mestrado em educaÇÃo matemÁtica · 2020. 9. 23. · uso de softwares educativos para o ensino de...

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Fabio Douglas Farias Uso de softwares educativos para o ensino de Matemática: contribuições de um processo de formação de professores dos anos iniciais do ensino fundamental MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA São Paulo 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Fabio Douglas Farias

Uso de softwares educativos para o ensino de Matemática:

contribuições de um processo de formação de professores

dos anos iniciais do ensino fundamental

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

São Paulo

2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Fabio Douglas Farias

Uso de softwares educativos para o ensino de Matemática:

contribuições de um processo de formação de professores

dos anos iniciais do ensino fundamental

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE em EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a

orientação da Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Manrique.

São Paulo

2015

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Banca Examinadora

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DEDICATÓRIA

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou

parcial desta dissertação por processos de fotocopiadora ou eletrônicos.

Assinatura: __________________________ Local e Data: ___________________

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DEDICATÓRIA

Em minha trajetória de vida, sempre contei com o apoio e

incentivo de muitas pessoas, mas algumas delas foram

essenciais para que eu conseguisse chegar até aqui. Dedico a

vocês este trabalho:

Minha querida mãe, Janete Barbosa dos Anjos, como uma

forma singela de agradecer pela sua luta para dar uma vida

digna para minhas irmãs e eu. Você conseguiu. Estamos tendo

uma vida digna. Mamãe, agradeço pelo seu carinho e por estar

sempre ao meu lado.

Meu pai, Luiz Hamilton Farias (in memoriam), que por

questões que fogem a nossa compreensão, passou

brevemente por esta vida deixando algumas lições.

Minha esposa, Regina do Nascimento Pereira, e meus filhos

Luiz Henrique do Nascimento e Héricles do Nascimento

Farias, que sempre estiveram ao meu lado. Obrigado pela

compreensão dos motivos que me fizeram estar ausente em

alguns momentos. Vocês são muito importantes para mim.

As minhas irmãs Diane e Carina pelo carinho, apoio e

incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Talvez não existam palavras suficientes que possam expressar

a minha gratidão a todos vocês pelo apoio e incentivo durante

minha jornada na concretização deste sonho.

Em primeiro lugar agradeço a DEUS por me permitir existir, por

me proporcionar as oportunidades que me trouxeram até aqui e

por possibilitar a realização desse trabalho me mantendo firme

diante das dificuldades que surgiram.

De um modo muito especial agradeço ao meu amigo Douglas

da Silva Tinti, que com sua sabedoria me mostrou que sonhos

podem sim ser realizados. Mais uma vez você teve um papel

fundamental na minha formação acadêmica. Jamais

esquecerei suas palavras confortadoras.

À minha orientadora, Professora Doutora Ana Lúcia Manrique,

pela ilustre e valorosa orientação, dedicação, compreensão,

além do constante apoio e incentivo sem os quais não seria

possível a conclusão deste trabalho. Obrigado por fazer parte

do meu desenvolvimento profissional e pessoal.

Aos professores Dra. Ana Chiummo, Dr. Carlos Augusto

Rodrigues Lima, Dra. Celina Aparecida Almeida Pereira

Abar e Dr. Saddo Ag Almouloud por terem aceitado participar

da avaliação desta pesquisa compondo a banca e pelas

valiosas contribuições.

A cada uma das Professoras do Projeto do Observatório de

Educação, que com sua gentil participação foram as

protagonistas responsáveis por fornecerem os dados que dão

sustentação a essa pesquisa.

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Aos Amigos do Projeto do Observatório de Educação pelos

momentos de aprendizagem que juntos compartilhamos.

Aos Professores do Programa de Estudos Pós-Graduados

em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo – PUC/SP, que com seus ensinamentos durante

as disciplinas cursadas contribuíram para a minha formação

acadêmica.

Aos Amigos de Mestrado pelas aprendizagens e

ensinamentos compartilhados durante as disciplinas que

cursamos.

Aos meus colegas e alunos por torcerem por mim.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e ao Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) por financiar

o Projeto Observatório da Educação: Desafios para uma

Educação Inclusiva: pensando a formação de professores

sobre os processos de domínio da Matemática nas séries

iniciais da Educação Básica, que viabilizou meus estudos para

a construção e efetivação dessa pesquisa.

Meus sinceros agradecimentos a todos que, de alguma forma,

contribuíram para que este trabalho fosse possível.

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“É um verdadeiro milagre que a educação

moderna não tenha ainda sufocado

completamente a curiosidade sagrada da

pesquisa. Pois essa frágil plantinha precisa de

incentivo e, sobretudo, de liberdade”.

Albert Einstein apud Barreto (2011, p.11)

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FARIAS, Fabio Douglas. Uso de softwares educativos para o ensino de

Matemática: contribuições de um processo de formação de professores dos

anos iniciais do ensino fundamental. 2015. 108 f. Dissertação (Mestrado em

Educação Matemática) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação

Matemática. Pontifícia Universidade Católica. São Paulo.

RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar contribuições que a participação em um

processo formativo colaborativo possibilitou à formação continuada de um grupo de

professoras dos anos iniciais do ensino fundamental no uso de softwares educativos

para o ensino da Matemática. Foram analisados encontros de formação, ocorridos

durante o segundo semestre de 2013, promovidos pelo Projeto: “Desafios para a

Educação Inclusiva: pensando a formação de professores sobre os processos de

domínio da Matemática nas séries inicias da Educação Básica”, aprovado no edital

2010 do Programa Observatório da Educação da Capes e desenvolvido na PUC/SP.

A investigação foi desenvolvida sob a perspectiva de uma metodologia de pesquisa

qualitativa. Para a coleta de dados foram observados os encontros de formação e

oficinas realizadas em escolas públicas, bem como foram utilizados questionários.

Para o referencial teórico foi feito um aprimoramento do modelo f@r: formação-ação-

reflexão, apresentado em Costa (2012). A formação foi desenvolvida em sete

etapas, a saber: estudo, decisão, preparação, interação, reflexão individual, prática

na escola e reflexão conjunta. A análise dessas etapas foi dividida em quatro

categorias: “percepções das professoras sobre o uso de software educativo em sala

de aula”; “avaliação do uso de softwares educativos na escola e suas

possibilidades”; “oficinas realizadas nas escolas” e “reflexão conjunta sobre o

processo de formação”. Como conclusão, foram identificadas as seguintes

contribuições: apropriação mais crítica e consistente no uso das atuais tecnologias

da informação e comunicação por essas professoras; reflexões coletivas e

individuais durante a preparação das oficinas; o reconhecimento da importância do

uso de softwares educativos como mais um recurso que pode contribuir para o

processo de ensino e aprendizagem da Matemática; o favorecimento de reflexões

sobre respostas para questões essenciais, como: por que, para que e como utilizar

determinado software educativo; e por fim, consolidou o protagonismo das

professoras participantes frente ao uso das tecnologias.

Palavras-chave: Formação de Professores, Grupos colaborativos, Tecnologias da

Informação e Comunicação, Softwares Educativos

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FARIAS, Fabio Douglas. Use of educational software for Mathematics education:

contributions of a teacher training process in the early years of elementary

school. 2015. 108 f. Dissertation (Master in Mathematics Education) – Program for

Post Graduate Studies in Mathematics Education. Pontifícia Universidade Católica.

São Paulo.

ABSTRACT

This study aimed to identify contributions that participation in a collaborative learning

process allowed the continued formation of a group of teachers of early elementary

school in the use of educational software for teaching Mathematics. Training

meetings were analyzed, occurred during the second half of 2013, promoted by the

project: “Challenges for Inclusive Education: thinking the teacher training on the

mathematics domain processes in the initial series of basic education”, approved in

the announcement 2010 Observatory program Capes Education and developed at

PUC/SP. The research was developed from the perspective of a qualitative research

methodology. For data collections were observed training meetings and workshops in

public schools, and questionnaires were used. An enhancement of the model f@r

was asked: training-action-reflection, presented in Costa (2012), as a theoretical

reference. This training took place in seven stages, namely: study, decision-making,

interaction, individual reflection, practice in school and joint reflection. The analysis of

these steps was divided into four categories: “perceptions of teachers on the use of

educational software in the classroom”; “evaluation of the use of educational software

in school and its possibilities”; “workshops held in schools” and “joint reflection on the

training process”. In conclusion, the following contributions have been identified:

more critical appropriation and consistent in the use of current information and

communication technologies by these teachers; collective and individual reflections

during the preparation of the workshops; recognition of the importance of using

educational software as an additional resource that can contribute to the process of

teaching and learning mathematics; favoring reflections on answers to key questions

such as: why, for what and how to use certain educational software; and finally

consolidated the role of the participating teachers forward to using technology.

Keywords: Teacher Education, Collaborative Groups, Information and

Communication Technologies, Educational Software

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LISTA DE SIGLAS

ATPC – Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CC – Conhecimento do Conteúdo

CP – Conhecimento Pedagógico

CPC – Conhecimento Pedagógico do Conteúdo

CT – Conhecimento Tecnológico

CTC – Conhecimento Tecnológico do Conteúdo

CTPC – Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo

CTP – Conhecimento Tecnológico Pedagógico

CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

EaD – Educação a Distância

EDUMATEC -Laboratório do Observatório da Educação Matemática e da Tecnologia

EJA – Educação de Jovens e Adultos

HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

JEIF – Jornada Especial Integral de Formação

PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

UNICID – Universidade Cidade de São Paulo

TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação

TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge

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LISTA DE FIGURAS E QUADROS

FIGURAS:

Figura 1- Diagrama do Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo

(CTPC) .................................................................................................................... 35

Figura 2 – Etapas e ciclo do trabalho do professor ................................................. 39

Figura 3 – Diagrama do modelo RefleTic ............................................................... 42

QUADROS:

Quadro 1 – Sujeitos da Pesquisa ........................................................................... 51

Quadro 2 – Resumo das atividades realizadas nos encontros de formação ........... 52

Quadro 3 – Data, escola e Título das atividades e responsáveis das Oficinas ....... 70

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15

Trajetória e interesse pelo tema de pesquisa ....................................................... 15

Tecnologias Atuais e Formação de Professores ................................................... 18

Delineando este trabalho ...................................................................................... 20

CAPÍTULO 1 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................... 23

CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................. 31

2.1 - O Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (CTPC) .............. 31

2.2 – Competência TIC ......................................................................................... 36

2.3 – Modelo f@r: Formação-Ação-Reflexão ....................................................... 38

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA ............................................................................ 45

3.1 - Instrumentos de Coletas de Dados ............................................................... 47

3.2 – Sujeitos da Pesquisa ................................................................................... 51

3.3 – Encontros de formação ............................................................................... 52

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................... 59

4.1 - Percepções das Professoras sobre o uso de Software Educativo em Sala de

Aula ...................................................................................................................... 60

4.2 - Avaliação do uso de softwares educativos na escola e suas possibilidades 66

4.3 - Oficinas realizadas nas escolas .................................................................... 69

4.4 - Reflexão conjunta sobre o processo de formação ....................................... 82

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 103

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ANEXOS ............................................................................................................... 105

Anexo 1 – Questionário 1 ................................................................................... 105

Anexo 2 – Questionário 2.................................................................................... 107

Anexo 3 – Questionário 3.................................................................................... 108

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INTRODUÇÃO

Apresento1 neste capítulo um breve resumo da minha trajetória como um

cidadão que, assim como muitos outros, carrega no seu âmago a marca da

conquista do direito à cidadania numa dimensão de concidadania. Sendo cidadão,

contribuo com a sociedade em que vivo como educador em constante processo de

formação.

Escrever esse texto não foi uma tarefa fácil. Na busca de evidenciar a minha

identidade como educador em constante processo de formação, precisei me situar

no espaço/tempo, retornando ao passado para poder resgatar a minha história de

vida e, consequentemente, os fatores que contribuíram para a minha decisão de ser

professor. Descrevo a seguir o que me permite acreditar que a docência, mesmo

que implicitamente, sempre esteve presente na minha trajetória de vida.

Trajetória e interesse pelo tema de pesquisa

Descrever como foi construído o meu caminho até a docência não é uma

tarefa simples, mas esse processo com certeza contribui para que eu possa

fortalecer a minha identidade na condição de educador. Dizer que a docência para

mim sempre foi uma vocação, não é verdade, no entanto, vivo este momento na

certeza de que é o melhor para mim e para todos que estão direta ou indiretamente

envolvidos.

Filho mais velho de uma família simples, cujos pais imigrantes nordestinos

vieram em busca de uma melhor condição de vida em São Paulo, cresci sabendo

que o estudo seria imprescindível na conquista de uma melhor condição de vida. No

ensino fundamental e médio tive um desempenho considerado suficiente, por

aqueles que me avaliavam, e dei prosseguimento aos estudos no ensino superior.

Concomitante ao ensino médio, este cursado à noite, tive a oportunidade de ser

aluno em período integral do curso de aprendizagem industrial em Mecânica Geral

1 Nesta primeira parte o texto será escrito na primeira pessoa do singular.

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(Usinagem) pela escola SENAI2 “Humberto Reis Costas”, localizada no bairro da Vila

Alpina, zona leste da cidade de São Paulo.

No SENAI, além de construir conhecimentos sobre a profissão de mecânico

industrial, tive também a oportunidade de ter contato com professores que considero

muito importantes na minha constituição como pessoa e profissional. Após esse

período, tive a oportunidade de entrar no mercado de trabalho formal aprendendo

uma nova profissão, a de mecânico de veículos automotores; nesta, atuei por

aproximadamente 10 anos. Até aqui, a minha experiência de estudo e atuação

profissional contribuíram para que eu tivesse um perfil mais técnico na realização

das atividades profissionais.

Apesar de já ter uma profissão estável, ainda não me sentia satisfeito e

resolvi, então, cursar o ensino superior. Não tive dúvidas de que o curso seria

licenciatura em Matemática. Acredito que de um lado a escolha foi mais em função

de me apropriar de conhecimentos matemáticos, do que propriamente pela docência

em si. De outro, para mim, ser professor era a garantia de um emprego estável,

principalmente, no setor público.

Desta forma, no início do segundo semestre de 2008, é dado o início da

minha trajetória docente. Ingressei na Universidade Cidade de São Paulo - UNICID

para cursar Licenciatura em Matemática. Ainda que não tivesse dúvidas de que tinha

escolhido o curso certo para mim, não sabia exatamente o que iria encontrar nesse

curso. Ao longo do curso, tive professores que conseguiram, por meio de seus

ensinamentos e experiências, despertar em mim o desejo pela docência.

Já no quarto trimestre do curso, em 2010, na certeza de que a docência era a

melhor escolha, decidi mudar de profissão, parei de atuar como mecânico de

veículos automotores e comecei a atuar exclusivamente como professor. Isso

somente foi possível devido à carência de professores na rede de ensino do estado

de São Paulo. Dessa maneira, passei a trabalhar como professor temporário na rede

estadual de ensino do estado de São Paulo, ministrando aulas de matemática e de

informática educacional.

2 SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

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Neste mesmo período também comecei a atuar como estagiário na Educação

a Distância3 (EaD) na própria instituição em que estava estudando, ou seja, a

Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Na função de estagiário, realizava

trabalhos relacionados ao sistema de avaliação de EaD, correção de provas,

cadastro de questões, acompanhamento e monitoramento do sistema de

correção/revisão de provas, entre outros processos diretamente relacionados ao

sistema de avaliação.

No final do 1º semestre de 2011, ao finalizar o curso de Licenciatura em

Matemática, já contava com alguma experiência como docente em sala de aula, o

que, até então, acabou confirmando as minhas expectativas em relação à docência.

Em março de 2014, teve início mais uma etapa da minha constituição como

docente. Ingressei, via concurso público, como professor de matemática na rede

estadual de ensino de São Paulo. Atualmente, ministro aulas para alunos em idade

escolar normal no ensino médio e também para alunos da Educação de Jovens e

Adultos – EJA. Além disso, continuo atuando como um dos responsáveis pelo setor

de avaliações da graduação EaD no grupo educacional Cruzeiro do Sul. A minha

atuação no setor de avaliação da graduação EaD consiste, fundamentalmente, na

realização de ações cujo objetivo é possibilitar o bom funcionamento de todo o

processo relacionado à realização das provas da graduação EaD.

Atuando na educação a distância, tive também a oportunidade de conhecer

um campo da educação que vem ganhando força nos últimos anos: o ensino e a

aprendizagem mediada pelo uso de tecnologias atuais.

Em conversa com um dos professores que me deu aula na graduação, fiquei

sabendo do grupo de pesquisa “Professor de Matemática: formação, profissão,

saberes e trabalho docente”, sob coordenação da Professora Doutora Ana Lúcia

Manrique e da Professora Doutora Maria Cristina Maranhão na Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo. Neste grupo, o tema central era a formação de

professores.

3 De acordo com o artigo 1º do Decreto nº 5.622, a educação a distância caracteriza-se como modalidade educacional na qual

a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. (Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005)

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Após um período participando como ouvinte conheci o trabalho do grupo e,

em conversa com uma das coordenadoras, verificamos que seria possível tratar do

tema tecnologias na formação de professores. Dessa forma, decidi prestar o

processo seletivo para o Mestrado Acadêmico em Educação Matemática.

Escolhi como tema de pesquisa, o ensino e a aprendizagem realizados com o

auxílio principalmente do computador, fazendo despertar o meu interesse em

pesquisar mais profundamente sobre o uso das tecnologias atuais na educação e,

mais especificamente, na formação de professores.

Apresento nas próximas páginas deste trabalho, o desenvolvimento de uma

proposta de formação para professores no uso crítico das tecnologias mais atuais

para o ensino da matemática nos anos iniciais. Essa proposta de formação tem

como referencial teórico um aprimoramento do Modelo f@r: Formação-Ação-

Reflexão proposto em Costa (2012). Além disso, utilizo como complementação, o

referencial teórico o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo

apresentado nos trabalhos de Palis (2010) e Costa (2012).

Tecnologias Atuais e Formação de Professores

A sociedade atual está imersa em uma nova cultura na qual a capacidade de

utilizar as informações criticamente é fundamental para uma convivência autônoma.

Vivemos em uma sociedade na qual a todo instante, somos bombardeados de

informações por diversos meios tecnológicos. Contudo, a informação por si só não

possui significado algum. Isto é, o sujeito, por meio dos conhecimentos obtidos a

partir da sua experiência de vida é quem dá significado às informações. Na escola

essas informações já podem e devem ser obtidas por meio das atuais tecnologias da

informação e comunicação, por exemplo, computadores, tablets e smartphones. O

que fazer para que essas tecnologias não sejam apenas mais um meio de

transmissão de informações?

As diversas discussões sobre a presença efetiva das atuais tecnologias da

informação e comunicação (TICs) associadas à prática pedagógica na escola trazem

questionamentos que contribuem para o desenvolvimento deste trabalho.

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Estudos mostram que a presença das tecnologias, por si só, não garantem

que a aprendizagem ocorra (Almeida, 2006; Kenski, 2007). Mas, afinal, o que deve

ser feito para que essas tecnologias possam contribuir efetivamente para a

educação?

De acordo com Almeida (2006), diversos projetos voltados principalmente

para a formação de professores no uso crítico das tecnologias da informação e

comunicação têm sido desenvolvidos com sucesso, embora ela ressalte que ainda

está aquém do que se deseja.

Alguns problemas são centrais para que esses projetos não tenham o

resultado esperado. Segundo Kenski (2007, p.57), um dos problemas é a “falta de

conhecimento dos professores para o melhor uso pedagógico da tecnologia, seja ela

nova ou velha”. Isso se dá, principalmente, em função de um processo de formação

do professor no qual o uso pedagógico das tecnologias não é parte integrante do

currículo no ensino superior.

Ainda de acordo com Kenski (2007, p.57), outro problema é a “não

adequação da tecnologia ao conteúdo que vai ser ensinado e aos propósitos do

ensino”. Nesse sentido, é preciso compreender que cada tecnologia tem uma

especificidade.

Para que ocorra uma incorporação de tecnologias da informação e

comunicação na prática pedagógica, não basta somente munir a escola de novos

recursos tecnológicos, se faz necessário investir na formação de professores para

que sejam capazes de utilizar criticamente esses recursos. De acordo com Kenski:

Para que as TICs possam trazer alterações no processo educativo, no entanto, elas precisam ser compreendidas e incorporadas pedagogicamente. Não basta usar a televisão ou o computador, é preciso saber usar de forma pedagogicamente correta a tecnologia escolhida. (KENSKI, 2007, p.46)

Normalmente, para fazer uso de um computador no processo educativo é

necessário escolher um software educacional. Os Parâmetros Curriculares

Nacionais de Matemática, quanto aos softwares educacionais, orienta que é

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[...] fundamental que o professor aprenda a escolhê-los em função dos objetivos que pretende atingir e de sua própria concepção de conhecimento e de aprendizagem, distinguindo os que se prestam mais a um trabalho dirigido para testar conhecimentos dos que procuram levar o aluno a interagir com o programa de forma a construir conhecimento (BRASIL, 1997, p.35).

Desta forma, este trabalho tem como questão de pesquisa:

- Que contribuições são identificadas em um processo formativo no uso de

softwares educativos para professores dos anos iniciais do ensino fundamental

participantes de um grupo colaborativo?

