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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 1 Agradecimentos A DEUS! A JESUS!* A NOSSA SENHORA porque sempre Me acompanha! À minha mãe Maria de Lourdes por ter a paciência, o sacríficio e a honra de dedicar a sua vida muito mais em prol de mim do que a ela mesma. Ela nunca se mentalizou que um filho seu seria agrário Ao professor João Portugal, diretor do Mestrado em Produção Integrada da Escola Superior Agrária de Beja, por ter a capacidade de exercer uma docência coerente, pedagogicamente inclusiva e com a atenção inata de adaptação curricular a todo o espectro de alunos que com ele têm a honra de aprender. É importante realçar estas qualidades pedagógicas por serem é a verdadeira essência do ensino intemporal, imaterial e honesto. Infelizmente muito poucos professores, nos diversos ciclos de ensino conseguem apreender e, acima de tudo, vivenciar do que se trata, realmente, o ensino. Ao professor Pedro Oliveira, docente deste Mestrado, pela disponibilidade, paciência e humildade pedagógica várias vezes demonstrada ao perceber as minhas limitações técnico- formativas em agricultura, teve a elevação de ajudar a resolver unidades curriculares pendentes. À Fernanda dos Serviços Académicos para os Mestrados do IPB pela disponibilidade e atenção cuidada a todos os estudantes, sendo com toda a certeza, a funcionária mais competente que encontrei em 34 anos de contato direto com estabelecimentos de ensino. À Tuna Académica da Escola Superior Agrária de Beja, SEMPER TESUS, que noutros tempos me apoiou como uma “família”, partilhando contributos de excelência (prémios) ao historial da ESAB em Portugal e Espanha. À Esmeralda e à Ana por terem acreditado nas minhas potencialidades no início do percurso curricular deste Mestrado, apesar de não termos chegado a acordo!? A José Paulo Martins por ter dificultado a elaboração de uma simples declaração, sobre a minha colaboração numa ONGA e ter finalizado afirmando, aquando da minha adesão neste Mestrado: “Ah, sempre entraste……..?!” A Nuno Sequeira, pelos grandes bloqueios que sempre interpôs na minha candidatura a um Mestrado, independentemente de qual fosse, através de entraves burrocráticos e manobras antidemocráticas omnipresentes na orgânica histórica de uma ONGA portuguesa.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 1

Agradecimentos A DEUS!

A JESUS!*

A NOSSA SENHORA porque sempre Me acompanha!

À minha mãe Maria de Lourdes por ter a paciência, o sacríficio e a honra de dedicar a sua vida

muito mais em prol de mim do que a ela mesma. Ela nunca se mentalizou que um filho seu

seria agrárioJ

Ao professor João Portugal, diretor do Mestrado em Produção Integrada da Escola Superior

Agrária de Beja, por ter a capacidade de exercer uma docência coerente, pedagogicamente

inclusiva e com a atenção inata de adaptação curricular a todo o espectro de alunos que com

ele têm a honra de aprender. É importante realçar estas qualidades pedagógicas por serem é a

verdadeira essência do ensino intemporal, imaterial e honesto. Infelizmente muito poucos

professores, nos diversos ciclos de ensino conseguem apreender e, acima de tudo, vivenciar

do que se trata, realmente, o ensino.

Ao professor Pedro Oliveira, docente deste Mestrado, pela disponibilidade, paciência e

humildade pedagógica várias vezes demonstrada ao perceber as minhas limitações técnico-

formativas em agricultura, teve a elevação de ajudar a resolver unidades curriculares

pendentes.

À Fernanda dos Serviços Académicos para os Mestrados do IPB pela disponibilidade e

atenção cuidada a todos os estudantes, sendo com toda a certeza, a funcionária mais

competente que encontrei em 34 anos de contato direto com estabelecimentos de ensino.

À Tuna Académica da Escola Superior Agrária de Beja, SEMPER TESUS, que noutros tempos

me apoiou como uma “família”, partilhando contributos de excelência (prémios) ao historial da

ESAB em Portugal e Espanha.

À Esmeralda e à Ana por terem acreditado nas minhas potencialidades no início do percurso

curricular deste Mestrado, apesar de não termos chegado a acordo…!?

A José Paulo Martins por ter dificultado a elaboração de uma simples declaração, sobre a

minha colaboração numa ONGA e ter finalizado afirmando, aquando da minha adesão neste

Mestrado: “Ah, sempre entraste……..?!”

A Nuno Sequeira, pelos grandes bloqueios que sempre interpôs na minha candidatura a um

Mestrado, independentemente de qual fosse, através de entraves burrocráticos e manobras

antidemocráticas omnipresentes na orgânica histórica de uma ONGA portuguesa.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 2

À Sara Galego por Acreditar muito mais em mim do que eu próprio, o que não é nada fácil,

contribuindo decisivamente para a finalização estética do Mestrado. Um grande beijo de

agradecimento eterno.

A todas as pessoas que teimam em fazer o que querem, sem precisar de justificar,

ultrapassando docência estagnada no tempo, desprezando pré conceitos arcaicos sócio-

formativos, utilizando surdinas quotidianas com compaixão por outros que, como produtos

ilusórios da sociedade, inconscientes no seu próprio conteúdo e na sua forma individual de

vivenciar saberes, são levados na corrente da ignorância amórfica e inexata do senso comum,

sensata apenas nas palas que os conduzem para a censura social, limitando apenas e só, as

suas próprias existências.

O homem da luta social do séc XXI, Vasco Duarte “Gel” afirmou com sabedoria:

“A pior censura humana é a autocensura e apenas só esta nos poderá impedir de atingir os

nossos objetivos!”

*“Não julgueis pela aparência mas sim pela correta justiça”

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 3

Resumo

Relacionando a agricultura familiar e a agricultura convencional, este trabalho tem como

principal objetivo descrever um diferente canal de escoamento agrícola que as famílias de

pequenos produtores utilizam para o incremento dos seus produtos nos mercados, sendo neste

caso particular, um circuito de proximidade (sem intermediários).

Para além dos agricultores, os agentes que estão a participar na construção social de

mercados para os produtos dos circuitos de proximidade são os familiares, vizinhos,

proprietários de estabelecimentos comerciais, consumidores urbanos, profissionais da

economia rural, universidades, organizações não governamentais, intermediários, associações

de desenvolvimento regional, etc. A construção de relações sociais é uma das estratégias que

a agricultura familiar da região desenvolve, tendo em vista viabilizar a produção e

comercialização dos seus produtos.

Em resposta à necessidade de criação de novos canais de escoamento de produtos agrícolas

surge em Portugal o projeto PROVE – Promover e Vender, no âmbito da Iniciativa Comunitária

EQUAL, em conjunto com várias entidades parceiras que se associaram a um grupo de

pequenos produtores dos territórios da Península de Setúbal, Vale do Sousa, Alentejo Central,

Mafra e Porto, para melhorar o escoamento das suas produções. O PROVE existe para

aproximar produtores e consumidores, renovando as relações de compromisso, solidariedade e

ética entre quem produz e quem consome. Deste modo incentiva-se os pequenos produtores a

utilizar técnicas amigas do ambiente, apostando em novas formas de comercialização,

ajudando os mesmos a rentabilizar os seus produtos. Em simultâneo melhora-se a qualidade

dos produtos e promove-se o desenvolvimento dos territórios rurais de forma sustentável,

amiga do ambiente em total harmonia relacional com os consumidores, garantindo a sua

segurança alimentar, tendo em conta que estas metas são eficazes num modo de produção

biológico, com a consequente erradicação de químicos da Produção Agrícola.

Em 1952, Hans Peter Rusch, um dos precursores da Agricultura Biológica sublinhava

claramente: «Temos necessidade de armas espirituais para o combate da futura era

biológica…Aquele que acredita que para fazer Agricultura Biológica é suficiente renunciar aos

adubos químicos, praticar a compostagem em superfície, não efetuar tratamentos tóxicos e

comprar adubos orgânicos está enganado. Pode, para tal, conformar-se com todas as regras

que demos para o solo sem praticar a Agricultura Biológica. Não basta deixar de acreditar

apenas nas receitas à base de adubos e de tratamentos químicos, mas renunciar totalmente a

essas receitas.» Para atingir estes objetivos é preciso um enorme esforço, em Portugal,

concretizando uma mudança de paradigmas e valores transdisciplinares em toda a sociedade,

começando com urgência e coragem nos Institutos do Ensino Superior Agrário, apelando assim

ao papel interventivo e à função cívico-pedagógica de todos os educativos e criadores de

espirito crítico construtivo nas gerações futuras.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 4

Palavras-chave: Mercados de proximidade; Agricultura Biológica; Desenvolvimento local;

Sustentabilidade; Integridade; Holístico.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 5

Abstract

Relating to family farming and industrial agriculture, this work has as main objective to describe

a different channel agricultural runoff that families of small producers use to insert their products

in the markets, and in this particular case, a circuit around (without intermediaries).

Apart from farmers, agents that are participating in the social construction of markets for the

products of the circuits are near relatives, neighbors, business owners, urban consumers,

professionals in the rural economy, universities, nongovernmental organizations, intermediaries,

etc. The construction of social relationships is one of the strategies that family farming in the

region develops, in order to enable production and marketing of its products.

In response to the need to create new outlets for agricultural products surge in Portugal the

project PROVE - Promote and Sell under the EQUAL Community Initiative, in conjunction with

several partners who have joined a group of small producers of territories Setúbal Peninsula,

Sousa Valley, Alentejo Central, Mafra and Porto, to improve the flow of their productions.

PROVE exists to bring producers and consumers, renewing the relationship of commitment,

ethics and solidarity between those who produce and those who consume it. Thus is

encouraged small farmers to use environmentally friendly techniques, investing in new forms of

marketing, helping them to sell their products. At the same time improves the quality of products

and promotes the development of rural areas in a sustainable, environmentally friendly in total

harmony with relational consumers, ensuring their food security, taking into account that these

goals are reached only a organic production and the chemical eradication of Agricultural

Production.

HP Rusch, one of the pioneers of organic agriculture clearly stressed: "We need spiritual

weapons to combat future biological era ... One who believes that organic farming is to make

enough to forgo chemical fertilizers, composting practice in surface treatments not make toxic

and buy organic fertilizers are mistaken. It may, for such, comply with all the rules we gave to

the ground without practice Organic Farming. Do not just stop believing only revenue-based

fertilizers and chemical treatments, but totally forgo this income."

To achieve these goals we must make an enormous effort, in Portugal, to bring about a

paradigm shift and transdisciplinary values throughout society, starting with urgency and

courage in the Institutes of Higher Education in Agriculture, so appealing to the role and function

instrínseco civic -pedagogical often forgotten in these offices egotistical Institutes that offer

educational and creative spirit of constructive critical in future generations.

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1 Introdução Os Mercados de Proximidade valorizam não só o desenvolvimento económico dos pequenos

agricultores mas contêm em si mesmo a base mais sólida e concreta para o sustentável e

demarcado desenvolvimento regional, nomeadamente na promoção dos seguintes objetivos14:

− Reforçar a Identidade do Território recuperando e valorizando a memória, esquecendo

divisões administrativas que nos separam e enfraquecem, indo de encontro às

referências milenares, que ainda persistem em todas as regiões de Portugal, afastando

a imagem difusa e cinzenta de um território rico em referências culturais, mas que fruto

da sua divisão artificial e conflito geracional burocrático, não tem conseguido afirmar os

seus valores. O reforço desta identidade, passa pela afirmação das diversas

“identidades” existentes no território e adesão dos atores locais a novas formas de

visão empreendedora rejuvenescedora. É decisivo para a solidificação empreendedora

regional que as tradições e visões milenares, exemplares no exôdo exponencial local,

cedam oportunidade a nova capacitação e decisão crítica inovadora.

− Dinamizar a Economia e o Emprego, diversificando as atividades nas explorações

agrícolas, numa ótica de multifuncionalidade sustentável da agricultura; através do

fomento de iniciativas de apoio à fixação de jovens agricultores recorrendo à

complementaridade de atividades educacionais lúdicas, apoiadas pelas forças vivas

locais; apoiando a criação e o desenvolvimento de microempresas geradoras de

emprego qualificado, de molde a contribuir para a revitalização económica e social do

território; fomentando o desenvolvimento de atividades turísticas e de lazer,

obedecendo sempre a princípios de viabilidade económica dos empreendimentos e da

valorização dos recursos endógenos do território; Sendo o paradigma essencial a

adotar o constante sentido cívico, crítico e inovador baseado na procura reflexiva da

evolução regional positiva, evitando o conformismo adjacente à tradição e estagnação

rural associada a poderes locais estacionados no espaço e no tempo.

− Melhorar a Qualidade de Vida das Populações Rurais, nomeadamente recuperando e

qualificando Património Rural, construído, colocando-o ao serviço das comunidades

locais ou potenciando esse património de molde a possibilitar albergar iniciativas

geradoras de dinamização económica e/ou cultural, que em ultima análise poderão

contribuir para a criação de emprego e fixação de massa critica nas localidades. A

divulgação diferenciadora da região tenderá a ser baseada na proteção e conservação

dos seus valores naturais (inclui não só a paisagem humanizada, mas

preferencialmente à base dos endemismos unificadores ao nível das plantas, dos

animais e dos habitats exclusivos), promovendo e autenticando o espaço local,

dimensionando-o internacionalmente, entendendo-se como a melhor promoção e

caracterização regional, pelo seu caráter intemporal e único.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 7

A autoestima das populações locais também poderá ser valorizada, através da

recuperação de práticas e tradições culturais, fonte de dinamização de coletividades

existentes no território, dinamizando e apoiando a inovação empreendedora evitando

as forças de bloqueio normalizadas pela constância decisória acomodada, própria de

territórios envelhecidos e despovoados (único fruto desses poderes locais estagnados

em ideias, fixo em metodologias e vazio nas metas).

1.1 A estratégia de intervenção a privilegiar na mobilização do potencial endógeno de desenvolvimento101 A estratégia dos mercados de proximidade, assenta em 4 vetores fundamentais:

− O 1º consiste na participação ativa e permanente dos agentes locais tendo em vista o

reforço das sua capacidade de iniciativa e procurando envolver neste processo não só as

entidades públicas e associativas, as empresas, os líderes de opinião mas também e,

principalmente, toda a população.

− O 2º aponta para o aproveitamento das dinâmicas já existentes, como forma de reforçar o

potencial de atração turística e de valorizar comercialmente os produtos, as atividades

locais, os valores naturais endémicos e o potencial humano autóctone.

− O 3º elemento estratégico refere-se à necessária diversificação e articulação das iniciativas

locais de emprego e das atividades económicas complementares, numa perspetiva

transdisciplinar com o apoio das novas tecnologias e sinergias externas;

− O 4º elemento diz respeito aos mercados e à clientela alvo a quem se destinam os

produtos e os serviços resultantes da valorização dos recursos locais endógenos, numa

perspetiva globalizadora, flexibilizante assente na inovação e incubação da nova visão

geracional.

1.2. Financiamento do projeto PROVE141 O projeto PROVE teve o financiamento da Iniciativa Comunitária Equal que é cofinanciada pelo

Fundo Social Europeu (FSE). Os apoios foram divididos em três ações da seguinte forma:

Acão 1: € 36.272,98 (Novembro 2004 a Maio 2005)

Acão 2: € 296.046,19 (Agosto 2005 a Outubro 2007)

Acão 3: € 318.596,56 (Janeiro 2008 a Junho 2009)

Ao fim de sete anos de existência, vive sem apoios financeiros porque é sustentável por si só.

Os agricultores apropriaram-se do projeto e fazem-no viver, baseados apenas num princípio de

união e capacidade solidaria de organização, promovendo a sua autonomia no exercício do

seu potencial empreendedor.

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1.3 Conceptualização do Projeto PROVE141/136

Os produtores também podem ser fundadores de núcleos, como acontece com alguns já em

funcionamento. Os produtores unem-se também porque o cabaz resulta de um complemento

do que cada um produz. Os agricultores colhem, assim, apenas o que já está vendido, evitando

excedentes prejudiciais a todos os níveis, com primazia para o fator económico. O preço e o

peso dos cabazes são estabelecidos por cada núcleo de produtores PROVE. Os agricultores

devem ainda ter disponibilidade para, na hora e local marcados, entregarem, semanalmente,

os seus cabazes, assegurarem boas práticas ambientais e ter um caderno de campo

organizado. Depois, as associações de desenvolvimento local e as autarquias podem funcionar

como auxiliares na instalação do PROVE em cada região, assim como é essencial a constante

monitorização técnica obrigatoriamente fornecida pelas instituições académicas especializadas,

inerente à sua função de formação social do espaço físico em que se enquadram,

exclusivamente voluntária e gratuita.

Do outro lado desta cadeia está o consumidor, que, por um preço acessível, ganha alimentos

ricos em qualidade e a garantia de uma produção sem recurso a produtos químicos (que se

propõe certificada futuramente, como símbolo de confiança junto do consumidor), aquando da

aderência ao projeto, o consumidor escolhe, dentro do núcleo da sua escolha (visto o projeto

ter uma projeção nacional ampla), qual o local de entrega que lhe é mais conveniente. A partir

daí, todas as semanas desloca-se ao local selecionado (existe a entrega porta a porta

disponível em alguns núcleos) e, à sua espera, estará um cabaz com frutos e hortaliças da

época, organizado pelos agricultores do núcleo escolhido.

A mesma união será expandida até aos consumidores, porque eles próprios têm a

oportunidade de criar um núcleo e passar a receber semanalmente um cabaz, num local

próximo da residência, baseado apenas na sua capacidade de iniciativa cívica e no seu maior

poder democrático: o livre-arbítrio comunitário. Necessário será apenas assegurar um número

de cabazes que torne sustentável a produção e deslocação dos agricultores, privilegiando-se

assim a proximidade entre agricultor e cliente, que resulta numa influencia direta nas boas

práticas culturais amigas do ambiente e na qualidade dos produtos, consequentemente

protetoras da saúde humana conjunta (agricultor e/ou consumidor).

As parcerias solidárias representam um papel de destaque na implementação de um projeto e

o PROVE não foi exceção.

Na data de início da atividade, a Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de

Setúbal - ADREPES contatou com entidades internacionais que partilhavam os mesmos

problemas de escoamento da produção dos pequenos agricultores. Juntaram-se e definiram

metodologias de trabalho, que incluíram visitas a cada país, com o intuito de melhor conhecer

no terreno, a implementação do projeto. Atualmente, a ligação faz-se com visitas pontuais de

técnicos de cada país, com o fim último de partilhar experiências e conhecimento.

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Já a nível nacional, as parcerias fazem-se com câmaras municipais, associações de

desenvolvimento local, entre outras entidades que têm um papel importante na implementação

do PROVE na área de intervenção, assim como ajudam na promoção e comercialização dos

produtos agrícolas.

O futuro da Agricultura Portuguesa e, em especial no caso dos pequenos agricultores, passa

pela venda direta ao consumidor, sem intermediários, eliminando assim muitas das barreiras e

especulações comerciais impostas aos agricultores. Se houver formas de escoar os produtos a

preços justos, existindo garantia de retorno, por certo haverá mais jovens na agricultura. Assim

os tradicionais agricultores permitam a inovação e o comércio justo inerente à jovial vontade de

mudança própria da juventude. O eixo de desenvolvimento dos territórios rurais deve basear-se

numa gestão de proximidade, porque Portugal não tem dimensão territorial para competir nos

mercados internacionais em produções quantitativas, baseando a sua diferenciação e

valorização na qualidade única dos seus produtos naturais (cuja melhor conservação da sua

qualidade é a erradicação de produtos sintéticos no seu processo produtivo). Programas como

o PROVE contribuem para a sustentabilidade económica, mas também asseguram a

manutenção da paisagem e a preservação ambiental/humana.

O PROVE, entre técnicos de entidades que compõem a parceria do projeto (ADREPES,

ADRITEM, TAGUS, MONTE e IN LOCO), equipa de avaliação (MINHA TERRA, ISA e UTAD)

tinha por objetivo “inspirar-se” na experiência da herdade do Freixo do Meio, orientada pelo

conceito de multifuncionalidade.

A visita do PROVE, Terça-feira, 17 de Maio de 2011, teve início com explicações sobre o

montado, a agricultura biológica e a estratégia da empresa, assente em práticas sustentáveis,

respeitando os recursos naturais e os ciclos da natureza. Seguiram-se visitas à horta, ao

montado, às unidades de transformação e à loja, culminando num almoço preparado com

produtos produzidos na exploração. À tarde, mais explicações, reflexões e debate em torno do

desenvolvimento de actividades portadoras de novas fontes de rendimento para os

agricultores. E ainda os primeiros passos para a construção de um Manual de Intervenção nas

Explorações Agrícolas, que será elaborado por uma equipa de Universidade de Évora,

coordenada pela Professora Teresa Pinto Correia.132

Para o projecto PROVE, esta visita marca o arranque de um conjunto de Planos de Intervenção

nas explorações agrícolas PROVE que permitam receber visitantes e promover actividades

contribuindo para a sustentabilidade das explorações e o aumento do rendimento dos

produtores. Esta diversificação de actividades – oferta de produtos e serviços, como

actividades pedagógicas, culturais, turísticas -, surge numa perspectiva de novas fontes de

rendimento para o agricultor.

A parceria também cresceu. Passaram de oito as associações de desenvolvimento local

(ADER-SOUSA, ADREPES – coordenadora, ADRIMINHO, ADRITEM, DOLMEN, IN LOCO,

MONTE, TAGUS), para mais do dobro, com o alargamento do projeto aos territórios de mais

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 10

oito ADL (ADER-AL, ADIRN, Alentejo XXI, ATAHCA, Charneca Ribatejana, LEADER OESTE,

DESTEQUE e PRÓ-RAIA), mobilizando produtores agrícolas e consumidores para modos de

comercialização mais éticos e de consumo mais responsável.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 11

2 Objetivos O PROVE existe para aproximar produtores e consumidores, renovando as relações de

compromisso, solidariedade e ética entre quem produz e quem consome. Deste modo

incentiva-se os pequenos produtores a utilizar técnicas amigas do ambiente, apostando em

novas formas de comercialização, ajudando os mesmos a escoar os seus produtos. Ao mesmo

tempo melhora-se a qualidade dos produtos e promove-se o desenvolvimento dos territórios

rurais de forma sustentável, amiga do ambiente em total harmonia relacional com os

consumidores, garantindo a sua segurança alimentar, tendo em conta que estas metas só se

atingem num modo de produção biológico e com a erradicação de químicos da Produção

Agrícola.

Em 1952, o médico austríaco Hans Peter Rusch, um dos precursores da Agricultura Biológica

sublinhava claramente: “Temos necessidade de armas espirituais para o combate da futura era

biológica…Aquele que acredita que para fazer Agricultura Biológica é suficiente renunciar aos

adubos químicos, praticar a compostagem em superfície, não efetuar tratamentos tóxicos e

comprar adubos orgânicos está enganado. Pode, para tal, conformar-se com todas as regras

que demos para o solo sem praticar a Agricultura Biológica. Não basta deixar de acreditar

apenas nas receitas à base de adubos e de tratamentos químicos, mas renunciar totalmente a

essas receitas.”75

Para atingirem estes objetivos é preciso fazer um enorme esforço, em Portugal, para se

concretizar uma mudança de paradigmas e valores transdisciplinares em toda a sociedade,

começando com urgência e coragem nos Institutos de Ensino Superior Agrário, apelando

assim ao papel instrínseco e à função cívico-pedagógica tantas vezes esquecida nos egotistas

gabinetes destes Institutos que se propõem educativos e criadores de espirito crítico

construtivo nas gerações futuras.

Em comunhão com esse esforço foram realizadas 21 entrevistas com o auxílio de um

formulário semi-estruturado, contabilizadas em 2080,8 kilómetros percorridos em 32,25 horas,

sendo gastos 93,636 litros de gasóleo, revertendo tudo num custo apenas em combustível de

150 euros.

Utilizou-se metodologia qualitativa (análise de conteúdo) para a análise de dados, tendo como

elo principal o contato pessoal e humanizado, dasubstância e oportunidade à audiência tanto

dos responsáveis coordenativos do projeto como dos produtores associados. A voz do

consumidor ressalta-se na pele do autor deste mestrado, como recetor atento dos cabazes

PROVE.

O estudo caracterizou-se como exploratório-descritivo, com a recolha de informações

secundárias e primárias, descurando propositadamente as questões técnico-agrárias por duas

razões essenciais:

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 12

− devido à diversidade de formação académica e/ou empírica dos entrevistados, optou-

se por um diálogo informal e descomprometido com uma informação standardizada;

− devido à impossibilidade de traduzir a noção de Agricultura Tradicional, por

constrangimentos diversos desde a diversidade de práticas culturais, os diferentes

contextos geofisico-climáticos onde se inserem as produções e as diferentes atuações

empíricas com específicas práticas culturais individualizadas consoante a experiência

dinâmica de cada entrevistado.

Apenas se depreende uma realidade, que apesar de dinâmica, mostra diferentes perspectivas

do mesmo projeto com o mesmo tipo de procedimentos de implementação, adaptados às

contigências típicas de cada núcleo de implementação.

Assim começa-se neste trabalho por apresentar uma pesquisa histórico-filosófica dos

diferentes modos de produção agrícola para melhor entendimento do modo de produção que

oferece melhores garantias de sustentabilidade que motive uma economia mais justa, social e

cultural, assim como assegure uma alimentação saudável e coerente com as exigências do

consumidor, sem esquecer a durabilidade dos recursos endógenos e autóctones que a

prolificam intemporalmente num futuro geracional.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 13

3 Agricultura em Modo de Produção Convencional

3.1 Resumo Histórico da sua origem: A agricultura nos anos 60 foi vista por alguns economistas e formuladores de políticas

económicas como um elemento passivo e dependente de estímulos provindos do setor urbano-

industrial para potencializar o seu desenvolvimento. Porém esta defesa tinha por trás o reverso

urbano na busca da mobilização de mais investimentos para o segmento urbano-industrial. No

fim dos anos 60 iniciou a mudança desta abordagem, começou a verificar-se que a agricultura

detinha um papel importante no processo de desenvolvimento económico, partindo da ideia de

que o crescimento agrícola desencadearia um aumento mais que proporcional no resto da

economia, o efeito multiplicador.76

Este efeito multiplicador da agricultura sobre o resto da economia deriva de cinco funções

básicas: libertar mão-de-obra para a industria, por haver excedente, a fim de evitar aumentos

de salários; ser um fornecedor de matéria-prima e alimentos; incrementar aumento da

economia através da exportação; constituir mercados para bens industriais e realizar

transferências para desenvolvimentos na indústria e implementação de infraestruturas

económico/sociais.76

Assim a “Revolução Agrícola” passa a ser importante para a industrialização. Autores como

Arthur W. Lewis começam a produzir artigos onde defendem que “não é rentável produzir um

volume crescente de manufaturas, a menos que a produção agrícola cresça

simultaneamente”.66

Então com esta suposição inicia-se um impulso na transformação da produção agrícola

apoiada na conceção de que a produção agrária deveria ser manipulada mediante a aplicação

de conhecimentos científicos e substituição progressiva de trabalho por capital.66

Assim e se nos basearmos na lógica de que o crescimento agrícola desencadeia efeito

multiplicador sobre o resto da economia, iniciam-se novos investimentos para o aumento da

produção agrícola baseado na utilização dos saberes científicos e na troca de trabalho por

capital, começando a intensificação do processo de modernização agrícola, concretizando-se

no: “(…) processo de mudança na base técnica de produção – em termos de substituição e

incorporação do processo técnico – e nas relações sociais de produção, especialmente pelo

crescimento do trabalho assalariado”.71

Designa-se a este período de intenso processo de difusão tecnológica de “Revolução Verde”,

onde predominou a “agricultura convencional”.

Dado o predomínio da produção agrícola em larga escala impulsionada pela “agricultura

convencional”, surge em 1966 um grupo formado por uma centena de pessoas,

autodenominado clube de Roma, que põe em marcha uma série de estudos que se dedicam a

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investigar problemas de ordem económica, ambiental e sociológica à escala mundial; sendo o

primeiro resultado destes trabalhos a origem do que hoje é conhecido mundialmente por “Limits

of growth” (limites do crescimento), divulgado em 1972, também denominado por relatório

Meadows.15

Inicia-se então um forte discurso ambiental (muito difundido por defensores ambientalistas)

sobre os problemas gerados pelo modo de exploração “agrícola convencional”, a comprovada

insustentabilidade sócio/ambiental e a necessidade de preservarmos a nossa biodiversidade

(valor intemporal e o mais sustentável sistema económico reconhecido pela ciência) para as

gerações futuras, surgindo assim a difusão de uma “agricultura ecológica”.

Neste panorama de possibilidades da transição de uma “agricultura convencional” para uma

“agricultura ecológica” está em debate a questão da sustentabilidade. A sustentabilidade

passou a ser mais discutida como reflexão do debate sobre modos de desenvolvimento, e

ganhou mais força no período pós-guerra, tratando-se de um conceito amplo que incorpora

definições em comum como a preservação suprageracional dos meios de produção

autóctones, a longevidade sustentável do fator de produção essencial (solo), a incrementação

das relações fisico-geológicas intrínsecas, a conservação e co-relacionamento da

biodiversidade inerente ao espaço ocupado como património intemporal da Humanidade, a

produtividade agrícola respeitando a resiliência do meio ambiente envolvente, a otimização da

produção das culturas com pouca ou nenhuma dependência de recursos humanos externos e

a satisfação das necessidades sociais das famílias e comunidades rurais com o consequente

acompanhamento tecnológico iqualitário.

Assim a sustentabilidade engloba dimensões económicas, ambientais, sociais, culturais,

holísticas (sinónimo de integrado) e sistémicas.

3.2 Sustentabilidade da Agricultura Convencional: A Sustentabilidade na agricultura é tratada por Guzmán como “sendo a capacidade de um

agroecossistema se manter produtivo através do tempo superando, por um lado às tensões

ecológicas e por outro, as pressões de caráter socioeconómico”,56 relatando que os

agroecossistemas são um ecossistema artificializado pela ação humana para obter produtos

com finalidades alimentares e de mercado. Lembramos que a sustentabilidade não é algo

estático ou fechado em si mesmo, mas faz parte de um processo dinâmico que interage e está

em movimento na busca do equilíbrio das estratégias de desenvolvimento nas dimensões

económicas, sociais e ambientais.29

Desta forma a noção de sustentabilidade, apesar das imprecisões conceptuais, incorporam as

seguintes definições em comum: como a manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da

produtividade agrícola, produzindo o mínimo impacto sobre o meio ambiente e a saúde dos

consumidores, o retorno adequado aos produtores, a optimização da produção nas culturas

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sem a dependência onerosa de fitofármacos, satisfação das necessidades sociais das famílias

e das comunidades rurais.15

As crescentes preocupações com o Desenvolvimento Sustentável levam ao progessivo

reequacionamentop das atividades empresariais, abrindo oportunidades à integração dos

aspetos ambientais nos critérios tradicionalmente usados (essencialmente económicos) na

avaliação de desempenho das empresas. Os impactos ambientais dos produtos e seus

processos produtivos, passaram a estar também “sob o olhar atento” da Sociedade.

Conceito usado exaustivamente no período da “Revolução Verde” a “agricultura convencional”

é um modo agrícola onde prevalece a busca da maior produtividade através da utilização

intensa de inputs externos, o que a curto prazo trás resultados económicos visíveis como o

aumento da produtividade, mas pouca eficiência agrícola, devido aos graves prejuízos que

gera na saúde dos consumidores/agricultores/intermediários e no meio

natural/social/cultural/económico. No primeiro momento também o aumento da produtividade

contribui para a diminuição da migração rural e melhora a distribuição de riqueza76, porém a

médio prazo provoca danos ambientais que não são contabilizados (omitidos, mascarados,

rebuscados) pelos adeptos da agricultura convencional, como também são inseridos

desenvolvimentos tecnológicos que substituem progressivamente a mão-de-obra, criando

injustiças sociais e as variadas desertificações rurais.

O modo de exploração “agrícola convencional” é intensivo em capital, consome recursos não-

renováveis e na sua maioria voltado para o mercado externo em detrimento do

desenvolvimento interno originando crises socio-económicas que criam ciclos sistémicos69,

começando com uma localização local (ex: Concelho de Castro Verde), que degeneram em

Regionais (Alentejo), tornando-se Nacionais (Portugal), atingindo facilmente Continentes (PAC

europeia).

Verifica-se que pelo intensivo uso de capital este tipo de agricultura necessita de dinheiro para

tal investimento (criando ao mesmo tempo elevados prejuízos económicos ao nível de

Continentes), ficando mais dependente de atores externos (fornecedores estrangeiros dos mais

variados tipos de capital).

Sachs chama a atenção para o facto de que esta dependência de inputs externos acarretou em

prejuízos, pois para aumentar a produtividade houve uso excessivo de fertilizantes químicos e

combustível causando no primeiro momento uma superprodução, originando com o aumento

desses inputs uma diminuição do preço auferido na produção agrícola, devido à sua

dependência, e tendo muita oferta no mercado (superprodução), é impossível passar esse

aumento de custos para os consumidores (porque o poder de compra não evolui da mesma

forma).69

Também outro fato importante que resultou do uso intensivo de fitofármacos foi a

contaminação dos lençóis freáticos, rios e empobrecimento do solo, acarretando em prejuízos

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económicos muito graves para a sociedade, constatando-se também que a evolução

tecnológica não tem a capacidade necessária para acompanhar e resolver, com a qualidade

humana minimamente requerida, toda a degradação de recursos originada pela agricultura

intensiva. Mais uma vez neste caso, a solução é mascarar e esconder detritos, ao mesmo

tempo que se gastam enormes quantidades de dinheiro para ir esgotar os fatores de produção

básicos (água, solo, nutrientes, etc) em locais distantes da exploração, agravando a fatura

económica e aumentando os custos de produção. Assim a agricultura convencional torna-se

intencionalmente incomportável.

Observa-se na “agricultura convencional” uma lógica de que a exploração ao máximo da

natureza e que ela está presente para nos servir, sem observar os limites da sua utilização.

Também verifica-se que a sementeira é focada na monocultura desenvolvida em larga escala,

o que a longo prazo pode gerar um estreitamento da diversidade genética do meio ambiente

explorado. A especialização levada ao extremo na “Agricultura Convencional” não é

sustentável a médio prazo, simplesmente porque nenhuma empresa é viável economicamente

enquanto não diminuir o máximo de custos originados pela produção, mesmo aqueles que

propositadamente se deslocam ou tentam tapar para evitar constrangimentos produtivos

desfasados no tempo e espaço, mas cuja sociedade humana requer cada vez mais incremento

de responsabilidades.

Diante do avanço da produção agrícola em larga escala impulsionada pela “agricultura

convencional”, ocorre a difusão da proposta de uma “agricultura ecológica”, que tem como

premissas a utilização de métodos e técnicas (policultura e rotatividade) que respeitam os

limites da natureza, a sua diversidade, flexibilidade, sustentabilidade, autonomia ou rara

dependência de fitofármacos (substituidos por fertilizantes e predadores naturais) e a

confirmação científica através da aproximação desta comunidade aos saberes locais

desenvolvidos pelos agricultores através da evolução do intercâmbio social que possibilita a

troca e interrelação dos diferentes dogmas.29

Verifica-se que a denominação de “agricultura ecológica” engloba várias concepções, como

agroecologia, permacultura, agricultura natural, agricultura biológica, agricultura holística,

agricultura astronómica, agricultura tradicional, produção integrada, entre outros, que na sua

essência visam a redução dos fatores de produção sintéticos na agricultura, a distribuição da

riqueza e epaço agrícola em pequenas propriedades, a comercialização direta com os

consumidores, o equilíbrio financeiro da sociedade mundial devido ao seu papel distribuidor de

riqueza por constituir o setor primário na referenciado na orgânica social mundial, o equilíbrio

magnético do Planeta Terra (já existem estudos científicos que provam que o uso do solo pelo

Homem condiciona e muda o equilíbrio das forças físicas que sustentam o Planeta Terra), a

conservação dos recursos naturais e a sua natural evolução, o respeito pela natureza humana

como fazendo parte do Sistema Aberto Planetário.21 Outro ponto que merece mais atenção que

a simples substituição de agroquímicos por adubo orgânico não representa necessariamente

uma “agricultura ecológica”, pois o uso inadequado de produtos orgânicos pode contaminar o

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solo ou mesmo diminuir a sua fertilidade, tratando-se portanto a “agricultura ecológica” de uma

mudança técnica, cultural, social e filosófica mais ampla.

Quadro n.º 1 – Agricultura Convencional X Agricultura Ecológica

Fonte: Adaptado de BEUS e DUNLAP, 1990

Agricultura Convencional Agricultura Ecológica

E xp lo ra ç ã o   C o ns e rv a ç ã o

•      C us to  das  externalidades  frequentemente  não  contabilizadas ; •      C us to  das  externalidades  devem  ser  cons iderados ;

•     B enefíc io s de curto prazo sobrevalo rizado com relação àconsequências  do  longo  prazo ;

•     R esultados de curto e longo prazo devem ser igualmentecons iderados ;

•     B aseia-­‐se em uso bas tante intenso de recursos nãorenováveis ;

•     B aseia-­‐se nos recursos renováveis e os recursos nãorenováveis  são  conservados ;

•      Elevada  produtividade  para  abas tecer  a  demanda  por  consumo ,  mantendo  o  efeito  multiplicador  para  o  cresc imento  económico ;

•      C onsumo  reduzido  para  benefic iar  futuras  gerações ;

E s pe c ia liz a ç ã o   D iv e rs ida de  

•      B ase  genética  reduzida; •      Ampla  base  genética;

•      M aio r  parte  dos  cultivos  em  monocultura; •      M ais  plantas  cultivadas  em  po licultivo ;

•      M onocultivo  contínuo ; •      Várias  culturas  em  ro tação  complementar;

•      Iso lamento  de  culturas  e  animais ; •      Integração  de  culturas  e  animais ;

•      S is temas  de  produção  padronizados ; •      S is temas  de  produção  lo calmente;

•      C iência  e  tecno logia  espec ializada  e  reduc ionis ta;•     C iência e tecno logia interdisc iplinares e orientadas para oss is temas ;

D o m ina ç ã o  da  N a tu re z a H a rm o n ia  c o m  a  N a tu re z a

•     Natureza cons is te primeiramente em recursos a seremexplo rados  e  dominados  pelo  homem;

•      Natureza  deve  ser  utilizada  respeitando  o s  seus  limites ;

•      A limentos  altamente  processados ,  adic ionados  de  nutrientes ; •      Imitação  dos  ecoss is temas  naturais  (ex:  agro flo res tal);•     A limentos minimamente processados , e naturalmentenutritivo s ;

C o m pe tiç ã o C o m un ida de

•      Falta  de  cooperação ,  interesses  pessoais ;•     M aio r cooperação , preservação das tradições , saberes ecultura  rural;

•      Tradições  e  cultura  rural  abandonada; •      P equenas  comunidades  rurais  essenciais  para  a  agricultura;

•      A gropecuária  é  apenas  negóc io ;•     A gropecuária deve ser uma fo rma de vida, ass im como umnegócio ;

•      Ênfase  na  velo c idade,  na  quantidade  e  no  lucro ;

D epe ndê nc ia Inde pe ndê nc ia

•     Unidades de produção e tecno logia de larga escala e usointens ivo  de  capital;

•     Unidades de produção e tecno logia de menor escala e usoreduzido  de  capital;

•     Elevada dependência em fontes externas de energia, inputs ecrédito ;

•     Dependência reduzida de fontes externas de energia, inputs ecrédito ;

•      C onsumismo  e  dependência  no  mercado ;•     Ênfase dada ao conhec imento pessoal, po tencialidades ecapac idades  lo cais ;

•      Ênfase  dada  à  c iência,  espec ialis tas  e  experts ;

C e ntra liz a ç ã o D e s c e n tra liz a ç ã o  

•      P rodução ,  processamento  e  marketing  nac ional/internac ional;•     P rodução , processamento e marketing maisregionalizados/lo cal;

•     M enor número de produto res , contro lo concentrado da terra,dos  recursos  e  do  capital.

•     M aio rnúmero de produto res , contro lo descentralizado da terra,dos  recursos  e  do  capital.

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Nas últimas décadas, a “agricultura intensiva” introduziu elevadas quantidades de pesticidas,

adubos, hormonas e outros produtos químicos de síntese, alterou os ecossistemas, prejudicou

a fertilidade dos solos e a qualidade da cadeia alimentar. Abandonaram-se práticas como a

fertilização orgânica dos solos com estrumes, o cultivo de variedades agrícolas e hortícolas

tradicionais, a utilização das raças autóctones e a produção animal ao ar livre, reconhecendo-

se, atualmente, que as práticas agrícolas que se utilizam não são sustentáveis

ambientalmente, culturalmente e inclusivé do ponto de vista económico, pois ao fim de poucos

anos esgotam os recursos naturais (sendo o mais importante a qualidade do solo),

autodestruindo dessa forma a exploração agrícola, ao mesmo tempo que promove incontáveis

prejuízos ao nível da saúde pública, cultural, paisagística e ambiental.

Tendo como principal prejuízo a perda de identidade cultural da região onde se insere a

Agricultura em modo de Produção Convencional, porque serão precisos vários anos e muito

dinheiro para recuperar os recursos ambientais esgotados, a despoluição dos mesmos, o

êxodo do potencial humano, a perda do património cultural enraizado, a perda de imenso

dinheiro em subsídios infrutíferos e, provavelmente nunca haverá novamente a mesma

paisagem e identidade cultural construída ao longo de gerações humanas e desperdiçada em

poucas décadas pela irrefletida ambição do insustentável industrial agrícola.

A sustentabilidade da agricultura requer a salvaguarda do ambiente e da paisagem e, por isso,

deve ser remunerada também por isso, numa ótica de usufruidor-pagador (turismo em espaço

natural humanizado) ao contrário da visão comodista e insustentável do subsidiário-

dependente.

3.3 – O impacto sócio-ambiental da Agricultura Convencional: As necessidades de responder às carências alimentares, e depois a corrida aos rendimentos

para ser competitivo, conduziram a uma modificação considerável das práticas agrícolas com

determinados efeitos que se tornaram negativos a longo prazo:

A desertificação das zonas rurais – Nas regiões desfavorecidas pela pbreza dos solos, pelo

relevo ou pelo clima, os camponeses não puderam enfrentar a modernidade e a concorrência

dos agricultores das zonas mais ricas. Após a sua partidas, poucos jovens os substituíram. As

regiões desvitalizaram-se. O abandono humano arrastou uma erosão dos solos, uma falta de

manutenção dos pequenos muros e dos caminhos, bem como a cobertura das parcelas por

matagal, propiciam os incêndios. Mais globalmente, a desertificação está na origem de

desequilíbrios humanos e sociais.

A degradação dos solos cultivados – A destruição sistemática das sebes e dos taludes, a

utilização de máquinas muito pesadas e o abandono de todas as culturas durante o período

invernal favoreceram a erosão eólica e hídrica. Do mesmo modo, a diminuição de matéria

orgânica nos solos acentua a sua sensibilidade à erosão porque o húmus proveniente esta

matéria é indispensável para a sua estabilidade estrutural. O húmus também favorece uma boa

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retenção da água na terra e contribui para a alimentação da microflora (bactérias, algas,

fungos) e da microfauna (minhocas, insetos, amebas) que são necessárias para o

funcionamento dos grandes ciclos naturais (azoto, fósforo,…). Em certa parcelas os trabalhos

muito profundos, a exportação excessiva de resíduos de colheitas e a paragem de fertilização

dos terrenos com estrume provocaram uma queda dos teores de matéria orgânica.98

A poluição das águas - O teor natural dos lençois freáticos em nitratos é de 2 a 3 mg por litro

de água e as recomendações da Organização Mundial de Saúde, retomadas na diretiva

europeia «águas potáveis», são de 25 mg com uma dose máxima de 50 mg. Este patamar

crítico é largamente ultrapassado em diversas regiões. É inquietante o aumento constante do

teor de nitratos nas águas superficiais e subterrâneas. Esta poluição difusa é em parte

imputável à agricultura. É devida a uma utilização excessiva ou ao mau conhecimento dos

adubos e dos efluentes de origem animal mas também a certas práticas prejudiciais. A terra

que ficou nua, nas grandes planícies cerealíferas, durante o período invernal deixa filtrar os

nitratos. Sobrealimentados em relação às necessidades das plantas, os solos não retêm as

moléculas de azoto muito solúveis que são então lavadas pelas chuvas. A sua migração para

os lençóis freáticos dura vários anos. A desnitratação e a desnitrificação das águas são

possíveis, mas são dispendiosas. A combinação dos nitratos e dos fosfatos, provindo

sobretudo das lixívias ou dos efluentes de criações industriais de animais, favorecem uma

eutroficação dos rios, dos lagos, e dos pântanos, quer dizer uma asfixia lenta por falta de

oxigénio, fatal para a fauna aquática. Este aumento dos nitratos e dos fosfatos gera, nas costas

marítimas, uma proliferação de algas verdes nauseabundas. Também foram revelados, nos

lençóis freáticos, pesticidas como a atrazina e o lindano. Uma diretiva comunitária fixou o teor

máximo de pesticidas na água potável em 0,5 mcg/litro, para o total de pesticidas; mas este

teor, em certas zonas, é de dez vezes este valor-limite.103

O empobrecimento da diversidade genética – A flora e a fauna selvagens são postos em

perigo pelo emprego de certos pesticidas, a secagem dos pântanos, a destruição de sebes e

de moitas. Numerosas espécies estão, desde já, desaparecidas. Os pesticidas são

especialmente nocivos. É vasta a gama dos produtos considerados assim: insecticidas,

herbicidas, fungicidas, anti-ácaros, desfolhantes… Provocaram desequilíbrios ecológicos

imprevistos; parasitas e predadores desapareceram dando lugar a outras pragas, por vezes

mais perigosas. Com efeito, um biocida pulverizado sobre uma cultura ataca sem

discernimento; destrói todos os insectos presentes, não só os prejudiciais mas também os seus

inimigos naturais, os que se sabe reduzirem consideravelmente as populações de pragas.

Observou-se igualmente que certas espécies desenvolvem resistências aos herbicidas. Com a

finalidade de atacar estas espécies resistentes, as firmas industriais colocam no mercado

matérias activas cada vez mais poderosas. Esta engrenagem dos pesticidas teve

consequências nefastas para o meio ambiente. Numerosos auxiliares úteis para as culturas

são dizimados, como as lombrigas e as abelhas, que desempenham um papel indispensável

na polinização. Certos pesticidas são bastante remanescentes e ficam presentes no

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ecossistema durante vários anos. É o caso do lindano autorizado em França, mas interdito em

vários países. Por outro lado, a tendência é a de uniformização genética, quer seja para as

plantas quer seja para os animais de criação. Com efeito, a seleção cujo objetivo é

essencialmente económico, elimina as variedades e as espécies que não se adapatam à

Agricultura Moderna ou à transformação industrial. Mas a monocultura e a monoespecificidade

são uma verdadeira bênção para os inimigos das culturas.

Os atentados à saúde pública – os agricultores biológicos acusam a Agricultura Convencional

de estar na origem de problemas de saúde. A acumulação de nitratos, na água destinada ao

consumo humano ou para os legumes, é nociva a partir de certos limiares. Sabe-se que o ião

Nitrato é uma combinação de Azoto e de Oxigénio (NO-3) que podem ser reduzidos a Nitrito

(NO-2) no intestino pela ação de bactérias. Os nitritos provocam a meta-hemoglobinemia: esta

doença que se manifesta por dificuldades respiratórias e por vertigens, ameaça sobretudo os

recém-nascidos. No que respeita ao efeito dos pesticidas na saúde, os estudos

epidemiológicos efetuados são insuficientes para determinar de modo formal a sua

responsabilidade no aparecimento de cancros. Apenas se pode constatar um aumento de

cancros gastrointestinais nos trabalhadores encarregues da pulverização com HCH (o

hexaclorociclo-hexano é o produto a partir do qual se fabrica o lindano) e com Aldrina, na

América Central e na Alemanha. Por outro lado, após a análise de 49 pesticidas, a Agência

Internacional para a Pesquisa do Cancro anunciou, em 1989, que 19 de entre eles eram

cancerígenos para os animais, mas nenhum o era para o Homem de forma provada. Com

efeito, sabe-se muito pouco sobre as consequências a longo przao do emprego destes biocidas

e dos seus efeitos para o Homem e o Meio Ambiente. Pelo contrário, é certo que as vítimas de

envenenamento por pesticidas são muito numerosas: em todo o mundo são diversas dezenas

de milhar todos os anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).1/2/7/11/12/24/25/28/103

3.3.1 Adubos Químico/sintéticos: Constatações científicas do seu prejuízo sócio-ambiental138/48/47/44/43/37/51:

Na prática da agricultura, devemos encarar a terra como um mundo complexo e integrado onde

devem viver em equilíbrio um número incalculável de seres microscópicos dos Reinos Animal e

Vegetal, que garantem a perfeita fertilidade do solo e a sanidade das plantas. Devemos

encarar a terra considerando os seus aspetos físicos, químico e biológicos, procurando

promover, proteger e conservar a harmonia entre estas três partes.

A Agronomia “oficial' ainda tende a considerar o solo como sendo um mero suporte que, sob o

efeito dos adubos químicos e dos fitofármacos, mascarando a visível degradação do solo,

devem produzir enormes vegetais sob o falso argumento de que é necessário que se use a

parafernália sintética para que a produção aumente e dessa forma acabar com a fome nos

países subdesenvolvidos, apesar da ciência não permitir tais alegações sem provas

fundamentadas cientificamente (passo o pleonasmo). A outra face da moeda (alegoricamente

falando), porém, mostra-nos que apesar dos adubos sintéticos darem a curto prazo uma

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resposta em termos de uma maior produtividade e produtos de maior tamanho, estes produtos

são em geral menos saborosos, mais pobres em vitaminas e sais minerais, além de estarem

impregnados de resíduos venenosos. O fato de se usarem fatores de produção sintéticos não

matou a fome do mundo (até aumentou o fosso entre produtores agrícolas portugueses,

poluindo consideravelmente o planeta, com um modelo agrícola extremamente dependente do

petróleo e pouco preocupado com a ecologia humana. O elevado custo económico do petróleo

e o estado alarmante do meio ambiente em muitas regiões produtoras (algumas tornaram-se

desertos agrícolas), mostrou o inevitável retorno à Agricultura Tradicional tendo como base os

“ultrapassados” fatores de produção naturais.

Hoje, após a II Guerra Mundial e décadas de abuso dos adubos hidrossolúveis e dos

Fitofármacos o paradigma agrícola retorna à pesquisa e utilização dos fatores de produção

naturais como sejam: composto, estrume, chorume, lamas de ETAR´s, sobrantes

biodegradáveis de RSU´s, rochas moídas, sobrantes florestais/agrícolas, cal, detritos dos

espaços verdes urbanos, sobrantes de lagares, detritos de aquacultura, moliço, assim como

alternativas mais ecológicas para as práticas culturais tais como: a rotação de culturas, as

coberturas vivas e/ou mortas, o cultivo em curva de nível, a sementeira direta, a ausência de

movimentação do solo, a fertilização através do pastoreio, o incremento dos auxiliares, a

disseminação de cogumelos, a defesa da erosão (através do incremento de sebes e galerias

ripícolas), a compartimentação das parcelas (promovendo assim a diversificação,

multifuncionalidade e sustentabilização económica da produção), a conservação da

biodiversidade, promovendo a autonomia dos recursos agrícolas (água superficial, solo, lençol

freático, sebes, efeito “umbrella” das árvores isoladas, microclima local, biodiversidade total).

Não devemos usar adubos químicos, primeiramente porque são hidrossolúveis, isto é,

dissolvem-se na água da chuva e das regas, fato que acarreta três coisas:

− Uma parte é rapidamente absorvida pelas raízes das plantas causando expansão

celular (as membranas celulares ficam mais finas), fazendo com que aumente muito o

seu teor de água. Isso torna as raízes mais vulneráveis para as pragas e doenças,

além de serem menos saborosas e com o seu teor nutritivo empobrecido.

− Outra parte (muitas vezes a maior parte) é lixiviada, ou seja, é lavada pelas águas das

chuvas e regas, poluindo rios, lagos e lençóis freáticos, acabando por causar,

juntamente com os despejos de esgotos, a eutrofização - que é a morte de um rio ou

lago por asfixia, pois os excessivos nutrientes além de estimularem um crescimento

excessivo das algas, roubam para se degradarem, o oxigênio da água.

− Há ainda uma terceira parte que se evapora, como no caso dos adubos nitrogenados

(ex: Sulfato de Amónio), que sob a forma de Óxido Nitroso vai - assim como ocorre

com os Fluorcarbonetos do Aerosol - destruir a camada do ozono da atmosfera.

