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METODOLOGIAS NÃO CONVENCIONAIS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: FILME
BEE MOVIE - UMA DISCUSSÃO SOBRE A ÉTICA ANIMAL E O MEIO
AMBIENTE
Waleska C. V. Santos (EACH-USP, Bolsista Aprender com Cultura e Extensão/USP)
Daiane Cardozo de Souza (EACH-USP, Bolsista Aprender com Cultura e Extensão/USP)
Karine Stephanie Alves (EACH-USP, Bolsista Programa Unificado de Bolsas/USP)
Tânia Regina Vizachri (FEUSP, Coordenadora do D.I.A.N.)
Luís Paulo de C. Piassi (EACH-USP, Líder do grupo Interfaces e Banca da Ciência)
RESUMO
As animações nem sempre transmitem a verdade, entretanto podem ajudar a pensar a
respeito das relações culturais que estabelecemos na sociedade. O Bee Movie é um destes
casos no qual ajuda a refletir sobre as relações culturais entre os humanos e as abelhas,
incentivando uma discussão acerca dos direitos animais e do meio ambiente. Em uma das
atividades desenvolvidas no projeto “Banca da Ciência” pela Universidade de São Paulo, a
frente temática D.I.A.N. (Debates e Investigações Sobre Animais e Natureza), utilizou o Bee
Moviepara colocar em debate a importância das abelhas para o meio ambiente e as causas do
seu desaparecimento. O artigo irá relatar esta intervenção lúdico-didática como possibilidade
de debater sobre o tema da ética animal e ambiental, referente a vida das abelhas.
PALAVRAS-CHAVE: Bee Movie; Ética Animal; Meio Ambiente; Mídia Infantil; Ensino de
Ciências.
INTRODUÇÃO
A Cultura e Extensão Universitária da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da
Universidade de São Paulo – EACH-USP objetiva difundir atividades de ciência e cultura
através de programas e projetos universitários que proporcionem experiências de tais assuntos
à comunidade interna e externa,contemplando uma abordagem diferenciada
de aprendizagem. D.I.A.N. – Debates e Investigações sobre Animais e Natureza1 –é uma das
seis equipes (figura 1)vinculadas ao projeto de extensão Banca da Ciência (PIASSI et al,
2015), que apresenta desde 2009 propostas de divulgação científica para o público escolar, e
ao INTERFACES (Interfaces e Núcleos Temáticos de Estudos e Recursos da Fantasia nas
1D.I.A.N. foi denominado em homenagem à DianFossey, que é uma zoóloga, primatologista e antropóloga
americana, nascida na Califórnia. Dian foi uma importante ativista que dedicou parte da sua vida para estudar e
defender a vida de gorilas do alto das montanhas.
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Artes, Ciências, Educação e Sociedade), um grupo de pesquisa e investigação de educação em
ciência vinculadoà EACH-USP e à UNIFESP. O projeto Banca da Ciência é composto por
duas modalidades, o A.L.I.C.E.(Arte e Lúdico na Investigação em Ciências na Escola),
voltado ao ensino fundamental,e o J.O.A.N.I.H.A (Jogar, Observar, Aprender, Narrar:
Investigações sobre Natureza, Humanidades e Artes), direcionado ao ensino infantil.Temos
desenvolvido na escola E.M.E.F. Arquiteto Luís Saia da rede municipal da cidade de São
Pauloa atividade aqui relatada, que é uma das frentes de trabalho da modalidade A.L.I.C.E.
(Arte e Lúdico na Investigação em Ciências na Escola) direcionada a estudantes entre 12 e 14
anos e que tem como objetivo a popularização da ciência para adolescentes e uma ampliação
da jornada do tempo escolar, mas com atividades diferentes do que as realizadas em sala de
aula.
