mesmidade, ipseidade e vontade: as aporias da noção de subjetividade ricoeurianas

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  • 7/25/2019 Mesmidade, Ipseidade e Vontade: as aporias da noo de Subjetividade ricoeurianas

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    JOOB. BOTTONUiversidade Federal de Minas

    Gerais (UFMG)[email protected]

    RsEste artigo apresenta os resultados mais importantes,embora parciais, de uma pesquisa mais vasta. Essa pesquisaarticula-se em torno de uma questo central: qual o estatutoda subjetividade na obra de Paul Ricoeur? Aqui a noo de sub-jetividade circunscreve-se s noes de ipseidade e mesmidadee o problema posto a partir de uma ambiguidade assinalada na

    distino entre esta e aquela. Esse estatuto , ento, investigadoa partir do aporte que uma losoa da vontade desenvolvida porRicoeur pode oferecer problemtica gerada pela distino.Plvs-hvS-; ; ; ; -.

    Abs This paper presents the most important results,though partial, of a wider research. This research is articulatedaround a central question: What is the status of subjectivity inPaul Ricoeurs work? The notion of subjectivity is here connedto notions of selood and sameness and the problem is statedfrom an ambiguity marked in the distinction between the formerand the latter. This status is then investigated from the contribu-tion Ricoeurs philosophy of will may oer to the problems gener-ated by the distinction.KywdsO; ; ; ; .

    Ao investigar o estatuto da subjetividade na obra de PaulRicoeur, este artigo descobre que, resolvendo certo regi-me de aporicidade legado pela tradio, a hermenuti-ca do si, proposta pelo lsofo, no escapa por si prpria de um

    segundo regime de diculdades, que uma variao mais sutildo primeiro. No escapa por si prpria, mas encontra em umalosoa da vontade de cunho fenomenolgico um auxlio po-deroso para fazer avanar os impasses gerados. Nosso objetivoaqui explorar essas diculdades com as quais o pensamentode Ricoeur se embaraa e esboar uma via de soluo . Para isso,marca-se a diferena de perspectiva que distingue dois momen-tos da obra de Ricoeur, uma hermenutica do si concentradanas obras Soi-mme comme un autre (1996 lanada em 1990)e Parcours de la reconnaissance (2004) e uma fenomenologia davontade composta pelos volumes Le volontaire et linvolontaire

    MESMIDADE, IPSEIDADEEVONTADE:ASAPORIASDANOORICOEURIANADESUBJETIVIDADESameness, selfhood and will: the aporias

    of Ricoeurs concept of subjectivity

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    26Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767

    DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    (1996 lanado em 1950) e Finitude et cul-pabilit (2009b lanado em 1960) da obraPhilosophie de la volont (2009b).1

    As diculdades ligadas soluo propos-ta por Ricoeur ao problema da subjetividadedizem respeito, sobretudo, noo de ipsei-dade quando ela se liga noo de promessa.Ao asseverarmos essa ligao, para exploraras consequncias dos problemas que nos ocu-pam, no entanto, somos forados a deslocaro olhar para a noo de carter que, em certosentido, o contrrio oposto promessa.

    O artigo procede em quatro movimen-tos: 1) explora o estatuto que a hermenuticado si pretende dar noo de subjetividadeante a aporia entre as posies tradicionais

    de um substancialismo metafsico e de um nii-lismo ctico; 2) explora o alcance da soluoproposta por Ricoeur e as problemticas queela prpria suscita ao resolver as aporias datradio; 3) formula a hiptese de acordo coma qual uma losoa da vontade torna compre-ensveis e frutferas as aporias engendradaspela prpria hermenutica do si de Ricoeur; e4) desenha em grandes traos as possibilida-des de desenvolvimento da problemtica dasubjetividade pelo auxlio da fenomenologia

    da vontade.