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Vários tipos de fertilizantes químicos, geralmente os mais usados, são violentos acidificadores

do solo, além de serem biocidas (destruidores dos microorganismos do solo). A utilização dos

adubos químicos, dos fitofármicos e do OGM´s (Organismo Genéticamente Modificados)

formam um círculo vicioso, interessante apenas para a “agricultura” industrial. As sementes

melhoradas, são muito mais exigentes do ponto de vista da fertilização para poderem alcançar

um maior tamanho (o exemplo português mais visível são os olivais superintensivos). A

utilização dos fertilizantes sintéticos tornam as plantas mais fracas e mais suscetíveis ao

ataque de pragas e doenças incrementando a utilização de fertilizantes sintéticos e

fitofármacos para manter o nível desejado de produção.

O uso dos fertilizantes sintéticos faz com que os aminoácidos (proteínas) se apresentem em

forma livre, ao contrário do que acontece na fertilização orgânica, onde os aminoácidos formam

cadeias complexas, sendo mais vulneráveis às pragas.

Sabemos que os elementos mais utilizados pelas plantas são o Azoto (N), Fósforo (P),

Potássio (K), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg). As formas sintéticas mais utilizadas como adubo

nitrogenado são o Sulfato, o Nitrato de Amónio e a Ureia. São substâncias realmente

riquíssimas em Azoto (a ureia tem 45%), mas que, acidificam o solo, matam os

microorganismos, poluem as águas e produzem vegetais pouco resistentes, levando ao uso de

fitofármacos.

Em relação ao Fósforo, a forma mais utilizada é o Superfosfato. É fruto da solubilização de

rocha fosfática mediante utilização de ácidos, sendo um processo caro e poluente, que resulta

num produto de baixíssima solubilização, dependendo da qualidade do solo em causa. Deixa

no solo resíduos de Anidrido de Ácido Sulfúrico, muito venenoso e poluente para o ambiente.

Em termos de Potássio, a forma mais utilizada é o cloreto de potássio, que deixa no solo o

cloro, também este extremamente agressivo para os recursos físicos endógenos da produção

agrícola.

Segundo o Engenheiro Agrónomo francês Claude Aubert, os adubos nitrogenados modificam o

teor das plantas em vários elementos essenciais138:

− a presença de Nitratos nos alimentos agrícolas é extremamente perigosa devido à

possibilidade de transformarem-se em nitritos, substâncias tóxicas e eventualmente

letais. O teor de nitratos pode ser multiplicado por 30 na folha de espinafre, em

consequência da utilização, mesmo moderada, de adubos nitrogenados. Nesta cultura,

em experiências, o nível de Nitratos não passou de 60 ppm com adubação de até

60kg/ha, mas com aumento para 180/240 kg/ha o nível de Nitratos subiu para 600

ppm! Na cenoura, com os mesmos 60kg/ha, os Nitratos estavam na faixa de 50 ppm,

subindo para 300 ppm com adubação de 180 kg/ha.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 23

− o nível de matéria seca também desce. Em espinafres sem adubação nitrogenada

sintética o teor de matéria seca é de 6,8% caindo para 5,5% com adubação de

120kg/ha. Na batata, com adubação de 120 kg/ha a queda é desde mais de 24% até

uns 22% de matéria seca.

− o teor de proteínas aumenta, mas sua composição é modificada: o teor de aminoácidos

diminui. No milho, as doses elevadas de Azoto aumentam o teor de proteínas, embora

apenas as com baixo valor nutritivo.

− o teor de Cobre diminui consideravelmente quando aumentam as quantidades de

Azoto.

− o teor de vitaminas é também modificado; o teor de riboflavina (vitamina B2) dos

espinafres cresce primeiro para decrescer em seguida quando se aplicam doses

crescentes de Azoto. A vitamina C é prejudicada pelo Azoto sintético (ex: na cenoura,

há uma redução em 1 mg. de vitamina/100gr. matéria seca quando a adubação chega

a 280 kg./ha. No espinafre, com esta dose, cai de 40 para 25mg. de vitamina C.).

− a elevada utilização de Azoto, diminui a faculdade de conservação da colheita e

modifica desfavoravelmente seu sabor.

− a adubação nitrogenada sintética também reduz o teor de glúcidos em frutas e

legumes. (Ex: nas cenouras, o teor de açucares que normalmente é de 7%, cai para

menos de 6% com aplicação de doses acima de 200kg/ha. No espinafre a redução é

proporcionalmente maior, caindo de 0,9 para 0,3%, e nas batatas o amido (em

proporção à matéria seca) cai em média de 65 a 60%.

− os adubos potássicos perturbam o equilíbrio mineral das plantas. Quantidades

crescentes de potássio produzem um aumento considerável do teor de potássio em

certas plantas (espinafre,p.ex.) e uma diminuição correlativa do seu teor em sódio e

magnésio. A relação potássio-magnésio pode variar, segundo as quantidades do

potássio aplicado, de 1 a 12. Na folha do espinafre a relação potássio-sódio pode

passar de 0,5 a 20, ou seja, 40 vezes mais.

− o aumento de potássio leva igualmente a uma baixa do teor das plantas em vários

outros elementos minerais, como o cálcio, e alguns oligoelementos, como o boro e o

manganês.

− o teor das plantas de proteínas e a qualidade biológica da proteína são também

modificados: o teor de proteínas do espinafre aumenta com o aumento da adubação

Potássica, mas o teor dessa proteína em vários aminoácidos essenciais (incluindo a

lisina) diminui correlativamente.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 24

− o teor em Caroteno de diversas plantas (alface, cenoura, etc.) passa por um máximo,

para diminuir depois, sob o efeito de quantidades crescentes de adubos Potássicos.

− o aumento da adubação fosfatada aumenta o teor de Fósforo nos espinafres, assim

como o teor de tiamina na aveia e no feijão-miúdo, além de produzir carência de zinco

nas plantas.

Ainda sobre este assunto, outro agrónomo francês André Voisin, dizia que em virtude da

utilização dos adubos sintéticos, os produtos vegetais podem apresentar até 4 vezes mais

Potássio, 2 vezes mais Ácido Fosfórico, 50% do teor de Magnésio, 6 vezes menos Sódio e 3

vezes menos Cobre.”25/26/27/34/36

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 25

4 Agricultura em Modo de Produção Integrado

4.1 Resumo histórico da Agricultura em Modo de Produção Integrado8/9/10/134: A designação atual de Proteção Integrada radica no conceito original de Luta Integrada,

definido em 1959 pelos entomologistas norte-americanos V.M. Stern, R. van den Bosch, R. F.

Smith e K.S. Hagen, que imaginaram conciliar as intervenções de Luta Biológica (limitação

natural dos inimigos, luta biológica clássica, tratamentos biológicos) com ações de Luta

Química (só quando estritamente necessárias) com base em insecticidas pouco perturbadores

do equilíbrio biológico.

Porém, já em 1956 tinha sido constituída a OILB (Organização Internacional de Luta Biológica,

hoje em dia denominada Organização Internacional de Luta Biológica e Proteção Integrada), a

qual desenvolveu nos anos seguintes, e até hoje, um importantíssimo trabalho, nomeadamente

a nível da investigação, formação e divulgação prática dos conceitos de Luta Integrada,

designação que, tanto em Portugal, como noutros países, passou a Proteção Integrada.

Na definição proposta em 1977, pela OILB (International Organisation for Biological and

Integrated Control of Noxious Animals and Plants), são maximizadas as preocupações de

caráter económico, ecológico e toxicológico, elegendo duas orientações fundamentais:

integração de todos os meios de luta (biológicos, biotécnicos, culturais e químicos) e luta

química dirigida (limitado ao mínimo) a utilizar só quando for indispensável.

A Luta Química Dirigida, processo evolutivo da Luta Química Cega (utilização indiscriminada

de produtos) e da Luta Química Aconselhada (com base nas recomendações dos serviços de

Avisos, traduz acrescidas preocupações ecológicas e económicas, recorrendo ao conceito de

Nível Económico de Ataque (menos tratamentos), à utilização de produtos fitofarmacêuticos

com menores efeitos secundários negativos sobre o utilizador e o meio ambiente e à

preocupação de proteção dos auxiliares.

A nível europeu, nem sempre os conceitos da OILB foram devidamente tomados em

consideração, nomeadamente pela OEPP (Organização Europeia e Mediterrânica para a

Proteção das Plantas, organização intergovernamental que agrupa 45 países) em 1993 e 2003

no seu conceito de Boa Prática Fitossanitária (BPF), bem como a própria Diretiva 91/414/CEE

(trave mestra europeia do “edifício” da proteção das plantas), a qual define oficialmente a Luta

Integrada como “a aplicação racional da combinação de medidas biológicas, biotecnológicas,

químicas, físicas, culturais e a seleção de plantas em que a utilização de pesticidas químicos é

limitada ao estritamente necessário para manter a presença de inimigos das culturas abaixo do

nível a que correspondem o prejuízos”.

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Entre as orientações da OILB (International Organisation for Biological and Integrated Control

of Noxious Animals and Plants) e a Boa Prática Fitossanitária ressaltam importantes

diferenças, uma vez que a “BPF (Boa Prática Sanitária) não aceita duas orientações básicas da

Proteção Integrada: a proibição dos pesticidas muito tóxicos para o Homem e auxiliares e com

elevada volatilidade e lixiviação; a prioridade a meios de luta biológicos, físicos, culturais e

biotécnicos em relação à luta química”. Pelo que, e de acordo com o Professor Pedro Amaro, a

BPF (Boa Prática Sanitária) não é aceitável em Agricultura Sustentável.

A designação de Agricultura Sustentável, como componentre do Desevolvimento Sustentável,

(Conferência do Rio de Janeiro, 1992) tem sido igualmente alvo de muitas definições

originárias de vários organismos internacionais (OCDE, FAO, OILB, Congresso dos EUA), daí

derivando outras noções como Produção integrada e Agricultura Biológica, consideradas como

duas modalidades de Agricultura Sustentável.

O Código Internacional de Conduta da FAO (Food and Agriculture Organization) sobre a

Distribuição e Utilização de Pesticidas como “um sistema de proteção contra os inimigos das

culturas que, tomando em consideração as condições particulares do ambiente e da dinâmica

das populações das espécies em questão, utiliza todos os meios e técnicas apropriadas de

modo tão compatível quanto possível, com o objetivo de manter as populações dos inimigos

das culturas a um nível suficientemente baixo, para que os prejuízos ocasionados sejam

economicamente toleráveis”.122/50

Hoje em dia, toda esta problemática referente à Proteção integrada é considerada pacífica na

União Europeia, entre a Indústria, os Ministérios da Agricultura e as Universidade. Mas há que

referi, que também durante décadas se degladiaram interesses sob um clima de grande

crispação, opondo-se certos fundamentalismos ecológicos aos grupos de pressão da indústria,

apanhados de surpresa pelas novas reivindicações ecologistas, numa altura em que o portfolio

de soluções fitossanitárias era antigo e os respetivos produtos geralmente pouco amigos do

ambiente.

Mas rapidamente começaram a surgir novos produtos com perfis eco-toxicológicos

enquadráveis no âmbito de novas exigências legais, pelo que se pode equilibradamente admitir

que ambos os lados da contenda saíram vencedores: os defensores da proteção e da

produção integrada porque estimularam a Indústria a descobrir novas moléculas amigas do

Homem e do ambiente; e a Indústria que se mostrou sensibilizada ao apelo dos defensores da

Proteção Integrada, investindo avultadas somas em pesquisa e desenvolvimento, de que

resultaram produtos novos, assim como novos mercados específicos, sem os quais,

obviamente, não haveria lugar sequer à Proteção Integrada.

A palavra integrado tem como seu sinónimo o termo Holístico que no próximo capítulo é

abordado mais profundamente e com a reflexão transdisciplinar sobre a sua integração no

Ensino Agrário Português, “trave-mestra” de todo o Saber Fazer Agrário em Portugal.

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4.2 Definição de Holístico e sua aplicação ao ensino agrícola português64/65

Definição de Holístico: Holístico, provem do grego HOLOS, que significa totalidade. Refere-se

à compreensão da realidade como um todo integrado, um todo cósmico, onde os elementos

participam de uma dança complexa de inter-relação e correlação permanentes, entre si e com

o todo, onde a parte está no todo , assim como o todo está na parte. Na nova visão holística, o

Universo é concebido não mais como uma grande máquina, imagem inspirada pelo paradigma

Newtoniano-cartesiano, superado e mecanicista, e sim, como um grande ser em permanente

evolução cósmica. A abordagem Holística considera fundamental um novo diálogo entre

cientistas das áreas físicas, biológicas e humanas com os representantes da sabedoria antiga,

os místicos, os artistas e os poetas, dando lugar à transdisciplinaridade. Esta pequena

abordagem textual propõe-se a apresentar o debate e conceitos realizados por vários autores

em torno da “agricultura convencional” versus a “agricultura alternativa”, focando nos conceitos

de sustentabilidade de um novo sistema agrícola.20

“Buscar os elementos de ligação entre as diferentes áreas do conhecimento é a grande tarefa

do pesquisador detentor da visão de integridade. O olhar lançado pelo Holismo é uma visão do

sistema em relação aos demais sistemas e subsistemas.”49

As duas frases dos parágrafos anteriores surgem como sugestões também para uma reforma

na educação e no pensamento, que modifique o ensino, aproximando-o da sociedade e

tornando-o capaz de ser um importante vetor de transformação social, possibilitando a

efetivação dos direitos fundamentais constantes das normas dos princípios constitucionais. A

Agricultura como setor primário da Sociedade ocupa um papel fundamental básico na

estrututação e caraterização de uma sociedade que se deseja evoluída, assim como o ensino

da Agricultura.

Para tal, sugere-se como referencial teórico as obras de Edgar Morin, Frei Betto e Fritjof Capra,

entre outros, como forma de evitar os docentes no ativo de tornarem passivos e limitados a

visão científico/pedagógica dos seus alunos, sendo o Ensino em si mesmo, uma Ciência

Humana em constante transformação/adaptação e não apenas uma monótona repetição

geracional ultrapassada no tempo, na pedagogia e na própria essência humana.32/20/64/65

Trata-se nos seus principais objetivos, e de como a educação de mera instrução leccionada na

generalidade do Ensino Português, contribuiu para a atual crise, que dissocia o direito da

realidade social cada vez mais complexa. Este tipo de educação não ensina os alunos a terem

uma visão crítica, limitando-se a formar profissionais reprodutores de normas desvinculadas e

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 28

descomprometidas com a realidade social e muito pouco permissivos a assimilar novos

saberes científicos.

Os primeiros cursos superiores da área agrícola, em Portugal tinham como objetivos principais

formar jovens da “élite agrícola” para ocupar cargos públicos e garantir a manutenção da

classe dominante no poder, situação que se verifica ainda (principalmente nas Regiões

Alentejo e Ribatejo, segundo a percepção que me consagra a Prática Pedagógica), 38 anos

após a chamada “Revolução dos Cravos” que “sugeriu” um regime democrático em Portugal. O

acesso, motivado pelo medo da perda das garantias subsidiárias, ainda é restrito de forma

obtusa a esses “donos do poder agrário”. Desde a reforma educacional imposta pela Ditadura

Salazarista para submeter o povo português à ignorância, teve como característica principal a

transmissão de um “ensino bancário”, onde o professor deposita conhecimentos que lhe

obrigaram a acreditar serem verdadeiros e o aluno memoriza, repetindo esse conhecimento,

formando profissionais alheios à realidade social.78

Os cursos superiores agrários em Portugal, têm como característica principal a transmissão de

um ensino meramente reprodutor, primando em preparar agrários tecnicistas, prisioneiros do

mundo do “dever ser”. Este ensino é composto por disciplinas altamente positivadas, baseadas

num sistema de codificações, abstrações e formalismo rijo de procedimentos, ao mesmo tempo

muito limitado tecnicamente. As diferentes realidades e as transformações da sociedade foram

ignoradas, causando um descompasso do ensino (infelizmente abrangendo todas as áreas)

com a sociedade (às avessas com os novos tempos), criando uma frustração de paradigmas

nos valores essenciais dos novos formandos, tendo como corolário, sérias complicações

multifacetadas, sendo uma das razões principais porque Portugal atravessa a pior crise desde

a “Revolução de Abril”, o conflito ideológico entre gerações que absorvem a realidade de

maneira completamente antagónica.

Esse tipo de educação meramente reprodutora permanece até hoje e contribuiu para a

formação instalada e acomodada num país atualmente estagnado, caracterizado pela

impossibilidade de dar à sociedade as respostas para as suas necessidades mais elementares,

como por exemplo, os direitos humanos. E não é apenas o ensino superior que está em crise,

mas também o sujeito. Este encontra-se numa crise de subjetividade que produz vítimas, pois

as pessoas são extremamente individualistas e centradas numa racionalidade científica

impotente.

A noção de sujeito construída sobre a base da idéia do Indivíduo, herança da modernidade,

está em crise. A crise não significa que o Sujeito é um tema que deixou de ter sentido ou que

está interdito. A crise é produtiva, pois aponta para a possibilidade de superação de abstrações

contidas nesta noção e aponta para a possibilidade de construção de uma nova subjetividade.

No entanto, deve-se compreender a tal crise à luz dos Direitos Humanos, ou melhor, na

necessidade de efetivá-los e praticá-los, o que resulta necessariamente numa educação

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 29

complexa, pois, somente uma visão holística é capaz de unir os saberes fragmentados, senão

vejamos por exemplo que ao contrário do que supunha Einstein, “Deus parece jogar dados

com o Universo”.

As imutáveis e previsíveis leis da natureza na sua dimensão macroscópica não se aplicam à

dimensão microscópica - descoberta fundamental da Física Quântica. Na esfera do

infinitamente pequeno, segundo o princípio quântico da indeterminação, o valor de todas as

quantidades mensuráveis - velocidade e posição, momento e energia, por exemplo - está

sujeito a resultados que permanecem no limite da incerteza. Isso significa que jamais teremos

pleno conhecimento do mundo subatómico, onde os eventos não são, como pensava Newton,

determinados necessariamente pelas causas que os precedem. Todas as respostas que,

naquela dimensão, a natureza nos fornece, estarão comprometidas pelas nossas perguntas. A

incerteza quântica não depende da qualidade técnica dos equipamentos utilizados na

observação do mundo subatómico. Esta é uma limitação absoluta.20

Assim nesta ordem de ideias, a aprendizagem baseada em problemas e a metodologia da

problematização são propostas que apresentam diferentes caminhos e afirmam que o ensino

deve ter uma abordagem ativa, pelo menos é o que se depreende da lição de Neusi Aparecida

Navas Berbel, in verbis: “O conhecimento de suas características não permite confundi-las,

mas, com certeza, tomá-las como alternativas inspiradoras de um ensino inovador que

ultrapasse a abordagem tradicional”.18 Assim, elas rompem com o paradigma positivista do

século XIX, que consiste numa “educação bancária”, de instrução que escraviza o indivíduo e

que forma meros reprodutores de normas, o que acabou gerando esta crise no ensino.

É necessário que se passe um pouco da fantasia arcaica para a realidade futura que se quer

atual, aplicando a essência da Constituição sem subterfúgios nem razões ilusoriamente

lógicas, que se incentive o estudante a combater as forças opositoras (como infelizmente são

ainda a generalidade dos professores que esqueceram que a única forma para se ensinar é

ouvir o aluno, compreendê-lo e motivar o seu ritmo vivencial, dinamizando a sua pedagogia

apreendida). O estudante deve deixar de ser mero espetador da realidade atual, deve participar

ativamente dos processos de mudança, deve pesquisar, produzir ciência ou arte (numa otica

transdisciplinar), manifestar-se e intervir acerca dos fatos que estão a modificar o nosso país.

As faculdades devem ser laboratórios de pesquisas e devem não só incentivar como propiciar

meios aos alunos para produzirem ciência.78

O professor que exige a mesma experiência pedagógica para o seu aluno não tem noção , nem

evolucionou em si mesmo um espirito crítico que é a pedra basilar do Conhecimento, sendo

portanto um prejuízo para o Ensino Superior do seu País (neste caso concreto entenda-se por

Portugal) que se deseja dinâmico e evolutivo.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 30

No sentido técnico, a educação é o processo contínuo de desenvolvimento das faculdades

físicas, intelectuais e morais do ser humano, a fim de melhor se integrar na sociedade ou no

seu próprio grupo.

Para as correntes pedagógicas atuais como a cognitiva, o docente é um fornecedor do

conhecimento, ou seja, atua como nexo entre este e o estudante por intermédio de um

processo de interacção. Portanto, o aluno compromete-se com a sua aprendizagem e toma a

iniciativa na busca do saber.

O Ensino Superior Agrário (no caso específico deste mestrado) colocado no seu devido lugar e

cumprindo a função para a qual existe é um pressuposto para formar cidadãos com saberes

científicos, profissionais e com valores humanos (disponível na Carta Internacional dos Direitos

do Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral da ONU na sua Resolução 217ª

(III) de 10 de Dezembro de 1948 e publicada no Diário da República, I Série A, nº 57/78, de 9

de Março de 1978, mediante aviso do Ministério dos Negócios Estrangeiros), tornando-se

assim, antídoto para a “educação bancária”, que não estimula o indivíduo a pensar de forma

crítica, e, possibilitou a fragmentação dos saberes a ponto de gerar a tão falada crise no Ensino

Português.33

A visão Newtow-cartesiana fragmentou os saberes e somente uma visão holística é capaz de

uni-los novamente. Essa visão é um desafio para a ciência e para os seres humanos e

constitui-se numa das alternativas para a saída da crise, ao propor a ligação do Ensino Agrário

com outras áreas do conhecimento, além de impedir a departamentalização do próprio

conhecimento, haja vista que a sociedade e, por conseguinte, os seus problemas são cada vez

mais complexos e transdisciplinares.

Na mesma linha Fritjof Capra (2008), defende a necessidade de uma nova visão de mundo,

pois, segundo ele, vivemos numa época de mudança, chegando a um ponto de mutação que

envolve todo o planeta, mutação esta que nos leva a uma visão holística e sistémica dos

saberes.32

Assim, é necessária uma reforma na educação e no pensamento, que consequentemente

modificará o ensino e a sociedade. Instaurando assim, um novo paradigma que traga em si

mesmo o desafio da complexidade, onde “o conhecimento das partes depende do todo e o

conhecimento do todo depende do conhecimento das partes”. O objetivo desta reforma é

educar os homens dentro de uma visão holística e sistémica, onde os conhecimentos estejam

ligados e haja união entre o pensamento científico e o pensamento humanista, sendo

necessário para tanto a criação de um sistema aberto, capaz de enfrentar as incertezas do

futuro dentro de uma visão transdisciplinar, pois, como visto, saberes fragmentados impedem

de ver o global. Conclui-se portanto que Holístico é sinónimo de Integrado, tendo a obrigação

da Agricultura em Produção Integrada a sua génese conceptual e consequente aplicação

prática e objetiva no terreno (visão inteligente, muito além da visão subsídio-dependente).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 31

4.3 International Organisation for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants (OILB/WPRS)134: Segundo a definição da International Organisation for Biological and Integrated Control of

Noxious Animals and Plants (West Palaearctic Regional Section) – OILB/WPRS, 1980 entende-

se por Produção Agrícola Integrada um sistema de produção utilizando um conjunto de

técnicas culturais satisfazendo sucessivamente as exigências ecológicas, económicas e

toxicológicas, tendo em vista a obtenção de uma colheita qualitativamente otimizada.

Segundo a definição da OILB/WPRS, 1993 entende-se por Exploração Agrícola Integrada um

sistema agrícola de produção de alimentos de alta qualidade e outros produtos, utilizando os

recursos naturais e os mecanismos de regulação natural em substituição de fatores de

produção prejudiciais ao ambiente de modo a assegurar, a longo prazo, uma agricultura viável.

A IOBC-WPRS é uma das 6 Seções Regionais da Organização Internacional para Controlo

Biológico. A IOBC foi criada em 1955 para promover o meio ambiente métodos seguros de

controlo de pragas e doenças na proteção das plantas. Os membros do WPRS são cientistas

individuais, governamentais, organizações científicas ou comerciais de 24 países da Europa,

região do Mediterrâneo e do Oriente Médio.

A IOBC-WPRS incentiva a colaboração na promoção de métodos viáveis e ambientalmente

seguras de controlo de pragas e patogénese.

A IOBC-WPRS promove aplicação de pesquisa e prática, organiza reuniões, simpósios,

oferece formação e informação, especialmente de métodos biológicos de controlo, mas

também de todos os métodos, incluindo produtos químicos, dentro de um contexto manejo

integrado de pragas. Principais atividades incluem o desenvolvimento e padronização de

métodos de ensaio para efeitos dos pesticidas sobre as espécies benéficas, de pragas e de

avaliação de danos doença, modelagem em relação ao manejo de pragas e doenças, e à

aplicação prática do controle biológico e integrado de pragas e doenças de culturas

específicas.

4.4 O papel da OILB/WPRS na divulgação da Produção Integrada destina-se a 3 níveis de Orientações técnicas:

− Orientações técnicas de primeiro nível (estatuto legal das organizações e exigências

mínimas para organizações e membros;

− Orientações Técnicas de segundo nível (regras gerais sobre operações culturais e as

exigências mínimas (regras/proibições);

− Orientações Técnicas de terceiro nível (regras por cultura específica = Pomóideas;

Prunóideas; Citrinos; Vinha; Olival, etc);Pretendem-se portanto estratégias para

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 32

promoção da qualidade da produção e a segurança alimentar, sendo os aspetos

considerados para esse fim o Sistema Holístico, o papel central dos agroecossistemas,

o balanço de nutrientes, o bem estar animal, a preservação da fertilidade dos solos e a

integração dos meios de luta!

4.5 Princípios e objetivos da Agricultura em Modo de Produção Integrado: Quadro n.º 2 – Objetivos da Produção Integrada segundo a IOBC/WPRS:

Fonte: http://www.iobc-wprs.org/ip_ipm/01_IOBC_Principles_and_Tech_Guidelines_2004.pdf

Quadro n.º 3 - Princípios da IOBC/WPRS: 1) A aplicação apenas holisticamente:

- Regulação dos ecossistemas

- Importância da vida selvagem

- Conservação dos recursos

2) A minimização dos custos externos e impactos indesejáveis:

- Contaminação de solo e águas com nitratos e

pesticidas

- Erosão

3) Exploração agrícola é a unidade funcional

4) Conhecimento do agricultor frequentemente atualizado

5) Agroecossistemas são a base da planificação da exploração

6) Balanço dos nutrientes e minimização de perdas

7) Preservação e melhoramento da fertilidade intrínseca do solo

8) Defesa da biodiversidade

- Substituição dos inputs da exploração

- Diminuição da poluição- Melhoria da economia da exploração- Base da agricultura sustentável

- Tecnologias preferencialmente ecológicas

- Novos critérios de qualidade

A sustentabilidade do rendimento da exploração:

- Produtos de valor acrescentado

- Diversidade de paisagens

- Colonização e cultura de locais remotos

- Conservação da vida selvagem- Manutenção de tradições culturais

A integração dos recursos naturais e mecanismos reguladores dos agroecossistemas:

A produção sustentável da qualidade de produção:

A sustentabilidade da multifuncionalidade:

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 33

9) Proteção dos animais em explorações mistas

10) A base da proteção das culturas é a proteção integrada

11) Conceito de qualidade total da produção (+ amplo)

Fonte: http://www.iobc-wprs.org/ip_ipm/01_IOBC_Principles_and_Tech_Guidelines_2004.pdf

4.6 Critérios standard da Produção Integrada segundo a Comissão Europeia: - Segurança Alimentar112/113 - A política de segurança alimentar da União Europeia destina-se

a proteger a saúde e os interesses dos consumidores, garantindo ao mesmo tempo o bom

funcionamento do mercado interno. Para atingir este objetivo, a União vela por estabelecer e

por fazer respeitar as normas de controlo em matéria de higiene dos produtos alimentares, de

saúde e de bem-estar dos animais, de fitossanidade e de prevenção dos riscos de

contaminação por substâncias externas. Prescreve igualmente as regras para uma rotulagem

adequada destes géneros e produtos.87

Esta política foi objeto de uma reforma no início de 2000 em conformidade com a abordagem

«da exploração agrícola até à mesa». Um nível elevado de segurança dos produtos

alimentares comercializados na União é, assim, garantido em todas as etapas da cadeia de

produção e de distribuição. Esta posição refere-se tanto aos alimentos produzidos na União

como aos importados de países terceiros.

A União Europeia, na qualidade de principal produtor e importador de géneros alimentícios,

aderiu a vários acordos e associou-se a organismos internacionais que contribuem para

instaurar normas de segurança e de qualidade para os alimentos e produtos alimentares, entre

os quais o Codex-Alimentarius e o Serviço Internacional das Epizootias. O acervo da União

Europeia em matéria de segurança dos alimentos é adotado pelos países candidatos à adesão

à União e está incluído nas políticas da agricultura e dos consumidores.

- Bem-estar Animal114 - A União Europeia reconhece que os animais são seres sensíveis que

merecem proteção. A legislação comunitária estabelece exigências mínimas com o objetivo de

poupar aos animais qualquer sofrimento inútil em três domínios principais: a criação, o

transporte e o abate. Outras questões são igualmente abordadas, como a experimentação

animal e o comércio de peles. O plano de ação 2006 - 2010 aponta as grandes linhas de

intervenção europeia neste domínio, tanto no seio da União como para além das suas

fronteiras.

A fim de prevenir e de fazer face às doenças que afetam os animais, a União Europeia

desenvolveu medidas para limitar os riscos de aparecimento e difusão destas doenças e para a

sua erradicação quando a sua presença for confirmada. Esta legislação é complementar das

regras em matéria de controlo veterinário e de higiene dos géneros alimentícios. Compreende

disposições gerais de vigilância, de notificação e de tratamento das doenças infeciosas e dos

seus vetores, e disposições específicas para certas doenças como a encefalopatia

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 34

espongiforme bovina (EEB), a febre aftosa ou a gripe aviária. São ainda estabelecidas regras

aplicáveis aos medicamentos destinados aos animais.37/143

- Conservação Ambiental107/115 - A União Europeia vela pela prevenção e pela limitação de

qualquer contaminação dos géneros alimentícios através de certas substâncias indesejáveis ou

devido à atividade humana. A União regulamenta assim a utilização de certas substâncias

químicas específicas, como as que são utilizadas na agricultura ou em determinadas técnicas

de produção ou transformação dos alimentos. Além disso, são tomadas medidas para limitar a

contaminação devido à poluição da água ou do ar, ou por exposição à radioatividade. Os riscos

de contaminação pelos organismos geneticamente modificados e pelas embalagens

alimentares são igualmente controlados.

Com a finalidade de prevenir qualquer risco para a alimentação humana e animal e de garantir

a saúde e a qualidade das culturas, a proteção das plantas e dos vegetais é objeto de especial

atenção na União Europeia. Assim, a circulação dos vegetais, na União ou proveniente de

países terceiros, é controlada com o objetivo de lutar contra o aparecimento e a difusão de

organismos prejudiciais. Além disso, a União garante que a saúde e o ambiente não são

prejudicados pelos produtos fitossanitários através, nomeadamente, do estabelecimento de um

sistema de autorização e de limites máximos de resíduos nos vegetais.

- Comércio Justo111 – A União Europeia é a primeira potência comercial do mundo com 20%

do volume total das importações e das exportações. O comércio livre entre os seus membros

foi um dos princípios fundadores da UE, que está igualmente empenhada em liberalizar o

comércio mundial, tanto no interesse dos países ricos como dos países pobres.

O comércio diz respeito a todos. Independentemente da nossa profissão e do local onde

vivemos, a política comercial afecta diretamente o nosso quotidiano. Sem as trocas comerciais,

a nossa vida seria muito diferente. Basta pensarmos no café ou no chá que bebemos todos os

dias ao pequeno-almoço, nos carros que conduzimos, nos computadores de que dependemos

cada vez mais e nas férias que passamos noutros continentes.

A política comercial comum constitui um pilar das relações externas da União Europeia.

Assenta num conjunto de normas uniformes decorrentes da União Aduaneira e da Pauta

Aduaneira Comum e regula as relações comerciais dos Estados-Membros com os países

terceiros. Os instrumentos de defesa comercial e de acesso aos mercados visam, em especial,

proteger as empresas europeias contra os obstáculos ao comércio.

A União evoluiu com a globalização, perseguindo o objetivo de assegurar o desenvolvimento

harmonioso do comércio mundial e promovendo o seu caráter equitativo e sustentável.

Incentiva ativamente a liberalização dos mercados e o desenvolvimento das trocas comerciais

no quadro multilateral da Organização Mundial do Comércio (OMC), apoiando ao mesmo

tempo os países e as regiões em desenvolvimento, no contexto das suas relações bilaterais, a

fim de os integrar no comércio mundial por meio de medidas preferenciais.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 35

A União Europeia dá cumprimento às disposições do Protocolo Cartagena sobre Biosegurança.

O referido protocolo visa assegurar um grau adequado de protecção para a transferência,

manipulação e utilização seguras de organismos geneticamente modificados (OGM) que

possam ter efeitos adversos no ambiente e na saúde humana, colocando mais precisamente a

tónica nas transferências transfronteiras (movimentos de OGM entre dois Estados, com

exclusão dos movimentos intencionais entre partes no protocolo de Cartagena, no interior da

Comunidade Europeia).

4.7 Livro Verde para a promoção e informação relativas aos produtos agrícolas da Comunidade Europeia116:

Em Bruxelas, a 14 de Julho de 2011, a Comissão Europeia lançou o debate sobre sistemas a

utilizar no futuro para a promoção e informação relativas aos produtos agrícolas da União

Europeia. Com a publicação de um Livro Verde sobre estas questões, a Comissão procura

formas de modelar uma estratégia futura mais ambiciosa e bem estruturada, que evidencie,

junto do consumidor europeu e estrangeiro, a qualidade, as tradições e o valor acrescentado

dos produtos agrícolas e alimentares da União Europeia.

Ao apresentar o Livro Verde em Bruxelas, o Comissário Europeu com a pasta da Agricultura e

do Desenvolvimento Rural, Dacian Ciolos, declarou: «Para defenderem a saúde do

consumidor, os agricultores europeus têm de fazer face a normas mais severas sobre saúde

alimentar, condições ambientais e bem-estar animal do que os seus concorrentes em qualquer

outra parte do mundo. O sector agrícola europeu necessita de uma política de promoção

ambiciosa e eficaz que saliente o valor acrescentado do sector. É igualmente importante para o

emprego e o crescimento europeus que o sector agroalimentar da União Europeia reforce a

sua posição nos mercados tradicionais e emergentes. Consequentemente, temos de encontrar

a melhor forma de adaptar os nossos sistemas em função deste objetivo.»

O Livro Verde está dividido em quatro secções (valor acrescentado europeu desta política;

objetivos e medidas a aplicar no mercado interno da União Europeia, incluindo nos mercados

locais e regionais; objetivos e medidas a aplicar nos mercados internacionais; questões mais

vastas sobre o teor e a gestão da política).

As informações e as normas de promoção em vigor na União Europeia sobre os produtos agro-

alimentares datam da década de 80. Foram sendo adaptados ao longo dos anos,

nomeadamente com o aumento do número de marcas de qualidade. O orçamento da União

Europeia dedicado à promoção, nos termos do Regulamento (CE) n.º 3/2008 do Conselho,

ascendeu a 50,6 milhões de euros em 2007, 53,2 milhões de euros em 2008, 47,4 milhões de

euros em 2009 e 47,4 milhões de euros em 2010. A maioria dos sistemas vigentes têm por alvo

o mercado da União Europeia (71% dos programas, 74% do valor) e cerca de 8% são

programas que abrangem grupos de países. Entre 2006 e 2010 foram aprovados 190

programas, na sua maioria trianuais, num valor total de 259,4 milhões de euros do orçamento

da União Europeia. (N.B: Requerem cofinanciamento das organizações participantes e dos

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 36

Estados Membros). Além disso, ao abrigo das normas severas em vigor, foram rejeitadas, no

período 2006/2010, cerca de 59% das candidaturas.

4.8 Evolução da Proteção Integrada e Produção Integrada em Portugal8/9: O Professor Pedro Amaro considera quatro fases evolutivas destes dois conceitos: a 1ª fase

(1977 a 1986), é considerada “de desenvolvimento da proteção integrada, com especial ênfase

no ensino, na sensibilização e no debate e com ligieor arranque da investigação, que se

prolongou até 1986”; a 2ª fase (1987 a 1983), caracterizou-se pela “crescente intensificação do

ensino e da formação profissional, maior desenvolvimento da investigação e escasso início da

prática da proteção integrada”; a 3ª fase (1994 a 2000), corresponde à existência de “uma

política oficial de fomento da proteção integrada (e muito

escassa da produção integrada), no âmbito do II Quadro

de Apoio à Agricultura Portuguesa (Medidas Agro-

Ambientais) que permitiu a rápida evolução da formação

profissional e do financiamento da prática da Proteção

Integrada”; A 4ª fase iniciou-se em 2001, coincidindo com

o III Quadro de Apoio à Agricultura Portuguesa,

desenvolver-se-á até 2006, correspondendo “ao fomento

da Produção Integrada, à expansão da proteção integrada

e à crescente preocupação quanto à qualidade da

Proteção Integrada e da Produção Integrada”. Segundo o

professor Pedro Amaro, pioneiro da Proteção Integrada em

Portugal, citando Bajwa & Kogan, desde 1959 até 1998

estão referenciadas bibliograficamente sessenta e sete

definições respeitantes ao conceito de Proteção Integrada.

Em Portugal, a legislação existente sobre Proteção Integrada data de 1995 e 1997, mas, de

acordo com o Professor Pedro Amaro, ela deverá ser revista no sentido de corrigir erros e

proceder à alteração de conceitos já definidos pela International Organisation for Biological and

Integrated Control of Noxious Animals and Plants (1993 e 1999) “com ênfase na proteção no

contexto da Agricultura Sustentável e na prevenção da resistência dos pesticidas e de

problemas por medidas agronómicas”.10

No caso de Portugal têm sido visíveis os desencontros verificados ao longo das últimas

décadas, entre a Universidade e o Ministério da Agricultura, com claro prejuízo para a

implementação das orientações adequadas.

“(…) em Junho de 2005 haviam 20.834 agricultores com uma área de 178.836 hectares de

culturas em Proteção Integrada e 3023 agricultores com a área de 59.186 hectares de culturas

em Produção Integrada que recebiam assistência técnica de cerca de 443 técnicos de 112

organizações de agricultores.”9

Figura n.º1 - Eng. Pedro Amaro

(à esquerda)

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 37

As Medidas Agro-Ambientais derivaram de uma nova filosofia que reconhece o caráter

multifuncional da Agricultura Europeia, não se limitando a agricultura à sua função produtiva no

sentido de produzir produtos transacionáveis, mas também à produção de bens e serviços

sociais e ambientais como a preservação da paisagem, do espaço rural e do ambiente.

Serviços esses, que pela sua importância social, deveriam ser remunerados. É neste contexto

que surgem as referidas Medidas Agro-Ambientais que permitiram fomentar e remunerar

práticas e tecnologias menos penalizantes para o ambiente (Reg. CEE Nº 2078/92) tais como a

Proteção e a Produção Integradas.

4.9 Normas de Produção Integrada em Portugal99/87/102: Os princípios da produção integrada aplicados às várias culturas visam a obtenção de

produções competitivas e de alta qualidade, de modo a cumprir as exigências atuais no que diz

respeito à segurança alimentar e rastreabilidade, assegurando simultaneamente, o

desenvolvimento fisiológico equilibrado das plantas e a preservação do ambiente, de modo a

garantir, a longo prazo, uma agricultura sustentável.

Para atingir tais objetivos é essencial assegurar a gestão racional e equilibrada, de todos os

fatores de produção utilizados, assim como, a utilização de metodologias que reduzam e ou

melhorem a utilização dos 'inputs', nomeadamente de produtos fitofarmacêuticos e fertilizantes,

de modo a reduzir quer a contaminação do ambiente quer a dos produtos agrícolas obtidos.

Para a prática da proteção e produção integradas foi necessário estabelecer um conjunto de

normas técnicas que definem aspetos relativos à produção propriamente dita: localização e

escolha do terreno, operações de instalação, material vegetal a utilizar, conservação do solo,

podas, mondas, rega, fertilização, bem como as regras referentes à componente da proteção

fitossanitária, estimativa do risco, níveis económicos de ataque, meios de luta disponíveis e

listagem dos produtos permitidos em proteção integrada.

Numa primeira fase de desenvolvimento da proteção integrada e da produção integrada foram

elaborados três documentos distintos:

− Lista de produtos fitofarmacêuticos e Níveis económicos de ataque aconselhados em

proteção integrada:

− Fertilização e outras práticas culturais;

− Cadernos de campo;

Ao nível da proteção fitossanitária foi publicado em 2008, pela Direção-Geral de Agricultura e

Desenvolvimento Rural, o documento "Critérios de seleção de produtos fitofarmacêuticos

permitidos em proteção integrada e produção integrada das culturas", no qual se fez a revisão

dos critérios de seleção de produtos fitofarmacêuticos permitidos em proteção integrada e

produção integrada das culturas. Em 2011, foi publicada uma errata ao referido documento.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 38

Os critérios de seleção das substâncias ativas então existentes foram estabelecidos no início

da implementação em Portugal da Proteção e Produção Integradas, com base em aspetos

toxicológicos e ambientais das substâncias ativas, o que se traduziu na utilização em Proteção

e Produção Integradas de produtos com base em substâncias ativas de menor toxicidade para

o Homem, para o ambiente e para os insetos auxiliares.

Após cerca de 14 anos de adoção destes critérios, e tendo em conta que foi publicada a

Diretiva 1999/45/CE, transposta para legislação nacional pelo Decreto-lei nº 82/2003, de 23 de

Abril, que estabelece procedimentos e critérios harmonizados para a classificação e rotulagem

de preparações, entenda-se de produtos fitofarmacêuticos, foi necessário proceder à revisão e

à adaptação dos critérios até então definidos. Por força desta legislação, e ao contrário do

princípio até então adotado, a seleção passou a ser feita relativamente às características dos

produtos fitofarmacêuticos, e não com base nas características das substâncias ativas, o que

se traduz no facto, de serem os produtos fitofarmacêuticos que passam a ser permitidos em

Proteção Integrada.

Na revisão e adaptação dos critérios de seleção dos produtos fitofarmacêuticos, procedeu-se a

uma apreciação dos critérios existentes e atualizaram-se e estabeleceram-se novos critérios

toxicológicos, ambientais, de toxicidade para os auxiliares e de permissão temporária, tendo

por base uma apreciação crítica fundamentada na experiência entretanto adquirida, legislação

comunitária entretanto publicada, a evolução dos conhecimentos técnico-científicos nas áreas

da toxicologia humana, ecotoxicologia e ambiente, em particular nos domínios da avaliação do

perigo e do risco dos produtos fitofarmacêuticos.

Por outro lado, foram pela primeira vez, estabelecidos critérios para utilização em Proteção e

Produção Integradas de produtos fitofarmacêuticos no tratamento de sementes como forma de

reforçar a redução do risco associado ao seu manuseamento e uso.

Os critérios agora estabelecidos serão considerados na revisão das normas técnicas de

Proteção e Produção Integradas com aplicações específicas por cultura a partir de 01 de

Janeiro de 2009.

O exercício da proteção e produção integradas implica, pela parte dos agricultores,

determinadas obrigações e compromissos que devem ser registadas em caderno próprio

denominado caderno de campo. Segundo a legislação em vigor existe um caderno de campo

do PRODER que deve ser preenchido (melhorar com a informação referente da legislação).

Contudo a DGADR (Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural) elaborou as

minutas tipo dos cadernos de campo para a proteção integrada e produção integrada de

acordo com o Decreto-Lei nº 256/2009, de 24 de setembro, segundo os princípios

estabelecidos para cada prática e compromissos dos agricultores.

Nos referidos cadernos de campo os registos a serem efetuados são:

− proteção integrada: além dos dados referentes à identificação das parcelas, devem ser

registados os estados fenológicos da cultura, observações realizadas em relação aos

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 39

principais inimigos da cultura, as datas dos tratamentos realizados e os produtos

fitofarmacêuticos utilizados;

− produção integrada: para além dos dados registos anteriormente referidos, devem ser

registados os dados referentes ao sistema de produção, nomeadamente podas, regas,

fertilizações e colheita.

Atualmente encontram-se elaborados cadernos de campo de proteção integrada, no site da

Direção – Geral de Agricultura e Desenvolvimento Regional, para actinídea, arroz, cereais de

outono / inverno, citrinos, figueira e frutos secos, hortícolas, milho e sorgo, oleaginosas,

oliveira, pomóideas, prunóideas e vinha e produção integrada de abacate, actinídea, arroz,

beterraba, cereais de outono / inverno, citrinos, milho e sorgo, girassol, oliveira, pastagens e

forragens, pomóideas, prunóideas e vinha.

A aplicação indiscriminada, sem controlo, de pesticidas, tem levado a um aumento assustador

dos níveis de pesticidas no solo, nas águas, nos alimentos, no corpo humano e nos animais.

Atualmente existem cerca de meia centena de pesticidas com efeitos cancerígenos conhecidos

sobre a saúde animal. No corpo humano, as consequências podem ser dramáticas,

provocando cancro e outras doenças.

Nos últimos 20 anos, a produção de produtos agrícolas (ex: frutícolas) em Portugal mudou:

hoje usam-se os produtos químicos, em especial os pesticidas, muito mais racionalmente,

minimizando os riscos para o ambiente e para a saúde humana (consumidor e produtor),

obtendo-se produtos com resíduos de pesticidas muito inferiores aos Limites Máximos de

Resíduos de Pesticidas – LMR, permitidos pela Comissão Europeia89. Os nossos produtos são

aceites pelos mercados mais exigentes com respeito, na Europa e fora dela.45

Este é um resultado do progresso na produção agrícola. Ao nível da aplicação de pesticidas é

de realçar o aumento da assistência técnica, a adoção da produção integrada, a formação dos

produtores aplicadores de pesticidas, a calibração e a inspeção dos pulverizadores, a

adequação do volume da calda ao volume vegetativo da planta-alvo e a certificação das

explorações através de referência de Boas Práticas Agrícolas.

Os agricultores estão no bom caminho, mas o futuro da produção agrícola preocupa muitos

deles por falta de formação e criatividade em informar-se, pois embora se privilegiem métodos

que evitem ou minimizem a intervenção química, o facto é que muitos agricultores/técnicos

portugueses ainda pensam de forma conformista que o controlo dos problemas fitossanitários

passa pelo uso da luta química, com a resposta de que muitas soluções não químicas não

existem ou não são eficazes.85

Corroborando a frase anterior o documento intitulado por Estatíticas Agrícolas 2011, do

Instituto Nacional de Estatística português, constata que existe um aumento generalizado de

introdução de químicos e fertilizantes sintéticos no território nacional:85

- o volume de vendas dos produtos fitofarmacêuticos registou, em 2010, um valor próximo do

apurado no ano precedente, cerca de 14 mil toneladas expressas em teor de substância ativa;

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 40

- a quantidade de herbicidas vendidos aumentou 20% em 2010, promovida sobretudo pelas

formulações de herbicida à base de glifosato;

- o consumo aparente de fertilizantes inorgânicos aumentou 6%, totalizando 169 mil toneladas

em 2010;

- em 2010, cada hectare de SAU incorporou 12 Kg de azoto e 2 Kg de fósforo, o que

corresponde a acréscimos de 7% e 5%, respetivamente.

4.10 Plano de Ação para a promoção da Biodiversidade na Agricultura, normalizada pela Comunidade Europeia: Na Europa do pós-Guerra difundiu-se um novo modelo tecnológico na agricultura baseado na

dupla substituição:

- de trabalho humano por máquinas (vertente mecânica), que permitiu a cada trabalhador gerir

áreas cada vez maiores;

- de processos ecológicos por inputs químicos e outros (vertente química), que aumentou a

produtividade da terra (intensificação).

Esta dupla substituição permitiu uma maior produção por trabalhador e assim a transferência

de muitas pessoas da agricultura para os setores emergentes da indústria e dos serviços.

A posterior generalização deste modelo químico-mecânico, incluindo a países em

desenvolvimento (revolução verde) permitiu:

- multiplicar por três a produção global de cereais desde 1950;

Devido a três grandes factores:

- rápida adopção, nos países em desenvolvimento, de variedades de trigo e de arroz de alto

rendimento e do milho-híbrido;

- multiplicação por três da área irrigada;

- multiplicação por onze do uso global de fertilizantes.

A artificialização dos agro-ecossistemas pelo modelo químico-mecânico permitiu que o

aumento de produção neste período tenha sido conseguido principalmente através do aumento

da produção por hectare (intensificação) e não tanto da expansão da área agrícola.

Atualmente a contracção da superfície cultivada por degradação de solos e urbanização, o

custo ecológico inaceitável da expansão da área cultivada (desflorestação, crise da

biodiversidade e emissões de CO2) e a necessidade de aumentar a produção agrícola para

fazer ao crescimento demográfico, à mudança nas dietas nos PED e à procura de matérias

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 41

primas agrícolas para fins não alimentares, colocam desafios monumentais à agricultura para o

próximo meio-século.

Neste contexto, o modelo químico-mecânico encontra-se num impasse em diversas frentes:

- Pegada ambiental do próprio modelo, que é necessário corrigir;

- Limites ao melhoramento genético das plantas e limites na resposta destas aos fertilizantes e

pesticidas;

- Esgotamento de recursos hídricos e redução nas disponibilidades de água para rega;

- Impacte das alterações climáticas na produtividade das culturas agrícolas e nos recursos

hídricos;

- Dependência de energia fóssil e vulnerabilidade face aos preços dos combustíveis.

A principal causa directa da perda de biodiversidade a nível global é a destruição de

habitat(…)muito particularmente pela conversão de áreas naturais em áreas agrícolas e de

pastagem (Myers, 1997).

“Só biomas relativamente inadequados para as plantas cultivadas, como os desertos, as

florestas boreais e a tundra, estão hoje relativamente intactos”(MEA, 2005).

Na Europa, contudo (Tucker e Heath, 1994):

- 2/3 das espécies de aves ameaçadas e vulneráveis dependem de habitats agrícolas;

- 40% das mesmas são afectadas pela intensificação da agricultura e 20% pelo abandono de

sistemas agrários extensivos;

- 15% da área designada ao abrigo da Directiva Habitats (35% no Oeste da Península Ibérica)

corresponde a “habitats naturais” que dependem de uma gestão agrícola extensiva;

Esta biodiversidade europeia está também em declínio, mas por causa do abandono dos usos

agrários extensivos ou da sua intensificação (EEA, 2004).

Estas associações positivas entre agricultura extensiva e biodiversidade deram origem a uma

preocupação com a manutenção dos sistemas extensivos (Bignal e McCracken, 1996), mais

tarde incorporada numa linha de trabalho da Agência Europeia de Ambiente (AEA): as HIGH

NATURE VALUE FARMLAND, que ocupam 15-25% da SAU na UE, sendo áreas que incluem:

- prados e pastagens semi-naturais, incluindo os das regiões alpinas e das terras altas;

- dehesas e montados;

- pseudo-estepes cerealíferas

Caracterizadas principalmente por baixo nível de intensidade produtiva, elevado nível de

biodiversidade e a conservação das praticas culturais intemporais identitárias regionalmente.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 42

A agricultura é o maior utilizador de terra na Europa e as atividades agrícolas afetam todos os

fatores ambientais - o solo, o ar de qualidade, as emissões de gases de efeito estufa, a água, a

fauna e a flora. Mudanças lentas e rápidas ocorrem e o resultado pode ser atribuído à interação

da gestão agrícola com o ambiente natural, sendo que esta interação é mais complexa do que

muitas outras interações pois os setores, variam ao longo do tempo e entre os diferentes locais

europeus. Existem amplas evidências de deterioração ambiental ao longo do tempo, apesar de

algumas melhorias na qualidade do ar, melhorias regionais localizadas na qualidade do solo e

as reduções de emissões de GEE – Gases que provocam efeito de estufa. As metas europeias

para a qualidade da água e da biodiversidade estão sendo acauteladas, a qualidade do solo

está em declínio, o uso de fitofármacos é alta e as paisagens culturais são afetadas pela

intensificação agrícola e o abandono. A escala do desafio ambiental será exarcebada pela

mudança climática sendo portanto necessária a redução das emissões de GEE.

"Apesar das melhorias em algumas regiões, a poluição difusa da agricultura continua a ser uma

das principais causas da má qualidade da água atualmente observada em zonas da Europa. A

Agricultura contribui com 50-80% do total carga de azoto observado na Europa de água doce,

em descargas pontuais, fornecendo as estações de tratamento de águas residuais, a maior

parte do restante ". SOER, 2010

Existiam poucos programas de tratamento de dados que relacionem o uso do solo com a sua

constituição, assim como poucos dados comparáveis ao longo de uma série temporal

consistente por parte dos Estados-membros, sendo ultrapassadas essas limitações com o

recente programa de tratamentos de dados de 2012 – LUCAS.