Figura 1- equipes
A equipe D.I.A.N. é atualmente composta por 10 integrantes, sendo alguns bolsistas e
outros voluntários, advindos dos cursos de graduação em Licenciatura em Ciências da
Natureza, Gestão de Políticas Públicas, e Gestão Ambiental, e inclui a coordenadora do
grupo, Tânia Regina Vizachri. Pretende alcançar um intercâmbio entre as pesquisas feitas na
universidade, com base em debates sobre leituras acadêmicas feitas nas reuniões de grupo e as
práticas nas salas de aula das escolas selecionadas. O grupo elabora e aplica atividades lúdicas
com foco nos direitos animais e natureza. As aplicações são elaboradas pensando em uma
interação entre os estudantes e as atividades, visando desenvolver uma empatia ao animal por
parte destes. Propõe atividades com materiais diversos e também reciclados, e para cada uma
das aplicações nas escolas é planejado, analisado e preparado os materiais a serem utilizados,
conforme enunciado na metodologia.
As atividades permitem que os alunos assimilem o conteúdo estudado em sala de aula
com temas sobre os direitos animais e a natureza de uma forma lúdica.
O lúdico é uma forma de interação do estudante com o mundo, podendo utilizar-se
de instrumentos que promovam a imaginação, a exploração, a curiosidade e o
interesse, tais como jogos, brinquedos, modelos e exemplificações realizadas
habitualmente pelo professor entre outros. O lúdico permite uma maior interação
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entre os assuntos abordados, e quanto mais intensa for essa interação, maior será o
nível de percepções e reestruturações cognitivas realizadas pelo aluno (CABRAL et
al., 2008).
Os estudantes tem a oportunidade de exporem e construírem os seus pensamentos
enquanto se divertem com as atividades lúdicas. Segundo Dallagnol, Vianna e Korte (2012),
ao longo dos anos tem-se verificado que o ensino de ciências na Educação Básica e
a formação do professor vêm sendo interferidos por um ensino convencional acompanhado de
uma limitação a materiais como livros didáticos, dificultando a compreensão e
tornando múltipla a investigação ao estudo de ciências. Diante deste quadro, considera-se que
a ferramenta audiovisual contribui a um ensino de ciências diversificado, no qual as
metodologias não convencionais obtém êxito quanto à participação do aluno nas atividades,
propiciando relatos de vivências e conhecimentos que estes trouxeram durante a aplicação,
seja no campo escolar ou no cotidiano. Percebe-se que os alunos debatem o tema de uma
forma espontânea e diferente do que estão acostumados no ambiente escolar.
Embora os filmes de animação apresentem sempre figuras de animais de forma
antropomorfizada (com características humanas), por representarem animais de outras
espécies também trazem em seu conteúdo visões culturais sobre a nossa relação com eles.
Dentre as interpretações dos filmes de animação, tal prática de olhar para a antropomorfização
dos animais como metáfora de nossa sociedade é muito comum entre os pesquisadores
(KINDEL, 2003; OLIVEIRA; MOURO, 2007). Como discutido em artigo anterior
(VIZACHRI, 2015) essa maneira de olhar ignora a relação dos animais em constante relação
com humanos, que raramente é discutido. A maioria das atividades que utilizam filmes de
animação em sala de aula o faz para discutir apenas questões humanas, pois analisam os
animais como metáforas. As implicações disso já foram discutidas no artigo Os problemas do
uso da metáfora animal (VIZACHRI, 2014). Contudo, o olhar dos pesquisadores está
mudando e os animais estão começando a se tornar um motivo importante de estudo,
principalmente para pensarmos nossa relação com eles. O artigo de Leandro Belinaso
Guimarães e de Bruna Luiza da Silva (2009) mostra um início, ainda tímido, dessa mudança
de perspectiva. Assim, podemos perceber que a temática do animal em relação ética conosco
está começando a ser colocada em questão da maneira de pensar e representar os animais, o
que afeta a maneira como os tratamos (MALAMUD, 2012, p. 24).
