mesoterapia: tÉcnicas, substÂncias lipolÍticas e...

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1 FACULDADE CATHEDRAL IBRAS INSTITUTO BRASIL DE PÓS-GRADUAÇÃO CAPACITAÇÃO E ASSESSORIA BRÍGIDA XAVIER LEMES MESOTERAPIA: TÉCNICAS, SUBSTÂNCIAS LIPOLÍTICAS E SEGURANÇA CLÍNICA BELO HORIZONTE 2018

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FACULDADE CATHEDRAL IBRAS – INSTITUTO BRASIL DE PÓS-GRADUAÇÃO

CAPACITAÇÃO E ASSESSORIA

BRÍGIDA XAVIER LEMES

MESOTERAPIA: TÉCNICAS, SUBSTÂNCIAS LIPOLÍTICAS E SEGURANÇA CLÍNICA

BELO HORIZONTE 2018

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FACULDADE CATHEDRAL IBRAS – INSTITUTO BRASIL DE PÓS-GRADUAÇÃO

CAPACITAÇÃO E ASSESSORIA

BRÍGIDA XAVIER LEMES

MESOTERAPIA: TÉCNICAS, SUBSTÂNCIAS LIPOLÍTICAS E SEGURANÇA CLÍNICA

Artigo apresentado como requisito parcial para a

conclusão do Curso de Pós-graduação em

Especialização em Farmacêutica Estética da

Faculdade Cathedral/I-Bras.

Orientador: Profª Dra. Isis Tande da Silva

BELO HORIZONTE 2018

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MESOTERAPIA: TÉCNICAS, SUBSTÂNCIAS LIPOLÍTICAS E SEGURANÇA CLÍNICA

Brígida Xavier Lemes1 Isis Tande da Silva2

Resumo: Introdução: Verifica-se no Brasil e no mundo um antagonismo entre a epidemia de sobrepeso e obesidade e a grande busca do “corpo ideal”. Tal paralelo ocasiona uma enorme procura por procedimentos que favoreçam a perda de gordura em regiões específicas do corpo. Este cenário propiciou um crescimento vertiginoso do uso da mesoterapia e de injeções lipolíticas. Neste sentido, faz-se oportuna uma revisão de literatura que atualize os principais achados científicos a respeito da metodologia adequada, eficácia e segurança de sua utilização. Objetivo: Descrever as técnicas e substâncias utilizadas para a redução de gordura localizada através da mesoterapia e de injeções lipolíticas identificando segurança clínica e sua eficácia. Metodologia: Foi realizada uma revisão narrativo descritiva dos temas em questão. Foram investigadas as palavras chave: mesoterapia, lipolíticos, fostatidilcolina, injeções intradérmicas, intradermoterapia em plataformas indexadas. Resultados. As técnicas de “mesoterapia” e sua derivação as “injeções lipolíticas” se diferenciam pelas substâncias utilizadas, pela distância entre as puncturas e a profundidade de penetração da agulha. Na literatura, as técnicas são muitas vezes confundidas e tidas como semelhantes em função do mesmo uso. As complicações decorrentes mais severas a serem observadas nestes procedimentos têm sido as infecções por micobactérias, urticárias e paniculite. Os efeitos colaterais, observados são queimação, eritema, inchaço, nodulações e contusões. O uso off-labbel é uma realidade no Brasil e no mundo e diante dos riscos e a falta de dados de segurança torna-se importante sua fiscalização. A fosfatidilcolina foi usada na última década empiricamente, em redução de bolsas de gordura infra-palpebrais e de gordura localizada no abdome, região lombar e quadris, com alguns resultados de redução de gordura localizada. Esses resultados, embora benéficos, levaram ao uso indiscriminado da fosfatidilcolina em clínicas de estética sem respaldo científico. Já a segurança do desoxicolato está mais esclarecida, tendo sido analisado em estudos randomizados, controlados e duplo-cego. Sua utilização foi eficaz, reduzindo a gordura localizada na região submental, sem efeitos adversos significativos. Deste modo, é a única substância liberada pela FDA e ANVISA para uso específico na região descrita. Há necessidade de mais estudos controlados, randomizados e duplo-cego para identificar o efeito específico das outras substâncias e mesmo do desoxicolato em outras regiões do corpo. Conclusão: Com tão poucos estudos indexados sobre o papel da mesoterapia e injeções lipolíticas, apenas para o uso do desoxicolato na região submental é comprovado. A utilização destas técnicas para este fim com qualquer outra substância ou outra área corporal precisa de mais estudos randomizados, controlados e duplo-cego para garantia de segurança e eficácia. Palavras-chave: Mesoterapia, lipolíticos, fostatidilcolina, injeções intradérmicas, intradermoterapia.