O Centro Experimental de Erosão de Solos, na Herdade de Vale Formoso, Mértola, em

Portugal é o mais antigo em atividade no Mundo, sendo premente o interesse da sociedade

cívica para preservar esta jóia da história portuguesa. Para a instalação deste Posto Agrário,

foram doados pela Câmara Municipal de Mértola terrenos então baldios, que no seguimento do

Decreto n.º 10552 de 14/2/1925, mediante o qual se procedeu à divisão das terras baldias da

Serra de Mértola, tendo sido cedidos à Direcção Geral dos Serviços Agrícolas 50 ha de terra

para "...a criação de um posto agrícola que exemplificasse aos novos seareiros, possuidores

das glebas, a forma mais racional e económica de aproveitar os terrenos que haviam sido

baldios..." (Ata da sessão da Câmara de Mértola de 25/4/1928 e portaria de 27/3/1928 - Diário

da República no n.º 70 II Série). Nesse período, o “Campo Experimental” foi dirigido pelo Eng.º

MIRA GALVÃO, que deixou um legado de vasta documentação sobre práticas agrícolas,

técnicas de conservação de solo e modos de vida da população da Serra de Mértola.

Consequentemente, existe actualmente na Herdade de Vale Formoso um valioso e importante

espólio (material e documental), de grande valor histórico, patrimonial e até museológico, e que

muito pode revelar e contribuir para a um melhor e certamente mais aprofundado

conhecimento da estratégia de implementação das Campanhas do Trigo do Estado Novo,

nesta região do País. A importância para a região da Herdade de Vale Formoso, associada às

suas valências de apoio técnico aos agricultores e à actividade agrícola, aumentou

significativamente a partir da década de 60, mais concretamente a partir de 1961, aquando da

instalação nos seus terrenos do Centro Experimental de Erosão de Vale Formoso-CEEVF. A

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 43

criação deste Centro pelo Eng.º Ernesto BAPTISTA D’ARAÚJO tinha por objetivo o estudo e

quantificação das perdas de solo agrícola por erosão hídrica e o desenvolvimento e

implementação de medidas e práticas de conservação de solo..98

Existe uma definição proposta pelas Nações Unidas que define desertificação como sendo “…a

degradação do solo, da paisagem e do sistema bioprodutivo terrestre em áreas áridas, semi-

áridas e sub-húmidas, resultante de vários fatores, incluindo as variações climáticas e as

atividades humanas…” (UNCCD, 1994):98

- a Desertificação é uma das mais trágicas consequências do uso irracional dos recursos

naturais (solo, água, coberto vegetal, entre outros),

- a Desertificação é um “desafio mundial”, que vai ameaçar na próxima década mais de 50

milhões de habitantes em todo o mundo, segundo dados da UNCCD em 2006;

- a Desertificação, as alterações climáticas e a pedra de Biodiversidade são três problemas

indissociáveis;

- confunde-se por vezes, Desertificação com seca (fenómeno natural) e despovoamento

(fenómeno sócioeconómico), estando no entanto estes fenómenos relacionados e interligados;

- as medidas de mitigação e combate devem ser baseadas, num bom conhecimento dos

ecossistemas naturais e cultivados, fundamentalmente no que diz respeito à dinâmica entre

fatores naturais e socioeconómicos;

- esta situação pode ser remediada, mas a reabilitação de áreas degradas é um processo

lento e de longo prazo, que implica que a implementação seja aceite por todos os atores das

áreas afetadas, tendo também elevados custos;

- é importante e essencial que todos os setores da sociedade estejam informados, e que

possam modificar as suas atitudes e comportamentos (nomeadamente os agricultores que

laboram a terra todos os dias) de maneira a preservar e conservar os recursos naturais.

Segundo o Arquivo da Integração Europeia38, cerca de 7% do terreno agrícola (inclui culturas

pemanentes e sazonais) na Comunidade Europeia, composta por 24 países (exclui o Chipre,

Grécia e Malta), sofre risco de erosão moderado a severo (»11 t/ha/yr) comparando com a

percentagem de 2% em prados na mesma zona europeia. Neste mesmo estudo é apresentado

o grau de risco de erosão descriminado segundo o tipo de coberto do solo: vinha (»1,0 t/ha/yr),

olivais (»2,5 t/ha/yr), pastagens («0,5 t/ha/yr), fruteiras e frutos vermelhos (»1 t/ha/yr), arrozais

(»1,5 t/ha/yr), terra irrigada permanentemente (»3 t/ha/yr), terra arável não irrigada (» 2 t/ha/yr),

áreas agroflorestais (»1,5 t/ha/yr), mosaico agrícola e natural (»2,5 t/ha/yr) e complexos

padrões de cultivo (»1,5 t/ha/yr). Calcula-se portanto que 60 milhões de hectares de solo

contenham menos de 2% de matéria orgânica na Comunidade Europeia e que 30 milhões

sejam utilizados em culturas permanentes ou sazonais, situando-se a metade Sul de Portugal

Continental, num intervalo de risco de perda de matéria orgânica entre os 20% e os 50%.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 44

Conclui-se assim que as pastagens, prados permanentes e zonas naturais contêm uma

percentagem intermédia de matéria orgânica na Comunidade Europeia, no intervalo de 20%-

30% de SOM (matéria orgânica no solo), sendo classificadas como solo orgânico/mineral.

Em relação a Portugal Continental, a maior parte do território é classificado contendo solos

minerais, com uma percentagem abaixo dos 20% de SOM in u.h., sendo o restante do território

ocupado com solo orgânico/mineral.

“Os solos europeus reservam na sua constituição cerca de 73 a 79 biliões de toneladas de

carbono. Na Comunidade Europeia 45% dos solos contém um muito baixo grau de matéria

orgânica (de 0 a 2% carbono orgânico).” (SOER, 2010).

Cerca de 9,1% das emissões dos gases de estufa (principalmente óxido de Azoto - N2O e

metano - CH4) é proveniente da criação de gado ou 12,8% se o uso da terra em vários países

europeus evoluir para usos mais intensivos. Metade dessa percentagem, 323 milhões de

toneladas de GEE, provêm diretamente da atividade agrícola. Mas essa percentagem poderá

ser reduzida para metade, cerca de 55-77 milhões de toneladas de CO2, se forem melhoradas

as explorações pecuárias intensivas (nomeadamente com o aproveitamento do Metano para

produzir energia à própria exploração), fazendo regra metodológica da mobilização reduzida,

melhorando os sistemas agrícolas de irrigação para a autossuficiência, trocando o uso de

fertilizantes compostos por Nitrato de Amónio e Ureia, reduzindo o sobre-pastoreio através do

encabeçamento equilibrado. Atualmente existem estudos europeus que garantem que a

adoção da sementeira direta e da mobilização mínima em toda a Comunidade Europeia era

suficiente para colmatar 100% dos GEE produzidos pela Agricultura Europeia, sendo o único

impasse para essa mudança de técnicas agrícolas a vontade dos agricultores europeus.

Os sistemas agrícolas que mais promovem a conservação da Biodiversidade na Agricultura

Europeia são a criação de gado de forma mista (várias raças de animais) e extensiva, a

sementeira direta de cereais, as culturas permanentes tradicionais e a Agricultura em modo de

produção biológica. As novas tecnologias também são determinantes para estes sistemas

agrícolas sustentáveis, nomeadamente a aposta nas energias renováveis (Ex: painéis

fotovoltaicos em Portugal) e no acesso à formação especializada, assim como às Diretivas

Europeias de regulamentação e consequente aplicação no terreno (Ex: Água, níveis de nitratos

e status ecológico; Pesticidas, resíduos e níveis de permissibilidade da água; Constragimentos

no uso dos OGM´s – Organismos Geneticamente Modificados; Proteção da Fauna, Flora e

Habitat´s; Constrangimentos de Zonamento e Mobilização).

Assim a Comunidade Europeia propõe-se a assegurar que os habitats naturais não sejam

danificados por atividades agrícolas (Ex: pastagem excessiva e queima); manter os habitats

semi-naturais associando práticas benéficas para restauro e evitando a sua fragmentação;

melhorando os habitats agrícolas evitando ou reduzindo os impactos externos e reforçando o

habitat com gestão adequada (ex: pequenas parcelas de cultivo para a fauna); que os

agricultores consigam proceder ao apelo globalizante de “produzir mais com menos”,

aumentando assim a sua eficiência; a construir uma Agricultura Europeia mais resistente e em

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consonância com as alterações climáticas; a comprometer as atividades agrícolas com uma

diminuição substancial das emissões de gases com efeito de estufa; revertendo a perda de

Biodiversidade até 2020 com inteligente gestão florestal e agrícola; equilibrando a

sustentabilidade de recursos com a provisão suficiente de produtos agrícolas; comprometendo-

se mundialmente em liderar com uma visão produtiva sustentável e uma segurança alimentar

exemplar.

Assim a nova CAP – Politica Agrícola Comum (2014-2020) aposta em tornar a Agricultura

Europeia mais amiga do ambiente pois chegou-se à conclusão que é a única forma de

sustentabilização dos recursos naturais, agrícolas, culturais e de segurança alimentar humana.

As medidas genéricas para sustentabilizar ambientalmente a agricultura europeia são:

- o interesse efetivo do Agricultor em mudar os seus hábitos culturais, assumindo

compromisso com as gerações futuras de agricultores de forma a que se prolongue a produção

com melhores resultados e eficiência do que os atuais;

- sensibilização dos Estados Membros para co-financiarem as medidas de apoio para a

implementação agro-ambiental;

- promover a valorização dos serviços ambientais fornecidos pela agricultura marginal com

praticas tradicionais;

- acabar com as práticas agrícolas destrutivas, baseadas em preconceitos culturais sem

constatação académica, científica ou mais valía social, responsabilizando os agricultores nas

suas atitudes pouco refletidas;

- constatando que a segurança alimentar europeia só se atingirá através da gestão agrícola

em consonância com os recursos naturais e ambientais (ex: Países como Espanha já estão a

aplicar as novas diretrizes europeias nomeadamente o “Regulamento (UE) nº 142/2011 da

Comissão, de 25 de Fevereiro de 2011, que aplica o Regulamento (CE) nº 1069/2009 do

Parlamento Europeu e do Conselho, atrás referido, e que se articula com a Directiva 97/78/CE

do Conselho, de 18 de Dezembro, que fixa os princípios relativos a organização dos controlos

veterinários dos produtos provenientes de países terceiros introduzidos na Comunidade. A

alteração mais significativa tem impacto positivo na conservação destas espécies pois

possibilita a não remoção do material de categoria 1 do campo ou das explorações de gado,

podendo as carcaças dos animais mortos ficarem nos locais onde os animais morreram,

sempre que a autoridade competente assim o autorize);

“Entende-se por material de categoria 1 de risco muito elevado, do qual pode resultar a

transmissão de doenças fatais, tanto para o Homem como para os animais, sem possibilidade

de tratamento. Temos então como exemplos de subprodutos M1 animais suspeitos ou positivos

a EET’s e coabitantes comestes, animais de circo e de zoológicos, animais selvagens de

doenças infeto-contagiosas, matérias animais com resíduos de substâncias não autorizadas e

contaminantes ambientais, entre muitos outros. Nos bovinos com mais de 12 meses, como

materiais de categoria M1, temos: a cabeça (cérebro e olhos), a espinal medula, e nos bovinos

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 46

com mais de 30 meses a coluna vertebral e os gânglios das raízes dorsais. Em bovinos de

qualquer idade, as amígdalas, o mesentério e os intestinos, são também materiais M1. Nos

pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) com mais de 12 meses, tanto as amígdalas, como a

espinal medula e a cabeça (cérebro e olhos) são considerados materiais de risco M1. Nestes

animais o baço e o íleo são também materiais M1 independentemente da idade que

tenham.”131

- promoção e conservação das pastagens permanentes como uma das principais medidas de

de diminuição da emissão de gases com efeito de estufa por parte da produção agrícola,

proporcionando a proteção efetiva legal destas áreas como capacitadoras de uma elevada

biodiversidade;

- motivando a diversidade de variedades regionais (ex: cereais, legumes, etc) e culturas (ex:

rotatividade), numa optica de sustentabilidade não apenas ambiental, mas também económica

do produtor agrícola europeu (ex: multifuncionalidade) acrescentando ainda resistência a

pragas e infestantes;

- implementação efetiva da legislação ambiental através de produções agrícolas mais

sustentáveis (ex: qualidade da água, qualidade do ar, erosão mínima possível);

- optando pelas culturas e praticas culturais adaptadas às características bióticas, abióticas e

culturais de cada região europeia específica;

- protegendo não só os recursos ambientais, mas também os recursos culturais e históricos de

cada região europeia típica.

“Para travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos na UE em

2020, restaurá-los na medida do possível, e intensificar a contribuição da UE para evitar a

perda de biodiversidade global ".42

A Comissão estabeleceu um plano de ação para melhorar ou manter o estado da

biodiversidade e evitar que as atividades agrícolas possam causar a sua queda. Com esse

propósito a Comunicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento Europeu, de 27 de

Março de 2001, pretendeu implementar um Plano de Ação sobre a biodiversidade na

agricultura, sendo este artigo o terceiro volume da Comunicação sobre os planos de ação de

biodiversidade nos domínios da conservação dos recursos naturais, agricultura, a pesca e

cooperação para o desenvolvimento e cooperação económica. Este volume trata

especificamente da agricultura.

Nas últimas décadas, tem acelerado o ritmo global de redução e extinção de espécies,

habitats, ecossistemas e genes (ou seja, biodiversidade). Esta perda de biodiversidade é

negativa em si, mas também tem um impacto negativo sobre o desenvolvimento económico: é

a base da nossa alimentação, fibras, bebidas e medicamentos que consumimos, bem como

processos industriais, da pesca e terra das quais nossas vidas dependem.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 47

Em Fevereiro de 1998, a Comissão adoptou uma comunicação sobre uma estratégia da antiga

União Europeia para a biodiversidade, que prevía o desenvolvimento e implementação de

planos de ação numa série de setores. A comunicação inerente às práticas agrícolas determina

planos de ação em matéria de recursos naturais, agricultura, pesca e ajuda ao

desenvolvimento e cooperação económica.

A estratégia da UE para a biodiversidade e os planos de ação refletem o compromisso da UE

para alcançar o desenvolvimento sustentável e integração das preocupações ambientais nas

outras políticas e ações, onde todos os indicadores serão usados para monitorizar a

implementação de planos de ação e avaliar os seus resultados. A Comissão, assistida pelos

Estados-Membros, os cientistas e organizações, decidiu os indicadores utilizados. Os

indicadores serão locais, a fim de comparar os seus resultados.

O mecanismo (CHM) da Comunidade Europeia é um meio ideal para o compartilhamento de

informações sobre a biodiversidade. A Comissão está a identificar as necessidades de

pesquisa para preservar a biodiversidade, a fim de integrá-los ao sexto programa-quadro em

matéria de investigação e desenvolvimento tecnológico. A Comissão criou um comité de

especialistas em biodiversidade responsável por disseminar informações e promover a

complementaridade entre as medidas nacionais e europeias, ao mesmo tempo que convidou

ONGs, associações industriais e todos os interessados a participar nas suas reuniões como

observadores.

O volume se refere à agricultura começa por analisar a relação entre esta atividade e a

biodiversidade, destacando os benefícios mútuos, mas também as pressões provenientes da

agricultura na biodiversidade.

Essa análise apresenta as seguintes prioridades do plano de ação:

• sustentar práticas agrícolas intensivas apenas num nível não prejudicial para a

biodiversidade, o que implica: desenvolvimento de boas práticas agrícolas, reduzindo a

utilização de fertilizantes, promover sistemas de produção extensivos e alcançando uma gestão

sustentável dos recursos;

• garantir que a agricultura é economicamente viável, socialmente aceite, respeitando em

simultâneo a biodiversidade;

• implementar medidas ambientais para a exploração sustentável da biodiversidade;

• garantir a existência da infra-estrutura ecológica necessária;

• medidas de apoio para manter as raças locais e variedades, assim como da diversidade de

variedades usadas na agricultura;

• evitar a propagação de espécies invasoras.

A Comunicação menciona ainda vários instrumentos comunitários para implementar o plano de

ação sobre a biodiversidade:

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• o regulamento que estabelece regras comuns para os regimes de apoio direto no âmbito da

política agrícola comum;

• desenvolvimento rural agrícola, sendo um dos principais instrumentos deste plano de ação;

• outras medidas de desenvolvimento rural;

• as componentes ambientais das organizações comuns de mercado;

• Regulamento (CE) n º 870/2004 sobre recursos genéticos na agricultura;

• componentes ambientais de mercado relacionados com os instrumentos (de qualidade),

listadas no anexo 2 da comunicação;

• legislação fitossanitária;

• o sistema SAPARD (instrumento de pré-adesão agrícola) – apoio comunitário aos Países da

Europa de Leste e Oriental.

A eficácia do plano de ação depende da correta implementação destas medidas nos Estados-

Membros. Antes de 2003, os Estados-Membros deveriam ter apresentado um relatório

contendo detalhes dos obstáculos para aumentar a biodiversidade na agricultura.

No seguimento desta temática surgiu outra Comunicação da Comissão, de 22 de maio de

2006, intitulada "Travar a perda de biodiversidade até 2010 e mais além - Preservar os serviços

ecossistémicos para o bem-estar humano".

Portanto a Comissão elaborou um plano de ação para preservar e travar a perda de

biodiversidade dentro das fronteiras da União Europeia (UE) e internacionalmente, pois refletiu

que era urgente parar os ataques aos ecossistemas, a fim de proteger o futuro da natureza

para o seu valor intrínseco (valor recreativo e cultural) e os serviços que presta (serviços

ecossistémicos). Estes serviços são essenciais para o crescimento, competitividade e

emprego, bem como para melhorar as condições de vida em todo o mundo.

Este plano de ação estabelece 10 prioridades de ação em quatro áreas: biodiversidade na UE,

a biodiversidade global, a biodiversidade e as mudanças climáticas, e base de conhecimento.

Ele também descreve quatro amplas medidas de apoio (financiamento, tomada de decisão,

estabelecendo parcerias e educação, sensibilização e participação do público), e as ações de

monitoramento, avaliação e revisão. Em 2010 os Estados Membros deveriam tomar as

medidas necessárias, que continuam a aplicar para além dessa data.

O plano de ação prevê a proteção de habitats e espécies importantes para a União Europeia.

Alcançar este objectivo implica aprofundar a implementação da Rede Natura 2000 (designação

e gestão de áreas protegidas, consistência e conectividade de rede), para a recuperação de

espécies ameaçadas de extinção e da adopção de medidas de proteção nas regiões

ultraperiféricas (como acontece no caso do Estado Português).

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 49

Mas a proteção da biodiversidade deve ir além do território demarcado como Natura 2000 e a

legislação para espécies ameaçadas. Por esta razão, o plano de ação prevê preservar e

restaurar a biodiversidade, assim como os serviços de ecossistemas em áreas rurais da UE,

para otimizar as disposições da Política Agrícola Comum (PAC), para a conservação da terra e

florestas com elevado valor natural.

Da mesma forma, o plano de ação prevê preservar e restaurar a biodiversidade e serviços de

ecossistemas no ambiente marinho desprotegido da UE. Então, terá que se restaurar

populações de peixes e reduzir o impacto sobre espécies não-alvo e os habitats marinhos,

designadamente no âmbito da Política Comum das Pescas.

Reforçar a compatibilidade do desenvolvimento regional e territorial com a biodiversidade na

UE será outra prioridade do plano de ação, nomeadamente através de um melhor planeamento

a nível nacional, regional e local, tendo em conta a biodiversidade (avaliações ambientais,

projetos financiados por fundos comunitários, parcerias responsáveis pelo planeamento e

desenvolvimento).

O plano de ação visa também reduzir substancialmente o impacto na biodiversidade da UE de

espécies exóticas invasoras e genótipos exóticos, desenvolvendo uma estratégia abrangente

sobre o assunto combinado com ações específicas, entre as quais poderia ser a criação de um

sistema de alerta precoce.

Para reforçar substancialmente a eficácia da governança internacional para a biodiversidade e

serviços do ecossistema, o plano de ação baseia-se na aplicação mais eficaz da Convenção

sobre Diversidade Biológica e acordos relacionados.

O plano de ação prevê também reforçar significativamente o suporte para a biodiversidade e

serviços do ecossistema em ajuda externa da UE, tanto financeiro como no nível setorial e

geográfico.

Por outro lado, urge reduzir substancialmente o impacto do comércio internacional sobre a

biodiversidade e ecossistema de serviços em todo o mundo, especialmente a fim de limitar a

desflorestação tropical.

Deve-se assegurar, nesse sentido, uma maior coerência entre estas três áreas: governança,

comércio e cooperação para o desenvolvimento. Além disso, é imprescindível a adoção de

medidas nos países e territórios dos Estados-membros para assegurar a credibilidade da ação

europeia.

O plano de ação destaca a contribuição potencial da biodiversidade para limitar os gases de

efeito estufa na atmosfera, através do mecanismo de seqüestro de carbono. Ele também

destaca o impacto das alterações climáticas na biodiversidade, por esta razão, o plano de ação

enfatiza a limitação das emissões de gases com efeito de estufa, a fim de reduzir as pressões

futuras sobre a biodiversidade. Também oferece suporte de adaptação da biodiversidade às

mudanças climáticas, assegurar a coerência da rede Natura 2000 e minimizando a

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 50

possibilidade de danos à biodiversidade com medidas relacionadas com a mitigação das

mudanças climáticas.

No seu plano de ação, a Comissão considera que é essencial reforçar substancialmente a base

de conhecimentos para a conservação e o uso sustentável da biodiversidade na União

Europeia e no mundo. Isso acontece, em especial, para reforçar o Espaço Europeu da

Investigação, Infraestruturas de Investigação, interoperabilidade e comunicação de dados, bem

como a recolha de pareceres científicos independentes e aconselhamento científico aos

decisores políticos.

A fim de garantir a realização dos objetivos do plano de ação, a Comissão identificou quatro

medidas principais que devem ser implementadas:

• garantir um financiamento adequado, através de instrumentos comunitários disponíveis,

dentro dos limites das perspectivas financeiras de 2007-2013;

• fortalecer o processo de tomada de decisões, nomeadamente em matéria de coordenação e

complementaridade entre o contexto europeu, nacional e regional, e tendo em conta os custos

da biodiversidade e do meio ambiente;

• Estabelecer parcerias entre o governo, a finança, ao nível educacional e privado (incluindo

proprietários e profissionais de conservação);

• melhorar a educação, sensibilização e participação do público.

Além das metas para 2010 estabelecidas pelo plano de ação, a Comissão propõe um debate

sobre uma visão de longo prazo da biodiversidade como um quadro político. Segundo esta

abordagem, a interdependência com a natureza deve ser reconhecida no desenvolvimento e

na aplicação das políticas comunitárias, assim como a necessidade de um novo equilíbrio entre

o desenvolvimento econômico e social e para a conservação da natureza.

A Biodiversidade deve ser protegida por duas razões:

• o seu valor intrínseco: a natureza é uma fonte de prazer e inspiração, e constitui a base do

lazer turística e cultural;

• os serviços dos ecossistemas fornecidos: a natureza fornece os elementos necessários para

a nossa vida e bem-estar (alimentos, medicamentos, água, ar, etc.). Há limites para a

criatividade humana e para a tecnologia conseguir substituir esses serviços naturais.

A Comissão regista taxas alarmantes de degradação do habitat e extinção de espécies.

Especificamente, a seguir identifica as ameaças à biodiversidade:

• mudança do uso da terra, que envolve a fragmentação, degradação e destruição de habitats.

Esta mudança na alocação é, principalmente, o crescimento da população e o aumento do

consumo per capita (dois fatores que continuarão a intensificar no futuro e a criar ainda mais

pressão);

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 51

• alterações climáticas, destruindo alguns habitats e organismos vivos certos, perturba ciclos de

reprodução, empurra móvel para agências de viagens, etc;

• Outras pressões importantes são a sobreexploração dos recursos biológicos, a disseminação

de espécies exóticas invasoras, a poluição dos ambientes naturais e dos habitats, a

globalização, a pressão devido ao comércio e má governação (incapacidade de reconhecer o

valor económico do capital natural e serviços do ecossistema).

A conservação da biodiversidade é um dos principais objetivos da estratégia de

desenvolvimento sustentável e do sexto programa de ação sobre o meio ambiente.

Além disso, a UE já adoptou medidas relativas à biodiversidade:

• A política comunitária em matéria de meio ambiente: a estratégia e os planos de ações em

prol da biodiversidade são o quadro geral de ação para a biodiversidade. Além disso, as

directivas "Aves" e "Habitats", assim como a criação da rede "Natura 2000" têm como objetivo

proteger os habitats e espécies. Outras disposições prevêem a protecção de espécies da fauna

e da flora;86

• outras políticas internas da UE: a biodiversidade é um fator tido em conta na política agrícola

(reforma da política agrícola comum, em 2003 e no Regulamento de 2005, sobre o

desenvolvimento rural), regional (estudos de impacto ambiental e as avaliações estratégicas) e

na pesca (reforma da Política Comum das Pescas);

• A política externa da UE: a Comunidade e os Estados-Membros são parte de diversos

acordos internacionais que afetam a biodiversidade, acordos, cuja implementação, por sinal,

deve ser reforçada. A Comissão sublinha igualmente a necessidade de aumentar o nível de

financiamento para projetos de desenvolvimento relacionados à biodiversidade, e manter-se

constante a preocupação com a biodiversidade na assistência prestada a países terceiros.

Os objetivos e medidas de apoio definidas no plano de ação são baseados numa abrangente

consulta de especialistas e da população em geral.

4.10.1 A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020:

A biodiversidade — extraordinária variedade de ecossistemas, espécies e genes que nos

rodeia — é o nosso seguro de vida, providenciando-nos alimentos, água potável e ar limpo,

abrigo e medicamentos, atenuando as catástrofes naturais, as pragas e doenças e contribuindo

para a regulação do clima. A biodiversidade é também o nosso capital natural, prestando

serviços ecossistémicos que estão subjacentes à nossa economia. A sua deterioração e perda

comprometem a prestação desses serviços: perdemos espécies e habitats e a riqueza e o

emprego que a natureza nos proporciona e pomos em perigo o nosso próprio bem-estar. Por

essa razão, a perda de biodiversidade é a ameaça ambiental global mais crítica paralelamente

às alterações climáticas — e as duas estão indissociavelmente ligadas. Enquanto a

biodiversidade presta um contributo fundamental para a atenuação das alterações climáticas e

a adaptação às mesmas, a realização do objectivo de «2 graus celsius», associado a medidas

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 52

de adaptação adequadas destinadas a reduzir o impacto dos efeitos inevitáveis das alterações

climáticas, é também essencial para evitar a perda de biodiversidade.

As actuais taxas de extinção de espécies não têm paralelo. Verifica-se atualmente, sobretudo

devido às atividades humanas, uma perda de espécies a um ritmo 100 a 1000 vezes mais

rápido do que a taxa natural: segundo a FAO, 60% dos ecossistemas mundiais encontram-se

degradados ou estão a ser utilizados de forma não sustentável; 75% das unidades

populacionais de peixes estão sobre-exploradas ou significativamente depauperadas e perdeu-

se 75% da diversidade genética das culturas agrícolas em todo o mundo desde 1990. Estima-

se que cerca de 13 milhões de hectares de florestas tropicais são destruídos anualmente (FAO,

2010) e 20% dos recifes de corais tropicais mundiais já desapareceram, enquanto 95%, estão

em risco de destruição ou de danos extremos até 2050 se as alterações climáticas

prosseguirem ao mesmo ritmo70.

Na UE, apenas 17% dos habitats e espécies e 11% dos principais ecossistemas protegidos

pela legislação da UE se encontram num estado favorável110. Esta situação verifica-se apesar

das medidas tomadas de luta contra a perda de biodiversidade, especialmente desde a

definição em 2001 do objetivo para 2010 da UE em matéria de biodiversidade. Os benefícios

destas ações foram anulados pelas contínuas e crescentes pressões sobre a biodiversidade da

Europa: a alteração do uso dos solos, a sobre-exploração da biodiversidade e as suas

componentes, a propagação de espécies exóticas invasoras, a poluição e as alterações

climáticas são factores que ou se mantiveram constantes ou se estão a acentuar. Fatores

indiretos, como o crescimento demográfico, a pouca sensibilização para a biodiversidade e o

facto de o valor económico da biodiversidade não se refletir no processo de tomada de

decisões estão também a ter repercussões muito negativas na biodiversidade.

A presente estratégia destina-se a inverter a perda de biodiversidade e a acelerar a transição

da UE para uma economia ecológica e eficiente em termos de utilização de recursos. Constitui

uma parte integrante da Estratégia Europa 202038 e, em especial, da iniciativa emblemática

«Uma Europa eficiente em termos de recursos».39

Em Março de 2010, os líderes da UE reconheceram que o objetivo de biodiversidade fixado

para 2010 não seria atingido, apesar de alguns grandes êxitos como a criação da Rede Natura

2000, que constitui a maior rede mundial de zonas protegidas. Em consequência, aprovaram a

visão a longo prazo e o ambicioso objectivo central proposto pela Comissão na sua

Comunicação «Opções para uma visão e um objectivo pós-2010 da UE em matéria de

biodiversidade».40

Até 2050, a biodiversidade da União Europeia e os serviços ecossistémicos que por ela

prestados — o seu capital natural — são protegidos, valorizados e adequadamente

recuperados pelo valor intrínseco da biodiversidade e pela sua contribuição essencial para o

bem-estar humano e a prosperidade económica, de modo a serem evitadas alterações

catastróficas causadas pela perda de biodiversidade.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 53

Travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos na UE até 2020

e, na medida em que tal for viável, recuperar essa biodiversidade e esses serviços,

intensificando simultaneamente o contributo da UE para evitar a perda de biodiversidade ao

nível mundial.

A Décima Conferência das Partes (CdP10) da Convenção sobre a Diversidade Biológica

(CDB), realizada em Nagóia em 2010, conduziu à adopção de um plano estratégico global para

a biodiversidade para o período de 2011-2020 (o Plano Estratégico global para 2011-2020

inclui uma visão para 2050, uma missão para 2020 e 20 metas), designado Protocolo de

Nagóia relativo ao Acesso aos Recursos Genéticos e à Partilha Justa e Equitativa dos

Benefícios decorrentes da sua Utilização (Protocolo ABS) (em 11 de Fevereiro de 2011, a

Comissão apresentou ao Conselho uma proposta de Decisão do Conselho relativa à

assinatura, em nome da União Europeia, do Protocolo de Nagóia), e a uma estratégia para a

mobilização de recursos em prol da biodiversidade global.

A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020 responde a ambos os mandatos, colocando a

UE na boa via para atingir os seus próprios objetivos em matéria de biodiversidade e cumprir

os seus compromissos globais.

No objetivo da UE para 2020 em matéria de biodiversidade está subjacente o reconhecimento

de que, para além do seu valor intrínseco, a biodiversidade e os serviços que presta têm um

valor económico significativo que é raramente reflectido nos mercados. Pelo facto de escapar à

fixação de preços e não ser reflectido nas contas da sociedade, a biodiversidade é

frequentemente vítima de pressões concorrentes sobre a natureza e a sua utilização vindas de

todos os quadrantes. O projeto internacional patrocinado pela Comissão sobre a Economia dos

Ecossistemas e a Biodiversidade (TEEB) recomenda que o valor económico da biodiversidade

seja tido em conta na tomada de decisões e reflectido nos sistemas de contabilidade e de

comunicação de informações.144 Em Nagóia, esta recomendação foi integrada num objetivo

global e constitui uma das várias ações-chave da actual estratégia.

Embora as ações destinadas a travar a perda da biodiversidade tenham os seus custos (tal

como consta do documento de trabalho de acompanhamento), a perda de biodiversidade em si

própria acarreta custos onerosos para toda a sociedade, especialmente para os agentes

económicos nos sectores que dependem diretamente dos serviços ecossistémicos. Por

exemplo, a polinização pelos insectos na UE tem um valor económico estimado em 15 mil

milhões de euros por ano (Gallai et al, 2009). O contínuo declínio da população de abelhas e

de outros polinizadores (verificou-se uma diminuição de mais de 70% nas populações de

borboletas dos prados desde 1990) poderá ter graves consequências para os agricultores e o

sector agro-comercial europeu (estima-se que mais de 80% das culturas dependem, pelo

menos em parte, da polinização por abelhas e insectos, segundo «Bee Mortality and Bee

Surveillance in Europe», 2009). O setor privado está cada vez mais consciente destes riscos.

Muitas empresas na Europa, e não só, estão a avaliar a sua dependência face à biodiversidade

e a integrar objetivos para uma utilização sustentável dos recursos naturais nas suas

estratégias empresariais (State of Green Business 2011, GreenBiz Group).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 54

A plena valorização do potencial da natureza contribuirá para uma série de objetivos

estratégicos da UE:

- Uma economia mais eficiente em termos de recursos: A pegada ecológica da UE representa

actualmente o dobro da sua capacidade biológica.109 Ao conservar e reforçar a sua base de

recursos naturais e ao utilizar os seus recursos de forma sustentável, a UE pode melhorar a

eficiência da sua economia em termos de utilização dos recursos e reduzir a sua dependência

dos recursos naturais de países não europeus.

- Uma economia hipocarbónica e mais resistente ao clima: As abordagens baseadas nos

ecossistemas para fins de atenuação das alterações climáticas e de adaptação às mesmas

podem oferecer alternativas com uma boa relação custo-eficácia comparativamente a soluções

tecnológicas, gerando simultaneamente múltiplos benefícios para além da conservação da

biodiversidade.

- Um líder em investigação e inovação: Os progressos em muitas ciências aplicadas dependem

da disponibilidade a longo prazo e da diversidade do capital natural. A diversidade genética,

por exemplo, é uma importante fonte de inovação para as indústrias médicas e de cosméticos,

enquanto o potencial de inovação da recuperação dos ecossistemas e das infra-estruturas

verdes41 está largamente inexplorado.

- Novas competências, empregos e oportunidades comerciais: A inovação com base na

natureza e as medidas para recuperar os ecossistemas e conservar a biodiversidade podem

gerar novas competências, empregos e oportunidades comerciais. O TEEB estima que as

oportunidades comerciais a nível mundial decorrentes do investimento na biodiversidade

poderão representar 2 a 6 biliões de dólares até 2050.

Foram realizados importantes progressos na melhoria da base de conhecimentos sobre

biodiversidade com vista a apoiar as políticas com informações e dados científicos

actualizados. Estes devem agora ser alinhados com o quadro político para 2020.

A Comissão trabalhará com os Estados-Membros e a Agência Europeia do Ambiente no

sentido de desenvolver, até 2012, um enquadramento integrado para o acompanhamento,

avaliação e apresentação de informações sobre os progressos realizados na implementação

da estratégia. As obrigações nacionais, globais e da UE em matéria de acompanhamento,

comunicação de informações e revisão serão melhoradas e racionalizadas, na medida do

possível, com os requisitos estabelecidos noutra legislação ambiental, como a Directiva-

Quadro Água. O nível de referência da biodiversidade de 2010 da UE e os indicadores de

biodiversidade actualizados da UE89 (outros indicadores relevantes são os indicadores de

desenvolvimento sustentável e agro-ambientais da EU) serão elementos-chave deste

enquadramento, o qual também aproveitará outros dados e informações, como os gerados pelo

Sistema de Informação Ambiental Partilhada, pela Vigilância Global do Ambiente e da

Segurança, pelo Centro Europeu de Dados sobre as Florestas e pelo Inquérito Areolar sobre

Utilização/Ocupação do Solo LUCAS. O portal Web do Sistema de Informação sobre

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 55

Biodiversidade para a Europa (BISE) será a principal plataforma para a partilha de dados e

informações.

A presente estratégia inclui ações específicas para melhorar o acompanhamento e a

comunicação de informações. A integração da biodiversidade na legislação da UE sobre

acompanhamento e comunicação de informações no domínio da natureza, na política agrícola

comum (PAC), na política comum de pescas (PCP) e, na medida do possível, na política de

coesão contribuiria para avaliar os impactos destas políticas na biodiversidade.

A Comissão prosseguirá os seus trabalhos com vista a colmatar lacunas importantes no

domínio da investigação, incluindo a cartografia e avaliação dos serviços ecossistémicos na

Europa, o que contribuirá para melhorar o nosso conhecimento sobre as ligações entre a

biodiversidade e as alterações climáticas, bem como o papel da biodiversidade dos solos na

prestação de serviços ecossistémicos fundamentais, tais como o sequestro de carbono e o

abastecimento alimentar. O financiamento da investigação no âmbito do novo Quadro

Estratégico Comum poderia contribuir ainda mais para preencher as lacunas de conhecimento

detectadas e apoiar a decisão política.

Por último, a UE continuará a participar fortemente e a contribuir activamente para a nova

Plataforma Intergovernamental Ciência-Política sobre Biodiversidade e Serviços

Ecossistémicos (IPBES), em particular a fim de participar em avaliações regionais, para as

quais poderá ser necessário um mecanismo a nível da UE a fim de reforçar a interface ciência-

política.

A Estratégia de Biodiversidade para 2020 inclui seis metas que se apoiam mutuamente e são

interdependentes e que respondem à finalidade do objectivo central para 2020. Estas

contribuirão para travar a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços

ecossistémicos, procurando cada uma delas abordar uma questão específica: protecção e

recuperação da biodiversidade e dos serviços ecossistémicos associados (metas 1 e 2),

reforço da contribuição positiva da agricultura e das florestas, redução de pressões-chave

sobre a biodiversidade da UE (metas 3, 4 e 5) e intensificação do contributo da UE para a

biodiversidade global (meta 6). Cada meta está dividida num pacote de ações destinadas a dar

resposta ao desafio específico por ela visado. As ações específicas são estabelecidas no

anexo à presente comunicação. As ações serão objeto de avaliações de impacto, quando

necessário.

A plena aplicação das Directivas Aves e Habitats (ou seja, obter um estado de conservação

favorável de todos os habitats e espécies de importância comunitária e populações adequadas

de espécies selvagens de aves que ocorrem naturalmente) é fundamental para a prevenção de

maiores perdas e para o restabelecimento da biodiversidade na UE. Uma meta quantificada e

com prazos definidos irá acelerar a aplicação das directivas e a realização dos objetivos por

estas estabelecidos.86

Várias iniciativas políticas existentes ou previstas apoiarão a realização dos objetivos em

matéria de biodiversidade. Por exemplo, a questão das alterações climáticas, que constituem

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 56

uma considerável e crescente pressão sobre a biodiversidade e que irão alterar os habitats e

os ecossistemas, é abordada num pacote abrangente de políticas da UE adoptado em 2009. A

realização do objectivo de manter o aquecimento global inferior a 2 graus será essencial para

evitar a perda de biodiversidade. A Comissão pensa apresentar uma estratégia da UE em

matéria de adaptação às alterações climáticas até 2013.

A UE dispõe de legislação substancial que exige a concretização do objetivo de um bom

estado ecológico da água até 2015 e dos ecossistemas marinhos até 2020, enfrentando a

questão da poluição de diversas fontes e sujeitando a regulamentação os produtos químicos e

os seus efeitos no ambiente. A Comissão está a avaliar se é necessária ação adicional para

contemplar a questão da poluição por azoto, fosfatos e determinados poluentes atmosféricos,

ao passo que os Estados-Membros estão a considerar uma proposta da Comissão relativa a

uma directiva-quadro para a protecção dos solos, que é necessária para permitir à UE atingir

as metas em matéria de biodiversidade. Finalmente, estão a ser abordados factores indiretos

da perda de biodiversidade em parte no âmbito da presente estratégia, inclusivamente através

de ações para reduzir a pegada ecológica da UE, e em parte no âmbito de outras iniciativas,

como parte integrante da iniciativa emblemática «Uma Europa eficiente em termos de

recursos».

A concretização dos objetivos globais e da UE para 2020 em matéria de biodiversidade exige o

total empenho e participação de um vasto leque de partes interessadas. Nesse sentido, serão

alargadas e promovidas várias parcerias importantes com vista a apoiar a presente estratégia:

- A Comissão criou a Plataforma Empresas e Biodiversidade da UE , que reúne actualmente

empresas provenientes de seis diferentes sectores (agricultura, indústrias extractivas, finanças,

abastecimento alimentar, silvicultura e turismo) a fim de facilitar a partilha das suas

experiências e melhores práticas. A Comissão continuará a desenvolver a Plataforma e a

incentivar uma maior cooperação entre as empresas europeias, incluindo as PME, e ligações

com iniciativas nacionais e mundiais.

- A Comissão continuará a trabalhar com outros parceiros a fim de publicitar e implementar as

recomendações TEEB a nível da UE e de apoiar os trabalhos sobre a valorização da

biodiversidade e dos serviços ecossistémicos nos países em desenvolvimento.

- A Comissão continuará a incentivar a colaboração entre investigadores e outros interessados

envolvidos no ordenamento do território e na gestão da afectação dos solos para implementar

estratégias de biodiversidade a todos os níveis, a fim de garantir a coerência com as

recomendações pertinentes estabelecidas na Agenda Territorial Europeia.

- A participação activa da sociedade civil será incentivada a todos os níveis da implementação.

As iniciativas cidadãos-ciência, por exemplo, são um meio valioso para a recolha de dados de

elevada qualidade, ao mesmo tempo que mobilizam os cidadãos para participarem nas

actividades de conservação da biodiversidade.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 57

- A Comissão e os Estados-Membros trabalharão em conjunto com as regiões ultraperiféricas e

os países e territórios ultramarinos , os quais albergam um maior número de espécies

endémicas do que todo o continente europeu, através da iniciativa BEST (Biodiversidade e

Serviços Ecossistémicos nos Territórios Europeus Ultramarinos) a fim de promover a

conservação e utilização sustentável da biodiversidade.

- A UE apoiará igualmente os esforços em curso para melhorar a colaboração, as sinergias e o

estabelecimento de prioridades comuns entre as convenções relacionadas com a

biodiversidade (CDB – Convenção sobre Diversidade Biológica, CITES - Convenção sobre o

Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção,

Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias, Convenção de Ramsar sobre

Zonas Húmidas e a Convenção sobre o Património Mundial). A UE promoverá igualmente uma

cooperação reforçada entre as Convenções sobre Diversidade Biológica, Alterações Climáticas

e Desertificação a fim de se obterem benefícios mútuos.

- A UE intensificará o seu diálogo e cooperação em matéria de biodiversidade com os seus

principais parceiros , em especial os países candidatos e potenciais candidatos, a fim de

desenvolver ou adaptar as suas políticas com vista a atingir as metas de biodiversidade para

2020. Os países candidatos e potenciais candidatos são convidados a contribuir para a

implementação da estratégia e a iniciar o desenvolvimento ou ajustamento das suas políticas

no sentido da realização dos objetivos globais e da UE para 2020 em matéria de

biodiversidade.

Estas parcerias contribuem para uma maior sensibilização sobre a biodiversidade, a qual

continua a ser fraca na UE. A campanha da Comissão de 2010 sobre «Biodiversidade:

Estamos todos no mesmo barco» será seguida de uma campanha específica centrada na rede

Natura 2000.

A realização dos objetivos da presente estratégia e o cumprimento dos compromissos mundiais

em matéria de biodiversidade assumidos pela UE dependerão da disponibilidade e utilização

eficiente dos recursos financeiros. No actual período de programação, e sem prejuízo do

resultado das negociações sobre o próximo Quadro Financeiro Plurianual, a Comissão e os

Estados-Membros trabalharão no sentido de:

- Assegurar uma maior utilização e distribuição dos fundos existentes destinados à

biodiversidade. No actual período de programação, estão previstos 105 mil milhões de euros

no âmbito da política de coesão para utilização em actividades relacionadas com o ambiente e

o clima, incluindo a biodiversidade e a protecção da natureza. No entanto, são necessários

esforços concertados para assegurar a optimização da utilização dos fundos disponíveis.

- Racionalizar os recursos disponíveis e maximizar os benefícios comuns de várias fontes de

financiamento , incluindo o financiamento para a agricultura e o desenvolvimento rural, as

pescas, a política regional e as alterações climáticas. Com efeito, o investimento na

biodiversidade pode valer a pena por várias razões e oferece uma resposta com boa relação

custo-eficácia à crise das alterações climáticas. A inclusão dos objetivos da biodiversidade

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 58

deve ser explorada como parte integrante do Quadro Estratégico Comum em exame pela

Comissão para a definição de prioridades de financiamento ao abrigo dos cinco instrumentos

de financiamento no âmbito das políticas rural, regional, social e das pescas.

- Diversificar e reforçar progressivamente várias fontes de financiamento. A Comissão Europeia

e os Estados-Membros promoverão o desenvolvimento e a utilização de mecanismos de

financiamento inovadores, incluindo instrumentos baseados no mercado. Os regimes de

pagamento de serviços ecossistémicos devem recompensar a geração de bens públicos e

privados pelos ecossistemas agrícolas, silvícolas e marinhos. Serão proporcionados incentivos

para atrair investimentos do sector privado para infra-estruturas verdes e o potencial de

compensação da biodiversidade será analisado como um meio para concretizar uma

abordagem de «ausência de perdas líquidas». A Comissão Europeia e o Banco Europeu de

Investimento estão a explorar as possibilidades de utilização de instrumentos financeiros

inovadores a fim de apoiar os desafios em matéria de biodiversidade, incluindo parcerias

público-privadas e a possível criação de um mecanismo de financiamento da biodiversidade.

Destacam-se em especial dois requisitos de financiamento. O primeiro prende-se com a

necessidade de financiamento adequado a fim de garantir a plena implementação da rede

Natura 2000, no âmbito da qual ao financiamento dos Estados-Membros deve corresponder um

financiamento da EU (estimado num total de cerca de 5,8 mil milhões de euros anuais). Tal

pode implicar que os Estados-Membros desenvolvam um planeamento plurianual para a rede

Natura 2000, de uma forma compatível com os quadros de ações prioritárias estabelecidos ao

abrigo da Directiva Habitats.

O segundo corresponde ao compromisso assumido na CdP107 de aumentar substancialmente

os recursos financeiros de todas as fontes para uma implementação eficaz dos resultados de

Nagóia. Os debates sobre o financiamento das metas no âmbito da CdP deveriam reconhecer

a necessidade de aumento do financiamento público, mas também o potencial de mecanismos

financeiros inovadores. Os fluxos financeiros (recursos próprios e fontes inovadoras)

necessários para satisfazer as necessidades identificadas devem ser estabelecidos nas

estratégias e planos de ação nacionais em matéria de biodiversidade.

Estes compromissos podem ser cumpridos diretamente através de financiamento adicional

específico para a biodiversidade e, indiretamente, garantindo sinergias com outras fontes de

financiamento relevantes, tais como o financiamento em matéria de clima (por exemplo,

receitas do RCLE, REDD+) e outras fontes de financiamento inovadoras, como os fundos

gerados pelo Protocolo de Nagóia sobre ABS. A reforma dos subsídios prejudiciais, em

consonância com a Estratégia 2020 e o objectivo global da CDB, irá igualmente beneficiar a

biodiversidade.

Os objetivos comuns da UE e da CDB devem ser implementados através de uma combinação

de ações a nível subnacional, nacional e da UE. Será, por conseguinte, necessária uma

estreita coordenação para acompanhar os progressos na realização dos objetivos, incluindo os

que foram abordados através de medidas políticas fora do âmbito da presente estratégia, e

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 59

para assegurar a coerência entre a ação da UE e dos Estados-Membros. Com esse fim em

vista, a Comissão irá colaborar com os Estados-Membros na elaboração de um quadro comum

de implementação que implique também outros importantes intervenientes, sectores e

instituições com base nas melhores práticas e estabelecendo as funções e responsabilidades

de cada um com vista a garantir o sucesso.

A Comissão apoiará e complementará os esforços envidados pelos Estados-Membros

controlando o cumprimento da legislação ambiental, colmatando as lacunas nas políticas,

propondo novas iniciativas, proporcionando orientações, disponibilizando financiamento e

promovendo a investigação e o intercâmbio de melhores práticas.

A presente estratégia proporciona um quadro de ação que visa permitir à UE atingir o seu

objectivo de biodiversidade para 2020 e colocar-se na via para a realização da Visão 2050.

Será objecto de uma revisão intercalar no início de 2014, a fim de possibilitar a utilização dos

resultados na preparação do Quinto Relatório Nacional da UE, conforme previsto na CDB. As

medidas e metas serão reconsideradas à medida que forem disponibilizadas novas

informações e se verifiquem progressos na realização dos objetivos fixados na estratégia.

Dado que muitas das ações hoje adoptadas para a preservação da biodiversidade e a

valorização do nosso património natural demoram muito tempo até produzirem reais melhorias,

a implementação desta estratégia tem de começar imediatamente para que a UE possa atingir

o objectivo central para 2020.

4.10.2 META 1: PLENA APLICAÇÃO DAS DIRECTIVAS AVES E HABITATS86

Travar a deterioração do estado de todas as espécies e habitats abrangidos pela legislação da

UE em matéria de natureza e obter uma melhoria sensível e mensurável do seu estado, de

modo a que, até 2020, em relação às actuais avaliações: i) mais 100% de avaliações de

habitats e 50% de avaliações de espécies ao abrigo da Directiva Habitats150 mostrem uma

melhoria do estado de conservação; e ii) mais 50% de avaliações de espécies ao abrigo da

Directiva Aves149 mostrem um estado seguro ou melhorado.

Ação 1: Completar o estabelecimento da rede Natura 2000 e garantir uma boa gestão

1a) Os Estados-Membros e a Comissão garantirão que, até 2012, esteja largamente

completada a fase de estabelecimento da rede Natura 2000, incluindo no meio marinho.

1b) Os Estados-Membros e a Comissão continuarão a proceder a uma maior integração dos

requisitos de protecção e gestão de espécies e habitats nas políticas-chave em matéria dos

solos e da água, dentro e fora das zonas Natura 2000.

1c) Os Estados-Membros assegurarão que os planos de gestão ou instrumentos equivalentes

que estabelecem medidas de conservação e recuperação sejam desenvolvidos e executados

de forma atempada em todos os sítios Natura 2000.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 60

1d) A Comissão, juntamente com os Estados-Membros, estabelecerá até 2012 um processo

destinado a promover a partilha de experiências e boas práticas e a colaboração transfronteiras

sobre a gestão da rede Natura 2000, no âmbito dos quadros biogeográficos estabelecidos na

Directiva Habitats.

Ação 2: Garantir o financiamento adequado dos sítios da rede Natura 2000.

2) A Comissão e os Estados-Membros disponibilizarão os fundos e incentivos necessários para

a rede Natura 2000, designadamente através de instrumentos de financiamento da UE, no

âmbito do próximo quadro financeiro plurianual. A Comissão apresentará os seus pontos de

vista em 2011 sobre a forma como a rede Natura 2000 será financiada no âmbito do próximo

quadro financeiro plurianual.

Ação 3: Aumentar a sensibilização e participação das partes interessadas e melhorar o controlo

do cumprimento

3a) A Comissão, juntamente com os Estados-Membros, desenvolverá e lançará uma grande

campanha de comunicação sobre a rede Natura 2000 até 2013.

3b) A Comissão e os Estados-Membros melhorarão a cooperação com sectores-chave e

continuarão a elaborar documentos de orientação a fim de melhorar a sua compreensão sobre

os requisitos da legislação da UE em matéria de natureza e o seu valor na promoção do

desenvolvimento económico.

3c) A Comissão e os Estados-Membros facilitarão o controlo da aplicação das Directivas

Natureza disponibilizando programas de formação específicos sobre a rede Natura 2000

destinados a juízes e magistrados do Ministério Público, e desenvolvendo melhores

capacidades de promoção do cumprimento.

Ação 4: Melhorar e racionalizar o acompanhamento e a comunicação de informações

4a) A Comissão, juntamente com os Estados-Membros, desenvolverão, até 2012, um novo

sistema de comunicação de informações da UE em matéria de aves, continuarão a

desenvolver o sistema de apresentação de relatórios ao abrigo do artigo 17.º da Directiva

Habitats e melhorarão o fluxo, a acessibilidade e a relevância dos dados sobre a rede Natura

2000.

4b) A Comissão criará uma ferramenta informática específica como parte integrante do Sistema

de Informação sobre Biodiversidade para a Europa, a fim de melhorar a disponibilidade e a

utilização de dados até 2012.

4.10.3 META 2: MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS

Até 2020, os ecossistemas e seus serviços serão mantidos e valorizados mediante a criação

de infra-estruturas verdes e da recuperação de, pelo menos, 15% dos ecossistemas

degradados.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 61

Ação 5: Melhorar o conhecimento sobre os ecossistemas e seus serviços na UE

5) Os Estados-Membros, com a assistência da Comissão, procederão à cartografia e avaliação

do estado dos ecossistemas e seus serviços no seu território nacional até 2014 e avaliarão o

valor económico desses serviços e promoverão a integração desses valores em sistemas de

contabilidade e comunicação de informações a nível nacional e da UE até 2020.

Ação 6: Estabelecer prioridades para a recuperação e promoção da utilização de infra-

estruturas verdes

6a) Até 2014, os Estados-Membros, com a assistência da Comissão, desenvolverão um quadro

estratégico para o estabelecimento de prioridades relativas à recuperação dos ecossistemas a

nível subnacional, nacional e da UE.