O objetivo deste trabalho é relatar uma intervenção lúdico-didática utilizando como
ferramenta audiovisual o filme Bee Movie(2007), de modo a investigar como as mídias
infantis podem auxiliar o público escolar a refletir sobre o modo cultural como as abelhas são
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tratadas e entendidas pela sociedade. A utilização do filme Bee Movie na aplicação objetivou
educar os alunos a serem espectadores críticos, para que possam dar suas opiniões sobre o
tema abordado no filme, não ser espectadores passivos e concordarem com a visão que o
autor apresenta. Assim, refletir o filme é passar de espectador passivo para espectador crítico.
O cinema quando utilizado como ferramenta de educação no processo escolar necessita
ensinar a ver diferente (CARMO, 2003, p. 77). O uso de mídias, em geral, aproxima os alunos
da realidade, que é apresentada em um formato ilustrativo, uma percepção de uma
sensibilidade com uma fomentação do debate (CHAMPANGNATTE; NUNES, 2011).
CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA ARQUITETO LUÍS SAIA
A escola onde são aplicadas as atividades do grupo D.I.A.N. é municipal da rede
pública do ensino fundamental da zona leste da cidade de São Paulo. A escola foi criada pelo
Decreto 3341 de 16 de Novembro de 1956. A escola funciona em um espaço físico que foi
inaugurado em 23 de Março de 1958. Atualmente, a escola chama-se E.M.E.F. Arquiteto Luís
Saia.
Este novo espaço físico passou por muitas reformas e ampliações de espaços,
buscando obter um ambiente melhor para os alunos. Hoje, a escola apresenta recursos
tecnológicos em sala de aula, os quais facilitam aplicações audiovisuais do grupo D.I.A.N. A
sala de aula onde aplicamos as atividades tem televisão com entrada USB e DVD. Também,
quando necessário para as aplicações a escola disponibiliza o projetor. Sendo assim, a escola
apresenta boa infraestrutura para as aplicações. A E.M.E.F. possui, no momento atual, salas
de aula regulares, pátio externo, refeitório, sanitários, sala multimídia, sala de informática,
sala de leitura, quadra, e instalações da administração. A escola apresenta comprometimento
ético com a comunidade sempre tentando adequar-se para obter o melhor ambiente para os
alunos.
METODOLOGIA
Snyders (1988, p. 233) e Paulo Freire (2002, p. 99) falam da importância de a escola
abordar temas que sejam do interesse das crianças e que não fuja dos temas polêmicos.
Snyders (1988, p. 190) se preocupa se o que é ensinado corresponde às expectativas dos
alunos, se acolhe às preocupações deles, assim como ressalta a importância dos estudantes
desenvolverem uma visão crítica da cultura, ou seja, que a escola trabalhe com coisas que
deem prazer aos estudantes (cultura primeira), mas que também os faça ter uma visão mais
crítica desta, passando assim para a cultura elaborada. Assim, pretendemos que a nossa
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relação com as outras espécies seja problematizada, formando uma discussão
conscientizadora da realidade vivida (FREIRE, 2002).
Assim, temos atuado em três etapas, as quais não são estáticas, mas encadeadas, pois
cada etapa pode redefinir as demais:
(1) Análise das manifestações artístico-culturais, a qual é voltada para análise crítica do
material midiático a ser utilizado, segundo o referencial teórico dos Estudos Culturais,
considerando que manifestações culturais comunicam mensagens e propõem práticas
diversas e até contraditórias (KELLNER, 2001, p. 123). Nessa etapa fizemos a análise
do filme.
