metodologia da pesquisa cientifica
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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior
2009
METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
INTRODUÇÃO:
COMO A METODOLOGIA DA PESQUISA PODE TE AJUDAR
A disciplina METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA está presente nos
currículos de todos os cursos superiores, adotando, não raro denominações
diferentes como métodos e técnicas de pesquisa ou metodologia do trabalho
acadêmico. Aqui, tais denominações serão sinônimas, uma vez que
entendemos que um simples trabalho acadêmico de revisão da literatura sobre
um tema qualquer, por exemplo, já se constitui como uma pesquisa científica.
Científica porque requer condutas e regras claramente identificadas para que
sejam maximizadas as chances de sucesso na pesquisa realizada.
A metodologia da pesquisa científica não é um bicho papão que existe para
importunar aqueles que se aventuram na construção do conhecimento
científico. Ela existe para simplificar a vida do estudante / pesquisador na
condução de seu trabalho de investigação.
Vários manuais de metodologia da pesquisa científica são muito imperativos e
pouco reflexivos; postura que tentaremos evitar ao máximo. Recorramos à
metáfora da receita do bolo. Nela o bolo é o conhecimento científico a ser
construído. Para fazer um bom bolo, são necessários: a) os ingredientes (os
materiais) e b) as proporções destes ingredientes e como os mesmos serão
manipulados para que a receita seja um sucesso (a técnica de execução). Uma
boa receita de bolo deve ser minuciosa o suficiente para que qualquer outra
pessoa que recorra à mesma consiga fazer o bolo com sucesso. Receita ruim é
receita obscura que não nos informa sobre detalhes importantes na elaboração
do bolo. Receita boa é aquela que nos informa criteriosamente quanto, quando,
como e porque os ingredientes devem ser colocados na mesma. E mais, uma
boa receita de bolo, informa sobre possíveis variações que podem ocorrer sem
alterar significativamente o resultado do bolo. Neste contexto, não pretendemos
defender uma única receita do bolo, e sim refletir sobre possíveis variações
sobre a receita do bolo. Analogamente a metodologia não deve ser apenas
uma receita para a construção do conhecimento científico, ela deve ser
também o espaço da discussão sobre o processo de construção deste
conhecimento. Existem nomes pomposos para isto: Epistemologia (ou Teoria
do Conhecimento) que é uma ciência que estuda as outras ciências, ou, como
preferem alguns autores, a epistemologia é uma metaciência.
Optamos, para fins meramente didáticos, em dividir este livro em dois grandes
blocos: o primeiro, BLOCO I, sobre aspectos normativos das etapas que
usualmente envolvem a pesquisa científica nas diferentes áreas onde
discutiremos as etapas e desafios recorrentes à identificação do tema –
problema, da elaboração e execução do projeto e da redação do relatório da
pesquisa nos formatos de artigo, monografia, dissertação e tese.; o segundo,
BLOCO II, sobre as questões relativas ao processo de construção e validação
do conhecimento científico, promovendo uma reflexão sobre as grandes
concepções epistemológicas da atualidade, tais como o chamado empirismo
lógico do Círculo de Viena, o racionalismo crítico de Popper, as revoluções
científicas de Kuhn, o anarquismo teorético de Feyerabend e os programas de
pesquisa de Lakatos.
Outro aspecto importante deste livro foi a opção por uma redação que concilia
a simplicidade com a profundidade com que os conteúdos foram trabalhados,
ou seja, não podemos confundir simplicidade com superficialidade e muito
menos profundidade com pedantismo acadêmico.
É importante ressaltar que a existência da metodologia da pesquisa científica
só tem sentido se ela for capaz de facilitar os caminhos trilhados na construção
do conhecimento, através da sistematização e da desmistificação.
Desmistificação? Sim! A ciência possui vários exemplos onde foi a violação das
regras metodológicas que a fez evoluir. Muitas vezes o conhecimento novo e
vigoroso é fruto de ousadias metodológicas que no início podem parecer erros
grosseiros, mas que gradativamente se consolidam enquanto novas maneiras
e caminhos de se construir conhecimento sistemático.
BLOCO IA realização de uma pesquisa científica é uma experiência:
RADICAL, uma vez que pressupõe um aprofundamento em uma área
específica do conhecimento.
DISCIPLINADA, porque requer rigor e controle no trato das informações que
você coletará.
COLETIVA, porque você terá cúmplices nesta aventura, afinal, você lerá
muitos trabalhos de outros pesquisadores e principalmente porque a pesquisa
só se materializa de fato ao ser publicada, tornada pública. Ou seja, queremos
falar alguma coisa para os outros.
Neste BLOCO I você aprenderá uma possível maneira de se realizar uma
pesquisa, do projeto à redação do trabalho final.
ANTES DE COMEÇAR: UM DESAFIO!
As avaliações só tem sentido se estiverem focadas muito além de apenas uma
nota suficiente para a aprovação do aluno. A avaliação tem aqui de ser
apreendida como um momento de síntese integradora em relação às
informações recebidas. É bastante provável que você já tenha escutado aquele
antigo ditado: “de pouco vale a teoria sem a prática!” Sábias palavras que
atrelam a teoria e a prática, ou seja, a práxis. Na metodologia da pesquisa
científica esta práxis se materializa no desenvolvimento processual de um
projeto de pesquisa. Este será o seu desafio! Melhor: este será o nosso
desafio! Sendo assim, você deverá desenvolver um projeto de pesquisa. Muitos
poderão dizer: “mas eu ainda não sei o que eu quero pesquisar”! Sem
problemas, trata-se de apenas um projeto, ou seja, um conjunto de ações para
conseguir resolver um problema, que enquanto projeto que é, pode (e
comumente isto acontece) sofrer alterações.
PESQUISA CIENTÍFICA: UMA MANEIRA DE PENSAR
Provavelmente foi com advento da escrita como forma de registro de
informações que o homem começou a fazer ciência, isto, segundo os
historiadores, aconteceu entre 3000 e 4000 anos A.C. Parece óbvio que a
capacidade de fazer registros e transmiti-los para seus descendentes, deu ao
ser humano a oportunidade de sistematizar o conhecimento por ele construído.
A pesquisa científica possui características específicas em todas as suas
etapas. Para isto é importante que adotemos uma possível definição de
pesquisa científica e de ciência. Segundo vários metodologistas trata-se, em
ambos os casos, de uma tarefa ingrata, dada a incompletude de qualquer
tentativa que se faça para defini-las, mas purismos à parte, usaremos por hora
as seguintes definições:
PESQUISA CIENTÍFICA é o processo da mediação racional e metódica que o
homem faz para compreender os fenômenos que ele vivencia, sejam eles
naturais, históricos, psíquicos ou culturais.
CIÊNCIA é todo conhecimento racionalmente construído através da criteriosa,
sistemática e metódica investigação sobre um objeto ou fenômeno, fruto do
processo de pesquisa científica.
Estas possíveis definições e todas suas possíveis precariedades sinalizam
aspectos importantes relativos à maneira de pensar inerente à construção do
conhecimento científico; um deles refere-se à necessidade de se organizar as
informações sobre um objeto ou fenômeno em categorias. Quando falamos em
categorias / categorização, estamos a falar de critérios que as possibilitem. Por
exemplo, um botânico pode classificar as plantas de seu viveiro a partir dos
diferentes tipos de folhas. Outro botânico poderia querer classificá-las tomando
como critério as diferentes maneiras de reprodução. A pesquisa científica
busca dar uma ordem lógica e racional na infinita quantidade de informações
que recebemos ou extraímos do universo. Para que? Para aumentarmos as
chances de compreendermos nosso mundo da melhor maneira possível.
Pesquisamos porque de alguma maneira identificamos nossas carências. É
porque sabemos que muito pouco sabemos que fazemos a ciência acontecer.
Pesquisamos porque desejamos compreender melhor e mais racionalmente
questões fascinantes tais como: Quem somos nós? De onde viemos? Para
onde iremos? Aprofundaremos esta questão no BLOCO II deste livro.
TIPOS DE PESQUISAS
Os critérios mais usuais para a caracterização metodológica da pesquisa
científica são relativos aos objetivos; aos procedimentos técnicos; à
natureza; às fontes de informação e à forma de abordagem do problema.
Vejamos as principais características de cada um destes critérios.
EM RELAÇÃO AOS OBJETIVOS, as pesquisas podem ser:
1) Exploratórias: são aquelas que visam proporcionar maior familiaridade
com o tema problema com vistas a torná-lo mais evidente. Envolve
levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos
que estimulem a compreensão. Usualmente assumem, em geral, as
formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso.
2) Descritivas: são aquelas que visam descrever as características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações
entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de
dados: questionário e observação sistemática. Assumem, via de regra, a
forma de Levantamento.
3) Explicativas: são aquelas que visam à identificação dos fatores que
determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos.
Aprofundam o conhecimento da realidade porque explicam a razão, ou
seja, o “por que” das coisas. Quando realizada nas ciências naturais,
requerem o uso do método experimental, e nas ciências sociais
requerem o uso do método observacional. Assume, em geral, a formas
de Pesquisa Experimental e Pesquisa Expost-facto (em latim: realizada
ou formulada depois de certo fato).