E, assim, objetivo deste trabalho é identificar contribuições de um processo

formativo no uso de softwares educativos (simuladores e jogos computacionais) para

professores dos anos iniciais do ensino fundamental que participaram do Projeto:

“Desafios para a Educação Inclusiva: pensando a formação de professores sobre os

processos de domínio da Matemática nas séries inicias da Educação Básica”

aprovado no Programa Observatório da Educação da CAPES/INEP, edital 2010. As

professoras dos anos iniciais participaram dos encontros de formação realizados às

4ªs feiras na PUC-SP no laboratório EDUMATEC – Laboratório do Observatório da

Educação Matemática e da Tecnologia, sob coordenação da Prof.ª Dra. Ana Lúcia

Manrique.

Delineando este trabalho

No capítulo 1, temos a revisão bibliográfica onde buscamos apresentar

trabalhos que trazem algumas reflexões que estão relacionadas com a problemática

de nosso estudo. No referido capítulo, discorremos sobre os trabalhos de Miskulin

(2003), Costa e Lins (2010), Soffa e Alcântara (2008) e Bittar, Guimarães e

Vasconcelos (2008).

No capítulo 2, temos a apresentação do referencial teórico. Como o objetivo

deste trabalho é identificar contribuições de um processo formativo no uso de

softwares educativos para professores dos anos iniciais do ensino fundamental, nos

baseamos em trabalhos que abordam o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico

do Conteúdo, tais como Palis (2010) e Costa (2012). Além disso, este trabalho utiliza

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como referencial teórico, um aprimoramento do Modelo f@r: Formação-Ação-

Reflexão proposto em Costa (2012).

No capítulo 3, temos a apresentação da metodologia utilizada para o

desenvolvimento dessa pesquisa. Nesse capítulo, apresentamos as principais

características da metodologia que direcionou o desenvolvimento desse estudo. O

desenvolvimento deste trabalho foi sob a perspectiva de uma metodologia de

pesquisa qualitativa, conforme apresentado em Bogdan e Biklen (1994) e Creswell

(2010). Descrevemos como os dados foram coletados durante os encontros de

formação e oficinas realizadas nas escolas. Discorremos sobre as principais

atividades desenvolvidas nos encontros de formação e nas oficinas. Por se tratar de

uma pesquisa qualitativa, os dados recolhidos foram apresentados na forma

descritiva, não se resumindo apenas a números.

No capítulo 4, temos a análise dos resultados. Toda a análise, ainda que com

algumas variações, buscou atender fundamentalmente as características de uma

investigação do tipo qualitativa, de acordo com os critérios apresentados em Bogdan

e Biklen (1994) e Creswell (2010).

Por fim, apresentamos as conclusões obtidas a partir da realização dessa

pesquisa. Nesta última etapa, apresentamos ao leitor as reflexões que construímos

sobre a inserção das tecnologias mais atuais, especificamente por meio de

softwares educativos, na prática pedagógica do professor em sala de aula e até

mesmo para o seu desenvolvimento pessoal.

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CAPÍTULO 1 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo apresentamos a revisão bibliográfica que foi realizada.

Buscamos, nessa revisão, fazer um levantamento das pesquisas relacionadas com a

problemática deste trabalho. Apresentamos os trabalhos de Miskulin (2003), Costa e

Lins (2010), Soffa e Alcântara (2008) e Bittar, Guimarães e Vasconcelos (2008).

Miskulin (2003) considera que uma formação reflexiva e coerente de

professores para o uso das tecnologias, na sociedade atual, é fundamental para

uma ação educativa coerente. Essa coerência está no sentido de que o professor

pode contribuir para uma formação de um indivíduo crítico, reflexivo, e que atenda

aos anseios da sociedade atual em que vivemos, onde as inovações e informações

são processadas rápida e continuamente em nível global.

Sendo assim, não há como pensar em uma integração coerente e produtiva

das mais recentes tecnologias na educação, sem antes pensar na formação de

professores para que possam integrar essas tecnologias de maneira crítica e

reflexiva em sua prática pedagógica. De outra forma, continuaremos presos a

métodos de ensino e teorias que, no contexto atual, já não contribuem para a

formação autônoma dos indivíduos na utilização de novas maneiras de gerar e

dominar o conhecimento.

Considerando o atual cenário tecnológico que se impõem a toda sociedade e,

consequentemente, a educação, é fundamental repensar e redimensionar os cursos

de formação de professores (Miskulin, 2003), para que esses cursos contribuam

para que os professores possam, efetivamente, construir conhecimentos e ações

que atendam a essa nova demanda na educação com vistas à integração e ao

avanço das tecnologias.

É inevitável a presença das tecnologias mais atuais na educação, dessa

maneira, já não é mais uma questão de escolha do professor, mas sim, a

necessidade de atender uma exigência tecnológica que já faz parte do nosso

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cotidiano nos mais diversos setores, e que também é fundamental para uma

participação ativa na sociedade globalizada em que vivemos.

A presença da tecnologia na prática pedagógica do professor não deve ser

concebida apenas como mais um recurso motivador, mas, sobretudo como um meio

potencial para que os alunos possam participar ativamente da construção do seu

próprio conhecimento com vistas a atenderem criticamente as exigências da

sociedade à qual fazem parte.

Discorrendo especificamente sobre a presença da tecnologia no ensino da

matemática, Miskulin (2003, p.7) chama a atenção para o fato de que o professor

que vai ensinar matemática com o subsídio da tecnologia, reflita sobre a sua

utilização, levando em conta que a “Matemática, no contexto tecnológico, torne-se

um caminho que possa superar as desigualdades sociais e ainda possibilitar a

formação e a inserção adequada do sujeito a uma sociedade permeada pela

tecnologia”.

Costa e Lins (2010) concordam que a presença das tecnologias na escola

tem exigido uma nova postura do professor frente ao seu uso. Postura essa que

exige que o professor tenha necessariamente autonomia para explorar o potencial

pedagógico dessas tecnologias. Nesse sentido, entendemos que já não é mais

suficiente que o professor tenha os conhecimentos básicos de como se opera

determinada tecnologia. É fundamentalmente necessário que o professor tenha

conhecimentos concretos que permitam que ele utilize efetivamente essa tecnologia

como mediadora efetiva da construção do conhecimento do conteúdo que está

ensinando.

Apoiando o que foi discutido até aqui, Costa e Lins (2010) ratificam em seu

trabalho, que a presença das tecnologias nas escolas, principalmente de

computadores, deve ser repensada. É preciso, ainda que minimamente, considerar

que mudanças no ambiente escolar, tanto em nível físico como de estrutura

organizacional, são necessárias. É importante chamar a atenção para o fato de que

diversas ações já foram e estão sendo realizadas, contudo, verifica-se que hoje os

esforços que têm sido realizados para integrar efetivamente as tecnologias mais

recentes na educação não estão tendo o êxito esperado. Muitas dessas ações se

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resumiram principalmente a equipar a escola com computadores, além de tentativas

de facilitar o seu uso.

A minha vivência profissional como docente na rede pública de ensino permite

inferir que, atualmente, diversas ações estão sendo direcionadas para a integração

principalmente de tablets no ambiente escolar na tentativa de atender essa nova

tendência tecnológica.

Com o objetivo de possibilitar aos professores, oportunidades para que

possam compreender essa nova cultura permeada pelo rápido e constante avanço

tecnológico, diversos estudos discutem e apresentam propostas de trabalho que

promovam espaços colaborativos de formação no ambiente escolar onde esses

professores atuam. É possível através de projetos inovadores e do intercâmbio entre

as escolas e universidades, construir espaços de formação onde a construção crítica

e reflexiva, desses saberes tecnológicos pedagógicos dos professores, possam ser

compartilhados e passem a constituir um saber estruturado coletivamente. Dessa

forma, o professor ao se propor participar de processos de formação em espaços

colaborativos, deve estar aberto ao diálogo e ser flexível a mudanças.

Sobre a formação de professores em espaços colaborativos, Costa e Lins

(2010, p. 461) argumentam que muitos professores se colocam em posição

individualizada e resistente a mudanças, pois sentem dificuldade em trabalhar em

conjunto, não possibilitando o diálogo e consequentemente, a troca de experiências.

As autoras destacam que esse individualismo é mais em função da condição de

trabalho do que propriamente de uma posição subjetiva do professor.

Soffa e Alcântara (2008) ratificam que a informática, entendida no contexto

deste trabalho como a presença das tecnologias mais recentes, está presente no

nosso dia-a-dia. Essa presença irreversível pode ser verificada nos mais diversos

setores da nossa sociedade. Sendo assim, não há como não considerar a presença

da informática e sua integração na educação. Para tanto, as autoras consideram que

para que ocorra a integração efetiva, são imprescindíveis alguns aspectos: “o

computador, o software, o professor e o aluno”.

Verifica-se que atualmente muitos são os softwares disponíveis tanto em

mídias físicas, como disponíveis para acesso on-line, via internet. Contudo, é preciso

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que o professor tenha clareza sobre o real potencial pedagógico no uso de

determinado software. Especificamente sobre o uso de alguns softwares Soffa e

Alcântara (2008) trazem algumas definições e considerações importantes acerca da

real contribuição destes para o processo de ensino e aprendizagem.

Sendo assim, com o objetivo de elucidar o significado do termo software

educativo utilizado ao longo deste trabalho, apresentamos brevemente os critérios

utilizados na literatura para diferenciar um software educacional de um software

educativo. Pois muitas vezes esses termos são utilizados como sinônimos.

Para Oliveira4 (2001 apud SOFFA e ALCÂNTARA, 2008), um software

educacional é um “produto [...] adequadamente utilizado pela escola, mesmo que

não tenha sido produzido com a finalidade de uso no sistema escolar”. Com base

nessa definição, de uma maneira geral, podemos considerar todo software como

educacional, desde que esteja sendo utilizado no contexto escolar, tanto em nível

administrativo como em nível pedagógico, enquanto que o software educativo é uma

classe pertencente ao conjunto dos softwares educacionais. Nas palavras de Soffa e

Alcântara (2008, p. 4924), um software educativo se diferencia das demais classes

de softwares educacionais pelo

[...] fato de ser desenvolvido com o desígnio de levar o aluno a construir um determinado conhecimento referente a um conteúdo didático. O objetivo de um software educativo é a de favorecer os processos de ensino-aprendizagem e sua característica principal é seu caráter didático.

Com base nos trabalhos até aqui apresentados, percebe-se, evidentemente,

que vivemos em uma sociedade em que a tecnologia está muito presente no nosso

dia-a-dia, dessa forma, já não cabe mais pensar em uma educação que esteja inerte

a esse avanço tecnológico. Já não é mais suficiente uma educação centrada

exclusivamente na utilização do giz e lousa como representantes exclusivos de

tecnologias. A pouca presença da tecnologia na escola acaba contribuindo para que

essa instituição seja pouco atraente para os alunos. Pois, ainda é uma das poucas

instituições da nossa sociedade atual que ainda não integrou efetivamente as

tecnologias em seu ambiente. Dessa forma, a escola continua refém de métodos

4 OLIVEIRA, Celina Couto. Ambientes informatizados de aprendizagem: Produção e avaliação de software educativo.

Campinas: Papirus, 2001

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tradicionais de ensino que já não atendem integralmente e a contento, os anseios da

sociedade em que vivemos.

É importante destacar que consideramos a presença de recursos tecnológicos

na escola como sendo para fins educacionais e não somente como mais um recurso

que tem o objetivo de facilitar o trabalho administrativo, quer seja do professor ou do

corpo administrativo da instituição escolar.

É imperativo que, principalmente a sociedade educacional, concentre

esforços para que a tecnologia seja integrada como recurso potencial para o

processo de ensino e aprendizagem. Cabe ressaltar que não é pretensão deste

trabalho desconsiderar os métodos de ensino já existentes, mas sim, discorrer no

sentido de que sejam repensados, ratificados ou retificados, considerando as

tecnologias atuais como novas alternativas com potencial para contribuir para o

processo de ensino e aprendizagem.

Tendo em vista as abordagens teóricas discutidas neste trabalho, o professor,

tendo como papel fundamental, o de mediador no processo de ensino e

aprendizagem, pode enriquecer a sua prática, fazendo o uso crítico e reflexivo dos

atuais recursos tecnológicos disponíveis para o seu uso com fins pedagógicos. No

contexto específico deste trabalho, a utilização da tecnologia se deu principalmente

com a utilização do computador como recurso tecnológico por meio da preparação

de atividades utilizando softwares educativos e da internet.

Dando sequência a nossa revisão bibliográfica, apresentamos brevemente o

trabalho de Bittar, Guimarães e Vasconcelos (2008). O artigo apresenta os

resultados parciais de uma pesquisa-ação. O objetivo foi investigar o processo de

integração da tecnologia pelos professores de matemática da educação básica em

sua prática na sala de aula. Para a realização da referida investigação, as autoras

constituíram um grupo formado por pesquisadores e professores que atuam na área.

O desenvolvimento da pesquisa se deu, fundamentada na metodologia de pesquisa-

ação apresentada em Thiollent5 (2007).

Indo ao encontro do que foi apresentado até aqui, as autoras também

enfatizam que pesquisas, nas mais diversas áreas do conhecimento, discutem que a

5 THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007.

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presença da tecnologia no ambiente educacional, como instrumento mediador, pode

contribuir expressivamente para a produção de conhecimentos pelos alunos. E

vamos além, pois acreditamos que o professor, mediante a preparação de atividades

mediadas pelos recursos tecnológicos mais atuais, também passa a adquirir uma

perspectiva mais sólida sobre os conhecimentos que já possui sobre determinado

assunto.

De acordo com as autoras, ainda que haja resultados expressivos que

confirmem a efetividade no uso de software matemáticos, pesquisas demonstram

que professores, nos mais diversos níveis de escolaridade, ainda não integraram a

tecnologia em sua prática pedagógica. Elas reforçam que tal integração não ocorre

até mesmo nos cursos de formação de professores. Dessa forma, concordamos com

as autoras, que é necessário que os cursos de formação, tanto inicial quanto

continuada, repensem seu currículos para que as tecnologias atuais sejam partes

integrantes no processo de ensino e aprendizagem.

Assim, as autoras afirmam que somente ocorrerá a integração da tecnologia

no contexto educacional quando,

[...] o professor vivenciar o processo e quando a tecnologia representar um meio importante para a aprendizagem. Falamos em integração para distinguir de inserção (BITTAR; GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008, p.86)

As autoras ainda apresentam questões as quais concordamos que são

fundamentais para o momento em que o professor decide utilizar a tecnologia como

um recurso para enriquecer sua aula. As questões apresentadas na íntegra por

Bittar, Guimarães e Vasconcelos (2008, p. 86) são as seguintes:

Onde ele procurará ajuda, caso necessite?

Que tipo de material ele tem disponível sobre o uso das novas

tecnologias em sala de aula?

Como ele poderá escolher o produto tecnológico a ser usado?

Quando e como utilizar a informática com seus alunos?

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Para a realização da investigação, elas dividiram o trabalho em fases. São elas:

Na primeira fase, ocorreu a constituição e consolidação do grupo, que foi

formado essencialmente por professores que atuam na educação básica, ensinando

matemática. O objetivo dessa fase foi a escolha de um tema para ser estudado com

mais profundidade.

Na segunda fase, o grupo, coletivamente, estudou o tema escolhido na fase

anterior – Softwares Educacionais e suas possibilidades para a aprendizagem

Matemática.

Na terceira fase, no laboratório de computação, houve o estudo e a análise do

software LOGO. Definido pelas autoras como quarta fase, o grupo decidiu discutir, a

partir da leitura de trabalhos relacionados à temática da constituição do software

LOGO como um possível recurso que pode contribuir para o ensino e aprendizagem

da Geometria.

Na quinta e última fase aconteceu a elaboração de sequências didáticas6

(BROSSEUAU, 1986), cujas atividades eram voltadas para a utilização de softwares

educacionais ou calculadora.

Dentre os resultados apresentados com a realização de um trabalho em

grupo, as autoras destacam que o sentimento de pertencimento

começou a ser construído logo nos primeiros encontros, quando os

professores expuseram os problemas que vivenciavam nas escolas, no que

se refere à integração da tecnologia. (BITTAR; GUIMARÃES;

VASCONCELOS, 2008, p. 92).

Outro ponto destacado foi a percepção de momentos de colaboração quando

da utilização e exploração do software LOGO pelos professores. De acordo com as

autoras, “cada vez que um participante tinha uma dúvida ou se sentia bloqueado

diante de uma dificuldade, ele procurava outra pessoa para discutir” (BITTAR;

GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008, p. 93).

6 BROUSSEAU, G. Fondements et méthodes de la didactique des mathématiques. Recherches en Didactique des

Mathématiques, v.7, n.2, p.33-115, 1986.

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São apresentadas também como resultado, as reflexões realizadas durante o

desenvolvimento do trabalho que indicaram “que foi despertada em todos, a vontade

de explorar de forma crítica, a tecnologia para que, de fato, ela possa constituir um

instrumento a mais a ser incorporado na prática pedagógica do professor” (BITTAR;

GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008, p. 93). Na avaliação final, os participantes

demonstraram que gostaram do trabalho desenvolvido até então, e manifestaram

desejo na continuidade da pesquisa.

Tendo como referência os trabalhos apresentados até aqui, podemos

destacar algumas similaridades e diferenças em relação a este trabalho.

Antes de se pensar em inserir as tecnologias mais recentes em sala de aula,

concordamos que é fundamental se pensar em uma formação de professores que

esteja em concordância com os anseios da sociedade atual, em relação aos novos

meios de comunicação e produção de conhecimento. Proporcionar aos professores

em seu processo de formação continuada, novos meios e espaços para que possam

refletir sobre sua prática, mediada pelo uso das mais recentes tecnologias, se faz

necessário, uma vez que vivemos em uma sociedade movida por essas tecnologias.

Quando do uso ou não desses novos recursos pelos professores, não basta que

seja uma exigência da sociedade e/ou dos currículos estabelecidos, mas

principalmente que parta de um desejo e necessidade do professor. Ou seja, o

professor precisa querer se apropriar desse conhecimento.

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CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO

Como o objetivo deste trabalho é identificar contribuições de um processo

formativo no uso de softwares educativos para professores dos anos iniciais do

ensino fundamental, nos baseamos em trabalhos que abordam o Conhecimento

Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo, tais como Palis (2010) e Costa (2012).

Além disso, este trabalho também utiliza como referencial teórico, um

aprimoramento do Modelo f@r: Formação-Ação-Reflexão, proposto em Costa

(2012).

2.1 - O Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (CTPC)

O trabalho de Palis (2010) tem por objetivo apresentar uma perspectiva

teórica para refletir sobre os conhecimentos que os professores necessitam para

integrar, de forma eficiente, as tecnologias mais recentes no ensino da Matemática.

Para tal, a autora utiliza o conceito de conhecimento tecnológico e

pedagógico do conteúdo (TPACK – Technological Pedagogical Content Knowledge),

que tem no conceito de conhecimento pedagógico do conteúdo de Lee Shulman, o

seu alicerce.

Para Shulman (1986), citado por Palis (2010), o conhecimento para ensinar é

dividido em três categorias: o conhecimento do conteúdo, o conhecimento curricular

e o conhecimento pedagógico do conteúdo, este último, entendido como o

conhecimento sobre ensinar e aprender.

Palis (2010) discorre sobre o conhecimento tecnológico e pedagógico do

conteúdo, apresentando que, além dos conhecimentos do conteúdo, pedagógico e

pedagógico do conteúdo, há mais três componentes do conhecimento docente: o

conhecimento tecnológico, o conhecimento tecnológico do conteúdo e o

conhecimento tecnológico pedagógico.

Em seu trabalho, a autora apresenta que há uma preocupação das

sociedades educacionais no uso eficiente das tecnologias no ambiente escolar. Para

tanto, essas sociedades têm apresentado diversos parâmetros, redirecionando o

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foco da integração das tecnologias ao ensino: do qual e quanta para como e por que

é utilizada.

A autora também chama a atenção para o fato de que a utilização das

tecnologias atuais no ambiente escolar faz parte de um sistema global, no qual os

meios tradicionais de instrução devem fazer parte.

Para o ensino da matemática, ainda hoje, não há uma integração eficiente

das tecnologias atuais. Verifica-se que há um avanço substancial das tecnologias.

No entanto, as estratégias para a integração dessas tecnologias ao ensino e

aprendizagem da matemática não acompanham esse avanço.

A autora apresenta o trabalho de Koehler & Mishra (2006) que propõem o

referencial teórico denominado Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do

Conteúdo (TPACK). Esse referencial está representado mais adiante no diagrama

da figura 1, página 35.

Durante o desenvolvimento de seu trabalho a autora apresenta, ainda, outros

trabalhos que utilizam o TPACK como referencial para analisar o processo de

integração eficiente das atuais tecnologias pelos professores de matemática. Dentre

os trabalhos apresentados por Palis (2010), como Niess et al (2006), Özgün-Koca et

al. (2009/2010), Lee & Hollebrands (2008) e Özmantar et al (2010) destacamos o

trabalho de Niess e colaboradores (Niess et al, 2009) que propõem uma progressão

do referencial teórico Mathematics TPACK.