(2) Formulação didática, na qual formulamos o objetivo da atividade e os passos
necessários para chegarmos a esse objetivo, ou seja, como desenvolver no estudante a
reflexão crítica dos materiais analisados na etapa anterior. Utilizamos nessa fase tanto
o produto cultural em si (como o filme), como para textos (críticas, frases, etc.)
formando, assim, um “super texto” que questiona a própria obra apresentada. Neste
processo, buscamos pensar no diálogo entre educadores e educandos em processo de
reflexão e conscientização, não como mais uma aula a ser ministrada. Precisamos
pensar tanto no lúdico, no prazer que os estudantes terão com aquilo, quanto nos
objetivos de conteúdo que almejamos atingir. Nessa etapa elaboramos a atividade
pensando na análise feita anteriormente.
(3) Intervenção lúdico-didática, que traz elementos para avaliar as hipóteses formuladas
nas etapas anteriores e sua possível reformulação, havendo, assim, uma revisão
completa das demais etapas, inclusive com relação à seleção de materiais. Nesta etapa
ocorre a coleta de dados realizada durante a própria aplicação, através de perguntas
feitas para os adolescentes. Além disso, para uma melhor análise dos resultados a
aplicação foi gravada e posteriormente transcrita, e toda a aplicação foi fotografada e
filmada, construindo assim uma minuta temporal detalhando o processo. A análise foi
guiada pela observação de alguns eventos verificáveis definidos previamente pelo
grupo, o qual demonstraria o envolvimento deles com a atividade realizada. Os
eventos verificáveis visam indicar se os alunos tiveram interesse no tema proposto, se
debateram, relacionaram o tema da aplicação com conceitos aprendidos na escola ou
no ambiente externo, se os alunos demonstram posições de ordem social, política,
ética ou moral, se levantam questionamentos, dentre outros itens. Essa última parte foi
a da aplicação da atividade e coleta dos resultados.
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TRECHOS SELECIONADOS DO FILME BEE MOVIE
O filme Bee Movie relata a história da abelha Barry B. Benson que acaba de se formar
na faculdade, quando se vê diante da escolha de arrumar um emprego na empresa Honex, e
percebe que não quer exercer o mesmo trabalho para sempre, como as abelhas fazem ou como
seu pai, que era um misturador de mel. Então, o protagonista acaba escolhendo ser um dos
“Ases do pólen”, que desempenham a função da polinização devido ao fato de sua curiosidade
de conhecer o mundo fora da colmeia. O filme discute as relações entre o homem e o animal,
evidencia os fatores ruins a estes insetos, como a picada das abelhas que pode causar sua
morte, a ingestão de alimentos que os humanos deixam expostos e que fazem mal às abelhas,
organização de um apiário e como estas são forçadas a produzir mel, com uma discussão
acerca dos direitos animais.
Na atividade foram retirados trechos selecionados do filme Bee Movie, que foi editado
pelo grupo D.I.A.N. com duração de 13 minutos, com a finalidade de mostrar aos alunos e
alunas as partes mais tendenciosas e críticas do filme, que distorcem completamente a
realidade da produção de mel e seus impactos no meio ambiente. A seguir serão apresentados
os trechos, que se concentram no contato entre humano e animal em detrimento das relações
do ambiente e a produção da indústria do mel com suas consequências ao modo de vida das
abelhas.
O primeiro contato de Barry com os humanos foi estranho, chegando a questionar
como estes são estressados em razão da reação de medo e espanto por parte das pessoas. De
repente, neste cenário começa a chover e Barry vai parar no apartamento da florista Vanessa.
As pessoas que estavam lá queriam matá-lo, e a moça salvá-lo. Esta atitude gentil da florista
faz com que Barry converse com ela, o que, inicialmente, assusta a moça, porém
posteriormente eles acabam se tornando grandes amigos.