EM RELAÇÃO AOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS:
1) Bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado,
constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente
com material disponibilizado na Internet.
2) Documental: quando elaborada a partir de materiais que não
receberam tratamento analítico.
3) Experimental: quando se determina um objeto de estudo,
selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo,
definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a
variável produz no objeto.
4) Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das
pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.
5) Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de
um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e
detalhado conhecimento.
6) Expost-Facto: quando o “experimento” se realiza depois dos fatos.
7) Pesquisa-Ação: quando concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema
coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da
situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.
8) Pesquisa-Participante: quando se desenvolve a partir da interação
entre pesquisadores e membros das situações investigadas.
EM RELAÇÃO À NATUREZA:
1) Básica: objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da
ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses
universais.
2) Aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos
à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses
locais.
EM RELAÇÃO À ABORDAGEM DO PROBLEMA:
1) Quantitativa: supõe que o objeto de estudo pode ser quantificável, ou
seja, utiliza números para categorizar e analisar as informações
coletadas. Utiliza-se de técnicas estatísticas (percentil, média, mediana,
desvio-padrão, coeficiente de correlação, ANOVA, dentre outros.)
2) Qualitativa: supõe a existência de uma relação subjetiva entre
pesquisador e objeto/fenômeno de estudo que não pode ser abordada
através de números exclusivamente. Recorre à interpretação dos
fenômenos e à percepção do pesquisador para realizar a descrição dos
mesmos, através preferencialmente, do processo indutivo, ou seja, da
singularidade para a pluralidade.
Estas classificações servirão, fundamentalmente, para situar seus leitores
(além de você mesmo) em relação à maneira que o tema problema será
contextualizado, tanto no que se refere aos métodos, quanto às estratégias a
serem adotadas na fase final do processo de pesquisa, de redação do relatório,
seja lá qual o formato (monografia, artigo, dissertação, tese, dentre outros)
adotado.
É esperado que sua pesquisa seja passível de ser classificada em mais de
uma das classificações aqui apresentadas. Na metodologia você deverá
explicitar pelo menos duas destas possíveis classificações.
O PROCESSO DE PESQUISA OU O PROJETO DE PESQUISA?
Utilizaremos aqui muito mais a expressão “processo de pesquisa” do que
“projeto de pesquisa”, primeiro porque este faz parte daquele e
principalmente porque existe uma tendência de muitos jovens pesquisadores a
pensarem o projeto de pesquisa como algo estanque ou auto-suficiente e até
mesmo como uma etapa burocrática e maçante da pesquisa científica. Nada
mais enganoso.
O processo de pesquisa se dá através da reflexão crítica na tentativa de
resolver um problema ou compreender um fenômeno. Lembre-se: O projeto de pesquisa é sua pesquisa em fase embrionária. Para isto, é necessário um
sistemático planejamento que pode ser estruturado em 10 etapas, são elas:
1) escolha do tema-problema;
2) revisão de literatura;
3) justificativa;
4) hipótese;
5) determinação de objetivos;
6) metodologia;
7) coleta e tabulação dos dados;
8) análise e discussão dos resultados;
9) conclusão da análise dos resultados;
10) redação e apresentação do trabalho científico (monografia,
dissertação ou tese).
Tal estrutura não é rígida, apesar de aplicável à maioria dos tipos de pesquisa.
Várias destas etapas, muitas vezes acontecem simultaneamente. São
possíveis algumas variações na nomenclatura que aqui adotamos, mas o mais
importante é que você apreenda a lógica da pesquisa e seu aspecto
processual. É impossível fazer uma pesquisa no afogadilho das horas; uma
boa pesquisa exige tempo e dedicação para acontecer satisfatoriamente.
Uma boa metáfora para elucidar isto é pensar o processo da pesquisa científica
organicamente. Um projeto de pesquisa ao ser executado sistemicamente
amadurece (processualmente) até a redação do relatório final nos formatos de
monografia ou artigo. Pense em uma semente de uma palmeira que germina
em um pequeno vaso. A frágil planta que nasce já é uma palmeira. Ou seja, o
projeto de pesquisa é a fase inicial da construção do conhecimento. Nesta fase
temos um mundo de possibilidades e dúvidas, que ao serem tratadas
adequadamente, organicamente se transformarão em uma jovem planta; esta
crescerá até se tornar uma frondosa palmeira. Assim, até mesmo a
(supostamente) mais controlada pesquisa experimental acontece. Os métodos
adotados podem ser mais rígidos ou mais flexíveis, mas o conhecimento
científico usualmente cresce organicamente como a palmeira, célula por célula,
problema por problema. Aprofundaremos esta questão no Bloco II deste livro.
ETAPA 1
1) A ESCOLHA DO TEMA- PROBLEMA
O QUE VEM PRIMEIRO? O OVO OU A GALINHA?
A pergunta acima é bem ilustrativa sobre o que vem primeiro, o tema-problema
ou a revisão da literatura? Se por um lado é claro que um tema-problema não
emerge do nada, uma vez que o pesquisador deve ter algum conhecimento
preliminar sobre o tema genérico que pretende pesquisar, é também
impossível que o mesmo domine absolutamente todo o conhecimento existente
sobre um assunto qualquer.
Geralmente o tema-problema é identificado a partir da área de interesse do
pesquisador, de suas afinidades e interesses em um assunto qualquer, sendo
assim, é evidente que alguma coisa o mesmo já conhece sobre o tema
escolhido. Por exemplo, se um pesquisador tem como interesse investigativo o
efeito da atividade física na melhoria da qualidade de vida, é bastante provável
que ele tenha algum conhecimento sobre fisiologia do exercício e sobre o que
venha a ser qualidade de vida. É a partir deste conhecimento preliminar que
usualmente é identificado o tema-problema, entretanto, quanto mais
conhecimentos sobre fisiologia e qualidade de vida o pesquisador possuir mais
fácil ficará identificar um bom tema-problema. Então quanto mais você ler sobre
o seu tema de interesse mais fácil ficará para você encontrar um bom tema-
problema.
Como identificar um bom tema-problema?
Um bom tema-problema é aquele potencialmente capaz de ser relevante na
esfera da pesquisa, do ensino e da extensão. Vejamos porque. Admitamos o
tema-problema: “a prática regular de hidroginástica melhora a qualidade de
vida de idosos?” Trata-se de um bom tema-problema ou não? É provável que a
maioria dos leitores responda que sim. Mas na realidade esta resposta não é
tão simples assim. Um tema-problema pode ser bom ou ruim. Isto dependerá
essencialmente de como o pesquisador o tratará. Se o pesquisador tiver como
objetivo provar que a hidroginástica é uma boa atividade para o sistema
cardiovascular dos idosos ele estará corroborando, ou seja, confirmando o
resultado já obtido em outras pesquisas similares. E isto é bom, pois afinal
estará contribuindo para a consolidação deste conhecimento na comunidade
científica. Se tal conhecimento científico, fruto do processo de investigação for
adequado para um formato pedagógico, o mesmo poderá ser relevante na
formação de vários profissionais tais como educadores físicos, fisioterapeutas,
biomédicos, médicos, dentre outros. Finalmente, se estes profissionais, em
seus trabalhos cotidianos ao aplicarem este conhecimento, conseguirem de
alguma maneira transformar a vida destas pessoas para melhor, bingo! O
tema-problema e o tratamento dado ao mesmo terá sido bom.
Sem correr o risco de sermos simplistas, é possível afirmar que conhecimento
bom é aquele que é bom para todos. Ingenuidade? Não. Posicionamento
político. A construção do conhecimento científico é permanentemente
permeada por questões políticas, éticas e religiosas. Defendemos a
usualmente chamada ciência humanitária, ou seja, aquela que é
coletivamente construída e potencialmente capaz de ser usufruída por toda a
humanidade. Esta discussão não tem fim, para um aprofundamento
recomendamos a leitura do livro de J. Bronowski, Ciência e valores humanos.
Aprofundaremos este tema no Bloco II deste livro. Devemos pensar nestas
questões para aumentarmos as chances de termos um bom tema problema.
Reflita sobre a questão:
“Estima-se que mais de um trilhão de dólares são gastos anualmente no
mundo com a chamada indústria da guerra e com pesquisas para desenvolver
novas armas.”
Dicas para você escolher um bom tema-problema
Podem ser vários os motivos que te influenciarão na escolha de um tema-
problema qualquer, entretanto, existem alguns critérios básicos para que esta
escolha seja a melhor possível, vejamos alguns deles:
1) Você deve ser apaixonado (a) por aquele assunto! OK! A expressão
apaixonado (a) pode parecer um exagero, mas quanto mais você se
interessar por um assunto (tema) tanto melhor e mais fácil será a
identificação do tema-problema. O tema-problema deve te entusiasmar e
muito provavelmente nas suas horas de lazer, lá estará você a ler
diletantemente sobre o mesmo. Como diz o livro do escritor Roberto
Freire: “Sem tesão não há solução”!