6b) A Comissão desenvolverá uma Estratégia sobre Infra-Estruturas Verdes até 2012, a fim de

promover a implantação de infra-estruturas verdes nas zonas urbanas e rurais da UE,

nomeadamente através de incentivos para encorajar os investimentos iniciais em projetos de

infra-estruturas verdes e a manutenção de serviços ecossistémicos, por exemplo através de

uma utilização mais orientada dos fluxos de financiamento da UE e das parcerias público-

privadas.

Ação 7: Assegurar a ausência de perda líquida de biodiversidade e de serviços ecossistémicos

7a) Em colaboração com os Estados-Membros, a Comissão desenvolverá, até 2014, uma

metodologia para avaliar o impacto dos projetos, planos e programas financiados pela UE em

matéria de biodiversidade.

7b) A Comissão prosseguirá os seus trabalhos com vista a propor, até 2015, uma iniciativa

destinada a garantir que não se verifique uma perda líquida dos ecossistemas e seus serviços

(por exemplo, mediante planos de compensação ou neutralização).

4.10.4 Meta 3: MAIOR CONTRIBUIÇÃO DA AGRICULTURA E SILVICULTURA PARA A MANUTENÇÃO E VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

3A) Agricultura: Até 2020, maximizar as áreas agrícolas com prados, terras aráveis e culturas

permanentes abrangidas pelas medidas relativas à biodiversidade no âmbito da PAC, a fim de

garantir a conservação da biodiversidade e obter uma melhoria mensurável(*) no estado de

conservação das espécies e habitats que dependem da agricultura, ou são por esta afectados,

e na prestação de serviços ecossistémicos em comparação com o nível de referência da UE de

2010, contribuindo assim para o reforço de uma gestão sustentável.

B) Florestas: Até 2020, garantir que estejam operacionais Planos de Gestão Florestal ou

instrumentos equivalentes, em consonância com a gestão sustentável das florestas (GSF)30,

aplicáveis a todas as florestas que sejam propriedade pública e a explorações florestais

superiores a uma determinada área(**) (a definir pelos Estados-Membros ou regiões e

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 62

comunicadas nos seus Programas de Desenvolvimento Rural) que beneficiem de

financiamento no âmbito da Política de Desenvolvimento Rural da UE, a fim de obter uma

melhoria mensurável(*) no estado de conservação das espécies e habitats que dependem da

silvicultura, ou são por esta afectados, e na prestação de serviços ecossistémicos conexos, em

comparação com o nível de referência da UE de 2010.

(*) Em relação a ambas as metas, a melhoria deve ser aferida em função das metas

quantificadas de melhoria do estado de conservação das espécies e habitats de interesse para

a UE, no âmbito da meta 1, e de recuperação de ecossistemas degradados, no âmbito da meta

2.

(**) Relativamente a explorações florestais de menor dimensão, os Estados-Membros podem

proporcionar incentivos adicionais para encorajar a adopção de Planos de Gestão ou

instrumentos equivalentes em consonância com a GSF.

Ação 8: Reforçar pagamentos diretos relativos a bens públicos ambientais na política agrícola

comum da EU

8a) A Comissão proporá que os pagamentos diretos da PAC recompensem a geração de bens

ambientais públicos que ultrapassem os requisitos de condicionalidade (por exemplo,

pastagens permanentes, coberto vegetal, rotação de culturas, retirada de terras para fins

ecológicos, Natura 2000).

8b) A Comissão proporá a melhoria e simplificação das normas de condicionalidade das BCAA

(Boas Condições Agrícolas e Ambientais) e ponderará a inclusão da Directiva-Quadro Água no

âmbito de aplicação da condicionalidade, uma vez que a Directiva tenha sido implementada e

tenham sido identificadas as obrigações operacionais para os agricultores, com vista a

melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos nas zonas rurais.

Ação 9: Orientar melhor o desenvolvimento rural para a conservação da biodiversidade

9a) A Comissão e os Estados-Membros integrarão metas quantificadas em matéria de

biodiversidade nas estratégias e programas de desenvolvimento rural, adaptando a ação às

necessidades regionais e locais.

9b) A Comissão e os Estados-Membros estabelecerão mecanismos para facilitar a colaboração

entre agricultores e silvicultores, a fim de permitir a continuidade das características da

paisagem, a protecção dos recursos genéticos e outros mecanismos de cooperação para fins

de protecção da biodiversidade.

Ação 10: Conservar a diversidade genética agrícola da Europa

10) A Comissão e os Estados-Membros incentivarão a aceitação de medidas agro-ambientais

de apoio à diversidade genética na agricultura e explorarão as possibilidades de

desenvolvimento de uma estratégia que vise a conservação da diversidade genética.

Ação 11: Incentivar os proprietários florestais a proteger e valorizar a biodiversidade florestal

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 63

11a) Os Estados-Membros e a Comissão incentivarão a adopção de planos de gestão,

nomeadamente através do recurso a medidas de desenvolvimento rural e ao Programa LIFE+.

11b) Os Estados-Membros e a Comissão promoverão mecanismos inovadores (por exemplo,

pagamentos de serviços ecossistémicos) para o financiamento da manutenção e recuperação

de serviços ecossistémicos prestados por florestas multifuncionais.

Ação 12: Integrar medidas sobre biodiversidade em planos de gestão florestal

12) Os Estados-Membros assegurarão que os planos de gestão florestal ou instrumentos

equivalentes incluam o maior número possível das seguintes medidas:

- Manter níveis óptimos de madeira morta, tomando em consideração as variações regionais,

como o risco de incêndio ou a potencial proliferação de insectos;

- Preservar as zonas de natureza selvagem;

- Medidas baseadas nos ecossistemas para aumentar a resistência das florestas aos

incêndios, como parte integrante de regimes de prevenção de incêndios florestais, em

consonância com as actividades realizadas no âmbito do Sistema Europeu de Informação

sobre Incêndios Florestais (EFFIS);

- Medidas específicas desenvolvidas para sítios florestais Natura 2000;

- Assegurar que a florestação seja efectuada em conformidade com as Directrizes

Operacionais Pan-Europeias para a Gestão Sustentável das Florestas, em especial no que

respeita à diversidade de espécies e às necessidades de adaptação às alterações climáticas.

4.10.5 META 4: GARANTIA DA UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HALIÊUTICOS

Atingir níveis de rendimento máximo sustentável (MSY) até 2015. Atingir uma idade e

distribuição da população indicativa de um bom estado das unidades populacionais através da

gestão das pescarias sem qualquer impacto adverso significativo noutras populações, espécies

e ecossistemas, em apoio à concretização do objectivo de um bom estado ecológico até 2020,

conforme estabelecido na Directiva-Quadro Estratégia Marinha.

Ação 13: Melhorar a gestão das unidades populacionais pescadas

13a) A Comissão e os Estados-Membros velarão pela manutenção e recuperação das

unidades populacionais de peixes para níveis que possam produzir o MSY em todas as zonas

em que as frotas de pesca da UE operam, incluindo zonas regulamentadas por organizações

regionais de gestão das pescas, e nas águas de países terceiros com os quais a UE tenha

celebrado Acordos de Parceria no domínio das Pescas.

13b) A Comissão e os Estados-Membros desenvolverão e implementarão, no âmbito da PCP,

planos de gestão a longo prazo com regras de controlo da exploração baseadas na abordagem

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 64

MSY. Estes planos devem ser concebidos para responder a objetivos com escalas temporais

específicas e basear-se em pareceres científicos e princípios de sustentabilidade.

13c) A Comissão e os Estados-Membros intensificarão significativamente os seus trabalhos no

sentido de coligir dados para apoiar a implementação do MSY. Uma vez atingido este

objectivo, serão solicitados pareceres científicos a fim de integrar as considerações ecológicas

na definição do rendimento máximo sustentável até 2020.

Ação 14: Eliminar o impacto negativo sobre as populações de peixes, espécies, habitats e

ecossistemas

14a) A UE elaborará medidas destinadas a eliminar gradualmente as devoluções, a fim de

evitar capturas acessórias de espécies não desejadas e preservará ecossistemas marinhos

vulneráveis de acordo com a legislação da UE e as suas obrigações assumidas a nível

internacional.

14b) A Comissão e os Estados-Membros apoiarão a aplicação da Directiva-Quadro Estratégia

Marinha, em especial proporcionando incentivos financeiros através dos futuros instrumentos

financeiros para as pescas e da política marítima para zonas marinhas protegidas (incluindo

zonas Natura 2000 e as estabelecidas por acordos internacionais ou regionais). Tal poderia

incluir a recuperação de ecossistemas marinhos, a adaptação das actividades de pesca e a

promoção da participação do sector em actividades alternativas, tais como o ecoturismo, a

monitorização e gestão da biodiversidade marinha e a luta contra o lixo marinho.

4.10.6 META 5: COMBATE ÀS ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS

Até 2020, as espécies exóticas invasoras e as suas vias de introdução serão identificadas e

classificadas por ordem de prioridade, as espécies prioritárias serão controladas ou

erradicadas e as vias de introdução geridas de forma a impedir a introdução e o

estabelecimento de novas dessas espécies.

Ação 15: Reforçar os regimes da UE em matéria de saúde animal e fitossanidade

15) A Comissão integrará as questões da biodiversidade nos regimes de saúde animal e

fitossanidade até 2012.

Ação 16: Criar um instrumento específico sobre espécies exóticas invasoras

16) A Comissão colmatará as lacunas nas políticas em matéria de luta contra as espécies

exóticas invasoras, mediante a elaboração de um instrumento legislativo específico até 2012.

4.10.7 META 6: CONTRIBUIÇÃO PARA EVITAR A PERDA DE BIODIVERSIDADE GLOBAL

Até 2020, a UE deve ter intensificado a sua contribuição no sentido de evitar a perda de

biodiversidade global.

Ação 17: Reduzir os factores indiretos da perda de biodiversidade

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 65

17a) No âmbito da iniciativa emblemática sobre a eficiência dos recursos, a UE adoptará

medidas (que poderão incluir medidas do lado da procura e/ou da oferta) a fim de reduzir o

impacto dos padrões de consumo da UE na biodiversidade, especialmente no que diz respeito

a recursos que tenham efeitos negativos significativos na biodiversidade.

17b) A Comissão reforçará a contribuição da política comercial para a conservação da

biodiversidade e abordará os potenciais impactos negativos mediante a sua inclusão

sistemática no quadro das negociações e diálogos comerciais com países terceiros,

identificando e avaliando os potenciais impactos na biodiversidade resultantes da liberalização

do comércio e dos investimentos através de avaliações do impacto sobre a sustentabilidade do

comércio ex ante e de avaliações ex post, e procurará incluir, em todos os novos acordos

comerciais, um capítulo sobre desenvolvimento sustentável com disposições ambientais

substanciais de importância no contexto comercial, incluindo os objetivos em matéria de

biodiversidade.

17c) A Comissão trabalhará com os Estados-Membros e os principais interessados a fim de

proporcionar os sinais de mercado adequados para a conservação da biodiversidade, incluindo

os trabalhos de reforma, supressão progressiva e eliminação de subsídios prejudiciais, tanto a

nível da UE como dos Estados-Membros, e incentivos positivos em prol da conservação e

utilização sustentável da biodiversidade.

Ação 18: Mobilizar recursos adicionais para a conservação da biodiversidade global

18a) A Comissão e os Estados-Membros contribuirão com a sua justa quota-parte para o

esforço internacional destinado a aumentar significativamente os recursos em prol da

biodiversidade global, como parte integrante do processo internacional destinado a estimar as

necessidades de financiamento no domínio da biodiversidade e a adoptar metas de

mobilização de recursos para a biodiversidade na CdP10 na CDB em 2012.

18b) A Comissão melhorará a eficácia do financiamento da UE destinado à biodiversidade

global, nomeadamente através do apoio a avaliações do capital natural nos países

beneficiários e do desenvolvimento e/ou actualização de estratégias e planos de ação

nacionais em matéria de biodiversidade, bem como de uma melhor coordenação no interior da

UE e com os principais doadores exteriores à UE na implementação de projetos/assistência no

domínio da biodiversidade.

Ação 19: Cooperação para o desenvolvimento da UE «à prova de biodiversidade»

19) A Comissão continuará a examinar sistematicamente as suas ações de cooperação para o

desenvolvimento, a fim de minimizar qualquer impacto negativo na biodiversidade, e efectuará

avaliações ambientais estratégicas e/ou avaliações de impacto ambiental relativas a ações que

possam ter efeitos significativos na biodiversidade.

Ação 20: Regulamentar o acesso aos recursos genéticos e a partilha justa e equitativa dos

benefícios resultantes da sua utilização

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 66

20) A Comissão proporá legislação para fins de aplicação na União Europeia do Protocolo de

Nagóia relativo ao Acesso aos Recursos Genéticos e à Partilha Justa e Equitativa dos

Benefícios decorrentes da sua Utilização, de modo a que a UE possa ratificar o Protocolo o

mais rapidamente possível e o mais tardar até 2015, conforme exigido no objectivo global.

Seguindo o raciocínio da Comissão Europeia em que a produção agrícola tenderá a

sustentabilizar-se graças à proteção dos seus recursos naturais impulsionados numa promoção

da biodiversidade, será lógico, racional e inteligente observar que o modo de produção

biológico compõe atualmente a capacidade intrínseca de sustentabilização produtiva, cultural e

económica.

Portugal é um dos países europeus em que a importância dos sistemas agrários extensivos

para a biodiversidade é mais elevada, sendo a sua importância avaliada em três perspectivas

diferentes: sistema de produção; espécie/habitat; sitio:

- segundo o sistema de produção, Beaufoy et al.(1994), estimaram, com base no conceito de

Low Intensity Farming Systems (LIFS), que 60% da SAU em Portugal apresenta elevado

interesse de conservação, embora a Agência Europeia do Ambiente (2004), baseando-se no

mesmo conceito, estimou que 37% da SAU em Portugal apresenta elevado interesse de

conservação.

- referente a espécie/habitat, Moreira et al. (2005), estimaram a dependência das espécies e

habitats alvo da Rede Natura 2000 em Portugal face aos sistemas agrícolas e agro-florestais

extensivos, chegando aos seguintes resultados: 47% das 96 espécies alvo de vertebrados

dependem desses sistemas extensivos; 38% das 72 espécies alvo de plantas dependem

desses sistemas extensivos; 21% dos 91 habitats naturais alvo dependem destes sistemas

extensivos de uso do solo.

- em relação à abordagem por sitio, Santos et al. (2006), construíram duas tipologias dos 91

sitios da Rede Natura 2000 de Portugal Continental, sendo uma baseada nos valores naturais

(espécies e habitats) presentes e outra baseada nos sistemas agrícolas e florestais que

asseguram a gestão de cada sitio, em que após o cruzamento das duas, identificam-se os tipos

de sítios que apresentam coleções semelhantes de valores naturais e sistemas idênticos de

gestão agrícola e florestal.

Os resultados nesta ultima abordagem por sitio, da autoria de Santos et al. (2006) resumem-se

da seguinte forma:

- os tipos de sítios em que existe forte consistência entre espécies/habitats presentes e

sistemas agrários respresentam 90% da superfície terrestre da Rede Natura em Portugal

Continental;

- os habitats referidos no parágrafo anterior são, por exemplo, “Terras calcárias”, “Floresta

mediterrânica”, “Montados”, “Pseudo-estepes cerealíferas”, “Grandes Montanhas do Norte” e

“Vales do Douro”;

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 67

- nos casos anteriores, o principal objectivo de conservação é o de manter os sistemas

agrários extensivos existentes, que proporcionas as condições de habitat pretendidas, evitando

o seu abandono, florestação ou intensificação;

- existem apenas quatro tipos em que não se encontra forte consistência entre

espécies/habitats presentes e sistemas agrários, são todos zonas húmidas ou costeiras.

Assim, sendo Portugal um País de pequena dimensão, mas com grande diversidade cultural,

paisagística e geológica, garante a sua mais-valía apenas através de produtos agrícolas

diferenciados, com qualidade mundialmente exclusiva e especificidades humano/culturais que

interessa à sua identidade turístico/nacional conservar.

Concluindo neurolepticamente será inteligente praticar uma agricultura menos intensiva, que

necessita de maiores áreas, mas em que é possível compatibilizar produção e conservação

num mesmo espaço multifuncional (integração espacial), sendo que as áreas com maior

potencial agrícola e florestal devem ser utilizadas com agricultura mais intensiva, embora

sempre em modo de produção biológica.

Portanto, Portugal98, contendo ainda vastas áreas de agricultura tradicional/marginal com

raízes vincadas em profunda culturalidade, o principal desafio do agricultor para garantir a

sustentabilidade da sua produção será estimular o uso exclusivo de Boas Práticas,

incrementando a produção ao mesmo tempo que se evita a intensificação agrícola (limitando o

stress hídrico no regadio), mantendo a biodiversidade local como uma mais-valía

turístico/cultural (explorando desde a composição da comunidade bacteriana/fungos/cogumelos

do solo até aos predadores do topo da cadeia trófica como o Lobo-bérico (canis lupus

signatus), o Lince-ibérico (Lynx pardinus), o Tartaranhão-caçador (Cyrcus pygargus) a Águia-

imperial-ibérica (Aquila adalberti) e a Águia-de-Bonneli (Aquila fasciata), a Abetarda (Otis

tarda), o Sisão (Tetrax tetrax), a Cegonha-negra (Ciconia nigra), o Abutre-preto (Aegypus

monachus), Rola-brava (Streptopelia turtur), entre muitos outros animais quase confinados à

Peninsula Ibérica, no contexto da Comunidade Europeia.86

Em Portugal, é importante referir que a Agricultura e a Pecuária contribuem com 9,9% das

emissões de gases para aumento do efeito de estufa, estando em quarto lugar nas fontes de

emissão de gases de efeito de estufa em Portugal, segundo o estudo “O Futuro do nosso

Clima, O homem e a Atmosfera” da responsabilidade do Instituto do Ambiente.84

Na agricultura, as emissões são provenientes, principalmente, da utilização de fertilizantes

químicos, cuja aplicação resulta na emissão de óxido de azoto (N20), um gás com efeito de

estufa. Algumas práticas agrícolas, como, por exemplo, lavrar profundamente os campos,

resultam na libertação de dióxido de carbono do solo. Na pecuária, a situação é mais

preocupante do que na agricultura. A criação intensiva de gado, principalmente de gado suíno,

origina a produção de grandes quantidades de estrumes que, ao serem armazenados me

lagoas ou espalhados em solos agrícolas, emitem metano.84

Será aconselhável a diminuição do consumo de carne, principalmente para favorecer a saúde.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 68

O conceito de Intensidade Agrícola pode-se definir como o nível de produção por hectare, a

intensificação poderá se a chave para evitar mais conversão de habitat natural em terras

agrícolas nas mais diversas partes do mundo (dada a pressão crescente da nossa procura de

alimentos, bio-energias, e bio-materiais).

Contudo, no passado, geralmente aumentámos a produção por hectare recorrendo a aumentos

do nível de inputs por hectare (adubos, pesticidas, água ou energia), o que conduziu a uma

quebra na eficiência do uso deste inputs e finalmente também a problemas ambientais –

eutrofização, envenenamento das cadeias alimentares, declínio dos aquíferos e caudais, ou

emissão de GEE, e além disso, maiores custos e menor competitividade.

Parece portanto crucial desligar, tanto quanto possível, o aumento da produção por hectare do

nível de inputs por hectare. Isto permitir-nos-ia ser, ao mesmo tempo, mais competitivos e mais

amigos do ambiente.

O grau em que este desligamento é possível não é ainda claro. Há certamente limites a esta

estratégia tecnológica para obter soluções win-win e reduzir trade offs entre ambiente e

economia. Estes limites são evidentes curto-prazo (lock-ins tecnológicos).

Por exemplo, a total expressão do potencial genético das variedades de plantas que hoje

usamos depende de agro-ecossistemas simples (reduzida competição, mas também reduzida

ajuda de predadores e parasitóides, logo necessidade de pesticidas) com níveis elevados de

nutrientes no solo (logo adubações copiosas).

Existem pelo menos duas vias estratégicas para desligar a produção por hectare dos níveis de

utilização de inputs por hectare:

- aumentar a eficiência na utilização dos inputs aplicando-os de um modo mais precioso e

dirigido – o que é geralmente referido como agricultura de precisão, mas inclui também novos

métodos de rega bem como a designada produção integrada.

- copiar e usar processos ecológicos (predação, parasitismo e doenças, fixação simbiótica de

azoto, micorrizas, combinações de culturas permanentes e anuais) para substituir inputs

comprados de origem industrial (pesticidas, fertilizantes e energia).

A primeira depende sobretudo das novas tecnologias da informação e da competência

humana, sendo muitas vezes esta limitada devido a estar inerente à condição humana de errar

para aprender.

A segunda é sustentada por um melhor conhecimento da forma como os agro-ecossistemas

funcionam, sendo designada por Agricultura em modo de produção biológica!

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 69

5 Agricultura em Modo de Produção Biológica

5.1 Resumo histórico sobre a noção de Sustentabilidade:30/31 Para entendemos melhor o desenvolvimento da noção sobre sustentabilidade é necessário

traçarmos um breve resumo histórico sobre o debate por um desenvolvimento sustentável. Na

década de sessenta e início da década de 70, estudiosos passam a apontar a

insustentabilidade do modelo de desenvolvimento hegemónico, e denunciaram a frágil situação

ambiental, item que passou a ser questionado e discutido pelo movimento social e

ambientalistas, que por sua vez pressionaram (e ainda pressionam, acompanhados cada vez

mais pelos economistas) a ações para a “questão ambiental” por parte dos programas de

governo nacionais, ao sistema político-partidário e na agenda dos organismos internacionais.

Uma das primeiras ações foi a realização da Conferência da Biosfera em Paris, em 1968, que

deu origem à 1ª Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento em 1972, na cidade de Estocolmo, na Suécia, promovida pela

Organização das Nações Unidas, foi importante sobretudo por marcar a dimensão ambiental

como parte integrante das relações políticas, económicas e sociais, e onde também foi criado o

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Em 1968 nasce o Clube de Roma, associação que reúne cientistas, economistas e altos

funcionários governamentais, com a finalidade de interpretar o que foi denominado, sob uma

perspetiva ambiental no contexto de mudanças que caminhavam para o colapso ecológico. Em

1973 temos mais avanços nos estudos da “questão ambiental”, que é o conceito de

ecodesenvolvimento, iniciado por Ignacy Sachs,72 que um tipo de desenvolvimento quem em

cada ecorregião insiste nas soluções específicas dos seus próprios problemas, levando em

conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais; as necessidades imediatas e

também as de longo prazo ; a solidariedade, no que diz respeito às gerações presentes e

futuras, se propõe o pluralismo tecnológico, calcado na importância em relação ao respeito

pelas condições do ecossistema local e, ao mesmo tempo, estando de acordo com as

necessidades e decisões conscientes dos atores envolvidos nos processos de

desenvolvimento.29

A noção de ecodesenvolvimento que dali emergiu sinalizava diretamente a necessidade de se

instituir um outro padrão de relação entre a sociedade e a natureza, onde a degradação

crescente desse lugar a práticas fundadas num melhor aproveitamento dos recursos naturais.72

Uma década e meia mais tarde a noção de econdesenvolvimento viria a ser praticamente

substituída pela ideia mais genérica, e em parte por isso mesmo mais aceite, referente a

desenvolvimento sustentável, que ficou consagrada pela Comissão Brundtland (1987),

segundo a qual o desenvolvimento que se pretendia era aquele capaz de preservar os recursos

necessários às gerações vindouras.52

Em 1982 é realizada uma reunião da PNUMA, em Nairobi, onde foi sugerido a formação de

uma Comissão da ONU para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), e neste espaço

foi proposto a realização do Relatório de Brundtland, que foi publicado em 1987. Este texto que

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 70

tinha como título: “Nosso Futuro Comum”, destacava que enunciava “desenvolvimento

sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer as

necessidades das gerações futuras”15, e assim tornou-se um marco conceptual e estratégico

na abordagem da problemática ambiental, e a partir dele o termo sustentabilidade passou a ser

mais usado e debatido, sendo disseminado em escala global a partir da sua publicação.15 É

necessário ressaltar que a definição de desenvolvimento sustentável provinda do Relatório de

Brundtland, não acrescenta nada de novo ao conceito que já vinha sendo desenvolvido, sendo

até pior pois trás consigo um vazio por ser uma definição genérica e imprecisa.

Observa-se que a Conferência de Estocolmo para as ideias sobre o desenvolvimento e meio-

ambiente teve o relatório do Clube de Roma, da mesma época, que apontava para a escassez

eminente de uma série de bens naturais. Ao optar pela definição “desenvolvimento

sustentável”, tal como expressa no Relatório Brundtland, escolhia-se um conceito que, em

primeiro lugar, não sinalizava a necessidade de se instituir um outro padrão, um outro estilo,

em segundo lugar, esta opção era totalmente compatível com a tentativa de resposta ao alerta

levantado pela crítica ambiental apoiada no paradigma da escassez.52 Na Conferência do Rio

de Janeiro, em 1992, este movimento teve o seu expoente, mas desde então tem falhado nas

tentativas de levar adiante uma agenda de proposições para o século XXI capaz de cobrir a

atuação de órgãos internacionais e de governos nacionais.

5.2 O conceito de Valor Sustentável – aplicação na Horticultura?59/60/63/68

O conceito de Valor Sustentável pretende apoiar a tomada de decisão empresarial, num

contexto de Sustentabilidade. Orienta as Empresas (neste caso, Agrícolas) para uma atuação

mais responsável, levando-as a aumentar o Valor dos seus negócios tendo em conta, não

apenas, preocupações económicas mas também ambientais e sociais e a sua integração na

sua gestão global.

O Valor Sustentável vai de encontro ao conceito de eco-eficiência empresarial, definido em

1992 pelo WBCSD (World Business Council for Sustainable Developement) como sendo:

“Disponibilização de bens e serviçis a preços competitivos, que, por um lado, satisfaçam as

necessidades humanas e contribuam para a qualidade de vida e, por outro, reduzam

progressivamente o impacto ecológico e a intensidade de utilização de recursos ao longo do

ciclo de vida, até atingirem um nível, que, pelo menos, seja compatível com a capacidade de

renovação estimada para o Planeta”.

Com vista à integração da Sustentabilidade a nível empresarial, os autores têm vindo a

desenvolver uma metodologia, materializada no Manual Valor Sustentável62, baseada no

Manual Prepol67, no Manual Análise do Valor Orientada para a Sustentabilidade58, no Manual

de Apoio à Implementação dos Princípios da Diretiva IPPC35 e na experiência adquirida na

aplicação deste tipo de ferramentas57, que permite quantificar os recursos envolvidos e o modo

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 71

como são satisfeitas as necessidades das várias partes interessadas, que englobam, por

inerência o sentir da sociedade.

O Manual Valor Sustentável é constituído por um conjunto de procedimentos para caracterizar

os processos produtivos e os produtos (bens e serviços). Através do conjunto de fichas que

compõe o manual, propõe um levantamento de informação relativa aos recursos que são

utilizados (mão de obra, materiais, energia e água) e desperdiçados (emissões e resíduos).

Esta informação juntamente com a determinação das funções do processo e/ou produto e da

forma como estas estão a ser desempenhadas vai servir de base à procura de soluções que

minimizem a utilização de recursos e, ou melhorem a satisfação das necessidades, conduzindo

à melhoria da eco-eficiência das Empresas e à criação de Valor Sustentável.

A metodologia do Manual Valor Sustentável62, tem como estratégia orientadora a eco-eficiência

e propõe uma abordagem faseada e sistémica para a integração de aspetos económicos, a par

de aspetos ambientais e sociais na gestão dos processos e produtos das empresas,

direcionando dessa forma a sua atuação para a criação/melhoria do Valor Sustentável.

A aplicação do Valor Sustentável à Horticultura foi apresentado no segundo Colóquio Nacional

de Horticultura Biológica, a 19 e 20 de Abril de 2007, no auditório da Lagoa Branca sito no ISA

– Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa pelo professor José João Marques da Silva

Henriques do INETI – Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Informação.

Esta metodologia, já difundida e testada em processos industriais, poderá ser aplicada na

avaliação de alternativas em processos de produção vegetal, uma vez que podem ser

identificadas operações unitárias, entradas e saídas e que podem ser integrados vários

aspetos relacionados com a Sustentabilidade do processo. Neste caso específico aspetos

relacionados com a envolvente como sejam águas lixiviantes, arquitetura paisagística,

ergonomia deverão ser considerados e integrados no Valor Sustentável.

É no entanto necessário haver vontade por parte de quem decide para iniciar o estudo, apoiá-lo

criando condições materiais e humanas para o seu desenvolvimento e para a implementação

dos resultados obtidos.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 72

Quadro n.º 4 - Fases de implementação da metodologia do Valor Sustentável

Fases Designação

Fase 1 Dados gerais da empresa

Fase 2 Dados específicos do projeto

Fase 3 Inventário Global

Fase 4 Análise Funcional

Fase 5 Síntese de problemas

Fase 6 Identificação e seleção prévia de ideias

Fase 7 Análise de Viabilidade

Fase 8 Plano de Ação

5.4 As correntes sociológicas europeias que proporcionaram o surgimento da Agricultura Biológica:75

A Agricultura Biológica é uma das formas de atuar de forma construtiva e equilibrada nos

sistemas agrícolas, inseridos nos sistemas naturais, melhorando a fertilidade dos solos,

promovendo o correto uso da água e preservando a biodiversidade, para além de produzir

alimentos de elevada qualidade.

A história da Agricultura Biológica tem como bases e métodos a continuidade dos que eram

utilizados pela maior parte dos camponeses do século XIX. Contundo, ela formalizou-se num

movimento, frequentemente ligados a correntes espirituais e esotéricas, recusaram, desde

1930, a evolução materialista da agricultura. Em consequência, ela evoluiu sob a influência de

diversas correntes sociológicas.

Essas correntes tiveram como precursores, entre outros, um movimento pela alimentação e

higiene naturais inscrevendo-se numa corrente de pensamento que contestava o

desenvolvimento industrial e urbano da época, e que preconizava uma forma sã de

alimentação e de tratamento.

Assim que a agricultura se começou a industrializar nos Estados Unidos, alguns anos mais

tarde, diversas publicações favoreciam o emergir da Agricultura Biológica, como o foi a obra de

Franklin King: «Camponeses de sempre: quarenta séculos de agricultura ininterrupta na China,

na Coreia e no Japão» mostrava como os agricultores asiáticos exploravam os mesmos

campos durante quatro mil anos sem os esgotarem. F. King sublinha que os ecossistemas

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 73

agrícolas não são redutíveis à soma dos seus componentes porque eles têm interações

complexas.

Na Europa, foram três as principais correntes sociológicas que contribuíram para o nascimento

da Agricultura Biológica e aí deixaram o seu cunho:

5.4.1 Um movimento esotérico: a Antroposofia - Nas vésperas da sua morte, em

1924, Rudolf Steiner lançou as bases da Agricultura Biodinâmica, que confere uma importância

especial às forças telúricas e cósmicas. Este filósofo austríaco, que se inspirou muito na obra

de Freud, tinha aderido em 1899 à Sociedade Teosófica (Sociedade fundada em 1875, em

Nova Iorque, por Helena Blavatsky (1831-1891) e H. S. Olcott (1832 – 1907) e que tem a sua

sede central em Madrasta, na Índia. Professa uma síntese de doutrinas espiritualistas de

diversas origens que vão desde os elementos cabalísticos, gnósticos, neoplatónicos, etc,

inseridos numa conceção hinduísta), criada nos Estados Unidos como reação à evolução para

o materialismo das civilizações industriais.

As finalidades desta sociedade são fundamentalmente «a procura sob todos os aspetos dos

mistérios ocultos na Natureza e, muito especialmente, dos poderes psíquicos e espirituais no

Homem». Tal ideia é muito antiga. Foi defendida por filósofos da antiguidade e por numerosos

sábios como Leonardo da Vinci. Com curiosidade em fazer luz sobre a relação da Terra com o

Cosmos, explorou as múltiplas formas que toma a energia viva nos então conhecidos três

reinos: Animal, Vegetal e Mineral.

Em 1913, Steiner desligou-se da Sociedade Teosófica, criticando-lhes as suas orientações

espíritas e não-cristãs. Com outros dissidentes fundou a Antroposofia. Esta doutrina é então

definida como um método científico exato para a investigação dos mundos supra-sensíveis. Os

objetivos de tal investigação são os de elaborar uam ciência espiritual, aplicável a todos os

domínios da vida.

Segundo Steiner, o Universo é constituído por duas partes que se interpenetram intimamente:

uma compreende tudo aquilo que é acessível aos nossos sentidos corporais, é a realidade

material, e a outra por tudo o que se lhes esquiva, especialmente os fenómenos psíquicos.

Steiner considera que se a ciência apenas se interessa pelas leis da matéria reduz

consideravelmente as possibilidades de compreensão do mundo. Graças à ciência espiritual,

seria possível, ter uma compreensão global dos elementos terrestres e da sua relação com o

Universo.

No fim da sua vida, em 1924, Steiner exprimiu o seu ponto de vista sobre o papel da

agricultura, que ele coloca na base de toda a sociedade harmoniosa. Por ocasião de umas

conferências numa propriedade agrícola da Silésia, expôs os princípios de uma agricultura

fundada sobre uma perspetiva antroposófica. Pôs reservas ao excesso de adubos químicos

que pode matar «a terra, organismo vivo». Também aconselhou a utilização de composto

preparado com certas substâncias vegetais susceptíveis de desempenhar um papel de

biocatalizador.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 74

A partir das suas teses, Erhenfried Pfeiffer preparou o método biodinâmico que experimentou

em diversas propriedades agrícolas da Europa e dos Estados Unidos. Na Alemanha, a

cooperativa Brandburgo valorizou os produtos da Agricultura Biodinâmica sob a marca

Demeter. Para Pfeiffer, a exploração camponesa autónoma é o único ponto de enraizamento

numa sociedade em crise – como acontecia em 1929 e acontece atualmente em 2012 – e a

Agricultura Biodinâmica pode contribuir para resolver esta crise. Nos anos trinta, este

movimento fez adeptos essencialmente nos países germanófilos ou da Europa do Norte. Foi

proibido pelos nazis em 1040, sem dúvida sob pressão das empresas químicas, o que não

impedoi que se desenvolvesse posteriormente em diversos países, sobretudo na Europa do

Norte (atualmente os mais desenvolvidos do Mundo – 2012).

5.4.2 O movimento por uma Agricultura Orgânica - Nascido na Grã-Bretanha,

após a Segunda Guerra Mundial, este movimento restituiu ao húmus um papel fundamental no

equilíbrio biológico e na fertilidade dos solos. Baseava-se nas teorias desenvolvidas por Sir

Albert Howard no seu Testamento agrícola escrito em 1940.

Depois de Justus von Liebig ter formulado a sua teoria sobre a nutrição mineral dos vegetais,

em 1840, era viva a polémica entre os partidários e os detratores do húmus e da matéria

orgânica. Liebig pensava que os sais minerais são os únicos alimentos das plantas e podem

substituir totalmente o estrume. Quanto a Blondeau, ele considerava obsoleta a tradição de

adubação do terreno com estrume: «A planta é uma máquina, a terra o seu suporte e o adubo

matéria transformada…Acreditou-se durante muito tempo que o húmus era

indispensável…quimeras, tolices, inexperiências».

Outros agrónomos, em compensação, inquietavam-se com esta conceção mecanicista das

ligações entre a planta e o solo. Denunciaram as teses de Liebig e os malefícios dos adubos

minerais «que arruinaram a terra e devoram o húmus».

Sir Albert Howard também deplorava o emprego de adubos artificiais e especialmente de

adubos minerais. Preconizou o retorno a uma «agricultura camponesa» autónoma, cujos

protagonistas estão especialmente atentos aos fenómenos da natureza e atentos à

preservação do húmus nos solos.

Depois de ter vivido durante vários anos da Índia, Howard concluiu que a solução do problema

da alimentação neste país se encontra não na adoção de técnicas ocidentais caras em energia,

mas associação cultura-criação de animais, aliás praticada tradicionalmente pelo camponês

indiano. Importa deste modo reservar os detritos orgânicos para a fertilização, especialmente

os excrementos, e renunciar à sua destruição. Howard afinou uma técnica de compostagem

(processo Indore) e estudou os efeitos do composto nos rendimentos e na qualidade dos

produtos agrícolas. Sublinhou o papel da fertilidade do solo na resistência das plantas ao

parasitismo.

As suas lições foram aplicadas à jardinagem nos Estados Unidos, com o apoio do centro de

pesquisa de Rodale e na Grã-Bretanha pela «Soil Association». Esta associação, criada em

1946, propôs como objetivos a promoção de uma Agricultura Natural que tem em conta a

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relação vital entre a terra, a planta, o animal e o Homem, mas também a defesa dos solos

graças a técnicas de cultura razoáveis, com a finalidade de limitar os fenómenos de erosão e

as castátrofes climáticas.

5.4.3 O movimento para a Agricultura Orgânico – Biológica: Inspirou-se numa

corrente aparecida na Suíça, desde 1930, sob o impulso de um político, H. Muller. Os seus

objetivos são económicos e sociopolíticos: autarcia de produtores, circuitos curtos entre a

produção e o consumo… As ideias deste movimento concretizaram-se num método de cultura

pelos anos sessenta. Foi um médico austríaco, Hans Peter Rusch, que desenvolveu este

método. As suas preocupações estavam muito próximas do movimento ecológico emergente:

proteção do meio ambiente, qualidade da alimentação e desenvolvimento das energias

«suaves» e renováveis. Segundo Rusch, a subsistência da população deve ser assegurada

evitando os desperdícios, as poluições e a delapidação do potencial de produção. Contudo,

acreditava nas virtudes do progresso tecnológico, então em pleni progresso na época, e

dedicou-se a lançar as bases de uma nova Agricultura Biológica. Rusch renunciou ao princípio

da autonomia total da empresa agrícola. Considerava, com efeito, que a associação

agricultura-criação não era indispensável se o cultivador se pudesse abastecer de adubos

orgânicos e completá-los, principalmente na Alemanha (criação da Associação Bioland e das

«Bioladen»), em França (Fundação de Nature et Progrès e implantação de cooperativas de

consumo) e na Suíça (cooperativa Muller).

5.5 Definição de Agricultura Biológica:82/133

Segundo a IFOAM (Internacional Federation of Organic Agriculture Movements), a Agricultura

Biológica engloba todos os sistemas que promovem a produção de alimentos e fibras sãos sob

um ponto de vista ambiental, social e económico. Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do

solo a nível local como chave para uma produção de sucesso. Ao respeitar a capacidade

natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar a qualidade em todos os aspetos da

agricultura e do ambiente. A Agricultura Biológica reduz substancialmente a utilização de

fatores de produção externos à exploração, através da não utilização de fertilizantes e

pesticidas químicos de síntese e de produtos farmacêuticos.

Segundo Lampkin (1990), a Agricultura Biológica é um sistema de produção que evita ou exclui

a quase totalidade de produtos químicos de síntese como adubos, pesticidas, reguladores de

crescimento e aditivos alimentares para animais. Para que seja praticável na máxima extensão,

os sistemas de Agricultura Biológica recorrem a rotações culturais de modo a manter a

produtividade do solo, a nutrir as plantas e a controlar insectos, ervas infestantes e outros

inimigos das culturas. O conceito de solo como um sistema vivo que desenvolve as actividades

de organismo úteis é central nesta definição”.61

Segundo a Comunidade Europeia a Agricultura Biológica é, assim, um sistema de gestão da

exploração agrícola que, implicando importantes restrições em matéria de produtos químicos

de síntese (fertilizantes ou pesticidas), e baseia, essencialmente, em culturas variadas, no

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 76

cuidado com a proteção do ambiente e na promoção de um desenvolvimento agrícola

sustentável.104/1057106

Segundo o Instituto Nacional de Estatística Português (INE, 2012) trata-se do modo de

produção agrícola, sustentável, baseado na atividade biológica do solo, alimentada pela

incorporação de matéria orgânica, que constitui a base da fertilização, evitando o recurso a

produtos químicos de síntese e adubos facilmente solúveis, respeitando o bem-estar animal e

os encabeçamentos adequados, privilegiando estratégias preventivas na sanidade vegetal e

animal. Procura-se, desta forma, a obtenção de alimentos de qualidade, a sustentabilidade do

ambiente, a valorização dos recursos locais e a dignificação da atividade agrícola.

Deste modo, o Modo de Produção Biológico (MPB) engloba todos os sistemas agrícolas que

produzem alimentos e fibras de forma ambiental, social e economicamente sã e sustentável,

reduzindo a utilização de fatores de produção externos. No entanto, evitar o uso de “químicos”

não significa interditar completamente o seu uso, mesmo que esta seja apenas em raras

situações e após um pormenorizado estudo de impacto ambiental (está previsto na lei o uso de

alguns adubos minerais e pesticidas químicos de síntese).

E, apesar de ser considerada, erradamente, uma agricultura “do passado”, a Agricultura

Biológica pretende não ser retrograda, utilizando mesmo algumas das técnicas agrícolas mais

modernas.

É ainda importante esclarecer que o conceito “biológico” é relativo ao modo de produção e não

aos produtos (agrícolas, animais ou transformados) obtidos através desse modo de produção.

Esta situação tem grandes implicações ao nível da rotulagem dos produtos pois não é

permitido usar expressões como: “cenouras biológicas”, sendo a correta forma de apresentar o

produto ao consumidor através das expressões: “cenouras de Agricultura Biológica”, “cenouras

obtidas em modo de produção biológica” ou ainda “cenouras – modo de produção biológico”.

5.6 Princípios da Agricultura Biológica:82/133

A IFOAM – Federação Internacional dos Movimentos de Agriculture Biológica, define os

seguintes princípios subjacentes à Agricultura Biológica:

Saúde – o papel da Agricultura Biológica, tanto na produção como na transformação,

distribuição ou consumo, é produzir alimentos nutritivos e de alta qualidade, que contribuam

para a saúde e o bem-estar. Considera-se, numa abordagem mais abrangente, que a saúde

dos ecossistemas, animais e plantas é indissociável da saúde do Homem.

Ecologia – o respeito pelo ambiente leva, em Agricultura Biológica, ao desenho de sistemas

agrícolas onde se inclui a criação de habitats e a manutenção da diversidade genética e

agrícola, onde se fomentam ciclos fechados de nutrientes e materiais e o uso eficiente da

energia e onde se preservam e beneficiam as paisagens e os recursos naturais.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 77

Justiça – o objectivo de contribuir para a soberania alimentar e para a eliminação da pobreza,

através da produção de alimentos nutritivos e em quantidade suficiente, o respeito pela

qualidade de vida de todos os intervenientes, partindo dos agricultores e mão-de-obra agrícola,

até ao consumidor final, e uma atitude respeitadora para com os outros seres vivos e os

recursos naturais, são princípios que norteiam a Agricultura Biológica.

Precaução – a precaução, a responsabilidade e a transparência são as principais

preocupações na escolha e desenvolvimento de métodos e tecnologias aplicáveis em

Agricultura Biológica.

Segundo Jean-Claude Rodet, fundador da Agrobio, existem 12 princípios na Agricultura

Biológica

Valor nutritivo: os alimentos provenientes de Agricultura Biológica são cultivados em solos

equilibrados, sendo mais ricos em vitaminas, sais minerais, proteínas e glúcidos,

proporcionando uma alimentação rica e saudável.

Sabor: em solos regenerados e fertilizados com matéria orgânica, as plantas crescem

saudáveis e desenvolvem o seu verdadeiro aroma, a sua cor e sabor autênticos, permitindo-

nos redescobrir o verdadeiro gosto dos alimentos.

Saúde: Na agricultura biológica não são aplicados adubos químicos, nem se pulverizam as

plantas com pesticidas de síntese. Os estudos toxicológicos reconhecem a relação existente

entre os pesticidas e certas patologias, como o cancro, as alergias, a asma, entre outras.

Solo fértil: O solo é a base de toda a cadeia alimentar e a principal preocupação da Agricultura

Biológica. Toda a prática agrícola deve ter como objectivo conservar e melhorar a fertilidade do

solo, aumentando o seu teor de matéria orgânica.

Água pura: A Agricultura Biológica, como utiliza adubos naturais, garante a preservação da

pureza da água que bebemos, hoje e para as gerações futuras.

Biodiversidade: A diminuição da biodiversidade é um dos principais problemas ambientais de

hoje. A Agricultura Biológica perpetua a diversidade das sementes e das variedades locais com

grande valor nutritivo e cultural e fomenta a biodiversidade global dos ecossistemas agrícolas.

Certificação: Os produtores biológicos seguem um caderno de normas rigoroso, verificado por

organismos de controlo e certificação, segundo a legislação europeia de Agricultura Biológica.

Mundo rural: A Agricultura Biológica respeita o equilíbrio da natureza e contribui para um

ambiente saudável. O equilíbrio entre a agricultura e floresta, as rotações e consociações de

culturas, permitem preservar um espaço rural para nós, para os nossos filhos e netos.

Dignidade do agricultor: A Agricultura Biológica permite revitalizar os meios rurais e restituir

ao agricultor a dignidade e reconhecimento que lhe são merecidos, pelo seu papel de guardião

da paisagem, dos ecossistemas agrícolas e primeiro garante da saúde humana.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 78

Educação: A Agricultura Biológica é uma excelente "escola prática de educação ambiental".

Ela oferece aos jovens de hoje, decisores de amanhã, um modelo de desenvolvimento

sustentável do planeta.

Emprego: A Agricultura Biológica cria oportunidades de emprego permanente e gratificante

devido às práticas ecológicas e à dimensão das explorações agrícolas, adaptadas à escala

humana.

Futuro: Os produtores biológicos são audaciosos inovadores que combinam os conhecimentos

mais modernos com as práticas e saberes tradicionais, dispensando o uso de todos os

produtos poluentes do ecossistema.

A Agricultura Biológica adere a princípios aceites globalmente, mas postos em prática e

adaptados a ambientes sócio-económicos, geoclimáticos e culturais locais.

A fertilidade do solo é considerada a base para uma produção de qualidade e, como, tal, há

que fomentar a sua manutenção ou melhoria. Isto consegue-se recorrendo, prioritariamente,

aos meios disponíveis na próprias exploração e através da adopção de um conjunto de práticas

culturais (rotações, consociações, compostagem, mobilização mínima, adubação verde, etc).

No entanto, os operadores podem também dispor de fatores de origem exterior à exploração,

como certos fertilizantes (Regulamento nº 2092/91 modificado da CEE), mas sempre e apenas

como complemento das práticas culturais referidas. Por outro lado, a proteção fitossanitária é

encarada preventidamente com certas medidas culturais (variedades resistentes, solarização,

armadilhas, barreiras de proteção, etc). Sempre que possível, aplicam-se meios de luta

biológica (limitação natural, favorecendo os auxiliares – inimigos naturais das práticas e

doenças das culturas) ou biotecnológica (feromonas). Apenas em último caso, em situações de

perigo imediato para a cultura, se recorre aos pesticidas autorizados (Regulamento nº 2092/91

modificado da CEE), em número reduzido e de impacto ambiental e toxicológico mínimo ou

nulo. Para o controlo de infestantes deverão ser utilizadas práticas agrícolas como a monda

mecânica ou a monda térmica.

Quando se trata de produção animal, a ênfase é dada às necessidades fisiológicas e etológicas

da espécie (alojamento, alimentação e áreas de pastagem adequadas), privilegiando também

as práticas preventivas na manutenção das sua boa saúde.

As explorações agrícolas que se querem converter a este modo de produção têm que passar

por um período de conversão de dois ou três anos, conforme o tipo de cultura. No caso da

produção animal, cada espécie tem também período específico de conversão.53/54/55/73/74

5.7 Objetivos da Agricultura Biológica: São vários os objetivos específicos da Agricultura Biológica e, embora tenham todos análoga

importância, seria impertinente fazer, neste trabalho, a sua enumeração completa. Como tal,

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 79

serão destacados apenas alguns, de interesse mais geral. Os restantes são variações que

advêm dos que serão mencionados em seguida. Então, com a Agricultura Biológica pretende-

se:

− produzir alimentos de elevada qualidade nutritiva e sem resíduos (ou com uma

quantidade muito reduzida) de produtos químicos, em suficiente quantidade;

− compatibilizar as atividades agrícolas e pecuárias com a preservação do meio

ambiente;

− contribuir para a melhoria do fundo de fertilidade do dos solos e para o

desenvolvimento de uma Agricultura Sustentável;

− promover a gestão racional dos recursos hídricos e da vida neles existentes;

− melhorar a eficiência de utilização dos recursos naturais da exploração;

As práticas tipicamente usadas em Agricultura Biológica incluem:

− Rotação de culturas, como um pré-requisito para o uso eficiente dos recursos locais

− Limites muito restritos ao uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, de antibióticos,

aditivos alimentares e auxiliares tecnológicos, e outro tipo de produtos

− Proibição absoluta do uso de organismos geneticamente modificados

− Aproveitamento dos recursos locais, tais como o uso do estrume animal como

fertilizante ou alimentar os animais com produtos da própria exploração

− Escolha de espécies vegetais e animais resistentes a doenças e adaptadas às

condições locais

− Criação de animais em liberdade e ao ar livre, fornecendo-lhes alimentos produzidos

segundo o modo de produção biológico

− Utilização de práticas de produção animal apropriadas a cada espécie

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5.8 Normas Europeias que regulamentam a Agricultura Biológica na Comunidade Europeia: Quadro n.º 5 - revela as áreas de culturas de terras aráveis, culturas permanentes, pastagens e

prados totalmente convertidos, 2008 (%) 1

Culturas sazonais Culturas permanentes Prados e pastagens

Fonte:http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-SF-10-010/EN/KS-SF-10-010-EN.PDF

Na União Europeia estas normas foram estabelecidas no Regulamento do (CEE) 2092/91, no

Conselho de 24 de Junho de 1991, relativo ao modo de produção biológico de produtos

agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios. Em 1999, o

modo de produção biológico animal foi contemplado no regulamento CE nº 1804/99. Este

Regulamento tem vindo a sofrer algumas alterações através de outros [Reg. (CE) nº 1488/97

de 29.07.97 e Reg. (CE) nº 473/2002 de 16.03.02], indica quais as substâncias ativas

autorizadas neste modo de produção, bem como as condições da sua utilização, sendo a

Agricultura Biológica aplicada integralmente durante todo o período de conversão, após o qual

é possível vender a produção certificada enquanto “produto de Agricultura Biológica”.

Uma revisão detalhada do atual regulamento resultou em duas propostas da Comissão

Europeia em Dezembro de 2005 para uma série de normas simplificadas e melhoradas: uma

para a importação de produtos de agricultura biológica e outra para a produção e rotulagem de

produtos de agricultura biológica. O Regulamento para as importações, Regulamento do

Concelho 1991/2007, que altera o Regulamento (CEE) n.º 2092/91, relativo ao modo de

produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos

géneros alimentícios, em vigor desde Janeiro de 2007.

A definição de produção biológica, o seu logótipo e sistema de rotulagem, estão contidos no

Regulamento do Concelho relativo à produção biológica e à rotulagem de produtos de

agricultura biológica, que foi aplicado a partir de 1 de Janeiro de 2009.

O Regulamento de Agricultura Biológica da União Europeia especifica como deve ser feita a

gestão das culturas e produção animal e como devem ser preparados os produtos alimentares

para humanos e animais, de modo a poderem ostentar indicações referentes ao modo de

produção biológico. A adesão ao Regulamento biológico da União Europeia também é exigida

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 81

para que os produtos possam ostentar o logótipo da União Europeia para a Agricultura

Biológica. É também obrigatório que esse rótulo contenha o código identificativo dos

organismos de controlo que inspeccionam e certificam os operadores biológicos.

Este regime de rotulagem visa ganhar a confiança dos consumidores dos Estados-Membros da

União Europeia na autenticidade dos produtos de agricultura biológica que adquirem. O

logótipo da União Europeia destina-se a facilitar o reconhecimento dos produtos de Agricultura

Biológica pelos consumidores e funciona de forma semelhante aos outros logótipos nacionais

que poderá encontrar nos produtos do seu próprio país. A partir do dia 1 de Julho de 2012 é

obrigatório que todos os produtos produzidos de acordo com o Regulamento Europeu de

Agricultura Biológica contenham a aposição do logótipo biológico da União Europeia, assim

como todos os produtos alimentares pré-embalados produzidos nos Estados Membros da

União Europeia e que cumpram as normas aplicáveis. No caso dos produtos biológicos não

embalados e importados, a aposição do logótipo continuará a ser facultativa. Juntamente com

o logótipo da União Europeia, continuarão a poder figurar outros logótipos privados, regionais

ou nacionais.

O logótipo biológico «Eurofolha» foi introduzido em 1 de Julho de 2010, mas, para permitir que

os operadores se adaptassem às novas regras e evitar desperdiçar embalagens existentes, foi

autorizado um período de transição de dois anos antes de o rótulo ser obrigatório em todos os

produtos. O campo visual do logótipo deve também conter o número de código do organismo

de controlo e o local de produção das matérias-primas agrícolas. Um relatório recente do

Eurobarómetro sobre a atitude europeia em relação à segurança e à qualidade dos alimentos e

ao espaço rural, inclui informações sobre o rótulo biológico da União Europeia e expressa

entusiasmo por, desde a sua introdução, em Julho de 2010, o logótipo ser já reconhecido por

24% dos cidadãos europeus.

