metodologia mandala de saberes parte 2

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Metodologia Mandala de Saberes – Parte 2

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Metodologia Mandala de Saberes – Parte 2

d

Capacidade de analisar, sintetizar

e interpretar dados, fatos e

situações.

Capacidade de fazer cálculos e resolver

problemas.

Capacidade de planejar,

trabalhar e decidir em grupo.

Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social.

Sujeito

Capacidade

Domínio da leitura

e da escrita.

Receber criticamente os meios de

comunicação.

para localizar, acessar e usar

melhor a informação acumulada.

o s Código s da Modernidad e

O século XXI, marcado pela primazia da informação, pelo aces-

so que tende a ser universal a volumes cada vez maiores de

dados, e em velocidade crescente, traz também o fascínio pelo

excesso de informações de todo tipo, produzidas e consumi-

das por todos ao mesmo tempo.

Enquanto diferentes jovens de distintos estratos sociais têm cada vez mais acesso a informações, sua capacidade de filtrá-las, analisá-las, processá-las com independência pode não estar à altura, uma vez que a escola, de modo geral, tem ainda poucos recursos para lidar com esse mundo, o mundo da informação e da interatividade.

Para o professor, o desafio parece ser cada vez mais o de assumir o papel de mediador do processo educativo, aquele que dá sentido aos conteúdos que a escola oferece, promovendo as conexões desejáveis com o mundo externo, de modo que o estudante possa se preparar para se tornar um cidadão capaz de ler o mundo, processar as informações que lhe chegam, interpretá-las e atuar de modo consciente na sociedade em que vive.

É nessa perspectiva que o trabalho desenvolvido por Bernardo Toro pode trazer um pouco de luz e objetividade a esse desafio de enfrentar questões tão diversas no universo de estudantes como os das Casas – de um lado, a conquista da escolaridade, a diminuição do índice de evasão escolar e a permanência do estudante na escola; de outro, a necessidade de se preparar para atuar na “sociedade da informação”.

Os Códigos da Modernidade, conceito por ele cunhado, englobam uma de- finição das “sete competências” que considera necessário desenvolver nas crianças e jovens de modo a lhes garantir uma participação mais produtiva no século XXI. Para esse filósofo e educador, trata-se de saberes fundamentais para que o estudante avance na sua aprendizagem, relacionando o que apren- de na escola com a vida, descobrindo o sentido daquilo com que faz contato, de modo a qualificar sua inserção social e participação no mundo atual.

A seguir, um resumo de cada uma delas, e os capítulos que se seguem são dedicados aos diagnósticos, soluções buscadas e estratégias utilizadas.

Expressões

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rtísticas

Expressões

A

rtísticas

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Mundo do

SABERES NO TERRITÓRIO

Leitura

Corpo

Domínio da leitura e da escrita

Para se viver e trabalhar na sociedade alta- mente urbanizada e tecnificada do século XXI será necessário um domínio cada vez maior da leitura e da escrita. As crianças e adoles- centes terão de saber comunicar-se usando palavras, números e imagens.

Por isso, os melhores professores, as me- Trabalho e escrita Vestuário lhores salas de aula e os melhores recursos

técnicos devem ser destinados às primeiras séries do Ensino Fundamental. Saber ler e escrever já não é um simples problema de alfabetização, é um autêntico problema de sobrevivência.

Todas as crianças devem aprender a ler e a escrever com desenvoltura nas primeiras séries do Ensino Fundamental, para pode- rem participar ativa e produtivamente da vida social.

Mundo do Trabalho

SABERES NO TERRITÓRIO

Fazer cálculos e resolver

problemas

Corpo Vestuário

Capacidade de fazer cálculos e de resolver problemas

Na vida diária e no trabalho é fundamental saber calcular e resolver problemas.

Calcular é fazer contas. Resolver problemas é tomar decisões fundamentadas em todos os domínios da existência humana.

Na vida social é necessário dar solução posi- tiva aos problemas e às crises. Uma solução é positiva quando produz o bem de todos.

Na sala de aula, no pátio, na direção da escola é possível aprender a viver democraticamen- te e positivamente, solucionando as dificul- dades de modo construtivo e respeitando os direitos humanos.

Expressões

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Expressões

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Capacidade de analisar, sintetizar e in terpre- tar dados, fatos e situações.