Abstract: Introduction: In Brazil and in the world there is an antagonism between the epidemic of overweight and obesity and the great search for the "ideal body”. Such a parallel causes an enormous demand for procedures that favor the loss of fat in specific regions of the body. This scenario led to a dizzying increase in the use of mesotherapy and lipolytic injections. In this sense, it is appropriate a literature review that updates the main scientific findings regarding the proper methodology, effectiveness and safety of its use. Objective: To describe the techniques and substances used to reduce localized fat through mesotherapy and lipolytic injections, identifying clinical safety and its efficacy. Methodology: A descriptive narrative review of the themes was carried out. The key words: mesotherapy, lipolytics, phosphatidylcholine, intradermal injections, intradermotherapy were investigated in indexed platforms. Results: The techniques of "mesotherapy" and its derivation "lipolytic injections" are differentiated by the substances used, the distance between the punctures and the depth of penetration of the needle. In the literature, the techniques are often confused and considered as

1 Graduada em Farmácia pelo Centro Universitário UMA; Pós-Graduanda em Saúde e Estética pela Faculdade Cathedral/IBRAS. Belo Horizonte, MG. 2 Doutora em Nutrição em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

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similar in function of the same use. The most severe complications that have been observed in these procedures are mycobacterial, urticarial and panniculitis infections. The observed side effects are burning, erythema, swelling, nodulations and bruises. The off-labbel use is a reality in Brazil and in the world in front of the risks and the lack of safety data, its supervision becomes important. Phosphatidylcholine has been used empirically for the last decade in the reduction of infra-eyelid fat pockets and fat located in the abdomen, lumbar region and hips, with some localized fat reduction results. These results, while beneficial, led to the indiscriminate use of phosphatidylcholine in clinics of esthetics without scientific support. The safety of deoxycholate is more clarified and has been analyzed in randomized, controlled and double-blind studies. Its use was effective, reducing localized fat in the submental region, without significant adverse effects. Thus, it is the only substance released by the FDA and ANVISA for specific use in the region described. There is need for more controlled randomized, double-blind studies to identify the specific effect of other substances and even deoxycholate in other regions of the body. Conclusion: With so few studies indexed on the role of mesotherapy and lipolytic injections, only the use of deoxycholate in the submental region is proven. The use of these techniques for this purpose with any other substance or other body area requires more randomized, controlled and double-blind studies for safety and efficacy. Keywords: Mesotherapy, lipolytics, phosphatidylcholine, intradermal injections, intradermotherapy.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem sido observado na população mundial um aumento

significativo do excesso de peso e obesidade. A obesidade praticamente triplicou sua

prevalência no mundo desde o ano de 1975. Em 2016, mais de 1,9 bilhões de adultos

no mundo apresentavam excesso de peso, dos quais aproximadamente 39% eram

indivíduos acima de 18 anos (WHO, 2018). A obesidade cresceu 60% nos últimos dez

anos de 11,8% no ano de 2006 para 18,9% em 2016, sendo a frequência semelhante

entre os sexos. Em 2016, a obesidade atingiu 18,9% da população adulta do Brasil, e

o sobrepeso é observado em aproximadamente 34,9% desta parcela da população

(VIGITEL, 2016).

Paralelamente a esta elevada prevalência, encontra-se a busca pelo “corpo

ideal”. Segundo Schilder (1935) apud Scatolin (2012), o que se entende por imagem

corporal se dá com a figuração de nosso corpo formada em nossa mente; ou seja, o

modo pelo qual o corpo se apresenta para nós. O modelo corporal individual está em

constante construção e tem completa relação com o modelo dos corpos dos outros.

Para maior compreensão da imagem corporal sempre se deve levar em consideração

a influência dos aspectos psicológicos, fisiológicos e sociais (SCHILDER, 1935 apud

SCATOLIN, 2012). Neste sentido, atualmente o uso de mídias digitais e a internet fez

avançar no mundo os conceitos de uma imagem corporal ideal. Atualmente,

“instagram”, “facebook”, “pinterest”, difundem entre jovens imagens de corpos magros

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e torneados. Segundo estudo realizado na Austrália, mulheres jovens que gastam

mais tempo no Facebook tem uma tendência a apresentar maior insatisfação com seu

corpo, em função da comparação com o modelo corporal identificado (FARDOULY;

VARTANIAN, 2014).

A vaidade, que pode aqui ser analisada como a busca pelo corpo ideal,

visando autoestima e bem-estar, influencia significativamente a realização de

procedimentos cirúrgicos e o consumo de produtos cosméticos e tratamentos

estéticos por mulheres brasileiras (STREHLAU et al., 2015). Observa-se também que,

atualmente o consumo de procedimentos cirúrgicos estéticos tem crescido

rapidamente. O número de procedimentos cirúrgicos no Brasil é considerado alto,

sendo o segundo maior consumidor de cirurgias estéticas no mundo em 2016,

perdendo apenas para os EUA. No mundo, o consumo de procedimentos cirúrgicos

estéticos aumentou em 8%, enquanto o consumo de procedimentos não cirúrgicos

aumentou em 10%. Entre eles está a redução de gordura corporal não cirúrgica, cujo

número de procedimentos no Brasil foi superior a 26 mil no ano de 2016 (ISAPS,

2017).