No momento em que Barry vai ao supermercado com Vanessa, se surpreende com os
potes de mel nas prateleiras; a moça demonstra uma visão de que o mel é feito para os
homens. Barry enfatiza que o mel é das abelhas e o processo é fruto de um trabalho árduo das
abelhas, no que descobre que potes de mel vêm da “HoneyFarm”, que emprega apicultura. O
filme demonstra o processo que os apicultores fazem de inspecionar o apiário para manter a
alta produção de mel, utilizando o fumigador e deixando as abelhas numa situação de
fragilidade, impedindo de reagirem e voar. Diante esta situação, Barry decide processar os
humanos pelo roubo e uso indevido do mel das abelhas, os cárceres e maus-tratos. A
estratégia de Barry para ganhar o processo é criticar o uso do fumigador e seus efeitos de
intoxicação por parte da fumaça, relacionando o trabalho forçado das abelhas nos apiários e
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que estas são escravas do mel. As abelhas ganharam o resultado judicial, e com isso os potes
de mel foram retirados dos supermercados, com o fim do uso da imagem do mel como o
símbolo do urso, a utilização de produtos cosméticos e alimentícios. Com a retirada de todo o
mel houve uma superprodução na Honex no qual as abelhas pararam a produção e a
polinização. No filme isso é apresentado como um desastre, como se fosse culpa das abelhas e
principalmente de Barry, que se sente culpado e tenta reverter essa situação fazendo com que
as abelhas voltem a produzir mel e, consequentemente, polinizar. No final, as abelhas voltam
a produzir mel para os humanos.
O filme deixou de enfatizar que as abelhas são importantes para o meio ambiente, não
porque elas produzem mel para os homens, que poderiam viver sem, mas sim por causa da
polinização, evitando a morte das flores, e uma das relevâncias que foram levadas ao debate é
se as animações sempre trazem a verdade, se é tudo culpa das abelhas.
Segundo Vizachri (2014) o filme Bee Movie levanta uma discussão aos direitos
animais como a amizade entre humano e um animal, o ato de salvar uma abelha que ia ser
morta (o direito à vida), o resultado judicial que as abelhas ganham e suas reivindicações
atendidas. Mas não há uma defesa, porque há uma satirização, como a cena da vaca
reclamando de seus direitos, ou então o fim da glorificação do urso como símbolo do mel, a
possibilidade de processar o cantor Sting, pois seu nome é sinônimo na língua inglesa de
ferrão.
A animação distorce as relações ecológicas quando apresenta como problema do
desaparecimento das abelhas a falta de consumo de mel. O documentário Mais que Mel
(2012) mostra como é prejudicial aos humanos o fim do processo de polinização realizado
pelas abelhas, que já é feito manualmente na China, mostra o sistema de apicultura com a
utilização de uma raça pura de abelhas, os fatores antrópicos, os alimentos que os humanos
deixam expostos e que as abelhas ingerem, e as doenças. A visão do documentário é que o
fim da polinização está relacionado também com a produção de mel para humanos, o que é
uma visão diferente do Bee Movie, que mostra que o fim da polinização está relacionado à
ausência de consumo do mel, gerando uma visão errônea de que se os humanos parassem de
consumir mel, as abelhas iriam parar de produzir mel, como se as abelhas produzissem isso
apenas para humanos (VIZACHRI, 2014).
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE APLICADA
A atividade com o filme Bee Movie foi realizada no dia 15 de março de 2016, em uma
sala de aula com seis alunos entre 12 e 14 anos de idade, na Escola Municipal de Ensino
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Fundamental Arquiteto Luís Saia, localizada em São Miguel Paulista. Teve como objetivo
geral desenvolver a reflexão dos alunos sobre a ética animal, ou seja, se eles podem começar a
desenvolver um raciocínio sobre questões éticas e formular uma opinião sobre o que é certo
ou errado, bem como conscientizar sobre o desaparecimento das abelhas e sobre a
importância delas para o meio ambiente. Foram realizadas três etapas no processo de
aplicação da atividade, todas executadas no mesmo dia, com o tema geral “Meio Ambiente” e
tema específico sobre a aprendizagem de caráter científico introdutório sobre a vida das
abelhas e sua relação com o meio ambiente e a vida dos seres humanos.