2) Outro critério importante para a escolha de um bom tema-problema é o
tempo que você dispõe para estudá-lo. Afinal nada mais frustrante do
que ter um belo tema, mas não ter tempo suficiente para conseguir
realizá-lo. Por exemplo, as chamadas pesquisas longitudinais, ou seja,
aquelas que demandam muitas vezes anos (ou décadas) de
investigação não são cabíveis em um trabalho de conclusão de curso (o
famoso TCC!) de um curso de especialização que dura, em média, um
ano letivo.
3) Por fim, é importante que você reflita sobre uma questão geralmente
melindrosa na escolha do tema: o possível orientador. Você deve evitar
o risco de se estressar além do esperado, por isto, você deve ter certo
grau de empatia com o seu potencial orientador. Apesar de óbvio, nunca
se esqueça: um bom orientador é aquele que te orientará ao longo do
processo de pesquisa e não aquele que te conduzirá durante tal
processo! Orientar é diferente de conduzir! Claro que este processo é
também um trabalho coletivo, mas tenha sempre em mente que é você
que escolhe o tema-problema, contando, muitas vezes, com a ajuda de
seu possível orientador e de outras pessoas.
É muito comum a dificuldade que vários alunos possuem na identificação de
um tema-problema, mas tal dificuldade tende a desaparecer à medida que você
se aprofunde naquele tema de interesse. Ou seja, à medida que você lê livros e
artigos sobre um assunto, naturalmente dúvidas surgirão. Isto é um bom sinal!
As dúvidas que encontramos ao ler sobre um assunto qualquer são como
dádivas para nós pesquisadores! Não existiriam pesquisas se não fossem as
dúvidas que identificamos.
Mas o que é a dúvida?
A dúvida na pesquisa científica é uma condição necessária, ou seja, a dúvida é
a materialização do problema que pretendemos elucidar e/ou compreender. A
dúvida, portanto, denota uma característica inerente ao ser humano: a
carência! O ser humano ao se saber carente de um conhecimento, se debruça
sobre o mesmo, estudando-o e pesquisando-o. Pesquisamos porque somos
carentes do conhecimento, ou seja, sentimos falta algum esclarecimento para
melhor compreendermos sobre aquele tema e assim compreendermos melhor
o nosso mundo.
Usando uma metáfora: a dúvida na pesquisa científica é como a fome, é ela é
nos leva a comer, ou seja, é ela que coloca o pesquisador em ação. Nesta
metáfora o ato de comer significa nutrir-se. Nutrir-se de conhecimentos. Tal
processo se dá através de uma boa revisão de literatura. É o que agora
discutiremos.
ETAPA 2
2) REVISÃO DA LITERATURA
Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior
A revisão da literatura é a etapa da sistematização dos conhecimentos
existentes sobre um tema qualquer. Nela você deve buscar o que há de mais
atualizado sobre seu tema. Para facilitar esta etapa da sua pesquisa existem
algumas estratégias que são importantes:
1) Recorra preferencialmente a artigos e livros atualizados sobre o seu
tema. Por exemplo, se uma revisão qualquer tiver vinte citações
diferentes, é esperado que a maioria delas tenha sido publicada nos
últimos dez anos. O motivo desta sugestão é simples: o conhecimento
científico avança, ele nunca está acabado, portanto, em 10 anos muito
conhecimento pode ter sido construído e aprofundado. Claro que existem
os clássicos; um livro ou artigo clássico é aquele que possui abrangência
e excelência naquela área, de modo que tendem a ser atemporais.
2) Na revisão da literatura procure mostrar o que se sabe sobre o tema que
você escolheu. Por exemplo, para o tema-problema “o impacto da prática
regular de hidroginástica na melhoria da qualidade de vida de idosos”, o
pesquisador deverá realizar uma revisão de literatura que contenha uma
sólida fundamentação sobre “qualidade de vida”, as diferentes
metodologias e instrumentos para aferi-la e sobre as adaptações
fisiológicas e/ou biomecânicas que serão utilizadas, como elementos a
serem testados, tais como capacidade cardiopulmonar ou densidade
óssea respectivamente. É importante que na revisão da literatura sejam
destacados os diferentes entendimentos que diferentes autores possuem
sobre o tema, para isto procure identificar tensões e aspectos polêmicos
que constituem pontos de debates na comunidade científica. Se você,
neste processo, identificar alguma lacuna ou aspecto ainda não
esclarecido sobre seu tema, analise se este pode ser seu tema-
problema. É muito comum que a consolidação do tema-problema de dê
nesta etapa de revisão da literatura. Evite citar ostensivamente apenas
um autor, isto pode sinalizar para seus leitores, que você leu apenas os
trabalhos deste sujeito.
3) Use as novas tecnologias a seu favor. A internet veio para facilitar
enormemente o acesso a artigos e até mesmo a compra de livros
específicos que às vezes você não encontra nas livrarias de sua cidade.
Por exemplo, uma boa base de dados no Brasil, está disponível no portal
de periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior), disponível no endereço:
http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp . Neste endereço
é possível encontrar uma quantidade enorme de publicações científicas
nas diferentes áreas de conhecimento. Não obstante, é comum que o
volume de publicações encontradas seja enorme, então é importante
estabelecer critérios de filtragem das informações, para que a
operacionalização do trabalho seja possível. Por exemplo, em uma
pesquisa sobre “qualidade de vida” o pesquisador poderia adotar como
critério de filtragem as técnicas metodológicas utilizadas, tais como, quais
questionários foram utilizados, se eram validados ou não e qual
população foi objeto do estudo.
4) Faça o fichamento dos artigos e livros que você leu; nele você deverá
anotar as informações sobre dados gerais da obra, tais como: nome do
(s) autor (es), título do artigo, nome do periódico, número, volume e
número da página inicial e final. Uma citação é a menção, no texto, de
uma informação extraída de outra fonte. No fichamento tome nota de
citações da obra que no seu entendimento possam ser usadas na
redação de seu trabalho. Uma boa revisão de literatura não deve ser uma
colcha de retalhos repleta de citações em seqüência, para evitar isto faça
elos entre as citações, identifique e ressalte aspectos importantes para a
sua pesquisa.
ETAPA 3
3) JUSTIFICATIVA
Vendendo o seu peixe!
Na justificativa, você deverá mostrar o porquê de sua pesquisa. Defenda a sua
idéia e a relevância de seu projeto, mostre que seu tema-problema é
importante e procure elucidar as razões que o levaram a escolhê-lo. Destaque
as nuance entre o que você está propondo e os trabalhos que já existem.
ETAPA 4
4) HIPÓTESE
A hipótese é uma afirmação que o pesquisador pretende provar; neste sentido
faz referência a uma verdade provisória que explica um fato ou fenômeno e
que será submetida ao crivo da investigação científica. Mas vejamos uma
maneira simples de obtermos uma hipótese. O exemplo utilizado no item 1
sobre o tema-problema: “A prática regular de hidroginástica melhora a
qualidade de vida de idosos?” pode ser facilmente convertido em uma hipótese
através da simples retirada do ponto de interrogação, assim: “A prática regular
de hidroginástica melhora a qualidade de vida de idosos.” Conforme já dizemos
trata-se de uma afirmação.
Um erro bastante corriqueiro em projetos de pesquisa é a usual confusão entre
hipótese e pressuposto teórico. A hipótese não deve ser uma afirmativa que já
seja um conhecimento categórico relativo ao tema problema. Por exemplo, a
afirmação “exercícios físicos aeróbios diários melhoram a capacidade
cardiopulmonar” apesar de verdadeira, não é uma boa hipótese, uma vez que o
conteúdo de tal assertiva já faz parte do corpo teórico de conhecimentos na
área da saúde, ou seja, trata-se de um pressuposto teórico.
ETAPA 5
5) DETERMINAÇÃO DE OBJETIVOS
A identificação clara dos objetivos é fundamental no processo da pesquisa
científica. Recorrendo a uma metáfora: um objetivo bem definido é a coluna
vertebral de seu projeto de investigação. Através deles marcamos o território a
ser explorado e focamos os raciocínios que serão utilizados.
É comum a utilização de um objetivo geral e de objetivos específicos. Vejamos
as diferenças entre ambos.
No objetivo geral você deve deixar claro aquilo que você pretende com a
realização de sua pesquisa. Vale chamar a atenção para uma confusão
comum: objetivo geral não é o que você pretende realizar (isto seria a
metodologia) e sim o que você espera deste seu realizar, qual o fruto de sua
pesquisa.
Uma dica importante é o uso do tempo verbal adequado e os chamados
estágios cognitivos da atividade intelectual. O verbo deve estar
preferencialmente no infinitivo (exemplos: investigar, compreender, analisar,
medir, etc.).