Figura n.º 3 - Logótipo da União Europeia para a Agricultura Biológica

5.9 - Motivações para a conversão em Agricultura Biológica:53/54/55/73/74

Como testemunha a História, os motivos que incitaram os agricultores a escolher a via

alternativa da Agricultura Biológica evoluíram. Para os prioneiros, a decisão da conversão foi

tomada frequentemente após uma intoxicação, devida à utilização de pesticidas sem as

preocupações suficientes ou após uma inspeção certificada do mau estado sanitário do gado

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 82

fragilizado pelos sistemas forrageiros praticados. Por vezes, a rentabilidade medíocre da

Agricultura Convencional e o atrativo dos preços no mercado motivaram a conversão. Contudo,

para a maior parte dos candidatos à Agricultura Biológica esta escolha correspondeu a um

ética; estavam em busca de uma harmonia que começa por uma certa qualidade das relações

com a natureza. No período recente, as razões invocadas estão preferencialmente ligadas a

uma tomada de consciência dos problemas do meio ambiente. Jovens agricultores justos, com

éticas e inteligência baseada no caráter coerente das suas opções, sentem um incómodo ao

utilizar maciçamente os produtos de tratamento e os adubos químicos. Os riscos de poluição

que daí resultam dá-lhes uma má consciência, assim como prejuízos económicos para a sua

exploração, apoiados na conversão pelos apoios concedidos no quadro das medidas agro-

ambientais da nova política agrícola da União Europeia.

O perfil dos Agricultores Biológicos é associado, geralmente a uma formação geral de

excelência e frequentemente observadores apaixonados, em permamente procura e

reciclagem de informação. Sentem satisfação em fornecer aos consumidores bens alimentares

que consideram sãos e obtidos por métodos mais «suaves» para o meio ambiente do que os

da Agricultura Convencional. É portanto um verdadeiro ideal que os anima e que vai para lá da

utilização ou não de produtos químicos de síntese.

H.P. Rusch, um dos precursores da Agricultura Biológica sublinhava claramente: «Temos

necessidade de armas espirituais para o combate da futura era biológica…Aquele que acredita

que para fazer Agricultura Biológica é suficiente renunciar aos adubos químicos, praticar a

compostagem em superfície, não efetuar tratamentos tóxicos e comprar adubos orgânicos está

enganado. Pode, para tal, conformar-se com todas as regras que demos para o solo sem

praticar a Agricultura Biológica. Não basta deixar de acreditar apenas nas receitas à base de

adubos e de tratamentos químicos, mas renunciar totalmente a essas receitas.»

Aplicando muitos especialistas agrónomos esta interrogação de H.P. Rusch sobre a Proteção

Integrada, pois apesar de ser generalizado pelo povo agrícola tratar-se de um modo de

produção biológico, opera contra vários princípios básicos da Agricultura em Modo de

Produção Biológica.

Todavia, e felizmente, há uma grande diversidade entre os agricultores, como sejam os

refractários ao «progresso», em particular os que recusam a modernização da agricultura dos

anos 50-60; esta implicava, com efeito, uma alteração dos valores tradicionais do

«endividamento-investimento» à «moral» da poupança prudente e a passagem da gestão do

património para a exploração máxima dos solos e dos animais. Nestes camponeses é

particularmento forte a vontade de autarcia e a oposição à intensificação. No seu conjunto, os

da nova geração são menos radicais. É certo que denunciam os excesso do produtivismo, mas

por vezes reconhecem o progresso económico e social real gerado pela modernização da

agricultura. Consideram que é preciso ser competitivo e que por vezes é necessário

endividarem-se para se adaptarem aos mercados. Contudo, de um extremo ao outro, os

protagonistas deste modo de produção estão todos de acordo em sublinhar que a Agricultura

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 83

Intensiva apresenta hoje inconvenientes económicos, sociais e sobretudo para o meio

ambiente.

A necessidade de mão-de-obra em Agricultura Biológica é equivalente à necessária em

Agricultura Convencional, no entanto é apontado que, pela ausência de mecanização, as

mondas, sachas e lavouras são fatores que encarecem a atividade (aumento este que pode ir

até 50%). Também no seu estudo, Carvalho (2000) notava esta exigência de maior mão-de-

obra na Agricultura Biológica, em relação à Agricultura Convencional, atribuindo a tal facto

razões de prevenção relativamente aos principais inimigos das culturas (pragas, doenças e

infestantes). Os custos com a mão-de-obra e a maquinaria são, muitas vezes em regime de

exculsividade, os que mais agravam o défice da balança económica numa exploração com este

modo de produção, sendo os pesticidas biológicos e as sementes os fatores de produção que

menos peso têm nos custos de produção biológica.

Na Agricultura Convencional todos os custos de produção analisados globalmente (matéria

orgânica, sementes, mão-de-obra, pesticidas biológicos, fertilizantes, máquinas, etc) são de

maior valor do que na Agricultura Biológica, segundo a constatação da maioria dos agricultores

convertidos.

A progressão económica deste tipo de empresas é, normalmente, a um ritmo lento, mas

estável, sendo o tempo médio de recuperação do investimento entre 5 a 10 anos.

A área de produção biológica é uma das que tem tido maior desenvolvimento no setor

alimentar europeu. Para este facto contribuiu bastante o incentivo dado pela Comunidade

Europeia que, em 1992, decretou os estatutos da Agricultura Biológica (Regulamento nº

2091/91 da CEE), entrando esta medida em vigor em todos os Estados Membros, da época, a

1 de Janeiro de 1993. Estes estatutos definiram as suas normas de produção, permitindo a

unificação das várias correntes e a consequente harmonização das terminologias por elas

usadas. Por outro lado, a introdução das medidas agro-ambientais (na reforma da PAC),

incentivando formas de agricultura menos agressivas do ponto de vista ambiental, e a

possibilidade de apoio financeiro (Regulamento nº 2078/92 da CEE) impulsionou decisivamente

os agricultores a optar por este modo de produção. Como resultado destas medidas, verificou-

se, na década de 1990, um crescimento exponencial deste tipo de agricultura.

Culminando no acordo histórico sobre nova parceria no domínio do comércio de produtos

biológicos entre a Comunidade Europeia e os Estados Unidos, celebrado em Nuremberga a 15

de Fevereiro de 2012, permitindo que a partir de 1 de Junho de 2012, os produtos certificados

na Europa ou nos Estados Unidos possam ser vendidos como tal nestas duas regiões do

Mundo. A parceria entre os principais produtores mundiais de produtos biológicos criará

alicerces sólidos para a promoção da Agricultura Biológica, favorecendo a indústria dos

produtos biológicos em crescimento. O volume de negócios dos setores da Agricultura

Biológica dos Estados Unidos e da União Europeia é avaliado em cerca de 40 milhares de

milhões de euros, estando em constante aumento.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 84

É imperioso o incentivo da Agricultura no modo Produção Biológico, de modo a preservar os

ecossistemas e a beleza paisagística do seu território, através de várias ações, entre as quais

as publicações dos Manuais de Agricultura Biológica, de forma a colaborar para a tomada de

decisão das culturas agrícolas e das espécies animais que podem ser produzidas nesta forma

sustentável de Produção Agrícola.

O associativismo é considerado um elemento propulsor do desenvolvimento da Agricultura

Biológica. Nos países com maior expressão de Agricultura Biológica, as organizações de

produtores, consumidores e instituições desenvolvem um papel muito importante, verificando-

se uma forte participação por parte destas ao nível das iniciativas e apoio prestado aos

membros que a elas pertencem. Através da dinâmica associativa torna-se mais fácil a

afirmação desta atividade em termos de produção, transformação, certificação e distribuição.

Além destas funções, as organizações são também um veículo essencial para a comunicação

entre o poder político e os seus associados.

Figura n.º 4 - Crescimento da área plantada de alimentos orgânicos (em hectares) entre os

anos de 2000 e de 2006

Fonte:IFOAM (Federação

Internacional de Movimentos de

Agricultura biológica

A Agricultura Biológica tem crescido

exponencialmente ao longo dos

últimos anos, sendo praticada em

mais de 160 países. As últimas

estatísticas do Global Organic

Farming statistics and news, de 2012,

a Agricultura Biológica ocupa 37 milhões de hectares. Acrescem 43 milhões de hectares de

recolha de plantas silvestres, que são certificadas em Agricultura Biológica. O mercado de

agricultura biológica encontra-se em franco crescimento, tendo sido estimado, em 2010, em

44,5 mil milhões de euros.

5.10 - Organizações Internacionais ligadas à Agricultura Biológica: IFOAM (Internacional Federation of Agriculture Movement)133 – Em 1955, esta organização reunia cerca de 500 membros de 90 países (dos quais 120 membros associados). Os membros são organizações de produtores, de transformadores, de distribuidores, instituições de pesquisa, de formação e de informação.Pessoas individuais e empresas privadas podem aderir à federação como membros associados. O órgão supremo da IFOAM (Internacional Federation of Agriculture Movement) é a Assembleia Geral que se reúne de dois em dois anos e elege um novo conselhor de administração. Constitui uma rede de trocas de informações, dirigida por uma comissão executiva. Os objetivos da federação são:

− as trocas de conhecimento e o estabelecimento em rede;

− a defesa dos interesses da agricultura biológica;

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 85

− o estabelecimento e a revisão das normas internacionais de produção, transformação e

comercialização (cadernos de encargos normalizados definindo um mínimo de regras

mundiais comuns);

− a garantia da qualidade dos produtos da Agricultura Biológica a nível internacional;

− o desenvolvimento da Agricultura Biológica com uma especial atenção pelo

desenvolvimento solidário.

A IFOAM (Internacional Federation of Organic Agriculture Movement) edita uma revista

trimestral em inglês: Ecology and Farming que apresenta sobretudo a evolução da Agricultura

Biológica no mundo e os resultados dos trabalhos de pesquisa e organiza a maior feira de

Agricultura Biológica do Mundo: BIOFACH, que se realiza anualmente em Fevereiro, em

Nuremberga, Alemanha.133

ISOFAR (International Society of Organic Farming Agriculture Research)135 – A Sociedade

Internacional de Pesquisa de Agricultura Orgânica (ISOFAR) promove e apoia a investigação

em todas as áreas de Agricultura Biológica, facilitando a cooperação global em pesquisa,

desenvolvimento metodológico, a educação e o intercâmbio de conhecimentos; apoiar

pesquisadores individuais através de serviços de associação, publicações e eventos e integrar

as partes interessadas no processo de pesquisa.

A sua missão consiste em:135

− apoiar pesquisadores individuais, de ambos os sistemas orgânicos generalistas e

especializados fundos disciplinares, através de serviços de associação, incluindo

eventos, publicações e relevantes estruturas científicas;

− facilitar a cooperação global em pesquisa, educação e intercâmbio de conhecimentos;

− estimular o desenvolvimento conceitual, teórica e metodológica, respeitando o ethos da

agricultura orgânica, em um sistemas / inter-disciplinar de contexto;

− incentivar a participação ativa dos usuários e das partes interessadas, com o seu

conhecimento e experiência acumulados, na priorização, desenvolvimento, condução,

avaliação e comunicação de pesquisa;

− promover relações com as associações de pesquisa relacionados, incluindo eventos e

publicações conjuntas.

FiBL (Research Institute of Organic Agriculture) - FiBL é uma organização independente,

sem fins lucrativos, instituto de pesquisa com o objetivo de avançar ciência de ponta no campo

da agricultura orgânica. A sua equipa de pesquisa trabalha em conjunto com os agricultores

para o desenvolvimento de soluções inovadoras e de custo-benefício para aumentar a

produtividade agrícola, sem nunca perder de vista de impactos ambientais, de saúde e sócio-

econômico. Ao lado da pesquisa prática, a FiBL dá prioridade à transferência de conhecimento

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 86

para as práticas agrícolas através de aconselhamento trabalho de formação e conferências. A

FiBL tem escritórios na Suíça, Alemanha e Áustria e

inúmeros projetos e iniciativas na Europa, Ásia,

América Latina e África.

Este Instituto de Pesquisa de Agricultura Orgânica

(FiBL) fornece dados importantes e os resultados da

pesquisa global sobre a Agricultura Orgânica do

mundo, em cooperação com a Federação

Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica

da IFOAM e outros parceiros através do Orgânico-World.net. Todas as informações de fundo e notícias

relacionadas com as estatísticas da Agricultura

Biológica e desenvolvimentos gerais da agricultura

orgânica em todo o mundo são neste site

disponibilizados.

OFRF (Organic Farming Research Foundation) que

tem uma visão muito clara em que a Agricultura

Orgânica será a principal forma de agricultura na

América. Esta fundação cultiva pesquisa orgânica,

educação e política federal para atrair cada vez mais

agricultores e área cultivada para a produção orgânica.

Fundada em 1990, é líder nos Estados Unidos da

América, por ter o maior numero de sócios no modo de

produção em Agricultura Familiar Orgânica.

Representam a voz dos Agricultores Orgânicos da

América familiares junto do Governo Federal

Americano, do Congresso, do Departamento de

Agricultura dos EUA, e dos Governos Estaduais.

Figura n.º 5 - Área total orgânica (totalmente convertido e em conversão), 2008(ha),

e percentagens de mudanças entre 2007/2008.

Fonte: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-SF-10-010/EN/KS-SF-10-010-

EN.PDF

5.11 - A Agricultura Biológica em Portugal: Nos primeiros anos da década de 1980 eram poucos os operadores agrícolas em Portugal a

seguir o modo de produção biológico e, entre estes, havia um grande número de estrangeiros

Área agricultura biológica (ha) Variação (%)

2008 2007-2008

EU-27 7,764,722 7.4

BE 36,153 10.8

BG 16,663 22.1

CZ 320,311 9.1

DK 150,104 8.7

DE 907,786 4.9

EE 87,346 9.8

IE 42,816 4.1

EL 317,824 13.6

ES 1,317,539 33.3

FR 583,799 4.8

IT 1,002,414 -12.9

CY 2,323 :

LV 161,624 9.1

LT 122,2 1.5

LU 3,535 5.0

HU 122,817 15.0

MT 20 :

NL 50,434 7.3

AT 447,678 0.6

PL 313,944 8.5

PT 233,475 :

RO 140,132 6.6

SI 29,836 1.8

SK 140,755 19.4

FI 150,374 1.1

SE 336,439 9.1

UK 726,381 10

NO 52,248 6.9

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 87

que se instalaram no País com o objetivo específico de desenvolver a Agricultura Biológica

motivados pelo baixo preço dos terrenos e dos meios de produção, e pelas condições naturais

favoráveis, pois tinha, um mercado assegurado nos seus países de origem.

O associativismo é considerado um elemento propulsor do desenvolvimento da Agricultura

Biológica. Nos países com maior expressão de Agricultura Biológica, as organizações de

produtores, consumidores e instituições desenvolvem um papel muito importante, verificando-

se uma forte participação por parte destas ao nível das iniciativas e apoio prestado aos

membros que a elas pertencem. Através da dinâmica associativa torna-se mais fácil a

afirmação desta atividade em termos de produção, transformação, certificação e distribuição.

Além destas funções, as organizações são também um veículo essencial para a comunicação

entre o poder político e os seus associados.

5.11.1 – Associações de Agricultura Biológica em Portugal:

O Associativismo na Agricultura Biológica em Portugal surgiu com vinte anos de atraso em

relação a associações criadas noutros países.

Em Portugal, a primeira associação de agricultores biológicos foi a SALVA – Associação de

Produtores Agricultores em Agricultura Biológica do Sul, composta no início por 18 produtores

(na sua maioria estrangeiros radicados em Portugal), sendo reconhecida como Organização de

Agricultores em Modo de Produção Biológico (Portaria n.º 180/2002), sob o Despacho n.º 20

096/2002 de 16/08/2002, do Diário da República n.º 211 de 12 de Setembro de 2002, II Série.

A sede estava situada na antiga Escola Primária de Salir, sendo denominado posteriormente

Centro Brito de Carvalho. A dinamização da SALVA foi da responsabilidade do Senhor José

Miguel Fonseca (atualmente à frente do movimento Colher Para Semear, Rede Portuguesa de

Variedades Tradicionais).

Seguidamente houve uma rutura social que deu origem à AGROBIO - Associação Portuguesa

de Agricultura Biológica (AGROBIO), em 1985, sendo reconhecida como Organização de

Agricultores em Modo de Produção Biológico (Portaria n.º 180/2002), sob o Despacho nº

5114/2003 de 19/02/2003 do Diário da República nº 64 de 17 de Março de 2003, II Série.

Com a AGROBIO assistiu-se a um incremento na divulgação (principalmente entre os

produtores) e toda a fileira comercial se começou a organizar, fazendo com que a Agricultura

Biológica começasse a tomar uma expressão económica expressiva.

Seguidamente surgiram outras associações, sendo reconhecidas como Organizações de

Agricultores em Modo de Produção Biológico, pela Portaria n.º 180/2002, do Diário da

República, II Série, ordenadas por data de reconhecimento, as seguintes:88

• SALVA – Associação de Produtores Agricultores em Agricultura Biológica do Sul (Salir)

Despacho n.º 20 096/2002 de 16/08/2002 (D.R. nº 211 de 12 de Setembro de 2002, II Série);

• AGRIARBOL – Associação de Produtores de Agro-Florestais da Terra Quente

(Macedo de Cavaleiros)

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 88

Despacho n.º 25 936/2002 de 31/10/2002 (D.R. nº 282 de 6 de Dezembro de 2002, II Série);

• MONTES DO NORDESTE – Associação de Produtores de Agricultura Biológica de

Trás-os-Montes e Alto Douro (Torre de Moncorvo)

Despacho n.º 2429/2003 de 20/01/2003 (D.R. nº 31 de 6 de Fevereiro de 2003, II Série);

• APATA – Associação de Produtores Agrícolas Tradicionais e Ambientais (Mogadouro)

Despacho n.º 2430/2003 de 20/01/2003 (D.R. nº 31 de 6 de Fevereiro de 2003, II Série);

• BIORAIA – Associação de Agricultores Biológicos da Raia (Idanha-a-Nova)

Despacho n.º 3022/2003 de 22/01/2003 (D.R. nº 37 de 13 de Fevereiro de 2003, II Série);

• Associação de Agricultores Biológicos Transmonstanos (Macedo de Cavaleiros)

Despacho n.º 515/2003 de 19/02/2003 (D.R. nº 64 de 17 de Março de 2003, II Série);

• AGROBIO – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Lisboa)

Despacho n.º 5114/2003 de 19/02/2003 (D.R. nº 64 de 17 de Março de 2003, II Série);

• ACRIGA – Associação de Criadores de Gado e Agricultores (Macedo de Cavaleiros)

Despacho n.º 7 528/2003 de 27/03/2003 (D.R. nº 92 de 19 de Abril de 2003, II Série);

• AGRIDIN – Associação Profissional para o Desenvolvimento da Agricultura Biológica e

Biodinâmica (Amoia)

Despacho n.º 11 267/2003 de 19/05/2003 (D.R. nº 132 de 7 de Junho de 2003, II Série);

• ELIPEC – Agrupamento de Produtores de Pecuária, S.A. (ELVAS)

Despacho n.º 13 112/2003 de 16/06/2003 (D.R. nº 152 de 4 de Julho de 2003, II Série);

• ACORPSOR – Associação de Criadores de Ovinos da Região de Ponte de Sor (Ponte

de Sor)

Despacho n.º 14 696/2003 de 17/07/2003 (D.R. nº 173 de 29 de Julho de 2003, II Série);

• ARAB – Associação Regional de Agricultores Biológicos da Beira Interior (Castelo

Branco);

Despacho n.º 15 273/2003 de 25/07/2003 (D.R. nº 180 de 6 de Agosto de 2003, II Série);

• BIO – ANA – Associação Nacional de Agricultores Biológicos (Castelo Branco)

• NATURA – Associação Açoreana de Agricultura Biológica (Ribeira Grande)

• AJAMPS – Associção de Jovens Agricultores da Madeira e Porto Santo (Funchal)

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 89

Recentemente encontramos também associações de consumidores como a BIOCOOP e

ligadas à distribuição da produção a URZE, a QUINTINHA, a VERDURAS CAMPESTRES). As

principais funções que estas Organizações desempenham são ao nível do apoio aos

associados, através da assistência técnica e apoio à comercialização.

Ao contrário da generalidade dos países da Europa, a evolução do setor de Agricultura

Biológica em Portugal tem sido bastante irregular porque apesar do aumento brusco em 1994,

com a aplicação das medidas agro-ambientais, verifica-se um drecéscimo devido à mudança

do sistema de controlo, em 1996. No entanto, em 1998, os valores triplicaram e, a partir daí, o

crescimento faz-se a um ritmo rápido.

Até 1995, ano de implementação da primeira empresa de certificação em controlo de

Agricultura Biológica em Portugal, era a AGROBIO a responsável por esta função, contudo, e

porque desenvolvia atividades que poderiam pôr em causa a sua isenção (posta em causa em

várias ações ainda hoje, tendo eu conhecimento de causa de pelo menos 3 casos concretos)

como entidade certificadora, a associação suspendeu esta atividade, apoiando a criação de um

novo organismo, autónomo e com essa função específica.82

Assim foram criados vários Organismos Privados de Controlo e Certificação (OPC´s) como a

SOCERT-PORTUGAL, a SATIVA, a CERTIPLANET, etc, que têm como função:

− efetuar as ações de controlo e assegurar-se que são cumpridas as normas em vigor;

− assim como atribuir licenças aos operadores e atestados aos produtos;

− garantir a confidencialidade relativa às informações obtidas no decurso da sua

atividade de controlo;

− ter patente ao público a lista de operadores sujeitos ao regime de controlo (Ferreira,

1998);

O controlo às explorações é feito mediante visitas, anuais e pontuais (sem aviso prévio), que

conduzem à elaboração de um relatório que será, posteriormente, apreciado por uma

comissão. Só depois da confirmação por parte desta comissão se passa à fase de certificação.

No caso de incumprimentos (utilização de fatores de produção são imprescindíveis para

assegurar a credibilidade do sistema e para eliminar qualquer dúvida do consumidor.

O logótipo que serve de referência nacional é o logótipo biológico «Eurofolha» introduzido em 1

de Julho de 2010, pela Comunidade Europeia (referido anteriormente neste trabalho na página

52).

5.11.2 – Organismo Regulador em Portugal:

Atualmente, o modo de produção biológico, segundo a Direção-Geral de Agricultura e

Desenvolvimento Rural portuguesa, tem como suporte legislativo o Regulamento (CE) nº

834/2007 do Conselho, de 28 de Junho e demais legislação complementar. Através deste

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 90

suporte legislativo são autorizadas determinadas substâncias ativas, referenciadas na

legislação, para uso neste modo de produção.

Contudo, ao abrigo art. 2º, ponto 2, do Decreto-Lei nº 94/98, de 15 de abril, todas as

substâncias ou produtos destinados à proteção dos vegetais, a exercer uma ação sobre os

processos vitais dos vegetais, a assegurar a conservação dos produtos vegetais, destruir

vegetais indesejáveis, entre outras ações, deverão ser sujeitos a homologação e autorização

de colocação no mercado português a conceder pela atual autoridade fitossanitária nacional,

Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

No combate dos inimigos das culturas deve ter-se em atenção que um produto fitofarmacêutico

homologado para uma dada finalidade (cultura/inimigo), só deverá ser utilizado para este fim,

facto que está de acordo com o ponto 1 do art. 13º do Decreto - Lei nº 173/2005, de 21 de

outubro, onde consta o seguinte: "É proibida a aplicação em todo o território nacional de

produtos fitofarmacêuticos não homologados no País, assim como aplicações que não

respeitem as condições de utilização expressas no rótulo das embalagens.

No âmbito da proteção fitossanitária relativa ao modo de produção biológico, a Direção-Geral

de Agricultura e Desenvolvimento Rural elaborou e publicou os seguintes documentos, em

formato digital no seu site da Internet:

− Guia dos produtos fitofarmacêuticos - Agricultura biológica 2009;

− Manual de proteção fitossanitária para proteção integrada e agricultura biológica das

oleaginosas, disponível desde 2009;

− Manual de proteção fitossanitária para proteção integrada e agricultura biológica do

olival, disponível desde 2008;

− Manual de proteção fitossanitária para proteção integrada e agricultura biológica das

prunóideas, disponível desde 2008;

− Manual de proteção fitossanitária para proteção integrada e agricultura biológica da

videira, disponível desde 2009.

Nestes documentos podem ser consultados os produtos fitofarmacêuticos que podem ser

utilizados para combate dos inimigos das várias culturas no âmbito do modo de produção

biológico.87/99/102

5.11.3 – Dimensão e estrutura do mercado biológico em Portugal:

Até há pouco tempo, os produtos biológicos estavam confinados a um mercado muito restrito,

sendo vendidos, quase exclusivamente pelos produtores diretamente das suas explorações

(Carvalho, 2000).

No entanto mais recentemente (como já foi referido anteriormente), a comercialização dos

produtos biológicos, em Portugal e nos restantes países mediterrânicos, tem vindo a efectuar-

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 91

se em lojas especializadas. O facto de não haver suficiente oferta (principalmente ao nível da

hortofrutícolas) tem impedido a abertura de novos locais de venda.

Os mercados locais ou a compra direta ao produtor têm também alguma importância na

aquisição destes produtos. A BIOCOOP, cooperativa de consumidores vocacionada para a

comercialização e divulgação dos produtos provenientes da Agricultura Biológica, comercializa

todo o tipo de produtos alimentares (desde frutas e legumes, a bebidas, lacticínios e alimentos

de padaria) e não alimentares (detergentes, produtos de higiene, material escolar, roupa

interior), de origem nacional, principalmente, mas também produtos importados. Esta

cooperativa procura normalmente estabelecer relações diretas com os fornecedores, com o

objetivo de propor preços mais acessíveis. Estruturas semelhantes começam a surgir noutras

localidades, procurando estabelecer uma ligação, o mais próxima possível, entre produtores e

consumidores.

Como por exemplo a Herdade do Freixo do Meio, é uma herdade alentejana com 440 ha de

Montado, situada junto à aldeia de Foros de Vale de Figueira, Concelho de Montemor o Novo.

O projeto de conversão à Agricultura Biológica começou em Setembro de 1990, em que após

um período de 15 anos de nacionalização a herdade foi entregue aos antigos proprietários que

através de uma nova geração procuraram desde então entender e gerir este património. Foi

assim constituída, em 1996, a Sociedade Agrícola do Freixo do Meio Lda, norteada pela

pela ética do respeito por nós próprios, pelos outros e pelo Planeta Terra, o Freixo do Meio

aumenta a sua actuação na procura e implementação de um modelo de gestão agro-ecológico

denominado Montado. Procura-se viver os princípios ancestrais deste agroecossistema, à luz

do conhecimento e das circunstâncias sociais, ambientais e económicas actuais. O desafio é

de gerir eficientemente o Montado desta herdade alentejana. Alheio à hegemonia do mercado

e à maximização dos resultados imediatos, o projeto Freixo do Meio procura uma

sustentabilidade económica a par da prática efectiva de políticas sociais e ambientais

adequadas.

No cumprimento da sua missão, assente na exigência, na transparência, no conhecimento e na

inovação, a herdade do Freixo do Meio elegeu a Agricultura Biológica (Reg. CE 2092/91,

modificado), desde 2001, como forma de abordar o desafio de explorar eficientemente o

Montado.

O modelo de produção desde 1990 assenta no restabelecimento do solo e dos diferentes

extratos do sistema (arbóreo, arbustivo e herbáceo), bem como na implementação de um

conceito multi-produtivo, onde se gerem no mesmo tempo e espaço actividades silvícolas,

agrícolas e pecuárias, frutícolas, hortícolas, transformação e distribuição alimentar, retalho

alimentar, serviços ambientais, produção de energia, serviços turístico didáticos como

restauração e alojamento e investigação.

Apostar na eficiência da utilização dos recursos naturais, eco-funcionalidades, na redução de

resíduos, na eficiência dos processos, na redução da pegada ecológica e na transição para era

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 92

pós-carbono. A agricultura Biológica é practicada desde 2001 de forma integral em todo o eco-

sistema.

A aplicação de princípios Biodinâmicos vem acontecendo deste 2005. A permacultura nas suas

diferentes abordagens, ética, metodologia, técnica, …, iluminam a partir de 2006 o Freixo do

Meio.

A principal função da herdade do Freixo do Meio é a produção de alimentos. São produzidos

todos os ingredientes da dieta mediterrânica com poucas excepções como o leite e o peixe.

Mais de 150 produtos alimentares diferentes são comercializados em mercados de

proximidade: Azeite, Azeitona, Arroz, Carnes de Bovino, Peru, Borrego, Cabrito, Porco,

Galinha, Galo, enchidos tradicionais, fiambre e carnes secas, patés, preparados à base de

carne, cogumelos silvestres, cereais, leguminosas, hortícolas frescas, secas e conservadas,

ovos, pinhões, farinha e biscoitos à base de Bolota, Pão, sabão, cortiça, madeira, lã, peles, …

A marca Freixo do Meio diferencia-se por oferecer um conjunto de alimentos produzidos,

transformados e distribuídos por uma única instituição. Uma cadeia curta e personalizada mas

completa e eficiente, proporciona uma inigualável responsabilização e segurança alimentar.

A estratégia de diferenciação assentou nas variedades, raças, receitas, costumes e tradições

portuguesas. Como consequência do modelo agro-ecológico de produção adoptado

desenvolveram-se posteriormente, as seguintes funções:

− Transformação de alimentos;

− Distribuição por grosso;

− Distribuição a retalho;

− Serviços turístico-didáticos;

− Serviços Ambientais;

evoluindo assim para um caracter multifuncional.

Em 2008 o Freixo do Meio abre as portas a outros micro projetos autónomos mas

complementares através do conceito “Viveiro Freixo do Meio”. Pretende-se uma actuação

adequada à situação económica e social actual, aproveitando potenciais existentes e

fortelecendo o projeto no todo. São já 9 os projetos autónomos instalados. O primeiro foi

implementado pelo Sr. Antonio Abel, antigo encarregado da herdade, que ao reformar-se

empreendeu uma cadeia artesanal de produção / transformação de mel. Atualmente a herdade

do Freixo do Meio conta com uma equipa formada por dezasseis colaboradores permanentes

maioritariamente residentes na confinante aldeia dos Foros de Vale de Figueira. O projeto é

coordenado desde o início por Alfredo Cunhal Sendim.

Na herdade do Freixo do Meio acredita-se que “a alimentação é o cordão umbilical que une o

homem com a natureza" e a agricultura biológica é um modo de produção que dá particular

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 93

ênfase à protecção do meio ambiente, ao bem estar animal e à qualidade dos alimentos. Os

alimentos são livres de fitofármacos, antibióticos e transgénicos (OGM), resultado de uma

agricultura ambientalmente e socialmente sustentável. Têm duas lojas, nas quais vendem os

produtos diretamente aos clientes, embora estes possam também fazer enconmendas via

telefone ou internet.

A loja do Freixo do Meio no Mercado da Ribeira estabelece uma relação próxima entre as

pessoas e a herdade através de um atendimento personalizado, que permite uma

transparência total dos processos de produção/transformação. Existe aí um talho com as

carnes produzidos e transformados na Herdade, bem como uma área de vegetais frescos,

vinho, azeite, arroz, e muitos outros produtos.

Pode-se também visitar a herdade e ver como são produzidos e transformados os produtos. Ao

mesmo tempo há a possibilidade de comprar alguns produtos, como por exemplo vinho,

pinhões, azeite, etc. ou ver quais os vegetais que estão prontos para serem apanhados, e

serem levados ainda frescos.

Outro exemplo paradigmático é o caso da Herdade de Carvalhoso, certificada para modo de

produção biológica desde 2003 e localizada na aldeia de Ciborro, Concelho de Montemor – o –

Novo. Aqui se encontra a única unidade fabril, com uma capacidade de armazenagem de

cereais de cerca de 5000 toneladas, para transformação de rações, cereais e outros produtos

alimentares em modo totalmente biológicos. Tem capacidade para a fabricação de alimentos

compostos biológicos para animais de produção (dispondo de um alargado leque de

referências para cada espécie e até proporcionando alimentos compostos desenhados à

medida das necessidades particulares dos clientes), para a transformação de cereais

biológicos para consumo humano, para a transformação de farinhas feitas em mó de pedra,

cereais integrais e descascados, leguminosas tipicamente portuguesas e de variedades

ancestrais, arroz com diferentes acabamentos, e mais recentemente desidratados de flores

comestíveis, frutas e vegetais biológicos, bem como chocolates.

A empresa está bem implantada no mercado português com duas marcas de produtos, a

Herdade de Carvalhoso, direcionada para os supermercados biológicos e outras lojas de

especialidade, e a GOUCHI destinada ao mercado de alta seleção e espaços Gourmet.

As grandes superfícies vendem também produtos biológicos mas, devido à sua escassez, a

diversidade oferecida é normalmente pequena. No entanto, todas as grandes empresas do

setor alimentar encontram-se, neste momento, interessadas em comercializar ou já

comercializam linhas de produtos biológicos (ex: a venda de produtos de Agricultura Biológica

nas lojas alimentares do Grupo SONAE faz-se desde 1991, marcando atualmente presença

em todos os tipos de estabelecimento do Grupo (Carvalho, 2000), muito embora a oferta não

seja ainda significativa e se limite a um pequeno leque de produtos (principalmente legumes,

fruta, vinho, azeite e azeitona).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 94

O maior volume de vendas concentra-se nas grandes áres urbanas (Lisboa e Porto) e, nestas

áreas, em localizações específicas (ex: as lojas de Cascais ou Benfica vendem mais produtos

– Ferreira, 2003).

Os produtos biológicos têm o dom de revitalizar inclusive pequenos comércios familiares de

bairro, como o exemplo original da loja Miosótis na R. Marquês Sá da Bandeira, nº 16, junto ao

Jardim da Gulbenkian, em Lisboa, propriedade do Angelo e da Manuela. Aqui podem-se

encontrar as frutas e os legumes, os iogurtes, a carne, as bebidas, o arroz e as massas, o pão

e as bolachas, ... tudo proveniente de agricultura biológica. Ou seja, produzido de forma natural

sem químicos de síntese (adubos, pesticidas, hormonas, aditivos) e sem OGMs (organismos

geneticamente modificados). Mas além dos produtos biológicos pode encontrar também

sempre muita frescura, muita diversidade, muita informação fornecida de forma informal e

descomprometida em palestras facilitadas por produtores e/ou especialistas em produtos

biológicos, degustações comentadas, showcokings com produtos biológicos, etc.90/91

O lema deste espaço entende-se por “BIO é lógico” - “BIO para todos” - “100% BIO”

− Bio(é)lógico porque faz todo o sentido: é uma produção limpa e ecológica, são

produtos saudáveis e saborosos; é preciso que o consumo promova a protecção do

planeta e o bem estar dos homens.

− Para todos porque BIOLÓGICO tem que ser mais acessível, o seu preço pode ser mais

em conta se o consumo aumentar e os circuitos forem mais diretos.

− Porque 100% BIO dá o máximo de confiança, não há dúvidas se é ou se não é

proveniente de agricultura biológica.

Outro exemplo de agricultura biológica familiar/economia real é o caso da Quinta Hortas da Cortesia (Lisboa), cujo o responsável é Miguel Barros, que revela a sua solidariedade, dicas

interventivas justiça social, informação atualizada de vários assuntos e muita vontade de mudar

o mundo através da sua Newsletter para os clientes, que considera todos como amigos,

cultivando inclusive o espirito comunitário e concorrência leal entre colegas.

Sendo o empreendedorismo internauta a forma mais barata, abrangente, eficaz, rápida e

sustentável para comercializar os produtos de Agricultura Biológica da atualidade. (Newsletter

completa no anexo IV).

Recentemente foi criado o Centro de Artes Culinárias no Mercado de Santa Clara (junto à

Feira da Ladra), inaugurado em Maio de 2011, onde se situa também um dos locais de entrega

dos cabazes PROVE em Lisboa. Este mercado possui o marco histórico de ter sido o primeiro

mercado de Lisboa,

O Centro de Artes Culinárias é uma iniciativa da Associação para o Estudo e Promoção das

Artes Culinárias - AS IDADES DOS SABORES, criada em Dezembro de 2001, tem como

objectivo contribuir para a salvaguarda e desenvolvimento do património gastronómico e

artes culinárias a ele associadas, promovendo o estudo dos sistemas, práticas e ritos

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 95

relacionados com a alimentação em Portugal. São duas as componentes-chave do seu

projeto: um Centro das Artes Culinárias e um Pólo de Documentação, integrando uma

biblioteca e uma videoteca, dispondo já de um vasto e significativo conjunto de objectos e de

documentação. Das atividades da Associação, destacam-se a realização de exposições

temáticas e o apoio a ações de sensibilização destinadas a promover o uso de produtos locais

e os saberes tradicionais ligados à alimentação.94/95

Quanto à natureza jurídica dos operadores de Agricultura Biológica em Portugal, são na sua

maioria individuais (chegando aos 80%), havendo também sociedades unipessoais, geridas por

quotas, familiares e cooperativas. A maioria destas produções explora vários setores entre as

atividades da exploração (policultura), enquanto que as restantes se especializam apenas

numa área (seja em azeite, carne, fruta, flores, hortícolas, etc).

A dimensão das explorações varía imenso, havendo uma grande quantidade de pequenas

explorações com menos de 1 hectare até 2000 hectares (Alentejo). A maior parte tem um

volume de vendas anual da ordem de valor menor do que os 50 000 euros anuais, embora já

existam algumas que ultrapassam os 150 000 euros anuais em volume de vendas.

Figura n.º 7 - Área total orgânica (totalmente convertido e em conversão), por país da UE de

2007 (1) e 2008 (2), em hectares. (1)DK, MT, data 2006; (2) CY, MT, PT no data available.

Fonte:http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-SF-10-010/EN/KS-SF-10-010-EN.PDF

5.12 – Conversão para Agricultura Biológica na Comunidade Europeia:46/53/55

O Regulamento 2092/91 da CEE, no Conselho de 24 de Junho de 1991, consagra o modo de

produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas assim como

nos géneros alimentícios. Em 1999, o modo de produção biológico animal foi contemplado no

regulamento CE nº 1804/99. Este Regulamento tem vindo a sofrer algumas alterações através

de outros [Reg. (CE) nº 1488/97 de 29.07.97 e Reg. (CE) nº 473/2002 de 16.03.02], indica

quais as substâncias ativas autorizadas neste modo de produção, bem como as condições da

sua utilização, sendo a Agricultura Biológica aplicada integralmente durante todo o período de

conversão, após o qual é possível vender a produção certificada enquanto “produto de

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Agricultura Biológica”. O período de conversão começa com a notificação de ínicio de atividade

em Agricultura Biológica à Autoridade competente, notificação essa que só é feita após a

assinatura do contrato com o organismo privado de controlo e certificação (OPC) e após a

primeira visita de controlo feita por este.

Uma revisão detalhada do atual regulamento resultou em duas propostas da Comissão

Europeia em Dezembro de 2005 para uma série de normas simplificadas e melhoradas: uma

para a importação de produtos de agricultura biológica e outra para a produção e rotulagem de

produtos de agricultura biológica. O Regulamento para as importações, Regulamento do

Concelho 1991/2007, que altera o Regulamento (CEE) n.º 2092/91, relativo ao modo de

produção biológico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nos

géneros alimentícios, em vigor desde Janeiro de 2007.

A definição de produção biológica, o seu logótipo e sistema de rotulagem, estão contidos no

Regulamento do Concelho relativo à produção biológica e à rotulagem de produtos de

agricultura biológica, que foi aplicado a partir de 1 de Janeiro de 2009.

O Regulamento de Agricultura Biológica da União Europeia especifica como deve ser feita a

gestão das culturas e produção animal e como devem ser preparados os produtos alimentares

para humanos e animais, de modo a poderem ostentar indicações referentes ao modo de

produção biológico. A adesão ao Regulamento biológico da União Europeia também é exigida

para que os produtos possam ostentar o logótipo da União Europeia para a Agricultura

Biológica. É também obrigatório que esse rótulo contenha o código identificativo dos

organismos de controlo que inspeccionam e certificam os operadores biológicos.

A partir do dia 1 de Julho de 2012 é obrigatório que todos os produtos produzidos de acordo

com o Regulamento Europeu de Agricultura Biológica contenham a aposição do logótipo

biológico da União Europeia, assim como todos os produtos alimentares pré-embalados

produzidos nos Estados Membros da União Europeia e que cumpram as normas aplicáveis. No

caso dos produtos biológicos não embalados e importados, a aposição do logótipo continuará a

ser facultativa. Juntamente com o logótipo da União Europeia, continuarão a poder figurar

outros logótipos privados, regionais ou nacionais.

Assim, e de um modo geral, pode dizer-se que a prática da Agricultura Biológica obriga a que:

− as exploraçõres agrícolas onde os produtos foram obtidos tiveram de passar, em

média, por um período de conversão de 2 anos antes da sementeira das culturas

anuais ou de 3 anos antes da colheita de frutas e outras culturas perenes; qualquer

cultura se o terreno está em pousio há 3 anos ou mais; qualquer cultura se o terreno

tiver antecedentes químicos de alta toxicidade e persistência: 3 anos ou mais

consoante a gravidade do caso.

A possibilidade de redução para zero, que resultou duma modificação do regulamento inicial,

permite que em terrenos em pousio seja possível certificar a primeira cultura, o que é muito

vantajoso devido à valorização da mesma, que deverá compensar uma eventual perda de

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 97

produtividade. No caos português, em que são cada vez mais os terrenos agrícolas em pousio,

esta situação é já com frequência aproveitada pelos agricultores, constituindo uma

oportunidade para este modo de produção. Nos outros casos, a certificação só é possível no

segundo ano de conversão e seguintes, sendo que durante a conversão o rótulo deve

mencionar essa situação. Para alguns mercados mais exigentes essa certificação intermédia

não é aceite. Também é possível uma certificação parcial da exploração desde que em

parcelas separadas da produção convencional e com variedades diferentes e diferenciáveis,

excepto no caso de culturas perenes (vinhas, pomares e olivais), em que, por um período

excepto no caso de culturas perenes (vinhas, pomares e olivais), em que, por um período

máximo de 5 anos, se permite o cultivo das mesma variedades. Durante o período formal de

conversão, o controlo é efetuado desde o início.

− a fertilidade e a atividade biológica dos solos devem ser mantidas ou melhoradas

através de culturas apropriadas e sistemas de rotação adequados e incorporação nos

solos de matérias orgânicas adequadas.

− a luta contra os parasitas, as doenças e as infestantes deve ser feita através da

escolha de espécies e variedades adequadas, programas de rotação de culturas,

processos mecânicos de cultura, proteção dos inimigos naturais dos parasitas das

plantas e combate às infestantes por meio do fogo.

− os animais devem preferentemente ser escolhidos de entre raças autóctones ou de

raças particularmente bem adaptadas às condições locais e os que não nasceram em

explorações que praticam o modo de produção biológico devem passar por períodos

de conversão específicos para cada raça. Todos os animais de uma mesma unidade

de produção devem ser criados de acordo com este modo de produção. É probido

conservar os animais amarrados.

− para que os produtos possam ostentar referências ao modo de produção biológico e,

em particular, a menção “Agricultura – Sistema de controlo CEE”, os operadores têm

que cumprir a legislação da Agricultura Biológica; submeter as suas explorações

agrícolas e/ou de transformação a um sistema especial de controlo, que cobre toda a

fileira produtiva; notificar a sua atividade junto do Organismo público competente.

5.12.1 – Proteção Fitossanitária em Agricultura Biológica:54

Fazer Agricultura Biológica não é substituir a utilização de adubos e produtos fitofarmacêuticos

por outros, homologados para o modo de produção biológico. Produzir neste modo de

produção é ter uma visão alargada do papel do homem no ecossistema e manter a

preocupação constante da preservação do equilíbrio. Porque todo o ser vivo tem um papel a

desempenhar para a comunidade da qual faz parte, é necessário conhecer este princípio para

quem se dedica à Agricultura Biológica: introduzir elementos externos no agrossistema, como o

uso indiscriminado de agroquímicos, pode ser o factor que vai desestabilizar todo o conjunto, e

manifestações como a doença, em animais e plantas, acabam por surgir.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 98

Daí que o termo mais adequado é PROTEÇÃO FITOSSANITÁRIA, na medida em que, em

Agricultura Biológica, o que se pretende é a proteção das plantas contra o ataque de agentes

nocivos.

O primeiro passo para uma boa proteção fitossanitária é criar condições para um

desenvolvimento vegetativo equilibrado da planta, para que esta seja mais resistente. Isto

passa sobretudo por garantir que o solo, donde a planta extrai os elementos necessários ao

seu crescimento, seja um solo fértil, rico em matéria orgânica e com teores de ph adequados.

Uma nutrição equilibrada constitui assim um garante de plantas com boas resistências a

ataques de doenças e pragas.

Em Agricultura Biológica não se deve esperar que a doença se instale para depois actuar, é

necessário, pelo contrário, privilegiar as medidas preventivas. Daí a obrigatoriedade de um

acompanhamento regular da cultura, de forma a fazer a estimativa do risco de ataque, em

função de fatores como as condições metereológicas, estado vegetativo da planta, etc… Ao

agricultor é exigido o conhecimento do ciclo da cultura e das respetivas fases de maior

susceptibilidade, assim como da biologia de pragas.

Para além disto há que lançar mão de técnicas culturais que minimizam o ataque de agentes

patogécnicos, como o estabelecimento de diversidade cultural, com recurso a plantas com

diferentes susceptibilidades, e a prática de rotações adequadas.

Para além das práticas culturais que visam a obtenção de plantas com boa resitência e que

minimizem a susceptibilidade ao ataque, devem ser tomadas outras medidas profilácticas como

sejam a eliminação de focos de doença ou praga, quer em culturas, quer em infestantes.

Outras práticas culturais preventivas da ocorrência de infestação, sobretudo em pomares,

passam pelo arejamento das copas, com boa condução das árvores desde a sua formação, e

podas anuais, em que se tenha presente a preocupação de permitir um bom arejamento e a

entrada de luz. Por vezes também poderá ser importante proceder à desfolha junto dos frutos

para permitir um bom arejamento. Em caso de ataque, os frutos e/ou outros órgãos infetados,

ou tombados no chão, devem ser removidos, e a cultura deve merecer, a partir de aí, um

acompanhamento redobrado. A oportunidade do tratamento é estabelecida em função do

comprometimento da produção, do estádio da cultura e do ciclo de vida do parasita, no caso

das pragas.

A luta biológica deve ser feita sobretudo incentivando a conservação da fauna nativa, onde

predadores e parasitoides, num sistema ecologicamente equilibrado, constituem a melhor

forma de combate contra os inimigos das culturas. A luta biológica também pode ser induzida

através de largadas inoculativas ou inundativas.

5.12.2 – A conversão no caso específico da horticultura herbácea:

A aplicação do plano de conversão às culturas hortícolas é dos mais exigentes, por se tratas de

uma grande diversidade de culturas e variedades, em rotação e sucessão ao longo do ano de

elevada copmplexidade, das culturas mais exigentes em termos de fertilização e proteção

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 99

fitossanitária, e ainda em equipamentos específicos (caso da monda mecânica e da monda

térmica de ervas infestantes). É também mais exigente em termos de planificação das culturas

e produções para o mercado, já que em muitos casos os produtos são perecíveis e por isso

obrigam a uma comercialização imedidata.

A conversão de culturas hortícolas ao modo de produção biológico é uma conversão de ordem

técnica mas também ao nível da gestão e organização, que exige uma dedicação constante

nos primeiros anos.63

5.12.3 - Os aspectos práticos da conversão mais importantes e que devem ser previstos no plano de conversão:63

− avaliar o risco de contaminação resultante de práticas anteriores e do meio envolvente,

seja contaminação ambiental (caso das águas de rega poluída), seja acidental (caso de

tratamento com pesticidas em cultura vizinha), e aplicar as medidas de proteção mais

apropriadas (sebes em bordadura, faixa de segurança);

− analisar a fertilidade do solo e procurar fontes de matéria orgânica na exploração e na

região envolvente, para compostagem ou aplicação direta como fertilizante orgânico;

− incluir na rotação de culturas, plantas melhoradas para adubação verde (sideração);

− verificar a necessidade de fertilização complementar com adubos orgânicos ou

minerais, a sua disponibilidade no mercado nacional e o respectivo custo e aplicar em

caso de necessidade reconhecida;

− verificar a existência de organismos auxiliares para limitação natural de pragas e

estabelecer e aplicar medidas de incremento da mesma (sebes mistas, faixas de

compensação ecológica);

− elaborar e aplicar uma rotação de culturas suficientemente longa e diversa para

prevenir a maioria das pragas e doenças de permanência temporária no solo;

− escolher as variedades mais apropriadas, com especial atenção às variedades

resistentes ou tolerantes a doenças, incluindo variedades regionais;

− preceder à instalação de viveiros, caso não haja possibilidade de adquirir plantas

certificadas em modo de produção biológico (caso do morango);

− monitorizar as populações de pragas, perceber as suas causas e aplicar as medidas de

proteção prioritárias (medidas culturais e luta biológica com auxiliares de espécies

autóctones);

− verificar a necessidade de proteção complementar com pesticidas autorizados e sua

disponibilidade no mercado nacional (com homologação), ou externo (homologados

noutros países comunitários) e o respetivo custo, e aplicar em caso de perigo imediato

para a cultura;

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 100

− aplicar práticas culturais e monda mecânica ou térmica para proteção contra ervas

infestantes;

− fazer um levantamento dos equipamentos existentes, e sua adaptação ao novo modo

de produção, e adquirir outros se necessário;

− verificar a disponibilidade de mão de obra face a um provável aumento do tempo de

trabalho (monda natural de parte das ervas, preparação e embalagem);

− verificar as necessidades de preparação, embalagem e rotulagem dos produtos, na

própria exploração ou em empresa de preparação e distribuição certificada.

No caso da horticultura as dificuldades mais frequentes e da mais difícil resolução são

principalmente de três tipos – problemas de pragas, doenças e ervas infestantes, dificuldades

de mão de obra para picos de trabalho e comercialização difícil.

Quadro n.º 6 - Principais alterações que ocorrem quando se passa de um modo de produção

“convencional” (ainda que em Proteção ou Produção Integrada) para a Agricultura Biológica:

Fonte: Revista O Segredo da Terra

5.13 - Qualidade e segurança alimentar dos produtos de Agricultura Biológica:54

Devido aos sucessivos escândalos alimentares, hoje em dia o tema da qualidade e segurança

dos alimentos é central na preocupação dos consumidores.

Prática comum ou de possível disseminação em Agricultura

“convencional”

Prática mais comum em Agricultura biológica

Aumento(+)ou diminuição(-) de custos de produção com a nova

prática e principal motivo

Monocultura ou rotação ocasionalRotação obrigatória e consociação ocasional

(+)invertimento inicial com máquinas e alfaias adaptadas a cada cultura

Variedades sensíveis às doençasVariedades tolerantes ou resistentes às doenças

(-)menor despesa com tratamentos f itossanitários

Variedades geneticamente modif icadas (OGM) (milho, soja)

Variedades regionais, standard ou híbridas nunca OGM

(-)sementes mais baratas, ou reutilização de sementes pelo agricultor

Sementes “convencionais” Sementes de produção “biológica” (quando disponível no mercado)

(+) sementes mais caras no caso de serem certif icadas em modo de produção Biológico

Plantas de viveiro convencional Plantas de viveiro certif icado em modo de produção biológico

(+)plantas mais caras e com maior custo de transporte devido à distância do viveirista

Mobilização do solo com uso frequente da charrua, reviramento de horizontes e em épocas de risco de erosão hídrica

Mobilização pouco frequente (excepto em culturas hortícolas), preferencialemente com alfaias de dentes, evitando períodos de maior risco de erosão hídrica

(-) menor gasto com máquinas, alfaias, pessoal e energia; menor perda de solo

Nos pomares, vinhas e olivais de regadio, aplicação de herbicida na linha para combater ervas infestantes

Nos pomares, vinhas e olivais de regadio, empalhamento ou mobilização superficial na linha para evitar o crescimento das ervas e a evaporação da água

(+)Custo inicial superior pela necessidade de grande volume de resíduos vegetais para o emparelhamento, pelo custo da aplicação e pela necessidade de equipamento adequado

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 101

Infelizmente as reflexões acerca deste tema incidem muito na segurança, mas muito menos na

qualidade dos alimentos, havendo mesmo alguma confusão nestes conceitos. Na verdade, um

alimento para ter qualidade tem de ser obrigatoriamente seguro. No entanto, o inverso nem

sempre é verdade, havendo alimentos que se podem considerara seguros mas de fraca

qualidade.

Obviamente que, para um alimento ter qualidade, ele tem de ser produzido, transformado,

preparado e embalado nas melhores condições para que perca o menos possível as suas

características originais assim como não seja contaminado quer por agentes químicos ou

biológicos.