    Si-mesmo e permannciano tempo: a distino entremesmidade e ipseidade

    Ricoeur v, na forma tradicional comque a losoa tem se ocupado do problemada subjetividade, um impasse gerado pela mcompreenso da noo de identidade ligada ideia de permanncia no tempo do que se

    considera o mesmo sujeito. O impasse ilus-trado, de um lado, pelas posies emblem-ticas de Descartes e Kant, que defendem aexistncia de um sujeito imediatamente aces-svel reexo e absolutamente idntico a simesmo ao longo do tempo, como o substratoinaltervel1 Deliberadamente, por questes de economia,

    reservamos o tratamento de La symbolique du malque completa a Philosophie de la volont (RICOEUR,2009b) para outro momento.

    das mudanas do homem emprico. Do outrolado do impasse esto as posies de Hume,Nietzsche e, mais recentemente, D. Part.Embora a partir de pressupostos diferentes,ambos argumentam ser a unidade da subjeti-vidade uma ideia ilusria. D. Part, inclusive,radicalizando essa posio, no s consideraa unidade da subjetividade uma iluso, comopretende destituir a prpria questo da iden-tidade pessoal de toda a importncia los-ca (PARFIT, 1984).2

    O ponto que cada uma das posies problemtica em um aspecto diferente. A pri-meira o na medida em que resulta facilmenteem um dogmatismo da ideia, com pretensesepistmicas mirabolantes. A segunda tem uma

    posio atrelada ao ceticismo e ao niilismo dacultura contempornea, cuja consequnciamais evidente a instrumentalizao da razo.Mas esse impasse, para Ricoeur, assenta emuma m compreenso da questo. que am-bas as tradies que se ocuparam do problemas puderam consider-lo em um sentido bas-tante restrito. Desde Descartes, tanto a tradi-o, que pretendeu armar a unidade da subje-tividade, a despeito da temporalidade empricada pessoa, quanto a tradio que, mais apega-

    da empiria, pretendeu negar absolutamentea possibilidade dessa unidade, ambas s pu-deram tom-la em sentido substancialista. Deacordo com Ricoeur (1996 p. 143), na consi-derao exclusiva da subjetividade nestes ter-mos que reside a fonte dos problemas enfren-tados. Ela elide a possibilidade de tratamentoda questo da permanncia no tempo em ou-tros termos, em um sentido capaz de livrar aproblemtica da subjetividade dessa oposio

    dicotmica e capaz ainda de conferir-lhe umaformulao menos problemtica.A questo da permanncia diz respeito,

    em largos traos, diculdade que o trans-curso temporal, operando como fator dealterao e dessemelhana, pe para a pos-sibilidade da unidade. E o engano, em suma,est em conceber que a nica possibilidade

    2 Our identity is not what matters [O que importano nossa identidade], diz Part (1984, p. 245).

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    27Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    de conjurar a diculdade que a temporalida-de apresenta seja encontrar um princpio depermanncia rgido, subjacente alterao(RICOEUR, 1996, p. 142). A diculdade que,tal princpio, inobservvel empiricamente, ou considerado ilusrio por falta de lastro naexperincia, ou permanece um postulado me-tafsico, um suposto epistmico e, do mesmomodo, carente de garantia.

    A ideia de um princpio de permann-cia, ainda que seja concebido como invarian-te relacional,3 no deixa de alocar todo oproblema em uma ontologia de cunho meta-fsico, pouco adequada noo de subjetivi-dade. E a impossibilidade de encontrar umsentido diferente de permanncia, no marco

    de uma ontologia inadequada, que produz,em grande medida, os impasses que experi-menta a cultura ocidental pela aparente dis-soluo da subjetividade.

    Tendo em vista isso, o grande lance daobra de Ricoeur propor um modo de per-manncia que no se restrinja permannciade uma substncia ou estrutura invariante.Uma permanncia capaz de corresponder demodo melhor ao estatuto ontolgico desseente particular, que no se relaciona com o

    tempo exclusivamente, por assim dizer, demodo extrnseco, simplesmente como fa-tor de corrupo, mas tem na temporalidadeum elemento constitutivo de si mesmo, dife-rena dos outros entes. Trata-se de uma per-manncia que diz respeito especicamente pessoa ou a comunidades como entes histri-cos. Uma permanncia que se organiza sob omodo da ipseidade (ipseit), que se mantmcomo recusa da mudana (RICOEUR, 1996,

    p. 149) pela coordenao e incorporao daalterao em uma unidade de sentido. Ummodo de permanncia oposto, portanto, mesmidadeque supe a substancializao.4

    3 Como prope Kant ao fazer da substncia a primeiracategoria sob o modo da relao na Crtica da razo pura.

    4 Ricoeur caracteriza a diferena entre ipseidade(identidade-ipse) e mesmidade (identidade-idem) doseguinte modo: a mesmidade um conceito de relaoe uma relao de relaes entre diferentes critriosde permanncia: identidade numrica, identidadequalitativa, continuidade e princpio de permanncia