De acordo com Palis (2010, p. 438), o referencial teórico Mathematics TPACK

tem por objetivo ser um guia para pesquisadores e educadores de todos os níveis,

para que possam integrar de forma efetiva, as atuais tecnologias no processo de

ensino e aprendizagem da matemática. Resumidamente, o referencial teórico

Mathematics TPACK é organizado em torno de quatro áreas:

[...] concepção e desenvolvimento de experiências e ambientes de

aprendizagem matemáticos com apoio tecnológico; orientação de instrução

matemática com ferramenta tecnológica integrada; avaliação de ambientes

de ensino aprendizagem matemáticos apoiados por tecnologias;

desenvolvimento profissional e continuado do conhecimento. (PALIS, 2010,

p. 438)

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Niess et al (2009), citado por Palis (2010), argumentam que da forma como o

referencial Mathematics TPACK é utilizado, ainda que com objetivos definidos para

que ocorra a integração tecnológica, ele não fornece informações de como ocorre o

processo de apropriação desse conhecimento pelos professores. Dessa forma,

Niess et al (2009) apresentam uma reelaboração do Mathematics TPACK, tendo

como referência o modelo de processo de decisão de inovação de acordo com

Rogers (1995). Segundo os autores, a reelaboração desse modelo possibilita

acompanhar o processo de integração das tecnologias pelos professores.

No final de seu trabalho, Palis (2010) apresenta, brevemente, algumas

considerações sobre outros referenciais teóricos que têm como fundamento

norteador, analisar o processo de desenvolvimento de professores de matemática

na integração das tecnologias em sua prática pedagógica.

Inicialmente, o referencial apresentado é o modelo denominado pelo termo

Puria, que faz referência aos modos Play (brincar), Use (usar), Recommending

(recomendar), Incorporating (incorporar) and Assess (avaliar), que de acordo com a

autora, foi desenvolvido por Beaudin & Bowers (1997). Segundo esse referencial, o

processo de integração da tecnologia pelo professor mediante o uso de um

programa de sistema de computação algébrica, apresenta as seguintes etapas:

[...] de início o professor brinca com o programa e experimenta seus

recursos; depois percebe que pode usá-lo de forma significativa em seu

trabalho, [...]. A certa altura, começa a recomendar o programa para alunos.

Somente ao observar um bom efeito de seu uso por alunos, o professor se

sente confiante para incorporá-lo em suas aulas. Por último o professor

considera que deveria avaliar o uso do programa pelos alunos. (PALIS,

2010, p.448).

Levando em conta o contexto do ensino da matemática, mediado por recursos

tecnológicos, por último é apresentado em Palis (2010), o referencial proposto por

Ruthven (2009). De acordo com esse referencial, o conhecimento prático do

professor é colocado em evidência. Esse conhecimento prático é representado pelo

termo craft knowledge que faz referência ao conhecimento especializado do

professor em sua área de atuação. Segundo esse modelo, para que o professor

possa integrar determinada tecnologia em sua prática pedagógica, o desafio prático

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“é desenvolver, ou adaptar, um sistema funcionalmente organizado de conhecimento

prático” (PALIS, 2010, p. 449). Em outras palavras, esse referencial teórico tem

como norte, a devida organização de um sistema abrangente de conhecimentos

práticos do professor, para que ele consiga desenvolver efetivamente suas

atividades profissionais.

Em Costa (2012) também encontramos uma explanação sobre esse assunto.

Ele nos chama a atenção para o fato de que, especificamente, pensando na

formação de professores para o uso efetivo das tecnologias a favor do ensino e

aprendizagem, o “domínio da técnica” não pode estar separado do “domínio do

conteúdo disciplinar” e da “prática pedagógica”. Nas palavras dele:

Se, por um lado, o professor precisa de dominar os conteúdos da sua área disciplinar, por outro, é a sua competência pedagógica que o torna um bom profissional da educação. São estes dois domínios que, quando devidamente articulados, constituem o saber específico do professor e o distinguem de um pedagogo ou de um especialista da área (COSTA, 2012, p. 94).

Em suma, acerca do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (CPC),

apresentado por Shulman no final da década de 1980, de acordo com Costa (2012),

é o resultado da articulação de dois conhecimentos específicos, o Conhecimento do

Conteúdo (CC) e o Conhecimento Pedagógico (CP). O Conhecimento do Conteúdo

pode ser entendido como o domínio científico que o professor possui acerca dos

conteúdos inerentes a sua disciplina de atuação. Já o Conhecimento Pedagógico

pode ser entendido como o domínio de estratégias pedagógicas. Nesse sentido, o

CPC pode ser entendido como uma unidade articulada pedagogicamente que reflete

a competência e a habilidade que o professor possui para ensinar os conteúdos

científicos pertinentes a sua disciplina. Ou ainda, de uma maneira resumida, a

capacidade que o professor utiliza para tornar os conteúdos compreensíveis para os

seus alunos.

Costa (2012) complementa ainda que o CPC é um conhecimento subjetivo e

dinâmico, que varia de professor para professor. Dessa forma, concordamos que

durante sua vida profissional, o professor desenvolve, retifica, ratifica e amplia esse

conhecimento mediante ações individuais e/ou coletivas.

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Ainda de acordo com Costa (2012), no final da década de 2000, diversos

investigadores oriundos da área de tecnologias em educação, discutem sobre um

novo tipo de conhecimento que deveria ser integrado ao CPC. Para esses

investigadores, os professores devem ter capacidade para integrar de forma

eficiente as tecnologias atuais que fazem parte desse novo conhecimento, definido

como Conhecimento Tecnológico (CT). Dessa forma, a partir da incorporação desse

novo conhecimento aos conhecimentos já apresentados por Shulman, temos uma

nova configuração do conhecimento específico do professor. Essa nova

configuração tem como resultado o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do

Conteúdo (CTPC).

Em um determinado contexto de atuação do professor, o CTPC surge

“quando o professor mobiliza em simultâneo o que sabe sobre tecnologias, sobre

estratégias didático-pedagógicas e sobre o conteúdo científico definido no currículo”

(COSTA, 2012, p. 96), sempre tendo como objetivo, utilizar esses conhecimentos

integrados de tal forma que o conteúdo seja compreensível para os alunos.

Da mesma forma, acreditamos que o CTPC é construído durante a vida

profissional, onde o professor possa desenvolver, retificar, ratificar e ampliar esse

conhecimento mediante ações individuais e/ou coletivas.

Figura 1- Diagrama do Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (CTPC) – Fonte:

Adaptado de KOEHLER & MISHRA, 2012 – http://tpack.org.

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De acordo com o diagrama apresentado na figura 1, dado um determinado

contexto, a partir da inter-relação do conhecimento do conteúdo (CC), conhecimento

pedagógico (CP) e conhecimento tecnológico (CT), podemos verificar que surgem

novos conhecimentos. O já citado anteriormente, Conhecimento Pedagógico do

Conteúdo (CPC) que surge da inter-relação do conhecimento do conteúdo e do

conhecimento pedagógico. O Conhecimento Tecnológico Pedagógico (CTP) que

resulta da inter-relação do conhecimento tecnológico com o conhecimento

pedagógico. O Conhecimento Tecnológico do Conteúdo (CTC) que é resultado da

inter-relação do conhecimento tecnológico com o conhecimento do conteúdo. E por

fim, o Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (CTPC) que surge da

inter-relação máxima dos três conhecimentos, conhecimento pedagógico (CP),

conhecimento do conteúdo (CC) e conhecimento tecnológico (CT).

2.2 – Competência TIC

Para que ocorra a integração das tecnologias no ambiente educacional,

segundo Costa (2012), é necessário desenvolver a Competência TIC que para ele é

entendida como

[...] a possibilidade de mobilização de capacidades, conhecimentos e

atitudes em situações de ensino e aprendizagem, em que o uso das

tecnologias é relevante para resolver com sucesso os problemas aí

suscitados (COSTA, 2012, p. 87).

Sendo assim, uma questão colocada pelo autor é: quais as “competências

que educadores e professores devem ter para serem capazes de interpretar e

interiorizar o papel e o lugar das TIC na escola?” (COSTA, 2012, p. 87).

Costa (2012) apresenta um referencial de macro competências TIC para que

os professores possam integrar as tecnologias na educação. Para a análise deste

trabalho organizamos as macro competências TIC, apresentadas por ele em duas

categorias principais: “Formação na escola” e “Conhecimento Técnico”. Essa

organização se deu em função do que observamos durante o desenvolvimento do

processo de formação proposto para o desenvolvimento desta pesquisa.

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Para a categoria Formação na Escola selecionamos as macro competências

TIC a serem desenvolvidas ou que já podem fazer parte do repertório pedagógico

das professoras. São elas: a professora

possui conhecimento atualizado sobre os recursos tecnológicos e seu

potencial de uso educativo.

acompanha o desenvolvimento tecnológico no que implica a sua

responsabilidade profissional.

acessa, organiza e sistematiza a informação em formato digital

(pesquisa, seleciona e avalia a informação em função de objetivos

concretos).

compreende vantagens e constrangimentos do uso das TIC no processo

educativo e o seu potencial transformador do modo como se aprende.

(COSTA, 2012, p.90)

Para a categoria Conhecimento Técnico selecionamos as seguintes macro

competências TIC, a professora

executa operações com hardware e software; observa regras de

segurança no respeito pela legalidade e princípios éticos.

executa operações com programas ou sistemas de informação online

e/ou offline (acessa à internet, pesquisa em bases de dados ou

diretórios, acessa a obras de referência, etc).

comunica com os outros, individualmente ou em grupo, de forma

síncrona e/ou assíncrona através de ferramentas digitais específicas.

elabora documentos em formato digital com diferentes finalidades e para

diferentes públicos, em contextos diversificados. (COSTA, 2012, p.90)

Além das macros competências anteriores, Costa (2012) também apresenta

mais duas a seguir, mas que não serão foco da nossa discussão, pois não foram

objeto de nossas análises, a professora

conhece e utiliza ferramentas digitais como suporte de processos de

avaliação e/ou de investigação.

utiliza o potencial dos recursos digitais na promoção do seu próprio

desenvolvimento profissional numa perspectiva de aprendizagem ao

longo da vida. (COSTA, 2012, p.90)

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Dessa forma, para que aconteça uma integração e o consequente uso efetivo

e consciente das tecnologias digitais na prática pedagógica, é fundamental que o

professor assuma para si a responsabilidade de desenvolver a competência TIC

necessária.

2.3 – Modelo f@r: Formação-Ação-Reflexão

Costa (2012, p. 97) apresenta como referência de formação para professores

o Modelo f@r: Formação-Ação-Reflexão. O objetivo de um processo de formação

com base nesse modelo é o de promover entre os professores e formadores, por

meio da troca de experiências, um ambiente colaborativo e reflexivo sobre a

integração das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem.

De acordo com o autor, esse modelo não ocorre de maneira linear. É uma

formação que vai sendo construída por meio de um processo periódico e subjetivo,

estruturado em cinco fases: Visão, Plano, Prática, Interação e Reflexão.

Apresentamos a seguir um resumo dessas cinco etapas apresentadas com

mais detalhes em Costa (2012):

1. VISÃO – é o momento em que o professor deve responder as questões

essenciais, como: Por que, para quê e como utilizar as tecnologias?

2. PLANO – o professor decide, também com a ajuda dos formadores e

colegas, as atividades que os alunos realizarão com recurso das

tecnologias disponíveis na escola;

3. PRÁTICA – Constitui o momento em que as ideias incluídas são sujeitas

à prova e as dificuldades emergem.

4. INTERAÇÃO – Espera-se precisamente que o professor interaja e

discuta com o formador ou com os colegas sobre o processo e os

resultados;

5. REFLEXÃO – O professor reflete individualmente sobre o modo como as

atividades decorreram. (COSTA, 2012, p. 98-99):

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Figura 2 – Etapas e ciclo do trabalho do professor - Fonte: Costa (2012, p. 98)

É possível verificar que o modelo f@r conforme apresentado anteriormente na

figura 2 como um modelo de formação de professores está mais direcionado para a

realização de ações que podem ser oportunizadas em situações reais de discussão

colaborativa e de sala de aula.

Para estruturação do modelo f@r, Costa (2012) discorre, trazendo algumas

reflexões sobre alguns modelos de formação de professores com vistas à integração

das tecnologias. Dessa maneira, especificamente acerca do Conhecimento

Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo – CTPC, a discussão apresentada por

Costa (2012) contribui para a constituição do modelo f@r, na medida em que

identifica e orienta adequadamente sobre os conhecimentos necessários para que

os professores possam desenvolver as habilidades e competências tecnológicas e

pedagógicas necessárias para interiorizar e integrar as mais recentes tecnologias,

em sua prática profissional de uma maneira crítica e reflexiva.

Ao pensarmos no grupo de formação que foi objeto desse estudo, é

importante destacar que ele já estava constituído desde 2010 e tinha como

característica principal, a diversidade. Já possuía uma identidade estruturada e um

histórico consistente de participação no processo de formação em um espaço

colaborativo.

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Nesse sentido, verificamos que já havia um ambiente de discussão e

colaboração, no qual as professoras se sentiam à vontade para o diálogo. Sobre a

prática da formação, Imbernón (2010) traz algumas orientações que podemos

identificar no nosso grupo de formação, entre elas destacamos:

Criar na formação um ambiente adequado para o debate, à troca e para a

reflexão. Refletir e compartilhar com os professores as condutas educativas,

as realizadas e as desejadas, para motivar o desenvolvimento de novas

condutas. Compartilhar boas práticas. Estimular a experimentação de

novas práticas educacionais e submetê-las ao debate. (IMBERNÓN, 2010,

p. 111)

Ao considerarmos o grupo de formação, sujeito desta pesquisa, verificamos a

necessidade de se fazer um aprimoramento do Modelo f@r: Formação-Ação-

Reflexão apresentado em Costa (2012). Assim como Costa (2012), acreditamos que

esse modelo não ocorre necessariamente de maneira linear.

Enquanto Costa (2012), em seu trabalho, apresenta o modelo estruturado em

cinco etapas, o desenvolvimento desta nossa pesquisa mostrou a necessidade de

sete etapas para que fosse possível uma análise mais aprofundada, a saber:

Estudo, Decisão, Preparação, Interação, Reflexão Individual, Prática na Escola e

Reflexão Conjunta. Passaremos a denominar esse modelo aprimorado como

“modelo Refletic” e consideramos esse termo adequado ao nosso modelo de

formação de professores, pois remete diretamente a ideia de movimento de reflexão

viabilizado por cada uma das etapas no estudo, seleção, elaboração, reelaboração e

realização das atividades envolvendo softwares educativos. Esse movimento de

reflexão contribui para que os professores, mesmo que em níveis diferentes,

realizem a construção-consolidação-mobilização de conhecimentos tecnológicos

pedagógicos, favorecendo a integração das tecnologias da informação e

comunicação na prática profissional.

Apresentamos a seguir as sete etapas que propomos e que se fizeram

presentes durante a realização do processo de formação:

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1. ESTUDO – é o momento em que as professoras participantes respondem as

questões fundamentais para o início da sua participação no processo de

formação: por que, para quê e como utilizar determinado software educativo?

2. DECISÃO – a partir da discussão nos encontros do grupo de formação as

professoras elaboram a atividade utilizando software educativo a ser

desenvolvida com os recursos disponíveis na escola.

3. PREPARAÇÃO – é o momento em que as professoras apresentam, no

próprio grupo, uma prévia das atividades previstas para serem desenvolvidas

na escola. Esse momento é realizado durante os encontros de formação.

4. INTERAÇÃO – esse é um momento coletivo em que as professoras

conversam com o grupo sobre a realização da atividade, o que precisa ser

melhorado, o que esta de acordo etc.

5. REFLEXÃO INDIVIDUAL – a professora reflete individualmente sobre as

contribuições dos outros professores para a reelaboração da atividade. Ou

seja, o momento individual em que a professora reflete sobre a realização da

atividade.

6. PRÁTICA NA ESCOLA – a professora assume seu protagonismo e realiza a

oficina na escola para os demais professores da unidade escolar em que

atua. É o momento em que as professoras vão para suas escolas

desenvolver atividades (oficinas) preparadas nas etapas anteriores. Esse

momento é realizado em horário de trabalho coletivo para os demais

professores da unidade escolar.

7. REFLEXÃO CONJUNTA – momento em que o grupo se reúne para a

reflexão coletiva sobre o processo de formação como um todo. O

conhecimento construído durante o processo de formação passa a ser

compartilhado e a fazer parte do repertório pedagógico do grupo de formação.

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De acordo com a estrutura apresentada e como pode ser observado na figura

3, além de considerar as etapas já mencionadas no estudo de Costa (2012),

entendemos a necessidade de duas etapas específicas sobre as oficinas: “prática na

escola” consolidada pela realização das oficinas nas escolas e a “reflexão conjunta”,

que é o momento em que o grupo se reúne para a reflexão coletiva sobre o

processo de formação como um todo.

Outro ponto a ser destacado é que no modelo RefleTic, damos ênfase ao

desenvolvimento de atividades, envolvendo softwares educativos como um meio

para a utilização dos recursos tecnológicos.

Além dos elementos apresentados anteriormente esse aprimoramento

também foi necessário, pois o modelo proposto por Costa (2012) tem em sua

terceira etapa “prática”, a experimentação com os alunos. No nosso caso, essa

“prática” é apresentada na sexta etapa e foi realizada exclusivamente com os

professores da própria escola, em horário de trabalho pedagógico coletivo por meio

da realização de oficinas, cuja temática foi a integração das recentes tecnologias na

sala de aula por meio de atividades envolvendo softwares educativos.

Dessa forma, o modelo que utilizamos ficou da seguinte maneira:

Figura 3 – Diagrama do modelo RefleTic, aprimorado de Costa (2012)

É Importante destacar que todas essas etapas, apesar de serem

apresentadas seguindo uma linearidade, são cíclicas, destacamos. Ou seja,

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verificamos que, ao longo de todo o processo de formação que propomos às

professoras, à medida que sentiam necessidade, retornavam para uma ou mais

etapas que julgavam ainda não ser consolidada. Durante as apresentações,

algumas professoras no próprio encontro reelaboravam as atividades, enquanto

outras precisavam de outro encontro para apresentar. Ou seja, elas precisavam ver

as outras professoras apresentarem para se sentirem seguras na reelaboração de

sua apresentação.

Semelhantemente ao modelo f@r, consideramos também para o

desenvolvimento do modelo RefleTic, o referencial Conhecimento Tecnológico e

Pedagógico do Conteúdo - CTPC, pois pelas mesmas razões consideradas por

Costa (2012), concordamos que o CTPC apresenta e detalha com propriedade cada

um dos conhecimentos integrantes, bem como suas inter-relações para uma efetiva

integração dos atuais recursos tecnológicos em sua prática pedagógica. Uma

profunda compreensão desse referencial contribuiu na medida em que podemos

pensar em um processo de formação que busca possibilitar um ambiente favorável

para que as professoras possam refletir no sentido de aproximar e integrar os

conhecimentos que cada uma delas possui, quando de sua participação no processo

de formação.

Além disso, tendo como referência o CTPC, será possível perceber como

cada professor mobiliza em diferentes níveis cada um dos conhecimentos, bem

como suas inter-relações. Pode-se perceber que algum professor possua um

conhecimento tecnológico adequado, no entanto, pode-se precisar aprofundar o

conhecimento de determinado conteúdo. Outro professor pode demonstrar possuir

um conhecimento adequado de um conteúdo específico, contudo, pode precisar

desenvolver e se apropriar de um conhecimento tecnológico pedagógico para poder

preparar sua atividade, utilizando o conteúdo escolhido. Mas, ao final de um

processo de formação, o modelo RefleTic pode favorecer a percepção de que a

maior contribuição será no desenvolvimento integrado dos três conhecimentos

apresentados no CTPC e que culmina em um Conhecimento Tecnológico e

Pedagógico do Conteúdo, tanto em nível individual quanto coletivo.

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CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado sob a perspectiva de uma metodologia de pesquisa

qualitativa que, segundo Creswell (2010), apresenta as seguintes características:

[...] emprega diferentes concepções filosóficas; estratégias de investigação; e métodos de coleta, análise e interpretação dos dados. [...] os procedimentos qualitativos baseiam-se em dados de texto e imagem, têm passos singulares na análise dos dados e se valem de diferentes estratégias de investigação (CRESWELL, 2010, p. 207).

Os dados foram obtidos a partir de questionários de pergunta aberta (anexos

1, 2 e 3) e da observação participante nos encontros de formação7, realizados às

quartas-feiras no laboratório do EDUMATEC, e também nas oficinas8 oferecidas nas

escolas durante o horário de trabalho pedagógico coletivo – HTPC e JEIF para

outros professores da mesma unidade escolar. Pois, de acordo com o artigo 13 da

Lei Complementar n. 836, de 30 de dezembro de 1997, “as horas de trabalho

pedagógico na escola deverão ser utilizadas para reuniões e outras atividades

pedagógicas e de estudo, de caráter coletivo, organizadas pelo estabelecimento de

ensino, bem como para atendimento a pais de alunos”.

Apresentamos a seguir os encontros de formação e as oficinas

oferecidas/realizadas nas escolas.

Os encontros de formação foram momentos coletivos e colaborativos de

estudo compartilhado em que o grupo se encontrou presencialmente para a

realização de várias atividades. Para o desenvolvimento deste trabalho, os

encontros serviram para: estudo e seleção de softwares educativos, preparação das

atividades envolvendo o uso de softwares educativos para a realização das oficinas

nas escolas, interação e discussão em grupo sobre as atividades elaboradas,

discussão e aprofundamento de alguns conteúdos matemáticos, e momentos de

reflexão individual e conjunta.

7 No capítulo 3, página 52, item 3.3, falaremos mais detalhadamente sobre os encontros de formação. 8 No capítulo 4, página 69, item 4.3, falaremos mais detalhadamente sobre as oficinas realizadas nas escolas.