Diversas tecnologias e modalidades não cirúrgicas para aprimoramento do

contorno corporal têm sido utilizadas como alternativas à lipoaspiração. Destacam-se

a luz infravermelha, radiofrequência, ultrassom não focado e a mesoterapia (NIWA et

al., 2010).

A mesoterapia, tecnicamente conhecida como ‘intradermoterapia’, consiste na

aplicação de substâncias farmacológicas muito diluídas na região corporal a ser

tratada, onde ocorre estimulação tecidual, tanto pela ação da punctura quanto pela

ação dos fármacos utilizados (HERREROS et al., 2011). A mesoterapia é uma técnica

de baixo custo, pois se utiliza doses diluídas de fármacos; esta modalidade vem sendo

difundida de forma crescente no Brasil, popularizando-se através dos trabalhos da

dermatologista Patrícia Rittes. A técnica de injeções subcutâneas de fosfatidilcolina

combinada com seu emulsionante, - o desoxicolato – mostra-se eficaz na remoção de

pequenas porções de tecido adiposo, devido à ação detergente do desoxicolato que

promove a lise celular. Tal modalidade de uso é denominada de ‘Lipólise por injeção’

e se difere da mesoterapia pelo tipo, quantidade de ativos aplicados e a distância entre

os pontos de aplicação (ROTUNDA et al., 2006).

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De acordo com Herreros, (et al., 2011) há escassa informação científica sobre

a intradermoterapia publicada em periódicos indexados no MedLine e poucos estudos

rigorosos sobre a eficácia e os mecanismos desta técnica. Além disso, a maioria dos

trabalhos indexados sobre o tema releva e destaca mais comumente as suas

complicações, com destaque para infecções causadas por bactérias (HERREROS et

al., 2011). As complicações recorrentes da mesoterapia ocorrem pelo uso inadequado

da técnica, a falta de assepsia ou a contaminação dos produtos utilizados, dentre as

quais podemos ressaltar: urticárias, erupção liquenóide, psoríase, lúpus eritematoso

sistêmico, necroses da pele, paniculite, acromia e atrofia (HERREROS et al., 2011).

Neste sentido, uma revisão em português se faz muito propícia, a fim de esclarecer

os tipos de procedimentos existentes, sua segurança e legalidade, especialmente no

contexto do crescimento vertiginoso dos procedimentos estéticos no Brasil.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Descrever as técnicas e substâncias utilizadas para a redução de gordura

localizada através de injeções lipolíticas, identificando a segurança clínica de sua

utilização.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Descrever as principais técnicas injetáveis de redução de gordura localizada.

- Descrever as substâncias lipolíticas utilizadas na redução de gordura localizada.

- Observar na literatura os aspectos relacionados à segurança clínica dos

procedimentos

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3 METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão narrativo descritiva dos temas em questão. Artigos

científicos foram selecionados a partir dos sites indexados: PUBMED, SCIELO,

MEDLINE. As palavras chave utilizadas isoladamente e em conjunto nas buscas

foram: mesoterapia, lipolíticos, fostatidilcolina, injeções intradérmicas,

intradermoterapia, mesotherapy, lipolytics, phosphatidylcholine, intradermal injections,

intradermotherapy.

4 RESULTADOS

4.1 HISTÓRICO DA MESOTERAPIA

A Intradermoterapia é um procedimento médico que consiste na injeção

intradérmica de substâncias farmacológicas em pequenas quantidades. Inicialmente

a proposta surgiu como uma alternativa de analgesia sendo descrita por diversos

pesquisadores entre 1834 a 1937 (HERREROS et al., 2011). Posteriormente, em

1952, o médico francês Pistor, empregou injeções múltiplas, locais e superficiais de

procaína no ouvido de um paciente para melhorar sua audição (ROTUNDA e

KOLODNEY, 2006).

Pistor, com sua publicação em 1958, popularizou a técnica e a nomeou

“mesoterapia”, devido à origem embrionária da derme. Tal modalidade foi descrita por

ele: “Pouco, poucas vezes, e no local adequado”. A introdução da agulha na pele,

pode variar de autor para autor, e descreve-se que pode ser perpendicular ou

formando um ângulo de 30ᵒ à 90ᵒ variando com a disfunção; a técnica foi difundida

pelo mundo e em 1964, onde criou-se a Sociedade Francesa de Mesoterapia

(HERREROS et al., 2011)

Em 1966, foi referenciado o primeiro uso do ‘Lipostabil’ para embolia

gordurosa, demonstrando restaurar o equilíbrio normal entre lipoproteína de baixa

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densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL) promovendo assim o

transporte reverso do colesterol. Segundo Young (2003) um folheto datado de 1974

na revista Pharma classificou a fosfatidilcolina como ativo farmacológico usado para

tratar inicialmente os níveis do colesterol sérico, presentes no sangue, que tinham por

consequência uma gama de doenças relacionadas à hiperlipidemia, distúrbios

ateroscleróticos, diabetes, angiopatias, angina pectoris, infarto pós-miocárdio,

hipertensão de origem esclerótica e tromboembolismo pré e pós-operatório. A

eliminação da gordura corpórea com as injeções de Lipostabil cujo ativo é a

fostatidilcolina promove o derretimento e a dissolução da gordura corporal

(MATARASSO, 2009; YOUNG, 2003).