    A considerao de um segundo modelode identidade, a ipseidade, ou identidade-ipse,pretende livrar a questo da subjetividade danecessidade de recorrncia a uma ontologiada substncia, e, assim, da inevitvel dicoto-mia entre um sujeito que se pe como quidpensante, idntico a si, e a total ausncia defundamento da questo pela impossibilidadede alocao do sujeito nessa ontologia subs-tancialista. Pretende-se livrar a questo danecessidade de recorrncia a uma ontologiada substncia sem destituir o sujeito de todaunidade. Mas que tipo de unidade possvelseno atravs de um invariante? Ricoeur temem vista, ao tentar explorar o problema daidentidade pelo vis da ipseidade, o tipo de

    permanncia de si estabelecido nas relaesinterpessoais pelos compromissos de longadurao em que o que se mantm a inten-o de realizar no futuro o acordado anterior-mente, a despeito da alterao das circuns-tncias. Da que a permanncia sob o mododa ipseidade constitua uma identidade deli-beradamente mantida apesar de s-lo comomanuteno de si (maintien de soi). O queno reivindica, de nenhuma forma, qualquerestrutura invarivel, mas se a apenas na dis-posio da vontade. Eis a importncia que tempara essa tese a considerao da vontade:implicada nesse modo de conceber o sujeito,ela se liga a uma ontologia que prescinde danoo de substncia, abrindo a possibilida-de de formulao de uma epistemologia dascincias do homem capaz de dar conta, con-comitantemente, de seus aspectos naturais,objetivveis, e de sua dimenso simblica.Abre-se espao, tambm, para a construo

    de uma moralidade que extrapole a dicotomiaentre fato e valor, sem neutralizar o sujeito doponto de vista moral nem reduzi-lo a um obje-to entre outros objetos no mundo, do pontode vista epistmico.

    no tempo; a ipseidade, por sua vez, a manutenode si pela recusa da mudana nos compromissos delonga durao (RICOEUR, 1990, p. 140-143). Adiantefalaremos sobre as noes de carter e de promessa,nas quais essa distino se modula.

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    28Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767

    DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    A distino entre ipseidade e mesmida-dena obra de Ricoeur funciona no interior deduas outras noes que denem o si-mes-mo: o carter e a promessa. A primeira no-o reativa, designa as disposies adquiridase sedimentadas pelo hbito, que se apresen-tam com a estabilidade de uma permannciaimutvel, ou quase. A segunda noo pro-ativa, e designa a iniciativa deliberada de umcompromisso futuro, uma permanncia de sique no recorre a qualquer caracterstica deimutabilidade, exceto manuteno da pala-vra empenhada. A primeira apresenta-se soba forma de mesmidade, mas esconde umaipseidade, pois o hbito tem uma origem so-terrada. A segunda mostra a pura ipseidade

    em estado agrante. Unidas pela operao denarrao (mise en intrigue), elas estabilizam ostrs aspectos da temporalidade: a efemerida-de do passado e a imprevisibilidade do futuropor meio da iniciativa presente. Na medidaem que a noo de narratividade capaz decoordenar perspectivas distintas, que, de ou-tro modo, tornar-se-iam excludentes, abre-secaminho para pensar a aporicidade apontadaacima. O sujeito deixa de poder reconhecer--se somente em uma unidade pontual e passa

    a compreender-se na unidade mvel de umatrama narrada, composta pelo regime da alte-ridade outrem est sempre implicado comobenecirio, e mesmo como testemunha, noscompromissos de longa durao nos quais osujeito se engaja e da diversidade uma nar-rativa sempre a concordncia tramada deuma totalidade mais ou menos inteligvel en-tre eventos discordantes entre si (RICOEUR,1982, p. 3-4).

