491387-normaatualizada-pe.html

[19] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. PRORET - Procedimento de Regulação Tarifária. Módulo 2.6 – Perdas de Energia, 2015.

[20] INSTITUTO ACENDE BRASIL. Perdas comerciais e inadimplência no setor elétrico. White Paper, edição nº 18, fevereiro de 2017.

[21] JORNAL G1 RIO - Reportagem sobre sequestro de funcionários da Light. Publicada em 17 de fevereiro de 2018. Acesso em 29 de agosto de 2018 e disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/criminosos-sequestram-funcionarios-da-light-no-rio.ghtml

[22] LIS, Laís. Reportagem sobre aumento nas tarifas de energia elétrica. Publicada em 13 de março de 2018. Acesso em 29 de agosto de 2018 e disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/contas-de-luz-de-clientes-da-light-vao-ficar-em-media-1036-mais-caras.ghtml

[23] OLIVEIRA, M. E. de. Avaliação de metodologias de cálculo de perdas técnicas em sistemas de distribuição de energia elétrica. Tese de doutorado - programa de engenharia elétrica - UNESP, Ilha Solteira, São Paulo, 2009.

67

[24] JORNAL EXTRA. Reportagem sobre desconto para clientes Enel Rio na troca de eletrodomésticos. Publicada em 15 de novembro de 2016. Acessada em 29 de agosto de 2018 e disponível em: https://extra.globo.com/noticias/economia/clientes-da-enel-terao-50-de-desconto-para-substituir-aparelhos-domesticos-antigos-20468609.html

[25] LIGHT. Informações sobre o setor de sustentabilidade e as ações realizadas. Acessada em 29 de agosto de 2018 e disponível em: http://www.light.com.br/grupo-light/Sustentabilidade/compromisso-com-a-sociedade_comunidade-eficiente.aspx

[26] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução Normativa nº 482. Publicada em 17 de abril de 2012. Acesso em 29 de agosto de 2018 e disponível em: http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf

[27] IEEJ - The Institute of Energy Economics, Japan (Instituto de Economia de Energia do Japão). The 'roof rental' business for solar power generation is expanding to include ordinary residences. Japão, 2014.

[28] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5410:2004 - Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro, 2004.

[29] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. PRODIST - Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional. Módulo 8 – Qualidade de Energia, 2018.

68

Anexo I - Padrão de construção rede DAT