A dermatologista Patrícia Rittes foi creditada como a primeira a utilizar e

publicar experiências utilizando injeções de fosfatidilcolina tanto para tratamento de

coleções relacionadas à gordura localizada como também para gordura infraorbital

(ROTUNDA e KOLODNEY, 2006). A partir da década de 90 médicos da França, Brasil

e Itália usaram o Lipostabil de modo off-label, como injeções subcutâneas para

redução de coleções localizadas de tecido adiposo (ROTUNDA, 2009). A mesoterapia

e o uso de fosfatidilcolina e desoxicolato são aplicados tradicionalmente para redução

de gorduras localizadas, fato que levou a mídia, pacientes e médicos a os

reconhecerem como sinônimos (ROTUNDA e KOLODNEY, 2006).

Até então, não existem estudos clínicos suficientes para que órgãos

responsáveis aprovem a comercialização e/ou permitam pesquisas que comprovem a

eficácia do produto para o uso estético, pois segundo Rotunda (2009) a fosfatidilcolina

não apresenta o efeito lipolítico e adipolítico que se espera, e o desoxicolato utilizado

originalmente na redução de lipomas, vem sendo utilizado como solvente da

fosfatidilcolina, induzindo necrose tecidual, inflamação e redução de volume da

membrana celular.

Em 2010, a ANVISA proibiu no Brasil o uso de lipostabil® e desoxicolato para

redução de gordura localizada (ANVISA, 2010), sendo este último posteriormente

regulamentado para uso de biomédicos e esteticistas devidamente habilitados,

conforme dispõe a Resolução nº 214/2012.

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4.2 DESCRIÇÃO DE TÉCNICAS, SUBSTÂNCIAS E MECANISMOS DE AÇÃO

4.2.1 MESOTERAPIA

A mesoterapia, do grego mesos (“meio” e “Therapeia” “para tratar

medicamente”) é um tratamento cosmético minimamente invasivo e não cirúrgico

pertencente à medicina homeopática (ATIYEH et al., 2008). Caracteriza-se por

injeções intradérmicas ou subcutâneas aplicadas na área a ser tratada, variando de

uma distância aproximada de 1cm a 4cm entre si, e uma penetração da agulha a uma

profundidade máxima de 4mm em ângulo de 30 ou 60.

Seu método é baseado na injeção de um ou mais fármacos, qual se denomina

mélange. A técnica é realizada através da inserção de pequenas quantidades dos

produtos em puncturas subcutâneas (Tabela 1) (HERREROS et al., 2011). Extratos

de plantas naturais, agentes homeopáticos, produtos farmacêuticos, vitaminas e

outras substâncias bioativas podem ser utilizados e administrados nas punções

dérmicas dos procedimentos (ATIYEH et al., 2008). As aplicações podem ser

semanais ou mensais, atingindo quatro a dez sessões ao mês (HERREROS et al.,

2010).

Tabela 1: Diferenciações conceituais entre mesoterapia e injeções lipolíticas.

Técnica Conceito

Mesoterapia Aplicação de substâncias farmacológicas muito diluídas na região

corporal a ser tratada, através de puncturas subcutâneas, onde ocorre

estimulação tecidual, com inserção de pequenas quantidades dos

produtos.

Injeções de

fosfatidilcolina

Injeções lipolíticas utilizando detergentes para redução de gordura

Herreros et al., 2010; Atiyeh et al., 2008; Rites, 2001

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As substâncias mais comuns utilizadas na mesoterapia para lipólise são

citadas na Tabela 2. Segundo Rotunda e Kolodney (2006), existem diversas

condições em que as substâncias utilizadas na mesoterapia podem ser empregadas.

Um exemplo é a ‘lipodistrofia ginóide’, popularmente conhecida por “celulite”, onde há

uma alteração do relevo cutâneo com modificações na morfologia, histoquímica,

bioquímica e microcirculação das células dos adipócitos (Santos et al., 2011). Dentre

as alternativas para o tratamento desta anomalia está o uso de injeções de ativos

lipolíticos, como cafeína, teofilina, teobromina e retinol atuando no aumento do AMPc

para promoção do estimulo à enzima proteinaquinase em sua forma ativa: a lipase.

Ativos com silícios, iodos orgânicos e L- carnitina também são usados, pois melhoram

a circulação e a metabolização de gorduras e estimulam a produção de colágeno

(SANTOS et al., 2011).