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As oficinas foram os momentos em que cada uma das professoras foi até a

escola em que atuava e, durante o horário de trabalho pedagógico coletivo,

desenvolveu atividades que tiveram como objetivo trabalhar com os professores da

unidade escolar o ensino de Matemática, mediado pelo uso das mais recentes

tecnologias a partir de atividades, utilizando softwares educativos e que foram

elaboradas pelas docentes participantes dessa pesquisa durante os encontros de

formação. Cada uma das professoras foi a responsável pelo desenvolvimento da

oficina em sua escola, a nossa função foi de dar suporte a elas.

As atividades apresentadas nas oficinas foram realizadas em duas etapas. A

primeira etapa envolveu a apresentação de slides pela professora sobre a temática,

bem como a fundamentação teórica. A segunda etapa foi a realização de atividades

práticas, envolvendo o uso de softwares educativos nos computadores da escola.

O projeto para a realização deste trabalho foi submetido ao Comitê de Ética

em Pesquisa da PUC/SP, cadastrado na Plataforma Brasil, sob a aprovação nº

CAAE 46243115.1.0000.5482.

O comunicado da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP

de 29 de janeiro de 2008 caracteriza o HTPC como espaço de “formação continuada

dos educadores, propulsor de momentos privilegiados de estudos, discussão e

reflexão das propostas curriculares e melhoria da prática docente”. Em nível de

esclarecimento, a partir de 2012, na rede estadual de São Paulo, o HTPC (Hora de

Trabalho Pedagógico Coletivo) passou a ser denominado como ATPC – Aulas de

Trabalho Pedagógico Coletivo.

Na rede municipal de ensino de São Paulo, a formação continuada dos

professores é realizada durante os encontros coletivos chamados de JEIF (Jornada

Especial Integral de Formação).

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, os dados recolhidos são

apresentados na forma descritiva, não se resumindo apenas a números. A nosso

ver, essa formação pela qual as professoras passaram, teve resultados positivos,

contudo, nossa atenção foi direcionada à análise do processo. Toda a análise, ainda

que com algumas variações, buscou atender as características da investigação

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qualitativa apresentadas por Bogdan e Biklen (1994), que, resumidamente,

apresentamos a seguir:

1. Na investigação qualitativa, a fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador, o instrumento principal;

2. A investigação qualitativa é descritiva;

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos;

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de

forma indutiva;

5. O significado é de importância vital na abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.47-50).

Como o objetivo deste trabalho foi identificar as contribuições do processo

formativo no uso de softwares matemáticos, e como esse processo formativo

envolveu encontros na universidade e oficinas nas escolas, uma das etapas para

atingir este objetivo foi tentarmos compreender como as professoras perceberam o

processo formativo de preparação das oficinas e seu desenvolvimento na escola.

Dessa forma, por meio de questionários (anexos 1, 2 e 3) e gravações de

áudio e vídeo das observações, buscou-se identificar algumas características que

consideramos importantes na realização do processo de formação no uso de

softwares educativos para professores que lecionam matemática nos anos iniciais

do ensino fundamental participantes do grupo colaborativo.

3.1 - Instrumentos de Coletas de Dados

Como já mencionado anteriormente, os dados foram coletados por meio de

observações participantes nos encontros e oficinas realizadas no segundo semestre

de 2013, com realização de gravações de áudio e vídeo. Além disso, fizemos uso de

questionários (anexos 1, 2 e 3). Por meio desses dados coletados, foi possível

identificar percepções das professoras em relação ao processo de formação pelo

qual estavam passando.

Para esta pesquisa, a escolha da observação participante se deu pelo fato de

podermos obter os dados com mais detalhes. Indo ao encontro das características

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de observação participante, apresentadas por Fiorentini e Lorenzato, para quem a

coleta de dados:

[...] é realizada junto aos comportamentos naturais das pessoas quando essas estão conversando, ouvindo, trabalhando, estudando em classe, [...] (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, 107). Além disso, se, por um lado, a observação pode provocar alterações no comportamento dos observados, por outro, a observação in loco facilita a compreensão do significado que esses dão à realidade (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, 108).

Nos encontros de formação, durante as discussões e preparações para as

oficinas, as professoras foram incentivadas a expor o seu ponto de vista sobre o uso

de softwares educativos, principalmente por meio dos recursos computacionais em

suas aulas. Esse incentivo se deu também por meio de questionamentos e

orientações ao grupo de professoras sobre a elaboração e construção de atividades.

As informações, em nível de complementação, também foram obtidas por

meio de questionários com perguntas abertas, pois de acordo com Fiorentini e

Lorenzato (2012, p.117), estas são mais indicadas para a coleta de informações

qualitativas.

O uso de questionários com perguntas abertas foi utilizado para podermos

identificar quais os conhecimentos e percepções das professoras participantes sobre

o uso dos recursos tecnológicos e softwares educativos disponíveis para uso em

sala de aula antes e durante o processo de formação. Foram aplicados três

questionários.

O primeiro questionário (anexo 1) foi aplicado no primeiro encontro do grupo

de formação no início do segundo semestre de 2013. Esse questionário teve como

objetivo obter informações iniciais sobre as percepções das professoras acerca do

uso de software educativo em sala de aula.

Além disso, as respostas a esse primeiro questionário, analisadas juntamente

com as observações e discussões realizadas durante os primeiros encontros de

formação que se seguiram, forneceram subsídios que nos permitiram evidenciar a

realização das duas primeiras etapas do processo de formação, “Estudo” e

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“Decisão”, que propomos no referencial teórico utilizado para a realização deste

trabalho.

O segundo questionário (anexo 2) foi aplicado após a realização dos estudos

para seleção dos softwares educativos e da decisão das atividades a serem

apresentadas nas oficinas. Esse questionário teve uma única questão com o objetivo

de fazer uma avaliação sobre o processo de formação ocorrido até então. Buscou-se

por meio deste, identificar as contribuições que as reflexões individuais e coletivas

sobre esse processo proporcionaram à formação continuada das professoras ao se

discutir sobre a temática do uso da tecnologia na escola e suas possibilidades, e

sobre o uso dos softwares educativos trabalhados e apresentados no grupo de

formação.

Além disso, as respostas a esse segundo questionário, analisadas juntamente

com as observações e discussões realizadas durante os encontros de formação

ocorridos até então, forneceram subsídios que nos permitiram evidenciar a

realização de mais três etapas do processo de formação que, respectivamente,

representam a terceira, a quarta e a quinta etapa, são elas: “Preparação”,

“Interação” e “Reflexão Individual”, que propomos no referencial teórico utilizado

para a realização deste trabalho.

O terceiro questionário (anexo 3) foi aplicado após a realização de cada uma

das oficinas nas escolas. Esse questionário teve como objetivo obter informações

sobre as percepções dos professores que participaram da oficina na escola. Ele foi

constituído por questões que buscavam, por meio das respostas dos professores,

identificar se o assunto abordado na oficina apresentou novas ideias para o seu

trabalho em sala de aula no ensino de Matemática. Além disso, buscou-se também,

nas respostas, informações que nos permitissem verificar as percepções dos

professores, sobre o uso de softwares educativos para auxiliar a aprendizagem de

Matemática.

As respostas a esse terceiro questionário, analisadas juntamente com as

observações e discussões realizadas durante a realização das oficinas, bem como a

própria prática de realização das oficinas nas escolas, nos forneceram subsídios que

nos permitiram evidenciar a realização da sexta etapa do processo de formação,

“Prática na Escola”, que propomos no referencial teórico utilizado para a realização

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deste trabalho. As análises das respostas dos questionários serão apresentadas

mais adiante no capítulo 4.

Além dos questionários também foram utilizados os recursos audiovisuais

como as gravações de áudio dos encontros e vídeos das oficinas. Segundo Creswel

(2013, p. 213), trata-se de “um método conveniente de coleta de dados”, além de

proporcionar aos participantes, “compartilharem diretamente sua realidade”.

A utilização dos recursos audiovisuais foi de fundamental importância para o

desenvolvimento deste trabalho como um todo. Mas se fez mais necessário ainda

para análise da parte final do processo de formação proposto. Por meio da análise

das situações gravadas, foi possível coletar e selecionar dados que nos permitiram

evidenciar a realização das duas últimas etapas do processo de formação, “Prática

na Escola” e “Reflexão Conjunta”, que propomos no referencial teórico utilizado para

a realização deste trabalho.

Apresentamos a seguir os passos do trabalho desenvolvido com as

professoras. Estes passos englobam as etapas propostas no referencial teórico que

aprimoramos (modelo RefleTic) e serão utilizados na análise dos dados coletados.

Pesquisa prévia sobre os softwares educativos disponíveis para o ensino de

matemática nos anos iniciais do ensino fundamental.

Estudo dos softwares educativos indicados pelas professoras.

Seleção dos softwares educativos para a elaboração da atividade.

Preparação das oficinas sobre o uso de softwares educativos no ensino de

matemática.

Interação com o grupo de formação para apresentação da atividade

elaborada.

Reflexão individual da professora sobre as contribuições dos outros

professores acerca da validação e/ou reelaboração da atividade.

Desenvolvimento das oficinas nas escolas.

Reflexão conjunta com o grupo de professores sobre as oficinas.

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3.2 – Sujeitos da Pesquisa

Para a realização dessa pesquisa, participaram cinco professoras que atuam

em cinco escolas da rede pública da cidade de São Paulo - SP, três em escolas

municipais e duas em escolas estaduais. Quatro professoras trabalham nos anos

iniciais e uma na educação infantil.

Essas professoras, que possuem formações e trajetórias profissionais

distintas, compartilham do mesmo desejo de buscar complementar a sua formação e

buscar subsídios que possam contribuir para a melhoria de sua prática de sala de

aula. Elas vislumbram, na participação em processos de formação como esse que

propomos, encontrar respostas, compartilhar experiências, dúvidas, anseios e

angústias relacionados à sua prática profissional.

Toda essa diversidade contribuiu para a constituição do grupo, tendo em vista

que o compartilhamento é um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do

processo de formação que propomos ao longo deste trabalho.

Durante o desenvolvimento deste trabalho, com o objetivo de garantir o

anonimato das professoras, passaremos a denominar as professoras por P1, P2,

P3, P4 e P5. No quadro a seguir caracterizamos brevemente as professoras,

apresentando respectivamente a qual rede pertence a escola em que trabalham

(Estadual ou Municipal), a região onde está localizada a escola e o nível de ensino

em que atuam em suas escolas.

Quadro 01: Sujeitos da Pesquisa

Sujeito Escola que trabalha Região da Escola Nível de Ensino

P1 Estadual Central Anos Iniciais

P2 Municipal Leste Educação Infantil

P3 Municipal Leste Anos Iniciais

P4 Estadual Central Anos Iniciais

P5 Municipal Sul Anos Iniciais

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3.3 – Encontros de formação

No final do primeiro semestre de 2013, foi solicitado às professoras que,

durante o período de recesso escolar, realizassem um levantamento prévio sobre os

softwares educativos disponíveis para o ensino dos conteúdos matemáticos nos

anos iniciais. Não foram dadas orientações mais aprofundadas para que as

professoras pudessem realizar essa pesquisa. No início do segundo semestre de

2013 as professoras apresentaram os resultados parciais das pesquisas realizadas

até aquele momento.

As professoras trouxeram como resultado da pesquisa que realizaram, alguns

softwares educativos que abordavam conteúdos de lógica, as quatro operações,

números decimais e geometria plana. O grupo organizou-se em duplas para que,

nos encontros que se seguiram, apresentassem uma proposta de atividade,

utilizando um dos softwares educativos para ser desenvolvida em forma de oficina

nas escolas em que atuam para outros professores da escola. A previsão de

realização das oficinas foi para o mês de novembro de 2013, em horários de

trabalho coletivo dos professores das escolas, durante os encontros de ATPC e

JEIF.

Durante as apresentações das atividades no grupo de formação, havia uma

discussão sobre as principais características, contribuições e possíveis obstáculos

na utilização desses recursos para o ensino e aprendizagem da matemática.

A cada apresentação das professoras o grupo de pesquisa fez as sugestões e

intervenções necessárias. Foram realizados 13 encontros para orientações,

discussões e preparação das oficinas e dois encontros para a avaliação final.

Apresentamos a seguir no Quadro 2, o resumo das atividades realizadas nos

encontros ocorridos no segundo semestre de 2013.

Quadro 2: Resumo das atividades realizadas nos encontros de formação

Data Assuntos tratados

07.08

Apresentação do cronograma, orientações e perspectivas para o projeto

de formação do semestre. Preenchimento do primeiro questionário (anexo

1) pelas professoras sobre a tarefa executada. Breve exposição das

tarefas.

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Data Assuntos tratados

14.08

Apresentação e discussão das tarefas sobre alguns jogos computacionais

e softwares matemáticos. Utilização do laboratório EDUMATEC para

exploração pelas professoras do software GeogebraPrim.

21.08 Continuação da apresentação e discussão das tarefas e estudo de jogos

computacionais e softwares no laboratório de informática.

28.08

Continuação, no laboratório de informática do EDUMATEC, das

discussões e ajustes finais sobre a seleção dos softwares e jogos

computacionais. Orientação e planejamento para a realização das oficinas.

04.09

Continuação, no laboratório de informática do EDUMATEC, das

discussões e ajustes finais sobre a seleção dos softwares e jogos

computacionais.

11.09 Apresentação prévia pelas professoras P1 e P3 das oficinas a serem

realizadas nas escolas.

18.09 Apresentação por uma das pesquisadoras participantes do grupo de uma

proposta de atividade utilizando o software Poly.

25.09 Apresentação prévia pelas professoras P2, P4 e P5 das oficinas a serem

realizadas nas escolas.

02.10 Avaliação geral das atividades apresentadas, preenchimento do segundo

questionário (anexo 2).

09.10 Início do planejamento das oficinas a serem realizadas nas escolas.

Reapresentação do seminário da professora P5.

16.10 Continuação do planejamento das oficinas. Apresentação dos slides que

serão utilizados nas oficinas pelas Professoras P1, P3 e P4.

23.10 Continuação do planejamento das oficinas. Apresentação dos slides que

serão utilizados na oficina pela professora P2.

30.10

Continuação do planejamento das oficinas. Apresentação dos slides que

serão utilizados na oficina pela professora P5. Apresentação do calendário

das oficinas.

13.11 Continuação dos relatos da Avaliação das oficinas realizadas nas escolas

das professoras P3 e P4.

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Apresentamos a seguir os principais pontos discutidos em cada um dos

encontros realizados.

No encontro realizado em 07/08/2013, inicialmente, foi solicitado às

professoras que respondessem um questionário (anexo 1) a respeito das tarefas

executadas no mês de julho. A tarefa consistia em uma pesquisa de softwares

educativos que pudessem ser usados com alunos dos anos iniciais e que

contribuíssem para o ensino e aprendizagem da matemática. Logo após o

preenchimento do questionário, houve uma breve exposição de algumas das

pesquisas realizadas pelas professoras.

Já na parte final do encontro, após a explanação sobre as pesquisas

realizadas, ficou definido que durante o semestre, seriam desenvolvidos estudos de

alguns dos softwares educativos pesquisados pelas professoras. Para isso, foi

proposto para as professoras que elas preparassem uma atividade, utilizando um ou

mais softwares educativos e apresentassem para o grupo. Dessa forma, faríamos

uma discussão das atividades e uma avaliação geral e, após essa etapa,

escolheríamos algumas dessas atividades para apresentação nas escolas por meio

de oficinas.

No encontro realizado em 14/08/2015, foi dada continuidade à apresentação e

discussão das tarefas realizadas pelas professoras. Neste dia, utilizamos o

laboratório de informática do grupo EDUMATEC para que as professoras pudessem

conhecer e explorar o software GeogebraPrim9, que é indicado para o

desenvolvimento de atividades na educação infantil e anos iniciais, níveis de ensino

em que as professoras participantes do processo de formação atuam.

Durante a discussão e desenvolvimento das atividades foi sugerido às

professoras que tivessem como objetivo principal, no desenvolvimento das oficinas,

desafiar e despertar, nos professores participantes das oficinas em suas escolas, o

desejo de experimentar e utilizar o software educativo com seus alunos.

O encontro realizado em 21/08/2013 também foi no laboratório de informática

EDUMATEC. Em comum acordo, o grupo definiu que, em função do tempo

disponível em cada escola para o desenvolvimento das oficinas, deveria ser utilizado

9 Disponível para download em https://www.geogebra.org/webstart/4.0/GeoGebraPrim.jnlp.

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apenas um software educativo em todas as oficinas. As professoras foram

orientadas para que as atividades fossem elaboradas levando em consideração o

tempo de duração suficiente para manipulação, inclusive com aporte teórico. Foi

orientado também que pensassem no material impresso para entregar para as

professoras participantes das oficinas.

O encontro teve continuidade com mais uma apresentação de uma das

professoras sobre a tarefa executada. Todas as atividades apresentadas nos

encontros, até então, e que foram obtidas, a partir da tarefa solicitada às

professoras, foram impressas e entregues para cada professora. A reunião

continuou com a livre manipulação dos seguintes softwares educativos trazidos

pelas professoras: Poli, Geogebra, além dos softwares educativos disponíveis em

CD de jogos didáticos (Só Matemática) e CD de jogos para auxiliar no ensino de

matemática (Só Matemática).

O encontro realizado em 28/08/2013 continuou sendo no laboratório de

informática do EDUMATEC dando continuidade às discussões e ajustes finais sobre

a seleção dos softwares educativos. Foi solicitado às professoras, que verificassem

a quantidade de computadores, em funcionamento, disponíveis na escola, para

desenvolvimento das atividades da oficina e se já estavam instalados os softwares

educativos que seriam utilizados. Caso não estivessem, a instalação deveria ser

providenciada antes da data de realização das oficinas.

Foi solicitado também, que o grupo se precavesse para uma eventual falta de

acesso a internet, dessa maneira, deveria se pensar em outros recursos para o dia

da oficina, por exemplo, uma atividade reserva que não precisasse do acesso à

internet. Combinou-se que no dia da oficina nas escolas, as professoras teriam que

chegar mais cedo ao local e deixar tudo pronto para o desenvolvimento das

atividades planejadas, otimizando dessa forma, o tempo disponível para a realização

da oficina.

O encontro realizado em 04/09/2013 continuou sendo no laboratório de

informática EDUMATEC dando continuidade às discussões e ajustes finais sobre a

seleção dos softwares educativos. Durante as discussões, ficou combinado que, no

próximo encontro, as professoras P1 e P3 realizariam uma apresentação sobre

softwares educativos com o objetivo de preparação e avaliação prévia das oficinas

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que seriam realizadas nas escolas, foi estipulado o máximo de 20 minutos para cada

apresentação.

O encontro realizado em 11/09/2013 continuou sendo no laboratório de

informática do EDUMATEC, com a prévia da apresentação das oficinas que seriam

desenvolvidas nas escolas. Iniciamos com a professora P3 apresentado a atividade

denominada por ela “Uma sequência didática de Matemática, utilizando um software

simulador”. O software educativo utilizado faz referência a um mercado virtual que

utiliza o nosso sistema monetário em situações-problema, cuja finalidade é uma

aproximação do cotidiano do aluno, por meio virtual.

Dando sequência, a professora P1 apresentou a atividade denominada por

ela “Jogos Matemáticos” com utilização do jogo “Subindo e descendo com a

multiplicação”, de acordo com a professora o objetivo principal do jogo é a

memorização da tabuada de maneira lúdica, estimulando a aprendizagem em um

ambiente descontraído e competitivo entre os alunos.

No encontro do dia 18/09/2013 uma das pesquisadoras participantes do grupo

de formação apresentou uma proposta de atividade para alunos do 1º ano do ensino

fundamental, utilizando o software educativo Poly, com o intuito de discutir sobre

“espaço e forma”. A atividade consistiu em comparar, inicialmente, os sólidos

geométricos com embalagens presentes no cotidiano dos alunos e, posteriormente,

com as figuras no software Poly. Posteriormente, um dos doutorandos, e uma das

pesquisadoras explicaram sobre os polígonos regulares de Platão e irregulares de

Arquimedes.

O encontro do dia 25/09/2013 foi realizado no laboratório de informática

EDUMATEC, dando sequência às apresentações das oficinas que seriam

desenvolvidas nas escolas. Inicialmente, tivemos a professora P4 apresentando sua

proposta de atividade utilizando o jogo “Feche a caixa”, cujo foco principal é o

desenvolvimento de habilidades envolvendo as operações de adição e subtração por

meio do cálculo mental.

Em seguida, tivemos a professora P2 apresentando sua proposta de

atividade, utilizando jogos computacionais de acesso online, são eles: “jogo da

cerca”, “formas geométricas” e “formas e desenhos”. O objetivo principal, na

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realização de atividades pelos alunos, utilizando esses jogos, é o desenvolvimento

de habilidades relacionadas ao reconhecimento das formas geométricas planas.

Para finalizar, tivemos a professora P5 apresentando sua proposta de

atividade, utilizando o jogo computacional “Jungle Brain”, também para acesso

online, cujo objetivo principal é desenvolver habilidades relacionadas ao cálculo

mental.

No encontro realizado em 09/10/2013 demos início ao planejamento das

oficinas que foram realizadas nas escolas. Na sequência tivemos a reapresentação

da atividade da professora P5, denominada “Por que trabalhar com jogos

computacionais?”, titulo este que foi sugerido tendo como referência o

desenvolvimento da oficina, utilizando o jogo “Buscando o tesouro perdido – Jungle

Brain”.