    A ambiguidade da distinoentre ipseidade e mesmidade

    , . N , ipseidadee mesmidade, do modo comoela feita por meio das noes de carter ede promessa, guarda uma ambiguidade fun-damental. igualmente certo que o tema daipseidade permite pensar de modo menos

    enganoso a relao do homem com a tempo-ralidade. No entanto, ela corre o risco de pra questo da identidade novamente frente auma aporicidade desconcertante. A ambigui-dade da distino entre mesmidade e ipseida-depermite reformular a controvrsia tradicio-nal sobre a subjetividade em outros termos.

    de notar, que a despeito de sua sepa-rao radical, a distino entre o modo de per-manncia do carter e o modo de permannciada promessa assenta na semelhana extremaentre o trao de recobrimento e o motivo dedistino entre mesmidade e ipseidade. Porum lado, o que produz o recobrimento da ip-seidadepela mesmidadeno carter, dando primeira a aparncia da segunda, ainda que

    sem torn-las indistintas, a transformaodo elemento de inovao em um elementode delidade pela sedimentao temporalestabilizadora dos traos disposicionais (RI-COEUR, 1996, p. 146-147). Por outro lado, apromessa pontual obtm a credibilidade pelaqual logra uma permanncia do sujeito; umapermanncia que se pretende diferente damesmidade, da abilidade habitual (fabi-lit habituelle) constitutiva da credibilidadegeral das instituies humanas; nesse caso,

    a instituio da linguagem que faz com que aproposio eu prometo que conte comoato compromissrio. Ademais, tambm soba forma de uma disposio habitual (dispo-sition habituelle), a disposio de manter a pa-lavra, que a manuteno da promessa escapaao incmodo constante de uma perptua re-cusa da alterao (RICOEUR, 2004 p. 207-208)e se constitui digna de credibilidade peranteoutro, o destinatrio da promessa, to im-

    portante na economia do reconhecimento eda identicao para Ricoeur. Desse modo, oaspecto ducirio tanto o que torna a pro-messa capaz de produzir a manuteno de sique caracteriza o modo de permanncia daipseidade quanto o que confere ao carter aestabilidade que faz com que nele tenha lugaro fenmeno de soterramento da ipseidadepela mesmidade. O problema, ento, que,se no plano semntico a noo de promessaestabelece sem problemas a distino entre

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    29Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    identidade-idem e identidade-ipse, no planoexistencial ela os torna indiscernveis. aquique a questo de saber qual o papel precisoda subjetividade volta a se insinuar, mas emum nvel diferente.

    O problema que as partes da obra deRicoeur em que a distino entre ipseidadeemesmidade tematizada no oferecem ele-mentos sucientes para tratar a questo. Nasconcluses de Temps et rcit III (RICOEUR,1985), nas quais, pela primeira vez, mesmi-dadee ipseidadeso postas sob o horizonteda identidade narrativa, essa distino visa substituio de uma problemtica pela outra.Nesse contexto, Ricoeur arma que o dilemado confronto entre duas vertentes do proble-

    ma da identidade, uma vertente substancialis-ta (Descartes) e uma vertente empirista-ctica(Hume), desaparece se, identidade com-preendida no sentido de um mesmo (idem),substituirmosa identidade compreendida nosentido de um si-mesmo (ipse) (RICOEUR,1985, p. 443, grifo nosso).5Essa substituioconfere distino todas as caractersticas deuma oposio unilateral. O aspecto unilateralda distino reforado quando a diferena caracterizada: a diferena entre ideme ipse

    no outra seno a diferena entre uma iden-tidade substancial ou formal e a identidadenarrativa (RICOEUR, 1985, p. 443).6 Aqui, aidentidade narrativa francamente identica-da somente ipseidadepor excluso expressade toda a mesmidade.

    bem verdade que em Soi-mme commeun outre (RICOEUR, 1996) essa oposio ga-nha maior exibilidade. O carter e a promes-sa, noes das quais Ricoeur ainda no havia

    lanado mo em Temps et rcit (1985), consti-tuem, ento, uma distino de segundo grau,pela qual se descreve, em um caso, o recobri-mento entre ideme ipse, e, em outro, a disso-ciao entre eles. Essa relao pde ento ser

    5 Le dilemme disparat si, lidentit comprise au sensdun mme (idem), on substitue lidentit comprise ausens dun soi-mme (ipse) (traduo nossa).