Os estágios cognitivos classicamente aceitos para a atividade intelectual são:
a) O do conhecimento
b) O da compreensão
c) O da aplicação
d) O da análise
e) O da síntese
f) O da avaliação
Vejamos mais detalhadamente:
a) Estágio do conhecimento: refere-se à primeira identificação de um
objeto ou fenômeno de estudo. Neste usamos verbos como classificar,
conhecer, relatar, identificar, descrever, etc.
b) Estágio da compreensão: pressupõe o estágio anterior e refere-se ao
conjunto das características gerais que formam um conceito e que são
os atributos do objeto de estudo. Neste estágio usamos os verbos:
compreender, deduzir, demonstrar, interpretar, etc.
c) Estágio da aplicação: pressupõe os estágios anteriores e usamos os
verbos: organizar, desenvolver, aplicar, selecionar, etc.
d) Estágio da análise: mais complexo que os anteriores, onde procuramos
conhecer a natureza, as proporções, as funções e as relações das
variáveis escolhidas para a pesquisa. São usados os verbos: analisar,
provar, investigar, diferenciar, etc.
e) Estágio da síntese: pressupõe os estágios anteriores; trata-se de uma
ação integradora a respeito de análises pontuais anteriormente
realizadas. Os verbos mais utilizados são: esquematizar, propor,
sintetizar, documentar, especificar, etc.
f) Estágio da avaliação: Em tese, o mais complexo de todos, uma vez
que pressupõe todos os anteriores. Usualmente são usados os verbos:
avaliar, decidir, medir, selecionar, etc.
Vejamos um exemplo: Admitamos que um pesquisador tenha em seu projeto
de mestrado enunciado a hipótese: “a ingestão de 200 gramas diários de
mamão é eficaz na prevenção da gastrite”. Para transformarmos tal hipótese
em objetivo basta colocar um dos verbos citados nos estágios cognitivos no
início da hipótese. Ou seja, teríamos, por exemplo, como objetivo: “relatar que
a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção da gastrite”.
Ou “analisar se a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na
prevenção da gastrite”. Este último exemplo é mais complexo que o anterior.
Assim, concluímos que o verbo adequado sinaliza o tipo de abordagem que
será utilizada na pesquisa.
Os objetivos específicos por sua vez são os desdobramentos naturais do
objetivo geral. É o clássico “vamos por partes”; opção muitas vezes óbvia dada
à comum dificuldade de atuarmos no todo. O exemplo de objetivo geral
“analisar se a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção
da gastrite” provavelmente levaria o pesquisador aos seguintes objetivos
específicos:
a) “Compreender os eventos bioquímicos das células de revestimento do
estômago nas diversas condições de acidez e alcalinidade”;
b) “Identificar os princípios ativos do mamão que interagem com as células
do estômago”;
c) “Analisar o nível de reconstrução das lesões estomacais após a ingestão
sistemática de 200 gramas diários de mamão”.
É comum que cada um destes objetivos específicos evoluam processualmente
para um capítulo na redação da dissertação de mestrado deste pesquisador.
ETAPA 6
6) METODOLOGIA
Nesta etapa você mostrará como será executada a pesquisa e o design
metodológico que adotará. É na metodologia (ou procedimentos, como alguns
preferem) que você deverá descrever todas as atividades práticas necessárias
para obter as informações necessárias (os dados) para cada um dos objetivos
específicos de sua pesquisa.
Uma boa metodologia é aquela que descreve suficientemente bem os
procedimentos técnicos e operacionais da pesquisa, de modo que ela (a
pesquisa) possa ser repetida por outro pesquisador, a partir das informações
contidas na mesma (na metodologia). A expressão design metodológico se
refere ao tipo de pesquisa, ou seja, será uma pesquisa qualitativa, quantitativa,
descritiva, estudo de caso, exploratória, dentre vários outros já explicados
anteriormente. Descreva a amostra que você utilizará, os critérios utilizados
para defini-la e a porcentagem da mesma em relação a população pesquisada.
Informe sobre como será realizada a coleta dos dados, quais os instrumentos
utilizados: questionários, entrevistas, observação. Descreva como será
realizada a tabulação dos dados, e como os mesmos serão tratados, por
exemplo, você fará a análise do discurso que idosos fazem sobre sua
percepção de qualidade de vida ou realizará um tratamento estatístico
correlacionando duas variáveis quaisquer. Se for cabível, diga a margem de
precisão que será adotada em sua pesquisa.
Tipos de Amostras
Julgamos ser pertinente um aprofundamento relativo aos tipos de amostra,
classicamente elas são categorizadas em dois tipos: as não-probabilísticas e
as probabilísticas, sendo que estas são realizadas por sorteio.
1) Amostras não-probabilísticas podem ser:
amostras acidentais: compostas por acaso, com pessoas que vão
aparecendo;
amostras por quotas: diversos elementos constantes da
população/universo, na mesma proporção;
amostras intencionais: escolhidos casos para a amostra que
representem o “bom julgamento” da população/universo.
2) Amostras probabilísticas podem ser:
amostras casuais simples: cada elemento da população tem
oportunidade igual de ser incluído na amostra;
amostras casuais estratificadas: cada estrato, definido previamente,
estará representado na amostra;
amostras por agrupamento: reunião de amostras representativas de
uma população.
Até esta Etapa 6 do processo de pesquisa temos o que chamamos de
PROJETO DE PESQUISA, acrescido apenas de um CRONOGRAMA, que
nada mais é do que a adequação das etapas do seu projeto ao calendário.
Nele você deve estimar o tempo necessário para cada fase, sendo possível
adaptações que quase sempre acontecem.
ETAPA 7
Desta etapa em diante você está na fase executiva de seu projeto,
ou seja, realizando a coleta e tabulação dos dados, apresentando-
os e discutindo-os, com vistas à redação final de sua pesquisa.
7) COLETA E TABULAÇÃO DOS DADOS
A coleta de dados refere-se ao processo de aquisição informações e dados
necessários para a realização da pesquisa de acordo com o plano lógico
estabelecido na metodologia.
Nas pesquisas de campo e de laboratório a coleta de dados acontece de
acordo com o seguinte padrão:
Variáveis e objetivos claramente delimitados.
Montagem dos instrumentos utilizados na coleta de dados.
Seleção dos sujeitos / amostra
Coleta de dados propriamente dita.
Tabulação adequada dos dados coletados para análise posterior. A
tabulação dos dados deve ser estruturada de acordo com as
possibilidades e especificações do instrumento utilizado. As planilhas
eletrônicas são um bom começo para a tabulação dos dados, uma vez
que a maioria dos softwares utilizados para o tratamento dos dados é
compatível com o formato de arquivo gerado pelas mesmas.
Coleta de dados em pesquisas bibliográficas
A coleta de dados na pesquisa bibliográfica está presente em todo processo de
pesquisa. Uma pesquisa puramente bibliográfica de qualidade, ao contrário do
pensamento de alguns pesquisadores, é tão importante quanto uma pesquisa
de campo ou laboratório, também de qualidade.
A pesquisa bibliográfica pode trazer à tona uma nova e inédita maneira de
apreender aquilo que já foi publicado, mas, para isto, exige o rigor na leitura de
textos técnicos e acadêmicos, que possuem expressões e jargões específicos.
Tais textos têm como objetivo tácito, a circulação do conhecimento científico
construído. Outro procedimento importante a ser adotado na leitura de textos
acadêmicos e científicos é o recorrente uso do dicionário. Use e abuse do
dicionário; ele facilitará a sua compreensão destes textos.
ETAPA 8
8) ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise e discussão dos resultados é provavelmente o momento mais
profícuo da pesquisa, isto porque é na análise e discussão que você poderá
mostrar o seu arsenal de conhecimentos, sua capacidade de fazer
conexões lógicas e reflexões que emerjam da mediação entre a teoria e os
fatos explicitados pelos dados.
A análise deve ser realizada tendo como foco os objetivos da pesquisa,
num esforço racional de identificar provas para a eventual confirmação ou
refutação da(s) hipótese(s).
ETAPA 9
9) CONCLUSÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS
Nesta etapa você já tem condições de sintetizar os resultados obtidos com a
pesquisa. Deverá explicitar se os objetivos foram atingidos, se a(s)
hipótese(s) foram confirmadas ou rejeitadas. E, principalmente, deverá
ressaltar a contribuição da sua pesquisa para o meio acadêmico ou para o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
ETAPA 10
10) REDAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO CIENTÍFICO (ARTIGO, MONOGRAFIA, DISSERTAÇÃO OU TESE)
Nesta etapa você deverá redigir seu relatório de pesquisa: artigo,
monografia, dissertação ou tese. Azevedo (1998, p.22) argumenta que o
texto deverá ser escrito de modo apurado, isto é, “gramaticalmente
correto, fraseologicamente claro, terminologicamente preciso e
estilisticamente agradável”. Normas de documentação da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) deverão ser consultadas visando
à padronização das indicações bibliográficas e a apresentação gráfica do
texto. Normas e orientações do próprio Curso de Pós-Graduação
também deverão ser consultadas.
Um aspecto importante para uma boa redação é o equilíbrio entre a
chamada linguagem acadêmica e a clareza daquilo que se pretende
dizer. Evite ser prolixo e evite frases rebuscadas que na maioria das
vezes dificultam o entendimento do texto.
Vejamos agora as principais características de cada um destes formatos
redacionais.
Artigo
O formato de artigo tem como objetivo divulgar com agilidade os
resultados de uma pesquisa científica. Trata-se de um texto integral que
usualmente possui entre 4 e 12 páginas, dependendo das normas do
periódico onde será publicado. Possui a seguinte estrutura:
Título (subtítulo);
Autor (es);
Instituições nas quais os autores trabalham;
Resumo (Abstract);
Introdução;
Texto do artigo (usualmente composto por subtítulos);
Conclusão;
Referências bibliográficas (seguindo as normas da ABNT).