Os maiores perigos para a segurança alimentar podem-se dividir em químicos e biológicos:

Nos riscos químicos temos como principais ameaças à saúde alimentar os Pesticidas e os

Nitratos, enquanto que os Riscos biológicos compreendem os Microorganismos Patogénicos,

as Micotoxinas e os Organismos Geneticamente Modificados (OGM).

Pesticidas: Uma vez que na Agricultura Biológica não são permitidos pesticidas químicos de

síntese é natural que, ao nível dos resíduos destas substâncias, existam grandes diferenças

entre os produtos biológicos e os produtos convencionais. De fato, numerosos estudos têm

comprovado este facto.5 Em Portugal, o organismo com a responsabilidade de efetuar a

monitorização dos resíduos era, até há pouco tempo, a Direção Geral de Proteção das Culturas

(DGPC) e que de 1995 a 2004 detetou que, em geral, entre 30 % e 40 % dos produtos vegetais

continham resíduos de pesticidas.45 A revista Proteste efetuou análises aos produtos biológicos

portugueses em 2003 e não detetou qualquer resíduo.44 Outros estudos noutros países têm

chegado a resultados semelhantes.24

Apesar de tudo, não se pode garantir que um produto da Agricultura Biológica esteja

completamente isento de pesticidas uma vez que, tal como na Agricultura Convencional,

podem existir contaminações ambientais pelo solo, apesar da existência do período de

conversão, pela água ou pelo ar. Os organismos de controlo e certificação hormonal com todas

as suas consequências, diminuição da fertilidade, enfraquecimento do sistema imunitário e a

incidência de diversos tipos de cancro.28

Uma questão a que não se tem dado a devida importância é a que diz respeito aos resíduos

múltiplos. De facto, é frequente produtos agrícolas conterem resíduos de diversos pesticidas

em simultâneo. Os limites máximos de resíduos (LMR) foram definidos para pesticidas

isolados. Existem hoje estudos que mostram que a ingestão de misturas de pesticidas, em que

cada um deles está abaixo do LMR, podem provocar problemas ao nível da reprodução, do

sistema imunitário e do sistema nervoso.25

Em Agricultura Biológica são permitidas algumas substâncias de origem natural para controlar

pragas e doenças, que são inócuas ou de muito baixa toxicidade para os humanos, e que

estão sujeitas às mesmas regras de homologação dos pesticidas de síntese.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 102

Nitratos: Apesar de na Agricultura Biológica poderem existir teores de nitratos elevados se a

fertilização orgânica for excessiva, de 16 estudos analisados, em dois não se verificaram

diferenças significativas entre os produtos biológicos e os convencionais enquanto que nos

restantes 14 estudos os teores de nitratos foram, em média, 50 % inferiores nos produtos

biológicos (Heaton, 2001). Na Direção Regional de Agricultura do Algarve em dois anos de

ensaios também observaram valores mais baixos de nitratos em morangos de Agricultura

Biológica (Frescata et al., 1994, 1995). Uma das explicações possíveis é que os fertilizantes

orgânicos contribuem menos para a acumulação de nitratos nos vegetais ou nas águas, devido

à sua libertação mais gradual do que a dos fertilizantes minerais (Vogtmann et al., 1984) e

porque normalmente aplicam-se quantidades inferiores de azoto/ha devido ao seu preço mais

elevado. É por este motivo que os Governos de França e Alemanha têm encorajado a

conversão à Agricultura Biológica em regiões onde os teores de nitratos nas águas

subterrâneas são elevados.

O problema dos nitratos na alimentação humana é que em determinadas condições podem-se

converter em nitrosaminas que são cancerígenas. Além disso os nitratos podem-se ligar às

metahemoglobina e dificultar a absorção de oxigénio, expecialmente grave nas crianças (Wolff

& Wasserman, 1972).

Microoganismos patogénicos: Um dos microrganismos que tem causado muitos problemas

aos humanos é a bactéria Escherichia coli. As estirpes violentas desta bactéria, como a

0157:H7, desenvolvem-se no tracto intestinal dos animais que são alimentados principalmente

com cereais como demonstrou a Universidade de Cornell.

Em Agricultura Biológica a proporção de cereais na ração é menor do que na convencional

uma vez que de acordo com a Regulamentação 2092/91 modificado as forragens grosseiras,

frescas, secas ou ensiladas devem constituir pelo menos 60% da ração diária dos herbívoros.

Assim, potencialmente as Agricultura Biológica, devido ao tipo de alimentação dos animais,

contribui para menores infeções com Escherichia coli.

De acordo com a FSA (UK Food Standards Agency) e a Royal Agricultural Society of England

não há evidência de que os produtos biológicos são mais ou menos seguros, do ponto de vista

biológico, do que os convencionais (FSA, 2000; Williams et al., 2000). Um estudo efetuado em

3200 amostras de alimentos não cozinhados prontos a comer de produtos biológicos não

detetou Listeria m; Salmonella, Campylobacter ou Escherichia coli 0157:H7 em nenhuma das

amostras (Public Health Laboratory Service, 2001).

Micotoxinas: Diversos estudos comparativos têm mostrado que não existem diferenças neste

aspeto entre os dois sistemas de produção (FAO, 2000; Heaton, 2001). O que se tem

evidenciado é que muito mais importante do que o sistema de produção são as condições de

armazenamento dos produtos agrícolas que podem originar a formação destas substâncias

tóxicas. (Tham & Thurig, 2002; Wyss, 2005).

Organismos Geneticamente Modificados: Devido à introdução recente dos alimentos

geneticamente modificados ainda não há estudos suficientes que provem que os transgénicos

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 103

são completamente seguros havendo, pelo contrário, alguns estudos que mostram impactos

negativos no ambiente e que colocam sérias dúvidas relativamente ao seu efeito na saúde.

Também é bom lembrar que uma grande parte dos estudos existentes são efetuados, ou

financiados, pelas próprias empresas produtoras de organismos geneticamente modificados

(OGM).

Os estudos que melhor podem refletir a inocuidade dos OGM são aqueles que são efetuados

em animais, através da ingestão do alimento transgénico no seu todo, e não com estudos só

com a proteína transgénica (Puzstai et al., 2003).

Apesar de já existirem diversos estudos nesta área, curiosamente foram efetuados muito

poucos estudos comparativos de toxicologia em mamíferos (Séralini et al., 2007). Os poucos

estudos existentes deste tipo são preocupantes (Alliance for Biointegrity, 1998; Fares & El-

Sayed, 1998; Ewen & Puzstai, 1999; Malatesta et al., 2002; Ermakova, 2005; Séralini, 2007),

pois mostram diversas alterações nos animais que ingerem OGM e vêm mostrar que é

fundamental fazerem-se mais estudos deste tipo. O primeiro estudo em ratos (Ewen & Puzstai,

1999) veio mostrar resultados negativos inesperados, mas não só por causa da proteína

transgénica presente. Ou seja, o processo de transgénese (independentemente da proteína a

introduzir) pode acarretar alterações metabólicas específicas na planta, com consequências

visíveis para a saúde, para além do que a proteína transgénica também possa induzir. Este

trabalho deveria ter levado, de imediato, a uma reavaliação de todos os OGM em circulação.

Isto porque, com base num dogma que as empresas de biotecnologia conseguiram impor, os

estudos de segurança alimentar assumem a seguinte equação como inquestionável: OGM =

planta original + proteína transgénica. Devido a este princípio, os ensaios de toxicidade de

OGM são feitos, não com o OGM, não com a proteína extraída do OGM, mas sim com a

proteína isolada de um microorganismo onde foi clonada (Silva, 2007).

O milho MON 863 que foi aprovado pela União Europeia em Janeiro de 2006 para alimentação

humana, foi considerado seguro pela EFSA (Agência Europeia para a Segurança Alimentar)

após análise dos estudos efetuados pela própria empresa. Curiosamente, estes mesmo

estudos, que a empresa Monsanto foi obrigada a divulgar por imposição de um tribunal alemão,

serviram agora para investigadores franceses (Séralini et al., 2007), provar que existem

diferenças estatisticamente significativas em ratos em diversos parâmetros como o crescimento

e problemas ao nível do fígado e rim num estudo de apenas 90 dias onde a Monsanto dizia que

não havia diferenças. Curiosamente também, a FDA Americana e a Agência Europeia para a

Segurança Alimentar que são as entidades que devem zelar pela segurança alimentar, nem

sequer questionaram os resultados nem exigiram mais estudos. Estes factos, só vêm

demonstrar a necessidade de mais ensaios em animais, de maior duração e durante várias

gerações para se poder avaliar melhor a segurança dos OGM.

Enquanto existem estas dúvidas, o Princípio da Precaução recomendaria que estes produtos

não fossem consumidos à escala mundial como estão a ser.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 104

É devido a estas dúvidas, mais as questões ambientais, sociais e éticas que não foram aqui

abordadas, que levam a que na Agricultura Biológica seja completamente proibido o uso de

qualquer planta ou microorganismo geneticamente modificado (OGM).

Quadro n.º 7 - Principais alterações que ocorrem quando se passa de um modo de produção “convencional” (ainda que em Proteção ou Produção Integrada) para a Agricultura Biológica (continuação):

Fonte: Revista O Segredo da Terra

5.14 - Vantagens da Agricultura Biológica na qualidade dos nutrientes principais: Lípidos: O consumo excessivo de gorduras saturadas é hoje reconhecido como um fator de

risco para as doenças cardiovasculares (Patel, 1987). Diversos estudos mostraram que o leite

e a carne proveniente de Agricultura Bioológica apresentam um melhor perfil de gorduras, isto

é, uma mais baixa relação de gorduras saturadas/gorduras insaturadas. A relação Omega-

3/ácidos gordos tende a ser mais alta no leite de Agricultura Biológica com benefícios para a

Prática comum ou de possível disseminação em Agricultura

“convencional”

Prática mais comum em Agricultura biológica

Aumento(+)ou diminuição(-) de custos de produção com a nova prática

e principal motivo

Nos pomares, vinhas e olivais de regadio, mobilização da entrelinha

Nos pomares, vinhas e olivais de regadio, enrelvamento da entrelinha

(-)menos gastos com utilização de máquinas (+)maior custo inicial, na aquisição de alfaias de corte e trituração e na sementeira no caso de necessidade da mesma

Adubos químicos de sínteseCorretivos e adubos orgânicos e minerais de origem natural

(+)fertilizantes orgânicos mais caros, e maior custo quando necessidade de aplicar grandes doses (solo pobre e/ou cultura exigente)

Resíduos das culturas deitados fora e transformados em poluentes

Resíduos das culturas aproveitados para produzir correctivo orgânico, através da compostagem

(-)menor gasto com fertilizantes

Resíduos sólidos urbanos (RSU) não separados e recolhidos na origem e com resíduos poluentes

Resíduos sólidos urbanos (RSU) só quando separados e recolhidos na origem e com teores baixos de metais pesados

(+)os poucos RSU em Portugal separados na origem são mais caros que os restantes

Pesticidas de síntese química como principal meio de luta (com calendário de tratamento fixo, ou luta aconselhada), quer contra

Limitação natural complementada quando necessário, com luta biológica no caso das pragas, Medidas culturais complementadas com fungicidas ou fungistáticos minerais de baixa toxicidade (enxofre, cobre, permanganato de potássio, argila), no caso das doenças

Pragas: (-)menos quando a limitação natural é Suficiente; (+)mais se necessidade de grande número de largadas de auxiliares Doenças: (-)produtos em geral mais baratos e em menores doses anuais.

Maioria dos pesticidas aplicados pouco ou não seletivos para auxiliares

Pesticidas seletivos ou de baixa toxicidade para auxiliares e de rápida degradação no ambiente

(-)embora alguns pesticidas autorizados no em AB sejam mais caros, em geral consegue-se manter a proteção com menor número de tratamentos

Herbicidas como principal meio de luta contra ervas infestantes

Monda manual ou mecânica como principal meio de luta. Monda térmica em complemento.

(+)maior investimento inicial em equipamento. (+)maior necessidade de mão de obra para monda manual (hortícolas)

Processo de produção em quantidade Produção de produção em qualidade

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 105

prevenção das doenças cardiovasculares e cancerígenas (Pastushenko et al., 2000; Bergamo

et al., 2003). Outro grupo de gorduras a que se tem dedicado uma atenção crescente é o ácido

linoleico conjugado (CLA) que existe no leite e na carne de ruminantes e que está associado à

prevenção do cancro, redução de doenças cardíacas e controlo de peso (Cook & Pariza, 1998)

e por isso já está a ser usado em suplementos. Sabe-se hoje que os níveis de CLA aumentam

na carne e no leite quando os animais ingerem uma dieta mais rica em erva, feno ou silagem e

por isso têm-se encontrado valores mais elevados nos produtos de Agricultura Biológica

(Jahreis et al., 1997; Flachowsky, 2000; Kraft et al., 2003).

Minerais: De acordo com a revisão de Heaton (2001), em 14 estudos compararam-se o

conteúdo em minerais no peso fresco de frutos e hortícolas produzidos em Agricultura

Biológica e em Agricultura Convencional. Estes incluem 5 ensaios de campo de longa duração,

6 estudos efetuados em explorações agrícolas pareadas, e 3 em que os produtos foram

obtidos em supermercados. Dos 14 estudos, 7 mostraram que os produtos biológicos

continham mais minerais, apesar de que esta produção convencional estava integrada numa

rotação e também tinha recebido estrume. Seis estudos não mostraram diferenças

significativas entre os dois métodos de produção.

Vitaminas: Enquanto que os minerais têm de existir no solo para serem absorvidos pelas

plantas, as vitaminas são sintetizadas pela própria planta e as suas concentrações dependem,

para além do método de produção, do estado de maturação, da variedade e do período de

conservação (Heaton, 2001). Tendo estes aspetos em consideração a revisão de Heaton

(2001) considerou 13 estudos válidos que comparam o teor de vitamina C. Destes, sete

apresentaram teores mais elevados significativamente de vitamina C nos produtos biológicos

em que pelo menos o aumento foi de 25% até 100% mais. Seis estudos não apresentaram

diferenças significativas entre os dois métodos de produção e nenhum estudo mostrou teores

mais elevados nos produtos convencionais.

Relativamente à vitamina A existem muito menos estudos pelo que não se podem tirar grandes

conclusões. De oito estudos, quatro mostraram que os produtos biológicos apresentavam

teores mais elevados de vitamina A, um mostrou teores mais baixos nos produtos biológicos e

três não mostraram diferenças significativas entre os métodos de produção. Encontraram-se

teores mais elevados de matéria seca nos produtos biológicos com uma média 20% superior.

Um estudo mostrou um teor mais baixo em MS em bananas de agricultora biológica e 8

estudos não mostraram diferenças significativas entre os dois métodos de produção. Um

estudo efetuado durante dois anos na Direção Regional de Agricultura do Algarve mostrou que

os morangos de Agricultura Biológica apresentaram valores superiores em que no 1ºano

obtiveram mais 28% e no 2º ano mais 39% de matéria seca do que os morangos de Agricultura

Covencional (Frescata et al., 1994, 1995).

Uma vez que em geral os produtos biológicos contêm mais matéria seca este é um aspeto que

deve ser considerado quando se comparam preços de produtos biológicos com produtos

convencionais.

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Nutrientes secundários: Para além dos nutrientes principais como a água, fibra, proteínas,

lípidos, hidratos de carbono, vitaminas e minerais existem entre 5000 a 10 000 compostos

secundários nas plantas referidos como metabolitos secundários ou fitoquímicos (Brandt &

Molgaard, 2001). Pelo grande número destes fitoquímicos é fácil de perceber que há muitas

coisas ainda por saber, nomeadamente os seus efeitos na saúde e suas interações.

Apesar disto, já se conhecem diversos metabolitos secundários sintetizados pelas plantas que

têm um efeito de promoção da saúde devido a propriedades anto-oxidantes, anti-microbianas,

anti-inflamatórias e anti-cancerígenas em concentrações idênticas às que ocorrem

naturalmente (Steinmetz & Potter, 1996). Algumas destas substâncias são sintetizadas pelas

plantas como reação de defesa perante o ataque de pragas e doenças (Benbrook, 2005).

De acordo com Brandt et al. (2004), que fizeram uam revisão sobre o assunto, verifica-se que

em geral os produtos biológicos apresentam valores de anti-oxidantes em média de 10% a

50% mais elevados do que os produtos convencionais. Num ensaio efetuado na Estação

Agrária de Viseu (DRABL), em que compararam o teor de compostos fenólicos totais em

maçãs de Agricultura Biológica e de Agricultura Convencional verificaram que as seis

variedades tradicionais testadas obtiveram valores mais elevados destes anti-oxidantes quando

cultivadas em Agricultura Biológica (Andrade et al., 2006). Uma das explicações para os teores

mais elevados de anto-oxidantes é que em Agricultura Biológica, devido à não utilização de

pesticidas de síntese, as plantas estão mais sujeitas a pragas e doenças tendo uma maior

necessidade de criar defesas produzindo aquelas substâncias (Heaton, 2001). É importante

salientar que de acordo co (Sanchez et al, 2003), que efetuou estudos em peras em Portugal,

os níveis de compostos fenólicos na casca, são em média 30 vezes superiores e os teores de

vitamina C são 4 vezes superiores aos que existem na polpa. Esta observação vem salientar a

importância de se comer os frutos com casca, no entanto, devido ao elevado número de

aplicações de pesticidas que se fazem em Agricultura Convencional ou mesmo em produção

integrada só recomendamos esta prática alimentar nos frutos produzidos por Agricultura

Biológica.

Conservação pós-colheita: Diversos estudos têm mostrado que os produtos biológicos em

geral apresentam conservações superiores aos produtos convencionais (heaton, 2001).

Curiosamente mis consumidores em Portugal constumam referir um maior poder de

conservçaõ em alfaces e couves de Agricultura Biológica e, apesar de só termos encontrado

um estudo científico de cada produto, eles vieram confirmar aquela observação (Raigón et al.,

2000; Mello et al., 2003).

Estudos em humanos: Os estudos comparativos que referimos atrás sobre minerais,

vitaminas ou fitoquímicos são interessantes mas na realidade o verdadeiro estudo que nos

pode indicar o valor nutricional de um alimento é analisar a sua capacidade de promover a

saúde, o crescimento e a reprodução ao longo de sucessivas gerações em humanos ou

animais (Finesilver, 1989). O valor nutricional de um alimento é resultantes de diversos fatores,

nomeadamente:

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 107

• A soma de todos os minerais, substâncias primárias, secundárias, residuais e

substâncias ainda desconhecidas presentes num alimento e que podem exercer uma

ação positiva ou negativa na saúde;

• Interações entre as diferentes substâncias e que podem ser neutras, sinérgicas ou

antagónicas (Schuphan, 1972);

• Aroma e sabor que vão influenciar o apetite e a digestão (Schuppan, 1965).

Devido a esta complexidade, as abordagens analíticas que quantificam determinados

componentes são sempre muito redutoras. Daí que os estudos em humanos ou animais são

muito mais interessantes pois consideram o alimento no seu todo com todas as suas

interações. No entanto, estão relatados alguns efeitos positivos dos alimentos biológicos em

seres humanos:

− Um estudo publicado em 1940 mostrou a melhoria da saúde de estudantes numa

escola na Nova Zelândia que passou a servir refeições com produtos biológicos. Após

três anos verificou-se menor incidência de problemas de garganta, gripes,

convalescenças mais rápidas, maior resistência a fraturas e melhor saúde dentária.

(Daldy, 1940).

− Mais recentemente têm surgido evidências da parte de médicos e nutricionistas que

efectuam tratamentos “alternativos” contra o cancro e que têm observado que uma

dieta completa com produtos biológicos, entre outras coisas, é essencial para o

sucesso (Bishop, 1988; Plaskett, 2000).

− Apesar de ainda não estar completamente demonstrado, existem estudos que indicam

uma ligação entre a exposição a pesticidas, quer através dos alimentos quer através do

trabalho agrícola convencional, e a percentagem de esperma no ser

masculino…passando de 113 milhões/ml de esperma para cerca de metade, 66

milhões/ml (Carlsen er al., 1992) e continua a descer (Auger et al., 1995). A

Organização Mundial de Saúde estima como nível mínimo necessário para que o

homem se reproduza cerca de 20 milhões/ml de esperma (Hoppe, 2000). Dois estudos

mostraram que grupos de homens que consumiam produtos biológicos apresentaram

concentrações de 99 a 127 milhões de espermatozoides/ml de esperma (Abell et al.,

1994; Jensen et al., 1996) em que o primeiro valor correspondia a ingestão de 25% de

produtos biológicos e o segundo valor a ingestão de 50% de produtos biológicos. Os

grupos controlo que não ingeriam produtos biológicos apresentaram concentrações de

69 a 55 milhões de espermatozóides/ml. Claro que existem fatores que não foram

controlados como por exemplo: o estilo de vida, fatores geográficos ou exposição a

outros químicos de síntese por via da profissão.

Apesar de ser importante efectuarem-se mais estudos comparativos, os existentes mostram

claramente que existem diferenças significativas, quer em termos de segurança, quer em

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 108

termos de qualidade entre os produtos de Agricultura Biológica e os produtos de Agricultura

Convencional.

Verifica-se, com factos, que os produtos biológicos apresentam valores mais reduzidos de

nitratos e em geral, não contêm resíduos de pesticidas e organismos geneticamente

modificados. Quando se comparam os riscos microbiológicos e a possibilidade de existência de

micotoxinas verifica-se que não existem diferenças entre os dois métodos de produção.

Quando se comparam os riscos microbiológicos e a possibilidade de existência de micotoxinas

verifica-se que não existem diferenças entre os dois métodos de produção.

Analisando os aspectos mais positivos dos alimentos, verificamos que em geral os produtos

biológicos, apresentam um perfil mais interessante de gorduras, teores mais elevados de

matéria seca, minerais e vitaminas. Apresentam também teores mais elevados de metabolitos

secundários como anti-oxidantes, tão importantes para a saúde, e melhor sabor.

Curiosamente, esta conclusão a que se está a chegar após muitos estudos, é aquela que

muitos consumidores assumem como dado adquirido. De facto, muitos referem que a principal

motivação para comprarem produtos biológicos um pouco mais caros é a perspectiva de virem

a poupar nos gastos em medicamentos.

A criação de Associações de Agricultura Biológica, em Portugal, a partir de 1985, teve um

importante papel na defesa e desenvolvimento da produção biológica, mas foi sobretudo a

partir do 1997 que se verificou uma maior adesão dos agricultores a este modo de produção,

em consequência não só das medidas agro-ambientais, com ajudas diretas aos agricultores,

mas também como resposta a uma maior procura, pelos consumidores, de produtos

provenientes da Agricultura Biológica. Em produção biológica, para controlo de pragas e

doenças, deve privilegiar-se o recurso a meios de proteção cultural, biológicos e biotécnicos, recorrendo-se apenas e só ao uso de produtos fitofarmacêuticos, em último

caso, estando neste ultimo caso restringido a alguns tipos de produtos, não estando

autorizados os de síntese.

O incentivo da Agricultura no modo Produção Biológico, de modo a preservar os ecossistemas

e a beleza paisagística do seu território, através de várias ações, entre as quais as publicações

dos Manuais de Agricultura Biológica, de forma a colaborar para a tomada de decisão das

culturas agrícolas e das espécies animais que podem ser produzidas nesta forma sustentável

de Produção Agrícola.

A Agricultura Biológica está assente na rotação de culturas, para diferentes condições locais e

dando primazia às variedades cultivares regionais da região onde se produz, possibilitando

assim as melhores soluções em termos de utilização dos nutrientes dos resíduos orgânicos

restituídos ao solo, de menores riscos de incidência de pragas e doenças e das oportunidades

de mercado. A Agricultura Biológica também pode ser aplicada à produção animal em todas as

suas vertentes (incluindo a tão necessária Apicultura), na Olivicultura, na Vinha, ou seja, em

toda a atividade de produção agro-silvo-pastorícia, tendo como exemplo milenar da sua

concretização otimizada, o Montado em Portugal e a Dehesa em Espanha. A fertilidade

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 109

orgânica do solo, que é básica para a sustentabilidade do modo de produção biológico, é

referida neste manual com destaque para o processo de compostagem, a qualidade do

composto e a sua aplicação ao solo agrícola.

Virada a página da emigração e o consequente abandono da Agricultura de Subsistência,

assistimos, hoje, a grandes investimentos em infraestruturas e equipamentos de modo a criar

um produto turístico de excelência, como o Tesouro Gastronómico Português, que promova a

criação de emprego e fixe a população através da produção de produtos de excelência,

nomeadamente os mais jovens.

Desde que entrou na CEE (mais tarde União Europeia), em 1986, Portugal teve que se adaptar

às necessidades de um mercado exigente, especializado e feroz, que oferecia uam grande

variedade de produtos a baixo custo.

Desde então, o cenário europeu evoluiu bastante: a moeda única facilita as trocas e são agora

vinte e sete os países que fazem parte da Comunidade. No entanto, Portugal continua a ter

que enfrentar grandes dificuldades: baixa produtividade da economia devido a baixas

habilitações dos produtores, a desniveladas qualificações da população, ao baixo

desenvolvimento a nível científico, ao tecnológico exclusivo no divertimento, ao constante

bloqueio à inovação com a gasta desculpa da tradição, à fragilidade estrutural da agricultura

por falta de associativismo, às acentudas assimetrias regionais, à grande fuga aos impostos

desenvolvendo apenas a economia paralela que apenas empobrece o País, ao ensino

estagnado no tempo e no espaço, à pouca autoestima nos valores nacionais, à indisciplina na

objetividade da Justiça, etc. Apesar desta congénita falta de condições, os produtores

portugueses mais conhecidos a nível mundial são bastante apreciados. O vinho do Porto é o

exemplo e a prova que Portugal não deve produzir em quantidade, mas sim na qualidade, nem

que seja pela incapacidade de competição no espaço territorial com a maior parte dos

restantes países do Mundo. É justamente esta a aposta que é feita sobre a Agricultura

Biológica. Considerada a fileira mais dinâmica dentro da agricultura, a Agricultura Biológica

apresenta uma excelente oportunidade para acrescentar valor a produtos como os tradicionais

portugueses. Não obstante, a produção e o consumo de produtos de Agricultura Biológica no

nosso país é ainda incipiente.

Apesar do Eurostat (Organismo de Estatística da Comunidade Europeia) revelar a expansão da

Agricultura Biológica na Comunidade Europeia, contrariando “os medos infudados” numa

agricultura impossível sem auxiliares químicos, também não deixa de ser um facto que o

aumento dessa produção com o auxílio da luta química deixa de fazer sentido lógico e

sustentável quando se observa a enorme percentagem de desperdício alimentar em todos os

passos de uma longa cadeia, que antes de chegar ao consumo começa na produção e passa

pelo transporte, pela transformação, pela distribuição e pela comercialização.

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5.15 – Desperdício Alimentar no Mundo:139/140

Desperdício alimentar é toda a perda de massa comestível nos alimentos, crus ou cozinhados,

destinados ao consumo humano. Este desperdício pode ocorrer antes, durante ou depois da

preparação de refeições nas casas particulares ou estabelecimentos comerciais.

Perdas constituem um resultado “natural” de ineficiências dos sistemas produtivo e industrial, o

desperdício são as perdas evitáveis, ocorridas na distribuição e no consumidor final.

Desde logo, segundo o estudo citado da FAO50, as perdas ocorrem sobretudo nos países em

desenvolvimento nas fases de produção, apanha e processamento por falta de infra-estruturas

adequadas de armazenamento, escassez de equipamentos de refrigeração, falta de tecnologia

e reduzidos investimentos nos sistemas de produção agrícola. Já o desperdício alimentar

ocorre sobretudo nos países desenvolvidos nas fases de distribuição e de consumo. Refere-se

por exemplo aos alimentos, por vezes em bom estado, que são deitados para o lixo (95 -115 kg

per capita/ano na Europa e América do Norte e 6-11kg per capita/ano Africa Subsariana, Ásia

Sul e Sudeste).

Na União Europeia a 27, as estatísticas mais recentes apontam para um total de 89 milhões de

toneladas de desperdício alimentar (Eurostat, 2006).

À excepção de alguns estudos pioneiros, como os de Cathcart e de Murray; de Arneil e

Badham, ambos no Reino Unido, o interesse pelo estudo do tema tenha despontado mais

tarde, na década de 1970, tendo como marco a primeira Conferência Mundial sobre

Alimentação (Roma, 1974), em que a redução do desperdício pós-colheita foi considerada uma

prioridade para o desenvolvimento. No final dessa década, dois estudos sobre o tema foram

encomendados pelo Ministério da Agricultura, Pescas e Alimentação do Reino Unido e, já na

década de 1990, estudos quantitativos foram também encomendados pelo Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos – de notar, atestando a dimensão estratégica deste tema, que

o impulso para o seu estudo partiu inicialmente de entidades políticas.

É a partir desta altura que os dados sobre desperdício alimentar revelam uma dimensão

alarmante: o estudo de Kantor et al. concluiu que cerca de 26% dos alimentos são perdidos na

fase da distribuição e no consumo final; um outro estudo norte-americano estimou que as

perdas ao nível das famílias seríam de cerca de 14%. A dimensão financeira do problema não

se revela mais tranquilizadora: um estudo, encomendado pelo Governo australiano concluiu

que os alimentos desperdiçados no ano de 2004 representavam 5,3 mil milhões de dólares

australianos. Um estudo mais recente de Hodges et al. conclui que, dos 222 milhões de

toneladas de alimentos para consumo humano produzidos nos Estados Unidos em 2008, 57,1

milhões de toneladas (26%) se perderam nas fases da distribuição e consumo.

Como é comum nas questões de sustentabilidade, o fenómeno do desperdício alimentar deve

ser avaliado também à escala global: em 2011, um estudo da FAO9 revelou que um terço da

produção alimentar em todo o mundo é desperdiçada. A investigação de Mena et al.10 cita

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vários estudos, indicando que entre 25% e 50% de toda a produção se perde ao longo da

cadeia de aprovisionamento e consumo.

Uma outra abordagem é feita por Lundqvist e Guyomard et al., utilizando as calorias como

unidade de referência. Segundo os estudos destes autores, menos de metade das calorias

produzidas globalmente pelos agricultores chegam às nossas mesas. De acordo com

Guyomard et al., por exemplo, das 4.600 kcal produzidas, cerca de 600 kcal perdem-se logo

nas fases de colheita e pós-colheita; as restantes 4.000 kcal são divididas entre a alimentação

do gado (1.700 ou 43%) e a humana (2.300 ou 57%). As kcal destinadas a alimentar o gado

são por sua vez convertidas em 500 kcal na forma de ovos, lacticínios ou carne. Finalmente,

das 2.800 kcal destinadas ao consumo humano (2.300 kcal de produtos vegetais mais 500 kcal

de produtos animais), cerca de 800 kcal são perdidas na distribuição e consumo final. O

resultado final é que, das 4.600 kcal produzidas diariamente por cada habitante do mundo,

apenas 2.000 kcal são efetivamente consumidas pelas pessoas.

Todos estes valores são, claro, estimativos e meramente aproximados, contendo margens de

incerteza assinaláveis.

Como reconhecem Hodges et al., os dados sobre desperdício alimentar são ainda insuficientes

e nem sempre fiáveis. Além disso, variam consideravelmente de país para país.

Por outro lado ainda, deve ter-se presente que os estudos existentes não são na maioria dos

casos comparáveis, pois baseiam-se em metodologias distintas e mesmo definições diversas

do que deve ser considerado como “desperdício alimentar”.

Uma questão relevante, desde logo, é a distinção entre perdas de alimentos nas fases da

produção e colheita, devido a pragas ou a ineficiências no processo de colheita,

armazenamento e transporte, e o desperdício propriamente dito, ou as perdas evitáveis que

ocorrem nos sistemas de distribuição e no consumo final.

Independentemente de todas aquelas incertezas, é certo que o volume do desperdício

alimentar representa uma parte importante dos alimentos que são produzidos, como é

igualmente inegável o impacto ambiental que esse desperdício significa.

Recursos como solo, energia e água, são usados e por vezes esgotados ao serviço da

produção destes alimentos desperdiçados. Ou seja, são também recursos desperdiçados.

Nos Estados Unidos, por exemplo, Hodges et al. estimam que a produção de alimentos

desperdiçados consuma 300 milhões de barris de petróleo e 25% da água potável. No fim do

ciclo, os alimentos desperdiçados que terminam nos aterros são responsáveis por emissões de

metano, gás com elevado efeito de estufa. Estudos da Agência de Protecção do Ambiente

norte-americana concluem que os aterros emitem o equivalente a 20% das centrais

energéticas de carvão. Do ponto de vista económico, não é difícil estimar o valor que

representam os alimentos desperdiçados e os recursos consumidos na sua produção. Mas a

avaliação do impacto económico do desperdício alimentar tem de evitar cair na ratoeira do

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simplicismo: cada ato de aquisição de um alimento que será depois desperdiçado representa

também uma entrada de capital para as empresas que operam na cadeia de aprovisionamento.

Dito de forma direta: proprietários e trabalhadores das empresas produtoras, transformadoras,

transportadoras e distribuidoras, retiram uma parte do seu rendimento dos alimentos que são

desperdiçados.

Para se estimar o impacto económico do desperdício alimentar haveria portanto que ponderar,

entre outros factores, a diminuição de postos de trabalho que a eliminação do desperdício

implicaria. Mais uma vez, somos aqui reconduzidos aos problemas de sempre da

sustentabilidade, neste caso e em concreto à aporia entre crescimento económico e

sustentabilidade ambiental que os paradigmas concorrentes da “economia verde” e do

“decrescimento” se propõem resolver, sem que chegue o dia em que um ou outro possam

testar-se na prática.

Apesar destas contradições, o regresso das preocupações com a segurança alimentar, na

ressaca da “revolução verde” e da “sociedade da abundância”, sugerem que a redução do

desperdício alimentar se torne num objectivo político. É consensual entre os peritos em

segurança alimentar e geoestratégia que as tensões entre a produção e o acesso a alimentos

tenderão a aumentar no curso das próximas décadas.

Com os valores sempre incertos das projecções a longo prazo, o Banco Mundial aponta para

um aumento na procura de alimentos de cerca de 50% entre 2009 e 2030, enquanto a FAO

projeta que, para ser possível alimentar a população de 9 mil milhões que se estima existir em

2050, a produção alimentar deverá aumentar em 70%. O fenómeno da fome também não será

indiferente ao cálculo político sobre a segurança alimentar: desperdício e fome são parte de

uma mesma equação e a existência de 870 milhões de pessoas subnutridas, de acordo com os

dados mais recentes da FAO constitui certamente mais um factor de pressão no sentido da

redução de desperdícios.

Antes contudo de pensar-se como pode este fenómeno ser atacado, é importante perceber o

que conduz à sua existência: ao caracterizar as cadeias de aprovisionamento e consumo

alimentar, bem como as suas tendências futuras a nível global.

Parfitt et al. identificam três forças interligadas, que propulsionam o desperdício alimentar: a

urbanização e a contração do sector agrícola, a transição de dietas nos países emergentes e o

aumento da globalização do comércio. Os autores argumentam que a urbanização e a

globalização do comércio levam a cadeias de aprovisionamento e consumo alimentar mais

longas, o que gera mais oportunidades de desperdício.

Por outro lado, alterações nas dietas de países em transição para padrões de consumo

“ocidentais”, caso da China e da Índia, exercem maior pressão na cadeia alimentar global e

geram possivelmente mais desperdício, devido a uma correlação positiva já identificada

noutros estudos entre riqueza e desperdício. As forças de propulsão identificadas por Parfitt et

al. situam-nos a uma escala global, mas muitas das soluções serão – segundo a fórmula

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clássica do desenvolvimento sustentável – locais. Se a urbanização e a contração agrícola

requerem respostas ao nível das políticas públicas e dos compromissos internacionais, os

hábitos alimentares, com a sua forte dimensão cultural, podem ser moldados na esfera

individual. Também a extensão da cadeia comercial global pode ser encurtada por força das

opções dos consumidores.

Como vimos, nos países desenvolvidos, onde os sistemas de produção e distribuição são cada

vez mais eficientes, a parcela de desperdício que cabe aos consumidores é tendencialmente

maior, e também por este motivo eles são alvo de uma atenção particular quando se pensa em

soluções para o fenómeno. Que antes de mais os afecta diretamente: estudos britânicos

produzidos em 2011 pelo WRAP (Waste and Resources Action Program) revelam que as

famílias inglesas deitam fora anualmente alimentos no valor de 745 Euros.

Dois autores em particular influenciaram a agenda pública no mundo anglo-saxónico, com

repercussões globais: o britânico Tristan Stuart, que editou em 2009 Waste: Uncovering the

Global Food Scandal; e o jornalista e blogger americano Jonathan Bloom, autor em 2010 de

American Wasteland: How America Throws Away Nearly Half of its Food (and what we can do

about it). As ações de sensibilização dos consumidores vão além da publicação de livros e na

blogosfera: Tristan Stuart é promotor da iniciativa Feeding 5 Thousand, que consiste em

organizar grandes almoços com alimentos frescos que de outro modo seriam desperdiçados. A

iniciativa cresceu para lá das fronteiras britânicas, e além de Londres e Bristol já foram feitos

“almoços” em Amesterdão e Paris, entre outras cidades.

Neste campo da opinião pública e da mentalidade, cabe ainda assinalar o filme da belga Agnès

Varda, Les Glaneurs et la Glaneuse, que explora os motivos que levam pessoas tão diferentes

como um conhecido chefe de cozinha e um homem desesperado a percorrerem campos já

ceifados em busca de espigas deixadas para trás.

5.15.1 – Desperdício alimentar em Portugal147/148:

Em Portugal, iniciativas como a da associação DariAcordar e o seu movimento “Zero

Desperdício”, ou o projeto “Dose Certa” da Lipor, também têm conseguido colocar o tema do

desperdício alimentar na agenda pública, ou a iniciatvia Re-food que se trata de um projeto

sem fins lucrativos, criado para servir como um instrumento para redireccionar refeições

(sobras) para pessoas que passam fome. Re-food não procura donativos em dinheiro, mas vive

exclusivamente de voluntários e materiais cedidos contando já com dois núcleos em Lisboa. A

missão do projeto Re-food é diminuir a fome no ambiente urbano ao dirigir refeições (sobras)

diretamente às pessoas que passam fome mais próximas das fontes de doações, assegurando

a distribuição imediata dos excedentes dos restaurantes àqueles que mais necessitam e se

encontram junto destas. Torna-se assim possível criar uma “ponte humana” que liga quem tem

uma “sobra diária” com quem tem uma “necessidade diária”. Este projeto começou por

desenvolver-se em Lisboa, em 2010, pensando que o maior desafio será lutar para mudar as

atitudes daqueles que estão encarregues da indústria da alimentação e na área da política –

antes de fazer chegar as refeições que sobram às mãos de pessoas que precisam delas. Ao

dar início à construção do projeto percebemos que o caminho já nos tinha sido aberto por

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António Costa Pereira (ver página do Facebook: Acabar com o Desperdício Alimentar) – o

pioneiro nesta "actividade". Re-food pretende seguir esse caminho, essa causa, oferecendo

uma estratégia de implementação, ao mesmo tempo, local e global. Pensámos que a solução

mais eficaz seria a recepção e entrega de refeições dentro da mesma área local, com

voluntários organizados e equipados (com bicicletas). O programa Piloto foi implementado na

Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, no coração de Lisboa, nos primeiros meses de 2011 –

e vai, em breve, para as outras freguesias vizinhas, tendo aberto já o segundo núcleo Re-food,

no dia 6 de Janeiro de 2013 em Telheiras – Lisboa.

A cadeia de aprovisionamento alimentar tem início na produção, englobando a actividade agro-

pecuária e a piscatória. Alguns destes produtos são comercializados em fresco, outros seguem

para a segunda etapa da cadeia que é a da indústria alimentar, composta por unidades de

processamento que transformam e acondicionam os produtos, facilitando o transporte,

distribuição e consumo. A terceira etapa é a da distribuição, que consiste na comercialização

dos produtos frescos ou processados, fazendo-os chegar aos consumidores, última etapa da

cadeia.

Nos países mais desenvolvidos há uma tendência de globalização e centralização do setor

alimentar. Tal deve-se ao facto de os consumidores valorizarem o acesso a uma grande

diversidade de produtos, o que estimula o aumento do comércio global. Concomitantemente, a

dicotomia entre os espaços rurais e urbanos favorece a centralização da cadeia alimentar,

tanto a nível da produção nas zonas rurais, como do consumo nas zonas urbanas. Deste modo

tem vindo a verificar-se um alongamento das cadeias de aprovisionamento, distanciando cada

vez mais o produtor do consumidor. Esta situação tem implicações ao nível dos desperdícios

alimentares. Quanto maior for o número de agentes intermediários na cadeia, e quanto mais

longa esta for, maiores serão as necessidades de transporte e mais tempo demora o produto a

chegar ao consumidor. Por outro lado, o aumento da cadeia dificulta a comunicação e previsão

das preferências do consumidor e, consequente, o planeamento da produção, propiciando a

acumulação de stock excessivo. Este problema é contudo minorado pelo facto de o sistema

comercial ser movido pela competição e incentivos financeiros: através do preço e da forma de

apresentação do produto, os distribuidores têm um papel fundamental no escoamento de

produtos em excesso.

Dado que a produção de alimentos está sujeita a condicionantes externas, nomeadamente de

condições climatéricas variáveis que podem representar impactos negativos, a ocorrência de

perdas é intrínseca ao própria sistema produtivo. Daí que, para garantir o abastecimento

alimentar, seja necessário produzir em excesso, e gerar perdas: a cadeia de aprovisionamento

portuguesa faz chegar em média cerca de 3640 kcal por dia a cada habitante, valor bastante

acimas das necessidades médias diárias dos indíviduos de ambos os sexos em todas as

idades.

O consumo de produtos hortícolas encontra-se homogeneamente distribuído.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 115

Apenas na produção é marcante a representatividade da indústria da polpa de tomate. O

tomate representa uma fatia muito elevada dos hortícolas produzidos em Portugal. O tomate

produzido é maioritariamente constituído pelo chamado “tomate de indústria”, que é

posteriormente processado e exportado – Portugal é aliás um dos maiores exportadores de

polpa de tomate. O peso desta indústria eleva a produção de hortícolas e o grau de auto-

aprovisionamento para valores que nenhuma outra categoria de produtos alimentares se

aproxima.O carácter exportador do sector tem como consequência o peso muito significativo

das perdas na produção dos hortícolas (representa mais de metade das suas Perdas). 18% do

tomate perde-se no campo principalmente na altura da colheita. Esta é mecânica e realiza-se

num único momento: a máquina colhe o tomate e verifica a sua cor para determinar o seu

estado de maturação, se este estiver verde é rejeitado para o campo. Doenças como o

myldiumpodem em certos anos dar origem a quebras significativas na produção. O regime de

colheita é determinante para as perdas na produção: quando é manual e escalonada, as

perdas são inferiores. Esta opção é mais indicada para os hortícolas destinados ao mercado de

frescos, ou para indústrias com capacidades de transformação reduzidas. Contudo, por vezes

o custo de mais uma colheita pode não compensar as vendas adicionais do produto. Neste

caso o que não estiver apto para colher (devido ao seu estado de maturação ou a um calibre

inadequado) é destinado à alimentação animal ou simplesmente fica no campo e é incorporado

no terreno. Outra causa comum de perdas na produção são os danos mecânicos infringidos

aos produtos no momento da colheita. Apesar de ofuscadas pelas perdas na produção, as

etapas da distribuição e consumo também apresentam perdas elevadas de hortícolas, devido

ao facto de se tratar de um produto mais perecível e, portanto, como uma mais difícil gestão de

stock.

Os óleos vegetais desperdiçam-se pouco nas fases finais da cadeia, pois o seu prazo de

validade é elevado. Na produção, as perdas também são reduzidas, sendo ligeiramente

superior nas produções intensivas, em que a recolha da azeitona é realizada através de

máquinas que fazem vibrar a oliveira. A técnica tradicional de colheita por varejamento acaba

por ser mais eficiente. As perdas no processamento são quase inexistentes, tanto nos lagares

como nos processos de remolho, cozedura e enlatamento das leguminosas.

A produção de frutos é essencialmente constituída pela maçã, pêra e laranja, e apenas supera

o consumo no caso da pêra-rocha, que é maioritariamente destinada à exportação. Portugal é

assim dependente das importações para o aprovisionamento de frutos.

A natureza do sector frutícola nacional apresenta uma particulariedade que o leva a ter perdas

relativamente baixas nas etapas iniciais da cadeia, sendo o desenvolvimento da indústria dos

concentrados determinante para estas conclusões. Assim é, por várias razões:

• a indústria absorve a fruta que não escoar no mercado de frescos, onde o preço é mais

elevado (normalmente, 80%-90% da fruta é destinada ao mercado de frescos, mas pode

chegar à totalidade em anos de produção baixa);

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 116

• o excesso de produção, ou a fruta de baixo calibre, é nalguns casos ofertada a plataformas de

solidariedade social;

• os critérios de qualidade da indústria de concentrados – graus de maturação e de podridão da

fruta – são menos exigentes que o mercado de frescos;

• as perdas na indústria de concentrados são reduzidas, já que a fruta entra inteira no

processo, não necessitando ser descascada;

• a fruta que não apresentar qualidade suficiente para indústria é destinada à alimentação

animal, produção de vinagre ou destilados.

Deste modo, as perdas na produção devem-se fundamentalmente a factores externos, como

as condições climatéricas – vento que arranca a fruta da árvore, “escaldões” na maçã e na

pêra, granizos tardios, chuva a mais, frio a mais, etc.).

Analisando o sistema produtivo nacional, percebe-se rapidamente que Portugal depende muito

da importação de alimentos para satisfazer as necessidades dos seus habitantes.

Produção vegetal em Portugal segundo dados do INE (Estatística agrícola, 2011):

- a produção de cereais de outono/inverno atingiu em 2011 um mínimo histórico, apenas

superado pela campanha de 2005 que foi fortemente marcada pela seca;

- a produção de milho para grão superou as 830 mil toneladas;

- a produção de pera registou um acréscimo considerável, atingindo um valor record de 230

mil toneladas;

- a produção de azeite também atingiu níveis nunca antes alcançados, acima dos 823 mil

hectolitros.

Produção animal em Portugal segundo dados do INE (Estatística agrícola, 2011):

- a produção de carne de bovino atingiu as 96 mil toneladas, o que reflete um aumento de 3,1%

em relação a 2010, tendo o acréscimo sido sobretudo registado na carne de vitelo;

- a conjuntura de crise económica nacional e internacional, bem como as exigências da UE

(bem-estar animal) e a especulação no mercado de cereais, levou à estagnação da produção

da carne de suíno (-0,2%) no ano em análise;

- a produção de carne de animais de capoeira em 2011 (334 mil toneladas) apresentou uma

ligeira diminuição de 1,4%, quando comparada com o ano anterior;

- os ovos de galinha para consumo apresentaram uma quebra de 5,9%, ficando-se por uma

produção de 102 mil toneladas em 2011;

- o volume de leite de vaca produzido em 2011 foi de 1 906 milhões de litros, produção

próxima da registada em 2010 (+0,4%).

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 117

A principal excepção são os hortícolas (embora aqui o tomate, sendo Portugal um dos maiores

exportadores de polpa, tenha um efeito equilibrador na balança comercial). Outros produtos em

que o país é auto-suficiente são o vinho, o arroz e o leite. Na estrutura produtiva nacional, o

azeite, a fruta, a batata, o milho, os suínos e as aves também têm um forte peso.

O “grau de auto-aprovisionamento” é a razão entre a produção nacional de um dado produto, e

o consumo interno desse mesmo produto. Traduz portanto o grau de dependência de um

determinado produto e, consoante o caso, a necessidade de importação ou capacidade de

exportação.

Balanços de aprovisionamento em Portugal segundo dados do INE (Estatística agrícola, 2011):

- em 2010, Portugal manteve-se autossuficiente em leite e vinho e vem caminhando para a

autossuficiência em arroz branqueado, tendo atingido um grau de autossuficiência de 99% em

2010;

- Portugal produziu, em média, no período 2008-2011, 74% do consumo de carne sendo

deficitário em todos os tipos de carne. Quase metade do consumo de carne de bovino está

dependente do exterior (grau de autoaprovisionamento de 52% no período 2008-2011). A

produção de carne de frango é a que mais se aproxima da autossuficiência, com um grau de

autoaprovisionamento de 92% no período 2008-2011;

- no período 2008-2010, Portugal melhorou o grau de autossuficiência de azeite em 15 p.p

(passou de 62% para 77%) e agravou a dependência dos outros óleos com o exterior (passou

de um grau de autoaprovisionamento de 81% para 67%).

Dada a posição de intermediário que a indústria alimentar assume na cadeia de

aprovisionamento, esta mantém relações a montante e a jusante com os outros elementos da

cadeia. Assim, junto dos produtores, a indústria procura garantir o aprovisionamento das suas

matérias-primas, necessitando por vezes de recorrer ao mercado externo, uma vez que parte

da indústria portuguesa depende bastante das importações (INE, 2012):

- o valor das vendas da indústria alimentar atingiu, em 2010, os 8 589 milhões de Euros, cerca

de 15% da produção industrial nacional;

- em 2010, o mercado interno absorveu 85% das vendas da indústria alimentar que perdeu

quota no mercado externo, caindo da 6ª para a 8ª posição no ranking do valor das vendas do

total da indústria transformadora;

- em 2011, o défice da Balança Comercial dos produtos agrícolas agravou-se em 10% e atingiu

os 3 794 milhões de Euros;

- o défice da Balança Comercial dos produtos agroalimentares melhorou 20% em 2011,

fixando-se nos 308 milhões de Euros.

Preços e índices de preços na agricultura em Portugal segundo dados do INE (Estatística

agrícola, 2011):

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 118

- o índice de preços da produção de bens agrícolas encerrou o ano de 2011 com variação

negativa de 1,0%.

- o índice de preços dos bens e serviços de consumo corrente na agricultura cresce 7,6%, em

2011.

- o índice de preços dos bens de investimento na agricultura regista variação positiva de 2,4%,

em 2011.

A estimativa das Contas Económicas da Agricultura para o ano de 2011 apresenta os

seguintes resultados:

- regista-se uma variação negativa do valor da produção do ramo agrícola (-0,6%);

- Valor Acrescentado Bruto a preços correntes na agricultura decresceu 10,8%;

- o Rendimento de Fatores, real, por unidade de trabalho ano diminuiu 10,3%.

Da parte da distribuição, a indústria alimentar sofre a pressão da negociação de contratos para

a colocação dos seus produtos no mercado. Neste processo, a indústria tem ainda de ter em

conta as preferências dos consumidores, investindo na melhoria dos seus produtos e na

imagem das suas marcas, num mercado que é crescentemente competitivo. Outras dimensões

que afectam a actividade das indústrias são a inovação tecnológica e as barreiras legais ou

administrativas24.

Em Portugal, os mercados tradicionais foram sendo progressivamente substituídos pela

Grande Distribuição ao longo dos últimos anos, reforçando o seu poder na cadeia alimentar.

Os dados sobre perdas e desperdício na cadeia de aprovisionamento obtidos pelo PERDA –

Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar, permitiram estimar que cerca de

17% das partes comestíveis dos alimentos produzidos para consumo humano, são perdidas ou

desperdiçadas em Portugal, correspondendo a cerca de 1 milhão de toneladas por ano. Este

valor global resulta da soma de perdas e desperdício nas diferentes etapas da cadeia de

aprovisionamento sendo que, a etapa mais eficiente na utilização dos produtos alimentares é a

do processamento, onde as perdas são minimizadas e reaproveitadas noutros processos

produtivos. Por outro lado a fase inicial e a fase final da cadeia é onde incide a quase totalidade

das perdas. Destaca-se ainda que quase ¾ das perdas são de produtos hortícolas, cereais,

frutos e lacticínios.

O PERDA, foi um projeto da iniciativa do CESTRAS - Centro de Estudos e Estratégias para a

Sustentabilidade, vencedora do Prémio Ideias Verdes 2011, constitui o primeiro estudo

nacional destinado a estimar o volume de desperdício alimentar em Portugal. Este estudo foi

coordenado por Sofia Guedes Vaz, Iva Miranda Pires e David Sousa, sendo este ultimo diretor

do CESTRAS.

No âmbito do Ciclo de Conferências do Futuro do Ambiente, Saúde e Economia em Portugal,

organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 13 de Dezembro de 2012 foram

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 119

apresentados os resultados do estudo PERDA - Projeto de Estudo e Reflexão sobre

Desperdício Alimentar em Portugal.

A estimativa do desperdício alimentar na cadeia de aprovisionamento portuguesa baseou-se

num estudo de fluxo de massas, tendo como dados de base a média dos três últimos anos dos

balanços de aprovisionamento das Estatísticas Agrícolas23.

O fluxo de massas na cadeia de aprovisionamento foi construído através da aplicação de taxas

de perdas a cada uma das etapas da cadeia. Estas taxas e outras informações foram

recolhidas em contactos com produtores, indústria, e retalhistas, somando-se cerca de 70

entrevistas, e também através de um inquérito onlineao qual responderam 804 famílias.O

recurso ao fluxo de massas permite simular o funcionamento da cadeia de aprovisionamento,

apesar da margem de erro ser relativamente elevada devido a falta de informação robusta.