    6 La dirence entre idem et ipse nest autre que ladirence entre une identit substantielle ou formelleet lidentit narrative (traduo nossa).

    explicitamente denida como uma dialticaconcreta (dialectique concrte), possibilitadae desenvolvida pela identidade narrativa (RI-COEUR, 1996, p. 138). V-se a oposio, queno princpio aparecia com um sentido unilate-ral, ganhar maior exibilidade. Sendo assim,uma possibilidade de comunicao entre ostermos aberta pela narratividade. No entan-to, ainda assim, na gura da promessa, o ipsepe a questo de sua identidade sem o auxlioe o apoio do idem (RICOEUR, 1990, p. 150).7

    Essa ambiguidade, a partir da qual sepode retomar a controvrsia sobre a subjetivi-dade em Ricoeur, sugere a hiptese de que ateoria da identidade narrativa, a partir da qualRicoeur estabelece a distino ipseidade-mes-

    midade, supe uma noo particular de von-tade no desenvolvida no quadro dessa ques-to. Isso porque a distino idem-ipse surge,sobretudo, em favor da ipseidadecomo mo-delo sui generis. E a noo de ipseidade quepe em jogo a vontade quando se pretende,como j se disse, um modo de permannciacomo recusa deliberada da alterao.

    A hermenutica do si ea fenomenologia da vontade

    O problema todo, aqui, como com-preender essa indeterminao da ipseidadepor uma determinada noo de vontade. Essacompreenso afeta principalmente o funcio-namento do conceito de promessa e, portan-to, a pertinncia que ele oferece ao problemada identidade. Corre-se o risco de perder a no-o de pessoa, pois somos confrontados coma possibilidade da ipseidade, secretamente,constituir um tipo de domnio de si da mesma

    ordem do cogitocartesiano sem o mesmopendor substancialista, certo, mas com con-sequncias muito semelhantes. De um lado,por asseverar a diferena com a mesmidade,de outro, por se transformar em um tipo depermanncia comparvel sua permanncia:no primeiro caso, a promessa exigiria umavontade obsessiva capaz de resistir a todas

    7 Lipse pose la question de son identit sans lerecours et lappui de lidem. (Traduo nossa.)

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    DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    as inclinaes, a manuteno de si correndo orisco de tornar-se uma neurose8compulsiva;no segundo caso, o risco a aderncia servilao hbito, s inclinaes ou s instituies.Como se nos dois casos a promessa deviesseda manuteno de uma vontade obtusa.

    O desenvolvimento de uma noo devontade compatvel com a ideia de ipseidade encontrada nos dois volumes da Philosophiede la volont: Le volontaire et linvolontaire(2009a) e Lhome faillible(2009b), a primeiraobra de vulto de Ricoeur, mas que at agoratem recebido pouca ateno. No Brasil sequerfoi traduzida.

    Essa hiptese justica-se na medida emque ambos os distintos momentos do pensa-

    mento de Ricoeur o perodo maduro dos trsvolumes de Temps et Rcit (1983,1984,1985),Soi-mme comme un autre (1996) e Parcoursde la reconnaissance (2004) em que ele trataa problemtica da identidade ligada narrati-vidade e, a fase inicial de seu pensamento re-presentada pelos dois volumes de Philosophiede la volont (2009a, 2009b) tm, de umaforma ou outra, o sujeito humano como foco:pela descrio direta da vontade e da existn-cia sob a condio da falibilidade, em um caso,

    e pelo desvio das operaes de linguagem naqual uma subjetividade expressa-se em outro.Alm disso, as temticas de ambas as fases,apesar de receberem tratamentos distintos,convergem para a mesma ideia, a do homemcomo uma mediao imperfeita entre doisprincpios: nito-innito (Lhomme faillible),ipseidade-mesmidade (Soi-mme comme unautre). Sugimura (1995, p. 215-216) ainda su-gere que, em ambos os desenvolvimentos, os

    princpios ligam-se de modo idntico: a ipsei-dadee a innitude mostram, da mesma for-ma, uma abertura para a alteridade.

    No prefcio edio de 2009 de Le vo-lontaire et linvolontaire (2009),Jean Greisch

    8 A esse respeito so extremamente instrutivos osestudos freudianos sobre a formao da neurose emTotem e tabu e a segunda dissertao da Genealogiada Moral, de Nietzsche, sobre a capacidade deprometer como capacidade do homem dispor de sicomo porvir.

    arma, a propsito dessa obra, que ela podeser lida como uma incitao a percorrer nasua integralidade uma obra [] que pode serlida, do comeo ao m como um vasto per-curso do reconhecimento (GREISCH, 2009a,p. 7). No prefcio ao segundo volume, essaarmao repete-se de modo bem mais incisi-vo, indicando os deslocamentos que o pensa-mento de Ricoeur sofre de uma etapa a outrade seu desenvolvimento. Para Greisch, essesdeslocamentos dizem respeito, respectiva-mente, diferena das questes o que ohomem? e quemsomos ns?, irredutveis,mas complementares.