Monografia
A monografia é um texto sobre um único tema (mono = um; grafia= escrita) que
descreve o processo de pesquisa científica da identificação do tema problema,
da revisão da literatura, dos objetivos e hipóteses, da metodologia, até a
apresentação e discussão dos resultados e finalmente a conclusão. Por
exemplo, podemos conceber uma monografia com a seguinte estrutura:
Introdução – Nesta deve constar um mapeamento contextualizador
sobre o assunto e o delineamento do tema problema. Apresente na
Introdução a justificativa e os objetivos de sua pesquisa. Descreva sobre
a importância da metodologia adotada.
Corpo – São os capítulos de sua monografia, usualmente são
necessários tantos capítulos quantos forem os objetivos específicos.
Aqui você deverá expor os dados coletados e os resultados do
tratamento lógico e racional que foi dado aos mesmos. Neta fase é
importante que você demonstre as relações existentes entre os
resultados e a teoria. Faça reflexões, se possível refute ou corrobore
resultados de outras pesquisas, defenda suas idéias tendo como suporte
a lógica e os resultados.
Conclusão – Aqui você deve sintetizar os resultados e apontar (se for o
caso) a necessidade da realização de mais pesquisas sobre esta
temática. Vale lembrar que a síntese emerge de uma reflexão pessoal
sobre os resultados obtidos.
Dissertação
A dissertação é usualmente uma monografia científica realizada para obtenção
do título de Mestre que é submetida a avaliação de uma banca examinadora.
Sendo assim, estruturalmente trata-se de uma monografia onde se pressupõe
um aprofundamento do tema de investigação, sendo orientada por um Doutor
da área de investigação.
Tese
A tese é necessária para obtenção do título acadêmico de Doutor, sendo
também submetida a uma banca examinadora. É esperado que uma tese
apresente algo de inédito para a área de pesquisa, contribuindo para o avanço
do conhecimento na mesma. Na tese você deverá mostrar amplo domínio
sobre os conteúdos da área, de seus diferentes métodos e alta capacidade de
síntese em relação à especificidade do conhecimento.
Vejamos agora a estrutura de apresentação formal de monografias,
dissertações e teses. A ordem dos elementos que constituintes é:
Capa (obrigatório)
Folha de rosto (obrigatório)
Errata
Folha de aprovação (obrigatória em trabalhos submetidos a uma banca)
Dedicatória
Agradecimentos
Epígrafe
Resumo (obrigatório para monografias, dissertações e teses)
Abstract (obrigatório para dissertações e teses)
Listas
Sumário (obrigatório)
Elementos textuais (obrigatório)
Referências (obrigatório)
Glossário
Apêndice
Anexos
Índice
Capa (obrigatório)
É importante ressaltar que sempre devem ser seguidas as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), muito especialmente nos
trabalhos acadêmicos, em relação aos diferentes tipos de citações e
elaboração de referências bibliográficas. Tais aspectos são normativos e
enquanto normas que são, precisam ser rigorosamente seguidas.
Finalizando o BLOCO I
Com este BLOCO I você aprendeu os fundamentos que norteiam o processo
da pesquisa científica. Da identificação do tema problema até a estrutura do
relatório da pesquisa realizada nos formatos de artigo, monografia, dissertação
ou tese.
É importante repetir que existem variações ligadas às diferentes possibilidades
de planejamento, execução e finalização do processo de pesquisa. Você
poderá até mesmo inovar em cada uma destas etapas, desde que sejam
garantidos os princípios inerentes à racionalidade, objetividade e clareza
naquilo que você propõe. A pluralidade metodológica é sempre bem vinda, uma
vez que amplia as perspectivas de abordagens sobre os objetos/fenômenos de
pesquisa. São esperadas dúvidas! Afinal, são elas que te motivarão a um
aprofundamento em pontos específicos dos conteúdos aqui trabalhados.
Recorra aos tutores e aos seus orientadores, eles estão preparados para
ajudá-lo para uma melhor compreensão do processo da pesquisa científica.
É comum encontrarmos alunos que relatam a dificuldade “em colocar no papel”
suas idéias. Quanto a isto não temos a menor dúvida: Comece! Não tenha
medo de colocar no papel suas idéias, suas propostas e porque não dizer, seus
sonhos, relativos à sua pesquisa científica. Lembre-se: Todos nós erramos
quando elaboramos nossa primeira pesquisa, tais erros são como dádivas que
nos ajudam nesta aventura de construir o saber.
BLOCO IICompreender as bases do processo de construção do conhecimento é o objetivo da chamada Teoria do Conhecimento ou Epistemologia.
Neste BLOCO II você deverá identificar e explicar os diferentes tipos de conhecimento, além das peculiaridades do conhecimento científico. Deverá também compreender como se dá o processo de construção e validação do conhecimento científico à luz das principais concepções metodológicas da atualidade.
TIPOS DE CONHECIMENTO
O que é conhecimento?
Segundo o Dicionário Houaiss trata-se do “ato ou a atividade de conhecer,
realizado por meio da razão e/ou da experiência”. Tal definição é aplicável
a vários tipos de conhecimento uma vez que desde os primórdios da
humanidade o homem acumula conhecimentos construídos através da
observação dos fenômenos da natureza, tais como as estações do ano, a
época das chuvas e do plantio, as fases da lua e sua influência no cultivo,
a posição das estrelas no céu, etc. Os quatro tipos de conhecimento são:
o popular, o filosófico, o teológico e o científico. A principal diferença entre
estes tipos de conhecimento se refere às etapas que delineam o processo
de construção de cada tipo de conhecimento.
O conhecimento Popular
O conhecimento popular ou vulgar é aquele que se constrói cotidianamente
na relação que o ser humano estabelece com as coisas ou fenômenos
com os quais este interage. Por exemplo, há alguns milhões de anos,
nossos ancestrais aprenderam com a experiência que o fogo poderia
servir para afugentar animais ferozes. Tal conhecimento é considerado
verdadeiro através de afirmações do tipo “porque funciona”, “porque vi” ou
“porque sempre foi assim”; tais justificativas, entretanto, são superficiais,
subjetivas e acríticas, uma vez que a afirmação “o fogo afugenta animais
ferozes” para estar certa dependeria de um aprofundamento de questões
relativas à intensidade do fogo e à ferocidade dos animais.
O conhecimento Filosófico
O conhecimento filosófico pode ser caracterizado pelo uso sistemático da
razão no questionamento lógico e eventual elucidação de problemas
ligados à conduta humana, através de hipóteses oriundas da experiência
e não da experimentação. Este não pode ser verificável uma vez que as
hipóteses filosóficas não são submetidas a testes de observação. O
conhecimento filosófico procura a compreensão de aspectos universais
da existência humana através da reflexão, podendo contribuir para a
melhor compreensão do uso ético de outros tipos de conhecimento, como
o religioso e científico.
O conhecimento teológico
O conhecimento teológico ou religioso adota como elemento fundamental de
seu processo de construção o uso de dogmas de natureza sobrenatural, que
são considerados infalíveis e, portanto não passíveis de eventuais discussões.
Tal conhecimento é valorativo e pressupõe um ato de fé, sem o qual este se
torna impossível. Como exemplo, podemos citar a clássica discussão entre os
criacionistas e evolucionistas. Os criacionistas, formados por grupos de
pesquisadores religiosos ou por religiosos pesquisadores, advogam a partir de
textos sagrados, que o homem seja fruto da obra criadora de um Deus, ao
passo que os evolucionistas, formados por grupos de pesquisadores laicos,
defendem que o homem seja fruto de um processo evolutivo sem fim. Tal
polêmica tem como ponto nevrálgico o entendimento que cada uma das partes
tem sobre o que venha a ser evidência científica.
O conhecimento científico
O conhecimento científico possui características peculiares que o distingue dos
demais tipos de conhecimento, vejamos mais detalhadamente cada uma delas:
1) O conhecimento científico é factual, ou seja, possui como objeto de estudo a
realidade dos fatos.
2) É um conhecimento sistemático uma vez que é construído uma rede de
idéias articuladas a partir de princípios da lógica.
3) É um conhecimento verificável, onde só hipóteses provadas conseguem o
status de conhecimento científico.
4) É um conhecimento falível, onde não é cabível a idéia de conhecimento
absoluto e acabado, ou seja, à medida que uma ciência avança seu corpo
teórico vai se transformando. O conhecimento científico não é a verdade última
e cabal sobre um fenômeno qualquer.
O QUE É CIÊNCIA?
Muitos estudiosos em epistemologia se debruçaram sobre a árdua tarefa de
definir a ciência; a complexidade de tal tarefa é conseqüência principalmente
das bases normativas da construção do conhecimento ao longo da história. O
conceito tradicional de ciência tem origem em Platão e Aristóteles na Grécia
antiga; para eles ciência é o oposto de opinião, uma vez que nesta, falta a
garantia sobre sua validade e naquela é imprescindível a existência da própria
validade. Por exemplo, podemos ter a opinião de que a ingestão de um
determinado alimento seja prejudicial aos rins, ou seja, não temos provas e
evidências sobre tal afirmação. Caso tivéssemos estas provas e evidências,
obtidas através de pesquisas em fisiologia, tal afirmativa seria científica.