Já para o tratamento de “foto envelhecimento”, segundo Herreros (et al., 2007)

o silício orgânico é utilizado promovendo aumento do número de fibras elásticas e

colágenas e ajudam na textura do colágeno e das fibras elásticas da derme. Além do

silício, os ativos usados são o ácido lipóico, a lidocaína, dimetilaminoetanol (DMAE),

multivitaminícos, ácido hialurônico e tretinoína (ROTUNDA e KOLODNEY, 2006).

Tabela 2: Principais princípios ativos utilizados para redução de gordura localizada,

segundo técnica aplicada.

Técnica Utilizada Princípios ativos

Mesoterapia

Aminofilina, teofilina e cafeína da classe das metilxantinas;

Isoproterenol são os B – agonistas;

Epinefrina são as aminas simpaticomiméticas;

Piruvato de cálcio em metabólito ciclo de Krebs;

Carnitina em derivado de amino ácido;

T3, T4, tiratricol em hormônios, metabólitos hormonais;

Injeções lipolíticas

Lisofosfatidilcolina isolada (5% ou 50mg/ml)

Lisofosfatidilcolina (5% ou 50mg/ml) associada a desoxicolato (4,2 – 4,65%)

Desoxicolato de sódio isolado 1 – 5%

ROTUNDA e KOLODNEY, 2006

No contexto da redução de gordura localizada, a L-carnitina é um importante

princípio ativo. Consiste em um aminoácido que transporta a gordura acumulada para

dentro das células, que posteriormente serão utilizadas como forma de energia.

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Apresenta ainda, efeito antioxidante e faz com que o metabolismo da glicose seja

melhorado, auxiliando na construção da massa muscular magra. A classe das

metilxantinas, cujo mais importante representante é a cafeína age estimulando a

lipase, que se caracteriza como uma enzima que atua na hidrolise das reservas de

gordura corporal, além de ter seu efeito lipotrófico associado à liberação de

adrenalina, um hormônio catabólico. Assim, determina uma ação termogênica

especifica, o que mantêm o metabolismo acelerado, gerando maior queima calórica

(SILVÉRIO; CAPERUTO; SEELAENDER, 2009).

Outra substância que nos cabe relatar é o Isoproterenol, que é um agonista

Beta-adrenérgico capaz de reduzir a gordura subcutânea, cuja hipótese de ação está

fundamentada na lipólise de gordura no local da aplicação. A lipólise Beta-adrenérgica

regula de forma negativa o receptor beta-2, gerando uma taquifilaxia através de

fosforilação do receptor Beta-adrenérgico específico, dependente do agonista Beta-2-

quinase. Além disso, age através de um “sequestro” dos receptores da superfície

celular; este efeito ocorre em, aproximadamente, 30 minutos após a estimulação

(CARUSO et al., 2006; REDMAN et al., 2011).

De modo semelhante, Dodt et al. (2003) relata a Epinefrina, uma amina

simpaticomimética que atua na indução da lipólise do tecido adiposo. De forma geral,

é utilizada em cirurgias de lipoaspiração, lifting facial (para redução de sangramento),

homeostase e/ou prolongamento de analgesia (BROWN et al., 2004; SWANSON,

2015).

Outra substância utilizada é o ‘Piruvato de Cálcio em metabólito ciclo de Kreb’.

O Piruvato de cálcio é um composto tri-carbônico que age como um transportador

entre a glicose e o ciclo de Krebs (KOH-BANERJEE et al., 2005). Segundo Koh-

Banerjee et al. (2005), o piruvato de cálcio e/ou de sódio tem sido relacionado à perda

de gordura e à sua ação ergogênica. Relata-se na literatura seu uso em

intradermoterapia (SIVAGNANAM; RHODES 2010), porém não são encontrados

ensaios clínicos demonstrando sua eficácia.

Há de se destacar também, a função dos hormônios da tireoide (T3 e T4) que

possuem uma atuação a nível celular, agirando diretamente nas mitocôndrias,

desacoplando a produção de energia mitocondrial e gerando uma dissipação de

energia como calor. Este provavelmente é o principal mecanismo para síntese

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energética e perda de peso corporal, como descrevem os autores Silva e Bianco (2008

apud MARRIF, 2011).

4.2.2 INJEÇÕES LIPOLÍTICAS

A aplicação de injeções para redução de gordura corporal, técnica semelhante

à mesoterapia e difundida por Rittes (2001), consiste em injeções lipolíticas utilizando

desoxicolato de sódio ou fostatidilcolina ou ambos no tecido subcutâneo para redução

de camada de gorduras na região do abdômen, pálpebra inferior, pescoço, glúteo e

coxas. Esta técnica pode ser mais precisamente descrita como “métodos injetáveis

que empregam detergentes para redução de gordura” (Tabela 1) (ROTUNDA, 2009).