No encontro realizado em 16/10/2013, tivemos a reapresentação dos slides

que foram utilizados nos dias das oficinas com o objetivo de verificarmos se havia a

necessidade de alterações. As apresentações foram realizadas pelas professoras

P1, P3 e P4.

No encontro realizado em 23/10/2013, continuamos com o planejamento das

oficinas e tivemos a reapresentação dos slides que foram utilizados nos dias das

oficinas com o objetivo de verificarmos se havia a necessidade de alterações. Foi

realizada a apresentação pela professora P2.

No encontro realizado em 30/10/2013, continuamos com o planejamento das

oficinas e tivemos a reapresentação dos slides que foram utilizados nos dias das

oficinas com o objetivo de verificarmos se havia a necessidade de alterações. Foi

realizada a apresentação pela professora P5. Na sequência, foi entregue para as

professoras P1, P2 e P3, os certificados e questionários (anexo 3) a serem

disponibilizados aos professores participantes das oficinas nas escolas.

Nos dois encontros do grupo de formação que aconteceram após a realização

das oficinas nas escolas, foi o momento em que as professoras tiveram a

oportunidade de relatar como foram as oficinas. As professoras que conduziram as

oficinas em suas respectivas escolas tiveram a oportunidade de contar como foi a

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realização das atividades propostas, bem como sua percepção sobre sua

participação nesse processo.

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CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo apresentamos a análise dos resultados obtidos. Toda a

análise, ainda que com algumas variações, buscou atender fundamentalmente as

características de uma investigação do tipo qualitativa de acordo com os critérios

apresentados em Bogdan e Biklen (1994). Por se tratar de uma pesquisa qualitativa,

os dados recolhidos são apresentados na forma descritiva, não se resumindo

apenas a números. A nosso ver, esse processo de formação pelo qual as

professoras passaram, teve resultados positivos, contudo, conforme pode ser

verificado a seguir, a nossa atenção foi direcionada à análise do processo.

Como já mencionado no capítulo anterior, no último encontro do processo de

formação, no final do primeiro semestre de 2013, solicitamos às professoras que

realizassem um levantamento prévio sobre os softwares educativos disponíveis e

que pudessem contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da matemática.

Optamos, nesse primeiro momento, por não intervir nesse processo de pesquisa

proposto às professoras. Dessa forma, não foram dadas orientações mais

específicas de como realizar esse levantamento.

No retorno às atividades do grupo durante o primeiro encontro de formação,

previsto para o segundo semestre de 2013, as professoras apresentaram os

resultados obtidos a partir da pesquisa proposta no final do primeiro semestre.

Foram apresentados pelas professoras alguns softwares educativos com

vistas ao ensino da matemática. Com base na seleção dos softwares feita pelas

professoras percebemos que a escolha foi direcionada para a escolha de jogos

computacionais. Acreditamos que a escolha teve como critério, além do ensino da

matemática, o aspecto lúdico que o jogo proporciona.

Os softwares selecionados tinham como objetivo, o desenvolvimento da

lógica, as quatro operações, números decimais e geometria plana.

Ainda nesse primeiro encontro, as professoras responderam um questionário

(anexo 1) com perguntas abertas. Apresentamos a seguir a análise de algumas das

respostas que selecionamos.

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4.1 - Percepções das Professoras sobre o uso de Software Educativo em Sala

de Aula

Os dados coletados com as respostas ao primeiro questionário (anexo 1),

aplicado no primeiro encontro do grupo de formação no início do segundo semestre

de 2013, permitiram levantar informações sobre as percepções das professoras

sobre o uso de software educativo em sala de aula. Além disso, possibilitou um

diálogo com as observações e discussões realizadas nos encontros de formação

que se seguiram.

Primeiramente, apontamos se as professoras apresentaram dificuldades para

encontrar/selecionar softwares educativos (jogos, simuladores, etc) disponíveis para

o ensino de matemática. De um lado, tivemos professoras, que em suas respostas

demonstraram que não encontraram dificuldades, como pode ser verificado por meio

das respostas dadas pelas professoras P1 e P3:

Não, pelo contrário! Tive muito interesse em realizar a atividade, pois acreditei que através dessa pesquisa poderia ampliar meus conhecimentos matemáticos de uma forma lúdica e repassá-los aos meus alunos. (P1, Questionário 1, 2013) Não. Na área da educação infantil, há esta diversidade para o desenvolvimento das atividades para aprendizagem sendo um recurso rico. (P3, Questionário 1, 2013)

Ainda com base na resposta da professora P1, é possível verificar que ela

entendeu a tarefa de buscar softwares como um momento de aprendizado,

adquirindo novos conhecimentos para trabalhar com seus alunos.

Verificamos por meio da resposta da professora P3, o reconhecimento da

importância do uso de softwares educativos como mais um recurso que pode

contribuir para o processo de ensino e aprendizagem.

De outro lado, tivemos uma professora que encontrou algumas dificuldades,

como pode ser verificado na resposta dada pela professora P2:

Houve algumas dúvidas. Encontrei e testei pessoalmente alguns jogos e aplicativos. Eis a minha dúvida: hoje vemos muitos aplicativos para crianças em relação à matemática e há jogos em alguns sites. Posso escolher tanto

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um quanto o outro? Considero o aplicativo de uso individual, mas pode ser interessante para os alunos. Podem ser indicados? (P2, Questionário 1, 2013)

A professora P2 relata que teve dúvidas para realizar a tarefa, tendo em vista

a grande oferta de softwares disponíveis na internet. A professora, ao se deparar

com a grande quantidade de softwares que existem hoje, ficou na dúvida em como

ela poderia utilizar em suas aulas. Se poderia ser de sites, uso individual ou em

grupo. Pela variedade encontrada, a professora ficou em dúvida em qual escolher,

nesse sentido, dizer que há muitas opções de repente para o professor é um

empecilho para que ele utilize. Nessa perspectiva, verifica-se que o professor pode

ter dificuldades para estabelecer critérios para selecionar um software educativo,

para saber como usar e como avaliar em sua sala de aula.

Em relação ao papel do jogo na aprendizagem da matemática, primeiramente

pudemos verificar que as professoras apresentavam entendimentos diferentes para

a palavra jogo, e dificuldades em compreender as possibilidades de um jogo

educativo computacional para ensinar matemática. É só para distrair? Não ensina

nada? Serve para motivar? Não se trabalha conteúdo? As professoras P1 e P5

responderam que:

O papel do jogo é motivar e despertar no aluno uma aprendizagem significativa, real e prazerosa! (P1, Questionário 1, 2013). Desenvolver o raciocínio lógico, entre outras habilidades, além de trabalhar a ludicidade. (P5, Questionário 1, 2013)

Essas respostas acabam revelando que algumas professoras têm uma

percepção sobre o jogo um tanto quanto ampla e fundamentada em um discurso

com aspectos pedagógicos, mas ainda, simultaneamente assentado no senso

comum.

Já as respostas das professoras P2 e P3 revelam uma maior preocupação

com o aspecto educacional no uso do jogo. Para a professora P2,

o jogo na aprendizagem da matemática é um ótimo recurso que amplia as possibilidades para que os alunos possam interagir mais facilmente, e desta

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forma recreativa, alcançar os objetivos do aprendizado. (P2, Questionário 1, 2013)

A resposta apresentada pela professora P3 avança no conceito sobre o

aspecto educacional do jogo do grupo de professoras. Para a Professora P3,

O jogo serve como uma atividade mais concreta para o aluno, mesmo quando apresentado virtualmente. Ele auxilia no raciocínio lógico da criança e trabalha habilidades de forma mais prazerosa para o aluno, pois possibilita desafios nos quais o aluno coloca em jogo, aquilo que sabe para descobrir ou resolver as questões ou problemas propostos pelo jogo. (P3, Questionário 1, 2013).

A professora P3, em sua resposta, declara que o jogo serve como uma

atividade mais concreta, mesmo sendo apresentada virtualmente, e mais prazerosa.

Neste ponto, entendemos como concreto “aquilo que auxilia no raciocínio lógico”,

que apresenta, ainda que implicitamente, a preocupação com o desenvolvimento do

conteúdo. Ou seja, sob essa perspectiva, o jogo propicia isso: auxilia no raciocínio

lógico e trabalha habilidades, pois possibilita desafios.

Os dados coletados nos colocam dois pontos: um que é o papel lúdico do

jogo sem uma preocupação explícita com o desenvolvimento do conteúdo e outro é

trabalhar um conteúdo de uma maneira mais prazerosa, mas sempre tendo em vista

a construção do conhecimento sobre determinado conteúdo matemático.

Ou seja, algumas professoras justificam as suas ideias fundamentadas em

uma fala recorrente (senso comum). No entanto, verificamos que há professoras que

avançam no conceito, pois exploram mais a ideia do papel do jogo no processo de

ensino e aprendizagem. Verifica-se que não é visto apenas o conteúdo, ou somente

o lúdico, mas sim uma integração/interação entre ambos os aspectos,

desenvolvendo diversas habilidades.

Dessa maneira, as respostas apresentadas pelas professoras sobre o papel

do jogo na aprendizagem da matemática fazem surgir a seguinte questão: “quando

utilizamos um jogo computacional, essas perspectivas permanecem?”.

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Sendo assim, foi perguntado também às professoras o que elas pensavam a

respeito do uso de jogos computacionais e softwares no ensino de Matemática. A

professora P1 argumenta que:

Após a pesquisa que fiz no mês de julho, percebi o quão rico e valoroso é o uso desses jogos nas aulas de matemática. Muitos conteúdos dados em sala de aula tornam-se simples, atraentes e claros quando são trabalhados no computador! (P1, Questionário 1, 2013)

A professora P1 revela em sua resposta que a tarefa proposta a elas

contribuiu para que ela pudesse perceber a importância do uso de softwares

educativos. Dessa forma, evidenciamos que um processo de formação como esse

que apresentamos nesse trabalho pode produzir resultados logo no início, quando

coloca o professor como protagonista ao realizar a pesquisa inicial.

Continuando com nossa análise, selecionamos a resposta apresentada pela

professora P2: “É mais uma ferramenta para o professor e uma atividade prazerosa

no ensino da matemática para o aluno”.(P2, Questionário 1, 2013).

A professora P2 revela em sua resposta que o software educativo é mais um

recurso educacional que o professor pode utilizar e que pode contribuir para o

processo de ensino e aprendizagem da matemática. Em nossa perspectiva, essa

visão é importante, pois vai de encontro a uma visão equivocada de que os recursos

computacionais, quando inseridos na sala de aula, devem ser utilizados com

exclusividade, abrindo mão da utilização dos demais recursos.

A professora P5 reconhece os papéis lúdico e motivador do uso de softwares

educativos. De acordo com a professora P5

[...] em primeiro lugar, um facilitador, uma vez que o aluno pode demonstrar mais interesse pelas atividades propostas. É uma maneira, também, de aprender brincando. Em geral, este aluno, ao jogar, desenvolve/executa diversas habilidades cognitivas e motoras. (P5, Questionário 1, 2013)

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Com base nas respostas apresentadas, fica claro que as professoras

compartilham da mesma visão e reconhecem a importância do uso de softwares

educativos como um recurso com potencial para contribuir para o ensino e a

aprendizagem da Matemática.

Até aqui se verifica, mediante as análises das respostas que temos, três

categorias de visão do papel do jogo computacional: o papel somente lúdico, o papel

somente para o desenvolvimento do conteúdo e o papel que integra ambos os

aspectos, lúdico e desenvolvimento de conteúdo.

Dando sequência a nossa análise, sobre o possível uso de algum jogo

computacional ou software em sala de aula. A professora P1 foi direta e respondeu

que já trabalhou com jogos disponíveis em sites. Já as respostas das professoras P2

e P5 revelam uma realidade ainda existente em muitas escolas.

Nas escolas municipais o uso da sala de informática tem algumas restrições: os jogos que podem ser usados devem ser autorizados. Por isso, temos poucos jogos. (P2, Questionário 1, 2013)

Eu ainda não utilizo porque as aulas de informática são dirigidas pelo professor da disciplina e a sala (de computadores) não fica disponível para uso em outras aulas. Apenas por isso! Eu adoraria trabalhar com estes recursos se os computadores estivessem disponíveis. (P5, Questionário 1, 2013).

Essas respostas mostram que nas escolas há alguns fatores que funcionam

como obstáculos para que ocorra o uso dos recursos computacionais, por exemplo,

restrições de acesso ao uso de computadores e da sala de informática, somente

alguns jogos podem ser utilizados, em muitos casos não é permitido ao professor

instalar jogos no computador etc.

Verifica-se também que a sala de informática é direcionada somente para ser

utilizada por um professor especialista da área de informática educacional. Essas

dificuldades acabam desmotivando o professor quanto ao uso de softwares

educativos e, consequentemente, das tecnologias disponíveis na escola. Não

podemos deixar de mencionar que essas questões apareceram durante as

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discussões realizadas nos encontros de formação e puderam ser observadas

quando da realização das oficinas nas escolas.

Com o objetivo de aprofundar mais sobre o assunto, perguntamos às

professoras se elas se sentiam confortável em trabalhar com softwares com seus

alunos. Algumas professoras declararam em suas respostas que se sentem

confortáveis em trabalhar com softwares (especificamente jogo computacional) com

seus alunos, desde que haja um planejamento, uma preparação prévia. Como

exemplo seguem as respostas das professoras P1 e P2.

Sim, acho muito tranquilo. O segredo é você se apropriar do conteúdo dos jogos, investigar e treinar. Depois, é necessário planejar uma aula com o conteúdo que está inserido do jogo escolhido. Depois é... SUCESSO. (P1, Questionário 1, 2013)

Sim. Gostaria muito de pesquisar e saber mais sobre outros jogos existentes, assim como quais habilidades cada jogo é capaz de trabalhar nos alunos com e sem deficiência. (P2, Questionário 1, 2013)

Vale destacar que a professora P2 revela uma preocupação em considerar o

aspecto inclusivo do jogo computacional. Apesar de apresentarmos apenas a

resposta da professora P2 com relação à preocupação do aspecto inclusivo,

devemos destacar que esse é um pensamento inerente à prática pedagógica de

todas as professoras que participaram desse processo de formação, assim como de

todos os integrantes que fazem parte do grupo de formação.

Perguntamos às professoras se houve alteração no modo como elas

pensavam o uso de softwares educativos no ensino de matemática após a

realização da tarefa. A professora P1 respondeu que: “Sim! Eu não via a hora de

experimentar a lição de casa com meus alunos. Foi um sucesso! Apliquei minha

atividade e eles se saíram muito bem! AMARAM!” (P1, Questionário 1, 2013).

Com base nessa resposta, fica evidente que a tarefa teve um papel motivador

para a professora, tanto que ela, por iniciativa própria, acabou por desenvolver a

atividade com seus alunos.

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Para a professora P2, a realização da tarefa permitiu a ela um movimento de

reflexão, reconhecendo que: “Ainda tenho muitas dúvidas e considero que preciso

pesquisar e estudar mais”. (P2, Questionário 1, 2013).

Dessa maneira, tendo como referência o modelo de formação que

aprimoramos, verificamos que as respostas obtidas nesse primeiro questionário

(anexo 1) vão ao encontro ao que apresentamos e discutimos na primeira e na

segunda etapa, denominadas respectivamente como o “Estudo” e “Decisão”.

Uma das professoras disse: “O segredo é você se apropriar do conteúdo dos

jogos, investigar e treinar”.(P1, Questionário 1, 2013). Os termos “investigar e

treinar” nos remetem à primeira etapa do modelo adotado, “Estudo”.

Como foi possível verificar, a análise das respostas revela que nesse

momento, mediante o estudo inicial (realização da tarefa), as professoras

encontraram subsídios que deram sustentação para que respondessem as questões

fundamentais para o início de sua participação no processo de formação. Ou seja,

com base no estudo realizado, as professoras puderam responder as questões

essenciais dessa etapa: por que, para que e como utilizar determinado software

educativo?

A partir da discussão nos encontros do grupo de formação, as professoras

decidiram qual a atividade com software educativo, seria aplicada, utilizando os

recursos disponíveis na escola. Vemos aqui a consolidação do que denominamos

como segunda etapa “Decisão” do Modelo de formação RefleTic.

4.2 - Avaliação do uso de softwares educativos na escola e suas

possibilidades

A análise anterior nos permitiu verificar a consolidação das etapas “Estudo” e

“Decisão”. Com o objetivo de buscarmos respostas que evidenciassem as próximas

etapas, seguimos com a análise das respostas do segundo questionário (anexo 2)

que teve como temática, a discussão sobre o uso de softwares educativos na escola

e suas possibilidades.

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A análise das observações que realizamos durante os encontros para a

preparação das atividades que foram apresentadas nas oficinas e da resposta do

segundo questionário (anexo 2) nos permitiu reconhecer elementos das etapas

“Preparação”, “Interação” e “Reflexão Individual” do modelo de formação que

adotamos.

O segundo questionário (anexo 2) foi aplicado após a realização dos estudos

para seleção dos softwares e da decisão das atividades a serem apresentadas nas

oficinas. Esse questionário teve como objetivo, fazer uma avaliação sobre o

processo de formação ocorrido até então. Além disso, buscou-se identificar as

contribuições que as reflexões individuais e coletivas sobre esse processo

proporcionaram à formação continuada das professoras ao se discutir sobre a

temática da tecnologia na escola e suas possibilidades de uso dos softwares

educativos estudados no grupo de formação.

Tendo como referência as etapas “Preparação”, “Interação” e “Reflexão

Individual” que, respectivamente, representam a terceira, a quarta e a quinta etapa

do modelo de formação adotado, destacamos algumas das respostas que

exemplificam esses momentos.

A professora P2 destaca a importância dos trabalhos apresentados nos

encontros de formação: “Foram apresentados trabalhos que enriqueceram nosso

conhecimento, tanto em questão de escolher qual trabalhar (software), como o

caminho a ser percorrido antes e depois (desdobramentos)”. (P2, Questionário 2,

2013).

A professora P3 também destaca a importância dos trabalhos apresentados:

Através das apresentações, notou-se interesse do grupo pelo auxílio dos jogos/softwares no aprendizado da matemática, sendo assim, mais um estímulo para que o professor possa possibilitar ao aluno a compreensão do conteúdo. (P3, Questionário 2, 2013).

Sobre a importância da preparação da atividade, a professora P5 destaca

que:

Esta temática nos permite rever conteúdos que já conhecemos e consolidá-los por meio dos jogos computacionais

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[...] me fez ver que há uma infinidade de ferramentas a serem exploradas, embora, trouxemos um pouquinho delas. (P5, Questionário 2, 2013)

Um aspecto que consideramos fundamental, e que se fez presente nas

observações que realizamos durante os encontros para a preparação das atividades

e nas respostas das professoras P2 e P3, é o reconhecimento da importância e da

necessidade de se apropriar de conteúdos matemáticos, bem como de processos

didáticos que contribuem para se alcançar o aprendizado esperado.

A professora P3 revela em sua avaliação que ainda está realizando reflexões

a respeito das possíveis estratégias de ensino de matemática utilizando softwares

educativos.

[...] sinto ainda a necessidade de alguns encontros com parte direcionada ao entendimento das estratégias matemáticas propriamente dita; onde éramos também direcionados ao conteúdo matemático (verificando o que é importante e necessário do contexto à aprendizagem e como chegar lá). (P3, Questionário 2, 2013)

A professora P2, em sua resposta, vai além, destacando também a

importância da fundamentação teórica quando da preparação da atividade. Para a

professora P2.

Uma grande ideia foi trazer na fundamentação teórica a importância da tecnologia para o trabalho em sala de aula, quando usá-la, por que usá-la e como adaptar os conteúdos oferecidos pelo software ao programa de conteúdos, montando uma sequência didática. (P2, Questionário 2, 2013)

Outro ponto que vale destacar é o reconhecimento, também pelas

professoras participantes, do potencial multiplicador que a preparação da atividade

possibilita para as interações que ocorrem antes e durante as oficinas. Eis aqui uma

das contribuições possibilitada por esse processo de formação apresentado ao

longo deste trabalho. O reconhecimento desse potencial multiplicador pode ser

verificado, mais claramente, através da resposta da professora P2 quando ela

declara que:

Para nós, receber as pesquisas em forma de oficinas, assim como o aparato matemático (linguagem, conteúdos, possibilidades) foi muito importante e acredito que a multiplicação nas escolas também traga um retorno positivo quanto ao estudo da matemática. (P2, Questionário 2, 2013).

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Dessa maneira, tendo como referência o modelo de formação que

aprimoramos, verificamos que as respostas obtidas nesse segundo questionário

(anexo 2) vão ao encontro do que apresentamos e discutimos nas etapas

“Preparação”, “Interação” e “Reflexão Individual”.

Como foi possível verificar, as análises das respostas revelam que o processo

de elaboração da atividade preparou para o desenvolvimento das oficinas nas

escolas. E o momento de interação no grupo de formação, ao apresentar e discutir a

atividade, contribuiu para que as professoras realizassem um movimento de reflexão

coletivo e individual. Para algumas professoras, verificamos que esses processos

não ocorreram de maneira linear, foi necessário passar pelas três etapas em

diferentes momentos para que conseguissem finalizar a atividade. Dessa forma,

percebemos que a realização dessas etapas ocorreu de maneira cíclica para

algumas professoras.

4.3 Oficinas realizadas nas escolas

Com as atividades prontas, chegamos ao momento de realização das

oficinas nas escolas. Esse é o momento em que se concretiza a sexta etapa do

modelo de formação que adotamos, etapa esta que denominamos como “Prática na

Escola”.