    Se a coabitao das duas antropolo-

    gias pe um problema, e se ela devedar o que pensar a uma gerao denovos leitores de Ricoeur que temsob os olhos ao mesmo tempo o ter-minus ad quod e o terminus ad quemdo imenso percurso do reconheci-mento que constitui a obra do l-sofo , quem sabe, porque hoje emdia, em que o futuro mesmo da na-tureza humana est em jogo, temostodo o interesse em nos ocuparmos

    da complementaridade e da irredu-tibilidade das questes O que ohomem? e Quem somos ns?(GREISCH, 2009b, p. 23).9

    Ipseidade e vontadePara explorar os problemas postos pela

    ipseidadeno horizonte de cada um dos dife-rentes aportes da antropologia ricoeuriana,

    9 Si la cohabitation des deux anthropologies poseproblme, et si elle doit donner penser unegnration nouvelle de lecteurs de Ricoeur quiont sous les yeux aussi bien le terminus ad quodque le terminus ad quem de limmense parcoursde la reconnaissance que constitue louvre duphilosophe, cest peut-tre parce que de nousjours, o lavenir mme de la nature humaine est enquestion, nous avons tout intrt nous intresser la complmentarit et lirrductibilit des questionsQuest-ce que lhomme? et Qui sommes-nous?(Traduo nossa.)

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    deslocamos a ateno do tema da promessapara o tema do carter. Ele central para aquesto da identidade e est presente nosdois desdobramentos da obra de Ricoeur. EmSoi-mme comme un autre, no qual a ques-to de indeterminao da ipseidade posta,a ligao do carter com o hbito indica aconfuso das problemticas do idem e doipse. A possibilidade de p-los no movimentode narrao permite desenvolver uma histori-cidade contrada no duplo sentido: de abre-viao e de afeco, insiste Ricoeur (1996, p.147-148). A preocupao distinguir a ipseida-de do si implicada no carter, o acento sendoposto inteiramente sobre o aspecto de mobi-lidade engendrado pela dialtica da inovao

    e da sedimentao temporal das disposies.Por outro lado, em Lhomme faillible eem Le volontaire et linvolontaire,a noo decarter interpretada em seus aspectos deimutabilidade. Mas a noo de carter designaaqui uma imutabilidade de gnero bem parti-cular que comporta o movimento de abertu-ra em direo ao outro, portanto em direo alterao. O carter, efetivando o aspectoprtico da mediao entre nito e innito, a chave da antropologia da falibilidade. Em Levolontaire et linvolontaire, o carter advmde uma natureza nita estranhamente unida sua iniciativa innita (RICOEUR, 2009a, p.459).10Nesse sentido, o carter o modo deser da minha liberdade (RICOEUR, 2009a p.461),11ele remete uma existncia individuale indivisvel que determina a possibilidade deacesso liberdade. Ele torna a liberdade inni-ta enquanto tal e nita enquanto minha. Poisa liberdade no pode ser expressa seno em

    uma iniciativa que pela prpria individualida-de encontra na lateralidade dos motivos queevoca sempre uma emergncia determinada(RICOEUR, 2009a, p. 464).

    A circunscrio ontolgica do cartercomo alguma coisa de imutvel fornece ele-mentos importantes para compreender o

    10 Une nature nie trangement unie son initiativeinnie. (Traduo nossa.)

    11 La manire dtre de ma libert. (Traduo nossa.)

    problema da ipseidade. A despeito da apa-rente contradio entre as duas evolues danoo, essa diferena no constitui uma rup-tura. De certo modo, ainda na mesma di-reo que eu continuo minha investigao,12escreve Ricoeur em Soi-mme comme un au-tre (p.145) referindo-se aos princpios dessedesenvolvimento na sua Philosophie de la vo-lont (2009b).