Na sociedade moderna é fundamental a ca- pacidade de descrever, analisar e comparar, para que a pessoa possa expor o próprio pen- samento oralmente ou por escrito.

Não é possível participar ativamente da vida da sociedade global, se não somos capazes

Mundo do

SABERES NO TERRITÓRIO

Analisar e

Corpo

de manejar símbolos, signos, dados, códigos e outras formas de expressão linguística.

Para serem produtivos na escola, no traba- lho e na vida como um todo, os alunos de- verão aprender a expressar-se com precisão por escrito.

Trabalho sintetizar dados, e situações

Vestuário

Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social

A construção de uma sociedade democrática e produtiva requer que as crianças e jovens recebam informações e formação que lhes permitam atuar como cidadãos. Exercer a ci- dadania significa:

– Ser uma pessoa capaz de converter proble-

Mundo do

SABERES NO TERRITÓRIO

Compreender

Corpo

mas em oportunidades.

– Ser capaz de organizar-se para defender seus interesses e solucionar problemas, por meio do diálogo e da negociação, respeitan- do as regras, leis e normas estabelecidas.

– Criar unidade de propósitos a partir da di- versidade e da diferença, sem jamais confun- dir unidade com uniformidade.

– Atuar para fazer do Brasil um Estado Social de Direito, isto é, trabalhar para fazer possí- veis, para todos, os direitos humanos.

Trabalho e atuar em seu entorno

social

Vestuário

Expressões

A

rtísticas

Expressões

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Hab

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o

Mundo do Trabalho

Mundo do Trabalho

SABERES NO TERRITÓRIO

Receber criticamente os meios de

comunicação SABERES NO TERRITÓRIO

Acessar e usar

informações acumuladas

Corpo Vestuário

Corpo Vestuário

Receber criticamente os meios de comunicação

Um receptor crítico dos meios de comunicação (cinema, televisão, rádios, jornais, revistas) é alguém que não se deixa manipular como pes- soa, como consumidor, como cidadão.

Aprender a entender os meios de comunica- ção nos permite usá-los para nos comunicar- mos à distância, para obtermos educação bá- sica e profissional, para articularmo-nos em nível planetário e para conhecermos outros modelos de convivência e produtividade.

Os meios de comunicação não são passa- tempos. Eles produzem e reproduzem novos saberes, éticas e estilos de vida. Ignorá-los é viver de costas para o espírito do tempo em que nos foi dado viver.

Todas as crianças, adolescentes e educado- res devem aprender a interagir com as di- versas linguagens expressivas dos meios de comunicação para que possam criar formas novas de pensar, sentir e atuar no convívio democrático.

Capacidade para localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada

Num futuro bem próximo, não será possível ingressar no mercado de trabalho sem sa- ber localizar dados, pessoas, experiências e, principalmente, sem saber como usar essa informação para resolver problemas. Será necessário consultar rotineiramente bibliote- cas, hemerotecas, videotecas, centros de in- formação e documentação, museus, publica- ções especializadas e redes eletrônicas.

Descrever, sistematizar e difundir conheci- mentos será fundamental.

Todas as crianças e adolescentes devem, por- tanto, aprender a manejar a informação.

Expressões

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Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo

Saber associar-se, saber trabalhar e produzir em equipe, saber coordenar são saberes es- tratégicos para a produtividade e fundamen- tais para a democracia.

A capacidade de trabalhar, planejar e decidir em grupo se forma cotidianamente através de um modelo de ensino-aprendizagem autô- nomo e cooperativo (Educação Personalizada em Grupo).

Por esse método, a criança aprende a orga- nizar grupos de trabalho, negociar com seus colegas para selecionar metas de aprendiza- gem, selecionar estratégias e métodos para alcançá-las, obter informações necessárias para solucionar problemas, definir níveis de desempenho desejados e expor e defender seus trabalhos.

Na Educação Personalizada em Grupo, com apoio de roteiros de estudo tecnicamente ela- borados, a capacidade de decidir, planejar e trabalhar em grupo vai se formando à medida que se permite à criança e ao adolescente ir construindo o conhecimento.

Nestas pedagogias autoativas e cooperativas, o professor é um orientador e um motivador para a aprendizagem.