Para a análise desta etapa, utilizamos como referência os dados obtidos por

meio das observações realizadas e gravações das oficinas. Além disso, utilizamos

também as respostas ao terceiro questionário (anexo 3) aplicado aos professores

das escolas que participaram das oficinas.

Esse terceiro questionário (anexo 3) foi aplicado ao final de cada uma das

oficinas nas escolas e buscou identificar se o assunto abordado na oficina

apresentou novas ideias para a prática em sala de aula dos professores

participantes. Buscou-se, também, identificar percepções dos professores sobre o

uso de softwares educativos no processo de ensino e aprendizagem da Matemática.

Apresentamos mais adiante a análise de algumas das respostas que

destacamos do terceiro questionário (anexo 3), pois evidenciam a importância de se

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falar sobre o tema softwares educativos e tecnologias para o ensino de Matemática

em espaços de formação coletiva de professores.

Antes de partirmos diretamente para a análise das respostas, com objetivo de

situarmos o contexto em que se dá esta análise, trazemos também uma breve

descrição das oficinas realizadas e que foram ministradas pelas professoras

participantes do projeto. Essas oficinas foram realizadas no segundo semestre de

2013, em cada uma das escolas das professoras participantes do grupo de

formação durante o horário de trabalho pedagógico coletivo dos professores com o

acompanhamento e apoio dos mestrandos e doutorandos participantes do projeto.

A seguir, apresentamos no Quadro 3, o título da oficina realizada no segundo

semestre de 2013 e a professora responsável.

Quadro 03: Data, escola e Título das atividades e responsáveis das Oficinas

Data Escola/Região Professora

Responsável Título

04/11 E.E / Central P1 Jogos Matemáticos

04/11 E.M.E.I/ Leste P2 Matemática e Diversão

06/11 E.M.E.F / Leste P3 Uma Sequência Didática de

Matemática Utilizando um Software Simulador

11/11 E.E / Central P4 Proposta de Atividade

26/11 E.M.E.F / Sul P5 Uso dos Jogos Computacionais no

Ensino da Matemática

A primeira oficina foi realizada no dia 4 de novembro de 2013 das 10h30 às

12h30 em uma Escola Estadual, situada na região central da cidade de São Paulo.

Essa oficina foi ministrada pela professora P1. A professora atua na escola como

docente dos anos iniciais em uma classe de alunos, em sua maioria com

Necessidades Educacionais Especiais.

O título da oficina foi “Jogos Matemáticos”. A professora P1 apresentou o jogo

“Subindo e Descendo com a Multiplicação”, que segundo a informação disponível no

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site10, é indicado para alunos das 2ª e 3ª séries do ensino fundamental. A oficina foi

realizada em dois momentos.

No primeiro momento, a professora P1 utilizou a apresentação de slides para

falar sobre a importância do uso dos jogos computacionais como recurso didático

para o ensino da matemática. No segundo momento, as professoras participantes

tiveram a oportunidade de conhecer o jogo por meio de uma atividade prática,

utilizando os computadores disponíveis na sala de informática da escola.

Apesar das dificuldades encontradas no acesso à sala de informática e aos

computadores, que é controlado para ambos, percebemos que as professoras

tiveram uma participação ativa na atividade proposta e contribuíram para o bom

desenvolvimento da realização da oficina, uma vez que o objetivo inicial foi motivar

as professoras na utilização de um software educativo para o ensino da matemática.

A oficina contou com a participação de 14 professores da escola, que

identificaremos como Prof. 1, Prof. 2,..., Prof. 14.

A segunda oficina foi realizada no dia 4 de novembro de 2013 das 13h45 às

15h00 em uma Escola Municipal de Educação Infantil, situada na região leste da

cidade de São Paulo. Essa oficina foi ministrada pela professora P2. A professora

atua na escola como docente dos anos iniciais na educação infantil.

O título da oficina foi “Matemática e Diversão”. A professora apresentou e

utilizou, nas atividades práticas, três jogos. Os dois primeiros, não necessariamente

nesta ordem, Formas Geométricas11 e Formas e Desenhos12. Esses e outros jogos

podem ser acessados gratuitamente e online no site Escola Games13. O terceiro

jogo apresentado foi o Jogo da Cerca14 acessado gratuitamente e online no site da

revista Nova Escola15. A oficina foi realizada em dois momentos.

No primeiro momento, a professora P2 utilizou-se da apresentação de slides

para falar sobre a importância do uso dos softwares computacionais como recurso

10

Informação disponível no site http://www.somatematica.com.br/shopping/produto.php?id=73. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 11

Atividade disponível em http://www.escolagames.com.br/jogos/formasGeometricas/. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 12

Atividade disponível em http://www.escolagames.com.br/jogos/formasDesenhos/. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 13

O site Escola Games é acessado pelo seguinte endereço http://www.escolagames.com.br/. 14

Atividade disponível em http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/jogo-cerca-pontos-linhas-colunas-599529.shtml. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 15

O site da revista Nova Escola é acessado pelo seguinte endereço http://revistaescola.abril.com.br/.

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didático para o ensino da matemática de uma forma lúdica. No segundo momento,

as professoras participantes tiveram a oportunidade de conhecer brevemente os

jogos apresentados por meio de uma atividade prática, utilizando computadores

disponíveis na escola. A oficina contou com a participação de três professores da

escola, que identificaremos como Prof. 1, Prof. 2 e Prof. 3.

A terceira oficina foi realizada no dia 6 de novembro de 2013 das 12h00 às

13h30 na Escola Municipal de Ensino Fundamental situada na região leste da cidade

de São Paulo. Essa oficina foi ministrada pela Professora P3, que atua na própria

escola.

O título da oficina foi “Uma Sequência Didática de Matemática Utilizando um

Software Simulador”. A professora P3 apresentou um software simulador que,

mediante uma lista de compras previamente definida, simula compras em um

supermercado virtual16. Esse e outros softwares estão disponíveis para download no

site Banco Internacional de Objetos Educacionais17. A oficina foi realizada em dois

momentos.

No primeiro momento – a professora P3 utilizou-se da apresentação de slides

para falar sobre a importância do uso de softwares educativos como estratégia de

ensino que podem aproximar o aluno de situações reais. No segundo momento – os

professores participantes tiveram a oportunidade de conhecer e explorar o software

por meio de uma atividade prática realizada na sala de informática. Verificou-se, na

participação dos professores, que a utilização do software simulador pode contribuir

para a construção do conhecimento pelo aluno sobre estimativa de preços (quanto

tenho?; Quanto posso gastar?; O que posso comprar?). A oficina contou com a

participação de 22 professores da escola, que identificaremos como Prof. 1, Prof.

2,..., Prof. 22.

O título da quarta oficina foi “Proposta de Atividade”, realizada no dia 11 de

novembro de 2013 das 11h40 às 12h30 em uma Escola Estadual, situada na região

central da cidade de São Paulo. Essa oficina foi ministrada pela professora P4, que

atua na própria escola.

16

O simulador está disponível para download em http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/handle/mec/19842. 17

O site do Banco Internacional de Objetos Educacionais é acessado pelo seguinte endereço: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/.

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A professora P4 apresentou o jogo computacional Feche a Caixa18 disponível

para jogar online no site da revista Nova Escola. A oficina foi realizada em dois

momentos.

No primeiro momento - a Professora P4 utilizou-se da apresentação de slides

para falar sobre a importância de uma escolha coerente dos jogos computacionais

que serão utilizados nas aulas de matemática. No segundo momento – os

professores participantes tiveram a oportunidade de conhecer e explorar o jogo

Feche a Caixa por meio de uma atividade prática utilizando os computadores

disponíveis na sala de informática da escola. A utilização do jogo contribui para o

desenvolvimento do cálculo mental. A oficina contou com a participação de 21

professores da escola, que identificaremos como Prof. 1, Prof. 2,..., Prof. 21.

A quinta oficina foi realizada no dia 26 de novembro de 2013 das 18h30 às

20h30 em uma Escola Municipal de Ensino Fundamental situada na região sul da

cidade de São Paulo. Essa oficina foi ministrada pela professora P5, que atua na

própria escola.

O título da oficina foi “Uso dos Jogos Computacionais no Ensino da

Matemática”. A professora P5 apresentou o jogo Buscando o Tesouro Perdido19

disponível para jogar online no site Jogos de Matemática20. Diferente das oficinas

anteriores, a oficina foi realizada em apenas um momento, somente a apresentação

pela professora. A professora P5 utilizou-se da apresentação de slides para falar

sobre a importância do jogo computacional no contexto educacional. Essa oficina

contou com a participação de oito professores, que identificaremos como Prof. 1,

Prof. 2, ..., Prof. 8.

Para identificar as respostas dos professores que participaram das oficinas

nas escolas utilizaremos a seguinte configuração: a abreviação de professor “Prof.n”

onde n é um número natural, depois a informação “Questionário da Oficina”, em

seguida a informação “Professora Pn”, e por fim o ano. Por exemplo, (Prof. 7,

Questionário da Oficina, Professora P3, 2013), dessa forma estamos nos referindo a

18

O jogo Feche a Caixa está disponível em http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/feche-caixa-428064.shtml. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 19

O jogo está disponível para acesso em http://www.jogosdematematica.org/buscando-o-tesouro-perdido/#. Acesso realizado em 02 de setembro de 2014. 20

O site Jogos de Matemática é acessado pelo seguinte endereço http://www.jogosdematematica.org/.

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resposta do(a) professor(a) identificado(a) como 7, que participou da oficina

ministrada pela professora P3 em 2013.

Sobre as contribuições quando da sua participação nas atividades da oficina,

os professores destacaram, em suas respostas, que foram apresentadas novas

ideias para o seu trabalho em sala de aula no ensino de Matemática. Para os

professores,

É muito importante, pois oferece ideias para trabalhar a matemática, vivenciando na prática. (Prof. 12, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013)

Novas ideias aos professores da rede municipal de ensino. (Prof.1, Questionário da Oficina, Professora P5, 2013).

Há professores que destacaram, em suas respostas, a importância de uma

prática de ensino que esteja em consonância com o cotidiano do aluno. Para um dos

professores, a sua participação na oficina foi “de grande valia para trazer novas

ideias para os professores, e também para a prática de um ensino que faça sentido

para o dia-a-dia do aluno”. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013)

Complementando a ideia de que é necessário desenvolver atividades em sala

de aula que estejam relacionadas com o contexto vivido pelo aluno, além dos muros

da escola, outros professores avançaram um pouco mais, demonstrando em suas

respostas, o reconhecimento da presença das tecnologias mais atuais no dia-a-dia

do aluno. Para esses professores, a realização de atividades em que há a utilização

de recursos tecnológicos é “importante, pois a tecnologia faz parte da realidade dos

alunos” (Prof. 6, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013) e acabam por

“valorizar a tecnologia pela qual faz parte da vida deles e valorizando eles”. (Prof. 8,

Questionário da Oficina, Professora P1, 2013)

Há professores que avançaram mais ainda ao reconhecer que a tecnologia

não só faz parte do contexto de vida do aluno, como do seu próprio dia-a-dia, no

momento em que não está exercendo sua função docente. Para esses professores,

a realização de atividades em que há a utilização de recursos tecnológicos é

ótima, porque hoje a tecnologia está presente em todos instantes da nossa vida. (Prof. 10, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

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fundamental com a geração atual e aproxima o professor a essa geração informatizada. (Prof. 15, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

Ou seja, nessa perspectiva subentende-se que o professor compreende que o

uso dos recursos tecnológicos mais atuais em sua prática pedagógica não é apenas

mais um instrumento restrito ao ambiente escolar, mas sim uma forma de tornar o

processo de ensino e aprendizagem significativo e diretamente relacionado com as

atividades da sociedade atual.

Além disso, verifica-se também que os professores, por meio de suas

respostas, admitiram ser possível o uso pedagógico das tecnologias nas aulas de

Matemática e, ainda, as tecnologias em direta relação com a Matemática. Ainda,

admitiram que a realização de atividades, utilizando as tecnologias mais atuais, pode

possibilitar uma visão mais próxima da matemática com a rotina dos alunos. Sobre

essas observações apresentamos as respostas de dois professores.

Apresentar novas formas e ferramentas pedagógicas como a tecnologia

voltada para matemática. (Prof. 1, Questionário da Oficina, Professora P4,

2013).

Vi a matemática sob um olhar mais próximo do cotidiano, o que é

importante para o aluno (ele vê a matemática como algo próximo). (Prof. 6,

Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

Do nosso ponto de vista, essas visões demonstradas pelos professores são,

de certa forma, um reconhecimento de que é necessário considerar o uso de

recursos tecnológicos como uma das estratégias para garantir uma maior qualidade

à aprendizagem da Matemática. Esse ponto de vista fica evidenciado na resposta

dada por um dos professores, para quem as tecnologias além de “levar informação e

formação” contribuem para o trabalho dos “professores, melhorando a qualidade de

ensino”. (Prof. 11, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

Indo ao encontro do que apresentamos na revisão bibliográfica, no capítulo 1,

os professores parecem concordar que vivemos em uma sociedade em que a

tecnologia é presença marcante na nossa rotina, que é preciso repensar a educação

para que não esteja estática a esse avanço tecnológico. Desta maneira, entendemos

que não é mais suficiente uma educação centrada exclusivamente na utilização do

giz e lousa como representantes exclusivos de tecnologias.

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Dando seguimento a nossa análise, destaca-se nas respostas, a contribuição

das atividades abordadas nas oficinas para aquisição e produção de conhecimentos,

tanto pelos professores, como por alunos. Além disso, verifica-se também uma

preocupação com a aprendizagem significativa dos alunos. Seguem algumas das

respostas que exemplificam essa situação.

Fantástico, porque mesmo que se conheça muito, tem-se sempre algo para aprender. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013). Adquirimos mais conhecimentos para aprendizagem dos alunos. (Prof. 7, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013). Fundamental, já que atrai os educandos, possibilita a aprendizagem e produz conhecimentos. (Prof. 3, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

Seguindo com nossa análise, quando pedimos aos professores que dessem

sua opinião sobre o uso dos softwares educativos como recursos auxiliares na

aprendizagem de Matemática, as respostas nos mostraram que os professores

reconhecem a importância na utilização destes recursos. Sobre este ponto, um dos

primeiros aspectos que destacamos nas respostas é o papel motivador que o uso de

softwares educativos pode proporcionar tanto para alunos, como para professores.

Sobre este ponto destacamos as seguintes respostas:

Estimula o professor e os alunos à socialização de boas práticas em matemática. (Prof. 11, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

Muito bom porque incentiva esses alunos e faz com que eles tenham mais vontade de avançar. (Prof. 4, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

Propicia inovação no ensino e estimula o educando a aprender, vivenciando sua realidade. (Prof. 7, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

Identificamos que alguns professores definem a realização das oficinas e

atividades, utilizando os softwares educativos e, consequentemente, as tecnologias

como inovadoras uma vez que possibilitam aos professores refletirem sobre

“processos de inovação na aprendizagem” levando em consideração, no contexto

atual a “emergência de novas abordagens no pensamento pedagógico” (DIAS, 2012,

p. 3). Segundo esses professores:

Adquirimos mais conhecimentos para aprendizagem dos alunos. (INOVAR). (Prof. 9, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013). Propicia inovação no ensino e estimula o educando a aprender, vivenciando sua realidade. (Prof. 13, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

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São excelentes e inovadoras. (Prof. 9, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013). Por ser um material de inovação muitos não tenham acesso à informática. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

Neste ponto cabe destacar a resposta dada pelo Prof. 5, participante da

oficina oferecida pela professora P4, que ao mesmo tempo em que considera uma

inovação, demonstra também certa preocupação, pois entende que muitos não têm

“acesso à informática”. Quando o professor fala “não ter acesso à informática”,

entendemos como uma dificuldade de acesso aos recursos tecnológicos no espaço

escolar ou até mesmo a ausência destes.

Com relação à utilização de softwares educativos, mais especificamente ao

papel do jogo computacional na aprendizagem da matemática, verificamos que os

professores, ainda que de uma forma abreviada, compartilham do mesmo

entendimento, mencionando os aspectos lúdico, prazeroso e desafiador. Para esses

professores, atividades com jogos computacionais:

viabilizam novas dinâmicas, envolvendo a prática de uma forma mais divertida e desafiadora. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

Irão auxiliar na compreensão dos conceitos matemáticos, de maneira lúdica e prazerosa. (Prof. 7, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

O lúdico em si já ajuda. São aqueles momentos em que nós ficamos ensinando um, dois..., E nada. Na brincadeira, elas pegam mais rápido. (Prof. 12, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

Um aspecto que consideramos fundamental, e que se revelou nas respostas

dos professores e observações que realizamos durante o desenvolvimento das

atividades nas oficinas, foi a preocupação dos participantes em evidenciar e/ou

identificar o aspecto inclusivo que pode ser proporcionado na realização de

atividades por meio de softwares educativos. Vale destacar que em todas as oficinas

realizadas, esse aspecto foi mencionado e discutido pelos participantes. Como

exemplo seguem algumas das respostas dos professores:

Achei interessante tanto para crianças especiais como às demais crianças e envolve a tecnologia que já faz parte da vida delas. (Prof. 8, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

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Acredito que o uso de jogos facilita bastante o trabalho com os alunos com deficiência visto que por vezes, a função motora ou intelectual dificulta a exploração de objetos. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P2, 2013). Com certeza contribuirá para a maior participação, incentivo, inclusão e aprendizado desses alunos. (Prof. 9, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013). São excelentes, auxiliam o domínio com os jogos, para os alunos que apresentam diferentes deficiências. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013) Penso que esses recursos podem facilitar tanto o ensino quanto a aprendizagem de alunos com deficiência. (Prof. 12, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013). O jogo é um recurso valioso para o aprendizado na inclusão deve ser adequado à deficiência. (Prof. 4, Questionário da Oficina, Professora P5, 2013).

Continuando com nossa análise, selecionamos a resposta apresentada por

um dos professores que participou da oficina conduzida pela professora P3. Para o

professor, as discussões realizadas na oficina possibilitaram a ele compreender que,

no momento em que for realizar atividades, utilizando os recursos tecnológicos, será

necessário o planejamento das atividades, com objetivos definidos. Em sua

resposta, o professor declara que se deve “utilizar os meios tecnológicos de maneira

planejada com objetivos”. (Prof. 6, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

Discorrendo ainda sobre a realização de atividades para a aprendizagem de

Matemática por intermédio da utilização de softwares educativos, os professores

demonstram que acreditam no potencial desse recurso como um meio que

possibilite a transposição de obstáculos que possam estar impedindo que o aluno

avance na aprendizagem dos conceitos/conteúdos matemáticos. Para um dos

professores, o trabalho com softwares educativos é “Muito bom, enriquece o

trabalho com esse aluno que apresenta certas dificuldades e limitações”. (Prof. 1,

Questionário da Oficina, Professora P1, 2013). Para outro, sua participação na

realização das atividades propostas na oficina fez com que percebesse “que existem

outras estratégias para ajudar seus alunos com dificuldades em matemática”.

(Professor 7, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

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Para finalizar essa etapa das análises sobre a realização das oficinas,

apresentamos mais alguns aspectos positivos e negativos apontados pelos

professores participantes.

Dentre os aspectos positivos, os professores apontaram que as atividades

realizadas trouxeram novos conhecimentos a respeito do uso de softwares

educativos para o ensino de Matemática. As respostas a seguir descrevem essa

contribuição:

Como manusear, o conhecimento de alguns meios, que na maioria das vezes não são utilizados. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

Sugestões de jogos e sites para o trabalho com as formas geométricas. (Prof. 3, Questionário da Oficina, Professora P2, 2013).

Foram muitos. Aprendi coisas novas e ampliei minha visão dos jogos online e a pesquisa na informática. (Prof. oito, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013)

Mostrar novas possibilidades ao professor. Saber que portas vão se abrir para o aluno. (Prof. 6, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

Apresenta e proporciona conhecimentos acadêmicos aliados à prática do dia a dia da escola. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P5, 2013).

Os professores apontaram também que a experiência de realizar as

atividades foi importante. Um professor foi direto ao apontar como positivo a “prática

no computador com os jogos” (Prof. 1, Questionário da Oficina, Professora P2, 2013)

Já outro professor expressa-se um pouco mais ao mencionar que, por intermédio

das atividades, foi possível notar “a relação teoria e prática e a possibilidade de

experienciarmos o simulador nos colocando na posição do aluno”. (Prof. 7,

Questionário da Oficina, Professora P3, 2013).

A organização da oficina foi um dos aspectos positivos destacado

especificamente pelos professores participantes da oficina conduzida pela

professora P3. Essa organização acabou contribuindo para o dinamismo da mesma.

Para um dos professores, o trabalho “Foi muito bem organizado e prático, nos dando

a real possibilidade de praticarmos no dia a dia da sala de aula” (Prof. 18,

Questionário da Oficina, Professora P3, 2013). Para outro professor: “A oficina foi

boa. Não foi enfadonha. Nós aprendemos de forma dinâmica” (Prof. 9, Questionário

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da Oficina, Professora P3, 2013). E outro professor complementa essa nossa

observação ao responder que: “Gostei do formato, do dinamismo e em pouco tempo,

contemplaram um pouco de teoria e prática, na medida certa”. (Prof. 6, Questionário

da Oficina, Professora P3, 2013).