Além da presença de detergentes, o número de puncturas e o volume injetado

subcutânamente através de injeções lipolíticas, não correspondem ao

tradicionalmente utilizado na técnica criada por Pistor (ROTUNDA e KOLODNEY,

2006). A técnica é feita a profundidade de 12mm e 1.5 cm de distância

aproximadamente (MATARASSO et al., 2009). Os princípios ativos utilizados estão

descritos na Tabela 2.

Para Assumpção e Filho (2005), uma das hipóteses para o mecanismo de

ação da fosfatidilcolina se dá através de sua penetração nos adipócitos devido a seu

caráter anfipático:

“No citoplasma, a hidrólise de fosfatidilcolina pela fosfolipase D geraria ácido fosfatídico, que levaria à ativação da proteinoquinase alfa, ativando a translocação da lipase sensível a hormônios que hidrolisaria os triglicérides dos adipócitos para ácido graxo e glicerol, sendo estes posteriormente utilizados em outras vias metabólicas ou eliminados pelos rins. Outra hipótese a ser estudada é a destruição dos adipócitos. Esta seria desencadeada pela ativação da via de inflamação ou por uma ação irritante da fosfatidilcolina diretamente sobre os adipócitos” (ASSUMPÇÃO, FILHO, 2005).

A combinação de fosfatidilcolina, e seu solvente (desoxicolato) de sais biliares

aparecem na literatura médica como protagonista pela lipólise química. Conforme

demonstrado e apontado em estudos, o desoxicolato, quando administrado de forma

isolada por via subcutânea, tem o mesmo efeito que quando associado com

fosfatidilcolina, de acordo com trabalho de pesquisa, onde foi verificado a lise dos

adipócitos e a perda, que pôde ser considerada de leve a moderada, do tecido adiposo

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(ROTUNDA e KOLODNEY, 2006). Matarasso e Pfeifer (2009 apud GEREMIA;

FONTANIVE; MASCAERENHAS, 2017) relatam que o desoxicolato, podendo agir

através da destruição de adipócitos de três maneiras:

“[...] como agentes causadores de necrose; por causar mobilização dos

ácidos graxos de dentro do adipócito; e, na forma cristalina, causar dano

celular pela perfuração das membranas biológicas” (Matarasso e Pfeifer,

2009 apud Geremia et al., 2017).

O acido desoxicólico é um ácido biliar endógeno, que age para emulsionar e

solubilizar a gordura dietética nos intestinos. Utilizado como injeção no subcutâneo

exógeno perturba as membranas celulares adiposas levando à lise dos adipócitos. O

desoxicolato não se acumula na célula, uma vez que rapidamente será excretado

pelas fezes (Dunican. C, K et al ,2016).

Além destes mecanismos podem ser observados a retração da pele através de

inflamação, angiogênese e ablação das gorduras subcutâneas (DUNCAN et al. 2009

apud GEREMIA et al., 2017).

4.3 SEGURANÇA CLÍNICA: MESOTERAPIA E INJEÇÕES LIPOLÍTICAS

Existem até o momento poucas publicações relevantes quanto à segurança, o

mecanismo de ação e a eficácia da mesoterapia e da técnica denominada lipólise por

injeções. Ainda não se encontra informações suficientes na literatura científica sobre

as formulações, técnicas, dosagem e a toxicologia de seus produtos. Destaca-se

ainda o fato de as técnicas serem confundidas e descritas muitas vezes como

similares. Assim, este tópico abordará os principais resultados encontrados a respeito

dos efeitos colaterais, que em sua maioria são referentes à técnica de mesoterapia,

porém, com algumas das substâncias também utilizadas em nas injeções

intradérmicas.

Existem controvérsias em torno de sua eficácia e seus efeitos adversos

potenciais tem sido motivo de preocupação, a Food and Drug Administration (FDA)

não concorda com aprovação para uso off-labbel dessas drogas independente da

técnica de aplicação (MATARASSO et al., 2009). As complicações mais severas

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registradas até o momento são as infecções por ‘micobatérias’, provocando cicatrizes

inestéticas. Além delas, ocorrem ainda, as infecções secundárias decorrentes da

técnica da mesoterapia, devido à assepsia inadequada antes ou durante os

procedimentos e até mesmo a contaminação dos ativos utilizados (HERREROS et al,

2011).

Segundo Hexsel et al. (2005 apud GEREMINA et al.,2017) após a aplicação

de desoxicolato de sódio utilizando a técnica de mesoterapia não há relatos de

alterações nas enzimas hepáticas ou danos sistêmicos, porém alguns efeitos

colaterais são recorrentes após uso desta substâncias. Como exemplo aumento da

atividade da colinesterase, da alanina aminotransferase e da aspartato

aminotransferase (SCHULLER-PETROVIC et al., 2008 apud GEREMINA et al.,2017).