Para ultrapassar eventuais lacunas de informação, utilizou-se também valores de referência de

um estudo realizado pela FAO9, cuja metodologia foi aliás seguida – Global food losses and

food waste, adaptado ao contexto nacional.

Esta é uma situação recorrente em todo o mundo, onde se estima que cerca de 1/3 de todos os

alimentos produzidos são desperdiçados. Os resultados da primeira quantificação do

desperdício alimentar em toda a cadeia de aprovisionamento alimentar portuguesa, desde a

produção ao consumo final apontaram para cerca de 1/5 de desperdício correspondente a

cerca de 97 Kg por habitante/ano, perfazendo um total de 1031 mil toneladas por ano, divididas

em:

- desperdício na produção que equivale a 332 mil toneladas;

- desperdício na transformação de produtos alimentares equivalente a 77 mil toneladas;

- desperdício na distribuição de produtos alimentares no valor de 228 mil toneladas;

- desperdício de alimentos pelo consumidor português na ordem das 324 mil toneladas.

Uma análise mais de pormenor dos dados obtidos pelo PERDA diz-nos ainda que os hortícolas

e pescado são os produtos críticos nas etapas iniciais da cadeia (produção e processamento);

os cereais, frutos, raízes e tubérculos, carnes nas fases finais da cadeia (distribuição e

consumo); os lacticínios apresentam perdas distribuídas por toda a cadeia de

aprovisionamento e consumo.

Na produção agrícola, desde sempre ameaçada por factores como a meteorologia ou as

pragas, ressente-se actualmente também da pressão do mercado: se os preços pagos ao

produtor forem demasiado baixos, contabilizados custos de produção, pode tornar-se

financeiramente desfavorável a colheita; noutros casos, as colheitas podem não ser realizadas

na melhor altura, como acontece em certos produtos, como os pêssegos e nectarinas, sujeitos

a grande variabilidade nos preços, induzindo a colheita quando o preço é mais favorável.

Os estudos em que se encontram estimativas de perdas e desperdício alimentar em Portugal

(ou que, em todo o caso, englobam o país) são os seguintes:

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 120

Global Food losses and Food Waste(Fao, 2011)9:

O âmbito espacial deste estudo inclui diversas regiões do mundo, entre as quais a Europa. A

capitação anual de perdas e desperdícios calculados para a Europa foi de 280 kg per

capita/ano, sendo que 34% provém dos consumidores.

Preparatory Study on Food Waste across eu27(Comissão Europeia, 2010)28:

Estimativa grosseira baseada em dados do Eurostat para os diversos países da UE 27. Não

inclui a fase da produção. Capitação anual de perdas e desperdícios para Portugal de 131 kg

per capita/ano (excluindo a parte de produção e considerando também o componente não

comestível dos resíduos) dos quais 28% provém das famílias.

O desperdício alimentar é um tópico cada vez mais relevante na agenda política da União

Europeia, considerando os 30 milhões de pessoas com problemas de subnutrição (Eurostat,

2009), bem como os múltiplos impactos ambientais associados à produção alimentar.

Tomando por base uma recente Resolução do Parlamento Europeu com a Resolução de 19 de

Janeiro de 2011, cujo ponto 3. merece aqui ser citado na íntegra:

“[O Parlamento Europeu] manifesta a sua preocupação pelo facto de, diariamente, uma

quantidade considerável de alimentos, mesmo sendo perfeitamente consumível, ser tratada

como resíduos, e considera que o desperdício de alimentos representa um problema ambiental

e ético e tem custos económicos e sociais, o que coloca desafios no contexto do mercado

interno, tanto para as empresas como para os consumidores; convida, portanto, a Comissão a

estudar as razões que levam a deitar fora, desperdiçar e depositar em aterros na Europa

anualmente cerca de 50% dos alimentos produzidos, e a velar por que seja efectuada uma

análise precisa dos desperdícios e uma avaliação das repercussões económicas, ambientais,

nutricionais e sociais; solicita igualmente à Comissão que elabore medidas concretas

destinadas a reduzir para metade o desperdício alimentar até 2025 e, paralelamente, a prevenir

a produção de resíduos alimentares.”

Acompanhando esta resolução – a qual propõe ainda que 2014 seja “Ano Europeu contra o

Desperdício Alimentar” – propomos neste capítulo um conjunto de orientações, elaboradas a

partir da informação recolhida e analisada no PERDA, do próprio texto da Resolução, bem

como no que consta da literatura sobre o assunto, e que podem contribuir para a redução do

desperdício alimentar em Portugal:

- facilitação da doação ou aproveitamento de alimentos, nomeadamente por via legislativa, já

que a fiscal se encontra relativamente bem assegurada. Assim, do ponto de vista legislativo,

haverá que analisar e ultrapassar os obstáculos colocados pelas diversas normas relativas a

responsabilidade civil, saúde pública, higiene alimentar e defesa do consumidor, e que

poderiam ser eventualmente superados através de uma consolidação legislativa que erradique

algumas das contradições que subsistem;

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 121

- obrigação que os Estados-Membros também têm de “velarem por que os pequenos

produtores locais e os grupos de produtores locais possam participar nos processos de

adjudicação de contratos para a implementação de programas específicos de promoção, inter

alia, do consumo de fruta e produtos lácteos nas escolas”;

- flexibilização dos requisitos de qualidade relativos às dimensões e à forma de frutas e

produtos hortícolas, que são impostos pela legislação europeia ou nacional, ou ainda

adoptados pelas empresas de distribuição, e que, como nota a Resolução do PE, “estão na

origem de muitas rejeições desnecessárias, que aumentam a quantidade de alimentos

desperdiçados”;

- articulação entre produtores, com o objectivo de desenvolver estratégias para mitigar a

solução única da sobre-produção enquanto resposta aos factores exógenos que afectam a

produção. De facto, segundo sugere o estudo da FAO9, uma concertação da oferta por parte

dos produtores poderá permitir preencher vazios em caso de picos de procura ou quebras de

produção;

- a proximidade entre produtores e consumidores, sendo o relacionamento direto entre ambos

e o encurtamento da cadeia agro-alimentar apontados no relatório da FAO9 e na Resolução do

PE como estratégias a seguir no combate ao desperdício alimentar. As menores distâncias

percorridas representam menos oportunidade de dano e perda dos produtos; e os mercados

locais, segundo o modelo tradicional, permitem colocação de produtos com menor validade, e

com calibres ou aparência fora dos padrões rígidos da grande distribuição. A promoção de

dinâmicas de proximidade depende largamente das autoridades locais, que podem encontrar

modelo na recente proliferação de mercados biológicos e em iniciativas como o PROVE (cabaz

de produtos agrícolas entregue diretamente no consumidor).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 122

6 PROJETO PROVE

6.1 - Estudo de caracterização e diversificação futura da produção PROVE – Universidade de Évora – 2012/05129

Objetivos do estudo:

• Contextualizar o sistema PROVE nas cadeias de abastecimento alimentar, para melhor

perceber qual a mais-valía que pode oferecer a essas mesmas cadeias.

• Propor critérios para a consolidação da identidade PROVE, definindo assim uma

diferenciação específica e objetiva para a cativação do maior numero de consumidores.

• Sugerir uma tipologia de explorações agrícolas PROVE com o objetivo de

diversificação das oportunidades e apoios susceptíveis de criar maior sustentabilidade

económico/temporal das mesmas.

• Identificar as estratégias de diversificação que melhor se enquadram em cada um dos

tipos de exploração definidos para melhor adaptar realidades e conceitos usuários para

o aumento do rendimento dos diferentes produtores PROVE.

• Propor atividades de diversificação a incluir na gestão das explorações para ajudar a

formar visões flexíveis e inovadoras nos produtores PROVE.

6.1.2 - Análise histórica da evolução dos circuitos de proximidade:

 

1960 1970 1980 1990 2000 2010

Figura n.º 8 - 50 anos a criar um funil

O PROVE, sendo considerado um circuito de proximidade, é explicado o seu aparecimento em

todos os graves surtos de crise alimentar provocada pelo uso excessivo de produtos químicos

(ex: desde a crise de peixe contaminado no Japãoem 1960 até ao surto da Bactéria E-Coli na

Peixe

contaminado

(Japão)

BSE

(Europa)

E-Coli

(Alemanha?)

Dioxinas

(Bélgica)

Febre Aftosa

(R.U.)

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 123

Alemanha, em 2010), danos ambientais e na excessiva pegada laboriatorial empregue na

Agricultura. Sendo essese os motivos para a designação de funil que dá título à figura acima,

relatando a triste história de crises mundiais de Saúde Pública. Prova-se assim uma vez mais

que a quantidade em detrimento da qualidade, torna mais dispendiosa (inclusive

monetariamente) todo e qualquer tipo de exploração (inclusive na agricultura), por ser baseada

em muito pouca solidez científica, ao contrário do que tenta “vender” ao mercado. Sendo o

Princípio da Prevenção talvez o mais importante para manter a sanidade social do Mundo

Evoluído.

 

Circuito Longo Circuito Curto Circuito de

Proximidade

Produtor

Transformação Industrial

Intermediário

Comercialização

Grossista Central de Compras

Consumidor

Retalhista Supermercado

Consumidor

Figura n.º 9 - Diferentes tipos de Circuitos de Comercialização Agrícola

Nesta figura são explicados os diferentes tipos atuais de circuitos de comercialização aplicada

aos produtos agrícolas. Como o PROVE é baseado na venda direta do Produtor ao

Consumidor, é considerado um Circuito de Proximidade (constatado no lado direito do

esquema acima representado), havendo ainda o Circuito Curto (com intermediário, mas sem

transformação industrial).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 124

O Circuito Longo implica mais prejuízos em transporte, em intermediários, em matérias-primas

de vária ordem, nos custos, em publicidades e na qualidade dos produtos.

O circuito que melhor relaciona a distribuição de riqueza à qualidade dos produtos e segurança

alimentar é o circuito de proximidade, por ser o mais simples, justo e objetivo. Carece de

intermediários e promove uma relação de confiança entre o produtor e o consumidor por causa

das relações de proximidade diretas.

Quadro  n.º  8  -­‐  Uma  história,  um  modelo  inspirador  e  que  se  inspira    -­‐  circuitos  de  proximidade  

1960 1970 1980 1990 2000 2008 2012

TEIKEI (Japão)

CSA (EUA)

AMAP (França)

PROVE

(Portugal)

6.1.3 - Exemplos Europeus de Circuitos de Proximidade:

o França----------- La Binee Paysanne que consiste numa Associação de Agricultores

Biológicos exclusivamente franceses, em que o seu escoamento é baseado em

Circuitos de Proximidade.

o França----------- AMAP (Association pour le Maintien d´une Agriculture Paysanne)

− Estas siglas definem um conceito francês, que consiste numa Associação para a

manutenção da agricultura de proximidade, sendo constituída por um ou mais

produtores, com até e no máximo de 200 consumidores. Obrigatoriamente com

cinco princípios de funcionamento:

− Fornecimento de legumes semanal durante as épocas de Outono/Inverno e/ou

Primavera/Verão, por uma época (normalmente 26 semanas):

− Preço justo e solidário;

− Todos os produtos de Agricultura Biológica Certificada;

− A distribuição feita de forma simples, autónoma e rotativa pelos consumidores e

produtores;

− Distribuição efetuada num local e dia da semana fixos;

o Itália/Bélgica/Inglaterra ------------ existem vários, particularmente vocacionados para a

Agricultura Biológica, provando mais uma vez que a Qualidade dos produtos está

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 125

intimamente associada ao modo de produção biológicos nos países europeus mais

desenvolvidos.

o Espanha---------temos o exemplo da Ecoconsum (Associação coordenadora de

cooperativas e associações de consumidores), sendo um circuito de proximidade

exclusivamente em modo de produção biológico.

o Suíça------------- podemos encontrar o exemplo da Associação de produtores e

consumidores com o nome de Les Cueilllettes de Landecy.

o Portugal---------encontramos o exemplo do PROVE (2006/2012), que não é

exclusivamente Biológico, infelizmente, para além de outros.

6.1.4 - Critérios para a consolidação da identidade PROVE:

Características-chave do PROVE:

• Dimensão da exploração para melhor definição equalitária dos produtores PROVE, de

forma a evitar conflitos e melhorar as relações intra-específicas.

• Modo de produção é importante para garantir a segurança alimentar e a qualidade dos

produtos, sendo estes dois pilares a base da aceitação pelos consumidores e

consequentemente a sobrevivência do PROVE.

• Motivação dos produtores é essencial de modo a desenvolver um crescente empenho

e inovação necessária para a salutar relação com os consumidores.

• Oferta de produtos e atividades não agrícolas como forma de diversificação e

sustentabilização económica dos produtores.

• Proximidade a centros urbanos é essencial porque os consumidores-alvo do PROVE

são os que não têm alternativa em relação aos circuitos de proximidade.

Foram caracterizadas pelo estudo da Universidade de Évora, três tipo de Relações/escolhas no

Projeto PROVE:

• Produtor Exploração - sendo a relação mais intrínseca por ser a base da

qualidade dos produtos e a garantia da confiança alimentar dos consumidores

aderentes. É uma relação unívoca.

• Produtor Produtor - qualificada como a garantia inter-pessoal que promove

uma maior diversidade da oferta e justiça social nos relacionamentos, garantindo uma

comunidade rural verdadeira e solidária. Implica uma interligação social com vários

interlucotores e direções.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 126

• Produtor / Consumidor – Implica uma relação inter-pessoal e unívoca

simultâneamente. Sendo o Consumidor a garantia essencial da continuação do

PROVE, compreende-se uma dedicação humilde e flexível do Produtor em relação às

exigências do consumidor. Ao mesmo tempo a comunicação constante baseada na

confiança e empatia na relação do Produtor/Consumidor só funciona se for bionívoca,

daí a interrogação associada, pois não constata uma certeza.

Na figura abaixo encontramos as razões que poderão influenciar a adesão do Consumidor ao

projeto PROVE, quer seja por defeito (compromissos ou tipo de desconforto) ou por

motivações que variam desde a qualidade dos produtos, por questões de saúde pública

baseadas na preservação do Ambiente ou até mesmo por sensibilidades sociais, culturais e

empíricas.

Mais uma vez nos apercebemos o papel essencial dos consumidores na sustentabilidade e

desenvolvimento do projeto PROVE.

Quadro  n.º  9  –  Vantagens  e  desvantagens  que  condicionam  o  consumidor  PROVE  

Esforço de adaptação por parte do

consumidor

O que faz o consumidor aderir e

permanecer no PROVE

Compromisso semanal (rigidez) Qualidade percepcionada

Composição desconhecida Razões ambientais

Quantidades por vezes inadequadas Razões sociais

Desconforto Razões empíricas

6.1.5 - Contributos para uma definição do conceito PROVE:

− Oferecer produtos de qualidade: Produzir de forma ambientalmente sustentável;

Desenvolver um sistema de garantia participativa; Assegurar acompanhamento técnico

aos produtores; Zelar pelo bom acondicionamento dos produtos; Elaborar guias

confecção/conservação.

− Reforçar as relações produtores/consumidores: Criar condições mínimas de segurança

e conforto na exploração; Apelar a participação dos consumidores no planeamento da

produção; Escolher locais que propiciem o encontro; Organizar visitas as explorações;

Incentivar o voluntariado junto dos consumidores; Informar previamente das

qualidades/variedades.

− Reforçar a consciência cooperativa entre produtores: Envolver todos os produtores no

processo de organização e distribuição dos cabazes; Fomentar a partilha de tempo,

equipamentos e conhecimentos entre produtores.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 127

− Promover a sustentabilidade económica das explorações: Diversificar as atividades

desenvolvidas na exploração; Manter uma boa relação qualidade/preço; Flexibilizar

/adaptar a entrega; Importância do compromisso; Importância do preço justo; Premiar

consumidores nas épocas mais favoráveis e apelar a compreensão nos períodos mais

desfavoráveis.

− Reforçar a identidade PROVE: Encontro de produtores e consumidores; Identidade

regional/nacional/internacional.

− Assegurar a sustentabilidade económica dos núcleos: Criar mecanismos que paguem

os custos de funcionamento mínimos do núcleo).

 

Quadro  n.º  10  -­‐  Estratégias  de  Diversificação  identificadas  pelo  estudo  para  “expandir”  a  exploração  

PROVE:  

Aprofundamento – Atividades

que dependem da produção

Alargamento – Atividades

que dependem da exploração

Exploração

Transformadora

Exploração

Acolhimento

Exploração

Cabaz

Reposicionamento – Atividades

que não dependem da produção

e podem ser exteriores a

produção

Compotas / Mel Legumes

desidratados

Turismo

gastronómico Atividades Pais e

Venda direta/

Pequenos

animais/ Lenha

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 128

7 Material e Métodos dos Resultados

Descrição  da  metodologia  utilizada  

Foram realizadas 21 entrevistas com o auxílio de um formulário semi-estruturado (entrevista-

tipo), contabilizadas em 2080,8 kilómetros percorridos em 32,25 horas, sendo gastos 93,636

litros de gasóleo, revertendo tudo num custo apenas em combustível de 150 euros.

Utilizou-se metodologia qualitativa (análise de conteúdo) para a análise de dados, tendo como

elo principal o contato pessoal e humanizado, dando substância e oportunidade à audiência

tanto dos responsáveis coordenativos do projeto como dos produtores associados. A voz do

consumidor ressalta-se na minha própria experiência como requerente atento dos cabazes

PROVE.

O estudo caracterizou-se como exploratório-descritivo, com a recolha de informações

secundárias e primárias, descurando propositadamente as questões técnico-agrárias por duas

razões essenciais:

− devido à diversidade de formação académica e/ou empírica dos entrevistados, optou-

se por um diálogo informal e descomprometido com uma informação standardizada;

− devido à impossibilidade de traduzir a noção de Agricultura Tradicional, por

constrangimentos diversos desde a diversidade de práticas culturais, os diferentes

contextos geofisico-climáticos onde se inserem as produções e as diferentes atuações

empíricas com específicas práticas culturais individualizadas consuante a experiência

dinâmica de cada entrevistado.

Aspirava-se conhecer uma realidade, que apesar de dinâmica, mostra diferentes perspectivas

no mesmo projeto, com igual tipo de procedimento de implementação, adaptados às

contigências típicas de cada núcleo de implementação.

Por isso mesmo inicia-se este trabalho apresentando uma pesquisa histórico-filosófica dos

diferentes modos de produção agrícola para melhor entendimento de qual oferece melhores

garantias de produção sustentável que motivem uma economia mais justa sócio-culturalmente,

assim como assegure uma alimentação saudável e coerente com as exigências do

consumidor, sem esquecer a sustentabilidade dos recursos endógenos e autóctones que a

prolificam intemporalmente no futuro geracional.

Apresenta-se de seguida a entrevista-tipo que serviu de base semi-estruturada para

contextualizar o projeto PROVE nos diferentes Núcleos do Sul de Portugal.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 129

7.1 - Entrevista TIPO

• Em que consiste o Programa PROVE e qual a adaptação especifica do mesmo a esta

região, nomeadamente ao nível dos produtos/preços/cabazes/divulgação?

• Qual a estratégia/meios de informação por parte do parceiro local/GAL para promover

a adesão dos consumidores e agricultores?

• Qual o nível de adesão/aceitação dos agricultores na zona do Programa PROVE?

• Qual o nível de aceitação/adesão dos consumidores da região PROVE?

• Qual o apoio concreto, ao nível técnico/produtivo, por parte do parceiro local/GAL na

implementação do Programa PROVE?

• A informação técnica está disponível a todos os produtores e consumidores?

• Quais as carências e, respetivas adaptações especificas nesta região, na

implementação do Programa PROVE, do ponto de vista dos agricultores?

• Existe algum tipo de certificação biológica nesta região? Qual? Quantas explorações

são abrangidas e que tipo de apoio/controlo técnico existe?

• Qual a formação endógena e/ou formações especificas dos agricultores da região, no

âmbito da Agricultura Biológica?

• Quais as perspetivas de futuro no desenvolvimento do Programa PROVE, neste região

específica?

Nota: apesar da tentativa de seguir uma entrevista normativa com o padrão acima definido,

devido a diversidade de regiões e pessoas entrevistadas com formações e realidades regionais

especificas, poderá ser notada alguma divergência do mesmo padrão, assim como ao carater

informal na realização das mesmas, por parte do entrevistador.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 130

8 Apresentação e Discussão dos Resultados - Descrição dos resultados dos inquéritos - Entrevistas PROVE

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 131

8.1 - GAL TAGUS (Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior) A TAGUS – Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior - é uma

entidade de direito privado sem fins lucrativos que foi constituída em 26 de Novembro de 1993,

fruto de uma parceria público-privada.

Surgiu para dar resposta às necessidades de criação e aplicação de uma estratégia para o

Desenvolvimento Local dos concelhos de Abrantes, Constância e Sardoal. Atualmente, é

composta por 26 entidades públicas e privadas da Região.

A TAGUS tem como objetivo primordial a promoção, apoio e realização de um aproveitamento

mais racional das potencialidades dos concelhos de Abrantes, Constância, Gavião, Mação,

Sardoal e Vila Nova da Barquinha, tendo em vista o desenvolvimento rural em todas as suas

componentes e a melhoria das condições de vida das populações residentes.

A TAGUS reconhece-se num conjunto de cerca de 12 eixos e lógicas de desenvolvimento

territorial, acompanhados por um conjunto de temas de abordagem transversal igualmente

relevante, dos quais se destacam as questões dos produtos locais, das tradições e atividades

etnofolclóricas, da arte sacra, do património arqueológico e de temas associados à cultura,

turismo e ambiente.

Os Eixos Territoriais de Desenvolvimento são: o Rio Zêzere, o Ambiente/Biodiversidade, os

Moinhos/Moleiros, o Tejo Sul, o Azeite, a Metalurgia, a nova travessia do Tejo, as quintas

românticas do Tejo, as Quintas de Codes em Castelo de Bode, o Tejo Norte, a Charneca com

as suas ervas aromáticas e medicinais, a Ruralidade/Etnografia, asArtes/Ofícios tradicionais.

Os Eixos Transversais de Desenvolvimento são: os Castelos do Tejo, Ruralidade/Etnografia,

a Fé/Religiosidade, o Património Arqueológico, o Rio Tejo com os seus Portos Fluviais e a

Grande Rota do Zêzere.

Sendo esta a base para a definição de um conjunto de projetos inovadores que se pretende

que contribuam para a revitalização do mundo rural em Abrantes, Constância, Sardoal e Vila

Nova da Barquinha.

8.1.1 - Núcleo PROVE de Abrantes - GAL TAGUS : Coordenadora Joana Maia

Contêm apenas um Núcleo cujo lançamento se realizou a 10 de Setembro de 2010, num

evento específico em Abrantes, consistindo o primeiro local de entrega de cabazes, no Antigo

Quartel dos Bombeiros cedido pela Câmara Municipal de Abrantes.

Passado um ano, a Câmara Municipal de Abrantes, após realizadas obras, cedeu

definitivamente (até a este momento) o Mercado de Abrantes. As entregas neste local

realizam-se à Sexta-feira, entre as 16h e as 19h, com dois tipos de cabazes:

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 132

• cabazes grandes (7 a 9 kgs) que abastecem 32 consumidores regulares por semana.

• cabazes pequenos (5 a 6 kgs) que abastecem 12 consumidores regulares

semanalmente.

No primeiro mês chegaram a ter 40 consumidores, aumentando no segundo mês para 80

consumidores, estabilizando em seguida nos números atuais.

A reunião do núcleo de agricultores é realizada na Quarta-feira, sendo coordenada pelo

Engenheiro Simão Pita, no Antigo Quartel dos Bombeiros de Abrantes.

Existem seis produtores no Núcleo:

− Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes (EPDRA), sob a

responsabilidade do Engenheiro Simão Pita escoando para venda direta e auto-

consumo, além da participação PROVE;

− Centro de Recuperação e Integração de Abrantes (CRIA) que produz para auto-

consumo e para os cabazes PROVE;

− O produtor Fernando Almeida (68 anos) com formação de um curso industrial,

reformado e escoamento exclusivo para o PROVE;

− O produtor João Dias (com 62 anos) piloto reformado, que distribui agrião e aromáticas

nos cabazes PROVE com selo biológico. A sua exploração situa-se em Constância,

índo também vender em Mercados Biológicos da Agrobio em Lisboa (entrevista

detalhada sobre a sua produção no seguinte capítulo);

− O produtor Pedro Marchante (40 anos) com a exploração em Abrantes, escoando

exclusivamente para os Cabazes PROVE, além do óbvio auto-consumo;

− O produtor Simão Pita com produção própria em Abrantes, escoando para outros

mercados, além do PROVE;

Nesta GAL os critérios para serem produtores PROVE foram modo de produção agrícola

tradicional, uso mínimo de fitofármacos, aproveitamento apenas da adubação natural,

abastecimento de água seguro.

As formas de divulgação utilizadas foram os cartazes/folhetos PROVE distribuídos em

organismos públicos (ex: finanças, escolas, etc), os media locais (jornais, rádios, televisão) e

um seminário PROVE, no Sardoal, em 2010.

A formação aos produtores foi feita em visitas a produções de Palmela e na Lamarosa, assim

como sessões técnicas com a metodologia do projeto e oficinas de mediadores constituídos

por: dois técnicos da GAL TAGUS, um técnico da Câmara Municipal de Abrantes, três técnicos

da Câmara Municipal do Sardoal (consumidores regulares no Sardoal), dois produtores

(EPDRA, João Dias).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 133

Uma distinção importante nesta GAL é o seu apoio ativo e motivador dando formação à

Associação de Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte (ADIRN) em Tomar e à

Associação para o Desenvolvimento Rural do Oeste (LEADER OESTE) no Cadaval.

8.1.2 - Produtor João Dias, Freguesia de Santa Margarida, Constância, Concelho de Abrantes:

O senhor João Dias (62 anos), piloto reservista da Força Aérea, dedica-se como sócio da

Agrobio e agricultor biológico certificado autodidata, a cultivar maioritariamente agriões devido

à grande abundância de água do seu hectare de terreno, herança de seu Avô.

Em 2004 atingiu a produção recorde de uma tonelada de agrião, escoando 90% desse produto

para a Biocoop, cooperativa alfacinha que escoa grande parte da produção biológica nacional,

fornecendo ainda para a Miosótis, alguns restaurantes, mercearias e habitantes locais da zona

onde vive.

Esta filosofia de relacionamento e troca de produtos e conhecimentos caracteriza a filosofia da

Agricultura Biológica e a diferencia na essência agrícola da Agricultura Convencional, sendo a

assistência técnica da responsabilidade da visita mensal de um técnico da Agrobio.

Dependente da mão de obra familiar e do seu vizinho e amigo senhor Josué, com 80 anos,

cesteiro famoso na região, a quem oferece vime cultivado no seu terreno.

Como adubo utiliza no seu terreno adubação verde e/ou animal não contaminada com o

objetivo de melhorar a fertilidade dos recursos da sua pequena propriedade, sendo o mais

importante o solo.

Outra técnica cultural é a maceração de urtigas para borrifar as culuras, protegendo-las assim

de pragas e a consociação com plantas aromáticas (alfazema, alecrim, etc), para afastar outro

tipo de pragas.

Além dos agriões e aromáticas, tem plantado aveia e ervilhaca, para fertilizar o solo com azoto

e outros micronutrientes que as leguminosas têm capacidade para absorver.

No futuro próximo, o produtor João Dias, prevê implementar estufas para hortícolas.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 134

8.2 - GAL - Charneca Ribatejana (Associação para a Promoção Rural da Charneca Ribatejana): A sua estratégia local de desenvolvimento tem como focos de atuação as temáticas da

população, da economia, do emprego e o património rural.

Os Objetivos Estratégicos são promover as características particulares da região; desenvolver

e melhorar o turismo, essencialmente as atividades turísticas temáticas; apostar e divulgar os

produtos regionais, melhorando assim as condições empresariais de forma a fixar a população

no território.

A sua política de desenvolvimento visa a criação de condições que garantam um turismo

paisagístico e ambiental de qualidade; a divulgação de atividades turísticas ligadas às rotas do

cavalo e do toiro; a criação de atividades de visitas guiadas a quintas vinícolas, a adegas, a

coudelarias e ganadarias; a divulgação do património construído e das atividades agrícolas; a

aposta nas atividades de caça e pesca como interessantes ofertas turísticas; o melhoramento

dos amplos espaços ambientais e de observação da fauna e flora; a manutenção e

crescimento associativo; a promoção do turismo e dos produtos regionais; o aumento da

capacidade de alojamento e de diversificação da animação turística; o apoio empresarial

através de ações de empreendorismo que motivem essencialmente as camadas mais jovens.

Nota: foi muito difícil tentar realizar a entrevista com o coordenador da GAL Charneca

Ribatejana, apesar das sucessivas tentativas logradas, valorizando dessa forma ainda mais a

iniciativa autónoma do Núcleo PROVE de Alpiarça que é um exemplo na sua formação por ter

sido exclusivamente motivada, impulsionada, gerida, efetuada, organizada e implementada

pelos próprios agricultores, sendo a iniciativa mais positiva e exemplar de todos os Núcleos

PROVE do Sul do País visitados.

8.2.1 - Coordenador do Núcleo PROVE de Alpiarça: Joaquim José Agostinho do Nascimento

O professor Joaquim é reformado do ensino em Educação Física e tem mais de 60 anos,

sendo o principal catalisador do espontâneo Núcleo Prove de Alpiarça, cujo o lançamento dos

cabazes foi realizado a 13 de Maio de 2011, embora antecedido por uma entrega experimental

no dia 6 de Maio de 2011, que mostrou ser um Núcleo sustentável e exemplar na sua

implementação.

Por iniciativa da Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça

(AIDIA) e com o apoio da Divisão de Ambiente da Câmara Municipal de Santarém, realizou-se,

em 2009, a primeira edição da Feira de Agricultura Biológica em Santarém, com o primeiro

impulso de um projeto da Professora Ana da Silva e a colaboração do Engenheiro Mendes

Marques, ambos docentes no Instituto Superior Politécnico de Santarém.

Visto haver uma necessidade de diversificação do escoamento dos produtos, o Engenheiro

Alimentar Rui Coutinho ( Intermarché de Alpiarça) falou na possibilidade de participação no

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 135

projeto PROVE a Joaquim Nascimento, organizando um encontro, com os seus colegas

biológicos da região, num restaurante situado no Parque de Merendas da Barragem dos

Patudos, em Alpiarça.

Observando a potencialidade do Projeto PROVE e conscientes da mais valía (modo de

produção biológica) que podiam facilitar ao mesmo, os agricultores mostraram a iniciativa de

falar com o Ministério da Agricultura para que fizesse a ponte com a Coordenadora Nacional do

PROVE, a Associação de Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES), que

por sua vez, comunicou a intenção dos produtores ao Grupo de Ação Local (GAL) Charneca

Ribatejana para terem a oportunidade de participar no PROVE. Começaram então 5

produtores, restando 4 atualmente, todos certificados por modo de produção biológico:

− Fernando Agostinho cuja exploração tem a maior área, sendo abastecedor para a

Biocoop e as feiras habituais da Agrobio, além do PROVE;

− Joaquim Nascimento com uma exploração de 1 ha repartido em hortícolas (ar livre e

estufa) e olival, que escoa no projeto PROVE e na Feira de Produtos Biológicos de

Santarém;

− Francisco Manso com uma propriedade de 4 ha, repartida em 2 ha olival e 1 ha de

hortícolas ao ar livre, escoando a sua produção no projeto PROVE e na Feira de

Produtos Biológicos de Santarém;

− Patrícia Serôdio, proprietária da Quinta África das Joaninhas, onde pratica

Permacultura, em 2 hectares, contribuindo para o PROVE com ervas aromáticas.

O único grande critério para fazer parte do Núcleo PROVE de Alpiarça será unicamente ser um

produtor com certificação em modo de produção biológico.

Quadro n.º 11 - Locais de entregas atuais, com 43 consumidores regulares:

Local Preço dos cabazes Numero de

cabazes Dia da Semana Horário

Peso dos

Cabazes

Casa do Ambiente

(Santarém) 10 euros 15 cabazes Quarta-feira

17h às 18h e

15m 5 a 7 kg

Escola Secundária

de Almeirim 10 euros 5 cabazes terças-feiras 15h e 30m 5 a 7 kg

Biblioteca Municipal

de Almeirim 10 euros 13 cabazes terças-feiras

17h às 18h e

30m 5 a 7 kg

Agroalpiarça 10 euros 8/10 cabazes Sextas-feiras, 17h e 30m às

19h e 30m 5 a 7 kg

Instituto Politécnico

de Santarém 10 euros brevemente brevemente brevemente 5 a 7 kg

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 136

Além do protocolo com o Instituto Politécnico de Santarém tiveram também apoio institucional

da Divisão de Ambiente da Câmara Municipal de Santarém, da Junta de Freguesia de Alpiarça,

da Agroalpiarça, da Escola Secundária de Almeirim e da Biblioteca Municipal de Almeirim.

A divulgação é baseada maioritariamente no passa-palavra, na iniciativa dos produtores

biológicos do Núcleo, de algumas das instituições acima referidas e através de folheto onde

são apresentadas além da publicidade outros conselhos úteis como sejam uma receita, os

produtos a granel que possuem para comercialização e uma previsão dos produtos disponíveis

para o próximo cabaz.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 137

8.3 - Núcleo do Algarve - Grupo de Apoio Local (GAL) In Loco A Associação IN LOCO é uma entidade sem fins lucrativos, criada legalmente a 26 de Agosto

de 1988, sendo uma das parceiras da segunda fase de aplicação da metodologia PROVE.

A sua área de intervenção corresponde ao território denominado Interior do Algarve Central e é

constituído por dezassete freguesias do interior da região do Algarve.

A sua estratégia principal é lançar e apoiar iniciativas para a animação, capacitação e

organização das pessoas e das entidades, desenvolvidas em parceria, numa lógica de

integração e no quadro de processos de investigação-ação.

Os Objetivos Estratégicos são qualificar e valorizar as pessoas e as organizações; qualificar e

valorizar o território de intervenção numa perspectiva de sustentabilidade; promover a

cidadania activa e solidária; incentivar, apoiar o empreendedorismo e a iniciativa local; produzir

conhecimento de apoio à intervenção.

A Associação IN LOCO contém uma equipa de profissionais especializados, com experiência

significativa em diversos sectores:

− Desenvolvimento local e regional, ordenamento do território, economia do

desenvolvimento, cooperativismo;

− Metodologias participativas, animação comunitária, associativismo;

− Reconhecimento, validação e certificação de competências, educação de adultos,

formação profissional;

− Percursos integrados de formação-inserção, animação e enquadramento de jovens em

risco, apoiam a populações imigrantes;

− Criação e gestão de PME´s e de microempresas, valorização dos produtos locais,

gestão integrada de recursos florestais, turismo sustentável;

− Planeamento, concepção e desenvolvimento de ações de formação;

− Informação e comunicação, documentação, produção de eventos.

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8.3.1 - Núcleos PROVE no Algarve:

Quadro n.º 12 – Informação dos locais de entrega e respetivos produtores PROVE Algarve

Tipo de Cabaz Localidade Horário Local de entrega

Produtor: Norberto Coelho / Luísa Coelho (Tôr)

Cabaz 100% Bio

Loulé

Quintas-feiras - 17h30 / 19h30 Junto à Pastelaria Portas do

Céu (Expansão Sul)

Vilamoura

Sábados - 12h / 13h Junto à Inframoura

Faro

Sextas-feiras - 18h / 19h

Penha, rua Jornal Correio do Sul

(junto ao hospital Animal do Sul)

e Gambelas (parque de

estacionamento da entrada

nascente da Universidade do

Algarve)

Albufeira Quartas-feiras - 15h / 17h Junto ao Auditório Municipal

Produtor: João Pedro Sanches Gama / Pauline van Diepen

Cabaz 100% Bio Tavira Quintas-feiras das 9h30 às 17h00 Horta do Cabeço

Moncarapacho, Olhão,

S.Brás de Alportel, V. R.

Sto António

Quintas-feiras das 17h30 Às 19h00

Produtora: Fátima Torres

Cabaz 100% Bio Portimão Quintas-feiras - 17h / 19h Colégio do Rio

Produtora: Carla Dias

Cabaz 100% Bio Silves Sextas-feiras - 17h / 19h Piscinas Municipais

Produtor: Mário Gonçalves e Cláudia Barros

Cabaz da Época S. Brás de Alportel Quintas-feiras -15h /18h Associação In Loco

Produtor: Marta Neves

Cabaz PROVE Moncarapacho 16h00 às 17h30 Cooperativa Agrícola Esperança

de Moncarapacho

Produtor: José Bruno Neto

Cabaz da Horta Vila Real de Santo

António

Quartas-feiras - 10h / 13h Associação Cultural de Vila Real

de Santo António

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 139

8.3.2 - Entrevista com a Engenheira Ana Arsénio (coordenadora do projeto PROVE no Algarve):

Em relação ao PROVE, o primeiro cabaz a ser lançado no Algarve com certificação biológica,

foi a 5 de Novembro de 2010 e chamava-se CABAZ 100% BIO.

Quadro n.º 13 - Núcleos PROVE com Certificação Biológica (Maio de 2012):

Localidade N.º de locais de entrega

em cada localidade

Loulé / Faro / Lagos 2

Albufeira / Vilamoura / Silves / Lagoa / Portimão / Olhão /

Moncarapacho 1

No caso específico de Tavira, com apenas um produtor, têm dois tipos de cabazes (Cabaz da

Horta/Cabaz Biológico). Aqui há dificuldade no cooperativismo dos produtores, pois estes não

gostam de preparar cabazes em conjunto, portanto fazem os cabazes sozinhos, sendo

interessante que é mais difícil reunir consensos nos produtores tradicionais do que nos

cabazes biológicos, havendo uma explicação imediata na apetência maior dos consumidores

por parte do cabazes biológicos.

Por esta razão, no Algarve, mais de 50% das vendas são cabazes PROVE com produtos

certificados em modo de produção biológico!

Os parâmetros elegíveis no Algarve para ser produtor PROVE são:

− ser proprietário de explorações agrícolas de pequena escala, com o máximo de 5 ha;

− aceitar o apoio técnico especializado em Agricultura Biológica;

− dar prioridade na informação e apoio a variedades de produtos locais;

− explorações na sua maioria familiares, tendo como media 1 ou 2 trabalhadores;

− aceitar o apoio a planificação da produção;

− formação no programa GPROVE que facilitou a centralização de informação sobre

núcleos, produtores, produtos, facilitando e agilizando a relação dos consumidores

com os produtores (ex: encomenda de cabazes).

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 140

Quadro n.º 14 - Número de explorações no Algarve:

Explorações biológicas Explorações Tradicionais

Localidade N.º de explorações Localidade N.º de explorações

Loulé 2 S. Brás de Alportel 4 explorações (Cabaz

da Horta) e 1

exploração (Cabaz da

Época)

Silves 3 / 4 Vila Real de Sto.

António

1

Tavira Começaram com 6

explorações mas

acabaram com

apenas uma!

Tavira 2

Lagos 2

S. Brás de Alportel 1

Quadro n.º 15 - Média de consumidores por semana no Algarve:

Localidade N.º consumidores / entrega

Consumidores Biológicos

Portimão 70 a 80

Silves 20 a 25

Loulé 100 a 200

Tavira 20 a 50

Consumidores dos Cabazes Tradicionais

S. Brás de Alportel 20 a 50

Tavira 200

O Preços dos Cabazes está assente em 10 euros no Cabaz Tradicional e 15 euros no Cabaz

Biológico.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 141

A divulgação foi realizada através dos meios de comunicação (Jornais locais nacionais e

ingleses, sessões de SLOW FOOD), de Seminários, nas Escolas, em Feiras, inclusive

Tertúlias, em Bibliotecas, na Ecoteca e nas inciativas conjuntas com as entidades parceiras

como sejam as Câmaras de Loulé e S. Brás de Alportel, OnGAs como a Almargem e as Juntas

de Freguesia de Messines e Paderne onde são distribuídos cabazes.

Para essa divulgação foi utilizado material promocional (vídeos, folhetos, Internet), além do

apoio técnico e a persistente sensibilização junto dos agricultores. Foram realizadas ainda três

reuniões para a divulgação: uma primeira reunião de produtor com cada um dos produtores

individualmente; uma segunda reunião com todas as entidades e uma terceira reunião onde

foram acertados pormenores com todos os envolvidos.

Foi feito também um levantamento das variedades típicas do Algarve, culminando todos o

processo na organização do II Encontro Nacional PROVE, a 7 e 8 de Novembro de 2011, no

Museu do Traje de S. Brás de Alportel, onde estiveram 120 produtores de Portugal presentes e

onde foram debatidos seguintes temas:

− Atendimento ao consumidor - Ana Paula Xavier, ADRIMINHO;

− Aplicações gastronómicas dos produtos PROVE - Teresa Pouzada, ADRITEM;

− A diversificação de Actividades na Exploração Agrícola - Joana Maia, TAGUS;

− Experiencia CABAZ PROVE 100% BIO - Miguel Velez, In Loco;

− Higiene e segurança alimentar nas explorações agrícolas e no processo de transporte,

elaboração e entrega de cabazes - Celso Monteiro, Dolmen;

− A venda de outros produtos associados ao CABAZ PROVE: implicações comerciais,

legais e fiscais; Em anexo o documento: Normas comuns e Obrigatórias Aplicadas às

Frutas e Produtos Hortícolas da Direção Regional do Algarve da Autoridade de

Segurança Alimentar e Económica (texto baseado em informação do gabinete de

planeamento e políticas, a 04/07/2011 e na Legislação Aplicável;

− Apresentação do Manual de Intervenção nas Explorações Agrícolas -, Universidade de

Évora

− Apresentação dos Resultados da Avaliação da Implementação do PROVE nos

primeiros 8 GAL’s a todos os níveis do projeto (Consumidores/produtores e

coordenadores) - Isabel Rodrigo, ISA

8.3.3 - Produtor PROVE do Algarve: Carla Sofia Moreira Dias (43 anos)

A produtora Carla Dias é licenciada em Engenharia Agropecuária na Escola Superior Agrária

de Coimbra e proprietária de 1,5 ha onde pratica Agricultura Biológica Certificada, dividido por

8200 metros quadrados de estufas e 3500 metros quadrados de rede de sombra. É

arrendatária ainda de 1 ha de terreno. A sua exploração denomina-se Moinho da Torre e está

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 142

localizada junto da estação de Silves, fazendo entregas nas Piscinas Municipais de Silves. Não

é uma produtora exclusiva do PROVE.

Tem uma produção é baseada em hortícolas e floricultura. As hortícolas produzidas para os

cabazes PROVE são: morango, cenoura, várias variedades de couves, alfaces, tomate, batata,

melão, feijão-verde, articulando-se com mais dois agricultores locais.

Todas as práticas culturais são em modo biológico experimental, não descurando os critérios

associados à Agricultura Biológica Certificada, porque a sua produção é tem selo de

certificação.

Prepara dois tipos de cabazes:

− o Cabaz Certificado Biológico pequeno, que custa ao consumidor 10 euros e

contabiliza 5 kilogramas de peso;

− o Cabaz Certificado Biológico grande, cujo o custo é 15 euros e pesa 9 kilogramas;

O principal inconveniente do Cabaz PROVE para esta produtora é ocupar muita mão-de-obra e

um dia de trabalho para que os produtos cheguem frescos, sendo muitas vezes prejudicial em

termos monetários, se forem apenas encomendados um pequeno número. Outro inconveniente

é a sazonalidade, pois no Verão a encomenda de cabazes é muito menor. Para o consumidor,

no ponto de vista desta produtora, o PROVE só tem vantagens. No Algarve assiste-se a grande

desenvolvimento em torno da Agricultura Biológica devido ao alto grau educacional de uma

faixa estrangeira da população e ao apoio prestado pela Direção Geral de Agricultura do

Algarve.

Quadro n.º 16 - Evolução da Área de diversas Culturas em Produção Biológica, entre 1994 e

2005, na Região do Algarve

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 143

É importante referir uma vez mais que a primeira associação de agricultores biológicos foi a

SALVA – Associação de Produtores Agricultores em Agricultura Biológica do Sul, composta no

início por 18 produtores (na sua maioria estrangeiros radicados em Portugal), sendo

reconhecida como Organização de Agricultores em Modo de Produção Biológico (Portaria n.º

180/2002), sob o Despacho n.º 20 096/2002 de 16/08/2002 do Diário da República n.º 211 de

12 de Setembro de 2002, II Série. A sede estava situada na antiga Escola Primária de Salir,

sendo denominado posteriormente Centro Brito de Carvalho. A dinamização da SALVA foi da

responsabilidade do Senhor José Miguel Fonseca (atualmente à frente do movimento Colher

Para Semear, Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais).

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 144

8.4 – GAL - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, ADC Moura: A ADCMoura é uma associação sem fins lucrativos, com sede em Moura, tendo como objecto

da sua intervenção apoiar e promover o desenvolvimento sustentável do concelho de Moura e

de outras zonas da região Alentejo, nas seguintes áreas consideradas prioritárias: Formação e

Qualificação, Educação Ambiental, Empreendedorismo e Criação de Empresas, Cidadania

Activa e Empowerment, Mobilidade e Qualificação dos Espaços Urbanos e Rurais, Marketing

Territorial, Igualdade de Oportunidades e Igualdade de Género.

Criada em 1993, a ADCMoura esteve envolvida - enquanto entidade promotora, interlocutora

ou como parceira - em diversos projetos de natureza integrada e plurianual, de abrangência

local, regional, nacional e transnacional, em áreas sobretudo relacionadas com a Educação

para o Empreendedorismo, a Participação em Projetos de Território e o Apoio à Criação de

Empresas em Rede Multi-institucional, sempre com a preocupação de introduzir qualidade e

inovação nos processos e produtos gerados.

Na actualidade, encontra-se particularmente empenhada no desenho e desenvolvimento de

projetos de inovação social, que vão da valorização e mobilização do potencial endógeno à

criação de novas dinâmicas e serviços mobilizadores de competências, em que se inclui o

apoio à criação e consolidação de empresas, baseado no trinómio formação / incubação /

instalação.

8.4.1 - Coordenador do PROVE na ADC/Moura, José Neves:

O coordenador do projeto PROVE na GAL ADC/Moura tem formação Superior de Animação

Sócio-cultural.

Para a implementação do proejto em Moura foi feita uma formação inicial com 14 a 15

produtores, com o objectivo de seleccionar apenas 3 agricultores para a formação de Núcleo,

havendo actualmente 2 produtores PROVE, não existindo produtores exclusivamente PROVE!

Foi estipulado o preço dos cabazes em 10 euros, com peso variável entre os 7 e os 9 kg,

embora tenha havido a ponderação da implementação de mini cabazes com metade do peso e

do preço por Moura se tratar de uma região desfavorecida e maioritariamente rural.

O Local definido para a entrega dos cabazes foi cedido pela Camara Municipal de Moura,

sendo assente o mercado municipal!

O horário previsto para a entrega dos cabazes às nas Sexta-feiras, das 18h as 19h, estando já

inscritos 25 consumidores!

Depois meses de trabalho e de algumas formações com um grupo pequenos/as agricultores/as

do concelho de Moura, o dia 11 de Agosto de 2012, assinalou a comercialização oficial do

Cabaz PROVE na cidade de Salúquia. Esta é mais uma iniciativa promovida pela Associação

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 145

para o Desenvolvimento do Concelho de Moura (ADCMoura), que se crê de grande utilidade e

interesse comunitário.

A cerimónia de apresentação, como previsto, decorreu em Moura, no dia 11 de Maio, a entrega

simbólica dos primeiros quatro cabazes PROVE, uma iniciativa promovida pela ADCMoura,

com o acompanhamento da ADREPES, e incluída no programa da XII edição da Olivomoura,

sendo também a principal ação de divulgação. No fecho do certame foram recolhidas mais

doze inscrições de consumidores, o que significa que se atingiu metade do número mínimo de

aderentes para tornar possível esta nova forma de comercialização em Moura, que,

esperamos, se traduza num significativo contributo para a economia de proximidade e o

desenvolvimento local.

Estão previstos também folhetos específicos e publicidade com periodicidade de 15 dias nos

media locais impressos (espaço regular da ADC/Moura) e radiofónica.

O apoio institucional chegou da Caixa de Credito Agrícola (na realização da Feira de Maio),

embora tenham contatado várias Câmaras Municipais para apoiar a iniciativa (Serpa, Mourão,

Portel e Vidigueira), registando-se a maior receptividade da parte da Vila de Amareleja, para

criação de núcleo e da Câmara Municipal de Moura.

Caso haja o aparecimento de outros núcleos na região de intervenção da GAL ADC/Moura,

não haverá apoio no transporte.

Posteriormente, no âmbito da XXXII Feira do Artesanato de Moura / III Mostra de Aromas e

Sabores, o Núcleo PROVE, com a colaboração da Câmara Municipal de Moura, agendou uma

entrega de Cabazes demonstrativa para o dia 14 de Setembro, às 18h00, no Pavilhão nº2. A

iniciativa integrou o programa do certame, sendo entendida pela gestão do Núcleo como uma

excelente ocasião para divulgar os objetivos deste projeto e as vantagens que o comércio de

proximidade, fundeado em práticas tradicionais amigas do ambiente, tem para a para a

economia da região.

Os critérios elegíveis pela ADC/Moura para ser um produtor PROVE foram essencialmente:

− Explorações com área limite de 3 ha;

− Modo de produção tradicional, não necessariamente com certificação biológica;

− Aceitar acompanhamento técnico ao nível da produção, por parte da Direção Regional

de Agricultura do Alentejo (DRAPAL), apenas para garantir a qualidade do produto e

um modo de produção aproximado do Biológico;

Cada cabaz entregue continha os seguintes produtos agrícolas da região, acabados de colher:

molho de beldroegas, favas, ervilhas, laranjas, molho de coentros, molho de nabiças, cebolas,

tomates, alface, molho de espargos do campo e embalagem de azeitonas aromatizadas com

oregãos e cascas de laranja.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 146

O Núcleo PROVE local é formado pela Empresa Agrícola – Manuel Fernando Paulino (Moura)

e pela Trilhos Verdes Unipessoal, Lda. (Sobral da Adiça). Estas duas microempresas garantem

o fornecimento de excelentes produtos hortofrutícolas nos cabazes, sempre atentas os

requisitos de higiene e segurança alimentar. A actividade agrícola de ambas está sustentada

em práticas amigas do ambiente, sendo que uma delas está certificada em modo de produção

biológico.

Dado o preço justo, a quantidade, a diversidade e a qualidade dos produtos comercializados, a

Gestão do Núcleo tem registado quase diariamente novas adesões e manifestações de

interesse de potenciais consumidores/as do PROVE.

8.4.2 - Entrevista ao produtor de Moura senhor Manuel Fernando Paulino (Pouco mais de 40 anos):

Foi contatado pela ADC/Moura para participar no Programa, tendo logo disponibilizado a sua

vontade de participar para diversificar a comercialização de produtos e angariar consumidores

locais, para além das 3 empresas para onde escoa o seu produto.

Na sua exploração pratica-se a agricultura tradicional, com técnicas geracionais, incluindo em

meio hectare com 2 estufas, onde utiliza fertilizantes e estrume exclusivamente naturais,

aplicando apenas produtos químicos nas desinfecções de Borboleta do tomate e nos ataques

de Oídio e Mídio.

Produz principalmente hortaliças e legumes (ex: azeitonas em frasco; agriões em açude com

agua corrente semeados em Agosto/Setembro; tomate; melancia; meloa; damasco; ameixa;

etc), sem programação.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 147

8.5 - GAL - Associação de Desenvolvimento do Alentejo Central (MONTE ACE), Arraiolos: O lema deste Grupo de Ação Local (GAL) é cooperação para o desenvolvimento.

Os domínios da Boa Governação, o Reforço de Competências Organizativas e o

Desenvolvimento Sustentável estruturam a intervenção do MONTE ACE na área da

Cooperação para o Desenvolvimento, como instrumentos de combate à pobreza e, de modo

geral, à concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, junto das comunidades

mais carenciadas.

Desde o início da sua atuação o MONTE ACE privilegia o desenvolvimento de um trabalho em

parceria, com entidades publicas e privadas, com vista a promover um desenvolvimento

sustentado e apropriado pelas e com as comunidades locais. A Cooperação para o

Desenvolvimento constitui uma intervenção específica e consolidada, no contexto das várias

intervenções em realização pelo MONTE ACE.

A intervenção como Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD)

ampliou o âmbito de atuação do MONTE ACE e permitiu a participação em plataformas e redes

alargadas de parceiros, ao nível da Cooperação para o Desenvolvimento, reforçando

competências internas, no sentido de melhor responder aos desafios que se colocam ao (des)

envolvimento global dos povos.