Com o advento da ciência moderna a conceituação de ciência ficou mais
complexa, dado que não entendemos o conhecimento científico como absoluto
e infalível. Situamos, no contexto neste livro, a ciência moderna com o
surgimento e consolidação das ciências sociais e da física quântica nos
séculos XVIII e XIX, o que colaborou em muito para o aprimoramento do
conceito de ciência. De fato, ao compreendermos que ele é relativo e falível,
abrimos um enorme leque de possibilidades e entendimentos sobre o que é
ciência; vejamos algumas possíveis definições:
“Ciência é o conhecimento que, em constante interrogação de seu método,
suas origens e seus fins, procura obedecer a princípios válidos e rigorosos,
almejando especialmente coerência interna e sistematicidade”. (Dicionário
Houaiss).
“Ciência é a observação sistemática dos eventos naturais e as condições
necessárias para descobrir fatos sobre eles e para formular leis e princípios
baseados nestes fatos.” (Academic Press Dictionary of Science & Technology).
“A ciência é uma atividade intelectual realizada por seres humanos que está
desenhado para descobrir informações sobre o mundo natural em que vivem
os seres humanos e para descobrir as formas em que esta informação possa
ser organizada em padrões significativos. A principal finalidade da ciência é
recolher fatos (dados). O objetivo final da ciência é para discernir o que existe
entre ordem e entre os vários fatos”. (Dr. Sheldon Gottlieb).
“Ciência é aquele conhecimento que inclua, em qualquer forma ou medida,
uma garantia da própria validade”. (Dicionário de filosofia, Abbagnano, N.)
Vejamos agora algumas possíveis definições mais polêmicas sobre o que é
ciência:
“Ciência é a crença na ignorância dos peritos. Religião é a cultura da fé, ciência
é a cultura da dúvida”. (Richard Feynman).
“O combustível da ciência é a ignorância. A ciência é como um forno que deve
ser alimentado com troncos das florestas da ignorância que nos rodeiam. No
processo, o desmatamento a que chamamos conhecimento se expande, mas
quanto mais ele se expande de mais ignorância precisará Um verdadeiro
cientista está entediado pelo conhecimento, é este ataque à ignorância que o
motiva. A floresta é sempre mais interessante que a clareira”. (Matt Ridley).
“O verdadeiro propósito do método científico é certificar se a Natureza não
tenha enganado em pensar que você sabe algo que, na verdade, não saiba”.
(Robert M. Pirsig).
“Ciência é o fruto possível na seara dos céticos, sendo uma maneira racional e
carente de evidências, de interpretar o mundo”. (Guanis Vilela Junior).
“Acho que vamos ter de nos habituarmos à idéia de que não devemos olhar
para a ciência como um "corpo de conhecimentos", mas sim como um sistema
de hipóteses, ou como um sistema de suposições ou antecipações que em
princípio não podem ser justificadas, mas com o qual estamos a trabalhar,
desde que fique de pé para testes, e do qual somos a razão em dizer que
nunca sabemos que elas são "verdadeiras". . . (Karl Popper).
Talvez você se lembre daquela famosa frase: ”as perguntas mais simples são
as mais difíceis de serem respondidas”; “quem somos nós?”; “o que é vida?”; “o
que é ciência?”; “para onde vamos?” É claro que mais importante que tentar
responder a estas questões, talvez seja mais significativa a ação implícita em
cada uma delas, quero dizer, por exemplo, que mais importante que saber o
que a vida, é o viver; que mais importante que saber precisamente o que
ciência, é fazer a ciência. A maioria destas citações nos permite a constatação
de que a ciência exige uma intencionalidade lógica que conduz às diferentes
etapas do processo de investigação científica.
Segundo Trujillo (1974) a logicidade da ciência se dá por meio de um
constructo onde:
A) Seja possível a observação racional;
B) Seja possível a interpretação e explicação dos fenômenos;
C) Seja possível a verificação dos fenômenos, através de experimentação
ou da observação;
D) Seja possível a elaboração de generalizações, princípios e leis.
Assim, podemos constatar que o fazer ciência pressupõe um caminho a ser
percorrido que vai da identificação de uma indagação ou problema; passa pela
compreensão deste problema diante daquilo que se sabe sobre a temática em
questão; lança possíveis explicações sobre este problema (hipóteses); testa
com rigor estas possíveis explicações; estabelece conexões lógicas entre a
teoria e o observado e finalmente, confirma ou não as possíveis explicações
encontradas.
Classificando as ciências
Toda tentativa de classificação parte da definição dos aspectos que nortearão a
mesma. Com as ciências não é diferente, temos a tradicional e conhecida
classificação das ciências biológicas, exatas e humanas, até outras mais
complexas. Vejamos algumas delas.
Auguste Comte, um dos expoentes do positivismo no século XIX, propôs uma
classificação a partir dos conteúdos das mesmas. Para ele as ciências
poderiam ser categorizadas em: matemáticas; físico-químicas; biológicas;
morais (psicologia, história, sociologia e política) e metafísicas.
Mario Bunge, eminente físico e epistemologista argentino, classificou as
ciências, em relação aos conteúdos, como formais (lógica e matemática) e
factuais (física, química, biologia, sociologia, economia, história e ciência
política). As formais são aquelas que dependem essencialmente do significado
de seus termos e de sua estrutura lógica, ao passo que as factuais, são
aquelas que precisam também dos fatos a que se referem.
Separando o joio do trigo...
A criatividade humana de fato não tem fim. Na epistemologia é usual a
terminologia protociência e pseudociência para a delimitação e diferenciação
da chamada ciência real, ou seja, aquela que se submete ao crivo da
experimentação e à busca das evidências (provas) que atestem sua validade.
A protociência refere-se às ciências em sua fase embrionária, ou seja, antes do
surgimento e consolidação do método científico. Usualmente este termo
(protociência) é utilizado em referência a todo conjunto de crenças e teorias
que ainda não foram testados pelo método científico. Historicamente são
exemplos de protociência a alquimia e a astrologia; ambas, ao serem
estudadas sob o rigor do método científico, possibilitaram o surgimento da
química e da astronomia respectivamente.
Uma pseudociência, por sua vez, refere-se às teorias, crenças e métodos que
reivindicam o status de científicas sem aderirem ao método científico, ou seja,
não provam o que propõem e não apresentam evidências plausíveis de sua
validade. Esta questão é polêmica e desperta paixões por todos os cantos. São
consideradas pseudociências: a ufologia, o criacionismo, o efeito lunar, a
terapia do toque, a cientologia, a dianética e até mesmo a homeopatia.
Carnap é pontual nesta questão ao escrever o famoso Princípio da Tolerância:
“Nossa intenção não é elencar proibições e sim convenções, afinal na lógica não há moral. Qualquer um tem a liberdade de construir a sua própria lógica como desejar. Tudo que pedimos é que para que seja possível a discussão, então que os métodos sejam claramente explicados; que ao invés de argumentos filosóficos as regras da sintaxe sejam fornecidas”. (in Logical Syntax, 17).
De fato, como qualquer outro, o jogo científico também precisa de regras
claramente colocadas para que ele aconteça. As regras metodológicas acabam
por se configurar como os elementos delimitadores e norteadores do processo
de construção do conhecimento científico. Veremos a partir de agora, os mais
importantes tipos de métodos e suas características gerais.
Para refletir!Esta é a famosa gravura do pintor espanhol Goya, intitulada “O sono da razão produz
monstros” de 1798.
Faça uma reflexão sobre a mesma
sob o ponto de vista epistemológico.
MÉTODOS CIENTÍFICOS
A palavra método tem sua origem no grego onde met significa através e hodós
significa caminho, ou seja, através de um caminho. Assim, o método refere-se
ao caminho a ser trilhado para a construção do conhecimento científico. Dentre
as várias acepções para método presentes no Dicionário Houaiss (2001) a
mais significativa no contexto deste livro é:
“o somatório de operações e disposições preestabelecidas que garantem o conhecimento, tais como a busca de evidência, o procedimento analítico, a ordenação sistemática que parte do simples para o complexo, ou a recapitulação exaustiva da totalidade do problema investigado”.
É importante que fique claro que não existe ciência sem método e que os
métodos que aqui apresentaremos são os exemplos mais corriqueiros e usuais.
Todos os métodos são passíveis de leituras singulares, ou seja, de adaptações
que emirjam das limitações e demandas do processo de pesquisa em si.
MÉTODO INDUTIVO
O método indutivo é aquele estruturado a partir do processo de indução, ou
seja, a partir de observações singulares e pontuais, permite uma conclusão de
ordem generalizante. Um exemplo clássico é o da observação do comprimento
da orelha dos burros: “O burro 1 possui orelhas grandes”; “o burro 2 possui
orelhas grandes”; “o burro 3 possui orelhas grandes”; logo todos os burros
possuem orelhas grandes! Porque afirmamos com tanta segurança que todos
os burros possuem orelhas grandes? E se existir um burro mutante? Esta
questão não é tão simples de ser respondida. O ser humano evoluiu pensando
indutivamente. Indutivamente acreditamos na regularidade das estações do
ano; isto nos possibilitou planejar a época certa do plantio e da colheita.