Segundo Bessis et al. (2004) a presença de erupção urticária pigmentosa na pele

ocorreu devido a aplicação de misturas de drogas com procaína e plantas medicinais,

visando o tratamento de celulite através da técnica de mesoterapia. Os resultados de

exames cutâneos foram máculas marrom-avermelhadas com presença de mastócitos

e elevação de histamina no local, um indicativo de urticária pigmentosa induzida por

injeções de mesoterapia.

O relato de paniculite citado por Tan e Rao (2006) foi que pode ter sido

ocasionada por pressão da injeção, trauma no local ou por substâncias contaminadas

durante a aplicação da técnica. As substâncias relacionadas à paniculite na literatura

são extratos de plantas, hialuronidase, naftidrofuril, sorbitol, cloridrato de procaína e

heparina (TAN E RAO, 2006)

Ainda, segundo Tennstedt e Lachapelle (1997 apud HERREROS, 2011)

álcoois e óleos não devem ser utilizados em mesoterapia, devido ao alto riscos de

necrose cutânea.

O uso indiscriminado da fosfatidilcolina relatado nos anos 2000 a 2002, suas

consequências infecciosas e paniculites, bem como sua ampla divulgação em revistas

e jornais leigos, levaram a ANVISA a proibir o fármaco em todo território nacional, o

que dificultou o emprego de pesquisas mais detalhadas sobre o assunto

(ASSUMPÇÃO; FILHO, 2005).

O ácido desoxicólico sintético purificado (ATX-101) da marca Kybella é a

primeira escolha farmacológica, aprovada pela FDA para a redução de gordura

submentoniana. Anterior da aprovação do ATX-101 eram utilizadas injeções

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lipolíticas, embora não aprovadas pelos órgãos reguladores, com fosfatidilcolina e

desoxicolato de sódio para redução da gordura localizada tanto no espaço submental

como outras áreas do corpo (Dunican. C, K et al ,2016). Neste ano, seu uso foi liberado

pela ANVISA pela marca Belkyra®, assim como a FDA, apenas na região

submentoniana (ANVISA, 2018).

O uso ácido desoxicólico sintético purificado (Kybella®) pode ser injectado

mensalmente durante 4 a 6 sessões de tratamento. A dose é ajustada com base na

área de tratamento, com 2mg/cm2 administrada até um máximo de 50 injeções de 0,2

ml (até um total de 10 ml) com espaçamento de 1 cm entre cada punctura. Este

tratamento pode ser repetido até 6 vezes com intervalo de pelo menos 1 mês entre as

sessões de tratamento. Antes da injeção, o clínico deve palpar a área submentoniana

para garantir que o paciente tem gordura suficiente para injeção e para identificar

distribuição de gordura do paciente (Dunican. C, K et al ,2016).

5 ÚLTIMOS ESTUDOS INVESTIGANDO O EFEITO DAS TÉCNICAS

Alguns estudos atuais demonstram os efeitos das técnicas e substâncias descritas

em estudos realizados em humanos.

Acher et al. . (2014) descrevem que mesmo com poucas evidências científicas

seguras e eficazes os injetáveis lipolíticos como o ácido desoxicólico vem sendo

aprovados para uso. A aceitabilidade deste ácido vem sendo observada em estudos

de tolerabilidade de fase I e II para redução de gordura submentoniana. Em tecidos

relativamente ricos em proteínas, como músculo e pele, a ação deste lipolítico é

atenuada pelo aumento da ligação as proteínas ( ACHER at al, 2014).

Neste sentido, McDiarmind et al. (2014) relatam que o tratamentos da gordura

submental utilizando o fármaco injetável ácido desoxicólico sintético purificado na

dosagem de 1 a 2 mg/cm2 apresentaram bons resultados com redução de gordura

localizada nesta região. Ainda segundo estes autores, indivíduos saudáveis

demonstraram que a adipocitólise induzida pelo ácido desoxicólico não se associou a

aumento significativo dos lipídicos séricos ao longo do tempo de tratamento. Ademais,

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a substância não apresenta acúmulo no local da injeção devido à rápida depuração

na circulação entero-hepática (McDiarmind.,J et al, 2014).

Mais recentemente, Acher et al. (2014) em estudo clínico randomizado, duplo-

cego, controlado de fase III, com 360 pacientes, observaram que comparado ao

placebo o ácido desoxicólicoresultou em redução da gordura localizada na região

submental. Os pacientes em uso do desoxicolato relataram satisfação de 68,3% com

o aspecto da face e queixo em comparação a 29,3% daqueles em uso de placebo. Os

autores caracterizaram o ácido desoxicólico como eficaz e bem tolerado, visto que os

efeitos adversos foram em sua maioria transitórios, de intensidade leve a moderada

e, específicos à área de tratamento (ACHER et al., 2014). Estes estudos direcionaram

a liberação do uso deste medicamento pela FDA e ANVISA.