O Centro de Recursos para o Desenvolvimento Rural – CRDR, é um dos instrumentos criados

pelo MONTE ACE para apoio à atividade de Cooperação para o Desenvolvimento, com a

finalidade última de reforçar competências dos diferentes atores das comunidades,

intervenientes chave na área da cooperação para o desenvolvimento, com vista a melhorar as

intervenções e construir novas oportunidades de desenvolvimento nos territórios.

8.5.1 – Coordenadora do Projeto PROVE na GAL MONTE – ACE Paula Santos:

A entrevistada Paula Santos tem formação na Licenciatura em Relações Internacionais, sendo

responsável pelas áreas da educação, qualificação, formação profissional, qualidade,

voluntariado e responsabilidade social no GAL MONTE ACE, colaborando desde 2009.

O Grupo de Ação Local (GAL), Associação de Desenvolvimento do Alentejo Central (MONTE –

ACE), foi um dos 8 GAL´s a associár-se ao arranque do Projeto PROVE em Portugal, em 2008

Inicialmente houve pouca adesão e dificuldade em arranjar produtores, embora agora haja

mais adesão, mas apenas são integrados no Núcleo se trouxerem a mais valía de produtos

novos aos cabazes. Na divulgação do programa PROVE em Montemor-o-Novo utilizaram-se

convites diretos as entidades de decisão local (Juntas de Freguesia e Câmara Municipal), à

Unidade de Saúde familiar e a outros Centros de Saúde (sendo inovador na abordagem ao

lado natural e da qualidade dos produtos do Projeto PROVE).

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 148

A divulgação em Évora, realizou-se através do apoio da Câmara Municipal de Évora que

disponibilizou dois espaços de entrega e provas/divulgação, além da Agenda Cultural e meios

de comunicação locais (ex: Diário do Sul, rádios DIANA e TELEFONIA do Alentejo), site da

MONTE ACE, sites da Minha Terra (Federação Nacional das Associações de Desenvolvimento

Regional) e da Rede Rural (dinamizado pela Minha Terra). Foram realizadas ainda três

sessões de divulgação: uma na Confraria dos Gastronómicos, uma no Hospital de Évora, outra

na CCDR Alentejo, uma no Hotel do Espinheiro e finalmente no Jardim Passos Manoel, todas

elas na cidade de Évora.

Os únicos critérios para ser produtor PROVE na zona de influência da GAL MONTE ACE são:

− não há limite de área para ser produção PROVE;

− praticar agricultura tradicional, não necessariamente biológica certificada;

− produtor em regime individual ou familiar.

O Cabaz do Hortelão tem vindo a conquistar cada vez mais consumidores, pela sua qualidade.

O primeiro local para distribuição dos cabazes foi na Junta de Freguesia de N.ª Sr.ª da Vila, em

Montemor-o-Novo, mas devido ao interesse dos consumidores, a distribuição dos cabazes

alargou a outros concelhos como os de Arraiolos e Évora. A distribuição é feita pelos

produtores, que para além da entrega dos cabazes nos locais de referência, ainda fazem

entregas em residências, o que permite uma maior proximidade entre consumidores e

produtores, o que torna um êxito, por ser esse o objetivo do Projeto Prove.

Quadro n.º 17 – Informação dos Núcleos PROVE na zona de influência do GAL Monte – ACE:

Núcleo de

Produtores Localidade

Local de entrega dos

cabazes

Dia da

semana Hora

Peso dos

Cabazes

Preço dos

Cabazes

Montemor o

Novo

Arraiolos Instalações da Monte-

ACE

Sexta-feira 17h e 15m às

18h

5 a 7 kg 9 euros

Montemor o

Novo

Évora PITE – Parque Industrial

Tecnológico *

Quarta-feira 16h e 30m às

17h e 15 m

5 a 7 kgs 9 euros

Montemor o

Novo

Évora Junto ao Centro de

Formação Professional

(Horta das Figueiras)*

Quarta-feira

e Sexta-feira

16h e 15m às

17h e 15m

5 a 7 kgs 9 euros

Montemor o

Novo

Montemor

o Novo

Ao Domicílio em Évora e

Montemor

Segunda-

feira

20h às 21h 5 a 7 kgs 10 euros

Évora Évora Espaço IROMA (Horta

das Figueiras)

Quinta-feira 17h e 30m às

18h e 30 m

5 a 7 kgs 9 euros

* Distribuição alternada semanalmente, entre os dois lugares.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 149

A iniciativa de alargar a entrega dos cabazes por outros concelhos, tem partido dos

consumidores, e da divulgação que é feita pelos mesmos. A adesão tem caminhado a passos

largos.

Quadro n.º 18 - Dados atualizados, a 21 de Março 2012, dos números de consumidores e

cabazes

Núcleo Consumidores N.º Cabazes

Mensais Local de Entrega

Évora 59 144 IROMA

Montemor-o-Novo 109 227 Domicílio clientes – Évora / Montemor

Junta Freguesia de Montemor

Arraiolos – sede do Gal – Monte ACE

Total 168 371

Em Montemor-o-Novo a maioria dos agricultores do PROVE, complementam o escoamento do

PROVE com venda no mercado. Foi adquirida uma carrinha, a título pessoal, para distribuir ao

domicílio (Évora e Montemor), sendo a entrega feita na Segunda-feira, em regime semanal ou

de 15 em 15 dias. Existe ainda a particularidade de um agricultor ser exclusivo na produção de

fruta para os cabazes, sendo o núcleo formado por três produtores. Inicialmente o preço dos

cabazes distribuídos ao domicílio eram 9 euros, mas atualmente são 10 euros.

Devido ao aumento do número de consumidores e a boa relação com os produtores, foi criado

o núcleo de Produtores do Cabaz do Hortelão de Évora, tendo sido o seu lançamento a 23 de

Setembro no Espaço Ambiente do Jardim Público situado naquela cidade.

A organização deste núcleo era um objetivo desde há muito desejado pela MONTE ACE para a

dinamização do Cabaz do Hortelão na Cidade de Évora, indo ao encontro da vontade

manifestada por várias dezenas de consumidores em aderir a esta nova forma de

comercialização direta.

Em Évora existem dois produtores que escoam o produto exclusivamente para o PROVE e três

produtores que partilham o escoamento no PROVE com outras formas (grandes superfícies,

inclusive). A entrega dos cabazes é realizada às Sextas-feiras.

O contacto direto entre produtores e consumidores permite a partilha de um conjunto de

informações sobre os métodos de produção e os cuidados ao nível da protecção do ambiente,

as variedades regionais, a qualidade dos produtos, as dificuldades decorrentes durante a

produção, os desejos e as motivações dos clientes, entre outros.

O Núcleo agora constituído baseia-se na produção de 5 pequenos agricultores das designadas

hortas de Évora, tendo alguns destes agricultores manifestado a vontade em abrir as suas

quintas aos consumidores e alargar esta relação de confiança que se pretende desenvolver

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 150

entre estes dois grupos de agentes. Os cabazes do núcleo de Montemor-o-Novo, os que são

entregues em Arraiolos, assim como os de Évora pesam ambos entre 5 a 7 kg, tendo o

primeiro um custo de 10€ (Montemor o Novo) e o segundo e terceiros (Évora) o custo de 9€,

contendo frutas e legumes da época, produzidos e seleccionados pelos próprios produtores.

Esperamos o aumento do número de inscrições de consumo, bem como, de produtores

aderentes à iniciativa neste concelho.

O responsável da Liga dos Pequenos e Médios Agricultores de Montemor-o-Novo, assim como

do Núcleo PROVE em Montemor o Novo, é o Engenheiro Alexandre Pirata.

8.5.2 - Entrevista com o Agricultor João Andrade Santos (Núcleo de Évora):

O produtor João Santos (50 anos) é militar reformado da Marinha, cuja área de produção tem

300 metros quadrados, embora haja intenções de aumentar no futuro. O fertilizante natural, à

base de estrume de cavalo, foi comprado à Guarda Nacional Republicana, sendo aplicado em

produtos hortícolas como batata, cebola, couve, alface, nabo, alho, tomate, etc. Na propriedade

existem ainda muitas árvores de fruto com sejam oliveiras centenárias, figueiras, etc. São

realizados workshops de Permacultura regulares nesta propriedade, gentilmente cedida pela

proprietária a várias associações (ex: Círculos da Transformação de Évora).

Os cabazes inicialmente entregues no espaço do IROMA, em Évora, pesavam 9 kgs!

Além do projeto PROVE, este produtor escoa produtos no mercado tradicional semanal junto

ao Mercado de Évora, por venda direta e auto-consumo.

A inscrição é feita através de uma folha com os dados do consumidor e os produtos que este

não deseja receber (como é norma em todo os Núcleos do País) sendo as encomendas por

sms e por e-mail até Quinta-feira. Entre os produtores enviam sms até Segunda-feira para

referirem os produtos que fazem falta!

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8.6 - GAL: Associação para o Desenvolvimento em Espaço Rural do Norte Alentejano (ADER – AL) de Portalegre: A ADER-AL, Associação para o Desenvolvimento em Espaço Rural do Norte Alentejano foi

fundada a 26 de Julho de 1996, regida por estatutos próprios, no Cartório Notarial de Nisa com

o desígnio de promover e desenvolver um conjunto de ações dinamizadoras no espaço rural do

Norte Alentejano.

Na definição da sua Estratégia Local de Desenvolvimento, a ADER-AL definiu os seguintes

objetivos estratégicos: estimular a estruturação gradual de uma fileira de actividades de gestão

e conservação do meio ambiente, e a produção e utilização de energias renováveis; qualificar e

promover a fileira das produções agro-alimentares do Norte Alentejo; valorizar os recursos

turísticos do património rural natural; melhorar os níveis de integração entre os territórios rurais

e os centros urbanos de proximidade; melhorar a eficácia dos instrumentos de gestão e

cooperação.

Para alcançar estes objetivos, apostou numa política de desenvolvimento que vise: o

aproveitamento económico dos recursos geotermais; o investimento experimental e de

exploração económica de energias alternativas; a melhoria das condições produtivas e a

criação de novas unidades de fabrico artesanal e semi-artesanal; o investimento com vista à

redução de impactos negativos sobre o ambiente; a aposta em projetos no domínio da

inovação produtiva, tecnológica e organizacional das produções agro-alimentares tradicionais;

a constituição de microempresas de prestação de serviços em meio rural; o desenvolvimento

de projetos de turismo em espaço rural que integrem a oferta de alojamento com a

recuperação/vivificação de património rural; a organização e programação de eventos culturais

e económicos de suporte à valorização e promoção do território do Norte Alentejo,

nomeadamente, dos seus produtos e da sua oferta turística; a instalação de serviços básicos

de apoio à população, a funcionar em rede, direccionados para a satisfação e melhoria das

necessidades e qualidade de vida das pessoas.

8.6.1 - Entrevista com a coordenadora local do PROVE: Marta Zagalo

Pretende-se produzir produtos sem certificação biológica, através da produção tradicional local,

no máximo, de 3 a 4 produtores (2 deles com outras formas de escoamento), num universo de

50 consumidores. O preço dos cabazes será 10 euros.

Os critérios utilizados para ser um produtor PROVE Local são:

− ter uma área de produção com até 2 ha;

− não sendo obrigatoriamente produtores certificados de Agricultura Biológica;

− terão de utilizar fertilizantes de origem animal;

− auto-suficiente em água;,

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 152

Portanto a ADER - AL reuniu com os produtores na sua sede, estando presente também o

Engenheiro José Diogo da ADREPES para dar formação sobre o projeto. Pretende-se que o

núcleo seja autónomo onde os produtores decidem tudo semanalmente (respetivo produto do

cabaz, inclusivé), fortalecendo o cooperativismo, produzindo produtos da época (sendo

realçados a batata, cenoura, fruta, aromáticas, vegetais para sopa, etc). A entrega será feita

num local fixo, provavelmente na Terça-feira ou Quarta-feira, em horário pós-laboral.

Previa-se que entrasse em funcionamento em Maio de 2012, sendo também posta a hipótese

futura da criação de núcleos em Elvas, Campo Maior e Ponte de Sor.

8.6.2 - Entrevista com a produtora PROVE em Portalegre: Cidália Santos!

Esta produtora tem uma exploração em modo de produção tradicional, de 1000 metros

quadrados, apenas com culturas hortícolas. A fertilização da sua produção é realizada à base

de adubos animais naturais e alguns adubos sintéticos comprados.

O escoamento dos seus produtos faz-se principalmente através de outros setores de mercado

como leilões, venda direta e auto-consumo.

Embora estando optimista com a implementação do projeto PROVE em Portalegre, não se

manifesta quanto a expectativas, realçando o óptimo e bastante saudável conceito, sendo a

sensibilidade junto dos consumidores muito positiva, não havendo sequer abordagens

negativas por parte dos mesmos.

Para a implementação do núcleo Prove em Portalegre, salienta ser necessário um marketing

forte, dando por ordem crescente de importância as seguinres soluções: redes sociais, jornais

locais, rádios regionais e o “passa palavra”.

Quanto às potencialidades da expansão do projeto a outras cidades da zona de influência da

Associação de Desenvolvimento em Espaço Rural do Norte Alentejano (Ader-Al), não acha

funcional porque o próprio núcleo de Portalegre ainda não começou a funcionar, embora em

fase de andamento, sem ter portanto capacidade de dar esse feedback.

Nota: Segundo as últimas notícias este núcleo ainda está inativo.

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 153

8.7 - BEJA – GAL Alentejo XXI (Associação de Desenvolvimento Integrado do Meio Rural): A Alentejo XXI foi criada em 10 de Janeiro de 1995 com o propósito de intervir no domínio do

desenvolvimento Integrado do Meio Rural. É uma Entidade sem fins lucrativos.

Tem como objetivos a promoção e o apoio à criação de iniciativas. Visa o desenvolvimento

integrado do Meio Rural em articulação com os centros urbanos. Encontra-se consubstanciada

numa parceria local alargada, de natureza interinstitucional. Construída para promover

iniciativas e ações de desenvolvimento local, num esforço de aproveitamento de oportunidades

e recursos presentes na zona de intervenção.

8.7.1. - Coordenador do Projeto Prove na GAL Alentejo XXI - José Nobre (Sociólogo):

O Projeto PROVE é uma das iniciativas da Alentejo XXI, que

convocou 11/12 mediadores para a “missão” ou função de

abordar as pessoas particulares, a Câmara de Beja (apoio

logístico), a Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas

do Alqueva - EDIA (monitorização técnica), a Câmara

Municipal da Vidigueira (apoio logístico e criação de novo

núcleo dando apoio a Cuba), os consumidores, os

produtores, a Escola Superior Agrária de Beja - ESAB

(apoio técnico-científico e produção no Centro

Hortofrutícola).

Figura  n.º  9    -­‐  Entrada  da  sede  do  PROVE  em  Beja  

O ponto de entrega dos cabazes em Beja é no espaço referente às figuras 9 e 10, sito no

antigo Estádio Municipal Dr. Flávio Santos.

Critérios para a Agricultura Tradicional no

Núcleo PROVE em Beja:

Em Beja, é exigido um produtor com produção já

efetiva em produtos frutícolas e hortícolas de

época, com a área de 1 ou 2 ha, mesmo

aderente a outros canais de escoamento.

 Já existe a pré-adesão na página eletrónica do

GAL Alentejo XXI, esperando-se entre 50 e 100

consumidores, sendo o limite mínimo para

arrancar são 20 a 30 consumidores.                                                                                                                        

A divulgação foi realizada através dos meios de comunicação locais, uma demonstração na

Ovibeja 2012 com o chamado teste dos Cabazes (provas pelos consumidores de 10 a 12

Figura  nº  10    -­‐  Ponto  de  entrega  PROVE  em  Beja  

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 154

cabazes com produtos diferentes, com três painéis distintos nas gerações

(filhos/netos…pais…avos).

Há a expectativa da constituição de 2 núcleos distintos para comparar os procedimentos e

assim melhorar os métodos, sendo o preço dos cabazes pensado em 10 euros!

O procedimento utilizado será: na Segunda-feira os produtores transmitem os produtos que

têm, para na Quarta-feira seguinte terem a informação compilada e na Sexta-feira ou Sábado

serem distribuídos aos consumidores. As reuniões entre os produtores são marcadas

periodicamente de acordo com as necessidades

O objetivo principal será tornar a iniciativa autónoma e independente do GAL Alentejo XXI,

gerida apenas por produtores, tendo sido reunidos inicialmente 7/8 produtores e cerca de 11/12

mediadores (como foi referido no início deste capítulo).

8.7.2 – Descrição das produções do Núcleo PROVE em Beja:

O produtor mais jovem do Núcleo de Beja é o senhor Luís Lampreia, proprietário da Quinta da

Facaia, junto à Quinta do Alcoforado (Beja), sócio da Agrobio e adepto da Agricultura Biológica,

no entanto sem certificação por

alegadamente constituir um custo

acrescido.

Na sua quinta de 3 ha, com solo

constituído maioritariamente pelos

característicos Barros de Beja (solo

agrícola de classe A), produz 1,5

hectares de cevada dística e uma

grande quantidade de produtos

hortícolas dividida em vários talhões

(ex: morangos, bróculos,

Figura nº 11 - Propriedade do senhor Luís Lampreia batata-roxa, favas, feijão, couve-

lombarda, tomate, pimentos, abóboras, alhos, etc) na outra metade do terreno. Esta metade de

terreno é composta ainda por várias árvores de fruto (laranjeiras, nogueiras, ameixoeiras,

figueiras, oliveiras, romanzeiras, pereiras, nespereiras). Todos estes produtos são regados por

uma Nora com poço antigo composta por várias levadas (património rural construído)

capacitada com uma grande quantidade de água (mesmo em anos de seca, até à data, ainda

não secou). A rega é maioritariamente pelo procedimento de rega gota-a-gota.

Para ajudar no maneio da terra (expressão utilizada pelo senhor Luís Lampreia) tem o auxílio

de uma motocultivdora. A utilização do fitofármaco “Decis” para combater as lagartas é feita

quando necessário, usualmente no inicío de Setembro. Segundo o mesmo, além de ser um

produtor PROVE, habitualmente o produto é escoado para o Intermarché local, de forma

avulsa.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 155

O senhor Luís Pinheiro, tem 39 anos e é jardineiro na Câmara Municipal de Beja e agricultor

nos tempos livres desde Março de 2012. Explora uma propriedade de aproximadamente 3,2 ha

que margina a Norte com um Olival Intensivo de um proprietário espanhol, sendo comum as

pulverizações de tratamentos no olival

írem parar ao seu terreno. A sua

propriedade é maioritariamente terra

limpa, embora seja composta por

dezenas de oliveiras. A sua produção

é baseada apenas em hortícolas

(alfaces, morangos, nabos, diversas

couve-lombarda, couve-flor, bróculos,

alho-francês, salsa, coentros, batatas,

tomate, bróculos, cebola, alho, poejos,

hortelã, cenouras, espinafres,

courgetes, pepinos, etc), sendo produtor assíduo, de forma avulsa, para o Intermarché de Beja,

para o supermercado Frescos em Beja, além do auto-consumo e venda própria. No futuro está

interessado em produzir hortelã-da-ribeira, clementinas, tangerinas, figos, diospires e uma nova

variedade espanhola de cebola/alho (parecido fisicamente com o alho, mas com sabor a

cebola), que aquando da entrada em funcionamento dos cabazes em Beja, será um produto

exclusivo deste Núcleo. Para lavrar o terreno utiliza uma motocultivadora emprestada.

Entre as práticas culturais usuais, destaca-se a cobertura do solo, através colocação do túnel

plástico. É executada, principalmente, para evitar o contato do fruto com o solo, de modo a

colher produtos livres de impurezas, que podem diminuir a qualidade e reduzir o período de

conservação pós-colheita. Essa prática também influencia a constância da temperatura no

solo, atuando como termorregulador. A cobertura evita a compactação do solo por causa da

precipitação ocasionada pela irrigação (quando é usado um sistema por aspersão) ou pela

chuva. A cobertura do solo tem ainda ação sobre as plantas invasoras, dispensando as

mondas manuais que causam danos às raízes superficiais da cultura, as quais são

responsáveis pela absorção de água e nutrientes.O material mais utilizado na cobertura do solo

é o plástico preto com espessura de 30 micras. Este tipo de cobertura apresenta algumas

vantagens sobre os outros:

− Cria um ambiente com baixa humidade relativa, diminuindo a incidência de fungos,

especialmente aqueles que ocasionam podridões;

− O índice de descarte de frutos é menor do que nas demais coberturas;

− Estimula a produção precoce de frutos e outras plantas hortícolas;

− A mão-de-obra de transporte e colocação é menor do que para outras opções de

cobertura;

Figura n.º 12 - Quinta do Sr. Luís Pinheiro

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 156

As desvantagens do uso do plástico são:

− Maior custo;

− Estimula o desenvolvimento de ácaros, devido à formação de microclima seco;

Na sua propriedade tem ainda um furo cartesiano que abastece de água, mesmo em anos de

seca, operando um sistema de rega baseado em 70 pulverizadores e rega gota-a-gota.

O adubo utilizado é sintético, embora haja vontade de utilizar adubo natural no futuro,

nomeadamente os resíduos de relva e grama do seu local de trabalho (jardineiro da Câmara

Municipal de Beja).

Segundo o proprietário, o maior problema fitossanitário é o controlo da grama, sendo efetuado

com fitofármacos. Além deste tratamento são efetuados mais tratamentos fitossanitários

quando sejam necessários (referiram ainda que na primeira visita de formação PROVE a um

proprietário da Adrepes, em Palmela, acharam estranho ser defendida uma agricultura

tradicional sem fitofármacos e observarem os troncos de árvores de fruto com uma côr atípica

devido a tratamentos fitossanitários indevidos temporalmente).

Outro produtor aderente é o senhor José Campos, através do seu pomar, sito na quinta de S.

Miguel, junto ao Parque de Máquinas

da Câmara Municipal de Beja, que

contribuirá com maioritariamente uma

grande diversidade de frutos para os

futuros cabazes, como sejam por

exemplo: figos, diospiros, laranjas,

ameixas, azeitonas, maçãs,

clementinas, cerejas, pêssegos,

pinhão, limões, uvas, nozes, etc.

Figura n.º 13 - Pomar da Quinta de São Miguel

8.7.3 - Produtor PROVE em Beja: Senhor Leonel Silveira da Silva:

O senhor Leonel (62 anos) é reformado da PSP, tendo desempenhado funções na Junta de

Freguesia de Nossa Senhora das Neves e Associação de Caçadores e Pescadores das Neves.

Teve informação do projeto PROVE através de uma conversa com o senhor José Nobre

(Alentejo XXI) que foi ter com os produtores.

Apenas vende na Banca do Mercado, além de ser um dos produtores PROVE, de Beja.

Comprou recentemente uma carrinha frigorífica (1300 kg de capacidade) para na eventualidade

de não haver local fixo se poder entregar porta a porta.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 157

Consiste numa produção tradicional com 1350 metros quadrados de área, sendo o mais

biológico possível (embora aplique alguns fitofármacos em caso de pragas com alguma

dimensão. Apoio técnico de um engenheiro da Cooperativa Agrícola de Beja. O estrume

utilizado é de origem natural (ovelha), acresentando o regular apoio dado pelos seus 250

pombos, dezenas de galinha e patos dão, sem contar com as dezenas de aves que sobrevoam

regularmente a sua quinta (ex: rola-turca, pega-rabuda, chapim-azul, chapim-real, garça-

boieira, mocho-galego, Alcaravão-comum, etc). O preço dos cabazes acordado será de 10

euros. A sua produção situa-se no Monte do Conde (Freguesia das Neves).

A sua produção é a que está inserida na maior área vai desde produtos hortícolas até a frutas

como sejam figos, laranjas, diospiros, ameixas, limões, etc.

Pequena nota empírica do senhor Leonel Silva para verificar se a Alface ainda se encontra

fresca é deitar vinagre para cima.

No âmbito do projeto PROVE, teve direito a formação em visitas a quintas em Sesimbra e na

Quinta do Conde, cedidas pela ADREPES.

8.7.4 – Descrição histórica da Escola Superior Agrária de Beja como produtora coletiva do Núcleo PROVE em Beja:

A ESAB integra o Instituto Politécnico de Beja, conjuntamente com a Escola Superior de

Educação (ESEB) e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão(ESTIG). Desde a sua criação, a

ESAB esteve vocacionada prioritariamente para ministrar Cursos de Ensino Superior de três

anos, conferindo aos que os frequentam, o grau Bacharel. No entanto a partir de 1999/2000

passaram a ser ministrados nesta Escola cursos de licenciatura bietápica. A ESAB passou a

poder conferir para além do grau de Bacharel também o grau de Licenciado.

A ESAB começou a sua actividade em 1986/87 em regime de instalação com os cursos de

Produção Animal e Produção Agrícola. No ano lectivo de 1989/90 iniciaram-se os cursos de

Tecnologia das Industrias Agro-Alimentares e de Gestão.

Em 1991/92 foi criado o Curso de Estudos Superiores Especializados (CESE) em Técnicas de

Regadio e Gestão da Água de Rega, cuja entrada em funcionamento ficou dependente, entre

outros factores, da existência de uma exploração agrícola de regadio para apoio às aulas

prácticas.

Com a criação da ESTIG o curso de Gestão passou a funcionar nesta Escola Superior desde o

ano lectivo de 1995/96. Foi também em 1995/96 que entrou em vigor a 1ª reestruturação dos

cursos da ESAB.

Em 1999, para dar resposta às alterações introduzidas pela Lei 115/97, de 19 de Setembro, na

lei de Bases do Sistema Educativo, foi apresentada ao Ministério da Educação e aprovada uma

proposta de reestruturação dos cursos da ESAB. A ESAB passou a conferir, para além do grau

de Bacharel, o grau de Licenciado, adoptando para todos os novos cursos o modelo bi-etápico.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 158

Para além do Ensino, considerado prioritário, a ESAB desenvolve outras actividades:

− Investigação, Desenvolvimento Experimental e Demonstração, fundamentalmente no

domínio das Ciências Agrárias;

− Apoio à comunidade (laboratorial e consultadoria, etc.).

Estas actividades são desenvolvidas pela ESAB individualmente ou em colaboração com

outras Instituições de Ensino, de Investigação ou de Apoio à Comunidade. São levadas a cabo

por docentes, funcionários e técnicos em serviço na ESAB muitas vezes com a participação

dos alunos, particularmente durante a realização do seu Estágio/Trabalho de Fim de Curso.

Estas ações são essenciais para a formação do corpo docente, para a qualidade do ensino e

para a integração da Escola na realidade empresarial a que se destinam os técnicos por ela

formados.

Com a aprovação dos Estatutos do IPB em 1995, terminou o regime de instalação deste

Instituto Politécnico. Em consequência foi eleita a primeira Presidência do IPB e

posteriormente, em 1996 foi eleito por um período de três anos o primeiro Conselho Directivo

da ESAB, o Conselho Científico passou a ter nova constituição de acordo com os Estatutos do

IPB e foi criado o Conselho Pedagógico.

A ESAB funciona em vários pólos, na Cidade de Beja no edifício central: Serviços Centrais,

laboratórios, gabinetes de docentes e bar; no centro de produção também para o projeto

PROVE, a "Quinta da Saúde" (protocolo de utilização), a cerca de 1 km de Beja na estrada

para Évora: área agrícola destinada essencialmente a culturas arvense, a cultura

hortofrutícolas e ainda à actividade pecuária; assim como no "Centro Experimental" (protocolo

de utilização), a cerca de 1 km de Beja na estrada para Serpa: parque de máquinas e centro de

apoio à exploração agrícola, salas de aulas e gabinetes de docentes; na Herdade da

Almocreva (cedência de exploração), com 150 ha, a cerca de 7 km de Beja em que se baseia

na exploração agrícola de sequeiro localizada entre a

povoação do Penedo Gordo, vocacionada

essencialmente para a produção vegetal; na Herdade

das Rascas (cedências de exploração), com 150 ha, a

cerca de 7 km de Beja, sendo uma exploração agro-

pecuária de sequeiro localizada entre a povoação do

Penedo Gordo e a Boavista vocacionada

essencialmente para a produção animal extensiva.

Figura  n.º  15    -­‐  Centro  Hortofrutícola  da  ESAB  

O Campus do IPB ocupa uma área de cerca de 7 ha, na cidade de Beja. Neste local encontra-

se já em funcionamento a ESEB, os Serviços Comuns do IPB (Biblioteca, Bar, Cantina,

Auditório e Serviços de Ação Social), e parte das instalações provisórias da ESAB

("Pavilhões"). No ano lectivo 1999/2000 a ESAB deixou de ocupar as instalações da Praceta

Rainha D. Leonor, as quais foram cedidas a título provisório.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 159

8.8 – GAL Associação para ao Desenvolvimento da Península de Setúbal (Adrepes): A ADREPES é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos, que tem como objectivo

a promoção e a realização do desenvolvimento rural na Península de Setúbal.

Foi fundada em 27 de Novembro de 2001 por um conjunto de onze entidades, públicas e

privadas, representativas das populações e dos produtores locais, que se constituíram em

Grupo de Ação Local (GAL) e simultaneamente também em núcleo fundador da ADREPES -

Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal.

A sua actividade tem decorrido no âmbito de diversos programas comunitários, merecendo

destaque o EQUAL e o Leader +.

Em Outubro de 2008, com a aprovação da sua Estratégia Local de Desenvolvimento, foi-lhe

atribuída a gestão do Eixo 3 do PRODER na Península de Setúbal.

Os objetivos específicos da ADREPES são: Promover a qualidade de vida do território - apoiar

um conjunto de ações inovadoras capazes de assegurar o desenvolvimento rural local e a

melhoria da qualidade de vida das populações da zona de intervenção; Reforçar a

competitividade do tecido empresarial - apoiar a criação de estruturas produtivas de suporte ao

desenvolvimento da actividade económica na Zona de Intervenção; Valorizar o património

ambiental - apoiar a concretização de ações que possibilitem o usufruto sustentável dos

espaços naturais; Preservar a identidade cultural do território - apoiar um conjunto de ações

com o objectivo de perpetuar e enriquecer as realidades sociais e culturais específicas das

zonas rurais; Reforçar as competências - apoiar ações e iniciativas de promoção e reforço das

componentes organizativas e das competências do território da Zona de Intervenção.

Enquanto que os objetivos operacionais da mesma são: Aumento do valor acrescentado das

produções rurais; Desenvolvimento da cadeia de valor das produções e serviços da zona de

intervenção; Estruturação de circuitos/redes e operadores para a comercialização de produtos

e serviços locais; Criação de redes de serviços técnicos de apoio aos produtores diretos e ao

movimento associativo, tornando acessível a informação relativa a oportunidades económicas

e fontes de financiamento; Criação de novos postos de trabalho; Criação de novos espaços de

lazer; Qualificação dos recursos humanos; Consciência ambiental acrescida.

8.8.1 - Entrevista com o Coordenador Nacional do PROVE da Adrepes, José Diogo:

A história resumida do PROVE inicia-se devido a criar um mercado de proximidade, como

aconteceu no primeiro caso a nível mundial, nos anos de 1960, no Japão, devido a doenças

provocadas nos consumidores provocadas por bactérias, surgindo o segundo caso nos

Estados Unidos (EUA), nos anos de 1980, também como resposta a doenças de origem

agrícola. O primeiro mercado de proximidade a nível europeu surgiu em França, com a

Association pour le Maintien d´une Agriculture Paysanne (AMAP), devido à doença das vacas

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 160

loucas. Espalhando-se por osmose cultural e mediática para Itália, Reino Unido, Suíça,

Finlândia, Bélgica , chegando até a Portugal com o PROVE.

As raízes do projeto PROVE datam de 2004, com a entrega do primeiro cabaz em 2006, na

região de Sesimbra/Palmela. Em 2008 associaram-se Montemor o Novo (GAL MONTE ACE) e

o Vale do Sousa (ADERSousa), através da iniciativa comunitária EQUAL. Culminando em

2009/2010 com a ADREPES (Palmela), o Vale do Sousa (ADERSousa), a Monte – ACE

(Montemor o Novo) e mais 5 novos parceiros locais. Em 2011 surgiram mais 8 parceiros locais.

Neste momento o PROVE desenvolve-se no âmbito da cooperação interterritorial do

Subprograma 3 do PRODER e conta com a participação de 16 Grupos de Ação Local, tendo o

apoio da Federação Minha Terra e a colaboração de algumas Instituições de Ensino Superior

Público (ISA,UTAD e UE), que decorrerá entre Novembro de 2012 (1.ª fase) e Novembro de

2013 (2.ª fase).

O desenvolvimento do projeto PROVE foi exponencial pois, em apenas 2 anos, conseguiram

criar 41 núcleos, muito aquém dos 20 núcleos previstos inicialmente, atingindo atualmente 50

núcleos PROVE, que envolvem cerca de 100 produtores agrícolas e respetivos agregados

familiares e 2000 consumidores, permitindo a comercialização de 12 toneladas de produtos

hortofrutícolas todas as semanas, nos 60 locais de entrega existentes, representando já um

volume de negócios superior a 800.000 euros/ano correspondendo a cerca de 600 euros de

receita média mensal por família.

Com vocação inicial e primacial para zonas Periurbanas, sendo o perímetro limite de 50 km´s

máximo da influência de cada núcleo abastecedor PROVE, por razões de logística e custos

associados (gasóleo, transporte, disponibilidade do consumidor).

No futuro próximo está previsto uma Marca PROVE, as Rotas PROVE para possibilitar o

consumidor de encomendar Cabazes de uma forma eficiente e simplificada em todo o País,

assim como a diversificação das atividades produtivas e recreativas com a marca PROVE,

como forma de sustentabilizar e solidificar a Marca PROVE (além de facilitar o acesso aos

apoios comunitários). Será preparado o enquadramento jurídico da atividade PROVE na

legislação económica portuguesa e ao nível da segurança alimentar, não havendo derrogações

legais claras para esta forma de comercialização, estando em discussão entre a ADREPES e o

Gabinete de Planeamento e Politicas (GPAA) do Ministério da Agricultura.

Os princípios do projeto PROVE são:

− Garantir a qualidade dos Produtos;

− Cultivar a relação Produtor-Consumidor;

− Garantir o suficiente número e a diversidade de produtos e cabazes;

− Implementar a diversidade, o escoamento e a futura transformação dos produtos por

parte dos pequenos agricultores sem necessidade de apoios comunitários/…!

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 161

A divulgação inicial realizada pela ADREPES baseou-se em Eventos, reuniões com as GAL´s e

com os produtores, na Internet através de sites e newsletters, na Comunicação Social Nacional

e Regional, incluíndo na televisão.

Os parceiros do projeto são:

• a Federação Minha Terra – coordenação e informação nos Grupos de Intervenção

Local (GAL);

• a Universidade de Évora (professora coordenadora Pinto Correia);

• o Instituto Superior de Agronomia (ISA) e a Universidade de Trás – os – Montes e Alto

Douro (UTAD) (professora coordenadora do estudo de avaliação do programa inicial:

Isabel Rodrigo);

• Coordenador Geral: ADREPES (Engenheiro José Diogo)

8.8.2 - Produtor PROVE da Moita, Ana Marques:

A jovem produtora Ana Marques (30 anos) é licenciada em Agronomia e tem uma área de

produção familiar com 4 ha de estufas e 15 ha ao ar livre, onde pratica o rotativismo em pelo

menos 3 parcelas, situada em zona de várzea na Moita. O fertilizante utilizado é estrume de

origem natural (animal e vegetal) e a condução em todo o ciclo produtivo e no total da

propriedade, em modo de Proteção Integrada. A sua produção é escoada em mercados

abastecedores (esta entrevista foi realizada no Mercado de Santa Clara, junto à Feira da Ladra,

sendo um dos locais de entrega PROVE em Lisboa) e frutarias, além do PROVE.

O Núcleo PROVE da Moita iniciou a sua atividade a 25 de Setembro de 2009.

Em Fevereiro deste ano esta produtora da Moita passou a realizar entregas, também em

Lisboa às terças-feiras, das 17h30 às 19h30, no Mercado de Santa Clara, para além de Picoas,

Alvalade, em Lisboa.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 162

9 Considerações finais

9.1 - O projeto PROVE em números: O desenvolvimento do projeto PROVE foi exponencial pois em apenas 2 anos conseguiram

criar 41 núcleos, muito aquém dos 20 núcleos previstos inicialmente, atingindo atualmente 50

núcleos PROVE, que envolvem cerca de 100 produtores agrícolas e respetivos agregados

familiares e 2000 consumidores, permitindo a comercialização de 12 toneladas de produtos

hortofrutícolas todas as semanas, nos 60 locais de entrega existentes, representando já um

volume de negócios superior a 800.000 euros/ano correspondendo a cerca de 600 euros de

receita média mensal por família.

9.2 - O projeto PROVE – Vantagens para os agricultores: § Marca Registada e com reconhecimento no Mercado:

§ Apoio Técnico de um conjunto de entidades parceiras com competências diversas;

§ Ações de implementação da metodologia;

§ Formação e acompanhamento para implementação do processo;

§ Apoio fiscal e legal;

§ Intercâmbio de produtores e mediadores;

§ Conjunto de ferramentas para a implementação da metodologia;

§ Adesão à Rede de parceiros Prove.

9.3 - Os princípios do projeto PROVE são: § Garantir a qualidade dos Produtos;

§ Cultivar a relação Produtor-Consumidor;

§ Garantir o suficiente número e a diversidade de produtos e cabazes;

§ Implementar a diversidade, o escoamento e a futura transformação dos produtos por

parte dos pequenos agricultores sem necessidade de apoios comunitários/…!

9.4 - Reflexões para o futuro do projeto PROVE: § Venda de Cabazes de acordo com as Normas Comuns e Obrigatórias Aplicadas a

Frutas e Produtos Hortícolas pois acima dos 10 euros por cabaz, e obrigatório emitir

fatura e guia de transporte num raio maior do que os 50 kms (do produtor para o

consumidor). A ASAE afirma que para evitar a emissão de fatura os cabazes não

podem ultrapassar os 7 kg de peso (essa adaptação já existe), embora com as novas

normas fiscais, a fatura seja essencial.

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 163

§ Existem negociações entre a ADREPES e o Gabinete de Planeamento e Politicas do

Ministério da Agricultura (GPAA) para conseguir um acordo que promova a exceção e

a caracterização específica da marca PROVE, adotando-a como Lei.

§ Financiamento existente para a Implementação do projeto PROVE, garantido até final

de 2012.

§ Rotas PROVE para flexibilizar a encomenda de Cabazes PROVE em qualquer sitio do

País.

§ Adaptação do projeto PROVE a cidades com marcadas raízes rurais, ultrapassando

dificuldades de implementação.

§ Certificação PROVE – com selo Prove distintivo de qualidade para promoção do

produto! - Adoção imediata de uma certificação biológica como única forma de garantir

a qualidade e segurança alimentar que os consumidores PROVE merecem!

Numa sociedade cada vez mais informada, tecnologicamente mais avançada e com formação

mais generalizada, onde os valores dos seres vivos se pretendem mais iguais, transparentes e

sustentáveis é imperioso lutar e divulgar o desenvolvimento local através do impulso individual.

Unindo vários impulsos humanos, sob o catalisador da solidariedade, a sociedade tende a ser

mais justa, igualitária e comunitária. Apesar do conceito global estar cada vez mais reduzido à

iniciativa individual, apercebemo-nos que a mudança conjunta, mais equilibrada e sustentável,

advém da vontade cívica do individuo conjugando-se humanamente em vários pequenos

núcleos que formam um todo. À semelhança de um corpo humano equilibrado, pequenas

células sociais conjugam-se localmente para formar um aparente caos, que devido à facilidade

de informação e comunicação formam uma sociedade global quase unitária. A Agricultura, a

Biologia, a Cultura e a Economia juntam-se para determinar projetos presentes, que além de

pensarem na Sustentabilidade Futura, confluem em entidades locais num desenvolvimento

global e comunitário.

Assim se pode apresentar o Projeto PROVE, onde a tradição se conjuga com o biológico mais

avançado, onde o local sustentado se traduz num desenvolvimento global equilibrado, onde a

produção se une em laços culturais e afetivos ao consumo, havendo dessa forma intrínseca

uma troca económica justa, sustentável e Humana. A Sustentabilidade Económica finalmente

deu razão à Sustentabilidade Ambiental, sendo a Agricultura a base da gestão do Ecossistema

Global, cada vez mais próximo do Humano e cada vez mais próximo de um Todo. Promover e

Vender é apenas uma questão de PROVAR, demonstrando, às Comunidades Humanas

(científica, filosófica, social, teocrática, neocrática, tecnocrata, comunitária, segregadas, etc)

que afinal é fácil coexistirem todas as variáveis que a Ciência, a Cultura, a Economia, o

Ambiente e, no fundo a Humanidade necessitam.

Portanto………………………………………………………PROVE um Mundo Melhor!

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 164

Bibliografia:

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Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto

cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: BRITO, Daniela

de Oliveira. O ensino jurídico e uma visão holística de integridade. Conteúdo Jurídico, Brasilia-

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Material da Unidade Curricular Proteção Integrada I do Mestrado em Produção Integrada da

ESAB

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 174

Índice Agradecimentos ............................................................................................................................................ 1  

Resumo ......................................................................................................................................................... 3  

Abstract ......................................................................................................................................................... 5  

1 Introdução ................................................................................................................................................. 6  

1.1 A estratégia de intervenção a privilegiar na mobilização do potencial endógeno de

desenvolvimento ....................................................................................................................................... 7  

1.2. Financiamento do projeto PROVE ..................................................................................................... 7  

1.3 Conceptualização do Projeto PROVE ................................................................................................ 8  

2 Objetivos .................................................................................................................................................. 11  

3 Agricultura em Modo de Produção Convencional .................................................................................... 13  

3.1 Resumo Histórico da sua origem ...................................................................................................... 13  

3.2 Sustentabilidade da Agricultura Convencional ................................................................................. 14  

3.3 – O impacto sócio-ambiental da Agricultura Convencional: ............................................................. 18  

3.3.1 Adubos Químico/sintéticos: Constatações científicas do seu prejuízo sócio-ambiental .......... 20  

4 Agricultura em Modo de Produção Integrado ........................................................................................... 25  

4.1 Resumo histórico da Agricultura em Modo de Produção Integrado ................................................ 25  

4.3 International Organisation for Biological and Integrated Control of Noxious Animals and Plants

(OILB/WPRS) .......................................................................................................................................... 31  

4.4 O papel da OILB/WPRS na divulgação da Produção Integrada destina-se a 3 níveis de Orientações

técnicas ................................................................................................................................................... 31  

4.5 Princípios e objetivos da Agricultura em Modo de Produção Integrado ........................................... 32  

4.6 Critérios standard da Produção Integrada segundo a Comissão Europeia ...................................... 33  

4.8 Evolução da Proteção Integrada e Produção Integrada em Portugal .............................................. 36  

4.9 Normas de Produção Integrada em Portugal ................................................................................... 37  

4.10 Plano de Ação para a promoção da Biodiversidade na Agricultura, normalizada pela Comunidade

Europeia .................................................................................................................................................. 40  

4.10.1 A Estratégia de Biodiversidade da UE para 2020 .................................................................. 51  

4.10.2 META 1: PLENA APLICAÇÃO DAS DIRECTIVAS AVES E HABITATS ................................ 59  

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 175

4.10.3 META 2: MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO DOS ECOSSISTEMAS E SEUS SERVIÇOS 60  

4.10.4 Meta 3: MAIOR CONTRIBUIÇÃO DA AGRICULTURA E SILVICULTURA PARA A

MANUTENÇÃO E VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ................................................................... 61  

4.10.5 META 4: GARANTIA DA UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HALIÊUTICOS . 63  

4.10.6 META 5: COMBATE ÀS ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS .............................................. 64  

4.10.7 META 6: CONTRIBUIÇÃO PARA EVITAR A PERDA DE BIODIVERSIDADE GLOBAL ........ 64  

5 Agricultura em Modo de Produção Biológica ............................................................................................ 69  

5.1 Resumo histórico sobre a noção de Sustentabilidade ...................................................................... 69  

5.2 O conceito de Valor Sustentável – aplicação na Horticultura? ......................................................... 70  

5.4.1 Um movimento esotérico: a Antroposofia .................................................................................. 73  

5.4.2 O movimento por uma Agricultura Orgânica .............................................................................. 74  

5.4.3 O movimento para a Agricultura Orgânico – Biológica: ............................................................. 75  

5.5 Definição de Agricultura Biológica .................................................................................................... 75  

5.7 Objetivos da Agricultura Biológica ..................................................................................................... 78  

5.11 - A Agricultura Biológica em Portugal .............................................................................................. 86  

5.11.1 – Associações de Agricultura Biológica em Portugal ............................................................... 87  

5.11.2 – Organismo Regulador em Portugal ....................................................................................... 89  

5.11.3 – Dimensão e estrutura do mercado biológico em Portugal .................................................... 90  

5.12 – Conversão para Agricultura Biológica na Comunidade Europeia ................................................ 95  

5.12.1 – Proteção Fitossanitária em Agricultura Biológica .................................................................. 97  

5.12.2 – A conversão no caso específico da horticultura herbácea ................................................... 98  

5.12.3 - Os aspectos práticos da conversão mais importantes e que devem ser previstos no plano de

conversão ............................................................................................................................................ 99  

5.13 - Qualidade e segurança alimentar dos produtos de Agricultura Biológica ................................... 100  

5.14 - Vantagens da Agricultura Biológica na qualidade dos nutrientes principais ............................... 104  

5.15 – Desperdício Alimentar no Mundo ............................................................................................... 110  

5.15.1 – Desperdício alimentar em Portugal ......................................................................................... 113  

6 PROJETO PROVE ................................................................................................................................. 122  

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 176

6.1 - Estudo de caracterização e diversificação futura da produção PROVE – Universidade de Évora –

2012/05 ................................................................................................................................................. 122  

6.1.2 - Análise histórica da evolução dos circuitos de proximidade ................................................. 122  

6.1.3 - Exemplos Europeus de Circuitos de Proximidade ................................................................ 124  

6.1.4 - Critérios para a consolidação da identidade PROVE ............................................................ 125  

6.1.5 - Contributos para uma definição do conceito PROVE ........................................................... 126  

7 Material e Métodos dos Resultados ....................................................................................................... 128  

7.1 - Entrevista TIPO ............................................................................................................................ 129  

8 Apresentação e Discussão dos Resultados ........................................................................................... 130  

8.1 - GAL TAGUS (Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior) .................... 131  

8.1.1 - Núcleo PROVE de Abrantes - GAL TAGUS : Coordenadora Joana Maia ............................ 131  

8.1.2 - Produtor João Dias, Freguesia de Santa Margarida, Constância, Concelho de Abrantes ... 133  

8.2 - GAL - Charneca Ribatejana (Associação para a Promoção Rural da Charneca Ribatejana) ...... 134  

8.2.1 - Coordenador do Núcleo PROVE de Alpiarça: Joaquim José Agostinho do Nascimento ..... 134  

8.3 - Núcleo do Algarve - Grupo de Apoio Local (GAL) In Loco ........................................................... 137  

8.3.1 - Núcleos PROVE no Algarve .................................................................................................. 138  

8.3.2 - Entrevista com a Engenheira Ana Arsénio (coordenadora do projeto PROVE no Algarve) . 139  

8.3.3 - Produtor PROVE do Algarve: Carla Sofia Moreira Dias (43 anos) ...................................... 141  

8.4 – GAL - Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura, ADC Moura .................... 144  

8.4.1 - Coordenador do PROVE na ADC/Moura, José Neves ......................................................... 144  

8.4.2 - Entrevista ao produtor de Moura senhor Manuel Fernando Paulino (Pouco mais de 40 anos)

.......................................................................................................................................................... 146  

8.5 - GAL - Associação de Desenvolvimento do Alentejo Central (MONTE ACE), Arraiolos .............. 147  

8.6 - GAL: Associação para o Desenvolvimento em Espaço Rural do Norte Alentejano (ADER – AL) de

Portalegre ............................................................................................................................................. 151  

8.6.1 - Entrevista com a coordenadora local do PROVE: Marta Zagalo .......................................... 151  

8.6.2 - Entrevista com a produtora PROVE em Portalegre: Cidália Santos ..................................... 152  

8.7 - BEJA – GAL Alentejo XXI (Associação de Desenvolvimento Integrado do Meio Rural) .............. 153  

8.7.1. - Coordenador do Projeto Prove na GAL Alentejo XXI - José Nobre (Sociólogo) .................. 153  

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 177

8.7.2 – Descrição das produções do Núcleo PROVE em Beja ........................................................ 154  

8.7.3 - Produtor PROVE em Beja: Senhor Leonel Silveira da Silva ................................................. 156  

8.7.4 – Descrição histórica da Escola Superior Agrária de Beja como produtora coletiva do Núcleo

PROVE em Beja ............................................................................................................................... 157  

8.8 – GAL Associação para ao Desenvolvimento da Península de Setúbal (Adrepes) ........................ 159  

8.8.1 - Entrevista com o Coordenador Nacional do PROVE da Adrepes, José Diogo ..................... 159  

8.8.2 - Produtor PROVE da Moita, Ana Marques ............................................................................. 161  

9 Considerações finais ............................................................................................................................... 162  

9.1 - O projeto PROVE em números: .................................................................................................... 162  

9.2 - O projeto PROVE – Vantagens para os agricultores .................................................................... 162  

9.3 - Os princípios do projeto PROVE ................................................................................................... 162  

9.4 - Reflexões para o futuro do projeto PROVE .................................................................................. 162  

Bibliografia: ................................................................................................................................................ 164  

Webgrafia ................................................................................................................................................... 170  

Índice de Figuras ....................................................................................................................................... 178  

Índice de Quadros ...................................................................................................................................... 179  

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 178

Índice de Figuras

• Figura n.º 1 - Eng. Pedro Amaro (à esquerda) 39

• Figura n.º 2 - Logótipo da União Europeia para a Agricultura Biológica 54

• Figura n.º 3 - Crescimento da área plantada de alimentos orgânicos (em hectares) entre os anos

de 2000 e de 2006 – dados da IFOAM 56

• Figura n.º 4 - Área total orgânica (totalmente convertido e em conversão), 2008(ha), e

percentagens de mudanças entre 2007/2008 58

• Figura n.º 5 - Área total orgânica (totalmente convertido e em conversão), por país da UE de

2007 (1) e 2008 (2), em hectares 67

• Figura n.º 6 - 50 anos a criar um funil 82

• Figura n.º 7 - Diferentes tipos de Circuitos de Comercialização Agrícola 83

• Figura n.º 8 - Ponto de entrega PROVE em Beja 111

• Figura nº 9 - Ponto de entrega PROVE em Beja 111

• Figura nº 10 - Propriedade do senhor Luís Lampreia 112

• Figura nº 11 - Quinta do Sr. Luís Pinheiro 113

• Figura n.º 12 - Pomar da Quinta de São Miguel 114

• Figura n.º 13 - Figura n.º 14 - Horta do Sr. Leonel 114

• Figura n.º 15 – Centro Hortofruticula - Escola Superior Agrária de Beja 118

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MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 179

Índice de Quadros

§ Quadro n.º 1 - Agricultura Convencional X Agricultura Ecológica 21

§ Quadro n.º 2 - A Produção Integrada segundo a IOBC/WPRS – Objetivos 31

§ Quadro n.º 3 - Princípios da IOBC/WPRS 32

§ Quadro n.º 4 - Fases de implementação da metodologia do valor sustentável aplicado

às produções hortícolas 45

§ Quadro n.º 5 - Áreas de culturas de terras aráveis, culturas permanentes,

pastagens e prados totalmente convertidos, 2008 (%) (1) 52

§ Quadro n.º 6 - Principais alterações que ocorrem quando se passa de um modo

de produção “convencional” (ainda que em Proteção ou Produção Integrada)

para a Agricultura Biológica 72

§ Quadro n.º 7 - Principais alterações que ocorrem quando se passa de um modo

de produção “convencional” (ainda que em Proteção ou Produção Integrada)

para a Agricultura Biológica (continuação) 76

§ Quadro n.º 8 - Uma história, um modelo inspirador e que se inspira

- circuitos de proximidade 84

§ Quadro n.º 9 – Vantagens e desvantagens que condicionam o consumidor PROVE 85

§ Quadro n.º 10 - Estratégias de Diversificação identificadas pelo estudo para

“expandir” a exploração PROVE 86

§ Quadro n.º 11 - Locais de entregas atuais, com 43 consumidores regulares 94

§ Quadro n.º 12 – Informação dos locais de entrega e respetivos produtores

PROVE Algarve 97

§ Quadro n.º 13 - Núcleos PROVE com Certificação Biológica (Maio de 2012) 98

§ Quadro n.º 14 - Número de explorações no Algarve 99

§ Quadro n.º 15 - Média de consumidores por semana no Algarve 99

§ Quadro n.º 16 - Evolução da Área de diversas Culturas em Produção Biológica,

entre 1994 e 2005, na Região do Algarve 101

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ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROVE NO SUL DE PORTUGAL

MESTRADO EM AGRONOMIA DA ESAB 180

§ Quadro n.º 17 – Informação dos Núcleos PROVE na zona de influência

do GAL Monte – ACE 106

§ Quadro n.º 18 - Dados atualizados, a 21 de Março 2012, dos números de

consumidores e cabazes 107