Mundo do Trabalho

SABERES NO TERRITÓRIO

Trabalhar em grupo

Corpo Vestuário

Có D I G O DA mO D E R N I DA D E : O D O m Í N I O DA L EI T U R A E ES C R I TA

Para Charlot (2009), entrar na escola é algo mais complexo do

que estar matriculado, possui também uma dimensão

subjetiva, pois entrar na escola é participar de uma relação

com o saber capaz de contribuir para a construção de sen-

tido para a existência daquele jovem. “Não basta abrir as

portas da instituição, também é preciso entregar as chaves

aos jovens de meios populares.” Saber ler e escrever com competência equivale a dar o passo primordial no pleno processo de construção de sentido, na conquista de autonomia e capa- cidade de autodeterminação na vida desses jovens. É talvez o maior desafio para os estudantes. O domínio efetivo dessas habilidades é estruturante, na

Arte de Educar

medida em que amplia as possibilidades de enfrentamento dos desafios esco- lares em todas as áreas de conhecimento e, em última instância, representa o domínio sobre os códigos sociais mais fundamentais, instrumento de emancipa- ção efetiva do cidadão que se quer formar.

Nas avaliações diagnósticas que realiza durante o ano, a equipe de educadores foi desafiada a enfrentar a constatação de que 50% dos estudantes possuíam muitas dificuldades no domínio da leitura e escrita.

Arte de Educar

O desafio estava posto, de maneira enfática, e os educadores se voltaram para a pesquisa em busca de instrumental adequado para compor o planeja- mento pedagógico a seguir, ou seja, práticas educativas diárias que de fato permitissem enfrentar o problema, colocando-o como pano de fundo em cada atividade desenvolvida.

Assim, em todas as propostas educativas buscou-se abordar:

• A desenvoltura da fala,

• A desenvoltura da leitura,

• A desenvoltura na escrita e a interpretação de textos com entendimento.

Como estratégia, os saberes locais do território (vestuário, condições am- bientais, brincadeiras e alimentação) foram os temas escolhidos pelos edu- cadores por suas potencialidades de despertar interesse e ao mesmo tempo promover a autoestima dos estudantes. A partir daí foram desenhadas as ações pedagógicas que potencializassem ao máximo os recursos utilizados, priorizando-se a criatividade, a diversidade de abordagens, a ampliação de repertórios culturais.

Recursos como leitura e interpretação de textos, oral e escrita, leitura e inter- pretação de imagens, mapas e quadrinhos, jogos, contação de histórias, ro- das de conversa, pesquisas em jornais, revistas e internet, brincadeiras livres e orientadas, associados à abordagem de repertórios pessoais e coletivos dos territórios, potencializaram o interesse na leitura e escrita, a expressão de sen- timentos, opiniões, desejos, enriquecendo as possibilidades de aprendizagens contextualizadas.

Como desdobramentos surgidos no grupo a partir das propostas, destacam- se atividades de reprodução de histórias infantis com ilustrações, a criação de textos e a confecção de um livro de dobradura. Alguns temas foram também desdobrados a partir de exercício de estímulo à associação de conteúdos, ao pensamento autônomo e à livre criação.

A mandala aqui apresentada expressa os resultados desta experiência, em que o educador assume a postura de professor-pesquisador, faz uma son- dagem junto aos estudantes acerca das experiências e saberes na leitura e escrita, analisa os indicadores da avaliação de aprendizagem do grupo e pla- neja as práticas pedagógicas direcionadas ao estímulo do processo de ensi- no-aprendizagem.

Arte de Educar

Có D I G O DA mO D E R N I DA D E : CA PAC I DA D E D E FA z ER CÁ LC U LO S E R ESO LV ER P RO B L E m AS

Como nos provoca Garcia (2006), poderíamos afirmar que

existe um conhecimento certo e outro errado para o traba-

lho da escola? A escola não seria um local bem mais rico se

acolhesse o conhecimento trazido pelos alunos (principal-

mente os das classes populares)? Estes, nos lembra Garcia,

são resultado das lutas pela sobrevivência que as classes

populares vivem e que sem dúvida expressam condições

epistemológicas diversas capazes de emprestar riqueza à

tarefa escolar de socializar e produzir conhecimento. Ao lado da leitura e da escrita, o cálculo matemático e a resolução de problemas podem ser considerados habilidades básicas, estruturantes na formação do su- jeito capaz de atuar na sociedade atual. A capacidade de compreender o enun- ciado de um problema, de relacionar as informações, criar hipóteses e transpô- las para a linguagem dos números está intimamente relacionada à habilidade para tomar decisões bem fundamentadas.