A seguir, apresentamos aspectos negativos apontados pelos professores

sobre a realização das oficinas. Basicamente, dois aspectos negativos foram

apontados pelos professores. O primeiro está relacionado à infraestrutura da escola

e o segundo, à questão do tempo para a realização das oficinas, bem como das

atividades propostas. Com relação à infraestrutura os professores apontaram que:

Não vejo nenhum, a não ser os computadores terem travado e não pude utilizá-lo. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013). Uma nova ferramenta que requer aprimoramento da rede no treinamento de professores e melhores condições na infraestrutura informatizada da escola. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P3, 2013). Importante, embora em escola pública a utilização dos computadores é limitada. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P5, 2013).

Destacamos a resposta dada pelo último professor, pois se percebe certa

frustração, ou até mesmo uma crítica, sobre a limitação no uso dos computadores

em escola pública. Como já discutimos em capítulos anteriores, esse tipo de

dificuldade acaba desmotivando o professor no uso dos recursos tecnológicos mais

atuais e, consequentemente, criando barreiras à integração da tecnologia à

educação.

Prosseguimos discorrendo sobre a questão do tempo. Cabe esclarecer que

em algumas oficinas, a questão do tempo foi diretamente influenciada pelas

condições de infraestrutura. Com relação à questão do tempo os professores foram

objetivos e apontaram que:

O nosso tempo que foi pouco. (Prof. 10, Questionário da Oficina, Professora P1, 2013).

A questão do tempo que por vezes é curto. (Prof. 5, Questionário da Oficina, Professora P2, 2013)

Achei um pouco corrido devido ao tempo. (Prof. 7, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

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O tempo curto de realização da oficina. (Prof. 3, Questionário da Oficina, Professora P4, 2013).

O tempo ‘pequeno’ poderia aprofundar mais, com mais atividades. (Prof. 2, Questionário da Oficina, Professora P5, 2013).

Em nível de esclarecimento, ao longo das análises realizadas até aqui,

percebeu-se que para a devida fundamentação, utilizamos, em sua maioria, as

respostas dos professores que participaram das oficinas realizadas nas escolas e

que foram conduzidas pelas professoras P1 e P3. Tal expressividade de respostas

se deu em função de nessas oficinas ter um número maior de participantes em

comparação com as demais oficinas realizadas.

A análise das respostas apresentadas acima nos fornece elementos reflexivos

que demonstram a relevância de se falar sobre o tema softwares educativos e

tecnologias para o ensino de Matemática em espaços de formação coletiva de

professores. Percebemos que a realização das oficinas nas escolas possibilitou aos

professores um espaço real de formação. Para a maioria dos professores as

atividades provocaram movimentos de reflexão sobre a possibilidade da integração

das tecnologias em sua prática na sala de aula.

Nesta etapa da pesquisa foi possível verificar a participação ativa dos

professores participantes das oficinas, o interesse em realizar as atividades

propostas e refletir sobre como poderia inserir os softwares educativos e,

consequentemente, as tecnologias mais atuais em sua rotina de sala de aula.

De acordo com o que apresentamos até aqui, é possível verificar também que

a realização das oficinas foi um momento em que as professoras tiveram a

oportunidade de colocar em prática muito do que foi construído durante os encontros

de formação. Ou seja, vemos nesse momento o resultado do desenvolvimento da

competência TIC pelas professoras que apresentaram as oficinas, indo ao encontro

do que discutimos no referencial teórico como Competência TIC apresentada por

Costa (2012).

Para que as professoras participantes do projeto pudessem apresentar as

oficinas foram necessários, aceitação, atitude, mobilização de capacidades e

conhecimentos. Compreensão e aceitação de que o uso das tecnologias pode

contribuir para solução de problemas em situações de ensino e aprendizagem da

matemática. Atitude para assumir o compromisso de utilizar as tecnologias no

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ambiente educacional e, principalmente, como parte de sua prática pedagógica.

Mobilização de capacidades e conhecimentos quando se prontificou a ser

protagonista da oficina; protagonismo esse que começou a ser potencializado ao

buscar softwares educativos e preparar atividades nos encontros de formação que

antecederam a realização das oficinas.

As respostas a esse terceiro questionário, analisadas juntamente com as

observações e discussões realizadas durante a realização das oficinas, bem como a

própria prática de realização das oficinas nas escolas, nos forneceram subsídios que

nos permitiram evidenciar a realização da sexta etapa do processo de formação,

“Prática na Escola”, que propomos no referencial teórico utilizado para a realização

deste trabalho.

4.4 - Reflexão conjunta sobre o processo de formação

Após a realização das oficinas nas escolas, chegou o momento em que se faz

a avaliação do processo de formação como um todo, por meio de uma reflexão

conjunta. Por meio da análise dos dados coletados, foi possível evidenciar a

realização da última etapa “Reflexão conjunta” do modelo de formação que

adotamos. Além disso, buscou-se identificar contribuições que as reflexões

individuais e coletivas, sobre esse processo, proporcionaram à formação continuada

das professoras. Destacamos a seguir algumas falas que exemplificam a realização

dessa etapa.

Uma das contribuições que podemos destacar logo de início, quando da

realização das oficinas nas escolas, é a percepção de alguns professores de que o

horário de encontro coletivo dos professores deveria ser realmente para uma

formação continuada e coletiva dos professores. Durante o encontro, a professora

P4 comenta a fala de uma professora de sua escola em relação à realização da

oficina: “[...] o importante foi ouvir que o HTPC é isso aí. Até que enfim a gente teve

o HTPC. Por que o HTPC é só para recados, avisos ou para chamar a atenção”.

(P4, Áudio do Encontro de Avaliação, 2013).

A relevância ao destacarmos esta fala consiste no fato de a professora P4 ter

percebido que a oficina que conduziu, teve relevância para os professores que

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participaram. Tendo como principal referência, o áudio da reunião de avaliação das

oficinas que analisamos, foi possível perceber que a professora P4 deu certa ênfase

a essa questão, que demonstra que para ela, foi importante ter o seu trabalho

reconhecido pelos demais professores. Isso é importante, pois acreditamos que tal

reconhecimento tem o potencial de servir como fonte motivadora para que as

professoras possam dar continuidade à realização de outras atividades coletivas na

escola sobre o mesmo tema ou até mesmo sobre outros temas.

Continuando com nossa análise, discorremos sobre a importância de o

professor exercer o protagonismo na condução de um processo de formação na

escola, bem como ter apoio da equipe de direção.

Algumas professoras revelaram a falta de apoio e incentivo para o

desenvolvimento de ações formativas com os demais professores da escola. A

professora P1 em sua resposta relata que:

Em relação à oficina, até comentei com ela (outra professora do grupo). Do grupo de direção ninguém apareceu lá. Eu marquei, eu que organizei tudo. Direção nada. A coordenadora só falou professora P1 precisa da minha ajuda? Não, disse, pois sei que ela (coordenadora) é atribulada. Na verdade, a gente queria ajuda da direção. Mas tudo teve carta branca. (P1, Áudio do Encontro de Avaliação, 2013).

Logo no início da resposta, já é possível perceber que a professora sente-se à

vontade em compartilhar a sua frustração com a outra professora do grupo. Essa

posição vai ao encontro de um dos aspectos que discutimos ao longo dessa

pesquisa, que o professor, ao se propor participar de processos de formação em

espaços colaborativos, deve estar aberto ao diálogo.

A professora P1, ao relatar que “marcou” e “organizou tudo”, demonstra que

exerceu o seu protagonismo na preparação e realização da oficina. Contudo,

avançando um pouco mais na resposta, ao afirmar categoricamente “Direção Nada”,

fica evidente que a professora P1 gostaria de ter tido apoio da equipe de direção,

conforme afirma, avançando um pouco mais em sua resposta: “Na verdade a gente

queria ajuda da direção”.

Outro ponto que vale a pena destacar é quando a professora conta que para

a realização da oficina, “teve carta branca” para tudo. Isto é, de um lado a professora

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não conta com o apoio da equipe de direção, de outro, conta com a confiança da

direção em relação ao seu trabalho como docente que contribui para a escola.

Já para a professora P3, essa experiência de apoio da equipe de direção foi

diferente. A professora P3 responde que:

Como eu estava falando, lá na escola a diretora, as assistentes foram hipercordiais com vocês... Aí assim, a gente fica à vontade em uma parte mais pedagógica, eles (equipe de direção) confiam no trabalho. (P3, Áudio do Encontro de Avaliação, 2013).

A professora P3, ao relatar que a equipe de direção foi “hipercordial” conosco,

demonstra, ainda que de uma forma não tão clara, que a sua participação no grupo

de pesquisa, bem como a realização da própria oficina, teve boa aceitação para o

grupo escolar. Tal aceitação acabou convertendo-se em um maior apoio da equipe

de direção à professora na preparação da oficina. Esse apoio acabou contribuindo

para que a professora P3 pudesse dar maior atenção, conforme ela mesma relata, a

“uma parte mais pedagógica”.

Até aqui se verificam dois pontos distintos fundamentais para o

desenvolvimento de um projeto de formação coletiva nas escolas, o apoio e a falta

de apoio da equipe de direção.

O apoio da equipe de direção, bem como de todos os envolvidos, contribui

para o desenvolvimento de um processo de formação que seja significativo e que

leve em conta, os anseios e expectativas dos professores. Acrescenta-se ainda o

fato de contribuir para que o professor tenha segurança.

Já a falta de apoio da equipe de direção acaba por criar obstáculos para o

desenvolvimento de um processo de formação com qualidade. Pois, acaba sendo

direcionada ao professor uma carga de trabalho intensa.

No entanto, verifica-se que, apesar de as professoras terem tido graus de

apoio distintos à realização das oficinas, ambas as professoras concordam que

contaram com a confiança das respectivas equipes de direção.

Antes de prosseguirmos com nossa análise, cabe fazermos alguns

esclarecimentos. Na escola da professora P1, a sala de informática que foi

disponibilizada para a realização das atividades da oficina faz parte de um programa

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do governo do Estado de São Paulo, denominado Acessa Escola. Tal programa foi

instituído pela Resolução – SE - 37 de 25 de abril de 200821. De acordo com as

informações disponíveis no site Portal Acessa Escola:

Acessa Escola, um programa do Governo do Estado de São Paulo,

desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação, sob a coordenação

da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), tem por objetivo

promover a inclusão digital e social dos alunos, professores e funcionários

das escolas da rede pública estadual. Por meio da Internet, ele possibilita

aos usuários o acesso às tecnologias da informação e comunicação para a

construção do conhecimento e o fortalecimento social da equipe escolar.

(PORTAL ACESSA ESCOLA, 2008).

Parte da responsabilidade por cuidar dos computadores, auxiliar e monitorar,

na escola, o acesso à sala do programa Acessa Escola é atribuída a alunos do

ensino médio regular que são contratados como estagiários.

Após os esclarecimentos acima, seguimos com mais uma reflexão da

professora P1 ao relatar um dos fatos que antecederam o início da oficina em sua

escola. Ao ser informada, pelo responsável pela sala do Acessa Escola (aluno do 3º

ano do ensino médio), que teria 2 horas para utilizar os computadores para a

realização das atividades proposta na oficina. A professora P1 conta o que pensou

naquele momento:

Aí planejava, bom até todo mundo chegar, 11h, até começar 11h10, 11h15. Tenho que falar exatamente em 20 minutos, porque eu tinha feito um cronograma, avisei para a direção e coordenação. [...] Mas tudo deu certo. Dos onze funcionando, desligaram oito. (P1, Áudio do Encontro de Avaliação, 2013).

Mediante este relato é possível perceber que a professora P1 estava com

tudo muito bem planejado, apesar das dificuldades encontradas. Ainda assim,

mesmo com tudo planejado houve alguns contratempos que dificultaram o início das

atividades. Como já descrevemos no item anterior, as oficinas foram realizadas em

dois momentos, no primeiro, com uma apresentação de slides pelas professoras

sobre o referencial teórico utilizado. E o segundo momento, com a realização das

atividades utilizando os computadores disponíveis nas respectivas escolas.

Na escola da professora P1, a apresentação do referencial teórico foi

realizada em um auditório, ao finalizar a apresentação, nos dirigimos à sala do

21

A Resolução SE - 37, de 25-4-2008 está disponível para consulta em http://www.dersv.com/Res_SE_37_08_AcessaEscola.htm.

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Acessa Escola, porém demorou um pouco até encontrar a pessoa que estava com a

chave da sala. Além disso, durante a realização das atividades, a maioria dos

computadores desligou conforme relatou a professora P1. Como a própria

professora declara, apesar dessas dificuldades, as atividades ocorreram conforme

previsto, o que se confirma em sua frase: “tudo deu certo”. Após o relato e as

reflexões da professora P1, a professora P2 faz o seguinte comentário:

Posso fazer uma crítica para o Estado? Não é pra você não... (referindo-se a professora P1). Mas, como eles querem que vocês usem o computador com o aluno se o computador desliga em duas horas? (P2, Áudio do Encontro de Avaliação, 2013)

Esse comentário é relevante, pois mostra o quão foi e é importante o

compartilhamento de experiências em grupos de formação coletiva como esse que

propomos. O relato da professora P1 acabou favorecendo o grupo no sentido de

provocar a reflexão sobre as condições limitadoras impostas para o uso dos

computadores.

Até aqui foi possível verificar que o professor das escolas públicas

pesquisadas tem o seu acesso limitado aos recursos tecnológicos disponíveis na

escola. Convém destacar que não somos contra o monitoramento e controle dos

recursos disponíveis no espaço escolar, pois, em nossa perspectiva o

monitoramento e controle devem servir para que ocorra o uso consciente e

responsável dos recursos disponíveis. O que nos incomoda é o fato de tal

monitoramento e controle às vezes ser excessivo, servindo como uma barreira que

pode acabar desmotivando o uso deste valioso recurso por parte do professor.

Dessa maneira, identificamos algumas contribuições que as reflexões

coletivas realizadas nesta etapa proporcionaram à formação continuada das

professoras. Identificamos as seguintes contribuições:

o reconhecimento de que as oficinas contribuíram e possibilitaram que

o horário de encontro coletivo dos professores fosse realmente para a

formação continuada;

a percepção que as professoras tiveram ao notarem que o seu trabalho

teve relevância e contribuiu para os demais professores;

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o reconhecimento da importância de o professor exercer seu

protagonismo;

o movimento de reflexão que foi proporcionado ao se discutir sobre a

questão do apoio da equipe de direção para o desenvolvimento de

projetos na escola;

a abertura ao compartilhamento de experiências, proporcionado por

intermédio dos encontros que promoveram um ambiente favorável no

qual as professoras se sentiram confortáveis em compartilhar suas

experiências promovendo o diálogo e

o movimento de reflexão das professoras ao questionarem sobre a

infraestrutura disponível nas escolas.

Conforme pode ser verificado por meio das reflexões apresentadas ao longo

deste item, foi possível evidenciar a realização da última etapa “Reflexão conjunta”

do modelo de formação que adotamos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os estudos realizados foi possível perceber que a sociedade em que

vivemos hoje traz consigo uma nova cultura na qual a capacidade de utilizar as

informações de maneira crítica e reflexiva é fundamental para uma convivência

autônoma, haja vista que já não basta mais ter acesso às informações, é necessário

saber como utilizar essas informações para a produção de conhecimentos. Como

muitas informações podem ser obtidas por intermédio das atuais tecnologias da

informação e comunicação, algumas questões se sobressaem, tais como: O que

fazer para que as tecnologias mais atuais que estão disponíveis em algumas

escolas não sejam utilizadas apenas como mais um meio de transmissão de

informações? E, ainda, o que fazer para que haja uma efetiva contribuição à

educação no uso dessas tecnologias?

Considerando a sociedade atual, é inevitável a presença das tecnologias mais

atuais na educação. Isto posto, para que se tenha uma ação educativa coerente é

fundamental que haja uma formação reflexiva e coerente de professores para o uso

das tecnologias. Essa coerência está no sentido de que o professor pode e deve

contribuir para a formação de um indivíduo crítico, reflexivo e que atenda aos

anseios da sociedade atual em que vivemos. Desta forma, não há como pensar em

uma integração coerente das atuais tecnologias da informação e comunicação sem

antes se pensar na formação crítica e reflexiva de professores para que usem essas

tecnologias com autonomia. Se não for assim, poderemos continuar presos a

métodos de ensino e teorias que já não contribuem para a formação crítica dos

indivíduos. Além disso, corre-se o risco de ainda considerar o giz e a lousa como

representantes exclusivos de tecnologias na educação.

Vimos que a utilização da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem

deve servir como mais uma estratégia, e não como a única, para que os alunos

possam ter uma participação mais ativa na construção de seu próprio conhecimento.

Convém destacar que a presença das tecnologias na escola exige do

professor uma mudança em sua postura pedagógica. Assim, já não é mais suficiente

que o professor tenha apenas os conhecimentos básicos sobre como operar um

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recurso tecnológico em específico. É imprescindível que o professor tenha

conhecimentos reais, que lhe permitam utilizar, com habilidade e competência, esse

recurso tecnológico como mediador efetivo na construção do conhecimento sobre o

conteúdo que está ensinando.

Para tentar compreender a problemática envolvida no uso das tecnologias

mais atuais na escola, fomos buscar elementos em alguns estudos e destacamos os

de Almeida (2006) e Kenski (2007). Por meio desses estudos, verificamos que

diversos projetos têm sido desenvolvidos com algum sucesso, contudo, verificamos

também que não estão atendendo a uma demanda, que a cada dia cresce mais e

mais nas escolas, principalmente na rede pública de ensino. Os professores

precisam de processos de formação que possam contribuir efetivamente para o seu

desenvolvimento profissional em relação a sua prática pedagógica na integração e

no uso das mais recentes tecnologias da informação e comunicação.

Além disso, verificou-se também que nem sempre esses projetos têm o

resultado esperado. Sobre isso, verificamos que há problemas centrais que se

impõem como obstáculos para o sucesso de tais projetos. Um dos problemas é a

“falta de conhecimento dos professores para o melhor uso pedagógico da

tecnologia” (KENSKI, 2007, p.57). O outro problema é a “não adequação da

tecnologia ao conteúdo que vai ser ensinado e aos propósitos do ensino” (KENSKI,

2007, p.57).

Desta forma, esses estudos mostraram que além de se pensar em equipar as

escolas com computadores, tablets, entre outros recursos tecnológicos mais atuais,

é necessário se pensar também em projetos que tenham como foco principal a

formação de professores no uso autônomo e crítico dessas tecnologias.

Para a realização dessa pesquisa, o conhecimento sobre tais problemas foi

importante, pois nos motivou a pensar em um processo de formação para

professores que pudesse, de alguma forma, contribuir para que tais problemas

fossem reduzidos ou até mesmo eliminados. Mais ainda, foi nossa preocupação

proporcionar um espaço favorável para que os próprios professores pudessem

dialogar, compartilhar, refletir e buscar soluções coletivas sobre esses problemas.

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Como pode ser verificado no decorrer desta pesquisa, esse espaço favorável

foi possibilitado às professoras dos anos iniciais que participaram do processo de

formação com encontros realizados às 4ªs feiras na PUC-SP no laboratório

EDUMATEC – Laboratório do Observatório da Educação Matemática e da

Tecnologia. Como um dos produtos desse processo de formação que propomos,

tivemos a realização de oficinas nas escolas para outros professores. A realização

dessas oficinas também se mostrou como um espaço favorável ao diálogo e à

reflexão sobre o uso pedagógico das mais atuais tecnologias da informação e

comunicação para uma aprendizagem significativa de Matemática. Vemos aqui o

potencial multiplicador que processos de formação como esse que desenvolvemos,

possibilitam.

Com o propósito de aprofundarmos mais sobre a problemática de nosso

estudo, realizamos um levantamento bibliográfico onde buscamos trabalhos que

trouxeram algumas reflexões que estão relacionadas com essa problemática.

Destacamos a seguir algumas dessas reflexões.

Uma reflexão a ser considerada é sobre as tecnologias da informação e

comunicação no ambiente escolar estarem promovendo mudanças radicais também

na própria configuração do que entendemos por sala de aula.

Levando em consideração nossa cultura, em que a presença das tecnologias

e o avanço tecnológico são evidentes, verificamos que diversos são os estudos que

apresentam propostas de trabalho com o intuito de promover espaços colaborativos

de formação no ambiente escolar onde os professores atuam. Esses estudos

mostraram que é possível, através de projetos inovadores, por exemplo, por meio do

intercâmbio entre as escolas e universidades, criar e possibilitar espaços de

formação, onde os professores possam construir coletivamente, conhecimentos

sobre o uso pedagógico da tecnologia para a construção de conhecimentos de

conteúdos.

Sendo assim, em nossa visão, com base no que foi exposto ao longo deste

estudo e com base nos resultados obtidos, o processo de formação que propomos e

que serviu como pano de fundo para a realização deste trabalho, se mostrou

relevante e até mesmo inovador, pois vai ao encontro do que esses estudos têm

mostrado como desejável para formação de professores no uso integrado e eficiente

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das atuais tecnologias da informação e comunicação à aprendizagem de

Matemática.

Aprofundando um pouco mais acerca da problemática da efetiva integração

da tecnologia na educação, os estudos mostraram que o computador, o software

educativo, o professor e o aluno são partes fundamentais que se complementam.

Acreditamos que o estudo individual de cada uma dessas partes é importante, mas

poderão contribuir muito mais, se forem analisadas em conjunto, no sentido de

completude, tendo como referência, um sistema pedagogicamente estruturado que

tenha como intuito, a efetiva integração da tecnologia à qualidade do ensino.

Estudos apontaram que:

Ações são realizadas para equipar a escola com computadores, tablets e

demais recursos tecnológicos, mas o computador por si só, sem a devida

mediação pedagógica, contribui muito pouco ou até mesmo não contribui em

nada para o processo de ensino e aprendizagem.