Na primeira etapa foram mostrados trechos selecionados do filme Bee Movie, e em
seguida foi realizada uma conversa com os alunos sobre as questões apresentadas nos trechos
do filme, de forma a incitar a reflexão sobre questões antes não percebidas pelos alunos. A
última etapa se constituiu em um quiz dinâmico contendo questões interessantes sobre a vida
das abelhas, seguidas de respostas alternativas, e que foram lidas pelos integrantes do grupo
D.I.A.N. A proposta foi que os alunos se organizassem em uma fileira horizontal (um ao lado
do outro) para que, a cada resposta que acertassem, dessem um passo à frente, promovendo
uma interação divertida que possibilitasse a aprendizagem.
RELATO DA ATIVIDADE E RESULTADOS
Na aplicação estavam presentes seis alunos, dentre eles cinco meninas e um menino.
As meninas, no início, pareciam não estar tão envolvidas com o tema, e o menino desde o
início demonstrou mais entusiasmo que as meninas. Contudo, durante a etapa do trecho do
filme Bee Movie, todos demonstraram reações positivas, se envolvendo com a proposta da
atividade. As reações demonstradas foram sorrisos e olhares atentos ao filme.
Na segunda parte atividade, que foi o debate, perguntamos o que tinha acontecido no
filme e alguns estudantes responderam que a abelha tinha parado de produzir mel e de fazer a
polinização, o que ocasionou um desastre. Consequentemente, questionamos os estudantes se
o desequilíbrio era realmente culpa das abelhas ou os seres humanos teriam alguma influência
naquele desequilíbrio. Uma das alunas disse: “Eu acho que as pessoas não dão o maior valor
para as abelhas. As abelhas trabalham e trabalham, e as pessoas pegam todo o mel para elas”.
Verificou-se que os alunos estabeleceram relação com informações por eles adquiridos
em ambiente escolar, quando disseram que a natureza necessita das abelhas para a
polinização. Ademais, o professor da turma relatou que estava falando sobre o tema
polinização para os alunos na mesma semana em que a atividade foi aplicada. Ainda, um
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aluno disse que sabia o que era polinização: “As abelhas pegam o pólen de uma flor e levam
para outra flor”.
Perguntamos se os alunos sabiam que na China já se está polinizando as flores
manualmente, que já se tira pólen das flores com cotonete e depois polinizam manualmente
outra flor com aquele pólen que foi retirado. Os alunos falaram que não sabiam disso e que
acham que isso poderia funcionar, mas que não seria a mesma coisa que a polinização natural.
Também, falaram que a importância das abelhas para o meio ambiente é muito grande.
Contamos para os alunos uma frase em queEinstein dizia que se todas as abelhas morressem,
em quatro anos a população seria extinta, mas que não se sabe se esse fato é verdadeiro ou
não.
Em sequência, perguntamos para os estudantes se eles achavam que se os humanos
parassem de consumir mel, as abelhas iriam morrer. A resposta dos alunos foi sim, eles
achavam que as abelhas morreriam se os humanos parassem de consumir mel. Sendo assim,
mais uma vez respondemos a essa pergunta com embasamentos conceituais, desmistificando
ideias que os estudantes tinham sobre a produção de mel e a relação das abelhas com os seres
humanos.
O próximo questionamento que fizemos foi o que os estudantes pensam quando uma
abelha vem em sua direção. Os alunos disseram que eles têm medo quando veem uma abelha
em sua direção. Entretanto, um dos alunos disse: “Eu ouvi falar que quando uma abelha pica
um ser humano, elas morrem. É verdade?”. Respondemos que era verdade o que o aluno tinha
falado.