Nas avaliações diagnósticas realizadas a cada bimestre, constatou-se que a ca- pacidade de fazer cálculos e resolver problemas é um desafio para os estudan- tes. Na interpretação de textos que utilizam o pensamento lógico matemático – os enunciados –, uma dificuldade importante é observada nos diferentes gru- pos de estudantes. Além disso, são comuns as limitações em habilidades como identificação de pares e ímpares; realização das quatro operações; resolução de problemas matemáticos complexos, com duas ou mais operações.

Para enfrentar esse desafio, foram definidas estratégias pedagógicas a serem de- senvolvidas, considerando a idade e o perfil de cada grupo, de modo a estimular os estudantes com diversas práticas, explorando diferentes graus de dificuldades.

A atividade proposta então foi a preparação de um lanche coletivo, que envolvia desde o levantamento de custos até a visita a um supermercado e a escolha dos ingredientes. Foram criados grupos de trabalho entre os estudantes para dividir as tarefas.

Essa atividade foi muito produtiva e surpreendeu do ponto de vista do envol- vimento dos estudantes. Eles discutiam, faziam propostas, buscavam soluções em todas as etapas, desde levantar o orçamento disponível, definir o que fazer, de que ingredientes e quantidades precisavam e onde comprar, sempre de acor- do com os limites financeiros definidos e com base nas pesquisas de preços.

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Foram utilizados vários conceitos matemáticos: a partir de um problema, a bus- ca de soluções provocava a formulação de hipóteses e estimulava os cálculos com o uso das quatro operações.

Entre os vários desdobramentos gerados, destaca-se a pesquisa do orçamento familiar, considerando a renda de cada família, o valor da hora de trabalho por profissões, valor do salário mínimo e seu poder de compra. Essas investigações levaram a uma pesquisa sobre mercado de trabalho x remuneração.

Foram utilizados, ainda, diversos recursos em que os estudantes puderam traba- lhar os conceitos matemáticos, como:

• pesquisas nos jornais, em busca de matérias/notícias que envolvessem conceitos matemáticos, para que os estudantes pudessem analisá-las, como as tabelas de pontuação dos resultados dos jogos dos times de fu-

Arte de Educar

tebol, as projeções climáticas pelos dias da semana (dias mais quentes e frios), legendas climáticas e análise de dados quantitativos de pesquisas do IBGE, relacionados à renda salarial da população do Rio de Janeiro e bairros, comparando com outros estados e países;

• jogos didáticos que exploram os conceitos matemáticos, ampliando o desen- volvimento do pensamento lógico, como banco imobiliário, material numé- rico, frações, jogos da memória utilizando números e as quatro operações;

• contos com diversas narrativas que utilizam a matemática e o pensa- mento lógico;

• preparação de receitas culinárias (bolos e pizzas) para trabalhar concei- tos como frações, e depois esse material gera fichas de pesquisas com criação de problemas.

Entende-se que a proposição de problemas matemáticos coletivos – seja na forma escrita ou oral – permite que se deem nos grupos as trocas necessárias de modo que comecem a surgir as hipóteses, que serão debatidas, argumentadas, experi- mentadas, até que se encontrem as soluções.

A aproximação da matemática da vida cotidiana dos estudantes lhes permite am- pliar suas possibilidades de criar diferentes hipóteses para as questões apresenta- das, discutindo com o grupo suas soluções e justificando os métodos utilizados.

Os problemas do cotidiano exigem um planejamento de utilização dos conceitos de causa e efeito e as reflexões sobre possibilidades de hipóteses a partir de cada ação tomada. Enfrentar um problema é criar e projetar soluções.

Essas práticas contribuem para criar um repertório pedagógico que cada vez mais relacione o pensamento lógico matemático com as vivências, de modo que o es- tudante se veja autônomo para não apenas formular suas próprias hipóteses, mas também relacionar com liberdade os saberes locais aos saberes acadêmicos.

Arte de Educar

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Continua na Metodologia Mandala de Saberes – Parte 3