Trabalhos são realizados com o objetivo de estabelecer critérios técnicos para

uma escolha adequada de determinado software educativo, mas antes

mesmo de se escolher qual software deve ser utilizado, algumas questões

devem ser respondidas: Por que, para que e como utilizar determinado

software?

Devido a limitações do currículo no ensino superior, os professores não têm

em sua formação inicial, disciplinas e/ou espaços que promovam a discussão

sobre o uso pedagógico das tecnologias à aprendizagem de Matemática.

As tecnologias estão presentes no dia a dia do aluno, contudo essa presença

não se verifica no ambiente escolar.

Com o objetivo de termos uma visão mais completa de como se dá o

processo de integração das tecnologias mais atuais na prática pedagógica de

professores, o processo de formação que propomos e que serviu como pano de

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fundo para a realização deste trabalho, se mostrou mais uma vez relevante. Desta

forma a seguinte questão de pesquisa surgiu:

- Que contribuições foram identificadas em um processo formativo no uso de

softwares educativos para professores dos anos iniciais do ensino fundamental

participantes de um grupo colaborativo?

Apresentamos, inicialmente, o significado do termo software educativo, de

acordo com os critérios utilizados nos diversos estudos para diferenciar um software

educacional de um software educativo. Pois muitas vezes, esses termos são

utilizados como sinônimos. Em geral, todo software pode ser considerado como

educacional desde que esteja sendo utilizado em um contexto escolar, tanto em

nível administrativo como em nível pedagógico. Enquanto o software educativo é

uma classe pertencente aos softwares educacionais, mas se diferencia dos demais,

pelo fato de ser desenvolvido com o objetivo de possibilitar a construção do

conhecimento de determinado conteúdo.

A revisão bibliográfica apresentou também alguns trabalhos cujo objetivo foi

investigar o processo de integração das tecnologias pelos professores de

matemática nos diversos níveis de ensino por meio de atividades, utilizando

softwares educativos em sua prática pedagógica. Verificamos que alguns desses

estudos que investigaram a formação de professores no uso de softwares

educativos se apoiaram também no referencial teórico, conhecido como

“Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo”, tais como Palis (2010) e

Costa (2012). Dessa forma, neste trabalho consideramos importante apresentar

também algumas considerações sobre este referencial que representa

adequadamente de forma articulada e integrada, cada um dos conhecimentos, bem

como as suas articulações: o conhecimento do conteúdo, o conhecimento

pedagógico e o conhecimento tecnológico.

Este referencial se mostrou importante, pois tivemos acesso a um modelo de

formação que promove entre os professores e formadores, por meio da troca de

experiências em um ambiente colaborativo e reflexivo sobre a integração das

tecnologias no processo de ensino e aprendizagem. Este referencial teórico

denominado como modelo f@r: Formação-Ação-Reflexão, conforme Costa (2012), é

composto por cinco fases: visão, plano, prática, interação e reflexão.

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Como nós analisamos um processo de formação de professores para

trabalhar em oficinas com outros professores em suas respectivas escolas,

realizamos um aprimoramento do modelo proposto por Costa (2012). Dessa forma,

nosso modelo de formação denominado Refletic propunha sete etapas, a saber:

estudo, decisão, preparação, interação, reflexão individual, prática na escola e

reflexão conjunta.

Este trabalho foi realizado de acordo com as características de uma

metodologia de pesquisa qualitativa. Para coleta de dados, utilizamos questionários

(anexos 1, 2 e 3) de pergunta aberta, além de observação participante nos

encontros de formação e também nas oficinas oferecidas nas escolas durante o

horário de trabalho pedagógico.

O primeiro questionário (anexo 1) forneceu informações para realizarmos a

análise que nos permitiu evidenciar a realização das duas primeiras etapas de nosso

modelo de formação, “Estudo” e “Decisão”.

Depois, logo após a realização dos estudos para seleção dos softwares

educativos e da decisão das atividades a serem apresentadas nas oficinas,

aplicamos um segundo questionário (anexos 2) que nos permitiu evidenciar a

realização de mais três etapas do modelo de formação que, respectivamente,

representam a terceira, a quarta e a quinta etapa, são elas: “Preparação”,

“Interação” e “Reflexão Individual”.

Em seguida, ocorreram as oficinas e a aplicação de um questionário (anexo

3) para os professores participantes da oficina na escola. O questionário abordou

questões que nos permitiram identificar se o assunto abordado na oficina apresentou

novas ideias para o trabalho em sala de aula no ensino de Matemática; trouxe

também informações que nos permitiram verificar as percepções dos professores

sobre o uso de softwares educativos para auxiliar a aprendizagem de Matemática.

Além disso, foi possível evidenciar a realização da sexta etapa do modelo de

formação, “Prática na Escola”.

E, por fim, uma avaliação feita coletivamente no último encontro de formação

foi possível evidenciar a última etapa do modelo de formação, “Reflexão Conjunta”.

Esses foram os instrumentos utilizados para coleta dos dados.

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Para a realização das análises, propomos quatro categorias. A primeira

categoria denominamos por “Percepções das professoras sobre o uso de software

educativo em sala de aula”. Para essa categoria, percebemos que a maioria das

professoras não encontrou dificuldades em encontrar e selecionar softwares

educativos, apenas uma professora manifestou ter dificuldades. O que é

interessante observar sobre essa dificuldade em encontrar e/ou selecionar softwares

não é a falta de softwares, mas sim a grande oferta que está disponível na internet.

Ou seja, devido à variedade encontrada, a professora ficou em dúvida em qual

escolher, quais critérios utilizar para selecionar um software educativo. Este fato já

nos remete a uma reflexão sobre quais os objetivos de ensino para o uso de um

determinado software educativo em sala de aula.

Outro ponto que se destacou foi com relação ao papel do jogo na

aprendizagem da matemática, verificamos que as professoras apresentavam

entendimentos diferentes para a palavra jogo, e dificuldades em compreender as

possibilidades de um jogo educativo computacional para ensinar matemática. É só

para distrair? Não ensina nada? Serve para motivar? Não se trabalha conteúdo?

Percebemos inicialmente que, para algumas professoras, dois aspectos do

jogo se destacaram: um é o aspecto lúdico, sem uma preocupação explícita com o

desenvolvimento do conteúdo, e outro é trabalhar um conteúdo de uma maneira

mais prazerosa. Avançando um pouco mais, percebemos que há professoras que

ampliaram o conceito sobre o papel do jogo para a aprendizagem de matemática,

reconhecendo no jogo, uma integração de ambos os aspectos. Constatamos, assim,

que há três pontos de vista sobre o papel do jogo computacional: o papel somente

lúdico, o papel somente para o desenvolvimento do conteúdo e o papel que integra

ambos os aspectos, lúdico e desenvolvimento de conteúdo.

Foi possível perceber também que as professoras consideraram importante a

realização da pesquisa inicial sobre os softwares educativos disponíveis para o

ensino de matemática. Isso nos permite acreditar que um processo de formação,

como esse que apresentamos ao longo deste trabalho, pode trazer contribuições,

logo no início, ao colocar o professor como protagonista ao realizar a pesquisa

inicial.

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Com os dados coletados, pudemos verificar que as professoras

reconheceram o uso de softwares educativos como mais uma estratégia pedagógica

que pode contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da matemática.

Em nossa análise e nas observações que realizamos no momento de

realização das oficinas nas escolas, verificamos que alguns fatores acabam criando

dificuldades para que os recursos tecnológicos sejam utilizados nas escolas, entre

eles constatamos que há restrições excessivas de acesso à sala de informática e ao

uso dos computadores. Não é demais dizer que tais dificuldades têm um enorme

potencial para desmotivar o professor, quando do uso de softwares educativos e,

consequentemente, dos recursos tecnológicos.

Verificamos que, para algumas professoras, é confortável desenvolver

atividades por meio de softwares educativos com seus alunos, no entanto, as

professoras deixam claro que deve haver um planejamento.

É importante falar que as professoras demonstraram preocupação em

considerar o aspecto inclusivo que pode ser proporcionado na realização de

atividades envolvendo o uso de softwares educativos.

A segunda categoria denominamos por “avaliação do uso de softwares

educativos na escola e suas possibilidades”. Para essa categoria, percebemos que

os trabalhos apresentados nos encontros de formação foram importantes para que

as professoras tomassem a decisão de qual software escolher e como trabalhar com

ele.

Quando da preparação das atividades, as professoras destacaram a

importância de se apropriar de conteúdos matemáticos, bem como de processos

didáticos que contribuem para se alcançar o aprendizado esperado. Além disso, foi

apontada a importância em se buscar fundamentação teórica.

Percebemos que esse momento de interação no grupo de formação, ao

apresentar e discutir a atividade, contribuiu para que as professoras realizassem um

movimento de reflexão coletivo e individual. Uma das contribuições foi o

reconhecimento prévio do potencial multiplicador que a preparação das atividades

para as oficinas, revelou.

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A terceira categoria denominamos por “oficinas realizadas nas escolas”.

Nesta etapa descrevemos brevemente cada uma das oficinas realizadas nas

escolas pelas professoras e apontamos o que os professores participantes

identificaram como aspectos positivos e negativos. Em relação a isso obtivemos o

seguinte resultado.

Para essa categoria, os professores que participaram das oficinas nas

escolas destacaram que novas ideias foram apresentadas para a sua prática

pedagógica no ensino de matemática. Compreenderam que tal prática de ensino

deve vir acompanhada de atividades que estejam relacionadas com o cotidiano dos

alunos. Os professores também reconheceram a presença marcante dos mais atuais

recursos tecnológicos no seu dia a dia e no cotidiano do aluno.

Assim, nos permitimos inferir que o professor compreende que o uso dos

recursos tecnológicos, em sua prática pedagógica, é uma forma de tornar o

processo de ensino e aprendizagem de Matemática, significativo e diretamente

relacionado com as atividades da sociedade atual. Notamos que os professores

admitem ser possível o uso pedagógico das tecnologias nas aulas de Matemática e,

ainda, que a realização de atividades, utilizando essas tecnologias, pode possibilitar

uma visão mais próxima da Matemática com a rotina dos alunos.

Como já mencionamos nas análises, alguns professores definiram a

realização das oficinas e atividades utilizando os softwares educativos e,

consequentemente, as tecnologias como inovadoras, uma vez que possibilitaram

aos professores refletirem sobre “processos de inovação na aprendizagem”, levando

em consideração no contexto atual a “emergência de novas abordagens no

pensamento pedagógico” (DIAS, 2012, p. 3).

Outro aspecto que consideramos fundamental, e que se revelou nas

respostas dos professores e observações realizadas durante o desenvolvimento das

atividades nas oficinas, foi à preocupação dos participantes em evidenciar e/ou

identificar o aspecto inclusivo que pode se proporcionado na realização de

atividades por meio de softwares educativos.

Sobre a realização de atividades para a aprendizagem de Matemática por

intermédio da utilização de softwares educativos, os professores demonstraram que

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acreditam no potencial desse recurso como um meio que possibilite a transposição

de obstáculos que possam estar impedindo que o aluno avance na aprendizagem

dos conceitos/conteúdos matemáticos.

Os professores apontaram os seguintes aspectos positivos sobre a realização

das oficinas:

as atividades realizadas trouxeram novos conhecimentos a respeito do uso de

softwares educativos para o ensino de Matemática;

a experiência prática de realizar as atividades foi importante;

a possibilidade de experimentar o simulador, colocando-se na posição do

aluno; e

a organização da oficina conduzida pela professora, o que acabou

contribuindo para o dinamismo da mesma.

E os professores apontaram os seguintes aspectos negativos sobre a

realização das oficinas:

a má infraestrutura fornecida à escola e

a questão do tempo que se mostrou insuficiente para a realização das

oficinas, bem como das atividades propostas.

Para a quarta categoria intitulada “reflexão conjunta sobre o processo de

formação”, obtivemos que as professoras sentem falta de formação continuada nas

escolas, nos horários de trabalho coletivo (ATPC – JEIF). Verificamos que, para as

professoras que conduziram as oficinas, foi importante ter o seu trabalho

reconhecido e aceito pelos professores que participaram das atividades propostas.

Em nossa perspectiva, esse reconhecimento é fundamental e serve como aspecto

motivador para que as professoras possam dar continuidade à realização de outras

atividades coletivas na escola.

Outro aspecto que se sobressaiu foi o protagonismo exercido pelas

professoras na condução das oficinas em suas respectivas escolas. Destaca-se

também a necessidade do apoio da equipe de direção. Com relação a isso, as

observações que realizamos nos permitiu identificar dois extremos: de um lado o

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apoio total do grupo de direção, de outro a falta de apoio do grupo de direção. Ficou

evidente na oficina, que teve o apoio da equipe de direção, que as atividades

transcorreram sem maiores problemas. Além disso, esse apoio contribuiu para que a

professora desse mais atenção a parte pedagógica. Por outro lado, a falta de apoio

da equipe de direção abre espaço para que dificuldades surjam e comprometam a

realização de um processo de formação com qualidade.

Essa última categoria se mostrou fundamental, pois percebemos o

compartilhamento de experiências em grupos de formação coletiva. As experiências

compartilhadas serviram para que o grupo refletisse sobre as condições limitadoras

que são encontradas nas escolas públicas quanto ao uso das tecnologias. Não

somos contra o monitoramento e controle dos recursos disponíveis no espaço

escolar, pois, em nossa perspectiva, o monitoramento e controle devem servir para

que se garanta o uso consciente e responsável dos recursos disponíveis. Entretanto,

o monitoramento e controle excessivos estão servindo como uma barreira que

desmotiva o uso deste valioso recurso por nós, professores.

Com base nos resultados que apresentamos no decorrer deste trabalho,

podemos dizer que a participação das professoras neste projeto de formação em um

grupo colaborativo contribuiu para uma apropriação mais crítica e consistente no uso

das tecnologias da informação e comunicação por essas professoras. Tal

apropriação se deu por diversas formas, entre elas, a preparação das atividades

para o desenvolvimento das oficinas em suas escolas, atividades essas que

envolveram o uso de softwares educativos para o ensino de matemática nos anos

iniciais do ensino fundamental.

Identificamos que as atividades realizadas durante os encontros de formação,

o estudo dos softwares, as discussões e a preparação das oficinas também

contribuíram para que as professoras vivenciassem na prática, o momento coletivo e

individual de formação-ação-reflexão, conforme o modelo f@r, proposto no

referencial teórico. Sob esse ponto de vista, as professoras, durante os encontros de

formação puderam expor suas dúvidas e percepções sobre o uso das tecnologias

atuais, tanto em nível pedagógico como pessoal. Acrescenta-se a isso, que o

trabalho em grupo despertou nas professoras, um sentimento de pertencimento.

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Verificamos que esse processo de formação que propomos, estabeleceu um

contexto no grupo de formação que possibilitou que as professoras mobilizassem os

seus conhecimentos pedagógicos sobre determinado conteúdo por meio dos

conhecimentos tecnológicos construídos e/ou em construção. Percebemos que as

professoras, ao prepararem as atividades, considerando a utilização dos recursos

tecnológicos mais atuais, também passaram a adquirir uma perspectiva mais sólida

sobre os conhecimentos que já possuíam sobre determinado assunto.

Percebemos que, independentemente dos problemas que encontramos

durante esse processo formativo, o que deve ser destacado é o empenho, a força de

vontade de cada uma das professoras para que as oficinas fossem realizadas da

melhor maneira possível.

Concomitante às considerações realizadas até aqui, podemos também fazer

referência ao que foi discutido no capítulo 2 sobre o referencial teórico

“Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo (CTPC)” que serve para

analisar o processo de integração eficiente das atuais tecnologias pelas professoras.

É possível identificar elementos do CTPC com essa formação, pela qual passaram

as professoras, tendo como base, as sete etapas do modelo de formação que

propomos.

Os resultados mostraram que o contexto estabelecido por esse processo de

formação que propomos, possibilitou que cada uma das professoras, em diferentes

níveis, desenvolvesse em simultâneo, o que sabiam sobre tecnologias, sobre as

estratégias pedagógicas e sobre o conhecimento de determinado conteúdo. O

desenvolvimento simultâneo desses conhecimentos foi proporcionado às

professoras mediante um espaço favorável para o desenvolvimento das atividades e

até mesmo a realização das oficinas. Percebemos a articulação dos elementos que

compõem o referencial CTPC: o conhecimento do conteúdo, o conhecimento

pedagógico e o conhecimento tecnológico. Os resultados mostraram também que os

encontros de formação possibilitaram que as professoras pudessem compartilhar o

que sabiam e o que não sabiam sobre cada um dos conhecimentos propostos no

referencial CTPC. Esse compartilhamento contribuiu para a construção coletiva de

um Conhecimento Tecnológico e Pedagógico do Conteúdo, passando a ser um

conhecimento coletivo e individual.

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É necessário que, principalmente a sociedade educacional, concentre

esforços para que a tecnologia seja integrada como recurso potencial para o

processo de ensino e aprendizagem. Cabe ressaltar que não é pretensão deste

trabalho desconsiderar os métodos de ensino já existentes, mas sim discorrer no

sentido de que sejam repensados, ratificados ou retificados, considerando as

tecnologias atuais, como novas alternativas com potencial para contribuir para o

processo de ensino de aprendizagem.

Acreditamos ser um equívoco considerar que, somente a inserção das atuais

tecnologias da informação e comunicação no ambiente escolar e, mais

especificamente, em sala de aula, resolva todos os problemas de ensino. Antes

disso, é fundamental se pensar em processos de formação de professores que vão

ao encontro dos anseios da sociedade em relação aos novos meios de comunicação

e produção de conhecimento. É necessário que os cursos de formação de

professores, tanto inicial quanto continuada, repensem suas matrizes curriculares

para que as tecnologias mais recentes sejam partes integrantes nas discussões e

possibilitem aos professores, refletirem sobre a efetiva integração dessas

tecnologias em sua prática pedagógica, objetivando a construção e consolidação de

conhecimentos.

Apresentamos ao longo desta pesquisa algumas reflexões e considerações

que nos permitem afirmar que estamos no caminho certo ao continuar propondo aos

professores, processos de formação colaborativos e continuados, que tenham como

objetivo o uso crítico e reflexivo de softwares educativos para o ensino de

matemática e, consequentemente, a efetiva integração das atuais tecnologias da

informação e comunicação na prática pedagógica.

Enfim, destacamos que esse trabalho não se encerra por aqui, outras

pesquisas poderão vir e acrescentar novos resultados. Além disso, esperamos que

essa pesquisa possa contribuir com as discussões já existentes sobre a temática

que abordamos durante o desenvolvimento deste trabalho e, quem sabe, até

possibilitar novas discussões.

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ANEXOS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia

Pós-Graduação em Educação Matemática

PROJETO: Desafios para a Educação Inclusiva: pensando a formação de

professores sobre os processos de domínio da Matemática nas séries inicias

da Educação Básica

Coordenação Geral: Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Manrique.

ANEXO 1 – QUESTIONÁRIO 1

Percepções das Professoras sobre o uso de Software Educativo em Sala de

Aula

Questão 01 – Em relação à lição de casa...

a. Você encontrou dificuldade em encontrar jogos computacionais ou softwares

para o ensino de Matemática?

Se sim, qual(is)? Se não, por quê?

Questão 02 – Outras questões...

a. Qual o papel do “jogo” na aprendizagem da matemática?

b. O que vocês pensam a respeito do uso de jogos computacionais e softwares

no ensino de Matemática?

c. Vocês usam algum jogo computacional ou software com seus alunos? Se sim,

qual? Se não, por quê?

d. Qual a contribuição dos jogos computacionais ou softwares para o ensino e

aprendizagem de Matemática dos alunos com e sem deficiência?

e. Você se sente confortável em trabalhar com jogos computacionais ou

softwares com alunos? Justifique.

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Questão 03 – Ainda em relação à lição de casa...

a. Após a realização da pesquisa, houve alteração no modo de como você

pensa o uso de jogos computacionais ou softwares no ensino de Matemática?

Explique.

b. Você considera que a escola tem estrutura que possibilite o uso da novas

tecnologias?

c. Quais são as suas expectativas quanto ao uso das novas tecnologias, neste

semestre, durante a formação do grupo?

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ANEXO 2 – QUESTIONÁRIO 2

Avaliação Do Uso De Softwares Educativos Na Escola e Suas Possibilidades

Questão – Avaliação a respeito dos softwares educativos trabalhados e

apresentados pelo grupo. Avaliando a temática, a tecnologia na escola e suas

possibilidades.

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ANEXO 3 – QUESTIONÁRIO 3

Questionário Aplicado aos Professores das Escolas que Participaram das

Oficinas.

Questão 1 – Já participou de outras oficinas com foco no ensino de Matemática?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, qual(is)? _____________________________________________________

Questão 2 – Essa oficina apresentou novas ideias para o seu trabalho em sala de

aula no ensino de Matemática?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, especifique de que forma. ________________________________________

Questão 3 – Qual sua opinião sobre a realização dessas oficinas com foco no

ensino de Matemática realizadas nas escolas?

__________________________________________________________________________________

Questão 4 – Qual sua opinião sobre o uso de jogos/softwares pedagógicos para

auxiliar a aprendizagem de Matemática de alunos com deficiência?

___________________________________________________________________

Questão 5 – Aponte aspectos positivos dessa oficina.

___________________________________________________________________

Questão 6 – Aponte aspectos negativos dessa oficina.

___________________________________________________________________