Indutivamente acreditamos que no próximo ano tudo continuará sob nosso
suposto controle, por exemplo: trabalhar regularmente; ir para praia no verão;
para as montanhas no inverno; ir ao dentista e ao oftalmologista uma vez por
ano. Indutivamente (pasmem!) até acreditamos que o conhecimento científico é
sempre bom. Um indutivista é aquele que acredita, ou seja, tem fé na
estabilidade dos fenômenos que observa, para ele, a natureza é estável e
previsível. Confortável ou perigoso? David Hume e Karl Popper são dois
pensadores exemplares que se debruçaram sobre esta questão.
MÉTODO DEDUTIVO
O método dedutivo, inicialmente proposto por Descartes, Spinoza e Leibniz, é
estruturado a partir da observação generalizante de um fenômeno ou fato, que
possibilita a construção de conclusões singulares. Por exemplo: “todo homem é
mortal, fulano de tal é humano, logo é mortal”. Aqui as expressões “todo
homem é mortal” e “fulano de tal é humano” são as premissas e a expressão
“logo é mortal” é a conclusão. No método dedutivo a conclusão tem como
finalidade explicitar o conteúdo das premissas. Vejamos mais um exemplo:
“o esporte é socializante (premissa 1),
natação é um esporte (premissa 2),
logo, natação é socializante” (conclusão).
Observe que sendo verdadeiras as premissas, a conclusão também será. Além
disto, a informação contida na conclusão já estava de alguma maneira presente
nas premissas.
MÉTODO HIPOTÉTICO – DEDUTIVO
Proposto por Popper, o método hipotético – dedutivo possui etapas que
passam pela identificação do problema, pela formulação de conjecturas ou
hipóteses que são testadas ou falseadas. Segundo Gil (1999) “falsear
significa tornar falsas as conseqüências deduzidas das hipóteses. Enquanto
no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no
método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas
para derrubá-la”. Tal estratégia epistemológica causa certo estranhamento,
a pergunta mais basal em relação a esta é: como pode um cientista querer
derrubar sua hipótese? Isto não seria a mesma coisa que puxar o próprio
tapete? Vejamos esta questão mais detalhadamente.
Critério da Falseabilidade
Para Popper é o critério da falseabilidade (ou refutabilidade) que possibilita
a distinção entre a ciência e a pseudociência. Este critério é: se uma teoria
é incompatível com possíveis evidências empíricas então ela é científica,
caso contrário, ela será dogmática e, portanto, não científica. Popper cita
como exemplos de teorias não científicas o marxismo e a psicanálise
usando o argumento de que estas são sempre compatíveis com todas as
observações. Para Popper o marxismo deixou de ser científico a partir do
momento que foi modificado para acomodar as evidências oriundas da
observação. No caso da psicanálise, Popper advoga que ao ser compatível
com toda observação possível esta seria anti científica. Não obstante, deixa
claro que uma pseudociência pode se tornar ciência através do refinamento
de sua teoria e do avanço tecnológico. Discutir tais temas com historiadores
e psicanalistas é tão polêmico quanto a discussão de quem é melhor no
futebol, Brasil ou Argentina? Retomaremos esta questão no item sobre o
racionalismo crítico de Popper.
Sugestão para quem tem tempo e fôlego! O livro A lógica da pesquisa
científica de Karl Popper.
MÉTODO DIALÉTICO
O método dialético tem suas origens na Grécia antiga com Zenon, Sócrates e
Heráclito. Nele, o permanente diálogo entre os opostos possibilita uma reflexão
mais radical do fenômeno estudado e, portanto, uma compreensão mais ampla
do mundo. Seus elementos básicos são a Tese, Antítese e a Síntese.
Modernamente temos a dialética idealista de Hegel e a dialética materialista de
Marx.
A dialética marxista possui 4 princípios, são eles:
1) Tudo se relaciona: o mundo é um conjunto de processos dinâmicos que
estão em permanente interação entre si, onde nada está acabado. Por
exemplo, uma planta está em permanente processo de interação com o
ar e com o solo.
2) Tudo se transforma: ao se relacionarem as coisas mudam
permanentemente. As coisas por simplesmente existirem estão em
permanente mudança, mesmo que não percebamos isto. Admitamos
que você observe hoje uma estátua em um museu. Tal experiência ao
ser repetida daqui a 10 anos não será a mesma, uma vez que a estátua
não será exatamente a mesma e você também terá mudado neste
tempo. A estátua ao interagir com o ar que a rodeia terá sofrido
alterações, mesmo que imperceptíveis a olho nu.
3) Mudança da quantidade à qualidade: onde pequenas mudanças
quantitativas, gradualmente, determinam uma mudança qualitativa. Por
exemplo, um coração está funcionalmente bem; as artérias coronarianas
do indivíduo ao longo de sua vida sedentária e com hábitos não
saudáveis, foram lentamente ficando obstruídas... de repente, uma
pequena quantidade a mais LDL (colesterol nocivo) foi suficiente para
bloquear totalmente o fluxo sanguíneo. Ou seja, uma mudança
quantitativa determinou uma mudança qualitativa.
4) Interpenetração dos contrários: onde o conflito dos opostos que
determina a permanente mudança das coisas. Politzer (1979) cita como
exemplo: “é na criança e contra ela que cresce o adolescente; é no
adolescente e contra ele que amadurece o adulto”.
Tais métodos são as colunas que sustentam toda a estrutura que compõem
o saber científico na atualidade. Vale lembrar que optamos por não elencar
as nuances técnicas dos procedimentos científicos que muitas vezes
também são chamados de métodos, tais como o método histórico, o método
fenomenológico, o método tipológico, dentre tantos outros.
O QUE É EPISTEMOLOGIA?
A epistemologia é a ciência que tem como objeto de estudo a construção e
validação do conhecimento científico. No contexto deste livro o termo
epistemologia é sinônimo de teoria da ciência ou filosofia da ciência, que
são denominações bastante usadas também.
Há muito tempo filósofos e cientistas tentam explicar como o conhecimento
científico acontece e qual sua confiabilidade. Confiabilidade esta que extrapola
as fronteiras do conhecimento em si mesmo, mas que exige uma reflexão
sobre o uso ético e moral do conhecimento científico. O exemplo mais polêmico
atualmente é o uso de técnicas de engenharia genética para a clonagem de
seres humanos.
Faça uma reflexão sobre a seguinte situação hipotética: “uma mãe que tenha
perdido seu filho de 3 anos de idade em um acidente. Seria legítimo que ela
pudesse ter um clone de seu filho?” Se é legítimo para a maioria dos
governantes dos países ricos, investir bilhões de dólares todos os anos em
pesquisas para o desenvolvimento de armas mais poderosas, porque não seria
legítimo para uma mãe clonar seu filho?
Veremos a seguir as principais concepções metodológicas da atualidade, ou
seja, as mais relevantes e importantes tentativas de explicação dos processos
de construção do conhecimento científico.
CONCEPÇÕES METODOLÓGICAS DA ATUALIDADE
EMPIRISMO LÓGICO DO CÍRCULO DE VIENA
O chamado Círculo de Viena refere-se a um grupo de notáveis cientistas e
filósofos que se debruçaram sobre as prementes questões epistemológicas
conseqüentes dos enormes avanços científicos e tecnológicos que ocorreram
na virada do século XIX para o século XX. Alguns exemplos: a eletricidade, a
teoria da relatividade de Einstein, a física quântica, a genética, dentre outros.
Podemos enumerar como objetos de estudo dos empiristas o problema da
confiabilidade do conhecimento científico; a relação entre os enunciados
científicos e suas bases empíricas e a polêmica questão do conhecimento
antecedente (a priori) que possibilita o entendimento daquilo que se observa.
Os pensadores do Círculo de Viena argumentaram que o conhecimento
científico tem que ser pautado pelo Princípio do Empirismo, ou seja,
consolidado a partir da experiência (empiria no grego).
Outro aspecto importante do empirismo lógico é o chamado Princípio do Logicismo onde o conhecimento científico tem que ser enunciado a partir do
uso rigoroso da lógica. Com isto, houve uma valorização da matemática como
linguagem universal, que com seu rigor lógico, deveria ser usada em toda a
Ciência. Ciência e não ciências, os empiristas lógicos defendiam o ideal de
uma única ciência unificada, o chamado pan cientificismo. Para eles, a Ciência
Unificada, seria lógica e usaria a linguagem universal: a matemática. É neste
cenário que surgem algumas tentativas de aplicar a matemática em diversas
áreas de investigação científica, tais como a sociometria, a psicometria, a
antropometria, e as polêmicas frenologia e numerologia, hoje consideradas
pseudocientíficas. Radicalismos à parte, são inegáveis os legados do
empirismo lógico para a ciência contemporânea; a matemática hoje é muito
utilizada na área das ciências biológicas e da saúde, como a biomecânica,
bioengenharia e no desenvolvimento das chamadas biotecnologias.
RACIONALISMO CRÍTICO DE KARL POPPER
Considerado por muitos como o mais brilhante epistemologista, Popper faz
uma crítica radical e profícua ao empirismo lógico, apesar da sua concordância
com o grupo de Viena, no que tange à base empírica do conhecimento
científico e da valorização da lógica.