    Em Soi-mme comme un autre, o engaja-mento moral, tornado possvel pela promessapor meio da iniciativa, aparece como o piv daidentidade na medida mesmo em que a ipsei-dadese distingue da mesmidade. O exame dosaspectos ontolgicos da iniciativa, enraizadano carter como modo de acesso liberdade,

    fornece os elementos para a compreenso dopoder de comprometimento, permitindo re-etir as circunstncias nas quais o engajamen-to transforma-se em um modo pernicioso dedomnio de si.

    Em Lhomme faillible, o aspecto de aber-tura do carter desenvolvido a partir daideia de perspectiva afetiva, como determi-nao da disposio da vontade atravs demotivos (RICOEUR, 2009b p. 91). Enquantotal, o carter liga-se j s noes de disposi-

    o e de hbito que articulam a interpretaodo carter em Soi-mme comme un autre. Adialtica entre sedimentao e inovao im-plicada na compreenso do hbito j evoca-da em Lhomme faillible, mesmo que a ela noseja plenamente desenvolvida. Tematizandoa disponibilidade e a contrao do hbito nocarter, Ricoeur arma: pode-se retomar osmesmos temas a partir de uma anlise tempo-ral e mostrar a mesma dialtica de inovao e

    sedimentao (2009b, p. 99; traduo nos-sa). Mas isso ela s faria efetivamente trintaanos mais tarde (RICOEUR, 1996, p. 146ss).

    A diferena de pontos de vista, mais doque a distncia temporal que afasta as fasesque consideramos, faz, em Lhomme faillible,opeso da interpretao incidir completamente

    12 Dune certaine faon, cest encore dans la mmedirection que je poursuis mon investigation.(Traduo nossa.)

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    32Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767

    DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    do lado da imutabilidade pelo aspecto de fe-chamento (clture) pode-se dizer tambmlimite da perspectiva afetiva que o carterdesenha. No entanto, o que esse fechamentoproduz o sentimento de singularidade (RI-COEUR, 1996, p. 96), que envia essa formula-o denitivamente problemtica da iden-tidade pessoal desenvolvida em Soi-mmecomme un autre. Mas aqui a singularidade nopode ser seno sinnimo de imutabilidade, deinvariante, pois a distino entre ipseidade emesmidade ainda no foi feita.

    Esses desenvolvimentos da noo de ca-rter so interessantes ao tema da identidadeem virtude do tipo de imutabilidade que elesexprimem. Essa imutabilidade, por paradoxal

    que possa parecer, possui bem mais a signi-cao existencial do ipse que a signicaode um invariante relacional como idem, poisenvia sempre a uma permanncia no temposobre o modo da compreenso. O carter,como origem do movimento de abertura naperspectiva prtica, nunca percebido em simesmo, seno pelo sentimento de diferen-a (RICOEUR, 2009a, p. 103). Desse modo,mesmo que a distino entre idem e ipsenotenha sido feita, ela no deixa de se insinuar.

    O que isso indica a possibilidade derecuperamos a imutabilidade do carter emrelao identidade esse gnero particularde imutabilidade que nos esforamos por des-crever, bem entendido como elemento paracompreender a indeterminao da ipseidade.Essa indeterminao transforma-se, ento,em impossibilidade de disposio completado componente de ipseidade em narrao.Sendo assim, preserva-se uma tenso existen-

    cial entre posse e desapossamento de si, queconstitui a impossibilidade ontolgica de umcontrole absoluto de si mesmo na promessa.Nesse sentido, eu tenho o poder de prome-ter, mas no posso (alm de que no devo)prometer tudo, pois o campo de possibilidadeda promessa coberto pelo campo limitadoda iniciativa sempre tributria da parcialidadeda motivao determinada formalmente pelocarter. O mesmo vale para o engajamentoem geral, determinado por uma perspectiva

    nita aberta no carter. a que encontramosa justicativa para o tratamento do engaja-mento como armao modesta de si (RI-COEUR, 1996, p. 198).

    O carter , ento, como estreiteza docampo de abertura em direo aos motivos epoderes, um tipo de imutabilidade muito di-ferente da imutabilidade da coisa-substnciacontra a qual Ricoeur bate-se em Soi-mmecomme un autre. Ou seja, armar a imutabi-lidade do carter no recorrer a uma subs-tancialidade. Trata-se, antes, de uma nooformal de imutabilidade limitativa, para a quala profuso indenida de motivo e valores dis-ponveis a matria.