Já com relação à fosfatidilcolina os dados são menos contundentes. Sua

utilização, em 2004, para redução de hérnias de gordura infraorbitais determinou

melhora da aparência indesejada. Neste estudo foram selecionados indivíduos

saudáveis, dos quais 10 dos 13 participantes apresentaram redução de gordura

infraorbital. Sessenta por cento desses pacientes avaliaram a melhoria igual ou

superior a 5 pontos em uma escala de 10 pontos. Os efeitos colaterais observados

foram queimação, eritema e inchaço no local da injeção (ABLON E ROTUNDA, 2004).

Do mesmo modo, Tawfik et al. (2011) analisaram imagens pré e pós-injeção de

lipostabil® em gordura localizada na pálpebra inferior em 23 pacientes. Os resultados

foram comparados ao uso de solução salina e não foi possível diferenciar os efeitos

do Lipostabil® aos da solução salina.

No caso da redução de gordura submentoniana o uso concomitante de silício

orgânico e fosfatidilcolina mostrou benefícios, porém não houve diferenças ao se

comparando o uso isolado de fosfatidilcolina e o uso concomitante ao silício orgânico.

Algumas reações adversas leves e transitórias foram observadas em ambos os

grupos, como calor localizado, nodulações e ligeiras contusões. Os autores

consideraram seguros os dois procedimentos, porém o espaço amostral do estudo foi

de apenas 11 pacientes (COA et al., 2007)

Os resultados ainda são restritos, variam com relação a área estudada e grau

de controle. Apesar da liberação do uso de desoxicolato, apenas para a região

submental, cujas evidências são mais efetivas, mais estudos randomizados, duplo-

cego e controlados precisam ser realizados a respeito destas substâncias.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente procura por beleza e adequação aos padrões corporais atuais

ocasionou o desenvolvimento de diversas tecnologias para perda de gordura corporal.

Neste sentido, a presente revisão descreveu as técnicas de injeções subcutâneas

para redução de gordura localizada. A primeira delas proposta por Pistor (1952),

nomeada “mesoterapia” e sua derivação as “injeções lipolíticas” difundidas por Rittes

(2001).

As técnicas diferem quanto às substâncias utilizadas, com destaque para

cafeína da classe das “Metilxantinas” e carnitina na mesoterapia; lisofosfatidilcolina e

desoxicolato nas injeções lipolíticas. Diferenciam-se ainda pela distância entre as

puncturas e pela profundidade de penetração da agulha. Na literatura como descrito

por Rotunda (2009), observa-se que as técnicas são na maioria das vezes vistas como

similares. Em geral, os estudos nomeiam erroneamente a injeção lipolítica como

sinônimo de mesoterapia. Deste modo, torna-se difícil comparar as técnicas e

identificar qual seria a mais segura.

As substâncias utilizadas são o maior foco de estudos. Poucas são as

substâncias detalhadamente examinadas em ensaios clínicos. As complicações mais

severas observadas nestes procedimentos têm sido as infecções por micobactérias,

urticárias e paniculite. Já como efeitos colaterais, observam-se queimação, eritema,

inchaço, nodulações e contusões.

O uso off-labbel é uma realidade no Brasil e no mundo e tendo em vista os

riscos e a falta de dados de segurança torna-se importante descrever os resultados já

observados e demonstrar para os clínicos a necessidade de cautela na utilização. Por

exemplo, a fosfatidilcolina foi usada na última década empiricamente, em redução de

bolsas de gordura infra - palpebrais e de gordura localizada no abdome, região lombar

e quadris, com alguns resultados de redução de gordura localizada. Esses resultados,

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embora benéficos, levaram ao uso indiscriminado da fosfatidilcolina em clínicas de

estética sem respaldo científico. Investigações científicas ainda são restritas, fato que

culminou com a proibição do lipostabil®, nome comercial da fosfatidilcolina, no Brasil.

Já a segurança do desoxicolato está mais esclarecida, tendo sido analisado em

estudos randomizados, controlados e duplo-cego de fase I, II e III. Sua utilização foi

eficaz, reduzindo a gordura localizada na região submental, sem efeitos adversos

significativos. Deste modo, é a única substância liberada pela FDA e ANVISA para

uso específico na região submental.

Outras substâncias usadas off-labble não foram estudadas, assim não está

comprovada sua eficiência ou sua segurança para uso na redução de gordura

localizada.

Tais evidências enfatizam a importância da divulgação destes achados entre

farmacêuticos, biomédicos, médicos e população em geral para que as substâncias

não aprovadas não sejam utilizadas sem respaldo científico. Há necessidade de mais

estudos randomizados, controlados e duplo-cego para identificar o efeito específico

das outras substâncias e mesmo do desoxicolato em outras regiões do corpo. Com

tão poucos estudos indexados sobre o papel da mesoterapia e injeções lipolíticas, o

respaldo para sua utilização é bastante restrito. Apenas o desoxicolato deve ser

utilizado na região submental. Mais estudo são necessários para que qualquer

substância ou outra área corporal seja submetida a estes procedimentos.

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