Conforme já vimos no tópico sobre o Método Hipotético Dedutivo, para Popper
o conhecimento científico deve ser construído a partir do critério da
falseabilidade ou seja, uma teoria para ser científica, deverá ser refutada em
algum momento, caso ela funcione sempre, não será científica, será dogmática
e portanto, uma pseudociência. Ao criticar as teorias de Marx e Freud, Popper
ressalta que tais teorias não eram testadas com base na experiência e sim os
resultados da experiência é que eram interpretados pela teoria. Ou seja, a
experiência era adequada ao poder de fogo da teoria. Conforme ressalta
Carvalho (1997):
“Uma teoria que pretende ser empírica, ou seja, que reivindica fazer asserções sobre o mundo real, factual, deve, em princípio, ser refutável. A capacidade que uma teoria tem de poder colidir com a realidade é a medida que temos para afirmar que tal teoria é informativa, que ela noz diz algo sobre a realidade”.
Ou seja, é relativamente fácil encontrarmos confirmações empíricas para uma
teoria, como os exemplos utilizados por Popper, da teoria marxista e da
psicanálise freudiana. Vejamos uma possível explicação para isto: toda
experiência depende da observação. É na observação que está o problema,
porque ela depende de quem observa e, portanto, pode ser subjetiva e passível
de adequações à teoria. Assim, para Popper o conhecimento científico não é
fruto da experiência e sim de uma teoria que ao ser confrontada com a
experiência, pode ser refutada ou não. Desta maneira, é a partir do escopo
generalizante de uma teoria que é possível a compreensão singular de um
evento observado, tal movimento, da generalização teórica à compreensão do
fenômeno pontual, caracteriza o chamado dedutivismo lógico de Popper.
AS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS DE THOMAS KUHN
Thomas Kuhn publicou em 1962 o livro A estrutura das revoluções científicas
no qual propõe uma inovadora teoria epistemológica. Neste faz uma crítica
tanto ao empirismo lógico quanto ao racionalismo crítico de Popper.
Para Kuhn é na dimensão histórica que se pode compreender o processo de
construção do conhecimento científico.
Um dos conceitos mais importantes (e também muito polêmico) na concepção
kuhniana de ciência é o de paradigma. Podemos defini-lo como o conjunto de
aspectos filosóficos, sociais, culturais e tecnológicos que consolidam a unidade
de uma comunidade científica. Por exemplo, é o paradigma dos modernos
estados laicos do ocidente que viabilizaram o desenvolvimento e consolidação
das pesquisas em engenharia genética e células tronco. Tais pesquisas são
impensáveis em um estado controlado pelo poder religioso. Curioso e
magnânimo é notar que inclusive aqueles que hoje são contra tais pesquisas
muito provavelmente no futuro recorrerão às terapias e tratamentos que estas
possibilitarão. Sim, a necessidade e as carências transformam a ciência e os
homens.
Para Kuhn a chamada ciência normal é aquela que resolve problemas em
uma situação de estabilidade paradigmática. Entretanto, quando esta ciência
normal não consegue resolver um número crescente de problemas ela entra
em uma situação de crise. Tal crise acaba por instabilizar o paradigma vigente;
este cenário conflituoso gera um substrato fértil ao surgimento de novas idéias
na tentativa de resolver os problemas ainda não solucionados. Na
eventualidade de que, neste contexto, ocorra uma solução satisfatória a estes
problemas, esta nova solução será inicialmente criticada e colocada à prova
pela comunidade científica. Após a exaustiva repetição dos métodos desta
ciência revolucionária a mesma poderá ser aceita pela comunidade científica
até a sua consolidação uma nova ciência normal em um outro cenário
paradigmático. Tal processo é historicamente consolidado. Exemplo clássico é
o surgimento e consolidação da mecânica quântica na física. Na área da saúde
podemos citar a descoberta do impulso nervoso como fenômeno eletroquímico
e a futura compreensão da sintaxe genômica como revoluções científicas.
O PROGRAMA DE PESQUISA DE IMHRE LAKATOS
Lakatos, junto com Popper, Kuhn e Feyerabend, participou de debates de alto
nível na epistemologia contemporânea. Sua proposta epistemológica surge
como uma possível solução à polêmica existente entre as teorias de Popper e
Kuhn.
Para Lakatos um programa de pesquisa é composto por teorias interligadas e
possui a seguinte estrutura:
Núcleo – Refere-se aos pressupostos teóricos considerados irrefutáveis
pelos pesquisadores, ou seja, o conhecimento tácito de uma área de
investigação.
Cinturão Protetor – Conjunto de hipóteses auxiliares que garantem a
irrefutabilidade do núcleo. Algumas destas hipóteses auxiliares podem
ser eventualmente refutadas diante de uma anomalia, ou seja, de um
problema não resolvido. Neste sentido estas hipóteses auxiliares fazem
o corpo-a-corpo inicial entre a teoria e os fatos observados, garantindo
de maneira satisfatória a integridade do núcleo.
Heurística – Refere-se ao conjunto de regras e métodos que orientam
os cientistas, podendo ser positiva ou negativa. Recorramos à metáfora
das placas de sinalização do trânsito. Por exemplo, se você se deparar
com uma placa de contramão em uma rua que seja o acesso mais fácil a
um hospital em uma situação de emergência onde você esteja
socorrendo uma vítima de infarto. Que decisão tomar? Seguir a
sinalização e contornar a quadra para chegar ao hospital ou entrar na
contramão? Esta tomada de decisão dependerá das condições de
trânsito no local e de sua habilidade ao volante. A heurística negativa na
pesquisa científica não proíbe você de, por exemplo, ousar em um novo
procedimento metodológico, mas apenas, sinaliza sobre os perigos
inerentes a tal opção. Se estiver em jogo a obtenção de um título
acadêmico como mestrado ou doutorado, nossa recomendação é: não
se arrisque! Deixe isto para uma pesquisa futura. A heurística positiva,
ao contrário, sinaliza o que deve ser feito pelo pesquisador e em
concordância com Silva e Laburú (2002) “procura, assim, salvaguardar o
cientista de ficar sem rumo num oceano de anomalias.”
Vejamos um exemplo na área da saúde, de cada um dos elementos de um
programa de pesquisas. Núcleo: “Atividade física regular e orientada promove
a melhoria da qualidade de vida”. Milhões de pesquisas na área provam que
isto de fato acontece, trata-se de um conhecimento categórico.
Cinturão Protetor: “correr em velocidade moderada durante meia hora por dia
quatro vezes por semana melhora a capacidade cardiovascular e diminui o
estresse”. Trata-se de uma hipótese auxiliar que ajuda a garantir a integridade
do núcleo.
Heurística: “o pesquisador ao testar os efeitos de corridas de longa distância
se depara com a morte súbita de um maratonista”. Trata-se de uma heurística
negativa, pois o pesquisador entrou na contramão ao supor que a hipótese
auxiliar seria aplicada também a corredores fundistas.
Para Lakatos, ao contrário de Kuhn, não existem crises nas ciências, o que
existe é uma competição entre diferentes programas de pesquisas, onde o que
resolver o maior número de problemas tende a se perpetuar.
O ANARQUISMO TEORÉTICO DE PAUL FEYERABEND
Em seu livro Contra o método, Feyerabend faz uma preciosa crítica às
chamadas concepções epistemológicas, estabelecendo as bases do chamado
anarquismo teorético. Para ele, nossas metodologias falham à medida que se
pretendem infalíveis e universais. Além disto, as regras utilizadas são muito
simplistas para explicar fenômenos muito complexos.
O próprio título de seu livro (Contra o método) é um recado claro: ele não
acredita na eficiência do método científico. Um dos princípios fundamentais do
anarquismo teorético é o do vale tudo: “é a violação de regras metodológicas,
normalmente consideradas óbvias, que permite o avanço da ciência.” De fato,
isto nos parece mais óbvio do que nunca, caso contrário, é bastante provável
que estaríamos todos a viver em um mundo acadêmico altamente
burocratizado, que burramente pune o que há de mais belo na ciência: o ato de
criar! Neste sentido a formatação e exigências das revistas científicas são
(salvo honrosas exceções) o mais triste exemplo de embotamento das idéias e
do livre pensar. Infelizmente este fenômeno é mundial, as revistas científicas
que antes eram o espaço, por excelência do arejamento intelectual, agora,
cumprem, na maioria das vezes, o melancólico papel de garantir alguns
pontinhos a mais nos supostos indicadores de produtividade acadêmica. Mas o
que isto tem a ver com o anarquismo científico? A resposta tem que ser direta:
tudo! Afinal, se vale tudo, vale até mesmo este modelo hegemônico de se fazer
ciência.
CONCLUINDO
Este livro está inconcluso tal como está a ciência e o nosso projeto neste
planeta, não obstante, trilhamos um caminho, refletimos sobre questões que
norteiam a construção do conhecimento, tentando, descaradamente, mostrar
também o outro lado da moeda do conhecimento. A idéia era de fato provocar
a discussão, instabilizar as supostas certezas e dizer:
Ei! Siga em frente!
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