    Essa imutabilidade tomada pelo lado

    da imediatidade do corpo em relao a si mes-mo (RICOEUR, 2009b p. 96ss). Meu corpo meu carter imutvel, na medida em que ele uma organizao fsica no escolhida, pelaqual, no obstante, eu me movo no mundo:a organizao obscura dos humores dando omodo particular de acesso e a amplitude dosmotivos; as limitaes fsicas determinandoo campo de abertura e o limite de fechamen-to do campo de moo. Essa imediatidade o fato de o corpo estar sempre presente a si

    mesmo. Mas essa presena a si do corpo nose mostra conscincia, salvo por abstraespouco instrutivas. Ela se deixa ver somenteem uma perspectiva afetiva (RICOEUR, 2009bp. 91), pois, para a conscincia intencional, ocorpo uma espcie de alteridade, uma alte-ridade ntima (RICOEUR, 1996, p. 372).

    A imutabilidade do carter, ainda queseja a mais ntima, corre sempre o risco de sertomada como coisa ou como qualquer tipo

    de substncia. A diculdade da distino en-tre identidade-idem e identidade-ipse mostracomo a tradio da subjetividade foi a hist-ria das variaes sobre essa posio. aquique reencontramos o mesmo impasse entrepressuposies contraditrias que foi o ocondutor da hermenutica do si em Soi-mmecomme un autre: na hermenutica do si, adicotomia entre o idealismo da substncia e oempirismo ctico; na fenomenologia da von-tade, a vertigem entre a objetividade cien-

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    33Impulso, Piracicaba 24(59), 25-34, jan.-abr. 2014 ISSN Impresso: 0103-7676 ISSN Eletrnico: 2236-9767DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n59p25-34

    tca e a subjetividade incomunicvel. O quecongura problema para a ipseidadena pers-pectiva da vontade no a hesitao entre apermanncia de uma substncia ou a admis-so da ausncia completa de qualquer coisaque permanea. A diculdade a oscilao dacompreenso do carter, ora como objetiva-o determinada do homem, ora como umanatureza absolutamente colada a si. Dito deoutro modo, a dicotomia entre o determi-nismo do involuntrio observado de fora e osubjetivismo de uma natureza humana abso-lutamente plstica, dcil vontade.

    A inteno de Ricoeur no estritamen-te mostrar a falsidade dessa oposio, mas suacomplementaridade pela reciprocidade do vo-

    luntrio e do involuntrio em um nvel de des-crio profundo. Essa descrio o que exibea imediatidade do corpo a si mesmo em umaperspectiva prtica pela qual o carter a es-treiteza de abertura que faz qualquer projetoreferir-se a motivos determinados. Isso pe luz a ambiguidade da ipseidade como manu-teno de si livre de todo apelo mesmidade.

    No entanto, existem ainda diculdades,pois essa reciprocidade, para ser compreen-dida, reivindica uma compreenso integral

    da pessoa. E, no nvel da descrio, no se

    pode proceder seno pelos ndices que umaperspectiva reporta outra. Somente quandoidenticamos um exemplar da espcie a umcarter descrito como tipo mediano, comocombinatria de traos, que nos damos con-ta de que um carter, para alm de um tipomediano, o carter de algum e refere-sea um eu singular. Por outro lado, damo-nosconta da possibilidade da descrio de tiposmedianos quando, pela publicidade de certostraos particulares, ensaiamos o cruzamentode caractersticas comuns.

    Uma compreenso integral, ento integral, mas no total , s possvelse reenviarmos a descrio abstrata dasreferncias entre projetos e motivos ao

    transcurso do tempo que faz com que hbitoseja, ao mesmo tempo, a apreenso de umacapacidade e a alienao de um campo inteirode possibilidades. Desse modo, as duasperspectivas que colocamos em jogo aqui, adescrio direta das estruturas da vontade e ahermenutica narrativa do si, oferecem apoiorecproco. Recorrendo descrio da vonta-de, em busca de solues aos problemas pos-tos pelo tema da identidade, preciso retor-nar narratividade para incluir na descrio a

    temporalidade mesma da vontade.

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    Dds s:

    J B. B

    Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Doutorando em Filosoa pela Universidade Federal de

    Minas gerais (UFMG), com graduao em Filosoa (2008)e mestrado em Filosoa (2010) pela Universidade

    Federal de Santa Maria (UFSM).

    Recebido: 13/11/2013Aprovado: 14/02/2014