Na última etapa, os alunos participaram do quiz com entusiasmo, e se surpreenderam
com as respostas que não sabiam antes, o que gerou pequenos debates e explicações no
decorrer da atividade. Os alunos acertaram quase todas as questões do quiz, só havendo
divergência de respostas em algumas questões. Na questão “que produtos o homem pode
retirar a partir das abelhas além do mel”, duas alunas responderam que as abelhas só fornecem
mel, sendo assim, ficaram surpresas quando dissemos que a resposta certa seria geleia real,
própolis e pólen. Já na questão “como as abelhas retiram o néctar” todos os alunos
responderam a opção errada, que era “encostando-se na flor”, e a resposta correta seria
“sugam com a língua”. Também, na questão “como as abelhas operárias informam a colmeia
sobre a localização do néctar” todos os alunos escolheram a opção errada, e ficaram surpresos
quando dissemos que seria pelos movimentos de "dança das abelhas". Na questão “como as
abelhas fabricam o mel”, apenas uma aluna respondeu a resposta incorreta. Quando se
perguntou se o mel era para os homens, a metade dos alunos disse que sime, dessa
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forma,explicamos que o mel é para a alimentação das abelhas e que os homens conseguem
viver sem o mel.
A partir da figura abaixo registrada na atividade do quizde curiosidade sobre as
abelhas é possível fazer uma breve análise da linguagem corporal dos estudantes que
participaram da intervenção. O sorriso pode identificar alguns sentimentos,dentre eles a
alegria, mostrando emoções relacionadas com o prazer, satisfação, euforia e êxtase (CARMO,
2010). Os sorrisos verdadeiros são gerados inconscientemente pelo cérebro. Pode-se observar
o sorriso largo e espontâneo das três alunas encontradas no lado direito da fotografia,
indicando o prazer e euforia em participar da atividade. Os outros dois alunos da outra ponta
apresentam um sorriso mais discreto. Em relação aos braços cruzados, pode-se indicar que os
alunos se esconderam dentro de suas próprias ideias (VIEIRA, 2010). Os braços cruzados
indicam resistência à comunicação sendo um aspecto negativo, enquanto o sorriso indica um
aspecto positivo (WEIL; TOMPAKOW,2000). Os alunos mostraram participar ativamente da
intervenção lúdico-didática, entretanto muitas vezes os alunos podem não expressaram todas
as suas ideias.
Figura 2 - participação dos alunos no quiz de curiosidades sobre as abelhas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização do Bee Movie propiciou uma sensibilidade aos alunos em relação às
abelhas no final. Muitos desconheciam o processo de apicultura no que se diz respeito a forçar
as abelhas a produzir mel, causando mortes e um dos fatores do seu desaparecimento. A
maioria dos alunos havia assistido ao filme, mas percebe-se que tinham como entendimento a
mensagem final de o humano e o animal viverem sempre harmonicamente. A discussão
abordada pelo D.I.A.N. no processo de apicultura se manifestava como assunto novo para os
alunos, apesar de eles já terem assistido ao filme, assim como o desaparecimento das abelhas
e a importância dessas para o meio ambiente.
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O uso da mídia de forma questionadora favoreceu o senso crítico por refletir sobre o
quanto as cenas abordadas são verídicas ou não. A atividade do quiz propiciou aos alunos um
suporte à introdução ao tema das abelhas criando uma familiarização e empatia ao animal ao
trazer algumas informações que mostraram a similaridade entre os humanos e as abelhas,
como o fato de elas também se comunicarem. Assim, os alunos demonstraram um entusiasmo
diante as curiosidades sobre as abelhas. A metodologia não convencional promoveu uma
aprendizagem diversificada em relação à forma do ensino que os alunos estão acostumados, e
os resultados demonstramo êxito deste recurso no ensino de ciências.
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Revista Latinoamericana de Estudios Críticos Animales. Ano II, v. I, maio 2015.
WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala. 51 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
REFERÊNCIA FILMOGRÁFICA
BeeMovie - A História de uma Abelha. Direção: Simon J. Smith, Steve Hickner:
DreamWorks, 2007. 1 DVD (97min).
Mais que Mel. Direção: Markus Imhoof. Imovision, 2012 (95 min).
Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3
SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia